Ação Direta de Inconstitucionalidade no 851 – Análise
Foi ajuizada perante o Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de
Inconstitucionalidade no 815 pelo Governador do Estado do Rio Grande do Sul, em face do dispositivo constitucional que indicava os critérios utilizados para estabelecer o número de deputados de cada estado. Esta determinação encontrava-se no art. 45, §§ 1º e 2º da Constituição, que fixava um mínimo de oito e um máximo de setenta deputados para todos os Estados e Distrito Federal, e o número de fixo de quatro deputados por Território.
A autoria argumentava que havia uma hierarquia entre normas
constitucionais originárias para fundamentar a declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos impugnados, posto que infringiriam algumas das cláusulas pétreas presentes no § 4 o do art. 60 da Constituição Federal, que notadamente seriam normas constitucionais superiores. Esta norma busca limitar a abrangência das emendas constitucionais, obstruindo as que possam ter o objetivo de anular a forma federativa de estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Assim, estas normas constitucionais superiores seriam aquelas conformadoras de princípios do direito suprapositivo, expondo, inclusive, o poder constituinte originário à estas normas. Desta forma, foi analisada pelo Tribunal o certâmen acerca de uma possível presença de normas constitucionais inconstitucionais.
De acordo com o Plenário do Tribunal, todas as normas constitucionais
originárias utilizam como fonte o poder constituinte originário, não utilizando para tanto quaisquer outras normas constitucionais. Desta maneira, observou o Plenário a incompatibilidade desta tese de hierarquia entre as normas constitucionais originárias com o sistema rígido de nossa atual Carta Magna.
Assim, corrobora-se que as cláusulas pétreas representariam os
limites do poder constituinte derivado, de forma a manter e perpetuar a identidade do texto constitucional e dando continuidade ao mesmo, evitando que eventuais normas oriundas do próprio poder originário pudessem tornar inconstitucionais normas originárias.
Determinou-se que, este conflito entre normas constitucionais
originárias não trata-se de uma inconstitucionalidade, e sim de uma parcela da Constituição que possui ilegitimidade.
Por unanimidade de votos, não foi conhecida a ação direta diante de
sua impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que não há discussão acerca da jurisdição do Supremo Tribunal Federal para apreciar a matéria, pois não cabe à este a fiscalização do poder constituinte originário, e sim o seu exercício, executando sua função de guarda da Constituição, evitando que esta seja violada.
Portanto, “A tese da hierarquia entre as normas constitucionais
originárias é incompatível com o sistema de Constituição rígida. O fundamento da validade de todas as normas constitucionais originárias repousa no poder constituinte originário, e não em outras normas constitucionais”, - Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 815 – Diário da Justiça – 10/5/1996.