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O matriciamento em saúde mental

na perspectiva dos gestores


Alexandra Iglesias1, Luziane Zacché Avellar2

RESUMO: O matriciamento tem se firmado como uma prática voltada à estruturação


da rede de saúde por meio do fortalecimento das relações entre os profissionais e,
consequentemente, destes com os outros atores sociais, incluindo usuários e gestores.
Diante da potencialidade dessa estratégia, objetivou-se neste estudo analisar as concepções
dos gestores sobre matriciamento em saúde mental, suas avaliações dos efeitos dessa
estratégia e suas propostas de fortalecimento da referida prática. Foram realizadas
entrevistas semiestruturadas com 11 gestores, entre eles gerentes dos Centros de Atenção
Psicossocial, das Unidades de Saúde e da coordenação municipal de saúde mental. A
pesquisa utilizou a abordagem qualitativa e a técnica de análise de conteúdo de Bardin. Os
resultados apontaram três grupos de entendimento para matriciamento: como apropriação
da temática e do cuidado em saúde mental pela Atenção Básica, como estratégia de
fiscalização do trabalho da atenção básica e como dispositivo de formação e orientação
para ação em saúde mental. Destacaram-se, ainda, a ampliação do cuidado em saúde
mental pelo matriciamento e a dificuldade de efetivação de encontros produtivos pautados
na construção de parcerias para promoção à saúde. Assim, verificou-se a importância
de o matriciamento ser colocado constantemente em análise, acreditando que esse fazer
interativo possibilita o cuidado integral em saúde.
Palavras-chave: apoio matricial; saúde mental; atenção básica; gestão; centro de atenção
psicossocial.

1
Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); professora adjunta do
Departamento de Psicologia da UFES.
Endereço para correspondência: Avenida Fernando Ferrari, s/n.º, Campus Goiabeiras, CEMUNI VI, sala 3 –
Vitória, ES. CEP: 29075-910. E-mail: leiglesias@gmail.com.
2
Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); professora
associada I do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Endereço para correspondência: Avenida Fernando Ferrari, s/n.º, Campus Goiabeiras, CEMUNI VI, sala 7 –
Vitória, ES. CEP: 29075-910. E-mail: luzianeavellar@yahoo.com.br
Artigo recebido em: 03/08/2016. Aprovado para publicação em: 20/10/2016.

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The management perspective
oversupport matrix in mental health
ABSTRACT: The matrix support has become a practice focused in the organization of a health
network by the reinforcement of professional’s relationships between themselves and, as a
consequence, with other social actors like users and managers. Because of the potential of this
strategy, the objective was to analyze the conceptions of managers over mental health matrix
support, their evaluation of this strategy effects and its proposals to strengthen this support. Semi-
structured interviews were held with 11 managers, including the ones from Psychosocial Cares
Centers (CAPES), from Health Unities (US) and from municipal coordination of mental health.
This research used qualitative approach, such  as Bardin content analysis technic. The results
showed three groups of matrix support understandings: as thematic appropriation and mental health
care by the Primary Care, as a labor inspection strategy of primary care and as a training device and
guidance for mental health action. It was also highlighted the expansion of mental health care with
matrix support and the difficulty to implement productive meetings lined in building partnerships
for health promotion. Thus, it was verified the importance of matrix support to be placed constantly
under review, believing that this interaction enables a comprehensive health care.
Keywords: matrix supports; mental health; primary care; health management; psychosocial
care center.

El apoyo matriz en salud mental


en la perspectiva de los gestores
RESUMEN: El apoyo matriz en salud mental se viene afirmando como una práctica dedicada
a la estructuración de la red de salud por medio del fortalecimiento de las relaciones entre los
profesionales y, por consecuencia, de ellos con otros actores sociales, incluyendo usuarios y
gestores. Frente al potencial de esa estrategia, en este estudio se propuso analizar las concepciones
de los gestores sobre el apoyo matriz en salud mental, sus evaluaciones de los efectos de
esa estrategia y sus propuestas de fortalecimiento de esa práctica. Se realizaron entrevistas
semiestructuradas con 11 gestores, entre ellos gerentes de los Centros de Atención Psicosocial,
de las Unidades de Salud y de la coordinación municipal de salud mental. La investigación utilizó
el abordaje cualitativo y la técnica del Análisis de Contenido de Bardin. Los resultados apuntaron
tres grupos de entendimientos para el apoyo matriz: como apropiación de la temática y del
cuidado de la salud mental por la Atención Primaria, como estrategia de fiscalización del trabajo
de atención básica y como dispositivo de formación y orientación para la acción en salud mental.
Se ha destacado también la ampliación del cuidado en salud mental a partir del apoyo matriz, y la
dificultad de realización de encuentros productivos pautados en la construcción de grupos para la
promoción de la salud. Así, se ha verificado la importancia de poner el apoyo matriz en constante
análisis, creyendo que el hacer interactivo posibilita el cuidado integral en salud.
Palabras clave: apoyo matriz en salud mental; salud mental; atención básica; gestión;
centro de atención psicosocial.

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

1 INTRODUÇÃO
O matriciamento foi descrito em 2003, pelo Ministério da Saúde, como “um arranjo
organizacional que visa dar suporte técnico em áreas específicas às equipes responsáveis
pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde para a população” (BRASIL, 2003,
p. 80). Na perspectiva deste estudo, defendemos que o matriciamento vai além de um
suporte técnico. Essa estratégia de trabalho tem a potencialidade de ser um encontro
produtivo entre equipes com saberes, vivências e práticas diversas, que ao compartilharem
tais conhecimentos devem atuar conjuntamente para o cuidado integral em saúde.
Em outras palavras, o matriciamento consiste em uma prática voltada à estruturação
da rede de saúde por meio do fortalecimento das relações entre os profissionais e,
consequentemente, destes com os outros atores sociais, incluindo usuários e gestores.
O matriciamento, tema deste estudo, é tratado aqui em sua capacidade de fortalecimento
dos sujeitos e coletivos, pela sua proposta de compartilhamento de saberes e práticas entre
atores diversos, pela democratização das relações e pela transformação e superação de
modelos hierarquizados (BERTUSSI, 2010; BRASIL, 2004).
Para tanto, torna-se imprescindível a abertura de novos canais de diálogo,
o que implica, necessariamente, civilizar fronteiras, dissolver as barreiras existentes
entre especialistas e generalistas, entre clínica e gestão, entre quem formula e quem
executa. Nesse sentido, a estratégia de matriciamento busca promover encontros
entre equipes que devem estar juntas em um processo contínuo de comunicação
para a integração de saberes e práticas. Vale ressaltar que não se trata apenas de um
compartilhamento de saber como transmissão de informação, mas da construção de
saberes, que se dá por intermédio desses encontros produtivos e, sobretudo,
de corresponsabilização pela prática de cuidado.
Logo, o gestor, em suas funções de planejamento, coordenação, regulação,
controle e avaliação de ações, tem papel importante também nessa proposta de
matriciamento, podendo tanto representar um obstáculo a essa prática (pela tentati-
va de controle dos sujeitos) quanto possibilitar a reinvenção do trabalho, pela certe-
za de que o processo de gestão envolve todos os atores implicados na produção
de saúde, conforme trazido pela Política Nacional de Humanização (NORONHA;
LIMA; MACHADO, 2004; BRASIL, 2009).
Apesar de termos clareza de que o processo de gestão não está restrito a
um único sujeito, corroboramos o entendimento de que os gestores, formalmente
designados como tais, “ocupam um papel específico que os diferenciam dos outros
atores que participam do processo de gestão, tanto nas responsabilidades, na forma
de produzir e exercitar o poder” (SILVA, 2012, p. 37).

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Por tudo isso, pensamos ser relevante considerar as concepções dos gestores
a respeito do matriciamento, para refletirmos sobre as possibilidades concretas de
reversão de uma prática de gestão historicamente hierarquizada para outra voltada
à cogestão. Isso porque a política em si, no papel, não garante sua efetividade.
Compreendemos que o modo como esses profissionais gestores entendem a proposta
de matriciamento e atuam em relação a ela interfere diretamente na possibilidade
de concretização ou não dessa prática em toda a sua capacidade de produção
de autonomia, de integralidade do cuidado e da intersetorialidade da atenção.
O matriciamento necessita também de credibilidade por parte dos gestores,
no sentido de favorecer a gestão participativa, pautada em uma perspectiva crítica
e política de trabalho, que não reforce os especialismos, os quais reproduzem
práticas empobrecidas e pouco favoráveis a produzir efeitos desinstitucionalizantes
nas vidas de todos os sujeitos envolvidos — usuários, familiares, gestores e
profissionais de saúde (DIMENSTEIN et al., 2009).
Nessa perspectiva, este estudo teve por objetivo analisar as concepções dos gestores
sobre o matriciamento em saúde mental, as avaliações que eles têm a respeito dos efeitos
dessa estratégia, bem como suas propostas para o fortalecimento da referida prática.

2 MÉTODO
Trata-se de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, realizado em
um munícipio do Sudeste do Brasil, que concretiza o matriciamento em saúde mental
à Atenção Básica por meio de seus três Centros de Atenção Psicossocial (CAPS):
adulto, álcool e drogas, e infantil. Vale enfatizar que a cidade possui algumas particu-
laridades no que diz respeito aos profissionais que compõem as Unidades de Saúde
(US). Desde 2007 o município conta com equipes ampliadas em suas 30 Unidades de
Saúde, compostas por assistente social, profissional de educação física, farmacêutico,
fonoaudiólogo, ginecologista, pediatra e psicólogo, além dos profissionais previstos
pelo Ministério da Saúde para composição mínima da equipe de Saúde da Família,
incluindo equipe de saúde bucal. O município está dividido em seis regiões de saúde,
e cada qual abrange um território específico, com realidades diversificadas.
Para esta pesquisa foi selecionada uma US de cada região, totalizando seis
US. Quatro delas funcionam na lógica da Estratégia de Saúde da Família (ESF),
e  as  outras duas atuam como Unidades Básicas sem ESF. Para escolha dessas
unidades, a pesquisadora, que era servidora pública do município à época, escolheu
aquelas com as quais mantinha menor contato no dia a dia de trabalho. A partir de
então, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os gestores dessas seis
US, com os gestores dos três CAPS, com o atual coordenador municipal da área

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técnica de saúde mental e com o coordenador da época da implantação do matri-


ciamento no município. As 11 entrevistas aconteceram individualmente e foram
gravadas em áudio após a devida autorização dos participantes, da Secretaria
Municipal de Saúde, bem como do Comitê de Ética em Pesquisa.
Seguiu-se com a análise dos dados, a qual utilizou a análise de conteúdo,
definida por Bardin (1988) como um conjunto de técnicas de análise das comuni-
cações voltadas a obter indicadores que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção das mensagens, por meio de procedi-
mentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Concepções sobre o matriciamento em saúde mental


Os gestores entrevistados trouxeram entendimentos que se assemelham,
se diferenciam e se complementam a respeito do matriciamento em saúde mental.
O primeiro entendimento trazido pelos gestores destaca o matriciamento
como uma possibilidade de apropriação da temática e do cuidado em saúde mental
por parte também das equipes da Atenção Básica.

O apoio matricial veio para abrir os olhos destes profissionais em relação à


saúde mental, até porque antes tinha aquela coisa muito prática de encami-
nhar: “Tem transtorno mental, vai para o psicólogo”. A intenção do apoio é
envolver uma equipe multiprofissional, trabalhar junto, este paciente chegar
à unidade e ele ter uma referência, mas não uma pessoa como referência,
uma equipe como referência [gestor US 2].

Nessa linha de raciocínio, segundo análise do coordenador municipal 2, o matri-


ciamento em saúde mental conseguiu cumprir dois de seus objetivos: fazer com que a
pessoa em sofrimento psíquico circule nos espaços da US, e ampliar a apropriação do
cuidado em saúde mental por parte também das equipes da Atenção Básica.

Até pelas queixas você vê os avanços. Se as pessoas se queixam, solicitam


capacitação, discussão, vaga de internação, são problemas a serem enfrenta-
dos, mas que mostram que tem caso cuidado. O apoio entrou como ordena-
dor do cuidado, envolvendo a rede, no sentido de produzir um arranjo insti-
tucional entre as políticas intersetoriais que incidem sobre aquele sujeito
[coordenador municipal 2].

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Essa discussão aponta a abertura para um trabalho integrado conforme


almejado pela proposta teórica do matriciamento em saúde mental. Vai, até mesmo,
além da interação entre US e CAPS, para uma perspectiva de ação em rede,
que deve atuar por desfazer aquelas relações hierárquicas, as quais distanciam e
separam profissionais de saúde, usuários e gestores.
Assim, estruturam-se possibilidades concretas de um cuidado integral
construído mediante as necessidades da população assistida, pela valorização
das relações entre sujeitos, os quais passam a ser referidos pelo nome e pela
história que possuem, estimulando a corresponsabilização pela produção de saúde
(ONOCKO-CAMPOS, 2003). Nessa lógica, o gestor US 2 convoca uma relação
usuário–equipe, expandindo, assim, até as possibilidades de relação desses sujeitos
em sofrimento no sentido de produção de autonomia, que diz da ampliação de
suas interações com o outro e com o mundo que os rodeia. Não se trata, portanto,
de uma relação profissional psi1 e usuário, no caso do matriciamento em saúde
mental, mas de uma convocação a todos os profissionais para exercerem a função
de cuidar, presente no campo de saber da saúde.
A Atenção Básica tem a possibilidade de contribuir para a construção daquele
outro lugar social, anunciado por Birman (1992), para as pessoas em sofrimento psíquico,
ao transpor esse sofrimento de uma posição exclusivamente individual para uma dimen-
são social, que relaciona vários aspectos a essa situação vivida. Dessa forma, é possível
operar ações de cuidado em rede, as quais consideram os sujeitos (mesmo aqueles em
sofrimento) como indispensáveis nessas negociações cotidianas para a promoção de vida.
Essa potencialidade da Atenção Básica se afirma pela sua proximidade com a
vida em movimento, que a propicia trabalhar com esses sujeitos em sofrimento psíquico
e com a população de modo geral, a contratualidade social e o lugar dessas pessoas em
sofrimento como cidadãos de direito, e não de doentes, anormais, perigosos, irresponsá-
veis, insensatos, incompetentes e incapazes (AMARANTE, 1999; KINOSHITA, 1996).
Nesse contexto, o matriciamento em saúde mental tem a importante função
de fomentar encontros efetivos entre saberes e práticas diversas e complementares
que  compõem essa complexa intenção de cuidado integral. É importante
considerar que a maioria dos profissionais da Atenção Básica não possui ainda
em sua formação técnica tal enfoque em saúde mental; e, mesmo se o tivesse,
tal cuidado requisita necessariamente o máximo de entrecruzamentos possíveis,
tendo em vista toda uma história de estigmatização e exclusão social.

1
Refere-se a todos os profissionais de saúde que têm sua formação voltada à discussão psicossocial,
para além dos psicólogos e psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas em geral, como, por exemplo,
terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas, arteterapeutas, psicanalistas, dentre outros.

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

No entanto, sabe-se da dificuldade de tais articulações entre profissionais e


serviços, tanto que os gestores asseguram que o matriciamento em saúde mental
depende ainda, em grande parte, do “perfil” do psicólogo: “Eu vejo que depende do
psicólogo que está lá, se está disposto, se quer fazer junto, ou se não quer também
fica o apoio meio sem acontecer. É o psicólogo que ainda leva a discussão para a
equipe da unidade” (gestor CAPS B).
Isso aponta certa dificuldade da Atenção Básica ainda, na ausência do profis-
sional psi, no caso da saúde mental, em assumir o cuidado pela sua população adscri-
ta independentemente da patologia que se apresenta. Por outro lado, essa mesma
fala assinala certo avanço nesse cuidado em saúde mental pela equipe da Atenção
Básica, uma vez que aparentemente esse profissional psicólogo já consegue levar
a discussão para a equipe da US, mesmo mantendo-se como referência da área.
Essa referência mantém-se em certo grau, pela especificidade do núcleo psi, o qual
representa uma importante contribuição nesse cuidado, assim como o saber da
psiquiatria, como trazido pelos gestores das US: “A gente também precisa de mais
vindas do psiquiatra. Tem coisas que o médico de família também quer esclarecer
sobre medicação, por exemplo, detalhes médicos que ficam de fora”.
Como discutido em outro estudo sobre a temática (IGLESIAS; AVELLAR,
2016a), é imperativo ser cauteloso com a supervalorização da psiquiatria em detri-
mento dos outros saberes indispensáveis nesse cuidado em saúde mental, mas também
com a desconsideração dessa práxis nesse cuidado, sob o risco de se manter uma
disputa de poder no campo da saúde, que distancia a efetivação da integralidade.
Essa dificuldade de acesso ao psiquiatra nesse processo de matriciamento em saúde
mental já foi apontada em outra investigação (FIGUEIREDO, 2006) e justificada pela
pouca presença desse profissional na rede, o que em alguns momentos tem dificulta-
do o trabalho de cuidado, principalmente dos casos mais graves. Por outro lado, essa
dificuldade de acesso tem também, despertado um processo inventivo interessante
por parte das equipes na construção de estratégias variadas de cuidado e promoção
da equidade do acesso, uma vez que se opera uma análise detalhada das vulnerabili-
dades e dos recursos de cada usuário, para então indicar a intervenção psiquiátrica.
Como trazido pelo coordenador municipal da área técnica de saúde mental
1: “O apoio matricial precisa acontecer para favorecer uma lógica de atenção que
passa por certa noção de integralidade, reabilitação psicossocial, corresponsabili-
dade do serviço com o cuidado”. Todas essas noções são priorizadas de certo modo
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pela Atenção Básica e pelo modelo de atenção
psicossocial, baseadas em uma perspectiva ampliada de saúde pela promoção à

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saúde, a qual preconiza relações transversais, ao crer ser relevantes as contribuições


de todos para as mudanças sociais necessárias à produção de vida.
Contudo, apesar dessa perspectiva teórica voltada à horizontalização das
relações de poder, na prática o matriciamento também tem se firmado, conforme
trazido por alguns gestores de US, como um dispositivo que acabou por reiterar
aquelas relações verticalizadas entre especialistas e generalistas: “O apoio vem
aqui já naquela forma engessada: ‘É assim, tem que ser assim’. [...] A gente sente
a necessidade de discutir como vai ser a conduta de cada caso” (gestor US 3).
Com essa discussão, os gestores trazem um segundo entendimento sobre
matriciamento em saúde mental, que o destaca como uma estratégia para fiscalização
do trabalho da atenção básica. Isso resultou em resistências por parte desse nível
de atenção à proposta matricial e na manutenção de relações hierarquizadas entre
profissionais da atenção básica e profissionais matriciadores: “O apoio na verdade
é para dizer o que tem que fazer, fiscalizar, cobrar. Aí fica[m] difíceis as relações,
porque são profissionais do mesmo nível, só de serviços diferentes”.
Ao contrário das discussões trazidas até aqui neste texto, esse gestor
apresenta a possibilidade de manter relações hierárquicas de poder-saber também
mediante o matriciamento, demostrando que o encontro em si não garante a trans-
versalidade das relações, nem o compartilhamento efetivo de saberes e práticas.
Em relação a isso, Onocko-Campos (2003) argumenta sobre a
imprescindibilidade de o matriciamento se desvincular de qualquer linha de mando,
para assim aprimorar o desvelamento dos usos do poder e desnaturalizar a forte
associação entre técnica e poder. Trata-se de relações e construções históricas
que precisam ser trabalhadas e colocadas em análise cotidianamente, para que as
hierarquias entre categorias profissionais e/ou entre serviços, por exemplo, não se
mantenham também com base nesse dispositivo que se pretende articulador de rede.
Nessa perspectiva, esta análise envolve repensar o lugar da equipe de
referência que, muitas vezes, espera do matriciador a resposta pronta e definitiva
para o problema que apresenta; e a posição do matriciador, que, por vezes, se coloca
no lugar de saber e define ao outro o que deve e não deve ser feito. Bertussi (2010)
destaca a importância de as equipes envolvidas se verem sempre como partes da
construção de alternativas de soluções, e não como clientes de salvadores da pátria
e/ou como os próprios salvadores. Tudo isso requer dos envolvidos disponibilidade
de, em vez de travar uma disputa pelo poder para si, para seu serviço ou para sua
categoria profissional, abrir-se à possibilidade de construção de outras formas de
fazer saúde, acessando intensidades, potências de luta, escuta e invenção coletiva.

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O terceiro entendimento trazido pela gestão associa o matriciamento à


função formativa e de orientação para a ação em saúde mental: “Eu entendo que no
matriciamento uma equipe que está diante de um caso complexo solicita o apoio
para quase que supervisionar o caso e dar orientação a esta equipe para ação,
como uma formação mesmo” (gestor CAPS C).
Iglesias, Avellar e Dalbello-Araújo (2016) destacam o valor do
matriciamento nesse quesito formativo, contudo é preciso diferenciar essa proposta
de um trabalho de supervisão, naquele sentido taylorista de controle e fiscalização
do cumprimento de normas (CAMPOS, 1998). Ao contrário, como argumentado
por Campos, Cunha e Figueiredo (2013), o matriciamento atua na construção de
análises e propostas de ação, mas também, conforme necessário, na efetivação
de práticas conjuntas entre matriciador e matriciando.
No mais, vale ressaltar a defesa de que esse processo formativo pelo
matriciamento se dê em uma via de mão dupla, de modo que tanto matriciandos
quanto matriciadores se beneficiem dessas trocas de saberes e práticas na revisão de
suas práxis cotidianas. Logo, o gestor CAPS ressalta em sua fala os benefícios desse
trabalho para os CAPS, afirmando a ideia de tratar-se de uma possibilidade de abertura
e aproximação dos CAPS com o território: “Com o apoio, você sai daquela coisa de
CAPS só para dentro, fechado, que repete um pouquinho desta coisa manicomial, para
visualizar uma série de outras possibilidades que não conseguia ver” (gestor CAPS B).
Interessante e importante salientar a relevância do matriciamento também para
o CAPS, desbancando qualquer ideia de hierarquização, como destacado pelo gestor
CAPS B: “Nesta relação todos se beneficiam”. A provocação do matriciamento em
fazer circular matriciadores e matriciandos tem força para favorecer o conhecimento de
outras possibilidades de cuidado, pelo reconhecimento dos outros atores, de serviços e
de setores diversificados, em suas possibilidades de cooperar pela promoção à saúde.

3.2 Reflexões sobre as mudanças ocorridas


com a implantação do matriciamento em saúde mental

Em relação às mudanças ocorridas no cuidado em saúde mental pelo matri-


ciamento, os gestores que trazem a concepção relativa à apropriação do cuidado em
saúde mental pela atenção básica, destacam o fato de que casos difíceis no campo
da saúde mental passaram a ser cuidados também por esse nível de atenção. Para
o gestor US 4, inicialmente, os profissionais da Atenção Básica tinham medo de
lidar com pessoas em sofrimento psíquico: “Eles se sentiam mal de não cuidar,

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mas o medo era maior, mas com o apoio do apoio isto melhorou”. Nas palavras do
coordenador municipal da área técnica de saúde mental 2:

Muitos abraçaram mesmo, fizeram oficinas, grupos, geração de renda,


passaram a cuidar de alguns casos até sozinhos, buscavam somente ajuda
quando chegava ao limite. Ajudaram também nisto aqueles psicólogos da
unidade que se colocaram no território em uma relação de apoio, voltado
para a promoção, fazendo busca ativa, cartografando com olhar epidemioló-
gico as questões da saúde mental, descobrindo novos casos — muitos casos
de cárcere privado apareceram —, entendendo como as pessoas usam drogas
no território. Muitas coisas melhoraram em relação à garantia de cuidado
em saúde mental, incluindo os casos mais graves. Os serviços de internação,
inclusive, falam que quando é paciente morador do município é bem mais
tranquilo, porque eles sabem que o paciente vai ser cuidado.

Sendo assim, anuncia-se que aquele objetivo do matriciamento em saúde mental


de ampliação da atenção às pessoas em sofrimento psíquico parece, em grande parte, ter
sido alcançado. Acredita-se que isso se relaciona também, com a presença do psicólo-
go na Atenção Básica, que pode contribuir para garantir a proximidade com o território
e a sistematicidade da presença da saúde mental nas unidades, que talvez os CAPS —
como matriciadores — sozinhos não conseguiriam assegurar em toda a sua amplitude
(IGLESIAS; AVELLAR, 2016a). Logo, conseguiu-se ampliar o escopo de ações oferta-
das com potencial promocional, já que com base na fala do coordenador as intervenções
não se fixaram na doença, mas na possibilidade de gerar renda, por exemplo.
De acordo com os gestores que trazem tais discussões, essas mudanças parecem
relacionar-se ao trabalho do matriciamento de reconhecer e atuar por desfazer os
“fantasmas” das equipes, as quais, por integrarem uma sociedade que associou — e
ainda associa — a loucura e o consumo prejudicial de álcool e outras drogas à pericu-
losidade e a tantas outras negatividades, têm seus medos em operar com pessoas em
sofrimento psíquico. Nessa condição de medo, fica difícil qualquer equipe visualizar a
possibilidade de cuidado em saúde mental, mais ainda a proposição e a efetivação de
ações nesse sentido de cuidado. Nesse contexto, o matriciamento pode exercer mais
uma de suas possibilidades: suporte naquilo que assusta uma determinada equipe e/ou
a faz sofrer. O sofrimento da equipe pode vir também dessa dificuldade de visualizar
estratégias de cuidado perante situações tão complexas que surgem no cotidiano do
cuidado em saúde mental. Assim, essas equipes, também vivenciando um momento de
sofrimento, tendem a se afastar do compromisso com o cuidado. Dessa forma, fazem-
-se indispensáveis o olhar do outro, o encontro produtivo, a troca, o feedback daquilo

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

que já foi feito e das alternativas futuras possíveis nesse trabalho em saúde mental,
para que essas equipes se sintam fortalecidas ao cuidado.
Nicácio (2003) aponta a importância das discussões desses medos e dessas
angústias das equipes no cuidado às pessoas em sofrimento psíquico também nesses
espaços de encontro, para além do caso propriamente dito. A autora problematiza que
esses sentimentos têm relação com a cultura de associação da loucura à periculosidade,
mas também com a dificuldade de lidar com o desconhecido, com a imprevisibilidade do
sofrimento psíquico. Estamos falando de sujeitos que vivenciam tal situação de sofrimento
de modo singular e que, portanto, requisitam a invenção constante de modos de cuidar.
Contudo, essa expressão dos medos e das angústias não é algo simples, tendo
em vista, por exemplo, uma formação em saúde voltada ao bem-estar a qualquer
custo, inclusive do profissional prestador do cuidado. Nesse contexto, é necessária
a construção cotidiana de um vínculo entre os profissionais envolvidos, de modo
que se sintam à vontade também para trazer suas fragilidades para a roda de conver-
sa. A partir daí, tem-se estruturada a possibilidade concreta da ampliação de uma
comunicação verdadeiramente aberta entre matriciadores e matriciandos e, conse-
quentemente, do fortalecimento do agir cotidiano dessas equipes.
Outra mudança percebida por esses gestores refere-se à melhoria do contato do
médico de família com o psiquiatra, mediante a implantação do matriciamento em saúde
mental. Outras aproximações também puderam ser notadas, como pontuado por alguns
gestores: aproximação e melhoria das relações entre os CAPS, aproximação da Atenção
Básica com a temática da saúde mental e aproximação do CAPS com o território.
Todos esses movimentos de aproximação parecem ter contribuído para uma
mudança importante no campo da saúde mental: a redução do número de internações
psiquiátricas. “Teve uma redução dos números de internação. Então, são sinais que
não foram formalizados, mas que mostram que tem um efeito, inclusive externo”
(coordenador municipal 2).
Nesse caso, o município parece ter conseguido ampliar as possibilidades de
respostas ao sofrimento psíquico, que não necessariamente o internamento. Segundo
Lima Júnior et al. (2010), essas situações de redução do número de internações
relacionam-se diretamente com a construção de garantias e condições para que o
sofrimento psíquico seja manejado com os recursos do território, por entenderem
o vínculo como a maior tecnologia de que a terapêutica da saúde mental dispõe.
Sendo assim, relacionamos todas as aproximações possibilitadas pelo matriciamento
(entre os CAPS, entre eles e o território e entre a Atenção Básica e a saúde mental)
como importantes na efetivação da reforma psiquiátrica em toda a sua potencialidade.

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Por fim, vale dizer que houve gestores, principalmente aqueles que trazem
a concepção do matriciamento como estratégia de fiscalização do trabalho da
atenção básica, que afirmaram não reconhecer nenhuma transformação propiciada
por esse matriciamento.

3.3 Problematização das dificuldades


relacionadas ao matriciamento em saúde mental
Em relação às dificuldades para a efetivação do matriciamento em saúde
mental, houve uma diversidade de entraves de ordem organizacional, estrutural e
relacional, de acordo com os diferentes pontos de vistas dos gestores.
Na realidade das US que ainda não funcionam na lógica da ESF, os gestores
referiram-se à falta de reuniões de equipe e de carga horária dos médicos clínicos
para a composição desse cuidado em saúde mental como dificultadores à efetivação
do matriciamento, entendido como uma possibilidade de trabalho em conjunto.

A primeira dificuldade é o fato de não ser estratégia, que você realmente tem que
acompanhar mais de perto os casos e não consegue. É a reunião que não tem,
o médico que é só quatro horas. Você fica travado em algumas ações de promoção,
de prevenção, de grupo, de estar junto para intervir junto [gestor US 2].

A ESF já foi anunciada por alguns autores (SOUZA, 2004; SCÓZ;


FENILI, 2003; MELO, 2009) como um importante dispositivo de promoção de outros
modos de se relacionar e cuidar da pessoa em sofrimento psíquico. Isso porque, entre os
seus princípios norteadores, a ESF traz a coordenação do cuidado integral e o acompa-
nhamento longitudinal do processo saúde–doença como fundamentos de seu cotidiano
de trabalho, facilitado também pela presença do agente comunitário de saúde. No caso
do sofrimento psíquico, a longitudinalidade do cuidado faz-se extremamente impor-
tante, tendo em vista tratar-se de situações que não implicam resoluções imediatas, ao
contrário, requisitam a constituição de vínculo que só se constrói pela proximidade e
disponibilidade de quem cuida e é cuidado. No mais, por todo o histórico de restrição
do transtorno mental ao manicômio — lugar zero de trocas sociais —, o trabalho atual
com a saúde mental necessita ainda mais investimento, no sentido de desconstruir e
construir, “no interior das casas, na vizinhança, na comunidade, outras relações com as
diferenças”, para que assim essas pessoas possam “ocupar outro espaço de circulação”
na sociedade (SOUZA, 2004, p. 141).
Nesse contexto, afirma-se a força da ESF nesse trabalho em saúde mental, o
que não significa a inviabilidade desse cuidado também nos espaços daquelas unidades

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

que não funcionam na lógica da ESF. A Atenção Básica em si caracteriza-se pela valori-


zação da acessibilidade, da continuidade e da integralidade para a promoção, prevenção,
proteção e reabilitação em saúde (STARFIELD, 2002; BRASIL, 2006), contudo torna-se
difícil a efetivação dessas propostas se não estiverem garantidos carga horária suficiente
dos profissionais de saúde nem o trabalho em equipe, por exemplo. Como bem destacam
Campos et al. (2008), a própria produção de saúde depende necessariamente, tendo em
vista toda a sua complexidade, do entrecruzamento de vários saberes. Para tanto, não se
pode perder de vista a necessidade da organização do processo de trabalho, de modo que
os profissionais das US, independentemente de ser ou não ESF, atuem efetivamente como
equipe: “Encontrando campos de atuação que possam ser implementados por todos os
membros de forma interdisciplinar ao lado de núcleos de práticas específicas de cada
categoria de trabalhadores” (CAMPOS et al., 2008, p. 112).
No caso específico da proposta matricial, é impensável sua efetivação em
toda a sua potencialidade sem o estabelecimento de reuniões de equipe regulares,
concretamente favoráveis às trocas necessárias à construção do cuidado integral.
Concretamente, porque não basta estar garantido nas agendas um horário para
esses encontros se reproduzirmos nesses espaços relações verticais de poder, em
que uma minoria opina e decide sobre o melhor a se fazer no campo da saúde.
Figueiredo (2006) e Oliveira (2011) também trazem em seus estudos a reflexão
sobre a indispensabilidade das reuniões de equipe incorporadas como rotina de
trabalho para a operação do matriciamento, reuniões que se configurem como
dispositivos de cogestão, garantidas e incitadas pelo gestor do serviço.
Ao falarmos de cogestão, estamos mais uma vez argumentando neste
estudo a necessidade de envolvimento de todos os profissionais, e não a restrição
da responsabilidade ao psicólogo, no caso da saúde mental, pelo cuidado dessas
pessoas em sofrimento. Por exemplo, os demais profissionais podem também
incorporar às suas ações em saúde conversas sobre a ansiedade ou a tristeza
vivenciadas pelo usuário, ao mesmo tempo em que falam das outras questões de
saúde, independentemente de ser ou não ESF, abrindo, portanto, caminhos para
uma clínica mais ampliada (FIGUEIREDO; FURLAN, 2008).
Segundo Figueiredo e Furlan (2008), ainda se faz presente no cotidiano dos
profissionais de saúde certo medo do aparecimento, nos espaços de atendimentos,
de questões referentes ao viver. Teme-se que tenha que entrar em contato com o
fato de que um bebê continuará desnutrido porque não tem o que comer; ou porque
sua jovem mãe mal consegue cuidar de si mesma. Como ele garantirá a eficácia dos
medicamentos e o discurso de “quem quer se cuidar, se cuida”? (FIGUEIREDO;
FURLAN, 2008, p. 417).

Mental - v. 11 - n. 20 - Barbacena-MG - Jan-Jun 2017 - p. 63-90 75


Alexandra Iglesias, Luziane Zacché Avellar

São questões importantes também de serem trabalhadas no processo


de matriciamento, até mesmo para evitar outras tantas dificuldades que podem
surgir por conta desses medos que obstaculizam aquele cuidado integral que
perseguimos. Em relação a essa discussão, o gestor US 6 destaca como um entrave
ao matriciamento as frustrações vivenciadas pelos profissionais nesse cuidado
em saúde mental, decorrentes da complexidade dos casos, que acaba afastando-
os dessa proposta de cuidado em saúde: “Eu sinto que é um público desgastante.
Você tem que insistir e às vezes você vai voltar e ele vai falar a mesma coisa.
A gente não vê aquele resultado. Em longo prazo frustra um pouco”.
As situações de sofrimento psíquico trazem uma complexidade não só pela
vivência em si, mas também pela pouca proximidade dos profissionais de saúde com
essa temática em suas formações, o que pode dificultar ainda mais o manejo desses
casos. Nesse contexto, no plano do ideal, o matriciamento tem papel importante de
promover o compartilhamento de responsabilidades e práticas a partir do encontro
entre equipes, atenuando as sobrecargas de uma ou outra equipe por esse cuidado
e ampliando as possibilidades de invenção de alternativas resolutivas de cuidado.
No entanto o matriciamento também pode ter efeito contrário, caso seja tomado como
um espaço de fiscalização do que está sendo ou não feito. Por conseguinte, torna-se
ainda mais provável que a frustração aconteça, já que normalmente tais situações de
sofrimento psíquico, diante de toda a complexidade discutida, necessitam do envol-
vimento de vários atores sociais, o que extrapola o setor saúde, para a efetivação
da integralidade da atenção. Isso não significa aquele idealizado bem-estar físico,
mental e social, mas a ampliação dos sentidos de vida dessas pessoas.
É importante que o matriciamento em saúde mental se afirme legitimamente
como uma estratégia de suporte mútuo entre as equipes, para que as frustrações
(que  possivelmente surgirão, uma vez que estamos operando pela mudança de
paradigmas historicamente consolidados) não se revertam em desistência desse
trabalho nem/ou na sucumbência à perspectiva do isolamento e da exclusão das pessoas
em sofrimento psíquico. Figueiredo e Furlan (2008, p. 242) chamam a atenção para o
fato de que os serviços de saúde, especialmente a Atenção Básica, vêm crescentemente
“recebendo ‘casos’ que expressam a realidade social dos territórios nos corpos e nas
vidas das pessoas”. Isso tem provocado “angústia e sentimento de impotência nesses
trabalhadores e gestores”. Por conseguinte, as autoras sugerem a ampliação do olhar
sobre o território, o que afirma, mais uma vez, a importância do encontro produtivo
entre o saber da saúde mental e o saber generalista da Atenção Básica.
Para tanto, é preciso investir constantemente nas relações entre os envolvidos,
tendo em vista também a fala do gestor CAPS C, que aponta a existência de

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

importantes dificuldades relacionais entre CAPS e US, as quais podem representar


um obstáculo à efetivação do matriciamento em saúde mental:

No território a equipe tem todo um contexto de violência e aí ela tem neces-


sidade de compartilhar com o outro, às vezes ela sinaliza isto e a gente
fala: “Não é não, deficiência mental não é para CAPS”, “isto também não
é”, “isto não”. Quando estamos no CAPS, não conseguimos visualizar,
por exemplo, o medo que faz com que este profissional se feche também e
diga: “Olha, este caso também não é meu, este caso é do outro que não está
lá no território”. Aí você acha que ele não quer, mas a violência interfere e
atravessa diretamente o trabalho de matriciamento. Então todo mundo fica
muito fechado, e a gente acaba perdendo a oportunidade até de pontuar o
que a gente precisa com a equipe, porque a gente não tem vínculo com ela.
Porque, quando você escuta, você vai vinculando e, quando você coloca uma
barreira, acabou. Você tem que estar junto até a pessoa depois desgarrar.

Normalmente, as equipes precisam se sentir matriciadas para assumirem a


responsabilidade pelo cuidado, ainda mais no que diz respeito à saúde mental, por
toda a estigmatização já discutida. Para tanto, há que se operar certo abandono dos
protocolos, no sentido de se disponibilizar mais a estar e fazer com o outro, indepen-
dentemente da situação que se apresenta, ao contrário de uma postura defensiva de
fluxos fechados, que consolidam barreiras aos encontros produtivos necessários ao
cuidado. Se a equipe da Atenção Básica, por exemplo, solicita esse matriciamento,
mesmo de maneira equivocada, é porque ela visualiza nele certa possibilidade de
cuidado, fora ser uma importante oportunidade de educação continuada, educação
permanente, formação de vínculo — indispensável à criação de uma proximidade
para posterior promoção de autonomia — e abertura para o território, necessário à
promoção à saúde e à desinstitucionalização do cuidado.
Seguindo na problematização sobre as dificuldades que circundam o
matriciamento em saúde mental, o coordenador municipal da área técnica de saúde
mental 1 traz ainda como um dificultador à efetivação do matriciamento a falta de
identificação de alguns profissionais concursados com a saúde mental:

O apoio matricial, para além de uma técnica, precisa de certa ideologia


de cuidado, precisa de um profissional consciente disto e isto não é fácil.
São profissionais concursados que estão em CAPS e não gostam de CAPS.
Então, como que esta pessoa vai fazer algum apoio matricial?

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Alexandra Iglesias, Luziane Zacché Avellar

A ideia trazida nessa fala corrobora a preocupação de Nascimento e Oliveira


(2011), as quais destacam a importância de problematizar a formação desses profis-
sionais de saúde para além do conhecimento técnico, no sentido de fomentar habili-
dades e atitudes necessárias aos desafios atuais do trabalho em saúde, tendo em
vista a responsabilidade social envolvida nessa ação profissional.
Em pesquisa realizada pelas autoras (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2011)
sobre as competências para o processo de trabalho nos Núcleos de Apoio à Saúde
da Família (NASF), foi apontada a necessidade de conhecimento sobre as políticas
públicas de saúde, território, perfil epidemiológico da população e rede de cuidados,
mas também a imprescindibilidade de acolhimento, de escuta, de comunicação e do
trabalho em equipe. Nessa discussão, vale destacar a defesa deste estudo na possibi-
lidade de produção social dessas habilidades, o que desfaz qualquer ideia de respon-
sabilização única e simples de um indivíduo pela não efetivação de qualquer propos-
ta. Todas as habilidades tornam-se importantes para o trabalho no SUS, mas, assim
como a cultura institucional, a subjetividade é socialmente produzida no encontro
entre as pessoas.
A efetivação das potencialidades do matriciamento discutidas até aqui
necessita também de algumas garantias estruturais e organizacionais. Isso comparece
nas falas dos gestores, os quais afirmam que o fato de o município, por exemplo, não
ter governabilidade sobre todos os níveis de atenção representa certo entrave:

Alguns casos muito graves são bem conduzidos. O apoio vai junto com a unidade
e, na hora de internação ou urgência, nada acontece. Os leitos de urgência não são
do município. Às vezes a gente tem seis profissionais, juntando da básica com do
CAPS, que passam o dia inteiro esperando o SAMU [Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência], esperando vaga, e  o  cara continua em casa mal. Então,
realmente, a falta de todos os pontos da rede atrapalha o matriciamento, mas não
são todos os casos que precisam disto [coordenador municipal 2].

Vale ressaltar essa última pontuação feita pelo coordenador municipal da área
técnica de saúde mental 2 de que não são todos os casos que precisam dessas articula-
ções com o hospital — apontadas como arrumações difíceis no cotidiano do trabalho —,
para que essa dificuldade não sobrepuje tantas outras possibilidades de cuidado nas unida-
des ou nos CAPS. Com isso, não estamos desmerecendo a necessidade de resolução de
tais desafios. Essas carências na rede representam entraves ao cuidado, já que a Atenção
Básica, nesse processo de matriciamento, traz para a cena do território essas situações de
sofrimento psíquico, o que vai requisitar a garantia do cuidado pela rede como um todo.
Uma rede que, como diz Figueiredo (2006, p. 39), atue efetivamente como colaboradora

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

do cuidado em saúde mental, e não como uma teia na qual a pessoa em sofrimento psíqui-
co fique presa, sem acesso, perdida nos “emaranhados da desresponsabilização, uma rede
de salvamento e não de captura e indefesa”.
Ainda na perspectiva de discussão das garantias necessárias à efetivação do
matriciamento em toda a sua potencialidade, os gestores apresentam outros entraves:
dificuldade de deslocamento do profissional de um serviço a outro para o encontro
entre equipes e a rotatividade dos profissionais das equipes, além de incompatibilidades
de agendas entre matriciador e matriciando. “Eu vejo alguns diretores reclamando:
‘O matriciamento em saúde mental quer um dia, o idoso quer outro’. É agenda demais,
e eles têm uma demanda muito grande. Você vai marcar uma compartilhada para 30 dias
por conta de não ter agenda. Acaba que não tem um processo” (gestor CAPS B).
Além disso, os gestores apontam como dificuldade para o fortalecimento
do matriciamento em saúde mental a falta de espaços de discussão entre os
matriciadores. “Alguns matriciadores começaram a fazer de um jeito, outros de
outro, e não se falavam exatamente. Então teve a falta de alguns alinhamentos,
da diferença do que é crise, do que é urgência, por exemplo. A cada crise ressurge
esta discussão: ‘O paciente é meu ou não é?’” (coordenador municipal 2).
Nesse contexto de discussão, Figueiredo (2006) ressalta a necessidade de reconhe-
cermos que essas mudanças da lógica de trabalho trazidas pela base conceitual do matri-
ciamento, não são simples de serem incorporadas, em sua abrangência, pelas equipes e
que não se dão de modo automático, com a determinações de diretrizes. Essas mudanças
precisam ser trabalhadas com as equipes, inclusive as equipes matriciadoras, por meio
desses encontros de reflexão e análise crítica sobre o próprio trabalho. Assim, esses
encontros tornam-se “continentes aos problemas na relação entre a equipe, aos precon-
ceitos em relação à loucura, à dificuldade de entrar em contato com o sofrimento do outro
e à sobrecarga trazida pela lida diária com a pobreza e a violência” (FIGUEIREDO, 2006,
p. 131). A autora acrescenta que todas essas questões podem se reverter em entraves à
efetivação do matriciamento — como também discutido neste texto —, caso não estive-
rem garantidos esses espaços de “reflexão e formação permanentes para processá-las,
capazes de realimentar constantemente as fortalezas do apoio matricial enquanto arranjo
transformador das práticas hegemônicas na saúde” (FIGUEIREDO, 2006, p. 131).
A ausência desses espaços de discussão acerca da proposta matricial pode
levar também a alguns outros problemas, como citado pelo gestor CAPS C, relativos
a equívocos de demandas das unidades ao matriciamento e aos riscos de atendê-las,
caso as propostas não estejam bem apreendidas pelos envolvidos:

Mental - v. 11 - n. 20 - Barbacena-MG - Jan-Jun 2017 - p. 63-90 79


Alexandra Iglesias, Luziane Zacché Avellar

Às vezes a demanda aparece como “venham tratar e tomar conta do caso”.


Isto faz com que desapareça o principal agente que é o caso, e aí ficaria melhor
mesmo na lógica da referência e contra referência. A gente não pode perder a
lógica e a essência do matriciamento, que é apoiar e orientar a direção de uma
intervenção. Tinha um caso que eles queriam porque queria[m] a presença
do CAPS para fechar o diagnóstico e para encaminhar a situação, enquanto
que a dificuldade era de estabelecer vínculo com uma pessoa que não queria
fazer vínculo. O problema é quando os apoiadores entram nesta, que apenas os
centros mesmo que têm condições de resolver. Isto nos coloca de um proble-
ma das microrrelações para um problema macro, que é hoje a demanda de
internação compulsória para todos os usuários de crack ou de qualquer outra
droga que esteja em situação de rua (gestor CAPS C).

Há um risco colocado aí de perdermos o foco das ações em saúde: o sujeito.


Ao priorizarmos sobremaneira o diagnóstico e a transferência de responsabilidade ao
outro pelo cuidado, para nos eximir de toda a complexidade que esses casos envolvem,
configura-se, como trazido em outro estudo, um “jogo de empurra” que apenas distan-
cia a possibilidade de efetivação da integralidade do cuidado (IGLESIAS; AVELLAR,
2016a). O matriciamento supõe, como discutido no plano teórico, corresponsabilida-
de, principalmente por acreditar que a qualidade da atenção não é possível de modo
fragmentado nem isolado. Isto é, requer-se necessariamente múltiplas articulações
entre saberes e práticas diferenciadas, igualmente importantes nesse cuidado.
No entanto, ainda é marcante no setor da saúde a centralidade da doença e da
lógica do encaminhamento, o que representa obstáculo à efetivação daquele matriciamen-
to voltado à possibilidade de trabalho conjunto, o qual, ao contrário daquela lógica que
implica normalmente transferência de responsabilidade, busca o compartilhamento dela.
No mais, o coordenador municipal da área técnica de saúde mental 2
percebe como um dificultador a pouca apropriação dos CAPS da proposta matricial.
Para ele, os CAPS teriam condições de estarem mais envolvidos no matriciamento,
“inclusive era uma coisa que a gente esperava e não foi cumprida”.

Falta esta apropriação dos CAPS deste processo, deles ajudarem as unidades
a ter mais recursos de cultura, de socialização, de lazer, de geração de renda,
pode avançar para ter cooperativa de usuário, atividade durante o fim de
semana. Mas ainda falta uma maior apropriação, saber: “Quantos usuários
vocês têm? Quais são graves?”. Tranquilizar a básica, porque a básica vem
muito na questão do incêndio do caso, da crise, e acho que às vezes o CAPS
entra nesta também, querendo cuidar, o que é legal, mas tem que dar uma
saída depois. Cuidou? Agora vamos ajudar a unidade para ela vê que não

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

tem todos os casos graves, este é um caso no meio de dez, mas que os outros
nove são tranquilos, e se a gente cuidar, acompanhar, a gente não é pega de
surpresa tantas vezes. Então acho que isto é possível o CAPS fazer, vê onde
tem muito usuário que está dentro do CAPS que precisa sair, vê o que tem
no território, vê esta parte de inserção e trabalho, contar com a comunida-
de como recurso. Isto é pouco feito pela unidade e pelo matriciamento do
CAPS [coordenador municipal da área de saúde mental 2].

Por fim, vale dizer também que houve gestores que não reconhecem nenhu-
ma dificuldade relacionada ao matriciamento: “Não tem nenhuma dificuldade, nem
para agendar. Eles mesmo ligam” (gestor US 5).

3.4 Propostas de mudanças para o matriciamento


Foi marcante entre os gestores, principalmente entre aqueles que trazem a
concepção do matriciamento como uma possibilidade de trabalho conjunto e de formação
e orientação para a ação em saúde mental, a proposta de criação de equipes específicas
para o trabalho de matriciamento, com mais disponibilidade à Atenção Básica, com um
dia da semana para atender a cada US. Assim, segundo o gestor CAPS B, seria possível
reduzir aquela perspectiva ainda presente em algumas unidades de que “todos os casos de
sofrimento psíquico têm que ser do CAPS”. Com essa discussão, o coordenador municipal
da área técnica de saúde mental 1 agrega à proposta a possibilidade de implantação de
NASF, a fim de evitar possíveis conflitos de relações entre equipes de serviços diferentes
que se colocam na defesa por uma ou outra instituição da qual fazem parte:

Talvez criar NASF, mas, mesmo assim, acho que deveria ter uma forma de
articulação NASF e CAPS, porque nas reuniões nacionais a gente vê proble-
mas em relação a esta articulação que dificulta o trabalho. Nós temos número
de profissionais e variedade para fazer um bom NASF, só que teria que ter
muito trabalho para este processo integrar e não ser mais um elemento da
rede para fragmentar e virar ambulatório, porque a gente sabe que no Brasil
também tem NASF que são ambulatórios. Então, marca[m]-se as consultas.
Isto também não significa que teria que acabar com o apoio matricial nos
CAPS, pelos CAPS. Mas ter estas outras equipes.

Como discutido, a regularidade de uma equipe para essa função tem impor-
tantes vantagens em fazer valer a integração da saúde mental na Atenção Básica em
toda a sua potencialidade. No que diz respeito à implantação de NASF, o coorde-
nador municipal da área técnica de saúde mental, conhecendo a história desse

Mental - v. 11 - n. 20 - Barbacena-MG - Jan-Jun 2017 - p. 63-90 81


Alexandra Iglesias, Luziane Zacché Avellar

matriciamento no município, que já possuiu equipes específicas para o exercício


dessa função matricial (IGLESIAS; AVELLAR, 2016b), consegue ponderar os
riscos dessa conformação, caso não se garanta a articulação dessas equipes das
unidades com os CAPS, a fim de não se configurar um intermediário na relação
entre esses serviços substitutivos e a Atenção Básica.
Essas vantagens e ponderações já foram percebidas e analisadas em
outros contextos, tanto que o Ministério da Saúde lançou em 2008 a proposta das
equipes NASF, que nascem com tal vocação de realizar matriciamento, estando
lotadas na Atenção Básica. Não que outros serviços não possam trabalhar com
base nessa perspectiva, até é importante que o façam, mas as equipes NASF
trabalham necessariamente sustentadas pela lógica matricial, com o objetivo de
fortalecer a Atenção Básica em suas fragilidades, fazendo com ela e não por ela
(CAMPOS, 1998).
Independentemente de o matriciamento ser realizado por equipes específicas
de dentro ou de fora do CAPS, o gestor US 4 traz a proposta de ampliação da
frequência dos matriciadores no espaço da Atenção Básica, incluindo o psiquiatra,
para o fortalecimento desse trabalho matricial e para a ampliação das possibilidades
de ação para além da discussão de caso: “Vejo que, sendo uma coisa rápida, não se
aprofunda, no máximo que faz é um relato. A gente precisa de mais tempo, porque
a saúde mental está muito mais presente na família, começa com as crianças, vai
para um transtorno maior quando adulto, o autismo está em alta. É isto”.
Tal proposta vai ao encontro de alguns dados já discutidos neste texto sobre
a maior visibilidade da saúde mental no campo geral da saúde. Para além do fato
de a “saúde mental está muito mais presente na família”, ocorreu a ampliação
do olhar acerca da temática, por todos os movimentos históricos relativos à
reforma psiquiátrica. Isso tem requisitado, especialmente da Atenção Básica,
que está onde as pessoas em sofrimento psíquico vivem, certo aprofundamento
nas discussões das situações cotidianas, o que remete à necessidade da maior
presença do matriciamento para dar suporte a essa equipe na desafiadora tarefa de
desinstitucionalização e promoção à saúde mental.
Na direção de avaliação dessas práxis matriciais, os gestores apontam como
proposta a ideia de um levantamento e de uma análise sistemática do matriciamento
para possíveis replanejamentos desse trabalho: “Acho que é preciso fazer uma
leitura do que foi o projeto, o mapa inicial, e projetar o futuro e lá na frente fazer
isto novamente” (gestor CAPS C).
Para esses gestores, é nesse movimento de avaliação que será possível
consolidar o matriciamento: “Poder ver onde estamos, para onde estamos indo e o que

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

fizemos, senão vai ser instituído um dispositivo que vem para quebrar certa hierarquia,
mas acaba ficando hierarquizada e engessada no protocolo” (gestor CAPS B).
Destaca-se nessa proposta a imprescindibilidade de análise constante desse
trabalho, que busca, assim como outras estratégias importantes voltadas à promoção
à saúde e à desinstitucionalização do cuidado, a consolidação daqueles princípios
trazidos pelo SUS, difíceis de se efetivar no cotidiano das práticas, por toda a
lógica existente de compartimentalização e pouca sociabilidade, mas possível de
acontecer por conta da invenção, do compromisso e da articulação dos atores da
saúde — usuários, profissionais de saúde e gestores. Como bem ressalta o gestor
CAPS C: “O matriciamento é uma invenção a cada ato que se faz”, o que reafirma a
importância desses momentos de reflexão das práticas e das integrações e parcerias
diversas no trato com a complexidade da vida em seu movimento.
Nesse contexto, defendemos que, independentemente de esse matriciamento
ser acionado pela atenção básica aos CAPS, ele precisa estar com a Atenção Básica
também provocando a construção de outro olhar sobre os sujeitos e sobre a práxis
em saúde, pela invenção de possibilidades mais efetivas de integralidade da atenção.
Trata-se de uma clínica artesanal que tenta escapar à perspectiva protocolar, na
medida em que se abre a invenções mediante essas relações com cada sujeito em
suas particularidades e em seu entorno.
Onocko-Campos (2003) igualmente pontua a necessidade de uma análi-
se crítica sistemática da perspectiva matricial, tendo em vista que, assim como
qualquer arranjo que se institucionaliza, o matriciamento pode ser capturado pela
lógica tradicional. Como um trabalho para a desinstitucionalização, o matriciamen-
to em saúde mental deve se dispor também à crítica, ao conflito, à reinvenção de
ações de cuidado, para a desconstrução de realidades excludentes consolidadas e a
invenção de outras realidades de respeito e valorização das diferenças.
Nessa perspectivas de mudanças de paradigma no modo de operar no setor
da saúde, conforme trazido pelo coordenador municipal da área técnica de saúde
mental 2, faz-se importante garantir o suporte formativo também aos matriciadores,
que estão se formando igualmente em serviço, por meio dessas relações propostas
pelo matriciamento. Assim, outras proposições trazidas pelos gestores deste estudo
se tornam mais viáveis, como, por exemplo, a ideia de ampliação do matriciamento
para outros serviços da rede, para além da Atenção Básica:

Dar um apoio aos profissionais que não estão diretamente vinculados à


saúde mental, para que eles não demandem, tantas vezes, o especialista e
algum tipo de intervenção que reforce a tese da segregação. São casos que

Mental - v. 11 - n. 20 - Barbacena-MG - Jan-Jun 2017 - p. 63-90 83


Alexandra Iglesias, Luziane Zacché Avellar

a internação compulsória foi solicitada sem uma conversa com alguém da


saúde, por exemplo, que poderia orientar melhor como seria um pedido deste,
para que ela não ficasse quase que uma situação em definitivo. Então, tem
que poder conceitualmente dizer para aqueles que não conhecem a proposta
dele poder entender, acionar e solicitar [gestor CAPS C].

Interessante pensar nessa possibilidade de ampliação do processo formativo


em saúde mental, trabalhando o olhar de outros serviços da rede de cuidado para
a questão da saúde mental, incorporando-os na efetivação de políticas públicas,
por exemplo, mais pertinentes à promoção à saúde e à luta por mudanças cotidianas
pela desinstitucionalização.
Por fim, o coordenador municipal da área técnica de saúde mental 2 agrega
à proposta desse matriciamento em saúde mental, ampliar também os olhares
sobre as pessoas em sofrimento psíquico para a sua saúde de modo geral, como
presente na fala: “Penso que o matriciamento poderia ajudar em incluir na práti-
ca de CAPS e de unidade, tipo uma investigação da saúde do usuário, estar
vendo se ele é hipertenso, diabético, se está tratando. Têm tido muitas mortes por
problemas metabólicos”.
Tal proposta ressalta que, assim como estamos trabalhando pela inclusão
da saúde mental no processo de cuidado em saúde, não podemos perder de vista
que igualmente essas pessoas em sofrimento psíquico têm um corpo que necessita
também ser visto e cuidado. Isso deve ser destacado, principalmente, ao consi-
derarmos, no caso daqueles que fazem uso de psicofármacos, os efeitos dessas
medicações para aquele corpo que vivencia tal situação de fragilidades psíquicas.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Este estudo analisou as concepções trazidas pela gestão sobre o matricia-
mento, bem como as dificuldades enfrentadas, os avanços e as mudanças alcança-
das, assim como as propostas de fortalecimento dessa prática na visão do gestor.
Apostávamos que existiriam diferenças importantes entre os entendimentos dos
gestores entrevistados de serviços diferentes, contudo, pudemos apreender que tais
percepções, trazidas pelos gestores de US, de CAPS e os coordenadores municipais
da área técnica de saúde mental, se assemelham em grande parte.
Nessas discussões foram trazidas importantes mudanças alcançadas pelo
trabalho matricial, que busca primordialmente a produção de outra cultura no setor

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O matriciamento em saúde mental na perspectiva dos gestores

da saúde e sujeitos mais inventivos, participativos, ativos, críticos e solidários,


ao contrário de uma perspectiva tradicional, corporativista e alienante do profissio-
nal em relação ao resultado de seu trabalho.
Foi apontada pela gestão a possibilidade, alcançada pelo matriciamento em
saúde mental, de certa aproximação entre US e CAPS, CAPS e território e entre
os próprios CAPS, bem como a ampliação do cuidado aos casos mais comple-
xos de sofrimento psíquico, com a consequente redução do número de internações
psiquiátricas de moradores do município. Trata-se de avanços importantes para o
setor, especialmente para a saúde mental, que vai ao encontro daquela outra cultura
organizacional, pontuada por Campos (1998), de estímulo ao compromisso das
equipes com a produção de saúde, favorável às realizações pessoais e profissionais
desses trabalhadores.
Todavia, chama a atenção o fato de que todos os entraves trazidos pela
gestão ao fortalecimento da proposta do matriciamento indicam a dificuldade de
efetivação de encontros pautados na troca e na construção de parcerias efetivas para
a promoção à saúde: algumas unidades não funcionam na lógica da ESF, as quais
não conseguem garantir as reuniões das equipes para a integração do cuidado;
há limitações de transporte para locomoção dos profissionais de um serviço a outro
para efetivação do encontro; existe dificuldade de conciliação de agendas entre os
serviços para discussão conjunta; falta encontro entre os matriciadores; há dificul-
dades relacionais entre os envolvidos (que os distanciam); existem equívocos de
demanda ao matriciamento por dificuldade de alinhar entendimentos, entre outros.
Mas, afinal, por que é tão difícil garantir e manter esses momentos de
encontro produtivo? Há que se problematizar tais questões, tendo em vista, princi-
palmente, que esses momentos de encontro estão assegurados pelas políticas que
instituem a Atenção Básica e os CAPS, as quais preveem esses momentos de
discussão da clínica. No mais, a própria lei regulamentadora do SUS garante tal
integração entre profissionais e serviços, ao destacar em seus princípios a interse-
torialidade e a integralidade da atenção, que não se sustentam sem essas possibili-
dades de encontros produtivos. Contudo, mesmo assim as dificuldades de manter
esses encontros persistem.
Nesse sentido, questionamo-nos também até que ponto conseguimos efeti-
var aquele compartilhamento das decisões para a aproximação das necessidades da
população, de modo que cada ator da saúde se aproprie de seu papel de gestão na
vida e no trabalho. Até que ponto estamos nos aproximando da gestão interativa
proposta pelo matriciamento, possibilitada pela junção daqueles vários atores, para
fazer funcionar o sistema em toda a sua potencialidade, por um objetivo comum?

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Alexandra Iglesias, Luziane Zacché Avellar

Até que ponto estamos efetivamente fazendo acontecer um trabalho articula-


do? Até que ponto tem se apostado no público?
Tudo isso requer o encontro produtivo, obstaculizado por uma sociedade
regulada pela lógica capitalista, a qual incentiva a fabricação de um sujeito competi-
tivo e individualista em detrimento de princípios solidários (ONOCKO-CAMPOS;
GAMA, 2008). Pode-se dizer, assim, que são muitas as barreiras ao encontro efeti-
vo e produtivo, uma vez que também esse estar com o outro muitas vezes ameaça
o poder daqueles que centralizam ações e saberes, ou, ainda, expõe cada um que
se dispõe ao trabalho conjunto a ter seus conhecimentos e práticas questionados
pelas diferentes visões de mundo ali presentes. Por outro lado, somente esse fazer
interativo possibilita o cuidado integral, efetivamente produtor de saúde, já que
entendemos saúde como um amplo espectro de fatores ligados à vida, em que um
único saber e prática jamais conseguirão assegurá-la.
Por tudo isso, salientamos mais uma vez a importância de essas práticas
matriciais serem colocadas constantemente em análise, corroborando as
preocupações de Onocko-Campos e Gama (2008, p. 417) de que as “políticas
públicas de saúde podem facilmente se converter em aparato de poder servindo
para a reprodução de condições do interesse do capital e controle sobre o modo de
vida da população”, em detrimento das inter-relações e interações pretendidas à
produção de saúde que buscamos, por meio também da lógica matricial.

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