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Gabrielly Ramos Macedo

2018.2

 Bibliografia básica:
Manual de Processo Civil de Fredie Didier, como livro principal.
 Avaliações:
Reprova por faltas. São duas provas subjetivas, com datas marcadas pelo Colegiado.

TEORIA GERAL DO PROCESSO


Prof. Eduardo Sodré

Sumário

NOÇÕES GERAIS DE PROCESSO ......................................................................................... 9

NORMA PROCESSUAL ......................................................................................................... 11

1. GENERALIDADES (NORMA MATERIAL X NORMA PROCESSUAL) ............... 11

2. TIPOLOGIA .................................................................................................................. 12

2.1. Normas cogentes x Normas dispositivas/supletivas............................................... 12

2.2. Normas processuais stricto sensu x Normas processuais estritamente


procedimentais .................................................................................................................. 13

2.3. Normas de organização judiciárias ........................................................................ 14

3. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL ...................................................................... 15

3.1. Normas ................................................................................................................... 15

3.2. Usos e costumes ..................................................................................................... 16

3.3. Negócio jurídico processual ................................................................................... 16

3.4. Jurisprudência......................................................................................................... 17

4. NORMA PROCESSUAL NO ESPAÇO ....................................................................... 18

5. NORMA PROCESUAL NO TEMPO........................................................................... 18

5.1. Teorias .................................................................................................................... 19

6. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL ..................................................... 21

NORMAS PROCESSUAIS FUNDAMENTAIS ..................................................................... 21

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1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................................... 21

2. DEVIDO PROCESSO LEGAL .................................................................................... 22

3. CONTRADITÓRIO ...................................................................................................... 23

4. AMPLA DEFESA ......................................................................................................... 24

5. DISPOSITIVO OU INÉRCIA OU DEMANDA .......................................................... 24

6. INAFASTABILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO .................................................... 25

7. IGUALDADE OU ISONOMIA .................................................................................... 26

8. COOPERAÇÃO ............................................................................................................ 26

9. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ................................................................. 27

10. PUBLICIDADE ......................................................................................................... 28

11. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ................................................................... 28

12. EFICIÊNCIA OU ECONOMIA PROCESSUAL ..................................................... 28

13. ADEQUAÇÃO DO PROCEDIMENTO ................................................................... 29

14. AUTORREGRAMENTO DA VONTADE ............................................................... 29

15. PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE MÉRITO ....................................................... 30

16. JUIZO NATURAL .................................................................................................... 30

JURISDIÇÃO ........................................................................................................................... 31

1. NOÇÕES GERAIS ........................................................................................................ 31

2. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS ......................................................................... 31

2.1. Autotutela ............................................................................................................... 32

2.2. Autocomposição ..................................................................................................... 32

2.3. Mediação e conciliação .......................................................................................... 32

2.4. Arbitragem ............................................................................................................. 33

3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO .................................................................... 34

3.1. Substitutividade ...................................................................................................... 34

3.2. Imparcialidade ........................................................................................................ 34

3.3. Existência de lide ................................................................................................... 36

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3.4. Monopólio estatal ................................................................................................... 36

3.5. Inércia ..................................................................................................................... 36

3.6. Unidade .................................................................................................................. 36

4. FINALIDADES DA JURISDIÇÃO .............................................................................. 37

5. NORMAS FUNDAMENTAIS ..................................................................................... 37

5.1. Investidura .............................................................................................................. 37

5.2. Territorialidade ....................................................................................................... 37

5.3. Indelegabilidade ..................................................................................................... 38

5.4. Inevitabilidade ........................................................................................................ 39

5.5. Inafastabilidade ...................................................................................................... 39

5.6. Juízo natural ........................................................................................................... 39

6. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA OU JURISDIÇÃO GRACIOSA ................................ 39

6.1. Características ........................................................................................................ 40

ESTRUTURA JUDICIÁRIA BRASILEIRA ........................................................................... 40

1. JUSTIÇA ESPECIAL ................................................................................................... 40

1.1. Justiça do Trabalho................................................................................................. 40

1.2. Justiça Militar ......................................................................................................... 41

1.3. Justiça Eleitoral ...................................................................................................... 41

2. JUSTIÇA COMUM ....................................................................................................... 41

2.1. Justiça Estadual ...................................................................................................... 41

2.2. Justiça Federal ........................................................................................................ 41

DIREITO DE AÇÃO ............................................................................................................... 43

1. CONCEITO ................................................................................................................... 43

2. TEORIAS ...................................................................................................................... 43

2.1. Imanentista ou civilista........................................................................................... 43

2.2. Concretista .............................................................................................................. 44

2.3. Abstrata .................................................................................................................. 44

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2.4. Eclética ................................................................................................................... 44

3. ELEMENTOS DA AÇÃO ............................................................................................ 45

3.1. Partes ...................................................................................................................... 45

3.2. Pedido ..................................................................................................................... 45

3.3. Causa de pedir ........................................................................................................ 45

4. TEORIA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO .................................................................... 46

4.1. Possibilidade jurídica do pedido ............................................................................ 46

4.2. Interesse de agir ...................................................................................................... 46

4.3. Legitimidade das partes .......................................................................................... 48

4.4. Teoria da asserção .................................................................................................. 49

5. RELAÇÃO ENTRE AS AÇÕES .................................................................................. 49

5.1. Coisa julgada .......................................................................................................... 49

5.2. Litispendência ........................................................................................................ 49

5.3. Conexão.................................................................................................................. 49

5.4. Continência............................................................................................................. 50

6. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES ................................................................................. 51

6.1. Quanto a natureza da relação jurídica discutida ..................................................... 51

6.2. Quanto ao objeto do pedido mediato...................................................................... 51

6.3. Quanto ao tipo de tutela jurisdicional .................................................................... 51

7. CUMULAÇÃO DE AÇÕES ......................................................................................... 52

8. AÇÃO E EXCEÇÃO .................................................................................................... 52

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ......................................................................................... 53

1. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS OBJETIVOS ........................................................ 53

1.1. Extrínsecos ou negativos ........................................................................................ 53

1.2. Intrínsecos ou positivos .......................................................................................... 54

2. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS SUBJETIVOS ..................................................... 55

2.1. Relativos ao juiz ..................................................................................................... 55

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2.2. Relativos às partes .................................................................................................. 58

ACESSO À JUSTIÇA .............................................................................................................. 61

1. ASSISTÊNCIA JURÍDICA CONTENCIOSA ............................................................. 61

2. GRATUIDADE DA JUSTIÇA ..................................................................................... 61

3. ASSISTÊNCIA JURÍDICA NÃO CONTENCIOSA ................................................... 62

4. DIFICULDADES PARA VIABILIZAR O ACESSO À JUSTIÇA ............................. 62

4.1. Custos do processo ................................................................................................. 62

4.2. Aspectos culturais de reconhecimento de direitos ................................................. 62

4.3. Duração do processo .............................................................................................. 63

4.4. Direitos de pequena expressão econômica ............................................................. 63

4.5. Multiplicação de litígios similares ou idênticos ..................................................... 63

5. AÇÃO CIVIL PÚBLICA .............................................................................................. 63

TEORIA GERAL DA PROVA ................................................................................................ 64

1. PROVAS TÍPICAS E ATÍPICAS ................................................................................. 66

2. PROVA DIRETA E INDIRETA ................................................................................... 66

3. ILICITUDE DA PROVA .............................................................................................. 67

3.1. Produção em violação ao ordenamento jurídico .................................................... 67

3.2. Moralmente ilegítima ............................................................................................. 67

3.3. Quando não existe base sólida de respaldo ............................................................ 67

3.4. Exceções para a produção de provas ilícitas .......................................................... 68

4. OBJETO ........................................................................................................................ 68

4.1. Relevante ................................................................................................................ 68

4.2. Controvertido ......................................................................................................... 68

4.3. Determinado ........................................................................................................... 69

5. PROVA DE DIREITOS ................................................................................................ 70

6. REPARTIÇÃO DOS ÔNUS OU ENCARGOS PROBATÓRIOS ............................... 70

6.1. Inversão do ônus da prova ...................................................................................... 72

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7. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PRODUÇÃO DE PROVAS .............................. 73

7.1. Princípio do Inquisitivo .......................................................................................... 73

7.2. Princípio da Cooperação ........................................................................................ 73

7.3. Princípio da Aquisição processual ou comunhão da prova .................................... 73

7.4. Princípio da Oralidade ............................................................................................ 74

7.5. Princípio do Convencimento Motivado ................................................................. 74

8. PROVA EMPRESTADA .............................................................................................. 74

TEORIA DOS PRECEDENTES JUDICIAIS .......................................................................... 75

1. BREVE HISTÓRICO .................................................................................................... 75

2. GRANDES SISTEMAS JURÍDICOS .......................................................................... 76

2.1. Aproximação dos sistemas ..................................................................................... 76

3. NOÇÕES FUNDAMENTAIS ....................................................................................... 77

3.1. Precedente, ratio decidente e decisão .................................................................... 77

3.2. Obter dictum ........................................................................................................... 77

3.3. Identificação da ratio decidendi ............................................................................. 77

3.4. Espécies de decisão e precedente ........................................................................... 78

4. EFICÁCIA JURÍDICA DO PRECEDENTE ................................................................ 78

4.1. Precedente com eficácia vinculante/obrigatória ..................................................... 78

4.2. Precedente com eficácia persuasiva ....................................................................... 80

4.3. Precedente com eficácia de obstar a revisão de decisões ....................................... 80

4.4. Precedente com eficácia autorizante ...................................................................... 80

4.5. Precedente com eficácia rescindente ...................................................................... 81

4.6. Precedente que permite revisão de coisa julgada ................................................... 81

5. DEVERES GERAIS DOS TRIBUNAIS QUANTO AOS PRECEDENTES ............... 81

5.1. Uniformização ........................................................................................................ 82

5.2. Estabilidade ............................................................................................................ 82

5.3. Publicidade ............................................................................................................. 82

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5.4. Coerência ................................................................................................................ 82

5.5. Dever de integridade .............................................................................................. 82

6. APLICAÇÃO DO PRECEDENTE JUDICIAL ............................................................ 83

6.1. Distinguishing ........................................................................................................ 83

6.2. Overruling .............................................................................................................. 84

6.3. Modulação dos efeitos do overruling ..................................................................... 84

6.4. Antecipatory overruling ......................................................................................... 84

6.5. Overriding .............................................................................................................. 85

TEORIA GERAL DA DECISÃO JUDICIAL ......................................................................... 86

1. ATOS DO JUIZ EM PRIMEIRO GRAU ..................................................................... 86

1.1. Despacho ................................................................................................................ 86

1.2. Decisão interlocutória ............................................................................................ 86

1.3. Sentença ................................................................................................................. 87

2. ATOS DO JUIZ EM SEGUNDO GRAU ..................................................................... 87

2.1. Despachos............................................................................................................... 87

2.2. Decisão monocrática .............................................................................................. 87

2.3. Acórdão .................................................................................................................. 87

3. REQUISITOS DO ATO JUDICIAL ............................................................................. 87

3.1. Requisitos quanto à inteligência ............................................................................. 87

3.2. Requisitos quanto à estrutura ................................................................................. 89

3.3. Vícios quanto à estrutura ........................................................................................ 90

TEORIGA GERAL DA COISA JULGADA ........................................................................... 92

1. SISTEMA DE PRECLUSÃO ....................................................................................... 92

1.1. Preclusão temporal ................................................................................................. 92

1.2. Preclusão consumativa ........................................................................................... 92

1.3. Preclusão lógica...................................................................................................... 92

2. COISA JULGADA ........................................................................................................ 93

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2.1. Coisa julgada formal .............................................................................................. 93

2.2. Coisa julgada material ............................................................................................ 93

3. EFEITOS DA COISA JULGADA ................................................................................ 94

4. LIMITES DA COISA JULGADA ................................................................................ 94

4.1. Limites objetivos .................................................................................................... 94

4.2. Limites subjetivos .................................................................................................. 95

TEORIA GERAL DOS RECURSOS ...................................................................................... 96

1. JUSTIFICATIVA PARA O IMPLEMENTO DESTE INSTITUTO ............................ 96

2. CONCEITO ................................................................................................................... 97

3. CARACTERÍSTICAS ................................................................................................... 97

3.1. Voluntariedade ....................................................................................................... 97

3.2. Endoprocessual....................................................................................................... 97

3.3. Finalidade ............................................................................................................... 97

4. CLASSIFICAÇÕES ...................................................................................................... 97

4.1. Quanto à extensão da matéria impugnada .............................................................. 98

4.2. Quanto à devolutividade......................................................................................... 98

4.3. Quanto à fundamentação ........................................................................................ 98

4.4. Quanto ao objeto .................................................................................................... 98

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NOÇÕES GERAIS DE PROCESSO


O estudo básico do estudo do direito processual diz respeito, em especial na área cível,
a limitação dos bens da vida em contraposição aos interesses humanos. Isso é, estamos postos
em uma estrutura na qual não há a disponibilização de recursos para todos. E o ser humano tem
interesse em tomar para si tais recursos, se estes fossem ilimitados, não haveria necessidade de
se regular essas transações. Dessa forma, a limitação do bem da vida em contraposição com
a necessidade humana fará com que surja o litígio.
Diante disso, a necessidade de regulamentação surge, para limitar e evitar os litígios que
venham a ocorrer. A autotutela foi a primeira forma de resolução desses litígios, isto é, os
próprios indivíduos resolviam suas questões, muitas vezes, por uso da força, como, por
exemplo, na época do homem das cavernas e a disputa pelo território.
Os bens jurídicos são e sempre foram limitados, enquanto que os interesses humanos
não, a partir desse fato pode haver um conflito de interesses, ou seja, a lide. A lide pode ser
considerada como um conflito de interesses de indivíduos sobre o mesmo bem da vida.
Antigamente, não havia reprovação social para a autotutela, mas a partir do surgimento
de agrupamentos humanos, a autotutela foi vista como uma desvantagem, pois esta gerava uma
insegurança para o grupo, tendo em vista que as lesões/mortes poderiam enfraquecer o
convívio. Dessa forma, foi preciso pensar em uma outra forma de se ter uma regulação da vida
social, a partir do surgimento do Estado, as pessoas passam a se ver como um grupo, devendo
ter uma forma de organização.
A criação do Estado se deu por essa necessidade de organização/regulamento, a partir
de seu surgimento, o sujeito passou a abdicar de parcelas de sua liberdade em
contraprestação à atuação do Estado, como a proteção a ameaças externas. Já que a
autotutela é vedada para não enfraquecer as relações da comunidade, passa para o Estado
a função de resolução de litígios.
A atividade jurisdicional, exercida pelo Estado, é a forma de resolução de litígios, e a
partir do surgimento do Estado, o direito também surge, como forma de organização do
convívio entre as pessoas, com o intuito de evitar conflitos, pois quando há a regulamentação
de quem tem o direito sobre algo, há como haver a resolução de lide. Se existem regras e as
estas são observadas, não há porque haver lide.
As regras de direito material existem para viabilizar a regulação da convivência humana,
buscando-se com elas evitar o litigio, partindo da premissa de que os indivíduos vão observá-

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las. No entanto, se ainda com a regra posta, existe o litigio, é preciso que o Estado venha a
intervir, ou caso não exista regra que discipline.
A jurisdição é o poder/dever do Estado de efetivar a composição de lides, mediante
a aplicação do direto objetivo ao caso concreto. Ela é poder porque reflete a soberania estatal
e é dever por causa do contrato social, todos nós somos credores do Estado em relação a
atividade jurisdicional.
O Estado só está obrigado a integrar a jurisdição se essa ação lhe for exigida pelo sujeito
envolvido no litígio, através do exercício da ação. A ação é o direito subjetivo, público,
abstrato e condicionado de exigir e de obter do Estado a entrega da prestação
jurisdicional. Sendo que não há jurisdição sem ação. A ação é um direito público porque por
meio dela um ente público é obrigado a prestar a jurisdição, é um direito subjetivo, tendo em
vista que há a exigência da atuação do Estado, este deve cumprir o seu dever jurisdicional. É
um direito abstrato porque não é correlação entre o direito material e o direito de ação, qualquer
pessoa, independentemente de ser ou não ser titular do direito, tem direito a prestação
jurisdicional. É um direito condicionado porque prevalece no direito processual brasileiro a
linha de pensamento de que a ação só pode ser exercida se houver o interesse de agir e a
legitimidade das partes, dentro de parâmetros de adequação, celeridade e eficácia.
Havendo um litígio, há a necessidade de atividade jurisdicional, que deve ser provocada,
por meio de uma ação, ao Estado. Exercida a ação, o Estado deve agir para resolução do litígio,
tendo, pois, o processo. O processo é a relação jurídica triangular (o Estado e as partes
envolvidas no litigio), instaurada pelo Estado diante o exercício da ação para viabilizar a
entrega da jurisdição, sendo necessário para a observância do devido processo legal. É
uma relação jurídica porque implica obrigações pelas partes.
O processo se desenvolve a partir de um conjunto de atos, que ocorrem em observância
a um procedimento, isto é, a forma de desenvolvimento de um processo. A jurisdição, a ação e
o processo são os elementos básicos de estudo da teoria geral do processo.
Segundo Didier, pode-se falar em quatro tipos de processo: (1) legislativo, (2)
administrativo, (3) jurisdicional e (4) negocial1.
ESPÉCIES DE PROCESSO
LEGISLATIVO ADMINISTRATIVO JURISDICIONAL NEGOCIAL

1
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo de conhecimento. 19. ed., rev., ampl., atual. Salvador: Juspodivm. 2017. p. 36.
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Produção de normas
Produção de normas Produção de normas
gerais e Produção de normas
gerais pelo Poder jurídicas pelo exercício
individualizadas pela pela jurisdição
Legislativo da autonomia privada
Administração Pública

No direito processual, não se estuda o direito material, se estuda os direitos, os ônus e


os deveres existentes na relação jurídica instaurada em razão da ação para a resolução da
jurisdição. É estudado também os procedimentos que ocorre durante um processo.
 SISTEMATIZANDO

ELEMENTOS DO ESTUDO DA TEORIA GERAL DO PROCESSO


JURISDIÇÃO AÇÃO PROCESSO
Direito subjetivo, público,
Poder/dever do Estado de Relação jurídica instaurada pelo
abstrato e condicionado de
efetivar a composição de lides, Estado diante o exercício da
exigir e de obter do Estado a
mediante a aplicação do direto ação para viabilizar a entrega da
entrega da prestação
objetivo ao caso concreto jurisdição
jurisdicional

NORMA PROCESSUAL
1. GENERALIDADES (NORMA MATERIAL X NORMA PROCESSUAL)
As normas iniciais, provenientes da atividade de jurisdição do Estado, foram normas
de direito material, esperava-se que a partir da positivação desta, houvesse a regularização,
em caráter abstrato, a conduta da vida humana, e, consequentemente, a não ocorrência
de litígios. Por exemplo, o artigo 1284 do Código Civil,
“Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono
do solo onde caíram, se este for de propriedade particular”.

Ao lado da norma material, tem-se a norma processual, que existe porque configurado,
por qualquer razão, o litigio, a parte exercerá o direito da ação, e a partir disso, surge a relação
jurídica chamada processo. As normas processuais servem, portanto, para regulamentar o
processo, disciplinar os ônus, os poderes, os deveres e as faculdades das partes do processo,
as formas de práticas de atos do processo e o objeto de prática. Por exemplo, o artigo 319
do Código de Processo Civil.
“Art. 319. A petição inicial indicará:
I - O juízo a que é dirigida;
II - Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e
a residência do autor e do réu;
III - O fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - O pedido com as suas especificações;
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V – O valor da causa;
VI - As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados;
VII - A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou
de mediação”.

Nota-se que a norma processual disciplina o meio pelo qual o jurisdicionado


provoca o Estado para a atuação do processo. O Estado irá efetivar a composição da lide por
meio de um dispositivo chamado sentença, disciplinado no artigo 489 do CPC.
“Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
I - O relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com
a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências
havidas no andamento do processo;
II - Os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - O dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes
lhe submeterem”.

É preciso diferenciar a norma de direito material, que existe para ser observada e assim
evitar a configuração do litigio, da norma processual, pois esta só terá utilidade quando se
configurar o litígio, uma vez que é isso que ela disciplina.
Obs1: As normas matérias também são chamadas de normas subjetivas enquanto que as normas
processuais são chamadas de normas objetivas.
A norma também pode ser híbrida, tendo natureza material e processual, é a chamada
norma substancial. A norma substancial possui caracteres processuais, mas faz surgir, no
campo da vida, direito material para alguém. Por exemplo, o artigo 85 do CPC.
“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado
do vencedor”.

 SISTEMATIZANDO

NORMAS
MATERIAIS PROCESSUAIS SUBSTANCIAIS
Servem para regulamentar o
processo, disciplinar os ônus, São normas híbridas, possuem
Serve para regular, em caráter
os poderes, os deveres e as características processuais,
abstrato, a conduta humana, a
faculdades das partes do mas, ao serem aplicadas, fazem
fim de evitar a ocorrência de
processo, as formas de práticas surgir um direito material para
litígios
de atos do processo e o objeto alguém
de prática
2. TIPOLOGIA
2.1. Normas cogentes x Normas dispositivas/supletivas
O processo faz parte do ramo de direito público, dessa forma, as normas processuais
são normas de caráter público. O processo é direito público porque regulamenta a relação

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jurídica entre o jurisdicionado e o Estado. O sujeito passivo é o Estado e se este é um dos


sujeitos do direito processual, esta relação está no campo do direito público.
Historicamente, as normas processuais, no Brasil, foram entendidas como normas
cogentes, pois já que se tem direito público, não seria possível que a vontade dos litigantes
afastasse a norma positivada, a regra até março de 2016 era que a norma processual era uma
norma cogente. No sistema do Código Processual de 1973, as normas processuais eram
cogentes, salvo disposição específica em sentido contrário. Por exemplo, a norma que
estabelece que a ação deve ser proposta no domicílio do réu, é uma norma processual, o antigo
Código trazia isso, mas permitia a alteração dessa competência territorial, sendo um exemplo
de norma cogente.
Uma das grandes inovações da sistemática adotada pelo Código Processual atual é
a inversão dessa ideia, o legislador permite o afastamento da norma processual não
somente nos casos em que a lei especificamente autoriza. Este tem como regra que as
partes podem alterar o direito processual, presente no artigo 190 do CPC.
“Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição,
é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus,
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”.

Quando se cria uma cláusula geral de negócio processual, isso deixa de ser uma exceção,
passando a ser regra. Na sistemática atual, a norma processual deixou de ser uma norma
cogente, passando a ter característica de uma norma supletiva, seguindo os requisitos
postos pelo artigo 190 do CPC.
Obs2: A norma processual cogente só existe quando posta está em razão do interesse público,
por exemplo o artigo 62 do CPC.
“Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da
função é inderrogável por convenção das partes”.

Obs3: O CPC atual quebra um velho paradigma posto em todas as legislações processuais
antigas, as quais tinham a norma processual como cogente, ela agora é tida como supletiva.
2.2. Normas processuais stricto sensu x Normas processuais estritamente
procedimentais
Classifica-se também, a norma processual em norma processual em sentido estrito e
norma processual estritamente procedimental. A norma processual em sentido estrito é
aquela que regulamenta os ônus, os poderes, os deveres, as faculdades dos sujeitos da

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relação jurídica processual, o que cada um deles pode fazer na relação, por exemplo os
artigos 17 e 18 do CPC.
“Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”.

“Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico”.

Já a norma estritamente procedimental regulamenta ou a forma de prática de atos


processuais ou a sequência que esses atos devem observar ao longo da relação processual,
por exemplo os artigos 319, 334 e 489 do CPC.
“Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o
caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de
conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência”.

Se diz que os atos processuais são concatenados em série e possuem uma unidade, ou
seja, uma sequência de ato a ato sendo praticada. Esta é regularizada pelas normas processuais
estritamente procedimental.
A importância em diferenciar as normas processuais em sentido estrito e as normas
processuais estritamente procedimentais se dá por questões de competência legislativa.
Segundo o artigo 22, I, da CF/88, se a norma for processual em sentido estrito a
competência é privativa da União. Se a norma for estritamente procedimental, a
competência é concorrente, de acordo com o artigo 24, IX, da CF/88.
2.3. Normas de organização judiciárias
Ainda é possível abordar uma terceira espécie normativa, a norma de organização
judiciária, esta como aponta o próprio nome existe para fins de viabilizar a construção da
estrutura do Poder Judiciário. Essa norma é de competência legislativa federal, quando se
tem o Poder Judiciário Federal, e é de competência legislativa estadual, quando se tem o Poder
Judiciário Estadual.
 SISTEMATIZANDO

NORMAS PROCESSUAIS
COGENTES SUPLETIVAS
Atualmente, com o CPC/15, as normas
processuais são tidas como supletivas, isto é, as
As normas processuais presentes do CPC/73
partes podem fazer alterações desde que
eram tidas como cogentes, isto é, não dependiam
preenchidos os requisitos do art. 190,
da vontade das partes, salvo exceção
ressalvando as situações de interesse público,
nas quais a norma permanece cogente

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

NORMAS PROCESSUAIS
EM SENTIDO ESTRITO ESTRITAMENTE PROCEDIMENTAL
Regulamenta ou a forma de prática de atos
Regulamenta os ônus, os poderes, os deveres, as
processuais ou a sequência que esses atos devem
faculdades dos sujeitos da relação jurídica
observar ao longo da relação processual. É de
processual, o que cada um deles pode fazer na
competência concorrente entre a União e os
relação. É de competência privativa da União
Estados

Existe para fins de viabilizar a construção da


estrutura do Poder Judiciário. Essa norma é de
NORMA DE ORGANIZAÇÃO competência legislativa federal, quando se tem o
JUDICIÁRIA Poder Judiciário Federal, e é de competência
legislativa estadual, quando se tem o Poder
Judiciário Estadual
3. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL
O direito processual faz parte do ordenamento jurídico daí porque as fontes do direito
processual não diferem muito das fontes em essência do direito. A fonte principal é a norma.
Há uma tendência dos sistemas de civil law de valorização dos precedentes judiciais, como
também uma tendência da positivação nos países de tradição de common law. O negócio
jurídico processual também é uma fonte, pois se a norma processual, em regra é supletiva, é
natural que o negócio jurídico processual seja uma fonte. Os usos e costumes, apesar de ter
uma participação pequena, são considerados como fontes do direito processual.
3.1. Normas
Quando se fala na norma como fonte do direito processual é preciso que se pondere as
várias espécies normativas, pois tanto aquelas de hierarquia maior ou menor irão influenciar no
direito processual. A Constituição positiva os princípios do direito processual, dessa forma,
têm-se que a interpretação do direito processual é constitucional, garantias como o direito
processo legal, o do contraditório, entre outros. A CF/88 também traz as regras de competência.
Nas Constituições estaduais também são encontradas normas processuais.

As leis federais dispõem acerca de processo, é competência privativa da União legislar


sobre processo ou norma processual em sentido estrito, é competência concorrente da União
com os Estados legislar sobre normas estritamente procedimentais. A regulamentação do
processo pode estar presente na Constituição ou em leis ordinárias, como o Código de Processo
Civil, dessa forma, a legislação federal extravagante também irá legislar sobre o processo.
Isso não quer dizer que não existam normas processuais em leis complementares ou
delegadas. O STF tem reconhecido normas processuais derivadas de medidas provisórias. As
leis estaduais também tratam do processo, essas vão tratar de normais processuais em sentido
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

estrito se houver omissão da União e de normas estritamente processuais quando houver


omissão da União ou para complementá-las.
Os regimentos internos dos Tribunais também irão criar normas processuais, eles
dispõem acerca da competência dos órgãos do Tribunal. Traz normas procedimentais de forma
a suprir ou complementar o CPC, contanto que não sejam divergentes do que já é disposto.
Alguns autores consideram tratados internacionais como fonte do direito processual,
de fato, os tratados podem influenciar nas normas processuais, mas para que isso ocorra é
necessária a ratificação pelo Congresso Nacional e a homologação pelo Presidente, por meio
de decreto. O tratado que passa por este rito é considerado como fonte para o direito processual.
3.2. Usos e costumes
É fonte também do direito processual os usos e costumes, estes são práticas que são
adotadas de forma reiterada no foro, sem que necessariamente se tenha uma previsão que
autorize. Isso pode ser fonte do direito processual, por exemplo: quando Sodré começou a
advogar, se aguardava 15 minutos, caso o advogado da parte não havia chegado, para começar
a audiência. No direito processual, é muito raro encontrar situações em observância aos
costumes.
3.3. Negócio jurídico processual
O negócio jurídico processual é fonte do direito processual, antigamente tinha-se a
concepção autoritária do processo, com resquícios inquisitivos, os quais refletia na legislação,
que era marcada pela preponderância e concentração do processo nas mãos dos juízes. Esse
quadro deixa de ter justificativa a partir do início do regime democrático no Brasil, pois na
democracia deve haver um equilíbrio entre os cidadãos e o Estado.
Uma das características do regime democrático é a liberdade, o processo civil, na
maioria das situações, tutela direitos disponíveis, a partir do momento que o direito é disponível,
não há justificativa para que o sujeito não possa dispor dos meios e mecanismos existentes para
viabilizar a satisfação e reconhecimento desse direito.
Nessa senda, se generalizou no CPC atual, o negócio jurídico processual, que é o meio
pelo qual o indivíduo pode convencionar com outro sujeito acerca de normas processuais
e procedimentais, desde que seguido o rito legal. Dessa forma, o processo permite o
autorregramento da vontade e esta é uma das bases do direito processual. O direito processual
permite o negócio jurídico processual típico, quando a lei expressamente o autoriza, por
exemplo o artigo 471, e atípico, este último não é previsto, mas pode ocorrer desde que

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

respeitado os requisitos do artigo 190 do CPC. O negócio jurídico processual pode ser
estabelecido antes mesmo que haja o litígio ou durante uma disputa judicial.
“Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-
o mediante requerimento, desde que:
I - Sejam plenamente capazes;
II - A causa possa ser resolvida por autocomposição”.
3.4. Jurisprudência
A jurisprudência como fonte do direito processual é um outro aspecto que precisa ser
ponderado. As duas grandes quebras do paradigma do CPC atual para o anterior são o negócio
jurídico processual e o precedente jurisprudencial. Do ponto de vista histórico, há dois sistemas
processuais, o romano e o anglo-saxônico.
O direito brasileiro tem tradição romano-germânica, pois deriva das normas próprias do
direito positivo português. O que se vê hoje em dia é uma tendência do direito romano-
germânico de adotar cada vez mais precedentes, enquanto que, por parte do direito anglo-
saxônico, se vê o contrário.
A jurisprudência sempre foi fonte do direito, contudo, os precedentes, até o final do
século passado, tinham utilização muito mais persuasiva do que vinculativa. Há até 20 anos se
usava a jurisprudência como elemento de persuasão.
Com a existência das súmulas vinculantes, o precedente deixou de ser puramente
persuasivo e adquiriu uma feição obrigatória. Tem-se um robustecimento do precedente,
como fonte do direto. A partir do novo CPC, o precedente pode adquirir uma característica
vinculativa e obrigatória, o Código atual traz essa ideia, a partir desse momento tem-se a
jurisprudência como fonte de direito. Como o que está previsto nos artigos 927 e 332, IV, do
CPC.
“Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - As decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - Os enunciados de súmula vinculante;
III - Os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução
de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e
especial repetitivos;
IV - Os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - A orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados”.

“Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,


independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o
pedido que contrariar:
IV - Enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local”.
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Gabrielly Ramos Macedo
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Obs4: O precedente obrigatório pode ser relativo a matéria de direito material ou processual.
Para fazer, desfazer ou alterar o precedente obrigatório faz-se uso do mecanismo de over ruling.
Caso um órgão superior edite um precedente obrigatório e este esteja em desacordo com o
precedente de um órgão inferior, o precedente deste último é automaticamente prejudicado,
dessa forma, este órgão deve destituí-lo.
 SISTEMATIZANDO

FONTES
NEGÓCIO
USOS E
NORMAS JURÍDICO JURISPRUDÊNCIA
COSTUMES
PROCESSUAL
Principal fonte do direito
São práticas que
processual. Pode estar É o meio pelo qual o A partir da
são adotadas de
presente na CF/88, na Lei indivíduo pode existência das
forma reiterada
federal, estadual, convencionar com súmulas vinculantes,
no foro, sem
ordinária, complementar outro sujeito acerca de o precedente deixou
que
ou medida provisória. normas processuais e de ser puramente
necessariamente
Também está presente nos procedimentais, desde persuasivo e
se tenha uma
regimentos internos dos que seguido o rito adquiriu uma feição
previsão que
órgãos públicos e em legal. obrigatória
autorize
tratados internacionais
4. NORMA PROCESSUAL NO ESPAÇO
Jurisdição é reflexo da soberania do Estado, consequentemente, o direito processual
brasileiro está de acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, se aplicando em todo o
território nacional.
5. NORMA PROCESUAL NO TEMPO
A questão da lei processual no tempo deve levar em consideração que o processo demora
um certo tempo para sua conclusão. Esse tempo, por vezes, alcança período de anos, as
estatísticas mostram que o tempo médio de um processo cível é de 6 a 8 anos.
No meio de um processo, pode haver a alteração na norma processual. É certo que
alterações processuais sempre irão ocorrer, mas há três possibilidades de isso acontecer em
relação ao processo:
I. O processo tem seu início e fim antes da alteração da norma acontecer, dessa forma, a
nova norma não o alcança/não retroage, haja vista que os atos praticados foram atos
jurídicos perfeitos e é preciso haver a garantia da preservação destes;
II. O processo se inicia após a alteração da norma, nesse caso, o processo será regido pela
nova norma, uma vez que não há porque se cogitar a incidência de uma norma pretérita
já que ela não estava mais em vigor;

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

III. O processo tem seu início na vigência de uma norma, mas durante a sua tramitação, há
a alteração dessa norma, e por isso, o processo se encerra com a nova norma vigente.
5.1. Teorias
Existem três teorias em relação à norma processual no tempo.
a) Unidade Processual
A primeira teoria é a da unidade processual, segundo esta “apesar de se desdobrar em
uma série de atos diversos, o processo apresenta tal unidade que somente poderia ser regulado
por uma única lei”2. Dessa forma, se o processo se iniciar sob a vigência de determinada
norma, ela é aplicada até o final do processo.
Por exemplo: Em 2015, deu-se início a um processo enquanto a norma A estava vigente,
mas, em 2018, a norma B passou a vigorar, extinguindo a norma A. De acordo com essa teoria,
mesmo que a norma A não estando mais em vigor, ela continua incidindo sobre o processo que
começou enquanto ela era válida.
b) Fases Processuais
Em um processo, distinguem-se “fases processuais autônomas (postulatória,
ordinatória, instrutória, decisória e recursal), cada uma suscetível, de per si, de ser disciplinada
por uma lei diferente”3. De acordo com a teoria das fases processuais, é possível que a lei
utilize a fase como um limite para a tramitação da norma pretérita.
Por exemplo: A lei pode prever que a norma pretérita incida até a fase recursal do
processo.
c) Isolamento dos Atos Processuais
A teoria do isolamento dos atos processuais leva em consideração o ato do processo. O
CPC estabelece que há um isolamento dos atos processuais, dessa forma, se um ato foi iniciado
sob a vigência de uma norma antiga, esta incidirá sobre ele até que seja concluído, mas se
o ato seguinte for iniciado sob a vigência de uma nova norma, a norma pretérita não
incidirá sobre este.
Em regra, essa é a teoria adotada pelo direito processual brasileiro, sendo aplicada
tanto para a esfera cível, quanto trabalhista e penal.
A norma se aplica de imediato ao processo em curso, respeita-se, contudo, os atos que
foram praticados de acordo com a norma antiga, tendo em vista que estes são atos jurídicos
perfeitos. Como previsto nos artigos 14 e 1046 do CPC.

2
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
geral do processo. 25. ed. São Paulo: Malheiros. 2009. p. 105.
3
Ibdem. p. 105.
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Gabrielly Ramos Macedo
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“Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente


aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as
situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada”.

“Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão


desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973”.

A lei não retroage para alcançar a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito
adquirido, de acordo com artigo 5, XXXVI da CF/88.
“Art. 5°. XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada”.

Se a lei nada disser, haverá a aplicação do sistema de isolamento dos atos processuais.
O direito brasileiro, excepcionalmente, adota a teoria das fases processuais e até mesmo
da unidade processual em alguns casos.
Por exemplo (fases processuais): O artigo 1046, §1° do CPC, em que para processos em
procedimentos sumários e especiais, aplica-se a lei antiga até o sentenciamento, de acordo com
a teoria das fases processuais.
“§1° As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao
procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas
aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência
deste Código”.

Se esta não previsse que até o sentenciamento a norma pretérita teria vigência, os atos
subsequentes à propositura da ação seriam regulados pela lei nova, de acordo com a teoria do
isolamento dos atos processuais.
Por exemplo (unidade processual): Até em 2005, existia o procedimento de concordata,
que viabilizava a moratória da empresa, com o intuito de não haver a falência da empresa. A
Lei 11101/05, extinguiu esse procedimento. Mas haviam milhares de processos em curso, dessa
forma, o próprio dispositivo previu, em seu artigo 192, que estes seriam regulados por uma
norma pretérita até o seu fim, enquanto que aos novos processos incidiria a lei mais nova.
“ Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata
ajuizados anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos
termos do Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945”.

O raciocínio exposto sobre as teorias é relativo às normas puramente processuais. Mas


há situações em que se tem a norma processual substancial, no que se refere a estas, é
importante registrar que os efeitos materiais delas somente podem ser produzidos de
acordo com a lei vigente à época em que ele se produziriam.
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Gabrielly Ramos Macedo
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Por exemplo: No dia 14 de março, o sujeito ajuizou um recurso, este foi interposto na
vigência da lei antiga. Em 18 de março, uma lei nova prevê que quando houver o julgamento
do recurso, caso seja verificado que a utilização do mesmo é nitidamente
protelatória/impertinente, se aplica a multa de 2% do valor da causa como sanção, essa é uma
norma substancial. Se a norma fosse puramente processual, o julgamento seria feito de acordo
com a lei nova. Mas a um comportamento humano praticado a égide de um direito
material, aplica-se a lei antiga, de acordo com a teoria do tempo regit actum, dessa forma,
o sujeito não pode ser sancionado com a multa, caso tenha agido de forma protelatória com o
recurso, pois isso seria um efeito decorrente da interposição do recurso, relativo a um direito
material, ao qual não se aplica a lei nova.
Obs5: O efeito processual é aplicado de imediato, enquanto que o direito material é aplicado
levando em consideração a época do fato gerador.
 SISTEMATIZANDO

TEORIAS DA NORMA PROCESSUAL NO TEMPO


ISOLAMENTO DOS ATOS
UNIDADE PROCESSUAL FASES PROCESSUAIS
PROCESSUAIS
Se um ato foi iniciado sob a
vigência de uma norma antiga,
Se o processo se iniciar sob a esta incidirá sobre ele até que
Há a possibilidade de se utilizar
vigência de determinada norma, seja concluído, mas se o ato
a lei como um limite para a
ela é aplicada até o final do seguinte for iniciado sob a
tramitação da norma pretérita
processo vigência de uma nova norma, a
norma pretérita não incidirá
sobre este
6. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL
Há diferença entre texto legal e norma, o texto é o que está escrito enquanto que a norma
é o que se extrai do texto. A interpretação da norma ou do direito processual envolve técnicas,
na maioria das vezes a interpretação é gramatical, mas ela existe em conjunto com a
interpretação histórica, topológica, entre outras.

NORMAS PROCESSUAIS FUNDAMENTAIS


1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
As normas processuais fundamentais são princípios. Muitos deles derivam da
Constituição, outros não tem sede constitucional, mas derivam do ordenamento processual.
Estes princípios são mandamento nucleares, sendo utilizados para buscar a interpretação mais

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

adequada do texto normativo, dessa forma, todas as normas processuais devem estar em
consonância com estas normas fundamentais.
O direito positivo se interpreta de acordo com as normas fundamentais, assim como se
houverem lacunas, estas serão preenchidas de acordo com estas normas. A atividade legislativa
é feita de maneira a se concretizar esses princípios. Uma vez feitos ou editados os textos legais,
eles serão interpretados de acordo com as normas fundamentais.
Portanto, as normas processuais fundamentais são normas basilares das quais se
extrai o espírito do sistema, a partir dela tem-se a atividade hermenêutica, a atividade
legislativa, a eventual supressão/resolução de lacunas.
Muitas vezes pode ocorrer conflitos entre estes princípios, tendo em vista que, por vezes,
se busca a solução através da ponderação de interesses. Se há em um caso concreto um aparente
conflito de normas fundamentais, deve-se procurar uma solução que preserve o núcleo de cada
deles.
Por exemplo: Com relação ao direito do contraditório e de acesso à justiça, em muitas
situações, o acesso à justiça só ocorre por meio de um deferimento de uma medida liminar, mas
ao deferir uma liminar, o juiz não está possibilitando o direito ao contraditório da outra parte,
dessa forma, tem que haver uma ponderação.
Não é necessária que a norma processual seja positivada para ser uma norma processual
fundamental. Estas diferem das regras, que são relativas ao que se faz a partir da vontade
legislativa e comporta afastamento pleno, tendo em vista que as normas fundamentais que não
podem ser afastadas.
2. DEVIDO PROCESSO LEGAL
O devido processo legal é o princípio fundamental do processo, em última análise, todos
os demais derivam dele. Este está presente no artigo 5, LIV da CF/88 e se aplica a todos os
ramos processuais.
“Art. 5°. LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal”.

Acredita-se que sua origem está na Magna Carta, em 1215. Este documento é tido como
a origem de boa parte dos princípios fundamentais.
O devido processo legal diz respeito a garantia de processar e ser processado com
base em normas previamente estabelecidas. Ninguém será privado de sua liberdade, de seus
bens sem o devido processo legal. Outros princípios atuam em conjunto com este, como o do
juiz natural, do contraditório, da isonomia, da duração razoável do processo, entre outros.

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Gabrielly Ramos Macedo
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O devido processo legal não se resume ao processo judicial, este alcança qualquer tipo
de processo, seja ele administrativo, tributário, privado. Existe, inclusive, o devido processo
legal negocial, por exemplo: um sócio de uma sociedade não pode alienar suas cotas, sem que
estas sejam oferecidas aos outros membros da sociedade prioritariamente.
3. CONTRADITÓRIO
O contraditório é o direito de se manifestar sobre todas as alegações da parte
contrária e se manifestar sobre os materiais ou sobre as matérias que são trazidas aos
autos, as provas, e de poder influir na decisão judicial. Dessa forma, a parte tem direito de
se manifestar acerca das alegações da outra parte, dos elementos probatórios trazidos aos
processos. Esse princípio está presente no artigo 5°, LV da CF/88.
“Art. 5°. LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes”.

O contraditório pode ser visto sobre dois primas: formal e material. Do ponto de vista
formal, consiste no direito à manifestação referida, formalmente o contraditório está
instaurado quando diante de uma alegação há uma manifestação, diante de uma junta de provas,
a parte se manifeste. No entanto, não basta assegurar apenas formalmente o contraditório, é
preciso que este se efetive de forma material, possibilitando que o jurisdicionado influencie
na decisão judicial.
No CPC, este princípio está presente no artigo 9°.
“Art. 9° Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I – À tutela provisória de urgência;
II - Às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - À decisão prevista no art. 701”.

Ainda que seja uma matéria que o juiz possa julgar de ofício, este deve facultar que haja
a manifestação da parte, em observância ao contraditório.
“Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício”.

Obs6: A não observância a este princípio pode causar a anulação da sentença.


Obs7: O contraditório não se exceciona, ele sempre deve ocorrer, no entanto, o mesmo não
ocorre no direito de defesa.
CONTRADITÓRIO

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Gabrielly Ramos Macedo
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FORMAL MATERIAL
Direito à análise da manifestação contrária
Direito à manifestação
para que esta influencie na decisão

4. AMPLA DEFESA
Assim como o contraditório, a ampla defesa está prevista no artigo 5°, LV da CF/88.
“Art. 5°. LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes”.

A ampla defesa só pode ocorrer nas formas previstas em lei, dessa forma, ela não é
irrestrita, é ampla, uma vez que há limites para a sua atuação. Os limites ao direito de defesa
são os meios e os recursos previstos em lei.
5. DISPOSITIVO OU INÉRCIA OU DEMANDA
O princípio do dispositivo também é conhecido como princípio da inércia ou
demanda. O dispositivo irá impedir que o processo seja instaurado sem que haja
provocação jurisdicional, não existe instauração de ofício de processo judicial, pois se assim
houvesse, haveria um comprometimento da imparcialidade. Como previsto no artigo 2° do
CPC.
“Art. 2° O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por
impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”.

Uma vez exercido o direito de ação, o desenvolvimento do processo se dá por impulso


oficial. Ou seja, o Estado não pode criar o processo jurisdicional, mas havendo a provocação,
o procedimento é previsto em lei, então o Estado pode direcionar o andamento deste.
Deve-se analisar o dispositivo sobre dois vieses. O viés mais evidente, no sentido de
que não há como o processo existir sem que a parte exerça o direito de ação. E o viés implícito,
entende-se que havendo a provocação, a atividade jurisdicional está restrita à esta. O juiz está
adstrito a postulação que foi feita, ele não pode julgar para mais ou para menos, ou seja, não se
pode julgar para além do que foi pedido.
No entanto, há uma exceção, caso o juiz perceba que o pedido não se aplica ao caso
concreto, como previsto no artigo 554 do CPC.
“Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados”.

DISPOSITIVO
VIÉS EXPLÍCITO VIÉS IMPLÍCITO

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Gabrielly Ramos Macedo
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A atividade jurisdicional é restrita a provocação


Não há como existir processo sem que a parte
que foi feita. O juiz não pode julgar para além
exerça o direito de ação
do que foi pedido

6. INAFASTABILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO


Esse princípio está previsto no artigo 5°, XXXV da CF/88.
“Art. 5° XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”.

Ainda que a lesão ou a ameaça não esteja configurada, o sujeito pode provocar o
Estado para o exercício da atividade jurisdicional. Dessa forma, mesmo que esta não tenha
ocorrido e a decisão seja improcedente, há a atuação jurisdicional. Previsto no artigo 3° do CPC.
“Art. 3° Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a
direito.
§1° É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§2° O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
§3° A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos
e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”.

Quando se fala em inafastabilidade do poder judiciário tem-se uma garantia ao


acesso à justiça, de modo que não é lícito condicionar o exercício do Poder Judiciário a
qualquer fato. A lei não pode condicionar o acesso ao Judiciário ao exaurimento das vias
administrativas.
A única exceção é relativa à justiça desportiva, nesse âmbito, para que se possa acessar
o Judiciário é preciso o exaurimento das vias administrativas. Como previsto no artigo 217 da
CF/88.
“Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-
formais, como direito de cada um, observados:
§1° O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei”.

É importante também abordar a possibilidade de arbitragem, que pressupõe a vontade


dos litigantes, nesta os litigantes renunciam a possibilidade de recorrer ao Poder Judiciário para
que a lide seja composta por árbitros, que não possuem relação com tal poder. Mas isso não
desrespeita o Poder Judiciário, uma vez que o acesso à justiça foi possibilitado.
Obs8: A arbitragem, a conciliação e a mediação são equivalentes jurisdicionais que não
desrespeitam o princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

7. IGUALDADE OU ISONOMIA
A isonomia é garantida pelo próprio caput do artigo 5° da CF/88.
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”.

Quando se fala em isonomia, entende-se que deve ser dado o mesmo tratamento as
partes do processo, é o que se chama de paridade de armas, como previsto no artigo 7° do
CPC.
“Art. 7° É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus,
aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar
pelo efetivo contraditório”.

Pode ser que a lei identifique diferenciações no campo da vida entre as partes e, nesses
casos, há um tratamento diverso entre as partes, uma vez que se deve dar aos desiguais
tratamentos desiguais para atingir a igualdade.
8. COOPERAÇÃO
O processo evoluiu de um sistema adversarial, presente no início do século XX, para
um sistema cooperativo, no século XXI. Deixou-se para trás um pensamento individualista
processual, passando a ser adotado um pensamento colaborativo, tendo em vista que o processo
inclui diversas partes, além do Estado.
De acordo com o princípio da cooperação, o sujeito pode coletar provas, se manifestar
durante o andamento do processo, dentro de limites estabelecidos, como a boa-fé, para
não interferir na atividade jurisdicional que é de competência do Estado. Como previsto
no artigo 5° e 6° do CPC.
“Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-
se de acordo com a boa-fé”.

“Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se


obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva".

Outro exemplo está presente no artigo 77 e 80 do CPC.


“Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de
seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do
processo:
I - Expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - Não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que
são destituídas de fundamento;
III - Não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à
declaração ou à defesa do direito;

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IV - Cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória


ou final, e não criar embaraços à sua efetivação;
V - Declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o
endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando
essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou
definitiva”.

“Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - Deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - Alterar a verdade dos fatos;
III - Usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - Opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - Proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - Provocar incidente manifestamente infundado;
VII - Interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório”.

No entanto, existem casos em que os sujeitos exercem seu direito de ação de má-fé.
Dessa forma, o CPC prevê, no artigo 81, sanções para quem provoca a atividade jurisdicional
do Estado de tal modo.
“Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé
a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por
cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com
todas as despesas que efetuou”.

9. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO


A duração razoável do processo tem sede constitucional, no artigo 5°, LXXVIII. E está
previsto no artigo 4° do CPC.
“Art. 5° LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação”.

“Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral


do mérito, incluída a atividade satisfativa”.

Não se deve confundir a celeridade com a duração razoável. Celeridade em excesso


pode implicar violação de outras garantias. A duração razoável do processo faz parte do direito
de ação, em todas as esferas.
Obs9: No campo criminal, há previsão de prescrição intercorrente, que é aquela que se dá
durante o curso do processo, ou seja, se muito se delongar a duração do processo, se extingue
a punibilidade. Essa garantia assegura o respeito ao postulado de duração razoável do processo.

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10. PUBLICIDADE
Os atos processuais são públicos. Sendo a atividade jurisdicional uma atividade
estatal, é preciso que se possibilite a sociedade a fiscalização da atividade judiciária. Por
isso, o processo judicial é um processo público.
A partir do momento que há uma publicidade, significa dizer que qualquer pessoa pode
ter acesso aos atos dos processos, pode assistir às audiências, aos julgamentos. O CPC/73 previa
que as portas e janelas das salas de audiência não poderiam ser fechadas para que os sujeitos
pudessem observar o que estava acontecendo.
A publicidade só será restringida em defesa da preservação da intimidade ou do
interesse público, como previsto no artigo 5°, LX da CF/88.
“Art. 5° LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”.

Muitas vezes a publicidade pode inviabilizar o que pretende como a ação, a exemplo de
uma quebra de sigilo, se isso fosse divulgado, o investigado teria conhecimento do
procedimento.
11. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
O princípio da preservação da dignidade da pessoa humana é um dos princípios basilares
dentro da estrutura do ordenamento jurídico brasileiro. A atividade processual se desenvolve,
mas no curso do processo não podem ser praticados bens que atentem contra a dignidade
da pessoa humana.
Por exemplo: No campo cível, mais especificamente no direito romano, as pessoas que
não pagavam o que deviam, eram reduzidas à condição de escravo, o chamado nexum. Em 428
a.c, a lex poetella papiria passou a vigorar, dessa forma, o indivíduo honrava suas dívidas com
o seu patrimônio.
O Código atual, por exemplo, veda a penhora de salário, tendo em vista que este é
importante para a subsistência do sujeito, sendo um reflexo da dignidade da pessoa humana.
12. EFICIÊNCIA OU ECONOMIA PROCESSUAL
O princípio da eficiência também é conhecido como princípio da economia processual.
Quando se fala em eficiência o que se pretende é o máximo de resultado com o mínimo de
esforço. Esse é um princípio que não diz respeito somente à atividade jurisdicional, mas
também a toda atividade administrativa.

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Por exemplo: O juiz pode tomar decisão em audiência, caso o faça, é recomendado que
ele já deixe intimado as partes e os advogados na própria audiência. Com isso, evita-se que
tenha que se esperar a publicação no diário oficial ou a intimação por meio de oficial de justiça.
No campo privado, onde as próprias pessoas conduzem suas vidas, elas buscam a
eficiência, no campo da administração pública, o mesmo deve ocorrer. Assim como no âmbito
processual, sempre em observância ás garantias processuais.
13. ADEQUAÇÃO DO PROCEDIMENTO
O Estado está obrigado a efetivar a composição dos litígios, quando provocado. No
processo, o Estado irá atribuir razão a um dos litigantes, satisfazendo direitos já reconhecidos
na execução, por exemplo.
Mas nem todas as pessoas que litigam e nem todos os direitos que são objetos da lide
são iguais. Dessa forma, não basta que o Estado crie ou outorgue ao cidadão o direito da ação,
e exerça à atividade jurisdicional, é preciso que o processo seja adequado às necessidades
do litígio, por isso, cabe a lei fazer essas diferenciações em relação ao caso concreto.
14. AUTORREGRAMENTO DA VONTADE
É uma derivação do princípio da autonomia da vontade, a ideia é que as pessoas podem
se portar da forma que desejam, desde que respeitem os outros. Se a pessoa é livre, ela pode
regular, de acordo, com sua vontade, os aspectos de sua vida.
No campo processual, ela é positivada, pois sempre se admitiu os negócios jurídicos
processuais, sendo este em sua forma típica. O código atual maximiza o autorregramento da
vontade, a partir do momento que ele deixa como cláusula aberta.
O negócio jurídico processual tem sido visto com alguma reserva nos campos trabalhista
e penal. No trabalhista, embora haja orientação do TST (cuida da inaplicabilidade do NJP ao
processo trabalhista), não parece que seja aplicado o raciocínio de que não cabe o negócio
jurídico processual, então não haveria razão para não haver disposição de vontade, desde que
não seja viciada. É preciso, sim, verificar, na situação concreta, se havia a compreensão do que
era o objeto da negociação e se havia liberdade na manifestação.
No campo processual penal, a ação pode ser pública ou privada. Na privada, não haveria
qualquer problema, pois, a vontade é da vítima, e ela pode dispor dessa vontade a qualquer
momento. Na ação penal pública é possível se discutir, na medida em que há atuação do estado,
e o envolvimento de bens jurídicos disponíveis. A tendência é que cada vez mais haja os efeitos
produzidos a partir do negócio jurídico processual.

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15. PRIMAZIA DO JULGAMENTO DE MÉRITO


No processo, tem-se sempre um duplo juízo, um juízo de admissibilidade e de mérito.
Primeiro, se faz um juízo de admissibilidade que é preliminar ao juízo de mérito. O objeto
do mérito de um processo é a composição da lide, espera-se que durante o processo efetive-se
a composição do litígio.
Se a admissibilidade for positiva, haverá um juízo de mérito. Sempre que for possível,
o Estado-juiz deve julgar o mérito. Havendo óbice a composição da lide, o Estado deve buscar
resolver tal situação para poder compor a lide.
“Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.

Por exemplo: A petição inicial deve atender aos requisitos do artigo 319 do CPC, mas
o juiz pode determinar prazo para que haja a correção de possíveis irregularidades, conforme o
artigo 321 do CPC.
“Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos
dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de
dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15
(quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser
corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a
petição inicial”.

Esse princípio possui um duplo viés, não somente se irá cuidar da correção do vicio para
o julgamento do mérito. Mas, nas hipóteses em que haja nulidade do processo, tais hipóteses só
serão julgadas caso não haja elementos para julgar a demanda a qual a declaração beneficiaria.
“Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão
for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos
do art. 485”.

16. JUIZO NATURAL


O princípio do juízo natural tem sede constitucional, no artigo 5°, XXXVII da CF/88.
Tem-se que não somente o sujeito tem direito a observância do direito previsto em lei, com
o contraditório e ampla defesa, ele tem direito de ser julgado por um tribunal, por um
juízo que tenha competência estabelecida por lei.
“Art. 5° XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção”.

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Por exemplo: Após a 2° Guerra, se formou o tribunal de Nuremberg, criado pelos


vencedores para o julgamento dos vencidos. Tem-se, então, um tribunal de exceção, que pode
estabelecer um julgamento parcial.

JURISDIÇÃO

1. NOÇÕES GERAIS

Com o surgimento do Estado, houve a necessidade de restringir a autotutela,


substituindo-a por outra forma de composição de lides, dessa forma, o Estado passa a substituir
os litigantes na composição do litigio, sendo vedado o uso da força e violência.
A jurisdição é o poder/dever do Estado de efetivar a composição do litigio,
mediante a aplicação do direito objetivo ao caso concreto.
É poder porque reflete a soberania estatal, se impondo ao sujeito. Dessa forma, o Estado
exerce a jurisdição como reflexo de sua própria soberania. A jurisdição é um dever, uma
obrigação do Estado, toda vez que há lide, se houver o exercício da ação, o Estado está obrigado
a efetivar a composição da lide, caso isso não ocorra, tem-se uma violação a uma previsão
constitucional. O Estado é um sujeito passivo na relação jurídica derivada da ação.
O objeto da jurisdição é a lide, sendo o litigio um pressuposto necessário para o exercício
da atividade jurisdicional do Estado. Ou seja, é o mérito da atividade jurisdicional.
Antigamente, a composição da lide se dava por meio da vontade do soberano ou de
quem ele designasse. Se a lide fosse composta com base na vontade do julgador, não se teria
uma resolução imparcial, seria uma resolução arbitrária. A lide deve ser resolvida com base na
vontade coletiva.
O magistrado deve resolver a lide, mediante a aplicação do direito objetivo, isto é,
daquilo que é positivado no ordenamento jurídico, fora isso, tem-se uma solução arbitrária e
injustificável.

2. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS

Nem toda composição de lide será feita pela via da jurisdição. Equivalente jurisdicionais
são meios pelo quais a lide pode ser composta sem que haja atividade jurisdicional ou atividade
jurisdicional típica.

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2.1. Autotutela
A autotutela é vedada. Em vias de princípio, não se pode utilizar a vontade do
indivíduo por mão própria. Mas a autotutela permanece em caráter excepcional, nas hipóteses
previstas em lei.
Por exemplo: A legitima defesa no campo criminal. No campo cível, tem-se o desforço
incontinente.
O exercício indevido de autotutela pode caracterizar um crime, de acordo com o artigo
345 do CP.
A autotutela, ainda nos casos que é permitida, não afasta o atuar jurisdicional, pois está
sujeita a revisão judicial, para que se verifique que não houve excessos.
2.2. Autocomposição
Caracterizado ou verificado o litigio, em via de princípio, os litigantes devem exercer a
ação, buscando do Estado a jurisdição, mas nada impede que por si, as pessoas resolvam a lide
após a sua instauração.
Essa resolução sem a provocação da atividade jurisdicional ou durante o curso do
processo é a chamada autocomposição. Essa resolução pode ocorrer de três formas, pela a
submissão, renúncia ou transação.
Na submissão, o sujeito que, no campo da vida, compunha resistência a pretensão alheia,
a levanta, isto é, reavalia a situação e muda de ideia. Na renúncia, o sujeito que, no campo da
vida, era o objeto da resistência de outro, renuncia a sua pretensão. Na transação, há concessões
múltiplas entre as partes.
Obs10: Na autocomposição, só pode haver a resolução caso o direito seja disponível.

2.3. Mediação e conciliação


A exemplo do que ocorre na autocomposição, não há atividade substitutiva do Estado.
A mediação e a conciliação podem se dar antes e durante o curso do processo, a diferença é que
estas possuem agentes catalizadores.
Na mediação, o sujeito atua como catalizador da composição, procurando fazer
com que os envolvidos no litigio compreendam a composição da lide e, assim, busquem
uma solução para tal.
A conciliação é parecida com a mediação, mas o conciliador quando comparado ao
mediador tem uma atuação mais ativa, uma vez que este pode propor soluções, além de
indicar o caminho para que se chegue a um acordo.

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“Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de


conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação
e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar,
orientar e estimular a autocomposição.
§2° O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo
vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para
que as partes conciliem.
3° O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo
anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões
e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento
da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem
benefícios mútuos”.

2.4. Arbitragem
A arbitragem é uma equivalente jurisdicional, uma forma de viabilizar a composição
sem que se tenha a atividade de jurisdição. Ao contrário das outras, neste há a atuação de um
terceiro, um árbitro.
Há discussão entre os autores sobre a natureza jurídica da arbitragem, Sodré diz que
depende do conceito de jurisdição utilizado. Se for um conceito clássico, não é atividade
jurisdicional.
A arbitragem é própria para direitos disponíveis, e as pessoas envolvidas no litigio
optam pela renúncia da atuação do Estado para que haja a atuação de um terceiro
imparcial que efetue a composição da lide. A arbitragem tem como vantagem a escolha do
árbitro, e essa possibilidade ajuda a efetivar a autocomposição da lide, tendo em vista que este
pode ser especialista no caso. Outra vantagem é a celeridade, o processo arbitral é conduzido
por pessoas que costumam ter um volume de processos muito menor que o juiz, que tem sob
sua condição milhares de processos. O procedimento arbitral tende a ser mais rápido, porque
não há como se ter recurso ajuizados para os casos. A principal desvantagem é o curso, pois
essa é tem um custo muito superior a atuação estatal, dessa forma, a arbitragem não é vantajosa
para causas pequenas.
A existência de arbitragem não implica supressão ao acesso ao Poder Judiciário, nem
viola o princípio da inafastabilidade do Judiciário. A decisão arbitral não pode ser discutida,
em seu mérito, pelo poder judicial, é possível apenas levar tal matéria para discussão de
nulidades.
A sentença arbitral é um título executivo judicial independentemente de
homologação, no entanto, formado o título, não havendo o cumprimento do acordado,
esse título será levado ao Judiciário, pois a atividade executiva é própria deste.
Obs11: A arbitragem é a única equivalente jurisdicional que possui substitutividade.
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 SISTEMATIZANDO
EQUIVALENTES JURISDICIONAIS
AUTOTUTELA AUTOCOMPOSIÇÃO MEDIAÇÃO CONCILIAÇÃO ARBITRAGEM
Há a atuação de um Há a atuação de Há a renúncia da
terceiro que fazer um terceiro que atividade
É vedada, não se É a resolução sem a
com que os este propor jurisdicional por
pode utilizar a provocação da
envolvidos no litigio soluções, além parte do Estado, e
vontade do atividade jurisdicional
compreendam a de indicar o esta é feita por
indivíduo por ou durante o curso do
composição da lide caminho para meio particular,
mão própria processo
e, assim, busquem que se chegue a através da figura de
uma solução para tal um acordo um árbitro

AUTOCOMPOSIÇÃO
SUBMISSÃO RENÚNCIA TRANSAÇÃO
O sujeito que apresentava O sujeito que tinha a pretensão
Há concessões entre as partes
resistência a pretensão alheia que era objeto da resistência do
envolvidas
muda de ideia outro, renuncia tal pretensão

3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
3.1. Substitutividade
A primeira característica da jurisdição é a substitutividade. A jurisdição é outorgada
pelo Estado, e quando há atividade jurisdicional, o Estado substitui os litigantes na busca
da solução para o litígio.
A atividade jurisdicional típica é uma atividade substitutiva.
3.2. Imparcialidade
Se quem vai compor o litigio é um terceiro, é necessário que esse terceiro, o juiz, seja
imparcial. A jurisdição será exercida por pessoas que atuem em nome do Estado, isso se
dá por uma investidura, e por causa dessa, presume-se a imparcialidade.
A presunção de imparcialidade é relativa. Se estiver caracterizada uma situação de
impedimento ou suspeição, há meios para identificar uma postura parcial do magistrado.
O impedimento é uma situação que a lei afasta a presunção de imparcialidade, ou seja,
todo juiz em situação de impedimento é parcial, previsto no artigo 144 do CPC. A suspeição
ocorre quando a lei aceita uma certa parcialidade do magistrado, existe uma situação de
potencial parcialidade, prevista no artigo 145 do CPC.
“Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções
no processo:
I - Em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como
testemunha;
II - De que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;

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III - Quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou


membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive;
IV - Quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
V - Quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI - Quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer
das partes;
VII - Em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação
de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - Em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado
de outro escritório;
IX - Quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor
público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o
processo antes do início da atividade judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar
impedimento do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de
mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus
quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista,
mesmo que não intervenha diretamente no processo”.

“Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - Amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - Que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou
depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
III - Quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge
ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau,
inclusive;
IV - Interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - Houver sido provocada por quem a alega;
II - A parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação
do arguido”.

Passado o prazo de 15 (quinze) dias, as partes não podem mais alegar a suspeição do
magistrado, pois para esse procedimento há preclusão, de acordo com o artigo 146 do CPC.
“Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a
parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao
juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la
com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas”.

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Há uma diferença entre foro, juízo e juiz. Foro é a base territorial, por exemplo a
Comarca de Salvador, a modificação do foro ocorre por meio de alegação de incompetência.
Juízo é órgão jurisdicional, no foro da Capital, tem-se o juízo da 1° Vara Cível. Juiz é a pessoa
que efetiva o processo, quando é arguido um impedimento ou suspeição do magistrado não há
mudança de foro ou de juízo, apenas o juiz é trocado.
Há diferença entre imparcialidade e neutralidade. Espera-se do juiz a imparcialidade,
mas não a neutralidade, isto é, o juiz deve decidir de maneira imparcial, tratando de forma igual
ambas as partes, mas o juiz é um agente colaborativo e ativo que busca efetivar uma solução
para o litígio.
IMPARCIALIDADE
IMPEDIMENTO SUSPEIÇÃO
Ocorre quando a lei aceita uma certa
Todo juiz em situação de impedimento é parcial,
parcialidade por parte do magistrado. As partes
não podendo atuar na lide
tem até 15 dias para alegar a suspeição do juiz
.
FORO JUÍZO JUIZ
É órgão jurisdicional, no foro
É a base territorial, por É a pessoa que efetiva o
da Capital, tem-se o juízo da 1°
exemplo: Comarca de Salvador processo
Vara Cível

3.3. Existência de lide


Se a jurisdição é o poder/dever de efetivação de litígios, dessa forma, a lide é
pressuposto para atividade jurisdicional.
3.4. Monopólio estatal
Somente o Estado pode exercer a jurisdição. Na arbitragem, não há atividade
jurisdicional.
3.5. Inércia
Deriva do princípio do dispositivo. Não há jurisdição sem ação. Para que se entregue
a prestação jurisdicional, deve haver a provocação do interessado.
3.6. Unidade
A jurisdição é poder/dever do Estado, sendo monopólio deste. Toda jurisdição será
outorgada pelos agentes estatais, os juízes. No entanto, não há apenas um juiz, tendo em vista
a dimensão territorial, o número de litígios, a especialidade de cada lide, por isso, há a criação
de toda estrutura judiciária, tendo distinção entre juízos.
A atividade jurisdicional é repartida entre esses agentes, por meio das regras de
competências, mas o fato de haver essa divisão não afasta o fato de que a jurisdição é una. Toda

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atividade jurisdicional, independentemente de onde ocorra, deve ser entendida como


atividade do Estado.

CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
EXISTÊNCIA MONOPÓLIO
SUBSTITUTIVIDADE IMPARCIALIDADE INÉRCIA UNIDADE
DE LIDE ESTATAL
Presume-se a A
O Estado
imparcialidade Somente o jurisdição
O Estado substituí os A lide é deve ser
daqueles que Estado pode deve ser
litigantes na busca pela pressuposto provocado
possuem investidura exercer a entendida
solução da lide da jurisdição para ter
para atuar em nome jurisdição como um
jurisdição
do Estado todo

4. FINALIDADES DA JURISDIÇÃO

A jurisdição tem um tríplice escopo: jurídica, social e política. A finalidade jurídica é


viabilizar a afirmação da vontade do ordenamento jurídico no caso concreto. Ou seja, há
jurisdição porque é preciso que haja um mecanismo que possibilite a aplicação da lei no campo
da vida.
A finalidade social é para viabilizar a composição de litígios, a pacificação social, a
eliminação de conflitos, sendo esta a sua principal função. A existência de lides geral
intranquilidade, sendo nociva a vida em sociedade e através da jurisdição é possibilitada a
composição desses conflitos.
A finalidade política é o exercício da soberania do Estado, pois este é soberano a
partir do momento que este tem condição de impor as suas leis àqueles que estão em seu
território.

5. NORMAS FUNDAMENTAIS
5.1. Investidura
O exercício da jurisdição é feito em nome do Estado, dessa forma, não pode haver
atividade jurisdicional sem que haja regular investidura. Ninguém pode atuar, em nome do
Estado, como juiz, sem que o Estado autorize para isso, por meio da investidura.
Obs12: Os juízes leigos ou não togados, atuantes nos Juizados Especiais, são agentes auxiliares
da justiça
5.2. Territorialidade
O juiz é investido para fins de exercício da jurisdição, uma vez havendo a investidura
ele terá lotação em uma unidade judiciária, um juízo. O exercício da jurisdição tende a observar
os limites dessa territorialidade, ou seja, a territorialidade estabelece os limites espaciais em
relação à atividade jurisdicional.
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Na justiça estadual, esses limites são chamados de Comarcas. As comarcas não se


confundem com os municípios, pois é a Lei de Organização Judiciária que estabelece qual ou
quais municípios essa abrange. O juiz de direito exerce sua jurisdição nos limites da
Comarca.
Na justiça federal, cada Estado corresponde a uma Seção Judiciária, que é dividida
em subseções. A Seção fica na Capital, podendo haver subseções em outros municípios. O juiz
federal exerce sua jurisdição nos limites da seção ou subseção.
Os tribunais também possuem suas limitações, por exemplo: Tribunal de Justiça da
Bahia, atua na Bahia.
A confirmação de territorialidade está na própria necessidade das cartas precatórias. Por
exemplo: se um juiz de Salvador precisa ouvir uma testemunha que está em São Paulo, ele não
pode ir até lá para fazê-lo, ele deve solicitar ao colega da Comarca, que realize tal atividade.
Obs13: Carta precatória é expedida de um juízo para outro, quando excede os limites da
territorialidade. Carta de ordem é expedida por uma autoridade judiciária hierarquicamente
superior para um subordinado. Carta rogatória é expedida para autoridade judiciária
estrangeira.
A territorialidade tem exceções, nas hipóteses do artigo 255 do CPC.
“Art. 255. Nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas que se situem
na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar, em
qualquer delas, citações, intimações, notificações, penhoras e quaisquer outros
atos executivos”.

O juiz de uma Comarca que compõe uma região metropolitana pode determinar atos
processuais nas outras Comarcas que compõem a região metropolitana. Uma Comarca contígua
é uma comarca limítrofe, dessa forma, independentemente de região metropolitana, o ato
processual pode ser praticado.
TERRITORIALIDADE
JUSTIÇA FEDERAL JUSTIÇA ESTADUAL
Cada Estado corresponde a uma Seção
O juiz de direito exerce sua jurisdição nos
Judiciária, que é dividida em subseções. A
limites da Comarca
Seção fica situada na capital do Estado

5.3. Indelegabilidade
A jurisdição é exercida pelo juiz nos limites da territorialidade, mas este não pode
delegar o exercício da atividade jurisdicional, salvo as hipóteses previstas em lei.

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5.4. Inevitabilidade
A jurisdição é inevitável. Isto é, se ela é reflexo da soberania do Estado, ela se impõe a
todos os sujeitos, dessa forma, ninguém pode se opor a cumprir uma determinação judicial.
5.5. Inafastabilidade
Nenhuma lesão ou nenhuma alegação de ameaça ao direito pode ser suprimida da
apreciação do Poder Judiciário. Apenas na Justiça Desportiva há a necessidade de
exaurimento de todas as instancias administrativas para que se possa acessar a justiça comum.
5.6. Juízo natural
Não haverá juízo ou tribunal de exceção, todos terão o direto de ser processados de
acordo com normas prévias de competências. Sendo uma faceta do devido processo legal.
NORMAS FUNDAMENTAIS
INVESTIDURA TERRITORIALIDADE INDELEGABILIDADE
Ninguém pode atuar, em nome
A territorialidade estabelece os O juiz não pode delegar o
do Estado, como juiz, sem que
limites espaciais em relação à exercício da atividade
o Estado autorize para isso,
atividade jurisdicional jurisdicional
por meio da investidura
INEVITABILIDADE INAFASTABILIDADE JUÍZO NATURAL
Nenhuma lesão ou nenhuma Todos terão o direto de ser
Ninguém pode se opor a
alegação de ameaça ao direito processados de acordo com
cumprir uma determinação
pode ser suprimida da normas prévias de
judicial
apreciação do Poder Judiciário competências

6. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA OU JURISDIÇÃO GRACIOSA

Essa é uma questão que sempre foi muito polemica no que se refere a sua natureza
jurídica. A nossa estrutura republicana é pautada na divisão dos três Poderes, as atividades
destes são independentes ou interdependentes. Mas não há atividade de natureza pura exercida
por eles, pois todos exercer funções típicas e atípicas.
O Judiciário atua, por excelência na composição de litígios, mas há situações em
que não há lide, mas há atuação do Judiciário, por meio de processo. Dessa forma, nota-
se que nem todo processo envolve a resolução de lide. Essa atuação via processo, onde não
há litigio, é o que se chama de jurisdição voluntária.
Por exemplo: A decisão de um divórcio consensual.
Dessa forma, a lei pode disciplinar situações onde não há litígio e, mesmo assim, a tutela
sobre essas questões pertence ao Poder Judiciário. Existe determinadas situações, em que o
legislador entendeu por bem que não existisse a prática de um negócio jurídico sem houvesse a
fiscalização desses atos. A fiscalização exercida pelo Judiciário, nesses casos, é o que se chama
de jurisdição voluntária.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

6.1. Características
a) Inexistência de lide
Se há litigio a jurisdição é contenciosa.
b) Inexistência de partes
Na jurisdição voluntária há interessados.
c) Inexistência de substitutividade
Na jurisdição compõe-se uma lide mediante a aplicação da lei no caso concreto, na
jurisdição voluntária tem-se a homologação do interesse das partes.
d) Obrigatoriedade
Nos casos que a lei prevê a jurisdição voluntária, ela é obrigatória.
e) Caráter inquisitorial
O órgão jurisdicional, em algumas situações, tem a iniciativa do procedimento.
f) Juízo de equidade
A lei pode autorizar, em alguns casos, que o juiz julgue aplicando a equidade, e não
necessariamente, a lei ao caso concreto, até mesmo indo contra a lei.
Observa-se, atualmente, uma tendência de desjudicialização em relação a esses
procedimentos de jurisdição voluntária. Isso porque há um inchaço da judicialização das causas,
buscando investir em mediação, conciliação, autocomposição, arbitragem. Tendo em vista que
a estrutura do Judiciário não comporta o tanto de processos existentes. Nota-se a transferência
de competências judiciais para órgãos que não são pertencentes ao Poder Judiciário.

ESTRUTURA JUDICIÁRIA BRASILEIRA


A estrutura judiciária brasileira se subdivide, a princípio, em justiças especializadas e
justiça comum. As especializadas são a trabalhista, eleitoral e militar.

1. JUSTIÇA ESPECIAL
1.1. Justiça do Trabalho
A Constituição Federal, no artigo 114, estabelece a competência de Justiça do Trabalho,
os litígios envolvendo relações de emprego e de trabalho vão ser julgados por esta, e então tem-
se os Juízes do Trabalho, que estão na base dessa estrutura. Tem-se as Varas do Trabalho, que
não existem em muitos municípios, e a divisão do Estado em jurisdição trabalhista. Cada Estado
tem um Tribunal Regional do Trabalho, que é a segunda instância. O órgão de cúpula da Justiça
do Trabalho é o Tribunal Superior do Trabalho, possuindo competência máxima na
interpretação da legislação trabalhista.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Obs14: Apenas em São Paulo existe 2 Tribunais Regionais do Trabalho.

1.2. Justiça Militar


A Justiça Militar é uma justiça criminal, ela existe para o julgamento de crimes
praticados por membros das forças armadas, não alcançando as polícias militares e o corpo de
bombeiro. Possui uma composição mista, pois há Juízes Militares, mas o julgamento é feito de
forma colegiada, composto também por oficiais das forças armadas, que não necessariamente
possuem formação jurídica. Há também o Superior Tribunal Militar, que funciona como uma
segunda instância.
1.3. Justiça Eleitoral
A Justiça Eleitoral é composta pelos Juízes Eleitorais. Todo Estado possui um Tribunal
Regional Eleitoral, que é composto por sete membros: 2 desembargadores, 2 juízes de direito,
1 juiz federal e 2 advogados. O órgão de cúpula é o Tribunal Superior Eleitoral.
Obs15: Não existe uma carreira na Justiça Eleitoral, pois a atividade é concentrada no período
de eleições, quem atua como juiz eleitoral é um juiz de direito, que cumula as duas funções.
Nas comarcas menores, como há poucos juízes, um único juiz exerce ambas as funções,
enquanto que nas comarcas maiores, há uma espécie de “rodízio” entre os juízes de direito.

2. JUSTIÇA COMUM

A Justiça Comum é composta pela Justiça Estadual e Justiça Federal.


2.1. Justiça Estadual
Na Justiça Estadual há os juízes de direito, que podem exercer funções de Juizados
Especiais ou Juizados Especiais de Fazenda Pública ou em Varas Comuns. A segunda instância
dos juizados são as turmas recursais, que são compostas por juízes de direito. A segunda
instância das Varas Comuns é o Tribunal de Justiça, composto por desembargadores, sendo que
cada Estado possui o seu.
2.2. Justiça Federal
Os juízes federais atuam em varas comuns ou em juizados, que podem ser cíveis ou
criminais. Os recursos vão para o Tribunais Regionais Federal, quando provenientes das varas
comuns, e para a Turma Recursal, quando vindo dos juizados, sendo esta composta por juízes
federais.
Obs16: Os Juizados Especiais podem ser cíveis ou criminais. Os juizados cíveis podem tem
competência cível específica, de consumo ou de trânsito.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

O Superior Tribunal de Justiça recebe recursos dos Tribunais do Justiça e dos Tribunais
Regionais Federais. Por fim, no topo da estrutura judiciária, tem-se o Supremo Tribunal Federal
que recebe recursos de todos os tribunais e das turmas recursais, julgando matérias que, em
princípio, possuem sede constitucional.
A Emenda Constitucional 45 criou o Conselho Nacional de Justiça, que possui função
administrativa-financeira, previsto no artigo 103-B da Constituição Federal.

STF CNJ

JUSTIÇA
COMUM TST TSE STM
STJ

JUSTIÇA
ESPECIAL

TJ TRF TRT TRE

Juízes de Juízes Juízes do Juízes Juízes


Direito Federais Trablho Eleitorais Militares

Fazenda Pública (Lei


12.153/09)
JUIZADOS
Criminais
ESPECIAIS

Juizados (Lei Cíveis


9.099/95)

Cíveis
Consumidor

Trânsito

Obs17: Existe ainda uma estrutura própria do Ministério Público. O MP do Trabalho, Militar,
Estadual e Federal, que atuam em cada justiça pertinente.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

DIREITO DE AÇÃO

1. CONCEITO

Ação é o direito público subjetivo, abstrato e condicionado de exigir e obter do


Estado a entrega da prestação jurisdicional, dentro dos parâmetros de celeridade, adequação
e eficácia.
A ação é um direito público porque por meio dela um ente público é obrigado a prestar
a jurisdição. É um direito subjetivo, tendo em vista que há a exigência da atuação do Estado,
este deve cumprir o seu dever jurisdicional. É um direito abstrato porque qualquer pessoa,
independentemente de ser ou não ser titular do direito, tem direito a prestação jurisdicional. É
um direito condicionado porque só pode ser exercida se houver o interesse de agir e a
legitimidade das partes, dentro de parâmetros de adequação, celeridade e eficácia.
O direito de ação não se resume ao direito de apresentar uma petição em juízo, de nada
adiantaria garantir essa apresentação, se o Estado não o respondesse. Então, o direito de ação
não é o direito de acessar o Judiciário, é o direito de acessá-lo e obter a satisfação da lide,
a partir de uma tutela por parte do Estado, dentro de um prazo razoável e de forma
adequada e eficaz.
AÇÃO
DIREITO
DIREITO PÚBLICO DIREITO SUBJETIVO DIREITO ABSTRATO
CONDICIONADO
Só pode ser exercida se
Qualquer pessoa, houver o interesse de
Há exigência da
Por meio dela um ente independentemente de agir e a legitimidade
atuação do Estado, este
público é obrigado a ser ou não ser titular do das partes, dentro de
deve cumprir o seu
prestar a jurisdição direito, tem direito a parâmetros de
dever jurisdicional
prestação jurisdicional adequação, celeridade e
eficácia

2. TEORIAS
2.1. Imanentista ou civilista
No período romano, acreditava-se que a ação era uma parte do próprio direito material.
Esse é um pensamento que se manteve por quase 2000 anos, sendo aplicado até o século XIX
de forma soberana.
Quando se fala em teoria imanentista, entende-se a ação como uma faculdade do
titular do direito material, já que o sujeito detém o direito material, ele detém a ação. É
também chamada de teoria civilista, tendo em vista que ação seria uma mera consequência do
direito.
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Por exemplo: Se o sujeito detém a propriedade, ele detém o direito de sequela.


Essa linha de pensamento era adotada no Código Civil de 1916, que dizia que em artigo
que a todo de direito corresponde uma ação que lhe assegura.
Portanto, essa teoria não faz uma separação entre direito material e subjetivo.
2.2. Concretista
No final do século XIX, se começou a visualizar a ação como algo independente do
direito material. A ação é o direito de obter a composição da lide, que tem por objeto o direito
material.
Com essa diferenciação, surge a teoria concretista, que parte da ideia de diferenciação
entre direito material e ação. Dessa forma, o direito material é pressuposto para o direito de
ação. O titular da ação é o titular do direito material, dessa forma, não se via a ação como
um direito de todos, mas apenas daquele que detinha o direito material.
O artigo 5°, XXXV da CF/88 apresenta um viés concretista.
“Art. 5° XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”.

Ela se desdobrou em algumas teorias. Para Chiovenda, a ação seria o direito exercido
contra a parte contrária, enquanto que Adolf Wach, que entendia que a ação era exercida contra
o Estado e em face de alguém.
2.3. Abstrata
A insuficiência dessas teorias residia na impossibilidade de justificativa para situações
em que o Estado julgava improcedente o pedido. Se a ação é um desdobramento do direito
material, segundo os civilistas, ou titularizada pelo titular do direito material, como defendia os
concretistas, como dar como improcedente um pedido ajuizado?
Por conta disso, Eduardo Cuoture propôs a teoria abstrata da ação. O entendimento era
de que todos têm o direito de ação, de provocar o poder Judiciário independente de
qualquer coisa, e que ainda que o sujeito não seja o titular do direito material, ele tem o
direito de obter entrega da atividade jurisdicional.
2.4. Eclética
O direito brasileiro não adotou, de início, a teoria abstracionista. O Código de Processo
Civil de 1973 sofreu um sofre influxo do pensamento de um jurista italiano chamado Enrico
Tulio Liebman, que defendia uma teoria eclética da ação.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Este jurista aceitava o abstracionismo, mas não de forma plena. Acreditava que a ação
era um direito de todos, desde que o pedido fosse juridicamente possível, as partes fossem
legítimas e que houvesse o interesse de agir, as chamadas condições de ação.
Ou seja, o direito de ação seria um direito abstrato, mas condicionado. Sendo, portanto,
uma teoria eclética.
TEORIAS
IMANENTISTA CONCRETISTA ABSTRATA ECLÉTICA
O titular da ação é o Todos têm o direito de ação,
É um direito de
É uma faculdade do titular do direito de provocar o poder
todos, desde que o
titular do direito material, dessa forma, Judiciário independente de
pedido seja
material, já que o não se via a ação como qualquer coisa, e que ainda
juridicamente
sujeito detém o um direito de todos, que o sujeito não seja o
possível, as partes
direito material, ele mas apenas daquele titular do direito material, ele
legítimas e houver
detém a ação que detinha o direito tem o direito de obter entrega
o interesse de agir
material da atividade jurisdicional

3. ELEMENTOS DA AÇÃO

A ação tem três elementos: um elemento subjetivo (partes) e dois elementos objetivos
(pedido e causa de pedir).
3.1. Partes
Há exercício de ação porque há pretensão resistida, ou seja, porque há lide. Existe
alguém que, no campo da vida, exerce a pretensão e a provocação do Estado, o chamado autor,
e existe aquele que oferece resistência a essa pretensão, o chamado réu. Quando esse litigio é
apresentado ao Judiciário há alguém buscando o reconhecimento de sua pretensão.
3.2. Pedido
A ação sempre terá autor e réu. A pretensão recai sobre o objeto, que é um bem da vida,
daí se diz que ação tem um pedido imediato e mediato. O pedido imediato é sempre o mesmo
e é implícito, isto é, é a composição da lide. Enquanto que o bem da vida, objeto do pedido, é
o pedido mediato.
3.3. Causa de pedir
Dessa forma, há o processo que envolve partes, um titular de pretensão e alguém que
opõe resistência, que está presente na lide. Quem vai a juízo deve articular as razões para que
seja atendido o pedido, portanto, a causa de pedir é aquilo com base no que se pede.
O direito brasileiro adota a teoria da substancialização, segundo esta é preciso que se
apresente uma causa de pedir remota e uma próxima. A causa de pedir remota é a origem do
direito/o fato ocorrido, enquanto que a causa de pedir próxima consiste na violação desse
direito, o fundamento jurídico que dá ensejo ao exercício da ação.
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

ELEMENTOS
PARTES PEDIDO CAUSA DE PEDIR
Próxima –
Imediato – é a Mediato – o bem Remota – é a consiste na
Autor e réu composição da da vida que é o origem do violação do
lide objeto do pedido direito direito que dá
ensejo a ação

4. TEORIA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO

O direito processual brasileiro, no início do século XX, era relativamente atrasado


quando posto em comparação ao pensamento dos alemães e italianos. Havia dois
processualistas famosos no Brasil, Eduardo Espínola e João Monteiro. Com o fascismo,
começou a ter uma perseguição àqueles que iam de encontra com os pensamentos adotados, e
Liebman foi perseguido, vindo se refugiar no Brasil.
Aqui ele fundou a Escola Paulista, um de seus discípulos, Alfredo Buzaid, que foi um
dos elaboradores do CPC/73, que trouxe a teoria das condições da ação.
Liebman entendia que para que a prestação fosse entregue, não haveria necessariamente
que o sujeito fosse o titular do bem da vida, mas devia atender a três requisitos: possibilidade
jurídica do pedido, legitimidade das partes e interesse de agir.
4.1. Possibilidade jurídica do pedido
Pedido juridicamente possível é a regra, a impossibilidade, que era exceção, se dava
quando, de forma abstrata, a pretensão fosse repelida pela ordem jurídica. O exemplo sempre
utilizado era o divórcio. Naquela época, a Itália não permitia a dissolução do casamento, então
ele dizia que se nunca poderia haver um divórcio, esse seria um pedido juridicamente
impossível, pois ia de encontro ao previsto no ordenamento jurídico. Após o fim da Guerra,
Liebman revisou o seu livro, e retirou a possibilidade jurídica do pedido dos requisitos para que
houvesse a ação.
Dessa forma, a teoria da condição da ação passou a ter somente dois requisitos.
Àquela época, o projeto do CPC/73 já estava bem adiantado, e acabou vigorando prevendo os
três requisitos. O CPC/15 não traz, em momento algum, referência a essa teoria.
4.2. Interesse de agir
O interesse de agir se divide em necessidade e utilidade. Para que possa ser
examinado o mérito é preciso que haja a necessidade de atuação jurisdicional, se aquilo
que é pretendido pelo litigante puder ser alcançado sem atuação do Poder Judiciário, faltará o
interesse de agir/processual nesse viés de necessidade.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Por exemplo: A súmula 267 se justifica na teoria das condições da ação, se é possível
reformar a sentença por meio de recurso, não há necessidade do exercício da ação.
Súmula 267 do STF
Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.
Por exemplo: Nos casos da justiça desportiva, primeiramente deve haver o requerimento
pelo viés administrativo, se isso for feito logo de primeira, não há necessidade da ação.
Se o fim pretendido por aquele que exerce o direito de ação pode ser alcançado por
outra via, falta o interesse de agir na espécie de necessidade.
De igual maneira o interesse irá se aferir em status assertiones, partindo daquilo que
está sendo narrado, há a necessidade de atuação do Estado? Ou seja, deve-se analisar a
necessidade ou não da atuação jurisdicional.
O interesse deve ser revestido em utilidade, a prestação jurisdicional deve trazer
algum tipo de benefício para o sujeito no campo da vida. Por exemplo, o divórcio é a ação
própria para a extinção do casamento, mas se a esposa do sujeito morreu, ele não tem
legitimidade para exigir um divórcio. A perda de objeto da ação ocorre quando se perde um
interesse superveniente de utilidade.
Além da legitimidade existe o interesse que se divide nessas duas facetas, de
necessidade e de utilidade.
Obs18: O CPC/73 trabalhava com dois requisitos de admissibilidade: pressupostos processuais
e admissibilidade da ação. Todo ato de postulação tem duplo juízo, de admissibilidade e de
mérito. De acordo com o antigo Código, se faltasse um desses requisitos, o processo era extinto
sem exame do mérito. O CPC/15 mantem os requisitos do interesse e da legitimidade, e
continua exigindo, para o exame do mérito, esses dois requisitos.

CPC/73: CPC/15:
Pressupostos processuais + Pressupostos processuais +
condições da ação condições da ação (?)

Atualmente, há a discussão acerca da existência ou não das condições da ação no


CPC/15. Alguns autores, como Didier, defendem que as condições de admissibilidade da ação
são tidas como pressupostos processuais, no entanto, o próprio Código abre espaço para que
haja uma interpretação de que as condições da ação ainda existam.
INTERESSE DE AGIR
NECESSIDADE UTILIDADE
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Para que possa ser examinado o mérito é preciso A prestação jurisdicional deve trazer algum tipo
que haja a necessidade de atuação jurisdicional de benefício para o sujeito no campo da vida

4.3. Legitimidade das partes


Ao lado da possibilidade jurídica do pedido, tem-se a legitimidade das partes. A
legitimidade das partes está positivada nos artigos 17 e 18 do CPC/15.
“Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”.
“Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá
intervir como assistente litisconsorcial”.

A legitimidade se classifica em ordinária e extraordinária. A legitimidade ordinária é


a tratada no caput do artigo 18 do CPC, haverá legitimidade quando houver pertinência
subjetiva entre aqueles que figuram na relação jurídica de direito material litigiosa e
aqueles que figuram no processo. Isto é, se alguém exerce o direito de ação buscando
jurisdição, é porque há lide.
A legitimação extraordinária ocorre na forma da exceção prevista no caput do artigo.
Ou seja, a lei pode autorizar que quem não é titular do direito, possa defender a pretensão
em juízo.
A legitimação extraordinária, até a vigência do CPC atual, ocorria necessariamente por
meio de lei, o CPC atual, partindo do autorregramento da vontade, vai para além da lei,
admitindo que essa permissão ocorra tanto pela lei ou por meio de negócio jurídico. Toda vez
que a lei autoriza que alguém a agir em nome alheio, dá-se o nome de substituição processual.
Por exemplo: Ação civil pública.
Sujeitos legitimados são aqueles que figuram como partes na relação jurídica de
direito material litigiosa. A legitimidade também pode ser ativa ou passiva. A legitimidade
ativa é relativa àquele que propõe a ação, enquanto que legitimidade passiva é relativa a
oposição/resistência a pretensão exposta. Faltará legitimidade ativa se aquele que propõe a ação
não é o titular da pretensão litigiosa.
À luz do artigo 485 do CPC, a ilegitimidade extraordinária é causa de extinção do
processo sem resolução de mérito, pois o juiz dirá que o pedido não poderá ser examinado, uma
vez que quem o formulou não poderia tê-lo feito. A ilegitimidade ordinária, por si só, ensejará
improcedência do pedido após análise de mérito, a saber: o órgão jurisdicional examinará o
mérito da causa e reconhecerá que a parte não titulariza a posição jurídica afirmada, conforme
o artigo 487, inciso I do CPC.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

LEGITIMIDADE
ORDINÁRIA EXTRAORDINÁRIA
Ocorre nos casos em que a lei autoriza aquele
Ocorre nos casos em que o autor é titular do
que não é titular do direito a defender a
direito a defender a pretensão em juízo
pretensão em juízo
ATIVA PASSIVA
Relativa àquele que exerce resistência a
Relativa àquele que propõe a ação
pretensão exposta

4.4. Teoria da asserção


A teoria da asserção é o meio para aferição das condições da ação, que serão conferidas
de acordo com as alegações da parte autora. Dessa forma, a condição da ação é pressuposto
de admissibilidade, se admitida a postulação será julgado o mérito, julgando então a
procedência da ação.
A princípio, presume como verdadeiro os fatos expostos pelo autor e verifica se há
condição subjetiva da ação, sendo este o juízo de admissibilidade. Ou seja, analisa-se se há a
legitimidade do pedido e o interesse de agir. Havendo a condição, ocorrerá o exame do mérito,
julgando a procedência ou não do pedido, sendo então o juízo de mérito. Caso não haja a
condição subjetiva, o mérito não é nem observado.

5. RELAÇÃO ENTRE AS AÇÕES


5.1. Coisa julgada
Há identidade total de ações, mesma causa de pedir, mesmo pedido e mesmas partes. Se
houver uma ação em curso que possui os mesmos elementos de uma que já foi julgada, há
a configuração da coisa julgada, que proporcionará a extinção do processo.
5.2. Litispendência
Há identidade total de ações, mesma causa de pedir, mesmo pedido e mesmas partes. Se
há duas ações idênticas em curso, há a configuração de litispendência, que permitirá a
extinção de uma delas.
5.3. Conexão
Se houve uma identidade, total ou parcial, da causa de pedir ou do pedido, configura-se
a conexão. A sua consequência é a reunião dos processos para processamento e julgamento
simultâneo. Com isso, evita-se ou reduz decisões que são contraditórias.
“Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum
o pedido ou a causa de pedir”.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Quando há a conexão, as ações são reunidas, passando a ser julgadas pelo juízo
prevento. A conexão não é faculdade do juiz, ela é obrigatória, tendo em vista que ocorre por
causa do interesse público.
“Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo
prevento, onde serão decididas simultaneamente”.

“Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o


juízo”.

De acordo com a súmula 235 do STJ, a conexão não irá reunir os processos idênticos,
caso já tenha ocorrido o julgamento de um destes.
“Súmula 235 do STJ
A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”.

No entanto, não se reunirá processos caso haja um conflito de competência entre os


processos. Por exemplo, um mesmo acidente de trânsito pode gerar consequências no âmbito
cível e criminal.
5.4. Continência
Na continência, há a identidade de parte e de causa de pedir, e o pedido de uma é mais
amplo do que o da outra, dessa forma, o engloba. Por isso, se fala em continência, pois uma
ação engloba a outra.
“Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser
mais amplo, abrange o das demais”.

Essa é uma hipótese pouco frequente.


Por exemplo: O marido que propõe a ação de divórcio em face da mulher, querendo a
extinção do casamento e a partilha patrimonial. A mulher propõe o divórcio em face do marido,
requerendo a extinção do casamento, a partilha patrimonial e alimentos. Dessa forma, nota-se
que a ação da mulher engloba a do marido.
A continência se resolverá nos termos do artigo 57. A ação contida será extinta, caso
esta seja posterior à ação continente. Caso esta surja primeiro, a ação contida será reunida ao
processo.
“Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta
anteriormente, no processo relativo à ação contida será proferida sentença sem
resolução de mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas”.

RELAÇÃO ENTRE AS AÇÕES


COISA JULGADA LITISPENDÊNCIA CONEXÃO CONTINÊNCIA
Quando há uma ação Quando há duas Quando há uma identidade Há a identidade de
em curso que possui ações idênticas em total ou parcial da causa de parte e de causa de
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

os mesmos curso. Permitirá a pedir ou do pedido. A sua pedir, e o pedido de


elementos de uma extinção de uma consequência é a reunião uma é mais amplo do
que já foi julgada. delas dos processos para que o da outra, dessa
Proporcionará a processamento e forma, o engloba
extinção do processo julgamento simultâneo

6. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES


6.1. Quanto a natureza da relação jurídica discutida
A demanda pode ser classificada de acordo com a natureza da situação jurídica deduzida
em juízo. Se de direito real, tem-se a demanda real; se de direito pessoal, tem-se a demanda
pessoal. É importante ressaltar que as ações possessórias nem são reais nem são pessoais,
possuindo regimento jurídico próprio, muito semelhante, mas não idêntico ao das ações reais.
6.2. Quanto ao objeto do pedido mediato
As demandas classificam-se, também, de acordo com o objeto do pedido. São, assim,
mobiliárias ou imobiliárias, conforme o objeto seja bem móvel ou imóvel.
Nem toda ação imobiliária é real, por exemplo, a ação de despejo é pessoal. E nem toda
ação mobiliária é pessoal, tendo em vista que haja uma ação reivindicatória de um carro.
6.3. Quanto ao tipo de tutela jurisdicional
As demandas podem ser classificadas de acordo com a natureza da tutela jurisdicional
que se busca: conhecimento (certificação de direito), execução (efetivação de direito) ou
cautelar (proteger a efetivação de um direito).
As ações de conhecimento se dividem em condenatórias, constitutivas e declaratórias.
A ação condenatória é aquela em que se afirma a titularidade de um direito a uma prestação e
pela qual se busca a certificação e a efetivação desse mesmo direito, com a condenação do réu
ao cumprimento da prestação devida. A ação constitutiva está relacionada aos chamados
direitos potestativos, tem como objetivo obter a certificação e a efetivação desse direito. A ação
meramente declaratória é aquela que tem o objetivo de certificar a existência, a inexistência
ou o modo de ser de uma situação jurídica.
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO PEDIDO MEDIATO
MOBILIÁRIAS IMOBILIÁRIAS
Relativas a bens móveis Relativas a bens imóveis

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TIPO DE TUTELA JURISDICIONAL


CONHECIMENTO EXECUÇÃO CAUTELAR
Proteção à efetivação de um
Certificação de direito Efetivação de direito
direito

AÇÕES DE CONHECIMENTO
CONDENATÓRIA CONSTITUTIVA MERAMENTE DECLATÓRIA
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Busca-se a certificação e Busca-se a certificação e Busca-se a certificação acerca da


efetivação de um direito de efetivação de um direito existência, inexistência ou modo de
prestação potestativo ser de uma situação jurídica

7. CUMULAÇÃO DE AÇÕES

É preciso entender que há diferença entre processo e ação. Processo é o exercício da


atividade jurisdicional através da provação do Estado por meio do sujeito, enquanto que ação é
aquilo que envolve as partes, o pedido e a causa de pedir.
Exercido o direito de ação, instaura-se o processo, enquanto relação jurídica proposta
para a resolução da lide. O processo ocorre por meio de procedimentos, isto é, o conjunto de
atos praticados ao longo do processo.
Ação é sempre parte, causa de pedir e pedido. No processo, pode haver a cumulação
de ações. O litisconsórcio é um exemplo de cumulação de ações por meio do elemento
subjetivo.
A cumulação de ações já pode ser proposta na própria petição inicial ou durante o
curso do processo.

8. AÇÃO E EXCEÇÃO

Trata-se do caráter dúplice da ação.


Por exemplo: “A” propõe uma ação em face de “R”, deduzindo um pedido de declaração
de filiação, apresentando como causa de pedir que ele foi fruto de uma relação da mãe com o
réu, e que “R” se recusa a registrá-lo. Tem-se aí uma ação.
A ação é o direito de exigir do Estado a jurisdição. Nesse caso, “A” exerceu o direito de
ação. “R” é citado, se ele entende que não é pai de “A”, ele irá apresentar uma defesa, pedindo
que seja julgado improcedente o pedido. “R” também está pedindo jurisdição.
“A” é tão jurisdicionado quanto “R”. Por isso, se diz que para toda ação há uma
exceção, a exceção é o sinônimo de defesa/contra argumentação. Pois a defesa também é
um pedido de prestação jurisdicional e exigência de atuação do Estado na composição da
lide.
Quem exerceu a ação pode desistir da ação, dessa forma, o juiz não julgará o mérito,
como previsto no artigo 485, VIII do CPC. No entanto, caso já tenha oferecida uma contestação
por parte do réu, o autor não poderá desistir da ação sem o consentimento deste, de acordo com
o §4° do referido artigo.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

“Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


VIII - homologar a desistência da ação;
§ 4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu,
desistir da ação”.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Todo ato postulatório pressupõe um duplo juízo. Para que haja o juízo de mérito é
preciso que o juízo de admissibilidade seja positivo, por isso, deve se analisar os
pressupostos judiciais. Sodré resolveu manter a divisão entre os pressupostos e as condições
da ação para o melhor entendimento da turma. Portanto, para que ocorra ação deve estar
presente tanto as condições da ação como os pressupostos processuais.
Os pressupostos processuais são classificados em pressupostos subjetivo, relativos aos
sujeitos, e objetivos, relacionados aos elementos diversos dos sujeitos. Os pressupostos
processuais subjetivos são divididos em pressupostos relativos ao juiz e relativos às partes. Os
pressupostos processuais objetivos se dividem em extrínsecos ou negativos, e em intrínsecos
ou positivos.

1. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS OBJETIVOS


1.1. Extrínsecos ou negativos
Os pressupostos são chamados de extrínsecos, pois são aferidos fora da relação
processual e são chamados de negativos, porque o que se busca é a ausência deles.
a) Coisa julgada
Para que haja o exame do mérito, não pode haver coisa julgada.
b) Litispendência
Se há litispendência o processo deve ser extinto.
c) Perempção
A perempção consiste na extinção da ação por abandono por três vezes. Caso haja a
perempção, o juiz não julgará o mérito.
“Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
V - Reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada”.

“Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a
que a parte proponha de novo a ação.
§ 3o Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono
da causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto,
ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu
direito”.

d) Custas, despesas e honorários de ação pretérita


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A ação pode ser renovada se foi extinto o processo sem o exame do mérito, no entanto,
ela só será processada se o autor comprovar que pagou as custas, as despesas e honorários da
ação anterior, como previsto no artigo 486, §2° do CPC.
“Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a
que a parte proponha de novo a ação.
§ 2o A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento
ou do depósito das custas e dos honorários de advogado”.

e) Convenção de arbitragem
Se há convenção de arbitragem, significa dizer que houve a renúncia a jurisdição pública
e o particular se submete a jurisdição privada, dessa forma, é preciso que não haja a convenção
de arbitragem.
Obs19: A coisa julgada, a litispendência, a perempção e as custas, despesas e honorários da ação
pretérita podem ser reconhecidas de ofício ou por convocação da parte. Mas o juiz não pode
conhecer da convenção de arbitragem por ofício, de acordo com o artigo 337, §5° do CPC.
“Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
§ 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz
conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo”.

Se ambas as partes tiverem anuência, a convenção de arbitragem pode ser desfeita. Se


uma das partes requer a atuação do Estado e a outra não se manifesta, entende-se que ela
também está aceitando a jurisdição pública.
1.2. Intrínsecos ou positivos
a) Petição inicial ou demanda
Esse pressuposto processual deve ser desdobrado em dois vieses: materialidade da
petição inicial e regularidade da petição inicial.
I. Materialidade
Não há jurisdição sem ação, é preciso que o sujeito exerça a ação para que se tenha a
entrega da jurisdição, o que materializa o exercício da ação é a entrega da petição inicial
(ou a apresentação da queixa no Juizado Especial). Dessa forma, no que tange a materialidade,
o pressuposto é de existência.
II. Regularidade
Existindo a postulação da petição inicial, o CPC prevê requisitos que devem estar
presentes na mesma (artigo 319), mas se há a ausência desses requisitos, tem-se que a
regularidade da petição inicial é um pressuposto de validade, tendo em vista que o vício pode
ser sanado (artigo 321).
“Art. 319. A petição inicial indicará:
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I - O juízo a que é dirigida;


II - Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a
residência do autor e do réu;
III - O fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - O pedido com as suas especificações;
V - O valor da causa;
VI - As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados;
VII - A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou
de mediação”.

“Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos
dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de
dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15
(quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser
corrigido ou completado”.
b) Citação
A citação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém da existência do processo, facultando-
lhe ingressar na relação jurídica processual para fins de defesa de seus interesses. A citação é
um ato extremamente importante no processo, pois é por meio dela que irá se garantir o
contraditório e a ampla defesa.
Não havendo a citação do réu, ou não sendo regular, o processo não pode produzir
efeitos em desfavor desse réu, pois a ele não se garantiu o contraditório ou a ampla defesa, não
sendo garantido o devido processo legal, por exemplo, o artigo 115 do CPC. Dessa forma, este
seria um pressuposto de existência.
“Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do
contraditório, será:
I - Nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam
ter integrado o processo;
II - Ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados”.

No entanto, a não citação do réu não gera impedimento para que o processo produza
efeitos em benefício deste.
c) Regularidade formal
Para a prática dos atos processuais, é necessário que se observe o que a lei processual
estabelece, se não se cumpre a lei, há uma ausência de regularidade processual. Dessa forma,
este é um pressuposto de validade, a depender do vício pode haver a convalidação.

2. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS SUBJETIVOS


2.1. Relativos ao juiz
a) Investidura

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O juiz é um agente estatal e como tal irá efetivar a composição da lide, mas a jurisdição
é um poder/dever do Estado. Para atuar em nome do Estado, o sujeito deve ser investido
juridicamente. Somente a partir da investidura poderá haver a atuação do juiz em nome do
Estado, sem investidura não há jurisdição.
A investidura está relacionada ao plano de existência da relação jurídica
b) Competência
Uma vez investido, se deve saber se a investidura do juiz o autoriza a composição
daquela lide. Segundo Liebman, a competência “é a quantidade de jurisdição atribuída a cada
órgão ou grupo de órgão do Judiciário”. Isto, é não basta que o juiz seja investido, ele deve ser
competente para atuar na autocomposição.
A competência pode existir em razão de interesse público ou privado. Daí se extrai a
diferenças das regras de competências relativas ou absolutas. As regras de incompetência
relativa se convalidam se não forem arguidas no prazo de 15 dias (sendo um pressuposto de
validade). Há casos nos quais a incompetência é absoluta, de interesse público, podendo ser
alegada em qualquer tempo, em qualquer jurisdição, sendo até causa de ação rescisória, nos
termos do artigo 966, II do CPC.
“Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando:
II - For proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente”.

A incompetência pode ser mais grave ou menos grave, mas o fato é que o vício de
competência está sujeito a convalidação. Por isso que a ausência desse pressuposto implica
vício na relação processual, mas como é passível de convalidação, tem-se que é uma análise do
plano de validade.
c) Imparcialidade
Havendo a investidura e a competência, se deve analisar se o juiz é imparcial para julgar
tal causa. A imparcialidade se presume, essa presunção deriva da investidura. Essa presunção
pode ser afastada quando configurada as hipóteses de impedimento ou suspeição, previstas nos
artigos 144, 147 e 145 do CPC, respectivamente.
“Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções
no processo:
I - Em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como
testemunha;
II - De que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - Quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou
membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer

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Gabrielly Ramos Macedo
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parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,


inclusive;
IV - Quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
V - Quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI - Quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer
das partes;
VII - Em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação
de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - Em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado
de outro escritório”.

“Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou


afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que
conhecer do processo impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se
escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal”.

“Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - Amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - Que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou
depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
III - Quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge
ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau,
inclusive;
IV - Interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes”.

A suspeição guarda a situações menos graves, daí porque nos casos de suspeição, não
havendo arguição no prazo de 15 dias, o vício é sanado, como previsto no artigo 146 do CPC.
Caracterizando um pressuposto de validade. Nos casos de impedimento, o vício é mais grave,
podendo ser alegado há qualquer tempo e jurisdição, até mesmo nos casos de ação rescisória,
mas passando o prazo de 2 anos (previsto no artigo 976 do CPC), o vício se convalida, sendo
também um pressuposto de validade.
“Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a
parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao
juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la
com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas”.

“Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do


trânsito em julgado da última decisão proferida no processo”.

Obs20: Não há exame do mérito sem que haja o atendimento dos pressupostos processuais, a
ausência destes implica vicio na relação processual. Os vícios estão postos ou no plano na

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existência ou da validade. Quando postos no plano de existência, a relação jurídica não produz
efeitos; quando a situação não é de existência, mas sim de validade, os efeitos serão produzidos.
A diferença é relevante é porque se falta um pressuposto de existência, nunca se pode extrair
dali efeitos da relação jurídica. A arguição da ausência de validade ensejará a extinção do
processo sem exame de mérito, ou isso pode levar a uma desconstituição do julgado, nos casos
previstos no artigo 966 do CPC, e em prazo previsto no artigo 975, mas ultrapassado esse prazo,
o vício é sanado.
“Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando:
I - Se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou
corrupção do juiz;
II - For proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte
vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a
lei;
IV - Ofender a coisa julgada;
V - Violar manifestamente norma jurídica;
VI - For fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - Obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável;
VIII - For fundada em erro de fato verificável do exame dos autos”.

“Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do


trânsito em julgado da última decisão proferida no processo”.

A ausência do pressuposto processual de validade comporta convalidação, enquanto que a


ausência do pressuposto processual de existência não permite. A diferença, portanto, está na
gravidade, geralmente, os vícios mais graves estão relacionados com a existência.
Quando falta um pressuposto de validade, deve-se dar andamento a ação até que esse vício seja
percebido, podendo ser sanado ou não, o que pode levar a extinção do processo. Mas quando
essa ausência é relativa a um pressuposto de existência, a relação jurídica não terá efeitos
produzidos.
2.2. Relativos às partes
a) Capacidade de ser parte
O processo é uma relação jurídica, havendo litigio, qualquer um que esteja envolvido
pode exercer o direito de ação e, consequentemente, a provocação do Estado. Havendo a
provocação, o Estado irá instaurar o processo, que consiste em uma relação jurídica, que busca
sanar o conflito entre as partes, por meio da atividade jurisdicional.

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Toda relação jurídica se caracteriza por guardar, entre os sujeitos que fazem partes dela,
direitos e obrigações. Dessa forma, só podem ser parte de um processo, os indivíduos que
possam ser titulares de direitos e obrigações processuais. No campo da vida, as pessoas
físicas e jurídicas, o espólio, condomínio, massa falida, Ministério Público, os nascituros, dentre
outros, podem ser titulares de direito e obrigações.
Nota-se que a capacidade de ser parte é relativa ao plano de existência da relação
jurídica.
b) Capacidade processual
Uma coisa é o indivíduo poder ser titular de direitos e obrigações no campo da vida,
outra coisa é esse sujeito poder praticar todos os atos.
Por exemplo: Uma criança é titular de direitos, mas essa criança para atuar no processo,
ela precisa ser representada pelos pais ou responsáveis.
O conceito capacidade processual se aproxima muito do conceito de capacidade civil,
mas a legislação pode fazer exigências outras para que haja essa capacidade, como previsto no
artigo 73 do CPC.
“Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação
que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens”.

Havendo a capacidade de ser parte, o sujeito precisa deter a possibilidade de atuar


no processo, ou seja, o sujeito precisa ter capacidade processual. Dessa forma, a capacidade
processual se configura como um pressuposto de validade das relações processuais.
c) Capacidade postulatória
É preciso que o sujeito possa ser titular de direitos e obrigações no campo do
processo, também que ele possa atuar no processo. E também é preciso que ele ou esteja
assistido por advogado, ou detenha autorização legal para atuar em juízo, sob pena de
ausência de pressuposto processual.
O entendimento que prevalece na doutrina é que a capacidade postulatória é pressuposto
de validade. A regra é que o sujeito não detém a capacidade postulatória se não tiver autorização
legal, mas há exceções como nas ações de habeas corpus ou nas ações ajuizadas nos Juizados
Especiais. Mas, em geral, se o processo tramita sem que o sujeito tenha capacidade postulatória,
tem-se a ausência de um pressuposto de validade.
 SISTEMATIZANDO

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
SUBJETIVOS OBJETIVOS
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Relativos ao juiz Extrínsecos ou negativos


Coisa julgada;
Investidura; Litispendência;
Competência; Perempção;
Imparcialidade Custas, despesas e honorários de ação pretérita;
Convenção de arbitragem
Relativos às partes Intrínsecos ou positivos
Capacidade de ser parte; Petição inicial;
Capacidade processual; Citação;
Capacidade postulatória Regularidade formal

PRESSUPOSTO JUDICIAIS OBJETIVOS EXTRÍNSECOS


CUSTAS,
COISA CONVENÇÃO DE
LITISPENDÊNCIA PEREMPÇÃO DESPESAS,
JULGADA ARBITRAGEM
HONOÁRIOS
Não pode Deve haver a
Se houver É preciso que não
ter coisa Se houver comprovação do
perempção, o haja conversão de
julgada litispendência, o pagamento de
juiz não arbitragem para
para haver processo deve ser custas/despesas e
julgará o haver a atividade
exame do extinto honorários de ações
mérito jurisdicional
mérito pretéritas

PRESSUPOSTO JUDICIAIS OBJETIVOS INTRÍNSECOS


PETIÇÃO INICIAL CITAÇÃO REGULARIDADE FORMAL
Regularidade – É por meio da citação
Materialidade – o devem estar que se garante o
que materializa o presentes na contraditório e a ampla A prática dos atos processuais
exercício da ação inicial os defesa. Se o réu não for deve ocorrer em observância à
é a entrega da requisitos citado, o processo não lei
petição inicial previstos no art. pode produzir efeitos em
319 do CPC seu desfavor

PRESSUPOSTO JUDICIAIS SUBJETIVOS RELATIVOS AO JUIZ


INVESTIDURA COMPETÊNCIA IMPARCIALIDADE
Para atuar em nome do Estado, A competência é o que autoriza
o sujeito deve ser investido o juiz a atuar na composição de O juiz deve ser imparcial
juridicamente uma determinada lide

PRESSUPOSTO JUDICIAIS SUBJETIVOS RELATIVOS ÀS PARTES


COMPETÊNCIA DE SER COMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA PROCESSUAL
PARTE POSTULATÓRIA
Só podem ser parte de um
O sujeito deve ser titular de direitos e
processo, os indivíduos que O sujeito precisa deter a
obrigações no campo processual, e estar
possam ser titulares de possibilidade de atuar no
assistido por um advogado ou ter
direitos e obrigações processo
autorização legal para atuar em juízo
processuais

ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

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Gabrielly Ramos Macedo
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PLANO DE VALIDADE PLANO DE EXISTÊNCIA


Coisa julgada;
Litispendência;
Perempção;
Custas, despesas e honorários de ação pretérita; Investidura;
Convenção de arbitragem; Capacidade de ser parte;
Competência; Petição inicial no viés da materialidade;
Imparcialidade; Citação;
Capacidade processual;
Capacidade postulatória;
Petição inicial no viés da regularidade;
Regularidade formal

ACESSO À JUSTIÇA
A Constituição Federal assegura o acesso à justiça, o artigo 5°, XXXV, diz que a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. É por meio do direito da
ação que se acessa à justiça.
Da segunda metade do século XX, se começou a questionar o acesso à justiça, pois não
há como haver esse direito se não houver uma assistência jurídica. A CF/88 traz previsão traz
previsão não somente do acesso à justiça em sentido estrito, mas traz instrumentos legais para
viabilizar isso, por meio da prestação da assistência jurídica integral e gratuita. Quando se fala
em assistência jurídica integral, deve-se saber que ela se dá por um triplo viés.

1. ASSISTÊNCIA JURÍDICA CONTENCIOSA

O primeiro viés é o da assistência jurídica contenciosa. As pessoas não possuem


recursos para pagar advogado, para que este atue em seu favor, dessa forma, as pessoas tem
direito que o Estado forneça o advogado. No Brasil, há a estrutura de Defensorias Públicas,
o Estado como entidade irá viabilizar o acesso ao judiciário por meio da DP. A DP estadual
atua na justiça estadual, enquanto que a federal atua no seu âmbito relativo.
A defesa, até 1980, era feita pelo Ministério Público, somente após isso que, aqui na
Bahia, as Defensorias foram montadas. No âmbito federal, até 2000 não havia uma organização
das Defensorias Públicas.

2. GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A tramitação do processo pressupõe o pagamento de custas processuais, que são


recolhidas para o ajuizamento da ação e, a depender da estrutura, para a prática de atos
processuais, como os gastos com peritos, atos registrais... E o sucumbente no processo, arca
com os honorários judiciais. Dessa forma, a assistência jurídica tem a gratuidade judiciária,

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Gabrielly Ramos Macedo
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que é a despensa do pagamento das custas processuais, das sucumbências e, até mesmo,
dos honorários dos advogados.
Transitando em julgado a ação, se o sujeito ganhar, ele não deverá pagar, mas se ele
perder, ele será condenado a pagar todas as custas. No entanto, a condenação fica suspensa por
5 anos, se ela adquirir recursos, nesse meio tempo, ela será obrigada a pagar, mas se ela não
tiver como pagar, nesse período, se perde a exigibilidade da cobrança.
Obs21: O prazo de suspensão da condenação ao pagamento das custas processuais é de 5 anos,
após esse período se perde a exigibilidade da cobrança.
Obs22: Despesas podem ser utilizadas em sentido lato ou estrito. Em sentido lato, entram as
custas e honorários também. Custas são as taxas judiciárias, o que é recolhido pelo estado. A
natureza das custas é natureza jurídica de taxa. As despesas são inerentes ao processo, mas não
são recolhidas para o Estado.

3. ASSISTÊNCIA JURÍDICA NÃO CONTENCIOSA

A assistência jurídica integral também abarca a assistência jurídica não contenciosa, ou


seja, o sujeito, sem recursos, irá precisar de auxílio para elaboração/análise de contrato, para
saber se tem ou não tal direito, e essa assistência é prevista pela Constituição, sendo
competência da Defensoria Pública. A consultoria jurídica também é uma forma de
assistência jurídica.

4. DIFICULDADES PARA VIABILIZAR O ACESSO À JUSTIÇA


4.1. Custos do processo
A primeira dificuldade para fins de viabilização do acesso à justiça são os custos do
processo. As pessoas, muitas vezes, não possuem recursos para arcar com estes custos, é preciso
pensar em alternativas para isso.
a) Criar estruturas judiciárias
Nas quais não se exijam as custas processuais, como ocorre no Juizados Especiais, que
utiliza a inexigência de custas durante o 1° grau de jurisdição para facilitar o acesso à justiça.
b) Gratuidade judiciária
No Judiciário brasileiro, essas alternativas são satisfatórias para facilitar o acesso à
justiça.
4.2. Aspectos culturais de reconhecimento de direitos
Nesse ponto, há um grande problema. Historicamente, se falava nas pessoas serem
titulares de diretos, mas não terem a compreensão dos diretos que titulariam. Por exemplo, o
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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

direito é violado, mas como o sujeito não tinha conhecimento que era titular do direito, nada
era feito.
Essa ideia era muito comum no início da década de 1980/90, quando se começou a falar
em acesso à justiça. Atualmente, as pessoas acham que possuem todos os direitos previstos
garantidos, dessa forma, há diversas postulações sendo feitas pelos sujeitos, sem que os mesmos
tenham os direitos para fazer isso.
O fato das pessoas serem educadas a pensar que possuem mais direitos que obrigações,
leva a postulação de ações, nas quais não há direito a ser tutelado, o que causa o assoberbamento
da estrutura do Poder Judiciário, o qual possui, atualmente, mais processos do que funcionários.
4.3. Duração do processo
O processo, no Brasil, geralmente, tem longa duração. No Juizado Especial, os
processos duram, em média, 1 a 2 anos, já na Justiça Comum duram, em média, 8 anos. Dessa
forma, nota-se que a estrutura se encontra assoberbada.
O problema é de insuficiência do aparato judiciário para dar conta da demanda existente.
Por isso, os processos tendem a ser longos, haja vista que há uma desproporção da estrutura
judiciária para o número de processos.
Os equivalentes jurisdicionais são meios que podem ajudar a reduzir a demanda
processuais, uma vez que, através deles, não seria necessário a judicialização do fato.
4.4. Direitos de pequena expressão econômica
Existem litígios que possuem pequeno conteúdo econômico e, por causa disso, a tutela
delas em juízo é difícil. Nesse caso, não se trata da hipossuficiência das partes, mas do aporte
econômico das causas.
4.5. Multiplicação de litígios similares ou idênticos
Há situações em que a violação de direitos atinge uma multiplicidade de pessoas, isto é,
tem-se os direitos individuais homogêneos e coletivos. A forma de combate a essas situações
são as ações coletivas.

5. AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Há alguns direitos que possuem pequena expressão econômica, mas que quando postos
em conjunto possuem uma grande expressão social. Há inúmeras situações em que o aporte
econômico é inexpressivo que até mesmo o gasto processual será mais custoso, por exemplo,
uma violação ao direito de meia entrada, taxas de transação financeira.

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Gabrielly Ramos Macedo
2018.2

Estes direitos não comportam tutela, pela via individual, pela pequena expressão
econômica que tem, já que o custo do processo é incompatível. As ACP são um mecanismo de
aporte a essas situações, a legitimação para ajuizar tais ações é extraordinária, pois há a
permissão de terceiros não titulares do direito de provocar o Estado.
Na ACP, há a criação de um sistema diferente quanto a legitimidade (legitimação
extraordinária). São elementos facilitadores do acesso à justiça quando se pensa na massificação
e multiplicação das relações jurídica. Tendo em vista que é comum que litígios similares se
multipliquem no campo do Poder Judiciário. A ACP é um meio eficaz para fins de viabilizar a
resposta para essas situações e evitar o assoberbamento do Judiciário.
 SISTEMATIZANDO

ACESSO À JUSTIÇA
ASSISTÊNCIA JURÍDICA ASSISTÊNCIA JURÍDICA
GRATUIDADE DE JUSTIÇA
CONTENCIOSA NÃO CONTENCIOSA
É a despensa do pagamento das
Todas as pessoas têm direito A consultoria jurídica também
custas processuais, das
que o Estado forneça o é uma forma de assistência
sucumbências e, até mesmo,
advogado jurídica
dos honorários dos advogados

DIFICULDADES PARA O ACESSO À JUSTIÇA


DIREITOS DE LITÍGIOS
CUSTOS DO ASPECTOS DURAÇÃO DO PEQUENA SIMILARES
PROCESSO CULTURAIS PROCESSO EXPRESSÃO OU
ECÔNIMICA IDÊNTICOS
Muitas pessoas Boa parte da O processo tende a Há direitos com pouco
não possuem população não ter uma longa aporte econômico, os São situações
condições de sabe quais são duração. Em média quais não vale a pena que acometem
arcas com as os direitos e 2 anos no Juizado buscar a jurisdição, várias pessoas
custas deveres que Especial e 8 anos pois as custas tendem simultaneamente
processuais titularizam na Justiça Comum a ser mais valorativas

TEORIA GERAL DA PROVA


A atividade de julgamento é uma atividade de composição de lide. Compor a lide é
solver esse conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. O julgamento é o que
irá dar a solução desse conflito. Antes de julgar, é preciso analisar os fatos, no entanto, delimita-
se um quadro fático. Depois, é preciso verificar qual norma é aplicável ao fato ocorrido, faz-se
a subsunção do fato à norma e daí se extrai uma conclusão, se é procedente ou não.
Esse é um raciocínio que trabalha com premissas, uma premissa menor que são os fatos
e uma premissa maior que é a norma, a partir da subsunção destas se chega a uma conclusão.

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Gabrielly Ramos Macedo
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DIREITO FATOS
CONCLUSÃO
(premissa maior) (premissa menor)

Todo julgamento perpassa sobre a delimitação de um quadro fático, por uma delimitação
da norma que se aplica ao caso e, então, uma conclusão. Dessa forma, tem-se que a atividade
de julgamento é uma atividade de silogismo, visto que trabalha com premissas.
O direito abstrato é conhecido pelo juiz, mas o juiz só pode aplicar a norma incidente
no caso concreto depois que identifica os fatos. A delimitação do quadro fático pode se dar com
base na alegação das partes, quando os fatos não são controvertidos. Mas se há controvérsia
quanto aos fatos, ou o direito material é indisponível, deve haver a imposição de prova. A prova
consiste nos meios que serão utilizados, no processo, para fins de viabilização do
convencimento do juiz acerca do ocorrido.
“Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar
as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências
inúteis ou meramente protelatórias”.

“Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - Ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - Ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do
fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde
que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente
difícil.
§ 3o A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por
convenção das partes, salvo quando:
I - Recair sobre direito indisponível da parte;
II - Tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
§ 4o A convenção de que trata o § 3o pode ser celebrada antes ou durante o
processo”.

“Art. 374. Não dependem de prova os fatos:


I - Notórios;
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II - Afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;


III - Admitidos no processo como incontroversos;
IV - Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade”.

O juiz, portanto, é o destinatário direto da prova, o que não quer dizer que ele é o
único destinatário desta. A prova se destina também às partes, tendo em vista que o processo
existe para viabilizar a composição da lide e para que o juiz emita uma sentença que efetiva
essa decisão. Mas, além disso, se quer o convencimento das partes acerca da resolução, visto
que se deseja também a pacificação social e isso só ocorre se as partes forem convencidas.
No direito brasileiro, vige o princípio da liberdade dos meios de prova como um
norteador para a produção de provas.
“Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem
como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código,
para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.

1. PROVAS TÍPICAS E ATÍPICAS

As provas se classificam em típicas e atípicas. As provas típicas encontram previsão


na legislação brasileira, há uma série de meios de provas que são previstos e tipificados na
legislação, como a prova testemunhal, documental, dentre outras. No entanto, os fatos podem
ser provados por qualquer meio, sendo, pois, provas atípicas, sem que haja a previsão
legislativa destes, de acordo com o princípio da liberdade das provas.
Por exemplo: Muitos juízes, em casos de acidentes de trânsito, pedem para que as
testemunhas desenhem como foi o acidente e narrando. Isso pode ser filmado ou transcrito em
ata, servindo como uma prova processual, mas não se trata de um depoimento ou de uma perícia,
é uma prova atípica.
Toda prova será válida, independentemente de ela estar prevista em lei ou não. Todos
os meios de prova serão válidos, desde que sejam lícitos.

2. PROVA DIRETA E INDIRETA

A prova direta é aquela que recai sobre o fato probando, por exemplo, se a testemunha
narra e demonstra como ocorreu tal fato. A prova indireta é aquela que recai sobre o
conhecimento geral, não sendo necessariamente ligada ao fato direto, leva em consideração a
máxima existência e o conhecimento técnico, consistindo em um indício do que pode ter
ocorrido.

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Por exemplo: Uma testemunha de acidente de carro fala que viu a batida, que ocorreu
de tal e tal modo, essa é a prova direta. Mas, então, ela conta que depois da batida, os carros
foram parar do outro lado da pista e que tinha marca de frenagem na pista, sendo tal fato um
fato indiciário, isto é, uma prova indireta do caso.
“Art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas
pela observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de
experiência técnica, ressalvado, quanto a estas, o exame pericial”.

Obs23: Visto que vige o princípio do livre conhecimento do juiz, coexistem, no processo, as
provas diretas e indiretas, apesar de que, geralmente, as provas diretas possuem maior
valoração.

3. ILICITUDE DA PROVA

A ilicitude da prova funciona como um limite ao princípio da liberdade dos meios de


provas. A prova ilícita pode ocorrer em três situações: produção em violação ao ordenamento
jurídico; moralmente ilegítima; quando não existe base sólida de respaldo.
3.1. Produção em violação ao ordenamento jurídico
É o que se chama de prova ilícita em sentido estrito.
3.2. Moralmente ilegítima
É a prova que é produzida de forma reprovável do ponto de vista ético, sem que se
tenha a violação direta do ordenamento jurídico. Dessa forma, tem-se um campo de certa
subjetividade.
Por exemplo: Uma pessoa ajuizou uma ação judicial contra uma companhia telefônica,
afirmando que sua conta era de R$ 60,00 e R$ 70,00 e passou a vir de R$ 300, 00 e R$ 400,00,
por causa de ligações contabilizadas que não foram feitas por ele. Na audiência, o juiz pediu
para o autor marcar quais eram as ligações que ele não tinha feito, após isso, o juiz escolheu um
número que tinha diversas ligações, pegou o seu próprio celular e ligou para tal. Quando a
pessoa atendeu, o juiz perguntou se ela conhecia o autor e, de fato, ele conhecia, afirmando que
era amigo de infância. Então, o juiz constou em ata essa situação para utilizar como prova, no
entanto, a parte entrou com recuso para tratar acerca da licitude da prova.
3.3. Quando não existe base sólida de respaldo
Existem meios de prova que ainda não viabilizam uma certeza acerca de sua
idoneidade, como a utilização de um detector de mentiras, para saber se a pessoa está ou não
mentindo.

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Obs24: A licitude pode ser aferida de forma direta, quando viola uma das circunstâncias acima
expostas. No entanto, pode haver ilicitude por derivação, é o que se chama a teoria dos frutos
da árvore envenenada.
3.4. Exceções para a produção de provas ilícitas
Há exceções para a produção de provas ilícitas no processo penal.
I. Indispensabilidade daquele meio para a prova dos fatos;
II. A proporcionalidade entre o bem jurídico violado e o bem jurídico que se quer tutelar;
III. Deve ser admitida somente em prol da defesa, embora já se encontre mitigação no
campo jurisprudencial.
Por exemplo: O sigilo postal foi violado para que a pessoa provasse sua inocência em
um processo de homicídio. Dessa forma, o sigilo postal foi violado em face do direito à
liberdade.
É muito rara a utilização de provas ilícitas no campo diferente do processo penal, como
no processo civil, administrativo ou trabalhista, pois é muito difícil preencher o requisito da
proporcionalidade entre o bem jurídico violado e tutelado, tendo em vista que as ações cíveis
tratam mais de direitos patrimoniais, que não se sobressaem a direitos personalíssimos.

4. OBJETO

Ordinariamente, o objeto da prova é o fato. Pode ser necessário a produção de provas,


que são produzidas para a formação de conhecimento judicial acerca de determinados fatos.
Daí tem-se a expressão fato probando.
4.1. Relevante
Pode ser que as partes divirjam sobre determinados fatos, mas cabe ao juiz saber se
esses fatos influenciam ou não sobre a demanda.
Por exemplo: Em uma ação de alimentos, é afirmado na petição inicial que o pai é
alcoólatra e na contestação o pai afirma que a mãe é alcoólatra. No entanto, esse fato não
influencia para o julgamento da ação de alimentos.
4.2. Controvertido
A controversão de um fato deve ser interpretada a vista do artigo 374 do CPC.
“Art. 374. Não dependem de prova os fatos:
I - Notórios;
II - Afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
III - Admitidos no processo como incontroversos;
IV – Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade”.

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Fato notório é aquele determinado, obvio para todos. No que tange ao fato afirmado por
uma parte e confessado pelo outro, tem-se a dispensa de prova, desde que a lide não seja relativa
a direitos indisponíveis.
Obs25: Se o direito é indisponível não se admite confissão no processo.
Os fatos incontroversos são aqueles em que não há controversão nas alegações entre as
partes.
Obs26: Uma das consequências da não impugnação de fatos alegados na petição inicial é a
confissão ficta.
“Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as
alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as
não impugnadas, salvo se:
I - Não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - A petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considerar da substância do ato;
III - Estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica
ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial”.

Se há presunção absoluta em relação a um determinado fato, esse fato é tido como


verdadeiro independente de contraprova.
4.3. Determinado
Para haver a produção de prova deve haver a determinação do fato que irá ser
apurado. O juiz não tem como aferir se a prova influencia ou não no conhecimento do fato se
ela não for determinada.
 SISTEMATIZANDO

PROVA
CONCEITO OBJETO DESTINAÇÃO VALIDADE
A prova consiste nos
O juiz é o destinatário De acordo com o
meios que serão
direto da prova, mas não é princípio da liberdade dos
utilizados, no processo, O fato a ser
o único, elas são meios de prova, todas as
para fins de viabilização provado
destinadas as partes provas serão válidas
do convencimento do
também desde que sejam lícitas
juiz acerca do ocorrido

PROVA
TÍPICA ATÍPICA
Prevista no ordenamento jurídico Não tem previsão legal
DIRETA INDIRETA
Recai sobre o conhecimento geral, leva em
consideração a máxima existência e o
Recai sobre o fato probando
conhecimento técnico, consistindo em um
indício do que pode ter ocorrido
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ILICITUDE DA PROVA
VIOLAÇÃO AO SEM BASE SÓLIDA DE
MORALMENTE ILEGÍTIMA
ORDENAMENTO JURÍDICO RESPALDO
É produzida de forma Quando não existem meios
Prova ilícita em sentido
reprovável do ponto de vista viabilizam uma certeza
estrito ético acerca de sua idoneidade

OBJETO
RELEVANTE CONTROVERTIDO DETERMINADO
O fato probando devem ser O fato probando deve ser
O fato probando deve ser
influenciar no conhecimento do determinado para que possa
controverso entre as partes
juiz da demanda haver a sua aferição

5. PROVA DE DIREITOS

O direito em linha de princípio não é objeto de prova, tendo em vista que via de regra
esse é conhecido pelo juiz. No entanto, pensar que o juiz é conhecedor do direito como um todo
é uma ingenuidade, pois é impossível de ocorrer.
Se pode exigir do juiz o conhecimento do direito federal, no entanto, não é sua
obrigação conhecer os direitos previstos nas Constituições Estaduais e Municipais ou
relativos a outros países.
Em se tratando destes diretos, a presunção é relativa, se o juiz nada disser, ninguém
precisa prova-los. No entanto, o juiz pode requerer que as partes que o alegaram provem a
existência de tal direito, de acordo com o artigo 376 do CPC.
“Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar”.

Isso é algo incomum atualmente, pois a internet tem sido um facilitador para o
conhecimento do juiz.
Em relação ao direito consuetudinário (costumeiro), se tinha, no direito empresarial, por
exemplo, o costume de fazer registro nas juntas comerciais do teor dos costumes locais. O
costume é uma fonte do direito que tem, historicamente, uma força maior no campo mercantil.
Por exemplo: Se alguém alegasse um costume, cabia a outra pessoa a fazer prova do
registro desse costume no registro das juntas comerciais.
Até hoje se faz uso dos costumes, mas esse não mais precisa ser provado por meio de
registros.

6. REPARTIÇÃO DOS ÔNUS OU ENCARGOS PROBATÓRIOS

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No processo, o juiz possui uma postura imparcial, no entanto essa postura não é neutra.
O juiz irá indeferir as provas inúteis e meramente protelatórias, podendo determinar de
ofício a produção de algumas provas, de acordo com o artigo 370 do CPC.
“Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar
as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências
inúteis ou meramente protelatórias”.

Se o fato não restar provado, o juiz tem que julgar a causa da mesma forma. Vige,
em relação ao juiz, o princípio da proibição do non liquet, de acordo com o artigo 140 do
CPC.
“Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.
O Código estabelece regras para a repartição do ônus probatório, de acordo com o artigo
373. Se o autor não prova os fatos constitutivos de seus direitos, em regra, haverá
improcedência.
“Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I - Ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - Ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor”.
Obs27: Toda vez que houver uma alegação de um fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor, haverá o direito a réplica do autor, visto o direito ao contraditório.
As regras de repartição do encargo probatório são postas no Código de Processo, mas
elas são supletivas, isto é, admitem modificação por meio de negócios jurídicos processuais
estabelecidos entre as partes. Dessa forma, essas regras previstas no artigo 373 serão
válidas quando não houver convenção entre as partes ou quando estas não forem válidas.
O negócio jurídico processual é um negócio jurídico, então as mesmas causas de
invalidade do negócio jurídico valem para este. No entanto, o §3° do artigo 373 prevê que se
o negócio versar sobre direitos indisponíveis ou quando a convenção dificultar a produção
da prova, o negócio jurídico processual será tido como inválido.
§3° A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por
convenção das partes, salvo quando:
I - Recair sobre direito indisponível da parte;
II - Tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
Obs28: Há uma controversão entre os juristas em relação a uma situação em que as partes
convencionarem entre si que não haverá produção de provas em um eventual processo e que o
juiz não tenha convencimento suficiente para julgar. Poderia o juiz ainda assim determinar a

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produção de provas reputadas pelas partes? Sodré acredita que não, pois se o direito é
disponível, as pessoas podem dispor dele como quiserem.
6.1. Inversão do ônus da prova
O CDC trouxe a possibilidade de modificação dos encargos probatórios. Atualmente, o
CPC possibilita ao juiz a modificação destes encargos.
a) Código de Defesa do Consumidor
O CDC trouxe como inovação a inversão do ônus da prova, especificamente, na situação
em que envolve propaganda enganosa, e a possibilidade do juiz inverter o ônus da prova, em
outras relações de consumo. Nas ações envolvendo a publicidade enganosa, é incluído no
direito do autor a inversão do ônus da prova, de acordo com o artigo 38 do CDC. É
transferido para aquele que vinculou a publicidade o dever de provar a veracidade desta.
Essa inversão não precisa ser objeto de deliberação judicial, pois se opera em razão da
lei, dessa forma, a inversão do ônus da prova é legal e específica.
“Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou
comunicação publicitária cabe a quem as patrocina”.
A inversão do ônus da prova prevista no artigo 6, VIII do CDC é discricionária e judicial,
pois depende de determinação judicial e se aplica a toda e qualquer relação de consumo.
A inversão do ônus da prova pressupõe a verossimilhança da alegação e a
hipossuficiência. Isto é, a alegação verossimilhante é aquela que aparente veracidade com base
nas regras de experiência comum. Quando falta a verossimilhança, a situação ainda pode ter
ocorrido, no entanto, o ônus da prova não pode ser invertido. Além disso, o sujeito deve ser
hipossuficiente, isto é, deve-se analisar a sua vulnerabilidade, seja ela técnica, psicológica,
jurídica, em relação ao fornecedor.
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências”.
b) Código de Processo Civil
Se o juiz nada disser, os ônus da prova se mantem de acordo com o artigo 373 do CPC.
A decisão do juiz deve ser tomada antes da fase probatória, o juiz deve decidir a inversão do
ônus da prova durante a fase saneamento do processo.
A inversão do ônus da prova permite um processo mais equilibrado, nessa linha, o CPC
adotou a teoria dinâmica da repartição dos encargos probatórios.
“Art. 373, §1° Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do
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fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde
que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído”.

7. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PRODUÇÃO DE PROVAS


7.1. Princípio do Inquisitivo
O juiz pode, de oficio, determinar a produção de provas.
“Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar
as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências
inúteis ou meramente protelatórias”.
7.2. Princípio da Cooperação
Ninguém se exime a colaborar com o judiciário, a parte pode se recursar a participar do
ato probatório, mas irá arcar com as suas consequências. A lei estabelece, explicitamente,
algumas dessas consequências, como a confissão ficta. Em outros casos, a doutrina estabelece,
como na recusa de realização de exame de DNA para investigação de paternidade, presume-se
a paternidade.
Se a lei prever consequências, esta será aplicada. Mas a recusa da parte será valorada no
momento da decisão do juiz.
“Art. 378. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário
para o descobrimento da verdade”.

“Art. 379. Preservado o direito de não produzir prova contra si própria,


incumbe à parte:
I - Comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for interrogado;
II - Colaborar com o juízo na realização de inspeção judicial que for
considerada necessária;
III - Praticar o ato que lhe for determinado”.

“Art. 380. Incumbe ao terceiro, em relação a qualquer causa:


I - Informar ao juiz os fatos e as circunstâncias de que tenha conhecimento;
II - Exibir coisa ou documento que esteja em seu poder.
Parágrafo único. Poderá o juiz, em caso de descumprimento, determinar, além
da imposição de multa, outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais
ou sub-rogatórias”.
7.3. Princípio da Aquisição processual ou comunhão da prova
Segundo esse princípio, a prova uma vez produzida passa a pertencer ao processo. A
parte que a requereu não pode mais pleitear a sua retirada dos fatos.
Por exemplo: A parte requereu uma testemunha, enquanto ela não testemunhar, a parte
pode requerer a sua retirada, mas se ela já testemunhou, as suas palavras serão utilizadas como
prova.

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7.4. Princípio da Oralidade


As provas, em linha de princípio, são produzidas em audiência e na presença do juiz,
conforme o artigo 361. Isso porque, quando produzidas em audiência, facilita o conhecimento
do juiz acerca do fato controverso.
“Art. 361. As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta
ordem, preferencialmente:
I - O perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de
esclarecimentos requeridos no prazo e na forma do art. 477, caso não
respondidos anteriormente por escrito;
II - O autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais;
III - As testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas.
Parágrafo único. Enquanto depuserem o perito, os assistentes técnicos, as
partes e as testemunhas, não poderão os advogados e o Ministério Público
intervir ou apartear, sem licença do juiz”.
As provas, em situações excepcionais, podem ser produzidas fora das dependências do
foro, sempre que houver interesse processual ou impossibilidade de produção em audiência.
7.5. Princípio do Convencimento Motivado
Não existe hierarquia entre as provas, o juiz deve analisá-las em conjunto, em via de
formar o seu convencimento sobre a questão. Segundo esse princípio, o juiz pode dar uma maior
valoração a uma determinada prova no momento de seu conhecimento, tendo em vista que não
há vinculação do entendimento judicial ao que foi alcançado na conclusão de determinado meio
probatório. Importante ressaltar que o seu convencimento deve ser fundamentado.
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente
do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação
de seu convencimento”.

8. PROVA EMPRESTADA

A prova emprestada é admissível de acordo com o artigo 372 do CPC. No entanto, ela
é a exceção, em razão do princípio da oralidade e da imediatidade.
“Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro
processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o
contraditório”.
O juiz que conduz a produção de provas, tem maiores condições para formar o seu
convencimento. Dessa forma, não se fará uso da prova emprestada, se há condição de se
produzir a prova novamente.
Por exemplo: João foi ouvido sobre determinada situação no processo X. No processo
Y, João deve prestar testemunho sobre a mesma situação, se ele estiver vivo/em condições, ele
deve prestar novamente o testemunho.

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É direito do litigante participar e influir na produção da prova, em razão do direito ao


contraditório. Isto é, a prova emprestada não pode ser utilizada em desfavor da parte que
não participou da produção da prova.
Por exemplo: Pedro e Paulo eram partes no processo A, que transitou em julgado no ano
passado. Atualmente, Pedro é autor de um processo contra Tecio, dessa forma, Pedro não pode
fazer uso de uma prova produzida no processo A, se esta for aplicada em desfavor de Tecio.
Portanto, deve haver a conjugação da impossibilidade da produção da prova e o direito
do contraditório.
Obs29: A prova emprestada só pode ser aquela que foi produzida no curso do processo,
dessa forma, as provas pré-constituídas (documentos) não podem ser emprestados.

TEORIA DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

1. BREVE HISTÓRICO

O sistema nosso é de tradição romano-germânica, o que o caracteriza é a existência de


uma larga positivação e os julgamentos sendo feitos, basicamente, levando em consideração o
direito positivo. A contraposição desse sistema é o sistema da common law, anglo-saxão, onde
é rarefeita a positivação e as decisões são tomadas com base nos precedentes, destes se extrai a
norma.
É curioso que as pessoas não se atentam ao fato de que esses sistemas surgem após a
desintegração do Império Romano, tendo em vista que muitos esquecem que a Inglaterra fez
parte desse Império. Dessa forma, o sistema jurídico era os mesmos na França, Itália e
Inglaterra. O surgimento da Idade Média veio acompanhado de uma involução, do ponto de
vista jurídico.
É natural que com a desintegração do Império, e com a perda da escrita com a chegada
dos Vikings, a manutenção desta foi feita pelo Clero e Mosteiros. Dessa forma, é natural o
afastamento das normas e a aproximação aos precedentes. A utilização de um direito pautado
em precedentes dá um poder muito maior ao juiz, do que um direito pautado em normas.
A retomada de um sistema codificado se dá na França, no século XVIII, por questões
meramente políticas. A Revolução Francesa proporcionou a retomada da utilização das
codificações. Napoleão fez uso dos códigos por uma questão meramente política, pois quem
tinha o controle judicial eram os juízes da alta nobreza. O cargo de juiz naquela época era
comprado e hereditário, a Revolução quebra isso de uma maneira muito violenta e abrupta,

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diferentemente da superação do Absolutismo na Inglaterra, a qual a transição ocorreu de forma


gradual.
Para que houvesse a retomada do controle judicial havia duas opções, ou se altera os
juízes ou se modifica o sistema judicial, retirando poder dos mesmos. A partir desse momento,
os juízes passam a ser a “boca da lei”, apenas aplicando aquilo que era previsto na lei. Onde a
influência da Revolução chegou com mais força, há uma maior adoção das codificações. A
Inglaterra, por exemplo, como não sofreu tanta influência, permaneceu com a utilização dos
precedentes.
A partir do final do século XX, há a verificação de uma reaproximação dos sistemas
jurídicos. Dessa forma, atualmente, tem-se uma romanização dos países de direito anglo-saxão
e a adoção crescente dos precedentes nos países de tradição romano-germânica.
Essa valorização dos precedentes começou a ocorrer a partir de 1990, através da adoção
de uma série de mecanismos, alterações que começaram a ser feitas no sistema do código. O
CPC/73, nos momentos finais de sua vigência, já possuía diversos institutos voltados aos
precedentes. O CPC/15 não adotou o sistema de precedentes, ele sistematizou e maximizou as
precedentes já existentes, e criou um sistema de utilização dos precedentes judiciais.
O CPC/15 é caracterizado por dois pontos, na quebra de paradigma: há a superação do
caráter cogente das normas processuais e a maximização e sistematização dos sistemas de
precedentes judiciais, inclusive de precedentes obrigatórios. A partir do momento que estes
precedentes passam a ter força, é preciso que se estude a teoria dos precedentes judiciais.

2. GRANDES SISTEMAS JURÍDICOS

O sistema do common law se desenvolveu por meio das decisões judiciais (precedentes),
e não mediante atos legislativos ou executivos. A segurança jurídica, nesse sistema, é buscada
no precedente judicial. O sistema do civil law é baseado na aplicação do texto da lei. A
segurança jurídica, neste sistema, é buscada na lei.
2.1. Aproximação dos sistemas
É uma realidade visível a partir da segunda metade do século passado, em razão, dentre
outros fatores do constitucionalismo e da litigiosidade de massa, pois quão maior o corpo de
demandas, maior a necessidade de um referencial decisório para decidir.
Por exemplo: Professores têm direito de receber a mais devido sua carreira (assistente,
adjunto, etc.). Na UFBA os processos administrativos que cuidam dos requerimentos de
progressão funcional, no geral, são analisados lentamente, muitas vezes demorando meses para

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o deferimento ou não do pleito. Sendo deferido, o professor tem direito a receber


retroativamente pelo tempo que o processo tramitando. A Universidade Federal tem adotado
uma nota técnica do TCU que não se deve pagar um retroativamente. Isto é passível de litígio.
Chegando vários processos desses ao STJ, este órgão, colegiadamente, para evitar julgar
processo por processo, definir a tese da demanda em abstrato e, aplicando esse entendimento a
um processo julgado, decide estabelecer precedente obrigatório.

3. NOÇÕES FUNDAMENTAIS
3.1. Precedente, ratio decidente e decisão
Segundo Didier, em sentido amplo, precedente é a decisão judicial à luz de um caso
concreto, cujo elemento normativo pode servir como diretriz para o julgamento posterior
de casos análogos. Em sentido estrito, este pode ser definido como sendo a própria ratio
decidendi.
A ratio decidendi ou holding são os fundamentos jurídicos que sustentam a decisão,
podendo ser formada tanto em relação a questões de direito material quanto de direito
processual.
A decisão é o ato jurídico de onde se extrai a solução do caso concreto, encontrável no
dispositivo, e o precedente, comumente retirado da fundamentação. Dessa forma, a decisão é o
conjunto e continente com, no mínimo, esse duplo conteúdo.
3.2. Obter dictum
Trata-se de colocação ou opinião jurídica adicional, paralela e dispensável para a
fundamentação e conclusão da decisão. É mencionada pelo juiz “incidentalmente” ou “a
propósito” (“by the way”), mas pode representar um suporte ainda que não essencial e
prescindível para a construção da motivação e do raciocínio exposto.
Dessa forma, importante frisar que, embora não sirva como precedente, este não é
desprezível, visto que pode sinalizar uma futura orientação do tribunal, por exemplo.
3.3. Identificação da ratio decidendi
Para saber a força vinculativa dos precedentes judiciais é preciso investigar a ratio
decidendi dos julgados anteriores. Por isso, extrai-se da ratio decidendi, por indução, uma regra
geral que pode ser aplicada a outras situações semelhantes. Da solução de um caso concreto,
extrai-se uma regra de direito que pode ser generalizada.
Só se pode considerar como ratio decidendi a opção hermenêutica que, a despeito de
ser feita para um caso concreto, tenha aptidão para ser universalizada.

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3.4. Espécies de decisão e precedente


a) Decisão de admissibilidade e de mérito
Tradicionalmente, nos sistemas de common law, os elementos de fato e de direito
relevantes e determinantes são aqueles considerados pelo juiz no julgamento de mérito, no
entanto, as decisões que envolvem a admissibilidade da ação também envolvem uma
fundamentação.
Dessa forma, a decisão pode tornar-se precedente tanto para questões de admissibilidade
quanto para de mérito, podendo os precedentes versar, portanto, de questões materiais e
processuais.
b) Decisão que homologa autocomposição
A decisão que homologa a autocomposição pode gerar precedentes no que tange
aos pressupostos para a homologação do negócio jurídico, mas este não atinge o conteúdo
da demanda.
Por exemplo: Impossibilidade de transação versar sobre honorários advocatícios
sucumbenciais já arbitrados sem participação dos advogados ou possibilidade de ser celebrada
transação em fase recursal.

4. EFICÁCIA JURÍDICA DO PRECEDENTE

O precedente, embora esteja encartado na fundamentação de uma decisão judicial (que


é um ato jurídico), é tratado como um fato pelo legislador. Dessa forma, os efeitos de um
precedente são produzidos independentemente da manifestação do órgão jurisdicional.
São efeitos ex lege, sendo, portanto, efeitos anexos da decisão judicial.
4.1. Precedente com eficácia vinculante/obrigatória
O precedente é vinculante/obrigatório quando tiver eficácia vinculativa em relação aos
casos que, em situações análogas, lhe forem supervenientes, dessa forma, obrigam os órgãos
jurisdicionais a adotarem a mesma tese jurídica tida em sua fundamentação.
O precedente que tem efeito vinculante, por determinação legal, também deve ter
reconhecida a sua aptidão para produzir efeitos persuasivos, obstativos, autorizantes e etc.
No Brasil, os precedentes com força vinculante estão dispostos no artigo 927 e 332, IV,
do CPC.
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;

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III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de


demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,
independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o
pedido que contrariar:
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

A decisão que não respeitar o precedente vinculativo é considera omissa.


Art. 1.022, parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos
repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob
julgamento.

Obs30: As súmulas vinculantes foram os primeiros precedentes obrigatórios adotados pelo


Brasil.
Obs31: Se o juiz não observar os precedentes obrigatórios, caberá reclamação. Que é um
mecanismo para que obrigar o juiz a observá-los. Art. 985, §1° e 988, III, IV, do CPC.
Art. 985. § 1o Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação.
Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público
para:
III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão
do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente
de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de
competência.
Obs32: Quando há um incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) no STJ ou STF,
por meio de recursos especiais ou extraordinários, esses recursos podem sofrer uma afetação
para que a suas decisões possam se tornar precedentes obrigatórios. Mas, via de regra, o
precedente firmado por decisões do STJ/STF é persuasivo.
Obs33: É preciso que haja um mecanismo, em Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais
Federais, para que se possa formar precedentes em âmbito estadual ou municipal, a isso se dá
o nome de incidente de assunção de competência.
Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de
recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária
envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem
repetição em múltiplos processos.

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4.2. Precedente com eficácia persuasiva


O precedente persuasivo constitui um “indício de uma solução racional e socialmente
adequada”, não obrigando o magistrado a segui-lo. Esta é a eficácia mínima de todo
precedente.
Por exemplo: O artigo 1029, §1°, do CPC.
Art. 1.029. § 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o
recorrente fará a prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do
repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com
a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com
indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
4.3. Precedente com eficácia de obstar a revisão de decisões
Há precedentes que podem servir como impedimento para a revisão de decisões
judiciais, seja por recurso ou por remessa necessária. Este óbice pode ser tanto no sentido de
não admitir a demanda, como de negar, no mérito a postulação. É considerado como um
desdobramento do efeito vinculante de alguns precedentes.
Por exemplo: Os artigos 496, §4° e 932, IV, do CPC.
Art. 496. § 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença
estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer
ou súmula administrativa.
Art. 932. Incumbe ao relator:
IV - negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou
do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
4.4. Precedente com eficácia autorizante
O precedente pode ser autorizante quando é determinante para a admissão ou
acolhimento do ato postulatório.
Por exemplo: Os artigos 311, II e 932, V, do CPC.
Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando:

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II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente


e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante;
Art. 932. Incumbe ao relator:
V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao
recurso se a decisão recorrida for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou
do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
4.5. Precedente com eficácia rescindente
O precedente pode ter aptidão para rescindir ou retirar a eficácia de uma decisão
judicial transitada em julgado.
Por exemplo: Os artigos 966, V, e 525, §15°, do CPC.
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando:
V - violar manifestamente norma jurídica;
Art. 525. § 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em
julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado
do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.
4.6. Precedente que permite revisão de coisa julgada
Há quem defenda que o precedente pode autorizar a ação de revisão de coisa julgada
que diga respeito a uma relação jurídica de trato sucessivo (artigo 505, I, do CPC).
Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas
à mesma lide, salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio
modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir
a revisão do que foi estatuído na sentença.
Dessa forma, um precedente do STF, por exemplo, poderia autorizar a revisão, ex nunc,
da sentença que regulasse uma relação jurídica tributária (que possui trato sucessivo).

5. DEVERES GERAIS DOS TRIBUNAIS QUANTO AOS PRECEDENTES

O artigo 926 do CPC prevê que os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e
mantê-la íntegra, estável e coerente.
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento
interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua
jurisprudência dominante.
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

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5.1. Uniformização
O dever de uniformizar pressupõe que o tribunal não pode ser omisso diante de
divergência interna, entre seus órgãos fracionários, sobre a mesma questão jurídica. O tribunal
tem o dever de resolver essa divergência, uniformizando o seu entendimento sobre o assunto.
5.2. Estabilidade
O tribunal deve manter a sua jurisprudência estável. Dessa forma, qualquer mudança
de posicionamento (overruling) deve ser justificada adequadamente, além de ter sua eficácia
modulada em respeito à segurança jurídica.
Nesse sentido, tem-se o princípio da inércia argumentativa. Este estabelece que é
preciso uma forte carga argumentativa para que o magistrado venha a afastar o precedente
diante do caso que se assemelhe àquele que ensejou a sua formação. Além disso, facilita a
elaboração da fundamentação do magistrado que pretende aplicar o precedente à resolução do
caso análogo.
Por exemplo: O artigo 489, §1°, V e VI, do CPC.
Art. 489. § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento
se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.
5.3. Publicidade
Para dar eficiência ao sistema de precedentes judiciais, é preciso que estes sejam
publicizados. Por isso, o artigo 927, §5°, do CPC, prevê que caberá aos tribunais organizar
seus precedentes por tema e divulga-los, de preferência, na internet.
Art. 927. § 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-
os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede
mundial de computadores.
5.4. Coerência
O dever de coerência pode ser tido sobre dois vieses: (1) formal, ligado a ideia de não
contradição, e (2) substancial, no sentido de conexão positiva. Esta produz efeitos interna e
externamente. Do ponto de vista externo, os tribunais devem coerência às suas próprias decisões
anteriores; internamente, relaciona-se com a construção do precedente e, consequentemente, ao
dever de fundamentação.
5.5. Dever de integridade
O dever de integridade relaciona-se com a ideia de unidade do Direito.

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6. APLICAÇÃO DO PRECEDENTE JUDICIAL

Nas hipóteses em que o órgão julgador está vinculado a precedentes judiciais, este deve,
primeiramente, verificar se o caso em julgamento possui alguma semelhança com o
precedente. Para isso, o magistrado deve analisar os elementos objetivos da demanda,
confrontando-os com os elementos caracterizadores de demandas anteriores. Se houver
aproximação, ele deve analisar a ratio decidendi firmada nas decisões destas demandas
anteriores.
6.1. Distinguishing
Quando houver distinção entre o caso concreto e o precedente, tem-se o
distinguishing, que pode ser considerado um método de confronto, “pelo qual o juiz verifica
se o caso em julgamento pode ou não ser considerado análogo ao paradigma”. O
distinguishing pode ser ampliativo ou restritivo.
a) Ampliative distinguishing
Notando distinção entre o caso concreto e o precedente, o magistrado pode estender ao
caso a mesma solução conferida aos casos anteriores, por entender que, a despeito das
particularidades concretas, aquela tese jurídica lhe é aplicável.
Por exemplo: Os artigos 489, §1°, V e 927, §1°, do CPC.
Art. 489. § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento
se ajusta àqueles fundamentos;
Art. 927. § 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art.
489, § 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo.
b) Restrictive distinguishing
Notando distinção entre o caso concreto e o precedente, o magistrado pode dar a ratio
decedendi uma interpretação restritiva, por entender que particularidades do caso
concreto impedem a aplicação da mesma tese jurídica anteriormente firmada, julgando o
processo livremente, sem vinculação ao precedente.
Por exemplo: Os artigos 489, §1°, VI e 927, §1°, do CPC.
Art. 489. § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.
Art. 927. § 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art.
489, § 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo.

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6.2. Overruling
É a técnica utilizada para a superação do precedente judicial, através deste o
precedente perde sua força vinculativa e é substituído por outro. O overruling de qualquer
precedente vinculante deverá ser precedido de decisão devidamente fundamentada. Essa
substituição pode ser feita de forma expressa ou tácita.
a) Express overruling
Ocorre quando o tribunal resolve, expressamente, adotar uma nova orientação,
abandonado a anterior.
b) Implied overruling
Ocorre quando uma orientação é adotada em confronto com a posição anterior, embora
sem expressa substituição desta última.
Obs34: O precedente obrigatório somente pode ser objeto de modificação de forma expressa no
Direito brasileiro.
Art. 927. § 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência
pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a
necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os
princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
6.3. Modulação dos efeitos do overruling
Cabe ao tribunal, com base no princípio da razoabilidade, modular os efeitos da decisão
que altera o posicionamento consolidado. Isso porque a regularidade da jurisprudência, mesmo
que não tenha eficácia obrigatória, gera consequências no campo da vida.
Dessa forma, a modificação de um precedente pode ter seus efeitos retroativos, ou
estes podem ser modulados, a fim de respeitar o princípio da segurança jurídica.
O artigo 927, §3°, do CPC prevê expressa e genericamente a possibilidade de modulação
dos efeitos da decisão que altera a jurisprudência dominante dos tribunais superiores,
estendendo-se às sumuladas, bem como derivadas do julgamento de casos repetitivos e
assunção de competência.
Art. 927. § 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de
julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da
alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
6.4. Antecipatory overruling
É uma espécie de não aplicação preventiva, por órgãos inferiores, do precedente
firmado por Corte superior nos casos em que esta, tacitamente, indica uma alteração no seu
posicionamento quanto ao precedente outrora firmado. Importante salientar que essa técnica
não está relacionada com a revogação do precedente, visto que este ainda é válido.

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6.5. Overriding
Há o overriding quando o tribunal apenas limita o âmbito de incidência de um
precedente, em função da superveniência de uma regra ou princípio. Não há, portanto, uma
superação total do precedente, sendo uma espécie de revogação parcial.
 SISTEMATIZANDO
NOÇÕES FUNDAMENTAIS
PRECEDENTE RATIO DECIDENDI DECISÃO OBTER DICTUM
Decisão judicial sobre um É o ato jurídico de Trata-se de colocação ou
São fundamentos
caso concreto que pode servir onde se extrai a opinião judicial adicional
jurídicos que
de diretriz para julgamento solução do caso que é dispensável para a
sustentam a decisão
de casos análogos concreto fundamentação e a decisão

PRECEDENTE
IMPEDITIVO DE REVISÃO DE
VINCULATIVO PERSUASIVO
DECISÃO
Constitui um “indício de uma
Deve ser obrigatoriamente Este óbice pode ser tanto no sentido de
solução racional e socialmente
observado, presente nos artigos não admitir a demanda, como de negar,
adequada”, não obrigando o
927 e 332, IV, do CPC no mérito a postulação
magistrado a segui-lo
AUTORIZADOR DE REVISÃO DE
AUTORIZANTE RESCINDENTE
COISA JULGADA
Há quem defenda que o precedente
Quando possui aptidão para
Determinante para a admissão pode autorizar a ação de revisão de
rescindir ou retirar a eficácia
ou acolhimento do ato coisa julgada que diga respeito a uma
de uma decisão judicial
postulatório relação jurídica de trato sucessivo
transitada em julgado
(artigo 505, I, do CPC)

DEVERES DOS TRIBUNAIS QUANTO AOS PRECEDENTES


UNIFORMIZAÇÃO ESTABILIDADE PUBLICIDADE COERÊNCIA INTEGRIDADE
O tribunal não pode O tribunal deve
Para dar eficiência Está relacionado
ser omisso diante de manter estável a sua
ao sistema de a ideia de não
divergência interna, jurisprudência, Relaciona-se com
precedentes contradição e
entre seus órgãos qualquer alteração a ideia de unidade
judiciais, é preciso conexão positiva
fracionários, sobre a só pode ser feita do Direito
que estes sejam entre os
mesma questão mediante
publicizados julgados
jurídica fundamentação

DISTINGUISHING
AMPLIATIVE RESTRICTIVE
O magistrado pode estender ao caso a O magistrado pode dar a ratio decedendi uma
mesma solução conferida aos casos interpretação restritiva, por entender que
anteriores, por entender que, a despeito particularidades do caso concreto impedem a aplicação
das particularidades concretas, aquela da mesma tese jurídica anteriormente firmada, julgando
tese jurídica lhe é aplicável o processo livremente, sem vinculação ao precedente

OVERRULING
EXPRESS IMPLIED

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Ocorre quando o tribunal resolve, Ocorre quando uma orientação é adotada em


expressamente, adotar uma nova orientação, confronto com a posição anterior, embora sem
abandonado a anterior expressa substituição desta última

TEORIA GERAL DA DECISÃO JUDICIAL


Primeiramente, é preciso diferenciar os atos do juiz. Em primeiro grau, tem-se os
despachos, decisões interlocutórias e sentenças. No tribunal (segundo grau), tem-se os
despachos, decisões monocráticas e acórdãos.

1. ATOS DO JUIZ EM PRIMEIRO GRAU

Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões


interlocutórias e despachos.
§ 1° Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,
sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos
arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como
extingue a execução.
§ 2° Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza
decisória que não se enquadre no § 1°.
§ 3° São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no
processo, de ofício ou a requerimento da parte.
§ 4° Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória,
independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e
revistos pelo juiz quando necessário.
1.1. Despacho
O despacho se caracteriza e se diferencia dos demais atos do juiz, em primeiro grau,
porque não tem conteúdo valorativo, existe para impulsionar o processo. O juiz precisa
efetivar a composição da lide, julgando o mérito, nesses casos não há despacho, pois há um
posicionamento sobre a questão. O despacho existe para impulsionar o desenvolvimento do
processo, sem uma carga valorativa relevante.
Por exemplo: Junta-se aos autos um laudo pericial, e o juiz se manifesta acerca deles,
para que as partes se manifestem. A isso não se atribui carga valorativa do juiz.
Sodré acredita que todo ato humano tem uma razão de ser, que implica uma deliberação.
Sendo assim, o despacho não possui um valor relevante, pois não é relativo ao julgamento do
mérito.
1.2. Decisão interlocutória
A decisão interlocutória é todo pronunciamento do juiz de natureza decisória que
não seja uma sentença. Nas decisões interlocutórias, diferentemente dos despachos, há uma
carga valorativa relevante ao ato. O juiz toma uma decisão que envolve o mérito da demanda.
Por exemplo: O juiz defere uma medida liminar.

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1.3. Sentença
De acordo com o artigo 203 do CPC, sentença é o pronunciamento por meio do qual
o juiz, em observância aos artigos 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução.
O processo se instaura, em primeiro grau, com uma petição inicial e irá se desenvolver
até a prolação de uma sentença. Mas durante o curso do processo, há questões que estão sendo
decididas, por meio de decisões interlocutórias, até que ocorra o sentenciamento.
O conteúdo de uma decisão interlocutória pode ser o mesmo de uma sentença, mas o
que caracteriza a sentença é que ela é o “ponto final” da questão.

2. ATOS DO JUIZ EM SEGUNDO GRAU


2.1. Despachos
Despacho é a manifestação do desembargador ou do Ministro que não tem conteúdo
axiológico relevante, assim como os proferidos pelo juiz em primeiro grau.
2.2. Decisão monocrática
Se houver uma carga decisória valorativa, tem-se uma decisão monocrática. O
regimento interno do tribunal e o CPC dizem as situações que podem ter um julgamento
mediante uma decisão monocrática.
2.3. Acórdão
Em tribunal, tradicionalmente, as decisões são tomadas por órgãos colegiados. Todo
julgamento colegiado, em tribunal, se dá por meio de acórdão.

3. REQUISITOS DO ATO JUDICIAL

O ato judicial tem requisitos quanto à inteligência e quanto à estrutura. Quanto a


inteligência, ele deve ser claro, preciso e completo. Quanto a estrutura, ele deve conter um
relatório, a fundamentação e dispositivo.
3.1. Requisitos quanto à inteligência
a) Clareza
O provimento judicial deve ser claro. Clareza diz respeito a inteligibilidade do ato. É
preciso que não somente o advogado, mas também o serventuário da justiça e as próprias
partes entendam as decisões que estão sendo tomadas. Dessa forma, há clareza quando se
evita termos que são dúbios, quando se utiliza corretamente a pontuação, quando a exposição
correta de cada tema, a organização de forma lógica.
b) Precisão
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Precisão diz respeito ao alcance da decisão. O provimento judicial é preciso quando


se entende o que está sendo decido, e não há margem para discussão acerca do que foi
decido. Se o provimento judicial não for dotado de precisão, o litígio não se resolve por inteiro.
c) Completude
A decisão judicial deve ser completa. A completude está relacionada ao princípio da
congruência, o juiz deve decidir levando em consideração àquilo que foi alegado e
requerido pelas partes, não podendo deixar de analisa-los, mas ele também não pode
julgar para além do que foi objeto da postulação.
A completude normalmente é analisada a partir dos objetos. Tem-se a da possibilidade
de a sentença estar viciada por ser:
I. Citra petita: Aquela que deixa de examinar determinado (s) pedido (s);
II. Ultra petita: Aquela que ultrapassa os limites do pedido;
III. Extra petita: Aquela que julga fora do pedido.
Por exemplo: Se pede a condenação ao pagamento à quantia em dinheiro. O juiz não o
examina, mas condena o réu a entrega de coisa móvel.
Obs35: As sentenças viciadas são eivadas de nulidade. Todavia, as nulidades serão supridas no
âmbito recursal, mediante tribunal. Não se determina retorno dos autos ao primeiro grau, mas
sim é feita a correção no próprio órgão recursal.
Há a violação da completude/regra de congruência quando se deixa de examinar
também partes ou causa de pedir, ou quando se faz exame para além deles. Quando o
problema diz respeito a estes dois, ou fundamentos da defesa, continuam-se utilizando os
termos citra, ultra e extra, todavia se utiliza a expressão causa petendi.
I. Citra causa petendi: Pode haver cumulação de causas de pedir ou cumulação de linhas
defensivas. O juiz para julgar deve fazer a análise de todas as alegações prejudiciais à
lide posta. Para rejeitar ele tem que examinar todos, mas para aceitar ele pode analisar
e fundamentar com base em apenas um dos fundamentos apresentados.
Por exemplo: Se você pede três coisas, o juiz julga procedente uma, improcedente outra
e não aprecia a terceira: Pontes de Miranda diz que já que não foi tratado o ponto, não há como
incidirem efeitos sobre ele, cabendo então o dever de apreciação daquilo que foi outrora
ignorado.
II. Ultra causa petendi: Ocorre quando se julga para além do que está presente no
processo.

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Por exemplo: Examinam-se os pedidos postos em relação às partes do processo, mas


também procede a esse exame em relação a alguém que não é parte; quando a sentença examina
as causas postas, mas examina, para além dela, causas que não foram postas; quando se examina
todos os fundamentos e/ou linhas defensivas e mais outras que não foram ou não poderiam ser
deduzidas de ofício.
III. Extra causa petendi: Ocorre quando se julga diversa das partes ou da causa de pedir.
Por exemplo: Examina-se o pedido em relação à parte distinta da que compõe a ação,
ou seja, não se examina em relação a quem figura a ação.
3.2. Requisitos quanto à estrutura
a) Relatório
É a síntese do que foi havido no processo. Isso se aplica a todo e qualquer processo.
Trata-se de narrativa em que, quem está julgando expõe os elementos que foram utilizados para
esse julgamento. Caracteriza-se por uma exposição histórica objetiva e sem dedução de
juízo de valor acerca das principais ocorrências tidas no processo. O relatório vai permitir
a identificação das partes, o pedido que está sendo feito, os fundamentos desse pedido, os
argumentos da defesa (se é o caso de haver defesa) e as principais ocorrências havidas durante
a tramitação processual. Deve permitir a compreensão da lide e a forma de desenvolvimento do
processo sem conter, com isso, qualquer juízo de valor. Quem vai decidir deve expor o que, sob
o que e com base em que está decidindo.
b) Fundamentação
É onde são expostas as razões do julgamento sem que se tenha, de forma
peremptória, qualquer conclusão. Nela, se faz o enfrentamento de todas as questões postas
e/ou daquelas que podem ser conhecidas de ofício.
A fundamentação é importante e sua falta gera presunção de nulidade, pois sua
presença tem papel tanto endo quanto extraprocessual. Quando não há, inviabiliza-se que a
parte faça uso dos recursos. Isso implica, inclusive, restrição à ampla defesa. São funções da
fundamentação:
I. Viabilizar a utilização de recurso;
II. Existe uma estrutura hierarquizada no Poder Judiciário; as decisões da primeira
instância estão sujeitas a revisão, mas só pode ocorrer isto se se sabem as razões de
decidir;

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III. Há uma decisão porquanto há um litígio, que será composto para que haja pacificação
social – o ideal é que o vencido seja também convencido, pois isso há de propiciar a
pacificação social de maneira plena.
IV. Para que possa haver controle externo da atividade judiciária. Todo poder emana do
povo, e em nome dele deve ser exercido. Assim, as pessoas têm direito de saber sob
qual fundamento as decisões estão sendo tomadas.
c) Dispositivo
É a conclusão do julgador acerca do pedido.
3.3. Vícios quanto à estrutura
Nem sempre o poder judiciário divide por tópicos, capitulando. Muitas vezes há
impropriedades na estrutura (o sujeito no meio do relatório expõe um fundamento; no meio da
fundamentação já traz locução conclusiva julgando a questão, entre outros). Isto é atécnico, mas
não enseja nulidade, na medida em que esta não há sem prejuízo. Se se extrai o necessário para
a compreensão do litígio, as razões da decisão, etc., não se faz necessário o ensejo de nulidade.
A falta de relatório é vício da sentença, mas, dificilmente a falta deste acarreta
prejuízo, já que este deve ser fundamentado pela parte que alega, e sua ausência quase sempre
não ensejará maiores consequências. Esse raciocínio, contudo, não se aplica a fundamentação,
já que esta é exigência constitucional (art. 93, IX). Faltando fundamentação, a consequência
é nulidade.
Finalmente, se falta dispositivo, falta conclusão, e, assim, sendo, não há decisão,
incorrendo em hipótese de inexistência.
 Regra da proibição do non liquet
Mesmo onde não haja previsões legais expressas, deverá haver uma decisão, afinal,
considera-se o ordenamento jurídico como um todo. Ele não pode, à vista das lacunas, dar uma
solução que pareça mais justa dentro de uma linha de arbitrariedade ou pessoalidade. Ele vai
julgar com base no direito posto. Caso não o haja, vai buscar analogia, costumes, jurisprudência,
enfim, para realizar o seu julgamento.
“Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.
De igual maneira, o juiz não pode se abster se tem dúvidas em decorrência da incipiência
do conteúdo probatório. Ele deve se valer de mecanismos como a inversão do ônus probatório.

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 SISTEMATIZANDO
ATOS DO JUIZ EM PRIMEIRO GRAU
DECISÃO
DESPACHO SENTENÇA
INTERLOCUTÓRIA
É todo pronunciamento do juiz É o pronunciamento por meio do
Não tem conteúdo
de natureza decisória que não qual o juiz põe fim à fase cognitiva
valorativo, existe para
seja uma sentença. Possui carga do procedimento comum, bem
impulsionar o processo
valorativa relevante como extingue a execução

ATOS DO JUIZ EM SEGUNDO GRAU


DESPACHO DECISÃO MONOCRÁTICA ACÓRDÃO
O regimento interno do tribunal e o
Não tem conteúdo Em tribunal, tradicionalmente,
CPC dizem as situações que podem ter
valorativo, existe para as decisões são tomadas por
um julgamento mediante uma decisão
impulsionar o processo órgãos colegiados
monocrática. Possui carga valorativa

REQUISITOS DO ATO JUDICIAL QUANTO À INTELIGÊNCIA


CLAREZA PRECISÃO COMPLETUDE
Clareza diz respeito a A completude está relacionada
inteligibilidade do ato. É preciso O provimento judicial é ao princípio da congruência, o
que não somente o advogado, preciso quando se entende o juiz deve decidir levando em
mas também o serventuário da que está sendo decido, e não consideração àquilo que foi
justiça e as próprias partes há margem para discussão alegado e requerido pelas partes,
entendam as decisões que estão acerca do que foi decido não pode deixar de analisa-los,
sendo tomada mas não pode julgar para além

VÍCIO QUANTO À INTELIGÊNCIA NO QUE TANGE À COMPLETUDE


CITRA PETITA ULTRA PETITA EXTRA PETITA
Ocorre quando a sentença Ocorre quando a sentença Ocorre quando a sentença julga
deixa de examinar ultrapassa os limites do fora, de forma diversa, do que
determinado (s) pedido (s) pedido foi pedido
CITRA CAUSA PETENDI ULTRA CAUSA PETENDI EXTRA CAUSA PETENDI
Ocorre quando a sentença Ocorre quando a sentença julga Ocorre quando a sentença julga
deixa de examinar as para além das partes e da causa de forma diversa às partes ou da
partes ou a causa de pedir de pedir presente no processo causa de pedir

REQUISITOS DO ATO JUDICIAL QUANTO À ESTRUTURA


RELATÓRIO FUNDAMENTAÇÃO DISPOSITIVO
É onde são expostas as razões do
É a síntese do que É a conclusão do julgador
julgamento sem que se tenha de forma
ocorreu no processo. acerca do pedido.
peremptória qualquer conclusão

VÍCIOS QUANTO À ESTRUTURA


RELATÓRIO FUNDAMENTAÇÃO DISPOSITIVO
Se falta o relatório, há um vício A falta da fundamentação é um
A falta do dispositivo enseja a
na decisão, no entanto, não há vício que enseja a nulidade da
inexistência da decisão
grandes consequências decisão

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TEORIGA GERAL DA COISA JULGADA


O processo irá se desenvolver através da prática dos atos processuais, é preciso que esse
procedimento avance, pois se não, ao fim, não se tem a entrega da prestação jurisdicional. No
entanto, somente com a consolidação da decisão que se tem a composição efetiva da lide.

1. SISTEMA DE PRECLUSÃO

É preciso que se tenha um mecanismo que evite o retrocesso dos atos praticados no
processo, dessa forma, tem-se o sistema de preclusões. A preclusão é a impossibilidade de
prática de determinado ato dentro do processo, seja em razão do decurso do tempo, de
incompatibilidade lógica e deste ato ter sido praticado.
O primeiro ato do processo é o exercício da ação, através da petição inicial, a partir desta
o processo de desenvolve até que possa ocorrer a prestação judicial por meio da sentença. É
preciso que esses atos sempre estejam sendo praticados de forma continua. O sistema de
preclusão irá impedir a prática de certo ato processual.
A preclusão é um instituto de direito, dessa forma, opera-se em si mesma.
1.1. Preclusão temporal
A primeira modalidade de preclusão é a preclusão temporal, existem prazos para a
prática dos atos, se este não for praticado dentro desse prazo, não mais poderá sê-lo. Dessa
forma, este prazo existe para que haja a continuidade dos atos processuais.
Por exemplo: Há 15 dias para o autor apresentar a réplica, se passar esse prazo, ele não
pode apresentar mais.
1.2. Preclusão consumativa
A preclusão pode ser consumativa, de igual maneira, haverá a inviabilidade de prática
do ato processual, porque o ato processual já foi praticado.
Por exemplo: Há 15 dias para o autor apresentar a réplica, se ele apresenta no 3° dia, ele
não pode mais editar, aditar ou excluir a réplica.
1.3. Preclusão lógica
Impede-se a prática do ato em razão da parte do processo ter praticado outro que
com ele seja incompatível.
Por exemplo: Tanto o autor quanto a parte ré arrolam João como testemunha. Após isso,
a parte autora alega a suspeição de João por ele ser amigo íntimo da parte ré, ele não pode fazer
isso porque é incompatível com ele ter arrolado João como testemunha também.

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2. COISA JULGADA

A sentença é o ato que põe termo ao processo, ou extingue o processo sem exame do
mérito ou resolve o mérito. Quando a sentença é prolatada se chega ao final do processo, se
ninguém recorre contra a sentença, o processo chega ao final, não podendo mais ser reaberto, o
teor da sentença se torna indiscutível.
2.1. Coisa julgada formal
A coisa julgada formal é o efeito de imutabilidade da decisão judicial. Moacir Amaral
Santos diz que a coisa julgada formal é a preclusão máxima, pois a preclusão vai acontecendo,
ao longo do processo, mas a coisa julgada formal é também uma espécie de preclusão, mas que
vai impedir que no processo se pratique qualquer ato.
A coisa julgada formal é um efeito que recai sobre o provimento judicial,
decorrente de uma preclusão, mas esta vai para além da preclusão, pois há o impedimento
da prática de qualquer ato no processo. É uma estrutura endoprocessual.
Todo processo terá uma coisa julgada formal, independentemente de ter tido seu mérito
julgado, visto que o processo precisa chegar a um fim.
2.2. Coisa julgada material
Com a coisa julgada formal o processo chega ao final. No entanto, a sentença pode ou
não examinar o mérito. A coisa julgada formal gera um efeito endoprocessual, pois impede a
prática de novos atos nesse processo, mas não gera um impedimento do objeto da ação, caso o
mérito não tenha sido julgado.
No entanto, se houver julgamento do mérito, o objeto da ação não poderá mais ser
levado a juízo. Há, nesse caso, a formação da coisa julgada material, que além de ser
imutável, leva a indiscutibilidade do provimento judicial. Sendo este um fenômeno endo e
extraprocessual.
Obs36: A questão da imutabilidade e da indiscutibilidade é relativa no prazo de 2 anos, visto
que há a possibilidade de haver a ação rescisória, superado esse prazo, a coisa julgada formal e
material se tornam absolutas.
Obs37: No julgamento do mérito, a sentença sempre terá cognição exauriente, mas uma decisão
interlocutória pode ter cognição sumária ou exauriente (caso a sentença mantenha o que foi
decidido).

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Obs38: Na cognição exauriente o magistrado possibilita o exame de todos os instrumentos


processuais. Na cognição sumária, o juiz examina o mérito, por meio de uma decisão
interlocutória, mas sem observar todos os mecanismos processuais.
Por exemplo: O juiz observou ao contraditório, a ampla defesa, às provas, e então houve a
decisão (cognição exauriente);
João diz a Sodré que veio fazer a segunda chamada da prova, mas Sodré diz que não recebeu o
requerimento dele e ele mostra o protocolo. Sodré deixa ele fazer a segunda chamada, apesar
de ainda não ter analisado o requerimento dele, mas ele precisa proteger o objeto do pedido de
João (cognição sumária). Dessa forma, após analisar o requerimento, ele poderá deferir e
corrigir a prova, ou indeferir e rasgar a prova.

3. EFEITOS DA COISA JULGADA

A preclusão possui o efeito de impedir a prática de um ato específico, a coisa


julgada formal opera o efeito da imutabilidade do provimento judicial naquele processo.
Até a vigência do CPC/15 não impedia a renovação da ação, mas de acordo com o artigo
486, §1°, do CPC, em determinadas situações, é preciso que haja a correção de
determinado vício para que haja uma nova ação.
Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a
que a parte proponha de novo a ação.
§ 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I,
IV, VI e VII do art. 485, a propositura da nova ação depende da correção do
vício que levou à sentença sem resolução do mérito.
A coisa julgada material impede a repetição da ação. O primeiro efeito negativo da
coisa julgada material é impedir a renovação da ação em torno da qual já se produziu coisa
julgada material. O efeito positivo da coisa julgada material é a vinculação do órgão
jurisdicional a observar a decisão prolatada com coisa julgada material.

4. LIMITES DA COISA JULGADA

É preciso que se traga uma delimitação em relação a coisa julgada.


4.1. Limites objetivos
A regra é que a coisa julgada só torna imutável e indiscutível aquilo que foi objeto do
julgamento. Por expressa opção legal, a coisa julgada não alcança a fundamentação.
Art. 504. Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte
dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.

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Apenas o dispositivo da sentença transita em julgado. Excepcionalmente, é possível


que se tenha a formação de coisa julgada sobre a fundamentação, mas isso só irá ocorrer
em caráter excepcional, nas hipóteses cumulativas do §1° do artigo 503.
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei
nos limites da questão principal expressamente decidida.
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida
expressa e incidentemente no processo, se:
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando
no caso de revelia;
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-
la como questão principal.
O caput do artigo, em outras palavras, traz como regra formação de coisa julgada sobre
o dispositivo. No entanto, o §1° prevê que pode haver a formação de coisa julgada de questão
prejudicial em alguns casos.
Obs39: A prejudicial é a questão da qual depende o exame do mérito, ela há de ser enfrentada
para que o mérito seja resolvido. A prejudicial encontra-se na fundamentação da sentença.
A rigor não há necessidade do inciso I, pois ele basicamente explica o que é prejudicial.
Se tiver havido contraditório prévio, a prejudicial pode ter formação de coisa julgada (inciso
II). A competência será aferida com base na questão principal, somente nos casos em que o
juízo poderia julgar a prejudicial como principal fosse, poderia haver a formação da coisa
julgada (inciso III).
Além das hipóteses do §1°, tem-se o §2° do artigo 503 do CPC.
Art. 503. § 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver restrições
probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da
análise da questão prejudicial.
Em um processo com limitação cognitiva não se forma coisa julgada em derredor da
prejudicial, se essa limitação impedir um aprofundamento do julgamento da questão prejudicial.
4.2. Limites subjetivos
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
prejudicando terceiros
A tutela de direitos pode se dar pela via individual ou coletiva. Na individual, o próprio
titular do direito irá a juízo, enquanto na coletiva, há um rol de legitimados que podem postular
o direito alheio. É da essencial da tutela coletiva que os limites da coisa julgada ultrapassem as
partes do processo.
O artigo 506 só se aplica as hipóteses de legitimação ordinária. Mas se a legitimação é
ordinária, os efeitos da coisa julgada são limitados as partes, pelo menos para gerar ônus
ou prejuízos. Não pode haver efeitos da coisa julgada para terceiros, para prejudica-las,
pois isso configuraria violação ao contraditório e ampla defesa, mas nada impede que os
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efeitos se façam em seu benefício. Mas há situações excepcionais em que a coisa julgada pode
vir a prejudicar terceiros.
 SISTEMATIZANDO
PRECLUSÃO
TEMPORAL CONSUMATIVA LÓGICA
Ultrapassado o prazo Se o ato processual já tiver sido Impede-se a prática do ato em
estabelecido, o ato processual praticado, ele não poderá ser razão de outro já praticado que
não pode mais ser praticado modificado seja incompatível com este

COISA JULGADA
FORMAL MATERIAL
Imutabilidade do provimento judicial Imutabilidade + indiscutibilidade do provimento judicial

EFEITOS DA COISA JULGADA


FORMAL MATERIAL
Negativo – impedir a renovação Positivo – vincular o órgão
Imutabilidade do provimento
da ação em torno da qual já se jurisdicional a observar a
judicial no processo
produziu coisa julgada decisão transitada em julgado

LIMITES DA COISA JULGADA


OBJETIVO SUBJETIVO
Via de regra, a coisa julgada não afeta a De acordo com o artigo 506, em ações de
fundamentação da decisão, somente o legitimação ordinária, via de regra, a coisa
dispositivo. Excepcionalmente, nas hipóteses do julgada não pode produzir efeitos que
artigo 503, §§1° e 2°, esta pode afetar questões prejudiquem terceiros, visto que isso violaria o
prejudiciais contraditório e a ampla defesa

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1. JUSTIFICATIVA PARA O IMPLEMENTO DESTE INSTITUTO

As decisões judiciais são tomadas no âmbito do Poder Judiciário. Poderia,


eventualmente, a ordem jurídica estabelecer a irrecorribilidade das decisões, na arbitragem, por
exemplo, as decisões são irrecorríveis. O ordenamento jurídico traz situações excepcionais em
que as decisões são irrecorríveis.
Como regra geral, o legislador trouxe a previsão da utilização de recursos. Algumas
pessoas afirmam que o duplo grau de jurisdição, a possibilidade de recorrer seria uma previsão
constitucional, mas esse é um entendimento errado, se invoca o artigo 5, LV, da CF/88
constantemente para justificar a possibilidade de haver recursos, visto que este inciso prevê a
ampla defesa. A defesa é um direito fundamental do sujeito, mas esse deve ser feito de forma
inerente aos meios e aos recursos cabíveis a ela.

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Dessa forma, não existe uma garantia constitucional ao duplo grau. O legislador prevê,
na maioria dos casos, a possibilidade de recorrer. Sem dúvida, a duração razoável do processo
será um dos pontos principais para a não possibilidade do recurso, visto que este ao reabrir
discussões contribui para que o processo demore para chegar ao final. Então, ao prever a
existência de recurso, o legislador está instituindo um instituto que faz com que se tenha uma
maior demora na prestação judicial.
O legislador inseriu a previsão dos recursos, porque se reconhece a possibilidade de
erros no julgamento. Além disso, a conveniência do rejulgamento ser feito por pessoas mais
experientes e, em tese, com mais preparo técnico; por causa da necessidade de atendimento da
resignação humana e, consequentemente, na busca de uma pacificação social mais ampla. O
recurso é previsto em nossa ordem jurídica como sendo um meio de aperfeiçoamento da
prestação jurisdicional, como uma forma de obtenção de uma maior qualidade da prestação
jurisdicional.

2. CONCEITO

O recurso é um remédio voluntário, idôneo, a ensejar, no processo, a reforma, a


invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna.

3. CARACTERÍSTICAS

3.1.Voluntariedade
O recurso é o remédio voluntário, quando se fala em voluntariedade se quer deixar claro
que ninguém é obrigado a recorrer, a parte recorre se quiser, e assim optando, cabe a ela
delimitar o objeto do recurso. Se ela não recorrer, haverá a consolidação do provimento judicial.
Por isso, se diz que o recurso é ônus das partes e não obrigação.
3.2. Endoprocessual
O recurso é sempre um remédio endoprocessual. Existem meios de impugnação
processual extraprossuais, como habeas corpus, mandado de segurança. O recurso será
processado e julgado na mesma relação jurídica em que foi proferida a decisão.
3.3. Finalidade
Quem recorre, a depender do vício que esteja apontando, vai pedir a anulação do
provimento judicial ou a reforma da sentença.

4. CLASSIFICAÇÕES

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4.1. Quanto à extensão da matéria impugnada


a) Total
O recurso é um remédio voluntário, se a parte recorre de tudo aquilo que lhe foi
desfavorável, se diz que o recurso foi total.
b) Parcial
Será parcial, quando podendo recorrer de mais pontos, o recorrente limita o objeto.
4.2. Quanto à devolutividade
O recurso tem efeito devolutivo, propicia o reexame da matéria, objeto da impugnação.
a) Próprio
O recurso pode ser próprio, quando o reexame vai ser feito por órgão distinto daquele
que deu provimento a decisão recorrida. É o tipo de devolutividade mais comum.
b) Impróprio
O recurso improprio é aquele o qual o reexame da matéria é feito pelo mesmo órgão que
proferiu a decisão, como nos embargos de devolução.
c) Misto
Por fim, existem recursos que vão propiciar um duplo reexame, tanto pelo órgão que
proferiu a decisão quanto por um órgão distinto, dessa forma, tem-se o recurso misto.
4.3. Quanto à fundamentação
a) Vinculada
O recurso de fundamentação vinculada é aquele no qual somente se pode alegar matérias
ou questões previstas em lei, como o recurso extraordinário ou especial.
b) Livre
Os recursos que não tem delimitação quanto ao objeto são os recursos livres.
4.4. Quanto ao objeto
a) Ordinário
O recurso ordinário é aquele que visa atender a irresignação da parte de forma direta.
Quem recorre, em linha de princípio, o faz porque deseja o bem da vida a seu favor.
b) Extraordinário
Existem recursos cujo objetivo direito é a uniformização acerca do entendimento de lei,
atendendo a irresignação da parte indiretamente, como consequência da alteração da aplicação
da lei, como nos casos do recurso extraordinário, especial e nos embargos de divergência.

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 SISTEMATIZANDO
CARACTERÍSTICAS DO RECURSO
VOLUNTARIEDADE ENDOPROCESSUAL FINALIDADE
Recorrer é uma faculdade das O recurso será processado e A depender do vício apontado, o
partes, se estas optarem por julgado na mesma relação recurso pode ensejar a anulação
recorrer, devem delimitar o jurídica em que foi proferida a do provimento judicial ou a
objeto do recurso decisão reforma da sentença

CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS QUANTO À EXTENSÃO DA MATÉRIA


IMPUGNADA
TOTAL PARCIAL
Se a parte recorre de tudo aquilo que lhe foi Se a parte, podendo recorrer de vários aspectos
desfavorável desfavoráveis, delimita o objeto

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DEVOLUTIVIDADE


PRÓPRIO IMPRÓPRIO MISTO
Quando o reexame vai ser feito Aquele que propicia um duplo
Aquele o qual o reexame da
por órgão distinto daquele que reexame, tanto pelo órgão que
matéria é feito pelo mesmo
deu provimento a decisão proferiu a decisão quanto por
órgão que proferiu a decisão
recorrida um órgão distinto

CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO


VINCULADA LIVRE
Aquele no qual somente se pode alegar Aqueles que não tem delimitação quanto ao
matérias ou questões previstas em lei objeto

CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS QUANTO AO OBJETO


ORDINÁRIO EXTRAORDINÁRIO
Aquele cujo objetivo direito é a uniformização
Aquele que visa atender a irresignação da parte
acerca do entendimento de lei, atendendo a
de forma direta
irresignação da parte indiretamente

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