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Luciano Moratório
Petrópolis
2011
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
Luciano Moratório
Professor Orientador:
Petrópolis
2011
Ficha Catalográfica
M831d
Moratorio, Luciano.
O desempenho dos mecanismos de transmissão da política
monetária brasileira durante a crise financeira internacional do
Subprime. / Luciano Moratorio.
Petrópolis : Universidade Católica de Petrópolis, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas, 2011.
57p.
Orientador : Ralph Camargo Santiago.
Monografia de Conclusão de Curso - Universidade Católica de
Petrópolis. Faculdade de Ciências Econômicas, 2010.
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
monografia.
_____________________________________ _______________________________
Assinatura Data
FOLHA DE APROVAÇÃO
AVALIAÇÃO
AVALIADO POR
Este trabalho analisa os canais pelo qual se operou a política monetária adotada pelo
Banco Central do Brasil durante a crise financeira internacional. Buscou-se julgar a situção
por meio da ótica dos mecanismos de transmissão da política monetária e tembém por meio
destes, se discute algumas das principais teorias de economia monetária e finaceira, buscando
compreender quais foram as medidas adotadas pelas autoridades monetárias e governamentais
e como essas foram importantes para que a economia brasileira não absorvesse os impactos da
crise finaceira internacional que se alastrava ao redor do mundo. Com a eclosão da crise
financeira internacional originada no sistema financeiro americano a partir da impossibilidade
de pagamento dos emprétimos que haviam sido concedidos a uma classe de clientes bancários
de alto risco denominados subprime, a economia brasileira apresentou uma forte retração no
seu crescimento a partir do último trimestre de 2008 e com isso se fez necessário a atuação do
Banco Central brasileiro a fim de reverter essa situção. Sendo desta forma, o Banco Central
do Brasil passou a fazer uma política monetária expansionista a partir da flexibilização dos
seus instrumentos de controle a fim de reverter o quadro que estava se desdobrando. A partir
da explanação dos desdobramentos da crise no Brasil expõe-se a forma pela qual cada medida
de política econômica se reletiu nas variáveis reais, fazendo com que a economia brasileira
retomasse o ritmo de crescimento que era observado antes da crise.
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8
1.1. APRESENTAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO TEMA ................................... 8
1.2. OBJETIVOS .................................................................................................. 8
1.3. JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 9
1.4. METODOLOGIA ......................................................................................... 9
2. A CISE FINANCEIRA INTERNACIONAL DO SUBPRIME................................. 11
2.1. OS ESTADOS UNIDOS E O SUBPRIME.................................................... 11
2.2. O COLAPSO FINANCEIRO INTERNACIONAL....................................... 16
2.3. A CRISE NO BRASIL................................................................................... 18
3. A ECONOMIA MONETÁRIA.................................................................................... 25
3.1. A MOEDA E A TEORIA MONETÁRIA..................................................... 25
3.1.1. A Moeda e suas Funções............................................................. 25
3.1.2. O Sistema Monetário................................................................... 26
3.1.3. A Política Monetária.................................................................... 27
3.2. A POLITICA MONETÁRIA NO BRASIL................................................. 34
3.2.1. O Banco Central do Brasil e o Regime de Metas de Inflação.. 34
3.2.2. A Operacionalidade, Objetivos e Instrumentos........................ 35
3.3. OS CANAIS DE TRANSMISSÃO DA POLITICA MONETÁRIA.......... 37
3.3.1. Através do Valor dos Ativos........................................................37
3.3.2. O Canal do Crédito...................................................................... 39
3.3.3. O Canal da Taxa de Câmbio....................................................... 40
4. A POLÍTICA MONETÁRIA BRASILEIRA E A CRISE FINANCEIRA............. 42
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 54
6. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... 56
8
1. INTRODUÇÃO
1.2. OBJETIVOS
1.3. JUSTIFICATIVA
1.4. METODOLOGIA
conjuntura econômica em questão para a partir daí então analisar quais foram as suas
consequências para a economia brasileira e como a autoridade monetária atuou a fim de
atenuar os efeitos da crise financeira no mercado doméstico evitando assim maiores
desdobramentos. Neste trabalho será feita uma revisão bibliográfica dos temas aqui tratados,
como as condições que consolidaram a crise financeira internacional do subprime, a
exposição das principais teorias monetárias correlatas ao tema, a operacionalidade da política
monetária e os canais pelo qual esta opera. Também serão analisados dados oficiais
publicados pela autoridade monetária e por institutos de pesquisa oficiais.
11
1
É o termo utilizado para categorizar a classe de tomadores de empréstimos que não possuem garantias
suficientes e consequentemente podem apresentar um maior risco de default para o banco que concedeu o
crédito.
2
Pela junção das iniciais da expressão em inglês, “no income, no job or asset”.
3
São contratos lastreados em outros ativos. Por isso do nome derivativo, ou seja, é um contrato financeiro no
qual o seu preço é derivado de um outro ativo.
12
Tanto o devedor quanto o credor adotam uma postura especulativa, uma vez que o
devedor especula que terá capacidade de saldar a dívida com a receita futura que será gerada e
o credor especula que o devedor terá capacidade que saldar o compromisso assumido. A
fragilidade do sistema se revela como inerente da atividade econômica, uma vez que os
13
Assim, como medida para conter uma possível recessão após o atentado de 11 de
setembro, o governo americano optou por adotar uma política monetária mais flexível,
estimulando uma expanssão do crédito e consequentemente do consumo. Com isso os
mecanismos de concessão e securitização de crédito se desenvolveram a fim de oferecer
empréstimos a uma classe de mutuários que não possuíam garantias reais, os chamados
subprime. “As instituições bancárias e não bancárias concederam empréstimos para compra
de imóveis por meio de diferentes tipos de hipotecas, atraindo tomadores de maiores riscos”
(CINTRA, 2011, p16). Estas dívidas eram negociadas a taxas flutuantes, ou seja, que se
reajustavam conforme as condições do mercado. Neste período, o mercado imobiliário
americano estava aquecido e os imóveis sobrevalorizados devido às características da
demanda do setor, que estava sendo sustentada pela abundância de crédito. Quando houve
mudanças no cenário macroeconômico americano, aliado a uma desaceleração na demanda
por imóveis residenciais, os subprimes passaram a ter dificuldades para a renegociação dos
empréstimos e com isso observou-se uma rápida elevação nos índices de inadimplência.
É importante destacar que a política monetária, apesar de ter sido um elemento
propagador, não foi este propriamente o fator causador da crise, uma vez que os contratos
firmados com os mutuários do tipo subprime já previam aumentos dos juros ao longo do
tempo. Como os títulos originados com base nos empréstimos deste segmento encontravam-se
securitizados, uma vez que esses mutuários não tinham mais capacidade de honrrar com suas
dívidas, a contaminação para os demais setores financeiros foi iminente. Vários agentes
passaram a desfazer-se de suas posições hipotecárias agravando mais ainda os efeitos da crise
e consolidando um cenário de expectativas desfavoráveis.
Esse episódio, [...] sucedeu-se a um momento marcado por alguns anos de
relativa euforia disseminada em todo o mercado americano e atrelada,
principalmente, aos efeitos indiretos da especulação no mercado de ativos
imobiliários. Os efeitos dessa euforia podem ser ilustrados por meio do
movimento dos preços dos imóveis residenciais dos Estados Unidos durante
o período. Alvo principal das práticas especulativas que resultaram no
colapso financeiro em setembro de 2008 (GOMES, 2011, p.53).
A visão inicial quanto aos impactos da crise nos mercados financeiros e na economia
norte-americana foram bastante limitadas, entretanto os desdobramentos evidenciados foram
decisivos para que os agentes se desfizessem de suas posições em créditos hipotecários. O
agravamento dos efeitos da crise está relacionado às dificuldades resultantes da falta de
15
liquidez bancária decorrente das execuções dos imóveis como forma de liquidação das
hipotecas. Foi neste momento que a crise financeira tomou proporções na qual a falta de
liquidez levou a uma crise de solvência no sistema financeiro americano. As instabilidades
sistêmicas evidênciadas no transcorrer desta situação provocaram falências de bancos e de
outros coadjuvantes do sistema financeiro americano.
A falta de crédito impede as firmas de investirem e mesmo de obterem o
capital de giro necessário aos negócios cotidianos. As encomendas de
insumos são suspensas e os trabalhadores demitidos. As dificuldades de
pagamento das dívidas já assumidas levam às vendas de ativos que
alimentam a deflação de preços (MOLLO, 2008, p.10).
Hermann (2008, p.29) diz que neste período se instaura um quadro de uma crise
financeira sistêmica, uma vez que uma crise de crédito dá origem a uma crise de confiança.
Quando isso acontece, dissemina-se um rápido aumento da preferência por liquidez em
detrimento dos demais ativos financeiros. Quando essa tendência não é rapidamente contida
por uma política macroeconômica que tenha por objetivo a restauração da confiança,
desencadeia-se um comportamento do tipo “manada”, no qual, mesmo aqueles que ainda não
têm razões para desfazer-se de ativos, acabam tornando-se também vendedores, a fim de
evitar perdas maiores. Esta prevenção individual, em vez de proteger os portfólios, acaba por
levar à deflação de ativos e consolidando um cenário de crise econômica. Neste cenário, fez-
se necessário a intervenção governamental a fim de prover o mercado de liquidez e na
tentativa de evitar a disseminação de um potencial colapso financeiro. “Na esteira da piora da
crise financeira, cresceram as preocupações e desconfianças com relação à solvência do
sistema bancário norte-americano e seus impactos recessivos sobre o lado real da economia”
(BORÇA JR, 2009, p.291). No final de 2008, Ben Bernanke4, em um pronunciamento,
reconheceu a deterioração dos indicadores econômicos americanos afirmando que as
condições seriam pouco favoráveis no curto prazo, considerando que a diminuição da renda, a
perda acumulada de empregos, a falta de confiança do consumidor e a falta de disponibilidade
de crédito afetariam negativamente o consumo das famílias.
Com o agravamento dos efeitos decorrentes da crise financeira, marcado pela
falência de diversas instituições garantidoras de crédito e de bancos de investimento, o
governo americano decidiu intervir nos mercados por meio de assistência de liquidez imediata
4
É desde de fevereiro de 2006 o presidente da Reserva Federal (FED), o principal Banco Central dos Estados
Unidos, e foi um dos principais atores no cenário global da crise financeira com a responsabilidade de gerir os
resursos monetários durante a crise finaceira internacional.
16
a fim de evitar um colapso ainda maior. Estas intervenções representaram em vários casos a
efetiva estatização de bancos e instituições financeiras em dificuldades.
No início de setembro [de 2008], o Tesouro norte-americano realizou uma
das maiores operações de salvamento de instituições financeiras ao proceder,
de facto, a uma estatização das duas maiores agências garantidoras de
operações hipotecárias dos Estados Unidos, a Fannie Mae e a Freddie Mac.
Outras instituições financeiras passaram por graves problemas, destacando-
se a quebra do Lehmann Bros., a venda do Merrill Lynch ao Bank of
America e a operação de socorro à seguradora AIG (IPEA, 2008, p.23).
Embora tenha havido um esforço significativo destes países para evitar uma
recessão, não foi possível conte-la, e principalmente os países com um grau de
desenvolvimento maior foram os mais afetados. O PIB destes países passou a apresentar uma
contração e com isso se sucedeu um aumento da taxa de desemprego. Houve uma redução
abrupta no comércio internacional decorrente da redução da demanda internacional e do
crédito ao comércio exterior e os governos de diversos países passaram a adotar medidas de
apoio aos bancos em dificuldades. Este período foi marcado pelo “contexto de aversão ao
risco e preferência pela liquidez em âmbito global” (IPEA, 2008, p.93), o que fez com que se
reduzisse a liquidez do sistema financeiro, de modo que “o prêmio de liquidez implícito na
posse da moeda de reserva internacional (o dólar) é, nos momentos de desconfiança e pânico,
o objeto mais cobiçado nos mercados globais” (CINTRA, 2011, p.32).
18
O que pode se destacar deste contexto, é que diante do agravamento das condições
econômicas desfavoráveis, diversos países passaram a adotar medidas fundamentadas em
políticas anti-cíclicas sustentadas por uma maior participação do estado a fim de evitar um
colapso financeiro mais profundo, o que representou um ruptura com a postura liberal
pregressa desses governos. Neste período, os países que tiveram o melhor desempenho, foram
aqueles enquadrados no grupo dos BRIC’s em contraste com os países que compõem o grupo
dos chamados desenvolvidos. Pode-se destacar que a China manteve o seu ritmo de
crescimento e após um pequeno declínio do seu produto, recuperou-se rapidamente e retomou
o nível de atividade observado antes da crise. No cenário de crise, as empresas transnacionais
foram um mecanismo significativo de propagação da crise a nível global, uma vez que
fazendo do mundo o seu parque produtivo, quando perceberam-se em uma situação de falta de
liquidez e sofreram uma forte contração da demanda pelos seus produtos, passaram a remeter
recursos dos países em que operam para suas filiais sediadas nos países centrais, provocando
uma forte valorização do dólar em relação às moedas domésticas e desestabilizando as contas
externas de diversos países. Com a queda na demanda por bens e serviços destas empresas,
algumas passaram a demitir funcionários e anunciar volumosos prejuízos (IPEA, 2009, p.90).
O que se percebe é que a crise se propagou mais intensamente nos países
desenvolvidos, o que exigiu um esforço significativos dos seus governos a fim de conter os
efeitos negativos proveniêntes desta situação. O aperto fiscal e a expanssão monetária
caracterizaram as políticas econômicas neste período.
A crise teria sido, então, detonada por um surto de sabedoria dos
investidores estrangeiros que, percebendo o perigo, desencadearam um
“corretivo” movimento de fuga de capital, forçando os emergentes a
ajustarem suas políticas macroeconômicas, de modo a reduzir o crescimento,
acumular reservas internacionais e manter equilíbrio fiscal e baixa inflação
(HERMANN, 2008, p.33).
Assim, o principal canal de propagação dos efeitos da crise nos países considerados
como em desenvolvimento, foi pela retração do comércio internacional e a iliquidez do
sistema financeiro, que fazia com que a saída de recursos em direção ao centro da crise,
condicionasse esses países a uma pressão pela desvalorização das suas moedas em relação ao
dólar americano e pela contração do crédito (IPEA, 2009, p.89).
valorização do dólar frente ao real como pode ser visto no gráfico logo abaixo. A taxa de
câmbio passou da cotação de R$ 1,56 em 30 de julho de 2008 para R$ 2,50 em outubro deste
mesmo ano. Foi a partir deste momento que a economia brasileira passou sentir os efeitos da
crise.
Para Nakano (2009) apud IPEA (2009, p.91), “a política monetária não reagiu a
tempo para compensar a parada no fluxo de capitais e a restrição de crédito do exterior.” A
política monetária que vinha sendo praticada, estava orientada a partir de um estrutura na qual
os altos juros pagos aos títulos públicos e que atraiam o capital internacional, uma vez que
havia muita liquidez no mercado financeiro global.
Apesar dos efeitos da crise financeira não terem atingido o mercado bancário
doméstico, a crise propagou-se na economia brasileira pela desvalorização dos ativos e pela
consequente repercussão no campo das expectativas. “Quando os ativos sofreram elevada
perda de valor, houve deterioração de expectativas e redução da capacidade de investir, o que
afetou a demanda agregada” (IPEA, 2009, p.90). Cabe ressaltar que os efeitos da crise não
foram mais significativos no Brasil, pois o sistema financeiro do país dispunha de títulos de
renda fixa da dívida pública doméstica que garantiam retornos expressivos e com baixo risco.
A elevada rentabilidade garantida, fez com que os agentes preferissem estes títulos em
detrimento de outras possibilidades de investimento, evitando demandar outros tipos de ativos
com maior risco, dentre eles, os esquemas de securitização dos financiamentos hipotecários
americanos. O impacto da crise internacional sobre o Brasil foi ampliado devido a exposição
de empresas do setor não-financeiro aos contratos de derivativos cambiais.
Após a falência do Lehman Brothers, apesar de os bancos brasileiros
deterem pequena participação no mercado de securitização americano,
aumentou, em muito, a desconfiança sobre a higidez do sistema financeiro
doméstico. Essa desconfiança decorreu, além dos mecanismos psicológicos
de contágio da crise internacional, da deterioração patrimonial de empresas
exportadoras que haviam vendido derivativos de câmbio para apostar na
valorização do real (CINTRA, 2011, p.30).
Esta exposição pode ser observada tanto em empresas de capital aberto quanto em
empresas sem ações em Bolsa. Essa estrutura mostra que
o mercado de capitais no Brasil também apresentou um movimento
endógeno de deslocamento de uma situação de relativa tranquilidade −
substancialmente apoiada em expectativas otimistas − para uma situação de
potencial fragilidade, marcada por formas de financiamentos tipo Ponzi
seguida pela disseminação do pessimismo e por instantes de plena incerteza
no sentido keynesiano (GOMES, 2011, p.48).
Outro fator contundente para interromper o ciclo de expansão vivida pela economia
brasileira que era claramente observada durante o período que antecede a crise foi a abrupta
contração global do crédito. Com isso, as aquisições de bens duráveis cessaram e isso fez com
que houvesse uma redução significativa na demanda, que aliado com a escassez de capital
para as empresas produzirem, impactou diretamente na atividade produtiva e logo a economia
real, que começou a se desacelerar, interrompendo o ciclo de crescimento e elevando a taxa de
desemprego. Assim, pôde-se notar a propagação desta no setor produtivo, exigindo uma ação
efetiva das autoridades políticas e econômicas. Um conjunto de políticas de cunho monetário
e fiscal foram utilizadas para a contenção dos impactos provocados pela deterioração das
expectativas em função das elevadas perdas com ativos, o que havia reduzido a capacidade de
investir e que afetou a demanda agregada.
23
Com relação à taxa de juros, após sucessivas altas iniciadas a partir de abril de 2008,
permanecendo estável de setembro a dezembro deste mesmo ano, em janeiro de 2009 o
24
Copom decidiu reduzir em um ponto percentual a meta para a taxa básica de juros e fixou-a
de 13,75% ao patamar de 12,75% dando início a uma sucessão de reduções e definindo uma
tendência de baixa a qual se estabilizou em julho de 2009 ao nível de 8,75% como se pode ser
visto no gráfico anterior.
O Banco Central do Brasil passou a adotar medidas para a redução da taxa básica de
juros quase três meses após a tendência mundial. Após essa medida, que aliada a uma política
fiscal expansionista sustentada pela redução do IPI e da ação dos bancos públicos na
concessão de créditos, a economia brasileira evitou assim abarcar-se em um quadro recessivo
como os demais países. Este conjunto de ações revelou-se fundamental no contexto que
estava inserida a economia brasileira, pois assim sustentou-se o ritmo da atividade econômica
evitando maiores repercussões, tanto na economia real, quanto na economia financeira. Deste
modo as expectativas desfavoráveis foram superadas e a economia brasileira voltaria a
dinâmica observada no período que antecede a crise.
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3. A ECONOMIA MONETÁRIA
5
Para que a moeda exerça a sua função de reserva de valor, deve-se considerar um cenário de certa estabilidade
de preços. Logo, em uma economia que sofre de hiperinflação, a moeda perde a sua função de reserva de valor.
26
ser expressa pela posse de outros ativos financeiros que possuem alguma forma de
rentabilidade, por que os agentes retém moeda? Os agentes retém moeda por quatro razões:
pelos motivos transação, precaução, especulação e financeiro. O motivo transação está
relacionado à necessidade de liquidação dos débitos mediante ao pagamento em um
determinado intervalo de tempo. O motivo precaução refere-se à incerteza quanto aos
possíveis gastos futuros em um período de tempo, de modo que pode estar associado a dispor
de moeda para aproveitar uma oportunidade ou para liquidar uma despesa imprevista. O
motivo especulação é definido pela relação ao qual a demanda por moeda é uma função direta
da taxa de juros, logo, os agentes demandarão moeda conforme o comportamento das
expectativas quanto às taxas de juros futuras. O motivo financeiro está relacionado às
perspectivas de investimento e a disponibilidade de moeda para tal.
A moeda como ativo que tem a propriedade de possuir o mais alto grau de liquidez
acaba por vir a ser o preferido em circunstâncias de incerteza, o que Keynes cunhou de
preferência pela liquidez. No capítulo 15 da Teoria Geral, Keynes (1936, p.202) determinou
que “a incerteza das futuras variações na taxa de juros é a única explicação inteligível da
preferência pela liquidez” e que a relação entre a proporção do que os agentes irão manter em
recursos líquidos e ilíquidos depende do nível de renda e das expectativas para o futuro.
Considerando a hipótese da não neutralidade da moeda de Keynes e seus efeitos duradouros
sobre a economia real é conveniente notar que a moeda exerce um papel fundamental nas
relações econômicas e nas transformações sociais experimentadas pelo capitalismo.
meio da oferta de crédito. Ou seja, os bancos comerciais são intermediários de recursos entre
agentes superavitários a agentes deficitários. Em uma economia monetária é o Banco Central
que determina a quantidade ideal de moeda em circulação controlando a liquidez do sistema
financeiro mediante a colocação de moeda manual e ajustando as disponibilidades de resursos
emprestáveis dos bancos comerciais controlando assim as reservas bancárias. Desta forma,
esses dois agentes são os responsáveis pela liquidez da economia. Ambos exercem sua
importância a fim de determinar a quantidade ideal dos meios de pagamento em circulação na
economia, garantindo a liquidez e a estabilidade de preços.
O Banco Central determina a quantidade de moeda ofertada que irá compor a base
monetária. Os bancos comerciais demandam moeda a fim de atender as suas necessidades de
encaixes enquanto o público em geral demanda moeda como meio de pagamento. Assim, a
base monetária é definida pela seguinte equação: , onde é a base
monetária, é o papel moeda em poder do público e são os encaixes técnicos. O total
da oferta monetária não é composto somente pela quantidade de moeda manual ofertada pelo
Banco Central, mas também por moeda escritural decorrente da oferta de crédito por parte dos
bancos comerciais. Como a quantidade de moeda depositada nos bancos pelo público não é
necessáriamente igual aos saques feitos, os bancos tem a capacidade de “criar” moeda
escritural concedendo crédito em um montante superior ao que possui de reservas. Logo, a
quantidade de moeda que compõe o total dos meios de pagamento de uma economia é
determinada pela multiplicação da base monetária pelo multiplicador monetário, definido pela
seguinte relação: (
, onde
)
é a quantidade de depósitos à vista em relação ao total
formulação de uma estrutura que fornecesse a melhor relação entre moeda em circulação e a
sua interação com a economia real. A TQM ganhou forma a partir das idéias de Irving Fisher,
e foi elaborada com base na equação de troca. Assim, “a TQM explica as mudanças na renda
nominal agregada em termos de variações no estoque de moeda e na velocidade de circulação
da moeda, que a longo prazo é tida como estável” (CARVALHO, 2007, p.79). A teoria
monetária exibe alguns fundamentos quanto ao papel da moeda na economia. A teoria
quantitativa da moeda estabelece que os preços variam diretamente em proporção a
quantidade de moeda em circulação, considerando que a velocidade de circulação e o volume
de transações não se alteram. A função de troca é definida da seguinte forma: , onde
é a quantidade de moeda em circulação, é a velocidade de circulação da moeda, são os
preços correspondentes aos bens e serviços e a quantidade de transações de bens e
serviços. “A equação de trocas mostra que um aumento em uma das variáveis de um lado da
equação requer, de modo a preservar a igualdade, um aumento proporcional no outro lado”
(CARVALHO, 2007, p.32).
Para os quantitativistas a alteração no estoque nominal de moeda não altera as
variáveis reais no longo prazo, apenas resulta em uma variação proporcional nos preços,
sendo assim a TQM pressupõe que a política monetária é ineficiênte no longo prazo para
aumentar de forma permanente o nível de produto da economia e que a quantidade de moeda
em circulação deve crescer de forma moderada a fim de apenas acompanhar as
essencialidades do crescimento da renda real.
O modelo monetarista, também conhecido como “A Nova Teoria Quantitativa da
Moeda”, foi elaborado nos anos 50 por Milton Friedman em contraposição ao kenesianismo e
tem como fundamento desenvolver a função de demanda por moeda pelo enquadramento da
mesma como forma de riqueza, considerando-a pela teoria do capital. Assim, os agentes
decidirão a proporção de riqueza que irão reter em forma de saldos monetários em detrimento
de outras formas de riqueza. A função de demanda por moeda é dada por:
entre riqueza humana e não-humana, é taxa esperada de retorno dos títulos de renda fixa,
é a taxa esperada de retorno dos títulos de renda variável, é a taxa esperada de variação
dos preços dos bens, é o nível de riqueza real ( ⁄ ), representada pela renda permanente e
são os gostos e preferências que podem afetar a utilidade da moeda. É o conjunto dessas
variáveias que determinam a função de demanda por moeda no modelo monetarista.
29
6
A taxa natural de desemprego é aquela que representa a quantidade de trabalhadores que não se encontram
inseridos no mercado de trabalho ou por que estão enquadrados no desemprego friccional, o qual o trabalhador
está desempregado apenas temporáriamente por questões de imcompatibilidades passageiras entre o trabalhador
e o posto de trabalho, ou por que estão enquadrados no desemprego voluntário, onde os potenciais trabalhadores
atribuem uma maior satisfação às horas livres que podem ser destinadas ao lazer em relação ao benefício de
receber um salário, preferiando assim ficar desempregado.
30
Ainda com base na curva de Phillips, Friedman percebeu que para que a política
monetária seja capaz de reduzir o desemprego em um determinado momento, ela terá que ser
sempre implementada a fim de induzir os trabalhadores a sofrer de uma “ilusão monetária”.
Mas sempre que uma política expansionista é adotada há o aumento do nível de preços, o que
faz com que as expectativas para o próximo período reflita o nível de preços atual. Assim, o
desemprego tende sempre a retornar ao seu nível natural e o nível de preços tende a aumentar
constantemente. Foi a partir daí que Friedman elaborou a curva de Phillips aceleracionista.
Neste modelo, os trabalhadores possuem uma expctativa inflacionária dada por ̇ .
Nesse momento a economia encontra-se em um ponto A, onde a inflação é a mesma que o
esperado e a taxa de desemprego é igual a natural. Se acontece uma expanssão monetária, a
economia vai em direção a uma taxa de desemprego menor porém com um nível de preços
maior, o que faz com que a economia se situe no ponto B. Isso faz com que a inflação efetiva
seja maior do que a inflação esperada, onde ̇ ̇ . Quando os trabalhadores percebem
que a inflação efetiva superou as expectativas, eles projetam um certo nível de inflação para o
período seguinte, fazendo com que a curva se desloque de ( ̇ ) para ( ̇ ) fazendo o
desemprego voltar ao seu nível natural, porém com um nível de preços maior. Para que a
economia volte para o nível de desemprego desejado, , é necessário uma nova expanssão
monetária fazendo com que o mesmo mecanismo de ajuste entre em ação, onde uma
expanssão monetária faça com que a economia vá diretamente para o ponto D. Quando o
nível efetivo de preços não se confirma segundo as expectativas, novemente ocorre o
deslocamento da curva de ( ̇ ) para ( ̇ ). Esse ciclo só se estabilizará a partir do
momento em que o desemprego se situa ao seu nível natural e que não haja mais expanssão
monetária.
A existência de uma taxa natural de desemprego também é o ponto de partida para a
teoria da política monetária novo-clássica. Os novo-clássicos criticavam a eficácia da política
monetária para alterar variáveis reais e a forma na qual os agentes formavam suas
expectativas. A corrente novo-clássica sustenta que a política monetária é ineficiênte pois os
agentes formam expectativas de forma racional e não adaptativamente como sustentado
anteriormente, uma vez que as expectativas dos agentes não são formadas somente com base
no passado, mas também com base no que esperam que vai acontecer no futuro. Então, a
política monetária surtiria algum efeito somente se os agentes fossem incapazes de prever
essa ação. Esse argumento ficou conhecido como a crítica de Lucas. Para esses economistas, a
economia estará em equilíbrio também no ponto em que a taxa de desemprego efetiva for
31
igual a taxa natural de desemprego. Através da função de oferta de Lucas dada por:
( ̇ ̇ ) , sendo , onde é o nível efetivo de desemprego, é a taxa de
desemprego, é o parâmetro que determina o grau pelo qual a diferença entre o nível de
preços observados, ̇ , diverge da expectativa de preços, ̇ e são os demais fatores não-
monetários que podem afetar o nível de emprego em relação a taxa natural de desemprego.
Neste modelo parte-se do pressuposto de que os agentes são racionais e antecipam as suas
decisões com base no que esperam para o futuro.
Ou seja, mesmo que seja feita uma expanssão monetária, não haverá nenhuma
redução no nível de desemprego e nem do produto, apenas haverá um aumento do nível de
preços (CARVALHO, 2007, p.126-129).
O modelo Keynesiano foi elaborado por John Maynard Keynes e está baseado no
princípio da preferência pela liquidez. Para Keynes a moeda é um ativo que possui atributos
específicos e o seu retorno é definido pelo prêmio pela liquidez, dada a sua capacidade de
32
neutra nem no curto e nem no longo prazo. Sendo assim, a política monetária pode ser usada
para afetar às variáveis reais da economia atrvés dos transbordamentos da circulação
monetária para a circulação industrial. Para que isso seja válido, cabe destacar que a economia
deve possuir algumas características institucionais específicas e que dependerá da reação dos
agentes frente o instrumento usado para atigir um determinado objetivo.
A política monetária não afeta diretamente a determinação do produto, ela apenas
induz uma ação dos agentes econômicos. Keynes descreveu que a economia divide-se em
duas esferas, a esfera industrial e a esfera financeira. Na esfera industrial, a moeda exerece a
sua função de meio de troca e é utilzada para transacionar bens e serviços. Na esfera da
circulação financeira, a moeda faz girar os ativos financeiros tonando-se ela mesma um ativo.
Nesta esfera, a moeda é utilizada para adquirir papeis com os mais variados graus de liquidez,
custos de carregamento e de rentabilidade. A política monetária neste contexto visa fazer com
que haja uma migração da moeda como aitvo na circulação financeira para a circulação
industrial como meio de troca estimulando a aquisição de ativos reais, tal como máquinas e
bens de consumo. Considerando que a autoridade monetária dispõe de três alternativas para
atigir seus objetivos, sendo eles: a fixação de depósitos compulsórios na forma de reservas
bancárias, a determinação da taxa de juros nas operações de redesconto e pelas operações de
open market com títulos públicos, cabe observar qual será a melhor alternativa para alcançá-
los.
Como em uma economia moderna, a utilização de crédito pelas empresas para ajuste
de caixa por antecipação de receita é comum, a restrição das operações de crédito por meio da
limitação dos resursos a disposição dos agentes bancários acaba provocando um
enfraquecimento da atividade econômica. Mas para os pós-keynesianos são as operações de
compra e venda de títulos públicos operadas como forma de determinar a taxa de juros que
afetam diretamente a composição do portifólio dos agentes e que por sua vez afeta a economia
real. Assim, “uma máquina somente é adquirida quando o seu rendimento esperado é superior
à taxa de juros, de tal forma que a sua iliquidez relativa seja compensada pela sua eficiência
marginal do capital” (CARVALHO, 2007, p.91). Segundo Keynes (1936, p. 198) “os recursos
líquidos só podem ser retidos mediante o sacrifício da compra de um bem lucrativo” fazendo
com que incorra-se em um custo significativo pela sua retenção. Os resultados da política
monetária na abordagem pós-keynesiana depende das expectativas dos agentes quanto ao
cenário futuro. Como a política monetária opera atravéz dos vazamentos da circulação
financeira para a circulação industrial estiulando a recomposição do portifólio, os resultados
serão obtidos somente se os objetivos da autoridade monetária forem de acordo com a
34
expectativa dos agentes fazendo com que isso altere as variáveis que se traduzem nos
investimentos. No final da década de 70, emergiu uma nova abordagem no que tange a
política monetária em oposição ao kenesianismo e parcialmente aos monetaristas.
Existe ainda uma corrente de pensamento keynesiano integrada por representantes
denominados novo-keynesianos. Suas idéias se fundamentam basicamente na afirmativa de
que preços e salários são rígidos. Cabe observar que o conceito de rigidez não significa que os
novo-keynesianos consideram as variáveis como fixas, mas sim as considera como variáveis
que possuem um ajuste lento e gradual. A partir dessa idéia sustentam que os mercados não se
auto-equilibram, pois essa condição se revela uma vez que os fixadores de preços são price-
makers7 e enfrentam a restrição do custo-menu8 o que faz com que os preços mantenham-se
estáveis mesmo no caso de uma redução da demanda. O mesmo acontece com os salários,
uma vez que as firmas a fim de manter a produtividade do trabalho, continuam pagando o
salário de eficiência9 de modo que a existência de tal condição faz com que não haja aumento
das demissões no curto prazo.
7
Tomadores de preços. Não são capazes de determinar preços por si só e consideram o preço de mercado como
dado.
8
O custo menu é o custo que a firma tem que arcar quando remarca preços. O custo menu justifica porque as
empresas quando enfrentam uma queda na demanda, preferem reduzir a quantidade produzida em detrimento de
baixar preços.
9
Os salários pagos aos trabalhadores são considerados como “salário de eficiência” uma vez que este está acima
da média do mercado, de modo que, uma vez o trabalhador recebendo um salário diferenciado tende a ser mais
produtivo.
35
10
As operações de open market são o melhor instrumento de gerenciamento da liquidez de que dispõe o Banco
Central. São operações de compra e venda de títulos de curto prazo feitas pelo Banco Central em leilões de
títulos ou dinheiro controlando o nível de reservas bancárias e assim determinando a taxa básica de juros.
36
Essa é uma curva de caráter descritivo, ou seja, não possui base em uma teoria sobre
taxas de juros, mas sim, na observação das taxas de juros efetivamente pagas para os títulos
da dívida pública de diferentes maturidades. As taxas de juros pagas para os pepeis de curto
38
prazo devem ser menores que as taxas de juros pagas para os papéis com maior prazo de
maturidade. Essa definição se dá pela causalidade entre risco e retorno implícito nas
aplicações com um horizonte de investimento mais longo decorrente das incertezas quanto ao
cenário futuro. Quando a autoridade monetária altera essa taxa, os agentes buscam recompor
sua carteira de ativos e assim toda a estrutura da curva de rendimentos se altera.
(CARVALHO, 2007, p.199-204)
Considerando a existência de uma curva de rendimentos bem definida, uma vez que
há alterações nas taxas de remuneração de ativos de curtíssimo prazo, essas, provocam
alterações em relação aos títulos de maior maturidade. Caso a autoridade monetária aumente a
taxa básica de juros que incide sobre os títulos pré-fixados de curto prazo, o hiato entre a
remuneração dos títulos de curto prazo e dos títulos de longo prazo diminui, fazendo com que
os agentes detentores de títulos com prazo de maturidade maior considerem que não há
vantagem em portar tais papéis e vendem seus papéis no mercado secundário para adquirir os
títulos de curto prazo. Este canal representa a forma na qual a alteração no estoque nominal de
moeda provocada por operações de open-market afetam a recomposição do portfólio dos
agentes determinando os impactos nas variáveis reais da economia. Como a relação entre
risco e retorno dos ativos em relação ao tempo se altera, os investimentos em ativos reais
podem vir a se ajustar a esse novo cenário em função dos custos de oportunidade, fazendo
com que haja mudanças significativas no mercado de crédito bancário, consumo e
investimento. O histórico recente de inflação crônica impediu a consolidação de uma curva de
rendimentos bem definida, uma vez que os títulos de maior maturidade possuem uma
indexação a algum fator de reajuste, o que não atribui à curva de rendimentos uma
formalização a priori, tornando este canal pouco significativo na economia brasileira.
(CARVALHO, 2007, p.204)
Ainda em relação à precificação de ativos, pode-se considerar a influencia do “q” de
Tobim. Essa teoria determina que a relação entre o valor de mercado das ações de uma
companhia e o custo contábil do seu capital pressupõe um fator de relevância das flutuações
de preços no mercado de capitais, na expansão da produção e materialização de
investimentos. “Thus investment spending will rise because firms can buy a lot of new
investment goods whit only a small issue of equity” (MISHKIN, 1996, p.6). Se as ações de
uma companhia listada em bolsa estão valorizadas, a capacidade de captação de recursos
junto ao mercado passa a ser maior do que se as ações estivessem desvalorizadas, uma vez
que, neste caso, o custo de capital para as empresas é menor. Essa relação é dada por: ,
39
onde é o valor de mercado das ações da companhia e é o custo de capital. Quanto maior
for essa relação positiva entre o valor das ações e custo de capital das empresas, maior será o
estímulo às empresas para aumentarem os seus investimentos. Como o mercado de capitais
brasileiro vem se desenvolvendo pelos últimos anos, esse mecanismo passa a representar um
fator significativo na economia e canal pelo qual se equaciona grande parte dos investimentos.
11
A existência de informações assimétricas é a condição na qual o mercado não se comporta de forma
competitiva, uma vez que o preço cobrado no mercado não expressa o equilíbrio a partir entre as condições de
oferta e demanda por causa da falta de transparência quanto ao negócio. Por exemplo, a taxa de juros cobrada
nas operações de crédito no sistema financeiro não se elevam sempre que a demanda por empréstimos aumenta
por que os emprestadores possuem menos informações quanto ao finalidade dos mutuários no momento da
negociação. Nesta condição os emprestadores se recusam a conceder empréstimos mesmo que os agentes
estejam dispostos a pagar mais por eles. Essa situação se revela desta forma por que os concedentes
desconhecem a real capacidade de pagamento desses empréstimos por parte do mutuário.
12
A seleção adversa se manifesta em um mercado com informações assimétricas no momento em que antecede a
negociação, uma vez que o agente não tem condições de estimar com precisão a qualidade existente em um
40
determinado negócio. Por exemplo, quando um banco não consegue distinguir entre os bons tomadores dos maus
tomadoes, a disponibilidade de um empresários em pagar por uma taxa de juros mais alta em uma negociaçõo
pode representar unicamente que ele não está preocupado com a sua capacidade de pagamento deste empréstimo
e vir a gerar uma inadimplência no futuro enquanto aquele empresário que não estava disposto a pagar uma taxa
mais alta é por que em tais condições ele teria retornos negativos em sus investimento utilizando aquele recurso
e por isso optou por não pegar o empréstimo. Assim, os bancos reacionam crédito e buscam conhecer melhor as
condições para a qual os recursos serão utilizados.
13
O risco moral existe em um mercado com informações assimétricas depois que a transação acontece. Quando
alguns critérios não são observados antes da ocorrência de uma trasação, isso pode levar a contraparte adotar
uma postura contrária ao interesse do primeiro. No caso de um banco, o agente que aceita pagar uma taxa de
juros maior em uma operação, pode vir a assumir um risco maior e não ter a capacidade de honrrar com seus
compromissos.
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Com a crise, o Banco Central tomou medidas para prover a economia de liquidez
com sucessivas reduções da taxa básica de juros inciadas a partir da reunião do Copom
realizada em 21 de janeiro de 2009, na qual houve um corte de 1%, passando do patamar de
13,75% para 12,75%. Neste momento o Copom percebeu que, dado os efeitos de uma
possível restrição do crédito, decorrente da escassez de liquidez nos mercados, a
flexibilização da política monetária fazia-se necessária. Seguindo essa tendência, houveram
mais três reduções na mesma proporção nas reuniões subsequentes. Após mais um corte de
0,05% na taxa Selic na reunião de 22 de julho de 2009, a taxa básica de juros se manteve
estável em 8,75% por quase 10 meses, até que na reunião do dia 28 de abril de 2010, houve
uma reversão na condução da política monetária e o Copom passou a aumentar novamente a
taxa básica de juros.
A atuação do Banco Central foi marcada por algumas inovações financeiras
fundamentais para o provimento de liquidez aos mercados, e pela utilização de instrumentos
tradicionais, tais como operações de open-market, flexibilização do redesconto e pela redução
dos depósitos compulsórios. Além dessas medidas, a ação do Fundo Garantidor de Crédito foi
também de extrema importância para a segurança do sistema financeiro nacional. “Este
conjunto de medidas, adotadas de forma sequencial, teve êxito em remover a constrição de
liquidez e favoreceu a retomada do crédito, inicialmente para pessoas físicas e posteriormente
jurídicas.” (MESQUITA, 2010, p.15).
Como mencionado anteriormente, o Banco Central passou a fazer empréstimos de
reservas diretamente aos bancos privados. Essa medida visava a sustentação das condições
necessárias para a continuidade dos financiamento para transações com o exterior. Para isso, o
Banco Central realizou leilões que foram abertos a todas as instituições autorizadas a operar
no mercado de câmbio e não somente os dealers, como era anteriormente. “O primeiro leilão
desses recursos ocorreu em 20 de outubro, e no total foram desembolsados US$ 12,6 bilhões,
sendo cerca de US$ 9,0 bilhões direcionados para o mercado de ACCs.” (MESQUITA, 2010,
p.12). Com o objetivo de sustentar da taxa de câmbio a um patamar favorável e também de
solucionar o problema de assimetria de informações no mercado futuro de dólares que se
refletia no mercado a vista, “o BC anunciou, em 23 de outubro de 2008, um programa de
venda do equivalente a até US$ 50 bilhões em swaps cambiais” (MESQUITA, 2010,
p.13), o que representava o equivalente a 25% do estoque de reservas disponível. O “Bacen
contava com leque bem mais amplo e poderoso de instrumentos para conter os efeitos da crise
e controlar operações que promoviam a desvalorização cambial” (IPEA, 2008, p.93).
45
Portanto, o que exerceu papel fundamental para a contenção dos impactos da crise
foi a sustentação do crédito e o restabelecimento de expectativas favoráveis, bem como a forte
atuação do Estado. Segundo o IPEA (2009, p.91) “a flexibilidade e a expansão do crédito
doméstico, assim como a redução dos juros básicos, eram decisivas para refrear a contração
da produção nesse momento.” Na economia brasileira, em que o mercado de capitais ainda é
pouco expressivo na captação de recursos para sustentação da atividade empresarial, a
capacidade de oferta de crédito por parte das instituições financeiras que compõem o mercado
monetário exerce forte influência na atividade econômica, e consequentemente, na geração de
emprego e renda a partir desses invetimentos. “É possível que a liberalização financeira faça
com que as flutuações do crédito e dos preços dos ativos, em particular, passem a ter uma
influência maior sobre o ciclo econômico” (GIAMBIAGI, 2009, p.140).
Em janeiro de 2009 já era perceptível os efeitos da crise na economia brasileira.
Segundo o IPEA (2009, p.29) “os empréstimos com recursos livres para pessoas jurídicas
caíram 1,7% em termos reais em relação ao mês anterior, o que representa a maior queda nos
últimos quatro anos” e em maio de 2009 atingiu 43% do PIB, o que significou o pior
desempenho do setor de creditício no segmento de pessoa jurídica desde os primeiros sinais
da crise financeira internacional do subprime. Neste sentido, percebeu-se a indisposição dos
46
bancos em conceder empréstimos, uma vez que em janeiro de 2009 o aumento do spread
bancário foi de 28,3% revelando a restrição na oferta de crédito. Ainda nesse contexto, a taxa
média de juros praticado nas operações de crédito, atingiu 43,3% em dezembro de 2008,
registrando acréscimo de 9,5%. em relação a dezembro de 2007, revelando assim, o aumento
do grau de incerteza e da aversão ao risco decorrente do cenário de instabilidade evidenciado
nos mercados financeiros. Este cenário, aliado com as expectativas desfavoráveis por parte
dos empresários quanto ao futuro, se traduzui na redução dos investimentos do setor privado
e, consequentemente, no desaquecimento da atividade econômica. Entretanto a ação efetiva
da autoridade monetária, como indutora para a retomada do crédito, fez com que em março de
2009 a economia brasileira já tivesse superado a falta de liquidez e exibisse uma recuperação
no campo das expecativas.
A partir de setembro de 2008 o Banco Central passou a intervir no mercado
vendendo reservas chegado a reduzir o saldo em US$ 9,519 bilhões em novembro de 2008.
Tal instituição, atuando no mercado de câmbio passou da posição de compradora para a
posição de vendedora. Essa situação só se reverteria em março de 2009, quando o Banco
Central fechou o mês com um saldo positivo em suas operações de US$ 459 milhões,
mantendo essa tendência nos meses subsequentes, revelando, dessa forma, uma mudança no
movimento do mercado de reservas com ingresso de resursos externos.
Assim, “a conta financeira líquida do Banco Central, que havia acumulado um saldo
positivo de US$ 53,4 bilhões, entre janeiro e setembro de 2008, inverteu-se, registrando, no
último trimestre do ano, um movimento negativo de US$ 25,1 bilhões” (CHERNAVSKY,
2011, p.84).
47
realizadas no país são feitas a partir de recursos direcionados, que tendem a ser muito mais
estáveis e que não dependem das decisões das instituições financeiras, a restrição do crédito
externo não representou um fator que pudesse comprometer o desempenho da economia
brasileira. Deste modo que, tais operações realizadas com recursos direcionados totalizaram
R$ 356,1 bilhões em dezembro de 2008, representando uma expansão de 29,4%. Alem disso,
uma parcela significativa das operações de crédito do sistema finaceiro brasileiro são
realizadas por instituições públicas, assim, quando o setor privado restringiu o crédito, as
istituições públicas expandiram-no, de modo a conpensar essa restrição. Isso é claremente
observado, quando se analisa os números do BNDES, que em pleno período de crise,
continuou a expandir suas operações apresentando um crescimento de 35,3% em relação ao
ano anterior, as quais totalizaram R$ 283 bilhões, o equivalente a 61,6% do total do crédito
direcionado. Essa medida foi utilizada como política pública eficáz na reversão da restrição de
crédito por parte do setor privado.
Com base na Medida Provisória nº 453, o Governo Federal autorizou o Tesouro
Nacional a conceder crédito de até R$100 bilhões ao BNDES de modo que aumentasse a
oferta de crédito para projetos de investimento, revertendo sua escassez e adotando, dessa
forma, uma medida anticíclica. A concessão desses recursos ficou condicionado à criação ou
manutenção dos postos de trabalho, respeitando ainda, os aspectos econômicos e financeiros
relacionados à viabilidade dos projetos. Aliado a isso, o Banco Central, a fim de garantir
condições adequadas de liquidez para o sistema financeiro, promoveu algumas alterações nas
regras dos depósitos compulsórios. Essas mudamças foram caracterizadas por reduções nas
alíqutas, a elevações de valores a deduzir das exigibilidades, mudanças na remuneração dos
recolhimentos, além de abatimentos decorrentes da aquisição de ativos de instituições
financeiras de pequeno e médio portes. Ao total, foi liberado o montante de R$ 99,8 bilhões.
A flexibilização das regras do compulsório por parte do Banco Central, complementou a
expansão do crédito que vinha sendo particada por parte dos bancos públicos, e essa postura,
revelou-se favorável para a retomada das operações de crédito também pelo setor privado.
Apesar da contração global do crédito, o total das operações, considerando os
recursos livres e os recursos direcionados, que atingiu R$ 1.227 bilhões em dezembro de
2008, o que representou uma expansão anual de 31,1%, o equivalênte a 41,3% do PIB. Em
2009 a
retomada das condições favoráveis do mercado de crédito foi impulsionada
pelas medidas monetárias e fiscais de caráter anticíclico adotadas pelo Banco
Central e pelo governo federal em resposta ao quadro restritivo observado
nos últimos meses de 2008, com ênfase nos impactos dos empréstimos em
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própria instituição (2011, p.51), o estoque total de crédito concedido pelo sistema financeiro,
tanto a partir de recursos livres quanto direcionados totalizou R$ 1.706 bilhões em dezembro
de 2010. Isso representou uma elevação de 20,6% frente às expansões anuais de 15,2% no ano
de 2009 e de 31,1% no ano de 2008. Mesmo tento crescido menos em 2010 do que em 2008,
a contribuição das operações de crédito para a relação crédito/PIB no ano de 2010 representou
46,4% do PIB em relação a 40,5% no ano de 2008. Cabe destacar a atuação dos bancos
públicos para tal expansão, uma vez que, a participação deles no crédito total representou
41,8% das operações ao final de 2010.
Segundo os relatórios anuais do Banco Central, dos anos de 2008, 2009 e 2010, a
média dos saldos diários dos meios de pagamento, no seu conceito restrito, composto pelo
papel moeda em poder do público mais os depósitos à vista, atingiu R$ 218,3 bilhões em
dezembro de 2008, registrando crescimento de 3,7% ao ano em relação a 2007, explicado
como um reflexo do acréscimo de 14,3% no saldo médio do papel-moeda em poder do
público e pela retração de 2,7% nos depósitos à vista. Neste sentido, a média diária dos saldos
da base monetária, totalizou R$ 145,7 bilhões em dezembro, uma elevação de 1,5% ao ano.
com que esse cenário passasse a ser mais rígido e caracterizado por uma crescente aversão ao
risco. Com isso as emissões de ações e debêntures praticamente cessaram. Isso resultou em
uma redução do montante das operações de ofertas primárias registradas na CVM, fazendo
com que, apesar do ano de 2008 ter encerrado com um leve crescimento em relação ao ano de
2007, esse crescimento foi decorrente das operações que havia se concentrado nos oito
primeiros meses do ano. Após uma forte queda em outubro de 2008, o índice da Bovespa
recuperou-se rapidamente estabilizando-se nos patamares observados no que antecede a crise.
Em 2008, logo após a forte queda, em que o índice Bovespa chegou a próximo de 29
mil, a Bovespa exibiu uma valorização de aproximadamente 27%. Ainda em janeiro de 2009
houve uma saída de R$ 646 milhões no que corresponde ao investimento estrangeiro líquido
em bolsa, apesar de o Ibovespa ter apresentado um bom desemprenho e e ter encerrado o mês
com uma alta de 4,6%.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
quadro restritivo imposto pela crise foi constituido de uma combinação de políticas monetária
e fiscal. Outra questão que pode ser levada em conta é com relação a inflação. Apesar de ter
demorado um pouco para se manifestar, um tanto por causa da deflação global, a inflação
retomou força, criando a necessidade do Banco Central reverter suas políticas já ao final de
2009. O que se pode concluir disso, é que a economia brasileira ainda possui resquícios de
indexação e que o fortalecimento do mercado doméstico pelo aumento da renda da população
e da expanssão do crédito para o consumo de bens duráveis faz com que uma maior
flexibilização da política monetária estimule a demanda sem que isso estimule
necessáriamente a oferta, que parece ser mais inelástica a flexibilização das políticas
econômicas. Sendo assim, a condução da política econômica deve estar focada em cada vez
mais se pautar nas questões relacionadas a expanssão da oferta e não unicamente na
contenção da demanda, como tem sido a condução da política monetária institucionalizada
pelo regime de metas de inflação.
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6. BIBLIOGRAFIA
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom e
evolução da taxa Selic. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/ COPOM UROS . Acesso
em: 28 de outubro de 2010.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório Anual 2008. Volume 44, p. 43 - 69. Brasília,
2008. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/boletim/banual2008/rel2008p.pdf .
Acesso em: 09 de outubro de 2010.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório Anual 2009. Volume 45, p. 43 - 66. Brasília,
2009. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/htms/estabilidade/2009 10/refP.pdf . Acesso
em: 09 de outubro de 2010.