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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA

INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE


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Butantã - São Paulo-SP
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AGENDA DE PROPOSTAS
PARA A INFRAESTRUTURA

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COMPANHIAS ASSOCIADAS
SUMÁRIO ABB LTDA FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A.
ABGF GALVÃO PARTICIPAÇÕES S.A.
ACCIONA INFRAESTRUCTURAS S.A. GENERAL ELECTRIC ENERGY DO BRASIL S.A.
APRESENTAÇÃO 4 AEGEA SANEAMENTO E PARTICIPAÇÕES S.A. GS INIMA BRASIL LTDA
ALIANÇA NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA LTDA HELENO & FONSECA CONSTRUTÉCNICA S.A.

1.
ALSTOM BRASIL ENERGIA E TRANSPORTE LTDA HOUER CONSULTORIA E CONCESSÕES LTDA
ALUPAR PARTICIPAÇÕES S.A INTERTECHNE CONSULTORES ASSOCIADOS S.C. LTDA
UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O
ANDRITZ HYDRO BRASIL LTDA INVEPAR INVESTS. E PARTS. EM INFRAESTRUTURA S.A.
DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL 8
AROEIRA SALLES ADVOGADOS ITAZI ENGENHARIA LTDA
ARTERIS S.A. KPMG STRUCTURED FINANCE S.A
1.1 ESTABILIDADE E RETOMADA DO CRESCIMENTO 10 AZEVEDO SETTE ADVOGADOS ASSOCIADOS LCA CONSULTORES
1.2 AJUSTE FISCAL 11 BANCO FATOR S.A. LEITE, TOSTO E BARROS ADVOGADOS ASSOCIADOS
1.3 REFORMA DA PREVIDÊNCIA 13 BARBOSA MELLO PARTICIPAÇÕES E INVESTIMENTOS S.A MACHADO, MEYER, SANDACZ E OPICE ADVOGADOS

1.4 REFORMA TRIBUTÁRIA 15 BF CAPITAL ASS. EM OPERAÇÕES FINANCEIRAS LTDA MADRONA ADVOGADOS
BNDES MAGNA ENGENHARIA
1.5 SECURITIZAÇÃO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA 17
BR INFRA GROUP MANESCO, RAMIRES, PERES, SOCIEDADE E ADVOGADOS
1.6 REFORMA DO ESTADO 18
BRK AMBIENTAL MARSH CORRETORA DE SEGUROS LTDA
1.7 DIRETRIZES PARA RETOMADA DA INDÚSTRIA 20 BROOKFIELD BRASIL LTDA MATTOS FILHO ADVOGADOS

2.
CAF BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO S.A. MEGATRANZ TRANSPORTES LTDA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL MOTTA, FERNANDES ROCHA ADVOGADOS
PROPOSTAS MATRICIAIS 22 CAMARGO CORRÊA INFRA CONSTRUÇÕES NATTURIS CONSULTORIA E ASSESSORIA AMBIENTAL
CASCIONE, PULINO, BOULOS & SANTOS – ADVOGADOS NEOENERGIA S.A
CCR – COMPANHIA DE CONCESSÕES RODOVIÁRIAS NUCLEP – NUCLEBRÁS EQUIPAMENTOS PESADOS S.A
2.1 PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO 24
CELEO – REDES BRASIL S.A. PAR RISCOS ESPECIAIS | WIZ SOLUÇÕES
2.2 SEGURANÇA JURÍDICA 26
CEMIG – COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS PATRIA INFRAESTRUTURA GESTÃO DE RECURSOS LTDA
2.3 ESTUDOS E PROJETOS 28
CISA TRADING S.A PAVAN ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES LTDA
2.4 AGÊNCIAS REGULADORAS 29 CITÉLUZ SERVIÇOS DE ILUMINAÇÃO URBANA S.A. PRICEWATERHOUSECOOPERS LTDA
2.5 FINANCIAMENTO E GARANTIAS 30 COMPANHIA PAULISTA DE DESENVOLVIMENTO - CPD PRIMAV CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO S.A.
2.6 MEIO AMBIENTE 32 CONCREMAT ENGENHARIA E TECNOLOGIA S.A. PROMON TECNOLOGIA LTDA

2.7 CONTRATAÇÃO PÚBLICA 35 CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A. RADAR PPP LTDA
CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A. RUMO S.A
2.8 DESAPROPRIAÇÕES 37
CONSTRUTORA OAS LTDA SABESP – CIA. SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SP
2.9 CONCESSÕES 38
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO S.A SADENCO ENGENHARIA LTDA
2.10 RELAÇÕES INTERNACIONAIS 41
CONTER CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO S.A. SALINI IMPREGILO SPA
CPFL ENERGIA S.A SANEAMENTO AMBIENTAL ÁGUAS DO BRASIL S.A
CSO AMBIENTAL DE SALTO SPE S.A SETE – SOLUÇÕES E TECNOLOGIA AMBIENTAL LTDA
CTEEP – CIA TRANSM. DE ENERGIA ELÉTRICA PAULISTA SIEMENS LTDA
DDSA ADVOGADOS SILVER SPRING NETWORKS LTDA DO BRASIL
DELOITTE TOUCHE TOHMATSU CONSULTORES LTDA SOLVI PARTICIPAÇÕES S.A.
DELTA COMERCIALIZADORADE ENERGIA LTDA STATE GRID BRAZIL HOLDING S.A
DEMAREST ADVOGADOS SUPER BAC – PROTEÇÃO AMBIENTAL S.A.
DESENVOLVE SÃO PAULO SWISS RE CORPORATE SOLUTIONS BRASIL LTDA
DT ENGENHARIA DE EMPREENDIMENTOS LTDA TAESA – TRANSM. ALIANÇA DE ENERGIA ELÉTRICA S.A.
EDP ENERGIAS DO BRASIL S.A TAROBÁ ENGENHARIA E NEGÓCIOS LTDA.
ELETROBRAS – CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A. TAUIL & CHEQUER ADVOGADOS
ELETRONUCLEAR – ELETROBRÁS TERMONUCLEAR S.A TECHNIP FMC
ELETROPAULO METROPOLITANA TENARIS CONFAB
EMAE – EMPRESA METROP.DE AGUAS E ENERGIA S.A TOZZINI, FREIRE, TEIXEIRA E SILVA ADVOGADOS
ENFIL S/A CONTROLE AMBIENTAL TSEA ENERGIA
ENGIE BRASIL PARTICIPAÇÕES LTDA UNA CONSULTORIA ECONÔMICA
ESTRE AMBIENTAL S.A. VLI MULTIMODAL
EY – ERNST&YOUNG ASS. EMPRESARIAL LTDA VOITH HYDRO LTDA
ETEO EMPRESA TRANSMISSÃO DE ENERGIA DO OESTE WEG EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS S.A.
FATOR SEGURADORA
FELSBERG E PEDRETTI CONSULTORES LEGAIS

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3. PROPOSTAS SETORIAIS 46

3.1 RECURSOS HÍDRICOS 48


3.2 SANEAMENTO BÁSICO 50
3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS 53
3.4 TELECOMUNICAÇÕES 55
3.5 PETRÓLEO 57
3.6 GÁS NATURAL 60
3.7 MOBILIDADE URBANA 63
3.8 RODOVIAS 65
3.9 FERROVIAS DE CARGA 68
3.10 FERROVIAS DE PASSAGEIROS 70
3.11 AEROPORTOS 72
3.12 PORTOS 75
3.13 ENERGIA ELÉTRICA 77
3.14 ILUMINAÇÃO PÚBLICA 82

UMA AGENDA PARA OS PRIMEIROS SEIS MESES DE GOVERNO 86

3
APRESENTAÇÃO

O Brasil nunca perde a oportunidade tes e sistema educacional de qualidade, a


de perder uma oportunidade. Essa máxi- indústria de transformação é motor de ge-
ma do economista e diplomata brasileiro ração de riqueza e desenvolvimento.
Roberto Campos (1917 - 2001) tem se A despeito desses benefícios, há uma
mostrado inexorável, com raras exceções. posição que culmina na demonização de
O país que mais cresceu no século XX até instrumentos importantes de política pú-
meados da década de 70 perdeu o rumo blica – como financiamento público, incen-
com a crise da dívida externa e a hiperinfla- tivos fiscais e conteúdo local – que foram
ção dos anos 80. O ano eleitoral de 2018, ou são utilizados por diversos países emer-
então, passa a ser uma nova oportunidade gentes e desenvolvidos. Aqui, por erros
para o país definir uma estratégia de de- de execução, há preferência por abdicar
senvolvimento e reencontrar o caminho de tais instrumentos que, se utilizados com
do crescimento. inteligência, planejamento e moni­­to­ra­men­­
Nos últimos trinta anos, por um lado, to, têm potencial de trazer resultados posi-
vários avanços importantes ocorreram na tivos para o Brasil, como ocorreu nos Es-
economia: abertura comercial, privatiza- tados Unidos, Coreia do Sul, Japão, China
ções, concessões de serviços públicos à e outros países.
iniciativa privada, programas de recupe- Na infraestrutura, o rastro indica tam-
ração do setor financeiro (Proer e Proes) e bém uma evolução sofrível. Uma avalia-
lei de responsabilidade fiscal, equilíbrio ção mais apurada revela que a maioria dos
nas contas externas, entre outros. Por ou- pro­­jetos de investimento é remanescente
tro lado, pouco se fez no sentido de definir e/ou arremedo do planejamento estatal
uma estratégia de desenvolvimento sus- da década de 70. Infelizmente, não houve
tentado de médio e longo prazo, seja do uma estratégia de desenvolvimento defini-
ponto de vista do setor produtivo (indús- da, com programas de inves­­timentos ar­­ti­­cu­
tria e Infraestrutura), seja do ponto de vista ­lados e prioritários, que pudessem indicar
tributário e fiscal. o rumo da economia e levar ao aumento
Nesse período as taxas de crescimen- da sua eficiência produtiva e melhora da
to do Brasil foram modestas, com exce- competitividade.
ção do período de boom das commodi- O planejamento precisa avaliar os polos
ties no mercado mundial. O país abusou nacionais de desenvolvimento em conexão
do câmbio valorizado e de taxas de juros com a economia global. Identificar projetos
exuberantes para manter a estabilização. com racionalidade econômica e viabilidade
Essa política corroeu a competitividade da ambiental, que busquem melhoria de efi-
indústria, juntamente com a falta de inves­ ciência, ofereçam melhores con­­dições de
timento em infraestrutura. atratividade para o investimento privado.
Tal situação trouxe sérias consequên- Em paralelo, é fundamental aumentar a
cias, pois a transição de um país emergen- sensação de segurança jurídica na infra-
te de renda média para uma nação desen- estrutura. Nos últimos anos, infelizmente,
volvida de renda elevada não ocorrerá sem muitos fatores e conflitos têm criado dúvi-
o lócus de inovação e produtividade que a das na tomada de decisão dos investido-
indústria proporciona. Em que pese a im- res e também dos gestores públicos.
portância de políticas horizontais para o A segurança jurídica depende forte-
sucesso de um país, como instituições for- mente da clareza dos marcos regulatórios,

4
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

da eficiência e independência das agên- quebra-cabeça do desenvolvimento bra-


cias reguladoras, da celeridade do fun- sileiro. A retomada do crescimento eco-
cionamento do Poder Judiciário, do cum- nômico depende da recuperação do nível
primento de contratos, da eficiência na de investimento na economia, que por
solução de imprevistos ou reequilíbrios vez depende dos aportes na expansão da
nos contratos e do exercício equilibrado infraestrutura, que é fundamental para a
nos processos de fiscalização e controle. melhora da competitividade brasileira.
Investir em infraestrutura tornou-se uma A necessidade de investimentos na
corrida com obstáculos que, cada vez infraestrutura é avassaladora. A infraes-
mais, têm causado tombos nos agentes trutura precisa de aproximadamente R$
envolvidos. 300 bilhões ao ano (algo em torno de
Essa agenda está profundamente en- 5,0% do PIB), por uma década seguida,
trelaçada à conclusão de um conjunto de ininterruptamente, se a pretensão for do-
matérias legislativas que prometem con- tar o país de condições para a inserção
solidar e modernizar leis e regulamentos competitiva na economia global e para a
nas áreas de infraestrutura. No vaivém ampliação da qualidade de vida interna.
entre Poder Executivo e Congresso Nacio- Mas, em 2017, os investimentos públi-
nal, evoluem em estágios variados de tra- cos e privados somaram pouco mais de
mitação mudanças nas regras de licencia- 1,5% do PIB, o que é claramente insufi-
mento ambiental e de desapropriações por ciente até para repor a depreciação (o que
utilidade pública, de governança das agên- demanda 3,0% do PIB em investimentos).
cias reguladoras, de funcionamento das Em 2016, o indicador foi de 1,7% do PIB.
licitações públicas e mudanças regulató- O problema é que em 2018, considerado
rias impactantes nas áreas de energia elé- ano da retomada do crescimento econô-
trica, gás natural, petróleo, telecomunica- mico após uma das mais virulentas reces-
ções e saneamento básico. sões no país, o investimento em infraes-
Mas pouco adiantará contar novamente trutura não deverá alterar de patamar em
com um planejamento adequado ou con- relação à média do biênio 2016-2017. Há
seguir reforçar a percepção de segurança nitidamente um sinal amarelo piscando.
jurídica no ambiente de negócios nos seto- Para preencher essa lacuna de R$
res de infraestrutura se o Brasil não con- 200 bilhões anuais, não há espaço para
seguir conjugar pragmaticamente investi- maniqueísmo. Só a junção do potencial
mentos públicos e privados. O país precisa de investimento público e privado pode-
de todas as fontes possíveis de investi- rá fazer frente às necessidades do país
mentos e financiamento. Neste ambiente, com infraestrutura. Mas desafios eviden-
há a necessidade de se adotar novas estru- tes precisam ser equacionados.
turas de garantias, além das corporativas, Do lado do setor privado, há limitações
que permitam o financiamento dos investi- e amarras, como já escritas. O primeiro
mentos de longo prazo. ponto é que não há estudos e projetos de
Essa agenda econômica é capaz de boa qualidade disponíveis em quantidade
criar condições favoráveis ao investimen- suficiente para que o setor privado aporte
to, público e privado, nacional e externo, investimentos no volume anual necessário.
em nova oferta de infraestrutura no Bra- A ausência de planejamento adequado nas
sil. A infraestrutura é uma peça crítica no últimas décadas deixou a prateleira vazia.

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APRESENTAÇÃO

É uma situação paradoxal. O Brasil tem ca- Além de ajustar despesas e receitas, a
rência de infraestrutura, há liquidez inter- correção na política de ajuste fiscal é críti-
nacional, há investidores no mundo pro- ca porque é imprescindível recuperar a ca-
curando opções de investimento, sobram pacidade do Estado de investir, sobretudo
recursos no BNDES, mas faltam projetos em infraestrutura. Mesmo se o poder pú-
bem estruturados. blico for eficiente na diretriz de transferir o
Do setor público, a recuperação dos in- máximo possível de investimentos ao se-
vestimentos em infraestrutura será muito tor privado, há um estoque de ativos em
dificultada diante de um panorama fiscal poder da gestão pública que são intransfe-
restritivo. Há um ajuste incompleto nas con- ríveis pela simples falta de retorno ao ca-
tas públicas, refletido em déficit fiscal rele- pital aplicado no longo prazo. É assim no
vante e gastos correntes em elevação. Em Brasil como em qualquer país do mundo.
adição, há imposições da nova lei que limita De acordo com levantamento realiza-
os gastos (PEC do Teto), cujos efeitos mais do pela ABDIB, a participação pública e
nítidos surgem já a partir de 2018. Esse en- privada nos investimentos em infraestru-
redo já resultou em corte brutal no nível de tura no Brasil e no mundo, considerando
investimentos públicos nos últimos três países desenvolvidos e emergentes, re-
anos. Por isso, é provável que a estrutura do vela que o setor público mantém média
processo de ajuste fiscal brasileiro tenha de significativa ou muito elevada de partici-
ser revista no Congresso Nacional. Se isso pação. Em alguns setores, o Estado tem
não ocorrer, os legisladores terão de empre- presença majoritária, como saneamento
ender mudanças cons­­titucionais que per- básico e transportes.
mitam fazer as demandas sociais caberem Em comparação ao total investido em
dentro das receitas tributárias. infraestrutura em cada país, os aportes

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AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

públicos atingem 68% na Grécia e mais de acertadas do poder público nos últimos
50% na Hungria, Malta e Eslovênia. Situam- anos, como o Programa de Parceria de In-
-se aproximadamente em 30% em nações vestimentos (PPI), regras regulatórias para
como Eslováquia, Letônia, Reino Unido, Su- retomar investimentos em contratos inviá-
íça, Áustria, Luxemburgo, Dinamarca, Estô- veis e leilões de concessão em vários seto-
nia e Portugal. E representam 20% ou menos res, não serão suficientes. Há uma lacuna
em Alemanha, Espanha, Bélgica e Irlanda. de R$ 200 bilhões de aportes em infraes-
Na Ásia, há predominância do investimento trutura que precisa ser preenchida. Com
e financiamento público ou equivalência com as decisões políticas e as ações públicas
o privado nos principais países. adequadas, os recursos disponíveis no
Em 15 países da América Latina e Ca- mundo poderão desembarcar no Brasil. A
ribe, incluindo Brasil, segundo o BID, nú- oportunidade não pode ser desperdiçada.
meros médios de investimento em infra- A seguir, a Abdib apresenta a síntese
estrutura entre 2008 e 2013 mostram que do posicionamento da entidade, a ser ma-
o setor público foi responsável por 90% nifestado aos candidatos aos cargos do
dos aportes na área de recursos hídricos governo federal e dos governos estaduais,
e saneamento básico e por 77% nos setor como contribuição ao programa dos pró-
de transportes. Em energia e telecomuni- ximos governos, bem como aos candida-
cações, os aportes do Estado correspon- tos ao Congresso Nacional.
deram a 44% e 7% do total dos investi- O conteúdo deste documento está divi-
mentos feitos. dido em três blocos. No primeiro, o objetivo
No Brasil, país que já tem participação é avaliar as estratégias e os resultados da
privada mais pujante que a média, o qua- política macroeconômica frente aos desa-
dro se repete. O setor privado tem sido fios do país e perante o propósito de promo­
responsável nesta década por mais de 60% ­ver o desenvolvimento sustentável a partir
dos investimentos em infraestrutura, che- do fortalecimento da indústria e da expan-
gando a quase 70% em 2017. Mas o setor são da oferta de infraestrutura.
público continua com papel importante em O segundo bloco traz avaliações, diretri-
modais de transporte, mobilidade urbana zes e propostas para assuntos matriciais
e saneamento básico. que impactam e causam efeitos em prati-
Depois de todos os programas de con- camente todos os setores de infraestrutu-
cessões de rodovias realizados desde os ra. Notadamente, há apontamentos sobre
anos 90, o Brasil ainda concentra 98,6% segurança jurídica, planejamento de longo
da malha rodoviária na gestão pública – prazo, governança de agências regulado-
incluindo governo federal, estados e mu- ras, modelo de financiamento e garantias,
nicípios. Da extensão total pavimentada, gestão socioambiental na infraestrutura,
somente 10% são administrados por con- regras de contratação pública, procedi-
cessionárias privadas. É viável conceder mentos para desapropriações por utilidade
mais? Sim, claro – e o quanto antes. Mas é pública, arcabouço legal para elaboração
equivocado imaginar que é possível pres- de estudos e projetos de infraestrutura e
cindir do investimento público. modelo de concessões.
Infelizmente, se mantidas as atuais con- O terceiro e último bloco, tem como
dições, a infraestrutura não terá como cum- objeto os setores da infraestrutura, cada
prir papel relevante em 2018 para a reto- qual impactado por regulação e desafios
mada do crescimento econômico. Ações específicos além dos matriciais.

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

UMA POLÍTICA
MACROECONÔMICA VOLTADA
PARA O DESENVOLVIMENTO
PRODUTIVO E CRESCIMENTO
SUSTENTÁVEL

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AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

ESTABILIDADE E RETOMADA
DO CRESCIMENTO

No biênio 2015-2016, a economia do


país encolheu aproximadamente 7,5%, prin­­­
cipalmente como resultado do colapso dos
níveis de investimento, queda dos preços
das commodities e políticas de austeridade
fiscal. Embora em 2017 o país tenha apre-
sentando crescimento de 1%, os fundamen-
tos para uma sólida retomada do cresci-
mento econômico estão longe de se tornar
realidade. Por exemplo, em 2017, a taxa de
investimento foi de 15,6% do PIB, abaixo do
observado no ano anterior (16,1%). Cabe
ressaltar que foi a menor taxa na série his-
tórica das Contas Nacionais iniciada em
2008 para esse indicador. Para 2018, não se
espera melhoria.
Diante disso, o país precisa empreender
reformas que permitam a recuperação do
crescimento econômico pautado na ex-
pansão sustentável do setor produtivo e
da infraestrutura. Os ajustes perpassam
condições que permitam voltar os preços
relativos da economia, nomeadamente
câmbio e juros, a patamares que ensejem
o investimento produtivo. Este por vez sua
não pode ser dissociado de uma abran-
gente reforma tributária e de um ajuste fis-
cal, incluindo a urgente reforma previden-
ciária. Equilibrar as contas públicas é um
fator-chave dado que é imprescindível re-
cuperar a capacidade do Estado de inves-
tir, sobretudo em infraestrutura. Mesmo
se o poder público for eficiente na diretriz
de transferir o máximo possível de inves-
timentos ao setor privado, há um estoque
de ativos em poder da gestão pública que
são intransferíveis pela simples falta de re­
­torno ao capital aplicado no longo prazo.
Abaixo destacamos um conjunto de pro-
postas encabeçadas pela Abdib para ge-
rar maior dinamismo para a economia.

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AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

AJUSTE FISCAL

Desde outubro de 2014 o governo fe- em 2014 para R$ 110,4 bilhões (1,67% do
deral tem mantido uma política econômica PIB) em 2017. Analisando por uma ótica
e fiscal que reduz diante da rigidez do orça- da economia como um todo, o setor da in-
mento público, os investimentos. Por traz fraestrutura apenas refletiu uma tendência
do ajuste havia a lógica de que uma con- vista por toda a economia. Em 2017, a taxa
tração fiscal acabaria por resultar em ex- de investimento recuou para 15,6%, o mais
pansão econômica, uma vez que provoca- baixo patamar desde 1996.
ria queda nos juros e expectativas positi- Para mudar a atual retração da econo-
vas no setor privado, permitindo a reto- mia, o investimento público destinado ao
mada dos investimentos. No entanto, a setor de infraestrutura deveria ser recom-
recuperação do crescimento reluta em ocor- posto, uma vez que possui um dos maiores
rer e, sendo assim, dificulta o próprio ajus- efeitos multiplicadores na economia. No
te fiscal. entanto, dados da Projeto de Lei Orçamen-
A queda dos investimentos tem sido tária Anual (PLOA) a preços constantes re-
muito expressiva. A preços constantes, o velam que recursos orientados ao setor so-
investimento no setor de infraestrutura freram expressiva contração. Em 2014,
caiu de R$ 166,5 bilhões (2,42% do PIB) R$ 76,4 bilhões eram destinados à in-

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

fraestrutura. Já em 2018 o valor caiu signi- congelando-a por 20 anos, com revisões
ficativamente para apenas R$ 25,9 bilhões. a cada década. Ademais, aquele país in-
Esta forte contração fiscal dos investimen- troduziu cláusulas de escape para refletir o
tos culminou em um efeito deletério sobre a ciclo econômico – períodos de crescimen-
economia. Além de contribuir para a maior to permitiam afrouxamento dos limites –,
recessão da economia brasileira, o perío- além de excluir o investimento público e
do de ajuste fiscal também levou à dete- os gastos sociais, sobretudo com saúde e
rioração de outros indicadores. A dívida educação1.
bruta do governo geral (que inclui os gover- Assim, o Brasil, poderia seguir o exemplo.
nos federal, estadual e municipal e INSS) O Estado poderia fazer um remanejamento
subiu para R$ 4,85 trilhões em dezembro de gastos públicos, com redução de gastos
de 2017, o equivalente a 74% do PIB. Em correntes e de menor importância (despe-
dezembro de 2016, o indicador havia en- sas com uso de bens e serviços, transferên-
cerrado em 74% (R$ 4,37 trilhões) – uma cias e demais despesas, redução do gasto
piora em termos absolutos. com pessoal, corte profundo de cargos em
O resultado da piora da dívida pública comissão e venda de estatais dependen-
pode ser explicado tanto pelo aumento da tes) e aumento do investimento público em
própria dívida, devido aos déficits agrava- infraestrutura, que tem maior impacto no
dos pela baixa receita, bem como pela que- crescimento futuro. Além disso, seria im-
da do denominador da fração (PIB). Essa perativa uma redução dos impostos sobre a
situação é problemática em um ambiente produção e consumo para então instituir o
em que a taxa básica de juros da econo- recolhimento sobre lucros por meio de uma
mia ainda é bastante elevada para os pa- reforma tributária mais abrangente, que in-
drões internacionais. centive investimentos. Por outro lado, como
A Abdib entende que é necessário um forma de se proporcionar uma transição
ajuste fiscal, mas este deve ser empre- suave, até a implantação da reforma tribu-
endido conjuntamente com propostas que tária, poderia ser instituída a CPMF como
não prejudiquem o investimento. Neste funding de investimentos em infraestrutu-
sentido, um bom exemplo a ser destaca- ra. Por último, mas não menos importante,
do é o Peru, que para reconquistar credi- os recursos obtidos por uma securitiza-
bilidade fiscal adotou regra para o cresci- ção da dívida ativa das empresas com a
mento dos gastos, porém, ao contrário do União poderiam ser direcionados a inves-
Brasil, não a enrijeceu excessivamente, timentos no setor.

1. Informações interessantes em linha com as da Abdib podem ser vistas em De Bolle (2018) e Romero (2017).

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AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

A reforma da Previdência tornou-se im- to do déficit vem sendo constante ao lon-


periosa para a efetividade do processo de go dos anos, pressionando as contas do
ajuste fiscal no Brasil. União, estados e mu- setor público e exigindo que o Estado gas-
nicípios terão de conduzir mudanças nos te a cada ano mais recursos com o paga-
regimes previdenciários que estanquem o mento de aposentadorias e benefícios,
crescimento das despesas e equilibrem pa- prejudicando, desta forma, gastos com
gamentos e receitas. Esta reforma precisa investimento, saúde, educação e seguran-
ser abrangente, sem distinção para grupos ça pública.
do setor público. O aumento do déficit previdenciário é
Considerar que é possível contornar o algo presente em diversos países, ocasio-
problema sem mexer em temas centrais da nado, sobretudo, pelo envelhecimento da
reforma previdenciária significa postergar população, mas também pela má alocação
o debate para o futuro próximo com enor- entre arrecadação e dispêndio, pressionan-
me prejuízo estrutural das contas públicas. do o saldo final da conta previdenciária e
O Regime Geral de Previdência apre- exigindo sempre respostas do setor público.
sentou um déficit de R$ 268 bilhões em Isso aconteceu em países como Espanha,
2017, com crescimento de 18,5 % em re- Portugal, Grécia entre outros exigindo re-
lação ao déficit de 2016. Este crescimen- formas urgentes no sistema previdenciário.

RESULTADOS PREVIDENCIÁRIOS (EM R$ MILHÕES)

500.000,0
437.1
400.000,0 365.4

300.000,0

200.000,0
120.040,5 123.4
100.000,0 37.1
9.300,0
0,0

-100.000,0
-71.7 -86.3
-110.7
-200.000,0
Setor Urbano - INSS Setor Rural - INSS Previdencia Setor Público

Arrecadação Despesas Déficit

Fonte: Secretaria da Previdência Social.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 13


UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

No Brasil a reforma da previdência ainda 2,3% (dados de 2017), porém participa


não avançou, exigindo anualmente um es- com 17,6% nos dispêndios previdenciá-
forço mais concentrado para que o sistema rios, uma clara má distribuição entre arre-
previdenciário não entre em total colapso. cadação e dispêndio. Além disso, há ne-
Segundo os dados extraídos da Secre- cessidade de eliminar privilégios de vários
taria da Previdência Social no Brasil, existe nichos do setor público.
de fato um problema estruturante em re- Dados da Secretaria da Previdência So-
lação ao regime previdenciário. Por exem- cial confirmam o crescimento do déficit
plo, o setor rural arrecada pouco mais de previdenciário em todos os regimes.

DÉFICIT PREVIDÊNCIA (EM R$ MILHÕES)

Setor Urbano Setor Rural Setor Público Déficit


INSS INSS Previdência

0,0

-50.000,0 -46.344,0
-71.709,5 -77.151,5
-100.000,0 -86.348,9
-103.390,0
-110.740,5
-150.000,0

-200.000,0
-226.885,5
-250.000,0
-268.798,9
-300.000,0

2016 2017

Fonte: Secretaria da Previdência Social.

Para que o Brasil possa voltar a cres-


cer é importante o equacionamento de
problemas estruturais. A reforma previ-
denciária é urgente para que o Estado
possa dar ao mercado e à sociedade as
garantias que as contas públicas estarão
ajustadas. Em segundo lugar, oferece a
oportunidade de o Estado recuperar a capa­
­cidade de investimento em setores co­­mo o
da infraestrutura, plataforma de geração de
empregos e com efeito multiplicador por
toda a economia. Tudo isso contribuiria
para a melhoria da percepção de risco com
relação ao país.

14
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

REFORMA TRIBUTÁRIA

A reforma tributária é umas das pautas cargas tributárias. A reforma tributária pro­
necessárias e urgentes para uma mudan- ­­posta ainda não reduz com esta exorbitan-
ça estrutural que permita ao Brasil retomar te carga de impostos, mas busca simplifi-
o caminho do crescimento econômico. O car o complexo sistema tributário brasileiro
Brasil é entre as economias em desenvol- eliminando as distorções que inibem e pre-
vimento a que possui uma das maiores judicam a produção e o investimento.

CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL - 2013 (EM % PIB)

18.3

15.4
14.8
13.9 14.2
13.4
12.2 11.8
11.2 11.3
10.2 10.1
9.2 9.5 9.5
8.1 7.8
6.7 6.5
6 6.1
4.4
3.4

1.4

Brasil Alemanha OCDE Espanha Austrália Suíça Estados Unidos México

Imposto sobre Bens e Serviços Imposto sobre Folha de Imposto sobre Renda
Pagamento e Contribuições Sociais e Propriedade

Fonte: Desafios da Nação – Ipea, 2018.

Em decorrência do desajuste tributá- países, com ganhos para a economia, in-


rio enfrentado pelo Brasil, cuja carga de centivando o investimento e as exporta-
impostos incide em maior grau a produ- ções. Esta alteração na estrutura tributá-
ção de bens e serviços, em contraponto ria é a que mais tem fomentado debates
aos tributos sobre a renda e patrimônio, e avançado no entendimento de sua real
é que surge a necessidade de mudança aplicabilidade.
deste padrão associado ainda a simplifi- O IVA é um imposto não cumulativo,
cação dos tributos. O imposto sobre va- incidente sobre o consumo, tributado no
lor agregado (IVA) visa substituir, em um destino e não incidente sobre a produção.
único imposto, o PIS, Cofins, IPI, ICMS e Cabe lembrar, que a atual legislação bra-
ISS. A criação deste imposto único é se- sileira é complexa, existem 27 legislações
melhante ao que já ocorre em diversos para o ICMS, dificultando e aumentando

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

os custos para às empresas pagarem seus


tributos. Segundo o Banco Mun­­­dial em
seu relatório Doing Business 2018 o Bra-
sil ocupa a posição 184o, entre 190 países,
com 1.958 horas gastas para cálculo e pa-
gamento de tributos. Entre os países dos
BRICS, o Brasil, é o que mais dispende
tempo para cálculo e pagamento de tribu-
tos, aumentando o custo do processo de
pagamento e diminuindo a produtividade
da empresa.

TEMPO PARA PAGAMENTO E CÁLCULO DE TRIBUTOS (EM HORAS)

1.958

214 210
168
72

Brasil Índia África do Sul Rússia China

Fonte: Doing Business, 2018 – Banco Mundial.

É importante destacar que no âmbito dos de capital, importante para a ampliação


consumidores, a apuração de um impos- dos investimentos e com ganhos para toda
to de forma mais simples e transparente, a cadeia produtiva. Consequentemente,
reduz o contencioso e permite ao cidadão retornos expressivos em termos de com-
a identificação mais clara do valor apura- petitividade com efeitos positivos sobre as
do na tributação e posterior destinação exportações.
do tributo, através das políticas públicas A reforma tributária é tema presente
implantadas com o valor arrecadado. Além na pauta política e econômica ao longo
disso, com uma estrutura tributária mais dos anos, e pouco se tem evoluído sobre
simples as empresas podem ser organizar o tema, porém há posição consensual
de forma mais eficiente alocando suas es- que deva haver uma reforma do sistema
truturas e variáveis produtivas com uma tributário. A forma e a intensidade da ins-
melhor otimização do processo produtivo. tituição das medidas propostas é algo
Os pontos positivos vão além. Com a que ainda perdura nas discussões, no en-
implantação do IVA e a não cumulativida- tanto o IVA tem se apresentando como
de no cálculo do imposto, haverá a redu- umas das sugestões mais factíveis entre
ção do custo para a fabricação de bens os especialistas.

16
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

SECURITIZAÇÃO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA

As operações de securitização da dívi- mercial que não gerou recolhimento de


da tributária dos entes públicos oferecem impostos pelo contribuinte no passado.
oportunidade real de contribuir, neste mo­­ Essas operações contribuirão para di-
mento de crise fiscal, com o aumento de namizar o mercado de parcerias público-
receita no orçamento dos entes públicos -privadas (PPP) nos governos estaduais e
(federal, estadual e municipal) e de im- municipais na medida em que parte dos
pulsionar investimentos públicos e priva- títulos emitidos poderá servir de lastro para
dos já no curto prazo – uma das princi- capitalizar fundos garantidores do poder
pais necessidades do Brasil. público para oferecer garantia para obri-
Essas operações não são novidade no gações do Estado em contratos de PPP.
mercado brasileiro, dado que já foram rea- Além disso, os recursos oriundos das
lizadas de forma bem-sucedida por gover- operações de securitização podem ser in-
nos estaduais e municipais com pareceres tegralmente ou parcialmente destinados
favoráveis de instituições de controle e ór- para investimentos públicos, elevando o po­
gãos reguladores de mercado. ­­­tencial de geração de empregos, rendas e,
As operações de securitização de dívida consequente, arrecadação tributária, ofe-
tributária não são consideradas operações recendo oportunidade para perseguir o
de antecipação de receitas, o que é vedado equilíbrio das contas públicas nacionais
pela Lei de Responsabilidade Fiscal, pois a também pelo estímulo ao crescimento das
dívida tributária tem, como fato gerador, receitas – e não somente pelos cortes de
uma ação pretérita – uma transação co- gastos públicos.

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

REFORMA DO ESTADO

Carga tributária elevada, demandas so- sem perspectivas de avanços sustentáveis


ciais reprimidas e crescentes, orçamento no médio e longo prazo, caberá inevitavel-
engessado, recursos alocados ineficien- mente aos legisladores e aos formulado-
temente, empresas estatais ineficientes e res de políticas públicas promoverem uma
dependentes do Tesouro, investimento pú- reforma da estrutura de gastos públicos no
blico em queda, rotineiramente prejudicado Brasil.
em momentos de desequilíbrio fiscal. Essas Para tal reforma, algumas diretrizes são
são apenas algumas constatações, resul- prioritárias. O espaço para a alocação dis-
tantes de inúmeros estudos e diagnósticos, cricionária de recursos orçamentários, de
que emperram o Estado e o impedem de ser acordo com as prioridades econômicas e
mais eficiente no exercício de suas compe- sociais do presente, está cada vez mais re-
tências fundamentais, seja nas áreas so- duzido, fruto do engessamento do orça-
ciais, seja nos investimentos públicos. mento público. Em que pese a renovação
Em um cenário em que vigora o teto de contínua de mecanismos que desvinculam
gastos, sem cortes na despesa corrente, e parcialmente receitas dos gastos obriga-
a retomada do crescimento não acontece, tórios há mais de 20 anos (mais recente-

18
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

mente, a DRU, Desvinculação de Receitas


da União), é importante promover refor-
mas legais que devolvam ao Poder Exe-
cutivo e ao Congresso Nacional a gestão
sobre a totalidade do orçamento público.
Em paralelo, as prioridades fiscais pre-
cisam passar por uma revisão legislativa e
administrativa corajosa. Uma parte muito
significativa do orçamento é alocada em
renúncia fiscal, desonerações, benefícios
a categorias de servidores públicos e gas-
tos com a máquina pública que compro-
metem a capacidade do Estado em apor-
tar recursos em programas e serviços que
beneficiem diretamente a população.
Movimento fundamen­­tal e corajoso
deve ser feito também em favor
das privatizações e redução
de gastos com a cobertura de
prejuízos de empresas estatais
dependentes. Como defensora his-
tórica da inserção e de maior partici-
pação da iniciativa privada em mercados
de infraestrutura, a Abdib considera inapro-
priada a presença do Estado em negócios
em que há atratividade para a iniciativa pri-
vada – não somente na infraestrutura.
É o momento de uma nova onda de
privatizações nas três esferas da adminis-
tração pública, redirecionando a atenção
do Estado para áreas sociais essenciais.
Não deve haver preconceito ou ideologia
na avaliação e seleção de ativos que po-
dem ser transferidos ao setor privado, e
sim análises que apontem custos e bene-
fícios, como no caso da Eletrobras e
suas subsidiárias.
O mesmo procedimento pode
ser adotado com outras empresas
estatais federais, estaduais e mu-
nicipais, dentro da racionalidade de
obter aumento de eficiência na presta-
ção dos serviços, redução de custos e
diminuição do endividamento público,
contribuindo para o ajuste fiscal.

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

DIRETRIZES PARA RETOMADA


DA INDÚSTRIA
A história do desenvolvimento econô- triais, seletivas ou verticais, deveriam ser
mico mostra que países que conseguiram abortadas por criar distorções no merca-
galgar níveis expressivos de crescimento do em favor de setores não competitivos.
estabeleceram, coordenadamente, um No entanto, uma análise qualificada e
conjunto de objetivos e medidas para este pragmática das trajetórias de crescimen-
fim. No Brasil, é importante rememorar to mostra que crescimento e estagnação
que do pós-Segunda Guerra Mundial até estão fortemente associados à composi-
o primeiro choque do petróleo (1973), ção setorial da produção e à pauta de ex-
houve um processo de forte crescimento portações dos países. Desta forma, apoiar
econômico liderado pela indústria. Cabe determinados setores pode ser importan-
lembrar que com uma indústria pujante e te para promover altas taxas de crescimen-
investimentos articulados na infraestru- to sustentável no longo prazo. Dado que o
tura, tal período conferiu ao país destaque processo produtivo é intrinsicamente dis-
na vanguarda do crescimento da econo- tinto entre os setores, a especialização se-
mia mundial com aumentos expressivos torial determina o potencial dos países em
nos níveis de produtividade. promover progresso tecnológico, o cresci-
Ao longo dos anos análises a-históri- mento da produtividade e consequente-
cas têm propagado a ideia de que o cres- mente o aumento da competitividade. Des-
cimento econômico não possui um cará- ta forma, não há sentido negligenciar políticas
ter setorial específico, isto é, que não há industriais seletivas com o argumento de
dinamismo distinto entre os setores da que promovem distorções no mercado uma
economia. Visões equivocadas têm pro- vez que estas distorções são escolhas es-
pagado a crença de que políticas indus- tratégicas do modelo de crescimento a ser

20
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

adotado pelos países. As chamadas políti- ca industrial. Neste sentido, é importante


cas horizontais de apoio à educação (inclu- uma taxa de câmbio que estimule a inser-
sive para o preparo dos profissionais para ção dos produtos manufaturados brasilei-
as novas tendências do mercado) e infra- ros no mercado internacional. Quanto aos
estrutura, por exemplo, embora certamen- juros da economia, diante de uma inflação
te essenciais, não são suficientes para que controlada, é importante reduzir ainda mais
o país possa crescer expressivamente. as taxas de juros e instituir uma nova for-
Por essa razão a Abdib faz propostas ma de gestão da política monetária. Isso
que visam promover a recuperação e a ex- porque aumentos das taxas de juros de-
pansão do setor industrial. Para tanto, con- vem ser utilizados apenas para o combate
sidera que a seleção de indústrias a serem da inflação de demanda. Além disso, cho-
promovidas deve ter foco em subsetores da ques advindos do pass-through cambial
indústria de transformação que possuam e do efeito dos preços administrados não
claro potencial de prover espraiamentos devem ser tratados via juros.
tecnológicos para outros subsetores e se- Entende-se que a abertura comercial
tores da economia. Ou seja, setores de mé- da economia é importante desde que se-
dia e alta tecnologia. Nesta estratégia é jam cumpridos certos requisitos para do-
essencial o papel do Estado promovendo tar a indústria de condições competitivas,
políticas públicas de pesquisa, desenvolvi- a saber, reforma tributária, infraestrutura
mento e inovação que possam ser absor- de qualidade e uma estrutura de preços
vidas posteriormente pelo mercado. Na relativos (câmbio e juros) equilibrados ao
indústria 4.0, por exemplo, diversos países investimento produtivo e exportações.
têm feito políticas ativas para desenvolvi- Mais do que isso, uma abertura tem de
mento do setor tendo o Estado com um ser muito mais ampla. Ou seja, abranger
papel preponderante para tal. o aumento da concorrência bancária, pois
Além disso, é de suma importância com- isso reduziria a taxa de juros da economia,
patibilizar a macroeconomia com a políti- melhorando a competitividade do país.

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

PROPOSTAS
MATRICIAIS

22
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

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PROPOSTAS MATRICIAIS

PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO

CENÁRIOS REALISTAS PARA NORTEAR pais projetos estruturantes e os critérios


UM PLANEJAMENTO RACIONAL de racionalidade que identifiquem clara-
mente os benefícios do investimento para
O Brasil tem deficiências no planeja- priorizar a execução. Não há uma estra-
mento de longo prazo que defina o rumo, tégia de desenvolvimento definida com
os nichos e as estratégias do país para o programas de investimentos articulados
crescimento econômico e o desenvolvi- para aumentar a eficiência da economia.
mento social. Essas falhas tornam-se per- Para alcançar esses objetivos, a Abdib
ceptíveis ao analisar o papel do Brasil no está desenvolvendo o chamado Observató-
cenário e na corrente de comércio na Amé- rio da Infraestrutura. Trata-se de uma plata-
rica Latina e no mundo. Na infraestrutura, forma online de conteúdo confiável sobre a
o cenário não é diferente. O histórico pla- infraestrutura no país. Tal ferramenta visa
nejamento insuficiente brasileiro não tem monitorar o mercado de infraestrutura em
permitido nem mesmo superar carências uma vasta gama de aspectos, como inves-
seculares e tem também comprometido a timentos, financiadores, regulações, aspec-
perspectiva de engatilhar no presente os tos jurídicos, licenciamentos, tecnologias,
projetos prioritários que permitam expan- aspectos ambiental e social, entidades par-
dir a oferta de infraestrutura que será ne- ticipantes, cronogramas de projeto, planos
cessária em um horizonte de médio e lon- e políticas de longo prazo, decisões e anún-
go prazo. cios governamentais, notícias da mídia e
É absolutamente fundamental restau- impactos econômicos.
rar a capacidade de planejamento de mé- O Observatório será provedor de
dio e longo prazo do Estado brasileiro planejamento robusto, cenários e di-
para que seja possível definir os princi- retrizes futuras, relatórios e análises

24
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

sob demanda da infraestrutura e de seus truturação e leilão de projetos públicos no


setores no país. Será uma importante fer- modelo de concessões e PPPs.
ramenta de planejamento de longo prazo O exemplo mais recente dos benefícios
da economia, permitindo desenvolver in- desse tipo de diretriz foi a criação do Pro-
fraestruturas que visem o crescimento grama de Parceria de Investimentos (PPI)
focado no aumento da competitividade em maio de 2016, ainda como medida
sistêmica do país, inserção em novos mer- provisória, e a partir de setembro do mes-
cados e aumento da produtividade. É impor- mo ano, como lei. O PPI criou uma instân-
tante ressaltar que, atualmente, este pro- cia intragovernamental que permitiu me-
jeto conta com apoio formal do Ministério lhorar as conexões entre órgãos públicos
do Planejamento, através de termo de co- intervenientes em projetos de concessão,
operação técnica. melhorou o diálogo com o setor privado,
Tão fundamental quanto garantir as con- deu mais previsibilidade na condução dos
dições para a seleção de projetos prioritários processos preparatórios e forneceu aos
baseados em critérios racionais é estabele- investidores uma perspectiva mais realis-
cer um trâmite organizado de preparação e ta dos projetos públicos ofertados pelo
modelagem destes projetos públicos de governo federal.
infraestrutura, articulando os diversos ór- Tal iniciativa deve ser mantida e, pre-
gãos públicos intervenientes em um mode- ferencialmente, disseminada pelos esta-
lo que garanta rigor, celeridade e qualidade dos e maiores municípios. Ademais, é de-
nas informações, estudos e procedimentos sejável que unidades públicas como o PPI
anteriores às licitações, seja no modelo de tenham independência, sobretudo de in-
obras públicas ou de concessão. fluência política. Um modelo que poderia
Governos federal, estaduais e munici- ser adotado é o da Infrastructure and Pro-
pais precisam manter e fortalecer órgãos jects Authority (IPA) do Reino Unido, que
ou unidades que tenham a função de con- trabalha na elaboração de projetos de qua-
duzir processos e modelagens para a es- lidade no setor de infraestrutura.

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PROPOSTAS MATRICIAIS

SEGURANÇA JURÍDICA

O ESTADO TEM DE SER PROTAGONISTA das empresas impedindo a entrega de ener-


NA PRESERVAÇÃO DA LEGALIDADE gia. A indefinição causou inadimplência
generalizada e judicialização no mercado
Conceito basilar, a segurança jurídica de curto prazo de energia.
deriva de um conjunto de leis, regras, de- Insegurança jurídica é o que paira ainda
cisões, atos e intenções do poder públi- sobre operadores de rodovias sob conces-
co, ratificadas ou não, construídas ao longo são. Há mais de 200 projetos de lei em
do tempo. Ter segurança jurídica não sig- tramitação em âmbito federal e estadual
nifica que o ambiente legal e contratual pleiteando descontos ou gratuidades para
será inflexível ou imutável, mas que re- grupos específicos. Um deles, o PLC 8/
pactuações, solução de conflitos ou im- 2013, pretende isentar do pedágio residen-
previstos serão conduzidos em ambiente tes e trabalhadores de cidades que tenham
de negócios onde previsibilidade e confian- praça de cobrança, gerando reequilíbrio
ça entre as partes serão mais regras que econômico financeiro e transferindo a con-
exceções. ta para o restante dos usuários, que deve
Alguns casos recentes exemplificam os sofrer, na média, reajuste de tarifas de
impactos e transtornos da falta de segu- 20%, chegando a 205% em caso específico.
rança jurídica causada por órgãos ou po- Um quarto caso afeta o gerenciamento
deres públicos. Em outubro de 2017, o de resíduos sólidos nos centros urbanos.
governo federal tomou decisão unilateral Em julgamento de uma ação de inconsti-
e revogou portaria que impedia voos de tucionalidade que questiona artigos do Có-
longa distância no aeroporto de Pampu- digo Florestal (Lei 12.651/2012), o Supre-
lha, afetando a sustentabilidade econômi- mo Tribunal Federal (STF) indica que vai
ca do aeroporto de Confins. A decisão foi desconsiderar a gestão de resíduos sólidos
cautelarmente suspensa pelo TCU. entre os serviços de utilidade pública. Pela
Outro exemplo é o vaivém em torno das lei, atividades de utilidade pública são per-
condições e prazos de pagamento das in- mitidas em Áreas de Preservação Perma-
denizações derivadas do processo de pror- nente (APP), nas quais funcionam quase
rogação de concessões de transmissão de todos os aterros sanitários, estruturas am-
energia em 2012 mediante redução tarifá- bientalmente licenciadas. Em votos e pro-
ria de 70%. Somente em 2016 o ministério nunciamentos, alguns ministros confundi-
setorial editou portaria indicando regras, o ram a atividade de gestão de resíduos por
que devolveu capacidade de investimento aterros sanitários (ambientalmente correta)
a muitas concessionárias. No entanto, as com lixões (irregulares) – que, por lei, de-
regras foram alvo de liminares do Poder Ju- veriam estar erradicados no Brasil desde
diciário e de propostas de mudanças em agosto de 2014. Se tal confusão prevalecer,
projetos de lei. quase todos os aterros sanitários correm o
O setor elétrico é palco de outro caso risco de serem fechados, impulsionando a
de insegurança jurídica: a indefinição do expansão dos lixões. O setor de resíduos
governo federal em dar solução para o ris- sólidos convive com insegurança jurídica
co hidrológico, medido pelo GSF, indica- também nos casos de inadimplência dos
dor que mensura a relação entre energia municípios, principalmente os que não con-
comercializada e energia entregue pelas tam com receita própria oriunda de taxas
hidrelétricas. Há fatores alheios à gestão ou tarifas para o custeio dos serviços.

26
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

Mais recentemente, ganhou repercus-


são geral no setor de infraestrutura a deci-
são do STF de concordar com a incidência
de IPTU em um arrendamento portuário no
Porto de Santos. O tema tem sido estuda-
do por empresas de ferrovias, aeroportos,
rodovias e transmissão de energia, entre
outras áreas. Há muita dúvida e questio-
namentos: pertinência da cobrança, prece-
dentes, excludentes, abrangência da deci-
são do STF, quais áreas da concessão
estariam sujeitas à incidência e, por fim,
direito a reequilíbrio econômico-financeiro.
Há receio de algumas concessões torna-
rem-se insustentáveis, bem como de perda
de atratividade para leilões futuros. A inci-
dência de IPTU, se abrangente, pode sig-
nificar tributação anual de bilhões de reais,
custos retroativos, centenas de conflitos
judiciais e transferência de custos para
usuários a partir de demandas de reequilí-
brio econômico-financeiro.
A segurança jurídica será mais eviden-
te quanto mais clara e menos discricioná-
ria for a regulação, quanto mais eficiente Estado os espaços em que há sobreposição
e independente forem as agências regula- de competências cabíveis a agências regu-
doras, quanto mais célere funcionar o Po- ladoras e outros órgãos do poder público.
der Judiciário. Cumprimento de contratos Essa é uma questão essencial para re-
e solução de imprevistos e desequilíbrios verter o sentimento de apagão decisório,
serão resultado de um ambiente de negó- caracterizado pela insegurança que se
cios com maior segurança jurídica. alastrou entre funcionários públicos com
Um dos fatores mais críticos atualmen- obrigação de tomar decisões em funções
te é o entendimento do papel dos órgãos importantes, como licenciamento ambien-
de fiscalização e controle. Há necessidade tal, formulação de editais e avaliação de
de o Congresso Nacional abordar definiti- pedidos de reequilíbrios contratuais em
vamente a pauta do limite de atuação des- contratos de concessão.
ses órgãos. O exercício das competências Em abril de 2018, a Presidência da Re-
de controle e fiscalização de programas, pública sancionou a Lei 13.655/2018, que
projetos e gastos públicos, com foco na inclui disposições sobre segurança jurídica
legalidade ou na eficiência, não pode se nas normas introdutórias do direito brasi-
confundir com a função de desenhar dire- leiro. A Abdib apoiou a matéria e considera
trizes e características de políticas públi- que a lei contribui para o processo gradual
cas, cabíveis a órgãos do Poder Executivo. e contínuo de fortalecer a segurança jurídica
Esse exame parlamentar precisa enten- no Brasil. Um ponto de destaque é exigir que
der a expansão das competências que o decisões públicas sejam fundamentadas e
tribunal assumiu recentemente, no vácuo que considerem sempre as consequências
de atuação de outros órgãos e poderes, práticas, não se limitando somente a valo-
para entender dentro da organização do res jurídicos abstratos.

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PROPOSTAS MATRICIAIS

ESTUDOS E PROJETOS

NOVA DINÂMICA PARA AMPLIAR A administração pública normatizar o arca-


OFERTA DE ESTUDOS E PROJETOS bouço legal que regula a participação pri-
vada na oferta de estudos e projetos, seja
A expansão do investimento em infra- incentivando o setor privado a participar das
estrutura no Brasil dependente direta- iniciativas destinadas a essas finalidades.
mente da existência de projetos bem es- Nesse sentido, a Abdib tem apostado
truturados para dinamizar, entre outras em modelos de PMI nos quais coordena
estratégias, o ritmo de concessões e par- a ação de múltiplos parceiros para a con-
cerias público-privadas (PPP). dução do processo de estruturação dos
Diante das limitações do poder público projetos e engaja empresas no financia-
na oferta de tais projetos, o Estado regu- mento dos estudos.
lamentou, nos últimos anos, a participação Como exemplo é possível citar o apoio
privada na elaboração e entrega de análi- a uma iniciativa do Ministério do Planeja-
ses e estudos que servem de base para a mento em que a Abdib tem o papel de
estruturação dos projetos. Atualmente, engajar o setor privado para aportar re-
uma boa parcela de empreendimentos via- cursos destinados a estudos e projetos
bilizados para investimento privado tem para modelar concessões e PPP em áreas
origem na estruturação privada. de infraestrutura urbana, como saneamen-
Defensora dessa diretriz, a Abdib tem to básico, resíduos sólidos, iluminação
historicamente contribuído para esse pro- pública e mobilidade urbana. Os recursos
pósito, seja oferecendo sugestões para a privados aportados serão complementados
por parcelas equivalentes do FEP, fundo
instituído pela Lei 13.529/2017 para apoiar
a estruturação de projetos. Pela proposta,
uma instituição de fomento, como por exem-
plo o Banco Mundial, será a responsável por
gerenciar a contratação de serviços téc-
nicos e estudos.
Em maio de 2018, o BNDES anunciou
a decisão de retomar a estruturação de
projetos de infraestrutura com uma equipe
dedicada para tais análises. Trata-se de
uma importante iniciativa, com pleno apoio
da Abdib, na medida em que o BNDES é
um dos mais experientes agentes nessa
frente de atuação, com reconhecido papel
na estruturação de projetos ao longo das
últimas décadas, inclusive no âmbito do
Plano Nacional de Desestatização (PND).

28
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

AGÊNCIAS REGULADORAS

cias reguladoras. Antes definido pelo mi-


nistério setorial, o orçamento passa a ser
estipulado pelo Ministério do Planejamen-
to, reduzindo risco de interferência polí-
tica. A estabilidade nos repasses orça-
mentários é fundamental para assegurar
condições para os reguladores capacita-
rem recursos humanos, atraírem talentos,
preservarem a memória técnica da insti-
tuição, realizarem pesquisas e inventários
e fiscalizarem contratos.
O PL obriga o ente regulador a realizar
análises de impacto regulatório (AIR) an-
tes de propor e efetivar mudanças regula-
tórias. Como a agência reguladora tem po-
der normativo, com impacto nos negócios
das empresas, nas ações do poder conce-
dente e nos interesses dos usuários, é im-
portante adotar tal processo. Já há trabalho
conduzido pelo Ministério da Casa Civil
para estabelecer diretrizes, metodologia e
NO CONGRESSO, PROJETO DE LEI TRAZ critérios para conduzir AIR.
REGRAS VALIOSAS A proposição legislativa também aten-
de reivindicação das empresas e da Ab-
As agências reguladoras, após 20 anos dib na medida em que estabelece crité-
de existência no Brasil, convivem com a rios técnicos mais adequados e rigorosos
expectativa de passarem por um processo para a seleção e nomeação de diretores
de fortalecimento. O PL 6.621/2016, em tra­ das agências reguladoras, reduzindo opor-
­mitação na Câmara dos Deputados e já tunidades para aparelhamento político na
aprovado no Senado Federal, tem poten- composição das diretorias das agências
cial de cumprir essa diretriz. reguladoras. Adicionalmente, propõe-se
Além de padronizar a governança de regramento para evitar vacâncias nas di-
agências reguladoras criadas em momen- retorias. Apesar de menos intenso atual-
tos diferentes, o projeto de lei introduz me­ mente, a vacância nas instâncias superio-
­ca­­nismos que prometem maior in­­de­­pen­­ res dos entes reguladores ainda é um
dên­­cia orçamentária, fortalecimento insti- problema grave.
tucional, capacitação de quadros técnicos, A Abdib defende também medida que
redução das vacâncias de diretorias, mais dê amparo jurídico para servidores das
rigor na seleção de candidatos a diretores agências reguladoras, pois há uma espé-
e proteção jurídica ao corpo técnico dos cie de “apagão decisório” em virtude do
reguladores. receio de sofrerem processos judiciais ou
Um dos pontos fundamentais defendi- sanções administrativas devido a discor-
dos pela Abdib e previsto no PL 6.621/2016 dâncias entre instituições de formulação
aborda a provisão orçamentária das agên- e de controle de políticas públicas.

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PROPOSTAS MATRICIAIS

FINANCIAMENTO E GARANTIAS

O NOVO MODELO DE FINANCIAMENTO DE de dívida pública, principalmente, podem


LONGO PRAZO PASSA PELAS GARANTIAS se transformar em fonte relevante de recur-
sos para o financiamento da infraestrutura
Está em curso no Brasil uma transição caso haja extensão do incentivo tributário
de um modelo de financiamento de longo para títulos adquiridos por estes entes.
prazo, antes suportado majoritariamente Além disso, há potencial para atrair a
pelo BNDES e demais bancos públicos, liquidez internacional para investimentos
para outro, mais diversificado. Mudanças internos em infraestrutura. Para isso, sur-
na taxa de juros adotada pelo BNDES ge proposta para incentivar a captação de
(agora, com a TLP) e a redução acentuada recursos estrangeiros por emissões de
da taxa básica de juros (Selic, de 14,25% debêntures com isenção de imposto de ren-
para 6,50% em dois anos) forçaram novas da, o que é importante no atual momento
estratégias de poupadores e investidores. da economia. A sugestão consiste em pro-
Em primeiro lugar, é preciso salientar mover duas alterações na Lei 12.431/2011.
a necessidade de preservar a importância Na primeira, incluir a possibilidade de re-
do BNDES, tanto no financiamento quan- muneração por taxa de juros pós-fixada
to na estruturação de programas e parti- em Certificado de Depósito Interbancário
cipação em fundos de investimentos. A (CDI), em reais ou moeda estrangeira. A
instituição de fomento tem papel relevan- lei permite somente remuneração por
te a desempenhar na infraestrutura. taxa de juros pré-fixada vinculada a índi-
Em segundo lugar, apesar da redução ce de preços ou taxa referencial. Na se-
de tamanho, o BNDES continuará a ser gunda, títulos emitidos no exterior em
fonte importante no financiamento de lon- moeda estrangeira passariam também a
go prazo, pois os bancos privados não pos- ser beneficiados com isenção tributária
suem funding com prazos mais dilatados. – e não somente para emissões locais.
Um terceiro ponto importante: a reto- O New Development Bank (NDB), por
mada dos investimentos em infraestrutu- fim, também apresenta potencial para ser
ra na dimensão que a economia requer um agente importante para o financiamen-
dependerá de todas as fontes de financia- to de projetos de infraestrutura no Brasil.
mento disponíveis, incluindo recursos ex- Com três anos de funcionamento, o banco
ternos e mercado de capitais, além das já tem uma carteira de 21 projetos aprova-
tradicionais fontes oficiais e multilaterais. dos, totalizando US$ 5,1 bilhões, dos
Nesse contexto, é esperado um prota- quais quatro projetos estão localizados no
gonismo do mercado de capitais, como é Brasil, com financiamento de US$ 620 mi-
possível perceber pela elevação dos valo- lhões. Os desembolsos, até o momento,
res das debêntures incentivadas de infra- rumaram principalmente para Índia (34%
estrutura para pessoas físicas. No entan- do total), seguida por China (23%), Brasil
to, será necessário ampliar a colocação (12%) e África do Sul (7%). O Brasil preci-
desses papéis com benefícios fiscais para sa acelerar providências para aproveitar
além das pessoas físicas quando houver os recursos disponíveis no NBD para, via
uma retomada da economia. BNDES, fundos de investimento (private
Os fundos de previdência privada, com equity) ou crédito direto para empresas,
R$ 730 bilhões de ativos aproximadamente, dinamizar o financiamento para empreen-
alocados atualmente em renda fixa e títulos dimentos de infraestrutura no país.

30
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

Project finance
Nesse contexto de mudanças, avançou distribuição mais eficiente dos riscos en-
a percepção da urgência em adotar o pro- tre governos, agentes privados e financia-
ject finance non recourse no financiamen- dores. Inclui certificação de projetos na
to dos investimentos em infraestrutura. fase de licitação, perícias técnicas para
Para isso, é fundamental reforçar a segu- garantir a qualidade da obra e processos
rança e as garantias aos financiadores e de gestão de conformidade. A ampliação
demais partes relacionadas. da utilização do seguro garantia na legis-
A Abdib articulou uma solução que lação de contratação pública também re-
prevê foco na implantação do empreendi- forçará o arcabouço para a estruturação
mento, monitoramento intensivo na fase de financiamento para os investimentos
pré-operacional e substituição de garan- em infraestrutura.
tias corporativas (restritas) e/ou fiança A cobertura de riscos não gerenciáveis
bancária (custos elevados) por um pacote pelo empreendedor é também fator rele-
de apólices de seguros e demais garantias vante e encontra guarida em soluções já
destinadas às especificidades de investi- constituídas, como o Fundo Garantidor
dores, poder concedente e financiadores. de Infraestrutura (FGIE) no âmbito federal.
Além disso, a solução defendida pela Para o funcionamento adequado, é preci-
Abdib se atrela a outros fatores críticos, so haver capitalização em montante com-
como a existência de estudos e projetos patível com o volume de investimentos
de qualidade superior, a definição de ma- em infraestrutura esperado para os pró-
triz de riscos mais completa e a própria ximos anos.

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PROPOSTAS MATRICIAIS

MEIO AMBIENTE

SÓ UMA LEI GERAL PARA O


LICENCIAMENTO AMBIENTAL
NÃO BASTARÁ

Desenvolvimento e meio ambiente são


interdependentes. A existência de infra-
estrutura, ao lado da presença das insti-
tuições públicas, é condição essencial
para o desenvolvimento econômico e so-
cial e também para evitar a degradação
dos recursos sociais e naturais. De outro
lado, o desenvolvimento econômico e so-
cial não se sustenta sem a devida viabili-
dade ambiental.
Diante da enorme parcela da população
ainda carente de serviços essenciais, como
saneamento, transporte e energia, o licen-
ciamento ambiental, aliado às melhores
práticas de gestão e alternativas tecnoló-
gicas, assume função importante para ga-
rantir o investimento sustentável em infra-
estrutura.
O sistema de licenciamento ambiental
brasileiro para infraestrutura é avaliado por
muitos especialistas como um dos mais
modernos e rigorosos do mundo, com pa-
râmetros elevados em consideração aos
adotados em outros países. Essa qualifi-
cação, no entanto, precisa garantir que os
resultados almejados – os investimentos Há muitos agentes intervenientes ou inte-
com desenvolvimento sustentável – sejam ressados, como ministérios, autarquias,
alcançados. órgãos estaduais e municipais, Fundação
Se de um lado é considerado rigoroso, Palmares, Iphan, Funai, Incra, ONGs, mo-
é certo também que o sistema de licencia- vimentos sociais, populações afetadas,
mento ambiental é complexo devido a sua órgãos de controle e Poder Judiciário.
diversidade de atores envolvidos. Atual- A abrangência e a complexidade dos es-
mente, é regrado por um conjunto de nor- tudos ambientais são crescentes, tanto
mas que inclui leis federais, estaduais e quanto as demandas ambientais da socie-
municipais; decretos; portarias do Minis- dade, transformando o licenciamento am-
tério do Meio Ambiente e outras intermi- biental em um balcão de negociação e em
nisteriais; instruções normativas do Ibama, um processo bastante crítico. Por isso, es-
ICMBio, Funai e Iphan; e resoluções do pecialistas, gestores públicos e agentes
Conama, não esquecendo as normas dos privados concordam que é fundamental
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente. reordenar os procedimentos de licencia-

32
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

mento ambiental, estabelecer critérios e esforço de revisão legal, aperfeiçoa aspec-


conceitos, bem como prazos e responsabi- tos sobre licenças ambientais, área de in-
lidades em uma Lei Geral de Licenciamento fluência dos projetos, estipula prazos para
Ambiental para conferir segurança jurídica. as etapas do licenciamento e revê exigên-
E, portanto, as questões socioambientais cias consideradas desnecessárias. Cria
devem ser interpretadas e tratadas com a ainda novos procedimentos para o licen-
mesma relevância que as outras disciplinas, ciamento ambiental – licenciamento unifi-
tanto pelo lado do investidor quanto dos cado e licenciamento por adesão e com-
demais órgãos envolvidos no desenvolvi- promisso – para empreendimentos de
mento e na implantação de projetos. baixo impacto socioambiental, nos quais
O PL 3.729/2004, em tramitação na Câ- o licenciamento deve ser mais rápido para
mara dos Deputados, propõe uma Lei Ge- dinamizar o mercado e diminuir a carga
ral de Licenciamento Ambiental. Ele man- de trabalho do serviço público, que deve
tém a diretriz de distribuir competências concentrar esforços em processos com
entre União, estados e municípios. Nesse significativo impacto ambiental.

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PROPOSTAS MATRICIAIS

Outro aspecto importante da atual ver- É fundamental, adicionalmente à revi-


são do PL 3.729/2004 é determinação são normativa, melhorar a qualidade de
para que órgãos ambientais criem uma estudos, concentrar discussões sobre im-
base de dados para que diagnósticos am- pactos socioambientais nas fases prévias
bientais realizados em estudos anteriores do planejamento setorial e do licenciamen-
possam ser aproveitados em processos to e também fortalecer a estrutura técnica
de licenciamento futuros para que possam e administrativa dos órgãos ambientais.
ter o tratamento adequado, tal qual defen- O Estado – governos federal, estaduais e
de a Abdib. Esses bancos de dados sobre municipais – precisam destinar recursos su-
biodiversidade e patrimônio sociocultural ficientes aos órgãos ambientais, em mon-
serão importantes ferramentas de gestão tante compatível aos desafios presentes em
na medida em que buscam sistematizar um cenário no qual a sociedade brasileira
e permitir a consulta de informações de alçou a sustentabilidade ambiental como
áreas já estudadas e, certamente, contri- diretriz essencial do desenvolvimento eco-
buirão para o devido monitoramento dos nômico e social. Equipes em tamanho e
impactos, além de reduzir custos e prote- qualificação adequados, sobretudo para
ger todos aqueles envolvidos e influencia- funções essenciais, com investimentos em
dos pelo empreendimento, portanto, de- informatização, digitalização, organização e
signando a responsabilidade a quem der métodos, planos de carreira e treinamento.
a causa ao dano. Por fim, o rito ambiental não está livre,
Se uma lei geral pode trazer mais segu- tal qual em outros processos inerentes a
rança jurídica para o trâmite das licenças projetos de infraestrutura, da possibilidade
ambientais, é basilar que, isoladamente, de servidores públicos serem responsabi-
ela será limitada para prover melhorias sig- lizados criminalmente por órgãos de con-
nificativas à gestão socioambiental na in- trole mesmo quando as decisões são to-
fraestrutura, de onde se espera mais pre- madas com base em estudos, processos
visibilidade quanto a custos e prazos formais e normas vigentes. É preciso ofe-
envolvidos. recer suporte jurídico a eles.

34
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

CONTRATAÇÃO PÚBLICA

HÁ CAMINHOS PARA MELHORAR uma nova lei geral para as contratações


AS REGRAS DE LICITAÇÕES públicas, como a que tramita atualmente
no Congresso Nacional.
Há um consenso entre empresários e Um dos pontos de maior atenção é o
especialistas do setor de infraestrutura: capítulo das garantias. A Abdib defende
as principais leis e normas que regem as utilização maior para o seguro garantia.
contratações públicas – Lei 8.666/93, Re- Trata-se de instrumento eficiente para
gime Diferenciado de Contratação, pregão obras e serviços relacionados à infraestru-
eletrônico – não são eficientes para propi- tura, ainda mais relevante no caso de obra
ciar uma boa contratação pela adminis- e serviço de engenharia de grande vulto,
tração pública. O processo é moroso, há pois o seguro garante o cumprimento das
judicialização excessiva, milhares de obrigações assumidas pelo contratado.
obras públicas paralisadas e abandona- A posição da Abdib tem duas diretrizes
das, elevados custos de transação e di- principais. Primeiro, que os seguros sejam
versos efeitos contrários aos pretendidos. suficientes para cobrir o custo adicional
Na visão da Abdib, um cenário ideal para substituir a empresa original e permi-
incorreria na existência de uma lei especí- tir a retomada das obras quando houver
fica para a contratação pública de projetos problemas com as empresas contratadas.
e obras de infraestrutura. Na ausência de Afinal, é para isso que serve o seguro ga-
tal legislação, a Abdib apoia a criação de rantia e, por isso, ele tem de ser dimensio-

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PROPOSTAS MATRICIAIS

nado adequadamente. Segundo, que o segu-


ro garantia seja fortalecido e as apólices sejam
exequíveis.
Caso haja mudanças no projeto, o que é
muito comum na infraestrutura, sobretudo
em obras de grande vulto, é preciso adaptar
as apólices originalmente contratadas, tor-
nando-as exequíveis.
A Abdib advoga pela ampliação da cober-
tura de seguro garantia para obras e serviços
de engenharia de grande vulto para 30% do
valor do contrato, índice considerado neces-
sário para permitir que a apólice seja sufi-
ciente para a seguradora cobrir os custos
adicionais quando tiver de substituir o con-
tratado original por outro fornecedor – com
cláusula obrigatória de retomada de obras
(step in, onde a seguradora faz intermedia-
ção nesta troca de empresas). Para obras
de menor vulto, o percentual de seguro ga-
rantia não deve exceder 20% do valor do
contrato – deve ser em patamar suficiente
para a retomada das obras. O seguro de
propostas em até 1% do valor da contrata-
ção está em patamar adequado. São essas
as recomendações para o capítulo de ga-
rantias da nova lei de contratações públicas,
que tramita na Câmara dos Deputados no
PL 1.292/1995, ao qual foi apensado o PL
6.814/2017.
De forma estrutural, é importante consi-
derar que a proteção adequada ao poder
público na contratação de bens e serviços,
sobretudo quando envolver obras de grande
vulto, requer análise de riscos metódica e
rigorosa, identificando a matriz de riscos e
vulnerabilidades e adotando medidas que
previnam, mitiguem ou aloquem correta-
mente os riscos. A análise criteriosa apon-
tará a necessidade de um pacote de apólices
que dê segurança aos aspectos físicos e
contratuais do projeto, bem como demais
garantias. A solução se completa com o mo-
nitoramento das fases de construção e ope-
ração dos empreendimentos, contribuindo
para detectar vulnerabilidades causadoras
de atraso nos cronogramas e estouro nos
orçamentos.

36
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

DESAPROPRIAÇÕES

MODERNIZAR A LEGISLAÇÃO SOBRE A Abdib advoga algumas diretrizes


DESAPROPRIAÇÕES para a modernização da legislação sobre
desapropriações por utilidade pública. É
Na década de 2000, quando surgem necessário distribuir de forma mais equi-
iniciativas para retomar e acelerar inves- librada as responsabilidades entre admi-
timentos públicos e privados na infraes- nistração pública e agentes privados,
trutura, a dificuldade de promover desa- resguardando ao poder concedente atos
propriações passou a atrasar ou paralisar como a declaração de utilidade pública,
diversos empreendimentos conduzidos mas permitindo que particulares realizem
pela administração pública ou por empre- ações de desapropriação. É inteligente,
sas e concessionárias. Surge a percepção ainda, evitar a alocação integral do risco
de que é necessário modernizar a legisla- a uma das partes contratantes ou a divi-
ção sobre o assunto. são desproporcional de obrigações.
Independentemente se os processos são Adequações terão de ser feitas tam-
conduzidos por agente público ou privado, bém nas leis que regem concessões e
conflitos derivados da falta de acordo com contratações públicas, permitindo que
proprietários cresceram e tornaram-se obs- o poder público seja o responsável pe-
táculos significativos, a ponto de o tema los pagamentos das indenizações de-
invadir a agenda pública e privada de pro- vidas aos proprietários dos imóveis
postas necessárias para a melhoria do am- mesmo quando os atos intrínsecos à
biente para negócios e investimentos. desapropriação forem promovidos por
Nesse contexto, o governo federal, em agente privado.
dezembro de 2015, editou a Medida Pro- Um dos pontos nevrálgicos da neces-
visória 700/2015. O objetivo foi alterar o sária atualização da legislação sobre de-
Decreto-Lei 3.365/1941, que disciplina a sapropriações públicas é o estabeleci-
desapropriação por utilidade pública. O mento de prazo para decisão acerca da
impulso modernizador prevaleceu por imissão na posse quando há declaração
pouco tempo. Infelizmente, a MP 700/2015 de urgência. A liberação da área a ser
perdeu eficácia em razão de não ter sido desapropriada, para fins de imissão na
apreciada pelo Congresso Nacional no posse, ocorre apenas após determinação
prazo constitucional. A perda de eficácia, do valor justo pelo juízo e atualmente
todavia, não dissipou a necessidade de não há cumprimento de prazo legal para
revisar as normas. a conclusão do laudo pericial.

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PROPOSTAS MATRICIAIS

CONCESSÕES

REGULAMENTAR LEI E SOLUCIONAR Na área ambiental, houve atraso para


CONTRATOS PENDENTES recebimento das licenças ambientais, a
cargo do poder concedente. Além disso,
Concessões de ativos federais nas áreas as licenças foram entregues fatiadas,
de rodovias e aeroportos outorgados para com permissão para intervenções em tre-
a iniciativa privada entre 2012 e 2014 pas- chos separados e distantes, o que exigiu
saram a enfrentar diversas dificuldades desmobilizações de canteiros de obras e
de natureza econômica e financeira que, custos adicionais pelas concessionárias
consequentemente, demandaram atenção rodoviárias.
do poder concedente. O financiamento público de longo prazo
A crise econômica iniciada em 2014 do BNDES para boa parcela dos investi-
reduziu drasticamente as perspectivas de mentos obrigatórios não foi aprovado em
receitas apontadas nos estudos. A estru- condições idealizadas na época dos leilões,
turação e modelagem dos projetos de con- em virtude da deterioração das variáveis
cessão alocaram riscos de forma dese- econômicas e financeiras dos projetos e/ou
quilibrada, ignorando boas práticas de das finanças de empresas controladoras.
compartilhamento entre agentes públicos Propostas agressivas – ágios elevados
e privados envolvidos. nas outorgas de aeroportos e deságios
significativos nas tarifas de pedágio nas
rodovias – tornaram ainda mais desafia-
doras as perspectivas de condução dos
investimentos obrigatórios. Por fim, quais-

38
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

quer evidências de desequilíbrio passaram a para a tomada de decisão do concessio-


enfrentar morosidade ou postergação no nário sobre antecipar ou não o término do
processo de análise pelos reguladores em contrato de forma amigável – por exemplo,
virtude de pressões dos órgãos de controle. o método de cálculo das indenizações e a
O governo federal demorou a perceber cessação de obrigações de investimentos.
a dimensão do problema e o impacto so- É urgente que o Poder Executivo tome uma
cial do imbróglio jurídico em torno das decisão a respeito das questões técnicas e
empresas, concessões e planos de inves- da forma – se via decreto do Poder Execu-
timento. Além da demora, a estratégia ini- tivo ou resoluções de agências reguladoras
cial, de oferecer duas opções de solução A Abdib produziu e entregou às autori-
– a solução privada ou a devolução ante- dades públicas um documento com dire-
cipada de forma amigável mediante inde- trizes e recomendações para que a regu-
nização –, foi parcialmente implantada. lamentação seja efetiva em atingir objetivos
No último trimestre de 2016, o governo idealizados pelos legisladores. Um exem-
federal editou medida provisória para ofe- plo é a necessidade de fazer cessar multas
recer uma alternativa de solução para as e obrigações de investimentos a partir do
concessões problemáticas – transforma- momento em que a empresa manifestar a
da na Lei 13.448/2017. A legislação, no en- decisão de devolver a concessão.
tanto, não gerou resultados esperados por- Já a solução privada ganhou legisla-
que, um ano após a sanção, ainda não foi ção no setor aeroportuário, mas não no
regulamentada. Há questões importantes rodoviário. Para as concessões de aeropor-
para serem definidas que são decisivas tos, houve a sanção da Lei 13.499/2017,

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PROPOSTAS MATRICIAIS

Além do mais, as indefinições criaram


duas possibilidades nada otimistas. Em
uma delas, há a perspectiva de transferên-
cia da solução para a esfera judicial, caso
a regulamentação da Lei 13.448/2017 não
seja feita ou as normas sejam incompatí-
veis com as expectativas das atuais con-
que oferece a alternativa de reprogramar cessionárias, acrescentando ainda mais
o pagamento dos valores das outorgas. O instabilidade e falta de perspectiva de cur-
objetivo é preservar o interesse público ao to prazo para a retomada de investimen-
manter condições contratuais favoráveis tos em ativos de transportes listados en-
aos usuários e ao poder concedente e tam- tre os mais importantes do país.
bém garantir investimentos já contratados. Em outra frente, caso a regulamenta-
Os mesmos objetivos não foram sufi- ção da Lei 13.448/2017 ocorra e traga re-
cientes para aprovar legislação oferecendo gras consideradas satisfatórias pelas con-
uma alternativa de solução privada para cessionárias, ocorrerá a devolução das
as concessões rodoviárias. A MP 800/2017, concessões para nova licitação pelo poder
que sugeriu critérios e contrapartidas para concedente. Consequentemente, haverá
reprogramar investimentos em conces- um processo moroso de elaboração de
sões rodoviárias federais, não foi votada novos estudos, modelagem da concessão,
no prazo regimental e perdeu validade. aprovações por órgão controlador e reali-
Desde 2015, quando os problemas fi- zação de novo leilão, com outorgas e ta-
caram evidentes, um único contrato de rifas menos satisfatórias ao poder conce-
concessão aeroportuária conseguiu solu- dente e aos usuários, respectivamente.
ção estruturante a partir da reprograma- A Lei 13.448/2017 também traz meca-
ção de pagamento de outorgas e transfe- nismos para autorizar a prorrogação ante-
rência de controle para outra operadora. cipada de concessões ferroviárias median-
A decisão era urgente em 2015 e tor- te novos investimentos na malha férrea.
nou-se, atualmente, ainda mais. A poster- Da mesma forma, há assuntos que deman-
gação da solução paralisou ou desacele- dam regulamentação, por meio de decre-
rou investimentos, deixando de injetar na tos e/ou de portarias ministeriais, entre
economia recursos importantes no curto eles: extinção de contratos de arrendamen-
prazo, capazes de gerar empregos, aumen- to, devolução de trechos ferroviários con-
tar a arrecadação de impostos e melhorar siderados antieconômicos, inventário de
a qualidade dos serviços. edificações e desfazimento de bens.

40
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O COMÉRCIO EXTERIOR PRECISA FIGURAR mentar significativo na viabilidade de pro-


ENTRE AS PRIORIDADES DO PAÍS jetos de infraestrutura no Brasil, por
exemplo, aportando recursos em fundos
de participação destinados a apoiar pro-
Entre as dez maiores economias do jetos locais. Uma terceira frente para for-
mundo, o Brasil nunca foi protagonista na talecer a atuação nas esferas de coorde-
pauta de comércio exterior. As maiores nação e operação dos Brics (Brasil, Rússia,
economias tratam o comércio com outros Índia, China e África do Sul).
países como política estratégica e priori- Outra frente específica é a de exporta-
tária. No Brasil, o tema nunca possuiu tal ção de bens e serviços de infraestrutura.
prestígio. O Estado brasileiro precisa considerar este
Para ter maior inserção no fluxo de co- mercado mundial como parte importante
mércio global, o Brasil precisa ter uma de uma estratégia de geração de emprego,
agenda em múltiplas frentes. Uma delas renda e crescimento econômico para o
é ampliar participação em missões em- país. Dessa forma, terá de dinamizar o sis-
presariais e governamentais para países tema brasileiro de apoio para exportação.
com potencial de fortalecer relações e flu- Na área de bens e serviços de infraes-
xos comerciais. Outra é aumentar a influ- trutura, um mercado global dos mais com-
ência em instituições mundiais de fomen- plexos e acirrados, as empresas brasileiras
to, como o New Development Bank (NDB), conseguiram ocupar posições de des-
que pode passar a exercer papel comple- taque, mas esta participação foi reduzida

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 41


PROPOSTAS MATRICIAIS

significativamente nos últimos anos, exi-


gindo reposicionamento estratégico e re-
O Brasil já
ação. Trata-se de um mercado restrito. respondeu por
Estima-se que aproximadamente 300 em-
presas de 15 países dividam o conjunto
de receitas advindas do mercado de ex- do mercado global
portações de bens e serviços de infraes- de bens e serviços
trutura. O Brasil já respondeu por 2,3% do de infraestrutura
mercado global de bens e serviços de in-
fraestrutura, liderado por Espanha, Esta-
dos Unidos e China. Regionalmente, o
Brasil avançou significativamente na
América Latina (de índice irrelevante em
Avançou para
2004 para 17,8% do mercado latino-ame-
ricano em 2012) e na África (de índice
irrelevante em 2004 para 4,1% do merca-
na América Latina
do africano em 2012)2. Em 2016, no en-
tanto, a participação brasileira nesse mer-
cado global recuou para 1,0% de um
mercado global de US$ 468 bilhões3. Na na África em 2012
América Latina, essa participação recuou
para 8,7%. Na África, foi reduzida a 2,4%.
Além dos ganhos em termos de com-
petitividade, há que se dar destaque para
a cadeia de fornecedores envolvida nas
exportações de bens e serviços de infra-
estrutura. Cada empresa exportadora bra-
sileira nestes mercados serve como ân-
cora para as vendas externas de um
conjunto de 2.800 empresas, sobretudo
micro, pequenas e médias.
É por isso que impulsionar a exporta-
ções de bens e serviços de engenharia
assume papel relevante na estratégia de
desenvolvimento das principais nações
desenvolvidas e emergentes, que apoiam
as exportações de suas empresas por
meio de programas de financiamento às
exportações e mecanismos de seguro de
crédito e garantias, entre outras ações.
Para que o Brasil possa retomar posições,

2. E xportação de serviço de engenharia, produto invisível que


gera um visível canal de comercialização de bens e uma
consistente cultura exportadora. Artigo de José Augusto
de Castro, presidente da Associação de Comércio exterior
do Brasil (AEB), publicado na Revista Brasileira de
Comércio Exterior (RBCE) 119 de abril – junho de 2014.
3. ENR – Engineering News Record, compilado pelo Sindicato
Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura
(Sinicon).

42
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

o cenário será ainda mais desafiador, inter-


na e externamente. Há enorme liquidez in-
Aproximadamente ternacionalmente, com taxas de juros bai-
xas, em apoio a concorrentes brasileiros.
empresas de países A partir da crise de 2008 e da entrada
dividem o conjunto de receitas em vigor das Regras de Basileia III, que
advindas do mercado de exportações
impactaram de maneira incisiva o setor
de bens e serviços de infraestrutura
bancário privado, as agências de crédito
à exportação internacionais têm ampliado
o volume de apoio às exportações de seus
países bem como aprimorado os mecanis-
mos de apoio, tais como:

A cada empresa
exportadora Maior uso de garantias incondicionais:
brasileira basta a notificação do sinistro pelo credor
ao garantidor para o pagamento da inde-
nização, o que confere maior segurança
empresas realizam jurídica ao primeiro e confere maior com-
vendas externas petitividade às exportações.
Intensificação de linhas de apoio à inter-
nacionalização de empresas (IED).
Ampliação dos percentuais de financia-
mento de gastos locais (importações não
originárias do país que está financiando
o projeto).
Financiamento à importação para tornar
mais competitivos os bens e serviços
produzidos pelo país da agência de cré-
dito à exportação.
Permanente avaliação de processos de
contratação para tornar o apoio oficial
mais ágil e conferir competitividade às
empresas de seus respectivos países.
Abertura de escritórios das agências de
crédito à exportação em países-foco das
estratégias de mercado dessas instituições.
A título de exemplo, as agências chi-
nesas de crédito à exportação exigem 60%
de exportações chinesas – e o restante do
crédito pode ser aplicado livremente. A
UK Export Finance (UKEF) financia até
80% de gasto local ou compras estrangei-
ras para exportadores do Reino Unido, o
que também tem ocorrido com inúmeras
outras agências de crédito à exportação.
Na prática brasileira, por outro lado, não
há garantia incondicional e não é admitido
o financiamento de qualquer gasto local ou

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 43


PROPOSTAS MATRICIAIS

importações. Ocorreu o encerramento de dos agentes públicos em autorizar as ope-


escritórios do BNDES no exterior e o prazo rações de crédito.
de análise da concessão de crédito é o mais Uma política pública brasileira, mais
longo do mundo, com 457 dias em média ativa, para a exportação de bens e servi-
(na China, o prazo é de 120 dias entre o ços de infraestrutura, não pode prescin-
pedido e o primeiro desembolso. Nos EUA, dir do papel do BNDES, de orçamento
60 dias. Na média mundial, 180 dias). suficiente em programas oficiais de apoio
Da mesma forma, o processo inconclu- às exportações, de celeridade nas opera-
so de ajuste no Brasil prejudica o papel de ções, bem como da criação de condições
fomento do BNDES e de programas sóli- para o financiamento comercial (bancos
dos de financiamento às exportações. A privados) das exportações brasileiras,
atuação de órgãos de controle gera receio entre outras medidas detalhadas abaixo:

Seguro de crédito à exportação


A aprovação da Emenda Constitu- ao seguro) em fundo financeiro (hoje
cional n 95/2017, traz consigo proble-
o
escritural e alocado no patrimônio do
ma a ser resolvido para que o mecanis- Ministério da Fazenda), de modo que
mo de seguro de crédito à exportação seja possível contar de imediato com
continue existindo. Isso porque, no seus recursos para honrar pagamentos
caso de ocorrência de sinistro expres- de eventuais indenizações. É preciso,
sivo, cuja indenização não esteja orça- contudo, que tal fundo tenha o aval da
da, pelas regras instituídas pela EC União para que a garantia do seguro
pode ser inviável obter orçamento para de crédito à exportação continue sendo
se honrar tal compromisso. Como so- classificada como soberana e as insti-
lução, sugere-se transformar o Fundo tuições financeiras mantenham o inte-
de Garantia à Exportação (que dá lastro resse em utilizá-la.

Avaliar maior
abrangência para o
programa brasileiro
de apoio a exportações
Permitir que o seguro de
crédito à exportação seja
utilizado para cobrir parte
de financiamentos de gas-
tos locais e importações
de terceiros países. A prá-
tica, hoje vedada no Bra-
sil, é mecanismo de apoio
permitido pela OCDE e
largamente utilizado por
outros países.

44
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

Equalização de taxa de juros


O PROEX-Equalização é política
pública que contém subsídio claro,
quantificável e de resultados plena-
mente mensuráveis. Assim, é impor-
tante manter o funcionamento do
mecanismo, com orçamento adequa-
do, a fim de permitir que o custo do
financiamento a exportações brasilei-
ras fique no mesmo nível de custo
dos empréstimos internacionais até
que o Brasil alcance classificação de
risco que naturalmente confira com-
petitividade às taxas de juros prati-
cadas às exportações nacionais. Sem Segurança jurídica
esse tipo de apoio a competitividade É necessário que as políticas pú-
do financiamento público ou privado blicas de financiamento à exporta-
das exportações brasileiras será se- ção sejam claras e estáveis, a fim
riamente comprometida. Sugere-se de que os técnicos do BNDES, do
como aprimoramento do instrumen- Comitê de Financiamento e Garan-
to a publicação da metodologia de tia das Exportações (Cofig) e da
cálculo da equalização para os finan- Câmara de Comércio Exterior (Ca-
ciamentos à exportação, a fim confe- mex) possam gerir os mecanismos
rir previsibilidade e atratividades a de crédito oficial à exportação de
bancos comerciais. forma a assegurar o maior nível
possível de exportações brasilei-
ras, com o melhor uso do recurso
público disponível. A paralisação
O conjunto de medidas acima garanti- da operação do BNDES para ser-
rá resultados no curto prazo no contexto viços de engenharia (decorrente de
em que a economia mundial cresce em revisão de suas políticas operacio-
ritmo superior à economia brasileira. O nais solicitada pelo Tribunal de
Brasil está desperdiçando oportunidades. Contas da União) e o questiona-
Mirando o médio e longo prazo, o Bra- mento da política de seguro de
sil precisa de uma política perene, que dê crédito à exportação também por
a direção e garanta a previsibilidade para parte do TCU explicam a retração
que os agentes econômicos se organizem. da participação brasileira no mer-
Além da necessária reforma no sistema cado e imporão longo prazo para
tributário que atualmente castiga a agre- a reconquista dessa participação.
gação de valor e as exportações brasilei-
ras, a política de comércio exterior deve
ser complementada com acordos comer-
ciais que garantam mercado para as ex- Essa combinação de medidas, aliada a
portações brasileiras. A aproximação com uma política de financiamento adequa-
os países dos Brics e a efetiva utilização da, fará com que o Brasil finalmente
desta importante plataforma impulsiona- participe do mercado internacional de
rão essas reformas e os seus resultados. acordo com o seu potencial.

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UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

PROPOSTAS
SETORIAIS

46
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

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PROPOSTAS SETORIAIS

RECURSOS HÍDRICOS

AVANÇAR NA DESPOLUIÇÃO E NO Por isso, é fundamental que mais es-


REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA forços sejam empreendidos para construir
uma infraestrutura mais resiliente e forta-
Expressões como crise hídrica e racio- lecer a gestão integrada nos recursos hí-
namento de água têm estado mais pre- dricos para garantir segurança hídrica
sentes no vocabulário dos brasileiros nos para a vida humana e animal, para a pro-
últimos anos – e com motivos. Entre 2013 dução de alimentos e para o setor produ-
e 2017, dos 5.570 municípios brasileiros, tivo. O planejamento dos investimentos
2.706 (48,6%) foram afetados por secas.4 destinados a aumentar a disponibilidade
Nos últimos anos, a crise hídrica tem ape- hídrica e a tornar a infraestrutura mais
nas mudado de lugar no país. Esteve no resiliente precisa começar considerar pro-
Sul em 2012, quando também atingiu jetos de despoluição dos mananciais nos
com severidade a Região Nordeste, onde centros urbanos.
permanece até hoje. Passou pelos estados Universalizar o saneamento básico é a
do Sudeste entre 2014 e 2015 e do Cen- diretriz principal para ampliar a disponibi-
tro-Oeste entre 2016 e 2018. lidade hídrica nos centros urbanos. Mas
O Brasil detém mais de 10% das reser- a solução passa também por outras dire-
vas globais de água doce superficial, sem trizes: ampliar o consumo consciente; pro-
contar os reservatórios subterrâneos. En- mover investimentos em preservação e
tretanto, o país enfrenta desafios no geren- despoluição de recursos hídricos; e incen-
ciamento dos recursos hídricos, como tivar o processo de inovação tecnológica
adaptação às mudanças climáticas, uni- no setor. É fundamental também adotar
versalização dos serviços de saneamento esforços para disseminar o investimento
básico, ampliação dos investimentos, ga- em reúso de água. Menos de 0,1% da
nhos de eficiência operacional nos servi- água produzida no Brasil é proveniente de
ços de água e esgoto, despoluição de rios reúso, contra 30% em Cingapura.
e represas e preservação de nascentes.
A gestão, desde o planejamento das Dar prioridade para projetos locais es-
políticas até o compartilhamento da água truturantes de despoluição de manan-
entre diversos usuários e finalidades, tem ciais e rios, com soluções que tenham
evoluído no Brasil, sobretudo desde a san- sustentabilidade econômica e financeira
ção da Lei 9.433/1997. Os instrumentos para que perdurem no longo prazo.
trazidos pela lei tiveram os seguintes ob- Ampliar o alcance do Programa de Des-
jetivos: organizar a articulação entre os di- poluição de Bacias Hidrográficas (Pro-
versos entes públicos quanto ao uso e des), lançado em 2001 pela Agência
conscientizar a respeito da necessidade de Nacional de Águas (ANA), também co-
investir em preservação e recuperação de nhecido como “programa de compra de
mananciais, rios e reservatórios. O legado esgoto tratado”. O programa paga pelo
é positivo considerando o nível de organi- esgoto efetivamente tratado, desde que
zação institucional então existente, mas cumpridas condições previstas em con-
ainda tímido dado o passivo e as lacunas trato (metas de remoção de carga polui-
ainda a serem enfrentados. dora), em vez de financiar obras ou equi-

4. Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

48
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

pamentos. Desde 2001, já ocorreu a


contratação de 80 empreendimentos
que beneficiaram 9 milhões de pesso-
as, com desembolsos orçamentários de
R$ 404 milhões pelo esgoto tratado,
induzindo a investimentos da ordem de
R$ 1,6 bilhão de concessionários de
saneamento básico com a construção
de estações de tratamento de esgotos.

Desenvolver políticas públicas para ex-


pansão da produção e aproveitamento
de água de reúso, tanto potável quanto
não potável, considerando a necessida-
de de aprimorar o arcabouço técnico,
legal e normativo para homologação de
tecnologias para usos múltiplos; a im-
portância de instituir normas específi-
cas para o uso potável; e a pertinência
de indicar incentivos fiscais para induzir
o investimento em infraestrutura de
produção de água de reúso nos mais
diversos setores produtivos.

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PROPOSTAS SETORIAIS

SANEAMENTO BÁSICO

O PRINCIPAL DESAFIO DO SETOR É bitragem de conflitos entre demais agên-


UNIVERSALIZAR O ATENDIMENTO cias e operadores.
A delegação à ANA dessas responsabili-
Com 207 milhões de habitantes, o Bra- dades pelos reguladores subnacionais
sil ainda tem 35 milhões de pessoas sem será voluntária. A ausência de adesão
acesso à água encanada e mais de 100 impossibilitará que os entes federativos,
milhões sem serviço de coleta de esgoto titulares dos serviços de água e esgoto
adequada. O índice de perdas é elevado: regulados, tenham acesso a recursos de
37% da água produzida não são faturados crédito de bancos federais e a transferên-
devido a vazamentos, roubos e ligações cias da União de caráter não obrigatório.
clandestinas – um prejuízo de R$ 8 bilhões A técnica de centralização na ANA deve
ao ano . Aproximadamente 55% do esgoto
5
atender aos postulados do que é conhe-
coletado são tratados. Diante de uma meta cido como supervisão regulatória (oversi-
de investir 0,4% do PIB por 20 anos segui- ght regulation) e, necessariamente, deve
dos, o país tem conseguido aplicar 0,2% envolver a elaboração de normas de refe-
do PIB anualmente . Esse cenário deixa
6
rência mediante procedimento no qual
claro: é urgente redesenhar políticas públi- participem representantes dos titulares,
cas para promover uma solução estrutural. dos reguladores, de entidades científicas e
O principal desafio do setor de sanea- dos prestadores dos serviços. Serve como
mento é a rápida redução dos déficits de exemplo o procedimento adotado para a
atendimento, com o objetivo de universa- elaboração da Portaria 557, de 2016, do
lizar os serviços no menor espaço de tem- Ministério das Cidades.
po possível. Na projeção do Plano Nacional
de Saneamento Básico (Plansab), isso po- Financiamento
deria acontecer em 2033 – isso se, a partir Desburocratizar o processo de finan-
de 2019, investimentos anuais da ordem ciamento dos investimentos pelos bancos
de R$ 20 bilhões sejam realizados. As pro- públicos, com as seguintes providências:
postas a seguir, a serem efetivadas pelos
próximos governos, correspondem ao Definição de limite anual de financiamen-
conjunto de medidas necessárias para to por Unidade da Federação, em cada
que isso possa, efetivamente, acontecer. banco federal, passível de revisão a cada
quadrimestre. Tal limite será estabeleci-
Regulação do com base em critério definido em nor-
Buscar estabilidade regulatória para o ma expedida pelo Ministério das Cidades,
setor, por meio de centralização, na Agên- cujos parâmetros essenciais serão o tama-
cia Nacional de Águas (ANA), no máximo nho da população e os déficits existentes
em quatro anos, das seguintes atribui- no atendimento em água e esgoto. Os
ções: definição de padrões de prestação limites podem ser fixados por modalidade
de serviços de água e esgoto; regulação (água, combate às perdas, esgoto, drena-
econômica dos serviços; mediação e ar- gem). Em uma segunda etapa, o processo

5. Instituto Trata Brasil. Ranking do Saneamento.


6. Banco Mundial.

50
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

pode ocorrer regional ou nacionalmente,


caso ainda exista limite disponível e não
haja projetos para determinado estado
ou região.
Extinção do processo de seleção pública
de projetos, conduzido pelo Ministério
das Cidades, adequando-se inclusive,
no que couber, a Lei no 8.036/90 (FGTS).
Estabelecimento de critério sequencial
para atendimento da demanda. A prio-
ridade deve ser de quem primeiro deu
entrada no pedido, cumprindo registrar
que tal prioridade só valerá após a efe-
tiva entrega de toda documentação
completa (econômico-financeira, jurídi-
co-legal, engenharia e ambiental).
Estabelecer prazos máximos para as di-
versas etapas de análise e aprovação
pelos bancos.

Política nacional de saneamento


O Ministério das Cidades, como res-
ponsável pela formulação e atualização
da política de saneamento, deverá:

Coordenar, em parceria com o Ministério


da Casa Civil, o Conselho Nacional para
a Integração das Políticas de Saneamen-
to Básico, a ser constituído, para articu-
lar e integrar os demais atores ministe-
riais com ações na área.
Incorporar os recursos e a estrutura da
Funasa, incluindo pessoal responsável
pelo apoio ao saneamento urbano, nos
municípios abaixo de 50.000 habitan-
tes. Devem permanecer na Funasa, ou
em Secretaria de Saneamento Rural a
ser criada no Ministério da Saúde, as
ações de saneamento rural, em especial
a de combate a endemias.
Supervisionar as aplicações de recursos
dos bancos públicos em financiamentos
setoriais com objetivo de garantir a dis-
tribuição regional definida a cada ano.
Incentivar o uso de planos regionais
de saneamento como alternativa à
existência de um plano de saneamen-
to por município.

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PROPOSTAS SETORIAIS

Propor que o Plansab, a ser revisto em Os contratos de programa formalizados


2019, integre o planejamento de longo entre municípios e empresas estaduais
prazo adotado pelo governo federal. Para de saneamento básico devem conter to-
tanto, a proposta é que o novo Plansab das as cláusulas que disponham sobre
seja considerado plano setorial, aos mol- as metas de investimento e qualidade dos
des do previsto na Constituição Federal, serviços, com a necessária transparência,
e que seu formato seja o de lei comple- dispondo sobre os serviços de forma aná-
mentar (art. 23, parágrafo único, da CF), loga aos contratos de concessão (artigo
de forma que a política de saneamento 23 da Lei 8.987/95), obrigando que, em
tenha maior estabilidade (seja “política de um prazo de seis meses, a partir da edi-
Estado” e não “política de governo”). ção dessa norma, haja a adequação de
todos à nova regra, sob pena de cance-
Eficiência operacional lamento dos contratos existentes e nega-
Melhorar a eficiência operacional será tiva de acesso a recursos orçamentários
possível com maior cooperação entre ou onerosos da União ou administrados
prestadores públicos e privados em dife- por entidades federais.
rentes modelagens. Propõe-se que: Os financiamentos dos bancos públicos
voltados às melhorias de eficiência ope-
Seja sistematizado o combate às perdas racional terão prioridade em relação aos
de água e o estímulo ao consumo racional pedidos de ampliação do sistema produ-
(incluindo o reúso de efluentes sanitários tor de água.
e aproveitamento de águas pluviais) como Os Fundos de Apoio à Estruturação de
princípio fundamental da prestação de Modelagens de Contratos de Delegação
serviços, a ser inserido na Lei n 11.445/07.
o
Prestação de Serviços de Saneamento
A redução progressiva dos índices de terão dotações orçamentárias garantidas
perda seja exigida para acesso aos re- nos próximos quatro anos, em montan-
cursos federais, de crédito ou não. te não inferior a R$ 150 milhões/ano.

52
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

RESÍDUOS SÓLIDOS

O PACOTE DE SOLUÇÕES TRANSBORDA O tema é considerado polêmico pelos


A AGENDA MUNICIPAL gestores municipais, receosos de que a
população local não tenha disposição de
A gestão dos serviços de resíduos sóli- pagar pelo serviço, mesmo que já aceite o
dos está na esfera municipal. No entanto, pagamento em outras áreas, como telefo-
a agenda positiva do setor comporta con- nia, banda larga, energia elétrica, gás na-
tribuição e maior protagonismo dos gover- tural, água e esgoto, transporte urbano e
nos federal e estaduais para que a presta- iluminação pública. Atualmente, o serviço
ção dos serviços possa ocorrer de forma é amplamente subsidiado pela prefeitura
adequada, com escala e organização re- – na maioria dos casos, em 100% - quando
gional e com sustentabilidade ambiental e parcela considerável da população poderia
financeira. Exatamente da forma que a so- pagar pelo serviço.
ciedade demanda. O panorama do setor de resíduos sóli-
Diante do desafio de prover sustentabi- dos requer atenção. O Brasil ainda despe-
lidade financeira para a prestação adequa- ja anualmente mais de 30 milhões de to-
da e continuada dos serviços, a proposta neladas de resíduos sólidos em mais de
número um da Abdib no setor de resíduos 3.000 lixões, clandestinos e/ou irregulares7.
sólidos é a constituição de uma arrecada- A crise econômica nos últimos anos redu-
ção específica no âmbito dos municípios, ziu a receita tributária dos municípios, am-
composta por taxas ou tarifas, que cubram pliando o problema. Entre as cidades que
os custos com serviços de limpeza urbana já têm arrecadação específica, mais de 70%
e resíduos sólidos. delas dispõem os resíduos sólidos adequa-

7. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil.

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PROPOSTAS SETORIAIS

damente. Naquelas entre as que não têm duos sólidos similar à solução dada ao se-
receita proveniente de taxas ou tarifas, so- tor de iluminação pública (Cosip). Há hoje
mente 30% do lixo seguem para aterros. dificuldades de segurança jurídica na co-
A solução estrutural, perene e abrangen- brança dos serviços associados à limpeza
te, que atenda as características distintas das urbana. A varrição é um serviço indivisível.
diferentes regiões brasileiras, passa pelo Con- Mesmo a coleta de resíduos é medida por
gresso Nacional, pelo apoio dos governos estimativa. Na iluminação pública, setor
federal e estaduais aos municípios e também no qual o serviço também é indivisível, há
pela atuação mais diligente de instituições previsão constitucional de cobrança de
como Ministério Público e tribunais de contas contribuição para custeio.
– e até do Supremo Tribunal Federal (STF). Cobrar ação tempestiva do Ministério
Na Câmara dos Deputados, tramita o PL Público na verificação do cumprimento
2.289/2015, já aprovado no Senado Federal, dos dispositivos da Política Nacional de
que propõe mais prazo para os municípios Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), so-
erradicarem lixões. A Abdib é contra a pror- bretudo sobre a erradicação dos lixões.
rogação pura e simples do prazo – já vencido Cobrar ação tempestiva dos tribunais de
desde agosto de 2014 – sem que haja solução contas para evitar inadimplência dos con-
estruturante que dê sustentabilidade finan- tratos municipais relacionados ao mane-
ceira para a prestação de serviços. jo de resíduos sólidos urbanos.
Reconhecer, no âmbito de julgamento em
Instituir no âmbito municipal uma arreca- trâmite no Supremo Tribunal Federal
dação específica, por taxas ou tarifas, para (STF), o caráter de utilidade pública para
suportar a prestação adequada dos servi- a prestação de serviços de gerenciamen-
ços, que deve adicionalmente ser supor- to de resíduos, de forma a conceder prio-
tada por contratos fiscalizados e regulados ridade à atividade, que é essencial para
por agências reguladoras financeiramente saúde e meio ambiente, e preservar o
autônomas e politicamente independentes. funcionamento de aterros sanitários, in-
Idealizar uma contribuição para o custeio fraestrutura ambientalmente adequada,
perene e sustentável dos serviços de resí- localizados em áreas de preservação.

54
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

TELECOMUNICAÇÕES

O PODER PÚBLICO PRECISA CONCLUIR A


REVISÃO DO MODELO REGULATÓRIO

No que cabe ao poder público federal, a


principal medida da agenda para fomentar
investimentos no setor de telecomunica-
ções é a conclusão da revisão regulatória do
modelo de exploração de serviços. Atual-
mente, tramita no Senado Federal, após ser
aprovado na Câmara dos Deputados, o PLC
79/2018, que atualiza a Lei Geral de Tele-
comunicações. Essa modificação é consi-
derada fundamental para que as operadoras
telefônicas, depois de mais de R$ 1 trilhão
de investimentos desde o início do proces-
so de privatizações8, tenham fôlego para a
nova onda de investimento que o mercado
requer: a banda larga.
A existência de infraestrutura para trans-
missão de dados com capacidade e veloci-
dades alinhadas ao que a tecnologia permi-
te atualmente é questão primordial para o
desenvolvimento econômico, para ganhos
de produtividade, para a oferta de serviços
públicos mais eficientes e ágeis aos cida-
dãos e para iniciar investimentos no geren-
ciamento dos centros urbanos dentro do con-
ceito de cidades inteligentes.
A Abdib defende a aprovação do PLC
79/2018 por algumas razões. Uma delas é
a permissão para que concessionárias tele-
fônicas substituam o modelo de concessão
pelo de autorização. Essa mudança permite
atender novas demandas dos usuários a
partir da reorientação dos investimentos
para outras áreas das telecomunicações,
sobretudo para a banda larga, em detrimento
da telefonia fixa. Essa reorientação requer mu-
dança nos planos de metas e em contratos
de concessão a partir de migração do servi-
ço de telefonia fixa do regime de concessão

8. Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). Maio de 2018.

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PROPOSTAS SETORIAIS

(cujos contatos terminam em 2025) para o as dificuldades enfrentadas por operado-


regime de autorização, no qual são regula- res de telefonia para obter autorizações
dos os serviços de telefonia móvel, banda municipais necessárias para expandir a
larga e televisão a cabo. infraestrutura e atender o crescimento da
Outro ponto positivo do PLC é a incor- demanda por serviços móveis de voz e
poração por parte das concessionárias dados. Os efeitos práticos, no entanto,
telefônicas dos bens públicos usados na ainda são limitados, pois a obtenção da
prestação do serviço de telefonia fixa ao licença municipal ainda é demorada.
fim dos contratos de concessões. Os bens Rever a carga tributária setorial que onera
reversíveis estão restritos ao serviço de investimentos, aquisição de equipamentos
telefonia fixa regulado pelo serviço de e tecnologia e, sobretudo, o usuário (em al-
concessão. Na década de 90, a reversibi- guns estados, a tributação ultrapassa 40%
lidade, na ótica do legislador, foi o de ga- do valor da fatura mensal). Incidem alí-
rantir à União os meios de manter a con- quotas de PIS/Cofins, ICMS, Fistel, Funttel,
tinuidade na prestação do serviço de Fust. Há contribuições específicas para
telecomunicações – no caso, a telefonia compor receitas para fundos setoriais,
fixa – em situações como a extinção dos cada qual com uma finalidade: Fundo de
contratos de concessão. Conforme os Fiscalização das Telecomunicações (Fistel),
contratos avançam rumo ao término do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológi-
prazo, há redução de incentivos para a co das Telecomunicações (Funttel) e Fun-
realização de novos investimentos diante do de Universalização dos Serviços de
das dúvidas quanto ao fim que será dado Telecomunicação (Fust). A proposta é ga-
aos bens reversíveis. O PLC 79/2018 traz rantir o repasse dos recursos dos três fun-
boa solução para essa pendência históri- dos para as finalidades previstas em lei ou
ca, cujo valor econômico será mensurado reduzir a carga de contribuições e taxas
pela agência reguladora, que vai elaborar cobradas dos usuários e das empre-
metodologia para isso. sas de telecomunicações.
Em paralelo à da revisão regulatória do
modelo de exploração de serviços, a Ab-
dib advoga pelo aprimoramento do pro-
cesso de autorização para instalação de
antenas e infraestrutura para a telefonia
móvel e utilização dos recursos dos fun-
dos setoriais, cujos recursos provenientes
dos usuários ou dos agentes de mercado
não são completamente utilizados para
os fins previstos em lei. São ações neces-
sárias para expandir a prestação de ser-
viço de banda larga e telefonia celular para
todas as localidades brasileiras, com ca-
pacidade e qualidade desejáveis, e am-
pliar a prestação de variados serviços pú-
blicos de forma mais ágil.

Aprimorar o processo de autorização de


antenas e infraestrutura de telefonia
móvel, objetivos que motivaram a Lei
13.116/2015. O objetivo foi reduzir

56
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

PETRÓLEO

RESTA APRIMORAMENTO E Decisões de investimento envolvem


CONTINUIDADE PARA MANTER E incerteza em todos os setores e ativida-
AMPLIAR AS CONQUISTAS des. Esse atributo, entretanto, ganha
relevo implacável na indústria de petró-
Nos últimos dois anos foram efetivadas leo e gás natural, cujos projetos são in-
importantes mudanças legais e regulató- tensivos em capital e possuem longo
rias no setor de petróleo e gás natural. A prazo de maturação, além do risco geo-
Petrobras, por exemplo, passa a deter um lógico. Por essa razão, é muito bem vin-
direito de preferência nos blocos explora- do o calendário de leilões de concessão
tórios do pré-sal no regime de partilha, com e partilha instituído para assegurar um
composição acionária mínima de 30%, em mínimo de planejamento às concessio-
vez de ter de fazer parte de todos obriga- nárias e à cadeia produtiva de bens e
toriamente. Foi instituída nova versão do serviços.
Repetro (Lei 13.586/2017). Esse regime A flexibilização da Lei 12.351/2010,
tributário especial isenta as importações de que dispõe sobre a exploração no regime
bens e equipamentos a serem utilizados na de partilha, e a divulgação de um crono-
exploração, desenvolvimento e produção grama perene de leilões de novas áreas
de hidrocarbonetos e ainda requer regula- para exploração de reservas no pré-sal
mentação para que todos os elos da cadeia e no pós-sal atenderam diretamente pro-
produtiva possam usufruir dos benefícios. postas da agenda regulatória da Abdib.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 57


PROPOSTAS SETORIAIS

A política de conteúdo local foi alterada dinariamente atraentes, é preciso focar a


– flexibilizou regras, reduziu níveis de atenção para a terra, transformando as
aquisição de itens nacionais. A Abdib, que áreas onshore em um nicho de mercado
congrega muitas indústrias e fornecedo- próprio ao investidor de menor porte.
res de bens e serviços para as operadoras Além de estimular a exploração de ba-
de petróleo e gás natural, embora defen- cias terrestres de nova fronteira (premian-
da percentuais de conteúdo local compa- do o esforço exploratório de modo a mini-
tíveis com a capacidade e sofisticação pro- mizar o elevado grau de risco), é preciso
dutivas da indústria brasileira, defende o avançar na cessão de direitos dos campos
aperfeiçoamento dessa política pública, que maduros, de baixo potencial de produção
apesar de estar na direção certa apresenta e riscos reduzidos. A produção inferior tor-
falhas no desenho, escopo e operacionali- na essas áreas pouco atrativas às grandes
dade que tornam seu cumprimento buro- empresas (incluindo a Petrobras), mas po­de
crático, complexo e custoso. apresentar um retorno de investimento
O aprimoramento da política de conteú- compatível com as empresas menores, que
do local passa por uma aproximação com tendem a apresentar custos fixos e opera-
a política de ciência e tecnologia brasileira cionais mais baixos, plenamente suporta-
e com os fundos setoriais de pesquisa e dos através da realização de receitas me-
desenvolvimento (P&D), incluindo os recur- nores das atividades onshore.
sos da Cláusula de P&D. Para que esse tipo O gás não convencional, extraído de
de mecanismo obtenha sucesso, deve estar rochas como o folhelho, que possui uma
inserido numa política mais ampla, indus- grande quantidade de matéria orgânica,
trial e de P&D, alcançando, desse modo, apresenta enorme potencial e vem causan-
segmentos estratégicos para o desenvolvi- do uma verdadeira revolução nos EUA e
mento da indústria local, cujo componente em países vizinhos, como a Argentina. O
tecnológico não seja ainda dominado pelas Brasil também possui elevado potencial
empresas nacionais. Uma política, para ser para recursos não convencionais. As preo-
eficiente, deve conter instrumentos de ges- cupações ambientais são relevantes e de-
tão adequados para monitorar prazos e vem ser levadas em conta, sobretudo com
objetivos pré-determinados, considerando relação à proteção de nossos aquíferos. O
o ganho de competitividade e de produtivi- fraturamente hidráulico, entretanto, é uma
dade e o incremento da inovação no parque tecnologia dominada – estudos sérios evi-
industrial fornecedor para as companhias denciam que não há correlação entre a ati-
petrolíferas. vidade e a contaminação de aquíferos. Des-
Urge intensificar os esforços para que se modo, é preciso fomentar a exploração
o aparato regulatório brasileiro seja atrati- desses recursos. Só pelo conhecimento ad-
vo ao investimento. Para criar um ambien- vindo da exploração será possível garantir
te realmente competitivo no segmento ao mesmo tempo o avanço tecnológico bra-
upstream, o Brasil deverá aprimorar os sileiro na revolução energética do shale gas
meios de induzir a entrada de um número e a necessária integridade dos aquíferos.
muito maior de pequenas e médias em- Na maior parte dos países desenvolvi-
presas. As atividades offshore altamente dos os preços dos combustíveis derivados
sofisticadas, como o pré-sal, são inaces- do petróleo são estabelecidos com base nas
síveis para estas companhias, que prefe- regras do livre mercado, ou seja, os preços
rem concentrar os seus esforços em ativi- domésticos refletem as condições prevale-
dades menos complexas onshore. Como centes de oferta e demanda do mercado
as bacias sedimentares brasileiras offsho- internacional. O mecanismo principal é que
re já se demonstraram prolíficas e extraor- as variações de preços internacionais são

58
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

transferidas em prazos distintos ao con- tes; iv) contribuir para a segurança ener-
sumidor final. A Abdib acredita que o novo gética; v) assegurar melhores condições
governo precisa assegurar previsibilidade de planejamento ao setor do etanol – que
e regras claras e perenes, fundamentais tanto sofreu nos períodos de descasamen-
para atrair investimentos. to de preços e vi) ganhos ambientais como
A imprevisibilidade e a incerteza tem o aumento da eficiência no consumo por
gerado alto risco ao investimento, preser- meio do mecanismo de preços.
vado a concentração e desestimulado a con- Há amplo espaço – e mesmo uma ne-
corrência. Tal cenário desestimula a atra- cessidade – para avançar em um projeto
ção de novos agentes. Embora tenha aber­to articulado que assegure maior atrativida-
seu mercado há 16 anos, o país tem pou- de para os variados segmentos do setor
cos importadores ou exportadores de pe- de petróleo e gás brasileiro. Se for do in-
tróleo e derivados e apenas quatro micror- teresse do país ir além da apropriação
refinarias privadas, cuja capacidade no­­mi­ pura e simples da renda petrolífera – e os
­nal de refino somada é de parcos 33 mil males da chamada maldição dos recursos
barris/dia ou 1,3% do parque de refino bra- naturais aconselham que sim – e criar
sileiro. Pior, atrela a expansão do refino à ca- uma indústria de bens e serviços offsho-
pacidade de investimento da Petrobras, o re e onshore internacionalmente compe-
que pode tornar o abastecimento futuro caro titiva, perene, capaz de gerar benefícios
e mais dependente ainda de importações. para gerações atuais e futuras, é preciso
Na visão da Abdib, a manutenção de previsibilidade, regras claras e continui-
uma política artificial de preços de deriva- dade nos esforços empreendidos.
dos para controlar a inflação não deu certo
em lugar nenhum do mundo e serve apenas
para escamotear um problema que vai apa-
recer adiante. Países como Índia, Rússia,
Paquistão e Venezuela têm uma longa tra-
dição de subsidiar combustíveis e sofrem
as consequências dessas escolhas. Cedo
ou tarde, a conta dos subsídios chega.
Um mercado de preços livres não traria
risco às refinarias brasileiras. Possuindo
um grande mercado interno e sendo dis-
tante dos grandes centros mundiais de
refino, o país está protegido em cenários
eventuais de concorrência predatória. Por-
tanto, o Brasil pode e deve perseverar na
manutenção de mecanismo adequado de
reajuste de preços que, se assumir caráter
de continuidade e ganhar confiança, traria
inúmeros benefícios à sociedade e à pró-
pria Petrobras, tais como: i) retroalimentar
o círculo virtuoso das fases de exploração
e produção de petróleo; ii) estimular inves-
timentos no refino e na infraestrutura de
abastecimento ao assegurar a rentabilida-
de média do segmento; iii) dinamizar a
concorrência pela entrada de novos agen-

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 59


PROPOSTAS SETORIAIS

GÁS NATURAL

O DESENVOLVIMENTO DO MERCADO Para responder a essa demanda e ao


CABE À UNIÃO E AOS ESTADOS mesmo tempo preparar o país para as im-
portantes transformações que vem ocor-
O Brasil está atrasado pelo menos 20 rendo no setor, o Ministério de Minas e Ener-
anos na utilização do gás natural. EUA e gia criou, em junho de 2016, o programa
Europa, por exemplo, inseriram esse ener- Gás para Crescer. A iniciativa chegou em
gético em suas matrizes por volta da dé- boa hora pois o gás natural, essencial na
cada de 50 e 60, respectivamente. Con- transição para uma economia de baixo car-
tribuíram para essa demora as vantagens bono, vive um momento de disponibilida-
econômicas da produção de petróleo que, de e preços baixos, o que pode assegurar
ao contrário do gás natural, não necessi- competitividade à importação.
ta de uma complexa infraestrutura de es- Adicionalmente, o desenvolvimento do
coamento e processamento. A natureza gás do pré-sal será uma realidade na pró-
associada do gás natural presente nas xima década. De outra parte, o problema
bacias sedimentares brasileiras e o volume estratégico que o setor elétrico vivencia
pequeno das reservas inicialmente encon- para sua expansão em larga escala – cus-
tradas também dificultaram a viabilidade to marginal de nova geração subindo por
dos projetos. Outro fator que contribuiu dificuldades crescentes na construção de
para esse retardamento foi a falta de pla- grandes hidroelétricas na Amazônia, opo-
nejamento de seguidos governos, que per- sição à energia nuclear e ao carvão – co-
mitiram que o gás fosse tratado como um labora para a ampliação do uso de fontes
refém da produção de petróleo – reinjetado alternativas, o que reforça a tendência do
para manter a pressão ou ampliar o fator uso do gás natural para a geração com vis-
de recuperação dos reservatórios, com ele- tas a assegurar confiabilidade ao sistema.
vados percentuais de queima – ou das ne- As diretrizes do Programa Gás para
cessidades emergenciais do setor elétrico. Crescer tem como premissas a adoção de
As mudanças no perfil da demanda evi- boas práticas internacionais, atração de
denciam o comportamento errático. Essas investimentos, aumento da competição,
idas e vindas instituíram um ambiente de diversidade de agentes, maior dinamismo
imprevisibilidade. A posição vertical e do- e acesso à informação, participação ativa
minante da Petrobras sempre representou dos agentes do setor e respeito aos con-
uma importante barreira à concorrência. tratos firmados. O programa seguiu diver-
A legislação e a regulação dela decorrente sas etapas e desde seu início contou com
foram insuficientes para promover a aber- inúmeras oportunidades de interação. Um
tura. Desse modo, só recentemente, pas- seminário técnico identificou as necessi-
sadas duas décadas da quebra do mono- dades de modificação legal e regulatória;
pólio, nove anos depois da Lei do Gás e consulta pública e discussões coordena-
após a realização de 14 rodadas de licita- das pelo ministério setorial subsidiaram
ção de blocos exploratórios, a Petrobras dei- a criação de diretrizes pelo Conselho Na-
xa de ser um monopólio de fato em alguns cional de Política Energética (CNPE). To-
segmentos com a venda de importantes ati- dos os trabalhos foram coordenados e
vos. Nessa circunstância, surge a necessi- relatados por entidades representativas
dade de evitar que o Brasil passe de um do setor e órgãos de governo.
monopólio estatal a um privado. Foram realizadas, em média, oito reu-

60
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

niões de cada grupo, com cada comitê do setor. A superação política dessas po-
propondo iniciativas para que o setor se sições é condição para que a hora e a vez
adequasse às diretrizes por meio de alte- do gás natural se tornem realidade.
rações legais ou regulatórias. Com base Como em toda modernização regula-
nisso, foi elaborada nova resolução pelo tória significativa, é fundamental prever
CNPE sobre penalização, medidas regula- mecanismos e prazos em um período de
tórias e tributárias para harmonização e com- transição que garanta segurança jurídica
patibilização do setor de gás com o setor a investimentos e operações constantes
elétrico. O processo assegurou amplo de- em contratos já existentes. A transição
bate e envolveu mais de 700 especialistas. bem-sucedida resultará em investimentos
Esse construtivo e exaustivo debate deu novos, mais agentes ofertantes, cresci-
a direção. Cabe agora movimento e alguma mento da demanda, preços competitivos,
audácia para fazer com que as propostas segurança e previsibilidade no suprimen-
contidas no projeto de lei substitutivo ao to, ambiente jurídico e regulatório seguro
PL 6.407/2013 passem da abstração à ma- e contratos existentes respeitados.
téria e adquiram a vocação da permanên- A existência de um agente regulador
cia. Trata-se de uma espécie de revisão da forte, com boa capacitação técnica e ba-
Lei do Gás, com vistas a instituir um novo seado nas melhores práticas regulatórias
desenho do setor, capaz de dinamizá-lo é ponto relevante. É fundamental que o
para que possa contribuir com todo o seu regulador possa garantir transparência,
potencial para o crescimento do país. Como publicidade e isonomia a qualquer empre-
seria de se esperar, há resistência de seg- sa interessada em acessar a infraestrutu-
mentos interessados na manutenção de ra. Assim, novos supridores de gás terão
mercados exclusivos em grande parte res- estímulos e alternativas para ofertar no-
ponsáveis pela letargia no desenvolvimento vos volumes ao mercado brasileiro.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 61


PROPOSTAS SETORIAIS

A partir de planejamento que englobe conseguiam distribuir mais dividendos.


o potencial de desenvolvimento regional e Esse modelo exitoso poderia ser replicado
as perspectivas de crescimento da produ- no Brasil, já levando em conta as fragili-
ção de gás natural nas reservas petrolífe- dades identificadas no modelo americano,
ras do pré-sal, é fundamental identificar que podem ser corrigidas. A necessidade
rotas de escoamento e transporte e apre- de infraestrutura de escoamento impõe
sentar ao mercado um plano outorgas que uma solução urgente e ela não cabe ao
atraia o investimento privado na expansão governo, que vive e viverá nos próximos
da malha de gasodutos do Brasil. anos dura restrição fiscal. A ele cabe a
O planejamento da infraestrutura bra- coordenação e o incentivo.
sileira futura, realizado pelo Ministério do Os governos estaduais também têm
Planejamento, não dá uma atenção des- papel fundamental no desenvolvimento
tacada ao modal de transporte dutoviário. do setor de gás natural, sobretudo na in-
Embora estudos indiquem que haverá dução da inserção do insumo na matriz
gargalos na infraestrutura de abasteci- energética e no setor produtivo. Com pla-
mento do país se novos investimentos nejamento e interação com setores em-
não forem iniciados rapidamente, esse preendedores organizados, os estados
importante e estratégico tema continua podem estabelecer planos para aumentar
sendo pouco discutido.9 demanda, instalar rotas de escoamento.
A Abdib defende que o modal dutoviá- O gás natural tem potencial para ser um
rio seja adequadamente estimulado e in- importante indutor de desenvolvimento
corporado no planejamento estatal. A econômico e regional.
ideia seria desenvolver um programa es-
pecífico de estímulo a projetos de infraes-
trutura dutoviária, nos moldes do que fez,
por exemplo, os EUA, com as Master Li-
mited Parnerships, um tipo especial de
empresa que permitiu aquele país a ins-
talação de oleodutos e gasodutos “em
quantidade suficiente para dar a volta ao
mundo”, como afirmou o ex-presidente
Obama. Essas companhias se capitaliza-
vam no mercado de ações e, como não
precisavam recolher imposto de renda,

9. Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e do Instituto Ilos.

62
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

MOBILIDADE URBANA

EXPANSÃO DAS REDES DE METRÔS ao desenvolvimento da atividade econômi-


E TRENS URBANOS DEPENDE DO ca destes centros urbanos.
PLANEJAMENTO A Abdib defende uma expansão acele-
rada da malha de transporte de passagei-
O Brasil soma 1.064 quilômetros de ros sobre trilhos nos centros urbanos a
rede metroferroviária, pela qual foram partir de uma política pública que consi-
transportados 2,93 bilhões de pessoas em dere, além da aplicação de aportes eleva-
2017, ano em que a malha cresceu somen- dos de recursos de orçamento público, a
te 30 quilômetros (24 novas estações, ampliação da participação privada nos
centradas em São Paulo, Rio de Janeiro e investimentos e na operação dos sistemas.
Salvador). Nos próximos cinco anos, a A Abdib também advoga pela criação de
extensão de metrôs e trens urbanos deve Autoridades Metropolitanas de Transpor-
ser aumentada em 164 quilômetros, con- tes, com atuação de governos e órgãos
siderando projetos contratados e em exe- públicos de estados, municípios das regi-
cução. É muito pouco diante do congestio- ões metropolitanas, e sociedade civil orga-
namento presente nas cidades brasileiras. nizada, comportando responsabilidades
No Brasil, há 63 médias e grandes regiões de planejamento, gestão e execução dos
metropolitanas e só 13 contam com algum temas de mobilidade urbana.
sistema de transporte de passageiros sobre As vantagens são o planejamento inte-
trilhos.10 O reflexo é o aumento dos con- grado e de longo prazo, verificação de im­­
gestionamentos, restrições à mobilidade e pacto de cada novo projeto, transparência

10. A
 ssociação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTriplhos). Balanço do Setor Metroferroviário
2017-2018.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 63


PROPOSTAS SETORIAIS

na tomada de decisão, racionalidade na de mobilidade urbana, como veículos leves


aplicação de recursos, desvinculação po- sobre trilhos (VLT), mobilidade elétrica
lítica das decisões e validação dos projetos (conversão de frotas de veículo e ônibus
para recebimento de recursos federais. urbanos), mobilidade a gás (conversão de
A Abdib considera que esse novo ente frotas de ônibus), sistemas alternativos
interfederativo pode ser instituído a partir como compartilhamento de carros e bici-
de legislação existente. A iniciativa está su- cletas, aplicativos de transporte, e moder-
portada pelas leis 12.587/2012 (Política Na- nização de sistemas de gestão e monito-
cional de Mobilidade Urbana), 10.257/2001 ramento de tráfego.
(Estatuto das Cidades) e 13.089/2015 (Es-
tatuto da Metrópole). Instituir Autoridades Metropolitanas de
Na visão da Abdib, há pertinência para Transporte nas metrópoles e capitais bra­
legisladores e formuladores de políticas ­sileiras para organizar o planejamento, a
publicadas reforçarem na legislação fede- gestão e a operação dos sistemas de mo-
ral a diretriz para induzir estados e muni- bilidade urbana.
cípios a se organizarem em Autoridades Recuperar a capacidade de investimento
Metropolitanas de Transportes para pla- da administração pública, agente essencial
nejar e administrar os sistemas de trans- para apoiar a expansão dos sistemas de
porte de passageiros. Essa disposição transporte metroferrovários de passageiros.
de­­ve ser considerada nas leis 13.089/2015 Identificar, estudar e modelar projetos de
e 12.587/2012. concessões e parcerias público-privadas
Essa solução pode ser circunscrita, em (PPP) para expansão e operação de siste-
um primeiro momento, a regiões metro- mas de metrôs, trens urbanos, veículos
politanas com mais de um milhão de leves sobre trilhos e outras tecnologias,
habitantes, que passariam a constituir empreendendo esforços para haver boa
uma Autoridade Metropolitana de Trans- estruturação, qualidade nas informações,
portes por meio de consórcios públicos transparência nos processos e competição.
previstos na Lei 11.107/2005. Há atual- Reverter o processo de crescimento da
mente no Brasil 27 regiões metropolitanas participação de descontos e gratuidades
com mais de um milhão de habitantes. no orçamento público de mobilidade ur-
bana, a partir de métodos, mensuração de
Idealizar políticas públicas que contem- desempenho e monitoramento constante,
plem a inserção de tecnologias e modais preservando parcelas maiores da arreca-
dação para investimentos na expansão da
oferta de transporte.
Atrelar a governança das agências regu-
ladoras estaduais às diretrizes, mecanis-
mos e aperfeiçoamentos abordados no
processo legislativo federal que padroniza
e moderniza a gestão dos reguladores
federais: estabilidade na provisão orça-
mentária das agências reguladoras, crité-
rios técnicos mais adequados e rigorosos
para a seleção e nomeação de diretores,
regras para evitar vacância nas diretorias,
análises de impacto regulatório (AIR) e
amparo jurídico para servidores das agên-
cias reguladoras.

64
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

RODOVIAS

ESTRATÉGIA DEVE COMBINAR tos para asfaltamento. No geral, 61,8%


CONCESSÕES, PPP E INVESTIMENTOS dos 105.814 km de rodovias federais e
PÚBLICOS estaduais pavimentadas apresentam de-
ficiências estruturais.11
A malha rodoviária do Brasil soma O Brasil, cujo principal modal de trans-
1.735.621 quilômetros (km). Desta ex- porte é rodoviário, há 25 km de rodovias
tensão, 212.886 km (12,3%) são pavi- asfaltadas para cada 1.000 km² de área,
mentados, 1.365.426 km (78,7%) estão contra 438 km nos Estados Unidos, 359
sem pavimento e 157.309 km (9,1%) es- km na China e 54 km na Rússia.12 Para
tão em fase de planejamento e/ou proje- adaptar a infraestrutura rodoviária brasi-

11. C onfederação Nacional dos Transportes. Pesquisa CNT de Rodovias 2017 e Rodovias Esquecidas do Brasil 2018.
12. Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. Relatório Anual 2018. Estudo Bain & Company 2013.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 65


PROPOSTAS SETORIAIS

leira a um padrão de qualidade que atenda tensão restante demanda investimentos


a demanda, são necessários R$ 293,8 bi- por meio de parcerias público-privada
lhões. O orçamento federal para investi- (PPP) ou recursos do orçamentário federal.
mentos rodoviários, o principal do país no Para endereçar o desafio do investi-
setor, atingiu pouco mais de R$ 8 bilhões mento no sistema rodoviário, a estratégia
ao ano em média nos últimos dez anos. deve ser uma combinação maciça de in-
O setor privado já administra 19.419 vestimentos públicos e privados, distri-
km de rodovias, dos quais 10.123 km são buindo ações e recursos do Estado a tre-
estradas federais.13 Há estimativa de que chos onde não há viabilidade econômica
25% da malha federal pavimentada tenha e atraindo concessionárias privadas para
tráfego suficiente para oferecer atrativida- as extensões federais e estaduais nas
de de retorno ao setor privado, dos quais quais há potencial para variados tipos de
15% já são administrados por concessio- concessões.
nárias privadas. Em São Paulo, mais de Ao término do estoque de projetos pas-
40% da malha conta com operação priva- síveis de concessão pura, cabe avaliar
da.14 Considerando estados e governo fe- múltiplos modelos de participação priva-
deral, em média, 10% da malha pavimen- da, seja por concessões patrocinadas ou
tada são administrados por concessão . 15
administrativas ou ainda estudar a perti-
Entre 24 países com experiência de con- nência e viabilidade econômica e finan-
cessões rodoviárias, 2,1% da extensão, em ceira de integrar múltiplos modais em
média, estão com a gestão privada.16 O uma concessão mais ampla.
modelo brasileiro, apesar de inúmeras de- Os projetos para investimentos preci-
ficiências, é considerado exitoso.17 A ex- sam ser selecionados a partir de planeja-

13. Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. Relatório Anual 2018. Estudo Bain & Company 2013.
14. Ipea. Reflexões sobre Investimentos em Infraestrutura de Transportes no Brasil. Carlos Alvares da Silva Campos Neto. 2016
15. Idem.
16. Ipea. Texto para discussão. Modelos de Concessão de Rodovias no Brasil, no México, no Chile, na Colômbia e nos Estados
Unidos: evolução histórica e avanços regulatórios. Março de 2018.
17 Idem.

66
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

mento criterioso. O trâmite de decisão pre-


cisa contar com estrutura organizacional
pública capacitada. Leilões de concessão
precisam ser suportados por projetos e es-
tudos de viabilidade de qualidade, matriz
abrangente e bem distribuída entre as par-
tes com melhor capacidade de absorver os
riscos, regras de licenciamento ambiental
e de desapropriações eficientes, contratos
que atendam as melhores práticas, orça-
mentos com gastos de investimento e de
operação realistas e planos de negócios.
As agências reguladoras precisam atu-
ar em um ambiente de segurança jurídica, de manutenção, recuperação e constru-
com tomada de decisão a partir de análi- ção em trechos que tragam maior ganho
ses de impacto regulatório, tempestivida- de produtividade para a economia e se-
de na avaliação de pedidos de reequilíbrio gurança para os usuários.
de contratos e ação fiscalizadora eficiente
e equilibrada. Identificar, estudar e modelar projetos de
Aos parlamentares, recai a responsa- trechos rodoviários com potencial para
bilidade de assegurar a segurança jurídi- concessões e parcerias público-privadas
ca e a sustentabilidade financeira dos (PPP), empreendendo esforços para haver
programas de concessões federais e es- boa estruturação, qualidade nas informa-
taduais, com visão de longo prazo, pois ções e transparência nos processos.
há mais de 200 projetos de lei em trami- Impedir mudanças legislativas que criem
tação nos legislativos federal e estaduais benefícios para grupos específicos de
– dos quais 126 na Câmara dos Deputa- usuários, ocasionando perda de receita
dos e 56 no Senado Federal – buscando em contratos, o que vai onerar os demais
estabelecer descontos ou gratuidades usuários a ponto de, em alguns casos,
para grupos específicos. Um exemplo é dado nível de reajuste de pedágio, invia-
PLC 8/2013, que isenta de pagamento de bilizar a continuidade da concessão como
tarifa de pedágio o veículo cujo proprietá- consequência da incapacidade de paga-
rio tenha residência permanente ou exer- mento dos motoristas, redução do núme-
ça atividade profissional permanente no ro de pagantes e impossibilidade de pro-
município em que esteja localizada uma mover os investimentos necessários.
praça de pedágio. O PLC vai gerar reequi- Melhorar a governança das agências re-
líbrio econômico-financeiro que resultará guladoras estaduais, com atenção para as
em reajuste médio de tarifas de 20%, che- seguintes diretrizes: estabilidade na pro-
gando a 205% em caso específico, no qual visão orçamentária das agências regula-
a praça está em região conurbada de doras, critérios técnicos mais adequados
grande centro econômico.18 e rigorosos para a seleção e nomeação de
diretores, regras para evitar vacância nas
Recuperar a capacidade do poder públi- diretorias, análises de impacto regulatório
co de investir na malha rodoviária (União, (AIR) e amparo jurídico para servidores
estados e municípios), com intervenções das agências reguladoras.

18. A
 nálise do Impacto da Isenção de Pedágio pra Viagens Locais Previsto pelo PLC 8/2013. Estudo da Tectran Systra Group
para a Associação Brasileira de Concessões de Rodovias (ABCR). Agosto de 2016.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 67


PROPOSTAS SETORIAIS

FERROVIAS DE CARGA

A PRIORIDADE É DESTRAVAR NOVOS cia operacional das concessionárias, de


INVESTIMENTOS EM CONCESSÕES forma que as ferrovias ocupem uma par-
EXISTENTES cela cada vez maior na matriz nacional de
transporte de cargas.
A redução do custo logístico é fator A diretriz prioritária para cumprir o pla-
determinante para a inserção competitiva nejamento desenhado para o setor é a
do Brasil no comércio mundial. Esse re- conclusão do processo de prorrogação
sultado depende, primeiramente, mas não antecipada dos contratos de concessão.
somente, de um planejamento integrado Estima-se que algo superior a R$ 25 bi-
dos diversos modais de transporte, com lhões de novos investimentos podem ser
especial atenção para a expansão da ma- viabilizados em cinco concessões existen-
lha ferroviária. O Plano Nacional de Logís- tes nos próximos anos caso as renova-
tica (PNL), lançado em 2018 pela Empre- ções sejam efetivadas.
sa de Planejamento e Logística (EPL), é Uma segunda diretriz é a conduzir de
um bom passo nesse sentido. forma bem-sucedida os processos de es-
O PNL está em linha com o que a Abdib truturação de três projetos ferroviários
defende para o setor ferroviário: ampliar novos listados no Programa de Parcerias
investimentos para expandir a extensão de Investimentos (PPI): Ferrovia Norte-Sul
da malha ferroviária brasileira e aumentar (TO-SP), Ferrogrão e Ferrovia Oeste-Leste
os indicadores de produtividade e eficiên- (Fiol). Em estimativa inicial, estão previs-

68
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

tos mais R$ 17 bilhões nos três projetos, impactados por alterações em fatores am-
que somam extensão total de 4.000 qui- bientais e regulatórios, restrições opera-
lômetros. Todos estão em fase de estu- cionais impostas por questões alheias à
dos, avaliação pelo órgão de controle ou atuação dos concessionários (bloqueios e
audiências públicas. 19
paralisações), decisões judiciais e normas
Essas duas diretrizes – a prorrogação municipais, entre outas possibilidades.
antecipada e os novos projetos do PPI – se- A estruturação dos novos projetos fer-
rão responsáveis por lançar a participação roviários precisa incorporar uma matriz de
do modal ferroviário dos atuais 15% a 31% risco abrangente, que considere fatores
da matriz de transportes, segundo dados regulatórios, setoriais e do projeto. O su-
do Plano Nacional de Logística (PNL). cesso dependerá também da distribuição
Além disso, deve-se preparar o Brasil equilibrada e racional de direitos e obriga-
para o desenvolvimento do mercado de ções a serem compartilhados e assumidos
pequenas ferrovias ou shortlines. Estas pelo poder público e pelo setor priva­­do, bem
novas empresas, que surgirão do apro- como contar com estudos que demonstrem
veitamento de trechos economicamente realisticamente as necessidades de recur-
inviáveis para as grandes empresas de sos para investimentos e operação.
hoje, terão a capacidade de ampliar a ca-
pilaridade da malha ferroviária e fazer aten- Concluir rapidamente o processo de

dimento a clientes menores, com caracte- prorrogação antecipada das concessões
rísticas de operação peculiares. Nos Estados ferroviárias que se encontram em fases
Unidos, há 546 pequenas ferrovias, que variadas entre agência reguladora, mi-
operam 60.000 quilômetros de linhas fér- nistério setorial e tribunal de contas.
reas, o equivalente a 24% da malha nor- Instituir regras regulatórias adequadas no
te-americana. No Canadá, há 36 pequenas processo de prorrogação antecipada das
ferrovias, que operam 10.000 quilômetros concessões ferroviárias para a devolução
de linhas férreas, o equivalente a 20% da de ramais considerados antieconômicos
malha canadense.20 Porém, para que a sua pelas concessionárias para a exploração
existência seja possível, o fardo jurídico- plena (escala de produção de transportes
-regulatório deve ser aliviado. financeiramente sustentável).
Além de viabilizar os investimentos, a Estabelecer plano de aproveitamento de
expansão da participação do modal ferro- ramais considerados antieconômicos
viário na matriz brasileira de transportes com mecanismos de incentivo regulató-
requer atenção em algumas questões rio e tributário para novos tipos de ex-
transversais, como agilidade em proces- ploração econômica, priorizando a explo-
sos de reequilíbrio econômico-financeiro ração ferroviária alternativa (shortlines,
nas concessões. trens regionais, trens turísticos ou veícu-
O equilíbrio econômico-financeiro e a los leves sobre trilhos), sem descartar
segurança jurídica são constantemente opções de uso não-ferroviário.21

19. Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).


20. Uso Alternativo dos Ramais Ferroviários Antieconômicos: Conceitos e Metodologia. Sysfer. Agosto de 2017.
21. Uso Alternativo dos Ramais Ferroviários Antieconômicos: Conceitos e Metodologia. Sysfer. Agosto de 2017. Segundo a
metodologia constituída, complexos de estações podem ser transformados, a partir de avaliação caso a caso, em
atividades como espaços comerciais, comunitários, culturais ou para arranjos produtivos. Da mesma forma, pátios
ferroviários podem ser explorados como espaços para lazer, áreas verdes naturais ou seminaturais, esporte ao ar livre,
escolas, creches, postos de saúde, corpo de bombeiros, conjuntos habitacionais etc. Trechos de via podem dar lugar a
ciclovias, trilhas turísticas ou esportivas, corredor verde etc.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 69


PROPOSTAS SETORIAIS

FERROVIAS DE PASSAGEIROS

POR NECESSIDADE ECONÔMICA, É Reinstalar ferrovias de passageiros no


PRECISO INVESTIR EM TRENS DE Brasil vai requerer, então, antes de estu-
PASSAGEIROS do, planejamento e estudos sérios para
identificar projeções de demanda, traça-
do, desafios ambientais e geográficos,
No início dos anos 60, somente a ma- ocupação e uso do solo em áreas urbanas,
lha ferroviária paulista tinha 7.342 km e sustentabilidade econômica e arranjos fi-
transportava milhões de passageiros por nanceiros, entre outros.
ano. Paulatinamente, o transporte de pas- O elevado custo para subsidiar a opera-
sageiros por distâncias médias e longas ção dos trens de passageiros também é
migrou das ferrovias para as rodovias, ponto relevante, dada a restrição orçamen-
majoritariamente, e para os aeroportos, tária histórica do poder público brasileiro.
residualmente, e a malha férrea, cuja ex- Nos Estados Unidos, os serviços de passa-
tensão foi reduzida, passou a transportar geiros de média e longa distância são ex-
quase que exclusivamente cargas de va- plorados por companhia estatal (Amtrak),
riados tipos. Pesaram no orçamento pú- que opera com subsídios e em linhas com-
blico os elevados custos para operação partilhadas com o serviço de transporte de
do modal e manutenção das malhas. cargas. Há constantes disputas entre car-
O Brasil terá de reconstruir uma política gas e passageiros e, recentemente, houve
pública para retomar os investimentos em significativo corte de gastos públicos com
trens de passageiros de longa distância. A subsídios à operação pelo governo federal.
diretriz não é baseada em saudosismo, mas Por isso, será necessário avaliar as po-
em projeções que indicam possibilidade de líticas de subsídios, já que em nenhum
comprometimento de acessos de muitas lugar do mundo os sistemas de média e
rotas rodoviárias em horizontes de 10 a 15 longa distância de transporte de passa-
anos, sobretudo em grandes regiões me- geiros sobre trilhos apresentam susten-
tropolitanas. Entre algumas delas, a pers- tabilidade econômica e financeira isolada-
pectiva de crescimento econômico corre o mente. Mesmo trens e metrôs urbanos
risco de encontrar, como barreira, a falta de requerem pesados aportes governamen-
condições para ampliação da capacidade tais para complementar receitas operacio-
de movimentação de pessoas e cargas. nais oriundas das tarifas.
Alternativas às rodovias serão essen- Ao indicar traçados e regiões prioritá-
ciais, mas têm esbarrado, nas últimas rias, a etapa de planejamento precisará
décadas, em planejamento intermitente considerar cuidadosamente hipotéticas
que resulta em apostas de governos em sinergias com infraestrutura já existente,
vez de decisões de Estado. Nos últimos evitando compartilhamento de trilhos e
anos, o brasileiro foi apresentado a proje- de sistemas que desequilibrem ou cau-
tos do trem de alta velocidade (2011) e de sem riscos à segurança operacional do
trens regionais (2013, 15 iniciativas foram transporte ferroviário de cargas já exis-
listadas por um grupo de trabalho da ad- tente. O compartilhamento de vias férreas
ministração federal) que não foram adian- entre cargas e passageiros não é proibido,
te porque os anúncios precederam os desde que os estudos técnicos apontem
estudos mais técnicos e rigorosos das condições técnicas, segurança operacio-
alternativas possíveis. nal e viabilidade econômica.

70
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

Retomar estudos para avaliar as alternati- Considerar, para efeito de implantação


vas para a implantação de trens regionais de trens regionais de passageiros, o com-
para transporte de passageiros a partir de partilhamento de vias somente em casos
critérios técnicos e econômicos racionais, nos quais os estudos técnicos apontarem
aproveitamento de análises recentes já efe- que há condições técnicas, segurança
tuadas e abandonadas pela administração operacional e viabilidade econômica, res-
pública, sobretudo em regiões metropoli- peitando contratos vigentes de conces-
tanas com perspectivas de esgotamento sionárias ferroviárias.
de acessibilidade no médio e longo prazo. Prever programas transparentes de gas-
A macrometrópole paulista (metrópoles de tos públicos com subsídios aos elevados
Campinas, São Paulo e Baixada Santista, custos operacionais do serviço como
além de aglomerações urbanas de São complemento às receitas tarifárias no lon-
José dos Campos, Jundiaí, Sorocaba e Pi- go prazo em contratos de parcerias pú-
racicaba) é o caso mais conhecido. blico-privadas (PPPs).

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PROPOSTAS SETORIAIS

AEROPORTOS

HÁ AJUSTES NO PLANEJAMENTO ao setor privado (que apresenta resulta-


E REGULAÇÃO PARA EXPANDIR dos muito positivos na ótica da opinião
INVESTIMENTOS PRIVADOS pública e ganhos de eficiência operacional
mensuráveis) e de agravamento da situ-
Visto em perspectiva, o setor aeropor- ação deficitária da estatal nos próximos
tuário tem se desenvolvido com elogiável anos, sem possibilidade de socorro da
desempenho. Mas isso não elimina a União, envolvida em esforço significativo
oportunidade de ajustes finos no planeja- para equilibrar as contas públicas no mé-
mento das políticas públicas e na regula- dio e longo prazo. Essas perspectivas
ção. Isso porque, no detalhe, há urgências apontam para a necessidade de pensar
em definições regulatórias e de políticas alternativas privadas ao modelo até então
públicas que podem eliminar inseguran- vigente de subsídios cruzados – em que
ças jurídicas que trazem entraves a inves- a arrecadação das receitas oriundas de
timentos privados e públicos no setor. aeroportos superavitários era utilizada
O poder público tem sido diligente na para o investimento e manutenção dos
diretriz de atrair capital privado para os aeroportos deficitários.
aeroportos. Além das concessões já rea- Outro desafio setorial é dar solução
lizadas desde 2011 em quatro diferentes para concessões com graves desequilí-
rodadas, está em curso a preparação para brios econômicos que ganharam duas
a quinta rodada de concessões, desta vez opções no setor aeroportuário: a solução
com ativos aeroportuários em blocos. Ou- privada ou a devolução antecipada de for-
tro exemplo da postura positiva em atrair ma amigável mediante indenização.
investimentos e operadores ao mercado A solução privada ganhou impulso com
brasileiro foi a decisão de introduzir, na a sanção da Lei 13.499/2017, que oferece
rodada de concessões realizada em 2017, a alternativa de reprogramar o pagamento
o mecanismo de cobertura cambial para dos valores das outorgas. O objetivo é pre-
dívidas em moeda estrangeira, o que re- servar o interesse público ao manter con-
força as alternativas para o financiamen- dições contratuais favoráveis aos usuários
to dos investimentos. Com isso, há novos e ao poder concedente e também garantir
operadores e perspectiva de longo prazo. investimentos já contratados.
Os formuladores de políticas públicas, A solução via devolução antecipada e
no entanto, serão chamados a dar respos- amigável das concessões, mediante reli-
tas e soluções para desafios existentes no citação do projeto e indenização, é fran-
setor. Um deles é o papel da Infraero, es- queada pela Lei 13.448/2017. Essa nova
tatal federal de operação aeroportuária. legislação, no entanto, ainda não surtiu
Em um cenário no qual os aeroportos fe- efeito: o Poder Executivo ainda não a re-
derais superavitários já foram, em grande gulamentou, mais de um ano após a san-
parte, concedidos, a nova fase do plane- ção. Há questões importantes a serem
jamento setorial precisa considerar, cui- regradas, decisivas para a tomada de de-
dadosamente, desde já, o destino da em- cisão do concessionário sobre antecipar
presa federal Infraero. ou não o término do contrato de forma
Essa definição torna-se ainda mais im- amigável: o método de cálculo das inde-
portante com a perspectiva de avanço do nizações e a cessação de obrigações de
programa de concessões aeroportuárias investimentos, entre outras.

72
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

É urgente que o Poder Executivo tome dos, causam incertezas que atrapalham a
uma decisão a respeito das questões téc- atração de investimentos e de operadores
nicas e da forma – se via decreto do Poder experientes com visão de longo prazo.
Executivo ou resoluções de agências regu-
ladoras. Além do atraso injustificável para Dar continuidade ao programa de conces-
decisão de tamanha envergadura, o poder sões nos aeroportos federais, com plane-
público não pode postergar a solução ado- jamento e publicação de um plano de
tando regulamentação abstrata que não dê outorgas, dialogando com o setor privado
respostas assertivas aos pontos que as de- a respeito de modelo de negócios atrati-
mandam. Dessa forma, a Lei 13.448/2017 vos para aeroportos menos rentáveis.
não atenderá aos anseios do legislador: Desenvolver um programa de investi-
evitar conflito judicial que paralisará inves- mentos em aeroportos regionais, com
timentos vultosos em alguns dos principais planejamento e racionalidade, que con-
ativos de transporte do país. sidere a vocação de cada aeroporto e
Como pano de fundo, a segurança ju- região, por meio de um plano de aviação
rídica é ponto essencial. As razões que regional que estimule o desenvolvimen-
motivaram mudanças pretendidas na to do transporte aéreo em localidades
operação do aeroporto de Pampulha (MG) com atendimento precário.
e a exclusão do aeroporto de Congonhas Criar uma política de longo prazo para a
do programa de concessão atrapalharam utilização dos recursos do Fundo Nacional
a percepção dos investidores quanto à de Aviação Civil (Fnac), definindo pro-
reconstrução de um ambiente de segu- gramas prioritários para receberem re-
rança jurídica para investimentos. Mudan- cursos do fundo.
ças na operação de aeroportos em zona Além dos aspectos regulatórios e de
de influência de outros ativos, já concedi- políticas públicas setoriais, é pertinente

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PROPOSTAS SETORIAIS

observar questões que envolvem a se- ciais da Lei 13.448/2017 de forma a per-
gurança jurídica em relação aos projetos mitir que a devolução antecipada e amigá-
já desenvolvidos e em desenvolvimento. vel de concessões, mediante indenização,
Um olhar atento às concessões já realiza- possa ser alternativa para solucionar con-
das permite aprimorar o modelo utilizado, cessões que se tornaram inviáveis.
contribuindo para a criação de um ambien- Regularizar questões imobiliárias referen-
te propício ao desenvolvimento do setor tes aos aeroportos, como processos de
aeroportuário. desapropriação de imóveis, retomadas
Garantir adequada mitigação para o ris- de posse e regularização de matrículas.
co de incidência de IPTU sobre ativos Infraero e concessionárias privadas têm
administrados por concessionárias ae- encontrado dificuldade em desenvolver
roportuárias, afastando a cobrança ou um modelo econômico adequado de ge-
alocando o risco a cargo do poder públi- renciamento de tais áreas, fator que in-
co, já que o empreendedor privado não viabiliza investimento e gera despesas
tem meios de gerenciá-lo, evitando afas- que não podem ser antecipadas.
tar investidores interessados nas próxi- Regular e uniformizar a necessidade de
mas concessões. licenças, autorizações e permissões por
Manter nos editais das futuras concessões entidades que prestem serviços públi-
de aeroportos o mecanismo idealizado cos. Em um mesmo ambiente regulató-
para a rodada de concessões realizada em rio, em que as mesmas atividades são
2017 que permite proteção cambial para prestadas, não se deve exigir de alguns
dívidas em moeda estrangeira utilizando operadores aeroportuários licenças, au-
recursos de outorga variável. torizações e permissões que não são
Regulamentar com urgência itens essen- exigidas de outros.

74
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

PORTOS

A INSEGURANÇA JURÍDICA PREVALECEU E


los diferentes de contratos, firmados ou
INTERROMPE INVESTIMENTOS
ajustados de acordo com a regulação do
momento: contratos de arrendamentos
Desde 1993 quando foi promulgada a pré-1993, pós-1993 e pós-2013 (Lei
Lei 8.630, chamada Lei dos Portos, o setor 12.815/2013), além dos contatos de au-
conviveu com altos e baixos. Nos últimos torização para terminais de uso privados.
25 anos, investimentos privados foram O que impera atualmente é a insegu-
viabilizados em arrendamento de termi- rança jurídica. O Decreto 9.048/2017 trou-
nais dentro e fora de portos públicos. A xe dispositivos para ampliar, de forma
produtividade cresceu e há maior capaci- flexível, prazo dos contratos de arrenda-
dade de movimentação de todos os tipos mento mediante novos investimentos,
de cargas. além de permitir a expansão da área ar-
Do outro lado, o Estado centralizou de- rendada para área contígua dentro da po-
cisões administrativas e de planejamento ligonal do porto organizado. Tudo median-
na contramão da tendência global de des- te estudos, análise e aprovações do poder
centralização. Adotou postura mais inter- concedente. Mas as solicitações de adap-
vencionista, também na direção oposta à tação estão todas suspensas até liberação
adotada pelas principais potências portu- de órgãos de controle devido a suspeita
árias, que conferem mais autonomia local. de irregularidade em um pedido. Estima-
Regras de gestão de mão de obra, que nun- tivas apontam R$ 23 bilhões de investi-
ca foram boas, foram pioradas. Há mode- mentos represados.22

22. FGV 2018. Contribuição dos portos para o desenvolvimento econômico.

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PROPOSTAS SETORIAIS

Além da judicialização em torno de di- produtividade e ampliação da capacidade


reitos e obrigações nos diferentes modelos de movimentação de cargas. As Compa-
de contratos, há exemplos recentes de nhias Docas precisam ser reestruturadas,
insegurança jurídica em relação ao au- abrindo espaço para privatizar ativos e
mento de custos. De um lado, órgão fede- estabelecer concessões. Os serviços de
ral de patrimônio trabalha para cobrar ta- dragagem podem ser prestados por con-
xas por uso do espelho d’água. De outro, cessão, com metas de calado, monitora-
o Supremo Tribunal Federal (STF) autori- mento da agência reguladora e tarifas re-
zou prefeituras a cobrar IPTU, inclusive guladas pagas pelos usuários dos canais.
retroativamente, de empreendimento de Em outra frente, precisa haver um re-
infraestrutura explorado por concessão ou ordenamento dos órgãos públicos que
arrendamento – uma conta que promete atuam dentro do trâmite portuário, o qual
ser bilionária e gerar mais judicialização e incorpora cinco ministérios, três agências
desequilíbrios financeiros. reguladoras, agências de meio ambiente
O setor portuário precisa de um mode- das três esferas de governo, órgãos de
lo regulatório que adapte e uniformize os controle, sindicatos, órgãos de pratica-
diversos modelos existentes, incorporan- gem e de gestão de mão de obra, conse-
do incentivos e metas de investimento, lhos e prefeituras, entre outros.

76
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

ENERGIA ELÉTRICA

REVISÃO REGULATÓRIA APONTA NA


DIREÇÃO CORRETA E HÁ CORREÇÕES
URGENTES

Uma nota técnica preparada pelo Minis-


tério de Minas e Energia foi assertiva ao
introduzir as razões que motivam e impõem
uma revisão regulatória no modelo do setor
elétrico: “O setor elétrico mundial está atu-
almente sujeito a pressões para mudanças
em seu quadro regulatório, comercial e ope-
racional. Tais pressões são exercidas por
fenômenos tecnológicos e socioambientais
que representam condições de contorno
para o funcionamento da indústria elétrica
e por fricções nos modelos de negócio hoje
prevalentes.” Em miúdos, são três as prin-
cipais pressões: fontes renováveis e inter-
mitentes de geração com custos decres-
centes; impactos sistêmicos da expansão
das possibilidades de geração distribuí-
das; tecnologias de medição – mas não
somente – inteligentes.
Pressões como essas oferecem riscos,
mas também oportunidades de ganhos de
eficiência. No entanto, para serem apro-
veitadas, precisam encontrar um mercado
estável, com agentes fortalecidos e prepa-
rados para o investimento e a evolução.
No Brasil, entretanto, o mercado de ener-
gia elétrica foi sufocado econômica e fi-
nanceiramente nos últimos cinco anos por
uma série de motivos, causados tanto por to era uma demanda dos agentes do setor
decisões governamentais quanto por fa- elétrico há anos, com alternativas de mo-
tores não gerenciáveis. delos em debate, o que não impediu ama-
A famosa Medida Provisória 579/2012, dorismo na definição, gerando uma crise
o “11 de setembro do setor elétrico brasi- regulatória no setor.
leiro” causou desorganização abrupta e A crise regulatória veio acompanhada
significativa na medida em que reduziu, por uma segunda, climática, derivada de
de forma atabalhoada, as receitas de con- índices pluviométricos abaixo da média
cessões próximas do vencimento. A defi- em diversas regiões, e por uma terceira,
nição de regras para ativos de concessão macroeconômica, fruto do agravamento
ou autorização do setor elétrico cujos con- da desaceleração da econômica brasileira,
tratos estavam em momento de vencimen- ocasionando uma recessão em 2015 e

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PROPOSTAS SETORIAIS

2016. O resultado foi perda de valor, re- Revisão regulatória


dução de investimentos, crise de confian- Entre 2016 e 2017, o governo federal
ça, insegurança jurídica e conflitos regu- promoveu um processo de consulta para
latórios transferidos para o Poder uma revisão regulatória que enfrenta as-
Judiciário. As medidas de gestão e ope- pectos conjunturais e estruturais. As mu-
ração agravaram distorções que perdu- danças, em geral, apontam na direção
ram até hoje, com efeitos negativos sig- correta, mas dada a profundidade e abran-
nificativos na gestão do GSF (risco gência das correções pretendidas é bastan-
hidrológico) e da liquidação do mercado te desejável que haja cautela para que
de curto prazo. regras novas sejam instituídas por com-
Entre 2016 e 2018, discussões abran- pleto, com metodologias e fórmulas de
gentes permitiram identificar problemas cálculo já disponíveis e de amplo conhe-
de curto, médio e longo prazo e endereçar cimento. É fundamental que o processo
soluções que, nesta fase, requerem deci- seja suportado por análises exaustivas
sões legislativas e/ou infralegais no âmbi- dos custos e dos benefícios, respeito aos
to da agência reguladora. As medidas à contratos e períodos de transição.
espera de respostas do Estado visam ajus- Uma das principais propostas é a se-
tar o modelo do setor elétrico e dar aos paração na contratação de lastro e de
investidores os sinais adequados para energia. A mudança aponta corretamente
atrair capital destinado à expansão da ma- para redistribuir a alocação de custos
triz elétrica. Elas podem ser agrupadas em atrelados à expansão da matriz elétrica,
quatro frentes: revisão regulatória do mo- melhorar as condições de financiamento
delo elétrico, modelo de privatização da de projetos destinados ao mercado livre
Eletrobras, correções urgentes em falhas de energia e centralizar a contratação de
estruturais e planejamento. lastro – o que será benefício em um cená-

78
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

rio com participação crescente do merca- lionárias que ameaçam o balanço e a capa-
do livre. A mudança precisa ser cuidado- cidade de investimento delas.
sa, no entanto. A regulação sugerida vai Na geração de energia, é fundamental
requerer fórmulas e metodologias para, equacionar definitivamente os fatores atre-
entre outras coisas, contratação de lastro lados ao déficit de geração de energia nas
e formação de preços de fontes diferentes hidrelétricas, problema que persiste há qua-
de geração. É fundamental testar o mo- se cinco anos e se agrava continuamente.
delo pretendido diante das demandas dos O problema consiste em fatores que
financiadores de longo prazo. impedem que estas geradoras entreguem
O processo de revisão regulatória pre- a carga de energia elétrica prevista em
vê também o fim do regime de cotas para contratos por razões alheias à gestão de-
hidrelétricas prorrogadas ou licitadas no las: despachos de geração de energia fora
qual a agência reguladora define tarifa da ordem de mérito de custo econômico
que remunera somente custos de opera- para preservar reservatórios, permissão
ção e manutenção. A “descotização” será para gerar energia de usinas termelétricas
feita mediante pagamento de outorgas. A fora da ordem de mérito de forma anteci-
proposta conta com apoio da Abdib. pada para compensar eventuais indispo-
nibilidades no suprimento do combustível;
Privatização da Eletrobras deslocamentos causados por importação
A Abdib é entusiasta da reestruturação de energia; e restrições impostas por atra-
da Eletrobras que foca no equacionamen- sos no início de operação de sistemas de
to de custos operacionais, reorientação transmissão.
estratégica, diretrizes para venda de ati- Autorizações para despachos de ge-
vos e diluição da participação do Estado ração de energia fora da ordem de méri-
no capital da empresa. O processo de to deslocaram a geração de hidrelétricas
privatização em curso legislativo e admi- em montantes significativos. Em alguns
nistrativo é importante para reduzir vul- momentos, as hidrelétricas foram auto-
nerabilidades na gestão financeira e ope- rizadas a produzir só 80% das garantias
racional da companhia. físicas.
As diretrizes – bem-vindas – envolvem A solução discutida com as autorida-
privatização de seis distribuidoras de ener- des energéticas inclui retirar do GSF efei-
gia elétrica, com o devido equacionamen- tos alheios à gestão das empresas. Con-
to de passivos; venda de participações em cessionárias hidrelétricas no mercado
sociedades de propósito específico de ge- serão compensadas pelos impactos sofri-
ração e de transmissão de energia elétri- dos de forma retroativa, desde janeiro de
ca; aumento do capital da Eletrobras com 2013, na forma de extensão dos contratos
emissão de ações e diluição do controle de concessão em, no máximo, sete anos.
acionário da União. A Abdib apoia essa forma de solucionar
Efetivadas tais decisões, a Eletrobras se- o problema, de forma estrutural. Há ainda
gue no caminho de recuperar condições de imperiosa necessidade de adotar solução
investimento. A Abdib tem posicionamento para o mercado livre.
favorável ao modelo proposto e defende Na transmissão de energia, a Abdib
aprovação urgente no Poder Legislativo. considera imprescindível ratificar regras
. que definiram – já tardiamente – a fórmu-
Correções urgentes la e o prazo para concessionárias de sis-
Dois problemas graves impõem restri- temas de transmissão de energia da Rede
ções à gestão financeira das empresas de Básica do Setor Elétrico (RBSE) receberem
energia elétrica atualmente, com cifras bi- compensações devidas.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 79


PROPOSTAS SETORIAIS

Em 2012, o governo federal promoveu Em maio de 2018, no âmbito do proje-


o processo de prorrogação dos contratos to de lei de desestatização da Eletrobras,
de concessão das empresas de transmis- foi divulgado relatório mantendo o prazo
são, com o objetivo de redução da tarifa de oito anos para o pagamento do com-
de energia elétrica. Para tanto, propôs ponente financeiro, conforme Portaria
uma diminuição próxima a 70% das recei- 120/2016 do MME.
tas das empresas que detinham conces- Diante deste cenário, é necessário firme
sões, mediante a devida compensação. empenho do Poder Executivo, em especial,
Conforme a Lei 12.783/2013, a com- da Aneel e do Ministério de Minas e Ener-
pensação se refere ao pagamento pelos gia, para sustentar e manter a efetividade
ativos dessas companhias existentes em dos atos que ele mesmo editou, em ga-
maio de 2000 e não totalmente deprecia- rantia da manutenção das regras definidas
dos até dezembro de 2012 da RBSE. Ape- para pagamento das indenizações – prazo
sar de a prorrogação ter sido formalizada de oito anos – e completa atualização du-
em dezembro de 2012, as condições e rante o período em que o pagamento não
prazos do pagamento foram estabeleci- foi efetuado, preservando a segurança ju-
dos somente em abril de 2016 (Portaria rídica, a estabilidade e a previsibilidade do
n 120 do Ministério de Minas e Energia).
o
mercado e a confiança dos investidores
Foram quase cinco anos de indefini- nos atos jurídicos do poder público.
ções. Estabelecidas as condições de pa-
gamento, a previsibilidade de recebimen- Planejamento
to das compensações pelas empresas A Abdib defende que o Brasil deve
envolvidas contribuiu para que elas pu- aproveitar o potencial energético existen-
dessem retomar participação em leilões. te nas múltiplas fontes disponíveis, um
Mas, em inciativas legislativas e judi- privilégio encontrado em poucos países.
ciais, há tentativa de alterar novamente as O planejamento de médio e longo prazo
condições e os prazos de pagamentos já de- deve privilegiar a expansão de geração de
finidos, prejudicando novamente as pers- energia renovável, sem desperdiçar as
pectivas financeiras e de investimento das inúmeras oportunidades de exploração
empresas envolvidas. Questionamentos de geração térmica.
judiciais pleiteiam que o pagamento seja Esse planejamento deve buscar equilí-
efetuado pela União e, atualmente, liminares brio entre os princípios de sustentabilidade,
determinaram exclusão da devida atualiza- segurança energética e modicidade tarifá-
ção dos valores pelo custo de capital próprio ria, estabelecendo sinais adequados para
(com impacto negativo de 14% nos paga- a atração de capital privado para a expan-
mentos) prejudicando novamente as pers- são da infraestrutura de energia elétrica.
pectivas financeiras e de investimento das Nesse contexto, a segurança energéti-
empresas envolvidas. ca ganha relevância, sem a qual a susten-

80
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

tabilidade e a modicidade tarifária ficam drica – sobretudo diante da perspectiva de


prejudicadas. A Abdib considera funda- mudanças climáticas com impactos no
mental o desenvolvimento de fontes hídri- abastecimento de água – e para o controle
cas e térmicas – supridas por gás natural, de cheias.
no caso - na base da expansão da capa- Há potencial enorme também para o
cidade de geração de energia elétrica do desenvolvimento de hidrelétricas de médio
país, dando estabilidade ao sistema e per- porte, que apresentam os mesmos atribu-
mitindo a expansão de fontes intermiten- tos positivos. Estimativas preliminares
tes como eólica, solar e biomassa, de for- apontam que há potencial de 14.000 MW
ma complementar. em mais de cem usinas hidrelétricas com
Na medida em que o Brasil deve apostar potência entre 150 MW e 180 MW.
na expansão da matriz energética em bases
renováveis e que garantam estabilidade e Redes inteligentes
segurança energética no suprimento, é im- Em paralelo a mudanças legislativas e
portante aproveitar o potencial hidrelétrico regulatórias no setor elétrico, é imperioso
existente em usinas de todos os portes. que o país estabeleça políticas adequadas
Por isso é importante o retorno do de- para a modernização da infraestrutura do
senvolvimento de projetos hidrelétricos setor elétrico, em especial induzindo a ado-
com reservatórios de acumulação, diretriz ção intensiva de redes e medidores inte-
preterida nos últimos anos em benefício ligentes. Essas redes inteligentes são ha-
de usinas a fio d’água. Nos projetos com bilitadores tecnológicos para um mercado
reservatórios menores, nos quais o fator eficiente de energia. Uma infraestrutura
determinante para a geração de energia modernizada viabiliza novos produtos e
é a vazão dos rios, há menor impacto am- um fluxo de informações que suportará
biental, mas também menor eficiência na uma gestão muito mais eficaz dos ativos
geração de energia. elétricos. Como essa modernização da
Com reservatórios, há necessidade de infraestrutura é um processo contínuo e
mitigar e compensar impactos ambientais, de longo prazo, e mobilizará um volume
mas aproveita-se inúmeras externalidades importante de recursos – mão de obra e
positivas significativas, como a maior efi- equipamentos – deve ser concatenado e
ciência na geração de energia e segurança pensado em conjunto com todas as trans-
ampliada no suprimento energético com a formações de modelo comercial e opera-
capacidade de acumular água. Da mesma tivo do setor, com regras regulatórias que
forma, há benefícios para a segurança hí- permitam o início desse processo.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 81


PROPOSTAS SETORIAIS

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

UMA POLÍTICA FEDERAL PODE Desde que a Agência Nacional de


AJUDAR A TRANSFORMAR Energia Elétrica (Aneel) determinou a
POTENCIAL EM REALIDADE transferência da gestão da infraestrutura
de iluminação pública das distribuidoras
de energia elétrica para os municípios,
em setembro de 2010, por meio da Reso-
lução Normativa 414/2010, este setor
tornou-se o carro-chefe do lançamento
de iniciativas municipais de parceria pú-
blico-privadas (PPP). O prazo final para a
transferência da gestão para as prefeitu-
ras ocorreu no início de 2015.

82
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

A Abdib defende o estabelecimento


de uma política federal de iluminação pú-
blica e cidades inteligentes, bem como
um plano de atuação do governo federal
no setor, com foco nas novas tecnologias
disponíveis. Há intersecção da ilumina-
ção pública com outras políticas públi-
cas. Com o setor de energia elétrica, há
economia de energia, propiciada pelas
novas tecnologias, por exemplo, o LED.
Com o meio ambiente, há redução das
emissões e do potencial poluidor dos
descartes futuros dos equipamentos.
Com a segurança pública, há melhoria
das condições de iluminação e também
dos dispositivos e sensores que possibi-
litam a prevenção e o combate ao crime.
Com a qualidade de vida urbana e valori-
zação do patrimônio artístico, cultural,
paisagístico e histórico, há otimização
dos fluxos luminosos e uniformidade da
A Contribuição para o Custeio da Ilu- iluminação pública com o uso de novas
minação Pública (Cosip), criada em 2002, tecnologias. Mas, para ser uma iniciativa
transformou-se em uma fonte de arreca- bem-sucedida, é necessário definir os
dação específica e, consequentemente, entes federais responsáveis pela coorde-
em garantia firme para suportar projetos nação e pela implementação das diferen-
municipais de PPP. Dados mostram que tes dimensões da política e do plano.
o mercado pode alcançar R$ 9,2 bilhões. Outra proposta é o aperfeiçoamento
De 2013 para 2017, foram lançados 186 da Resolução Normativa 414/2010, da
projetos de iluminação pública. Entre 22 Aneel, no sentido de desenvolver a inter-
segmentos, o número é menor apenas face entre as distribuidoras de energia
do que os 188 projetos de saneamento elétrica, as prefeituras e, quando existen-
básico.23 te, a respectiva concessionária municipal
Mas o setor, apesar das perspectivas de iluminação pública, tema atualmente
muito positivas, carece de propostas que em curso na Abdib. Com essa iniciativa,
transformem o enorme potencial exis- os objetivos são reduzir riscos operacio-
tente em investimentos e melhorias à nais e de gestão das PPPs em iluminação
população na prática. pública. Por exemplo:

23. Radar PPP.

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PROPOSTAS SETORIAIS

Regulação de mecanismos de medição custos relativos ao setor de iluminação


e automação que absorvam a eficiência pública, não apenas o custo de energia.
energética trazida pelos novos equipa-
mentos por meio da medição do consu- Eficiência energética
mo efetivo de energia. Os investimentos em iluminação públi-
Direitos e obrigações das distribuido- ca têm forte correlação com a eficiência
ras, das prefeituras e, quando for o energética. Há diversos programas já exis-
caso, da concessionária de iluminação tentes que ofertam recursos não reembol-
pública, a compor os acordos operati- sáveis. O assunto é regulado pela Lei
vos das distribuidoras de energia elétri- 9.991/2000, complementada e atualizada
ca com as prefeituras. pelas leis 13.203/2015 e 13.280/2016, que
Definição de padrões de equipamentos estabelecem e disciplinam programas de
para conexão à rede de distribuição. eficiência energética. As distribuidoras,
Regulamentação dos custos, fluxo de por exemplo, têm de aplicar 0,5% da recei-
arrecadação e repasse das distribuidoras ta operacional líquida (ROL) em programas
- que hoje está sob ótica contratual –, no de eficiência energética. Desse montante,
que diz respeito a prazos, correção mone- 20% necessariamente têm de ser destina-
tária e retenção de custos na origem. dos ao Programa Nacional de Conservação
É muito importante também o apoio de Energia Elétrica (Procel), que já conside-
da Aneel na definição de parâmetros e ra iluminação pública no Procel Reluz.24
índices de correção que guiem os muni- O Ministério de Minas e Energia tam-
cípios no acompanhamento de todos os bém está sensibilizado sobre a importância

24. http://www.procelinfo.com.br/data/Pages/LUMIS623FE2A5ITEMID6C524BD8642240ECAD7DEF8CD7A8C0D9PTBRIE.htm

84
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

da modernização. No fim de 2017, houve e cidades inteligentes, concebendo uma


um chamamento para avaliação de proje- política realista para a promoção do con-
tos de iluminação pública com LED. Por teúdo nacional em equipamentos rela-
fim, na diretriz de utilizar e aprimorar o cionados a estes projetos.
que já existe, pode ser mencionado o Pla- Promover modelos de suporte aos muni-
no Nacional de Eficiência Energética. 25
cípios para a modelagem e a gestão pú-
blica de projetos de PPP de iluminação
Aumento da segurança jurídica do uso pública, valendo-se para tanto de melho-
da Cosip para investimentos no parque res práticas e de exemplos exitosos de
de iluminação (não apenas operação e projetos afins, no país e no exterior.
manutenção) para outros fins relacio- Exigência do atendimento à NBR-

nados a tecnologias intrínsecas ao con- 5101 (iluminação pública) para en-
ceito de cidades inteligentes e como quadramento de projetos de PPPs de
mecanismo garantidor de projetos de iluminação pública em iniciativas
longo prazo (hipótese de vinculação dos quaisquer do âmbito da Política Fe-
recursos a projetos de PPP e responsa- deral de Iluminação Pública a ser
bilidades das distribuidoras de energia criada (por exemplo, financiamento
na arrecadação dos recursos). com linhas de bancos públicos, mo-
Estabelecimento de programas e linhas delagem de projetos com suporte de
de financiamento para iluminação pública entes federais).

25. h
 ttp://www.mme.gov.br/documents/10584/1432134/Plano+Nacional+Efici%C3%AAncia+Energ%C3%A9tica+%28PD-
F%29/74cc9843-cda5-4427-b623-b8d094ebf863?version=1.1

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UMA AGENDA PARA OS PRIMEIROS
SEIS MESES DE GOVERNO

Enviar ao Congresso Nacional uma proposta de reforma


previdenciária abrangente, sem distinção para grupos
do setor público, que estanque o crescimento das des-
pesas e equilibre pagamentos e receitas.

Enviar ao Congresso Nacional uma proposta de reforma


tributária consistente, que busque simplificar o comple-
xo sistema tributário brasileiro eliminar as distorções que
inibem e prejudicam a produção e o investimento. A pro-
posta deve contemplar a instituição de um imposto so-
bre valor agregado (IVA) em substituição a outros impos-
tos e contribuições – PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS – com
prazos de transição.

Garantir o funcionamento ininterrupto do Programa de


Parceria de Investimentos (PPI), criado em maio de
2016, assegurando fluidez para as diversas ações, estu-
dos e processos de leilão de concessões em andamento
e preservando o diálogo com o setor privado, a previsi-
bilidade na condução dos processos preparatórios e a
perspectiva dos projetos públicos ofertados pelo governo
federal ao setor privado.

Concluir a votação do PL 1.292/1995, que estabelece


regras de licitação e contratação para a administra-
ção pública, preservando regras que estimulam uso
mais disseminado do seguro garantia para obras de
engenharia.

Concluir processo de regulamentação de importantes


aspectos da Lei 13.448/2017, que ofereceu alternativas
para dar solução para concessões com desequilíbrios
econômicos e financeiros, como a devolução antecipa-
da e amigável de concessões mediante indenização. Há
necessidade de regulamentar, ainda, regras para permitir
o avanço de processos de prorrogação antecipada de
concessões ferroviárias mediante novos investimentos.

Concluir a votação do PL 6.621/2016, em tramitação na


Câmara dos Deputados e já aprovado no Senado Federal,
que fortalecem a governança e a atuação das agências
reguladoras.

86
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

Concluir a votação do PL 3.729/2004, em tramitação


na Câmara dos Deputados, que propõe uma Lei Geral
de Licenciamento Ambiental. O PL mantém a diretriz
de distribuir competências entre União, estados e mu-
nicípios, aperfeiçoa aspectos sobre licenças ambientais,
área de influência dos projetos, estipula prazos para as
etapas do licenciamento e revê exigências consideradas
desnecessárias.

Retomar políticas públicas e mecanismos de apoio para


a exportação de bens e serviços de infraestrutura,
apoiando a participação de empresas brasileiras no acir-
rado mercado global de construção de infraestrutura,
propiciando oportunidade de exportação indireta para
cerca de 2.800 empresas, sobretudo micro, pequenas
e médias.

Votar a MP 844/2018, que moderniza o marco regu-


latório do saneamento básico, enviada ao Congresso
Nacional, preservando aspectos essenciais, como as
competências para a Agência Nacional de Águas (ANA)
instituir normas de referência nacional para a regulação
da prestação dos serviços de saneamento básico, cria-
ção de um conselho nacional para a integração das polí-
ticas de saneamento básico e a reprodução das cláusu-
las essenciais dos contratos de concessão nos contratos
de programa.

Concluir o processo de prorrogação antecipada dos


contratos de concessão ferroviária. Estima-se que
algo superior a R$ 25 bilhões de novos investimentos
podem ser viabilizados em cinco concessões de ferro-
vias existentes nos próximos anos caso as renovações
sejam efetivadas.

Concluir tramitação e votação do PL 1.917/2015, no qual


estão atualmente inseridas medidas que buscam pro-
mover uma revisão regulatória e um aprimoramento no
modelo do setor elétrico.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 87


UMA AGENDA PARA OS PRIMEIROS SEIS MESES DE GOVERNO

Concluir o processo de reestruturação da Eletrobras, o


que inclui, entre outras questões, a aprovação do PLC
77/18, já aprovado na Câmara dos Deputados como PL
10.332/2018, que autoriza a privatização de distribui-
doras de energia elétrica da estatal federal.

Garantir a aprovação de solução para o risco hidrológi-


co, tal qual consta no PLC 77/18, já aprovado na Câmara
dos Deputados como PL 10.332/2018, que autoriza a pri-
vatização de seis distribuidoras da estatal federal, dando
tratamento adequado para fatores que impedem que as
geradoras entreguem a carga de energia elétrica prevista
em contratos por razões alheias à gestão das empresas e
garantindo compensação, na forma de extensão do con-
trato de concessão, pelos impactos sofridos pelo GSF.

Concluir a tramitação do PL 6.407/2013, que promove


uma modernização na regulação sobre gás natural,
com mecanismos e prazos em um período de transição
que garanta segurança jurídica a investimentos e ope-
rações constantes em contratos já existentes. As novas
regras têm como premissa a adoção de boas práticas
internacionais, atração de investimentos, aumento da
competição, diversidade de agentes, maior dinamismo e
acesso à informação, participação ativa dos agentes do
setor e respeito aos contratos firmados.

Enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei para


atualizar as regras para desapropriação pública, proce-
dimento regido pelo Decreto-Lei 3.365/1941.

Concluir a votação do PLC 79/2018, no Senado Federal,


que atualiza a Lei Geral de Telecomunicações, preser-
vando a permissão para que concessionárias telefônicas
substituam o modelo de concessão pelo de autorização e
dando solução regulatória para a incorporação por parte
das concessionárias telefônicas dos bens públicos usa-
dos na prestação do serviço de telefonia fixa ao fim dos
contratos de concessões.

Dar continuidade ao programa de concessões nos ae-


roportos federais, com planejamento e publicação de
um plano de outorgas, dialogando com o setor privado a
respeito de modelo de negócios atrativos para aeropor-
tos menos rentáveis.

88
AGENDA DE PROPOSTAS PARA A INFRAESTRUTURA 2018

Capitalizar em montante suficiente o Fundo Garantidor


de Infraestrutura, administrado pela Agência Brasileira
Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), que
tem o propósito de oferecer garantias, direta ou indireta-
mente, para riscos, sobretudo os não gerenciáveis. A co-
bertura para riscos não gerenciáveis é pilar fundamental
para a adoção de project finance non recourse no financia-
mento dos investimentos em infraestrutura.

Garantir orçamento suficiente para o FEP, fundo públi-


co instituído pela Lei 13.529/2017 para apoiar a estrutu-
ração de projetos.

Aprovar o PLP 459/2017 na Câmara dos Deputados, já


aprovado no Senado Federal (PLS 204/2016), que escla-
rece procedimentos para a realização de operações de
securitização da dívida tributária dos entes públicos,
medida que oferece oportunidade real de contribuir,
neste momento de crise fiscal, com o aumento de recei-
ta no orçamento dos entes públicos (federal, estadual
e municipal) e de impulsionar investimentos públicos e
privados já no curto prazo – uma das principais neces-
sidades do Brasil.

Enviar ao Congresso Nacional proposta que ofereça solu-


ção privada para a retomada de investimentos em con-
cessões rodoviárias com desequilíbrios, com princípios
similares aos constituídos para contratos com problemas
equivalentes no setor aeroportuário.

ABDIB | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE 89


CONSELHOS E DIRETORIA

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DIRETORIA EXECUTIVA


Presidente Venilton Tadini
BRITALDO SOARES • Eletropaulo Presidente-executivo

AGOSTINHO SERAFIM JUNIOR • Queiroz Galvão Ralph Lima Terra


ANDRE CLARK • Siemens Vice-Presidente Executivo
ANDRÉ DORF • CPFL
DÉCIO DE SAMPAIO AMARAL • Camargo Corrêa Infra Nivaldo Tetti
HARRY SCHMELZER JUNIOR • WEG Diretor Administrativo e Financeiro
JOSÉ FÁBIO JANUÁRIO • Odebrecht
KARLA BERTOCCO • Sabesp José Maria de Paula Garcia
LAURO CELIDÔNIO NETO • Mattos Filho Advogados Diretor de Comitês Temáticos
LUIZ SERGIO VIEIRA FILHO • EY
MARCOS ALMEIDA • Brookfield Igor Rocha
MAURICIO BÄHR • Engie Diretor de Planejamento e Economia
PAULO GODOY • Alupar
RAFAEL PANIAGUA • ABB José Casadei
RICARDO CASTANHEIRA • CCR Diretor de Comunicação
SAULO ALVES PEREIRA JUNIOR • Andrade Gutierrez
SOLANGE RIBEIRO • Neoenergia Cintia Torquetto
VIVEKA KAITILA • GE Coordenadora de Eventos
WILSON FERREIRA JUNIOR • Eletrobras
A DEFINIR • Acciona

CONSELHO CONSULTIVO
ALBERTO DIAS • ABB
ANDRE DABUS • Marsh
ANTONIO GIL DA SILVEIRA • Caixa
ANTONIO PARGANA • Cisa Trading
CARLOS VILLA • Solví
CLAUDIA BONELLI • Tozzini Freire Advogados
DAVID ALMAZÁN • Arteris
DAVID MOREIRA • Patria
EDUARDO VIEGAS • Concremat
ELIAS DE SOUZA • Deloitte
GABRIEL GALIPOLO • Fator
GILSON KRAUSE • Promon
GUSTAVO BARRETO • CCR
HENRIQUE ZUPPARDO JUNIOR • Megatranz
JORGE NEMR • Leite, Tosto e Barros Advogados
JOSÉ CARLOS TAVARES PEREIRA • WIZ Soluções
JOSÉ VIRGÍLIO ENEI • Machado Meyer Advogados
JOSEDIR BARRETO • OAS
JULIAN THOMAS • ALIANÇA
JULIO FONTANA NETO • Rumo
LUIS CARLOS BORBA • Toshiba
MARCOS BLUMER • Voith Hydro
MARCOS CINTRA • Tenaris Confab
MASSIMO GUALA • Salini Impregilo
MAURICIO ENDO • KPMG
MICHEL BOCCACCIO • Alstom
MIGUEL NORONHA • Barbosa Mello Participações
OTÁVIO MAIA • PwC
RENATO MEIRELLES NETO • CAF
RENATO SUCUPIRA • BF Capital
REYNALDO PASSANEZI • CTEEP
RODOLFO SIROL • CPFL
ROGÉRIO TAVARES • Aegea
SERGIO PARADA • Andritz Hydro
TERESA VERNAGLIA • BRK Ambiental
THOMAS FELSBERG • Felsberg Advogados Projeto Gráfico e Diagramação
WILSON QUINTELLA • Estre Ambiental Azul Publicidade
COMPANHIAS ASSOCIADAS
SUMÁRIO ABB LTDA FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A.
ABGF GALVÃO PARTICIPAÇÕES S.A.
ACCIONA INFRAESTRUCTURAS S.A. GENERAL ELECTRIC ENERGY DO BRASIL S.A.
APRESENTAÇÃO 4 AEGEA SANEAMENTO E PARTICIPAÇÕES S.A. GS INIMA BRASIL LTDA
ALIANÇA NAVEGAÇÃO E LOGÍSTICA LTDA HELENO & FONSECA CONSTRUTÉCNICA S.A.

1.
ALSTOM BRASIL ENERGIA E TRANSPORTE LTDA HOUER CONSULTORIA E CONCESSÕES LTDA
ALUPAR PARTICIPAÇÕES S.A INTERTECHNE CONSULTORES ASSOCIADOS S.C. LTDA
UMA POLÍTICA MACROECONÔMICA VOLTADA PARA O
ANDRITZ HYDRO BRASIL LTDA INVEPAR INVESTS. E PARTS. EM INFRAESTRUTURA S.A.
DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO E CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL 8
AROEIRA SALLES ADVOGADOS ITAZI ENGENHARIA LTDA
ARTERIS S.A. KPMG STRUCTURED FINANCE S.A
1.1 ESTABILIDADE E RETOMADA DO CRESCIMENTO 10 AZEVEDO SETTE ADVOGADOS ASSOCIADOS LCA CONSULTORES
1.2 AJUSTE FISCAL 11 BANCO FATOR S.A. LEITE, TOSTO E BARROS ADVOGADOS ASSOCIADOS
1.3 REFORMA DA PREVIDÊNCIA 13 BARBOSA MELLO PARTICIPAÇÕES E INVESTIMENTOS S.A MACHADO, MEYER, SANDACZ E OPICE ADVOGADOS

1.4 REFORMA TRIBUTÁRIA 15 BF CAPITAL ASS. EM OPERAÇÕES FINANCEIRAS LTDA MADRONA ADVOGADOS
BNDES MAGNA ENGENHARIA
1.5 SECURITIZAÇÃO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA 17
BR INFRA GROUP MANESCO, RAMIRES, PERES, SOCIEDADE E ADVOGADOS
1.6 REFORMA DO ESTADO 18
BRK AMBIENTAL MARSH CORRETORA DE SEGUROS LTDA
1.7 DIRETRIZES PARA RETOMADA DA INDÚSTRIA 20 BROOKFIELD BRASIL LTDA MATTOS FILHO ADVOGADOS

2.
CAF BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO S.A. MEGATRANZ TRANSPORTES LTDA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL MOTTA, FERNANDES ROCHA ADVOGADOS
PROPOSTAS MATRICIAIS 22 CAMARGO CORRÊA INFRA CONSTRUÇÕES NATTURIS CONSULTORIA E ASSESSORIA AMBIENTAL
CASCIONE, PULINO, BOULOS & SANTOS – ADVOGADOS NEOENERGIA S.A
CCR – COMPANHIA DE CONCESSÕES RODOVIÁRIAS NUCLEP – NUCLEBRÁS EQUIPAMENTOS PESADOS S.A
2.1 PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO 24
CELEO – REDES BRASIL S.A. PAR RISCOS ESPECIAIS | WIZ SOLUÇÕES
2.2 SEGURANÇA JURÍDICA 26
CEMIG – COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS PATRIA INFRAESTRUTURA GESTÃO DE RECURSOS LTDA
2.3 ESTUDOS E PROJETOS 28
CISA TRADING S.A PAVAN ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES LTDA
2.4 AGÊNCIAS REGULADORAS 29 CITÉLUZ SERVIÇOS DE ILUMINAÇÃO URBANA S.A. PRICEWATERHOUSECOOPERS LTDA
2.5 FINANCIAMENTO E GARANTIAS 30 COMPANHIA PAULISTA DE DESENVOLVIMENTO - CPD PRIMAV CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO S.A.
2.6 MEIO AMBIENTE 32 CONCREMAT ENGENHARIA E TECNOLOGIA S.A. PROMON TECNOLOGIA LTDA

2.7 CONTRATAÇÃO PÚBLICA 35 CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A. RADAR PPP LTDA
CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A. RUMO S.A
2.8 DESAPROPRIAÇÕES 37
CONSTRUTORA OAS LTDA SABESP – CIA. SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SP
2.9 CONCESSÕES 38
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO S.A SADENCO ENGENHARIA LTDA
2.10 RELAÇÕES INTERNACIONAIS 41
CONTER CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO S.A. SALINI IMPREGILO SPA
CPFL ENERGIA S.A SANEAMENTO AMBIENTAL ÁGUAS DO BRASIL S.A
CSO AMBIENTAL DE SALTO SPE S.A SETE – SOLUÇÕES E TECNOLOGIA AMBIENTAL LTDA
CTEEP – CIA TRANSM. DE ENERGIA ELÉTRICA PAULISTA SIEMENS LTDA
DDSA ADVOGADOS SILVER SPRING NETWORKS LTDA DO BRASIL
DELOITTE TOUCHE TOHMATSU CONSULTORES LTDA SOLVI PARTICIPAÇÕES S.A.
DELTA COMERCIALIZADORADE ENERGIA LTDA STATE GRID BRAZIL HOLDING S.A
DEMAREST ADVOGADOS SUPER BAC – PROTEÇÃO AMBIENTAL S.A.
DESENVOLVE SÃO PAULO SWISS RE CORPORATE SOLUTIONS BRASIL LTDA
DT ENGENHARIA DE EMPREENDIMENTOS LTDA TAESA – TRANSM. ALIANÇA DE ENERGIA ELÉTRICA S.A.
EDP ENERGIAS DO BRASIL S.A TAROBÁ ENGENHARIA E NEGÓCIOS LTDA.
ELETROBRAS – CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A. TAUIL & CHEQUER ADVOGADOS
ELETRONUCLEAR – ELETROBRÁS TERMONUCLEAR S.A TECHNIP FMC
ELETROPAULO METROPOLITANA TENARIS CONFAB
EMAE – EMPRESA METROP.DE AGUAS E ENERGIA S.A TOZZINI, FREIRE, TEIXEIRA E SILVA ADVOGADOS
ENFIL S/A CONTROLE AMBIENTAL TSEA ENERGIA
ENGIE BRASIL PARTICIPAÇÕES LTDA UNA CONSULTORIA ECONÔMICA
ESTRE AMBIENTAL S.A. VLI MULTIMODAL
EY – ERNST&YOUNG ASS. EMPRESARIAL LTDA VOITH HYDRO LTDA
ETEO EMPRESA TRANSMISSÃO DE ENERGIA DO OESTE WEG EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS S.A.
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