será devorado? ARMEN MAMIGONIAN·TERÇA-FEIRA, 14 DE MAIO DE 2019
O enigma brasileiro atual: Lula será devorado?[1]
Armen Mamigonian
Introdução
Nos anos 90 inúmeros intelectuais abandonaram seus ideais de
“esquerda” após a queda do socialismo na URSS. Estes renegados no Brasil e no mundo prestaram, inconscientemente, um útil serviço à medida que, alegres uns raivosos outros, se desmascararam ao aderirem ao neo-liberalismo pró-americano de Collor e FHC no caso brasileiro.
Recentemente no Brasil outros intelectuais de esquerda (Chico
de Oliveira, entre outros) tem externado nos últimos meses decepção e perplexidade diante do governo Lula e não sem uma certa razão. Mas a pergunta que se deve colocar é a seguinte: afinal, qual é o enigma brasileiro hoje em dia? É possível decifrá- lo? Acrescentemos enfaticamente: cabe aos intelectuais decifrar, pois repetindo Marx: se essência e aparência fossem a mesma coisa não haveria necessidade de ciência. Concluindo: se não formos capazes de decifrar o enigma, não só Lula como toda a esquerda brasileira será devorada.
Estamos convencidos de que o Brasil do milagre econômico
(anos 70), assim como o Brasil da crise dos anos 80, que se prolonga até os dias atuais, foi decifrado por Ignacio Rangel (Brasil: milagre e anti-milagre, 1985), que continua lançando sua luz explicativa sobre a realidade brasileira, desde que se saiba usar seu pensamento marxista radical, criativo e original.
1. “Mundo sem fronteiras” é uma falsidade norte-americana
A economia mundial é uma realidade indiscutível, pelo menos desde o século XVI, mas ela não significa um mercado mundial sem fronteiras, como pretendem nos últimos anos os apologistas da “globalização”, quer honestamente equivocados (O. Ianni entre nós, Kurz na Alemanha, entre outros), quer ideólogos do imperialismo, espalhados pelas universidades do mundo ocidental (e antigamente... cristão!). O comércio não é global e sim internacional, isto é, entre nações, mas à medida que as dimensões geográficas de pequeno porte (França, Alemanha, Itália, etc.) não são mais bases territoriais suficientes para a acumulação capitalista, a economia mundial está gestando blocos continentais (União Européia, Nafta, Bloco asiático projetado), cada um com moedas distintas e defendendo seus próprios interesses comerciais e financeiros. Isto quer dizer que o comércio internacional no interior dos blocos é facilitado, enquanto o comércio entre blocos é desestimulado, longe portanto de um mercado mundial sem fronteiras.
Apesar das evidências acima apontadas, intelectuais de
esquerda equivocados e principalmente intelectuais orgânicos do imperialismo, para usar uma expressão inspirada em Gramsci, insistem na idéia de que as nações não têm mais nenhum papel a cumprir.
O sistema capitalista mundial continua funcionando à base da
relação centro-periferia, apesar de geógrafos marxistas edulcorados como D. Harvey, H. Capel, Y. Lacoste, entre outros, insistirem em minimizar ou mesmo negar esta relação. Os países da periferia estão submetidos hoje em dia a um neocolonialismo ainda mais brutal pelo uso permanente do terrorismo financeiro, já que as metrópoles monopolizam o capital financeiro mundial, resultante em cada país central da fusão dos bancos com as indústrias, como Lenin já havia percebido nos inícios do século XX (O imperialismo, fase superior do capitalismo).
2. A dívida pública crescente sufoca o brasil
No Brasil dos anos 60 Ignacio Rangel já assinalava que os
instrumentos do colonialismo entre nós eram “a desfaçatez da direita, a imbecilidade das esquerdas e o déficit em conta corrente no balanço de pagamentos” (D. Dias Carneiro: I. Rangel e os economistas de minha geração, Informe Corecon-RJ, 3/1994). À medida que o Estado brasileiro se endividou nos anos 70 junto aos bancos estrangeiros para financiar a “marcha forçada” do governo Geisel (A. Barros de Castro, A economia brasileira em marcha forçada, 1985) e depois junto aos bancos brasileiros, “empurrando com a barriga” a dívida externa, ele se tornou refém do sistema financeiro e dirigiu o grosso da poupança brasileira ao pagamento das dívidas externa e interna, perdendo a capacidade de realizar políticas públicas.
É aí, na dívida pública descomunal que reside o cerne da crise
brasileira desde os anos 80. A incapacidade de definir este problema como central e a incapacidade de enfrentá-lo corretamente levou-nos irremediavelmente ao beco sem saída em que nos encontramos: pagamos cada vez mais e a dívida não para de aumentar. Cabe-nos perguntar com que política econômica, que seja do interesse dos trabalhadores e da nação poderemos sair efetivamente da crise, que já dura mais de duas décadas, com agravamento do problema central (dívida pública crescente) e dos problemas decorrentes, como as crises econômica, social, política, moral, educacional, etc. Se não encontrarmos uma saída e continuarmos tutelados pelo FMI, vale dizer pelo imperialismo norte americano, seremos levados ao mesmo desastre que ocorreu recentemente na Argentina, que aliás parece redefinir o seu rumo, com o governo Kirshner. 3. Necessidade de novo pacto de poder desenvolvimentista
No atual período depressivo da economia mundial, vigente
desde a chamada crise do petróleo (1973), os países asiáticos passaram a crescer aceleradamente (China, Índia, Coréia do Sul, Indonésia, etc.), assim como no período depressivo anterior, anos 20 e 30 do século XX, foi a América Latina a região de maior expansão industrial, paralelamente ao Japão e a URSS. Aliás, nos períodos depressivos mundiais as regiões e países atrasados têm oportunidade de crescimento acima da média mundial, usando a técnica disponível no centro do sistema, que, entretanto, carece de novíssimas tecnologias para voltar a crescer (I. Rangel: Ciclo, tecnologia e crescimento, Civilização Brasileira, 1982).
O Brasil, além de ter sido favorecido no período depressivo
mundial da primeira metade do século XX, se beneficiou com o pacto de poder de 1930, que significou a ascensão dos latifundiários e industriais interessados na expansão do mercado interno e a queda dos cafeicultores, agro-exportadores e do capitalismo industrial inglês. O imperialismo americano, sócio do novo pacto de poder, teve o papel de financiar a política econômica nacional-desenvolvimentista de Vargas, JK, Geisel e outros estadistas do período. Este pacto de poder, que alavancou o extraordinário crescimento industrial, agrícola e urbano brasileiro, se esgotou em 1980, colocando a possibilidade de um novo pacto (4adualidade brasileira na visão de I. Rangel, tendo a primeira começado com a Independência, a segunda com a Abolição-República e a terceira com a Revolução de 30), que tornasse os industriais brasileiros sócios hegemônicos no lugar dos latifundiários feudais decadentes e incorporando a dissensão latifundiária capitalista, resultante do surgimento das empresas agrícolas e também dos bancos brasileiros, que seriam chamados a substituir os bancos norte- americanos com a função de financiar internamente a instalação de novas infra-estruturas: ferrovias, duplicação de rodovias, modernização portuária, metrôs urbanos, saneamento básico, etc., que impulsionariam nova fase de crescimento brasileiro.
4. A contra-revolução de Collor e FHC desnacionalizou o Brasil
No lugar desta possível evolução sobreveio a partir de 1990 com
Collor e FHC uma contra-revolução que substituiu o nacional- desenvolvimentismo pelo neo-liberalismo: 1) o capital financeiro americano (bancos e indústrias) se tornou hegemônico, 2) a indústria brasileira, sócia subalterna do pacto de 30, foi afastada do poder, 3) o latifúndio feudal (Norte e Nordeste), com poder político, mas agonizante economicamente, participou da contra- revolução, assim como 4) os bancos brasileiros ocuparam um espaço econômico e político subalterno ao capital financeiro norte-americano. Todo este bloco contra-revolucionário, sob o comando dos EUA, passou a paralisar a economia brasileira e o Estado nacional, bem como a provocar o apodrecimento da vida política e cultural no Brasil.
Na eleição presidencial de 1989 as chamadas esquerdas
lançaram, de maneira incompetente, três candidatos (Lula, Brizola e Covas) e permitiram a vitória da direita (Collor), com apoio norte-americano, dando origem à contra-revolução e depois, de maneira novamente incompetente e por preocupações eleitoreiras, não aproveitaram o interregno Itamar Franco (1993-94) para se unirem diante de perigo crescente dos EUA, cujas primeiras manifestações explicitadas já se fizeram sentir sob o governo Figueiredo, ainda durante a ditadura militar.
A ação colonialista dos EUA em relação à América Latina tem
mais de 150 anos (Doutrina Monroe), como todos deveríamos saber, apesar de seus numerosos acólitos no centro de sistema (H. Capel, p. ex. na AGB de João Pessoa em 2002) nos aconselharem a não falar de imperialismo ianque. Nas últimas décadas os EUA patrocinaram golpes militares no Brasil (1964), no Chile (1973), na Argentina (1976), etc. Durante a ditadura militar a economia brasileira continuou a crescer assustadoramente e passou a exportar produtos industriais mais sofisticados (aviões, armamentos, auto-peças, etc.) criando superávites comerciais e relacionamentos crescentes na América Latina, no Mundo árabe (Argélia, Iraque, etc), na África (Angola, Moçambique), na Ásia (Japão, China), além do acordo nuclear com a Alemanha. Como H. Kissinger assinalou na ocasião, os EUA não poderiam permitir o aparecimento de um “novo Japão na sua área de influência”.
O governo Reagan (1981-88) intensificou a reação norte-
americana diante da erosão de sua hegemonia mundial e mesmo no mundo capitalista. No caso da América Latina foi suspensa a renovação de empréstimos, assim como passou a cobrar a dívida externa de maneira draconiana, provocando crises econômico-financeiras no México, Brasil e em praticamente todos os demais países, além da multiplicação da dívida por conta dos contratos com juros flutuantes feitos anteriormente.
5. Moratória e combate à inflação: falsos problemas
No Brasil, o nacional-desenvolvimentismo começou a se
enfraquecer durante o governo Figueiredo, que moderou o nacionalismo militar por conta do peso da dívida externa e por conseqüência das pressões dos países centrais. Foi forçado a aceitar financiamento alemão visando construir para a Portobrás novo terminal graneleiro no Rio Grande-RS, prejudicando o terminal da Cotrijuí, que não operava à plena capacidade, bem como cedeu à Mitsubishi a implantação do metrô de superfície de P. Alegre, em detrimento da Mafersa, empresa estatal de vagões ferroviários, que continuou sem encomendas. Nos dois casos, entre outros, a indústria nacional passou a ser submetida ao dumping das importações de equipamentos estrangeiros, por conta dos financiamentos facilitados. Assim, o endividamento externo aumentou e se iniciou o estrangulamento da indústria nacional de equipamentos pesados, implantados ou ampliados durante o governo Geisel. Entretanto a postura nacionalista ainda dominava: 1) na demissão de M.H.Simonsen, que propunha combate a inflação crescente com aplicação de política recessiva e sua substituição por A. Delfim Netto, que propunha o uso das capacidades ociosas da economia, 2) nos estímulos à exportação, que cresceu muito com as desvalorizações cambiais (Delfim Netto) e ao mesmo tempo ajudando o atendimento ao setor bancário do imperialismo americano, pois os dólares gerados pelas exportações serviam ao pagamento dos juros da dívida externa, 3) na implantação da reserva de mercado da informática, que deu origem à Itautec e outras empresas de alta tecnologia, 4) no acordo de cooperação científica com a China, etc.
Mas o pior estava por acontecer e ocorreu após a abertura
democrática. Intelectuais de esquerda, sobretudo economistas, passaram a repetir, posando-se de “radicais”, que era necessário decretar a moratória da dívida externa (C. Furtado, P.Nogueira Batista Jr e outros), posta em prática no Plano Cruzado (Governo Sarney), quando a incompetência dos economistas de esquerda (Unicamp), se somou à desfaçatez dos economistas de direita (PUC-RJ) na definição do “inimigo” a enfrentar, isto é a inflação, como se nas décadas, de 1940 a 1980, de enormes taxas de crescimento, a inflação não tivesse se manifestado periodicamente. Do Plano Cruzado (1986) ao Plano Real (1994) os economistas brasileiros, quase unanimemente, ignorantes uns e vendidos outros, passaram a engrossar a “jihad anti-inflacionária” imposta pelo FMI. Como disse P. Anderson: “recordo-me de uma conversa que tive no Rio de Janeiro, em 1987, quando era consultor de uma equipe do Banco Mundial; um amigo neoliberal da equipe confiou-me que o problema crítico no Brasil não era uma inflação demasiado alta, mas demasiado baixa: ‘esperemos que os diques se rompam, precisamos de uma hiperinflação aqui para condicionar o povo a aceitar a medicina deflacionária drástica que falta neste país’” (Balanço do Neoliberalismo In: E.Sader e P. Gentili/orgs Pós- Neoliberalismo: as políticas sociais e o estado democrático, 1995).
6. O combate à inflação continuou prioridade no governo Lula
Anteriormente, o combate a inflação já havia sido um fracasso
no governo João Goulart, com a aplicação do Plano Trienal (C. Furtado), ajudando a ocorrência do golpe militar de 1964, assim como haviam fracassado, na década de 50, as experiências anti- inflacionárias no Chile e na Argentina, na época em que os assessores monetaristas da primeira fase do governo JK forçaram-no a admitir que “são condições essenciais de uma política de estímulo ao capital estrangeiro a estabilidade política, cambial e monetária” (JK: Mensagem ao Congresso Nacional, 1957 p. 247), como se o Brasil tivesse que optar entre capital estrangeiro e arrocho salarial, opinião compartilhada por monetaristas e estruturalistas, que ignoravam a capacidade ociosa como promotora da crise e igualmente promotora da retomada do crescimento, desde que utilizada (I. Rangel: A inflação brasileira, 1963 e Francisco Sá Jr/org: Inflação e desenvolvimento, 1984).
Ao invés de termos aproveitado as lições de Rangel da década
de 60, a situação se agravou nos anos 80 e 90 pela unanimidade que reuniu economistas de esquerda (Unicamp, G. Mantega, P. Sandroni, entre outros), com os de direita (A. Lara Resende, P. Arida, F. Lopes, G. Franco, entre outros) todos incensados pela mídia de aluguel (TV Globo, Veja, FSP, etc.) como gênios (do crime, claro...), que se puseram à discutir hiperinflação em geral, ao invés de procurar entender a inflação brasileira, que afinal não é a mesma que a chinesa ou a inglesa, por exemplo. Igualmente descobriram que a siderurgia brasileira poderia ser vendida a preço barato, pois não era mais “estratégica”, como garantiu com santa ignorância A. Mercadante e assim por diante.
Não seria de estranhar que o PT, vitorioso nas eleições
presidenciais não tivesse um projeto de governo, insistindo no “combate” à inflação, política que já se desmoralizou diante do povo. Assim, A. Palocci e H. Meirelles vão revelando o que são: fantoches do FMI, inimigos dos interesses nacionais. Isto quer dizer que nas eleições de 2002 teria sido preferível uma chapa Itamar-Lula para enfrentar a “herança maldita” dos governos Collor e FHC, já que o governo de Minas Gerais a partir de 1999 recuperou o controle da Cemig, impediu a privatização de Furnas e passou a enfrentar o problema da dívida pública estadual, demonstrando determinação e competência para enfrentar os verdadeiros problemas, isto é, as armadilhas do imperialismo norte-americano, como agora demonstra o atual governo do Paraná (R. Requião: Presidente, onde fica a saída? FSP 20/04/2004). Mas, afinal qual é a “herança maldita” de que fala José Dirceu, expressão sintomaticamente jamais usada por Palocci?
7. A “herança maldita” dos governos Collor e FHC
Escrever sobre a “herança maldita” demandaria no mínimo de
um longo artigo, coisa que não é possível aqui. Trata-se, em resumo, da quebra do modelo nacional desenvolvimentista (1930-1980), de enormes realizações econômico-sociais, além naturalmente dos problemas criados por se ter tratado de um desenvolvimento sem reforma agrária (via prussiana desde Getúlio até Geisel) e da recolonização do Brasil sob liderança do imperialismo (bancário e industrial), num verdadeiro processo contra-revolucionário vitorioso desde 1990. Os EUA, que comandaram o processo em toda a América Latina a partir do governo Reagan (1981-88), usaram fantoches locais para gerenciar a contra-revolução, com cobertura das mídias de aluguel (TV, revistas, jornais), de espionagem e corrupção da CIA e FBI e de todos os instrumentos necessários (Carlos Costa: Os EUA grampearam o Alvorada, entrevista a Bob Fernandes, Carta Capital, 24/3/2004).
Os EUA impuseram uma política de dumping comercial sobre a
economia brasileira, que se acelerou com o Plano Real (FMI- FHC). Com a abertura comercial de 1995 os oligopólios que operavam no mercado interno se viram defrontados com os gigantescos oligopólios internacionais e assim não puderam mais remarcar preços, como nos planos anteriores. A inflação foi controlada momentaneamente a custa de importações maciças (o real foi supervalorizado frente ao dólar), que provocaram queda da produção nacional, desemprego, etc. Em 1990, antes do Plano, registrávamos saldo comercial de US$ 10,8 bilhões e já em 1997, sob o Plano “vitorioso”, sofremos um déficit de US$ 8,4 bilhões, com prejuízos enormes à economia nacional. O PIB brasileiro que havia se recuperado dos desastres de Collor (1,0% em 1991 e –0,5% em 1992) durante o governo Itamar Franco (4,9% em 1993 e 5,9% em 1994) voltou a cair com FHC (4,2% em 1995 e 2,7% em 1996, 3,3% em 1997, 0,1% em 1998, 0,8% em1999, etc.), um desastre brutal que se sustentou graças, 1) ao desemprego, que intimidou os trabalhadores, 2) à mídia e 3) aos políticos de aluguel. Para decepção e perplexidade popular, o PIB teve queda de 0,2% em 2003 (governo Lula), comparativamente ao ano de 2002, que já havia sido insignificante (1,9%). Acrescente-se que estes resultados não vieram apenas da abertura comercial, mas também da imposição de juros internos altos, visando atrair capitais estrangeiros, a pretexto de escassez de poupança interna, estrangulando a economia e da ausência de investimentos onde eles fazem falta, nas infra-estruturas.
8. Palocci e Meirelles endossaram a “herança maldita”
O combate à inflação, provocando mais recessão como os dados
acima apontam, é a maior “herança maldita”. Há muitas outras características do governo FHC que merecem ser analisadas mais minuciosamente em outra ocasião: 1) de 1990 a 2001 no balanço de criação/destruição de emprego o setor agropecuário teve 3,08 milhões de empregos a menos e a indústria 1,15 milhão de empregos a menos, enquanto o balanço positivo no comércio e serviços foi de sub-emprego em geral, 2) o “spread” bancário, isto é, a diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o quanto eles cobram aos consumidores e empresas, é o mais alto do mundo, 3) as negociatas nas privatizações, inúteis para o interesse nacional (telecomunicações, CVRD, siderurgia, etc.), aumentaram as contas secretas nas ilhas Cayman e resultaram na queda de ministros, como Mendonça de Barros, que continuam impunes (Waldomiro Diniz pediu 1%, enquanto senadores do Norte-Nordeste continuam pedindo 20%), 4) as máfias do contrabando e do narcotráfico investiram milhões de dólares nos jogos de bingo, 5) a carga tributária cresceu de 28,5% do PIB em 1995 para 35,9% em 2002, num processo de reforma tributária sigilosa posta em prática por Everardo Maciel, aliviando o capital e penalizando os assalariados, 6) o papel de Robert Rubin na condução da crise cambial de 1999 (G. Palast: A melhor democracia que o dinheiro pode comprar, 2004).
Em julho de 2002 FHC levou os candidatos presidenciais aos
EUA e todos eles, inclusive Lula, assinaram acordo de continuidade com o FMI. Itamar Franco ou Roberto Requião certamente não teriam assinado. Garotinho, a convite do FBI, havia estado anteriormente na posse de Bush (Carlos Costa, entrevista citada). Palocci e Meirelles são fantoches do FMI: eles e suas políticas recessivas de pagamento religioso dos juros, etc. são defendidos intransigentemente por Bornhausen (FSP 8/3/2004), Malan (OESP 14/3/2004), J. M. Camargo (FSP 13/3/2004), toda vez que ocorre o mínimo perigo. Palocci nomeou Meirelles (Citibank), autor da reforma bancária (1994) que abriu as portas à desnacionalização do Banespa, Bamerindus, Real, etc. e como foi impedido de nomear Everardo Maciel para continuar na Receita Federal, conseguiu emplacar seu sub, Jorge Rachid.
9. Dois polos de poder no governo Lula e as ideias de Ignacio
Rangel
O governo Lula tem dois polos de poder: o imperialismo norte-
americano que controla o Ministério da Fazenda e o Banco Central (Palocci) e o setor nacionalista que controla o BNDES, os ministérios da Indústria, da Agricultura, Ciência e Tecnologia, do Exterior (José Dirceu). Como o imperialismo tem medo de ser desbancado pelas pressões sociais e nacionais montou a “armação” Waldomiro Diniz para derrubar José Dirceu. A nós compete levantar a bandeira da autonomia nacional exigindo a saída dos “dois perdidos numa noite suja”, na expressão de Plínio Marcos, a dupla Palocci-Meirelles e a nomeação para o Ministério da Fazenda de economistas nacionalistas, da confiança dos industriais e dos trabalhadores (C. Lessa, L. Belluzzo ou Delfim Netto) e principalmente a aceleração dos investimentos em infra-estruturas estranguladas, a maior oportunidade de investimentos de que dispomos e que continuam na mira dos lobistas estrangeiros.
Ignacio Rangel se bateu praticamente sozinho no
desmascaramento dos “cegos conduzindo cegos”, apontando a inflação como epifenômeno da crise e indicando como saída 1) investimentos maciços em infra-estruturas estranguladas, por exemplo em ferrovias novas como a Ferronorte, Norte-Sul, Rio- São Paulo, entre outras, com concessões dos serviços públicos à iniciativa privada operando no Brasil (as parcerias público- privadas de G. Mantega seriam uma das maneiras, mas estão muito atrasadas) e 2) aquisição dos equipamentos e dos serviços complementares no mercado nacional de fatores, gerando efeitos multiplicativos imediatos: geração de emprego de engenheiros, técnicos e operários nacionais, criação de sobras de caixas nestas empresas envolvidas, vale dizer de poupança a partir do uso das capacidades ociosas das empreiteiras (Camargo Correa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, etc.), das indústrias de equipamentos (Mafersa, GE, Villares), poupança que teria interesse em ser reaplicada, via intermediação bancária nacional, nas novas ferrovias, novas usinas elétricas, novos terminais portuários, novas linhas de metrô, etc. O crescimento econômico induzido pelo Estado ajudaria à regeneração das suas finanças, hoje estranguladas pelo pagamento de juros, permitindo a realização de políticas públicas ofensivas de 1) reforçamento do mercado interno (promoção de políticas habitacionais urbanas, da reforma agrária, etc.), 2) de estímulo ao comércio externo bilateral, de governo para governo, com possibilidades de financiamentos das nossas exportações, 3) de rediscussão da dívida externa e interna, em grande parte já quitadas. A perplexidade de Chico de Oliveira e de outros na verdade é paralisante, enquanto a luz de Ignacio Rangel, marxista-leninista até a medula, continua iluminando o Brasil de “cegos conduzindo cegos”, da parábola bíblica, e nos estimulando ao debate e ao combate.
10. Lula perdeu a batalha, mas não a guerra
O texto “O enigma brasileiro atual: Lula será devorado?” foi
escrito em 2004, no início do primeiro mandato presidencial. Tendo se passado 15 anos, somos obrigados a retomá-lo em 2019, com Lula encarcerado. Pouco antes de ser preso ele deu uma de suas entrevistas antológicas, de mais de cem páginas (A verdade vencerá, 2018), chamando a atenção sobre as falsificações produzidas pela Lava-Jato, montadas por dois jovens artistas da TV Globo, Dallagnol e Moro. Aliás, é um sinal dos tempos do capitalismo mundial decadente, o fato do Trump, presidente dos EUA, se orgulhar de ter oficializado as “fake- news”, difundindo seguidamente mentiras escancaradas, seguindo o exemplo de J. Goebells, propagandista da Alemanha nazista, para quem a mentira repetida muitas vezes se transformava em verdade. No Brasil, a TV Globo tem seguido à risca esta lição.
Entretanto, é bom relembrar que os interesses em jogo entre
nações, classes sociais e indivíduos não começaram hoje, como indica a velha parábola judaica sobre a verdade e a mentira: “Um dia a Verdade e a Mentira se encontraram. A Mentira diz à Verdade: ‘hoje está um dia maravilhoso’. A Verdade olha para o céu desconfiada e suspira, pois o dia estava realmente lindo. Elas andam algum tempo juntas, chegando finalmente a um poço. A Mentira diz à Verdade: ‘a água está muito boa, vamos tomar um banho juntas’. A Verdade mais uma vez desconfiada testa a água e descobre que realmente está muito gostosa. Elas se despem e começam a tomar banho. De repente a Mentira sai da água, veste o roupão da Verdade e foge. A Verdade, furiosa, sai do poço e corre para encontrar a Mentira e pegar suas roupas de volta. O Mundo vendo a Verdade nua, desvia o olhar, com desprezo e raiva. A pobre Verdade volta ao poço e desaparece para sempre, escondendo nele sua vergonha. Desde então a Mentira viaja ao redor do mundo vestida como a Verdade, satisfazendo as necessidades da sociedade. Por que o mundo não nutre o menor desejo de encontrar a Verdade nua” (Jessé Souza, A classe média no espelho, 2018).
A sabedoria judaica sobre a verdade e a mentira chama a
atenção para o fato de que o poder dominante usa a mentira, o que acaba com o tempo provocando crises e impasses e daí resulta a necessidade imperiosa de corrigir ideias e ações equivocadas. Isto explica o aparecimento, ao longo dos séculos, dos chamados profetas, que enxergam longe e são capazes de indicar os caminhos da regeneração. Foi o caso de Karl Marx no século XIX, quando tomou o partido do proletariado nascente e indicou a necessidade do socialismo. Sobre a verdade e a mentira é útil dizer, de maneira simples, que os negros enxergam melhor os brancos do que os brancos enxergam os negros, os trabalhadores enxergam melhor os patrões do que estes enxergam os trabalhadores, assim como os povos colonizados enxergam melhor os imperialistas do que estes enxergam os colonizados. Quem está com a verdade? Quem está com a mentira?
Na história do século XX, quando se iniciou a transição do
capitalismo para o socialismo, inúmeros líderes que lutaram incansavelmente pelos interesses populares e nacionais como J. Stalin, Deng Xiaoping, A. Gramsci, Ho chi Minh, M. Gandhi, N. Mandela, Fidel Castro e outros, foram presos e às vezes por longos anos, mas continuaram a luta e hoje são reverenciados como heróis nacionais. No Brasil, Getúlio Vargas foi deposto em 1945 pelos militares a serviço dos EUA e mais tarde, presidente eleito, foi levado ao suicídio após ter criado a Petrobrás, contra chuvas e trovoadas, incluindo as que partiram do imperialismo norte-americano. Por tudo isto, Lula na referida entrevista, de inícios de 2018, lamentou a morte de Getúlio, o exílio do Jango e a iminência de sua prisão. Não fugindo à luta, afirmou: “Não fui eleito para virar o que eles são, eu fui eleito para ser quem eu sou. Tenho orgulho de ter sabido viver do outro lado sem esquecer quem eu era”.
11. O PT nasceu em novas circunstâncias históricas
Na vida dos grandes líderes populares há muitos denominadores
comuns, o principal dos quais a vontade férrea de defender os interesses do povo e da nação oprimida. Há semelhanças curiosa nas histórias pessoais e políticas de Lenin e de Lula. O gênio da revolução russa ficou chocado com a morte de seu irmão mais querido, executado pelo regime tzarista. Lula igualmente ficou chocado com a prisão e as torturas sofridas por frei Chico, seu irmão querido, que o havia introduzido na vida sindical. Estes acontecimentos brutais amadureceram rapidamente os dois líderes, pessoas independentes e acostumadas a pensar com suas próprias cabeças e logo encontraram os caminhos a seguir. Lenin descobriu que a revolução da Rússia só podia sair vitoriosa dirigida por um partido de quadros revolucionários profissionais, assim como Lula percebeu, muitas décadas depois, que a revolução violenta estava esgotada e não era mais o caminho para mudar o Brasil, como a luta armada contra a ditadura militar havia pretendido. Era necessário criar um partido de massas, como o PT, com forte base sindical (Lula sem censura, 1981). Vale a pena lembrar que na Itália, na mesma época, E. Berlinguer, dirigente do PCI havia chegado à conclusão semelhante, propondo uma aliança com a ala esquerda da Democracia Cristã, liderada por Aldo Moro, que acabou assassinado covardemente por extremistas infanto-juvenis, travestidos de revolucionários.
12. O PT nasceu sério e corajoso, mas com infiltrações perigosas
Tentamos sublinhar linhas acima as semelhanças históricas
entre os caminhos percorridos por Lenin e Lula, como líderes de esquerda. É bom relembrar que a tomada de poder na Rússia em 1917 foi quase pacífica, mas logo foi seguida pela intervenção militar estrangeira, dando início a uma guerra civil de 1918 a 1921, com milhões de mortos dos dois lados e o nascimento do Exército Vermelho, que fez a proeza de ganhar a guerra civil e sair vitorioso na 2ª Guerra Mundial contra a Alemanha nazista.
Aqui no Brasil a vitória de Lula na eleição presidencial de 2002
também foi seguida de raivosa reação do imperialismo norte- americano e seus asseclas, com seguidas tentativas golpistas, começando pelo “mensalão”. Na verdade poucos observadores, mesmo aqueles atentos aos acontecimentos, tem ideia da desproporção do pequeno poder de fogo das forças populares, quando vitoriosas em países destruídos e empobrecidos, diante da força gigantesca do imperialismo com efetivos militares enormes e fortemente armados, orçamentos de bilhões de dólares, controle da imprensa, legislativo e judiciário maleável nos países colonizados.
Criar partidos disciplinados e conectados com a realidade
concreta e não vivendo de fantasias, como fizeram Lenin e Lula é fator indispensável a qualquer projeto de mudança, mas é apenas o início de um longo percurso, cheio de dificuldades, como a história tem demonstrado. Antes mesmo de fundar o PT, ao se destacar como líder sindical respeitado, Lula sofreu inveja de políticos como FHC, conforme relato de R. Faoro e Mino Carta, além das contestações de extremistas infanto-juvenis, como do jornalista gaúcho, que insistia para ele “brigar pela revolução e não por um poste”. Com sua visão concreta da realidade, Lula deu a resposta didática: “Quem sabe eu seja mais revolucionário do que você, por que se eu for numa favela e for falar em revolução eu vou juntar uma pessoa, quem sabe eu mesmo, mas se eu for reivindicar um poste eu vou juntar pelo menos cinquenta pessoas, que já caíram na rua por não ter um poste com luz naquele lugar” (Lula sem censura, 1981).
Ao contrário das fantasias embaladas por grandes setores da
classe média brasileira e seus intelectuais de esquerda, como o jornalista gaúcho acima referido, deveríamos saber que os líderes populares e seus partidos são feitos de carne e osso, seres humanos com acertos e erros e não anjos caídos do céu. Assim como A. Gramsci foi aprisionado por B. Mussolini, ex-líder de esquerda, Deng Xiaoping foi posto em prisão domiciliar por Mao Tsetung, durante a fantasiosa Revolução Cultural. Assim intelectuais estrangeiros de prestígio erraram ao subestimar a experiência do PT e endeusar o “socialismo do século XXI” dos países latino-americanos “mais revolucionários”. Mas é assim que caminha a humanidade, gostemos ou não...
O PT nasceu sob liderança de Lula, com uma grande base
sindical do ABC paulista, oriunda das greves dos anos 1970, acrescida de militantes combativos das comunidades eclesiais de base espalhadas pelo Brasil, mas perdeu consistência com a adesão oportunista de grupos esquerdistas nascidos durante a ditadura militar, no movimento estudantil (MEP, Libelu, etc), além de intelectuais pretensamente marxistas como A. Mercadante (FEA-USP), A. Palocci (Libelu), Tarso Genro (PCdoB), entre outros. Os sindicalistas e as comunidades eclesiais de base lutavam de maneira séria, buscando resultados viáveis e sustentáveis, enquanto os grupelhos infanto-juvenis e os intelectuais esquerdistas preferiam mais aparecer, do que agir. Novamente a Mentira querendo enganar a Verdade.
13. A redemocratização, as lutas sindicais do ABC e os
economistas do MDB
Para melhor entender as qualidades e os defeitos do PT é
importante cruzar sua pré-história sindical e seus primeiros passos político-partidários com a história econômica e política do Brasil naqueles anos. É bom lembrar que após o golpe militar de 1964 o marechal Castelo Branco, sob influência norte- americana, destruiu a FNM além de grupos nacionais como Jafet e Panair do Brasil, provocando reação dos setores nacionalistas do Exército, que acabaram assumindo o governo e deram origem ao “milagre econômico” e ao 2°PND desenvolvimentista do governo Geisel, cuja política externa independente levou ao reconhecimento e ao acordo espacial com a China, como registraram M.C. d’Araújo e C. Castro (Ernesto Geisel, 1997). Nos finais dos anos 70 a ditadura havia assumido a abertura política “lenta, gradual e segura”, enfrentando a resistência da linha dura militar, enquanto os líderes sindicais do ABC dirigiam greves operárias gigantescas, que ajudaram a redemocratização. Enquanto isto “economistas do MDB” (M.C.Tavares e outros) não tinham ideia de que rumos a economia brasileira deveria tomar. Curiosamente naqueles anos os militares e os líderes sindicais sabiam o que queriam, mas os economistas referidos não sabiam o que propor, aguardando o retorno à democracia, como alguns disseram, para começar a pensar.
O Centro Brasil Democrático, presidido por Oscar Niemeyer,
organizou em fins de 1978 vários painéis de discussão da realidade brasileira (Painéis da Crise Brasileira, 1979) e um deles, “Perspectivas do quadro econômico-social”, teve como expositores P. Malan, R. Almeida, A. Passos Guimarães, F. Pena, R. Saturnino Braga, A. Coimbra, M. C. Tavares, E. Matarazzo Suplicy, L. C. Bresser Pereira e I. Rangel. Fora a verborragia de alguns e a ausência de propostas para o futuro da economia, ficou evidente o deslocamento da realidade de quase todos, mesmo do experiente Rômulo de Almeida, que criticou a construção da ponte Rio-Niterói e da Ferrovia do Aço, pois não enxergavam que a ditadura militar havia conseguido colocar a economia brasileira em novo e alto patamar.
Na verdade, tanto economistas quanto sociólogos, carregam o
pecado de se aprisionar muito facilmente às teorias que professam, em geral copiadas dos outros, e não dão grande importância à realidade empírica concreta. Acabam se tornando “cegos conduzindo cegos”, provocando por ignorância enormes estragos econômicos, sociais e políticos, como aconteceu com o “Plano Trienal” dos anos 1960 e os congelamentos de preços dos anos 1980. Exceção a este pecado mortal de desligamento da realidade, na reunião acima referida, foi a presença de Ignacio Rangel. Este economista extraordinário continua até hoje ignorado nos cursos de economia das universidades, apesar de seu discernimento e originalidade terem sido reconhecidos por R. Bielschowsky (O pensamento econômico Brasileiro, 1988). Assim sendo, cabe perguntar o que os outros participantes do painel de 1978 não viam e que Ignacio Rangel vinha explicitando desde vários anos antes (A inflação é uma defesa, Veja, 06/10/1976).
14. Ignacio Rangel apontou a saída progressista para a crise
econômica dos anos 1980
Na entrevista à Veja, dois anos antes do painel “Perspectivas do
quadro econômico-social”, de resultados pífios, Ignacio Rangel apresentou um panorama esclarecedor dos problemas econômicos brasileiros: 1) a inflação não era um bicho de sete cabeças, como se alardeava, pois induzia os poupadores a realizar alguma aplicação para não perder dinheiro e assim evitava a depressão, amenizando a crise, 2) a substituição industrial de importações havia se esgotado ao alcançar com sucesso sua etapa final, a implantação da mecânica pesada completa, 3) o setor carente de investimentos era o das infraestruturas, como metrôs, ferrovias, saneamento, etc., 4) o setor público estava excessivamente endividado e incapaz de atender o setor estrangulado e assim era necessário atrair investimentos privados, sob forma de concessão destes serviços públicos, até então operados por empresas públicas.
Para entender as razões deste raciocínio didático e lúcido,
ausente em quase todos os economistas, é necessário lembrar que Ignacio Rangel desde sempre se distinguiu pelo compromisso com o Brasil e com o socialismo, sem carreirismo, subordinação partidária e holofotes. Adolescente lutou de armas na mão pela Revolução de 1930, mas acabou preso em 1935 ao liderar camponeses maranhenses e mandado para o Rio de Janeiro, como Graciliano Ramos, entre outros. Ele logo percebeu o equívoco da necessidade da reforma agrária para alavancar a industrialização, passando a estudar economia por conta própria e assim acabou integrando a assessoria econômica de Getúlio Vargas, mas só se tornando getulista em 1954, quando estava na Cepal, em Santiago do Chile, e já era brilhante funcionário do BNDE.
Batalhador incansável, Ignacio Rangel não só expôs as razões
da crise e os rumos para enfrentá-la, como aprofundou suas ideias em dois testamentos, que até hoje não perderam atualidade: 1) História da dualidade brasileira (Revista de Economia Política, n 4, 1981) e 2) Economia: milagre e anti- milagre (1985). Infelizmente os economistas de esquerda, vivendo no mundo da lua, trataram de ignorá-las, por serem estatizantes de carteirinha, enquanto os economistas de direita preferiam a venda das empresas estatais, todas se possível. Paradoxalmente os dois lados se entenderam em 1980, na pauta de combate à inflação, ditada pelo FMI, como assinalou Perry Anderson, citado linhas acima. Assim a crise continuou nos anos 1980, atenuada por Delfim Neto, ministro do general Figueiredo e continua até hoje, atenuada durante o governo Lula.
Nos dois testamentos acima citados, Rangel expôs
minuciosamente os caminhos a percorrer, ressaltando que o modelo de substituição de importações (1930-1980) havia feito um percurso brilhante, mas havia se esgotado, assim como o pacto político-social que havia sido liderado por caudilhos competentes, desde Getúlio Vargas até Ernesto Geisel, em aliança com os industrias e os bancos norte-americanos. Para Rangel havia chegado a hora de colocar no poder o setor industrial brasileiro, insignificante em 1930, mas gigantesco em 1980, constituído pelo chamado tripé (estatais como a Petrobrás, etc., multinacionais como Volks, etc. e indústrias nacionais como Votorantim, etc.). O novo pacto deveria cumprir várias tarefas econômicas: 1) conceder os serviços públicos estrangulados à iniciativa privada, e manter nas mãos do Estado o aval dos negócios, com fórmulas financeiras esboçadas por Ignacio Rangel, 2) reforçar o mercado interno dos trabalhadores, incluindo uma reforma agrária de novo tipo e 3) abrir a economia de dentro para fora, como a China ou a Índia, estimulando exportações industriais não apenas de bens de consumo, mas também bens sofisticados, que o país produzia em 1980.
15. As propostas de Ignacio Rangel não foram postas em prática
É importante reafirmar que ao final dos anos 1970 e início dos 1980 a ditadura militar dava sequência ao processo de redemocratização “lenta, gradual e segura”, assim como os metalúrgicos do ABC preparavam a criação do PT. Enquanto isto os “economistas do MDB” continuavam perdidos, assim como os grupelhos esquerdistas estudantis, que ainda sonhavam com o socialismo para o dia seguinte. Além de Geisel e Golbery e das lideranças sindicais comandadas por Lula, Ignacio Rangel também tinha propostas baseadas na realidade daqueles anos.
Ignacio Rangel achava ser possível substituir o pacto de poder
implantado pela Revolução de 1930, por um novo, sob a liderança da indústria brasileira, diante de algumas evidências, como: 1) a dimensão e a maturidade alcançadas pela indústria e pelo sistema bancário brasileiros e 2) a força política alcançada por candidaturas nacionalistas de Brizola, Lula e Covas. O edifício industrial havia se completado com a mecânica pesada e a engenharia pesada e os bancos nacionais já haviam frequentado a escola maternal do capitalismo financeiro, como ele afirmava, ao bancar as construtoras imobiliárias, que verticalizaram de maneira impressionante as grandes e médias cidades no Brasil inteiro. Os bancos haviam adquirido experiência e condições de intermediar os investimentos ou serviços públicos que fossem concedidos à iniciativa privada, incluindo o lançamento de debêntures de infraestrutura, como estão oferecendo hoje em dia, com muitas décadas de atraso. Por este caminho o sistema bancário nacional, estatal e privado, poderia substituir o sistema financeiro norte-americano, parte do pacto de poder de 1930, mas que começava a bloquear o crescimento econômico brasileiro.
Infelizmente a contra-revolução de Collor e FHC partiu para as
“privatarias” da Usiminas, CSN, Telebrás, etc., atrelando os interesses da economia brasileira aos interesses do imperialismo e as concessões dos serviços públicos estrangulados viraram negociatas ou equívocos, como no caso das rodovias, com numerosos exemplos emblemáticos: 1) a rodovia Castelo Branco, em São Paulo, sem necessidade de duplicação, foi privatizada como um negócio qualquer, 2) as rodovias estaduais do Paraná, que necessitavam duplicação, não foram duplicadas e passaram a cobrar pedágios escorchantes, enriquecendo a CR Almeida, a troco de nada, 3) as rodovias estaduais gaúchas foram privatizadas e depois estatizadas em decisão demagógica do governo Tarso Genro, pois os pedágios foram suprimidos ao invés do rebaixamento de tarifas, e assim as rodovias entraram em colapso, 4) a BR 101 foi duplicada de Florianópolis-SC a Torres-RS pelo governo do PT, com enormes gastos ao longo de intermináveis anos e depois concedida à iniciativa privada, em decisão equivocada. Resumindo deve-se dizer que as concessões rodoviárias foram feitas sem seriedade, lentidão interminável e enormes negociatas, não resultando em investimentos maciços, ao contrário.
Alguns estudos dão uma ideia da política de concessões e seus
equívocos, como foram expostos, entre outros, por K. Machado (Concessões de rodovias, mito e realidade, 2002) e C. S. Maciel (Política de regulação...In: R. Carneiro: A supremacia dos mercados e a política econômica do governo Lula, 2006). Assim, pode-se dizer que hoje em dia muitas infraestruturas continuam estranguladas e abandonadas, o que ajuda a entender por que a crise econômica brasileira se agravou. Deve-se lembrar que na última campanha presidencial curiosamente tanto Haddad quanto Bolsonaro prometeram retomar as obras paralisadas, milhares pelo Brasil afora, as principais delas de infraestruturas.
As propostas de Ignacio Rangel sobre infraestruturas, sobre o
reforçamento do mercado interno, incluindo reforma agrária de novo tipo e abertura do mercado brasileiro de dentro para fora estimulando exportações industriais, baseavam-se em realidades concretas, imperceptíveis para muitos economistas prejudicados pela cegueira. Desde 1976, há mais de quarenta anos, apontava para a necessidade de concessões dos serviços públicos que começavam a se estrangular. Percebeu, por exemplo, que o governo Geisel havia iniciado investimentos em vária infraestruturas, como o metrô de São Paulo, as usinas de eletricidade, a Ferrovia do Aço, que seria dos 1000 dias, etc. Neste último caso foi realizada a duplicação do trecho de Belo Horizonte-Juiz de Fora, bem como o túnel de 8 645 metros sob a Mantiqueira, no trecho entre Juiz de Fora e Barra Mansa, mas acabou interrompida e sua eletrificação abandonada, por falta de recursos financeiros provenientes de impostos e empréstimos estrangeiros.
A enorme dimensão que a economia brasileira havia alcançado,
exigia nos anos 1980 correções de rumo também de grandes dimensões. Por isto, Ignacio Rangel além de indicar a retomada de investimentos em infraestruturas paralisadas, também dava grande ênfase à necessidade de reforçar o mercado interno, como parte fundamental do novo modelo brasileiro. Para isto ele partiu da observação das tendências em andamento na realidade: 1) acelerar a reforma agrária baseada em micro-lotes, onde os boias-frias e outros trabalhadores carentes pudessem fixar suas famílias, produzir alimentos e escoar o excedente para cidades próximas. Assim, a renda dos trabalhadores rurais aumentaria e também os salários urbanos, que não seriam tão pressionados pelo êxodo rural arrefecido. A experiência dos ejidos mexicanos e dos kolkhoses russos serviam de exemplo, como na iniciativa de J. Lerner ao criar na periferia de Curitiba as “comunidades rururbanas” em 1975-76 e depois como governador as “vilas rurais”, que são atualmente mais de 400 no Paraná. Na Bahia, recentemente, na gestão de J. Wagner (PT) foram distribuídos pequenos lotes rurais e algumas cabras, com bom êxito econômico e social. Infelizmente estes exemplos não foram imitados, resultando em sucessivos aumentos do desemprego, juntamente com a violência urbana insolúvel e 2) ampliar as exportações industriais brasileiras, que começaram com grande êxito nos anos 1960, direcionadas aos EUA e à Europa, compostas de bens de consumo simples, como têxteis e calçados, móveis etc. e nos anos 1970 de produtos industriais sofisticados, agora dirigidos para outros mercados da América Latina, África e Oriente Médio, como automóveis, caminhões, ônibus, autopeças, armamentos, contra importações de petróleo e prestação de serviços de engenharia pesada, em rodovias, ferrovias, hidrelétricas, etc.
É importante concluir esta longa experiência do item número 15
deste artigo reiniciado em 2019, para dizer enfaticamente que Ignacio Rangel continua sendo o profeta que decifrou o enigma brasileiro e por isto seu pensamento deve nortear o próximo governo do PT, em decorrência da eleição presidencial de 2022, com Lula ou Jacques Wagner, para que o Brasil reencontre seu rumo de grandeza, inclusive reintegrando os BRICS. Está dentro das possibilidades.
16. Os EUA bloquearam o Japão, a URSS e o Brasil
As décadas de 1970 e 1980 foram muito importantes para o
Brasil e o mundo inteiro. Os “anos gloriosos” de após segunda guerra mundial terminaram com a crise do petróleo de 1973- 1974, marcando o fim da fase expansiva e o início da fase depressiva do ciclo de Kondratiev. No caso brasileiro, curiosamente o governo Geisel soube enfrentar de maneira competente a crise do petróleo, adotando várias medidas simultâneas: 1) extração em águas profundas, pioneira no mundo, 2) importações de Angola, Argélia, Iraque, e Irã, financiadas com contrapartidas acima referidas e 3) o programa do ProÁlcool, também pioneiro no mundo. Mas o abastecimento de petróleo era apenas um dos problemas e não o maior, que o Brasil precisava enfrentar.
Naquelas décadas os EUA passaram por desafios de grande
porte, como a ofensiva econômica japonesa, o avanço geopolítico soviético e as revoluções na periferia, como as derrotas no Vietnã e no Irã. Na verdade, a fase depressiva da economia mundial atingiu principalmente os EUA, acabando por provocar o planejamento e a adoção de um programa econômico e político agressivo do governo R. Reagan (1981- 1988), comandado pelo “complexo militar-industrial”, na expressão de D. Eisenhower: 1) corrida armamentista reiniciada com a “guerra nas estrelas”, 2) fluxos financeiros liberados, incluindo a criação dos paraísos fiscais no Caribe, 3) enquadramento do Japão e da URSS, 4) neoliberalismo nas relações de trabalho internas e aberturas comerciais e financeiras impostas à periferia latino-americana e africana, etc.
Assim os EUA conseguiram mudar expressivamente a correlação
de forças mundiais, que lhe era desfavorável nos anos 1970, impondo durante o governo R. Reagan uma nova correlação de forças, sob seu comando exclusivo. Esta nova correlação de forças permitiu aos EUA imporem ao mundo novas pautas econômicas e políticas, inclusive reduzindo a ONU a quase nada. Vale relembrar que a pauta de crescimento de crescimento econômico dos países periféricos era pauta integrante do governo J. Kennedy, tendo em vista a disputa com a URSS. A nova correlação de forças permitiu ao imperialismo norte- americano substituir a pauta de crescimento econômico na periferia por novas pautas: abertura comercial, privatização de empresas estatais, combate à inflação, combate à corrupção, democratização, etc.
As novas pautas criadas ou recriadas durante o governo R.
Reagan tiveram boas oportunidades de aplicação no final da ditadura militar brasileira, com a redemocratização em andamento. A CIA norte-americana voltou a operar no Brasil com força total, como ficou evidente nas entrevistas realizadas por Bob Fernandes com Carlos Costa, citadas anteriormente. A CIA passou a financiar a Polícia Federal visando equipá-la e ao mesmo tempo usá-la nas suas tarefas de espionagem. O controle da PF pela CIA chegou ao extremo dela gravar as conversas de FHC com Clinton na questão da cobertura eletrônica da Amazônia, favorecendo uma empresa norte- americana, o que tornou FHC refém da PF na gestão de V. Chelotti (2/95 a 3/99). Os EUA usaram a redemocratização no Brasil para seus próprios interesses, como nos dias atuais exigem a “democracia” na Venezuela, para seus próprios interesses, esquecendo da democracia na Arábia Saudita.
Mas a pauta mais importante do imperialismo no Brasil desde os
anos 1980 parece ter sido o combate à inflação, como P. Anderson explicitou. Os fracassos dos planos Cruzado, Bresser e outros, se conjugou com outra pauta, o combate à corrupção, elegendo Collor, o “caçador de marajás” ne depois o Plano Real, de combate à inflação, elegeu FHC, apadrinhado de R. Marinho (TV Globo) e de ACM (PFL). As medidas recessivas e as privatizações altamente suspeitas provocaram desemprego gigantesco e favoreceram a eleição de Lula, que estava na previsão da CIA, que tratou de agir e colocar Palocci, seu homem de confiança, no lugar certo.
Palocci chegou onde chegou por práticas abertas de corrupção,
juntamente com sua “república de Ribeirão Preto”, disposto a favorecer quem pagasse mais. Assim, a CIA programou o assassinato de Celso Daniel no início de 2002, pondo em prática sua longa experiência nos assassinatos do general Torrijos, do líder equatoriano Galdoz e outro mais. Dionísio A. Severo, condenado a 63 anos, foi retirado de helicóptero do presídio de Guarulhos e levado ao Embu, onde era aguardado pela quadrilha da favela Pantanal para matar Celso Daniel, raptado em São Paulo. Dionísio fugiu para o interior da Bahia, onde morreu esfaqueado em abril de 2002 (S. Navarro: Celso Daniel, 2016). Lula, que sabia das coisas, disse no enterro: “Estou convencido de que você, Celso Daniel, não foi vítima do acaso e que não foi um incidente. Possivelmente, sua morte foi planejada, possivelmente tem gente grande por trás disso”. Operações complexas e de altos custos sempre foram obras de profissionais, como FBI e CIA, como as mortes de Martin Luther King, executada por assassino que “escapou” da prisão, ou as mortes de J. Kennedy e de seu irmão, todas com “modus operandi” semelhantes.
17. Quais são as perspectivas do Brasil para os próximos anos?
A ofensiva dos EUA durante o governo R. Reagan deu os
resultados programados em relação à URSS, ao Japão, ao Brasil e o resto da América Latina e à África, dando origem à ideia do “Fim da História”, isto é, da hegemonia definitiva e absoluta. Como sabemos, isto não durou muito tempo diante da emersão da China, da Rússia, da Índia e de outros países contrários à hegemonia norte-americana. Entretanto, é importante reconhecer que os EUA não aceitam passivamente seu enfraquecimento mundial. Da mesma forma que a Alemanha, a Itália e o Japão se posicionaram nos anos 1930, os EUA de hoje em dia estão reagindo com política interna e externa de extrema direita e estimulam seus seguidores a acompanhá-los no mesmo caminho, mas enfrentam resistências no mundo inteiro.
Quanto ao Brasil, dissemos linhas atrás, que há possibilidades
reais de reversão política em favor dos interesses nacionais e populares, com a eleição de Lula ou Jacques Wagner nas eleições presidenciais de 2022. Neste sentido vale a pena relembrar que: 1) a política entreguista e de arrocho salarial do governo Dutra contribuiu para a vitória esmagadora de Getúlio Vargas em 1950, quando houve correção do salário mínimo em 100% e recuperação econômica nacionalista, 2) a política entreguista do marechal Castelo Branco (1964-66) foi substituída pela linha nacionalista, resultando no “milagre econômico” e no governo Geisel e 3) a política desastrosa de FHC, de desnacionalização, privatização e desemprego brutal, abriu caminho para a vitória de Lula em 2002. É possível dizer que as medidas entreguistas e reacionárias do governo Bolsonaro poderão levar às derrotas nas eleições municipais em 2020 e conforme a continuidade do desemprego maciço e do arrocho salarial, as possibilidades de derrota nas eleições presidenciais de 2022 aumentarão.
É verdade que o antipetismo nos setores privilegiados da
sociedade brasileira continuará por muito tempo, mas é bom não esquecer que todas as pesquisas eleitorais em 2018 indicavam nítida vitória de Lula para presidente. Foi necessário montar a “armação” da mídia de aluguel (TV Globo, etc.), PF, MPF e judiciário, todos manipulados e por último o dedo militar sobre o STF, agentes conscientes ou inconscientes do imperialismo norte-americano, somados, aliás, às “fake-news” bolsonaristas para chegar onde chegamos.
É verdade também que a experiência política do PT nos
governos municipais, estaduais e federal nem sempre foi muito feliz, como aparece nos estudos de A. Moura (Memórias operárias, 1980) e de Celso Daniel (As administrações democráticas e populares em questão, 1991), sabotadas de dentro e de fora, como nas gravações criminosas organizadas por Carlinhos Cachoeira, padrinho do atual governador de Goiás ou nas ações de infiltrados como Delcídio Amaral e A. Palocci. Tomando apenas o exemplo de L. Erundina, vale lembrar a paralisação de todas as obras públicas na cidade de São Paulo, herdadas do governo anterior, reduzindo a questão a uma simples economia doméstica, e assim prejudicando Lula em 1989. Mas também acertou ao bancar os mutirões para construções de moradias populares e conceder à Shell terrenos no percurso para o autódromo de Interlagos, para seus postos de gasolina, como contrapartida para a recuperação do autódromo, abandonado por falta de manutenção. Experiência que não foi aproveitada pelos economistas do PT, infelizmente.
Lula como presidente teve mais acertos que erros. Preocupou-se
com a retomada do crescimento econômico, com investimentos maciços da Petrobrás, intoleráveis para as empresas petrolíferas norte-americanas e europeias, que trataram de acionar a Lava- Jato, como anteriormente acionaram o Mensalão... Afinal abocanhar o Pré-Sal vale cometer qualquer crime... Lula também deu atenção especial ao Nordeste, carente de bolsa família, aumento do salário mínimo, cisternas e luz para todos, assim como se preocupou em ampliar as vagas do ensino superior, com bons resultados. Realizou também relações externas independentes, estimulando a ampliação das exportações brasileiras, o que permitiu sobra de dólares para quitar a dívida com o FMI e ainda criou reservas cambiais significativas.
Entretanto, no governo Lula reinou na economia a dupla Palocci-
Meirelles que colocou em prática as regras do Plano Real (FHC), de juros altos e desvalorização do dólar, ambos mortais para a indústria brasileira, que alcançava 3,47% do total mundial, antes da política desastrosa de FHC (âncora cambial). Caiu para 2,85 % em 2005 e para 1,84% em 2016, despencando da 5ª colocação mundial para a 9ª posição, com tendência a piorar, conforme dados da ONU (A indústria pode deixar o grupo das 10 maiores, Estadão 16/X/2017).
Com acertos e erros, Lula terminou seu mandato elogiado por A.
Ermírio de Moraes, O. Setubal e outros empresários nacionalistas e consagrado pelo povo brasileiro. Nos últimos anos batalhou vitoriosamente para manter o PT em pé diante da ofensiva imperialista iniciada em 2013. Eleito em 2022, muito provavelmente fará as correções indicadas pelas ideias luminosas de Ignacio Rangel. Vamos à batalha...
[1] Este texto foi escrito em duas etapas: em 2004 para a
Ciência Geográfica, da AGB de Bauru-SP e completada em 2019, como está explicitado. Agradeço a contribuição inestimável das professoras M. Graciana E. de Deus Vieira e Isa de Oliveira Rocha.