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CONTEMPORÂNEA
[Esboço I]
ANTONIO AÍLTON
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Quando a vida, a conversa corrente ou as circunstâncias elegem alguém,
deixam na retaguarda, por vezes na obscuridade, grandes vozes, vozes
competentes. "A memória é uma ilha de edição", diria o famigerado Glauber
Rocha. Com esses nomes acima, devem ser lembrados poetas excepcionais,
alguns que constroem sua obra, outros que se foram ou ficaram - o grande Odylo
Costa, filho; Déo Silva, Wolney Milhomem, Manuel Lopes, José Maria
Nascimento e seu irmão Jorge Nascimento (que não tem nada a ver com a
"Geração Luiz Augusto Cassas", como colocam algumas resenhas da "poesia
maranhense") a grande Arlete Nogueira da Cruz, de Canção das horas úmidas,
Litania de Velha e O Quintal; a considerável obra de Aurora da Graça, o poeta
e editor Alberico Carneiro...
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VISÃO
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Entendamos: "Entre 1985 e 1989, principalmente, realizam performances
ousadas e espalham pelas ruas, becos e bares da ilha, uma dicção poética até
então inédita na cidade. Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua reúne
quase 100 poemas dos mais de 420 publicados nas oito edições da revista Uns
& Outros, porta voz da Akademia. Na obra estão versos de 25 desses poetas,
entre eles Ademar Danilo, Antonio Carlos Alvim, Celso Borges, Fernando Abreu,
Garrone, Guaracy Brito Jr, Joe Rosa, Mara Fernandes, Marcelo Silveira
(Chalvinski), Paulinho Nó Cego, Paulo Melo Sousa, Rezende, Ronaldão,
Ribamar Filho e Suzana Fernandes. (...) O projeto gráfico, assinado por Marcelo
Chalvinski, mistura ilustrações e grafismos originais com intervenções atuais,
além de fotografias da época, a maior parte delas do acervo pessoal de Lisiane
Costa, que não era poeta, mas fazia parte da turma. A foto da capa é do músico
André Lucap" - sintetiza Paulo Melo Sousa.
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CARAS DA POESIA MARANHENSE
CONTEMPORÂNEA
[Esboço II]
ANTONIO AÍLTON
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LIED
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É preciso reivindicar ao grupo Curare um papel tão importante para a
produção, maturidade transformação da linguagem poética do Maranhão quanto
aquele que também ocupam os marcos dos últimos anos, o Movimento
Antroponáutica/Guarnicê, a Akademia dos Párias.
Não dá para tecer aqui uma trajetória detalhada desse grupo e suas
repercussões, desdobramentos ou reverberações, nem para avaliar todo o seu
trabalho, uma vez que ele é fundamentalmente contemporâneo e as obras em
que ele reverbera ainda estão sendo produzidas por poetas/escritores saídos do
seu "espírito", do seu útero. O certo é os estudiosos da literatura do Maranhão
tem certa ignorância sobre esse pessoal, mas já é hora de lhe darem a atenção
que merece.
Essa "desatenção" pode decorrer de alguns fatores, entre o fato de o
grupo ter rodado muito, feitos recitais, exposição, e discussões em torno da
poesia, mas nunca ter publicado nada escrito - e o que apenas se pronuncia,
mesmo na mídia, esvai-se em 15 minutos. Este tempo demanda barulhos e
factoides contínuos.
Para mim, no entanto, há uma dimensão incalculável para a poesia do
Maranhão advindo desse grupo pelo fato de que sua repercussão e seus méritos
continuam. Por mais que se queira, não se pode menosprezar um prêmio da
Academia Brasileira de Letras e Xérox do Brasil, acadêmico (Ricardo Leão, tese
de doutorado e poesia, respectivamente), um Prêmio Cidade do Recife (Antonio
Aílton) pelo menos quatro Prêmios Cidade de São Luís (Antonio Aílton, Dyl Pires,
Bioque Mesito), um prêmio Josué Montello (Hagamenon de Jesus), fora outros
tantos e classificações em festivais e concursos pelo Brasil afora. Está certo,
prêmios podem não significar nada, e comissões podem ser viciadas, mas não
dá para dar um crédito a Alfredo Bosi, Cláudio Willer, Heloísa Arcoverde de
Morais e Pedro Américo de Farias (Fundação Cidade do Recife), Lourival
Holanda (UFPE), Márcia Manir Miguel Feitosa (UFMA) e Marco Lucchesi (Poesia
Sempre), pessoas que já julgaram, ou avaliaram nossa poesia?...
O fato é que o grupo (Curare), que reuniu na década de 1990, além dos
poetas já citados (Antonio Aílton, Bioque Mesito, Dyl Pires, Hagamenon de
Jesus, Ricardo Leão), Rosemary Rêgo, Jorgeana Braga, Natanílson Campos,
Binho Dushinka, Couto Corrêa Filho, Dílson Jr., Marco Polo Haickel e outros,
serviu de fundamento para discussão de uma nova linguagem poética, as formas
e suportes do contemporâneo, os tons assumidos pela poesia atual, as leituras,
a necessidade da crítica e da autocrítica vigilante, de um corpo metafórico para
o nosso tempo, enfim, essas coisas de quem quer escrever com qualidade.
Um dos grandes méritos dessas discussões, principalmente sobre uma
poesia para o século XXI, é daquele cara que se tornou não só prefaciador, mas
também o crítico-leitor de toda uma geração: o Hagamenon de Jesus de The
Problem &/ou os poemas da transição (Edição do autor, 2002)
Claro, dito assim pode ser entediante, mas essas conversas se davam
nos finais de semana, no bar do Adalberto, ou onde fosse possível uma ceva ou
uma aroeirinha, e continuam, sempre que alguns sobreviventes nos
encontramos.
Coirmãos do Curare: Grupo Carranca (Mauro Ciro Falcão Gomes;
Samarone e Samuel Marinho; Elias Rocha Gomes) e Poiesis (alguns do Curare,
mais Geane Lima Fiddan, Paulo Melo Sousa, Natinho Costa Fênix, Danilo
Araújo).
Correção para os novos tempos: Curare não é um grupo, é um espírito
que baixa onde dois, quatro ou sete poetas reúnem-se em seu nome.
E se alguém agir em seu nome, abençoado está, porque aí tem curare.
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Uma novidade não deve passar despercebida para o nosso olhar. Até
pouco tempo, grande parte da nossa poesia saía como "edições do autor", ou
coisa parecida. Ou seja: sem um selo editorial representativo.
Neste sentido, devagar e sempre, a poesia do agora se expande, ganha
expressão nacional, mesmo se seu reconhecimento continua capenga.
Apontem-me quantos maranhenses (quer queiram ser ou não maranhenses),
fora, talvez, Salgado Maranhão está em alguma daquelas antologias ditas "da
poesia brasileira contemporânea"?
Mas o fato é que podemos contar já uma meia dúzia de poetas só na 7
Letras. Será que estamos nos tornando os queridinhos da 7 Letras?... Vamos
com calma.
Somente dessa famigerada editora, cito alguns de cabeça. Samarone
Marinho, poeta que não gosta de alarde, mas já está no terceiro título pela
editora, Incêndios (2013); Josoaldo Rêgo, também com três títulos: poeta que
tem feito outros trabalhos, principalmente em São Paulo, como intervenções,
ensaios poético-fotográficos, inclusive com Celso Borges. Último livro dele:
Carcaça (2015). Luís Inácio, poeta de produção poética contida, atravessando
"diferentes espaços, ritmos e tonalidades", com forasteiro rastro (2012).
Luciana Martins e Fernando Abreu, já comentados acima.
Da Penalux, editora que tem crescido no Brasil e tem investido em alguns
escritores do Nordeste (ou: na qual alguns escritores do Nordeste têm investido),
o poeta santarritense/ludovicense Neurivan Sousa, com pelo menos dois infantis
e dois títulos de poesia, Lume (2015) e Palavras sonâmbulas (2016). A poesia
de Neurivan, prefaciada por Paulo Betancur, é avaliada por Cláudio Portella
como "de pegada psicológica". E, de fato, seu mérito maior talvez seja unir essa
subjetividade psicológica à vida do homem comum, com seus confrontos
cotidianos, suas dúvidas, dores e resignação, sua religiosidade tensiva; com
suas panelas, seus gatos, seus amores, poesia que ensaia nos redimir lá no fim
do túnel, numa linguagem aberta, simples, compreensível.
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Um caso à parte fica, a meu ver, com Carvalho Júnior, de Caxias, que já
publicou alguns títulos, um pela Editora Patuá, do Eduardo Lacerda, Dança
dos dísticos (2014). Por que "caso à parte"?
Primeiro: Tem movimentado o cenário poético do Meio-Norte do Brasil,
Maranhão, Piauí, Pará, e as redes virtuais com seus projetos culturais e poéticos,
com destaque para o Na Pele da Palavra, juntamente com o poeta Joaquim
Vilaneto e outros. Impulsionou o I Encontro da Poesia Contemporânea, onde
tivemos a oportunidade de encontrar com poetas e editores de várias regiões e
estados do país e fazer um balanço de nossa produção atual.
Segundo: Insatisfeito com a mesmice, autocrítico, vem dando saltos de
qualidade a cada obra que lança ou projeta. No forno, a sair pela editora Patuá
em 2017, um livro trabalhado, maduro, de poesia tocante e imagens
surpreendentes:
No alto da ladeira de pedra.
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