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ciência não há fu...
18 de março de 2020
Achille Mbembe é um lósofo e pensador camaronês dos mais eruditos.
Estudioso da escravidão, da descolonização e da negritude, é Professor de "Jogamos no colo desses
História e Ciências Políticas na Universidade de Witwatersrand, em irresponsáveis a noss...
16 de março de 2020
Joanesburgo, África do Sul, bem como na Duke University, nos Estados Unidos.

Considerado “um dos poucos teóricos que consegue pensar o contexto Coronavírus ressuscita o
fantasma das armas b...
mundial contemporâneo a partir da provincialização da Europa”, é autor de 16 de março de 2020
vários livros, alguns já traduzidas para o português. Entre as suas várias obras,
quero destacar nesta pequena resenha o seu trabalho “Necropolítica”, A seguridade social e os
trabalhadores devem ...
publicado no Brasil pela Editora N-1 Edições. 16 de março de 2020

Neste ensaio, o autor parte do pressuposto “que a expressão máxima da


Precisamos falar sobre prisão
soberania reside em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem domiciliar em t...
pode viver e quem deve morrer”, razão pela qual “matar ou deixar viver 16 de março de 2020

constituem os limites da soberania, seus atributos fundamentais.”


8M e as crente
16 de março de 2020
Assim, ao nal e ao cabo, “ser soberano é exercer controle sobre a mortalidade
e de nir a vida como a implantação e manifestação de poder.” Logo, neste
sentido, “a soberania é a capacidade de de nir quem importa e quem não Crivelli entrevista Pablo Ortellado sobre
com...
importa, quem é ‘descartável’ e quem não é.”
12 de março de 2020

Rejeitando a crença “romântica” da soberania como algo em “que o sujeito é o


principal autor controlador do seu próprio signi cado”, Mbembe preocupa-
se, sob uma ótica inteiramente diversa, “com aquelas formas de soberania
cujo projeto central não é a luta pela autonomia, mas ‘a instrumentalização
generalizada da existência humana e a destruição material de corpos humanos
e populações’. ” (Aqui ele revela a in uência de Foucault em sua obra, desde a
ideia de “biopoder”, desenvolvida pelo lósofo francês).[1]

Neste sentido, criticando o que ele chama de um “discurso losó co da


modernidade”, demonstra muito a rmativamente que das “experiências
contemporâneas de destruição humana” pode muito bem ser extraída “uma
leitura da política, da soberania e do sujeito”, a partir da consideração de
“outras categorias fundadoras menos abstratas e mais palpáveis, tais como a
vida e a morte.”

Relacionando a noção de biopoder (Foucault) com dois outros conceitos –


estado de exceção e estado de sítio (Agamben) -, Mbembe mostra de forma
bastante clara como “o estado de exceção e a relação de inimizade tornaram-
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se a base normativa do direito de matar”, e como o poder “apela à exceção, à
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emergência e a uma noção ccional do inimigo” para justi car o extermínio
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de outrem.

Desde este ponto de vista, o ensaísta africano considera que a escravidão


“pode ser considerada uma das primeiras manifestações da experimentação
biopolítica”, razão pela qual “qualquer relato histórico do surgimento do
terror moderno precisa tratar da escravidão.”

Para ele, “a condição de escravo resulta de uma tripla perda: perda de um ‘lar’,
perda de direitos sobre seu corpo e perda de estatuto político”, ocasionando
“uma dominação absoluta, uma alienação de nascença e uma morte social
(que é expulsão fora da humanidade).” Assim, ele “é mantido vivo, mas em
‘estado de injúria’, em um mundo espectral de horrores, crueldade e
profanidade intensos.” A sua vida, portanto, “é uma forma de morte-em-
vida” e “propriedade de seu senhor” (Susan Buck-Morss).

Nada obstante a sua situação de quase-morto (a expressão é minha), o escravo


“é capaz de extrair de quase qualquer objeto, instrumento, linguagem ou gesto
uma representação, e estilizá-la”, sendo “capaz de demonstrar as capacidades
polimorfas das relações humanas por meio da música e do próprio corpo, que
supostamente pertencia a um outro.” O caso brasileiro con rma esta
a rmação.

Voltando os olhos para o fenômeno da colonização, Mbembe entende – e


concordo com ele – que “as colônias são semelhantes às fronteiras, habitadas
por ´selvagens`, não organizadas de forma estatal e não criaram um mundo
humano; são o local por excelência em que os controles e as garantias de
ordem judicial podem ser suspensos – a zona em que a violência do estado de
exceção supostamente opera a serviço da ‘civilização’.”

Por conseguinte, “aos olhos do conquistador, ‘vida selvagem’ é apenas outra


forma de ‘vida animal’, carecendo os selvagens do caráter especí co humano,
da realidade especi camente humana, de tal forma que, ‘quando os europeus
os massacravam, de certa forma não tinham consciência de cometerem um
crime’.” (Arendt).

Talvez para ilustrar, Mbembe cita o caso palestino como “a forma mais bem-
sucedida de necropoder”, quando “populações inteiras são o alvo do soberano,
vilas e cidades sitiadas são cercadas e isoladas do mundo, a vida cotidiana é
militarizada e é outorgada liberdade aos comandantes militares locais para
usar seus próprios critérios sobre quando e em quem atirar.” Esta população
sitiada experimenta “uma condição permanente de ‘viver na dor’: estruturas
forti cadas, postos militares e bloqueios de estradas em todo lugar.” A
desastrosa – sob todos os aspectos – intervenção militar no Rio de Janeiro
talvez sirva para ilustrar esta a rmação.

O livro também trata das guerras contemporâneas, as guerras da era da


globalização, que “visam forçar o inimigo à submissão, independentemente
de consequências imediatas, efeitos secundários e ‘danos colaterais’ das ações
militares.” Nestes con itos, citando Bauman (“Wars of the Globalization
Era”), “os pilotos convertidos em computadores quase nunca têm a chance de
olhar suas vítimas no rosto e avaliar a miséria humana que têm semeado.
Militares pro ssionais do nosso tempo não veem cadáveres nem ferimentos.
Talvez eles durmam bem; nenhuma pontada em suas consciências os manterá
acordados.”

A obra também faz referência ao surgimento das Máquinas de Guerra,


“surgidas na África durante o último quarto do século XX”, com
“características de uma organização política e de uma empresa comercial,
podendo operar mediante capturas e depredações e até mesmo cunhar seu
próprio dinheiro”, tornando-se “rapidamente mecanismos predadores
extremamente organizados.”
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Mbembe também estuda o caso do “homem-bomba”, questionando “qual
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seria a diferença fundamental entre matar usando um helicóptero de mísseis,
um tanque ou o próprio corpo?” Neste caso, “minha morte anda de mãos
dadas com a morte do outro, logo homicídio e suicídio são realizados no
mesmo ato.”
O homem-bomba “transforma seu corpo em máscara que esconde a arma que
logo será detonada e, ao contrário do tanque ou míssil, que é claramente
visível, a arma contida na forma do corpo é invisível, dissimulada, fazendo
parte do próprio corpo”, de uma tal maneira “que, no momento da detonação,
aniquila seu portador e leva consigo outros corpos, quando não os reduz a
pedaços. O corpo não esconde apenas uma arma, ele é transformado em arma,
não em sentido metafórico, mas no sentido verdadeiramente balístico.”

Ao contrário das guerras convencionais, quando a lógica “consiste em querer


impor a morte aos demais, preservando a própria vida”, aqui, na lógica do
“mártir”, “a vontade de morrer se funde com a vontade de levar o inimigo
consigo, ou seja, eliminar a possibilidade de vida para todos”, certamente a
partir “de um processo de abstração com base no desejo de eternidade.” Neste
sentido, “o corpo sitiado é transformado em mera coisa, matéria maleável, e
depois, a maneira como é conduzido à morte – suicídio – lhe proporciona seu
signi cado nal.” Este corpo converte-se “em uma peça de metal cuja função
é, pelo sacrifício, trazer a vida eterna ao ser.”

En m, trata-se de um livro de atualidade impressionante, e serve para


re etirmos sobre o caso brasileiro – de ontem e de hoje. Lembremos, por
exemplo, que uma das principais propostas do então candidato ao Governo do
Rio de Janeiro – hoje eleito – foi instruir as forças de segurança a “abaterem”
suspeitos que sejam vistos portando fuzis, mesmo que eles não atirem contra
os policiais.

Já em São Paulo, o então candidato – também o escolhido – alertava que “não


façam enfrentamento com a Polícia Militar nem a Civil, porque, a partir de 1º.
de janeiro, ou se rendem ou vão para o chão. Se zer o enfrentamento com a
polícia e atirar, a polícia atira. E atira para matar.”

Na Bahia, o atual Governador – reeleito -, comentando acerca de uma ação da


Polícia Militar durante um confronto no bairro do Cabula, em Salvador – fato
ocorrido na madrugada do dia 06 de fevereiro de 2015, que resultou na morte
de doze pessoas, episódio que conhecido como “A Chacina do Cabula”, e que
foi objeto de um pedido de federalização feito ao Superior Tribunal de Justiça
pela Procuradoria Geral da República -, a rmou o Governador, numa
comparação estúpida!, que o policial “é como um artilheiro em frente ao gol
que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro
do gol, pra fazer o gol. Depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os
torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias
vezes na televisão. Se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque
se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado.”

O próprio candidato a Presidente da República – que desgraçadamente


também venceu – apresentou, como Deputado Federal, um projeto de lei para
deixar expresso no Código de Processo Penal e Código de Processo Penal
Militar que policiais não poderiam ser presos em agrante caso matassem
civis em supostos confrontos.

Portanto, as noções de “necropolítica” e de “necropoder” desenvolvidas pelo


autor ajudam a compreender “as várias maneiras pelas quais, em nosso
mundo contemporâneo, as armas de fogo são dispostas com o objetivo de
provocar a destruição máxima de pessoas e criar ´mundos de morte`, formas
únicas e novas de existência social, nas quais vastas populações são
submetidas a condições de vida que lhes conferem o estatuto de ´mortos-
vivos.”

Rômulo de Andrade Moreira é Procurador de Justiça do Ministério Público do


Estado da Bahia e Professor de Direito Processual Penal da Universidade Salvador –
UNIFACS.

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____________________

Nada obstante a in uência de Foucalt, Mbembe procura demonstrar “que a


noção de biopoder é insu ciente para dar conta das formas contemporâneas
de submissão da vida ao poder da morte.”
Sobre o tema, escrevi este texto: http://emporiododireito.com.br/leitura/e-
militares-para-quem-precisa-de-militares
https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/23/quais-
as-consequencias-de-atirar-para-matar-criminosos-armados-de-
fuzil.htm, acessado em 22 de dezembro de 2018.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/a-partir-de-janeiro-policia-
vai-atirar-para-matar-a rma-joao-doria.shtml, acessado em 22 de
dezembro de 2018.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/proposta-de-bolsonaro-para-
isentar-policiais-por-mortes-em-confrontos-ja-existe.shtml, acessado em
22 de dezembro de 2018.
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/e-como-um-artilheiro-em-
frente-ao-gol-diz-rui-costa-sobre-acao-da-pm-com-doze-mortos-no-
cabula/, acessado em 22 de dezembro de 2018.

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ISSN: 2527-0435 - Justi cando.cartacapital.com.br - 2017

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