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IMPRESSO
Nº282 - 2014
ISSN 2237-2164
Ano XXVIII - Nº 282 Setembro de 2014
www.jornaldaeducacao.inf.br
Opinião
EXPEDIENTE
O Brasil continua a ser
o país dos contrastes
O disparate entre o IDEB - Índice de De- cursos e percursos. Pois ninguém quer pertencer a um time
senvolvimento da Educação Básica- de um O caminho correto é resgatar o valor do de derrotados. Ou seja, enquanto a escola
para outro estado e de um município para saber escolar. Algo nos moldes do que foi estiver com baixa autoestima, a família não
outro, ou mesmo de uma para outra escola feito nas décadas de 1960 e 1970. Afinal, a valoriza e os estudantes não considerarão
de um mesmo sistema de ensino, é o retrato todos sabem que um aluno não é igual ao importante fazer parte daquele time.
da falta de políticas públicas e gerenciamen- outro. É praticamente impossível ao pro- Assim como todo organismo vivo, a es- Ano XXVIII - Nº 282
to da educação. fessor, por mais qualificação que tenha, cola precisa se redescobrir, resgatar seu Joinville(SC), Setembro de 2014
Os números demonstram a inexistência de conseguir ensinar a todos igualitariamente. verdadeiro papel e valor social e, mais do
Rua Marinho Lobo, 512 Sala 40
metas e regras claras em todas as esferas da Além desse aspecto, nem todos os alunos que tudo, cumprir sua missão prioritária
89201-020 Joinville - SC
gestão educacional: a sala de aula, a escola, querem aprender. que é ensinar.
Fone: (47) 3433 6120 e 30272160
a secretaria municipal, a secretaria de esta- Noutro dia, durante um almoço com Entretanto, se a escola continuar a se
do, o MEC. Os números do IDEB resultam uma mãe de um casal de filhos adultos, seu posicionar e adaptar “aos ditames da fa-
em mais um reforço à afirmação de que o celular tocou. Uma terceira pessoa sentada mília”, ela continuará a ser tratada como Endereço Eletrônico:
Brasil é o país dos contrastes. à mesa, em tom de brincadeira, comentou dispensável. Se continuar permitindo, por www.jornaldaeducacao.inf.br
Ilhas de altos índices estão espalhadas “Atende, deve ser tua filha”. Ao que a mu- exemplo, que os estudantes do ensino médio jornalismo@jornaldaeducacao.inf.br
por todo o país. Do mesmo modo como as lher rapidamente retrucou: “Não, minha saiam antes ou entrem 10 minutos depois
de índices baixíssimos. Ou seja, o problema filha tem educação, ela não telefona para do horário porque trabalham. Permitir que
não está centralizado em um único local. mim nesse horário”. E continuou: “Poderia os pais peguem os filhos para participar de Jornalista Responsável:
O contraste que os professores sentem nas ser meu filho, ele se acha no direito de ligar cerimônias religiosas. Ou dispensar alunos Maria Goreti Gomes DRT/SC
salas de aula e, que se aviltam com a proxi- a qualquer horário”. Imediatamente, o in- para fazer homenagem aos aniversariantes ISSN 2237-2164
midade do final do ano letivo, existe em todo terlocutor perguntou: “Como pode? Os dois ou um chá de bebê ou de panela para uma Reg. Especial de Título nº 0177593
o país e também em cada uma das escolas. não foram educados por você e do mesmo professora ou professor, a própria escola Impressão: AN
A raiz do problema é sentida e refletida jeito?” Ao que a mãe naturalmente respon- está passando a mensagem de que a sala de Tiragem desta edição: 5000
prioritariamente na comunidade em que a deu: “Sim, mas ele não quis aprender”. aula é menos importante.
escola está inserida. As ações que envolvem Este conversa fez-me perceber que aquela O cálculo do IDEB considera, além dos Distribuição dirigida a assinantes,
a atividade de ensino e de aprendizagem na mulher, com apenas o ensino fundamental, testes de conhecimento, dados como for- anunciantes e estabelecimentos de
sala de aula são influenciadas pela relação compreendia muito bem o problema da mação dos professores e evasão escolar e, ensino dos municípios das regiões edu-
cacionais de Joinville e Jaraguá do Sul.
professor x aluno, mas sofrem forte influ- aprendizagem. Que é, também, o problema por esta razão, o ensino médio tem sempre
ência externa. A valorização (ou não) da da educação brasileira: há muitos alunos os piores índices. Com um mercado de tra-
escola como espaço do saber pela família e que não querem aprender nas salas de aula. balho aquecido e a necessidade pessoal do Os artigos e colunas assinados são
pela comunidade, a carreira de professor ser A verdade é que temos nas escolas muitos adolescente de ter a própria renda e sair da de responsabilidade de seus autores
(ou não) atrativa, (ação governamental) e até alunos que estão lá sem saber exatamente o dependência dos pais, a evasão neste nível
o acolhimento das crianças, adolescentes e por quê. Alguns os pais obrigam para não de ensino é grande.
jovens nas centenas de milhares de escolas perder “a bolsa doada pelo Estado brasilei- Para agravar este quadro, a escola mini- que muitos adolescentes deixem a escola
de todo o Brasil influenciam. ro”. Outros, vão para encontrar e conviver miza a necessidade de cumprimento de re- para trabalhar e, depois, voltam porque o
Por outro lado, se o problema se repete em com os colegas. Restam poucos os que estão gras e horários por estes alunos. Nesta fase trabalho exige mais estudo, fazendo com que
nível nacional, é claro que não está somente lá por causa do saber. da vida, tudo que os adolescentes precisam o Estado gaste duplamente na formação do
na escola ou na sua comunidade. O proble- Enquanto isso, a grande maioria está é tomar as rédeas de sua própria existência, mesmo cidadão.
ma maior é a inexistência de uma política na escola sem nenhuma razão lógica. São responsabilizando-se e sendo responsabili- Escola tem que ensinar autonomia na
que valorize o saber escolar e a profissão de realmente poucos os familiares que enten- zado por todas as suas atitudes e ações. prática. Responsabilizar e cobrar resultados
professor. Há anos, repete-se o discurso de dem e repassam aos filhos que a escola é o Disciplina e regras claras e rígidas são as dos adolescentes. Sempre com regras claras.
que a escola precisa deixar de ser “a repre- lugar de criança e de adolescente em busca suas necessidades. Há muita oferta de vaga Seja de ensino fundamental ou ensino
sentante oficial - o braço amigo” do governo de sabedoria. para adolescentes, mas todas as empresas médio, a escola é lugar de aprender a ser
provedor (de merenda, uniforme e material Não há nada errado em ir para a escola querem jovens autônomos, disciplinados autônomo. É lugar de ser orientado em suas
escolar, de atendimento psicológico e social) para encontrar e brincar com os amigos. e com desejo de aprender. Se ao longa da atitudes em relação ao saber.
para tornar-se o templo do saber científico. A Afinal, a escola também é um lugar de vida escolar, ele nunca teve ou aprender Portanto, a crise na educação brasileira
escola foi criada pela sociedade para ensinar convivência entre pessoas com objetivos e estas atitudes, como as terá na empresa e só poderá ser resolvida pela própria escola,
e não para educar. Quem educa é a família. metas em comum. Os seres humanos vivem na vida adulta? pois é ela que se perdeu no cumprimento
E cabe à família fazer da escola um valor a em grupo e precisam sentir-se participantes Para o adolescente, é importante perma- de sua função ao trazer para si a função de
ser preservado. de um grupo. É o sentido de pertença. necer na escola, pois quanto mais dedicado educar. Ninguém poderá precisar exata-
Desde a década de 1970, a escola foi A escola é o terceiro grupo a que perten- ao ensino, mais disciplinado e mais ávido mente o momento em que isso aconteceu,
tomando para si incumbências do estado cemos ao longo de nossas vidas. O primeiro por aprender, maiores as chances e melhores mas aconteceu. E talvez ninguém consiga
provedor. Ação que foi cristalizada na é a família. O segundo, geralmente, é a as ofertas de emprego. O Brasil vive num precisar exatamente o momento em que
Constituição de 1988. Há inclusive cidades igreja. Mas quem nos levará para a igreja paradoxo: há uma crise de ensino e as salas iniciaremos esta recuperação de autoestima,
que aprovaram leis obrigando o município e para a escola é a família. Ou seja, somos de aulas estão lotadas. mas seguramente, o ponto de partida será
a doar até mesmo o uniforme escolar. Em socializados pela família, portanto, só há Vale ressaltar que os centros de educa- cada uma das centenas de milhares de salas
nome da “igualdade de direitos”, a escola uma saída para a escola, conseguir chegar à ção infantil devem sim cuidar das crianças de aula das escolas deste país.
veste, mas não ensina igualitariamente. família daqueles que têm o desejo de estudar pequenas, mas nem a escola de ensino fun- Aos professores cabe ensinar a aprender
Nossa educação continua a ser diferente e criar este desejo naqueles que não o têm. damental e muito menos a de ensino médio o saber científico e nada além disso. Todas
porque nivelamos por baixo. Ensinar cada E somente a escola poderá fazer isso. devem cuidar dos alunos. A escola deve cui- as interferências e reuídos externos são pro-
um dentro da medida de suas habilidades e Os governos não conseguem criar esse dar é da estrutura física e pedagógica dando blema da gestão da escola. Caberá à equipe
capacidades é que seria ensinar igualmente sentimento de pertencimento nas pessoas. segurança aos estudantes no caminhar em gestora da escola conseguir fazer com que
a todos. Cabe aos gestores, diretores, professores e direção ao saber. as famílias valorizem a escola.
Assim, atrofiando ou desperdiçando nos- demais profissionais que atuam nas escolas A escola não pode repetir o erro dos pais, Enquanto a escola não resolver seu
sos talentos, o país tem perdido milhares aumentar a autoestima dessa mesma escola. que infantilizam seus filhos, a ponto de man- problema de baixa autoestima, os índices
e milhares de cientistas, empreendedores A escola que sofre de baixa autoestima tê-los em casa até 30, 40 anos de idade. Se o como o IDEB mostrarão a triste realidade
e grandes pensadores. E nossa sociedade tem IDEB baixo, não alcança metas. Por- fizer, os adolescentes continuarão a fugir da do ensino brasileiro. Pois a escola que é
continua a ressaltar os contrastes em detri- tanto, não se reconhece como o Templo do escola, exatamente como fogem da casa dos valorizada pela própria comunidade, assim
mento do mérito e da igualdade de direitos Saber. pais, porque tudo o que ele quer (e precisa), como os filhos de cujos pais acompanham
e deveres. O IDEB retrata esta realidade E não sendo o Templo do saber, não con- é cuidar de si mesmo. a vida escolar, respondem com números
construída ano após ano com erros de dis- segue criar sentido de pertença nos alunos. E é exatamente esta a razão que faz com positivos e metas alcançadas.
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Opinião Do Leitor
EJA e a arte de educar
jovens e adultos
Por Maria Angela Diaféria*
Família e Escola:
em educação de adultos, precisamos 4. Motivação para aprender: adul-
ter como princípio a ideia de que tos mais motivados a aprender em
algumas particularidades precisam decorrência de fatores externos, como
Diálogo de Resgate!
ser respeitadas e, por essa razão, o melhores oportunidades de trabalho
currículo deve ser pensado em função e salários, mas também devido a
das necessidades deste perfil singular valores intrínsecos, como autoestima,
de estudante. reconhecimento pessoal, autoconfian-
Diferentemente dos usuais méto- ça, entre outros.
dos de ensino às crianças, os jovens Dessa forma, acabou-se o tempo Retomei a rotina de palestras com o material. Isso é mostrar O que tais famílias, hoje com
e adultos tendem a aprender algo em que a educação de adultos visava
quando esse conhecimento se associa e visitas às escolas, aqui na ao filho que resultados positivos dinheiro, mas sem postura ética
apenas ensinar o aluno a ler e a es-
a uma necessidade e função conecta- crever. Atualmente, ela está voltada à Paraíba. E, nas entrevistas que se conquistam com trabalho, estão criando para as gerações
das a sua realidade, de forma que os formação de agentes transformadores, faço para entender a dinâmica da esforço e dedicação. Os filhos futuras? O mesmo que as classes
conteúdos tratados em sala de aula críticos e aptos a ingressar ou se so- escola no preparo das palestras precisam sentir interesse dos pais mais pobres estão, achando que
precisam estar relacionados a temas bressair na vida profissional. e cursos, pude notar em várias na sua vida escolar, que a escola as escolas públicas estão boas
significativos da vida social e profis- O adulto chega à escola trazendo
sional destes alunos. É imprescindí- instituições um fenômeno em co- é importante para os pais. Isto é demais: jovens sem base de vida
um sonho, tal qual o de ser reconhe-
vel, portanto, que as aulas estejam cido pelo o que já sabe, e, em contra- mum: o completo abandono que amor. Ter filhos é exercer o dever para enfrentar os desafios do
baseadas e pautadas em experiências partida, tem consciência do que ainda se encontra a relação da família de cuidar e formar vidas e mentes. mundo moderno, mais compe-
concretas e funcionais interligadas à não sabe. Essa é uma importante com a escola! Claro, se a família A escola precisa de pais que titivo, exigente e ético.
vivência do grupo. ambiguidade do trabalho do professor não valoriza a escola, não é o verifiquem se há estudo e dedi- A família precisa ver a escola
Acabou-se o tempo em que a educação de adultos visava filho que verá a escola como um cação em casa. E espera que os como o lugar de ensino e trans-
apenas ensinar o aluno a ler e a escrever. Atualmente, ela está local importante. pais fiscalizem escola e aluno: formação da informação em
É incrível que o óbvio esperado se o conteúdo é ministrado de conhecimento. Lugar de ENSI-
voltada à formação de agentes transformadores, críticos e
não esteja acontecendo: pais pre- forma correta, notar e incenti- NO. A FORMAÇÃO MORAL
aptos a ingressar ou se sobressair na vida profissional. sentes nas escolas, em reunião, e var o interesse, a dedicação ou, DEVE VIR DE CASA! A escola
A pergunta “isto serve para quê?” que acompanham a rotina diária mesmo não gostando, que os não é depósito de aluno, pois não
na EJA, cuja atuação deverá se focar
deve estar sempre em evidência no no resgate deste sonho, procurando (ler agenda, verificar tarefas, trabalhos pedidos sejam feitos no é obrigação dos profissionais
planejamento do professor e permear trazê-lo à realidade, enquanto orienta ajudar nos trabalhos), e que prazo e bem feitos. Afinal, a vida da escola aturar jovens mal-e-
o dia a dia do educando. Torna-se o educando na busca por sua excelên- comparecem quando chamados à é assim: prazo, qualidade, luta ducados, grosseiros, pedantes,
função do educador, assim, provo- cia educacional. escola. Estes fatos são a cada dia para obter bons frutos. Ninguém que juram ser donos do mundo,
car transformações nestes alunos, Vale mencionar a lição de Paulo
a partir do conhecimento (saber) mais raros no universo escolar. gosta de todas as rotinas da vida ensinar e educá-los. A roupa
Freire, presente no livro Pedagogia
que será transmitido, associado às da Tolerância, coletânea de reflexões O fato de termos uma socieda- ou do emprego, mas precisam ser vem limpa da lavanderia, os fi-
habilidades (saber fazer) intrínsecas organizada por Ana Maria Araújo de que julga como “muito boa” a feitas, goste-se ou não! Mimar o lhos não vêm prontos da escola!
deste conhecimento e por meio de Freira (2004, p. 206), no qual ele escola dos seus filhos (a imensa filho, criticar a escola porque deu Muitas vezes, ao chamar os pais
atitudes (querer fazer) do educador e afirma que “não é possível sonhar e maioria dos pais de alunos da rede tarefas no final de semana, dar à escola, descobrem: o aluno até
do próprio educando. realizar o sonho se não se comunga
Esse é o grande desafio da educa- pública pensa assim) já é uma tra- razão ao queridinho sem antes que “está bem”, frente aos pais
este sonho com outras pessoas.”
ção: agregar valor ao que se propõe Deve o professor da EJA, de tal
gédia colossal. O fato de termos visitar a escola e entender as ra- grosseiros, estúpidos e desboca-
a ensinar, sem deixar de cumprir as modo, incentivar seus alunos a in- escolas em ruínas, professores zões e estratégias ou as situações dos que possui. Também cabe à
exigências competitivas do mercado vestir em si mesmos e a buscar seus mal preparados e desvalorizados de conflito só faz o aluno ver a escola encontrar um canal para
de trabalho. sonhos, alcançando por meio desta pelo governo causa um dano escola como desprezível. Pior deixar isto bem claro às famílias,
O modelo andragógico, nesse união o resultado prático de suas para o aluno.
viés, possui os seguintes princípios
ao país semelhante a milhares sem medo de perder alunos ou
idealizações, formando o aluno como de bombas atômicas: os efeitos O que a escola não precisa é sofrer pressão política.
básicos: ser humano tanto quanto profissional.
1. Saber justificado: adultos preci- Por estes motivos, ressalto que da má qualidade sentem-se por pai e mãe “dono da verdade”, Todos precisam entender que
sam saber por que precisam aprender enquanto a escola prepara a criança muitos anos, como a radiação. que comparece para reclamar de falhas no processo de apren-
algo e qual o ganho que obterão nesse para o futuro, na EJA a escola prepara E temos uma classe média que tudo e de todos quando seu filho dizagem e eventuais trans-
processo. Ainda, o aprendizado é mais o adulto para o presente, oportunizan- coloca o filho na escola privada rende pouco, sem observar o seu gressões dos alunos requerem
bem aproveitado e retido quando do diminuir a distância entre o que o
os conceitos apresentados são bem como deixa roupas na lavanderia, papel no processo de formação PARTICPAÇÃO E DIÁLOGO
adulto espera aprender na escola e o
contextualizados, demonstrando sua que a escola oferece de aprendizado que despreza a escola, que manda do aluno e da pessoa. Curioso: FAMÍLIA-ESCOLA. Muitas
aplicação prática e sua utilidade. para este adulto. Ao mesmo tempo, a o advogado representar os pais a escola é visitada “rapidinho” escolas privadas temem serem
2. Novo conceito de aprendiz: adul- EJA procura traduzir para a realidade nas falhas disciplinares. Que a por pais “revoltados” quando mais rígidas por medo de perder
tos são responsáveis por suas decisões social deste indivíduo o que ele espera escola é boa enquanto o filhinho o professor chama a atenção alunos, assim como muitos pais,
e por sua vida, portanto, querem ser de seu ambiente educacional e social,
vistos e tratados pelos outros como não reclama ou enquanto a escola do aluno, quando a nota baixa que acham que perderão o amor
em contraste com o que a sociedade e
capazes de se autodirigir. o mercado de trabalho buscam deste não incomoda os afazeres ou o sa- aparece. E vem cheios de razão, dos filhos, se forem rígidos. Ao
3. Aprendizado e realidade: para profissional. grado passeio de fim de semana... como se o filho jamais estivesse contrário: o LIMITE TAMBÉM
o adulto, suas experiências são a é a coisificação do ensino. Como errado. Mas, entender COMO se É AMOR. É sentido como amor.
base de seu aprendizado. As técnicas se escola fosse bem material. construiu a tal nota, qual a res- Escolas que fazem valer o re-
* Maria Angela Diaféria é asses-
que aproveitam essa amplitude de
diferenças individuais e sociais, re- sora pedagógica da Editora FTD. O aluno precisa sentir os pais ponsabilidade sobre alguma má gimento são mais valorizadas!
preocupados com a aprendiza- conduta, parece não interessar. Ninguém dá valor à escola frou-
gem, com o ritmo da aula, com Ah, o professorzinho é malvado. xa; Nem filhos dão valor a pais
o dever de casa bem feito, com a O professor criticou a postura permissivos e irresponsáveis. A
leitura dos assuntos trabalhados pedante e ignóbil da mocinha chave? Comunicação! Textos
em sala, interessados em ler a lindinha do Papi? O professor aos pais, reuniões pessoais:
agenda, em conferir o capricho constrangeu a filhinha, tadinha... aproximação!
Opinião do leitor
Rua Marinho Lobo, 512 Sala 40 * Gilmar de Oliveira, psicólogo clínico e professor uni-
Fone: (47) 3433 6120 e 84150630 versitário; especialista em Neuropsicologia e Aprendi- @psicogilmar
89201-020 - JOINVILLE - SC zagem; Mestre em Educação e Cultura.
E-mail: gilmardeoliveira@uol.com.br www.facebook.com/psicogilmar
E-mail: opiniao@jornaldaeducacao.inf.br
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formação de leitores
brasileiro para intercâmbio no exterior. Para saber
mais, acesse: http://www.universia.com.br/
Prêmiação internacional pdf ou pelo telefone (32) 2102 – 3118. Medicina será de R$ 200,00. Para os demais, R$
125,00. Para esta edição, serão oferecidos dois
Bolsas para estudar no exterior - O portal da novos cursos: design digital e bacharelado em
Universia Brasil (www.universia.com.br) divulga filosofia. Outra novidade é que somente serão
Itapoá - A Di- neste mês de setembro milhares de opções de corrigidas as provas específicas dos candidatos ao
retora Pedagógica bolsas para quem deseja estudar fora do Brasil. Há curso de Medicina com as maiores pontuações na
opções de bolsas para os Estados Unidos, Inglater- prova de conhecimentos gerais até o limite de 10
Fátima Cristina de ra, Espanha, Japão, entre vários outros países. Ao vezes o número de vagas ofertadas. Ocorrendo
Araújo Pereira e navegar pelas possibilidades divulgadas pela rede empate na pontuação da prova de conhecimentos
a Coordenadora de colaboração universitária, o estudante também gerais, no limite de 10 vezes o número de vagas
vai encontrar oportunidades para estudar em di- ofertadas, os candidatos nessa situação terão
Rosana Brauer re- versos países da Europa, América do Sul e em em sua prova específica corrigida. As provas serão
ceberam no último países asiáticos. A Universia Brasil é especializada realizadas nos dias 28 e 29 de novembro. Mais
dia 22 de agosto em em pesquisar e reunir, em um mesmo ambiente informações e inscrições pelo www.puc-campinas.
digital, bolsas de estudos oferecidas para brasilei- edu.br
Curitiba (PR), em
nome da secretária
de educação Te-
PROFESSOR
rezinha Fávaro da
Silveira, o Prêmio
Integração Latino
Americano 2014.
O prêmio conce-
dido pela Câmara Seu trabalho resultou em
Internacional de
Pesquisas e Integração Social – CIPIS, em países e esta é a segunda vez que Itapoá é aprendizagem? Compartilhe
reconhecimento à relevante liderança, exem-
plos, trabalhos, projetos e programas desen-
destaque internacional pela Educação Em-
preendedora. A primeira foi em 2011.
com seus colegas. Chame o
volvidos para melhoria na área educacional. A secretária comentou que “ficamos gratos JE para fazer reportagem!
A CIPIS é uma Organização não-gover- pela premiação que reconhece o trabalho
namental de incentivo ao desenvolvimento dos profissionais e os projetos realizados no
da integração econômica cultural e político- nosso município. Isto é fruto de uma equipe
social entre líderes, empresas, autarquias
públicas ou privadas na América Latina.
trabalhadora e uma gestão que apoia a edu- Mande sua sugestão para:
cação e que tem como objetivo um ensino de
Para a premiação, foram analisados oito qualidade para os nossos alunos”. jornalismo@jornaldaeducacao.inf.br
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ISSN 2237-2164 ProjetoPerfil
RENOVAÇÃO
pedagógica no
SÉCULO XX
A publicação da coletânea marcadores sociais gênero e Ele é basicamente constituído
intitulada “Quinze Pedagogos”, etnia, que às vezes a “pedagogia por textos elaborados por alu-
organizada por Jean Houssaye, feminista” e a questão da desi- nas/os, produzidos no presente
que reúne textos de Rousseau a gualdade étnico-racial ganham ano, no âmbito da disciplina
Rogers, passando pelos princi- um espaço curricular excessivo. “História e Educação: da Escola
pais clássicos do movimento da Não por acaso, os cursos de Nova à redemocratização da so-
Escola Nova, é muito oportuna. Pedagogia têm dado relevo aos ciedade brasileira”, ministrada
A sua orelha afirma que a tradi- saberes sociais em detrimento por mim no Curso de Pedagogia
ção escolanovista tem passado ao saber/fazer especificamente da UDESC.
por um eclipse no Brasil devido pedagógico. Essa configuração Trata-se de uma experiência
à busca das “raízes mais freinetiana, em que
Releituras
nacionais”, à permanência os alunos/as, organi-
do tecnicismo da ditadura zadas/os em equipes,
militar e à emergência de escolheram matrizes
novíssimas perspectivas Organizador Norberto Dallabrida* pedagógicas do Nove-
epistemológicas. centos que desejavam
A argumentação é perti-
nente, mas é preciso acrescentar curricular acabou por minimizar investigar e aprofundar.
o estudo da vigorosa tradição Ademais, alguns textos são
que, especialmente a partir da
educacional renovadora, que assinados por professores, como
abertura política, a pedagogia
vem sofrendo um processo de fora inventada pelo movimento aquele sobre a Escola da Pon-
transbordamento. Nessa pers- da Escola Nova e desdobrada e te, de Rui Trindade – docente
pectiva, o processo escolar é reinventada por matrizes peda- da Universidade do Porto.
analisado preferencialmente a gógicas como a Summerhill ou A UDESC e o Jornal da Edu-
a Pedagogia Freinet. cação esperam que a publica-
partir de um olhar macrosso-
ciológico, em que a sociedade A orelha do livro “Quinze Pe- ção dos pequenos textos deste
ganha destaque. O importante é dagogos”, conclui: “como resul- caderno especial do Projeto
tado desses diferentes e com- Perfil, provoque reflexões sobre
compreender a sociedade ca-
plexos movimentos, tivemos a necessidade de recuperar a lei-
pitalista, marcada pela luta de
classes, onde o sistema escolar uma perda de uma história que tura dos clássicos da Pedagogia,
se insere. parece-nos importante recuperar contextualizados nas dimensões
Esse transbordamento colo- agora”. Melhor: é preciso reler histórica e sociológica.
as multifacetadas experiências É necessário, enfim, “repe-
ca-se também em relação aos
renovadoras da educação para dagogicizar” a Pedagogia com
marcar diferenças e perceber o intuito de tornar a Educação
como o passado invade o pre- Básica mais eficaz e justa.
sente.
Nesta direção, o presente
caderno especial do Jornal da
Educação procura dar um passo *sorColunista do Jornal da Educação, profes-
da UDESC e coautor de “A Escola da
na direção de compreender, de República: os grupos escolares e a moderni-
zação do ensino primário em Santa Catarina
forma crítica e contemporânea, (1911-1918)”.
algumas matrizes da renovação E-mail:norberto@udesc.br
pedagógica no século XX.
Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 Pág. 5
Um ensino
método tradicional de ensino, colocadas em percebida como de transição e comparada
prática na Escola Laboratório na Univer- aos povos primitivos, cujos interesses eram
sidade de Chicago. Tendo como princípio alimentação, abrigo e conforto.
Helena Parkhurst em sala de aula
o interesse da criança e, ao mesmo tempo, Os alunos de 8 anos eram o grupo V,
individualizante
educando com seu método
substituir o currículo escolar tradicional focados nas ocupações ligadas à explora-
pelas ocupações, Dewey criou em 1896 a ção e descoberta – atividades marítimas e
sua escola, onde recebia crianças de 4 a 10 comerciais dos fenícios, unindo medidas,
anos, divididas em sete grupos, de acordo equivalência, sistema numérico e de ano-
com as suas idades e necessidades e, assim, tações e ocupações contemporâneas, como
colocava em prática o método onde não vendedor. As matérias passaram a ser mais O movimento da Escola Nova originou- antemão se compromete a resolver” (LOU-
havia distinção entre viver e aprender. delineadas: História, Leitura, Ciências, se no século XIX sobretudo na Europa e nos RENÇO FILHO, 1978, p. 173).
A Escola Laboratório dividia os grupos Culinária, Arte e Trabalhos Manuais – sen- Estados Unidos, seu período de destaque Em relação aos professores, estes deve-
em diferentes ambientes de uma casa. O do História o foco. Estudavam a descoberta compreende os anos de 1900 a 1945. Os prin- riam aconselhar e controlar o trabalho dos
currículo era culinária, cipais educadores do movimento foram John alunos. Para isso havia um acordo entre o
tecelagem e atividades Dewey, Ovide Decroly e Maria Montessori, professor e o aluno denominado “contrato
que traziam conhe- os quais, por meio de suas experiências edu- de trabalho”. Cada um desses recebiam uma
cimento formal de cativas, elaboraram novos métodos de ensino ficha, onde ficava registrado todo trabalho
modo diferenciado a fim de romper com o caráter tradicionalista realizado. O professor elaborava um plano
e prática. Todas as do sistema educativo. Desse modo os esco- de estudo para cada aluno, considerando
atividades partiam da lanovistas almejaram promover a formação seus conhecimentos, seus interesses e suas
experiência infantil de uma escola ativa, onde os alunos seriam capacidades.
que, com base nos “levados a aprender observando, pesquisan- Esse plano era composto por atividades
conhecimentos trazi- do, perguntando, construindo, pensando e que eram registradas em fichas. Para a
dos, proporcionavam resolvendo situações problemáticas” (LOU- realização desses afazeres, o aluno tendia
a compreensão de RENÇO FILHO 1978, p. 151). à individualizar-se e acabava trabalhando
novas informações, Neste contexto, muitos educadores e pes- sozinho. Em sequência, tais atividades/
provocando acúmu- quisadores se apropriaram das ideias de de- fichas eram verificadas e avaliadas pelo pro-
lo progressivo de terminados escolanovistas para pensar suas fessor e, desse modo, este tinha o controle
experiências. Isso práticas educativas. Um desses exemplos é da aprendizagem de seu aluno. Além disso,
permitia que a organi- o da professora Helena Parkhurst, a qual se para que os professores pudessem executar
zação lógica tomasse fundamentou nos princípios pedagógicos de suas tarefas de maneira satisfatória, esses
forma psicológica e John Dewey para desenvolver seu método deveriam especializar-se a fim de modificar
as habilidades acadê- de ensino, buscando assim, tornar a sala de sua prática de ensino tradicionalista (LOU-
micas eram sobrepostas pela atribuição de do continente americano, aproveitando para aula um espaço renovado e voltado para
o estudo de mapas e rotas. Ampliavam o RENÇO FILHO, 1978; BENITO, 1985).
uma significação da vida social. Os gru- uma educação progressiva. O Plano Dalton foi criticado por não
pos I e II eram das crianças de 4 a 5 anos vocabulário através da leitura e escrita, que Foi em uma escola localizada na cida-
já era uma necessidade lógica e se tornava ter eliminado as práticas tradicionais de
e os assuntos tratavam da sociedade que de de Dalton, Massachusetts, que no ano ensino, pois previa a racionalização do
compreendiam: ocupações domésticas e prazerosa. de 1919, Helena Parkhurst desenvolveu
A escrita, a leitura e os números foram mesmo, devido à forma de organização e
relação com casa e vizinhança. Era possí- sua experiência educativa, culminando na distribuição do conteúdo curricular e pelo
vel já terem contato com noções de física, identificados como interesses do Grupo elaboração de seu plano de ensino intitula-
VI (9 anos). Interessados pela história do trato do professor para com os alunos (este
química e biologia, por exemplo, enquanto do como “Dalton Laboratory Plan” – mais exercendo um papel de controlador). Outros
observavam e auxiliavam no preparo de seu país, iniciavam pela cidade. Animais, conhecido como Plano Danton. As ideias
plantas, ocupações, construções e lingua- fatores que repercurtiram em críticas foram
alimentos – ficavam num espaço amplo que norteadoras desse plano se voltavam para em decorrência ao predomínio das ativi-
compreendia a cozinha e permitia ativida- gem foram vistos. Introduziu-se francês e liberdade, responsabilidade, trabalho
alemão, e o estudo da história local trouxe dades individuais, promovendo o processo
des lúdicas – e nos passeios aos arredores individual e aproveitamento do tempo. Por de individualização dos alunos. E também
da escola para perceber insetos e vegetação. a discussão sobre liberdade religiosa e di- isso, ele não poderia ser desenvolvido com
visão geográfica. O grupo VII, alunos com devido o plano/método de ensino não ser vi-
O trabalho do pai e as atividades da mãe crianças que não soubessem ler. Exigia-se ável a todos os alunos, uma vez que segre-
eram discutidos. Trabalhavam os familiares 10 anos, centrava seus estudos na história então, uma idade mínima para poder parti-
colonial e na revolução, e a tecelagem era gava os que ainda não fossem alfabetizados
e pessoas próximas de várias formas – cipar desse processo educativo, qual seja de (BENITO, 1985).
pintura, escultura em argila, dramatização utilizada como ferramenta. Estudavam nove anos.
geologia e fisiologia. A experimentação De acordo com o que foi explicitado
– gerando a evolução oral e expressiva. De acordo com Parkhurst, o desenvolvi- sobre o Plano Dalton, pode-se afirmar que
As crianças de 6 anos formavam o Grupo era utilizada na culinária. Já mais indepen- mento da aprendizagem do indivíduo acon-
dentes, ao final do ano, eram capazes de este não foi tão exitoso para com o rompi-
III e ficavam num dos melhores espaços da tece de forma diversificada pois cada um mento das práticas tradicionais de ensino,
casa, com laboratório de biologia, aquário e controlar melhor a imaginação e tinham tem um nível de conhecimento, tem sua for-
maior capacidade de abstração, resultando contradizendo determinados princípios
terrário montados com materiais coletados ma, seu ritmo e seu tempo para aprender. escolanovistas, sobretudo os que funda-
por elas. Apenas duas horas por semana em planos de ações sequenciais. Ela defendia a ideia de que as salas de aula
Pode-se concluir que a Escola Laborató- mentaram a prática pedagógica de Dewey.
eram dedicadas aos estudos intelectuais, de uma escola deveriam ser transformadas Sendo que esta enfatizava a importância da
o restante era dedicado ao lúdico, aliando rio foi a comprovação de que é possível ha- em laboratórios, onde os alunos pudessem
ver aprendizagem no momento em que se formação de uma educação democrática e
excursões. O objeto de estudo deixou de ser sentir-se livres para a investigação e para a dialógica.
o individual - quem traz: leiteiro – e passou estreita a relação entre teoria e prática, que escolha de seus trabalhos. Nesse contexto,
a ser o produto (leite), incluindo objetos as crianças aprendem até melhor a partir era esperado que os alunos vivenciassem
naturais e processos humanos. A professora do momento em que lidam com coisas re- e realizassem suas experiências por sua REFERÊNCIAS:
incentivava a leitura escrevendo o nome de lacionadas a sua vida cotidiana familiar em própria iniciativa, para que assim eles pu- BENITO, Agustin Escolano. Historia de la Educacion
objetos na lousa, o aluno que reconhecesse uma sala de aula, além de ter seus laços de dessem ter o desenvolvimento espontâneo II: La Educación Contemporánea. Madrid: Anaya,
deveria buscá-lo. O Grupo IV era composto cooperação aguçados. No fim, as crianças de suas capacidades. Por exemplo, o aluno 1985.
por alunos de 7 anos que estudavam a his- se sentem mais incluídas na sociedade pelo “trabalha livremente, à vontade, segundo LOURENÇO FILHO, Manuel. B. Introdução ao estudo
simples fato de entender a função daqueles possa fazê-lo, pesquisa nos livros, observa, da Escola Nova. 12 Ed. São Paulo: Melhoramentos,
Pág. 6 Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 que convivem ao seu redor. e responde às questões propostas que de 1978.
Decroly
e os centros de
interesse para educar
Juliana Hardt, Leana Gioia Siqueira, Priscila
Fermiano Machado e Shaiene dos Santos Goulart
(Acadêmicas do Curso de Pedagogia da UDESC)
Kerschensteiner
no centro do processo educativo e também quero trabalhar a semente, começo com a
a figura do professor como mediador, ou árvore. A partir dela vou indo desde a raiz,
seja, o estabelecimento de uma relação que a fixa no solo e retira dele seus nutrien-
horizontal entre professor e aluno na busca tes, para o caule, que leva os nutrientes
e a escola do trabalho
do conhecimento. É uma revolução educa- retirados do solo aos galhos e folhas, que
cional que teve seu auge aproximadamente permite o florescer, que resultará na fruta
entre 1900 e 1945 e se contrapõe a escola que contém a semente, que cairá no solo e
tradicional. poderá gerar uma nova árvore.
Nesta época, tanto no espaço europeu De acordo com a curiosidade das crian- Carlise Führ, Ediani Mistura e
como nos EUA, surgiram alguns formula- ças e o desenvolvimento, surgirão noções Fernanda Bernadeth Pacheco
dores importantes, que criaram, testaram, de geografia, ciências, história, higiene, (Acadêmicas do Curso de Pedagogia da UDESC)
aplicaram e divulgaram seu método de cálculo, redação e desenho. Não existe tem-
ensino várias partes do mundo, dentre eles po definido para a duração dos centros de Por volta de 1895, preocupado com a transmissão de conhecimentos, mas como o
podemos destacar Ovídio Décroly, que interesse devido a riqueza de possibilidades forma com que a educação vinha sendo desenvolvimento de valores. Defendia uma
nasceu, em 1871, na Bélgica. Formou-se exploratórias. Quando seus métodos são conduzida e impulsionado por exigências à educação adaptada à cada fase de desen-
em Medicina e especializou-se em neuro- aplicados em sala de aula a resposta é bem uma reforma manifestada pelos professores volvimento tornando-se mais receptiva ao
logia; posteriormente estudou Psicologia positiva. No entanto, exige que o professor primários das escolas de Munique, Kers- educando.
e Pedagogia. Atuando chensteiner viu nesse contexto uma alter- Desta forma, Kerschensteiner percebia o
na área da neurologia, nativa para potencializar o aprendizado dos desenvolvimento humano em quatro fases
interessou-se em estudar alunos, inserindo nas escolas os trabalhos distintas. A primeira infância ocorre dos
um pouco mais e educar manuais. zero aos dois anos e nesta fase a criança
as crianças especiais, com Dedicou grande parte de sua carreira de necessita de um outro ser para sobreviver,
isso ele fundou, em 1901, pedagogo à educação, sendo precursor na ou seja, a prioridade da criança é a satisfa-
o instituto École d’En- ideia de uma educação ativa, onde a teoria e ção dos instintos e dos reflexos vegetativos.
seignement Spécial pour a prática se complementavam. Via a escola Já na segunda fase que segue dos três aos
Enfants Irreguliers (Escola como uma comunidade de trabalho, onde os sete anos, a criança age conforme os seus
de Educação Especial para alunos e professores trabalhavam conjun- instintos e sensações, associando assim as
as Crianças Irregulares) e tamente em prol de um objetivo comum. percepções e representações.
pode assim observá-las de Assim, o educador era visto como um Já a terceira fase, que compreende o pe-
modo regular e científico. mediador do ensino, devendo respeitar os ríodo dos oito aos catorze anos, as crianças
Percebeu que podia aplicar interesses dos alunos, que devem adquirir apresentam interesses egocêntricos do tra-
os seus métodos também por si só a educação, portanto devem con- balho. Através da produção de objetos eles
nas crianças normais e, cluir as próprias tarefas e nunca a escola. colocam em prática atividades produtivas
em 1907, fundou a escola Para o pedagogo, a escola era muito mais e surgem interesses espirituais. Logo, a úl-
L’Ermitage que tinha como que um espaço de instrução, sendo a edu- tima fase inicia aos quinze anos e continua
lema “uma escola para a cação vista de forma global e ampla, vendo até a sua maturidade, ou seja, o adolescente
vida e pela vida”. o desenvolvimento cultural como funda- desenvolve um sistema de valores e começa
Décroly foi um estudan- mental na formação da personalidade dos a obter sua autonomia. Ele torna-se maduro
te indisciplinado que não alunos. Para ele, nossa vida está dividida para seguir sua própria vocação.
aceitava o autoritarismo em quatro fases de desenvolvimento, nas O pedagogo alemão defendia ainda
dos professores e do seu quais se baseia para aplicação de sua teoria. sete princípios fundamentais no processo
pai. Foi expulso de várias escolas e Recu- esteja muito bem preparado e que possa Defende também sete princípios fundamen- educativo. Para ele a totalidade é um dos
sava-se a frequentar as aulas de catecismo. contar com os familiares dos alunos e com tais que devem ser observados no processo princípios de grande importância onde em
Acreditava que o ensino não deveria ser a comunidade, facilitando a variedade de educativo. Em sua teoria, preza por uma primeiro lugar está a constituição global do
autoritário e nem religioso. Isso o influen- experiências para as crianças. educação onde há um envolvimento do aluno e sua formação integral. Quanto ao
ciou a criar e experimentar uma escola que Decroly acreditava que o as aprendiza- professor não apenas no ato de ensinar, mas outro princípio, o da atualidade, requer uma
estivesse voltada ao aluno e que também gens aconteciam espontaneamente e que o também na formação da personalidade dos ação pedagógica que satisfaça o desenvol-
preparasse para a vida em sociedade, e que principal era que as crianças aprendessem alunos. vimento axiológico e teleológico do aluno.
não apenas passe conhecimentos de uma a aprender e que gostassem de aprender, o O professor deve, portanto, compreender Já o princípio da autoridade é desenvolver
formação tradicional. meio em que estavam era importante para a educação como um ato de amor, sendo a obediência heterônoma até que o aluno
A proposta educacional de Decroly se estimular os interesses e a aprendizagem. necessário apresentar alguns sentimentos atinja uma obediência autônoma. O princí-
desenvolvia através de centros de interes- Ele fazia uso da liberdade para oportunizar como o afeto e o entusiasmo, além da pio da liberdade tem como objetivo permitir
se, visando tornar a aprendizagem mais a iniciativa das crianças e também a sua capacidade de observar e compreender que o aluno faça as suas próprias escolhas.
estimulante e viva. Os centros de interesse responsabilidade. as particularidades de cada aluno, quanto O quinto princípio que é da atividade busca
destinavam-se principalmente às crianças Embora seus estudos tenham sido de ao seu aprendizado. Assim, cada aluno é envolver mentalmente os alunos no proces-
das classes primárias e eram organizados imensa importância na História da Pedago- visto individualmente, com potencialidades so de aprendizagem. Através da sociabilida-
de acordo com a faixa etária do aluno. Ele gia, Decroly se negou a escrever uma obra diversas e o papel do professor é despertar de trabalha-se a autonomia pessoal junta-
acreditava que a criança aprende as coisas que retratasse as suas ideias, não conside- no aluno suas potencialidades. Criticava a mente com os interesses da comunidade. O
de forma global e só depois atenta aos rava concluída a sua concepção educacio- memorização e imposição de conteúdos, último princípio, da individualidade preza
detalhes. A ideia dos centros de interesse é nal e tinha medo, que publicando as suas por não desenvolverem as capacidades dos pelo respeito das diferenças.
trabalhar os conteúdos de forma integrada, técnicas, elas se cristalizassem, antes de se alunos. É possível, portanto, perceber a grande
baseando-se nas necessidades dos alunos. preocupar com fórmulas, procurava apre- Em sua concepção, se os alunos não influência de Kerschensteiner no proces-
Deste modo deve-se partir sempre de um sentar princípios. aprendem a escola que é falha, ou seja, está so educativo especialmente por sua visão
contexto amplo para identificarmos por Apesar de não serem tão conhecidas no em desacordo com sua finalidade peda- pedagógica voltada ao desenvolvimento
quais temas os alunos se interessarão e daí campo pedagógico atual, as propostas de gógica. Para ele, o ato de ensinar envolve cultural e espiritual dos educandos, enten-
iniciar o planejamento. Ovídio Decroly foram adotadas principal- um saber cultural que é a objetivação do dendo a educação como um processo amplo
Para Decroly, a sala de aula está por toda mente na Bélgica e na França, chegaram espírito, tendo um grande valor formativo. e não somente voltada ao repasse mecânico
também em países da América Latina como A cultura é, portanto, necessária para que dos conteúdos, distinguindo-se dos métodos
Pág. 8 Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 o Chile, o Uruguai, a Argentina e o Brasil. a educação ocorra não como uma simples tradicionais do ensino.
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ISSN 2237-2164 ProjetoPerfil - Renovação Pedagógica no Século XX
Fazer com que a criança vivencie que passam no grupo como em relação
o mundo é bom. Esse é um dos objetivos ao que ela vivencia em casa, como,
do jardim da infância da escola Waldorf, por exemplo, uma nova gravidez da
conforme relata Sandra Beck*, educadora mãe.
e uma das fundadoras da Escola Waldorf Esse respeito pelo ritmo da crian-
Anabá, de Florianópolis/SC. Segundo ela, ça está presente também nas rotinas
nessa fase a criança aprende as coisas do que se estabelecem na escola e que
mundo brincando e imitando, “o jardim, compõem o currículo da educação
para nós, é o espaço onde a criança é muito infantil Waldorf. Há fatos, gestos
protegida e tudo deve ser bonito, agradá- e atividades que se repetem, desde
vel, com o máximo possível de coisas natu- um grande ritmo que é o anual (ou
rais, e que ela se relacione afetivamente, solar) – vivenciado com as estações
emocionalmente com as coisas.” do ano e as festas relacionadas –
A Pedagogia Waldorf, idealizada pelo passando pelo ritmo mensal (ou
austríaco Rudolf Steiner, é um dos ramos lunar), até a rotina diária de cada
da Antroposofia e concebe que a educação turma. Em todos esses momentos,
deve respeitar as fases de desenvolvimento numa roda rítmica, há a escolha
da criança e está voltada para três esferas: por músicas, cores, histórias e A brincadeira, a imaginação e a imitação são os principais componentes da educação infantil na Pedagogia Waldorf
a cognitiva (pensar); a emocional (sentir); uma teatralização que, sutilmente, o
e a prática / manual (querer). Para Steiner, educador relaciona com cada época pela idade da criança, pelo que ela está fazer escolhas”, conclui.
a educação da criança até os seis anos deve e repete por um período de tempo deter- passando naquela fase e um estudo muito Ao entrar na escola Anabá depara-se
privilegiar o desenvolvimento do corpo minado. Essa repetição é desejada pela profundo do que é essa fase e do que ela com um espaço amplo para as brincadeiras,
físico e para que isso ocorra de forma criança que incorpora e se entrega a esse precisa nessa idade”, de forma que não seja arborizado, com construções em madeira
saudável é preciso compreender que a pri- ritmo – “normalmente [as crianças] estão um “currículo imposto para a idade, mas e uma decoração que remete ao aconchego
meira forma de relacionamento da criança inseridas e normalmente estão brincando a idade pedindo um currículo”, enfatiza da casa da vovó. Pela observação, enquan-
com o mundo se dá através da imitação e de uma maneira muito sonhadora. Ela não Sandra. Segundo ela, “é uma necessidade to se aguardava o início da entrevista, foi
do exemplo. está pensando, ela está entregue. Quanto sendo suprida, como um alimento – se possível perceber o tom baixo, harmonioso
O verbo, portanto, em um jardim da mais saudável a criança, mais entregue ela ela é suprida essa criança vai estar bem, e afetuoso com que uma professora atendia
infância Waldorf é brincar. As atividades está ao brincar”, conta Sandra. ela não vai estar com um vazio, como um grupo de crianças que brincava livre-
intelectuais não estão presentes nessa fase, Realiza-se, assim, uma atividade que é uma ‘desnutrição’, porque [um currículo mente. Esse é um dos elementos funda-
mas a imaginação, a imitação e o fato de específica para cada dia e que está muito imposto] é uma desnutrição da alma.” No mentais presentes na Pedagogia ideali-
que à criança é permitido alimentar uma relacionada com os afazeres do homem, entanto, como lembra Sandra, cada criança zada por Steiner – que o ambiente possa
consciência sonhadora em relação ao como a jardinagem, o fazer o pão, a pintu- é diferente e deve haver, nesse sentido, um provocar alegria e que nele também os
mundo, faz com que seu desenvolvimento ra, e outras que os professores têm a liber- olhar para a individualidade. educadores demonstrem um afeto sincero
aconteça de uma maneira saudável, explica dade para eleger de acordo com as neces- Além disso, ela relata: “a gente acredita, e que suas condutas sirvam de exemplo às
Sandra. sidades de cada grupo. Nessas atividades como professores da escola Waldorf, que a crianças.
Dos quatro aos seis anos, as crianças da estão incluídas aquelas que proporcionam nossa responsabilidade é para com a vida
escola Waldorf Anabá não são divididas * Entrevista concedida em
uma ligação da criança com a natureza, e, desse ser” e que o ideal dessa Pedagogia 3/9/2014, na Escola Waldorf
por idade. Isso possibilita que a criança, como concepção, estão dispensados todos é uma formação para a liberdade, ou seja, Anabá, Florianópolis/SC.
não estando inserida dentro de expectati- os recursos tecnológicos audiovisuais – uma formação que ajude a criança a se Fonte: http://www.antroposofy.
vas relacionadas a uma idade específica, que se considera, não fazem parte e até emancipar e que, quando adulta, ela “possa com.br/wordpress/conheca-a-pe-
possa progredir ou regredir como é natural prejudicam o desenvolvimento da criança. agir com liberdade, não dentro de dogmas gagogia-waldorf/
nessa fase, tanto em razão de fatos que se Há a necessidade de se ter o “respeito [...], mas porque se fortificou e consegue
Summerhill: que liberdade é esta? atividades distintas, que envolvem teatro, calendário serve para que haja um controle
histórias, danças, cinema, passeios, etc. e para que as crianças saibam quais classes
Amanda Vieira, Aniger Ulima Vargas Medeiros, Camila Apesar de toda a liberdade, e de muitos ainda estão disponíveis e possam, assim,
Vieira da Rosa,Catarina Andrade Correia, Luiza acharem que Summerhill é uma escola decidir o que fazer com seu próprio tempo.
Fernandez de Moura Ferro e Maria Carla May para as crianças fazerem apenas o que No entanto, existe também uma regra que
(Acadêmicas do Curso de Pedagogia da UDESC) querem, existem regras sobre a hora de impede os alunos de dormirem durante o
acordar, hora de almoçar e hora de dormir dia, assistirem TV ou jogarem video game
“Gostaria antes ver a escola produzir encontradas nos Estados Unidos, em Por- que devem ser seguidas até mesmo pelos durante o horário de aula ou irem ao centro
um varredor de ruas feliz do que um eru- tugal, e em outras espalhadas pelo mundo, alunos que não pretendem frequentar as au- da cidade antes do meio dia.
dito neurótico” (Alexander Neill) que atuam apenas com partes do método, las. São eleitos beddies officers – “policiais Os professores têm autonomia para de-
não utilizando-o de forma totalitária. das camas –, para que tenham um controle cidir como irão conduzir suas aulas, porém
O escritor, jornalista e educador Ale- Em uma instituição onde questões refe- de quem ainda não levantou da cama pela existem requisitos a serem cumpridos.
xander Sutherland Neill, fundou a escola rentes aos estudantes são discutidas pelos manhã, por exemplo. O café da manhã é Os docentes que ministram as aulas para
Summerhill. Seguidor de ideias do filósofo próprios em fóruns que se repetem periodi- servido das 8h às 8h45 e, até 8h30, todos alunos mais velhos, por exemplo, devem
Jean-Jacques Rousseau, acreditava na camente, a prática representa uma visão de devem estar de pé e vestidos, ao contrário ser capazes de ensinar sua matéria até o
possibilidade da criação de escolas que liberdade, de democracia. Summerhill se podem ser multados pelos “policias das nível do Certificado Geral da Educação
viabilizassem a liberdade da criança, onde constitui em um internato que acredita na camas”, as multas variam de ter que pagar Secundária, qualificação acadêmica feita
esta pudesse se tornar independente. Neill bondade absoluta das crianças, fator fun- 10% do dinheiro que você tem economiza- por alunos de 14 a 16 anos, na Inglaterra,
foi consagrado com títulos pela importân- damental para que estas possam se tornar do a ter que trabalhar meia hora, ajudando País de Gales e Irlanda do Norte.
cia de suas ideias inovadoras e suas obras livres. Com grande afeto por instrumentos a comunidade escolar. Ao criar a Summerhill, Alexander
são atualmente estudadas mundialmente. para brincar, construção e conserto de As aulas funcionam da seguinte manei- Neill tinha em mente uma instituição que
A Summerhill, desde sua inauguração, objetos, a diversão se consagra antes que o ra: cada início de semestre letivo é dado à passasse a liberdade necessária para que
em 1921, teve seu endereço alterado ensino. Ou seja, a educação acadêmica não criança um calendário onde ela escreverá o estudante tornasse-se autônomo, com a
diversas vezes, fixou-se permanentemente ocupa o primeiro lugar na instituição. seus horários de aula. Para as crianças de capacidade de auto-governo. Essa liberda-
em Leiston, condado de Suffolk, Inglaterra. Os que lá estudam, recebem tarefas 5 a 9 anos, os professores podem disponi- de é claramente até um ponto, uma vez que
Caminhando na direção contrária a peda- apenas quando desejam, igualmente é a bilizar um calendário semanal ou planejar existem normas que devem ser seguidas
gogia tradicional, apresenta uma presença nas aulas, vai da vontade e inte- as atividades de acordo com a vontade e para que o bem estar seja mantido. Porém,
metodologia inovadora e até radical, ba- resse de cada um. Já para os educadores, necessidade das crianças. Para os um pou- é visível a importância deste ambiente ino-
seada no antiautoritarismo, na democracia, é de fundamental importância as particu- co mais velhos, entre 10 e 12 anos, existe vador, que descobriu novas possibilidades
e na capacidade da criança de se autogo- laridades de cada aluno, levando em conta uma inscrição no início do semestre para de se viver enquanto aprende.
vernar. Hoje, seu pioneirismo se difundiu o respeito e a liberdade individual. Após o uma diversidade de temas e atividades.
em distintas instituições, que podem ser jantar, é dedicado um tempo especial para Não é obrigatória a frequência nas aulas, o Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 Pág. 9
Fonte: http://www.summerhillschool.co.uk/
(Acadêmicas de Pedagogia da UDESC)
Summerhill
após enfrentar problemas com a falta de crianças. A alteração do texto só pode ser
interesse do município em mudar as normas feita mediante a aceitação de quem o escre-
rígidas de ensino, funda, juntamente com veu. Estes textos, depois são copiados pelas
sua esposa Élise, uma escola popular em crianças em seus cadernos e impressos na
Vence onde ambos se dedicariam até o final forma do jornal escolar.
Quem nunca sonhou com uma escola século XX, devido ao movimento contra
da vida. A partir dos textos livres das crianças,
em que a criança pudesse esgotar os seus cultura, com oposições ao conservadorismo,
Um dos principais objetivos de sua surge uma das inovações de Freinet: a
desejos e os seus interesses? Uma escola a escola da liberdade teve seu auge por ser
proposta pedagógica é a livre expressão da utilização da tipografia na sala de aula. Esta
em que a liberdade não é questionada, pelo contraditória ao tradicionalismo educacio-
criança, estando presente em todas as suas era usada para que os textos produzidos
contrário, ela está em destaque? Todos os nal. No entanto os deficientes mentais não
propostas. Outro ponto de notável impor- pelas crianças tivessem uma funcionalidade
comportamentos dos alunos são aceitos eram aceitos.
tância é o foco no interesse das crianças, as e que pudesse ser lido pelas famílias e pelos
incondicionalmente? Quanto à presença Neill funda o seu método na hipótese
dos alunos na sala de aula, não há obriga- de que o ser humano é fundamentalmente
colegas. O ponto de
toriedade? Nesta pedagogia, o aluno não bom, que a criança tem um sentido inato de
partida destes textos
é moralizado, censurado ou punido. Pelo justiça, sendo que a sociedade que a perver-
eram as entrevistas,
contrário, a vida na escola é regida por te pela sua ação moralizadora e castradora.
as aulas-passeio e as
regras elaboradas pelas crianças e pelos Vemos aqui a inspiração psicanalítica do
pesquisas. O proces-
docentes. Estamos falando de Summerhill, pedagogo: partidário da expressão do desejo
so de tipografia era
criada em 1921, por Alexsander Neill, que e da livre manifestação da sexualidade, Neil
realizado juntamente
é o responsável pela pedagogia libertária, a é influenciado por Wilhelm Reich, quando
por todas as crianças
escola dos sonhos. faz uma curta terapia e tornam-se amigos.
do grupo.
Alexsander Neil nasceu na Escócia, Deste modo não é visto em Summerhill a
A figura do pro-
numa época em que predominava a religião censura, punição, obrigação e moralização.
fessor neste método,
calvinista. Esta passava uma imagem de Trata-se, segundo Neill, de criar um am-
é a de um professor
um Deus ameaçador e que considerava a biente livre, mas não anárquico, de permitir
democrático e aberto
sexualidade sendo má. Ele sofreu pressão liberdade individual, com respeito à liberda-
a ouvir o que as
familiar quando tinha que deixar de brincar de dos outros.
crianças têm a dizer.
para estudar. Neil critica a concepção natu- Desde sua inauguração em 1921 a escola
A democracia é um
ralista e idealista da vida. É contra a proi- Summerhill não houve mudanças compara-
dos pontos principais
bição feita às crianças, para ele, as crianças das com as transformações que esperamos
desta pedagogia. Por
deveriam seguir os seus próprios desejos. em pleno ano 2014. Ela continua a mesma
este motivo, Freinet
Não é de se admirar que o método usado em seu método pedagógico, mas acompanha
cria as assembleias
em Summerhill tenha provocado desapro- ao mesmo tempo as tecnologias. Impossível
escolares, realiza-
vações e até mesmo críticas das autorida- não aceitar um aluno com tablete, celular
das pelas crianças
des. A satisfatória liberdade para os alunos entre outras tecnologias. Os alunos não
com a mediação do
tornou-se abundante demais para os que cri- são punidos ou reprimidos pelo uso. Aliás,
professor, onde são
ticavam o novo modelo de escola. Alguns a afeição ainda está presente e é utilizado
discutidos os fatos
criticavam dizendo que era uma escola sem com as crianças, sem vergonha nenhuma, o
ocorridos. Há a utili-
regras e que uma criança ensinada desta emocional é valorizado.
zação de três enve-
maneira, jamais sobreviveria às cobranças Atualmente as matérias oferecidas no Freinet com seus alunos da Escola de Vence durante a década de 1950
do mundo, ou seja, não poderiam reconhe- currículo da Escola são: inglês, matemática, atividades deveriam partir dos interesses lopes fixados na parede com um bloco de
cer o “mundo real”. Mas a grande questão ciências, geografia, história, carpintaria, demonstrados pelos alunos. Para Freinet a papel ao lado, cada um dos três envelopes
é que a liberdade exercida na escola de artes, chinês, alemão, japonês, espanhol, criança deve ser considerada como alguém tem sua função: eu proponho, eu felicito e
Alexsander Neil não significava anarquia teatro, culinária e, de vez em quando, aulas que participa de diversos contextos que eu critico. Nas assembleias estes papeis são
ou falta de regras, pelo contrário, eram de mágica. Muitas aulas extras são pedidas possuem influência na forma como ela se lidos e as crianças discutem o que acham
realizadas assembleias em que se discutiam pelos alunos e os professores tem liberdade relaciona com os componentes do grupo. do que foi escrito, propondo soluções e se
diversas regras quanto à vida em comum. A de experimentar assuntos diferentes que não Daremos enfoque a três técnicas utilizadas expressando em relação ao que foi propos-
criança era livre na medida em que não afe- estão no currículo. As assembleias continu- por Freinet em seu método. to. Esta prática trabalha a revisão das ações
tasse a liberdade do próximo. Uma criança am sendo realizadas três vezes por semana, Freinet acreditava que o interesse da e da vida cotidiana da classe e a autoava-
não poderia tocar instrumentos numa sala os próprios alunos apontam os problemas criança não estava na sala de aula e sim liação do que tanto a classe como o aluno
de leitura, por exemplo. ocorridos e entre eles resolvem maneiras de fora dela, onde haviam muitas coisas a podem melhorar.
Summerhill é um pensionato misto, que solucioná-los. Por isso, a Summerhill foi e serem exploradas e aprendidas e notou que Freinet e seus ideais de educação tiveram
acolhe cerca de 25 meninos e 20 meninas, ainda é uma escola democrática. seus alunos sentiam-se muito mais alegres grande influência para a pedagogia tanto de
dos 5 aos 15 anos. No início, durante os Ademais a Escola Summerhill acredita e motivados ao conhecimento quando seu tempo como a atual, fazendo com que
primeiros anos, havia somente 10 crianças que cada criança tem seu tempo e deve-se estavam do lado de fora. Nestes passeios o muitos professores utilizem suas técnicas
em Summerhill. Recebiam crianças difí- esperar a criança estar pronta. Hoje, a escola conhecimento se tornava mais próximo do mesmo sem nunca terem contato com sua
ceis; depois, por volta de 1937, havia bem recebe crianças com dificuldade de aprendi- cotidiano real das crianças. Na volta dos obra.
menos delas. Nas décadas de 60 e 70 do zado, como ADHD e, aos deficientes físicos, passeios as crianças juntas montavam um
há acompanhante. Alexander Neill é hoje relato do que haviam visto e o que havia Fonte da imagem: http://1.bp.blogspot.com/-Rb-
reconhecido como um dos mais influentes acontecido durante o passeio. Estas aulas 1JsRpzMP8/TpTBnOMqRvI/AAAAAAAAAkY/Lldq5l-
Pág. 10 Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 permitiam o aprendizado de diversos assun- thmg/s1600/freinetnfants.jpg
educadores do século XX.
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O atual Ensino Médio Inovador tem sido bem como o “prévio consentimento
apresentado como um projeto escolar iné- dos pais ou responsáveis dos alunos
dito. Essa afirmação supõe que a tradição matriculados”.
escolanovista, que reinventou o ensino A normatização criada para
primário desde a década de 1920 não nortear estas experiências revelava
teria chegado à escolarização secundária. a prescrição de uma cultura escolar
Todavia, a renovação desse nível de ensino inovadora para o ensino secundário.
deu-se, de forma pontual, já na reforma Por um lado, expressava-se uma
do sistema de ensino no Distrito Federal, preocupação com o desenvolvi-
liderada por Anísio Teixeira, na primeira mento das “aptidões individuais”
metade da década de 1930, e recolocou- dos alunos, que se efetivavam na
se, a partir dos anos JK, no IPEP anisiano, limitação de até trinta alunos e
especialmente através classes secundárias na possibilidade de os discentes
experimentais – uma experiência escolar optarem por disciplinas e atividades
pouco conhecida. educativas. Por outro lado, estipula-
Por meio das “Instruções sobre a nature- va-se exigência em relação ao cor-
za e a organização das classes experimen- po docente, que deveria ter reuniões
tais”, aprovadas pelo MEC, em 1958, as regulares, sendo agrupado por clas-
classes secundárias experimentais foram ses, particularmente para viabilizar
autorizadas a funcionar nos cursos gina- a articulação de várias “disciplinas-
sial e colegial – ou seja, nos dois ciclos saber”. Para os docentes das classes
do ensino secundário – a partir do início iniciais do curso ginasial, indicava Alunos da 2ª série do Experimental de Socorro no bairro dos Farias de Socorro,
do ano seguinte. O seu item 3 estabelece a existência de um número reduzido entrevistando visitantes e colonos – Atividade de Estudo do Meio
“características das classes experimentais”, de professores com o objetivo de
determinando que essas classes deveriam evitar a passagem pereptória do do meio”, além da ênfase dada ao diálogo exemplos que permitem aproximar estas
ser implantadas, de forma prioritária, no ensino primário unidocente para o ensino entre pais e professores e à aplicação de duas realidades.
curso ginasial e em “colégios de idoneida- secundário pluridocente. Ademais, mani- atividades dirigidas. A prática de atividade Por isso, avaliamos que a experiência
de incontestável e de condições pedagógi- festavam uma preocupação com a articula- dirigida, de ensinar o aluno a aprender e pedagógica inovadora das classes secun-
cas que possibilitem a experiência”. Essa ção entre escola e família, de sorte a afinar procurar por si só o aprendizado, o uso dárias experimentais, que foram eclipsadas
norma estabelecia estritos mecanismos de os fins educativos dessas duas instituições de métodos ativos, o maior enfoque no durante o regime militar, merecem ser
controle do MEC por meio da necessidade sociais. problema da ligação entre a escola e a vida relidas para iluminar a reinvenção do atual
da prévia autorização e da “assistência Nas classes experimentais secundárias – parâmetros comuns nas teorias escola- ensino médio.
especial” da Diretoria de Ensino Secun- primou-se, no Brasil, pela aplicação de novistas – e, sobretudo, as diretrizes para
dário e o credenciamento dos professores, métodos ativos e pela prática de “estudo as classes novas, são apenas alguns dos Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 Pág. 11
Freinet e Freire:
a escola que diz sim à vida
Adilson de Ângelo
Professor da UDESC
Célestin Freinet marcou indele- educativos que efetivam de forma tem “a necessidade de conhecer,
velmente a história da pedagogia. mecanicista, induzindo o sujeito de saber, de interrogar incessan-
A sua principal luta foi a trans- aprendendente à “domesticação”. temente sobre a ordenação e os
formação da instituição educativa Tanto para Freinet como para mistérios da natureza, e também
em um espaço e um tempo de Freire, todo sujeito – que ensi- sobre as espantosas maravilhas
bem-estar, onde a criança desejas- na e aprende - possui um saber da máquina e da ciência”. Como
se permanecer e pudesse aprender que precisa de ser respeitado e, princípio incentivador desta
e descobrir a vida e sobre a vida. criticamente, transformado em “curiosidade”, a escola deve
Esta ação resulta do rompimento instrumento de interpretação e de transformar-se em um espaço de
com uma prática educativa que intervenção no mundo. A oposição liberdade, para que o educando
ele mesmo experimentara e onde de Freinet à uma prática pedagó- pronuncie o seu mundo a partir,
não cabiam as suas aspirações por gica que assume “que a criança também, da inquietação indaga-
uma escola livre do subjugo de nada sabe e que ao educador cabe dora que o move e o põe pacien-
toda forma de doutrinamento. ensinar-lhe tudo – o que é pre- temente impaciente diante do
O seu otimismo resultava das tensioso e irrealizável”, encontra mundo que não fez, acrescentando
suas experiências profissionais: ecos na recusa freiriana de aceitar a ele algo que fez.
“fui e continuo a ser um desses que o ato educativo se afirme Estamos conscientes de que
professores primários; eis por que como “uma espécie de aneste- para enriquecer o encontro entre
me são familiares os dados para os sia, inibindo o poder criador do estes dois educadores far-se-ia
quais procuro há tempo uma res- educando”. Por isso propõem um necessário localizá-los no tempo
posta válida”. E para junto de suas ensino das “tentativas naturais à e no espaço com a finalidade de
inquietações e das suas experiên- ação, à criação, ao amor do belo, contextualizar as suas mensa-
cias pedagógicas vividas como à necessidade de se exprimir e de gens. As realidades da França
professor primário, traz a leitura se exteriorizar” (Freinet), onde e da Europa do pós-guerra e do
de filósofos e educadores do Mo- o educando “vença suas difi- nordeste brasileiro e da América
vimento da Escola Nova, alguns culdades na compreensão ou na Latina são leituras de mundo que
dos quais já havia contactado no inteligência do objeto e para que se fazem necessárias para uma
Congresso da Liga Internacional sua curiosidade, compensada e melhor explicação do pensamento à vida; e é essa a sua verdadeira e que contribuo para criar, para for-
para a Escola Nova, decorrido em gratificada pelo êxito da compre- de Freinet e Freire, respectiva- radical condenação. (Freinet, Para jar a escola feliz, a escola alegre.
1923, em Montreux, Suíça. ensão alcançada, seja mantida e, mente, uma vez que permitem sair uma escola do povo). A escola que é aventura, que
Freinet assume de maneira assim, estimulada a continuar a de suas obras e reunir informações Paulo Freire e Célestin Freinet marcha, que não tem medo do
radical a educação como um busca permanente que o processo fora dela, para a sua melhor com- nos nos desafiam: “É vivendo, risco, por isso que recusa o
espaço que deve se apresentar de conhecer implica” (Freire). preensão. Importa, aqui, marcar não importa se com deslizes, imobilismo. A escola em que se
contrário à toda forma de ades- Freire e Freinet são, portanto, a possibilidade de um profícuo com incoerências, mas disposto a pensa, em que se atua, em que
tramento. Contrapõe, como Paulo defensores de uma escola que diálogo entre esses dois autores, superá-los, a humildade, a amo- se cria, em que se fala, em que
Freire também o fez, aquela ideia incentiva a curiosidade epistemo- face aos desafios que a educação rosidade, a coragem, a tolerância, se ama, se adivinha, a escola que
durkheimiana de educação como a lógica, uma vez que o educando nos põe. a competência, a capacidade ele apaixonadamente diz sim à vida.
ação de alguém que sabe exercida “em permanente busca, indagador, Célestin Freinet e Paulo Freire decidir, a segurança, a eticidade, a E não a escola que emudece e me
sobre quem não sabe. Mostram-se, curioso em torno de si e de si no nos advertem: “A escola que não justiça, a tensão entre paciência e emudece” (Freire, Professora sim
portanto, contrários aos processos e com o mundo e com os outros” prepara para a vida, já não serve impaciência, a parcimônia verbal, tia não).
A Escola Básica da Ponte, situada, hoje, e por exemplo: (i) como é que as crianças outras coisas, estes mesmos alunos possam Por isso é que defendemos que, na Escola
em S. Tomé de Negrelos (a cerca de 40 trabalham e decidem com um tão elevado participar, e aprender a participar, nas deci- da Ponte, os professores são, mais do que
km do Porto, no norte de Portugal), é uma grau de autonomia; (ii) quais as funções sões curriculares que lhes dizem respeito. É facilitadores pedagógicos, interlocutores
escola pública com cerca de 150 crianças dos professores nessa escola; (iii) se há, que, e ao contrário do que muitas vezes se qualificados, cuja atividade é imprescindí-
e jovens que a frequentam entre a Edu- ou não, avaliações ou (iv) quais são os insinua, a participação dos alunos da Escola vel para que os alunos possam participar
cação Infantil e o 9º ano de escolaridade. resultados dos alunos nas situações em que da Ponte não se explica pela disponibilidade de forma consequente na vida da escola,
Foi esta escola que Ruben Alves abordou são obrigados a realizar exames nacionais? natural dos seres humanos para tomarem trabalhar de forma autónoma e cooperar
no livro «A escola que eu sempre sonhei Trata-se de questões que parecem alicerçar- decisões acerca dos seus cotidianos. Uma tal entre si.
sem imaginar que pudesse existir», contri- se na ideia de que a importância pedagógica participação é fruto de um processo educati- Resta abordar a problemática da ava-
buindo, assim, para que se transformasse da Escola da Ponte deriva do facto de se vo que se encontra alicerçado numa organi- liação que na Escola da Ponte não visa
numa referência quer de alguns projetos identificar com os pressupostos concetu- zação concebida para incentivar, estimular promover a seleção académica dos alunos.
de transformação pedagógica que se vão ais e as práticas dos projetos de educação e conferir significado à mesma, a qual é Avalia-se para se poder tomar decisões
desenvolvendo no Brasil quer de palestras, não--diretiva, os quais não sendo projetos entendida quer como condição potenciadora consequentes acerca dos percursos de
obras e reflexões que se debruçam sobre as estranhos ao projeto «Fazer a Ponte», estão das aprendizagens dos alunos quer, conco- aprendizagem a realizar, o que não só não
possibilidades e condições a respeitar para longe, mesmo assim, de o poder caraterizar mitantemente, como condição do seu pro- é incompatível com a qualidade humana
que as escolas se possam assumir como quanto aos seus fundamentos e complexida- cesso de formação pessoal e social. Trata-se do projeto de formação que nessa escola
espaços potenciadores de uma educação de pedagógica. de uma dimensão do trabalho que, na Escola se promove como, também, é condição
democrática. Para além disso, a Escola da É que na Escola da Ponte respeitam-se os da Ponte, tem vindo a merecer uma atenção dos bons resultados escolares que os seus
Ponte, ao constituir-se como um espaço planos de estudos aprovados pelo Ministé- circunscrita ao estatuto e função da As- alunos têm vindo a obter.
educativo onde se projetam tantos desejos rio da Educação, através dos quais se torna sembleia da Escola, desvalorizando-se, de
algum modo, a articulação que se estabelece Nota: Rui Trindade e Ariana Cosme são
e sonhos pedagógicos, acabou por contri- público o que é que se espera que os alunos professores da Faculdade de Psicologia e de Ciências
buir para que alguns a tivessem idealizado aprendam, desde o Ensino Fundamental entre esta assembleia, o sistema de tutoria da Educação da Universidade do Porto, sendo o
como uma iniciativa mais próxima de ao Ensino Médio, nas mais diversas áreas que os professores dinamizam, os grupos primeiro, ainda, membro do atual Conselho de
Summerhill, em Inglaterra, do que da obra curriculares. Daí que se possa afirmar que o heterogéneos de trabalho que se constituem Gestão da Escola Básica da Ponte.
que, há mais de três décadas, se tem vindo que distingue as práticas curriculares da Es- e os dispositivos de planejamento, avaliação
a desenvolver em Portugal. Não será por cola da Ponte face à globalidade das escolas e apoio em função dos quais se regula o
acaso que uma das perguntas mais recor- portuguesas não é a recusa daqueles planos, trabalho de todos e de cada um.
São, então, os compromissos
rentes que nos colocam sobre a escola seja mas o facto de tais planos serem objeto
ideológicos, culturais e pedagó-
aquela através da qual se pretende saber se de recontextualização no seio da escola,
gicos que sustentam o projeto da
são as crianças que decidem o que que- tendo em conta quer as especificidades da
Escola da Ponte e a organização
rem aprender, inquirindo-se, de imediato sua organização administrativa e curricular
pedagógica que permite que tais
quer as especificidades dos seus alunos,
compromissos se concretizem que
de forma a contribuir-se para que, entre
Pág. 12 Jornal da Educação-Nº282 Setembro2014 explicam o sucesso do projeto.
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Os diferentes ritmos
da cultura brasileira
Araquari - A Escola Mu-
nicipal Francisco Jablonsky,
no bairro Itinga, em Araquari,
recebeu no fim de agosto mais
de mil pessoas que foram pres-
Colégios que a ditadura
tigiar o projeto “Conhecendo
Nosso Povo” e a premiação da
Olimpíada da Língua Portugue-
militar destruiu
sa. “O projeto consiste em apre- Norberto Dallabrida*
sentações artísticas e culturais
dos alunos do município que
trabalham durante o ano, em No presente ano, o golpe militar está
sala de aula, temas relacionados sendo rememorado sobremaneira para
à cultura brasileira das diversas dar visibilidade aos atos arbitrários e
regiões do país e trazem isso
em forma de música ou dança”, repressivos colocados em marcha, entre
explica a coordenadora da edu- 1964 e 1985, pelos governos dos gene-
cação Débora Guerim Andrade, rais, com o intuito de repudiar a ditadura
da Secretaria da Educação. e construir uma democracia republicana
Iniciado em 2007, o “Conhe- e robusta. Na medida em que se propõe
cendo Nosso Povo” também
a fazer leituras críticas da educação
busca fazer com que os alunos
conheçam as formações cultu- Estudantes apresentaram em perspectiva histórica, este canto da
rais e identificações do povo coreografias em diferentes
ritmos brasileiros
página do JE sente-se na obrigação de
brasileiro com sua cultura, focalizar o regime militar e a educação
danças, brincadeiras, história no Brasil.
do povo, medicina popular e algumas festas A Olimpíada realiza um concurso de
A primeira ideia consistia em refletir
tradicionais. As culturas são trabalhadas de 1ª produção de textos e premia as melhores
a 5ª série, mostrando por meio das apresenta- produções de alunos das escolas públicas sobre as reformas educativas impostas
ções os costumes das regiões Sul, Nordeste, de todo o país. pelo regime militar, tendo como ponto
Norte, Centro-oeste e Sudeste do país. “Em Araquari, os três primeiros coloca- de partida os acordos MEC-USAID,
dos na etapa municipal foram premiados e
Premiação o primeiro colocado vai participar da etapa
feitos entre meados de 1964 e início de
Durante o evento, também ocorreu a Estadual. Se passarem nesta fase, devem con- 1968, que deram o timbre tecnicista de
premiação municipal dos ganhadores da correr na etapa nacional”, informa Débora corte norte-americano para a educação
Olimpíada da Língua Portuguesa, que é rea- Confira os vencedores da etapa municipal brasileira. Esses acordos plasmaram
lizada a cada dois anos, no Brasil. O evento da Olimpíada da Língua Portuguesa: as reformas educacionais de fundo im- ginásios vocacionais no Estado de São
desenvolve ações de formação de professores postas pelo regime militar: a Reforma Paulo, entre a Lei do Ensino Industrial
com o objetivo de contribuir para a melhoria 1º Lugar: Murilo Silveira (1961) e o seu fim, ocorrido em 12 de
Universitária de 1968, uma resposta à
do ensino da leitura e escrita nas escolas 2º Lugar: Maria Eduarda Hilário
públicas brasileiras. radicalização do movimento estudantil, dezembro de 1969, quando houve a inter-
3º Lugar: Jéssica Selina Pedroso
e a Lei 5.692/71, que, criando o primeiro venção militar em todas as unidades dos
e segundo graus, reestruturou o sistema ginásios vocacionais e a prisão de alguns
independência?
um enorme viveiro de palavras.
A 20ª edição do Proler – Uns
passarão e outros passarinhos
reuniu, entre 8 de 10 de setembro,
os apaixonados e especialistas em
contação de histórias e leitura,
pontos principais das palestras,
seminários e mesas redondas do
evento. A emoção tomou conta da
plateia logo na noite de abertura
com a participação de Toumani
Kouyaté, que faz parte de uma
linhagem de Djélis – griots (con-
tadores de história) do oeste da
África.
“Os djélis são portado-
O Pré2, da EMEF Francisco de
res das árvores genealógicas dos
Paula, de Jaraguá do Sul. povos do Mandé, são depositários
e protetores dos costumes e dos
S ete de Setembro marca a Absolutista, e que tipo passou ritos malinkés. Eles são a biblio-
independência do Brasil, nessa a ter depois? Apesar de ter uma teca dos povos malinkés”, afirma
data, 192 anos atrás, o Brasil constituição, na prática o poder em seu blog a artista Dinah Feld-
oficialmente fica independente de moderador fazia com que o Brasil man, de São Paulo, responsável
Portugal, mas será que a história fosse ainda uma monarquia abso- pela tradução da fala de Toumani
é bem assim? Uma reflexão mais lutista, a constituição foi imposta do francês para o português.
cuidadosa em nossa história pode por D. Pedro I. Qual era a capital Além de contar histó-
nos trazer uma nova perspectiva do Brasil antes da independência? rias, Toumani, que é fotógrafo e
do significado de 7 de setembro. Pasmem, a capital JÀ ERA o Rio professor universitário, canta e
Primeiro vamos comparar a de Janeiro. Isso mesmo, desde dança. Ele viaja pelo mundo para Ao lado da atriz Dinah, Toumani Kouyaté encantou a plateia na abertura do 20º Proler
independência do Brasil com a a vinda da família real ao Brasil divulgar as diferentes culturas do
de nossos colegas da América. No em 1808 o Rio já era capital não continente africano. “Existe uma tradições e costumes africanos. bém participaram do Proler, Para
caso dos Estados Unidos as colô- só do Brasil mas também de Por- “Afinal, somos todos humanos”,
tendência de dizer cultura afri- debater questões sobre leitura, o
nias antes eram governadas pela tugal (havia um reino chamado
cana, mas há milhares de etnias disse Proler programou o 5º Seminário
monarquia parlamentar inglesa, Reino Unido de Portugal Brasil e
e cada uma delas tem diferentes A 20ª edição permitiu de Pesquisa em Linguagens, Lei-
depois passou a ser governada Algarves que tinha a sua capital
culturas”, ressaltou no dia 9 de diversos encontros do africano tura e Cultura e o 4º Seminário
por uma república democrática no Rio). A bandeira nova incluía
o símbolo da monarquia antiga. O setembro, em entrevista à rádio ao índigena, com a participação de Práticas Leitoras – Contação
americana. Antes a capital (centro
sistema bancário brasileiro tinha Joinville Cultural. Essa plurali- do contador de histórias Daniel de Histórias e suas Múltiplas
do governo) era Londres, depois
passou a ser Philadelphia (até ser sido criado por D. João VI quando dade faz com que todos se reco- Munduruku. Convidados catari- Formas Expressivas, no Centro
construída a cidade de Washing- veio ao Brasil. nheçam, de alguma forma, nas nenses e de outros estados tam- de Convenções Alfredo Salfer.
ton) o novo país adotou uma nova Qual a porcentagem da popula-
moeda, novo sistema bancário, ção que se envolveu nas guerras
Lançamentos
Livro: Marketing Essencial – Conceitos,
Estratégias e Casos
Da Guarda Compartilhada:
Livro: Desvendando a banda de Rock
Autores: Philip Kotler e Kevin L. Keller Autores: Márcio Coelho e Ana Favaretto
– Editora Pearson
Editora Formato
Novos Caminhos Em sua 5ª edição, o livro destaca as mais
Por Sueli Ribeiro* recentes práticas e teorias da administração
de marketing em um texto direto, abordando
No dia 13 de junho de 2008, foi sancio- descumprimento de suas cláusulas”. Ou temas já consagrados e as novas tendências
nada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da seja, neste momento, o juiz deverá as como o avanço da sustentabilidade e do
Silva a lei nº 11.698, que trata da guarda vantagens aos responsáveis sobre esse
marketing
compartilhada dos filhos. A nova lei traz tipo de guarda e tratar também dos pe-
ríodos de convívio entre os pais, antes “verde” e
à tona mais um modelo de guarda a ser
adotado pelos pais naquelas hipóteses de homologar a decisão, devendo para o market-
em que houver o fim da união conjugal. tanto, basear sua decisão em orientação ing digital,
Até então, a legislação previa dois ti- técnico-profissional, solicitada de ofício, para auxil-
pos de guarda: a compartilhada, em que ou a requerimento do Ministério Público, iar pessoas, Os mesmos autores de Desvendando a
o menor mora apenas com um dos pais, observando-se sempre o que for melhor grupos e
para a criança. bateria da escola de samba e Desvendando
mas não há regulamentação de visitas empresas a
nem limitação de acesso à criança em re- É importante frisar que a guarda com- o grupo de maracatu agora trazem como
partilhada tem como foco principal os adequarem resultado de suas pesquisas no universo
lação ao outro, e as decisões são tomadas
em conjunto, sendo que ambos dividem interesses do menor, que muitas vezes era suas estraté- de um dos conjuntos mais importantes da
responsabilidades quanto à criação e o que mais perdia com a separação dos gias ao mer- cultura pop: a banda de rock. De modo
educação dos filhos; e a guarda unilateral, pais, pois era privado do convívio de um cado atual. simples, a dupla apresenta como a banda
em que a criança mora com um dos pais deles. Entende Silvio de Salvo Venosa Com uma de rock é formada, quais são seus princi-
que detém a guarda e toma as decisões que “não resta dúvida de que a solução linguagem pais instrumentos, como eles atuam em
acerca de sua criação, enquanto o outro da guarda compartilhada é um meio de simplificada, Marketing Essencial também
manter os laços entre pais e filhos, tão conjunto e de onde veio o nome rock.
passa a ter o direito de visitas, que é tem como alvo estudantes das áreas de ad-
regulamentada pelo juiz. Nesse caso, a importantes no desenvolvimento da
criança e do adolescente [...]”. Ou seja, a ministração, marketing e publicidade.
pensão alimentícia, passa a ser obrigação
do genitor que detém o direito de visita. nova lei acabará com aquele sentimento
Esse modelo de guarda conduz os pais a de exclusão, em que um dos pais era
tomarem decisões conjuntas, levando-os privado do convívio direto com seu filho,
a dividir dificuldades e soluções relativas muitas vezes perdendo acontecimentos
aos filhos, além de minimizar as diferen- diários que acompanham o crescimento
ças e possíveis rancores advindos do fim do menor, gerando a sensação de abando-
da união conjugal. As responsabilidades no, o que podia gerar inúmeros problemas
sobre a rotina da criança, como escola, emocionais à criança.
viagens, atividades físicas, passam a ser Todavia, urge frisar que o genitor que
dividida entre pai e mãe, deixando-os em apresentar algum tipo de problema, seja
pé de igualdade perante os filhos. psíquico, social ou até mesmo moral, e
Todavia, cabe ressaltar que a fixação não puder cuidar da criança, ficará impos-
da guarda compartilhada é dada pelo sibilitado de dividir as responsabilidades
juiz, e somente deverá ocorrer quando referentes ao mesmo, podendo então, o
houver uma relação amigável entre os tipo de guarda ser alterado.
pais. Aqueles casais que vivem brigando e A criança precisa tanto do pai quanto da
que não conseguem dialogar dificilmente mãe, e é fato que muitas vezes o genitor
conseguirão a adotar esse tipo de guarda. detentor da guarda possui um sentimento
Caso a dissolução da união se dê de de posse em relação ao filho, e em algu-
forma litigiosa, a guarda compartilhada mas ocasiões age com o intuito de afastar
ainda será a principal opção, mas quem aquele que não possui a guarda, tendo
irá decidir qual modelo será aplicado sucesso em alguma das tentativas. Não
neste caso é o juiz, que analisará o que se pode acreditar que o vazio deixado por
for melhor para o menor. um dos genitores no momento da dissolu-
Com a nova lei, a guarda unilateral ção da união, seja preenchido por alguns
deixa de ser prioridade e passa então a finais de semana, ou achar que a pensão
guarda compartilhada a ser a opção pre- alimentícia paga por um deles representa
ferencial nas decisões judiciais, mesmo amor e carinho.
no caso de não acordo entre as partes, Por fim, é importante ter em mente que
conforme § 2º do dispositivo legal. Até guarda compartilhada visa à boa forma-
mesmo quem não possui a guarda do ção emocional e social de seus filhos, e
filho, a partir de agora poderá pedir a que os pais devem ter consciência de que
modificação, que deverá ocorrer pela uma relação harmoniosa entre eles fará
via judicial. com que todos saiam vitoriosos, princi-
O Art. 1.584, § 1º da lei dispõe que: palmente a criança, que sempre deve ser
“Na audiência de conciliação, o juiz colocada em primeiro lugar.
informará ao pai e à mãe o significado
da guarda compartilhada, a sua impor- * Sueli Ribeiro é bacharelanda em direito pela Fa-
culdade Cenecista de Joinville, assistente jurídica
tância, a similitude de deveres e direitos na Robert Advocacia e Consultoria.
atribuídos aos genitores e as sanções pelo
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