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APLICACÕES DOS SUPERCONDUTORES NO ACELERADOR LHC E EXPERIMENTOS

ASSOCIADOS.

Rafael Linhares Marinho

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO PROF. RUBENS DE ANDRADE JR. COMO PARTE DOS


REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DA DISCIPLINA
SUPERCONDUTIVIDADE E SUAS APLICACÕES.

Aprovada por:

_________________________________________________
Prof. Rubens de Andrade Jr.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


SETEMBRO DE 2010.
DEDICATÓRIA

Dedico esta obra às minhas “filhas”, a quem tenho muito apreço, e aproveito para
dizer o motivo deste apreço: que são pequenos seres que, apesar de serem muito
simples e inocentes, revelam a grandiosidade de algo que está além do nosso
entendimento. Carbono 14 (in memorian), Protactínia, Urânia (in memorian), Neptúnia
e Plutônia (in memorian).
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que contribuiram com a execução deste trabalho,


quer seja trazendo informações, quer seja dando incentivo, quer seja me orientando. Este
trabalho representa para mim um marco inicial em uma nova, e longa caminhada, em
busca de uma realização superior. Será uma jornada onde espero ao fim recuperar parte
de mim, que se perdeu e ficou estagnada devido aos anos longe de uma instituição de
pesquisa e desenvolvimento científico: o Rafael pesquisador. Em especial, gostaria de
agradecer à minha namorada, Maria de Fátima Barbosa da Silva.
ÍNDICE
Capítulo 1 – Introdução 5
1.1) Introdução 5
1.2) Física de Altas Energias 5
1.3) O CERN (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear) 6

Capítulo 2 – Teoria de Supercondutores 10


2.1) Introdução 10
2.2) Supercondutividade 10
2.3) Efeito Meissner 10
2.4) Campo Crítico e Corrente Crítica x Temperatura 10
2.5) Classificação de Supercondutores 11
2.6) O Fenômeno Quenching 12

Capítulo 3 - Supercondutores no LHC e AD 13


3.1) O Sistema de Eletromagnetos do LHC 13
3.2) Os Cabos Supercondutores de Transmissão de Energia do LHC 14
3.3) Os Dipolos e Outros Eletromagnetos Multipolos Supercondutores do LHC 17
3.4) As Cavidades de Ressonância SRF do LHC 21
3.5) Sistema de Proteção contra Quenching 22

Capítulo 4 - Supercondutores nos Detectores ATLAS e CMS 25


4.1) A Detecção de Partículas 25
4.2) Os Eletromagnetos no ATLAS 25
4.3) O Eletromagneto do CMS 26

Capítulo 5 – Conclusões 27

Referências Bibliográficas 28
Capítulo I
INTRODUÇÃO

1.1) Introdução:

O objetivo do presente trabalho é fazer um levantamento dos tipos de


supercondutores e das maneiras que os mesmos são empregados na pesquisa científica
de física de partículas, bem como comentar os aspectos técnicos/teóricos de utilização.

1.2) Física de Altas Energias:


Na pesquisa científica, o homem busca um modelo único da constituição da
matéria, um modelo que explique problemas ainda sem solução da física. Na tentativa de
provar o Modelo Padrão (que correntemente é aceito, apesar de falhar em explicar os
mecanismos que regem as interações fundamentais, como por exemplo, a gravitação), ou
na tentativa de refutar tal modelo, a humanidade já realizou, e ainda realizará inúmeras
experiências, envolvendo colisões de partículas e/ou íons pesados, cujas velocidades são
muito próximas à da luz. Tais colisões são chamados eventos da física de altas energias.
Com a finalidade de produzir uma quantidade de eventos de alta energia tal que
possa ser estudada, em condições adequadas, é necessário construir complexos
equipamentos destinados a esta única finalidade. Existem vários tipos diferentes desses
equipamentos, chamados aceleradores de partículas, que servem justamente para fazer o
que o nome sugere: conceder energia cinética e momento às partículas.
Para produzir partículas com velocidades necessárias para as pesquisas atuais
(em 2010), o tipo de acelerador usado é o síncrotron Mais especificamente, existe um
outro tipo de equipamento que é mais do que um acelerador de partículas. Este
equipamento, chamado colisionador[1], na verdade produz dois conjuntos de partículas
com velocidades próximas à da luz, mas com direções opostas, e as coloca em rota de
colisão. O maior colisionador já construído pelo homem e já em operação (apesar de não
estar em 100% da capacidade projetada) é o Large Hadron Collider (LHC), ou Grande
Colisionador de partículas Hadrônicas (partículas compostas somente por quarks).
O LHC foi construído com a finalidade de realizar experiências que vão ajudar os
cientistas a esclarecer questões em aberto na física de partículas. Alguns dos objetivos
iniciais da construção do LHC já foram atingidos antes mesmo do término da sua
construção (por exemplo, o top-quark já foi descoberto, em 1995) mas outros ainda não
(por exemplo, o bóson de Higgs, que, se for provada a existência, confirmará a teoria do
mecanismo de Higgs, caso contrário, invalidará tal teoria).
1.3) O CERN (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear):
O LHC teve sua construção iniciada no ano 2000, em um túnel subterrâneo
circular[1] de 27 km de extensão, localizado na fronteira entre a Suíça e a França e teve
seu término em 2008. Anteriormente à sua construção, no mesmo túnel operou um outro
colisionador, o LEP (Large Eléctron-Pósitron Collider). Ambos colisionadores fazem parte
de um complexo maior de aceleradores (lineares e circulares) e detectores chamado
CERN, ou Organização Europeia para Pesquisa Nuclear.
Apesar de o LHC ter entrado em operação em 10 de setembro de 2008, com seu
primeiro feixe de prótons sendo acelerado, devido a um problema com alguns dos
inúmeros dispositivos supercondutores empregados, houve um acidente, tendo sido o
CERN obrigado a desligar o LHC sem realizar nenhuma colisão e efetuar uma fase de
manutenção e reparos que atrasou em muitos meses o início da geração de eventos. O
LHC foi religado em 20 de novembro de 2009 e começou a circular dois feixes de prótons
com 3.5 TeV cada, em sentidos contrários. Em 30 de março de 2010, os cientistas
conseguiram focalizar e alinhar os feixes e provocar a primeira colisão frontal, iniciando a
fase de geração de eventos e experiências do LHC. Está previsto para esta primeira fase
de testes, onde a energia total de colisão é de 7 TeV, que o LHC opere por um período de
24 meses quando uma quantidade enorme de dados será processada. Após este período,
o LHC será desligado por um ano e entrará em fase de manutenção, principalmente com
a finalidade de reforçar os eletromagnetos supercondutores, em vista da fase final.
Finalmente, terminada a manutenção/upgrade dos eletromagnetos, o LHC retornará a
operação, desta vez com a energia total projetada para a colisão de dois feixes de prótons
de 14 TeV, e posteriormente íons pesados (íons chumbo) com 574 TeV cada.
Obviamente, um único acelerador circular não pode sozinho fazer o trabalho, de
modo que o CERN na verdade emprega vários aceleradores lineares e circulares para
conseguir seus objetivos. Todos estes aceleradores fazem parte do complexo do CERN[1]:

Î O LINAC 2, acelerador linear, fornece prótons com energia de 50 MeV, e os


gera a partir de íons hidrogênio.
Î O LINAC 3, acelerador linear, fornece íons chumbo com energia de 4.2 MeV/u
e os produz a partir de vapor de chumbo ultra puro. A carga positiva dos íons
chumbo é inicialmente baixa, e depois é gradualmente aumentada até a
6
ionização total (Pb+82).
Î O PSB (Próton Síncrotron Booster), acelerador circular, recebe prótons do
LINAC 2 e aumenta a energia cinética antes de passá-los ao próximo estágio.
Î O LEIR (Low Energy Ion Ring), circular, recebe os íons chumbo do LINAC 3 e
aumenta a energia cinética antes de passá-los ao próximo estágio.
Î O PS (Próton Síncrotron), circular, recebe ou prótons do PSB ou íons do LEIR
e acelera até 28 GeV, antes de passá-los ao próximo estágio.
Î O SPS (Super Próton Síncrotron), circular, recebe do estágio anterior, e acelera
até 450 GeV, e finalmente passa as partículas aceleradas ao LHC.

Há ainda outras inúmeras máquinas no CERN, dentre as quais vale a pena aqui
citar o AD (Antipróton Desaccelerator) [1].
Os experimentos que o CERN está realizando no LHC são vários:

Î O ATLAS (A Toroidal LHC AparatuS): com a finalidade de observar o bóson de


Higgs (o bóson de Higgs é a única partícula prevista pelo modelo padrão da
física de partículas que ainda não foi observada[1]) e com isso melhor esclarecer
as iterações entre as massas. Também investigará relação de assimetria CP
(assimetria entre matéria e antimatéria, ou violação CP).
Î O ALICE (A Large Ion Collider Experiment): cuja finalidade é criar através da
colisão massiva entre dois íons chumbo, um estado onde quarks e gluôns não
estão mais confinados dentro de partículas, e sim em um estado chamado
quark-gluôn plasma. Este estado é possivelmente o mesmo que a matéria do
universo se encontrava logo após (trilionésimos de segundo) o big-bang.
Î O CMS (Compact Múon Solenoid): com mais ou menos os mesmos objetivos do
experimento ATLAS, mas com outro mecanismo de funcionamento. Procura
pelo bóson de Higgs, por evidências da super simetria e de dimensões extras. A
finalidade do CMS é corroborar com os resultados do ATLAS.
Î O LHCb (LHC beauty quark): cujo objetivo é medir parâmetros da violação CP
(de simetria) nas interações entre b-hádrons, ou seja, partículas que têm em
sua composição um bottom-quark.
Î O LHCf (LHC forward quark): Com o objetivo de medir o número e a energia de
píons neutros produzidos pelo LHC. Há esperanças de este experimento ajudar
a esclarecer a origem doa raios cósmicos de ultra alta energia.
7
Î O MoEDAL (Monopole and Exotics Detector At the LHC): irá procurar por
partículas massivas estáveis ou pseudo-estáveis, como monopolos magnéticos.
Î O TOTEM (TOTal Elastic and diffractive cross section Measurement): Um
experimento que tem o objetivo de medir a seção reta total dos prótons,
espalhamento elástico e processos difrativos.
Ainda no CERN, mas não mais no LHC, um experimento que vale citar é o
ALPHA[1] (Antihydrogen Laser Physics Aparatus), onde o objetivo é produzir e desacelerar
antiátomos de antihidrogênio, para que a antimatéria possa ser melhor estudada. Uma
visão geral de como os aceleradores, colisionadores, anéis de armazenagem e detectores
dos experimentos estão dispostos no CERN pode ser vista na figura 1.

Figura 1 – Conexão entre os diversos componentes do CERN. O círculo menor é o


PSB e as fontes de p e Pb são o LINAC 2 e LINAC 3 respectivamente.

Dentre todos os equipamentos que o CERN utiliza, os que utilizam


supercondutores de alguma forma são:

Î O único acelerador que utiliza (muitos) supercondutores para manter o feixe de


partículas em sua trajetória circular, colimá-lo é o próprio LHC. Os outros
aceleradores todos utilizam eletromagnetos convencionais. O LHC também é o
único que utiliza cabos de transmissão de energia supercondutores, apesar de
utilizar cabos convencionais também[2].
Î As partículas são aceleradas no LHC e sua energia cinética é restaurada
(devido à perda pela emissão de radiação do síncrotron) por meio de cavidades
de ressonância SRF (Superconducting Radio-Frequency) [3].
8
Î Os pontos de injeção de partículas no LHC são controlados por dipolos gerados
por eletromagnetos supercondutores[2].
Î O detector do experimento ATLAS, ou simplesmente detector ATLAS, que utiliza
um eletromagneto supercondutor solenoide e oito toroides, para detecção de
partículas[4].
Î O detector CMS, que utiliza também uma grande bobina[5] cilíndrica

supercondutora[6].
Î O experimento ALPHA emprega como armadilha para antimatéria (antiátomos
neutros) um eletromagneto octupolo supercondutor, sendo projetado com
previsão do fenômeno de quenching (o mesmo que causou o acidente no LHC
em 2008) em seu uso normal no experimento[7].

Nos próximos capítulos, serão estudados mais detalhes teóricos e técnicos do


emprego de supercondutores no LHC, no ATLAS, CMS, e no experimento ALPHA, bem
como da teoria de supercondutores relevante para o entendimento. Será dada uma maior
ênfase entretanto, aos eletromagnetos do LHC e ALPHA.

9
Capítulo II
TEORIA DE SUPERCONDUTORES

2.1) Introdução:
Este capítulo é destinado a prover um embasamento teórico para o melhor
entendimento dos próximos capítulos. Apresenta de forma bastante simplificada (por não
ser o objetivo deste trabalho se estender em demasiado), os aspectos teóricos mais
relevantes dos supercondutores empregados no LHC e AD.

2.2) Supercondutividade:
Supercondutividade foi descoberta em 1911, quando H. Karmelingh Onnes
investigava a condutividade do mercúrio e percebeu que ao resfriar com hélio líquido, a
amostra apresentava uma condutividade muito baixa, a ponto de ser incomensurável.
Este fenômeno totalmente inesperado foi chamado de supercondutividade e a
temperatura onde ocorreu a transição do mercúrio para o estado supercondutor foi
chamada temperatura crítica, ou Tc. Essencialmente, a resistividade do mercúrio caiu a
zero.

2.3) Efeito Meissner:


O estado supercondutor não é somente um estado onde o material se torna um
condutor perfeito. Experiências posteriores levaram W. Meissner e R. Ochsenfeld a
descobrir em 1933 que um elemento supercondutor expele totalmente campos
magnéticos fracos de seu interior, enquanto que campos intensos fazem o material
retornar ao estado não supercondutor mesmo abaixo da temperatura de transição. Tal
efeito de expulsão de campo é chamado efeito Meissner.

2.4) Campo Crítico e Corrente Crítica x Temperatura:


A rigor o estado supercondutor é uma fase termodinâmica, e como tal, tem
características bem definidas. Por exemplo, a condutividade térmica cai abruptamente
quando o material passa para o estado supercondutor. A capacidade térmica também
sofre um salto.
Fazendo um estudo detalhado e levantando-se um diagrama de fase, onde
traçamos o campo magnético H versus a temperatura T, notamos que a transição
depende dos dois fatores, onde ficam claras duas regiões com fases diferentes, conforme
podemos ver no gráfico abaixo:

Basicamente, a relação é parabólica e diz que quanto menor a temperatura que o


material estiver, maior será o campo necessário para forçar uma transição de
supercondutor para normal, ou, quanto menor for o campo, maior será a temperatura de
transição. Da mesma forma, a corrente crítica varia com a temperatura e com o campo.

2.5) Classificação de Supercondutores:


Os supercondutores podem ser classificados segundo inúmeros critérios:

Î Pela temperatura de transição:


Os primeiros supercondutores que foram descobertos em 1911 eram refrigerados a
hélio liquido (4.2K). Muitos anos passaram até que em 1986, Karl Müller e
Johannes Bednorz descobriram um material com propriedades supercondutoras
quando refrigerados a 35K. A linha divisória entre os HTS (High Temperature
Supercondutors) e os LTS (Low Temperature Superconductors) é o limite máximo
teórico de 30 K, que existia antes da descoberta do primeiro HTS em 1986. Uma
das diferenças principais entre o HTS e o LTS é que muitos HTS podem ser
refrigerados com nitrogênio líquido (77 K) e portanto com custo muito inferior ao do
hélio líquido.
Î Pelo entendimento que se tem correntemente sobre o mesmo:
Alguns supercondutores têm propriedades que não poder ser completamente
explicadas pela teoria BCS e relacionadas, os chamados supercondutores não
convencionais. Os que têm propriedades totalmente explicadas pelas teorias
correntes são chamados supercondutores convencionais. MgB2 é um exemplo de
um HTS e convencional. Nióbio é um supercondutor convencional e LTS.
Î Pelas propriedades físicas:
Alguns supercondutores (tipo I) têm somente um valor de campo crítico Hc,
11
mudando do estado supercondutor para o estado normal abruptamente quando o
campo ultrapassa Hc. Outros supercondutores (tipo II) apresentam duas (na
verdade três) temperaturas, Hc1 e Hc2, se comportando exatamente como um
supercondutor perfeito do tipo I quando o campo aplicado é menor que Hc1
(expulsando completamente o campo, por efeito Meissner). Acima de Hc2 o
material se comporta de forma resistiva, e entre os dois valores de campo, o
material se comporta em um estado misto, onde é penetrado por quantis de fluxo
magnético e há formação de redes de Abrikosov.

Î Pelo material:
Alguns materiais são considerados puros supercondutores quando formados por
substância simples, a exemplo do chumbo e do mercúrio e alótropos do carbono,
como nanotubos e diamante. A maioria dos supercondutores puros são to tipo I,
mas há exceções como o nióbio. Outros são chamados de ligas supercondutoras,
como o caso do nióbio-titânio, descoberto em 1962. E há os tipos cerâmicos, que
são os cupratos e o MgB2.

2.6) O Fenômeno Quenching:


O fenômeno chamado quenching é o pior pesadelo que um acelerador de
partículas baseado em eletromagnetos supercondutores pode ter: um indutor
supercondutor carregado com uma corrente, normalmente elevada, pode, por algum
motivo qualquer (absorção de radiação ionizante, que o aquece, ou ultrapassagem do
campo crítico) fazer uma transição para o estado normal, onde passa ao regime resistivo.
A energia acumulada no indutor então será dissipada em forma de calor, porém, o
processo iniciará em um ponto e propagará por toda massa supercondutora (a menos que
haja alguma proteção prevista) em uma reação em cadeia, muito rápida. Normalmente o
tempo necessário para este fenômeno acontecer é muito curto, e a quantidade de energia
bastante elevada, de modo que pode haver destruição permanente do material
supercondutor por superaquecimento. No caso do CERN, em 2008, houve um acidente
que vaporizou parte dos tubos de aceleração dos feixes.

12
Capítulo III
SUPERCONDUTORES NO LHC e AD

3.1) O Sistema de Eletromagnetos do LHC:


O LHC por ser um colisionador de partículas de proporções gigantes, tem um
sistema de eletromagnetos bastante complexo. Vários são os objetivos do sistema
magnético do LHC, mas podemos citar alguns desafios como manter o feixe de partículas
em sua órbita quase circular, focalizar e colimar o feixe (tanto longitudinalmente quanto
transversalmente), injetar e ejetar o feixe de partículas do colisionador, corrigir trajetórias,
etc.
Obviamente, dadas as proporções do LHC, o mesmo é dividido[8] em 8 setores (8
octantes), onde cada octante tem seu sistema de eletromagnetos alimentado e operado
de forma independente dos outros, de forma que assim fica menos complicada a
localização e eliminação de uma falha. Para se ter ideia da complexidade, no total o LHC
emprega 9593[1] eletromagnetos, dos quais a esmagadora maioria é de supercondutores.
Somente dipolos supercondutores, que são os maiores eletromagnetos empregados, são
1232[1](154 em cada octante) e são responsáveis por preencher mais de 2/3 dos 27 km do
túnel. A grandiosidade deste desafio não fica só na quantidade dos dipolos, mas também
nas suas características: cada dipolo pode ter uma energia de campo magnético
armazenada de até 7 MJ e no total, todos os 1232 dipolos constituem uma energia
armazenada de aproximadamente 10.4 GJ[8]. O campo alcançado máximo para operação
com dois feixes de 7 TeV é de 8.33 T, com previsão para um campo projetado máximo de
9 T. Foram gastas 1200 t de cabos supercondutores e 120 t de hélio líquido, sendo 90 t
somente para os eletromagnetos.
O fato de o LHC provocar colisões de partículas iguais (diferentemente do seu
antecessor, o LEP, que provocava colisões entre uma partícula negativa e uma positiva de
mesmo módulo) também complica mais o projeto do sistema magnético, pois quando
desejamos que duas partículas de mesma carga circulem em sentidos opostos (portanto,
os feixes são curvados para lados opostos) , então devemos gerar um campo para curvar
um feixe e, em separado, outro campo magnético com mesma amplitude, porém sinal
oposto, para curvar o outro feixe. Isso no LHC é conseguido através dos dipolos especiais
“2 em 1”[9].
Não somente dipolos são usados para manter o feixe sob controle, mas
quadrupolos (392 principais), sextupolos, octupolos[9] e outros mais, nas mais diversas
configurações, com a finalidade de realizar o strong-focusing (com dipolos somente é
possível realizar o weak-focusing). Todos os eletromagnetos supercondutores do LHC são
refrigerados por um complexo sistema criogênico que os mantém a 1.9 K[1], e que
consome 20 kW de energia.
A energia cinética é transferida aos dois feixes de partículas através de cavidades
ressonantes de rádio frequência, que no caso do LHC, também são supercondutoras, por
apresentar perdas energéticas muito inferiores às das cavidades de RF convencionais.
Cada feixe de partículas é acelerado por oito cavidades de RF supercondutoras operando
a 400 MHz e com potência de 2 MW cada. Os supercondutores das cavidades de RF são
refrigerados a 4.2 K[1], e a refrigeração consome 150 kW.

3.2) Os Cabos Supercondutores de Transmissão de Energia do LHC:


O colisionador anterior, o LEP, utilizava para transmissão de energia cabos
convencionais de cobre. Quando o LHC começou a ser construído, no mesmo túnel onde
funcionou o LEP, os componentes do LHC demandavam mais espaço que os
componentes do LEP. Uma das soluções empregadas para redução de volume foi
substituir alguns dos cabos convencionais por cabos supercondutores[10]. Podemos ver na
figura 2 uma comparação entre os cabos de transmissão de energia do LEP e do LHC.

Figura 2a – Cabos de 12.5 kA do LEP (acima) e do LHC(abaixo).

14
Figura 2b – Microfotografia dos cabos de NbTi usados no LHC e detalhes do cabeamento
tipo Rutherford.

Tais cabos são chamados bus-bars, e no caso do LHC existem bus-bars do tipo
Rutherford (como podemos ver na figura 2) que são especificados para três regimes
diferentes de corrente: 600 A, 6000 A, e 13000 A (o da figura 2 é na verdade parte dos
circuitos de 13 kA). Tais cabos são os mesmos usados para os enrolamentos dos
eletromagnetos principais. Cada bus-bar tem no máximo 17 m e se foram somados os
comprimentos de todas as bus-bars somente do circuito de 13 kA, no LHC elas totalizam
aproximadamente 150 km[10].
Os bus-bars especificados para 13 kA, segundo [10], são construídos de 36 fios
com filamentos de NbTi de 6 μm de diâmetro cada, em uma matriz de cobre para
estabilização térmica e que ajuda em caso de quenching. O arranjo é refrigerado a 1.9 K e
tem como corrente crítica mínima quando submetido a um campo magnético de 9 T, de
12960 A no mínimo.
O material usado portanto (NbTi) é um supercondutor de baixa temperatura, que
tem sua temperatura de transição a campo zero em torno de 10K. Nota-se então, neste
ponto, que o cabo se tornaria supercondutor muito bem a 4.2 K, ou seja, na mesma
temperatura que as cavidades de SRF operam, porém, alguns outros fatores obrigaram o
projeto do sistema criogênico a abaixar mais ainda a temperatura de operação para 1.9 K.
Um ponto importante é que não seria possível atingir um campo extremo de 9 T
com o NbTi refrigerado a 4.2 K, dada a relação entre campo crítico x temperatura, como
podemos fer na figura 3. A 4.2 K seria possível somente atingir um campo de 6.8 T, que é
insuficiente para a geração de eventos de 14 TeV.

15
Figura 3a – Características do material usado na construção dos cabos supercondutores
usados no LHC (NbTi).

Figura 3a – Características dos materiais de escolha para construção dos cabos


supercondutores usados no LHC. A seta horizontal representa um ganho de 3 T no campo
crítico.

Outro fator que levou à escolha da temperatura de 1.9 K para operação é a


utilização do hélio superfluido. À pressão ambiente, o hélio liquefaz a 4.2 K, porém, ao ser
resfriado mais, em torno de 2.17 K, o hélio sofre uma segunda transição de fase, e passa
para o estado de superfluido, o qual tem várias características marcantes, dentre as quais
16
uma elevada condutividade térmica, o que o torna o fluido criogênico ideal para esta
aplicação.
Os bus-bars não são conectados diretamente aos eletromagnetos
supercondutores, mas sim através de current leads feitos de supercondutores de alta
temperatura. Tais HTS current leads diminuem em até 10 vezes a entrada de calor no
hélio superfluido, portanto diminuindo em muito[11](cai a 1/3) a potência necessária para os
criostatos. O efeito é causado, porque após a transição de normal para supercondutor, o
HTS tem sua condutividade térmica muito diminuída, e o HTS se torna um péssimo
condutor de calor.
Foi feito um estudo[12], após a aplicação massiva bem sucedida de HTS current
leads de 13 kA, 6 kA e 600 A (em um total de corrente fornecida de 3.4 MA, e todas
baseadas em Bi-2223) da viabilidade de expandir o uso de supercondutores de alta
temperatura para os bus-bars, ao invés de utilizar supercondutores de baixa temperatura.
Chegou-se a conclusão que esta será uma proposta de upgrade futuro do LHC, e
protótipos estão sendo construídos para qualificar o conceito e comparar performance.
Dentre as futuras vantagens de empregar HTS em bus-bars ao invés de LTS, pode-se
citar: A possibilidade de remoção das caixas de alimentação e conversores de potência
das proximidades imediatas do feixe, onde há níveis de radiação elevados (e portanto,
estes elementos ativos de circuito não mais necessitarão de proteção extra, ou rad-hard,
para evitar uma falha causada pela radiação ionizante); a utilização de maiores correntes
e portanto menores indutâncias nos magnetos, tornando menos crítica a proteção contra
quenching; a utilização de sistemas de criogenia menos críticos para evitar o quenching;

3.3) Os Dipolos e Outros Eletromagnetos Multipolos Supercondutores do LHC:


No total, em todos os eletromagnetos usados no LHC, 4 tipos de cabos Rutherford
são usados[13]. Os dipolos são construídos com dois tipos de cabos (cabo 1 e cabo 2)
enquanto que os quadrupolos são construídos com somente um cabo (cabo 2). O cabo 2
é o mesmo usado nas bus-bars, enquanto que o cabo 1 emprega filamentos
supercondutores de 7 μm de diâmetro e 28 fios por cabo, também em uma matriz de
cobre. Outros eletromagnetos multipolos utilizam os cabos do tipo 3 e 4, onde ambos têm
filamentos de 6 μm, e diferem apenas na relação entre cobre/supercondutor. Uma das
razões de se utilizar cabos com vários filamentos de NbTi em lugar de cabos com
somente um filamento, é que o campo próprio pode penetrar facilmente no espaço entre
os filamentos, causando uma estabilidade maior na geração de campos magnéticos, e
17
menos diamagnetismo, o que e traduz em uma linearidade melhorada.
Um dos motivos para o NbTi ter sido escolhido para a construção dos
eletromagnetos, em lugar do Nb3Sn, é que o NbTi é muito melhor trabalhado
mecanicamente e mais barato, possibilitando posicionar os fios de forma muito mais
precisa nos eletromagnetos. No caso de eletromagnetos convencionais, com polos de
ferro, a geometria dos polos é que determina a precisão e a qualidade do campo gerado.
Nos eletromagnetos supercondutores (sem ferro), o que determina é a posição dos
supercondutores.
Outro motivo do NbTi ter sido escolhido é que o projeto do LHC visava utilizar um
túnel já existente, e portanto operaria com campos muito altos (nem o Superconducting
Super Collider iria, se fosse construído, usar um campo tão alto como 8.33 T), daí a
operação com NbTi resfriado a 1.9 K, provê 3 T a mais que o NbTi a 4.2 K, sendo
considerado suficiente, e se tornou uma solução muito mais econômica e confiável que a
solução empregando Nb3Sn[14]. O Nb3Sn porém, possibilita gerar campos mais altos.
Ademais, durante o desenvolvimento da tecnologia de produção de cabos de NbTi
para aceleradores de partículas, o desempenho dos cabos aumentou até chegar ao que é
considerado o limite prático de pinning do fluxo magnético, o que sinaliza maturação da
tecnologia de NbTi.
O fato de se empregar uma tecnologia bastante madura é importantíssimo, se
levarmos em conta que os principais dipolos operam com 86% da capacidade teórica
(capacidade antes do quenching), eventualmente chegando a 93%. Nota-se então que um
desvio de 5% nas características do supercondutor poderia prejudicar seriamente a
operação do LHC.
Alguns dos requerimentos dos eletromagnetos utilizados no LHC são:
Î Devem poder ter seu campo variado linearmente de 0.5 T a 8.33 T.
Î Devem manter uma geometria de campo gerado bem acurada, sob ambos
regimes de energização e estacionário.
Î Todos os eletromagnetos do mesmo tipo devem ser conectados em série para
garantir essencialmente a mesma corrente.
Î Apesar de serem muito grandes, devem gerar campos confinados em pequenos
espaços.
Concluímos então que, para o eletromagneto ser bem linear e ter seu campo com
geometria bem acurada, a magnetização devido às correntes persistentes do
supercondutor deve ser pequena, e que a densidade de corrente deve ser elevada, além
18
da necessidade de reduzir ao máximo a relação cobre/supercondutor nos cabos, evitando
assim diluição excessiva da densidade de corrente.
Em relação à magnetização devido às correntes persistentes, esta é proporcional
ao produto densidade de corrente x diâmetro efetivo. Como desejamos maximizar a
densidade de corrente e minimizar a magnetização, fica claro então que o diâmetro
efetivo dos filamentos deve ser minimizado, o que leva a filamentos de 6 ou 7 μm, e em
número de 6000 a 8000 por fio.
Vários fatores também determinaram o tipo de cabeamento, tipo Rutherford. O
cabo deste tipo foi o cabo que proporcionou o maior fator de compactação e ainda assim
manteve uma permeabilidade ao hélio líquido adequada. Também, o cabo do tipo
Rutherford é o tipo de cabeamento que proporciona a menor degradação da corrente
crítica do supercondutor depois de ser enrolado em relação à antes de ser enrolado. No
caso dos cabos usados no LHC, esta degradação chegou a ser medida pelos seis
diferentes fabricantes, e foi considerada desprezível.
O CERN manteve uma instalação[16,17] para recepção e teste individual dos cabos,
de modo a rejeitar cabos com magnetização acima do permitido (28 mT a 0.5 T), e,
através de saltos na magnetização que não foram correlacionados com a corrente crítica
e outros parâmetros, conseguiu rastrear a causa deste problemas, detectando a falha no
processo de fabricação por extrusão a quente do fios.

Os principais magnetos empregados no LHC são mesmo os dipolos, não somente


por ocuparem aproximadamente 2/3 do túnel, mas também por serem os de projeto mais
desafiador. Como já foi dito, o projeto do dipolo é do tipo “2 em 1”, para poder curvar dois
feixes positivos em direções opostas. Podemos ver na figura 4 um corte transversal dos
dipolos Os outros multipolos são de projeto menos crítico.

19
Figura 4 – Visão em corte de um dipolo do LHC.

Um multipolo que merece atenção especial é o octupolo empregado no


experimento ALPHA, no desacelerador de antiprótons. Tal octupolo[7] está atualmente
sendo empregado, junto com um solenoide, na tentativa de criar uma armadilha para o
antihidrogênio (que não tem carga elétrica, mas tem momento magnético), baseado no
campo mínimo-B (armadilha de Penning-Malmberg), e pode ser visto um exemplo na
figura 5. A ideia é criar um lugar geométrico onde o campo magnético aumenta para todas
as direções. Este lugar, no caso, é o eixo do solenoide

20
Figura 5 – Exemplo de uma armadilha de minimo-B e princípio de funcionamento.

A detecção de antimatéria é feita desligando-se o octupolo supercondutor


rapidamente, em no máximo 10 milissegundos, e deixando o antihidrogênio aniquilar com
as paredes do detector. O ponto principal de interesse dessa aplicação de
supercondutores é como desligar um eletromagneto supercondutor tão rápido:
provocando o quenching, e transformando-o instantaneamente em um resistor e
dissipando a energia em forma de calor, muito rapidamente. Obviamente, o projeto deste
eletromagneto prevê proteções para evitar acidentes como o de 2008. Até o presente
momento, testes foram realizados no Berkeley Laboratory para garantir que o
eletromagneto iria resistir, e de fato, ele resiste. Apesar disso, o sistema magnético desta
armadilha ainda é um fator muito limitador e até agora nenhum antihidrogênio foi
capturado, pois ainda está sendo produzido com energias cinéticas muito altas.

3.4) As Cavidades de Ressonância SRF do LHC:


As maiores aplicações das cavidades ressonantes de RF supercondutoras são de
longe os aceleradores de partículas. As cavidades SRF são o modo pelo qual a energia
cinética é transferida para as partículas a serem aceleradas. Em suma, é uma cavidade
com as dimensões bem controladas, de modo que quando uma fonte de RF é ligada a

21
uma antena no interior da cavidade, e quando esta fonte está sintonizada na mesma
frequência natural da cavidade, temos um efeito ressonante, ou seja, a energia
armazenada nos campos elétrico e magnético só aumenta, do mesmo modeque a
corrente e a tensão em um circuito tanque. Sincronizando este efeito de ressonância a um
feixe de partículas carregadas passante, o feixe então pode sair com uma energia cinética
maior do que a energia com que entrou, conforme visto na figura 6.

Figura 6 – Esquema de funcionamento de uma cavidade ressonante supercondutora,


refrigerada a hélio líquido. Nióbio puro é usado para recobrir as paredes internas.

Interessantemente, a motivação de se empregar cavidades ressonantes


supercondutoras em lugar de convencionais não é a economia de energia gasta total e
sim:
Î Capacidade de operação por longos regimes de tempo x potência, por não
serem dissipativas. Cavidades convencionais de cobre não podem operar em
potências elevadas por muito tempo pois podem derreter, devido ao calor
gerado.
Î Praticamente toda a energia da fonte de RF é transferida para o feixe de
partículas, haja visto que as perdas nas paredes da cavidade são desprezíveis.
Em cavidades convencionais, a energia perdida nas paredes normalmente se
iguala ou ultrapassa a energia transferida para o feixe.
Î O fator Q das cavidades supercondutoras é muito mais elevado que das
convencionais.
As cavidades supercondutoras são empregadas no LHC tanto para acelerar o feixe
de partículas como para repor a energia perdida pelo feixe devido à radiação síncrotron

3.5) Sistema de Proteção contra Quenching:


Devido aos enormes níveis de energia armazenados nos eletromagnetos
22
supercondutores, e devido às condições críticas de trabalho de alguns elementos do
sistema magnético, os supercondutores ficam sob risco constante de quenching. De fato,
em 19 de setembro de 2008 um severo acidente foi causado por uma falha na conexão
entre os eletromagnetos supercondutores. Apesar do componente suspeito[16] de ter
causado a falha ser de relativamente baixa tecnologia (emendas), a falha em si está
intrinsecamente ligada às sutilezas da supercondutividade, e revelou falhas de projeto e
do controle de qualidade.
A figura 7 mostra o esquema de uma emenda no cabo supercondutor. Entre a
matriz de cobre e os filamentos supercondutores, há um preenchimento com liga de
estanho-prata.

Figura 7 – Emenda no cabo supercondutor.

No caso do acidente, investigações posteriores revelaram que uma falha no


preenchimento com a liga de estanho-prata pode ter sida a causa do acidente. A matriz de
cobre é projetada para suportar por 1 segundo toda a corrente do cabo em caso de uma
transição total para o estado normal. Neste intervalo de 1 segundo entram em ação as
medidas de proteção e desligamento do eletromagneto.
A falha no preenchimento foi tal que não havia contato elétrico entre as matrizes de
cobre dos cabos emendados, conforme podemos ver na figura 8, e quando houve uma
transição de supercondutor para normal, não houve o tempo normal de 1 segundo para o
sistema de detecção de quenching agir. O resultado é que o local do quenching acabou
por absorver a energia de todos os outros 152 dipolos ligados em série, vaporizando
completamente o ponto e uma parte dos tubos dos feixes. Muita fuligem contaminou mais
de 1 km dos tubos e 6 toneladas de hélio vazaram devido à explosão.

23
Figura 8 – Falha na emenda que possivelmente foi a causa do acidente de 2008.

A proteção age bypassando a corrente por um diodo frio[16], caso seja detectado
algum aumento na voltagem entre os terminais de um dipolo Como não houve tempo da
proteção entrar em ação, o quenching aconteceu, e como se não bastasse, a explosão
deslocou longitudinalmente 26 dipolos[16](de 30 toneladas cada) em uma espécie de efeito
dominó, e com isso danificou mais bus-bars, e provocando a liberação de mais energia.
Excluindo defeitos, a margem de operação estável em 1.9 K é bastante apertada,
pois a relação cobre/supercondutor é baixa e a capacidade térmica nesta temperatura
também muito baixa, de modo que, quando há um quenching, a densidade de corrente no
cobre ultrapassa 1 kA/mm2, elevando a temperatura muito rapidamente e iniciando uma
reação em cadeia[16].

24
Capítulo IV
SUPERCONDUTORES NOS DETECTORES ATLAS E CMS

4.1) A Detecção de Partículas:


Na física de altas energias, mais especificamente nos detectores associados ao
LHC, a detecção de partículas é feita de forma indireta. Vários sensores diferentes são
colocados ao redor do local da colisão (evento) e uma quantidade de dados enorme vinda
desses sensores é gerada e gravada, com a finalidade de ser processada posteriormente
e de se “recriar” o evento no ambiente computacional. Algumas partículas (neutrinos por
exemplo) somente pode ser observadas após recriar um evento e descobrir que há uma
energia e momento “faltantes”, ambos compatíveis com o que o modelo da física de
partículas prevê para aquela partícula[1].
Apesar de terem finalidades diferentes, e de terem princípios de funcionamento
diferentes, os detectores ATLAS, ALICE, CMS e LHCb invariavelmente utilizam campos
magnéticos intensos para curvar a trajetória das partículas produzidas. Destes, ATLAS e
CMS utilizam eletromagnetos supercondutores, enquanto que o LHCb utiliza um
eletromagneto convencional, de alumínio e ALICE utiliza um grande indutor, o L3, usado
no extinto LEP.

4.2) Os Eletromagnetos no ATLAS:


O detector ATLAS é um complexo arranjo de sensores que pretende medir
inúmeros parâmetros, como carga e momento, das partículas gerada na colisão frontal de
dois prótons. Os sensores que empregam eletromagnetos supercondutores são o detector
de múons, que usa 8 toroides supercondutores, e a câmara de rastreio, que emprega um
solenoide central.
Os toroides geram um campo tangencial de 1 T e o solenoide central um campo
axial de 2 T. Ambos não operam entranto, à mesma temperatura.
Como características principais dos toroides, podemos citar: corrente nominal de
20.5 kA, campo máximo de 3.9 T, corrente crítica a 4.2 K e 5 T de 58 kA, energia
magnética armazenada máxima de 1.08 GJ e 120 espiras.
Como características principais do solenoide central, temos: corrente nominal de
7.6 kA, campo máximo de 2.6 T, corrente crítica a 4.2 K e 5 T de 20.4 kA, energia
magnética de 40 MJ e 1173 espiras.
Ambos toroides e solenoide central foram construídos com supercondutores tipo II
e de baixa temperatura, os cabos de NbTi, estabilizados em uma matriz de alumínio. Os
cabos to toroide têm 38 fios de 1.3 mm enquanto que os cabos do solenoide têm 12 fios
de 1.22 mm de diâmetro[15]. Não são usados current leads de material supercondutor no
ATLAS, entretanto.

4.3) O Eletromagneto do CMS:


O detector CMS emprega somente um grande solenoide supercondutor, e gera um
campo de até 4 T, sendo 3.8 T nominais. Mais uma vez vemos o NbTi sendo usado, e a
corrente nominal para o funcionamento é de 18.2 kA, com uma indutância de 14 H e
corrente de pico de 19.5 kA.
Na corrente nominal de funcionamento, temos então uma energia total armazenada
de 2.3 GJ o que equivale a meia tonelada de TNT. Obviamente, há circuitos de proteção e
descarga desta energia em caso de um quenching.
Devido à pequena resistência no circuito de alimentação, que essencialmente é a
resistência dos cabos que levam a corrente do conversor de potência até o solenoide (em
torno de 0.1 mΩ), e alta indutância, o circuito é o que tem maior constante de tempo no
CERN, que chega a 39 horas.

26
Capítulo V
CONCLUSÕES

Uma abordagem sobre os vários tipos de supercondutores existentes atualmente


no CERN foi feita, e investigados detalhes técnicos como a motivação da escolha do
material supercondutor, vantagens em se utilizar os mesmos, riscos envolvidos e sistemas
de proteção associados. Uma citação rápida da teoria foi feita a fim de facilitar o leitor no
entendimento desta obra.
Como conclusões principais, o autor pode citar:
Î Há uma forte tendência de utilização de supercondutores HTS em futuros
melhoramentos do LHC e experimentos do CERN. HTS funcionam com uma
margem de estabilidade maior contra quenching quando resfriados com hélio
líquido, e ademais suportam campos muito mais altos que os LTS. A escolha do
material supercondutor NbTi foi em 1989, somente 3 anos após a descoberta
dos HTS, portanto, não era uma tecnologia madura o suficiente.
Î Nota-se que, de 1989 a 2009, a performance do Nb3Sn melhorou
significativamente, apesar de continuar muito mais caro que o NbTi.
Î Nem sempre o fenômeno quenching é indesejado. Ele pode ter causado o
acidente de 2008, mas no detector ALPHA ele é projetado para acontecer.
Î As motivações de empregar supercondutores nem sempre estão relacionadas à
economia de energia e redução de perdas, como vimos nas cavidades
ressonantes de RF. No caso, a motivação trata-se da qualidade alcançada pelo
equipamento e sua robustez.
Î Nota-se claramente que os dipolos trabalham em uma margem bastante
apertada (apesar de serem resfriados bem além do Tc), com risco de quenching
elevado. Isso é devido a necessidade de gerar campos muito altos para se
poder aproveitar o mesmo túnel do LEP. Também, o projeto dos dipolos não foi
trivial, pois no túnel não cabem dois dipolos separados lado a lado, obrigando o
projeto “2 em 1”.
Î Detalhes técnicos dos cabos, incluindo os que podem ter a haver com a falha
que causou o acidente de 2008, foram discutidos. A escolha do material, o tipo
de enrolamento, o diâmetro dos filamentos, a magnetização por correntes
persistentes e a temperatura de operação foram abordados.
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