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06/12/2010
DANIEL CORBAN
RODRIGUES RICARDO DIREITO ROMANO
LOPES CAVALCANTI
Direito Romano
2
Turma: Direito2010-I
Turno: Noturno
Apresentação
O presente trabalho se embasa na abordagem sobre o Direito Romano da obra de
Bartolomé Clavero, professor catedrático de história do direito na Universidade de Sevilha, na
Espanha. Seu texto foi traduzido pelo professor doutor da Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, João Luiz Ribeiro. As fontes usadas para a elaboração e formação deste vão além.
Traça-se um paralelo relacionando tal publicação de Clavero à bibliografia referencial, como as
importantes obras de Michèle Ducos, René Foignet, do próprio Digesto de Justiniano e do
professor da Faculdade de Direito da USP, Gaetano Sciascia, além de outros que foram usados
para complementar as ideias presentes.
Mesmo que o essencial para o estudo do direito romano nos tenha chegado de
maneira mitigada, o seu estudo se tornou bem difuso, o que torna impossível que uma obra
aborde, sem negligenciar qualquer tema, todo o seu rico universo. Ora, o direito romano é
considerado o germe do direito contemporâneo, mas o fato de ser precursor contradiz com a
sua grandeza. Como a omissão é algo reconhecidamente inevitável, a presente obra visa
salientar os ramos vistos por nós como os mais importantes.
Como de praxe, as contradições dos historiadores são pontos onipresentes nas obras.
Porém, vemos tal característica como um importante modo de desenvolver no leitor a sua
própria interpretação dos fatos. Poder-se-á encontrar na obra diversos conflitos evidentes,
cujos quais evitamos corrigir por perceber neles suma importância para o desenvolvimento do
saber através da gloriosa dialética.
Os autores
Direito Romano
4
CAPÍTULO 1
Direito e Justiça
Clavero explica a correspondência entre direito e justiça remontando-nos a antiga
definição latina de direito, ius1. Entretanto, direito é a ideia mais próxima e adequada de ius,
mas esta não é sua real tradução. Não que ela seja desconhecida, cabe frisar, mas não há exata
correspondência com nenhuma palavra portuguesa 2. Desta forma, para melhor responder o
que seria o ius, no mundo romano, Bartolomé Clavero propõe uma matização da definição.
Hélcio Madeira traduz as palavras de Ulpiano que ensina que “é preciso que aquele
que há de se dedicar ao direito primeiramente saiba de onde descende o nome “direito” (ius).
Vem, pois, de “justiça” chamado. De fato, como Celso elegantemente define, direito é a arte do
bom e do justo6”. Ora, parece-nos uma obviedade quase incontestável afirmar que o direito
emana da justiça, mas etimologicamente falando não nos parece adequado afirmar que o
direito descende de justiça, haja vista que iustitia (que significa justiça) é que deriva do ius,
tornando, outrossim, equivocada a linha dedutiva que instaurou invitamente essa ideia. Esta
confusão decorre da difícil tentativa de enredar o matizado direito ao ius, que muitas vezes
resulta em correlações malogradas. Parece-nos mais adequado manter o texto de Ulpiano,
ligando o direito a iuris, pois o ius é uma ideia tão intangível quanto o próprio conceito de
justiça7; ou até mesmo aceitá-lo como direito, mas num conceito diverso do que entendemos
pelo termo, como Clavero ditosamente define: ius é, então, direito, com seu universo próprio e
não emprestado de derivações.
1
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 9
2
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 10
3
Esse ordenamento era chamado pelos próprios romanos de ius civile, direito civil.
4
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 10
5
Digesto de Justiniano – Introdução ao Direito Romano. 3ª edição revista da tradução de Hélcio Maciel
França Madeira. p. 17
6
Iuris operam daturum prius nosse oportet, unde nomen iuris descendat. Est autem a iustitia
appellatum: nam, ut eleganter Celsus definit, ius est ars boni et aequi. (Digesto de Justiniano -
Introdução ao Direito Romano. 3ª edição revista da tradução de Hélcio Maciel França Madeira. p. 17)
7
Baseamo-nos nas ideias platônicas do mundo das ideias.
Daniel Corban Rodrigues e Ricardo Lopes Cavalcanti
5
Capítulo 2
Direito e Moral
A moral deriva do termo latino mos, que para os romanos possuía o mesmo significado
que costume, este por sinal sempre teve um importante papel na formação do direito romano,
tido como fonte única do direito no período da Realeza e com forte papel na República como
fonte das leis editadas nos períodos subsequentes.
Sua importância era tamanha que para muitos o Direito constituía apenas uma parte
da moral, o próprio preceito do Direito de Ulpiano (viver honestamente, não lesar a ninguém,
dar a cada um o que é seu) tem forte carga moral. Este costume era fruto de condutas
repetidas de maneira constante e uniforme e por isso aceito tacitamente pela sociedade 8. Por
este motivo não cabia a ninguém o poder de criar e modificá-los.
Na Realeza a moral caminhava lado a lado com a religião, logo o costume tinha um
caráter indisponível, já que sua declaração derivava de ações sacerdotais baseadas em dogmas
e crenças. Já no período da República esse fato começa a se modificar, com os jurisconsultos
participando mais ativamente no diagnóstico e na interpretação dos costumes da sociedade.
Essas interpretações não tinham força de norma, porém com o passar do tempo as
decisões dos jurisconsultos adquiriam cada vez mais força devido ao prestigio que possuíam no
Estado romano. Isso acabou por gerar um novo direito costumeiro, tendo em vista que os
magistrados embasavam seus editos e decisões para por em serviço do ordenamento em que
as autoridades constituídas não possuíam. Os mors, de onde se origina “moral”9, continuaram
desempenhando papel importante durante toda historia romana.
8
Cf.
9
LOURENÇO
Direito Romano
6
CAPÍTULO 3
Fontes do direito
As fontes do direito são sem dúvida um dos mais importantes temas do direito
romano, como de qualquer outro estudo da evolução histórica do direito, pois não há como
entender o direito sem conhecer os elementos formadores. É sabido que o direito emana da
constante vontade de se fazer justiça, no entanto essas fontes não dimanam necessariamente
do justo, da justiça; está intimamente ligada à organização política, ao sistema político 10.
Essas fontes são meios pelos quais se formam ou pelos quais se estabelecem as
normas jurídicas. São os órgãos sociais de que dimana o direito objetivo. 11 Relativiza-se as
fontes conforme o espaço e o tempo, mas em geral, podemos elencar as fontes romanas em
escritas (leis, plebiscitos, senatosconsultos, constituições imperiais, edito dos magistrados,
jurisprudência, etc.) e fontes não-escritas (costume) 12.
Foignet enreda o costume (mos maiorum) ao direito não-escrito (ius non scriptum), e o
conceitua como o “conjunto de regras aceitas por todos como obrigatórias, sem qualquer
proclamação ou reconhecimento de um poder legislativo estabelecido 15”. Sendo, então, o
costume um consenso geral e tácito dos cidadãos, porém sua eficácia é algo mais consciencial
que obrigacional.
Em oposição, mas não menos dogmáticos encontram-se as leis. Foignet define com
propriedade que a lei “é uma disposição obrigatória que retira a sua autoridade do consenso
formal dos cidadãos”. A lei, tal como é apresentada, não advém necessariamente de uma
aprovação de todos, mas de uma maioria social. O rei 16 propõe a lei e o povo a julga. Se aceita,
suscita a obrigatoriedade da lei para todos. Entretanto, as leis na época da realeza (754 a.C.
até o estabelecimento da república em 509 a.C.) não eram disposições de ordem geral, eram
leis particulares e circunstanciais, até porque, segundo Foignet, não houve leis de aplicação
10
Cf. Foignet, René. Direito Romano. (Publicação em domínio público) Mar/2007, p. 1
11
Conforme lição do professor Daniel Braga Lourenço, em citação [FILARDI, p. 28].
12
Ainda conforme lição do professor Lourenço.
13
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 11
14
Lourenço, Daniel Braga. Ensaio não publicado.
15
Foignet, René. Direito Romano. (Publicação em domínio público) Mar/2007, p. 3
16
Foignet define o rei como sendo o designado pelo seu predecessor ou por um senador, sendo um
soberano vitalício e com os poderes limitados pelo senado e pelo povo. É um chefe militar, religioso e
judiciário, e possui em relação a essas três esferas um poder absoluto, o imperium.
Daniel Corban Rodrigues e Ricardo Lopes Cavalcanti
7
geral17. O direito romano, o ius, é fundamentalmente obra da jurisprudência. Sendo a lei uma
atividade de caráter político.
17
Cf. Foignet, René. Direito Romano. (Publicação em domínio público) Mar/2007, p. 3
18
LOURENÇO
19
Cf. Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 11-12
20
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 13
21
LOURENÇO
22
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 13
Direito Romano
8
Mais tarde, por volta de 494 a.C., como resultado das lutas dos plebeus pelo
reconhecimento de seus direitos, foi criada a figura do “tribuno da plebe”, estes eram
representantes eleitos pela da plebe para figurar no Senado. Afinal, a própria plebe podia ser
eleita23.
23
LOURENÇO
24
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 13
Daniel Corban Rodrigues e Ricardo Lopes Cavalcanti
9
CAPÍTULO 4
Direito Subjetivo e Direito Objetivo
Na medida em que é concretizado o direito pela jurisprudência, entender-se-á por ius
não só a ordem objetiva à qual se sujeita a sociedade e seus indivíduos, mas também a
faculdade que tal ordenamento gera, as possibilidades de disposição e ação que o mesmo
permite e ampara. O ius passa a ser percebido não como um ordenamento que se impõe, mas
como uma faculdade de que se dispõe25.
Clavero conceitua que o Ius “não é liberdade subjetiva, e sim poder social, mas não o
poder da sociedade sobre o sujeito, e sim dos sujeitos que, por serem coisas como cidadãos,
ou chefes ou pais de família, o têm dentro dela. Isto se chama status, o Estado, com maiúscula,
de cada um destes poderes a par com o estado, com minúscula, de seus titulares. A própria
voz libertas, liberdade, denota um grau superior de condição, status libertatis28.
25
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p. 14
26
LOURENÇO
27
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p.15
28
Clavero, Bartolomé. Instituição Histórica do Direito (Traduzido por João Luiz Ribeiro), p.15
29
LOURENÇO
Direito Romano
10
CAPÍTULO 5
Legado Romano
No século IV ocorre uma mudança na ordem política do Império Romano, ele é
dividido em duas partes: Império do Ocidente e Império do Oriente, com imperadores
independentes. Cabe a um imperador da parte oriental Justiniano a produção das obras a que
temos acesso até os dias atuais, suas obras consistem numa enorme compilação dos textos
jurídicos dos antigos jurisconsultos com a finalidade de facilitar no oficio dos juristas. Suas
obras são, em ordem cronológica: o Codex, os Digesta, as Institutas, o segundo Codex e as
novelas. Sendo as duas primeiras as de maior importância.
i. O Codex:
Foi uma compilação das constituições imperiais em vigor na data de sua redação. Tem
como característica marcante a sua forma prática, Codex quer dizer livro, forma que
passou a vigorar em relação ao modelo antigo que consistia num volumem, um rolo
com uma tira continua enrolada. Esse código não chegou até nós.
ii. Os Digesta:
O digesto foi uma compilação de diversos fragmentos das obras dos jurisconsultos
romanos. Pelo termo Digestum se entende digerido, selecionado, ordenado. O digesto
é composto por 50 livros. Cada livro é constituído por títulos. Cada titulo é dividido em
leis ou fragmentos, devidamente identificados com o nome do jurisconsulto e a obra
em que foi extraído. Cada fragmento ou lei eram divididos em parágrafos.
iii. As Instituciones:
Foram também elaboradas a mando de Justiniano, eram na realidade um guia de
ensinamentos a respeito de conceitos fundamentais dos jurisconsultos. Era composta
por quatro livros, sendo cada livro constituído por títulos e cada titulo em parágrafos.
As Instituciones por seu valor pedagógico foram de grande importância no ensino do
Direito em Constatinopla e outros centros de estudos superiores.
iv. O Corpus Iuris Civilis:
A soma dos códigos produzidos por Justiniano(Codex, Digesta, Nouvellae e
Institutiones) foi nomeado, por estudiosos tempos depois, como Corpus Iuris Civilis
( corpo de Direito Civil) sendo considerado um monumento jurídico.
Daniel Corban Rodrigues e Ricardo Lopes Cavalcanti
11
CAPÍTULO 6
O Ius e a Religiã o
Existiram outros fatores que influenciaram o Corpus Iuris Civilis, ao contrário do
digesto o codex sofreu grande influencia imperial por concentrar o poder legislativo nas mãos
do imperador, e também na religião cristã, religião essa que não era sua original. Isto ficou
claro por diversas vezes, houve preconceito as outras religiões como restrição a não-cristão de
praticar determinados atos, outra medida de Constantino foi a total liberdade de culto ao
Cristianismo e reconheceu poder aos Tribunais eclesiásticos. O objetivo era impor o
cristianismo como religião oficial do império.
Esses fatores influenciaram o direito, porem sua participação não foi efetiva assim, o
ius continua sendo composto basicamente pela jurisprudência, que já está estabelecida como
ordenamento não podendo ser alvo de mudanças drásticas. O direito romano que originou-se
por costumes e se estabeleceu na forma e jurisprudência.
Ainda assim o poder auferido a religião cristã tomou proporções que o levaram a se
distinguir do Iuris Civilis. A religião possuía seus próprios princípios e filosofias transparecidos
principalmente pela Bíblia, suas normas carregam grande autoridade moral. Esse poder era
exercido por padres e bispos que realizavam assembléias próprias.
A essa distinção se reconheceu o nome de ius canonicum, deriva de canon que
significa regra. Esse direito tem caráter objetivo, estando assim indisponível a sociedade cristã.
Direito Romano
12
CAPÍTULO 7
O Legado do Direito
Sem sombra de duvidas ao se estudar o Direito Romano pode-se notar o tamanho de
sua importância e influencia no que hoje se entende por direito. Logo se faz necessário a
qualquer aspirante a prática do direito o estudo de Roma e sua história, pois o Direito é criado
e perpetuado em Roma. Tamanha foi sua importância que transcendeu até a sua própria
religião.
Tamanho foi seu desenvolvimento e utilidade que, até mesmo nos dias de hoje, são
aplicáveis em sociedades completamente distintas da que teve origem. E é com base nesses
entendimentos que conseguimos entender a real origem do conceito atual de Direito.
Daniel Corban Rodrigues e Ricardo Lopes Cavalcanti
13
Conclusã o
Com o presente trabalho podemos chegar a uma maior compreensão a cerca do que
foi de fato o Direito Romano. Vimos que foi mais que um aspecto cultural de um povo, foi
fruto de longo processo histórico em que o conceito de Direito não só se criou, como se
adaptou e evoluiu em conformidade com o desenvolvimento da sociedade em que surgiu.
O Ius dos romanos foi um conceito essencial que caminhou lado a lado com as
constantes mudanças da sociedade romana. Surgiu primeiramente como um conjunto de
costumes, o mos, que era o resultado de condutas que eram repetidas de modo constante e
uniforme, gerando uma aceitação tácita. Foi fonte única do Direito no período da Realeza e
continuou desempenhando importante papel nos períodos subseqüentes.