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Indústria da superação: a gente é


obrigado a ser forte?
Ivan Martins 28/01/2020 23h00
5-6 minutos

Superação tem limite, né? (Istock)

De zero a dez, o que me incomoda em nível nove é a ideia cada


vez mais disseminada de que qualquer um pode ser e ter tudo o
que desejar, bastando se empenhar o suficiente. Com força de
vontade se consegue qualquer coisa, inclusive escalar a
montanha mais alta do mundo, certo? Errado.

Se algo fica claro desde que somos bebês é que nem tudo é
possível, que nem sempre vai ser do jeito que a gente deseja – e
nós que tratemos de viver com isso, da melhor maneira possível.
A vida é imperfeita e frequentemente insatisfatória.

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O fantasma da mudança: quer morar junto, mas não quer sair de


sua casinha

Cuidar é uma delícia: homens e mulheres deveriam saber (e


fazer) isso

Amor incondicional: isso não existe nem em filme

Quando o nosso relacionamento será perfeito? Talvez quando


estivermos mortos. Ou quando ele estiver encerrado e
pensarmos nele com nostalgia. Enquanto vivo, o relacionamento
será difícil e incompleto, como tudo mais ao nosso redor. O amor
perfeito não existe. O que tem para hoje é essa massa de
emoções contraditórias, a vida em seu esplendor mambembe e
frágil.

Quando era menino, eu queria jogar bola como os melhores da


rua e da escola. Nunca consegui. Na adolescência, tentei ser
valente como uns caras e bem-sucedido com as meninas como
outros. Também não deu. Jovem, descobri na faculdade e no
trabalho que alguns caras eram mais inteligentes e outros mais
talentosos do que eu, e tive de aceitar a realidade.

Sobrevivi, como todos.

Hoje, se tivesse de apontar a atitude mais importante diante da


vida, jamais diria perseverança, obstinação, força de vontade,
perfeição, essas coisas que a indústria da superação quer nos
empurrar todos os dias, como se a vida fosse uma pista de
corrida ou uma quadra de basquete.

Dedicação é importante, evidentemente, mas sinto que o


essencial no mundo hipercompetitivo de 2020, em que se fala
obsessivamente de desempenho, é a capacidade de lidar com
as frustrações, de adaptar nossos sentimentos e talentos à
realidade, de amar aquilo que nos vem com naturalidade.

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Precisamos de alguma resignação, não só de obstinação e


esperança.

Entendem?

Conhecer nossos próprios desejos é importante, mas entender


que eles podem não se realizar também o é, talvez na mesma
proporção.

Num mundo horrivelmente consumista, no qual somos


convidados a desejar tudo, o tempo todo, sem limites e sem
pudores, um mundo em que somos estimulados a trabalhar sem
folga e sem direitos para obter bens e prestígio, é urgente
aprender a respeitar os limites: do nosso corpo, do nosso
temperamento, dos sentimentos dos outros, da vida como ela é
ou como poderia ser.

A indústria da superação quer nos convencer de que diante da


nossa vontade nada é impossível, mas isso é mentira. O mundo
é pródigo em "nãos": não dá, não pode, não tem, não quero, não
gosto, não faço, não vem, enfim.

Estou sugerindo que deveríamos estar subjetivamente


preparados para lidar com a impossibilidade e a imperfeição, em
vez de perseguir cegamente o sucesso, seja lá o que isso
significa: queria e tentei, mas não deu certo. E agora? Respira, o
mundo não vai acabar.

Ao contrário do que insistem em nos dizer, não somos


onipotentes. Temos limites. Nem tudo está ao nosso alcance,
nem tudo é possível. Admitir emocionalmente a inviabilidade ou
a incapacidade pessoal é uma forma de resistir ao mantra
robótico da competição incessante e do ressentimento inevitável,
é uma forma de cogitar um mundo emocionalmente melhor não
apenas para mim, mas para todos os que nasceram no bairro
errado e nem tiveram chance de competir.

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Que tal recusar o reino da inveja que nos fazem habitar? Inveja
da mulher do outro, do carro do outro, da aparência do outro, da
idade do outro. Que tal dar atenção àquelas partes de nós que
não encontram eco no mercado, na vida corporativa e no
empreendedorismo como forma de ser, esse empreendedorismo
que almeja dominar todos os aspectos da nossa subjetividade,
que quer nos transformar em pessoas jurídicas, uma legião
global e insípida de NÓS S/A?

Prefiro pensar que não somos apenas potenciais vencedores.


Somos gente, e gente sofre derrotas, humilhações, injustiças. A
indústria do triunfo e da superação quer nos simplificar, nos
transformar num produto sem alma mas de grande eficácia.
Somos mais que isso, porém. Somos filhos, pais, mães, maridos,
amantes e amigos, criaturas complicadas e vulneráveis. Com
força de vontade, amor e ajuda conseguiremos muita coisa.
Outras não. Talvez faça bem nos reconciliarmos com essa ideia
e buscarmos formas de realização menos cruéis com a gente
mesmo.

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