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Informativo 967-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista. Serão comentados assim que chegarem ao
fim: ADI 2838/MT; ADI 4624/TO; ADI 5942/DF; ACO 2178/ES.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
APOSENTADORIA
▪ O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas.

LEI DA RELICITAÇÃO
▪ As normas previstas na Lei da Relicitação (Lei 13.448/2017) para a prorrogação antecipada dos contratos de
concessão são compatíveis com os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da
moralidade e da competitividade.

DIREITO PENAL
CRIME DE INCÊNDIO
▪ A materialidade do delito de incêndio deve ser comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, podendo
ser suprida por outros meios caso haja uma justificativa para a não realização do laudo pericial.

TRÁFICO DE DROGAS
▪ É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas pelo simples fato de o acusado ser
investigado em inquérito policial ou réu em outra ação penal que ainda não transitou em julgado?

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
▪ Depois de anos sendo investigado em inquérito que tramitava no STF, o Ministro Relator declinou a competência
para apurar os crimes porque os fatos ocorreram antes de o investigado ser Deputado Federal; logo, aplica-se o
entendimento firmado na AP 937 QO.

PROVA TESTEMUNHAL
▪ Advogado que teve seus poderes revogados pela cliente, que pediu de volta os documentos do caso, não pode depor
como testemunha no processo porque a conduta da parte demonstra que ela não liberou o causídico do sigilo
profissional que ele deve respeitar.

PRISÃO DOMICILIAR
▪ A prisão domiciliar do art. 318 do CPP só se aplica para os casos de prisão preventiva, não podendo ser utilizado
quando se tratar de execução definitiva de título condenatório (sentença condenatória transitada em julgado).

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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DIREITO ADMINISTRATIVO

APOSENTADORIA
O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas

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Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de
Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de
concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à
respectiva Corte de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral –
Tema 445) (Info 967).

Como funciona o procedimento de concessão da aposentadoria, reforma ou pensão no serviço público?


O departamento de pessoal do órgão ou entidade ao qual o servidor está vinculado analisa se ele preenche
os requisitos legais para a aposentadoria e, em caso afirmativo, concede o benefício. Esse momento, no
entanto, é chamado ainda de “concessão inicial” da aposentadoria, considerando que ainda haverá um
controle de legalidade a ser feito pelo Tribunal de Contas. Somente após passar por esse controle do
Tribunal de Contas é que a aposentadoria poderá ser considerada definitivamente concedida.

Diante disso, qual é a natureza jurídica do ato de aposentadoria?


Trata-se de um ato administrativo complexo (segundo o STJ e o STF).
O ato administrativo complexo é aquele que, para ser formado, necessita da manifestação de vontade de
dois ou mais diferentes órgãos.
Assim, a concessão de aposentadoria ou pensão constitui ato administrativo complexo, que somente se
aperfeiçoa após o julgamento de sua legalidade pela Corte de Contas.
Obs: a doutrina critica bastante esse enquadramento, mas foi como decidiram os Tribunais Superiores.

O TCU possui um prazo para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão?
SIM. Por motivos de segurança jurídica e necessidade da estabilização das relações, é necessário fixar-se
um prazo para que a Corte de Contas exerça seu dever constitucional previsto no art. 71, III, da CF/88:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal
de Contas da União, ao qual compete:
(...)
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título,
na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não
alterem o fundamento legal do ato concessório;

E qual é esse prazo?


5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932:

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2


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Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer
direito ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, seja qual for a sua natureza,
prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.

Vale ressaltar que esse Decreto 20.910/1932 foi recepcionado pela CF/88 com status de lei ordinária.

Alguns de vocês podem estar pensando: mas esse art. 1º do Decreto 20.910/1932 trata do prazo
prescricional de pretensões propostas por particulares contra o Poder Público... Por que ele se aplica
nesse caso do Tribunal de Contas?
Na verdade, não existe realmente uma lei que preveja um prazo específico para essa hipótese. Não há
uma lei disciplinando o prazo para que o Tribunal de Contas analise a concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão.
Diante da inexistência de norma que incida diretamente sobre a hipótese, aplica-se ao caso o disposto no
art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB):
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.

Assim, o STF, invocando o princípio da isonomia, entendeu que o mais correto seria aplicar, por analogia,
o prazo do art. 1º do Decreto 20.910/1932.
O raciocínio do STF foi o seguinte: ora, se o administrado tem o prazo de 5 anos para pleitear seus direitos
contra a Fazenda Pública, deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo
(Tribunal de Contas), também possui o mesmo prazo para rever eventual ato administrativo favorável ao
administrado. Isso é isonomia.
Desse modo, a fixação do prazo de 5 anos se afigura razoável para que o Tribunal de Contas proceda ao
registro dos atos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão
definitivamente registrados.

A partir de quando é contado esse prazo de 5 anos?


Esse prazo de 5 anos começa a ser contado no dia em que o processo chega ao Tribunal de Contas.
Assim, se o processo de concessão inicial da aposentadoria chega ao Tribunal de Contas no dia
02/02/2015, a Corte de Contas terá até o dia 02/02/2020 para julgar a legalidade deste ato.
Se passar o prazo, o Tribunal de Contas não poderá mais rever esse ato. Esgotado o prazo, considera-se
que a aposentadoria, reforma ou pensão está definitivamente registrada, mesmo sem ter havido a análise
pelo Tribunal de Contas.

Esse prazo de 5 anos vale também para o âmbito estadual (TCEs) ou só para o TCU?
O entendimento vale tanto para o Tribunal de Contas da União como para os Tribunais de Contas estaduais.

Em suma:
Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão
sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema
445) (Info 967).

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3


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A SV 3 POSSUÍA UMA EXCEÇÃO, QUE DEIXA DE EXISTIR


Quando o Tribunal de Contas faz o controle de legalidade do ato de “concessão inicial” da
aposentadoria, reforma ou pensão, é necessário que ele assegure contraditório e ampla defesa ao
interessado?
NÃO. Isso porque quando o Tribunal de Contas aprecia, para fins de registro, a legalidade das concessões
de aposentadorias, reformas e pensões, não há litígio ou acusação, mas tão somente a realização de um
ato administrativo. Logo, não havendo litígio, não é necessário contraditório ou ampla defesa.
Para que não houvesse dúvidas quanto a isso, o STF editou, em 30/05/2007, uma súmula:
Súmula Vinculante 3-STF: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

++ (Juiz Federal TRF4 2014): Excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão, nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado. (CERTO)

A análise da aposentadoria ou pensão representa o exercício de uma competência constitucional do


Tribunal de Contas (art. 71, III), motivo pelo qual ocorre sem a participação dos interessados e, portanto,
sem a observância do contraditório e da ampla defesa:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal
de Contas da União, ao qual compete:
(...)
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título,
na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não
alterem o fundamento legal do ato concessório;

A SV possuía uma exceção


A jurisprudência do STF, antes do RE 636553/RS (Tema 445), havia construído uma exceção à SV 3: se o
Tribunal de Contas tivesse demorado mais do que 5 anos para analisar a concessão inicial da
aposentadoria, ele teria que permitir contraditório e ampla defesa ao interessado.
Essa exceção deixou de existir com o julgamento do RE 636553/RS.
O STF passou a dizer que, se o Tribunal de Contas demorar mais que 5 anos para julgar a aposentadoria,
reforma ou pensão, o ato é considerado definitivamente registrado.

Antes do RE 636553/RS (Tema 445) Depois do RE 636553/RS (Tema 445)


Não havia prazo para o Tribunal de Contas apreciar O Tribunal de Contas possui o prazo de 5 anos para
a legalidade do ato de concessão inicial da apreciar a legalidade do ato de concessão inicial da
aposentadoria, reforma ou pensão. aposentadoria, reforma ou pensão.
Se o Tribunal de Contas demorasse mais de 5 anos Se o Tribunal de Contas demorar mais de 5 anos
para apreciar a legalidade do ato, ele continuaria para apreciar a legalidade, ele não poderá mais
podendo examinar, mas passava a ser necessário rever esse ato. Esgotado o prazo, considera-se que
garantir contraditório e ampla defesa ao a aposentadoria, reforma ou pensão está
interessado.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4


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definitivamente registrada, mesmo sem ter havido


a análise pelo Tribunal de Contas.
Esse prazo de 5 anos era contado a partir da data Mesma regra. O prazo de 5 anos para que o
da chegada, ao TCU, do processo administrativo Tribunal de Contas julgue a legalidade do ato de
de concessão inicial da aposentadoria, reforma ou concessão inicial de aposentadoria, reforma ou
pensão. pensão, é contado da chegada do processo à
respectiva Corte de Contas.
A SV 3 possuía uma exceção. A SV não possui mais exceção. Em nenhum caso
será necessário contraditório ou ampla defesa.

LEI DA RELICITAÇÃO
As normas previstas na Lei da Relicitação (Lei 13.448/2017) para a prorrogação antecipada dos
contratos de concessão são compatíveis com os princípios constitucionais da eficiência, da
razoabilidade, da impessoalidade, da moralidade e da competitividade

As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de


concessão não violam os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da
impessoalidade, da moralidade e da competitividade.
As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime
de concessão de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a
segurança e a fixação de tarifas em valores razoáveis (modicidade).
A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização da agência reguladora.
Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo ainda a
necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final.
STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/2/2020 (Info 967).

Lei nº 13.448/2017
Em 2017, foi editada a Lei nº 13.448/2017, que estabeleceu diretrizes gerais para prorrogação e relicitação
dos contratos de parceria nos setores rodoviário, ferroviário e aeroportuário da administração pública
federal.
Essa Lei trouxe, portanto, a possibilidade de prorrogação ou de relicitação dos contratos de concessões de
rodovias, ferrovias e de aeroportos federais que tenham sido definidos pelo Programa de Parcerias de
Investimentos – PPI (Lei nº 13.334/2016).

Em que consiste essa prorrogação?


Consiste na extensão do prazo dos contratos de parceria. Isso pode ocorrer de duas formas:
• Prorrogação contratual: alteração do prazo de vigência do contrato de parceria realizada em razão do
término da vigência do ajuste;
• Prorrogação antecipada: alteração do prazo de vigência do contrato de parceria antes do término da
vigência do ajuste.

Obs: as prorrogações aplicam-se apenas aos contratos relacionados com rodovias e ferrovias (aeroportos
não).

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5


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O que é relicitação?
O Governo percebeu que algumas concessionárias que celebraram contratos de parceria nos setores
rodoviário, ferroviário e aeroportuário não estavam conseguindo cumprir suas obrigações.
Diante disso, abriu-se a possibilidade de haver um desfazimento consensual desses contratos com a
imediata assunção de novas empresas, escolhidas mediante licitação.
Tem-se aí a previsão do instituto da relicitação.
Relicitação é, portanto, a extinção amigável do contrato de parceria (Lei nº 13.334/2016) e a celebração
de novo ajuste negocial para o empreendimento, em novas condições contratuais e com novos
contratados, mediante licitação promovida para esse fim.
A Lei nº 13.448/2017 autorizou que a União faça a relicitação dos contratos de concessão dos setores
rodoviário, ferroviário e aeroportuário nos casos em que a concessionária esteja com dificuldades de
cumprir suas obrigações contratuais. Veja o texto da Lei:
Art. 13. Com o objetivo de assegurar a continuidade da prestação dos serviços, o órgão ou a
entidade competente poderá realizar, observadas as condições fixadas nesta Lei, a relicitação do
objeto dos contratos de parceria nos setores rodoviário, ferroviário e aeroportuário cujas
disposições contratuais não estejam sendo atendidas ou cujos contratados demonstrem
incapacidade de adimplir as obrigações contratuais ou financeiras assumidas originalmente.

A Lei autorizou que a relicitação fosse feita em quais contratos?


Apenas nos contratos de parceria relacionados com os setores rodoviário, ferroviário e aeroportuário.

ADI
Em 2018, a então Procuradora-Geral da República Raquel Dodge ajuizou ação direta de inconstitucionalidade
contra dispositivos da Lei da Relicitação (Lei nº 13.448/2017) que flexibilizam os critérios para a prorrogação
antecipada de contratos de concessão de ferrovias sem a necessidade de licitação.
Os dispositivos impugnados foram os seguintes:
Art. 6º A prorrogação antecipada ocorrerá por meio da inclusão de investimentos não previstos
no instrumento contratual vigente, observado o disposto no art. 3º desta Lei.
(...)
§ 2º A prorrogação antecipada estará, ainda, condicionada ao atendimento das seguintes
exigências por parte do contratado:
(...)
II – quanto à concessão ferroviária, a prestação de serviço adequado, entendendo-se como tal o
cumprimento, no período antecedente de 5 (cinco) anos, contado da data da proposta de
antecipação da prorrogação, das metas de produção e de segurança definidas no contrato, por 3
(três) anos, ou das metas de segurança definidas no contrato, por 4 (quatro) anos.

Art. 25. O órgão ou a entidade competente é autorizado a promover alterações nos contratos de
parceria no setor ferroviário a fim de solucionar questões operacionais e logísticas, inclusive por
meio de prorrogações ou relicitações da totalidade ou de parte dos empreendimentos
contratados.
§ 1º O órgão ou a entidade competente poderá, de comum acordo com os contratados, buscar
soluções para todo o sistema e adotar medidas diferenciadas por contrato ou por trecho
ferroviário que considerem a reconfiguração de malhas, admitida a previsão de investimentos
pelos contratados em malha própria ou naquelas de interesse da administração pública.
(...)
§ 3º Nos termos e prazos definidos em ato do Poder Executivo, as partes promoverão a extinção
dos contratos de arrendamento de bens vinculados aos contratos de parceria no setor ferroviário,

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6


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preservando-se as obrigações financeiras pagas e a pagar dos contratos de arrendamento extintos


na equação econômico-financeira dos contratos de parceria.
§ 4º Os bens operacionais e não operacionais relacionados aos contratos de arrendamento
extintos serão transferidos de forma não onerosa ao contratado e integrarão o contrato de
parceria adaptado, com exceção dos bens imóveis, que serão objeto de cessão de uso ao
contratado, observado o disposto no § 2º deste artigo e sem prejuízo de outras obrigações.
§ 5º Ao contratado caberá gerir, substituir, dispor ou desfazer-se dos bens móveis operacionais e
não operacionais já transferidos ou que venham a integrar os contratos de parceria nos termos do
§ 3º deste artigo, observadas as condições relativas à capacidade de transporte e à qualidade dos
serviços pactuadas contratualmente.

Art. 30. São a União e os entes da administração pública federal indireta, em conjunto ou
isoladamente, autorizados a compensar haveres e deveres de natureza não tributária, incluindo
multas, com os respectivos contratados, no âmbito dos contratos nos setores rodoviário e
ferroviário.
(...)
§ 2º Os valores apurados com base no caput deste artigo poderão ser utilizados para o
investimento, diretamente pelos respectivos concessionários e subconcessionários, em malha
própria ou naquelas de interesse da administração pública.

A parte autora alegou que os dispositivos impugnados contrariam o caput e o inciso XXI do art. 37, e o
parágrafo único e o inciso IV do art. 175 da Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
(...)
IV – a obrigação de manter serviço adequado.

Em 2020, o STF apreciou o pedido de medida cautelar formulado pela PGR. O que decidiu o STF?
O Plenário, por maioria, indeferiu (negou) a medida cautelar.
Os ministros entenderam que as regras impugnadas, em princípio, são compatíveis com as normas
federais que regulam a prorrogação de contratos de concessão.
O atual Procurador-geral da República, Augusto Aras, reformulou a posição da PGR e se manifestou pela
improcedência do pedido. Ele explicou que, desde 2018, quando a ADI foi ajuizada, as condições mudaram
e que, no final de 2019, decisão do TCU considerou mais vantajosa a prorrogação antecipada dos
contratos, em vez de iniciar novo processo licitatório com a obra em andamento.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7


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O PGR informou ainda que o Ministério Público Federal assinou acordo de cooperação com os Ministérios
da Economia e da Infraestrutura para que passe a atuar preventivamente nas licitações de contratos
públicos para obras de infraestrutura.
As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de concessão
não violam os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da
moralidade e da competitividade.
As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime de concessão
de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a fixação de
tarifas em valores razoáveis (modicidade).
A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização da agência reguladora.
Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo ainda a
necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final.
STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/2/2020 (Info 967).

Vencidos
Ficam vencidos os Ministros Edson Fachin e Marco Aurélio.

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DIREITO PENAL
CRIME DE INCÊNDIO
A materialidade do delito de incêndio deve ser comprovada, em regra, mediante exame de
corpo de delito, podendo ser suprida por outros meios caso haja uma justificativa para a não
realização do laudo pericial

A materialidade do delito de incêndio (art. 250, § 1º, I, do CP), cuja prática deixa vestígios, deve
ser comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP.
Existe até uma previsão específica para o caso do crime de incêndio:
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado,
o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano
e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.
Vale ressaltar, no entanto, que a substituição do exame pericial por outros meios de prova é
possível em hipóteses excepcionais quando desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não
permitirem a realização do laudo, conforme autoriza o art. 167 do CPP.
Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é necessário que se demonstre que
houve uma justificativa para a não realização do laudo pericial.
Em um caso concreto, o STF entendeu que essa utilização estava justificada. Isso porque o réu,
mesmo após ser orientado pelo Corpo de Bombeiros a registrar, imediatamente, ocorrência
policial e solicitar perícia técnica ao Instituto de Criminalística, permaneceu inerte durante
sete dias. A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do desaparecimento
dos vestígios do crime, considerada a demora em registrar a ocorrência e a falta de
preservação do local. Por essa razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova
testemunhal, corroborada por cópias da apólice do seguro, aviso de sinistro, ocorrência
policial, relatório de regulação de sinistros, fotografias, laudos de averiguação e pelo laudo
elaborado pela seguradora. Levando em conta a justificada inviabilidade da elaboração do
exame de corpo de delito e a demonstração da materialidade do crime por outros meios de
prova, foi correta a aplicação do art. 167 do CPP no presente caso.
STF. 1ª Turma. HC 136964/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João era proprietário de um imóvel comercial (loja).
Ocorreu um incêndio neste imóvel.
O Corpo de Bombeiros foi acionado, no entanto, mesmo assim ocorreu a destruição total das mercadorias
que estavam ali estocadas.
O oficial do Corpo de Bombeiros que atendeu a ocorrência, após controlar o fogo, avisou a João que ele deveria
registrar, imediatamente, ocorrência policial e solicitar perícia técnica ao Instituto de Criminalística.
Apesar dessa advertência, João só tomou essas providências sete dias depois do incêndio.
Como demorou muito para registrar a ocorrência e como não houve preservação do local, os peritos do
Instituto de Criminalística não conseguiram fazer a perícia.
O imóvel estava segurado e João acionou a seguradora para receber a indenização securitária.
A seguradora fez uma perícia própria, que apontou que o incêndio teria sido proposital (criminoso).
Com base nisso e no restante do conjunto probatório, João foi denunciado e condenado pelo crime do art.
250, § 1º, I, do Código Penal:
Incêndio
Art. 250. Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

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Aumento de pena
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
(...)

(Cartório TJ/AP 2011) Pedro ateou fogo em sua loja de tecidos, com a finalidade de obter o respectivo
seguro, colocando em risco os imóveis vizinhos. Em razão dessa conduta, Pedro responderá por crime de:
A) perigo para a vida ou saúde de outrem;
B) incêndio culposo;
C) estelionato qualificado pela fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
D) incêndio doloso qualificado pelo intuito de obter vantagem econômica em proveito próprio;
E) estelionato simples.
Gabarito: letra D
Obs: o delito do art. 250 do CP é crime de perigo concreto:
++ (Promotor MP/SC 2010) Causar incêndio expondo a perigo o patrimônio de outrem é tipo penal
classificado corno crime de perigo abstrato. (ERRADO)
++ (Juiz de Direito TJ/SC 2015) O crime de incêndio, por ser de perigo comum, pode se consumar com a
provocação do mero perigo de incêndio, independentemente de expor diretamente a risco à vida ou à
integridade física ou patrimônio de outrem. (ERRADO)

Alegação de ilegalidade do laudo elaborado pela seguradora


O réu impetrou habeas corpus alegando que a condenação seria ilegal, considerando que teria sido
baseada em prova inidônea. Isso porque o laudo elaborado pela seguradora (vítima) não poderia ter sido
utilizado como fonte probatória.
Para a defesa, o art. 250 do CP é crime que deixa vestígios e, portanto, a sua materialidade somente
poderia ser comprovada mediante exame de corpo de delito:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Além disso, a defesa argumentou que a suposta demora do réu em comunicar a ocorrência à autoridade
policial não teria valor probatório e, portanto, não poderia ser utilizada contra o réu.
Desse modo, pediu a anulação da condenação imposta.

A tese da defesa foi acolhida pelo STF?


NÃO.

Laudo elaborado é prova documental


O laudo elaborado de forma unilateral (como foi o caso do laudo feito pela seguradora) não constitui prova
pericial. Trata-se de prova documental.
Logo, essa prova não precisava respeitar os requisitos previstos nos arts. 158 e seguintes do CPP.
Assim, o laudo produzido pela empresa seguradora vítima, por não se qualificar como perícia, não se trata
de prova ilícita, podendo ser utilizada no processo e valorado pelo Juízo.

Materialidade do crime do art. 250


A materialidade do delito versado no art. 250, § 1º, I, do CP, cuja prática deixa vestígios, deve ser
comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

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Existe até uma previsão específica para o caso do crime de incêndio:


Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado,
o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o
seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Vale ressaltar, no entanto, que a substituição do exame pericial por outros meios de prova é possível em
hipóteses excepcionais, quando desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não permitirem a realização
do laudo:
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios,
a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é necessário que se demonstre que houve uma
justificativa para a não realização do laudo pericial:
Nos delitos que deixam vestígios, a substituição do exame pericial por outros meios de prova somente é
possível em hipóteses excepcionais quando desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não permitirem
a realização do laudo (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1750717/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 05/02/2019.

No caso concreto houve uma justificativa para a não realização da perícia.


O réu, mesmo após ser orientado pelo Corpo de Bombeiros a registrar, imediatamente, ocorrência policial
e solicitar perícia técnica ao Instituto de Criminalística, permaneceu inerte durante sete dias.
A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do desaparecimento dos vestígios do
crime, considerada a demora em registrar a ocorrência e a falta de preservação do local.
Por essa razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova testemunhal, corroborada por cópias
da apólice do seguro, aviso de sinistro, ocorrência policial, relatório de regulação de sinistros, fotografias,
laudos de averiguação e pelo laudo elaboradora pela seguradora.
Levando em conta a justificada inviabilidade da elaboração do exame de corpo de delito e a demonstração da
materialidade do crime por outros meios de prova, foi correta a aplicação do art. 167 do CPP no presente caso.

Inércia do réu não foi considerada como prova contrária ao réu


O STF afirmou, ainda, que não é verdadeira a alegação de que foi atribuído valor probatório à omissão do
réu em proceder, oportunamente, ao registro da ocorrência.
O fato de a impossibilidade da realização do exame de prova pericial decorrer da inércia não significa que
o réu tenha sido punido pelo comportamento omissivo.
O réu não tinha uma obrigação legal de, em momento oportuno, comunicar a ocorrência à autoridade
policial. Isso não significa, contudo, que não se possa, em razão desse fato, utilizar outros meios de prova
produzidos legitimamente, para se conseguir a materialidade e a autoria do crime imputado.

Em suma:
Diante da ausência de exame de corpo de delito em virtude do fato de o dono do imóvel ter demorado
muito para registrar a ocorrência do incêndio e solicitar perícia técnica oficial, é possível suprir a realização
de exame por outros meios de prova, nos termos do art. 167 do CPP.
Assim, a materialidade do crime de incêndio (art. 250 do CP) pode ser comprovada pela prova
testemunhal, corroborada por cópias da apólice do seguro, aviso de sinistro, ocorrência policial, relatório
de regulação de sinistros, fotografias, laudos de averiguação e exame pericial.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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TRÁFICO DE DROGAS
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas
pelo simples fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou réu
em outra ação penal que ainda não transitou em julgado?

Atualize o Info 596-STJ


É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no
fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal
que ainda não transitou em julgado?
• STJ: SIM.
É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da
convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal
previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info 596).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020.

• STF: NÃO.
Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no
art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos
policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob
pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade).
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).
STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018.

Tráfico privilegiado (art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/2006)


A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também chamada de
“traficância menor” ou “traficância eventual”:
Art. 33 (...)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto
a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário,
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Qual é a natureza jurídica deste § 4º?


Trata-se de uma causa de diminuição de pena.

Redução: de 1/6 a 2/3


O magistrado tem plena autonomia para aplicar a redução no quantum que reputar adequado de acordo
com as peculiaridades do caso concreto. Vale ressaltar, no entanto, que essa fixação deve ser
suficientemente fundamentada e não pode utilizar os mesmos argumentos adotados em outras fases da
dosimetria da pena (STF HC 108387, 06.03.12). Dito de outra forma, não se pode utilizar os mesmos
fundamentos para fixar a pena-base acima do mínimo legal e para definir o quantum da redução prevista neste
dispositivo, sob pena de bis in idem.

++ (Delegado PC/RS 2018 FUNDATEC) Aquele que pratica conduta de tráfico de drogas, descrita no caput
do artigo 33 da referida Lei, pode ter sua pena reduzida nos mesmos patamares propostos no Código Penal

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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para a minorante da tentativa, desde que seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa. (ERRADO)

Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 131)


Tese 25: Diante da ausência de parâmetros legais, é possível que a fração de redução da causa de
diminuição de pena estabelecida no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 seja modulada em razão da
qualidade e da quantidade de droga apreendida, além das demais circunstâncias do delito.

Vedação à conversão em penas restritivas de direitos


O STF já declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em
penas restritivas de direitos”, constante deste § 4º do art. 33, de modo que é possível, segundo avaliação
do caso concreto, a concessão da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
desde que cumpridos os requisitos do art. 44 do CP.

Requisitos:
Para ter direito à minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, é necessário o
preenchimento de quatro requisitos autônomos:
a) primariedade;
b) bons antecedentes;
c) não dedicação a atividades criminosas; e
d) não integração à organização criminosa.

(Promotor MP/MG 2019) São requisitos para o reconhecimento do tráfico privilegiado que o agente seja
primário, de bons antecedentes e boa conduta social, que não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa. (ERRADO)

Se o réu não preencher algum desses requisitos, não terá direito à minorante. São requisitos cumulativos:
Jurisprudência em Teses do STJ
Tese 22: A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode ser aplicada
se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes.

Esse benefício se aplica para quais delitos?


• Art. 33, caput: tráfico de drogas.
• Art. 33, § 1º, I: importar, exportar, produzir, adquirir, vender, guardar matéria-prima, insumo ou produto
químico destinado à preparação de drogas.
• Art. 33, § 1º, II: semear, cultivar, fazer a colheita de plantas que são matéria-prima para preparação de
drogas.
• Art. 33, § 1º, III: utilizar local ou bem de sua propriedade, posse, administração guarda ou vigilância, ou
consentir que alguém utilize para o tráfico ilícito de drogas.

++ (Juiz de Direito TJ-MS 2020 FCC) No que concerne à lei de drogas, cabível a redução da pena de um
sexto a dois terços para o agente que tem em depósito, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação
de drogas, desde que primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa. (CERTO)

Tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo
Veja o que diz o novo § 5º do art. 112 da LEP:

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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Art. 112 (...)


§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de
drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. (Lei nº 13.964/2019
– Pacote Anticrime)

++ (Juiz Federal TRF2 2017) Presente a causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei
11.343/2006, por ser o agente primário, de bons antecedentes, não dedicado a atividades criminosas e não
integrante de organização criminosa, ainda assim é hediondo o crime de tráfico por ele praticado. (ERRADO)
Imagine agora a seguinte situação hipotética:
Regina foi denunciada pela prática de tráfico de drogas (art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006).
A defesa pediu a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas.
O juiz condenou a ré e negou o benefício do art. 33, § 4º sob o argumento de que ela responde a outro
processo criminal no qual também é acusada por tráfico de drogas. Logo, para o magistrado, está
comprovado que a acusada se dedica às atividades criminosas.
A defesa impugnou essa decisão alegando que esse segundo processo ainda não terminou, ou seja, ainda
não houve trânsito em julgado, de sorte que ela é presumivelmente inocente.
A decisão do juiz encontra amparo na jurisprudência?
• STJ: SIM
• STF: NÃO

É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no
fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal
que ainda não transitou em julgado?

STJ: SIM STF: NÃO

É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou Não se pode negar a aplicação da causa de
ações penais em curso para formação da diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no
convicção de que o réu se dedica a atividades art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com
criminosas, de modo a afastar o benefício legal fundamento no fato de o réu responder a
previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. inquéritos policiais ou processos criminais em
andamento, mesmo que estejam em fase recursal,
sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da
presunção de não culpabilidade).
Aplica-se o mesmo raciocínio firmado no RE
591054/SC: a existência de inquéritos policiais ou
de ações penais sem trânsito em julgado não
podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco
Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info 596). Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo
Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020. Lewandowski, julgado em 19/11/2018.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Depois de anos sendo investigado em inquérito que tramitava no STF, o Ministro Relator
declinou a competência para apurar os crimes porque os fatos ocorreram antes de o investigado
ser Deputado Federal; logo, aplica-se o entendimento firmado na AP 937 QO

O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como
argumento jurídico válido para prorrogar a competência do STF.
Apesar da efetiva evolução das investigações, sob a supervisão do STF, não houve
oferecimento de denúncia contra o agravante nem encerramento da instrução processual
penal. Logo, o marco temporal relativo à data de apresentação das razões finais não foi
alcançado.
Além disso, quanto ao segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a
imediata remessa dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do
acórdão ou do trânsito em julgado, quando constatado o risco de prescrição.
STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Em 2014, André (Deputado Estadual) e João (Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado), em conjunto,
praticaram crimes contra a administração pública.
Antes que se iniciasse qualquer investigação para apurar os fatos, André foi eleito Deputado Federal.
Em 2015, André foi diplomado como Deputado Federal e, em razão disso, o foro competente para julgá-
lo passou a ser o STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). Nesta época (2015), a jurisprudência era no sentido de
que, diplomado Deputado Federal, a competência para julgar o crime passava a ser do STF mesmo que o
delito tivesse sido praticado antes de o indivíduo assumir o cargo de parlamentar federal.
Assim, em 2015, um Ministro do STF foi sorteado para ser relator do inquérito que iria investigar se André
e João praticaram realmente os crimes de que eram suspeitos.
O Ministro do STF autorizou que a Polícia Federal iniciasse as investigações.

Mudança de entendimento do STF (AP 937 QO) e declinação de competência


As diligências investigatórias duraram cerca de três anos. Isso porque, em 2018, quando as investigações
estavam quase concluídas, a jurisprudência foi alterada e o STF passou a entender o seguinte:
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas.
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o
agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).

++ (Promotor MP/GO 2019) O Plenário do STF firmou entendimento no sentido de que o foro por
prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados
às funções desempenhadas. Na mesma ocasião, fixou a tese de que ao final da instrução processual, com
a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para
processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar cargo ou
deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. (CERTO)

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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No caso em tela, os fatos atribuídos a André foram supostamente praticados na época em que ele não era
Deputado Federal, ou seja, antes do exercício do cargo.
Assim, para o novo entendimento construído no AP 937 QO/RJ, o STF não seria competente para julgá-lo.
Diante disso, o que fez o Ministro Relator do inquérito?
Afirmou que, por uma causa superveniente (mudança de entendimento), o STF tornou-se incompetente
para julgar estes fatos e, consequentemente, incompetente para supervisionar as investigações. Logo, o
Ministro declinou da competência e determinou a imediata remessa do inquérito ao STJ.

Por que ao STJ?


Porque os supostos crimes foram praticados por André em conjunto com um Conselheiro do Tribunal de
Contas. Os membros dos TCEs são julgados criminalmente pelo STJ, nos termos do art. 105, I, “a”, da CF/88.

Agravo regimental
A defesa recorreu, por meio de agravo regimental, argumentando que deveria ser mantida a competência
do STF, ao menos até o oferecimento da denúncia, considerando que as investigações já duraram cerca
de cinco anos e estavam próximas do fim.
Outro argumento foi o de que o Ministro determinou a remessa dos autos ao STJ antes mesmo do trânsito
em julgado da decisão declinatória.

O pedido da defesa foi acolhido pelo STF?


NÃO.
A 2ª Turma reafirmou a incompetência do STF para processar e julgar o feito.
A decisão proferida está de acordo com o novo entendimento do STF firmado no julgamento da AP 937
QO.
O pedido da defesa não encontra amparo nos parâmetros estabelecidos na AP 937 QO.
O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como
argumento jurídico válido para prorrogar a competência do STF.
Apesar da efetiva evolução das investigações, sob a supervisão do STF, não houve oferecimento de
denúncia contra o agravante nem encerramento da instrução processual penal. Logo, o marco temporal
relativo à data de apresentação das razões finais não foi alcançado.
Além disso, quanto ao segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata
remessa dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou do trânsito
em julgado, quando constatado o risco de prescrição.
STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

PROVA TESTEMUNHAL
Advogado que teve seus poderes revogados pela cliente, que pediu de volta os documentos do
caso, não pode depor como testemunha no processo porque a conduta da parte demonstra que
ela não liberou o causídico do sigilo profissional que ele deve respeitar

A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no processo criminal.


Sucede que, logo no início do processo, ela e o advogado se desentenderam e a vítima revogou
expressamente os poderes que havia conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no caso.
Além disso, requereu que ele devolvesse qualquer documento que estivesse em sua posse e
que fosse relacionado com o fato apurado.
Ao saber disso, o réu pediu a oitiva do advogado como testemunha no processo penal.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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Esse advogado não poderá ser ouvido como testemunha.


Para que o advogado possa prestar seu testemunho é indispensável que haja o consentimento
válido do interessado direto na manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte
interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que o profissional revele os fatos
resguardados pelo sigilo, ainda assim ele é quem irá decidir se irá dar ou não seu testemunho.
No caso concreto, o advogado que foi arrolado como testemunha teve seus poderes como
patrono da interessada expressamente revogados, vedando-se sua atuação no caso. Além
disso, requereu-se que devolvesse qualquer documento relacionado ao fato que a ele tivesse
sido entregue. Isso significa que a cliente não liberou o advogado do dever de manter o
segredo profissional sobre as informações e documentos de que teve conhecimento em razão
da atuação como defensor técnico.
Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou conhecimento em razão
de seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração
apresentada pelo cliente e eventuais documentos por ele entregues.
STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Em regra, a pessoa tem o dever de depor


Em regra, toda pessoa poderá ser arrolada como testemunha (art. 202 do CPP) e, se o for, será obrigada a
depor, devendo dizer a verdade sobre tudo que lhe for perguntado.
O CPP, contudo, afirma que existem determinadas pessoas que:
• podem se recusar a depor (art. 206 do CPP); e
• algumas outras que são proibidas de depor (art. 207 do CPP).

Pessoas proibidas de depor


Se a pessoa teve conhecimento dos fatos em razão de sua função, ministério, ofício ou profissão e tais
informações estão acobertadas pelo sigilo profissional, ela estará, em princípio, proibida de depor sobre
isso. É o caso, por exemplo, de um psicólogo. Ele está proibido de depor sobre aquilo que o seu paciente
lhe contou durante a sessão de atendimento.
A parte interessada no sigilo profissional (ex: cliente, paciente da pessoa convocada a depor) poderá
autorizar que ela deponha sobre tais fatos. Em outras palavras, a parte interessada poderá desobrigar a
testemunha de guardar o sigilo profissional.
Mesmo que a parte interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que a pessoa revele os fatos
resguardados pelo sigilo, ainda assim esse profissional é quem irá decidir se irá dar ou não seu testemunho.
É o que prevê o art. 207 do CPP:
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o
seu testemunho.

Atenção ao dispositivo porque é muito cobrado em provas:


++ (Promotor MP/PR 2017) São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício
ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho. (CERTO)
++ (Juiz Federal TRF3 2018) Estão proibidas de depor as pessoas que, em razão de sua função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
seu depoimento. (CERTO)
++ (Promotor MP/MG 2018) As pessoas proibidas de depor em razão do dever de guardar segredo, se
dispensadas pela parte a quem isso interesse, estarão obrigadas a fazê-lo. (ERRADO)

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Exemplo de aplicação do art. 207 do CPP:


Carlos é réu em um processo criminal. O Ministério Público arrola como testemunha Júlio, psicólogo que
atendia o acusado na época suposto crime.
Júlio é, em princípio, proibido de depor porque, em razão de sua profissão, deve guardar sigilo profissional
sobre seus pacientes. No entanto, Carlos (parte interessada) pode declarar que Júlio está desobrigado de
guardar esse sigilo profissional, autorizando, assim, que ele deponha.
Mesmo estando desobrigado do sigilo, Júlio não terá o dever de depor, podendo se recusar a dar o seu
testemunho.

Advogado
Os advogados se enquadram na hipótese do art. 207 do CPP e, em princípio, estão proibidos de depor
sobre os fatos relacionados com seu cliente.
O legislador entendeu por bem reforçar essa proibição quanto aos advogados e, além do art. 207 do CPP,
previu uma regra específica no Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94):
Art. 7º São direitos do advogado:
(...)
XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou
sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou
solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional;

Se você observar a redação deste art. 7º, XIX, irá verificar que ele, ao contrário do art. 207 do CPP, não
fala sobre a possibilidade de o cliente desobrigar o advogado, ou seja, autorizar que o advogado deponha
mesmo que sobre os fatos objeto do sigilo.

Diante disso, indaga-se: se o cliente autorizar, o advogado pode ser testemunha sobre os fatos que saiba
em razão de sua profissão?
SIM. A regra do art. 207 do CPP aplica-se aos advogados. Assim, o advogado é, em princípio, proibido de
depor sobre fatos protegidos pelo sigilo profissional. Essa proibição, contudo, é afastada se o constituinte
o desobriga do sigilo. Em outras palavras, o cliente pode autorizar que o advogado deponha. Nesse caso,
o advogado terá a faculdade de depor, podendo, a seu critério, recusar-se.
Resumindo:
- em princípio, o advogado é proibido de depor sobre fatos protegidos pelo sigilo profissional.
- cliente (maior interessado no sigilo) pode desobrigar o advogado e autorizar que ele deponha.
- mesmo depois de autorizado, advogado decide se quer falar ou não.
Aprofundando o tema:
Existe uma corrente que afirma que o advogado, por razões disciplinares, tem não apenas a faculdade,
mas sim o dever de recusar-se a depor, ainda que liberado do sigilo pelo constituinte.
Em outras palavras, para essa corrente, mesmo depois de autorizado pelo cliente, o advogado deveria,
por razões deontológicas, negar-se a depor.
Se o advogado, depois de autorizado, resolver depor, haverá alguma nulidade neste depoimento? Não.
Isso porque a lei permite o depoimento neste caso (art. 207 do CPP).
O problema é que esse advogado poderá receber uma sanção disciplinar, a depender do entendimento
do Tribunal de Ética da OAB. Veja o que dizem os arts. 25 e 26 do Código de Ética e Disciplina da OAB:
Art. 25. O sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu respeito, salvo grave ameaça
ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado se veja afrontado pelo próprio cliente e, em
defesa própria, tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao interesse da causa.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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Art. 26. O advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento judicial, sobre o que saiba em
razão de seu ofício, cabendo-lhe recusar-se a depor como testemunha em processo no qual
funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou tenha sido
advogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte.

Conforme explica o Min. Gilmar Mendes:


“Em suma, a lei dá ao advogado, liberado do sigilo por seu cliente, a faculdade de depor. Já as
normas de Ética e Disciplina impõem-lhe a recusa como dever.
Interpretadas assim as disposições, se, liberado pelo cliente, o advogado opta por depor, seu
depoimento é admissível, mas o profissional será passível de sanção disciplinar.” (STF. 2ª Turma.
Inq 4296 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/10/2016).

Violação de segredo profissional


Vale ressaltar que se o profissional violar segredo profissional, sem a autorização do seu cliente ou sem uma
justa causa, poderá ser punido criminalmente pelo delito do art. 154 do CP:
Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Além disso, essa conduta pode configurar infração disciplinar:


Art. 34. Constitui infração disciplinar:
(...)
VII - violar, sem justa causa, sigilo profissional;

Se o agente (ex: Delegado, magistrado, presidente de CPI) forçar a pessoa a depor mesmo ela estando
legalmente desobrigada, essa conduta pode caracterizar crime?
SIM.
O agente que obriga, força...
- a pessoa a depor
- afirmando que ela será presa caso não faça isso
- mesmo sabendo que ela não poderia prestar depoimento
- porque os fatos envolvem segredo ou sigilo
- relacionados com a sua função, ministério, ofício ou profissão
- comete o crime do art. 15 da Lei nº 13.896/2019 (Lei de Abuso de Autoridade).

Veja a redação do tipo penal:


Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética:


João teve uma discussão com a sua esposa Regina, que procurou a Delegacia de Polícia relatando ter sido
fisicamente agredida.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra João e requereu ao juiz a concessão de medidas protetivas.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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Regina constituiu um advogado (Dr. Pedro) para acompanhar o processo e defender seus interesses. Ela
contou todo o ocorrido para o causídico.
Sucede que, logo no início do processo, Regina e Pedro se desentenderam e ela revogou expressamente
os poderes que havia conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no caso. Além disso, requereu que ele
devolvesse qualquer documento que estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado.
Ao saber disso, João pediu a oitiva de Pedro como testemunha no processo penal considerando que, para
o réu, os fatos não aconteceram na forma como a vítima está dizendo, de sorte que o ex-advogado poderá
esclarecer melhor o que realmente ocorreu.

Pedro concordou em falar. Ele poderá ser ouvido como testemunha?


NÃO.
A relação entre cliente e advogado depende de confiança para que a pessoa possa descrever ao profissional
todos os fatos e elementos sem medo de que isso possa ser utilizado posteriormente contra ela.
O sigilo profissional é, portanto, um direito do indivíduo que surge quando ele presta informações ao
advogado para que este profissional represente os interesses do seu cliente.
Desse modo, para que o profissional possa prestar seu testemunho é indispensável o consentimento
válido do interessado direto na manutenção do segredo.
No caso concreto, o advogado que foi arrolado como testemunha teve seus poderes como patrono da
interessada expressamente revogados, vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-se que
devolvesse qualquer documento relacionado ao fato que a ele tivesse sido entregue.
Isso significa que a cliente não liberou o advogado do dever de manter o segredo profissional sobre as
informações e documentos de que teve conhecimento em razão da atuação como defensor técnico.
Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou conhecimento em razão de seu
ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração apresentada pelo cliente
e eventuais documentos por ele entregues.
STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Proibição do depoimento x busca da verdade


É certo que se deve buscar estruturar um processo penal efetivo, que tenha meios para assegurar a
investigação e a produção das provas com o objetivo de possibilitar uma decisão mais informada possível.
No entanto, existem critérios de admissibilidade de provas que se embasam em premissas fundamentais
para proteção de direitos fundamentais e contenção de abusos.
Assim, essa proibição do advogado de depor é uma das regras legais de exclusão probatória, que são
fundadas em limites lógicos, políticos e epistemológicos, que restringem de certa maneira a busca pela
verdade e a reconstrução dos fatos passados.
Diante desse quadro, embora o sigilo profissional possa acarretar a supressão de informações
potencialmente pertinentes ao caso, trata-se de premissa fundamental para o exercício efetivo do direito
de defesa, no que diz respeito à defesa técnica.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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PRISÃO DOMICILIAR
A prisão domiciliar do art. 318 do CPP só se aplica para os casos de prisão preventiva,
não podendo ser utilizado quando se tratar de execução definitiva de título condenatório
(sentença condenatória transitada em julgado)

Importante!!!
Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória
transitada em julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP.
STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Prisão domiciliar do CPP x Prisão domiciliar da LEP


O tema “prisão domiciliar” é previsto tanto no CPP como na LEP, tratando-se, contudo, de institutos
diferentes, conforme se passa a demonstrar:

PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP


Arts. 317, 318 e 318-A do CPP. Art. 117 da LEP.
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está se
referindo à possibilidade de o réu, em vez de ficar referindo à possibilidade de a pessoa já
em prisão preventiva, permanecer recolhido em condenada cumprir a sua pena privativa de
sua residência. liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar por meio da Trata-se, portanto, da execução penal
qual o réu, em vez de ficar preso na unidade (cumprimento da pena) na própria residência.
prisional, permanece recolhido em sua própria
residência. Continua tendo natureza de prisão,
mas uma prisão “em casa”.
Hipóteses (importante): Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela O preso que estiver cumprindo pena no regime
domiciliar quando o agente for: aberto poderá ficar em prisão domiciliar quando se
tratar de condenado(a):
I — maior de 80 anos;
I — maior de 70 anos;
II — extremamente debilitado por motivo de
doença grave; II — acometido de doença grave;

III — imprescindível aos cuidados especiais de III — com filho menor ou deficiente físico ou
pessoa menor de 6 anos de idade ou com mental;
deficiência;
IV — gestante.
IV — gestante;

V — mulher com filho de até 12 (doze) anos de


idade incompletos;

VI — homem, caso seja o único responsável pelos


cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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Obs.: os magistrados, membros do MP, da


Defensoria e da advocacia têm direito à prisão
cautelar em sala de Estado-Maior. Caso não
exista, devem ficar em prisão domiciliar.
O juiz pode determinar que a pessoa fique usando O juiz pode determinar que a pessoa fique usando
uma monitoração eletrônica. uma monitoração eletrônica.

Prisão domiciliar do CPP


Como vimos no quadro acima, o CPP, ao tratar da prisão domiciliar, prevê a possibilidade de o réu, em vez
de ficar em prisão preventiva, permanecer recolhido em sua residência. Trata-se de uma medida cautelar
na qual, em vez de a pessoa ficar na unidade prisional, ela ficará recolhida em sua própria residência:
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência,
só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.

As hipóteses em que a prisão domiciliar é permitida estão elencadas no art. 318 do CPP.

Natureza jurídica da prisão domiciliar


(Promotor MP/RJ 2018) É correto afirmar que a prisão domiciliar, no âmbito da persecução penal, consiste
em medida alternativa ou diversa à prisão preventiva?
Resposta: NÃO. Não é correto afirmar que a prisão domiciliar, no âmbito da persecução penal, consista
em medida alternativa ou diversa à prisão, tratando-se, na verdade, de medida substitutiva à prisão
preventiva, pois inclusive o decreto da medida impõe ao julgador a análise dos pressupostos autorizadores
da prisão preventiva (CPP, artigos 311/312, do CPP). Se presentes, poderá caber a prisão domiciliar, desde
que configurada uma das situações do artigo 317/318 do CPP. Por outro lado, as medidas alternativas ou
diversas à prisão, previstas nos artigos 319/320 do CPP, somente têm lugar exatamente quando a extrema
ratio da ultima ratio (Prisão Preventiva) não puder ser decretada, mas houver alguma necessidade de
acautelamento dos meios e fins do processo por medida menos tormentosa.
Prisão domiciliar de gestantes e mães de crianças
Os incisos IV e V do art. 318 do CPP preveem que a mulher acusada de um crime terá direito à prisão
domiciliar se estiver gestante ou for mãe de criança:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(...)
IV - gestante; (Redação dada pela Lei 13.257/2016)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; (Incluído pela Lei 13.257/2016)

Discussão sobre a obrigatoriedade ou não de o juiz decretar a prisão domiciliar nessas hipóteses
Se você reparar na redação do caput do art. 318 do CPP, ela diz que o juiz PODERÁ substituir a prisão
preventiva pela domiciliar nas hipóteses ali elencadas.
Diante disso, surgiram as seguintes dúvidas:
Se uma mulher grávida estiver em prisão preventiva, o juiz, obrigatoriamente, deverá conceder a ela prisão
domiciliar com base no art. 318, IV, do CPP?
As hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos IV e V do art. 318 do CPP são consideradas
obrigatórias ou facultativas?

O que o STF decidiu?


REGRA: SIM. As hipóteses são obrigatórias.
Em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam:
- gestantes

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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- puérperas (que deram à luz há pouco tempo)


- mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos incompletos) ou
- mães de pessoas com deficiência.

EXCEÇÕES:
Não deve ser autorizada a prisão domiciliar se:
1) a mulher tiver praticado crime mediante violência ou grave ameaça;
2) a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes (filhos e/ou netos);
3) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes
que denegarem o benefício.
STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).

O que fez a Lei nº 13.769/2018?


Positivou no CPP o entendimento manifestado pelo STF.
A principal diferença foi que o legislador não incluiu a exceção número 3.
Além disso, na exceção 2 não falou em descendentes, mas sim em filho ou dependente.
Veja o art. 318-A incluído pela Lei nº 13.769/2018 no CPP:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

++ (Juiz TJ/RJ 2019) A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que
A) não se trate a gestante de reincidente ou portadora de maus antecedentes.
B) não seja a gestante líder de organização criminosa ou participante de associação criminosa.
C) não se trate de acusada por crime hediondo ou equiparado.
D) não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça à pessoa e não tenha cometido o crime
contra seu filho ou dependente.
E) tenha havido prévia reparação do dano e as circunstâncias do fato e a personalidade da gestante
indicarem se tratar de medida suficiente à prevenção e reprovação do crime.
Gabarito: letra D

A exceção 3 ainda é possível? O juiz poderá deixar de aplicar a prisão domiciliar em outras situações
excepcionalíssimas?
SIM.
O art. 318-A do CPP, introduzido pela Lei nº 13.769/2018, estabelece um poder-dever para o juiz substituir
a prisão preventiva por domiciliar de gestante, mãe de criança menor de 12 anos e mulher responsável
por pessoa com deficiência, sempre que apresentada prova idônea do requisito estabelecido na norma
(art. 318, parágrafo único), ressalvadas as exceções legais.
A normatização de apenas duas das exceções não afasta a efetividade do que foi decidido pelo STF no HC
143.641/SP, nos pontos não alcançados pela nova lei.
O fato de o legislador não ter inserido outras exceções na lei, não significa que o magistrado esteja proibido
de negar o benefício quando se deparar com casos excepcionais.
Assim, deve prevalecer a interpretação teleológica da lei, assim como a proteção aos valores mais vulneráveis.
Com efeito, naquilo que a lei não regulou, o precedente do STF deve continuar sendo aplicado, pois uma
interpretação restritiva da norma pode representar, em determinados casos, efetivo risco direto e indireto
à criança ou ao deficiente, cuja proteção deve ser integral e prioritária.
STF. 5ª Turma. HC 470.549/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/02/2019.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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++ (MP/GO 2019) O art. 318-A do CPP dispõe que “a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que
for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar,
desde que: I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II- não tenha cometido
o crime contra seu filho ou dependente. Essa nova lei praticamente repetiu o teor de julgado do STF
proferido no âmbito de habeas corpus coletivo (HC n. 143.641/SP), deixando, todavia, de consignar no
dispositivo legal a ressalva feita no referido HC no sentido de que em situações excepcionalíssimas,
devidamente fundamentadas, poderiam os juízes denegar tal benefício (substituição da prisão preventiva
por prisão domiciliar). Diante desse contexto, a jurisprudência dominante do STJ tem aplicado literalmente
o dispositivo legal do art. 318-A do CPP, não admitindo, fora as exceções previstas na própria lei (incisos I
e II), que o Magistrado deixe de proceder a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, mesmo
que de forma concretamente fundamentada e em situações excepcionalíssimas. (ERRADO)

Condenação definitiva e prisão domiciliar do art. 318-A do CPP


Imagine a seguinte situação hipotética:
Rosângela foi condenada por diversos crimes a uma pena de 26 anos de reclusão em regime fechado.
Houve trânsito em julgado.
Vamos supor, no entanto, que Rosângela seja mãe de uma criança de 3 anos de idade.

Neste caso, ela poderá ficar em prisão domiciliar? É possível aplicar a regra da prisão domiciliar do art.
318-A do CPP para os casos de cumprimento definitivo da pena?
NÃO.
Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em
julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP.
STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

O art. 318 do CPP só se aplica para os casos de prisão preventiva, não podendo ser utilizado quando se
tratar de execução definitiva de título condenatório (sentença condenatória transitada em julgado).

E o art. 117 da LEP?


A prisão domiciliar do art. 117 da LEP é aplicada para condenados definitivos que estejam cumprindo pena.
No entanto, no caso concreto, o STF entendeu que ele não poderia incidir porque a mulher está cumprindo
pena no regime fechado e o art. 117 exige, em regra, que o condenado esteja em regime aberto. Veja a
redação do dispositivo:
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência
particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.

Uma última pergunta “extra”: é possível a concessão de prisão domiciliar do art. 117 da LEP à pessoa
que esteja cumprindo pena em regime fechado ou semiaberto?
Pela literalidade da LEP, somente teria direito à prisão domiciliar a pessoa condenada ao regime aberto
que se enquadrasse em uma das hipóteses do art. 117 da LEP.
No entanto, em hipóteses excepcionais, o STJ tem autorizado que condenados que estejam no regime
fechado ou semiaberto possam ter direito à prisão domiciliar.

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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Assim, o STJ tem admitido a concessão da prisão domiciliar aos condenados que se encontram em regime
semiaberto e fechado, em situações excepcionalíssimas, como, por exemplo, no caso de portadores de
doença grave, desde que comprovada a impossibilidade da assistência médica no estabelecimento
prisional em que cumprem sua pena.
STJ. 5ª Turma. HC 365.633/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/05/2017.
STJ. 6ª Turma. HC 358.682/PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 01/09/2016.

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão
sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. ( )
2) (Juiz Federal TRF4 2014): Excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão, nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado. ( )
3) As normas previstas na Lei da Relicitação (Lei 13.448/2017) para a prorrogação antecipada dos contratos
de concessão são compatíveis com os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da
impessoalidade, da moralidade e da competitividade. ( )
4) A materialidade do delito de incêndio deve ser comprovada mediante exame de corpo de delito, não
podendo ser suprida por outros meios. ( )
5) (Cartório TJ/AP 2011) Pedro ateou fogo em sua loja de tecidos, com a finalidade de obter o respectivo
seguro, colocando em risco os imóveis vizinhos. Em razão dessa conduta, Pedro responderá por crime de:
A) perigo para a vida ou saúde de outrem;
B) incêndio culposo;
C) estelionato qualificado pela fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
D) incêndio doloso qualificado pelo intuito de obter vantagem econômica em proveito próprio;
E) estelionato simples.
6) (Promotor MP/SC 2010) Causar incêndio expondo a perigo o patrimônio de outrem é tipo penal
classificado corno crime de perigo abstrato. ( )
7) (Juiz de Direito TJ/SC 2015) O crime de incêndio, por ser de perigo comum, pode se consumar com a
provocação do mero perigo de incêndio, independentemente de expor diretamente a risco à vida ou à
integridade física ou patrimônio de outrem. ( )
8) Segundo a jurisprudência do STF, não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico
privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder
a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob
pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade). ( )
9) (Delegado PC/RS 2018 FUNDATEC) Aquele que pratica conduta de tráfico de drogas, descrita no caput
do artigo 33 da referida Lei, pode ter sua pena reduzida nos mesmos patamares propostos no Código
Penal para a minorante da tentativa, desde que seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa. ( )
10) (Promotor MP/MG 2019) São requisitos para o reconhecimento do tráfico privilegiado que o agente seja
primário, de bons antecedentes e boa conduta social, que não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa. ( )
11) (Juiz de Direito TJ-MS 2020 FCC) No que concerne à lei de drogas, cabível a redução da pena de um sexto
a dois terços para o agente que tem em depósito, sem autorização ou em desacordo com determinação

Informativo 967-STF (04/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas,


desde que primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa. ( )
12) (Juiz Federal TRF2 2017) Presente a causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei
11.343/2006, por ser o agente primário, de bons antecedentes, não dedicado a atividades criminosas e não
integrante de organização criminosa, ainda assim é hediondo o crime de tráfico por ele praticado. ( )
13) (Promotor MP/GO 2019) O Plenário do STF firmou entendimento no sentido de que o foro por
prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas. Na mesma ocasião, fixou a tese de que ao final da instrução
processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a
competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público
vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. ( )
14) (Promotor MP/PR 2017) São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício
ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho. ( )
15) (Juiz Federal TRF3 2018) Estão proibidas de depor as pessoas que, em razão de sua função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
seu depoimento. ( )
16) (Promotor MP/MG 2018) As pessoas proibidas de depor em razão do dever de guardar segredo, se
dispensadas pela parte a quem isso interesse, estarão obrigadas a fazê-lo. ( )
17) Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou responsável
por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em julgado e ela
não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. ( )
18) (Promotor MP/RJ 2018) É correto afirmar que a prisão domiciliar, no âmbito da persecução penal,
consiste em medida alternativa ou diversa à prisão preventiva?
19) (Juiz TJ/RJ 2019) A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que
A) não se trate a gestante de reincidente ou portadora de maus antecedentes.
B) não seja a gestante líder de organização criminosa ou participante de associação criminosa.
C) não se trate de acusada por crime hediondo ou equiparado.
D) não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça à pessoa e não tenha cometido o crime
contra seu filho ou dependente.
E) tenha havido prévia reparação do dano e as circunstâncias do fato e a personalidade da gestante
indicarem se tratar de medida suficiente à prevenção e reprovação do crime.
20) (MP/GO 2019) O art. 318-A do CPP dispõe que “a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que
for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar,
desde que: I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II- não tenha cometido
o crime contra seu filho ou dependente. Essa nova lei praticamente repetiu o teor de julgado do STF
proferido no âmbito de habeas corpus coletivo (HC n. 143.641/SP), deixando, todavia, de consignar no
dispositivo legal a ressalva feita no referido HC no sentido de que em situações excepcionalíssimas,
devidamente fundamentadas, poderiam os juízes denegar tal benefício (substituição da prisão
preventiva por prisão domiciliar). Diante desse contexto, a jurisprudência dominante do STJ tem aplicado
literalmente o dispositivo legal do art. 318-A do CPP, não admitindo, fora as exceções previstas na própria
lei (incisos I e II), que o Magistrado deixe de proceder a substituição da prisão preventiva por prisão
domiciliar, mesmo que de forma concretamente fundamentada e em situações excepcionalíssimas. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. Letra D 6. E 7. E 8. C 9. E 10. E
11. C 12. E 13. C 14. C 15. C 16. E 17. C 18. - 19. Letra D 20. E

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OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 19.02.2020 20.02.2020 4 3 225
1ª Turma 18.02.2020 — 1 98 258
2ª Turma 18.02.2020 — 2 4 303
* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 17 a 28 de fevereiro de 2019.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS


DJE DE 17 A 28 DE FEVEREIRO 2020

ADI 2.421
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei nº 10.544/2000, do Estado de São Paulo. 3. Direito Financeiro.
Transferências Constitucionais. Critérios de repasse de impostos estaduais aos municípios. 4. Inexistência de vício de
iniciativa legislativa. Matéria de direito financeiro não incluída na iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo. Rol
exaustivo de hipóteses de limitação da iniciativa legislativa parlamentar. 5. Campo restrito para a legislação estadual
dispor sobre os critérios de distribuição de impostos estaduais. Art. 158, inciso II, da Constituição Federal. 6.
Interpretação conforme à Constituição no tocante a ¼ da quota parte do ICMS destinada aos municípios. Inviabilidade.
7. Exclusão por completo de município da repartição do produto da arrecadação de ICMS. Impossibilidade. 8. Lei que
define o cálculo dos repasses de forma progressiva, sem definir prazos, e delega ao Poder Executivo a regulamentação
da Lei. Violação à autonomia financeira dos municípios. 9. Transferências constitucionais devem ser pautadas por
critérios objetivos, de caráter vinculado, que assegurem a regularidade e previsibilidade dos repasses. 10. Ação direta
julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da lei impugnada.

ADI 3.478
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 91, §12, DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. DESIGNAÇÃO DE PASTOR EVANGÉLICO PARA ATUAR NAS CORPORAÇÕES MILITARES
DAQUELE ESTADO. OFENSA À LIBERDADE DE RELIGIOSA. REGRA DA NEUTRALIDADE. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. A
regra de neutralidade do Estado não se confunde com a imposição de uma visão secular, mas consubstancia o
respeito e a igual consideração que o Estado deve assegurar a todos dentro de uma realidade multicultural.
Precedentes. 2. O direito à liberdade de religião, como expectativa normativa de um princípio da laicidade, obsta que
razões religiosas sejam utilizadas como fonte de justificação de práticas institucionais e exige de todos os cidadãos, os
que professam crenças teístas, os não teístas e os ateístas, processos complementares de aprendizado a partir da
diferença. 3. O direito dos militares à assistência religiosa exige que o Estado abstenha-se de qualquer predileção, sob
pena de ofensa ao art. 19, I, da CRFB. Norma estadual que demonstra predileção por determinada orientação religiosa
em detrimento daquelas inerentes aos demais grupos é incompatível com a regra constitucional de neutralidade e
com o direito à liberdade de religião. 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 4.306
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEI 5.517/2009 DO RIO
DE JANEIRO. PROIBIÇÃO DO USO DE PRODUTOS FUMÍGENOS EM AMBIENTES DE USO COLETIVO. EXERCÍCIO LEGÍTIMO
DA COMPETÊNCIA DOS ESTADOS PARA SUPLEMENTAREM A LEGISLAÇÃO FEDERAL. VIOLAÇÃO À LIVRE INICIATIVA.
INEXISTÊNCIA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Nos casos em que a dúvida sobre a competência legislativa recai
sobre norma que abrange mais de um tema, deve o intérprete acolher interpretação que não tolha a competência
que detêm os entes menores para dispor sobre determinada matéria. 2. Porque o federalismo é um instrumento de
descentralização política que visa realizar direitos fundamentais, se a lei federal ou estadual claramente indicar, de

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forma necessária, adequada e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação qe
detêm os entes menores, é possível afastar a presunção de que, no âmbito regional, determinado tema deve ser
disciplinado pelo ente maior. Nos conflitos sobre o alcance das competências dos entes federais, deve o Judiciário
privilegiar as soluções construídas pelo Poder Legislativo. 3. A Lei fluminense n. 5.517, de 2019, ao vedar o consumo
de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, não
extrapolou o âmbito de atuação legislativa, usurpando a competência da União para legislar sobre normas gerais, nem
exacerbou a competência concorrente para legislar sobre saúde pública, tendo em vista que, de acordo com o
federalismo cooperativo e a incidência do princípio da subsidiariedade, a atuação estadual se deu de forma
consentânea com a ordem jurídica constitucional. 4. Depreende-se que a Lei Federal 9.294/1996, ao estabelecer as
normas gerais sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígenos, ao dispor acerca da possível
utilização em área destinada exclusivamente para este fim, não afastou a possibilidade de que os Estados, no exercício
de sua atribuição concorrente de proteção e defesa da saúde (art. 24, XII, CRFB) estipulem restrições ao seu uso.
Ausência de vício formal. 5. A livre iniciativa deve ser interpretada em conjunto ao princípio de defesa do consumidor,
sendo legítimas as restrições a produtos que apresentam eventual risco à saúde. Precedente. É dever do agente
econômico responder pelos riscos originados da exploração de sua atividade. 6. Ação direta julgada improcedente.

ADI 4.991
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 5º DA LEI 4.244/08 DO DISTRITO FEDERAL. PORTE DE
ARMA PARA OS SERVIDORES ATIVOS DA CARREIRA DE APOIO ÀS ATIVIDADE POLICIAIS CIVIS. COMPETÊNCIA
PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE MATERIAL BÉLICO. PRECEDENTES. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DA AÇÃO.
1. O artigo 5º, da Lei Distrital 4.244/2008, que autorizou o porte de arma de fogo funcional para os servidores ativos
da Carreira de Apoio às Atividades Policiais Civis, afronta o artigo 21, VI, CRFB. 2. É da competência privativa da União
legislar sobre material bélico (art. 21, VI, CRFB). Inconstitucionalidade formal de legislação estadual ou distrital que
trata da matéria. Precedentes. 3. Pedido na ação direta de inconstitucionalidade julgado procedente.

PSV 124
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA Proposta de súmula vinculante. Proposta de verbete que limita a atuação do Poder Judiciário no reexame do
conteúdo de questões e dos critérios de correção utilizados em concurso público à apreciação da ilegalidade da
cobrança de matérias não previstas no conteúdo programático estabelecido no edital. Limitação não estabelecida no
julgamento do paradigma da repercussão geral (Tema 485). Requisito de preexistência de reiteradas decisões sobre
matéria constitucional não atendido. Precedentes. Proposta rejeitada.

ADI 2.821
RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES
EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR 242/2002 DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO. PAGAMENTO DE ADICIONAL ESPECIAL DE REMUNERAÇÃO AOS SERVIDORES QUE TIVEREM
OCUPADO O CARGO DE COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR, DO CORPO DE BOMBEIROS MILITARES OU O
CARGO DE DIRETOR CHEFE DA POLÍCIA CIVIL. VANTAGEM CORRESPONDETE A DUAS VEZES E MEIO A REMUNERAÇÃO
DO SERVIDOR. CONTINUIDADE DA PERCEPÇÃO DA VANTAGEM APÓS O EXERCÍCIO DA FUNÇÃO E DURANTE A
INATIVIDADE. OFENSA AOS PRINCÍPIOS REPUBLICANO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA (ART. 1º E 37, CAPUT, DA
CF). INCONSTITUCIONALIDADE. 1. A ausência de critérios mínimos e razoáveis para concessão do benefício,
especialmente a incorporação da vantagem, decorrente da continuidade do pagamento após o exercício da função,
caracteriza concessão graciosa de vantagem remuneratória e, consequentemente, privilégio injustificado, que, além
de não atender ao interesse público, é inconciliável com o ideal republicano e a moralidade (arts. 1º e 37 caput,
ambos da CF). 2. No caso, a norma impugnada assegura a vitaliciedade do recebimento de abastada quantia,
mediante a sua incorporação nas seguintes hipóteses: (a) aos proventos dos servidores que passarem para a
inatividade após o término do exercício do cargo (art. 1º, § 1º); (b) à remuneração daqueles que permanecerem em
atividade (art. 2º); (c) aos proventos dos inativos que optarem pela alteração do regramento em que seu deu a
respectiva aposentadoria (art. 1º, § 3º). 3. A incorporação de vantagens funcionais decorrentes do exercício de
funções de direção, chefia ou assessoramento, quando prevista em lei, deve atender a objetivos válidos de valorização
e profissionalização do serviço público, de modo a incentivar e premiar a assunção de maiores responsabilidades pelo
servidor e com a preocupação de evitar um grave decesso remuneratório ao fim do exercício do cargo ou função, o
que não se verifica na norma impugnada. 4. A Jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL é firme quanto à

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inconstitucionalidade de leis estaduais e locais que concedem benefícios em caráter gracioso e vitalício a agentes
públicos, com fundamento nos princípios republicano e da moralidade administrativa. Precedentes. 5. Ação Direta
julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade da Lei Complementar 242/2002 do Estado do Espírito Santo.

ADI 4.142
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR Nº 469, DE 19.08.2008, DO ESTADO DE RONDÔNIA,
QUE ALTERA E ACRESCENTA DISPOSITIVOS À LEI COMPLEMENTAR Nº 93, DE 03.11.1993 (LEI ORGÂNICA DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL). MODIFICAÇÕES NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO LOCAL. LEI DE AUTORIA DO
GOVERNADOR. INICIATIVA RESERVADA. SEPARAÇÃO DE PODERES. ORGANIZAÇÃO, ATRIBUIÇÕES E ESTATUTO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO LOCAL. SUCUMBÊNCIA. MATÉRIA PROCESSUAL. AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA DO MINISTÉRIO
1. A iniciativa reservada de lei é a que confere somente a titulares específicos a proposição legislativa sobre
determinada matéria, com a exclusão de qualquer outra autoridade ou órgão que não detenha legitimidade
constitucional para tal ação. Decorre ela da cláusula de exclusividade inscrita na própria Constituição Federal e
também diretamente do princípio da separação de poderes (art. 2º, CF), sendo, portanto, norma de processo
legislativo de reprodução obrigatória pelas ordens jurídicas parciais (art. 25, CF). A jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal é pacífica e dominante no sentido de que as normas instituídas na Constituição Federal que conferem
iniciativa reservada de lei devem ser necessariamente observadas pelos Estados-membros, independentemente da
espécie normativa envolvida. Nesse sentido: ADI 5.087-MC, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 3.295, Rel. Min. Cezar Peluso;
ADI 4.154, Rel. Min. Ricardo Lewandowski. 2. Extrai-se da interpretação do art. 128, § 5º, da Constituição, que cabe ao
chefe de cada Ministério Público a iniciativa de lei complementar estadual que disponha sobre organização,
atribuições e estatuto de cada instituição individualmente considerada, desde que observados os regramentos gerais
definidos pela Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Na esfera estadual coexistem dois regimes de organização:
(i) o da Lei Orgânica Nacional (Lei nº 8.625/1993), que fixa as normas gerais; e (ii) o da Lei Orgânica do Estado, que
delimita, em lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça, a organização, atribuições e estatuto de
cada Ministério Público. 3. A Lei Complementar nº 469, de 19.08.2008, do Estado de Rondônia, que “altera e
acrescenta dispositivos à Lei Complementar nº 93, de 03.11.1993”, ao ampliar as atribuições previstas no art. 29, VIII,
da Lei nº 8.625/1993, reproduzidas no art. 42, II, 15, da Lei Complementar Estadual nº 93/1993, invadiu a iniciativa
privativa do Procurador-Geral de Justiça, violando, portanto, o art. 128, § 5º c/c o art. 61, § 1º, II, “d”, da Constituição
Federal. 4. Em relação aos §§ 2º e 3º do art. 44 da Lei Complementar nº 469, de 19.08.2008, do Estado de Rondônia,
há, ainda, outro fator que também leva à inconstitucionalidade formal do dispositivo questionado. É que sucumbência
é matéria processual, e a Constituição Federal, em seu art. 22, I, fixou que compete à União legislar sobre essa
matéria. 5. A Lei Complementar nº 469, de 19.08.2008, do Estado de Rondônia, ao estabelecer novas atribuições aos
membros do Ministério Público do Estado de Rondônia, incorreu em clara inconstitucionalidade material por violação
à autonomia e à independência do Ministério Público asseguradas nos arts. 127, § 2º, e 128, § 5º, todos da
Constituição Federal. O Ministério Público na Constituição Federal de 1988 recebeu conformação institucional que lhe
garantiu autonomia e independência funcional, com o propósito de resguardar a independência de atuação do
Parquet. Uma das facetas da autonomia e independência do Ministério Público é a norma constitucional instituída no
art. 128, § 5º, da Constituição, que faculta aos Procuradores-Gerais de Justiça a iniciativa de leis complementares que
disponham sobre organização, atribuições e estatuto de cada Ministério Público. 6. Faz-se necessário atribuir eficácia
à decisão a partir de 120 (cento e vinte) dias, contados da data da publicação do acórdão, conforme termos do art. 27
da Lei nº 9.868/1999, para que sejam preservados os atos já praticados e para se permitir que, em tempo razoável,
sejam reestruturadas as funções do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Rondônia e do Ministério Público local.
7. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente, para declarar a inconstitucionalidade das
modificações promovidas pela Lei Complementar nº 469, de 19.08.2008, do Estado de Rondônia, à Lei Complementar
nº 93, de 03.11.1993 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Rondônia). Modulação de efeitos para manter
sua validade pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias, a contar da data da publicação do acórdão.

AG.REG. NA ADPF 412


RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. AUSÊNCIA DE EFICÁCIA
VINCULATIVA DE PARECER DA PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO. INEXISTÊNCIA DE EFEITOS CONCRETOS. OBJETO
NÃO SUSCETÍVEL DE CONTROLE VIA ADPF. 1. O parecer jurídico de caráter meramente opinativo, editado por órgão da
Advocacia Pública no exercício de seu mister constitucional de consultoria e assessoramento jurídico aos Entes
públicos (art. 132 da CF), não se qualifica como ato do poder público suscetível de impugnação via arguição de

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descumprimento de preceito fundamental, uma vez que não produz, por si só, nenhum efeito concreto que atente
contra preceito fundamental da Constituição Federal. 2. Agravo regimental conhecido e desprovido.

ADPF 310
RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES
EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ENUNCIADO 018/2013, DO CONSELHO
PLENO DA OAB. QUARENTENA PREVISTA NO ART. 95, V, DA CF. EXTENSÃO A ADVOGADOS ASSOCIADOS, FORMAL OU
INFORMALMENTE, A EX-JUÍZES. ATO DO PODER PÚBLICO COM APTIDÃO PARA LESAR A LIBERDADE PROFISSIONAL.
SUBSIDIARIEDADE ATENDIDA. VEDAÇÃO RESTRITA A EX-INTEGRANTES DA MAGISTRATURA.
INCONSTITUCIONALIDADE. 1. Ilegitimidade ativa da ANAMATRA e AJUFE para a instauração de processo objetivo de
controle de constitucionalidade contra ato do poder público cujos efeitos atinjam todos os integrantes da
magistratura, ante a deficitária abrangência do vínculo de representatividade que caracteriza a identidade associativa
de ambas as entidades. 2. A norma impugnada cria impedimento ao exercício da advocacia não relacionado a
requisitos individuais de capacidade técnica, mas a fato de terceiro (exercício, por outrem, da magistratura), sem
qualquer intermediação legislativa, em conflito com a garantia do livre exercício “de qualquer trabalho, ofício ou
profissão” (art. 5º, XIII). 3. O art. 95, parágrafo único, V, da Constituição Federal estabelece um importante padrão de
moralidade pública, visando a coibir situações de conflito de interesses que possam ameaçar a credibilidade do Poder
Judiciário. 4. Embora a aplicação dessas vedações pressuponha uma margem de valoração sobre os comandos
contidos no art. 95 da CF, não é possível acrescentar a eles elementos normativos estranhos, principalmente no que
se refere ao seu alcance subjetivo, pois o estatuto pessoal dos ocupantes da magistratura não pode ser aplicado a
terceiros sem vínculo com a atividade judicante, sob pena de violação ao princípio da intranscendência das normas
restritivas de direitos. 5. A cláusula constitucional hospedada no art. 5º, XIII, da CF, é asseguradora de direito
fundamental – o exercício de profissões e ofícios – cuja restrição está submetida à reserva legal qualificada, não
podendo ser formalizada por fonte jurídica diversa da legislativa. 6. Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental julgada procedente.

OUTRAS INFORMAÇÕES
17 A 28 DE FEVEREIRO DE 2020

Decreto nº 10.249, de 19.2.2020 - Dispõe sobre a programação orçamentária e financeira, estabelece o cronograma
de execução mensal de desembolso do Poder Executivo federal para o exercício de 2020 e dá outras providências.
Publicado no DOU em 19.02.2020, Seção 1-Extra, Edição 35-A, p. 1.
Decreto nº 10.250, de 19.2.2020 - Institui a Comissão Interministerial Brasil 100 Anos Olímpicos. Publicado no DOU em
20.02.2020, Seção 1, Edição 36, p. 1.
Decreto nº 10.251, de 20.2.2020 - Autoriza o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem no
Estado do Ceará. Publicado no DOU em 20.02.2020, Seção 1-Extra, Edição 36-A, p. 1.
Decreto nº 10.254, de 20.2.2020 - Altera a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - TIPI,
aprovada pelo Decreto nº 8.950, de 29 de dezembro de 2016. Publicado no DOU em 21.02.2020, Seção 1, Edição 37,
p. 28.
Decreto nº 10.255, de 27.2.2020 - Convoca a Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Publicado no DOU em 28.02.2020, Seção 1, Edição 40, p. 1.
Decreto nº 10.256, de 27.2.2020 - Promulga o Acordo sobre Gratuidade de Vistos para Estudantes e Docentes dos
Estados Partes do Mercosul, firmado em Córdoba, em 20 de julho de 2006. Publicado no DOU em 28.02.2020, Seção
1, Edição 40, p. 1.
Decreto nº 10.257, de 27.2.2020 - Altera o Decreto nº 9.278, de 5 de fevereiro de 2018, que regulamenta a Lei nº
7.116, de 29 de agosto de 1983, que assegura validade nacional às Carteiras de Identidade e regula sua expedição.
Publicado no DOU em 28.02.2020, Seção 1, Edição 40, p. 2.

Supremo Tribunal Federal – STF


Secretaria de Documentação
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
cdju@stf.jus.br

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