Sunteți pe pagina 1din 23

-_:, 1"

----_ ...._- .._------===:=


--= :

3. Relevância das variáveis não linguísticas

Maria Cecilia Mol/ica

Efeito de agentes externos

Como já sabemos, a variação linguística é uma das características univer-


sais das línguas naturais que convive com forças de estabilidade. Aparentemente
caótica e aleatória, a face heterogênea imanente da língua é regular, sistemática
e previsível, porque os usos são controlados por variáveis estruturais e sociais.
Eles podem ser agentes internos e externos ao sistema linguístico.
Das variáveis externas ou não linguísticas, registram-se os marcadores re-
gionais predominantes em comunidades facilmente identificadas geograficamente,
em simultaneidade a indicadores de estratificação estilístico-social, de forma que
a variação projeta-se num contínuo em que se podem descrever tendências de
uso linguístico de comunidades de fala caracterizadas diferentemente quanto ao
perfil sociolinguístico. As variáveis, tanto linguísticas quanto não linguísticas,
não agem isoladamente, mas operam num conjunto complexo de correlações que
inibem ou favorecem o emprego de formas variantes semanticamente equivalen-
tes. Por exemplo, agentes como escolarização alta, contato com a escrita, com
os meios de comunicação de massa, nível socioeconômico alto e origem social
alta concorrem para o aumento na fala e na escrita das variedades prestigiadas,
admitindo-se que existam pelo menos o padrão popular e o culto.

Questões e debates

São bastante avançados os estudos que correlacionam as variáveis sexo/


gênero, idade, escolaridade e classe social, dentre outras, a fenômenos de uso na
fala e na escrita. Mesmo assim, não nos parece ainda possível dar como concluída ---
a discussão acerca de um efeito padronizado dessas variáveis sociais com vistas
a responder a algumas questões, a saber: a) o grau alto de escolarização concorre
para um comportamento linguístico ajustado ao padrão culto? b) o gênero feminino
é mais conservador do ponto de vista da norma? c) há uma relação entre estigma-
tização sociolinguística, status e mobilidade social? d) qual o impacto da mídia
sobre a variação linguística? Esses e outros pontos são problematizados quando
correlacionamos variáveis não linguísticas a fenômenos de variação. Neste livro
apenas alguns são focalizados.

- -

- -

-_. -- -- ----- ---

- -

--- -

- _._. __ . -

--- . ~-~

-
28 Introdução à Sociolinguística

Já nos idos dos anos 1960 e 1970, Labov (1972) investigou o efeito de
diversos fatores sociais dessa natureza sobre traços do inglês padrão e não pa-
drão, dedicando-se sobremaneira a demonstrar que o Black English vernacular,
variedade extremamente estigmatizada, sofre preconceito em razão de pressões
étnicas, escolarização e classe social. Sankoff, Kemp & Cedergren (1978) de-
monstraram que escolarização, valor de mercado de formas discursivas e status
profissional dos falantes são relevantes para determinar o grau negativo ou positivo
de marcação social das alternativas linguísticas: falantes com maior cotação no
mercado linguístico tendem a lançar mão de estruturas de maior prestígio. As
contribuições de Laberge (1977), Clermont & Cedergren (1979) e os trabalhos
de Kemp (1979 e 1981) consolidaram resultados a favor da tese de que empre-
gos linguísticos prestigiados acham-se preferencialmente em indivíduos com
prestígio social alto.
A escolarização tem sido testada amplamente para se verificar o seu grau
de influência sobre os falantes quanto à apropriação da norma de prestígio. Num
painel bem amplo apresentado em Silva & Scherre (1996), três tendências foram
observadas quanto ao efeito da escolarização sobre as formas padrão, próprias a
estilos e gêneros mais formais.
a) Podem ocorrer casos em que os falantes entram na escola oscilando entre um
grande e um pequeno uso da variante padrão; a escola "poda" a criança que não se
amolda ao sistema de ensino. (...) Nesses casos, trata-se de variantes estigmatizadas
pela escola, que chegam a ser sistematicamente corrigidas.

b) Em outros casos, em que a maioria dos falantes entra na escola sem usar a
variante padrão, esta é adquirida durante sua escolarização sem que desapareça,
porém, a variante não padrão. Enquanto no primeiro ano escolar só há indivíduos
que tendem a usar a variante não padrão, nos últimos anos escolares há falantes que
tendem a usar ambas as variantes. (...) Algumas variantes não padrão não chegam
a ser estigmatizadas pela escola, não sendo objeto de correção.

c) Finalmente, uma terceira modalidade ocorre quando os falantes entram na escola


apenas com a variante que se considera não padrão, mas, paulatinamente, substituem
essa variante pela considerada padrão.
(SILVA & SCHERRE, 1996, p. 346, 348-349)

Bortoni também tem observado a ação decisiva que atividades de letra-


mento podem ter sobre os alunos, mesmo que sejam práticas de base inteiramente
-----
-------
intuitiva por parte dos professores.
(...) os padrões de mudança de código e de intervenções dos professores estão as-
sociados a estratégias intuitivas que estes desenvolveram com base em seu sistema
de crenças sobre o letramento. Entendemos que as estratégias intuitivas usadas por
eles podem contribuir para a implementação de uma pedagogia culturalmente sen-
sível e para que isso se tome mais efetivo recomendamos que se lhes proporcione
acesso a informações sistemáticas de Sociolinguística. -------
(BORTONI, 1994, p. 92)
===-~- ~~~==
Relevância das variáveis não linguísticas 29

Sobre o português brasileiro, os resultados até então observados para verificar-se


a pertinência da relação entre estigmatização linguística e prestígio social apontam, de
maneira diferenciada, a importância da cotação de mercado da forma linguística. De
acordo com Bourdieu (1977), as manifestações linguísticas recebem um valor do que
ele denominou "mercado linguístico", aliado a renda, sexo, faixa etária e nível escolar
do falante. O efeito da rnídia sobre as variantes de prestígio tem despertado interesse
e tem sido objeto de estudo para verificar-se até que ponto há influência dos meios de
comunicação nos comportamentos linguísticos (CL Naro & Scherre, 1996).
As evidências estatísticas na referida coletânea sugerem que renda, valor de
mercado, mídia e sensibilidade linguística, conjuntamente com outros parâmetros,
podem ser bons indicadores sociais. Alguns resultados servem de comprovação de
que a variável mercado se mostra relevante, pois demonstram que, quanto maior
a cotação na escala do mercado ocupacional, maior a chance de haver ajuste à
norma padrão com relação à concordância nominal, por exemplo, fenômeno
inegavelmente marcado socialmente.
A questão, em princípio, poderia ser simples se todas as evidências reve-
lassem uma correlação constante e regular entre estruturas linguísticas standard,
prestigiadas, de alto valor no mercado linguístico, diretamente proporcional a
grau alto de consciência linguística, em indivíduos mais velhos e escolariza-
dos, de classe socioeconómico-cultural alta. Isso posto como verdade absoluta,
esperar-se-ia o emprego de estruturas padrão dos grupos mais escolarizados e
mais sensíveis à diversidade linguística em relação à necessidade de adequação
dos usos alternativos em estilos e gêneros de grau diferenciado de formalidade
tanto na fala quanto na escrita. A realidade é, contudo; muito mais complexa.
O uso da formas eu, alternando-se com a forma dele, para indicar o possuidor na
terceira pessoa, acha-se em extinção na fala do PB, no entanto é standard, de tradição
literária e altamente prestigiado, como bem demonstrou Silva (1982), num trabalho
que examina as atitudes linguísticas em diversas classes socioculturais. Em relação ao
uso, os falantes classificados como mais conscientes e de renda mais alta apresentam
maior número de empregos da forma prestigiada. Contraditoriamente, as variáveis
mídia e mercado ocupacional não exercem influência sobre o uso da forma seu.
Por razões funcionais, a forma dele (desambiguadora) vem se sobrepondo
amplamente à forma seu entre os falantes de maior nível social e cultural e está
sendo inclusive veiculada na mídia, ainda que contrarie os ditames do padrão culto,
faça parte do imaginário dos falantes como a forma recomendada e seja trabalhada
na escola. Esse exemplo é extremamente útil para a nossa reflexão, fornecendo
elementos concretos para a constatação ainda mais contundente da complexidade
do efeito de indicadores sociais sobre o perfil sociolinguístico dos falantes.
Numa sociedade tão complexa como a constituída pelos falantes do PB, podemos
pensar em inúmeros indicadores sociais, seja de exclusão e inclusão, seja de estabilidade
e mobilidade social. Origem social, renda, acesso a bens materiais e culturais são alguns
deles, assim como tipo de ocupação, grau de inserção em redes sociais e outros.

-~~
~~
~

~~
~ -

-~~ ~~~~-

~~ -~-~ ~
~ -~ ~~-~~-~~ ~---~-

~~~ ~

- ~
-----_ ..-
30 Introdução à Sociolinguística

Chambers (1995) julga que classe social é o aspecto mais marcado linguis-
ticamente nas nações intensamente industrializadas e a estratificação social pode
ser observada com base em indicadores ocupacionais, educacionais e econômicos.
Para o autor, nos círculos sociais mais fechados e localizados, temos as redes
sociais da família, da vizinhança, do clube e de outros locais de identidade. Há
índices mais objetivos de classe social, outros de caráter bem subjetivo. Em seus
estudos, Trudgill (1974) oferece índices detalhados para demarcar classe social,
tal como localidade, tipo de casa etc. Note-se ainda que mobilidade social pode
ficar ao sabor da avaliação das pessoas e submeter-se à constituição de estereó-
tipos, como a categoria de nouveau riche.
Nem sempre variedades de prestígio, com alta cotação de mercado, são
necessariamente assimiladas pelos falantes. Há casos que, por razões outras, cons-
tituem mudança em curso e, por isso, os padrões linguísticos devem ser compre-
endidos também pela sua natureza dinâmica. Esse é um dos motivos pelos quais
não necessariamente os movimentos dos indivíduos na direção de ascenção social
redundam na apropriação de recursos linguístico-discursivos monitorados.
Estudos pioneiros no Brasil no âmbito do PEUL (Programa de Estudos
sobre os Usos da Língua), citados e sucintamente mencionados em Paiva &
Scherre (1999), procuraram correlacionar a utilização de construções prestigiadas
e não prestigiadas com variáveis como bens materiais, bens culturais, origem so-
cial. Os resultados não foram tão surpreendentes quanto se esperava, o que pode
significar que essas categorias não são mensuráveis por critérios linguísticos ou
são subcategorias que representam pré-condições a urna trajetória mais custosa e/
ou mais longa que o indivíduo tem que percorrer no eixo vertical da estratificação
social, durante a qual a língua é uma das propriedades no conjunto de propriedades
que compõe finalmente o patrimônio social de uma pessoa.

A busca de variáveis sociais não convencionais para o entendimento da variação


Iinguística numa sociedade tão complexa como a brasileira, em que a categorização
por classe social segundo parâmetros como renda, local de moradia, escolarização
e profissão não é claramente delimitada, tem motivado o controle de aspectos mais
sutis da ambientação material e cultural dos indivíduos e do seu grau de integração
aos valores veiculados pelos meios de comunicação de massa. Concebidas na
forma de escalas que controlam a relação quantitativa e qualitativa dos falantes
com os produtos culturais (como mídia televisiva e escrita, cinema, teatro e ou-
tros) sua posse de bens materiais disponíveis no mundo moderno (apartamentos,
carros, telefones, viagens etc.) e suas expectativas em relação ao futuro, variáveis
como bens materiais, bens culturais e motivação vêm insinuando uma outra forma
de exame de variação sociolinguística. (...) Conjugadas com as variáveis mais
convencionais, como idade, sexo e escolarização, essas variáveis mais refinadas
permitem detectar tendências divergentes no interior da mesma comunidade de
fala. (...) Revela-se, portanto, estreita correlação entre a complexidade social e os
processos de variação.
(PAIVA& SCHERRE, 1999, p. 220-21)
Relevância das variáveis não linguísticas 31

Algumas considerações
Como podemos vincular as questões linguísticas sucintamente expostas com
fatores e barreiras de exclusão e mobilidade social? A apropriação da cultura letrada
e a utilização adequada de recursos linguísticos são suficientes para indicar o espaço
que os indivíduos ocupam na escala social e/ou determinar mobilidade social?
Se há dúvidas quanto a alguns dos indicadores aqui mencionados como
identificadores e determinadores de status social, há outros sobre os quais há
consenso absoluto e que já são de senso comum. A fome, condições subuma-
nas no que se refere à habitação, saúde, educação são barreiras intransponíveis
e constituem impedimentos aos indivíduos à cidadania plena. Sabemos que o
Brasil convive com esses agentes em diferentes graus a depender da localidade
em nosso território.
Segundo o último Censo, os indicadores sociais apresentam-se mais po-
sitivos. No entanto, a concentração populacional nos grandes centros urbanos
tem concorrido para que um grande universo de pessoas mantenha-se na linha da
miséria, embora os índices apontem melhoria para os brasileiros quanto à expec-
tativa de vida, renda, saúde e escolaridade. Contudo, isso não tem sido suficiente
para promover distribuição mais justa de riqueza no país, para diminuir a violência
e a mortalidade infantil, para melhorar a qualidade de nosso ensino.

--

---

. --- ._-~----
---- -

..._ ..- ._._-


._--_ .

...- -_.-- .--

-- -

-- -

-
----- - :::::::~---=-=

------------------

I: 4, A variável gênero/sexo

Maria da Conceição de Paiva

o interesse da variável sexo

Homens e mulheres falam diferentemente? A pergunta pode parecer retó-


rica, se considerarmos que qualquer observação superficial nos permite constatar
que diferenças de timbre e altura determinam especificidades da voz feminina
e da voz masculina. Homens possuem voz mais grave e mais baixa; mulheres
possuem voz mais aguda e uma oitava mais alta que a voz masculina. Embora
essas diferenças possam ser interessantes do ponto de vista fisiológico, não cons-
tituem o centro de interesse da Sociolinguística. Para essa disciplina, a questão a
ser respondida é: em que limite e de que forma fenômenos linguísticos variáveis
estão correlacionados ao genêro/sexo do falante?
As diferenças mais evidentes entre a fala de homens e mulheres se situam
no plano lexical. Parece natural admitir que determinadas palavras se situam
melhor na boca de um homem do que na boca de uma mulher. Nas sociedades
ocidentais, a existência de um vocabulário feminino e de um vocabulário mas-
culino parece menos acentuada e tende, progressivamente, ao desaparecimento.
O que não impede, entretanto, que ainda possamos ouvir e utilizar expressões
como "não fica bem para uma garota falar dessa forma".
A análise da dimensão social da variação e da mudança linguística não
pode ignorar, no entanto, que a maior ou menor ocorrência de certas variantes,
principalmente daquelas que envolvem o binômio forma padrão/forma não padrão
e o processo de implementação de mudanças estejam associados ao gênero/sexo
do falante e à forma de construção social dos papéis feminino e masculino.

Alguns estudos

A primeira referência à correlação entre variação linguística e o fator


gênero/sexo se encontra em Fischer (1958) em um estudo intitulado Influências
sociais na escolha de variantes linguisticas. Analisando a variação na pronúncia do
sufixo inglês ing, formador de gerúndio (walking, talking), o autor verifica que a
pronúncia velar era mais frequente entre mulheres. Note-se que essa preferência não
é resultado de uma escolha aleatória entre duas pronúncias igualmente possíveis do
sufixo. A diferença entre a pronúncia velar ou dental do sufixo corresponde a uma

- -

-- - -------- ---

-----

--- --- - --

- -- - -- - -- --- -----

--- ---

--

-- -

-
- --

--

-- -

- --- -
----

--- -- - - - -- -- -- ---

--
- - -- -

-- ---
---- - - -
------
---~-_._--
34 Introdução à Sociolinguística

diferença de valorização social: forma prestigiada versus forma não prestigiada,


respectivamente. O que Fischer constata, portanto, é que a forma de prestígio
tende a predominar na fala feminina. Podemos interpretar essa correlação como
um indicador de que as mulheres preferem as formas linguísticas de prestígio e
são mais sensíveis a uma norma de linguagem?
Diversos outros estudos de orientação sociovariacionista puderam corrobo-
rar a constatação de Fischer: gênero/sexo pode ser um grupo de fatores significa-
tivo para processos variáveis de diferentes níveis (fonológico, morfossintático,
semântico) e apresenta um padrão bastante regular em que as mulheres demons-
tram maior preferência pelas variantes linguísticas mais prestigiadas socialmente.
Mantendo-nos no nível fonológico, observemos os resultados encontrados para
a supressão variável da vibrante nos grupos consonantais (problema/pobrema,
proprietário/propietário) na variedade carioca, em que, sem dúvida, convivem
uma variante fortemente estigmatizada e uma variante padrão (Mollica, Paiva
& Pinto, 1989). Os resultados da tabela 1 mostram nitidamente que as mulheres
utilizam mais a forma padrão (sem a supressão da vibrante) do que os homens.

Tabela 1- Influência da variável sexo sobre a supressão da vibrante nos


grupos consonantais

Gênero/sexo Freouência PR
Feminino 280/1137 25% .45
Masculino 468/1411 33% .57

Um exemplo ilustrativo da correlação entre gênero/sexo e uma variável


morfossintática é o da concordância entre os elementos do sintagma nominal.
Na análise realizada por Scherre (1996, p. 254) foram encontrados para gênero/
sexo, segundo grupo de fatores selecionado pela análise estatística, os índices
mostrados na tabela 2, adaptada da autora.

Tabela 2- Atuação de gênero/sexo na concordância nominal

Gênero/sexo Freouência PR
Masculino 1763/3953 45% .42
Feminino 2556/4080 63% .58

A variante mais prestigiada, presença de marca de plural em todos o


elementos do SN, é mais recorrente entre falantes do sexo feminino e diminui
sensivelmente entre falantes do sexo masculino.
Também no nível discursivo podem ser depreendidas correlações signifi-
cativas entre variação linguística e gênero/sexo como, por exemplo, na alternância
entre as formas de tratamento tu e você. A análise de Paredes e Silva (1996).

-----

--- -

--=-~--- - - -- -= -
-- - - ---- - - ----

---_-::
---
----- -

---

-- ----- -- --
-
---

- - --

----- - - -

-- --

- -- - -----
A variável gênero/sexo 35

com base em dados de interação face a face entre falantes cariocas, mostra que
a ocorrência do pronome de segunda pessoa tu sem concordância com o verbo
(Tu quer uma cerveja?) é mais frequente na fala de homens (peso relativo de .57)
do que na fala de mulheres (peso relativo de .43).
Diversos outros estudos sobre processos variáveis do português apontam
para o que poderíamos denominar uma maior consciência feminina do status social
das formas linguísticas. Mas essa tendência pode ser constatada, igualmente, em
outras línguas, como na queda variável das oc1usivas [t] e [d] em final de sílaba
(walkedlwalke), no inglês falado em Detroit (Wolfran, 1969) ou na variação
entre os pronomes on (equivalente a agente) e naus (nós) que está na origem de
alternâncias como Naus allons au cinema/On va au cinema, no francês falado
em Montreal, Canadá (Laberge, 1977). No primeiro caso, a queda da consoante
final é mais recorrente entre falantes do sexo masculino. No exemplo da variação
entre on e naus, a segunda forma, considerada padrão, é mais frequente entre as
mulheres do que entre os homens.
A análise da correlação entre gênero/sexo e a variação linguística tem de,
necessariamente, fazer referência não só ao prestígio atribuído pela comunidade
às variantes linguísticas como também à forma de organização social de uma
dada comunidade de fala. A consistência do padrão que aponta o conservadoris-
mo linguístico das mulheres emerge da análise de variações em comunidades de
fala ocidentais, que partilham diversos aspectos da organização sociocultural.
Esse padrão pode ser revertido, no entanto, quando se consideram dados de co-
munidades de fala caracterizadas por outros valores culturais e outra forma de
organização social. Um exemplo ilustrativo é o da variação entre oc1usiva uvular,
oc1usiva glotal e oc1usiva velar em árabe. O estudo realizado por Haeri (1987) em
diferentes comunidades muçulmanas mostra um outro padrão de distribuição das
variantes em relação a gênero/sexo: a variante uvular, forma de prestígio baseada
no árabe literário, predomina entre os homens; as mulheres, por sua vez, estão
associadas ao maior uso das formas não prestigiadas. Como discutiremos mais à
frente, ainda que os padrões de correlação possam diferir, eles refletem mais do
que diferenças biológicas, diferenças no processo de socialização e nos papéis
que cada comunidade atribui a homens e mulheres.
Essas diferenças de socialização podem se refletir até mesmo em estilos
interacionais distintos. A análise de conversações espontâneas tem permitido
mostrar diferenças significativas na forma como homens e mulheres conduzem
a interação verbal. Enquanto os homens tendem a manifestar um estilo mais
independente e uma postura que garanta seu prestígio, as mulheres orientam sua
conversação de uma forma mais solidária, que busca o envolvimento do interlo-
cutor (Tannen, 1990; Coulthard, 1991).
36 Introdução à Sociolinguística

Gênero/sexo e mudança linguística

Uma outra questão relevante para o sociolinguista se refere ao papel da


variável gênero/sexo na mudança linguística. Essa variável pode atuar como um
vetor de propulsão ou retenção de processos que implementam uma nova variante
no sistema? Quanto a esse aspecto, resultados obtidos a partir do estudo de uma
vasta gama de fenômenos ainda não podem ser tomados como conclusivos, pois
indicam direções contraditórias. Não raro, as mulheres tendem a liderar processos
de mudança linguística, estando, muitas vezes, uma geração à frente dos homens.
Tal tendência delineia-se, por exemplo, no estudo de Labov (1966), sobre o inglês
de Nova York. O autor constata que a pronúncia retroflexa do [r] pós-vocálico
(em card, por exemplo), forma inovadora, tende a ocorrer mais frequentemente
na fala das mulheres do que na fala dos homens.
No estudo da correlação entre gênero/sexo e mudança linguística, um aspecto
a considerar é o valor social da variante inovadora. Um processo de mudança pode
ser a instalação de uma forma prestigiada socialmente ou de uma forma estigmati-
zada, que infringe padrões linguísticos vigentes. A distinção entre esses dois tipo
de mudança permite definir com maior clareza o papel da variável gênero/sexo
nos processos de mudança. Quando se trata de implementar na língua uma forma
socialmente prestigiada, como no caso da pronúncia retroflexa em Nova York ci-
tado acima, as mulheres tendem a assumir a liderança da mudança. Ao contrário.
quando se trata de implementar uma forma socialmente desprestigiada, as mulhere
assumem uma atitude conservadora e os homens tomam a liderança do processo.
É preciso notar, no entanto, que nem sempre essa equação se aplica de forma
inequívoca, visto que, em muitos processos de mudança, não está envolvida uma
polarização evidente entre uma variante de prestígio e uma variante não presti-
giada. É o que ocorre, por exemplo, no caso da altemância entre as formas nó
e a gente para a expressão da primeira pessoa do plural. Como mostra a tabele
3, reproduzi da de Omena (1996, p. 14), o uso do pronome nós, variante mais
conservadora, é mais frequente entre os homens, indicando que a implementaçà
da variante inovadora a gente está sendo liderada pelas mulheres. É difícil, n
entanto, afirmar que se trata de um processo em direção a uma forma padrão 0_
não padrão, dado que as duas variantes não se sujeitam a uma avaliação soei
explícita ou à exclusão normativa.

Tabela 3- Atuação da idade e sexo sobre o uso da forma nós

Sexo Masculino Feminino


7 a 14 anos 22/288 = 8% .23 30/285 = 11% .30
15 a 25 anos 31/359 = 9% .24 70/392 = 16% AO
26 a 49 anos 85/385 = 23% .53 158/359 = 45% .74
50 a 71 anos 175/320 = 55% .81 100/248 = 41 % .74
--=
-=-==
-- -=----=
-=-=-
--= A variável gênero/sexo 37
:.--=-:=
----- -- ....--:====
--------

A situação contrária, com os homens liderando o processo de mudança, também


:=
pode ser encontrada. É o caso, por exemplo, da supressão da vibrante final em português
(beber/bebê0, amar/amá0), fenômeno de larga extensão no português brasileiro.
De acordo com o estudo de Oliveira (1982), as mulheres preservam o segmento
vibrante significativamente mais do que os homens, levando a crer, portanto, que
o processo está sendo impulsionado pelos falantes do sexo masculino.
O que se pode generalizar, pelo momento, é a maior sensibilidade feminina
ao prestígio social atribuído pela comunidade às variantes linguísticas. É preciso,
considerar, no entanto, que o efeito da variável gênero/sexo isoladamente camufla
outros aspectos e complexas interações que deve ser examinadas no estudo da
variação e da mudança.

Gênero/sexo e outras variáveis


O padrão de comportamento da variável gênero/sexo destacado na seção
anterior procede de uma generalização que não corresponde inteiramente à
realidade, pois está baseado em análises dessa variável isoladamente. Do cruza-
mento entre a variável gênero/sexo com outras variáveis independentes como
classe social, idade, ou com a variável estilo de fala, podem emergir padrões de
correlação diferenciados que apontam a relatividade das correlações entre uso
de variantes linguísticas e o gênero/sexo do falante.
A interação entre gênero/sexo e classe social faz sobressair o fato de que
as diferenças linguísticas entre homens e mulheres podem ser mais ou menos
acentuadas em função da classe social a que eles pertencem. De forma geral,
as diferenças entre a fala de homens e mulheres são mais salientes nos grupos
sociais intermediários (normalmente classe média) do que nos grupos extremos
(classe baixa e classe alta). É o que se pode verificar na figura abaixo, referente
ao uso da fricativa interdental [ ] no inglês de Detroit, que pode ser ou elidida e
realizada como uma fricativa labiodental (Wolfram, 1969:92)_

80

70 men __ ---"!E

60
%[f][t]
50
women
40

30

20

10

o UM LM UW LW
Social class

--
---
--_.-

_ ....
- ..-

- ._--- _. --_._-

-- -
_. .

--- ----_. _ .

- . ---

. .
-- ._-
38 Introdução à Sociolinguística

o primeiro aspecto saliente na figura 1 é a consistência dos resultados para


homens e mulheres nos quatro grupos sociais considerados 1 com a tendência mais
-
-- geral já ressaltada: em todos eles, os homens apresentam maior ocorrência das
variantes não padrão (elisão ou fricativa dental), enquanto as mulheres apresentam
--
índices mais altos da variante padrão (a fricativa interdental). Note-se, porém,
= que a diferença entre falantes do sexo masculino e feminino varia em função da
= classe social considerada: elas são significativamente maiores na classe traba-
-
-
lhadora alta e tendem a se reduzir nas duas classes extremas (classe média alta e
====::::
- classe trabalhadora baixa). Essa estratificação diferenciada pode ser indicativa de
= que, mesmo no interior de uma mesma comunidade de fala, os papéis masculino
- e feminino podem se organizar de forma distinta em diferentes subgrupos das
-
- comunidades de fala.
Para ilustrar a relatividade do efeito da variável gênero/sexo em função do estilo
de fala, retomemos ojá mencionado estudo de Labov sobre a variação de pronúncia
rpós-vocálico em Nova York (Labov, 1972). As diferenças entre homens e mulheres
no uso da variante padrão, a pronúncia retroflexa, são mais acentuadas em estil -
de fala mais cuidados, ou seja, naquelas situações em que o falante dispensa mai
atenção à sua própria fala, e são menos expressivas ou tendem a se neutralizar
estilos de fala mais informais, em que emerge de forma mais evidente a varian ~
vemacular. O aumento do índice da variante padrão na fala feminina é proporcio
ao aumento do nível de formalidade do discurso. Essa forma de interação par
indicar que a sensibilidade feminina ao valor social das variantes linguísticas é,
certa forma, controlada pela própria situação de discurso.
O efeito da variável gênero/sexo em função da idade do falante pode
demonstrado pelo processo variável de concordância entre os elementos
sintagma nominal. Como já mostramos na tabela 1, essa variação é sensível
diferenças de gênero/sexo. Os resultados da tabela 4, reproduzida de Scher _
(1996, p.2S1), apontam, no entanto, que o efeito dessa variável não é sistemá .
em todas as faixas etárias.

Tabela 4- Atuação da idade e sexo no uso da concordância nominal

":"_. FAIXA ET ÁRIA 7-14 anos 15-25 anos 26-49 anos 50+ anos __ ----
Homens 240/642 37% 483/894 54% 543/1148 47% 497/1269 39-
-- .39 .50 .41 .39
Mulheres 333/647 51% 561/1004 56% 912/1220 75% 750/1209 6:-
.52 .50 .70 .59

I. Na figura I, UM equivale à classe média alta, LM à classe média baixa, UW à classe trabalhado
LW à classe trabalhadora baixa.

"-

"----- -~--

--

-"

" -

"

""
--- ----
-- -
--- A variável gênero/sexo 39
--- - -

Na segunda faixa etária (15 a25 anos), os pesos relativos para homens e mu-
lheres são idênticos, indicando uma neutralização do efeito da variável nesse grupo
de falantes. Ao contrário, nas faixas etárias mais avançadas (26 a 49 anos e acima
de 50 anos), constata-se significativa diferença dos valores estatísticos associados
a homens e mulheres, com as últimas apresentando uma tendência muito maior de
utilização de todas as marcas de plural. A forte interação entre as variáveis gênero/
sexo e idade é ressaltada igualmente por Kemp (1979), a partir da reanálise de
diversos processos de variação no francês de Montreal. Homens e mulheres mais
jovens apresentam grande semelhança de comportamento linguístico, enquanto
homens e mulheres mais velhos tendem a apresentar diferenças mais notáveis.
Além das interações já ressaltadas, outros indícios de diferenças entre ho-
mens e mulheres podem ser depreendidos através do controle de outras variáveis
como mercado ocupacional, influência da mídia ou grau de escolarização, como
mostram Oliveira e Silva & Paiva (1996). A variável mercado ocupacional e atua
de forma mais relevante entre os homens do que entre as mulheres. Já na faixa
etária de 15 a 25 anos, pode-se verificar que os homens apresentam um processo
de ajuste sociodialetal mais evidente, com aumento significativo de variantes
consideradas padrão. Uma diferença que pode ser devida, pelo menos em parte,
ao fato de que, em nossa sociedade, os homens são, desde cedo, educados para
obter sucesso profissional e assumir o sustento familiar.
De forma diferente, constata-se que a variável mídia (em particular a televi-
são) possui efeito mais notável entre os falantes de sexo feminino, principalmente
na quarta faixa etária (acima de 50 anos). Quanto maior o tempo de exposição
à linguagem veiculada pela mídia, maior a ocorrência de variantes prestigiadas
na linguagem das mulheres. Uma interpretação possível dessa particularidade
é a diferença, não apenas quantitativa (mulheres passam mais tempo diante da
televisão) como também de atitude de homens e mulheres no que se refere a
esse meio de comunicação. Os homens tendem a manifestar maior reserva com
relação à mídia televisiva do que as mulheres.
Há indicações ainda de que o processo de escolarização atua de forma mais
nítida sobre as mulheres do que sobre os homens (cf. Oliveira e Silva & Paiva,
1996). A mulher se revela mais receptiva à atuação normativa da escola, mais
predisposta à incorporação de modelos linguísticos.

Gênero, atitude, sensibilidade

A questão que se coloca para o sociolinguista é a de explicar os padrões re-


gulares depreendidos em diferentes pesquisas e a natureza das possíveis diferenças
linguísticas entre homens e mulheres. É necessário cuidado para não tomar como
fatos indicações que só podem ser interpretadas no plano simbólico. O fato de

I -- - ---

---- -

---~-~- -

--

- - -

----

- _.-

- - ._- . -

-- -

-- - - -
40 Introdução à Sociolinguística

as mulheres se revelarem linguisticamente mais conservadoras ou mais orien-


tadas para variantes de prestígio em algumas comunidades de fala pode ser, em
grande parte, resultado de um processo diferenciado de socialização de homens
e mulheres e da dinâmica de mobilidade social que caracteriza cada comuni-
dade de fala. Tanto a preferência feminina pelas formas linguísticas socialmente
prestigiadas, tendência mais regular em comunidades de fala ocidentais, como a
predominância de variantes socialmente estigmatizadas na fala feminina, como
no já citado exemplo do árabe, refletem a rigidez da separação entre os papéis
sociais atribuídos a homens e mulheres, a maior ou menor amplitude das redes so-
ciais de que eles participam e as restrições de mobilidade social impostas à mulher.
Para explicar a regularidade da correlação entre processos variáveis e
a variável gênero/sexo, Trudgill (1974) avança a hipótese de que os homens,
diferentemente das mulheres, atribuem um prestígio encoberto (covert prestige,
Labov, 1972) às formas linguísticas. As variantes linguísticas estigmatizadas pela
comunidade de fala possuem, muitas vezes, uma função de garantir a identidade
do indivíduo com um determinado grupo social, um sistema de valores definido.
Isso é, são formas partilhadas no interior de um grupo e assinaladoras de sua
individualidade com relação a outros grupos sociais. Se um indivíduo deseja
integrar o grupo, deve partilhar, além das suas atitudes e valores, a linguagem
característica desse grupo. Nesse caso, determinadas formas de linguagem se
investem de um status particular, embora sejam desprovidas de prestígio na
comunidade linguística em geral.
De certa forma, pode-se dizer que os homens estão mais sujeitos à influência
do prestígio encoberto das formas linguísticas do que as mulheres, dado que eles
possuem mais mobilidade social e maior oportunidade de participação em grupos
sociais fechados. Diferentemente, as mulheres, em muitos casos mais concen-
tradas em atividades domésticas, possuem menos oportunidades de experiências

11 coletivas que exijam a coesão do grupo.


A maior consciência feminina ao status social das formas linguísticas pode
ser atribuída também ao maior formalismo associado aos papéis femininos e ao
fato de a posição da mulher na sociedade estar menos assegurada do que a do
homem. Tal formalismo, transferido para as situações interacionais vivenciadas
pela mulher, se traduz na necessidade de resguardar a face e de manifestar um
comportamento que garanta sua aceitação social.
Muitos dos papéis tradicionalmente atribuídos à mulher lhe exigem uma
conduta irrepreensível. Um exemplo emblemático é a sua responsabilidade na
educação dos filhos. Tomando para si a carga de transmissão de normas de com-
portamento, dentre eles o linguístico, a mulher se vê na contingência de apresen-
tar-se como modelo. Labov (1972, p. 30 I) sugere, por exemplo, que "a influência
crucial da mulher nos primeiros estágios de aquisição da linguagem as equipa
com uma sensibilidade especial". O próprio autor assinala, no entanto, o fato de
A variável gênero/sexo 41

que, no estágio atual das pesquisas, a maioria de nossas explicações é apenas


especulação, porque os padrões de correlação não são fixos e inteiramente
consistentes.
Qualquer explicação das diferenças linguísticas entre homens e mulheres
deve ser relativizada em função do grupo social considerado. A coatuação das
variáveis gênero/sexo e classe social é uma indicação possível de que, nas clas-
ses intermediárias, a divisão de papéis pode ser mais rígida do que nas classes
trabalhadoras. A depender da sociedade considerada, é frequente, por exemplo,
que as mulheres, muito mais do que os homens, assumam a direção familiar e
ampliem sua rede de contatos sociais'. De forma semelhante, a coatuação entre
gênero/sexo e idade pode ser tomada como um indicador da diluição das fron-
teiras nítidas entre papéis femininos e papéis masculinos nas faixas etárias mais
jovens da população.
Além disso, a possibilidade de reversão da tendência feminina às formas
linguísticas prestigiadas, por exemplo, nos estudos sobre o árabe falado em al-
gumas comunidades, mostra que em sociedades onde a mulher tem menor parti-
cipação na vida pública, a variedade mais prestigiada, no caso o árabe literário,
é do domínio masculino',

Considerações finais

Evidentemente, qualquer explicação acerca do efeito da variável gênero/


sexo requer uma certa cautela, vistas as peculiaridades na organização social de
cada comunidade linguística e as transformações sofridas por diversas sociedades
no que se refere à definição dos papéis feminino e masculino. A esse respeito a
interação entre gênero/sexo e a variável idade fornece alguns elementos de reflexão.
Se nos situamos no contexto cultural das sociedades ocidentais, a predominância
de variantes padrão entre mulheres mais velhas reflete uma forma de organização
mais rígida em que ao homem cabe desempenhar seu papel de homem e à mulher
seu papel de mulher. Dentre as boas atitudes que se espera de uma mulher está o
uso de uma linguagem mais correta, condizente com a sua condição feminina.
Transformações na organização social podem estar subjacentes à neutrali-
zação do efeito da variável gênero/sexo nas faixas mais jovens da população. A
aproximação do comportamento linguístico de falantes mais jovens pode ser um
reflexo de que, nessa faixa etária, reconfigura-se a atuação do homem e da mulher
na sociedade, com diluição das fronteiras entre papéis femininos e masculinos.

2. Essa interação entre gênero/sexo e outras variáveis fornece argumentos contrários a uma explicação biológica
que faça referência às diferenças cerebrais entre homens e mulheres.
3. É preciso considerar, no entanto, que o árabe literário não é uma variedade vernacular, mas sim uma espécie
de norma supranacional, o que instala nesse caso uma situação de diglossia.
42 Introdução à Sociolinguística
-
- --
---_ _-
----=
-
Trabalho, lazer, atividades domésticas são compartilhados de uma forma que
..

:..-~ ._------
.-=-=----- desfaz os estereótipos inerentes aos papéis masculino e feminino na sociedade.
--- Essas modificações, assim como se manifestam em outras práticas sociais, podem
se refletir no uso linguístico, seja alterando os padrões de correlação estatística,
seja anulando o efeito da variável.

Exercícios
l-No estudo de algumas variações fonológicas, as diferenças cons-
tatadas na linguagem de homens e mulheres foram muitas vezes
atribuídas a diferenças no aparelho vocal. Você concorda que dife-
renças linguísticas entre os sexos possam ser devidas às diferenças
biológicas?

2- A maior sensibilidade feminina ao prestígio das formas linguísticas


pode ser verificada através de testes de percepção e avaliação de
variantes linguísticas. Seria interessante tentar comprová-lo através
de uma pequena pesquisa. Tome uma variávellinguística cujas va-
riantes se distingam quanto ao valor social (variante estigmatizada
e variante não estigmatizada). Submeta-as a falantes do sexo mas-
culino e do sexo feminino, solicitando-lhes sua avaliação. Você pode
formular questões como:
- há diferenças entre as duas (ou mais) formas de falar?
- você acha que uma delas é melhor do que a outra?

3- Solicite a um grupo de falantes de ambos os sexos a narração de


uma experiência de risco de vida. Compare as narrativas, observando
as diferenças entre homens e mulheres na estruturação do texto.

--

... ----

--

._---

_ .. :.

__ o _- __

~~---------------==-----------------------------------------~~
_ ..

--
..
5, O dinamismo das línguas

Anthony Julius Naro

Introdução
Todos sabemos que as línguas mudam com o tempo. Basta compararmos
o português com o latim, ou até com o próprio português da época medieval,
para notarmos diferenças em todos os níveis, desde a semântica até a sintaxe,
passando pela fonologia, pelo léxico, pela morfologia, etc.
Esta mudança a longo prazo, através dos séculos, não se processa de
maneira instantânea ou abrupta, como se numa determinada manhã a população
inteira acordasse falando de maneira diferente da do dia anterior. De fato, as
mudanças linguísticas normalmente se processam de maneira gradual em várias
dimensões. Nos eixos sociais, por exemplo, os falantes mais velhos costumam
preservar mais as formas antigas, o que pode acontecer também com as pessoas
mais escolarizadas, ou das camadas da população que gozam de maior prestígio
social, ou ainda de grupos sociais que sofrem pressão social nonnalizadora, a
exemplo do sexo feminino de maneira geral, ou das pessoas que exercem ativida-
des socioeconômicas que exigem uma boa apresentação para o público. E mesmo
uma única pessoa pode escolher uma forma mais conservadora numa situação
formal, preferindo outra forma mais atual em conversa informal,
Os eixos da própria estrutura linguística não são diferentes: num dado mo-
mento do processo de mudança, certos itens lexicais ou determinadas estruturas
podem ser mais propensos a mudar, a exemplo da espirantização das sibilantes
no Rio de Janeiro, praticamente limitada aos itens mesmo [rnehm"] e gente [henj']
no momento atual.
Concluímos, então, que a mudança linguística não é absolutamente me-
cânica e regular a curto prazo. Em qualquer estado real da língua, costumam
coexistir formas de diversos estágios de evolução, apesar do fato de que a longo
prazo normalmente no espaço de várias gerações a mudança quase sempre
acaba afetando todos os itens lexicais e todas as estruturas de um determinado
tipo. Uma mudança pode ser limitada por um determinado contexto estrutural
(por exemplo, as surdas se tomam sonoras entre vogais), mas neste contexto elas
não admitem exceções. Isto é, a famosa "hipótese dos neogramáticos". Temos,
portanto, um conflito aparente entre o curto e o longo prazo.

I
~~ - -
- -~

-- --~~

~ ~-

~.

--- ~

~- ~
-- ~
44 Introdução à Sociolinguística
--
Idade e mudança linguística

Nesta unidade, vamos examinar mais detalhadamente a questão da relação


da mudança linguística com a idade do falante. No português atual do Rio de
Janeiro, podemos apontar vários fenômenos em que a idade atua fortemente:
seul dele: Para se referir ao possessivo da terceira pessoa (exem-
plo: o livro delelo seu livro), os jovens de 25 anos ou menos estão
usando pouquíssimo a forma seu para a terceira pessoa, preferindo
reservá-Ia para a segunda pessoa;
nósla gente: Os jovens estão evitando a forma nós e usando mais
a gente;
ir: Os jovens estão evitando as regências ir a e ir para, preferindo
irem.

No caso dos fenômenos listados, e muitos outros, os falantes adultos tendem


a preferir as formas antigas, criando uma situação estranha, pelo menos à primeira
vista: existem pessoas que, apesar de estarem em interação constante (do tipo pa
filho), costumam falar de maneira distinta. Entretanto, isso não chega a compro-
meter a comunicação, já que ambos os lados são capazes de utilizar e entender
todas as formas. Trata-se apenas de uma tendência em direção a outra forma. Com
o correr do tempo, é provável que a forma nova seja adotada por todos.
Até aqui consideramos a mudança linguística seja a curto ou a longo prazo
em função da comunidade ou grupos componentes da comunidade. Mas é o indiví-
duo quem fala e quem muda ou deixa de mudar sua maneira de falar. No estágio
atual da ciência da linguagem, não sabemos ao certo até que ponto a língua falada
pelo indivíduo pode realmente mudar no decorrer dos anos. Existem duas posiçõ
teóricas, ambas sem evidência empírica convincente. A primeira posição que po-
demos rotular de "clássica", já que é normalmente aceita por uma grande maioria d
linguistas, desde os gerativistas até os sociolinguistas postula que o processo
aquisição da linguagem se encerra mais ou menos no começo da puberdade e que
partir deste momento a língua do indivíduo fica essencialmente estável. Segundo e
posição, a gramática do indivíduo não pode sofrer mudanças significativas porque
acesso aos dispositivos cognitivos que possibilitam a sua manipulação (a chama
=
faculdade da linguagem) fica bloqueado, uma hipótese que se apoia na psicolo
desenvolvimentista. Quaisquer eventuais mudanças seriam apenas esporádicas
troca de uma palavra por outra, troca de pronúncia de uma palavra, etc.

-
-
-
- Mudança em tempo aparente
=
Sob a hipótese clássica, o estado atual da língua de um falante adulto refie
-
- estado da língua adquirida quando o falante tinha aproximadamente 15 anos de i
=
= ._~
I

- - -
---
-

-- - --
o dinamismo das línguas 45

Assim sendo, a fala de uma pessoa com 60 anos hoje representa a língua de quarenta
e cinco anos atrás, enquanto outra pessoa com 40 anos hoje nos revela a língua de há
apenas vinte e cinco anos. A escala em tempo aparente, obtida através do estudo de
I' falantes de idades diferentes, é chamada "gradação etária". Ela corresponde, sempre
sob a hipótese clássica, a uma escala de mudança em tempo real.
Podemos esquematizar essas escalas como se segue:

Idade atual Estado da língua


(em anos) (anos atrás)
70 55
60 45
50 35
40 25
30 15
20 5

Por exemplo, em uma gravação feita em 1990, a fala de uma pessoa então
com 70 anos de idade representaria o estado da língua adquirida em 1935.
Um estudo muito detalhado usando o conceito de tempo aparente foi levado a
cabo em Martha's Vineyard, uma ilha relativamente isolada situada perto da costa do
estado de Massachusetts, nos Estados Unidos (Labov, 1972). O fenômeno em foco
era a centralização do núcleo do ditongo /aw/ (como nas palavras now, "agora"; out,
"fora"; round, "redondo"), que estava se deslocando da posição [a] (o primeiro a
em casa), padrão na Nova Inglaterra, para a posição do [a] "shwa" (mais próximo
do segundo a de casa), passando pelo [A] (do inglês but, "mas").
Classificando os sons impressionisticamente, sem a ajuda de qualquer
aparelho eletrônico, Labov conseguiu distinguir quatro graus de centralização,
denotados (aw)-O (a posição mais baixa, correspondendo a [a]) até (aw)-3 (a
posição mais alta, correspondendo a "shwa"). Na Figura I, quatro páginas adian-
te, estão representadas as três posições centrais clássicas do alfabeto fonético,
correspondentes à escala de quatro posições utilizada por Labov. A partir dos
dados classificados de acordo com o esquema de Labov, podemos construir um
índice de centralização para qualquer falante ou grupo de falantes: precisamos -
apenas calcular a média dos graus atribuídos às vogais produzidas e multiplicar
o resultado por cem. Assim, um índice perto de zero significa que o falante (ou
grupo) quase não centraliza, e um índice perto de 300 representaria uma produção
quase sempre centralizada no grau mais alto.
A pesquisa em Martha's Vineyard revelou que os velhos estavam preser-
vando mais a forma original não centralizada e os mais jovens estavam utilizando
cada vez mais centralização, como se mostra na Tabela 1:

...

-_.

-_._.-
::.::..=-- .

..... __ . .

.- . .

_ .....
.

.
46 Introdução à Sociolinguística

I Tabela 1- Mudança de (aw) em tempo aparente através de duas gerações


em Martha's Vineyard (LABOV, 1972, p. 22)

!!I Gera ão
I (pais)
Idade
75+
Índice de aw
22
61-75 37
II (filhos) 46-60 44
31-45 88

A tabela mostra uma tendência clara em termos de comunidade. A centra-


lização está se espalhando com força e rapidez. No espaço de uma única geração,
o grau médio de centralização já quadruplicou, passando de 22 a 88. A represen-
tação gráfica dos dados da Tabela 1 na Figura 2, três páginas adiante, mostra um
padrão quase linear de diminuição de centralização com a idade.
O estudo dos indivíduos revela uma situação um pouco mais complexa já
que as médias da Tabela I nivelam certas diferenças significativas. Os falantes mais
velhos (de 80 anos de idade ou mais na época da pesquisa) praticamente usavam
apenas o grau zero, o mais aberto da escala, com uma ou outra ocorrência esporádica
do grau um. Já na faixa dos 60 anos de idade, os falantes estavam concentrados
maciçamente no grau dois antes de consoante surda (ex.: out, "fora") e no grau zero
ou um em outros contextos (ex.: round, "redondo"; now, "agora"). Na faixa de
30 anos de idade, o condicionamento já se tornava quase categórico: grau dois ou
três antes de consoante surda; grau zero ou um nos demais contextos. Estes dado
em tempo aparente retratam com impressionante detalhe o processo de mudança
linguística em progresso, desde o começo (ocorrência esporádica de variantes ma'
altas) até a instauração do condicionamento categórico tão enfatizado pelos neo-
gramáticos (variantes mais altas antes de consoante surda, variantes mais baixas
nos outros contextos)", O que permite esta visão simultânea das diversas etapas
do processo dinâmico de mudança é o congelamento do sistema linguístico do
falante na época da puberdade, e é justamente este o postulado fundamental qu
subjaz à hipótese clássica do relacionamento entre mudança linguística e idade
o processo da mudança se espelha na fala das sucessivas faixas etárias.
O primeiro estudo aproveitando a técnica de tempo aparente foi feito n
início do século passado por um jovem pesquisador (Gauchat, 1905) que visito
uma aldeia na Suíça e notou que nas palavras em que as pessoas mais velhas

I. Os "neograrnáticos", ou "grarnáticos jovens", constituíram um movimento na Alemanha ao final do sé


19, alegando que a mudança fonética é um processo absolutamente regular que não admite nenhuma exc -
(a não ser as exceções motivadas por analogia). A visão oposta, hoje conhecida como "difusão lexical", aI _
que cada palavra tem sua própria história e que é perfeitamente possível que determinado som, em determi
contexto, mude de maneira diferente, ou até que deixe de mudar, em cada palavra em que ocorre. Este de
continua atualmente. Na grande maioria dos casos, a posição dos neogramáticos parece correta para o I _
prazo, enquanto a difusão lexical se verifica no curto prazo.

_ .. '-
-- - ... -

.. . --- ..

--- ..

.
-
._-_ ...--

-
... _ ..

.
- ._-
.. __ ... --
..

.-

.... -

.... ..

-
----=
-- -::::...-----=--:==--~-_:::
----_.~
o dinamismo das línguas 47
--

usavam a lateral palatal [1-,,] (escrito lh em português), os mais jovens preferiam


[y], enquanto os de meia-idade usavam ambos os sons. De maneira semelhante,
onde os falantes de mais idade pronunciavam o som [8] (como na palavra inglesa
think), os mais novos usavam [h], e os de meia-idade oscilavam entre uma variante
e outra. Estas escalas em tempo aparente levaram o pesquisador a postular que
os sons [À] e [8] estavam em processo de extinção no dialeto e que futuramente
seus substitutos seriam [y] e [h]. Vinte e cinco anos mais tarde esta previsão
foi confirmada, embora apenas parcialmente, por outro pesquisador (Hermann,
1929) que visitou a mesma aldeia. Hermann notou que [À] já havia praticamente
desaparecido da fala local e concluiu que o processo de mudança previsto por
Gauchatjá estava concluído: todos os falantes, independentemente da sua idade,
usavam apenas [y]. A variação entre [y] e [h], entretanto, ainda possuía pleno
vigor, indicando que a previsão inicial de mudança neste caso não era correta.
Os falantes que eram jovens em 1905 e preferiam [h], em 1929 estavam variando
entre [y] e [h]. Em outras palavras, a interpretação correta do status do som [y]
era que se tratava de uma característica da fala de pessoas de faixa etária superior.
Aparentemente, na medida em que os falantes iam chegando a esta fase da vida,
iam adotando a variante apropriada à sua idade, contrariando a hipótese clássica
de estabilidade linguística a partir da fase de puberdade.
Embora sem dúvida muito interessante, a hipótese clássica esconde algumas
dificuldades. Em primeiro lugar, como acabamos de ver, nem toda variação na fala
representa mudança linguística em progresso. Existem muitos outros casos bem
conhecidos de variação estável, como a pronúncia do morfema -ing em inglês (ex.:
walking, "andando"), que pode ser realizada como velar [1)] ou dental [n], ou do
fonema th, que pode aparecer como contínua [8, õ] ou oclusiva [d] (ex.: think,
"pensar"; this, "este"). Estas variações já estão atestadas há vários séculos nas
gramáticas da língua inglesa e continuam existindo hoje em dia em praticamente
todos os dialetos do inglês falados no mundo inteiro, seja na velha Inglaterra, seja
nos países de colonização inglesa desde a América até a Austrália. Não mostram
qualquer evidência de perda de vitalidade, apesar do passar dos séculos.
A média do grau de realização de uma variação estável, tal como a mudança em
progresso, pode depender da faixa etária do falante. Entretanto, neste caso não costuma
aparecer o padrão quase linear da Figura 2 mas um padrão curvilinear em que os grupos
extremos osjovens e os velhos apresentam o mesmo comportamento, contrastando
com a população de meia-idade. Por exemplo, um estudo da variável (ng) através do
tempo aparente em Norwich, na Inglaterra, revelou (Chambers & Trudgill, 1980)
o padrão da Figura 3, três páginas adiante. Neste gráfico, a variávellinguística (ng)
é representada através de uma média de grau de dentalização, onde os números
mais altos significam uma produção mais concentrada em realizações dentais, às
custas da velar da língua standard. Os dados nos mostram um aumento do uso da
velar standardno momento do ciclo da vida em que diminuem pressões sociais do
círculo imediato de amizades do adolescente e aumentam os contatos ditados por

--

------- --~ -_._. - --_.


_::- _._-- - --_.-

-- --

---- ---

-- --- _:- ._-_.

- -

.. -- ---- -

._- --

--
48 Introdução à Sociolinguística

necessidades profissionais ao entrar efetivamente no mercado de trabalho. Nesta


nova etapa da vida, os valores da sociedade começam a se impor e o círculo social
se alarga com os novos contatos. Finalmente, ao se retirar do mercado de trabalho
quando da aposentadoria, as pressões da sociedade e do mercado deixam de agir.
As conclusões a que chegamos através da análise da Figura 3, bem
como da variação entre [y] e [h] na Suíça, contradizem frontalmente a hipótese
clássica: acabamos de concluir que o falante muda a sua língua no decorrer dos
anos enquanto a hipótese clássica pretende a estabilidade da língua depois da
puberdade.

Tempo aparente versus tempo real


A questão que se coloca naturalmente é: "qual é a posição certa?" Infeliz-
mente, o problema é até mais complexo do que parece à primeira vista, porque
temos que levar em conta não apenas o indivíduo, mas também a comunidade
em que se insere. Em relação ao sistema linguístico, a visão clássica prevê a
estabilidade do falante (após a puberdade), mas a instabilidade da comunidad
com o correr do tempo. Na medida em que o falante vai mudando de faixa etária,
muda a distribuição das variantes na comunidade. De acordo com esta visão d
estabilidade ao nível do indivíduo, daqui a vinte anos, por exemplo, os falantes
de 70 anos de idade então estarão falando como os de 50 anos hoje, e não come
os de 70 anos hoje. A outra possibilidade que estamos considerando admite q
o sistema linguístico do indivíduo muda, mas não o da comunidade. Em noss
exemplo, daqui a vinte anos, os falantes de 70 anos de idade terão o mesmo siste
que os de 70 anos hoje, apesar de terem que mudar os seus padrões linguístic
durante o intervalo de vinte anos entre os 50 e os 70 anos de idade.
Para estabelecer os fatos, seriam necessárias extensas pesquisas empíri
sobre o comportamento tanto do indivíduo como da comunidade durante vári
gerações. De fato, vários grupos de pesquisadores ao redor do mundo, inclu i
os grupos PEUL, NURC e outros no Brasil estão empenhados em obter da
sobre a situação de diversas línguas neste momento. Ainda não temos mui
respostas; entretanto, os resultados obtidos até o momento apontam para •....
terceira possibilidade: o indivíduo muda com o correr do tempo, mas não ati =
precisamente a mesma posição em que estão os falantes mais velhos hoje. P
contrário, a tendência é exceder esta marca, indo na direção da deriva e a -
implementando a mudança linguística.

-_ - .
... _--

.-
- -------_.
o dinamismo das línguas 49

.
1
u

e o

Figura 1- O trapezoide das vogais: a flecha indica a direção de movimento do


primeiro elemento de (aw).

~
;z

~ (aw)

'"~
...•
~
'".,.
;;

.,.
o

'"...•
Figura 2
34 38 42 46 50 54 58 62 66 70 74 78 82

IDADE

Índice de centralização por nível de idade


Geração Idade (aw)
Ia + de 75 22
1b 61-75 37
lIa 46-60 44
11b 31-45 88

- - --

--

~-- ~--- ---

~
- ~ -------
~
~- ~-~--~ -
~~ - - -~- --

-- ~~~
~ - - - -

~ -

~
-

~
~-- .
50 Introdução à Sociolinguística

(ng) Índice

100

80

60

40

CS estilo casual
20
FS estilo formal

o
10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70
Idade

Figura 3- (ng) em Norwich por idade e estilo.

S-ar putea să vă placă și