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ATUALIDADE
Resumo
1 Introdução
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o ensino de filosofia dentro do contexto
analisado por Gilles Lipovestky e definido como hipermodernismo, como os conceitos de
hiperconsumismo e hiperfuncionalidade moldam o senso comum contemporâneo e como isto
afeta o aluno e sua visão da filosofia enquanto estudo sistemático e contemplativo.
A partir dos conceitos formulados por Obiols (2002) e Lipovestsky (2004)é que
fundamentaremos as provocações e conclusões desta pesquisa, assim como uma tentativa de
entender como a filosofia poderia alcançar o ideal do Ministério da Educação e Cultura como
agente formador de cidadania e apresentar uma idéia de como o aluno enxerga a filosofia
enquanto matéria de ensino médio.
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Também medita-se neste trabalho sobre como o pensamento utilitarista pode ofuscar o
propósito da filosofia enquanto, parafraseando Merleau-Ponty, meio de “reaprender a ver o
mundo”, e uma tentativa de aplicar um método ao seu ensino.
Espero que este sirva de abertura para a discussão de qual é a importância do ensino de
filosofia para o ensino médio.
2. Desenvolvimento da pesquisa
Lipovetsky (2004) levanta um conjunto de idéias para definir o que viria a ser o cerne
do pensamento contemporâneo. Nesta série de argumentações ele levanta duas questões
importantes, a exploração do mundo material e a importância da aparência através da moda.
Lipovetsky (2004, p. 18) afirma ainda que:
O ensino de filosofia hoje é uma realidade, assim como é uma realidade a falta de
profissionais que trabalhem em tal área ou tenham conhecimento de mecanismos e
metodologias que os levem a uma empreitada bem sucedida.
A aversão que muitos jovens têm pela idéia de terem de passar o ensino médio
estudando algo que, ao ver deles, não trará resultado palpável para o seu futuro sucesso
profissional já tem levantado debates dentro e fora das salas de aula.
A idéia diminuta de que a filosofia serve para, apenas como uma de várias
ferramentas, formarem cidadãos é a pregada pelos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais
de Ciências Humanas e suas Tecnologias.
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2.2 Hiperconsumismo
Carlos Drummond de Andrade, conclui seu poema “eu, etiqueta” desta forma:
Estrofe forte, de um poeta visionário que enxergou uma sociedade que abriria mão de
sua identidade enquanto seres humanos para então, em nome da moda, serem “objetivados”.
Com conotação parecida Lipovetsky (2007, p. 25) proclama o hiperconsumismo
explicando-a de tal forma:
Desta forma pode-se notar que a sociedade contemporânea tem como marca a
valorização do consumo, o autor chega a sugerir o termo “homo consumirecus”, pois para
cada celular mais moderno, carro novo, televisão cada vez mais fina, haverá um consumidor
ávido para tê-lo e assim sentir-se mais completo, mais “moderno”.
É dentro desta perspectiva que podemos chamar a hipermodernidade como o período
de extrema liberalidade, caracterizada pela fluidez, pela flexibilidade, paradoxal e totalmente
indiferente a princípios estruturais e voltada sempre para a idéia de novo. A tradição perde o
seu peso para a curiosidade do porvir.
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senso comum e assim formar pessoas com capacidade crítica, e ainda recebemos o convite de
recortarmos o que acharmos necessário para fazê-lo!
A Filosofia tem como característica ser sistemática, porém apenas impô-la desta
forma, com apenas um objetivo e ainda recortada de sua realidade para “Narcisos
hipermodernos” acostumados a ouvirem música, navegarem na internet, assistirem televisão
falarem pelo telefone enquanto esperam o sinal do microondas (ou seja, vemos com este
exemplo a hiperfuncionalidade do Narciso) ao mesmo tempo de forma totalmente
assistemática me parece bastante infundado. É pedir para que a filosofia se torne apenas mais
uma matéria afastada da realidade dos jovens que, com repúdio, apenas decorarão fórmulas
para passarem de ano.
Com este panorama que é proposto este trabalho monográfico, sem pretensão de ser
mais um trabalho de metodologia de ensino, mas sim como uma contribuição para que o
ensino de filosofia seja mais bem compreendido e melhor praticado por alunos e professores.
Quarenta (40) alunos não vêem nenhuma vantagem em se estudar filosofia para o
vestibular, enquanto 52 disseram que a matéria é importante por aprofundar o pensar levando
a um complemento para outras matérias como história e literatura, assim como serve de
auxílio para a produção da redação.
Para estes alunos um professor de filosofia ideal tem que ter profundo conhecimento
do assunto (conhecimento enciclopédico), ser claro, falar a linguagem deles, e principalmente,
ser divertido.
A última questão tratava da aula em si, e para os alunos uma boa aula de filosofia teria
que conter prática (em detrimento da teoria), vídeos, música e principalmente não ser
cansativa.
Antes, pode-se dizer que a filosofia tem propósito e este propósito é criar conceitos.
Como afirma Deleuze e Guattari (1992, p. 13):“O filósofo é o amigo do conceito, ele é
conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar
ou fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos.
A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.”
Portanto, os alunos colocaram que tinha uma utilidade tanto quanto os que colocaram
que não tinha, estavam na verdade buscando na filosofia aquilo que todo o conjunto
educacional tem refletido desde a segunda metade do século XX – a educação como tudo,
deve trazer técnica, deve trazer poder de fabricação e de obtenção material, senão é inútil.
Explica Obiols (2002):
Se não há produção técnica, é inútil, se é inútil não tem valor...será? Qual é a utilidade
de um por do sol? Qual é a utilidade de um idoso ou de um índio? Qual é a utilidade do
diferente? Dentro deste contexto não é de se espantar queimarem o próximo e depois
justificarem que era brincadeira...
Este é o papel da filosofia, questionar além das aparências utilitárias e, ao questionar,
criarem conceitos que sobrepujam o senso comum. É ajudar e ser ajudado a voltar a se
espantar, e não achar tudo óbvio e, pela pesquisa, percebe-se que enquanto educadores-
filósofos temos falhado neste intento, ao justificar a volta do ensino de filosofia com o
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objetivo de “formar cidadãos” também é impor uma utilidade que não é da filosofia, formar
cidadãos é conseqüência de um sistema de ensino sadio como um todo, e não de uma vertente
apenas do conhecimento.
À utilidade esperada pelos alunos, notou-se também a busca pelo “professor-show”, a
aula tem que ser divertida, tem que ter entretenimento, não pode ser cansativo, nos chama a
atenção a colocação de Lipovetsky (2007, p. 63):
A lógica do consumo é um tanto simples, “pago a escola, logo devo aprender coisas
úteis de forma divertida”, e as sugestões seguem – filmes, vídeos, músicas, sites com
emoticons - de uma forma que não cause cansaço, porém podemos questionar:
O que de valor e de propósito se agrega à vida sem suor e esforço? Será que aprender é
apenas um exercício narcísico de experimentação voltada ou prazer?
São estes questionamentos que, ao criar conceitos, dever-se-ia questionar-se em uma
aula de filosofia. O que nos leva à pergunta final desta conclusão:
Como poderia ser uma aula de filosofia? Os três passos metodológicos sugeridos
Obiols (2002) nos parecem ser bastante lúcidos e atentos a realidade dos alunos atuais.
A questão levantada por Obiols (2002) seria a de aprender filosofia - história da
filosofia e seus pensadores de forma sistemática e aprender a filosofar - criar conceitos,
soluções ou indagações a novos problemas.
A questão, segundo Obiols (2002, p. 121), seria:
Considerações finais
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REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é filosofia?. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
Coleção TRANS
GALLO, Sílvio. O macaco de Kafka e os sentidos de uma educação filosófica. In: KOHAN,
Walter (Org.). Políticas do ensino de filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, Coleção
Sócrates
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OBIOLS, Guillermo. Uma introdução ao ensino de filosofia. Ijuí. Unijuí, 2002. Coleção
filosofia e ensino.