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Casimiro Neto
2003
Casimiro Neto
A Construção da
Democracia
DIRETORIA LEGISLATIVA
Diretor: Afrísio Vieira Lima Filho
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
Diretora: Nelda Mendonça Raulino
COORDENAÇÃO DE PUBLICAÇÕES
Diretora: Maria Clara Bicudo Cesar
COORDENAÇÃO DE ESTUDOS LEGISLATIVOS
Diretora: Dirce Benedita Ramos Vieira Alves
Auxiliar de Pesquisa, Leitura e Revisão: Carmen Amélia Pereira d’Almeida Dias e João Mário Dias
Fotografias: Luiz Antonio Ribeiro, Armando Sampaio Lacerda e Jorge Luiz Vieira Serejo
Ilustrações: Allan de Lana Frutuoso, Claudio Augusto Lisboa Gonçalves e João Mário Pereira
d’Almeida Dias
Capa: Cosme Rocha
Fotografias e ilustrações do acervo do Centro de Documentação e Informação da Câmara dos
Deputados.
SÉRIE
Temas de interesse do Legislativo
n. 5
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Coordenação de Biblioteca. Seção de Catalogação.
CDU 342.532(81)(091)
ISBN 85-7365-317-5
Lista de Ilustrações
pág. 9
Apresentação
Deputado João Paulo Cunha – Presidente da Câmara dos Deputados
pág. 13
Prefácio
Ministro Nelson Jobim – Vice-Presidente do STF
pág. 15
Considerações do Autor
pág. 17
Introdução
pág. 21
Antecedentes da História Legislativa do Brasil Independente
pág. 23
Primeiro Império
pág. 83
Início da História Legislativa do Brasil Independente
pág. 111
Primeira Legislatura
pág. 153
Segundo Império
pág. 201
Abolição da Escravatura
pág. 259
Primeira República (15/11/1889 a 16/7/1934)
pág. 283
Posfácio
pág. 731
Comentários
pág. 735
Referências
pág. 748
Pág.
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Quadro/Ilustração nº 1
Jornada dos Mártires – Antônio Parreiras – Museu Mariano Procópio
Juiz de Fora – MG
Quadro/Ilustração nº 1/A
Tiradentes ante o carrasco – Rafael Falco – Comissão de Constituição e Justiça –
Câmara dos Deputados
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Quadro/Ilustração nº 2
A chegada da Família Real e comitiva na cidade do Rio de Janeiro
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qualquer escrito sem exame e licença serão presos na cadeia pública e pagarão de pena
duzentos mil réis”.
É interessante notar que o poema impresso pelo Frei Gregório José
Viegas, em 1807, foi a primeira composição tipográfica na colônia, depois de
1747. Entretanto, a imprensa já se instalara em 1539 no México; em 1583 no
Perú; e em 1630 nos Estados Unidos da América. Em Portugal ela tivera
ingresso no ano de 1465. Era o temor do reino ao órgão de difusão, semea-
dor da liberdade de pensamento.
Vale registrar, que as notícias sem censura só podiam ser lidas no “Cor-
reio Braziliense” ou “Armazem Literario”, considerado o primeiro jornal brasilei-
ro, porém publicado em Londres, Inglaterra. O primeiro número é de 1º de
junho de 1808 e vai circular até dezembro de 1822, com um total de 175
números em 29 volumes. Foi impresso na Oficina de W. Lewis, com periodici-
dade mensal, e trazia na primeira página a epígrafe “Na Quarta parte nova os
campos ara, e se mais mundo houvéra la chegara”. – Camoens, c. VII. e. 14.”. Seu
redator Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça escreve no pri-
meiro número: “Introducção. – O individuo, que abrange o bem geral d’uma socie-
dade, vem a ser o membro mais distincto della: as luzes, que elle espalha, tiram das
trevas, ou da illuzaõ, aqueles, que a ignorancia precipitou no labyrintho da apathia,
da inepcia, e do engano. Ninguem mais util pois do que aquelle que se destina a
mostrar, com evidencia, os acontecimentos do presente, e desenvolver as sombras do
fucturo”. Informa também, logo no primeiro número, o seguinte: “Resolvi lan-
çar esta publicaçaõ na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periodicas
no Brazil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que os redactores se exporiam
falando livremente das acções dos homens poderosos”.
O “Correio Braziliense” exerceu imensa influência sobre os acontecimen-
tos não só no Brasil como em Portugal, desde os seus primeiros números,
pela crítica aos atos da realeza lusitana. Tanto foi que acabou sendo proibida
a entrada do periódico nos domínios portugueses, sob as mais severas penas.
Em 1821 e 1822 foi este jornal o porta voz das aspirações de liberdade que
agitavam o “Reino Americano”.
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Padre Manoel de Arruda Câmara, que funda no ano de 1800 uma sociedade
secreta – o Areópago de Itambé –, para propagação das novas idéias. É desco-
berta e dissolvida ainda em 1802.
Após a proclamação da República, cria-se uma bandeira própria, são
abolidos os impostos pagos ao Rio de Janeiro, bem como os monopólios, as
insenções de direitos e favores especiais; o soldo dos militares são aumenta-
dos e os padres passam a ser remunerados pela República. Publicada, a “Lei
Orgânica” é enviada às câmaras municipais de todas as comarcas de Pernam-
buco. Esta lei fixa as limitações do Governo Provisório da nova República,
consagra as liberdades de opinião e de imprensa, os direitos individuais, e
proibe ataques a religião católica. Os portugueses que vivem no Nordeste do
Brasil serão reconhecidos como “patriotas” se aderirem ao regime.
À maneira da “Revolução Francesa”, declara-se abolido o tratamento ce-
rimonioso pelo de “patriota”, igualando-se perante a lei todos os membros da
nova república. Proscrevem-se os títulos de nobreza e privilégios de classe,
O Governo Provisório envia emissários às capitanias vizinhas em busca
de adesão e também a Londres, Washington e Buenos Aires para angariar
apoio político à causa revolucionária e reconhecimento da nova república.
O Império lusitano está ameaçado. D. Marcos de Noronha e Brito, Conde
dos Arcos, Governador da Bahía, manda, para combater o governo revolu-
cionário, fortes contingentes armados, os quais dominam logo a Paraíba e o
Rio Grande do Norte. Pernambuco, embora resistindo valentemente, não
tem como se opor ao avanço das tropas do Governo Imperial.
Os emissários revolucionários enviados à Bahia e ao Ceará, respectiva-
mente, os Padres José Inácio Ribeiro de Abreu e Lilma (Padre Roma) e José
Martiniano de Alencar são presos. Sumariamente fuzilado o principal emis-
sário da revolução – o Padre José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima (Padre
Roma) –, o temor se apodera dos criadores da República. Sucedem-se as pri-
sões do frade carmelita, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, de Miguel
Joaquim de Almeida (Padre Miguelinho) e de todos os chefes do movimento.
O movimento dura aproximadamente 76 dias e vai até o dia 20 de maio
de 1817. A vingança e a repressão real é violenta e impiedosa. É instalado um
tribunal de julgamento. São seqüestrados os bens dos implicados e condena-
dos à morte vários revolucionários. Estes, depois de mortos, tem suas mãos
cortadas, decepadas as cabeças e os membros esquartejados. Tantas são as
barbáries do tribunal, que o próprio Príncipe Regente D. João VI suspende
as execuções, e determina a formação de outro tribunal constituído por dois
desembargadores do Paço e dois da Casa de Suplicação. Este tribunal, po-
rém, revela-se tão bárbaro quanto o primeiro.
A Câmara de Recife, ante tanta selvageria, resolve pedir ao Príncipe
Regente D. João que conceda anistia aos demais implicados, já agora os de
menor participação, com raras exceções.
A bárbara repressão só diminui com a expedição da Carta Régia de 6 de
agosto de 1817 que concede anistia, perdoa alguns presos e suspende defini-
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roa, dos quais já a esse tempo era o Brasil o mais rico e importante pela sua
população e recursos de toda a ordem.
Todavia, a partir do momento em que o Rei D. João VI tomou conheci-
mento oficial da revolução portuguesa, quase às vésperas de seu regresso a
Portugal, entendeu de bom alvitre que em todas as capitanias brasileiras,
desde que oficialmente denominadas províncias, se fizessem as eleições para
deputados àquelas Cortes, “(...) em conformidade dos systema hespanhol adoptado
pelo governo provincial do Reino Unido”. Cabe a seu filho, o Príncipe Regente
D. Pedro, expedir ordens para que tais eleições se realizassem, nas províncias
brasileiras do Sul (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais) que mais direta-
mente obedeciam ao governo do Rio de Janeiro, enquanto que, por instru-
ções emanadas de Lisboa, outras províncias do Norte (Bahia, Maranhão, Pará)
elegeriam os seus deputados. Algumas outras poucas províncias espontanea-
mente tratavam de eleger seus representantes às Cortes, sem esperar deter-
minações expressas, tal o entusiamo que nelas havia por esse ensaio da sua
nova vida política, no sistema representativo.
18 de fevereiro de 1821. Palácio do Rio de Janeiro. O Rei D. João VI
está em dúvida entre ir e ficar, entre o grupo palaciano liberalizante, de
D. Pedro de Sousa Holstein, Duque de Palmela, e do absolutista, da Rainha
D. Carlota Joaquina, nascida Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Bourbon
y Bourbon. Pensa em mandar seu filho Pedro de Alcântara para Portugal, a
fim de consolidar o regime constitucional e tomar medidas que se ajustassem
a realidade brasileira. É expedido decreto, com a rubrica do Rei D. João VI,
“determinando que D. Pedro de Alcântara, Príncipe Real do Reino Unido de Portu-
gal, Brasil e Algarves, vá a Portugal (o que não se concretiza); convoca os procura-
dores das cidades e vilas principais, que tem juízes letrados, tanto do Reino do Brasil,
como das Ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde que forem eleitos, para, em Junta de
Côrtes, se tratar das leis constitucionais que se discutem nas Côrtes de Lisboa, a fim de
assentarem as bases constitucionais que atendam as condições peculiares da América
portuguesa e cria, também, uma comissão encarregada de preparar os trabalhos de que
se devem occupar os mesmos procuradores”. Grifado pelo compilador.
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Instrucções para as eleições dos Deputados das Côrtes, segundo o methodo esta-
belecido na Constituição Hespanhola, e adoptado para o Reino Unido de Portugal,
Brazil e Algarves, a que se refere o Decreto acima”. Grifado pelo compilador. Seguem as
instruções assinadas pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do
Reino Ignacio da Costa Quintella, com 5 capítulos e 103 artigos. Os capítulos
estão assim distribuídos: Capítulo I – Do modo de formar as Cortes – Artigos
da Constituição espanhola. Capítulo II – Da nomeação dos deputados das
Cortes. Capítulo III – Das juntas eleitorais de freguezias. Capítulo IV – Das
juntas eleitorais das comarcas. Capítulo V – Das juntas eleitorais de Provín-
cia. Nestas instruções estão inseridas as adaptações necessárias à realidade
portuguesa.
É considerada a nossa primeira lei eleitoral. Tem por base a “Consti-
tuição Espanhola de Cadiz de 1812” e as “Ordenações do Reino”, que é o primeiro
“Código Eleitoral” a viger no Brasil, as quais foram elaboradas em Portugal, no
fim da Idade Média, e utilizadas até 1828. Em seu “Livro Primeiro, Título 67”,
as “Ordenações” determinavam o procedimento para se efetivar eleições.
O processo eleitoral é muito complicado, fazendo-se indireto e em qua-
tro graus, segundo o método e as instituições adotadas pela “Constituição Es-
panhola de Cadiz de 1812”, por cujos dispositivos os cidadãos domiciliados e
residentes no território da respectiva freguesia, reunidos nas juntas ou as-
sembléias paroquiais, nomeavam compromissários, sendo por estes imedia-
tamente escolhidos os eleitores da paróquia; e por estes, eram designados os
eleitores da comarca, que, dentro de curto prazo, acorriam à capital da pro-
víncia para ali elegerem os deputados.
Para ser eleitor paroquial, de comarca, e deputado das Cortes é neces-
sário ser cidadão, morador e residente no domicílio declarado, estar em exer-
cício dos seus direitos, e ser maior de 25 anos. Não podem ser eleitos depu-
tados das Cortes, os Conselheiros de Estado; todas as pessoas que ocupam
empregos da Casa Real; os estrangeiros, ainda que tenham carta de cidadão
passada pelas Cortes; e nenhum funcionário público, nomeado pelo Gover-
no, pela mesma província em que exercer as suas funções.
Pelas instruções mandadas adotar no Brasil, é tomado por base o censo
demográfico de 1801, que dava ao nosso país uma população livre de 2.323.386
habitantes, devendo corresponder à representação de cada grupo de 30.000
almas (exceto escravos) 1 deputado, ou fosse, um total de 76 representantes
para aquela cifra de habitantes livres do Brasil.
Quanto aos subsídios dos deputados às “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e
Constituintes, convocadas em Lisbôa” assim está escrito: “Aos Deputados se hão de
dar 4$800 por dia desde aquelle, em que se puzerem em marcha para a Capital, os
quaes serão pagos pelo Erario, conforme a Resolução da Junta Preparatória das Côrtes”.
O resultado da eleição paroquial depende absolutamente da mesa elei-
toral e vai perdurar ao longo do Império. Seu poder e arbítrio não conhecem
limites; sua formação é a mais irregular, e as conseqüências são as desordens
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Praça do Commercio do Rio de Janeiro do dia 21 deste mez” e outro que “encarrega
o Governo Geral do Brazil ao Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brazil e
Algarves, D. Pedro de Alcântara”. Nesse mesmo decreto o Príncipe Regente D. Pedro
é constituído “Regente e Lugar-Tenente do Rei”.
As eleições para as Cortes Constituintes se dão com atraso no Brasil e
obedecem ao decreto e às instruções expedidas em 7 de março 1821. Todas
as províncias brasileiras existentes fazem a escolha de seus representantes
para as “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e Constituintes da Nação Portugueza”. São
eleitos 97 deputados (inclusive suplentes), procuradores e delegados pelas
províncias do Império do Brasil. Apenas 53 deputados comparecem às Cor-
tes Constituintes, sendo dez (10) representantes de Pernambuco; oito (8), da
Bahia; seis (6), do Rio de Janeiro; seis (6), de São Paulo; quatro (4), do Ceará;
três (3), de Alagoas; três (3), da Paraíba do Norte; três (3), do Grão-Pará; dois
(2), do Maranhão; dois (2), do Rio-Negro (Amazonas); dois (2), do Piauí; um
(1), do Rio Grande do Norte; um (1), de Santa Catarina; um (1), do Espírito
Santo; e um (1), de Goiás. Alguns só comparecem ou já residiam em Lisboa,
mas não tomam posse. Vários são portugueses, por nascimento ou opção, e
outros brasileiros conservadores e liberais.
A esse tempo, as Províncias do Amazonas, Sergipe e Paraná ainda não
estavam efetivamente constituídas. A primeira (Capitania e Comarca do Rio
Negro) teve sua representação unida com a da Província do Pará; a segunda
(Capitania e Comarca de Sergipe d’El-Rey) ficou envolvida na representação
baiana; e a terceira (Comarca de Curytiba, dependente da Província de São
Paulo) só foi elevada à categoria de província brasileira no segundo reinado.
O Rio de Janeiro foi a província que primeiro procedeu as eleições para
as “Côrtes Gerais”, mas os primeiros deputados constituintes do Brasil a de-
sembarcarem em Lisboa são os da Província de Pernambuco, que prestam
juramento e tomam assento em “Côrtes”, no dia 29 de agosto de 1821, sete
meses após instalados os trabalhos constituintes. O primeiro representante
brasileiro a fazer uso da palavra foi o Monsenhor Francisco Moniz Tavares,
na sessão de 30 de agosto, seguindo-se-lhe Manuel Zefirino dos Santos, e
Pedro de Araújo Lima, na sessão de 31 do mesmo mês.
No dia 10 de setembro tomam posse os deputados constituintes da Pro-
víncia do Rio de Janeiro; no dia 6 de novembro tomam posse os representan-
tes da Província do Maranhão; no dia 19 deste mesmo mês tomam posse os
representantes da Província de Santa Catarina; no dia 15 de dezembro são
reconhecidos e tomam posse os deputados constituintes das Províncias da
Bahia e de Alagoas, que acabavam de desembarcar. Os deputados constituin-
tes da Província de São Paulo tomam posse no dia 11 de fevereiro de 1822;
em 4 de fevereiro, tomam posse os da Província da Paraíba; em abril de 1822,
os das Províncias do Pará, Espírito Santo e Goiás. Em meados de maio de
1822 tomam posse os representantes eleitos pela Província do Ceará.
A representação de Minas Gerais, a mais numerosa, permanece no Bra-
sil, aguardando uma melhor oportunidade política. A bancada de Mato Grosso
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José de Rezende Costa, como ele réu da “Conjuração Mineira”, foi desterrado,
em fins do século dezoito, para terras africanas. Ele, para o arquipélago de
Cabo Verde, e seu pai, para Bissau.
Tendo recebido as devidas ajudas de custo para despesas de embarque
e o adiantamento de subsídio, estava em preparativos para a viagem, quan-
do, em comum acordo com os outros eleitos, desistiu de tomar posse. Dei-
xou-se ficar no Rio de Janeiro onde foi um dos adeptos e entusiastas da causa
da Indepedência.
8) Lucas Antônio Monteiro de Barros. Bacharel em Direito pela Uni-
versidade de Coimbra e magistrado. Mais tarde Visconde de Congonhas do
Campo. Eleito deputado efetivo, de acordo com as eleições realizadas entre
os dias 16 a 19 de setembro de 1821 pela Junta Eleitoral da Comarca de Villa
Rica (Ouro Preto), às “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e Constituintes da Nação
Portugueza”. Desistiu de ir ocupar a cadeira, apesar de, ele e outros compaheiros
de sua bancada, já estarem no Rio de Janeiro prontos a viajar para Lisboa, já
tendo, inclusive, recebido do Governo de Minas Gerais as respectivas ajudas
de custo para despesas de embarque e adiantamento de subsídios.
9) José Custódio Dias. Padre. Eleito deputado efetivo, de acordo com
as eleições realizadas entre os dias 16 a 19 de setembro de 1821 pela Junta
Eleitoral da Comarca de Villa Rica (Ouro Preto), às “Côrtes Geraes, Extraordi-
nárias, e Constituintes da Nação Portugueza”. Residia no Rio de Janeiro e desis-
tiu de ir ocupar a cadeira, embora ele e outros colegas de sua bancada, já se
acharem no Rio de Janeiro prontos a viajar para Lisboa, já tendo, inclusive,
recebido do Governo de Minas Gerais a respectiva ajuda de custo para despe-
sas de embarque e adiantamento de subsídios.
10) João Gomes da Silveira Mendonça. Brigadeiro do Exército. Depois
Marquês de Sabará. Eleito deputado efetivo, de acordo com as eleições reali-
zadas entre os dias 16 a 19 de setembro de 1821 pela Junta Eleitoral da
Comarca de Vila Rica (Ouro Preto), às “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e Consti-
tuintes da Nação Portugueza”. Residia no Rio de Janeiro, onde dirigia a “Fábrica
Militar de Pólvora da Estrella” e, tendo recebido as devidas ajudas de custo para
despesas de embarque e o adiantamento de subsídio para comparecer às
Cortes, já estava em preparativos para a viagem, quando de comum acordo
com os outros eleitos desistiu de tomar posse.
11) José Cesário de Miranda Ribeiro. Bacharel em Direito pela Uni-
versidade de Coimbra e magistrado. Depois primeiro Visconde de Uberaba.
Eleito deputado efetivo, de acordo com as eleições realizadas entre os dias 16
a 19 de setembro de 1821 pela Junta Eleitoral da Comarca de Villa Rica
(Ouro Preto), às “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e Constituintes da Nação
Portugueza”, não compareceu ao Congresso Constituinte.
12) Domingos Álvares Maciel. Capitão-mór e proprietário rural. Ir-
mão do inconfidente Dr. José Alvares Maciel, falecido no degredo africano de
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graves com que lutava. Nem vinham as grandes reformas anunciadas, nem se
tomavam as medidas urgentes que requeria o estado da Nação. Enquanto
pelas províncias, as aldeias continuavam a protestar contra os decretos que
queriam, por força, impôr-lhes, transformação nas tradições nacionais, as
“Cortes Ordinárias” passavam o tempo em discursatas retóricas, vazias de sen-
tido e absolutamente inúteis de acordo com pensamento dos representados.
No dia 23 de fevereiro de 1823 estalou a revolta em Vila Real, que se
alastra aos gritos de: “Viva El-Rei absoluto! Morra a Constituição!” Mas, esse
primeiro movimento absolutista falha. Na noite de 26 para 27 de maio de
1823, o Infante D. Miguel, instigado por D. Carlota Joaquina, nascida
D. Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Bourbon y Bourbon, encabeça uma
reação absolutista. Junta-se com alguns revolucionários em Vila Franca de
Xira, onde redigem uma proclamação, protestando contra o que se estava
passando em Portugal. No dia 3 de junho de 1823, a contra-revolução tri-
unfa. O Rei D. João VI aceita os acontecimentos, dissolve as “Côrtes” lusita-
nas, suspende a Carta Constitucional de 1822, organiza novo governo e faz
a promessa de outorga de uma nova Carta. Em conseqüência da
“Vilafrancada”, o Infante D. Miguel é nomeado Generalíssimo e Comandan-
te-em-Chefe do Exército. A nova ordem política, absolutista, é hostil ao
regime liberal. O absolutismo retorna, mitigado por uma Constituição ou-
torgada (1826 a 1829).
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Quadro/Ilustração nº 3
O plenário das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portugueza.
O Deputado Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (SP) diante do
pronunciamento insolente das galerias e assediado de apartes querendo abafar sua
voz que defendia os mais legítimos interesses do Brasil, afirma impavidamente,
em tom solene, que faz emudecer, desde logo, a gritaria: “Silêncio!
Aqui desta tribuna até os reis tem que me ouvir”.
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Quadro/Ilustração nº 4 e 4/A
O Palácio e Capela das Necessidades – litografia colorida
de Martins Lopes. Lisboa. (Sec. XIX).
Pintura da luneta colocada sobre a mesa da Presidência da Sala das Sessões da Assembléia
da República Portuguesa. Foi pintada por Veloso Salgado e representa os Constituintes
de 1821, em sessão plenária no Palácio das Necessidades, na Sala da Livraria
do Convento. As figuras são retratos de 50 constituintes, focando a tela o
momento em que usa da palavra o Deputado Fernandes Tomás.
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outro camonista ilustre, e que, com suas valiosas informações muito contribuiu para
esta pesquisa.
Através do Prof. Dr. Segismundo Spina tomamos conhecimento de ter-se encon-
trado, ou encontrar-se na REB, o exemplar da edição ‘princeps’ dos Lusíadas
supracitado; e outra dividida entre a Biblioteca do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
e a do Museu Histórico Nacional da mesma cidade, segundo informação da Dra.
Rejane Benning, Diretora da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, que
muito nos auxiliou com suas inestimáveis informações e orientações.
Em nossos museus, bem como no Palácio do Itamarati, encontram-se várias pe-
ças de mobiliário e pinturas valiosas aqui deixadas pelo Rei D. João VI.
No Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, está depositada uma coleção
de numismática de incomensurável valor: seis livros raríssimos, também, sobre numis-
mática com o selo real (dois trazem apenas o selo real e os outros quatro o selo da
Biblioteca Pública e o selo real), sendo o mais antigo deles datado de 1567, e várias
obras de arte, para lá transferidos pelo Prof. Dr. Gustavo Barroso, seu idealizador e
fundador, e seu diretor por vários anos, segundo nos foi dado a conhecer através da
Dra. Eliane Vieira, Chefe da Biblioteca deste museu, que, incansavelmente, tanto aju-
dou neste levantamento.
Na Biblioteca do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, se-
gundo a preciosa colaboração da Dra. Tânia Lúcia Rezende, ex-Chefe deste departa-
mento e atualmente bibliotecária Tecnologista Sênior desta instituição, não há ainda
um inventário que nos possa dizer quantos volumes vieram da REB, mas, provavel-
mente, grande parte do acervo sobre Botânica, anterior a 1820, deve ter feito parte da
biblioteca aqui deixada por D. João VI.
Ao todo vieram de Portugal 60 mil títulos, em três viagens, e o Rei D. João VI só
retornou à Metrópole com um reduzido número de manuscritos que diziam respeito
diretamente a Portugal, informação esta, também, fornecida pela Dra. Rejane Benning,
da Biblioteca Nacional
O Prof. Dr. Evanildo Bechara disse-nos que tinha conhecimento que se encontra-
va no Brasil um exemplar da edição ‘princeps’ dos Lusíadas, de Luís de Camões,
autografada, que se supõe ter pertencido ao célebre poeta, mas que nunca a tinha visto.
Depois de uma pesquisa mais profunda e trabalhosa descobrimos sua real existência.
Pertencendo, hoje, à Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, segundo
a Chefe desta biblioteca, Dra. Maura Macedo, tem escrito à mão e a lápis: Luiz de
Camões seu dono, com letra do século XVI, porém não pertenceu a REB. Foi presente-
ado ao Imperador D. Pedro II, em 1845, por Frei João de São Boaventura e pertence-
ra à Biblioteca Beneditina do Convento de Lisboa. Ao partir para o exílio, D. Pedro II
levou-o consigo. Em 1928 foi doado a este instituto por D. Pedro Henrique Afonso
Filipe Maria de Órleans e Bragança, Príncipe do Grão-Pará. Assim ficamos com um
legado cuja existência a maior parte dos brasileiros desconhece.” Grifado pelo compilador.
Acompanham o Rei D. João VI, no seu regresso, aproximadamente 4.000
súditos, entre os quais comerciantes e capitalistas. Este fato prejudica o co-
mércio, pois sua saída implica na retirada de capitais de uma hora para outra,
não só do movimento comercial como do Banco do Brasil, que, com estas
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retiradas e mais as que o rei realiza, fica sem lastro e é forçado a suspender os
pagamentos. Os compromissos públicos correspondem a mais do dobro do
que o Governo arrecada através dos tributos. Meses depois, no dia 21 de
setembro, o Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara escreve uma carta ao
pai, o Rei D. João VI, onde relata o estado em que se encontram as finanças.
A instituição nunca mais se recupera. Desacreditada e deficitária, termi-
na liquidada com a promulgação da Carta de Lei de 23 de setembro de 1829,
que estipula a continuação do banco até o dia 11 de dezembro do mesmo
ano, data limite para a liquidação e conclusão de todas as suas operações e
demais providências para o resgate das suas notas em circulação.
As conseqüências são os primeiros empréstimos externos junto à Ingla-
terra, com taxas extorsivas, e a emissão de papel-moeda sem lastro. Dívida e
inflação, que somados a outros fatos políticos, vão repercutir negativamente
durante todo o primeiro reinado.
O primeiro Banco do Brasil foi fundado em 12 de outubro de 1808 com
o objetivo de sustentar a Coroa em crise, facilitar pagamentos, promover o
comércio e custear a dispendiosa guerra da Banda Oriental, que foi invadida
nesse mesmo ano, sendo anexada ao Brasil em 1821 com o nome de Provín-
cia Cisplatina. O banco nasce privado, enquanto cabe ao Governo o controle
das aplicações. Mas, por iniciativa do regente, com o tempo, assume caráter
paraestatal. Atua em depósitos, descontos e emissões. É dotado, ainda, do
privilégio da venda de produtos monopolizados pela Coroa, tais como: pau-
brasil, diamantes e marfim. Só ao fim de treze meses consegue reunir capital
mínimo. A praça resiste e demora a investir. Em 1821, como o banco conti-
nua deficitário, o Rei D. João VI deposita nele as jóias da Coroa e convoca
todos a fazerem o mesmo. Medida política de pouca duração.
5 de junho de 1821. Paço da Boa Vista. É expedido decreto, com a
rubrica do Príncipe-Regente D. Pedro de Alcântara, que “aprova os deputados
da Junta Provisional, atendendo o art. 31 das Bases da Constituição Portugueza”.
Nesse mesmo dia, as tropas portuguesas no Rio de Janeiro obrigam o Prínci-
pe Regente D. Pedro de Alcântara a jurar as “Bases da Constituição da Monar-
quia Portugueza”. No dia 7 de junho é expedido um edital em que “a Junta
Provisional faz saber ao público que ela foi instalada nesse mesmo dia, iniciando as
suas sessões no dia 20, interinamente, no Consistório da Igreja de São Francisco de
Paula”.
7 de junho de 1821. Paço da Boa Vista. É expedido Decreto, com a
rubrica do Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara, “mandando que o Senado
da Câmara do Rio de Janeiro esteja em sessão continuada, para que os empregados
públicos prestem juramento às Bases da Constituição da Monarquia Portugueza”. No
dia 8, outro decreto “manda publicar e jurar as Bases da Constituição Portugueza
nas províncias do Reino do Brazil, para que todos fiquem sujeitos à sua observância”.
Vale lembrar que, as Câmaras Municipais eram locais de representação
política nacional, cabendo-lhes decidir sobre a administração dos municí-
A Construção da Democracia 79
80 Casimiro Neto
pois, devia viajar pela Europa, a fim de completar sua educação. Não sabe se
vai. Toma forma um grande movimento encabeçado no Rio de Janeiro pelo
Frei Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio, Joaquim Gonçalves Ledo,
José Clemente Pereira, José Joaquim da Rocha, Luiz Pereira da Nobrega de
Souza Coutinho, e em São Paulo pelos Andradas. Petições de várias provín-
cias (RJ, SP, MG, RS) pressionam para que o príncipe não saia do Brasil. Ele
se impressiona com a representação da Junta de São Paulo, de 2 de janeiro de
1822, escrita por José Bonifácio de Andrada e Silva, pedindo que ele não se
retirasse do Brasil. Em segredo, manda divulgá-la.
9 de janeiro de 1822. Palácio da Cidade. José Clemente Pereira, Presi-
dente da Junta do Rio de Janeiro, lê para o Príncipe-Regente D. Pedro de
Alcântara uma representação escrita por Frei Francisco de Santa Thereza de
Jesus Sampaio, com mais de oito mil assinaturas, duramente obtidas, sob
pressão de aproximadamente 2.000 homens das tropas portuguesas, pedin-
do que ficasse, ou melhor não atendesse às ordens vindas de Lisboa. Fala
sobre o perigo de “um partido republicano que existe semeado em muitas províncias
e que o navio que reconduzir o Príncipe Real, aparecerá no Tejo com o pavilhão da
independencia do Brazil”. Nasce deste movimento, a primeira grande demons-
tração de rebeldia do Príncipe-Regente D. Pedro de Alcântara, em prol da
autonomia brasileira.
É público o“TERMO DE VEREAÇÃO DO SENADO DA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO DE 9 DE JANEIRO DE 1822 – O Principe Regente declara ficar no
Brasil. Aos 9 de Janeiro do anno de 1822, nesta cidade de S. Sebastião do Rio de
Janeiro, e Paços do Conselho, aonde se achavam reunidos em acto de Vereação, na
fórma do seu Regimento, o Juiz de Fóra Presidente, Vereadores, e Procurador do Sena-
do da Camara, abaixo assignados, por parte do Povo desta Cidade foram apresentadas
ao mesmo Senado varias Representações, que todas se dirigem a requerer que este leve
a consideração de S. A. Real, que deseja que suspenda a Sua sahida para Portugal,
por assim o exigir a salvação da Patria, que está ameaçada do imminente perigo de
divisão de partidos, que se temem de uma independencia absoluta, até que o Soberano
Congresso possa ser informado destas novas circumstancias, e á vista dellas acuda a
este Reino com um remedio prompto, que seja capaz de salvar a Patria, como tudo
melhor consta das mesmas Representações, que se mandaram registrar. E sendo vistas
estas Representações, estando presentes os homens bons desta Cidade, que têm andado
na governança della, para este acto convocados, por todos foi unanimemente accordado
que ellas continham a vontade dominante de todo o Povo, e que urgia que fossem
immediatamente apresentadas a S. A. Real. Para este fim sahiu immediatamente o
Procurador do Senado da Camara, encarregado de annunciar ao Mesmo Senhor esta
deliberação, e de Lhe pedir uma Audiencia para o sobredito effeito: e voltando com a
resposta de que S. A. Real tinha designado a hora do meio-dia para receber o Senado
da Camara no Paço desta Cidade, para alli sahiu o mesmo Senado ás 11 horas do dia:
e sendo apresentadas a S. A. Real as sobreditas Representações pela voz do Presidente
do Senado da Camara, que Lhe dirigiu a falla; depois delle o Coronel do Estado-Maior
A Construção da Democracia 81
ás Ordens do Governo do Rio Grande Manoel Carneiro da Silva Fontoura, que tinha
pedido licença ao Senado da Camara para se unir a elle, dirigiu a falla ao Mesmo
Senhor, protestando-Lhe que os Sentimentos da Provincia do Rio Grande de S. Pedro
do Sul eram absolutamente conformes aos desta Provincia: E no mesmo acto João
Pedro Carvalho de Moraes apresentou a S. A. Real uma Carta das Camaras de Santo
Antonio de Sá e Magé contendo iguaes sentimentos. E S. A. Real dignou-se responder
com as expressões seguintes: “COMO É PARA BEM DE TODOS, E FELICIDADE
GERAL DA NAÇÃO, ESTOU PROMPTO: DIGA AO POVO – QUE FICO – .” E
logo chegando S. A. Real ás varandas do Paço, disse ao Povo: “AGORA SÓ TENHO
A RECOMMENDAR-VOS UNIÃO, E TRANQUILLIDADE.” – Foi a resposta de
S. A. Real seguida de vivas da maior satisfação, levantados das janellas do Paço pelo
Presidente do Senado da Camara e repetidos pelo immenso Povo que estava reunido no
Largo do mesmo Paço, pela ordem seguinte: Viva a Religião – Viva a Constituição –
Vivam as Côrtes – Viva El Rei Constitucional – Viva o Principe Constitucional – Viva
a união de Portugal com o Brazil. – Findo este acto, se recolheu o Senado da Camara
aos Paços do Conselho, com os Cidadãos, e os Mestéres do Povo, que acompanharam, e
o sobredito Coronel pela Provincia do Rio Grande do Sul. E de tudo para constar se
mandou tomar este Termo, que todos sobreditos assignaram commigo José Martins da
Rocha, Escrivão do Senado da Camara, que o escrevi. – José Clemente Pereira. –
Francisco de Souza e Oliveira. – Luiz José Vianna Grugel deo Amaral e Rocha. –
Manoel Caetano Pinto. – Antonio Alves de Araujo. – José Martins Rocha. (Seguem-se
as assignaturas dos mais Cidadãos.)”. Grifado pelo compilador.
Com este gesto o Princípe Regente D. Pedro de Alcântara oficializa sua
desobediência às “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e Constituintes da Nação
Portugueza”. A separação do Brasil de Portugal está informalmente realizada.
É sufocada a reação das tropas portuguesas ao comando do General Jorge de
Avilez, no dia 12 de janeiro, que fazia prontidão, constante e hostil, em frente
ao Palácio Real.
82 Casimiro Neto
A Construção da Democracia 83
Primeiro Império
84 Casimiro Neto
A Construção da Democracia 85
86 Casimiro Neto
destaca que “o Piauí era riquíssimo e bastante cortejado pela Coroa Portuguesa em
razão do grande comércio de carnes que, aliás, servia aos mercados do Maranhão,
Bahia e Pernambuco e até mesmo para o exterior”.
A “Batalha do Jenipapo” é o retrato do heroísmo de um povo em luta pela
sua liberdade. A bravura do povo piauiense nesta batalha torna-se essencial
para que o Brasil não venha a ser dividido em dois países. A luta decidiu a
unidade do Império brasileiro. A guerra traz fome, peste, sangue e morte.
Esta batalha é uma demonstração, também, do quanto a população do Piauí
rejeita o Governador das Armas, Sargento-Mor (Major) João José da Cunha
Fidié, a personificação da dominação portuguesa, a quem os documentos da
época denominam de soberbo, feroz, avarento, opressor e cruel inimigo do
Piauí. A população desta província, em uma mobilização sem precedentes, se
une para a formação de tropas para o combate, agregando-se grupos de va-
queiros, lavradores, artesãos, escravos, roceiros, mulheres, e com o apoio dos
sertanejos voluntários da Província do Ceará, começam os deslocamentos para
expulsar os portugueses da região. As tropas da independência, com mais de
dois mil homens, voluntários e convocados, armados toscamente de instru-
mento domésticos, de caça e agrícolas, tais como facões, machados, foices,
espetos, paus e pedras, poucas espingardas, velhas espadas, sem nenhuma
experiência militar, partem para o confronto.
A batalha às margens do Rio Jenipapo é o ápice da luta e do heroísmo
desse povo. A luta contra as tropas portuguesas compostas de aproximada-
mente 1.800 homens, bem armados, municiados, disciplinados e treinados,
dura das nove horas da manhã às duas da tarde sob sol ardente. A superiori-
dade militar dos portugueses impõe a vitória na batalha. Aproximadamente
542 brasileiros são feitos prisioneiros e mais de 200 estão entre mortos e
feridos. Do lado português, as perdas não chegam a uma centena – são apro-
ximadamente 60 feridos e 19 mortos –, porém haviam perdido boa parte da
bagagem de guerra, com as tropas da independência desviando importantes
equipamentos bélicos das tropas inimigas. Embora derrotados na primeira
refrega, os brasileiros engajados na luta não recuam da região. A luta conti-
nua pelo sertão e os portugueses são derrotados na seqüência da batalha pela
independência com a tática adotada pelos sertanejos, quando vários portu-
gueses são mortos em combate. Uma autêntica operação de guerrilha se ca-
racteriza pela formação de trincheiras nas escassas moitas dos matagais, pe-
las táticas de patrulhas ou colunas legalistas fazendo explorações pelos
caminhos e picadas, e pela disposição e expectativa da tropa aliada para en-
frentar as tropas inimigas. Impedem a marcha das tropas portuguesas para a
capital da Província, preservando a vitória do movimento. A chegada de re-
forços de outras vilas e províncias faz com que o comandante português aban-
done o campo de luta, e se desloque da região com sua unidade militar. Con-
vidado pela Junta Maranhense a defender a Vila de Caxias, entra nesta vila
no dia 17 de abril e fortifica-se na elevação denominada de Taboca. Ali, os
portugueses, durante três meses, resistem ao cerco das tropas aliadas, forma-
A Construção da Democracia 87
88 Casimiro Neto
A Construção da Democracia 89
90 Casimiro Neto
Era ut supra. E eu José Martins Rocha o escrevi. – José Clemente Pereira. – João
Soares de Bulhões. – Domingos Vianna Grugel do Amaral. – José Antonio dos Santos
Xavier”.
20 de maio de 1822. Plenário das “Côrtes Geraes, Extraordinárias, e Cons-
tituintes da Nação Portugueza”. Os representantes da Província da Bahia apre-
sentam uma proposição apoiada pela maioria dos constituintes brasileiros
contra a política violenta de Lisboa, cujo governo deliberara remeter mais
tropas militares para Salvador.
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92 Casimiro Neto
Quadro/Ilustração nº 6
A Abadessa do Convento da Lapa (Bahia), Joanna Angélica de Jesus
(A “mártir da independência do Brasil”).
A Construção da Democracia 93
Quadro/Ilustração nº 6/A
A reunião dos Procuradores Gerais das Províncias do Brasil
na cidade do Rio de Janeiro
94 Casimiro Neto
A Construção da Democracia 95
7. Têm direito a votar nas Eleições Parochiaes todo o Cidadão casado e todo
aquelle que tiver de 20 annos para cima sendo solteiro, e não fôr filho-familia. Devem,
porém, todos os votantes ter pelo menos um anno de residencia na Freguezia onde
derem o seu voto.
8. São excluidos do voto todos aquelles que receberem salarios ou soldadas por
qualquer modo que seja. Não são comprehendidos nesta regra unicamente os Guarda-
Livros e 1ºs caixeiros de casas de commercio, os criados da Casa Real, que não forem de
galão branco, e os Administradores de fazendas ruraes e fabricas.
9. São igualmente excluidos de voto os Religiosos Regulares, os Estrangeiros
não naturalisados e os criminosos.
10. Proceder-se-há ás Eleições de Freguezias no primeiro Domingo depois que a
ellas chegarem os Presidentes nomeados para assistirem a este acto.
CAPITULO II
DO MODO DE PROCEDER ÁS ELEIÇÕES DOS ELEITORES
1. No Dia aprazado para as Eleições Parochiaes, reunido na Freguezia o res-
pectivo Povo, celebrará o Parocho Missa solemne do Espirito Santo, e fará, ou outro
por elle, um discurso analogo ao objecto e circumstancias.
2. Terminada esta Ceremonia Religiosa, o Presidente, o Parocho e o Povo ser dirigi-
rão ás Casas do Conselho, ou ás que melhor convier, e tomando os ditos Presidente e
Parocho assento á cabeceira de uma Mesa, fará o primeiro, em voz alta e intelligivel, a
leitura dos Capitulos I e II destas Instrucções. Depois proporá dentre os circumstantes os
Secretarios e Escrutinadores, que serão approvados ou rejeitados por acclamações do Povo.
3. Na Freguezia que tiver até 400 fogos inclusive, haverá um Secretario e dous
Escrutinadores; e nas que tiverem dahi para cima, dous Secretarios e tres Escrutinadores.
O Presidente, o Parocho, os Secretarios e os Escrutinadores forma a Mesa ou Junta
Parochial.
4. Lavrada a Acta desta nomeação, perguntará o Presidente si algum dos
circumstantes sabe e tem que denunciar soborno ou conluio para que a Eleição recaia
sobre pessoa ou pessoas determinadas. Verificando-se por exame publico e verbal a
existencia do facto arguido (si houver arguição), perderá o incurso o direito activo e
passivo de voto. A mesma pena soffrerá o calumniador. Qualquer duvida que se suscite
será decidida pela Mesa em acto successivo.
5. Não havendo, porém, accusações, começará o recebimento das listas. Estas
deverão conter tantos nomes quantos são os Eleitores que tem de dar aquella Freguezia:
serão assignadas pelos votantes, e reconhecida a identidade pelo Parocho. Os que não
souberem escrever chegar-se-hão á Mesa e, para evitar fraudes, dirão ao Secretario os
nomes daquelles em quem votam: este formará a Lista competente, que depois de lida
será assignada pelo votante com uma Cruz, declarando o Secretario ser aquelle o signal
de que usa tal individuo.
6. Não póde ser Eleitor quem não tiver (além das qualidades requeridas para
votar) domicilio certo na Provincia, ha quatro anno inclusive pelo menos. Além disso
96 Casimiro Neto
deverá ter 25 annos de idade, ser homem probo e honrado, de bom entendimento, sem
nenhuma sombra de suspeita e inimisade á Causa do Brazil, e de decente subsistencia
por emprego, ou industria, ou bens.
7. Nenhum Cidadão poderá escusar-se da nomeação, nem entrar com armas
nos logares das Eleições.
CAPITULO III
DO MODO DE APURAR OS VOTOS
1. Recolhidas, contadas e verificadas todas as listas, a Mesa apurará os votos
applicando o maior cuidado e exacção neste trabalho, distribuindo o Presidente as
letras pelos Secretarios e Escrutinadores, e elle mesmo tendo os nomes conteúdos nas
mencionadas listas.
2. Terminada a apuração destas, proceder-se-há á conta dos votos, e o Secreta-
rio formará uma relação de todos os sujeitos que os obtiverem, pondo o numero em
frente ao nome. Então o Presidente e a Mesa, verificando si os que alcançaram a
pluralidade possuem os requisitos exigidos e demarcados no § 6 do Capitulo II, os
publicará em alta voz. No caso de empate decidirá a sorte.
3. O acto destas Eleições é successivo: as duvidas que occorrerem serão decididas
pela Mesa, e a decisão será terminante.
4. Publicados os Eleitores, o Secretario lhes fará immediatamente aviso para
que concorram á casa onde se fizeram as Eleições. Entretanto lavrará o Termo dellas
em o livro competente, o qual será por elle sobrescripto, e assignado pelo Presidente,
Parocho e Escrutinadores. Deste se extrahirão as copias necessarias, igualmente
assignadas, para se dar uma a cada Eleitor, que lhe servirá de Diploma, remetter-se
uma á Secretaria de Estado dos Negocios do Brazil e uma ao Presidente da Camara
das Cabeças de Districto.
5. As Camaras das Villas requererão aos Commandantes Militares os Soldados
necessarios para fazer guardar a ordem e tranquilidade, e executar s commissões que
occorrerem.
6. Reunidos os Eleitores, os Cidadãos que formaram a Mesa, levando-os entre si
e acompanhados do Povo, se dirigirão á Igreja Matriz, onde se cantará um Te-Deum
solemne. Fará o Parocho todas as despezas de altar, e as Camaras todas as outras; bem
como proverão de papel e livros todas as Juntas Parochiaes.
7. Todas as listas dos votos dos Cidadãos serão fechadas e selladas, e remettidas
com o Livro das Actas ao Presidente da Camara da Comarca para serem guardadas no
archivo della, pondo-se-lhes rotulos por fóra, em que se declare o numero das listas, o
anno e a Freguezia, acompanhado tudo de um officio do Secretario da Junta Parochial.
8. Os Eleitores, dentro de 15 dias depois da sua nomeação, achar-se-hão no
Districto que lhes fôr marcado. Ficarão suspensos pelo espaço de 30 dias, contados da
sua nomeação, todos os processos civis em que elles forem autores ou reus.
9. Todas estas acções serão praticadas a portas abertas e francas.
10. Para facilitar as reuniões dos Eleitores, ficam sendo (só para este effeito)
Cabeças de Districto, os seguintes:
A Construção da Democracia 97
98 Casimiro Neto
installação da Assembléa obste a que se espere por novos e mais bem formados Censos,
não devendo merecer attenção por inexactos todos os que existem, este numero 100 será
provisoriamente distribuidos pelas Provincias na seguinte proporção:
2. Para ser nomeado Deputado cumpre que tenha, além das qualidades exigidas
para Eleitor no § 6 capitulo II, as seguintes: Que seja natural do Brazil ou de outra
qualquer parte da Monarchia Portugueza, comtanto que tenha 12 annos de residencia
no Brazil, e sendo estrangeiro que tenha 12 annos de estabelecimento com familia,
além dos da sua naturalização; que reuna á maior instrucção, reconhecidas virtudes,
verdadeiro patriotismo e decidido zelo pela causa do Brazil.
3. Poderão ser reeleitos os Deputados do Brazil, ora residentes nas Côrtes de
Lisboa, ou os que ainda para alli não partiram.
4. Os Deputados receberão pelo Thesouro Publico da sua Provincia 6.000 cru-
zados annuaes, pagos a mesadas no principio de cada mez; e no caso de que haja
alguma Provincia, que não possa de presente com a despeza, será ella paga pelo cofre
geral do Thesouro do Brazil, ficando debitada á Provincia auxiliada para pagal-a
quando, melhoradas as suas rendas, o puder fazer.
5. Os Governos Provinciaes, proverão aos transportes dos Deputados das suas
respectivas Provincias, bem como ao pontual pagamento de suas mesadas.
6. Ficarão suspensos todos e quaesquer outros vencimentos, que tiverem os Depu-
tados, percebidos pelo Thesouro Publico, provenientes de empregos, pensões, etc.
7. Os Deputados pelo simples acto da Eleição ficam investidos de toda a plenitu-
de de poderes necessarios para as Augustas Funcções da Assembléa; bastando para
autorisação a cópia da Acta das suas Eleições.
A Construção da Democracia 99
8. Si acontecer que um Cidadão seja ao mesmo tempo eleito Deputado por duas
ou mais Provincias, preferirá a nomeação daquella onde tiver estabelecimento, e
domicilio. A Provincia privada procederá a nova escolha.
9. As Camaras das Provincias darão aos respectivos Deputados instrucções so-
bre as necessidades, e melhoramentos das suas Provincias.
10. Nenhum cidadão poderá escusar-se de aceitar a nomeação.
11. Quando estiverem reunidos 51 Deputados, instalar-se-ha a Assembléa. Os
outros tomarão nella assento a proporção que forem chegando.
CAPITULO V
DAS ELEIÇÕES DOS DEPUTADOS
1. Os Eleitores das Freguezias, tendo comsigo os seus Diplomas, se apresentarão
á Autoridade Civil mais graduada do Districto (que há de servir-lhes de Presidente até
á nomeação do que se ordena no § 4 deste Capitulo) para que este faça inscrever seus
nomes, e Freguezias, a que pertencem, no Livro que há de servir para as Actas da
proxima eleição dos Deputados; marque-lhes o dia e o local da reunião, e faça intimar
á Camara a execução dos preparativos necessarios.
2. No dia aprasado, reunidos os Eleitores presididos pela dita autoridade, depois
de fazer-se a leitura dos Capitulos IV e V, nomearão por acclamação um Secretario e
dous Escrutinadores, para examinarem os Diplomas dos Eleitores, e accusarem as fal-
tas que lhe acharem, e assim mais uma Commissão de dous dentre elles para examina-
rem os Diplomas do Secretario e Escrutinadores, os quaes todos darão conta no dia
seguinte das suas informações.
3. Logo depois começarão a fazer por escrutinio secreto e por cedulas a nomea-
ção do Presidente escolhido dentre os Eleitores, e, apurados os votos pelo Secretario e
Escrutinadores, será publicado o que reunir a pluralidade, do que se fará Acta ou
Termo formal com as devidas explicações. Tomando o novo Presidente posse, o que será
em acto successivo, retirar-se-há o Collegio Eleitoral.
4. No dia seguinte, reunido e presidido o Collegio Eleitoral, darão as Commissões
conta do que acharam nos Diplomas. Havendo duvidas sobre elles (ou qualquer outro
objecto), serão decididas pelo Presidente, Secretario, Escrutinadores e Eleitores; e a
decisão é terminante. Achando-se, porém, legaes, dirigir-se-há todo o Collegio á Igreja
principal, onde se celebrará pela maior Dignidade Ecclesiastica Missa solemne do Es-
pírito Santo, e o Orador mais acreditado (que não poderá escusar) fará um discurso
analogo ás circumstancias, sendo as despezas como no art. 6 do Capitulo III.
5. Terminada a Ceremonia, tornarão ao logar do Ajuntamento e, repetindo-se a
leitura dos Capitulos IV e V, e feita a pergunta do § 4 Capitulo II, procederão á eleição
dos Deputados, sendo ella feita por cedulas individuaes, assignadas pelo votante, e
tantas vezes repetidas, quantas forem os Deputados que deve dar a Provincia; publi-
cando o Presidente o nome daquelle, que obtiver a pluralidade, e formando o Secretario
a necessaria Relação, em que lançará o nome do eleito e os votos que teve.
6. Preenchido o numero, e verificadas pelo Collegio Eleitoral as qualidades
exigidas no § 2 do Capitulo IV, formará o Secretario o Termo da eleição, e circumstancias
que a acompanharam: delle se extrahirão duas copias, uma das quaes será remettida á
Secretaria de Estado dos Negocios do Brazil, e outra fechada e sellada á Camara da
Capital, levando inclusa a relação dos Deputados que sahiram eleitos naquelle districto,
com o numero de votos, que teve, em frente do seu nome. Este Termo e Relação serão
assignados por todo o Collegio, que desde logo fica dissolvido.
7. Recebidas pela Camara da Capital da Provincia todas as remessas dos
differentes Districtos, marcará por Editaes o dia e hora em que procederá á apuração
das differentes nomeações: e nesse dia, em presença dos Eleitores da Capital, dos Ho-
mens bons e do Povo, abrirá as Cartas, fazendo reconhecer pelos circumstantes que ellas
estavam intactas, e, apurando as relações pelo methodo já ordenando, publicará o seu
Presidente, aquelles que maior numero de votos reunirem. A sorte decidirá os empates.
8. Depois de publicadas as eleições, formados e exarados os necessarios Termos e
Actas assignadas pela Camara e Eleitores da Capital, se dará uma cópia a cada um dos
Deputados, e remetter-se-há outra á Secretaria de Estado dos Negocios do Brazil.
9. O Livro de Actas, e as Relações e Officios recebidos dos differentes Districtos
serão emmaçados conjunctamente, sobrepondo-se-lhes o rotulo – Actas das Eleições dos
Deputados para a Assembléa Geral Constituinte e Legislativa do Reino do Brazil no
anno de 1822; e se guardará no Archivo da Camara.
10. A Camara, os Deputados, Eleitores, e Circumstantes dirigir-se-hão á Igreja
principal, onde se cantará solemne Te-Deum a expensas da mesma Camara.
Paço, 19 de Junho de 1822. – José Bonifacio de Andrada e Silva”. Grifado pelo
compilador.
desta Provincia adiante assignados, para o fim de ser Acclamado o Senhor D. PEDRO
DE ALCANTARA IMPERADOR CONSTITUCIONAL DO BRAZIL, conservando
sempre o Titulo de Seu Defensor Perpetuo Elle e Seus Augustos Sucessores, na fórma
determinada em Vereação Extraordinaria de 10 do corrente. (...)Findo este solemne Acto
foi Sua Magestade Imperial e Constitucional acompanhado debaixo de Pallio á Capella
Imperial, aonde estava disposto um Te-Deum solemne em Acção de Graças”.
Vale registrar que foi, também, por proposta de Domingos Alves Branco
Muniz Barreto (BA) que se desse o título de imperador, em vez de rei, ao
Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara e que, aceito pelo povo do Rio de
Janeiro através de seus representantes no Senado da Câmara, foi este acla-
mado como “Imperador Constitucional do Brasil e seu Perpétuo Defensor”. Com a
independência e a aclamação do Imperador, o Brasil passa a existir como
entidade política, como país.
D. Pedro de Alcântara, com apenas 22 anos, torna-se o primeiro
governante do maior império que já existiu abaixo da linha do Equador. Im-
pério apenas menor que o da Rússia, da China e do Britânico. Alguns depu-
tados e estudiosos da época consideravam este como o dia da independência
do Brasil. A Decisão do Governo nº 210, de 1º de outubro de 1824, declarava
de grande gala o dia 12 de outubro.
18 de outubro de 1822. É expedida a Decisão de Governo nº 125 pelo
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino do Brasil e Estrangei-
ros José Bonifácio de Andrada e Silva (SP), que “comunica aos encarregados de
negócios, no estrangeiro, o Acto da Acclamação do Príncipe Regente como Imperador
do Brazil”.
28 de outubro de 1822. Primeira demissão dos Andradas. 48 horas
depois os mesmos são readmitidos, atendendo a representações dos procura-
dores-gerais e comandantes das guarnições. Reassume José Bonifácio de
Andrada e Silva (SP) com plenos poderes e com a disposição de poder reali-
zar o seu programa de “centralizar a união e prevenir as desordens”. O governo
dos Andradas dura 18 meses, até 16 de julho de 1823, e é marcado pela
disputa entre o ministério e o grupo da maçonaria, sob o comando de Joa-
quim Gonçalves Lêdo.
1º de dezembro de 1822. Cerimônia de coroação e sagração do Impe-
rador D. Pedro I. Realiza-se de acordo com a Decisão do Governo nº 138, do
dia 20 de novembro, expedida pelo Ministro e Secretário de Estado dos Ne-
gócios do Reino do Brasil e Estrangeiros José Bonifácio de Andrada e Silva
(SP), que “determina o Cerimonial do Auto de Coroação e Sagração”. Sendo realiza-
do, também, logo após esta cerimônia, o juramento dos procuradores-gerais
das províncias, do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, e dos procuradores
de outras câmaras, declarando obediência as leis e ao Imperador.
Em meados de dezembro de 1822, por determinação do Ministro e
Secretário de Estado da Fazenda Martim Francisco Ribeiro de Andrada (SP),
é expedida ordem para se preparar uma casa destinada aos trabalhos da As-
sembléia Geral, Constituinte e Legislativa. A “Cadeia Velha”, que se acha deso-
cupada sendo o edifício que melhores condições e proporções oferece, é es-
colhida.
Theodoro José Biancardi é o encarregado da sua reforma e decoração,
por indicação de José Bonifácio de Andrada e Silva (SP), no intuito de prestar
este auxílio ao seu irmão, Ministro e Secretário de Estado da Fazenda, na
preparação daquela casa histórica. Biancardi fica encarregado, também, da
organização da respectiva Secretaria. O oratório, ou Capella de Jesus, onde
esteve Tiradentes, serve, depois, para o Arquivo da Câmara. O lugar que
melhor encontra para a Secretaria da Assembléia é o salão onde existia o
alçapão e por onde subiam e desciam os presos.
Estando nestes preparativos, conta-se que, quando Theodoro José
Biancardi estava mandando assoalhar a boca do alçapão, vê, de repente, um
homem vestido de preto ajoelhar-se perto deste local que se estava fechando.
Este, unindo as mãos, levanta os olhos para o céu, e diz estas palavras, que,
tradicionalmente conservadas, foram sendo repassadas ao longo da nossa
história legislativa: “Louvado sejaes, meu Deus: quando, em 1792, eu sahi por aqui,
para cumprir a sentença que me foi imposta por occasião da Conjuração Mineira, não
me passou pelo pensamento que seria eu hoje um dos membros da Assembléa Geral
Constituinte e Legislativa do Brazil! Louvado seja o Senhor, meu Deus”. Era José de
Rezende Costa – filho (MG), e que proferia tais palavras, com lágrimas nos
olhos. A medida que o assoalho se pregava na boca do alçapão, narrava a
Biancardi os seus sofrimentos e os de seus companheiros de infortúnio.
Este brasileiro fora, anteriormente, eleito deputado por Minas Gerais
às “Côrtes Geraes, Constituintes e Legislativas da Nação Portugueza”. Agora, depu-
tado para a primeira Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Brasil
tem como missão ajudar a constituir o Brasil como nação livre, soberana e
independente. Depois da Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa, é elei-
to, mais uma vez, deputado para a 1ª legislatura – 1826/1829.
Ainda estudante e um dos inconfidentes de Minas Gerais, é preso junta-
mente com seu pai, José de Resende Costa (MG), que também estava impli-
cado na conspiração. São condenados à morte e enviados para a ilha das
Cobras. Ambos obtêm, em 1792, a comutação da pena de morte na de degre-
do. É desterrado por dez anos para a ilha de São Tomé de Cabo Verde, sendo
seu pai desterrado para Bissau.
A Cadeia Velha, edifício construído em meados do século XVII para abrigar a
Câmara Municipal e servir de prisão, como era costume no Brasil Colonial, foi a
primeira sede da Câmara dos Deputados, de 17 de abril a 12 de novembro de 1823,
depois, no Império, de 29 abril de 1826 a 15 de novembro de 1889, e também, de 12
de dezembro de 1891 a 11 de setembro de 1914, na 1ª República.
5 de janeiro de 1823. É expedida a Decisão do Governo nº 2 pelo Mi-
nistro e Secretário de Estado dos Negócios do Império e Estrangeiros José
Bonifácio de Andrada e Silva (SP), que “dá providências para se reunirem quanto
antes na cidade do Rio de Janeiro os Deputados da Assembléa Constituinte”. Grifado
pelo compilador. As eleições para a Assembléia Constituinte haviam se realizado
após a “Proclamação da Independência”. Estas instruções são para que os gover-
nos provinciais facilitem todos os meios precisos para o transporte de seus
representantes à Corte, no Rio de Janeiro, “com a possível brevidade”. Lembra,
inclusive, da necessidade de virem os suplentes, quando os titulares estive-
rem impedidos.
17 de fevereiro de 1823. É expedido Decreto, com a rubrica do Impe-
rador D. Pedro I, que “explica o Decreto de 3 de Junho de 1822 sobre subsidio dos
Deputados á Assembléa Constituinte”.
Ilustração nº 7
Interior do edifício da Cadeia Velha após a reforma para instalação
da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
aberta, portanto requeiro que o governo mande uma força tal, que não fique de novo
maltratada, e consiga a total extincção daquelles ajuntamentos”. Grifado pelo compilador.
Após esse pronunciamento o deputado entrega à Mesa a seguinte Indi-
cação: “Proponho que se officie ao governo afim deste tomar medidas promptas e
energicas, já, já, para a extincção do quilombo denominado Guandú, nas immediações
de Catumby. – Costa Barros”. Grifado pelo compilador. A Indicação é apoiada, e
vencendo-se também a urgência, faz-se a segunda leitura. Falam mais alguns
deputados. Julgando-se a matéria suficientemente discutida, é colocada em
votação, e em seguida aprovada.
No dia 22 de setembro, é publicado a resolução da “Assembléa Geral,
Constituinte e Legislativa”, datada de 20 de setembro, com o seguinte teor:
“Para Caetano Pinto de Miranda Montenegro. A assembléa geral constituinte e
legislativa do imperio do Brazil sendo-lhe presente que nas immediações de Catumby
existe um quilombo denominado Guandú e convindo a bem do publico a sua prompta
extincção: manda recomendar ao governo a maior efficacia e energia na expedição das
medidas necessarias para se extinguir o mencionado quilombo, o que V. Ex. levará ao
conhecimento de S. M. I. Deus guarde á V. Ex. – Paço da assembléa, em 20 de setembro
de 1823. – João Severianno Maciel da Costa”. Grifado pelo compilador.
Na sessão de 26 de setembro, é lido o ofício do Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios da Justiça Caetano Pinto de Miranda Montenegro, com
o seguinte teor: “Ilm. e Exm. Sr. – Estavão dadas as providencias, antes de receber o
officio de V. Ex. de 20 do corrente, para extinguir o Quilombo do Guandú nas
immediações de Catumby; mas tem-se demorado a execução porque as montanhas, e
matos, que cercão esta cidade por aquelle lado, e por onde os calhambolas se derramão
por veredas, e picadas desconhecidas, ao primeiro rebate das suas espias e atalaias,
fazem necessário o cahir sobre elles de sobresalto, e este depende de segredo e disfarce. O
que participo a V. Ex. de ordem de S. M. o Imperador, para chegar ao conhecimento da
assembléa geral constituinte e legislativa deste Império. Deus guarde a V. Ex. Palacio
do Rio de Janeiro, em 25 de Setembro de 1823. – Caetano Pinto de Miranda
Montenegro”. Grifado pelo compilador.
Durante os trabalhos legislativos da Assembléia Geral, Constituinte e
Legislativa as questões suscitadas variam, desde a extinção do tráfico negrei-
ro (são dignas de nota as sessões dos dias 29 e 30 de setembro de 1823), ao
fortalecimento do poder imperial.
Os artigos publicados no “Diário do Governo” (periódico da iniciativa
privada, onde eram publicados as portarias, os decretos, e os extratos dos
trabalhos da Assembléia, e ainda, para completá-lo entravam outros artigos
escolhidos pelo redator ou pelos donos da folha) suscitam vivas reclamações
de diversos deputados, que vêem nas matérias divulgadas manifestações de
sentimentos absolutistas.
O crescimento da oposição e os ataques ao Governo Imperial criam um
clima de animosidade na Corte. O monarca não está acostumado a essas
contrariedades nem a uma fiscalização severa de seus atos. Daí esse antago-
nismo vivo e flagrante, essa irritação sempre crescente entre a “Assembléa Ge-
(...) A commissão é de parecer que o supplicante deve recorrer aos meios ordinarios,
e prescriptos nas leis”.
Os irmãos Andradas tomam a defesa do boticário. Os jornais “O Tamoio”
e o “Sentinella da Liberdade à Beira mar da Praia Grande” exigem vingança,
investem contra o Governo imperial, atacam os oficiais portugueses que
servem nas tropas imperiais, e requerem a expulsão dos inimigos dos brasi-
leiros. O Imperador D. Pedro I, por sua vez, quer a expulsão dos Andradas
da Constituinte. O ministério demite-se. O boticário apela à Assembléia
Constituinte, que se esquiva, pois não é de sua competência falar no pro-
cesso. Mas o nervoso debate vai até o dia 10 de novembro, quando entra
em pauta o projeto sobre liberdade de imprensa, e os ânimos ficam mais
exaltados.
A sessão do dia 10 de novembro de 1823 é muito agitada e a discussão
do projeto sobre liberdade de imprensa, que teve sua primeira discussão
iníciada no dia 23 de outubro, atinge o ápice. O Deputado José Martiniano
de Alencar, padre (CE), assim se expressa: “Uns cidadãos, que desejão ouvir as
discussões, me pedirão agora que visto não haver lugar nas galerias, requeresse eu á
assembléa a permissão de entrarem para dentro da sala, ficando por detraz das cadei-
ras dos deputados; eu o proponho, a assembléa decidirá”. O Deputado Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (SP) fala em seguida: “Nisto não
póde haver duvida; ninguem é mais interessado nos trabalhos e deliberações da assembléa
do que o povo: isto tem-se feito em todas as assembléas. Entrem, oução, e saibão como
nós, ou bem ou mal, defendemos os seus direitos”. O requerimento é colocado em
votação, e em seguida, é aprovado. Comunica-se ao povo que podiam entrar
e enche-se imediatamente a sala. O presidente da Assembléia adverte as pes-
soas para as regras de comportamento a serem observadas durante os traba-
lhos legislativos.
Admitindo-se o povo às galerias e ao plenário, por aprovação unânime
dos constituintes, a sessão torna-se tensa. Quando colocado em discussão o
parecer da comissão de justiça sobre o requerimento do boticário David
Pamplona Côrte Real, o inflamado Deputado Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada Machado e Silva (SP) faz um longo e inflamado discurso: “(...) Quando
se perde a dignidade, desapparece tambem a nacionalidade. Não, não somos nada, se
estupidos vemos, sem os remediar, os ultrages que fazem ao nobre povo do Brazil, es-
trangeiros que adoptamos nacionaes, e que assalariamos para nos cobrirem de
baldões...Os cabellos se me errição, o sangue ferve-me em borbotões, á vista do infando
attentado, e quasi maquinalmente grito: vingança!...Poderei ser assassinado: não é
novo que os defensores do povo sejão victimas do seu patriotismo; mas meu sangue
gritará vingança, e eu passarei á posteridade como o vingador da dignidade do Brazil.
E que mais póde desejar ainda o mais ambicioso dos homens?”
O Deputado Martim Francisco Ribeiro de Andrada (RJ) fala em segui-
da: “(...) Legisladores! Trata-se de um dos maiores attentados; de um attentado, que
ataca a segurança, e dignidade nacional, e indirectamente o systema político por nós
adoptado, e jurado. Quando se fez a leitura de semelhante atrocidade, um silencio de
gelo foi nossa única resposta, e o justo receio de iguaes insultos á nossa representação,
nem se quer fez assomar em nossos rostos os naturaes sentimentos de horror e indigna-
ção”. Continuando o seu pronunciamento, o deputado é interrompido pelos
“apoiados” de alguns de seus pares, que, com entusiasmo, aplaudem o seu
discurso, e pelo que repetiam o povo das galerias e sala. Há tumultos genera-
lizados no recinto da Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa. Ovacio-
nam, também, o inflamado Deputado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada
Machado e Silva (SP), levam-no nos ombros. O presidente recomenda silên-
cio. Não sendo atendido, a sessão é, então, bruscamente interrompida, às
treze horas e vinte minutos, pelo seu presidente, o Deputado João Severiano
Maciel da Costa (MG), depois Marquês de Queluz, que no dia 11 se justifica
pela adoção da medida.
11 de novembro de 1823. Plenário. Dez horas. O Deputado Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (SP), parlamentar consumado,
reconhecido como o primeiro grande vulto da assembléia, faz o seguinte pro-
nunciamento: “Sr. Presidente, tenho que fazer uma proposta, que requeiro se tome
logo em consideração para se deliberar sobre ella. A situação da capital do Rio de
Janeiro me determina a fazel-a. O dia de hontem foi um dia muito notavel; as tropas
estiverão em armas toda a noite, e correndo a cidade a puzerão em geral inquietação;
os cidadãos pacificos não dormirão.; e propagando-se vozes de se atacarem alguns
deputados, foi preciso tomar cautelas, e velar em defesa própria.
Á vista disto, cumpre-nos, como sentinellas da nação, vigiar pela sua segurança.
Sua Magestade acha-se actualmente no seu palacio rodeado de todos os corpos,
até dos de artilharia, o que indica haver causa que, supposto a não conheçamos, deve
ser da mais alta consideração. E como nós somos responsaveis á nação, proponho que
esta assembléa se declare em sessão permanente, e que se destine uma deputação para
pedir a Sua Magestade que pelo governo se nos transmittão os motivos de tão
extraordinarios movimentos nas tropas, e o que obriga a que os corpos estejão com
cartuxos embalados como promptos para ataque, quando não apparece razão para isto.
Sr. Presidente, o mundo nos vê; a nação nos escuta; o descuido em tal caso não merece
desculpa, nem em um corpo legislativo tem lugar os descuidos. Estabeleçamos pois as
nossas comunicações com o governo, e para isso se forme uma commissão especial, afim
de deliberar-se com conhecimento prompto sobre as medidas que parecerem mais conve-
nientes. Eu mando á mesa o que escrevi sobre este objeto”. Grifado pelo compilador. Em
seguida entrega à Mesa, a Indicação nº 12, propondo que a Assembléia se
declare, em sessão permanente, enquanto durarem as inquietações na cida-
de; que se solicite ao Governo, os motivos dos estranhos movimentos milita-
res que perturbam a tranqüilidade da capital; que se escolha uma comissão
especial que vigie sobre a segurança da Corte; e que se comunique com o
Governo e autoridades, a fim de deliberar-se sobre quais as medidas extraor-
dinárias que demandam as delicadas circunstâncias. Aprovada a sua urgên-
cia, é, em seguida, colocada em discussão. Falam vários deputados. Colocada
em votação, a indicação é aprovada.
Esta reunião que viria a ser chamada de “A Noite da Agonia”, vara a ma-
drugada e fica em sessão permanente do dia 11 para o dia 12 de novembro.
Durante a noite são trocados ofícios e notas entre a Assembléia e o Governo
imperial. Nesta tensa e exaustiva troca de mensagens, é informado que a
oficialidade não tolera “certos redatores de periódicos e seu incendiário partido e em
especial O Tamoio, o “Sentinella da Liberdade à Beira mar da Praia Grande”e os
Andradas”.
O Deputado Joaquim Manoel Carneiro da Cunha (PB) pronuncia: “O
que vejo nisto é o governo a querer dar-nos a lei; e então vale mais largarmos a nossa
tarefa, uma vez que pretende abater a dignidade da assembléa, e a de um povo generoso
que tantos sacrificios tem feito para proclamar a sua independencia. (...) Portanto para
a salvação do estado é necessário que se remova, não a tropa, mas a assembléa para
fóra do Rio de Janeiro” e, em seguida, apresenta emenda nesse sentido.
“(...) O nosso lugar é este. Se S.M. quer alguma coisa de nós, mande aqui e a
Assembléa deliberará”, declara o Deputado Martim Francisco Ribeiro de Andrada
(RJ).
“(...) Se morrermos, acabamos desempenhando nossos deveres”, pronuncia o
Constituinte Francisco Gê Acayaba de Montezuma (BA).
O Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império e Estran-
geiros Francisco Villela Barbosa (RJ), Oficial do Exército, primeiro Viscon-
de e Marquês de Paranaguá é convocado para informar sobre os aconteci-
mentos.
Às onze horas, do dia 12, é anunciada sua chegada e os “Anais Parlamen-
tares” registram que ao entrar, observou-se, que como é de praxe, o ministro
deveria deixar sua espada no vestíbulo. “Responde que a espada é para defender
a pátria, e não para ofender os membros da Assembléia e que portanto podia entrar com
ela”. Toma assento à esquerda do último secretário e passa a prestar esclareci-
mentos. “Diz que os oficiais se queixavam dos insultos que se lhes faziam em alguns
periódicos, atacando-os na sua honra e probidade; e muito particularmente das injú-
rias dirigidas contra o Imperador, e da falta de decoro e respeito para com sua augusta
pessoa, sendo até ameaçada sua existência física e política no periódico intitulado “O
Tamoio”. Pediam, também, que sendo redatores do referido periódico os deputados se-
nhores Andradas, fossem estes expulsos da assembléia; o que o Imperador declarou
como inadmissível. Informa, também, que o Imperador, sabendo a causa do motim que
no dia 10 obrigara a Assembléia a levantar a sessão extemporaneamente, retirou a
tropa para São Cristovão com o objetivo de desviar da ocasião alguma desordem e ficar
a Assembléia em liberdade. Roga que a Assembléia corresponda com providências de
moderação e prudência, pois receia que haja o mesmo que houve em Portugal, (o golpe
absolutista da Vilafrancada, em 27 de maio de 1823) visto que os acontecimentos
atuais e as suas causas se parecem muito com os fatos ocorridos naquele reino: a Assem-
bléia amotinada levantar extemporaneamente a sessão; os militares queixarem-se ao
Imperador; as tropas marcharem para São Cristovão; e a Assembléia todo o dia e noite
em sessão permanente. Diz que coisas semelhantes a estas viu em Portugal mas que não
pode afirmar qual será o resultado final”. O Presidente declara estar a Assembléia
no Decreto, de que acima falamos, Promete convocar. De tarde houverão salvas das
Fortalezas, e embarcações surgirão no Porto, e á noite illuminação espontanea na maior
parte da Cidade; aonde tem reinado hum profundo socego. SS. MM. Estiverão no
Theatro, aonde se repetirão os mesmos Vivas)”.
De todos eles, só os cinco primeiros e mais José Bonifácio de Andrada e
Silva são conservados em prisão até o dia 20, data em que, desterrados, em-
barcam com destino ao porto do Havre, na França, a bordo de uma velha
charrua, de nome “Luconia” (que, no ano anterior fora apresada por ordem
do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império e Estrangeiros
José Bonifácio de Andrada e Silva (SP), quando aqui aportou conduzindo
dois deputados da Índia às Cortes de Lisboa). A velha charrua está sob o
comando do capitão (vinculado aos portugueses) Estanislau Joaquim Barbo-
sa. Os demais são postos em liberdade poucos dias depois. O “Patriarca da
Independência” passa de herói a exilado. Os restantes dos presos são logo pos-
tos em liberdade.
Ao examinar a trajetória da primeira Assembléia Constituinte não é
possível separar os três irmãos Andradas. Participantes ativos dos aconteci-
mentos, vemos o entusiamo, a energia, e a vontade de construir um novo país
em José Bonifácio de Andrada e Silva; o grande orador, o agitador, o jurista e
o espírito de sacríficio de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e
Silva; a rigidez, a austeridade, o equilíbrio, o mais sensato em Martim Fran-
cisco Ribeiro de Andrada.
O decreto imperial do dia 18 de novembro concede aos três irmãos
Andradas, ao Capitão-Mor e advogado José Joaquim da Rocha (MG), e ao
baiano Francisco Gê Acayaba de Montezuma (futuro Visconde de Jequitinho-
nha) a pensão de 1:200$ annual e de 600$ ao Padre Belchior Pinheiro de
Oliveira (MG), pagando-se-lhe logo três meses adiantados por uma vez so-
mente.
O “Diário do Governo” do dia 22 de novembro de 1822, registra “Noticias
Maritimas. Sahidas. Dia 20 do corrente. – have de Grace; Ch. Luconia, Com. O Cap.
Tem. Joaquim Estanisláo Barbosa: conduz de passagem os prezos José Bonifácio de
Andrada e Silva com sua mulher, sua irmã, huma filha, e 2 criadas, Martim Francisco
Ribeiro de Andrada com sua mulher, e 3 criados, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada
Machado com sua mulher, hum sobrinho, e hum criado, o Padre Belchior Pinheiro de
Oliveira com hum criado, José Joaquim da Rocha com 2 filhos, e Francisco Gê Acaiaba
Montezuma com sua mulher, e hum criado”).
Conta-se, que os inimigos dos irmãos Andradas estavam em conluio
com o comandante (vinculado aos portugueses) Estanislau Joaquim Barbosa
e tinham em mente o plano de entregá-los nas mãos dos lusitanos e com isso,
certamente, receberiam a pena capital. As manobras executadas pelo navio,
desviando-se do curso programado para levá-los para a costa de Portugal,
deram ensejo à certeza de que tal trama se efetuaria. Três meses gasta o
“Luconia” do Rio de Janeiro à altura da barra de Lisboa. José Bonifácio de
Andrada e Silva (SP) – cientista e com conhecimentos de navegação –, des-
ofensa recebida. Nas províncias, o golpe gera reações. Na Bahia, iniciam-se tu-
multuosos protestos que vão durar três dias. Mas a maior foi a reação pernambu-
cana, em 1824, com o movimento denominado “Confederação do Equador”.
O que se pode afirmar é que o dissídio entre a “Assembléa Geral, Consti-
tuinte e Legislativa” e o soberano, desenvolveu-se no dia a dia da histórica
assembléia, e não é o caso de espancamento do boticário do largo da Carioca,
a sua causa. A Assembléia teve certamente os seus erros e demasias partidá-
rias, não sabendo conduzir com inteligência e tato o episódio de David Pamplona
Corte-Real. Mas na verdade, foi a separação das idéias, da polêmica em redor
dos princípios, e da delimitação das áreas de autuação dos poderes. Era dividir
ou não a soberania. Era a pouca convivência, de todos, com os embates parla-
mentares. E acima de tudo a vontade do soberano, aferrado à tradição absolu-
tista da monarquia dos Bragança, se sobrepondo ao desejo da maioria.
Não se aponta uma só página do “Diário da Assembléa”, de suas sessões,
dos seus trabalhos e das discussões ali inseridas, em que não esteja estampa-
do o mais profundo respeito, a mais severa circunspecção em suas relações
com o Imperador. “A Nação, Sr. Presidente, elegeu um Imperador constitucional,
deu-lhe o poder executivo e o declarou chefe hereditário: Nisto não podemos nós bulir;
o que nos pertence é estabelecer as relações entre os poderes, de forma porém que se não
ataque a realeza” pronuncia o Constituinte Antônio Carlos Ribeiro de Andrada
Machado e Silva (SP). Nas próprias sessões de 11 e 12 de novembro, em que
o monarca, mal-aconselhado e arrastado pela impetuosidade de seu caráter,
violenta, com mão armada, a dignidade da Assembléia – nem uma palavra,
nem uma queixa parte dos deputados contra ele.
Tanto os Constituintes como o Imperador haviam recebido os seus res-
pectivos mandatos do povo. O ponto de equilíbrio entre o monarca e a
“Assembléa Geral, Constituinte e Legislativa” acaba sendo rompido em virtude
das sérias divergências por parte do Governo Imperial, tendo como conse-
qüência a sua dissolução.
No decorrer da tumultuada sessão do dia 11 de novembro, com as acu-
sações aos irmãos Andradas, e diante das notícias que corriam na capital, o
Deputado José Bonifácio de Andrada e Silva (SP), após tomar ciência dos
fatos, assim se expressa, através de pronunciamento, em Plenário: “(...) Diz o
governo que os officiaes da guarnição pedem satisfação dos insultos que se lhes tem
feito. (...) Diz que o Tamoio é redigido por tres deputados, entre os quaes eu tenho a
honra de ser nomeado, e portanto reputado incendiário; mas declarando eu, em 1º
lugar, que na pequena parte que me coube, só disse o que a minha consciencia me
dictou, pergunto como é que se faz uma acusação desta sem conhecimento de causa?(...)
quanto a permanencia da sessão creio que não há que discutir; devemos estar aqui até
que este negocio se termine, e acabem as desconfianças, recuperando a capital a sua
antiga segurança, se não obrarmos assim seremos fracos, incapazes de ser deputados da
generosa nação brasileira”.
O Constituinte Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
(SP), notável orador e polemista, após tomar ciência das acusações, faz o
Quadro/Ilustração nº 9
O Deputado Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
reverenciando o soberano do mundo e o poder de persuasão
inerente aos canhões da artilharia imperial
Fica para a história o fato, contado e repetido através dos anos, do gesto
do Deputado Constituinte Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e
Silva (SP). Conta-se que este ao sair preso da Assembléia, devidamente acom-
panhado por oficiais do Exército Imperial, nota, na janela do palácio impe-
rial, vizinho ao prédio da Assembléia, o Imperador D. Pedro I assistindo a
prisão dos deputados constituintes. Prosseguindo em sua caminhada e ao
passar diante das peças de artilharia que o Imperador mandara ali colocar,
acintosamente apontadas para a porta por onde acabara de franquear, vira as
costas para o Imperador, detem-se respeitoso e, descobrindo-se, exclama com
ironia: “Obedeço ao soberano do mundo. A sua majestade o canhão!” e fazendo-lhe
uma reverência, diz: “Respeito muito o seu poder!”. Affonso D’E. Taunay, na sua
obra “Grandes vultos da Independência Brasileira” relata: “Conta-se que ao passar,
preso, por um parque de artilheria, descobriu-se Antonio Carlos, a dizer aos canhões:
Soberanos do mundo, eu vos saúdo!”. Segue para a prisão da ilha das Cobras, de
onde dias depois parte para a Europa.
Esta agonia da coação militar sobre a representação popular, infeliz-
mente, não foi a única na nossa história parlamentar. Vai perdurar, ainda,
durante o Império e depois na consolidação da República. A Assembléia Cons-
tituinte cai com honra e dignidade, enfrentando as ameaças e o poder dos
canhões das tropas imperiais.
Apesar de todos os obstáculos enfrentados pela “Assembléa Geral, Consti-
tuinte e Legislativa”, trinta e nove projetos de lei, sete requerimentos, cento e
cinqüenta e sete indicações, duzentos e trinta e sete pareceres, o regimento
interno e uma proclamação aos povos do Brasil foram oferecidos à aprecia-
ção dos constituintes. Proposições tais como: criação de universidades, me-
mórias sobre a extinção da escravatura, mudança da capital do Império,
catequese e colonização dos índios, etc. Dos trinta e nove projetos seis foram
aprovados e sancionados pela Assembléia.
No dia 20 de outubro de 1823, uma deputação nomeada pelo Plenário
da Assembléia, apresentou estas seis resoluções ao Imperador, para sua exe-
cução. Transformadas em Cartas de Lei, são registradas e publicadas na devi-
da forma. São elas: a primeira, que estabelece provisoriamente a forma que
deve ser observada na promulgação dos decretos da Assembléia Geral, Cons-
tituinte e Legislativa do Império do Brasil, sem dependência de sanção im-
perial. Originou-se do Projeto de Lei nº 12, da Comissão de Constituição,
apresentado na sessão de 12 de junho e relatado pelo Deputado Pedro de
Araújo Lima (PE); a segunda, que revoga o decreto de 16 de fevereiro de
1822, e com isso declarando a extinção do Conselho de Procuradores-Gerais
das províncias. Originou-se do Projeto de Lei nº 7, do Deputado Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (SP), apresentado na sessão de
21 de maio; a terceira, que proíbe aos deputados exercerem qualquer outro
emprego durante o tempo da deputação, exceto o de ministros e Intendente-
Geral de Polícia. Originou-se do Projeto de Lei nº 18, do Deputado Cândido
José de Araújo Vianna (MG), apresentado na sessão de 21 de julho; a quarta,
Quadro/Ilustração nº 10 e 10/A
Sessão Plenária da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
cia. Cria-se com essa decisão um poder de barganha, de pressão, que estes
países não detinham, e que é colocado nas mãos das grandes potências da
época, sobretudo da Inglaterra. O reconhecimento da nossa independência
serve de pretexto para troca de favores comerciais e econômicos prejudiciais
ao Brasil.
dos seus legítimos representantes, o qual desde esse momento tomou o nome
de Província Cisplatina Brasileira. Na independência foi D. Pedro I aclamado
Imperador do Brasil na Província Cisplatina pelos povos, cabildos, autorida-
des civis e militares. Posteriormente aceitou-se e jurou-se na mesma província
o projeto de Constituição Política do Império do Brasil, não faltando a esse
ato a adesão dos respectivos cabildos, do clero, das corporações civis, do tri-
bunal de apelações, e das repartições administrativas. Mais tarde procedeu-
se à eleição de deputados e senadores que passam a representar a Província
Cisplatina no Parlamento brasileiro.
O desgaste causado pela guerra, onde se perderam, aproximadamente,
8 mil vidas; o imposto criado e denominado de “Imposto de Sangue”; e o recru-
tamento forçado de soldados, desde pais de família a meninos de dez anos
“embarcados em condições que matam mais que os combates” acelera o fim do pri-
meiro reinado.
5 de setembro de 1825. Decisão do Governo nº 199, expedida pelo
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império Estevão Ribeiro de
Rezende (MG), Barão, Conde e Marquês de Valença, “manda abonar aos depu-
tados à Assembléa Legislativa, para que subsistam com a decência correspondente ao
nobre encargo com que os tem honrado a Nação, com a quantia mensal de 100$000, até
que, instalada a Assembléa, recebam os respectivos vencimentos”. Grifado pelo compilador.
Quadro/Ilustração nº 11
O Deputado às Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa
Jornalista Cypriano José Barata de Almeida
Primeira Legislatura
Aos quinze minutos depois do meio dia, deixa Sua Majestade Imperial
a sala da Assembléia Geral Legislativa, sendo acompanhado com as mesmas
formalidades que haviam precedido no seu recebimento.
Tem início a primeira legislatura – 1826 a 1829.
qualidade de pai e tutor, deva defender a causa da mesma soberana, todavia serei fiel á
minha palavra dada á assembléa, de não comprometter a tranquilidade e interesses do
Brazil em consequencia de negocios de Portugal.
O trafico de escravatura cessou, e o governo está decidido a empregar todas as
medidas que a boa fé e a humanidade reclamão para evitar sua continuação debaixo de
qualquer fórma, ou pretexto que seja: portanto julgo de indispensavel necessidade indi-
car-vos que é conveniente facilitar a entrada de braços uteis. Leis que autorisem a
distribuição de terras incultas, e que afiancem a execução dos ajustes feitos com os
colonos, serião de manifesta utilidade e de grande vantagem para a nossa industria em
geral”. Grifado pelo compilador. É a primeira manifestação da Coroa, feita no
Parlamento, a propósito da escravidão. Tanto o projeto de “Voto de Graças”
quanto as emendas apresentadas ao mesmo aludem principalmente à introdu-
ção de braços livres. No que respeita à repressão do tráfico, repetem, mais ou
menos literalmente, as palavras do Imperador D. Pedro I, o que revela, com
relação à cessação do comércio de escravos, um otimismo que fatos posteriores
se encarregaram de demonstrar de todo ponto injustificado. E é fato, porque
em nenhuma das “Falas do Trono” apresentadas pelas quatro regências, na me-
noridade de D. Pedro II, há qualquer referência ao problema da escravidão.
como Rei D. Pedro IV. Pensa o Imperador em cingir a dupla coroa. Consulta
o seu Conselho de Estado, mas tem que recuar de seu intento ante a formal
recusa de assentimento deste. Mesmo diante da recusa, suspeita-se que, de
alguma maneira, o Imperador deseje reatar a união anterior a 1822. A esco-
lha para o Senado de conservadores simpáticos ao velho ideal de um império
luso-brasileiro é um indício das artimanhas do monarca. Ele outorga uma
Constituição aos portugueses com um poder moderador. Sob pressão dos bra-
sileiros, abdica da Coroa lusitana em favor da filha, Princesa D. Maria da Glória
Joana Carlota Leopoldina Paula Izidora Micaela Rafaela Gonzaga de Bragança
e Habsburgo, passando a regência a Infanta D. Maria Thereza, sua irmã, pois a
futura D. Maria II só tinha 7 anos de idade, e promulga a Carta Constitucional
portuguesa a 29 de abril de 1826. Pouco tempo depois confia e assina o contra-
to de casamento da jovem rainha D. Maria II com D. Miguel, seu irmão e, por
conseguinte tio de D. Maria, que jura a Carta portuguesa e assume a regência
de Portugal a 26 de fevereiro de 1828. D. Miguel assume, mas viola as condi-
ções estipuladas no contrato e no golpe absolutista, logo depois, faz-se coroar
rei, fazendo pesar sobre Portugal um regime de terror, continuamente assinala-
do por numerosos execuções, confisco de bens e deportações. O Imperador D.
Pedro I, com apoio da Inglaterra, faz do Rio de Janeiro a capital da resistência
liberal portuguesa, o que mantém a dúvida sobre suas ambições européias.
O ano de 1830 é atípico para o Primeiro Império. Na Europa cresce a
influência do liberalismo político. A revolução liberal francesa repercute com
intensidade no Brasil. A queda do rei absolutista Carlos X, na revolução de
julho de 1830 na França, após uma tentativa de golpe de estado, sendo subs-
tituído no trono por Luís Felipe, o “rei-cidadão”, tem repercussão nas provín-
cias brasileiras e fica como um aviso ao Imperador D. Pedro I. Quando a
notícia chega ao Rio de Janeiro, em setembro, a Câmara, a imprensa e o povo
comemoram a queda de mais um modelo de absolutismo aristocrático. Em
editorial, o liberal Evaristo da Veiga, do jornal “Aurora Fluminense”, alerta:
“Carlos X, deixou de reinar; o mesmo aconteça a todo aquele monarca que, traindo os
seus juramentos tentar destruir as instituições livres do seu país”. Na capital paulista
uma agitação política se transforma em motim no dia 5 de outubro. O Ouvidor
da Comarca expede ordens de prisão contra alguns estudantes, em cuja defe-
sa destaca o jornalista italiano Líbero Badaró, redator do jornal “Observador
Constitucional”. Este jornalista vem a ser assassinado a tiros e pauladas, em
uma emboscada na capital paulista, no dia 20 de novembro de 1830. Grande
comoção. Ampla repercussão na Província e fora dela. Ao seu enterro compa-
recem aproximadamente 5 mil pessoas. Começa a circular no Rio de Janeiro
o Jornal “República”, de Borges da Fonseca. Os professores de Direito em São
Paulo se negam a festejar o aniversário do Imperador. Uma sublevação de
escravos na capital baiana tem o saldo de 50 mortos, 41 presos e fugas em
massa. O Presidente da Província da Bahia, Visconde de Camamu, é assassi-
nado por um desconhecido. O Brasil começa a ser palco de uma série de
revoltas regionais, separatistas ou liberais.
deste mesmo ano e nomeia um outro – o 10º Gabinete –, todo formado por
portadores de títulos de nobreza de sua total confiança mas que não contam
com a simpatia popular.
Quadro/Ilustração nº 12
O Presidente da Câmara – Deputado José da Costa Carvalho,
depois Marquês de Monte Alegre
Período Regencial
Regência Provisória
Quadro/Ilustração nº 13
O Presidente da Câmara – Deputado Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Período Regencial
Regência Trina Permanente
julgar urgente; do contrario, guardarei para outro dia. (Leu uma resolução no sentido
do seu discurso.)” Grifado pelo compilador. Apresenta projeto de resolução “prohibindo
a entrada, em território brasileiro, de escravos de Angola; Moçambique; etc., conside-
rados libertos”. Grifado pelo compilador.
Em seguida fala o Deputado Antônio Pereira Rebouças (BA), tratando
do mesmo assunto. Ao final apresenta um requerimento sobre os libertos
africanos no Brasil e sugere, também, que é necessário discutir-se o projeto
que veio do Senado, tratando da importação de escravos.
No dia 23 de agosto entra em segunda discussão o Projeto de Lei nº 83,
vindo do Senado, sobre o “trafico illicito da escravatura”, ao qual se ofereceram
várias emendas. Discutido e aprovado sem delongas, é convertido em lei no
dia 7 de novembro desse mesmo ano.
18 de agosto de 1831. A Assembléa Geral Legislativa decreta e a Regên-
cia Trina Permanente, em nome do imperador, o Senhor D. Pedro II sancio-
na a Carta de Lei que “crêa as Guardas Nacionaes e extingue os corpos de milicias,
guardas municipaes e ordenanças”.
27 de outubro de 1831. A Assembléa Geral Legislativa decreta e a Re-
gência Trina Permanente, em nome do imperador, o Senhor D. Pedro II san-
ciona a Carta de Lei que “revoga as cartas regias que mandaram fazer guerra e por
em servidão os índios”.
7 de novembro de 1831. A Assembléa Geral Legislativa decreta e a
Regência Trina Permanente, em nome do imperador, o Senhor D. Pedro II
sanciona a Carta de Lei que “declara livres todos os escravos vindos de fora do
Império do Brazil, e impõe penas e multas aos importadores dos mesmos escravos”. Os
importadores seriam punidos, inclusive, com a obrigação de reexportação de
negros para a África. Pelo tratado que foi realizado com a Inglaterra em 1815
e em 1817 o império português ficou obrigado à elaboração e aprovação de
uma lei proibindo o comércio da escravatura.
A Inglaterra, que só em 1833 libertou os escravos das suas colônias,
logo se aproveitou da oportunidade da proclamação da nossa independência
política para, em troca do seu reconhecimento, renovar diretamente as nego-
ciações que antes fizera com Portugal para um tratado de abolição do tráfico
de escravos da África. A convenção foi assinada, mas diante das dificuldades
que surgiam para o seu fiel cumprimento, tomou a Regência Trina Perma-
nente a deliberação de obter da Assembléia Geral Legislativa uma lei que
firmasse de vez o que o Governo Imperial acordara com a Grã-Bretanha. O
projeto de lei é votado depois de muita pressão dos ingleses. Foi uma trami-
tação rápida e sem grandes debates.
12 de abril de 1832. É expedido decreto, com a rubrica da Regência
Trina Permanente, que “regulamenta a execução da lei de 7 de novembro de 1831
sobre o trafico da escravatura, a execução do exame de embarcações suspeitas de impor-
tação de escravos, determinando os responsaveis por tal attribuição e obrigando os
nº 16”. Lei esta que faz algumas alterações e adições à Constituição. Os Con-
selhos Gerais das Províncias são convertidos em Assembléias Legislativas pro-
vinciais. É suprimido o Conselho de Estado, conservando, porém, as respec-
tivas honras os conselheiros que existiam nessa época, bem como os
vencimentos pecuniários àqueles que eram efetivos. A Regência passa a ser
exercida por uma só pessoa, eleita para um mandato de quatro anos. Esta lei
foi denominada de “Ato Adicional”. Triunfo à coragem, inteligência e energia
do Deputado Bernardo Pereira de Vasconcelos (MG). Vitória liberal da Câ-
mara dos Deputados. É a consagração lógica da “Revolução de Abril de 1831” e
sua natural conquista. Dirigido como foi pelos brasileiros moderados, satisfez
os anseios do País naquele momento e apertou os laços da sua união.
As discussões desta lei tiveram início na sessão de 5 de maio de 1834,
quando foi oferecido o seguinte requerimento: “Requeiro que com urgência se
eleija uma commissão especial para apresentar a redacção das reformas da constitui-
ção, confforme aos artigos da lei relativa. – Venancio Henriques de Rezende”. A ur-
gência é apoiada e aprovada. Na sessão de 6 de maio é nomeada a comissão
especial e fica composta pelos Deputados Bernardo Pereira de Vasconcelos
(MG), Francisco de Paula Araújo e Almeida (BA), e Antônio Paulino Limpo
de Abreu (MG). Em 7 de junho é lido o parecer da Comissão Especial encar-
regada de apresentar o projeto das reformas da Constituição. A redação final
é aprovada em 6 de agosto de 1834. Depois de assinado, é apresentado à
Regência Trina Permanente por uma deputação de vinte e quatro membros,
no dia 9 de agosto, para a devida promulgação.
Estabelecida a Regência, reacenderam-se as agitações em prol do ideal
federativo, refletindo a crise da formação política do País. O Ato Adicional
que modifica o regime unitário da Constituição de 1824 não é mais do que
uma concessão ao federalismo, criando as Assembléias e aumentando as atri-
buições dos presidentes das províncias, extinguindo o Conselho de Estado e
retirando da Regência a faculdade de dissolver a Câmara dos Deputados.
servem empregos ou officios, com ordenado ou sem elle, declarando nesta caso o valor
em que os estimão, a fim de entrarem para a caixa annualmente com a quantia corres-
pondente aos cinco por centro do valor estimado”. Grifado pelo compilador. Fica insti-
tuído, a título de previdência, o desconto no salário dos servidores públicos
do valor determinado em lei.
O Decreto expedido no dia 22 de junho de 1836, com a rubrica do
Regente do Império Padre Diogo Antônio Feijó (SP), manda “observar, d’ora
em diante, o Plano annexo do Monte Pio Geral dos Servidores do Estado, ficando sem
effeito o que baixou com o Decreto de 10 de janeiro de 1835”. Este decreto é assina-
do, também, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça
Gustavo Adolfo de Aguilar Pantoja (BA).
Quadro/Ilustração nº 14
O Regente Diogo Antônio Feijó
Período Regencial
Regência do Senador e Padre Diogo
Antonio Feijó (SP)
das, e duvidas graves têm sido suscitadas. Eu chamo a vossa attenção para este mui
importante objeto”.
Retornando do Senado, o projeto recebe o nº 139/38. Discutido entre
17 e 27 de setembro de 1838 e, em 3 de junho de 1839, são lidas as novas
redações assinadas pelos Deputados Paulino José Soares de Souza (RJ), Antô-
nio Pereira Barreto Pedroso (RJ), Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Macha-
do e Silva (SP), José Cesário de Miranda Ribeiro (MG) e José Clemente Perei-
ra (RJ). A redação final é lida e aprovada em 26 de junho de 1839, sendo
então enviada à Câmara dos Senadores, de onde só na primeira quinzena de
maio de 1840 subiu à sanção imperial.
19 de setembro de 1837. Plenário. Em profundo silêncio é lida a re-
núncia e o “Manifesto ao povo brasileiro” do Regente do Império Padre Diogo
Antônio Feijó (SP). Declara-se demitido do lugar de Regente do Império por
se achar gravemente enfêrmo e sem condições de conduzir as reformas ne-
cessárias ao País. Além disso é acusado de fraqueza pela política empregada
para combater os Farrapos no Rio Grande do Sul. Iniciada a reação conserva-
dora – partidária da centralização política e do reforço da autoridade do
Poder Executivo, assume como Regente, interinamente, o Ministro e Secretá-
rio de Estado dos Negócios do Império, o ex-deputado e Senador Pedro de
Araújo Lima (PE), Marquês de Olinda, até que se procedam novas eleições
pela Assembléia Geral Legislativa. Este presta juramento, sobre o livro dos
Santos Evangelhos, como Regente Interino, na Sessão da Assembléia Geral
Legislativa do dia 27 de setembro, às quatorze horas.
Quadro/Ilustração nº 15
O Deputado Francisco Gê Acaiaba de Montezuma – Visconde de Jequitinhonha
Quadro/Ilustração nº 15/A
O Deputado Honório Hermeto Carneiro Leão – Marquês do Paraná
Período Regencial
Regência do Senador Pedro de Araújo Lima (PE)
novembro de 1831, forem competentemente julgados livres serão eles empregados nas
obras públicas, ou em quaesquer trabalhos industriais que estiverem a cargo do gover-
no geral, distribuindo-se os que restarem à câmara municipal da Corte, aos governos
das províncias e ás companhias nacionais, com direito a uma retribuição pecuniária”.
Grifado pelo compilador. Julgado objeto de deliberação é mandado imprimir.
Quadro/Ilustração nº 16
O Presidente da Câmara – Deputado Joaquim Marcelino de Brito
Quadro/Ilustração nº 16/A
O Imperador D. Pedro II – decênio de 1850
Segundo Império
de vir a produzir. Essas duas rebelliões de S. Paulo e Minas forão dous focos que
derramárão grande desmoralisação naquellas duas provincias, e que vierão augmentar
ainda mais a que proveio das outras rebelliões que têm flagellado o imperio. (Apoia-
dos.) Poderemos abandonar os topicos da resposta que se referem a males tão graves e
tão profundos, que não deixão de o ser qualquer que seja o ministerio? Na presença de
factos tão importantes não ha de a camara pronunciar o seu juizo? (Apoiados.) O
silencio da representação nacional sobre actos que affectárão tão profundamente a paz
publica não irá acoroçoar as facções? (Numerosos apoiados.)
(...) que a camara se pronuncie sobre os factos importantes que tiverão lugar;
que, no estado em que estão os negocios publicos, ella faça sentir que detesta as rebelliões
(muitos apoiados), que nada poupará para extinguir as causas que as têm produzido
(apoiados), e para assegurar efficazmente a paz publica; ou então que diga ao paiz: –
está tudo perdido. – (Muitos apoiados.) (Este discurso, ouvido com religioso silencio,
interrompido sómente por varios signaes de adhesão, produz na camara profunda sen-
sação. Muitos deputados se dirigem ao orador para cumprimental-o.)”. Grifado pelo
compilador.
ção com intensa carga de reivindicações sociais como nenhuma outra antes
no Brasil. Um verdadeiro choque de classes, contribuindo para isso as desi-
gualdades sociais existentes nessa província, onde se dizia que “quem não é
Cavalcanti é cavalgado” e onde o comércio urbano continuava praticamente
monopolizado pelos portugueses. Revolução encerrada em 2 de fevereiro de
1849 com a vitória do Governo Imperial.
Durante a discussão nos dias 21, 22, 24, 25 e 26 de janeiro de 1850 do
“Projeto de Resposta à Fala do Trono” apresentado no dia 14 de janeiro de
1850, em que o Imperador trata da “Revolta de Pernambuco”, falam vários
deputados e os Ministros e Secretários de Estado da Justiça e da Marinha
sobre os acontecimentos naquela província; do comércio de escravos e das
violências praticadas pela Inglaterra com o aprisionamento de navios brasi-
leiros na costa brasileira e da política do ditador Rosas e suas exigências. O
Deputado Herculano Ferreira Penna (MG) faz um longo e interessante his-
tórico da revolução de Pernambuco e da anistia aos revoltosos. O Ministro e
Secretário de Estado da Marinha Manuel Vieira Tosta (BA), Barão, Viscon-
de e Marquês de Muritiba, também disserta longamente sobre aquela revo-
lução; as cabeças a prêmio; a morte de Nunes Machado; e outros aconteci-
mentos.
Saindo da maioridade, vencida a revolução liberal de 1842, encerrado
o decênio da “Revolução Farroupilha” ou “Guerra dos Farrapos” – na Província
de São Pedro do Rio Grande do Sul e, transitoriamente, na de Santa Catarina
–, e sufocada a insurreição praieira, o Império estabiliza-se num longo perío-
do de apaziguamento interior e de prestígio internacional.
19 de fevereiro de 1849. Com a Assembléia Geral Legislativa ainda em
recesso é expedido ofício do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do
Império José da Costa Carvalho (BA), Visconde e depois Marquês de Monte
Alegre, remetendo cópia de decreto de dissolução da Câmara dos Deputados
com o seguinte teor: “Usando das attribuições que me confere a constituição no
art. 101 § 5º, e tendo ouvido o meu conselho de estado, hei por bem, dissolver a camara
dos deputados; e convocar, desde já, outra, que se reunirá no dia primeiro de Janeiro do
anno futuro.
O Visconde de Mont’ alegre, do meu conselho de estado, ministro e secretario de
estado dos negocios do imperio, assim o tenha entendido e faça executar com os despa-
chos necessarios. Palacio do Rio de Janeiro, em 19 de Fevereiro de 1849, vigesimo
oitavo da independencia e do imperio. – Com a rubrica de Sua Magestade o Impera-
dor. – Visconde de Mont’Alegre”. Grifado pelo compilador.
sil, e, arriscando sua própria popularidade manteve, a todo custo a luta para
a aprovação da Lei nº 581.
Posta vigorosamente em execução pelo Governo Imperial, livrou este o
País de novas afrontas, como a do “Bill Aberdeen”, que autorizava os navios
ingleses a “perseguirem os navios brazileiros até mesmo nas costas do Brazil, aprisio-
nal-os, vendel-os, incendial-os, mettel-os a pique e entregar as respectivas tripulações
ao julgamento dos tribunaes da Serra Leôa”.
Apesar das enérgicas medidas tomadas pelo Ministro e Secretário de
Estado da Justiça para fazer cumprir a lei que considerava pirataria a impor-
tação de escravos e declarava incidirem os importadores, não só na pena
corporal do art. 179 do Código Criminal, como na multa por escravo impor-
tado, ainda assim conseguiram os traficantes introduzir no País nada menos
de três mil africanos no ano de 1851 e setecentos em 1852.
Se esses números revelam, de um lado, pelo seu decrescimento, o modo
louvável como o Governo Imperial reprimia o tráfico hediondo, demons-
tram, por outro, que os infames mercadores não estavam ainda dispostos a
abondonar o lucrativo negócio. É preciso dar um paradeiro definitivo ao trá-
fico. Outras medidas são tomadas e com isso desencadeada uma ação mais
enérgica, fazendo cessar, finalmente, esse tipo de contrabando.
O projeto que deu origem a esta lei teve início no Senado Federal, sen-
do secreta a sua discussão na Câmara dos Deputados, em 1848. Ficou sem
andamento até 11 de Julho de 1850, quando o mesmo ministro pediu que
fosse colocado na pauta para o dia seguinte, declarando logo lhe parecer que
deveria continuar secreta a sua discussão. O Presidente atende o seu pedido e
são imprimidas as emendas feitas dois anos antes ao projeto do Senado Fe-
deral. No dia 16 entra em discussão o art. 13, o último do projeto e o único
que não fora ainda discutido. O Conselheiro e Deputado Euzébio de Queiroz
Coutinho Mattoso Camara (RJ), Ministro e Secretário de Estado da Justiça do
Gabinete Olinda-Monte Alegre, requer que a discussão seja secreta, e o Presi-
dente declara admitir o pedido, na forma do art. 105 do regimento.
Trava-se polêmico debate a propósito do pedido ministerial. Nega o
Presidente a palavra, que vários deputados solicitam pela ordem, alegando
que a matéria do requerimento não era objeto de discussão. Trocam-se inú-
meros apartes, reina sussurro e partem vozes das galerias. O Presidente da
Câmara dos Deputados Gabriel Mendes dos Santos (MG) chama energica-
mente à ordem. Partem de todos os lados vivas reclamações com o intuíto de
cessar o comportamento dos poucos cidadãos que insistiam em perturbar a
ordem da sessão.
Por ordem do Presidente da Câmara dos Deputados, as galerias são
esvaziadas e começa a sessão secreta solicitada pelo Ministro e Secretário de
Estado da Justiça. Adotadas pelo Senado as emendas da Câmara, inclusive a
rejeição do art. 13, foi, em seguida sancionada pelo Imperador.
Com o estabelecimento de medidas para a repressão do tráfico de afri-
canos para as terras do Brasil, o preço do cativo é elevado tornando seu aces-
que o autor deste projeto, aliás, apresentado desde 1850, por mais duas ve-
zes, e sempre repelido pela maioria da Câmara dos Deputados, tenta justifi-
car suas vantagens, levantam-se reclamações e protestos contra a proposição,
que obrigam o presidente a interromper por diversas vezes o orador e a
ameaçá-lo afinal de que o faria sentar. O Deputado José Pedro Dias de Carva-
lho (MG) propõe que o referido projeto vá a uma comissão para receber pa-
recer, mas de todos os lados do Plenário surgem vozes pedindo a sua imedia-
ta reprovação e assim acontece, votando apenas, pelo mesmo projeto, o seu
autor e o Deputado André Bastos de Oliveira (CE).
Ainda nesse ano o Dr. Agostinho Marques Perdigão Malheiro (MG) re-
produz, em seu livro “A escravidão no Brasil”, parte de um “Projeto de 1852 na
sociedade contra o trafego de Africanos e prommotora da colonisação e civilisação dos
Indigenas – Terceira Parte – Extincção Progressiva da escravidão no Brazil”. Não
tem indicação da fonte de onde foi retirado.
3 de maio de 1853. 13 horas. Sessão Imperial de Abertura da Assem-
bléia Geral Legislativa. Primeira Sessão da Nona Legislatura. Plenário. O
Imperador D. Pedro II, em sua “Fala do Trono”, declara: “Augustos e dignissimos
senhores representantes da Nação. (...) A fé dos tratados e nosso proprio interesse exige
imperiosamente, não só a completa cessação do trafico de africanos, mas tambem que se
torne impossivel sua reapparição. Os meus ministros, vos indicaráõ as medidas que
parecem ainda precisas para conseguir-se este duplicado fim.
Cada vez é mais urgente proteger a emigração estangeira para neutralisar os
effeitos da falta de braços. É um dos objectos em que devemos empregar incessantes e
desvelados esforços”. Grifado pelo compilador.
29 de agosto de 1853. A Assembléa Geral Legislativa decreta e o Impe-
rador D. Pedro II sanciona a Carta de Lei nº 704, que “eleva a Comarca de
Coritiba, na Provincia de S. Paulo à categoria de provincia, com a denominação de
Provincia do Paraná”. Em 16 de janeiro de 1865 é expedido o Decreto nº 3.378,
com a rubrica do Imperador D. Pedro II, que “fixa provisoriamente os limites
entre as provincias do Paraná e Santa Catarina”. Em 19 de dezembro de 1853
toma posse o seu primeiro presidente, o Deputado Zacarias de Góis e Vascon-
celos (SE).
23 de setembro de 1853. Plenário. A Assembléa Geral Legislativa resol-
ve expedir Resolução “sobre a competência dos Auditores da Marinha para proces-
sar e julgar os réus envolvidos em tráfico”.
28 de dezembro de 1853. É expedido o Decreto nº 1.303, com a rubrica
do Imperador D. Pedro II, “declarando que os africanos livres, cujos serviços foram
arrematados por particulares, ficam emancipados depois de quatorze anos, quando o
requeiram, e providencia sobre o destino dos mesmos africanos”.
2 de janeiro de 1854. É expedido o Decreto nº 1.310, com a rubrica do
Imperador D. Pedro II, “declarando que o Artigo quarto da Lei de 10 de Junho de
1835, que manda executar sem recurso as Sentenças condenatorias contra escravos,
comprehende todos os crimes commettidos pelos mesmos escravos em que caiba a pena de
morte”.
7 de maio de 1854. 13 horas. Sessão Imperial de Abertura da Assem-
bléia Geral Legislativa. Segunda Sessão da Nona Legislatura. Plenário. O
Imperador D. Pedro II, em sua “Fala do Trono”, declara: “Augustos e dignissimos
senhores representantes da Nação. (...) O meu governo continua a exercer na repressão
do trafico a mais activa e energica vigilancia, empregando os meios de que póde dispôr
para extinguir este abominavel commercio; e os seus esforços têm sido até agora coroa-
dos de feliz resultado.
Recommendo-vos o projecto de lei, iniciado nos ultimos dias da sessão passada,
que tem por fim tornar mais efficaz esta repressão”. Grifado pelo compilador.
nacionais será estabelecido, como proprietário, cada escravo ou família de escravos das
mesmas fazendas, sendo distribuido por eles os bens móveis e gado se houver e dá outras
providências”. Grifado pelo compilador. Não teve andamento.
22 de maio de 1867. 13 horas. Sessão Imperial de Abertura da Assem-
bléia Geral Legislativa. Primeira Sessão da 13ª Legislatura. O Imperador
D. Pedro II, em sua “Fala do Trono”, declara: “(...) O elemento servil no Imperio
não póde deixar de merecer opportunamente a vossa consideração, provendo-se de
modo que, respeitada a propriedade actual, e sem abalo profundo em nossa primeira
industria, a agricultura, sejão attendidos os altos interesses que se ligão á emancipa-
ção. Promover a colonisação deve ser objecto de vossa particular solicitude”. Grifado
pelo compilador.
SS. Exs. se collocárão, me convencem, e hão de convencer ao paiz que já não podem
elles suster a bandeira que hasteárão; pelo contrario, o estado critico em que se achão as
finanças do Estado, e todos os ramos do serviço publico, assegura que SS. Exs., para
servir-me de uma phrase de Voltaire, sustentão o paiz como a corda sustenta o enforca-
do. (Apoiados; muito bem.) – (O orador é comprimentado por muitos Srs. deputados.)”.
30 de junho de 1868. Plenário. O Deputado José Coelho da Gama e
Abreu (PA) faz notável resenha histórica e cronológica das nossas vitórias e
dos revezes da guerra. Nesse pronunciamento revela-se um estudioso pacien-
te das nossas causas militares, apontando os erros de tática e a falta de vigi-
lância e de estratégia na direção das forças de terra e mar, o que tem contri-
buído para a procrastinação da vitória, com o sacrífico financeiro e econômico
do País e de milhares de vidas preciosas. Diz em um dos trechos “(...) A guerra
tem para nós agora um novo interesse, interesse maior talvez do que aquelle com que
até hoje tem occupado a attenção da casa. A guerra, com referencia ás ultima noticias
do Prata, é uma questão que envolve as finanças do paiz, a sorte dos nossos compatrio-
tas, que alli se achão soffrendo mil privações, e mais que tudo, a honra e os brios da
nação, em risco de serem mareados”.
É um conforto e um orgulho folhear os “Annaes Parlamentares” dessa
época tormentosa da vida nacional. Inteligência, cultura, independência,
questionamentos, soluções, franqueza rude nos debates e incontestável intui-
ção patriótica elevam a Tribuna da Câmara dos Deputados e tem a gratidão e
admiração dos cidadãos ali representados. Os aplausos e os apoiados das
galerias não deixam dúvida. Nota-se o interesse dos deputados em se infor-
marem nos mínimos detalhes do que está ocorrendo no País e na guerra,
através de interpelações e requerimentos verbais.
Evidentemente, já era movida a Câmara dos Deputados por sentimen-
tos pacifistas. O Deputado Antônio Felício Santos (MG) clama pela paz, lem-
bra o discurso de Thiers sobre a Guerra da França com o México, acha que
não nos diminuiríamos em tratar com o ditador, Marechal Francisco Solano
Lopez, uma vez vencedores em Humaitá e em Assunção.
17 de julho de 1868. Plenário. É memorável esta sessão plenária. No
bojo das críticas à condução da Guerra do Paraguai, o Imperador D. Pedro II,
cedendo a Luís Alves de Lima e Silva (RJ), Barão, Conde, Marquês e Duque
de Caxias, destitui o Gabinete Majoritário de Zacarias de Góis e Vasconcelos.
O Deputado Martim Francisco Ribeiro de Andrada (SP) expõe os motivos da
queda do gabinete e ao final destaca: “(...) O gabinete de 3 de Agosto, pois, retira-
se, Sr. presidente, com os principios liberaes que sustentou na imprensa e na tribuna. O
gabinete de 3 de agosto retira-se, não com a convicção de nunca haver errado, porque
o erro é partilha da humanidade; retira-se com a convicção de ter empregado todos os
esforços ao seu alcance para vencer as circumstancias especiaes, notaveis e perigosas
em que se acha o paiz. O gabinete de 3 de agosto retira-se, senhores, com a convicção de
que soube respeitar sua dignidade pessoal, assim como conservou toda a lealdade para
com seus amigos politicos. (Muito bem; muito bem.)”.
tempo do que se previra e custou mais de 600 mil contos de réis ao Tesouro
nacional. Quantia elevadíssima. Surge um déficit orçamentário nas contas do
Governo que vai se manter durante todo o Segundo Império.
O dia 1º de março de 1870 reservava bons ventos ao Brasil e ao Paraguai,
pondo termo nessa jornada sangrenta que vinha consumindo as duas nações,
dizimando a flor de suas populações, comprometendo as suas indústrias, o
seu desenvolvimento econômico e arruinando as suas finanças, arrastando
também a essa dolorosa situação os nossos bravos aliados do cone sul.
nº 20, que “trata de vendas de escravos, o direito do proprio escravo comprar e ter sua
alforria e regula os casos de liberdade dos mesmos”; 3) o Projeto de Lei nº 21, que
“declara livres e ingenuos o filho de mulher escrava que nascer depois de promulgada
a lei, devendo, porem, servir ao senhor da mãe até a idade de 18 anos”; e 4) o Projeto
de Lei nº 22, que “autoriza o governo a conceder alforria gratuita aos escravos da
nação, prohibindo ás corporações religiosas e de mão-morta adquirir e possuir escra-
vos, sob pena de ficarem logo livres”. Ainda nesta mesma sessão é apresentado
requerimento subscrito pelo Deputado Jerônimo José Teixeira Júnior (RJ) e
outros 11 deputados para “nomeação de uma commissão especial de nove membros
para dar á camara seu parecer, com urgencia, sobre as medidas que julgar conveniente
adoptar-se ácerca da importante questão do elemento servil no imperio, de modo que,
respeitada a propriedade actual, e sem abalo da primeira industria, a agricultura,
sejam attendidos os altos interesses que se ligam a este assumpto”. Grifado pelo compila-
dor. Aceito o requerimento, foi, por proposta do próprio autor, reduzido a
cinco o número de membros da comissão.
a ser uma aspiração nacional indefinida e incerta. É tempo de resolver esta questão, e
vossa esclarecida prudencia saberá conciliar o respeito á propriedade existente com esse
melhoramento social que requerem nossa civilisação e até o interesse dos proprietarios.
O governo manifestar-vos-ha opportunamente todo o seu pensamento sobre as
reformas para que tenho chamado a vossa attenção”.
(...) A acquisição de braços uteis, que ha sido objecto constante de nossos cuida-
dos, depois da reforma decretada pela lei de 28 de setembro, exigirá de dia em dia mais
efficazes providencias. O governo desvela-se em dissipar os receios que essa importante
reforma poderia incutir; e folgo de manifestar-vos que os mesmos proprietarios agricolas
têm concorrido, conforme se esperava, para a melhor execução da lei”. Grifado pelo
compilador.
Somente no ano de 1885 a extinção da escravatura voltou a ser citada
nas “Falas do Trono”.
defende pela imprensa – o que é proibido –, e o que ocasiona sua prisão por
48 horas, além de ser advertido na “Ordem do Dia” dos quartéis.
No mesmo mês, no Rio Grande do Sul, Júlio Prestes de Castilhos convi-
da o Tenente-Coronel Antônio de Sena Madureira a discutir a “Questão Mili-
tar” pelo seu jornal “A Federação” – explosivo órgão republicano. Aceito o con-
vite acaba sendo repreendido pelo Ministro e Secretário de Estado da Guerra
Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves (RJ).
Face às punições que vem sofrendo os oficiais que discutem pela im-
prensa assuntos militares, o General Manoel Deodoro da Fonseca (AL), Co-
mandante de Armas e Presidente em exercício da Província do Rio Grande
do Sul, solidário com os companheiros de farda, autoriza uma reunião em
que protestam contra as punições e proibições. Diante desses fatos, o General
é destituído de todos os postos que ocupa na Província, sendo obrigado a
embarcar para o Rio de Janeiro, a chamado do Governo Imperial. o Tenente-
Coronel Antônio de Sena Madureira, em solidariedade ao General, se demi-
te. Chegando à Capital, no dia 26 de janeiro de 1887, ambos são recebidos
como heróis, em festiva recepção promovida pelos companheiros de farda e
pelos cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha.
O movimento militar se alastra de tal forma que o Governo, para pôr
termo à “Questão Militar”, anula as punições que havia imposto aos militares
envolvidos nos incidentes. O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (AL), o
Tenente-Coronel Antônio de Sena Madureira e o Coronel Cunha Matos são
perdoados pelo Imperador D. Pedro II e a “Questão Militar” é encerrada.
Fica a lição para os parlamentares e para a sociedade brasileira. Neste
episódio, pela primeira vez na história do Brasil, os militares revelaram com
vigor e clareza, nos atos e atitudes, a existência de uma “classe militar” unida e
coesa. Preparavam o terreno, para em breve começar a interferir de maneira
decisiva no jogo político do País.
9 de junho de 1884. Plenário. O Presidente do Conselho de Ministros –
32º Gabinete – Manoel Pinto de Sousa Dantas (BA), ao apresentar seu pro-
grama de governo assim se expressa sobre o elemento servil: “(...) Cabe-me
agora manifestar-vos o pensamento do gabinete na questão do elemento servil. Chega-
mos, Sr. Presidente, a uma quadra em que o governo carece intervir com a maior
seriedade na solução progressiva deste problema, trazendo-o francamente para o seio
do parlamento, a quem compete dirigir-lhe a solução. (Apoiados; muito bem.) Neste
assumpto nem retroceder, nem parar, nem precipitar.
E’ pois, especial proposito do governo caminhar nesta questão, não sómente como
satisfação a sentimentos generosos e aspirações humanitarias, mas ainda como home-
nagem aos direitos respeitaveis da propriedade, que ella envolve, e aos maiores interes-
ses do paiz, dependentes da fortuna agricola, que, entre nós, infelismente, se acha até
agora ligada pelas relações mais intimas com essa instituição anomala.
É dever imperioso do governo, auxiliado pelo poder legislativo, fixar a linha até
onde a prudencia nos permitte, e a civilisação nos impõe chegar; sendo que assim se
prosperidade e o futuro delles”. (Muito bem; muito bem! Applausos prolongados nas
galerias. O orador é felicitado.)”. Grifado pelo compilador. O proferido no dia 30 de
julho acontece quando a Mesa faz a leitura da interpelação do Deputado
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (PE) ao Presidente do Conselho
de Ministros José Antônio Saraiva (BA). Após a leitura é dada a palavra ao
interpelador que, colocando-se de acordo com o ponto de vista abolicionista,
ataca veementemente a proposta quando esta exclui os escravos de mais de
60 anos da categoria dos que devem ser libertos, imediata e incondicional-
mente, pelo fundo de emancipação, sujeitando-os à obrigação de mais três
anos de serviço e pelo alto preço dos irmãos dos ingênuos e destes para o
resgate de sua liberdade. Colhe, como sempre, simpáticas manifestações das
galerias. Em um dos trechos destaca que “(...) Chegou a hora de se fazer justiça,
aquella de que somos capazes, que é muito pequena, á raça que tem feito do Brazil tudo
quanto elle é; a essa raça que não paga sómente os subsidios dos deputados e a dotação
imperial; que paga tambem os juros da nossa divida em Londres e os juros das apolices
no Brazil, e na qual, no momento em que a honra da nacionalidade brasileira está em
jogo, vamos buscar o maior numero dos nossos soldados e á qual pedimos o mais largo
e generoso tributo de sangue. (Muito bem. Applausos nas galerias.)
(...) Há 50 annos que todos os brazileiros, que sabem soletrar, têm recebido do
Estado a intimação de que elle quer acabar com a escravidão, mas que não ousa,
porque seria offender os interesses de uma classe”. Grifado pelo compilador.
Muito combatido pelos abolicionistas que o consideram um verdadeiro
retrocesso se comparado com a Lei de 28 de setembro de 1871, o projeto teve
sua redação final aprovada em 25 de agosto de 1885 e enviado ao Senado,
onde é aprovado no mês seguinte.
20 de maio de 1885. 13 horas. Sessão Imperial de Encerramento da
Sessão Extrarodinária, e de Abertura da Assembléia Geral Legislativa. Pri-
meira Sessão Legislativa da 19ª Legislatura. Plenário. O Imperador D. Pedro
II, em sua “Fala do Trono”, declara: “(...) A extinção gradual da escravidão, assumpto
especial da sessão extraordinaria, deve continuar a merecer-vos a maior solicitude.
Essa questão que se prende aos mais altos interesses do Brazil, exige uma solução que
tranquillise a nossa lavoura. Confio-a, pois, á vossa sabedoria e patriostismo”. Grifado
pelo compilador.
tario de Estado dos Negocios do Imperio, assim o tenha entendido e faça executar.
Palacio do Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1885, 64º da Independencia e do
Imperio. – Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador”. Grifado pelo compilador.
Após a leitura, o Presidente da Casa faz o seguinte pronunciamento:
“Senhores, quaesquer que tivessem sido as nossas divergencias, e por maiores que fos-
sem as contrariedades, que tivemos de supportar, não posso deixar de assignalar os
relevantes serviços prestados pela Camara dos Srs. Deputados, no momento em que ella
é dissolvida.
A Camara bem mereceu do paiz pelas medidas que decretou, e especialmente pela
importante reforma, de sua iniciativa, a extinção do elemento servil.
O paiz registrará esta resolução como melhoramento necessario e de grande al-
cance.
Pela minha parte, cumpre-me agradecer á Camara a honra que me conferiu,
collocando-me nesta cadeira; e o auxilio que me prestou, no desempenho dos deveres do
elevado cargo para o qual me designou”. Grifado pelo compilador.
Convida os deputados a se conservarem nos seus lugares enquanto se
lavra a ata da sessão. É lido a sinopse dos trabalhos parlamentares do ano de
1885. A ata depois de lida é colocada para votação e aprovada.
A reforma, de iniciativa da Câmara dos Deputados, da “extinção gradual
do elemento servil”, ficou conhecida como a “Lei dos Sexagenários” e foi sancio-
nada pelo Imperador D. Pedro II em 28 de setembro de 1885. Dois dias após
a Câmara dos Deputados ter sido dissolvida.
Abolição da Escravatura
não queriam saber si Osorio, o vencedor de 24 de maio, era liberal, nem os liberais
indagavam si quem tinha tomado Assumpção, Caxias, era conservador. (Apoiados e
bravos nas galerias.)
Quando a abolição estiver feita, Sr. presidente, então sim, pódem recomeçar essas
nossas lutas partidarias que se travam de facto em torno das comarcas para juizes de
direito e das patentes de guarda nacional (risos), parecendo que se travam em torno de
ficções constitucionaes; neste momento, porém, o terreno é outro e muito diverso, porque
do que se trata é nada menos do que de fechar a cova americana, de que falla Michelet,
onde, por amor do ouro, foram atirados dous mundos, o negro por sobre o indio. (Apoia-
dos. Muito bem.)
(...) Sim, Sr. presidente, si é o partido conservador que vai declarar abolida a
escravidão no Brazil, eu digo-o sem recriminação, a culpa dessa substituição de papeis
ha de recahir toda sobre essa dissidencia liberal de 1884, que impediu o ministerio
Dantas de vencer as eleições daquelle anno, de arrastar comsigo o eleitorado todo do
paiz, e de realizar uma reforma muito mais larga do que o seu projecto. (Apoiados.)
Houve, porém, sempre no partido liberal uma minoria de homens timidos que
fizeram com que os grandes nomes de nossa historia, na questão que mais interessa ao
partido liberal, a da abolição, isto é, da formação do povo brazileiro, fossem conserva-
dores em vez de liberaes: foram elles que impediram Antonio Carlos de fazer o que fez
Euzebio, que impediram Zacharias de fazer o que fez Rio Branco e que impediram
Dantas de fazer o que vai fazer João Alfredo, que nunca tiveram fé nem no povo, nem
nas idéas liberaes. (Muitos apoiados.) Mas o escravo já tem sido por demais explorado.
Eu sei, Sr. presidente, que os liberaes estão soffrendo em todas as provincias do
jugo conservador, mas estão soffrendo em suas garantias constitucionaes apenas, ao
passo que os escravos estão soffrendo em suas pessoas e no seu corpo. Antes de pensar
nos nossos correligionarios, temos que pensar em nossas victimas, e os escravos o são,
victimas da politica estreita até hoje de ambos os partidos... E’ exactamente porque
esquecemos o que estamos soffrendo para salval-os do captiveiro em que ainda estão por
nossa culpa, mostrando assim sermos abolicionistas antes de sermos partidarios, que há
merito no apoio que prestamos ao ministerio conservador. Nós temos muito que nos
fazer perdoar pela raça negra e eu acredito estar servindo os interesses do partido
liberal, que não é outra cousa sinão o povo, o qual não é outra cousa em vastissima
extensão sinão a raça negra, tomando a attitude que tomo ao lado do gabinete no
baptismo da liberdade que elle vai agora receber...
Há muito tempo, Sr. Presidente, que eu abandonei o caminho das subtilezas
constitucionaes que se adaptam a todas as situações possiveis. Pelo estado do nosso povo
e pela extensão do nosso territorio, nós teremos por muito tempo, sob a monarchia ou
sob a republica, que viver sob uma dictadura de facto. Há de haver sempre uma von-
tade diretora, seja do monarcha, seja do presidente. Esta é a verdade, tudo mais são
puras ficcões sem nenhuma realidade a que correspondam no paiz.
Agora, porém, o que se vê, Sr. presidente é, essa dictadura de facto assumir o
caracter de governo nacional no mais largo sentido da palavra, promovendo a aboli-
ção, e é por isto que eu entendo que, longe de merecer as censuras, as ironias e até os
ultrages que estão sendo accumulados pelo despeito partidario sobre a sua cabeça, a
Princeza Imperial merece a maxima gratidão do nosso povo. Nos mezes em que o
Imperador lhe confiou o Imperio ella achou tempo de fazer delle uma patria, um paiz
livre, com uma lagrima do seu coração de mãi ella cimentou em um dia essa união do
throno com o povo que, com toda a sua experiencia dos homens e das cousas, seu pae
não pôde consolidar inteiramente em 47 anos de reinado. (Apoiados.) Não há nada
mais bello, Sr. Presidente. A simples intuição de uma brazileira, que não é mais do que
qualquer de nossas irmãs, com a mesma singeleza, a mesma honestidade e o mesmo
carinho, escreve a mais bella pagina de nossa historia e illumina o reinado inteiro de
seu pae. 1871 é todo delle, mas 1888 é todo della. Há neste momento uma manhã mais
clara em torno dos berços, uma tarde mais serena em torno dos tumulos, uma atmosphera
mais pura no interior do lar. Os navios levarão amanhã por todos os mares a bandeira
lavada da grande nodoa que a manchava, os nossos compatriotas nos pontos mais
longiquos da terra onde se achem sentirão que é um titulo novo de orgulho e de honra
o nome de Brazileiro... A quem se deve essa mudança tão rapida si não á Princeza
Imperial? Os grandes pensamentos vêm do coração. Ao dito de Vauvenargues, Sr.
presidente, póde-se accrescentar – e tambem os grandes reinados, como esta curta regencia
que em tão pouco tempo deu ao sentimento de patria outra doçura e á palavra huma-
nidade outro sentido. (Apoiados. Muito bem.)
(...) O honrado Presidente do Conselho foi o principal auxiliar da lei de 1871, e
agora vai ser o autor da lei de 1888.
(...) O honrado Presidente do Conselho, Sr. Presidente, tem direito neste momento
de todo o povo brazileiro ao maior apoio que o povo americano dava a Lincoln na
vespera da abolição, o maior apoio que a nação italiana dava a Cavour na vespera da
sua unificação, ao maior apoio que o povo brazileiro dava a José Bonifacio na vespera
da Independencia. São tres grandes objectos em uma só bandeira de que elle é o porta-
dor e é assim que eu lhe repito por outras palavras a saudação que lhe fez o grande
jornalista do norte, Maciel Pinheiro: “Pudestes ser meu inimigo hontem, has de com
certeza voltar a ser meu inimigo amanhã; mas, por emquanto, és o pontifice de uma
religião sublime, vais coberto pelo pallio da communhão nacional e levas nas mãos a
hostia sagrada da redempção humana!” (Muito bem! Muito bem! Applausos prolonga-
dos nas galerias.)”. Grifado pelo compilador.
Fala em seguida o Deputado Lourenço Cavalcanti de Albuquerque (AL):
“(...) Demais, como acreditar S. Ex. que sua declaração poderia constranger a Camara
dos Srs. Deputados, quando eu, que sempre fui considerado como escravocrata, hoje me
julgo na obrigação de votar, quanto antes, a reforma?
Senhores, o trabalho servil está definitivamente acabado (apoiados), já não exis-
te escravidão no Imperio; o que existe é um phantasma de escravidão que está estor-
vando a organização do trabalho livre e mantendo um estado de excitação que offerece
serios perigos. (Apoiados.)
É por isso que digo: enterremos logo o cadaver da escravidão, para que possamos
preparar o futuro, como é nosso dever”. Grifado pelo compilador.
Nota-se ao longo das discussões em Plenário, durante o Segundo Impé-
rio, que em muitos pontos os conservadores e liberais são bastante semelhan-
tes, chegando mesmo a ser afirmado por grandes historiadores da época que
data desta lei”. O Deputado Aristides César Espínola Zama (BA) pede a pala-
vra pela ordem e requer: “Quando uma camara deliberativa como esta, acudindo
ao appello de uma nação inteira, vai votar uma medida, como a proposta do governo,
é preciso que nos Annaes fiquem gravados os nomes dos votantes (apoiados.), por isso
requeiro que V. Ex. consulte á casa si consente em que seja nominal a votação”. É
aprovado requerimento. Em seguida a emenda é aprovada, voto nominal,
com 83 votos favoráveis e 9 contra.
Após calorosas discussões, no dia 10 de maio o projeto é aprovado e em
seguida remetido ao Senado. A sessão é levantada às 14 horas da tarde.
O Deputado Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (PE), em segui-
da, faz uso da palavra e diz: (...) Nós abolicionistas, retiramo-nos desta campanha
certos de que nada tirámos e, pelo contrario, tudo demos não só á dignidade do cidadão
brazileiro, mas tambem á dignidade de ambos os partidos constitucionaes. (Apoiados.)
(...) não há para o homem publico, como não há para os partidos, verdadeira
prosperidade sinão no momento em que elles se esquecem das preoccupações individuaes
e se recordam simplesmente do bem publico, do bem da patria”. Grifado pelo compilador.
Termina seu pronunciamento felicitando a Câmara dos Deputados de 1888,
o 35º Gabinete – de 10 de março de 1888 –, ambos os partidos constitucio-
nais e a Regente do Império; requerendo finalmente, que, em consagração
de tão memorável dia, fosse suspensa a sessão. É aplaudido de pé pelo Plená-
rio e pelas galerias. Posto a votos, é aprovado o requerimento.
Ainda nessa sessão do dia 10, O Deputado Affonso Celso de Assis
Figueiredo Júnior (MG) apresenta o seguinte projeto de lei: “A Assembléa Geral
Legislativa resolve:
Art. 1º Será considerado de festa nacional o dia em que fôr sanccionada a lei que
declara extincta a escravidão do Brazil.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das sessões, 10 de maio de 1888. – Affonso Celso Junior”.
Na sessão do dia 11, teve segunda leitura e foi julgado objeto de delibe-
ração, sendo então remetido à Comissão de Constituição e Legislação.
el Señor Presidente de la misma dirija uma nota al Poder Ejecutivo pidiendo a êste se
sirva trasmitir por intermedio de la Legacion en Rio de Janeiro un voto de felicitation
al Parlamento Brazilero por la sancion definitiva del proyecto aboliendo la esclavitud.
Dios guarde a V. Ex. – (firmados) Carlos Tagley, presidente. – Alejo Ledesma, secreta-
rio. Saludo V. Ex. – (Firmados) Roberto Quirino Costa”.
Quadro/Ilustração nº 17
O Presidente da Câmara – Deputado Henrique Pereira de Lucena,
Barão de Lucena
Quadro/Ilustração nº 17/A
A Princesa Imperial Regente D. Isabel Cristina Leopoldina Augusta
Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon
e votada pela Providencia aos mais esplendidos destinos. Si é grande o encargo que
assumis, não é menor o vosso patriotismo, e o Brazil o recorda com a mais segura
confiança.
Está aberta a sessão.
Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil.” Grifa-
do pelo compilador.
Em resposta à “Fala do Trono”, a Câmara dos Deputados assim se posi-
ciona: “A Camara dos Deputados lisonjeia-se de saber que o generoso acto de redempção
civil praticado na sessão transacta, longe de produzir os abalos que succederam em
toda a parte a semelhantes transmutações, não desorganisou sensivelmente o trabalho,
cujos braços vão sendo substituidos de modo regular. E Deus ha de permitir, Senhor,
que, pela regeneração e crescimento das industrias, sob o regimen muito mais fecundo
do trabalho livre, seja applaudida geralmente a reforma, que, si extinguiu uma pro-
priedade sem valia, não mais susceptivel de posse, foi a um tempo obra de reparação
social e de reconstrucção economica”. Grifado pelo compilador.
de Estado: Hei por bem Dissolver a Camara dos Deputados e Convocar outra, que se
reunirá extraordinariamente no dia 20 de Novembro do corrente ano.
O Barão de Loreto, do Meu Conselho, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios
do Imperio, assim o tenha entendido e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em 15
de Junho de 1889, 68º da Independencia e do Imperio. Com a rubrica de Sua Magestade
o Imperador”. Grifado pelo compilador.
O Presidente convida os Srs. Deputados a se conservarem em seus luga-
res até que seja lavrada e assinada a ata da sessão.
Deodoro. E uma palavra, veio pela caminhada inevitável do tempo “esse boiadeiro de
botas lentas e longas” de que falou o grande poeta”.
A disputa interna nos quadros monárquicos; o Exército desejando a
queda do Gabinete Liberal de Affonso Celso de Assis Figueiredo (MG), Vis-
conde de Ouro Preto, e com isso a volta dos conservadores ao poder, porque
é conveniente à corporação; a mal resolvida “Questão Militar”; a dívida con-
traída para fazer frente à “Guerra do Paraguai”; a propaganda republicana; e
a transformação econômica operada com a abolição da escravatura, que colo-
cou muito “senhor de escravos” contra o regime, somadas, levam à queda da
monarquia.
A esperança dos conservadores de que os rebeldes republicanos se con-
tentariam com a simples troca de Gabinete ministerial são sepultadas logo ao
cair da noite, quando os brasileiros recebem a comunicação, em documento
já assinado pelo Governo Provisório, de que havia sido decretada a deposição
da dinastia imperial e, conseqüentemente, a extinção do sistema monárquico.
Proclamada a República, o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (AL)
assume a Chefia do Governo Provisório, na qualidade de comandante do
movimento armado, no período de 15/11/1889 a 25/02/1891. Nesse mesmo
dia é expedido pelo Chefe do Governo Provisório, Marechal Manoel Deodo-
ro da Fonseca, o Decreto nº 1, que “proclama provisoriamente e decreta como
forma de governo da Nação Brasileira, a República Federativa, estabelecendo as nor-
mas pelas quais se devem reger os Estados Federais”. As províncias do Brasil, reuni-
das pelo laço da federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brasil e
a cidade do Rio de Janeiro constituída, também, provisoriamente, sede do
Poder Federal. O artigo quarto deixa claro que, “enquanto, pelos meios regula-
res, não se proceder á eleição do Congresso Constituinte do Brazil e bem assim á eleição
das Legislaturas de cada um dos Estados, será regida a Nação brasileira pelo Governo
Provisório da República”.
A promessa de um plebiscito estava contemplado no artigo 7º: “Sendo a
República Federativa brasileira a forma de governo proclamada, o Governo provisório
não reconhece nem reconhecerá nenhum governo local contrário á forma republicana,
aguardando, como lhe cumpre, o pronunciamento definitivo do voto da nação, livre-
mente expressado pelo sufrágio popular”. O Almirante Saldanha da Gama irá
cobrar essa promessa na Revolta da Armada de 1893.
Quadro/Ilustração nº 18
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca deixando o ministério logo após a
demissão dos membros do 36º Gabinete – Visconde de Ouro Preto
Quadro/Ilustração nº 18/A
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
O Chefe do Governo Provisório Marechal Manoel Deodoro da Fonseca
Primeira República
(15/11/1889 a 16/07/1934)
todos os meios ao seu alcance, promette e garante a todos os habitantes do Brazil, nacio-
naes e estrangeiros, a segurança da vida e da propriedade, o respeito aos direitos individuaes
e politicos, salvas, quanto a estes, as limitações exigidas pelo bem da patria e pela legitima
defeza do governo proclamado pelo povo, pelo exercito, pela armada nacional.
Concidadãos: As funcções da justiça ordinaria, bem como as funcções da admi-
nistração civil e militar continuarão a ser exercidas pelos orgãos até aqui existentes,
com relação aos actos na plenitude dos seus efeitos: com relação ás pessoas, respeitadas
as vantagens e os direitos adquiridos por cada funccionario.
Fica, porém, abolida desde já a vitaliciedade do senado e bem assim abolido o
conselho de estado. Fica dissolvida a camara dos deputados.
Concidadãos: o governo provisorio reconhece e acata todos os compromissos na-
cionaes contrahidos durante o regimen anterior, os tratados subsistentes com as potencias
estrangeiras, a divida publica externa e interna, os contratos vigentes e mais obriga-
ções legalmente estatuidas.
Marechal Manoel Deodoro da Fonseca – Chefe do governo provisorio”. Grifado
pelo compilador. Segue-se a relação dos nomes dos componentes do ministério
republicano e o Decreto nº 1, de 15 de novembro de 1889.
Neste mesmo dia, às 15 horas, o ex-Imperador D. Pedro II recebe men-
sagem do Governo Provisório que lhe é entregue pelo Comandante do Regi-
mento de Cavalaria, Major Frederico Solon de Sampaio Ribeiro, solicitando
que a Família Real deixe o Brasil. Logo depois o ex-Imperador D. Pedro II
redige uma resposta ao documento recebido nos seguintes termos: “À vista da
intimação escrita, que me foi entregue hoje, às 3 horas da tarde, resolvo, cedendo ao
império das circunstâncias, partir, com toda a minha família, para a Europa, amanhã,
deixando esta pátria, de nós estremecida, à qual me esforcei por dar constantes testemu-
nhos de entranhado amor e dedicação, durante quase meio século, em que desempenhei
o cargo de Chefe de Estado. Ausentando-me, pois, eu com todas as pessoas da minha
família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo ardentes votos por
sua grandeza e prosperidade”. Na madrugada do dia 17 começa a retirada da
Família Imperial do território brasileiro. A saída faz-se de madrugada pelo
temor da reação popular, que chegou a esboçar-se na Bahia e Pernambuco e
ameaçava alastrar-se por todo o País.
Em seguida, são expedidos pelo Chefe do Governo Provisório, Mare-
chal Manoel Deodoro da Fonseca (AL), mais dois decretos tratando da situa-
ção do ex-Imperador: O Decreto nº 5, de 19 de novembro de 1889, que
“assegura a continuação do subsidio com que o ex-imperador pensionava do seu bolso
a necessitados e enfermos, viuvas e orphãos” e o Decreto nº 78-A, de 21 de dezem-
bro de 1889, que nos seus artigos trata do seguinte: “Art. 1º É banido do territorio
brazileiro o Sr. D. Pedro de Alcantara, e com elle sua familia.
Art. 2º Fica-lhe vedado possuir immoveis no Brazil, devendo liquidar no prazo
de dous annos os bens dessa especie, que aqui possuem.
Ar. 3º É revogado o decreto nº 2 de 16 de novembro de 1889, que concedeu ao
Sr. D. Pedro de Alcantara 5.000:000$ de ajuda de custo para o seu estabelecimento no
estrangeiro.
cidadãos Affonso Celso de Assis Figueiredo, intitulado Visconde de Ouro Preto, e Carlos
Affonso de Assis Figueiredo.
Art. 2º Fica desterrado do territorio nacional, com a obrigação de residir em
qualquer dos paizes do continente europeu, o cidadão Gaspar Silveira Martins”.
Nesse mesmo dia é expedido o Decreto nº 78-A, que no seu artigo pri-
meiro trata do seguinte: “É banido do territorio brazileiro o Sr. D. Pedro de Alcantara,
e com elle sua familia”. É expedido, também, o Decreto nº 78-B, que “trata da
convocação do Congresso Nacional Constituinte”. Os seus artigos trazem o seguinte:
“Art. 1º No dia 15 de setembro de 1890 se celebrará em toda a Republica á eleição
geral para a Assembléa Constituinte, a qual compor-se-há de uma só camara, cujos
membros serão eleitos por escrutinio de lista em cada um dos Estados.
Art. 2º A Assembléa Constituinte reunir-se-há dous mezes depois na Capital da
Republica”. A esse respeito ver também o Decreto nº 510, de 22 de junho de
1890.
23 de dezembro de 1889. É expedido pelo Chefe do Governo Provisó-
rio, Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (AL), o Decreto nº 85-A, que “Crêa
uma commissão militar para julgamento dos crimes de conspiração contra a Republica
e seu Governo, applicando-lhes as penas militares de sedição”. O Decreto nº 295, de
29 de março de 1890, expedido pelo Chefe do Governo Provisório, Marechal
Manoel Deodoro da Fonseca (AL), “sujeita ao regimen do decreto n. 85 A de 23 de
dezembro de 1889 todos aquelles que derem origem a falsas noticias e boatos alarman-
tes dentro ou fóra do paiz ou concorrerem pela imprensa, por telegramma ou por qual-
quer modo para pol-os em circulação”. Com esses decretos fica oficializada a cen-
sura oficial logo nos primeiros atos de um Governo provisório republicano.
E em consequencia,
Decreta:
Art. 1º É convocado para 15 de novembro do corrente anno o primeiro Congres-
so Nacional dos representantes do povo brazileiro, procedendo-se á sua eleição aos 15
de setembro proximo vindouro.
Art. 2º Esse Congresso trará poderes especiaes do eleitorado para julgar a Cons-
tituição que neste acto se publica, e será o primeiro objecto de suas deliberações”.
Art. 3º A Constituição ora publicada vigorará desde já unicamente no tocante á
dualidade das Camaras do Congresso, á sua composição, á sua eleição e á funcção, que
são chamadas á exercer, de approvar a dita Constituição, e proceder em seguida na
conformidade das suas disposições.
Pelo que
O Governo Provisorio toma desde já o compromisso de cumprir e fazer cumprir,
nestes pontos, a dita Constituição”. Grifado pelo compilador. A esse respeito ver tam-
bém o Decreto nº 78-B, de 21 de dezembro de 1889.
23 de junho de 1890. É expedido pelo Chefe do Governo Provisório,
Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (AL), o Decreto nº 511, que “manda
observar o regulamento para a eleição do primeiro Congresso Nacional”. No artigo
5º observa que: “A nomeação dos deputados e senadores será feita por Estados e por
eleição directa, na qual votarão todos os cidadãos qualificados eleitores de conformida-
de com os decretos ns. 200-A de 8 de fevereiro, 277-D e 277-E de 22 de março de
1890”. Define o quantitativo de 205 deputados e 63 senadores e diz ainda no
artigo 67: “Aos cidadãos eleitos, para o primeiro Congresso entendem-se conferidos
poderes especiaes para exprimir a vontade nacional ácerca da Constituição publicada
pelo decreto n. 510 de 22 de junho corrente, bem como para eleger o primeiro Presiden-
te e Vice-Presidente da Republica”. Grifado pelo compilador.
ver expandir-se neste recinto, inebriado pelos doces e suaves aromas da democracia, a
alma popular, neste recinto mesmo de onde foram expellidos os destroços da monarchia
e onde vae começar a grande obra da construcção da Republica! (apoiados.).
Hontem, Sr. presidente, hontem eram os grandes pesadelos da noute da monarchia;
succederam-se os atropellos e a incerteza da dictadura; afinal surgem as alegrias e as
esperanças da aurora e da liberdade da Republica! Nem é para admirar, porque já se
disse algures que o dia precisa da noute para formar a aurora, que é mais bella de
ambos”. Grifado pelo compilador.
Para este primeiro Congresso Nacional Constituinte foram eleitos 205
Deputados e 63 Senadores. O projeto de Regimento para o Congresso Nacio-
nal Constituinte é discutido e votado entre os dias 18, 19 e 20 de novembro
de 1890.
Considerando que a República está obrigada a destruir esses vestígios por honra
da Pátria, e em homenagem aos nossos deveres de fraternidade e solidariedade para
com a grande massa de cidadãos que pela abolição do elemento servil entraram na
comunhão brasileira;
Resolve:
1º Serão requisitados de todas as Tesourarias da Fazenda todos os papéis, livros
e documentos existentes nas repartições do Ministério da Fazenda, relativos ao elemen-
to servil, matrícula dos escravos, dos ingênuos, filhos livres de mulher escrava e libertos
sexagenários, que deverão ser sem demora remetidos a esta Capital e reunidos em lugar
apropriado na Recebedoria.
2º Uma comissão composta dos Srs. JOÃO FERNANDES CLAPP, presidente da
confederação abolicionista, e do administrador da Recebedoria desta Capital, dirigirá
a arrecadação dos referidos livros e papéis e procederá á queima e destruição imediata
deles, que se fará na casa da máquina da Alfândega desta Capital pelo modo que mais
conveniente parecer á comissão. – Capital Federal, 14 de dezembro de 1890. Rui
Barbosa”.
20 de dezembro de 1890. Plenário. O Deputado José Joaquim Seabra
(BA) pede a palavra pela ordem: “Peço a palavra, Sr. Presidente, para apresentar
á consideração da Casa uma moção que me parece não poder deixar de ser approvada
pelo Congresso. Refere-se ella ao facto de haver o Governo mandado extinguir os ultimos
vestigios da escravidão.
A moção acha-se assignada por grande numero de senadores e deputados, e
espero que o Congresso, approvando-a, fará justiça e prestará devida homenagem ao
patriotico Governo Provisorio, que acabou de uma vez para sempre com aquillo que era
nossa vergonha, a pagina negra da historia do Brazil”. Grifado pelo compilador. Vai à
Mesa, é lida e posta em discussão a seguinte moção assinada por 83 constitu-
intes: “O Congresso Nacional congratula-se com o Governo Provisorio por ter man-
dado fazer eliminar dos archivos nacionaes os ultimos vestigios da escravidão no Brazil.
– Em 10 de dezembro de 1890”. Grifado pelo compilador.
Colocada em discussão, o Deputado Francisco Coelho Duarte Badaró
(MG) assim se pronuncia: “Sr. Presidente, não quero que ninguem entenda que,
ao levantar para pronunciar-me contra esta moção, eu pretenda condemnar a obra
meritoria dos abolicionistas. O que faço é protestar contra o acto de cremação de todo
o archivo da escravidão no Brazil, porque envolve interesse historico. Nós, em vez de
procurarmos destruir, o que é uma obra de verdadeiros iconoclastas, deviamos ter a
nossa Torre do Tombo, um edificio destinado a recolher os papeis de todos os archivos
do paiz.
Somos um povo novo que corremos o risco de ter difficuldades para escrever a
nossa historia, porque é deploravel o que se observa em todas as municipalidades e nas
repartições das antigas provincias: por toda a parte o mesmo abandono, o mesmo des-
cuido, e por ultimo o facto de mandar-se queimar grande numero de documentos que
podiam servir para se escrever com exactidão a historia do Brazil, no futuro. (Muito
bem; muito bem.)”. Grifado pelo compilador.
É necessário que se diga não existir lei alguma, na legislação reinícola, e, a ‘fortiori’,
em seu domínio de ultramar até o ano de 1888, instituindo a escravidão da raça negra.
Melo Freire (Inst., liv. II, tít. I, § 12), depois de afirmar, e com razão, em seus
dias (1789), não haver servos de origem, de cativeiro, nem de pena, prossegue: ‘In
Brasilia tamem servi nigri tolerantur’. E como se tolerava! Melhor diria –
‘recognoscimus’. Bastaria lembrar que uma extravagante de D. João V (Alv. De 3 de
março de 1741, confirmando outros atos régios de seu pai – Pedro II) mandava mar-
car com ferro em brasa o negro achado em quilombo, e, quando já marcado, cortar a
orelha.
Melo traz outras considerações, mas se arrima em péssima companhia – em
Montesquieu, que não admitia Deus colocar alma em um negro, sendo Deus ente perfeito,
sapientíssimo, mormente uma boa alma (cf. De L’ Esprít Des Lois, liv. XV, chap. V).
Em direito positivo, se levar-se a rigor, só existia o Cód. Visigótico, mais precisa-
mente a tradição romanística, nada mais fazendo o ‘Forum Iudicum’ do que repetir o
que preexistia, assimilando muita coisa do Direito Romano. Afora isso, as muitas doa-
ções feitas a partir da Reconquista, mormente a mosteiros, prelazias e mais entidades
eclesiásticas. Tais doações, feitas pelos soberanos, poderiam reputar-se lei para o caso
concreto.
O Conde de Oeiras deu um grande passo, com o Alvará de 19 de setembro de
1761, declarando livres os negros que chegassem ao território metropolitano, menos
aqueles que fossem tripulantes de navios. Mas não fora além disso.
Rui Barbosa não admitia meio-termo para o problema. Em livro de impressão ou
folha solta, seja o que for, fixou a seguinte frase:
“A abolição do elemento servil é entre nós, presentemente, o problema dos proble-
mas. – Julho de 1887. Rui Barbosa.
Dentre os abolicionistas, dos autênticos, ninguém tolerava o meio-termo.
Foi quando surgiu o célebre requerimento formulado por José Porfírio Rodrigues
de Vasconcelos e outros, apresentando as bases para fundação de um banco encarrega-
do de indenizar os ex-proprietários de escravos ou seus herdeiros, dos prejuízos causa-
dos pela Lei de 13 de maio de 1888, deduzidos 50% de seu valor em favor da Repú-
blica. O despacho não se fez esperar, sendo proferido a 11 de novembro de 1890.
“Mais justo seria, e melhor se consultaria o sentimento nacional, se se pudesse
descobrir meio de indenizar os ex-escravos, não onerando o Tesouro, Indeferido”. (Diá-
rio Oficial de 12.XI.1890, p. 5.216.) Foi este o despacho.
A repercussão de tal despacho foi sensível, e, tocado, naturalmente, por um misto
de receio e de mal-estar, cerca de um mês depois proferia a decisão de que tanto se fala,
mas notando-se que se cogitava, naqueles dias, de um movimento de reivindicação, de
ressarcimento de prejuízos oriundos da promulgação da Lei de 13 de maio – pretensão
que não tinha amparo algum em direito positivo, mas poderia suscitar problemas.
Base jurídica não havia, mas existia o problema latente.
A ameaça da indenização sem dúvida o atormentava, não obstante a ausência de
fundamento para tanto, a ausência de suporte jurídico, mas isso não bastava, sabendo-
se que no Brasil até mesmo a posição das letras do alfabeto se controverte, e, por vezes,
vence o sofisma.
Não fora um ato despótico, nem ocorreu arbitrariedade, e, tanto assim, que se
instituiu desde logo uma comissão idônea. Desta não se retirava a atribuição de preser-
var alguma coisa de interesse histórico. Foi um ato político, em que se exige, apenas, o
‘prudens arbitrium’. Consistiu, antes de tudo, numa prévia defesa do erário.
Bem mais radical seria, como realmente fora, a Circular nº 29, de Alencar Araripe,
endereçada a todos os órgãos subordinados, determinando a destruição de tais peças
para que ficassem extintos todos os livros e papéis referentes ao elemento servil.
É possível que não tenha refletido o Secretário de Estado, raro sendo, como se
sabe, o ministro com propensão para historiador, que não o empolgasse, depois, aquele
ato. É sintomático, a propósito, verificar-se que, em escrito a respeito da abolição, em
prefácio redigido em 1918, a tal episódio não ter sido feita a mais leve referência.
O homem público, em determinados momentos, poderá agir bem mais como de-
fensor do Fisco, convertendo-se em seu advogado, em estadista, em suma, bem mais do
que aquele que se devota á história, quanto àquilo que a esta importa, e pode concluir
que a destruição de papéis constitui tarefa das mais difíceis e problemáticas para quem
considere o seu valor, não tanto o actual, mas eventual, aleatório ou futuro.
Um mês de gestão de Rui Barbosa não ensejou a execução da decisão ministerial,
nem permitiria madura reflexão, suscetível de revogá-la ou modificá-la, mas cinco
meses eram mais do que suficientes, e nada também, até maio de 1891, se fez senão
confirmar e executar a determinação, quando não mais tinha ele voz ativa na Secreta-
ria de Estado”.
Ainda no dia 20 de dezembro de 1890 é expedido pelo Chefe do Gover-
no Provisório Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (AL), o Decreto nº 1.189,
que “dá providencias relativamente á primeira eleição das assembléas legislativas dos
Estados”. No artigo 1º assim está escrito: “Na primeira eleição das assembléas legis-
lativas dos Estados serão observadas as disposições do regulamento annexo ao decreto nº
511 de 23 de junho de 1890, com as modificações estatuidas no art. 7º do decreto n. 802
de 4 de outubro ultimo”. Quanto à fiscalização e aos trabalhos das mesas eleitorais
deve-se observar os termos do Decreto nº 663, de 15 de agosto de 1890.
mo que ainda não cessou de crescer, e agigantar-se, um organismo cuja força medra
continuamente com o perpassar dos tempos. (Muito bem.) Pelo tecido organico dos
elementos que a compõem, pela natureza evolutiva da combinação que encarna, pela
acção reconstituinte do seu poder judiciario, pela sua communicação interior com as
fontes da vida nacional, pelas emendas que a tornam contemporanea a todas as aspi-
rações successivas do espirito popular, a constituição americana é, hoje, como em 1789,
um modelo da actualidade, um thesouro de experiencia, um transumpto completo das
reinvidicações politicas do seculo dezenove; e não pode deixar de considerar-se , para as
nações deste Continente, o grande manancial da democracia federativa. (Apoiados). E
encerra afirmando: (...) Eu quizera, senhores, que estes conselhos, de uma actualidade
evidentissima, soassem nesta casa como um oraculo proferido pela sombra dediviva do
pai da União Americana, no meio dos nossos debates, sobre o berço da nossa. Porque,
ou eu me engano de todo, ou me foi de todo inutil este anno de dictadura em que eu
supponho ter atravessado cincoenta annos de experiencia; ou então, si quereis consul-
tar o verdadeiro amor da patria e as aspirações reaes della, haveis de meditar, no fundo
da consciencia, a lição memoravel de Washington. (Muito bem, muito bem, O orador
recebe felicitações geraes e a sessão interrompe-se por alguns minutos). Grifado pelo
compilador.
Em outro momento discutindo uma questão constitucional ratifica essa
consagração: “(...) nossa lâmpada de segurança será o direito americano, suas ante-
cedências, suas decisões, seus mestres. A Constituição Brasileira é filha dele e a própria
lei nos pôs nas mãos esse foco luminoso”.
O regime político passa a ser republicano e presidencialista. Consagra o
príncipio federativo, onde a nação é uma federação de vários estados, com
seus próprios governos, submetidos ao governo central, aos quais se permite
tudo o que o texto constitucional não proíba. Introduz o crime de responsabi-
lidade para os ocupantes de cargos no Poder Executivo, abrandam-se as pe-
nas criminais com a supressão da pena de galés, banimento judicial e de
morte; inviolabilidade do domicílio; situação e direitos dos funcionários; e
liberdade do exercício da profissão. O recurso do “habeas corpus” passa a ser
constitucional. É instituído um Tribunal de Contas para liquidar as contas da
receita e despesa e verificar a sua legalidade, antes de serem prestadas ao
Congresso Nacional. Os deputados serão eleitos nos estados, em montante
proporcional à sua população, para triênios, e os senadores, extinta a sua
vitaliciedade, para o período de nove anos, em número de três por estado e o
Distrito Federal. Acaba o voto censitário, que restringia os votantes a quem
detinha propriedades e rendas. Adota-se o voto direto e universal, para todos
os maiores de 21 anos, excluídos os analfabetos, além de algumas outras cate-
gorias, como os mendigos e, implicitamente, as mulheres, que ainda vão es-
perar por esse direito até a convocação da Assembléia Constituinte de 1933/34.
Confere aos Estados-Membros autonomia para organizar o seu Poder Legis-
lativo. Com isso, após a promulgação das Constituições estaduais, o Poder
Legislativo Estadual passa a ser exercido pelo Congresso, composto pelo Se-
nado e Câmara dos Deputados estaduais. O presidente da República será
Quadro/Ilustração nº 19
A cerimônia de posse e compromisso constitucional do Presidente da República
Marechal Manoel Deodoro da Fonseca
serve mais para estragar o phyzico e o moral dos homens do que de os compelir a
procederem como bons cidadãos, conhecendo mais que o ministro da guerra não podia
sem notorio abuso de autoridades suspender por uma simples portaria a execução da
ordenação de 9 de Abril de 1805, a qual não obstante os seus palpaveis defeitos e os
resultados que teve oppostos á intenção do legislador, (como a experiencia mostrou
desde o mesmo dia da sua publicação) não devera ser annullada por um modo tão
irregular, como o foi o da portaria de 3 de Setembro de 1825; e estando com effeito
provado que as deserções erão menos frequentes antes do que depois da publicação da
ordenação sobredita, e que muito mais frequentes se tornarão depois que se expedio a
portaria de 3 de Setembro de 1825, chegando a relaxação de muitos soldados, ate ao
ponto de desertarem por mero divertimento e o abuso dos chefes a decidirem sem conse-
lho da natureza dos crimes, e da qualidade ou gravidade dos castigos, o que bem prova
que as providencias do governo tiverão um resultado inverso dos fins que se propôz,
visto ser desproporcionada a pena á grandeza do delicto; póis que sendo constante que
muitos commandantes de corpos por falta de leis mais providentes mandão punir a seu
arbitrio com 100, 200 e ate 800 chibatadas a quaesquer soldados por culpas commettidas
contra a disciplina economica e particular dos mesmos corpos, e os commandantes dos
navios de guerra mandão castigar com rodas de páo, açoutes e pancadas de espada os
seus marinheiros e soldados por culpas leves, de modo nenhum se podem reputar 60 ou
100 chibatadas como sufficiente castigo do crime de deserção (reputado um dos mais
graves do exercito) daquelle soldado relaxado, a quem por culpas muito menores se
applicão mais severos castigos, não só pelos commandantes dos corpos e das compa-
nhias, mas ainda por um sargento ou outros officiaes inferiores. Taes são os effeitos da
nossa actual legislação militar!
E ainda que no projecto de ordenação do Sr. deputado Cunha Mattos, se ache
para o futuro abolido o infame castigo das chibatadas, nunca vantajoso e sempre
estragador dos brios e outras qualidades phisicas e moraes dos militares; e esteja
determinado no mesmo projecto um systema de castigos de deserções mais consentaneo
com a razão e sentimentos generosos de um povo livre, nem por isso a commissão se
oppõe ao projecto do Sr. Castro e Silva, reservando para occasião mais opportuna a
total abolição dos castigos de chibatadas, açoutes, rodas de páo, e pancadas de espa-
da, tanto no exercito como na armada; e por isso a commissão cingindo-se tão sómente
á materia do mesmo projecto do Sr. Castro e Silva, tomado pela parte da illegal
suspensão da lei praticada pelo ministro da guerra, e nunca porque entenda que a
ordenança de 9 de abril de 1805 seja um meio conveniente para diminuir e castigar
as deserções, tem a mesma commissão a honra de apresentar a esta augusta camara,
com consentimento do illustre autor do projecto, e como emenda a elle o seguinte”.
Grifado pelo compilador.
Em seguida apresenta projeto de resolução considerando nulas e de
nenhum efeito as portarias expedidas que impunham castigos corporais aos
soldados e marinheiros das forças imperiais. “Projeto de Resolução – A assembléa
geral legislativa resolve:
Artigo unico. Fica em seu inteiro vigor o titulo 4º da ordenança de 9 de abril de
1805, e as leis que o illuminarão ou alterarão, e serão consideradas irritas, nullas e de
Sr. Commandante chegou a esse ponto: alli estão guardando o cofre de bordo quatro
praças, com armas embaladas; para nós aquillo é sagrado. Só queremos que o Sr.
Presidente da Republica nos dê liberdade, abolindo os castigos barbaros que soffremos,
dando-nos alimentação regular e folga no serviço.”
“V. S. vai ver si nós temos ou não razão.”
Mandaram vir á minha presença, Sr. Presidente, uma praça, que tinha sido
castigada ante-hontem. Examinei essa praça e trouxe-a commigo para terra, para ser
recolhida ao Hospital de Marinha. Sr. Presidente, as costas desse marinheiro asseme-
lham-se a uma tainha lanhada para ser salgada.
Perguntei si havia feridos ou mortos a bordo. Responderam que havia um official
agonizando, um 2º tenente, cujo nome não me souberam informar.
Perguntei-lhes ainda o que queriam, e me responderam: “o mesmo que pede a
guarnição do S. Paulo, e no officio que mandámos pelo nosso emissario ao Sr. Mare-
chal Presidente da Republica, pedimos perdão pela falta que praticámos levados pela
allucinação a que chegámos pelos castigos barbaros que recebemos, todos os dias, e a
posição desesperada em que nos collocaram. Fizemos tudo isto porque basta de soffrer e
não sabemos ainda o que faremos. Em todo caso, pedimos perdão e sentimos que estavamos
amparados na nossa desgraça quando nos annunciaram a vinda de V. S. para ser
intermediario do nosso pedido do perdão. V. S. , pedimos todos, seja o nosso bemfeitor e
nos livre da desgraça em que cahimos e que não foi por nossa culpa; peça ao Sr.
Marechal Hermes que nos perdôe.”
Retirei-me de bordo do Minas Geraes, trazendo ao Sr. Presidente da Republica
estas informações e fazendo-lhe entrega do officio que a elle era dirigido pela guarnição
daquelle couraçado.
Saltei no Arsenal de Marinha, e ao official de serviço entreguei a praça que
havia sido chibateada a bordo e precisava ser recolhida ao hospital. Em seguida, fui
para o palacio, onde encontrei o Sr. Presidente da Republica com seus ministros, a
quem dei contas da incumbencia que me levara a bordo dos couraçados Minas Geraes
e S. Paulo.
Desta simples exposição, V. Ex., Sr. Presidente, e a Camara bem podem
comprehender a gravidade da situação e medir devidamente as responsabilidades que
pesarão sobre o Congresso nacional, por qualquer acto que tenha de praticar, levado
pelas exigencias do momento.
A gente que está a bordo é capaz de tudo, quando os chefes e marinheiros são
individuos allucinados pela desgraça em que cahiram.
Acredito que o Governo vae agir como lhe impõem o dever, a dignidade e o
respeito que todos nós devemos á Republica, ainda que tenhamos de lamentar perdas
enormes e registrar sacrificios sem conta.
Não sei o que aquella gente vae fazer; mas, pelo que pude deprehender da exaltação
dos animos e planos dos chefes, a situação é gravissima.
(...) Trago apenas estas informações á Camara; o mais, o Governo communicara
pelos processos regulares. (Apoiados.)
Assim, não me compete sinão ser portador destes esclarecimentos, para que a
Camara fique sabedora da situação exacta e penosa em que nos achamos. Tenho
concluido. (Muito bem; muito bem. O orador é muito abraçado e vivamente cumpri-
mentado.)”. Grifado pelo compilador.
24 de novembro de 1910. 13 horas. Plenário da Câmara dos Depu-
tados. O Deputado Francisco Joaquim Bethencourt da Silva Filho (DF) fala
sobre o Marinheiro João Cândido Felisberto (RS): “(...) Emquanto as autorida-
des federaes esperam da generosidade desse homem, até hontem ignorado mas hoje
conhecido em todo o Brazil, o soldado João Candido, que a capital do paiz, cidade
comercial, séde dos poderes constitucionais da Republica não seja bombardeada, derruidos
seus predios, afugentada e assassinada sua população; emquanto todos nós tudo fiamos
da generosidade desse caboclo até hontem obscuro e de hontem para hoje revelado um
bello e habil marinheiro, com proficiencia superior a de muitos officiaes de nossa arma-
da, notaveis pela perambulação na rua do Ouvidor e pela comparencia a todas as
festas e bailes deste regimen de comesainas, fica tristemente evidenciada a impotencia
de nossas fortalezas e de parte de nossa esquadra immobilizada na fidelidade ao gover-
no legal da Republica.
A população da cidade do Rio de Janeiro vive anciosa, não sabendo si, de um
momento para o outro, ficará na contigencia de uma população atacada por uma
esquadra inimiga.
(...) As nossas fortalezas e navios fieis ao Governo não se encontram em condi-
ções de enfrentar a esquadra revoltada.
Achamo-nos, como disse, entregues á generosidade de obscuros patricios.” (Muito
bem; muito bem.)”. Grifado pelo compilador.
O Deputado Alexandre José Barbosa Lima (DF) fala sobre a anistia aos
revoltosos: “(...) neste momento de angustia, não é possivel a nenhum orador occupar-
se exclusivamente da materia em debate, sem voltar sua attenção para o facto que, ha
48 horas, traz em sobressalto a população desta Capital.
Aprecio o movimento subversivo dos marinheiros, considerando-o como uma
consequencia inevitavel da infracção da lei no regimen disciplinar, desde que os casti-
gos physicos reduzem os pequenos servidores da patria a verdadeiros escravos.
Entendo que a amnistia é uma consequencia natural dessa revolta, porque ella
virá assegurar o dominio da lei esquecida e porque esta providencia não deve ser con-
cedida unicamente aos revoltosos graduados, de galões e bordados”. Grifado pelo compi-
lador.
O Jornal “O Estado de São Paulo” do dia 25 de novembro destaca em sua
primeira página: “Revolta na Armada – A situação continua muito grave. 4 horas e
45 minutos da tarde. O anunciado bombardeioo começa sem grande intensidade.
Neste momento succedem-se os tiros que repercutem na cidade inteira causando enor-
me terror.
(...) O deputado José Carlos, que fora a bordo dos S. Paulo annunciou da tribu-
na da Camara que se o governo não deferisse ás mensagens dos rebeldes estes bombar-
deariam a cidade ás 5 horas. Referiu que há perfeita organisação militar a bordo, não
estando um único marinheiro embriagado.
7º, pela mais estreita observancia das normas que vedam ao Exercito e á Armada
as manifestações collectivas;
9º, por uma administração, em summa, que exclua totalmente da politica o Exer-
cito e a Marinha, os encerre unicamente no circulo natural da sua vocação, os reduza
emfim ao seu legitimo papel de orgãos defensivos do paiz contra o estrangeiro e sustentadores
das instituições constitucionaes, nas mãos do poder constituido contra a desordem.”
Adopto taes fundamentos como razão de decidir e nego a amnistia reputando este
ignominioso projecto como um deploravel acto de fraqueza.
Pedro Moacir – Concedo, em principio, a amnistia, mas com o protesto de recla-
mar no plenario as indispensaveis informações do Poder Executivo sobre si tem ou não
meios de resistir á revolta e, em segundo logar, si assegura estar de accôrdo com o
Congresso na concessão da amnistia. – Lamenha Lins.
N. 250 – 1910 (Do Senado)
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º É concedida amnistia aos insurrectos de posse dos navios da Armada
Nacional si os mesmos, dentro do praso que lhes for marcado pelo Governo, se submetterem
ás autoridades constituidas.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrario.
Senado Federal, 24 de novembro de 1910. – Quintino Bocayuva, presidente,
Joaquim Ferreira Chaves, 1º secretario. Candido de Abreu, 2º secretario interino”.
Grifado pelo compilador.
Com a galeria da Câmara dos Deputados lotada de cidadãos, ansiosos
por uma solução do conflito, é anunciada a discussão do projeto. São troca-
dos vários apartes. O Presidente da Casa, Deputado Sabino Alves Barroso
Júnior (MG), tem que intervir reclamando atenção de todos os presentes.
O Deputado Pedro Gonçalves Moacir (RS) faz um contundente pronun-
ciamento e ao final declara: “(...) Em taes condições voto o projecto de aministia,
como um acto de necessidade e não de fraqueza, como emfim, uma garantia de justiça,
uma providencia de alta politica, a envolver nas suas inspirações o restabelecimento
dos sagrados direitos da humanidade. Seja qual fôr a irregularidade das fórmas de
reclamação, cumpre não esquecer que os marinheiros querem apenas ser homens livres,
obedecendo á disciplina dentro da Constituição. São insubordinados que pedem repa-
ração, desvairados pelo horror da chibata”. Grifado pelo compilador. Após a sua fala o
orador é muito cumprimentado.
O projeto é aprovado por 115 votos a favor e 19 contrários, em terceira
discussão, às dezessete horas e quarenta minutos. É enviado à sanção presi-
dencial, oficiando-se ao Senado Federal sobre a aprovação da proposição.
Durante o desenrolar destes acontecimentos, um fato curioso fica para
a história da Câmara dos Deputados. Achando-se esta em sessão ordinária e
a presidindo o Segundo-Secretário Antônio Simeão dos Santos Leal (PB) e na
tribuna estando com a palavra o Deputado Manoel Corrêa Defreitas (PR),
conhecido e afamado por sua desconcertante originalidade, eis que come-
çam a zunir por cima da Casa, incessantemente, as balas dos navios revolta-
dos. Em dado momento, ouve-se um desabar de tijolos. Tinha sido uma gra-
com o território. Por isso, esse território passou a ser chamado de “o Contestado”.
Em 1904, o Supremo Tribunal Federal concedeu “o Contestado” a Santa
Catarina, mas os paranaenses não se conformaram e a execução da sentença
foi embargada. O litígio, que deveria ter sido encerrado com o pronuncia-
mento da Suprema Corte, continuou agitado em ambos os Estados, chegan-
do os políticos paranaenses a propor a criação do Estado das Missões. Em
1910, nova decisão judicial favoreceu o Estado de Santa Catarina e somente
em 12 de outubro de 1916 esses Estados chegaram a um acordo e realizaram
a partilha do território disputado. O Projeto nº 20-C, de 1917, “approvando o
accôrdo entre os Estados do Paraná e de Santa Catharina, alterando os respectivos
limites” é aprovado em redação final no dia 30 de junho de 1917 e enviado ao
Senado Federal.
Para se ter uma idéia dos limites entre os dois Estados basta reportar ao
Projeto de Lei nº 63-A/1891, da Comissão de Constituição, Legislação e Jus-
tiça publicado na sessão do dia 21 de setembro de 1891 onde traz um extenso
arrazoado sobre o assunto.
O problema na região começa a se complicar a partir de 1908, com a
costrução, nessa área, de um trecho da estrada de ferro São Paulo-Rio Gran-
de. Iniciada por uma firma francesa, a concessão passou à companhia norte-
americana “South Brazil Railway Company”, que em pouco tempo englobou
várias empresas. Com o término da construção da ferrovia, as terras passa-
ram para as mãos das companhias colonizadoras, na maioria estrangeiras.
Um dos principais motivos para o início da guerra é a ofensiva irresponsável
destas empresas na região: as multinacionais “Lumber Co.”, considerada uma
das maiores serrarias do mundo e a ferrovia “South Brazil Railway Company”,
responsável pela demissão de vários trabalhadores após o término da obra.
Além disso, podemos considerar, também, um surto messiânico em conjunto
com o fanatismo religioso, reivindicação de propriedade, questões limítrofes
entre Estados, disputas políticas provincianas, cobiça por pinheirais, grilagem,
ignorância, miséria e posse de terras por grupos estrangeiros no corte da
madeira. Para o Capitão João Teixeira de Mattos Costa, que iria morrer he-
roicamente na campanha, “a revolta do Contestado é apenas uma insurreição de
sertanejos espoliados nas suas terras, nos seus direitos e na sua segurança. (...) duplo
produto da violência que revolta e da ignorância que não sabe outro meio de defender
o seu direito”.
Depois de tomar conhecimento da situação o Governador de Santa
Catarina manda para o local um contingente de tropas estaduais. Após qua-
tro horas de resistência ao fogo de artilharia, os fanáticos batem em retirada.
Acompanhado por aproximadamente quarenta adeptos, José Maria de San-
to Agostinho refugia-se em Irani, no município de Palmas, no Estado do
Paraná, onde já tinha vivido anteriormente.
Com a repercussão dos incidentes na região e com os desencontros de
informações, o Governo do Estado do Paraná considera a invasão dos fanáti-
cos vindos de Santa Catarina como manobra para provocar a intervenção de
Não é somente pelo lado dos estragos materiaes, das cidades destruidas pelos
belligerantes, tanto de uma parte como de outra, de bellos navios mercantes, postos
a pique com accentuado requinte de deshumanidade, que esta luta horrivel nos
deve impressionar. É por certo contristador o facto da extincção ou inutilização de
tantos milhares de vidas, de tantas riquezas acumuladas, de tantas maravilhas
destruidas. Mas o que igualmente nos deve desolar é que esta guerra representa um
tremendo retrocesso na civilização, um attentado contra os mais elevados principios
de direito internacional, uma derogação do direito maritimo, do direito das gentes,
inspirados no excelso dictame da revelação christã e nos rudimentares deveres da
humanidade.
Não podemos, portanto, continuar indifferentes deante desta calamidade.
Nós, filhos do continente americano, temos um dever a realizar neste tristissimo
momento.
Nem se diga que o Brazil vae tomar a iniciativa no cumprimento desse dever; o
que elle irá fazer é entrar na comunhão de pensamento e identificar-se com os desejos e
aspirações de todas as republicas do Novo Mundo, levantando-se com todas ellas no
desempenho da mais sublime das missões: a mediação pela paz.
Poderá ser isto considerado uma utopia, poderá ser julgada uma medida platonica.
Seja muito embora uma e outra cousa, o que não se poderá contestar é que será
um nobre gesto, immortalizando a America. E não terá ella o direito de se fazer ouvir?
A sua cultura, filha da civilização do mundo occidental europeu, ás suas relações
economicas com as potencias belligerantes, a complicada trama de grandes interesses
comerciaes, envolvendo a permuta de riquezas extraordinarias, não lhe darão autori-
dade para fallar?
Quem sabe si a tentativa não será infrutifera e si poderemos, de hoje a um mez,
precisamente no dia em que Colombo, como instrumento da Providencia, e guiado pela
sua fé, entregou á Hespanha um Novo Mundo, não possa vir este retribuir ao Velho
Mundo, em bençãos de paz, a sua descoberta para a civilização?
(...) Eis o que explica a minha presença nesta tribuna, onde venho apresentar á
approvação da Camara dos Deputados uma indicação cujos principios são os mesmos
adoptados por cada qual dos representantes da Republica do Brazil.
Lê a indicação: (...) Indico á Camara dos Deputados, que faça lembrar ao Poder
Executivo a idéa de, por intermedio do Sr. Ministro das Relações Exteriores, convidar
os Governos de todas as nações americanas para apresentar sua mediação no actual
conflicto europeu, a qual deve ser offerecida collectivamente, começando por pedir aos
belligerantes um armisticio e propondo-lhes, na vigencia deste, a reunião de um tribu-
nal em que, com a imparcial assistencia dos expontaneos medianeiros da paz, resolvam
amistosamente os povos ora em luta as questões que os arrojaram aos campos de bata-
lha, e firmarem de uma vez para sempre, si possivel fôr, a pról do bem da humanidade
o arbitramento como regra única de decidir todas e quaesquer dissensões entre as sobe-
ranias do mundo.
Sala das sessões, 12 de setembro de 1914. – Valois de Castro”. Grifado pelo com-
pilador.
tido de que a mesma Camara fosse installada, com urgencia, na Biblioteca Nacional,
correndo as despesas de mudança e de installação por conta do citado ministerio,
officiando-se nesse sentido ao alludido Ministro e marcando-se o dia 19 do corrente
para a cerimonia do lançamento da primeira pedra do supra citado edificio, cuja
construcção ficará assim iniciada. Arnolfo Azevedo, Presidente. – José Augusto, 1º
Secretario. – Costa Rego, 2º Secretario”.
É publicado o “Termo de contracto celebrado entre o Ministerio da Justiça e
Negocios Interiores e Francisco Lopes de Assis Silva & Companhia, para a construcção
do esqueleto em concreto armado, alvenaria, coberturas, pisos, forros, cupolas, claraboias,
escadas, etc, para o novo edificio da Camara dos Deputados”.
Nesse mesmo dia, em Plenário, o Presidente da Câmara dos Deputados
Arnolfo Rodrigues de Azevedo (SP), faz a seguinte comunicação: “Srs. Depu-
tados, em cumprimento do disposto no decreto legislativo n. 4.381 A, de 6 de Dezembro
de 1921, entendeu-se a Mesa com o Sr. Presidente da Republica para tornar effectiva
a construcção de um edificio destinado á condigna installação da Camara dos Depu-
tados, que ate agora, e desde a proclamação de nossa independencia, tem funccionado
em casas de adaptação imperfeita, tomadas por emprestimo, em caracter provisorio, á
generosidade do Poder Executivo, neste e no passado regimen, sempre aguardando feliz
opportunidade pra a definitiva solução desse problema quasi secular.
Estabelecido o accôrdo exigido por aquella lei, entre o Chefe do Governo e a Mesa
da Camara, ficou resolvido que o terreno, á construcção destinado, seria o quadrilatero
situado entre as ruas da Misericordia, da Republica do Peru (antiga Assembléa), de
S. José e de D. Manoel, logar tradiccional, onde existe a denominada “cadeia velha”,
paço da assembléa legislativa do Imperio e, por muitos annos, séde da Camara Federal
dos Deputados da República; prisão do proto-martyr de nossas liberdades politicas, o
Tiradentes; fonte de onde, em caudal de inestimaveis beneficios, promanaram as mais
sabias, as mais patrioticas, as mais esclarecidas leis, que nos integraram no convivio
dos povos civilisados, attestando o nosso progressivo e crescente adiantamento e as
aptdidões inconstestaveis de um povo laborioso e intelligente, que a muitos se afigurou
ter nascido já adulto, tal o gráo de aperfeiçoamento com que se apresentava na legisla-
ção elaborada pelas assembléas de seus representantes mais directos, alli reunidos tan-
tas vezes, em memoraveis sessões, que são verdadeiros padrões de gloria nossa e não
deslustrariam parlamento algum.
Não só maior facilidade de aproveitamento desse terreno, agora devoluto, mas
tambem e muito principalmente, aquella circumstancia de guardar o local, o melhor e
o mais precioso de nossas tradições parlamentares, actuaram no nosso espirito para
fixar a escolha.
Determinando que alli seria edificado o predio da Camara dos Deputados, tive-
mos expontaneamente elaborados e offerecidos á Mesa, os projectos dos engenheiros
Francisco Lopes de Assis Silva & Comp. e architecto Archimedes Memoria, chefe do
Escriptorio Heitor de Mello, que estiveram expostos e foram examinados, no gabinete
da Presidencia da Camara, por quasi todos os Deputados, dando-se preferencia ao do
segundo architecto, que foi escolhido e approvado pela Mesa, e parecia, igualmente,
mais do agrado dos que o viram e analysaram.
Casa do Congresso em outro predio, onde possa permanecer ate a conclusão das obras
do palacio, que, pela mesma resolução, lhe será destinado.
Pensavam os autores do projecto, afinal transformado nessa resolução legislativa,
que o contracto das obras e o inicio da construcção do edificio pudessem ser feitos nos
quatro mezes de interregno parlamentar e, nesse presupposto, empregou a Mesa da
Camara o melhor de seus esforços para que se apressassem a confecção e escolha do
projecto, organização dos orçamentos e detalhes das respectivas obras, de sorte a offerecer
ao Ministerio da Justiça e Negocios Interiores as bases da concurrencia publica, que
deveria ser aberta sem demora.
(...) Circumstancias independentes da vontade da Mesa, porém, vieram impedir
a realização do pensamento dos autores da medida, podendo-se assignalar entre elllas,
a convocação do Congresso, em sessão extraordinaria, para 10 de março, reduzindo á
metade o periodo das férias do nosso parlamento.
(...) Não é segredo para ninguem que o Palacio Monroe foi obtido, em 1914, por
uma concessão do Poder Executivo, que o destinava a outros misteres conducentes ao
cultivo de nossas relações internacionaes, para guardar reminiscencias da Exposição
Internacional de São Luiz, dos Estados Unidos da America do Norte, onde figurava
como pavilhão dos Estados Unidos do Brasil. Estava occupado pela Camara a titulo
precario e em caracter provisorio, havia oito annos, para ser restituido, quando se
tornasse necessario á publica administração, para destino mais adequado a sua
architectura e ao fim para que foi edificado.
(...) Por essas e outras razões de procedencia incontestavel, resolveu a Mesa con-
cordar com a cessão e effectuar a mudança, dentro do prazo estricta e rigorosamente
indispensavel ás rapidas adaptações exigidas e á remoção do recinto e do mobiliario
pertencentes á Camara, imprescindiveis aos nossos trabalhos e ao conforto dos srs.
Deputados.
Para isso teve a Mesa de interromper as sessões ordinarias por alguns dias e o
fez em face da impossibilidade de qualquer outro procedimento, como é facil de ser
provado.
(...) Alem disso, temos o precedente de 1914, em que a mudança da Camara
para o Palacio Monroe determinou a suspensão de suas sessões ordinarias, por mais de
uma semana, sem reclamação alguma, não obstante faltar o voto expresso da Camara,
autorizando a mudança da sua séde, que a Mesa de então resolveu e executou e a
Camara só tacitamente homologou, sem ouvir o Senado.
(...) Do exposto é forçoso concluir que não houve, em todo o procedimento da
Mesa, desde o inicio das diligencias para construcção do edificio da Camara ate á
mudança da séde dos trabalhos para a Bibliotheca Nacional, um único acto que se não
baseie em disposição de lei ou que della não resulte como consequencia logica, forçada
e inelutavel, o que folgo de poder deixar assignalado nos “Annaes” da Camara, com
esta exposição de motivos”. Grifado pelo compilador.
A sessão do dia 6 de julho de 1922, registra o pronunciamento do Depu-
tado Costa Rego (AL), na cerimônia de lançamento da pedra fundamental
para assinalar a inauguração da construção do Palácio destinado à Câmara
dos Deputados, conforme projeto do arquiteto Archimedes Memória.
cha, conta-se que o Capitão Luís Carlos Prestes ainda não pensava em tornar-
se comunista. O seu desejo básico era conhecer o verdadeiro Brasil, trazendo
à tona o seu repúdio à inércia dos governantes da época que se distanciavam
dos verdadeiros problemas do País. Antes de transformá-lo era preciso entendê-
lo. Por isso muito se falou do caráter humanista da marcha. Derrubar a
“República Velha” e a oligarquia dominante é um objetivo a ser considerado. A
insatisfação se espalha ainda mais pelo País durante o Governo do Presidente
da República Arthur da Silva Bernardes (MG).
Simultâneamente à revolução gaúcha, o Governo Federal enfrenta o
levante do “Encouraçado São Paulo”, chefiado pelo Tenente Hercolino Cascardo,
no dia 4 de novembro de 1924. Sem condições de lutar sozinho contra as
forças legais, o navio ruma para Montevidéu, onde os rebeldes conseguem
asilo político e posteriormente engajam-se na “Coluna Gaúcha”. As revoluções
tenentistas espalham-se pelo País. Os Estados de Mato Grosso, Sergipe e Ama-
zonas apresentam, também, focos de rebelião nos quartéis ali localizados.
Na sessão do dia 4 de novembro de 1924, o Deputado Antônio Carlos
Ribeiro de Andrada (MG) traz ao conhecimento do Plenário os fatos que
estão se passando em um navio da Marinha de Guerra que foi tomado por
rebeldes. Diz em um dos trechos: “(...) Esse nucleo reduzido de militares, actuando
sobre uma parte tambem pequena da Marinha de guerra, acaba de conseguir que um
dos nossos ‘dreadnoughts’, o ‘S. Paulo’, pratique actos reveladores da adhesão ao movi-
mento contra as autoridades legaes. Devo informar, porém, á Camara, que o ‘São
Paulo’ tem, dentro da sua propria guarnição, os elementos que terão de destruir o
levante. O Governo sabe, nesta hora, que dentro delle já se estabeleceu a luta, que o
numero de officiaes revoltosos é minimo, mas que, audazmente, conseguindo captar a
confiança de parte da marinhagem, desferiram os golpes já conhecidos. E o Governo
sabe que varios dos officiaes e muitos dos sub-officiaes, assim como grande parte da
maruja, estão operando no sentido de retomar o commando do ‘dreadnought’ aos pou-
cos que se revoltaram.
(...) Direi por último, Sr. Presidente, que não devo terminar as poucas palavras
que hei pronunciado, sem synthetizar á Marinha fiel, que é, quasi toda (apoiados;
muito bem), á Marinha, na pessoa do venerando brasileiro – esse sim, que merece as
palmas da Camara – o almirante Alexandrino de Alencar (apoiados; muito bem; pal-
mas), que a estas horas assumindo o supremo commando da Marinha de Guerra asse-
gura ao povo brasileiro que a Marinha será, mais uma vez, ao lado do Exercito Nacio-
nal, essa poderosa columna da legalidade. (Muito bem; muito bem. Palmas no recinto)”.
Após este pronunciamento, apresenta requerimento de sua autoria e de ou-
tros parlamentares, propondo que a Câmara dos Deputados preste solidarie-
dade ao Presidente da República Arthur da Silva Bernardes (MG). Muito dis-
cutido, é em seguida aprovado.
Se, em 1922, os tenentes revolucionários apresentam uma reação
corporativa das Forças Armadas com a prisão da mais alta patente do Exérci-
to e o fechamento do Clube Militar, em 1924, eles já trazem um projeto polí-
tico: voto secreto, limitação das atribuições do Poder Executivo, moralização
Art. 2º Uma vez alistada nos termos do art. 1º, e observadas as disposições dos
arts. 26 e 41 e respectivos paragraphos da Constituição, póde a mulher ser eleita, quer
para exercer a Presidencia ou Vice-Presidencia da Republica, quer para desempenhar
o mandato de Deputado ou Senador do Congresso Nacional.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das sessões, 1 de dezembro de 1924. – Basilio de Magalhães.”
E encerra dizendo: “Assim, Sr. Presidente, ao terminar as minhas ponderações
a respeito deste assumpto de tanta relevancia para a nossa nacionalidade e de tanto
momento, devo declarar que não foi por estimulo de vaidade pessoal que me abalancei
a mais esta iniciativa, porém sim pelo mesmo natural carinho que tenho dedicado,
desde o primeiro balbuciar da minha intelligencia, a tudo quanto diz respeito á grande-
za de minha patria. Nunca me pude convencer de que as mulheres brasileiras sejam
inferiores ás mulheres de outras nacionalidades, ao ponto de ficarem até agora sem o
goso do direito, que tanto as deve noblitar, de virem perante as urnas escolher quem
melhor governe o paiz ou disputar cargos electivos, de cujo desempenho sejam ellas
capazes. Foi apenas com esse intuito que elaborei este projecto, e fio que a Camara,
fazendo-me a justiça que lhe impetro, me perdôe a ousadia de ser ainda eu, em um
assumpto de tanta importancia , quem tenha vindo trazel-o a esta Casa, onde pontifi-
cam tantos mestres e refulgem tantos talentos de escól. Era o que eu tinha a dizer.
(Muito bem; muito bem. O orador é muito cumprimentado.)”. Grifado pelo compilador.
6 de maio de 1926. 13 horas. Palácio Tiradentes. “SESSÃO ESPECIAL
DE INAGURAÇÃO DE SEU EDIFICIO PROPRIO E DE COMMEMORAÇÃO
DO 1º CENTENARIO DO PODER LEGISLATIVO BRASILEIRO, EM 6 DE
MAIO DE 1926”.
O Presidente da Câmara dos Deputados, Arnolfo Rodrigues de Azevedo
(SP) faz um emocionante pronunciamento: “(...) Para a data do centenario do
Poder Legislativo do Brasil, não poderia encontrar a Camara commemoração mais
adequada e mais frisante do que esta proporcionar aos legisladores brasileiros, manda-
tarios legitimos e directos da nação, uma séde, sob todos os aspectos, digna da elevada
investidura dos que aque veem fallar, agir e provêr em nome da soberania nacional,
offerecendo ao mesmo tempo, a esta bella cidade e ao paiz, um monumento de architectura,
solido, confortavel, bem acabado, para attestar aos vindouros a capacidade de producção,
de trabalho e de aperfeiçoamento a que attingiu a geração que ora passa.
(...) Cem annos de trabalho efficiente nos legaram um grande patrimonio de
legislação civil e politica, tanto na Monarchia como na Republica, podendo orgulhar-
se o Brasil dos seus legisladores, em nada inferiores aos dos povos mais adeantados em
civilização e cultura. Entre elles se formaram os grandes oradores parlamentares, cuja
fama se alargou até transpôr nossas fronteiras, emquanto, dentro dellas, arrastavam as
camaras e deslumbravam as multidões, em surtos de eloquencia avassaladora, domi-
nando e vencendo governos poderosos e situações difficeis, ou creando instituições e
postulados de liberdade e de justiça”.
E encerra afirmando: “(...) Este austero ambiente de severidade e de grandeza
se revelará, então, ao paiz como o veneravel santuario das bôas leis, cenaculo augusto
de patriotas sem jaça, presos ao fiel desempenho do mandato como apostolos de uma
ethica sem par á fé jurada nas aras sacrosantas da Patria e da Republica.
Saúdo-vos, Srs. Deputados, pela inauguração do Palacio da Camara, congra-
tulando-me com os egregios Srs. Senadores Federaes, e comvosco, pela passagem da
data centenaria do Poder Legislativo do Brasil. (Applausos calorosos e demorados.)”.
Grifado pelo compilador.
Viana do Castello (MG), também deste dia, que envia a seguinte Mensagem
Presidencial: “Srs. Membros do Congresso Nacional – conforme communicações rece-
bidas nesta Capital, e que são, presentemente, do dominio publico, irrompeu hontem
um movimento subversivo em Bello Horizonte e em Porto Alegre, com immediata reper-
cussão em outras cidades dos Estados de Minas Geraes e Rio Grande do Sul.
O Governo Federal conhece a trama desse movimento, cuja propaganda, aliás,
se fazia aberta e notoriamente, de alguns mezes a esta parte, pela imprensa, nos comicios
e na tribuna parlamentar, e, com maior intensidade, nos Estados acima referidos e no
da Parahyba, este ultimo já conflagrado por uma luta politica interna.
Não obstante a firme repulsa que a essa campanha impatriotica oppoz sempre a
opinião sensata do paiz, os elementos propugnadores da desordem conseguiram suble-
var forças policiaes de Minas e do Rio Grande do Sul.
A gravidade da situação cresce pelo facto de ser essa commoção intestina dirigida
e amparada pelos proprios governos dos rescpectivos Estados.
Em taes condições, para que o Governo Federal possa agir com presteza e efficiencia
no sentido de reprimir esse movimento subversivo, torna-se necessario que o Congresso
Nacional declare em estado de sitio o territorio dos Estados de Minas Geraes, Rio
Grande do Sul, Parahyba, Rio de Janeiro e do Districto Federal, com fundamento no
disposto nos arts. 34, numero 20, e 80, da Constituição Federal, até 31 de dezembro de
1930, e autorize o Poder Executivo a estender essa medida si julgar necessario, a
outros pontos do territorio nacional.
Solicito, tambem, autorização para fazer as operações de credito precisas afim de
occorrer ás despezas extraordinarias exigidas pelas circumstancias.
Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1930. – Washington Luiz P. de Sousa”. Grifado
pelo compilador.
Em seguida é apresentado o Projeto de Lei nº 293/30, do Deputado
José Cardoso de Almeida (SP) e subscrito pela maioria parlamentar, que “de-
clara em estado de sitio varios pontos do territorio nacional”. Tem o seguinte texto:
“O Congresso Nacional decreta: Artigo único. É declarado o estado de sitio, até o dia
31 de dezembro do corrente anno, no Districto Federal e nos Estados do Rio de Janeiro,
Minas Geraes, Rio Grande do Sul e Parahyba, ficando o Presidente da República
autorizado a extendel-o a outros pontos do território nacional e a suspendel-o no todo
ou em parte; revogadas as disposições em contrario”. O autor da proposião requer
sua urgência. Colocado em votação, é aprovado. Entra em discussão o proje-
to. O Deputado Maurício de Lacerda (RJ) faz extenso pronunciamento e diz
em um dos trechos: “(...) É o sitio indefinido, sem limite no tempo e no espaço. É o
sitio interativo, que se prolongará por cima do Congresso e até dos quatriennios, como
já se viu entre nós. Reputo inconstitucional essa delegação. Em face dos precedentes, da
interpretação de governos, exercidos por ex-constituintes ou de parlamentares também
ex-constituintes, no caso os Srs. Epitacio Pessôa e Ruy Barbosa, assim ficou estabeleci-
do”. E encerra dizendo: “(...) espero que das montanhas azues de Minas Geraes,
como dos pampas verdes do sul não surja o passo cadenciado de uma dictadura que
ainda acabe nos roubando as ultimas ceremonias da actual dictadura para com esta lei
que hoje estamos violando, nos surja o passo de carga da nacionalidade, decidida,
emfim, a derrubar, não o Governo, por desamor ás pessôas, mas o Governo por amor á
colletividade nacional! (Muito bem; muito bem. O orador é cumprimentado.)”. Grifa-
do pelo compilador. É votada a redação final do Projeto de Lei nº 293, sendo
aprovada por 119 votos favoráveis contra 6. É remetido ao Senado Federal,
que em Sessão Extraordinária, neste mesmo dia, às 17 horas e 35 minutos,
aprova o referido projeto, em regime de urgência, e envia à sanção presi-
dencial.
São confirmados os boatos sobre a existência de oficiais revolucionários
das Forças Armadas, em São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do
Sul. É divulgado telegrama enviado de Buenos Aires que dá conta da prisão
do revolucionário brasileiro Luís Carlos Prestes e do revolucionário boliviano
Roberto Inojosa, de ordem do Governo Argentino. Em maio deste ano de
1930, Luís Carlos Prestes havia lançado, de Buenos Aires, um manifesto, pre-
gando “a revolução agrária e antiimperialista”.
5 de outubro de 1930. O jornal “A União – Orgam Official do Estado”
destaca em sua manchete: “Triumphante a revolução na Parahyba – O enthusiasmo
do povo – Outras notas”.
Na madrugada de ante-hontem rebentou em diversos pontos do paiz o movimen-
to revolucionário que se constituira uma fatalidade consequente do estado em que che-
gara a Nação Brasileira, sacudida em seus justos anseios por libertar-se de uma politica
nefasta e de todo ponto abusiva pela prepotencia do Sr. Washington Luis.
O movimento assumiu para logo impressionante aspecto, dando-lhe proporções
de definitiva victoria. E nem podia ser de outro modo, dada a patriotica finalidade que
encerra e o valor das figuras que nelle se empenhavam possuidas do maior idealismo e
do mais candente enthusiamo para a redempção de uma patria que se afogava na
compressão, no desrespeito aos direitos alheios, no esbulho das eleições, no attentado á
autonomia dos Estados, culminando no barbaro assassinio do grande presidente João
Pessôa.
Nesse ambiente faccioso criado pelos caprichos de um chefe de govêrno que se
tornou, elle proprio, o chefe ostensivo de uma candidatura repellida pelo povo, só pode-
ria medrar essa revolta legitima, insopitavel, que está a dominar o paiz inteiro, hon-
rando e enaltecendo o civismo e a bravura da nossa gente.
O espirito revolucionario, a que se ligara Minas e Rio Grande do Sul, num
pacto de combate aos desmandos do poder central, não deixaria de arrastar a Parahyba,
naquella hora governada por uma mentalidade tradicionalmente democratica.
Nem a Parahyba, nem o Presidente João Pessôa, poderiam emudecer, ficando
indifferentes aos principios programaticos da Alliança Liberal.
Mas, se esses postulados não fôram respeitados, estremando-se o sr. presidente da
Republica em rasgar a Constituição, mentindo aos seus compromissos, de respeitar o
comesinho direito do voto, só a revolução seria capaz de reintegrar o Brasil nos principios
republicanos.
Comprehendeu bem isso o brilhante espirito de Juarez Tavora, mocidade voltada
para os interesses superiores da patria, numa cruzada radiosa de constante pregação
tos, reconhecimento e proclamação dos eleitos e com isso retira das assem-
bléias a fiscalização das eleições. Regula as eleições federais, estaduais e mu-
nicipais além de instituir a representação proporcional. Institue o sufrágio
direto, secreto e universal. Concede o direito de voto aos maiores de 18 anos
e o direito das mulheres votarem e serem votadas que elege a primeira parla-
mentar brasileira, a nível federal, a Deputada Constituinte Carlota Pereira de
Queiróz (SP).
Observadas as prescrições deste decreto, a composição da Assembléia
Constituinte deverá ser de 254 deputados eleitos e 40 deputados classistas –
representação profissional –, composta de representantes de empregados,
empregadores, profissionais liberais e funcionários públicos, observadas as
prescrições do Decreto nº 22.653, de 20 de abril de 1933.
Denominada de “a carta de alforria do povo brasileiro”, a adoção deste
código incorpora significativos avanços como a instituição de uma Justiça
Eleitoral independente de injunções políticas; a adoção da representação
proporcional e da cédula oficial e única nas eleições majoritárias; o registro
dos partidos políticos e a volta à unidade nacional em matéria eleitoral.
O sistema de distritos eleitorais é abandonado e nunca mais faz parte
da legislação, apesar de várias tentativas ao longo das décadas seguintes, e
mesmo com a justificativa dos proponentes de que o voto distrital tem sido
adotado nos países em que a tradição do governo representativo alcançou maior
maturidade. Sendo o voto a base da representação política, quanto mais próxi-
ma ao eleitor se tornar a escolha do seu candidato, maior será a possibilidade
de um resposta positiva frente aos interesses daquele que o elegeu.
Getúlio Dornelles Vargas (RS) o Decreto nº 22.653, que “fixa o número e estabe-
lece o modo de escolha dos representantes de associações profissionais que participarão
da Assembléa Constituinte”. A esse respeito ver também os outros atos convoca-
tórios da Assembléia Constitunte: Decreto nº 19.398, de 11 de novembro de
1930; Decreto nº 21.402, de 14 de maio de 1932 e o Decreto nº 23.102 de 19
de agosto de 1933.
3 de maio de 1933. São realizadas as eleições para a Assembléia Nacio-
nal Constituinte, em plena vigência da primeira “Ditadura Vargas”, estando
suspensos os direitos políticos de todos os membros do Governo da União
depostos pelo movimento revolucionário; suspensos, igualmente, os direitos
políticos de todos os membros dos governos dos Estados; os de todos os ex-
deputados e ex-senadores. Enfim, suspensos os direitos de todos que se achas-
sem compreendidos nas malhas do Decreto nº 22.194, de 9 de dezembro de
1932.
ininterrupta.
Tenhamos a justa ambição de nos igualar aos grandes homens dessa época, uns,
creadores e organizadores da Pátria; outros, creadores e organizadores das instituições
republicanas!
Ponhamos o máximo das nossas energias, das nossas mais vivas e poderosas
energias, nestes dias que se vão seguir, ao serviço único dos ideais de civilização e de
progresso, que animam o povo glorioso de que somos representantes!
Por fim, senhores, empenhemos os maiores esforços de que formos capazes, sempre
nos inspirando no mais puro patriotismo, para que esta outra Assembléia Constituinte,
tambem passe á posteridade, ostentando, como brazão imortal, a gloria de haver votado
uma Constituição Política que ficou sendo o fator máximo da grandeza e da prosperi-
dade do Brasil”. Grifado pelo compilador.
15 de novembro de 1933. 14 horas. Plenário. Sessão Solene de Instala-
ção da Assembléia Nacional Constituinte. O Chefe do Governo Provisório
Getúlio Dornelles Vargas (RS) comparece ao Plenário e faz a leitura de sua
mensagem sob “prolongada salva de palmas e movimento geral de atenção”. Pela
primeira vez na história da República, um chefe de Governo, pessoalmente,
presta contas dos seus atos em sessão solene no Parlamento. Após a leitura de
sua mensagem, a sessão é encerrada às 15 horas e 30 minutos.
16 de novembro de 1933. 11 horas. Sessão Especial para eleição da
Comissão Constitucional. Composta de 26 membros, tem como missão dar
parecer sobre o “Anteprojeto de Constituição” elaborado pela “Subcomissão do
Itamaraty” e sobre as emendas ao mesmo oferecidas no Plenário da Assem-
bléia Nacional Constituinte.
A primeira reunião de instalação acontece nesse mesmo dia às 17 horas.
Nesta, são eleitos os Constituintes Carlos Maximiliano Pereira dos Santos
(RS), Presidente da Comissão Constitucional; Levi Fernandes Carneiro, pre-
sidente da Ordem dos Advogados (eleito pela Representação Profissional das
Profissões Liberais), Vice-Presidente; e Raul Fernandes (RJ) como Relator-
Geral. Na indicação destes o Constituinte Francisco Solano Carneiro da Cunha
(PE) diz: “(...) O Sr. Carlos Maximiliano foi parte magna na organização do Ante-
projeto remetido pelo Govêrno Provisório e é grande figura do Direito Constitucional
brasileiro; o Se. Levi Carneiro foi um dos autores do decreto que limitou os poderes
dêsse Govêrno e o Sr. Raul Fernandes é um dos nomes mais acatados do nosso Direito
Político”.
Iniciados os trabalhos, estudou a Comissão Constitucional em oito reu-
niões plenárias e 27 reuniões de uma subcomissão, por ela mesma nomeada,
o “Anteprojeto de Constituição” oferecido à Assembléia Nacional Constituinte
pelo Governo Provisório, e as 1.239 emendas apresentadas no Plenário. Das
suas deliberações resultou um “Projeto Substitutivo”, no qual se fundiram as
disposições do “Anteprojeto de Constituição” aceitas e inúmeras emendas, sendo
introduzidos muitos textos da iniciativa da própria Comissão. Ao final, no dia
8 de março de 1934, em conclusão aos trabalhos, submetem à consideração
Quadro/Foto nº 20
O Presidente da Assembléia
Nacional Constituinte (1933/1934)
Deputado Antônio Carlos Ribeiro
de Andrada
Quadro/Foto nº 20/A
O Governo Provisório
(24/10 a 3/11/1930)
Segunda República
(16/07/1934 a 10/11/1937)
diversos brasileiros, patriotas como os que mais o forem, afim de que, amanhã, possa-
mos ter um Brasil realmente digno, forte, coheso e respeitado, livres os que o habitam
dos grilhões que os escravizam ao imperialismo estrangeiro – as dividas externas.
Outro objectivo, Sr. Presidente, não tem esse manifesto, suggerindo ao Governo a
desapropriação de todas as empresas estrangeiras e a suspensão dos pagamentos das
dividas externas, como medidas capazes de assegurar a felicidade do povo brasileiro.
Continuaremos a reconhecer as nossas dividas, mas só as pagaremos quando tivermos
perfeitamente organizadas a nossa economia e as nossas finanças.
Faço, pois, um appello a todos os Srs. Deputados, afim de que meditem profunda-
mente nesse manifesto, no qual não se préga qualquer doutrina subversiva, mas tão
sómente se collima a grandeza e a libertação do Brasil no futuro. (Muito bem; muito
bem)”. Grifado pelo compilador.
A Aliança Nacional Libertadora do Brasil (ANL), criada com o apoio
das forças populares de esquerda – principalmente os comunistas –, e de
setores progressistas, conclama à derrubada do governo autoritário de Getúlio
Dornelles Vargas (RS) e à tomada do poder por um governo revolucionário.
Congregando as oposições ao Presidente da República, surge para combater os
integralistas e a direita situacionista. Tendo uma linha discretamente socialista
marxista, opõe-se a todos os totalitarismo de direita, preconizando a criação de
um Estado democrático e popular. Defende uma lista de reformas que incluí o
fortalecimento dos sindicatos, o direito de greve, a nacionalização das empre-
sas estrangeiras, um governo popular, o cancelamento da dívida externa e a
reforma agrária. O crescimento da “Aliança Libertadora Nacional (ANL)”, sob o
comando de Luís Carlos Prestes, incomoda as elites dirigentes e as que sonha-
vam com o poder. O Presidente da República e os militares que o rodeiam,
como o General-de-Divisão Pedro Aurélio de Góis Monteiro (AL), conspiram
para aumentar o poder do Governo, usando, para isso, a “ameaça vermelha”.
(...) O recurso, pois, aos processos da violencia já não tem a menor justificativa. É
um crime contra a Patria. O crime de querer impor ao povo o que elle não deliberou.
Nem quer.
(...) Por sua vez, as autoridades publicas responsaveis pela ordem, pela paz, preci-
sam estar armadas de meios legaes para o cumprimento do seu dever constitucional. Não
podem, nem devem cruzar os braços, permitindo a expansão irrefreada de elementos
dissolventes e destruidores de nossas mais legitimas conquistas de povo civilizado e culto.
Uma coisa é a liberdade, outra a anarchia. Aquella vive e prospera dentro da
lei,da disciplina e da ordem; esta visa o aniquilamento da ordem, da disciplina e da lei.
(...) O projeto de lei que apresentamos e subscrevemos, não collide com o texto,
nem com o espirito da Constituição. Pelo contrario, visa sua defesa. Tem por finalidade
tornal-a effectiva e respeitada. E encontra apoio na legislação recente dos mais adian-
tados paizes democraticos”. Grifado pelo compilador.
Esse projeto é recebido sob os mais vivos e veementes protestos da opi-
nião pública brasileira, justamente, alarmada com a ameaça de tão severas e
violentas medidas. Passa a ser conhecido, também, como “Projeto de Lei Mons-
tro”. Há inúmeros protestos de entidades de classe e de parlamentares. Era o
que faltava ao Presidente da República Getúlio Dorenelles Vargas (RS). A lei
sancionada, de interpretação dúbia, atende aos seus desejos e lhe dá carta
branca para reprimir atividades tidas como subversivas. O projeto é converti-
do na Lei nº 38, de 4 de abril de 1935.
mento são fechadas em todo o País. Não há reação dos aliancistas em geral,
mas os comunistas passam a planejar uma insurreição armada.
Desde o ano de 1934 a realização de passeatas antifacistas torna-se co-
mum e os enfrentamentos com os militantes integralistas – Ação Integralista
Brasileira (AIB) –, são a cada dia mais acirrados. O resultado acaba sendo o
violento choque ocorrido em outubro de 1934 na cidade de São Paulo.
indica para defesa ex-offício dos líderes comunistas Luís Carlos Prestes e Harry
Berger (Arthur Ernst Ewert) o Dr. Heráclito Sobral Pinto, que, por nove lon-
gos anos, trava duras batalhas em defesa destes cidadãos, da liberdade e con-
tra as torturas e violência do regime implantado, exigindo do Governo res-
peito aos presos políticos na tentativa de resguardar a integridade física dos
mesmos com base no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, que “estabe-
lece medidas de proteção aos animais”.
A escritora Ruth Weerner em seu romance biográfio “Olga Benário – A
história de uma mulher corajosa”, com tradução de Reinaldo Mestrinel, detalha
um dos julgamentos de Luís Carlos Prestes: “Quando Prestes entrou para o se-
gundo julgamento no tribunal especial, em 8 de setembro de 1937, reinava na grande
sala um silêncio perturbador. Estava flácido, magro, sujo, com as roupas rasgadas e o
rosto cheio de sangue – fora torturado a caminho do tribunal. Seu corpo cambaleava,
os olhos pestanejavam na cavidade profunda. Alguns baixaram o olhar, pois achavam
desagradável e degradante ver Prestes naquele estado entre os guardas uniformizados
e bem alimentados, no meio de juízes bem tratados e bem barbeados, testemunhas e
ouvintes. Havia uma intenção infame em fazê-lo desfilar naquele estado diante de seus
concidadãos, mas aqueles que se mantinham no poder pela violência enganaram-se
mais uma vez.
Quando Preste começou a falar, assustaram-se pelo tom claro de sua voz. Ouvi-
ram suas palavras e reconheceram que esse homem possuía dignidade intangível, força
inquebrantável e confiança inabalável. Ali estava um ser humano maior do que eles,
pleno de verdade e de certeza naquilo em que acreditava, convencido da vitória final
sobre aqueles que hoje eram seus algozes. Falava o Cavaleiro da Esperança, o herói do
povo, o mensageiro da libertação do Brasil.
Preste refutou as acusações. Com orgulho, reconheceu que era militante do Par-
tido Comunista e que, por isso, naturalmente pertencia à vanguarda do movimento de
libertação popular. Assumiu sozinho a inteira responsabilidade pela eclosão da insur-
reição revolucionária de novembro1 de 1935. Calou-se em relação às perguntas sobre
os companheiros e colaboradores, sobre os detalhes dos preparativos – como calara des-
de o dia de sua prisão.
Aproveitou esse breve espaço de tempo para falar não aos carrascos do tribunal,
mas sim ao povo brasileiro, para dizer-lhes aquilo que considerava importante: – Na
posição em que me encontro, todos devem saber: vou continuar a luta contra aqueles
que exploram e oprimem o povo.
Prestes foi reconduzido à solitária com 16 anos por cumprir e, não obstante,
vitorioso sobre todos eles”.
A judia Olga Benário, mulher de Luís Carlos Prestes, grávida, é depor-
tada para a Alemanha. Do porto de Hamburgo é conduzida para Berlim e
encarcerada em um presídio de mulheres, sob a administração da Gestapo,
com sua filha Anita recém-nascida. E, embora não tenha sido condenada por
nenhum tribunal eles a mantêm presa, em “detenção de proteção”, onde sofre
humilhações e interrogatórios. Depois de algum tempo sua filha é retirada
da cela e enviada a um orfanato. A mulher do “Cavaleiro da Esperança” morre
pleito supplementar, mandou scientificar-me, altas horas da noite, pelo seu correligionario
mais proximo, de um gesto que elle considerava como traição culminante de uma série
longa de promessas falhas e de compromissos rôtos. Disse-me mais, então: “Talvez me
faltem algumas dezenas de votos para fazel-a Deputada, mas, hei de garantil-a na
primeira supplencia e, quanto ao futuro, fica entregue ás mãos de Deus.”
E assim foi. Enquanto alguns elementos do partido distribuiam pelas secções
eleitoraes da cidade chapas avulsas, que não podiam ser encimadas pela legenda
partidaria, pois, vinham exornadas com o nome de um rival e adversario, Candido
Pessôa, e outros correlegionarios leaes, embora discretos, amparavam a minha candi-
datura e me mantinham na supplencia automista do Districto Federal.
Sr. Presidente, são palavras estas que pronuncio sem amargura e sem ódio. Sem
rancor siquer nem animosidade para quem quer que seja. São a explicação apenas do
tributo de gratidão que voto á memoria de meu nobre predecessor.
Sr. Presidente, os factos idos são como as aguas passadas que correram para o
mar. E todas as aguas do oceano, algum dia, serão distilladas pelo sol e recahirão sobre
a terra, transmutadas em chuvas e orvalhos bemfazejos. Os embates vividos fortalecem
a fibra do lutador.
Esta cadeira que agora occupo recebi-a duplamente das mãos generosas do Depu-
tado que repousa na paz do Senhor. Envolta de luta, vincula para sempre ao movimen-
to feminino brasileiro, o nome de Candido Pessôa, como o de outros brasileiros illustres
vivos ou mortos, que comnosco commungaram, não no momento facil do triumpho,
mas na vigilia amarga do sacrificio que o precedeu.
Procurarei esforçar-me para seguir a trilha recta que Candido Pessôa traçou,
sendo amiga de seus amigos, procurando ser commedida e justa para com todos e
defendendo com os collegas de bancada os interesses legitimos do Districto Federal.
Sr. Presidente, embora defenda uma causa e uma idéa, é quasi desnecessaria a
minha presença aqui. As causas que redimem e as idéas que marcham trazem dentro de
si mesmas a pujança e seu impulso. Nenhum obstaculo póde detel-as indefinidamente;
nenhuma pessoa é necessaria ao percurso de sua bandeira. Ás vezes ardua, mas sempre
triumphal.
Foi de tal modo generosa, completa – unanime quasi – a collaboração dos Srs.
Deputados Constituintes e do Governo na defesa das suggestões ao ante-projecto da
Constituição vigente que, como delegada da mulher, apresentára eu ao ante-projecto
que eu, pessoalmente, não hesitaria em entregar ao homem brasileiro a defesa dos
direitos da mulher. É ella, entretanto, que deseja minha presença na Assembléa Na-
cional.
Estamos distantes ainda do Governo scientifico dos povos; daquelle regime que já
impera na engenharia e na cirurgia, por exemplo, e que despindo-se da aureola do
Poder, despersonalizará um dia os negocios publicos. Tem a nossa época, como expres-
são política mais elevada o governo pelo consentimento do governado.
Dentro do regime democratico todas as correntes devem ter representação no
cenaculo politico.
A mulher é metade da população, a metade menos favorecida. Seu labor no lar é
incessante e anonymo; seu trabalho profissional é pobremente remunerado, e as mais
7. Pois bem: coherente com estas considerações e deante da gravidade dos factos
averiguados, estou convencido que é em nome do mesmo direito que se faz mistér recor-
rer ao estado de guerra, em defesa da Nação, de suas tradições e de seu regime organico.
8. Proponho, pois, a V. Ex. seja solicitada ao Poder Legislativo, nos termos da
Emenda Constitucional n. 1 a necessaria autorização para a declaração do estado de
guerra pelo prazo de 90 dias.
Aproveito a opportunidade para renovar a V. Ex. os protestos do meu profundo
respeito. – José Carlos de Macedo Soares”.
É apresentado o seguinte requerimento de urgência: “Requeremos urgencia
para immediata discussão e votação do projecto offerecido pelo Poder Executivo, em
mensagem, sobre a decretação do estado de guerra”. O Deputado Carlos Coimbra
da Luz (MG) – Líder da Maioria –, primeiro signatário do requerimento, tem
a palavra para justificar a urgência e expõe: “(...) Não queremos, de certo, voltar
á terrivel surpresa de 1935 (muito bem), quando a Nação se encontrou desarmada,
desprevenida, perdendo, victimas da sanha de inimigos da ordem e da patria grandes
figuras das nossas forças armadas, brasileiros heroicos que deixaram de existir, na mais
sublime homenagem ás instituições vigentes. Não seremos nós, neste instante em que os
responsaveis pela ordem publica, denunciam toda a trama sinistra que vae continua-
mente minando os fundamentos do regimen, não seremos nós que havemos de negar a
nossa prompta solidariedade, sem tergiversações, á medida julgada pelo Governo
indispensavel á segurança do Brasil”.
O Deputado Octávio Mangabeira (BA), ao encaminhar a votação, ques-
tiona o requerimento, combate e impugna o projeto do Governo. Em um dos
trechos destaca: (...) Trata-se, Sr. Presidente, da suspensão das garantias constitucio-
nais, senão que se trata, em verdade, do estabelecimento, no Paiz, da dictadura do
Poder Executivo”. O requerimento é aprovado por 120 votos a favor e 42 votos
contrários. Entra em seguida, em discussão única o Projeto nº 676, de 1937.
Grandes debates no Plenário da Câmara dos Deputados.
O Deputado Waldemar Martins Ferreira (SP), líder constitucionalista,
fundamenta o voto contrário da sua bancada e, em veemente pronunciamen-
to, apela para a dignidade e o patriotismo da Câmara dos Deputados. Em um
dos trechos destaca: “(...) Sabem-se quaes são os arautos; andam elles por aqui, pelos
corredores da Camara, assegurando ao paiz que não haverá eleições em 3 de janeiro de
1938; andam elles por ahi affirmando que se fará, de qualquer maneira, a prorogacão
do mandato do Sr. Presidente da Republica...! São subterfugios que se estão confirman-
do dia a dia, porque se verifica que foi traçado friamente um programma que está sendo
executado. (Apoiados e não apoiados). É preciso denuncial-o ao paiz e eu tomo sobre
mim a responsabilidade de denuncial-o desta tribuna. (Palmas). É uma dictadura
militar que se annuncia, é a própria dictadura do Sr. Presidente da Republica que se
pretende. A verdade é que, por factos de varia natureza, ella está patente em todos os
espiritos, e ainda não foi demonstrada a these contraria.
(...) Não sou cego, nem quero deixar de ver. Estou vendo e até prevendo – porque
previ – quando affirmava que haviamos de chegar a este ponto. E o programma vae ser
executado por etapas. Hoje, é o estado de guerra. Se o não votarmos, será a dissolução
da Camara. Mas dissolvida ela será. Os factos confirmarão, ou não, o que acabo de
dizer e faço votos, os melhores votos, para que seja desmentido o que prenuncio”.
O Deputado Raul Jobim Bittencourt (RS) fala em nome da Bancada
Liberal do Rio Grande do Sul: “(...) Queremos que, ou Armando de Salles Oliveira
ou José Américo de Almeida ou Plínio Salgado, seja eleito e empossado (Muito bem).
Mas periclita a campanha da successão presidencial e com ella compromettem-se os
alicerces da democracia, se através do estado de guerra, mal, subversivamente applicado,
o Governo, como mezes antes, perseguir Estados, ameaçar intervencões, prender
emissarios de Governadores, encaminhar processos injuriosos contra representantes do
Poder Publico, só para dar preferencias a este ou áquelle candidato, e quando mais não
seja, para anniquilar todos e crear a desordem e a dictadura”.
A sessão ordinária é encerrada às 18 horas e convocada sessão extraor-
dinária para às 20 horas com a continuação da discussão única do Projeto
nº 676, de 1937.
Aberta a sessão extraordinária, a Comissão de Constituição e Justiça
apresenta substitutivo que colocado em votação é aprovado por 138 votos a
favor, contra 52. Em seguida é lida e, sem observação, aprovada a redação
final com o seguinte teor; “Projeto n. 676 A – 1937 – O Poder Legislativo decreta:
Art. 1º Fica o Presidente da República autorizado, nos termos da emenda n. 1 á Cons-
tituição Federal, a declarar em todo o territorio nacional, pelo prazo de noventa dias,
equiparado ao estado de guerra, a commoção intestina grave, com finalidades subver-
sivas das instituições politicas e sociaes existentes no Paiz. Art. 2º Revogam-se as dispo-
sições em contrario. Sala da Comissão, em 1 de outubro de 1937. – Valente de Lima,
Presidente. – Martins Freire. – Heitor Maia. – João Henrique”. O projeto vai ao
Senado Federal e encerra-se a sessão às 23 horas e 20 minutos.
São apresentadas várias declarações de votos que deixam claras a apre-
ensão dos Deputados com os verdadeiros motivos do Presidente da Repúbli-
ca Getúlio Dornelles Vargas (RS) que, sob o pretexto de defender a ordem
jurídica e o Estado democrático, o fira de morte, violando-lhe o Código fun-
damental – a Constituição Federal. Declaram que o projeto é flagrantemente
inconstitucional, pois que não havendo comoção intestina, senão a descober-
ta de um projeto, de um plano de comoção, a situação desta espécie não
autoriza a Constituição possa-se equiparar ao “estado de guerra”. Deixam claro
o absurdo e as desastrosas conseqüências para o País.
O Jornal “O Estado de São Paulo” em sua manchete no dia seguinte des-
taca: “Com o voto contrario das bancadas de S. Paulo e do Rio Grande do Sul, a
Camara approvou a decretação do estado de guerra”.
No início de 1937, em um clima tenso, as várias correntes políticas já
haviam iniciado a movimentação para as eleições à Presidência da República,
que seriam no ano seguinte, representando as correntes democráticas: o
paraibano José Américo de Almeida – apoiado pelos “getulistas”, mas sem
muito entusiasmo pelo Governo, e Armando Salles de Oliveira – das oligar-
quias paulistas-, que aliás, fora interventor da ditadura em seu Estado. Além
destes, anuncia-se também a candidatura do líder integralista Plínio Salgado
quei, hoje, que o edíficio da Câmara dos Deputados foi ocupado por Forças Armadas.
Divulgaram-se logo depois notícias de que o Governo da República havia expedido
decreto de dissolução do Poder Legislativo.
Não conheço os fundamentos de tão graves atos. Impedida materialmente de
funcionar e tomar consenqüentemente qualquer deliberação sobre assuntos de tanta
relevância, a Câmara dos Deputados não pode levar a Vossa Excelência o pensamento
da maioria, senão da totalidade de seus membros. Por isso, na qualidade de presidente
da Câmara dos Deputados – poder que se constituiu nas mais puras fontes da vontade
do povo brasileiro – sinto-me no dever de levar até Vossa Excelência o meu protesto,
contra os referidos atos e espero que o Brasil saberá fazer justiça á honestidade, á
fidelidade, á lisura, á operosidade e ao patriotismo de seus legítimos representantes”.
Grifado pelo compilador.
Com a Carta de 1937 e com o poder discricionário nas mãos, o Presi-
dente da República Getúlio Dornelles Vargas (RS) inaugura uma ditadura de
extrema direita, apoiada em asfixiante legislação, onde temos, como exem-
plo, os decretos-leis promulgados com o objetivo de restringir as liberdades
individuais e ampliar os poderes do Estado. Há restrição do Poder Legislati-
vo e redução do papel do Judiciário no regime implantado. Os princípios da
legalidade, da irretroatividade da lei e o “Mandado de Segurança” são retira-
dos. É reinserida a pena de morte por motivos políticos, homicídios fúteis e
cruéis. É instituida a censura prévia e a interferência do Governo na impren-
sa. Tem início o chamado “Estado Novo”, que, na justificativa do Presidente da
República ao decretar a nova Carta Constitucional, está “atendendo ao estado de
apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais exten-
sa e mais profunda, exigindo remédios de caráter radical e permanente”.
Sobre a pena de morte, a Emenda Constitucional nº 1, de 16 de maio
de 1938, relaciona em quais crimes deverá ser aplicada e a Emenda Constitu-
cional nº 2, desta mesma data, “restabele, por tempo indeterminado, a faculdade
constante do art. 177 da Constituição Federal de 1937”, onde está escrito que
“dentro do prazo de sessenta dias, a contar da data desta Constituição, poderão ser
aposentados ou reformados de acordo com a legislação em vigor os funcionários civis e
militares cujo afastamento se impuser, a juízo exclusivo do Governo, no interesse do
serviço público ou por conveniência do regime”. Grifado pelo compilador.
Na esteira do golpe, uma onda de música ufanista, patrocinada pela
propaganda oficial, varre o País. Não há vice-presidente da República. São
mais oito longos anos prevalecendo o Poder Executivo, forte e único, sobre
todos os demais, depois de eliminado do seu caminho o Poder Legislativo e
reduzido o papel do Poder Judiciário.
Quadro/Foto nº 21
O Presidente da Câmara – Deputado Pedro Aleixo
Quadro/Foto nº 21/A
O Presidente da República – Getúlio Dornelles Vargas
Terceira República
Denominada de regime do “Estado Novo”
ou da Constituição “polaca”
(10/11/1937 a 18/09/1946)
questão de ordem, que julgo de grande importância para a Assembléia Constituinte que
hoje se instala. Devemos e precisamos lutar pela soberania desta Assembléia, como
poder legítimo verdadeiramente eleito pelo povo. Ao iniciarem-se, portanto, os traba-
lhos de hoje, precisamos fazer valer essa soberania, que o povo conquistou para a sua
Assembléia Constituinte. Em tal sentido, as normas regimentais, que foram, por assim
dizer, outorgadas a esta Assembléia, não podem prevalecer porque não partiram do
povo, nem da própria Assembléia Constituinte. Refiro-me ao Decreto-lei número 8.708,
que além do mais, se baseia na Carta caduca, para-fascista, de 10 de novembro de
1937. (Muito bem! Palmas.)”. Em seguida apresenta um “Projeto de Normas Regi-
mentais dos Trabalhos Iniciais da Assembléia Constituinte” e que é assinado tam-
bém por Luís Carlos Prestes (PCB-DF), Maurício Grabois (PCB-DF), João
Amazonas de Sousa Pedroso (PCB-DF), Milton Cayres Brito (PCB-SP), Jorge
Amado (PCB-SP), José Maria Crispim (PCB-SP), Alcides Rodrigues Sabença
(PCB-RJ), Agostinho Dias de Oliveira (PCB-PE), Carlos Marighella (PCB-BA),
Gregório Lourenço de Bezerra (PCB-PE)e Osvaldo Pacheco da Silva (PCB-SP).
Questões de ordem são levantadas não reconhecendo a legitimidade do
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral na condução dos trabalhos prepa-
ratórios da Assembléia Nacional Constituinte, que no dizer do Deputado
Carlos Marighella (PCB-BA), “(...) trata-se, realmente, de corpo estranho numa
assembléia que o povo, em memorável pleito, exigiu fosse soberana e livre”. O Presi-
dente, Ministro Valdemar Falcão, responde que “o protesto do nobre representan-
te da bancada comunista constará da ata dos nossos trabalhos. Deixo de submeter a
votos a indicação á que S. Exª se refere por amor á coerência com o próprio ponto de
vista em que se coloca o digno Sr. Deputado. Seria a votação de uma proposta presidida
pelo mesmo corpo estranho a que S. Exª alude” e que o Deputado João Gomes
Martins Filho (PSD-SP) na sessão do dia 4 solicita “(...) ainda de conformidade
com êsse sentir de brasileiro e reconhecendo o elevado espírito de justiça que deve ani-
mar a todos os Constituintes, permitir-me-ia solicitar a tôdas as bancadas reunidas no
Palácio Tiradentes fizessem riscar, da ata do nosso primeiro dia de trabalho, uma ex-
pressão que considero pejorativa qual a de “corpo estranho” atribuída ao Presidente
desta Assembléia, Sr. Ministro Valdemar Falcão, pois os mesmos dispositivos, os mesmos
regulamentos, as mesmas leis que nos trouxeram a esta Casa trouxeram também a
S. Exª. a essa Presidência”.
Na segunda sessão preparatória, no dia 4 de fevereiro, iniciada às 14
horas e 15 minutos, é eleito o Senador Fernando de Melo Viana (PSD-MG),
Presidente da Assembléia Constituinte. Na primeira sessão, no dia 6, é eleito
para Primeiro Vice-Presidente o Deputado Otávio Mangabeira (UDN-BA).
e bem estar dos povos. Se algum govêrno cometesse êste crime, nós, comunistas, lutariamos
pela transformação da guerra imperalista em guerra de libertação nacional”. Grifado
pelo compilador. A polêmica está formada. Depois de quase uma semana de
provocações, de insultos, de expressões injuriosas aos comunistas e ao Cons-
tituinte e Senador Luís Carlos Prestes (PCB-DF), este na sessão do dia 26 de
março em longo pronunciamento, seguido de vários apartes, dá a dimensão
exata de suas palavras na entrevista aos jornais e encerra dizendo: “(...) Somos
radicalmente contrários à reação, à volta ao facismo, à ditadura. Quem ataca, quem
faz esta campanha contra o Partido Comunista, combate a democracia. São campa-
nhas para sufocar o povo, para envenená-lo com a imprensa venal, a serviço de ban-
queiros alienígenas na preparação de uma nova guerra. É contra isso que batemos,
contra isto lutaremos, por todos os meios em tôdas as circunstâncias dentro ou fora da
Assembléia. Não temos o fetichismo da vida legal. Se não nos permitirem a legalidade,
o Partido Comunista, que já viveu 23 anos na clandestinidade, depois de 10 meses de
vida legal, aí está. Queremos a legalidade. Os que desejarem a ilegalidade, que dêm o
primeiro passo nêsse sentido.
(...) Que se unam, pois, todos os patriotas, em defesa da paz e da democracia! Em
defesa da soberania nacional. Era isso o que tinha a dizer. (Muito bem; muito bem.
Palmas. O orador é cumprimentado)”. Grifado pelo compilador.
23 de março de 1946. O advogado Honorato Himalaia Virgulino, que
fora procurador do Tribunal de Segurança Nacional em 1935 e denunciara
os líderes da “Intentona Comunista”, encaminha ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) um pedido de cancelamento do registro do Partido Comunista do Bra-
sil (PCB), tendo em vistas as declarações do Constituinte e Senador Luís Carlos
Prestes (PCB-DF). Pouco tempo depois é apresentada denúncia contra este
mesmo partido pelo Deputado Edmundo Barreto Pinto (PTB-DF). A denún-
cia se baseia no fato de ser “o Partido Comunista Brasileiro (PCB) um partido
internacional comandado por Moscou, insuflador da luta de classes, antidemocrático e
que apoiaria a União Soviética no caso de uma guerra entre esta e o Brasil”. As
denúncias são encaminhadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que man-
da ouvir o Partido Comunista do Brasil (PCB). Apresentada a sua defesa e
ouvido o Ministério Público, o Procurador-Geral da República, Temístocles
Brandão Cavalcanti, manda arquivar o processo. Entretanto, no Plenário do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por três votos a dois, o processo não é
arquivado e é ordenada a instauração de sindicância.
8 de agosto de 1946. 14 horas e 30 minutos. Plenário da Assembléia
Constituinte. Sessão Especial para receber o General (Norte-Americano)
Dwight David Eisenhower. Presença de várias autoridades. O Presidente Fer-
nando de Mello Vianna faz a seguinte comunicação: “Desejo submeter à aprecia-
ção dos Srs. Constituintes telegrama que pretendo passar ao Govêrno e à Câmara dos
Representantes dos Estados Unidos, nos seguintes têrmos: “Exmo. Sr. Presidente da
Câmara dos Representantes – Washington – No momento em que o Senado e a Câma-
ra dos Deputados do Brasil, pela unanimidade dos partidos politicos da Nação, se
Quadro/Foto nº 22
O Presidente da Assembléia Constituinte, Senador Fernando de Melo Viana,
assina a Carta de 1946 no plenário lotado da Câmara dos Deputados
Quadro/Foto nº 22/C
O Presidente da Câmara – Deputado Honório Fernandes Monteiro
Quadro/Foto nº 22/D
O Presidente da República – Marechal Eurico Gaspar Dutra
Quarta República
(18/09/1946 a 9/04/1964)
Mas nem por isso a bancada comunista na Câmara dos Deputados, ten-
do à frente o Deputado Carlos Marighella (PCB-BA), deixa de ser atuante e
continua a apresentar proposições, inclusive sobre a exploração do petróleo.
Participa, também, de grandes debates nacionais até o mês de janeiro de
1948.
7 de janeiro de 1948. Plenário. Sessão Extraordinária. 14 horas. Consi-
derado um atentado às instituições democráticas e uma subversão da ordem
constitucional vigente em relação aos mandatos populares, na opinião de
vários parlamentares, entra em discussão e votação o Projeto de Lei nº 900/47
do Senado Federal que “extingue o mandato dos membros dos Corpos Legislativos
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos municípios, eleitos ou
não sob legendas partidárias pela cassação do registro do respectivo partido, pela perda
dos direitos políticos e outros”. São apresentadas várias emendas e destaques.
Votam nominalmente a favor da cassação do mandato dos parlamentares
comunistas 169 Deputados, e 74 votam contra, inclusive Affonso Arinos de
Mello Franco (UDN-MG). Na declaração de voto do Deputado Edmundo
Barreto Pinto (PTB-DF) este assim se posiciona: “Coerente com a minha atitude
e como autor da denúncia para a cassação do registro do P.C.B., votei pelo projeto,
pronto mérito, uma vêz que fôra rejeitada a preliminar de sua inconstitucionalidade.
Não póde haver mandatário de um partido que não mais existe. Não quer isso, entre-
tanto dizer que apresentados por outros partidos, possam aquêles representantes compa-
recer novamente ás urnas, como aliás sustenta o próprio relator na Comissão de Cons-
tituição e Justiça”. Grifado pelo compilador. Sancionado transforma-se na Lei nº 211,
de 7 de janeiro de 1948.
10 de janeiro de 1948. A Mesa da Câmara dos Deputados, em face do
disposto no art. 2º da Lei nº 211, de 7 de janeiro de 1948, e tendo em vista o
Ofício nº P.R. 088, de 9 de janeiro de 1948, do Presidente do Tribunal Supe-
rior Eleitoral, declara extintos os mandatos de deputados e suplentes eleitos
sob a legenda do Partido Comunista do Brasil (PCB). A Mesa do Senado
Federal havia tomado a mesma decisão em 9 de janeiro declarando extinto o
mandato do Senador Luís Carlos Prestes (PCB-DF) e seu respectivo suplente,
Abel Abreu Chermont. Essas medidas atingiram um senador e seu suplente,
quatorze deputados federais e seus suplentes e vários deputados nas assem-
bléias estaduais. Em 18 de maio de 1949 é julgado pelo Supremo Tribunal
Federal o primeiro “mandado de segurança” impetrado contra a cassação dos
mandatos dos representantes do Partido Comunista do Brasil (PCB) no Con-
gresso Nacional, sendo indeferido por unanimidade.
Restaram dois deputados comunistas no Congresso Nacional, Diógenes
Lopes de Arruda Câmara (PST-SP) e Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar
(PSP-SP) e exercem os seus mandatos até 31 de janeiro de 1951.
Com o Congresso Nacional cassando os mandatos de deputados e sena-
dores, calam as vozes de legítimos e expressivos representantes da esquerda
no Parlamento, perde em seu conteúdo os grandes debates nacionais.
(...) a obra não foi absolutamente minha. Não fui mais do que um insuficiente
instrumento da expressão de um estado de consciência coletiva, que se refletiu normal e
verdadeiramente no estuário da consciência nacional, que é o Parlamento brasileiro.
Esta é uma lei – não me pesa nem é prova de vaidade dize-lo – que honra o Congresso,
por que é uma lei que coloca o Congresso na vanguarda de todo o pensamento socioló-
gico, de todo o pensamento político, de todo o pensamento científico da época moderna
em relação a esta matéria.
Aliás, era tradição do pensamento brasileiro a luta contra a discriminação ra-
cial. Nos tempos da Colônia, na minha terra de Minas Gerais, quando os intelectuais
se reuniam nas conspirações de que deveria sair aquêle admirável movimento que foi a
Inconfidência Mineira, já Alvarenga Peixoto, entre as preocupações que mais o atrai-
am, nos debates coletivos, ressaltava exatamente a necessidade da abolição do escravos.
(...) Posteriormente, um dos maiores homens de Estado do país, que foi o primeiro José
Bonifácio, colocou a abolição entre os seus planos de govêrno.
Não precisamos rememorar a atividade de homens que, durante o Império, se
bateram pela causa contrária à discriminação racial – homens como Perdigão Malheiros,
autor de trabalho ainda hoje admirável sob tantos pontos de vista; homens como Rebouças
– para que, no fim do Império, êsse movimento insuperável viesse florir e se espraiar
na obra imortal de Ruy Barbosa, em seu grande parecer sôbre a emancipação, e nos
discursos admiráveis de Joaquim Nabuco, dentro e fora desta Casa do Congresso.
Falo como descendente de antigos senhores de escravos. Lembro-me, ainda, Sr.
Presidente, na minha infância, das figuras veneráveis da negra Racquel e da negra
Beatriz, que morreram em nossa casa, escravas que foram dos meus avós. Lembro-me
do carinho com que eram recordados os negros como Flor, como Joaquim Mironga,
como Pedro Barqueiro, como tantos outros que passaram a tipos literários, imortaliza-
dos pelas páginas do primeiro Afonso Arinos. Falo, em consequência, como homem que
se criou no respeito, na admiração e na ternura pela raça negra, que formou o Brasil.
Nós nos formamos embalados pelos braços dos negros. Nós nos criamos, progredimos,
enriquecemos, alimentados pelo trabalho e pelo suor dos africanos. E foi para mim,
motivo de revolta íntima, foi para mim sempre motivo de protesto incontido da minha
consciência democrática de brasileiro, o espetáculo deprimente que oferecia o nosso
país, no momento em que a Constituição Federal proibe as discriminações de raças,
saber eu que o Itamarati negava entrada aos negros, sob especiosos argumentos, e que
na Marinha e na Aeronátuica, recusava-se entrada aos candidatos negros, sob os mes-
mos pretextos inconfessáveis. Por consequência, foi cedendo a uma linha de coerência
do pensamento nacional, foi cedendo a uma tradição de ternura, de afeto e de admira-
ção que herdei dos meus maiores, foi sobretudo atendendo à consciência que encontrei
formada e resoluta no Congresso Nacional, que modestamente me prestei a servir de
instrumento para êsse alto desiderato da nossa cultura.
Já que estou falando nesta Casa, já que estou fazendo o retrospecto de idéias nesse
recinto, pediria à Câmara dos Deputados do Brasil que se lembrasse, no dia de hoje, da
figura notável de Monteiro Lopes, o primeiro e grande Deputado negro que inaugu-
rou, em 1909, sua campanha, sua batalha pela libertação econômica e racial dos
negros. Monteiro Lopes foi o pioneiro da raça no Brasil, precursor de tôdas as novas
idéias que hoje nos empolgam e arrastam. Penso fechar essas minhas comovidas pala-
vras de saudação ao Congresso Nacional – porque quero saudar neste momento o
Congresso Nacional – recordando o grande nome de Monteiro Lopes e recomendando-
o à admiração dos nossos conterrâneos”.
mínia da escravidão e serão conduzidos, não como criaturas humanas, iluminadas por
um espírito imortal, mas como rebanhos, sem alma e sem consciência...
Honremos, pois, a nossa Constituição. Ela é o primado do Direito e nos assegura
uma vida digna e livre. (Muito bem; muito bem. Palmas. O orador é cumprimentado)”.
Grifado pelo compilador.
Em seguida fala o Deputado Affonso Arinos de Mello Franco (UDN-
MG): “(...) A passagem do primeiro lustro da Constituição democrática de 1946, – cujo
transcurso a Câmara festeja em solenidade que deve servir de exemplo educativo para
o culto da Constituição em todo o país – sugere algumas reflexões que valham para a
nossa classe dirigente, com auto-crítica, diante dos agitados anos que acabamos de
viver, e como tomada de consciência, em face do futuro talvez atormentado que nos
aguarda.
(...) Para cultuar a Constituição, é preciso conhecê-la, para conhecê-la é necessá-
rio aplicá-la, para aplicá-la é indispensável não temê-la.
(...) Rivarol dizia que a lei é como o escudo: pesa mas protege. A Constituição não
é só um escudo, é um lar. É o lar democrático em que todos nós nos acolhemos para
viver com dignidade e liberdade a fascinante existência política: esta luta em prol do
reinado da legalidade para o poder e da conquista da maior felicidade para todo o
povo. (Muito bem; muito bem. Palmas prolongadas. O orador é cumprimentado)”.
Grifado pelo compilador.
dade e patriotismo do povo brasileiro com destacada participação da classe média. Das
camadas populares ascendeu aos valores mais expressivos da nacionalidade”.
A campanha “O Petróleo é nosso” é uma página histórica da Instituição
parlamentar que, registrada nos Anais e Diários das duas Casas do Congresso
Nacional, nos dá a exata dimensão da sua importância no trato das grandes
decisões nacionais. E aqui vale lembrar Woodrow Wilson – Presidente dos
Estados Unidos – 1913-1921 –, Quando diz que “a Nação que possui petróleo em
seu subsolo e o entrega a outro país para explorar, não zela pelo seu futuro”.
30 de abril de 1953. Congresso Nacional. É promulgado o Decreto
Legislativo nº 30, de 1953, que “aprova o Acôrdo de Assistência Militar assinado
no Rio de Janeiro em 15 de março de 1952 entre a República dos Estados Unidos do
Brasil e os Estados Unidos da América”. O decreto e o texto são publicados no
Diário do Congresso Nacional do dia 1º de maio de 1953.
(...) Senhor Presidente, eu não falo como homem da oposição, eu falo como líder
da minoria, eu não falo como adversário do Govêrno. Eu falo com a voz estertorada de
angústia, eu falo com o coração espezinhado de dor, eu falo com sentimentos revoltados
de patriota, eu falo em nome de todos os brasileiros que têm qualquer coisa a defender
neste resto que ainda nos sobra de país, que têm qualquer respeito a manter por êsse
trapo de Bandeira que ainda se arrasta! (Palmas) E é com êsses sentimentos, é com essa
mágoa calorosa, com essa dor e êsse sofrimento que eu venho, em face do povo, em nome
do meu Partido, perguntar, reclamar, exclamar: Em que país estamos nós?! Em que
país estamos nós que fatos como êsses se processam há dias, que acontecimentos como os
relatados se desenrolam há dezenas de horas e não há esperança de que se possa chegar
ao desmascaramento dessas farsas sucessivas, e não há esperança de que um pouco de
alento nos venha levantar o velho, o cansado coração?!
(...) Esta, a meu ver, a grande chave, a tragédia inútil, a monótona, a monocórdia,
a disciplinada, a tediosa tragédia do Senhor Getúlio Vargas. Para manter um Poder
que não exerce, para servir-se de uma fôrça que não utiliza, para usar dos instrumen-
tos de que não dispõe, amortece o País, aniquila as resistências, confunde os valores,
desbarata as esperanças, desgraça a Nação”. Grifado pelo compilador.
13 de agosto de 1954. Plenário. O Deputado Affonso Arinos Mello Fran-
co (UDN-MG) – Como Líder da Minoria –, analisa o discurso e as declarações
feitas à imprensa pelo Presidente da República quando em visita oficial a
Minas Gerais e, ao final, pede a renúncia de Getúlio Dornelles Vargas (RS):
“(...) Senhor Presidente, há uma versão histórica; há, pelo menos, uma tradição
legendária que declara que, no momento em que a maior justiça se encontrou com a
maior injustiça e no dia em que o erro supremo se defrontou com a suprema verdade,
nesse dia o juiz, o interessado na justiça, o representante do poder estatal, que era
Pôncio Pilatos, em face da perturbadora fúria, em face do transviamento das multidões
arrebatadas, esquecendo-se dos deveres morais que incumbiam a sua pessoa e dos mis-
teres políticos que incumbiam a seu cargo, respondeu, a uma advertência, com estas
palavras melancólicas: “Mas, o que é a verdade?”.
A resposta a esta pergunta tem sido inutilmente procurada pelos pensadores e
pelos filósofos. O que é a verdade? Para cada um ela se apresenta para cada além, para
cada esperança, para cada paixão, para cada interesse. Para cada além, para cada
esperança a verdade se reveste de roupagens enganosas. Mas ninguém jamais formu-
lou esta pergunta em relação à negação da verdade, ninguém perguntou jamais: “O
que é a mentira?”.
Ao Sr. Getúlio Vargas respondo que, se não é possível saber o que é a verdade, é
perfeitamente possível saber-se o que não é a mentira.
(...) Senhor Presidente Getúlio Vargas, eu lhe falo como Presidente: reflita na sua
responsabilidade de Presidente e tome, afinal, aquela deliberação que é a última que
um Presidente na sua situação pode tomar.
(...) – lembre-se dos homens e dêste país e tenha a coragem de ser um dêsses
homens não permanecendo no Govêrno, se não fôr digno de exercê-lo. (Muito bem;
muito bem. Palmas. O orador é vivamente cumprimentado)”. Grifado pelo compilador.
produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sôbre a
nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma agressão
constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a
mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos
posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém,
querem continuar, sugando o Povo Brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho êste meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis a minha
alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentirei em vosso peito
a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no
meu pensamento a fôrça para a reação. Meu sacrifício nos manterá unidos e meu nome
será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e man-
terá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio, respondo com o perdão. E aos que
pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje
me liberto para a vida eterna. Mas êsse povo de quem fui escravo, não mais será
escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será
o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho
lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram o meu ânimo. Eu
vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o
primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Além desse documento formal, o Presidente, no seu último momento, escreveu, à
mão, num papel qualquer que estava aos seu alcance, mais estas palavras, produto
talvez do seu último solilóquio:
“À sanha dos meus inimigos deixo o legado da minha morte. Levo o pesar de não
ter podido fazer pelos humildes tudo aquilo que desejava”.
Desejei, Senhores Deputados, fixar êstes aspectos para caracterizar bem a gran-
deza, o heroísmo, a nobreza, a superioridade moral com que morreu o Presidente Getú-
lio Vargas.
E encerra dizendo: “Sirva a renúncia tão solicitada do Presidente Vargas,
sirva o sacrifício da sua vida e do seu sangue, da sua carreira que êle mesmo cortou no
momento em que entendeu necessário, sirva êste exemplo a nós, trabalhistas e à geração
que nos há de suceder; sirva êste exemplo para novas lutas, para novas batalhas em
favor do povo que tanto precisa de nós, como tanto precisou dêle. – (Muito bem; muito
bem. O orador é abraçado)”. Grifado pelo compilador.
O Jornal “Última Hora” em sua manchete principal destaca: “Cumprindo
sua promessa: “Só morto sairei do Catete, Getúlio Vargas suicidou-se”. Vargas suici-
dou-se, hoje, às 8,35 horas. O Presidente Getúlio Vargas, cumprindo sua promessa de
que só sairia morto do Catete, suicidou-se, em seus aposentos particulares, com um tiro
no coração.
Logo às primeiras notícias do suicídio do Presidente da República grande núme-
ro de personalidades do mundo político, social e militar acorreram ao Palácio do Catete.
ta diz: “Sim, se eleito for, cumprirei a Constituição e construirei a nova capital aqui, no
interior do Brasil”. Promessa de campanha que mudaria os rumos do País.
E aqui vale relembrar os fatos históricos da República para concretizar a
interiorização da Capital do Brasil. O Vice-Presidente da República Floriano
Vieira Peixoto (AL) cria, no ano de 1892, a Comissão Exploradora do Planal-
to Central do Brasil, mais tarde conhecida como “Missão Cruls”. A chefia des-
ta missão cabe ao cientista e astronômo belga Luís Cruls – Diretor do Obser-
vatório Nacional –, para estudar e demarcar a área do Distrito Federal. Ofício
datado de 30 de setembro de 1892, do Ministro da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas, encaminha Mensagem do Vice-Presidente da República,
Marechal Floriano Vieira Peixoto (AL), que “manda consignar no Orçamento
desse ministério, para o exercício de 1893, uma verba de 80:000$000 (oitenta contos
de réis), destinadas às despesas com a Comissão do Planalto Central da República, sob
a direção do Dr. Luiz Cruls, para exploração e demarcação da futura Capital Federal”.
No local, são gastos nove meses de trabalho, de 9 de junho de 1892 a 28 de
fevereiro de 1893, e o relatório final é apresentado ao Governo Federal em
1894. Neste trabalho são empregados 22 homens, divididos em quatro gru-
pos, que percorrem mais de quatro mil quilômetros em lombos de animais,
acampam sob lonas precárias, convivem com as doenças e com a solidão do
planalto central, longe da civilização. Demarcam a área da futura capital do
País, um quadrilátero, onde encontram as condições naturais para sua im-
plantação, de acordo com a Constituição Federal de 24 de fevereiro de 1891,
artigo 3º, onde está determinado que “fica pertencendo à União, no planalto
central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportuna-
mente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal”. Além disso,
detalham topografia, clima, geologia, fauna, flora, recursos minerais e mate-
riais da região explorada. Porém, somente em 1922, caravana chefiada pelo
Engenheiro Balduino Almeida definiu onde edificar o marco da “Pedra Fun-
damental da futura Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil”, nas cercanias de
Planaltina, no Morro Centenário, entre os rios Sobradinho e São Bartolomeu.
No dia 7 de setembro de 1922 é lançada a “Pedra Fundamental da Nova Capi-
tal”, a nove quilômetros da Cidade de Planaltina de Goiás.
A Constituição de 1946 – Ato das Disposições Constitucionais Transitó-
rias –, fixa prazo para início dos estudos de localizão da nova Capital. São
aventadas três hipóteses: o Triângulo Mineiro; a cidade de Goiânia (recém-
construída); e o “Quadrilátero Cruls” (já demarcado). O Presidente da Repú-
blica Marechal Eurico Gaspar Dutra (MT) nomeia uma nova Comissão de
técnicos, presidida pelo General-de-Brigada Djalma Poli Coelho, para proce-
der ao estudo da localização da nova Capital. Após quase dois anos de estu-
dos, pesquisas e debates, a Comissão conclui seus trabalhos, adotando a solu-
ção encontrada pela “Missão Cruls”, favorável ao Planalto Central de Goiás.
Mas somente em 1953, o Presidente da República Getúlio Dornelles Vargas
(RS) sanciona a Lei nº 1.803 que define prazo para a conclusão dos estudos
definitivos, fixando uma área de aproximadamente 52.000 quilômetros qua-
outros, pelo homicídio do Major Rubens Florentino Vaz e tentativas de morte contra
Carlos Lacerda e Salvio Romeiro.
Vai esta instruída com cópias autênticas das peças do processo criminal em curso,
indicadas pelo Dr. Promotor Público, bem como da petição pela defesa do referido Depu-
tado e dirigida a êste Juízo.
Aproveito a oportunidade para apresentar a V. Exª os meus protestos de alta
estima e distinta consideração. O Juiz Substituto, Luiz Carlos da Costa Carvalho.”
Seguem-se a um extenso arrazoado extraído dos autos, os acontecimen-
tos na Capital da República, os depoimentos das testemunhas e dos envolvi-
dos no crime da Rua Toneleros, o relatório da comissão e o parecer que opina
seja concedida a licença para processar o Deputado Euvaldo Lodi (MG).
Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal do Presidente da Repúbli-
ca Getúlio Dornelles Vargas (RS) é condenado a pena de 20 anos de reclusão
como mandante do atentado da Rua Toneleros no dia 5 de agosto de 1954.
Às primeiras horas deste dia, à Rua Toneleros, no Bairro de Copacabana,
desenrolara um bárbaro atentado onde perde a vida o Major Aviador Rubens
Florentino Vaz e ficam feridos o jornalista Carlos Frederico Werneck de Lacerda
(DF) e o Guarda Municipal Sálvio Romero.
No dia 23 de outubro de 1962, Gregório Fortunato é assassinado na
Penitenciária Lemos de Brito pelo detento Feliciano Emiliano Damas, que
acreditava ser o ex-chefe da Guarda Pessoal do Presidente da República ain-
da influente o suficiente para puni-lo com a transferência da Lemos de Brito
para a Colônia Penal da Ilha Grande.
26 de abril de 1956. Câmara dos Deputados. Plenário. Presidência do
Deputado Ulysses Silveira Guimarães (PSD-SP). É lida a Mensagem nº 156/
56 do Poder Executivo, que “dispõe sobre a mudança da Capital Federal e dá outras
providências”. Devidamente protocolado como o Projeto de Lei nº 1.234/56,
cria, ainda, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
Esta mensagem foi assinada pelo Presidente Juscelino Kubitschek de
Oliveira (MG), em um bar, no aeroporto de Anápolis (GO), no dia 18 de abril
de 1956, três meses depois de eleito em 3 de outubro de 1955, por isso ficou
denominada como a “Mensagem de Anápolis”.
Em 27 de abril, deste mesmo ano, o Deputado Emival Ramos Caiado
(UDN-GO) apresenta requerimento de urgência para tramitação do projeto
nos seguintes termos: “Senhor Presidente, por considerarmos a interiorização da
Capital Federal um dos problemas de base da nacionalidade, tomamos a liberdade de
solicitar regime de urgência para a mensagem presidencial que trata do assunto. O
requerimento que neste instante, encaminho a V. Exª é subscrito plos Líderes da Maio-
ria, da Minoria e do Bloco Parlamentar de Oposição, conta com mais de 142 assinatu-
ras”. Grifado pelo compilador.
Em 4 de maio o Deputado José Trindade da Fonseca e Silva (PSD-GO)
em pronunciamento de grande repercussão faz a defesa da interiorização da
Capital Federal: “(...) A interiorização da Capital do País não é uma idéia de nossos
dias, muito menos uma paixão platônica dos goianos e Estados circunvizinhos. É um
determinismo da consciência nacional. Ela nasceu com evolução de nossa gente. Quando
da opulência do ouro nos séculos 17, 18 e 19, quando se proibia nas Minas de Goiás
e Mato Grosso que houvesse agricultura da cana de açucar e roças em geral e que os
filões de ouro eram a única condição de existência de nossos lugares, é oportuno regis-
trarmos aqui à guisa de justiça e de função histórica o nome de quem primeiro falou na
idéia de interiorização da Capital do Brasil. Esse nome é o do cartógrafo, senão o
primeiro medidor de nossas terras e planificador de nossos caminhos em pleno século
setecentista, Francisco Tosse Columbina, discípulo do jesuíta Gabriel Soares, essa primícia
histórica do nativismo anhanguerino, que em 1750 já trabalha em Goiás, conforme
documentação deixada por Capistrano de Abreu e citada por Azevedo Pimentel da
Comissão Cruls. Tôda essa documentação se acha na sessão de cartografia da Bibliote-
ca Nacional e no Arquivo Mineiro, como remanescentes do acêrvo histórico que perten-
cera ao Visconde de Linhares em Portugal.
O movimento da Inconfidência Mineira de 1779 coloca ao lado da flâmula da
idéia de nossa independência política, a idéia fixa de se arrancar do Rio de Janeiro a
sede da prepotência lusitana. Para não ficarmos dentro de nossas aspirações, longe de
qualquer jacobinismo, lembraríamos aquela passagem histórica em que o Embaixador
inglês, em 1809, William Pitt, discorrendo sôbre o poderio territorial português, venti-
lou a idéia quanto ao Brasil, que se mudasse a sua Capital, para o interior do País.
Numa homenagem ao Velho Portugal lembrava o nome de Nova Lisbôa.
O “Correio Brasiliense” que circula de 1803 a 1822, sob a direção do intimorato
José Hipólito da Costa Pereira Furtado de Mendonça, transformou-se na pira ardente
na defesa da interiorização da Capital do Brasil. Dizia ele: “Para o Sertão, no interior
central e imediato às cabeceiras dos grandes rios que se dirigem ao norte, ao sul, ao
nordeste e ao sudeste”. É a primeira fonte histórica que focaliza o sítio privilegiado do
Planalto Central Brasileiro.
É oportuno que se lembre aqui a influência dos Andradas no evento da idéia.
Homens da governança de São Paulo, em 1821, João Carlos Augusto Ugenhauseu,
presidente, José Bonifácio de Andrada e Silva, vice-presidente e Martin Francisco Ri-
beiro de Andrada, secretário, dirigem aos nossos deputados ao Congresso de Lisbôa um
veemente apêlo, objetivando a Mudança da Capital do Brasil. Diz o precioso documen-
to: Ser muito útil que se levante uma cidade central no interior do Brasil, para assento
da Côrte ou Regência, lembrando, naquela época, o nome batismal de Brasília.
Em 1823, na Constituinte de nossa primeira Carta Magna, é o mesmo José Boni-
fácio de Andradra e Silva que apresenta na sessão do dia 9 de junho a emenda histórica,
instituindo para o Brasil o diploma constitucional da Mudança da Capital do Império.
E a idéia passa agora para as cogitações doutrinárias de conspicuos historiadores. É o
diplomata e Ministro de Estado, inegávelmente grande historiador, Francisco Adolfo
Varnhagem, o futuro Visconde Pôrto Seguro, a comandar a idéia da mudança da Capital
do Império, assinalando as cabeceiras das grandes bacias hidrográficas da potamografia
brasileira. No Planalto Central de Goiás nascem: o Tocantins, o Paranaíba e o São
Francisco, respectivamente a bacia do Amazonas, do Prata e a Franciscana, na concep-
ção geo-econômica da centralização do poder político no centro geográfico do Brasil.
construção da cidade.
Com efeito, diligenciando na construção de hotel, outros aeroportos, alojamento
para tropas da Aeronáutica, Palácio Presidencial provisório, Usina elétrica, rodovias
de acesso a Brasília, etc., antes mesmo de ter o Sr. Presidente da República completado
as nomeações para a direção da Companhia, o eminente Senhor Israel Pinheiro vem
confirmar a impressão geral de confiança na sua capacidade realizadora e no seu
patriotismo, demonstrando não ter sido em vão que renunciou ao mandato de Deputa-
do Federal, pois se encontra no firme propósito de suplantar as dificuldades e percalços
que terá de arrostar, na realização dêsse ciclópico empreendimento que é a mudança da
capital federal.
Assim, Sr. Presidente, em nome do povo goiano, que tenho a honra de representar
nesta Casa, desejo congratular-me com o Dr. Israel Pinheiro e com a Nação, ao ensejo
de tão auspiciosas notícias para o progresso do Brasil. (Muito bem). Grifado pelo
compilador.
O Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (MG) leva
o Brasil a profundas transformações. Multinacionais se instalam no País, im-
plantando a indústria automobilística e ampliando a farmacêutica e a de ali-
mentos. A administração pública passa a basear-se no planejamento, em metas
a serem cumpridas. Fica famosa a frase do novo presidente: “Cinqüenta anos
em cinco”. Brasília fica conhecida como símbolo dessa época, de trabalho,
interiorização e integração nacional.
Nos primeiros dias do mês de janeiro de 1959 a “Revolução Cubana”
triunfa e o Deputado José Guimarães Neiva Moreira (PSP-MA), na sessão do
dia 6 de janeiro de 1959, registra o fato: “Sr. Presidente, como V. Exª. e a Casa
sabem, a revolução que há quatro anos se vinha ampliando a todos os confins da
República de Cuba chegou ao seu fim vitorioso. O Juiz Manuel Urrutia foi proclama-
do Presidente da República e ocupou o seu pôsto ontem no Palácio Presidencial de
Havana. As Fôrças revolucionárias estão consolidando, em tôda a República, o seu
domínio. A administração pública está sendo reorganizada”. Grifado pelo compilador.
No dia 14 de janeiro de 1959 o Deputado Oswaldo Cavalcanti da Costa
Lima Filho (PTB-PE) denuncia: “Senhor Presidente e Senhores Deputados, as espe-
ranças que todos os democratas depositavam no movimento revolucionário cubano,
chefiado pelo Senhor Fidel Castro e que visava pôr abaixo uma das ditaduras odiosas
já instaladas na América Central, estão sendo infelizmente perturbadas pelo tom san-
guinário que vai tomando a revolução vitoriosa em Cuba. A imprensa mundial regis-
tra todos os dias, fuzilamentos sem conta, sem forma, nem processo de justiça; todos os
dias , homens livres, são colocados ao pé do muro e sumàriamente fuzilados. De tal
forma êsse procedimento dos revolucionários vitoriosos atenta contra os direitos básicos
da pessoa humana que já se cogita de levar o assunto à Organização das Nações
Unidas, cujo alto pretório poderia decidir por uma intervenção que sustasse aquêles
fatos criminosos”. Grifado pelo compilador.
21 de abril de 1960. Conforme prometido, o Presidente da República,
Juscelino Kubitschek de Oliveira (MG), inaugura a nova capital do Brasil –
um gesto, com uma iniciativa extrema desta natureza, perturbar, prejudicar as possí-
veis soluções conciliatórias. Aguardei, em amarga vigília, que êsse regime democrático,
no qual temos vivido, prêsa constante de sobressaltos e humilhações, encontrasse ainda
uma vez uma fórmula de sobrevivência. Fórmula honrosa como outras que nos têm sido
oferecidas.
Esperei em vão. Já agora nenhum homem daqueles mais hábeis, nenhum homem
daqueles mais prudentes pode dizer-nos que há alguma coisa ainda a esperar. Dizer-se
que não são claras as posições, alegar-se que ainda restam palavras a ser ditas por
aquêles que se tornaram responsáveis pela situação a que chegamos é, sem dúvida
alguma, contemporizar além do limite intransponível do nosso dever.
Srs. Deputados, Srs. Representantes da Nação, cada um de nós, nesta hora, dá
a satisfação que está a seu alcançe. Eu dou o meu. Neste momento, encaminho à
Câmara dos Deputados, como gesto final do exercício do meu mandato (não apoiados),
como gesto final da minha vida pública...
O Sr. Croacy de Oliveira – Rendemos nossas homenagens a Vossa Excelência..
O SR. ADAUTO CARDOSO – (...) a seguinte representação criminal:
Exmº Sr. Presidente da Câmara dos Deputados. Adauto Lúcio Cardoso, advoga-
do e deputado federal, representante eleito pelo povo do Estado da Guanabara, no
cumprimento dos deveres do mandato que exerce, vem oferecer contra o Sr. Ranieri
Mazzilli, Presidente da Câmara dos Deputados, ora no exercício da Presidência da
República; contra o Marechal Odylio Denis, Ministro da Guerra; contra o Brigadeiro
Grüm Moss, Ministro da Aeronáutica; e contra o Almirante Silvio Heck, Ministro da
Marinha, representação na forma da lei número 1.079, de 10 de abril de 1950, cujo
art. 13, item I estatui serem crimes de responsabilidade dos ministros de Estado os atos
nela definidos, “quando por eles praticados ou ordenados”.
2) Nesse diploma legal se definem, como crimes contra a segurança interna do
País os seguintes atos:
‘1 – tentar mudar por violência a forma do govêrno da República;
2 – tentar mudar por violência a Constituição federal ou de algum dos Estados,
ou lei da União, de Estado ou Município; e
..................................................................................................................
4 – praticar ou concorrer para que se perpetre qualquer dos crimes contra a
segurança interna, definidos na legislação penal;
3) Por outro lado, a legislação penal a que se refere o item 4 supra transcrito, no
caso, a lei nº 1802, de 5 de janeiro de 1952, que dispõe sôbre os crimes praticados
contra a segurança interna e externa do País – e que por isso tomou o nome de Lei de
Segurança do Estado, define como atentatórios da segurança interna os seguintes atos:
“Art. 5º Tentar, diretamente e por fato, mudar, por meios violentos a Constitui-
ção, no todo ou em parte, ou a forma de govêrno por ela estabelecida.
Art. 6º Atentar conta a vida, a incolumidade e a liberdade:
a) do Presidente da República, de quem eventualmente o substitui ou, no terri-
tório nacional, de chefe de Estado estrangeiro.
..................................................................................................................
Sr. Presidente, sei que pratico o último ato do exercício do meu mandato, cumpri
tanto quanto pude o juramento constitucional que prestei no dia do meu ingresso nesta
Câmara. (Palmas).
Estou convicto, Srs. Deputados, de que esta Câmara não se desonrará (Palmas);
estou certo de que em um dia distante ou próximo, mas um dia que mercê de Deus será
dado a nós ou aos nossos filhos, para os quais, em cujo nome temos lutado, estou certo
de que nós voltaremos aqui para lembrar aquêles que não desfaleceram, aquêles que
não capitularam, aquêles que não se entregaram. (Muito bem; muito bem. Palmas
prolongadas; o orador é cumprimentado)”. Grifado pelo compilador.
Nesse mesmo dia, às vinte horas e quinze minutos a Mensagem nº 471/61
é lida no plenário do Congresso Nacional. É nomeada uma comissão mista para
dar parecer sobre a mensagem.
dado instante, por ente a perplexidade e a ansiedade geral, abriu-se uma porta do
edifício do Ministério da Marinha e saíram, em fila indiana, humildes concidadãos
nossos que vestiam a gloriosa farda da arma de Tamandaré (Palmas) e, enquanto
caminhavam, iam deixando no chão, como demonstração de que se rendiam, os instru-
mentos bélicos que a Nação lhes confiara para a manutenção da ordem e para a defesa
da Pátria.
Naquele gesto humilde êles significavam o seu desalento e renunciavam a uma
luta gloriosa.
Comandava os amotinados um pobre sargento, o qual, interpelado pelos oficiais
que recebiam os rebeldes, no momento preciso em que se entregava para os rigores do
processo, explicava seu comportamento dizendo que se revoltara tomado da maior in-
dignação, mas isto fizera como prova de solidariedade com os companheiros cujos direi-
tos haviam sido negados no Supremo Tribunal Federal.
Sr. Presidente, o espetáculo que evoco há de repercutir junto aos promoventes da
agitação, aos privilegiados que sopram o ódio e a discórdia entre as classes armadas e
fará que no fundo da consciência dêles brote o remorso do crime que cometeram, fazen-
do com que aquêle desgraçado que mais merece uma aula de educação cívica, do que
pròpriamente a severidade de sanções penais e disciplinares, fôsse levado a sentir, por
falta de esclarecimentos, que era o portador de uma bandeira de justas reivindicações
de sua classe.
(...) que conceda Deus a esta Nação, a quantos a esta Nação pertencemos, desde
aquêle que exerce a sua primeira magistratura até aquêle desgraçado sargento que hoje
se fêz porta-bandeira de supostas reivindicações de classe, que Deus conceda a todos a
graça imensurável de sua misericórdia. (Muito bem. Muito bem. Palmas prolongadas.
O orador é cumprimentado)”. Grifado pelo compilador.
Em seguida o 1º Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado
Clóvis Coutinho da Motta (PTB-RN), no exercício da Presidência, faz o se-
guinte esclarecimento: “Srs. Deputados, a Presidência da Casa foi informada hoje,
às 4 horas da manhã, de que algo de anormal se passava nesta Capital.
Imediatamente dirigiu-se à sede do Congresso Nacional, a fim de verificar in
loco os acontecimentos.
Na Esplanada dos Ministérios, tive ocasião de encontrar alguns militares que
me convidaram a seguir até o edifício do Ministério da Justiça, onde mantive contato
com êles por mais de hora e meia. Naquele local já se encontravam alguns oficiais do
Exército, feitos prisioneiros por seus subalternos. Êste o motivo por que apenas às 5
horas e 30 minutos da manhã pude chegar até à Câmara dos Deputados, tomando
tôdas as providências que a pobreza de recursos nos podia facultar, principalmente os
telefones. Não faltou, dentro de nossas limitações, o cuidado necessário ao resguardo do
exercício do nosso mandato e a parcela da nossa contribuição na manutenção da ordem
pública.
O nosso Líder Tancredo Neves teve oportunidade de ler da tribuna uma nota do
Sr. Ministro da Justiça e dos Ministros Militares. Acabo de receber o seguinte comuni-
cado, trazido em mãos pelo Senhor Chefe da Casa Civil da Presidência da República:
‘Sr. Presidente, o Gabinete Civil da Presidência da República comunica que na
sargentos como baderneiros, como homens que provocam arruaças, mas Sr. Presidente,
êste foi o mesmo juízo feito, em 1922, quando se levantaram os 18 do Forte de
Copacabana. Naquela hora também o comentário foi êsse, muito espalhado aqui nesta
Casa. Mas, Sr. Presidente, mesmo através de certos atos que podemos lamentar, na
verdade homens abrem caminho, homens fazem avançar o carro da História em nossa
Pátria. (Muito bem.)”. Grifado pelo compilador.
4 de outubro de 1963. Plenário. O Presidente da República, João
Belchior Marques Goulart (RS), envia a Mensagem nº 320 ao Congresso Na-
cional apresentando o Projeto de Lei nº 1.091, que “decreta o estado de sítio em
todo o Território Nacional, pelo prazo de trinta dias”. A exposição de motivos é
assinada pelos Ministros da Marinha, da Guerra, e da Aeronáutica. Após a
leitura e discussão, é convocada sessão extraordinária noturna para as 20
horas. Sem quorum para deliberar, é convocada sessão extraordinária matu-
tina, para as nove horas do dia 7 de outubro, segunda-feira. Nesse dia, o
Presidente da República envia mensagem retirando o projeto de decretação
de estado de sítio, pois até a esquerda se posiciona contra a pretensão do
Governo federal.
pretende iludir o povo brasileiro, fazendo crer que nós, povo, Fôrças Armadas e traba-
lhadores desejamos outras reformas que aquelas. Se quiserem saber quais as côres que
presidirão as reformas que serão realizadas, basta olhar a túnica de comandantes e
comandados do nosso Exército, da nossa Aeronáutica, da nossa Marinha, da Polícia
Militar. E ali, em cada túnica encontrarão o verde-oliva que é o verde da Bandeira
Brasileira. O Azul da Aeronáutica e da Marinha, que é o Azul da Bandeira Brasileira.
É com essas cores – verde, amarelo e azul – que faremos as reformas. E se êsses reacio-
nários, se essas fôrças insensíveis às reivindicações do povo brasileiro, quiserem olhar
para trás dessas túnicas, encontrarão também um coração brasileiro, um coração que
bate na defesa também dos interêsses mais altos dessa Nação.
Também, Senhores Sargentos, não nos iludamos com os seus argumentos pra
mistificar a opinião pública. Ao lado de cada túnica de militar estará também outra
instituição, que defenderemos até com nosso sacrifício: as famílias dos militares, as
famílias brasileiras, instituição básica da nossa Pátria, que se encontra conosco nessa
luta, que não é contra ninguém, mas é a favor do povo’.
Estas, Senhor Presidente, para quem sabe ler nas entrelinhas, as interpretações
que pudemos tirar do discurso ontem proferido por S. Exa. que é um discurso afrontoso
ao Congresso Nacional, às instituições e, na pior das hipóteses, a 50% da opinião
pública do País que não comunga com o processo de reformas apontado por S. Exa. o
Senhor Presidente da República, como chefe das Fôrças Armadas, pelo menos
simbólicamente não podia, subvertendo, êle também, o princípio da ordem, da autori-
dade, da hierarquia, dirigir-se a uma assembléia de sargentos – corporação inferior das
classes armadas – da forma por que o fêz, concitando os sargentos das três armas a se
voltarem contra o povo brasileiro em sua maioria, pelo menos em 50% contra o Con-
gresso e contra as instituições, caso essas reformas não venham a ser dadas ao País, o
pensamento de S. Exa. o Presidente da República.
Daí, Senhor Presidente, ler êsses trechos do discurso de S. Exa. para que os Anais
desta Casa sejam o repositório histórico de um dos mais inconcebíveis pronunciamentos
de um Chefe de Estado, instigando uma corporação militar contra o próprio regime, e
subvertendo o princípio da disciplina e da hierarquia militar. Reunindo-se com esca-
lões inferiores das três armas no preciso instante em que os sargentos de uma dessas
fôrças acabava de dar à Nação a mais acintosa demonstração de desrespeito à ordem e
à disciplina que juraram defender. S. Exa. extravasou de todo bom senso, e hoje mais
não merece, senão a reprovação da Nação Brasileira.
Que a história o julgue pois, porque as contemporâneas já o julgaram na pior
conta, após a inconcebível fala de ontem. (Muito bem)”. Grifado pelo compilador.
O Deputado Walter Peracchi Barcellos (PSD-RS) faz veemente pronun-
ciamento contra o comunismo e denuncia: “Sr. Presidente e Srs. Deputados, é
grave o momento que estamos vivendo. Ontem o Líder da minha Bancada, o Deputado
Martins Rodrigues, antevendo mais êste acontecimento deplorável da pretensa home-
nagem dos sargentos, declarava que se instalara um soviet na Marinha. Solidarizan-
do-me plenamente com S. Exa., quero dizer que não se instalou um ‘soviet’ apenas na
Marinha, mas no Exército, na Aeronáutica, no Palácio do Govêrno, em tôdas as repar-
tições públicas federais; e o maior ‘soviet’, Sr. Presidente, que se instalou neste País foi,
sem dúvida, na Petrobrás (Muito bem), que tem uma hora radiofônica que outra coisa
não faz senão estimular a subversão da ordem constitucional vigente (Muito bem),
proclamando e anunciando todos os discursos que lhe são favoráveis, inclusive os desta
Casa, mas silenciando com relação àqueles que se contrapõem aos que pretendem, da
forma por que está fazendo, subverter o regime, a ordem constitucional vigente, trans-
formar êste País numa nova Cuba”. Grifado pelo compilador.
O Deputado João Herculino Sousa Lopes (PTB-MG), nos discursos de
grande expediente, dá notícias sobre os acontecimentos no Estado de Minas
Gerais: “Sr. Presidente, Srs. Deputados, tive neste instante um contato telefônico com
a Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, e é com pesar, profundo pesar, que
comunico a esta Casa que a Constituição começou a ser rasgada em meu Estado.
O Deputado Sinval Bambirra foi prêso. O Jornal “Última Hora” foi fechado;
seu diretor foi prêso; os ônibus foram requisitados; as casas de comércio e os bancos estão
fechados”. Grifado pelo compilador.
A sessão prossegue, mas sem “quorum” para deliberar sobre a matéria é
convocada sessão extraordinária noturna para as 21 horas desse mesmo dia.
Aberta a sessão extraordinária, o Deputado Anísio de Alcântara Rocha
(PSD-GO) pede a palavra pela ordem e solicita: “Senhor Presidente, solicito a
V. Exª. informações sôbre as providências que a Mesa da Câmara dos Deputados tomou
ou tomará, em relação à situação de Brasília,
Segundo chegou ao meu conhecimento, o aeroporto está fechado, as estradas que
dão acesso a Belo Horizonte e Goiânia já estão tomadas por fôrças do Exército. Eu
perguntaria a V. Exª que providências a Mesa poderia tomar já junto ao Ministério da
Aeronáutica, pois tenho a impressão de que estamos completamente isolados dentro de
Brasília. (Muito bem).
O Sr. Presidente – (Afonso Celso) – A Presidênciaa toma conhecimento das infor-
mações prestadas pelo nobre Deputado Anísio Rocha e adotará as providências cabíveis
no caso dentro em breve, dando ciência ao Plenário dessas providências e dos seus
resultados”. Grifado pelo compilador.
As informações que chegam ao Congresso Nacional é de que o Aero-
porto de Brasília está fechado e ocupado por tropas federais; barreiras estão
nas rodovias que ligam a Capital do País às capitais de Goiás, Minas e São
Paulo; o serviço de teletipo, telex, bem como as ligações interurbanas estão
cortadas e que as emissoras de TV locais receberam visitas de oficiais milita-
res que impediram a transmissão de uma comunicação do Presidente do Con-
gresso Nacional, Senador Auro de Moura Andrade, de movimentação de tro-
pas e de várias adesões de governadores de Estados ao movimento militar.
Na sessão extraordinária noturna, nos discursos de pequeno expedien-
te, o Deputado Francisco Julião Arruda de Paula (PSB-PE) faz um intenso
pronunciamento sobre as reformas em discussão no Congresso Nacional, diz
que os acontecimentos que se estão verificando estão previstos há muito tem-
po, declara “abençoados os marinheiros, bravos sargentos, camponêses rebelados, ope-
rários indômitos do Brasil. A vós sim, rendo a minha admiração, a minha homenagem
pelo sangue que já derramastes neste País e que ainda não foi redimido, mas que
haverá de contribuir para a nossa unidade, pela fôrça de todos nós em defesa daqueles
que sentem o clamor das massas desesperadas do Brasil”, alerta que “(...) se amanhã
alguém tentar levantar os gorilas contra a Nação, já podemos dispor – por isso ficamos
no nordeste o ano todo – podemos dispor de quinhentos mil camponêses para responder
aos gorilas como os gorilas quiserem: na lei, como desejamos, na marra, se êles quise-
rem”. Encerra reafirmando que o povo brasileiro já tomou a decisão de con-
quistar sua emancipação econômica, sua emancipação social e que ela será
conquistada pacificamente ou através da revolução da rebelião das massas
inconformadas do Brasil. O orador é muito aplaudido e cumprimentado.
Após falarem vários Deputados a sessão é encerrada à 1 hora do dia 1º de
abril, sem ter votado a pauta constante da Ordem do Dia.
1º de abril de 1964. O Jornal “Diário Carioca” destaca em sua manche-
te: “Guarnições do I Exército marcham para sufocar rebelião em Minas Gerais –
Jango: govêrno manterá a ordem e a democracia – Ministro da Guerra reassume e
lança proclamação – Manifesto de Jango – Lacerda atravancou ruas com trincheiras
carros e barricadas”.
No Plenário da Câmara dos Deputados às 13 horas e 30 minutos, o
Deputado Arnaldo de Castro Nogueira (UDN-GB) faz a seguinte comunica-
ção: “Sr. Presidente, neste momento em que ocupo a tribuna, graças a uma gentileza
do Deputado Amaral Neto, o Palácio da Guanabara, na antiga Capital Federal, está
sendo atacado por fôrças dos Fuzileiros Navais, comandadas pelo Almirante Aragão”.
Vários outros pronunciamentos dão notícias dos acontecimentos nos Esta-
dos. O Deputado Ernani Ayres Sátiro e Sousa (UDN-PB) – como Líder da
Minoria – faz intenso pronunciamento, onde analisa os últimos acontecimen-
tos e afirma: “(...) a página atual da História do Brasil está sendo escrita fora do
Congresso Nacional e o Congresso Nacional é, apenas, nêsse momento, o registro
vivo, a ressonância fecunda e patriótica, para que o sociólogo, o historiador possam
interpretar êstes fatos e êstes acontecimentos”. A sessão é encerrada às18 horas e
10 minutos.
Ainda nesse dia o Presidente da República João Belchior Marques
Goulart (RS) abandona o Rio de Janeiro, toma o rumo de Brasília e de lá
segue para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde o Comandante do III
Exército, General-de-Divisão Ladário Pereira Teles – fiel ao Governo e à lega-
lidade constitucional –, e o Deputado Leonel de Moura Brizolla (PTB-RS)
pretendem enfrentar o movimento revolucionário. Diante dos fatos e das
notícias que chegam ao seu conhecimento, o Presidente da República reco-
nhece a impossibilidade de oposição ao movimento militar e ordena a cessa-
ção de resistência. O novo Governo é reconhecido pelo Presidente dos Esta-
dos Unidos da América do Norte, Lyndon Johnson, poucas horas após a
tomada do poder.
2 de abril de 1964. 2 horas e 40 minutos (madrugada). Reunião Extra-
ordinária do Congresso Nacional. Plenário. Presença de 212 congressistas –
29 senadores e 183 Deputados. Tumulto no plenário. O Presidente do Con-
gresso Nacional, Senador Auro de Moura Andrade alerta: “Atenção, Srs. Depu-
tados, serei forçado a suspender a sessão até quando a calma volte ao Plenário, para
que esta Presidência possa cumprir o seu dever de fazer a comunicação e a declaração
que lhe cabe formular nesta hora angustiosa da vida brasileira. Está suspensa a ses-
são.” Quando reabre a sessão extraordinária faz a seguinte comunicação: “Co-
munico ao Congresso Nacional que o Sr. João Goulart deixou, por força dos notórios
acontecimentos de que a Nação é conhecedora, o Governo da República. (Aplausos
prolongados. Protestos. Tumultos). Em seguida é lido ofício do Chefe do Gabinete
Civil Darcy Ribeiro (MG) com o seguinte teor: “Brasília, 2 de abril de 1964.
Senhor Presidente, O Senhor Presidente da República incumbiu-me de comunicar a
Vossa Excelência que, em virtude dos acontecimentos nacionais das últimas horas, para
preservar de esbulho criminoso o mandato que o povo lhe conferiu, investindo-o na
Chefia do Poder Executivo, decidiu viajar para o Rio Grande do Sul, onde se encontra
à frente das tropas militares legalistas e no pleno exercício dos poderes constitucionais,
com o seu Ministério”. Tumulto no Plenário. A Presidência conclui a sua comu-
nicação: “O Sr. Presidente da República deixou a sede do Govêrno (protestos, Palmas
prolongadas)... deixou a Nação acéfala numa hora gravíssima da vida brasileira em
que é mister que o Chefe de Estado permaneça à frente do seu Govêrno. (Apoiados.
Muito bem). O Sr. Presidente da República abandonou o Govêrno. (Aplausos caloro-
sos. Tumulto. Soam insistentemente as campanhias). A acefalia continua. Há necessi-
dade de que o Congresso Nacional, como poder civil, imediatamente tome a atitude que
lhe cabe, nos têrmos da Constituição. (Palmas. Protestos), para o fim de restaurar, na
pátria conturbada, a autoridade do Govêrno, a existência do Govêrno. Não podemos
permitir que o Brasil fique sem Govêrno, abandonado. (Palmas. Tumulto.) Recai sobre
a Mesa a responsabilidade pela sorte da população do Brasil em peso. Assim declaro
vaga a Presidência da República (Palmas prolongadas. Muito bem. Muito bem. Pro-
testos) e, nos têrmos do art. 79, da Constituição Federal, invisto no cargo o Presidente
da Câmara dos Deputados, Sr. Ranieri Mazzilli (Palmas prolongadas. Muito bem.
Muito bem. Protestos)”. Encerra-se a sessão às 3 horas da madrugada.
O ex-Presidente João Belchior Marques Goulart (RS) busca asilo no
Uruguai. Assume o Governo do País o Presidente da Câmara dos Deputados,
Paschoal Ranieri Mazzilli (SP) até 15 de abril do mesmo ano, quando toma
posse o novo governante eleito, indiretamente, pelo Congresso Nacional.
Na Câmara dos Deputados, na sessão ordinária desse mesmo dia, é
votado e aprovado, em segundo turno, o Projeto de Decreto Legislativo nº
57-B de 1963, que “anistia os militares ou civis participantes dos acontecimentos
que se desenrolaram no dia 12 de setembro de 1963”. Não retornando à pauta é
arquivado.
Com a revolução é abortada uma geração cheia de promessas e espe-
ranças, não destruindo apenas esquemas, sonhos e partidos. Corta carreiras
políticas e interrompe projetos de vida. Perplexos e desorientados os jovens e
as novas lideranças vêem seus sonhos serem bruscamente interrompidos. É
encerrada a mais longa experiência liberal do País, iniciada com a Carta Magna
de 1946. O País nesse período viveu um interregno democrático com crises
Não tem, entretanto, qualquer resposta oficial sôbre o assunto. Assim sendo, não
poderá dar qualquer esclarecimentos a esta Casa.
São as informações que se sente obrigada esta Presidência dar, em face da recla-
mação do nobre Deputado Mário Maia, cientificando a S. Exa. e à Casa, mais uma
vez, que, apesar do clima que atravessamos, está vigilante e não deixará de envidar
todos os esforços em defesa dos nossos colegas e em defesa das imunidades constitucio-
nais previstas em nossa Carta Magna. (Muito bem)”. Grifado pelo compilador.
Nesse mesmo dia é sancionado o “Ato Institucional nº 1”, com 11 artigos,
pelo Comando Supremo da Revolução, composto pelo General-de-Exército
Arthur da Costa e Silva (RS), pelo Tenente-Brigadeiro-do-Ar Francisco de
Assis Corrêa de Mello (RJ) e pelo Vice-Almirante Augusto Hamann Rademaker
Grünewald (RJ). São mantidas a Constituição de 1946, as constituições esta-
duais e respectivas emendas. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da
República, cujos mandatos terminarão em 31 de janeiro de 1966, será reali-
zada pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, no prazo
de dois dias, a contar do ato, em sessão pública e votação nominal. Eleição
indireta. Os projetos de lei sobre qualquer matéria enviados pelo Presidente
da República ao Congresso Nacional deverão ser apreciadas dentro de 30
dias, a contar do seu recebimento na Câmara dos Deputados e de igual prazo
no Senado Federal, caso contrário, serão tidos como aprovados. Suspende
por seis meses as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade e estabi-
lidade. Investigação sumária. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da
República, que tomarão posse em 31 de janeiro de 1966, será realizada em 3
de outubro de 1965. Pode suspender direitos políticos pelo prazo de 10 anos
e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a
apreciação judicial desses atos. Este ato passa a vigorar desde a sua data até
31 de janeiro de 1966.
A justificativa do “Ato Institucional nº 1” assim está expressa: “É indispen-
sável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba de abrir ao Brasil uma
nova perspectiva sôbre o seu futuro. O que houve e continuará a haver neste momento,
não só no espírito e no comportamento das classes armadas, como na opinião pública
nacional, é uma autêntica revolução.
A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se
traduz, não o interêsse e a vontade de um grupo, mas o interêsse e a vontade da Nação.
A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se mani-
festa pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais
radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como o Poder Constituinte,
se legitima por si mesma. Ela destitui o govêrno anterior e tem a capacidade de consti-
tuir o nôvo govêrno. Nela se contém a fôrça normativa, inerente ao Poder Constituinte.
Ela edita normas jurídicas sem que nisto seja limitada pela normatividade anterior à
sua vitória. Os Chefes da revolução vitoriosa, graças à ação das Fôrças Armadas e ao
apoio inequívoco da Nação, representam o povo e em seu nome exercem o Poder Cons-
tituinte, de que o Povo é o único titular. O Ato Institucional que é hoje editado pelos
Comandantes em Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em nome da revo-
lução que se tornou vitoriosa com o apoio da Nação na sua quase totalidade, se destina
a assegurar ao nôvo govêrno a ser instituído, os meios indispensáveis à obra de recons-
trução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar,
de modo direto e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração
da ordem interna e do prestígio internacional da nossa Pátria. A revolução vitoriosa
necessita de se institucionalizar e se apressa pela sua institucionalização a limitar os
plenos podêres de que efetivamente dispõe.
O presente Ato Institucional só poderia ser editado pela revolução vitoriosa, re-
presentada pelos Comandos em Chefe das três Armas que respondem, no momento, pela
realização dos objetivos revolucionários, cuja frustração estão decididas a impedir. Os
processos constitucionais não funcionaram para destituir o govêrno, que deliberadamente
se dispunha a bolchevizar o país. Destituído pela revolução, só a esta cabe ditar as
normas e os processos de constituição do novo govêrno e atribuir-lhe os podêres ou os
instrumentos jurídicos que lhe assegurem o exercício do Poder no exclusivo interêsse do
País. Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, de-
cidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte
relativa aos podêres do Presidente da República, a fim de que êste possa cumprir a
missão de restaurar no Brasil a ordem econômica e financeira e tomar as urgentes
medidas destinadas a drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado
não só na cúpula do govêrno como nas suas dependências administrativas. Para redu-
zir ainda mais os plenos podêres de que se acha investida a revolução vitoriosa, resolve-
mos, igualmente, manter o Congresso Nacional, com as reservas relativas aos seus
podêres, constantes do presente Ato Institucional.
Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do Con-
gresso. Êste é que recebe dêste Ato Institucional, resultante do exercício do Poder Cons-
tituinte, inerente a tôdas as revoluções, a sua legitimação.
Em nome da revolução vitoriosa, e no intúito de consolidar a sua vitória, de
maneira a assegurar a realização dos seus objetivos e garantir ao País um govêrno
capaz de atender aos anseios do povo brasileiro, o Comando Supremo da Revolução,
representado pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica
resolve editar o seguinte ATO INSTITUCIONAL”. Grifado pelo compilador.
Nesse mesmo dia na sessão extraordinária noturna, às 21 horas, o Pre-
sidente, em exercício, da Câmara, Deputado Afonso Celso Ribeiro de Castro
(PTB-RJ), faz o seguinte comunicado: “Srs. Deputados já deve ser do conhecimen-
to de todos, a partir desta tarde, o País se encontra sob nôvo regime, que se consubstancia
nos dispositivos de Ato baixado pelo Comando das Fôrças Revolucionárias, e assinado
pelos três Ministros Militares. Não temos ainda oficialmente êsse Ato dado à publicida-
de, isto é, não temos condições para ler à Casa os seus Dispositivos. Tôda a Nação,
porém ouviu a sua leitura através das rádios e, ao que se informa, profunda alteração
é feita na Constituição do País, suspensas pràticamente tôdas as garantias individuais,
suspensas também as imunidades parlamentares.
Antes de chegar a esta Casa, tive conhecimento da prisão violenta de dois compa-
nheiros nossos, os Senhores Deputados Benedito Cerqueira e Bocayuva Cunha. No-
meei de logo, ao aqui chegar, uma comissão de três Deputados, integrando-a um repre-
Quadro/Foto nº 24
O Presidente, em exercício, da Câmara – Deputado Afonso Celso Ribeiro de Castro
Quadro/Foto nº 24/A
O Presidente da República – João Belchior Marques Goulart
Quinta República
(9/4/1964 a 5/10/1988)
ções, os excessos de grupos militares que tudo podiam, que desconheciam limites éticos,
morais, humanos.” Deputado Michel Temer. Brasília. 2000. Apresentação do livro:
“Atos Institucionais – Sanções Políticas” de autoria de Paulo Affonso Martins de Oli-
veira.
11 de abril de 1964. 16 horas. Congresso Nacional. Plenário. Presença
de 381 Srs. Deputados e de 60 Srs. Senadores. Conforme consta do Edital de
Convocação do Congresso Nacional, a sessão conjunta da Câmara dos Depu-
tados e do Senado Federal destina-se a realizar as eleições, em votação nomi-
nal, de Presidente e de Vice-Presidente da República na forma do que estabe-
lece o Artigo 79, § 2º da Constituição Federal, Lei nº 4321 e Ato Institucional
nº 1. Encerrada a votação para Presidente da República, é proclamado o
resultado: General Humberto de Alencar Castello Branco, 361 votos. São
verificadas 72 abstenções. General Eurico Gaspar Dutra, dois votos. General
e Deputado Juarez Távora, três votos. É proclamado eleito Presidente da
República o Sr. Humberto de Alencar Castello Branco. Encerrada a votação
para Vice-Presidente da República, em primeiro escrutínio, é proclamado o
resultado: José Maria Alkmim, 203 votos. Auro Soares de Moura Andrade,
150 votos. Ranieri Mazzilli, dois votos. Antônio Sanchez Galdeano, um voto.
Milton Campos, dois votos. Abstenções, 63. Como nenhum dos candidatos
obteve a maioria absoluta exigida pela lei, é necessário a realização do segun-
do escrutínio. Encerrada a votação é proclamado o resultado: José Maria
Alkmim, 256 votos. Auro Soares de Moura Andrade, nove votos. Milton Cam-
pos, dois votos. Juarez Távora, um voto. É proclamado eleito Vice-Presidente
da República o Sr. José Maria Alkmim. Encerra-se a sessão às 23 horas.
15 de abril de 1964. Quinze horas. Congresso Nacional. Plenário. Pre-
sença de 332 Srs. Deputados e de 58 Srs. Senadores. “Sessão convocada com a
finalidade especial de dar posse e receber o compromisso constitucional de S. Exª. o Sr.
Marechal Humberto de Alencar Castello Branco e de S. Exª, Sr. Dr. José Maria Alkmin.
Período complementar de três anos (15/04/1964 a 31/01/1966). Pela Emenda Cons-
titucional nº 9, de 22/07/1964, os mandatos são prorrogados até 15/03/1967.
Após a posse o Sr. Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar
Castello Branco, dirige-se, pela primeira vez, em sua condição de Chefe de Estado, à
Nação Brasileira, perante o Congresso de sua Pátria e diz: (...) Meu procedimento será
o de um Chefe de Estado sem tergiversações no processo para a eleição do brasileiro a
quem entregarei o cargo a 31 de janeiro de 1966. (Muito bem. Palmas). (...) Caminha-
remos para a frente com a segurança de que o remédio para os malefícios da extrema
esquerda não será o nascimento de uma direita reacionária. (Muito bem; Palmas pro-
longadas), mas os das reformas que se fizerem necessárias. (Palmas.)”.
Reitera as suas promessas de que respeitará as liberdades democráticas
e manterá o regime republicano representativo, com a restauração, em sua
plenitude, das instituições constitucionais, sem compromissos com grupos ou
partidos políticos, para só agir voltado no sentido da defesa e solução dos
altos interesses nacionais.
prestar, quando aceitara o convite para integrá-lo. Sobre este fato a entrevista
do Dr. Seabra Fagundes, publicada no Jornal “O Estado de São Paulo” nos dias
31 de agosto e 1º de setembro de 1966, esclarece a verdade dos fatos.
No dia 19 de agosto, o anteprojeto da Comissão de Juristas é entregue
ao Presidente da República Humberto de Alencar Castello Branco (CE), em
cerimônia realizada no salão nobre do Palácio das Laranjeiras, no Rio de
Janeiro.
Após diversos protestos pelo sigilo guardado em torno do anteprojeto
da Comissão de Juristas, o Governo, finalmente, libera o teor do “Anteprojeto
da Constituição dos Estados Unidos do Brasil”, com 256 artigos, à imprensa, que
divulga-o no dia 25 de agosto de 1966 para o conhecimento dos cidadãos.
presidente, que assim se expressa: “(...) Meus intuitos democráticos e minha preo-
cupação com a ordem constitucional não podem ser postos em dúvida. (...) A democra-
cia não é uma transcendência. É uma vocação humana, e sua raiz mais funda está no
instinto de liberdade. Todo poder político tem origem popular, e essa origem é a só razão
que pode legitimá-lo. A Revolução reconhece essas verdades, e as tem entre os seus
postulados. E encerra dizendo: (...) O voto com que me honrastes a mim e meu
preclaro companheiro, o Deputado Pedro Aleixo, (Palmas prolongadas) valorosa ex-
pressão civica e patrimônio moral do Congresso (Palmas prolongadas) implica segura-
mente a certeza da vossa colaboração. Juntamente com ela espero, desde já, merecer
também o apoio do povo brasileiro, e a Deus suplico que me ampare em cada dia do meu
govêrno. (Muito bem. Muito bem. Palmas)”. Grifado pelo compilador. Levanta-se a
sessão às 19 horas e 20 minutos.
lativo, pela palavra de seus dois Chefes autorizados, e o Poder Executivo, presidido
pelo Senhor Marechal Castello Branco.
(...) Então, meus senhores, entendemos nesta hora de fazer nesta Casa, uma
vigília permanente, fazer esta Casa funcionar sob a sua honrada Presidência, para
que toda a Nação tenha conhecimento de que, se todos para aqui não ocorreram, a
unânimidade do Movimento Democrático Brasileiro se fêz presente nesta hora tão gra-
ve para os destinos do nosso País, porque estamos convencidos de que este exemplo
arrastará para aqui outros companheiros, mesmo os não filiados à nossa agremiação,
como já começa a acontecer, para que tomem o caminho de Brasília, e venham transfor-
mar esta nova Capital em cidadela avançada do grande movimento de restauração
democrática do Brasil. Daqui partirá, diariamente, pela palavra dos nossos compa-
nheiros – não apenas pela palavra do seu Líder, mas também pela palavra de outros
bravos companheiros – uma mensagem ao povo brasileiro, para que todos se mobilizem
nesta hora, em termos e princípios que são o fundamento da sua vocação para serem
livres, da sua estupenda capacidade de reação, para que todos nós, unidos, represen-
tantes e povo, possamos construir realmente, a partir daqui, em bases de confiança
popular, o grande destino da Nação brasileira. (Palmas prolongadas. (O orador é
cumprimentado)”. Grifado pelo compilador.
No dia 18, em nota distribuida à imprensa, assim se posiciona o Presi-
dente da Câmara dos Deputados, Adauto Lúcio Cardoso (ARENA-GB): “(...)
Dou testemunho do patriotismo e da honradez do Senhor presidente da República no
cumprimento de suas difíceis tarefas de govêrno. Acredito que Sua Excelência se persu-
adiu de que com tais medidas estaria cumprindo o seu dever para com o País. Certo
estou porém de que cumpro o meu, fazendo com que tais atos sejam sujeitos à homologa-
ção das Casas do Congresso, o qual, acima de tudo, encarna e representa a supremacia
do poder civil”.
Num gesto simbólico e romântico, os deputados cassados asilam-se nas
dependências da Câmara, onde o seu presidente diz que tem melhores con-
dições de dar-lhes proteção e segurança pessoal. Alguns se alojam na enfer-
maria onde comem, dormem e se medicam. Conta-se, que o gabinete do
Diretor-Geral da Câmara, Luciano Brandão Alves de Sousa, é franqueado
aos deputados, e ali lhes oferece, à noite, um chá. O local passa a ser denomi-
nado “Casa de Chá do Luar de Outubro”.
Certo dia, à tarde, o funcionário da lavanderia que faz a coleta e entrega
das roupas de cama de pacientes e médicos, ao chegar com o carrinho, traz
consigo um policial que, disfarçadamente, tenta burlar a Segurança da Câ-
mara dos Deputados e entrar no prédio do Congresso Nacional, provavel-
mente, para dar ordem de prisão aos deputados cassados ou simplismente
bisbilhotar. Tendo sido detectado, a Segunça da Casa frusta-lhe a ingênua
tentativa. No momento em que os seguranças impedem a passagem do refe-
rido policial, este leva uma enorme vaia de todos os servidores que, curiosos,
acompanham o insólito episódio pelas janelas do Anexo I.
Nestes dias de tensão ocorre um fato curioso. Cinco representantes da
oposição levam um pequeno susto a bordo do avião em que se dirigiam a
Quadro/Foto nº 25
O Presidente da Câmara – Deputado
Adauto Lúcio Cardoso
Quadro/Foto nº 25/B
O Presidente da República –
Marechal Humberto de Alencar
Castello Branco
sileiro, que não aceita, senão como imposição de fôrça, medidas dessa natureza”. Grifa-
do pelo compilador.
Sei que entre nós, tem havido, há ainda e haverá sempre, como em tôda coletivi-
dade, uma minoria de homens menos responsáveis. Repito porém que não devemos
consentir que o Poder Executivo nos arrebate a prerrogativa de julgá-los e de cassar
mandatos que o povo lhes conferiu. Isso mesmo professei pùbicamente, em abril de
1964, quando não me achava ainda onerado com as responsabilidades da desarmada
resistência que o exercício do cargo de presidente da Câmara dos Deputados veio a
impor-me, em outubro de 1966.
É certo que o Exmo. Sr. Presidente da República, em declaração formal que não
visou contribuir para a solução dêsse conflito, mas antes veio cumprir propósitos ex-
pressos antes dêle, firmou compromissos de não aplicar, daqui por diante, na área do
Congresso Nacional os podêres de que se investiu pelos artigos 14 e 15 do Ato
Institucional número 2. Esta Câmara e o Senado se acham portanto livres da coação
que para seus membros representava essa faculdade de cassar mandatos, atribuída ao
Chefe do Poder Executivo.
Se isso basta à Câmara atingida no recente episódio de cassações, não basta
porém ao seu presidente, que, confrontado com suas convicções, não se sente em condi-
ções de cumprir o papel de executor da decisão hoje tomada pela Mesa, nos têrmos do
parecer da Comissão de Constituição e Justiça, mandando que o presidente declare
extintos os mandatos e, portanto, excluídos das listas de presença, do plenário e das
comissões os seus deputados cujos direitos políticos foram suspensos.
Em face do exposto, Srs. Deputados, firmei a irrevogável decisão de renunciar,
como agora renuncio, à presidência da Câmara. Não importa isso em quebra dos laços
de solidariedade, de estima e gratidão que me prendem aos nobres colegas de partido
que me conduziram a êste alto pôsto. Estou certo de que compreenderão meus sentimen-
tos e a prioridade dos meus compromissos para com esta Câmara. Nem significa meu
gesto que eu me separe dos companheiros com os quais participei do movimento de
março e abril de 1964, em defesa das instituições. Sou fiel a elas e aos altos objetivos da
Revolução.
Convoco o Sr. 1º Vice-Presidente a que venha assumir a presidência desta sessão.
E, para que possa fazê-lo o nobre Sr. Deputado Sr. Baptista Ramos, vou suspender a
sessão, por cinco minutos. Está suspensa a sessão”. Grifado pelo compilador.
A sua postura de líder é reconhecida por todos os seus pares em pro-
nunciamentos subseqüentes ao ato de renúncia. Em desdobramentos a esses
fatos, em fevereiro de 1967, Adauto Lúcio Cardoso (ARENA-GB) é nomeado
Ministro do Supremo Tribunal Federal, pelo próprio Presidente da Repúbli-
ca, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (CE), tomando posse no
início do mês de março de 1967.
7 de dezembro de 1966. O Presidente da República, Humberto de
Alencar Castello Branco (CE), edita o “Ato Institucional nº 4”, que “convoca o
Congresso Nacional para se reunir, extraordinariamente, de 12 de dezembro de 1966
a 24 de janeiro de 1967”. O objeto principal da convocação extraordinária é a
discussão, votação e promulgação do “Projeto de Constituição”, revisto e modi-
ficado pelo Conselho de Segurança Nacional, e apresentado pelo Presidente
chegou a Paranhos às 17 horas daquele mesmo dia, amarrou os rebeldes com corda de
pesca, colocou-os em um caminhão, dirigido por João Tavares, e acompanhado de um
filho dêste, menor, Waldemar Tavares, e de Breno dos Santos, buscou transportá-los, já
noite, para Amambaí. Eis senão quando, cêrca de 22 horas, quando estava a 20 km de
Paranhos, foi atacado por um grupo de 15 a 20 homens que lhe tomaram os rebeldes e
fuzilaram-nos incontinenti, em pleno território brasileiro.
(...) Oito homens são chacinados, em território brasileiro, por soldados de fôrças
militares de outro país, e é como se nada houvesse acontecido”. Grifado pelo compilador.
Apresenta em seguida requerimento de informações e no dia 11 de agosto de
1961 volta a insistir no assunto com apresentação de outro requerimento de
informações ao Poder Executivo.
A respeito do movimento denominado “Frente Ampla”, no dia 17 de ou-
tubro de 1967, o Deputado Raul Brunini Filho (MDB-GB) ressalta: “Sr. Presi-
dente, recém-chegado de rápida visita ao interior de São Paulo, não posso deixar de
registrar o interêsse popular pelo movimento que atualmente empolga o cenário políti-
co nacional: a Frente Ampla.
Faço êste registro sem outro intuito senão aquêle de constatar um fato: enganam-
se aquêles que pensam que o povo está desinteressado do problema político; o povo está
aguardando uma oportunidade de poder manifestar-se, de falar, de externar o seu
pensamento, de participar ativamente da vida nacional. E a Frente Ampla é o instru-
mento democrático, válido e oportuno dessa manifestação.
(...) Êste atrito entre o atual e o ex-Governador de São Paulo é assunto obrigató-
rio de tôdas as conversas de rua, onde o povo só fala em eleição direta para escolher o
nôvo Presidente da República. E eleição direta é com a Frente Ampla.
Logo, se “a voz do povo é a voz de Deus”, se o povo pede eleições diretas, estamos,
nós da Frente Ampla, em muito boa companhia, com Deus e o povo. (Muito bem.)”.
Grifado pelo compilador.
No festival nacional da canção, Caetano Veloso canta “Alegria, alegria –
Caminhando contra o vento sem lenço, sem documento...”.
9 de outubro de 1967. Bolívia. Região de Vallegrande. O lendário
gerrilheiro Che Guevara, ex-ministro cubano, depois de capturado, é fuzilado
pelo Soldado Mário Terán por determinação superior. O silêncio oficial so-
bre o fato impede a divulgação, mas não detém as notícias e informações
sobre o acontecimento.
28 de março de 1968. O estudante secundarista Édson Luís de Lima
Souto, de 18 anos, é morto a tiros pela Polícia Militar no restaurante estudantil
“Calabouço”, no Rio de Janeiro, durante uma manifestação contra o fechamen-
to do restaurante, que atendia sobretudo a estudantes pobres, oriundos de ou-
tros estados. Aproximadamente 20 estudantes saem feridos da agressão poli-
cial. No dia 29, aproximadamente, 60 mil pessoas participam do cortejo fúnebre.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) decreta greve nacional dos estudan-
tes. No dia 30, são organizadas manifestações estudantis em vários estados,
apesar da proibição do Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva (SP),
que no dia 1º de abril de 1964, exatamente nesse dia esta Casa, em sessão matutina,
votava um projeto concedendo anistia.
(...) Repetir-se-á, como aqui fêz o ilustre Monsenhor Arruda, que os estudantes
não desejam a anistia, que os estudantes não a querem, que os estudantes a abomi-
nam. Os estudantes, Sr. Presidente, como todos aquêles que se engajam numa luta,
que participam de um processo político condicionados apenas pelo idealismo, abomi-
nam a clemência, o esquecimento da culpa e têm como apanágio sustentar a posição
que tomaram.
(...) Há dois meses, Sr. Presidente, 100 mil pessoas saíram às ruas na Guanabara;
essas 100 mil pessoas formaram uma comissão de seis pessoas, que aqui estiveram com
o Presidente da República. E, nessa conversa, disseram ao Presidente que sairiam
noutra passeata se os que estivessem presos não fôssem libetados. A resposta do Presi-
dente da República, manifestada em todos os jornais, foi a de que não poderia soltá-los,
porque se encontravam ‘sub judice’.
(...) Sei, Sr. Presidente, que é muito difícil termos um Congresso livre num país
em que o povo não é livre, em que o povo é escravo, em que o povo ainda não alcançou
a sua emancipação. (Muito bem. Palmas.) Sei disso, Sr. Presidente, mas tenho a con-
vicção, tenho a certeza de que dia virá em que êsse povo se libertará e, nesse dia, essas
instituições, entre as quais se insere o Congresso Nacional, hão de projetar esta liberda-
de em cada uma de suas manifestações. Neste instante, Sr. Presidente, quero com hu-
mildade, mas com absoluta sinceridade, firmar meu compromisso, perante a História,
com êsse futuro: no dia em que êste povo se emancipar, hei de juntar a minha voz, esteja
eu onde estiver, num apêlo pela anistia aos que hoje oprimem êste País. (Muito bem;
muito bem. Palmas prolongadas. O orador é abraçado”. Grifado pelo compilador.
O projeto é submetido a votos sendo rejeitado. No dia 30 a Universida-
de de Brasília é invadida e a Universidade Federal de Minas Gerais é fechada
após intervenção da polícia.
ral Antônio Carlos Muricy, sôbre torturas de presos políticos, concluiu que havia tortu-
rados, mas não apurou os torturadores.
Seus nomes, é bem verdade, são conhecidos no Brasil inteiro. São conhecidos,
também, no Ministério do Exército, que promove os torturadores, uma vez que no Bra-
sil de hoje torturar um prêso inerme parece ser motivo de promoção na outrora honrada
e gloriosa carreira militar.
Mas, no inquérito do IPM, os que quebraram as costelas e as vértebras de Wardyr
Ximenes não foram apontados, nem aquêles que torturaram e seviciaram centenas de
outros prisioneiros.
No Rio de Janeiro, como disse o Deputado Hermano Alves, apurou-se que Edson
Luís de Lima Souto fôra fuzilado pela Polícia Militar, apuraram-se os nomes dos
fuzilantes, mas não se tomou nenhuma providência para puní-los.
Quando ficou demonstrada a tortura dos irmãos Ronaldo e Rogério Duarte,
apressou-se o então general comandante da Vila Militar a negá-la. Posteriormente, um
inquérito foi ralizado por ordem do Ministro de Exército, quando já os nomes de alguns
dos torturadores e os números das viaturas utilizadas eram conhecidos da Polícia. Que
resultou do “rigoroso inquérito”, se é que houve? Simplesmente o envio ao Senado
Federal de uma mensagem nomeando para Embaixador nas Guianas o General José
Horácio da Cunha Garcia, que tão afoitamente se preocupara em tachar de mentiro-
sos os que apontavam as torturas e negar a sua própria existência. Se punição houve
– e parece que o Coronel Goulart Câmara realmente foi punido com uma prisão
domiciliar de trinta dias – foi ela guardada no sigilo dos documentos secretos do
Exército Nacional.
Portanto, o que nesses quatro anos nós aprendemos a esperar dos “rigorosos in-
quéritos” é que êles garantam apenas a rigorosa impunidade dos criminosos que ser-
vem ao Govêrno. (Muito bem). E mais: aprendemos também a saber que fazer passea-
tas, fazer greves, participar de congressos da UME ou da UNE é ser enquadrado na
Lei de Segurança Nacional, mas jogar bombas, assaltar bancos, matar soldados é ser
encaminhado à justiça civil. Êste foi o tratamento que, por serem extremistas de direita,
os terroristas aprisionados em São Paulo tiveram por parte dêste mesmo Govêrno.
O Sr. Cid Carvalho – V. Exa. Permite um aparte?
O Sr. MÁRCIO MOREIRA ALVES – Um momento só, nobre Deputado Cid
Carvalho.
Mas o desvêlo do Govêrno para com os terroristas que com seus ideais comungam
é de tal ordem, que chegou a ordenar que os terroristas presos em São Paulo saissem do
DOPS e das prisões com um capuz na cabeça, para que não fôssem fotografados e para
que a imprensa não apontasse ao povo as suas fisionomias.
Ouço V. Exa., nobre Deputado Cid Carvalho, com muito gôsto.
O Sr. Cid Carvalho – Nobre Deputado Márcio Moreira Alves, V. Exa. pôde
presenciar, por ocasião da invasão da Tcheco-Eslováquia, a irrupção de revolta contra
aquela atitude despótica, por parte de diversos membros da ARENA. Naquele momen-
to, todos nós, que compomos a bancada da Oposição, viemos à tribuna para denunciar
aquela atitude, e denunciávamos porque, coerentemente, nos achamos, no plano inter-
no, engajados também numa luta contra o despostismo e pela restauração democrática
neste País. V. Exa. deve ter ouvido, em cochichos, diversas lamúrias de companheiros
da ARENA sôbre o quadro atual da vida brasileira. Ainda há pouco subia comigo no
elevador um parlamentar da ARENA, que, apavorado, me dizia, “O País está mar-
chando para o caos. Há um plano premeditado de marcha para a ditadura”. Mas o
que até, nobre Deputado, temos o direito de exigir é que os companheiros, aqui, dessa
Bancada ausente, sintam que têm o dever de lutar pela própria sobrevivência e que a
lamúria não há de ser a contribuição que êles possam dar para que o País saia dêsse
processo obscuro e realmente revoltante que atravessa neste momento. É verdade que
diversos parlamentares da ARENA não aceitaram a mera condição do silêncio e da
lamúria. Mas precisa muito mais.
É preciso que o clamor de todos os setores – e V. Exa. fala nos setores intelectuais,
de jornalistas, de professôres – é preciso que o clamor, nesta Casa, ultrapasse, de muito,
os limites de uma facção.
A ARENA, como um conjunto, pelos seus Parlamentares, está desafiada: ela que
se sensibilizou tanto pela posição brutal da União Soviética, ao invadir a Tcheco-
Eslováquia, tem de se sensibilizar mais e muito mais, quando aqui, internamente e tão
perto de nós, um processo muito mais brutal é usado, do que naquele longínquo rincão
da Europa. Era o aparte que queria dar a V. Exa.
mentares? 7ª) Sente-se o Govêrno solidário com o teor dessas notas? Se não estiver com
elas solidário, quais as medidas e quando pretende tomá-las para punir os responsáveis
por essa tentativa de ludibriar a opinião pública e por injúria a autoridade do Exército
e a membros do Congresso Nacional? 8ª) Pretende o Govêrno, no caso de instaurar o
tradicional “rigoroso inquérito”, adotar a norma geral de Direito Administrativo que
manda afastar de seus cargos as autoridades sob suspeita, enquanto o inquérito não fôr
concluído?
E, finalmente, a última pergunta, a que todos fazem nesta Casa, nas ruas, por
tôda parte: quando será estancada a hemorragia da Nação? Quando pararão as tro-
pas de metralhar na rua o povo? Quando uma bota, arrebentando uma porta de labo-
ratório, deixará de ser a proposta de reforma universitária do Govêrno? Quando tere-
mos, como pais, ao ver os nossos filhos saírem para a escola, a certeza de que êles não
voltarão carregados em uma padiola, esbordoados ou metralhados? Quando podere-
mos ter confiança naqueles que devem executar e cumprir as leis? Quando não será a
polícia um bando de facínoras? Quando não será o Exército um valhacouto de tortura-
dores? Quando se dará o Govêrno federal, a um mínimo de cumprimento de dever,
como é para o bem da República e para tranquilidade do povo?
O Sr. Mariano Beck – a presença de Vossa Excelência nesta tribuna, tratando
dos crimes na Universidade de Brasília, enseja-nos a oportunidade de transcrever nos
Anais desta Câmara um manifesto ontem divulgado pelo ‘Correio Braziliense’, de mães
e espôsas de Brasília, que se constitui, sem dúvida alguma, num dos mais dramáticos
documentos que se possa ler em tôrno dêsses dolorosos acontecimentos. Para que conste,
nobre Deputado, dos Anais da Câmara, peço licença a V. Exa. para lê-lo neste instante.
O Sr. MÁRCIO MOREIRA ALVES – Com o maior prazer.
O Sr. Mariano Beck –
‘As Mães e Espôsas de Brasília sentem chegada a hora de tornar público a sua
aflição e o seu repúdio pelas cenas de selvajaria e inominável violência que mais uma
vez ensangüentaram a Universidade de Brasília. Além das costumeiras prisões, foi
gravemente atingido a tiros o estudante Waldemar Alves da Silva, terceiranista do
Curso de Engenharia Mecânica.
O que nós Mães e Espôsas sempre desejamos é sòmente ver nossos filhos e maridos
estudando e trabalhando em paz e segurança, dentro de um Brasil capaz de atender
aos reclamos de uma juventude idealista e inteligente. No entanto o que vemos neste
grave instante nacional é justamente o oposto, isto é, tôdas as formas de brutalidade e
violência utilizadas contra jovens desarmados em massacres que contrariam nossas
mais caras tradições.
Exigimos, para a pacificação dos espíritos, a abolição definitiva de qualquer
forma de agressão contra os nossos filhos e espôsos, a eliminação do estado de insegu-
rança que também nos atinge – denunciado ao País em Manifesto pelos próprios
professôres da UNB aos quais somos muito gratos – e a realização de um inquérito
minucioso para a apuração das responsabilidades. Nossa luta é pela construção de um
Brasil melhor mais humano e mais justo.
Brasília, 31 de agosto de 1968.
Assina: Ana Laura Machado, Lila Gomes Covas e mais cento e sessenta e oito
senhoras’.
Como disse Vossa Excelência, para honra nossa, entre as assinaturas dêste mani-
festo consta um número enorme das de espôsas de colegas nossos, de homens da Lide-
rança da ARENA, que certamente condenam, como nós todos, a selvageria cometida
Quinta-feira passada.
O Sr. MÁRCIO MOREIRA ALVES – Agradeço a V. Exa. nobre Deputado, o
aparte.
Sr. Presidente, é bem verdade que a Liderança do Govêrno, nesta Casa, tornou-
se clandestina. Parece que o nobre Líder do Govêrno e seus Vice-Líderes, ou perderam
seus mandatos, ou perderam as suas falas. Mas, apesar disso, apesar dêste deserto que,
na primeira bancada do Plenário, pode ser constatado, tôdas as perguntas que faço são
objetivas e concretas. Não podem elas ter respostas com opiniões ou com a desinformação
que temos o costume, infelizmente para nós e para a dignidade do Congresso Nacional,
de ver por parte da Liderança do governista. Conforme as respostas que a elas forem
dadas por atos, por fatos, poderemos avaliar as verdadeiras intenções do Executivo.
Poderemos saber se êste Govêrno deseja realmente ser um instrumento de respeito às leis
e até aos direitos humanos mais comezinhos, ou deseja, pelo contrário, declara-se defi-
nitivamente um bando armado, que pela fôrça da opressão, mantém o poder e que no
poder deseja ficar apenas para de suas vantagens usufruir.
Conforme as respostas, conforme a definição que dêstes episódios teremos dêste
Executivo, poderá o povo brasileiro, poderemos todos nós que clamamos por paz, mas,
sobretudo, por justiça, tomar a medida do nosso futuro e saber o que neste futuro nos
espera: se a lei cumprida por quem deve cumprí-la ou se a lei imposta por nós mes-
mos. (Muito bem; muito bem. Palmas. O orador é cumprimentado.)”. Grifado pelo
compilador.
cadetes e namoram os jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje no Brasil, com que as
mulheres de 1968 repetissem as paulistas da guerra dos Emboabas e recusassem a
entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam a Nação, recusassem aceitar
aquêles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adian-
ta. Necessário se torna agir contra os que abusam das Fôrças Armadas, falando e
agindo em seu nome.
Creio Sr. Presidente, que é possível resolver esta farsa, esta ‘democratura’, êste
falso entendimento, pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e
qualquer contato entre civis e militares, deve cessar, porque só assim conseguiremos
fazer com que êste País volte à democracia. Só assim conseguiremos fazer com que os
silenciosos, que não compactuam com os desmandos dos seus chefes, sigam o magnífico
exemplo dos 14 oficiais de Crateús, que tiveram a coragem e a hombridade de,
públicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores.
(Muito bem.)”. Grifado pelo compilador.
Este pronunciamento passa despercebido dentro da Casa, sem maiores
comentários, e no sumário do Diário da Câmara dos Deputados, suplemento
ao nº 154, é apenas registrado como: “MÁRCIO MOREIRA ALVES – Momento
da união pela democracia”.
As denúncias feitas, no Plenário da Câmara dos Deputados, pelo Depu-
tado Márcio Emmanuel Moreira Alves (MDB-GB) incomodam os agentes ci-
vis e militares engajados na repressão e aos que não concordam com os cami-
nhos que estão sendo traçados pelos denominados “revolucionários de 31 de
março”. O pronunciamento realizado na sessão do dia 9 de fevereiro de 1968
é um outro exemplo de denúncia feita pelo referido parlamentar quando
trata, também, de reforma agrária e das condições dos trabalhadores da Zona
da Mata, em Pernambuco.
metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicotasse êste desfile. Êste boicote pode
passar também – sempre falando de mulheres – às moças, às namoradas, àquelas que
dansam com os cadetes e frequentam os jovens oficiais’.
2. Embora os referidos conceitos, de caráter e de responsabilidade pessoal do
deputado em apreço, no uso da liberdade que lhe é assegurada pelo regime instituido
com a Revolução de março, não exprimam o pensamento da Câmara mais represen-
tativa do Povo Brasileiro, na sua dignidade intangível e na respeitabilidade do seu
próprio decôro, é de considerar-se a ressonância com que êles ecoam no seio do Exér-
cito. Porque é êle uma Instituição Nacional que se destina, precisamente, e por jura-
mento de fidelidade, à defesa do regime e das Instituições Nacionais, entre as quais se
destaca o Congresso Nacional, pelo papel essencial que lhe cabe no fortalecimento da
democracia.
3. Está certo o Exército de que dentro da harmonia e da Independência dos
Poderes Constituidos (Art 6 da Constituição do Brasil), que as Fôrças Armadas têm a
missão constitucional de garantir (Art 92 da Constituição), a coibição de tais violênci-
as e agressões verbais injustificáveis contra a Instituição Militar constitui medida de
defesa do próprio regime, sobretudo quando parecem obedecer ao propósito de uma
provocação que só poderia concorrer para comprometê-lo.
4. A despeito da gravidade evidente das ofensas dirigidas pelo Deputado MÁRCIO
MOREIRA ALVES e do sentimento de repulsa com que elas ainda mais uniram os
militares, como integrantes de uma instituição a que tanto já deve a democracia brasi-
leira, o Exército continua empenhado em contê-las dentro da disciplina e da serenidade
das suas atitudes, obediente ao Poder Civil e confiante nas providências que Vossa
Excelência julgue devam ser adotadas.
Aproveito a oportunidade para apresentar a Vossa Excelência os meus protestos
de elevada estima e distinta consideração.
Assina: Aurélio de Lyra Tavares”. Grifado pelo compilador.
Após conhecimento do Presidente da República Marechal Arthur da
Costa e Silva (RS), o mesmo despacha, em 9 de setembro, ao Ministro da
Justiça Luís Antônio da Gama e Silva (SP), para conhecer e tomar as provi-
dências cabíveis.
Em 10 de setembro de 1968, é expedido o Aviso nº 26/68, confidencial,
do Chefe do Gabinete Militar, General-de-Brigada Jayme Portella de Mello
(PB), ao Ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva (SP), com o seguin-
te teor: “Senhor Ministro
Exposição de Motivos nº 01 – CONFIDENCIAL, de 5 do mês em curso em que
o Exmo Sr Ministro do Exército transcreve conceitos altamente ofensivos ao Exército,
emitidos pelo Deputado MARCIO MOREIRA ALVES, para as providências que o
Excelentíssimo Senhor Presidente da República julgar devam ser adotadas.
Tenho a honra de transmitir a V Exa o mencionado expediente, à vista do despa-
cho nele exarado por sua Excelência o Senhor Presidente:
‘Ao Exmo Sr Ministro da Justiça para conhecer e tomar as providência cabíveis,
no caso’.
Afim de coibir tais abusos e violências verbais contra os órgãos que devem defen-
der a Pátria e garantir os Poderes constitucionais a Lei e a Ordem me parece ser o
Deputado Federal MARCIO MOREIRA ALVES, passível de enquadramento no Art.
151, da Constituição do Brasil.
Aproveito a oportunidade para renovar a V. Exª. os protestos de minha alta
estima e distinta consideração.
Assina AUGUSTO HAMANN RADEMAKER GRUNEWALD – MINISTRO
DA MARINHA”. Grifado pelo compilador.
29 de setembro de 1968. Maracanãzinho. III FIC (Festival Internacio-
nal da Canção). Apresentador Hilton Gomes. O cantor Geraldo Vandré le-
vanta a multidão com a música “Caminhando – Pra Não Dizer Que não Falei de
Flores”. No texto da canção conclama: “Vem, vamos embora, que esperar não é
saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Pelos campos, há fome, em grandes
plantações. Pelas ruas marchando indecisos cordões. Inda fazem da flor seu mais forte
refrão. E acreditam nas flores, vencendo o canhão”. A canção de protesto é classifi-
cada em segundo lugar, sob as vaias do público, que a queriam em primeiro.
O compositor sai do festival consagrado como a grande voz da juventude
brasileira. Para o Governo Militar torna-se um inimigo a ser calado. Em pou-
co tempo, “Caminhando” é censurada e os compactos com a música, lançados
logo após o festival, recolhidos. Com a edição do AI-5, em dezembro, o com-
positor entra na clandestinidade e se exila no Chile.
2 de outubro de 1968. È expedido o Aviso nº 01486-B, Confidencial,
do Ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva (SP), ao Procurador-
Geral da República Decio Meirelles de Miranda, com o seguinte teor: “Senhor
Procurador-Geral – Tendo o Senhor Deputado Márcio Moreira Alves, nos dias 2 e 3
de setembro próximo passado, proferido, da tribuna da Câmara dos Deputados, dois
discursos altamente ofensivos às Fôrças Armadas e com evidente intuito de desmorali-
zá-las, visando a atentar contra a ordem democrática e às instituições nacionais, o
Excelentíssimo Senhor Ministro do Exército representou ao Excelentíssimo Presidente
da República, solicitando providências sôbre o problema criado, tendo sua Excelência a
mim remetido o expediente para os necessários estudos e providências aplicáveis ao
caso.
2. Posteriormente, os Excelentíssimos Senhores Ministros da Marinha e da Ae-
ronáutica a mim se dirigiram, com o mesmo objetivo e, assim apoiando a atuação do
Excelentíssimo Senhor Ministro do Exército.
3. Procedi, então, a meticuloso estudo do problema e o subordinei à deliberação do
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, concluindo pela aplicação ao referido
parlamentar da sanção política prevista no art. 151 da Constituição da República Fede-
rativa do Brasil, ou seja, a suspensão dos seus direitos políticos, pelo prazo de 10 (dez)
anos, a ser declarada pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, mediante representação
do Procurador-Geral da República, sem prejuízo da ação civil ou penal cabível, uma vez
que estava caracterizado o abuso do direito individual consagrado no § 8º do art. 150 da
mesma Constituição, com o objetivo de atentar contra a ordem democrática.
Soares, Paulo Sgeller, e Matta Machado, tendo-se como certa a prisão de todos os
presidentes das UEEs e representantes eleitos nos diferentes Estados da Federação”.
14 de outubro de 1968. Plenário da Câmara dos Deputados. O Depu-
tado Djalma Marinho Muniz Falcão (MDB-AL) faz seu pronunciamento onde
destaca a prisão de estudantes no Município de Ibiúna, interior do Estado de
São Paulo: “(...) Fui, Sr. Presidente, um daqueles que protestaram veemente contra a
invasão brutal do campus da Universidade de Brasília, e o fiz em consonância com a
maioria da Nação Brasileira, cuja consciência cívica repudiou aquêle ato de vandalis-
mo contra a Universidade da Capital da República.
Agora, Sr. Presidente, por uma questão até de coerência, de princípio e de cons-
ciência, venho a esta tribuna, neste momento nebuloso em que vivem as instituições
liberais do País, para, com a autoridade do meu passado de combatente, protestar
contra tôdas essas violências e condenar as arbitrariedades cometidas no último fim de
semana contra cêrca de mil universitários brasileiros que se reuniam pacificamente
numa cidade do interior do Estado de São Paulo.
Foi a intolerância do Govêrno, Senhor Presidente, no trato dos assuntos mais
sérios dos universitários brasileiros, que encurralou aquêles mil jovens patrícios numa
fazenda do interior paulista, e foi a certeza da impunidade que armou, mais uma vez,
o braço de policiais que se abateu sôbre os estudantes que se reuniam no interior de São
Paulo.
(...) Quero, levando, neste instante, mais uma vez a minha solidariedade aos
moços que, em todos os quadrantes do País, lutam, não pela implantação de um regime
de subversão, mas na defesa dos seus melhores ideais, que se confundem também com os
melhores ideais do povo brasileiro, externar sobretudo minha confiança no Congresso
Nacional, que, sendo o cérebro das decisões políticas dêste País, há de encontrar, pela
inteligência e pelo equilíbrio de seus componentes, uma saída honrosa para o impasse
institucional que está a se criar e que poderá levar o Brasil à noite tenebrosa de uma
ditadura sem entranhas, de uma ditadura que venha, finalmente, exterminar os últi-
mos alentos democráticos e liberais com que sonha o povo brasileiro (Muito bem.)”.
Grifado pelo compilador.
Todos nós aqui chegamos pela confiança que recebemos de uma parcela do povo
brasileiro, manifestada pelo voto secreto em eleições diretas. Esta confiança não é gra-
tuita. Representa o compromisso que assumimos com o pensamento e os interêsses da-
queles que nos elegeram para que aqui exprimíssemos os seus anseios. Assim entendo e
procuro viver o meu mandato. Os que em mim votaram não o fizeram iludidos. Sabiam
quem eu era e por isso me escolheram. O que pensava a respeito dos tempos que vivemos
no Brasil, a visão que tenho do futuro ao qual devemos aspirar, tudo isto era conhecido
de forma clara e precisa, pois que minhas opiniões longamente as expusera, através de
livros, de discursos, de programas de televisão e, sobretudo, de uma longa e diária
presença na imprensa.
Que visão é esta? Creio poder encontrar as suas raízes em uma profecia de Isaías:
(Cap. 65, vers. 17 a 25) “Pois eu vou criar novos céus e uma nova terra. O passado
não será mais lembrado, não volverá mais ao espírito, mas será experimentada a ale-
gria e a felicidade eterna daquilo que vou criar... Serão construídas casas que se habi-
tarão, serão plantadas vinhas das quais se comerá o fruto. Não mais se construirá para
que outro se instale, não mais se plantará para que outro se alimente. Os filhos de meu
povo durarão tanto quanto as árvores, e meus eleitos gozarão do trabalho de suas mães.
Não trabalharão mais em vão, não darão mais à luz filhos votados a uma morte repen-
tina”.
É por um mundo assim que batalhamos. É por um Brasil assim que não tememos
o sacrifício. O que prego, desde o princípio de minha vida pública, nesta Casa e fora
dela, é o estabelecimento de uma sociedade justa, onde todos possam viver livremente,
livremente exprimindo suas opiniões e tendências e recebendo oportunidades iguais de
desenvolverem os seus dotes humanos, sem sofrerem qualquer restrição por motivo de
côr, de crença e, sobretudo, de disparidades de fortuna. Assim entendo deva ser êste País
internamente, como entendo ainda que externamente deva ser soberano, sem filiar-se a
blocos internacionais políticos ou militares, sem de nação alguma, por mais poderosa
que seja, receber o ditado do seu comportamento e sem que os agentes de qualquer
nação, ainda que poderosa e amiga, possam em seu desenvolvimento influir
determinantemente. Acredito que todos nós tenhamos uma responsabilidade direta na
construção da paz social, como da paz internacional, responsabilidade esta que é tanto
maior quanto maiores forem os instrumentos de cultura, de fortuna e de poder de que
cada um disponha.
É-me lembrado frequentemente, nesta Casa, por amigos que à minha responsabi-
lidade apelam, por adversários que me procuram julgar, que sou um dos privilegiados
da sociedade brasileira. É verdade. Tenho disto a mais profunda e presada noção.
Procuro, por isso, transformar o que de mais eficaz os privilégios me deram, ou seja, a
possibilidade de acesso aos bens da cultura, que a noventa por cento dos brasileiros é
negada, em um instrumento que permita aos despojados de hoje serem os participantes
do amanhã. Quero crer, tal como Dom Antônio Fragoso expressou em uma carta recen-
temente publicada nos jornais, que nos cabe conscientizar o povo da realidade que o
cerca a fim de que, dispondo de todos os elementos necessários ao julgamento, possa êle
fazer livremente a opção pelo sistema social e econômico que às suas aspirações mais
perfeitamente atenda.
Tôda minha vida política foi e é norteada no sentido de poder eu prestar minha
colaboração à tomada de consciência do povo brasileiro quanto à sua própria realidade.
Sr. Presidente, não defendo o mandato que recebi para furtar-me à responsabili-
dade de responder por minhas palavras e opiniões. Nunca deixei de ser por elas pes-
soalmente responsável, como jamais deixei de exprimi-las. Ataquei governos e podero-
sos, quando a proteger-me tinha apenas a inviolabilidade de minha consciência. Nas
trincheiras da oposição passei minha vida de jornalista. Não abdiquei do meu dever de
opinar quando muitos calavam e o Presidente da República podia suspender
arbitràriamente direitos políticos.
Por que luto, então? Luto por solidariedade a esta Câmara, livre de pressões e
ameaças. Luto por solidariedade a todos e a cada um dos deputados, cujo dever de
dizerem o que pensam – ainda que pensem de modo totalmente contrário às minhas
opiniões – querem cassar. Luto porque cêdo aprendi a respeitar a Câmara dos Depu-
tados e, depois de a ela pertencer, aprendi a amá-la. Luto porque quero a Câmara
aberta e digna. Quero que daqui saiam as leis e as reformas que reconstruirão no Brasil
a democracia e estabelecerão a justiça social. Quero que o Congresso recobre algumas
das suas prerrogativas perdidas e conserve as que preservou.
Sei que a tentativa de cassar o meu mandato é apenas a primeira de muitas que
virão. Sei que o apetite, dos que a esta Casa desejam mal, é insaciável. Os que pensam
em aplacá-lo hoje, com o sacrifício de um parlamentar, estarão apenas estimulando a
sua voracidade.
Buscam os inimigos do próprio Congresso um pretexto. Acusam-me de injuriar
as Fôrças Armadas. Nos processos penais de injúria a ação é liminarmente suspensa
quando o acusado nega o seu ânimo de injuriar, e o acusador aceita a explicação. Nego
aqui e agora que haja, em qualquer tempo e lugar, injuriado as Fôrças Armadas.
(Palmas prolongadas). As Classes militares sempre mereceram e merecem o meu respei-
to. O militarismo, que pretende dominá-las e comprometer-lhes as tradições democráti-
cas, transformando-as em sua maior vítima, êsse militarismo – deformação criminosa
que a civis e militares contamina – impõe-se ao nosso repúdio.
Finalizo, Sr. Presidente, na esperança de que as angústias e sofrimentos que
atravessamos possam servir para o engrandecimento do Congresso e a liberdade da
Pátria. Os últimos dias foram pródigos em exemplos e lições. Um homem modesto,
suave e tranquilo mostrou ao Brasil que no momento da verdade transforma-se a dig-
nidade no cinzel que esculpe o herói. Djama Marinho soube recusar as honras para
ficar com a sua consciência. Juntamente com seus companheiros de partido,que foram
expurgados da Comissão de Justiça em nome de ideais a que se conservam fiéis, perso-
nifica a independência da Câmara. Vindo de outro Rio Grande, onde o sangue dos
peleadores firmou as fronteiras da Pátria, Daniel Krieger mostrou que estão vivas as
tradições de bravura dos gaúchos. É o verdadeiro e digno irmão do cavaleiro andante
Brito Velho.
Entrego-me agora ao julgamento dos meus pares. Rogo a Deus que cada um
saiba julgar, em consciência, se íntegra deseja manter a liberdade desta tribuna, que
livre recebemos das gerações que construíram as tradições políticas do Brasil. Rogo a
Deus que mereça a Câmara o respeito dos brasileiros, que possamos, no futuro, andar
pelas ruas de cabeça erguida, olhar nos olhos os nossos filhos, os nossos amigos. Rogo a
Deus, finalmente, que o Poder Legislativo se recuse a entregar a um pequeno grupo de
extremistas o cutelo da sua degola. Volta-se o Brasil para a decisão que tomaremos. Mas
só a História nos julgará! (Muito bem, muito bem. Palmas prolongadas. O orador é
cumprimentado)”. Grifado pelo compilador.
O Presidente da Câmara dos Deputados, José Bonifácio Lafayette de
Andrada (ARENA-MG) concede a palavra ao Deputado Mário Covas Júnior
(MDB-SP), na qualidade de Líder do Movimento Democrático Brasileiro
(MDB) – Minoria: “Sr. Presidente, permita V. Exa. e os meus pares que eu reivindi-
que, inicialmente, um privilégio singular: o de despir-se da roupagem vistosa da lide-
rança transitória, com que companheiros de partido me honraram, para falar na con-
dição de membro desta Casa, sem outra representação senão a outorga oferecida por
aquêles que para cá me enviaram. Será, talvez, um desvio regimental consentido, en-
tretanto, plenamente compreensível, já que a causa que somos obrigados a apreciar
sobrepaira, superpõe-se às próprias agremiações partidárias. Em sua análise, o coletivo
domina o individual, o institucional supera o humano, a impessoalidade há de ser o traço
marcante, eis que, hoje, esta Casa está sendo submetida a julgamento. Recolhida ao
banco dos réus, aguarda o veredicto que será exarado pelos seus próprios ocupantes.
Discute-se a validade de uma das suas mais caras prerrogativas, instrumento
essencial de seu funcionamento como poder, que é a inviolabilidade. Impugna-se seu
caráter absoluto, impondo-se-lhe restrições que a transformariam em princípio abstra-
to. Intenta-se, pelo dúbio caminho do transitório que somos nós, alienar algo que, por
ser propriedade da instituição, é permanente. Constesta-se, sob o império da razão
política, uma prerrogativa da qual não temos o direito de abdicar, porque, vinculada à
tradição, à vida e ao funcionamento do Parlamento, a êle pertence, e não aos parla-
mentares. Para isto, investem contra a Constituição exatamente aquêles que procla-
mam a sua excelência, que exaltam suas virtudes e que sustentam a sua imutabilidade.
(...) A acusação é o crime de injúria a uma instituição – as Fôrças Armadas. A
arma, a palavra. O instante: os dias em que atingiu o clímax, a alta tensão emotiva
emergente dos episódios relacionados com a invasão da Universidade de Brasília.
(...) Mas, Sr. Presidente, ouço sustentar que não só o argumento jurídico teria
razões para êste procedimento. Aqui e ali ouço que, ao analisar o problema sob o ângulo
político, diferente será o comportamento de cada um de nós.
Ainda aí, sustento eu, o individual não pode prevalecer sôbre as prerrogativas da
Instituição.
Um Poder soberano não delega, não transfere, é êle próprio juiz de seus atos. Há
de ter a independência e a grandeza de manter essa condição inalienável. E o Poder
Legislativo, exatamente para reservar-se essa condição, sábiamente estabeleceu limita-
ções regimentais para a inviolabilidade, fixando o Poder de Polícia pelo próprio órgão
diretor da Casa.
Ora, sendo o Legislativo, por definição constitucional, um Poder Independente,
juiz, portanto, de seus próprios atos, e dispondo de instrumental necessário ao exercício
dessa competência, infere-se uma conclusão iniludível: concedendo a licença, o Poder
Legislativo se estará autocondenando, pelo crime de omissão.
noturna. Às vinte e duas horas e vinte e cinco minutos, não tendo chegado,
ainda, os avulsos da Ordem do Dia, o Presidente da Câmara dos Deputados,
José Bonifácio Lafayette de Andrada (ARENA-MG) encerra a sessão, desig-
nando sessão ordinária para o dia 13, às treze horas e trinta minutos.
13 de dezembro de 1968. 13 horas e 30 minutos. 15ª sessão da Câmara
dos Deputados, da convocação extraordinária. Leitura da ata da sessão ante-
rior. Falam vários deputados. Ordem do Dia. Apresentação de proposições.
Encerramento de discussão de vários projetos. Às dezessete horas e quinze
minutos, o Presidente da Câmara dos Deputados, José Bonifácio Lafayette
de Andrada (ARENA-MG) encerra a sessão, antes, porém, designa Ordem
do Dia para a Sessão Ordinária do próximo dia 16, às treze horas e trinta
minutos e que será a mesma da sessão que se encerra.
À noite, desse mesmo dia, em um dos momentos mais cruciais da histó-
ria política e da cultura brasileira o Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama
e Silva (SP) convoca rede nacional de rádio e televisão e em tom sombrio
anuncia o Ato Institucional nº 5 (AI-5), e, com base nele o Ato Complementar
nº 38 que decreta o recesso do Congresso Nacional, sem prazo determinado.
Na Presidência da República, o Marechal Artur da Costa e Silva (RS) – 15/03/1967
a 31/08/1969. Na Presidência da Câmara o Deputado José Bonifácio Lafayette
de Andrada (ARENA-MG). Estabelece-se no País uma ditadura sem disfarçes.
Suspende as garantias constitucionais de vitaliciedade, inamovibilidade, es-
tabilidade e do “habeas corpus”. Concede ao Presidente da República, ouvido
o Conselho de Segurança Nacional, e sem limitações da Constituição, pode-
res para suspender direitos políticos de qualquer cidadão, por dez anos, e
cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais, e ainda, decretar o
recesso parlamentar (fechamento) do Congresso Nacional, das Assembléias
Legislativas e Câmaras Municipais. Enquanto o Congresso estiver fechado,
pode-se legislar por decreto e as punições decorrentes desse ato não são pas-
síveis de apreciação judicial. São suspensas as garantias dos juízes e dos fun-
cionários públicos; o de demitir ou reformar oficiais das Forças Armadas e
das Polícias Militares; suspensos o “habeas corpus” nos crimes políticos contra
a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.
Durante a noite vários jornais editados no País são visitados por agentes
do DOPS, da Polícia Federal e de censores. Censura prévia, apreensão e reco-
lhimento de edições. As estações de rádio e televisão também são censuradas.
O Jornal “O Estado de São Paulo” do dia 14 de dezembro destaca em sua
matéria de capa: “Nôvo ato; Congresso em recesso – O presidente da Câmara dos
Deputados, sr. José Bonifácio, declarou, após ouvir a leitura do Ato Institucional e do Ato
Complementar: ‘Obedecendo ao nôvo regime, declaro que nossa missão está encerrada’.
Antes declarara que o Brasil saia do Estado de Direito para entrar no de fato.
Êsse episódio, acrescentou, não é novo na vida política e parlamentar do Brasil e na de
outros povos do Ocidente. Êle resulta de crises profundas, de dificuldades do govêrno e
de mal-estar do povo.
Quadro/Foto nº 26
O Presidente da Câmara – Deputado
José Bonifácio Lafayette de Andrada
Quadro/Foto nº 26/A
O Presidente da República – Marechal
Artur da Costa e Silva
Godinho – Padre (SP), Breno Dhalia da Silveira (GB), Camilo Silva Montenegro
Duarte (PA), Celso Fortes do Amaral (SP), Cid Rojas Américo de Carvalho (MA),
Edésio da Cruz Nunes (RJ), Edson Moury Fernandes (PE), Epílogo Gonçalves de
Campos – suplente – (PA), Erivan Santiago França – suplente (RN), Getúlio Barbosa
de Moura (RJ), José Bernardo Cabral (AM), José Colagrossi Filho (GB). José Maria
Alves Ribeiro (RJ), Marcial do Lago – Suplente em exercício – (MG), Mário Gurgel
(ES), Mario Maia (AC), Ney de Albuquerque Maranhão (PE), Paulo Campos (GO),
Paulo Freire de Araujo (MG), Pedro Moreno Gondim (PB), Renato Celidônio (PR),
Sady Coube Bogado (RJ), SimãoVianna da Cunha Pereira (MG), Waldyr de Mello
Simões (GB), e Wilson Barbosa Martins (MT)”. Grifado pelo compilador.
não podendo emendá-los, e se, nesse prazo, não houver deliberação, o texto
será tido por aprovado. O Presidente da República será eleito pelo sufrágio
de um Colégio Eleitoral, composto de membros do Congresso Nacional e de
delegados das Assembléias Legislativas dos Estados, em sessão pública e me-
diante votação nominal. O mandato presidencial será de cinco anos. O Presi-
dente e o Vice-Presidente da República, eleitos na forma do Ato Institucional
nº 16, de 14 de outubro de 1969, terminarão seus mandatos em 15 de março
de 1974. Consagra a aprovação dos atos praticados pelo Comando Supremo
da Revolução e a sua exclusão de apreciação judicial.
22 de outubro de 1969. 15 horas. Plenário do Congresso Nacional.
Sessão Solene destinada à instalação da Terceira Sessão Legislativa Ordinária
da Sexta Legislatura (posteriormente renumerada). De acordo com o Ato
Complementar nº 72, o Parlamento é reaberto após dez meses de recesso,
para tratar da eleição do novo Presidente e Vice-Presidente da República. Em
mensagem ao Congresso Nacional, encaminhada pelo Governo Provisório
(Junta Militar), o Presidente da República Artur da Costa e Silva (RS) assim se
expressa sobre o dia 13 de dezembro de 1968: “(...) A edição do AI-5 e a dos Atos
subseqüentes configuraram procedimento típico de salvação pública, impôsto por grave
emergência. (...) Podendo ter dissolvido o Congresso, já que fôra compelida a retomar o
seu impulso de origem, a Revolução preferiu declará-lo em recesso, mantendo-o vivo e
legitimando-o como instituição vital do sistema democrático. (...) Quero afirmar ao
Congresso Nacional que o Brasil fêz, em 1964, uma opção definitiva ao rumo indicado
por sua tradição liberal e cristã. Neste sentido, o 13 de dezembro nada mais foi que a
confirmação do 31 de março, assim como a recente promulgação da Emenda Constitu-
cional nº 1 confirma e revigora o 24 de janeiro, quando a Revolução espontâneamente
restaurou, aprimorando-o, o nosso sistema constitucional”.
Mas, ainda que se admitisse essa versão, como explicar a falta de vigilância, se
ele estava confiado à guarda de autoridade? E, mais ainda, se outros suicídios ocorre-
ram, ultimamente, no mesmo local e nas mesmas circunstâncias?
Se se admite o suicídio, é o caso de perguntar que tipo de pressão, de atemorização,
de maus tratos estariam sendo inflingidos aos presos para que eles preferissem a morte?
Todas estas perguntas ficam na mente de cada um dos profissionais de imprensa
do País, porque o que acontece a um pode acorrer a outros.
É certo que o II Exército expediu comunicado, onde informa que Vladimir Herzog,
Diretor responsável do Departamento de Jornalismo da TV-Cultura, confessara, por
escrito, que pertencia ao Partido Comunista e que “cerca das 16 horas, ao ser procura-
do na sala onde fora deixado desacompanhado, foi encontrado morto, enforcado, tendo
para tanto utilizado uma tira de pano”, e que “o papel contendo suas declarações foi
achado rasgado e em pedaços”, com a assinatura ilegível.
Ao lado da versão oficial, a nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Estado de São Paulo, que, por sua vez, recebeu a solidariedade da Federação Nacional
dos Jornalistas, é esclarecedora quanto aos acontecimentos na sexta-feira, quanto à sua
apresentação no Sábado, à hora marcada, quanto à sua morte, apontada como por
“asfixia mecânica por enforcamento” em hora ignorada.
(...) Os colegas do jornalista morto, independentemente das convicções políticas
que ele porventura abraçasse, levaram, hoje, seu corpo ao Cemitério Israelita do Butantã,
na Capital de São Paulo.
Os familiares não puderam ver seu corpo, embora tivessem tido notícia de que
apresentava equimoses generalizadas.
(...) O Sr. Presidente da República tem hoje ao seu exame o apelo nacional, que
é feito à suprema autoridade do País, no sentido de que presos ou processados devam
responder aos inquéritos na forma da lei e dentro dos princípios universais de respeito
à pessoa humana.
Estranha circunstância a desse triste acontecimento, quando se recorda que os
pais de Vladimir Herzog fugiram da barbárie nazista para que os filhos pudessem
viver numa Pátria de justiça e de paz.
Seu corpo repousa sob a fria lousa de um cemitério paulistano, mas a classe não
enterra seus propósitos de apurar a verdade dessa morte a disposição de impedir que
esses acontecimentos se repitam. (Palmas.)”. Grifado pelo compilador.
Meses depois, no dia 17 de janeiro de 1976, a morte do operário
metalúrgico Manuel Fiel Filho, em circunstâncias semelhantes, no mesmo
local, causa indignação e revolta na sociedade brasileira e evidencia a existên-
cia de divergências com os setores militares contestadores da política adotada
pelo Governo. O processo de distensão política entra em quarentena. O Ge-
neral Ednardo D’Ávila Melo é exonerado do comando do II Exército. Assu-
me o General Dilermando Gomes Monteiro (MT).
1º de julho de 1976. O Congresso Nacional decreta e o Presidente da
República, General-de-Exército Ernesto Geisel (RS), sanciona a Lei nº 6.339,
que “dá nova redação ao artigo 250 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, altera-
do pelo artigo 50, da Lei nº 4.961, de 4 de maio de 1966, e ao artigo 118 da Lei
servidor do povo, ao amigo de todos, que horas antes a morte tragicamente nos arreba-
tara. Ela resumia, naquele instante, a alma de quase cento e dez milhões de brasileiros
espalhados na vastidão do nosso território, que naquela mesma hora, tomados da mes-
ma emoção, unidos na mesma dor, carpiam o líder excepcional, cujo desaparecimento
colocava em destaque a lição digna e luminosa de sua vida tecida no estudo, no traba-
lho, na bondade e na inquebrantável fidelidade aos valores perenes da Pátria. (Pal-
mas.) Houve em cada lar uma prece, em cada alma uma lágrima, em cada coração um
voto de pesar e de saudade.
É que Juscelino Kubitschek de Oliveira pertencia àquela rara estirpe do herói de
Sófocles na ‘Antígona’. Não viera para partilhar o ódio, viera para distribuir o amor.
As nacionalidades dependem muito de sua configuração física, dos acidentes
imprevisíveis e incontroláveis de sua formação dos entes telúricos que lhes vincam a
índole e a vocação. Mas não há notícia na História de que nenhuma delas se haja
transformado em nação poderosa, digna e culta, sem a presença de condutores clarivi-
dentes e proféticos, de guias seguros e carismáticos, de líderes sábios e generosos.
São os predestinados que, com as suas mãos fortes e rígidas, sabem argamassar as
virtudes e os defeitos do seu povo para torná-lo viril e dinâmico, com olhar fito no
futuro, para rasgar nos horizontes a perspectiva iluminada do destino. (Palmas.)
(...) Crescemos, fortalecemo-nos e nos dignificamos sempre na linha da generosi-
dade cristã, no respeito do direito, no culto da liberdade, sem a qual as nações se trans-
formam em imensos campos de concentração e os povos se estiolam no medo, na covar-
dia e na mediocridade. (Palmas.)
(...) Seria fastidioso descerrar as monumentais realizações de Juscelino Kubitschek
de Oliveira na Presidência da República. E não apenas fastidioso, de todo desnecessá-
rio, porque elas estão gravadas, em letras de fogo e para sempre, na gratidão nacional.
Mas não se pode falar de Juscelino Kubitschek de Oliveira sem falar de Brasília, o que
seria uma omissão imperdoável.
(...) Lutou e muito sofreu para construí-la. Teve de enfrentar pressões externas e
internas insuportáveis. Quando se viu só na sua determinação, apelou para o candango,
em cujos músculos, como numirífico avatar, se alojara o arrojo dos bandeirantes.
(...) Brasília foi, no passado, o seu desafio; hoje é a sua afirmação e, amanhã há
de ser o marco eterno de sua glória.
(...) Cassaram-no, é verdade. Baniram-no da vida pública. Os vilipêndios que
amarguraram os últimos anos de sua vida não o abateram, nem o diminuíram: ele
cresceu no coração do povo. (Palmas prolongadas.) Na sua humildade cristã, ele en-
controu a força da altivez e da honra para enfrentar e suplantar as maquinações do
ódio.
Os interrogatórios inquisitoriais não demoliram o seu ânimo. As ameaças do
terror não o amendrontaram. Mas no exílio ele se entibiou e sofreu. A saudade da
Pátria distante e o pavor de que não pudesse mais revê-la angustiavam-no e penetra-
vam no seu coração como uma agonia.
(...) O exilio era o toque que faltava para compor a imagem histórica de Juscelino
Kubitschek de Oliveira, foi a moldura de ouro de sua radiosa personalidade e da sua
permanente presença nos acontecimentos do seu tempo.
(...) Sr. Presidente, Srs. Deputados, seja-me permitido, antes do término desta
oração que os sentimentos me vão ditando e que pronuncio por honrosa delegação da
Direção Nacional do Movimento Democrático Brasileiro, que eu quebre, de leve, o
protocolo solene desta magna e histórica sessão da Câmara dos Deputados para dirigir
uma palavra à Exmª Srª. D. Sarah Kubitschek de Oliveira (Palmas prolongadas), que
nestes dias tristes nos surpreende com as resistências espartanas do seu espírito. O
preclaro Presidente Juscelino Kubitschek, estilista primoroso, como prosador e orador,
nunca, ao que me conste, em qualquer fase da sua vida, buscou no ritmo e na rima a
expressão de suas emoções. Sei, porém, que talvez o único verso de sua lavra ele o
compôs para a sua consorte incomparável, companheira no esplendor e no tormento, e
o fez esculpir numa placa que, em sua homenagem e reconhecimento do muito que dela
recebera de encorajamento, ternura e amor, afixou na sua fazenda de Luziânia. É
singelo e de emocionante beleza: ‘Solar de Dona Sarah, que, com exemplar dignidade,
foi Primeira Dama de Belo Horizonte, de Minas, do Brasil e é desta casa.’ (Palmas.)
Assistimos à antecipação do seu julgamento histórico, à sua intronização no
Pantheon da Pátria, um ato público, patético, solene e majestoso de revogação de todas
as injustiças e agravos que os ódios e as paixões lhe irrogaram. (Palmas.)
(...) Outro assim, para repetir o vate andaluz, tardará muito a nascer.
Diante do seu vulto, que a morte transfigura e ilumina, com os clarões da imor-
talidade, elevando-o aos páramos onde se encontram os espíritos tutelares da Pátria,
outras palavras não encontro, para encerrar esta oração, senão aquelas que o gênio de
Shakespeare, na mais famosa de suas tragédias políticas, colocou nos lábios de Marco
Antônio, diante do cadáver mutilado de César: ‘Dos nobres era o mais nobre. A sua
vida era pura. Os elementos que compunham o seu ser, de tal forma nele se conjuga-
vam, que a natureza inteira poderia levantar-se e bradar ao Universo: aqui está um
Homem.’ (Palmas prolongadas. O orador é vivamente cumprimentado.)”. Grifado pelo
compilador.
Quadro/Foto nº 27
O Presidente da Câmara, Deputado Marco Antônio de Oliveira Maciel,
com o Ministro do Planejamento e Coordenação Geral João Paulo
dos Reis Velloso e o Deputado José Alencar Furtado
Quadro/Foto nº 27/A
O Presidente da República – General-de-Exército Ernesto Geisel
gravidade do fato, que a Mesa adote providências para que fatos dessa natureza não
se repitam, e mais ainda, para que as portas permaneçam abertas, independente-
mente das galerias estarem lotadas, a fim de que o povo – já que esta Casa é do povo
– tenha oportunidade de participar, de assistir aos nossos trabalhos... (Manifestações
das galerias.)
O SR. PRESIDENTE (Lourival Baptista) – As galerias não podem se manifes-
tar. Está com a palavra o nobre Sr. Deputado José Costa.
...tenha a oportunidade de assistir à votação desta matéria, que é da maior rele-
vância para o País. Muito Obrigado a V. EXª.” Grifado pelo compilador.
O Deputado Antônio Tidei de Lima (MDB-SP) reforça a denúncia: “(...)
Como Membro da Mesa da Câmara dos Deputados, tive o cuidado de chegar ao Con-
gresso Nacional às 7 horas e 15 minutos, e encontrei as galerias todas tomadas. Para
informar a V. Exª, colhi junto à Segurança da Câmara que 10 minutos para às 7
horas, quando aqui chegaram os funcionários da Câmara dos Deputados, a quem está
encarregado o serviço de segurança da Casa, eles já encontraram mais de 700 solda-
dos da Polícia da Aeronáutica, Sr. Presidente, os quais aqui não estão na sua condição
de civis. Observa-se claramente que há uma verdadeira operação militar de ocupação
desta Casa. É legítimo Sr. Presidente? É legítimo? (Palmas.)
S. Exª foi mal informado, quando disse que as portas do Congresso foram abertas
ás 7 horas; as portas do Congresso não foram abertas. Pelo Anexo I do Senado, antes
das 7 horas, foi permitida a invasão militar que se observa nesta Casa, neste momento.
É o nosso protesto, o protesto veemente, não apenas de um membro do MDB, mas de um
membro da Câmara dos Deputados que se sente responsável para assegurar também ao
povo o legítimo direito de poder acompanhar os trabalhos na Casa do povo!
Sr. Presidente, fica registrado o nosso protesto contra essa operação mascarada,
pois não tiveram inclusive o cuidado de trazer cabeleira postiça para não serem
indentificados.
Fica registrado, Sr. Presidente”. Grifado pelo compilador.
É apresentado requerimento de preferência para votação do substitutivo
subscrito pelos Deputados Ulysses da Silveira Guimarães (MDB-SP) e José
Freitas Nobre (MDB-SP) e pelo Senador Paulo Brossard (Emenda nº 7) que
trata de uma anistia mais ampla. Colocado em votação, o pedido de prefe-
rência é rejeitado.
À proposta do Governo são incorporadas algumas emendas acolhidas
pelo Substitutivo do Relator da Comissão Mista, Deputado Ernani Ayres Sátyro
de Sousa (ARENA-PE), aperfeiçoando e ampliando o texto a ser votado. Es-
tende a anistia aos estudantes, sindicalistas, empregados de empresas priva-
das que participaram de greves e foram destituídos ou demitidos; aos crimes
eleitorais; além de descentralizar, para mais rápida apreciação e decisão, os
requerimentos que seriam submetidos diretamente ao Ministro da Justiça.
Amplia a abrangência do direito à anistia até 15 de agosto do ano em curso;
a possibilidade de o cônjuge ou parente de pessoas desaparecidas requerer
declaração de ausência; anistia aos que, encontrando-se no exílio, ficaram
sobre a autoria do atentado. Só que quem não chegou à mesma conclusão foram as
chamadas cúpulas militares do I Exército e da Secretaria de Segurança do Estado do
Rio de Janeiro”. Grifado pelo compilador.
Os Deputados Elquisson Dias Soares (PMDB-BA), Walter da Silva
(PMDB-RJ), José Wilson Siqueira Campos (PDS-GO), Adhemar Santillo
(PMDB-GO), Carlos Gomes Bezerra (PMDB-MT), Iram de Almeida Saraiva
(PMDB-GO), Octacílio Nóbrega de Queiroz (PMDB-PB), Nilson Alfredo
Gibson Duarte Rodrigues (PDS-PE), João Faustino Ferreira Neto (PDS-RN),
Leorne Menescal Belém de Holanda (PDS-CE), José Mário Frota Moreira
(PMDB-AM), Jorge Wilson Arbage (PDS-PA), Antonio José Miguel Feu Rosa
(PDS-ES), Jose Guilherme de Araújo Jorge (PDT-RJ), Odacir Klein (PMDB-
RS), Carlos Alberto Cotta (PP-MG), José Hugo Mardini (PDS-RS), Magnus
Francisco Antunes Guimarães (PDT-RS), Aurélio Peres (PMDB-SP), Sílvio de
Andrade Abreu Júnior (PP-MG) se revezam na tribuna do Plenário para de-
nunciar o fato e solicitar providências do Governo.
18 de setembro de 1981. Rio de Janeiro. O Presidente da República,
General-de-Exército João Batista de Oliveira Figueiredo (RJ), sofre um enfarte.
É hospitalizado e logo transferido para Cleveland, nos Estados Unidos. Assu-
me o Vice-Presidente Antônio Aureliano Chaves de Mendonça (MG).
5 de abril de 1982. Câmara dos Deputados. Plenário. O Deputado
Audálio Ferreira Dantas (PMDB-SP) faz a seguinte denúncia: “Sr. Presidente,
Srªs e Srs. Deputados, repetidas vezes tenho ocupado esta tribuna para dizer que esta
Nação, a partir do início do chamado processo de abertura, vive um regime de liberda-
de vigiada. Todas as liberdades públicas neste País são efetivamente concedidas a título
precário. Basta examinarmos a questão da liberdade de informação, que determina
todas as demais, pois sem um mínimo de liberdade de informação nenhuma das outras
liberdades subsiste. É sempre oportuno lembrar que, apesar da queda do AI-5, outros
instrumentos que cerceiam a liberdade de informação permanecem em vigor. Além dos
artigos específicos da Lei de Segurança Nacional, está em vigor o Decreto-Lei nº 1.077,
de 1969, que estabelece a censura prévia nos veículos de informação. A lei de impren-
sa, que, comparada com esses instrumentos, pode ser considerada liberal, continua em
vigor e sendo utilizada freqüentemente pelos donos do Poder contra os jornalistas. São
constantes as investidas contra a liberdade de informação. Ainda há pouco, no Rio de
Janeiro, um censor da Polícia Federal anunciou a sua disposição de impedir até a
propaganda de absorventes femininos na televisão, por considerá-la uma imoralidade.
E todas as vezes que esses setores do obscurantismo anunciam suas cruzadas moralistas,
a pretexto de salvaguardar a moralidade pública, tem-se verificado graves prejuízos à
liberdade de expressão. A censura moral termina sistematicamente na censura política.
Quando S. Exª o Presidente da República anuncia a sua cruzada moralista, não
podemos deixar de temer a censura política.
Agora mesmo um filme que enfoca os dias mais negros deste regime, intitulado
‘Prá Frente Brasil’, do Diretor Roberto Farias, está ameaçado de interdição total. A
decisão deverá ser tomada hoje pela Censura Federal. E essa decisão, que não será,
certamente, de caráter rotineiro, poderá indicar se este País está a caminho de uma real
abertura ou se descerá ao abismo da prepotência e do obscurantismo. A decisão indica-
rá também se o País não está de volta aos dias mais terríveis inaugurados por este
regime. Ao que tudo indica, a Censura Federal não decidirá hoje segundo os critérios de
seus zelosos funcionários, mas sob pressão ou determinação expressa de setores do poder
que se consideram com o direito de decidir o que é bom e o que é mau para esta Nação.
O noticiário dos órgãos de comunicação, nos últimos dias, trouxeram, com bastantes
detalhes, informações a respeito das decisões que vêm sendo tomadas pela chamada
comunidade de informações, a respeito desse filme e que levaram, até agora, à demissão
do Presidente da EMBRAFILME, Sr. Celso Amorim. A situação criada com essa de-
missão, e claramente ligada ao filme ‘Prá Frente Brasil’, revelam-nos uma situação
extremamente grave, na qual desempenham papel preponderante os setores ‘duros’, que
consideram o filme de Roberto Farias ofensivo ao regime ou aos militares.
Mas que ofensa ao regime conterá esse filme? Segundo o noticiário, o filme ‘Prá
Frente Brasil’ retrata um episódio dos tempos ainda recentes do Ato Institucional nº 5,
principalmente sob o Governo do Gen. Médici. Naqueles dias, ao mesmo tempo em que
se propagandeava um Brasil novo, um Brasil gigante, um Brasil que progredia, um
Brasil que festejava as vitórias do futebol na Copa do Mundo em 1970, havia a escuri-
dão dos ‘porões’ do regime, onde se torturava e se matava. O filme conta a história de
um cidadão preso por engano e levado por grupos paramilitares para lugar ignora-
do e submetido a torturas. Ora, estes fatos ocorreram – e isto está registrado já pela
História.
(...) eu mesmo sou testemunha de fatos semelhantes aos que são narrados nesse
filme. Como Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, de 1975 a 1978,
principalmente no segundo semestre de 1975, ouvi vários depoimentos de companhei-
ros jornalistas que foram apanhados nas ruas, nas suas casas ou nos seus locais de
trabalho e levados para lugares onde foram submetidos a tortura. A morte de Vladmir
Herzog, em 1975, foi um desses episódios.
(...) ‘A parte da História do Brasil que ainda não foi contada’, na opinião do ator
Antônio Fagundes; “Um filme que cria e transmite a quem o vê a atmosfera densa e
tensa da insegurança, da delação e de medo de uma década que começa no Governo
Costa e Silva, incorpora o período curto mas tenebroso da Junta Militar, atravessa toda
a mistificação de euforia e milagre para fora do negro mandato sob censura e tortura
do Governo Médici e vai implodir com a morte de Wladimir Herzog, com o sacrifício do
operário Manuel Fiel Filho e com a demissão do General Ednardo Mello do comando
do II Exército nos meados do mandato do Presidente Ernesto Geisel”. Grifado pelo com-
pilador.
No dia 12 de abril o Deputado José Guilherme de Araújo Jorge (PMDB-
RJ) assim se posiciona sobre os fatos: “Sr. Presidente, Srs. Deputados, cineastas
brasileiros, produtores cinematográficos, artistas, técnicos em espetáculos de diversões
públicas, documentaristas, através de suas entidades de classe enviaram telegrama ao
Ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel solicitando a libertação do filme ‘Prá Frente
Brasil’, de Roberto Farias, pois sua proibição constitui o que denominam ‘um grave
desserviço à democracia’.
sistema distrital misto, majoritário e proporcional”. Grifado pelo compilador. Este siste-
ma não chega a ser implantado, pois é revogado pela Emenda Constitucional
nº 25, de 15 de maio de 1985.
noite, dos Srs. Deputados Aldo Arantes e Jacques D’Ornellas, cuja ocorrência levou
pessoalmente ao conhecimento do Sr. Ministro da Justiça, no sentido de providenciar a
libertação dos mesmos, apresenta o seu veemente protesto contra o ocorrido e a forma
insultuosa com que foram tratados. Brasília, 25 de abril de 1984. Deputado Flávio
Marcílio, Presidente.”
“Ao apoiar essa medida, esta nota vigorosa do nosso eminente Presidente da Câ-
mara, quero apresentar a minha solidariedade aos dois colegas insultados e protestar
contra um General arbitrário que não sabe cumprir com o seu dever.”
O Parecer, proferido oralmente pelo Deputado Ernani Ayres Satyro e
Sousa (PDS-PB), é contrário à Proposta e as de nºs 6, 8 e 20, de 1983, que
com ela tramitam.
O Deputado Dante Martins de Oliveira (PMDB-MT), autor da Proposta
de Emenda à Constituição de nº 5/83 e que foi subscrita por outros 175 depu-
tados e 24 senadores tem a palavra pela Liderança do PMDB: “Sr. Presidente,
Srs. Congressistas, às dezoito horas de ontem, Brasília sintonizava o Brasil e os brasi-
leiros através de uma sintonia de buzinas, que saía, não dos automóveis, mas do cora-
ção de todos os brasilienses. Naquele instante, os 130 milhões de brasileiros rompiam a
censura arbitrária imposta pelas medidas de emergência. A Brasília sitiada, cercada,
ofendida, marcava o seu protesto, ao mesmo tempo em que se solidarizava com milhões
de patrícios nossos que ocuparam, nos últimos meses, as praças e ruas, no maior movi-
mento cívico já realizado na História deste País.
(...) Sr. Presidente, Srs. Congressistas quero afirmar, neste momento, que a Emenda
Constitucional nº 5, que levou meu nome, não me pertence, nem ao PMDB nem aos
partidos de Oposição; ela pertence a toda a Nação, a todo o povo brasileiro, porque
traduz o sentimento, a angústia e, principalmente, a esperança de melhores dias para
130 milhões de brasileiros.
Sr. Presidente, está em nossas mãos o destino deste País. O Congresso Nacional,
hoje, é alvo de toda a atenção nacional, e muito mais, representa a esperança da Pátria
e do povo brasileiro. Está em nossas mãos a saída pacífica para os graves problemas
econômicos, sociais e políticos que nos envolvem hoje. Está em nossas mãos a própria
sobrevivência desta instituição enquanto poder, respeitada pela opinião pública en-
quanto poder, que tem como tarefa histórica a consolidação da democracia brasileira.
Está em nossas mãos, Sr. Presidente, Srs. Congressistas, a soberania nacional, hoje
violentada, conspurcada, pisoteada, negociada, humilhada, o que revolta todos aque-
les que amam nossa Pátria, que amam nosso povo. Está em nossas mãos o futuro
grandioso do Brasil, do Brasil-vida, do Brasil-educação, do Brasil-saúde, do Brasil-
amor, do Brasil fraterno, do Brasil justo, do Brasil livre, do Brasil democrata e do
Brasil soberano. Hoje é o dia da vitória deste Congresso Nacional. Felicidades a todos
os Congressistas! (Palmas.). Grifado pelo compilador.
A Mesa do Congresso Nacional proclama o resultado da votação: 298 –
“SIM”; 65 – “NÃO”; 3 abstenções.
Os votos, embora majoritários, não alcançaram o quorum constitucional neces-
sário à aprovação da matéria. A proposta está rejeitada.
Rejeitada pela Câmara, deixa a matéria de ser submetida ao Senado Federal.
(...) O grito colossal, orquestrado e reivindicatório de ‘Diretas Já’ foi o grito con-
tra o autoritarismo que rasga o título eleitoral para massacrar o cidadão; contra a
recessão que condena à fome e ao desespero milhões de desempregados; contra a infla-
ção como imposto maldito e clandestino, sacrificando a pobreza e as donas-de-casa; é
rejeição da economia garroteada pela especulação e do pagamento da dívida externa à
custa de salários e da paralisação do desenvolvimento.
(...) Um sopro místico inspira e transfigura o povo. É a alegria, a esperança, a
comunhão, é o estado de graça. Está na Bíblia que a graça é o Senhor, seu parentesco
com homem é ato de purificação e de entrega. É ato de entrega ao povo e não do povo,
pois ao povo tudo se entrega, a Geografia como País, a Economia pela Justiça Social, os
políticos estão numa entrega total, apaixonante e incorruptível, pois, numa democra-
cia, ele é o Soberano; brilham sobre ele o sol para brotarem do solo as colheitas e as
estrelas como um desafio para que chegue até elas. O povo não se entrega. Só pode ser
entregue pelos traidores.
A Nova República, com novos homens e novos compromissos, inaugura um novo
tempo para a Pátria, renovada na dignidade da Democracia e no inconspurcado res-
peito à soberania popular. (Palmas.)”. Grifado pelo compilador.
A votação é feita pelo processo nominal.
“Respondem à chamada e votam no nome do Sr. Deputado Paulo Salim Maluf
180 membros do Colégio Eleitoral.
Respondem à chamada e votam no nome do Dr. Tancredo de Almeida Neves 480
membros do Colégio Eleitoral.
São apuradas 17 abstenções.
São proclamados eleitos Presidente e Vice-Presidente da República Federativa do
Brasil, respectivamente, Sua Excelência o Dr. Tancredo de Almeida Neves e Sua Exce-
lência o Sr. Senador José Sarney, para o período a iniciar-se a 15 de março de 1985.
Levanta-se a sessão às doze horas e trinta minutos.”
A legislação eleitoral no período compreendido entre a deposição do
Presidente da República João Belchior Marques Goulart (RS) e a eleição de
Tancredo de Almeida Neves (MG) foi marcada por uma sucessão de atos
institucionais e emendas constitucionais, leis e decretos-leis com os quais os
militares conduziram o processo eleitoral de maneira a adequá-lo aos seus
interesses, visando ao estabelecimento da ordem preconizada pelo revolução
de 1964 e à obtenção de uma maioria favorável ao Governo. Com esse obje-
tivo, altera-se a duração de mandatos, cassam-se direitos políticos, decretam-
se eleições indiretas para presidente da República, governadores dos estados
e dos territórios e estâncias hidrominerais; instituem-se as candidaturas na-
tas, o voto vinculado, as sublegendas; altera-se o cálculo para o número de
deputados na Câmara, com base ora na população, ora no eleitorado, privile-
giando estados politicamente incipientes em detrimento daqueles tradicio-
nalmente mais expressivos, reforçando assim o poder discricionário do Go-
verno.
Após a eleição, o Presidente eleito Tancredo de Almeida Neves (MG),
em visita ao Estado do Rio de Janeiro, convida o Professor Afonso Arinos de
Quadro/Foto nº 28
O Dr. Tancredo de Almeida Neves
Quadro/Foto nº 28/A
O Presidente da Câmara – Deputado Ulysses Silveira Guimarães
Quadro/Foto nº 28/B
O Presidente da República – José Sarney Costa
nário em relação à doença do presidente eleito Tancredo Neves. Que nos traga as
últimas notícias verdadeiras sobre o estado de saúde de S. Exª.”.
Responde o Ulysses Silveira Guimarães (PMDB-SP): “(...) Efetivamente,
tive a comunicação de que os médicos constataram a necessidade de uma quarta inter-
venção, devido a uma hérnia que estava comprimindo a alça dos intestinos. Esta ope-
ração já está sendo feita, e a informação lacônica, evidentemente, por circunstâncias
óbvias, é que se está esperando os boletins médicos circunstanciados para termos os
informes.
(...) Contudo, os médicos estão seguros de que poderão ser felizes nesta interven-
ção, e acreditam que, pelo estado geral do presidente, revelado até agora, ele venceria
mais esta provação”.
12 de abril de 1985. Câmara dos Deputados. Plenário. O Deputado
Leorne Menescal Belém de Holanda (PDS-CE) faz a seguinte solicitação: “(...)
Sr. Presidente, a Casa aguarda com ansiedade a sua palavra. Naturalmente, não
constituiria qualquer constrangimento para o orador ouvir de V. Exª. palavras que
trouxessem a este Plenário – e através dele a toda a Nação – informações proporcio-
nando a tranqüilidade que todos esperamos em função dos noticiários mais recentes
sobre o estado de saúde do Presidente Tancredo Neves, que preocupa a todos nós. Natu-
ralmente, se V. Exª. tem alguma informação a prestar à Casa, Sr. Presidente, eu apelo
no sentido de que o faça neste instante, para que a nossa angústia e o nosso desespero
não se prolonguem sequer por minutos.
Responde o Ulysses Silveira Guimarães (PMDB-SP): “(...) Ainda esta ma-
drugada, eu tinha constantes notícias sobre a cirurgia. É justo que diga à Casa e à
Nação sobre a desvelada competência e esforço da equipe que cuida da saúde do Presi-
dente. O Professor Guilherme Arantes, Superintendente do Instituto do Coração, avi-
sou-me sobre a punção realizada e, posteriormente, a respeito da alternativa, que foi a
cirurgia, tendo-me antecipado que o Presidente Tancredo Neves sairia vivo da mesa de
operação. No curso da cirurgia esta previsão foi confirmada.
Temos esperanças, dizia há pouco à televisão. Enquanto existe um sopro de vida
– e mais de que isso tem o Presidente Tancredo Neves – há esperança. Vamos nos
agarrar a essa mensagem, porque a saúde do Presidente significa oportunidades muito
grandes para que possamos enfrentar a crise.
Por isso, estamos unidos – todos os partidos estão unidos – nessa crise que assola
o País”.
22 de abril de 1985. 10 horas. Congresso Nacional. Plenário. “O SR.
PRESIDENTE (JOSÉ FRAGELLI) – Senhoras e Senhores Congressistas como é pú-
blico e notório, após luta tenaz contra enfermidade que o acometeu, acompanhada
comovidamente por todos os brasileiros, o Presidente Tancredo de Almeida Neves veio a
falecer.
Vago o cargo de Presidente da República, ao Vice-Presidente, sua Excelência o
Senhor Doutor José Sarney, que já prestou, perante o Congresso Nacional, a 15 de
março do corrente ano, o compromisso constitucional e encontra-se, desde então, no
exercício da Presidência em virtude do impedimento do titular, cabe exercer, como suces-
sor do Presidente eleito, agora falecido, o cargo de Presidente da República, nos termos
do art. 77, caput, da lei maior.
Passo a ler a Mensagem nº 232, datada de 21 de corrente, do Exmº Sr. Presiden-
te da República, à Presidência do Senado Federal.
É lida a seguinte – MENSAGEM Nº 232
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal: Com imenso pesar, que é a
expressão do sentimento nacional, cumpro o doloroso dever de comunicar a Vossa Exce-
lência o falecimento, ocorrido nesta data, do Excelentíssimo Senhor Doutor Tancredo
de Almeida Neves, Presidente da República eleito.
Em decorrência desse fato, tenho a honra de informar a Vossa Excelência que
continuo a exercer, agora na qualidade de sucessor, o cargo de Presidente da República,
na forma do Artigo 77 da Constituição Federal. Brasília, 21 de abril de 1985. – José
Sarney”. Grifado pelo compilador.
O Jornal “O Estado de São Paulo” estampa na primeira página de sua
edição extra: “A morte do homem do Brasil – Tancredo Neves. – Há 75 anos, São
João Del Rey via nascer um homem que seria a esperança do Brasil. A pequena cidade
do interior de Minas acostumou-se ao som de sua flauta e às jogadas pela meia-esquer-
da do Esparta F. C. Tentou ser militar e engenheiro, acabou fazendo Direito. Atraves-
sou fronteiras, optou pela política, saiu para o mundo. Casou-se com sua primeira
namorada, Risoleta, foi vereador, deputado, primeiro-ministro, governador. Irônico,
bem-humorado, “capaz de enxergar no escuro”, chegou à Presidência da República.
Mas não assumiu. Um dia antes da posse, a doença o levou à cama de um hospital. A
Nação, que agitava suas bandeiras, que festejava a chegada de uma Nova República,
emudeceu. Foram 39 dias de agonia. Uma luta contra a morte. Luta que ele perdeu. O
Brasil chora”.
9 de maio de 1985. Congresso Nacional. Plenário. Discussão em segun-
do turno da Proposta de Emenda à Constituição nº 2/84, que “estabelece elei-
ções diretas nos municípios considerados estâncias hidrominerais”. Na realidade, tra-
ta-se do denominado “Emendão” que estende o voto aos analfabetos; declara
livre a criação de partidos políticos e legaliza os partidos de esquerda; resta-
belece eleições diretas para prefeito e vice-prefeito das capitais dos estados,
dos municípios considerados de interesse da segurança nacional e das estân-
cias hidrominerais e também, para presidente e vice-presidente da Repúbli-
ca, em dois turnos; estipula que a primeira representação do Distrito Federal
à Câmara dos Deputados será composta de oito deputados, eleitos em 15 de
novembro de 1986 e também a eleição de três senadores; acaba com a fideli-
dade partidária e revoga o artigo que previa a adoção do sistema distrital
misto. Colocada em votação 423 Deputados votam sim e há uma abstenção,
61 senadores votam sim e não há nenhuma abstenção. A proposta é aprovada
e convocada sessão conjunta para promulgação da matéria. No dia 15 de
maio de 1985 é promulgada a Emenda Constitucional nº 25 que “altera dispo-
sitivos da Constituição Federal e estabelece outras normas constitucionais de caráter
transitório”.
bém pela primeira vez, na História de todas as Constituintes deste País, o Presidente da
República, o Dr. José Sarney.
Feitos estes agradecimentos, peço vênia àqueles que aqui se encontram, por cir-
cunstâncias que acredito todos entenderão, que somente amanhã, em hora que vou
convocar, direi as palavras que entendo do meu dever dirigir aos Constituintes e à
Nação”. Grifado pelo compilador.
No dia 3 de fevereiro o Deputado Ulysses Silveira Guimarães (PMDB-
SP) em sua fala exorta os Constituintes: (...) Srs. Constituintes, esta Assembléia
reúne-se sob um mandato imperativo: o de promover a grande mudança exigida pelo
nosso povo. (Palmas.) Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A Nação quer
mudar, a Nação deve mudar, a Nação vai mudar. (Palmas.)
Estes meses vividos pelo povo brasileiro, desde que nos reunimos em Goiânia e
Curitiba, a fim de exigir eleições diretas para a Presidência da República, demonstra-
ram que o Brasil não cabe mais nos limites históricos que os exploradores de sempre
querem impor. Nosso povo cresceu, assumiu o seu destino, juntou-se em multidões,
reclamou a restauração democrática, a justiça social e a dignidade do Estado.
Estamos aqui para dar a essa vontade indomável o sacramento da lei. A Consti-
tuição deve ser – e será – o instrumento jurídico para o exercício da liberdade e da
plena realização do homem brasileiro.
(...) Srs. Constituintes, estou convencido de que esta é excepcional oportunidade
histórica de dar ao País a mais nacional de suas Constituições. Quando uso o termo,
uso-o na convicção de que as nossas cartas anteriores foram redigidas na adolescência
da Pátria, quando buscávamos nos estados estrangeiros o modelo para as instituições
do País.
(...) Como nos recomendou Tancredo, não vamos nos dispersar. Juntos soubemos
ter paciência e coragem. Juntos não nos faltará a necessária competência. Haveremos
de elaborar uma constituição contemporânea do futuro, digna de nossa Pátria e de
nossa gente. Para isso, iremos vencer os desafios econômicos, políticos e sociais. Seremos
os profetas do amanhã.
A voz do povo é a voz de Deus. Com Deus e com o povo venceremos, a serviço da
Pátria, e o nome político da Pátria será uma Constituição que perpetue a unidade de
sua Geografia, com a substância de sua História, a esperança de seu futuro e que
exorcize a maldição da injustiça social. (Palmas prolongadas.)”. Grifado pelo com-
pilador.
Tem início a Quinta Assembléia Nacional Constituinte. São criadas oito co-
missões, organizadas segundo critério temático, com a missão de elaborar
anteprojetos parciais da Constituição. Cada uma composta por 63 membros
titulares e igual número de suplentes e divididas em três subcomissões, res-
guardando o princípio da proporcionalidade partidária e número variável de
membros. São elas:
I) da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher
Ia) da Nacionalidade, da Soberania e das Relações Internacionais
Ib) dos Direitos Políticos, dos Direitos Coletivos e Garantias
Ic) dos Direitos e Garantias Individuais
Seja o homem sua religião, pois o Estado é criatura do homem, o homem criou o
Estado e não o Estado criou o homem; (Muito bem! Palmas prolongadas.) O homem é
o fim e o Estado é o meio; na disputa entre o Estado e o homem, fique com o homem
amparado pela razão. (Muito bem! Palmas prolongadas.)
Seja alegre, a alegria é o testemunho dos fortes; seja corajosa, sem a coragem
todas as virtudes perecem na hora do perigo; não seja escapatória, pois a indecisão é o
refúgio dos fracos; seja a núncia da esperança, a esperança é o sinal de que o homem
pode vencer.
Seja irmã do pobre, o pobre só pode se salvar pela lei e pela justiça; seja Moisés
guiando milhões de desamparados para a Canaã da cidadania.
Não fique somente nas estantes, saia, ande, escute, olhe mais do que escute, mais
vale ver uma vez do que ouvir cem vezes.
Saia da Assembléia Nacional Constituinte, seu berço, para o serviço, o progresso
e a segurança social e política da Pátria.
Mais uma vez, o agradecimento da Nação aos componentes da Mesa da Assem-
bléia Nacional Constituinte, ao incansável e erudito Relator Bernardo Cabral (Pal-
mas prolongadas.), e aos Relatores-Adjuntos, Constituintes Adolfo Oliveira, José Fogaça
e Antônio Carlos Konder Reis; aos talentosos e incasáveis líderes de todos os partidos;
(Palmas prolongadas.), aos assessores, na pessoa do Secretário-Geral da Mesa, Dr.
Paulo Afonso (Palmas prolongadas.). À D. Dorothy Prescott, que coordena os dedicados
componentes do meu Gabinete; aos funcionários, através do Diretor-Geral, Dr. Adelmar
Sabino; aos jornalistas personalizados em Ary Ribeiro e João Emílio Falcão.
Irmãs e irmãos Constituintes: Deus lhes pague pela eleição com que me privile-
giaram e pelo convívio que tanto alegrou meu coração e motivou minha ação. Esforcei-
me tanto por apressar o abandono desta excelsa cadeira e agora já sinto pungente
saudade em deixá-la.
Nós vamos. A Constituição fica. Fica para ficar, pois com ela ficará a democra-
cia, a liberdade, a Pátria como uma casa de todos, com todos e para todos. (Muito bem!
Palmas prolongadas.)
Esta é a manifestação que desejava fazer ao abraçar com o coração repleto de
alegria meus irmãos, meus companheiros constituintes.
Muito obrigado. (Muito bem! Palmas prolongadas.)”. Grifado pelo compilador.
22 de setembro de 1988. Câmara dos Deputados. Plenário. 340ª Sessão
da Assembléia Nacional Constituinte. Votação nº 1.021 – Redação Final do
Projeto de Constituição apresentado pela Comissão de Redação Final. Colo-
cado em votação o texto é aprovado.
O Partido dos Trabalhadores através dos pronunciamentos dos Depu-
tados José Genoíno Neto (PT-SP), Benedita Souza da Silva (PT-RJ), Olívio de
Oliveira Dutra (PT-RS), Irma Rossetto Passoni (PT-SP), Eduardo Jorge Martins
Alves Sobrinho (PT-SP), Paulo Gabriel Godinho Delgado (PT-MG), Paulo
Renato Paim (PT-RS), Vladimir Gracindo Soares Palmeira (PT-RJ), e Luiz Inácio
Lula da Silva (PT-SP), faz a justificação do porquê estão votando contra o
texto global e porque assinam a Carta Constitucional.
Por esta razão, não posso, não quero nem devo silenciar. A minha função de
Relator – quando dela me desincumbo, em definitivo – impõe que faça um especial
agradecimento a todos os eminentes colegas constituintes, sem exceção – líderes e lidera-
dos – pela compreensão, colaboração, estímulo e incentivo que a mim sempre deram.
Não fora isso, não me teria sido possível chegar ao final do honroso cometimento
que, um dia, Deus me colocou sobre os ombros.
Insultado, ofendido, injuriado, difamado, caluniado, não me omiti, não deser-
tei, já que, de forma obstinada, sabia que o objetivo maior era dar a minha contribuição
para que o País possa sair da excepcionalidade institucional – que o marcou no passa-
do – para o reordenamento constitucional, que o espera no presente.
Do suprimento de ontem – lazer perdido, cicatrizes na alma – posso registrar o
profundo contentamento de hoje, a comprovar que os homens não valem pelo privilégio
da fortuna de que desfrutam ou do poder que eventualmente conseguem empalmar,
mas pelo que produzem em prol da coletividade. (Palmas.)
Assim, permitam-me os colegas constituintes que aos agradecimentos que lhes
endereço possa eu ajuntar os mais sensibilizados aos colegas assessores, ao Secretário-
Geral da Mesa, Paulo Affonso Martins, aos meus queridos Relatores-Adjuntos – Sena-
dor José Fogaça, Deputado Antônio Carlos Konder Reis e Deputado Adolfo Oliveira,
quais cirineus redivivos tanta ajuda me deram e sem a qual não seria possível a conclu-
são da minha tarefa.
Por igual, a todos os integrantes da Mesa Diretora da Assembléia Nacional Cons-
tituinte e, em particular, a V. Exª, Sr. Presidente Ulysses Guimarães, estadista que
merece a divisa de Bayard – sans peur et sans reproche – e que conseguiu fincar no
mais alto do topo da cidadania a bandeira da independência parlamentar. (Palmas.)
Um dia, Presidente Ulysses Guimarães, quando a história desta Constituinte for
escrita sem as ardências circunstanciais, o nome de V. Exª. haverá de emergir como o
homem que soube reunir altivez sem arrogância, independência com diginidade, leal-
dade com afeto e bravura sem bravata.
Concluo, pois, e o faço, eminentes colegas constituintes, valendo-me do Poeta
Fernando Pessoa:
“... Da obra é minha a parte feita. O por fazer é só com Deus.”
Muito obrigado. (Muito bem!Palmas.)”. Grifado pelo compilador.
“A CONSTITUIÇÃO CORAGEM
2ª FASE
Em seguida foram iniciadas as atividades das 24 subcomissões, apresen-
tando a seguinte estatística: Período de 7 de abril de 1987 a 25 de maio de
1987. Duração: 50 dias. Audiências públicas: 182. Emendas apresentadas aos
anteprojetos: 6.417. Os documentos foram encaminhados ao Centro de Do-
cumentação e Informação para indexação e arquivamento.
3ª FASE
As oito comissões temáticas deram início a seus trabalhos em 26 de
maio de 1987 e concluindo-os em 15 de junho de 1987. Total de emendas
(comissões e subcomissões): 14.920. Total de anteprojetos (comissões e
subcomissões): 74. Documentos apreciados pelo relatores: 32.337 (incluindo-
se aí 12.000 sugestões, sendo 9.653 de constituintes e 2.347 de entidades).
4ª FASE
Esta ficou por conta da Comissão de Sistematização e do Plenário,
iniciando-se com o recebimento, em 17 de junho de 1987, dos anteprojetos
oriundos das comissões temáticas. As atividades da Comissão de Sistematização
encerraram-se em 18 de novembro de 1987. Duração: 224 dias. Número de
reuniões: 125. Textos produzidos para discussão, emendas e votação: cinco.
Emendas apresentadas em Plenário: 35.111 (das quais 122 emendas populares).
5ª FASE
Votação em Plenário do “Projeto A”, em 1º turno, que foi de 27 de
janeiro a 30 de junho de 1988. A reforma do Regimento Interno, pela Reso-
lução nº 3, em 5 de janeiro de 1988 possibilitou a apresentação de novas
emendas e destaques: Total de emendas nesta fase: 2.045. Total de destaques
nesta fase: 2.277. Sessões do 1º turno: 119. Votações: 732. Tempo de traba-
lho: 476 horas e 32 minutos. Destaques apreciados e votados: 2.277. Disposi-
tivos contidos no projeto: 1.812.
6ª FASE
Da matéria aprovada resultou o “Projeto B”, cujo período de votação
no Plenário correu entre os dias 1º de setembro de 1988 a 2 de setembro de
1988. Emendas oferecidas: 1.834. Destaques: 1.744. Total de sessões: 38. Dis-
positivos contidos no projeto: 2.059.
7ª FASE
“Projeto C” à Redação Final, na Comissão de Redação. Emendas de
redação apresentadas: 833. Destaques: 733. Sessões realizadas: oito (dias 13,
14, 19 e 20 de setembro de 1988).
RESUMO:
Número de dias em que foram realizadas sessões plenárias: 309. Número
de sessões plenárias: 330. Subcomissões e Comissões temáticas (7 de abril de
1987 a 15 de junho de 1987): dois meses e nove dias. Comissão de Sistemati-
zação (9 de abril de 1987 a 18 de novembro de 1987): sete meses e 14 dias.
COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO
FASE I – Anteprojeto de Constituição (501 artigos);
FASE J – Emenda de mérito (CS) ao anteprojeto (prazo: 28/06 a 2/07/87);
FASE K – Emenda de adequação (CS) ao anteprojeto;
FASE L – Projeto de Constituição da Comissão de Sistematização com
496 artigos. O projeto vai a Plenário;
Quadro/Foto nº 29 e 29/A
Plenário da Assembléia Nacional Constituinte
O Presidente da Assembléia Deputado Ulysses Silveira Guimarães e
a Constituição Cidadã.
Sexta República
(5/10/1988)
uma pena ordinária contra criminosos comuns. É a sanção extrema contra o abuso e a
perversão do poder político. Por isso mesmo, pela condição eminente do cargo do de-
nunciado e pela gravidade excepcional dos delitos ora imputados, o processo de
‘impeachment’ deita raízes nas grandes exigências da ética política e da moral pública,
à luz das quais hão de ser interpretadas as normas do direito positivo.
Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a
consciência ética popular. O governante eleito que se assenhoreia do poder em seu
próprio interesse, ou no de seus amigos e familiares, não pratica apenas atos de corrup-
ção pessoal, de apropriação indébita ou desvio da coisa pública: mais do que isso, ele
escarnece e vilipendia a soberania popular.
É por essa razão que a melhor tradição política ocidental atribui competência,
para o juízo de pronúncia dos acusados de crime de responsabilidade, precisamente ao
órgão de representação popular. Representar o povo significa, nos processos de
“impeachment”, interpretar e exprimir o sentido ético dominante, diante dos atos de
abuso ou traição de confiança nacional”. Ao longo de 38 páginas, expõem as
razões da denúncia. O Presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Valls Pi-
nheiro (PMDB-RS), assina o depacho com o seguinte teor: “Observado o artigo
218, do Regimento Interno, indentifico estarem satisfeitos os requisitos formais. Os
denunciantes comprovam as condições que os legitimam para o ato. As firmas estão
reconhecidas. Juntaram-se documentos e arrolaram-se testemunhas, em obediência ao
mínimo legal. Os fatos descritos atendem, em tese, os requisitos de tipificação, tendo sido
apontadas as hipóteses legais. Há, portanto, condições de tramitação. Brasília, 1º de
setembro de 1992”.
A entrega da petição de “Impeachment do Presidente da República”, assina-
da pelo Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcello
Lavenére Machado e pelo Presidente da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI), Barbosa Lima Sobrinho, é marcada por uma manifestação que se ini-
cia por uma caminhada cívica, a partir da sede do Conselho Federal da Or-
dem dos Advogados do Brasil (OAB), em Brasília. Integram a caminhada
vários segmentos da sociedade civil e o povo em geral que vai se avolumando
à medida que se aproxima do Congresso Nacional. A petição inicial é entre-
gue ao Presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Valls Pinheiro (PMDB-
RS), que a manda publicar para os devidos efeitos legais.
poder olhar com a fronte erguida e com o peito cheio para seus filhos, dizendo-lhes que
cumprimos com nossa tarefa. A CPI do caso PC, o Supremo Tribunal Federal e a
Comissão Especial que aprovou o relatório do Deputado Nelson Jobim cumpriram com
sua tarefa. E V. Exªs, com certeza, amanhã, nesta Casa, neste Planalto, no coração do
nosso País, mais uma vez, farão por onde merecer o apreço, o prestígio e a gratidão do
povo brasileiro, que deposita, nesta hora, em suas mãos, a responsabilidade de definir o
destino da Pátria ou de fechar-lhes as portas de maneira definitiva.”
A discussão do Parecer prossegue até o cair da noite e importa frisar
que o Presidente da República não compareceu à sessão de debates, nem
enviou procurador que, em seu nome, falasse – o que lhe fora facultado pelo
Presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Valls Pinheiro (PMDB-RS).
ciais militares a esta Casa. A Presidência está acompanhando os fatos com muita sere-
nidade e tranqüilidade, levando em conta vários fatores: primeiro, a defesa do nome
desta Casa; segundo, a preservação do direito de os Srs. Parlamentares exercitarem o
seu mais sagrado direito, que é o de votar, usar a palavra, ter opinião etc; terceiro, as
manifestações devem ser feitas no local adequado. A comissão está negociando uma
solução. O que a Presidência não vai permitir é que o livre acesso dos Srs. Parlamen-
tares a este plenário seja cerceado sob qualquer hipótese. Então, podem ficar tranqüi-
los. A Presidência zelará pelo nome desta Instituição e pela segurança dos nobres
pares”.
O Jornal “O Globo”, do dia 24, destaca na página quatro: “Trabalhadores
xingam deputados – Brasília – A tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal
foi acionada ontem para impedir que parlamentares fossem agredidos por cerca de 400
trabalhadores do campo e sindicalistas ligados à CUT, principalmente petroleiros e
metalúrgicos, que invadiram as dependências da Câmara dos Deputados para protes-
tar contra a revisão constitucional.
(...) Um dos agentes de segurança relatou ao presidente da Câmara, Inocêncio
de Oliveira (PFL-PE), ter filmado alguns trabalhadores sem terra que portavam foi-
ces, facões e porretes. Depois de receber essa informação, Inocêncio assinou a autoriza-
ção para que policiais militares ocupassem as dependências do Congresso.
(...) As tropas cercaram o Congresso e ficaram de prontidão, mas não entraram
nas dependências da Câmara e do Senado.
(...) No final de muita discussão, a Presidência da Câmara aceitou que cerca de
150 petroleiros e metalúrgicos permanecessem, cercados pela segurança do Congresso,
no Salão Verde próximo ao plenário. No auditório Nereu Ramos, outros 200 trabalha-
dores sem terra ficaram cercados por seguranças”. Grifado pelo compilador.
A este respeito o Ofício nº 158, de 23 de fevereiro de 1994, sem assina-
tura, depositado na Coordenação de Arquivo desta Casa, endereçado pelo
Presidente da Câmara, Deputado Inocêncio Gomes de Oliveira (PFL-PE), a
S. Exa. o Sr. Dr. Joaquim Domingos Roriz, Governador do Distrito Federal,
traz o texto da referida autorização a que o Jornal “O Globo” teve acesso.
Os trabalhos revisionais são encerrados no dia 31 de maio de 1994, às
vinte horas e quarenta e cinco minutos. Em 1º de março de 1994 é promulga-
da a Emenda Constitucional de Revisão nº 1 e mais cinco emendas revisionais
aprovadas são promulgadas no dia 7 de junho de 1994, em sessão solene do
Congresso Nacional. A Emenda Constitucional de Revisão nº 4 “trata de prote-
ger a moralidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato parla-
mentar”, a de nº 5 “reduz para quatro anos o mandato presidencial”, e a de nº 6
“trata da suspensão da renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou
possa levar à perda do mandato”.
15 de agosto de 1995. É promulgada a Emenda Constitucional nº 6 que
“altera o inciso IX do art. 170, o art. 171 e o § 1º do art. 176 da Constituição Federal
e dispõe sobre a adoção de Medidas Provisórias”. Emenda constitucional que teve
origem na PEC 5/95, de autoria do Poder Executivo.
o único Deputado do Partido Verde, ‘venha orientar sua bancada, porque ela está
esperando ansiosa’.
O Deputado Nilson Alfredo Gibson Duarte Rodrigues (PSB-PE) regis-
tra que “(...) no dia 22 de novembro de 1995, o então Presidente da Câmara dos
Deputados, Deputado Luís Eduardo, às 18h45min, durante a Ordem do Dia, disse:
‘Que falta faz o Deputado Nilson Gibson!’ – eu me encontrava no exterior – e pediu
que a Taquigrafia fizesse constar nos Anais esse registro.
(...) O seu segredo estava em não temer os problemas, mas enfrentá-los e resolvê-
los por mais difíceis que fossem, com o entusiasmo que não lhe era meramente retórico,
mas empreendedor. Ele mesmo disse que tinha um espírito combativo afeito à luta”.
Falam outros deputados de vários partidos políticos destacando a figura
do homenageado.
4 de junho de 1998. É promulgada a Emenda Constitucional nº 19, que
“modifica o regime e dispõe sobre principíos e normas de Administração Pública, servi-
dores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades
a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências”. É a primeira reforma admi-
nistrativa, com grandes mudanças em seu bojo, após a promulgação da Cons-
tituição Federal. Teve origem na PEC 173/95, de autoria do Poder Executivo.
15 de dezembro de 1988. É promulgada a Emenda Constitucional nº
20, que “modifica o sistema de previdência social, estabelece normas de transição e dá
outras providências”. É a primeira reforma previdenciária, com grandes mu-
danças em seu bojo, após a promulgação da Constituição Federal. Teve ori-
gem na PEC 21/95, de autoria do Poder Executivo. Na Câmara dos Depu-
tados esta proposta de emenda constitucional, através de parecer do Deputado
Roberto Magalhães Melo (PFL-PE), Presidente da Comissão de Constituição,
Justiça e Redação, publicado no Diário da Casa do dia 11 de abril de 1995, foi
desmembrada em três novas emendas constitucionais. A que tratou do assun-
to em pauta é a PEC 33/95.
18 de agosto de 1999. Plenário. O Deputado Albérico Cordeiro da Silva
(PTB-AL) e outros parlamentares apresentam o Projeto de Lei nº 1.517 – co-
autoria de iniciativa popular, que “modifica a Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997,
e altera dispositivos da Lei 4.737, de 15 de julho de 1965 – Código Eleitoral, incluindo
a possibilidade de cassação do registro do candidato que doar, oferecer ou prometer bem ou
vantagem pessoal em troca de voto”. Em 21 de setembro de 1999, no Plenário e sob
a presidência do Deputado Michel Miguel Elias Temer Lulia (PMDB-SP) é
aprovado, por aclamação, este projeto de lei que “caracteriza a compra de votos
como crime eleitoral, prevendo a cassação do registro eleitoral ou do diploma do candida-
to que for flagrado abusando do poder econômico para se eleger”. Fica ampliado o
conceito de compra de voto, proibindo também o oferecimento de emprego
público para obter votos; aumenta a multa e define a pena de perda do registro
da candidatura ou do diploma para os que infringirem a legislação. Este proje-
to é transformado na Lei nº 9.840, de 28 de setembro de 1999.
com 283 votos, o Deputado Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG) para o cargo
de Presidente da Casa. Antes, em sua fala como candidato ao cargo, deixou
claro as suas diretrizes de ação: “(...) Chego ao final desta campanha, companhei-
ros do Congresso Nacional, da mesma forma que a iniciei, defendendo princípios e
respeitando esta instituição.
(...) Inúmeras matérias necessitarão do nosso trato no campo legislativo e regi-
mental, cuja revisão precisa ser feita urgentemente. Devemos elaborar propostas que
visem a mostrar à sociedade brasileira que esta é efetivamente a sua Casa. Porque
acredito – e como acredito – que o Congresso é o grande e fundamental instrumento da
democracia no Brasil, formado por homens de bem, de cada uma das partes deste País,
que aqui estão a buscar o desenvolvimento do Brasil e melhores condições de vida para
sua gente.
Temos todos nós, independentemente de vencermos ou perdermos esta eleição, de
assumir o compromisso de nos engajar em causa acima de qualquer interesse partidário
ou disputa eleitoral: buscaremos o respeito a esta Casa, repito, a mais importante insti-
tuição e instrumento da democracia no Brasil.
Temos, portanto, de mostrar à sociedade ações concretas, compromissos claros na
votação de matérias que não sejam exclusivamente aquelas que nos vêm do Poder
Executivo, mas, sobretudo, de buscar em cada quadrante deste País as que representem
efetivas urgências, reais demandas, para transformarmos novamente este plenário no
grande cenário dos debates nacionais. (Palmas.)
Aqui estarão representantes de toda a sociedade brasileira, que trarão mensal-
mente sua palavra, sua contribuição, a fim de que cada cidadão brasileiro, desde o
mais bem informado até o que repousa no mais distante e longínquo rincão deste País,
possa sentir-se partícipe desta Casa e, como cada um de nós, comprometido com o
avanço da democracia, sobretudo com os avanços sociais.
(...) Não tenham dúvidas de que – e percebi isso ao viajar por todo o País – o
cidadão brasileiro quer efetivamente saber da importância da Câmara dos Deputado,
de que forma ela influencia sua vida, como ela conduz as reformas e de que forma ela
proporcionará avanços sociais para cada brasileiro. Nesta hora em que avançamos
quanto aos indicadores macroeconômicos que nos garantem a estabilidade da econo-
mia, a Câmara dos Deputados, por meio dos representantes de cada um dos partidos
que aqui estão, é que haverá de apontar o caminho para fazer com que a estabilidade
seja uma conquista efetiva, palpável, visível para cada cidadão. (Palmas.) Distribuir
renda neste País não é responsabilidade apenas do Poder Executivo, mas, sobretudo,
desta Casa. (Palmas.)
Não tenham dúvidas, Srªs e Srs. Parlamentares, de que algumas questões fun-
damentais e emblemáticas haverão de ter o nosso apoio e a nossa prioridade, se viermos
vencer estas eleições. Poderia citar inúmeras matérias que, a meu ver, são prioridades,
mas vou exemplificar o nosso compromisso de resgatar a autonomia e a respeitabilidade
desta Casa. E vou exemplificar com uma matéria que já era compromisso para tantos
com os quais conversei ao longo das últimas semanas, mas quero que neste instante seja
um compromisso com este Plenário e com o País: colocarei em votação, Srªs e Srs.
Parlamentares, projeto que restringe o uso de medidas provisórias. (Palmas.) Não como
um ato de virulência ou de oposição a este Governo, mas como um claro gesto de resgate
daquilo que é a essência da nossa atividade parlamentar, que é o dever da iniciativa
para legislar.
Portanto, Srªs e Srs. Parlamentares, tenho plena consciência de que este momen-
to que vivo agora é único na carreira de um Parlamentar. Nesta Casa me criei. Apren-
di a respeitar esta Casa com exemplos que me são tão caros, como de meu avô Tancredo
Neves, de meu avô Tristão da Cunha e de meu pai Aécio Cunha, dignos parlamenta-
res, homens que fizeram, desde o início de sua vida, a opção pelo exercício parlamentar.
Inspirado em exemplos deles, com o apoio e a solidariedade que jamais me faltaram de
cada um dos companheiros que estão nesta Casa, hoje enfrentarei perante a opinião
pública, uma avaliação.
Serei firme e exigente no cumprimento da ética e do decoro parlamentar, com a
criação da nossa Comissão de Ética. Da mesma forma, serei firme e corajoso para
defender esta instituição e cada um dos Parlamentares contra os ataques vis e as infâ-
mias que cotidianamente lhes são dirigidas. (Palmas.)
Esta é a instituição do povo brasileiro. Não é no Poder Executivo, mas aqui que
a sociedade, com toda a sua estratificação, faz-se representar. De origem das mais dis-
tintas, de formações culturais ou sociais diferenciadas, aqui está o Brasil. Por isso,
nossa responsabilidade em defender a instituição nem de longe me parece uma ação
corporativa; ao contrário, ao defender a Casa contra ataques irresponsáveis que sobre
ela vêm quase diariamente, estarei defendendo a democracia no Brasil e o sagrado
cenário onde se dão e haverão de se dar cada dia mais os debates das questões que
efetiva e fundamentalmente interessam à sociedade brasileira. (Palmas.)
Vamos ser ousados, sim, Sr. Presidente!
Presidente Michel Temer, V. Exª inaugurou o processo de comunicação nesta
Casa. Quero que cada cidadão, de qualquer parte deste País, saiba o que o seu
coestaduano faz. Vamos diversificar, dar oportunidade a que cada companheiro possa
mostrar também o que faz nesta Casa à sua região, à sua base.
Falar em condições de trabalho para os Parlamentares é falar em respeito a esta
instituição. Quero dizer mais uma vez à opinião pública que o exercício do trabalho
parlamentar precisa ter a dignidade necessária para ser feito em consonância com os
reais interesses da sociedade brasileira.
(...) Ao mesmo tempo em que deixo registrado agradecimento a cada um dos meus
companheiros, quero neste instante dizer do meu respeito e admiração pelo Presidente
Michel Temer, pela absoluta correção, isenção e capacidade com que conduziu esta
Casa, dignificando-a ao longo desses últimos quatro anos. (Palmas.)
Aquele que vier a sucedê-lo, Presidente Michel Temer, não importa quem seja,
terá uma grave responsabilidade, pois não será fácil dar continuidade ao seu trabalho
com a mesma elegância e correção e sobretudo com o mesmo espírito público que V. Exª
demonstrou em cada gesto, dos pequenos aos grandes.
(...) Finalizo este pronunciamento recordando uma passagem do meu conterrâneo
Guimarães Rosa, que me lembrou o grande Parlamentar e homem público Waldir
Pires: ‘O mais importante na vida – e na política não é diferente – não é a largada e
tampouco a chegada; o importante é a caminhada’. Nossa caminhada foi digna e, por
isso, espero e peço o apoio dos Deputados para, a cada dia e a cada instante, dignificar-
mos nossa Casa, a Casa do povo, a Câmara dos Deputados do Brasil.
Muito obrigado e até a vitória! (Palmas prolongadas.)”. Grifado pelo compilador.
5 de maio de 2001. A Mesa da Câmara dos Deputados envia à Comis-
são de Constituição, Justiça e Redação o Projeto de Resolução nº 151, que
“cria a Comissão Permanente de Legislação Participativa”. Em regime de urgência
é aprovado no dia 30 de maio de 2001 e transformado na Resolução nº 21/
01. Esta resolução transforma em realidade o sonho dos constituintes de 1988,
abrindo espaço para que a sociedade organizada também possa contribuir
com propostas de leis e emendas constitucionais, sem a necessidade das assi-
naturas de um por cento do eleitorado.
No ato de instalação da Comissão Permanente de Legislação Participa-
tiva, o Presidente da Câmara dos Deputados Aécio Neves da Cunha (PSDB-
MG) deixa claro a importância da criação desse órgão técnico, afirmando que
“(...) talvez seja a mais vigorosa e importante janela que a Câmara dos Deputados
tenha aberto para que a sociedade possa trazer sua contribuição ao processo legislati-
vo”. Ressalta ainda, em outra ocasião, quando da apresentação da Cartilha da
Comissão que “a Comissão de Legislação Participativa, criada com o apoio de todos
os partidos com representação na Câmara dos Deputados, já instalada e em pleno
funcionamento, é o instrumento inovador com que a engenharia parlamentar busca
responder a um dos mais preocupantes desafios da democracia contemporânea: como
superar o perigoso abismo que vem sendo criado, nas sociedades de massa, entre os
representantes e os representados.
Por meio desta Comissão, a Câmara dos Deputados abre à sociedade civil um
portal de acesso ao sistema de produção das normas que integram o ordenamento jurí-
dico do País, chamando o cidadão comum, os homens e mulheres representados pelos
Deputados Federais, a levar diretamente ao Parlamento sua percepção dos problemas,
demandas e necessidades da vida real e cotidiana.
Quando assumi o compromisso de criá-la, ainda como candidato à Presidência
da Câmara, guiava-me por um mandamento não-escrito e só ignorado pelos autori-
tários: o de que, muitas vezes, os representados estão à frente de seus representantes.
Inspirava-me, também, a lição histórica de que, aprisionada em suas rotinas e divor-
ciada da vontade popular, a representação parlamentar serve ao esvaziamento da
política, à descrença em seus atores e, por decorrência, ao enfraquecimento da demo-
cracia.
Agora que a Comissão está instalada e em pleno funcionamento, sob a presidên-
cia da diligente Deputada Luiza Erundina, Parlamentar credenciada ao desafio de
implantá-la por sua biografia e por sua atuação na Câmara, é necessário um esforço
de divulgação de sua existência e de suas regras de funcionamento para que venha a
cumprir satisfatoriamente o papel que lhe está reservado na modernização política.
A Resolução nº 21, de 2001, que a criou, definiu a composição da Comissão,
atendendo à necessidade de absoluto pluralismo do colegiado que apreciará as propos-
tas vindas diretamente da sociedade, e estabeleceu que as sugestões de iniciativa legislativa
do este fato for analisado à luz da história, se terá plena consciência do seu significado
para a consolidação da democracia em nosso País.
Entendemos, ainda, que a Comissão, além de contribuir para mobilizar a parti-
cipação da sociedade civil, connstitui-se em instrumento de educação política e de for-
talecimento da democracia representativa.
Ao contrário do que se poderia supor, a divisão do poder com o povo, fonte e
origem do poder, contribuirá, certamente, para que a representação se legitime e se
fortaleça ainda mais, pois democracia representativa e democracia direta são dois pila-
res que sustentam o edifício da Democracia e da Cidadania.
Chegou a hora, portanto, de colocar em prática o que dispõe a Constituição
Federal de 1988, que consagra, em seu artigo 1º, parágrafo único, o princípio da
soberania popular pelo qual ‘todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente’, e que, também, estabelece mecanismos de partici-
pação popular, como, por exemplo, a ‘Iniciativa Popular Legislativa’.
Não obstante essa importante conquista incorporada ao texto constitucional, muitas
são ainda as barreiras que impedem sua plena e total concretização.
Daí o extraordinário significado da recém-criada Comissão Permanente de Le-
gislação Participativa, que possibilita que associações e órgãos de classe, sindicatos e
entidades da sociedade civil apresentem Sugestões de Iniciativa Legislativa”. Grifado
pelo compilador.
(...) Isso não pode continuar assim. (Palmas.) Enquanto houver um irmão bra-
sileiro, ou uma irmã brasileira, passando fome, teremos motivos de sobra para nos
cobrir de vergonha. (Palmas.)
Por isso, defini, entre as prioridades de meu Governo, o programa de segurança
alimentar, que leva o nome de Fome Zero. Como disse em meu primeiro pronunciamen-
to após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilida-
de de tomar o café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão de minha vida.
(Palmas.)
(...) Sob a minha liderança, o Poder Executivo manterá uma relação construtiva
e fraterna com os outros Poderes da República, respeitando exemplarmente a sua inde-
pendência e o exercício de suas altas funções constitucionais. (Palmas.)
Eu, que tive a honra de ser Parlamentar desta Casa, espero contar com a contri-
buição do Congresso Nacional no debate criterioso e na viabilização das reformas es-
truturais que o País demanda de todos nós.
(...) Esta é uma nação que fala a mesma língua. (Palmas prolongadas.) Que
partilha os mesmos valores fundamentais. Que se sente e é brasileira. Onde a mestiçagem
e o sincretismo se impuseram, dando uma contribuição original ao mundo. Onde ju-
deus e árabes conversam sem medo. Onde toda migração é bemvinda, porque sabemos
que em pouco tempo, pela nossa própria capacidade de assimilação e de bem-querer,
cada migrante se transforma em mais um brasileiro. (Palmas prolongadas.)
Esta nação, que se criou sob o céu tropical, tem que dizer a que veio. Internamen-
te, fazendo justiça à luta pela sobrevivência em que seus filhos se acham engajados. E
externamente, afirmando a sua presença soberana e criativa no mundo.
(...) Sim: temos uma mensagem a dar ao mundo. Temos que colocar nosso projeto
nacional, democraticamente, em diálogo aberto como as demais nações do planeta.
Porque nós somos o novo. Nós somos a novidade de uma civilização que se desenhou
sem temor – porque se desenhou no corpo, na alma e no coração do povo, muitas vezes
à revelia das elites, das instituições e até mesmo do Estado. (Palmas.)
(...) Cada um de nós, brasileiros, sabe que o que fizemos até hoje não foi pouco.
Mas sabe, também, que podemos fazer muito mais.
Quando olho para a minha vida de retirante nordestino, de menino que vendia
amendoim e laranja no cais de Santos, que se tornou torneiro mecânico e líder sindical,
que um dia fundou o Partido dos Trabalhadores e acreditou no que estava fazendo, que
agora assume o posto de Supremo Mandatário da Nação, eu vejo e eu sei, com toda a
clareza e com toda a convicção, que nós podemos muito mais. (Palmas.) E que, para
isso, basta acreditar em nós mesmos. Em nossa força, em nossa capacidade de criar, em
nossa disposição para fazer.
(...) O que nós estamos vivendo hoje, neste momento, meus companheiros e mi-
nhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser resumido
em poucas palavras. Hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo. (Palmas.)
Agradeço a Deus por chegar até onde cheguei: sou agora o servidor público
número um do meu País. (Palmas.)
Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade
para administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me
sentir unido a cada cidadão e cidadã deste País no dia-a-dia dos próximos quatro anos.
Viva o Povo brasileiro! (Palmas prolongadas.)”. Grifado pelo compilador.
O Presidente do Congresso Nacional, Senador Ramez Tebet (MS), fala
em seguida e afirma que: “(...) Em primeiro lugar, a transparência desta eleição e o
admirável processo de transição de governo, inédito em nossa história republicana,
comprovam que vivemos a plenitude da vida democrática em nosso País.
(...) Em segundo lugar, Sr. Presidente, V. Exª, ao alcançar o mais alto posto da
política nacional, oriundo de um passado de lutas em defesa da classe trabalhadora, é
a prova firme da vontade da Nação brasileira de enfrentar, de uma vez por todas, com
determinação e coragem, a terrível herança de desigualdades que nos envergonha e que
tem sido o grande desafio, até agora não superado, de tantas gerações de brasileiros.
O Brasil escreve, sem dúvida, um novo capítulo na sua história, ao empossar na
Presidência da República um brasileiro que conhece o Brasil por vivência própria.
Conhece o Brasil por dentro, conhece o Brasil por sua vida ‘severina’.
Minhas senhoras e meus senhores, Ulysses Guimarães, o inesquecível timoneiro
da travessia democrática, ao apresentar a nova Constituição, que V. Exªs acabam de
jurar, alertava que a mudança fundamental é ‘mudar o homem em cidadão’. E comple-
tava: ‘Só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve, mora, tem
hospital e remédio, lazer quando descansa’.
Superar esse desafio, Sr. Presidente, é a enorme tarefa que a vontade soberana do
povo depositou sobre seus ombros. As esperanças de todos os brasileiros encontram-se
hoje sob os cuidados de V. Exª.
A Nação brasileira sabe que o Congresso Nacional é o parceiro imprescindível
para o cumprimento dessa árdua missão. O Poder Legislativo é o espelho da sociedade,
o oxigênio da democracia, e nenhum processo de mudanças, tal qual a Nação deseja e
V. Exª promete, coerente e profundo, poderá ser levado a bom termo sem a sua ativa
participação.
Na condição de Presidente do Congresso Nacional, reafirmo: sem servilismos
impróprios e sem enfrentamentos inconseqüentes, mantendo sempre sua independên-
cia, o Poder Legislativo será o legítimo co-autor do processo de mudanças que é hoje o
maior anseio de todos.
(...) Ao falar de seu trabalho, justamente louvado em todo o mundo, nosso arqui-
teto Oscar Niemeyer costuma dizer que sua obra não importa, o que importa é combater
a miséria.
(...) Lembro ainda outro extraordinário compatriota, o patrono do combate à
fome, o imortal Betinho, que nos advertiu: ‘Com a miséria, a democracia é uma men-
tira. E sem democracia não existe vida civilizada’.
Reafirmo que, no cumprimento desses compromissos éticos, Sr. Presidente, O
Congresso Nacional não lhe faltará. Nas reformas previdenciária, tributária e fiscal,
nas reformas que V. Exª quer implantar, esteja certo: O Congresso Nacional é o seu
parceiro efetivo. (Palmas.)
Sr. Presidente, que Deus ilumine V. Exª e todos nós, para construirmos uma
Pátria mais justa e mais humana.
Viva o Brasil! (Palmas prolongadas.)”. Grifado pelo compilador.
foram heróis e até mártires, quer persistindo, quer convertendo o próprio pensamento
para render-se não à indiferença, mas aos reais sentimentos populares.
Agora, quando o novo nome da liberdade é esperança, talvez mais agudamente
áspero seja o desafio que temos de enfrentar. Em momentos históricos já vividos, o
embate dividia brasileiros, alguns iludidos pelas vãs promessas do autoritarismo faná-
tico, outros convictos de que o desenvolvimento e a paz têm uma só trilha para um só
destino: a democracia.
A Câmara dos Deputados irmanou a todos com seus acertos, erros, virtudes e
carências, e as crônicas registraram ter sido aqui o esperançoso berço das Diretas Já, da
Anistia, da superação política do Colégio Eleitoral, da convocação da Assembléia Na-
cional Constituinte.
Nos dias que correm, Sras. e Srs. Parlamentares, a luta é entre a ordem interna-
cional perversa, que esgarça fronteiras, escarnece das soberanias com a força volátil do
dinheiro e não constrange sequer a repugnante ameaça militar à paz do mundo.
Esta Casa sabe que a esperança, embora nascida em sonhos, pode morrer em
frustrações. E esse processo de perda só tem passos de recuo, de fuga para o medo, de
subserviência, de perda da independência, de submissão e de fim da nacionalidade.
É grave, portanto, este momento histórico. Por isso, ao nos prepararmos para
prestar o compromisso regimental, façamos todos nós profissão pública de que a Câma-
ra dos Deputados não foge ao novo repto, mas entrega-se como coobrigada na defesa
das expectativas do povo, alia-se a ele, e não vai assistir a seus anseios passarem em
vão, pois é avalista de suas esperanças. Que Deus abençoe o nosso trabalho. Muito
obrigado. (Palmas.)”. Grifado pelo compilador.
Após o compromisso regimental de posse a sessão é encerrada ás 15
horas e 59 minutos.
2 de fevereiro de 2003. 15 horas e 12 minutos. Plenário. Segunda Ses-
são Preparatória da 52ª Legislatura 2003/2007. Eleição da Mesa Diretora da
Câmara dos Deputados para o biênio 2003/2004. Realizada a eleição para o
cargo de Presidente da Casa, o Deputado João Paulo Cunha (PT-SP) é eleito
com 434 votos. Candidatura nascida de um acordo de líderes que reuniu todos
os partidos em torno de uma única proposta, deixa o Governo mais tranqüilo
quanto ao encaminhamento das propostas de reformas da previdência, tribu-
tária, política e trabalhista, consideradas urgentes e necessárias ao País.
O novo Presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-
SP) faz seu pronunciamento e destaca: “(...) Eu não poderia prosseguir este pri-
meiro discurso como Presidente da Câmara dos Deputados – e como primeiro Presiden-
te desta Casa egresso de legenda marcadamente de esquerda no espectro ideológico –
sem saudar e sem homenagear o ex-Deputado José Genoíno. Presidente de meu parti-
do, José Genoíno despediu-se ontem do Parlamento Brasileiro, depois de vinte anos de
vitorioso trajetória nesta Casa.
Sinônimo de tolerância, de maturidade democrática e de diálogo, José Genoíno
constituiu-se em peça fundamental para que pudéssemos viver o presente estado da arte
em que se encontra a política brasileira. (Palmas.)
(...) ao contemplar este plenário cheio e ansioso para começar a debater e a dar
contornos legais à grande transformação social que os brasileiros nos confiaram na
histórica eleição de 2002, é imperativo lembrar e homenagear o político cuja trajetória
se confunde com os ideais republicanos: Ulysses Guimarães, o grande timoneiro. (Pal-
mas.) Ele morreu. Além de navegar, sonhava com a plena normalidade institucional
com que hoje nos regozijamos.
(...) Fomos eleitos para mudar este País e o faremos. (Palmas.)
Não temos compromisso com a quantidade de mudanças, mas, sim com a quali-
dade das novas leis que surgirão no horizonte dos brasileiros para governar-lhes a
rotina. É preciso asseverar: o nosso compromisso é com os resultados, e eles têm de vir
com celeridade.
Esta Câmara dos Deputados, sabemos, está preparada para iniciar os grandes
debates que tais reformas exigem. Nosso Parlamento, certamente, voltará a ser o centro
produtor de inteligência e de teses que pautarão as acaloradas discussões latentes na
sociedade. Vamos resgatar os saudosos tempos em que se travavam apaixonados debates
nas tribunas do Congresso! O Senado Federal, nossa Casa irmã, que, desde ontem, está
sob o comando seguro e experiente do Senador José Sarney, certamente não está menos
equipado nem menos ávido por ver se iniciarem os trabalhos de reconstrução e de
resgate do Brasil.
Companheiros, no momento em que começamos um novo ciclo nesta Casa, é
oportuno refletir sobre a trajetória do Legislativo. O Congresso Nacional tem vivido
um histórico de permanente evolução. Durante a Ditadura Militar, foi fechado, cala-
do, amordaçado, impedido de funcionar em sua plenitude e minimizado em sua atua-
ção.
Se compararmos essa situação com aquela vivida durante o período da Assem-
bléia Nacional Constituinte, será forçoso reconhecermos a evolução que se atingiu quan-
do, por seus próprios méritos e por seu próprio esforço, o Congresso ouviu o clamor das
ruas e seguiu a vontade popular. A evolução institucional que menciono, Sras. e Srs.
Deputados, não parou com o processo constituinte. Continuou, ora lentamente, ora
com ousadia, mas sempre com coragem.
Nos últimos anos, a Câmara dos Deputados recuperou muito de sua força e
importância. Desde 1995, quando cheguei aqui, tenho acompanhado o aperfeiçoa-
mento dos ritos legislativos patrocinados pelos ex-Presidentes Luís Eduardo Magalhães
– de saudosa memória –, Michel Temer e Aécio Neves. (Palmas.) Mudanças como a das
regras de tramitação das medidas provisórias, por exemplo, valorizaram a função do
Parlamentar. O rigor e a seriedade aplicados à investigação de irregularidades cometi-
das por membros da Casa fizeram ver à sociedade brasileira que esta instituição não
acoberta os erros de seus membros. E isso não mudará! Ao contrário, tal processo tende
a ser cada vez mais célere e mais agudo. Cortar na própria carne dói e exige serenida-
de, mas não podemos deixar todo o Parlamento sob suspeição só por causa do mau
comportamento de um de nós. (Palmas.)
(...) Quero contribuir para devolver ao Parlamento o lugar que lhe cabe na
arquitetura institucional brasileira. Somos a coluna central da defesa, do fortalecimen-
to e da consolidação de nossa democracia. É preciso edificar uma Câmara dos Depu-
tados ativa, independente, autônoma, livre e soberana. Uma Câmara que, fortalecida
em suas prerrogativas constitucionais, oriente seu olhar para o povo brasileiro, buscan-
do resgatar a enorme dívida social que tanto aflige o cotidiano nacional. Uma institui-
ção que, em harmonia com os Poderes Executivo e Judiciário, esteja plenamente capa-
citada para, além de promover os grandes debates nacionais, ser farol a orientar a
difícil travessia em busca de um porto seguro para este grande e promissor Brasil.
Serei ardoroso defensor dos interesses de todos os membros desta Casa, de sua
imagem, de seu ofício, de suas atividades e tudo farei para que as desempenhem com
mais eficiência e comodidade. (Palmas.) Estarei sempre atento para que o trabalho aqui
desenvolvido seja devidamente compreendido tanto pelos outros Poderes, quanto pela
mídia e ainda pela população, para que a Câmara dos Deputados esteja cada vez mais
próxima de todos os brasileiros. É preciso cuidar disso, pois, não raro, a incompreensão
tem feito deste Poder o alvo fácil da crítica, muitas vezes inconseqüente e injusta.
(...) Obrigado, companheiros. Que façamos um bom trabalho. (Palmas prolon-
gadas.)”. Grifado pelo compilador.
O Deputado Geddel Quadros Vieira Lima (PMDB-BA) destaca a im-
portância do compromisso político: “Sr. Presidente, Sras, e Srs. Deputados, ainda
que não de forma oficial, V. Exa. acaba de declarar que a contagem de votos assegura
ao indicado pela bancada do PMDB o exercício da 1ª Secretaria da Mesa da Câmara
dos Deputados do Brasil no próximo biênio.
Não me sinto vitorioso. Nesta noite, quando V. Exa. proclamar o resultado, fica-
rá patente, de forma inquestionável, que o vitorioso foi o Parlamento brasileiro, foi a
Câmara dos Deputados do Brasil. Isto porque os Srs. Parlamentares, os Líderes parti-
dários com assento nesta Casa fizeram com que se tornasse ainda mais vivo um dos
preceitos primordiais na sustentação dos parlamentos livres e democráticos: o cumpri-
mento da palavra empenhada nos acordos firmados.
O gesto dos Líderes deixa hoje registrado, de forma indiscutível, para aqueles que de
alguma forma supunham poder haver traição ao acordo, felonia, desentendimentos, que-
bra de palavra, que o povo brasileiro tem a cara de Tiradentes e não a de Joaquim Silvério
dos Reis. Quem quer que olhe para este Plenário verá nele representado o povo brasileiro.
(...) Minha gratidão permanente e perene a todos os Parlamentares e aos Líderes
com assento nesta Casa por mais uma vez me darem a convicção de que fiz certo quan-
do ainda muito jovem abracei a vocação que, tenho certeza, permanecerá, na lingua-
gem de Mangabeira, até o fim dos meus dias: servir à Bahia e ao Brasil por meio da
vida pública.
Muito obrigado, sucesso e que Deus ilumine a todos. (Palmas.)”. Grifado pelo
compilador.
O Deputado Francisco Rodrigues de Alencar Filho – Chico Alencar (PT-
RJ), em seu segundo pronunciamento na Câmara dos Deputados, destaca a
importância do Parlamento brasileiro: “Sr. Presidente, informo a V. Exa. e aos
demais membros da Mesa Diretora que todos estamos assumindo no 180º ano de exis-
tência do Parlamento no Brasil.
Essa Assembléia tem uma história sinuosa. O primeiro Parlamento constituído
no Brasil, em 1823, foi fechado pelo absolutismo do Imperador Dom Pedro I. Apesar
disso, esta Instituição, ao longo do tempo e dos séculos, foi-se superando na necessária
representação do povo, seja como assembléia geral do Império, seja como Câmara dos
Deputados e Congresso Nacional.
Realço de seu pronunciamento a importância de resgatarmos este espaço como
uma usina de produção de idéias para o avanço do País e como o lugar de realizações
de discussões sobre os grandes temas históricos da nossa Pátria. Coloco à disposição
minha modesta formação profissional a serviço desse projeto.
É preciso lembrar também que a Câmara é reconhecida pelo seu corpo técnico,
por todos os que aqui trabalham, inclusive pelos modestos servidores da copa. É impor-
tante termos consciência de que a grandeza e o funcionamento do Parlamento não
dependem apenas dos Parlamentares que foram eleitos pelo voto popular, mas de cada
pessoa que contribui para o funcionamento desta Casa.
Sr. Presidente, iniciemos a Legislatura sob a Presidência de V. Exa., consideran-
do sua história de vida, que tem similaridade com a do Presidente da República. Essa
gestão certamente marcará época e fará com que consolidemos a democracia no País.
Digo isso porque a democracia brasileira ainda está a caminho, ainda é uma
democracia de participação limitada, muito restrita, e o Parlamento não é inimigo das
organizações populares, não é o adversário da autonomia do nosso povo, que tem de se
organizar, sim, em associações, sindicatos e centrais sindicais.
Sr. Presidente, à frente da Câmara, certamente V. Exa. será um parceiro nessa
trajetória fundamental. Parabéns pela sua eleição e que a Mesa Diretora opere sempre
com austeridade, transparência, equilíbrio e justiça”. Grifado pelo compilador.
Falam inúmeros parlamentares. Encerra-se a sessão às 21 horas e 16
minutos.
17 de fevereiro de 2003. 16 horas e 12 minutos. Plenário do Congresso
Nacional. Sessão Solene destinada à inauguração da 1ª Sessão Legislativa Ordiná-
ria da 52ª Legislatura do Congresso Nacional. Presença do Presidente da Repú-
blica, Luiz Inácio Lula da Silva (PE),. Histórica homenagem presidencial.
Pela primeira vez na história republicana um presidente eleito diretamentre
pelo povo comparece à “Sessão Solene de Abertura de Legislatura” para fazer a
entrega e leitura da mensagem presidencial que, na forma da Constituição
Federal, a cada ano é enviada ao Congresso Nacional, e que é de praxe ser
feita pelo Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República.
Após a execução do Hino Nacional, o Presidente do Congresso Nacio-
nal, Senador José Sarney Costa (MA) passa a palavra para o Presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva (PE) que ressalta: “(...) Somos representantes
de Poderes distintos, mas igualmente legítimos e fundamentais para o bom funciona-
mento da democracia.
Prestigiar esta Casa é dever de todo cidadão. Mas, no meu caso, é bem mais do
que um dever – é um tributo pessoal ao papel insubstituível do Parlamento na vida
democrática.
Todos nós, que experimentamos na carne as conseqüências do regime autoritário,
sabemos a falta que faz e a importância que tem um Parlamento livre e atuante.
Com a Constituição de 1946, mais uma vez amplia-se esse pacto republicano
com a participação de setores ideológicos, principalmente os segmentos de esquerda
incorporados ao pacto político depois da 2ª Guerra Mundial.
Vivemos algumas décadas submetidos a crises institucionais profundas,
marcadamente influenciadas pela Guerra Fria, que trouxe para o nosso País a con-
frontação ideológica e hiatos de autoritarismo.
Com a redemocratização, estabelecemos um novo pacto com a Constituição de
1988, cheia de defeitos, mas que na área dos direitos sociais foi responsável por notável
avanço.
Com a vitória de V. Exa, Sr. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amplia-se o
pacto republicano de inclusão do povo, dos trabalhadores da cidade e do campo. Enfim,
o Brasil tem um Presidente representativo das camadas e reivindicações de setores até
agora não incorporados ao processo de decisão nacional. É essa a grande mudança!
(Palmas.)
(...) A mensagem de V. Exa. tem o peso de sua vida e o idealismo de suas respon-
sabilidades. É recebido pelo Congresso, sem dúvida, como um grande documento para
reflexão e exame.
Sob a invocação de Deus e o idealismo das grandes causas, posso, em nome de
todos, das Sras. e Srs. Deputados, das Sras. e Srs. Senadores, assegurar á Nação
brasileira que o Congresso não falhará ao País. (Palmas prolongadas.)”. Grifado pelo
compilador. A sessão é encerrada às 17 horas.
Vale o registro histórico de que antes do Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva (PE) vir ao Congresso Nacional para abertura desta
legislatura, Getúlio Dornelles Vargas (RS) havia comparecido a uma sessão
solene, não como presidente eleito, mas como Chefe do Governo Provisório,
na abertura dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, no dia 15 de
novembro de 1933, quando fez a entrega e a leitura de sua mensagem, pres-
tou contas de seus atos após a deposição do Presidente da República e a
implantação de um novo regime de governo. Também, o Presidente da Re-
pública José Sarney Costa (MA), no dia 15 de fevereiro de 1990, compareceu
pessoalmente à “Sessão Solene destinada à instalação dos trabalhos da 4ª Sessão
Legislativa Ordinária da Quadragésima Oitava Legislatura”, ocasião em que leu a
última mensagem do seu mandato e com esse gesto prestou homenagem aos
parlamentares e constituintes que participaram dos grandes debates na ela-
boração da nova Carta Constitucional.
Durante o Império, no dia 3 de maio, entre meio dia e 13 horas, na
abertura anual dos trabalhos legislativos, na denominada “Sessão Imperial da
Abertura da Assembléia Geral Legislativa”, o monarca, na denominada “Fala do
Trono” (existia um trono reservado para ele), logo que tomava assento e man-
dava que se assentassem também os Srs. Deputados e Senadores, lia pessoal-
mente a sua mensagem perante os Representantes da Nação (Câmara e Se-
nado) expondo a situação do País, os planos de governo e as sugestões aos
parlamentares de proposituras que poderiam ser adotadas durante a sessão
legislativa. Ao final do ano legislativo, o Imperador comparecia novamente
A Câmara dos Deputados não ficará inerte. Quem sabe faz a hora, e a hora é
essa. Nós, Parlamentares, conhecemos as necessidades do Brasil. Juntos, unidos no
ideal de reconstruir a Nação, podemos dar início a amplo debate sobre as reformas que
se fazem necessárias. Acabou o tempo de se falar muito e de se fazer pouco. Não pode-
mos deixar que os saudosos períodos recentes de nossa história, em que a Nação parecia
ser levada por projetos nascidos da vaidade de seus mandatários. Não, o trabalho
consciente e precoce de análise das propostas de reforma ora em pauta constituem,
acima de tudo, uma demonstração altiva do próprio exercício de independência do
Poder Legislativo.
Afinal, o Congresso Nacional é o legítimo desaguadouro de todas as reformas,
porque é aqui onde a sociedade se sente representada. O nosso mister é propor, debater,
consensuar quando possível e votar sempre para decidir quais serão os contornos da
nossa República.
(...) Sras. e Srs. Deputados, antes de encerrar, quero chamá-los mais uma vez
para uma reflexão urgente e muito presente. Acabo de assinar abaixo-assinado a mim
apresentado pela Deputada Janete Capibaribe que condena a guerra que se desenha no
Oriente Médio. Nenhuma guerra é justa, nenhuma causa vale a vida de civis inocen-
tes, de crianças que morrem vítimas de bombardeios.
A Câmara dos Deputados tem tido posição ativa nessa questão. Aliás, quatro
companheiros nossos já estiveram no Iraque para constatar in loco a grave situação
vivida por aquele país.
Apoio os esforços das Nações Unidas para evitar a guerra e também a declaração
comum da Rússia, da França e da Alemanha que alerta para os riscos que corre o
sistema internacional de direitos caso ocorra ação unilateral contra o Iraque.
Conclamo todos os Parlamentares do mundo, especialmente da América Latina,
a se manifestarem a favor da paz.
Que sina da humanidade essa de chegar ao século XXI tendo de lidar com ques-
tões ancestrais, como a arrogância de homens que não se curvam à diplomacia e à
civilidade, que ainda crêem na tirania, no obscurantismo e no poder de fogo.
Esta Casa e a Nação têm de repudiar de todas as formas que se configurarem
possíveis o conflito que tisna o mundo e põe em transe as economias e as instituições
internacionais.
Sras. e Srs. Deputados, vamos iniciar mais uma Sessão Legislativa e escrever
mais uma página da História do Brasil. (Palmas.)
Simbolicamente, assino o Ato da Presidência que cria as quatro Comissões por
mim anunciadas. (Palmas.)”. Grifado pelo compilador.
São criadas comissões especiais para tratar da reforma previdenciária,
da reforma tributária, da reforma política, e da reforma trabalhista. A sessão
encerra-se às 20 horas e 38 minutos.
12 de junho de 2003. 11 horas e 23 minutos. Plenário do Congresso
Nacional. Sessão Conjunta Solene “destinada a dar início às comemorações dos
180 anos de criação do Poder Legislativo no Brasil”. Primeira Sessão Legislativa
Ordinária da 52ª Legislatura. O Presidente do Congresso Nacional, Senador
José Sarney Costa (MA), faz seu pronunciamento onde destaca que “(...) Uma
nação não se faz sem historiadores, sem políticos e sem poetas. Os historiadores para
falarem do passado, os políticos para tratarem do presente, e os poetas para sonharem
com o futuro.
Estamos hoje recordando um momento inaugural e importante da História do
Brasil, a instalação do Poder Legislativo. No dia 3 de maio de 1823, instalou-se,
depois das reuniões preparatórias de 17, 18 e 30 de abril, 1º e 2 de maio, a Assembléia
Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil. No dia 2, a deputação nomeada
para anunciar ‘o dia da instalação solene da mesma Assembléia dirigiu-se, em três
coches que Sua Majestade Imperial tinha mandado por à disposição’, ao Paço, e ali
Sua Majestade ‘declarou que com extremo prazer viria abrir no dia aprazado seus
augustos trabalhos’.
Pediu Dom Pedro aos parlamentares que fizessem ‘uma Constituição sábia, justa,
adequada e executável, ditada pela razão, e não pelo capricho, que tenha em vista tão-
somente a felicidade geral...’ – e sempre seguindo o texto preparado por José Bonifácio
–, ‘uma Constituição que pondo barreiras inacessíveis ao despotismo, quer real, quer
aristocrático, quer democrático, afugente a anarquia e plante a árvore daquela liber-
dade a cuja sombra deve crescer a união, tranqüilidade e independência deste Império,
que será o assombro do mundo novo e velho’.
Com essas idéias e sonhos, instalava-se a nossa Assembléia Constituinte.
Da aliança entre o ministro e o jovem príncipe, o Brasil surgira independente.
Penso que não erro se afirmar que as origens deste nosso Parlamento antecedem mesmo
a Independência do Brasil; o ideal parlamentar já estava na cabeça de todos aqueles
que a promoveram. A independência do País foi proclamada aos Povos do Brasil no
Manifesto de 10 de agosto de 1822: ‘Acordemos, pois, generosos habitantes deste vasto
e poderoso Império, está dado o grande passo da vossa Independência...Já sois um
Povo Soberano...’. Foi proclamada também aos Governos e Nações amigas: ‘...a vonta-
de geral do Brasil, que proclama à face do Universo a sua Independência...’
(...) A abertura do Parlamento brasileiro fez-se com pompa e circunstância.
(...) Devemos ressaltar que, naquele momento, homens que começavam a cons-
truir o País começavam também a construir as instituições nacionais aqui, no Parla-
mento. Discutia-se liberdade individual; liberdade religiosa; liberdade de indústria;
liberdade de imprensa, num País em que não existia ainda imprensa nem prelos; juízo
por jurados; igualdade perante a lei, igualdade de acesso a cargos públicos;
inviolabilidade da propriedade; direito e dever da resistência à opressão e até mesmo a
restrição à conduta dos Parlamentares de não poder acumular cargos, quando o Parla-
mento ainda não existia e eles começavam a se reunir naquele momento.
Hoje, estamos comemorando 180 anos da instalação do Poder Legislativo e, na
consciência de todo o povo brasileiro, deve estar o fato de que a História do Brasil
passou por aqui. Aqui construímos as instituições nacionais. Este País foi uma obra da
constituição do Parlamento. Aqueles que fizeram a independência foram os homens que
instalaram o Poder Legislativo no Brasil, foram os homens que discutiram as idéias
fundamentais que, dia a dia, ao longo do tempo, foram aprimoradas. Na longa e
sofrida História brasileira, esses homens fizeram deste País um país de idéias liberais,
Quadro/Ilustração nº 30
O Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o Vice-Presidente
José Alencar Gomes da Silva. Deslocamento para cerimônia de posse e prestação do
compromisso constitucional no Congresso Nacional no dia 1º de janeiro de 2003.
Quadro/Ilustração nº 31
A diversidade partidária
Pela ordem – da esquerda para a direita: João da Mata Machado (1891), Bernardino José
de Campos Júnior (1892), João Lopes Ferreira Filho (1893) e Francisco de Assis Rosa
e Silva (1894-1895).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Artur César Rios (1896-1897-1898), Carlos Vaz
de Melo (1899-1900-1901-1902), Francisco de Paula Oliveira Guimarães (1903-1904-
1905-1906) e Carlos Peixoto de Melo Filho (1907-1908-1909).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Sabino Alves Barroso Júnior (1909-1910-1911-
1912-1913-1914-1917-1918-1919), Astolfo Dutra Nicácio (1915-1916-1917-1919-
1920), Júlio Bueno Brandão (1920) e Arnolfo Rodrigues de Azevedo (1921-1922-
1923-1924-1925-1926).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Samuel Vital Duarte (1947-1948), Carlos Cirilo
Júnior (1949-1950), Nereu de Oliveira Ramos (1951-1952-1953-1954) e Carlos
Coimbra da Luz (1955).
Pela ordem – da esquerda para a direita: José Antônio Flores da Cunha (1955),Ulysses
Silveira Guimarães (1956-1957-1985-1986-1987-1988), Paschoal Ranieri Mazzilli
(1958-1959-1960-1961-1962-1963-1964) e Olavo Bilac Pereira Pinto (1965).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Adauto Lúcio Cardoso (1966), João Batista Ra-
mos (1967), José Bonifácio Lafayette de Andrada (1968-1969) e Geraldo Freire da
Silva (1970).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Ernesto Pereira Lopes (1971-1972), Flávio Portela
Marcílio (1973-1974-1979-1980-1983-1984), Célio de Oliveira Borja (1975-1976) e
Marco Antônio de Oliveira Maciel (1977-1978).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Nelson Marchezan (1981-1982), Antônio Paes
de Andrade (1989-1990), Ibsen Valls Pinheiro (1991-1992) e Inocêncio Gomes de
Oliveira (1993-1994).
Pela ordem – da esquerda para a direita: Luís Eduardo Maron de Magalhães (1995-1996),
Michel Miguel Elias Temer Lulia (1997-1998-1999-2000), Aécio Neves da Cunha (2001-
2002) e Efraim de Araújo Morais (2002).
Quadro nº 32
Capa do Diário da Câmara dos Deputados do dia 17 de abril de 2003 (180 anos
da Primeira Sessão Preparatória da Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa
do Império do Brasil, realizada no dia 17 de abril de 1823)
DIÁRIO
sentantes e julgue do fervor com que estes sustentão os interesses publicos na árdua e
difficil tarefa da organisação de lei fundamental, e das mais leis e reformas urgentes
que a seus desvelos se achão confiadas: propõe o seguinte plano de regulamento provisorio
para o estabelecimento da redacção:
CAPÍTULO I
DO ESTABELECIMENTO E SEUS EMPREGADOS
Art. 1º Haverá um redactor com um ordenado annual de 1:000$000;
Tres tachygraphos maiores com o ordenado de 600$000.
Seis ditos menores com o ordenado entre 100$ e 300$000, conforme os seus
merecimentos.
Dous escripturarios com o ordenado de 200$000.
Um servente com 300 rs. por dia.
Um administrador encarregado da venda do Diario, com o ordenado de 400$000.
Art. 2º Estes empregados serão providos pela assembléa á proposta da commissão,
precedendo exame de capacidade e costumes dos pretendentes. A cada um dos emprega-
dos se dará titulo da sua nomeação ficando-lhe prohibido occupar-se em qualquer outro
periodico, ou dar a alguem apontamentos para elle.
Art.3º A commissão terá inspecção sobre todos os empregados, os quaes lhe ficão
responsaveis pelos abusos ou faltas no exercicio de seus cargos.
CAPÍTULO II
DO REDACTOR
Art. 4º O redactor receberá dos tachigraphos o manuscripto das notas decifra-
das, e da secretaria as cópias das actas e os mais papeis que devão entrar no Diario por
inteiro ou por extracto. Incumbe-lhe fazer estes extractos com fidelidade e concisão.
Art. 5º É mais attribuição do redactor corrigir os manuscriptos apurados das
notas dos tachygraphos. Esta correcção estende-se:
1º riscar repetições viciosas de palavras ou de proposições;
2º Polir a linguagem;
3º Substituir termos proprios, que na rapidez da falla não acudirão ao pensa-
mento, a outros de menor propriedade;
4º Supprir lacunas e atar o fio do discurso;
5º A’s concordancias grammaticaes; e
6º A’ orthographia pelo systema etymologico, porém jámais se extenderá a subs-
tituir ás fallas recolhidas pelos tachygraphos outras mais longas e diversas dellas, salvo
se tendo sido primeiro trabalhadas de espaço, fossem de memoria expostas á assembléa.
Em caso de total obscuridade ou duvidosa intelligencia consultará os autores das fallas.
Art. 6º Corrigido o Diario manuscripto, e assignado pelo redactor, ficará por 24
horas sobre a mesa no gabinete da redacção para os Srs. deputados irem (querendo)
retocar as suas fallas, ou verem os toques que lhes fez o redactor.
Art. 7º O Diario será depois remettido para a impressão, e as provas voltarão ao
redactor para as rever e emendar.
Art.8º Impresso o Diario, o redactor fará a tabella dos erros ou faltas que esca-
passem á sua attenção, para sahir no seguinte numero.
CAPÍTULO III
DOS TACHYGRAPHOS E ESCRIPTURARIOS
Art. 9º Os tachygraphos serão distribuidos pela commissão em tres turnos para
se alternarem nos dias de sessão; a cada um se designará assento na sala.
Art. 10. Comprehenderão nas suas notas tudo o que os senhores deputados dis-
serem, e elles puderem abranger, apontando os lugares em que aquelles lerem papeis.
Art. 11. Decifrarão depois as suas notas sem demora, juntando-se para esse fim
todos os que trabalhárão na sessão, dirigindo a operação o mais qualificado; ahi será
escripta a versão por um delles, ou por um escripturario, o que feito passará o manuscripto
ao redactor.
Art. 12. Os escripturarios serão applicados pela commissão já em passar a limpo
as notas dos tachygraphos, já em copiar os trabalhos do redactor, ou em outro qualquer
escripto que convenha ao Diario e sua redacção.
CAPÍTULO IV
DA COMMISSÃO DO DIARIO
Art. 13. A commissão fará as propostas para os empregos do estabelecimento do
Diario, conforme o art. 2º.
Art. 14. Regulará as condições das assignaturas do Diario, procurando sempre
facilitar ao publico a sua leitura.
Art. 15. Examinará as contas dadas mensalmente pela impressão, e pelo admi-
nistrador, e a folha dos ordenados das pessoas do estabelecimento, para tudo ser pago
com a sua approvação.
Art. 16. Proporá as reformas necessarias no systema do estabelecimento e no da
impressão, quando convenha mudar de officina ou methodo.
Paço da assembléa, 12 de Maio de 1823. – Candido José de Araujo Vianna. –
Antonio Gonçalves Gomide. – João Antonio Rodrigues de Carvalho”. Grifado pelo com-
pilador.
O “Projeto de Regulamento Para a Redacção do Diario da Assembléa” é dis-
cutido nos dias 22 e 23 de maio de 1823. É aprovado, com alterações, na
sessão posterior, ou seja, no dia 24 de maio, prevendo, entre outros atos, a
venda do diário através de assinatura, a sua distribuição às províncias e aos
deputados constituintes, a contratação de um redator, dois taquígrafos maio-
res, seis taquígrafos menores, um escriturário e um servente do diário, e de-
finindo, também, as respectivas atribuições desses contratados.
Quando se discute o “Regulamento Para a Redacção do Diario da Assembléa”,
em 22 de maio de 1823, suscita-se a questão do número e do ordenado dos
taquígrafos encarregados dos debates. O Deputado José Bonifácio de Andrada
e Silva (SP), aproveitando a oportunidade, faz os esclarecimentos sobre as
medidas tomadas por ele, para que a Assembléia, desde a sua inauguração,
pudesse contar com esses profissionais, e diz: “Eu quero sómente fazer uma expli-
cação para illustrar a materia. Logo que se convocou esta assembléa vio Sua Magestade
a necessidade de haver tachygraphos; eu fui encarregado de dar as precisas providen-
cias. Um official da secretaria de estado dos negocios estrangeiros se incumbio de abrir
uma aula de tachygraphia; e alumnos matriculados trabalharão nessa aula. Para que
fossem mais assiduos Sua Magestade lhes mandou dar uma diaria de duas patacas,
obrigando-se elles a aprender esta arte de que devião fazer uso em serviço da assembléa.
Eis aqui o que tenho que dizer para que sirva de regulamento na deliberação”. Grifado
pelo compilador.
removermos este obstaculo. Para isso offereço a seguinte: Indicação – Proponho que se
diga ao governo haja de dar pela competente repartição as providencias convenientes
para que se facilite ao compositor da imprensa nacional, encarregado do Diário da
Assembléa, o numero de collaboradores que elle disser necessarios para a expedição do
seu trabalho, afim de haver regularidade na publicação do mesmo Diario”. Grifado pelo
compilador. Em seguida o Deputado Antônio Ferreira França (BA) pronuncia:
“Acho que se deveria fazer a mesma advertencia a respeito das actas; devem andar em
dia, e andão extraordinariamente atrasadas, o que traz consigo o grave inconveniente
de não poderem os Srs. Deputados estar ao facto do que se tem passado nas sessões
anteriores. É o motivo porque faço á indicação do Sr. Araujo Vianna o seguinte:
Additamento – E que se dêm as ordens necessárias á mesma impressão nacional para
que sem perda de tempo se fação imprimir as actas da Assembléa logo que pela secreta-
ria desta lhe fôr remettido o competente manuscripto”. Grifado pelo compilador. Após a
discussão da matéria, é aprovada a indicação e o aditamento.
No dia 25 de setembro de 1823, é enviado ofício ao Ministro e Secretá-
rio de Estado dos Negócios da Fazenda Manoel Jacinto Nogueira da Gama
(MG), depois primeiro Visconde, Conde e Marquês de Baependi, com o se-
guinte teor: “Ilm. E Exm. Sr.: – A assembléa geral constituinte e legislativa do Imperio
do Brazil, manda participar ao governo que é indispensavel que a junta directora da
typographia nacional passe as ordens necessarias tanto para ser auxiliado o compositor
encarregado do Diario da assembléa com os officiaes que forem precisos para a expedi-
ção do seu trabalho, e regularidade da publicação, como tambem para a prompta im-
pressão das actas da assembléa á medida que forem remettidas a mesma typographia. O
que V. Ex. levará ao conhecimento de S. M. Imperial. Deus guarde a V. Ex. Paço da
assembléa, em 25 de setembro de 1823. João Severianno Maciel da Costa”. Grifado
pelo compilador. No dia 7 de outubro é lido, em Plenário, ofício do Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda, Manoel Jacinto Nogueira da
Gama (MG), depois primeiro Visconde, Conde e Marquês de Baependi, com
o seguinte teor: “Ilm. e Exm. Sr. – Em conformidade do officio que V. Ex. de ordem da
assembléa geral constituinte e legislativa deste imperio, me dirigio em data de 25 de
setembro ultimo, para o fazer presente a S. M. o Imperador: Mandou o mesmo augusto
Senhor, que se expedisse portaria á junta directoria da officina typographica para ser
auxiliado o compositor dos Diarios da mesma assembléa, tanto neste trabalho, como na
prompta impressão de suas actas á medida, que fossem remettidas á dita typographia, o
que effectivamente se cumprio em 30 do indicado mez: e respondendo aquella junta a
este negocio em officio do 1º do corrente: determinou S. M. o Imperador que eu passas-
se ás mãos de V. Ex. o dito officio para ser presente a mesma assembléa o zeloso modo,
porque a junta se propõe executar as ordens que recebera ao dito respeito. Deus guarde
a V. Ex. Paço, em 4 de Outubro de 1823. – Manoel Jacintho Nogueira da Gama”.
Grifado pelo compilador.
O“Diario do Governo” – periódico da iniciativa privada, onde eram pu-
blicados portarias, decretos, e extratos dos trabalhos da Assembléia Geral,
Constituinte e Legislativa –, e que para completá-lo eram inseridos outros
artigos escolhidos pelo redator ou pelos donos da folha, suscitavam vivas
Quanto aos outros empregados da casa, vê-se pela sua natureza que não reque-
rem habilitação litteraria. Devem ser homens de bem e zelosos no cumprimento das
ordens de seus superiores. Seu provimento, conseguintemente, deve depender sómente
do gráo de confiança que inspirão.
(...) A mesa fica autorisa a dar as providencias necessarias para se organizar
regularmente o archivo da secretaria e fundar-se uma bibliotheca.
Paço da camara dos deputados, 25 de julho de 1864. – Francisco José Furtado,
presidente. – Tito Franco de Almeida, 1º secretario. – Pedro Luiz Pereira de Souza,
2º secretario. – Henrique Limpo de Abreu, 3º secretario. – José Angelo Marcio da
Silva, 4º secretario”. Grifado pelo compilador.
O Parecer de 5 de julho de 1865 criou dois lugares de ajudantes de
arquivistas, um dos quais, ulteriormente, foi tranformado no de amanuense
(servidor público que copiava, registrava documentos e expedia a correspon-
dência) da Secretaria.
Ainda no Parecer de 20 de abril de 1866, assinalava-se que o trabalho
dos empregados da Secretaria da Câmara dos Deputados tinha de aumentar
com o estabelecimento da Biblioteca e do Arquivo, que se tratavam de criar;
e ainda o art. 8º do Regulamento da Secretaria, de 30 de junho do mesmo
ano, determinava que a Mesa mandaria “inventariar pelo Official Archivista to-
dos os livros pertencentes á bibliotheca, assim como pelo Porteiro da Secretaria os moveis
e o mais que pertencesse á camara, sendo esses inventarios assignados pelos dois empre-
gados acima referidos, os quaes ficariam responsaveis pela conservação e guarda do
que se tivesse inventariado”.
No mesmo ano, em data de 1º de junho, houve parecer entregando a
um oficial da Secretaria as funções de arquivista, e outro parecer, de 26 de
julho de 1871, mantinha essa situação e conservava a um segundo oficial o
encargo de ajudante de arquivista. Com a expansão, cada vez maior, desses
dois serviços, tornou-se imprescindível que eles passassem a ser autonômos,
nomeando-se um arquivista e um bibliotecário, como ficou exposto no pri-
meiro parecer que se devia “Organizar regularmente o archivo da secretaria e
fundar-se uma bibliotheca”.
Os pronunciamentos, debates, discussões, atos legislativos e adminis-
trativos da Câmara dos Deputados anteriores ao ano de 1857 continuavam
esparsos, em raros livros de atas impressas da Assembléia Geral, Constituinte
e Legislativa de 1823, e da Câmara dos Deputados, a partir de 1826. São
encontrados em poucas bibliotecas da Corte e em jornais, que as transcre-
viam, de rara e difícil aquisição e incômodo exame. Por esses motivos, a idéia
inicial de publicação desses debates ficava incompleta. Inspirando-se em tais
sentimentos, a Comissão de Polícia da sessão legislativa do ano de 1870, e
constituída pelos Deputados Brás Carneiro Nogueira da Costa Gama (RJ),
segundo Visconde e Conde de Baependi, presidente; Joaquim Pires de Ma-
chado Portella (PE), Primeiro-Secretário; José Maria da Silva Paranhos Júnior,
Barão do Rio Branco (MT), Segundo-Secretário; Francisco Pinto Pessoa (PB),
Terceiro-secretário; e Manoel José de Menezes Prado (SE), Quarto-Secretário,
entretanto que taes discussões são de maxima importancia politica, porque referem-se
ao tempo da fundação do Imperio, ou ao da sua reorganisação depois da revolução de
Abril; phases essas que se desenham nos debates parlamentares, ou na promulgação das
leis por typos differentes, por tendencias de certa côr local.
Do valor e importancia dos actos legislativos elaborados no longo periodo a que
alludimos, dão pleno testemunho sua simples enunciação.
Na Constituinte, illustrado congresso de tão eminentes varões, dos mais distinctos
caracteres pelo seu saber e virtudes publicas, nessa illustre assembléa, a cuja sabedoria,
e patriotismo a historia um dia pagará amplo e justo tributo, discutiram-se grandes
medidas politicas, e administrativas, quaes o projecto da Constituição, e da creação dos
governos provinciaes, da liberdade de imprensa, da fundação de universidades, e ou-
tras de somenos valia, mas que directamente interessavam á causa publica; entretanto
onde a fonte em que se possa com facilidade compulsar essas discussões? Os proprios
livros das actas impressas da Constituinte são hoje raros, e sómente encontram-se em
algumas das poucas Bibliotecas desta Côrte, os jornaes que as inscreviam esses mais
raros ainda, e apenas possuidos por algum infatigavel cultor das cousas patrias. Assim
é que os actos legislativos desse congresso, cuja existencia constituiu a pedra angular
da independencia da nação escapam á critica, e apreciação do povo brazileiro, e têm
sido apreciados por prismas de notavel contradicção e manifesta divergencia, pela falta
dos necessarios elementos para uma recta aferição.
Depois da Constituinte, da legislatura de 1826 em diante, o corpo legislativo
occupou-se igualmente de importantissimos pontos da nossa legislação.
Os códigos do processo, e criminal, o acto addicional, a lei de interpretação, a do
regimen das municipalidades, da reforma judiciária em 1841, da colonisação e terras
públicas, da guarda nacional, da reforma hypothecaria, das que estatuiram providen-
cias para a repressão do tráfego de escravos, da reforma eleitoral, a do codigo commercial,
das reformas administrativas, e da instrucção pública, e tantas outras que attestam
altos monumentos de sabedoria de nossas camaras, e que abonam a proficiencia de
nossos legisladores, proficiencia exuberantemente provada nas longas, e esclarecidas
discussões dessas leis, jazem escriptas em truncadas gazetas da época, e se a tempo não
forem devidamente colleccionadas soffrerão o inexoravel destino de todas as cousas
humanas, a ruina, e o desapparecimento. Entretanto, que opulento cabedal de sciencia
legislativa e politica perderá o estadista, o advogado, o jurisconsulto, o professor de
nossas faculdades, o historiador, o juiz, os vindouros deputados e senadores, se a acção
do tempo, ou a poeira dos archivos destruirem esses copiosos mananciaes, onde possam
obter as consultas, onde aprofundar o estudo das leis, de seus motivos, e a opportunidade
de sua decretação!
No systema representativo a publicidade de todos os actos dos poderes supremos
não é simplesmente um preceito saudavel, deve ser antes um dogma invariavel do
regimen, porque é nessa publicicade que os mesmos poderes vão buscar as forças vivazes
de sua consolidação e os elementos indispensáveis para guiarem a opinião na estrada
das grandes reformas.
Escusa-se o supplicante de asseverar a esta Augusta Camara que no empenho
proposto não é estimulado pelo movel do mesquinho interesse pecuniario, mais nobre
incentivo o excita a este commettimento, qual o desejo de ligar seu obscuro nome ao
livro que tem de memorar aos vindouros os grandes feitos parlamentares da geração
que fundou o Imperio, e que o organisou após a revolução de Abril, e ainda pelos
tempos que correm.
Nestes termos, e havendo a lei n. 1836 de 27 de Setembro de 1870 art. 2º e § 15,
e o decreto n. 2035 de 23 de Setembro de 1871 consignado fundos para a impressão
dos Annaes Parlamentares anteriores ao anno de 1857, propõe-se o supplicante a
proceder á organisação dos referidos Annaes na fórma como fôr estipulada pela
Commissão de policia; e assim
Pede respeitosamente á Augusta Camara dos Srs. deputados que se digne deferir-
lhe como requer. E. R. M. Rio, 2 de Janeiro de 1873. Antonio Pereira Pinto”. Grifado
pelo compilador.
Desejando concorrer com o meu trabalho para que se termine a publicação dos
Annaes anteriores a 1857, a qual está bastante adiantada, faltando apenas os annos
de 1833, 1835, 1836 e 1837, offereço os meus serviços gratuitamente, tanto para
rever o 2º volume do anno de 1838, que está no prelo e não póde ser publicado sem a
necessaria revisão, como para colligir e fazer imprimir os poucos annos que faltão,
correndo sómente a despeza com a impressão, de conformidade com o contracto em
vigor e dentro da verba votada no orçamento vigente, a qual me parece sufficiente para
a conclusão de todo o trabalho.
A vista da difficuldade de acquisição de originaes, não posso contrahir compro-
misso algum, mas garanto a V. Ex. envidar todos os esforços para que não pare tão
importante publicação.
Se V. Ex. e os dignos membros da Meza da Camara dos Srs. Deputados entende-
rem que devem aceitar o meu offerecimento, dar-me-hei por bem remunerado, não só
por merecer a confiança de V. Ex. e dos seus illustrados collegas, como tambem por ter
a gloria de concorrer para que não fiquem esquecidas com o caminhar dos tempos as
mais brilhantes paginas da vida parlamentar de nossa patria.
Sou com a maior consideração e respeito
De V. Ex. attento, venerador, criado e obrigado
Jorge João Dodsworth”. Grifado pelo compilador.
Na introdução dos livros compilados pelo Conselheiro Jorge João
Dodsworth encontramos, também, a seguinte observação: “Comprehendo bem
a difficuldade da empreza a que me arrisquei, mas esforçar-me-hei para leval-a ao fim,
procurando imitar os meus dignos e illustrados antecessores, de saudosa memoria e
tendo em vista unicamente ligar tambem o meu obscuro nome a um trabalho de tanta
valia”.
O trabalho de recuperação dos Anais e Diários da Câmara dos Depu-
tados, sua posterior publicação e, também, a preocupação constante com o
inteiro teor dos trabalhos legislativos, nos dá uma visão geral das dificulda-
des e dos acontecimentos da época em que estão inseridos.
Quadro nº 33
Capa do primeiro volume de Anais da Assembléia Geral
Constituinte e Legislativa de 1823.
Neste volume registra-se, dentre outras, a Primeira Sessão
Preparatória da Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa
do Império do Brasil, realizada a 17 de abril de 1823.
ANAIS
cada membro do corpo legislativo; e podendo ao mesmo tempo mandar publicar pela
mesma maneira os trabalhos a principiar do primeiro dia de sessão da actual legislatura”.
Grifado pelo compilador.
Esta indicação e uma representação assinada pelo Sr. Manoel Antônio
de Almeida foram acolhidas pelo Parecer da Comissão de Polícia de 31 de
agosto de 1855, que diz: “Suscita-se na indicação a idéa de contractar a publicação
dos trabalhos desta augusta camara de modo que seja attendida a necessidade de serem
no fim de cada sessão os trabalhos legislativos reunidos, independentemente de outros
assumptos, em um ou mais volumes, de que se distribua um exemplar a cada membro
do corpo legislativo, comprehendendo logo nessa publicação os trabalhos havidos desde
o primeiro dia de sessão da actual legislatura. Na representação mencionada contem-se
a proposta da creação de uma folha com o título de Boletim, Monitor, Annaes Parla-
mentares ou outros que melhor convenha, na qual se publiquem os trabalhos da camara
debaixo do plano e garantias, que a mesa julgue acertadas, tomando-se por base que
essa publicação seja feita em formato de livro, que se dêm os exemplares precisos para
serem diariamente distribuidos pelos membros do corpo legislativo, e mais funccionarios
á respeito de quem o mesmo se determine, que além disso seja distribuida no fim das
sessões a cada membro do corpo legislativo uma segunda collecção completa da folha,
com indices e brochada em fórma de livro, e que a redacção desta folha especial publi-
que no fim das sessões uma synopse dos trabalhos das camaras, um indice alphabetico
das materias discutidas, com as remissões necessarias. Propõe mais o peticionario
incumbir-se de publicar integralmente todo o expediente, projectos de lei, pareceres de
commissões, etc., e finalmente, que o 1º anno seja considerado de experiencia para a
realisação da idéa, e verificação do orçamento da despeza, não sendo a camara obri-
gada a manter a folha, se, no fim da experiencia, reconhecer que a empreza não é
proveitosa.
Parece evidente á mesa a conveniencia, se não a necessidade de providenciar em
ordem a que a publicação de todos os seus trabalhos seja feita não só prompta e segui-
damente, como ainda de modo que torne uma tarefa igualmente prompta e mais facil
possivel, a de serem suas discussões e actas consultadas em qualquer tempo, conciliando
esse desideratum com o menor dispendio possivel.
Attendendo-se pois á manifesta utilidade de ser feito esse serviço pelo methodo
indicado; e para que melhor se conheção e adoptem quaesquer planos, que mais vanta-
josos possão ainda ser na execução desse pensamento; entende a mesa, e propõe á
camara que seja a mesma mesa encarregada de:
1º Notificar ou prevenir desde logo á empreza actualmente incumbida da publi-
cação dos trabalhos da camara, que o respectivo contracto termina com a sessão do
presente anno, e sómente poderá continuar no caso de não realisar-se o contracto, que
se tem em vista no paragrapho seguinte.
2º Convidar os concurrentes a contractar a publicação dos trabalhos da mesma
camara a contar do principio da sessão do anno vindouro, debaixo das bases já referi-
das, accrescendo (para que continue a mais completa circulação) que essa folha, ou
publicação dos trabalhos da camara dos deputados, acompanhe a qualquer dos jornaes
da côrte, ou seja a elle annexa de modo a poder integral e distinctivamente separar-se,
e formar livro, e de effectivamente contractar com aquelle dos concurrentes que melhor
e com melhores garantias aceite e execute esse trabalho.
Paço da camara dos deputados, em 31 de Agosto de 1855. – Visconde de Baependy.
– Francisco de Paula Candido. – Antonio José Machado. – Lindolfo José Corrêa das
Neves. – Silverio Fernandes de Araujo Jorge”. Grifado pelo compilador.
14 de maio de 1857. Plenário da Câmara dos Deputados. Leitura do
requerimento de “J. Villeneuve e C.”, proprietários do “Jornal do Commercio”,
propondo publicar os trabalhos da Câmara dos Deputados no respectivo jor-
nal a partir do ano de 1857, em volumes separados, sob o título de “Annaes do
Parlamento Brazileiro”. No dia 15 de maio é colocado em discussão o Parecer
da Mesa sobre a publicação dos trabalhos da Câmara dos Deputados. O Depu-
tado Augusto Frederico de Oliveira (PE) apresenta a seguinte emenda: “Que
fique a mesa autorisada a innovar, pelo modo que lhe parecer mais conveniente, o
contrato para a publicação do debates da camara, tendo em vista o pensamento da
indicação”. Não havendo quem peça a palavra para discutir a emenda, em
seguida é colocada em votação, sendo aprovada e ficando prejudicado o Pa-
recer da Mesa. No dia 23 de maio o Primeiro-Secretário comunica ao Plená-
rio que, “em virtude da autorização que lhe foi concedida, a Mesa renovou o contracto
que havia com os proprietarios do ‘Jornal do Commercio’ para a publicação dos traba-
lhos legislativos e que o referido contracto está disponível, sobre a mesa, para o exame
dos interessados”.
Com a assinatura do contrato com o “Jornal do Commercio” inicia-se a
publicação dos pronunciamentos, debates, e atos da Câmara dos Deputados
em volumes anuais e distintos, sob o título de “Annaes do Parlamento Brazileiro”.
16 de dezembro de 1874. A Mesa da Câmara dos Deputados contrata
com o Conselheiro Antônio Pereira Pinto a compilação dos “Annaes Parlamen-
tares” anteriores a 1857, devendo ficar concluido o trabalho dentro do prazo
de 10 anos. Têm início a publicação dos Anais com o título de “Annaes do
Parlamento Brazileiro, Assembléia Constituinte, 1823”, e, também, a publicação
dos “Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados”.
O Conselheiro Antônio Pereira Pinto, contratado para fazer a compila-
ção dos “Annaes Parlamentares” anteriores a 1857, vem a falecer no dia 5 de
junho de 1880, tendo feito publicar os Anais de 1823, 1826 a 1832, 1834,
1846 a 1856.
21 de dezembro de 1880. É transferido o contrato ao Sr. Antônio Henock
dos Reis e prorrogado o prazo por mais dois anos, sendo ainda, por ato de 30
de agosto de 1884, prorrogado até 1º de janeiro de 1887.
Durante o período de 1º de janeiro de 1881 a 18 de dezembro de 1886,
dia em que veio a falecer o Sr. Antônio Henock Reis, foram publicados os
anais de 1838 a 1845.
7 de maio de 1887. A Mesa da Câmara dos Deputados, atendendo a
conveniência de se completar a publicação dos “Annaes Parlamentares” ante-
Considerações Finais
delegados. Creio na palavra ainda quando viril ou injusta, por que acredito na fôrça
das idéias e no diálogo que é seu livre embate. Creio no regime democrático, que não se
confunde com a anarquia, mas que em instante algum possa rotular ou mascarar a
tirania. Creio no Parlamento, ainda que com suas demasias e fraquezas, que só desapa-
recerão se o sustentarmos livre, soberano e independente”. É a força da tribuna e a
sensibilidade patriótica dos homens e mulheres que escrevem a nossa histó-
ria democrática.
Em certos momentos, no calor do debate, dizemos até que os parla-
mentares não trabalham, pois só olhamos para o plenário vazio – registrado
por um ou outro veículo de comunicação –, de uma modorrenta tarde de
sexta-feira, quando todos se ausentaram da capital do País para as suas bases
políticas, em busca do apoio de seus eleitores aos atos legislativos promulga-
dos ou em discussão, apoio este essencial para o amadurecimento, a crítica e
o acerto em suas decisões.
Quando se trata deste assunto devemos relembrar dos trabalhos parla-
mentares nas inúmeras comissões do Congresso Nacional. E aqui vale regis-
trar a máxima do presidente norte-americano Woodrow Wilson (1913-1921):
“Não está longe da verdade o dizer-se que o Congresso em sessão é o Congresso em
exibição pública, enquanto que o Congresso nas salas de suas comissões é o Congresso
que trabalha”. E como se trabalha.
O Deputado Samuel Vital Duarte (PB), Presidente da Câmara dos De-
putados nos anos de 1947 e 1948 tinha especial predileção pelo trabalho das
comissões “que é o mais importante na elaboração legislativa, embora seja menos
ostensivo que o da sala de sessões. No Plenário ainda se admite o debate acadêmico e as
exibições de eloqüência verbalista, nos órgãos técnicos, porém, não há lugar para tais
exibições. Nelas o que vale é a análise e a crítica dos problemas e suas soluções a frio”
e o Deputado Antônio Geraldo de Azevedo Guedes (PE), ao referir-se da
tribuna ao valor das comissões, no processo de elaboração legislativa, disse
que é “a oficina, o laboratório, o lugar silencioso e anônimo, onde os projetos se dis-
cutem, travando-se os debates esclarecedores nos desvãos da hierarquia interna. É lá
que se têm revelado as grandes vocações e justificado os valôres mais altos da vida
pública brasileira”.
Tudo bem, falar mal dos nossos parlamentares é um esporte nacional,
mas o silêncio da história legislativa nos períodos ditatoriais ou impositivos
pela minoria grita sem parar a ausência da liberdade e da cidadania. Denun-
cia as arbitrariedades para o País e para o mundo. Prejudica a imagem do
Governo, desgasta o regime implantado e constrange a todos os brasileiros.
Já dizia o Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada (MG): “Críti-
cos e detratores dos corpos legislativos sempre os houve, sempre os haverá, no Brasil e
no mundo. Corporação moral, por excelência, sem muralhas que a preserve dos assal-
tos inimigos, o Legislativo sempre terá pessoas físicas nos seus calcanhares, mas nem
por isso decairá de seus méritos ou se tornará, dentro da democracia e da liberdade,
substituível por qualquer outra instituição!” e Lima Barreto enfatizava: “Todos nós
falamos mal dos nossos senadores e deputados; todos nós os apelidamos atrozmente; mas
José Ribeiro Soares da Rocha, José Clemente Pereira, Joaquim Nunes Ma-
chado, Manoel Alves Branco (segundo Visconde de Caravelas), Miguel Calmon
du Pin e Almeida (Marquês de Abrantes), Paulino Soares de Souza, Pedro de
Araújo Lima (Visconde e Marquês de Olinda), José da Costa Carvalho (Ba-
rão, Visconde e Marquês de Monte Alegre), José Antonio Saraiva, Antônio
Paulino Limpo de Abreu (Visconde de Abaeté), Bento de Oliveira Braga,
Antônio Maria de Moura (Bispo), Cândido José de Araújo Viana (Visconde e
Marquês de Sapucaí), Joaquim Marcelino de Brito, Manuel Inácio Cavalcanti
de Lacerda (Barão de Pirapama), José Joaquim Fernandes Torres, Francisco
Muniz Tavares (Padre), José Pedro Dias de Carvalho, Antônio Pinto Chichorro
da Gama, Gabriel Mendes dos Santos, José Ildefonso de Sousa Ramos (Barão
de Três Barras e segundo Visconde de Jaguari), Antônio Peregrino Maciel
Monteiro (segundo Barão de Itamaracá), Teófilo Benedito Otoni, Brás Car-
neiro Nogueira da Costa e Gama (Visconde e Conde de Baependi), Pedro
Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque (Barão e Visconde de
Camaragibe), Francisco José Furtado, José Maria da Silva Paranhos (Viscon-
de do Rio Branco), Camilo Maria Ferreira Armond (Barão, Visconde e Conde
de Prados), Joaquim Saldanha Marinho, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de
Araújo, Zacarias de Góes e Vasconcelos, João Maurício Wanderley (Barão de
Cotegipe), Francisco de Paula da Silveira Lobo, Joaquim Otávio Nébias,
Jerônimo José Teixeira Júnior (Visconde do Cruzeiro), Inocêncio Marques de
Araújo Góes (Barão de Araújo Góes), Manuel Francisco Correia, Paulino José
Soares de Souza, Martinho Álvares da Silva Campos, Honório Hermeto Car-
neiro Leão (Marquês do Paraná), João Ferreira de Moura, José Rodrigues de
Lima Duarte (Visconde de Lima Duarte), Adolpho Cavalcanti Bezerra de
Menezes, Antônio Moreira de Barros, Manoel Alves de Araújo, Franklin
Américo de Menezes Dória (Barão de Loreto), André Augusto de Pádua Fleuy,
Domingos de Andrade Figueira, Augusto Olímpio Gomes de Castro, Henrique
Pereira de Lucena (Barão de Lucena), Afonso Celso de Assis Figueiredo (Vis-
conde de Ouro Preto), Rui Barbosa de Oliveira, Epitácio da Silva Pessoa,
Leopoldo José de Bulhões, Carlos Peixoto Filho, Gaspar da Silveira Martins,
João da Matta Machado, Bernardino José de Campos Júnior, João Lopes
Ferreira Filho, Francisco de Assis Rosa e Silva, Arthur César Rios, Carlos Vaz
de Melo, Francisco de Paula Oliveira Guimarães, Francisco Glicério, José Jo-
aquim Seabra, Prudente José de Moraes e Barros, Francisco de Paula Rodrigues
Alves, Franciso Luís da Silva Campos, Sabino Alves Barroso Júnior, Astolfo
Dutra Nicácio, Nilo Procópio Peçanha, João Pereira de Castro Pinto, Manoel
Ferraz de Campos Salles, Quintino Bocaiúva, Epitácio da Silva Pessoa, Arthur
da Silva Bernardes, João Batista Luzardo, Sebastião do Rego Barros, Fausto
de Aguiar Cardoso, Gilberto Amado, João Neves da Fontoura, Carlos Peixoto
de Melo Filho, Horácio Lafer, Pedro Moacir, Afrânio de Melo Franco, José
Antônio Flores da Cunha, Raul Fernandes, Lindolfo Leopoldo Boecker Collor,
Arnolfo Rodrigues de Azevedo, Getúlio Dornelles Vargas, Carlota Pereira de
Queiróz, Bertha Maria Júlia Lutz, Gastão Vidigal, Otávio Mangabeira, Aliomar
Posfácio
Dr. Afrísio de Souza Vieira Lima Filho. Diretor Legislativo da Câmara dos
Deputados, Advogado e Bacharel em administração de Empresas e Administração
Pública.
Comentários
Referências
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* * *
Quadro/Ilustração no 4 e 4/A
O Palácio e Capela das Necessidades – litografia de Martins Lopes, Lisboa. (Sec. XIX).
Pintura da luneta colocada sobre a mesa da Presidência da Sala das Sessões da Assembléia
da República Portuguesa. Foi pintada por Veloso Salgado e representa os Constituintes
de 1821, em sessão plenária no Palácio das Necessidades, na Sala da Livraria do
Convento. As figuras são retratos de 50 constituintes, focando a tela o
momento em que usa da palavra o Deputado Fernandes Tomás.