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Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez
que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que
se mostra fundamental para o trabalho do profissional.
Por que a escolha da psicanálise para embasar seu trabalho psicopedagógico?
Após ter militado nas diferentes áreas do conhecimento por meio de grupos de estudo e supervisões
e não ter encontrado respostas para todas as minhas indagações, busquei a Psicanálise para
embasar meu trabalho, por ser um referencial teórico fundamental sobre a mente humana. A
Psicanálise foi buscada por mim por meio do estudo de Freud e isso me levou a conhecer os
trabalhos desenvolvidos por Melaine Klein e Bion.
Acredito que o estudo da Psicanálise é uma forma de lidar com a personalidade inigualável, pois
possibilita conhecer o ser humano, o modo como este se conhece, seu objeto de desejo, seus
impulsos e seus valores. Enfim, permite conhecer a estrutura do mundo mental e sua organização.
Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez
que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que
se mostra fundamental para o trabalho do profissional.
O psicopedagogo precisa estar atento para perceber que tipo de metodologia deverá utilizar em
cada cliente/paciente. Para isso é importante analisar o vínculo que estabelecemos com cada
paciente, suas necessidades e a maneira de trabalhar que combina melhor com suas características
individuais e/ou sociais.
No caso da Psicopedagogia, o que determina qual a linha de trabalho, além das mencionadas
acima, são os valores familiares, os valores da escola que o indivíduo estuda, e sua cultura.
O psicopedagogo não corre o risco de estar fazendo uma terapia emocional e deixar de lado a
sua função que é lidar com a aprendizagem?
****cognitivas geralmente não vêm desvinculadas da problemática emocional.
Percebo também que as dificuldades de se vincular com os conhecimentos de modo geral podem
ser também uma conseqüência da dificuldade de lidar com as pessoas. A curiosidade pelo
desconhecido é inata no ser humano, todo mundo se mostra curioso com o novo, e a criança que
não tem curiosidade, que se mostra "preguiçosa", certamente tem alguma coisa que não está
adequada.
Generalizando, podemos dizer que normalmente não são as escolas que são fortes ou fracas,
adequadas ou inadequadas, como muitos gostam de rotular, mas na verdade cada criança, cada
família, necessita de um tipo de escola. Cada pessoa tem um perfil, assim como a escola.
Precisamos sempre ter claro que o uso de diferentes metodologias deve ser feito não por submissão
ao método, mas porque acreditamos nele. É por isso que o psicopedagogo tem que saber com
quem está lidando, quem é seu paciente, como ele vê os seus desejos, os valores adquiridos, e
conseqüentemente a aprendizagem, para poder assim, escolher o método que considera mais
adequado para cada paciente.
A diferente origem dos atuais profissionais da Psicopedagogia é algo que me preocupa muito. O
psicopedagogo advindo da área de saúde ou da educação, que são áreas afins, deverá buscar uma
linha teórica que se identifique mais com ele como indivíduo. Além disso, ao se aprofundar em
alguma linha específica, o profissional poderá utilizá-la cada vez melhor. É isso que diferencia um
bom profissional de outro e cria sua identidade de psicopedagogo diferenciada e única. Acredito que
o processo deverá ser criativo, mas um referencial teórico é fundamental para o embasamento do
profissional, que não deve cair no erro de ser eclético, isto é, saber um pouco de tudo e não se
aprofundar em nada.
O conhecimento cuidadoso e constante transformará o psicopedagogo num profissional cada vez
mais qualificado.
Qual foi o caminho que você percorreu na sua formação pessoal em psicopedagogia?
Durante meu curso de psicopedagogia, percebi que o mundo mental não era tão simples quanto eu
estava olhando. Vi assim a necessidade de aprofundar-me, e desta forma fiz supervisões durante
todo o período que fiz o curso, tanto as dadas durante o curso, como também nas áreas
psicomotora, cognitiva e familiar, com outros profissionais advindos de minha formação.
Comecei estudando os autores ligados a psicomotricidade e depois fiz grupos de estudo de Lowen
Melaine Klein, Jung. Fiz também um estudo de linguagem não verbal por vários anos e atualmente
continuo a estudar, porque acho que um bom referencial teórico é importante, e a fazer supervisões
que permitem analisar a prática desses referenciais,. Estou terminando um grupo de estudo sobre
Freud e sua obra completa. Por isso acredito que quando busquei a Psicanálise para entender a
estrutura da personalidade, eu já tinha um bom referencial teórico.
O essencial é que nós profissionais nos conheçamos bem para saber como lidar com nossa
clientela. Quem não passa por um processo terapêutico dificilmente conseguirá entender o ser
humano na sua essência. Eu percebo também que a supervisão é indispensável ao longo do
trabalho. Você precisa reconhecer no seu dia-a-dia, por exemplo, o que é uma identificação projetiva
e não apenas conhecê-la na teoria. Isso é um trabalho que requer grandes investimentos, mas é
sem dúvida nenhuma o que diferencia um profissional qualificado dos demais sendo por isso
extremamente necessário.
Outra questão que sempre vejo quando se discute esse tema é a reflexão sobre a possibilidade de
fazer psicanálise em grupo. Ao meu ver, se estivermos na busca individual do conhecimento mental
e de suas organizações, não é possível que o alcancemos com um trabalho em grupo. Mas isso é
tema para uma discussão posterior em outra entrevista.
Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues: Pedagoga e Psicopedagoga formada pelo Instituto Sedes
Sapientiae. Formação Psicanalítica. Desenvolve trabalho clínico. Vice-Presidente da ABPp
1992/1994.