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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO LATU SENSU EM ENGENHARIA

AMBIENTAL E SANEAMENTO BÁSICO


JOSÉ ORLANDO CARLOS DA SILVA

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DA CERTIFICAÇÃO BANDEIRA


AZUL PARA A PRAIA DO CUMBUCO, LITORAL OESTE DO ESTADO
DO CEARÁ

FORTALEZA
2013
JOSÉ ORLANDO CARLOS DA SILVA

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DA CERTIFICAÇÃO BANDEIRA


AZUL PARA A PRAIA DO CUMBUCO, LITORAL OESTE DO ESTADO
DO CEARÁ.

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC


apresentado ao curso de Especialização Latu
Sensu em Engenharia Ambiental e Saneamento
Básico da Faculdade Integrada do Ceará como
requisito para obtenção do Título de
Especialista.

Orientadora Ms. Cláudia Germana Barbosa


Silva Albuquerque

FORTALEZA
2013
TERMO DE APROVAÇÃO
ANÁLISE DOS PARÂMETROS DA CERTIFICAÇÃO BANDEIRA
AZUL PARA A PRAIA DO CUMBUCO, LITORAL OESTE DO ESTADO
DO CEARÁ

Por

JOSÉ ORLANDO CARLOS DA SILVA

Este TCC foi apresentado no dia 22 de maio de 2013 como requisito para a
obtenção do título de Especialista em ENGENHARIA AMBIENTAL E
SANEAMENTO BÁSICO, da Faculdade Estácio - FIC, tendo sido aprovado
pela Banca Examinadora composta pelos professores:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________
Ms. Cláudia Germana Barbosa Silva Albuquerque
Orientadora

______________________________________
Profº. Ms. João Batista Vianey Silveira Moura
Examinador – FIC
A minha família: Fernanda (esposa); José
Carlos e Maria Nauan (filhos); Dona Railda
(mãe) e José Augusto (pai), in memorium.
AGRADECIMENTOS

A Deus por sempre olhar para este filho.

Ao meu pai José Augusto da Silva, que mesmo tendo ido para junto de Deus, acompanha este
filho na vida e nos seus projetos.

A minha família, Antonia Fernanda André de Moura (esposa); José Carlos André da Silva
(filho) e Maria Nauan André da Silva (filha) que aceitou trocar alguns passeios familiares por
participar no desenvolvimento de atividades relativas a este trabalho, realizando-as com muito
entusiasmo e dedicação.

A minha orientadora MSc. Cláudia Germana Barbosa Silva Albuquerque pelas discussões
sobre o tema, sobre o TCC e pela amizade.

Ao Presidente do Instituto do Meio Ambiente de Caucaia – IMAC João Arthur Pessoa de


Carvalho e as técnicas Débora Cavalcante e Renata Torres pela disponibilidade e informações
prestadas.

Ao Coordenador da Coordenadoria de Identificação e Fiscalização (COINFI) da Secretaria do


Patrimônio da União – SPU Sr. Daniel Porto Barbosa pelas informações prestadas.

As guarnições de salva-vidas do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal de Caucaia,


pelas informações fornecidas.

A Coordenadora de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Políticas e Gestão do Meio


Ambiente Maria Dias Cavalcante e a Sra. Maria Amável Sobrinha.

A minha amiga Geógrafa Verusca Lima Cabral que me auxiliou nas representações gráficas
contidas neste documento.

Ao meu amigo Geógrafo João Luís Olímpio Sampaio pela ajuda nas representações gráficas e
nas discussões sobre o tema e o trabalho.

A Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, na pessoa da Dra. Magda


Kokay Farias e da técnica Janelene Coelho da Rocha, que colaboraram fornecendo-me os
resultados das amostras de água colhidas na praia do Cumbuco.

Ao meu amigo bacharelando em Engenharia Ambiental na Unifor, Tiago Augusto Silva que
me acompanhou em algumas atividades e com o qual trocamos observações e estudos sobre a
área.
Iniciativas como as do Programa Bandeira
Azul são importantes, pois valorizam o que dá
certo e o que é bom. É uma ação internacional
que visa destacar boas práticas e bons
exemplos e é isso que a causa ambiental
precisa. Um enfoque positivo que mobilize as
pessoas.

Torben Grael - Capitão do barco Brasil


RESUMO

As zonas costeiras são, por excelência, áreas de patrimônio natural muito sensíveis e sujeitas a
fortes pressões antrópicas, condicionando desta forma a proteção do valor paisagístico e
qualidade ambiental. A praia do Cumbuco é uma praia com uma localização excepcional na
zona costeira, sendo um local com tipologias de utilização diferenciadas o que favorece a
oferta diversificada aos diferentes usuários. Com o presente estudo se pretende dar uma
contribuição para a gestão da zona costeira dado que, ao longo do tempo, com a
transformação dos hábitos culturais e das estruturas sociais e econômicas, a forma de uso e o
tipo de atividades sobre estas zonas foram-se transformando e provocando diversas alterações,
as quais são responsáveis pelos vários problemas. As praias, enquanto sistema integrador
destas zonas, não fogem aos problemas descritos, sendo que o desafio que se coloca na
criação de um sistema de planejamento e gestão, a exemplo da certificação Bandeira Azul. O
programa Bandeira Azul é um exercício de cidadania. Ele reeduca as pessoas e as chama para
o compromisso do usufruto consciente do lazer proporcionado por este ambiente. Essa é a
verdadeira integração com o meio ambiente. A metodologia utilizada foi a de levantamento
bibliográfico, levantamento fotográfico e questionário com observação no local. O estudo
realizado mostra que a praia do Cumbuco não poderia, no estágio atual, qualificar-se como
praia Bandeira Azul, contudo, com a integração entre a iniciativa privada, a sociedade
organizada e os órgãos municipais, estaduais e federais, soluções adequadas podem ser
implantadas e a qualificação da praia, não apenas perante o programa Bandeira Azul, mas
como um ambiente com qualidade ambiental para todos.

Palavras-Chave: Bandeira Azul. Gestão Costeira. Cumbuco.


ABSTRACT

The coastal areas are very sensitive zones that make part of the natural heritage which is
exposed to strong anthropic pressures, a situation that conditions the protection of its
landscaping value and environmental quality. The Cumbuco beach is an area that has an
outstanding location right on the coast line, seeing that it is enriched by many white sand
beaches with different usage typologies, which favours a diversified offer to their various
users. The aim of this work is to give a small contribute for the issue related to the coastal
areas management given that, throughout time, because of the changes in cultural habits and
both in social and economic structures, the treatment and the type of activities that are
performed on these areas have been changing and, consequently, creating various alterations,
which are responsible for many of the problems that are affecting these same areas. The
beaches, as an essential system of these areas, are also related to the above mentioned
problems, given that the challenge for the control and soothe of these negative impacts that is
put here is the creation of a planning and management system for these same impacts by Blue
Flag certification. The Blue Flag program is an exercise in citizenship. He retrained people
and calls for the appointment of the conscious enjoyment of leisure provided by this
environment. This is true integration with the environment. A methodology used was to carry
out a bibliographic survey, a photographic survey and a questionnaire with comment on the
local situation. The study shows that the beach of Cumbuco could not, at this stage, qualify as
a Blue Flag beach, however, with the integration between the private sector, organized society
and the municipal, state and federal, appropriate solutions can be implemented and
qualification of the beach, not only to the Blue Flag program, but as an environment with
environmental quality for all.

Keywords: Blue Flag. Coastal Management. Cumbuco.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Bandeira Azul ..................................................................................................... 23


FIGURA 2 – Localização da Área de Estudo........................................................................... 27
FIGURA 3 – Pontos de destaque identificados na área estudada............................................. 29
FIGURA 4 – Esquema Representativo das Brisas: a) Brisa Marítima e b) Brisa Terrestre ..... 33
FIGURA 5 – Perfil Generalizado de uma Praia Apresentando suas Divisões e os Principais
Elementos Morfológicos .......................................................................................................... 37
FIGURA 6 – Praticante de kitesurf em etapa do mundial ........................................................ 42
FIGURA 7 – Placa de sinalização da balneabilidade da praia do Cotovelo, Parnamirim - RN.47
FIGURA 8 – Mapa de informações úteis e serviços na praia de Jurerê Internacional. ............ 50
FIGURA 9 – Mapa com código de conduta na praia de Jurerê Internacional.......................... 51
FIGURA 10 – Classificação da qualidade das águas litorâneas com base
no índice de bactérias. .............................................................................................................. 55
FIGURA 11 – Imagem mostrando placa proibindo a circulação de veículos .......................... 61
FIGURA 12 – Flagrante de deposição de resíduos na faixa de praia ...................................... 66
FIGURA 13 – Barraca Velas do Cumbuco com mesinhas dispostas com afastamento em
relação à linha de preamar ....................................................................................................... 67
FIGURA 14 – Única edificação apresentando placa de licenciamento ambiental .................. 68
FIGURA 15 – Equipamentos dispostos próximos à linha de preamar .................................... 68
FIGURA 16 – Guarnição de Salva-vidas do Corpo de Bombeiros ......................................... 71
FIGURA 17 – Passeio a cavalo com condutor ........................................................................ 76
FIGURA 18 – Criança passeando a cavalo sem acompanhante .............................................. 70
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Variação mensal da pluviometria. ................................................................... 34


GRÁFICO 2 – Variação dos resultados das análises da qualidade da água na barraca Lisboa –
Praia do Cumbuco .................................................................................................................... 53
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Características e atividades x condicionantes x impactos ambientais .............. 43


QUADRO 2 – Situação da praia do Cumbuco em relação aos critérios da
certificação Bandeira Azul ....................................................................................................... 80
QUADRO 3 – Mudanças sugeridas ......................................................................................... 85
LISTA DE TABELA

TABELA 1 – Valores limites de bactérias no Brasil e para a Certificação Bandeira Azul ..... 52
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIH - Associação Brasileira da Indústria de Hotéis


AGU - Advocacia Geral da União
APRESCE - Associação dos Prefeitos do Ceará
ASMOC - Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia
BA - Bahia
CE - Ceará
CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CIRM - Comissão Interministerial para Recursos do Mar
COELCE - Companhia Energética do Ceará
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONPAM - Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente
CONPAM - Conselho de Políticas e Meio Ambiente
CTE - Comissão Técnica Estadual do Projeto Orla
ECT - Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos
ES - Espírito Santo
FEE - Foundation for Environmental Education
FEE - Foundation for Environmental Education
FEPESCE - Federação dos Pescadores do Ceará
FIEC - Federação das Indústrias do Estado do Ceará
FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia
FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GPS - Sistema de Posicionamento Global
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ISO - International Organization for Standardization
Labomar - Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MPF - Ministério Público Federal
PCD - Posto de Coleta de Dados
PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
PDP - Plano Diretor Participativo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16
1.1 Objetivo Geral e Específico ....................................................................................... 22
1.1.1 Objetivo Geral............................................................................................................ 22
1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 22
1.2 Justificativa..................................................................................................................... 23
1.3 Metodologia ................................................................................................................... 26
1.3.1 Área de Estudo ........................................................................................................... 26
1.3.2 Matérias e Métodos .................................................................................................. 27
1.4 Referencial Teórico ...................................................................................................... 29
2 RESULTADOS ............................................................................................................... 33
2.1 Caracterização dos Aspectos Ambientais ............................................................... 33
2.1.1 Caracterização dos Aspectos Abióticos .............................................................. 33
2.1.1.1 Climatologia ................................................................................................................. 33
2.1.1.2 Geologia ....................................................................................................................... 36
2.1.1.3 Geomorfologia .............................................................................................................. 37
2.1.1.4 Pedologia ...................................................................................................................... 38
2.1.1.5 Recursos Hídricos ......................................................................................................... 39
2.1.2 Caracterização dos Aspectos Bióticos ................................................................. 40
2.1.3 Caracterização dos Aspectos Socioeconômicos ................................................ 41
2.1.4 Aspectos Ambientais Condicionantes da Qualidade da
Praia do Cumbuco............................................................................................................... 43
2.2 Problemas Encontrados diante do Referencial Adotado, a Certificação do
Programa Bandeira Azul.................................................................................................... 44
2.3 Análise Integrada .................................................................................................................... 83
3 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 86
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 89
APÊNDICE A ..................................................................................................................... 92
ANEXO A ............................................................................................................................. 94
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1 INTRODUÇÃO

Certamente uma das impressões que se tem no exterior do Brasil diz respeito às
suas praias. Consideradas como paradisíacas estas atraem milhões de turistas anualmente que
vêm em busca das temperaturas elevadas, das paisagens deslumbrantes, da hospitalidade
brasileira e por outros motivos. Em média, mais de 50% dos turistas estrangeiros que vêm ao
Brasil coloca o sol e a praia como o motivo da viagem a lazer (BRASIL, 2012a).
Em janeiro e fevereiro de 2012, registrou-se a entrada de 1.749.322 estrangeiros
no Brasil, o que representa um crescimento de 12% em relação ao mesmo período de 2011
(BRASIL, 2012b). Com relação aos voos domésticos, o fluxo interno no mesmo período
contabilizou 13.710.020 passageiros, o que representa um crescimento de 9,8% em relação a
janeiro e fevereiro do ano de 2011.
Apesar do elevado grau de satisfação dos turistas, identifica-se uma série de
problemas nas praias que não passam despercebidos. A primeira vista o maior deles seria a
poluição decorrente do lançamento de efluentes e resíduos sólidos, tanto na faixa de praia
como na água do mar acarretando problemas na qualidade da água. Todavia, além da poluição
da ainda se verificam os problemas na infraestrutura disponível para atender aos turistas e
frequentadores, falta de programas de educação ambiental, além dos conflitos humanos, os
quais constam em programas de certificação de qualidade ambiental destes ambientes.
No Brasil e na América do Sul, a primeira praia a receber a distinção foi Jurerê
Internacional, em Florianópolis (SC) e a segunda Tombo (SP). Outras praias brasileiras, como
Mole e Santinho (SC), Prainha (RJ), Grande e Castelhanos (ES), Tiririca da Penha e do Forte
(BA) tentaram ou estão tentando se adaptar aos critérios do programa para poder hastear a
bandeira azul. Praias como Copacabana e Ipanema (RJ); Ponta Negra, Jenipabu e Pipa (RN);
Praia do Futuro e Jericoacoara (CE); e do Forte (BA) não estão qualificadas para a referência
internacional.
A referida distinção tem seu foco na educação e informação ambiental, na
qualidade da água, na gestão ambiental e na segurança e serviços, aspectos totalmente ou
parcialmente inexistentes nas praias citadas. Atualmente, as praias apresentam problemas de
balneabilidade em função das superlotações, trânsito e conflitos de interesse.
A Organização Não-Governamental Internacional Fundação para a Educação
Ambiental – FEE – instituiu o Programa Bandeira Azul que estabelece uma certificação para
16

as praias e marinas que comprovem o atendimento a uma lista de aproximadamente 30 (trinta)


requisitos que englobam a qualidade do meio, educação ambiental, conformidade legal,
saneamento e acessibilidade.
No País, a certificação internacional do Programa Bandeira Azul se difunde cada
vez mais para aumentar o grupo de praias brasileiras certificadas como Jurerê Internacional
(Florianópolis – SC), Tombo (Guarujá - SP). Cinco praias e marinas do Rio de Janeiro e de
São Paulo estão sendo avaliadas para receber ou renovar a certificação. No Rio de Janeiro, as
candidatas são a Prainha e a praia de Itaúna, em Saquarema. Entre as marinas, Costabella
busca a renovação e a de Verolme e a de Piratas querem o credenciamento, todas de Angra
dos Reis (RJ), e Marinas Nacionais, Guarujá (SP) está na fase piloto.
No Brasil, a temporada bandeira azul é diferenciada de acordo com a região onde
se localizam as praias. Como regra geral a temporada segue o seguinte calendário, com
exceções para praias com particularidades a serem estudadas caso a caso (Instituto Ambiental
Ratones, 2011):
 Praias do Sul e Sudeste – Temporada de dezembro a março
 Praias do Nordeste e Norte – Temporada anual
 Praias fluviais da Região Norte – Temporada seca: junho a setembro
 Praias fluviais da Região Centro – a ser definida
Nenhuma praia do estado do Ceará aparece nas listagens de praias credenciadas
ou com pedido de credenciamento. Apesar de o Estado encontrar-se em uma posição
favorável na indústria turística, observa-se um comodismo em relação ao melhoramento da
estrutura receptiva das praias, até mesmo daquelas que se encontram no roteiro turístico
cearense, como é o caso da Praia do Cumbuco.
Segundo o Metodological Guide to Integral Coastal Zone Management, publicado
pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (1997), o ordenamento da
zona costeira se baseia em seis etapas:
1. Caracterização da zona costeira para a análise da problemática da região. Os
problemas devem ser estudados contextualizando: a) os problemas gerados pelos efeitos
diretos das atividades antrópicas sobre o meio ambiente; b) problemas gerados por causas
naturais sobre a implantação e ou presença humana; c) problemas gerados pela interação das
múltiplas atividades desenvolvidas na zona costeira.
2. Definição das unidades coerentes de gestão. As unidades de gestão devem ser
pertinentes com a problemática podendo assim se diferenciar dos limites geográficos,
administrativos, jurídicos ou bioecológicos.
17

3. Qualificação do espaço costeiro por meio da elaboração de um inventário e do


ordenamento dos dados. Os critérios de qualificação podem ser físicos, biológicos, das
atividades humanas e do estudo do meio ambiente.
4. Definição dos indicadores e índices baseando-se nas normas e sua classificação
das tipologias, podendo conduzir a determinação da capacidade de carga que pode suportar a
unidade de gestão. São definidas as pressões sobre o ambiente litorâneo e seus respectivos
impactos.
5. Elaboração de um sistema de informação (SIG) que conduzirá a um painel de
comando ambiental, que além de organizar coerentemente os dados de base necessários à
gestão, deem poder para constatar o estado das situações ambientais encontradas na unidade
de gestão.
6. Elaboração dos esquemas, planos e programas. Nesta etapa se devem
identificar os procedimentos administrativos necessários à solução dos problemas.
Uma iniciativa contundente do Governo Federal de gestão costeira foi o Projeto
de Gestão Integrada da Orla Marítima – Projeto Orla –, em 2001. Por meio de uma ação
conjunta do Ministério do Meio Ambiente – MMA – e do Ministério do Planejamento por
intermédio da Secretaria do Patrimônio da União – SPU –, estabeleceu-se uma proposta de
ordenamento dos espaços litorâneos sob o domínio da União.
Em 2007, o Governo de Estado do Ceará promulgou a Lei Nº. 13.892 instituindo a
Certificação Praia Limpa. Esta certificação ambiental pública tem por objetivo incentivar os
municípios à adoção de medidas efetivas de proteção ao litoral de forma a garantir a
conservação e restauração do patrimônio natural. A obtenção a esta certificação é voluntária, e
tem como pré-requisito a adesão ao Projeto Orla federal.
A Certificação coloca como condicionante para a formulação de convênios ou
similares com os municípios costeiros a possibilidade da exigência do Certificado Praia
Limpa ou equivalente que ateste a adequada conservação e limpeza das praias, de acordo com
os parâmetros exigidos pela legislação vigente, ou sob os parâmetros definidos pelo órgão
expedidor, desde que em conformidade com a legislação hierarquicamente superior.
A Lei dá ao cidadão o poder de denunciar às autoridades competentes os
municípios que não mantenham a correta manutenção de suas praias.
Os municípios podem aderir espontaneamente ao programa. O Município de
Caucaia conseguiu a maior pontuação entre os quatro únicos pré-qualificados, dos 14 que se
inscreveram, somente quatro ficaram acima da nota de corte, dos quais Caucaia recebeu a
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referência de 4 (quatro) estrelas do mar, ou seja, sua nota de avaliação ficou entre 85 e 100
pontos.
A metodologia empregada para a certificação consta da análise de um
questionário e visitas técnicas para a aferição das informações fornecidas pelo município. Para
fazer jus à certificação, o município deverá ter todas as suas praias atendendo no mínimo a
50% dos pontos do questionário.
O questionário engloba os temas:
1. Projeto Orla - enfoca a gestão das praias por meio do Plano de Gestão
Integrada da Orla Marítima – PGI –, ou do Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal
(PDDU ou PDP), Lei de Zoneamento Ecológico-Econômico e leis de criação de áreas
protegidas.
2. Monitoramento da Qualidade da Água - refere-se à balneabilidade das praias
em relação à saúde pública e à qualidade das águas segundo os laudos da SEMACE.
3. Medida de Prevenção de Acidentes - compreende um conjunto de questões
relativas à prevenção e salvamento na água, controle da circulação de veículos na faixa de
praia, de animais e ambulantes. E por fim demonstra preocupação também com o turismo
sexual.
4. Legislação Ambiental - enfoca a adequabilidade das formas de uso e ocupação
do solo na zona costeira frente à legislação ambiental, inclusive em relação à existência e
licenciamento ambiental. O município deve ser dotado de instrumentos legais (leis, decretos,
etc.) que normatizem o uso e ocupação da zona costeira.
5. Saneamento Ambiental/Sanitário - foca a gestão dos resíduos sólidos, o sistema
de esgotamento sanitário, o lançamento de efluente na zona balneável e o controle sanitário
dos estabelecimentos. O enquadramento ao Plano de Gerenciamento Integrado dos Resíduos
Sólidos Urbanos – PGIRSU – deve ser comprovado com a apresentação de relatórios
técnicos, registros fotográficos, e comprovando que são feitas a coleta seletiva, a reciclagem,
reutilização e incentivo a redução. Além dos resíduos sólidos, este item aborda ainda a
questão dos efluentes in natura nas praias e com a qualidade sanitária nos estabelecimentos.
6. Educação Ambiental/Sanitário - a educação ambiental é direcionada a diversos
públicos – frequentadores; vendedores ambulantes; proprietários/funcionários de
estabelecimentos e comunidades tradicionais. Neste ponto, as praias são analisadas em relação
ao fluxo de veículos, o recolhimento e destinação dos resíduos sólidos, aos perigos das
doenças veiculadas por animais domésticos.
7. Ações e Políticas Voltadas às Comunidades Pesqueiras e Étnicas
19

8. Programas Voltados para a Conservação, Recuperação, Proteção e Preservação


dos Ecossistemas Costeiros - questiona quais as políticas públicas de contexto para a
preservação ambiental dos ecossistemas costeiros por meio de instrumentos legais, planos de
manejo nos quais são desenvolvidas ações de prevenção para disciplinar à ocupação em áreas
de risco nas praias de forma a evitar impactos socioambientais; monitoramento, controle e
recuperação na faixa de praia para evitar processos erosivos. O município deve comprovar a
implementação de ações integradas de fiscalização, gestão e monitoramento das praias e dos
demais ecossistemas (dunas estuários, falésias etc.).
9. Controle Sanitário dos Alimentos
A metodologia e o questionário empregado para a Certificação Praia Limpa são
apresentados nos Anexos deste documento.
O Decreto Estadual Nº. 29.973, de 24 de novembro de 2009 criou a Comissão
Técnica Estadual do Projeto Orla – CTE – com a missão de acompanhar e coordenar a
implantação do Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima – PGI – nos municípios,
avaliando sua adequação e a coerência entre as ações propostas e o Zoneamento Ecológico e
Econômico da Zona Costeira e os Planos Diretores dos municípios.
A CTE tem a frente o Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente –
CONPAM. Compõe ainda a CTE:
 Gerencia do Patrimônio da União – GRPU/CE
 Secretaria das Cidades
 Secretaria de Turismo – SETUR
 Secretaria de Infraestrutura – SEINFRA
 Secretaria de Recursos Hídricos – SRH
 Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos – FUNCEME
 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA
 Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará – Labomar
 Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC
 Federação dos Pescadores do Ceará – FEPESCE
 Associação dos Prefeitos do Ceará – APRESCE
 Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE
 Ministério Público Federal – MPF
 Advocacia Geral da União – AGU
 Fórum Elos e Ecos
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 Procuradoria Geral do Estado – PGE


 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE
 Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH
 Comissão de Meio Ambiente e de Desenvolvimento do Semiárido da
Assembléia Legislativa do Estado do Ceará
A qualidade ambiental da praia do Cumbuco pode ser vista por várias óticas.
Sendo uma praia de veraneio a maior frequência dar-se nos períodos de finais de semana,
feriados e férias. Têm-se assim dois contextos: 1) elevada taxa de ocupação; 2) baixa taxa de
ocupação. No primeiro contexto, observa-se uma praia com uma grande quantidade de
frequentadores, entre banhistas locais, turistas e veranistas. Outro aspecto notório neste
momento fica por conta dos serviços oferecidos aos frequentadores, de passeio de jangada a
passeio a cavalo, ou jumento. Em paralelo, tem-se o funcionamento de vários
estabelecimentos comerciais, com ofertas de serviços diferenciadas conforme a estrutura do
estabelecimento, mas comum ao tipo de serviços oferecidos: serviço de bar e restaurante.
Nestes períodos de maior frequência, observa-se que a faixa praial apresenta
variações em termos de ocupação, refletindo uma estratificação social. No trecho que
compreende a barraca Velas do Cumbuco e o hotel vizinho, tem-se o respeito ao afastamento
da linha de preamar, enquanto que na frente das demais barracas, a ocupação é mais intensa e
não se tem o respeito da referida zona de pós-praia. A ocupação das barracas compete com os
demais serviços oferecidos. No período de baixa taxa de ocupação, a competição por espaço é
menor.
Observa-se que a praia do Cumbuco, como a maioria das praias brasileiras,
apresenta sinais de degradação ambiental, variando a intensidade conforme o grau de
ocupação. Constata-se ainda que um dos fatores primordiais nesta degradação diga respeito à
educação ambiental. Os agentes atuantes na faixa litorânea estudada apresentam diferentes
graus de conhecimento ambiental, e mais variados são os níveis de praticas ambientais deste
público.
São vários os exemplos a citar-se sobre as agressões ambientais identificadas:
deposição de resíduos sólidos; animais circulando na praia; circulação de veículos;
desrespeito aos limites do ambiente, entre outros. Mas, deve-se citar ainda aos impactos
contextuáveis ao ser humano. Constatou-se que a maioria tem direito de acesso à praia, como
preceitua as principais normas relativas ao uso e ocupação da zona costeira, porém os
portadores de necessidades especiais não têm este direito tão garantido devido à falta de
estruturas para facilitar-lhes a locomoção.
21

A disposição de resíduos sólidos, e efluentes, traz danos não somente ao meio


ambiente como também aos frequentadores, que estão com maior área de contato com o solo
e com a água. A circulação de animais também potencializa os danos à epiderme,
principalmente de crianças que passam mais tempo em contato com a areia da praia.
Assim este trabalho buscou levantar os problemas ambientais locais, tendo como
referencial as premissas de uma normatização referente ao ambiente costeiro que agrega
centenas de praias no mundo todo.

1.1 Objetivo Geral e Específico

Este trabalho se propõe a atingir um objetivo geral e 3 (três) objetivos específicos.

1.1.1 Objetivo Geral

Analisar os procedimentos da Certificação Bandeira Azul para o caso da praia do


Cumbuco, litoral oeste do estado do Ceará, buscando-se soluções adequadas que podem ser
implementadas e a qualificação da praia, não apenas perante o programa Bandeira Azul, mas
como um ambiente com qualidade ambiental para todos.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Analisar os parâmetros da Certificação Bandeira Azul;


 Diagnosticar os principais aspectos ambientais importantes para a certificação
da praia do Cumbuco; e,
 Estudar a viabilidade de certificação da praia do Cumbuco.
22

1.2 Justificativa

Segundo Dijk (2010, p. 25 apud ULBANERE; FREITAG, 2004), um "selo"


ecológico é um rótulo que auxilia o mercado para identificar produtos ou serviços como sendo
menos nocivos ao meio ambiente do que similares com a mesma função. Além disso, sistemas
de rotulagem ecológica precisam ser acompanhados por certos indicadores, tais como
sustentabilidade e ecoturismo. O regime de rotulagem ecológica é uma ferramenta ajuda a
manter sustentáveis os desempenhos ambientais.
Existem várias certificações para o ambiente costeiro, como a certificação Praia
Limpa, do Governo do Estado do Ceará, descrita anteriormente, as ISO’s 9001 e 14001 que
originalmente são empregadas para instituições, mas têm sido expandidas para a gestão das
praias espanholas. Cita-se ainda a Eco-Management and Audit Scheme – EMAS –, a Bandeira
Azul, a Seaside Award, Healthy Beaches Campaign, Green Coast Award, Blue Wave
Program, Marca “Q” (Qualidade Turística Espanhola), Playa Natural (Especificações de
desempenho ambiental e requisitos para a gestão de praias), Norma IRAM 42100:2005
(Diretrizes para a gestão da qualidade e gestão ambiental de praias e balneários), NMX-AA-
120-SCFI-2006 (Requisitos e especificações de sustentabilidade de qualidade de praias) e
NTS-TS 001-2 (Destinos Turísticos de Praia. Requisitos de Sustentabilidade), da
Universidade da Colômbia.
O EMAS é baseando numa melhoria contínua e apresenta como principais passos
o levantamento ambiental, implementação de um SGA, auditorias ambientais internas,
elaboração de uma declaração ambiental, verificação e validação e registro e divulgação.
A certificação Bandeira Azul foi criada em 1985 pela Fundação para a Educação
Ambiental (Foundation for Environmental Education - FEE) e aplica-se a praias, portos de
recreio e embarcações e A Seaside Award que distingue dois tipos de praia, as praias de resort
e as praias rurais, com 30 e 15 critérios, normas de qualidade da água, de limpeza, de
segurança, de boa gestão da praia e de informação e educação ambiental.
A Healthy Beaches Campaign foi criada por uma equipe acadêmico-científica da
Universidade Internacional da Flórida (Estados Unidos da América) e pode ser atribuída às
praias resort e às praias rurais que obedeçam a 60 critérios relacionados com a qualidade da
água e da areia, segurança, gestão e qualidade ambiental e serviços.
23

A Green Coast Award surgiu no País de Gales é atribuída às praias que sejam
geridas com o envolvimento da comunidade e para benefício dos visitantes e do ambiente. Os
critérios que as praias necessitam de obedecer para serem certificadas distribuem-se pelas
categorias de qualidade da água, gestão da praia, limpeza, educação e informação e segurança.
A certificação americana Blue Wave Program tem como principais tópicos de
gestão, a qualidade da água, as condições da praia e da zona intertidal, riscos, serviços,
conservação e proteção de habitats, informação e educação e gestão da erosão.
A Marca “Q” (Qualidade Turística Espanhola) baseia-se no cumprimento dos
requisitos das Normas de Qualidade de Serviço e tem especial atenção à satisfação dos
utilizadores e seus requisitos estão divididos pelas seguintes categorias: segurança;
salvamento e primeiros socorros; informação; limpeza e reciclagem; manutenção de
infraestruturas; acessos; instalações sanitárias e lazer.
A Playa Natural é um SG que apresenta como objetivo o bom desempenho e a
gestão adequada das praias.
Um rótulo ecológico como o Programa Bandeira Azul orienta para as melhores
práticas ambientais. Segundo o Instituto Ambiental Ratones (2011), o “Programa Bandeira
Azul para Praias e Marinas” é desenvolvido pela Organização Não-Governamental
Internacional FEE (Foundation for Environmental Education) é um selo ecológico
amplamente reconhecido em todo mundo. O Programa Bandeira Azul tem como objetivo
elevar o grau de conscientização dos cidadãos e dos tomadores de decisão para a necessidade
de se proteger o ambiente marinho e costeiro e incentivar a realização de ações que conduzam
à resolução dos conflitos existentes.

Figura 1 – Bandeira Azul


Fonte: Instituto Ambiental Ratones (2011),
24

O Programa Bandeira Azul conta com a participação de 46 países e de 3.849


praias e marinas certificadas do mundo. Segundo a coordenadora do Programa Bandeira Azul
no Brasil, Leana Bernardi, do Instituto Ambiental Ratones, a ação tem como objetivo elevar o
grau de conscientização da sociedade para a necessidade de se proteger o ambiente marinho e
costeiro.
Para a concessão do selo socioambiental são estabelecidos para as praias 29
critérios, tais como: educação e informação ambiental; qualidade da água de banho; gestão
ambiental; segurança e serviços.
Considerando o crescimento do conhecimento do referido credenciamento no
Brasil, tendo hoje seis praias com a Bandeira Azul hasteada, busca-se com este trabalho
verificar a condição das praias alencarinas pleitearem a referida comenda. Pretende-se ainda
com o presente Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Ambiental e Saneamento
Básico, subsidiar aos tomadores de decisões de informações que possam conduzi-los no
ordenamento do espaço costeiro tornando-o mais qualificado para todos que dele se
beneficiam.
Considera-se que a falta de qualificação das praias cearenses, em especial a praia
do Cumbuco que serve de laboratório para esta pesquisa, não se adequa as condições exigidas
em razão de uma conjuntura de fatores de ordem jurídica, administrativa, social e de educação
ambiental. Todos os atores sociais que tem estreita relação com esta praia são responsáveis
por meio de falhas e ou omissões na gestão costeira.
Muitos dos problemas observados no litoral têm causas em razões políticas,
legais, humanas e institucionais, entre eles:
 Ausência de políticas de uso e ocupação do solo;
 Ausência de integração entre planos e políticas regionais;
 Ausência de mobilização social;
 Conflito entre agências de governo;
 Desenvolvimento de atividades econômicas sem levar em conta as
tradições populares locais;
 Falta de infraestrutura de saneamento básico; treinamento inadequado
das pessoas envolvidas com o GIZC (REIS et al, 2002).
25

1.3 Metodologia

A metodologia empregada principiou-se com a escolha de uma área que


apresentasse os atributos necessários para ser analisada conforme os objetivos deste trabalho.
Escolhida a área de estudo, a praia do Cumbuco, se definiu os materiais e métodos
a serem empregados. Optou-se pela utilização de uma pesquisa qualitativa com estudo de
caso, empregada nas visitas técnicas a área.

1.3.1 Área de Estudo

A praia do Cumbuco, pertencente ao município de Caucaia, está inserida no


contexto turístico da Região Metropolitana de Fortaleza – RMF, fazendo parte do Setor 02 –
Costa Metropolitana. Neste contexto, a praia se destaca no circuito turístico nacional e
internacional como importante destino turístico de sol e praia e de turismo de eventos.
A praia do Cumbuco, distante cerca de 30,0 km de Fortaleza, é uma das praias
cearense mais visitada pelos turistas, fazendo parte do roteiro turístico das principais agências
turísticas locais. A infraestrutura hoteleira apresenta-se adequada, principalmente para
esportistas que praticam kitesurf. Muitos meios de hospedagem já adaptaram suas instalações
com um grande jardim para manutenção e limpeza dos equipamentos. O windsurf também
tem espaço garantido na praia de Cumbuco.
Em termos geoambientais, a Praia do Cumbuco se caracteriza como uma praia
arenosa, que apresenta uma grande variação de perfil morfológico, dissipativo a reflexivo,
com uma zona de pós-praia de largura variável, moldada pelas formas de ocupação e pelo
processo de deflação eólica.
Quanto ao uso e ocupação do solo, constatou-se que a zona de pós-praia é
ocupada por barracas, fixas com tronco de carnaúba e cobertura de palhas de coqueiro, e
móveis, com grandes guarda-sóis e mesas e cadeiras plásticas. Nota-se, porém, a falta de
padronagem destas ocupações, bem como diferenças nas ofertas de serviços. Acrescentam-se
como serviços para o público visitante as ofertas de passeios de cavalo e jumento,
quadriciclos e de jangadas.
26

Observa-se nesta praia uma excelente oferta de serviços de lazer, e de culinária,


contudo percebe-se uma grande distância entre a situação atual e as praias qualificadas com a
distinção Bandeira Azul.
Considerando uma área piloto na praia do Cumbuco com uma extensão de 660,0
m, entre as coordenadas 24M 529955,64E / 9599194,37N e 24M 530365,84E / 9599194,37N
(ver figura 2), no trecho mais frequentado da referida praia, constatou-se a existência de 11
(onze) barracas de diferentes tipologias arquitetônicas, mas com problemas comuns.

1.3.2 Matérias e Métodos

A pesquisa empregada é do tipo qualitativa com estudo de caso (OLIVEIRA,


Revista Travessias. 4. ed.) pautada na abordagem investigativa e exploratória. Entre as
diversas formas de abordagem técnica do trabalho de campo, destacam-se nesta pesquisa a
entrevista e a observação participante.
Por meio da entrevista, buscaram-se informações contidas nas falas dos atores
sociais, não como um conversa despretensiosa, mas inserindo-a como meio de coleta de fatos
relatados pelos autores, enquanto sujeitos de uma determinada realidade em foco.
As entrevistas foram estruturadas de acordo com o contexto do entrevistado no
ambiente praial estudado, conforme mostrado a seguir.
Para os guarda-vidas:
- Quais os equipamentos que vocês utilizam? E que equipamentos de
comunicação vocês dispõem para o caso de uma ocorrência mais grave?
- As ocorrências de afogamentos são muito frequentes?
- E quanto à questão dos passeios de jangadas oferecidos aos turistas, vocês têm
alguma preocupação a mais?
Para os proprietários de estabelecimentos comerciais:
- Quantos funcionários trabalham no estabelecimento?
- Qual a média de frequência de banhistas/turistas no estabelecimento?
- Como é o sistema de esgotamento sanitário do estabelecimento?
- Como é o sistema de abastecimento de água do estabelecimento?
- O sr.(a) pode listar os possíveis problemas ambientais da praia do Cumbuco?
27

Figura 2 – Localização da Área de Estudo


Fonte: o autor
28

Para se ter o conhecimento integrado da área, realizou-se visitas técnicas na área


do estudo de caso nas datas de 21 de agosto e 15 de novembro de 2011 e 27 de julho de 2012.
Este procedimento favoreceu a uma definição mais precisa dos elementos a ser
contextualizados na abordagem deste trabalho.
Durante as visitas, foram observados vários aspectos: frequência de visitantes;
estrutura física das barracas; estrutura de apoio; apreciação dos visitantes, entre outros. Foram
realizadas entrevistas com diversos agentes envolvidos no contexto ambiental apreciado:
donos de barracas; frequentadores; guarda-vidas.
Foram utilizados como instrumentos auxiliares: uma máquina fotográfica digital e
um aparelho de posicionamento geográfico (GPS) de navegação (GPSMAP Garmin 76CSx).
Determinando as coordenadas geográficas correspondentes por meio do GPS, os
pontos adquiridos foram plotados sobre imagem do Google Earth, ver Figura 3.
Foi realizada uma ampla pesquisa bibliográfica sobre o tema da gestão costeira.
Dados ambientais e turísticos foram estudados e analisados a partir de estudos realizados
sobre a área ou com termas pertinentes extraídos de bibliografia especializada e de fontes de
órgãos governamentais federais, estaduais e municipais.

1.4 Referencial Teórico

São vários os referenciais para a gestão costeira: Projeto de Gestão Integrada da


Orla - Projeto Orla (MMA, 2004); Planos Diretores; Zoneamento Ecológico-Econômico da
Zona Costeira – ZEEC (SEMACE, 2006); Programa Bandeira Azul.
Desde a década de 1970, a zona costeira passou a sofrer com os processos de
ocupação desordenada. Os municípios costeiros, antes difíceis de serem frequentemente
visitados em função das deficiências das vias de acesso e dos meios de transporte, foram
paulatinamente sendo mais e mais acessível o que tornou atrativo o desenvolvimento dos
processos de uso e ocupação do espaço litorâneo. Na mesma década, o governo federal
manifestou a sua preocupação por meio de ações voltadas para a zona costeira com a criação
da Comissão Interministerial para Recursos do Mar – CIRM –, em 1974. A CIRM elaborou o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC –, o qual virou lei (Lei Nº. 7.661, de 16
de maio de 1988), regulamentada tão somente em 2004 pelo Decreto Nº. 5.300.
29

Figura 3 - Pontos de destaque identificados na área estudada.


Fonte: o autor.
30

Da esfera federal, o gerenciamento costeiro foi mudando de escala e convergindo


para os níveis estadual e municipal.
Os princípios das políticas públicas para a zona costeira é o ordenamento,
planejamento, mobilização e fortalecimento institucional. Tais ações começaram a
concretizar-se a partir da publicação da primeira versão do Macrodiagnóstico da Zona
Costeira pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA –, em 1996 no qual foram definidos os
índices de criticidade de gestão dos municípios costeiros do Brasil. O Nível de Criticidade
passou a ser definido a partir da consideração de três indicadores básicos:
a) fragilidade dos ecossistemas;
b) risco ambiental; e,
c) comprometimento e ou tendência.
Já nas primeiras análises do Macrodiagnóstico da Zona Costeira, os resultados
apontavam a existência de conflitos entre as estratégias de proteção ou sustentabilidade e os
processos de ocupação e exploração que definem os tipos de uso.
A Política Nacional do Meio Ambiente II – PNMA II – inseriu a temática do
gerenciamento costeiro em seu escopo.
A Agenda 21, documento gerado por ocasião da Rio 92, estabeleceu no seu artigo
17.5, entre outros objetivos, que os Estados costeiros devem se comprometer a praticar um
gerenciamento integrado e sustentável das zonas costeiras e do meio ambiente marinho sob
sua jurisdição.
Morais (2010) definiu a Gestão Integrada da Zona Costeira com um instrumento
de desenvolvimento sustentável unindo as questões ambientais, econômicas e sociais,
empregando-as sob o aspecto de bom uso da zona costeira. Assim, o desenvolvimento
sustentável tem como suporte atividades como a educação ambiental e configura-se como
algo imprescindível e possível de acontecer, especialmente quando se trata de ambientes
litorâneos que são naturalmente frágeis e tem essa fragilidade agravada pelo crescente
interesse humano.
Uma das conclusões que se chega, prevista desde a primeira versão do
Macrodiagnóstico da Zona Costeira, em 1996, refere-se à necessidade de apoiarem-se os
municípios a implantarem os seus planos de gestão da zona costeira e apliquem a
normatização do uso e ocupação. Devem-se fortalecer as coordenações institucionais
estaduais e municipais de gerenciamento costeiro mediante suporte gerencial, técnico e
financeiro.
31

O Gerenciamento Costeiro Integrado, preconizado pela Agenda 21 e ainda por


meio do II Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, aprovado pela Resolução n° 5, de 3 de
dezembro de 1997, da CIRM – Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar –, oferece
as bases para a implementação de um programa de gestão costeira integrada.
Na concepção de Polette et al., o gerenciamento costeiro integrado - GCI -
envolve também uma avaliação abrangente da realidade em que está inserido. Objetiva o
planejamento de usos e o manejo dos sistemas e recursos, levando em consideração aspectos
de natureza histórica, cultural e tradicional, bem como conflitos de interesses e usos do espaço
analisado. Trata-se de um processo contínuo e evolucionário.
Portanto, conforme preconizaram Camacho & Polette (2005), um programa desta
natureza deve ser implementado com a ética necessária no sentido de agregar a praia o seu
valor intrínseco que é o de ser um espaço democrático onde as mais diferentes etnias, culturas
e diferentes graus de status socioeconômicos possam utilizá-la como ambiente de lazer e
diversão.
32

2 RESULTADOS

A análise dos resultados se inicia a partir do conhecimento das características dos


elementos que constituem o geossistema considerado. Neste tópico e apresentada a
caracterização dos aspectos ambientais, abióticos bióticos e socioeconômicos, em seguida a
analise dos Problemas Encontrados diante do Referencial Adotado, a Certificação do
Programa Bandeira Azul, e por fim a analise integrada dos itens considerados anteriormente.

2.1 Caracterização dos Aspectos Ambientais

Os aspectos ambientais compreendem a os sistemas que constituem a paisagem do


ambiente estudado. Estes aspectos são agrupados em abióticos, bióticos e socioeconômicos.

2.1.1 Caracterização dos Aspectos Abióticos

Os aspectos abióticos englobam os sistemas terra, ar e água, estudados de acordo


com as ciências climatologia geologia geomorfologia pedologia hidrologia e hidrogeologia.
O estudo destas áreas parte do conhecimento regional, a partir de dados
secundários para a caracterização da área foco com dados de pesquisa direta.

2.1.1.1 Climatologia

De acordo com a classificação de Köppen a área integra a região climática do tipo


AW. Segundo esta classificação o tipo climático corresponde ao clima, quente e úmido, com
chuvas de verão e outono. Considerando-se a classificação de Gaussen, que ressalta os
parâmetros bioclimáticos, a região enquadra-se no tipo 4 bTh que corresponde ao clima
tropical quente de seca a média, e seca de inverno.
33

As variações anuais climatológicas encontram-se associadas ao movimento da


Zona de Convergência Inter-Tropical - ZCIT. Todavia, existem outros sistemas de menor
escala atuando nessa zona, a exemplo das linhas de instabilidade formadas ao longo da costa e
os efeitos de brisa marítima e terrestre que ocorrem de modo frequente na zona litorânea,
entre outros que serão relatados. Cabe ressaltar que estes sistemas atuam em diferentes
intervalos de tempo e, eventualmente, podem ser sobrepostos.
Com relação às brisas marítimas e terrestres, estas resultam do aquecimento e
resfriamento diferenciais que se estabelecem diariamente entre a terra e a água. Durante o dia,
o continente se aquece mais rapidamente que o oceano adjacente, fazendo com que a pressão
sobre o continente seja mais baixa que sobre o oceano. Isto faz com que o vento à superfície
sopre do oceano para o continente, vento esse denominado de brisa marítima.
A brisa terrestre também afeta até 100,0 km para dentro do mar, embora as brisas
terrestre e marítima (ver figura 4) nem sempre sejam percebidas.

b)

a)

Figura 4 – Esquema Representativo das Brisas: a) Brisa Marítima e b) Brisa Terrestre


Fonte: LABOMAR, Relatório Interno.

Segundo os dados das estações e postos considerados, a estação chuvosa, em


geral, dura de 4 a 6 meses, seguido por um período acentuadamente seco. Em termos de
quadrimestre, a maior pluviosidade, geralmente, ocorre nos meses de fevereiro a maio. No
primeiro semestre, a taxa de concentração atinge um índice de 93,0%. O Gráfico 1 apresenta a
variação mensal da pluviometria baseada nos registros do PCD de Caucaia.
As taxas de evaporação mostraram-se bastante elevadas, sendo superior a 1.599
mm por ano, com uma média mensal de 133,3 mm, apresentando taxas mínimas durante o
primeiro semestre do ano, e máximas ocorrendo a partir do segundo semestre. As variações
34

são basicamente explicadas pelas elevadas temperaturas e pela intensa radiação solar, além
dos constantes ventos que sopram por toda a região.

350,00

300,00

250,00
Precipitação (mm)

200,00

150,00

100,00

50,00

0,00
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês

Gráfico 1 – Variação mensal da pluviometria. (fonte: baseado em dados da Funceme)


Fonte: adaptado de Funceme

De acordo com os dados da FUNCEME, obtidos no período de 1974-2004 a


temperatura média mensal foi de 27,2 ºC, apresentando uma temperatura máxima mensal na
região de 27,8ºC (novembro) e a mínima é de 26,7ºC (julho).
Como resultante da influência marinha e da alta taxa de evaporação, a região do
estudo alcança uma média mensal de 76,1% de umidade relativa do ar, com mínima mensal
de 71,1% em outubro, e máxima de 82,5% em abril, apresentando oscilações segundo o
regime pluviométrico.
A insolação apresenta uma configuração inversa em relação à umidade relativa do
ar, ao longo do ano. Isto é, menos insolação nas épocas de chuvas e mais insolação nos
períodos mais secos. A insolação total média anual fica em torno de 2.806 horas de sol, com
uma média mensal de 233,8 horas.
A pressão atmosférica na região apresenta uma média mensal de 1001,7 hPa, com
valores máximo de 1015,3 hPa, em dezembro e mínimo de 931,1 hPa, em fevereiro.
Os registros mostram que os ventos têm velocidade mínima em domínio das
precipitações quando atingem valores mínimos, próximos a 2,5 m/s; evoluindo daí até
setembro, outubro e novembro, quando em ausência da pluviometria, e com certeza, também
35

da nebulosidade, atingem seus valores máximos, próximos a 5,0 m/s. Cerca de 80% da
incidência dos ventos se dá na direção E-W.

2.1.1.2 Geologia

A área estudada apresenta uma geologia constituída basicamente por Depósitos


Eólicos Litorâneos 2, formados, e ainda em desenvolvimento, no período Quaternário.
Compõe o arcabouço geológico os sedimentos de praia, as rochas de praia ou beach rocks e os
sedimentos eólicos formando dunas e planície de deflação.
Os sedimentos praiais são constituídos por materiais originados das formações
geológicas próximas à zona de atuação das ondas e marés na linha de costa, de fragmentos de
organismos marinhos, de materiais continentais transportados pelos rios que chegam a costa e
por areias vindas da plataforma rasa.
Litologicamente, os sedimentos de praia são constituídos por areias, geralmente
bem selecionadas, de coloração creme a branca. A distribuição granulométrica apresenta
valores que variam de 0,177 mm (tamanho areia fina) a 1,00 mm (tamanho areia grossa)
podendo ainda apresentar sedimentos inclusive na categoria dos seixos. A classificação destes
sedimentos pela média da sua análise textural o qualifica como areia. Em virtude de
modificações espaciais e temporais, as características granulométricas tendem a variar em
função do estágio evolutivo da costa (areia grossa a fina), podendo ocorrer ocasionalmente à
presença de cascalhos próximos a desembocaduras de rios, e abundantes restos de conchas, de
matéria orgânica e de minerais pesados.
Os beach rocks são arenitos de coloração cinza a creme, de granulometria variada,
mal selecionada, variando quanto ao arredondamento a subarredondados e de baixa a média
esfericidade. Com relação ao aspecto textural, esta varia entre grossa a média com um
considerável grau de litificação, podendo-se verificar estratificação cruzada e ou plano-
paralelo que serve de testemunho das modificações da direção de aporte de sedimentos
durante a deposição.
Os sedimentos eólicos acumulam-se além da linha de preamar. Nestes depósitos,
os sedimentos deslocados da faixa de praia por deflação eólica e pela ação das ondas e marés,
são descritos como essencialmente quartzosos, de granulometria fina a média, coloração
esbranquiçada, mas sendo comum à ocorrência de outros minerais como zircão, ilmenita,
36

rutilo além de restos de carapaças de animais marinhos e matéria orgânica depositada durante
as marés de sizígia.
As dunas móveis são compostas de maneira predominante por quartzo em forma
de grãos subarredondados, bem selecionados, inconsolidados, de tonalidades claras, foscas e
de granulação fina à média. É comum ocorrerem concentrações lenticulares de minerais
pesados. A origem dessas dunas está relacionada ao aporte de sedimentos oriundos das areias
de praia e a posição da linha da costa em relação à direção dos ventos dominantes. Esta
unidade encontra-se bem representada, posto que aflore acompanhando toda a faixa litorânea.
A área estudada apresenta uma dinâmica sedimentar regida principalmente pelos
processos eólicos e correntes marinhas. A praia do Cumbuco situa-se numa parte da costa
onde não fora, até o momento, diagnosticado o recuo da linha de costa por conta da erosão
resultante do déficit sedimentar da corrente de deriva litorânea, embora se encontre entre duas
praias com significativos registros de erosão marinha, praia de Iparana e do Pecém. Os
estudos efetuados por Magalhães (2000) mostram que a faixa de praia do Cumbuco apresenta
uma condição de equilíbrio, com perfil dissipativo da zona de praia.
Apesar das condições favoráveis, a região como um todo apresenta indícios de
estar sujeita a processos erosivos, bem evidenciados pelas falésias vivas esculpidas nos
sedimentos da retropraia ou pós-praia ocasionando assim desníveis topográficos entre a região
de intermarés e a zona de berma. Estes desníveis têm em torno de 0,70 m em média.
Por ocasião das grandes marés de ressaca, normalmente ocorrentes nos primeiros
meses do ano, estas falésias podem apresentar desníveis topográficos mais acentuados,
resultante da ação mais intensa das ondas sobre a costa.
A área do estudo recebe influência direta do transporte eólico que mobiliza, ao
longo do litoral, os sedimentos provenientes da própria praia, alimentado constantemente a
pós-praia e dunas, recobrindo terraços holocênicos construídos nas fases regressivas da última
transgressão.

2.1.1.3 Geomorfologia

Normalmente o perfil de uma praia tem sido dividido em diversas zonas (ver
figura 5). Cada uma delas apresenta morfologia, fácies e processos típicos distintos. No
37

entanto, o que se observa na literatura é uma variação em relação a estas divisões e que até o
momento não há uma uniformização destas terminologias (DUARTE, 1997).

Figura 5 - Perfil Generalizado de uma Praia Apresentando suas Divisões e os Principais


Elementos Morfológicos
Fonte: Wright & Short, 1984 in Duarte, 1997.

Planície de Deflação – A planície de deflação corresponde às superfícies planas


ou ligeiramente inclinadas, em que os processos eólicos removem as partículas de areia mais
fina. Configuram uma superfície planificada e disposta paralelamente à costa e imediatamente
após a zona de estirâncio.
As Dunas Frontais se caracterizam por cristas onduladas e paralelas a linha de
costa. Apresentam alturas médias próximas de 3,0 metros.

2.1.1.4 Pedologia

Na área estudada prevalecem às áreas sem desenvolvimento pedológico (faixa de


praia e dunas frontais) e Neossolo Quartzarênico. Compreendem solos que não apresentam
alterações expressivas em relação ao material originário devido à baixa intensidade de atuação
dos processos pedogenéticos, isto é, são pouco desenvolvidos, seja em razão de características
inerentes ao próprio material de origem, como maior resistência ao intemperismo ou
38

composição químico-mineralógica, ou por influência dos demais fatores de formação (clima,


relevo, etc.).
Caracterizam-se ainda por serem solos não hidromórficos, arenosos, profundos ou
muito profundos, excessivamente drenados, com percentual de areia quartzosa, acima de 85%
do total da granulometria, e, por conseguinte, com baixos teores de argila (menos de 15%),
sem reserva de minerais primários. Possuem cores esbranquiçadas. Apresentam sequências de
horizonte A-C onde o A se apresenta com espessuras de 10 a 20 cm; segue-se o horizonte C
de grande espessura, geralmente superior a 2 m.
Por sua vez, os equivalentes Marinhos dos Neossolos Quartzarênicos possuem
uma pequena quantidade de bases o que reflete no seu baixo potencial agrícola. Não
apresentam horizontes distinguíveis apesar de apresentarem uma profundidade considerável.
Ocorrem nas áreas sob o domínio das vagas oceânicas que diferem do equivalente distrófico
pela maior concentração de sais. A mobilidade da superfície destes ambientes é o outro fator
que limita o desenvolvimento pedológico.
A utilização agrícola destes solos é muito limitada, principalmente devido à baixa
capacidade de retenção de água e nutrientes e à própria textura arenosa. Estes solos têm sido
usados com pecuária extensiva e também para a cultura do cajueiro na zona litorânea.

2.1.1.5 Recursos Hídricos

A área estudada está inserida no domínio espacial da sub-bacia do Juá. Devido à


cobertura sedimentar arenosa, dunas não se têm na área estudada ou no seu entorno próximo
recurso hídricos superficiais.
Quanto aos recursos hídricos subterrâneos, destacam-se na área o Aquífero
Barreiras. O domínio hidrogeológico constituído pelos sedimentos da Formação Barreiras
caracteriza-se por expressiva variação de níveis clásticos com diferentes porosidades e
permeabilidades, que se traduzem em potencialidades diferenciadas quanto à produtividade de
água subterrânea. Essa situação confere, localmente, características de um aquitarde, ou seja,
uma formação geológica que possui baixa permeabilidade e que transmite água lentamente.
Porém, em observações de campo nas áreas utilizadas para extração de areia, observa-se, pelo
menos superficialmente, a predominância de níveis areno-siltosos, o que melhora a
configuração deste domínio como armazenador de água.
39

O nível estático das águas do Barreiras situa-se predominantemente abaixo dos


5m, com média de 3m, refletindo um nível sub-aflorante, freático (Figura 9.24). Poucos são
os poços que captam água a profundidades superior a 6m, com média de 2 m³/h. Poucas são
as vazões que ultrapassam 3 m³/h.

2.1.2 Caracterização dos Aspectos Bióticos

Á área em foco situa-se nos domínios das Formações Pioneiras. Esta unidade
vegetal ocorre recobrindo sedimentos areno-quartzosos inconsolidados próximo à linha da
praia e alguns trechos da planície de deflação. A vegetação que recobre tais sedimentos
(areias), em virtude de ser submetida à alta salinidade e solos ácidos, é denominada também,
de psamófila-halófita (GEOCONSULT, 2012).
Entre as espécies vegetais mais característica deste tipo de ambiente encontram-
se: Remirea maritima (pinheirinho-da-praia), Paspalum maritimum (capim-gengibre),
Paspalum vaginatum (capim-da-praia), Ipomoea asarifolia (salsa), Ipomoea pes-caprae
(salsa-de-praia), Centhrus echinatus (carrapicho), Portucala oleracea (beldroega), Sesuvium
portulacastrum (beldoegra-da-praia), Iresine portucaloides (bredinho-da-praia).
Ocorrem dispersos na área de domínio desta vegetação alguns arbustos e
subarbustos representados por: Jatropha mollissima (pinhão-bravo), Calotropis gigantea
(hortência), Cyperus sp. (tiririca) e Anacardium occidentale (cajueiro).
Onde há a presença de vegetação pioneira de porte herbáceo e reptante pode-se
constatar a ocorrência de artrópodes terrestres (insetos e aracnídeos), sendo ainda habitada por
répteis terrícolas e aves. Ressaltam-se a ocorrência de aranhas do gênero Latrodectus,
gafanhotos e cigarras (Orthoptera), formigas (Hymenoptera).
As aves normalmente têm hábitos terrícolas e são consumidoras de sementes,
insetos e vermes, dentre as quais se citam: Paroaria dominicana (campina), Vanellus
chilensis (teteu), Charadrius semipalmatus (maçarico), Charadrius collaris (maçarico-de-
colar), Arenaria interpres (maçarico), Tringa solitaria (maçarico), Tringa flavipes (maçarico),
Guira guira (anu-branco), Calidris alba (maçarico-de-areia), Columbina passerina (rolinha-
da-praia) etc.
40

O representante mais comum da mastofauna é são a Ameiva ameiva (lagarto) e a


Cnemidophorus ocellifor (tejubina).
Algumas aves migratórias intercontinentais passam pela região rumo ao extremo
sul do continente latino, fugindo do rigor do inverno boreal, merecendo destaque as seguintes
espécies: Charadrius semipalmatus (maçarico), Pluvialis dominica (tarambola), Tringa
solitaria (maçarico), Pluvialis squatarola (tarambola-pintada), Charadrius wilsonia
(maçarico), Arenaria interpres (maçarico), Tringa solitaria (maçarico), Tringa melanoleuca
(maçaricão), Calidris canutus (maçarico-de-peito-marrom), Calidris alba (maçarico-de areia),
Bartramia longicauda (maçarico-do-campo), Numenius phaeopus (pirão-gordo), Numenius
borealis (batuíra-boreal), Larus dominicanus (gaivotão), Phaetusa simplex (gaivota-do-bico-
grande), Gelochelidon nilotica (gaivota), Sterna dougallii (trinta-reis-róseo), Sterna hirundo
(trinta-réis), Sterna superficiliaris (trinta réis), Rhynchops niger (talha mar), Actitis macularia
(maçariquinho), Arenaria interpres, (maçarico), Calidris alba (maçarico), Calidris melanotos
(maçarico), Calidris minutilla (maçarico) e etc. Boa parte desses maçaricos é migratória e
alimentam-se de insetos, moluscos e poliquetas, encontrados, sobretudo no subsolo praiano.
Observam-se também alguns Charadriiformes residentes no Brasil, nessa região, como
Gallinago paraguaiae (narceja-pequena), Gallinago undulata (narceja), Himantopus
himantopus (pernilongo), Charadrius collaris (maçarico), Vanellus chilensis (tetéu),
Hoploxypterus cayanus (maçarico-barulhento), dentre outras. Estas aves costumam habitar
tanto a costa litorânea como os estuários e manguezais.

2.1.3 Caracterização dos Aspectos Socioeconômicos

Na Vila do Cumbuco, estão sendo implantadas novas estruturas para a melhoria


dos sistemas de abastecimento de água e esgoto da região, contemplando inclusive os novos
equipamentos turístico-hoteleiros que estão sendo implantados.
Os serviços de limpeza urbana ficam a cargo de empresas privadas sublocadas
pela prefeitura municipal. Estes serviços compreendem a varrição de áreas públicas, podação
e coleta de lixo urbano. Todo o lixo coletado é levado para o Aterro Sanitário Metropolitano
Oeste de Caucaia – ASMOC. A faixa litorânea também é contemplada com a coleta periódica
que recolhe o lixo domiciliar e dos diversos recipientes instalados para a coleta. Nas praias, a
41

coleta é feita com o auxílio de carroças nas quais são recolhidos os cocos, garrafas e copos
descartáveis e todos resíduos sólidos produzidos pelos frequentadores das praias locais.
O fornecimento de energia elétrica, em todo o município de Caucaia, está a cargo
a Companhia Energética do Ceará – COELCE.
No setor das comunicações, a proximidade da capital favorece o recebimento de
sinais de emissoras de radio e televisão, além de algumas que estão instaladas na sede do
município. O serviço de envio/recebimento por via postal é desenvolvido pela Empresa
Brasileira de Correio e Telégrafos – ECT –, tendo inclusive uma agência na vila do Cumbuco.
Para a vila do Cumbuco, a principal via de acesso é a CE-090.
O setor terciário o principal ramo da economia do município, destacando-se o
comercio e os serviços da cadeia turística.
O carnaval é uma das festas de maior participação popular no Município
acontecendo principalmente nas praias do Icaraí e Cumbuco e na Barra do rio Cauípe. Na
praia do Icaraí é onde se concentram a maioria dos foliões aproveitando a estrutura montada
no chamado corredor da folia.
O maior atrativo turístico do Município de Caucaia é o seu litoral, com muitas
praias e dunas, podendo destacar a praia do Cumbuco. A disposição dos visitantes está nos
restaurantes com suas comidas típicas, como as Velas do Cumbuco, Tendas do Cumbuco,
Portal do Cumbuco, Lisboa Mar à Vista e Aldeia Brasil.
Para acolher os turistas, Caucaia conta com uma rede de hotéis e pousadas
aconchegantes, tais como: Tendas do Cumbuco, Pousada das Conchas, Eco Paradise Hotel,
Dunas do Cumbuco.
Deve-se ressaltar que a praia do Cumbuco apresenta a particularidade de receber
duas categorias turísticas: elite; e massa. O turista de elite é representado pelos estrangeiros e
pelos grupos de alto poder aquisitivo, enquanto o turismo de massa congrega os turistas de
poder aquisitivo inferior oriundo da região de entorno, de outros municípios cearenses e de
outros estados que aqui vem utilizando-se de meios de transporte, hospedagem e
equipamentos de lazer mais em conta.
Na área estudada, verifica-se esta estratificação social. Os turistas de elite,
normalmente conduzidos pelas empresas de turismo, concentram-se na barraca Velas do
Cumbuco, no extremo oeste da área estudada. Já o de massa ocupa as barracas situadas no
leste ao centro da área.
42

A praia do cumbuco tem se consolidado como um dos destinos esportivos


mundiais. Os ventos constantes e com velocidades ideais para a prática do kitesurf fez com
que a praia passa-se a receber etapas dos campeonatos brasileiro e mundial, ver Figura 6.

Figura 6 – Praticante de kitesurf em etapa do mundial


Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=818858&page=2

2.1.4 Aspectos Ambientais Condicionantes da Qualidade da Praia do Cumbuco

A balneabilidade da praia do Cumbuco não se restringe apenas ao banho de mar.


Além dos serviços de barracas e restaurantes, nesta praia são disponibilizados passeios de
jangada, de cavalo ou jumento e de quadriciclos.
Além dos serviços dos estabelecimentos instalados na orla, os frequentadores
dispõem ainda dos produtos oferecidos pelos vendedores ambulantes.
Toda esta gama de serviços aumenta as alternativas de lazer na praia, contudo
trazem consigo alguns impactos ambientais. O Quadro 1 apresenta os aspectos ambientais
condicionantes da qualidade da praia do Cumbuco, bem como os fatores intervenientes e os
impactos ambientais potenciais, considerando as características do meio e atividades locais.
43

Quadro 1 – Característica/ atividade x condicionantes x impactos ambientais


Característica /
Fatores condicionantes Impactos ambientais potenciais
atividade
Estabilidade da Erosão/deposição
Marés
linha de costa Alteração da morfologia
Característica /
Fatores condicionantes Impactos ambientais potenciais
atividade
Conflitos de uso e ocupação do
solo
Passeio de jangadas Vento e público
Acidentes com banhistas e/ou
kitesurfistas
Geração de águas Número de usuários, Concentração de poluentes na
servidas tratamento, disposição final água e na areia
Acúmulo de lixo na areia e na
água
Geração de Número de usuários, Impacto visual
resíduos sólidos disposição final Riscos de acidentes
Proliferação de vetores
transmissores de doenças
Velocidade de circulação,
Circulação de
número de veículos, número Acidentes
veículos
de banhistas
Acidentes com pedestres e com os
Número de usuários,
Passeios com cavaleiros(as)
número de montarias e
cavalos e jumentos Deposição de resíduos fecais
condutores
Poluição do solo
Geração de resíduos sólidos
Serviços de Conflitos de uso e ocupação do
Número de usuários
restaurantes solo
Alteração da paisagem
Geração de resíduos sólidos
Vendedores
Número de usuários Conflitos de uso e ocupação do
ambulantes
solo
Vento, número de
Prática de kitesurf praticantes, número de Acidentes
banhistas
Fonte: o autor

2.2 Problemas Encontrados diante do Referencial Adotado, a Certificação do


Programa Bandeira Azul.

Para facilitar a abordagem comparativa das condições socioambientais


encontradas na praia do Cumbuco frente às normas da Certificação Bandeira Azul, o
44

desenvolvimento deste tópico seguirá a sequência dos critérios observados, apresentando-os e


posteriormente apresentando as considerações.
I. INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
1. Atividades de educação ambiental devem ser promovidas e oferecidas aos
usuários da praia.
Como na maioria dos municípios brasileiros, as ações de educação ambiental são
pontuais e comumente ocorrem vinculadas com dadas referentes ao meio ambiente, tais como:
04 a 09/06 - Semana Nacional do Meio Ambiente; 05/06 - Dia Mundial do Meio Ambiente;
05/06 - Dia da Ecologia; 20/09 - Dia Internacional da Limpeza de Praia; 04/10 - Dia da
Natureza; 12/10 - Dia do Mar; e 15/10 - Dia do Educador ambiental. Estas são algumas das
datas de referência nas quais as ações de educação ambiental são aplicadas no município.
Afora o Dia Internacional da Limpeza das Praias, que transcorre em setembro,
outro momento em que são praticadas ações voltadas à educação ambiental no litoral acontece
em novembro, por ocasião do Dia Nacional de Limpeza de Praias, Rios, Lagos e Lagoas.
Afora estes momentos fixos, o Conselho de Políticas e Meio Ambiente – CONPAM –, em
parceria com as prefeituras municipais realizam a campanha educativa “Praia Limpa” em
datas mais distribuídas ao longo do ano, dando preferência aos períodos de alta estação. O
objetivo principal do programa, desenvolvido conjuntamente com a SEMACE é buscar
indução a multiplicação de uma consciência individual e coletiva, para que as pessoas e as
comunidades passem a cuidar bem do espaço de lazer popular mais democrático que existe
que são as praias.
As principais atividades desenvolvidas são:
 Sensibilização quanto à necessidade de disposição adequada dos resíduos
sólidos envolvendo barraqueiros, frequentadores, associações, instituições,
públicas e privadas;
 Divulgação através dos meios de comunicação, principalmente rádio e jornal;
 Mobilização através do carro de som, faixas e campanha porta-porta;
 Peças teatrais;
 Distribuição de material informativo educativo; e,
 Blitz educativas com frequentadores da praia.
Especificamente à praia do Cumbuco, não se pode contatar a realização das
atividades relacionadas à educação ambiental. Além das buscas por meio da internet,
entrevistas com os gestores ambientais, realizou-se entrevistas com os agentes presentes na
45

faixa de praia, ambulantes, prestadores de serviços e comerciantes e funcionários das


barracas, os quais declararam que as ações acontecem ocasionalmente.
Outro ponto importante a ser considerado é o público alvo das campanhas de
educação ambiental. As atividades de Educação Ambiental devem aumentar a conscientização
e a preocupação com o ambiente costeiro dos usuários que nele vivem ou que o usam para
recreio, funcionários da prefeitura e dos fornecedores de serviços turísticos, agentes locais
(pescadores, associação de moradores, ONG’s), promovendo o uso sustentável da área para o
recreio e turismo.
As campanhas de educação ambiental comumente têm foco nos frequentadores da
praia. A concentração da ação neste público até se justifica pelo volume que ele representa na
população da área estudada, contudo se tem o revés de este mesmo público não representar
uma população fixa que poderia incorporar os ensinamentos e emprega-lo na praia do
Cumbuco. Sendo uma população “estrangeira”, os ensinamentos adquiridos poderão ser
praticados nos locais de origem destes e não no local. Deve-se considerar ainda que a
população estrangeira atingida em dado momento não poderá não ser a mesma que freqüenta
a praia em outras ocasiões. Tem-se assim a educação ambiental diluída na propagação
espacial do público.
Assim, a educação ambiental deve absorver o público fixo, agentes envolvidos
com as atividades turísticas, e a partir destes para a população não fixa.
As atividades de educação ambiental devem ser efetivas e relevantes. A cada ano
a prefeitura e comunidade local devem avaliar as atividades desenvolvidas no ano anterior e
trabalhar para a melhoria constante das mesmas. É altamente recomendável que exista um
monitoramento das atividades propostas no sentido de verificação da eficácia das mesmas na
conscientização do público alvo.
Outra forma seria a utilização de equipamentos de educação ambiental fixos.
Constatou-se que na praia do Cumbuco não existem equipamentos, tais como placas ou
outdoors, de cunho informativo voltado na educação ambiental.
2. Informações sobre a qualidade da água de banho devem estar
disponibilizadas.
O item I.2 exige a existência de placas de informação sobre a qualidade da água.
Esclarece-se que a avaliação da qualidade das águas no litoral cearense é realizada pela
SEMACE através do Programa de Monitoramento dos Índices de Praias Próprias e Impróprias
para Banho. A SEMACE divulga mensalmente, via imprensa, a lista dos locais próprios para
o banho.
46

Constata-se que não existem placas indicativas da balneabilidade da praia do


Cumbuco. Pode-se se explica a ausência deste equipamento por dois motivos: a) dependência
da divulgação do resultado da SEMACE; b) pelo fato de que a praia encontra-se sempre no
estado de própria. Estes pontos explicam, mas não justificam, na verdade a principal
justificativa é de que não faz parte da cultura dos gestores tal ação de consideração com os
frequentadores das praias. Poucas são as praias brasileiras com esta prática, podendo citar-se
como exemplo a praia do Cotovelo, no município de Parnamirim – RN, conforme se vê na
Figura 7.

Figura 7 – Placa de sinalização da


balneabilidade da praia do Cotovelo,
Parnamirim - RN.
Fonte: o autor, 2012.

3. Informações relacionadas a ecossistemas costeiros, fenômenos naturais,


áreas naturais sensíveis e áreas de importante valor cultural ser
disponibilizadas.
Outro ponto de inconformidade refere-se à inexistência de informação sobre as
áreas sensíveis e ecossistemas na área da praia, bem como sobre o comportamento a assumir
perante estas, afixada na praia e incluída no material para turistas, item I.3.
A praia do Cumbuco apresenta atualmente um caráter reflexivo com significativas
variações na zona de praia (estirâncio) e na pós-praia. Estas variações decorrem da
instabilidade do input x output sedimentológico decorrente das variações da carga de
sedimentos na corrente de deriva litorânea, tendo como resultado a instalação de um processo
47

erosivo desde a década de 1980. Este processo de modificação da carga sedimentológica teve
origem na capital do Estado, quando da implantação do Porto do Mucuripe.
As obras de proteção da costa de Fortaleza transferiram o problema para as praias
do município de Caucaia, a começar por Dois Coqueiros, posteriormente Iparana, Pacheco e,
atualmente é mais significativa em Icaraí onde há bem pouco tempo foi implantada uma
estrutura de contenção do avanço do nível do mar.
A praia do Cumbuco situa-se a jusante do ponto de contenção do Icaraí, e
encontra-se sujeita a intensificação do processo erosivo. A erosão costeira pode ser observada
pelas mudanças no relevo da faixa de praia e pela ocorrência de concentrações de seixos e
pelos afloramentos isolados de rochas de praia (beach-rocks).
Deve ser ressaltado que segundo os estudos de LIMA (2002) a praia do Cumbuco
apresenta trechos com avanço da linha de costa com taxas de 10 a 20 m/ano e um trecho com
erosão costeira a uma taxa de aproximadamente 3,0 m/ano.
O trecho estudado apresenta sinais de uma taxa de erosão mais significativa em
função das variações morfológicas da praia, que se mostra mais rampeada, da formação de
bermas e pelas mudanças na zona de pós-praia.
O principal sinal do comprometimento da balneabilidade na linha costa estudada
refere-se aos pontos onde as ondas arrebentam com maior intensidade e pela formação de
áreas com uma grande quantidade de seixos, áreas de riscos para os banhistas. A despeito dos
riscos de acidentes com os frequentadores, principalmente para as crianças, não se tem
nenhuma placa indicando os perigos do banho de mar.
4. Um mapa da praia deverá ser disponibilizado.
O item 1.4. relaciona-se a existência de um mapa indicativo das diversas
instalações e equipamentos na zona balneária. Os elementos a serem indicados no mapa são:
 Localização do ponto “Você está aqui”
 Áreas protegidas os sensíveis na praia ou no entorno imediato
 Local das coletas de amostras de água para análise
 Localização dos banheiros públicos (incluindo onde estão localizados os
banheiros para portadores de necessidades especiais)
 Localização de telefones
 Localização de fontes de água potável
 Localização dos estacionamentos (incluindo onde está localizado o
estacionamento para deficientes físicos)
 Localização dos pontos de acesso à praia, faixas de segurança, etc.
48

 Localização dos nadadores salvadores e respectivo equipamento e horário;


 Localização do equipamento de primeiros socorros;
 Zoneamento da praia e ou locais proibidos para certas atividades e destinados à
gestão de conflitos entre banhistas e demais atividades (lanchas, jetskies,
windsurf, pedalinhos, veleiros, canoas e caiaques, nadadores etc.).
 Localização de cafés, barracas de praia, sorveteiros, restaurantes etc.
 Localização das recipientes para resíduos recicláveis
 Norte e escala
No trecho estudado identificou-se a existência de 12 (doze) estruturas de serviço
(barraca, restaurante e hotéis) e 2 (dois) pontos de guarda-vidas. Ao longo deste trecho da
costa não se identifica nenhuma placa que identificasse a localização dos postos dos guarda-
vidas, nem tão por quaisquer outros equipamentos e instalações na zona balneária, mesmo
porque tais equipamentos são privados, disponíveis no interior das instalações e reservados
preferencialmente aos frequentadores destes estabelecimentos.
Com relação à localização dos equipamentos e pontos de interesse público,
reiteramos que não existem placas indicativas dos mesmos.
A Figura 8 ilustra o mapa de identificação dos equipamentos na praia de Jurerê Internacional.
5. Código de Conduta na área da praia, leis e normas de uso devem estar
disponibilizados.
O código de condutas atua no sentido de identificar as áreas com determinadas
restrições de uso, impondo restrições à circulação de animais domésticos, de determinadas
embarcações próxima à linha de costa, e de veículos na faixa de praia. A Figura 9 apresenta o
mapa com o código de conduta da praia de Jurerê Internacional.
II. QUALIDADE DA ÁGUA
6. A praia deve atender aos requisitos de frequência mínima de análise de
água.
7. A praia deve aplicar métodos confiáveis de análise de água e ter histórico
de qualidade.
8. Descargas de águas residuais, industriais ou urbanas não devem afetar a
praia e área de banho.
9. A qualidade da água da praia deve atender aos requisitos de padrão de
excelência da legislação nacional.
10. A praia deve atender ao padrão de qualidade Bandeira Azul para os
parâmetros físico-químicos.
49

Devido à inter-relação entre os itens, as considerações serão apresentadas de


forma unificada.
O poder público estadual atende a questão da qualidade das águas com coleta e
análise das águas realizadas pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE e
divulgação das praias consideradas próprias e impróprias para o banho, a Praia do Cumbuco
não tem apresentado resultados que comprometam a balneabilidade local.
50

Figura 8 – Mapa de informações úteis e serviços na praia de Jurerê Internacional.


Fonte: Instituto Ambiental Ratones (2011)
51

Figura 9 – Mapa com código de conduta na praia de Jurerê Internacional.


Fonte: Instituto Ambiental Ratones (2011)
52

A metodologia empregada pela SEMACE se baseia na Resolução CONAMA Nº.


274, de 29 de novembro de 2000 que dispõe sobre a qualidade das águas doces, salobras e
salinas destinadas à balneabilidade com recreação de contato primário, ou seja, quando existir
o contato direto do usuário com os corpos de água como, por exemplo, as atividades de
natação, esqui aquático e mergulho.
Para a SEMACE, a praia apresenta uma balneabilidade Excelente: quando em
80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores,
colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) por l00
mililitros.
O Programa Bandeira Azul requer que as praias tenham uma qualidade de água
excelente para os parâmetros microbiológicos Escherichia coli e Enterococos. No Brasil o
padrão de excelência é aquele descrito na Resolução CONAMA Nº. 274/2000, sendo os
mesmos para águas marinhas e interiores, conforme apresenta a Tabela 1. A tabela mostra
claramente que existe uma diferença entre os valores definidos pela legislação nacional e o
índice tolerado pela FEE. Observa-se, porém que os índices estabelecidos pela legislação
nacional são mais restritivos do que estabelecidos para a Certificação Bandeira Azul.

Tabela 1 – Valores limites de bactérias no Brasil e para a Certificação Bandeira Azul


Valores Limites para
Valores Limites para
Parâmetro Bandeira Azul SEMACE
o Brasil
Internacional
Escherichia coli 200 / 100 mL 250 /100 mL ---
Enterococos 25 / 100 mL 100 /100 mL ---
Coliformes
< 250 --- < 250
Termotolerantes
Fonte: adaptado de SEMACE, relatório interno.

Os resultados das analises das amostras de água do mar em frente à barraca


Lisboa, na praia do Cumbuco demonstram que esta praia apresenta uma excelente condição
de balneabilidade, em razão dos resultados do número de coliformes termotolerantes (fecais)
serem na maioria das vezes de 0 (zero) e de variar até o máximo de 70. Ressalta-se, porém um
registro de 300, medido em fevereiro de 2012, ver Gráfico 2.
53

Número de Coliformes Termotolerantes por 100 mL


350 Medido Norma Brasileira

300

250

200

150

100

50

0
0

1
0

1
0

1
0

2
10

11
/1

/1
/1

t/1

/1

t/1

/1
/1

/1
l/1

l/1
v/

v/
ai

ai
ar

ar
n

n
ju

ju
se

se
no

no
ja

ja

ja
m

m
m

Gráfico 2 - Variação dos resultados das análises da qualidade da água na barraca Lisboa – Praia m
do Cumbuco
Fonte: adaptado de SEMACE, relatório interno.

Existem diversos índices de medição da qualidade da água que são adotados para
orientar suas utilizações. O índice de balneabilidade - IB é utilizado para medir a qualidade da
água usada para recreação, seja ela em águas interiores ou oceânicas. Ele traz um importante
parâmetro para a aferição da contaminação por bactérias e substâncias tóxicas em ambientes
aquáticos utilizados para atividades de recreação, como natação, mergulho e esqui. Nessas
práticas ocorre o contato direto e prolongado do corpo com a água, que pode envolver a
ingestão involuntária de quantidades consideráveis de água, levando a contaminação com
bactérias e substâncias tóxicas. O índice de balneabilidade foi criado e difundido visando à
diminuição desse tipo de contaminação.
Outro índice, composto por uma medição de diversos parâmetros, é o Índice de
Qualidade da Água – IQA –, que foi criado nos Estados Unidos na década de 1970 e adotado
e adaptado no Brasil no mesmo período. Ele baseia-se na formulação de uma média composta
pela medição de parâmetros da água que possuem pesos diferentes na formulação da mesma,
sendo ele utilizado para orientar diversos usos.
Dentre os oito parâmetros medidos pelo IQA brasileiro (há variação do número de
parâmetros medidos entre os estados), o único utilizado para compor o IB são os coliformes
fecais, que são bactérias que sobrevivem dentro do sistema digestivo humano e de outros
animais, sendo proliferados junto às fezes.
Os principais fatores que influem no despejo de coliformes fecais em áreas de
recreação aquática são a deficiência de sistemas de coleta e tratamento de esgoto ou até
54

mesmo sua própria ausência. Podemos destacar também a existência de galerias pluviais
contaminadas que deságuam na praia formando “línguas negras” e a afluência excessiva
turística ao litoral e a balneários interioranos durante a temporada e o final de semana.
Sangradouros originários de águas provenientes da rede pluvial devem ser limpos
durante o tempo inteiro. Durante períodos de chuva sangradouros, canais e áreas próximas a
estes devem ser limpos diariamente Amostras de qualidade da água devem ser coletadas nos
locais onde existam canais de águas pluviais que deságuam na praia.
Em geral, esses problemas estão ligados à ausência de planejamento urbano e à
falta de aplicação dos planejamentos existentes, ocorrências muito comuns nos municípios
brasileiros que têm o seu crescimento ditado pelo mercado imobiliário e por loteamentos
clandestinos.
As condições do meio físico local também influem no índice de balneabilidade,
sendo este dependente da fisiografia das praias, das suas correntes marítimas e das condições
das marés (esses três primeiros em balneários litorâneos) e da posição do balneário em relação
às fontes poluidoras e da ocorrência e intensidade das chuvas.
Apesar de o esgoto doméstico ser a principal fonte de coliformes fecais, esses
podem existir também em matérias orgânicas, como, por exemplo, em restos arbóreos trazidos
por enxurradas e decompostos nos corpos d´água. Outros importantes índices de qualidade da
água que são extraídos das medições de IQA são o índice de qualidade das águas para a
proteção da vida aquática (IVA), o índice de qualidade das águas para abastecimento público
(IAP) e o índice de estado trófico (IET). O último mede a saturação de nutrientes que são
consumidos por microorganismos como as algas, que com proliferação excessiva pode
acarretar em contaminações para os banhistas.
É comum ver índices de balneabilidade no jornal, enquanto os demais índices são
encontrados nos sites de secretarias e instituições ambientais responsáveis. Hoje, o IB vem
sendo aplicado prioritariamente em áreas litorâneas, ao passo que os demais índices são mais
usados em águas interioranas.
Os seus critérios de divisão são apresentados como os dos demais índices,
constituindo-se de uma escala que vai de má ao ótimo (Figura 10), representada em uma
legenda de cores. As classes do índice refletem a proporção de coliformes fecais em uma
amostra de 100 mL.
55

Número de resultados de coliformes termotolerantes menores do que 250


Ótima
ou E. coli menores do que 200 em 100% do ano.
Número de resultados de coliformes termotolerantes menores do que
Boa 1.000 ou E. coli menores do que 800 em 100% do ano, exceto a condição
de menores do que 250 e 200 em 100% do ano.
Número de resultados de Coliformes termotolerantes maiores do que
Regular 1.000 ou E. coli maiores do que 800 em porcentagem inferior a 50% do
ano.
Número de resultados de coliformes termotolerantes maiores do que 1.000
Má ou E. coli maiores do que 800 em porcentagem igual ou superior a 50%
do ano.
a
Figura 10 – Classificação da qualidade das águas litorâneas com base no
índice de bactérias.
Fonte: http://www.cetesb.sp.gov.br/Agu

Seguindo a resolução do CONAMA, a SEMACE qualifica as praias em:


(P) Própria: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada
uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver no máximo 1.000
coliformes termotolerantes por 100 mL da amostra.
(I) Imprópria: quando não atendidos os critérios estabelecidos para águas próprias,
quando o valor obtido na última amostragem for superior a 2.500 coliformes termotolerantes
por 100 mL da amostra, ou quando existirem ocorrências que possam ocasionar risco à saúde
do banhista, tais como, presença de resíduos sólidos ou animais no entorno da área de banho.
Nos procedimentos, são coletadas mensalmente amostras de águas das praias, na
terceira e quarta semana de cada mês, entre 08h00min e 17h00min, sendo coletada uma
amostra em cada ponto (no caso em frente à barraca Lisboa), na isóbata de 1 metro de
profundidade, que representa a região mais utilizada para recreação.
As medições mensais não estão de acordo com a Resolução CONAMA Nº.
274/00, que regulamenta os padrões de medição da balneabilidade nos meios aquáticos
utilizados para recreação no território brasileiro. Segundo essa resolução, a amostragem deve
seguir os padrões do Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial -
Inmetro ou do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater - APHA-
AWWA-WPCF, que determinam medições semanais como as feitas pela CETESB como
adequadas. As análises semanais são realizadas unicamente no município de Fortaleza.
Logo, a medição mensal é feita apenas em caráter preventivo, não sendo
considerada como ideal para o monitoramento de locais possivelmente atingidos por
coliformes. Durante a alta temporada é comum que se façam as medições diariamente, apesar
desse procedimento não ser obrigatório por lei. Depois de feita a coleta, as amostras seguem
para laboratórios de análise.
56

Nos laboratórios, são medidas as quantidades de bactérias termotolerantes por


amostra, tendo como foco algumas bactérias mais representativas da poluição por coliformes
fecais como a Escherichia coli e o Enterococus. A primeira é uma bactéria que se reproduz a
temperaturas de 44 a 45 graus centígrados, sendo encontrada somente em solos ou águas
atingidas por contaminação fecal recente. O Enterococos é uma bactéria altamente tolerante a
condições adversas, que suporta temperaturas entre 10 e 45 graus centígrados, sobrevivendo a
concentrações de cloreto de sódio (sal NaCl) de até 6,5% e meios básicos com pH 9,6
(lembrando que o pH 7 da água pura é o pH neutro). Ela é disseminada principalmente de
fezes humanas, sendo encontrada também em fezes animais.
Outras bactérias formam o grupo de coliformes totais analisados, porém as duas
citadas são as recomendadas pelo CONAMA para serem utilizadas como parâmetro para
constituição do IB, pois são mais resistentes a temperaturas e condições de salinidade e pH do
que muitos outros coliformes.
Apesar de ser constituído pela análise de coliformes fecais, o índice de
balneabilidade de um corpo d´água pode ser considerado impróprio no caso de um acidente
ambiental flagrante, como derramamentos de óleo, ou outras alterações que podem ser
verificadas no dia a dia ou em índices como o IQA.
Feita a análise das amostras, são formulados os índices por pontos de coletas, que
são agregados em mapas de balneabilidade como os divulgados nos jornais, enquanto nas
praias devem ser postas bandeiras vermelhas indicando os locais impróprios para recreação.
Anualmente, as secretarias e os demais órgãos de meio ambiente divulgam relatórios síntese
dos índices de balneabilidade, que podem ser encontrados na íntegra nos seus sites.
Segundo os resultados divulgados pela SEMACE, a praia do Cumbuco enquadra-
se frequentemente como própria para o banho. Neste aspecto é pertinente comentar-se que a
orla do município de Caucaia, em especial das praias da Tabuba e do Cumbuco, não
apresentam fontes poluidoras cujos efluentes possam a vir a comprometer a qualidade da água
do mar nas zonas balneárias.
Correlativamente à certificação Bandeira Azul, a frequência de análise é variável
ao longo dos anos:
1 ano = 20 análises
2 anos = 10 análises x 2 anos
4 anos = 5 análises x 4 anos.
57

Sendo realizadas mensalmente, terão unicamente 12 (doze) análises por ano. Este
número é aquém do estabelecido para o primeiro ano, mas supera em muito a quantidade
determinada para os anos subsequentes.
Outro ponto observável é o monitoramento dos parâmetros físico-químicos
sugeridos pelo Programa Bandeira Azul.
 pH – 6 a 9
 Óleos: Água: sem camadas visíveis de óleo na superfície e sem odores. / Terra:
a praia deve ser monitorada com relação a este tipo de contaminação e planos
de emergência devem entrar em vigor em caso de contaminação por óleo. Os
óleos não poderão estar presentes em mais de 5% das amostragens.
 Flutuantes: resíduos de graxa, madeira, artigos plásticos, garrafas, recipiente,
vidros, plásticos, borrachas ou quaisquer outras substâncias. Devendo ser
inexistentes.
No artigo 8º da Resolução CONAMA Nº. 274/00 há a recomendação de a
avaliação das condições parasitológicas e microbiológicas da areia, para futuras
padronizações. Considerando o fluxo de animais de montaria (cavalos e jumentos), além dos
domésticos, esta análise deveria ser realizada complementarmente para a qualificação da
balneabilidade da praia do Cumbuco.
III. GESTÃO AMBIENTAL E EQUIPAMENTOS
11. Um comitê de gestão da praia deve ser estabelecido.
O comitê de gestão da praia deve ser composto de todos os atores relevantes em
nível local. Atores relevantes são, mas não se restringem a: representantes da autoridade local,
representantes de associações comunitárias, gerentes de hotéis, salva-vidas, representantes
educacionais, ONGs locais, grupos de usuários especiais etc. Na praia do Cumbuco, as
associações mais representativas são a Colônia de Pescadores Z-8, a Associação dos
Moradores do Cumbuco, e a Associação dos Bugueiros.
Nas praias brasileiras onde o “Projeto Orla” é atuante, o comitê de gestão da praia
para o Programa Bandeira Azul pode ser o já estabelecido comitê do “Projeto Orla”.
12. A praia deve estar de acordo com todas as regulamentações que
influenciam e gestão da praia.
Infraestruturas e atividades na praia e nas áreas adjacentes devem estar de acordo
com os planos diretores dos municípios e leis de planejamento e ambientais. A legislação aqui
referida inclui leis de planejamento de uso do solo, descargas de efluentes de
esgoto/industrial, leis de saúde ambiental, planos de conservação, operações, licenças e
58

permissões para ocupação do solo, etc. Nestas normas devem estar incluídas licenças de uso
da área pública por ambulantes e barracas de praia.
As praias, a exemplo dos recursos hídricos, são consideradas pelo ordenamento
jurídico brasileiro como bens públicos, e bens de uso comum do povo. Ademais, são de
dominialidade federal, conforme análise subsequente.
As praias, segundo o que rege a Lei nº 7.661/88, devem ter livre e franco acesso
em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos discriminados pelo seguinte dispositivo:
Art. 10. As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado,
sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os
trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por
legislação específica.
Por essa razão, não é permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do
solo praiano que impeça ou dificulte o livre e franco acesso assegurado pelo PNGC. Na
mesma linha de pensamento, leciona (MACHADO, 2007):

Temos que contraria a finalidade de utilização comum pela


população, a concessão de parte da praia para clubes construírem
áreas esportivas, a ocupação por guarda-sóis de edifícios fronteiriços
ou a autorização para a construção de bares, restaurantes ou hotéis
nas praias. Além disso, o Poder Público haverá de proceder com
grande prudência na construção de postos para policiamento e ou
construção de sanitários públicos, evitando cometer atentados à
estética e à paisagem – interesses tutelados pela ação civil pública.

A Constituição do Estado do Ceará também considera as praias como bens


públicos de uso comum do povo:
Art. 23. As praias são bens de uso comum, inalienáveis e destinadas perenemente
à utilidade geral dos seus habitantes, cabendo ao Estado e a seus Municípios costeiros
compartilharem das responsabilidades de promover a sua defesa e impedir, na forma da lei
estadual, toda obra humana que as possam desnaturar, prejudicando as suas finalidades
essenciais, na expressão de seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural, incluindo, nas
áreas de praias:
I – recursos naturais, renováveis ou não renováveis;
II – recifes, parceis e bancos de algas;
III – restingas e dunas;
IV – florestas litorâneas, manguezais e pradarias submersas;
59

V – sítios ecológicos de relevância cultural e demais unidades de preservação


permanente;
VI – promontórios, costões e grutas marinhas;
VII – sistemas fluviais, estuários e lagunas, baías e enseadas;
VIII – monumentos que integram o patrimônio natural, histórico, paleontológico,
espeleológico, étnico, cultural e paisagístico.
O art. 20 da Constituição Federal, ao elencar os bens pertencentes à União,
classifica as praias em praias fluviais e marítimas. Estas constituem a orla de terra, em declive
suave, geralmente coberta em sua extensão por areia, e que se limita com o mar. Aquelas
consistem em qualquer área na extensão do leito dos rios que forma coroas ou ilhas rasas, as
quais ficam descobertas quando baixa sobremaneira o nível das águas.
Rege o aludido preceito constitucional:
Art. 20. São bens da União:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou
que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais.
No que tange a terrenos de marinha, trata-se de instituto tipicamente brasileiro,
não sendo, portanto encontrado nenhum similar no direito comparado. Têm sua definição
legal estabelecida pelo art. 13 do Código de Águas – Decreto nº 24.643/34: “Constituem
terrenos de marinha todos os que, banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, vão
até 33 metros para a parte da terra, contados desde o ponto a que chega a preamar média”.
Sem embargo, os terrenos de marinha não devem ser confundidos com os terrenos
da marinha. Estes não são bens da União, mas do Ministério da Defesa, e como tais são
classificados como bens especiais. Também não devem ser confundidos com praias. Estas são
áreas cobertas e descobertas pelo movimento das marés e se constitui em bem público federal
de uso comum do povo.
Acerca da classificação de bens públicos estabelecida pelo Novo Código Civil
brasileiro, em seu art. 99, os terrenos de marinha se enquadram na qualidade de bens públicos
dominicais, quais sejam os inseridos no patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios,
como objeto de direito pessoal ou real. No caso de terrenos de marinha, como já foi
ressaltado, constitui exclusivamente o patrimônio da União.
A condição dos terrenos de marinha como bens dominicais encontra amparo no
Código de Águas:
60

Art. 11. São públicos dominicais, se não estiverem destinados ao uso comum, ou
por algum título legítimo não pertencerem ao domínio particular:
1º - os terrenos de marinha.
Sobre a utilização dos terrenos de marinha pelos particulares, escreve Meirelles
(2005) que “depende de autorização federal, mas, tratando-se de áreas urbanas ou
urbanizáveis, as construções e atividades civis nelas realizadas ficam sujeitas a
regulamentação e a tributação municipais, como as demais realizações particulares. A reserva
dominial da União visa, unicamente, a fins de defesa nacional, sem restringir a competência
estadual e municipal no ordenamento territorial e urbanístico dos terrenos de marinha, quando
utilizados por particulares para fins civis”.
A Gerência Regional da União/Secretaria do Patrimônio da União trabalha na
ratificação da Linha de Preamar/terreno de marinha, não podendo divulgar informações
relativas ao posicionamento das barracas e edificações instaladas na praia do cumbuco até a
conclusão do processo.
De acordo com a Lei Orgânica do Município de Caucaia, promulgada em 5 de
junho de 1990, inciso I, artigo 192, as praias são consideradas áreas de proteção permanente.
Já na Lei Municipal Nº. 1.367, de 15 de maio de 2001, que dispõe sobre a Política Ambiental
do Município de Caucaia as praias são categorizadas como áreas de preservação permanente,
para Proteção Integral e de uso indireto (art. 137, inciso X) sendo proibida a circulação de
veículos automotores, urbanização ou edificações, aterros, movimentação de terra e
assoreamento e parcelamentos (art. 138). Estes são algumas das ações mais comuns no
ambiente costeiro.
O município de Caucaia dispõe de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
e dentro do escopo deste existe, além das leis básicas de diretrizes para as áreas urbanas, um
termo de referência para elaboração de um projeto de urbanização da orla marítima.
A Lei Municipal Nº. 1.369 – Do Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, de 15 de
maio de 2001, tem uma seção dedicada às praias. O art. 152 apresenta um conjunto de
determinações, as quais não estão sendo totalmente respeitadas:

Art 152. A zona praiana de Caucaia caracteriza-se como zona de urbanização restrita
devido a sua fragilidade ecológica, ao interesse público e a garantia de lazer da
população, devendo ser observadas as seguintes diretrizes:
§1º - Não é permitida a construção de edificações, moradias, hotéis, ou qualquer tipo
de edificação de caráter permanente na faixa de praia, todas só poderão ocupar a
margem sul da via litorânea, existente ou projetada, e se de acordo com as normas
federais e estaduais de proteção ambiental;
61

§2º. A implantação de edificações ou barracas provisórias ou permanentes,


destinadas a qualquer uso e atividades, na faixa de praia se dará apenas através de
Projeto de Urbanização promovido pela Administração Municipal, previamente
aprovado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU).
....................................................................
§5º. O tráfego de veículos automotores nas praias não será permitido e as trilhas
utilizadas por qualquer outro veículo ou animais deverão ser demarcadas pela
Administração Municipal devendo os animais ou veículos receberem licença
especial para trafegar e seus condutores deverão receber instruções necessárias
quanto à velocidade e a prioridade dos pedestres e banhistas no uso das dunas e
praias. (Alterado pela Lei Nº. 1.570, de 18 de dezembro de 2003).
Art 153. A legislação de Uso e Ocupação do Solo na região costeira de Caucaia
deverá se adequar as recomendações do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro e
a Lei Estadual do Gerenciamento Costeiro.

O principal problema identificado diz respeito à circulação de veículos e animais


na zona de praia. O fluxo de veículos automotores é frequentemente coibido com a instalação
de placas (foto 1), com blitz da guarda municipal de transito e do Departamento de Transito
estadual. Existe projeto municipal para estabelecer uma via preferencial para os passeios de
quadriciclos. Quanto aos animais, à circulação preferencial destes continua sendo próximo às
áreas com concentração de banhistas, o que representa riscos de acidentes.

Figura 11 – Imagem mostrando placa proibindo a circulação de veículos


Fonte: o autor, 2011.

13. A praia deve estar limpa.


A praia e áreas ao redor incluindo trilhas, áreas de estacionamento e acessos
devem ser mantidos limpos durante todo o tempo. Não deve ser visto lixo. Não é permitido
62

acúmulo de lixo que se torne esteticamente desagradável ou perigoso. A limpeza deve ser
mecânica ou manual, dependendo do tamanho, aparência e fragilidade da praia e suas
redondezas. Em áreas de uso intenso, e onde for possível, é recomendado que um
peneiramento mecânico ocasional e uma limpeza profunda na areia da praia sejam realizados
para remover partículas pequenas como pontas de cigarros, etc. Em época de muita chuva as
drenagens que deságuam na praia devem ser limpas diariamente para evitar que resíduos
cheguem à areia e ao mar.
Segundo levantamentos realizados, a prefeitura municipal de Caucaia dispõe de
um sistema de coleta de resíduos sólidos satisfatório para o atendimento em termos macro,
com equipes de catadores que recolhem os RS na zona de praia periodicamente, com
equipamentos adequados (tratores) ao ambiente. Na zona litorânea a varrição de ruas é feita
apenas duas vezes por semana, enquanto que a varrição das faixas de praia é realizada nos
sábados, domingos e segundas sendo utilizado o moderno caminhão trator cabra.
Faz-se uma ressalva ao tipo de RS identificado nas praias. Os mais comuns são as
cocos-da-baía, e restos de descartáveis e alimentos. Devido aos serviços de passeios em
animais, é comum encontrar-se acúmulos de fezes de cavalos e jumentos.
14. Algas ou outra vegetação devem ser deixadas para se degradarem na
praia.
Algas marinhas são componentes naturais do ecossistema litorâneo. A zona
costeira deve também ser considerada como ambiente natural e vivo e não só como um espaço
de recreio e que tem que ser mantido organizado. Desta maneira o manejo das algas marinhas
na praia deve ser pensado para a necessidade do visitante assim como para a biodiversidade
litorânea. Depósitos naturais pelas marés e ondas na praia devem ser aceitos, se estes não
representarem um incômodo, o que significa que não se deve permitir o acúmulo ao ponto que
isso se torne um perigo ou algo desagradável ao público.
O acúmulo de algas ou outras matérias orgânicas devem ser removidos somente se
isto se tornar absolutamente necessário, sendo levada em consideração também a deposição
deste material de uma maneira ambientalmente correta, por exemplo, por meio de
compostagem ou uso como fertilizante.
Durante as visitas técnicas realizadas na área, e durante os momentos de lazer
desfrutados na área em apreço, foram vistas concentrações de algas na faixa de praia somente
na campanha de 29/07/2012.
No litoral de Caucaia, foram identificadas mais de dez espécies de macroalgas
marinhas do gênero Chlorophyta: Caulerpa cupressoides, C. mexicana, C. racemosa, C.
63

prolifera, C. sertularioides e Ulva fasciata; Rhodophyta: Botryocladia occidentalis,


Bryothamnion seaforthii, B. triquetrum e Cryptonemia crenulata; e Phaeophyta: Dictyota
dichotoma, Dictyopteris delicatula e Lobophora variegata).
15. Existência de recipientes para lixo na praia, em bom estado de
conservação, seguros e em número adequados, regularmente esvaziados e
limpos.
16. Estruturas para receber lixo reciclável devem estar disponíveis na praia.
As lixeiras devem ser em número adequado, sendo que a estética e a
funcionalidade devem ser levadas em conta. Se possível, é recomendado que as lixeiras feitas
de produtos ambientalmente corretos fossem usadas, por exemplo, recipientes feitos de
plásticos reciclados.
Deve existir um número adequado de lixeiras na praia e estas devem ser mantidas
limpas regularmente, seguras e apropriadamente espaçadas. A capacidade individual da
lixeira, o número de usuários na praia e a frequência do enchimento destas lixeiras
determinam o número e o intervalo de espaço mínimo entre as lixeiras posicionadas nas
praias. O intervalo entre as lixeiras e a frequência pelo qual estas são esvaziadas deve ser
aumentado de acordo com a demanda durante a temporada.
Uma solução alternativa a ter lixeiras na praia é ter recipientes maiores
posicionados nos pontos de maior acesso à praia. Tal abordagem necessita, no entanto, que os
usuários da praia sejam induzidos a trazer o seu lixo quando estiverem deixando a praia.
O lixo coletado deve ser depositado somente em aterros sanitários licenciados e
aprovados pelas autoridades locais.
Não foram identificados lixeiras em toda a orla estudada. Até mesmos os das
barracas e restaurantes se encontravam fora das vistas. Um dos principais produtos
comercializados pelos ambulantes, o coco-verde, não recebia destinação adequada, sendo
comumente abandonado na faixa de areia.
Deve-se considerar que este problema não ocorre tão somente na praia do
Cumbuco, sendo comum em vários trechos do litoral e tem dois aspectos a serem
considerados: i) disponibilidade de coletores: ii) a disposição do usuário de ir depositar o lixo
gerado nos coletores.
A disposição de coletores é um problema do poder público e enfrenta vários
problemas para uma atuação eficiente. Um deles é o vandalismo. Poderia a prefeitura
municipal criar ilhas com coletores seletivos, porém as ações de depredação certamente
64

danificariam estes equipamentos e a recuperação, com a mesma certeza, iria demorar muito
ou não seria realizada.
17. Existência de instalações sanitárias e chuveiros em número suficiente.
18. Os sanitários devem estar em boas condições de higiene.
O primeiro item de inconformidade com o exigido pelo Programa Bandeira Azul é
a não existência de banheiros públicos em número adequado para atender aos frequentadores
e os que ali trabalham.
Os banheiros são privados, disponíveis no interior das instalações (restaurantes e
barracas). É certo que por estarem em áreas privadas, os equipamentos até poderiam ser
utilizados pela comunidade se não fosse a autocensura do próprio usuário. Muitas pessoas se
sentem constrangidas de acessar determinados equipamentos tendo que passar em meio a um
ambiente diferente do seu convívio.
Os banheiros públicos são disponibilizados por ocasião de atividades na praia que
atraiam um número maior de pessoas, tais como festivais esportivos ou eventos
comemorativos. Para este público eventual são disponibilizados banheiros químicos.
Da mesma forma que os banheiros, os chuveiros são disponibilizados pelos
proprietários dos estabelecimentos, porém, ao contrário dos banheiros, estes são acessados por
todos.
A frequência de limpeza dos equipamentos é relacionada com os dias em que os
equipamentos estão abertos ao público, sendo mais frequente a realização desta na véspera de
funcionamento do estabelecimento.
19. Os sanitários devem ter destino final adequado dos dejetos e das suas
águas residuais.
Os esgotos dos banheiros não devem entrar em contato com o solo ou com o mar
sem estarem tratados. Nas vilas, comunidades, ou municípios com tratamento de esgoto, as
estruturas sanitárias devem estar conectadas com a rede de esgoto municipal. Para praias
localizadas em lugares remotos, ou onde não existe tratamento de esgoto, tratamento
individual ou fossas sépticas apropriadas e esvaziadas regularmente são aceitas.
Encontra-se em implantação na vila do Cumbuco a rede de esgotamento sanitário,
sem data marcada para ser inaugurada. Não tendo assim um sistema público, cada
estabelecimento trata dos seus efluentes na maneira que mais lhe convém, comumente com
sistema de fossa séptica com recolhimento periódico por veículos tanques. Algumas pessoas
entrevistadas afirmam que em alguns casos, os efluentes destes estabelecimentos são lançados
na rede pública de drenagem pluvial.
65

20. Não deverá existir camping não autorizado, circulação de veículos e


depósito de entulhos não autorizados.
No Brasil, as praias são um bem comum a todos e a elas é sempre assegurando o
livre acesso. Assim não se pode proibir a prática de campismo nas praias, o que não ocorre
com muita frequência em função da insegurança.
Quanto à circulação de veículos, esta é coibida frequentemente, com a
implantação de placas proibindo a circulação, com blitz de fiscalização etc. Motoristas
flagrados dirigindo na área de concentração dos banhistas são multados pelo DETRAN por
transitar em local ou hora não permitidos pela regulamentação estabelecida pela autoridade de
trânsito``. A multa é de R$ 85,00 (oitenta e cinco reais).
Um veículo sujo o controle é mais difícil de realizar, diz respeito à circulação de
quadriciclos, alguns sendo até alugados próximo das praias. Como são veículos sem
identificação, torna-se difícil a fiscalização e o imputamento de multas. Pela lei, são veículos
agrários, ou seja, só poderiam circular em fazendas. Estes veículos são proibidos de transitar
em qualquer lugar que não seja de propriedade privada, por não serem reconhecidos como
veículos pela legislação brasileira e não poderem ser registrados.
A fiscalização da Secretaria de Transporte é feita junto com o agente da autarquia
de trânsito do município e o fiscal do Instituto do Meio Ambiente de Caucaia (IMAC). O
grupo trabalha sempre junto tentando coibir o fluxo de quadriciclos que é proibido no
município e a punição para quem desrespeitar a lei e a apreensão do veículo. No entanto, a
equipe é composta por apenas uma viatura a qual muitas vezes não consegue apreender os
veículos por serem eles rápidos e pequenos, muitas vezes conseguindo burlar a fiscalização.
O IMAC elaborou um projeto, a ser aprovado na câmara municipal, no qual se
define uma rota para a circulação de quadriciclos na orla, não estando nesta rota o trecho
estudado. Ressalta-se ainda que estes veículos pertençam aos frequentadores de áreas de
entorno da praia, e são comumente pilotados por adolescentes o que representa riscos para os
banhistas. O desconhecimento das normas de segurança e o desrespeito às leis aumentam
estes riscos. Quanto à deposição de entulhos, isto foi verificado apenas no limite leste da área
estudada, em que foi constatada a deposição de pneus velhos, ver foto 2.
21. Normas relativas a cães e outros animais domésticos na praia devem ser
obrigatórias.
Cães, cavalos e animais domésticos não devem ser autorizados a entrar na areia da
praia e na área de banho. Exceção deve ser feita a cães guias para pessoas cegas, que serão
permitidos na areia, mas não na área de banho.
66

Figura 12 – Flagrante de deposição de resíduos na faixa de praia


Fonte: o autor, 2011.

No município de Caucaia não existem leis que proíbam a circulação de animais


nas praias. O primeiro ponto a destacar-se é que existe uma atividade turística que oferece
passeios de cavalo e jumento para os frequentadores.
A presença de cachorros soltos na faixa de balneabilidade da praia também é
bastante comum. São cachorros de diversas raças que, em alguns casos, geram medo para as
crianças.
22. Todas as edificações e equipamentos na praia devem estar em boas
condições de conservação.
As condições do Programa Bandeira Azul exigem que esses equipamentos devam
estar regularmente mantidos para garantir que a segurança dos usuários da praia e a não
interferência na aparência geral de limpeza e estética da praia. Essas estruturas e construções
devem estar de acordo com as leis ambientais brasileiras e com as regras da Secretaria do
Patrimônio da União - SPU. A aparência das estruturas da praia também deve ser levada em
consideração. As estruturas devem ser integradas com o ambiente natural e construídas
respeitando padrões de arquitetura, estando de acordo com os requerimentos ambientais e
estéticos.
As edificações encontradas no trecho de orla estudado apresentam uma variedade
de padrões arquitetônicos, considerando-se ainda que se tenha neste trecho um hotel e uma
residência e 12 estabelecimentos de atendimento ao público frequentador da praia. Com
67

relação aos serviços, conforme dito anteriormente, a diversidade de tipologias se reflete na


diversidade da qualidade de serviços. Existem barracas que recebem cerca de 350 pessoas por
domingo, na alta temporada, e outras que recebem até 1.500 pessoas, assim a infraestrutura
disponível para atender a demanda varia de barraca para barraca.
A diversidade arquitetônica vista no trecho estudado mostram que as edificações
não estão em conformidade com o requerido pelo programa. As variações mais significativas
dizem respeito à altura do pé direito, ao tipo de material empregado, as fachadas, o acesso à
praia, no qual algumas dificultam o acesso dos portadores de deficiências motoras. Deve-se
ressaltar ainda que a maioria das barracas tem uma estrutura funcional que interfere
significativamente com a estética da praia com a disposição de mesinhas (incluindo cadeiras e
guarda-sol) em grande densidade no espaço de balneabilidade do pós-praia. As fotos
mostradas a seguir apresentam a variação dos padrões das edificações e equipamentos
encontrados no trecho estudado da praia do Cumbuco.

Figura 13 – Barraca Velas do Cumbuco com mesinhas dispostas com


afastamento em relação à linha de preamar.
Fonte: o autor, 2012.
68

Figura 14 – Única edificação apresentando placa de licenciamento ambiental.


Fonte: o autor, 2012.

Figura 15 – Equipamentos dispostos próximos à linha de preamar.


Fonte: o autor, 2012.

Quanto ao estar de acordo com a legislação ambiental e as regras da SPU


verificou-se que apenas uma edificação residencial apresentava uma placa de identificação do
Licenciamento Ambiental junto a SEMACE (Licença e Instalação Nº. 236/2011- COPAM,
SPU Nº. 08343583-9). Por outro lado, segundo informações colhidas no SPU com o Sr.
69

Daniel Porto Barbosa, Coordenador da COIFI, e a Procuradoria da República no Estado do


Ceará, do o Ministério Público Federal – MPF –, solicitou um levantamento da situação das
barracas com vista a identificar a condição das mesmas em relação ao terreno de marinha.
Segundo o Sr. Daniel, este levantamento poderá ser iniciado ainda este ano, de acordo com o
planejamento estratégico do órgão.
Em todas as visitas realizadas, observou-se que todas as estruturas encontravam-
se em bom estado e conservação.
23. Os recifes de corais localizados nas proximidades da praia devem ser
monitorados.
Dentro da distância estabelecida pelo programa, até 500 m da linha de costa, não
existem na região recifes de corais.
24. Meios de transporte sustentáveis devem ser estimulados na área da praia.
O Programa Bandeira Azul encoraja a promoção de meios de transportes
alternativos de transporte público, como, por exemplo, transporte coletivo e aluguel de
bicicleta ou bicicletas gratuitas. Deve ser dada particular atenção em comunidades onde o
tráfego na praia é intenso ou a conexão com a praia seja localizada em áreas sensíveis. Este
critério se refere a todas as ações que:
 Incentivem o transporte coletivo público;
 Incentivam ciclovias, aluguel e estruturas para estacionamentos de bicicletas;
 Planos de circulação para organizar o tráfego e reduzir o mesmo no horário de
pico;
 Desenvolvimento de vias para pedestres.
O acesso à praia do Cumbuco é feito pela rodovia estadual CE-090, a qual se
configura como uma rodovia em revestimento asfáltico, com cerca de 12,0 m compreendendo
duas faixas de sentidos inversos e acostamentos. Apesar de não ter uma ciclovia, os
acostamentos constituem-se excelentes faixas para a circulação de ciclistas, skatistas e
praticantes de outras modalidades de transporte.
A qualidade da rodovia é muito boa, e dispõe de excelente sinalização horizontal e
vertical. O limite de velocidade permitido é de 60 km/h.
Deve-se considerar que o fluxo viário sobre esta rodovia apresenta condições
diferenciadas, isto porque a CE-060 dá acesso a áreas de balneabilidade, com exceção do
trecho na Praia do Icaraí onde existem muitas residências.
70

O fluxo mais intenso dar-se de Fortaleza e Caucaia para o Icaraí, passado o trecho
residencial, o fluxo diminui, sendo intensificado somente nos finais de semana, feriados e
durante eventos como o carnaval e reveillon.
De uma maneira geral, a rodovia atende satisfatoriamente a questão de
acessibilidade à praia do Cumbuco.
Quanto ao transporte público, a praia do Cumbuco dispõe de uma linha direta da
sede do município à praia, com horários regulares.
IV. SEGURANÇA E SERVIÇOS
25. Um número adequado de guarda-vidas deve estar disponível na praia.
A presença de guarda-vidas na praia é recomendada para aumentar o nível de
segurança na praia, especialmente em praias com alto número de banhistas. Deve haver um
número adequado de guarda-vidas (mínimo dois) posicionados em intervalos apropriados de
acordo com as características da praia em uso. O intervalo recomendado é de 200 metros.
É recomendado que os guarda-vidas vestissem o uniforme vermelho/amarelo
internacionalmente reconhecido e que propicia fácil reconhecimento em uma praia com
muitos usuários. Os guarda-vidas devem ter equipamentos de salvamento apropriado.
Áreas de banho patrulhadas por guarda-vidas devem ser identificadas. A área deve
ser definida tanto no mapa existente nos pontos de informação e/ou fisicamente na praia com
marcadores ou bandeiras.
Os guarda-vidas devem indicar as condições do mar por meio de símbolos (ex.:
bandeiras). O significado das bandeiras deve ser informado aos usuários na placa informativa
do Programa, ou nos postos de guarda-vidas.
Pode-se considerar que quanto a este quesito a praia do Cumbuco atende
satisfatoriamente.
Durante as três campanhas de pesquisa “in loco”, constatou-se a presença de
salva-vidas na praia do Cumbuco, devidamente equipados e uniformizados, o que facilita a
sua identificação, ver foto 6.
71

Figura 16 – Guarnição de Salva-vidas do Corpo de Bombeiros


Fonte: o autor, 2012.

No trecho estudado, a dupla de salva-vidas tem um posto fixo próximo da barraca


Velas do Cumbuco, sendo esta guarnição pertencente ao Corpo de Bombeiros Militar do
Ceará (CBM-CE). O município de Caucaia também dispõe de guarnições distribuídas na praia
do Cumbuco, contudo o distanciamento entre as guarnições comumente excede aos 200 m.
Deve-se fazer uma ressalva quanto à comunicação das guarnições com as suas
bases operacionais. Não dispondo de rádios comunicadores, as comunicações são realizadas
por meio dos celulares pertencentes aos próprios guardas. Este fato não diminui a eficiência
do sistema, contudo torna-o vulnerável ao sistema de comunicação.
Nas entrevistas com os guarda-vidas, obteve-se a informação de que a frequência
de ocorrências na zona balneária é muito baixa.
26. Equipamentos de primeiros-socorros devem estar disponíveis na praia.
Os primeiros socorros devem estar disponíveis: a) junto aos salva-vidas; e ou b)
em um ponto de atendimento de primeiros socorros que conte com pessoas treinadas; e ou c)
em lojas, bares e outras estruturas perto ou na praia; e ou d) diretamente disponível para o
público na praia.
É recomendado que praias com muitos usuários e praias onde a frequência de
criança é alta tenham estações de primeiros socorros com atendimento. Os atendentes de
primeiros socorros devem ter qualificação apropriada.
72

A estação de primeiros socorros (quando estiver presente) deve ter os seguintes


equipamentos: a) estoque de primeiros socorros adequado (bandagens, desinfetante, gesso
etc., b) água potável (de preferência quente também), c) cama de primeiros socorros, d)
cilindro de oxigênio e máscara, e) prancha de imobilização traumática, f) equipamentos
pertinentes aos riscos da área.
Estações de primeiros socorros ou a localização do equipamento de primeiros
socorros devem estar claramente sinalizados e colocados num local de fácil acesso para os
usuários da praia (incluindo mapa com placa informativa na praia). Os equipamentos de
primeiros socorros devem ser checados periodicamente.
Constatou-se que no trecho estudado não existe posto de primeiros socorros, nem
mesmo junto aos salva-vidas. Quando de ocorrências que necessitem de primeiros socorros,
os salva-vidas são os primeiros a serem acionados, e dependendo da natureza da ocorrência, é
feita uma comunicação com o Serviço Médico de Urgência – SAMU –, ou com a
Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas – CIOPAER – para o resgate das vítimas.
27. Existência de planos de emergência para combater riscos por acidentes de
poluição.
O Plano de Emergência deve descrever claramente os procedimentos que devem
ser tomados em caso de emergência. Emergência aqui é entendida como, por exemplo,
vazamento de óleo ou produtos perigosos que atinjam a praia; contaminação da praia por
esgotos (problemas no sistema de tratamento, por exemplo); tempestades; proliferação de
algas tóxicas etc.;
Assim, o Plano de Emergência deve conter informação que permita uma ação
rápida e que minimize contaminação do meio ambiente e os riscos para os usuários da praia.
As informações devem incluir:
 Pessoa de contato em caso de uma emergência – ou diferentes contatos,
dependendo da natureza da emergência;
 Procedimentos de proteção e ou evacuação das pessoas se necessário;
 Procedimentos de informação e avisos ao público; e,
 Procedimentos para a retirada da Bandeira Azul.
O Plano de Emergência pode fazer parte de um plano maior pré-existente, como
por exemplo, aqueles que se referem a portos perto da praia, sistemas de tratamento de
esgotos da comunidade, etc. No entanto, as informações básicas listadas acima devem estar
destacadas no pedido de certificação e devem estar disponíveis com a pessoa responsável do
Comitê Gestor da praia.
73

Enquanto a contaminação e risco persistir os usuários da praia devem ser


informados com avisos na placa informativa e em todos os acessos da praia, em mídia falada,
escrita e/ou televisiva, e outros meios que forem necessários para dar conhecimento público
do problema. A bandeira deve ser sempre retirada temporariamente nestes casos. Telefones de
emergência (polícia, pronto socorro, bombeiros etc.) devem estar disponíveis na placa
informativa da praia.
A praia do Cumbuco situa-se entre o Porto do Mucuripe e o Porto do Pecém,
distantes km e km, respectivamente. A corrente de deriva litorânea na costa tem sentido
sudeste – noroeste o que implica dizer que a praia do Cumbuco encontra-se mais vulnerável
aos riscos provenientes da costa de Fortaleza e de praticamente todo o litoral do município e
Caucaia, haja vista que a praia do Cumbuco é a penúltima praia deste litoral.
De Fortaleza podem proceder aos riscos mais significativos, tais como vazamento
de óleo de embarcações, falha sistema de saneamento, etc.
O controle destes riscos segue um plano de emergência que envolve as agências
governamentais de acordo com a natureza do sinistro. Assim, vazamentos de óleo serão
controlados com o plano de emergência que envolve a Capitania dos Portos, a SEMACE, o
IBAMA e demais órgãos de atuação na zona costeira.
Como não existe um Comitê Gestor da praia, os procedimentos estão disponíveis
tão somente para as agências envolvidas.
28. Existência de um plano de gerenciamento para diferentes usuários e usos
da praia para evitar conflitos e acidentes.
Praias que têm atividades múltiplas devem minimizar os conflitos entre essas
atividades e compatibilizá-las com os diferentes usuários para prevenir acidentes e conflitos.
Isso deve incluir zoneamento para banhistas, nadadores, surfistas, kitsurfistas e usuários de
equipamentos náuticos motorizados. Ao mesmo tempo, o uso recreacional de uma praia deve
ser feito com respeito à natureza e a paisagem.
Banhistas e nadadores devem ser protegidos por qualquer veículo aquático (sejam
eles motorizados, à vela ou pedal). Quando necessário, o zoneamento deve ser feito
claramente com o uso de bóias, faróis, guias ou sinais. O mesmo deve ser feito para áreas de
surf, quando a atividade colocar em risco aos outros banhistas. O zoneamento aquático deve
ter a anuência da Capitania dos Portos responsável pela praia em questão, ou de órgão
competente.
Lanchas e veículos motorizados devem, em geral, operar em uma distância
mínima de 200 metros da área de banho para estar de acordo com leis nacionais. O
74

zoneamento da lâmina de água deve estar claramente definido e informado nas placas
informativas. Medidas devem ser tomadas para que os condutores de embarcações
motorizadas e de alta potência sejam orientados sobre esse zoneamento. Os salva-vidas devem
ajudar na fiscalização do zoneamento das diferentes áreas recreacionais na água. Ressalta-se
que deve ser seguido sempre a NORMAM1 nº 3 (Amadores, Embarcações de Esporte e ou
Recreio e para Cadastramento e Funcionamento de Marinas, Clubes e Entidades Desportivas
Náuticas) especialmente no que se refere à Segurança do Tráfego Aquaviário.
Esportes na areia como frescobol, vôlei e futebol também devem ter zoneamento
próprio se causarem distúrbios aos demais banhistas. Entrevistas com os usuários para
entender os conflitos existentes é altamente recomendável.
É inaceitável que atividades recreacionais induzam degradação ambiental como
aumento da erosão costeira,
Alguns locais na praia podem ser particularmente sensíveis, requerendo assim
planos cuidadosos e manejo. Nesses casos, organizações conservacionistas reconhecidas de
atuação local devem ser contatadas para planejar a prevenção, assegurando assim que os
locais protegidos e raros, ou espécies protegidas, estejam contemplados. A comunicação com
essas organizações (quando existentes) deve ser documentada e ser apresentada ao
Coordenador Nacional – IAR.
Também deve ser considerada a poluição sonora proveniente de algumas
atividades (bares, por exemplo). As ações de prevenção de conflitos devem ser feitas para a
segurança dos usuários e para a qualidade recreacional dos mesmos, para prevenir que a praia
se torne um parque de diversões barulhento. Essas ações também devem ser realizadas para
proteger a fauna e a flora do uso intensivo da praia. Assim, festas e outros eventos na praia
devem estar necessariamente previamente autorizados e seguindo as leis vigentes relacionadas
ao uso do solo e da poluição sonora.
A praia deve ter acesso livre e franco em qualquer sentido e direção para ser
considerada para a certificação da Bandeira Azul. Impedimento de acesso à praia por
constrangimento psicológico é considerado inaceitável em uma praia Bandeira Azul, como
por exemplo: vigilância ostensiva por funcionários de resorts ou bares e restaurantes;
cobrança de consumação mínima em cadeiras, colchões, mesas privadas que se encontrem na
área pública da praia etc.

1
Normas de Autoridade Marítima
75

O zoneamento deve ser claramente indicado no mapa da placa informativa na


praia e informação pode também ser fornecida nos acessos e pontos de entrada.
Na praia do Cumbuco, além do banho de mar, são desenvolvidas diversas
atividades: jogo de futebol; prática de frescobol; passeios a cavalo e jumento; prática de
kitsurf; e passeios de jangada. Deve-se considerar ainda a passagem de veículos e
quadriciclos.
Como não existe um zoneamento de uso e ocupação da praia, estas atividades
ocorrem simultaneamente e disputam os mesmos espaços destinados a banhistas e
frequentadores, gerando riscos de acidentes para este público.
Estes riscos são controlados ou mitigados com ações específicas. O trânsito de
veículos é coibido com a realização de fiscalização pelo órgão estadual de trânsito e ou pela
Autarquia Municipal de Trânsito de Caucaia. Apesar da proibição da circulação de veículos
na praia, esta regra é descumprida quando a fiscalização não se encontra presente.
As práticas de futebol e frescobol não são controladas, cabendo aos praticantes o
controle e a segurança na prática esportiva.
Os passeios de cavalo e de jumento representam riscos mais frequentes. Em 2007
uma turista holandesa de 7 anos morreu após cair do cavalo e ser arrastada pelo animal.
Estes passeios são oferecidos a turistas, sem restrições quanto à idade e condição
física do interessado. Claro que os cerca de 20 animais montados são domesticados e
treinados para a atividade que desenvolvem, contudo devem-se levar em conta os riscos
decorrentes de algum movimento inadequado do montador.
Os condutores instruem o turista sobre o controle e os procedimentos durante a
montaria. Em alguns casos o responsável pelo animal conduz a montaria segurando nos
arreios (ver foto 7), e em outros casos a montaria é livre (foto 8). Neste caso, os riscos são
maiores para os que não são acostumados com cavalgadas, podendo perder o controle e o
cavalo dirigir-se para o meio da multidão de banhistas, ou até mesmo derrubar o cavaleiro e
causar-lhes danos ou óbito como aconteceu com a holandesa.
76

Figura 17 – Passeio a cavalo com condutor


Fonte: o autor, 2012.

Figura 18 – Criança passeando a cavalo sem acompanhante


Fonte: o autor, 2012.

Observou-se que alguns passeios são oferecidos para áreas de pouca presença de
banhistas, o que diminui os riscos, porém outros ocorrem em meio à concentração de
banhistas, inclusive onde ficam crianças, conforme mostra a foto 9.
77

Figura 19 – Cavaleiro galopando na área de concentração dos banhistas


Fonte: o autor, 2012.

Outra atividade oferecida na praia do Cumbuco é o passeio de jangada, oferecido


em seis jangadas. Cada embarcação pode levar até 8 pessoas a um passeio para além da linha
de arrebentação, cerca de 200 m da linha de costa. Além da experiência da tripulação,
portadora de certificação que lhes habilita a navegar dada pela Marinha do Brasil, todas as
pessoas embarcam com colete salva-vidas.
Vê-se que a segurança quando da navegação é total, porém os riscos estão no
momento do retorno da embarcação à praia. A maioria das jangadas aporta nas áreas de maior
concentração de banhistas, e para evitar acidentes, quando chegam à área balneária, apitos são
assoprados pelos jangadeiros para alertar os banhistas, medida que tem se mostrado eficiente.
A medida seria mais eficiente se a área de atracação fosse delimitada e sinalizada, com
restrição de acesso.
O kitesurf é uma das principais atividades é a modalidade esportiva de maior
destaque na praia do Cumbuco. As condições dos ventos, principalmente no segundo semestre
do ano são muito favoráveis para a prática do esporte inclusive sendo realizada uma das
etapas do campeonato mundial nesta praia.
Das atividades praticadas na praia, o kitesurf aparece com a de menor risco,
porem, considerando o fluxo de banhistas e o de praticantes do esporte, muitos dos quais
dando os primeiros passos no esporte, e ainda mais a navegação de jangadas com turistas,
seria prudente definir-se zonas específicas para cada uma das atividades náuticas e balneárias.
78

Quanto à poluição, os bares e restaurantes respeitam a legislação vigente do uso


do solo e poluição, sonora e de deposição de resíduos. Observou-se, apesar de ter-se visto
apenas um estabelecimento com coletor de lixo a vista, que a praia não era afetada apesar da
oferta de bebidas e comidas servidas na zona balneária. Outro ponto a destacar-se diz respeito
ao não registro de poluição sonora.
Conforme dito anteriormente, na praia do Cumbuco é garantido o livre e franco
acesso à zona balneária.
29. Existência de medidas de proteção e acesso seguro dos usuários da praia
Passarelas, rampas, degraus etc., de acesso à praia devem ser completos e em boas
condições com o objetivo de serem seguros. O piso dos estacionamentos tem que estar em
bom estado, e os locais reservados para estacionamento de pessoas portadoras de necessidades
especiais têm que ser claramente marcados e dar fácil acesso à infraestrutura da praia.
Apesar da diversidade padrões arquitetônicos, um problema é comum a todos os
estabelecimentos contidos no espaço estudado, a falta de acessibilidade para os portadores de
necessidades especiais. Apenas uma das barracas possuía rampa de acesso à praia para os
portadores de necessidades.
A apreciação dos demais itens (degraus e pisos) apresentavam condições
satisfatórias. Os acessos são relativamente seguros, apesar de apresentarem desconformidades
com o ambiente natural.
30. Existência uma fonte de água potável disponível na praia.
O Programa Bandeira Azul recomenda a existência de uma fonte de água potável
na praia, de uma fonte, cano, torneira etc. Essa fonte pode ser nos banheiros ou chuveiros,
mas tem que ser protegida de contaminação e apropriada para consumo humano.
Todos os estabelecimentos comerciais dispõem pelo menos de uma torneira nos
banheiros ou no acesso a este, porém a potabilidade da água é um fator duvidoso por não se
saber a proveniência da água.
Muitas das barracas de praia captam água subterrânea para consumo, porém,
enquanto outras utilizam água distribuída na rede pública. Qualquer que seja a fonte, os
banhistas preferem consumir a chamada “água mineral”, comercializada nos próprios
estabelecimentos.
31. Pelo menos uma praia do município deve estar equipada para receber
pessoas com necessidades especiais.
É recomendado que todas as praias com Bandeira Azul tenham estruturas para
pessoas com dificuldade de locomoção garantindo a elas acesso a praia e à infraestrutura da
79

praia. Pelo menos uma praia no município tem que ter este acesso e que nesta praia as pessoas
com necessidades especiais possam chegar à água.
Acessos à praia devem ser facilitados com rampas adaptadas aos usuários
portadores de diferentes tipos de necessidades especiais. É recomendado que a forma e o
material da rampa se enquadrem ao ambiente natural e, sempre, se possível, materiais
ambientalmente correto sejam usados, ex. plásticos reciclados, madeiras licenciadas de
reflorestamento etc.
Para o acesso à beira d’água, deverão ser providenciadas esteiras de madeira, ou
ainda pavimentação que permita a rolagem de uma cadeira de rodas, ou carrinho de nenê. Os
sanitários devem ser projetados para usuários de cadeiras de rodas ou outros portadores de
necessidades especiais, como aqueles privados da visão. Estes acessos devem estar de acordo
com os Códigos Padrões ISO para Acessibilidade ou normatização nacional. A praia deve
estar de acordo com leis em relação a acessos e estruturas para portadores de necessidades
especiais, e é recomendado o contato com organizações nacionais de pessoas portadoras de
necessidades especiais.
Além disso, áreas de estacionamento devem ter espaços reservados para pessoas
portadoras de dificuldade de locomoção.
Em primeiro lugar, apenas em nenhuma das barracas estudadas constatou-se o
acesso facilitado aos portadores de necessidades especiais. Apenas uma barraca possuía uma
rampa de serviço que poderia permitir o acesso de cadeiras ou carrinho até a zona de
balneabilidade, contudo a areia começa no final da rampa. Pior ainda se a rampa não
dispusesse de corrimão ou outros equipamentos que garantam a segurança do possível usuário
portador de deficiência. Se não existem rampas, o que dizer dos acessos à água.
O portador de deficiência não é lembrado como usuário da praia. Não existem os acessos, nos
estacionamentos não existem áreas reservadas e nos sanitários não existe nenhuma adaptação
para os mesmos.
32. Policiamento na área da praia.
Visitantes da praia devem estar em segurança e se sentirem seguros. Se
necessário, pessoal adequado à segurança deve estar disponível na praia monitorando a área.
Somente guardas treinados e qualificados podem que estar responsáveis por este
monitoramento. Os guardas devem vestir uniformes facilmente identificáveis e devem estar
aptos a mostrar suas licenças de guardas quando requeridos.
80

Sendo uma praia turística, há sempre uma atratividade maior para ladrões. Muitos
dos assaltos registrados na área têm como alvo as residências dos turistas na vila do
Cumbuco.
O apoio policial militar é tido como satisfatório pela população, constando de
duas viaturas, uma do Ronda do Quarteirão e outra do PMTur, ambas da Polícia Militar do
Estado do Ceará. Quadro apresenta de sinteticamente a situação da praia do Cumbuco em
relação aos critérios da certificação Bandeira Azul.

Quadro 2 – Situação da praia do Cumbuco em relação aos critérios da certificação Bandeira


Azul
Parâmetros Atendimento Considerações
1. Atividades de educação As ações de educação ambiental
ambiental devem ser afetam um grande número de
CS
promovidas e oferecidas aos frequentadores, ajudando a proteger
usuários da praia. mais efetivamente a área balneária.
2. Informações sobre a qualidade A não divulgação da qualidade da
da água de banho devem estar NC água incorre em exposição dos
disponibilizadas frequentadores a riscos à saúde.
3. Informações relacionadas a
A omissão da divulgação das
ecossistemas costeiros,
informações relativas ao meio
fenômenos naturais, áreas
NC incorre em riscos ao patrimônio
naturais sensíveis e áreas de
natural, bem como em riscos aos
importante valor cultural ser
próprios usuários.
disponibilizadas.
Um mapa informativo tem um valor
significativo para a segurança dos
4. Um mapa da praia deverá ser
NC frequentadores, assim como para um
disponibilizado.
maior aproveitamento da
balneabilidade local,
O estabelecimento de um código de
5. Código de Conduta na área da conduta, apesar de parecer ofensivo à
praia, leis e normas de uso NC nossa cultura, configura-se como um
devem estar disponibilizados. instrumento de preservação da
qualidade ambiental.
6. A praia deve atender aos A SEMACE atende a este ponto de
requisitos de frequência CP acordo com a normatização
mínima de análise de água. brasileira.
7. A praia deve aplicar métodos A SEMACE atende a este ponto de
confiáveis de análise de água e CS acordo com a normatização
ter histórico de qualidade. brasileira.
8. Descargas de águas residuais,
Na praia do Cumbuco, identificam-
industriais ou urbanas não
CS se poucos pontos de lançamentos de
devem afetar a praia e área de
efluentes.
banho.
Legenda: CS – Cumpre satisfatoriamente; CP – Cumpre parcialmente; NC – Não cumpre;
NA – Não se aplica.
81

Continuação do Quadro 2
Parâmetros Atendimento Considerações
9. A qualidade da água da praia
A SEMACE atende a este ponto de
deve atender aos requisitos de
CS acordo com a normatização
padrão de excelência da
brasileira.
legislação nacional.
10. A praia deve atender ao padrão
Os parâmetros monitorados são
de qualidade para os NC
apenas bacteriológicos.
parâmetros físico-químicos.
A gestão da praia é um dever de
11. Um comitê de gestão da praia
NC todos. A gestão da praia não foi
deve ser estabelecido.
identificada.
12. A praia deve estar de acordo
A praia cumpre parcialmente no
com todas as regulamentações
CP sentido do envolvimento individual.
que influenciam e gestão da
Falta a tomada de decisão coletiva.
praia.
A praia do Cumbuco é mantida
limpa pelos agentes envolvidos,
contudo ressalta-se que esta
13. A praia deve estar limpa. CP
“consciência ambiental” refere-se
mais especificamente a agregação de
valores para o ambiente.
As algas não chegam a ser um
14. Algas ou outra vegetação
problema na praia do Cumbuco,
devem ser deixadas para se CS
ocorrendo ocasionalmente e em
degradarem na praia.
quantidade pouco expressiva.
15. Existência de recipientes para
A falta de recipientes para a coleta
lixo na praia, em bom estado
dos resíduos sólidos propicia a
de conservação, seguros e em
NC deterioração do ambiente pela
número adequados,
poluição e pelo favorecimento à
regularmente esvaziados e
proliferação de vetores de doenças.
limpos.
Os resíduos sólidos gerados no
ambiente praial são basicamente
16. Estruturas para receber lixo
orgânicos. Parte destes resíduos
reciclável devem estar NC
poderia ser reciclada, como o coco-
disponíveis na praia.
da-baía, cujas fibras são utilizadas na
fabricação de utensílios.
Algumas barracas disponibilizam
chuveiros para todos os banhistas,
17. Existência de instalações
com instalações precárias. Quanto às
sanitárias e chuveiros em CP
instalações sanitárias, o acesso é
número suficiente.
“restrito” aos frequentadores do
estabelecimento.
A falta de conservação adequada das
18. Os sanitários devem estar em instalações sanitárias pode ocasionar
CP
boas condições de higiene. danos à saúde dos frequentadores
dos estabelecimentos.
82

Legenda: CS – Cumpre satisfatoriamente; CP – Cumpre parcialmente; NC – Não cumpre;


NA – Não se aplica.

Continuação do Quadro 2
Parâmetros Atendimento Considerações
Os sistemas de tratamento dos
19. Os sanitários devem ter
efluentes inadequados ocasionam
destino final adequado dos
CP contaminação do lençol freático e
dejetos e das suas águas
do solo, gerando danos à saúde
residuais.
dos frequentadores da praia.
A circulação de veículos
constitui-se o principal risco à
20. Não deverá existir camping balneabilidade no ambiente praial.
não autorizado, circulação de Os riscos potenciais de acidentes,
CP
veículos e depósito de principalmente com crianças, são
entulhos não autorizados. bem elevados, principalmente
quando não há uma fiscalização
efetiva dos gestores do trânsito.
A presença de animais domésticos
deve ser normatizada. Os riscos
de contaminação com as fezes dos
animais são elevados e muitos dos
21. Normas relativas a cães e
proprietários dos animais não têm
outros animais domésticos na CP
a consciência de recolher os
praia devem ser obrigatórias.
dejetos, como fazem os
operadores dos serviços de
passeio a cavalo na praia do
Cumbuco.

22. Todas as edificações e


Estruturas em mal estado de
equipamentos na praia devem
CP conservação oferecem riscos de
estar em boas condições de
acidentes para a população.
conservação.

23. Os recifes de corais


localizados nas proximidades
NA -----
da praia devem ser
monitorados.

24. Meios de transporte


sustentáveis devem ser NC -----
estimulados na área da praia.

A presença dos guarda-vidas a


25. Um número adequado de
cada 200 m garante a segurança
guarda-vidas deve estar CS
da área balneável em relação ao
disponível na praia.
banho de mar.
Legenda: CS – Cumpre satisfatoriamente; CP – Cumpre parcialmente; NC – Não
cumpre; NA – Não se aplica.
83

Continuação do Quadro 2
A existência de equipamentos de
primeiros socorros pode ser
considerada como muito
importante na área da praia do
Cumbuco dada à oferta de opções
26. quipamentos de primeiros- de lazer e os conflitos de uso e
socorros devem estar NC ocupação do espaço. Aumenta-se
disponíveis na praia. a importância dos equipamentos e
do treinamento dos agentes se
levar-se em consideração a
precariedade das comunicações
das guarnições com os sistemas
de socorro de emergência.
Mesmo a praia apresentando
27. Existência de planos de baixos riscos de acidentes de
emergência para combater poluição, os gestores ambientais
CP
riscos por acidentes de têm planos de contingência que
poluição. atenderiam quaisquer ocorrências
de sinistros poluidores.
Devido à concorrência pelos
espaços na praia do Cumbuco,
28. Existência de um plano de
faz-se necessário o ordenamento
gerenciamento para diferentes
NC do uso e ocupação da área
usuários e usos da praia para
balneável com fins de evitar o
evitar conflitos e acidentes.
acontecimento de conflitos e
acidentes.
29. Existência de medidas de
O acesso á praia é seguro para
proteção e acesso seguro dos CS
todos.
usuários da praia
Não existe uma fonte de água
potável disponível para o público.
30. Existência uma fonte de água O fato é que a venda de água
NC
potável disponível na praia. também é um ponto relevante na
lucratividade dos
estabelecimentos comerciais.
Nenhum estabelecimento está
31. Pelo menos uma praia do
preparado para oferecer aos
município deve estar equipada
NC portadores de necessidades
para receber pessoas com
especiais a acessibilidade à praia e
necessidades especiais.
as dependências.
Registra-se que na opinião dos
entrevistados a atuação da policia
tem sido satisfatória, porém deve-
32. Policiamento na área da praia. CP se registrar também que em
nenhuma das ocasiões das visitas
técnicas, foi possível ver policiais
na área.
84

Legenda: CS – Cumpre satisfatoriamente; CP – Cumpre parcialmente; NC – Não cumpre;


NA – Não se aplica.

2.3 Análise Integrada

Observou-se que os requisitos do Programa Bandeira Azul não são atendidos no


trecho estudado da praia do Cumbuco. Dos 32 (trinta e dois) considerados, identificou-se o
total atendimento de 7 (ou 28,12%) e outros 11 (34,37%) são atendidos parcialmente.
Os parâmetros que não foram atendidos, mesmo que parcialmente, referem-se à
questão da identificação da disposição dos equipamentos, das áreas sensíveis e dos fenômenos
naturais por meio de placas. As placas poderiam ser utilizadas com informações de educação
ambiental.
Outro ponto não atendido diz respeito à análise da qualidade físico-química da
água e, mais ainda do solo na área de balneabilidade. Deve-se considerar que uma das
atividades de lazer na área é o passeio a cavalo, ou de jumento. Mesmo que a atividade seja
organizada com um coletor de fezes, algumas porções delas ficam depositadas na areia
contaminando-a.
Outros dois pontos importantes que não foram atendidos. O primeiro diz respeito
a não existência de um zoneamento na praia, determinando os locais de cada atividade
realizada na praia. Constatou-se conflito de banhistas x cavaleiro/amazonas; banhistas x
jangadeiros; jangadeiros x kitesurfistas; banhistas x kitesurfistas. O segundo ponto é a
carência de equipamentos para atender à demanda de pessoas portadora de deficiências. A
praia é um bem comum a todos e para todos deve ser estruturada.
O melhoramento da balneabilidade da praia do Cumbuco demanda uma tomada
de decisão dos gestores públicos, uma tomada de consciência dos empresários e a participação
da comunidade. Os principais elementos a serem modificados e monitorados são apresentados
no Quadro 3.
85

Quadro 3– Mudanças sugeridas


Benefícios para o meio
Mudança Ambiental Benefícios socioeconômicos
ambiente
Melhoria dos serviços Redução da quantidade de
Melhoria da estrutura das
Clientes mais satisfeitos resíduos sólidos e efluentes
barracas
Aumento da produtividade lançados
Tratamento de águas
Implantação de sistema de residuais e esgotos sanitários
Redução do custo de
coleta e tratamento dos Redução da descarga de
tratamentos individuais
esgotos sanitários esgotos no solo
Preservação do aquífero
Remoção de algas melhora a
Cria um fertilizante natural
aparência da água
para os jardins
Renda adicional com a venda
Coleta seletiva dos resíduos Menos lixo na água e em
dos recicláveis
sólidos terra
Redução dos custos com
Menos lixo enviado para o
coleta do lixo
aterro sanitário
Imagem ambiental positiva
Segurança e higiene para os Reduz a contaminação fecal
Controle de animais
banhistas da praia
Benefícios para o meio
Mudança Ambiental Benefícios socioeconômicos
ambiente
Educa e força o controle
ambiental Reduz os riscos de poluição
Uso de contratos ambientais
Aumenta o conhecimento e a ambiental
sensibilização dos usuários
Definição de áreas Diminuição dos conflitos e
Organização setorial da praia
preferências de uso dos riscos de acidentes
Melhor identificação para os
Garantia do não
Padronização dos prestadores clientes
comprometimento da
de serviço Restrição da atuação de
qualidade ambiental
operadores clandestinos
Controle da disposição de
Disposição de coletores de Diminuição da poluição por
resíduos
resíduos sólidos resíduos sólidos
Banhistas satisfeitos
86

3 CONCLUSÕES

A praia do Cumbuco, distante cerca de 30,0 km de Fortaleza, é uma das praias


cearenses mais visitadas pelos turistas, fazendo parte do roteiro turístico das principais
agências turísticas locais. Este fluxo turístico fez com que escolhêssemos esta praia para
realizar uma análise do estado da mesma frente aos critérios da para a obtenção da
Certificação Bandeira Azul.
Em termos geoambientais, o trecho estudado da Praia do Cumbuco se caracteriza
como uma praia arenosa, que apresenta uma variação de perfil morfológico,
predominantemente dissipativo, com uma zona de pós-praia de largura variável, moldada
principalmente pelas formas de ocupação.
As formas de uso ocupação do solo são voltadas para o lazer, destacando-se as
barracas com seus apoios ou mesas, fixas com tronco de carnaúba e cobertura de palhas, e
móveis, com grandes guarda-sóis, mesas e cadeiras plásticas. Além das estruturas das
barracas, é destacam-se ainda os serviços ofertados para passeios de jangada, a cavalo ou de
jumento, ou ainda de quadriciclo, e as práticas de kitsurfe.
Tomando como referência a Certificação Bandeira Azul, da FEE, os resultados do
estudo mostram que apesar do município ter obtido a mais alta avaliação na certificação
estadual Praia Limpa, que apresenta critérios similares à avaliação da Certificação da FEE, a
praia do Cumbuco não poderia, no estágio atual, qualificar-se como praia Bandeira Azul. O
índice de conformidade com a certificação referida foi de apenas 21,87%, ou seja, dos 32
itens exigidos para obter-se a referida certificação, apenas 7 (sete) foram atendidos
plenamente.
A diversidade de estruturas de serviços pode ser considerada como o fator
principal da dificuldade de ter-se um quadro mais favorável para reconhecer-se a praia do
Cumbuco como de padrão internacional.
Deve-se considerar que no trecho estudado, com uma extensão de 660,0 metros,
constataram-se formas diferenciadas de uso e ocupação da praia, inclusive uma certe
“estratificação social” dos usuários, o setor oeste apresentava um uso menos intenso, com
uma densidade de frequentadores menor, sendo estes predominantemente turistas estrangeiros
e nacionais. A barraca que atende esta demanda apresenta alguns aspectos favoráveis na
apreciação da qualidade ambiental e de serviços, tais como o respeito ao recuo do terreno de
87

marinha, deixando uma faixa de terra acima de 33,0 m em relação à linha de preamar atual.
EO setor leste por sua vez apresentava o inverso, destacando-se a grande intensidade de uso,
com muitas barracas ocupando densamente a área balneável da praia.
Em comum, os dois setores apresentam a disputa do espaço pelos prestadores de
serviços de passeio em montarias.
A observação dos critérios da Certificação Bandeira Azul, em relação à praia do
Cumbuco, mostram que dois pontos são atendidos consideravelmente: monitoramento e
divulgação da qualidade da água; a presença de guarda-vidas na área. O primeiro no caso é
realizado pelo estado através da SEMACE, enquanto o segundo é mantido pelo Estado e pela
municipalidade.
Outros 11 itens são da certificação são parcialmente, o que equivale a 34,37%.
Neste grupo estão os serviços de disponibilidade de chuveiros e instalações sanitárias, da
coleta e destinação dos resíduos sólidos, do tratamento das águas servidas, do policiamento
local.
Já os serviços não atendidos são aqueles que de certa forma estão fora da cultura
brasileira, tais como a disposição de mapas de orientação, acessos aos portadores de
necessidades especiais, disposição de ponto de água potável.
O principal obstáculo a ser vencido diz respeito à compartimentação setorial da
praia com vistas a disciplinar o uso do espaço diminuindo os riscos de acidentes com os
freqüentadores. Os riscos maiores são em relação à presença de montarias e passeios
realizados. Alguns destes passeios são controlados pelos prestadores de serviços, mas em
outros casos os animais são deixados ao controle dos turistas que optam por desconsiderar as
ações de segurança em favor do seu prazer, segundo as observações realizadas durante as
visitas à praia do Cumbuco.
Em relação à presença de cavalos e jumentos na orla, isto remete à necessidade de
monitoramento da qualidade ambiental da areia da praia em razão da disposição dos
excrementos destes animais na areia. Parte desses é coletada imediatamente por um
funcionário da prestadora de serviço, mas registrou-se a existência de restos abandonados.
Estudos sobre a permanência e multiplicação de microorganismos provenientes destes restos
de fezes são importantes para o gerenciamento da faixa de praia do Cumbuco.
O modelo socioambiental verificado na praia do Cumbuco é o mesmo praticado
em quase toda a costa brasileira, no qual o uso e a ocupação da praia são praticamente
privatizados com fins comerciais e os serviços disponibilizados também são capitalizados.
88

Neste modelo não se tem uma gestão da zona costeira, a não ser pela ação do Poder Público, o
que torna a questão conflituosa.
O conflito de interesses constitui um dos principais entraves para a gestão
integrada de recursos naturais. A existência de diversas instituições públicas e entidades
privadas com diferentes interesses de uso implicam numa visão setorizada da realidade, que
tende a valorizar uma perspectiva específica em detrimento de um entendimento
compartilhado.
Deve-se adotar um modelo de gestão territorial considerando a análise das
relações existentes entre as atividades produtivas e o ambiente envolvente. Consiste no
planejamento das ocupações, no aproveitamento das infraestruturas e em assegurar a
preservação dos recursos.
Os processos de gerenciamento costeiro integrado estão inseridos na
administração correta de uma determinada unidade territorial geográfica, de forma integrada,
contínua e participativa. Para isto, é decisiva a participação de um grande número de atores
envolvidos, os governos federal e estadual e as prefeituras, a iniciativa privada e associações
comunitárias. Ressalta-se que quanto maior a participação das comunidades envolvidas nas
discussões, maiores são as chances de sucesso da Gestão Integrada da Zona Costeira.
As possibilidades da praia do Cumbuco vir a obter a Certificação Bandeira Azul
são factíveis, haja vista que o município de Caucaia obteve a melhor colocação na
Certificação Praia Limpa, coordenada pelo Conselho de Políticas do Meio Ambiente –
CONPAM. Não há divergência entre as linhas de avaliação apresentadas: ao contrário, elas
são complementares, pois abordam perguntas diferentes e têm metodologias próprias de
trabalho.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à própria forma de ocupação do
litoral das praias certificadas pela FEE e as comuns no litoral brasileiro. Deve-se considerar
que os modelos são significativamente diferenciados. Enquanto que no Brasil se adota o
modelo de ocupação intensa, em muitas praias certificadas a ocupação é restrita e a
disponibilidade de serviços é controlada, fato que também se contrapõe a cultura brasileira
que tem no turismo e na balneabilidade um dos segmentos mais fortes de geração de
empregos, diretos e indiretos, e renda.
89

REFERÊNCIAS

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92

APÊNDICE A – DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

Foto 1 – Foto mostrando placa de Foto 2 – Foto mostrando o início do


proibição do trânsito na praia. (obtida em passeio de jangada para turistas. (obtida
21.08.2011) em 21.08.2011)

Foto 3 – Foto mostrando variação no Foto 4 – Foto mostrando quadriciclos


perfil da praia, e materiais utilizados disponíveis para aluguel. (obtida em
pelas jangadas. (obtida em 21.08.2011) 15.11.2011)

Foto 5 – Foto mostrando resíduos Foto 6 – Estrutura de barraca mostrando


sólidos depositados na zona de pós- escadaria e falta de corrimão. (obtida em
praia. (obtida em 15.11.2011) 15.11.2011)
93

Foto 7 – Foto apresentando terminação Foto 8 – Foto apresentando ocupação


de drenagem urbana desaguando na com recuo em relação à linha de
praia. (obtida em 21.08.2011) preamar. (obtida em 29.07.2012)

Foto 9 – Foto mostrando ocupação Foto 10 – Foto ilustrando a forma de uso


diferenciada, sem barracas. (obtida em e ocupação mais intensa. (obtida em
29.07.2012) 29.07.2012)

Foto 11 – Foto ilustrando conflito entre Foto 12 – Chuveiro para o público em


os usos dos pescadores e as barracas. local com depósito de material de
(obtida em 29.07.2012) construção. (obtida em 29.07.2012)
94

ANEXO A – PROGRAMA BANDEIRA AZUL PRAIAS BRASIL:


CRITÉRIOS E NOTAS EXPLICATIVAS

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