EDITORIAL
Paula Franco
Momentos inesquecíveis
A
fasquia estava muito elevada depois do rotundo
êxito verificado no Encontro Nacional dos Con-
tabilistas Certificados, realizado o ano passado,
em Vila Real. A jornada de convívio foi memorável, a
todos os níveis. Fazer mais e melhor foi o objetivo tra-
çado para 2019. Com o empenho da organização local e
da autarquia, dos colaboradores da Ordem e, natural-
mente, com a adesão dos profissionais, o Encontro que
teve lugar, no passado dia 6 de julho, nas Caldas da Ra-
inha, entrou para a história como o mais participado de
sempre. Foram cerca de 1 200 pessoas – considerando
contabilistas e familiares – os que durante um dia es-
queceram as dificuldades quotidianas para o cumpri-
mento das obrigações fiscais. Foi uma oportunidade
para conviver com amigos, conhecidos e travar ami-
zade com colegas dos pontos mais diversos de Portugal
continental e das regiões autónomas.
Edição após edição, esta iniciativa tem vindo a ganhar
o seu espaço, significando muito do ponto de vista sim-
bólico para os contabilistas certificados, ajudando a ci-
mentar a sua consciência de classe. A reportagem com-
pleta do inesquecível dia 6 de julho, no Parque D. Carlos
I pode ser consultada nas páginas desta revista.
Igualmente altas são as expectativas que depositamos
no VI Congresso dos Contabilistas Certificados, que de-
correrá na Altice Arena, a 19, 20 e 21 de setembro. Um
grande palco, com grandes nomes e uma grande am-
bição são os ingredientes que, estou convicta, vão fazer
deste um dos maiores eventos alguma vez promovidos
Bastonária
pela nossa Ordem. O caráter concetual do Congresso
– sobre a profissão na era digital – e a abordagem dis-
ruptiva e desafiante que procuraremos fazer sobre o que
aguarda os profissionais são garantias que devem mobi-
lizar os profissionais a estar presentes em Lisboa. Nesta
revista apresentamos, em detalhe, o painel «Três vidas,
três mensagens», agendado para 21 de setembro. Jorge
Sequeira, Johnson Semedo e Ricardo Araújo Pereira vão
demonstrar que a contabilidade mantém pontos de con-
tacto com muitas áreas da sociedade, através de exem-
plos de motivação, superação e…humor.
Inesquecível será também 19 de julho, dia da última ses-
são plenária da legislatura. Na Assembleia de República
é aprovada a proposta de lei 180/XIII que procede à al-
teração dos diversos códigos fiscais e também introduz
o mecanismo do justo impedimento. Significa isto que
falta muito pouco, - ou seja, a promulgação do Presi-
dente da República -, para a materialização desta figura
que vai melhorar substancialmente as condições para o
exercício da profissão, pondo cobro aos constrangimen-
tos e injustiças sociais que se acumularam ao longo das
últimas décadas.
Este regime de proteção para os contabilistas certifi-
cados é uma grande vitória para todos os profissionais.
Todos os que, diretamente ou indiretamente, contribuí-
ram para a concretização desta medida merecem uma
palavra de apreço e gratidão. Estamos diante de outro
momento memorável que irá mudar a face da profissão
que abraçamos.
JULHO 2019 3
 FICHA TÉCNICA SUMÁRIO

ANO XIX
REVISTA N.º 232 • JULHO 2019
6
Propriedade Publicidade
Ordem dos Contabilistas Departamento
Certificados de Comunicação
e Imagem da Ordem
Avenida Barbosa
du Bocage, 45 Produção editorial
1049-013 Lisboa e revisão
Contribuinte n.º 503 692 310 Departamento
Telefone: 217 999 700 de Comunicação
e Imagem da Ordem
Telefone: Entrevista a José Luís Carneiro.
Diretora 217 999 715/17/18/19
Paula Franco Fax: 217 957 332

24
comunicacao@occ.pt

Diretores adjuntos www.occ.pt

Filomena Moreira
José Pedro Farinha Impressão
Manuel Teixeira LiderGraf
Joaquim Barbosa
Álvaro Costa Tiragem
Cristina Pena Silva 10 001 exemplares

Depósito legal
Redação N.º 150317/00
Jorge Magalhães
Nuno Dias da Silva ISSN
1645-9237

Design e paginação Organismos internacionais

Duarte Camacho a que a Ordem pertence:
João Martins
Sara Brás
Marcelo Rebelo de Sousa no 1.º Congresso da Diáspora.

35
Fotografia
Jorge Gonçalves
Raquel Wise

Secretariado
Raquel Carvalho

Colaboram nesta edição

Cláudio Cardoso
Eduardo Sá e Silva
Jesuíno Alcântara Martins
José Silva
Manuela Duarte
Manuela Sarmento
Paula Franco Os artigos publicados são da exclusiva

Tânia Alves de Jesus responsabilidade dos seus autores.

Tiago Mariz

Justo impedimento foi aprovado no Parlamento

4 CONTABILISTA 232
 SUMÁRIO

29

A representação da Ordem, em Évora, foi inaugurada a 25 de julho.

NOTÍCIAS
14 XV Encontro dos contabilistas nas Caldas da Rainha
22 VI Congresso dos Contabilistas Certificados
24 I Congresso Mundial de Redes da Diáspora Portuguesa
29 Inauguração da representação da Ordem, em Évora
31 Segurança Social: gestor do contribuinte para CC
32 Ordem presente na Expofacic 2019
33 Debates sobre o SAF-T e seguro de responsabilidade | XVII CICA, no Porto
34 Formação - Novas regras de faturação e encerramento de contas 2019 | Novo call center da Ordem
35 SAF-T: Ordem reage a documento da SEAF | Justo impedimento aprovado
36 Ordem nos media

COLABORAÇÃO ISCAC
37 O formulário de subsídio de desemprego e a ação de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento

COLABORAÇÃO ISCAP
40 O conceito de rating

GESTÃO
43 A responsabilidade social das empresas

CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO
50 Liquidação oficiosa no âmbito do Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado

FISCALIDADE
56 Compreender a responsabilidade fiscal dos gestores de bens ou direitos de não residentes

CONSULTÓRIO TÉCNICO
62 Perguntas e respostas

JULHO 2019 5
 ENTREVISTA

José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas

É essencial para a sociedade o know-how

dos contabilistas certificados
À margem do I Congresso Mundial das Redes da Diáspora Portuguesa, que teve lugar na
representação da Ordem, no Porto, a 13 de julho, o secretário de Estado das Comunidades
Portuguesas falou da relevância lusa além-fronteiras e da importância do protocolo
rubricado com a Ordem.

Texto Nuno Dias da Silva Fotos Jorge Gonçalves

C
ontabilista – O I Congresso
Mundial das Redes da Diás-
pora Portuguesa realizou-se
a 13 de julho, nas instalações da Or-
dem, no Porto. Qual o significado
deste evento?
José Luís Carneiro – Em primeiro
lugar, gostaria de explicar a razão
do encontro em si. Ao longo da le-
gislatura, temos procurado valori-
zar cada uma das redes da diáspora,
de per si, trabalhando individual e
bilateralmente com as redes de in-
vestigadores e diplomados que te-
mos no estrangeiro, colaborando
com o movimento associativo das
comunidades portuguesas, com as
câmaras de comércio e os empresá-
rios nacionais, sem esquecer os ga-
binetes de apoio ao emigrante, em
Portugal e no estrangeiro, criando,
pela primeira vez, estruturas de
apoio aos emigrantes em municí-
pios onde temos comunidades nu-
merosas. Para além disso, temos
começado a trabalhar redes que
estão a emergir na área da cultura.
Contabilista - Ou seja, era o timing
certo para avançar com este even-
to?
J.L.C. - Era chegado o momento de
colocar estas diversas redes face a
face para que existisse um conhe-
cimento entre elas, no sentido de
se iniciar um esforço de diálogo,
contacto e cooperação, tendo em
vista garantir uma maior eficácia,
quer na afirmação de Portugal do
mundo – nas sua múltiplas dimen-
sões, na cultura, na economia, na
língua, na investigação e conhe-
cimento – quer na construção de
alicerces da internacionalização do
país e, simultaneamente, de atra-
ção da vida internacional para as
comunidades locais e regionais de
origem desses nossos concidadãos.
O objetivo de ter frente a frente di-
ferentes redes que afirmam e de-
fendem o interesse de Portugal foi
o de provocar o efeito bola de neve.
A nossa intenção é que estes en-
contros tenham uma regularidade
bianual gerando um movimento
que venha a culminar numa maior
eficácia na afirmação de Portugal
na vida global contemporânea.
Contabilista - A que critério pre-
sidiu a escolha da cidade do Porto
para o primeiro evento do género?
J.L.C. – A cidade do Porto - e tam-
bém Vila Nova de Gaia - tem um
contexto histórico com uma ligação
muito própria com a origem e cons-
tituição do país nos seus elementos
fundamentais, porque foi daqui que
partiram, desde o século XVI, mui-
tos daqueles que deram contributos
importantes para a descoberta do
mundo, não apenas o Infante D.
Henrique, que teve um papel deci-
sivo na forma como partimos para
os Descobrimentos, mas também
o próprio Fernão de Magalhães.
Comemoramos em 2019 os 500
anos da rota magalhânica, que foi
iniciada por Fernão de Magalhães
e concluída pelo navegador espa-
nhol, Juan Sebástian Elcano. A rota
magalhânica incorpora em si mui-
tas dimensões: em primeiro lugar,
a vontade de saber e descobrir, e de
«dar novos mundos ao mundo»,
como disse Luís de Camões. Si-
multaneamente, foi a primeira vez
que tivemos na mesma embarcação

JULHO 2019 7
ENTREVISTA
«Há um conhecimento
técnico qualificado na
OCC e esse conhecimento
pode também ser
internacionalizado pela via
da diáspora portuguesa.»
várias nacionalidades a trabalha-
rem com o mesmo propósito, tendo
com esse trabalho conjunto contri-
buído, com êxito, para o esforço da
primeira circum-navegação e a gé-
nese da globalização, dando origem
a uma ligação direta com todo o
mundo. Foi a partir desse momento
que tomamos consciência das geo-
grafias, das culturas, dos povos e
das civilizações. Esse foi um passo
muito importante na descoberta do
Atlântico, mas também na desco-
berta do Pacífico.
Contabilista - De que forma é que a
circum-navegação poderá ter sido
a génese da diáspora portuguesa?
J.L C. - Na medida em que essa via-
gem continua a ser feita por muitos
de nós, que continuamos a ser ci-
dadãos migrantes no mundo, pro-
curando, descobrindo e construin-
do oportunidades. Daí que a cidade
do Porto tenha sido escolhida para
8 CONTABILISTA 232
acolher o I Congresso Mundial das
Redes de Diáspora Portuguesa. A
partir deste encontro definiremos
a estratégia partilhada da forma
como devemos agir, enquanto país
e enquanto sociedade, na vida glo-
bal, sempre pautando a nossa ação
pelos valores do humanismo e da
compreensão.
Contabilista - Na intervenção da
sessão de abertura, o primeiro-
-ministro falou em «espaço de
fronteira alargado» e nos valores
políticos, culturais e económicos
da diáspora. Qual a importância
global das nossas comunidades es-
palhadas pelo mundo?
J.L.C. - O valor dos portugueses no
mundo é incomensurável e mani-
festa-se em todas a áreas e em todas
as dimensões do desenvolvimento.
Vou dar-lhe alguns exemplos ex-
pressivos: se olhar para os países
onde crescem mais as exportações
nacionais verifica que são países
onde temos as grandes comuni-
dades portuguesas. Se olharmos
para os países de onde importa-
mos mais, vamos constatar que
são igualmente países onde tam-
bém temos importantes comuni-
dades de compatriotas.
Finalmente, se olharmos para os
fluxos do turismo, de acordo com
dados do Instituto Nacional de Es-
tatística, 25 por cento desses flu-
xos têm ascendentes portugueses
– o que demonstra que a diáspora
nacional é um importante, senão
mesmo o mais importante, ativo
estratégico da nossa afirmação no
mundo. É pelas pessoas concre-
tas que contribuímos para inter-
nacionalizar a nossa economia, a
nossa cultura e é também dessa
forma que conferimos uma outra
força global à língua portuguesa e
maior robustez à nossa força po-
lítica.

Contabilista - Não pensa que ainda
falta alguma consistência política
em termos externos?
J.L.C.- Um congressista do esta-
do do Massachusetts disse que os
portugueses nos Estados Unidos
com responsabilidades políticas no
Congresso norte-americano foram
essenciais no levantamento de um
clamor que exigiu a auto-determi-
nação de Timor-Leste. Este exem-
plo mostra que os portugueses no
mundo, quer pela vida económica
das empresas e pela própria ex-
pressão cultural, têm uma influên-
cia de natureza política de grande
envergadura. Todos estes instru-
mentos de poder devem ser pers-
petivados numa lógica geopolítica
e geoestratégica do país.
Contabilista - Neste I Congres-
so, onde é que entra a Ordem dos
Contabilistas Certificados (OCC) e
o protocolo rubricado com a secre-
taria de Estado das Comunidades
Portuguesas a 31 de maio último?
J.L.C.- Nos últimos quatro anos foi
feito um esforço para mobilizar as
instituições nacionais para a cau-
sa da diáspora portuguesa. Hoje, é
claro que todos os órgãos de Estado
mais representativos da sociedade
portuguesa – o presidente da As-
sembleia da República, o governo,
nas pessoas do primeiro-ministro
e do ministro dos Negócios Estran-
geiros, quer o próprio Presidente
da República – têm, no centro das
suas preocupações e da sua agenda
política, a importância das comu-
nidades portuguesas para a afir-
mação de Portugal no mundo. Em
paralelo, tem vindo a ser desen-
volvido um esforço para agregar
às instituições representativas do
Estado português, outras organi-
zações de prestígio na sociedade
portuguesa. A OCC foi uma das en-
tidades com a qual encetamos uma
ENTREVISTA
«O valor dos
portugueses no mundo
é incomensurável
e manifesta-se em
todas a áreas e em
todas as dimensões do
desenvolvimento.»
relação de cooperação e diálogo e
que se plasmou no estabelecimen-
to de um protocolo em que gosta-
ria de destacar duas importantes
dimensões: uma de cooperação
com o Ministério dos Negócios Es-
trangeiros para efeitos de formação
dos funcionários consulares e di-
plomáticos no domínio da contabi-
lidade pública, da certificação e da
prestação de contas. Como sabe, a
secretaria de Estado das Comuni-
dades Portuguesas tem a tutela dos
serviços consulares que, no fundo,
são todos os serviços de registo e de
notariado e uma das fontes gerado-
ras de receita do Estado português
e, muito particular, do Ministério
dos Negócios Estrangeiros. Razão
pela qual a cooperação com a OCC
assume-se como muito importante
para garantir esta disponibilidade
à direção-geral dos Assuntos Con-
sulares e das Comunidades Portu-
gueses e ao Instituto Diplomático
JULHO 2019 9
ENTREVISTA
para a formação numa área tão re-
levante como é a da contabilidade
pública. Por outro lado, numa outra
dimensão, a Ordem disponibilizou
as suas instalações do Porto para
que o MNE pudesse realizar algu-
mas das suas iniciativas, sendo o
I Congresso Mundial das Redes da
Diáspora, a primeira do género.
Contabilista - Ambas as entidades
ganham com o protocolo?
J.L.C. - Tanto os espaços de Lisboa
e Porto, ambos de grande quali-
dade, permitem abrir as portas,
nomeadamente para o aprofunda-
mento das relações entre os con-
tabilistas certificados portugue-
ses e as empresas e instituições da
diáspora. Ou seja, há um conheci-
mento técnico qualificado na OCC
10 CONTABILISTA 232
e esse conhecimento pode também
ser internacionalizado pela via da
diáspora portuguesa.
Contabilista - A OCC revela que há
cerca de dois mil contabilistas a re-
sidir e a trabalhar no estrangeiro.
Já privou com esta classe nas múl-
tiplas deslocações que fez ao ser-
viço do Estado português. Qual a
opinião que tem?
J.L.C. - Tenho travado conheci-
mento com muitos profissionais da
contabilidade, nomeadamente ao
nível dos empresários da diáspora.
Aliás, temos aqui reunidos no Porto
alguns dos principais responsáveis
das maiores câmaras do comércio
portuguesas no estrangeiro. Foi
desenvolvido um trabalho por par-
te do governo, com o qual conta-
mos com o contributo do secretário
de Estado da Internacionalização
e o Ministério da Economia, tendo
em vista garantir a possibilidade de
certificação e de candidatura das
câmaras do comércio ao estatuto
de utilidade pública. Aliás, nes-
te Congresso vamos reconhecer,
oficialmente, a primeira câmara
de comércio portuguesa com este
estatuto – a Câmara de Comércio
Franco-Portuguesa. Só em Fran-
ça, estima-se que existam mais de
50 mil empresas de portugueses ou
de capitais nacionais. O que tenho
verificado é que na diáspora por-
tuguesa, seja na América, Europa,
África, Ásia ou Oceania, existem
múltiplos empresários portugue-
ses que, efetivamente, estarão dis-
poníveis para realizar um diálogo
 ENTREVISTA

PERFIL
José Luís Carneiro nasceu a 4 de ou-
tubro de 1971. É secretário de Estado
das Comunidades Portuguesas desde
2015. Licenciado em Relações Inter-
nacionais pela Universidade Lusíada
e mestre em Estudos Africanos, foi
deputado à Assembleia da República
na XIII Legislatura, onde integrou a
Comissão de Negócios Estrangeiros e
foi eleito membro da Assembleia Par-
lamentar Euro-Mediterrânica. Em São
Bento integrou ainda as Comissões de
Educação, Juventude, Ciência e Cultu-
ra e a comissão de Coesão Territorial.
Entre 2006 e 2015 foi membro do Co-
mité das Regiões. Foi assessor do Ga-
binete do secretário de Estado Adjunto
do Ministro da Administração Interna,
entre 1999 e 2000. Foi presidente
da Câmara Municipal de Baião entre
2005 e 2015. Tem trabalhos publicados
nas áreas da ciência política e relações
internacionais, e no âmbito dos pode-
res locais e regionais.

mais profundo e para, em alguns
casos, estabelecer, pela primeira
vez, uma relação de trabalho com
a OCC. Esta iniciativa, que hoje
ocorre (n.d.r. - 13 de julho), abre as
portas desse caminho que agora se
enceta e que deve ser desenvolvido
no futuro. O MNE está disposto a
auxiliar a Ordem no objetivo de in-
ternacionalização e de articulação
com os contabilistas certificados
que têm a sua atividade sediada no
estrangeiro.
Contabilista – De que forma é que o
Brexit vai afetar a nossa diáspora?
J.L.C. - O governo e o Estado por-
tuguês têm adotado uma aborda-
gem multilateral, que se inscreve
na posição da União Europeia rela-
tivamente ao modo de tratamento
no Brexit, e aposta, seguidamente,
a um nível de relação bilateral, his-
toricamente constituída – assente
na relação mais antiga do mundo
que mantemos com a Inglaterra e
que nasceu e foi desenvolvida aqui
na cidade do Porto. Essa foi uma
decisão do povo britânico e tere-
mos de aguardar os termos em que
essa saída irá ocorrer e, ao mesmo
tempo, implementar o plano de
contingência sugerida pela União
Europeia (UE).
Contabilista - O que é está previsto
para proteger cidadãos e empre-
sas?
J.L.C. - Neste plano temos duas
grandes dimensões de ação: uma
de proteção aos cidadãos e a outra
de proteção às empesas. Em ambas
têm sido desenvolvidas um conjun-
to de medidas que visam acautelar
os interesses portugueses, mas,
obviamente, os interesses europeus
e luso-britânicos, historicamente
constituídos.
De entre as medidas de proteção dos
cidadãos adotamos, após proposta
de vários ministérios, um estatuto
a conceder aos cidadãos britânicos
que vivem em Portugal. Nessa con-
dição estão os direitos fundamen-
tais de acesso à saúde, à educação,
à Segurança Social, da realização de
investimento no país, de reconheci-
mento e validação de competências
no ensino superior, etc. Ao mesmo
tempo, procuramos garantir que os
direitos dos portugueses no Reino
Unido sejam, simultaneamente sal-
vaguardados, com base no princípio

JULHO 2019 11
ENTREVISTA
da reciprocidade e considerando os
direitos que foram reconhecidos aos
cidadãos britânicos em Portugal.
Contabilista - E o que está previsto
para as empresas?
J.L.C. - Neste âmbito foi desenvolvi-
do um conjunto de iniciativas, en-
tre as quais uma unidade de missão
tendo em vista aproveitar oportu-
nidades que se venham a constituir,
relativamente à deslocalização de
empresas do Reino Unido para países
da UE. Na medida em que há empre-
sas que hoje estão sediadas no Reino
Unido que são beneficiárias de um
conjunto de incentivos e de apoios
financeiros da UE e que, no futuro,
para continuarem a serem beneficiá-
rias desses apoios terão que ter sede
em países da comunidade. E o que
temos transmitido a essas empresas,
nomeadamente em diversas sessões
realizadas na City de Londres, é que
Portugal é um país da UE que hoje
cresce economicamente, tem indi-
12 CONTABILISTA 232
cadores de desemprego muito baixos
e que apresenta, ao mesmo tempo,
uma importante coesão social, mar-
cada por uma segurança muito sig-
nificativa do ponto de vista concreto
e da sua própria perceção. Por isso,
temos boas condições de investi-
mento no nosso país, bem como con-
dições fiscais e condições de apoio ao
investimento interno. Por outro lado,
também no domínio do apoio às em-
presas, tem havido um trabalho con-
junto do Ministério da Economia e do
secretário de Estado da Internacio-
nalização, tendo em vista informar,
esclarecer e apoiar as empresas – um
dos apoios estruturados para apoiar
as empresas teve a ver com a criação
de uma linha de crédito destinada
a atrair e financiar investimento no
país com origem no Reino Unido,
mas também com a criação de planos
dentro das próprias empresas para
que elas se adaptem às alterações que
venham a decorrer na eventualida-
de de uma saída do Reino Unido sem
«Se quisermos uma
administração pública
qualificada, uma
democracia com uma
cultura assente no
escrutínio e prestação
de contas e de boa
formalização dos fluxos
económicos e dos
rendimentos do Estado, a
função dos contabilistas
certificados é essencial.»
acordo e sem a consequente salva-
guarda dos interesses das empresas
que operem no nosso país ou que cá
queiram a operar.
Contabilista - Está tranquilo mesmo
que o pior cenário aconteça?
J.L.C. - Temos tratado o assunto do
Brexit com um grande sentido de
realismo e com a adoção de medidas
que envolvem vários ministérios,
procurando aproveitar as oportu-
nidades e minorando os eventuais
efeitos nocivos que resultem dessa
decisão do povo e das instituições
britânicos.
Contabilista – Mudando de assunto.
Sei que alguns elementos da sua fa-
mília são contabilistas certificados..
J. L. C. - De facto, tenho três familia-
res na minha casa que são membros
da OCC. Uma delas exerce a profissão
na área da certificação e revisão de
contas, enquanto os outros dois são
formados em gestão e economia. Por

esse motivo, recebo a revista «Con-
tabilista» em casa e mensalmente
tenho oportunidade de ver o conteú-
do da mesma.
Contabilista - E com que impres-
são tem ficado?
J.L.C. - Devo mesmo confessar
que há artigos com os quais tenho
aprendido vários e importantes
aspetos relativos, nomeadamente,
ao contributo que a OCC dá às ins-
tituições nacionais e internacio-
nais na uniformização das regras
de contabilidade. Não podemos
esquecer que é do desenvolvi-
mento das regras de contabilidade
que se aperfeiçoa a administração
pública, desde as origens do Es-
tado, muito em particular do Es-
tado moderno, em especial com
a reforma administrativa levada
a cabo por D. Manuel - quando
realiza o primeiro grande plano
de centralização da administra-
ção após a primeira grande gesta
de forais atribuídos a muitos dos
municípios portugueses desde o
século XII.
Contabilista - É um entusiasta da
história da contabilidade…
J.L.C. - O setor da contabilidade foi
desde sempre, aliás, desde a Me-
sopotâmia, relevante sob o ponto
de vista da evolução das organiza-
ções institucionais e políticas.
Se olharmos para a história da con-
tabilidade podemos verificar que,
por um lado, as origens acontecem
na Mesopotâmia, prolongam-se
pela civilização egípcia, passan-
do pela Idade Média – em que a
Igreja também recupera muito do
Império Romano na forma de or-
ganização e de contabilidade – e
é desta evolução que resulta um
progresso significativo na cultura
que na transição do século XV para
o século XVI dá origem à reorga-
nização da administração publica,
nomeadamente a portuguesa.
ENTREVISTA
Contabilista - Permita-me que
abandone a história e dê um salto
para a contabilidade no tempo pre-
sente. Qual a importância de uma
profissão como a de contabilista cer-
tifciado numa altura em que tanto
se fala de transparência e rigor nas
contas?
J.L.C. - É essencial para a socie-
dade uma classe com o know-how
dos contabilistas. Se quisermos
uma administração pública quali-
ficada, uma democracia com uma
cultura assente no escrutínio e
prestação de contas e de boa for-
malização dos fluxos económicos e
dos rendimentos do Estado, a fun-
ção dos contabilistas certificados
é essencial. Mas, como é evidente,
estes profissionais só certificam
o que lhes passa pelas mãos, pelo
que considero da maior importân-
cia a sensibilização da sociedade
para que se trabalhe a montante e
o processo de certificação ocorra
igualmente a montante. 
JULHO 2019 13
XV Encontro dos Contabilistas foi o maior de sempre
1 200 pessoas estiveram nas Caldas da Rainha
Texto Nuno Dias da Silva Fotos Raquel Wise
G
astronomia, desporto, cultura,
música e um dia pleno de con-
vívio e animação. Foram estes
os ingredientes para o sucesso alcançado
pelo XV Encontro Nacional de Contabi-
listas, realizado a 6 de julho, nas Caldas
da Rainha. O histórico e romântico Par-
que D. Carlos I foi o epicentro de um dia
para a história. Tratou-se do primeiro
encontro dos contabilistas certificados
com direito a lotação esgotada. Foram 1
200 pessoas, entre profissionais e acom-
panhantes, que estiveram presentes na
pitoresca localidade do Oeste.
Foi junto ao popular «Céu de Vidro» das
Caldas da Rainha que se iniciou o proces-
so de credenciação. Uma vasta equipa de
14 CONTABILISTA 232
colaboradores da Ordem esteve em per-
manência para que o processo fosse céle-
re. Aos participantes eram ofertados, em
sacos de algodão ecológicos e reciclados,
t-shirts alusivas ao evento, programas
e mapas de orientação, licor de ginja e
doce de maçã reineta e pera rocha, sem
esquecer as bolas azuis que fizeram as
delícias dos mais pequenos. Os que so-
licitassem recebiam, igualmente, bilhetes
para aceder a alguns dos mais emblemá-
ticos museus da cidade das Caldas da
Rainha – o Museu da Cerâmica, a Casa
Museu São Rafael, o Museu do Ciclismo
e o Museu José Malhoa, por exemplo.
As pulseiras identificativas eram o «livre
trânsito» para aceder a todas as ativi-
dades. Um desafio logístico de grande
exigência para a organização, ainda para
mais devido ao número recorde de parti-
cipantes, mas que a avaliar pelo feedback
dos presentes, foi altamente superado.
Como muitos partiram dos seus locais
de residência ainda de madrugada, nada
melhor do que um pequeno-almoço re-
forçado, composto por sandes e fruta,
para aguentar um dia que se adivinhava
intenso e desgastante.
Clima de cooperação
Ainda não eram 10 da manhã e já as
t-shirts rosa e amarelas (estas últimas
atribuídas ao staff) coloriam o frondoso
parque D. Carlos I. Mas desengane-se
quem pensasse que se estava a realizar
uma competição. Na verdade, o clima foi
de cooperação ao longo de todo o dia.
À entrada, algumas das figuras alusivas
a Rafael Bordalo Pinheiro davam as boas
vindas: o sacristão, a saloia com cesto,
o gato assanhado, o saloio com alfor-
ges e o inevitável Zé Povinho foram as
companhias perfeitas para as primeiras
fotografias. A moldura alusiva ao en-
contro também ficou nas imagens para a
posteridade. Os bombos da Escola Téc-
nica e Empresarial do Oeste (ETEO) e a
Associação Cultural Recreativa de Santo
Onofre (Bjazz) abriram as hostilidades
musicais do evento, ao mesmo tempo que
chegavam os autocarros provenientes de
Lisboa, Porto, Braga e Bragança. Agora
que estavam todos, era tempo de come-
çar a festa!
Uma aventura no parque
O difícil era escolher: ténis, futebol, pas-
seios de barco no lago, yoga, pinturas fa-
JULHO 2019 15
ciais, insufláveis, visitas aos museus e até
uma exposição sobre uma resenha dos
encontros anteriores, foi a ementa não
gastronómica. Mas foram os passeios de
charrete em torno do Parque D. Carlos I
que concitaram as atenções da maioria.
De forma discreta, mas sempre atentos
ao que se passava no concorrido parque
público num sábado de manhã de julho,
os elementos da Cruz Vermelha e da Po-
lícia de Segurança Pública estiverem vigi-
lantes a todas as movimentações. Nada
podia falhar em termos de segurança.
Junto ao Museu José Malhoa, a instru-
tora Rita Lemos alternou a calma do
yoga, com os ritmos dançáveis da zumba.
Mente sã em corpo sã, um convite para
famílias inteiras descomprimirem de uma
semana agitada.
Todas as atividades estavam concentra-
das no parque central das Caldas, exceto
16 CONTABILISTA 232
os jogos de futebol, sediados a cerca de
500 metros de distância, no campo sin-
tético da Quinta da Boneca. Uma nuvem
carregada quis ser espetadora de um jogo
- que esteve longe de ser «a feijões» - e
durante cerca de cinco minutos refrescou
os atletas. Quando o relógio apontava
15 minutos para o meio-dia, foi tempo de
descer até ao centro da cidade, mais con-
cretamente à Igreja de Nossa Senhora do
Pópulo, nas traseiras do Hospital Termal.
O habitual momento de eucaristia, já
uma tradição nestes encontros, esteve a
cargo do padre Joaquim Nazaré. A igreja,
que leva o nome da padroeira das Caldas,
encheu, num ápice.
«Façam o favor de ser felizes!»
O sacerdote optou por uma abordagem
multidisciplinar. Referindo-se aos «traba-
lhadores» e à «psicoterapia existencial»
de Freud, Adler e Frankl, como «forma de
encontrar o sentido para a vida», o pa-
dre Nazaré sublinhou a importância da
realização pessoal no trabalho, com a se-
guinte frase: «Se não gostas do que fazes,
aprende a gostar daquilo que fazes.» Aos
contabilistas certificados e às respetivas
famílias, o padre Joaquim Nazaré recu-
perou uma velha frase do saudoso Raúl
Solnado: «Façam o favor de ser felizes.»
Terminada a homília, foi tempo de regres-
sar ao parque. Os estômagos suplicavam
por urgente abastecimento. Enquanto se
ultimavam os últimos detalhes dentro da
tenda gigante, com 100x15 metros, eram
servidas as entradas. Lá dentro, a oferta
gastronómica que esperava os partici-
pantes era de arregalar os olhos e os es-
tômagos. Nos pratos quentes em bufete,
um creme de legumes à francesa, para
começar, seguindo-se miminhos de ga-
roupa coberto com molho de mexilhões
e medalhões de lombinho cobertos com
molho de mostarda. A restante ementa
do repasto era constituída por uma ge-
nerosa mesa de saladas, frutas e doces.
Para adoçar, ainda mais, os paladares os
tradicionais beijinhos das Caldas adorna-
vam as mais de 120 mesas dispostas na
tenda, quase parecendo um mega-casa-
mento.
Honrar o compromisso
da Rainha Dona Leonor
Antes dos discursos da praxe, «servidos»
à hora do café, uma primeira surpresa. A
exibição de um vídeo, protagonizado pelo
cantor Toy, em que o artista setubalense
homenageou, de forma bem humorada o
extenuante, os trabalhos dos contabilis-
tas profissionais, com uma nova roupa-
gem do seu hit «Toda a noite». Mas as
surpresas não se ficaram por aqui. Na
terra de Bordalo o mestre não podia fal-
tar, desta feita na pele do ator José Ra-
malho e do seu inseparável gato Pires.
Fernando Tinta Ferreira começou por re-
ferir que a realização deste evento nas
Caldas mais não era do que «uma for-
ma de honrar o compromisso da Rainha
Dona Leonor.» Após ter experimentado
os benefícios das águas termais da lo-
calidade, a Rainha D. Leonor, mulher de
D. João II, ordenou a construção de um
hospital, à volta do qual se formou a po-
voação que assim ficou conhecida como
«Caldas da Rainha».
A monarca tinha como objetivo cuidar
da saúde dos enfermos, sem esquecer
a vocação hospitaleira. «Receber bem
quem nos visita continua a ser um ponto
de honra para nós», referiu o autarca das
Caldas. Referindo-se em particular aos
profissionais, o edil acrescentou que «os
contabilistas certificados desempenham
uma função decisiva que une todo o país»
e que «uma boa prestação de serviços às
pessoas passa por contas certas e bem
feitas.» Aproveitando a presença de Ra-
fael Bordalo Pinheiro em palco, o autarca
deixou uma farpa: «sSe tivesse um bom
contabilista, a fábrica não teria tido pro-
blemas, caro Rafael!»
«A união é o mais importante
de tudo»
Por seu turno, a bastonária congratulou-
-se com a participação alcançada neste
evento: «Se em Vila Real, onde estive-
ram 800 pessoas, foi um sonho tornado
realidade, nas Caldas este sonho ultra-
passou todas as dimensões imaginadas
e chegamos às 1 200 pessoas». Após os
tradicionais agradecimentos à Câmara
JULHO 2019 17
Municipal – por continuar a cimentar
a parceria, após ter disponibilizado
espaços para as reuniões livres e for-
mações –, à organização local e aos
colaboradores da Ordem, por terem
tornado possível o maior encontro de
sempre, Paula Franco referiu «ser este
um dia tão importante de convívio
como estar numa formação de caratér
técnico» porque, na verdade, «a união
é o mais importante de tudo.» Este é
mais um passo para o «crescimento e
a credibilização», acrescentou a líder
dos contabilistas, que aproveitou o
ensejo para apelar aos presentes para
se inscreverem para o VI Congresso, a
realizar no final de setembro, em Lis-
boa. Ainda houve tempo para cantar
os parabéns à aniversariante Maria
18 CONTABILISTA 232
Alice Torres, uma contabilista certifica-
da que completou 67 anos a 6 de julho.
Porco no espeto, sardinhas
e 90 quilos de bolo
Depois do farto repasto, a festa transfe-
riu-se para as portas do Museu José Ma-
lhoa, onde estava instalado o palco para
os momentos musicais. A melancolia do
fado de Zita Sousa, as melodias românti-
cas de Celso Coelho e os acordes da or-
questra ligeira Monte Olivett animaram a
quente tarde das Caldas. Os que não ou-
saram dar um pé de dança, estenderam-
-se ao comprido no relvado junto ao mu-
seu e em volta da estátua do consagrado
pintor. Foi este também o local perfeito
para a foto de família, sob o olhar aten-
to do drone que captava imagens aéreas
para a reportagem da OCC.
Porco no espeto e sardinhas no pão foi
o lanche servido no Parque das Bicicle-
tas. Mas a cereja no topo do… Encontro,
como sempre acontece, foi abertura de
três bolos, cada um com 30 quilos, acom-
panhando pelo obrigatório espumante.
Perante tanta tentação gastronómica,
difícil foi mesmo resistir. A pensar nos
mais carenciados, a organização decidiu
reencaminhar as sobras do evento para a
Refood das Caldas da Rainha.
Ainda não começara a cair a noite, quan-
do se iniciou a partida dos autocarros,
rumo aos seus destinos de origem. Ou-
tros, que de deslocaram em viatura pró-
pria, aproveitaram para «queimar os últi-
mos cartuchos.». Exaustos, mas felizes e
preenchidos.
JULHO 2019 19
14 edições, 14 histórias
Exposição retropetiva sobre todos os encontros
A
Casa dos Barcos, no Parque D.
Carlos I, foi o local escolhido
para a exposição fotográfica
que recordou, através da seleção de um
20 CONTABILISTA 232
vasto acervo de imagens, os 14 encon-
tros nacionais dos contabilistas realiza-
dos até à data. Uma volta a Portugal
que se iniciou em 2002, na Batalha – que
recebeu duas edições consecutivas –,
prosseguiu, também em duas vezes se-
guidas, em Almeirim, para depois, a par-
tir de 2007, se espalhar pelas seguintes
localidades: Esposende, Coimbra, Évora,
Lisboa, Faro, Viseu, Vila Flor, Aveiro e
Porto. O evento sofreu um interregno
em 2016 e 2017, tendo regressado em
2018, em Vila Real. A exposição foi
percorrida com especial saudade por
profissionais e também por não mem-
bros. O ponto de inscrição para o VI
Congresso também estava instalado na
Casa dos Barcos. Uma colaboradora da
Ordem, trajada com a t-shirt alusiva ao
evento, prestou auxílio aos membros
que desejaram reservar o seu lugar no
Altice Arena, em setembro.
Libertar a pressão e esquecer o trabalho
Membros elogiaram organização e escolha do local
V
ieram de todos os pontos de Por-
tugal continental e das regiões
autónomas. Nas Caldas da Ra-
inha cruzaram-se recordistas de presen-
ças em edições do Encontro e completos
estreantes nestas andanças. Foi o caso
das duas amigas, Carla Neiva e Anabe-
la Ribas, que viajaram de Cabeceiras de
Basto para a primeira experiência do
género. Se Carla apreciou o «espaço e
a agradável troca de experiências», Ana-
bela leva das Caldas «toda a envolvên-
cia» que fez deste um «dia de lazer», à
margem dos computadores e das pape-
ladas. Alberto Cunha também participou
pela primeira vez no Encontro. Veio de
Braga para «confraternizar, rever caras e
conhecer novas pessoas. Hoje não é dia
para trabalhar. Não se fala de contabi-
lidade, mas de amizade. As contabilida-
des durante a semana já nos desgastam
o suficiente», assevera. Alberto Cunha
acrescenta que o objetivo de «juntar
pais, filhos e avós» numa só atividade foi
plenamente cumprido. De Santa Maria da
Feira viajou a família Coelho. Célia e Pau-
lo, o casal, acompanhados pelos filhos,
Diogo e Daniela, não deram o seu tempo
por mal empregue. Se o pai destaca «to-
das as atividades», sublinhando a beleza
que desconhecia das Caldas da Rainha, a
mãe salienta o valor cultural de uma visi-
ta ao museu.
O Minho esteve, uma vez mais, em for-
Vídeo 1 disponível no canal OCC
ça no encontro. Fernando Silva e Rogé-
rio Correia viajaram de Braga. «Correu
muito bem. Os sítios escolhidos foram
agradáveis. É um dia para comemorar
porque a nossa profissão acarreta muitas
responsabilidades e é para descomprimir
das nossas obrigações, nomeadamente a
IES. Só segunda-feira é que volto ao tra-
balho». Para Rogério Braga esta é a se-
gunda vez que participa no Encontro. «A
viagem foi cansativa, mas este é um dia
para descomprimir. Tenho muitos anos
nisto e tenho pena de não seguir este
convívio desde as primeiras edições.»
Sofia Figueiredo nasceu em Santarém,
mas há vários anos fixou residência nas
Caldas da Rainha. «É a primeira vez que
venho e pelas imensas atividades que fo-
ram disponibilizadas e pela qualidade da
organização fiquei convencida em repetir
na próxima edição», referiu. «Num pe-
ríodo do ano tão stressante, um evento
destes serve para deixarmos de lado os
computadores e os gabinetes e virmos
até aqui para conviver. Permite-nos sair
Vídeo 2 disponível no canal OCC
da nossa zona de trabalho e fazer uma
coisa completamente diferente». Para
o final fica, seguramente, um dos mais
veteranos. Inácio Abreu reside em Mira-
-Sintra e revela com orgulho ser o CC nú-
mero 1 839. «Tenho vindo praticamente
a todas estas belíssimas festas, se faltei
foi a duas ou três, no máximo, por mo-
tivo de força maior», disse. Há 22 anos
inscrito na Ordem, Inácio enaltece, com
indisfarçável orgulho, a grandeza da pro-
fissão que um dia abraçou e a qualidade
das organizações da OCC, «não fosse-
mos nós contabilistas».
Clara Roque Oliveira foi o rosto de uma
vasta comissão organizadora local, cons-
tituída também por Vanda Sousa, Natá-
lia Leandro, Francisco Ferraz e Cristina
Ferraz. Esta caldense de 49 anos conhece
o Parque D. Carlos I como a palma da sua
mão, o que foi um aspeto fundamental
para a organização e gestão das ativida-
des. Apesar de cansada, o balanço não
podia ser mais positivo. «Foi uma orga-
nização gigantesca, iniciada no princípio
do ano. Fomos aprendendo todos os dias
e conseguimos motivar os colegas para
o evento num período tão sensível em
termos de trabalho», declarou. «Eventos
destes servem para libertar a pressão e
esquecer o trabalho por um dia. Até por-
que a vida não é só papéis. A amizade é
importante e sozinhos não vamos a lado
nenhum».
Fotos disponíveis no flickr
JULHO 2019 21
Humor, experiências de vida e… contabilidade
VI Congresso dos Contabilistas Certificados, em setembro
A
s implicações do mundo digi-
tal na profissão contabilísti-
ca são o principal pilar do VI
Congresso dos Contabilistas Certifi-
cados, mas o evento a realizar nos
dias 19, 20 e 21 de setembro, na Al-
tice Arena, em Lisboa, tem prepara-
da uma abordagem multidisciplinar
bem patente nas sessões paralelas.
A profissão na era digital, do lado de
lá da fronteira e o profissional 360.º
são os temas destas sessões que
vão receber dezenas de oradores, de
Portugal e do estrangeiro. Mas esta
nova perspetiva também se estende
às sessões plenárias.
O profissional e a accountability
Nas sessões plenárias de dia 20 de
setembro, sexta-feira, está prevista
uma mesa redonda sobre «O papel
do contabilista na empresa». Mário
Ferreira, dono da Douro Azul e um
dos mais bem sucedidos empreen-
dedores e gestores nacionais e João
Paulo Silva, responsável financei-
ro da José de Mello Saúde, um dos
maiores grupos na área da saúde,
vão esgrimir argumentos sobre esta
temática.
Dia do Contabilista
Na manhã de 21 de setembro, sába-
do, Dia do Contabilista, será a vez de
Nuno Neto e Marta Costa debaterem
a «Accountability: o caminho para
22 CONTABILISTA 232
o sucesso». Neto esteve oito anos
como diretor de contabilidade e fis-
calidade da The Navigator Company
(antiga Portucel/Soporcel), estando,
desde 2016, como diretor de patrimó-
nio e produção florestal desta empre-
sa de sucesso. A sua parceira de de-
bate será Marta Costa, diretora geral
do grupo h3, a cadeia portuguesa de
hambúrgueres gourmet, com presença
também no Brasil e Angola, conhecida
por investir em soluções inovadoras e
eficientes.
Abordagem «fora da caixa»
Também para o último dia dos tra-
balhos, a organização idealizou um
painel subordinado ao tema «3 vidas,
3 mensagens.» O professor Jorge Se-
queira, o educador Johnson Semedo
e o humorista Ricardo Araújo Pereira
vão identificar os pontos de contato
das suas experiências pessoais e pro-
fissionais com a contabilidade e os
contabilistas certificados. Será uma
forma descontraída e «fora da cai-
xa» de abordar a profissão, no último
dia do congresso. Mais do que fazer
um diagnóstico do papel da profis-
são, o VI Congresso pretende alertar
os contabilistas certificados para os
tempos de rápida mudança, o para-
digma tecnológico e digital e os seus
impactos no trabalho do contabilista,
na relação com os clientes, os empre-
sários e nas novas oportunidades de
negócio. O objetivo primordial passa
por sensibilizar os preparadores da
informação, de modo a que ninguém
fique para trás.
Saiba como «liderar a profissão di-
gital» e inscreva-se no VI Congresso.
Até 31 de agosto o preço da entrada
é de 35 euros – inclui passe para os
três dias (sessões plenárias, sessões
paralelas, centro e feira de negócio,
almoço e coffee breaks). Consulte o
microssítio do evento e fique a saber
as condições de inscrição para o con-
gresso e para o programa social, que
inclui um jantar e um espetáculo de
dança.
Patrocinador premium: Patrocinador principal:

Jorge Sequeira

Docente, comentador e orador motivacional, Jorge Sequeira

conta com mais de três centenas de apresentações, palestras
e seminários e promete apresentar orientações que facilitem a
condução de processos disruptivos. Doutorado em Psicologia,
tem como áreas de especialização: mudança organizacional;
superação pessoal; negociação; liderança; resiliência; motivação;
condução de equipas; empreendedorismo e criatividade.

Johnson Semedo

Ao longo de quase três décadas, Johnson Semedo foi

delinquente, toxicodependente e esteve preso em várias
cadeias do país, numa longa e dolorosa viagem que começou
bem cedo. Pelo caminho, várias tentativas de recuperação, a
morte do pai e, mais tarde, da mãe. Situações que, já muito
depois dos 30, acabaram por recolocar a vida de Johnson
nos carris. Criou a Academia do Johnson onde trabalha todos
os dias com quase duas centenas de jovens em risco com o
objetivo de os manter longe do «caminho mais fácil.»

Ricardo Araújo Pereira

Filho de um piloto da TAP e de uma assistente de bordo, Ricardo

Araújo Pereira (RAP) começou a «voar» com os seus Gato Fedorento,
um projeto de referência do humor português contemporâneo.
«Melhor do que falecer» e «Gente que não sabe estar», ambos
programas emitidos na TVI, marcaram o seu regresso ao pequeno
ecrã, desta vez a solo. Coincidindo com o retorno do seu programa
de sátira política, RAP promete explicar a ligação improvável entre
humor e contabilidade. Rigorosamente a não perder.

JULHO 2019 23
 .
A diáspora reencontrou-se na casa dos contabilistas
Texto Nuno Dias da Silva | Fotos Jorge Gonçalves
U
m dia histórico para as comu-
nidades e também para a Or-
dem. As instalações da OCC, no
Porto, acolheram, no dia 13 de julho, o I
Congresso Mundial de Redes da Diáspora
Portuguesa, subordinado ao tema «Por
uma visão estratégica partilhada.» E,
pela primeira vez, as três mais altas figu-
ras do Estado – Presidente da República,
presidente da Assembleia da República e
primeiro-ministro – estiveram presentes
num evento na casa dos contabilistas.
A azáfama começou desde muito cedo:
ao nível da logística, segurança, sem es-
quecer a presença massiva da comuni-
cação social. Não era caso para menos,
dada a presença de um invulgar conjunto
de individualidades políticas e adminis-
trativas do Estado português, eclesiásti-
cas e empresariais. Contudo, os primeiros
a convergir para o n.º 43 do Largo Primei-
24 CONTABILISTA 232
ro de dezembro foram os representantes
da diáspora.
Portugueses pelo mundo
No total, foram 453 congressistas, em
representação de 38 países, oriundos dos
cinco continentes. Espanha, França, Ale-
manha, Suiça, Luxemburgo, Brasil, África
do Sul, Estados Unidos, Venezuela, Chi-
na e Canadá, foram algumas das nações
presentes na cidade «Invicta». Pelos cor-
redores das instalações da Ordem, circu-
lavam outras caras conhecidas: foi o caso
dos presidentes da RTP e da TAP, Gonçalo
Reis e Miguel Frasquilho, respetivamente,
e do secretário de Estado da Internacio-
nalização, Eurico Brilhante Dias.
Empresários, os mais valiosos
parceiros
A anfitriã do evento, Paula Franco, foi a
primeira a usar da palavra. A bastonária
reconheceu «o prazer e a grande hon-
ra» de acolher um acontecimento desta
dimensão e referiu que «os contabilistas
certificados podem assumir um papel de
apoio e elo de ligação entre os portugue-
ses espalhados pelo mundo. Com efeito,
os contabilistas portugueses assumem
um papel preponderante no processo de-
cisório e no controlo de gestão de cada
empresa.» Paula Franco lembrou que a
Ordem tem desenvolvido inúmeros pro-
jetos de aproximação entre contabilistas
e empresários, «tendo embarcado de
braços abertos no desafio lançado pelo
secretário de Estado das Comunidades
Portuguesas e o Ministério dos Negócios
Estrangeiros, ao celebrar um protocolo
de promoção da relação entre o tecido
empresarial da diáspora portuguesa e os
contabilistas certificados.» A bastonária
 .
mostrou-se ainda disponível para acolher
futuras iniciativas do género que aproxi-
mem empresários e contabilistas, tendo
deixado o repto para que a próxima edi-
ção se realize, novamente nas instalações
do Porto, ou no auditório de Lisboa. Até
porque, sublinhou, «os empresários serão
sempre vistos como os mais valiosos par-
ceiros.»
Uma «poderosa rede global»
O vice-presidente da Câmara Municipal
da Porto, Filipe Araújo, congratulou-se
pelo facto de a escolha para o I Congres-
so ter recaído na cidade «Invicta.» José
Luis Carneiro, secretário de Estado das
Comunidades Portuguesas, referiu que
«o encontro de todas estas redes é mui-
to significativo e não deixará de produzir
efeitos estratégicos no futuro.»
Por seu turno, o primeiro-ministro, Antó-
nio Costa classificou as redes da diáspo-
ra portuguesa como uma «poderosa rede
global» que o país tem de ser «capaz de
articular», reforçando a «proximidade»
com as suas comunidades emigrantes
espalhadas pelo mundo. O ministro dos
Negócios Estrangeiros, Augusto Santos
Silva defendeu o potenciar do contacto
entre as redes da diáspora para melhorar
o impacto da ação governativa.
Portugueses espalhados pelo mundo estiveram no Porto
«Escutar a diáspora»
Para finalizar, usou da palavra o che-
fe de Estado. Marcelo Rebelo de Sousa
defendeu que «o grande desafio» do
país passa por colocar a diáspora como
«prioridade global» dos residentes em
território nacional, porque a presença
dos portugueses «no mundo» é uma
das razões pelas quais eles «são muito
bons». De acordo com o Presidente da
República, a emigração é considerada
em Portugal «tão natural como respi-
rar», mas deve ser alvo de «atenção»,
porque é «muito importante» para o
país.
Na aguardada intervenção de fundo, D.
José Tolentino de Mendonça, arquivis-
ta dos Arquivos Secretos do Vaticano
e bibliotecário da Biblioteca Apostólica
Vaticana, defendeu ser necessário «des-
truir preconceitos» e «escutar melhor a
nossa diáspora de modo a abrir espaço
para a criação de uma reciprocidade ge-
nerativa.»
A portugalidade
e a heterogeneidade
A parte da tarde ficou reservada para
os painéis temáticos: associativismo,
ciência e conhecimento, economia e de-
senvolvimento, cidadania, apoio local e
comunicação social. Da discussão e do
debate emergiram contributos para de-
senvolver e aprofundar uma estratégia
comum para consolidar a concretiza-
ção das aspirações dos portugueses no
mundo.
O encerramento esteve a cargo de
Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da
Assembleia da República. A segunda fi-
gura do Estado começou por destacar
«a portugalidade e a heterogeneidade,
que é tão nossa», tendo ainda abordado
outros temas como «o posicionamento
de Portugal como nação e a relação com
as comunidades», a idade da globaliza-
ção e as exigências da sociedade do co-
nhecimento.
No final do evento foi cantado o hino
nacional por Kátia Moreira e Pedro
Rodrigues, portugueses residentes em
França.
Vídeo 1 disponível no canal OCC
Vídeo 2 disponível no canal OCC
Fotos disponíveis no flickr
JULHO 2019 25
 .

Paula Franco e o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro

Paula Franco dá as boas-vindas ao primeiro-ministro, António Costa.

António Costa e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augus-

to Santos Silva entram no auditório da Ordem.

A bastonária da Ordem e o Presidente da República, Marcelo

Rebelo de Sousa.

A bastonária na receção ao presidente da Assembleia da Repú-

blica, Ferro Rodrigues.

26 CONTABILISTA 232
 .

António Costa Marcelo Rebelo de Sousa

Eduardo Ferro Rodrigues D. José Tolentino de Mendonça

A presença de individualidades de diversos quadrantes atraiu a presença

massiva da comunicação social ao auditório da Ordem, no Porto.

JULHO 2019 27
 .

O I Congresso Mundial de Redes da Diáspora Portuguesa contemplou

diversos momentos de cariz etnográfico: ranchos folclóricos, fado
académico, fado de Lisboa e a atuação da tuna universitária do Porto.
O encerramento aconteceu com o hino nacional interpretado por Kátia
Moreira e Pedro Rodrigues, portugueses residentes em França.

28 CONTABILISTA 232
 NOTÍCIAS

A concretização de sonho antigo

Representação de Évora foi inaugurada a 25 de julho

O
prometido é devido. Para dar
cumprimento a uma promessa
eleitoral, o Conselho Diretivo
inaugurou no passado dia 25 de julho a
delegação da Ordem, em Évora. Loca-
lizada na Rua do Iroma, n.º 1, a poucos
metros do Rossio de São Brás, o novo es-
paço – em regime de aluguer – passará a
estar à disposição de todos os membros,
em particular dos cerca de 650 residentes
no distrito, nomeadamente para as reu-
niões livres e as formações em sala, que
até ao momento tinham lugar na Comis-
são de Coordenação e Desenvolvimento para Évora e que, estou certa, ficará na de assuntos técnicos, profissionais, lití-
Regional (CCDR), na «cidade-museu.» memória de todos os colegas do distrito. gios e de mediação entre clientes, serão
Que este espaço vos motive a vir e, as- outras das possibilidades tendo em vista
Espaço de união e cumplicidade sim, estarem mais próximos da Ordem e «facilitar a vida aos membros.»
A sessão de debate e reflexão sobre o identificarem-se com esta instituição.» A
SAF-T e o seguro de responsabilidade bastonária acrescentou ainda que a dele- Identidade preenchida
civil profissional foi o mote perfeito para gação de Évora pretende ser «um espaço António Nabo, membro da Assembleia
anunciar aos membros do distrito alen- de encontro, reforço da união e cumpli- Representativa de Évora, congratulou-se
tejano a novidade: «É a concretização cidade entre colegas.» Para além de for- pela abertura do espaço no bairro da
de um sonho antigo e um dia muito feliz mações e reuniões em sala, a resolução Horta das Figueiras: «A nossa identida-

JULHO 2019 29
NOTÍCIAS
de é baseada em dois fatores: a história
e os locais. Évora é uma cidade cheia
de história na profissão. Faltava-nos
o espaço para que a nossa identidade
pudesse ficar preenchida. Agora já o
temos.» Por seu turno, Rui Herdadi-
nha, o outro membro da Assembleia
Representativa eleito pelo distrito, re-
feriu que «Évora tem de estar sempre
presente e não podíamos ficar esqueci-
dos.» Herdadinha agradeceu o esforço
que a direção tem feito neste domínio
e apelou aos profissionais que lotavam
a sala para frequentarem a delegação,
«usando aquilo que é nosso.»
Mais «próximos» de Lisboa
Durante o coffee break que se seguiu,
houve oportunidade para registar as
impressões dos membros do distrito.
João Murcho, que trabalha na área da
contabilidade vai para três décadas,
considera que esta inauguração é uma
forma de «estar mais perto uns dos ou-
tros e também de Lisboa.» Apesar de
não ser assíduo nas reuniões livres, este
contabilista certificado de Évora con-
fessa que costuma frequentar as for-
mações temáticas. Também de Évora,
30 CONTABILISTA 232
Marília Teles mostra-se satisfeita pelo
facto de a capital alentejana ter sido «a
primeira a ter delegação da Ordem»,
facto que considera uma «grande van-
tagem», em particular para dinamizar
a partilha de conhecimentos. Apreensi-
va com o processo relacionado com o
SAF-T, esta profissional mostra-se con-
fiante que o papel de intermediação da
Ordem junto da Autoridade Tributária
vai ser favorável aos contabilistas cer-
tificados.
Sentimento de pertença
Serafim Alvito não podia estar mais
de acordo com esta iniciativa da Or-
dem. Residente em Montemor-o-Novo,
este profissional refere que «é mui-
to mais importante termos uma casa
nossa. Sentimo-nos mais à vontade.»
Este contabilista acrescenta que, pese
embora a curta distância com Lisboa,
«ter uma delegação da Ordem perto
do nosso local de trabalho é primordial
para resolver alguns problemas e ques-
Vídeo disponível no canal OCC
tões mais prementes.»
A delegação da Ordem tem 100 metros
quadrados de área bruta e uma sala Fotos disponíveis no flickr
com capacidade para 60 lugares.
 NOTÍCIAS

O ministro Vieira da Silva e a bastonária da Ordem durante as suas intervenções nas «Jornadas do Contribuinte da Segurança Social.»

Gestor do contribuinte para contabilistas certificados

Segurança Social acolheu favoravelmente proposta da Ordem

D
ecorreram no dia 18 de julho,
em Lisboa, as «Jornadas do
Contribuinte da Segurança
Social», com a presença da bastoná-
ria, Paula Franco, para apresentação
e debate do modelo do gestor do
contribuinte. Reconfigurado em 2017,
o modelo do gestor do contribuinte
passou a ter, a partir dessa data, um
alcance nacional visando promover o
«acompanhamento efetivo e perso-
nalizado das ‘maiores’ entidades em-
pregadoras», nas diversas vertentes
da relação com a Segurança Social,
passando a ter uma «ótica nacional.»
Segundo a tutela, atualmente, são
acompanhadas 2 498 entidades em-
pregadoras, com presença em todo o
território.
Estas jornadas, que decorreram no
auditório do Instituto da Segurança
Social, em Lisboa, contaram com in-
tervenções da secretária de Estado da
Segurança Social, Cláudia Joaquim, da
bastonária, Paula Franco e do ministro
do Trabalho, Solidariedade e Segurança
Social, José Vieira da Silva. Foi preci-
samente o titular da pasta a anunciar
o acolhimento da proposta da basto-
nária da Ordem para criar um gestor
do contribuinte para os contabilistas
certificados que assim podem ter um
interlocutor privilegiado na Segurança
Social para resolução dos problemas
dos seus clientes. Este processo conti-
nuará a ser acompanhada pela Ordem,
alocando-lhe a instituição a sua melhor
atenção e apoio.
Contraordenações eliminadas
Para além disso, o esforço que a Or-
dem tem feito, em paralelo com a
Segurança Social, para eliminação
das contraordenações aplicadas aos
contribuintes – na sua maioria diziam
respeito à atribuição tardia de NISS
a trabalhador, inoperacionalidade do
sistema da Segurança Social e atri-
buição tardia da senha – está a sur-
tir bons resultados e atualmente as
referidas contraordenações estão a
ser eliminadas.A Ordem solicita aos
profissionais que tenham contribuintes
ainda com as contraordenações por
eliminar ou novas contraordenações
aplicadas, que entrem em contacto
com os serviços de contencioso tribu-
tário da OCC.

JULHO 2019 31
 NOTÍCIAS
Ordem participou na Expofacic 2019
Colaboradores prestaram esclarecimentos aos visitantes
À
semelhança do que acon-
teceu na Feira Nacional de
Agricultura, em Santarém,
a Ordem esteve presente, com um
stand próprio, na Expofacic 2019,
com colaboradores em permanên-
cia, procurando, desta forma estar
mais próxima dos empresários e
das associações que os represen-
tam e, por inerência, da sociedade
em geral. A 28.ª edição da feira de
Cantanhede decorreu entre os dias
25 de julho e 4 de agosto.
Esclarecimentos especializados
O Conselho Diretivo, constituído
pela bastonária Paula Franco, a vi-
ce-presidente, Filomena Moreira e
os diretores Manuel Teixeira, Álva-
32 CONTABILISTA 232
ro Costa e Jorge Barbosa estiveram
na tarde de 26 de julho no stand
da Ordem dos Contabilistas certi-
ficados. Na ocasião, a bastonária
trocou impressões com a presiden-
te e o vice-presidente da Câmara
Municipal de Cantanhede, Helena
Teodósio e Adérito Machado, res-
petivamente.
Em todos os dias da feira a Or-
dem disponibilizou colaboradores
especializados em diversas áreas
– TOConline, mediação de conflitos
e esclarecimentos técnicos e jurídi-
cos – para prestar esclarecimentos
aos visitantes de uma das maiores
feiras do género em Portugal, que o
ano passado registou cerca de 400
mil visitantes.
 NOTÍCIAS

Debates sobre SAF-T e seguro de responsabilidade civil

Sessões juntaram 1 400 profissionais em todo o país

C
erca de 1 400 contabilistas
certificados participaram nas
18 sessões de debate e refle-
xão sobre o SAF-T da contabilidade e o
seguro de responsabilidade civil profis-
sional realizadas na segunda quinzena
de julho. O Conselho Diretivo, liderado
pela bastonária Paula Franco, percorreu
o país para trocar impressões com os
membros de todos os distritos de Por-
tugal continental sobre duas temáticas
que estão na ordem do dia. Os eventos
realizados em Lisboa, Porto, Braga e
Leiria foram os mais participados. Em
setembro, será a vez dos membros do
Conselho Diretivo se deslocarem até ao
Funchal, Ponta Delgada, Angra do He-
roísmo e Horta.

A contabilidade na era digital: oportunidades e desafios

XVII CICA, a 7 e 8 de novembro, no Porto

T
erminou a 5 de agosto o prazo
para a submissão de trabalhos
para o XVII Congresso Inter-
nacional de Contabilidade e Auditoria
(CICA), organizado pelo Instituto Supe-
rior de Contabilidade e Administração
do Porto (ISCAP) e pela Ordem dos Con-
tabilistas Certificados (OCC), que irá
realizar-se a 7 e 8 de novembro de 2019,
nas instalações do ISCAP, no Porto.
O tema do congresso é «A contabilida-
de na era digital: oportunidades e desa-
fios.» O XVII CICA está aberto a uma
grande variedade de tópicos, com o ob-
jetivo de estimular abordagens interdis-
ciplinares e complementares, promover
a disseminação do conhecimento cientí-
fico, a troca de experiências e saberes
profissionais e a transferência de conhe-
cimento, numa sociedade cada vez mais
interdependente, global e digital.
Até 10 de setembro os autores dos tra-
balhos serão notificados da decisão da
comissão científica do evento e, final-
mente, 7 de outubro, é a data limite para
os autores com trabalhos aceites proce-
derem à inscrição.
Toda a informação está disponível no
microssítio criado em exclusivo para o
evento, acessível no sítio da Ordem.

JULHO 2019 33
NOTÍCIAS

Casos práticos de Encerramento

IVA e novas regras de contas 2019
de faturação

Novas regras de faturação

e encerramento de contas 2019
Formações eventuais agendadas para outubro e novembro

C
asos práticos de IVA e novas
regras de faturação e Encer-
ramento de contas 2019 são
as formações de caráter eventual que
a Ordem agendou, a nível nacional,
para outubro e novembro, respetiva-
mente.
As sessões sobre as novas regras de
faturação terão lugar entre 7 e 22 de
outubro e vão percorrer 24 cidades do
continente e das regiões autónomas.
O encerramento de contas 2019 será
o último ciclo de formação eventual
do ano e vai decorrer entre 18 de no-
vembro e 2 de dezembro, também em
Portugal continental e ilhas.
Como é habitual, os contabilistas cer-
tificados podem inscrever, no máximo,
três colaboradores. O custo das for-
mações é de 32 euros, caso o membro
opte pelo manual em papel, ou de 27
euros caso prefira a versão digital do
manual.
Os calendários e os programas de am-
bas as formações encontram-se dispo-
níveis no sítio da Ordem e em perma-
nente atualização.

Já se encontra operacional o call center

21 7999 700 é o único número para contactar a Ordem

F
oi concluído com êxito, no
passado dia 25 de julho, o pro-
cesso de reinstalação do call
center da Ordem. A partir de ago-
ra o único número de telefone para
contactar a Ordem é o 21 7999 700.
Agora que este problema se encon-
tra ultrapassado, tendo causado
grandes transtornos aos membro da
Ordem, o Conselho Diretivo acre-
dita que este passo significa uma
nova etapa no relacionamento, cada
vez mais próximo, que quer manter
com os contabilistas certificados. Em
março último, em entrevista a esta
revista, a bastonária, Paula Franco
antecipava que a resolução desta
situação «implicaria uma mudança
enorme na qualidade que queremos
dar aos membros.»

34 CONTABILISTA 232

Ordem reage a documento
da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais
Bastonária lamenta que se ponha em causa o trabalho dos contabilistas
N
o passado dia 3 de julho a As-
sembleia da República aprovou
uma proposta de alteração ao
Decreto-Lei n.º 8/2007, de 17 de janeiro,
diploma que regula a submissão do SAF-
T-T para preenchimento da IES, indo de
encontro às preocupações manifestadas
pelas associações empresariais e socie-
dade civil sobre o excesso de informação
que era transmitida à Autoridade Tribu-
tária e Aduaneira (AT).
Posteriormente, a Secretaria de Estado
dos Assuntos Fiscais (SEAF), através de
um documento enviado à Comissão de
Orçamento, Finanças e Modernização
Administrativa (COFMA), apresentou
os modelos de submissão do SAF-T que
mantêm como premissa o envio de toda
Justo impedimento aprovado na última sessão plenária
Falta apenas a promulgação do Presidente da República
F
oi aprovado, ao início da tarde de
19 de julho, na última sessão ple-
nária da presente legislatura, a
proposta de lei 180/XIII que procede à
alteração dos diversos códigos fiscais,
introduzindo melhorias na operaciona-
lização dos serviços da administração
tributária e ajustes em várias normas
relativas às obrigações declarativas dos
contribuintes e que altera ainda o Esta-
tuto da Ordem dos Contabilistas Certi-
ficados (OCC), introduzindo-se o novo
mecanismo do justo impedimento.
Argumentos de defesa
Em mensagem enviada aos membros ao
final da tarde do mesmo dia, a bastoná-
ria refere que «a votação de hoje é o re-
conhecimento, por parte dos deputados,
NOTÍCIAS
a informação e posterior encriptação do
excesso de dados que não são necessá-
rios para preenchimento da IES.
Bastonária repudia insinuações
Em comunicado com data de 19 de ju-
lho, a bastonária Paula Franco refere que
«esta proposta parece, no entanto, não
respeitar aquilo que os senhores depu-
tados aprovaram: a exclusão dos dados
SAF-T
"previamente à submissão” e não a pos-
teriori como é defendido.» Paula Franco as contas das empresas.» Num registo
acrescenta que para justificar este mo- contundente, a bastonária «repudia estas
delo, «a SEAF vem alegar que o envio do insinuações» e lamenta «que se ponha
ficheiro com toda a informação é funda- em causa o bom nome, trabalho e dedi-
mental porque a informação submetida cação dos contabilistas.»
na IES não é fiável, insinuando que os
empresários e contabilistas manipulam Disponível no site OCC
que o contabilista certificado exerce uma
profissão exigente e implacável em ter-
mos de prazos e perante qualquer impon-
derável ou vicissitude não tem qualquer
justificação para evitar uma coima ou
incumprir um prazo. Felizmente, e como
tudo indica, o profissional vai passar a ter
argumentos para se defender.»
Na mesma comunicação, Paula Franco,
destaca o empenho manifestado quer
pelo secretário de Estado dos Assuntos
Fiscais, Mendonça Mendes, quer pelos
grupos parlamentares, «em especial o
do PCP que, desde sempre, foi sensível te da República, que deve acontecer em
às preocupações dos contabilistas certi- agosto. A entrada em vigor acontecerá
ficados.» em 2020.
Para que o justo impedimento se torne
uma realidade, falta apenas a promulga- Disponível no site OCC
ção do diploma por parte do Presiden-
JULHO 2019 35
NOTÍCIAS

REDES SOCIAIS

Justo impedimento
989 259 visualizações
aprovado em sessão
3636 subscritores plenária

Foi aprovada, na última sessão

plenária da legislatura, a proposta
de lei 180/XIII que procede à alte-
ração dos diversos códigos fiscais,
introduzindo melhorias na opera-
cionalização dos serviços da ad-
ministração tributária e ajustes em
várias normas relativas às obriga-
ções declarativas dos contribuin-
tes e que altera ainda o Estatuto
da Ordem dos Contabilistas Cer-
tificados (OCC), introduzindo-se o
mecanismo de justo impedimen-
to, que vai melhorar as condições
para o exercício da profissão de
contabilista.
TVI/TVI 24 - Como escolher um contabilista?
A bastonária, Paula Franco, foi a convidada do programa «Economia 24»

52 869 seguidores
ANÁLISE DA ORDEM
A faturação eletrónica
Artigo de Célia Correia França,

24 227 FOTOS
jurista da Ordem

Pagamento por conta - IRS/

IRC
1 272 SEGUIDORES Artigo de Felícia Teixeira,
consultora da Ordem

NOVIDADES DE ÂMBITO TÉCNICO*

Os pareceres técnicos mais vistos em julho:
| Imparidades em dívidas de clientes
| Remuneração convencional do capital
social
| Regime da margem
| IRC - Pagamentos por conta
| Suprimentos
* Pareceres disponíveis no sítio da Ordem https://www.occ.pt/pt/noticias/novidades-de-
ambito-tecnico/
CONTAS & IMPOSTOS
| Ouro para investimento
Trabalhadores domésticos
| Comissões (booking)
Artigo de Elisabete Cardoso,
| Despesas em nome e por conta consultora da Ordem
| Pagamentos por conta de IRC – RETGS
| Créditos incobráveis
| Imparidades – Inventários Regras de faturação – artigo
35.º-A do CIVA
Artigo de João Antunes,
consultor da Ordem

36 CONTABILISTA 232

O formulário de subsídio
de desemprego e a ação de
impugnação judicial da regularidade
e licitude do despedimento
A ação de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento (AIRLD) pode ser
utilizada em caso de despedimento individual, ser comunicada por escrito ao trabalhador a
decisão de despedimento, extinção do posto de trabalho ou inadaptação.
O
formulário para obtenção
de subsídio de desempre-
go pode ser utilizado como
comunicação escrita de decisão de
despedimento para instruir uma
ação de impugnação judicial da re-
gularidade e licitude do despedi-
mento (AIRLD)?
O Código de Processo de Trabalho
(CPT) prevê, nos artigos 98.º-B a
-P, a AIRLD. Trata-se de um pro-
cesso especial urgente, que se apli-
ca no contexto descrito no artigo
387.º do Código do Trabalho.
Apenas se pode utilizar este pro-
cesso especial no caso de: tratar-se
de despedimento individual; ser
comunicada por escrito ao traba-
lhador a decisão de despedimen-
to, (por facto imputável ao tra-
balhador), por extinção do posto
de trabalho ou por inadaptação; e
ser utilizado o formulário próprio
(aprovado pela Portaria n.º 1 460-
C/2009, de 31 de Dezembro). Im-
perativo é que «seja comunicada
Tiago Mariz * | Artigo recebido em junho de 2019
ao trabalhador a decisão de despe-
dimento individual» (artigo 98.º-
C). Acrescenta o artigo 98.º-E CPT
que a «secretaria recusa o recebi-
mento do formulário indicando por
escrito o fundamento de rejeição
quando (…) c) não tenha sido junta
a decisão de despedimento».
A existência de um despedimento
individual comunicado por escrito
é um pressuposto da aplicabilidade
da AIRLD: não se pode discutir na
ação se houve ou não despedimen-
to: este facto tem que ser inequí-
voco. Importa é que da comunica-
ção do empregador ao trabalhador
resulte a vontade de proceder ao
despedimento deste, mas não têm
que ser usadas nessa comunicação
as expressões «despedimento» ou
«despedir».
Declaração de situação
de desemprego
Não são abrangidas pela AIRLD as si-
tuações em que o empregador comu-
COLABORAÇÃO ISCAC
nica ao trabalhador a cessação de uma
relação jurídica laboral que não seja
despedimento; por exemplo: caduci-
dade do contrato a termo e o trabalha-
dor pretende que seja declarada ilícita
a cessação do contrato por entender
que o contrato é sem termo; cessa-
ção de um contrato de prestação de
serviços que o trabalhador considera
ser um contrato de trabalho; empre-
gador considera que o contrato cessou
por abandono e o trabalhador entende
que não abandonou as suas funções e
que se está na presença de um despe-
dimento, ou denúncia do contrato no
período experimental, considerando
o trabalhador que não se verificam os
pressupostos daquela denúncia.
Ora, tem suscitado dúvidas a situa-
ção em que o trabalhador junta com
o formulário inicial desta ação o im-
presso para obtenção do subsídio de
desemprego, assinado pelo empre-
gador e no qual consta, no motivo
da cessação do contrato de traba-
lho, assinalada com um X, a men-
JULHO 2019 37
COLABORAÇÃO ISCAC
ção a uma das seguintes causas de
cessação do contrato de trabalho:
«justa causa por facto imputável
ao trabalhador», «despedimento
por extinção de posto de trabalho»
e «despedimento por inadapta-
ção». Poderá esse documento ser
uma «comunicação escrita da de-
cisão de despedimento», prevista
no art.º 98.º-C, n.º 1, CPT?
Tal "Declaração de situação de de-
semprego" está prevista no art.º
43.º do Decreto-Lei n.º 220/2006,
de 3/11, (que estabelece o regi-
me jurídico de proteção social da
eventualidade de desemprego dos
trabalhadores por conta de ou-
trem) e deve ser emitido e entre-
gue ao trabalhador pela entidade
empregadora para o trabalhador
o apresentar na Segurança Social
quando requerer o subsídio de de-
semprego (art.º 73.º, n.º1, daquele
diploma). O mesmo documento
pode ser entregue pelo emprega-
dor à Segurança Social, através da
38 CONTABILISTA 232
internet, com a autorização do tra-
balhador (conforme prevê o n.º 2,
do art.º 73.º).
Uma opinião considera que, tendo
aquela declaração um fim especí-
fico, relativo à obtenção do sub-
sídio de desemprego, distinto do
que é próprio da «comunicação de
despedimento» dirigida pelo em-
pregador ao trabalhador, que re-
presenta a transmissão de uma de-
claração de vontade de fazer cessar
o contrato de trabalho, não pode
ser utilizada para instruir a AIRLD.
Nesse raciocínio, aquela declaração
não é «comunicação escrita da de-
cisão de despedimento» pelo que
a secretaria judicial deve recusar o
formulário, conforme impõe o art.º
98.º-E CPT.
Não é a nossa opinião. Do texto do
modelo de declaração previsto no
Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3/11,
resulta a obrigação de constar a
expressão da vontade de despedir,
pelo que deve poder ser utilizada,
por si só, na AIRLD.
Entendemos ser esta posição mais
consentânea com a flexibilidade
que os tribunais superiores têm
usado na interpretação da exigên-
cia deste requisito formal.
Por exemplo, no acórdão do
TRL de 19-04-2017, no proc. n.º
32017/16.8T8LSB.L1-4, pode ler-
-se: «É certo que a empregadora,
em tal escrito, não utiliza a pala-
vra “despedimento”, mas o certo
é que o documento em causa in-
corpora uma declaração de ces-
sação do contrato de trabalho por
extinção do posto de trabalho, que
é o mesmo que dizer um despe-
dimento por extinção do posto de
trabalho.»
Requerimento do subsídio
de desemprego
O acórdão do TRP de 5-1-2015,
proc. n.º 553/14, reforça que um
documento tem o «teor de co-
municação» ainda que não utilize

o termo despedimento e, ainda o
TRP, afirma, no acórdão de 22-
10-2012, Proc. n.º 1207/11, que a
comunicação escrita de despedi-
mento «não tem que ser o escrito
da decisão final do respetivo pro-
cesso devidamente tramitado.»
A questão que se coloca é, pois, a
de saber se o formulário destinado
a pedir o subsídio de desemprego,
quando a) devidamente preenchi-
do pela entidade empregadora; b)
por esta assinado e c) por esta en-
tregue ao trabalhador ou enviada
por internet para segurança social
reveste as características de «co-
municação da decisão de despedi-
mento», de acordo com a alínea c)
do n.º 1, do artigo 98.º-E.
Na verdade, das normas do CPT
aplicáveis resulta que a «decisão
de despedimento» que tem que
acompanhar o requerimento da
AIRLD tem que ser «escrita» e
tem que ser «comunicada» ao tra-
balhador (98.º-C, n.º 1, primeira
frase).
Ora, pensamos que a «declaração
de situação de desemprego» apre-
sentada à Segurança Social tem as
características necessárias para,
só por si, instruir a AIRLD nos ter-
mos previstos nos artigos 98.º - C
e seguintes, CPT. Porquanto, se
bem observarmos a composição
gráfica dessa declaração [Mod. RP
5044/2018 – DGSS] estão previstas
as quadrículas para as opções que
permitem o desencadear da AIRLD
de acordo com os artigos 98.º - C
e seguintes: justa causa por facto
imputável ao trabalhador, despe-
dimento por extinção de posto de
trabalho e despedimento por ina-
daptação. Obviamente que apenas
quando uma destas quadrículas
esteja preenchida, ou seja, quando
seja um destes o motivo do des-
pedimento é que a «declaração de
Não são abrangidas pela AIRLD as situações em que o
empregador comunica ao trabalhador a cessação de uma
relação jurídica laboral que não seja despedimento; por
exemplo: caducidade do contrato a termo (...).
desemprego» pode permitir ins-
truir o formulário da AIRLD.
Não se oponha a este argumen-
to que o caráter lacónico de uma
«declaração» consubstanciada no
preenchimento de uma quadrí-
cula virá a impedir o empregador
de, em seguida, no seu articulado,
desenvolver a motivação do des-
pedimento, carreando os «factos e
fundamentos constantes da deci-
são de despedimento comunicada
ao trabalhador.»
Parece-nos que os conceitos em
causa (justa causa por facto impu-
tável ao trabalhador, inadaptação
e extinção de posto de trabalho)
são fundamentos, devidamente
sedimentados na lei, na doutrina e
na prática laboral para permitirem
compreender bem o fundamento
do despedimento. Também não se
pode perder de vista que, nos seus
articulados, o empregador junta
igualmente toda a documentação
necessária a essa fundamentação
(designadamente o processo dis-
ciplinar, se for o caso).
Acresce que, nos termos do ar-
tigo 73.º, n.º1, Decreto-Lei n.º
220/2006, o requerimento de sub-
sídio de desemprego é instruído
com informação do empregador
comprovativa da situação de de-
semprego e da data a que se re-
COLABORAÇÃO ISCAC
porta a última remuneração. E,
nos termos do n.º 2 desse artigo,
«o empregador pode, mediante
autorização do beneficiário, apre-
sentar online no sítio da Internet
da segurança social a declaração
com a informação prevista no nú-
mero anterior, comprovativa da
situação de desemprego, apresen-
tando desde logo ao beneficiário
o respetivo comprovativo». Da
conjugação destas normas resul-
ta que, normalmente, o próprio
requerimento é instruído com a
declaração de desemprego emitida
pela entidade empregadora; mas,
se assim não for, pode esta enviar
essa declaração diretamente para
a segurança social.
Em conclusão: entendemos que o
formulário da AIRLD não deve ser
rejeitado se instruído apenas com
o requerimento de subsídio de
desemprego, devidamente preen-
chido e assinado pela entidade
empregadora. Este entendimento
protege muitos trabalhadores que
obtêm esta declaração da entida-
de empregadora e nada mais, pelo
que ficariam obrigados a recorrer
à ação comum em situações que,
afinal, se enquadram na previsão
normativa da AIRLD. 
*Professor do ISCAC
JULHO 2019 39
 COLABORAÇÃO ISCAP
O conceito de rating
É um termo muito em voga no universo económico e financeiro. Os objetivos e os critérios
quantitativos e qualitativos de análise são aqui revistos.
Por Eduardo Sá e Silva* | Artigo recebido em junho de 2019
O
s sistemas tradicionais do
risco de crédito podem
classificar-se em dois sis-
temas: scoring (pontuação) e rating
(notação).
Na prática existe uma certa confu-
são entre os dois termos. Enquanto
rating significa avaliar, scoring sig-
nifica anotar, somar pontos. Assim,
ambos são sistemas de classificação
de crédito, mas o scoring é um sis-
tema mecanicista de pontuação.
Enquanto o rating é um sistema de
avaliação e, por isso mesmo, ape-
sar de ter rácios na sua análise, in-
clui outros fatores, pelo que a clas-
sificação de rating tem diversos
julgamentos qualitativos, nomeada-
mente, quanto à evolução futura da
operação ou entidade. Assim pode
afirmar-se que os ratings atribuídos
são uma opinião sobre a capacida-
de e vontade de uma empresa hon-
rar, atempadamente e na íntegra, os
compromissos financeiros sujeitos a
rating e indicam a probabilidade de
incumprimento (probability of default
(PD)) dos mesmos. No nosso enten-
dimento, o sistema de rating é mais
abrangente que o sistema de scoring
e, inclusive, pode incluir este. Deste
modo, não são incompatíveis e com-
plementam-se.
Originalmente, os sistemas de ra-
40 CONTABILISTA 232
ting visavam classificar uma emis-
são específica, caso de obrigações
ou outros títulos da dívida, numa
escala de notação de risco, pelo
que refletiam um juízo de valor
sobre a capacidade de pagamento
atempado do serviço de dívida da
operação em causa. Deste modo, o
sistema de rating tinha por objetivo
exclusivo informar sobre a proba-
bilidade do emissor pagar o capital
e os juros. Assim, dois títulos de
dívida do mesmo emissor podiam
oferecer riscos distintos, depen-
dendo das caraterísticas intrínse-
cas de cada operação (por exemplo,
a maturidade e as garantias serem
diferentes). Na prática, porém, os
subscritores confundiam as opera-
ções com a entidade que os emitia.
Tendo em consideração este facto,
as agências de rating passaram a
classificar as entidades indepen-
dentemente das caraterísticas de
cada operação.
Objetivo do processo de rating
O objetivo do processo de rating
é avaliar a capacidade da entida-
de em gerar meios financeiros nos
prazos devidos. A análise centra-se
nos fluxos de caixa operacionais do
emissor em relação ao serviço de
dívida e na margem de segurança
que terá em situação de crise con-
juntural. Assim, os dois aspetos
fundamentais são:
•Antecipação dos fluxos de cai-
xa operacionais (operational cash
flow);
•Capacidade de pagar juros e ca-
pital nas datas contratualizadas.
O rating é uma atividade que se tem
vindo a especializar por setor de
atividade. Interessa assim distin-
guir os Estados, os bancos, e em-
presas não financeiras.
Deste modo, a função de um rating
é a de emitir uma opinião sobre a
capacidade de um devedor pagar as
suas dívidas. Como corolário, um
determinado rating é também uma
opinião sobre a probabilidade do
devedor entrar em incumprimen-
to. Assim, os credores dispõem de
uma avaliação da qualidade do de-
vedor no momento de lhe empres-
tar dinheiro, pois o nível de risco é
importante para definir a taxa de
juro exigida. Devedores com piores
ratings – mais arriscados – têm que
pagar taxas de juro mais elevadas;
enquanto devedores com melhores
ratings – menos arriscados – fi-
nanciam-se a taxas mais baixas.
O rating ou notação do risco de
crédito é uma medida estatística
da probabilidade de ocorrência de

factos não abonatórios para a em-
presa e respetivos credores, pois
impossibilitam o cumprimento das
suas obrigações financeiras. O ra-
ting é uma opinião ou mesmo um
juízo de valor sobre a capacidade
de a empresa assumir os seus com-
promissos financeiros. Constitui,
pois, mais um elemento de análise
fundamental, por forma a tomar
decisões de investimento acerta-
das.
Pode dizer-se que o rating é uma me-
todologia de análise de crédito que
avalia uma série de fatores, tendo
em conta atributos e qualificações
predefinidas, atribuindo uma nota
a cada um desses fatores e uma nota
final ao conjunto destes. Com base
nesta nota, o risco é classificado (ra-
ting), podendo assim a instituição
determinar o valor a conceder ao so-
licitante.
Critérios de análise
Conforme já referido, os critérios
de análise de risco de crédito que
contribuem como inputs para o ra-
ting das instituições bancárias são
divididos em dois grandes grupos:
- Critérios quantitativos que
são, por norma, comuns a todas
as instituições e baseiam-se em
indicadores e rácios de análise
económica e financeira das em-
presas clientes;
- Critérios qualitativos, ao con-
trário dos critérios quantitativos,
estes apresentam uma certa co-
notação de volatilidade tanto em
termos de definição como em
termos de grau de importância.
Portanto, há que salientar que as
técnicas de análise qualitativa e
quantitativa apresentam um certo
grau de importância na análise de
crédito e que para a análise de ra-
ting a sua importância depende de
instituição para instituição. Algu-
mas instituições na sua análise de
rating dão mais importância a cri-
térios quantitativos do que a crité-
COLABORAÇÃO ISCAP
rios qualitativos, mas o contrário
também se verifica.
De salientar que, os critérios qua-
litativos são bastante subjetivos,
tendo assim um elevado grau de
confidencialidade e uma certa de-
pendência do analista de crédito
que os analisa e da política adotada
por cada instituição, facto que di-
ficulta de uma certa forma a reali-
zação de um estudo com atributos
necessários e resultados significa-
tivos sobre os mesmos.
Já os critérios quantitativos são,
por norma, mais genéricos e ba-
seiam-se em indicadores e rácios
de análise económica e financeira
das empresas clientes.
Algumas instituições podem dar
mais importância a este ou aquele
indicador, mas as interpretações
dadas a cada um deles tem, regra
geral, um consenso mais alarga-
do.
*Docente
Investigador CEOS/ISCAP
JULHO 2019 41
 COLABORAÇÃO ISCAP

Temos:

Análise qualidade
da gestão; setor de
Propósito do atividade e envolvência
crédito Projeção das
demonstrações
financeiras e fluxos de
caixa (cash flows)

Qualitativa
Fontes de
reembolso Análise da Elaboração Notação Estrutura
empresa de previsões (rating) do e preço do
cliente crédito
Quantitativa

Analise histórica
das demonstrações
financeiras

O que conduz ao seguinte processo de crédito:

PROCESSO DE CRÉTIDO

Elaboração
Pedido do Análise do Proposta de do serviço da
cliente risco de crédito dívida, em
crédito conformidade
com a
capacidade
Análise futura ao
Análise
qualitativa cliente.
quantitativa
Constituição do Negociação
dossier de crédito

Scoring ou rating
do cliente
Condições:
•Limites
•Montante
•Prazo
•Preço
•Garantias

42 CONTABILISTA 232
 GESTÃO

Responsabilidade social
das empresas
Face à realidade, é insuficiente a tese que privilegia a ideia de que o mercado se encarrega
de eliminar as empresas que atuam indevidamente e de premiar aquelas que operam de
acordo com elevados padrões morais.

Por Tânia Alves de Jesus*, José Silva*, Manuela Duarte* e Manuela Sarmento** | Artigo recebido em abril de 2019

A
atitude socialmente res-
ponsável das empresas re-
vela a sua consciência so-
cial assente na sua compreensão da
importância dos problemas sociais
e na intenção da organização em
contribuir positivamente para a
transformação social da sociedade.
Assim, os comportamentos empre-
sariais são questionados e avaliados
quanto à sua adequação em termos
das responsabilidades das empresas
perante a sociedade. A responsa-
bilidade social das empresas (RSE)
vê-se assim dirigida pelos modelos
desenvolvidos por indivíduos que
integram as empresas, represen-
tando a relação que estes preten-
dem que a empresa desenvolva com
a sociedade. Será que o mercado se
encarrega de eliminar as empre-
sas que atuam indevidamente e de
premiar as empresas que atuam de
acordo com elevados padrões mo-
rais?
A responsabilidade social das em-
presas (RSE) parece corresponder a
uma gestão libertadora de compor-
tamentos egocêntricos através da in-
tegração nas empresas de preocupa-
ções e responsabilidades sociais. Tal
atitude manifesta-se na procura das
empresas pela sua sustentabilidade,
tendo em vista, não só a sua pró-
pria existência e o seu pleno sucesso
empresarial e social, mas também
contribuir para o desenvolvimento
sustentado. Na literatura, verifica-
-se que a RSE apresenta um grande
conjunto de teorias e abordagens
complexas, por vezes contraditórias
e pouco claras, existindo uma enor-
me controvérsia em torno da ética
empresarial e da RSE. Por um lado,
a ética empresarial está diretamente
relacionada com o comportamen-
to ético e socialmente responsável
dos empregados. Por outro lado, é
um desafio tornar a RSE como parte
integrante da cultura empresarial e
do modelo estratégico da empresa,
passando essencialmente pela ges-
tão ética no relacionamento entre as
várias partes interessadas e a gestão
socialmente responsável na promo-
ção do bem-estar social.
Conceito de responsabilidade social
das empresas
O conceito de RSE foi, com a publi-
cação do livro intitulado de Social
responsabilities of the businessman,
de Howard Bowen, em 1953, ini-
cialmente associado às obrigações
e às ações voluntárias a assumir por
parte dos empresários, adaptadas,
para além dos objetivos económicos e
legais, aos objetivos e aos valores na
sociedade (Carroll, 1999). De acor-
do com o qual se defende que deverá
haver um aumento de RSE quando as
empresas aumentam o seu poder na
sociedade. Desde então tem-se de-
senvolvido um intenso debate sobre
a RSE. Este centra-se essencialmente
nos fins que devem orientar as ativi-
dades das empresas, considerando a
RSE como um desenvolvimento par-
ticular da responsabilidade social que
abrange tanto empresas como orga-
nizações, instituições e indivíduos
(Rodrigues e Duarte, 2011).
Entretanto, surgiram noções de RSE,
também designadas de visão liberal,
que defendem que esta deve ter como

JULHO 2019 43
GESTÃO
objetivo exclusivo o lucro e que este
possibilitará às empresas contribuir
de forma adequada para a socieda-
de com a riqueza gerada e através do
pagamento dos respetivos impostos.
De acordo com esta perspetiva a RSE
esgota-se no objetivo único de gerar
o lucro e enriquecer os seus proprie-
tários. Destaca-se o célebre artigo
de Friedemann de 1970 onde o autor
considera que a única responsabili-
dade social da empresa é para com
os seus proprietários ou acionistas e
traduz-se na maximização do lucro.
Uma das definições mais populares na
literatura norte-americana sobre RSE
foi a proposta apresentada por Carroll
(1979) englobando responsabilidades
e expetativas sociais, económicas,
legais, éticas e discricionárias da so-
ciedade inerentes ao desempenho
social da empresa. Posteriormente,
o modelo desenvolve-se para que as
quatro componentes sejam inseridas
numa pirâmide e denominando a
responsabilidade discricionária de fi-
lantrópica. De acordo com a perspe-
tiva de Carroll o melhor desempenho
44 CONTABILISTA 232
estará associado à empresa que, para
além de cumprir com as suas respon-
sabilidades económicas fundamen-
tais e legais, também cumpre com
os seus deveres éticos e realiza outras
atividades filantrópicas.
A configuração piramidal do mode-
lo permite destacar as responsabi-
lidades económicas como base que
suporta todas as outras que, apesar
de terem importância sequencial,
deverão ser cumpridas simultanea-
mente. Por um lado, as responsabili-
dades éticas e filantrópicas remetem
para comportamentos que, apesar
de não serem exigidos por lei, são
socialmente desejáveis e eticamen-
te justificados indo de encontro das
expetativas criadas na sociedade
com a atuação da empresa. Por outro
lado, para além de considerar que as
responsabilidades económicas fa-
zem parte integrante da RSE, apon-
ta para o lucro como uma condição
não egoísta do capitalismo, sem o
qual as restantes responsabilidades
não podem ser cumpridas. Contu-
do, a importância reconhecida do
modelo não impediu que lhe fos-
sem apontadas diversas fragilidades
(Almeida, 2010; Rego et al., 2007).
Destacam-se o cumprimento das
responsabilidades filantrópicas que
poderão colidir com as responsabi-
lidades económicas, a filantropia ser
apontada como uma manifestação do
exercício da responsabilidade ética e
o sentido ascendente e unidirecional
do cumprimento das responsabili-
dades poder contrariar o princípio
da equanimidade subjacente à res-
ponsabilidade social. Tendo em vista
colmatar algumas das fragilidades do
modelo piramidal foi posteriormente
proposto um modelo composto pe-
los três domínios económico, legal
e ético com várias orientações em-
presariais. Apesar de questionável,
de acordo com o modelo dos três
domínios existem fronteiras nítidas
que permitem classificar uma de-
cisão como puramente económica,
legal ou ética, existindo no entanto
sete possibilidades de classificação. O
melhor desempenho ocorrerá quan-
do a empresa consegue conciliar de

forma ideal os três domínios, o que
nem sempre se verifica.
Outras definições de RSE, como a
da Comissão Europeia (CE) Europeia
(COM, 2001), integram preocupações
ambientais e sociais na interação da
empresa com outras partes interes-
sadas, numa base voluntária. Impli-
ca que se considere nas estratégias
empresariais as expetativas de todas
as partes interessadas assim como
um princípio de inovação e melho-
ria contínua. Outra área associada à
RSE é a sustentabilidade e o desen-
volvimento sustentável, assente em
preocupações ambientais, económi-
cas e sociais. Destaca-se a conceção
de RSE proposta pela World Business
Council for Sustainable Development
(WBCSD) como sendo um compro-
misso empresarial contínuo para um
desenvolvimento económico sus-
tentável, melhorando a qualidade de
vida dos seus colaboradores, das fa-
mílias, da comunidade onde está in-
serida e da sociedade em geral. Deste
modo, o desenvolvimento sustentá-
vel visa a satisfação das necessidades
humanas, atuais e as das gerações
futuras, em harmonia e para que se
garanta a conservação do meio am-
biente. Defende-se uma estratégia de
RSE a longo prazo baseada em inte-
gridade e valores sólidos como forma
de trazer benefícios para as empresas
e contribuir para o bem-estar da so-
ciedade. Outros autores também re-
ferem que a RSE e a sustentabilidade
empresarial deverá compreender ati-
vidades empresariais que satisfaçam
o bem-estar das outras partes inte-
ressadas (Marrewijk, 2003; Sprink-
le e Maines, 2010). Assim, um dos
maiores desafios da RSE é torná-la
parte integrante da cultura da em-
presa e do seu modelo estratégico.
Podem verificar-se vários níveis de
atuação das empresas que vão desde
o exercício da RSE interna e exter-
GESTÃO
A atitude socialmente responsável das empresas revela
a sua consciência social assente na sua compreensão
e na importância dos problemas sociais e na intenção
da organização em contribuir positivamente
para a transformação social da sociedade.
na, à gestão dos riscos negativos para me controvérsia em torno da ética e
o ambiente e para a comunidade, à da RSE. Destacam-se as abordagens:
gestão ética no relacionamento com a abordagem da RSE em gerar lucro,
as várias partes interessadas e gestão na sua visão clássica ou a que consi-
socialmente responsável na promo- dera os interesses e necessidades das
ção do bem-estar social. Referindo- várias partes interessadas, e a abor-
-se a ética empresarial ao estudo dos dagem que se relaciona com a missão
comportamentos e das decisões em- moral das empresas como forma de
presariais com impacto no bem-estar levar a refletir sobre a empresa en-
individual e social e sendo a RSE uma quanto entidade moral ou ética, in-
atitude que se reflete na prática de serindo-se na tese da moral mínima
uma gestão socialmente responsável ou do dever moral de contribuir para
e na adoção de um modelo de gestão o bem da sociedade.
social, verifica-se assim o seu inter-
relacionamento onde a RSE constitui Responsabilidade social da empresa
uma base do campo da ética empre- em gerar lucro para o proprietário
sarial. Uma das abordagens considera que a
RSE das empresas passa por gerar lu-
Empresa ética cro. Considerando a importância das
e socialmente responsável
 empresas serem lucrativas, desta-
A atitude socialmente responsável cam-se duas visões da função social
das empresas revela a sua consciên- do lucro: a visão que considera que a
cia social assente na sua compreen- RSE das empresas é gerar lucro para
são e na importância dos problemas o acionista ou proprietário; e a visão
sociais e na intenção da organização que considera que a empresa deverá
em contribuir positivamente para a gerar lucro mas agindo em função
transformação social da sociedade. dos interesses das várias partes inte-
Tal atitude manifesta-se na procura ressadas.
das empresas pela sua sustentabilida- Quanto à função social de gerar lu-
de, tendo em vista, não só a sua pró- cro para o acionista, pode verificar-
pria existência e o seu pleno sucesso -se esta visão na doutrina ética de
empresarial e social, mas também Friedman (1970), uma das aborda-
contribuir para o desenvolvimento gens clássicas que tem marcado o de-
sustentado. Neste contexto, verifi- bate em torno da RSE, onde um dos
ca-se que a RSE apresenta um gran- princípios é o de que os gestores têm
de conjunto de teorias e abordagens o dever ético de atuar em prol dos in-
complexas, por vezes contraditórias teresses dos proprietários.
e pouco claras, existindo uma enor- De acordo com esta perspetiva con-
JULHO 2019 45
GESTÃO
sidera-se que a RSE da empresa resu-
me-se ao aumento dos lucros. Enfa-
tiza-se, deste modo, a RSE do pondo
de vista económico e legal através do
respeito pelas regras, não obstan-
te ser pouco ética. Verifica-se assim
que a relação da RSE com a ética pode
coincidir no essencial com a ética
empresarial, na sua parte aplicada.
De acordo com Friedman (1970), o
gestor deverá agir de acordo com a lei
e costumes éticos perante os proprie-
tários ou acionistas, não lhe compe-
tindo a gestão dos lucros da empresa
para fins sociais e de solidariedade
social. Analisando noutra perspetiva,
se os valores despendidos em ações
socialmente responsáveis contri-
buírem para aumentar os preços dos
produtos ou diminuir os salários dos
empregados estes serão, dos clientes
ou dos empregados, respetivamente.
Por outro lado, de acordo com esta
abordagem considera-se que as em-
presas não têm responsabilidade e
46 CONTABILISTA 232
que ações sociais e de responsabilida-
de social deverão ser adotadas pelos
gestores se estas forem relevantes na
geração de lucro, sendo as restantes
ações prejudiciais às liberdades con-
tratual, económica e política. Na lite-
ratura verifica-se que a visão clássica
da RSE tende a ser considerada como
fundamentalista, defendendo-se que
o lucro não deverá ser obtido a qual-
quer preço, não sendo incompatível
com a defesa do meio ambiente e que
as empresas têm um elevado poder
social que deverá ser recompensado
com responsabilidade (Davis, 1975).
Os defensores da visão clássica argu-
mentam que precisamente pelo facto
das empresas terem mais poder se-
ria perigoso abandonarem a filosofia
de mercado, sustentada no modelo
da concorrência perfeita, e envere-
darem por objetivos sociais difusos.
Por outro lado, poderia enfraquecer
a eficácia da atuação de outras insti-
tuições que estão mais vocacionadas
para resolver problemas sociais. De
forma contrária, ainda nesta visão e
de acordo com Samuel (2003), sa-
lienta-se o argumento da teoria neo-
clássica que defende que ao maximi-
zar a riqueza dos proprietários se está
a concorrer para o bem-estar da so-
ciedade em geral, estando as relações
com as restantes partes interessadas
dependentes do exclusivo interesse
do capital.
Responsabilidade social da empresa:
agir em função dos stakeholders
Quanto à visão que considera que a
empresa deverá ser lucrativa agindo
em função dos interesses das várias
partes interessadas, defende-se tam-
bém que o lucro deverá constituir a
remuneração dos capitais investidos
e permitir avaliar a eficiência e efi-
cácia da empresa perante as partes
interessadas. Contudo, apesar do
lucro ser também uma forma de des-
centralizar as responsabilidades, de

sustentar e criar os empregos futuros,
esta visão não defende que a finalida-
de da empresa é enriquecer os seus
acionistas através da procura mono-
polizada do lucro. Questiona-se, por
um lado, sobre qual o principal dever
dos gestores, se zelar pelos lucros
para os acionistas ou proprietários
ou se deverão também considerar os
interesses da comunidade em geral
e das outras partes interessadas. Por
outro lado, se será ético que os gesto-
res utilizem recursos da empresa para
atividades de responsabilidade social
e se estes têm legitimidade para to-
mar esta decisão.
Tendo suporte na teoria das par-
tes interessadas, a função social do
lucro nas empresas visa proteger
os interesses da organização e dos
seus acionistas assumindo-se res-
ponsabilidades sociais em função
das necessidades e prioridades das
restantes partes interessadas e ava-
liando as consequências da ativida-
de da empresa sobre o plano social,
fazendo parte da missão da empresa
contribuir para o bem-estar da so-
ciedade em geral. Suportando-se
num paradigma em que a empresa é
considerada como parte integrante
de uma comunidade perante a qual
deverá assumir responsabilidades,
uma empresa eticamente respon-
sável terá que ir para além do mero
cumprimento da lei e agir de acordo
com as expetativas das várias partes
interessadas. Contudo, os motivos
que levam as empresas a assumir
responsabilidades sociais perante as
várias partes interessadas divergem.
Alguns autores consideram uma ló-
gica instrumental, ou seja, conside-
ram que a RSE pode melhorar o de-
sempenho económico e financeiro
da empresa, logo torna-se lucrativa
para os proprietários, deixando-se
por vezes de se praticar ações etica-
mente corretas quando os gestores
Se uma empresa pretender ser lucrativa e atuar sem respeitar
certos padrões morais mínimos, será considerada irresponsável
pelos eventos dentro da sua zona de poder de intervenção e
por não ter atuado de forma a prevenir a ocorrência de danos.
considerarem que estas não contri-
buem para os desejados resultados
económicos (Garriga e Melé, 2004).
Por outro lado, e de acordo com Rego
et al. (2007) outros autores conside-
ram que teorias e princípios éticos
devem ser seguidos pelas empresas
para fazerem o que é correto para o
bem da sociedade. Neste contexto,
e de acordo com a teoria normati-
va das partes interessadas, admitem
que as partes interessadas têm inte-
resses legítimos na ação empresarial
aos quais a empresa deverá responder
de acordo com princípios de justiça,
benefício mútuo e cooperação, inde-
pendentemente de daí provir para os
acionistas ou proprietários algum be-
nefício. Sendo, no entanto, um pro-
cesso difícil para as empresas, desta-
ca-se a solução apresentada por Felix
(2011) que aponta para as soluções
de segunda ordem e não certamente
as ideais mas que melhor equilibram
equidade, eficiência, rendibilidade e
harmonia interna, recorrendo a có-
digos de conduta para as organiza-
ções. Solução esta só possível através
da ligação da empresa com a ética e
de uma visão da RSE assente no en-
tendimento dos conceitos de interde-
pendência e impermanência.
Analisando as duas visões apre-
sentadas da função social do lucro,
alerta-se para o facto da medição
dos lucros de uma empresa ser uma
medida, apesar dos vários métodos
contabilísticos alternativos, mais ob-
GESTÃO
jetiva que a medição do seu desen-
volvimento social ou ambiental, dado
que estas atividades poderão contri-
buir negativamente para os resulta-
dos da empresa e mesmo assim con-
tribuir para o progresso ambiental e
social. Consequentemente, torna-se
cada vez mais necessário levar as
empresas a apresentarem relatórios
de sustentabilidade e a procurarem
a certificação ética e de responsabi-
lidade social.
Responsabilidade social da empresa
na missão moral
Quanto à missão moral das empre-
sas, estas poderão inserir-se na tese
da moral mínima ou assumir o dever
moral de contribuir para o bem da
sociedade, podendo ou não o cum-
primento da lei e o mercado serem
suficientes para remover ou evitar
nas empresas práticas eticamente
questionáveis. De acordo com John
Simon, Charles Powers e Jon Gun-
nemann, in Rego et al. (2007), as em-
presas devem aderir a certos padrões
morais considerados mínimos.
Nestes casos, se uma empresa pre-
tender ser lucrativa e atuar sem res-
peitar certos padrões morais míni-
mos, será considerada irresponsável
pelos eventos dentro da sua zona de
poder de intervenção e por não ter
atuado de forma a prevenir a ocor-
rência de danos. Deste modo, in-
dependentemente do âmbito legal
da RSE, as empresas veem-se assim
JULHO 2019 47
GESTÃO
com imposições negativas de não
causar prejuízo. Assim, de acordo
com esta perspetiva, as empresas
têm o dever de não causar prejuízo
podendo, contudo, ter em vista o lu-
cro desde que com isso não causem
danos dentro das suas zonas de poder
de intervenção para a qual estão ca-
pacitadas e cujos eventos podem ser
responsabilizadas.
No que se refere ao dever moral de
contribuir para melhorar o mundo
ultrapassa-se, na prática, a tese da
moral mínima, ou seja, para além de
evitarem os danos as empresas deve-
rão fazer o bem, mesmo que tal não
seja exigido legalmente.
Mulligan (1993) in Rego et al. (2007)
refere que o poder que as empresas
detêm foi-lhes concedido pela so-
ciedade, pelo que elas têm o dever
de gratidão de retribuir esse poder,
devendo estas agir de acordo com
um plano de responsabilidade social
e integrá-lo na sua visão estratégia.
Assumindo que a missão moral, indi-
48 CONTABILISTA 232
vidual e coletiva do homem é cultivar
a sabedoria, a sua tese é de que a mis-
são mais importante das empresas
passa por estas exercerem toda a sua
criatividade e iniciativa para concre-
tizarem ocasiões de realização hu-
mana tendo em vista tornar o mundo
melhor. Para tal, os gestores deve-
rão, através de discernimento moral,
avaliar e optar pelos bens e serviços
com valor moral capazes de contri-
buir este objetivo. Rego et al. (2007)
salientam que as empresas detêm
poder e competências consideráveis
que deverão utilizar para bons fins
e de forma a beneficiar a sociedade.
Por um lado, as competências que as
empresas têm só as possuem porque
as receberam da comunidade através
dos sistemas existentes, como por
exemplo o sistema de educação, legal
e outros serviços que esta proporcio-
nou.
Assim, a educação dos trabalhado-
res, o sistema legal, as instituições
de saúde e outros serviços são vis-
tos como benefícios proporcionados
pela comunidade que deverão ori-
ginar por parte das empresas gra-
tidão devendo estas atuar de forma
a resolver os problemas sociais. Por
outro lado, e como consequência,
deve considerar-se que as empresas
devem gratidão à comunidade pelos
benefícios e poder que obtiveram e
têm deveres de cidadania que deve-
rão assumir, assentes na premissa de
que um grande poder é um dom que
deverá ser utilizado para bons fins.
Deste modo, muitas empresas, como
membros institucionais da socieda-
de, têm deveres de cidadania e ultra-
passam a tese da moral mínima as-
sente na premissa de que as empresas
estão obrigadas de prevenir os danos,
optando por obrigações morais afir-
mativas que correspondem ao dever
de fazer tudo para promover o bem.
Quanto à existência de legislação
sobre RSE, considera-se que nem
sempre o seu cumprimento é causa
suficiente para garantir o adequado

comportamento organizacional.
Por vezes a lei, sendo criada por ho-
mens, pode estar a refletir interes-
ses da sociedade com valores mo-
rais menos valiosos em detrimento
de outros que seriam mais impor-
tantes para a sociedade. Assim, as
empresas poderão agir e ser incen-
tivadas a atuar de acordo com a lei
mas de forma condenável do ponto
de vista ético e de elevados padrões
morais. De acordo com Mulligan
(1993) in Rego et al. (2007), mesmo
que não existam imposições legais
ou restrições, as empresas deverão
abandonar atividades que não se-
jam moralmente valiosas, mesmo
que para tal se ponham em causa
os seus lucros.
Quanto à hipótese de considerar
que o mercado é suficiente para
remover ou evitar nas empresas
práticas eticamente questioná-
veis e que este acaba por exercer
uma função complementar à lei
na remoção de práticas eticamente
questionáveis poderá ser discutí-
vel. Sendo que o mercado procu-
ra satisfazer as necessidades dos
consumidores não há garantia que
este esteja a operar cultivando uma
responsabilidade social. De acordo
com Lama (2000) esta deverá as-
sentar num sentido de responsabi-
lidade universal que é o da dimen-
são universal de todos os nossos
atos e da igualdade de direitos dos
outros à felicidade e à ausência de
sofrimento para além do seu pró-
prio grupo, mas sim do resto da
Humanidade. Para tal considera
que é necessário cultivar-se a to-
lerância e o contentamento sem os
quais o desejo de adquirir é impos-
sível de satisfazer, acabando por se
transformar em avidez, semente
da inveja e da rivalidade agressiva
e gerando uma cultura excessiva-
mente materialista. O autor in-
GESTÃO
A atitude socialmente responsável das empresas revela
a sua consciência social assente na sua compreensão
da importância dos problemas sociais e na intenção
da organização em contribuir positivamente
para a transformação social da sociedade.
terroga se as políticas de mercado Conclusão
adotadas serão as mais corretas, Torna-se essencial relembrar que as
dado que provavelmente metade empresas são geridas por ser huma-
da população mundial continua a nos e que estas serão o reflexo dos
sofrer por não ter asseguradas as valores humanos básicos, conside-
necessidades básicas de alimento, rados no mercado e nas empresas,
abrigo, cuidados médicos e educa- à medida que individualmente estes
ção, concluindo que a riqueza dos se desenvolvem. A atitude socialmen-
ricos é mantida à custa dos pobres, te responsável das empresas revela
especialmente através da dívida a sua consciência social assente na
internacional. sua compreensão da importância dos
Num contexto em que atualmente problemas sociais e na intenção da
os media têm uma influência ini- organização em contribuir positiva-
maginável sobre as pessoas, tor- mente para a transformação social da
na-se difícil dizer se a legislação sociedade. Assim, do ponto de vista
é suficiente para influenciar com- da RSE e da sua atividade, na realidade
portamentos mais éticos no mer- atual, considera-se insuficiente a tese
cado tendo em vista conseguir a que privilegia que o mercado se en-
paz genuína e a harmonia. Lama carrega de eliminar as empresas que
(2000) aponta que talvez a melhor atuam indevidamente e de premiar as
maneira, tendo em conta que os empresas que atuam de acordo com
assuntos de ética só são realmen- elevados padrões morais. Verificam-
te efetivos quando vêm do interior, -se a insuficiência da lei e do mercado
passará pela educação das crianças como eficazes substitutos dos com-
para estarem conscientes das suas portamentos não éticos nas ativida-
responsabilidades quando con- des das empresas que pressupõem e
tactarem com os media. De forma remetem para uma disciplina ética de
semelhante, e tentando aplicar o caráter interior. Por outro lado, colo-
mesmo raciocínio do autor aos vá- cam-se várias dificuldades e desafios
rios intervenientes no mercado, se ao nível da definição dos limites de
todos despertarmos para a impor- responsabilidade moral das empresas
tância dos valores básicos, privile- e legitimidade da RSE definida pelos
giando uma educação mas com um seus gestores. 
sentimento de compaixão alarga-
do, assente no desenvolvimento de *Docentes no ISCAL
um sentimento de equanimidade ** Docente na Universidade Lusíada
em relação aos outros, teremos to-
dos um comportamento mais ético Bibliografia disponível em («A Ordem
quando contactarmos e interagir- –Publicações – Revista Contabilista –
mos no mercado. Bibliografia»)
JULHO 2019 49
 CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO
Liquidação oficiosa no âmbito do
Código do Imposto sobre o Valor
Acrescentado
O cuidado que os sujeitos passivos de IVA devem ter no regular cumprimento das
obrigações declarativas, para evitar liquidações oficiosas, é o mote para este artigo.
Por Jesuíno Alcântara Martins * | Artigo recebido em julho de 2019
A
nomenclatura das garan-
tias impugnatórias idó-
neas para tutela plena e
efetiva dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos sujeitos
passivos da relação jurídica tribu-
tária e demais obrigados tributá-
rios está edificada nos domínios
normativos da Lei Geral Tributá-
ria (LGT) e do Código de Proce-
dimento e de Processo Tributário
(CPPT). Sempre que o destinatário
de um ato tributário ou de um ato
administrativo em matéria tribu-
tária considerar que é prejudicado
ou lesado pela decisão de um órgão
da administração tributária pode
exercer o direito de impugnação
ou de recurso, com vista a garan-
tir a observância da legalidade e
dos demais princípios vigentes no
ordenamento jurídico tributário.
A ação de defesa pode ser exercida
no plano administrativo, através
de recurso hierárquico para o mais
elevado superior hierárquico do au-
tor do ato tributário, ou no plano do
processo judicial tributário, atra-
vés de ação impugnatória dirigida
ao juiz do tribunal tributário de 1.ª
instância. A linha estruturante da
50 CONTABILISTA 232
defesa dos interesses legalmente
protegidos dos contribuintes tem de
ser desenhada, em geral, em função
dos normativos da LGT e do CPPT,
no que toca à identificação do meio
procedimental ou processual idó-
neo, prazos de ação, fundamentos,
regras de competência e requisitos
ou pressupostos legais.
Ato tributário de liquidação
O principal ato que emerge da rela-
ção jurídica tributária é o ato tribu-
tário de liquidação. É através deste
ato tributário que a Autoridade
Tributária e Aduaneira (AT) con-
cretiza as suas atribuições, pros-
segue o interesse público e realiza
os fins do sistema fiscal com a ar-
recadação das receitas decorrentes
da tributação dos contribuintes em
função da sua capacidade contri-
butiva, revelada através dos rendi-
mentos auferidos ou utilizados e da
titularidade de património.
A atividade tributária materializa-
da na sucessão de atos e de forma-
lidades dirigidas à declaração de
direitos tributários dos sujeitos da
relação jurídica tributária tem de
se conformar, quer no plano for-
mal quer no domínio da verdade
material, na estrita observância da
ordem jurídica tributária vigente.
Daqui decorre uma relação obriga-
cional sinalagmática, perspetiva-
da numa visão dualista assente no
exercício de direitos e no cumpri-
mento de deveres, norteada pelos
princípios da cooperação, da pro-
porcionalidade e da justiça.
Independentemente da cédu-
la de tributação, o sujeito passivo
da relação jurídica tributária, em
função do seu enquadramento le-
gal, tem por obrigação principal o
dever de proceder ao pagamento
da dívida tributária e de dar cabal
cumprimento às obrigações aces-
sórias a que está adstrito (art.º 31.º
da LGT), beneficiando, generica-
mente, de uma presunção de ver-
dade e de boa-fé.
O exercício dos poderes tributá-
rios, com o propósito de acautelar
o interesse público, pode poten-
ciar a emergência de situações de
dialética conflitual que podem não
ser dirimidas no âmbito da colabo-
ração, participação e cooperação
que vinculam, mutuamente, a Ad-
ministração Tributária (art.º 59.º,

n.º 3 da LGT e art.º 45.º do CPPT),
o sujeito passivo e os demais obri-
gados tributários. Quando, assim,
acontecer é fundamental que os
contribuintes utilizem com ido-
neidade, rigor e exigência técnica
os meios impugnatórios adequa-
dos para fazer vingar os seus di-
reitos e interesses legalmente pro-
tegidos. Para o efeito, é necessário
ter presente que a LGT e o CPPT
constituem o catálogo geral de ti-
pificação e de especificação dos
meios de defesa a utilizar, quer no
domínio das ações impugnatórias,
quer no capítulo das garantis não
impugnatórias, com expressão no
procedimento tributário e no pro-
cesso judicial tributário. Há que
sublinhar que a LGT e o CPPT en-
cerram a estrutura geral do edifício
garantístico tributário, o qual, sem
prejuízo de no âmbito daqueles
diplomas acolher algumas especi-
ficidades, exige a observância das
regras especiais insertas nos respe-
tivos códigos de tributação na par-
te relativa às garantias dos sujeitos
passivos. A título de exemplo, re-
fere-se o artigo 140.º do CIRS e o
artigo 97.º do CIVA.
Liquidação oficiosa
Uma das principais obrigações
acessórias dos contribuintes con-
siste na apresentação da declara-
ção de rendimentos ou da decla-
ração periódica de imposto. A falta
de apresentação desta declaração,
sem prejuízo da respetiva censura
em sede contraordenacional, pode
conduzir a que a Administração
Tributária tenha de, nos termos da
lei, produzir liquidações oficiosas
(cf. artigo 88.º do CIVA, artigo 77.º,
n.º 1, al. c) do CIRS e artigo 90.º, n.º
1, al. b) do CIRC), independente-
mente de, originariamente, a com-
petência para a liquidação do tri-
buto pertencer à AT ou ao próprio
contribuinte. A liquidação oficiosa
é uma liquidação administrativa
que obedece às regras específicas
estabelecidas no respetivo código
CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO
de tributação, e que consubstancia
uma medida de avaliação indire-
ta. A liquidação oficiosa resulta de
facto imputável ao sujeito passivo
consubstanciado em ação de in-
cumprimento da obrigação decla-
rativa. Todavia, a Administração
Tributária está obrigada a notificar
o contribuinte para este apresen-
tar a declaração em falta (cf. al.
b) do n.º 2 do artigo 60.º da LGT e
n.º 3 do artigo 76.º do CIRS), bem
como a liquidação oficiosa exige a
prévia participação do sujeito pas-
sivo, podendo, a notificação para
o exercício deste direito ser feita
conjuntamente com a notificação
que vise a apresentação da decla-
ração em falta. A continuidade do
incumprimento conduzirá à reali-
zação da liquidação oficiosa.
A liquidação oficiosa tem de ser
fundamentada e validamente noti-
ficada ao sujeito passivo (cf. artigo
77.º da LGT e artigo 36.º do CPPT).
Em matéria de IRS e de IRC, se o
contribuinte considerar que existe
JULHO 2019 51
CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO
excesso de quantificação poderá
lançar mãos aos meios impugnató-
rios (reclamação graciosa, impug-
nação judicial ou tribunal arbitral)
para formular a defesa dos seus
direitos e interesses legais. Porém,
em matéria de IVA é fundamen-
tal ter presente que a liquidação
oficiosa prevista no artigo 88.º do
CIVA impõe a observância de re-
gras especiais em ordem à regula-
rização da situação tributária.
No código do IVA estão previstos
dois tipos de liquidação oficiosa. A
liquidação oficiosa (LO) do artigo
88.º do CIVA aplicável aos contri-
buintes enquadrados regime nor-
mal de tributação e a LO prevista
no artigo 89.º do CIVA aplicável
aos contribuintes enquadrados no
regime dos pequenos retalhistas
(art.º 60.º a 68.º do CIVA). Dada a
sua relevância vamos nos focalizar
na LO do artigo 88.º do CIVA.
Não obstante a norma da alínea c)
do n.º 1 do artigo 29.º do CIVA es-
tabelecer que os sujeitos passivos
referidos na alínea a) do n.º 1 do
artigo 2.º devem enviar mensal-
mente uma declaração relativa às
operações efetuadas no exercício
da sua atividade no decurso do se-
gundo mês precedente, com a in-
dicação do imposto devido ou do
crédito existente e dos elementos
que serviram de base ao respetivo
cálculo, há que realçar que no re-
gime normal do IVA existem dois
períodos de tributação: i) o men-
sal, e ii) o trimestral. Em face dos
normativos das alíneas a) e b) do
n.º 1 do artigo 41.º do CIVA, estão
enquadrados no regime normal de
periodicidade mensal os sujeitos
passivos cujo volume de negócios
anual seja igual ou superior a 650
000 euros e estão no regime nor-
mal de periodicidade trimestral os
sujeitos passivos cujo volume de
52 CONTABILISTA 232
Os sujeitos passivos de IVA devem ter um especial cuidado
no cumprimento das obrigações declarativas, de modo
a obstar à realização de liquidações oficiosas e,
designadamente, não devem deixar a gestão dos seus
interesses legais e patrimoniais para uma fase em que a defesa
destes possa induzir a uma ação jurídica tendencialmente
votada ao insucesso.
negócios anual seja inferior a 650 ção cadastral ativa. A ausência de
000 euros. No regime mensal a de- consciência ou de perceção sobre
claração periódica (DP) é apresen- esta realidade é suscetível de criar
tada até ao dia 10 do segundo mês enormes e gravosos problemas no
seguinte àquele a que respeitam as âmbito da situação tributária dos
operações e no regime trimestral contribuintes com, eventuais, pre-
a declaração periódica é apresen- juízos patrimoniais e financeiros
tada até ao dia 15 do segundo mês para o interessado.
seguinte ao trimestre do ano civil Quando um sujeito passivo enqua-
a que respeitam as operações. Em drado no regime normal deixar
relação a cada período de tributa- de realizar operações tributáveis
ção, o sujeito passivo tem de pro- (transmissões de bens, prestação
ceder ao apuramento do imposto de serviços, etc.) duas hipóteses se
(art.º 27.º do CIVA) e em função lhe colocam:
do resultado (imposto a entregar - Fazer a cessação da atividade
nos cofres do Estado ou crédito de económica (art.º 33.º do CIVA);
imposto a favor do sujeito passivo) - Entregar a DP com a menção de
proceder à entrega da declaração que não foram realizadas opera-
periódica e entregar o imposto de- ções tributáveis (n.º 2 do art.º 29.º
vido ou, então, reportar o crédito do CIVA).
para o período de tributação se- A obrigação de entregar a DP, nos
guinte ou solicitar o reembolso, se termos do n.º 2 do artigo 29.º do
for caso disso (art.º 22.º do CIVA). CIVA, subsistirá até que o sujeito
passivo decida efetuar a cessação
Apresentação da atividade ou, em alternativa, a
da declaração periódica Autoridade Tributária e Aduaneira,
Há que sublinhar que os sujeitos nos termos do n.º 2 do artigo 34.º
passivos enquadrados no regime do CIVA, efetuar oficiosamente
normal têm sempre de proceder à a cessação de atividade do sujei-
entrega da declaração periódica, to passivo. O contribuinte só deve
ainda que no respetivo período de deixar de apresentar a DP, com
tributação (mensal ou trimestral) menção de inexistência de qual-
não tenham realizado qualquer quer operação tributável, quando
tipo de operação tributável (ativa for notificado pela AT da situação
ou passiva) – n.º 2 do artigo 29.º de cessação oficiosa da atividade
do CIVA. Ou seja, a obrigação de- económica.
clarativa subsiste sempre que o O cotejo dos normativos do CIVA,
contribuinte tenha a sua inscri- designadamente, o n.º 2 do artigo

29.º, o n.º 1 do artigo 41.º e o artigo
88.º do CIVA, conduz a que, sempre
que o sujeito passivo não apresentar
a declaração periódica, haja lugar à
efetivação de liquidação oficiosa a
realizar pelos serviços centrais da
AT. Cumulativamente, por cada pe-
ríodo de tributação em que a obriga-
ção declarativa não seja cumprida,
verificar-se-á a prática da infração
fiscal prevista e punida pelos ar-
tigos 116.º e 26.º do Regime Geral
das Infrações Tributárias (RGIT). A
infração é relatada em auto de no-
tícia que dá lugar à instauração de
processo de contraordenação, com a
subsequente aplicação de uma coi-
ma. A falta de pagamento da coima
no processo de contraordenação
tributário dará lugar à instauração
de processo de execução fiscal com
vista à cobrança coerciva da coima
(art.º 65.º do RGIT).
Por imperativo legal (al. b) do n.º 2
do art.º 60.º da LGT), que determina
a prévia notificação do contribuinte
para apresentar a declaração em fal-
ta ou a participação do sujeito passi-
vo – exercício de direito de audição
– em momento prévio à liquidação
oficiosa, quando a AT identificar a
falta de apresentação da DP deve
notificar o contribuinte para este
apresentar a declaração em falta ou,
em alternativa, exercer o direito de
audição. Só a apresentação da decla-
ração periódica pode impedir a rea-
lização da liquidação oficiosa.
A liquidação oficiosa tem de ser
validamente notificada ao sujeito
passivo, através de via postal (carta
registada com aviso de receção) ou
através de transmissão eletrónica de
dados. Uma vez concretizada a no-
tificação, o sujeito passivo tem 90
dias para proceder ao pagamento da
liquidação oficiosa, sob pena de co-
brança coerciva (n.º 3 do artigo 88.º
do CIVA).
A liquidação oficiosa tem a natureza
de liquidação administrativa provi-
sória, pelo que, durante os 90 dias
subsequentes à notificação, o sujeito
passivo pode proceder à entrega da
CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO
DP e, consequentemente, obstar a
que a LO se converta em liquidação
definitiva, atitude que se aconselha
vivamente.
Há que sublinhar que, nos termos
do n.º 4 do artigo 88.º do CIVA, a
LO ficará sem efeito sempre que se
verificar alguma das circunstâncias
seguintes:
•Se o sujeito passivo, dentro do
prazo de 90 dias, apresentar a de-
claração em falta, sem prejuízo da
aplicação da respetiva penalidade;
•Se a liquidação for corrigida com
base em elementos recolhidos em
procedimento de inspeção tribu-
tária ou noutros ao dispor dos ser-
viços da AT;
• Se for declarada a cessação ofi-
ciosa referida no n.º 2 do artigo
34.º do CIVA e a liquidação disser
respeito ao período decorrido des-
de o momento em que a cessação
deveria ter ocorrido.
É de realçar que o sujeito passivo
não deve deixar a gestão dos seus
interesses no domínio da atuação da
JULHO 2019 53
CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO
AT, esta tem por missão prosseguir
o interesse público e, em abstra-
to, tal conduz a que, nos termos da
lei, os seus interesses consistam na
cobrança de impostos. A defesa dos
interesses legalmente protegidos do
contribuinte só a este competem.
Refira-se que só a circunstância
elencada no primeiro ponto supra
indicado é que é da iniciativa do su-
jeito passivo, os outros dois depen-
dem da ação da AT, sendo que, na
nossa perspetiva, não deve o con-
tribuinte optar por depender da ini-
ciativa ou dinâmica dos serviços da
AT. Assim, sempre que se verificar a
existência de LO, no prazo de 90 dias
a contar da respetiva notificação, o
sujeito passivo deve optar por apre-
sentar a DP e, subsequentemente,
fazer a correlativa cessação da ati-
vidade económica, se for caso disso.
É fundamental ter presente que a
ausência de reação do sujeito passi-
vo, uma vez decorrido o prazo de 90
dias, implica que a LO se torne defi-
nitiva e evolua para cobrança coer-
54 CONTABILISTA 232
civa em processo de execução fiscal,
com as inerentes penhoras de bens
(n.º 6 do art.º 88.º do CIVA).
Acresce que a LO não é suscetível
de ação impugnatória (n.º 2, in fine,
do art.º 97.º do CIVA). Esta opção do
legislador conduz a que o valor da
LO não seja sindicável em sede de
reclamação graciosa ou de impug-
nação judicial. A liquidação oficiosa
tem por base os elementos de que a
AT disponha (SAF-T – facturas) e o
seu valor mínimo está balizado nos
normativos do n.º 1 do artigo 88.º
do CIVA. A quantificação da LO só
pode ser alvo de discussão no pra-
zo dos 90 dias e a sua correção só
pode ser feita por via da entrega da
respetiva DP, com a sobreposição do
valor através desta declarado. Após
o decurso deste prazo, o legislador
optou por impor, de forma absoluta,
o dever de pagamento da LO sempre
que a mesma tenha evoluído para
cobrança coerciva, sem prejuízo da
sua correção em momento poste-
rior, mas esta fica a depender exclu-
sivamente do entendimento da AT.
Fica, assim, bem evidenciado que
a LO em sede de IVA está sujeita a
regulamentação e a procedimentos
específicos, pelo que os sujeitos pas-
sivos devem ter um especial cuidado
em relação ao cumprimento da obri-
gação declarativa (DP), de modo a
obstar a que exista fundamento para
a realização de liquidações oficiosas.
Cuidado no cumprimento
das obrigações
Sem prejuízo de estar vedada a sin-
dicabilidade da legalidade da LO
com fundamento na sua quantifi-
cação, há que ter presente que, caso
se venha a verificar que a AT não
procedeu à fundamentação da LO
ou que não concretizou a sua noti-
ficação validamente ao sujeito pas-
sivo, a doutrina e a jurisprudência
têm admitido que a legalidade da
LO seja sindicada através dos meios
impugnatórios idóneos e adequados
à anulação do ato de liquidação. Este
entendimento pode ser aferido no
 CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO

acórdão do Tribunal Central Admi-
nistrativo do Norte (TCAN), tirado
no processo n.º 00610/08.8BEPRT,
2.ª secção, Contencioso Tributário,
datado de 27.11.2014, ou ainda na
decisão arbitral proferida no pro-
cesso arbitral n.º 64/2013-T.
Há, todavia, que sublinhar que,
em face dos normativos ínsitos
nos artigos 38.º, 38.º-A, 39.º e 41.º
do CPPT, são cada vez menos fre-
quentes as situações de ausência ou
de irregularidade na realização da
notificação dos atos de liquidação,
bem como existe um inquestioná-
vel e profundo aperfeiçoamento do
dever de fundamentação dos atos
e decisões dos órgãos da Admi-
nistração Tributária por parte dos
serviços da AT, dando assim cum-
primento ao imperativo decorren-
te do artigo 77.º da LGT, do artigo
152.º do Código de Procedimento
Administrativo (CPA) e do n.º 3
do artigo 268.º da Constituição da
República Portuguesa (CRP).
Impõe-se, então, concluir que os
sujeitos passivos de IVA devem ter
um especial cuidado no cumpri-
mento das obrigações declarativas,
de modo a obstar à realização de
liquidações oficiosas e, designada-
mente, não devem deixar a gestão
dos seus interesses legais e patrimo-
niais para uma fase em que a defe-
sa destes possa induzir a uma ação
jurídica tendencialmente votada ao
insucesso, ao invés, com uma ação
rápida, eficaz e pertinente, devem
pugnar pelo regular cumprimento
das obrigações tributárias e, assim,
contribuir para a realização da justi-
ça tributária. 
*Professor universitário
Consultor
Árbitro no CAAD

IVA - LIQUIDAÇÃO OFICIOSA (LO)

Pagamento da
Prazo
Início de atividade liquidação
90 dias
Art.º 88.º
Art.º 31.º Regularização n.º4

Não pagamento da
liquidação
Volume negócios

Art.º 42.º Enquadramento Não envia DP

regime normal
Envia DP Certidão
Sujeito de dívida
passivo PEF
Mensal Trimestral Art.º 29.º Art.º 88.º
Art.º 2.º n.º 2 n.º3
Declaração periódica Art.º 88.º Art.º 27.º
al. c) n.º1 art.º 29.º n.º6
Liquidação oficiosa
Não
Envia DP com meio
Operações
Não envia DP pagamento correto
tributárias

Apuramento do Com meio

Sim imposto Envia DP pagamento incorreto

Art.º 27.º
Sem meio pagamento

JULHO 2019 55
 FISCALIDADE
Compreender a responsabilidade
fiscal dos gestores de bens ou
direitos de não residentes
Este artigo aborda o regime jurídico de responsabilidade fiscal que enquadra os
intermediários funcionais de cidadãos estrangeiros não residentes que desenvolvem
atividade económica no nosso país.
Por Cláudio Cardoso * | Artigo recebido em junho de 2019
V
ivemos num tempo em que
a liberdade de circulação
de pessoas, capitais e bens
é uma realidade em contínuo cres-
cimento. Assiste-se, com efeito, a
um crescente número estrangeiros a
desenvolver atividade económica em
Portugal que recorre a intermediários
para em seu nome celebrar negócios
jurídicos. Para tanto em muito têm
contribuído o denominado regime
dos Golden Visa e o regime especial de
tributação dos residentes não habi-
tuais (RNH). Pelo que releva conhe-
cer o regime jurídico da responsabi-
lidade fiscal imputável àqueles que se
assumem intermediários funcionais
de não residentes. O dito regime en-
contra-se, largamente, previsto no
artigo 27.º LGT, onde no seu número
1 se estabelece: «Os gestores de bens
ou direitos de não residentes sem es-
tabelecimento estável em território
português são solidariamente res-
ponsáveis em relação a estes e entre si
por todas as contribuições e impostos
do não residente relativos ao exercí-
cio do seu cargo.»
Pressupostos do regime
Estamos perante uma previsão
56 CONTABILISTA 232
normativa complexa na medida em
que se exige a verificação e corre-
lação de diferentes conceitos jurí-
dicos. Ditos elementos previsionais
correspondem, em primeiro lugar,
ao próprio conceito de «gestor de
bens ou direitos», ao conceito de
«não residente» e ao de [sem] «es-
tabelecimento estável.»
Conforme se retira da epígrafe, en-
contram-se expressamente excluí-
dos da previsão os casos de gestão
de bens ou direitos de sujeitos resi-
dentes em território nacional. Por
outro lado, pese embora o número
dois do aludido preceito refira-se
a «entidade não residente», nem
por isso, sob pena de injustificada
violação do princípio da igualdade
e da unidade teleológica do Direi-
to fiscal, dever-se-á entender uma
responsabilidade por débitos fis-
cais de pessoas jurídicas, dela se
subtraindo os impostos das pessoas
naturais não residentes.
No que às pessoas singulares con-
cerne, estabelece o artigo 82.º CC
ex vi artigo 19.º, n.º 1, al. a) LGT que
a pessoa tem domicílio no lugar da
sua residência habitual. Sucede,
porém, que o conceito de domicí-
lio não se confunde com o concei-
to de residência, sendo este mais
amplo que aquele, e o conceito de
residência habitual civil é frequen-
temente afastado por razões de
ordem funcional, como sucede no
IRS. Aliás, no âmbito das relações
tributárias prevalece o conceito
de residência habitual disposto no
CIRS. Destarte, a aferição do es-
tatuto de residência fiscal desvela
nuclear importância, não somente
para verificação do pressuposto da
responsabilidade fiscal do preten-
so gestor, mas porque consiste no
critério de sujeição espacial a IRS.
Permitindo, assim, nos termos do
artigo 15.º, n.º 2 CIRS, isolar o quid
da responsabilidade do gestor: os
impostos devidos pelos rendimen-
tos obtidos em Portugal (artigo 18.º
CIRS) pelo sujeito não residente.
Nos termos do artigo 16.º CIRS,
consideram-se, em termos sim-
plificados, residentes em território
português as pessoas que no ano a
que respeitam os rendimento ha-
jam nele permanecido por mais de
183 dias seguidos ou interpolados
em qualquer período de 12 meses
com início ou fim no ano em causa

(critério temporal); ou as que nele
hajam permanecido por período
de tempo inferior a 183 dias, se
no mesmo disponham de habita-
ção em condições que façam supor
intenção atual de a manter e usar
como residência habitual (critério
da habitação). Todavia, os critérios
expostos ter-se-ão de articular
com o conceito operativo de resi-
dência fiscal parcial previsto nos
artigos 15.º, n.º 3 e 16.º, n.º 3 CIRS.
O que, em sentido inverso, poderá
implicar que a pessoa do gestor de
bens ou direitos seja responsável
fiscal durante apenas uma parte do
ano. Esquematicamente:
Residência parcial versus critério temporal:
Chegada a TN:25 de março
Tributação da
fonte
1 de
janeiro
de N
Não residente
(84 dias)
Artigo 27º LGT
Residência parcial versus critério habitação:
Habitação em condições de supor como residência habitual
Tributação da fonte
1 de
janeiro
Não residente
de N
(289 dias)
Artigo 27.º LGT
Cumpre, também, referir que os
RNH não integram a previsão do
regime do artigo 27.º LGT, na exa-
ta medida em que o artigo 16.º, n.º
8 CIRS impõe como pressuposto
de acesso a este regime especial a
aquisição do estatuto de residente
em território português nos termos
gerais.
Por sua vez, as pessoas coletivas
ter-se-ão por não residentes sem-
pre que a sua sede estatutária (ar-
tigos 159.º CC e 12.º, n.º 3 CSC) ou
direção efetiva se localize fora do
território nacional, conforme se
retira da conjugação normativa en-
tre os artigos 19.º, n.º 1, al. a) LGT
Tributação mundial dos rendimentos
Residente
(281 dias)
Chegada a TN:15 de outubro
Tributação mundial dos rendimentos
FISCALIDADE
e 3.º, n.º 3 CIRC. Exigindo-se, no
entanto, como pressuposto à res-
ponsabilidade fiscal do artigo 27.º
LGT, a inexistência de estabele-
cimento estável (artigo 5.º CIRC).
Nesta sede, mais que indagar sobre
o sentido e alcance dos conceitos
de direção efetiva e estabeleci-
mento estável, importará sumaria-
mente recortar as suas implicações
no objeto da responsabilidade do
gestor. Em primeiro lugar, coman-
dam os artigos 3.º, n.º 1, al. d) e
56.º CIRC, que os rendimentos das
pessoas coletivas visados pelo arti-
go 27.º LGT serão determinados de
acordo com as regras e categorias
31 de
dezembro de N
31 de
Residente dezembro
(76 dias) de N
JULHO 2019 57
 FISCALIDADE
do CIRS. Em segundo lugar, dentro
dos rendimentos não imputáveis a
estabelecimento estável considera-
dos obtidos em território nacional
pelo artigo 4.º, n.º 3 in fine do CIRC,
destrinçar entre aqueles que não são
objeto de retenção na fonte dos que o
são e, no âmbito destes, entre os que
o são título de pagamento por contra
e a título definitivo nos termos exa-
rados artigo 94.º CIRC. A apontada
distinção releva para a determina-
ção do momento e modo da opera-
cionalização da responsabilidade do
gestor. Pois que, relativamente aos
rendimentos não objeto de reten-
ção na fonte ou seja aqueles que não
se encontram previstos no elenco
do artigo 94.º, a responsabilidade
do gestor de bens ou direitos nas-
ce no momento do incumprimento
do sujeito passivo originário. Neste
âmbito, adquirem especial interesse
Sujeitos a retenção
art.º 94.º CIRC
Rendimentos obtidos
pelo não residente
não imputavel a
estabelecimento estável
art.º 4.º, n.º 3 CIRC
Não sujeitos a retenção
prático, os rendimentos provenien-
tes de alienação onerosa de imóveis
nos termos previstos na alínea a) do
número 3 do artigo 4.º CIRC. Com
efeito, no respeito pelo artigo 118.º,
n.º 3, as entidades não residentes
58 CONTABILISTA 232
sem estabelecimento estável em
território nacional que procedam à
alienação de imóveis nele situados,
haverão de apresentar a declara-
ção modelo 22 do IRC declarando
as mais-valias da operação e pagar
o imposto autoliquidado até ao ter-
mo do prazo para o cumprimento da
aludida obrigação declarativa – até
ao 30.º dia após a data da transmis-
são onerosa do imóvel nas situações
de mais-valias (artigo 120.º, n.º 5,
al. b) CIRC) – findo o qual sem que
se demonstre satisfeita a prestação
tributária poderá a AT notificar o
gestor para substituir-se ao gestido
no seu pagamento. Por outro lado,
tratando-se de rendimentos sujeitos
a retenção na fonte, ainda que a tí-
tulo definitivo, nem assim fica em-
bargada a responsabilidade fiscal do
gestor. É que, convém não perder de
vista o regime de responsabilidade
A título de pagamento
por conta art.º 94.º,
nº. 1 CIRC
A título definitivo art.º
94.º,n.º 3 CIRC
Responsabilidade
solidária do gestor de
bens ou direitos art.º 27.º
LGT
aplicável ao instituto da substituição
tributária. Estando perante rendi-
mentos sujeitos a retenção a título
de pagamento por conta do imposto
devido a final, como sendo os prove-
nientes da locação de imóveis (arti-
gos 4.º, n.º 3, al. a) e 94.º, n.º 1, al. c)
CIRC), na circunstância do locatário
não haver procedido à retenção, re-
cairá sobre o não residente a respon-
sabilidade originária pelo imposto não
retido nos termos do número 2 do ar-
tigo 28.º LGT e, sucessivamente e num
segundo momento, sobre o seu gestor
ao abrigo do artigo 27.º. Estando em
causa rendimentos sujeitos a retenção
a título definitivo nos termos do artigo
94.º, n.º 3, al. b) CIRC, a responsabi-
lidade dos gestor de bens ou direitos
de acordo com o artigo 28.º, n.º 3 LGT
operará a três tempos: 1.º não retenção
do imposto pelo substituto; 2.º rever-
são contra o sujeito não residente por
insuficiência patrimonial da entidade
obrigada à retenção e; 3.º responsabi-
lidade solidária do gestor de bens ou
direitos por incumprimento do sujeito
não residente/responsável subsidiá-
rio. Esquematicamente:
Responsabilidade Responsabilidade
originária do não solidária do
residente gestor de bens ou
art.º 28.º,n.º2 LGT direitos
Responsabilidade Responsabilidade
subsidiária do não solidária gestor
residente art.º de bens ou
28º, nº. 3 LGT direitos
Excussão
prévia do
substituto art.º
23.º, n.º 2 LGT
Da definição de gestor de bens ou di-
reitos do artigo 27.º, n.º 2 LGT, con-
clui tratar-se de uma figura dotada
de heterogeneidade jurídico-concep-
tual, na medida em que o legislador
se socorre dos traços de diferentes

institutos jurídicos para delimitar os
seus pressupostos subjetivos como se
atesta pelas expressões “assumam” e
“sejam incumbidas”. À face dessa na-
tureza heterogénea, podemos classifi-
car a gestão de bens ou direitos como
figura específica do direito tributário,
sem paralelo ou equivalente jurídi-
co-conceptual suficiente em outras
áreas do direito positivo. Com efeito,
numa primeira leitura do preceito em
questão, cedo se identifica uma dupla
invocação à fonte das obrigações civis,
por um lado ao instituto da gestão de
negócios e, por outro, ao mandato. Há
que acautelar, porém, a interpretação
do normativo. O meio operaciona-
lizante da gestão de bens ou direitos
não se restringe à gestão de negócios
ou mandato, porquanto a expressão
linguística “por qualquer meio” permi-
te-nos supor uma operacionalização
mediante um conjunto de atos e com-
portamentos materiais por outrem,
independentemente de qualquer
pressuposto jurídico-formal. O que
bem se compreende à luz da unidade
teleológica fiscal e da prevalência do
substrato económico sobre a forma
jurídica que deve orientar a interpre-
tação das normas tributárias.
De salientar é que, até à aprovação da
Lei n.º 82-E/2014, de 31 de dezembro,
que revogou o número 3 do artigo 27.º
da LGT, vigorou a presunção ilidível
de que o representante fiscal do não
residente considerava-se o seu gestor
de bens ou direitos e, por conseguin-
te, responsável solidário pelos seus
débitos fiscais. Tratam-se, todavia, de
figuras e conteúdos funcionais distin-
tos. Ao representante fiscal, nos ter-
mos do artigo 19.º, n.º 7 LGT, incumbe
garantir o cumprimento das obriga-
ções acessórias do não residente, pre-
vistas nos diferentes códigos fiscais, a
prestação de esclarecimentos solici-
tados pela AT, assim como o exercício
dos direitos de reclamação, recurso ou
impugnação do não residente. Repa-
re-se que o termo garantir não é, aqui,
empregue no sentido técnico-jurídi-
co, ou seja, não serve para significar
que o representante é garante da obri-
gação principal de pagamento do im-
posto – como sucede no ordenamento
jurídico espanhol. Pela representação
fiscal inscrevem-se poderes e deveres
FISCALIDADE
para o cumprimento das obrigações
acessórias do não residente, mas não
as contributivas. Dito isto, o represen-
tante fiscal resume-se à pessoa a quem
o não residente concedeu o mandato
para levar a cabo a gestão da dimen-
são formal da relação jurídica tribu-
tária em Portugal, mas não a direção
de negócios do representado. Destar-
te, pese embora representante fiscal
e gestor de bens ou direitos possam
coincidir na mesma pessoa, somen-
te pela última qualidade poderá ser
responsabilizada pelo pagamento do
imposto. Atualmente as duas figuras
encontram autonomização normativa
no artigo 9.º, n.º 3 do Decreto-Lei n.º
14/2013, de 28 de janeiro, ao determi-
nar-se que sempre que a lei fiscal exi-
ja a existência de representante para
pessoa singular não residente, é reco-
lhido – no âmbito do procedimento de
registo do contribuinte - número de
contribuinte do representante, bem
como o do gestor de bens ou direitos
quando este exista.
Como se avançou, a operacionalização
da gestão de bens ou direitos indepen-
de de qualquer pressuposto jurídico-
JULHO 2019 59
FISCALIDADE
-formal, podendo a fonte de vontade
da direção do negócio residir no gestor
de bens, quando este unilateralmente
assuma a administração do negócio
por conta do não residente; ou no não
residente, quando este incumba, por
exemplo, através de mandato ou auto-
rize por procuração, terceiro residente
em Portugal a aí gerir o seu negócio.
Qualquer que seja a modalidade pela
qual se desenvolva a ação gestionária,
conditio sine qua non é que a mesma
se consubstancie na direção de ne-
gócio do não residente, no interesse e
por conta deste. Fácil fica de entrever
que a direção de negócios configura-se
pressuposto central à figura do ges-
tor de bens ou direitos. Pese embora
compreendamos a utilização de con-
ceitos indeterminados nesta matéria
– razões de praticabilidade e evitação
de evasão e fraude fiscal -, a verda-
de é que o artigo 27.º LGT traduz-se
numa verdadeira norma de incidên-
cia fiscal (artigo 8.º LGT). Pelo que, à
luz do princípio da legalidade fiscal,
considerar-se-ia adequada a densifi-
cação normativa do conceito, atenta
a natureza marcadamente impositi-
va deste regime. Podemos, contudo,
avançar alguns apontamentos à in-
terpretação da ratio legis do conceito.
Em primeiro lugar, para se falar de
direção de negócios com proprieda-
de, o gestor deverá possuir autonomia
na formação da vontade do não resi-
dente e na determinação dos atos por
ele praticados em território nacional.
Dito de outro modo, nos casos em que
o gestor se limite a executar ordens e
instruções do dominus, sem margem
autonómica na seleção e constituição
dos factos tributários, não estamos
perante uma direção de negócios, mas
perante o cumprimento de instruções
emitidas por terceiros. Neste sentido
bem andou a AT ao fixar, no Ofício-
-Circulado n.º 60.084, de 28/11/2011,
a respeito das implicações do artigo
60 CONTABILISTA 232
O gestor de bens ou direitos sendo notificado
para pagamento do imposto em débito, ou citado
em sede de processo de execução fiscal, poderá apresentar
reclamação graciosa, impugnação do ato de liquidação
e pedido de revisão nos termos do artigo 22.º, n.º 5 da LGT.
27.º para os advogados, que: (…) «im- direitos. Por duas ordens de razão:
porta, assim, atender caso a caso ao a) A mera outorga voluntária de po-
conteúdo do mandato em que se ba- deres de representação a outrem,
seia a actuação do gestor, de modo a v.g. procuração, trata-se de um ne-
que, em concreto, se possa averiguar gócio jurídico unilateral, porquanto
se o mandatário dispõe da suficien- subjaz-lhe uma relação de autoriza-
te liberdade de actuação para que se ção, pelo qual na esfera jurídica do
possa concluir, quando ocorrerem os procurador é inscrita a mera pos-
restantes pressupostos legais, pela sua sibilidade atuar nos limites dos po-
responsabilidade solidária a título de deres concedidos, podendo ocorrer
gestor de bens ou direitos da entida- que nunca faça uso desses poderes,
de que representa.» Assim, a aferição ou que tão pouco conheça a exis-
da existência de direção de negócios, tência e teor da procuração. Por
não pode ser executada de modo geral outro lado, havendo uma relação
e abstrato, devendo a AT, na instru- contratual de mandato subjacente
ção do respetivo PEF, proceder a uma à outorga da procuração, além dos
análise especificada dos poderes atri- poderes de representação na esfera
buídos ao gestor e/ou do seu quadro do procurador, agora mandatário, é
de atuação real e concreta, por forma gravado o dever jurídico de praticar
a qualificar a sua extensibilidade e, os atos e negócios previstos no con-
consequentemente, averiguar da sua trato. Mas, a celebração de contrato
responsabilidade pelo cumprimento de mandato (representativo ou não
da obrigação do pagamento acessório representativo) igualmente não sig-
do débito fiscal. Em segundo lugar, a nifica que o mandatário exerça os
direção de negócios haverá de tradu- deveres jurídicos a que se encontra
zir-se num conjunto de atos materiais adstrito, não desenvolvendo, de
de gestão delimitado no tempo. Isto facto, a direção de negócios do não
é, contrariamente ao entendimento residente – sem embargo dos efeitos
fixado pela AT no citado Ofício, en- advenientes do incumprimento do
tendemos que a outorga de amplos contrato de mandato (artigo 1161.º
poderes de representação voluntária CC), irrelevantes no plano da rela-
ou o mandato, associados a uma in- ção jurídica tributária. Assim, do
tervenção pontual em negócio jurí- mesmo modo que para o preenchi-
dico alheio não é consentânea com o mento da responsabilidade subsi-
conceito de direção de negócios e, por diária dos gerentes de pessoas cole-
conseguinte, com a gestão de bens ou tivas 1 se tem exigido uma gerência

de facto, e na medida que é sobre a
AT quem impende o ónus jurídico
de a provar nos termos do disposto
no artigo 74.º LGT, idêntica ordem
de raciocínio dever-se-á adotar na
interpretação do artigo 27.º, n.º 2
LGT. De acordo com o elemento
sistemático-racional, mediante o
qual na construção normativa da
LGT, se presume que o legislador
pautou-se por um pensamento
unitário, por razões de coerência
caberá à AT provar a existência da
direção de negócios de facto.
b) Secundariamente, porque a ideia
de direção de negócios não se satis-
faz com a prática de um isolado ato
de gestão, como a intervenção em
escritura pública em representação
do não residente. Parece-nos cla-
ro, quer à letra, quer ao espírito da
norma, que o conceito de direção
de negócios implica um conjunto
material de atos de gestão reite-
rados num certo lapso de tempo.
Isto é, o procurador, mandatário
ou gestor de negócios que somen-
te interveio na outorga de negócio
jurídico, por exemplo na aliena-
ção de um imóvel, por conta e no
interesse do sujeito passivo origi-
nário, não poderá considerar-se
administrador desse bem nem, por
maioria de razão, diretor de negó-
cios. Aliás, até porque aquele que
atua como procurador ou man-
datário na venda de um ativo não
possui, por regra, poderes para re-
ter parte do preço correspondente
ao imposto futuramente devido a
título de mais-valias. Não poden-
do, por imperativo da capacidade
contributiva, proporcionalidade e
segurança jurídica, ser responsa-
bilizado pela obrigação tributária
aquele que, legal e factualmente,
não tinha possibilidade de asseve-
rar que tal pagamento viesse a ser
no futuro efetuado.
FISCALIDADE
O gestor é solidariamente responsável com o gestido, o que
significa a inexistência do benefício da excussão prévia do
património deste (artigo 22.º, n.º 4 e 23.º, n.º 2 LGT).
A responsabilidade do gestor de bens ou direitos não se
subsume à solidariedade passiva prevista no artigo 21.º da LGT.
Um responsável solidário prévia, somente responde acessoria-
ou devedor solidário? mente pelo incumprimento do dever
Na estatuição do regime encontra-se de pagamento omitido pelo gestido.
um dos sistemas de responsabilidade Dito isto, pode dizer-se que, apesar
mais severos do ordenamento jurídico: de solidária, a responsabilidade do
objetivo e solidário. Objetivo, pois que gestor é subsidiária quanto à dimen-
contrariamente ao regime previsto no são temporal em que opera – pos-
artigo 24.º LGT, a efetivação da respon- teriormente ao incumprimento no
sabilidade do artigo 27.º é independen- pagamento voluntário pelo devedor
te de qualquer ação, omissão ou inten- originário.
ção do gestor. Prescinde, portanto, do
nexo de culpa funcional do gestor na Meios de reação
diminuição do património do devedor O gestor de bens ou direitos sendo
originário. Revelando-se despiciendo, notificado para pagamento do im-
em sede de oposição à execução fiscal, posto em débito, ou citado em sede
a circunstância do gestor provar (ou de processo de execução fiscal, po-
não provar) que o incumprimento da derá apresentar reclamação gracio-
obrigação fiscal do não residente não sa, impugnação do ato de liquidação
procedeu da sua culpa. e pedido de revisão nos termos do
Além da responsabilidade operar au- artigo 22.º, n.º 5 da LGT e/ou deduzir
tomaticamente, o gestor é solidaria- oposição à execução caso pretenda
mente responsável com o gestido, o alegar ilegitimidade processual (ar-
que significa a inexistência do bene- tigo 204.º, n.º 1, al. b) CPPT) por, à
fício da excussão prévia do patrimó- face dos pressupostos ao regime do
nio deste (artigo 22.º, n.º 4 e 23.º, n.º artigo 27.º da LGT, não considerar-
2 LGT). A responsabilidade do gestor -se gestor de bens ou direitos, ou,
de bens ou direitos não se subsume à ainda, por considerar que a quantia
solidariedade passiva prevista no arti- exequenda não corresponde a um
go 21.º da LGT. Esta respeita ao regime débito tributário abrangido pela sua
obrigacional supletivamente aplicável responsabilidade temporal ou obje-
às situações de pluralidade passiva ab tiva.
initio, decorrentes da corealização do
facto tributário por mais de uma pes- *Solicitador
soa, pelo qual todas são [co]devedoras Licenciado em Solicitadoria pelo IPCA
originárias do tributo, na medida que
em relação a todas elas se verifica a Notas
presunção de benefício económico. O 1
Neste sentido V. Ofício-Circulado n.º
gestor de bens ou direitos é um sujei- 60.058, de 17/04/2008 da DGSI e Ac. do
to passivo não originário que, ainda TCN, no processo n.º 00349/05.6BEBRG,
que sem o privilégio da excussão de 11/03/2010.
JULHO 2019 61
 CONSULTÓRIO
Estimativa de imposto
O apuramento do imposto IRC a pa-
gar/recuperar deve de ser contabili-
zado a 31/12/ano “n “ou em janeiro/
ano “n+1”?
A dúvida é se a 31/12/ano “n” tem de
estar espelhado o valor a pagar/re-
cuperar ou o valor estimado.
A questão colocada refere-se ao procedi-
mento contabilístico do cálculo e registo
da estimativa de imposto sobre o rendi-
mento (IRC).
No final de cada exercício económico, a
empresa deve proceder ao apuramento
da matéria coletável e cálculo do im-
posto a pagar, sendo essa estimativa
lançada (no final do ano “N”) a débito da
conta 812 - Imposto sobre o rendimento
por contrapartida do registo na respetiva
24.13 - Imposto estimado, independen-
temente da empresa ser tributada pelo
regime geral do lucro tributável ou pelo
regime simplificado.
O cálculo da estimativa de imposto efe-
tua-se da seguinte forma:
Estimativa de imposto = (Result. antes de
impostos +- Correções fiscais - Prejuízos
- Benefícios fiscais) x Taxa de IRC + Der-
rama - Deduções à coleta + Tributações
autónomas + Resultado da liquidação
(artigo 92.º do CIRC).
Ou
Estimativa de imposto = Imposto liqui-
dado + PEC (utilizado) + Derrama + Tri-
butação autónoma + (+juros compensa-
tórios) + Resultado da liquidação (artigo
92.º do CIRC).
Contudo, nem sempre essa estimativa do
imposto a pagar se revela correta. Exis-
tindo diferença entre a estimativa do IRC
e o pagamento efetivo, no momento do
pagamento (ano “N+1”) essa diferença
de IRC reconhecida nos resultados do
período corrente (no momento do pa-
gamento - autoliquidação de IRC), aten-
dendo ao tratamento prospetivo para as
62 CONTABILISTA 232
alterações de estimativas contabilísticas
previstas na NCRF 4.
Pelo que, verificando-se que o imposto li-
quidado é superior ao imposto estimado,
a diferença é lançada a débito da conta
6885 - Insuficiência da estimativa para
impostos, sendo o movimento a crédito
feito na conta 24.14 - Imposto liquidado
após se ter efetuado a transferência do
saldo credor da conta 24.13 - Imposto
estimado para a conta a liquidar.
Se o imposto liquidado é inferior ao im-
posto estimado, estaremos perante um
desagravamento do resultado contabilís-
tico que deve ser registado na conta 7882
- Excesso da estimativa para impostos,
por débito da conta 24.13 - Imposto es-
timado. O valor correspondente ao IRC
liquidado será transferido da conta 24.13
para a conta 24.14.
De notar que as diferenças de estimati-
va devem ser corrigidas no quadro 07 da
modelo 22. Assim, o valor da insuficiên-
cia de estimativa deverá ser acrescido no
campo 724, o valor do excesso de esti-
mativa deve ser deduzido no campo 765
da declaração modelo 22.
No regime simplificado, e uma vez que
não há preenchimento do quadro 07, te-
mos:
Estimativa de imposto = Matéria coletá-
vel x taxa de IRC - Deduções à coleta +
Tributações autónomas, sendo que:
Matéria coletável = somatório dos vários
rendimentos obtidos x coeficiente aplicá-
vel a cada um desse tipo de rendimentos
(com o limite mínimo de 60 por cento da
RMMG, atendendo, todavia, ao n.º 5 do
artigo 86.º-B do CIRC).
O facto de a sociedade estar enquadra-
da no regime simplificado, apurando-se a
matéria coletável através de coeficientes,
tal não implica qualquer procedimento
distinto a nível do registo contabilístico
de estimativa do imposto ou do apura-
mento do IRC a realizar na contabilidade
aquando da entrega da declaração mo-
delo 22.
Resposta de junho de 2019
Conta caixa
O sócio-gerente de uma empresa
unipessoal paga em dinheiro a um
fornecedor de serviços (subcontra-
tos). No entanto, esse dinheiro não
passa pelo banco. Sendo o valor de
cada fatura inferior a três mil euros,
segundo a lei, pode ser pago em
dinheiro e não precisa passar pelo
banco.
Utilizando a conta caixa, se essa não
tem lá esse valor (o que pressupõe
um caixa negativo), logo, pela lógica,
é pago pelo sócio-gerente (25).
Deve lançar-se noutra conta e so-
licitar que façam declarações para
juntar a esses lançamentos? Haverá
mais algum procedimento a ser efe-
tuado?
A questão colocada refere-se ao pa-
gamento em numerário de faturas. A
Lei n.º 92/2017 que aditou o artigo
63.º-E à Lei Geral Tributária, proí-
be pagamentos ou recebimentos em
numerário superior a três mil euros,
abrangendo agora qualquer paga-
mento ou recebimento ainda que não
seja efetuado no âmbito de uma ope-
ração comercial.
Para os sujeitos passivos de imposto
(IRC e IRS), com contabilidade orga-
nizada, o limite de pagamento em nu-
merário de faturas são os mil euros,
conforme previsto no n.º 2 do artigo
63.º-E da LGT, conjugado com o n.º 1
do artigo 63.º-C da LGT.
Em termos da documentação utiliza-
da de suporte a estes movimentos,
lembramos que o CIRC, no seu artigo
123.º, refere que todos os lançamen-
tos devem estar apoiados em docu-
mentos justificativos devidamente
datados.
Se a empresa tem a prática de fazer
pagamentos a fornecedores, de mon-
tantes relevantes, através de caixa,

então deve ser feita também uma ri-
gorosa reconciliação entre os docu-
mentos que titulam essas despesas e
os respetivos pagamentos, nomea-
damente através da confrontação
com os recibos.
A conta 26 - Sócios deverá registar
as operações relativas às relações
com os titulares de capital, não se
incluindo nesta conta as transações
correntes, de investimentos ou apli-
cações financeiras. Nesta conta se-
rão registados os empréstimos, os
lucros atribuídos ou adiantados e
outras operações semelhantes rela-
tivas aos sócios da empresa.
Uma sociedade é um ente jurídico
distinto dos sócios que a criaram,
tendo património afeto ao exercí-
cio da sua atividade, que não pode-
rá ser confundido com o património
pessoal que pertence aos sócios. As
operações realizadas pela socieda-
de, ainda que muitas vezes postas
em prática pelos próprios sócios, de-
verão ser devidamente identificadas
pela sociedade. Isto é, os pagamen-
tos de dívidas da sociedade deverão
ser por ela efetuados e registados
nas contas da mesma.
Em termos fiscais, existe também
a obrigação de serem efetuados,
através de transferência bancária,
cheque nominativo ou débito direto,
todos os movimentos relativos aos
sócios, bem como já anteriormente
referido, todos os pagamentos rela-
tivos a faturas ou documentos equi-
valentes da atividade da empresa de
valor superior a mil euros, conforme
o artigo 63.º-C da LGT.
No caso concreto, entendemos que
deve informar o gerente da socieda-
de em causa, do limite de pagamento
em numerário de faturas, bem como
dos documentos requeridos para ti-
tular a operação das mesmas.
Resposta de junho de 2019
IRS - mínimo
de existência
Determinado contribuinte é cidadão
nacional, divorciado, vive sozinho
sem dependentes e sem ascendentes
e é residente fiscal em território na-
cional durante todo o ano.
Aufere exclusivamente uma pensão
paga pelo Centro Nacional de Pen-
sões da Segurança Social no valor
ilíquido mensal de 703,99 euros por
14 meses (9 855,86 euros no total),
sendo que é retido na fonte, a título
de IRS, 4,4 por cento no valor men-
sal, o que corresponde a 30 euros e a
um total anual de 420 euros.
Pretende saber-se se o contribuin-
te em questão está abrangido pela
aplicação dos números 1 e 4 do arti-
go 70.º do Código de IRS, sendo que,
se o mínimo de existência, conforme
o número 1, é de 1,5 x 14 x 435,76
(valor do IAS para 2019) = 9 150,96
euros e a aplicação das taxas es-
tabelecidas no artigo 68.º dá como
resultado 834,02 euros, após a de-
dução específica de 4 104 euros e
aplicando ao remanescente 5 751,86
euros a primeira taxa de 14,5 por
cento, verifica-se que o resultado
desta aplicação é um valor líquido de
imposto de 9 021,84 euros (9 855,86
euros - 834,02 euros) que é inferior
em 129,12 euros ao mínimo de exis-
tência do Código de IRS.
Partindo do pressuposto que o des-
crito no parágrafo anterior está cor-
reto, o contribuinte em questão será
reembolsado, aquando da liquidação
do IRS por parte da AT, da totalidade
do valor das retenções na fonte so-
bre a pensão (420 euros)?
Questiona-nos acerca da aplicação do
artigo 70.º do Código do IRS que diz res-
peito ao mínimo de existência.
O artigo 70.º do Código do IRS sob a
CONSULTÓRIO
epígrafe «Mínimo de existência» visa
evitar a tributação de sujeitos passivos
que não tenham uma verdadeira capa-
cidade contributiva, em face dos rendi-
mentos reduzidos que auferem.
Com as alterações introduzidas pela
Lei n.º 114/2017, de 29 de dezembro -
Lei do Orçamento do Estado para 2018
- foi alterado o mínimo de existência
(que era em 2017 de 8 500 euros)
passando a estar indexado ao valor
do indexante de apoios sociais (IAS),
logo, o mínimo de existência estabe-
lecido para 2018 é de 9 006,90 (1,5 x
14 x 428,90 - Portaria n.º 21/2018, de
18 de janeiro). Também se procedeu
ao alargamento da sua aplicação aos
rendimentos decorrentes do exercício
de uma atividade profissional indepen-
dente, constante da lista de atividades
prevista no artigo 151.º do Código do
IRS (com exceção das «Outras ativi-
dades exclusivamente de prestação de
serviços - Outros prestadores de ser-
viços»).
A nova redação entrou em vigor a 1 de
janeiro de 2018 pelo que só será apli-
cável aos rendimentos obtidos no ano
de 2018 - declaração de rendimentos
a entregar em 2019. A declaração de
rendimentos modelo 3 será normal-
mente entregue, sendo que a aplicação
do mínimo de existência será realizada
pela Autoridade Tributária aquando do
processamento da liquidação de IRS.
Dispõe atualmente o n.º 1 do artigo
70.º do Código do IRS: «(...) da apli-
cação das taxas estabelecidas no ar-
tigo 68.º não pode resultar, para os
titulares de rendimentos predominan-
temente originados em trabalho de-
pendente, em atividades previstas na
tabela aprovada no anexo à Portaria
n.º 1011/2001, de 21 de agosto, com
exceção do código 15, ou em pensões,
a disponibilidade de um rendimento lí-
quido de imposto inferior a 1,5 x 14 x
(valor do IAS) (...)».
O mínimo de existência para o ano de
JULHO 2019 63
CONSULTÓRIO
2019 será de 9 150,96 euros, pois o IAS
fixado para este ano, pela Portaria n.º
24/2019, de 17 de janeiro, é de 435,76
euros (435,76 x 1,5 x 14 = 9.150,96).
Não resulta claro dos dados da ques-
tão se a dúvida se coloca perante a
declaração de rendimentos de 2018 (a
entregar em 2019), situação em que
o mínimo de existência tem por refe-
rência o IAS de 2018 (428,90 euros);
ou se, a dúvida se coloca perante os
rendimentos de 2019 (declaração de
rendimentos a entregar em 2020), cujo
IAS de referência será de 435,76 euros.
Admitindo este último cenário (ren-
dimentos de 2019/IRS a entregar em
2020), para efeitos de aplicação do
mínimo de existência, considerando
um rendimento coletável de 5 751,86
euros (9 855,86 – 4 104), por aplica-
ção das taxas gerais previstas no arti-
go 68.º do Código do IRS, o imposto a
suportar ascende a 834,02 euros (isto
é, 5 751,86 x 14,5%). Se deduzirmos o
imposto ao rendimento, a diferença é
de 9 021,84 euros. Dado que o mínimo
de existência está fixado, para 2019,
em 9 150,90 euros, o imposto tem que
ser reduzido, podendo apenas atingir a
quantia de 704,90 euros.
De referir que nestes cálculos estamos
a tratar de imposto liquidado (coleta
ilíquida). As retenções da fonte que
foram efetuadas funcionam como pa-
gamento por conta do imposto devido
a final. Sendo que, para apuramento
da coleta líquida, após apuramento do
imposto liquidado serão deduzidas as
deduções à coleta. Só após este cál-
culo será feito o encontro de contas,
entrando nesta fase as retenções na
fonte.
Assim, no caso em análise, uma even-
tual devolução do imposto retido esta-
rá dependente das deduções à coleta
de que o sujeito passivo possa benefi-
ciar.
Resposta de junho de 2019
64 CONTABILISTA 232
IVA - Direito à dedução
Determinada empresa pretende ad-
quirir uma viatura híbrida plug-in,
cujo valor de aquisição ronda os 60
mil euros. Em termos de dedução de
IVA poderá haver lugar à dedução
de 100 por cento do IVA do valor da
aquisição? E em relação às despesas
de reparação, combustível, etc., é
aceite fiscalmente a dedução do IVA
destas despesas?
As questões colocadas referem-se à
dedutibilidade de IVA referente à aqui-
sição, despesas de manutenção e con-
servação e gastos com combustíveis,
referentes à aquisição e utilização de
um veículo automóvel, ligeiro de pas-
sageiros híbrida plug-in, com valor de
aquisição de aproximadamente 60 mil
euros.
As viaturas comumente designadas hí-
bridas plug-in combinam um motor de
combustão e um motor elétrico.
Direito à dedução - aquisição, despesas
de manutenção e conservação
De harmonia com o artigo 19.º do Có-
digo do IVA, só confere direito a dedu-
ção o imposto mencionado em faturas
passadas em forma legal, em nome e
na posse do sujeito passivo, conside-
rando-se passados em forma legal, os
que contenham os elementos mencio-
nados no n.º 5 do artigo 36.º e n.º 2 do
artigo 40.º (fatura simplificada).
Por outro lado, determina o n.º 1 do
artigo 20.º do Código do IVA, que só
pode deduzir-se o imposto que tenha
incidido sobre bens ou serviços adqui-
ridos, importados ou utilizados pelo
sujeito passivo para a realização das
operações de transmissões de bens e
prestações de serviços sujeitas a im-
posto e dele não isentas, nos termos da
alínea a) ou nas operações elencadas
na alínea b).
De acordo com a alínea a) do n.º 1 do
artigo 21.º do Código do IVA, é excluído
do direito à dedução o IVA suportado
com a aquisição, fabrico ou importa-
ção, locação, utilização, transformação
e reparação de viaturas de turismo,
barcos de recreio, helicópteros, aviões,
motos e motociclos, sempre que a ex-
ploração destes bens não constitua
objeto da atividade do sujeito passivo
- alínea a) do n.º 2 do artigo 21.º do
Código do IVA.
Considera-se «viatura de turismo»
para efeitos de IVA, qualquer veículo
automóvel, com inclusão do reboque
que, pelo seu tipo de construção e equi-
pamento, não seja destinado unica-
mente ao transporte de mercadorias ou
a uma utilização com caráter agrícola,
comercial ou industrial ou que, sendo
misto ou de transporte de passageiros,
não tenha mais de nove lugares, com
inclusão do condutor - alínea a) do n.º 1
do artigo 21.º do Código do IVA.
Contudo, na sequência da reforma da
chamada fiscalidade verde, a Lei n.º 82-
D/2014, de 31 de dezembro, procedeu à
alteração das normas fiscais ambientais
nos setores da energia e emissões, trans-
portes, água, resíduos, ordenamento do
território, florestas e biodiversidade, al-
terando, para o efeito, o Código do IVA,
aditando a alínea f) do n.º 2 do artigo
21.º.
«2 - Não se verifica, contudo, a exclusão
do direito à dedução nos seguintes casos:
(...)
f) Despesas relativas à aquisição, fabrico
ou importação, à locação e à transforma-
ção em viaturas elétricas ou híbridas plu-
g-in, de viaturas ligeiras de passageiros
ou mistas elétricas ou híbridas plug-in,
quando consideradas viaturas de turis-
mo, cujo custo de aquisição não exceda
o definido na Portaria a que se refere a
alínea e) do n.º 1 do artigo 34.º do Códi-
go do IRC (Depreciações e amortizações
não dedutíveis para efeitos fiscais, n.r.).»
Tal norma contempla a possibilidade

de exercer o direito à dedução do IVA
contido nas despesas relativas à aquisi-
ção, fabrico ou importação, à locação e
à transformação em viaturas elétricas
ou híbridas plug-in de viaturas ligeiras
de passageiros ou mistas elétricas ou
híbridas plug-in, quando consideradas
viaturas de turismo, cujo custo de aqui-
sição não exceda o definido na Portaria
n.º 467/2010, de 7 de julho, portaria esta,
referida na alínea e) do n.º 1 do artigo
34.º do Código do IRC.
Nesse sentido, a Portaria n.º 467/2010,
de 7 de julho, é clara na delimitação dos
limites para o custo de aquisição ou va-
lor de reavaliação das viaturas ligeiras
de passageiros ou mistas para efeitos da
alínea e) do n.º 1 do artigo 34.º do Código
do IRC. Assim:
Viaturas adquiridas nos períodos de tri-
butação que se iniciem em 01/01/2015
ou após essa data:
62 500 euros - Veículos movidos exclusi-
vamente a energia elétrica;
50 000 euros - Veículos híbridos plug-in
37 500 euros - Veículos movidos a gases
de petróleo liquefeito (GPL) ou gás natu-
ral veicular (GNV)
25 000 euros - Restantes viaturas.
Perante o exposto, o sujeito passivo, não
poderá exercer o direito à dedução do
IVA, suportado na aquisição, uma vez
que, o valor de aquisição é superior ao
limite estabelecido para os veículos híbri-
dos plug-in.
Relativamente às despesas de manuten-
ção e conservação da referida viatura,
uma vez que, se trata de uma viatura li-
geira de passageiros, estão excluídas do
direito à dedução pelo disposto na a) do
número 1 do artigo 21.º do CIVA.
Direito à dedução - combustíveis
Em relação ao direito à dedução dos
combustíveis, utilizados na viatura, apli-
ca-se a regra estabelecida na alínea b) do
número 1 do artigo 21.º:
«(...)
b) Despesas respeitantes a combustíveis
normalmente utilizáveis em viaturas au-
tomóveis, com exceção das aquisições de
gasóleo, de gases de petróleo liquefeitos
(GPL), gás natural e biocombustíveis, cujo
imposto será dedutível na proporção de
50 por cento, a menos que se trate dos
bens a seguir indicados, caso em que o
imposto relativo aos consumos de gasó-
leo, GPL, gás natural e biocombustíveis é
totalmente dedutível:
i) Veículos pesados de passageiros;
ii) Veículos licenciados para transportes
públicos, excetuando-se os rent-a-car;
iii) Máquinas consumidoras de gasóleo,
GPL, gás natural ou biocombustíveis, que
não sejam veículos matriculados;
iv) Tratores com emprego exclusivo ou
predominante na realização de opera-
ções culturais inerentes à atividade agrí-
cola;
v) Veículos de transporte de mercadorias
com peso superior a 3 500 kg. (...).»
Neste sentido, referimos que, relativa-
mente ao combustível utilizado no veí-
culo, aplica-se a regra estabelecida na
alínea b) do n.º 1 do artigo 21.º, ou seja,
o IVA suportado nas aquisições de gaso-
lina não é, em caso algum dedutível, e o
IVA suportado na aquisição de gasóleo,
GPL, gás natural e biocombustíveis são
dedutíveis apenas em 50 por cento.
Neste sentido, reforçamos que o IVA
referente à aquisição de gasolina não
é passível de dedução por força da ex-
clusão prevista na alínea b), do n.º 1, do
artigo 21.º do CIVA, mesmo que tal aqui-
sição se destine à utilização nos veículos
bifuel.
Tributação autónoma
Não sendo um tema questionado, consi-
deramos útil, no entanto, enquadrar as
viaturas híbridas plug-in relativamente à
tributação autónoma. Com a Lei da Re-
forma da Fiscalidade Verde, aditaram-se
dois novos números ao artigo 88.º do
CIRC, nos quais se preveem taxas de
tributação autónoma mais baixas apli-
cáveis a encargos relativos a viaturas
CONSULTÓRIO
ligeiras de passageiros híbridas plug-in e
ainda a viaturas ligeiras de passageiros
movidas a GPL (gás de petróleo liquefei-
to) ou GNV (gás natural veicular).
A estes veículos ligeiros, as taxas aplicá-
veis variam consoante o escalão onde se
insere o custo de aquisição da viatura,
mantendo-se a existência dos três esca-
lões definidos para as viaturas referidas
no n.º 3 do artigo 88.º do CIRC:
«(...) 3 - São tributados autonomamen-
te os encargos efetuados ou suportados
por sujeitos passivos que não beneficie
isenções subjetivas e que exerçam, a
título principal, atividade de natureza
comercial, industrial ou agrícola, rela-
cionados com viaturas ligeiras de passa-
geiros, viaturas ligeiras de mercadorias
referidas na alínea b) do n.º 1 do artigo
7.º do Código do Imposto sobre Veículos,
motos ou motociclos, excluindo os veí-
culos movidos exclusivamente a energia
elétrica, às seguintes taxas:
a) 10 por cento no caso de viaturas com
um custo de aquisição inferior a 25 000
euros;
b) 27,5 por cento no caso de viaturas
com um custo de aquisição igual ou su-
perior a 25 000 e inferior a 35 000 euros;
c) 35 por cento no caso de viaturas com
um custo de aquisição igual ou superior
a 35 000 euros (...).»
No caso de viaturas ligeiras de passa-
geiros híbridas plug-in, as taxas referidas
nas alíneas a), b) e c) do n.º 3 do artigo
88.º do CIRC são, respetivamente, de 5,
10 e 17,5 por cento (para entidades que
não registem prejuízo fiscal) e respeti-
vamente 15, 20 e 27,5 por cento (para
entidades que registem prejuízo fiscal).
Só são consideradas como viaturas hí-
bridas plug-in, as viaturas com dois mo-
tores (um motor a gasolina ou gasóleo
e um motor elétrico) mas cujo carrega-
mento do motor elétrico (também) possa
ser efetuado por ligação através de ficha
à corrente elétrica.
Resposta de junho de 2019
JULHO 2019 65
CONSULTÓRIO
SAF-T (PT)
Na contabilização de faturas de
clientes, consumidores finais, o re-
gisto das mesmas tem que ser agru-
pado diariamente ou pode ser agru-
pado mensalmente?
As questões colocadas referem-se
com as obrigações relacionadas com
o SAF-T relativo à contabilidade.
Há a referir, desde logo, que as obri-
gações referidas não são novas, de-
correndo dos códigos fiscais e das
notas técnicas da estrutura de dados
do SAF-T.
Em termos fiscais, refere o artigo
17.º do Código do IRC (CIRC), que
a contabilidade deve estar organi-
zada de acordo com a normalização
contabilística, de modo a permitir o
apuramento do lucro tributável, sen-
do que este apuramento do lucro tri-
butável irá ter como base os elemen-
tos resultantes dessa contabilidade,
eventualmente corrigidos pelas dis-
posições do CIRC.
Esses elementos resultantes da con-
tabilidade têm origem nos registos
contabilísticos, que devem ser apoia-
dos em documentos justificativos,
datados e suscetíveis de serem apre-
sentados sempre que necessário,
conforme as regras estabelecidas no
n.º 2 do artigo 123.º do Código do
IRC (CIRC).
Em termos de organização contabi-
lística, pode cada empresa efetuar a
distinção dos vários registos conta-
bilísticos através da divisão em diá-
rios de operações por vários tipos de
naturezas, como por exemplo, diário
de faturação, diário de bancos, diá-
rio de compras, diário de caixa, diá-
rio de operações diversas ou outros.
Nesses diários ou, em alternativa,
num diário geral, se não tiver optado
pela criação de vários diários, de-
66 CONTABILISTA 232
vem registar-se todas as operações
de natureza contabilística, de acordo
com as regras mencionadas no n.º 2
do artigo 123.º do CIRC.
Nos diários devem ser registadas
todas as operações, de uma forma
cronológica, podendo ser atribuí-
da uma numeração sequencial, que
deve constar do registo informático
no programa de contabilidade e no
próprio documento justificativo do
movimento contabilístico.
O objetivo desta numeração sequen-
cial é a identificação clara de todos
os registos contabilísticos efetuados
e permitir um acesso mais rápido e
fácil à obtenção da informação e da
busca do respetivo documento justi-
ficativo.
O registo contabilístico das faturas
de clientes e fornecedores e outros
documentos relevantes fiscalmente,
no respetivo diário, terá que ter uma
sequência cronológica, mas essa se-
quência pode ser meramente numa
base mensal (e não diária). Para as
faturas de fornecedores, a sequência
cronológica é efetuada em função da
data de receção dos documentos, e
não necessariamente em função da
data de emissão dessas faturas.
Cada documento comercial deve
corresponder a um movimento úni-
co. No caso de lhe serem emitidas
um grande número de faturas de
fornecedores ou emitir uma grande
quantidade de faturas a clientes,
este procedimento pode apenas ser
possível mediante a integração auto-
mática das faturas emitidas através
de programas informáticos de fatu-
ração no programa informático de
contabilidade, não sendo praticável
em tempo útil o registo contabilísti-
co manual das faturas.
Esta integração pode ser efetua-
da mediante a extração do fichei-
ro SAF-T do programa informático
de faturação que será integrado no
programa informático da contabili-
dade. No caso de faturas emitidas
por fornecedores, pode recorrer-se
ao ficheiro obtido do Portal E-fatura
que contem as faturas emitidas e co-
municadas por cada fornecedor.
Importa referir que esta obrigação
apenas se aplica a faturas emitidas
pela empresa que devam ser incluí-
das no Anexo O da IES (mapa recapi-
tulativo de clientes).
O mesmo procedimento deverá ser
aplicado às faturas emitidas pelos
fornecedores, sendo a referida obri-
gação apenas aplicada às faturas
emitidas a fornecedores que devam
constar do anexo P da IES.
Apenas ficam excluídas desta obri-
gação as transações com bens e ser-
viços previstas nas alíneas b), c), d)
e e) do artigo 21.º do CIVA, porque
excluídas de constar nos anexos O
e P da IES, conforme notas técnicas

dos campos 3.4.3.9 e 3.4.3.10 cons-
tantes na estrutura de dados do fi-
cheiro SAF-T, nomeadamente faturas
de aquisição de fornecimento de re-
feições combustíveis, deslocações e
estadas.
Para esta situação é possível o regis-
to desses encargos pelo agregado do
montante total das faturas, não se
efetuando qualquer referencia a for-
necedor nesse registo contabilístico.
Assim, para qualquer outro tipo de
despesa, vendas ou serviços presta-
dos em que existe o direito à dedu-
ção de IVA ou IVA liquidado, efetua-
-se o registo fatura a fatura sempre
que sejam incluídas nos anexos O e P
da IES, independentemente do mon-
tante, e mesmo que se aproveite de
qualquer dispensa da sua entrega,
conforme previsto no artigo 29.º do
CIVA com a redação dada pelo De-
creto-Lei n.º 28/2019, de 15 de fe-
vereiro.
Resposta de junho de 2019
IRC - Benefícios fiscais
No quadro 78-A1 da declaração mo-
delo 22 deve identificar-se o projeto
de investimento, que neste caso é o
Portugal 2020, mas no campo 759
pede o valor atualizado com base
na taxa publicada pela Comissão
Europeia, que para o ano de 2018 é
negativa em 0,18. Neste caso apli-
ca-se a taxa negativa? Nos quadros
seguintes o benefício financeiro será
a ausência de juros, uma vez que é
um financiamento a taxa zero (0).
Para calcular este benefício a taxa é
negativa também?
Relativamente à primeira questão,
refira-se que a dúvida diz respeito
ao âmbito dos benefícios fiscais ao
investimento das empresas, nomea-
damente o regime fiscal de apoio ao
investimento (RFAI) quando utilizado
em cumulação e utilização simultâ-
nea para o mesmo investimento de
CONSULTÓRIO
um apoio financeiro no âmbito do
quadro comunitário de apoio Portu-
gal 2020.
Nos termos do n.º 6 do artigo 23.º do
Código Fiscal do Investimento (reda-
ção do Decreto-Lei n.º 162/2014,
de 31 de outubro), o regime fiscal
de apoio ao investimento (RFAI) é
cumulável com auxílios de Estado
para o mesmo investimento, nomea-
damente apoios financeiros, desde, e
na medida em que, não sejam ultra-
passados os limites máximos aplicá-
veis aos auxílios com finalidade re-
gional em vigor na região na qual o
investimento seja efetuado.
As orientações da União Europeia
em matéria de auxílios estatais com
finalidade regional para 2014-2020
estão publicadas no Jornal Ofi-
cial da União Europeia n.º C 209/1,
de 27 de julho de 2013 (OAR) e no
Regulamento (UE) n.º 651/2014, de
16 de junho de 2014, que aprovou
o regulamento geral de isenção por
categoria (RGIC), publicado no Jor-
JULHO 2019 67
CONSULTÓRIO
nal Oficial da União Europeia n.º C
187/1, de 26 de junho de 2014.
A Portaria n.º 297/2015, de 21 de
setembro, estabelece a regulamenta-
ção para a aplicação dos benefícios
fiscais ao investimento do RFAI, tal
como decorre do n.º 7 do artigo 23.º
do CFI.
O benefício fiscal do RFAI pode ser
determinado em função de percen-
tagem dos investimentos relevantes,
dependendo da região onde é efe-
tuado o investimento, num montante
até cinco milhões de euros, e de mais
dez por cento sobre o restante inves-
timento que exceda esse montante,
conforme o artigo 43.º do CFI.
Essas percentagens limite podem ser
majoradas em 10 pontos percentuais
para as médias empresas e em 20
pontos percentuais para as micro e
pequenas empresas tal como defini-
das na recomendação n.º 2003/361/
CE, da Comissão, de 6 de maio de
2003, exceto quanto a projetos de
investimento cujas aplicações rele-
vantes excedam 50 milhões de euros.
No caso de projetos de investimento
cujas aplicações relevantes excedam
50 milhões de euros, independente-
mente da dimensão da empresa, o
montante máximo de benefício fiscal
possível está limitado a 50 milhões
de euros, adicionado de 50 por cen-
to sobre o investimento entre 50
milhões e 100 milhões de euros. O
eventual excedente a 100 milhões
não é considerado para o benefício
fiscal.
Tal como referido, o RFAI é cumulá-
vel com outros apoios de Estado com
finalidade regional, nomeadamente
incentivos financeiros, como os sub-
sídios não reembolsáveis e emprésti-
mos sem juros ou com juros reduzi-
dos de medidas de apoio financeiro
do Portugal 2020, para o mesmo in-
vestimento.
Todavia, quando assim seja, os limi-
68 CONTABILISTA 232
tes referidos para a determinação
do incentivo máximo para o bene-
fício fiscal do RFAI devem também
atender ao montante desses apoios
financeiros, conforme previsto nos
n.ºs 5 e 6 ambos do artigo 23.º do
CFI.
Os limites máximos aplicáveis aos
auxílios estatais com finalidade re-
gional previstos no n.º 5 do artigo
23.º do Código Fiscal do Investimen-
to devem atender às condições de-
terminadas no artigo 4.º da Portaria
n.º 297/2015, nomeadamente:
- Qualquer investimento inicial ini-
ciado pelo mesmo beneficiário, in-
cluindo qualquer empresa do mesmo
grupo, num período de três anos a
contar da data de início dos traba-
lhos de um outro investimento relati-
vamente ao qual tenham sido conce-
didos benefícios fiscais, ou qualquer
outro auxílio de Estado com finali-
dade regional na mesma região de
nível 3 da nomenclatura das unida-
des territoriais para fins estatísticos
(NUTS), deve ser considerado parte
de um projeto de investimento único;
- O valor dos benefícios fiscais con-
cedidos de dedução à coleta de IRC
(e isenção ou redução do IMI) nos
termos do RFAI deve corresponder
ao seu valor atualizado reportado
ao termo do período de tributação
em que sejam realizadas as aplica-
ções relevantes (e ao termo do ano
da aquisição ou construção do imó-
vel, para efeitos do benefício fiscal
do IMI);
- O valor atualizado dos benefícios
fiscais deve ser determinado com
base nas taxas de atualização apli-
cáveis nos vários momentos em que
os benefícios fiscais são utilizados,
tal como estabelecido na Comunica-
ção da Comissão sobre a revisão do
método de fixação das taxas de refe-
rência e de atualização publicada no
Jornal Oficial da União Europeia, n.º
C 14, de 19 de janeiro de 2008.
As taxas de referência podem ser
consultadas através do sítio de in-
ternet da Direção-Geral da Concor-
rência da União Europeia:
http://ec.europa.eu/competition/
state_aid/legislation/reference_ra-
tes.html
Se forem excedidos estes limites má-
ximos, nomeadamente pela utiliza-
ção simultânea do RFAI e da obten-
ção de subsídios e empréstimos sem
juros ou com taxas de juro reduzidas
como medida de apoio no âmbito do
Portugal 2020, o correspondente ex-
cesso é adicionado ao IRC liquidado
para efeitos de apuramento do im-
posto a pagar ou a recuperar, con-
forme determina o n.º 4 do artigo 4.º
da Portaria n.º 297/2015.
No limite e, em termos práticos, se
os benefícios de Estado das medidas
de apoio financeiro excederem des-
de logo o referido limite máximo de
apoios de finalidade regional, a em-
presa já não beneficia da dedução
fiscal de IRC referente ao RFAI.
Quanto às taxas de referência esta-
rem negativas neste momento, efe-
tivamente trata-se duma questão
pertinente.
Em nossa opinião, parece não fazer
sentido efetuar a atualização dos
montantes de benefícios fiscais usu-
fruídos ou das próprias aplicações
relevantes, com a utilização de taxa
de referência negativa. Qual a utili-
dade dessa informação para efeitos
do controlo dos limites máximos de
auxílios estatais com finalidade re-
gional previstos no artigo 43.º do
CFI?
Não temos conhecimento da exis-
tência de entendimento sobre esta
matéria por parte da Autoridade
Tributária, ou mesmo das entidades
gestores da atribuição de subsídios
no âmbito do Portugal 2020.
Sugerimos que solicite esclarecimen-

tos sobre os cálculos atualizados
com taxas de referência negativas
para os benefícios financeiros (do
Portugal 2020) à entidade gestora
respetiva, e solicite esclarecimentos
à AT sobre a atualização com essas
taxas negativas relativamente aos
benefícios fiscais usufruídos.
Sobre a segunda questão, para de-
terminar se um auxílio é ou não
compatível com o Mercado Comum
é necessário tomar em considera-
ção a intensidade do auxílio e, por
conseguinte, o montante do auxílio
expresso em equivalente-subvenção.
Para efeitos do RFAI, essa intensida-
de do auxílio corresponde aos limites
máximos de auxílios estatais de fi-
nalidade regional previstos no artigo
43.º do CFI.
No cálculo do equivalente-subvenção
dos auxílios a desembolsar em diver-
sas prestações deve ser aplicada a
taxa de juro prevalecente no mer-
cado aquando da concessão do au-
xílio. Para assegurar uma aplicação
uniforme, transparente e simples das
regras em matéria de auxílios esta-
tais, é conveniente considerar que as
taxas do mercado aplicáveis são as
taxas de referência. Estas taxas re-
feridas acima, são as publicadas pela
Comissão Europeia.
Os níveis de auxílio são definidos
como uma percentagem dos custos
elegíveis. Assim, para determinar se
um auxílio é ou não enquadrado nos
auxílios regionais é necessário to-
mar em consideração a intensidade
do auxílio a atribuir. A unidade de
medida comum da intensidade do
auxílio é o equivalente-subvenção
bruto, que permite comparar a in-
tensidade dos auxílios concedidos de
diferentes formas.
O equivalente subvenção bruto (ESB)
é o valor que efetivamente corres-
ponde a uma vantagem financeira
atribuída pelo Estado (independen-
temente do organismo que atribui a
ajuda).
No caso de se tratar de um incenti-
vo a fundo perdido o corresponden-
te equivalente de subvenção bruto é
igual ao valor do incentivo, uma vez
que a totalidade do apoio corres-
ponde de facto a uma vantagem fi-
nanceira que o Estado proporciona à
empresa.
No caso de se tratar de um subsídio
reembolsável ou de uma bonificação
de juros, o respetivo equivalente de
CONSULTÓRIO
subvenção tem de ser calculado uma
vez que o valor do reembolso não
confere uma vantagem para a em-
presa encontrando-se esta vantagem
apenas no valor dos juros que a em-
presa fica dispensada de pagar.
No caso de um empréstimo em con-
dições favoráveis (poer exemplo, sub-
sídio reembolsável), o ESB consistirá
na diferença, para um determinado
ano, entre os juros de referência cal-
culados à taxa de referência em vigor
no momento da concessão e os juros
efetivamente pagos, ou seja constitui
o apuramento do elemento de auxí-
lio enquanto vantagem conferida ao
beneficiário que este não conseguiria
obter em condições normais de mer-
cado.
No caso em concreto, os auxílios de
Estado obtidos correspondem a um
subsídio reembolsável e uma parte
do subsídio reembolsável que pode
tornar-se não reembolsável se forem
cumpridos determinados objetivos
contratualizados.
Para os subsídios reembolsáveis, que
são normalmente empréstimos obti-
dos a taxas de juro mais favoráveis
ou sem taxa de juro (ou período de
carência), esses auxílios de Estado
JULHO 2019 69
CONSULTÓRIO
devem ser determinados pela diferen-
ça entre os juros pagos (de valor re-
duzido ou zero) e aqueles que seriam
devidos por aplicação das referidas
taxas de referência.
Este cálculo deve ser efetuado du-
rante o período contratualizado para
a atribuição do subsídio. Pelo que
se esse empréstimo (ou parte dele)
for transformado em subsídio não
reembolsável, então, a totalidade do
montante do valor atribuído como
subsídio não reembolsável, deve ser
considerado para como auxílio de
Estado para efeitos do controlo dos
limites máximos definidos no artigo
43.º do CFI.
Quando se excedem os limites máxi-
mos de apoio dos incentivos de finali-
dade regional, por utilização cumula-
tiva dos apoios financeiros (subsídios
reembolsáveis com taxas de juro
nulas ou reduzidas ou subsídios não
reembolsáveis) com o RFAI, esse mon-
tante em excesso deve ser adiciona-
do ao IRC liquidado para efeitos de
apuramento do imposto a pagar ou
a recuperar, a ser incluído no campo
372 (reposição de benefícios fiscais)
do quadro 10 do rosto da declaração
modelo 22.
Tal como referido acima, no limite, se
os benefícios de Estado das medidas
de apoio financeiro excederem des-
de logo o referido limite máximo de
apoios de finalidade regional, a em-
presa já não pode beneficiar da de-
dução fiscal de IRC referente ao RFAI.
Para efeitos desse controlo da utiliza-
ção do benefício fiscal do RFAI, face
à dedução à coleta de IRC e aos li-
mites máximos dos auxílios de finali-
dade regional, devem ser preenchidos
os subquadros 074 e 078 do quadro
07 do anexo D da declaração modelo
22, conforme as instruções da decla-
ração modelo 22 para os respetivos
campos.
Os cálculos dos apoios financeiros,
70 CONTABILISTA 232
nomeadamente relativos a subsídios
reembolsáveis (apoios por taxas de
juro reduzidas ou nulas) (ESB), são
efetuados pelas entidades gestoras
da atribuição desses apoios, pelo que
se sugere que se solicite essa infor-
mação a essas entidades.
Resposta de junho de 2019
IVA - Faturação
Atente-se na seguinte situação: "A"
- Vendedor de automóveis; "B" -
Empresa que negoceia créditos com
financiadoras (CAE 66190); "C" - Fi-
nanciadoras.
"A" angaria clientes para "B" num
contexto de contrato de crédito
para aquisição de um veículo e "B",
por sua vez, negoceia junto de "C"
(financiadoras) a melhor opção de
crédito.
A entidade "A" ao faturar a "B" a
prestação de serviços por angaria-
ção de clientes referente a contrato
de crédito, também está abrangido
pela alínea a) do n.º 27 do artigo 9.º
do CIVA?
Questiona-nos relativamente ao en-
quadramento em sede de IVA da pres-
tação de serviços de angariação de
clientes. As prestações de serviços
efetuadas no território nacional, a tí-
tulo oneroso, por um sujeito passivo
agindo como tal, são operações su-
jeitas a imposto, conforme resulta da
alínea a) do n.º 1 do artigo 1.º do Có-
digo do IVA. O conceito de prestação
de serviços para efeitos de IVA encon-
tra-se no artigo 4.º deste Código.
Não obstante a sujeição a imposto,
importa sempre, perante determinada
operação, verificar se existe, ou não,
norma de isenção que se lhe aplique.
Para o efeito, deve analisar-se o dis-
posto no artigo 9.º do Código do IVA.
Nos termos da alínea a) do n.º 27 do
artigo 9.º do CIVA, estão isentas des-
te imposto as operações de «conces-
são e a negociação de créditos, sob
qualquer forma, compreendendo ope-
rações de desconto e redesconto, bem
como a sua administração ou gestão
efetuada por quem os concedeu.»
A Autoridade Tributária e Aduaneira
tem entendido que a expressão «ne-
gociação» prevista nas normas cita-
das deverá significar que se incluirá
na isenção não apenas a concessão
do crédito propriamente dita ou a
prestação de fianças, avales, cauções
e outras garantias, mas também a sua
negociação, ou seja, a intervenção de
terceiros visando a sua concretização.
De acordo com a informação vincu-
lativa: Processo n.º 2656 - Despacho
de 16 de novembro de 2011, no seu
ponto 14, encontramos o conceito
de «negociação», que diz «(...) a ex-
pressão negociação está associada
à informação técnica subjacente ao
produto financeiro conducente à con-
cessão do crédito, não sendo, portan-
to, atividade de negociação fornecer,
apenas informações de natureza do-
cumental e, eventualmente, receber
as propostas de adesão ao crédito.»
Estando mais explicitado no ponto 15
o seguinte: «Ora, se a requerente não
se limitar a fornecer aos potenciais
clientes informação documental rela-
tiva aos produtos financeiros, tendo
antes por objetivo conseguir que se
concretize entre a entidade bancária
e o cliente a celebração de um con-
trato de crédito, que melhor se ajuste
à situação financeira e às necessida-
des/conveniências deste, estar-se-á
perante uma prestação de serviços,
que se subsume numa operação de
negociação de crédito.»
Verificadas estas condições, as refe-
ridas comissões de intermediação/
angariação não serão objeto de tribu-
tação em IVA, aplicando-se a isenção

prevista nas alíneas a) e b) do n.º 27
do artigo 9.º do Código do IVA, que
contemplam as operações de nature-
za bancária e financeira, incluindo a
intermediação, aplicando-se qualquer
que seja a qualidade da entidade que
praticar tais operações.
Contudo, a atividade de intermediá-
rio de crédito foi recentemente regu-
lamentada pelo Decreto-Lei n.º 81-
C/2017, de 7 de julho. Presentemente,
apenas os intermediários de crédito
autorizados pelo Banco de Portugal
podem exercer esta atividade.
Neste diploma, Decreto-Lei n.º 81-
C/2017, de 7 de julho, estabelece-se
o regime jurídico que regula as con-
dições de acesso à atividade de inter-
mediário de crédito e à prestação de
serviços de consultoria relativamente
a contratos de crédito e, bem assim,
a forma como estas atividades devem
ser exercidas.
De acordo com as disposições deste
regime jurídico, a atividade dos inter-
mediários de crédito, consubstancia-
da na apresentação ou proposta de
contratos de crédito a consumidores,
na assistência em matérias relacio-
nadas com produtos de crédito ou na
celebração de contratos de crédito
em representação das instituições
mutuantes, apenas pode ter como ob-
jeto operações de crédito concedidas
por entidades legalmente habilitadas
a conceder crédito a título profissio-
nal, sendo-lhes vedado intervir na
comercialização de outros produtos
e serviços bancários, nomeadamente
no âmbito da poupança e dos serviços
de pagamento.
Face ao exposto, entendemos que
apenas as prestações de serviços
realizadas por estes intermediários
de crédito se enquadram na isenção
prevista no n.º 27) do artigo 9.º do
Código do IVA, porquanto, é uma ati-
vidade regulamentada.
No caso em análise, a prestação de
serviços de angariação de clientes é
uma operação sujeita a IVA nos ter-
mos gerais previstos no Código do
IVA, devendo assim este prestador de
serviços proceder à liquidação do im-
posto, considerando que esta ativida-
de não cumpre com os requisitos e a
regulamentação legal referidos.
Resposta de junho de 2019
SNC
É obrigatória a aplicação do SNC e
respetivo código de contas a uma
sociedade por quotas com início de
atividade em 2010, sendo uma en-
tidade residente e com estabeleci-
mento estável em Portugal e fazen-
do parte de um grupo estrangeiro?
As quotas dessa empresa são deti-
das pela empresa-mãe deste grupo
em 95 por cento e em 5 por cento
por um sócio particular.
Deverá continuar a aplicar-se o SNC
e respetivo código de contas na or-
ganização da contabilidade desta
firma, como tem sido feito até ago-
ra?
A questão colocada refere-se às
obrigações de adoção do Sistema de
Normalização Contabilística (SNC) e
o código de contas do SNC por uma
sociedade comercial com sede em
Portugal detida maioritariamente
por uma empresa estrangeira.
De acordo com a alínea a) do n.º
1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º
158/2009, de 13 de julho, com reda-
ção do Decreto-Lei n.º 98/2015, de
2 de junho, as entidades abrangidas
pelo Código das Sociedades Comer-
ciais, nomeadamente as sociedades
comerciais com sede em Portugal,
são obrigadas a aplicar o Sistema de
Normalização Contabilística (SNC),
com exceção das entidades a que se
CONSULTÓRIO
aplique as normas internacionais de
contabilidade ou o plano de contas
das entidades seguradoras e bancá-
rias nos termos do artigo 4.º e 5.º do
mesmo diploma.
Como se constata, as sociedades co-
merciais portuguesas, bem como as
sucursais de empresas estrangeiras,
estão obrigadas a adotar o Siste-
ma de Normalização Contabilística
(SNC) previsto no Decreto-Lei n.º
158/2009, de 13 de julho, nos ter-
mos do artigo 3.º desse diploma,
sem prejuízo das opções pela adoção
das normas internacionais de conta-
bilidade nos termos dos artigos 4.º e
5.º do referido diploma.
As empresas que estejam a adotar
o SNC são obrigadas a utilizar e a
efetuar os registos contabilísticos
nas contas definidas no Código de
Contas do SNC, conforme previsto
no preâmbulo e artigo 2.º da Porta-
ria n.º 218/2015, de 23 de julho.
Tratando-se de sociedade por quo-
tas, relativamente à preparação e
apresentação de demonstrações
financeiras individuais, apenas é
possível a adoção de normas inter-
nacionais de contabilidade adotadas
pela União Europeia, nos termos do
disposto do n.º 3 do artigo 4.º do De-
creto-Lei n.º 158/2009, com redação
do Decreto-Lei n.º 98/2015.
Nos termos do n.º 3 do artigo 4.º do
Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de
julho, com redação do Decreto-Lei
n.º 98/2015, de 2 de junho, as so-
ciedades portuguesas que estejam
incluídas no âmbito da consolidação
de entidades que sejam obrigadas a
aplicar as normas internacionais po-
dem elaborar as respetivas demons-
trações financeiras individuais em
conformidade com as normas inter-
nacionais de contabilidade adotadas
nos termos do artigo 3.º do Regula-
mento (CE) n.º 1 606/2002, do Par-
lamento Europeu e do Conselho, de
JULHO 2019 71
CONSULTÓRIO
19 de julho de 2002, ficando as suas
demonstrações financeiras sujeitas a
certificação legal das demonstrações
financeiras.
Esta opção pode ser aplicada ainda
que a empresa-mãe esteja sedeada
num outro Estado-membro da União
Europeia, cujas demonstrações fi-
nanceiras sejam consolidadas nos
termos dos artigos 4.º e 5.º do Re-
gulamento (CE) n.º 1 606/2002, do
Parlamento Europeu e do Conselho,
de 19 de julho de 2002, conforme o
n.º 5 do artigo 4.º do referido Decre-
to-Lei.
A opção deve ser exercida por todas
as subsidiárias portuguesas incluídas
no perímetro de consolidação da re-
ferida empresa-mãe, sedeada na Bél-
gica, tendo que ser mantida por três
períodos de relato, conforme o n.º 6
do artigo 4.º do mesmo diploma.
O exercício desta opção é efetuado
na preparação e apresentação das
próprias demonstrações financeiras
individuais das sociedades portugue-
sas, nomeadamente em divulgações
nas notas do anexo.
Para a realização desta opção não
existe qualquer obrigação declarati-
va para efeitos fiscais, para além da
indicação do normativo contabilísti-
co aplicado no anexo A da IES.
72 CONTABILISTA 232
Se a empresa portuguesa estiver a
adotar as normas internacionais de
contabilidade nos termos do artigo
4.º do Decreto-Lei n.º 158/2009 não
está obrigada a adotar o código de
contas do SNC, sendo essa utilização
uma mera opção, nos termos do pon-
to 4.2 do anexo ao Decreto-Lei n.º
158/2009, com redação do Decreto-
-Lei n.º 98/2015.
Resposta de junho de 2019
IRS - Residência fiscal
Um não residente que aufira em Por-
tugal, no ano de 2019, rendimentos
de trabalho dependente que não ex-
cedem os 600 euros e, por isso, não
estejam sujeitos a retenção na fonte
ficam isentos de entregar declaração
modelo 3 de IRS em 2020 e, conse-
quentemente, totalmente isentos de
pagar IRS relativo a esses rendimen-
tos? Aplica-se a mesma regra caso
esse não residente seja gerente re-
munerado de uma sociedade?
Questiona-nos sobre a tributação de
rendimentos de trabalho dependente
auferidos por um não residente. No
caso pressupomos ser um sócio-ge-
rente remunerado de uma sociedade.
De acordo com a regra da territoria-
lidade prevista no n.º 2 do artigo 15.º
do Código do IRS, os não residentes
são tributados em território nacional
pelos rendimentos aqui obtidos.
É no artigo 18.º do Código do IRS que
se identificam as diversas situações
que configuram rendimentos obtidos
em território nacional. Apenas os
casos previstos nesta enumeração
é que são suscetíveis de tributação
em território nacional. Caso se este-
ja perante algum tipo de rendimen-
to obtido por não residente que não
conste do rol das situações elenca-
das, então tal rendimento não se
considera abrangido pelas normas
de incidência em sede de IRS.
Assim, estabelece a alínea a) do n.º 1 do
artigo 18.º do Código do IRS que os
rendimentos do trabalho dependente
decorrentes de atividades exercidas
em território nacional, ou quan-
do tais rendimentos sejam devidos
por entidades que nele tenham re-
sidência, sede, direção efetiva ou
estabelecimento estável a que deva
imputar-se o pagamento, são consi-
derados rendimentos obtidos em ter-
ritório nacional.
Sendo este rendimento de trabalho
dependente pago por sociedade por-
tuguesa, então, encontra-se abran-
gido pelas normas de incidência em
sede de IRS. Este tipo de rendimento
é tributado à taxa liberatória de 25
por cento conforme resulta do dis-
posto na alínea a) do n.º 4 do artigo
71.º do Código do IRS.
No entanto, de acordo com a re-
dação dada aos n.ºs 5 e6 do artigo
71.º do CIRS, pela Lei n.º 71/2018,
de 31 de dezembro (OE 2019), aos
rendimentos o trabalho dependente
mensalmente pagos ou colocados à
disposição dos respetivos titulares
não é aplicada qualquer retenção
na fonte até ao valor da retribuição

mínima mensal garantida, quando os
mesmos resultem de trabalho ou ser-
viços prestados a uma única entida-
de, aplicando-se a taxa aí prevista à
parte que exceda esse valor.
Para o efeito, deve o titular dos ren-
dimentos (não residente) comunicar
à entidade devedora, através de de-
claração escrita, que não auferiu ou
aufere o mesmo tipo de rendimentos
de outras entidades residentes em
território português ou de estabele-
cimentos estáveis de entidades não
residentes neste território.
Uma vez que o Decreto-Lei n.º
117/2018, de 27 de dezembro fixou
para 2019, a retribuição mínima
mensal garantida para 600 euros,
se no caso exposto os rendimentos
auferidos pelo não residente (geren-
te remunerado) não excederem este
valor não serão sujeitos a retenção
(cf. n.ºs 5 e 6 do artigo 71.º do CIRS).
De referir, assim, que paralelamente
da emissão do recibo de vencimen-
to, assiste à entidade residente em
território nacional a obrigatorie-
dade de entrega da declaração mo-
delo 30 (aprovada pela Portaria n.º
438/2004, de 30 de abril), até ao fim
do segundo mês seguinte ao do pa-
gamento ou colocação à disposição
dos respetivos beneficiários, em con-
formidade com o disposto na alínea
a) do n.º 7 do artigo 119.º do Código
do IRS, por remissão do artigo 128.º
do Código do IRC.
Não obstante, quando haja lugar a
efetuar retenção na fonte (sobre o
valor que exceda o valor da retribui-
ção mínima mensal garantida) devem
ser entregues em guias autónomas,
assinalando-se que se trata de reten-
ções efetuadas a não residentes, sem
prejuízo da análise da convenção ou
acordo bilateral existente entre os
países em causa.
Na ótica do gerente remunerado
(não residente) realçamos que não
há lugar à entrega da declaração de
rendimentos modelo 3, pela obten-
ção dos rendimentos que são, em re-
gra, tributados mediante a aplicação
de taxas liberatórias, as quais por
serem "taxas de liquidação" desobri-
gam os seus titulares do rendimento
desta obrigação.
Resposta de junho de 2019
IRC - Transferência
de sociedade
Determinadas sociedades cessaram a
atividade em 23 de abril 2019 e estão a
ser transferidas para fora de Portugal,
mas dentro da União Europeia.
Neste momento a administração da
sociedade já solicitou avaliação imobi-
liária de um ativo fixo tangível (imóvel),
que se encontra numa das sociedades.
Na outra sociedade existem também
outros ativos fixos tangíveis (edifícios),
onde também está a ser feita a sua
avaliação de mercado.
Pelo artigo 83.º do IRC será calculado
o mapa das mais ou menos-valias de
modo a apurar os valores fiscalmente
relevantes dos elementos patrimoniais
desta entidade.
Esta avaliação, ao ser feita por uma
entidade externa, exige o parecer de
um ROC? Este procedimento terá que
ser refletido na contabilidade ou só na
declaração modelo 22, uma vez que
não vai haver alienação de nenhum pa-
trimónio, só irá haver a transferência
das sociedades? A mais ou menos-va-
lia contabilística apurada pelo mapa
31 é para refletir no quadro 07 da de-
claração modelo 22? Ou são apenas
as mais e as menos-valias fiscais? Se
houver uma mais-valia fiscal e outra
menos-valia fiscal, o valor a colocar na
declaração modelo 22 é o saldo ou te-
nho que refletir a positiva e a negativa?
Em relação à declaração modelo 22,
quais os campos a preencher?
CONSULTÓRIO
A situação em análise trata de duas
sociedades anónimas que cessaram a
atividade em Portugal a 23 de abril
de 2019 e que estão a ser transferi-
das para um outro Estado-membro.
Ambas as sociedades possuem bens
imóveis no seu ativo, sobre as quais
já solicitaram avaliação imobiliária.
Neste sentido, solicitam-se esclare-
cimentos quanto à aplicação do arti-
go 83.º do Código do IRC.
Nos termos do n.º 1 do artigo 83.º
do Código do IRC, para a determina-
ção do lucro tributável do período de
tributação em que ocorra a cessação
de atividade de entidade com sede ou
direção efetiva em território portu-
guês, incluindo a Sociedade Europeia
e a Sociedade Cooperativa Europeia,
em resultado da transferência da
respetiva residência para fora desse
território, constituem componentes
positivas ou negativas as diferenças,
à data da cessação, entre os valores
de mercado e os valores fiscalmente
relevantes dos elementos patrimo-
niais dessa entidade, ainda que não
expressos na contabilidade.
Acresce o n.º 2 do mesmo artigo que
no caso de transferência da residên-
cia de uma sociedade com sede ou
direção efetiva em território portu-
guês para outro Estado da União Eu-
ropeia ou do Espaço Económico Eu-
ropeu, neste último caso, desde que
exista obrigação de cooperação ad-
ministrativa no domínio do intercâm-
bio de informações e da assistência
à cobrança equivalente à estabeleci-
da na União Europeia, o imposto, na
parte correspondente ao saldo po-
sitivo das componentes positivas e
negativas referidas no número ante-
rior, é pago de acordo com uma das
seguintes modalidades:
- Imediatamente, pela totalidade do
imposto apurado na declaração de
rendimentos apresentada nos termos
e prazo estabelecidos no n.º 3 do ar-
JULHO 2019 73
CONSULTÓRIO
tigo 120.º; ou
- No ano seguinte àquele em que se
verifique, em relação a cada um dos
elementos patrimoniais considera-
dos para efeitos do apuramento do
imposto, a sua extinção, transmis-
são, desafetação da atividade da
entidade ou transferência, por qual-
quer título, material ou jurídico, para
um território ou país que não seja
um Estado membro da União Euro-
peia ou do Espaço Económico Euro-
peu, neste último caso, desde que
exista obrigação de cooperação ad-
ministrativa no domínio do intercâm-
bio de informações e da assistência à
cobrança equivalente à estabelecida
na União Europeia, pela parte do im-
posto que corresponda ao resultado
fiscal relativo a cada elemento indi-
vidualmente identificado; ou
- Em frações anuais de igual montan-
te, correspondentes a um quinto do
montante do imposto apurado com
início no período de tributação em
que ocorre a transferência da resi-
dência.
Aplicando à situação em análise, com
a redomiciliação das duas entidades
residentes para um Estado-membro
há lugar ao denominado exit tax,
uma vez que tal operação se qualifi-
ca como uma cessação de atividade
em Portugal e, por conseguinte, há
lugar à tributação de uma mais-valia
pela diferença entre o valor de mer-
cado do património da empresa (ati-
vo líquido do passivo) e o valor fiscal
desses mesmos ativos.
Uma vez que as empresas irão alte-
rar a sua residência para um Esta-
do-membro, as empresas têm como
opção o pagamento diferido do im-
posto ao abrigo da alínea b) e c) do
n.º 2 do artigo 83.º do Código do
IRC, sobre os quais se salienta as se-
guintes especificidades previstas nos
n.ºs 3 a 9 do artigo:
- Em ambas as modalidades há lugar
74 CONTABILISTA 232
ao vencimento de juros à taxa pre-
vista para os juros de mora;
- A opção deve ser exercida na de-
claração modelo 22 referente ao
período em que ocorre a redomici-
liação, a ser entregue até ao final do
terceiro mês seguinte àquele em que
ocorreu a cessação, que no caso em
apreço será até 31 de julho, sendo
que pode haver lugar a prestação
de garantia bancária equivalente a
montante do imposto acrescido de
25 por cento, em caso de fundado
receio de frustração da cobrança do
crédito tributário.
- Quando exercida a opção b), a em-
presa tem de entregar a declaração
modelo 22 anualmente, até 31 de
maio, cujo imposto a pagar é acres-
cido pelos juros referidos na alínea
I).
- Caso tenha sido exercida a opção
da alínea c), a empresa tem de efe-
tuar o pagamento do imposto da se-
guinte forma:
- Até ao termo do prazo para en-
trega da declaração de rendimentos
mencionada no n.º 4, relativamente
à primeira fração anual; e
- Até ao último dia do mês de maio
de cada ano, independentemente de
esse dia ser útil ou não, acrescido
dos juros vencidos calculados nos
termos do n.º 3, relativamente às
restantes frações de pagamento.
Face ao exposto, e em resposta dire-
ta às questões colocadas, refere-se
o seguinte:
- O apuramento dos valores de mer-
cado dos ativos da empresa deve ser
apurado por um ROC.
- O apuramento de resultados pela
mudança de sede para o estrangeiro
é um procedimento fiscal, pelo que
apenas terá de ser refletido na de-
claração modelo 22.
- Quanto ao preenchimento da de-
claração, os campos a preencher são
os 789, 790 e 796:
- Campo 789: se o saldo apurado for
positivo e a mudança da sede ocorra
para um país da UE ou EEE;
- Campo 790: se o saldo apurado for
positivo e a mudança da sede ocorra
para fora de um país da UE ou EEE;
- Campo 796: se o saldo apurado for
negativo.
Em termos contabilísticos, se houver
lugar a apuramento de mais e me-
nos-valias pelo decorrer da cessa-
ção, o efeito das mesmas terá de ser
anulado nos campos 767 e 736, res-
petivamente, sendo as mais-valias
fiscais refletidas nos resultados obti-
dos pela redomiciliação nos campos
mencionadas na alínea acima.
Por último, alude-se ainda à leitura in-
tegral da informação vinculativa refe-
rente ao processo n.º 3 417/2009, san-
cionado por despacho de 8 de março
de 2010, pelo subdiretor-geral, onde a
Autoridade Tributária refere no ponto
5 que «para a determinação do lucro
tributável devem concorrer, no senti-
do em que dispõe o atual artigo 83.º
do CIRC, todos os resultados, sejam
ou não mais-valias ou menos-valias,
apurados de acordo com as regras aí
previstas.»
Resposta de junho de 2019