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Comunicação
XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a
09/09/2016
Mídia Ninja: Uma análise sobre a construção do discurso midiático através do livro
Teorias do Jornalismo – Porque as notícias são como são1
Resumo
O presente artigo tem por objetivo investigar o processo de construção do discurso presente
na Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) com base no livro ''Teorias
do Jornalismo – Porque as notícias são como são'', do autor português Nelson Traquina. O
veículo analisado se constitui em uma plataforma online, cujos conteúdos são teoricamente
gerados pela população. Considerado pelo senso comum como uma plataforma ''de
esquerda'', as notícias geradas são colocadas, nitidamente, de forma opositora às bases do
regime de direita. Para a formulação deste artigo foram analisadas quatro publicações
postadas no período entre 14.06.2016 e 17.06.2016.
Introdução
A Mídia Ninja se caracteriza como uma rede midiática descentralizada que surgiu
em 2013 e que aposta na lógica colaborativa de criação e compartilhamento de conteúdo,
focando suas pautas em movimentos sociais, temáticas culturais e política. O boom da
internet permitiu que o ''fazer jornalistico'' sofresse alterações dando maior espaço para as
declaradas narrativas independentes e novas opções de informação que fogem da mídia
tradicional. Os idealizadores defendem que os cidadãos são capazes de construir sua opinião
e compartilhá-la no cenário virtual, pois o chamado cidadão consciente é peça fundamental
dentro do processo de comunicação e reeprodução de conteúdo.
A obra ''Teorias do Jornalismo – Porque as notícias são como são'', do autor Nelson
Traquina, apresenta uma reflexão mais completa do processo de connstrução da notícia,
incluindo os critérios para se definir o que será ou não veiculado. O autor instiga o
questionamento da vivência da democracia no que diz respeito ao exercício do Jornalismo,
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Trabalho apresentado no IJ 01 – Jornalismo do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
realizado de 3 a 9 de setembro de 2016, na USP – Universidade de São Paulo, em São Paulo, SP.
² Estudante de Graduação 7°. semestre do Curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: renatacae7@gmail.com
³Estudante de Graduação 7º semester do curso de Jornalismo da UFCA, e-mail:
joelton.barbozaedu@hotmail.com
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Estudante de Graduação 7º semester do curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: marcela.du96@gmail.com
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Orientador do trabalho: Professor do Curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: edwin.carvalho@ufca.edu.br
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veículo, precisa selecionar fatos que interessem e identifiquem o público. No Cariri cearense,
pode-se encontrar como exemplo o programa televisivo “Pelo Cariri”, apresentado por
Rodrigo Vargas no Sistema Verdes Mares, afiliada da Rede Globo. O repórter trabalha há
mais de uma década na emissora e detém de um grande capital social, sendo produtor e
apresentador de seus programas. No “Pelo Cariri”, por mais que ele seja de Fortaleza e não
tenha a mesma afinidade e sintonia com os assuntos do interior, é necessário que saiba eleger
notícias que representem os moradores da região.
Na Teoria Interacionista o jornalista vive a tirania do fator tempo. Os jornais
trabalham diariamente com o objetivo de preencher o tempo de exibição, tendo assim que
manter controle e ordem no espaço e no tempo, pois os acontecimentos podem ocorrer em
qualquer lugar e a qualquer momento.
No dia 14.06.2016, foi publicada outra matéria no Mídia Ninja com o seguinte
título: “Conselho de Ética da Câmara acata relatório que pede a cassação de Cunha”. Na
abertura constava a frase: “Um dia e tanto para Eduardo Cunha, além da aprovação do
relatório que pede sua cassação no conselho de ética, o juiz Augusto Cesar Pansini
Gonçalves decretou a indisponibilidade de recursos financeiros e bens do deputado e de sua
esposa Cláudia Cruz.” É perceptível que a passagem “Um dia e tanto” sugere uma
explanação pejorativa e irônica ao ex-presidente da câmara, Eduardo Cunha, deixando
subentendido o posicionamento político do veículo.
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Em outro momento também fica perceptível através das falas usadas para conduzir a
matéria, onde pegaram apenas trechos de autoridades e integrantes da câmera a favor da
cassação, que denota muita gravidade, na qual ficam explícitos os crimes cometidos por
Cunha. Como na frase proferida pelo delegado em referência ao teor das denúncias que
pesam sobre o casal: “Ambos foram multados por esconder recursos no exterior, dinheiro
público foi usado para compras de artigos de luxo” e no trecho “... dinheiro público foi usado
para compras de artigos de luxo”. O autor do texto utiliza a fala sugerindo que Eduardo e sua
conjugue estejam ostentando com dinheiro público e provocar, assim, a fúria da população,
levando os mesmos a um pensamento crítico sobre como anda a atual situação da política
brasileira, no que tange principalmente aos líderes e dirigentes do alto escalão, trazer à tona a
questão sobre em quem as pessoas estão depositando os seus votos. Realmente “abrir os
olhos e a mente” da sociedade, através da ideologia que o veículo acredita.
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Nelson Traquina (2004, p.24) diz: “Dois pólos começaram a tornar-se dominantes
na emergência do campo jornalístico contemporâneo: o pólo econômico (a definição das
notícias como um negócio) e o pólo ideológico (a definição das notícias como um serviço
público).”
A teoria hipodérmica ou teoria da bala mágica, elaborada pela Escola Norte-
Americana na década de 30, também tem forte relação com o que foi exposto, pois supõem-
se que todo estímulo ocasionado por uma mensagem encaminhada terá retorno, sem
encontrar barreiras, como o disparo de uma arma, que penetra a pele do corpo sem nenhum
problema.
A passividade do receptor é a principal qualidade do indivíduo nesta teoria. As
matérias da Mídia Ninja acredita-se que interferem diretamente na vida de milhares de
pessoas, essas absorvem a informação e repassam para outras pessoas e assim
sucessivamente, seja por meio de compartilhamentos em redes sociais ou pelo diálogo, daí a
relação com a teoria, uma vez que grande quantidade de pessoas são atingidas por algo, no
caso as matérias do veículo, essas repassam para o que Pierre Bourdieu chama de campos
sociais, onde as mesmas estão inseridas.
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contentamento com o fato da cassação, uma vez que o termo “A CASA CAIU” está em
destaque tanto na cor quanto no tamanho da fonte. Nelson Traquina fala que as notícias são
denominadas como construções narrativas, histórias, uma realidade seletiva. É necessário
reconhecer quais os acontecimentos que possuem valor como notícia, ou seja, há todo um
processo de seleção. Logo depois desse reconhecimento, o jornalista precisa guiar-se para
criar a notícia.
A narração incide em reunir todas essas informações e transformá-las em
mensagens para uma fácil decodificação do leitor. Acredita-se que o Mídia Ninja é um dos
únicos que, em partes, não se encaixa na teoria da “Ação Política”, já que ela é geralmente
concedida aos grandes meios de comunicação, essa teoria alega que a mídia é vista como
forma instrumentalista, servindo a certos interesses políticos. Na versão da esquerda, a mídia
sustenta o capitalismo. Na visão da direita, a mídia se opõe ao capitalismo, é notório que
nessa passagem há certa veracidade. Direita e esquerda concordam somente em algo: as
notícias são distorções sistemáticas que servem a partidos políticos. Porém é visto que a
Mídia Ninja expõe claramente o seu posicionamento político e utiliza seu poder midiático
para perpetuar e defendê-lo, uma vez que a mesma foca suas pautas nas causas sociais,
tomando partido dos movimentos de esquerda.
Quanto a Teoria Organizacional, ela diz que os jornalistas organizam seu processo
de produção de notícias levando em consideração a política editorial do veículo no qual está
inserido do que suas crenças e ideologias. Isso acontece devido a alguns fatores, que são: as
represálias que o profissional pode sofrer caso produza um conteúdo que vá em desencontro
com a política da redação, a vontade de crescimento profissional que o leva a executar o
trabalho de acordo com o gosto de seus chefes, os sentimentos de obrigação e estima para
com jornalistas superiores e mais antigos, entre outros fatores. Acredita-se que essa teoria
não esteja presente no veículo em questão, Mídia Ninja, tendo em vista que o mesmo vive de
colaborações.
No dia 14.06.2016 foi publicada outra matéria que traz como título ''Movimentos
sociais realizam ato em frente a embaixada dos EUA em Brasília''. Na abertura da matéria
estava escrito que ‘’Não é de hoje a ingerência dos EUA em assuntos internos de outras
nações ao
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redor do mundo. Foi assim com a onda de golpes de Estado que varreu a América Latina
após a II Guerra Mundial, é assim com os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio. ‘’
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policial montado nos arredores da embaixada chamou a atenção de quem compareceu ao ato.
A grande quantidade de policiais suscitou, inclusive, temores de uma eventual ação armada
do governo golpista contra a população. ''
A menção ao governo como ‘’golpista’’ deixa nítido a posição do veículo diante do
impeachment da Presidente Dilma, nesse trecho é possível observar a exaltação aos
movimentos de esquerda e o contraponto da presença policial, sempre vista como uma
ameaça a esses movimentos. Durante toda a reportagem as fontes utilizadas são de pessoas
pertencentes aos movimentos, apresentando um único ponto de vista, principalmente sobre
os temores em relação ao ‘’golpe’’ realizado no Brasil e a militarização com instalação de
uma base militar americana na Argentina.
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No dia 15 de junho de 2016, foi publicado site Mídia Ninja que trazia no título “A
crise no futebol brasileiro é estrutural”, o que nos dá logo de cara material para que
possamos prosseguir com nossa análise de discurso, visto que ao se falar em estrutura,
podemos nos remeter a tudo aquilo que compõe a base do país. Dando sequência, o abre diz
“Maus resultados da seleção, desemprego sistêmico e escândalos de corrupção revelam que o
atual modelo do futebol brasileiro chegou ao limite.”, aqui podemos destacar a intenção do
autor
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A matéria foi publicada logo após a eliminação do Brasil na primeira fase da Copa
América desse ano, apresentando de antemão uma retrospectiva de fracassos sofridos pela
seleção nos últimos anos, dentre eles, o autor cita a derrota para a Alemanha na Copa do
Mundo, realizada no Brasil, em 2014, para isto, o autor usa o termo “vexatório 7x1”, um
termo que denota vergonha e decepção por parte da torcida que esperava um
hexacampeonato.
Na sequência, o autor fala sobre a “pior fase da história do futebol brasileiro. E mais
do que técnica e política, a crise é estrutural.”, e segue falando sobre a taxa de ociosidade dos
profissionais do futebol, que passam 8 meses inativos, devido ao “calendário irracional”, que
sobrecarrega os clubes para preencher grades de programação das emissoras de TV, que
ignora os clubes menores. E, aqui, nossa análise vai se nortear na crítica velada aos
procedimentos da CBF para os campeonatos estaduais e nacional, uma vez que, ao falar de
um calendário irracional, ele reclama das federações estaduais, nos levando ao crer, que o
interesse está mais na renda da televisão, do que no aproveitamento dos profissionais de
futebol.
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No dia 17.06.2016, foi publicada uma matéria no Mídia Ninja com o seguinte título:
“Universidade de Brasília é alvo de ataques extremistas na noite desta sexta (17)”. No abre
constava: “Entoando cantos racistas e homofóbicos, os agressores pediam a volta da Ditadura
Militar. Um estudante foi agredido com um Taser, arma de choque cuja venda é controlada.
Entre os agressores estava Kelly Bolsonaro, conhecida militante da ultra direita.” Nota-se
que o adjetivo “extremista” já denota uma interpretação pejorativa da ação, inferindo
violência e ausência de fundamentação. No abre da matéria, fica pressuposto com a
informação sobre o Taser que o grupo conseguiu a arma de maneira ilícita ou que fazem
parte de uma camada social privilegiada, podendo adquirir o instrumento.
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falar que o intuito foi agredir e depredar o patrimônio. Os estudos francês sobre Análise do
Discurso diz que o discurso legitima o poder e Focault especifica isto com a “vontade da
verdade”, citada anteriormente. Este recurso afirma que para legitimar determinada
ideologia, é necessário reunir afirmações que lhe credenciem. Estes elementos podem ser
observados acima.
Considerações Finais
Este trabalho buscou avaliar o site Mídia Ninja com base nos estudos do português
Nelson Traquina, através do seu livro ''Teorias do Jornalismo – Por que as notícias são como
são''. Ficam evidentes as tomadas de posição por parte do veículo e a grande carga ideológica
carregada por eles, fazendo com que cada vez mais seja esquecido o conceito de
imparcialidade tanto falado no âmbito da profissão de jornalista quanto na academia.
Anterior á análise individual das matérias já pode-se constatar que a Mídia Ninja
não se encaixa na primeira teoria apresentada por Nelson Traquina, a do espelho, mas ao
contrário fortalece o que foi dito por Pierre Bourdieu de que não existe imparcialidade e que
de alguma forma os campos sociais vão influenciar no modo em que as informações são
transmitidas. Como acontece na grande mídia, a forma como a Mídia Ninja apresenta suas
pautas está diretamente relacionada com a teoria do Gatekeeper, desde a sua criação o
veículo tem objetivo de trabalhar apeas questões sociais de cunho político e sendo
declaradamente de esquerda, então tudo o que eles produzem passa pelo filtro para estar
relacionado aos movimentos políticos sociais. Por ser uma mídia construída de forma
colaborativa não se pode afirmar que ela se encaixa na teoria Organizacional, pois todos que
a constituem trabalham por ela por terem uma afinidade política, o repórter não precisa
alterar sua herança dos campos sociais pois sua opinião já é aceita pelos demais.
Já relacionando com a Teoria de Ação Política nota-se que o veículo foi criado na
intenção de defender determinados interesses políticos. É aí que podemos questionar o
midiativismo, mesmo se autodenominando apartidários esses movimentos possuem uma
inclinação para defender um lado quando se trata de questões políticas, não é apens a
informação pela informação, mas a utilização dela como promoção de uma ideologia,
nitidamente vista nas postagens no site e nas redes sociais, com destaque para o facebook.
Como sendo uma mídia que permite a população construir a notícia, através do envio de
imagens, a Mídia Ninja pode ser incluída na Teoria Estruturalistaonde a sociedade influencia
no que é noticiado.
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Como uma mídia alternativa produzida na internet ela não pode ser associada com a
Teoria Interacionalista, as matérias e vídeos são geralmente postados em tempo real, não
existe um limitenem o mínimo de reportagens que deve ser feitas ao longo do dia, permitindo
a flexibilidade e alcançando diversos locais do país.
Referências bibliográficas
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo, porque as notícias são como são. Florianópolis:
Insular, 2014.
CATANI, Afrânio Mendes. As Possibilidades Analíticas da Noção de Campo Social. [s.l.: s.n.],
2010.
PAES, Anderson. O Gatekeeper e as escolhas do noticiário internacional. [s.l.: s.n]. 2008. Disponível
em: < http://paginas.unisul.br/agcom/revistacientifica/artigos_2008b/anderson_paes.pdf>. Acesso em
20 jun. 2016
BRUNS, Axel. Gatekeeping, gatewatching, realimentação em tempo real: novos desafios para o
Jornalismo. BRAZILIAN JOURNALISM RESEARCH - Volume 7 – Número II – 2011.
Disponível em: < https://bjr.sbpjor.org.br/bjr/article/view/342/315>. Acesso em: 20 jun. 2016
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