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SÃO PAULO
2002
DEDICATÓRIA
Rose e Gabriela.
O tempo passou.
Agora quero viver
intensamente
os momentos
humanos
que deixamos para trás.
À professora Dra. Maria Lúcia Carvalho da Silva, orientadora deste estudo, pela
dedicação e por acreditar e respeitar o movimento que construímos juntos.
Aos professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de
Toledo, Curso de Serviço Social, pelo apoio constante durante o processo de capacitação
continuada.
Ao colegiado do Curso de Pós – graduação em Serviço Social, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC -, em nome da Professora Dra. Carmelita
Yasbec, agradeço a oportunidade em cursar o mestrado e o doutorado, contribuindo
decisivamente na formação pessoal e profissional.
Aos professores Doutores, José Paulo Netto e Evaldo Vieira, agradeço pela
oportunidade oferecida em seus cursos e particularmente pelo exame de qualificação. Não
poderia deixar de reconhecer que a contribuição dos conteúdos apresentados e discutidos,
demarcaram em mim, um novo direcionamento cívico e intelectual.
Aos colegas de trabalho da Pró–Reitoria de Extensão da UNIOESTE, pela
oportunidade de dividirmos juntos um momento singular na minha trajetória pessoal e
profissional. Confesso que aprendi muito com vocês.
Às minhas amigas Yolanda Guerra, Sandra de Faria, Izabel Cristina Dias Lira e
Ana Cartaxo, pelo carinho e pela troca teórica, constante, antes e durante este processo
de estudo.
Ao meu amigo- vagabundo – Maggiar Villar, um poeta sonhador, que conheceu
muito cedo a lâmina cortante do projeto burguês.
Aos professores Doutores, Ariovaldo de Oliveira e Marcelo Redenti, educadores
que ensinaram os primeiros passos na aproximação da teoria social de Marx.
Aos colegas do Núcleo de Estudo e Aprofundamento Marxista – NEAM -, pela
dedicação e companheirismo no processo de aproximação, análise e compreensão do
legado marxista e marxiano. Com certeza, ao banhar-me pela água deste rio, tudo mudou.
À Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE -, pela oportunidade
oferecida ao liberar-me em regime de PICDT, durante 30 meses.
A CAPES, por ter propiciado as condições financeiras para a realização do
presente estudo.
À família GASS e RITTER pelo apoio ... momentos de lazer que vivemos juntos.
À minha família de origem. Ao meu pai Sergio (in memorium), à minha mãe
Antonia (in memorium) e aos meus irmãos, José Gilberto, Wilson (in memorium), Ademir,
Sergio, Paulo Roberto (in memorium), Claudinei e Evanete, por tudo.
Nossa História
Se o doce do açúcar
Alegrava o dono do engenho
Para o meu pai e seus familiares
O doce do açúcar tinha gosto de fel.
(A . B.)
Inverno de 2001.
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS........................................................................................................7
RESUMO.......................................................................................................................9
ABSTRACT.................................................................................................................10
RÉSUMÉ......................................................................................................................11
INTRODUÇÃO............................................................................................................12
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO 1 - “QUESTÃO SOCIAL”: CONFIGURAÇÕES NO CAPITALISMO....28
1.1 A FORÇA DE TRABALHO EM MOVIMENTO: UMA CONQUISTA
HISTÓRICA...........................................................................................................29
1.2 AS MÁQUINAS INAUGURAM A IDADE MODERNA NA PRODUÇÃO................46
1.2.1 A Produção Familiar.........................................................................................46
1.2.2 O Desenvolvimento das Patentes e as Necessidades Práticas em Nome
do Progresso....................................................................................................50
1.2.3 A Manufatura e a Maquinaria...........................................................................58
1.2.4 As Crises do Modo de Produção Capitalista: a Contradição em Movimento..69
1.3 O CAPITALISMO MONOPOLISTA E TARDIO EM MOVIMENTO........................74
1.3.1 A Inflexão do Projeto Capitalista na Década de 1970.....................................94
1.4 O AJUSTE NEOLIBERAL MUNDIAL....................................................................97
CAPÍTULO 2 - “QUESTÃO SOCIAL”: PERSPECTIVAS ANALÍTICAS................104
2.1 A CIÊNCIA DA DECADÊNCIA............................................................................108
2.2 A CRÍTICA MARXIANA.......................................................................................116
2.2.1 A Centralidade da Categoria Trabalho...........................................................124
2.2.2 O Processo de Trabalho em Mutação: Conceitos e Categorias...................127
2.2.2.1 O processo de trabalho, forma técnica e organizacional: do Artesanato
ao Toyotismo.................................................................................................145
2.3 AS DIMENSÕES: RESTAURADORA E REFORMISTA....................................168
2.3.1 A Proposta Restauradora de Pierre Rosanvallon..........................................176
2.3.2 O Reformismo Social-Democrata de Robert Castel......................................188
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO 3 – RECEITUÁRIO NEOLIBERAL E A “QUESTÃO SOCIAL” NO
BRASIL NA DÉCADA DE 1990......................................................207
6
This doctoring thesis analyses how and in what situation were the society
transformations in the period after 70’s, how it comes changing the “Social
Question”, and reflecting on the social service in Brazil in 1990’s. The pertinence of
this study realization is directly related through the personal and professional
necessity in understanding and analyzing this movement and it’s determinations,
contributing with the present and future debate about the social service through the
social worker category. Historically were explained the established relations among
capitalism development and the expressions from the “Social Question” in the XIX
century and after 70’s making possible the expose of the actions that the governs
from Fernando Collor de Mello and Fernando Henrique Cardoso developed between
the society transformations and its implications in the “Social Question”. The
Appropriation of these contents is coming reflecting in a discussion of objectivity
from social service. The utilization of bibliographies, articles and specific books
produced by social workers permitted dealing with the movement of society
transformations, the impact of the ”Social Question” and its reflections in Brazilian
social service in 90’s and the general fundamental theory and methodology is based
in documental and bibliographic sources from classic and contemporary critics. The
analyses and apprehension from this movement showed the tendency in the period
after 8o’s, which the social workers in their special occupational spaces and in the
professional worker come restoring conservatory practices, as well showed, the
changes in the work contract, in money payment and in the professional formation
continuous in relation to the technical operational requirements related to the
attendance of usage needs in the private and public services. These changes are
modifying the professional profile from the social assistance. These changes are in
the business circuits and professional formation.
RÉSUMÉ
Karl Marx
INTRODUÇÃO
Serviço Social, ao intervir através das políticas sociais criadas pelo Estado - espaço
estratégico de governo, é reconhecido enquanto profissão.
Hoje, início do século XXI, esta situação tem piorado. Para explicitar e dar
respostas à “questão social” e suas metamorfoses, Pierre Rosanvallon e Robert
Castel tratam da questão de forma teórica diferenciada: o primeiro, seguindo as
mesmas bases especulativas dos sacerdotes do século XIX, em vez de explicar o
fenômeno, admite-o como natural, pois, para ele é só mudar os conceitos que a
situação é resolvida já que o problema encontra-se na esfera conceitual filosófica.
Rosanvallon tem uma proposta restauradora para o problema, já Castel faz um
estudo histórico da força de trabalho assalariada e encontra no período do Welfare
State o ápice da relação capital-trabalho, momento em que os trabalhadores
avançaram nas conquistas de seus direitos e o capital avançou em sua acumulação.
Considerando que medidas paliativas não resolveram os problemas crônicos
presentes no último quartel do século XX, Castel vê na retomada do Welfare State a
única saída. É necessário garantir ao trabalhador o direito ao emprego e à
seguridade social e, aos demais trabalhadores, sem vínculo, os direitos primários.
Para Castel, a situação da coesão social é de risco, pois a vulnerabilidade tornou-
se universal para os trabalhadores e seus familiares. A única saída é um Estado
forte na esfera dos direitos. O mercado não responde a essas necessidades. A
resposta de Castel coloca-o no campo do reformismo social-democrata.
CAPÍTULO 1
“QUESTÃO SOCIAL”:
CONFIGURAÇÕES NO CAPITALISMO
Isso é tudo que eu queria dizer sobre o dever dos historiadores. Porém,
antes de terminar, quero lembrar mais uma coisa. Como estudante desta
universidade, vocês são pessoas privilegiadas. As perspectivas são as de
que, como bacharéis de um instituto conhecido e prestigiado, irão obter, se
assim escolherem, uma ótima condição na sociedade, carreiras melhores e
ganhos maiores que os de outras pessoas, embora não tanto quanto os de
prósperos homens de negócios. O que eu quero lembrar a vocês é algo
que me disseram quando comecei a lecionar em uma universidade. “As
pessoas em função das quais você está lá”, disse meu próprio professor,
não são estudantes como você. São estudantes comuns com opiniões
maçantes, que obtêm graus medíocres na faixa inferior das notas baixas, e
cujas respostas nos exames são quase iguais. Os que obtêm as melhores
notas cuidarão de si mesmos, ainda que seja para eles que você gostará
de lecionar. Os outros, são os únicos que precisam de você.
Isso não vale apenas para a universidade mas para o mundo. Os
governos, o sistema econômico, as escolas, tudo na sociedade, não se
destina ao benefício das minorias privilegiadas. Nós podemos cuidar de
nós mesmos. É para o benefício da grande maioria das pessoas, que não
são particularmente inteligentes ou interessantes (a menos que,
naturalmente, nos apaixonemos por uma delas), não têm um grau elevado
de instrução, não são prósperas ou realmente fadadas ao sucesso, não
são nada de muito especial. É para as pessoas que, ao longo da história,
fora do seu bairro, apenas têm entrado para a história como indivíduos nos
registros de nascimento, casamento e morte. Toda sociedade na qual
valha a pena viver é uma sociedade que se destina a elas, e não aos ricos,
inteligentes e excepcionais, embora toda sociedade em que valha a pena
viver deva garantir espaço e propósito para tais minorias. Mas o mundo
não é feito para o nosso benefício pessoal, e tampouco estamos no mundo
para o nosso benefício pessoal. Um mundo que afirme ser esse o
propósito não é bom e não deve ser duradouro (HOBSBAWM, 1988).
CAPÍTULO 1
exportou 556 milhões de jardas de tecidos de algodão, 76,5 milhões de libras de fio
de algodão e aproximadamente 1.200.000 libras esterlinas de artigos de algodão”
(ENGELS, 1985a, p. 17)10.
10
“A perspectiva tradicional que viu a história da revolução industrial britânica
primordialmente em termos de algodão foi, portanto, correta. A primeira indústria a se
revolucionar foi a do algodão, e é difícil perceber que outra indústria poderia ter empurrado
um grande número de empresários particulares rumo à revolução. Até a década de 1830, o
algodão era a única indústria britânica em que predominava a fábrica ou o ‘engenho’ (o
nome derivou-se do mais difundido estabelecimento pré-industrial a empregar pesada
maquinaria a motor)” (HOBSBAWM,1977, p. 53).
28
11
“...Os vagabundos são de fato, nas sociedades pré-industriais, o equivalente
aos imigrantes: estrangeiros, porque procuram meios para sobreviver fora de sua ‘terra’ ”
(CASTEL, 1998, p. 130). “...O vagabundo vive como se tivesse deixado de habitar este
mundo" (CASTEL, 1998, p. 133). “O vagabundo era um vadio que ficava na periferia do
espaço social e seu drama decorria do fato de ser posto fora da ordem produtiva”
(CASTEL, 1998, p. 298). Com o pauperismo, manifesta-se o perigo de uma desfiliação em
massa inscrita no próprio cerne do processo de produção das riquezas. -
12
Os trabalhadores vinculados a uma determinada propriedade, não tinham a
garantia de sua situação por muito tempo. As relações não eram equilibradas, estáveis, as
relações políticas, econômicas e sociais encontram-se em permanente mudança,
principalmente nesse período histórico. Nesse sentido, a situação dos trabalhadores de
vulnerabilidade se ampliava. O servo, o camponês ou o aprendiz de ofício e seus
familiares, podiam engrossar as fileiras dos vagabundos ou mendigos ativos a qualquer
momento.
13
Os vagabundos e os mendigos válidos expressaram e representaram o
embrião da força de trabalho assalariada. Despossuídos de todos os bens materiais, a
única propriedade que possuíam, que estava à disposição para ser negociada, vendida
para poderem continuar vivendo, era o seu trabalho, o qual, na ordem capitalista, é
comprado como força de trabalho – compra-se uma determinada quantidade de trabalho
em movimento.
30
O que fazer com essa massa de força de trabalho sem vínculo? Foi
necessário intervir nas relações estabelecidas e criar novos mecanismos de
controle. Práticas de repressão física e a instalação de programas com fundamentos
em conteúdos que explicitavam a dimensão tutelar moral foram as saídas imediatas
encontradas. Essas proposições foram direcionadas para as instâncias conflituosas
nos espaços rurais, porém a problemática manifestava-se em maior profundidade
na esfera urbana.
14
O uso das aspas em todo o texto, explicita a necessidade de entender em seu
movimento, porém, partimos da compreensão colocada por NETTO (2001, p. 45) “...As
vanguardas trabalhadoras acederam, no seu processo de luta, à consciência política de
que a ‘questão social’ está necessariamente colcada à sociedade burguesa: somente a
supressão desta conduz à supressão daquela. A partir dái, o pensamento revolucionário
passou a identificar, na própria expressão ‘questão social’, uma tergiversação
conservadora, e a só emprega-la indicando este traço mistificador”.
15
Os vagabundos e os mendigos ativos representavam uma ameaça para a
sociedade. Em primeiro lugar, por não estarem produzindo e, segundo, pelas ações que
perturbavam a vida daqueles que se encontravam estáveis – o roubo, as brigas, as
invasões de propriedade, as doenças, os saques, a ausência de moradia, enfim, eram
identificados como um mal social. É a partir deste período histórico que os governantes
criam leis para conter e regular a situação de anomia existente.
31
...o Antigo Regime, em via de se acabar, é ainda caracterizado por uma intensa
caça aos vagabundos e aos mendigos válidos. A jurisdição dos prebostes é
motivada por um prêmio de três libras para cada captura. Necker estima em
50.000 o número das prisões em 1767. Entre 1768 e 1772, 111.836 pessoas
entraram nos depósitos, contra 1.132 condenações às galeras (CASTEL, 1998,
p. 127).
...a instituição do livre acesso ao trabalho é, sem dúvida, uma revolução jurídica
tão importante quanto a revolução industrial de que, aliás, é a contrapartida. Na
verdade, reveste-se de uma importância fundamental em relação a tudo o que
precede. Quebra as formas seculares de organização dos ofícios e faz do
trabalho forçado uma sobrevivência bárbara. A promoção do livre acesso ao
trabalho, com um longo ciclo de transformações conflitivas, pôs um fim aos
entraves que impediram o advento de uma condição salarial. Mas essa revolução
é igualmente decisiva em relação ao que se segue. É ela que reintroduz a
questão social sobre bases absolutamente novas no início do século (CASTEL,
1998, p. 44).
que o mercado inteiro consistia ainda o fator decisivo da procura de tecidos – era
quase o único mercado – o poder esmagador da concorrência que devia
aparecer mais tarde, com a conquista de mercados estrangeiros e com a
extensão do comércio, não pesavam ainda sensivelmente no salário (ENGELS,
1985a, p. 11).
22
Ver também: ASHTON (1971, p. 96); ENGELS (1985a, p. 16) e MARX (1975b,
p. 387).
38
23
Após 50 anos do início da primeira revolução industrial –1830 -, a Bélgica
despontava como sendo o o país mais industrializado no mundo. No entanto, na Inglaterra
“...entre 1830 e 1838, a potência das suas máquinas a vapor é triplicada e, entre 1830 e
1850, também se triplica a sua produção de carvão” (NETTO, 1985b, p. 11). Enquanto que,
“sabe-se que a industrialização na França foi relativamente morosa e em larga medida
manual” (PERROT, 1988, p. 20).
39
em outra dimensão, porém também legal, as Poor Laws (lei dos pobres) dificultavam
a liberação da força de trabalho para o mercado. Se não bastassem essas duas
obstruções ao desenvolvimento capitalista, os economistas burgueses,
pertencentes à Escola Econômica dos Fisiocratas, tomaram como verdade o fato de
que a terra, e o aluguel da terra eram as únicas fontes de renda líguida. Assim, a
terra era o único e verdadeiro objeto que deveria ser manipulado e com a
responsabilidade de aumentar a riqueza social. Para eles, a industrialização e o
comércio, por não respeitarem as leis da natureza, representavam um mal social e
era necessário impedi-las de serem desenvolvidas. 25
26
A Inglaterra importava matéria prima – seda – da Índia e da China
principalmente. Estes países não conseguiram acompanhar a revolução industrial que
ocorria na Europa e, em 1840 os mercados de Lancashire chegaram a exportar 145
milhões de jardas. A Índia passa de exportadora para importadora. Este fato foi um grande
marco na história mundial moderna.
27
Estes avanços ganharam destaque, principalmente nas minas de carvão, pois
os trabalhos puderam ser desenvolvidos com agilidade, possibilitando aumentar a
produção e, como consequência, o lucro dos proprietários.
42
Por sua vez, a tradição jacobina ganhou solidez e continuidade sem precedentes
e penetração nas massas a partir da coesiva solidariedade e da lealdade que
eram características do novo proletariado. Os proletariados não se mantinham
unidos pelo simples fato de serem pobres e estarem num mesmo lugar, mas pelo
fato de que trabalhar junto e em grande número, colaborando uns com os outros
numa mesma tarefa e apoiando-se mutualmente constituía sua própria vida. A
solidariedade inquebrantável era sua única arma, pois somente assim eles
poderiam demonstrar seu modesto, mas decisivo ser coletivo (HOBSBAWM,
1977, p. 233).
A Jenny,30 criada em 1764, foi a primeira máquina que arruinou a vida dos
trabalhadores tecelões. Sua capacidade de trabalho mecânico chegava a
aproximadamente 20 vezes a de um trabalhador na máquina de costurar simples.
Com a capacidade de produzir ampliada, muitos tecelões não tiveram outra escolha
a não ser abandonar a situação de tecelão e agricultor e assumir, em conjunto com
a família, o trabalho único frente à máquina. Neste momento, “...a classe dos
tecelões agrícolas desapareceu completamente, dissolvendo-se na nova classe dos
que eram exclusivamente tecelões, que só viviam do seu salário e não possuíam
propriedades, não tendo sequer a ilusão de propriedade que o trabalho agrícola
confere” (ENGELS, 1985a, p. 14). E a escolha realizada pelo agricultor alterou sua
posição na divisão técnica e social do trabalho: a partir deste momento sua
situação, enquanto trabalhador, caracterizou-se como proletário (ENGELS, 1985a,
p. 14).
30
“...Entre 1764 e 1767, James Hargreaves, carpinteiro-tecelão em Blackburn,
inventava uma simples máquina manual chamada Jenny, por meio da qual uma mulher
podia fazer, ao mesmo tempo, seis ou sete fios; mais tarde, ia até oitenta fios” (ASHTON,
1971, p. 94). No entanto, esta descoberta revolucionária apresentou conseqüências sociais
imediatas à classe trabalhadora emergente. O desemprego foi a “questão social” de
imediato que impulsionou reações dos trabalhadores (ENGELS, 1985a, p. 14, 16, 158, 159
e 162).
45
O trabalho nas máquinas eliminaram cada vez mais o operário adulto. O trabalho
nas máquinas consiste, principalmente, tanto na fiação como na tecelagem, em
reparar os fios que se partem, pois a máquina faz o resto. Este trabalho não
exige nenhuma força física, mas dedos ágeis. Então, não só os homens são
indispensáveis para isso como, por outro lado, o grande desenvolvimento dos
músculos e dos ossos das mãos os torna menos aptos para este trabalho do que
as mulheres e as crianças; por isso, eles são muito naturais e quase totalmente
afastados deste trabalho. Quando mais os gestos dos braços, os esforços
musculares, são, devido à entrada em serviço de máquinas, realizados pela
energia hidráulica ou pela força a vapor, menos se necessita de homens
(ENGELS, 1985a, p. 163-164).
pobre mulher está na fábrica e tem de estar lá às cinco e meia e trabalha até às oito da
noite e sai tão cansada que não pode fazer nada, quando volta para casa. Tenho que fazer
tudo o que puder no lugar dela, porque eu não tenho trabalho e há três anos que não
tenho e não encontrarei em toda a minha vida, e depois deixou cair uma lágrima”.
47
Mas não era somente a produção que sofria as amarguras das crises
cíclicas com manifestações concretas de estagnação. O processo de valorização do
capital (circulação, distribuição e troca), também vivenciava as conseqüências das
crises em suas raízes, e o movimento “linear” do progresso era interrompido. O
desemprego35 batia à porta da maioria das famílias trabalhadoras; como
34
As crises que afetavam o modo de produção capitalista trazia, em sua
essência, como um dos elementos principais, a baixa nas colheitas. Neste sentido, muitas
crises recessivas que o capitalismo vivenciou ou foi provocada pela crise nas colheitas ou
estas coincidiam com a crise de amplitude maior. Assim, as crise nas colheitas nos anos de
“...1756-1757, 1767-1768, 1772-1775, 1782-1783, 1795-1789, 1799-1801, 1804-1805,
1809-1813 e 1816-1819 ” (ASHTON, 1971, p.172), abalaram a vida de toda a sociedade e
os trabalhadores eram os mais atingidos, pois desprovidos de qualquer mercadoria a não
ser a sua força de trabalho, dividiam a situação de miseráveis entre si (HOBSBAWM, 1977,
p. 56-57).
35
Diante da necessidade imediata de colocar o conhecimento teórico-prático a
serviço dos capitalistas, a classe trabalhadora acordava todos os dias mais pobre e com
condições de trabalho precário, que os levava à mutilação física e psíquica, e suas formas
de organização não conseguiam sair das lutas imediatas.Dentre os piores dividendos das
quais a classe trabalhadora era tributária, o desemprego a ser enfrentado todos os dias
transformava-lhes a vida e deixava-os, na maioria das vezes, em situação limite da
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Desempregados,
...que resta a estas pessoas, quando não encontram trabalho e não querem se
revoltar contra a sociedade, senão mendigar? Não devemos nos espantar ao
vermos esta multidão de mendigos com quem a polícia tem sempre contas a
ajustar e que, na sua maior parte, são homens em condições de trabalhar. Mas
a mendicância destes homens tem um caráter específico. Normalmente erram,
em companhia da família, cantando algumas lamúrias na rua ou então apelando
para a caridade dos vizinhos com algum pequeno discurso. E é notável que
quase só se encontrem este mendigos nos bairros operários e que vivam
somente das esmolas que lhes são dadas quase exclusivamente por operários.
Ou não, toda a família se instala silenciosamente à beira de uma rua animada e
deixa, sem dizer nada, que o seu aspecto indigente produza efeito só por si.
Neste caso também só contam com a simpatia dos operários que sabem por
experiência o que é a fome e que qualquer momento podem se encontrar na
mesma situação (ENGELS, 1985a, p. 104).
existência humana, e não restava outra alternativa, para a maioria, a não ser mergulhar
profundamente na miséria material e espiritual (HOBSBAWM, 1977, p. 228; e MARX, 1975,
p. 491-493).
36
Não podemos confundir emancipação política com emancipação humana. “Não
há dúvida que a emancipação política representa um grande progresso, Embora não seja a
última etapa da emancipação humana em geral, ela se caracteriza como a derradeira etapa
da emancipação humana dentro do contexto do mundo atual. É óbvio que nos referimos à
emancipação real, à emancipação prática” (MARX, [19-?], p. 28). Ver também ASHTON
(1971, p. 160) e ENGELS (1985a, p. 142).
51
37
Os filisteus, a serviço da classe burguesa, não podendo assumir a culpa das
mortes que ocorriam devido à situação de miserabilidade, adulteravam os relatórios em que
se acusava a causa da morte: a fome. Se não se comportassem desta forma, estariam
assinando com seus próprios punhos, a culpa destes fatos sociais, que em situação limite,
igualava-se aos animais não humanos. Porém, o que era para estes filisteus um fato social
natural, para os proletários era um crime social (ENGELS, 1985a, p. 37).
38
Enquanto a maioria da sociedade burguesa encontrava-se em situação
negadora da sua existência, as crises que condicionavam a economia a estagnar-se, não
impediam que alguns setores do mercado continuassem acumulando.
52
41
A pilhagem dos territórios, nos países colônia chegou nos limites da civilização.
Nestes momentos ficavam visíveis e materializava-se a lógica e a forma com que a classe
burguesa, detentora das manifestações modernas, usava para manter-se enquanto classe
dominante. A humanidade conheceu as proezas dos elementos que conduzem à barbárie,
tanto na Primeira, como na Segunda Guerra Mundial, ficou evidente que não há razão
quando a questão tem como finalidade a necessidade de manter o poder político e
econômico. O capital sempre usou desta prática. Na maioria das vezes este processo
ocorre regionalmente, em outras, alcança a esfera mundial. No campo político, saíram
vitoriosos os EUA e a URSS. E uma nova era se instaura: a reconstrução do que já estava
produzido e, ao mesmo tempo, celebra um novo contrato social entre o capital e o trabalho.
55
42
"Para os norte-americanos, o mundo está dividido em países capitalistas e
comunistas. Toda diplomacia deve empenhar-se em evitar que cresça o número e a
influência dos comunistas sobre os outros, particularmente os dependentes do
imperialismo. Portanto, é indispensável que as teorias, os partidos políticos, os sindicatos,
as organizações e as lideranças que direta ou indiretamente possibilitam a ‘subversão
comunista’ sejam controlados e, sempre que possível, eliminados " (IANNI 1979, p. 38).
56
individual e coletivo coloca a sua centralidade mais uma vez em evidência na esfera
mundial. A microeletrônica e a energia nuclear presenteiam a sociedade com novas
descobertas. Estas contribuem para o avanço qualitativo e quantitativo da divisão
técnica do trabalho e, ao mesmo tempo, abre um leque de possibilidades para os
homens usufruírem dessas descobertas para a sua felicidade. O novo em
movimento, possibilita que o velho continue em movimento, mas o novo traz
contribuições significativas para as esferas da produção e social.
O que dominou a dinâmica do período 1945/67 não foi nem uma nem outra
dessas inovações tecnológicas, mas a grande expansão das indústrias
produtoras de bens duráveis de consumo (sobretudo do automóvel), de produtos
petroquímicos, insumos industriais para a agricultura, de meios de transporte
(navios, aviões) e de armamento, além do grande crescimento da aviação
comercial, da mecanização da construção civil etc. Inegavelmente, esse período
foi dominado por notável dinamismo tecnológico, sobretudo pela criação de
novos produtos, mas nem a energia nuclear nem a automação podem ser
consideradas seus traços dominantes (MANDEL, 1985, p. XX).
Mas, a crise que se instaurou após 1970 não permitiu que este arsenal
tecnológico e científico fosse colocado a serviço do capital em grau máximo de suas
potencialidades.
Houve uma diminuição constante dos investimentos produtivos e, por isso, uma
clara baixa da taxa de crescimento a médio e a longo prazos, o que demonstra
que nenhum ramo industrial "novo" - inclusive a microeletrônica, a robótica ou a
informática - se desenvolveu de maneira que pudesse substituir o papel de
estimuladores fundamentais da produção e do mercado que cumpriram o
automóvel, a construção civil, os eletrodomésticos e as máquinas destinadas à
semi-automação no período 1940/70 nos países anglo-saxões, e em 1948/70 na
Europa capitalista e no Japão (MANDEL,1990, p. 23).
48
A irracionalidade é fato concreto. Dentre as inúmeras formas utilizadas pelo
capital após a década de 1970, para continuar acumulando elegeu, por necessidade da
sua lógica, a fome. Para que os preços não diminuíssem e muitos capitalistas perecessem,
a saída encontrada foi causar a fome forçada. Este mecanismo mostra a essência do
Projeto Burguês (COSTA, 1986, p. 84). A coincidência da recessão e de uma grave
situação de fome na Faixa do Sahel (África) e em outras zonas do Terceiro Mundo teve
efeitos desastrosos sobre as populações envolvidas. Nada confirma melhor o caráter
irracional e desumano do sistema capitalista do que o fato de milhões de homens,
mulheres e crianças estarem gravemente subalimentados, correndo o risco de morrer de
fome, enquanto enormes recursos em máquinas, matérias-primas e mão-de-obra ficam
inutilizados. Com a ajuda dessas reservas, seria possível produzir os tratores, os adubos,
as bombas elétricas, os canais de irrigação, para aumentar rapidamente a produção de
víveres e alimentar os famintos, isso se a produção fosse regida pela satisfação das
necessidades e não pelo lucro (MANDEL,1990, p. 31).
63
(8) Mas, o mundo da política que permeia todas estas decisões também é
pensado e alterado. Durante as décadas de glória, o movimento operário ampliou,
universalizou suas ações. Enquanto embate direto, nos países centrais, suas lutas
ocorreram em duas dimensões: (8.1) reposição e aumento salarial, ao mesmo
tempo, abriu espaços para se implantarem novas formas de produzir e dimensionar-
se os resultados da produção. Embora, as conquistas tenham sido significativas, os
capitalistas ampliaram as oportunidades para cooptar uma massa de trabalhadores,
que desenvolvesse um papel importante, central, enquanto intelectuais da classe
dominante, por isso, investiu-se na indústria cultural. Nesse momento, os sindicatos
fortaleceram-se, ampliaram o número de associados, conquistaram inúmeras
vantagens sociais. Porém, muitos direcionaram suas ações para o mundo da
burocracia. Criaram entidades que, em suas particularidades, significavam uma
extensão da fábrica. Este movimento também ocorreu no Japão, principalmente
após as derrotas do movimento sindical, em 1952 e 1963, em que se instaurou o
Sindicato Empresa; (8.2) em outras localidades, como nos países periféricos em
crescimento ou totalmente dependentes, os Sindicatos foram neutralizados sob a
égide das ações concretas dos capitalistas. Como esses países representavam
espaços garantidos de produção, ou para a apropriação das matérias primas
necessárias para colocarem em movimento o grande capital, vivenciava-se, em
suas bases, um ataque constante da burguesia nacional, orientada pela
internacional para cooptá-los com a finalidade de interferirem em todas as
resistências apresentadas ao projeto dominante, fosse através dos planos
econômicos, fosse através da força.
(9) O capital não tem pátria. Mas, o capital é uma expressão ontológica de
um projeto historicamente determinado. Um projeto de classe, um projeto societário
burguês. Como sua meta central e condição de existência é o lucro, o projeto
político e ético que fundamenta a sua manutenção e expansão é a concorrência.
"Todos são livres no mercado, os competentes sobreviverão."
49
“Na história do imperialismo, tomada em conjunto, o darwinismo social é
colocado em segundo plano, ganhando preeminência o anticomunismo. Sob as mais
diversas modalidades (econômica, política, militar, cultural) o anticomunismo passa a ser o
novo núcleo ideológico da indústria cultural do imperialismo" (IANNI, 1979, p. 34).
66
o ano de 1979 pode ser tomado como marco da construção de uma nova ordem
econômica mundial. Naquele ano, ao final do governo de Carter, o presidente do
Fed, Paul Volcker, retirou-se da reunião mundial do Fundo Monetário
Internacional anunciando que não seguiria mais a sua orientação e dos demais
países industrializados, que tendiam a manter o dólar desvalorizado frente às
demais moedas. Declarou que o dólar manteria sua condição de moeda
internacional. Para isso elevou dramaticamente a taxa interna de juros, dando
início não só à revalorização do dólar frente às demais moedas, mas também a
um processo recessivo que atingiu tanto a economia norte-americana como o
resto do mundo nos primeiros anos da década de 80 (SALLUM JUNIOR, 2000a,
p. 423).
58
OECD ECONOMIC OUTLOOK. In: DIEESE (2000-2001, tabela 67). Taxa de
desemprego na OCDE. Países selecionados 1990-1198. O desemprego, nos países ricos,
atingiu a média de 7% em 1990, porém em 1998, o índice médio elevou-se para 8%.
71
...a crise global que marca peculiarmente as três últimas décadas deste século
revela-se, plena, na crise do Estado de bem-estar e na crise do "socialismo real",
as duas conformações societárias que, cada uma ao seu modo, procura
soluções para os antagonismos próprios à ordem do capital. Nestas duas crises,
elas mesmas muito distintas, a crise global mostra a sua dramaticidade - que se
expressa com possibilidade de regressão social, de que o chamado
neoliberalismo é sintomática.
Por isso, pode-se dizer que: ‘como as pessoas trocam de roupa todos os
dias’, a retórica econômica e a política do receituário neoliberal cumprem o mesmo
ato. Isto porque, distante de qualquer construção científica seus fundamentos são
evasivos, embora se utilizem dos meios de comunicação para mostrar que uma
verdade hoje, pode não ser amanhã, pois são alteradas conforme a vontade
especulativa do momento e atendendo aos interesses do projeto burguês,
principalmente do capital financeiro. E, nesses momentos, é nítida a eliminação dos
fundamentos científicos, porque prevalecem os argumentos especulativos. Portanto,
contradições, que possuem raiz histórica, e que explicitam o resultado das opções
realizadas por um projeto de classe, são resolvidas por meio de modelos
microeconômicos, cujas fórmulas são construídas em laboratórios e que se
deslocam segundo as relações materiais, ganham vida e decidem o destino da
humanidade.
72
Karl Marx
CAPÍTULO 2
59
Ver também HOBSBAWM (1977, p. 234-235)
75
60
“...Mais especificamente, as exigências do burguês foram delineadas na
famosa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Este documento é um
manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a
favor de uma sociedade democrática e igualitária” (HOBSBAWM, 1977, p. 77).
61
“Temerosos, com os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores por
melhores salários, redução de carga horária ou condições melhores de trabalho, a única e
exclusiva regra moral que era ensinada aos trabalhadores pautava-se no emprego do
chicote. Esta prática era a mesma utilizada para os animais não humanos. Um homem que
é tratado como animal, somente com a mesma ação instintiva pode reagir frente às
questões que o oprime em seu cotidiano” (ENGELS, 1985a, p. 134-135). Ao mesmo tempo,
para conter a mendicância que crescia, “...no dia cinco de julho de 1808, foi promulgada a
lei que reprime a mendicância” (MARX, 1995, p. 78).
76
ordem burguesa a ensinar aos trabalhadores como produzir as suas próprias armas,
também ensinou-lhes como manuseá-las e com que propósito: aniquilar o
opressor. Este princípio foi colocado em prática na França no século XIX, em 1848,
e 1871. A classe burguesa não teve dúvida em reprimir e aniquilar os processos
revolucionários em marcha,62 as revoluções de 1830, e ainda mais a de 1848,
...a práxis aparece agora como uma mera atividade técnica de manipulação; a
objetividade fragmenta-se numa coleção de ‘dados’ a serem homogeneizados; e,
finalmente, a razão reduz-se a um conjunto de regras formais subjetivas,
desligadas do conteúdo objetivo daquilo a que se aplicam. Essa ‘miséria da
Razão’ transforma em algo irracional todos os momentos significativos da vida
humana (COUTINHO, 1972, p. 29).
63
A manipulação da realidade é uma arma poderosa que os representes
ideológicos da classe burguesa utilizam todos os dias para continuar controlando e
mantendo a existência do projeto burguês. No entanto, a manipulação não é um
instrumento construído com os poderes onipotentes. Desta forma, temos o papel de
mostrar no campo teórico-prático como que esta arma perigosa e destruidora de gerações
de trabalhadores pode ser combatida e ‘destruída’. É necessário “...mostrar teoricamente
que não estamos diante de um curso inexorável do processo econômico ou tecnológico. Ao
contrário, é preciso mostrar que o que está em desenvolvimento é um processo
manipulatório por uma classe determinada, de um modo bastante preciso, e que a
manipulação parte de certos pretensos axiomas que são incapazes de resistir a uma
observação mais atenta “ (LUKÁCS, apud KOFLER, 1969, p. 112).
79
necessário ter paciência e espírito positivo, pois o momento era passageiro. xviii Para
os pessimistas, bastava lembrar como era o sofrimento das mulheres no momento
do parto; a dor era intensa, porém, em seguida a felicidade tomava conta de todos.
No período da decadência, a “questão social” posta e materializada seguia a
mesma trajetória por meio das ações burocráticas, em que “...o conteúdo se
sacrifica à forma, o real ao ideal, o particular ao universal abstrato”
(COUTINHO,1972, p. 27). A racionalidade, portanto, foi sucumbida e a
irracionalidade espraiou-se em todas as dimensões da sociedade.
...o homem constrói seus problemas a serem resolvidos e lhes dá resposta com
base na sua realidade. Mas uma consciência pretensamente livre de liames
sociais, que trabalha por si mesma, puramente a partir do interior, não existe e
ninguém jamais conseguiu demonstrar sua existência. Creio que os chamados
intelectuais, desprovidos de vinculações sociais, como também o slogan, hoje
em moda, do fim da ideologia, seja uma pura ficção, que não tem propriamente
nada a ver com a efetiva situação dos homens reais na sociedade real.
as mais religiosas até as mais atéias. Foi por meio dele que os homens
diversificaram seus relacionamentos no cotidiano e chegaram, no final do século
XX, a construir e a desenvolver uma sociedade em que tanto as relações de
produção como as sociais materializaram-se globalmente. 68 “As características da
marcha da globalização incluem a internacionalização da produção, a globalização
das finanças e seguros comerciais, a mudança da divisão internacional do trabalho,
o vasto movimento migratório do sul para o norte e a competição ambiental, que
acelera esses processos” (IANNI, 1992, p. 23-24).
70
“Por força de trabalho ou capacidade de trabalho compreendemos o conjunto
das faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser
humano, as quais ele põe em ação toda as vezes que produz valores-de-uso de qualquer
espécie. (...) Assim, a força de trabalho só pode aparecer como mercadoria pelo seu
próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é a força de trabalho” (MARX,1975b, p. 187). A
força de trabalho assalariada, criadora de valor, é característica básica de uma forma
determinada do modo de produção capitalista. Sob esta lógica, os homens, trabalhadores
assalariados, produzem sua existência e também a de outros, quando vendem sua força
de trabalho no mercado.
71
O processo de constituição e desenvolvimento do capitalismo, mostra-nos que
a classe dos proprietários dos meios de produção, ao comprar a força de trabalho, paga
um determinado salário. “O valor do salário médio é determinado pelo que o trabalhador
85
precisa para viver, trabalhar e reproduzir-se” (MARX, 1975b, p. 364). Esta definição na
prática é assumida como correta pelos defensores de modo do produção capitalista, os
quais têm, como fundamento teórico, as formulações dos economistas burgueses.
86
Marx, faz o estudo e a crítica e, por entender que todo e qualquer objeto está em
constante movimento, repleto intrinsicamente de contradições, propõe a possível
necessidade histórica de um novo projeto societário emancipatório humano. A
perspectiva central da revolução é o tempo presente em Marx.
72
O Estado (enquanto parte da superestrutura na sociedade), nunca esteve
ausente no interior das relações de produção e sociais travadas na sociedade civil, porém,
o que ocorre é que seu papel é de maior ou menor importância conforme a momento que é
solicitado pela classe dominante e pressionado pela classe proletária e demais frações de
classe. Neste sentido, o Estado historicamente tem recebido definições diferentes. A
solicitação do Estado pela classe dominante está vinculada à correlação de forças e de
poder que estão estabelecidas entre as próprias classes dominantes e sua relação com as
das classes dominadas. Essas relações estão vinculadas diretamente com a produção,
reprodução e com acumulação do capital.
87
75
Historicamente, os homens foram percebendo e vivenciando em suas ações
cotidianas que o trabalho, na forma natural, possuía limites. O corpo humano, ao expressar
em suas dimensões físicas e psíquicas como uma máquina que se move pela motricidade,
apresentou, historicamente, o esgotamento de suas dinamicidades. Os instrumentos de
trabalho operacional presente no corpo humano, eram limitados. Assim, os homens
precisam continuamente, para que dominem a natureza e coloque-a ao seu serviço,
objetivar-se construindo instrumentos de trabalho que vão além da elasticidade do trabalho
humano. Este processo ocorre historicamente enquanto dimensão emancipadora ou
negadora do homem conforme ele se põe enquanto homem na sociedade.
89
Dessa forma, pode-se dizer que os meios de produção não criam valor,
mas transferem valor ao produto, pela incorporação da matéria-prima e pelo
desgaste dos instrumentos. É a utilização da força de trabalho na produção de
mercadorias, que possibilita aos meios de produção transferirem valores ao produto
final. Isso ocorre porque, durante o processo de trabalho, os meios de produção
apresentam em sua forma original um valor de uso que é de propriedade do
capitalista. Para que os meios de produção possam realizar-se, é necessário que os
76
O trabalho é o componente principal na materialização do processo de
trabalho, pois “...ao converter o trabalho, por meio da troca, em um de seus elementos
materiais, somente se aprecia uma diferença substancial entre o trabalho e os demais
elementos objetivos do capital, é que o trabalho reveste uma forma de atividade ,
enquanto que os outros elementos aparecem em estado de repouso." (MARX, 1985b, v.1,
p. 344.
90
77
A variação de onde a mais-valia é extraída, margem menor ou maior de capital
excedente, depende dos mecanismos que são criadas para acrescentar valor. Estes
mecanismos (aprimoramento ou diversificação dos meios de produção) são frutos de
determinadas formas dos homens relacionarem-se historicamente (MARX, 1975b, p. 234-
235).
91
apropriada pelo capitalista (trabalho excedente), fator que lhe possibilita acumular
capital. O trabalho excedente é uma quantidade de trabalho não pago.
...quando os grandes donos das terras Inglesas permitiram a seus serventes que
antes consumiam uma parte da produção excedente arrancando da terra, ao par
que seus arrendatários expulsavam das suas terras os campesinos, lançando no
mercado de trabalho uma massa de forças de trabalho que ficavam livres em
dois sentidos: livres das velhas relações de clientela, servas e dependentes, e
livres também de todos os seus bens, de toda forma de existência objetiva e
material, livres de toda propriedade e, portanto, obrigados a vender sua
capacidade de trabalho ou a dedicar-se na mendicância, à vagabundagem ou
ao roubo, para poder subsistir (MARX,1985b, p. 363).
78
Verificar as páginas 18-30.
79
"O trabalho, é certo, apresenta primeiramente uma relação de negatividade
com respeito a si mesmo, é o trabalho ainda não objetivado, quer dizer, carente de objeto e
que possui, portanto, uma existência meramente subjetiva. Portanto, ainda que o trabalho
careça de objeto, é uma atividade; pode não ter um valor por si mesmo, porém é a fonte
viva do valor." (MARX, 1975b)
Por outro lado, não basta ao operário querer vender sua força de trabalho,
é necessário que exista no mercado pessoas que queiram comprá-la, e colocá-la
em movimento, necessita-se da existência dos capitalistas. 80
80
Neste primeiro momento, os capitalistas utilizavam não somente da força de
trabalho do operário, mas utilizavam também de seus instrumentos (muitos operários não
conseguiam colocá-los em movimento devido à concorrência que já existia no mercado).
Num segundo momento os operários, despossuídos de todos os bens, inclusive de seus
instrumentos de trabalho, resumem-se em uma única mercadoria: a força de trabalho.
96
81
Por apresentar uma maior redistribuição do trabalho, é possível encontrar a
qualquer momento o tipo de capacidade do trabalho de que necessita o capitalista. Para
conseguir aumentar a intensidade deste capital, o capitalista propõe “sugar” a maior
quantidade de potencialidade que cada trabalhador possui.
98
... Fica desde logo claro que o trabalhador durante toda a sua existência nada
mais é que força de trabalho, que todo o seu tempo disponível é por natureza e
por lei tempo de trabalho, a ser empregado no aumento do próprio capital. Não
tem qualquer sentido o tempo para a educação, para o desenvolvimento
intelectual, para preencher funções sociais, para o convívio social, para o livre
exercício das forças físicas e espirituais, para o descanso dominical mesmo no
país dos santificados de Domingo (MARX,1975b, p. 300).
85
Estabelece-se, a partir deste momento a força produtiva social do trabalho.
Toda a jornada de trabalho coletiva passa pelas determinações técnicas e organizacionais
da força produtiva do trabalho social.
102
Para a força de trabalho vivo, coube-lhe o papel de “vigiar a máquina com as vistas,
e corrigir os erros com a mão." Na manufatura, o trabalho vivo, apesar de
expropriado da sua subjetividade, de suas destrezas, colocava-se como parte
central, enquanto na maquinaria, o ponto central passou a ser os instrumentos de
trabalho. A força de trabalho é descartada na sua totalidade enquanto elemento
principal. Essa diferença resulta em duas novas determinações no interior do
processo de trabalho, inaugurando uma nova particularidade histórica do modo de
produção capitalista: (1) o trabalhador torna-se apêndice da máquina; (2) o
processo deixa de ser totalmente lastreado no trabalho vivo.
87
Este resultado em movimento não coloca em questionamento a centralidade
da categoria trabalho em sua dimensão protogênica.
88
Desde o início do modo de produção capitalista, em específico a partir da
produção centralizada na maquinaria, as diferenças entre divisão social e divisão técnica
do trabalho ganharam maior grau de saturação. No que se refere à divisão técnica do
trabalho evidenciou-se: (1)ampliação em proporções geométricas. Cria-se novas profissões
e, ao mesmo tempo, destrói-se outras; (2) reduz-se o número de trabalhadores na
execução de determinadas atividades; (3) com as especialidades, amplia-se o
conhecimento sobre a natureza, obtendo um maior domínio da mesma. Essas dimensões
estão permitindo: (1) viabilizar-se com maior rapidez e qualidade a universalização da
produção, apesar de um número muito reduzido de pessoas apropriam-se dos produtos e
das mercadorias criadas; (2) cria-se um campo de possibilidades de os homens
trabalharem (na produção industrial) menos e desenvolverem outras objetivações que
permita-lhes participar das possibilidades de sair do mundo da singularidade e viver
determinações genéricas. Assim, a divisão técnica do trabalho tornou-se uma determinação
que mostra o grau de saturação e potencialidade que os homens, através do trabalho, já
conseguiram alcançar. Por outro lado, encontra-se a divisão social do trabalho. Esta se põe
na dimensão de decisão, isto é, quem manda e quem obedece, ou seja, quem cria, elabora
e quem executa. A divisão social está vinculada a mecanismos de poder que expressam
relações jurídicas de propriedade em vez de exigências técnicas". A divisão social do
trabalho é uma determinação de classe." Por isso, promovendo uma identificação entre
divisão técnica e divisão social do trabalho, nós naturalizamos a divisão social do trabalho".
105
89
Os trabalhadores passam a conhecer as nuanças da frieza dos donos do
capital os quais assessorados por todos aqueles que agem por meio de ações calculistas,
demitem quantos trabalhadores forem necessários; neste momento instauram-se
processos de profunda penúria para os trabalhadores e seus familiares. Para não
perecerem, os trabalhadores iniciam todos os dias a busca para ocuparem um novo posto
de trabalho em qualquer ramo da produção. Disponíveis no mercado, os trabalhadores
aceitam qualquer proposta de pagamento pela sua força de trabalho ou de seus familiares.
Quanto maior o período recessivo (em evidência o período após1970), sua sorte lançada
no mercado não tem respostas. Neste momento sua força de trabalho fica à disposição de
qualquer capitalista para executar as atividades com maior grau de precaridade e, o pior,
com salários baixos e condições de trabalho insalubres. Ricardo Antunes chama a atenção
para o termo trabalho precário, pois no capitalismo, a própria lógica do assalariamento já
condiz com a dimensão precária.
106
É fundamental observar que Ford não tinha sob seu poder condições históricas para
produzir vários modelos de automóveis. A produção Craft, calçada na máquina,
ferramenta universal, e trabalho em equipe, coberta de habilidades, apresentava
como ponto central a flexibilidade. Ford, com o método taylorista, retira da força de
trabalho vivo as suas habilidades transformando a produção de automóveis
individual ou aquela em pequenos lotes, na lógica produtiva em massa. No entanto,
NETO (1991) chama a atenção para o fato de que não ocorreu uma produção em
massa (como ocorreu durante as décadas de 1950 e 1960 do século passado) sob
o comando da máquina rígida (antes da Segunda Guerra Mundial), mas, ocorreu no
período de 1906-1940, em que a produção foi rigidificada, isto é, semi-rígida. A
rigidificação, entendida como sendo a utilização de uma estrutura técnica potencial,
ou seja, aquela com a presença de máquinas ferramentas universais e a presença
da linha de montagem lastreada pelo trabalho vivo. Isto é, a planta de uma
produção automobilística é marcada pela produção mecânica e pela linha de
montagem. A parte da planta constituída pela linha de montagem somente entrou
em cena em 1913, com a qual Ford inaugura a produção em massa lastreada no
trabalho vivo. Esta relação, prescinde da qualificação, as habilidades tornam-se
desnecessárias. Com a introdução da linha de montagem, Ford inaugura a esteira.
Este passo traz em cena Taylor, cujas descobertas Ford não poupou esforços para
utilizar. E a principal delas foi a utilização da linha de montagem do método de
Taylor denominado de tempo-movimento, isto é, o movimento da esteira teria que
se ajustar ao movimento do trabalhador.
melhor, não se dispõe e não pode enfrentar as problemáticas pela raiz, pois optar
por este caminho é negar a sua própria existência. No entanto, não era possível
continuar atribuindo a instâncias civis o papel de responder e amenizar a
miserabilidade. Neste momento, o Estado de Direito abre pequenos espaços para o
social. O fato de maior relevância e conquista histórica neste momento foi a criação
de políticas sociais. Estas, entendidas como estratégias de governo. VIEIRA (1992,
p. 19) enfatiza que “...a política social, compreendida como estratégia
governamental de intervenção nas relações sociais, unicamente pôde existir com o
surgimento dos movimentos populares do século XIX”. A esfera pública é solicitada
a ampliar sua interferência no campo dos direitos sociais. O Estado-protetor, não
conseguindo responder às demandas sociais que se encontravam patentes em
todos os cantos das cidades, é obrigado a reestruturar-se.
92
Na exposição realizada por MANDEL (1985, p. 5), "A era do capitalismo tardio
não é uma nova época do desenvolvimento do capitalismo; constitui unicamente um
desenvolvimento ulterior da época imperialista, de capitalismo monopolista. (...) O
capitalismo Tardio tenta esclarecer a história do modo de produção capitalista no pós-
guerra de acordo com as leis básicas de movimento do capitalismo, reveladas por Marx em
O Capital".
118
93
As ondas longas conforme compreendidas por MANDEL (1985), têm
encontrado no capitalismo um período de aproximadamente de 50 anos. No início de uma
onda longa, presencia-se um período de crescimento na economia, isto é, período de
prosperidade para o capital, apropriação de uma grande quantidade de mais-valia. Por
outro lado, há períodos que apresentam elementos de recessão, isto é, há momentos em
que o capitalismo não consegue responder às suas próprias necessidades, neste período
recessivo, instauram-se verdadeiras crises no modelo econômico capitalista.
119
Assim, para responder à nova “questão social” que se põe, era preciso
recuperar os fundamentos técnicos e morais 95 que subsidiaram o Estado
Providencial em sua gênese e trazê-los para a nova realidade histórica em que a
sociedade passa a viver no pós-70. O problema era, portanto, de ordem filosófica,
e, para resolvê-lo é necessário revisitar os princípios fundamentais de
solidariedade, e
94
É sempre importante frisar que Rosanvallon está falando para a Europa e
E.U.A, no entanto, nos EUA não foi implantado o Welfare State.
95
Os conceitos de assistência e solidariedade não se anulam, ao contrário, são
os pilares centrais para resolver o problema de ordem filosófica. A resolução da “questão
social” passa ser de base filosófica. Quer dizer: mudando os conceitos, muda-se a
sociedade. A assistência é uma técnica, enquanto a solidariedade é um valor. Contudo,
não são de modo algum opostos: a assistência é também um modo de produção de
solidariedade. Por outro lado, o financiamento da assistência social pode inscrever-se em
dispositivos valorativos: pode ser estritamente contributivo ou fortemente solidarista. Desde
que se considerem as coisas mais de perto, percebe-se igualmente que a distinção
assistência-solidariedade não é operativa.
122
O que era entendido como riscos sociais perdem seus significados a partir
da década de 1970. Os riscos são situações que não possuem intencionalidade, ao
contrário, permanecem na esfera do natural ou do acaso.
É certo que a noção de risco continua a ser relevante, mas ela mudou de escala,
(...) hoje, o que representa um problema cada vez maior é o risco catastrófico:
perigos naturais (inundações, terremotos), acidentes tecnológicos importantes,
agressões de grande amplitude ao meio ambiente. São ameaças que não
afetam mais indivíduos isolados, e sim populações inteiras, talvez mesmo
nações (ROSANVALLON, 1998, p. 38).
97
A discussão aqui travada sobre a forma que Rosanvallon buscou para resolver
o problema de financiamento do Estado Providencial está fundamentada nas discussões
realizadas pelo Núcleo de Estudo e Aprofundamento Marxista - NEAM.
126
Ao realizar esse percurso, o fio condutor que atravessa sua obra, ganha
pujança, concreticidade, e em suas diferentes configurações, discute o que é velho
e o que é novo, suas similitudes e as diferenças existentes. Além disso, Castel
apresenta, enfaticamente, a crise que a sociedade salarial vem enfrentando.
Fundamenta-se, teórico e empiricamente, em materiais primários e secundários
oriundos da experiência vivenciada na França. Porém, em alguns momentos, suas
conclusões são passíveis de comparação a situações concretas ocorridas em outros
países, principalmente europeus.
98
Para subsidiar a leitura, bem como para se apropriar da análise de Castel,
utilizamos também os textos “As armadilhas da exclusão” e “As transformações da questão
social”, do próprio autor. Esses documentos estão publicados na obra de BÓGUS (2000).
128
99
CASTEL (1998, p. 26) é categórico: “...Não se trata de uma vaidade de
vocabulário. A exclusão é estanque.”
100
“...Por sociedade salarial, o autor designa a sociedade que se construiu com
base no trabalho e suas proteções. Em sua ótica, é do trabalho e de sua proteção que se
organizam o direito social, a seguridade social, a sociedade moderna, enfim” (CASTEL,
2000, p. 11-12).
101
Sobrantes são “...pessoas que não têm lugar na sociedade, que não são
integrados, e talvez não sejam integráveis no sentido forte da palavra, atribuído por
exemplo por Durkheim, ou seja, estar integrado é estar inserido em relações de utilidade
social, relações de interdependência com o conjunto da sociedade” (CASTEL, 2000, p.
254).
129
O que foi proposto quando da queda do Antigo Regime como resposta moderna
à questão social não vai poder instituir-se enquanto tal. O princípio do livre
acesso ao trabalho abre uma era de turbulências e de conflitos. A questão social
é reformulada a partir de novos núcleos de instabilidade que são como a sombra
do desenvolvimento econômico. Entregue a si mesmo, o processo de
industrialização engendra um monstro – o pauperismo (CASTEL, 1998, p. 277).
103
A Tutela Moral, princípio básico utilizado pelo Estado social para manter a
integração social, deixa de ser imperativo, porém esta prática é utilizada até os dias atuais
adequando suas ações conforme as situações determinadas em jogo. A prática da tutela
moral é expressão significativa e determinante na lógica e na forma de consolidação da
sociedade salarial, bem como no momento de responder às suas fraturas.
104
Evidentemente, o seguro pode ser uma prática “privada” com suas origens na
iniciativa privada. É o caso do seguro marítimo desde a Idade Média: os enormes riscos da
navegação marítima na época faziam com que se tornasse necessário dividi-los entre os
diferentes comandatários das expedições mercantis. A Comagnie Royale d'Assurance,
primeira companhia francesa de seguro de Vida, foi fundada em 1797, mas era privada, a
despeito de seu nome. Também as diferentes associações de socorros mútuos foram
instituições que funcionavam com base no princípio do seguro, mas sem a garantia do
Estado (CASTEL, 1998, p. 383).
132
105
Tudo parecia estar em harmonia. A sociedade salarial estava arrebatada por
um irresistível movimento de promoção: acumulação de bens e de riquezas, criação de
novas posições e de oportunidades inéditas, ampliação dos direitos e das garantias,
multiplicação das seguridades e das proteções. A sociedade salarial é também uma
sociedade cujo cerne se instalou o Estado social (CASTEL, 1998, p. 480-481). “...garantia
de uma proteção social generalizada, manutenção do grande equilíbrio e condução da
economia, buscava um compromisso entre os diferentes parceiros implicados no processo
de crescimento” (CASTEL, 1998, p. 417).
133
Um Estado liberal pode ser obrigado a “fazer social” contra a sua vontade, mas
deve-se fazer o mínimo possível. Um Estado socialista o faria por falta, falta de
poder promover transformações radicais imediatamente. É para um Estado
social-democrata que as reformas são, em si mesmas, um bem, porque marcam
as etapas da realização de seu próprio ideal. O reformismo assume aqui sua
acepção plena: as reformas são os meios de realização da finalidade da política
(CASTEL, 1998, p. 498-499).
106
De fato, o seguro levou muito tempo para decolar verdadeiramente da velha
base da assistência. Somente em 1945 é que, num contexto profundamente transformado,
o seguro obrigatório assumiu a ambição de se tornar o princípio de uma cobertura
generalizada contra os riscos sociais (CASTEL, 1998, p. 410).
134
(2) outra característica que o mercado adquiriu após 1970 foi a situação de
vínculo empregatício pautado nas condições de precariedade. Essa característica
perpassou em todas as idades dos trabalhadores, ou seja, ninguém estava isento
de vivenciar essa situação concreta. Porém, segundo Castel, na França, como em
toda a Europa, os jovens foram os mais atingidos. Em primeiro lugar, com a
“flexibilização” das leis que regulam as relações entre capital-trabalho, muitos
direitos conquistados durante a consolidação da sociedade salarial deixaram de
existir. Essa nova situação colocou os jovens à disposição do empregador em
situação de precariedade: primeiramente com empregos de curta duração,
atividades insalubres, baixos salários e ausência de direitos sociais; em segundo
lugar, a maioria da juventude estava sendo obrigada a conviver com o fantasma do
desemprego. E, não conseguindo negociar sua força de trabalho, mesmo para
executar atividades em condições precárias tornou-se uma juventude sem
esperança, sem projeto para o futuro, pois o presente tornou-se incerto. Essas
forças de trabalho enquadraram e ampliaram a lista dos vulneráveis do mercado de
trabalho. Jovens que, em sua maioria, passaram ser identificados como
trabalhadores desfiliados; 107
...nem sequer são explorados, pois para isso, é preciso possuir competências
conversíveis em valores sociais. São supérfluos. Também é difícil ver como
poderiam representar uma força de pressão, um potencial de luta, se não atuam
diretamente sobre nenhum setor nevrálgico da vida social. Assim inauguram,
107
Igualmente, o que chamei de desfiliação poderia ser trabalhado para mostrar
que não eqüivale necessariamente a uma ausência completa de vínculos, mas também à
ausência de inscrição do sujeito em estruturas portadoras de um sentido. Hipótese de
novas sociabilidades flutuantes que não se inscrevem mais em disputas coletivas,
andanças imóveis de que a falta de objetivos precisos dos jovens desocupados propõe
uma ilustração (CASTEL, 1998, p. 536).
135
sem dúvida, uma nova problemática teórica e prática. Se, no sentido do próprio
termo, não são mais atores porque não fazem nada de socialmente útil, como
poderiam existir socialmente? No sentido, é claro, de que existir socialmente
eqüivaleria a ter, efetivamente, um lugar na sociedade. Porque, ao mesmo
tempo, eles estão bem presentes – e isso é o problema, pois são numerosos
demais (CASTEL, 1998, p. 33).
Instaurou-se, então, uma crise estrutural, uma crise que ocorreu na base
econômica do capital, levando os trabalhadores a perderem o grau de
confiabilidade do vínculo trabalhista vitalício. Alteraram-se as relações de trabalho.
A flexibilidade transformou-se em palavra de ordem para os capitalistas.
...No início dos anos 70, no momento mais abundante da sociedade salarial, o
contrato de tempo indeterminado era praticamente hegemônico, ou seja, um tipo
de contrato que em situações de pleno emprego assegurava a estabilidade das
condições de trabalho. Hoje, em termos de “estoque”, como dizem os
economistas, ele é ainda majoritário. Mas, por outro lado, aproximadamente 70%
das novas admissões na França se fazem sob formas ditas atípicas, ou seja,
contratos de tempo determinado, contratos de interinos, tempo parcial, diferentes
formas de empregabilidade, o que quer dizer, no fundo, que a médio prazo,
nesse ritmo, em 10 anos talvez, a instabilidade do emprego será substituída pela
136
Nesse novo cenário Francês e europeu após 1970, Castel perguntou: Será
que a sociedade salarial chegou ao seu final? Ele é categórico: não. Mas sua
situação atual é crítica. Os trabalhadores situam-se na faixa de uma nova condição
social: encontram-se em situação de vulnerabilidade. 108 O nível de estabilidade
diária e de vulnerabilidade, tornam-se tênues. Este fato significa que após 1970
instaurou-se uma nova “questão social”. Esse novo encontrava-se no interior da
crise em que vivia a sociedade salarial.
108
“...A vulnerabilidade social é uma zona intermediária, instável, que conjuga a
precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de proximidade. (...) A vulnerabilidade
é um vagalhão secular que marcou a condição popular com o selo da incerteza e, mais
amiúde, com o do individualismo” (CASTEL, 1998, p. 24 e 27).
109
Nesse momento de crise, a política social perdeu terreno. A questão foi inserir
os vulneráveis na sociedade. A política de integração através do seguro obrigatório foi um
sonho que acabou. “ironia da história ou astúcia da razão”, esse momento milagroso
mostrou suas fissuras para toda a sociedade. O que parecia eterno, passou a evidenciar
suas determinações efêmeras. O casamento celebrado entre a liberdade do mercado e o
usufruto dos direitos sociais – seguro e proteção social –, rompeu-se. Um novo projeto foi
apresentado à sociedade.
137
não pode manter a coesão social isoladamente. O lema principal, para colocar em
movimento essa nova premissa, é a solidariedade. 110
Dessa forma, o Estado social foi redefinido. Uma reforma em sua estrutura
buscou reinterpretar suas funções. Em outras palavras, coube ao Estado diminuir
suas intervenções na esfera social como um mediador dos seguros obrigatórios,
bem como na manutenção de direitos sociais adquiridos pela classe trabalhadora. A
responsabilidade da integração social foi substituída pela política de inserção
social. Na década de 80, a França criou a Renda Mínima da Inserção (RMI). 111
Com o passar dos anos, as estatísticas indicam que a RMI foi paliativa e,
para a maioria, uma situação que deveria ser provisória, passageira, transformou-se
em permanente. “...Para uma grande parte dos beneficiários, essas ações os
conduzem para um estado transitório-durável: em situação de inserção, essas
pessoas têm um status intermediário entre a exclusão e a inserção definitiva”
(CASTEL, 1998, p. 536).
110
“...Na aurora do século XXI, quando as regulações implementadas no contexto
da sociedade industrial estão, por sua vez, profundamente abaladas, é o mesmo contrato
social que, sem dúvida, deve ser redefinido a novas expensas. Pacto de solidariedade,
pacto de trabalho, pacto de cidadania: pensar as condições da inclusão de todos para que
possam comerciar juntos, como se dizia na época do Iluminismo, isto é, ‘fazer sociedade’ ”
(CASTEL, 1998, p. 35).
111
“...A RMI generalizou a problemática da inserção, pois concerniu ao conjunto
da população com mais de 25 anos e cuja renda se situava abaixo de um certo patamar”
(CASTEL, 1998, p. 562).
138
114
No momento em que o Brasil inicia o modelo nacional desenvolvimentista,
1930, a população brasileira era de 35.452,652 milhões. Após 30 anos de implantação
deste modelo, a população chegou a 69.716,943 milhões de brasileiros em 1960 (IBGE,
2002b).
144
Mas, “os de baixo”, mais uma vez na história do Brasil, trouxeram para os
espaços públicos o debate dos problemas nacionais, bem como a permanente
resistência e denúncias ao regime militar. No início da década de 1970, período de
efervescência e delírio da classe dominante - ao medir os índices elevados do PIB
entre 1968-1973, média de 11,% -, a classe trabalhadora, em diferentes instâncias,
trouxe para a esfera pública a realidade brasileira. Por meio de passeatas,
comícios, abaixo-assinados e outras formas de representações, as ruas de algumas
capitais brasileiras denunciavam a situação de pobreza e miserabilidade em que a
população estava vivendo, 115 bem como o desemprego em ascensão; o Movimento
Democrático Brasileiro –MDB -, denunciava as manobras realizadas pelos militares,
bem como os atos violentos contra os direitos humanos; os trabalhadores urbanos
reivindicavam aumento de salário e ampliação dos direitos sociais; a igreja, por
meio das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs -, engrossavam as manifestações
denunciando as atrocidades cotidianas e, ao mesmo tempo exigiam justiça social.
Foram anos consagrados para a burguesia, um verdadeiro milagre econômico. No
entanto, os direitos em suas diferentes instâncias não obtiveram os mesmos
resultados. Ao contrário, o custo social era altíssimo, e a democracia estava
estraçalhada.
115
No ano de 1970, no Brasil, 68,33% da população viviam em situação de
pobreza e indigência (IBGE – Censo demográfico e PNDA).
116
NETTO (1999b), chama a atenção para os países burocratizados que, no
mesmo período, a Europa e os Estados Unidos, também estavam mergulhados na crise
na década de 1970, estes países estavam crescendo e com taxa de desemprego baixo.
117
No Brasil, durante a década de 1970, o PIB atingiu a média de 8,7%. Este
valor expressou uma mudança significativa na diminuição da pobreza absoluta que o país
possuía. No ano de 1970, 68,3% da população brasileira eram pobres, no entanto, este
percentual reduziu para 35,33% em 1980. Porém, a simetria existente entre os pobres e os
ricos não diminuiu. Enquanto a renda per capita aumentou, reduzindo em uma década
32,97% da população pobre no Brasil, a concentração de riqueza aumentava. Em 1970, a
riqueza privada correspondia a R$ 418,8 bilhões de reais, correspondendo a 1,97% do PIB
anual. No entanto, em 1980, os valores saltaram pra R$ 1.025,2 bilhões, correspondendo a
2,09 % do PIB anual. (MORANDI, 1999, p. 197).
145
Mas a luta não parou. O “acordo pelo alto” representou mais uma traição
aos interesses da classe trabalhadora, pois, “...o atual governo não é o oposto da
ditadura, mas a sua reprodução fragmentada e compartimentada” (FERNANDES,
1986, p. 29). No entanto, as manifestações para manter e/ou ampliar os direitos
continuaram. O movimento pelas “Diretas Já”, em conjunto com as entidades
sindicais, partidos de esquerda, igreja, AOB, ABI e inúmeras organizações
populares exigiram e conseguiram avançar em suas reivindicações. Em 1987, o
debate ocorrido na constituinte, que culminou com a promulgação da constituição
em 1988, conseguiu ampliar a pauta que contemplava os direitos nas diferentes
instâncias,121 e apresentou um resultado de extremo avanço para a classe
trabalhadora e para o capital nacional, a Carta Magna foi batizada de Constituição
Cidadã.122 Paralelamente, em 1999, o Brasil vai às urnas e depois de quase 30
anos, elege o Presidente da República por meio do voto direto. O “Bismark das
Alagoas” (o termo é de Francisco de Oliveira) é eleito Presidente do Brasil. Apesar
do retrocesso ocorrido com a eleição de Collor de Mello, a década de 80 foi um
marco histórico para o movimento de luta e resistência da classe trabalhadora em
relação ao receituário neoliberal.
causado pela crise econômica mundial. 127 E, com medidas paliativas, a economia
brasileira sofria as conseqüências internacionais mas, o fantasma da inflação, ‘igual
ao despertar de um furacão’, colocou o país em risco. O remédio adotado durante a
década de 1980 pautou-se em controlar a inflação por meio de planos econômicos e
da ampliação do custo social pago pela própria população. As manobras foram
inúmeras, e o resultado foi catastrófico.
No começo dos anos 90, cerca de 37 mil empresas transnacionais, com suas
170 mil filiais, abrangiam a economia nacional em seus tentáculos. As 200
primeiras são conglomerados, cujas atividades planetárias compreendem sem
distinção os setores primários, secundário e terciário: grandes culturas agrícolas,
produção manufatureira, serviços financeiros, comércio etc.; geograficamente,
elas se repartem entre nove países: Japão, Estados Unidos, Alemanha, França,
Reino Unido, Suíça, Coréia do Sul, Itália e Holanda. O volume de negócios da
General Motors é maior do que o produto nacional bruto (PNB) da Dinamarca; o
128
ANDERSON, Perry. O fim da história. De Hegel a Fukuyama. Trad. Álvaro
Cabral. Rio de janeiro: Zahar, 1992.
151
Mas, após alguns anos dessa retórica, a classe burguesa, detentora dos
meios de produção, dos instrumentos de trabalho e compradora da força de
trabalho, percebeu que havia um fantasma que os assustava todos os dias. Este
espectro também invadiu a esfera pública e pública estatal. Foi possível perceber-
se que a globalização, que ganhou força nos mercados do mundo inteiro, não era a
expressão das esferas produtivas e/ou tecnológicas, mas sim financeira
(CHESNAIS, 1998).
Por fim, é possível ter uma grave advertência nos informes anuais (de 1999) do
BIRD,BID,ONU e até FMI: a globalização está concentrando a riqueza e a renda
pessoal em todo o mundo, mesmo nos países desenvolvidos. Além disso, está
criando uma massa crescente de ‘excluídos’, sem nenhum tipo de perspectiva ou
horizonte de melhoria de suas vidas. Em síntese, pelo menos nesses seus
primeiros trinta anos de idade, a globalização não foi global e vem apresentando
sinais evidentes de ser cada vez mais menos inclusiva e convergente, do ponto
de vista das classes sociais e das nações (FIORI, 2001, p. 27).130
...a reforma, possui o curso de uma moeda má: ela é símbolo destituído de
valor, uma máscara sobreposta às aparências; mesmos os estratos burgueses
radicais temem a reforma e, se são arrastados a praticá-la, logo procuram um
modo de refreá-la ou fazé-la retroagir. Os estratos mais conservadores e
propriamente ‘liberais’ da burguesia lidam livremente com a reforma, enquanto
ela é uma hipótese longínqua ou um símbolo de despotismo esclarecido. Se ela
se torna uma ameaça, e tende a se concretizar, esses estratos resistem
claramente ao ‘clamor pela reforma’ ou a solapam discretamente, por baixo do
pano, retirando-lhe todas as bases de sustentação possíveis (FERNANDES,
1986, p. 60-61).
Com muita disposição, Collor não mediu esforços para que os objetivos
traçados fossem implementados. Algumas deliberações assinadas no Consenso de
Washington tinham que ser implementadas. O lema era: (1) gerar a estabilidade
macroeconômica mediante o controle dos gastos das dívidas do setor público; (2)
abrir a economia para a competição estrangeira; (3) reduzir o papel do Estado no
processo produtivo 132 por meio de ambiciosos programas de privatização e
desregulamentação de atividades essenciais, a fim de evitar abusos nas atividades
econômicas e sociais, assegurando a competitividade. Estas medidas tinham a
preocupação primeira, de reduzir a inflação e fazer o país crescer. Collor buscou
acabar com a inflação, retirar o Estado da economia e eliminar a resistência da
classe trabalhadora, apesar de estar vivendo, neste momento, um período de
inflexão.
133
A opção neoliberal de Collor e Cardoso, permitia que o capital financeiro
público e privado, desestruturasse a organização dos trabalhadores que trabalham no setor
financeiro. No período 1989-1996, o número estimado de empregados no setor financeiro
no Brasil reduziu em 40,8%. Em 1989, possuíam vínculo empregatício no setor financeiro,
811.892 mil trabalhadores. Em 1996, esse número chegou a 497.108 mil trabalhadores.
Ocasionando o desemprego de 328.45 mil trabalhadores. Fonte: Cadastro Geral dos
Empregados e Desempregados (Lei 4.923/65); Número estimado de empregados no setor
financeiro no Brasil. 1989-1996. Dieese-Seeb-Rio.
134
Com a centralização da economia sob as regras elaboradas e desenvolvidas
pelo Estado, um dos vetores mais importante durante o processo de produção, circulação,
distribuição e consumo, conquistaram estabilidade e poder. A classe trabalhadora, através
das suas organizações sindicais avançou em suas proposições o que garantiu a efetivação
de muitas conquistas na esfera dos salários, bem como no usufruto de políticas sociais.
156
135
A “social-democracia” alia-se ao PFL, unem-se em uma conciliação de
interesses. “...Os vários estratos das classes burguesas entendem-se por conciliação de
interesses: à falta de uma coalescência social de classe suficientemente forte e elástica, na
ausência de uma verdadeira solidariedade de classe, esses estratos apelam para arranjos
momentâneos, esporádicos, mais ou menos superficiais, mas por isso mesmo duros para a
Nação como um todo, estreitamente egoísta e invariavelmente oportunista” (FERNANDES,
1986, p. 69). Para derrubar os partidos de esquerda, a burguesia nacional e associada
conseguiu produzir, historicamente, um personagem que se dispôs a cumprir o papel
histórico de impedir que “os de baixo” chegassem ao poder e, tivessem a possibilidade de
realizarem reformas.
136
“...um semióforo é um signo trazido à frente ou empunhado para indicar algo
que significa alguma outra coisa e cujo valor não é medido por sua materialidade e sim
pela sua força simbólica (...) um semióforo é fecundo porque dele não cessam de brotar
efeitos de significação” (FERNANDES, 1986, p. 12).
157
estratégicas aos países centrais. O projeto neoliberal foi um sucesso com FHC. Mesmo
com a direção dada ao capital externo. FIORI (2001, p. 26), explicita e desmistifica esta
falsa e destruidora opção de Cardoso, no momento em que “...existem no mundo cerca de
180 países independentes, e 100 deles só receberam em conjunto – no período –(década
de 1990) cerca de 1% do total dos IDE”. O que significa dizer que os investimentos maiores
são realizados nos próprios países centrais.
138
“A ridicularização da crítica, como atitude anacrônica, ou resultado de
interesses meramente corporativos ou atrasados, ou fruto de uma mentalidade de
patrulhamento estalinista, ou da mera ignorância foi um dos pilares do sistema dogmático
de FHC, uma das características mais desagradáveis da sua fala, sintetizada na sua
famosa referência ao ‘nhe-nhe-nhem’. Em 22 de agosto de 98, acusou o sem-terra de
cooperar com produtores de maconha do Nordeste. Agricultores foram chamados de
‘caloteiros’; empresários afetados pelos juros anômalos e a abertura comercial
indiscriminada, de ‘ineficientes e atrasados’; funcionários públicos de ‘vagabundos’e os
críticos do real, de ‘catastrofistas e/ou impatrióticos’; minimizou o problema das crianças
abandonadas, dizendo que em São Paulo ‘não havia nem mil meninos de rua” (KUCINSKI,
1999, p. 197). Mas FHC quis mais: chamou todos os brasileiros de caipiras; para os que
sempre acharam que esse modelo econômico não era o melhor caminho tratou-os de
fracassomaníacos e de bateteiros, os que eram prematuro confiar em chuvas futuras e no
dia 12 de outubro de 2001, disse para Itamar Franco, em minas, ‘não gosto de político que
faz biquinho’ (O PASQUIM 21, 2002).
159
139
Fernando Henrique Cardoso foi reeleito para o Cargo da Presidência da
República em 1998, no primeiro turno das eleições. Num total de 106.101,067 milhões de
eleitores, a eleição de 1998 para Presidente da República foi contemplada por 82.297,737
milhões de eleitores, correspondendo a 78,51% do total. Deste, FHC (PSDB) foi eleito no
primeiro turno com 35.936,540 milhões, o que representou 53,06% dos votantes. Luis
Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu 21.475,218 votos, o equivalente a 31,71% do total
(BRASIL, 2002)
140
O que significa afirmar que o Estado Varguista chegou ao final? Significa
dizer que a partir deste momento o Estado nacional-desenvolvimentista sai definitivamente
de campo e o mercado ganha a titulação de espaço principal, sagrado, instância em que o
160
os “donos dom poder” essa Constituição apresentou como resultado final uma
grande ambigüidade: ao mesmo tempo, que ampliava a iniciativa privada, o Estado
participava ostensivamente da esfera econômica e social. Os conservadores não
tiveram dúvidas, a Constituição tinha que ser revisada, pois era imprescindível
reduzir o papel do Estado e criar canais possíveis para ampliar a relação do Brasil
com a economia internacional, quer dizer, com o capital financeiro internacional. É
sob estes dois pontos basilares que a classe burguesa buscou estabilizar a moeda,
liberar a economia e a integração do país ao comércio internacional.
144
As três formas de Administração pública anunciada (patrimonialista,
burocrática e a gerencial), tornaram-se realidade em quase todos os países onde a
Democracia Liberal ou a Liberal Democracia se fez presente, porém, em países que
vivenciaram períodos de governos ditatoriais, esteve presente, com maior ênfase, a
administração pública burocrática. Neste universo, o Brasil é um país exemplo.
145
Em qualquer sociedade, o que põe em questão a superação ou “reforma” do
Estado, são as relações estabelecidas na esfera da produção material determinada. É
neste espaço – sociedade civil – que as questões são colocadaColoca em questãos,
expressando qual o Estado que, historicamente – tempo-espaço – vai se gestando e
efetivando um determinado “tipo” de Estado.
163
146
O mandonismo local estrutura-se no período patrimonialista e, devido sua
perversidade construída e desenvolvida historicamente, mantém-se vivo até os dias atuais,
com presença garantida nas formas despóticas na política brasileira e nas relações de
dominação existente na sociedade civil. É uma estrutura dominante, decisiva em
diferentes momentos da história do Brasil. Para ilustrar esta prática na atualidade, período
de implementação do projeto de reforma do Estado, basta acompanhar o comportamento
da maioria dos Deputados e Senadores Federais com o Poder Executivo no momento da
votação de projetos como: reeleição para Presidente da República; reforma Administrativa
e Previdenciária, Projeto de Privatização e, de forma escandalosa, a aprovação dos
empréstimos aos Bancos Privados, através do Programa de Estímulo à Reestruturação e
ao Fortalecimento do Serviço Financeiro (PROER). E, em janeiro de 1999, o
enriquecimento dos bancos, em um dia, com a desvalorização do câmbio.
147
Neste horizonte, o papel do Estado patrimonialista estava estruturado para
atender o senhor-cidadão (a aqueles que tinham escravo, terra e voto), isto é, dar guarda
ao que era constitucional. Aqueles que não se enquadravam na legislação constitucional,
ou seja, todos que não eram cidadãos, viviam sob o controle, a desmobilização e a
repressão Estatal.
148
Este quadro, de adaptação e realização da política do possível, só ocorreu
devido à conjugação do liberalismo político com a escravidão. Ambas traziam, como
característica central, a inércia social e o tradicionalismo.
164
152
“...A palavra ‘publicização’ foi criada para distinguir este processo de reforma
do de privatização" (PEREIRARESSER PEREIRA, 1997a, p. , p.25).
153
Conhecida como a nova lei do Terceiro Setor, foi sancionada pelo Presidente
da República no dia 23 de março de 1999. Esta Augusto de Franco, Conselheiro da
Comunidade Solidária, em 29/03/99 ao comentar o conteúdo da Nova Lei do Terceiro
Setor, enfatizou a sua importância através da mensagem proferida por FHC, na cerimônia
de sanção da chamada Lei do Voluntariado (Lei 9.608/98) em 18/02/98. Cardoso
explicitou: “...O que há de novo (...) é que existem formas dinâmicas de controle social, de
organização de objetivos, e até mesmo de generosidade e de solidariedade, que não
170
(1) Para responder à crise fiscal, na qual o país enveredou após 1970 e,
ao mesmo tempo, justificar o tamanho do Estado na apropriação de bens duráveis e
de serviços, a reforma aprovou inúmeras medidas para transformar a poupança
pública, que se encontrava e continua negativa, em positiva. Estas determinações
atingiram as empresas Estatais em suas centralidades: o lema passou a ser
privatizar. "Privatizou-se empresas federais e estaduais que tinham um vínculo
direto com a produção de bens materiais e de serviços. Destacando os seguintes
setores: Siderúrgico, Elétrico, Mineração, Petroquímico, Ferroviário, Fertilizantes,
decorrem nem do princípio racionalizador do mercado, nem do princípio autoritário de
distribuição do Estado.” FHC e seus assessores intelectuais, comprometidos com o projeto
societário burguês, ao depararem-se com os problemas de ordem social, e impossibilitados
de responderem às necessidades imediatas e reais da classe operária e demais frações
de classe devido à “opção brasileira” em curso em seu governo, manipulam as informações
e quando a proposição teórico-prática recupera dimensões centrais da construção humana,
como são as ações de solidariedade, direcionam a sociedade a aderirem à compreensão
das ações solidárias para a esfera transclassistas, distanciando a concreticidade
revolucionária presente na solidariedade humana e de classe.
154
As organizações sociais foram criadas pela Lei Nº 9.637, de 15 de maio de
1998.
155
São atividades auxiliares ou de apoio: limpeza, vigilância, transporte,
coperagem, serviços técnicos de informática e processamentos de dados, etc. “...Estes
serviços devem ser submetidos à licitação pública e contratados por terceiros" (PEREIRA,
1997a, p. , p.29).
171
Portuários e Financeiro" (BIONDI, 1999, p. 48). Hoje, 2002, além dos setores
mencionados, estão em fase de negociação a Petrobrás, os Correios, o Banco do
Brasil e as Universidades Públicas. Um verdadeiro desmonte da coisa pública.
160
Entendendo que a criação das "organizações Sociais", por se tratar de mais
uma ação para privatizar os serviços sociais, levaram os representantes dos partidos de
esquerda no Congresso Nacional, a solicitar o pedido de inconstitucionalidade da
aprovação da Lei Nº 9637/98,de 15 de maio de 1998. Organizações Sociais e do Programa
Nacional de Publicização. A Ação Direta de Inconstitucionalidade foi impetrada em 1º de
dezembro de 1998 pelo Partido dos Trabalhadores e pelo Partido Democrático Trabalhista
(Esta informação foi retirada da home page: www.pt.org.br).
174
(3) A reforma também tem seu eixo central na previdência (BRASIL, 1998a)
e na administração.162 A reforma da previdência, por meio das novas regras
aprovadas e algumas já regulamentadas, atinge diretamente o funcionalismo
público Federal que está na ativa e fora dela.
Na previdência, a reforma:
No tecido social mais amplo, isto é, para além dos funcionários públicos,
reféns diretos desta reforma despótica, a população é alvo imediato da política
implementada. Conforme apontam os órgãos oficiais e também os órgãos não
oficiais reconhecidos publicamente, a população padece, na sua totalidade, dos
efeitos imediatos de um projeto de governo direcionado para a classe e frações de
classes que detêm, neste momento histórico, o controle das relações de produção
e acumulação de valor, em âmbito nacional e, principalmente, internacional. O
governo FHC, cumpre os acordos firmados com o FMI e com o BIRD, 164 que são os
representantes diretos do capital global, e é o responsável principal pela situação
de penúria em que se encontra a população brasileira:
163
Buscando no campo legal reverter a perda da isonomia salarial, os Partidos
de esquerda no Congresso, usaram dos meios legais para impedir que este iítem da
Reforma fosse efetivado. Impetrada pelo Partido dos Trabalhadores, cuja liminar foi
deferida pelo STF em 22 de maio de 1999 por unanimidade para suspender o art. 3º da MP
1815, em vista de ofensa ao princípio da isonomia.
164
Em apenas quatro anos de Real (94-97), os juros custaram ao Estado
brasileiro cerca de 120 bilhões de dólares. É mais do que o volume enviado aos credores
externos durante toda a “década perdida” dos anos 80.
176
165
Detalhando o descaso com a área da educação, quando analisamos os
gastos de alguns sub-programas, constatamos que: No Programa Educação de crianças
de 0 a 6 anos de idade, gastou-se em 1995, R$ 64,8 milhões, reduzindo-se para R$ 54,7
em 1998; No Ensino médio gastou-se R$ 677,8 milhões, em 1995, reduzindo para R$ 483
em 1998. No Ensino Superior gastou-se R$ 5.531,2 milhões em 1995, reduzindo-se para
R$ 4.3444,2 em 1998. Na Educação Pré-Escolar gastou-se R$ 64,8 milhões em 1995,
reduzindo-se para R$ 54,7 em 1998. No Ensino Regular gastou-se R$ 738,6 milhões em
1995, reduzindo-se para R$ 615,0 em 1998. No Ensino de Graduação gastou-se R$
4.273,0 milhões em 1995, reduzindo-se para 3.556,6 em 1998 e no Ensino de Pós-
Graduação gastou-se R$ 891,8 milhões em 1995, reduzindo-se para R$ 617,0 em 1998.
166
Estimativa1999
167
Os dados apresentados, da área plantada e da produção de grãos, entre
1980 a 1998, também denuncia o desgoverno de FHC. Em 1994 a área plantada (mil
hectares) foi de 39.093.4 reduzindo para 35.045.7 em 1998. A produção (mil toneladas)
chegou em 76.034.4 subindo minimamente para 77.347.9 em 1998 (BANCO CENTRAL,
1999).
179
170
À discussão em defesa da elaboração de um projeto econômico sustentável
no Brasil, é retomado na obra de FURTADO (1988).
171
Pergunta Aluízio: "O que acontece com o fluxo cambial? Em 4 de janeiro, há
uma saída de US$ 79 milhões; US$ 200 milhões no dia 5; US$ 197 milhões no dia 6; US$
256 milhões no dia 7. Na sexta feira do dia 8, há uma saída de capital de US$ 137 milhões.
Ainda há um quadro de instabilidade, de vulnerabilidade cambial, mas nada que represente
uma alteração no comportamento do que vinha ocorrendo. Na segunda-feira, dia 11, há
ainda um saldo relativamente pequeno de US$ 112 milhões. No dia 12, pula para USS
1,215 bilhão.[(...) .....] Só um fato aconteceu: no dia seguinte haveria mudança na banda
cambial e quem tivesse informações e saísse antes, ganharia no processo de
desvalorização que ocorreria logo a seguir” (MERCADANTE, 1999). A presença do ação
patrimonialista é presente juntamente com o privilégio de informações para representantes
da classe burguesa que opera na ciranda financeira. ( Estas informações foram retiradas
do documento "Depoimento do deputado Aloizio Mercadante(PT-SP) em 5 de maio de 1999
à CPI dos Bancos no Senado Federal.
182
172
Entendemos que a profissão “...é sempre um campo de lutas, em que os
diferentes segmentos da categoria, expressando a diferenciação ídeo-política existente na
sociedade, procuram elaborar uma direção social estratégica para a sua profissão”
(NETTO, 36/1996, p. 116).
173
Para identificar a bibliografia citada neste capítulo, utilizaremos dos eguintes
códigos: 1) artigos: números; 2) livros: letras maiúscula; 3) dissertação e/ou teses: letras
minúsculas; 4) palestras: algarismos Romanos. Os códigos serão acompanhados pelo ano
da produção.
185
Para dar conta dos propósitos deste capítulo, sua estrutura foi dividida em
dois eixos: o primeiro, explicita quais foram as mudanças no espaço sócio-
profissional, na objetivação do trabalho profissional, na relação contratual (vínculo
empregatício, salário) e na formação profissional. O segundo eixo evidencia as
mudanças que vem ocorrendo na estrutura da formação profissional e as respostas
apresentadas.
175
A classe proletária e as demais frações da classe trabalhadora vêm sofrendo
ataques em suas dimensões materiais, espirituais e organizativas. Sacerdotes da pseudo
ciência, têm apresentado propostas mirabolantes, anunciando o fim da história
(ANDERSON, apud SADER; GENTILI, 1995), e a universalização da sociedade capitalista.
Porém, os intelectuais compromissados com a construção científica rigorosa e atentos aos
seus movimentos, registram que “...todas as indicações disponíveis nas pesquisas mais
fidedignas continuam atestando que as determinações de classe prosseguem operantes –
e fundamentalmente operantes: é impossível apreender a dinâmica social contemporânea
da ordem burguesa sem referenciá-las” (NETTO, 36/1996, p. 93).
189
176
O receituário neoliberal tem conseguido, em todos os países em que foi
implementado, com graus diferenciados, causar grande erosão nas regulações sociais, ao
patrimônio e ao fundo público.
177
Verificar neste estudo os itens 3.5.3 - Administração Pública Gerencial; e 3.6 -
A reforma do Estado e o “desmonte da nação” III.
178
“As reformas” que ocorreram historicamente no Brasil, principalmente a partir
do pós-Segunda Guerra Mundial, foram justificadas através do argumento da necessidade
da reforma, pois o país somente alcançaria posição previlegiada no quadro mundial, caso
assumíssemos medidas desenvolvimentistas. No entanto, a partir da década de 1980 e
com maior ênfase na década de 1990, através das agências que representam os países
centrais (FMI e BID), tem se implementado uma nova retórica – moderna -, com a
finalidade de justificar o crescimento da dependência econômica e política que o país está
vivenciando. Agora o novo discurso enfatiza que o projeto é de um país emergente dentro
do cenário mundial. Assim, sua meta diária é manter a estabilidade econômica e política. O
discurso do crescimento, do desenvolvimentismo deixou de ser o eixo de sustentação do
projeto de dependência. Os dados sociais e as condições em que se encontram o exercício
dos direitos civis, políticos e sociais denunciam a situação em que se encontra o país. Está
ocorrendo um retrocesso histórico. Quando esta referência não consegue convencer os
trabalhadores, suas reivindicações são respondidas através de ações coercitivas, física e
moral. A imprensa brasileira é um instrumento oficial e permanente para cumprir esta última
ação.
190
179
Diferenciado em cada país, as metamorfoses da “questão social” expressam
sua particularidade (encontrando no desemprego estrutural a sua maior expressão), e tem
direcionado os autores a denominarem este movimento de “nova questão social”. Porém é,
certo, a inexistência de uma nova “questão social”, mas alterações profundas na forma
das bases da “questão social” que implicaram alterações nas políticas sociais, isto é, na
esfera onde a “questão social” manifesta seus conteúdos e suas formas.
191
182
O rearranjo que ocorre na natureza dos serviços, não expressa uma crise de
materialidade do Serviço Social, conforme entende SERRA (C/2000), mas o que está
ocorrendo é um redirecionamento das políticas sociais. Ao mesmo tempo em que o Estado
reduz os investimentos nos aparelhos que dão sustentação ao funcionamento das políticas
sociais, no mesmo espaço são criadas condições para aparelhar políticas sociais
redimensionadas e também as conquistadas na base da sociedade.
194
183
Porém, nos anos 1990, a retração do movimento sindical e de outros
movimentos sociais é notória. -Durante o período, 1989-1999, os trabalhadores realizaram
13.746 greves. Em 1989, foram registradas 3.934 greves, em 1999 o número reduziu para
553. A diferenças de 3.390 greves, expressando 713% de refluxo, mostra o recuo realizado
pela classe trabalhadora, bem como, a forma e a lógica que os governos, Collor e Cardoso,
trataram a força de trabalho. Os números mostram que o engodo do plano Real, bem como
a repressão articulada (física e psicológica) por estes governantes, ilustram quanto
prestaram/prestam fidelidade ao receituário neoliberal. No período 1989-1999, os anos de
1997 (630 greves), 1998 (580 greves) e 1999 (553 greves) representaram os menores
índices durante o período. (DIEESE, 2000-2001).
195
185
Estes procedimentos foram o resultado da incorporação de uma nova cultura
empresarial e expressam uma forma concreta de retomar os princípios patrimonialistas
historicamente interiorizados na cultura brasileira, É a recuperação com cor e tonalidade
modernizadora, porém reforçando traços históricos conservadores e reacionários,
presentes em nossa sociedade e experimentado também no Serviço Social. Os direitos
deixam de ser negociados nos espaços públicos – sindicato e empresários, para serem
discutidos e acordados no interior das empresas.
197
186
A implantação dos projetos referendados pela lógica da qualidade e da
flexibilidade do trabalho, responsabiliza por fragilizarem, fragmentarem e se possível,
destruírem os canais de organização coletiva da classe trabalhadora. Com a dimensão da
adesão consentida, a visão única que se quer efetivar pauta-se na compreensão que “não
há mais sociedade, só indivíduos” (MARX, 1985b)
198
190
Este é o grande desafio colocado para os profissionais Assistentes Sociais,
pois “...o estreitamento das fronteiras entre as profissões sociais e o acirramento das
disputas, [indica que deve] prevalecer aquelas cuja funcionalidade seja adequada à ordem
burguesa, a instituição de novas profissões, a desprofissionalização e, até mesmo, a
extinção de determinadas profissões ” (GUERRA, 20/2001, p. 10).
204
sólida porém, ainda tímida, da pesquisa. Essa inserção dos profissionais no campo
da pesquisa demarcou uma mudança profunda no espaço sócio-ocupacional, no
trabalho profissional e na formação profissional.
Portanto, foi a partir da década de 1980, que o Serviço Social ampliou seu
leque de pesquisas, principalmente com a abertura de cursos de pós - graduação
nos anos de 1970. No entanto, são os desafios teóricos-metodológicos articulados
com a dimensão ética e ideo-política que possibilitou que o Serviço Social
desenhasse e implementasse mudanças profundas na profissão e culminasse com
a construção de um novo código de ética profissional, com a aprovação da lei de
regulamentação da profissão e com a nova revisão curricular bem como com a
hegemonia do projeto profissional amparado em fundamentos críticos.
197
“...a ‘Proposta de diretrizes gerais para O Curso de Serviço Social’, produto
de um amplo e sistemático debate realizado pelas Unidades de Ensino a partir de 1994,
quando a XXVIII Convenção Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social
– ABESS –, ocorrida em Londrina (PR), em outubro de 1993, deliberou sobre os
encaminhamentos da revisão do currículo mínimo vigente desde 1982 (Parecer CFE nº
412, de 4/8/1982 e Resoluções nº 6, de 23.9.82). (...) Entre 1994 e 1996 foram realizadas
aproximadamente 200 (duzentas) oficinas locais, nas 67 unidades acadêmicas filiadas à
ABESS, 25 (vinte e cinco ) oficinas regionais e duas nacionais” (CADERNOS ABESS,
1997, p. 58).
198
“O documento Proposta Básica para o Projeto representou um dos produtos
deste debate, que culminou com a aprovação em Assembléia Geral da Associação, do
Documento de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, entregue ao Conselho
Nacional de Educação do MEC em Março de 1997” (CADERNOS ABESS, 1997, p. 4). “A
elaboração desse documento teve a supervisão da Professora Marilda Vilela Iamamoto”
(CADERNOS ABESS, 1997, p. 15).
211
199
As firetrizes Curriculares aprovada pela categoria dps Profissionais assistentes
Sociais em 8/11/1996, representou mais um momento da força organizada dos
profissionais. Após debater a temática em diferentes instâncias (reuniões, assembléias,
encontros e oficinas), construiu o que entendemos, naquele momento, o caminho que as
Unidades de Ensino devem seguir para responder aos desafios colocados pelas
transformações societárias após 1970. Porém, com os fundamentos assentados na lógica
de mercado, o Conselho Nacional de Educação-Câmara Superior de Educação, através do
Parecer 492/2001 de 3/4/2001, sob o processo nº 23001000126/2002-69, aprovou as
Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço
Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e
Museologia, tendo como relatores: Eunice RibeiroDurham, Silke Weber e Vilma Mendonça
Figueiredo, e posteriormente por meio da Resolução CNE-CES 15, de 13/03/2002,
publicada em DOU de 9 de abril de 2002 o processo se efetivou no campo da legalidade.
O texto legal aprovado conforme o parecer 492/2001 e a Resolução CNE-CES 15, alterou
as Diretrizes aprovadas pela Categoria dos assistentes sociais em 8/11/1996. De acordo
com IAMAMOTO (2002b, p. 22) a alteração “...sofreu uma forte descaracterização tanto na
sua direçãosocial , quanto na base dos conhecimentos e habilidades considerados
essenciais ao desempenho profissional do assistente social”.
212
3) ...o assistente social não realiza seu trabalho isoladamente, mas como parte
de um trabalho combinado ou de um trabalhador coletivo que forma uma
grande equipe de trabalho. Sua inserção na esfera do trabalho é parte de um
conjunto de especialidades que são acionadas conjuntamente para a
realização dos fins das instituições empregadoras, sejam empresas ou
instituições governamentais. (...) O trabalho é uma atividade humana exercida
por sujeitos de classes. (IAMAMOTO, B/1998, p. 63-64)
social, ainda que nele participe de forma peculiar e com autonomia ética e
técnica (IAMAMOTO, B/1998, p. 107).
Para Marx, trabalho é uma atividade que somente tem seu lugar de
existência na esfera da produção. O trabalho é a mediação portadora, responsável
por colocar a pré-ideação em movimento, isto é, objetivar-se sobre um dado objeto –
matéria-prima ou bruta – que se põe enquanto uma causalidade, presentes de suas
próprias legalidades, possibilitando que a causalidade seja transformada em uma
causalidade posta, ou seja, num produto final que não é idêntico ao momento pré-
ideado, mas que expressa uma unidade nas diferenças do processo – teleologia e
causalidade – momento em que as diferenças atingem possíveis pontos de
afirmação e negação. O produto final, fruto da objetivação realizado pelas ações
humanas através do trabalho, é um resultado material, portanto, resultado que
expressa um momento ou momentos da transformação da natureza não humana. Ao
mesmo tempo, o processo do trabalho possibilita a transformação dos próprios
homens – os homens põem necessidades -, ampliando suas potencialidades em
direção ao ser genérico ou negando-as. Enfatiza Lessa: trabalho pra Marx é
somente reconhecido enquanto elemento do processo de trabalho produtivo.
Trabalho que, numa primeira instância produz valores de uso. No modo de
produção capitalista, estes valores de uso ganham dimensão universal
transformando-se em valores de uso social, ou seja, em mercadorias. Neste
momento, as categorias secundárias, explicitadas por Lukács ganham espaços e
complexidade.
Assim como Marx, Lukács concebe o trabalho como uma categoria exclusiva do
ser social e, a teleologia, como um momento existente apenas no trabalho. Para
o filósofo húngaro “ o trabalho não é uma das muitas formas fenomênicas da
teleologia em geral, mas o único lugar onde se pode demonstrar
ontologicamente a presença de um verdadeiro pôr teleológico como momento
efetivo da realidade material (COSTA, a/1999, p. 19).
Neste sentido, Costa conclui que o Serviço Social não é trabalho e não
possui um processo de trabalho próprio, mas participa de diferentes processos de
trabalho ao colocar cotidianamente como uma especialidade inserida na divisão
social e técnica do trabalho coletivo da sociedade capitalista. E, ao intervir, o
serviço social age na realidade tendo por base um momento ideal a partir do qual
opera como posição teleológica secundária. “...Na perspectiva que aqui
defendemos, a atividade profissional do Serviço Social não se constitui processo de
trabalho no sentido estrito, a base ontológica do Serviço Social é a ideologia, como
atividade que exerce uma função nos conflitos sociais” (COSTA, a/1999, p. 107).
201
“...Quanto à resposta às demandas do mercado, nem mesmo os adeptos do
serviço Social mais ‘alternativo’ podem hoje ignorá-las: a questão de fundo está em como
responder a elas” (NETTO, 36/1996, p. 123).
221
Dessa forma, a execução das políticas sociais passou a ser apenas umas
das exigências do mercado. Agora, o profissional, além de desempenhar o papel de
executor das políticas sociais, está sendo requisitado para formular e ser gestor das
mesmas. Nesta esfera de atuação, as exigências apresentam duas dimensões: (1)
um lado positivo: as novas exigências estão obrigando os profissionais a
relacionarem-se com outras áreas do conhecimento, bem como a dominarem
conteúdos que até o momento eram específicos de outros profissionais ou são
novos como o que ocorre com a implantação da LOAS e do ECA, os profissionais
estão se apropriando de conteúdos da área do direito e da administração pública,
acompanhando o debate nacional e participando das esferas deliberativas nas
diferentes instâncias públicas.
Este caminho foi iniciado, mas necessita ampliar seu percurso, o que
significa, permanentemente, enfrentar os desafios. E aos Assistentes Sociais, tanto
na esfera individual como na coletiva, cabe a “coragem cívica e intelectual” para
continuarem realizando essa tarefa histórica.
NOTAS
i
A década de 1880 foi a mais aceita pelos historiadores, até hoje, como o marco
histórico da explosão da revolução industrial. Foi um momento ímpar, a economia atingiu índices
de produção e de comercialização nunca imagináveis pelos defensores da fisiocracia. Desde o
momento da sua explosão, a revolugfvção industrial marcou-se por um movimento que não
pautou suas premissas de desenvolvimento sob a dimensão metodológica linear ou circular, mas,
desde o seu crepitar, até hoje, a revolução industrial comportou-se enquanto um processo que,
conforme as relações de produção e sociais se materializaram, seus resultados manifestaram
com o concretizar de períodos de crescimento econômico e períodos de estagnação. Enquanto
um processo, o movimento revolucionário acolheu cotidianamente momentos de ruptura e de
continuidades. Para ilustrar este momento histórico, Hobsbawm explicita que dois
acontecimentos marcaram as décadas entre 1780 a 1840: a construção de ferrovias e ao mesmo
tempo a construção das indústrias pesadas na Grã-Bretanha. Este fato último deu a marca final
na concretização do projeto burguês na dimensão econômica enquanto primeira fase. No
entanto é importante também ressaltar que demorou aproximadamente 30 anos para que os
motores das máquinas conseguissem ganhar espaços e surpreendessem o mundo
(HOBSBAWM, 1977, p. 44-45).
ii
“...a Revolução Francesa proclamou, sem nenhuma restrição, a liberdade de
empreendimento e de lucro, abrindo assim o caminho para o capitalismo. A história do século XIX
demonstra que isso não foi um mito” (SOBOUL, 1989, p. 101). “...A Revolução Francesa,
observa De Donald em 1796, foi um acontecimento único na história ” (HOBSBAWM, 1977, p.
109).
iii
“A introdução do engenho rotativo foi um acontecimento de primeira importância.
Coincidindo com a época em que surgiu a pudelagem e a laminagem do ferro, ocorreu logo a
seguir às invenções de Arkwright e Crompton, transformando por completo as condições de vida
de centenas de milhares de pessoas. Quando em 1783, montou-se o primeiro dos novos
engenhos para fazer mover um martelo na oficina de John Wilkinson, em Bradley, tornou-se
claro que se tinha dado, na Grã-Bretanha, uma revolução tecnológica. Até que se expirasse o
prazo das suas patentes, em 1800, Boulton e Watt construíram e puseram em atividade cerca de
quinhentos engenhos de ambos os tipos na Inglaterra e, em alguns casos (poucos) no exterior. A
nova forma de energia e os maquinismos de transmissão, pelos quais aquela fazia trabalhar
máquinas antes associadas pela força muscular, foram a via pela qual a indústria entrou na
idade moderna” (ASHTON, 1971, p. 93-94).
iv
Ao entardecer, novos personagens transitaram como pioneiros na busca da
acumulação. Com procedências diferenciadas socialmente e, ao mesmo tempo, utilizando-se de
métodos e formas que os colocaram desde o início em objetivos iguais- acumular capital -, mas
ocupando posições diferenciadas enquanto acumulação primitiva, esses homens:
“...camponeses, lojistas, artesãos, por vezes até mesmo empregados, funcionários públicos e
operários altamente qualificados que tentam tornar-se capitalistas e explorar força de trabalho, e
ao conseguirem de uma maneira ou de outra (consumo excepcionalmente baixo; usura; roubo;
fraude; herança; prêmios de loteria) apropriam-se de um volume inicial de capital” (MANDEL,
1985). Esta forma de manifestar-se mostrou-nos desde o seu ponto inicial, que o capital não é
uma força pessoal, é uma força social.
v
No modo de produção capitalista, a força de trabalho é sinônimo de mercadoria. Esta
condição de ser é a mesma que era e é celebrada em situações onde a relação de trabalho
escravo. “...o trabalhador é, de direito e de fato, o escravo da classe possuidora, da burguesia; a
sua escravidão é tal que chega a ponto de ser vendido como uma mercadoria e de o seu preço
subir e descer tal como o de uma mercadoria” (ENGELS, 1985, p. 97).
vi
A concorrência não é produto do modo de produção capitalista, porém é neste
momento histórico que é acentuada e ganha estatuto frente a tudo e a todos. “A concorrência é a
expressão mais acabada da guerra de todos contra todos que caracteriza a sociedade burguesa
moderna. Esta guerra pela vida, pela existência, por tudo, e que, dadas as circunstâncias, pode
ser uma guerra de morte, põe em luta não só as diferentes classes da sociedade mas também
os diferentes membros dessas classes. Cada um impede o caminho do outro, e é por isso que
todos procuraram eliminar quem quer que lhe atravesse no caminho e lhes tente tomar o lugar”
(ENGELS, 1985, p. 93). Somente com a “...exploração sem limites de forças de trabalho baratas
constitui única base de sua capacidade de concorrência” (MARX, 1975, p. 544).
vii
“…A primeira grande vaga de vedação nos tempos modernos deu-se no século XVI.
No seu aspecto menos importante trouxe, em certos lugares (Kent), um considerável aumento da
produção agrícola. Mas o seu principal aspecto deve-se as transformações dos terrenos livres ou
arrendados em pastagens vedadas para alimentação de rebanhos para a produção de lã, de
grande procura. Os terrenos dedicados à pastagem exigiam escassa mão de obra, e assim a
vedação provocou uma vaga de desemprego agrícola e a expulsão dos rendeiros que antes
exploravam. Thomas Morus dizia que <os carneiros fizeram devoradores de homens e
despovoavam aldeias e cidades> estes fatos provocaram várias revoltas, entre elas a Pilgrimage
of Grace, em 1536 e a Ket’s Rebellion, em 1549. Sem nunca ter tido interrupção, o movimento
da vedação teve a sua segunda vaga no século XVIII, que, com interrupções, se prolongou até o
início do século XIX, eliminando os campos abertos na Grã-Bretanha. Mas enquanto o Governo
Tudor, no século XVI, se opunha, por diferentes razões, à vedação dos campos, no século XVIII
esse movimento foi apoiado pelo Governo, que o estimulou em larga escala” (ASHTON, 1971, p.
45). Para ter uma idéia do poder do Estado de classe a serviço da burguesia “...entre 1750 e
1830, cerca de 2000.000 de hectares de terra, por decretos parlamentares, foram expropriados
pelos landlords” (NETTO apud MARX, 1985, p. 11).
viii
“As leis do trigo eram leis destinadas a assegurar preços mais elevados para o
cultivador e rendas mais altas para o proprietário da terra pela aplicação de impostos de
importação e pela concessão de bônus de exportação. Em 1463 foi proibido importar trigo
quando o preço nacional fosse inferior a 6 X. 8 d. o quarter. Em 1670, o moderno sistema de leis
de trigo foi iniciado por uma lei que aplicava impostos proibitivos ao trigo estrangeiro. Suspensa
a sua aplicação em 1692-1698, 1709-1710 e 1756 devido à carência de trigo, a lei manteve-se
até 1773, data em que foram reduzidos os impostos. Os bônus de exportação do trigo
estabelecidos em 1689 duraram até 1814. As datas que neste caso interessam são: 1815 – O
parlamento proíbe a importação de trigo quando o preço for inferior a 80 X. o quarter; 1828 –
Reduz-se esse limite e estabelece a escala móvel; 1839 – Agitação promovida pela Liga contra a
lei do trigo de Manchester; 1846 – Revogação das leis do trigo” (ASHTON, 1971, p. 158).
ix
“...A regulamentação da indústria por meio de corporações, leis municipais e pelo
Governo Central quebrara-se ou fora autorizada a diminuir, ficando aberto o campo à livre
iniciativa. Não foi talvez por acaso que o desenvolvimento foi mais acentuado em Lancashire e
em West Riding, que não estavam submetidos a algumas das mais restritivas determinações do
código isabelino de legislação industrial. Não foi talvez por acidente que as aldeias e cidades
sem organizações corporacionais – lugares como Manchéswter e Birmingham – se
desenvolveram mais rapidamente, visto que a indústria e o comércio se afastavam das áreas
onde ainda existiam alguns vestígios do controle público” (ASHTON, 1971, p. 32).
x
“Poor Laws são as leis inglesas que organizam o auxílio público à mendicidade. Com
a dissolução dos mosteiros (1539-1541), em virtude das medidas decorrentes do movimento da
Reforma religiosa, os pobres ficaram a cargo do Estado. A Old Poor Law Act (1601) é a primeira
série de leis de mendicidade. Determinava a cobrança de quantias fixas sob forma de
contribuições obrigatórias e o seu uso, para efeitos de assistência, ficava entregue a comissões
de freguesia organizadas para esse fim. Admitia assistência infantil, ao desemprego, doença e
outros casos e teve uma certa eficiência até 1662. Nesta data, a Law of Settlement determinou a
proibição de residência na freguesia onde o indivíduo instalasse e não tivesse meios para
manter, sendo nesse caso remetido para à anterior freguesia. Esta medida, longe de resolver o
problema, agravou a situação. Depôs de várias outras leis no século XVIII (Poor Relief Act, 1772,
1738; Poor Rate Act, 1744; Gilbert’s Act, 1833), as mais importantes foram a Parish Apprentices
Act (1792, 1802, 1816 e 1833) e a Poor Removal Act dos jovens pobres e com a Poor Removal
concedia-se uma assistência que consistia principalmente no fortalecimento de dinheiro em
quantidade variável com o preço do pão. Semelhante tipo de auxílio foi asperamente criticado,
acabando por ser posto de parte. Em 1834 foi aprovada e posta em execução a New Poor Law,
completamente modificada e adaptada a nova situação econômica inglesa” (ASHTON, 1971:
135-6). “...A lei dos pobres, mesmo sofrendo grandes alterações ao longo dos anos, só foi
completamente ultrapassada em 1944”.
xi
A luta pelo interesse em revogar a lei ou mantê-la, foi uma guerra longa entre a
burguesia emergente e a aristocracia latifundiária. No entanto, no findar da década de 1830, o
movimento cartista também entrou em cena, pois enxergava na abolição das leis sobre os
cereais, dias piores para a classe proletária. As manifestações aumentaram, porém os industriais
conseguiram colocar suas proposições em marcha. “A liga contra as Leis sobre os Cereais (Anti-
Corn Law League) foi fundada em 1838 pelos industriais Cobden e Bright, de Manchester.
Defendendo a plena liberdade do comércio, a Liga pugnava pela das leis sobre os cereais com o
objetivo de reduzir salários dos operários fabris e enfraquecer as posições políticas e
econômicas da aristocracia agrária. A Liga utilizou a consigna do livre câmbio para implementar
uma demagógica unidade de interesses entre os industriais e os operários fabris. Em 1846,
abolia a legislação sobre os cereais, a Liga dissolveu-se” (MARX, 1985, p. 185; MARX, 1998, p.
9).
xii
“O processo de produção realizado nos locais aonde a máquina ainda não tinha
chegado, principalmente no período de produção realizado através da cooperação simples, o
trabalho era coletivo, desenvolvido coletivamente. As atividades eram desenvolvidas de forma
artesanal, porém os trabalhadores ensaiavam a divisão do trabalho com graus de especialidades
diferenciadas. No entanto, com a chegada máquina ferramenta movida de forma hidráulica, a
vapor e posteriormente movida pela automação, criaram e desenvolveram, com propriedade no
interior das fábricas, e das indústrias a força de trabalho coletiva.” Com esta nova forma de
organizar-se dos trabalhadores para colocar suas potencialidades em movimento, o trabalho
concentrado possibilitou que a resistência dos trabalhadores contra o capital crescesse, e a
solidariedade de classe fosse sendo construída. Ao mesmo tempo, o capital também criou seus
mecanismos para enfrentar as manifestações de resistência dos trabalhadores (MARX, 1975, p.
374, 375 e 380).
xiii
“...Entre 1811 e 1816, quando os acontecimentos políticos e as más colheitas
levaram à depressão, é que os Luditas destruíram os teares de malhas no Midlands e os teares
a vapor no norte” (ASHTON, 1971, p. 182) É necessário registrar que estas ações de rebeldia,
isto é, manifestações sem nenhum grau de organização que encaminhava para a esfera de
organização de classe, ocorriam principalmente em situações limites, ou seja, devido a
industrialização causarem alto índice de desemprego, ou ainda devido os períodos de crise da
colheita ou ainda devido a momentos de muita repressão física sobre os trabalhadores; Porém,
chega uma momento em que, “...a rebeldia tem que chegar a uma determinada consci6encia das
conexões objetivas para poder voltar-se de fato – e não somente na intenção – contra o sistema
da opressão e da exploração)”. Também encontramos importante contribuição a respeito destas
questões em: HOBSBAWM (1977, p. 223); Na França, a ação teve maior evidência e maior
intensidade nos anos de 1787-1789, 1816-1819, 1829-1833, 1840, 1847-1848. Constata-se que
as mulheres também investiram contra às máquinas que estavam retirando os empregos seus e
de seus familiares (PERROT, 1992, p. 25 e ss). Em alguns lugares da França, a pressão dos
trabalhadores e trabalhadores foi tanta que alguns fabricantes foram obrigados a retroceder no
tempo e no espaço a forma de produzir, isto é, retomar as formas antigas de relacionar com a
matéria-prima (PERROT, 1988, p. 41-42). Ver também MARX (1975, p. 490).
xiv
Instaura-se um processo contínuo e crescente na sociedade de mercado ente
capital-trabalho. Por uma os capitalistas ampliam revolucionam a base produtiva, bem como as
relações organizações no trabalho, no outro lado, o trabalhador luta para garantir seu posto de
trabalho ou quando está desempregado movimenta-se para conseguir um tipo de vínculo
empregatício. Entre os próprios capitalistas a concorrência também é acirrada. Este acontecer
diário ganhou expressividade e descontrole após 1815. “Em 1829, em Manchester, havia 1088
tecelões ocupados em 36 fábricas. Em 1841, restavam apenas 448 e estes operários faziam
funcionar 53353 fusos a mais que os 1088 trabalhadores de 1829. Se o trabalho manual
empregado tivesse aumentado proporcionalmente ao desenvolvimento das forças produtivas, o
número de operários deveria alcançar a cifra de 1848; por conseguinte, os aperfeiçoamentos
introduzidos na mecânica deixaram 14000 operários sem trabalho.” (MARX, 1985, p. 191) Nestes
momentos a concorrência entre os trabalhadores, entre capitalistas e entre trabalhadores e
capitalistas ganharam dimensão de luta de classe. “...Durante a competição não interessa saber
se o adversário é nobre, da mesma categoria, se é um adversário interessante; trata-se de
vencê-lo” (MARX, [19-?], p. 110).
xv
“De 1770 a 1815, a indústria têxtil algodoeira só em 5 anos experimentou depressão ou
estagnação. Durante esses primeiros 45 anos, os fabricantes ingleses possuíam o monopólio da maquinaria
e do mercado mundial. De 1815 a 1821 houve a depressão; de 1822 a 1823, prosperidade; em 1824,
abolição das leis contra as Trades’ unions, grande expansão geral das fábricas; em 1825, crise: em 1826,
grande miséria e revoltas entre os trabalhadores das fábricas: 1827, ligeira melhoria; em 1828, grande
aumento dois teares a vapor e das exportações; em 1829, as exportações, especialmente para a Índia,
ultrapassaram todos os anos anteriores; em 1830, mercados abarrotados, grande penúria; de 1831 a 1833,
mantém-se depressão e retira-se da Companhia das Índias orientais o monopólio do comércio com a Índia
e a China. Em 1834 há grande número de fábricas e de maquinaria, e escassez de braços. A nova lei dos
pobres promove a emigração dos trabalhadores rurais para os distritos das fábricas. Tráfico de escravos
brancos. Em 1835, grande prosperidade. Ao mesmo tempo, os tecelões morrem de fome. Em 1836, grande
prosperidade. Em 1837 e 1838, depressão e crise. Em 1839, reanimação. Em 1840, grande depressão,
revoltas, intervenção de tropas. Em 1841 e 1842, sofrimentos terríveis dos trabalhadores fabris. Em 1842,
os fabricantes fecham suas fábricas aos trabalhadores para forçar a abolição das leis aduaneiras sobre
cereais. Os trabalhadores afluem aos milhares a Yorkshire, sendo repelidos pelas tropas e seus líderes
levados a julgamento em Lancaster. Em 1843, grande miséria. Em 1844, reanimação. Em 1845, grande
prosperidade. Em 1846, de início continuação da melhoria, seguida de sintomas opostos. Revogação das
leis sobre cereais. Em 1847, crise. Redução geral dos salários em 10% e mais para comemorar o enorme
pão (‘big loaf’) prometido pelo livre cambista. Em 1848, continua a depressão” (MARX,1975, p. 520-521).
xvi
Devido às condições diferenciadas encontradas na França, principalmente por ter
um contingente de mão de obra altíssima no meio rural, a industrialização na França foi tardia.
Somente após 1815 é que a França começa a construir seu parque industrial, porém somente no
pós 1830 a sociedade Francesa estruturou-se enquanto um país industrial. No entanto, os
movimentos dos trabalhadores, para impedir que o mundo industrializado assentasse suas bases
em terrenos Franceses, foram intensos (PERROT, 1992, p. 20-27). Apesar de ser uma
industrialização morosa, quando comparada com a Inglaterra, a questão social na França no
decorrer da primeira metade do século XIX ganhou proporções gigantescas nas cidades mais
urbanizadas e no meio rural (MARX, 1977, p. 119-120).
xvii
optar pela razão ou pela desrazão põe-se sob a situação de vinculação de classe
em que se encontram os atores sociais quando convocados à responderem a um problema
(LUKÁCS, 1968, p. 79-81). Os representantes da classe burguesa, em períodos de crise
fortalecem a dimensão irracional, porém em períodos de estabilidade, suas bases sedimentam-
se sob a lógica da racionalidade formal. Porém, é importante assinalar, que a perspectiva de
classe da burguesia teórica não falseiam a realidade devido apenas a questão ideológica de
classe, mas também porque há uma confusão que norteia as suas mediações.
xviii
Para os economistas e filósofos burgueses, representantes no período da
decadência, a sociedade era dividida em dois grandes mundos: o mundo artificial, representado
pelo período da feudalidade e o mundo natural, representado pela burguesia. Esta concepção
transformou as leis como eternas, isto é, houve história, a partir deste momento não há mais. Se
a sociedade burguesa é o último estágio da humanidade, cabem às pessoas dedicarem-se seus
esforços físicos e espirituais para a recuperação e manutenção da sociedade que se encontra
em crise e tem em sua frente o movimento operário enquanto classe em si e para si. Para
resolver este problema, Proudhon explicitava que a sociedade possuía o lado bom e o lado mal.
Retirando o lado mal que se instalou na sociedade, o problema seria resolvido. Exemplificando, a
sociedade capitalista apresentava o seu lado bom (crescimento econômico) e o seu lado mal
(crises de produção). Acabando com as crises que colocavam a sociedade em processo de
estagnação, tudo voltaria ao normal e o paraíso tornava-se uma situação objetiva. Este
sacerdote não entendeu que era necessário destruir as barreiras temporais para acabar com o
lado mal, e não reforma-las (MARX, 1985, p. 115 e ss). Para garantir a tese do fim da história, os
pequenos burgueses, afirmavam que as desgraças que os proletários precisam enfrentar todos
os dias, desde o amanhecer até o anoitecer e durante a noite toda, eram situações necessárias
para que a burguesia conseguisse manter a sua situação de bem-estar-econômico e social, pois
só está classe tinha os poderes e a missão de garantir a continuidade do progresso.
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ANEXO 1
Nº BIBLIOGRAFIASCOMENTÁRIOSCÓDIGOS012COSTA, M. L. H. Os serviços na
contemporaneidade: notas sobre o trabalho nos serviços. In: MOTA, A. E. (Org.). A nova fábrica
de consensos: ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas ao
serviço social. São Paulo: Cortez, 1998. p. 97-113.Procura apreender criticamente o processo
de reestruturação produtiva e a incorporação da atividade de serviços à forma capitalista de
produção. Segundo as autoras, as atividades de serviços estão estreitamente relacionadas ao
efeito útil do trabalho enquanto uma ação que se desenvolve numa relação direta entre produtor
privado/individual ou coletivo e o consumidor. A característica principal dos serviços é a de
fornecer trabalho como valor de uso para o consumo privado. Assim, sendo, mesmo que
adquiram uma expressão mercantil em função da natureza das relações capitalistas e da
mediação que estabelecem no consumo de algumas mercadorias, os serviços geram atos e
efeitos úteis. Conseqüentemente os serviços não se configuram como mercadorias, embora
possam estar permeados por relações mercantis.11/1998013DOURADO, Elziane Olina.
Reestruturação nos bancos e a ação do serviço social. In: MOTA, A. E. (Org.). A nova fábrica
de consensos: ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas ao
serviço social. São Paulo: Cortez, 1998. p. 23-44.Nosso objetivo neste artigo é apresentar de
que modo se configura, no setor bancário, o processo de reestruturação, tendo como pano de
fundo as mudanças de base tecnológica (automação microeletrônica), e suas implicações na
emergência de um novo perfil de trabalhadores, em particular os gerentes. Também
abordaremos como o Serviço Social se coloca nexxe contexto: o conteúdo de suas ações e os
desafios enfrentados.12/1998014DOURADO, E. O. Cinema e trabalho: no labirinto do tempo
entre Os fuzis e A queda. In: SERRA, R. (Org.). Trabalho e reprodução: enfoques e
abordagens. São Paulo: Cortez, 2001. p. 133-149.Apresenta um debate sobre a realidade
brasileira, tendo como eixo a organização, processo, relações e condições de trabalho e suas
repercussões na vida privada dos trabalhadores. O filme em questão considera ainda a
cumplicidade entre o empresariado e o Estado. Ao elaborar temas que se reatualizam nas
décadas posteriores , o filme apresenta, segundo a autora, um potencial analítico que permite
identificar questões atuais relacionadas ao mundo do trabalho e às imagens midiáticas.13/2001
Nº BIBLIOGRAFIASCOMENTÁRIOSCÓDIGOS015DRUCK, G. A “cultura da qualidade” nos anos
90: a flexibilização do trabalho na indústria petroquímica da Bahia. In: MOTA, A. E. (Org.). A
nova fábrica de consensos: ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as
demandas ao serviço social. São Paulo: Cortez, 1998. p. 45-72. Enfoca a reestruturação
produtiva e as transformações ocorridas nos processos de trabalho, particularmente no aspecto
da gestão e organização da força de trabalho.14/1998016FRANCISCO, Elaine Marlova Venzon.
Reestruturação empresarial no estado do Rio de Janeiro e suas inflexões sobre o campo da
proteção social da força de trabalho. EM PAUTA: Revista da Faculdade de Serviço Social da
UERJ, Rio de Janeiro, n.9, p. 9-30, nov. 1996.Na condição de assistentes sociais que observam
esses fenômenos pelo filtro da academia, interessou-nos, basicamente, a recuperação dessas
novas estratégias na política de administração de recursos humanos voltadas para a reprodução
e capacitação da força de trabalho. Como uma das primeiras fases da pesquisa prevista no
projeto, realizamos uma coleta de material empírico em fonte secundária que expressasse o
pensamento empresarial na atualidade. Para tanto, partimos para a coleta de um material
empírico mais geral sobre a reestruturação empresarial no Brasil, desde o ponto de vista
empresarial, através de seu discurso. Elegemos como material privilegiado a Revista Exame,
uma publicação do grupo abril, que mostra um perfil da empresa e do empresariado brasileiro de
todos os setores da economia, principalmente através de casos que incluem a fala dos
empresários, além de artigos que incluem vários setores.15/1996
Nº BIBLIOGRAFIASCOMENTÁRIOSCÓDIGOS017FRANCISCO, E. M. V. O processo de
reestruturação produtiva e as demandas para o serviço social. EM PAUTA: Revista da
Faculdade de Serviço Social da UERJ, Rio de Janeiro, n.10, p. 51-58, nov. 1997.Desde meados
da década de 80, a reestruturação produtiva tem se tomado um imperativo para as empresas
que querem se fixar competitivamente no mercado interno. Este processo, apesar das
diferenciações regionais, tem apresentado um caráter nacional em termos de sua abrangência e
tem aportado em diversos setores da economia. A sua abrangência também diz respeito aos
diferentes aspectos da reestruturação: ocorre tanto em nível tecnológico, com a introdução de
novas técnicas de automação da produção, quanto no nível de gerenciamento da força de
trabalho, através da implementação de novas formas de gestão. Ambos têm constituído, em
geral, os Programas de Qualidade Total (PQT) voltados para uma realidade de rápida renovação
tecnológica e mercados altamente competitivos. É basicamente sobre este segundo nível de
reestruturação que pretendemos desenvolver nossa análise.16/1997018FREIRE, L. M. de B. O
serviço social e a saúde do trabalhador diante da reestruturação produtiva nas empresas. In:
MOTA, A. E. A nova fábrica de consensos: ensaios sobre a reestruturação empresarial, o
trabalho e as demandas ao serviço social. São Paulo: Cortez, 1998. p. 167-194. Este ensaio
sintetiza partes da minha tese de doutorado, tendo por base uma pesquisa realizada em três
empresas estratégicas de grande porte, de âmbito nacional e penetração no mercado global,
com sede no Rio de Janeiro, e em 47 instituições especializadas neste Estado. Ele articula três
temas – Serviço Sociasl, saúde do trabalhador e reestruturação produtiva – que são analisados
na perspectiva crítico dialéticacomo “totalidade em movimento”.17/1998
Nº BIBLIOGRAFIASCOMENTÁRIOSCÓDIGOS019FREIRE, Lúcia, M. B. A categoria mediação na
tendência marxista do serviço social e sua presença no trabalho do assistente social. In:
SERRA, R. (Org.). Trabalho e reprodução: enfoques e abordagens. São Paulo: Cortez, 2001.
p. 177-206.A autora apresenta a sua interpretação da categoria mediação e o tratamento a ela
atribuído na literatura especializada. Apóia-se em pesquisa bibliográfica e empírica realizada, em
1987 e 1988, em grandes empresas e programas públicos de saúde do trabalhador no país, no
contexto globalizado do capital. Destaca derivações desse cenário nas demandas e condições
de trabalho do assistente social e no conteúdo e direção de sua atividade. Esse cenário indica,
na condução do trabalho profissional, tanto uma reatualização conservadora do Serviço Social,
quando a afirmação de uma perpectiva crítica, sobretudo em programas de controle social
democrático nas instituições públicas.18/2001020GRANEMANN, S. Processos de trabalho e
serviço social I. In: CAPACITAÇÃO em serviço social e política social. Brasília: CEAD, 1999. p.
153-166. m. 2: Reprodução social, trabalho e serviço social“O objetivo deste texto é oferecer
elementos para a (re) leitura do exercício profissional a partir dos processos e relações de
trabalho nos quais se inserem os profissionais de Serviço Social”.19/1999021GUERRA, Y. "O
Serviço Social frente à crise contemporânea: demandas e perspectivas" Revista Polêmica: com
os olhos no futuro do Serviço Social, Belém, CRESS 1a. Região, n. 3, p. 6-14, maio 2001. A
presente comunicação tem como objetivo contribuir para uma reflexão sobre as demandas e
respostas da profissão, a partir das determinações particulares do Serviço Social e das
condições objetivas e subjetivas dadas pela crise contemporânea do capitalismo.
20/2001022HOLANDA, M. N. A. B. O trabalho em sentido ontológico para Marx e Lukács: algumas
considerações sobre trabalho e serviço social. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, v. 23, n. 69, p. 5-29,
abr. 2002.“A polêmica que se põe atualmente acerca do mundo do trabalho, seu fim ou, ao
contrário, sua centralidade,bem como seus rebatimentos no interior do Serviço Social foi o que
inspirou este texto, cujo objetivo é, a partir de alguns elementos caracterizadores do trabalho em
sentido ontológico, problematizar um pouco certos aspectos do debate sobre trabalho e Serviço
Social. Fazemos isto tomando como referências centrais obras de Marx e de Lukács, objetivando
tornar evidente as determinantes contribuições dadas por esses grandes filósofos ao debate
contemporâneo do Serviço Social”. 21/2002Nº
BIBLIOGRAFIASCOMENTÁRIOSCÓDIGOS023IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações
sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 9. ed.
São Paulo: Cortez, 1983.Nesta obra, buscou-se particularmente, identificar a compreensão dos
autores sobre a profissão Serviço Social. A/1983024IAMAMOTO, M. V. O serviço social na
contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998.
A autora reafirma com vigor o espaço intelectual de vanguarda ocupado pela autora.
Incorporando temáticas e questões da agenda profissional contemporânea – constituintes de
dois nós problemáticos fundamentais: os impactos, sobre o Serviço Social, das transformações
societárias em curso e as alternativas para a formação de assistentes sociais -, Marilda as situa
num patamar teórico e analítico inusual, conduzindo o seu equacionamento por vias originais e
polêmicas.B/1998025IAMAMOTO, Marilda Vilela. O trabalho do assistente social frente às
mudanças do padrão de acumulação e de regulação social. In: CAPACITAÇÃO em serviço
social e política social. Brasília: CEAD, 1999. p. 111-128. m. 1: Crise contemporânea, questão
social e serviço social.Por considerar o Serviço Social enquanto uma especialização do trabalho,
o objetivo deste texto é identificar as mudanças societárias que alteraram as condições e as
relações de trabalho do assistente social, apontando exigências ético-políticas ao exercício
profissional, na contemporaneidade. Este texto incorpora estratos do livro, de minha autoria. O
Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional, publicado em
1998.22/1999026IAMAMOTO, Marilda Vilela. O debate contemporâneo do serviço social e a
ética profissional. In: BONETTI, D. A. et al. (Org.). Serviço social e ética: convite a uma nova
práxis. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001a. p. 87-104.A autora teve como meta, “traçar um
quadro do debate contemporâneo do Serviço Social no país, para que nele se possa
problematizar a questão da ética no exercício profissional. Em outros termos, situar no debate
profissional contemporâneo a importância da revisão do Código de ética”. 23/2001a
Resgata a crise capitalista e as estratégias acionadas pelo capital na busca da sua reversão.
Estas estratégias são consubstanciadas na reestruturação produtiva e no ajuste neoliberal dos
países periféricos, com profundas repercussões no estado. Atingem centralmente as políticas
sociais – que sofrem uma retração – e a organização dos trabalhadores, agravando a questão
social. Circunstanciada nesses processos sócio-históricos, a autora trata a inserção do Serviço
Social nos órgãos estatais, empresas e entidades sem fins lucrativos, respaldada em pesquisa
junto ao empregadores, realizada no Rio de Janeiro, cujos dados foram publicados em 1998. O
texto evidencia características e tendências do mercado de trabalho, com indicações quanto ao
redimensionamento da profissão, as demandas potenciais e perspectivas para o Serviço
Social.43/2001Nº BIBLIOGRAFIASCOMENTÁRIOSCÓDIGOS051SCHWARTZ, Eda &
NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro. Exclusão social: A desigualdade do século XX. Revista Ser
Social, Revista do Programa de Pós-Graduação em Política Social, Departamento de Serviço
Social, Universidade Brasília, n. 6, p. 95-118, jan./ jun. 2000: Pretende-se neste artigo,
“...resgatar certos ângulos que podem ser considerados quando se reflete sobre tal questão e as
expressões contemporâneas que esta assume”. 44/2000052STEIN, Rosa Helena. A (nova)
questão social e as estratégias para seu enfrentamento. Revista Ser Social, Revista do
Programa de Pós-Graduação em Política Social, Departamento de Serviço Social, Universidade
Brasília, n. 6, p. 133-168, jan./ jun. 2000: “O trabalho compreende dois momentos. No primeiro,
buscamos contextualizar a emergência da questão social, gerada pelas transformações, políticas
econômicas produzidas pela revolução industrial,bem como a origem de um novo tipo de
regulação, com base no direito do cidadão e no dever do estado – O estado de Bem – Estar. No
segundo, buscamos problematizar a crise/reestruturação do Estado de Bem-Estar, num período
marcado por grave crise econômica e acentuada crítica de setores conservadores. Situamos, a
partir daí, a “nova questão social”, bem como as políticas de bem-estar pluralistas, como forma
de enfrentamento desta questão, para a qual converge um padrão de proteção social que
favorece à dualização e domínio do setor privado”.45/2000053YASBEC, M. C. Globalização,
precarização das relações de trabalho e seguridade social. Serviço Social e Sociedade, São
Paulo, v. 19, n. 56, p. 50-59, mar. 1998.
Propor como questão a Seguridade Social brasileira e em particular a Assistência Social no limiar
do século XXI supõe, como ponto de partida, situar o precário sistema de proteção social público
do país no contexto contraditório das profundas transformações que vêm sendo observadas nos
padrões de acumulação capitalista em nível mundial, com suas consequências no plano social,
político e cultural.46/1998
ANEXO 2
QUADRO 2 – BIBLIOGRAFIAS
TIPO DE PESQUISAQUANTIDADEPESQUISA - ESTUDO DE CASO: Enfocando as
transformações societárias, “questão social” e suas refrações no Serviço
Social.07PESQUISA - ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA: Enfocando a categoria trabalho e processo
de trabalho.12PESQUISA – Enfocando a análise bibliográfica sobre as transformações
societárias, a “questão social” e suas refrações no Serviço Social.35