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Sobre os chamados “intersexuais”

Conforme o espírito e a tradição de Santo Tomás de Aquino, é


necessário fazer uma contextualização, e não um debate, sobre a
condição conhecida como “intersexualidade”, antigamente chamada,
de forma redutiva e às vezes pejorativa, de hermafroditismo. Santo
Tomás começava as suas pesquisas estudando tema por tema e
considerando todos os lados de cada questão antes de chegar a uma
conclusão. Esta forma dialética de pensar, em que cada lado da questão
era explorado exaustivamente, contrasta com as formas modernas de
pensamento, que, muitas vezes, enfatizam a defesa de uma
determinada posição ou tentam fazer com que os fatos se adaptem a
alguma ideologia.

A condição médica da intersexualidade tem recebido pouca atenção da


Igreja. Ela não é mencionada no catecismo. Eu não consegui encontrá-
la em declarações papais. Não encontrei nada no Direito Canônico que
aborde esta anomalia médica. No entanto, um número significativo de
pessoas, em todo o mundo, experimenta esta condição, que é médica,
não psicológica. E a ignorância a respeito desta condição torna difícil
que as pessoas intersexuais recebam a devida empatia e aceitação.

A Bíblia poderia ser usada para oferecer uma resposta? O Gênesis diz,
claramente, que Deus criou dois sexos separados, masculino e
feminino. Isso foi antes da queda de Adão e Eva, de modo que alguns
poderiam supor que a condição sexual ambígua seria resultado do
pecado original. Há quem ache que existe na Bíblia, sim, uma menção à
intersexualidade: em Isaías 56,3, fala-se da pessoa que é “uma árvore
seca”. No entanto, pode muito bem tratar-se de uma referência a outras
realidades. Os eunucos, por sua vez, têm uma definição mais clara: são
homens que foram castrados, muitas vezes para servirem na corte do
rei ao lado das mulheres sem risco de manterem contato sexual com
elas e, portanto, de as engravidarem. Outro versículo da Bíblia, porém,
sugere que eles nasceram assim.

A história e a tradição da própria Igreja define o ser humano como ou


do sexo masculino ou do sexo feminino. Pode-se assim, reflexivamente,
adotar o ponto de vista de que não há nenhuma condição sexual
verdadeiramente ambígua e que o masculino ou o feminino
predominam em todos os casos. Nesta perspectiva, não haveria
nenhum problema teológico.
Mas à medida que a ciência moderna descobre mais e mais aspectos
biológicos importantes sobre os gêneros, uma pessoa razoável poderia
se perguntar se essas novas informações têm relevância para a doutrina
da Igreja. Assim como Santo Tomás trouxe contribuições da filosofia
"pagã" para o tesouro da Igreja, talvez algum Santo Tomás
contemporâneo possa resolver esta área intimidante da sexualidade.

O caso é que uma pessoa intersexual não é uma pessoa transexual. A


definição mais aceita de pessoa transexual é a de alguém cuja
"identidade psicológica" está em desacordo com a sua condição
biológica de nascença. Isto significa, por exemplo, que um homem
biologicamente normal poderia ver a si mesmo com identidade
feminina. Para obviar a esta situação, muitos transexuais procuram a
cirurgia de mudança de sexo. Um aspecto extremamente controverso
da chamada cirurgia de “reconfiguração de gênero” diz respeito à sua
aplicabilidade a crianças. Há legislações que hoje aceitam esta
definição de transexualidade e já foi registrado pelo menos um caso em
que um juiz determinou que o Estado era responsável por bancar a
cirurgia de reconfiguração sexual de um cidadão presidiário.

Os últimos 150 anos de história dos chamados "transtornos de


identidade de gênero", como opostos ao conceito de intersexualidade,
podem trazer mais confusão do que clareza. No final do século XIX,
médicos militares começaram a identificar condições sexuais que
pareciam ir além das categorias de masculino e feminino. Eles as
chamaram de “pseudo-hermafroditismo” e “hermafroditismo”. Os
pseudo-hermafroditas estão, provavelmente, mais próximos da atual
definição de transexual. Um século atrás, os hermafroditas eram
definidos como pessoas que tinham verdadeiros ovários e, ao mesmo
tempo, pênis e testículos funcionais, condição vista como uma
impossibilidade médica.

Na década de 1920, uma visão filosófica, e não uma descoberta médica,


traçou uma distinção arbitrária entre "identidade sexual de gênero" e
"identidade sexual biológica". Alegou-se que uma pessoa pode
desenvolver uma identificação sexual diferente da própria condição
biológica, devido a fatores ambientais ou culturais. O polêmico
trabalho de John Money, da Universidade Johns Hopkins, hoje
bastante desacreditado, seguiu essa linha filosófica e sociológica.
A pessoa intersexual é definida de forma diferente. Graças a muitos
avanços médicos nos últimos 20 anos, tem havido muitas descobertas
sobre diferenças biológicas em homens e mulheres que vão além da
presença ou ausência do pênis ou da vagina. Devido a isso, é difícil,
para os médicos ou para qualquer pessoa, afirmar com certeza
definitiva se a pessoa é homem ou mulher.

As seguintes condições médicas, em diferentes combinações, podem


estar presentes no que é designado como uma pessoa intersexual:
deficiência de 5-alfa redutase; síndrome de insensibilidade aos
andrógenos, afalia, clitoromegalia; hiperplasia adrenal congênita;
disgenesia gonadal; mosaicismo relativo aos cromossomos sexuais;
ovotestículos; virilização induzida pela progesterona; síndrome de
Swyer; síndrome de Turner; e síndrome de Klinefelter.

Encontrei uma discussão interessante sobre a compreensão da


condição intersexual dentro da teologia católica e do direito canônico
no site "Respostas Católicas", provavelmente o maior apostolado de
apologética e de evangelização dos Estados Unidos. Um leitor
intersexual abriu a discussão em um dos fóruns: "Qual é a posição da
Igreja sobre a intersexualidade e a transexualidade?".

Outro leitor afirmou: “Eu tentei durante mais de 3 anos obter uma
resposta direta da Igreja sobre o sexo que eu tenho hoje. Medicamente,
fui diagnosticado com ‘grave androgenização de mulher não-grávida’,
mas a visão da Igreja pode ser completamente diferente. Minhas cartas
e e-mails não foram respondidos e a minha pergunta não foi abordada
na seção ‘Pergunte a um apologista’, aqui no fórum”.

Um terceiro leitor comentou: "Um texto do Vaticano define a


transexualidade como um transtorno psíquico de pessoas cuja
constituição genética e características físicas são, sem ambiguidade, de
um sexo, mas elas se sentem pertencentes ao sexo oposto". Note-se que
isto não define a intersexualidade.
Eis o que escreveu, por sua vez, um quarto leitor, que se identificou
como canonista:

“As regras são:


1. A Igreja define os termos que emprega para representar o que ela
quer dizer em sentido muito técnico. Assim, não podemos assumir que
ela esteja usando os termos da mesma forma que nós usaríamos:
muitas vezes, interpretamos mal o que a Igreja quer dizer quando
aplicamos os nossos entendimentos à sua linguagem técnica.

2. A Igreja só legisla em matérias das quais tem certeza, porque se


dirige a uma audiência mundial.

3. Há muitas questões sobre as quais a Igreja permanece em silêncio.


Silêncio na legislação da Igreja significa que não há uma certeza que
possa ser transformada em regra geral. Não se legisla até se ter certeza
moral sobre uma questão. Nos assuntos sobre os quais a Igreja
permanece oficialmente em silêncio, deve-se recorrer à própria
consciência, às leis que regem situações semelhantes e aos conselhos
de um diretor espiritual ou confessor, para determinar a moralidade do
tema em questão.

4. Todas as leis devem refletir a finalidade da Igreja, que é a salvação


das almas.

Vamos então voltar àquela definição de transexualidade: “um


transtorno psíquico de pessoas cuja constituição genética e
características físicas são, sem ambiguidade, de um sexo, mas elas se
sentem pertencentes ao sexo oposto”. Se esta tradução está correta, não
é uma definição acidental. Eu acredito que ela foi cuidadosamente
elaborada para excluir aqueles cujo gênero é medicamente ambíguo.
Esta definição específica de transexualidade se refere apenas àqueles
que não têm nenhuma questão pendente, em termos biológicos e
médicos, quanto à determinação do seu gênero. Assim, se você se
encaixa nesta definição, de pessoa que é clinicamente de um gênero,
mas, por alguma razão "psíquica", deseja mudar (por exemplo, você é
mulher, mas quer ser do sexo masculino porque acha que os homens
têm mais oportunidades), a Igreja considera esta situação como um
transtorno mental que pode ser abordado de outras formas.

Agora pense nisto usando as regras acima. O "transexual" foi definido


de forma bastante clara, considerando-se que a sua "determinação
sexual não é ambígua". Eu acredito que é intencional o fato de esta
definição não incluir as pessoas em torno de cuja identidade de gênero
há elementos de ambiguidade biológica. Por quê? Porque esta questão
é tão complexa e tem tantas variações que é impossível, legal e
pastoralmente, fazer uma declaração que englobe todas estas
permutações. Assim, em vez de tentar fazê-lo, a Igreja permanece
intencionalmente em silêncio. Ainda mais animador: este silêncio vem
depois de concluído o seu estudo sobre o assunto, o que parece indicar
que a Igreja rejeitou o argumento do Dr. McHugh de que todas as
questões de transexualidade têm origem mental. Os teólogos decidiram
que a melhor e mais pastoral maneira de proceder é não encarar a
questão de modo amplo, mas lidar de forma bem delimitada com este
aspecto da transexualidade.

Se a Igreja não está abordando a questão da intersexualidade agora,


não é por ter decidido evitá-la, mas por prudência e porque está
esperando a descoberta de mais detalhes científicos. O que parece
totalmente coerente com a fé, para mim: aprender sobre a condição
intersexual é importante e promove a empatia tanto intelectual quanto
emocional. A resposta mais cristã de todas, afinal, é entender e aceitar
quem carrega esta enigmática e pesada cruz.

O Dr. William Van Ornum é psicólogo clínico formado pela Loyola University de Chicago.
Ele é professor de psicologia na Faculdade Marista e diretor de pesquisa da Fundação
Americana de Saúde Mental.

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