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Rio de Janeiro
2018
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
Rio de Janeiro
2018
Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO
Banca Examinadora
_______________________________________
______________________________________
______________________________________
Aos meus filhos João Victor, Arthur e
Sophia, que tanto me encorajam, mesmo
que indiretamente, a realizar feitos na
minha vida pessoal e profissional, e à
minha esposa Letícia, que está do meu
lado em todas as situações.
AGRADECIMENTOS
(SAMUEL MARSHALL)
RESUMO
The present research sought to analyse whether the present approach to the teaching
discipline on Armament, Ammunition and Shooting (AMT), taught at the ESA, is in line
with the demands of the professional training of the Army career combatant sergeant,
with an emphasis on ammunition. Its purpose is to propose an instruction booklet that
can supply the demand for the existing subject mainly in the Army training schools. To
do so, this work has been developed since 2016, by the ESA Shooting Section, through
a bibliographic and descriptive research, raising data through interviews and tests. We
searched the existing teaching documents, which are the sources of consultation used.
Interviews were also conducted with the military in the functions of instructors of the
researched establishments, as well as public security agents and civilian experts in the
subject. A sample of ESA Students of 2018 received an instruction on light armament
ammunition, based on the proposed instruction book. These students, along with
another sample that did not receive the instruction, were submitted to a questionnaire
/ test on the discipline of ammunition and shooting. By means of this experiment, it was
possible to observe that those Students who had contact with the instruction on
ammunition and with the instruction book obtained extremely expressive results in the
part of the questionnaire that dealt with the subject ammunitions, whereas in the parts
that dealt with weaponry and shooting, all Students obtained similar results on
average. Thus, it was possible to conclude that there is a need for the AMT discipline
to be approached and so that in the subject ammunition the instructors can achieve
the objectives expected by the existing teaching documents.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 16
1.1 PROBLEMA ....................................................................................... 18
1.1.1 Antecedentes do Problema .............................................................. 18
1.1.2 Formulação do Problema ................................................................. 20
1.2 OBJETIVO .......................................................................................... 21
1.3 QUESTÕES DE ESTUDO ................................................................... 22
1.4 JUSTIFICATIVA ................................................................................. 22
2 METODOLOGIA ................................................................................ 25
2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO ........................................................ 25
2.1.1 Definição conceitual das variáveis .................................................. 26
2.1.2 Definição operacional das variáveis ............................................... 26
2.2 AMOSTRA .......................................................................................... 27
2.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA ...................................................... 29
2.3.1 Procedimentos para revisão da literatura ....................................... 30
2.3.2 Procedimentos Metodológicos ....................................................... 31
2.3.3 Instrumentos ..................................................................................... 32
2.3.3.1 Aplicação dos questionários ............................................................... 33
2.3.4 Análise dos dados ............................................................................ 33
3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................. 35
3.1 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA INSTRUÇÃO NOS PP DO
COTER ............................................................................................... 35
3.2 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA INSTRUÇÃO NOS PLADIS
DOS EE .............................................................................................. 36
3.3 PORTARIA Nº 146 DECEX, DE 15 DE OUTUBRO DE 2012 .............. 40
3.4 FONTES DE CONSULTA NAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO .............. 40
3.4.1 O Manual Técnico T9-1903 ............................................................... 41
3.4.2 O Manual de Ensino EB60-ME-14.061 ............................................. 41
3.4.3 O Manual de Campanha C 23-1 ........................................................ 42
3.4.4 As Instruções Gerais de Tiro com Armamento do Exército
(IGTAEx) ............................................................................................ 42
3.4.5 Nota de aula da Escola de Material Bélico do Exército .................. 43
3.4.5.1 Estojo .................................................................................................. 43
3.4.5.2 Espoletas ............................................................................................ 45
3.4.5.3 Propelentes e pólvoras ........................................................................ 45
3.4.5.4 Projéteis .............................................................................................. 46
3.4.6 Nota de aula do Curso de Material Bélico da AMAN ....................... 47
3.5 FONTE DE CONSULTA NA FORMAÇÃO DOS SARGENTOS
FUZILEIROS NAVAIS ......................................................................... 48
3.6 SERVIÇO DE ARMAMENTO E TIRO (SAT) DA POLÍCIA FEDERAL 50
3.6.1 Calibre ................................................................................................ 51
3.6.2 Munição .............................................................................................. 51
3.7 MANUAL DE ARMAMENTO E MANUSEIO SEGURO DE ARMAS DE
FOGO .................................................................................................. 52
3.7.1 Projétil ................................................................................................ 53
3.7.2 Estojo ................................................................................................. 55
3.7.3 Propelente .......................................................................................... 57
3.7.4 Espoleta ............................................................................................. 57
3.8 MANUAL TM43-0001-27 DO EXÉRCITO AMERICANO .................... 59
3.9 MANUAL RT 23-30: MANUAL DE TIRO DO EXÉRCITO DO
URUGUAI ............................................................................................ 59
3.9.1 Conceituação ..................................................................................... 60
3.9.2 Constituição do cartucho ................................................................. 61
3.9.3 Balística ............................................................................................. 62
3.10 M211 - MANUAL DE ELEMENTOS DO ARMAMENTO DO
EXÉRCITO PORTUGUÊS .................................................................. 64
3.10.1 Projéteis ............................................................................................. 65
3.10.2 Estojo ................................................................................................. 66
3.10.3 Espoleta ............................................................................................. 66
3.10.4 Propelente .......................................................................................... 67
3.10.5 Munições especiais ........................................................................... 68
3.11 A EVOLUÇÃO DA MUNIÇÃO: BREVE HISTÓRICO ........................... 69
3.12 TRABALHO SOBRE ADEQUAÇÃO BALÍSTICA PARA O EB ............ 72
3.13 CALIBRES .......................................................................................... 74
3.13.1 Calibre em armas de cano liso ......................................................... 76
3.14 BALÍSTICA ......................................................................................... 78
3.14.1 O poder de parada (Stopping power) .............................................. 79
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................... 84
4.1 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO/TESTE DOS ALUNOS DA ESA 85
4.1.1 Aplicação dos instrumentos de pesquisa ...................................... 85
4.1.2 Questionário 1ª Parte: assunto armamento ................................... 86
4.1.2.1 Discussão dos resultados da 1ª Parte do questionário/teste ............... 88
4.1.3 Questionário 2ª parte: assunto munição ........................................ 89
4.1.3.1 Discussão dos resultados da 2ª Parte do questionário/teste ............... 91
4.1.4 Questionário 3ª parte: assunto tiro ................................................. 91
4.1.4.1 Discussão dos resultados da 3ª Parte do questionário/teste ............... 93
4.1.5 Resultado geral do questionário ..................................................... 94
4.1.5.1 Discussão dos resultados do questionário/teste ................................. 95
4.1.6 Conclusão parcial ............................................................................. 96
4.2 DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS .................................................... 98
4.2.1 Entrevista com instrutores .............................................................. 98
4.2.2 Conclusão parcial ............................................................................. 103
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .............................................. 106
GLOSSÁRIO ...................................................................................... 110
REFERÊNCIAS .................................................................................. 112
APÊNDICE A – INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE
ARMAMENTOS LEVES ..................................................................... 116
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS DA ESA ............. 121
APÊNDICE C – ENTREVISTA PARA MILITARES, AGENTES E
CIVIS ESPECIALISTAS NO ASSUNTO MUNIÇÕES ......................... 127
APÊNDICE D – PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBRE MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES .............................. 130
16
1 INTRODUÇÃO
1
Foi um matemático italiano, que viveu no século XVI em Veneza, um dos responsáveis pela solução
de equações matemáticas do 3º grau.
17
o assunto à contento, e a falta de uma fonte de consulta militar deixa o monitor sem
uma referência de instrução. Consequentemente, o Soldado deixa de conhecer os
detalhes básicos da munição que ele utiliza ou que pode encontrar no campo de
batalha. Um exemplo do reflexo negativo relativo à falta desta instrução pode ser
identificado no Caderno de Instrução CI 21-2/2 Ações Contra Caçadores, onde a tropa
regular deve estar apta a levantar vários Elementos Essenciais de Informação, dentre
eles, identificar “estojos vazios de munição especial, esquecidos no terreno” (BRASIL,
2004, p. 18).
Atualmente o conhecimento básico sobre munições é largamente difundido
entre atiradores desportivos, em clubes de tiro e nas academias de polícia militar, civil
e federal. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SeNaSP) atinge o estado da
arte, ao oferecer cursos de ensino à distância sobre balística forense e armas de fogo,
onde o assunto munições é abordado com excelência. Vale salientar que uma vez
aprendido os conceitos gerais, eles podem se aplicar a qualquer tipo atual de munição
para armamento leve.
1.1 PROBLEMA
2
Em abril de 2017, numa videoconferência onde participaram a Seção de Tiro da Escola de Sargentos
das Armas e da Academia Militar das Agulhas Negras, o Comandante da Escola Preparatória de
Cadetes do Exército, membros do Comando Logístico do Exército e das Regiões Militares, coordenada
pela 4ª Subchefia do EME, foi discutido como seria a distribuição dos fuzis IA2 calibre 5,56x45 NATO,
porque determinadas tropas utilizariam, e se era viável logisticamente tal distribuição. Além disso, no
ano de 2015, diversas Brigadas foram consultadas sobre a adoção do calibre 5,56x45 NATO em
detrimento do 7,62x51 NATO.
20
e não poderia deixar de ser quando se trata de uma Força Armada. No PlaDis atual
da ESA, o aluno em sua formação de qualificação tem carga horária de AMT de 44
horas, e os conceitos sobre munições são passados durante intervalos dos módulos
de tiro, como forma de complementação da instrução. Nesse documento não existe
uma carga horária específica para abordagem do assunto munições de armamentos
leves na qualificação, apenas no período básico do CFS.
Pela experiência profissional do autor, e de vários outros militares entrevistados
por ele, verificou-se que existe uma lacuna na área do ensino e da instrução no que
diz respeito ao conhecimento sobre munições, principalmente por parte dos militares
profissionais de carreira combatentes do EB. Dentro das próprias escolas de formação
de oficiais e sargentos existe essa lacuna, bem como em relação a manuais, cadernos
de instrução ou mesmo apostilas no assunto. Verifica-se uma dificuldade em
disseminar esse conhecimento, que deveria fazer parte do arcabouço intelectual do
militar profissional, já que a munição é a razão de ser da arma de fogo, que, por
conseguinte é a principal ferramenta de trabalho do combatente individual.
A Portaria nº 734, de 19 de agosto de 2010, do Diretor de Ensino e Cultura do
Exército, conceitua Ciências Militares, estabelece a sua finalidade e delimita o escopo
de seu estudo. Ela determina as áreas de estudo a serem abrangidas pelas ciências
militares. Dentre elas está a balística, que é diretamente ligada ao estudo das
munições.
fração, para que possa confiar nas decisões do escalão superior, em particular nas
possibilidades do poder de fogo da tropa que dá o suporte para o militar de Infantaria.
No Exército Brasileiro, a ESA é o EE responsável pela formação de todos os
sargentos de carreira da linha de ensino militar bélico. Assim, é o principal vetor de
transmissão do conhecimento, que irá se irradiar nos Corpos de Tropa, formando um
sargento combatente especializado e atualizado. Dessa forma, poderá melhorar o
conhecimento técnico de seus subordinados.
Como consequência, as pequenas frações recebem atualizações táticas
através das turmas mais recentemente formadas na ESA, criando um círculo virtuoso
de constante evolução tática da tropa na linha de frente do combate. O conhecimento
sobre munições de armamentos leves é essencial para a formação de um sargento
profissional, que encontrará no Corpo de Tropa um cenário atual de evolução e
discussão sobre novos calibres e novos armamentos a serem utilizados pelo
combatente individual.
A fim de verificar se o conhecimento sobre munições passado ao aluno da ESA
é suficiente e se esse conhecimento tem condições de ser multiplicado nos Corpos de
Tropa de forma condizente, foi formulado o seguinte problema: em que medida a
elaboração de um Caderno de Instrução sobre Munições de armamentos Leves
contribuirá para melhorar a formação dos sargentos de carreira da Escola de
Sargentos das Armas (ESA)?
1.2 OBJETIVO
1.4 JUSTIFICATIVA
Pelo fato do conhecimento sobre munições não ter uma fonte militar, são
repassados, nos cursos técnicos, várias nomenclaturas diferentes, e não há um
consenso sobre até que nível de conhecimento sobre munições interessa em cada
curso e no geral. Um Caderno de Instrução sobre Munições de Armamentos Leves,
homologado pelo COTer ou DECEx, traria uma padronização do conhecimento geral
sobre o assunto, vindo a suprir uma demanda dos próprios PlaDis e PP que é ministrar
uma instrução sobre o assunto munições. Já existe esse assunto previsto nos
documentos de ensino.
O conhecimento básico sobre munições, como dito anteriormente, é relevante
no planejamento das operações militares, e não pode ser tratado como estritamente
técnico como é atualmente. Um exemplo de conhecimento básico pouco difundido é
o calibre de arma de cano liso, chamado de Gauge, que não é medido nem em
milímetros, nem em polegadas, como nas armas de cano raiado. Assim, “tomando-se
uma perfeita esfera de chumbo (com uma libra de peso), seu diâmetro seria então o
gauge (Ga.) 1, ou seja, o calibre 1” (VASCONCELOS, 2015, p.42). Para obter o calibre
12, basta dividir a esfera de chumbo de Ga. 1 em 12 partes idênticas, e o diâmetro de
uma esfera será o diâmetro (calibre) do cano da arma de fogo.
Um Caderno de Instrução sobre Munições de Armamentos Leves não só
melhoraria a instrução na ESA, como também poderia servir como fonte de consulta
para instrutores de outros EE e do Corpo de Tropa, criando uma unidade na instrução
em todo o Exército. Seria uma inovação na instrução em toda a Força Terrestre ter
um material padronizado sobre o assunto, já que há décadas o assunto já está
incorporado às instruções militares básicas.
Enfim, pode-se dizer que o principal beneficiário deste estudo é o próprio
Exército, já que terá uma formação de seus quadros mais técnica e atualizada. O
resultado do estudo, que é o Caderno de Instrução, se destina num primeiro momento
à formação do Sargento da ESA, mas não impede que seja utilizado em outros EE e
no Corpo de Tropa. As vantagens disto são: unidade no conhecimento sobre
munições, melhoria no planejamento das operações no nível tático, na preparação
técnica dos quadros e possibilidade de aprofundamento nos estudos sobre o assunto.
25
2 METODOLOGIA
Variável
Dimensão Indicadores Forma de medição
dependente
No máximo 50% de
Melhoria na Abordagem do
Abordagem atual do assunto na média de acertos do
instrução assunto
ESA questionário na parte
militar na Munição de
de munição
27
Análise qualitativa
Eficiência da abordagem do
da entrevista para
assunto munições no CFS
Oficiais e Sargentos
Variável
Dimensões Indicadores Forma de medição
independente
Média de acertos de
Assunto Desempenho no questionário na no mínimo 51% das
armamento parte de armamento questões na parte de
armamento
Adoção de
Média de acertos de
um CI sobre
Assunto Desempenho no questionário na no mínimo 51% das
munições de
munição parte de munição questões na parte de
armamentos
munição
leves
Média de acertos de
Desempenho no questionário na no mínimo 51% das
Assunto tiro
parte de tiro questões na parte de
tiro
2.2 AMOSTRA
a. Fontes de busca
− Publicações do Comando Logístico do Exército e suas subordinações;
− Publicações do DECEx;
− Documentação de ensino da ESA, AMAN, Escola de Material Bélico
(EsMB), Escola de Logística (ESLog), Curso de Perito do 1º Batalhão de Polícia do
Exército (1º BPE), e outras organizações militares com instruções afetas;
− Manuais dos Exércitos Brasileiro, Português, Francês, Espanhol e Norte
Americano;
− Livros e monografias das bibliotecas da EsAO e da ECEME;
− Acervo da Rede de Bibliotecas Integradas do Exército;
− Manuais e apostilas da Força Aérea e da Marinha, utilizados na formação
dos militares;
− Manuais e apostilas das academias de órgão de segurança pública;
− Artigos científicos publicados nos principais periódicos de assuntos
militares e em revistas especializadas em munições e armamentos; e
− Livros e publicações de autores de reconhecida importância na área de
31
a. Critérios de inclusão
− Estudos que fossem direcionados ao conhecimento básico sobre munições
e balística; e
− Estudos quantitativos e qualitativos que descressem experiências
relacionadas ao emprego de diferentes tipos de munições de armamentos leves em
operações reais.
b. Critérios de exclusão
− Artigos ou relatos sem fundamentação comprovada ou sem credibilidade; e
− Estudos que fugiram da área do ensino militar, da formação militar, do
assunto armamento, munição e tiro e do tempo e do espaço delimitados pelo projeto.
32
2.3.3 Instrumentos
a. Coleta documental
A fim de reunir o conhecimento essencial ao desenvolvimento do estudo e
coletar dados essenciais para a elaboração de um Caderno de Instrução no assunto
Munições, foi realizada uma pesquisa bibliográfica dos seguintes assuntos:
− Conceitos básicos sobre armas de fogo;
− Conceitos básicos sobre balística;
− Características das munições de armamentos leves;
− Elaboração de PlaDis e PP; e
− Tipos de munições utilizadas pelos Exércitos dos países membros da OTAN.
Os Alunos não puderam utilizar fontes de consulta. Os testes não valeram como
avaliação somativa no curso. Os Alunos tomaram ciência da aplicação do teste com
pelo menos quarenta e oito horas de antecedência. Os instrutores chefes dos cursos,
e o comandante do Corpo de Alunos da ESA autorizaram a realização do experimento.
A análise dos dados se deu de forma distinta para cada caso. Na coleta
documental, os dados foram analisados e fichados, por assunto, e relacionados com
a finalidade do estudo alvo deste projeto.
Os dados do questionário quantitativo foram levantados, analisados,
organizados e exibidos em forma de gráficos. Os resultados foram apresentados
34
3 REVISÃO DA LITERATURA
No seu Capítulo II, Seção I, uma das metas a serem atingidas pelo SETEx é
“(...) III - qualificar, em alto nível, recursos humanos para o exercício das atividades
de instrução de corpo de tropa e de educação nos Estb Ens3 e CI” (BRASIL, 2012, p.
9/26). Ora, se uma das atividades de educação na ESA (um dos EE) é ensinar o
assunto tipos de munições, deve-se qualificar seus recursos em alto nível sobre esse
assunto também, corroborando com as metas a serem atingidas no ensino técnico,
segundo o SETEx.
3
Estabelecimento de Ensino, o equivalente a EE, de acordo com o Manual de Abreviações, Siglas e Convenções
Cartográficas do Exército Brasileiro, Ed. 2008.
42
Este Manual aborda estritamente o assunto tiro, e não faz menção aos
assuntos armamento e munição. Seu objetivo é fornecer subsídios aos instrutores,
auxiliares de instrutores e monitores de tiro, na medida em que trata dos fundamentos
de tiro com o fuzil, das instruções preparatórias para o tiro e de técnicas de tiro com o
fuzil (BRASIL, 2003a, p. 1-1).
3.4.5.1 Estojo
Quanto à sua forma, as pólvoras podem ter formato: de grão, de lâmina, de fios
ou cilíndricos (não perfurados, monoperfurados ou heptaperfurados).
Nota-se que o autor (es) da nota de aula não adentra nos conceitos para
finalidade e efeitos que os tipos de pólvoras poderiam provocar em uma munição, e
consequentemente o efeito que essa munição teria ao atingir um alvo humano ou
possíveis danos que causaria ao armamento. Assim, não se consegue obter uma
aplicação da teoria conceitual na prática do combate.
3.4.5.4 Projéteis
Assim, a nota de aula da EsMB traz o assunto munições, ainda faltando um link
entre o conceitual e a prática do soldado. Vale salientar que tal escola aborda o
assunto munições por formar sargentos do quadro de material bélico especialistas em
mecânica de armamento, responsáveis pela manutenção até terceiro escalão dos
armamentos leves.
Nota-se que, nesta apostila, o(s) autor(es) procuraram abranger os efeitos das
munições, diferentemente da nota de aula da EsMB. Aqui, já ouve-se falar em efeitos
letais, em danos físicos e psicológicos, e efeitos sonoros e visuais. Isso permite que o
leitor perceba um efeito prático da parte conceitual, principalmente em operações no
campo de batalha.
Para cada parte do cartucho, a nota de aula apenas cita cada característica das
partes, sem entrar em detalhes, utilizando-se basicamente de figuras. Os estojos são
divididos em partes, como exposto na figura abaixo:
− bi ogivais; e
− especiais.
Já quanto ao emprego, podem ser comuns, traçantes, incendiárias ou
combinadas. Aqui, os conceitos se misturam com os de munições de guerra. Como
carece de aprofundamento em seus conceitos, a nota de aula da Escola Naval deixa
explicações ambíguas, que diferem de outras fontes de consulta.
Quando se analisa os conceitos de espoleta e propelente na nota de aula da
Escola Naval, percebe-se que a abordagem do assunto se resume a conceituar esses
elementos, não diferindo do que já foi levantado anteriormente neste capítulo.
3.6.1 Calibre
distinção entre calibre real, calibre do projétil e calibre nominal.” (BRASIL, 2017, p. 6).
Assim temos:
− Calibre real: “É a medida do diâmetro da parte interna do cano de uma arma,
medido entre os cheios. É expresso em milímetros ou em fração de polegada.”
(BRASIL, 2017, p. 6);
− Calibre nominal: “É a dimensão usada para definir ou caracterizar um tipo de
munição ou arma designado pelo fabricante, nem sempre tendo relação com o calibre
real ou do projétil. É expresso em milímetros ou frações de polegada (...)” (BRASIL,
2017, p. 7); e
− Calibre do projétil: “É a medida do diâmetro interno do cano de uma arma
raiada, medido entre “fundos” das raias.” (BRASIL, 2017, p. 6).
Percebe-se que o autor, ao classificar os calibres como real e do projétil,
relaciona a medida ao cano da arma apenas, e não ao diâmetro do projétil. Já no
calibre nominal, ou seja, o nome do calibre, ele relaciona á finalidade comercial do
produto.
3.6.2 Munição
3.7.1 Projétil
Neste manual, projétil é conceituado como “qualquer sólido que pode ser ou foi
arremessado, lançado. No universo das armas de defesa, o projétil é a parte do
cartucho que será lançada através do cano.” (BRASIL, 2012, pá.10). Percebe-se que
ele não dá outros nomes ao projétil, como ponta ou bala. Fica de fácil entendimento
que tudo aquilo que possa ser arremessado pode ser considerado um projétil, mas
que, para armas de defesa, ele necessariamente será lançado pela arma, e sairá pelo
cano. Deixa claro que, qualquer outro sólido que seja, de alguma forma, lançado por
outra parte da arma que não seja o cano, não é considerado projétil. Como exemplo,
temos o estojo, que é ejetado pela lateral da arma de fogo, após acionado o gatilho.
Os projéteis podem ser classificados de acordo com o tipo de ponta, base e
material de confecção. Aqui, a ponta do projétil é literalmente a ponta, ou seja, a parte
anterior do projétil em relação ao seu deslocamento no ar. Já a base é a parte posterior
do projétil, que pelo estudo da aerodinâmica, dará uma maior estabilidade no voo do
corpo arremessado pela arma de fogo. Quanto ao material, os projéteis se classificam
56
como sendo de liga de chumbo e os encamisados, que são os projéteis com núcleo
de liga de chumbo, revestidos por uma camada de liga metálica de cobre e zinco. A
seguir, exemplos de pontas de projéteis de chumbo:
3.7.2 Estojo
O estojo foi uma importante criação para que as armas de fogo modernas
pudessem evoluir aos níveis atuais. Ele permitiu unir as outras partes do cartucho em
uma peça única, aumentando a cadência de tiro e facilitando o recarregamento da
arma.
Atualmente, leva-se muito em consideração o formato do estojo, pois as armas
modernas são idealizadas de forma a aproveitar as suas características físicas
(BRASIL, 2012, p. 12). Geralmente, o estojo é classificado quanto ao seu formato e
ao tipo de base, como se segue:
3.7.3 Propelente
3.7.4 Espoleta
4
Caderno de dados de munições do Exército para munições de pequeno calibre.
5Casimir Lefaucheux foi um armeiro francês (1802 - 1852). Pateteou o primeiro cartucho metálico,
desenvolvido em 1828.
62
3.9.1 Conceituação
Cabe ressaltar que o manual trata a arma de fogo e a munição como um único
sistema, ou máquina, que tem por objetivo arremessar um projétil em um alvo a
determinada distância. Esse conceito é interessante, e vai ao encontro do que os
teóricos do tiro tratam hoje como sendo o trinômio do tiro: o atirador, a arma de fogo
e a munição.
6
“un conjunto rígido de elementos que, introducidos en la recámara de un arma de fuego portátil o
ligera, puede materializar en ella las características balísticas que constituyen la razón de existencia
del arma.”
63
7
“É a encarregada de queimar a pólvora.” (tradução nossa).
8
“É a impulsora termodinâmica da ponta.” (tradução nossa).
9
Além de ser a portadora da pólvora, da espoleta e do projétil, é o recipiente que levará a cabo a combustão
da pólvora e não permitirá a saída dos gases por trás, dando segurança ao atirador. (tradução nossa).
10
Cuando se necesitan altas velocidades iniciales se aumenta la aleación del plomo (en antimonio). Las balas
ordinarias blindadas llevan una envuelta que al principio era de acero dulce niquelado o de cuproníquel (60%
de cobre y 40% de níquel) pero por razones de economía ahora se han impuesto la envuelta de latón 90/10
(encamisado) (90 de cobre y 10 de zinc), y de Bimetal (acero latonado 90/10), acero dulce/latón.
64
3.9.3 Balística
− A bala ou projéctil;
− O invólucro, estojo ou caixa;
− A escorva, cápsula ou fulminante; e
− A carga.
Verifica-se que esta divisão das partes de um cartucho é matéria consolidada
na teoria sobre munições. Por mais que as munições de armamentos leves possuam
características diversas, e estejam em constante evolução, não se visualiza uma
configuração diferente, a curo prazo, para confecção de munições. Obviamente que,
com a demanda por diferentes objetivos de guerra, o armamento individual do
combatente pode demandar especificidades diferentes para cumprimento de
determinadas missões em um combate, e consequentemente, munições com
configurações diferentes, ou até mesmo a ausência delas (no caso de disparos de
ondas do espectro eletromagnético).
3.10.1 Projéteis
Quanto aos calibres dos projéteis, o Manual M211 afirma que está
estreitamente ligado ao seu peso. É importante frisar que o projétil deve ter um
diâmetro ligeiramente maior que o diâmetro do cano da arma entre os cheios das
raias, para permitir que o projétil se agarre às raias e realize o movimento de rotação
em torno de seu próprio eixo transversal. Essa diferença admissível varia de 0,2 a 0,3
mm.
3.10.2 Estojo
3.10.3 Espoleta
3.10.4 Propelente
Segundo Acosta, desde a Segunda Guerra Mundial (II GM) existem estudos
que buscam “o desenvolvimento de Fz menores (sic) com soldados carregando maior
quantidade de munição”. Concomitante a isso, a munição deve possuir também poder
de letalidade suficientemente útil no combate aproximado nas diversas dimensões do
campo de batalha.
do calibre. Ex.: .50 Browning, .38 S&W, .223 Remington, .308 Winchester. Em
cartuchos com características especiais podemos ver ainda: AUTO, cartucho para
pistola; SPL, cartucho special com mais energia; MAGNUM, projétil que ultrapassa
720 m/s de velocidade; BELTED, cartucho cinturado; dentre outros.
No sistema misto, além de apresentar as características dos sistemas
anteriores, designa o diâmetro do projétil em fração de polegadas, com ou sem o
ponto, seguido do peso da carga de pólvora em Grains (Gr), separados por um traço.
Pode vir seguido do nome do fabricante, do inventor do calibre, etc. Ex.: .32-20
Winchester, .30-30 Winchester. Em suma, nesse sistema admite-se todas as outras
formas de denominação, de acordo com quem cria ou produz a munição.
Na notação de cartuchos observa-se que cartuchos que possuem projéteis com
o mesmo diâmetro real, apresentam nomes diferentes. Para armas de fogo que
possuem o mesmo calibre real podemos encontrar diversos cartuchos com calibre
nominal diferentes. Assim, temos que as munições 9mm Parabellum, 9mm Browning
(ou short), .380 AUTO, e .357 Magnum, por exemplo, são todas com projéteis de
diâmetro entre .355 e .357 polegadas. O que se costuma diferenciar é o peso do
projétil, a quantidade de propelente, o tamanho do estojo, ou simplesmente um projeto
de marketing da fabricante. Para se aferir o diâmetro real de um projétil, deve-se
utilizar uma ferramenta chamada micrômetro, capaz de realizar medições em
pequenas dimensões.
Calibre Diâmetro do
(Gauge) cano (mm)
12 18,2 - 18,6
16 16,8 - 17,2
20 15,6 - 16,0
24 14,7 - 15,1
28 14,0 - 14,4
32 12,75 - 13,15
36 10,414
Fig. 20 Relação entre o calibre Gauge e o
diâmetro do projétil em mm
Fonte: BRASIL, 2017, p. 31
Podemos observar pela figura que para cada tipo de choque, existe um
intervalo de utilização onde o tiro será aproveitado com maior precisão e
concentração. O choque pleno, por possuir uma precisão melhor para maiores
distâncias, geralmente é utilizado para caça e esporte. O choque modificado, por ter
uma precisão melhor em nível intermediário, é mais utilizada no meio militar e policial.
Já o choque cilíndrico é mais indicado para defesa pessoal, para utilização com
munição menos letal e dispersão de motins e turbas.
3.14 BALÍSTICA
A balística dos efeitos foca seu estudo no efeito que o projétil causa em seu
alvo. Como o alvo pode ser qualquer coisa, os efeitos balísticos de efeitos em alvos
humanos são os que mais interessam no estudo de munições de armamentos leves.
Porém, dependendo da finalidade do armamento e da munição utilizados, os efeitos
balísticos em metais, alvenaria ou blindagens também são levados em considerações.
Tecnicamente se conceitua balística terminal como:
RSP= mp . vp . Ap . Sp
A comparação dos valores de RSP e RII faz retornar à discussão sobre grandes
calibres e grandes cavidades temporárias e, apesar de haver algumas críticas quanto
à natureza imprecisa do cálculo da RSP, testes realizados pelo FBI, em 1989, também
lançaram dúvidas sobre a verdadeira representatividade dos valores de RII, por terem
considerado que o enfoque no choque hidrostático foi demasiado em face dos
resultados da vida real (RINKER, 2006, p. 364). Não obstante, algum conhecimento
prático ainda pode ser obtido desses dois métodos,
oxigênio carregado pelo sangue ao cérebro. No corpo humano, esses danos podem
ocorrer caso o sistema vascular ou o sistema nervoso forem danificados. Assim,
percebe-se que o poder de parada de um projétil é relativo, já que não basta apenas
que o projétil possua características incapacitantes, mas também o local do corpo
humano que ele irá atingir.
transfixantes. Isso poderia ser considerado um grau de força maior que o necessário
para tirar um combatente da batalha, e seria um dos motivos para que fosse instituído
na Convenção de Haia de 1899, versando que “utilizar balas que se expandem ou
achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento
duro que não cobre totalmente o interior ou possui incisões”.
O principal argumento contra os projetis expansivos é a elevada pressão
hidrostática formada no interior do corpo pela massiva perda de velocidade, que causa
um ferimento muito maior que o necessário para colocar um adversário fora de ação,
pelo menos segundo o argumento articulado pelo Dr. Kocher13. Apesar de pouco
conhecida, sua pesquisa lançou as bases científicas para o estudo moderno dos
ferimentos balísticos e para o desenvolvimento das modernas munições de infantaria
(FACKLER, 1991, p. 153).
Com início em 1875, uma de suas primeiras descobertas foi que um dos
mecanismos pelo qual se produz um ferimento e os tecidos se rompem ocorre por
pressão hidrostática, que é diretamente proporcional à velocidade do projétil ou, mais
propriamente, à sua energia cinética. Kocher verificou que ao atingir o alvo um projétil
perde energia de quatro formas distintas, a saber: parte é transformada em calor e
não contribui para o ferimento; parte é usada para forçar a passagem do projetil e
produzir um canal de tecidos rasgados e rompidos que é denominado de cavidade
permanente; parte é transformada em forte pressão hidrostática que desloca
radialmente o tecido vizinho à passagem do projétil, em um efeito denominado
cavidade temporária; e parte é utilizada para deformar o projétil diante da resistência
ao seu avanço, o que também irá contribuir para aumentar as cavidades permanente
e temporária (FACKLER, 1991, p. 156).
Com base no experimento acima descrito, e em vários outros posteriores,
Kocher argumentava em favor do princípio da “guerra civilizada”, pelo qual suprimir a
capacidade combativa de um soldado deveria ser mais importante que simplesmente
matá-lo, para o que advogava a redução dos calibres do armamento militar para
menos de 10 mm, preferencialmente entre 5 e 6 mm, e que os projetis fossem
construídos de material mais duro que o chumbo, de maneira a evitar sua deformação
no impacto. Kocher também recomendava a adoção de projéteis de ogiva estreita
13
Emile Theodor Kocher (1841-1917) foi um renomado cirurgião e professor da Universidade de Berna, que criou
instrumentos e procedimentos ainda hoje utilizados em cirurgia e foi o primeiro cirurgião a receber o prêmio
Nobel em medicina, em 1909.
86
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
armamento, munição e tiro, mostrando uma “radiografia” de como essa disciplina está
sendo tratada, principalmente ao analisar os resultados da parte do teste sobre
munições.
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
Acertos
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Quetão 5
GRUPO 1 92,55% 97,65% 83,92% 17,65% 70,98%
GRUPO 2 78,48% 98,73% 84,81% 11,39% 63,29%
67,34%
GRUPO 2
72,55%
GRUPO 1
Diante dos resultados obtidos na 1ª parte dos testes, verificou-se que a amostra
dos Alunos da ESA demonstrou conhecimento razoável no assunto armamento, em
particular os Alunos do Grupo 1.
Em acordo com o anteriormente exposto, uma possível causa do desempenho
menos satisfatório do Grupo 2 em relação ao Grupo 1, pode ter sido a influência da
instrução de munições ministrada ao Grupo 1. Percebe-se que na instrução sobre
munições, por diversas vezes é realizado um link com o assunto armamento, tendo
em vista que um está diretamente relacionado ao outro, e eles são interdependentes
para que haja funcionalidade no processo do tiro de arma de fogo.
Observando-se o material de ensino utilizado na Escola Naval, na Academia
Militar do Exército de Portugal e do Exército do Uruguai, percebe-se que eles
apresentam, no mesmo material, os assunto armamento e munição. Isso corrobora
com o melhor resultado obtido pelo Grupo 1, pois tais assuntos devem ser abordados
em conjunto.
92
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
Acertos
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Questão 6 Questão 7 Questão 8 Questão 9 Quetão 10
GRUPO 1 91,44% 77,43% 78,21% 35,02% 71,21%
GRUPO 2 55,70% 0,08% 0,08% 0,00% 0,00%
11,17%
GRUPO 2
70,66%
GRUPO 1
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%
Acertos
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
Acertos
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Questão 11 Questão 12 Questão 13 Questão 14 Quetão 15
GRUPO 1 88,72% 82,10% 91,83% 40,08% 84,44%
GRUPO 2 81,01% 75,95% 98,73% 43,04% 75,95%
74,94%
GRUPO 2
77,43%
GRUPO 1
Diante dos resultados obtidos na 3ª parte dos testes, verificou-se que a amostra
dos Alunos da ESA demonstrou conhecimento sólido no assunto tiro, destacando os
Alunos do Grupo 1 com resultados mais expressivos em relação aos Alunos do Grupo
2, ainda que com uma diferença pouco expressiva.
Sabe-se que uma possível causa do desempenho satisfatório dos grupos em
relação às outras partes do questionário, pode ser o caráter eminentemente prático
da instrução de tiro. Além de existir o manual C23-1 Tiro das Armas Portáteis, que
define as técnicas e os fundamentos de tiro, os Alunos da ESA possuem uma forte
carga horária na prática de tiro, sendo cento e quatro horas no período básico, e
oitenta e duas horas no período de qualificação. Essa carga horária é traduzida em
oito módulos de tiro durante o ano de instrução em cada período, o que permite que
ele tenha maior facilidade em lhe dar com o manuseio do armamento e com as
técnicas de tiro.
A partir do que foi levantado na revisão da literatura, apenas o Exército do
Uruguai aborda, em manual, as técnicas e fundamentos de tiro. Escolas de formação
de agentes de segurança pública, abordam o tiro apenas em instruções práticas no
estande, sem possuir técnicas escritas em manuais ou notas de aula.
Como o desempenho dos grupos no assunto tiro foi bastante aproximado entre
os grupos, talvez a instrução sobre o assunto munições não tenha influenciado
diretamente o conhecimento no assunto tiro.
média geral, a mediana e a menção dos Alunos neste questionário. Os resultados são
apresentados nos gráficos 7 e 8 a seguir.
10
9
Mediana
Média 9
8
8,62
Mediana
7 8
Média
7,22
6
0
GRUPO 1 GRUPO 2
70,00% 64,94%
60,71%
60,00%
O Grupo 1 obteve uma média de acertos acima da média esperada para esse
questionário, que foi de 51% de acertos, ou 7,5 pontos. Já o Grupo 2 não atingiu a
média estipulada, ficando 0,28 ponto abaixo.
78,00%
76,00% 74,99%
74,00%
Grupo 1
72,00% 71,14%
70,00% Grupo 2
68,00%
66,00%
64,00%
62,00%
60,00%
Média da 1ª e 3ª partes
Viu-se que a estrutura atual do ensino de AMT na ESA fornece uma carga
horária destinada ao assunto “tipos de munição”, tendo como um dos objetivos
descrever as características delas. Porém, o que se vê na prática, é uma falta de
abordagem do assunto, e também uma falta de fonte de consulta militar para embasar
tal instrução. Isso ocorre em detrimento das instruções de armamento e de tiro, tendo
em vista serem abordadas a contento, com carga horária também definida e com
fontes de consulta militares capazes de suprir a demanda dos objetivos de instrução.
Observou-se que o Grupo 1 obteve um resultado geral no questionário/teste melhor
que o Grupo 2. Pode-se concluir que houve um impacto positivo considerável no
resultado do questionário/teste, fruto da instrução sobre munições ministrada ao
Grupo 1 em detrimento ao Grupo 2. Dessa forma, responde-se à questão de estudo
“Como é estruturado o ensino de AMT na ESA atualmente, de acordo com o PlaDis,
e qual o impacto de uma mudança no conteúdo de AMT na formação?”.
Como os sargentos formados na ESA são classificados para servirem em
quartéis por todas as regiões do Brasil, eles se tornam um dos principais vetores de
informação e instrução nos corpos de tropa. Geralmente se dá ao sargento recém-
formado a responsabilidade de ensinar sobre fundamentos de tiro e sobre os tipos de
munição para os soldados recrutas da Organização Militar a qual pertence. Contudo,
assim como na ESA, os Planos Padrão de instrução na tropa também preveem a
101
instrução sobre munições, sem o Exército possuir uma fonte de consulta militar sobre
o assunto. Conclui-se que a estrutura da instrução nos corpos de tropa é semelhante
à ESA, portanto apresentam uma lacuna sobre o assunto munições, podendo
acarretar num impacto abaixo do possível de se alcançar na instrução. Dessa forma,
responde-se à questão de estudo formulada: “Como é estruturada a instrução de AMT
nos corpos de tropa, de acordo com os PP do COTer?”.
Ao procurar responder à questão de estudo formulada, “Quais os materiais de
consulta de ensino militar, que abordam o assunto munições, no âmbito das Forças
Armadas nacionais, internacionais e órgão de segurança pública no Brasil?”,
chegamos a conclusão de que no Exército Brasileiro não existe uma fonte de consulta
padronizada, que normatize conceitos sobre as características das munições. Apesar
de encontrar-se notas de aula em alguns cursos militares do EB sobre munições, elas
apresentam conceitos difusos, não padronizados, incompletos e por vezes muito
rasos para a formação técnica do sargento combatente. Assim também é na Força
Aérea, onde não foram encontrados materiais didáticos, na formação, que trata
especificamente do assunto munições, apesar de possuírem uma matéria de instrutor
de tiro, específica para habilitar militares a serem instrutores de tiro para formação de
outros militares. Já no Corpo de Fuzileiros Navais, encontra-se o material mais
completo no que diz respeito ao ensino de AMT, onde é abordado o assunto munições
na mesma proporção de armamento e tiro, ainda que seja através de instrução e nota
de aula. Nos Exércitos do Uruguai, Portugal e Estados Unidos, existe material didático
direcionado para as características das munições, sendo o do Exército do Uruguai o
mais completo e que mais se aproxima de uma situação ideal e visualizada para a
ESA. Vale frisar que nos órgãos de segurança pública pesquisados a maioria deles
apresenta um material específico sobre munições, ensinado durante a formação de
seus agentes. Viu-se que é unanimidade nesses órgão que o ensino de AMT não pode
ser dissociado da instrução sobre munições. Isso ficou claro na pesquisa realizada,
quando se observou que o Grupo 2 obteve um desempenho muito inferior na parte do
questionário/teste que tratou sobre munições, em relação ao Grupo 1.
Verificando apenas os resultados das 1ª e 3ª partes do teste, o Grupo 2
apresentou uma média superior ao mínimo esperado, com um desempenho bastante
expressivo e mais próximo ao desempenho obtido pelo Grupo 1. Daí é possível
concluir que os Alunos que não receberam a instrução sobre munições já possuem o
conhecimento sobre armamento e tiro, provavelmente mais consolidados por existir
102
internacionais
representando as
Forças Armadas do
Brasil; e
- Foi instrutor da
Seção de Tiro da
AMAN.
- Atleta de tiro como
Cadete da AMAN;
- Atleta de tiro
olímpico da CDE;
- Instrutor de tiro da
Seção de Tiro da
“Importante (o caderno de instrução)
AMAN;
Instrutor principalmente para ser abordado nas
- Possuidor do
Chefe da escolas de formação de forma a
Seção de estágio de caçador
proporcionar ao instruendo a exata
Tiro da do EB; e
AMAN compreensão das munições dos
- Participou de
armamentos de dotação.”
diversas
competições de tiro
internacionais
representando as
Forças Armadas do
Brasil
- Possuidor do
“Um caderno de instrução serviria por melhor
estágio de caçador
apresentar o assunto munição aos futuros
do EB;
sargentos, que terão o poder de difundir
Sargento - Atleta de tiro
monitor da esses conhecimentos nos corpos de tropa,
prático e olímpico; e
Seção de após formados. Isso contribuiria para uma
Tiro da ESA - Participou de
melhor decisão quanto ao emprego de
diversas
determinado armamento nas diversas
competições de tiro
situações que poderão ocorrer quando em
no âmbito do EB.
105
Dessa forma é possível observar nas opiniões dos entrevistados que a quase
totalidade deles destaca a importância do conhecimento sobre o assunto munições.
Alguns observaram que o conhecimento sobre este assunto nas escolas de formação
é raso e insuficiente.
Entende-se assim que muitos dos entrevistados emitiram pareceres que foram
ao encontro dos resultados obtidos nos questionários aplicados aos Alunos. Segundo
o Sargento Monitor da ESA com boa experiência militar:
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
_______________________________
IVSON BARBOSA MARINHO - Cap
GLOSSÁRIO
114
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN): escola militar responsável pela
formação dos oficiais de carreira das armas do Exército Brasileiro.
Instrução Individual Básica: instrução inicial dos militares recém egressos nas
escolas e nos corpos de tropa.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Exército. C 23-1 Tiro das Armas Portáteis 1ª Parte: Fuzil. 1. ed. Brasília,
DF, 2003a.
______. ______. C 23-1 Tiro das Armas Portáteis 2ª Parte: Pistola. 1. ed. Brasília,
DF, 2003b.
CARVALHO, Eduardo Atem de. Novo Calibre Padrão para os Fuzis da OTAN: Os
calibres atuais e seus limites de emprego em conflitos assimétricos. DefesaNet. Rio
de Janeiro, RJ. Disponível em: http://www.defesanet.com.br/armas/noticia/22563/Os-
calibres-atuais-e-seus-limites-de-emprego-em-Conflitos-Assimetricos/> Acesso em:
18 mar. 2017.
DI MAIO, Vincent J.M. Gunshot wounds: practical aspects of firearms ballistics, and
forensic techniques. 2. ed. Boca Raton, Flórida: CRC Press, 1999. 402 p.
ESCOLA NAVAL (Brasil). Curso de Fuzileiros Navais. Munição: nota de aula. Rio de
Janeiro, 2008.
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. 2. ed. Porto
Alegre: L&PM, 2015. Tradução de Janaína Marcoantonio.
MIRANDA, Leví Inimá de. Balística Forense: do Criminalista ao Legista. 1. ed. Rio
de Janeiro: Rubio, 2014.
URUGUAY, Ejército. C 23-30: Manual de Tiro com Arma Corta e Arma Longa. 1. Ed.
Montevidéu, 2015.
VANZETTI, Oscar E. Considerações sobre a energia cinética e o momentum de
um projetil de arma de fogo: a importância médico-legal. Sítio Full Aventura, 2007.
Disponível em: <http://www.fullaventura.com.ar>. Acesso em: 17 abr. 2017.
5. Condições de execução:
a. O questionário é individual.
b. Tempo máximo para execução: 60 min.
c. Deverá ser preenchido de caneta esferográfica azul ou preta.
d. O Aluno deverá estar em sala de aula do CA da ESA, com mesa e cadeira para
apoio.
e. É permitido consulta apenas em materiais didáticos disponibilizados pela ESA,
ou publicações militares do Exército Brasileiro. É vedada a consulta em outras
publicações que não as já citadas, bem como a outro militar em sala de aula.
6. Solicito que seja sincero em suas respostas, não utilize de meios de consulta e
responda baseado em seus conhecimentos aprendidos durante a sua formação.
7. Desde já, agradeço pela colaboração prestada e coloco-me à disposição para
quaisquer esclarecimentos necessários, por intermédio dos seguintes contatos:
- Nome: IVSON BARBOSA MARINHO
- Celular: (35) 99709-9730
- E-mail: marinho.ivson@eb.mil.br
IDENTIFICAÇÃO
Local
Data Assinatura
(sala de aula)
QUESTIONÁRIO
1ª PARTE - ARMAMENTO
127
QUESTÃO 2: Qual o nome das peças que compõem o aparelho de pontaria do FAL?
Marque com um “x” a alternativa correta.
a. ( ) alça de combate e maça de combate
b. ( ) alça de mira e massa de mira
c. ( ) mira holográfica e mira laser
d. ( ) mira holográfica e mira termal
e. ( ) todas as alternativas anteriores estão erradas
2ª PARTE - MUNIÇÃO
QUESTÃO 7: Assinale “V”, para afirmação verdadeira, ou “F”, para afirmação falsa:
( ) calibre 12 é uma medida em milímetros
( ) calibre 36 é uma medida em centímetros
( ) calibre .223 é uma medida em polegadas
( ) calibre 7,62mm possui uma energia maior que o calibre .308
( ) calibre .223 possui uma energia maior que o calibre 5,56mm
( ) ACP, em munições, significa Automatic Colt Precision
QUESTÃO 9: Quais são as partes de uma munição de armamento leve utilizada pelo
Exército Brasileiro? Marque com um “x” a alternativa correta.
a. ( ) projétil, estojo, pólvora
b. ( ) projétil, estojo, espoleta
c. ( ) projétil, estojo, propelente, espoleta
d. ( ) estojo, propelente, espoleta
e. ( ) estojo, pólvora, cápsula, projétil
3ª PARTE - TIRO
QUESTÃO 11: Cite quais são os 4 (quatro) fundamentos de tiro, de acordo com o
Manual de Campanha C 23-1 Tito das Armas Portáteis, edição 2013.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
QUESTÃO 14: Ao realizar a pontaria pelo aparelho de pontaria de uma pistola, onde
o atirador deve manter o foco de sua visão? Marque com um “x” a alternativa correta.
a. ( ) no alvo
b. ( ) na alça de mira
c. ( ) no alvo e na maça de mira
d. ( ) na maça de mira
e. ( ) na alça e na maça de mira
QUESTÃO 15: Levando em consideração apenas o ciclo respiratório do atirador, qual
o momento mais propício para execução de um tiro de precisão? Marque com um “x”
a alternativa correta, e leve em consideração o previsto no Manual de Campanha C
23-1 Tiro das Armas Portáteis, edição 2013.
a. ( ) ao final da inspiração, por até 6 (seis) segundos
b. ( ) ao final da expiração, imediatamente
c. ( ) com pulmão meio cheio, por até 8 (oito) segundos
d. ( ) durante a pausa natural ao final da expiração, por até 8 (oito) segundos
e. ( ) nenhuma das respostas anteriores
FIM DO QUESTIONÁRIO
Obrigado pela participação!
131
IDENTIFICAÇÃO
Escola e ano de
P/G A/Q/Sv Nome (Grifar nome de guerra)
formação
ENTREVISTA
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
QUESTÃO 6: Deixe aqui uma sugestão ou comentário sobre a iniciativa deste estudo,
caso sinta necessidade. (5 linhas para resposta)
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
134
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
FIM DO QUESTIONÁRIO
Obrigado pela participação!
EB-60-CI-00.000
MINISTÉRIO DA DEFESA
135
EXÉRCITO BRASILEIRO
DECEX
CADERNO DE INSTRUÇÃO
MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES
1ª Edição
2017
EB60-CI-00.000
136
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DECEX
CADERNO DE INSTRUÇÃO
MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES
137
1ª Edição
2017
PORTARIA Nº 000-DECEX, DE 00 DE XXXXXX DE 2017
Gen Ex XXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Chefe do Departamento de Ensino e Cultura do Exército
ÍNDICE DE ASSUNTOS
Pag
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1 Generalidades ............................................................................................ 2
1.2 Terminologia ............................................................................................... 3
CAPÍTULO II – PARTES DE UM CARTUCHO
2.1 Considerações Iniciais ............................................................................... 7
2.2 Estojos ........................................................................................................ 8
2.3 Espoletas .................................................................................................... 14
2.4 Propelentes ................................................................................................ 17
140
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1 GENERALIDADES
1.1.2 Nas operações de combate, o conhecimento da munição usada pela tropa amiga
e inimiga torna-se importante tanto para quem planeja quanto para quem executa as
operações na ponta da linha. Os que planejam podem dispor suas peças de manobra
no terreno de acordo com o alcance do armamento usado pela tropa e pelo inimigo,
bem como pelo efeito causado pelo tipo de munição utilizada. Os que executam
podem decidir como progredir no terreno, quais cobertas e abrigos o estarão
protegendo, como poderão causar baixas ao inimigo, de acordo com o tipo de munição
que lhe é distribuída.
1.1.3 Nos conflitos modernos, tendo em vista os combates aproximados em áreas
edificadas com a massiva presença de civis, a escolha de munições com certas
características pode evitar efeitos colaterais para a tropa e influenciar diretamente nas
condições do apoio da população local.
1.1.4 Nesse contexto, é importante ressaltar que o resultado do tiro depende da
harmonia entre atirador, armamento e munição. O atirador deve se manter sempre
adestrado e atualizado quanto às técnicas de tiro, bem como quanto ao conhecimento
de sua arma e munição utilizados. O armamento deve ser compatível com a finalidade
a qual se destina, deve estar bem cuidado e com os acessórios adequados para cada
tipo de missão. A munição obviamente deve ser equivalente à arma, e seus efeitos
devem ser suficientes para alcançar os objetivos impostos pela missão.
1.2 TERMINOLOGIA
1.2.1 Munição - artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma,
cujo efeito desejado pode ser: destruição, iluminação ou ocultamento do alvo; efeito
moral sobre pessoal; exercício; manejo; outros efeitos especiais.
1.2.2 Cartucho – formado por estojo, espoleta, propelente e projétil. Uma unidade da
munição.
1.2.3 Estojo – parte da munição que une o propelente, a espoleta e o projétil.
1.2.4 Espoleta – aloja a carga iniciadora do cartucho.
1.2.5 Propelentes – são substâncias que, isoladas ou em combinação com outras,
desenvolvem um impulso motor em um objeto por meio de uma combustão. Em
munições é a pólvora.
1.2.6 Projétil – objeto que atinge o alvo.
1.2.7 Tiro – lançamento de projétil balístico de uma arma.
1.2.8 Balística – ciência que estuda todas as fases do lançamento de um projétil.
1.2.9 Latão – liga de zinco e cobre utilizada na fabricação de estojos.
1.2.10 Stopping Power (poder de parada) – capacidade do projétil de incapacitar um
alvo vivo, através de transferência de energia cinética e de massa para o alvo.
1.2.11 Grains (Gr) – medida de peso utilizada para pólvoras e projéteis nas munições.
1 grain = 0,065g.
1.2.12 Headspace – espaço que delimita a entrada do cartucho na câmara do cano
através de uma parte do estojo, podendo ser o culote, o gargalo ou até mesmo a boca
do estojo.
1.2.13 Calibre - medida do diâmetro interno do cano de uma arma, medido entre os
fundos do raiamento; medida do diâmetro externo de um projétil sem cinta;
dimensão usada para definir ou caracterizar um tipo de munição ou de arma.
1.2.14 Deflagração - fenômeno característico dos chamados baixos explosivos, que
consiste na autocombustão de um corpo (composto de combustível, comburente e
outros), em qualquer estado físico, a qual ocorre por camadas e a velocidades
controladas (de alguns décimos de milímetro até quatrocentos metros por segundo).
143
1.2.39 Pólvora - baixo explosivo de queima rápida, cuja reação química produz
grande quantidade de energia. Na munição, essa energia sob pressão dentro do
estojo permite a expulsão do projétil pelo cano da arma de fogo.
CAPÍTULO II
PARTES DE UM CARTUCHO
a. estojo;
b. espoleta;
c. propelente; e
d. projétil.
Projétil
Estojo
Propelente
Espoleta
2.1.2 Temos ainda, com uma configuração um pouco diferente, os cartuchos para
espingardas, formados por:
a. Estojo;
b. Espoleta;
c. Propelente;
d Bucha; e
e. Projétil.
2.1.3 O estojo é onde se agregam todas as outras partes do cartucho. Tem a finalidade
de unir a espoleta, o propelente e o projétil em uma única peça, facilitando o
carregamento da arma. Foi com o seu surgimento que se modernizaram as armas de
fogo, passando de um sistema de carregamento de antecarga para retrocarga.
147
2.2 ESTOJOS
2.2.1 Nas munições utilizadas pelas Forças Armadas os estojos são fabricados de
latão, uma liga metálica de 70% cobre e 30% zinco. O latão permite uma facilidade na
produção industrial, não enferruja, pode ser recarregado, e possui uma dureza tal que
permite uma expansão e contração por meio de calor necessária ao funcionamento
das armas de fogo.
2.2.2 Existem também os estojos que possuem uma base de aço revestida com uma
camada de latão, e seu corpo de plástico. Esses são os estojos de armamentos de
cano com alma lisa, basicamente as espingardas. O plástico é um material
abundantemente produzido em escala industrial e também permite, mesmo que
limitadamente, que os cartuchos de espingarda possam ser recarregados.
2.3.3 Existem ainda os estojos feitos de alumínio, que possuem um valor, em média,
30% menor e são utilizados geralmente para atiradores que não têm interesse em
recarga de munições. Não é utilizado pelas Forças Armadas.
2.3.4 São partes de um estojo:
a. culote ou base: é onde se aloja a espoleta;
b. corpo: em seu interior fica o propelente e possui diversos formatos; e
c. virola: saliência entre o culote e o corpo do estojo que permite a extração do
cartucho.
Virola
Corpo
Culote
148
c. Sem aro: o diâmetro do culote é alinhado com o diâmetro do corpo do estojo. São
atualmente os mais utilizados. São esses os estojos utilizados no âmbito das Forças
150
Fig. 9 Comparação entre um cartucho sem aro (à esquerda) e outros rebatidos (à direita)
e. Cinturado: possuem uma cinta que envolve a parte imediatamente acima da virola.
Servem como um reforço adicional às altas pressões exercidas por ocasião de um
disparo. Utilizados geralmente em munições para caças de grande porte. O limitador
da entrada desses estojos na câmara de um armamento é a própria cinta que o
envolve. Ex.: .458 Winchester Magnum.
151
Fig. 12 Desenho esquemático mostrando como são os limitadores de câmara de cada tipo de estojo
(headspace)
2.3.9 Classificação quanto aos tipos de carga de iniciação: Os estojos também são
classificados quanto ao tipo de carga de iniciação, ou formato da espoleta que alojam.
152
2.3.13 Fogo circular ou percussão lateral: são estojos cuja carga iniciadora é alojada
no interior do culote, em sua borda. O percussor atinge o fundo do culote, em sua
parte mais lateral, amassando o latão e causando um choque que inicia a carga no
interior do cartucho. Não podem ser recarregados. Ex.: .22 LR.
2.4 ESPOLETAS
2.4.2 A maioria das espoletas atuais são compostas por estifinato de chumbo (sal de
chumbo) e nitrato de bário, apesar de possuírem características de substâncias
tóxicas. Porém, existem espoletas sendo fabricadas com características não tóxicas,
compostas por nitrocelulose, nitrato de potássio, alumínio e Diazodinitrofenol (DDNP),
nominadas NTA (Non Toxic Ammunition). Ambas as composições são bastante
estáveis e não corrosivas.
2.4.3 As espoletas são classificadas como tipo Berdan, tipo boxer e tipo bateria
2.4.4 Espoletas tipo Berdan: tem esse nome por ter sido criada pelo norte americano
Hiram Berdan no Estados Unidos, em 1866. Consiste em um dispositivo em formato
de copo, que vai alojado no centro do culote de um estojo, que possui uma pequena
protuberância chamada de bigorna. No momento da percussão, o impacto do
percutor/percussor da arma sobre a espoleta a deforma, pressionando desta forma a
mistura iniciadora contra a bigorna, detonando a mistura. Nessas espoletas temos a
bigorna como parte integrante do estojo. Ao lado da bigorna, dois pequenos orifícios
154
2.4.6 Espoletas tipo Boxer: tem esse nome por ter sido criada pelo oficial britânico
Edward Boxer em meados do século XIX. O que a difere do sistema Berdan é que a
bigorna não é parte do estojo, ela vem embutida como parte da própria espoleta. Além
disso, o estojo possui apenas um orifício que permite a passagem do calor emitido
pela detonação da mistura iniciadora até o interior do estojo para explodir o propelente.
A bigorna possui um formato tipo cavalete de três pernas e se encaixa no copo da
espoleta, podendo ser retirada. 2.4.7 É o tipo mais utilizado entre atiradores que
realizam recarga e na munição usada pelos militares das Forças Armadas. São partes
de uma espoleta Boxer:
a. Copo – feito de latão e serve para unir os componentes;
b. Mistura iniciadora – estifinato de chumbo (em geral);
c. Selador – pequeno disco de papel que serve para acomodar a mistura iniciadora
no copo;
d. Bigorna – feita de metal.
155
2.4.8 Espoletas tipo bateria: são as espoletas utilizadas nos cartuchos de espingardas.
São maiores que as Berdan e Boxer por terem que suportar uma pressão maior de
energia devido a maior quantidade de mistura iniciadora. Possui a bigorna no formato
de uma bateria, o que facilita a recarga e impede que a espoleta saia facilmente.
a. Corpo (1) – feito de latão e aloja os demais elementos;
b. Copo (2) – recebe a mistura iniciadora;
c. Selador (3a e 3b) – sela a mistura iniciadora e a bigorna;
d. Bigorna (4) – feita de metal, tipo bateria; e
e. Mistura (5) - estifinato de chumbo (em geral).
5
Fig. 18 Desenho esquemático de uma espoleta tipo bateria
2.5 PROPELENTES
2.5.1 É a substância propulsora que irá queimar dentro do estojo, causando uma
pressão tal que expulsa o projétil engastado na boca do cartucho até atingir o alvo,
com altas velocidades. Os propelentes utilizados nas munições modernas possuem
compostos químicos e o produto de sua reação é uma combustão que emite grande
quantidade de energia e pressão, por isso são chamados também de pólvoras
156
2.5.8 Pólvoras de queima rápida são utilizadas para cartuchos de armas curtas porque
farão com que a total combustão do propelente se dê no momento em que o projétil
158
passa totalmente pela boca do cano da arma de fogo. Isso fará com que o potencial
da queima da pólvora seja totalmente aproveitado para empurrar o projétil para fora
do cano da arma, imprimindo nele uma velocidade máxima na saída da boca do cano.
2.5.9 Já as pólvoras de queima lenta são utilizadas para cartuchos de armas longas
pelo fato de que o projétil demora mais tempo para sair pela boca do cano da arma.
2.5.10 Quando se utiliza uma pólvora de queima rápida numa arma longa, a queima
da pólvora termina antes do projétil sair pela boca do cano da arma. Isso faz com que
o projétil saia do cano com uma velocidade mais lenta. Já o contrário, a queima da
pólvora não se dá por completo, e grânulos saem do cano ainda não queimados,
causando um desperdício de pólvora – a chamada pólvora incombusta.
2.5.11 Vemos então que teremos efeitos balísticos diferentes utilizando um mesmo
tipo de cartucho com armamentos diferentes, mas de mesmo calibre. Exemplo: FAL
FN 7,62mm M964, com cano de 21 polegadas, e Para-FAL 7,62mm com cano de 17
polegadas.
2.5.12 As pólvoras mais usadas nas munições para armamentos leves de dotação do
EB são as de formato tubular mono perfuradas nas munições para armas longas, e
disco compacto nas munições para armas curtas.
2.6 PROJÉTEIS
2.6.1 Via de regra, qualquer objeto sólido que pode ser lançado por uma energia que
o impulsiona pode ser considerado um projétil balístico. Ex.: pedras, flechas, esferas
de metal, etc. Em se tratando de armas de fogo modernas, os projéteis são
confeccionados de uma maneira tal que lhe darão uma melhor balística para alcançar
a finalidade que é atingir um determinado alvo.
2.6.2 Em se tratando de cartuchos de armas curtas e submetralhadoras, o principal
efeito balístico esperado de um projétil para estas armas é a máxima transferência de
sua energia cinética para o alvo. Já os projéteis de cartuchos para fuzis, carabinas e
metralhadoras, espera-se um efeito balístico de perfuração, fragmentação ou
especial, principalmente quando se trata de uso militar. Atualmente, muito se tem
pesquisado e criado para atender uma demanda de combates modernos que é um
projétil capaz de transferir o máximo de energia para o alvo, e ao mesmo tempo ter
159
Fig. 24 Quadro demonstrativo dos tipos de projéteis de chumbo para cartuchos de espingarda da
CBC
2.5.17 Semi-encamisados: são aqueles cuja ponta do projétil não é recoberta pela
camisa, porém o corpo continua recoberto. Ex.: 9mm Lugger Soft Point. Podem ser:
a. Expansiva ponta plana (EXPP) – projétil expansivo de alto impacto de uso
geralmente policial e caça, em alguns calibres. Também chamada de ponta macia ou
soft point. Utilizado em armas curtas e longas.
b. Expansivo pontiagudo (EXPT) – projétil utilizado para armas longas, com ponta
expansiva. Ao mesmo tempo que apresenta poder de expansão, também tem uma
boa penetração.
c. Semi encamisado ponta plana (SEPP) – mesmo uso das EXPP, também chamado
de soft point, por possuir uma ponta mais maleável (sem a camisa).
2.5.18 Projéteis especiais: são projéteis com características especiais, relativas à sua
balística terminal e à sua finalidade. Geralmente possuem composições e formatos
diferenciados e seu uso pode ser militar, policial ou até mesmo civil. São utilizadas
para algum propósito específico. Como alguns exemplos, temos:
166
167
168
169
170
CAPÍTULO III
CALIBRES
Diâmetro do
Calibre (Gauge)
cano (mm)
12 18,2 - 18,6
16 16,8 - 17,2
20 15,6 - 16,0
24 14,7 - 15,1
28 14,0 - 14,4
32 12,75 - 13,15
36 10,414
172
Fig. 28 Tabela mostrando o diâmetro real do cano de espingardas, de acordo com seus calibres.
3.1.3 Portanto, o calibre de uma arma de cano liso não é dado em um sistema
métrico, e sim no sistema denominado GAUGE (Ga). Assim, temos calibre 12 Ga, 20,
Ga, 32 Ga etc.
3.1.4 As espingardas modernas possuem um leve estreitamento na boca do cano,
porém esse estreitamento não nomina o calibre da arma. O estreitamento serve para
diminuir a dispersão das esferas de chumbo, e é chamado de choke ou cone de
dispersão. Determina o alcance útil das espingardas. Existem três tipos de choke:
a. Choke pleno – possui uma maior concentração das esferas de chumbo até 45
metros. Mais utilizado em espingardas para caça.
b. Choke modificado – possui uma maior concentração das esferas de chumbo entre
22 metros e 36 metros. Mais utilizados em espingardas para fins militares e policiais.
c. Choke cilíndrico – possui maior concentração das esferas de chumbo entre 13
metros e 32 metros. Mais utilizados em espingardas para fins de dispersão de turbas,
motins e defesa pessoal.
3.1.6 O diâmetro dos projéteis é maior que o calibre do cano para que o projétil,
quando estiver percorrendo o cano da arma, se “agarre” às raias e faça um movimento
giratório em torno de seu próprio eixo longitudinal. Isso dá maior velocidade e precisão
para o projétil que, ao sair do cano da arma, realiza uma trajetória mais estável até
atingir o alvo. Além disso, deixa estrias marcadas no projétil que são únicas, e auxilia
em trabalhos periciais.
3.1.7 Essa diferença entre diâmetros é essencial para o bom funcionamento da arma.
As medidas são padronizadas pela SAAMI, e podem ser conferidas através de
algumas ferramentas.
3.1.8 No caso dos projéteis, é usada uma ferramenta chamada paquímetro, que
serve para medir diâmetros com precisão em escalas muito pequenas. Já no caso do
diâmetro dos canos de alma raiada, são utilizados os calibradores, que conseguem
identificar através de uma faixa de medida padronizada dos cheios se o cano está em
condições de ser utilizado. Caso a medida acuse diferença maior que a faixa aceitável,
a arma deve ser enviada ao escalão de manutenção.
3.1.9 Um exemplo é a munição 7,62x51 e a .308 Win, ambas utilizadas pelo Exército,
sendo a primeira a munição comum para combate e a segunda utilizada por caçadores
por possuir melhor balística. Ambas têm o mesmo calibre, porém a 7,62x51 indica o
calibre entre cheios do cano (calibre real), e a .308 (aproximadamente 7,82 mm) indica
174
o calibre entre os fundos das raias (calibre do projétil). Vemos uma diferença nominal
de 0,20 mm, ou .007 polegadas, que é justamente a diferença entre o diâmetro do
cano sem as raias e o fundo das raias. Diferença esta praticamente imperceptível a
olho nu.
3.2.1 Os calibres das armas de fogo com cano de alma raiada são nominados em três
sistemas de medição: o sistema métrico, o sistema imperial e o sistema misto. Já
as espingardas, como falado anteriormente, são medidos de acordo com o sistema
Gauge, mas mesmo assim têm seus calibres correspondentes em milímetros.
3.2.2 Sistema métrico: no sistema métrico o diâmetro do projétil é designado em
milímetros, acompanhado pelo tamanho do estojo do cartucho separados por um “x”.
3.2.3 Geralmente são seguidos pelo nome do fabricante, a abreviatura de milímetros
“mm”, nome do inventor da munição e outras variações. Ex.: 7,62x51mm, 9x19mm
Parabellum, 5,56x45mm NATO.
3.2.4 Em cartuchos com características especiais, podemos ter ainda a nominação
seguida das letras “R”, que significa rimmed ou com aro; e “+ P” ou “+ P +”, que
significa powder ou uma carga maior de pólvora.
3.2.5 Sistema imperial: no sistema imperial o diâmetro do projétil é designado em
frações de polegadas, representados por um ponto seguidos do valor, omitindo-se,
assim, o zero à esquerda.
3.2.6 Geralmente também são seguidos pelo nome do fabricante ou inventor do
calibre. Ex.: .50 Browning, .38 S&W, .223 Remington, .308 Winchester.
175
3.2.7 Em cartuchos com características especiais podemos ver ainda: AUTO, cartucho
para pistola; SPL, cartucho special com mais energia; MAGNUM, projétil que
ultrapassa 720 m/s de velocidade; BELTED, cartucho cinturado.
3.2.8 Sistema misto: no sistema misto, além de apresentar as características dos
sistemas anteriores, designa o diâmetro do projétil em fração de polegadas, com ou
sem o ponto, seguido do peso da carga de pólvora em Grains, separados por um
traço. Pode vir seguido do nome do fabricante, do inventor do calibre, etc. Ex.: .32-20
Winchester, .30-30 Winchester.
3.2.9 Na notação de cartuchos observa-se que cartuchos que possuem projéteis com
o mesmo diâmetro real, apresentam nomes diferentes. Para armas de fogo que
possuem o mesmo calibre real podemos encontrar diversos cartuchos com calibre
nominal diferentes. Assim, temos que as munições 9mm Parabellum, 9mm Browning
(ou short), .380 AUTO, e .357 Magnum, por exemplo, são todas com projéteis de
diâmetro entre .355 e .357 polegadas. O que se costuma diferenciar é o peso do
projétil, a quantidade de propelente, o tamanho do estojo, ou simplesmente um projeto
de marketing da fabricante. Para se aferir o diâmetro real de um projétil, deve-se
utilizar uma ferramenta chamada micrômetro, capaz de realizar medições em
pequenas dimensões.
3.2.10 Verificamos ainda que as munições carregam inscrições na base, com a
finalidade de identificar o fabricante, país de origem, calibre, tipo, lote, ano de
fabricação etc. Essas inscrições são as mais variadas, podendo conter números,
letras, logomarcas símbolos ou emblemas, que são cunhados radialmente ou na base
do copo da espoleta. Cada fabricante possui sua própria padronização, seguindo
também as exigências de controle do seu país de origem. No Brasil, o fabricante
Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que fornece a munição governamental
para Forças Armadas e Policiais, utiliza os seguintes modelos de inscrição:
176
Fig. 33 Cartucho 9x19mm da CBC utilizado pelas Forças Armadas. Inscrição do calibre,
fabricante e ano de fabricação.
3.2.11 Existem dois órgãos internacionais que regulam as medidas oficiais para armas
de fogo e cartuchos, bem como as variações permitidas para cada calibre. Por isso
existe, por exemplo, uma variação tolerável na produção de cartuchos .38, que na
verdade variam entre .355 e .357 polegadas como mostrado anteriormente. Esses
órgãos são: SAAMI - Sporting Arms and Ammunition Manufacturers' Institute, atuante
principalmente no continente americano; e o CIP - Commission internationale
permanente pour l'épreuve des armes à feu portatives, que se trata de uma comissão
internacional permanente para padronizações técnicas na produção de armas de fogo
e cartuchos.
3.4.1 No Brasil, a legislação diferencia os calibres entre permitidos para uso civil e
calibres restritos, para Forças Armadas ou policiais. O critério utilizado foi definido pelo
Decreto nº 5.123, de 1º de julho de 2004, onde as armas de calibre restrito seriam
aquelas utilizadas pelas Forças Armadas, e as de calibre permitido as demais, de
acordo com as normas do comando do Exército.
3.4.2 Já o R-105, Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados, define o
que são armas de calibres de uso restrito e permitido pela energia do projétil no
momento da saída do cano.
3.4.3 Conforme os artigos 16 e 17 do R-105, são calibres restritos:
a. armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou que possuam alguma
carcterística no que diz respeito aos empregos tático, estratégico e técnico do material
bélico usado pelas Forças Armadas nacionais;
b. Armas, munições, acessórios e equipamentos que, não sendo iguais ou similares
ao material bélico usado pelas Forças Armadas nacionais, possuam cacterísticas que
só as tornem aptas para emprego militar ou policial;
179
c. Armas de fogo curtas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia
superior a trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete Joules, e suas munições,
como por exemplo os calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44
SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto;
d. Armas de fogo longas raiadas, cuja munição comum tenha, na saída do cano,
energia superior a mil libras-pé ou mil trezentos e cinquenta e cinco Joules, e
suas munições como, por exemplo, .22-250, .223 Remington, .243 Winchester, .270
Winchester, 7 Mauser, .30-06, .308 Winchester, 7,62x39, .357 Magnum, .375
Winchester e .44 Magnum;
e. Armas de fogo automáticas de qualquer calibre;
f. Armas de fogo de alma lisa de calibre doze ou maior, com comprimento de
cano menor que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros;
g. Armas de fogo de alma lisa de calibre superior ao doze e suas munições;
h. armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, com calibre
superior a seis milímetros, que disparem projetis de qualquer natureza;
i. armas de fogo dissimuladas, conceituadas como tais os dispositivos com
aparências de objetos inofensivos, mas que escondem uma arma, tais como
bengalas-pistola, canetas-revólver e semelhantes;
j. arma a ar comprimido, simulacro do Fz 7,62 mm, M964, FAL;
k. armas e dispositivos que lancem agentes de guerra qu´mica ou gás agressivo e
suas munições
3.4.4 Conforme os artigos 16 e 17 do R-105, são calibres permitidos:
a. Armas de fogo curtas, de repetição ou semiautomáticas, cuja munição comum
tenha, na saída do cano, energia de até trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete
Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .25 Auto, .32
Auto, .32 S&W, .38 SPL e .380 Auto;
b. Armas de fogo longas raiadas, de repetição ou semiautomáticas, cuja munição
comum tenha, na saída do cano, energia de até mil libras-pé ou mil trezentos e
cinquenta e cinco Joules e suas munições, como por exemplo, os calibre .22
LR, .32-20, .38-40 e .44-40;
c. Armas de fogo de alma lisa, de repetição ou semiautomáticas, calibre doze ou
inferior, com comprimento de cano igual ou maior do que vinte e quatro polegadas ou
seiscentos e dez milímetros; as de menor calibre, com qualquer comprimento de cano,
e suas munições de uso permitido;
180
d. Armas de pressão por ação de gás comprimido, ou por ação de mola, com calibre
igual ou inferior a seis milímetros e suas munições de uso permitido;
e. Armas que tenham por finalidade dar partida em competições desportivas, que
utilizem cartuchos contendo exclusivamente pólvora;
f. Armas para uso industrial ou que utilizem projetis anestésicos para uso veterinário.
CAPÍTULO IV
BALÍSTICA
4.1 INTRODUÇÃO
4.1.2 Neste caderno de instrução, vamos nos ater a falar sobre a balística interna e
a terminal, para que possamos entender a relação entre o tamanho do cano de uma
arma e o tipo da munição, como o efeito que o projétil poderá causar em um alvo
animado.
4.2.1 A pólvora, quando queima na atmosfera, produz gases que que se expandem
centenas de vezes o volume do sólido da carga. Essa queima, e consequentemente
a expansão dos gases, se dá de forma muito rápida, porém gradual.
4.2.2 Essa reação, quando acontece confinada dentro do estojo de um cartucho na
câmara da arma de fogo, causa uma grande pressão nas paredes do estojo do
cartucho. Após o rápido e gradual aumento de volume, os gases agem em todas as
direções dentro do estojo e acabam escapando pela parte mais “frágil” do cartucho,
exercendo pressão na base do projétil, que está engastado na boca do estojo. Essa
pressão faz com que o projétil seja expulso do estojo, e percorra o cano da arma, até
que a expansão dos gases não faça mais efeito direto no projétil. Assim como a
queima da pólvora é gradual, o projétil também ganha aceleração gradual até a
queima total do propelente.
Fig. 35 Pressão dos gases da queima da pólvora, expulsando o projétil da boca do estojo
ponto a pressão não será suficiente para suplantar o atrito projétil/cano e, como
resultado, a velocidade do projétil começará a decrescer.
4.2.4 O atrito projétil/cano é, muitas das vezes, determinado pelo tipo de material que
constitui ou recobre a parte externa desse projétil. Projéteis encamisados em cobre,
latão ou Tombak possuem um coeficiente de atrito superior à dos projéteis constituídos
de chumbo puro ou liga de chumbo. Além disso, os projéteis em liga de chumbo são
lubrificados para que o atrito com o cano não derreta a sua superfície, facilitando o
seu deslocamento. Por esse motivo é que projéteis de mesmo peso, mas de
constituições diferentes, (liga de chumbo e encamisado) podem resultar em
velocidades iniciais e pressões de câmara distintas.
4.2.5 É importante observar que, quanto maior o atrito projétil/cano, menor a
possibilidade (ou até mesmo nula) de que a pressão que empurra o projétil seja
diminuída devido ao escape dos gases entre o projétil e o cano. Por isso projéteis
encamisados suportam maior energia sem danificar o cano da arma, e os projéteis de
chumbo sem a camisa são utilizados em munições com menor energia.
4.2.6 Inúmeras outras variáveis podem influenciar no desempenho do projétil, além
do tamanho do cano. Características como diâmetro interno do cano, número e passo
de raia, polimento do cano, tipo de projétil (jaquetado ou chumbo, peso, constituição
etc), são alguns dos fatores que afetam diretamente o desempenho do projétil. Esses
efeitos só podem ser melhores avaliados a partir de um estudo mais técnico sobre
balística interna, o que não é nosso objetivo. Basta saber que todas essas variáveis
devem ser levadas em consideração quando formos analisar o desempenho de um
projétil como, por exemplo, se ele poderá atravessar uma parede, ou uma árvore, ou
qualquer tipo de abrigo que o militar esteja querendo utilizar como proteção ou
querendo atingir um alvo que esteja abrigado.
4.2.7 Cabe ressaltar que, regra geral, armas de cano longo infringem maior precisão
no tiro, levando em consideração também todas as outras variáveis. Fuzis utilizados
por caçadores (sniper) tendem a ter um cano maior que 18”, porém seu maior
aproveitamento se dará com uma munição específica. Já fuzis de assalto tendem a
ter canos menores, porém precisão à longas distâncias também menores.
4.2.8 A balística interna abrange outros diversos temas e variáveis de desempenho
dos projéteis no interior do cano, porém no nível tático que nos interessa, iremos ficar
apenas no entendimento superficial sobre o desempenho de um projétil em relação
ao tamanho do cano da arma de fogo.
183
4.3.1 A balística terminal é tratada por alguns estudiosos da balística forense como
sendo balística de ferimentos Este termo é utilizado principalmente quando se trata
de alvo animados, como humanos ou animais. A balística terminal, como num modo
geral, é utilizada em alvos inanimados, como paredes, vidros, viaturas etc. Trataremos
aqui da balística de ferimentos, focando os efeitos dos projéteis em alvos animados.
4.3.2 São inúmeros os efeitos que um projétil pode causar em um alvo animado, e vão
depender de variáveis como: tipo do projétil (material, formato, peso, velocidade etc),
fatores psicológicos e fisiológicos do alvo vivo (motivação, adrenalina, efeito de
substâncias psicotrópicas etc), local de impacto do projétil, entre outros. A literatura
da balística forense é bastante abrangente e específica, com autores divergindo em
alguns pontos importantes. Veremos aqui os efeitos de forma generalizada.
4.3.3 Geralmente, as características de um projétil são desenvolvidas para incapacitar
ou neutralizar um alvo, em uma determinada situação, seja ela de guerra, policial,
defesa pessoal ou caça. Para esse fim, existe o conceito de poder de parada do
projétil, também utilizado o termo em inglês stopping power. Esse termo é utilizado
quando se quer mensurar a capacidade que um determinado projétil tem de
incapacitar um alvo vivo, com apenas um disparo. Nesse caso, a incapacitação não é
necessariamente a neutralização do alvo.
4.3.4 Por ser um termo bastante discutível e controverso, o poder de parada de um
projétil é difícil de ser avaliado. Quando se quer incapacitar um alvo vivo
instantaneamente, o mais importante é o local onde o projétil atinge o alvo, porém o
calibre e o tipo do projétil também devem ser levados em consideração, principalmente
para evitar efeitos colaterais nas operações. Podemos listar dois dos principais
motivos de incapacitação imediata de um alvo vivo.
4.3.5 Danos no sistema nervoso central (SNC), atingindo a região entre os olhos do
alvo, na região conhecida como “T” mortal; ou na nuca, diretamente no cerebelo; ou
ainda na direção do ouvido, diretamente no tronco cerebral, que é o responsável pelo
controle de respiração e alguns atos reflexos.
184
Cavidade permanente
Onda de
Cavidade temporária
choque
Fig. 38 Na imagem superior, a cavidade temporária causada pelo impacto de um projétil hollow point
comum. Na inferior, a cavidade temporária de um projétil fragmentável.
transferiu toda a sua energia cinética para o alvo. Já um projétil que penetra no alvo e
para no seu interior, consegue transferir toda a sua energia cinética, já que sua
velocidade final dentro do alvo é nula.
4.3.13 Para se conseguir uma boa penetração e uma máxima transferência de
energia, via de regra se usam projéteis de alta velocidade e massa menores. Além
disso, projéteis expansivos e/ou fragmentáveis também conseguem transferir o
máximo de energia para o alvo. É o caso dos projéteis hollow point, hydrachock, glaser
e frangíveis.
4.3.14 Cabe ressaltar que, mesmo projéteis que transfixam o alvo e não transferem
totalmente a sua energia, também possuem bom poder de parada, dependendo do
local do alvo onde atingem. Um projétil ogival, por exemplo, com grande velocidade e
massa, atingindo o coração de um ser humano, causará uma hemorragia severa,
choque hipovolêmico, trauma na vítima, e em alguns segundos conseguirá parar a
agressão ou ameaça.