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Haroldo Mattos de Lemos

EEH 351 Desenvolvimento e Meio Ambiente

Parte 1: A EVOLUÇÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL

Prof. Haroldo Mattos de Lemos*

1. Introdução

Em sua evolução, o Homem tornou-se a forma dominante de vida na Terra, controlando outras
espécies animais e vegetais e desenvolvendo uma tecnologia que lhe permite alterar, cada
vez mais rápida e poderosamente, o ambiente em que vive. Em virtude do desenvolvimento
obtido, o ser humano, antes apenas um entre os vários organismos integrantes da biosfera,
assumiu o papel de interventor na Natureza, explorando exaustivamente os recursos naturais
e deteriorando a qualidade do meio ambiente. O processo, de certa forma inevitável, realizou-
se de maneira predatória, desordenada, sem uma preocupação permanente com possível
advento da escassez dos recursos naturais. Daí, a deterioração da qualidade do meio
ambiente e, portanto, da qualidade da nossa vida na biosfera.

O Homem vive hoje numa complexa teia de relações e interações em meio a três sistemas: a
biosfera, a tecnosfera e a sociosfera 1. Os dois primeiros compreendem as estruturas material
e energética, e o terceiro, a institucional.

BIOSFERA

HUMANIDADE

SOCIOSFERA TECNOSFERA

Figura 1 – Biosfera, Sociosfera e Tecnosfera

A biosfera inclui os horizontes da atmosfera, litosfera e hidrosfera, onde existe vida. Já a


tecnosfera abrange a estruturas construídas pelo trabalho humano no espaço da biosfera, tais
como: fazendas, barragens e lagos artificiais, centros urbanos e industriais etc. E as
comunidades organizam sua vida social e suas relações com a biosfera e a tecnosfera através
de um complexo conjunto de instituições socio-político-culturais: a sociosfera. A Humanidade
vive e interage no interior desses três sistemas, e os problemas ambientais aparecem quando
as interfaces entre eles não funcionam de forma adequada.

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Até bem poucos anos atrás, os nossos êxitos técnico-científicos nos induziam à crença de que
o ambiente artificial, por nós criado, nos levaria a prescindir do ambiente natural, que, por sua
vez, se submeteria às nossas manipulações. Os filmes de ficção científica dos anos 50 (Flash
Gordon e outros) confirmam esta crença, pois toda a ação acontecia em cavernas, túneis
cavados em rochas, salões com “modernos” equipamentos, foguetes, e raramente se via uma
área natural, com árvores e animais.

O avanço tecnológico é, no entanto, quase sempre unidimensional e compartimentado, ou


seja, procura resolver problemas específicos sem cogitar dos efeitos secundários ou colaterais
que as soluções adotadas podem acarretar à natureza. Às vezes, estes efeitos acabam por
voltar-se contra o próprio homem, constituindo-se em verdadeiros “bumerangues ecológicos".
O clorofluorcarbono é um bom exemplo: quando foi descoberto, em 1929, passou a substituir
a amônia como gás de refrigeração, e foi considerado "maravilhoso" na época, pois era
incolor, insípido, inodoro, não era tóxico nem inflamável (como a amônia) e não reagia com
nenhuma outra substância. Por esta característica, passou a ser usado também como gás
propelente em sprays. Algumas décadas mais tarde, entretanto, descobrimos que ao atingir a
alta atmosfera, a molécula de clorofluorcarbono era quebrada pela radiação ultravioleta e
liberava um átomo de cloro, que por sua vez provocava a destruição catalítica da camada de
ozônio (que protege a Terra das radiações ultravioleta B). Cada átomo de cloro destroi até
cem mil moléculas de ozônio, até ser neutralizado.

Apesar de parte da humanidade viver na tecnosfera, nem por isso ela deixou de pertencer e
depender da biosfera. A biosfera funciona como um sistema, evolucionariamente aperfeiçoado
através de milhões e milhões de anos, no qual há um relativo equilíbrio dinâmico entre os
seres vivos e entre estes e os componentes físicos e químicos do meio, todos se inter-
relacionando e interagindo, num traçado cujas ligações ainda não são totalmente conhecidas.
Sabe-se, porém, que os elos desta emaranhada teia têm importância vital para o
funcionamento relativamente harmonioso do conjunto e que, se forem destruídos ou
seriamente afetados, todo o sistema poderá desintegrar-se.

Durante muitos séculos, a partir do início da era cristã, a população humana cresceu muito
lentamente. A partir da metade da Idade Média a população começou a crescer cada vez mais
rápido, em virtude principalmente da maior produção de alimentos. Em 1802, a Terra tinha 1
bilhão de habitantes. Duzentos anos depois, em 1900, a população humana atingiu 1,5 bilhão.
Mas apenas cem anos após, em 2000, a populacão já tinha atingido a espantosa cifra de 6
bilhões de habitantes (aumentou quatro vezes nos últimos cem anos, e seis vezes nos últimos
200 anos).

População 1 2 3 4 5 6
(bilhões)
Ano 1802 1928 1961 1974 1987 1999

Anos até o 126 33 13 13 12 ?


Próximo bilhão

Quadro 1 – A "explosão" populacional

A partir de 1800 o mundo passou por um processo de industrialização, a Revolução Industrial,


que ganhou grande ímpeto a partir do final da Segunda Guerra Mundial. A produção industrial
nos anos 80 já era mais de sete vezes maior do que nos anos 50. A explosão populacional e a
industrialização provocaram uma acelerada urbanização, que se iniciou nos países onde esta
industrialização ocorreu. Em 1900, a população urbana do mundo era inferior a 1/3 da

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população rural, mas em 2007 já era maior que a população rural. Como conseqüência, a
degradação do meio ambiente passou a produzir efeitos diretos e claramente identificáveis
sobre as comunidades: dificuldades para servir água potável à população, poluição dos rios e
lagos pelos esgotos domésticos e industriais, poluição do ar pelos sistemas de transportes
movidos a combustíveis fósseis, pelas indústrias e pelo aquecimento das casas no inverno
usando carvão, necessidade de remover e tratar o lixo produzido pela população.

Mesmo assim, a organização de uma consciência social e política em torno dos problemas
ambientais só começou a manifestar-se, de forma vigorosa, a partir da segunda metade dos
anos sessenta, particularmente nos países desenvolvidos, os primeiros a sofrer severos
problemas de poluição industrial.

Entretanto, são mais antigas as manifestações de preocupação com as condições ambientais


do nosso planeta. Um magnífico exemplo é a carta que o cacique Seatlle, da tribo Suquamish,
do Estado de Washington, escreveu ao Presidente Franklin Pierce, dos Estados Unidos, em
1855, após o governo americano haver dado a entender que desejava adquirir o território da
tribo. Este documento demonstra que, embora a Ecologia seja uma ciência nova, o raciocínio
ecológico não foi criado pelos homens de hoje. Eis alguns trechos desta carta, que revela
suas crenças e tradições, e o apego à terra onde viviam e que provia seu sustento:

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O
grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e de sua benevolência. Isto é gentil de
sua parte, pois sabemos que ele não precisa da nossa amizade. Vamos pensar em sua
oferta. Se não pensarmos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande
chefe em Washington pode acreditar no que chefe Seatlle diz, com a mesma certeza com que
os nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é
como as estrelas, elas não empalidecem.
Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não
somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como podes então comprá-los de nós?
Decidimos apenas sobre coisas de nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para meu povo.
Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras,
cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença de meu
povo.
Sabemos que homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele, um pedaço de
terra é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo
quanto necessita. A terra não é sua irmã, é sua inimiga, e depois de a esgotar, ele vai
embora. Deixa para trás a cova de seu pai, sem remorsos. Rouba a terra dos seus filhos.
Nada respeita. Esquece o cemitério dos antepassados e o direito dos filhos. Sua ganância
empobrece a terra e deixa atrás só desertos. Tuas cidades são um tormento para os olhos do
homem vermelho. Talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada
compreende.
Se eu decidir a aceitar, imporei uma condição. O homem branco deve tratar os animais como
se fossem irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser certo de outra forma.
Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os
abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante
cavalo de ferro possa ser mais valioso do que um bisão que nós, os índios, matamos apenas
para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais
desaparecessem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece
aos animais pode também afetar os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto
fere a terra fere também os filhos da terra."

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A frase a seguir é atribuida a um Chefe Sioux, durante a “marcha para o oeste” nos Estados
Unidos (final do século XVIII): "Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for
poluído, quando o último peixe for pescado , aí sim, eles verão que dinheiro não se come...".

Outro exemplo importante do século passado está aqui na cidade do Rio de Janeiro. Foi o
replantio da Floresta da Tijuca por motivos ambientais, ordenado pelo Imperador Pedro II e
executado pelo Major Archer, a partir de 1862. Grande parte da floresta tinha sido derrubada
para o plantio de café, e além da erosão acelerada do solo e do desmoronamento de
encostas, os rios que forneciam água para vários bairros da cidade estavam secando. Quem
visita hoje o Parque da Tijuca, nem imagina o estado em que se encontrava aquela área 150
anos atrás, e nem pensa que aquela floresta é secundária (maior parte reflorestada).

Em 1908, numa Conferência sobre Conservação dos recursos Naturais nos Estados Unidos,
Theodore Roosevelt (que viria ser mais tarde Presidente daquele país) afirmava:
"Enriquecemos pela utilização pródiga dos nossos recursos naturais e podemos, com razão,
nos orgulhar do nosso progresso. Chegou porém o momento de refletirmos sobre o que
acontecerá quando nossas florestas tiverem desaparecido, quando o carvão, o ferro e o
petróleo se esgotarem, e quando o solo estiver mais empobrecido ainda, levado para os rios
(pela erosão), poluindo suas águas, desnudando os campos e dificultando a navegação".
Apesar de alertas tão sábios quanto este, o que estamos discutindo hoje, quase cem anos
após, é praticamente a mesma coisa: desmatamento, erosão dos solos, esgotamento de
recursos naturais, poluição das águas.

Em 1962, a publicação de um livro mudou a nossa percepção do funcionamento da biosfera.


Este livro, "Primavera Silenciosa”2, da escritora americana Rachel Carson, denunciava o
desaparecimento dos pássaros nos campos dos Estados Unidos, provocado pela utilização do
pesticida DDT na agricultura. Pela primeira vez, um cientista foi capaz de explicar, para
milhões de pessoas, as formas pelas quais a sociedade moderna estava atacando os sistemas
de apoio à vida no nosso planeta. Seus efeitos foram imediatos: a utilização do DDT foi
proibida nos Estados Unidos, e logo a seguir, na maioria dos países do Mundo. Foi o início da
conscientização social e política sobre as questões ambientais, embora restrito quase que
exclusivamente aos países desenvolvidos, onde os cidadãos começaram a exigir serem
informados sobre o estado do meio ambiente. As organizações não governamentais (ONGs)
ambientalistas começaram a surgir nesta época, nestes países, e preocupavam-se,
basicamente, com a conservação da natureza, com a utilização dos pesticidas na agricultura e
com a poluição industrial.

A partir do início da Revolução Industrial, vários desastres de poluição aconteceram nos


países industrializados. Entre os episódios mais significativos de poluição do ar podemos
mencionar:
a) Em 1930, no Vale do Meuse, Bélgica, provocado pela emissão de dióxido de enxofre e
fumaça das fábricas de aço e zinco locais e uma forte inversão térmica (fenômeno
atmosférico que faz com que o ar fique praticamente estagnado numa determinada
região). Morreram 60 pessoas e cerca de 6000 tiveram a saúde afetada;
b) Em 1948, em Donora, Pensylvania, provocado pelas indústrias siderúrgicas e
produtoras de zinco, e que atingiu 47% da população da região, com 15 mortes e 5900
pessoas afetadas;
c) Em 1950, em Poza Rica, México, um acidente numa indústria de recuperação de
enxofre, que liberou grande quantidade de gás sulfídrico (H2S) para a atmosfera,
provocou a morte de 22 pessoas e afetou a saúde de 320 habitantes;
d) Em Londres, em 1952, uma forte inversão térmica (fenômeno atmosférico que faz com
que o ar fique praticamente estagnado numa determinada região) provocou uma

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grande elevação dos índices de poluição do ar durante vários dias seguidos 3. Os


maiores responsáveis foram: a queima de carvão para o aquecimento das casas, as
indústrias e os veículos movidos a derivados do petróleo. Estima-se que cerca de 4.000
pessoas morreram mais de 20.000 foram afetadas em conseqüência deste episódio.
Em 1956 um novo episódio ocorreu, com menor intensidade, provocando a morte de
cerca de 1.000 pessoas e a aprovação da "Lei do Ar Puro", que proibiu o aquecimento
das casas com o carvão e obrigou as indústrias a adotarem medidas de controle da
poluição do ar.

Alguns desastres sérios de poluição das águas também ocorreram nesta época, como em
Minamata, uma cidade situada na Baia de Minamata, no Japão. Em 1956, uma criança de
cinco anos foi hospitalizada apresentando distúrbios neurológicos, com problemas de fala,
locomoção, e dificuldades na ingestão de alimentos. Nos dias seguintes, vários casos similares
surgiram, parecendo ser uma epidemia, assustando a população e as autoridades
governamentais, que pensavam que a doença fosse contagiosa. A pesquisa para caracterizar
e determinar as causas levou mais de dez anos, até confirmar que o problema estava sendo
causado pelos efluentes de uma fabrica de acetaldeído, despejados sem tratamento nas
águas da Baia. Os efluentes continham metil-mercúrio, que apesar das baixas concentrações
nas águas da Baia de Minamata, foi concentrado ao longo da cadeia alimentar, chegando a
atingir 40 ppm (partes por milhão) nos peixes, que eram a dieta básica da população. A
“Doença de Minamata”, causada pela ingestão de peixes com altas concentrações de metil-
mercúrio, afetava o sistema nervoso central, provocando dormência e sensibilidade diminuída
nas extremidades (pés e mãos), dificuldades de coordenar os movimentos dos pés e das
mãos, dificuldade para articular as palavras (até a perda da fala), dificuldade de concentação,
fraquesa e fadiga constantes, perda gradual da visão e audição, e finalmente coma e morte.
Mais de 50 pessoas morreram e cerca de 500 apresentaram desordens neurológicas, e as
indenizações pagas às vítimas da doença ultrapassaram 60 milhões de dólares.

Fatos como este aconteceram porque, desde o início da Revolução Industrial e até pouco
tempo atrás, o meio ambiente era considerado como um bem livre ou quase livre, que
qualquer pessoa tinha o direito de usar conforme sua vontade. Se considerarmos os altos

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custos que a poluição acarreta para a sociedade, como os danos à saúde das populações,
veremos que o meio ambiente não pode ser considerado um bem livre. As inovações
tecnológicas sempre perseguiram a otimização dos processos de produção, não levando em
conta, na maioria das vezes, os efeitos nocivos sobre o ambiente. Os custos ambientais das
atividades econômicas aparecem quando a capacidade de assimilação do meio ambiente é
ultrapassada. Estes custos foram, no início, externalizados, isto é, transferidos para vários
segmentos da sociedade sob a forma de prejuízos por danos à saúde humana, danos
materiais, como a corrosão de estruturas de ferro e de obras de arte e danos aos
ecossistemas, como a redução ou eliminação da pesca em um rio, provocando prejuízos
econômicos a quem não tinha responsabilidade pela poluição do rio.

O agravamento dos índices de poluição nos países desenvolvidos, provocado pelo grande
crescimento da produção industrial após a Segunda Guerra Mundial, e o surgimento de uma
maior conscientização sobre as questões ambientais, exigiu uma ação governamental para
tentar controlar o problema. Esta ação resultou no estabelecimento de padrões
crescentemente mais rigorosos de qualidade ambiental e de emissão de poluentes industriais,
iniciando a internalização dos custos ambientais, pagos em grau cada vez maior pelas
atividades econômicas que os produziam. As pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias
visando a redução da poluição industrial foram inicialmente direcionados para a produção de
caros e sofisticados equipamentos anti-poluição, a serem acoplados aos processos produtivos
existentes (controle no final do processo, ou “end of the pipe”). Desta forma, atacou-se,
principalmente, os efeitos da poluição, e não necessariamente as suas causas. A partir dos
anos 80 as pesquisas foram também dirigidas para a modificação dos processos de produção,
com o desenvolvimento de tecnologias industriais "mais limpas" que reduziam a emissão de
resíduos para o ambiente, diminuindo os custos de controle da poluição.

2. Os Anos 70

No final dos anos 60, os países industrializados estavam começando a perceber o impacto
negativo das suas tecnologias: lagos e rios poluídos, florestas sendo destruídas pela chuva
ácida, poluição do ar nas grandes cidades. A população afetada por estes problemas começou
a se organizar em grupos de protesto, que exigiam o controle da poluição e a conservação e a
proteção da natureza. A atuação das ONGs, o aumento da conscientização sobre os
problemas ambientais e as reclamações da Suécia, que estava sofrendo as conseqüências da
chuva ácida proveniente das emissões da Inglaterra e da Alemanha, contribuíram
decisivamente para que as Nações Unidas decidissem em 1968, durante sua Assembléia
Geral, convocar a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Esta
Conferência foi realizada entre 5 e 16 de junho de 1972, em Estocolmo, na Suécia.

2.1. O Primeiro Relatório do Clube de Roma

Um grupo com marcante participação nesta época foi o do Clube de Roma, que foi criado em
1968, na Academia dei Lincei (a Academia de Leonardo da Vinci), em Roma. Cientistas de
vários países o integravam, com a intenção precípua de estudar e propor soluções para os
complexos problemas decorrentes da crescente pressão que a explosão demográfica já
exercia sobre o delicado equilíbrio dos ecossistemas do planeta e sobre os recursos não
renováveis. A atuação do Clube pode ser analisada em duas fases distintas: a fase ecológica
e a social.

A primeira fase foi dominada pela preocupação com o equilíbrio ecológico e com o
esgotamento dos recursos não renováveis do planeta, acompanhando a crescente

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conscientização em torno da questão, especialmente nos países já desenvolvidos. Em 1971,


diversos cientistas, liderados por D. Meadows, submeteram ao Clube de Roma o Primeiro
Relatório, denominado "The Limits to Growth" (Os Limites do Crescimento) 4, baseado num
complexo modelo matemático mundial, que utilizava a nova metodologia de dinâmica de
sistemas (system dynamics). Este relatório mostrava que se continuassem, em longo prazo,
as mesmas taxas de crescimento demográfico, industrialização e de utilização de recursos
naturais, inevitáveis efeitos catastróficos ocorreriam em meados do próximo século (fome,
escassez de recursos naturais, altos níveis de poluição), com a redução da produção industrial
e de alimentos, culminando com uma incontrolável mortandade da população.

Figura 3 – Cenário 1: Processamento padrão do modelo mundial

O modelo matemático analisou vários cenários possíveis para o futuro. A Figura 3 acima
mostra o resultado do cenário 1, que usou os valores históricos de 1900 a 1970 e supôs que
não houvesse alterações importantes nas relações físicas, econômicas ou sociais a partir de
1970 (business as usual).

Produção de alimentos e produção industrial crescem exponencialmente até que a rápida


diminuição de recursos naturais (e a escassez de alguns recursos estratégicos) force a
diminuição da produção industrial e a de alimentos. Algum tempo depois ocorre uma
incontrolável mortandade e redução da população.

Para evitar esta catástrofe, o Relatório recomendava a imediata adoção de uma política
mundial de contenção do crescimento, visando a atingir um estado de equilíbrio o mais cedo
possível. Embora afirmasse que este estado de equilíbrio global poderia ser planejado de
forma que todas as pessoas tivessem suas necessidades básicas atendidas e oportunidades

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iguais de realizar seu potencial humano, os países subdesenvolvidos entenderam que esta
política, denominada "crescimento zero", se adotada, condenaria a maioria dos países da
Terra a situações de permanente subdesenvolvimento (Figura 4).

Figura 4 – Modelo Mundial Estabilizado: Crescimento zero

Como era de se esperar, esta proposta foi imediatamente contestada e críticas surgiram
quanto à validade das conclusões apresentadas e dos resultados obtidos através das
simulações pelo modelo matemático. Este modelo abrigava algumas simplificações extremas,
como por exemplo, a de se considerar o mundo como homogêneo em relação ao consumo de
energia e de matérias primas. Os países subdesenvolvidos não aceitaram os resultados do
modelo, nem tão pouco a proposta de crescimento zero.

2.2. A Conferência de Estocolmo

A divulgação do Relatório Limites do Crescimento, em 1971, influenciou decisivamente o teor


das discussões na Conferência de Estocolmo. Algumas reuniões preparatórias foram
realizadas, como o Painel de Especialistas em Desenvolvimento e Meio Ambiente, em Founex,
Suíça, em junho de 1971. O Painel de Founeax enfatizou que meio ambiente e
desenvolvimento eram os dois lados da mesma moeda, e que o meio ambiente era um
assunto relacionado não somente com os aspectos biofísicos mas também com os sócio
econômicos. Das discussões da Reunião de Founex surgiu o conceito de
"ecodesenvolvimento”, que previa um desenvolvimento baseado na potencialidade de cada
ecossistema, levando em conta a participação das populações locais, a redução dos
desperdícios de qualquer ordem e a reciclagem dos resíduos.

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Apesar disto, a maioria dos países subdesenvolvidos, incluído o Brasil, encarou essa
Conferência das Nações Unidas como uma tentativa de frear o seu desenvolvimento, através
do controle da poluição industrial. Nas reuniões preparatórias e durante a Conferência,
representantes dos países industrializados diziam para os dos países em desenvolvimento:
"Vejam a situação em que nos encontramos, com poluição do ar e das águas em nossos
países e cidades. Não queiram repetir os nossos erros".

A Conferência de Estocolmo foi iniciada no dia 5 de junho de 1972, dia que desde então é
comemorado como o Dial Mundial do Meio Ambiente. Estiveram representados 113 países.
Aceitar a proposta do “crescimento zero” significava condenar os países em desenvolvimento
ao subdesenvolvimento eterno, pois estava implícito que os países não deveriam aumentar os
seus consumos per capita de energia e recursos naturais. Críticas surgiram quanto à validade
das conclusões apresentadas e dos resultados obtidos através das simulações pelo modelo
matemático. Este modelo abrigava algumas simplificações extremas, como por exemplo, a de
se considerar o mundo como homogêneo em relação ao consumo de energia e de matérias
primas, não fazer distinção entre população rural e urbana, e não considerar aspectos
relacionados com a saúde.

A reação dos países em desenvolvimento foi liderada pelo Brasil e pela Índia. A Primeira
Ministra da Índia, Indira Gandhi, único Chefe de Estado presente à Conferência, durante seu
discurso cunhou uma frase que se tornou famosa: "O pior tipo de poluição é a pobreza, a falta
de condições mínimas de alimentação, saneamento e educação".

A Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, aprovada ao final da Conferência, exigiu


grande habilidade diplomática para atingir o consenso entre os países desenvolvidos e
subdesenvolvidos. Ela proclama que: "Nos países em desenvolvimento, os problemas
ambientais são causados, na maioria, pelo subdesenvolvimento" e no seu Princípio n 0. 1
expressa a convicção comum que: "O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade
e a adequadas condições de vida em ambiente que lhe permita viver com dignidade e bem
estar. É seu inalienável dever melhorar e proteger o meio ambiente para as gerações atuais e
futuras".

Como resultado da Conferência de Estocolmo, surgiu o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente - PNUMA, e sua sede mundial instalada em Nairobi, Quênia. O PNUMA foi
criado com o objetivo de catalisar e coordenar as atividades de proteção ambiental dentro do
sistema das Nações Unidas e entre os vários organismos de âmbito regional e internacional,
além de entidades governamentais. Foi criado também um Fundo Voluntário para o Meio
Ambiente gerido pelo PNUMA.

O dia 5 de junho passou a ser celebrado como o Dia Mundial, do Meio Ambiente.

2.3. O Segundo Relatório do Clube de Roma

Em 1973, um grupo de cientistas liderado por Mesarovic e Pestel apresentou o Segundo


Relatório, denominado Momento de Decisão (Mankind at the Turning Point) 5, no qual tentou-se
corrigir as distorções do primeiro modelo. Assim, subdividiu-se o planeta em 10 regiões
homogêneas (em relação ao consumo de materiais e energia) e foram propostos vários
cenários alternativos, analisando-se, inclusive, os efeitos do retardamento da tomada de
decisões. Este modelo, embora mais flexível que o "World 3”, permitindo que o usuário
explore mais facilmente alternativas diferentes, ainda apresentava muitos problemas. Entre
eles, o enfoque dado ao crescimento demográfico, sem base científica, e o fato de não haver

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relação entre necessidade e produção de alimentos, mesmo quando o déficit produzia efeitos
catastróficos. Assim como no modelo anterior, não há distinção entre as populações rural e
urbana, e não foram considerados os aspectos de saúde e de habitação. A poluição, com um
papel central no modelo anterior, aqui, praticamente, não foi considerada. O fator mais
importante neste novo modelo foi a energia, em virtude da crise mundial provocada pelo
aumento dos preços do petróleo.

Os resultados não divergiram substancialmente dos do Primeiro Informe, indicando também


um grande declínio da população mundial a partir do ano 2025, e mostrando claramente que
as crises mais prováveis, como a fome, tendiam a se manifestar primeiramente na Ásia. Este
Informe afirmava, em conclusão: “Os homens não podem mais esperar que as mudanças se
produzam espontaneamente e por acaso. Cabe-lhes tomar a iniciativa das transformações
necessárias, a fim de que elas permaneçam nos limites suportáveis e que não sejam impostas
maciça e brutalmente, a partir do exterior". Em vez do crescimento zero do modelo anterior,
propunham, para evitar a catástrofe, a elaboração de uma estratégia cooperativa para todos
os países, orientada por um plano global, que chamaram "Crescimento Orgânico".

2.4. O Terceiro Relatório do Clube de Roma

Participaram da elaboração dos dois primeiros reltórios do Clube de Roma apenas cientistas
das chamadas "ciências exatas": matemáticos, físicos, químicos, biólogos e outros. Para a
elaboração de seu terceiro relatório, o Clube de Roma resolveu convidar também cientistas
das "ciências sociais", como economistas e sociólogos. O Prêmio Nobel de Economia, o
holandês Jan Timbergen, foi chamado para coordenar a equipe, e iniciou um estudo que
incluia o problema dos desequilíbrios entre os países desenvolvidos (quase todos no
hemisfério norte) e os subdesenvolvidos (predominantemente no hemisfério sul). Este
Terceiro Relatório foi apresentado ao Clube de Roma em 1976, na Argélia, com o nome de
Para uma Nova Ordem Internacional6 (Reshaping the International Order). O Relatório
mostrava que a relação média de renda dos países desenvolvidos em relação aos
subdesenvolvidos, naquela época, era de 13/1, considerada inaceitável em virtude dos
problemas que já estava provocando (incluindo a migração clandestina para os países
industrializados), e dos problemas que poderia provocar no futuro próximo, pois a tendência
era essa relação continuar a crescer.

O estudo concluía que, antes de serem atingidos os limites físicos do nosso planeta (pelo
crescimento populacional, esgotamento dos recursos naturais e poluição), ocorreriam grandes
convulsões sociais, econômicas e políticas provocadas por este enorme desnível entre os
países. Para que esta diferença pudesse ser reduzida em cerca de quatro décadas para 13/4
(ou aproximadamente 3/1), que representava então a diferença de nível entre as regiões mais
ricas e pobres da Europa Ocidental, portanto bem mais aceitável, seria necessário:

1. um esforço sustentado de crescimento dos subdesenvolvidos


(5% de crescimento per capita) contra um mais moderado (1,7%) dos desenvolvidos;
2. um crescimento demográfico 0,1% inferior à previsão mais baixa das Nações Unidas;
3. um crescimento da oferta de alimentos de 3,15% ao ano (contra 2,7% da época).

O conjunto de medidas proposto por Timbergen, no propósito de lograr as metas mínimas que
considerava aceitáveis para uma sociedade mundial mais eqüitativa, configurava uma Nova
Ordem Econômica Mundial e conduzia a taxas diferenciais de crescimento "per capita" que
favoreciam o Terceiro Mundo (vide a acima), apoiadas em:

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a. novas facilidades para o comércio de matérias-primas dos países


subdesenvolvidos;

b. maciças transferências de capital e de tecnologia;

c. maior produtividade agrícola;

d. várias medidas de caráter assistencial.

e. consenso geral dos principais países dos dois hemisférios;

f. redução dos gastos em armamentos (possível com o reforço da autoridade das


Nações Unidas);

g. criação do equivalente a um imposto de renda internacional, à conta do qual


se efetuariam transferências líquidas para o Terceiro Mundo.

A simples análise desta proposta nos leva a entender porque a distância entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos continuou a aumentar. Na realidade algumas destas
medidas foram implantadas, só que exatamente ao contrário:

a. em vez de novas facilidades para o comércio de matérias primas, os países


subdesenvolvidos enfrentam um protecionismo cada vez maior adotado pelos países
desenvolvidos;

b. ao contrário de maciças transferências de capital para os países subdesenvolvidos,


a partir dos anos 80 esses países passarem a ser fornecedores líquidos de capital para
os países desenvolvidos, função da enorme dívida externa acumulada (o preço das
matérias primas exportadas pelos países do Terceiro Mundo são hoje tão baixos
quanto os da época da grande recessão de 1929);

c. a tecnologia tornou-se o mais importante dos fatores de produção (capital, matéria-


prima, mão-de-obra e tecnologia). O país que possui tecnologia de ponta praticamente
não depende mais dos outros fatores (exemplo do Japão). Tecnologia, portanto,
significa poder (e tem custo para ser desenvolvida), e por isso mesmo nunca foi
transferida de graça para os países subdesenvolvidos.

d. o final dos anos 70 e o início dos anos 80 foram marcados por um grande aumento
nos gastos militares mundiais, que atingiram em 1985 a cifra de US$ 1 trilhão por ano
(quase 10 vezes maior que os gastos militares de 1960). E os países
subdesenvolvidos, os que mais deveriam investir em atividades para construir, e não
em equipamentos para destruir, foram responsáveis por cerca de 25% dos gastos
militares de 1985.

2.5. Outros Modelos Mundiais

Alguns outros modelos mundiais foram elaborados durante os anos 70, entre eles o Modelo
Latino Americano (ou Modelo Bariloche) e o Relatório Global 2000, preparado pelo Conselho
de Qualidade Ambiental e pelo Departamento de Estado para o ex-presidente Carter, dos
Estados Unidos.

2.5.1. O Modelo Latino Americano

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EEH 351 Desenvolvimento e Meio Ambiente

Foi preparado por um grupo de cientistas latino americanos, entre eles o Prof. Hélio
Jaquaribe, partindo da recusa em aceitar o fato de que o crescimento de seus países,
indispensável para livrá-los da pobreza, estaria limitado pelos recursos naturais disponíveis,
conforme a tese do "Crescimento Zero", proposta pelo relatório "Os Limites do Crescimento",
do Clube de Roma.

Estes cientistas defenderam a tese de que, ao invés de simplesmente simular


matematicamente o futuro do mundo nos próximos 50 ou 100 anos, mantidas as tendências
da época, a pergunta central a ser respondida era a de como usar os recursos mundiais de
forma mais eficiente para melhorar as condições de vida de toda a humanidade. Afirmavam
eles, então: "Os problemas mais importantes que a sociedade humana enfrenta não são
físicos (poluição e exaustão dos recursos naturais) mas sócio-políticos. Esses problemas são
decorrentes da distribuição desigual de riqueza e de poder entre as nações e dentro das
nações. A deterioração do ambiente físico não é uma conseqüência inevitável do progresso
da humanidade, mas o resultado de uma organização social baseada em valores destrutivos".
A idéia de construir o modelo, com o apoio da Fundação Bariloche, surgiu durante uma
reunião do Clube de Roma no Rio de Janeiro, em 1971. O modelo conceitual de uma
"sociedade ideal" era baseado na premissa que somente através de mudanças radicais na
organização social, nacional e internacional, poderíamos retirar a maior parte da humanidade
do subdesenvolvimento e da opressão. Para atingir estes objetivos, os cientistas propunham
que ao contrário de se tentar alcançar altos níveis de crescimento econômico para os países
em desenvolvimento (inviável a longo prazo dentro da estrutura sócio-econômica atual), dever-
se-ia: a) reduzir o consumo de todos os itens não essenciais; b) aumentar os investimentos
produtivos (geradores de empregos); c) eliminar as barreiras sócio-econômicas e políticas que
dificultavam o uso racional da terra, tanto para a produção de alimentos quanto para o
planejamento urbano; d) distribuir de modo igualitário os bens e serviços essenciais; e)
implantar, nos países em desenvolvimento, uma política para eliminar os ”déficits" no
comércio internacional.

Os resultados das simulações matemáticas do modelo, publicados em 1976, indicaram que, se


as políticas propostas fossem adotadas, toda a humanidade poderia atingir níveis de vida
adequados dentro de um período um pouco maior do que uma geração. A satisfação das
necessidades físicas e culturais mais essenciais poderia ser obtida, para a maioria dos países
do Terceiro Mundo, por volta do final do ano 2000. O único problema de limitação física a
surgir, de natureza local, seria a exaustão da disponibilidade de terras cultiváveis na Ásia, na
metade do próximo século (conclusão semelhante a do modelo de Mesarovic e Pestel).
Entretanto, como os efeitos desta limitação seriam sentidos apenas por volta de 2050, a Ásia
teria tempo suficiente para buscar soluções para o problema. Entre estas soluções: aumentar
a produção das plantações (que ainda estavam bem abaixo do nível teoricamente possível),
produzir alimentos de fontes não convencionais; aplicar uma política efetiva de planejamento
familiar (para atingir a estabilização num período menor do que o previsto no modelo).

Os críticos do Modelo Latino Americano chamavam-no de utópico, e sustentavam que seria


mais realista propor soluções que envolvessem mudanças menos radicais na estrutura sócio-
politica do mundo.

2.5.2. O Relatório Global 2000 ao Presidente7

Foi solicitado em 1977 pelo ex-presidente Carter, ao Conselho de Qualidade Ambiental e ao


Departamento de Estado. Foi publicado em 1980 a fim de servir de base para o planejamento
de longo prazo do Governo dos Estados Unidos. Este foi o primeiro estudo preparado pelo

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Governo de um país, e projetou, de forma integrada, as tendências de longo prazo do


crescimento da população mundial, do uso dos recursos naturais e do estado meio ambiente.
Ao fazer as projeções para as condições do ano 2000, o estudo considerou que não haveria
mudanças nas políticas públicas, nem avanços revolucionários na tecnologia, nem guerras em
larga escala ou qualquer outra grande catástrofe. O Relatório identificou, entretanto,
inconsistências e contradições sérias entre os seus vários modelos matemáticos (energia,
industrialização, produção de alimentos, disponibilidade de água etc.) prpeparados
anteriormente pelos vários Departamentos de Estado, por falta de mecanismos de
coordenação intersetorial. As projeções consideram simplesmente que estariam disponíveis
os recursos necessários para cada setor, em termos de capital, energia, água, minerais, etc.,
sem levar em conta as necessidades dos outros setores. Como resultado, por exemplo, a
quantidade de água necessária para atender a demanda de todos os modelos nos Estados
Unidos era muito maior que a água disponível naquele país. Entre as conclusões do
Relatório, destacamos as seguintes:

a. “Se as tendências atuais forem mantidas, o mundo do ano 2000 estará mais
densamente povoado, mais poluído, menos estável ecologicamente e mais vulnerável
a rupturas do que o mundo em que vivemos agora. Estão nitidamente visíveis, a nossa
frente, sérias tensões que envolvem população, recursos e meio ambiente. Apesar de
maior produção material, os habitantes do mundo estarão mais pobres, em muitos
sentidos, do que hoje;

b. São necessárias medidas imediatas e vigorosas nas políticas públicas, no


mundo inteiro, para evitar ou minimizar esses problemas antes que eles se tornem
incontroláveis. Precisa-se de longo tempo para uma ação efetiva. Se as decisões
forem retardadas até a situação se agravar, as opções de uma ação efetiva se
reduzirão seriamente”.

Esta segunda conclusão é bem semelhante à conclusão do Segundo Informe do Clube de


Roma, o Momento de Decisão. Analisando a primeira conclusão, verificamos que embora
alguns pontos fossem óbvios (mundo mais densamente povoado e mais poluido), estavam
corretas as previsões de o mundo estaria menos estável ecologicamente e mais vulneravel a
rupturas (mudanças climáticas, por exemplo) e que teríamos sérias tensões envolvendo
população, recursos e meio ambiente (escassez de água e de alimentos em algumas regiões).

BIBLIOGRAFIA

1. Kassas, M., "The Natural Environment”, Seminário "Desafios da Década de 80", Clube
de Roma, Rio de Janeiro, 1980.

2. Carson, R., "Silent, Spring", Houghton Mifflin Co., New York, 1962.

3. Blundi, E., Poluição e Vias Respiratórias, em "Ecologia eProblemas do Século XX",


Editado pelo Clube de Engenharia, Rio de Janeiro, 1972.

4. Meadows, D, et alli, "Os Limites do Crescimento", Editora Perspectiva, 1973.

5. Mesarovic, M. e Pestel E., "Momento de Decisão", Livraria Agir Editora, 1975.

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6. Timbergen, J., "Para uma Nova Ordem Internacional", Livraria Agir Editora, 1978.

7. Barney G., "The Global 2000 Report to the President - Entering the Twenty-First
Century", Volume 1, Government Printing Office, Washington, 1980.

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*Presidente do Instituto Brasil PNUMA (Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente); Professor de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro; Coordenador de Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental da Escola Politécnica da UFRJ;
Presidente do Conselho Técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT; Superintendente do
Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental - ABNT/CB 38; Vice-Presidente do Comitê Técnico 207 da Organização
Internacional de Normalização – ISO; Presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Associação
Comercial do Rio de Janeiro; Membro do Conselho de Responsabilidade Social da FIESP; Secretário de Meio
Ambiente, do Ministério do Meio Ambiente, (94 a 99); Coordenador Brasileiro do Sub-Grupo de Trabalho de
Meio Ambiente do MERCOSUL (94 a 99); Secretário de Desenvolvimento Urbano e Regional do Estado do Rio
de Janeiro (87 a 91); Vice-Diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA (82 a 87);
Diretor Geral do Instituto Nacional de Tecnologia - INT do Ministério da Indústria e Comércio (80 a 82);
Presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA (75 a 79); Engenheiro Chefe de
Coordenação da Cia. de Águas da Guanabara - CEDAG (65 a 75).
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Anexo 1

Carta do Cacique Seattle


Há mais de um século e meio, em 1855, o cacique Seattle, dos Suquamish, do Estado de Washington, costa
Oeste dos Estados Unidos, enviou esta carta ao presidente Franklin Pierce, em resposta a uma oferta para
compra do território indígena. As reflexões do líder Suquamish ainda têm uma surpreendente atualidade.

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar nossa terra. O grande chefe assegurou-nos
também da sua amizade e benevolência. É uma atitude gentil da parte dele, pois sabemos que não necessita
da nossa amizade. Vamos pensar na oferta. Sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas
e se apossará dela. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma
certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é
como as estrelas: não perdem o brilho.

Mas como é possível comprar ou vender o céu, o calor da terra? É uma idéia estranha. Não somos donos da
pureza do ar e do brilho da água. Como alguém pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre
coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de
areia, cada floco de neblina nas florestas escuras, cada clareira, todos os insetos a zumbir são sagrados nas
tradições e na crença do meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é o
mesmo que outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra
não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de esgotá-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem
nenhum sentimento. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos
filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os
olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim porque o homem vermelho seria um selvagem que nada
compreende.

Não há paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o som do desabrochar da folhagem
na primavera, o zumbir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das
cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a
voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento
sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com perfume de pinho.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores,
homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é
insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar a venda, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se
fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões
apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros. Sou um selvagem e não
compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles
vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos
os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais
pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.

Nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Nossos guerreiros vergam sob o peso da vergonha. E
depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos doces e bebidas ardentes.
Não importa muito onde passaremos nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até
mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem
vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi
tão poderoso e cheio de confiança como o nosso povo.

Sabemos de uma coisa que o homem branco talvez venha um dia a descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus.
Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir nossa terra. Mas não pode. Ele
é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira do homem vermelho como do branco. A terra é amada por
Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer,
talvez mais depressa que as outras raças. Continua sujando sua própria cama e há de morrer, uma noite,
sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens,
quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam,
onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha
da torre e à caça. É o fim da vida e o começo da sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos que esperanças transmite a
seus filhos nas longas noites de inverno, que visões do futuro oferece para que possam tomar forma os desejos
do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são desconhecidos para nós. E
por serem desconhecidos, temos que escolher nosso próprio caminho. Se concordarmos com a venda é para
garantir as reservas que foram prometidas. Lá talvez possamos viver nossos últimos dias. Depois que o último
homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem sobre as pradarias, a
alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-
nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se vendermos nossa terra, ama-a como nós a amávamos.
Protege-a como nós a protegíamos. Nunca se esqueçam de como era a terra quando tomaram posse dela. E
com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos e ama-a como Deus
ama a todos nós. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem
mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino".

Anexo 2

Código de ética dos Índios Norte-Americanos

Levante com o Sol para orar.


Ore sozinho. Ore com freqüência.
O Grande Espírito o escutará, se você ao menos, falar.
Seja tolerante com aqueles que estão perdidos no caminho.
A ignorância, o convencimento, a raiva, o ciúme e a avareza, originam-se de uma alma perdida.
Ore para que eles encontrem o caminho do Grande Espírito.
Procure conhecer-se, por si mesmo.
Não permita que outros façam seu caminho por você.
É sua estrada, e somente sua.
Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você.
Trate os convidados em seu lar com muita consideração.
Sirva-os o melhor alimento, a melhor cama e trate-os com respeito e honra.
Não tome o que não é seu.
Seja de uma pessoa, da comunidade, da natureza, ou da cultura.
Se não lhe foi dado, não é seu.
Respeite todas as coisas que foram colocadas sobre a Terra.
Sejam elas pessoas, plantas ou animais.
Respeite os pensamentos, desejos e palavras das pessoas.
Nunca interrompa os outros nem ridicularize, nem rudemente os imite.
Permita a cada pessoa o direito da expressão pessoal.
Nunca fale dos outros de uma maneira má.
A energia negativa que você colocar para fora no universo, voltará multiplicada a você.
Todas as pessoas cometem erros.
E todos os erros podem ser perdoados.
Pensamentos maus causam doenças da mente, do corpo e do espírito.
Pratique o otimismo.
A natureza não é para nós, ela é uma parte de nós.
Toda a natureza faz parte da nossa família Terrenal.
As crianças são as sementes do nosso futuro.
Plante amor nos seus corações e ágüe com sabedoria e lições da vida.
Quando forem crescidos, dê-lhes espaço para que cresçam.
Respeite a privacidade e o espaço pessoal dos outros.
Não toque as propriedades pessoais de outras pessoas, especialmente objetos religiosos e
sagrados. Isto é proibido.
Comece sendo verdadeiro consigo mesmo.
Se você não puder nutrir e ajudar a si mesmo, você não poderá nutrir e ajudar os outros.
Respeite outras crenças religiosas.
Não force suas crenças sobre os outros.
Compartilhe sua boa fortuna com os outros.
Participe com caridade.

CONSELHO INDÍGENA INTER-TRIBAL NORTE AMERICANO


Participam as tribos : Cherokee Blackfoot, Cherokee, Lumbee Tribe, Comanche, Mohawk, Willow Cree, Plains
Cree, Tuscarora, Sicangu Lakota Sioux, Crow (Montana), Northern Cheyenne (Montana).

Anexo 3

Código de ética dos índios brasileiros

Depoimento dos irmãos Orlando e Cláudio Villas BOAS (A Marcha para o Oeste, 1994) ao
descreverem uma troca simbólica entre as aldeias camaiurá e trumaí, da cultura xinguana:

Andavam os trumaís numa série crise de alimentação.


Nas suas roças, ainda novas, não havia uma só raiz de mandioca.
Na troca-comércio os dois grupos se colocaram um em frente ao outro, e entre eles ficou um
terreirinho de um a dois metros quadrados, previamente varrido.
O chefe trumaí, nessa ocasião, expôs aos presentes a situação da sua aldeia com respeito à
alimentação.
Dito isto, colocou no centro do terreirinho, à guisa de troca, uma bolinha de massa de pequi
(tamanho de um grão de milho) e pediu em troca massa de mandioca.
Tamacu, o cacique camaiurá, incontinenti a recolheu, dela retirou uma partícula minúscula e a levou
à boca, oferecendo-a em seguida aos de sua aldeia.
Diversos chefes de casa avançaram e imitaram o cacique.
Momentos depois, as mulheres daqueles que provaram do pequi colocaram no mesmo lugar - no
terreirinho - imensas cestas de pães secos de mandioca. Algumas centenas de quilos.
Sem menos esperar, assistimos a uma belíssima demonstração de solidariedade, e há que levar em
conta ainda que esses índios durante anos foram fidagais inimigos.

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