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Vulnerabilidade Social:
O Psicodiagnóstico como
Método de Mapeamento de
Doenças Mentais
Social Vulnerability:
Psychological Assesment as a Mapping
Method of Mental Diseases

Vulnerabilidad Social:
el Psico-diagnóstico como Método de
Mapeo de Dolencias Mentales

Leila Grana
Contemporâneo
Instituto de Psicanálise e
Transdisciplinaridade

André G. Bastos
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul /
Contemporâneo
Instituto de Psicanálise e
Transdisciplinaridade
Experiência

PSICOLOGIA
PSICOLOGIA CIÊNCIA
CIÊNCIA EE PROFISSÃO,
PROFISSÃO, 2010,
2010, 30
30 (3),
(1), 650-661
200-211
651
PSICOLOGIA
CIÊNCIA E PROFISSÃO,
Leila Grana & André G. Bastos
2010, 30 (3), 650-661

Resumo: O presente estudo demonstra a experiência de trabalho em um Centro de Referência de Assistência


Social do interior do Rio Grande do Sul. Foi realizado um mapeamento de doenças mentais na população
em vulnerabilidade social, através do processo de psicodiagnóstico, em caráter de estudo-piloto. Foram
escolhidos três sujeitos como amostragem: uma mulher, uma adolescente e um menino. Foram analisados os
fatores psicossociais, e os resultados revelaram que essa população está mais sujeita ao desenvolvimento de
psicopatologias. O estudo demonstrou que a inserção do psicodiagnóstico pode contribuir como instrumento
de diagnóstico da população. É necessário que haja interesse por parte das políticas públicas em ofertar os
serviços de saúde à população para trabalhar com os fatores de risco socioemocionais de maneira satisfatória.
Palavras-chave: Vulnerabilidade. Psicodiagnóstico. Distúrbios mentais. Políticas públicas.

Abstract: This study demonstrates the experience of working in a Reference Center of Social Welfare of the
state of Rio Grande do Sul. A mapping of the mental illnesses of the population in social vulnerability was
carried out, through the process of psychological diagnosis, as a pilot study. Three subjects were chosen as
sample: a woman, a female teenager and a boy. The social and psychological factors were analyzed. The
pilot study showed that the inclusion of psychological diagnosis can contribute as an important diagnostic
tool of the population. However, it is necessary that public policy offers the proper health services to the
population as a strategy to the work with risk factors.
Keywords: Vulnerability. Psychological diagnosis. Mental disorders. Public policy.

Resumen: El presente estudio demuestra la experiencia de trabajo en un Centro de Referencia de Asistencia


Social del interior de Rio Grande do Sul. Fue realizado un mapeo de dolencias mentales en la población
en vulnerabilidad social, a través del proceso de psico-diagnóstico, en carácter de estudio-piloto. Fueron
escogidos tres sujetos como muestreo: una mujer, una adolescente y un niño. Fueron analizados los factores
psicosociales, y los resultados revelaron que esa población está más sujeta al desarrollo de psicopatologías.
El estudio demostró que la inserción del psico-diagnóstico pode contribuir como instrumento de diagnóstico
de la población. Es necesario que haya interés por parte de las políticas públicas en ofertar los servicios
de salud a la población para trabajar con los factores de riesgo socioemocionales de manera satisfactoria.
Palabras clave: Vulnerabilidad. Psico-diagnóstico. Transtornos mentales. Políticas públicas.

A partir de nossa experiência profissional, feminino, de 44 anos de idade, um menino


observamos que famílias economicamente de 10 anos de idade e uma adolescente de
carentes apresentam diversos desajustes 13 anos. Todos os sujeitos são moradores de
familiares e sociais. Sabemos que a um bairro de baixa renda em um Município
vulnerabilidade social não é fato recente do interior do Rio Grande do Sul.
em nossa sociedade, e nela estão embutidas
precariedades de diversos segmentos, As avaliações incluíram entrevistas clínicas,
tais como habitação, saneamento básico, grafismos, H.T.P. (House – Tree – Person), Teste
educação e saúde. das Fábulas de Düss, hora de jogo diagnóstica,
técnica de Rorschach, Escalas Wechsler de
Diante do contato com as famílias que Inteligência (WISC III e WAIS III) e Teste
pertencem à área de abrangência do Centro Gestáltico Visomotor de Bender, do Sistema
de Referência de Assistência Social (CRAS), de Pontuação Gradual (B-SPG).
percebemos que inúmeras delas possuíam
dificuldades financeiras, emocionais e Desenvolvimento
psicológicas. Nesse sentido, buscamos realizar,
através do psicodiagnóstico, um mapeamento Diante das precárias condições no espaço
emocional da população no formato de social brasileiro, o Governo Federal, através
estudo-piloto, a fim de melhor identificar do Ministério do Desenvolvimento Social e
e compreender as dificuldades de ordem Combate à Fome (MDS), firmou parceria com
psíquica. a nova Política Nacional da Assistência Social
(PNAS/2004) com o intuito de investir em uma
Para ilustrar o presente artigo, utilizaremos três rede articulada de proteção social às famílias
estudos de caso. São eles: uma adulta do sexo vulneráveis. A nova proposta da PNAS/2004

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reorganiza os projetos, programas, serviços Não é resultante apenas da ausência de


renda; incluem-se aí os outros fatores como
e benefícios, indicando a implantação do o precário acesso aos serviços públicos
Sistema Único da Assistência Social (SUAS) (grifos nossos) e, especialmente, a ausência
no território nacional. de poder. Nessa direção, o novo conceito
de pobreza se associa ao de exclusão,
vinculando-se às desigualdades existentes e
A proteção social tem como objetivo
especialmente à privação de poder de ação
prevenir situações de risco por meio do e representação. (p. 23)
desenvolvimento de potencialidades e
aquisições e do fortalecimento de vínculos Apesar de a pobreza ser fato histórico, a
familiares e comunitários. Nesse sentido, discussão a respeito desse tema somente
foram implantados os Centros de Referência adentrou a comunidade científica e as
de Assistência Social (CRAS) em comunidades organizações internacionais a partir da década
de baixa renda com o propósito de atuar na de 90. Especialmente nas Organizações das
inclusão e garantir os direitos sociais, que são Nações Unidas (ONU), surgiu o Programa
o direito à renda, a segurança alimentar e a das Nações Unidas para o Desenvolvimento
assistência social. (PNUD), que visa ao combate à pobreza no
trabalho junto aos governos, iniciativa privada
O CRAS é a unidade pública estatal responsável e sociedade civil, por reconhecer que há um
pela oferta de serviços de proteção social número expressivo de sujeitos que vivem
básica da assistência social. Nele é ofertado em precárias condições. Nesse sentido, um
o Programa de Atenção Integral à Família dos objetivos dos países que fazem parte
(PAIF), que é proporcionado através de desse Programa, inclusive o Brasil, é reduzir a
serviços socioassistenciais, socioeducativos e pobreza extrema até o ano 2015.
de convivência, além de oficinas de inclusão
produtiva. Ainda de acordo com o PNDU, no Brasil,
atualmente (dados de 2008), 7,5 milhões de
Um dos profissionais que compõe a equipe brasileiros ainda têm renda domiciliar inferior
técnica do CRAS é o psicólogo, e é através a um dólar por dia. Frente a essa realidade,
de visitas domiciliares e trabalhos em grupo existem algumas iniciativas por parte dos
que a equipe busca realizar o fortalecimento governos na tentativa de mudar tal cenário
dos vínculos familiares e comunitários. Em social (http://www.pnud.org.br/pnud/).
Psicologia, “vulnerabilidade refere-se a uma
predisposição individual para apresentar Nas famílias, além de visualizarmos a
resultados negativos no desenvolvimento, ou problemática social, também identificamos o
seja, aumenta a probabilidade de um resultado sofrimento psíquico de seus membros. Nossa
negativo ocorrer na presença de um fator de experiência mostra que, frente ao profissional
risco” (Masten & Gamerzy, 1985). de saúde mental, o sujeito em sofrimento tende
a descarregar suas aflições e angústias. Apesar
Historicamente, a população vulnerável de a proposta do PAIF ser voltada para os
está inserida na sociedade em espaços trabalhos de grupo visando ao fortalecimento
estigmatizadores, conforme menciona dos vínculos familiares e/ou comunitários,
Wanderley (2001): existem situações em que urge realizarmos
a psicoterapia individual por identificarmos
A pobreza contemporânea tem sido percebida
intenso sofrimento psíquico.
como um fenômeno multidimensional que
atinge tanto os clássicos pobres (indigentes,
subnutridos, analfabetos...) quanto outros Conforme levantamento realizado no CRAS,
segmentos da população pauperizados pela em três anos, 447 famílias foram cadastradas.
precária inserção no mercado de trabalho
De acordo com dados obtidos no Programa
(migrantes discriminados, por exemplo).

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Saúde da Família (PSF), que atua na mesma a identificação dos problemas de maneira
área de abrangência do CRAS, existem precoce, a avaliação de riscos e a realização
629 famílias, totalizando um número de de uma estimativa de força dos sujeitos para
2.026 sujeitos. Mensuramos 152 sujeitos o enfrentamento de situações difíceis, novas
que buscaram ou foram encaminhados ao e estressantes. Essa autora ainda acrescenta:
atendimento psicológico. No entanto, a
O psicodiagnóstico é um processo científico,
continuidade do acompanhamento se dá em
limitado no tempo, que utiliza técnicas e
muito poucos casos, em virtude da desistência testes psicológicos (input), em nível individual
do paciente (104 sujeitos desistiram do ou não, seja para entender problemas à
atendimento). luz de pressupostos teóricos, identificar
e avaliar aspectos específicos, seja para
Dentre as problemáticas existentes, depressão, classificar o caso e prever seu curso possível,
comunicando os resultados (output) na base
alcoolismo/drogadição e dificuldades de dos quais são propostas soluções, se for o
aprendizagem são as mais frequentes.
caso. (p. 26)
Diante da grande demanda, realizamos o
encaminhamento a outro profissional da rede
De acordo com Arzeno (1995), o processo
pública. Normalmente, as pessoas precisam
psicodiagnóstico inclui as entrevistas iniciais
deixar suas angústias e aflições em uma lista
com familiares, a hora de jogo e o uso de testes.
de espera sem tempo previsto para serem
No que tange aos propósitos, são de estabelecer
atendidas, uma vez que não há profissionais
em número e capacitação suficientes para o diagnóstico e, em consequência, avaliar o
realizar o trabalho no Município. A questão prognóstico e as devidas estratégias para ajudar
da doença dos nervos é abordada por Costa o sujeito frente as suas problemáticas.
(1989) como um adoecer mental espalhado
pela população de baixa renda, e isso aparece Pensando no psicodiagnóstico como um
muito nos relatos de nossos usuários. trabalho rico em informações obtidas a
partir das estratégias de instrumentalização
Apesar de o processo psicodiagnóstico não regulamentadas pelo Conselho Federal
fazer parte das atividades propostas pelo de Psicologia (CFP), podemos inferir que
Programa, percebemos uma demanda e a avaliação tem muito a contribuir com a
uma oportunidade de mapear a população questão pública. Ainda conforme Arzeno
utilizando esse processo para avaliar as (1995), através do psicodiagnóstico, pode-
doenças mentais e/ou demais dificuldades se chegar mais próximo dos motivos do
que possam estar vivenciando no âmbito sofrimento dos sujeitos.
psicológico. Essa escolha foi feita por se tratar
de método estrutural que nos permite obter
Descreveremos os casos para exemplificar
tanto dados qualitativos como quantitativos
as dificuldades psicológicas vividas por essa
dos sujeitos avaliados.
população. Cabe ressaltar que todos os
Considerando o sofrimento emocional procedimentos éticos foram seguidos, incluindo
inerente ao sofrimento socioeconômico, a assinatura do Termo de Consentimento Livre
o presente estudo-piloto buscou mapear e Esclarecido por parte dos participantes e/ou
tanto as doenças mentais como as possíveis responsáveis.
dificuldades dessa população vulnerável.
Dessa forma, acreditamos que a realização do Caso A:
psicodiagnóstico seja um procedimento válido
na busca de investigar as principais demandas Paciente do sexo feminino, 44 anos, casada, 05
dos munícipes concernentes à saúde mental. filhos, ensino fundamental incompleto, do lar.
Segundo Cunha (2000), um dos objetivos Após envolver-se em mais uma briga, em que,
do psicodiagnóstico é a prevenção, isto é, de um lado, estava o esposo, e de outro, o

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filho primogênito juntamente à companheira, Ocorreram muitos episódios de violência


sendo que ambos os lados faziam uso física entre pai e filhos, principalmente com o
de facas, a paciente deu baixa hospitalar primogênito, quando o primeiro se encontrava
em nosso Município. No hospital, fez um alcoolizado e o filho era ainda muito pequeno.
breve tratamento clínico e, em seguida, foi
encaminhada ao CRAS. A paciente chegou até A violência ainda hoje marca presença nesse
nós extremamente debilitada, muito magra, contexto familiar. A agressividade aparece
conforme prontuário médico do PSF. Constava, acentuadamente no terceiro filho e na filha
ainda, que a paciente apresentava dores no mais jovem, de 09 anos de idade, através de
corpo e cefaléia, ansiedade, tremores, fala desobediência às figuras de autoridade. Há
lenta e baixa bem como sintomas depressivos. indícios de que o terceiro filho, de 15 anos,
Dentre alguns sintomas depressivos, podemos esteja fazendo uso de drogas. O adolescente
citar visões desoladas e pessimistas de futuro, também não demonstra nenhum interesse
ideias e atos autolesivos, sono perturbado, em continuar estudando, e os pais pouco o
apetite diminuído e humor deprimido. incentivam a manter a frequência escolar.

No decorrer do acompanhamento médico, Os membros normalmente se vestem com


foram realizados encaminhamentos à roupas velhas, às vezes, sem serem passadas.
psiquiatria; no entanto, a paciente suspendeu Quando lavadas, ficam expostas à poeira e à
o uso dos psicofármacos devido a dificuldades fumaça da chaminé da casa. Os dois netos
financeiras. Tais dificuldades ainda fazem parte da paciente, que residem bem próximos a
do histórico clínico e social dessa paciente. sua casa, normalmente necessitam de higiene
corporal.
O histórico da paciente também nos mostra
que ela fez uso de bebidas alcoólicas durante A família apresenta situação socioeconômica
um período de 08 anos, entre 32 e 40 anos bastante comprometida, e isso se reflete na
de idade. A paciente remeteu-se à data de precária habitação. A residência de madeira
nascimento de sua penúltima filha, hoje com é pequena e possui frestas nas paredes, o que
12 anos de idade, e também à morte de seu se agrava especialmente no inverno, quando
pai para lembrar a época em que abusava do a temperatura, às vezes, é negativa.
álcool. Sua aproximação com a bebida se deu
a partir de dificuldades financeiras enfrentadas Esse grupo familiar é beneficiário do Programa
pela família e também da perda da figura Bolsa Família (PBF) e do Programa de
paterna, que era referência para a paciente. Aquisição de Alimentos (P. A. A.), desenvolvido
mensalmente no Município. Quando há
Durante acompanhamento realizado com entrega da cesta de alimentos, os membros
a paciente, esta demonstrou ter raiva de ficam envolvidos na atividade, deixando de ir
bebidas alcoólicas, contudo, apenas após à escola e/ou ao atendimento psicológico.
muita investigação ela revelou que também
fez tal uso. Disse que dormia apenas quando O resultado da avaliação mostrou que a
estava alcoolizada, e que essa foi uma época paciente apresenta grandes dificuldades.
muito difícil de sua vida. Podemos mencionar a orientação autopsíquica
prejudicada bem como o prejuízo na
O esposo, por sua vez, fez uso do álcool por memória de curto e de longo prazos, com
um período aproximado de 25 anos, entre 17 lentidão de pensamentos, ideação suicida e
e 42 anos de idade. Em virtude de encontrar- comportamentos automutilantes (fazer buracos
se com problemas de saúde, o esposo cessou na perna e tentar cortar pulsos utilizando-se de
a ingestão de bebidas alcoólicas há cerca de uma faca).
um ano.

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A paciente, há dois anos e meio, vem uma escola pública estadual, que reside com
realizando tratamento com médico psiquiatra, pai, madrasta e duas irmãs.
em um Município distante cerca de 200 km. As
consultas são marcadas em períodos de quatro Sua avaliação psicológica foi realizada devido
meses, e, normalmente, a família estende à presença de comportamentos que envolviam
esse período em virtude das dificuldades pequenos furtos, piromania, agressividade,
financeiras. mentiras e desinteresse escolar.

Durante o tratamento, várias trocas de Anteriormente a essa avaliação, não


medicamentos foram efetuadas na busca de conhecíamos e não houve nenhum contato
melhorias para a saúde. Essa paciente apresenta com o menino. Seu pai possui histórico
um caso muito difícil de ser diagnosticado, pois, familiar de envolvimento com brigas, furtos
da maneira como os sintomas se sobrepõem, e possível tráfico de drogas. O contato entre
há, simultaneamente, indícios de que ela os filhos e a mãe pouco ocorre, em virtude
possua esquizofrenia e/ou síndrome orgânica de ela residir em outra cidade e pouco visitar
cerebral, conforme resultado de sua avaliação. os dois filhos, que ficaram com o pai quando
O tratamento realizado com médico psiquiatra houve a separação do casal. Na época do novo
não apresentou melhoras significativas, uma casamento do pai, a menina tinha 6 anos, e o
vez que também não foi possível realizar menino, 4 anos de idade. Assim, a madrasta
exames complementares de neuroimagem. tornou-se responsável pela educação e pelos
O Município não possui convênio com as cuidados com as crianças.
clínicas/hospitais que realizam exames dessa
espécie. No que se refere à residência da família, esta
é grande, de alvenaria, com quartos separados
Diante de tal situação, seu quadro clínico não para casal e crianças. Não adentramos a casa
pôde ser diagnosticado de maneira rápida na toda, contudo, visualizamos que a mobília da
tentativa de evitar mais riscos para si mesma e sala é composta por móveis bonitos, novos e
para sua família. Seria útil e necessário, então, é bem limpa. Praticamente todas as vezes que
fazer uso de vias secundárias, que demandam fazíamos visita à família, a casa estava sendo
um tempo extenso para o fechamento do faxinada, organizada, com muitas roupas
diagnóstico. Essas vias se dão através de lavadas. Todos os membros da família se
reavaliações psicológicas programadas para vestem adequadamente, têm roupas bastante
períodos que podem variar de 06 a 12 limpas e bonitas.
meses, a fim de podermos nos aproximar
longitudinalmente do mais real possível em A família possui um veículo que, segundo a
termos diagnósticos. madrasta do menino, seu esposo utiliza para o
trabalho. Esse trabalho é tráfico de narcóticos,
Por conhecermos tal realidade, ofertamos a camuflado com vendas de CDs e DVDs
avaliação a essa paciente, para então melhor piratas. O pai do menino, por vezes, fica cerca
demonstrar à família e a ela suas dificuldades, o de 15 dias fora de casa devido ao trabalho.
seu grau de seu sofrimento e, principalmente,
para propor os devidos encaminhamentos. A avaliação foi iniciada com entrevistas com a
Voltaremos a esse caso na discussão teórico- responsável e, posteriormente, com o menino,
clínica. a partir de uma estratégia de instrumentos,
que incluíram: grafismos, H. T. P., hora de
Caso B: jogo diagnóstica, Teste Gestáltico Visomotor
de Bender, Teste das Fábulas e WISC III.
Menino de 10 anos, estudante da 5ª série de

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Uma das dificuldades encontradas na de idade. Cada cônjuge aponta, a partir de


realização dessa avaliação foi em relação ao seus pontos de vista, diferentes fatores como
acesso ao pai, pois, mesmo quando solicitado desencadeadores do fim da relação. De acordo
por duas vezes, não aceitou nosso convite. De com a mãe, o abuso de bebidas alcoólicas pelo
acordo com a madrasta, o pai é figura ausente ex-companheiro foi prejudicial. O pai, por sua
mesmo quando presente no lar. vez, verbaliza que sua ex-companheira não
dava a devida atenção e cuidados aos filhos,
O pai compareceu somente no momento além de frequentemente sair com amigas e
da devolução da avaliação, quando sua traí-lo algumas vezes.
companheira não pôde se fazer presente.
Os resultados da avaliação mostraram que Quanto à renda familiar, esta é obtida a
o menino possui um lar desprovido de partir do trabalho da mãe e do padrasto da
afeto, segurança, apoio e diálogo. Como adolescente. A mãe prepara lanches e, no
consequência, passou a apresentar sentimentos turno inverso ao da escola, a adolescente e
de inadequação, descontentamento, os irmãos vendem os produtos. O padrasto
diminuição grave em sua autoestima e trabalha em uma cidade vizinha.
também sintomas depressivos, com tendência
a se afastar ainda mais de seus familiares e do A adolescente frequentava as oficinas de
meio social. reforço escolar e sociopedagógicas no CRAS
há dois anos, quando a mãe relatou que
Parece-nos que, em virtude de estar inserido a filha estaria apresentando dificuldades
em um ambiente constituído de estigmas, de concentração, com baixo rendimento
exclusão e preconceito, bem como carência escolar. A adolescente apresenta histórico de
de afeto e incentivos, o menino passou a repetições na 1ª e na 4ª séries.
apresentar comportamentos inadequados.
A avaliação apresentou um prognóstico A partir do contato já existente entre a equipe
reservado para o caso estudado. Mesmo do CRAS e a adolescente, foi possível perceber
diante de tal prognóstico e de esclarecimentos que ela se apresentava de maneira bastante
sobre a importância de se buscar os devidos infantil e envergonhada se comparada com
encaminhamentos, a família não efetuou as demais adolescentes de igual idade e,
nenhum movimento nessa direção. principalmente, em relação à irmã mais jovem.

Caso C: Assim, somando as dificuldades apresentadas


pela mãe e as observações realizadas, foi
Adolescente de 13 anos de idade, sexo dado início ao processo de avaliação com a
feminino, estudante da 5ª série de uma escola adolescente com o objetivo de identificar suas
pública. Reside com a mãe, a irmã de 11 anos, dificuldades e potencialidades. Primeiramente,
o irmão de 15 anos e o padrasto. realizamos as entrevistas individuais com os
genitores. Com a adolescente, foram utilizados
A adolescente avaliada possui ainda dois os seguintes instrumentos: entrevistas clínicas,
irmãos por parte de pai. Este constituiu nova grafismos diversos, H. T. P., WISC- III e Teste
família, cuja companheira possui três filhos das Fábulas.
que não são dele.
A mãe, que, inicialmente, buscou ajuda e
Os pais da adolescente tiveram o mostrou interesse por melhorias no rendimento
relacionamento conjugal marcado por e no comportamento da filha, demonstrou
inúmeras brigas e separações. Na época também ter sido a principal responsável pela
do término do casamento dos genitores, a desistência da mesma nas oficinas do CRAS
adolescente tinha aproximadamente 10 anos

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bem como no processo da avaliação. A sujeito está inserido. Isso significa dizer que,
mãe deixava os afazeres domésticos para a em um ambiente pobre do ponto de vista
adolescente, principalmente nos dias em que econômico, tende-se a criar/moldar sujeitos
esta tinha compromisso no CRAS. pobres de cultura, com rede afetiva precária
e com pouco diálogo, com ausência de
Os resultados da avaliação mostraram que a autonomia e baixa autoestima.
paciente se apresentava com QI total 83, isto
é, em nível médio inferior, segundo WISC Considerando que o sofrimento psíquico é
III, necessitando de avaliação complementar um fenômeno que perpassa todas as classes
a partir de exames de neuroimagem devido sociais, acreditamos, entretanto, que, em
a dificuldades no índice de organização sujeitos vulneráveis, o sofrimento psíquico tem
perceptual e de resistência à distração, maior amplitude, em virtude de se ter menor
bem como de apoio psicopedagógico e de possibilidade para melhorar suas relações
acompanhamento psicológico. familiares e sua qualidade de vida, uma vez
que estão também desprovidos de apoio e de
Particularmente, no que tange à avaliação serviços públicos satisfatórios.
dos exames de neuroimagem, estes não
puderam ser realizados pelos mesmos motivos Nossas avaliações demonstraram ampla
já mencionados no caso A. Convém ressaltar vulnerabilidade ao contexto nos três casos,
que esse fato prejudicou o andamento do cada um com a sua particularidade, mas com
trabalho. Não há expectativas de serem um fator de risco em comum: o próprio meio
devidamente resolvidas essas questões, mas ambiente onde estão inseridos. Além desse
a infeliz possibilidade de seus sintomas serem importante fator de risco, existem tantos
intensificados com o decorrer do tempo pela outros muito presentes nessa população,
ausência do tratamento adequado. que são: a violência doméstica e social, o
histórico familiar de alcoolismo/drogadição,
Discussão Teórico-clínica negligências diversas por parte dos pais e/
ou responsáveis, sintomas depressivos,
É na família que as funções de cuidado e etc. Observamos, ainda, a evasão escolar,
transmissão dos valores e das normas culturais a ausência de rede afetiva entre familiares
devem ser cumpridas, produzindo assim as e o espaço que privilegie a proteção e a
condições necessárias para a sua participação influência educativa, bem como a ausência de
nos demais grupos (Bock, 1999). Esses grupos, disponibilidade para aprender a lidar melhor
dos quais também fazemos parte, são o bairro com os filhos.
onde residimos, a escola, os programas e a
igreja que frequentamos, dentre outros. Todos
Existem inúmeros estudos que demonstram
eles, conforme seus contextos, tendem a nos
que a exposição de crianças e jovens às
moldar.
práticas parentais inadequadas (conflitos,
violência, coerção, etc.) e baixo envolvimento
De acordo com Eizirik, Kapczinski e Bassols
familiar e socio-cultural constituem fatores de
(2001), as mudanças ocorridas na vida dos
risco para o desenvolvimento e aumentam
adultos são, hoje, um reflexo do meio social,
a vulnerabilidade de eventos ameaçadores
cultural e econômico em que vivem os
(delinquência, drogas, etc.) externos ao
sujeitos, somado a sua história transgeracional.
contexto familiar (Ferreira & Marturano, 2002;
No que tange à identidade social, esta é
Gomide, 2003; Mc Dowell & Parke, 2002;
constituída pelo conjunto de características
Marturano, 2004).
individuais reconhecida pelo meio onde o

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Pa r t i c u l a r m e n t e n o q u e s e r e f e r e tudo”, referindo-se ao aspecto econômico,


à violência, esta existe de maneira quando dizem que têm o que comer, o que
exacerbada, podendo estar explícita, através vestir e onde dormir. Sabemos que isso não é
dos relatos dos membros ou de sinais suficiente. De fato, os pais não percebem que
físicos presentes nos corpos dos sujeitos, ou os filhos estão desprovidos de afeto, de apoio
camuflada, quando os sujeitos tentam negar a e de segurança, necessários para um adequado
existência da violência física e/ou psicológica desenvolvimento biopsicossocial.
em seus lares. De qualquer maneira, o sujeito
violentado tende a apresentar sintomas Muito frequentemente, precisamos reafirmar a
depressivos, pois sofre chantagens, acusações importância de um vínculo afetivo satisfatório
e ameaças por parte de seus responsáveis. entre os membros da família, pois nossa
experiência nos mostra que, frente a carências
Na população avaliada, constatamos que em demasia, a falta de perspectivas, de
em todas há a presença de abuso de drogas incentivos parentais, de características de
ou de envolvimento com tráfico por algum personalidade que justifiquem uma mudança,
membro familiar. Para alguns, esse é um podemos dizer que o futuro reserva a eles a
mecanismo de fuga da realidade, ao mesmo marginalização, o uso de álcool e/ou drogas
tempo que, para outros, é fonte de renda. e a prostituição, que contribuiem para que
Também podemos considerar que o abuso os fatores de risco venham a se manter bem
de substâncias pode ser encarado como uma presentes em seu contexto social.
tentativa de automedicação, em que o sujeito
busca remediar principalmente seus sintomas É importante também assinalarmos que,
mais depressivos. dentre as problemáticas mais eminentes no
público infanto-juvenil, se encontram as
Mesmo sem as devidas condições, as novas dificuldades de aprendizagem. Acreditamos
famílias vão se formando. Normalmente, não que exista tal demanda em virtude de os
há planejamento familiar, e o número de pais não possuírem escolaridade suficiente
filhos é maior do que as reais possibilidades para auxiliar os filhos, e apresentarem até
econômicas e afetivas da família. Observamos mesmo a alegação que a responsabilidade
que, nos três casos, os filhos vieram sem para com o filho é apenas da instituição de
planejamento. ensino. Especialmente no caso B, o menino
demonstra insatisfação, descontentamento
através de comportamentos como piromania
Também verificamos que, em todos os e agressividade na escola e em casa, como
casos, os pacientes tiveram perda de um dos forma de dizer que está necessitando de mais
pais, seja em decorrência de morte, seja de atenção. O menino encontra-se vulnerável e
separação conjugal. A separação, depois de exposto a fatores de risco.
ocorrida, deposita o compromisso para um
dos responsáveis que, sem as estruturas física Para mantermos a presença do público no
e/ou emocional adequadas, não consegue desenvolvimento das atividades grupais,
ofertar aos filhos o devido suporte de que tanto enfrentamos grande obstáculo. Por um lado,
necessitam. Os genitores têm dificuldades em temos a impressão de que os sujeitos se sentem
lidar com os filhos. amedrontados por estarem conversando sobre
suas experiências quando, na verdade, a
população vizinha já conhece seus problemas.
Nas entrevistas realizadas com os sujeitos Por outro lado, quando conversamos sobre suas
avaliados ou com seus familiares, enumeramos famílias, as mulheres falam simultaneamente,
várias vezes a fala: “eles (os filhos) têm de mostrando que precisam ser ouvidas e

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ajudadas. Avaliamos que, de maneira geral, os depressivo. A depressão envolve um acentuado


sujeitos de baixa renda se mostram reservados esforço pessoal, físico e social e compreende a
e com dificuldades de se vincular à equipe incapacidade individual e o desgaste emocional
multidisciplinar, mas, quando se sentem e financeiro suportado pelos familiares.
seguros, depositam suas expectativas nos
profissionais. Para assegurarmos a presença Evidenciamos que não pretendemos discorrer
dos sujeitos nas atividades desenvolvidas sobre a depressão, mas mencioná-la de
objetivando auxiliá-los, foi preciso desenvolver maneira suficiente e coerente, haja vista que
a estratégia de atrair a população com brindes. tal patologia é desencadeada pela soma dos
Isso nos dá a impressão de que a atenção e o fatores genético, psicológico e socioambiental e
apoio devem ser fornecidos apenas mediante está presente nos resultados das três avaliações
um pagamento, principalmente quando nos realizadas e aqui descritas, como morbidade
referimos às questões familiares, educacionais principal ou como comorbidade.
e afetivas. Temos que pagá-los para que
aceitem se tratar. Arriscamos dizer, então, que sintomas
depressivos podem surgir a partir do momento
Os sujeitos avaliados apresentam sentimentos em que o sujeito, independentemente de sua
de inadequação, baixa autoestima, são muito idade, não encontra afeto e apoio suficientes
agressivos e inseguros e possuem pouca em seu grupo familiar e em sua rede de apoio
iniciativa. Essas características nos remetem a social. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999),
um ambiente empobrecido de afeto, onde as diante de situações difíceis e de sofrimento
relações afetivas estão fragilizadas, com pouco intenso é que mais precisamos de pessoas que
vínculo e diálogo. sejam continentes com nosso sofrimento, e que
não devemos excluir o sujeito nem discriminá-
Os resultados também nos mostram que as lo de maneira a evitar que a problemática se
mulheres são as responsáveis pelos cuidados torne ainda maior. Quando sozinhos, temos
da casa e dos filhos, enquanto o homem a tendência de nos menosprezar, ter baixa
possui maior liberdade e é o responsável pelo autoestima e, infelizmente, procurar nas ruas
sustento familiar. É uma estruturação familiar o que não encontramos em nosso lar. Diante
mais primitiva. dos resultados das avaliações, inferimos que
as pessoas se apresentam com prognósticos
Abreu, Salzano, Vasques, Filho e Cordás de reservado a ruim por apresentarem aqueles
(2006) revelam um dado assustador, a partir de sintomas e, muitas vezes, por não receberem
dados estatísticos da Organização Mundial da o devido tratamento.
Saúde (OMS). A depressão tem projeção para
ser a quarta causa de ônus social em 2020. Considerando que Cunha (2000) define o
Nosso trabalho com a população tem nos psicodiagnóstico como um processo que busca
mostrado que cresce de maneira significativa identificar problemas de maneira precoce,
o número de pessoas com doenças mentais, avaliar riscos e realizar uma estimativa da força
como, por exemplo, a depressão. De acordo dos sujeitos para o enfrentamento de situações
com Abreu et al. (2006), eventos estressantes, difíceis, novas e estressantes, faz sentido
tais como perdas de entes queridos, de dizermos, então, que podemos identificar
emprego e/ou doença e ausência de suporte quais sujeitos são resilientes ou vulneráveis
social satisfatório, estão intrinsecamente através do psicodiagnóstico. A partir de suas
relacionados ao risco de se apresentar quadro experiências em trabalhos com comunidades

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de baixa renda, Hutz, Koller e Bandeira (1996) carência presente nos lares brasileiros,
afirmam: poderemos dedicar mais atenção e manifestar
menos preconceitos em relação aos mesmos.
Se desejarmos conduzir programas sociais
capazes de melhorar o prognóstico e a Evidenciamos que o psicodiagnóstico é um
qualidade de vida das nossas populações
instrumento que visa a ajudar no diagnóstico
pobres e marginalizadas, teremos que
produzir localmente o conhecimento dos problemas e a facilitar o planejamento
necessário para entender com clareza qual objetivo das soluções, na busca da superação
o nível de stress produzido pelos fatores da dos graves déficits de saúde mental que
vida cotidiana e que variáveis ou processos
aumentam a vulnerabilidade ou protegem
estão presentes nessas comunidades. Nesse
os indivíduos do risco produzido por esses sentido, assinalamos a importância de maior
eventos. (p. 84) número de psicólogos buscarem a capacitação
nessa área, pois ainda há muito o que
fazer, principalmente com as populações
Sendo assim, podemos utilizar o psico-
vulneráveis.
diagnóstico como método de evitar a
disseminação das problemáticas e/ou doenças
Parece-nos utopia pensar que, a partir de
mentais quando realizado adequadamente.
métodos clínicos tradicionais da Psicologia,
Esse processo se mostrou útil e de caráter
se possa curar as mazelas da sociedade e
preventivo-interventivo.
impedir o que podemos chamar de epidemia
socio-emocional. Entretanto, a Psicologia,
Considerações Finais identificando e mensurando as doenças
mentais distribuídas pela população, pode,
Este estudo revelou resultados tristes e
através do processo psicodiagnóstico, por
persistentes, porém reais, de uma parte
exemplo, contribuir com a saúde mental e/ou
do cenário social brasileiro. Acreditamos
com a promoção da saúde dos sujeitos que se
que esses resultados se repitam em outras
encontram em vulnerabilidade social.
comunidades de baixa renda de todo Brasil,
e talvez, do mundo.
Entendemos que a sociedade urge por
políticas públicas capazes de bem atender
Trabalhar com famílias de baixa renda é,
as demandas da população mais carente.
simultaneamente, satisfatório e difícil, pois,
Caberá, assim, às autoridades e aos cidadãos
de um lado, percebemos que podemos
buscar a implementação de políticas de saúde
contribuir com elas quando ofertamos nossa
mental que valorizem a dignidade humana de
compaixão e respeito, ou seja, quando as
TODOS os sujeitos. As políticas não devem ser
escutamos; por outro lado, o trabalho se
assistencialistas, e sim, devem colocá-los como
torna difícil, pois, diante da complexidade das
sujeitos ativos no processo de mudanças.
questões que cercam a miséria, parece que
pouco contribuímos. No trabalho com essa
Sem superações, o Brasil, futuramente,
população, precisamos compreender que a
continuará apresentando o retrato de uma
ajudamos a obter um nível de funcionamento
sociedade repleta de pobreza, de exclusão
mais sadio dentro de seu contexto, fazendo o
social e, em consequência, de sofrimento
que está ao nosso alcance.
psíquico como o mencionado neste artigo.

Nós, profissionais de saúde, juntamente


aos governos, iniciativa privada e sociedade
civil, se realmente reconhecermos tamanha

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Leila Grana
Especialista em Psicodiagnóstico e Avaliação Psicológica pelo Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade
(Contemporâneo – Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade).
E-mail: leila.grana.psico@hotmail.com

André G. Bastos
Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul , Rio Grande do
Sul – RS – Brasil. (Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Contemporâneo – Instituto de Psicanálise e
Transdisciplinaridade).
E-mail: andregbastos@terra.com.br

*Endereço para envio de correspondência:


Rua José Marcelino de Góes, 05, Centro – Rio Real –Bahia- BA – Brasil CEP 48330.000.

Recebido 21/1/2009, 1ª Reformulação 26/11/2009, Aprovado 22/02/2010.

Referências
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Hutz, C., Koller, S., & Bandeira, D. (1996). Resiliência e
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