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All content following this page was uploaded by Roger Augusto Luna on 14 August 2015.
RESUMO:
Este ensaio visa avaliar e contribuir, através de um contexto de análise
organizacional, a utilização e prática de Home Office como oportunidade de melhoria
na qualidade de trabalho e, consequentemente de vida dos funcionários, segundo
suas necessidades. E, mais recentemente, em questões de melhorias ambientais
referentes à redução da circulação de pessoas pelas cidades, uma vez que o horário
domiciliar do trabalhador pode ser flexível, satisfazendo suas necessidades de
segurança, evitando horários de picos, melhorando o trânsito, os meios de
transportes, de comunicação, entre outros. A legislação trabalhista contempla o
trabalho telemático e informatizado, mas é fundamental detalhar o que se entende
como pressupostos caracterizados pelas relações de trabalho. Objetiva-se também
demonstrar em que medida esta nova concepção de trabalho está sendo praticada
nas organizações que adotam o home office – trabalho remoto – e quais os
benefícios que podem gerar às empresas e aos trabalhadores segundo suas
necessidades. Assim como analisar os fatores restritivos que há em relação à
infraestrutura das empresas em relação às Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs).
1
Mestrando em Administração (2013/2014) na Universidade de Fortaleza – UNIFOR/CE
Professor na Universidade de Fortaleza – UNIFOR/CE
INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, é claramente entendido pelos empresários
que a manutenção da competitividade das organizações em mercados altamente
dinâmicos e globalizados demandam alicerces de novos desenhos de estrutura
capazes de oferecer agilidade e flexibilidade (MARTINS; HONÓRIO, 2012). Nota-se
que novas formas de trabalho vêm colaborando com este desenvolvimento das
organizações.
As exigências de o funcionário ocupar um espaço físico no escritório já
não constituem algo tão rígido como há algumas décadas atrás. Com as novas
tecnologias, a mobilidade telefônica, notebooks e da Internet estão permitindo que
pessoas trabalhem remotamente, a partir de casa, na estrada, ou de qualquer local
(KUGELMASS, 1996). A flexibilidade no trabalho passa a ser um novo
entendimento.
Trabalho à distância, trabalho remoto, trabalho em casa, trabalho
compartilhado e teletrabalho são considerados sinônimos da expressão home office
(IGBARIA, TAN, 1998; MELLO, 1999; JARDIM, 2003). Em tradução livre, significa
“trabalho em casa”, mas trabalhar em casa é tão fácil assim? Apesar de pequenas
interferências do quotidiano de uma casa, o home office vem dando resultado para
muitas pessoas e abrindo novas oportunidades de emprego.
Segundo Mello (2011), deve ser levado em consideração alguns fatores
primordiais para que exista êxito no trabalho remoto: avaliar e selecionar com
cautela o profissional que irá desempenhar o home office, ambiente estruturado e
com suporte informatizado, determinação de metas e avaliações que visem o
desempenho da pessoa, além da interação com a equipe que está alocada
fisicamente no local de trabalho.
Fator importante a ser ressaltado por Lima, Fusco e Riça (2003), é que a
adoção do Teletrabalho e desse tipo de gestão empresarial não é só tecnológica.
Ela requer o emprego de novas relações no trabalho, pois o conceito de trabalho
passa a não incluir a noção de um agrupamento físico de pessoas, e muitos
funcionários passam a trabalhar a partir de suas residências enquanto interagem
com os funcionários do escritório central.
De acordo com Nogueira (2002), para que estes fatores sejam
trabalhados da melhor forma e respeitando as relações trabalhistas, as funções de
recursos humanos veem passando por evoluções, deixando a antiga função de
departamento de pessoal para uma função mais sistêmica e estratégica na empresa.
As ações estratégicas e mudanças organizacionais iniciadas no presente pelas
organizações, poderão levar essas mesmas organizações a uma situação mais
cômoda no futuro diante de seus concorrentes (HAMEL; PRAHALAD, 1995).
Ao verificar o aparecimento e o crescimento desta modalidade de trabalho
flexível neste ensaio, ressalta-se a importância do entendimento não só
paradigmático deste fenômeno organizacional, mas como as mudanças e
transformações que incidirão nos processos que envolvem o ambiente empresarial.
HOME OFFICE
Este não é um assunto tão atual, pois já são discutidos vários elementos
ligados a esse tema pelas empresas desde a década de 1990, mas ganhou, na
atualidade, muita força. Especialistas das áreas de gestão e recursos humanos vêm
estudando e aplicando este conceito em suas organizações, ressaltando várias
problematizações, entre outras: (a) qual a efetividade desta opção legalmente? (b)
os atuais projetos, de modo geral, melhoram a qualidade de vida do empregado sem
prejuízo em relação ao salário? (e) está se criando uma nova cultura em que o
trabalho em domicílio será valorizado como o realizado nas empresas? (f) como será
a ascensão profissional, mais fácil ou mais prejudicada?
De acordo com Limongi-França (2006), no cenário atual de gestão de
pessoas, houve uma mudança no formato das atividades desenvolvidas pelas
pessoas, passando de atividades operacionais e legisladas para ações
coorporativas. Isto nos leva a identificar que as organizações estão em constante
mudança e que adaptações na forma de gerir os negócios e/ou processos devem
ser revistos e frequentemente adaptados às novas realidades. As organizações
passarão a ter novas diretrizes e estratégias para atendimento às demandas do
mercado.
O home office pode ser visto como uma forma de flexibilização,
abrangendo três dimensões, onde a primeira seria o local, pois não existe mais um
único local e sim vários locais onde o funcionário poderia exercer a sua função; a
segunda dimensão está exatamente na flexibilização do horário de trabalho ou do
tempo que o funcionário pode se dedicar a tarefa, e terceira dimensão relaciona-se
com o meio de comunicação, uma vez que que os dados e informações podem
circular através de e-mails, internet, redes sociais, telefones, entre outros (MELLO,
1999; ROSENFIELD E ALVES, 2005).
Mello (2011) também explica que o teletrabalho é uma forma de integrar o
deficiente (ou pessoa com necessidades especiais) no mercado de trabalho,
propiciando-lhe qualidade de vida, já que não precisará se deslocar e enfrentar as
dificuldades de locomoção nas grandes cidades, cumprindo também a lei de cotas
nas organizações.
As organizações que adotam o trabalho remoto ou o home office
evidenciam vários pontos positivos e negativos deste tipo de flexibilidade dentro de
suas organizações. No Quadro 1, pode-se observar algumas vantagens e
desvantagens que devem ser gerenciadas pelas empresas.
VANTAGENS DESVANTAGENS
VANTAGENS DESVANTAGENS
QUALIDADE DE VIDA –
NECESSIDADES DO TRABALHADOR E DO EMPREGADOR
As preocupações com a saúde do trabalhador e com o bem-estar social
no Brasil remontam a 1930 quando o presidente Getúlio Vargas criou o Ministério do
Trabalho, legislação previdenciária, em 1945 com a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT).
O desenvolvimento das leis trabalhistas ainda não terminou e em cada
momento de evolução das tecnologias e das formas de gestão, entre outras, deve
haver também uma revisão na CLT e isto proporcionará maior segurança e
confiança aos trabalhadores.
Nota-se que com o advento da mobilidade tecnológica, o trabalhador
adquiriu novas competências para cumprir metas, por meio de uma comunicação
remota com a empresa e, ao mesmo tempo, ganhando a oportunidade de inovar a
gestão de organizacional. O conceito de qualidade de vida no trabalho começa a se
mesclar com o aperfeiçoamento das formas de gestão. Segundo Limongi-França
(2001), a qualidade de vida no trabalho passa a ser a reunião de ações de uma
empresa, envolvendo a implantação de melhorias e inovações gerenciais e
tecnológicas no ambiente de trabalho.
As mudanças na economia, nas formas de as organizações
administrarem seus negócios e o desenvolvimento tecnológico, fazem do
trabalhador um dos pilares destas mudanças. O fator humano, ganha espaço, pois é
responsável pela produtividade, estratégia e desenvolvimento nas organizações. O
trabalhador desenvolverá as suas atividades dentro das organizações objetivando o
cumprimento das metas organizacionais e suas metas próprias, isto é, de acordo
com as necessidades do empregador e, ao mesmo tempo, satisfazendo suas
próprias necessidades.
Em sua pesquisa, Martins e Honório (2012), concluíram que organizações
bem sucedidas são aquelas que proporcionam às pessoas um ambiente de trabalho
acolhedor e agradável, onde elas possuem plena autonomia e liberdade para
escolher a maneira de realizar o trabalho.
A teoria de Maslow, já previa que humanidade é possuidora de
necessidade e que devem ser satisfeitas de alguma forma. Inicialmente, em 1954, o
autor, faz uma hierarquia sobre as necessidades humanas, partindo das
necessidades mais básicas para a sobrevivência. Sendo as primeiras necessidades
satisfeitas, o indivíduo procura satisfazer as demais em ordem decrescente. São
elas: 1) Necessidades biológicas e fisiológicas (comida, água, sono etc.); 2)
Necessidades de segurança (limites, leis, ordem, estabilidade etc.); 3)
Pertencimento e Amor (família, afeto, relacionamento etc.), 4) Necessidades de
estima e/ou autoestima (realização, independência, responsabilidade de gestão etc.)
e 5) Necessidades de autorrealização (realização do potencial pessoal).
Em 1970, numa segunda edição de sua obra, são acrescentadas outras:
Necessidades cognitivas (busca pelo saber) que ocupariam o quinto nível e
Necessidades estéticas (busca de equilíbrio, beleza, forma etc.), ocupariam o sexto
nível; ficando as Necessidades de autorealização em último lugar. Em 1990, outros
autores, fizeram adaptações relativas à Hierarquia das necessidades, acrescentando
as Necessidades de Transcendência (ajudar os outros a alcançar a autorrealização),
que seria a última da hierarquia.
As ideias de Maslow relacionam-se com o tema em questão: home office,
na medida em que os empregados (a distância) se sintam motivados pelos seus
empregadores, que lhes devem proporcionar oportunidades para o desenvolvimento
pessoal (autorrealização para a vida) e não apenas para o trabalho como forma de
sobrevivência ou de status.
LEGISLAÇÃO
O que a diz a legislação sobre os direitos trabalhistas? Como visto, de
acordo com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), uma jornada de trabalho
normal é composta pelo espaço de tempo em que o empregado permanece à
disposição do empregador, cumprindo as atividades acordadas em um contrato de
trabalho. Nos termos da CF, art.7º, XIII, a sua duração deverá ser de até 8 horas
diárias e 44 horas semanais. Em revisão atual, foi publicada no DOU em 15 de
Dezembro de 2011 a lei 12.551, que altera o artigo 6º da CLT.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este ensaio teve como objetivo principal, contribuir de forma conceitual,
demonstrando os fatores positivos e restritivos do trabalho remoto, como o home
office, bem como contemplar as necessidades diversas do trabalhador, como uma
nova forma das organizações trabalharem e gerenciarem seus negócios. Para os
trabalhadores, possibilita uma nova ferramenta de equilíbrio entre a sua “qualidade”
de vida profissional e pessoal.
O desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs), como visto, está mudando a forma de executar os trabalhos, dos mais
simples aos mais complexos, dando ao trabalhador a oportunidade de adquirir novas
competências e habilidades, possibilitando maior flexibilidade em relação ao tempo e
ao espaço organizacional.
O papel dos gestores também se modifica, pois cabem a estes gerir tanto
as necessidades de cumprimento das metas organizacionais como favorecer novos
recursos (infraestruturais, tecnológicos, motivacionais, entre outros) para que os
trabalhadores (de todos os níveis) desenvolvam suas capacidades como também
auxiliarem na criação de novos processos e paradigmas, tendo em vista aliar as
competências organizacionais às necessidades dos trabalhadores e dos
empregadores.
De acordo com atual legislação, não existe a distinção entre o trabalho
realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do
empregado e o realizado a distância. A regularização do home office na legislação
do trabalho, aumentará de forma substancial esta atividade na organizações.
O antigo modelo fabril atrelado a horários e marcação de ponto já não
pode ser mais um paradigma nas organizações, disponibilizando ao trabalhador
remoto esta flexibilidade. O baixo custo operacional para as organizações também
incentivará e será outra forma de oferecer mais este beneficio aos trabalhadores.
Ademais, este novo modelo também requer uma adaptação do
trabalhador em seu novo ambiente de trabalho, sua residência, onde deve haver a
automotivação, estimulando o seu próprio desenvolvimento e a disciplina para que o
trabalho tenha um rendimento igual ou superior ao produzido no escritório.
Este ensaio possui a sua relevância e contribuição acadêmica,
especialmente na área de gestão de pessoas, relações de trabalho e arranjos
produtivos, uma vez que traz à tona discussões sobre práticas de organizações
flexíveis que podem influenciar a vida dos trabalhadores e da sociedade como um
todo.
REFERÊNCIAS
ALVES, R. V. Teletrabalho: um conceito complexo no direito brasileiro. Revista da
Faculdade de Direito de Uberlândia, v. 35, p.385-394, 2007.
IGBARIA, M.; TAN, M.The Virtual Workplace, Idea Group Publishing, London –
1998.