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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Elilian Pontes Goulart

A ALIENAÇÃO PARENTAL NO PLANO JURÍDICO BRASILEIRO EM


CONSONÂNCIA AO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE.

Três Rios
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

A ALIENAÇÃO PARENTAL NO PLANO JURÍDICO BRASILEIRO EM


CONSONÂNCIA AO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE.

ELILIAN PONTES GOULART

Monografia apresentada como requisito


parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Direito, em curso de
graduação oferecido pela Universidade
Federal Rural do Estado do Rio de
Janeiro, campus Instituto Três Rios.

Orientadora: Ludmilla Elyseu Rocha

Três Rios
2018
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UFRRJ/BIBLIOTECA
A alienação parental no plano jurídico brasileiro em consonância
ao Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
GOULART, Elilian/ Elilian Pontes Goulart - 2018. 46f.
Orientador(a): Ludmilla Elyseu Rocha
1. Direito de família – Monografia. 2. Alienação Parental –
Monografia. 3. Princípio do melhor interesse
Monografia (graduação). Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro
Faculdade de Direito

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou


parcial desta tese, desde que citada a fonte.

______________________________ _________________
Assinatura Data
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

A ALIENAÇÃO PARENTAL NO PLANO JURÍDICO BRASILEIRO EM


CONSONÂNCIA AO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE.

ELILIAN PONTES GOULART

Monografia apresentada como requisito


parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Direito, em curso de
graduação oferecido pela Universidade
Federal Rural do Estado do Rio de
Janeiro, campus Instituto Três Rios.

Aprovado em: _____________________________________________________________________

Banca Examinadora:

_________________________________________________________________________________
Ludmilla Elyseu Rocha, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ/PPGE (2008)

_________________________________________________________________________________
Marcela Siqueira Miguens, Doutora em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
(2011)

_______________________________________________________________________________

Marli Guayanaz Muratori, Mestra em Direito das Relações Econômicas pela Universidade Gama Filho
(2003)
AGRADECIMENTOS

A Deus, por sempre guiar meus caminhos e me amparar em minhas


dificuldades.
Aos meus familiares e ao meu irmão, Junior, por sempre torcerem e vibrarem
por minhas conquistas.
À esta Instituição, assim como seu corpo docente, que me proporcionaram o
conhecimento e ferramentas necessários para que eu me torne uma profissional
capaz e bem-sucedida.
À minha orientadora, Ludmilla Elyseu Rocha, pelo empenho e todo auxílio a
mim dedicado durante a elaboração desta monografia.
À Caíssa Rezende, por toda amizade, apoio e incentivo para que eu
conseguisse finalizar este trabalho.
À Luciana Gomes, amiga que ganhei desde os primeiros dias de aula, que
sempre foi minha inspiração por conseguir dar conta de tantas tarefas ao mesmo
tempo, e realizá-las com destreza.
E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o
meu muito obrigada.
Dedicado aоs meus pais, Willian e Eliane,
que, cоm muito carinho е apoio, nãо
mediram esforços para qυе еυ chegasse
аté esta etapa dе minha vida.
RESUMO

Com o crescente aumento dos litígios relacionados a divórcio e guarda, não raro se
observam atitudes movidas por sentimento de vingança por parte daquele que
detém a guarda, na tentativa de afastar os filhos menores do genitor não-guardião,
prejudicando o relacionamento e convivência entre eles. À soma desses atos deu-se
o nome de Alienação Parental, que pode levar à chamada Síndrome da Alienação
Parental. A lei 12.318/2010 surge então da necessidade estatal de identificar e coibir
tais atos, além de proteger a integridade física e moral do menor, haja vista o melhor
interesse da criança e do adolescente ser um direito estabelecido
constitucionalmente. Este trabalho destina-se, portanto, à apresentação e
detalhamento da Alienação Parental, e como esta é discutida no âmbito jurídico
brasileiro.

Palavras-chave: Alienação Parental; Síndrome da Alienação Parental; Melhor


interesse da criança e adolescente.
ABSTRACT

With the increasing number in litigation related to divorce and custody, it is not
uncommon to see feelings of vengeance on the part of the custodian in an attempt to
ward off the minor offspring of the non-custodial parent, harming the relationship and
coexistence between them. The sum of these acts was called Parental Alienation,
which can lead to the so-called Parental Alienation Syndrome. Law 12.318/2010 then
arises from the State’s need to identify and restrain such acts, in addition to
protecting the physical and moral integrity of the child, since the best interest of the
child and adolescent is a constitutionally established right. This work is therefore
aimed at the presentation and detailing of Parental Alienation, and how it is
discussed in the Brazilian legal framework.

Keywords: Parental Alienation; Parental Alienation Syndrome; Best interest of the


child and adolescent.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
1. O PODER FAMILIAR E A GUARDA ................................................................... 11
1.1 Poder familiar .................................................................................................. 11
1.1.1 Perda do poder familiar ............................................................................. 15
1.2 Guarda ............................................................................................................ 18
2. ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................................................... 22
2.1 Generalidades e Síndromes Relacionadas à Alienação Parental ................... 24
2.2 Principais apontamentos sobre a Lei 12.318/2010.......................................... 29
3. CASOS REAIS, CONSEQUÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL E O
PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ...... 34
3.1 Casos Reais .................................................................................................... 34
3.2 Consequências da Alienação Parental ............................................................ 38
3.3 O Princípio do melhor interesse da Criança e do adolescente ........................ 39
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 44
9

INTRODUÇÃO

O objetivo principal do presente trabalho é analisar, de forma clara e


detalhada, como vêm sendo tratado no Poder Judiciário brasileiro a questão da
alienação parental e a consequente Síndrome da Alienação Parental (SAP), além de
demostrar como o Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente é o
preceito a ser adotado para solucionar os conflitos.
Tratar-se-á, ainda, da Lei 12.318/2010, que dispõe sobre a alienação parental
e que traz em seu corpo dispositivos que auxiliam na identificação da alienação e os
meios legais punitivos que tem por finalidade coibir os atos do alienador, assim como
cessar a alienação.
Ao longo do trabalho, será mostrado que uma das hipóteses para o
surgimento da Alienação, e posterior SAP, é que esta decorre do divórcio, onde um
dos cônjuges não aceita totalmente a nova situação e, propositadamente ou não,
começa a instigar na criança repulsa ao outro genitor sem justificativa, através de
mecanismos como falsas memórias. O reconhecimento tardio deste problema
acarreta sérios prejuízos à criança, assim como para o núcleo familiar, sendo
necessário que o Estado intervenha, na condição de Estado-juiz, para apaziguar a
situação, fornecendo meios de cuidado e suporte para a criança alienada, assim
como o genitor-vítima da SAP.
Será possível verificar, através de casos concretos, que tal situação é
bastante recorrente no âmbito do direito familiar e que, por esta razão, o legislador
enxergou a necessidade da criação da lei, para se conceituar tal instituto, sinalizar
meios de observação da ocorrência deste, assim como estabelecer formas de
sanção em quem pratica, com intuito de combater esse problema.
O primeiro capítulo tratará do instituto da guarda e do poder familiar, fazendo
um breve histórico para compreender a evolução dos conceitos até os dias atuais,
onde o poder familiar é entendido como o conjunto de direitos e deveres em relação
à pessoa e bens do filho, exercidos em igualdade de condições pelos pais, e a
guarda, que está ligada à autoridade parental, é, ao mesmo tempo, direito e dever
dos pais, de zelar pelos filhos, no que diz respeito ao cuidado, educação,
subsistência e que deve existir tanto na constância da união dos pais como na
hipótese de vivência em separado.
10

O segundo capítulo discorrerá acerca da alienação parental, esta entendida


como a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente
promovida ou induzida por um dos genitores, ou por quem detém sua guarda.
Importa dizer que a expressão foi cunhada pelo estadunidense Richard Gardner, em
1985 e que tal pesquisador também propôs a existência da Síndrome da Alienação
Parental (SAP), que acarreta prejuízos enormes no desenvolvimento da criança e do
adolescente, e não se confunde com a alienação. Enquanto esta última se refere ao
ato do genitor-guardião afastar o outro genitor, de forma voluntária, aquela está
ligada ao processo patológico que provoca sequelas emocionais e influencia no
comportamento da criança. Também será debatida a Lei 12.318/2010, ressaltando
seus pontos chaves e os meios punitivos que são aplicados ao se verificar a
ocorrência da alienação.
O terceiro capítulo abordará casos concretos, mostrando as consequências
da alienação para todos os envolvidos, além de debater o Princípio do Melhor
Interesse da Criança e do Adolescente, importante preceito que decorre da
Constituição e que deve ser observado ao tratar de questões que envolvam o direito
das famílias.
Valendo-se de doutrinas acerca do tema, artigos científicos, textos publicados
na Internet, assim como jurisprudência dos Tribunais Superiores e a legislação, a
pesquisa tentará elucidar os problemas apresentados e fornecerá dados importantes
acerca da aplicabilidade da Lei 12.318/2010, e como esta foi pensada visando a
proteção integral do menor, haja vista a garantia estabelecida constitucionalmente.
11

1. O PODER FAMILIAR E A GUARDA

Em primeiro momento, antes de adentrar ao tema escopo dessa monografia,


qual seja, alienação parental, cumpre esclarecer o que é poder familiar e o instituto
da guarda e seus desdobramentos.

1.1 Poder familiar

Acerca do poder familiar, este tem relação com direitos e obrigações, em


paridade de condições para ambos os pais, no que diz respeito à pessoa e bens do
filho menor, ainda não emancipado.1 PEREIRA (2017) conceitua poder familiar como
um ―(…) complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do filho, exercidos
pelos pais na mais estreita colaboração, e em igualdade de condições‖.‖ 2 A
expressão ―poder familiar‖, presente no Código Civil Brasileiro de 2002 substituiu o
chamado ―pátrio poder‖, que vigeu até o Código Civil de 1916, no qual tão somente o
pai possuía poder em relação à família e aos filhos, sendo a genitora renegada a
uma figura ausente na tomada de decisões do núcleo familiar. 3 Na ocorrência de
divergência entre os genitores, deveria prevalecer a decisão adotada pelo marido.
Este pátrio poder teve origem na Roma Antiga, onde a família era entendida
como uma unidade política, jurídica, econômica e principalmente religiosa. Nas
palavras de REINALDIN (2008)4, a família independia de consanguinidade, para
formá-la bastava cultuar os mesmos antepassados. Elucida CORDEIRO (2016)5 que
o pater era considerado o chefe da família e detinha um poder tão absoluto que nem
o Estado interferia em suas decisões no âmago de seu grupo familiar.

O Estado Romano praticamente não interferia no grupo familiar, sendo


este de responsabilidade do pater que exercia uma jurisdição paralela a

1
RANGEL, Tauã Lima Verdan. O instituto do poder familiar: uma breve análise. In: Âmbito
2
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil – Vol. V / Atual. Tânia da Silva
Pereira. – 25. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
3
Idem. Ibidem.
4
REINALDIN, Juliana. Da evolução do pátrio poder ao poder familiar. Monografia – Universidade
Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008. In: TCC On Line. Disponível em: <http://tcconline.utp.br/wp-
content/uploads/2013/09/DA-EVOLUCAO-DO-PATRIO-PODER-AO-PODER-FAMILIAR.pdf>.
Acesso em: ago 2017.
5
CORDEIRO, Marília Nadir de Albuquerque. A evolução do pátrio poder - poder familiar. In:
Conteúdo Juridico, Brasilia-DF: 22 abr. 2016. Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55706&seo=1>. Acesso em: 21 out. 2017.
12

estatal, autorizada pelo próprio Direito Romano. O homem exercia seu


domino na família, assim como o Imperador o fazia no vasto Domínio
Romano, existindo entre eles, o pater e o Imperador, uma correlação, já
que acreditava-se que a família era a representação celular do Estado.6

Nesse contexto tem-se que a família romana era composta por um grupo de
pessoas submetidas a um chefe, o pai, avô ou bisavô, e seus descendentes lhe
eram sempre subordinados, independente de idade ou estado civil, sendo que tal
poder perdurava por toda a vida, extinguindo-se somente com a morte.7
Dando um salto histórico, expõe CORDEIRO (2016)8 que o modelo de família
nuclear, com a coabitação de pai, mãe e filhos, é uma criação pós Revolução
Francesa e Industrial, com o surgimento dos casamentos laicos e a urbanização.
Trazendo para a realidade brasileira, pode-se dizer que o modelo patriarcal de
família é oriundo do Direito Português, sendo absorvido pela cultura da colônia
através dos senhores de engenho e barões do café.9
Voltando ao Código Civil de 1916, FACHIN (2001) diz que ―no sistema
originário de família, o Código vertia uma família matrimonializada, hierarquizada e
patriarcal‖.10
Tal situação começou a tomar diferentes contornos em relação à figura
materna somente na metade do século XX, em decorrência da criação da Lei
4.121/62, comumente chamada de Estatuto da Mulher Casada. Tal lei modificou o
art. 380 do CC/1916, sendo então delegado aos pais o pátrio poder na vigência do
casamento, ―exercendo-o o marido com a colaboração da mulher‖, e, no parágrafo
único do mesmo dispositivo, ―que, divergindo os progenitores quanto ao exercício do
pátrio poder ―prevalecerá a decisão do pai, ressalvado à mãe o direito de recorrer ao
juiz para solução da divergência‖.11

6
RIBEIRO, 2002 apud CORDEIRO, 2016. Ibidem.
7
LEITE, 1991 apud REINALDIN, Juliana. Da evolução do pátrio poder ao poder familiar.
Monografia – Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008. In: TCC On Line. Disponível em:
<http://tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2013/09/DA-EVOLUCAO-DO-PATRIO-PODER-AO-
PODER-FAMILIAR.pdf>. Acesso em: ago 2017.
8
CORDEIRO, Marília Nadir de Albuquerque. A evolução do pátrio poder - poder familiar. In:
Conteúdo Juridico, Brasilia-DF: 22 abr. 2016. Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55706&seo=1>. Acesso em: 21 out. 2017.
9
REINALDIN, Juliana. Da evolução do pátrio poder ao poder familiar. Monografia – Universidade
Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008. In: TCC On Line. Disponível em: <http://tcconline.utp.br/wp-
content/uploads/2013/09/DA-EVOLUCAO-DO-PATRIO-PODER-AO-PODER-FAMILIAR.pdf>.
Acesso em: ago 2017.
10
FACHIN, 2001 apud REINALDIN, 2008. Ibidem.
11
BRASIL. Lei n. 4.121 de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da mulher
13

De acordo com GONÇALVES (2014)12, só com a entrada em vigor da


Constituição Federal de 1988 que a titularidade do poder familiar se tornou igualitária
para ambos os pais. O artigo 226, §5º da Carta Magna assim dispõe: ―Os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher‖.13 Em total consonância a este artigo, diz o artigo 21 do Estatuto da
Criança e do Adolescente que ―o pátrio poder deve ser exercido, em igualdade de
condições, pelo pai e pela mãe, na forma que dispuser a legislação civil, assegurado
a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
judiciária competente para a solução da divergência‖.14
Com o advento do Código Civil de 2002, e a chamada constitucionalização
dos dispositivos normativos, chegou-se ao hoje chamado poder familiar, como citado
alhures. Importante ressaltar que, atualmente, não é a consanguinidade o que
caracteriza e peculiariza uma família, haja vista as possibilidades que a própria
Constituição prescreve, tais como a adoção e a inseminação artificial heteróloga, e
sim a sócio afetividade. 15
Conforme extrai-se do artigo 1.634 do Código Civil,

o exercício do poder familiar inclui, entre outras coisas, dirigir a criação e


a educação dos filhos menores, tê-los em sua companhia e guarda,
conceder ou negar consentimento para casar, representá-los nos atos
da vida civil (como por exemplo, assinar documentos e autorizações) e
reclamá-los de quem os estiver detendo ilegalmente. Inclui, também, o
dever de sustento dos filhos, conforme estabelece o artigo 22 do
Estatuto da Criança e do Adolescente.16

Complementando o já exposto, diz PINTO (2014) que o dever de sustento,


guarda e educação dos filhos são os elementos principais do poder familiar,

casada. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4121.htm>. Acesso


em jun 2017.
12
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família – de acordo
com a Lei n. 12.874/2013. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014.
13
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de
1988. 53. ed., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016.
14
BRASIL. Lei n. 8.069/90, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em
jun 2017.
15
CORDEIRO, Marília Nadir de Albuquerque. A evolução do pátrio poder - poder familiar. In:
Conteúdo Juridico, Brasilia-DF: 22 abr. 2016. Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55706&seo=1>. Acesso em: 21 out. 2017.
16
ZEGER, Ivone. Relação entre pais e filhos. A diferença entre a guarda e o poder familiar. In:
Conjur, outubro 2012. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-out-27/ivone-zeger-
diferenca-entre-guarda-poder-familiar>. Acesso em jun 2017.
14

mantendo relação direta com a solidariedade social prevista no art. 3º, I, da


Constituição Federal de 1988.17
Com relação ao poder de dirigir e cuidar da educação dos filhos, este se
configura como um dos mais importantes, posto que é imperioso que os pais se
certifiquem de, além de velar pelo sustento dos filhos, conforme consta do art. 22 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (―Aos pais incumbe o dever de sustento,
guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a
obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.‖)18, cuidar para que
eles se tornem úteis tanto para si quanto para aqueles que o cercam, assim como
para a sociedade de modo geral. Conforme GONÇALVES (2014), o encargo
envolve, pois, além do zelo material, para que o filho fisicamente sobreviva, também
o moral, para que, por meio da educação, forme seu espírito e seu caráter. 19
Acrescenta-se que, conforme Enunciados 112 da I Jornada de Direito Civil20 e 344
da IV Jornada de Direito Civil21, a obrigação alimentar originada do poder familiar,
especialmente para atender às necessidades educacionais, pode não cessar com a
maioridade, pois, ainda que expressamente convencionado, o juiz deve ouvir os
interessados, apreciar as circunstâncias do caso concreto e obedecer ao princípio
rebus sic stantibus.
Em se tratando do poder de guarda, cabe salientar que este se resume a um
dever-direito de ambos os genitores, em situação de igualdade, conforme art. 1566,
IV, do CC (“Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: … IV - sustento, guarda
e educação dos filhos”)22 No caso de os pais estarem separados de fato, é prática
comum que o filho fique com aquele em que já se encontrava, até que, no momento
do processo de divórcio, o juízo decida o que for melhor para o menor em questão.
O artigo 1.631 do CC expõe de forma clara a ideia de isonomia entre os

17
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. – 5.ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2014.
18
BRASIL. Lei n. 8.069/90, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em
jun 2017.
19
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família – de acordo
com a Lei n. 12.874/2013. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014.
20
Enunciado 112, I Jornada de Direito Civil, Conselho da Justiça Federal. Disponível em:
<http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/748>. Acesso em jun 2017.
21
Enunciado 344, IV Jornada de Direito Civil, Conselho da Justiça Federal. Disponível em:
<http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/394>. Acesso em jun 2017.
22
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
15

genitores no tocante ao poder familiar, pois enuncia que

durante o casamento ou união estável compete o poder familiar aos


pais. Na falta ou impedimento de um deles, o outro exercerá esse poder
com exclusividade. Em caso de eventual divergência dos pais quanto ao
exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer um deles recorrer
ao juiz para a solução do desacordo.23

Segundo GONÇALVES (2014), o artigo acima vem sofrendo críticas ao


vincular o poder familiar ao casamento, porém, não necessariamente o poder
decorre dessa instituição. Ademais, em se tratando de união estável, não vigora a
presunção de paternidade, importando que haja o reconhecimento da filiação
jurídica pelo genitor. Acrescenta o autor que, ainda que o referido artigo não traga de
modo expresso a pluralidade de tipos familiares que a Constituição abarca, implícita
ou explicitamente, este deve ser interpretado de modo abrangente, ou seja, é
direcionado a todo aquele que se identifica como pai ou mãe do menor. 24

1.1.1 Perda do poder familiar

O poder familiar possui as seguintes características: é irrenunciável,


irrevogável, intransferível, inalienável e imprescritível, sendo vedado aos pais
renegarem esse ônus imposto pelo Estado, conforme elucida PINTO (2014) 25.
No entanto, nada impede que o genitor venha a perder esse dever-direito. Na
seção III do Capítulo V do Código Civil tem-se as hipóteses de extinção ou
suspensão do poder familiar. Importante salientar que, por estar ligado à relação
entre pais e filhos, a separação, o divórcio ou o fim da união estável, não tem o
condão de extinguir o poder familiar. Tal afirmação se encontra de forma expressa no
referido codex, no artigo 1.632: ―A separação judicial, o divórcio e a dissolução da
união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito,
que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos.‖ 26. De acordo

23
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
24
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família – de acordo
com a Lei n. 12.874/2013. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014.
25
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. – 5.ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2014.
26
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
16

com ZEGER, a única mudança diz respeito a uma das atribuições do poder familiar
— a guarda —, que passa a ser unilateral, quando concedida a um dos pais, ou
compartilhada, quando concedida ao pai e a mãe. 27
Com relação às formas de extinção do poder familiar, assim diz o Código
Civil:

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.28

Em se tratando de perda ou suspensão, essa são as formas mais gravosas


de sanção imposta pelo Estado aos pais que faltarem com os deveres em relação
aos filhos.29 Tais penas encontram-se disciplinadas no Cód. Civil nos artigos 1.637 e
1.638, que assim diz:

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos


deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz,
requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que
lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até
suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar
ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de
crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.30

Nesse sentido:

27
ZEGER, Ivone. Relação entre pais e filhos. A diferença entre a guarda e o poder familiar. In:
Conjur, outubro 2012. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-out-27/ivone-zeger-
diferenca-entre-guarda-poder-familiar>. Acesso em jun 2017.
28
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
29
STRAZZI, Alessandra. Guarda, poder familiar e alienação parental. In: Jus Brasil. Disponível
em: <https://alestrazzi.jusbrasil.com.br/artigos/112348733/guarda-poder-familiar-e-alienacao-
parental>. Acesso em jun 2017.
30
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
17

APELAÇÃO CÍVEL. INFÂNCIA E JUVENTUDE. AÇÃO DE


DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. - PROCEDÊNCIA NA ORIGEM.
RECURSO DO GENITOR.
(1) ADMISSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREPARO. JUSTIÇA
GRATUITA. MÉRITO RECURSAL. POSSIBILIDADE. REQUISITOS.
PREENCHIMENTO. - Sendo o pedido de concessão das benesses da
gratuidade da Justiça objeto do mérito recursal, é dado ao recorrente,
por ocasião da interposição do reclamo, deixar de recolher o preparo
comumente devido - Presentes os elementos exigíveis, e nada
contraindicando o deferimento da pretensão, impõe-se a concessão da
graça.
(2) NEGLIGÊNCIA REITERADA. ACERVO PROBATÓRIO ROBUSTO.
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. DECISÃO ACERTADA - A
destituição do poder familiar, apesar de medida extrema, mostra-se
recomendável quando o quadro probatório demonstra histórico familiar
de risco e de reiterada falta de adesão a todos os programas e
acompanhamentos propostos.
(3) FAMÍLIA ESTENDIDA. ENVOLVIMENTO REITERADO COM A
CRIMINALIDADE. AMBIENTE CONTRAINDICADO - Não havendo no
horizonte familiar qualquer perspectiva de amadurecimento, de
estruturação, de mudanças significativas e consistentes, a inclusão da
criança em família substituta é medida que melhor atende ao seu
interesse. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.31 (grifado)

De acordo com entendimento do art. 1.634, IX, CC, compete aos pais exigir
que os filhos lhe prestem obediência, respeito e os afazeres correspondentes à sua
idade. No entanto, para tal, é vedado qualquer tipo de maus-tratos ou atitudes de
cunho ditatorial, posto que configuram abuso de direito, podendo ser causa de
efeitos pertinentes à responsabilidade civil (arts. 187 e 927 do CC). Conforme
explicita TARTUCE (2014), como consequência, além da suspensão ou destituição
do poder familiar, o pai ou a mãe poderá ser condenado a pagar indenização por
danos morais aos filhos se os maus-tratos estiverem presentes.32 Ademais,

os pais não podem explorar economicamente os filhos, exigindo-lhes


trabalhos que não são próprios de sua idade ou formação. Como se
sabe, a exploração do trabalho infantil é um mal que assola todo o País.
Em casos de abuso, mais uma vez, o poder familiar pode ser suspenso
ou extinto, cabendo também a aplicação das regras da responsabilidade
civil (art. 187 c/c o art. 927 do CC).33

ANDRADE (2017)34 aduz que a suspensão pode ser pleiteada por qualquer

31
TJ-SC - AC: 09000226520178240043, Relator: Henry Petry Junior, Data de Julgamento:
30/01/2018, Quinta Câmara de Direito Civil, Data da Publicação: 30/01/2018.
32
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 4. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.
33
Idem. Ibidem.
34
ANDRADE, Edilene Pereira de. Extinção, suspensão e perda do poder familiar. In: DireitoNet.
18

parente ou pelo Ministério Público, cabendo ao juiz adotar as medidas que melhor
atenda a segurança do menor e de seus bens, suspensão esta que pode ser em
relação a um dos filhos, ou a todos, na hipótese de mais de um filho. Complementa a
autora que esta sanção pode ser revista pelo juízo ou parte interessada quando
houver mudança na situação fática que a causou e que, na possibilidade de se
retomar os laços de afeto entre pais e filhos, a suspensão deve ser a pena aplicada,
em detrimento da perda.

1.2 Guarda

Nesse tópico será abordado o instituto da guarda inerente à autoridade


parental exercida pelos pais. Como já dito anteriormente, a guarda é, ao mesmo
tempo, dever e direito dos pais. Sustenta GONÇALVES (2014) 35 que ―a cada um dos
pais e a ambos simultaneamente incumbe zelar pelos filhos, provendo à sua
subsistência material, guardando-os ao tê-los em sua companhia e educando-os
moral, intelectual e fisicamente, de acordo com suas condições sociais e
econômicas.‖
Este zelo para com os filhos deve existir tanto na constância da união dos
pais como na hipótese de vivência em separado, de acordo com o art. 1.632 do CC
(―A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as
relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de
terem em sua companhia os segundos.‖).36 PEREIRA (2017) preconiza que, ainda
que os pais estejam separados, estes devem ter a consciência que possuem
responsabilidades para com o desenvolvimento dos filhos, e que, para tal, é
necessário que haja entendimento entre ambos, evitando desavenças e disputas.
Importa dizer que, independente da forma de convivência existente entre genitores e
filhos, é direito da criança o convívio pleno com os pais, incluindo, também, o
37
pernoite na casa do genitor não guardião.

09 abr. 2017. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/9860/Extincao-


suspensao-e-perda-do-poder-familiar>. Acesso em jul 2017.
35
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família – de acordo
com a Lei n. 12.874/2013. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014.
36
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
37
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil – Vol. V / Atual. Tânia da Silva
Pereira. – 25. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
19

O tema Guarda encontra-se disposto no Código Civil no Cap. IX (Da Proteção


da Pessoa dos Filhos), e, conforme o art. 1.583:

Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.


§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos
genitores ou a alguém que o substitua e, por guarda compartilhada a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e
da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder
familiar dos filhos comuns.
§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve
ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo
em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:
§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia
dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos.
§ 4o (VETADO).
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a
supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão,
qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar
informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em
assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física
e psicológica e a educação de seus filhos.(grifado)38

É sabido que há tempos, na ocorrência de divórcio ou separação, a culpa


deixou de ser um fator decisivo para designação da guarda do filho menor, como
consta no art. 10 da Lei do Divórcio (Lei n.º 6.515/1977)39. Nas palavras de
GONÇALVES (2014)40, mesmo que a mãe seja considerada culpada pela
separação, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos menores, se estiver
comprovado que o pai, por exemplo, é alcoólatra e não tem condições de cuidar
bem deles. Ou seja, o que interessa é saber quem terá melhores condições morais e
psicológicas para obter a guarda, independentemente da aferição da culpa no fim da
relação conjugal. Conforme exemplifica GAGLIANO;PAMPLONA FILHO (2012) em
sua obra, se, no curso do processo judicial em que se discute a guarda dos filhos
(...) em procedimento de divórcio, (...) ficar demonstrado que o genitor tem melhores

38
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
39
BRASIL. Lei n. 6.515/77. Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do
casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6515.htm>. Acesso em jul 2017.
40
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família – de acordo
com a Lei n. 12.874/2013. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014.
20

condições para o exercício da guarda, poderá obter o deferimento da mesma.41


Salienta-se que, conforme o autor42 o deferimento dessa guarda unilateral só será
possível depois de esgotada a tentativa de implementação da guarda compartilhada.
Diz VENOSA (2011)43 que em princípio, cabe aos pais dispor e acertar sobre a
guarda dos filhos, sua forma de convivência, educação, convívio familiar etc. No
entanto, frisa-se que o sistema preferencial adotado é o da guarda compartilhada,
também chamada de guarda conjunta, haja vista ser esse o método onde melhor se
mantém a convivência com ambos os pais.
Nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


GUARDA. DETERMINAÇÃO DE GUARDA COMPARTILHADA.
ALIENAÇÃO PARENTAL. NÃO COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA DE
FATOS IMPEDITIVOS AO COMPARTILHAMENTO DO CONVÍVIO.
PERIGO DE DANO AO MENOR. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.
1. Em se tratando de ação em que se pretende a estipulação de guarda
de menor, a regra no Direito pátrio é a do compartilhamento, que pode
ser afastado em caso de recusa ou comprovada prática de alienação
parental.
2. Ausentes nos autos quaisquer provas de eventual alienação parental
e estando ambos os pais aptos a exercer o poder familiar, é imperioso
que se mantenha a decisão de piso que determinou a guarda em sua
forma compartilhada, nos termos do art. 1.584, § 2º, do Código Civil.
3. Recurso conhecido e não provido, em consonância com o Parquet.
44
(grifado)

Para FARIAS;ROSENVALD (2015)45 através desse sistema, impede-se que a


dissolução da união macule o vínculo paterno-filial ao manter-se a proximidade,
privilegiando os interesses infanto-juvenis sobre os seus particulares.

Cuida a guarda compartilhada, ou joint custody como dizem os norte-


americanos, da ―possibilidade de os filhos de pais separados (rectius,
divorciados) serem assistidos por ambos os pais. Nela, os pais têm
efetiva e equivalente autoridade legal, não só para tomar decisões
importantes quanto ao bem-estar de seus filhos, como também de

41
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 6 :
Direito de família — As famílias em perspectiva constitucional.2. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo : Saraiva, 2012.
42
Idem. Ibidem.
43
VENOSA, Sílvio de Salvo. Código civil interpretado. - 2. ed. - São Paulo: Atlas, 2011.
44
TJ-AM 40015265320178040000, Relator: Maria das Graças Pessoa Figueiredo, Data de
Julgamento: 06/08/2017, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: 06/08/2017.
45
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias, volume 6
– 7. ed. rev. ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015.
21

conviver com esses filhos em igualdade de condições‖46

Acerca das modalidades de guarda, assim dispõe o Cód. Civil:

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles,
em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união
estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho,
ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com
o pai e com a mãe.
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder
familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do
menor.47(grifado)

Ainda que seja considerada a melhor opção, nem sempre a guarda


compartilhada é escolhida, muito em razão de separações conflituosas.

―Isso significa que a princípio, quando no fervor do rompimento da


convivência conjugal, pode não ser o melhor momento para a guarda
compartilhada ou para um compartilhamento mais amplo. Após algum
tempo, serenados os ânimos entre os interessados, aguarda
compartilhada pode surgir como uma solução natural. Compartilhar
deveres e obrigações por parte de pais separados em relação aos filhos
significa manter os elos de afeto com maior presença na vida dos
menores.‖48

Acerca do tema:

GUARDA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. PROTEÇÃO


INTEGRAL. GUARDA COMPARTILHADA. INAPLICÁVEL.
PRESERVAÇÃO DA ESTABILIDADE DO MENOR. AUSÊNCIA DE
DIÁLOGO E COOPERAÇÃO ENTRE OS GENITORES. SENTENÇA
MANTIDA.
1. Não há cerceamento de defesa quando os documentos juntados aos
autos mostraram-se suficientes para a apreciação da lide, assim como
para firmar a livre convicção do julgador.
2. As questões que envolvam guarda e visita sempre devem ser
analisadas buscando atender o melhor interesse da criança,
entendimento este consagrado pela doutrina, jurisprudência e pela
própria legislação.
3. A aplicação do instituto da guarda compartilhada deve se submeter ao
princípio da proteção integral da criança, previsto no art. 227, caput, da
Constituição Federal, ou seja, a guarda compartilhada deverá ser
aplicada quando restar assegurada a criança a sua segurança física,
emocional e afetiva.
4. As informações extraídas do laudo de estudo psicossocial apontam
que a guarda compartilhada não seria recomendada no momento, pois

46
RAMOS apud FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Ibidem.
47
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
48
VENOSA, Sílvio de Salvo. Código civil interpretado. - 2. ed. - São Paulo: Atlas, 2011.
22

além de os genitores não possuírem relacionamento amigável, a criança


iniciou convívio com o pai há pouco tempo e o relacionamento ainda
precisa de amadurecimento.
5. Recurso conhecido e desprovido. 49 (grifado)

DIVÓRCIO LITIGIOSO. DECISÃO QUE FIXOU A GUARDA


COMPARTILHADA ALTERNADA. IRRESIGNAÇÃO DE AMBAS AS
PARTES. PRETENSÃO DA GENITORA. GUARDA UNILATERAL.
POSSIBILIDADE. REVERSÃO QUE SE MOSTRA, POR ORA, MAIS
APROPRIADA AO CASO. RESGUARDADO O DIREITO DE VISITAS
AO GENITOR. Nas ações em que está em conflito o interesse de
criança e adolescente, é de rigor que se reconheça a preponderância
dos interesses deles, quando em confronto com quaisquer outros, de
molde a conferir seu pleno desenvolvimento afetivo, psíquico e físico. As
provas colacionadas evidenciam que, por ora, a guarda unilateral
materna mostra-se mais adequada em prol da menor, resguardando-se
o direito de visitas ao genitor. AGRAVO DA GENITORA PROVIDO E DO
GENITOR NÃO PROVIDO.50 (grifado)

A ideia é que os pais decidam a melhor maneira de ajustar o convívio, porém,


se necessário, a intervenção judicial suprirá as decisões quando faltar ao pais o bom
senso. VENOSA (2011) pontua que importa aos pais separados participar da
educação, convivência e evolução dos filhos em conjunto. Complementa o autor que
a convivência também se estende a outros parentes e ao magistrado cabe levar em
conta esses laços de afetividade, podendo conceder o direito de visitas àqueles que
51
se encontrem emocionalmente ligados ao menor.

2. ALIENAÇÃO PARENTAL

A Constituição Federal, em seu artigo 226, §7º, que o planejamento familiar é


de livre decisão do casal, sempre levando em conta preceitos da dignidade de
pessoa humana e da paternidade responsável. 52
Na esteira deste dispositivo constitucional, criou-se a Lei nº 12.318/201053,

49
TJ-DF 20171410014885 - Segredo de Justiça 0001404-82.2017.8.07.0014, Relator: DIAULAS
COSTA RIBEIRO, Data de Julgamento: 22/02/2018, 8ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação:
Publicado no DJE : 26/02/2018.
50
TJ-SC - AI: 40017901520178240000 Joinville 4001790-15.2017.8.24.0000, Relator: Gilberto
Gomes de Oliveira, Data de Julgamento: 25/05/2017, Quarta Câmara de Direito Civil , Data de
Publicação: 25/05/2017.
51
VENOSA, Sílvio de Salvo. Código civil interpretado. - 2. ed. - São Paulo: Atlas, 2011.
52
―Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o
planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por
parte de instituições oficiais ou privadas.‖ BRASIL. Constituição da República Federativa do
Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 53. ed., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016.
53
BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o
23

que dispõe sobre a alienação parental, prática induzida ou promovida por um dos
genitores ou por quem detenha a guarda do menor, que influencia na sua formação
psicológica, para que repudie genitor ou cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este (art. 2º, Lei 12.318/2010).
No tocante às relações familiares, estas fundam-se em princípios, tais como a
solidariedade, a boa-fé e, conforme expõe FARIAS;ROSENVALD (2015) em sua
obra, também na confiança, entendida pelo Direito das Família como afeto. Segundo
o autor,

―o afeto caracteriza a entidade familiar como uma verdadeira rede de


solidariedade, constituída para o desenvolvimento da pessoa, não se
permitindo que uma delas possa violar a natural confiança depositada
por outra, consistente em ver assegurada a dignidade humana,
assegurada constitucionalmente. E mais: o afeto traduz a confiança que
é esperada por todos os membros do núcleo familiar e que, em
concreto, se materializa no necessário e imprescindível respeito às
peculiaridades de cada um de seus membros, preservando a
imprescindível dignidade de todos.”54

Com relação à boa-fé, esta se traduz como a realização desta confiança


(afeto) na seara das relações jurídicas, tanto no que se refere às questões
patrimoniais (boa-fé objetiva) quanto no que diz respeito às questões de caráter
pessoal (boa-fé subjetiva). Ou seja, nas relações familiares é de se esperar um
tratamento ético e coerente para o desenvolvimento da personalidade e a realização
pessoal daqueles que compõem a entidade familiar.55
Extrai-se desses princípios que, a falta do afeto, ou mesmo seu término, como
nos casos de separação, não pode ser causa de algum comportamento contrário ao
Direito. E é disso que se trata a questão da alienação parental, uma manifestação de
atitudes, por vezes impensadas, que trazem consequências enormes tanto
psicológicas quanto materiais e jurídicas no âmbito familiar.

art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 12 dez
2016.
54
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias, volume 6
– 7. ed. rev. ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015.
55
Idem. Ibidem.
24

2.1 Generalidades e Síndromes Relacionadas à Alienação Parental

A alienação parental encontra-se disciplinada no ordenamento brasileiro na


Lei 12.318/2010 e, seu art. 2º, traz a seguinte definição:

―Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente
sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos
com este.‖56

Essa constante interferência psicológica por parte de um dos genitores pode


levar à chamada Síndrome da Alienação Parental (SAP), que acarreta prejuízos
enormes no desenvolvimento da criança e do adolescente, e não se confunde com a
alienação. Enquanto esta última se refere ao ato do genitor-guardião afastar o outro
genitor, de forma voluntária, aquela está ligada ao processo patológico que provoca
sequelas emocionais e influencia no comportamento da criança. No entanto,
ressalta-se que, mesmo sendo voluntária, a conduta do alienador, eventualmente
não é por ele constatada, haja vista tratar-se, entre outros motivos, de um
―direcionamento equivocado das frustrações decorrentes do rompimento afetivo com
o outro genitor.‖57
Conforme XAXÁ (2008)58, ―A Síndrome de Alienação Parental diz respeito aos
efeitos emocionais e as condutas comportamentais desencadeados na criança que é
ou foi vítima desse processo. Grosso modo, são as sequelas deixadas pela
Alienação Parental.‖.
Por vezes, em situações de divórcio conturbado, o genitor-guardião utiliza-se
de vários artifícios para manter a criança afastada, tais como mudança de cidade,
atividades em demasia para manter o filho ocupado, ou até mesmo a produção de
falsas memórias, geralmente negativas, acerca de seu outro progenitor ou parentes

56
BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o
art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 12 dez
2016.
57
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
58
XAXÁ, Igor Nazarovicz. A síndrome de alienação parental e o Poder Judiciário. Trabalho de
conclusão de curso (graduação). Universidade Paulista, Brasília, 2008.
25

do mesmo. Essas falsas memórias acontecem quando um dos genitores, com a


ajuda (de forma inocente) do menor, fantasiam histórias que podem gerar conflitos,
inclusive no que diz respeito a denúncias de abuso sexual, que a criança acaba por
se convencer de que de fato aconteceram.59
Diz CALÇADA (2014) que tais artifícios combinam atitudes por parte de um
dos pais e manifestações próprias da criança com o intuito de desprezar o progenitor
alvo das acusações, com posicionamentos de desaprovação, crítica e aversão, por
vezes injustificadas, fazendo com que a criança passe por um processo semelhante
a uma lavagem cerebral.60
Nas palavras de TRINDADE, a SAP pode ser definida como um

transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas


pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador, transforma a
consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e estratégias de
atuação, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus
vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que
existam motivos reais que justifiquem essa condição. Em outras
palavras, consiste no processo de programar uma criança para que
odeie um de seus genitores sem justificativa, de modo que a própria
criança ingressa na trajetória de desmoralização desse mesmo genitor.
Dessa maneira, podemos dizer que o alienador ―educa‖ os filhos no ódio
contra o outro genitor, seu pai ou sua mãe, até conseguir que eles, de
modo próprio, leve a cabo esse rechaço.61

A guarda unilateral favorece o aparecimento da prática da alienação, e,


conforme LOBO, ―muitas vezes, o que fica com a guarda estende sua rejeição não
apenas ao outro, mas aos parentes deste, impedindo ou dificultando o contato do
filho com eles, convertendo-se em verdadeira alienação de todo grupo familiar‖62
CALÇADA (2014) expõe também que uma forma comum de alienação se dá
quando um dos genitores ressalta os defeitos reais do outro, em detrimento de suas

59
CORREIA apud ROCHA, Polianna Ramos de Moraes. A LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL E
SEUS MEIOS PUNITIVOS. Monografia. Curso de Direito. Centro Universitário de Brasília –
UNICEUB. Brasília, 2012.
60
CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso
sexual. Rio de Janeiro : Publit, 2014.
61
TRINDADE apud OLIVEIRA, Mario Henrique Castanho Prado. A alienação parental como
forma de abuso à criança e ao adolescente. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo – USP. São Paulo, 2012.
62
LOBO apud CORREIA, Eveline de Castro. Análise dos meios punitivos da nova lei de
alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 88, maio 2011. Disponível em:
<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9272>. Acesso em 02 jun
2018.
26

virtudes, sendo comum os filhos não terem a percepção de que estão sendo
influenciados negativamente.63
O reconhecimento tardio deste problema acarreta sérios prejuízos à criança.
De acordo com ROCHA (2012), crianças vítimas da SAP podem apresentar
depressão, culpa, transtornos de identidade e imagem, comportamento hostil,
incapacidade de adaptação em ambientes sociais, dentre outros problemas,
podendo chegar ao suicídio.64 Assim como o menor, o núcleo familiar também sofre
prejuízos, sendo necessário que o Estado intervenha, na condição de Estado-juiz,
para apaziguar a situação, fornecendo meios de cuidado e suporte para a criança
alienada, assim como o genitor-vítima da SAP. Conforme expõe
FARIAS;ROSENVALD (2015):

―A apreciação da ocorrência de alienação parental exige especial


prudência e bom--senso pelo magistrado, precisando estar assessorado
de laudos periciais (psicológico, psiquiátrico, psicossocial...), com a
intervenção imprescindível do Promotor de Justiça, velando pelo melhor
interesse infanto-juvenil, não se deixando levar pelas circunstâncias e
alegações formuladas de cada parte – que, invariavelmente, tem uma
visão unilateral e interessada da dissolução do relacionamento.‖ 65

Nesse sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE GUARDA. FILHO MENOR.


ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA RECURSAL. BUSCA E
APREENSÃO NEGADA. CRIANÇA LEVADA PELA GENITORA PARA
RESIDIR EM OUTRA UNIDADE DA FEDERAÇÃO APÓS DIVÓRCIO.
MAUS TRATOS, ALIENAÇÃO PARENTAL E DIFICULDADES EM
MANTER CONTATO. ALEGAÇÕES NÃO COMPROVADAS. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Insurge-se o agravante contra decisão que, em Ação
de Guarda ajuizada em desfavor de sua ex-companheira, indeferiu a
tutela antecipada de busca e apreensão do menor, filho de ambos, com
2 anos e 10 meses de idade, levado para residir com a genitora em
outra unidade da federação após a separação do casal. 2. Menor que se
encontrava sob a guarda de ambos os genitores que viviam sob o
mesmo teto após a separação conjugal. 3. O destinatário final da
doutrina protetiva é a criança e o adolescente e, por isso, a solução
jurídica para as questões relativas à sua guarda deve estar
fundamentada no princípio de seu melhor interesse. 4. A

63
CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso
sexual. Rio de Janeiro : Publit, 2014.
64
ROCHA, Polianna Ramos de Moraes. A LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS MEIOS
PUNITIVOS. Monografia. Curso de Direito. Centro Universitário de Brasília – UNICEUB. Brasília,
2012.
65
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias, volume 6
– 7. ed. rev. ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015.
27

genitora/agravada mudou-se da cidade com o filho em 05/03/2017. A


alegação de maus tratos baseia-se em ficha de atendimento, datada de
8/1/2016, em que a avó paterna noticia ao Conselho Tutelar que foi levar
alimentos e fraldas para a nora, que separou de seu filho há 2 (dois)
meses, e percebeu que a mãe teria batido nele porque não queria
comer. Contudo, da documentação dos autos não se pode extrair
certeza acerca da existência de tais alegações, tampouco de qualquer
documento conclusivo acerca de tal denúncia. 5. Os indícios de estar a
genitora impondo dificuldades ao contato do genitor com o filho constitui
comportamento grave em desfavor dos interesses da criança a ser
sopesado na decisão de concessão da guarda em prol dos genitores,
contudo, não suficiente a, neste momento preliminar, ensejar a busca e
apreensão do infante em outro Estado da federação, onde encontra-se
residindo coma genitora há cerca de seis meses. 6. Recurso do autor
conhecido e desprovido. (grifado)66

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE SUSPENSÃO DO DIREITO


DE VISITAS E ALIENAÇÃO PARENTAL. PROTEÇÃO INTEGRAL DA
MENOR. Diante dos elementos constantes nos autos, verificada que a
visitação, no modelo atual, prejudica a menor, adequada a suspensão
das visitas paternas até nova avaliação psicológica dos genitores e da
criança, a fim de que possa ser regulamentada a visita, atendendo aos
interesses da infante. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(grifado).67

Os estudos sobre Alienação Parental derivaram da tese criada pelo


estadunidense Richard Gardner, em 1985. Tal pesquisador também propôs a
existência da Síndrome da Alienação Parental (SAP) e diz que

―Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos


genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha
nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um
genitor (o que faz a ―lavagem cerebral, programação, doutrinação‖) e
contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo.‖68

FREITAS (2015) relata em sua obra que, a partir dos estudos de Gardner,
outros pesquisadores identificaram os sintomas, porém os nomearam de forma
diferente, como por exemplo Síndrome de SAID – Alegações Sexuais no Divórcio,
onde um genitor incute na cabeça da criança que ela pode ter sofrido algum tipo de

66
TJ-DF 0708923-12.2017.8.07.0000, Relator: CESAR LOYOLA, Data de Julgamento:
18/10/2017, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 26/10/2017.
67
Agravo de Instrumento Nº 70073205395, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 28/06/2017.
68
GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de
Alienação Parental (SAP)? In SAP Síndrome da Alienação Parental, 2002. Tradução para o
português por Rita Rafaeli. Disponível em: <http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-
sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente>. Acesso em 10 jan 2017.
28

abuso, Síndrome da Mãe Maliciosa, que se refere a um castigo praticado contra o


ex-marido ou companheiro na tentativa de dificultar a visitação ao filho, ou ainda
Síndrome de Medeia, que se dá quando os pais em situação de divórcio têm a
imagem dos filhos como extensão deles mesmos.69
Em seus estudos, CALÇADA (2014) também comenta acerca das síndromes
relacionadas à SAP. Acerca da SAID, diz a autora que:

― (…) caracteriza-se pela repetição por parte da criança de tudo o que


um progenitor diz sobre o outro, adotando, inclusive, a terminologia dos
pais e se referindo a situações que o filho diz recordar, mas que de fato
não ocorreram. (…) a acusação ocorre no período da separação,
concomitantemente às ações legais.‖ 70

Tal manifestação da síndrome pode ser facilmente identificável em crianças


de pouca idade, pois, na campanha difamatória, acabam por usar expressões e
vocabulários de forma reflexa, repetindo o discurso do genitor alienador, e que não
condizem com sua idade e desenvolvimento.
Sobre a Síndrome da Mãe Maliciosa, a mesma autora explica que esta é
observada quando se notam campanhas pessoais de difamação, por parte da
mulher, propagando falsas declarações acerca dos filhos e dela própria. 71
Conforme expõe ROSA (2008)72, a partir de 2001 a pesquisa começou a ser
difundida pela Europa através de François Podevyn e, em seus trabalhos, Podevyn
esclarece que geralmente a síndrome se manifesta mais no ambiente familiar da
mãe, pois, historicamente, a guarda era concedida a esta.
De acordo com PODEVYN,

―A Síndrome se manifesta, em geral, no ambiente da mãe das crianças,


notadamente porque sua instalação necessita muito tempo e porque é
ela que tem a guarda na maior parte das vezes. Todavia pode se
apresentar em ambientes de pais instáveis, ou em culturas onde
tradicionalmente a mulher não tem nenhum direito concreto‖73

69
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
70
CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso
sexual. Rio de Janeiro : Publit, 2014.
71
Idem. Ibidem.
72
ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos de separações
judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito. PUCRS, Porto Alegre, 2008.
73
PODEVYN apud ROSA. Ibidem.
29

Em se tratando do cenário brasileiro, diz FREITAS (2015) que o tema


começou a ter maior atenção do Judiciário a partir de 2003, ano em que começaram
a aparecer julgados tratando da SAP, muito em razão da participação de equipes
multidisciplinares nas lides de família, e da divulgação de pesquisas oriundas do
IBDFAM – Instituto Brasileiro do Direito de Família ou da APASE – Associação dos
Pais e Mães separados.74
Com o advento da Lei 12.318/2010, o assunto teve seu debate ampliado e,
entende ZAMATARO (2013) que tal ―lei surgiu da necessidade, de se conferir
maiores poderes, aos juízes, a fim de se preservar direitos fundamentais da criança
e do adolescente, vítimas de abusos causados por seus responsáveis, punindo ou
inibindo eventuais descumprimentos dos deveres inerentes à autoridade parental,
[...].‖75.

2.2 Principais apontamentos sobre a Lei 12.318/2010

Como já exposto em tópicos anteriores, entende-se que a lei que versa sobre
a alienação parental veio para, além de conceituar tal instituto, sinalizar meios de
observação da ocorrência deste, assim como estabelecer formas de sanção em
quem pratica, com intuito de combater esse problema, há muito presente no âmbito
do direito das famílias.
Através do Projeto de Lei n.º 4053/2008, de autoria do Deputado Regis de
Oliveira (SP), iniciou-se a regulamentação da lei em comento. Em sua exposição de
motivos, preocupou-se o deputado em explicar que a alienação

―É forma de abuso emocional, que pode causar à criança distúrbios


psicológicos (por exemplo, depressão crônica, transtornos de identidade
e de imagem, desespero, sentimento incontrolável de culpa, sentimento
de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla
personalidade) para o resto de sua vida.‖ (…) merece reprimenda estatal
porquanto é forma de abuso no exercício do poder familiar, e de
desrespeito aos direitos de personalidade da criança em formação.76

74
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
75
ZAMATARO, Yves A. R. A alienação parental no Direito brasileiro. In Migalhas, 2013.
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI178383,21048-
A+alienacao+parental+no+Direito+brasileiro>. Acesso em 15 jan 2017.
76
BRASIL. Projeto de Lei n. 4053/2008. Dispõe sobre a alienação parental. In: Câmara dos
Deputados. Disponível em:
30

Após tramitar no Senado Federal como PL 20/2010, o projeto foi aprovado em


caráter terminativo em 14/07/2010, tendo a Lei entrado em vigor no dia 26/08/2010.
O art. 2º da lei, citado alhures, traz o conceito de alienação e, em seu
parágrafo único, um rol de situações em que a prática se faz presente – vale dizer
que tal rol não é exaustivo, tampouco se restringe aos genitores, podendo se
estender a todo aquele que possui autoridade parental ou afetiva para com o menor:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental,


além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no
exercício da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança
ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,
com familiares deste ou com avós. 77

Também pode-se considerar alienação quando há recusa em passar as


chamadas telefônicas ou a agenda semanal do filho, com o intuito de dificultar a
aproximação; quando o alienador toma as decisões a respeito da criança sem
consultar o outro genitor; quando se deixa o filho na casa de outras pessoas para
que tomem conta dele, ainda que o outro tenha disponibilidade e queira ficar com a
criança; ou ainda quando há ameaças ao próprio filho caso este se comunique com
o outro genitor.78
Todas as práticas de alienação parental, após o advento da Lei, são

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=84BE0CC6631193A
28C6F6BB10F57A276.proposicoesWebExterno2?codteor=601514&filename=PL+4053/2008>.
Acesso em: 15 mai 2018.
77
BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o
art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 12 dez
2016.
78
MOTTA apud FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010.
4. ed. rev. atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
31

apontadas como atos ilícitos, eis que contrariam o ordenamento jurídico vigente,
conforme o art. 187 do CC (―também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes‖).79 O art. 3º da lei 12.318/2010 reforça a
ideia de ser uma conduta ilícita e abusiva, o que justifica, de acordo com FREITAS
(2015) uma propositura de ação por danos morais contra o alienante, além de outras
sanções, de cunho inibitório ou ressarcitório.80 Acrescenta-se que o art. 6º da lei em
estudo traz um rol exemplificativo de meios punitivos que o juízo pode se valer para
coibir tais atos.
Diz assim os artigos da Lei 12.318 supracitados:

Art. 3º. A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da


criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a
realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar,
constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e
descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou
decorrentes de tutela ou guarda.

Art. 6º. Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer


conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com
genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá,
cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade
civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos
a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor
alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou
adolescente;
VII - declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,
inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá
inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da
residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de
convivência familiar.81

79
BRASIL. Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Supervisão editorial Jair Lot
Vieira – São Paulo: Edipro, 2017.
80
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
81
BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o
art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 12 dez
2016.
32

Ao conceber a figura jurídica do Abuso Moral, no art. 3º, fica claro que o ato
de alienação gera dano moral, tanto para o menor quanto para o genitor alienado,
sendo ambos titulares desse direito.82
O disposto nos artigos 4º e 5º da lei trazem informações de como proceder
quando há indícios de alienação parental. No 4º, o legislador assegura que
magistrados ou representantes do Ministério Público, ao identificarem a prática,
devem promover a tramitação prioritária do processo, além de viabilizar medidas
garantidoras dos direitos do menor e defesa do genitor alienado. 83 Diz FREITAS
(2015) que comumente, os indícios de alienação só são percebidos quando se
verificam que acusações graves, como abuso sexual, se mostram falsas. Na
ocorrência de tais acusações, o juízo, ainda que desconfie da veracidade, deve
prezar pelo melhor interesse do menor. Nesse diapasão, cumpre dizer que deve-se
assegurar a manutenção da convivência entre a criança e o acusado, até que se
comprove a autenticidade das denúncias.84
No entanto, como bem observa OLIVEIRA (2012), o Estatuto da Criança e do
Adolescente, em seus artigos 24 e 22 traz expresso que, nos casos em que haja
descumprimento injustificado dos deveres de guarda, educação e sustento para com
os menores, serão decretados judicialmente a perda ou suspensão do poder
familiar.85

―Dessa forma, muito embora a Lei de Alienação Parental determine


apenas a possibilidade de suspensão da autoridade parental (art. 6º,
VII), parece perfeitamente plausível a eventual aplicação da pena de
perda do poder familiar – se tal medida de fato for necessária à proteção
dos melhores interesses dos filhos menores.‖86

Já no art. 5º, existe a previsão de determinação, pelo juízo, de perícia


biopsicossocial ou psicológica para averiguação da prática de alienação parental.
Salienta-se que o próprio dispositivo traz a necessidade de equipe multidisciplinar
para tratar desses casos, haja vista o julgador, por si só, não possuir conhecimento

82
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
83
Idem. Ibidem.
84
Idem. Ibidem.
85
OLIVEIRA, Mario Henrique Castanho Prado. A alienação parental como forma de abuso à
criança e ao adolescente. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo – USP. São Paulo, 2012.
86
Idem. Ibidem.
33

técnico para tal:

Art. 5º. Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em


ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia
psicológica ou biopsicossocial.
§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou
biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista
pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do
relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes,
avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a
criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação
contra genitor.
§ 2º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar
habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico
profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a
ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para
apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização
judicial baseada em justificativa circunstanciada. (grifado) 87

Em seus últimos artigos, a lei faz menção à questão da guarda e da


competência de foro das ações fundadas em direito de convivência familiar. O art.
7º, não obstante a guarda compartilhada ser o método que melhor se coaduna ao
interesse do menor, como explicado no capítulo 1 deste trabalho, traz a possibilidade
da modalidade de guarda unilateral, quando aquela não se mostra possível (Art. 7º:
A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza
a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses
em que seja inviável a guarda compartilhada.)88
Por fim, diz o art. 8º: A alteração de domicílio da criança ou adolescente é
irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em
direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores
ou de decisão judicial.89
Explica FREITAS (2015) que a alteração de domicílio a que o artigo se refere
é aquela decorrente da prática de alienação parental, e que tal artigo deve ser
interpretado em conjunto com o inciso VI do art. 6º da mesma lei, que traz a
possibilidade de o juiz determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou

87
BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o
art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 12 dez
2016.
88
Idem. Ibidem.
89
Idem. Ibidem.
34

adolescente.90

3. CASOS REAIS, CONSEQUÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL E O


PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

3.1 Casos Reais

A doutrina e a jurisprudência do direito brasileiro abordam situações diversas


da ocorrência de alienação parental.
Em sua obra ―Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de
abuso sexual‖, CALÇADA (2014) expõe alguns casos concretos que chegaram ao
judiciário. Os nomes foram preservados, em respeito às famílias envolvidas. Em
comum, todos apresentam denúncias graves de abuso sexual, que, no entanto,
eram infundadas.

Caso 1: Fatos sobre um casal que estava junto há 7 anos, com duas filhas, e que
viviam num ambiente conturbado, muito em razão do ciúme excessivo da mulher,
que chegava, inclusive, às vias de fato. CR., o esposo, desejava a separação,
porém, adiava esse momento por causa das filhas. Quando tomou a iniciativa de sair
de casa, foi impedido pela ex-mulher de ver as filhas por 6 meses. Em razão dessa
recusa, procurou o judiciário para ter seu direito de convivência resguardado. A mãe
das meninas compareceu, então, a uma delegacia e acusou o genitor de abuso
sexual. Na própria delegacia onde ocorreu a denúncia, uma das filhas foi submetida
a uma suposta avaliação psicológica e, sem a oitiva do pai, um inquérito foi
instaurado. CR. foi denunciado e, por 8 anos, não teve contato com as filhas. Os
avós paternos tentaram, em vão, manter a convivência com as crianças, mas a mãe
colocou empecilhos, chegando até a fugir para outro estado. Tempos depois, foram
localizadas e os avós conseguiram, então, o direito à visitação. O vínculo com o pai,
contudo, foi destruído, mesmo após sua absolvição.91

Caso 2: O caso em comento trata de A., um pai que, após o divórcio, encontrou

90
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
91
CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso
sexual. Rio de Janeiro : Publit, 2014.
35

dificuldades para manter a convivência com sua filha, pois as visitas sempre eram
motivos de brigas e discussões. Procurou, então, o judiciário para que os encontros
fossem regulamentados. A. fora denunciado por abuso sexual, sem que fosse ouvido
e, por 6 anos, foi impedido de ver a filha. A menina, já adolescente, se recusava a
encontrá-lo e sofria de depressão, obesidade e diabetes.92

Caso 3: Conta o acontecido com V. casado há 20 anos e que tinha dois filhos (à
época) adolescentes. Após envolver-se com F., saiu de casa, porém o
relacionamento com a nova companheira não deu certo e, V., acabou voltando para
casa, com a intenção de reatar o casamento. Ocorre que F. engravidou durante o
relacionamento e, com isso, V., ainda que quisesse, não voltou para a ex-mulher
naquele momento. Quando a criança nasceu, V. a assumiu, contudo, desde o
primeiro instante enfrentou dificuldades para estar com a filha. Nesse ínterim, reatou
o casamento e a convivência com a filha menor se tornou ainda mais difícil, pois F.
alegava que a primeira esposa poderia atentar contra a criança e boicotava diversas
formas de visita, o que levou V. a ajuizar uma ação de regulamentação. Durante o
processo, F. tentou denegrir a imagem do pai e de sua família, e vendo que não
surtia o efeito esperado, o acusou de abusar sexualmente da filha. O juiz não se
convenceu e, então, F. ajuizou ação cautelar para suspender a visitação paterna,
anexando um laudo psicológico acusando o pai de abuso, sem que este fosse
ouvido. O juízo suspendeu as visitações e pediu abertura de inquérito policial. V. foi
inocentado após 2 anos, tempo em que ficou sem contato com a filha, o que deixou
o vínculo entre eles abalado.93

Esses três casos mostram que a prática da alienação parental está


correlacionada, geralmente, a uma mudança na situação familiar, seja nos casos de
divórcio conturbado, de um novo casamento, ou até mesmo nas ações revisionais de
regulação de visitas ou alimentos. Por isso se faz tão necessária a atuação conjunta
de outras ciências, como a Psicologia, ou Psicanálise, para, juntamente ao Direito,
identificar os indícios de alienação e auxiliar todos os operadores envolvidos (juízes,

92
CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso
sexual. Rio de Janeiro : Publit, 2014.
93
Idem. Ibidem.
36

promotores, advogados, peritos e partes).94

Nesse sentido:

HABEAS CORPUS – MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA DO


ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – PROIBIÇÃO DE
APROXIMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ENTRE PAI E FILHA – SUPOSTO
ABUSO SEXUAL – ADVENTO DE RELATÓRIO PSICOSSOCIAL DO
JUÍZO DANDO CONTA DE POSSÍVEL ALIENAÇÃO PARENTAL –
MEDIDAS PROTETIVAS QUE PERDURAM POR MAIS DE UM ANO
SEM DENÚNCIA DO PARQUET – CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO – POSSIBILIDADE DE COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE O
DIREITO DE CONVIVÊNCIA COM AMBOS OS PAIS E A PROTEÇÃO À
CRIANÇA – FLEXIBILIZAÇÃO DA MEDIDA DE AFASTAMENTO PARA
PERMITIR VISITAS MONITORADAS, EM JUÍZO, DO PAI À FILHA –
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. Esta Primeira Câmara
Criminal, ao denegar a ordem no Habeas Corpus n.º 4000971-
36.2017.8.04.0000 – que tem as mesmas partes, pedido e causa de
pedir, no entanto, refere-se a ato coator distinto –, deixou consignado
que, em se tratando de suposto delito praticado contra criança, deve-se
garantir, acima de tudo, o bem estar da infante, tendo em vista que o
interesse superior da criança e do adolescente é princípio norteador da
aplicação das medidas específicas de proteção, consoante estabelece o
art. 100, parágrafo único, IV, da Lei 8.069/90. Registrou-se, outrossim,
que o caráter emergencial e cautelar das medidas protetivas dispensaria
maiores elementos de prova acerca de autoria e materialidade delitivas,
sendo suficiente, para sua fixação naquele momento, a palavra da
vítima e o relatório psicossocial elaborado pelo setor competente do
Fórum Henoch Reis, vez que ambos constituíam indicativos da prática
do delito por parte do ora paciente. Por fim, concluiu-se que, dada a
gravidade dos fatos imputados ao paciente, seria prudente aguardar o
desenrolar das investigações – que haviam recém iniciado –, a fim de
que fossem coletados e submetidos ao juízo de origem mais elementos
para a formação da sua convicção a respeito de tais medidas protetivas.
2. Contudo, o cenário processual atual é diferente, na medida em que,
passados mais de um ano desde a imposição das medidas protetivas de
urgência, há nos autos principais poucos elementos justificadores da
manutenção de tais medidas. Tanto é assim que a denúncia sequer foi
oferecida até o presente momento, tampouco as partes envolvidas no
conflito foram ouvidas em juízo. Com efeito, foi lavrado novo relatório
psicossocial pela equipe do juízo, datado de 08 de fevereiro de 2018, no
qual a psicóloga signatária consignou ver com ressalvas a acusação de
abuso sexual. Somado a isso, há o sumário psicossocial elaborado na
Delegacia Especializada (DEPCA), que atestou, à época dos fatos, que
a criança afirmou não ter o pai praticado atos libidinosos. Além disso,
tem-se a manifestação técnica elaborada por psicóloga contratada pela
defesa, em que a profissional reafirma compreensão técnica no sentido
de que se trata de uma falsa acusação, seja por má interpretação da
genitora ou por ato de alienação parental. 3. À vista disso, o
afastamento incondicionado do pai em relação à sua filha não mais se
apresenta razoável. Todavia, o interesse superior da criança deve ser

94
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
37

preservado ante a acusação de delito sexual. Diante deste quadro,


deve-se compatibilizar o direito de proteção à criança com o direito da
convivência familiar com ambos os genitores, admitindo-se, portanto, a
flexibilização das medidas protetivas fixadas na origem, de modo a
garantir ao paciente o direito de visita assistida à sua filha no Setor
Psicossocial Forense do fórum Henoch Reis, nos dias, horários e
condições a serem estabelecidas pelo juízo de origem. 4. Ordem de
Habeas Corpus parcialmente concedida. (grifado)95

Cabe acrescentar que, como o direito reconhece a existência de diferentes


tipos de arranjos familiares, o tema deve ser discutido não só no âmbito das famílias
constituídas por casamento, como nas uniões estáveis, nas famílias socioafetivas e
também nas homoafetivas,

―uma vez que as práticas alienantes dependem tão somente da conduta


de alguém no sentido de interferir negativamente na formação
psicológica da criança, do adolescente ou do jovem, buscando afastá-lo
de algum ente querido, seja ele da família natural, extensa ou substituta,
ou buscando ainda a distorção da imagem deste parente alienado
perante esta criança, adolescente ou jovem.‖96

MOLD (2012) apresentou dois casos norte-americanos em que se constatou a


ocorrência de alienação parental na constância de união homoafetiva.
O primeiro aconteceu no estado de Vermont e, conta o pesquisador, que L.M.
e J.J. eram duas mulheres que mantinham uma relação estável, e celebraram uma
união civil naquele estado. Através de inseminação artificial, L.M. engravidou e, ao
dar a luz, ambas criaram a filha. Ocorreu que L.M. desistiu da relação e mudou-se
com a criança para a Virgínia, impedindo a convivência de J.J. com a filha. O caso
teve notoriedade nacional e a Corte Estadual reconheceu a existência de alienação
parental.97
O segundo caso diz respeito à batalha judicial travada entre M.H., mãe social
e K.M., mãe biológica de L. para que aquela continuasse a participar da vida da filha.
De acordo com MOLD (2012), somente um Juiz da Corte Estadual acatou a tese da
mãe afetiva dizendo que se a genitora natural assume uma relação de co-
parentalidade com outra pessoa e procede desta maneira, cria-se uma relação entre

95
TJ-AM 40050038420178040000 AM 4005003-84.2017.8.04.0000, Relator: João Mauro Bessa,
Data de Julgamento: 04/03/2018, Primeira Câmara Criminal
96
MOLD, Cristian Fetter. A alienação parental nas relações homoafetivas. Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3312, 26 jul. 2012. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/22305>. Acesso em: 26 jun 2018.
97
Idem. Ibidem.
38

a co-parente e a criança, não podendo o genitor natural simplesmente declarar que


o relacionamento acabou.‖98

3.2 Consequências da Alienação Parental

As práticas alienantes podem gerar consequências, por vezes, irreversíveis,


tanto psicologicamente, como socialmente, principalmente no que diz respeito à
convivência do menor com o genitor alienado.
Conforme explicita CORRÊA (2015), a criança pode apresentar sentimentos
diversos como tristeza, raiva, mágoa, tanto contra o genitor quanto em relação à
família deste, além de recusar qualquer contato ou comunicação entre eles. O menor
pode desenvolver sentimentos não verdadeiros ou negativos acerca do genitor
vítima, e pode, além disso, desenvolver sintomas de depressão, ansiedade, pânico,
entre outros.99
Em contrapartida, o sentimento do genitor alienador é de alegria, sem
sentimento de culpa, ainda que tenha colocado o filho em uma situação
emocionalmente difícil.100
Complementa FREITAS (2015) que

O genitor alienador, com o passar do tempo, pode se apresentar com


uma personalidade agressiva, bem diferente do genitor alienado, que
geralmente não tem um padrão hostil. Entretanto, o alienado pode vir a
perder o controle como consequência da dor causada pela campanha
difamatória e pelo afastamento dos filhos, causando frustração
compreensível (mas que é utilizada pelo alienador como justificativa de
seus atos de alienação, e não como consequência).101

Já com relação às falsas acusações de abuso sexual, CALÇADA (2014)


explica que, assim como nos casos reais de abuso, a autoconfiança, autoestima e
confiança no outro ficam quebradas. As crianças podem apresentar sentimentos de

98
MOLD, Cristian Fetter. A alienação parental nas relações homoafetivas. Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3312, 26 jul. 2012. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/22305>. Acesso em: 26 jun 2018.
99
CORRÊA, Flávia Cristina Jerônimo. Consequências da Alienação Parental. In: Jus.com.br.
ago. 2015. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41582/consequencias-da-alienacao-
parental>. Acesso em jun 2018.
100
SILVA apud FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010.
4. ed. rev. atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
101
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental – comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. rev.
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015.
39

culpa, insegurança, fobias, choro compulsivo sem motivo aparente, depressão


infantil, dificuldades em estabelecer amizades ou relações com pessoas mais
velhas, apego excessivo à figura acusadora, além de vergonha em trocar de roupa
na frente de outras pessoas ou resistência anormal a exames médicos. Para a
autora, todos esses sintomas mostram que a criança passa a acreditar que foi
realmente abusada, o que pode comprometer, futuramente, seus
relacionamentos.102
Os adultos acusados, por seu turno, desenvolvem sentimentos como raiva,
insegurança, impotência, baixa autoestima, além de perder a confiança social, sendo
expostos a injúrias e insultos, o que, por vezes, faz com que o acusado se mude do
local onde reside.103 Em resumo, toda a estrutura familiar se desfaz, pois, ao ter de
se afastar do filho, seja por motivo judicial, seja pela própria recusa da criança ao
receber a visita deste genitor, com o passar do tempo, quebram-se os vínculos,
sendo muito difícil a reaproximação entre estes.

3.3 O Princípio do melhor interesse da Criança e do adolescente

Ao longo desse estudo, muito se falou sobre como as questões que envolvam
os filhos menores, como nos casos de divórcio ou separação, onde se deve decidir
quem fica com a guarda, como proceder com relação a visitas e a própria mantença
ou não da convivência, devem sempre prezar pelo melhor interesse da criança e do
adolescente. Necessário se faz, então, conceituar tal princípio e entender como ele
se faz presente em tais litígios familiares. Ressalta BARBOSA (2010), que ―o
conceito de superior interesse da criança merece um profundo estudo, em
decorrência da amplitude de sua expressão nas relações humanas marcadas pelo
sofrimento da ruptura.‖104
Este princípio decorre da Constituição Federal, que em seu art. 227, caput,
diz que
―É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à

102
CALÇADA, Andreia. Perdas Irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso
sexual. Rio de Janeiro : Publit, 2014.
103
Idem. Ibidem.
104
BARBOSA apud CASSETARI, Christiano. Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva:
efeitos jurídicos – 3. ed. rev., atual., e ampl. – São Paulo: Atlas, 2017.
40

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e


comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.‖105

Extrai-se desse artigo que, todos aqueles que integram a família, pais e mães,
em especial, tem o dever de favorecer acesso aos adequados meios de promoção
moral, material e espiritual das crianças e dos adolescentes viventes em seu meio,
haja vista a própria função social desempenhada pela família. 106
Para PEREIRA (2017), o princípio ―deve ser reconhecido como pilar
fundamental do Direito de Família contemporâneo‖107; na mesma toada segue
GALIANO; PAMPLONA FILHO (2017), dizendo que ―a proteção plena das crianças e
adolescentes integrantes do seio familiar — não apenas os filhos, mas também
netos, sobrinhos etc. — traduz um intransponível fundamento do moderno Direito de
Família.‖108 Complementa FACHIN que este princípio reflete ―um critério significativo
na decisão e na aplicação da lei. (…), tutela os filhos como seres prioritários nas
relações paternofiliais e não mais apenas a instituição familiar em si mesma.‖.109
Este princípio, além de ter relação direta com os Direitos Humanos em geral,
serviu como ferramenta basilar do ECA, onde é facilmente percebido em diversos
momentos, principalmente nos artigos 3º e 4º, que trazem os seguintes textos:

Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições
de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as
crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação
familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição
econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.

105
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de
1988. 53. ed., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016.
106
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil; volume único.
– São Paulo : Saraiva, 2017.
107
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil – Vol. V / Atual. Tânia da Silva
Pereira. – 25. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
108
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil; volume único.
– São Paulo : Saraiva, 2017.
109
FACHIN apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil – Vol. V / Atual. Tânia
da Silva Pereira. – 25. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.
41

Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais
públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas
com a proteção à infância e à juventude.110

Trazendo o conceito para a questão da guarda, conforme já dito no Capítulo 1


deste trabalho, ainda que caiba aos pais decidir acerca da guarda dos filhos, a
melhor maneira de educá-los e a forma de convivência, preferencialmente a opção
escolhida é a da guarda compartilhada, por ser a que mais beneficia a criança, ao
manter a convivência com ambos os pais.
A exemplo desse entendimento constitucional, de proporcionar ao menor a
proteção integral, deve-se ter em mente que, em relação ao direito de visitação, este
deve ser estendido também aos avós, conforme preconiza o Enunciado 333 do CJF:
―O direito de visita pode ser estendido aos avós e a pessoas com as quais a criança
ou o adolescente mantenha vínculo afetivo, atendendo ao seu melhor interesse.‖ 111
Importante notar que o enunciado traz ainda a previsão de estender esse direito
também a terceiros que, por algum motivo, tenha criado laços afetivos para com o
menor.

110
BRASIL. Lei n. 8.069/90, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em
jun 2017.
111
Enunciado 333, IV Jornada de Direito Civil, Conselho da Justiça Federal. Disponível em:
<http://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/355>. Acesso em jun 2018.
42

CONCLUSÃO

Esta monografia serviu para detalhar e conceituar a Alienação Parental e a


consequente Síndrome da Alienação Parental, suas causas e desdobramentos, bem
como para debater os artigos da Lei 12.318/2010 e como esta foi pensada tendo
como base o Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente.
Partindo inicialmente do conceito de guarda, instituto que diz respeito ao
direito e dever dos pais de zelar pelos filhos, em relação ao cuidado, educação,
subsistência e que deve existir tanto na constância da união dos pais como na
hipótese de vivência em separado, pode-se entender em quais circunstâncias a
prática da alienação surge. Em geral esta decorre do divórcio, onde um dos
cônjuges não aceita totalmente a nova situação e, propositadamente ou não,
começa a instigar na criança repulsa ao outro genitor sem justificativa, através de
mecanismos como falsas memórias, por exemplo.
Ao ilustrar, com casos concretos, a ocorrência da alienação parental e como
esta se manifesta, ficou provado que as consequências são graves, tanto para o
menor quanto para o genitor alienado, eis que toda a estrutura familiar se desfaz e
vínculos são quebrados, sendo muito difícil a reaproximação entre o genitor vítima e
o filho. Ademais, geralmente ficam sequelas psicológicas para ambos os lados. O
menor pode desenvolver sentimentos não verdadeiros ou negativos acerca do
genitor alienado, e pode, além disso, desenvolver sintomas de depressão,
ansiedade, pânico, entre outros. Já os adultos acusados podem desenvolver
sentimentos como raiva, insegurança, impotência, baixa autoestima, além de perder
a confiança social, sendo expostos a injúrias e insultos, o que, por vezes, faz com
que o acusado se mude do local onde reside.
Também foi mostrado que a Lei 12.318/2010 traz normas que auxiliam na
identificação da alienação e os meios legais punitivos que tem por finalidade coibir
os atos do alienador, assim como cessar a alienação, como se pode observar no art.
3º que, ao conceber a figura jurídica do Abuso Moral, deixa claro que o ato de
alienação gera dano moral, tanto para o menor quanto para o genitor alienado. Já o
art. 6º traz um rol exemplificativo de meios punitivos que o juízo pode se valer para
coibir tais atos, como por exemplo, multa, suspensão da autoridade parental,
acompanhamento psicológico, alteração da modalidade de guarda, entre outros.
43

Por fim, foi debatido o Princípio do Melhor Interesse da Criança e do


Adolescente, importante preceito que decorre da Constituição e tem relação direta
com os Direitos Humanos em geral, que serviu como ferramenta basilar do ECA e
que deve ser observado ao tratar de questões que envolvam o direito das famílias.
44

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