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1. 1 Mesa
2. 2 Cadeiras
ACTORES: 2 Actores
Juvenal (entra em cena, senta-se à mesa, arregaça as calças, pega no jornal ao alto, sacode-o) :
Oh Chefe, traga-me um café e um whiskizinho faxó vor! (pausa, lê o jornal e ajeita-se á mesa
pousando-o aberto) – Eh…..sim senhores….grande Boavista! Oh Chefe! Ganhámos 3-0! Hã?
Maravilha. Olhe, agora nas politiquices, continuam as ladroagens.
Xico (Traz a garrafa e um café, senta-se também à mesa e serve whisky para ambos) Atão isso
não é novidade nenhuma. Eles comem tudo e o povinho que roa os ossos dos restos. Se restar.
Mas então conte-me lá, já não o via há muito tempo. Foi à terra?
Xico- Diacho!
Juvenal- Não foi no riacho, não senhor. Foi na praia. A Lucinha agora deu-lhe para desportos
radicais, comprou a canoa, convidou-me para ir com ela e ora para esquerda, ora para direita,
sou canhoto, já se vê.
Juvenal- Que foi? Tinham muita estima pela criatura, não entendo é porque raio tinham de
fazer um funeral!
Xico- Por isso mesmo! Quando morre alguém, faz-se um enterro! Já percebi que o vizinho não
se dava bem com ela, mas mesmo assim….
Juvenal- A burra!
Juvenal- Deixe-me beber mais um gole que está complicado de entender. (bebe) Eu quis dizer
que a burra, bicha de estimação da tia da minha esposa, morreu! Bateu as botas! Quicou de
vez! Finou-se!
Xico- Ah bom! Já podia ter dito, homem! E aquele seu irmão que estava emigrado por França?
Xico- Um pastor alemão? Mas o seu irmão não ganhava bem nas obras em França?
Juvenal- Oh Xico, e acha que aguentar uma caniche daquelas é o mesmo que as nossas
Marias?
Juvenal- O homem casou a cadela! Acho que os coquettes de França têm essas manias de
casar os bichos. Mas a caniche queria era vadiagem, embeiçou-se pelo pastor alemão e
durante a noite, escapuliu-se! Ficou desgostoso, mas olhe, foi melhor assim que a bicha
berrava que se fartava.
Juvenal- Também.
Xico- Desgraçado! Á sua saúde, coitado… É preciso ter coragem para pôr assim a corda ao
pescoço….
Xico- Então que houve desta vez? Veja lá não me pregue partidas!
Juvenal- (olha confuso para Xico, lentamente serve-se de bebida e bebe de uma só vez) – oh…
oh vizinho…agora ofendeu-me!
Juvenal- Agora vai-me chamar prostituta à peixeira? Coitada da mulher vivia honestamente a
vender o seu bacalhauzito na rua.
Xico- (envergonhado serve-se de bebida duas vezes bebendo de uma só vez) Oh diacho, que a
fiz bonita…oh vizinho…pronto, desculpe lá o mal entendido, você também nunca diz as coisas
como são.
Juvenal- Atão não disse? O vizinho é que tem a mente conspurcada com blasfémias!
Xico- Vai negar que ao início não teve intenção de chamar burra à tia da sua esposa??
Xico- Vai negar que não teve intenção de difamar a vida do seu irmão?
Juvenal- Vou! E mais! Vou negar que não tive intenção de insultar a mulher dele, por muito
que quisesse, e o tivesse feito cá para os meus botões!
Xico- Pronto, deixe lá isso que da minha parte o seu segredo fica seguro. Que mais notícias me
traz? Mas veja lá!
Juvenal- (Assumindo postura séria, virando-se de frente para Xico, colocando o copo e garrafa
de lado ) Xico… muito em breve, chegou a minha hora de partir.
Juvenal- É. Está para muito breve. Já tenho o bilhete de ida sem volta.
Xico- Não pense nisso agora, homem! (desata em choro e dá duas palmadas no ombro de
Juvenal) Vamos aproveitar o tempo que resta.
Juvenal- Vai-me custar deixar a Lucinha sozinha com dois petizes piquenos e a minha Aurora
sozinha. A minha casinha e a hortinha. Xico. Nunca mais vamos ter estas nossas conversas. À
nossa. (brindam)
Xico- Oh homem, c’um catano, posso fazer algo por si nesta hora difícil?
Juvenal- Pode sim vizinho e agradeço-lhe de todo o coração. Queria muito pedir-lhe um favor,
sei que é talvez um abuso da minha parte…
Juvenal- Eu vou sem volta, e muito fica por tratar… Como já não me resta tempo e usei todas
as minhas poupanças que tinha guardado debaixo do colchão e nos tacos do chão para tratar
de tudo... queria muito pedir-lhe que assumisse as minhas dívidas.
Xico- (perplexo) – As suas dívidas? Mas são muitas?
Xico- Oh homem pla’mor de Deus aqui não fica a dever nada, deixe lá isso. O resto…bem…é
muito?
Xico (deixa-se cair na cadeira, serve-se sem tirar os olhos de Juvenal e bebe) – QUANTO?? Tre-
trezentos?? Mas como foi isso?
Xico- Compreendo, compreendo, mas tanto? Isso nem o presidente da república pagaria tanto
por um…
Xico- (Levanta-se, pega numa vassoura e Juvenal também se levanta para fugir de Xico que o
persegue) Abutre! Pilantra! Albatroz! Saia daqui!
(A cena vai decorrendo, Juvenal pega na garrafa e ambos saem de cena a correr)