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João Areosa
Universidade Nova de Lisboa, CICS.NOVA, Lisboa, Portugal
ISLA-Leiria, Leiria, Portugal
Introdução
O trabalho permanece um aspeto central na vida dos atores sociais con-
temporâneos, entre outros fatores, porque a esmagadora maioria da po-
pulação mundial faz depender a sua subsistência desse mesmo trabalho.
O nosso modelo atual de organização social – capitalismo – está na ori-
gem de múltiplas condicionantes que degradam as relações de trabalho e
a qualidade de vida das populações, visto que a sua natureza implica mais
horas de trabalho, está na génese de um exército de desempregados, pro-
move diferentes formas de precarização com salários desmesuradamente
baixos, elabora a organização do trabalho de um modo que corrói os laços
de solidariedade entre trabalhadores e gera condições de trabalho, por
vezes, degradantes e potenciadoras de acidentes ou doenças. É perante
este cenário pouco animador que uma parte significativa da população
mundial tem de trabalhar, mantendo-se a secular exploração do homem
pelo homem.
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Ilustrativamente, vale a pena referir que Dejours (1998) tentou distinguir o conceito de traba-
lho do ato de trabalhar. Segundo o autor, o conceito de trabalho está cheio de controvérsias sendo
mesmo, nos dias de hoje, insuscetível de se tornar consensual (tendo em conta as diversificadas
correntes que o abordam). Paralelamente, trabalhar está relacionado com a forma de mobilizar o
corpo e com a utilização da inteligência do trabalhador, no sentido de produzir algo que incor-
pore valor. Nos seus estudos mais recentes, Dejours (2013) acabou por atenuar a importância
desta distinção.
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ANARQUISMO, TRABALHO E SOCIEDADE
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Vejamos ainda mais uma contribuição para a noção de trabalho: “Não há, pois, trabalho sem
recurso à técnica, seja elementar e individualmente detida, seja supercomplexa e já só possível
em conjuntos altamente organizados. (…). Por outro lado, quais são os atributos que, como resul-
tado, transformaram a actividade humana em trabalho? É trabalho o esforço continuado de um
atleta amador para melhorar os seus «máximos» desportivos? Não! Ou a organização de um acam-
pamento de fim-de-semana por um grupo de jovens escuteiros? Não! Para haver trabalho (em
termos sociais) é preciso que os outputs dessa actividade tenham, simultaneamente, utilidade
geral (isto é, que satisfaçam uma necessidade sentida por um conjunto considerável de pessoas)
e, por outro lado, valor económico. Ora, independentemente do juízo (moral, estético, político,
etc.) que possamos fazer acerca do mérito intrínseco de certos bens (por exemplo, as armas de
destruição, ou as práticas de prostituição) é indiscutível que toda a produção de mercadorias e
de serviços que encontra um mercado de compradores prontos a pagar o respectivo preço é uma
produção «socialmente útil» e com «valia económica» (definida pelo nível monetário em que se
fixa a transacção)” (Freire et al., 2014: 9).
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Para além disso, esta visão sobre o “fim do trabalho” é excessivamente eurocêntrica e não repre-
senta o mundo do trabalho ao nível global (Antunes, 2005).
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CAPITALISMO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
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Pretendo deixar claro que não é minha intenção efetuar uma apologia do trabalho em detri-
mento do lazer, até porque me parece que o equilíbrio entre ambos será, em princípio, mais
vantajoso em diversos níveis. Sob o formato de analogia, evoco, neste contexto, as palavras de
Aristóteles, onde o filósofo grego apontava que a felicidade do Homem (provavelmente a fina-
lidade última da nossa existência e a maior de todas as virtudes) estaria no meio-termo, no ponto
médio entre o excesso e o defeito, ou seja, entre dois extremos (neste caso, no equilíbrio entre o
trabalho e o lazer).
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Para além disso, há diversos estudos a demonstrar “que a equação «mais tempo de trabalho =
mais produção» era uma falsa equação, em grande número de circunstâncias. Na verdade, a intro-
dução de pausas de repouso durante a jornada de trabalho, o encurtamento desta e outras medi-
das do género tinham, em muitos casos, provado traduzir-se, pelo contrário, em um aumento da
produção, validando a equação contrária: «menos tempo de trabalho = mais produção»” (Freire,
2002: 83).
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ANARQUISMO, TRABALHO E SOCIEDADE
tanto, nem nunca tivemos tanta capacidade produtiva, mas isso não sig-
nifica que estejamos a produzir cada vez melhor.6 No mundo ocidental
a discrepância entre ricos e pobres parece estar “inexplicavelmente”
a crescer, embora as desigualdades sociais sejam um problema secular
na história da humanidade. O modelo de organização social capitalista,
através das suas atuais políticas neoliberais, é o principal responsável
por muitas das imorais assimetrias contemporâneas. Em determinados
contextos, surpreendentemente, o capitalismo nem sempre tem sofrido
grande resistência por parte dos trabalhadores (Varela, 2012), talvez por
serem alvo de profunda manipulação.
Incompreensivelmente, as técnicas e as tecnologias (que suportam
largamente o aumento produtivo) não foram colocadas ao serviço do ho-
mem (leia-se, em favor do bem comum), mas antes em prol de pequenas
fações ou grupos dominantes, tal como os autores da Escola de Frankfurt
(Marcuse, Habermas, Adorno e outros) tão oportunamente já tinham
identificado. Com a emergência da revolução tecnológica seria suposto tra-
balhar menos do que aquilo que trabalhamos, mas, como já foi referido,
6
O motivo pelo qual não estamos a produzir cada vez melhor está longe de ser aleatório ou ino-
cente. Provavelmente se lhe dissesse que uma lâmpada (similar às que tem em sua casa) poderia
durar mais de cem anos iria desconfiar e talvez esboçasse um sorriso irónico. Mas digo-lhe que
pode! E não é mera ficção, pois existe uma lâmpada em Livermore (Califórnia, EUA) que tem
atualmente cerca de 114 anos de existência e continua a funcionar (estima-se que em junho de
2015 tenha completado 1 milhão de horas a trabalhar). Esta situação intrigou um empresário de
Barcelona – Benito Muros – e levantou-lhe a seguinte questão: se há mais de cem anos existiam
técnicas e tecnologias suficientes para fazer uma lâmpada durar tanto tempo, porquê que hoje
“já não somos capazes disso”? É neste contexto aparentemente intrigante que vale a pena re-
fletir sobre a noção de “obsolescência programada”, a qual está intimamente relacionada com o
capitalismo atual. Na verdade, a obsolescência programada é uma prática fraudulenta, efetuada
por algumas empresas (particularmente as de maior dimensão), dado que fabricam intencional-
mente produtos para durarem pouco tempo. Obviamente que o que está por trás desta política
é vender mais e, por consequência, lucrar mais. O nosso modelo económico atual, baseado no
consumo, tem de vender em grandes quantidades para sobreviver, logo, se os produtos durassem
muito tempo as vendas cairiam de forma drástica. É por isso que atualmente se produz, de forma
programada, quase tudo com um ciclo de vida relativamente limitado, quer seja uma simples
lâmpada doméstica, quer sejam eletrodomésticos, roupas, computadores ou automóveis. Uma
outra forma ainda mais perversa de obsolescência programada parece estar a ser utilizada pela
indústria farmacêutica, quando limita os efeitos curativos dos medicamentos. Todavia, os diver-
sos tipos de obsolescência programada utilizados à escala global tem diversos efeitos negativos
(alguns incalculáveis), tanto ao nível do desperdício de recursos (os quais são suscetíveis de afe-
tar gravemente o meio ambiente), como no âmbito dos direitos humanos, laborais e da qualidade
de vida individual e coletiva (porque, por exemplo, este modelo de organização social obriga as
pessoas a trabalhar mais e em piores condições quando, na verdade, não há necessidade disso).
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CAPITALISMO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
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As estatísticas apontam para que sejamos hoje as pessoas mais saudáveis, mais ricas e mais lon-
gevas de toda a história da humanidade (Gardner, 2008).
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Ainda no âmbito das inúmeras consequências nefastas do capitalismo, vejamos a extraordiná-
ria reflexão de Bourdieu sobre este aspeto: “Quando o desemprego, como hoje em numerosos
países europeus, atinge taxas muito elevadas e a precariedade afecta uma parte muito impor-
tante da população, operários, empregados de comércio e de indústria, mas também jornalistas,
docentes, estudantes, o trabalho torna-se uma coisa rara, desejável a qualquer preço, que põe os
trabalhadores à mercê dos empregadores e estes, como podemos verificar todos os dias, usam e
abusam do poder que assim lhes é dado. A concorrência em torno do trabalho é redobrada assim
por uma concorrência no trabalho, que continua a ser uma forma de concorrência em torno do
trabalho, que é preciso preservar, por vezes sem querer saber dos custos, contra a chantagem do
despedimento. Esta concorrência, por vezes tão selvagem como aquela a que as empresas se en-
tregam, encontra-se no princípio de uma luta de todos contra todos, que destrói todos os valores
de solidariedade e de humanidade e, por vezes, assume uma violência sem disfarce. Os que de-
ploram o cinismo que caracteriza, em seu entender, os homens e as mulheres do nosso tempo não
deveriam esquecer-se de o relacionar com as condições económicas e sociais que o favorecem ou
o exigem e que o recompensam” (Bourdieu, 1998: 116).
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A propósito da crescente precarização laboral, Standing (2014) refere que pode estar a emergir
uma nova classe social “perigosa”, dado que os trabalhadores precários têm, regra geral, pouco a
perder no atual contexto de políticas neoliberais. Mas afinal porquê que o precariado é designado
como uma potencial classe perigosa? Consideremos a seguinte explicação: “As tensões no seio do
precariado estão a colocar as pessoas umas contra as outras, impedindo-as de reconhecer que a
estrutura social e económica está a produzir um conjunto de vulnerabilidades que lhes é comum.
Muitos serão atraídos por políticos populistas e mensagens neofascistas, uma situação crescente
que já é claramente visível em toda a Europa, nos Estados Unidos e noutros países. É por isso
que o precariado é a classe perigosa e é por isso que é necessária uma «política de Paraíso» que
responda aos seus medos, inseguranças e aspirações” (Standing, 2014: 58).
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Richard Sennett (2006) refere que entrevistou alguns trabalhadores de diferentes áreas pro-
fissionais, os quais afirmaram que não tinham mudado para empregos melhores, com remunera-
ções superiores, devido ao facto de sentirem que estavam a fazer algo útil nos empregos onde es-
tavam. O reconhecimento simbólico que pode advir do trabalho é uma peça fundamental para a
nossa identidade. “Uma enfermeira de Nova York disse-me que por este motivo é que ficava num
hospital público sem recursos, em vez de ganhar mais dinheiro com serviços particulares. As duas
formas de trabalho são úteis, mas no hospital ela «fazia a diferença»” (Sennett, 2006: 39 e 40).
Creio que não é difícil imaginar diversas situações que podem gerar prazer no trabalho, nomea-
damente quando nos sentimos úteis para os outros. Lembremos, por exemplo, uma equipa de
cirurgia que conclui com sucesso uma intervenção, cujo paciente estava em risco de vida; um
jogador de futebol que marca o único golo na final de uma competição importante e sente a eufo-
ria de milhares de adeptos; ou um agricultor com sensibilidade suficiente para se orgulhar ao ver
florescer os frutos do seu trabalho, os quais irão alimentar outras pessoas.
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É pertinente lembrar que “As pessoas que começam a entrar em competição escondem das
outras conhecimentos, informações, contactos e recursos que, caso fossem revelados, anulariam
uma vantagem competitiva” (Standing, 2014: 54).
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Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2014: “Em 104 países em desenvolvi-
mento, 1,2 mil milhões de pessoas tinham um rendimento de 1,25 dólares, ou menos, por dia.
Contudo, o número de pessoas em situação pobreza multidimensional em 91 países em desen-
volvimento foi estimado em cerca de 1,5 mil milhões de pessoas – segundo a medida do Índice
de Pobreza Multidimensional (IPM)” (p. 42). Acedido em 23/12/2015, através do link: http://
passthrough.fw-notify.net/static/879715/downloader.html
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Dada a sua importância, volto a frisar que a noção de “obsolescência programada”, a qual está
intimamente relacionada com práticas “fraudulentas” de produção, acaba por ser um exemplo da
nossa profunda “desorganização social do trabalho”. Continua a fazer sentido falar no fetichismo
da mercadoria, bem como da atual forma de produzir bens, os quais vivem da imagem exterior
(superficial) e parecem ser produzidos com uma espécie de revestimento ou laminagem a ouro (Sen-
nett, 2006), para esconder a fragilidade do seu interior. Em parte, foi por isto que o novo estádio
evolutivo não significou uma diminuição considerável do trabalho, bem como o tempo que se lhe
dedica; logo, por consequência, não libertou o homem, por exemplo, para o campo do lazer, da
cultura e do bem-estar. O resultado desta desnecessária (sublinho desnecessária porque atual-
mente, ao contrário do passado, existem alternativas sustentáveis para inverter esta lógica) so-
brecarga de trabalho para o homem transforma-se, entre muitas outras situações, na perpetuação
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CAPITALISMO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
tes avanços técnicos e tecnológicos. Para além disso, nem mesmo aquilo
que produzimos em excesso é distribuído pelas classes desfavorecidas
(em particular por aqueles que morrem de fome, literalmente) e isto
demonstra a profunda decadência das sociedades modernas e o quão
inumanos continuamos a ser uns com os outros.
O nosso carácter parece estar a ficar profundamente corroído, em
parte, por termos perdido a sensação de que somos úteis para os outros e
de que temos um papel a desempenhar no seio da comunidade, ou seja,
é a nossa própria vivência ancestral coletiva que parece estar a desmoro-
nar-se. A coesão está mais frágil e a conceção de que temos uma função
social útil para desempenhar torna-se cada vez menos clara e evidente.
Paralelamente, a ideia de contrato social (onde está subjacente a noção de
que cada um dos membros da sociedade tem mais vantagens em viver em
conjunto do que isoladamente) parece estar a desvanecer-se, devido aos
processos de individualização impulsionados pelo atual capitalismo fle-
xível. Estaremos nós a caminhar para aquilo que Hobbes designou como
estado de natureza, em que, neste caso, a fugaz sobrevivência humana só
poderia ser obtida através da guerra de um contra todos? O problema é
que perante este cenário hipotético não haverá vencedores, todos esta-
remos inevitavelmente vencidos! É precisamente por isso que a noção
de contrato social é mais vantajosa para todos. Dentro deste contexto, é
importante vincar a seguinte ideia:
“Um regime que não dá aos seres humanos razões profundas para cuidarem uns dos
outros não pode manter por muito tempo a sua legitimidade” (Sennett, 2001: 225).
de níveis elevados de acidentes de trabalho e em múltiplos danos à saúde, os quais acabam por
desestruturar a integridade física e mental dos trabalhadores (Areosa, 2012a).
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A escritora Viviane Forrester (1997) refere ironicamente uma terceira “categoria de pessoas”:
os supérfluos. São indivíduos que estão fora do mercado de trabalho e que a economia os pre-
tende rotular como nefastos para a sociedade. Paralelamente à questão da dualização do mercado
de trabalho existem autores que não partilham esta visão determinista do mundo do trabalho,
referindo que ele é bem mais complexo e diversificado do que esta visão dualista traduz (Kovács,
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ANARQUISMO, TRABALHO E SOCIEDADE
Flexibilização ou flexploração?
Outro aspeto que tem contribuído fortemente para a degradação da rela-
ção que as pessoas têm com o trabalho é a designada flexibilização (aqui
podemos incluir a legislação laboral, o mercado de trabalho e o funcio-
namento interno das próprias empresas). O conceito de flexibilização no
trabalho está relacionado com a polivalência funcional, com a desregu-
lação dos horários de trabalho, com a liberalização das condições de em-
prego, particularmente a precariedade16 e maior facilidade em despedir.
Tendo em consideração que os velhos modelos da fábrica de alfinetes
de Adam Smith, o fordismo e o taylorismo entraram sucessivamente em
crise, muitos gestores acreditam que a era da flexibilidade emerge como
sendo a “salvação” do modelo produtivo. A génese da palavra flexibilidade
derivou da cultura helénica em resultado da observação direta da capa-
cidade que uma árvore pode ter em inclinar-se com a força do vento e
voltar à posição original (sem danos).
2006). É pertinente não esquecer que, por exemplo, dentro das profissões existem hierarquias e
divisões que propiciam níveis de prestígio e estatuto social muito diversificados para os membros
de uma mesma profissão (Areosa e Carapinheiro, 2008).
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A propósito destas duas situações surgiu o termo japonês karoshi para se referir aos trabalha-
dores que morrem por causa do excesso de trabalho, normalmente devido a problemas cardíacos
e após longas horas sem interrupção para descansar. Paralelamente, também no Japão, foram
detetados alguns casos de trabalhadores que se suicidaram devido ao excesso de trabalho. Esta
situação foi apelidada por karojisatsu (Amagasa et al., 2005). Os autores colocam como hipótese o
seguinte: longas jornadas de trabalho, sobrecarga de trabalho e níveis reduzidos de apoio social
podem causar depressão, a qual, por sua vez, pode conduzir ao suicídio. Estes são alguns dos tra-
ços comuns nos casos de suicídio analisados por esta pesquisa (Amagasa et al., 2005).
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Na perspetiva de Paugam (2013) a precariedade corresponde a uma forma de desqualificação so-
cial que promove a degradação moral e a desvalorização do ser humano, particularmente quando
tem de recorrer a terceiros para subsistir. Nestes casos os trabalhadores auferem um rendimento
do trabalho abaixo daquilo que é considerado como um “salário de subsistência”. Segundo uma
publicação recente a precariedade no trabalho ou no emprego é entendida como “uma condição
de insegurança na relação contratual que pode corresponder a vínculos temporários, trabalho a
tempo parcial, colaborações pontuais, como sucede com o trabalho sazonal, sucessão de estágios
ou os chamados «falsos recibos verdes», isto é, prestadores de serviços que desempenham efec-
tivamente tarefas de necessidade permanente e que são mantidos continuadamente em funções,
contornando a lei” (Freire et al., 2014: 153 e 154).
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Nesta linha de pensamento, podemos dividir a flexibilidade em dois grandes tipos: “(…) «fle-
xibilidade interna», como a possibilidade de alterar o tempo de trabalho ou a promoção da po-
livalência, e a «flexibilidade externa», como o outsourcing, o recurso ao trabalho temporário ou
a facilidade de despedimento. A flexibilidade é, em todo o caso, indissociável do debate sobre a
precariedade” (Freire et al., 2014: 156).
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Segundo as palavras de Standing (2014) o precariado pode estar a transforma-se na nova classe
perigosa, devido, em parte, às múltiplas formas de opressão às quais se encontra submetido. Esta
situação gera uma espécie de subcidadãos (pois encontram-se privados de alguns direitos de cida-
dania), representando também a imagem de nómadas urbanos. Vejamos ainda mais algumas cara-
terísticas desta “classe emergente”: “O precariado não sente que faz parte de uma comunidade
solidária de trabalho. Isso intensifica a sensação de alienação e instrumentalidade naquilo que os
seus membros têm de fazer. Ações e atitudes, derivadas da precariedade, tendem a derivar para o
oportunismo. Não há qualquer «laivo de futuro» que paire sobre as suas ações, para lhes dar uma
sensação de que o que lhes dizem, fazem ou sentem hoje terá um efeito forte ou uma ligação com
os seus relacionamentos de longo prazo. O precariado sabe que não há laivo de futuro, porque
não há futuro no que estão a fazer. Ser «posto na rua» amanhã não é olhado com surpresa; e sair
pode não ser uma coisa má, se aparecer outro trabalho ou uma atividade que os atraia” (Standing,
2014: 38).
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CAPITALISMO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
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Para além disso, este aumento da dimensão tecnocientífica do universo laboral é, em certos
casos, bastante arriscado. Porque ao limitar a estrutura cognitiva dos trabalhadores, diminuindo
a necessidade de uso da sua inteligência (ou seja, transformando o trabalho vivo em trabalho
morto), são gerados novos riscos, por vezes difíceis de antecipar. Um exemplo paradigmático
desta situação, embora circunscrito a um contexto muito específico, é relatado por Taleb (2012):
a Federal Aviation Administration (FAA) obrigou as empresas de transportes aéreos a aumentar a
sua dependência da pilotagem automática. Porém, a automatização dos aviões deixa poucos de-
safios aos pilotos, tornando a sua condução “demasiado” confortável e perigosamente tranquila.
A redução da atenção devido à escassez de solicitações e desafios aumentou o número de aciden-
tes fatais. Quando se baixa demasiado a carga de trabalho e o respetivo esforço mental, levamos
mais tempo a tomar decisões; mas isso em situações de emergência pode ser desastroso. Para bem
de todos nós, a FAA compreendeu posteriormente que o problema do aumento de acidentes
estava na excessiva delegação de responsabilidades nos sistemas automáticos e voltou novamente
a limitar o uso do piloto automático.
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Os psicólogos designariam este processo de auto-desculpabilização como atribuição causal
externa.
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Em algumas empresas multinacionais com sucursais na China também se verificaram diver-
sos casos de trabalhadores que se suicidaram. “A reação imediata da Foxconn para com os suicí-
dios foi paternalista. Cercaram os edifícios com redes para apanhar as pessoas se estas saltassem,
contrataram conselheiros para os trabalhadores angustiados, trouxeram monges budistas para os
acalmar e pensaram em pedir aos trabalhadores para assinarem documentos de compromisso em
como não se iriam suicidar. Celebridades de Silicon Valley, na Califórnia, expressaram a sua preo-
cupação. Mas não tinham razões para estar surpreendidas. Tinham ganho milhares de milhões de
dólares com os produtos a um custo ridiculamente baixo” (Standing, 2014: 64).
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CAPITALISMO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
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Acedido em 21/12/2015, através do link: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/um-suici-
dio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal-1420732
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Em relação à falta de proporcionalidade entre o trabalho realizado e os resultados do trabalho
é interessante confrontar as noções de profissões com trabalho escalável e trabalho não escalável
(Taleb, 2008). As profissões com trabalho não escalável são, por exemplo, pagas à hora e implicam
normalmente a presença física do profissional; estou a falar de casos como: consultas de médicos,
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ANARQUISMO, TRABALHO E SOCIEDADE
psicólogos e psicanalistas ou ainda os serviços prestados por advogados ou prostitutas! Por mais
bem pagos que sejam estes trabalhadores há quase sempre um limite monetário que não é ultra-
passado por cada consulta ou serviço prestado e, claro está, também há um limite máximo para
o número diário de horas para trabalhar. Isto significa que quer o rendimento, quer o número de
horas trabalhadas são relativamente limitadas.
Agora imagine que os Metallica lançam um novo álbum de originais e vendem vários milhões de
CD’s. O tempo que levaram a gravar o disco e a compor as músicas é o mesmo, quer vendam os re-
feridos milhões de cópias, quer vendam apenas algumas dezenas de CD’s. Os músicos que gravam
discos ou os autores que publicam livros são exemplos de profissões com trabalho escalável, isto
porque o trabalho feito uma única vez pode ser reproduzido várias vezes com relativa facilidade
(e não necessita da presença de cada um deles); ou seja, nem a banda necessita de estar presente
cada vez que algum dos seus fãs quiser ouvir o seu disco, nem o escritor precisa de escrever cada
um dos livros dos seus leitores. Isto pode libertar tempo para outras atividades, nomeadamente
o lazer. Contudo, as profissões com trabalho escalável são perigosas e podem constituir-se numa
frustrante ilusão, pois apenas uma restrita minoria consegue obter um elevado sucesso profissional
e, por consequência, enriquecer (lembre-se, por exemplo, que existem muito poucos jogadores
de futebol com salários similares ao Cristiano Ronaldo, mas existem muitos milhões espalhados
pelo mundo com rendimentos parecidos ao seu e ao meu). Esta é uma situação do tipo “o ven-
cedor fica com tudo”. Por isso, tenha cuidado se escolheu uma profissão com trabalho escalável
apenas porque pretende “trabalhar pouco” e, simultaneamente, enriquecer!
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CAPITALISMO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
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Tal como na perspetiva anterior, Freire (1991) preconiza que as relações que se estabelecem
entre trabalhadores e hierarquias são um aspeto decisivo nas relações sociais de trabalho, par-
ticularmente na forma de dirigir a execução do trabalho. No caso específico dos encarregados
e capatazes da construção civil, enquanto agentes de comando de “primeira linha” (hierarquia
direta), o autor afirma que estes atores podem ter um papel importante no aumento ou diminui-
ção do número de acidentes de trabalho, devido ao papel específico que desempenham dentro
das organizações. Se a sua sensibilidade para os temas da segurança no trabalho for significativa,
o poder e autoridade inerente ao seu cargo podem constituir-se como um fator inibidor para os
acidentes. Contudo, é pertinente lembrar que os acidentes são eventos heterodeterminados e
representam de forma muito clara a desumanização do trabalho contemporâneo (Areosa, 2015a).
Ainda dentro do tema dos acidentes de trabalho uma investigação realizada pela Universidade
Católica ajudou-nos a compreender melhor uma dimensão importante deste complexo pro-
blema. Assim, o estudo apresentava como objetivo prioritário, a elaboração de um perfil geral (ti-
pificação) do trabalhador sinistrado, em Portugal. Neste trabalho foram inquiridos mais de 4000
indivíduos, sendo a amostra representativa em termos de género, região, sector de atividade e
níveis de instrução. “(...) O perfil do trabalhador sinistrado é um indivíduo do sexo masculino,
de baixo nível de escolaridade, trabalhador por conta de outrem e de uma certa antiguidade na
empresa. O trabalho de pé e em espaço restrito é o mais associado à sinistralidade laboral, assim
como a variabilidade das tarefas ao longo da jornada ou do ano, a execução de tarefas repetitivas
e monótonas em posições dolorosas ou fatigantes. Também aparecem associados à sinistralidade
a flexibilidade de horários, o regime de turnos rotativos e uma duração de trabalho superior a 40
horas semanais. No que diz respeito às condições psicossociais, a maior autonomia e responsabi-
lidade no desempenho das tarefas parece associar-se a um menor risco de sinistro laboral ou de
doença profissional” (Rego e Freire, 2001: 29).
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O modo de produção capitalista é descrito por Marx (num capítulo inédito de “O capital”)
como um “processo de sucção” do trabalho vivo, isto é, tem acentuado a transformação do tra-
balho vivo em trabalho morto. Este processo foi também designado por Castillo como liofilização
organizacional (cf. Antunes, 2005).
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O sofrimento ético acontece quando o trabalhador é obrigado a praticar determinadas ações que
condena moralmente, por causa do seu trabalho. É uma espécie de traição de si mesmo ou traição
do ego. Nas palavras de Dejours: “O novo capítulo do sofrimento ético torna mais compreensível
uma segunda faceta da forma como «a nossa escala social de valores entra em linha de conta», a
saber, o julgamento que o sujeito faz de si próprio, não só sobre a qualidade da sua contribuição
no que concerne a produção, mas sobre o valor ético da sua prestação. Porque, pela sua atividade
de produção, o trabalhador compromete, de facto, o destino de outro, em particular do cliente
que tem obrigação de enganar ou do subordinado que deve «colocar sob pressão». Isto significa
que o trabalho não se reduz a uma atividade, implica dimensões que advém da ação, no sentido
que Aristóteles dá ao conceito de praxis: ação moralmente justa” (Dejours, 2013: 23).
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Recordo que a autonomia é um dos pilares “sagrados” da profissão médica (Areosa e Carapi-
nheiro, 2008).
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Alguns autores complementam esta noção ao afirmarem que existe já uma quarteirização, isto
é, são “empresas contratadas para gerir contratos com as terceiras, caracterizando a cascata de
subcontratação” (Franco et al., 2010: 233).
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A propósito desta afirmação, observe-se as consequências destas dimensões no relato da ci-
tação seguinte: “Pude verificar o valor e a deficiência da confiança informal em dois acidentes
industriais separados por trinta anos. No primeiro, numa fábrica ao velho estilo, irrompeu um
incêndio, e verificou-se que o circuito de mangueiras de incêndio estava defeituoso. Os operários
da linha de montagem se conheciam suficientemente para saber como distribuir as tarefas de
urgência. Os gerentes berravam ordens, mas ninguém lhes dava atenção naquela emergência;
os riscos para a fábrica logo foram controlados por uma sólida rede informal. Trinta anos mais
tarde, eu estava numa fábrica do Vale do Silício quando o sistema de refrigeração começou a
sugar em vez de expelir gases nocivos, um desastre nada previsível num prédio de alta tecnologia.
As equipes de trabalho não se coadunaram. Muitos empregados correram em pânico para as saí-
das, enquanto outros, mais corajosos, não sabiam como se organizar. No fim das contas, os ge-
rentes, muitos dos quais reagiram bem, perceberam que aquela fábrica onde trabalhavam 3.200
pessoas estava, no dizer de um deles, apenas «superficialmente organizada no papel»” (Sennett,
2006: 65).
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Notas finais
O principal objetivo deste texto foi debater a questão do trabalho, tendo
como pano de fundo a influência que o nosso modelo de organização
sociopolítico (capitalismo) acaba por ter na qualidade de vida das po-
pulações. Se o lucro e a acumulação de capital não fossem uma meta
prioritária dentro de quase todas as organizações, os recursos poderiam
ser aplicados na melhoria das condições de vida de todos nós. Claro que
independentemente do modelo de organização social que possamos ter,
os percalços e as contrariedades continuarão sempre a ocorrer no futuro,
dado que não existem modelos de convivência perfeitos e totalmente efi-
cazes. O mundo é um local demasiado incerto e aleatório para nos per-
mitir essa façanha!
Mas volto a sublinhar que o modelo económico capitalista baseado
na maximização dos lucros e no alegado “livre” funcionamento dos mer-
cados há muito que está a pôr em causa a qualidade das sociedades em
que vivemos, construindo, por exemplo, mercados de trabalho flexíveis
e formas atípicas de emprego (cada vez menos estáveis e duradouros).
As consequências disto para os trabalhadores são desastrosas nos mais di-
versificados níveis, nomeadamente na precarização do emprego, na saúde
e na sua identidade social, a qual se afirma em grande medida através
da ocupação/profissão. A desumanização do trabalho é secular, mas as
novas formas de precarização estão a dar origem a uma verdadeira socie-
dade dos descartáveis. O desemprego tornou-se estrutural e presenciamos
todos os dias uma dessociabilização crescente dentro do universo produ-
tivo. A flexibilização do trabalho reproduz diversas “forças destrutivas”
para a vida dos trabalhadores, pois, entre outros aspetos, quebra os laços
sociais, a entreajuda e a coesão social; por vezes, incompatibiliza os rit-
mos biológicos naturais com os ritmos laborais (trabalho noturno, turnos
rotativos ou longas jornadas de trabalho) e isso há muito que transfor-
mou a nossa organização social numa espécie de sociedade-patológica. As
empresas flexíveis promovem uma ideologia de excelência organizacional,
a qual suga e esgota os trabalhadores e exclui os menos adaptados a esta
nova modalidade. Esta seletividade organizacional já foi designada como
neurose da excelência (cf. Franco et al., 2010: 240).
Segundo as palavras de Dejours (1999) o nosso modelo de organi-
zação social banalizou a injustiça social. Atualmente tudo parece girar
em torno do lucro (onde estão incluídas inúmeras formas de exploração
e alienação), adiando a felicidade humana por causa do trabalho. Volto
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A propósito deste aspecto veja-se, por exemplo, o trabalho do psicólogo George Miller (1956),
onde é defendido que a nossa espécie só tem capacidade para processar uma certa quantidade
limitada de informação de cada vez. Quando essa fronteira é ultrapassada parece que ficamos
sobrecarregados e o nosso rendimento começa a baixar drasticamente. Talvez seja por isto que
só conseguimos prestar atenção a um número restrito de situações e tendemos a ignorar outras.
Um exemplo marcante desta situação é relatado no livro de Daniel Simons e Christopher Chabris
(2010), onde os participantes de uma pesquisa estão tão concentrados numa determinada tarefa
(contar o número de passes que os jogadores de basquetebol com camisola branca fazem, igno-
rando os de camisola preta) que a maioria não consegue visualizar um alegado gorila que surge
inesperadamente no meio do ringue.
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de não-trabalho, de modo que, a partir de uma atividade vital cheia de sentido, auto-
determinada, para além da divisão hierárquica que subordina o trabalho ao capital
hoje vigente e, portanto, sob bases inteiramente novas, possa se desenvolver uma nova
sociabilidade, na qual ética, arte, filosofia, tempo verdadeiramente livre e ócio, em
conformidade com as aspirações mais autênticas suscitadas no interior da vida co-
tidiana, possibilitem a gestação de formas inteiramente novas de sociabilidade, em
que liberdade e necessidade se realizem mutuamente. Se o trabalho se torna dotado
de sentido, será também (e decisivamente) por meio da arte, da poesia, da pintura, da
literatura, da música, do tempo livre, do ócio, que o ser social poderá humanizar-se e
emancipar-se em seu sentido mais profundo” (Antunes, 2005: 65).
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Referências
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