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Associação Espírita

Paz e Luz

DOUTRINA ESPÍRITA

CICLO INTRODUTÓRIO DE ESTUDOS DA DOUTRINA ESPÍRITA


CIEDE

PROGRAMA BÁSICO

2009

Orientações espíritas direcionadas à formação doutrinária básica


do principiante espírita.

Federação Espírita Brasileira, Brasília [DF]: 2005


(adaptação e acréscimos DEDO - Paz e Luz)
2

POR QUE ESTUDAR O ESPIRITISMO?

Porque temos necessidade de ser felizes.


Porque é importante saber de onde viemos, o que fazemos aqui e qual será
a nossa destinação espiritual.
O estudo da Doutrina Espírita nos conduz, certamente, a essa compreensão.
Os primeiros passos começam aqui, nesta apostila, quando tomamos
conhecimento das orientações básicas que os Espíritos Superiores transmitiram a
Allan Kardec, tais como: Deus, Espírito, matéria, comunicabilidade dos Espíritos,
reencarnação, pluralidade dos mundos habitados, o bem e o mal, Leis Morais e
outros fundamentos.
3

SUMÁRIO

1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DOUTRINA ESPÍRITA ................................................6


1.1 O CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA ...................................................................... 6
1.2 AS OBRAS BÁSICAS ....................................................................................................... 7
1.3 O ESPIRITISMO ............................................................................................................... 8
1.4 A DOUTRINA ESPÍRITA .................................................................................................. 9
1.4.1 Aspectos Filosófico e Científico ..................................................................................... 9
1.4.2 Aspecto Religioso ......................................................................................................... 10
1.5 O ESPIRITISMO E OS RITUAIS .................................................................................... 11
1.6 TEMA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 13
1.6.1 Como o espiritismo vê as outras religiões .................................................................... 13
1.7 REVISÃO 1 ..................................................................................................................... 14

2 DEUS E AS lEIS dIVINAS..................................................................................................15


2.1 DEUS .............................................................................................................................. 15
2.2 ATRIBUTOS DE DEUS .................................................................................................. 16
2.3 LEI NATURAL................................................................................................................. 17
2.3.1 Lei de Adoração ........................................................................................................... 18
2.3.2 Lei do Trabalho ............................................................................................................ 19
2.3.3 Lei de Reprodução ....................................................................................................... 20
2.3.4 Lei de Conservação ..................................................................................................... 21
2.3.5 Lei de Destruição ......................................................................................................... 22
2.3.6 Lei de Sociedade .......................................................................................................... 23
2.3.7 Lei do Progresso .......................................................................................................... 24
2.3.8 Lei de Igualdade ........................................................................................................... 25
2.3.9 Lei de Liberdade ........................................................................................................... 26
2.3.10 Lei de Justiça, de Amor e de Caridade....................................................................... 27
2.3.11 Perfeição Moral........................................................................................................... 28
2.4 TEMA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 29
2.4.1 Autoconhecimento ........................................................................................................ 29
2.5 REVISÃO 2 ..................................................................................................................... 31

3 IMORTALIDADE DA ALMA ...............................................................................................33


3.1 ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS .................................................................... 33
3.2 MUNDO NORMAL PRIMITIVO ...................................................................................... 33
3.3 FORMA E UBIQÜIDADE DOS ESPÍRITOS ................................................................... 33
4

3.4 DIFERENTES ORDENS DE ESPÍRITOS ...................................................................... 33


3.5 ESPÍRITO ....................................................................................................................... 34
3.6 PERISPÍRITO ................................................................................................................. 34
3.7 CORPO........................................................................................................................... 35
3.8 REENCARNAÇÃO - 1ª PARTE ...................................................................................... 35
3.9 REENCARNAÇÃO - 2ª PARTE ...................................................................................... 36
3.9.1 Lei de Causa e Efeito ................................................................................................... 36
3.9.2 Livre-arbítrio ................................................................................................................. 37
3.10 DESENCARNAÇÃO ...................................................................................................... 37
3.11 PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS .............................................................. 38
3.12 TEMA COMPLEMENTAR ............................................................................................. 40
3.12.1 Liberdade e livre-arbítrio ............................................................................................. 40
3.13 REVISÃO 3 .................................................................................................................... 45

4 COMUNICABILIDADE DOS ESPÍRITOS ..........................................................................46


4.1 MEDIUNIDADE............................................................................................................... 46
4.2 MEDIUNIDADE COM JESUS ......................................................................................... 47
4.3 EDUCAÇÃO MEDIÚNICA .............................................................................................. 47
4.4 INFLUENCIA DOS ESPÍRITOS ..................................................................................... 49
4.5 INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSAS AÇÕES ................................................. 49
4.6 PACTO, PODER OCULTO E TALISMÃ ......................................................................... 51
4.7 OCUPAÇÃO E MISSÃO DOS ESPÍRITOS .................................................................... 51
4.8 PERTURBAÇÕES OBSESSIVAS .................................................................................. 51
4.8.1 Obsessão simples ........................................................................................................ 51
4.8.2 Fascinação ................................................................................................................... 52
4.8.3 Subjugação .................................................................................................................. 52
4.9 TEMA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 53
4.9.1 Mediunidade como resgate e evolução ........................................................................ 53
4.10 REVISÃO 4 .................................................................................................................... 55
4.10.1 Temas para dissertação ............................................................................................. 55

5 JUSTIÇA DIVINA E EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO...............................................................56


5.1 O ARREPENDIMENTO .................................................................................................. 56
5.2 O Perdão ........................................................................................................................ 56
5.3 FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS ................................................................. 57
5.3.1 Perdas de entes queridos ............................................................................................ 58
5.3.2 Uniões antipáticas ........................................................................................................ 59
5

6 EVOLUÇÃO ESPIRITUAL .................................................................................................59


6.1 ETAPAS DO PROCESSO EVOLUTIVO ........................................................................ 60
6.3 TEMA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 61
6.3.1 Providência Divina ........................................................................................................ 61
6.2 REVISÃO 5 ..................................................................................................................... 63

7 PROGRAMA - SEMINÁRIO ...............................................................................................64

8 ANEXOS ............................................................................................................................64
8.1 ANEXO 1 - A paixão do fenômeno ................................................................................. 64
8.2 ANEXO 2 - Sono e sonhos ............................................................................................. 70
8.3 ANEXO 3 - Os fluidos ..................................................................................................... 76
8.4 ANEXO 4 - ação da prece:transmissão de pensamento ................................................ 80
8.5 ANEXO 5 - os três reinos ............................................................................................... 84
8.6 ANEXO 6 - a espiritualidade dos animais....................................................................... 87
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................90
6

1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DOUTRINA ESPÍRITA

1.1 O CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA

Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelare,


cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu e, figuradamente,
descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida.
Segundo Léon Denis, revelação significa simplesmente ação de levantar um
véu e descobrir coisas ocultas.
Nenhuma ciência existe que haja saído prontinha do cérebro de um homem.
Todas, sem exceção nenhuma, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em
observações precedentes, como em um ponto conhecido, para chegar ao
desconhecido. Foi assim que os Espíritos procederam, com relação ao Espiritismo.
Daí ser gradativo o ensino que ministram.
A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade.
Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por
conseqüência, não existe revelação. O caráter essencial da Revelação Divina é o da
eterna verdade.
Além disso, convém notar que em parte alguma o ensino espírita foi dado
integralmente; ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão
diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, que impossível
era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas as condições necessárias. Tendo
o ensino que ser coletivo e não individual, os Espíritos dividiram o trabalho,
disseminando os assuntos de estudo e observação como, em algumas fábricas, a
confecção de cada parte de um mesmo objeto é repartida por diversos operários.
Por sua natureza a revelação espírita tem duplo caráter participa ao mesmo
tempo da revelação divina e da revelação científica.
Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua
origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do
homem.
Por isso, o moderno espiritualismo não dogmatiza nem se imobiliza. Não
alimenta pretensão alguma à infalibilidade. Posto que superior aos que o
precederam, o ensino espírita é progressivo como os próprios Espíritos. Ele se
desenvolve e completa à medida que, com a experiência, se efetua o progresso nas
7

duas humanidades, a da Terra e a do espaço - humanidades que se penetram


mutuamente e das quais cada um de vós deve, alternativamente, fazer parte.

1.2 AS OBRAS BÁSICAS

• O Livro dos Espíritos


Publicado em 18 de abril de 1857. Este é o livro básico da Doutrina Espírita.
Nele estão contidos os princípios fundamentais do Espiritismo, tal como foram
transmitidos pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec, através do concurso de
diversos médiuns.
Seu conteúdo é apresentado em quatro partes: das Causas Primárias; do
Mundo Espírita ou dos Espíritos; das Leis Morais; e das Esperanças e Consolações.

• O Livro dos Médiuns


Publicado em janeiro de 1861. Neste livro, Espíritos Superiores explicam todos
os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com os Espíritos, o
desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que eventualmente
possam surgir na prática mediúnica. É constituído de duas partes: Noções
Preliminares e das Manifestações Espíritas.

• O Evangelho Segundo o Espiritismo


Publicado em abril de 1864. Enquanto o Livro dos Espíritos apresenta a
Filosofia Espírita, O Livro dos Médiuns a Ciência Espírita, O Evangelho Segundo o
Espiritismo oferece a base e o roteiro da Religião Espírita. Logo na introdução deste
livro, o leitor encontrará as explicações de Kardec sobre o objetivo da obra,
esclarecimentos sobre a autoridade da Doutrina Espírita, a significação de muitas
palavras freqüentemente empregadas nos textos evangélicos, a fim de facilitar a
compreensão do leitor para o verdadeiro sentido de certas máximas do Cristo, que a
primeira vista podem parecer estranhas. Ainda na introdução, refere-se a Sócrates e
a Platão como precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo.
O Evangelho Segundo o Espiritismo compõe-se de 28 capítulos, 27 dos quais
dedicados à explicação das máximas de Jesus, sua concordância com o Espiritismo
e sua aplicação às diversas situações da vida.
8

• O Céu e o Inferno
Publicado em agosto de 1865. Denominado também "A Justiça Divina Segundo
o Espiritismo", este livro oferece o exame comparado das doutrinas sobre a
passagem da vida corporal à vida espiritual.
O Céu o Inferno coloca ao alcance de todos o conhecimento do mecanismo
pelo qual se processa a Justiça Divina, em concordância com o princípio evangélico:
"A cada um, segundo suas obras".

• A Gênese
Publicada em janeiro de 1868. Destacam-se os temas: existência de Deus,
origem do bem e do mal, destruição dos seres vivos uns pelos outros, explicações
sobre as leis naturais, a criação e a vida no Universo, a formação da Terra, a
formação primária dos seres vivos, o homem corpóreo e a união do princípio
espiritual à matéria.

1.3 O ESPIRITISMO

O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de
provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas
relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa
sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas da Natureza, como a
fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso,
relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. O Espiritismo é a chave
com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.
O Espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus, mas não tem a
personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um
homem, sim pelos Espíritos "que são as vozes do Céu", em todos os pontos da
Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários.
Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la", também o
Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução". Nada ensina
em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve, completa, explica, em
termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob a forma alegórica. O
Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de
Verdade preside a sua instituição, chama os homens à observância da Lei e ensina
9

todas as coisas fazendo compreender melhor o que o Cristo disse. O Espiritismo


vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegoria.

1.4 A DOUTRINA ESPÍRITA

1.4.1 Aspectos Filosófico e Científico

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina


filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre
nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que
dimana dessas mesmas relações.
Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza,
origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
Em vista disto, a Doutrina Espírita apresenta três aspectos: o filosófico, o científico e
o religioso.
Quando o homem pergunta, interroga, cogita e quer saber o “como” e o “por
que” das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, nasce a FILOSOFIA. O caráter
filosófico do Espiritismo está, portanto, no estudo que faz do Homem: de seu
Espírito, seus problemas, sua origem e destinação. Esse estudo leva ao
conhecimento do mecanismo das relações dos homens que vivem na Terra, com
aqueles que já se despediram dela, temporariamente, pela morte. Estabelece as
bases desse permanente relacionamento, demonstrando a existência inquestionável
de algo que tudo cria e tudo comanda inteligentemente - DEUS.
Definindo as responsabilidades do Espírito - quando encarnado (Alma) e
também quando desencarnado, o Espiritismo é Filosofia, regra moral que visa o
comportamento dos seres da Criação, dotados de sentimento, razão e consciência.
O Espiritismo passa de Filosofia à Ciência, quando confirma, pela
experimentação, os conhecimentos filosóficos, que prega e dissemina.
Como Filosofia, trata do conhecimento frente à razão; indaga dos princípios e
das causas; perscruta o Espírito e interpreta os fenômenos. Como Ciência, prova-os.
Os fatos ou fenômenos espíritas, isto é, produzidos por Espíritos
desencarnados, são a substância da Ciência Espírita e seu objetivo é o estudo e o
conhecimento desses fenômenos, para a fixação das leis que os regem.
No seu aspecto Científico e Filosófico, a Doutrina será sempre um campo
10

nobre de investigações humanas, como outros movimentos coletivos de natureza


intelectual, que visam o aperfeiçoamento da Humanidade.

1.4.2 Aspecto Religioso

O homem primitivo, não conseguindo a explicação para os vários fenômenos


naturais, entre os quais a chuva, o relâmpago, o trovão, a germinação da semente, o
nascimento e a morte, atribuía-os a uma ou várias potências superiores, às quais
reverenciavam, quer pelo temor que inspiravam, quer pelo caráter maravilhoso ou
sobrenatural de que eram revestidas.
Nasciam assim as primeiras formas de adoração, através dos mais diferentes
cultos, que deram origem a muitas religiões do passado. Nesses cultos,
sobressaiam-se determinados indivíduos, alguns, quem sabe, portadores de certos
dons. Desde tempos imemoriais, há registros de fenômenos mediúnicos que
ganharam notoriedade. Eram os sacerdotes, que receberam os mais variados
nomes, entre os diferentes povos.
As religiões sofreram modificações no decorrer do tempo, para se adequarem
às necessidades das diversas sociedades. Cultuavam divindades diferentes, com
ritos diversificados, assim como as mais variadas concepções de Deus.
Com o advento da era da razão, houve necessidade do aparecimento de uma
nova forma de ligação: homem - Deus. O homem mais maduro e racional já se
encontrava em condições de compreender Deus de um modo mais imaterial e
adorá-lo sem a necessidade de cultos meramente exteriores. Foi em função desta
evolução humana, que nos meados do século passado, surge a Doutrina Espírita.
O Espiritismo não tendo formas exteriores de adoração, nem sacerdotes, nem
liturgias, nem dogmas, não é entendidos por muitos como Religião. Todavia, tendo
como exemplo o Cristianismo o seu nascedouro, reconhecemos que, para uma
doutrina ter o caráter religioso, não é necessária nenhuma estrutura complicada,
senão um conjunto de princípios capazes de transformar o homem para melhor.
A Doutrina Espírita, como Ciência e como Filosofia, dá ao homem o
conhecimento dos grandes enigmas da vida, dentro de princípios lógicos. Através
dela, ficamos sabendo o que somos, de onde viemos e para onde iremos após a
morte do corpo físico e ainda, como responderemos pelo comportamento bom ou
mau que aqui tivermos.
11

Foi reconhecendo essa gama de conseqüências morais, que afetariam por


certo os seguidores do Espiritismo e, por inspiração de Entidades Superiores, que
Allan Kardec fez publicar, em 1864, o "Evangelho Segundo o Espiritismo", admitindo
que a moral espírita é a moral do Evangelho, entendido este no seu sentido lógico e
não desfigurado, quer pela letra, quer pelo dogma, aceitando-o nos pontos não
controversos e que pudessem atender à educação humana.
Emmanuel nos diz que "Religião é o sentimento Divino, cujas exteriorizações
são sempre o amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia
operam o trabalho da experimentação e do raciocínio, a Religião edifica e ilumina os
sentimentos". As primeiras se irmanam na Sabedoria, a Segunda personifica o
Amor, as duas asas divinas com que a alma penetrará, um dia, nos pórticos
sagrados da espiritualidade.
Através dos ensinamentos espíritas pode-se fazer uma diferença entre
Religião, propriamente dita, e religiões no sentido de seitas humanas. Religião, para
todos os homens, deveria compreender-se como sentimento divino que clarifica o
caminho das almas e que cada Espírito aprenderá na pauta do seu nível evolutivo.
Neste sentido, a Religião é sempre a face augusta e soberana da Verdade, porém,
na inquietação que lhes caracteriza a existência na Terra, os homens se dividiram
em numerosas religiões como se a fé também pudesse ter fronteiras.
A Religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As religiões
são organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles próprios; dignas de
todo o acatamento, misturados com os elementos da Terra em que caíram.

1.5 O ESPIRITISMO E OS RITUAIS

Cristianizar, na Doutrina Espírita, é esclarecer de forma racional, contribuindo


para que não venhamos a ter sobre a Terra, mais um sistema de fanatismo e de
negação. Precisamos da luz do esclarecimento da Doutrina, que recomenda ao
homem procurar esforçar-se, estudar e se reformar, para que agindo de acordo com
a Lei de Deus e com os ensinamentos de Jesus, conquiste progresso espiritual cada
vez maior.
A Doutrina Espírita ou o Espiritismo é luz e bússola, que veio para o progresso
da Humanidade. Não é um conjunto de práticas ritualísticas que deslumbra, nem
oferece rituais para a solução de problemas. O Espiritismo difere de todas as
12

religiões conhecidas, por demonstrar a lógica dos seus ensinos através de


experiências científicas, e por apresentar uma filosofia também baseada em
experimentos e observações.
As tentativas para fundamentar a introdução de rituais, incensos, imagens e
outros objetos de culto material no meio espírita, invocam sempre um pressuposto
espiritualista como generalidade, ou fazer apelo á tolerância. Não há, entretanto,
razão alguma para tais pretextos, uma vez que o Espiritismo, pelas suas disposições
doutrinárias, dispensa completamente, qualquer forma de ritual ou peças litúrgicas.
Afirma Allan Kardec com referência a essas práticas: "muitas pessoas
prefeririam certamente outra receita mais fácil para repelirem os maus Espíritos: por
exemplo, algumas palavras que se proferissem, ou alguns sinais que se fizessem, o
que seria mais simples do que corrigir-se alguém de seus defeitos. Sentimos muito,
porém, nenhum meio eficaz conhecemos de vencer-se, um inimigo, senão o fazer-se
mais forte que ele. Temos, pois, que nos persuadir de que não há, para alcançarmos
aquele resultado, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem sinais materiais
quaisquer..."
Não tendo estudado e compreendido bem a Doutrina Espírita, muitas pessoas
aderem ao Espiritismo, porém ainda tem laços espirituais com a religião de origem e
continuam presas a certas tradições do culto antigo. Devemos compreender
claramente todas as predileções religiosas, mas, o Espiritismo em si nada tem a ver
com as tendências pessoais. É uma questão de coerência com a Doutrina.
Apesar de se haver fundamentado no fenômeno de ordem mediúnica,
vulgarmente chamado de além-túmulo, o Espiritismo ou a doutrina Espírita, tem
como base experimental ou científica, os fatos ou provas já confirmadas. O
fenômeno, por si só, não é o Espiritismo; é a demonstração da sobrevivência da
alma ou da comunicação entre vivos e mortos, em qualquer parte, dentro e fora da
Seara Espírita. O Espiritismo define o fenômeno, adota o método experimental,
separa o que é animismo e o que é comunicação ou manifestação de Espírito
desencarnado, metodiza o exercício da mediunidade e, por fim, estabelece
conclusões lógicas.
Se, apesar da generalidade dos fenômenos, o Espiritismo é a Doutrina Espírita,
e quem diz é Allan Kardec, é lógico afirmar, forçosamente, que o fenômeno sem a
Doutrina Espírita, seja na Umbanda, seja onde for, não é Espiritismo. Os Espíritos
Superiores afirmam que todos os rituais, só tornam ridículas as pessoas que as
13

usam. Não há palavra sacramental, sinal cabalístico, talismãs, nenhuma prática


exterior, capaz de exercer ação sobre os Espíritos, porquanto estes, só são atraídos
pelo pensamento e não pelas coisas materiais.

1.6 TEMA COMPLEMENTAR

1.6.1 Como o espiritismo vê as outras religiões

Alamar Régis Carvalho - adaptado

Quando você ouve um programa de rádio ou assiste um de televisão, entre os


inúmeros programas religiosos que proliferam nas nossas emissoras, raro é o dia em
que um desses “pastores” não ataca o Espiritismo, definindo-o da maneira como
eles acham que é e não como realmente é. Embora afirmando que falam em nome
de Jesus, não pensam duas vezes em usar argumentos desonestos, para atacarem
o Espiritismo, fazendo crer às pessoas que Espiritismo e macumba, por exemplo, é a
mesma coisa, e a usarem expressões absurdas e mentirosas como “baixo e alto
espiritismo", “espiritismo de mesa e espiritismo de terreiro”. Chegam inclusive a usar
argumentos equivocados afirmando que a Bíblia condena o Espiritismo, o que é um
absurdo, porque um livro escrito a milhares de anos não poderia condenar uma
Doutrina que só veio existir a apenas 150 anos. Em momento algum, fazem qualquer
referência aos inúmeros e incontáveis exemplos de amor ao próximo, da Caridade e
dos exemplos de coerência evangélica que o Espiritismo proporciona.
E qual é a posição do Espiritismo?
Em hipótese alguma admite atacar religião de quem quer que seja. Respeita a
liberdade de credo do próximo, porque, além disso, ser um direito constitucional de
uma nação, é um direito humano. O Espiritismo faz a sua parte, porque é um
princípio de educação cuidar primeiro da sua vida, antes de se envolver com a vida
dos outros.
Quanto ao papel das outras religiões, o Espiritismo, dando um exemplo
contrário aos que o atacam, define como “todas são úteis” ao ser humano. Embora
não concorde com os dogmas e muitos princípios e práticas usadas por outras
14

religiões, prefere procurar os lados bons delas, que são muitos, do que viver
mergulhado num radicalismo ridículo de críticas e oposição. O Espiritismo sabe
reconhecer muito bem os valores extraordinários de homens cujas vidas são de
dedicação à causa do Cristo, embora atuando em religiões diferentes.
Seria coerente que os Espíritas considerassem condenados homens
admiráveis, só porque não comungam de todas as suas idéias? Desde quando o
radicalismo e a incoerência estão compatíveis com Jesus?
O Espiritismo tem o maior respeito pelo Catolicismo, porque ele deu ao mundo
seres maravilhosos como Francisco de Assis, Antonio de Pádua, Tereza D’Avila,
João de Deus, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e uma infinidade de gente
verdadeiramente abençoada.
Será coerente que continuemos a condenar todos os trabalhadores do
catolicismo só porque há alguns séculos alguns imbecis praticaram atrocidades em
nome do Cristo, representando esta religião na inquisição?
É um absurdo!
Baseados em que estariam os Espíritas se julgassem condenados todos os
protestantes, só porque ainda não admitem a reencarnação, deixando de
reconhecer a importância para a humanidade de um Pastor Martin Luther King, um
Albert Schweitzer e vários outros que deram e continuam dando ao mundo exemplos
de verdadeira coerência com Jesus?
Será que teríamos que condenar esses brilhantes homens só porque não
acreditam na reencarnação, não aceitam a comunicação do mundo encarnado com
o mundo espiritual, acreditam na existência de Satanás e em castigo de Deus?
Em absoluto. Não teria o menor sentido.
Fiquemos com os pontos comuns, que são absoluta maioria, e deixemos os
pontos conflitantes de lado. Em verdade, esta é a postura do Espiritismo, totalmente
coerente com os Ensinamentos de Jesus: “Não julgueis...”.

1.7 REVISÃO 1

Leia as perguntas, reflita, consulte o seu material, depois responda - se puder


faça consulta aos livros recomendados na bibliografia. Não esqueça de anotar suas
dúvidas para esclarecê-las em aula.
15

1) Os fenômenos mediúnicos e as revelações dos Espíritos surgiram com o


Espiritismo?
2) Por que Allan Kardec é denominado "codificador’ do Espiritismo, e não seu
"criador" ou "fundador"?
3) Das diversas obras publicadas por Allan Kardec, cinco são consideradas básicas
para o estudo e entendimento do Espiritismo. Quais são?
4) Faça um resumo dos assuntos abordados em "O Livro dos Espíritos".
5) Quais das obras básicas estudam mais diretamente os fenômenos mediúnicos e
os aspectos científicos do Espiritismo?
6) Quais das obras básicas estudam mais diretamente as conseqüências morais e
os aspectos religiosos do Espiritismo?
7) Quais os três aspectos da Doutrina Espírita?
8) O que é abordado pelo aspecto científico do Espiritismo?
9) O que é abordado pelo aspecto filosófico do Espiritismo?
10) O que é abordado pelo aspecto religioso do Espiritismo?
11) Como o conhecimento espírita pode contribuir para o desenvolvimento da
ciência oficial?
12) Em que sentido podemos entender a palavra "revelação" aplicada ao
Espiritismo?
13) Por que é importante o estudo dos Evangelhos?
14) Em sua opinião qual a finalidade da Revelação Espírita?
15) Quais as características da Revelação Espírita?

2 DEUS E AS LEIS DIVINAS

2.1 DEUS

Há um Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. No


estado de inferioridade em que ainda se encontram, só muito dificilmente podem os
homens compreender que Deus seja infinito. Vendo-se limitados e circunscritos, eles
o imaginam também circunscrito, figuram-no quais eles são, à imagem e
semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos contribuem
para entreter esse erro no espírito das massas, que nele adoram mais a forma que o
pensamento. Para a maioria, é Ele um soberano poderoso, sentado num trono
16

inacessível e perdido na imensidade dos céus. Não compreendem que Deus possa
e se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas.
A prova da existência de Deus temo-Ia neste axioma: “Não há efeito sem
causa”. Vemos constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está na
Humanidade, pois que a humanidade é impotente para produzi-los, ou, sequer, para
explicar. A causa está acima da Humanidade. E a essa causa que se chama Deus,
Jeová, Alá, Brama, Fo-Hi, Grande Espírito, etc.
Tais efeitos absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e em
desordem. Desde a organização do mais pequenino inseto, e da mais insignificante
semente, até a Lei que rege os mundos que circulam no Espaço, tudo atesta uma
idéia diretora, uma combinação, uma providência, uma solicitude que ultrapassam
todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente.
Lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, notando a
providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconhece o
observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa
inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são
produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos se sustente que há
efeito sem causa.
A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do
mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Outro tanto ocorre com o mecanismo
do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.
A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada não só pela
revelação, como pela evidência material dos fatos. Os povos selvagens nenhuma
revelação tiveram; entretanto, crêem instintivamente na existência de um poder
sobre-humano. Eles vêem coisas que estão acima das possibilidades do homem e
deduzem que essas provêm de um ente superior à Humanidade. Não demonstram
raciocinar com mais lógica do que os que pretendem que tais coisas se fizeram a si
mesmas? O conhecimento da verdade sobre Deus, sobre o mundo e a vida é o que
há de essencial, pois é Ele que nos inspira, nos sustenta e nos dirige, mesmo à
nossa revelia.

2.2 ATRIBUTOS DE DEUS

Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreende-lo,


17

ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração
do Espírito, mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que
aceite como premissa a sua existência, pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe
os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele não pode ser, sem deixar de
ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se
a obra da criação. Esse é o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por
não se terem reportado a isso, que a maioria das religiões errou em seus dogmas.
As que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram muitos deuses; as que não
lhe atribuíram soberana bondade fizeram Dele cioso, colérico, parcial e vingativo.
Deus é a suprema inteligência - É limitada a inteligência do homem, pois que
não se pode nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito,
tem que ser infinita e ilimitada.
Deus é eterno - Não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria
saído do nada ou teria sido criado por outro ser anterior. Neste caso este ser é que
seria Deus.
Deus é imutável - Se estivesse sujeito a mudanças nenhuma estabilidade
teriam as leis que regem o Universo.
Deus é imaterial - Isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos
matéria.
Deus é único - Se muitos deuses houvesse, não haveria unidade de vistas,
nem unidade de poder na ordenação do Universo.
Deus é onipotente - Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia
conceber algo mais poderoso ou tão poderoso quanto Ele.
Deus é soberanamente justo e bom - A sabedoria providencial das leis divinas
se revela nas menores coisas, assim como nas maiores.
Em resumo: Deus não pode ser Deus se não com a condição de não ser
ultrapassado em nada por outro ente; pois, então, o verdadeiro Deus seria aquele
que o ultrapassasse em qualquer assunto. Para que tal não se dê, é preciso que Ele
seja infinito em todas as coisas.

2.3 LEI NATURAL

A Lei Natural é Lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem.


18

Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se
afasta. Todas as Leis na Natureza são Leis Divinas, pois que Deus é o autor de
tudo. Para que o homem possa aprofundar-se nas Leis de Deus é preciso muitas
existências.
Entre as Leis Divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria
bruta: as leis físicas, cujo estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras, dizem
respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas suas relações
com Deus e com seus semelhantes. Contém as regras da vida do corpo, bem como
as da vida da alma: são as Leis Morais.
Todos podem conhecer a Lei de Deus, mas nem todos a compreendem. Os
homens de bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a
compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é
que o progresso se efetue. A alma compreende a Lei de Deus de acordo com o grau
de perfeição que tenha atingido e dela guarda a intuição quando unida ao corpo.
Essa lei está escrita na consciência do homem. Como ele a esquece e despreza,
Deus a lembra através de seus missionários, que são Espíritos Superiores que se
encarnam na Terra, com a missão de fazer progredir a humanidade.
A moral é a regra do bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. O bem é
tudo o que é conforme a Lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Deus deu
inteligência ao homem para distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal.
A Lei de Deus é a mesma para todos: porém, o mal depende, principalmente,
da vontade que se tenha de o praticar. Tanto mais culpado é o homem, quanto
melhor sabe o que faz. Não basta que o homem deixe de praticar o mal: cumpre-se
fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja
resultado de não haver praticado o bem.
A divisão da Lei Natural em dez partes compreende as Leis de Adoração,
Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade,
Liberdade e por fim a de Justiça, Amor e Caridade.

2.3.1 Lei de Adoração

A adoração consiste na elevação do pensamento a Deus. E um sentimento


inato no homem, como o da existência de Deus. A consciência da sua fraqueza leva
o homem a curvar-se diante daquele que o pode proteger. Nunca houve povos
19

destituídos de todo sentimento de adoração. Todos compreendem que acima de


tudo há um ente supremo.
A adoração verdadeira não precisa de manifestações exteriores, pois ela parte
do coração. A adoração exterior se não constituir num vão simulacro, tem seu valor
relativo. Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade,
fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-Lo com cerimônias que os
não tomam melhores para com os seus semelhantes.
A adoração em comum dá mais força aos homens para atrair a si os bons
Espíritos. Entretanto, não devemos crer que menos valiosa seja a adoração
particular, pois que cada um pode adorar a Deus pensando Nele.
Perante Deus não tem mérito a vida contemplativa, porquanto se é certo que
não fazem o mal também o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não fazer
o bem já é um mal. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação
nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil
à Humanidade.
A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada do coração, pois, para Ele,
a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida. Orar a Deus
é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunhão com Ele. A três coisas
podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.
O pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação que
alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal. A prece que façamos por
outrem é um ato dessa vontade.
As nossas provas estão nas mãos de Deus e algumas há que tem que ser
suportadas até o fim; mas, sempre Deus leva em conta a resignação. A prece traz
para junto de nós os bons Espíritos e, dando-nos estes a força de suportá-las,
corajosamente, menos rudes elas nos parecem.

2.3.2 Lei do Trabalho

O trabalho é lei da Natureza, por isso que constitui uma necessidade, e a


civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e
os gozos. O Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.
O trabalho se impõe ao homem por ser uma conseqüência da sua natureza
corpórea. E um meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Em mundos mais
20

adiantados também existe o trabalho, porém a sua natureza está em relação com a
natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos material é o
trabalho. Mesmo neste mundo, o homem que possua bens suficientes para lhe
assegurarem a existência, não está isento do trabalho. Deve ser útil aos
semelhantes conforme os meios de que disponha. Os filhos devem trabalhar para
seus pais, do mesmo modo que os pais têm de trabalhar para seus filhos, pois os
membros de uma família devem ajudar-se mutuamente.
O repouso é uma lei da Natureza, pois serve para a reparação das forças do
corpo e, também, é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a
fim de que se eleve acima da matéria. O limite do trabalho é o das forças e, a esse
respeito, Deus deixa inteiramente livre o homem, porém, todo aquele que tem o
poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus
inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus. O homem tem o
direito de repousar na velhice. Não tendo este família, a sociedade deve fazer às
vezes desta. E a Lei de Caridade.

2.3.3 Lei de Reprodução

E lei da Natureza a reprodução dos seres vivos, sem o que o mundo corporal
pereceria. Mesmo com a progressão crescente que vemos a população não chegará
a ser excessiva, pois Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele, coisa
alguma inútil faz. O homem, que apenas vê um canto do quadro da Natureza, não
pode julgar da harmonia do conjunto.
Os homens atuais não formam uma criação nova, pois são os mesmos
Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão
longe da perfeição.
Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral. Deus
concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar,
sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades. Não
deve opor-se-lhe sem necessidade. A ação inteligente do homem é um contrapeso
que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza e é,
ainda isso, o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de
causa.
21

Mas, os mesmos animais também concorrem para a existência desse


equilíbrio, porquanto o instinto de destruição que lhes foi dado faz com que,
provendo à própria conservação, obstem ao desenvolvimento excessivo, quiçá
perigoso, das espécies animais e vegetais de que se alimentam. Quanto, porém, aos
usos cujo efeito consiste em obstar à reprodução, para satisfação da sensualidade,
trata-se da predominância do corpo sobre a alma, o que demonstra quanto o homem
é material.
O casamento representa uma medida para a marcha e progresso da
humanidade. Sua abolição seria uma regressão à vida dos animais. A
indissolubilidade absoluta do casamento é uma lei humana. Mas os homens podem
modificar suas leis: só as da Natureza são imutáveis. O celibato voluntário,
entretanto, representa egoísmo e desagrada a Deus e engana o mundo. Não se
deve confundir com celibato voluntário com aquele que é feito, como sacrifício, a
serviço da Humanidade, porque todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para
o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito.
A poligamia é lei humana cuja abolição marcou um progresso social. O
casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que
se unem. Na poligamia não há afeição real: há apenas sensualidade.

2.3.4 Lei de Conservação

Todos os seres vivos possuem o instinto de conservação, seja qual for o grau
de sua inteligência. Em uns, é puramente maquinal, raciocinado em outros. Todos os
seres têm que concorrer para o cumprimento dos desígnios da Providência, daí
porque Deus lhes outorgou o instinto de conservação. Acresce que a vida é
necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem disso
se aperceberem.
Tendo dado ao homem a necessidade de viver, Deus lhe facultou, em todos os
tempos, os meios de o conseguir. Essa a razão por que faz que a Terra produza de
modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é
útil. A Terra produzida sempre o necessário, se com o necessário soubesse o
homem contentar-se. Se a uns falta os meios de subsistência, ainda quando os
cerca a abundância, deve-se atribuir isso ao egoísmo dos homens, que nem sempre
fazem o que lhes cumpre.
22

O uso dos bens terrenos é um direito de todos os homens. Deus não imporia
um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo. Pôs atrativos no gozo dos bens
materiais, objetivando, assim, desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos
excessos.
O homem que procura nos excessos de todo o gênero o requinte do gozo,
coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua
necessidade.
Aquele que é ponderado conhece o limite do necessário por intuição. Muitos só
chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa. Por meio da
organização que lhe deu, a Natureza traçou ao homem o limite das necessidades;
porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não
são reais.
Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas
inúteis: e o homem poder tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do
bastante.
Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação,
segundo a caridade cristã. Não é racional a abstenção de certos alimentos, pois,
permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que não lhe prejudique a saúde.
Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam o homem, porque vem de
Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o
bem de outrem.

2.3.5 Lei de Destruição

Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. O que chamamos


de destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e
melhoria dos seres vivos. Para se alimentarem, os seres vivos reciprocamente se
destroem, destruição esta que obedece a um duplo fim: manutenção do equilíbrio na
reprodução, que poderia tomar-se excessiva, e utilização dos despojos do invólucro
exterior que sofre a destruição e que não é parte essencial do ser pensante.
A Natureza cerca os seres de meios de preservação e conservação a fim de
que a destruição não se dê antes do tempo.
Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de
Deus. Os animais só destroem para satisfação de suas necessidades, enquanto que
23

o homem, dotado de livre-arbítrio, o faz sem necessidade. Terá que prestar contas
do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que cede aos maus
instintos.
A vida terrena pouco representa com relação à vida espiritual; - por isso, pouca
importância tem para o Espírito os flagelos destruidores, sob o ponto de vista do
sofrimento. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o
espetáculo é semelhante ao de um exército, cujos soldados, durante a guerra,
ficassem com os seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos.
O que impele o homem à guerra é a predominância da natureza animal sobre a
natureza espiritual e transbordamento das paixões. À medida que ele progride,
menos freqüente se toma a guerra. Quando os homens compreenderem a justiça e
praticarem a lei de Deus, a guerra desaparecerá da face da Terra. Grande culpado é
aquele que suscita a guerra.
A crueldade é o instinto de destruição no que tem de pior, porquanto, se,
algumas vezes, a destruição constituí uma necessidade, com a crueldade jamais se
dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má. A crueldade forma o caráter
predominante dos povos primitivos, porquanto nestes a matéria prepondera sobre o
Espírito. A crueldade se encontra também no seio da mais avançada civilização, do
mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram verdadeiros
abortos, pois Espíritos de ordem inferior podem encarnar entre homens adiantados,
na esperança de também se adiantarem.
O que se chama ponto de honra, em matéria de duelo não passa de orgulho e
vaidade. Um dia, quando os homens estiverem mais esclarecidos, desaparecerá da
face da Terra a pena de morte. Há outros meios de se preservar do perigo, que não
matando. Demais, é preciso abrir e não fechar ao criminoso a porta do
arrependimento.

2.3.6 Lei de Sociedade

Deus fez o homem para viver em sociedade. O isolamento absoluto é contrário


à lei da Natureza, pois que, por instinto, os homens buscam a sociedade e todos
devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente. O homem tem que
progredir, insulado, não é possível. Isolamento absoluto é uma satisfação egoísta.
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Não pode agradar a Deus uma vida pela qual o homem se condena a não ser útil a
ninguém.
Entre os animais, os pais e os filhos deixam-se de reconhecer-se, desde que
estes não mais precisem de cuidados, porquanto vivem vida material e não vida
moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação dos
seres que ela deu à luz. Logo que esses seres possam cuidar de si mesmos, está
ela com a tarefa concluída. No homem há alguma coisa a mais, além das
necessidades físicas: há a necessidade de progredir. Os laços de família solidificam
os laços sociais que são necessários ao progresso.

2.3.7 Lei do Progresso

O homem não pode retrogradar para o estado de natureza, pois ele tem que
progredir incessantemente. Pensar que possa retrogradar à sua primitiva condição,
fora negar a Lei do Progresso. O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente.
Mas, nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os
mais adiantados auxiliam o progresso dos outros por meio do contato social. O
progresso moral decorre do intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente. O
progresso intelectual faz compreensível o bem e o mal, e o homem, assim, pode
escolher. A moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a
equilibrar-se.
Os maiores obstáculos ao progresso moral são o orgulho e o egoísmo,
porquanto o intelectual se efetua sempre. Os povos, que apenas vivem a vida do
corpo, nascem, crescem e morrem, porque a força de um povo se exaure, como a
de um homem. Mas, aqueles, cujas íeis se harmonizam com as leis eternas do
Criador, viverão e servirão de farol aos outros povos.
A civilização é um progresso incompleto, porque o homem não passa
subitamente da infância à madureza. Quando a moral estiver desenvolvida quanto à
inteligência, a civilização alcançará condição para fazer com que desapareçam os
males que haja produzido. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar
alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso
moral.
Se todos compreendessem as Leis Naturais, não seriam necessárias às leis
especiais. Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas.
25

Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe
secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens que, então, não mais
precisarão de leis tão rigorosas.
O Espiritismo contribui para o progresso destruindo o materialismo, que é uma
das chagas da sociedade. Os Espíritos não ensinaram em todos os tempos o que
ensinam hoje, porquanto, cada coisa vem ao seu tempo. Eles ensinaram muitas
coisas que os homens não compreenderam ou adulteraram, mas que podem
compreender agora.

2.3.8 Lei de Igualdade

Todos os homens são iguais perante Deus e estão submetidos às mesmas leis
da Natureza. Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo
nascimento, nem pela morte: todos, aos seus olhos, são iguais. Deus criou iguais
todos os Espíritos, mas cada um viveu maior ou menor soma de’ aquisições. A
diferença entre eles está na diversidade dos graus de experiência alcançada e da
vontade com que obram, vontade que é o livre-arbítrio. Daí aperfeiçoarem-se uns
mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. Assim é que cada
qual tem seu papel útil a desempenhar.
A desigualdade social não é lei da Natureza. É obra do homem, e não de Deus.
Um dia desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar.
Restará apenas a desigualdade do merecimento. Dia virá em que os membros da
grande família dos filhos de Deus deixarão de considerar-se como de sangue mais
ou menos puro. Os que abusaram da superioridade de suas posições sociais, para,
em proveito próprio, oprimir os fracos serão, a seu turno, oprimidos: renascerão
numa existência em que terão de sofrer o que tiverem feito sofrer aos outros.
A desigualdade das riquezas origina-se, quase sempre da injustiça entre os
homens. Muitas vezes, a riqueza vem a ter às mãos de um homem, para lhe
proporcionar ensejo de reparar uma injustiça. A igualdade de riqueza não pode
existir, pois, a isso, se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres. Aqueles
que julgam ser esse o remédio aos males da sociedade, não compreendem que a
igualdade com que sonham seria a curto prazo desfeita pela força das coisas.
Com o bem-estar não se dá a mesma coisa, mas é relativo e todos poderiam
dele gozar, se se entendessem convenientemente, porque o verdadeiro bem-estar
26

consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza e não na execução de
trabalhos pelos quais nenhum gosto existe. Como cada um tem aptidões diferentes,
nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio: o homem é quem o
perturba.
Deus concede a uns as riquezas e o poder, e a outros a miséria, para
experimentá-los de modo diferente. Além disso, como sabemos, essas provas foram
escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com
freqüência. As misérias provocam queixas contra a Providência e a riqueza incita a
todos os excessos. Com a riqueza, as necessidades do homem aumentam e ele
nunca julga possuir o bastante para si unicamente.
Deus outorgou, tanto ao homem como à mulher, inteligência do bem e do mal e
a faculdade de progredir. A inferioridade da mulher em certos países provém do
predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem. A mulher é mais fraca,
fisicamente, e, por isso, os seus trabalhos são mais leves. Ao homem, por ser mais
forte, cabe-lhe os trabalhos mais rudes, mas ambos devem ajudar-se mutuamente a
suportar as provas.

2.3.9 Lei de Liberdade

Não há no mundo posições em que o homem possa jactar-se de liberdade


absoluta, porquanto todos precisam uns dos outros, assim os pequenos como os
grandes. Só na posição do eremita do deserto é que o homem poderia gozar de
absoluta liberdade, mas, desde que juntos estejam dois homens, há entre eles
direitos recíprocos que lhes cumprem respeitar.
A escravidão é contrária à lei de Deus, porque é um abuso da força.
Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os
abusos. A desigualdade natural das aptidões coloca certas raças humanas sob a
dependência das raças mais inteligentes, para que estas se elevem, não para
embrutecê-las ainda mais pela escravidão.
A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como todos
os outros pensamentos. A liberdade de consciência é um dos caracteres da
verdadeira civilização e do progresso. Com referência à crença, toda ela é
respeitável, quando sincera e conducente à prática do bem. O homem tem o livre-
arbítrio de seus atos, pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de
27

obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina. Já não é senhor do seu


pensamento aquele cuja inteligência se ache turbada por uma causa qualquer e,
desde então, já não tem liberdade. Essa aberração constitui, muitas vezes, uma
punição para o Espírito que, porventura, tenha sido, noutra existência, fútil e
orgulhoso, ou tenha feito mau uso de suas faculdades. O Espírito, porém, sofre por
efeito desse constrangimento, de que tem perfeita consciência. Está aí a ação da
matéria.
A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar,
desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de
destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado.
No que se refere às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre-
arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir.
Não se deve acreditar que tudo o que nos acontece, estava escrito. Um
acontecimento qualquer pode ser a conseqüência de ato praticado por livre vontade.
Aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de fazê-la ou não. Se soubesse
previamente que, como homem, teria que cometer um crime, o Espírito estaria a isso
predestinado. Ninguém há predestinado ao crime e, todo crime como qualquer outro
ato, resulta sempre da vontade e do livre-arbítrio. O que chamamos fatalidade
decorre do gênero da existência escolhida, portanto não há fatalidade absoluta.
Em princípio, o futuro é oculto ao homem e só em casos raros e excepcionais
permite Deus que seja revelado. Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria do
presente e não obraria com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a idéia
de que, se uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar-se com ela, ou então
procuraria obstar a que acontecesse.

2.3.10 Lei de Justiça, de Amor e de Caridade

O sentimento de justiça está na natureza, porém, é fora de dúvida que o


progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá, pois Deus o pôs no
coração do homem. Daí vem que, freqüentemente, em homens simples e incultos se
deparam noções mais exatas da justiça do naqueles que possuem grande cabedal
de saber. Os homens entendem a justiça de modo diferente, porque a esse
sentimento se misturam paixões que o alteram, fazendo que vejam as coisas por um
prisma falso. A Justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais. Esses
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direitos são regulados por duas leis: a humana e a natural. Tendo os homens
formulado$ leis apropriadas a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram
direitos imutáveis com o progresso das luzes. As leis naturais são reguladas pelas
leis Divinas, resumidas nesta sentença: Queira cada um para os outros o que
quereria para si mesmo.
Os direitos naturais são os mesmos para todos, desde os de condições mais
humildes até os de posições mais elevadas.
O caráter do homem que pratica a justiça em toda a sua pureza, é o do
verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto pratica também o amor ao próximo
e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.
O verdadeiro sentido da palavra caridade é benevolência para com todos,
indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.
O amor e a caridade são complementos da lei de justiça, pois amar o próximo é
fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o
sentido destas palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como irmãos”.
Amar os inimigos é perdoar-lhes e retribuir o mal com o bem. O que assim procede,
se torna superior aos seus inimigos.

2.3.11 Perfeição Moral

A virtude mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.


Toda virtude, entretanto, tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na
senda do bem.
O interesse pessoal é o sinal mais característico da imperfeição do homem. O
bem deve ser feito caritativamente, isto é, com desinteresse, e aquele que o faz sem
idéia preconcebida, pelo só prazer de ser agradável a Deus e ao próximo que sofre,
já se acha num certo grau de progresso, que lhe permitirá alcançar a felicidade muito
mais depressa.
O homem que se põe a estudar os defeitos alheios incorre em grande culpa,
porque será faltar com a caridade, principalmente se o fizer para criticar e divulgar.
Antes de censurarmos as imperfeições dos outros, vejamos se de nós não poderão
dizer o mesmo. Tratemos, pois, de possuir qualidades opostas aos defeitos que
criticamos no nosso semelhante.
29

A paixão está no excesso de que acresce à vontade, visto que o princípio que
lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à
realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal. Uma
paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixamos de poder governá-la
e que dá em resultado um prejuízo qualquer para nós mesmos, ou para outrem.
O homem, pelos seus esforços, pode vencer as más inclinações. O que lhe
falta é a vontade, mas, se pedir a Deus, com sinceridade, os bons Espíritos lhe virão
certamente em auxílio, porquanto essa é a missão deles.
Dentre todos os vícios, o mais radical é o egoísmo. Dele deriva todo o mal.
Quem quiser, desde esta vida, ir-se aproximando da perfeição moral, deve expurgar
o seu coração de todo o sentimento de egoísmo, visto ser ele incompatível com a
justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.
Verdadeiramente, o homem de bem é o que pratica a Lei de Justiça, de Amor e
de Caridade, na sua maior pureza. Possuído do sentimento de caridade e de amor
ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica os
seus interesses à justiça. É bondoso, humanitário e benevolente para com todos,
porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raça, nem de crenças.
Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza
lhes concedem, como quer que os mesmos direitos lhe sejam respeitados.
O meio mais prático e mais eficaz para o homem se melhorar nesta vida e
resistir da atração do mal, é o que indicou um sábio na Antigüidade, quando disse:
Conhece-te a ti mesmo.
O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual.
Muitas falhas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente,
interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos
sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel
dos nossos atos.

2.4 TEMA COMPLEMENTAR

2.4.1 Autoconhecimento

Como nos tempos mais recuados das civilizações mortas, temos de reafirmar
que a maior necessidade da criatura humana ainda é a do conhecimento de si
30

mesma (Emmanuel - O Consolador, 55).


O meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de
resistir à atração do mal, um sábio da Antigüidade vo-lo disse: Conhece-te a ti
mesmo (LE, 919).
"Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha
consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara
a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que
cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que,
todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de
si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de
guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque,
crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos
sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância,
sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes
alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: "Se aprouvesse a
Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de
novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?"
"Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso
próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso
para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado."
"O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual.
Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-
próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera
apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é
muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando
estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a
qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na poderia
ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas
na aplicação de Sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos
semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses
nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao
vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do
que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que
se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus
31

pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia
moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos
asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que
foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra
vida."
"Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não
temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma
felicidade eterna."
"Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam
repouso na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos
desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! Que
é esse descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em
comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de
alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o
futuro. Ora, esta exatamente a idéia que estamos encarregados de eliminar do vosso
íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar
nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa
atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos
damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este
objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos." Santo Agostinho (LE, 919 a)

2.5 REVISÃO 2

Para responder em casa e revisar/tirar as dúvidas em aula.

1. O que é Deus?
2. Por que Kardec pergunta aos Espíritos “o que é Deus” e não “quem é Deus”?
3. Quais as provas da existência de Deus?
4. De que maneira chegamos à conclusão do que é Deus?
5. Descreva cada um dos atributos de Deus.
6. Defina Lei Natural.
7. Quais as duas abrangências gerais da Lei Divina ou Natural?
8. Tendo por base a Lei Natural, como você definiria o bem e o mal?
9. O que é moral?
10. Defina Lei da Adoração.
11. Qual deve ser a qualidade da prece?
12. Que influência exerce o nosso pensamento e a nossa vontade?
32

13. Que atitude devemos ter ao orarmos?


14. Quais as três coisas pelas quais podemos orar?
15. Defina Lei do Trabalho.
16. Por que o trabalho é um dos meios do progresso humano?
17. Qual deve ser o limite do trabalho?
18. O repouso deve ser observado. Por quê?
19. Defina Lei da Reprodução.
20. Qual a importância da reprodução?
21. Qual a importância do casamento?
22. A indissolubilidade do casamento é uma lei humana. Sendo assim, o divórcio
seria da Lei de Deus?
23. Em que circunstâncias o celibato é aceito por Deus?
24. A abolição da poligamia marca o progresso social dos homens. Por quê?
25. Defina a Lei de Conservação e Lei da Destruição.
26. Qual é a necessidade da destruição?
27. Estabeleça uma definição do que é destruição necessária e destruição abusiva.
28. Explique o instinto de conservação.
29. Estabeleça uma relação entre o necessário e o supérfluo para a humanidade.
30. Defina Lei da Sociedade e Lei do Progresso
31. Qual a finalidade da Lei do Progresso?
32. Quais meios devemos empregar para atingi-la?
33. Por que nem sempre o progresso moral acompanha o intelectual?
34. Dê um exemplo de progresso moral e intelectual.
35. Qual o papel do Espiritismo na Lei do Progresso?
36. Defina Lei de Igualdade e Lei de Liberdade.
37. Por que os homens são iguais perante Deus?
38. Como você explicaria a desigualdade social?
39. E a desigualdade entre homens e mulheres?
40. O que representa a liberdade?
41. Existe a liberdade absoluta? Qual o limite da liberdade individual?
42. Qual o papel do pensamento em relação à Lei da Liberdade?
43. Explique o que é fatalidade.
44. Defina Lei de Justiça, de Amor e Caridade e a Perfeição Moral.
45. Qual é a abrangência desta Lei?
46. Estabeleça um paralelo entre a Justiça divina e a humana.
47. Defina Caridade e Amor.
48. O que significa Perfeição moral?
49. Estamos todos fadados a alcançar a perfeição moral? O que devemos fazer para
chegar lá?
50. O conhecimento de si mesmo configura o primeiro passo rumo ao progresso
moral. Como podemos nos conhecer melhor? Que atitudes práticas podemos
tomar rumo a este objetivo?
33

3 IMORTALIDADE DA ALMA

3.1 ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

Os Espíritos são seres inteligentes da criação; povoam o Universo. Foram


criados por Deus, porém quando e como ninguém sabe. São eles individualização
do princípio inteligente, como os corpos são do princípio material. Sua Criação é
permanente, isto é, Deus jamais deixou de os criar, mas sua origem ainda constitui
mistério. O que sabemos é que a existência dos Espíritos não tem fim.

3.2 MUNDO NORMAL PRIMITIVO

Os Espíritos são inteligências incorpóreas que formam um mundo à parte - O


Mundo dos Espíritos. Embora seja o mundo dos Espíritos independente do mundo
corporal, existe perfeita correlação entre ambos, portanto reagem um sobre o outro.
Daí porque os Espíritos estão por toda a parte servindo de instrumento de que Deus
se utiliza para a execução de seus desígnios.

3.3 FORMA E UBIQÜIDADE DOS ESPÍRITOS

Os Espíritos não têm forma determinada, a não ser para eles próprios. Uma
chama, um clarão ou uma centelha podem definir o ‘Espírito. Essa chama ou clarão,
que vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi é, inerente ao
seu grau de adiantamento. Os Espíritos percorrem o espaço com a rapidez do
pensamento e podem, se o quiserem, inteirar-se da distância percorrida. A matéria
não lhes opõe obstáculo: passam através de tudo.
Quanto ao chamado dom da ubiqüidade, o Espírito não pode dividir-se, ou
existir em muitos pontos ao mesmo tempo. Ocorre, entretanto, que cada um é um
centro de irradiação para diversos lugares diferentes, como o Sol irradia para todos
os recantos da Terra sem dividir-se. A força de irradiação de cada Espírito depende
do grau de sua pureza.

3.4 DIFERENTES ORDENS DE ESPÍRITOS

Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição a


que alcançaram. São três as principais ordens: à primeira, pertencem os Espíritos
34

puros, isto é, os que já atingiram a perfeição máxima; à segunda, os que chegaram


ao meio da escala, nos quais já predomina o desejo do bem, e à terceira, pertencem
os Espíritos imperfeitos. Nestes, predominam a ignorância, o desejo do mal e todas
as paixões más.

3.5 ESPÍRITO

Os Espíritos são seres inteligentes criados por Deus sendo que


desconhecemos a época e a maneira de sua criação. A criação dos Espíritos é
permanente, quer dizer que Deus jamais cessou de criar. O Espírito, em sua
essência espiritual é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter uma ação direta
sobre a matéria, sem um intermediário.

3.6 PERISPÍRITO

O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos produtos mais


importantes do fluído cósmico; é uma condensação desse fluído em torno de um
foco de inteligência ou alma.
O corpo perispiritual e o corpo carnal têm sua fonte, no mesmo elemento
primitivo (Fluido Cósmico Universal) - um e outro são matérias, embora sob dois
estados diversos.
Os Espíritos extraem seu perispírito do ambiente onde se encontram, o que
quer dizer, que esse envoltório é formado dos fluidos ambientais. Daí resulta que os
elementos constitutivos do perispírito devem variar segundo os mundos. Ao deixar a
Terra, o Espírito aí deixa seu envoltório fluídico, e reveste um outro apropriado ao
mundo onde deve ir. A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o
grau de adiantamento moral do Espírito.
Muitos têm o perispírito bastante grosseiro, que se confundem com o corpo
carnal, depois de desencarnado, permanecendo na superfície da Terra. O envoltório
perispiritual do mesmo Espírito se modifica com o progresso moral dele, em cada
encarnação. O perispírito é a matriz espiritual do corpo físico (forma). Ele retrata o
nosso estado mental.
35

3.7 CORPO

Tem seu princípio no Fluído Cósmico Universal condensado em matéria


tangível. Tem a mesma composição química que os animais, os mesmos órgãos, as
mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de respiração, de excreção e de
reprodução; nasce, vive, morre nas mesmas condições, e com a morte, seu corpo se
decompõe, como o de tudo quanto vive. Não há em seu sangue, sua carne, seus
ossos um átomo diferente dos que se encontram nos corpos dos animais. O corpo é,
pois, ao mesmo tempo o envoltório e o instrumento do Espírito, e à medida que este
adquire novas aptidões, reveste um invólucro apropriado ao novo gênero de trabalho
que deve realizar.

3.8 REENCARNAÇÃO - 1ª PARTE

A reencarnação significa o retorno do Espírito ao corpo tantas vezes quantas


forem necessárias para o seu autoburilamento. Ela liberta-nos das imperfeições, nos
proporciona experiências superiores, sublimando nossos instintos ao mesmo tempo
em que desenvolve nossa inteligência.
A reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos, sob o nome de ressurreição.
Só não acreditavam nela, os saduceus que pensavam que tudo se acabava com a
morte.
Jesus sancionou-a com a sua autoridade, estabelecendo-a como condição
imprescindível quando disse: “Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de
novo”; e insiste acrescentando: “não vos admireis de que vos diga que é preciso
nascer de novo”.
A alma, ao se depurar, sofre sem dúvida uma transformação. Mas, para isso,
necessita da prova da vida corpórea, em muitas existências.
A finalidade da Reencarnação é a expiação e o melhoramento progressivo da
Humanidade.
A cada nova existência, o Espírito dá um passo na senda do progresso.
Quando se despojar de todas as suas impurezas, não precisa das provas da vida
corpórea.
As encarnações são sempre muito numerosas porque o progresso é quase
infinito.
36

A Doutrina da Reencarnação consiste em admitir para o homem, muitas


existências sucessivas. E a única que corresponde à idéia que fazemos da justiça de
Deus, com respeito aos homens que se encontram numa condição moral inferior. E
a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças. Ela
nos oferece o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A
Razão assim nos diz.
Os laços da família são fortalecidos pela Reencarnação. A união e o afeto
observados entre parentes, correspondem a simpatias adquiridas das vidas
anteriores. Os Espíritos formam no espaço, grupos ou famílias, unidos pela afeição.
A encarnação apenas os separa momentaneamente.

3.9 REENCARNAÇÃO - 2ª PARTE

3.9.1 Lei de Causa e Efeito

A Lei de Causa e Efeito é que permite encadear as ações de uma vida para
outra. Estabelece as relações entre os homens e ensina como atuar e progredir,
educando o seu livre-arbítrio.
A questão do livre-arbítrio pode ser resumida assim: o homem não é fatalmente
conduzido ao mal; os atos que ele realiza não estão antecipadamente escritos, os
crimes que ele comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, como
prova e como expiação, escolher uma existência em que terá os arrastamentos do
crime, seja pelo meio em que está colocado, seja pelas circunstâncias que
sobrevirão, mas está sempre livre para agir ou não agir. Assim, no estado de Espírito
o livre-arbítrio existe na escolha das provas, e no estado corporal, na faculdade de
ceder, ou de resistir, aos arrastamentos aos quais estamos voluntariamente
submetidos.
Cabe à educação combater essas más tendências e o fará utilmente quando
estiver baseado no estudo profundo da natureza moral do homem. Pelo
conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se-á a modificá-la,
como se modifica a inteligência pela instrução, e o temperamento pela higiene. Ao
pensar e agir, o homem liberta forças e fica sujeito ao retomo delas! Nesta ou noutra
vida. O homem é constrangido a viver no centro de suas criações boas ou más.
37

Jesus faz várias referências à Lei de Causa e Efeito no código evangélico,


acentuando a importância dela para a redenção do espírito humano. Afirma o
Mestre: “Cada um será julgado segundo as suas obras”; “Com o juízo com que
julgares, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a
vós”; “Todo o que comete pecado é escravo do pecado”; Todos os que tomaram a
espada, morrerão à espada”; “Se perdoarmos as ofensas, Deus igualmente perdoará
nossos pecados”. Em suma: “E o que quereis que vos façam os homens, isso
mesmo fazei vós a eles”.

3.9.2 Livre-arbítrio

Quando um Espírito, antes de reencarnar, escolhe a família, o meio social e as


provas, de natureza morai ou física, por que tenha de passar, está usando a
faculdade do livre-arbítrio, em concordância, no entanto, com situações e problemas
do pretérito.
Segundo a maneira como se comporta junto à família, no meio social e ante as
provas em referência, cria o Espírito um “quadro de resgates” para o futuro. Esse
quadro pode sofrer alterações não essenciais, em função da misericórdia Divina e
dos próprios méritos do Espírito, e ainda, dentro d preceito evangélico de que “o
amor cobre a multidão de pecados”. A responsabilidade, no entanto, não tem a
mesma dimensão para todos os homens, nem para todos os atos. A Justiça Divina
faz as necessárias e sábias diferenciações, em consonância, ainda, com o preceito
de Jesus: “ao que mais recebeu, mais será exigido".

3.10 DESENCARNAÇÃO

A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida


futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da
morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu: o
mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os
homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os
próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os
vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da
desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo. Eis aí por
38

que os espíritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos


seus últimos momentos sobre a Terra. Já não é só a esperança, mas a certeza que
os conforta.
O temor à morte é um efeito da Sabedoria da Providência e uma conseqüência
do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário, enquanto
não se está suficientemente esclarecido acerca das condições da vida futura. Sem
esse freio seríamos levados a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o
trabalho terreno, que deve servir ao nosso próprio adiantamento. Com a morte, a
alma retorna ao mundo dos Espíritos, com a sua individualidade.
A alma leva consigo uma lembrança cheia de doçura ou de amargor, segundo
o emprego que tenha dado à vida. A separação da alma e do corpo não é dolorosa.
O sofrimento que às vezes sente no momento da morte, é um prazer para o Espírito,
pois vê chegar ao fim o seu exílio. Na morte natural, que se verifica pelo
esgotamento da vitalidade orgânica, em conseqüência da idade, o homem deixa a
vida sem o perceber. Os liames que a retinham se desprendem, gradualmente, com
lentidão variável, segundo os indivíduos: para uns o desprendimento se dá
rapidamente e para outros, leva dias ou meses; são aqueles que levaram uma vida
material e sensual. A alma ao deixar o corpo, passa por um período de perturbação,
que pode levar algumas horas, muitos meses ou anos.
A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de
bem; é calma, em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranqüilo. Todos
recebem o amparo do mundo espiritual, ao desencarnar. Porém, muitos não o
percebem, devido as suas mentes estarem vinculadas a desequilíbrios criados por si
mesmos.
O suicídio é a mais trágica de todas as circunstâncias que envolvem a morte. É
de conseqüência devastadora para o desencarnante que, julgando libertar-se de
seus males, precipita-se em situação muito pior.
“Aprende a bem viver e bem saberás morrer". Somente nos livramos dos
temores da morte em definitivo, quando nos ajustamos às realidades espirituais.

3.11 PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

Todos os globos que circulam no espaço são habitados. A Humanidade é


apenas uma pequena fração do Universo. A constituição física dos mundos não se
39

assemelha. As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos


devem ser apropriadas ao meio em que têm de vive Esses mundos podem, portanto,
conter em si mesmos, as fontes de luz e calor necessários aos seus habitantes.
Do ensinamento dado pelos Espíritos, resulta que os diversos mundos estão
em condições muito diferentes uns dos outros, quanto ao grau de adiantamento ou
de inferioridade de seus habitantes. Entre eles, há os que são ainda inferiores aos
da Terra, física e moralmente. À medida que esta s desenvolve, a influência da
matéria diminui, de tal sorte que, nos mundos mais avançados, a vida, por assim
dizer, é toda espiritual.
Todos os Espíritos encarnados sobre a Terra não são para aí enviados em
expiação. As raças que chamamos selvagens, são Espíritos apenas saídos da
infância, estão em processo educativo e s desenvolve ao contato com Espíritos mais
avançados.
Os Espíritos em expiação são estrangeiros; eles já viveram sobre outros
mundos de onde foram excluídos, em razão da sua obstinação no mal e porque
eram causa de perturbação para os bons.
A Terra é um dos tipos de mundo expiatório, cujas variedades são infinitas e
tem por caráter comum, servir de lugar de exílio aos Espíritos rebeldes à Lei de
Deus. Esses Espíritos têm que lutar a mesmo tempo, contra a perversidade dos
homens e a inclemência da Natureza; duplo e penoso trabalho, que desenvolvem de
uma só vez.
O progresso é uma das leis da Natureza. Todos os seres da Criação, animados
e inanimados, ele estão submetidos pela bondade de Deus. Ao mesmo tempo em
que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem
materialmente.
A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior
ao que está hoje E atingirá sobre esse duplo aspecto, um grau mais avançado. Ela
atingiu um dos seus períodos de transformação, em que de mundo expiatório,
tornar-se-á mundo regenerador. Então, os homens serão felizes, porque a lei de
Deus nela reinará.
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3.12 TEMA COMPLEMENTAR

3.12.1 Liberdade e livre-arbítrio

Léon Denis (O Problema do Ser do Destino e da Dor)

A liberdade é a condição necessária da atina humana que, sem ela, não


poderia construir seu destino. É em vão que os filósofos e os teólogos têm
argumentado longamente a respeito desta questão. À porfia têm-na obscurecido
com suas teorias e sofismas, votando a Humanidade à servidão em vez de a guiar
para a luz libertadora. A noção é simples e clara. Os druidas haviam-na formulado
desde os primeiros tempos de nossa História. Está expressa nas "Tríades" por estes
termos: Há três unidades primitivas - Deus, a luz e a liberdade.
À primeira vista, a liberdade do homem parece muito limitada no círculo de
fatalidades que o encerra: necessidades físicas, condições sociais, interesses ou
instintos. Mas, considerando a questão mais de perto, vê-se que esta liberdade é
sempre suficiente para permitir que a alma quebre este círculo e escape às forças
opressoras.
A liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua
elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade. Sem
ela, não seda ele mais do que um autômato, um joguete das forças ambientes: a
noção de moralidade é inseparável da de liberdade.
A responsabilidade é estabelecida pelo testemunho da consciência, que nos
aprova ou censura segundo a natureza de nossos atos. A sensação do remorso é
uma prova mais demonstrativa que todos os argumentos filosóficos. Para todo
Espírito, por pequeno que seja o seu grau de evolução, a Lei do dever brilha como
um farol, através da névoa das paixões e interesses. Por isso, vemos todos os dias
homens nas posições mais humildes e difíceis preferirem aceitar provações duras a
se abaixarem a cometer atos indignos.
Se a liberdade humana é restrita, está pelo menos em via de perfeito
desenvolvimento, porque o progresso não é outra coisa mais do que a extensão do
livre-arbítrio no indivíduo e na coletividade. A luta entre a matéria e o espírito tem
precisamente como objetivo libertar este último cada vez mais do jugo das forças
cegas. A inteligência e a vontade chegam, pouco a pouco, a predominar sobre o que
a nossos olhos representa a fatalidade. O livre-arbítrio é, pois, a expansão da
41

personalidade e da consciência. Para serros livres é necessário querer sê-lo e fazer


esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões
baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão.
Isto só se pode obter por uma educação e uma preparação prolongada das
faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação
intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude. É
esta a obra dos séculos. Aias, em todos os graus de sua ascensão, na repartição
dos bens e dos males da vida, ao lado da concatenação das coisas, sem prejuízo
dos destinos que nosso passado nos inflige, há sempre lugar para a livre vontade do
homem.
Como conciliar nosso livre-arbítrio com a presciência divina? Perante o
conhecimento antecipado que Deus tem de todas as coisas, pode-se
verdadeiramente afirmar a liberdade humana? Questão complexa e árdua na
aparência que fez correr rios de tinta e cuja solução é, contudo, das mais simples.
Mas, o homem não gosta das coisas simples; prefere o obscuro, o complicado, e
não aceita a verdade senão depois de ter esgotado todas as formas do erro.
Deus, cuja ciência infinita abrange todas as coisas, conhece a natureza de cada
homem e as impulsões, as tendências, de acordo com as quais poderá determinar-
se. Nós mesmos, conhecendo o caráter de uma pessoa, poderíamos facilmente
prever o sentido em que, numa dada circunstância, ela decidirá, quer segundo o
interesse, quer segundo o dever. Uma resolução não pode nascer de nada. Está
forçosamente ligada a uma série de causas e efeitos anteriores de que deriva e que
a explicam. Deus, conhecendo cada alma em suas menores particularidades, pode,
pois, rigorosamente, deduzir, com certeza, do conhecimento que tem dessa atina e
das condições em que ela é chamada a agir, as determinações que, livremente, ela
tomará.
Notemos que não é a previsão de nossos atos que os provoca. Se Deus não
pudesse prever nossas resoluções, não deixariam elas, por isso, de seguir seu livre
curso.
É assim que a liberdade humana e a previdência divina conciliam-se e
combinam, quando se considera o problema à luz da razão.
O círculo dentro do qual se exerce a vontade do homem, é, de mais a mais,
excessivamente restrito e não pode, em caso algum, impedir a ação divina, cujos
efeitos se desenrolam na imensidade sem limites. O fraco inseto, perdido num canto
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do jardim, não pode, desarranjando os poucos átomos ao seu alcance; lançar a


perturbação na harmonia do conjunto e pôr obstáculos à obra do Divino Jardineiro.
A questão do livre-arbítrio tem uma importância capital e graves conseqüências
para toda a ordem social, por sua ação e repercussão na educação, na moralidade,
na justiça, na legislação, etc. Determinou duas correntes opostas de opinião - os que
negam o livre-arbítrio e os que o admitem com restrição.
Os argumentos dos fatalistas e deterministas resumem-se assim: "O homem
está submetido aos impulsos de sua natureza, que o dominam e obrigam a querer, a
determinar-se num sentido, de preferência a outro; logo, não é livre." A escola
adversa, que admite a livre vontade do homem, em face desse sistema negativo,
exalta a teoria das causas indeterminadas. Seu mais ilustre representante, em nossa
época, foi Ch. Renouvier.
As vistas desse filósofo foram confirmadas, mais recentemente, pelos belos
trabalhos de Wundt, sobre a percepção, de Alfred Fouillée sobre a idéia-força e de
Boutroux sobre a contingência da lei natural.
Os elementos que a revelação neo-espiritualista nos traz, sobre a natureza e o
futuro do ser, dão à teoria do livre-arbítrio sanção definitiva. Vêm arrancar a
consciência moderna à influência deletéria do materialismo e orientar o pensamento
para uma concepção do destino, que terá por efeito, como dizia C. du Prel,
recomeçar a vida interior da Civilização.
Até agora, tanto sob o ponto de vista teológico como determinista, a questão
tinha ficado quase insolúvel. Nem doutro modo podia ser, pois que cada um
daqueles sistemas partia do dado inexato de que o ser humano tem de percorrer
uma única existência. A questão muda, Porém, inteiramente de aspecto se se
alargar o círculo da vida e se se considerar o problema à luz que projeta a doutrina
dos renascimentos. Assim, cada ser conquista a própria liberdade no decurso da
evolução que tem de perfazer.
Suprida, a princípio, pelo instinto, que pouco a pouco desaparece para dar
lugar à razão, nossa liberdade é muito escassa nos graus inferiores e em todo o
período de nossa educação primária. Toma extensão considerável, desde que o
Espírito adquire a compreensão da lei. E sempre, em todos os graus de sua
ascensão, na hora das resoluções importantes, será assistido, guiado, aconselhado
por Inteligências superiores, por Espíritos maiores e mais esclarecidos do que ele.
O livre-arbítrio, a livre vontade do Espírito exerce-se principalmente na hora das
43

reencarnações. Escolhendo tal família, certo meio social, ele sabe de antemão quais
são as provações que o aguardam, mas compreende, igualmente, a necessidade
destas provações para desenvolver suas qualidades, curar seus defeitos, despir
seus preconceitos e vícios. Estas provações podem ser também conseqüência de
um passado nefasto, que é preciso reparar, e ele aceita-as com resignação e
confiança, porque sabe que seus grandes irmãos do Espaço não o abandonarão nas
horas difíceis.
O futuro aparece-lhe então, não em seus pormenores, mas em seus traços
mais salientes, isto é, na medida em que esse futuro é a resultante de atos
anteriores. Estes atos representam a parte de fatalidade ou "a predestinação" que
certos homens são levados a ver em todas as vidas. São simplesmente, como
vimos, efeitos ou reações de causas remotas. Na realidade, nada há de fatal e,
qualquer que seja o peso das responsabilidades em que se tenha incorrido, pode-se
sempre atenuar, modificar a sorte com obras de dedicação, de bondade, de
caridade, por um longo sacrifício ao dever.
O problema do livre-arbítrio tem, dizíamos, grande importância sob o ponto de
vista jurídico. Tendo, não obstante, em conta o direito de repressão e preservação
social, é muito difícil precisar, em todos os casos que dependem dos tribunais, a
extensão das responsabilidades individuais. Não é possível fazê-lo senão
estabelecendo o grau de evolução dos criminosos. O neo-espiritualismo fornecer-
nos-ia talvez os meios; mas, a justiça humana, pouco versada nestas matérias,
continua a ser cega e imperfeita em suas decisões e sentenças.
Muitas vezes o mau, o criminoso não é, na realidade, mais do que um Espírito
novo e ignorante em que a razão não teve tempo de amadurecer. "O crime, diz
Duelos, é sempre o resultado dum falso juízo." Ê por isso que as penalidades
infligidas deveriam ser estabelecidas de modo que obrigassem o condenado a
refletir, a instruir-se, a esclarecer-se, a emendar-se. A sociedade deve corrigir com
amor e não com ódio, sem o que se torna criminosa.
As almas, como demonstramos, são equivalentes em seu ponto de partida.
São diferentes por seus graus infinitos de adiantamento: umas novas; outras velhas,
e, por conseguinte, diversamente desenvolvidas em moralidade e sabedoria,
segundo a idade. Seria injusto pedir ao Espírito infantil méritos iguais aos que se
pode esperar de um Espírito que viu e aprendeu muito. Daí uma grande
diferenciação nas responsabilidades.
44

O Espírito só está verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que


as leis universais, que lhe são externas, se tornem internas e conscientes pelo
próprio fato de sua evolução. No dia em que ele se penetrar da lei e fizer dela a
norma de suas ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui,
domina e governa a si mesmo.
Daí em diante já não precisará do constrangimento e da autoridade sociais
para corrigir-se. E dá-se com a coletividade o que se dá com o indivíduo. Um povo
só é verdadeiramente livre, digno da liberdade, se aprendeu a obedecer a essa lei
interna, lei moral, eterna e universal, que não emana nem do poder de uma casta,
nem da vontade das multidões, mas de um Poder mais alto. Sem a disciplina moral
que cada qual deve impor a si mesmo, as liberdades não passam de um logro; tem-
se a aparência, mas não os costumes de um povo livre. A sociedade fica exposta
pela violência de suas paixões, e a intensidade de seus apetites, a todas as
complicações, a todas as desordens.
Tudo o que se eleva para a luz eleva-se para a liberdade. Esta se expande
plena e inteira na vida superior. A alma sofre tanto mais o peso das fatalidades
materiais, quanto mais atrasada e inconsciente é, tanto mais livre se torna quanto
mais se eleva e aproxima do divino.
No estado de ignorância, é uma felicidade para ela estar submetida a uma
direção. Mas, quando sábia e perfeita, goza da sua liberdade na luz divina.
Em tese geral, todo homem chegado ao estado de razão é livre e responsável na
medida do seu adiantamento. Passo em claro os casos em que, sob o domínio de
uma causa qualquer, física ou moral, doença ou obsessão, o homem perde o uso de
suas faculdades. Não se pode desconhecer que o físico exerce, às vezes, grande
influência sobre o moral; todavia, na luta travada entre ambos, as almas fortes
triunfam sempre. Sócrates dizia que havia sentido germinar em si os instintos mais
perversos e que os domara. Havia neste filósofo duas correntes de forças contrárias,
uma orientada para o mal, outra para o bem. Era a última que predominava. Há
também causas secretas, que muitas vezes atuam sobre nós. Às vezes a intuição
vem combater o raciocínio, impulsos partidos da consciência profunda nos
determinam num sentido não previsto. Não é a negação do livre-arbítrio; é a ação da
alma em sua plenitude, intervindo no curso de seus destinos, ou, então, será a
influência de nossos Guias invisíveis, que se exerce e nos impele no sentido do
plano divino, a intervenção de uma Inteligência que, vindo de mais longe e mais alto,
45

procura arrancar-nos às contingências inferiores e levar-nos para as cumeadas. Em


todos estes casos, porém, é só nossa vontade que rejeita ou aceita e decide em
última instância.
Em resumo, em vez de negar ou afirmar o livre-arbítrio, segundo a escola
filosófica a que se pertença, seria mais exato dizer: "O homem é o obreiro de sua
libertação." O estado completo de liberdade atinge-o no cultivo íntimo e na
valorização de suas potências ocultas. Os obstáculos acumulados em seu caminho
são meramente meios de o obrigar a sair da indiferença e a utilizar suas forças
latentes. Todas as dificuldades materiais podem ser vencidas.
Somos todos solidários e a liberdade de cada um liga-se à liberdade dos
outros.
Libertando-se das paixões e da ignorância, cada homem liberta seus
semelhantes. Tudo o que contribui para dissipar as trevas da inteligência e fazer
recuar o mal, torna a Humanidade mais livre, mais consciente de si mesma, de seus
deveres e potências.
Elevemo-nos, pois, à consciência do nosso papel e fim, e seremos livres.
Asseguraremos com os nossos esforços, ensinamentos e exemplos a vitória da
vontade assim como do bem e, em vez de formarmos seres passivos, curvados ao
jugo da matéria, expostos à incerteza e inércia, teremos feito almas verdadeiramente
livres, soltas das cadeias da fatalidade e pairando acima do mundo pela
superioridade das qualidades conquistadas.

3.13 REVISÃO 3

Responder em casa e revisar em aula.

1. Como se explica o aumento da população de espíritos na Terra se os espíritos


que desencarnam são os mesmos que reencarnam?
2. Qual a diferença entre “eterno” e “imortal”?
3. O que significa a ubiqüidade em relação ao espírito?
4. Pode o espírito aparecer em vários lugares ao mesmo tempo?
5. Qual é a forma dos espíritos?
6. Nomeie as três principais ordens de espíritos e, se puder, cite exemplo.
7. Defina o perispírito.
46

8. Para que serve o perispírito?


9. Quando o espírito muda de grau evolutivo, isto é, quando ele reencarna em
planetas mais adiantados, o que acontece com o perispírito?
10. Quais as semelhanças e diferenças entre os corpos físicos de homens e
animais?
11. Todas as coisas tangíveis, ou seja, toda a matéria, nas suas diferentes formas,
provém de onde?
12. Defina a reencarnação.
13. 0 homem só conheceu a reencarnação com o advento do Espiritismo?
14. Defina a Lei de Causa e Efeito (também chamada de ação e Reação).
15. 0 que é livre-arbítrio?
16. Qual a relação da Lei de Causa e Efeito e o livre-arbítrio?
17. Em que medida o temor da morte é necessário ao homem?
18. 0 que significa “há muitas moradas na casa do Pai”?
19. Por que a Terra é um mundo de expiação e provas?
20. Qual o futuro da Terra e como ela chegará a este estado?
21. Por que se diz que o conhecimento liberta?
22. Qual o papel do Espiritismo no autoconhecimento e na evolução humana?

4 COMUNICABILIDADE DOS ESPÍRITOS

4.1 MEDIUNIDADE

Médium é a pessoa que sente a influência dos Espíritos e lhe transmite os


pensamentos. Quem quer que sinta aquela influência em qualquer grau é, por isso
mesmo, médium. Essa faculdade é inerente ao homem, e, por conseguinte não
constitui privilégio exclusivo; também poucos são os que a não possuem, ainda que
seja em rudimento. Pode, pois dizer-se que todas as pessoas são médiuns em maior
ou menor grau; esta qualificação, porém, não se aplica usualmente senão àqueles,
em que a faculdade mediúnica se manifesta por efeitos ostensivos de certa
intensidade.
A predisposição mediúnica não depende de sexos, idades, ou temperamentos;
encontram-se médiuns em todas as categorias de indivíduos, desde a mais tenra
47

idade até a mais avançada.


As relações entre médiuns e Espíritos estabelecem-se por meio dos seus
perispíritos. A facilidade dessas relações depende do grau de afinidade existente
entre os dois fluídos. Há uns que facilmente se assimilam e outros que se repelem;
daí se conclui que nem todo médium pode comunicar-se com todo Espírito.
Os Espíritos podem manifestar-se de maneiras infinitamente diversas, mas não
o fazem senão com a condição de terem uma pessoa apta para receber e transmitir
esse ou aquele gênero de impressões, segundo a aptidão. Como não há uma
pessoa que possua todas as aptidões no mesmo grau, segue-se que umas recebem
impressões impossíveis, para outras. Desta diversidade de condições individuais
procede a variedade de médiuns.

4.2 MEDIUNIDADE COM JESUS

Em sua luminosa passagem, o fenômeno mediúnico, por toda a parte, é


intimado à redenção da consciência. É assim que surpreendemos o Divino Mestre
afirmando-se em atitudes claras e decisivas, não somente induz Maria de Magdala a
que se liberte dos perseguidores invisíveis que a subjugam, mas também a criar, em
si própria, as qualidades condignas com que se fará, mais tarde, a mensageira da
ressurreição. Socorre, generoso, os alienados mentais do caminho, desalgemando-
os das entidades infelizes que os perturbavam; contudo, entretém-se ele mesmo,
com Espíritos glorificados, no cimo do Tabor. Honorificando a humildade de Estevão,
que suporta sereno as fúrias que apedrejam, aciona-lhe os mecanismos da
clarividência, e o mártir percebe-lhe a presença sublime, antes de se render à
imposição da morte.
Compadece-se de Saulo de Tarso, obsidiado por Espíritos cruéis que o
transformam em desalmado verdugo, e aparece-lhe, em Espírito, na senda de
Damasco, para ensiná-lo através de longos anos de renunciação e martírio e
converte-se em padrão vivo de bondade e entendimento.

4.3 EDUCAÇÃO MEDIÚNICA

A faculdade mediúnica é um instrumento de alto valor na conquista de novos


conhecimentos, na prestação de serviço ao próximo, no desenvolvimento de virtudes
48

e no resgate de débitos pessoais. Não depende de sexo, idade, condição social,


etc., podendo surgir na infância, adolescência, juventude, idade madura ou na
velhice.
Pode revelar-se na Casa Espírita, em casas particulares, em igrejas, no
materialista, no religioso, etc. Sua eclosão pode apresentar vários sintomas, tais
como: reações emocionais insólitas, sensações de enfermidade, calafrios, mal estar,
irritações estranhas ou sem razão aparente.
A primeira necessidade do médium é evangelizar-se. As qualidades que
atraem os bons Espíritos são: bondade, benevolência, simplicidade de coração,
amor ao próximo, desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam
são: orgulho, inveja, ciúme, ódio, cupidez, sensualidade, etc. O bom médium, sob o
ponto de vista espiritual, será aquele trabalhador que melhor se harmonizar com a
vontade de Deus.
Deve ser frugal na alimentação, abster-se de vícios, evitar o baixo palavreado e
dominar os sentimentos passionais. Disporá então de bons elementos fluídicos, que
poderão ser transmitidos aos necessitados.
Nada verdadeiramente importante se adquire sem trabalho. O médium tem a
obrigação de trabalhar em todos os instantes, pela sua própria iluminação. Aqueles
que procuram trabalhar no campo da mediunidade, devem ter o propósito de
desenvolver um trabalho de interesse coletivo e não exclusivamente pessoal.
Por certo, o médium será também beneficiado, mas este não deve ser o seu
objetivo. Para isso deve procurar a sintonia com os Espíritos Superiores, em busca
da inspiração e do fortalecimento de seus bons propósitos. A educação da
mediunidade se consegue pelo estudo consciente da Doutrina Espírita,
perseverança no compromisso, evitando impor-se, exigindo sucesso e aplauso.
O ser humano é constituído de Corpo, Espírito e Perispírito. O Perispírito,
termo criado por Allan Kardec, é o laço que une o corpo ao Espírito. Ele é semi-
imaterial. E o envoltório do Espírito e tem a forma do corpo.
Quando um Espírito quer comunicar-se, o faz ligando-se ao Perispírito do
médium. Portanto, as comunicações espirituais se dão de Perispírito a Perispírito. E
inteiramente falsa a idéia de que o desencarnado, para se comunicar, entra no corpo
do médium.
49

4.4 INFLUENCIA DOS ESPÍRITOS

A influência dos Espíritos sobre os nossos pensamentos e atos é maior do que


supomos, porque muito freqüentemente são eles que nos dirigem. Eles poderão ter
ação direta sobre a realização das nossas atividades, mas não agem jamais fora das
leis naturais. Ex.: Um homem deve morrer de raio, esconde-se embaixo de uma
árvore, o raio estala e ele morre. O raio explodiu sobre aquela árvore, e naquele
momento, porque o fato estava nas leis naturais, a árvore seria atingida de qualquer
forma, o homem é que a procurou, pois teria que morrer daquela forma.
Os Espíritos levianos e brincalhões, se comprazem em traquinices, provocam
discórdias, com o fim de testar a nossa paciência. Quando não encontram
receptividade, vão-se embora. Às vezes trata-se de inimigos que fizemos nesta ou
em existências anteriores. Para por fim a esse assédio, devemos orar por eles,
retribuir o mal com o bem e os mesmos acabarão por compreender seus erros,
retomando sua caminhada evolutiva.
Os bons Espíritos nos auxiliam a minorar nossas dores, dando-nos paciência e
resignação. Porém, não podem nos isentar das leis de Causa e Efeito, pelas quais
estamos compromissados. Nós sim podemos atenuá-las, com a inteligência que
Deus nos deu e as inspirações dos bons Espíritos. “Buscai e achareis". Batei e abrir-
se-vos-á". "O amor cobre a multidão de pecados". Todos nós temos um Espírito
Protetor. Ele nos auxilia e nos inspira para que possamos crescer moralmente.

4.5 INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSAS AÇÕES

Os Espíritos podem ver tudo aquilo que fazemos. Muitas vezes chegam a
conhecer o que desejamos ocultar de nós mesmos.
Comumente, temos ao nosso lado, uma multidão de Espíritos que nos
observam. Os que são levianos zombam de nossas impaciências e problemas, ao
passo que os sérios, procuram sempre ajudar-nos.
Nossos pensamentos sofrem influência dos Espíritos a tal ponto, que quase
sempre somos por eles dirigidos, embora disso não tenhamos consciência.
É claro que pensamos por nós mesmos, pois somos Espíritos inteligentes.
Porém, se prestarmos atenção, veremos muitas vezes que, sobre o mesmo assunto,
chegam-nos pensamentos vários, ao mesmo tempo e alguns contraditórios.
50

Acontece aí, a mistura dos nossos pensamentos, com os dos Espíritos que nos
rodeiam. Geralmente são nossos, os pensamentos que nos chegam em primeiro
lugar. E, nem sempre, são os mais coerentes.
Se fosse, porém, absolutamente necessário distingui-los uns dos outros, Deus
nos teria dado essa condição, assim como distinguimos naturalmente, a noite do dia.
Não é correto dizer-se que sempre o primeiro impulso é bom, o mais correto.
Se um Espírito é bom, nos dá boas inspirações. Se ainda é um Espírito imperfeito,
pode tentar nos induzir ao mal.
Quando desejamos o mal, atraímos influências más e somos, portanto,
ajudados pelos maus, a praticar o mal. Ao resistirmos ao mal, os Espíritos inferiores
retiram-se de campo, ficando de tocaia.
Para neutralizar a influência dos maus Espíritos, devemos orar, praticar o bem,
vigiar nossos pensamentos e ações, colocando em Deus e no Mestre Jesus, nossa
total confiança.
Os Espíritos exercem influência nos acontecimentos da nossa vida, nos
aconselhando, intuindo, etc. eles, porém, somente podem agir sobre a matéria, para
que as leis da Natureza sejam cumpridas. Tomemos como exemplo, uma pessoa
que atira em alguém que não deve desencarnar com violência. Um Espírito bondoso
poderá ofuscar a pessoa que empunha a arma, e o projétil seguirá a linha que terá
que percorrer. O que Deus quer se executa. Se houver demora na execução, ou lhe
surjam obstáculos, é porque Ele assim quis.
Os Espíritos levianos e zombeteiros podem nos criar dificuldades em nossos
desejos de algo realizar. Eles assim agem porque algumas vezes são inimigos que
fizemos nesta ou numa vida anterior. Doutras vezes, nenhum motivo os impulsiona,
a não ser a sua inferioridade.
Depois de desencarnados, continuamos os mesmos. A experiência demonstra
que nem todos reconhecem o mal que praticaram ou estão praticando. Podem
continuar a perseguir seus desafetos. O único meio de acabar com o círculo vicioso
das perseguições e vinganças, é a prece em favor dos Espíritos ainda em
desequilíbrio, e a retribuição do mal com o bem. Quebra-se então a cadeia do ódio,
que só magoa e retarda o progresso, a que todos nós estamos destinados.
Os bons Espíritos ajudam-nos, incentivando-nos à paciência e a resignação,
quando estamos em dificuldades. Muitas vezes andamos de maneira errada, na
51

elaboração e execução dos nossos projetos. Se nos obstinamos por um caminho


que não devemos seguir, os Espíritos nada têm a ver com nossos insucessos.
Quando algo de venturoso nos acontece, devemos agradecer primeiramente a
Deus, sem cuja permissão nada se faz, a Jesus nosso Mestre e depois aos bons
Espíritos, que são os agentes de Sua vontade.

4.6 PACTO, PODER OCULTO E TALISMÃ

Aquele que deseja cometer uma ação má, pelo simples fato de o querer,
chama em seu auxílio os maus Espíritos. Fica então obrigado a retribuir o auxílio
prestado. É nisso somente que consiste o pacto. Uma natureza má é que sintoniza
com os maus Espíritos.
O Espiritismo e o magnetismo nos esclarecem uma infinidade de fenômenos
sobre os quais a ignorância teceu suas fábulas. A maldição e a bênção não podem
jamais desviar a Providência da senda da justiça.

4.7 OCUPAÇÃO E MISSÃO DOS ESPÍRITOS

Os Espíritos concorrem para a harmonia do Universo, executando a vontade de


Deus. Todos têm deveres a cumprir. A vida do Espírito é uma ocupação contínua,
que nada tem de penosa. Não existe a fadiga corpórea, angústias e necessidades.
Seu pensamento está sempre em atividade, ele vive feliz pela consciência que tem
de ser útil.

4.8 PERTURBAÇÕES OBSESSIVAS

Partindo do conceito que obsessão é o constrangimento exercido pelos


Espíritos inferiores sobre a vontade dos encarnados, influenciando-os maleficamente
podemos figurar o fenômeno obsessivo em inúmeras situações. Algumas tão sutis
que somente depois de muito tempo é que são evidenciadas.
Para facilidade do aprendizado, a obsessão pode ser estudada sob três
variedades, que apresentam características próprias.

4.8.1 Obsessão simples

O Espírito inferior procura, através da sua tenacidade, da sua persistência,


52

intrometer-se na vida do obsidiado, dando-lhes as mais estranhas sugestões, que no


mais das vezes contrariam a forma habitual de proceder e pensar da vítima. Esta,
com um pouco de critério e auto-análise, facilmente identifica que está sob a
influência de um Espírito inferior, e, cuidando-se devidamente, comportando-se de
modo cristão, não lhe oferecerá campo mental favorável para a sua ação.
Procurando viver em clima de elevação, boas leituras, preces, convívio com pessoas
honestas e sérias, dedicadas ao semelhante, estará pautando a sua vida de acordo
com os ditames de Cristo, livrando-se da ação do obsessor.

4.8.2 Fascinação

É a forma mais difícil de ser tratada. O obsidiado se nega a receber orientação


e tratamento, pois julga não estar sob influência obsessiva, e até, às vezes, acredita
que todos os demais é que se encontram obsidiados, enquanto ele se julga o único
certo. Nesta variedade, nota-se que o obsessor se insinua, a princípio
discretamente. Vai então, ganhando terreno, enraizando-se pouco a pouco até se
instalar definitivamente, formando um verdadeiro fenômeno de simbiose psíquica.
Geralmente o médium acredita estar sendo guiado por uma entidade espiritual de
alto gabarito, que usa nome de personagens famosas ou de Espíritos de escol. Não
usando o critério da auto-análise, que no caso inexiste, a pessoa se torna
extremamente crédula em tudo o que vem por seu intermédio, acreditando-se
missionária. A qualquer objeção ou crítica construtiva que se faça sobre o teor das
comunicações, suscetibiliza-se, magoa-se e afasta-se das pessoas que a podem
esclarecer.

4.8.3 Subjugação

É o fenômeno de uma criatura encarnada estar sob domínio completo e total de


uma entidade desencarnada. É de fácil diagnóstico. Porém, para a cura desse tipo
de obsessão, há necessidade da melhora moral do médium. O Espírito obsessor,
deverá arrepender-se do mal que está praticando, através de doutrinações feitas por
quem tenha superioridade moral.
A subjugação só ocorre em função da sintonia mental que existe entre o
médium e o Espírito obsessor, via de regra originária de comprometimento anterior.
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Não se julgue que nesta variedade, o Espírito obsessor tome lugar no corpo do
obsidiado. Há sim, uma supremacia da sua vontade, dominando completamente o
médium. A pessoa neste estado realiza coisas que no estado normal não realizaria,
diz e faz aquilo que não lhe é habitual.

4.9 TEMA COMPLEMENTAR

4.9.1 Mediunidade como resgate e evolução

A mediunidade é um madeiro de espinhos dilacerantes, mas com o avanço da


subida, calvário acima, os acúleos se transformam em flores e os braços da cruz se
transformam em asas de luz para a alma livre na imortalidade.
Bezerra de Menezes
Doutrina E Vida/Francisco Cândido Xavier/espíritos diversos.

A esmagadora maioria dos estudantes do Espiritismo situa na mediunidade a


pedra basilar de todas as edificações doutrinárias, mas cometem o erro de
considerar por médiuns tão-somente os trabalhadores da fé renovadora, com tarefas
especiais, ou os doentes psíquicos que, por vezes, servem admiravelmente à esfera
das manifestações fenomênicas. (ver: Paixão do fenômeno - Anexo 1)
Antes de tudo, é preciso compreender que: tanto quanto o tato é o alicerce
inicial de todos os sentidos, a intuição é a base de todas as percepções espirituais e,
por isso mesmo, toda inteligência é médium das forças invisíveis que operam no
setor de atividade regular em que se coloca.
Dos círculos mais baixos aos mais elevados da vida, existem entidades
angélicas, humanas e subumanas, agindo através da inteligência encarnada,
estimulando o progresso e divinizando experiências, brunindo caracteres ou
sustentando abençoadas reparações, protegendo a natureza e garantindo as leis
que nos governam.
Cada individualidade renasce em ligação com os centros de vida invisível do
qual procede, e continuará, de modo geral, a ser instrumento do conjunto em que
mantém suas concepções e seus pensamentos habituais. Se deseja, porém,
aproveitar a contribuição que a escola sublime do mundo lhe oferece, em seus
cursos diversos de preparação e aperfeiçoamento, aplicando-se à execução do bem,
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nos menores ângulos do caminho, adquirindo mais amplas provisões de amor e


sabedoria, é aceita pelos grandes benfeitores do mundo, nos quadros da evolução
humana, por intérprete da assistência divina, onde quer que se encontre, seja na
construção do patrimônio de conforto material ou na santificação da alma eterna.
É necessário, contudo, reconhecer que, na esfera da mediunidade, cada
servidor se reveste de características próprias. O conteúdo sofrerá sempre a
influenciação da forma e da condição do recipiente.
Essa é a lei do intercâmbio.
Uma taça não guardará a mesma quantidade de água, suscetível de ser
sustentada numa caixa com capacidade para centenas de litros. O perfume
conservado no frasco de cristal puro não será o mesmo, quando transportado num
vaso guarnecido de lodo. O sábio não poderá tomar uma criança para confidente,
embora a criança, invariavelmente, detenha consigo tesouros de pureza e
simplicidade que o sábio desconhece.
Mediunidade, pois, para o serviço da revelação divina reclama estudo
constante e devotamento ao bem para o indispensável enriquecimento de ciência e
virtude.
A ignorância poderá produzir indiscutíveis e belos fenômenos, mas só a noção
de responsabilidade, a consagração sistemática ao progresso de todos, a bondade e
o conhecimento conseguem materializar na Terra os monumentos definitivos da
felicidade humana (Roteiro/Francisco Cândido Xavier/Emmanuel).
O desenvolvimento da mediunidade não guarda relação com o
desenvolvimento moral dos médiuns. A faculdade propriamente dita se radica no
organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que
pode ser bom, ou mau, conforme as qualidades do médium (LM, 226, 1º).
Não é a mediunidade que te distingue. É aquilo que fazes dela. A ação do
Instrumento varia conforme a atitude do servidor. A produção revela o operário. A
pena mostra a alma de quem escreve. O patrimônio caminha no rumo que o
mordomo dirige. O lavrador tem a enxada, entretanto... Se preguiçoso, cede asilo à
ferrugem. Se delinqüente, empresta-lhe o corte à sugestão do crime. Se prestativo e
diligente, ergue, ditoso, o berço de flor e pão.
O legislador guarda o poder; contudo, através dele... Se irresponsável, estimula
a desordem. Se desonesto, incentiva a pilhagem. Se consciente e abnegado, é
fundamento vivo à cultura e ao progresso. O artista dispõe de mais amplos recursos
55

da Inteligência; todavia, com eles... Se desequilibrado, favorece a loucura. Se


corrompido, estende a viciação. Se eliecido e generoso, surgirá sempre como esteio
à virtude.
Urge reconhecer, no entanto, que acerca das qualidades e possibilidades do
lavrador, do legislador e do artista, na concessão do mandato que lhes é confiado,
apenas à Lei Divina realmente cabe julgar. Todos nós, porém, de imediato,
conseguimos classificar-lhes a influência pelos males ou bens que espalhem.
Assim também na mediunidade.
Seja qual for o talento que te enriquece, busca primeiro o bem, na convicção de
que o bem, a favor do próximo, é o bem irrepreensível que podemos fazer.
Desse modo, ainda mesmo te sintas imperfeito e desajustado, infeliz ou
doente, utiliza a força medianímica de que a vida te envolve, ajudando e educando,
amparando e servindo, no auxilio aos semelhantes, porque o bem que fizeres
retornará dos outros ao teu próprio caminho, como bênção de Deus a brilhar sobre ti.
(Texto ditado por Emmanuel na reunião pública de 12/2/1960, a respeito do Livro
dos Médiuns - Questão nº 226 - Parágrafo 1º - Seara dos Médiuns/Francisco
Cândido Xavier).

4.10 REVISÃO 4

4.10.1 Temas para dissertação

Pesquisar em casa e apresentar em aula: sortear os temas entre os alunos que


terão ± 10 minutos cada um para mostrar seu trabalho.
1) Mediunidade: definição e características
2) Educação mediúnica: finalidades e objetivos
3) Influência e ação dos espíritos sobre o mundo físico: como se dá
4) Influência dos espíritos em nossas ações: conseqüências
5) Obsessão: definição geral e como se estabelece
6) Obsessão simples: definição e porque acontece
7) Fascinação: definição e porque acontece
8) Subjugação: definição e porque acontece.
9) Como "curar" uma obsessão
10) Prevenção da obsessão
56

5 JUSTIÇA DIVINA E EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO

5.1 O ARREPENDIMENTO

Arrependimento é o reconhecimento do erro praticado, a sensação


desagradável e dolorosa que assalta o Espírito, em determinadas ocasiões, quando
a consciência o censura de algo. Quando arrependido, compreende que suas
imperfeições o privam de ser feliz.
Se desencarnado, aspira nova existência, em que possa expiar suas faltas,
podendo começar este trabalho imediatamente.
Se não reconheceu suas faltas durante a vida corporal, as reconhecerá na vida
espiritual. E o arrependimento que chega.
Há Espíritos que, sem serem maus, não se ocupam com nada útil. Tem o
desejo de abreviar suas dores, mas não dispõe de energia suficiente, para modificar
seu modo de proceder.
Outros Espíritos há que se arrependem, porém em seguida, deixam-se arrastar
no caminho do mal, por Espíritos ainda mais atrasados.
Não se deve perder de vista que o Espírito, depois da morte, não se transforma
subitamente. Ele pode persistir em seus erros, em suas falsas opiniões, em seus
preconceitos, até que seja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento.
O arrependimento sincero não basta para apagar as faltas, mas ajuda no
progresso do Espírito, apressando sua reabilitação.

5.2 O PERDÃO

Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas
setenta vezes sete vezes. Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais vos devem
percutir à inteligência e mais alto falar ao coração. Confrontai essas palavras de
misericórdia com a oração tão simples, tão resumida e tão grande em suas
aspirações, que ensinou a seus discípulos, e o mesmo pensamento se vos deparará
sempre. Ele, o Justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás ilimitadamente,
perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos
esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos
maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a
57

tua mansuetude; farás, enfim, o que desejas que o Pai Celestial por ti faça. Não está
ele a te perdoar freqüentemente?
Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus e, como Pedro, aplicai-a a vós
mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos até do
vosso amor. Daí, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará;
abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos
assenteis à sua direita.
Mas, há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o
perdão do coração. Muitas pessoas dizem com referência ao seu adversário: “Eu lhe
perdôo”, mas interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que
ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdôo" e acrescentam: “mas não me
reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida”. Será esse o
perdão, segundo o Evangelho? Não; o perdão cristão é aquele que lança um véu
sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se
satisfaz com aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos
pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de vãs palavras e de simulacros.
O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas;
o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvides que o verdadeiro
perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras.
Espíritas, jamais vos esqueçais que, tanto por palavras, como por atos, o
perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-
o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não penseis senão numa coisa: no bem que
podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí,
ainda que por pensamento, uma vez que sois responsáveis pelos vossos
pensamentos, os quais todos, Deus conhece. Cuidai, portanto, de os expungir de
todo sentimento de rancor. Deus sabe o que mora no fundo do coração de cada um
de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo:
nada tenho contra o meu próximo

5.3 FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS

O homem, na Terra, não pode gozar de completa felicidade, pois a vida aqui
lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus
males e o ser tão feliz quanto possível. Praticando a lei de Deus, a muitos males se
58

forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporta a sua


existência grosseira.
A felicidade do homem, com relação à vida material, é a posse do necessário.
Com relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro. O homem
criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para
elevar sua alma ao infinito. Deve resignar-se e sofrer todos os males sem murmurar,
se quer progredir. Se alguns são favorecidos com os dons da riqueza, isto significa
um favor aos olhos dos que apenas vêem o presente, mas a riqueza é, de ordinária,
prova mais perigosa do que a miséria.
Verdadeiramente infeliz o homem só o é quando sofre da falta do necessário à
vida e à saúde do corpo. Todavia, pode acontecer que essa privação seja de sua
culpa. Então só tem que se queixar de si mesmo. Se for ocasionada por outrem, a
responsabilidade recairá sobre aquele que lhe houver dado causa. Deus indica a
nossa vocação neste mundo,, mas, muitas vezes, os pais, por orgulho ou avareza,
desviam seus filhos da senda que a Natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a
felicidade, por efeito desse desvio.
Por outro lado, numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém
deve morrer de fome. Com uma organização social criteriosa e previdente, ao
homem só por culpa sua pode faltar o necessário. Porém, suas próprias faltas são
freqüentemente resultados do meio onde se acha colocado. No mundo, tão amiúde,
a influência dos maus sobrepuja a dos bons, por fraqueza destes. Os maus são
intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos.

5.3.1 Perdas de entes queridos

Esta causa de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou
expiação. Tem, porém, o homem uma consolação em poder comunicar-se com os
seus amigos pelos meios que estão ao seu alcance, enquanto não dispuser de
outros mais diretos e mais acessíveis aos seus sentidos. Não há profanação nas
comunicações com o além-túmulo, desde que haja recolhimento e quando a
evocação seja praticada respeitosa e convenientemente. O Espírito é sensível à
lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma dor
incessante e desarrazoada lhe toca o pensamento, porque, nessa dor expressiva,
59

ele vê a falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um


obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes.

5.3.2 Uniões antipáticas

Os Espíritos simpáticos são induzidos a unir-se, mas entre os encarnados


vemos, freqüentemente, que só de um lado há afeição e que o mais sincero amor se
vê acolhido com indiferença e, até, com repulsão. Isto constitui uma punição, se bem
que passageira. Depois, quantos não são os que acreditam amar perdidamente,
porque apenas julgam pelas aparências, e que, obrigados a viver com as pessoas
amadas, não tardam a reconhecer que só experimentaram um encanto material.
Duas espécies há de afeição: a do corpo e a da alma, acontecendo com freqüência
tomar-se uma pela outra. Quando pura e simpática, a afeição da alma é duradoura;
efêmera a do corpo. Daí vem que, muitas vezes, os que julgavam amar-se com
eterno amor passam a odiar-se, desde que a ilusão se desfaça. A falta de simpatia
constitui fonte de dissabores entre os seres destinados a viver juntos. Essa, porém,
é uma das infelicidades de que somos, as mais das vezes, a causa principal, e
sofremos, então, a conseqüência das nossas ações.

6 EVOLUÇÃO ESPIRITUAL

Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes. Eles são, em sua origem,
como crianças: ignorantes e inexperientes.
Adquirindo pouco a pouco o conhecimento da verdade, poderão chegar à
perfeição, e esta os levará à felicidade. Porém, para conquistar a felicidade, os
Espíritos passam por provas. Uns as aceitam submissos, enquanto que outros, só as
suportam murmurando, permanecendo por mais tempo afastado da felicidade.
Todos, porém se tornaram perfeitos, pois foram criados por Deus, para serem
felizes.
Se Deus já houvesse criado os Espíritos perfeitos, onde estaria o merecimento,
sem a luta? Seriam robôs e não seres dotados de livre-arbítrio. Ele os criou simples
e ignorantes, podendo os mesmos escolher entre o bem e o mal, e os que são
maus, assim se tornarão pela sua vontade própria.
60

O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito toma consciência de si


mesmo. Na sua sabedoria, Deus dá ao homem liberdade de escolha para que o
mesmo tenha o mérito de seu progresso.
Os Espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem, nem por isso
são Espíritos perfeitos. Não tem, é certo, maus pendores, mas precisam adquirir a
experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançarem a perfeição.
Podemos compará-los à criança que, seja qual for a bondade de seus instintos
naturais, necessitam se desenvolver, se esclarecer e que não passam, sem
transição, da infância à maturidade, sem antes passar pela adolescência.
Em sua origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Mal tem consciência de
si mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve e então a
alma ensaia para a vida.
Para tornar-se puro, o Espírito passa pelos graus intermediários. Quando se
julga, pois, perfeito, longe ainda está da perfeição. Poderá ser tão perfeito quanto
comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta.
Essa caminhada evolutiva é gradual e progressiva. Os Espíritos jamais
retrogradam. Podem descer como homens, não como Espíritos. Ex.: Herodes era rei
e Jesus, carpinteiro.

6.1 ETAPAS DO PROCESSO EVOLUTIVO

O processo evolutivo do ser humano, no plano físico e no plano espiritual,


obedece, em tese, a quatro fatores essenciais, a saber:
• Compreensão da necessidade de “mudar”.
• Conjugação da boa-vontade, do esforço e da perseverança.
• Firme deliberação de estabilizar a “mudança”.
• Propósito de não retroceder, na atitude mental superior, a fim de que se
verticalize, em definitivo, o processo de renovação.
Eis alguns dos óbices que surgem no caminho evolutivo, depois da quarta
etapa, quando o homem, ingenuamente, se julga realizado, pelo Espírito:
• Reação dos antigos companheiros, encarnados ou desencarnados, que se
convertem, via de regra, em ferrenhos adversários.
• Dificuldade em libertar-se de hábitos secularmente cultivados, ao longo de
sucessivas reencarnações.
61

• Irresistível saudade da fantasia e da ilusão, que lhe foram clima natural em


diversas ocasiões.

6.2 TEMA COMPLEMENTAR

6.2.1 Providência Divina

A Providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em


toda parte, tudo vê e tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que
consiste a ação providencial.
Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em
pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos
de cada indivíduo? Esta a interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo,
concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto
à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que este funcione de
toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida
na esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da
Providência.
Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo
que se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das
criaturas, com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou
espirituais.
Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta
expressão, infinitamente acima de todas as possibilidades humanas. Deus tudo fez e
tudo faz a bem de suas criaturas. Imprimiu-lhes na consciência as leis morais de
trabalho, reprodução, conservação e destruição - esta não abusiva, mas equilibrada
- como também a lei de sociedade, obedecendo a qual, devem organizar-se em
famílias ou em mais amplas comunidades sociais, em cujo seio vão cumprir deveres,
ligados todos àquelas leis morais e ainda às de progresso, igualdade e liberdade,
em seu justo e mais elevado sentido e, a própria felicidade pela livre observância
dessas leis e o cumprimento dos correspondentes deveres, e ele só é infeliz quando
descumpre ou com elas se desarmoniza.
62

Faz o homem tudo o que quer, utilizando-se do livre- arbítrio que a Divina
Providência lhe confere para construir ativa e meritoriamente o seu destino; mas é
também plenamente responsável pelos atos praticados, devendo arcar com todas as
conseqüências deles decorrentes, sejam estas felizes ou infelizes. Parece, então,
que se opõem à Providência Divina e o livre-arbítrio humano. Mas não! Deus
concede o livre-arbítrio ao homem para que ele acrescente à sua felicidade o mérito
da iniciativa e espontaneidade, no trabalho, na busca do próprio bem, na livre
escolha do caminho reto para o conseguir.
A tudo Deus realmente provê, mas não quer inativa a sua criatura, recebendo
passivamente a Graça Divina, e sim que a busque por si mesma, conquistando
através de perseverantes esforços a felicidade e o progresso. Pelo uso do seu livre-
arbítrio, a alma fixa o próprio destino, prepara as suas alegrias ou dores. Jamais,
porém, no curso de sua marcha - na provação amargurada ou no seio da luta
ardente das paixões -, lhe será negado o socorro divino. Nunca deve esmorecer,
pois, por mais indigna que se julgue; desde que em si desperta a vontade de voltar
ao bom caminho, à estrada sagrada, a Providência dar-lhe-á auxilio e proteção.
A Providência é o Espírito Superior, é o Anjo velando sobre o infortúnio, é o
Consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero,
cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no
meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida. A
Providência é, ainda, principalmente, o Amor Divino derramando-se a flux sobre
suas criaturas. Que solicitude, que previdência nesse amor!
A alma é criada para a felicidade, mas, para poder apreciar essa felicidade,
para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la por si própria e, para isso, precisa
desenvolver as potências encerradas em seu próprio íntimo. Sua liberdade de ação
e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se
esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças pessoais com as
leis que regem o Universo.
A liberdade do ser se exerce, portanto, dentro de um círculo limitado: de um
lado, pelas exigências da lei natural, que não pode sofrer alteração alguma e mesmo
nenhum desarranjo na ordem do mundo; de outro, por seu próprio passado, cujas
conseqüências lhes refluem através dos tempos, até a completa reparação. Em caso
algum o exercício da liberdade humana pode obstar a execução dos planos divinos:
do contrário, a ordem das coisas será a cada instante perturbada. Acima de nossas
63

percepções limitadas e variáveis, a ordem imutável do Universo prossegue e


mantém-se. Quase sempre julgamos um mal aquilo que para nós é o verdadeiro
bem. Se a ordem natural das coisas tivesse de amoldar-se aos nossos desejos, que
horríveis alterações daí não resultariam?
O primeiro uso que o homem fizesse da liberdade absoluta seria para afastar
de si as causas de sofrimento e para se assegurar, desde logo, uma vida de
felicidade. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever de conjurar, de
destruir - por exemplo, os que são provenientes da condição terrestre -, outros há
inerentes à nossa natureza moral, que somente dor e compreensão podem vencer;
tais são os vícios. Nestes casos, torna-se a dor uma escola ou, antes, um remédio
indispensável: as provas sofridas não são mais que distribuição eqüitativa da justiça
infalível.
Mas a Providência Divina, em relação à Humanidade terrestre, ainda se
manifestou quando Deus nos confiou a Jesus, como discípulos a um Mestre e como
ovelhas a um Pastor. Com que solicitude e paciência infinita Ele nos vem, desde
então, ensinando e conduzindo, através de séculos e milênios! Não estamos em
momento algum desamparados ou à nossa sorte abandonados.
Divina Providência, que nos acompanhas através de vidas sucessivas,
objetivando o nosso progresso e a nossa ascensão, mesmo quando nos fazes sofrer
- pois, se por força da Lei, as conseqüências dos nossos desmandos, pela própria
Lei seremos devolvidos à paz e à felicidade, beneficiados pela dor redentora,
enriquecidos de experiência e de sabedoria - desde o momento em que Te
reconhecemos e nos conscientizamos da Tua imanência numa Lei Sábia e
Soberana, que estabelece tudo para o nosso bem, louvamos Àquele de quem
emanas, na imensidão da Sua Justiça e do Seu Amor!
Allan Kardec - "A Gênese"

6.3 REVISÃO 5

Faça uma revisão de todos os módulos estudados, apontando as dúvidas que


surgirem, para esclarecimento a título de preparação para o seminário de
encerramento da apostila. Trazer as dúvidas para discutir em aula.
Irmã(o), lembre-se da recomendação de Allan Kardec:
64

“Fé inabalável só é a que pode encarar a razão, face a face, em todas as


épocas da Humanidade” e “A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita
compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário
compreender”.
Assim, “O Espiritismo não vem procurar os perfeitos, mas os que se esforçam
em o ser pondo em prática os ensinos dos Espíritos. O verdadeiro espírita não é o
que alcançou a meta, mas o que sinceramente quer atingi-la. Sejam quais forem os
seus antecedentes, que será bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e
seja sincero e perseverante no propósito de se emendar”.

7 PROGRAMA - SEMINÁRIO
Encerramento do curso:
Discutir e escolher com os alunos 3 assuntos, dentre os estudados, para serem
apresentados em 1 hora e meia, na forma de três módulos; os grupos serão
formados pelos dois turnos de estudo da forma que o grupo considerar melhor.

8 ANEXOS

8.1 ANEXO 1 - A PAIXÃO DO FENÔMENO

Abaixo, partes do capítulo: "Mediunidade e fenômeno", do livro Missionários da


Luz, psicografado por Francisco Cândido Xavier, onde o espírito André Luiz repassa
as instruções recebidas do espírito Alexandre que presidiu a reunião.
Desejais realizações generosas nos domínios da revelação superior, sonhais
conquistas gloriosas e realizações sublimes; entretanto, há que corrigir vossas
atitudes mentais diante da vida humana. Como intentar construções sem bases
legítimas, atingir os fins sem atender aos princípios?
Muitos irmãos pretendem desenvolver as percepções mediúnicas. Entretanto,
aguardam simples expressões fenomênicas, supondo erroneamente que as forças
espirituais permanecem circunscritas a puro mecanismo de forças cegas e fatais,
sem qualquer ascendente de preparação, disciplina e construtividade; requerem a
65

clarividência, a clariaudiência, o serviço completo de intercâmbio com os planos


mais elevados; no entanto, ... terão aprendido a ver, a ouvir e, sobretudo, a servir, na
esfera de trabalho cotidiano? Terão dominado todos os impulsos inferiores, para se
colocarem no rumo das regiões superiores? Poderá o feto caminhar e falar no plano
físico? Deveríamos conferir à criança de cinco anos direitos cabíveis ao adulto de
meio século? Se as leis humanas, ainda transitórias e imperfeitas, traçam linhas de
controle aos incapazes, estariam as leis divinas, imutáveis e eternas, à mercê dos
desordenados desejos da criatura?
Ó meus amigos, sem dúvida, há muitos gêneros e processos mediúnicos em
função no mundo das formas em que viveis!
Urge, porém, estimar o trabalho antes do repouso, aceitar o dever sem
exigências, desenvolver as tarefas aparentemente pequeninas, antes de vos
inquietardes pelas grandes obras, e colocar os desígnios do Senhor acima de todas
as preocupações individuais!
Urge fugir da apropriação indébita no comércio com as forças invisíveis, furtar-
se ao encantamento temporário e à obsessão sutil e perversa!
Coletivamente, não somos duas raças antagônicas ou dois grandes exércitos,
rigorosamente separados através das linhas da vida e da morte, e, sim, a grande e
infinita comunidade dos vivos, tão-somente diferenciados uns dos outros pelos
impositivos da vibração, mas quase sempre unidos para a mesma tarefa de
redenção final!
Não julgueis que a morte do corpo físico santifique o ser que a habitou!
Desencarnação não expressa santificação. Os companheiros que vos antecedem
no plano espiritual não permanecem reunidos em aprendizagem muito diferente. Se
o raio de sol não se contamina ao contato do pântano, também o doente rebelde é o
mesmo enfermo se apenas troca de residência. O corpo físico representa apenas o
vaso em uso, durante algum tempo, e o vaso quebrado não significa redenção ou
elevação do seu temporário possuidor.
Recorremos à semelhante imagem para dizer-vos que o habitante da esfera,
atualmente invisível aos vossos olhos, é um irmão nem sempre superior a vós
outros, nos círculos evolutivos.
Os elétrons e fótons que vos constituem a vestimenta física integram,
igualmente, os nossos veículos de manifestação, em outras características
66

vibratórias. É necessário, portanto, atentardes para as vossas possibilidades


interiores, para as maravilhas de vossa divindade potencial.
Em vossos desejos insopitáveis de intercâmbio com o Invisível, naturalmente
anelais a aproximação da sociedade celeste. Esperais a revelação da verdade
divina, a par de elementos insofismáveis de certeza tranqüila; entretanto, para isso,
é indispensável organizar e desenvolver vossos valores celestes, como criaturas
celestiais que verdadeiramente sois. Todo um exército de trabalhadores do Cristo
funciona em cada núcleo de vossas atividades relativas à espiritualização,
convocando-vos ao sentimento iluminado, à virtude ativa, ao departamento superior
da vida íntima, todavia, é ainda muito forte a vossa tendência de materializar todas
as expressões do espírito, esquecidos de espiritualizar a matéria.
Solicitais a luz, quase sempre perseverando nas sombras; reclamais
felicidade, semeando sofrimentos; pedis amor, incentivando a separação; buscais a
fé, duvidando até de vós mesmos.
A possibilidade de comerciar emoções com as esferas invisíveis que vos
rodeiam não representa, de modo algum, a realização espiritual imprescindível à
edificação divina de cada um de nós, porque o problema da glória mediúnica não
consiste em ser instrumento de determinadas Inteligências, mas em ser instrumento
fiel da Divindade. Para que a alma encarnada efetue semelhante conquista é
indispensável desenvolva os seus próprios princípios divinos.
Lembrai-vos, contudo, de que a Lei Divina jamais endossou o cativeiro e nunca
sancionou a escravidão! Esquecestes a palavra divina que pronunciou: “vós sois
deuses”? Ó meus amigos, a persistência na condição de animalidade vos perturba!
Sois a coroa espiritual da face da Terra, pela razão com que fostes galardoados pelo
Senhor do Universo. O facho esplendoroso do raciocínio clareia o santuário de
vossas consciências, o sublime vos convida ao “mais além”, irmãos mais velhos vos
convocam ao convívio do Pai; no entanto, buscais demorar voluntariamente na
fauna da irracionalidade primitiva. No campo vibratório da incute humana, sente-se
ainda o veneno das víboras ingratas, o instinto dos lobos famulentos, as ciladas
das raposas, o impulso sanguinário dos tigres vorazes, a vaidade e o orgulho dos
leões. Não acrediteis que semelhantes atributos sejam característicos do corpo
mortal simplesmente. São qualidades que o Espírito conserva em si, olvidando os
patrimônios divinos.
67

Ora, a morte física surpreende as criaturas na atitude que cultivaram.


Modificam-se os planos de vibração, mas a essência espiritual é sempre a mesma.
Daí o emaranhado de manifestações inferiores nas esferas mediúnicas de vossas
atividades. Em muitas ocasiões, ao invés de cultivardes as qualidades positivas de
realização com Jesus, permaneceis no fomento de interesses mesquinhos da
concorrência humana aos centros passageiros de pura sensação.
Tomados de enormes equívocos, nos círculos do desenvolvimento
medianímico, acreditais seja possível vencer o domínio pesado das vibrações
grosseiras, cristalizadas pela viciação de muitos séculos, tão-somente à força de
movimentação mecânica das células materiais.
Sem qualquer preparação, intentais a travessia das fronteiras vibratórias,
invocando as potências invisíveis de qualquer natureza, para o adestramento de
forças psíquicas, qual homem leviano que exigisse orientadores, ao acaso, em plena
multidão, esquecido de que nem todos os transeuntes da via pública permanecem
em condições de beneficiar, orientar e ensinar.
Se as máquinas mais simples da Terra pedem o curso preparatório do
operário, para que o setor da produção não desmereça em qualidade e quantidade,
como esperais que a mediunidade sublime se reduza a serviços automáticos, a
puras manifestações de mecanismo fisiológico, indene de educação e
responsabilidade? Sempre será possível abrir meios de comunicação entre vós
outros e os planos que vos são invisíveis, mas não esqueçais de que as afinidades
são leis fatais de reunião e integração nos reinos infinitos do Espírito! Sem os
valores da preparação, encontrareis irremediavelmente a companhia dos que fogem
aos processos educativos do Senhor; e sem as bênçãos da responsabilidade
encontrareis logicamente os irresponsáveis. Objetareis que o fenômeno é
indispensável no campo experimental das conquistas científicas, que o não habitual
deve ser convocado a favorecer novas convicções; entretanto, somos dos primeiros
a reconhecer que os vossos caminhos na Crosta se desdobram entre fenômenos
maravilhosos.
Já resolvestes, acaso, o mistério da integração do hidrogênio e do oxigênio na
gota d'água? Explicastes todo o segredo da respiração dos vegetais? Por que
disposições da Natureza viceja a cicuta que mata, ao lado do trigo que alimenta?
Que dizeis da haste espinhosa da Terra oferecendo a Flor, como graciosa taça de
perfume celeste? Solucionastes todos os problemas biológicos das formas físicas
68

que povoam o Planeta, nas diversas espécies? Qual é a vossa definição do raio de
sol? Vistes, alguma vez, o eixo imaginário que sustenta o equilíbrio do mundo?
Se semelhantes fenômenos, de caráter permanente na Crosta, não despertam
as almas adormecidas, fornecendo-lhes a legítima concepção da existência de
Deus, como esperais destruir a rebeldia milenária dos homens, exigindo espetáculos
prematuros de manifestações da Espiritualidade superior?
Não, meus amigos! Urge abandonar os setores de ruído externo para iniciardes
o desenvolvimento interior das faculdades divinas! A paixão do fenômeno pode ser
tão viciosa e destruidora para a alma, como a do álcool que embriaga e aniquila os
centros da vida física! Vosso jogo de hipóteses, na maioria das circunstâncias, não
passa de dança macabra dos raciocínios, fugindo às realidades universais e
adiando, indefinidamente, a edificação real do espírito!
Concordamos convosco em que a experimentação é necessária; que a
pesquisa intelectual é o ponto de partida dos grandes empreendimentos evolutivos;
que a curiosidade respeitável é mãe da ciência realizadora; que todo e qualquer
processo de conhecimento exige campo de observação e trabalho, como é
imprescindível o material didático, nas escolas mais simples. Entretanto, urge
reconhecer que os elementos de aprendizagem não devem ser convertidos pelo
aluno em meras expressões de brinquedo ou entretenimento. Além disso, ainda que
os aprendizes se esclareçam, relativamente às lições, é forçoso observar que a
informação não é tudo, porquanto o esclarecimento educativo é apenas parte do
aprendizado.
Que dizer dos discípulos que estudam sempre, sem jamais aprenderem no
terreno das aplicações legítimas? Que dizer dos companheiros, portadores de luzes
verbais para os outros, que nunca se iluminam a si mesmos? Catalogar valores não
significa vivê-los. Ensinar o caminho a viajores, não demonstra conhecimento direto
e pessoal da jornada. Há excelentes estatísticos que nunca visitaram as fontes
originais de seus recursos informativos, e eminentes geógrafos que raramente saem
do lar.
Referimo-nos a semelhantes imagens para fazer-vos sentir que, se é possível
manter atitudes dessa ordem, no campo limitado da curta existência na Crosta, não
se pode fazer o mesmo no reino infinito da vida espiritual, em cujos círculos viveis
desde agora, apesar da vossa condição de criaturas ligadas aos veículos inferiores.
69

Mediunidade não é disposição da carne transitória e sim expressão do Espírito


imortal. Naturalmente, o intercâmbio aprimorado, entre os dois planos, requer sadias
condições do vaso sagrado de possibilidades fisiológicas que o Senhor vos confiou
para santificação; todavia, o corpo é instrumento elevado nas mãos do artista, que
deve ser divino.
Se aspirais ao desenvolvimento superior, abandonai os planos inferiores. Se
pretendes o intercâmbio com os sábios, crescei no conhecimento, valorizai as
experiências, intensificai as luzes do raciocínio! Se aguardais a companhia sublime
dos santos, santificai-vos na luta de cada dia, porque as entidades angélicas não se
mantêm insuladas nos júbilos celestes e trabalham também pelo aperfeiçoamento do
mundo, esperando a vossa angelização! Se desejais a presença dos bons, tomai-
vos bondosos por vossa vez! Sem afabilidade e doçura, sem compreensão fraternal
e sem atitudes edificantes, não podereis entender os Espíritos afáveis e amigos,
elevados e construtivos.
Em vossas atividades espiritualistas, lembrai-vos, de que não vos encontrais
perante uma doutrina sectária de homens em trânsito no Planeta! Permaneceis num
movimento divino e mundial, de libertação das consciências, numa revelação
sublime da vida eterna e de valores imortais para todas as criaturas de boa vontade!
Acolhendo essa convicção, não vos detenhais na atitude exclusiva e presunçosa dos
que supõem haver encontrado na mediunidade tão-somente um sexto sentido! O
valor mediúnico não é dom de privilegiados, é qualidade comum a todos os homens
demandando a boa vontade sincera no terreno da elevação. Por agora, é inegável
que necessitamos das grandes tarefas estimuladoras, em que determinados
companheiros encarnados são convocados aos grandes testemunhos nesse setor
do esclarecimento coletivo, na disseminação da fé positiva e edificante; mas o futuro
nos revelará que o serviço dessa natureza pertence a todas as criaturas, porque
todos nós somos Espíritos imortais.
Não alimenteis qualquer dúvida! Não permitais que o padrão vibratório das
forças físicas vos apague a luz gloriosa da divina certeza deste momento, porque
todos nós, amados amigos, nos encontramos diante da própria Espiritualidade sem
fim, renovando energias viciadas de séculos consecutivos, a caminho de
transformações que mal poderíeis imaginar, nos círculos de vosso presente
evolutivo! Elevemo-nos, pois, no espírito do Senhor, que nos convidou ao banquete
da luz, desde hoje! Levantemo-nos para o porvir, não no sentido de menosprezar a
70

Terra, mas no propósito de aperfeiçoar as nossas qualidades individuais, para


sermos verdadeiramente úteis às suas realizações que hão de vir! Entreamemo-nos
intensamente, realizando os preceitos evangélicos e edifiquemo-nos, cada dia,
erguendo-nos para a redenção final.
Não provoqueis o desenvolvimento prematuro de vossas faculdades psíquicas!
Ver sem compreender ou ouvir sem discernir pode ocasionar desastres
vultosos ao coração. Buscai, acima de tudo, progredir na virtude e aprimorar
sentimentos. Acentuai o próprio equilíbrio e o Senhor vos abrirá a porta dos novos
conhecimentos!
Em todos os labores terrestres, transformai-vos na Vontade de Nosso Pai!
E em vossos serviços de fé, não intenteis fazer baixar até vós os Espíritos
superiores, mas aprendei a subir até eles, conscientes de que os caminhos de
intercâmbio são os mesmos para todos e mais vale elevar o coração para receber o
infinito bem, que exigir o sacrifício dos benfeitores!...
Jamais quebreis o fio de luz que nos liga, individualmente, ao Espírito Divino!
Não permitais que o egoísmo e a vaidade, os apetites inferiores e as tiranias do “eu”
vos empanem a faculdade de refletir a Divina Luz. Recordai que em nossa
capacidade de servir, e em nossas posições de trabalho, estamos para Deus como
as pedras preciosas da Terra estão para o Sol criador - quanto mais lie a pureza da
pedra, mais possibilidades apresenta para refletir o brilho solar!
Colocai as expressões fenomênicas de vossos trabalhos em segundo plano,
lembrando sempre de que o Espírito é tudo!

8.2 ANEXO 2 - SONO E SONHOS


Central Espírita Brasileira
Introdução
Chama-se emancipação da alma, o desprendimento do Espírito encarnado,
possibilitando-lhe afastar-se momentaneamente do corpo físico. É muito importante
a compreensão e o estudo do sono e dos sonhos para um conhecimento mais amplo
do fenômeno da emancipação da alma e das experiências vivenciadas pelo Espírito
neste estado de liberdade.
À semelhança da morte, em que o Espírito se liberta com facilidade do corpo
mediante conquistas anteriores de desapego e renúncia, reflexões e desinteresse
71

das paixões mais vigorosas, no sono há uma ocorrência equivalente, pois que o ser
espiritual possui maior ou menor movimentação conforme as suas fixações e
conquistas. Dormimos um terço de nossas vidas e o sono, além das propriedades
restauradoras da organização física, concede-nos possibilidades de enriquecimento
espiritual através das experiências vivenciadas enquanto dormimos.
No campo da mediunidade, durante o desdobramento ou emancipação da alma
pelo sono natural, os participantes dos grupos mediúnicos desenvolvem tarefas de
significativo valor em continuidade às atividades encetadas nas reuniões
mediúnicas. Vários fenômenos mediúnicos poderão ocorrer com a alma
emancipada, embora muitos sejam classificados, apenas, como fenômenos
anímicos. Às vezes, durante o sono ou na vigília, a alma se exterioriza, se objetiva
em sua forma fluídica e aparece à distância. E o fenômeno da bicorporeidade.
Durante o sono normal, o corpo perispiritual poderá provocar uma série de
fenômenos de efeitos intelectuais, como a psicofonia e a psicografia e também os de
efeitos físicos ou objetivos como as aparições, produzir sons, ruídos, etc.
No Livro dos Médiuns, Allan Kardec nos diz: As manifestações visuais mais
comuns têm lugar durante o sono; são as visões.
Os sonhos podem ser: uma visão atual das coisas presentes ou ausentes; uma
visão retrospectiva do passado e, em alguns casos excepcionais, um pressentimento
do futuro; quadros simbólicos que os Espíritos fazem passar sob nossos olhos para
nos dar úteis advertências e salutares conselhos, se são bons Espíritos; induzir ao
erro ou lisonjear paixões, se são Espíritos imperfeitos.
No estado de emancipação da alma, o Espírito se desloca do corpo físico, os
laços que o unem à matéria ficam mais tênues, mais flexíveis e o corpo perispiritual
age com maior liberdade. Vamos, neste estudo, evidenciar com maior intensidade, o
sonho, suas características espirituais, quando realmente ocorre a emancipação da
alma e as horas de sono são aproveitadas para nosso crescimento espiritual através
de atividades, estudos e aquisições enobrecedoras.
Conceitos:
Sono é um estado em que cessam as atividades físicas motoras e sensoriais.
Sonho é a lembrança dos fatos, dos acontecimentos ocorridos durante o sono.
A ciência oficial. Analisando tão somente os aspectos fisiológicos das
atividades oníricas, ainda não conseguiu conceituar com clareza e objetividade o
sono e o sonho. Sem considerar a emancipação da alma, sem conhecer as
72

propriedades e funções do perispírito, fica, realmente, difícil explicar a variedade das


manifestações que ocorrem durante o repouso do corpo físico. Alguns psiquiatras e
psicólogos já analisam os sonhos como atividades do psiquismo mais profundo.
Assim temos em Freud, o precursor dos estudos mais avançados nesta área.
Ele julgava que os instintos, quando reprimidos, tendem a se manifestar e uma
destas manifestações seria através dos sonhos. Isto numa linguagem simbólica
representativa do desejo. Adler introduziu em Psicologia o “instinto do poder”. Nossa
personalidade gravitana em torno da auto-afirmação, do desejo do domínio. Jung
considerou válidas as duas proposições. Descobriu que nos recessos do
inconsciente, existe uma infra-estrutura feita de imagens ou símbolos que integram a
mitologia de todos os povos. São os arquétipos, reminiscências de caráter genérico
que remontam a fases muito primitivas da evolução.
Mas foi Allan Kardec, através da Codificação Espírita, quem, realmente,
analisou amplamente os sonhos em seus aspectos fisiológicos e espirituais. No livro
dos Espíritos, Cap. VIII, analisando a emancipação espiritual, coloca o sono como a
primeira fase deste fenômeno, que antecede ao sonambulismo e ao êxtase que
seriam estados mais profundos de independência pelo desprendimento parcial do
Espírito.
Na questão 400, do Livro dos Espíritos, ele indaga aos Espíritos Superiores: “O
espírito permanece voluntariamente no seu envoltório corporal" R: “E como se
perguntasse se o prisioneiro está satisfeito sob as chaves. O Espírito encarnado
aspira incessantemente à libertação e quanto mais grosseiro é o envoltório, mais ele
deseja ver-se desembaraçado.”
Na questão 401: “Durante o sono, a alma repousa como o corpo?” R: “Não. O
Espírito jamais está inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se
afrouxam e o corpo não mais necessitando do Espírito, ele percorre o espaço e entra
em relação mais direta com os outros Espíritos.”
Na questão 402, Kardec indaga: “Como podemos julgar a liberdade do Espírito
durante o sono?” R: “Pelos sonhos.”
E Allan Kardec tece comentários muito importantes acerca dos sonhos, nos
quais há uma emancipação da alma, enquanto o corpo repousa. “O sono liberta
parcialmente a alma do corpo.” “O Espírito jamais está inativo.” “Têm a lembrança do
passado e às vezes a previsão do futuro.” “Adquire mais poder (pela liberdade de
ação delimitada pelo grau de exteriorização) e pode entrar em contato com outros
73

Espíritos encarnados ou desencarnados.” “O sono coloca o homem num estado em


que estará de maneira permanente após a morte.” “Enquanto dormem, alguns
Espíritos procuram aqueles que lhes são superiores (estudam, trabalham, recebem
orientações, pedem conselhos). “Os Espíritos inferiores irão aos lugares com os
quais se afinizam.”
Sonhos Classificação:
-

Martins Peralva, no livro “Estudando a Mediunidade”, propõe a seguinte


classificação dos sonhos:
SONHOS COMUNS: São aqueles que refletem nossas vivências do dia a dia.
O Espírito desligando-se, parcialmente, do corpo, absorve as ondas e imagens de
sua própria mente, das que lhe são afins e do mundo exterior, já que nos
movimentamos num turbilhão de energias e ondas vibrando sem cessar. Nos sonhos
comuns, quase não há exteriorização perispiritual. São muito freqüentes dada a
nossa condição espiritual. “Puramente cerebral, simples repercussão de nossas
disposições físicas ou de nossas preocupações morais. É também o reflexo de
impressões e imagens arquivadas no cérebro durante a vigília.
SONHOS REFLEXIVOS: Há maior exteriorização que nos sonhos comuns. O
Espírito registra acontecimentos, impressões e imagens, arquivadas no
subconsciente, isto é, no cérebro do corpo fluídico, ou perispírito. Esses sonhos
poderão refletir fatos remotos, imagens da atual reencarnação. Contudo, é mais
freqüente revivenciar acontecimentos de outras vidas, cujas lembranças nos tragam
esclarecimentos, lições ou advertências, se orientados por mentores espirituais.
Poderão os Espíritos inferiores motivar estas recordações com finalidade de nos
perseguirem, amedrontar, desanimar ou humilhar, desviando-nos dos objetivos
benéficos da existência atual.
Nos sonhos reflexivos, o espírito flutua na atmosfera sem se afastar muito do
corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens, que de
todos os lados rolam pelo espaço, deles se impregna, e ai colhe impressões
confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos; a isso se mesclam, às
vezes, reminiscências de vidas anteriores.
SONHOS ESPÍRITAS: Há mais ampla exteriorização do perispírito.
Desprendendo-se do corpo e adquirindo maior liberdade, a alma terá uma atividade
real no plano espiritual. Léon Denis chama a estes sonhos de etéreos ou profundos,
por suas características de mais acentuada emancipação da alma. O Espírito se
74

subtrai à vida física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a


imensidade onde procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias
espirituais. Dessas práticas, conserva o Espírito impressões que raramente afetam o
cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória.
Nos sonhos espíritas, teremos que considerar a lei de afinidade. Nossa
condição espiritual, nosso grau evolutivo, irá determinar a qualidade de nossos
sonhos, as companhias espirituais que iremos procurar, os ambientes nos quais
permaneceremos enquanto o nosso corpo repousa. Quando encarnados na crosta,
não temos bastante consciência dos serviços realizados durante o sono físico,
contudo, esses trabalhos são inexprimíveis. Infelizmente, porém, a maioria se vale
de repouso noturno para sair à caça de emoções frívolas ou menos dignas.
Relaxando-se as defesas próprias, e certos impulsos longamente sopitados durante
a vigília, extravasam-se em todas as direções, por falta de educação espiritual,
verdadeiramente sentida e vivida.
Os Sonhos e a Lei de Afinidade
No livro Mecanismos da Mediunidade, André Luiz nos diz que quanto mais
inferiorizado, mais dificuldade terá o homem em se emancipar espiritualmente. Qual
ocorre no animal de evolução superior, no homem de evolução positivamente inferior
o desdobramento da individualidade, por intermédio do sono, é quase que absoluto
estágio de mero refazimento físico. No animal, o sonho é puro reflexo das atividades
fisiológicas. E, no homem primitivo em que a onda mental está em fase inicial de
expansão, o sonho, por muito tempo, será invariavelmente ação reflexa de seu
próprio mundo consciencial ou afetivo.
Estaremos, então, durante o repouso noturno, se emancipados espiritualmente,
vivenciando cenas e realizando tarefas afins. Procuraremos a companhia daqueles
Espíritos que estejam na mesma sintonia, para realizações positivas, visando nosso
progresso moral ou em atitudes negativas, viciosas, junto àqueles que, ainda, se
comprazem em atos ou reminiscências degradantes, que nos perturbam e
desequilibram..
Há leis de afinidade que respondem pelas aglutinações sócio-morais-
intelectuais, reunindo os seres conforme os padrões e valores nos quais se
demoram. Parcialmente liberto pelo sono, o Espírito segue na direção dos ambientes
que lhe são agradáveis durante a lucidez física ou onde gostaria de estar, caso lhe
permitissem as possibilidades normais
75

Os sonhos espíritas, isto é, naqueles que nos liberamos parcialmente do corpo


e gozamos de maior liberdade, são os retratos de nossa vivência diária e de nosso
posicionamento espiritual. Refletem de nossa realidade interior, o que somos e o que
pensamos. Dorme-se, portanto, como se vive, sendo-lhe os sonhos o retrato
emocional da sua vida moral e espiritual.
Exemplos de Sonhos
A literatura espírita é rica em exemplos e narrativas de sonhos espíritas. Temos
nas obras psicografadas por Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e as escritas por
lnvonne Amaral Pereira, inúmeras descrições destes sonhos. Neles, vemos a alma
emancipada sob a hipnose natural que é o sono, ir a locais e agir por sugestões, as
mais variáveis, atraídas sempre aos locais e situações onde se lhe vincula o
pensamento. A vontade é direcionada pelo desejo e este age impulsionando a alma
na direção do que lhe atrai e constitui motivação principal, na vida íntima.
Nos sonhos, com emancipação da alma, poderemos citar alguns exemplos:
reflexos de nosso cotidiano, de nossas preocupações comuns; determinatórios
(indicando caminhos, dando avisos ou nos advertindo); premonitórios (prevendo
fatos próximos); proféticos (citados na bíblia); instrutivos (fornecendo-nos lições
enobrecedoras e conhecimentos do plano espiritual); com experiências negativas;
com perseguições de Espíritos inferiores.

Recordação dos Sonhos


Na questão 403, do Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga: “Por que não nos
lembramos de todos os sonhos 7’ R: “Nisso que chamas sono só tens o repouso do
-

corpo, porque o Espírito está sempre em movimento. No sono ele recobra um pouco
de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros seja neste ou noutro
mundo. Mas, como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva
as impressões recebidas pelo Espírito durante o sono, mesmo porque o Espírito não
as percebeu pelos órgãos do corpo.
Algumas considerações em torno da resposta acima:
No estado de vigília: as percepções se fazem com o concurso dos órgãos
físicos; os estímulos exteriores são selecionados pelos sentidos; são transmitidos ao
cérebro pelas vias nervosas; no cérebro físico, são gravados para serem
reproduzidos pela memória biológica a cada evocação.
76

Quando dormimos: cessam as atividades físicas, motoras e sensoriais; o


Espírito liberto age e sua memória perispiritual registra os fatos sem que estes
cheguem ao cérebro físico; tudo é percebido diretamente pelo Espírito;
excepcionalmente, por via retrógrada, as percepções da alma poderão repercutir no
cérebro físico; quando lembramos, dizemos que sonhamos.
Conclusão
A análise dos sonhos pode nos trazer informações valiosas para nosso
autodescobrimento. Contudo, devemos nos precaver contra as interpretações pelas
imagens e lembranças esparsas. Há sempre um forte conteúdo simbólico em nossas
percepções psíquicas que, normalmente nos chegam acompanhadas de emoções e
sentimentos.
Se, ao despertarmos, nos sentirmos envolvidos por emoções boas, agradáveis,
vivenciamos uma experiência positiva durante o sono físico. Ao contrário, se as
emoções são negativas, nos vinculamos certamente a situações e Espíritos
inferiores.
Daí a necessidade de adequarmos nossas vidas aos preceitos espíritas,
vivenciando o amor, o perdão, a abnegação, habituando-nos à prece, à meditação
antes de dormir, para nos ligarmos a valores bons e sintonia superior. Assim,
teremos um sono reparador e sonhos construtivos.

8.3 ANEXO 3 - OS FLUIDOS

“... e quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o


simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente. Mas Deus
dá o corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu
corpo apropriado. Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne
dos homens, outra a dos animais, outra a das aves, outra a dos peixes.
Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é
a glória dos celestiais e outra, a dos terrestres. Uma é a glória do sol,
outra a glória da lua, outra a das estrelas; porque até entre as estrelas
há diferenças de esplendor". (Coríntios, cap. 15 - 37 a 41).

CONSIDERAÇÕES
Um dos grandes mistérios que a Ciência humana procura esclarecer é o da
existência de uma matéria básica universal, capaz de servir como ponto de partida
para a origem dos elementos físicos conhecidos. Embora pesquisadores em todo o
mundo tenham se empenhado no estudo da estrutura íntima dos átomos, ainda não
77

se conseguiu encontrar esse elemento básico primitivo. Acredita-se que o Universo,


em seu lado material, tenha uma idade calculada aproximadamente entre 9 e 16
bilhões de anos. Estudos modernos afirmam que no principio todos os elementos
materiais estavam reunidos num só “ponto”, sob uma pressão incalculável. Num
dado momento, esse ponto teria explodido, dispersando matéria pelo espaço, dando
origem às nebulosas, aos sistemas estelares, aos planetas e aos astros. O Universo,
de acordo com a física moderna, continua a se expandir e não se sabe até quando
continuará neste processo. A Ciência entende que, encontrando o elemento material
primitivo, estaria frente à solução de muitos mistérios sobre a origem das coisas.
No século XIX, quando começaram as manifestações dos Espíritos, eles
revelaram uma teoria onde explicavam de forma racional a origem das coisas
materiais e espirituais. Diziam que havia por toda a Criação um elemento primitivo
etéreo, denominado “fluido universal”, e que todos os elementos materiais
conhecidos seriam formas modificadas deste fluido.
Alguns cientistas no passado pesquisaram a matéria básica, também
denominada “éter’, mas não conseguiram convencer os meios científicos de sua
existência. A Ciência não podia compreender a presença, no espaço, de uma
matéria tão sutil que não fosse detectada pelos instrumentos existentes. O
Espiritismo, através dos fenômenos de efeitos físicos, demonstrou a existência do
fluido universal, base de todos os elementos materiais.

FLUIDO UNIVERSAL
O fluido universal é a matéria básica fundamental de todo o Universo material e
espiritual, a matéria elementar primitiva. É altamente influenciável pelo pensamento
(que é uma forma de energia), podendo se modificar, assumir formas e propriedades
particulares. A ação do Pensamento Divino sobre o fluido universal deu origem às
nebulosas, aos sistemas estelares, aos planetas e astros. É nessa matéria fluídica
que o Criador executa o plano existencial.
O fluido universal preenche todo o espaço existente entre os mundos. Por meio
dele viajam as ondas do pensamento, do mesmo modo que as ondas sonoras se
projetam na camada atmosférica. Em torno dos planetas, o fluido universal
apresenta-se modificado. A presença da vida no orbe impõe-lhe características
especiais, pois que é alterado pela atividade mental dos habitantes. Assim, nos
78

mundos mais primitivos, o fluido universal que os circunda apresenta-se escuro e


pesado. Nos mundos mais civilizados, a atmosfera espiritual é mais leve e luminosa.
Para melhor compreensão, pode-se dizer que esse princípio elementar tem
dois estados distintos: o da imponderabilidade ou de eterização (estado normal
primitivo), e o de ponderabilidade ou de materialização. Ao primeiro estado
pertencem os fenômenos do mundo invisível e ao segundo os do mundo visível.
Logicamente entre os dois pontos existem inúmeras formas intermediárias de
transformação do fluido em matéria tangível. No estudo deste importante assunto
poderemos entender a origem de muitas afecções do ser humano e os fundamentos
da fluidoterapia, largamente empregada nos centros espíritas, na profilaxia e
tratamento das enfermidades físicas e espirituais.
“No estado de eterização, o fluido universal não é uniforme; sem cessar de ser
etéreo, passa por modificações tão variadas em seu gênero, e mais numerosas
talvez, do que no estado de matéria tangível. Tais modificações constituem fluidos
distintos que, se bem sejam procedentes do mesmo princípio, são dotados de
propriedades especiais, e dão lugar aos fenômenos particulares do mundo invisível.
Uma vez que tudo é relativo, esses fluidos têm para os Espíritos, que em si mesmo
são fluídicos, uma aparência material quanto a dos objetos tangíveis para os
encarnados, e são para eles o que para nós são as substâncias do mundo terrestre;
eles as elaboram, as combinam para produzir efeitos determinados como o fazem os
homens com seus materiais, embora usando processos diferentes” - (Allan Kardec -
A Gênese, cap. XIV, item 3).

FLUIDO VITAL
Os Espíritos afirmam que uma das modificações mais importantes do fluido
universal é o fluido vital. Ele é o responsável pela força motriz que movimenta os
corpos vivos. Sem ele, a matéria é inerte. Podemos dizer que ele é responsável pela
animalização da matéria, pois, segundo os Espíritos, a vida é resultado da ação de
um agente sobre a matéria. Esse agente é o fluido vital. É ele que dá vida a todos os
seres que o absorvem e assimilam. A matéria sem ele não tem vida assim como ele
sem a matéria não é vida.
Quando os seres orgânicos perdem a vitalidade, por ocasião da morte, a
matéria se decompõe formando novos corpos e o fluido vital volta à massa, ao todo
universal, para novas combinações e utilizações no Universo. Cada ser tem uma
79

quantidade de fluido vital, de acordo com suas necessidades. As variações


dependem de uma série de fatores. Allan Kardec nos instrui sobre o assunto em O
Livro dos Espíritos, pergunta 70:
“A quantidade de fluido vital não é a mesma em todos os seres orgânicos: varia
segundo as espécies e não é constante no mesmo indivíduo, nem nos vários
indivíduos de uma mesma espécie. Há os que estão, por assim dizer, saturados de
fluido vital, enquanto outros o possuem apenas em quantidade suficiente. E por isso
que uns são mais ativos, mais enérgicos, e de certa maneira, de vida
superabundante. A quantidade de fluído vital se esgota. Pode tornar-se incapaz de
entreter a vida, se não for renovada pela absorção e assimilação de substâncias que
o contêm. O fluído vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tem em
maior quantidade pode dá-lo ao que tem menos, e em certos casos fazer voltar uma
vida prestes a extinguir-se”
Estudando esses fundamentos à luz do Espiritismo, chegamos à compreensão
de muitas coisas simples que nos pareciam complicadas e irreais, como por
exemplo, a citação de Moisés na Bíblia sobre a origem do homem. Diz ele: "Deus
formou o corpo do homem do limo da terra e lhe deu uma alma vivente à sua
semelhança”. Ele estava certo, pois queria dizer que o corpo material era formado
dos mesmos elementos que tinham servido para formar o pó da terra. A “alma
vivente à sua semelhança” é o princípio inteligente ou espiritual retirado da essência
divina, fazendo grande distinção entre o material e o espiritual. O homem pode
manter o equilíbrio de sua saúde vital através da alimentação, da respiração de ar
não poluído e, acima disso, mantendo uma conduta mental sadia. O Princípio vital é
a lei que rege a existência do fluído vital.

ATMOSFERA FLUÍDICA
“Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas
deletérios corrompem o ar respirável” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).
Vimos que o pensamento exerce uma poderosa influência nos fluidos
espirituais, modificando suas características básicas. Os pensamentos bons
impõem-lhes luminosidade e vibrações elevadas que causam conforto e sensação
de bem estar às pessoas sob sua influência. Os pensamentos maus provocam
alterações vibratórias contrárias às citadas acima. Os fluidos ficam escuros e sua
ação provoca mal estar físico e psíquico. Pode-se concluir assim, que em torno de
80

uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação ou planeta, existe uma
atmosfera espiritual fluídica, que varia vibratoriamente, segundo a natureza moral
dos Espíritos envolvidos.
À atmosfera fluídica associam-se seres desencarnados com tendências morais
e vibratórias semelhantes. Por esta razão, os Espíritos superiores recomendam que
nossa conduta, nas relações com a vida, seja a mais elevada possível. Uma criatura
que vive entregue ao pessimismo e aos maus pensamentos, tem em volta de si uma
atmosfera espiritual escura, da qual aproximam-se Espíritos doentios. A angústia, a
tristeza e a desesperança aparecem, formando um quadro físico-psíquico
deprimente, que pode ser modificado sob a orientação dos ensinos morais de Jesus.
“A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem conseqüências de
importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante em que tais fluidos
são o veículo do pensamento; que o pensamento lhes pode modificar as
propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou
más, dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou
impureza dos sentimentos” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).
À medida que cresce através do conhecimento, o homem percebe que suas
mazelas, tanto físicas quanto espirituais, é diretamente proporcional ao seu grau
evolutivo e que ele pode mudar esse estado de coisas, modificando-se moralmente.
Aliando-se a boas companhias espirituais através de seus bons pensamentos,
poderá estabelecer uma melhor atmosfera fluídica em torno de si e,
conseqüentemente, do ambiente em que vive. Resumindo, todos somos
responsáveis pelo estado de dificuldades morais que vive o planeta atualmente.
“Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo
meio vive, porque não lhe enviará senão bons fluidos, e estes oporão uma barreira à
invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser povoada senão por homens
que, entre si praticam as leis divinas do amor e da caridade, ninguém duvida que
não se encontrem em condições de higiene física e moral completamente outras que
as hoje existentes” - (Allan Kardec - Revista Espírita, Maio, 1867).

8.4 ANEXO 4 - AÇÃO DA PRECE: TRANSMISSÃO DE PENSAMENTO


Herculano Pires
A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a
que nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um
81

louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos.
As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução
dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus.
Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de
intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem à vontade de Deus.
O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de
transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso
apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender o que
ocorre nesse caso, é necessário imaginar os seres, encarnados e desencarnados,
mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na Terra
estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é
o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as
vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao
infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no
espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se
estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da
vontade. É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se
encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem as
suas inspirações, e que as relações se estabelecem à distância entre os próprios
encarnados.
Esta explicação se dirige, sobretudo, aos que não compreendem a utilidade da
prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar
compreensíveis os seus efeitos, ao mostrar que ela pode exercer ação direta e
positiva. Nem por isso está menos sujeita à vontade de Deus, juiz supremo em todas
as coisas, e único que pode dar eficácia à sua ação.
Pela prece, o homem atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vêm sustentar
nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Ele adquire assim a
força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao caminho reto, quando
dele se afastou; e assim também podem desviar de si os males que atrairia pelas
suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos
excessos que cometeu, e arrasta, até o fim dos seus dias, uma vida de sofrimento.
Tem o direito de queixar-se, se não conseguir a cura? Não, porque poderia
encontrar na prece a força para resistir às tentações.
82

Se dividirmos os males da vida em duas categorias, sendo uma a dos que o


homem não pode evitar, e outra a das atribuições que ele mesmo provoca, por sua
incúria e pelos seus excessos. (Ver cap. V, nº 4), veremos que esta última é muito
mais numerosa que a primeira. Torna-se, pois, evidente que o homem é o autor da
maioria das suas aflições, e que poderia poupar-se, se agisse sempre com
sabedoria e prudência.
É certo, também, que essas misérias resultam das nossas infrações às leis de
Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos perfeitamente felizes.
Se não ultrapassássemos os limites do necessário, na satisfação das nossas
exigências vitais, não sofreríamos as doenças que são provocadas pelos excessos,
e as vicissitudes decorrentes dessas doenças. Se limitássemos as nossas ambições,
não temeríamos a ruína. Se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não
recearíamos a queda. Se fossemos humildes, não sofreríamos as decepções do
orgulho abatido. Se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maledicentes,
nem invejosos, nem ciumentos, e evitaríamos as querelas e as dissensões. Se não
fizéssemos nenhum mal a ninguém, não teríamos de temer as vinganças, e assim
por diante.
Admitamos que o homem nada pudesse fazer contra os outros males; que
todas as preces fossem inúteis para livrar-se deles; já não seria muito, poder afastar
todos os que decorrem da sua própria conduta? Pois bem: neste caso concebe-se
facilmente a ação da prece, que tem por fim atrair a inspiração salutar dos Bons
Espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistirmos aos maus pensamentos,
cuja execução pode nos ser funesta. E, para nos atenderem nisto, não é o mal que
eles afastam de nós, mas é a nós que eles afastam do pensamento que nos pode
causar o mal; não embaraçam em nada os desígnios de Deus, nem suspendem o
curso das leis naturais, mas é a nós que impedem de infringirmos as leis, ao
orientarem o nosso livre arbítrio. Mas o fazem sem o perceberem, de maneira oculta,
para não prejudicarem a nossa vontade. O homem se encontra então na posição de
quem solicita bons conselhos e os segue, mas conservando a liberdade de segui-los
ou não. Deus quer que assim seja, para que ele tenha a responsabilidade dos seus
atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o que o
homem sempre receberá, se pedir com fervor, e ao que se podem, sobretudo,
aplicar estas palavras: “Pedi e obtereis”.
83

A eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções, não daria imenso


resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a sua ação, pela revelação das
relações entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Mas não se limitam a isso os
seus efeitos. A prece é recomendada por todos os Espíritos. Renunciar a ela é
ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si mesmo a sua assistência; e para os
outros, o bem que se poderia fazer.
Ao atender ao pedido que lhe é dirigido, Deus tem freqüentemente em vista
recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis porque a prece
do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre maior
eficácia. Porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança
que só o sentimento da verdadeira piedade pode dar. Do coração do egoísta,
daquele que só ora com os lábios, não poderiam sair mais do que palavras, e nunca
os impulsos da caridade, que dão à prece toda a sua força. Compreende-se isso tão
bem que, instintivamente, preferimos recomendar-nos às preces daqueles cuja
conduta nos parece que deve agradar a Deus, pois que são melhores escutados.
Se a prece exerce uma espécie de ação magnética, podemos supor que o seu
efeito estivesse subordinado à potência fluídica. Entretanto, não é assim. Desde que
os Espíritos exercem esta ação sobre os homens, eles suprem, quando necessário,
a insuficiência daquele que ora, seja através de uma ação direta em seu nome, seja
ao lhe conferirem momentaneamente uma força excepcional, quando ele for julgado
digno desse benefício ou quando isso possa ser útil.
O homem que não se julga suficientemente bom para exercer uma influência
salutar, não deve deixar de orar por outro, por pensar que não é digno de ser ouvido.
A consciência de sua inferioridade é uma prova de humildade, sempre agradável a
Deus, que leva em conta a sua intenção caridosa. Seu fervor e sua confiança em
Deus constituem o primeiro passo do seu retorno ao bem, que os Bons Espíritos se
sentem felizes de estimular. A prece que é repelida é a do orgulhoso, que só tem fé
no seu poder e nos seus méritos, e julga poder substituir-se à vontade do Eterno.
O poder da prece está no pensamento, e não depende nem das palavras, nem
do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em qualquer hora, a
sós ou em conjunto. A influência do lugar ou do tempo depende das circunstâncias
que possam favorecer o recolhimento. A prece em comum tem ação mais poderosa,
quando todos os que a fazem se associam de coração num mesmo pensamento e
têm a mesma finalidade, porque então é como se muitos clamassem juntos e em
84

uníssono. Mas que importaria estarem reunidos em grande número, se cada qual
agisse isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas reunidas podem orar
como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma aspiração comum, orarão
como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais força do que a daquelas
cem.

8.5 ANEXO 5 - OS TRÊS REINOS


Sergio Biagi Gregório
INTRODUÇÃO
Concebeu-se dividir a natureza em:
1) seres orgânicos e seres inorgânicos;
2) reino mineral, reino vegetal e reino animal;
3) reino mineral, reino vegetal, reino animal e reino hominal.
Que subsídios a Doutrina Espírita oferece-nos para enfrentarmos esta
questão? O capítulo XI do Livro Segundo de O Livro dos Espíritos, que trata dos três
reinos, oferece-nos alguns ensinamentos bastante importantes.

VISÃO DE CONJUNTO
De acordo com os pressupostos espíritas, Deus criou os Espíritos - simples e
ignorantes -, com a determinação de se tornarem perfeitos. Assim, o progresso do
Espírito é sempre compulsório: podemos estacionar por algum tempo, mas os
acicates da vida nos impulsionarão para o desenvolvimento ulterior.
Ainda que haja controvérsias, diz-se que o princípio inteligente ou mônada
celeste estagia nesses reinos, começando no mineral e indo até o hominal, extraindo
de cada um deles os subsídios necessários para a sua evolução. É por isso que
tudo se encadeia na natureza, desde o átomo ao arcanjo.
Para J. H. Pires, “a Ontogênese Espírita, ou seja, a teoria doutrinária da criação
dos Seres (do grego: onto é Ser; logia é estudo, ciência) revela o processo evolutivo
a partir do reino mineral até o reino hominal. Essa teoria da evolução é mais
audaciosa que a de Darwin. Léon Denis a definiu numa seqüência poética e
naturalista: A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda
no homem. Entre cada uma dessas fases existe uma zona intermediária, como se
pode verificar nos estudos científicos”. (1984, p. 93)
85

REINO MINERAL
Allan Kardec escreve pouco sobre esse reino. Diz-nos que ele é constituído de
matéria inerte, e não possui mais do que uma força mecânica. Os minerais não têm
vitalidade e nem movimentos próprios, sendo formado apenas pela agregação da
matéria. São os chamados seres inorgânicos da natureza. A pedra, por exemplo,
não apresenta sinal de vida. Pode-se dizer que o característico básico dessa fase é
a atração, presenciado claramente no fenômeno do magnetismo.
Na intermediação com o reino vegetal, que lhe vem a seguir, investigações
científicas descobriram a geração espontânea dos vírus nas estruturas cristalinas.
Os vírus se situam na encruzilhada dos reinos mineral, vegetal e animal, como uma
espécie de ensaio para ordenações futuras.

REINO VEGETAL
As plantas, compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Elas não
pensam, não têm mais do que a vida orgânica. Podem ser afetadas por ações sobre
a matéria, mas não têm percepções; por conseguinte, não têm a sensação de dor.
Como não pensam, não podem ter vontade, e não têm consciência de si mesma;
nada mais possuem que um instinto natural e cego. O próprio instinto de
conservação é puramente mecânico.
O característico básico dessa fase é a sensação.
Na intermediação com o reino hominal, que lhe vem a seguir, existe a zona dos
vegetais carnívoros.

REINO ANIMAL
Os animais, constituídos de matéria inerte e dotados de vitalidade, têm uma
espécie de inteligência instintiva, limitada, com a consciência de sua existência e de
sua individualidade. Eles não agem só por instinto. Além do instinto, não poderia
negar a certos animais a prática de certos atos combinados, que denotam a vontade
de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles,
portanto, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício é mais precisamente
concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e prover à
conservação. Não há entre eles nenhuma criação, nenhum melhoramento; qualquer
que seja a arte que admiremos em seus trabalhos, aquilo que faziam antigamente é
86

o mesmo que fazem hoje. O João de Barro, por exemplo, constrói o seu ninho
sempre da mesma maneira.
Pergunta 595 de O Livro dos Espíritos - Os animais têm livre arbítrio?
- Não são simples máquinas, mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas
necessidades, e não pode ser comparada à do homem. Sendo muito inferiores a
este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida
material. A sua escolha é mecânica, por instinto. Na comparação do homem ao
animal, Allan Kardec na pergunta 597 A de O Livro dos Espíritos diz: “há, entre a
alma dos animais e a do homem tanta distância quanto entre a alma do homem e
Deus”. A característica principal dessa fase é a elaboração do instinto. Na zona de
intermediação entre o reino animal e o reino hominal estão situados os antropóides.

REINO HOMINAL
O homem, tendo tudo o que existe nas plantas e nos animais, domina todas as
outras classes por uma inteligência especial, ilimitada, que lhe dá a consciência do
seu futuro, a percepção das coisas extramateriais e o conhecimento de Deus.
André Luiz em Evolução em Dois Mundos cita que o princípio inteligente
estagiando na ameba adquire os primeiros automatismos do tato; nos animais
aquáticos, o olfato; nas plantas, o gosto; nos animais, a linguagem. Hoje somos o
resultado de todos os automatismos adquiridos nos vários reinos da natureza.
Assim, no reino mineral adquirimos a atração; no reino vegetal, a sensação; no reino
animal, o instinto; no reino hominal, o livre-arbítrio, o pensamento contínuo e a
razão. (Xavier, 1977, cap. 4) Diz ainda que “nas linhas da civilização o reflexo
precede o instinto, este à atividade refletida, esta à inteligência, esta, por sua vez, à
razão e, finalmente, esta à responsabilidade”.
A característica principal deste reino, como uma síntese de todos os anteriores,
é o aparecimento do Pensamento Contínuo, do Livre-Arbítrio e da Responsabilidade
Moral.
O homem é um ser a parte. O Espírito, encarnando-se no homem, transmite-
lhe o princípio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. O Espírito ao
purificar-se liberta-se pouco a pouco da influência da matéria.

CONCLUSÃO
Três reinos e o homem encerra todo o processo de evolução alcançado pelo
87

desenvolvimento do princípio inteligente. O próximo passo é transformar-se no reino


angélico, em que estaria livre de todas as influências da matéria.

GLOSSÁRIO
Antropóides - Grupo de símios catarríneos do Velho Continente, que
compreende os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos, bem como algumas
espécies fósseis. São desprovidos de cauda e ocasionalmente bípedes. Semelhante
ao homem.
Seres inorgânicos - são os que não possuem vitalidade nem movimentos
próprios, sendo formados apenas pela agregação da matéria: os minerais, a água, o
ar etc.
Seres orgânicos - são os que trazem em si mesmos uma fonte de atividade
íntima, que lhes dá vida; nascem, crescem, reproduzem-se e morrem; são providos
de órgãos especiais para a realização dos diferentes atos da vida e apropriados às
necessidades de sua conservação. Compreendem os homens, os animais e as
plantas.
Vírus - são microorganismos não celulares, a maioria dos quais muito menores
do que bactérias. Reproduzem-se ou replicam-se, unicamente dentro de células
vivas, muitas vezes, mas nem sempre, os quais podem ter qualquer outra forma de
vida na Terra. (os vírus, em si, podem ser considerados como vivos ou não vivos)
Vitalidade ou princípio vital - é a força inerente aos corpos organizados, que
dá movimento e atividade aos seres orgânicos e os distingue da matéria inerte,
porquanto o movimento da matéria não é vida. Esse movimento ela o recebe, não o
dá.

8.6 ANEXO 6 - A ESPIRITUALIDADE DOS ANIMAIS


Eurípedes Kühl
Gratificante que esse tema, até pouco tempo tão deslembrado, esteja agora
visitando e instigando a mente de tantas pessoas, não necessariamente espíritas,
senão sim, todas, ao menos, espiritualistas, querendo saber o que acontece com
animais, depois que morrem...
De minha parte e dentro do que conheço do Espiritismo, respondo a esse
questionamento retrocedendo no tempo, partindo da criação dos seres vivos:
- Deus, “a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas", cria sem
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cessar. Uma de Suas criações é o Princípio Inteligente (PI), representado pela


mônada1, que verte do fluido cósmico e que, contemplada com a eternidade (!),
enceta longa rota evolutiva, estagiando inicialmente no mineral, a seguir no vegetal,
depois no animal, daí ao hominal e, finalmente, no angelical.
Nos três primeiros estágios citados, a pouco e pouco cada PI irá se
individualizando, percorrendo infinitos ciclos evolutivos, num e noutro plano da vida
(o espiritual e o material), durante os quais será mantido, monitorado e guiado por
Inteligências Siderais, responsáveis pela Vida, por delegação divina.
Nesses três reinos o PI gradativamente irá sendo equipado, por aqueles
Protetores, de instinto e automativos fisiológicos, representando poderosos
equipamentos para possibilitar-lhe a sobrevivência, nos rudes crivos que terá de
superar, até humanizar-se, quando então, ainda com tais condicionamentos
automáticos (que possibilitam o metabolismo), estará equipado de livre-arbítrio,
inteligência contínua e consciência.
À medida que ocorre a sua individualização, na extensa rota de experiências,
no reino animal, o PI já tem uma alma, porém inferior à do homem; assim sendo, é
lícito deduzir que revestindo essa alma há um corpo astral - o perispírito - sutil, mas
ainda material e sempre mais grosseiro do que o do homem.
Tratando-se agora dos três reinos e em particular à morte dos animais, Kardec
perguntou e obteve respostas claras, não passíveis de segunda interpretação.
Resumindo essas respostas:
- minerais só têm força mecânica (não têm vitalidade); NOTA: Quer me parecer
que essa força é a que mantém a agregação do átomo, que acompanhará o PI em
toda a vasta fieira de experiências terrenas;
- vegetais são dotados de vitalidade e têm vida orgânica (nascem, crescem,
reproduzem e morrem), além de serem dotados de instinto rudimentar;
- animais têm instinto apurado e inteligência fragmentária, além de linguagem
própria de cada espécie; têm um princípio independente, que sobrevive após a
morte; esse princípio independente, individualizado, algo semelhante a uma alma
rudimentar, inferior à humana, dá-lhes limitada liberdade de ação (apenas nos atos
da vida material); assim, pois, não têm livre-arbítrio;

1
Mônada = Organismo muito simples, que poderia ser considerado uma unidade orgânica. “Mônada
celeste” seria a célula espiritual, manifestando-se em “o princípio inteligente (PI) em suas primeiras
manifestações”, ou seja, na primeira fase de evolução do ser vivo, “os germes sagrados dos primeiros
homens”.
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- essa “alma”, não sendo humana, não é um Espírito errante (aquele que pensa
e age pelo livre arbítrio);
- ao morrer, cada animal é classificado pelos Espíritos disso encarregados;
enquanto aguardam breve retorno às lides terrenas, via reencarnação, são mantidos
em vida latente e sem contato, uns com os outros; ao serem reconduzidos a nova
existência terrena são alocados em habitats de suas respectivas espécies.
Aqui encerro o meu (incompleto) resumo do que consta em “O Livro dos
Espíritos”.
Respeitáveis autores espíritas, desencarnados, aduziram informações sobre
esse tema. André Luiz, em particular, narra que vários animais são encontrados na
Espiritualidade como, por exemplo, aves, cães, cavalos, íbis viajores, muares.
Alguns são “escalados” para tarefas diversificadas (cães e cavalos, na maioria das
vezes, como se vê, respectivamente, em duas obras: “Nosso Lar”, Cap. 33 e “Os
Mensageiros”, Cap. 28).
No Cap. XII da já citada obra “Evolução em Dois Mundos”, André Luiz narra
que após a morte os animais têm dilatado o seu “período de vida latente” no Plano
Espiritual, caindo em pesada letargia, qual hibernação, de onde serão
genesicamente atraídos às famílias da sua espécie, às quais se ajustam.
Essa informação considero-a fundamental para o entendimento de como os
animais vivem no Plano Espiritual.
Kardec registrou que após a morte os animais são classificados e impedidos de
se relacionarem com outras criaturas; André Luiz, agora, diz a mesma coisa, de
outra forma, ao mencionar que os animais que não são destacados para alguma
tarefa, entram em hibernação e logo reencarnam.
Depreendo, assim, que na Espiritualidade os animais não utilizados em vários
serviços, não têm vida consciente, mas vegetativa e isso responde à pergunta de
como vivem lá: sem qualquer relacionamento, uns com os outros. Assim, não
havendo ação de predadores inexistem presas; mantidos em hibernação não se
alimentam, não brigam, não reproduzem, não se deslocam.
Como se nota na literatura espírita, as referências sobre animais na
Espiritualidade referem-se, na maioria das vezes, a animais que podem ser
denominados biológica e espiritualmente “superiores”. Raríssimas são as notas
sobre aves, peixes, insetos ou sobre as incontáveis espécies extintas no planeta.
Igualmente ralas, as anotações sobre a fantástica transição do animal (quais
90

espécies animais?) para o hominal - o “elo perdido”, dos biólogos... Sem nos
esquecermos da instigante citação, feita de relance por André Luiz, em “Nosso Lar”,
em se referindo à existência, na Espiritualidade, dos parques de estudo e
experimentação.
O fato é que existem, sim, tais anotações, porém, o espaço disponível para
meu texto não comportaria mais anotações sobre a espiritualidade dos animais.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A Gênese. Allan Kardec


As Leis Morais. Rodolfo Calligaris
Boa Nova. Francisco Cândido Xavier
Caminho, Verdade e Vida. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Celeiro de Bênção. Divaldo Pereira Franco/Joanna de Angelis
Encontro Marcado. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Enfoques Espíritas. Divaldo Pereira Franco
Estudos Espíritas. Divaldo Pereira Franco/Joanna de Angelis
Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, XAVIER, F. C. e VIEIRA, W.
Justiça Divina. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Lampadário Espírita. Divaldo Pereira Franco/Joanna de Angelis
Leis Morais da Vida. Divaldo Franco/Joanna de Angelis
Mecanismos da Mediunidade. Francisco Cândido Xavier/André Luiz
Mediunidade (Vida e Comunicação) - Conceituação, da Mediunidade e Análise Geral dos seus
Problemas. PIRES, J. H.
Nas Pegadas do Mestre. Vinícius
No limiar do Infinito. Divaldo Pereira Franco
No Mundo Maior. Francisco Cândido Xavier/André Luiz
Nos Domínios da Mediunidade. Francisco Cândido Xavier/André Luiz
O Céu e o Inferno. Allan Kardec
O Consolador. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
O Espírito da Verdade. Francisco Cândido Xavier/Waldo Vieira
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec
O Livro dos Espíritos. Allan Kardec
O Livro dos Médiuns. Allan Kardec
O Pensamento de Emmanuel. Martins Peralva
O que é o Espiritismo. Allan Kardec
Obras Póstumas. Allan Kardec.
Palavras de Emmanuel. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Pão Nosso. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Reencarnação. Gabriel Delanne
Roteiro. Francisco Cândido Xavier/Emmanuel

FIM

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