Casos Práticos de Teoria Geral do Direito Civil I (2010-2011)
Subturmas 3, 4, 6 e 7
DIREITOS DE PERSONALIDADE
CASO 1
Joel mora no primeiro andar de um prédio em Lisboa, onde,
há cerca de quatro meses, abriu, no R/C, um ginásio. Apesar de devidamente autorizado pelas autoridades administrativas, a música e até o barulho das máquinas do ginásio, devido ao péssimo isolamento acústico, acordam Joel todas as manhãs, às oito horas em ponto, pouco tempo depois de este se ter deitado, uma vez que Joel é funcionário de uma empresa de segurança e trabalha no turno da noite. Joel fala com um conhecido seu, advogado, que lhe garante que àquela hora o ginásio pode fazer o barulho que quiser, até porque está licenciado e respeita o Regulamento do Ruído. Mas Joel não se conforma e pretende saber se há alguma coisa que possa fazer.
CASO 2
Raul, assistente na Faculdade, mantém, desde há algum
tempo, uma página no Facebook, onde é possível encontrar diversas fotografias suas. Um dia, um aluno, que Raul chumbara na oral, resolveu imprimir diversos exemplares de uma fotografia em que Raul apresentava evidentes sinais de embriaguez, espalhando as fotografias pela Faculdade, acompanhadas da seguinte legenda: “almoço antes de um dia de orais”. Raul quer reagir contra o aluno — que se defende dizendo que a fotografia era de acesso público — e contra o amigo que, sem a sua autorização, colocou a fotografia online, acessível a todos. Quid juris?
CASO 3
Em 2007, o Presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, foi
fotografado numa visita oficial a uma mesquita na Turquia, sem sapatos, com os dedos dos pés saindo das meias furadas. A fotografia correu o mundo. Imagine que Paul pretendia reagir contra a publicação da fotografia, por entender que esta punha em causa a sua privacidade, mas que os jornalistas afirmam que se limitaram a fotografar o Presidente do Banco Mundial numa visita oficial e que a publicação da imagem era permitida ao abrigo da liberdade de imprensa. Quid juris?
CASO 4
Marco, talento recém-descoberto do futebol português,
assinou um contrato com uma revista cor-de-rosa, tendo em vista a publicação de diversas fotografias suas, bem como da história da sua difícil infância. Na véspera da revista chegar às bancas, Marco Casos Práticos de Teoria Geral do Direito Civil I (2010-2011) Subturmas 3, 4, 6 e 7
telefona ao editor, proibindo a publicação, uma vez que recebera
uma oferta muito mais generosa de uma revista da concorrência. Quid juris?
CASO 5
Armando, descobrindo na gaveta de seu pai, Afonso, já
muito idoso, um caderno de memórias, resolve entregá-lo a uma editora, sem nada dizer ao pai, pois sabia perfeitamente que o pai nunca consentiria na publicação. Quando este descobre, fica angustiado e pretende que o livro seja retirado do mercado e ser indemnizado pelos danos sofridos. Propõe, para o efeito, a competente acção, mas acaba por morrer no seu decurso, deixando, além de Armando, um outro filho, Bernardo. (i) Quid juris? (ii) E se Armando tivesse esperado pela morte do pai para publicar o caderno de memórias, poderia Bernardo reagir e pedir uma indemnização?
PESSOAS SINGULARES
CASO 6
Tomás, conduzindo embriagado, atropela e mata Manuel, na
véspera do nascimento do seu filho. Maria, mulher de Manuel, propõe uma acção em Tribunal contra Tomás, em seu próprio nome e no do filho, pedindo uma indemnização pelos danos sofridos por si e por Manuel, Jr., entretanto nascido.
CASO 7
Rita, quando descobre que o pai da sua melhor amiga é afinal
o seu próprio marido, perde a cabeça e desfere violentas pancadas
CASO 8
No dia em que recebe a notícia de que o filho da sua grande
amiga Carlota será um rapaz, Duarte decide doar a um automóvel de colecção que havia herdado há anos. Porém, pouco depois, Carlota e Duarte zangam-se e cortam relações, exigindo agora Carlota que Duarte lhe entregue o automóvel, já que — segundo diz — é ela quem tem direito ao mesmo até ao filho nascer. Quid juris?
CASO 9
Eduarda, no Natal, deixa em testamento um bonito e valioso
anel à primeira filha que o seu primo Francisco viesse a ter. Porém, Casos Práticos de Teoria Geral do Direito Civil I (2010-2011) Subturmas 3, 4, 6 e 7
estava Francisca, mulher de Francisco, grávida de seis meses
quando ocorre um terrível acidente: Francisco e Francisca morrem, assim como a criança. Apenas sobreviveu Gustavo, filho de ambos, de 18 anos, que entende ter herdado o anel por força da morte do irmão. (i) Para efeitos sucessórios, quem morreu em primeiro lugar? (ii) Gustavo tem razão?
CASO 10
Em 2005, Helena, de 16 anos, após ter recebido uma elevada
herança, decide concretizar o seu sonho e partiu sozinha de Lisboa, onde residia, para uma viagem à volta do mundo, pretendendo ser a pessoa mais nova do mundo a concluir uma viagem desse tipo. Durante cerca de um mês, os pais e amigos foram sabendo notícias da jovem navegadora mas, desde que esta deixou o arquipélago das Canárias em plena época de tempestades, nunca mais ninguém soube nada dela. (i) Perante o desaparecimento de Helena, a tia desta pretende ser nomeada administradora provisória dos bens herdados por Helena. Quid juris? (ii) A partir de quando pode ser declarada a morte presumida de Helena? (iii) Quid juris se, após ser declarada a sua morte presumida, Helena regressar?
CASO 11
João nasceu no dia 20 de Outubro de 1992. Dispondo de uma
avultada conta bancária, ansiava, desde há muito, por comprar um automóvel topo de gama, projecto que sempre contara com a violenta oposição dos pais, que temiam o gosto de João pelas velocidades. Assim, na tarde do próprio dia 20 de Outubro de 2010, João dirige-se a um stand de automóveis, declarando que finalmente é maior e que já pode comprar o carro. O vendedor ainda olha desconfiado para o bilhete de identidade mas, confirmando que João faz 18 anos nesse dia, vende-lhe o automóvel. Quando o pai, ao fim do dia, descobre a compra, anuncia que irá pedir o cancelamento do negócio, no dia seguinte. Pode fazê-lo?
CASO 12
Na véspera de Natal, Francisco, de 17 anos, decide fazer
uma surpresa à namorada e comprar um anel para, no dia seguinte, pedir Joana em casamento. Para tão importante ocasião, vestiu o seu melhor fato e dirigiu-se a uma das mais conhecidas ourivesarias de Lisboa, onde ficou surpreendido por ninguém lhe ter perguntado sequer a idade e lhe terem vendido o anel hesitações e até o terem tratado sempre por “Senhor” ou “Senhor Doutor”. O casamento veio a dar-se no início do ano, logo no dia 1 de Janeiro de 2010, às escondidas dos pais de Francisco, que não queriam sequer ouvir pronunciar o nome de Joana. Apesar da felicidade inicial do casal, Casos Práticos de Teoria Geral do Direito Civil I (2010-2011) Subturmas 3, 4, 6 e 7
Francisco acabaria por morrer no dia 1 de Julho de 2010, num
acidente de viação. Joana, quando achou já ter decorrido tempo suficiente desde a morte de Francisco, decide pedir a anulação da compra do anel, propondo a acção no dia 1 de Julho de 2011.
CASO 13
Humberto foi considerado interdito, por sentença de 12 de
Janeiro de 2005, em virtude da dependência de estupefacientes, tendo Xavier sido nomeado tutor. A acção de interdição foi proposta depois de Humberto ter vendido por um preço absurdamente baixo um relógio de família. Completamente recuperado, em Janeiro de 2010, Humberto doa a Inês, que conhecera na clínica de desintoxicação, um bonito e dispendioso anel. Em Novembro, é levantada a interdição. Félix, sobrinho de Humberto, que esperava vir a herdar os bens de daquele, por não haver outros familiares, pede, em Dezembro, a anulação da doação, invocando a necessidade de intervenção do tutor, lembrando-se então de finalmente pedir também a anulação da venda do relógio. Quid juris? O problema seria diferente se, em vez de ser interdito, o Tribunal considerasse suficiente a inabilitação?