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6 RESUMO Esta tese aplica fundamentos da teoria clássica do desenvolvimento ao caso regional
brasileiro entre os anos de 1995 e Há três objetivos integrados, que correspondem à: a) tentativa
de mostrar a teoria clássica do desenvolvimento como pertinente ao entendimento de processos
regionais de desenvolvimento, b) proposição de um esquema empírico de avaliação e c) uma
forma alternativa de se entender o desenvolvimento econômico do país no período recente. Para
tal, resgata em primeiro capítulo, os teóricos pioneiros e os esforços mais recentes de
recuperação e formalização das idéias chaves. Nessa corrente, o desenvolvimento é tido como
um processo de transformação estrutural, no qual a troca de atividades de baixa produtividade
por outras de alta produtividade é viabilizada pela oferta elástica de trabalho e por retornos
crescentes de escala no setor moderno. O segundo capítulo toma essa base e constrói um
esquema de verificação empírica alternativo ao que se observa na literatura. Esse esquema parte
de informações do mercado de trabalho para a economia brasileira, as quais, apesar de algumas
desvantagens, possibilita, entre outros pontos, tratar a economia como sendo formada por dois
grandes setores. Os dois capítulos subseqüentes, dedicam-se a demonstrar a validade do esquema
proposto e, daí, a pertinência das proposições clássicas no entendimento de processos regionais
de desenvolvimento do país. Dentre os principais resultados alcançados, destacam-se, no terceiro
capítulo, a efetiva operação do conceito de dualidade, a operação de externalidades, a conexão
entre tamanho de mercado e divisão de trabalho, o diferencial de salários e seu papel na
explicação do desenvolvimento como um processo de transformação estrutural. O último
capítulo, procura avançar no uso da base de informações para tratar das disparidades regionais de
renda per capita da economia brasileira como um quadro que descende da dualidade produtiva e
que reflete a idéia de múltiplos equilíbrios. Nas considerações finais, retomam-se os principais
resultados do trabalho e os reconsidera diante dos avanços obtidos pela literatura.
7 ABSTRACT This thesis paper applies the fundamentals of the classical theory of development
concerning the brazilian regional case in the years between 1995 and It comprises three
interconnected objectives: a) the demonstration of the importance of the classical theory in
understanding the regional processes of development; b) the proposition of an empiric scheme of
evaluation, and c) the intention to show an alternative way to understand the characteristics of
the economical development of the country in recent years. For such purposes, it retrieves, in the
first chapter, the pioneer theoreticians views, as well as other more recent efforts towards the
recuperation and formalization of key ideas. Hence, the development is taken as a process of
structural transformation, where the conversion of low-productive activities into others of high-
productivity is made feasible by the elastic offer of labour and by the increasing returns to scale
in the modern sector. The second chapter holds on this basis and builds a scheme of empirical
verification as an alternative to other schemes seen in the related literature. Such a scheme
derives from information relative to the labour market for the brazilian economy, which, despite
some detriments, turns possible, amidst other factors, to treat the economy as being composed of
two major sectors. The two subsequent chapters are dedicated to show the validity of the
proposed scheme, and, thence, the relevance of the classical propositions in understanding
regional processes of development in the country. Amongst the main achieved results, it is
outstanding, in the third chapter, the effective operation of the concepts of duality and of
externalities, the salary differentials and its role in the explanation of development as a process
of structural transformation. In the last chapter, the data base is used to deal with the regional
disparities of per capita income. By means of a multivariate analysis, it seeks to depict the
disparities as the outcomes of the productive duality, configuring a picture of multiple balances
of per capita income. In closing considerations, the main results are resumed and pointed out in
the light of advances achieved by the literature.
16 15 A hipótese adicional de Lewis sobre o esquema clássico e o que de fato diferencia esse
autor dos clássicos 1 é que, para que possam atrair e efetivamente drenar mão-de-obra, os
capitalistas devem pagar um prêmio sobre o salário de subsistência. O novo patamar salarial
deve remunerar custos associados à vida urbana (como transportes), à troca da vida amena no
campo pelo ambiente mais complexo das cidades, e deve surgir também da pressão da nova
classe trabalhadora vinculada ao capital (por meio dos sindicatos e dos governos) pelo
atendimento às suas novas necessidades de consumo. Esse prêmio, justamente por se dar sobre
remunerações deprimidas e em ambiente de excesso de mão-de-obra, não obstaculiza a
acumulação. Na realidade, o setor capitalista aumenta de "tamanho" por meio dos lucros
acumulados, e com os quais também se eleva a poupança enquanto proporção do produto
agregado. Além da diferença entre salários pagos (já incluído o prêmio) e preços formadora da
taxa de lucro, a taxa de acumulação depende da propensão a investir, influenciada, por seu turno,
pelo perfil empreendedor das classes detentoras de lucros e rendas. Esse esquema da
transformação estrutural, ainda que sinteticamente exposto, explica, conforme Lewis, a transição
de economias que poupam inicialmente entre 4% e 5% de sua renda para economias que poupam
de 12% a 15%. Não apenas isso, mas justifica também a elevação de seus padrões de renda per
capita, consumo e produtividade à medida que o setor de subsistência é substituído pelo setor
capitalista. A transformação prossegue até a completa exaustão do setor de subsistência. Nesse
ponto, os salários começam a responder positivamente à acumulação e a eliminar gradativamente
os lucros em excesso. O decorrente declínio da taxa de lucro reduz o crescimento do estoque de
capital a uma taxa líquida, porém, correspondente a uma taxa de lucro, agora, de uma economia
desenvolvida. 1 Ver Ros (2000, p.73).
17 16 Extensão lógica desse aparato, o modelo de Todaro (1969), Harris e Todaro (1970), e
elaborações posteriores, tratam do desemprego e do setor informal nos centros urbanos como
subprodutos do processo de drenagem da mão-de-obra entre o setor rural e o setor urbano,
segundo a taxa de industrialização ali observada, ou, ainda, conforme as possibilidades de oferta
de emprego por esse setor urbano, dado o salário institucionalmente estabelecido. Em países em
desenvolvimento, a esmagadora maioria da população encontra-se nas áreas rurais enquanto o
processo de modernização (ou de acumulação de capital) ocorre nas áreas urbanas pouco
populosas. Ao mesmo tempo, as características produtivas do setor rural impõem salários fixados
em níveis significativamente inferiores àqueles observados nas cidades, nas quais os salários
obedecem a critérios institucionais, derivados de pressões sociais e de políticas públicas, apesar
de a contratação efetiva pelas atividades industriais guiar-se pelos critérios de produtividade
marginal decrescente. O conseqüente diferencial de remunerações em favor do setor urbano,
ajustado à probabilidade de se obter emprego, motiva o fluxo migratório rural-urbano até o ponto
de eliminação desse diferencial. Entretanto, dois mecanismos impedem o pleno emprego dos
migrantes e que, paralelamente, alimentam um subsetor de subsistência no ambiente urbano,
caracterizado pelo desemprego ou o emprego precário, de baixa produtividade. O primeiro
corresponde ao salário institucional, o qual, comparado à eficiência marginal, limita a oferta de
emprego em volumes inferiores à mão-de-obra total disponível. Isso acontece porque a indústria
toma o salário como dado e a partir do mesmo ajusta seus níveis de produção. Estes podem ou
não coincidir com os níveis de pleno emprego, mas na atual racionalização a hipótese é de que
fiquem abaixo. O segundo mecanismo refere-se à indução de um fluxo migratório, propiciado
pelo diferencial de salários, em intensidade superior à demanda de trabalho pelo setor moderno.
Por Harris e Todaro, políticas de redução do desemprego, baseadas em elevação do emprego
público e/ou em subsídios governamentais para o aumento do emprego privado (com
preservação do salário institucional), são frustradas pelos