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CARAS DA POESIA MARANHENSE

CONTEMPORÂNEA
[Esboço I]

ANTONIO AÍLTON

A ausência física recente de três grandes poetas de referência máxima


para o Maranhão (mesmo que um deles não seja maranhense de nascimento,
mas nos tenha adotado), a ceifa seguida, temporalmente atropelada, de José
Chagas ( falecido em 2014), Nauro Machado (falecido em 2015) e Ferreira
Gullar (que pariu 2016), os quais fecham, com Bandeira Tribuzi o
(possivelmente) quatro pontos cardeais da nossa poesia recente, o que
interrompe a mão corporal que produz e os lança numa transcendência outra, a
da linguagem, deixa, inevitável, a sensação de um vazio. São praticamente 70
anos de um monumento construído de poesia, escrita crítica, arte, a cultura de
um estado, de um país. Um vácuo que interroga, intimamente, na calada da noite
de cada um, nos jornais, nas missas de réquiem, pelo próximo gênio, alguém
que de algum modo preencha esse vácuo, talvez, incurável.
Mas Roland Barthes, num golpe de misericórdia, assassinou
(teoricamente) os gênios, e colocou no seu lugar essa realidade de conotações
totalitárias, a escritura, e em última instância, linguagem.
Fato é que os tempos são outros, as concepções, outras. Para consolar-
nos, e pela necessidade daquela descoberta única de nós mesmos, admitimos
que o gênio não existe, ele pode ter-se ido com as teorias da inspiração: o poeta
lima, teima, sua, e, pelo trabalho, a obra, o Livro tem que continuar. O trem segue
seus trilhos, os caras ali, palmo a palmo socando os ferros, preparando suas
descobertas, vez ou outra recorrendo aos ombros dos gigantes, para ver ainda
mais adiante.

***
Quando a vida, a conversa corrente ou as circunstâncias elegem alguém,
deixam na retaguarda, por vezes na obscuridade, grandes vozes, vozes
competentes. "A memória é uma ilha de edição", diria o famigerado Glauber
Rocha. Com esses nomes acima, devem ser lembrados poetas excepcionais,
alguns que constroem sua obra, outros que se foram ou ficaram - o grande Odylo
Costa, filho; Déo Silva, Wolney Milhomem, Manuel Lopes, José Maria
Nascimento e seu irmão Jorge Nascimento (que não tem nada a ver com a
"Geração Luiz Augusto Cassas", como colocam algumas resenhas da "poesia
maranhense") a grande Arlete Nogueira da Cruz, de Canção das horas úmidas,
Litania de Velha e O Quintal; a considerável obra de Aurora da Graça, o poeta
e editor Alberico Carneiro...

***

VISÃO

É preciso ver os passarinhos e os elefantes:


é preciso ver tudo"

(Arlete Nogueira da Cruz, Canção das horas


úmidas, e.a., 1973.)

***

Facilmente, hoje, contaríamos cerca de 50 bons poetas surgidos (mesmo


que nascidos e arribados) no Maranhão nos últimos anos - ou seja: o que estou
traçando como rol de poesia maranhense (essa coisa de poesia maranhense é
uma invenção, claro. Poesia é poesia. Mas quem sabe o espaço, a pecha, o
tempo, a força da tradição - ou não - do lugar tenha alguma coisa a ver com isso,
com a produção, certa atmosfera, certo logos, este sensível "logos da alma",
como diria Heráclito, que se enlarguece a si mesmo... então concordamos que
qualquer demarcação é provisória, inclusive aquela, a tal da poesia "brasileira",
que também é nóis).
Se pensarmos que a primeira turma do modernismo maranhense,
impregnados do espírito Movelaria Guanabara, estreou no final dos anos 1940
ao início dos anos 1960, recebendo muitas vezes e até aceitando ainda aquela
pecha de "geração de 45"; e que um segundo momento se desenha no final dos
anos 1970, com o pessoal do Movimento Antroponáutica/Hora do Guarnicê (por
alguns denominada de "geração Cassas"), arredondando, muito provavelmente,
um círculo com a Akademia dos Párias, já na derrocada do período militar e no
vislumbre de um novo período de liberdade democrática, no início dos 1980,
teremos aí, passando uma peneira fina naqueles 50, pelo menos 10 poetas no
nível de excelência, saídos do útero dessas duas turmas. Quer dizer, fora os que
não têm nada a ver com "turmas" e simplesmente pairam naquela delicadeza
solitária.
Poetas que continuam a todo vapor (sem julgamento de estrela), na mais
alta qualidade & buscando: Salgado Maranhão, Luís Augusto Cassas, Laura
Amélia Damous, Raimundo Fontenele, Rossini Correa.

***

Pairando: cadê esses caras pesados, Roberto Kenard e Cunha Santos?


Muito provavelmente esqueci alguém importante.

***

Penso que, depois da morte de Gullar, os três acontecimentos mais


importantes para a poesia de repercussão maranhense, em 2016 foi, pela
ordem:
1) O lançamento da antologia Párias - 30 anos: a poesia atravessa a
rua, da Akademia dos Párias, de primoroso projeto gráfico e editorial, porém de
importância superior, a meu ver, porque é um marco histórico, não apenas dos
30 anos, de uma poesia que, tirando os cometimentos e as efusões da loukura
vital e por definição irreverente do momento (conforme admite o integrante
Garrone), merece a mais alta reverência, brother: "olhos
incendiados/mastigando palavras macias". Síntese de um momento da história
e da poesia neste país, daquela que nasceu no influxo das leituras dos beatniks,
a Beat Generation e, do Brasil, Paulo Leminski & a "poesia marginal".

***
Entendamos: "Entre 1985 e 1989, principalmente, realizam performances
ousadas e espalham pelas ruas, becos e bares da ilha, uma dicção poética até
então inédita na cidade. Akademia dos Párias: a poesia atravessa a rua reúne
quase 100 poemas dos mais de 420 publicados nas oito edições da revista Uns
& Outros, porta voz da Akademia. Na obra estão versos de 25 desses poetas,
entre eles Ademar Danilo, Antonio Carlos Alvim, Celso Borges, Fernando Abreu,
Garrone, Guaracy Brito Jr, Joe Rosa, Mara Fernandes, Marcelo Silveira
(Chalvinski), Paulinho Nó Cego, Paulo Melo Sousa, Rezende, Ronaldão,
Ribamar Filho e Suzana Fernandes. (...) O projeto gráfico, assinado por Marcelo
Chalvinski, mistura ilustrações e grafismos originais com intervenções atuais,
além de fotografias da época, a maior parte delas do acervo pessoal de Lisiane
Costa, que não era poeta, mas fazia parte da turma. A foto da capa é do músico
André Lucap" - sintetiza Paulo Melo Sousa.
.
***

2) O lançamento do livro Manual de pintura rupestre (7 Letras, 2015),


de Fernando Abreu.
3) A premiação de Salgado Maranhão, com Ópera de nãos (7 Letras,
2015) - segundo lugar, no Prêmio Jabuti, de grande expressão nacional. Mas
lembremos que Salgado Maranhão já foi o grande vencedor do Jabuti em 1999,
com Mural de Ventos, de 98.

***

Não é uma questão de gostar ou não do Manual de pintura rupestre


(porque gosto, e muito). Trata-se do fato de o livro ser, no fundo, a recusa de
certos modos-de-fazer das poéticas contemporâneas e trazer, em sua
proposição inicial, uma reflexão sobre o sentido da poesia sui generis, da poesia-
para-si, do sentido experiencial e vivencial da poesia para sujeito que (ainda!) a
carrega e pratica ante um mundo que oferece portas fechadas ou pré-
determinadas. Fernando Abreu, isto é, o poeta, lança, por lado, a poesia na
carnalidade prévia da vida e dos sentidos, antes da própria escritura ("a palavra
antes da palavra"), por outro, na tranquilidade do possível e do imprevisível
("quando ela [a porta] se abrir/ (se abrir)). Neste sentido, se grande parte do livro
é uma poética do confronto com esse "fazer" sensível nas paredes da
contemporaneidade, por outro, não se trata de uma, para nós, já cansada
metalinguagem. É a inscrição, o atrito na pedra, o arabesco luminoso da reflexão
essencial.

***

Salgado Maranhão está no auge de sua vigência e potencialidade, senhor


de suas conquistas, porque foi um cara que saiu da situação opressiva de uma
região miserável de seu estado, o Maranhão, e hoje estabelece um nome
internacional através da poesia. Mais um prêmio, Jabuti, outro, só questão de
tempo. Se quisesse, poderia até ter esquecido a adoção do sobrenome artístico,
porque é certo que tem uma relação muito forte com Teresina, e, posteriormente
com o Rio de Janeiro, mas, guardando talvez como memória, não recusou sua
morenice brejeira e telúrica desse barro onde se encontram pobreza, babaçual
e carnaúba.
A questão é que ele, Salgado, é um esgrimista, ao mesmo tempo que um
sublimista da palavra. O que escreve, eleva, unindo a concisão, a precisão e a
imagem inusitada, à consciência do corpo (afrodescendente) e sua memória, os
caminhos do telúrico e da metrópole, numa tonalidade afetiva do sublime,
mesmo quando fala de dor, de reivindicação e denúncia... Enfim, um dos maiores
mestres que este Maranhão guarda em suas ressonâncias e de quem o país se
orgulhará ainda mais.

Antonio Aílton é poeta, autor de Os


dias perambulados e outros tOrtos
girassóis (2008) e Compulsão Agridoce
(2015), e pesquisador da
literatura/poesia contemporânea.
ailtonpoiesis@gmail.com

(Matéria saída no JP Turismo,


caderno do Jornal Pequeno, p. 4
e 5, no dia 23/12/2016)

***
CARAS DA POESIA MARANHENSE
CONTEMPORÂNEA
[Esboço II]

ANTONIO AÍLTON

Há uma semana (23/12/2016), a convite de Gutemberg Bogéa e por


estímulo desse grande mestre, o editor e poeta, Alberico Carneiro, publiquei na
página do JP TURISMO um primeiro painel sobre a poesia maranhense atual. ´
Explicar os termos estica o texto e o torna meio barroco (volutas sobre si
mesmo), mas é importante explicitar alguns pontos, porque as pessoas precisam
ter clareza de certos termos do que está sendo colocado, dentro das
possibilidades dos meios e das circunstâncias.
Por exemplo: primeiro, a questão de que o foco do texto é poesia. A
literatura maranhense atual é muito mais vasta, ao se pensar em suas diversas
manifestações, o romance, o conto, mas o espaço e o tempo nos restringem.
Fica como um trabalho a ser feito, empreendido, de maneira, talvez, mais
individualizada. E convenhamos que a forte tradição da poesia no Maranhão tem,
naturalmente, certo peso a seu favor.
Segundo, o fato de que, por mais que se alargue o espectro, não é
possível tratar de todos nem de tudo. No máximo, mencionar alguns daqueles
que estão fazendo um trabalho importante, mencionar, focar em alguns nomes,
por maior proximidade com o trabalho, acesso às obras e informações, etc. Além,
é claro, dos critérios particularmente estéticos, que todos nós carregamos
explícita ou implicitamente, e que fazem parte da própria escrita, da feitura
literária. Esses critérios têm que fazer parte de um mínimo olhar crítico
necessário, o que pode gerar questionamentos e indisposições. Enfim, é o preço.

***

Entre os poetas de alto preço, figuras de um modernismo maranhense, de que


falei na semana passada, e cujas obras repercutiram a estética da segunda
metade século passado, ficaram em aberto espaços como o de Manuel Caetano
Bandeira de Mello (1918-2008), Lago Burnett (1929-1995) e do poeta, ensaísta,
tradutor, professor e crítico literário Oswaldino Marques (1916-2003). Todos já
idos, mas cuja obra faz parte desta história (aquela, de uma possível, porém
relativa "geração de 45" no Maranhão, onde o mainstream crítico encaixa o
pessoal). Oswaldino Marques, com vasta obra a ser lembrada, recuperada e
estudada, foi tradutor, para o Brasil e a língua portuguesa, de Walt Whitman,
William Blake, T. S. Eliot, and others. A atmosfera, os versos de Lied - atenção
para o ano: 1946 -, parecem irmanar-se com essa dicção anglo-americana:

LIED

Perdido em devaneios no extenso litoral,


Só e tímido sob a ampla e côncava tarde,
Plena do grave coral das vagas estuantes
E do ritmo violento das ávidas gaivotas,
Voltei meus olhos espantados para ti, ó sol,
E me deixei banhar nas tuas cascatas cintilantes.
Lá poderia ter-me envolvido na sombra violácea das montanhas.

E à hora do poente cingir-me com uma coroa de estrelas.


Lá poderia ter-me dissipado na bruma da ressaca,
Ou insensivelmente aceitar dos rochedos o doce convite à
inconsciência,

Ou fragmentar-me em límpidas conchas e refletir sorrindo teus


raios criadores,
Tive forças, porém, para te abandonar.
Parti — sobre a areia deixei apenas o nome de alguém escrito.

(Oswaldino Marques, Poemas quase dissolutos, 1946)

***

Da poesia de expressão feminina, isto é, que apresenta um discurso que


poderia ser lido mais marcadamente nesse rumo, se o quisermos, cabe
evidenciar pelo menos quatro poetas no auge de sua produção, não neófitas,
mas pouco comentadas, na senda viva da poesia: Lila Maia, Luciana Martins,
Silvana Menezes e Dilercy Adler.
Lila Maia, poeta de voz lírica não condescendente, escrita densa e forte,
ao mesmo tempo de termos simples e sintaxe cotidiana, vive no Rio de Janeiro,
e já recebeu vários prêmios literários, inclusive do seu último livro, As maçãs de
antes (2012). Dessa mestra da poesia, escolhi dois poemas para esta página.
Luciana Martins: leve como o peso da alma que habita algum lugar das
células de nosso corpo, este receptáculo da dor. "...Poetas, esse povo que não
tem lugar no mundo mas insiste em ficar nele", diz-me ela em sua dedicatória.
Seu Lyrica 75mg (7 Letras, 2015), poderia ser dedicado aos hipocondríacos que
gostam de conversar com aquela dor autopsicográfica de Pessoa. Ferida aberta
no pathos poético, em doses medidas, concisas: "a dor me definha/mas não me
define". E o recado: "leitor leitora/um dia hei de voltar/a falar da alegria".
Silvana Menezes, caxiense, professora universitária, vem das áreas de
química e zootecnia, mas sua paixão é a alquimia poética. Sobretudo aquela
quefaz entre a poesia brasileira e a japonesa. A estação de sua poesia está
impregnada do haikai, quer dizer, tanto do cultivo deste quanto de uma
estruturação poética fundamentada formalmente no haikai. Sem dúvida esse
hibridismo alquímico reverbera no título do seu último livro: Reação (2014).
Dilercy Adler, de extenso e viajado currículo em prol da literatura, é
vocacionada não apenas para a poesia, mas a promoção e a fomentação
(diríamos, ebulição, efervescência) das atividades literárias, em entrega total e
incansável. É uma das fundadoras e atual presidente da Academia Ludovicense
de Letras - ALL, isto é, da recente academia que congrega literatos/as e
personalidades da cidade de São Luís, fundada em 2013. Membro do Instituto
Histórico e Geográfico do Maranhão. Foi presidente/fundadora da Sociedade de
Cultura Latina do Estado do Maranhão, desde 2007, passando, no final deste
ano, a presidência a Paulo Melo Sousa. Está fundando, este ano, a
representação no Maranhão da Academia Norteamericana de Literatura
Moderna - Capítulo Brasil, e, entre outras mais, além de ter uma produção
acadêmico-universitária (ela é Doutora em Ciências Pedagógicas), é também
organizadora de inúmeras antologias, internacionais inclusive (Latinidades,
vários números; 1000 poemas para Gonçalves Dias, desta vez com a
colaboração de Leopoldo Gil Vaz Dúcio Vaz, secretário da ALL). Difícil, pois,
competir com ela nestes quesitos, e, no fim, sabemos que a literatura tem uma
tarefa para cada um de nós, seus súditos mal pagos, nem que seja a de
simplesmente vivê-la.
Dilercy opta por uma poesia doce − aquele doce às vezes tingido de certa
dor resignada − e, em geral, erótico-amorosa; a impossibilidade, talvez, do amor
verdadeiro (essa palavra que ela ainda se atreve a pronunciar em poesia), ora
ou outra descobrindo sua provável impossibilidade e aceitando, poeticamente,
a simples experiência do acontecer humano (sem certo vaticínio hiper-realista
de Nélson Rodrigues): "Verdade.../ ilusão.../ importa?!.../este momento é
ímpar/mais-que-perfeito/deixo que tudo deságue/em meu leito!" (Duvid(ando) I,
Desabafos... flores de plástico... libidos e licores liquidificados, 2008).
Esses quatro nomes, somando-se ao de Laura Amélia Damous, creio
bastar para termos uma visão do que nossas (versadas) poetas estão
produzindo.

***

A poesia do registro reivindicatório e o da ação política explícita ganham,


em São Luís, dois Caras bem diferentes, díspares à primeira vista. Fiz esse
exercício de juntá-los no balaio de gato da poesia para ver no que dava: Alex
Brasil (o acadêmico) e Celso Borges (o Pária).
Alex Brasil: silencioso, quem sabe até silenciado, pelas resenhas
correntes. Mas poeta de cátedra, hoje (membro da Academia Maranhense de
Letras desde 2003, posse 2004). Calado, calado, muito provavelmente o maior
vendedor de poesia deste Maranhão. A seu favor, claro, sua agência de
publicidade. Mas seria mesquinho dizer que Alsenor Duailibe Garcia, o Alex
Brasil, vende poesia só por isso. É preciso reconhecer na linguagem poética de
sua simplicidade uma identificação com as reivindicações juvenis, na luta contra
certas tensões e ansiedades do nosso tempo: a violência contra a infância, as
questões ecológicas e ambientais, o materialismo, o sofrimento social e a
desumanidade. Na dedicatória de Todas as estações - Antologia Poética (2003),
ele sintetiza: "Aos brasileiros que, como eu, lutam ou lutaram contra a fome, o
analfabetismo e a mortalidade infantil nas garras da pobreza absoluta". Alex
Brasil, um dos rostos do nosso tempo.
Celso Borges, Antonio Celso Borges de Araújo, para quem "a posição da
poesia é oposição" (título de uma trilogia do autor em formato de livro-CD): Raiva,
fúria, energia, "dublagem de silêncios". Poeta (um dos 30 anos da Akademia dos
Párias), jornalista, roteirista, autor de XXI, Música, Belle époque, todos livros-
cd's; o livro experimental-fotográfico O futuro tem coração antigo, olhar sobre
a cidade de São Luís, de quem passou longos anos em São Paulo, e o livro-
revista Fúria (este, pela editora Pitomba, em 2015, na qual desenvolve há uns
três anos o projeto da Revista Pitomba, junto com Bruno Azevedo e o poeta-
irmão, também maranhense e residente em Sampa, Reuben da Cunha Rocha).
Tem, ainda, parceria musical com figuras como Zeca Baleiro, Fagner, Chico
César e outros.
Quer dizer: Celso Borges é um cara insatisfeito, inquieto, do flagra das
ruas, da poesia mural, da linguagem híbrida e experimental, cujo teor é
fundamentalmente a rebeldia política (e acadêmica) e a insatisfação com o lugar-
comum do sujeito, além, é claro, da insatisfação com o lugar-comum dos próprios
suportes da linguagem poética. Seu último projeto: Perversos 12 poemas
indelicados, livro artesanal feito por André Assis, da Fábrica de Cataventos.

***
É preciso reivindicar ao grupo Curare um papel tão importante para a
produção, maturidade transformação da linguagem poética do Maranhão quanto
aquele que também ocupam os marcos dos últimos anos, o Movimento
Antroponáutica/Guarnicê, a Akademia dos Párias.
Não dá para tecer aqui uma trajetória detalhada desse grupo e suas
repercussões, desdobramentos ou reverberações, nem para avaliar todo o seu
trabalho, uma vez que ele é fundamentalmente contemporâneo e as obras em
que ele reverbera ainda estão sendo produzidas por poetas/escritores saídos do
seu "espírito", do seu útero. O certo é os estudiosos da literatura do Maranhão
tem certa ignorância sobre esse pessoal, mas já é hora de lhe darem a atenção
que merece.
Essa "desatenção" pode decorrer de alguns fatores, entre o fato de o
grupo ter rodado muito, feitos recitais, exposição, e discussões em torno da
poesia, mas nunca ter publicado nada escrito - e o que apenas se pronuncia,
mesmo na mídia, esvai-se em 15 minutos. Este tempo demanda barulhos e
factoides contínuos.
Para mim, no entanto, há uma dimensão incalculável para a poesia do
Maranhão advindo desse grupo pelo fato de que sua repercussão e seus méritos
continuam. Por mais que se queira, não se pode menosprezar um prêmio da
Academia Brasileira de Letras e Xérox do Brasil, acadêmico (Ricardo Leão, tese
de doutorado e poesia, respectivamente), um Prêmio Cidade do Recife (Antonio
Aílton) pelo menos quatro Prêmios Cidade de São Luís (Antonio Aílton, Dyl Pires,
Bioque Mesito), um prêmio Josué Montello (Hagamenon de Jesus), fora outros
tantos e classificações em festivais e concursos pelo Brasil afora. Está certo,
prêmios podem não significar nada, e comissões podem ser viciadas, mas não
dá para dar um crédito a Alfredo Bosi, Cláudio Willer, Heloísa Arcoverde de
Morais e Pedro Américo de Farias (Fundação Cidade do Recife), Lourival
Holanda (UFPE), Márcia Manir Miguel Feitosa (UFMA) e Marco Lucchesi (Poesia
Sempre), pessoas que já julgaram, ou avaliaram nossa poesia?...
O fato é que o grupo (Curare), que reuniu na década de 1990, além dos
poetas já citados (Antonio Aílton, Bioque Mesito, Dyl Pires, Hagamenon de
Jesus, Ricardo Leão), Rosemary Rêgo, Jorgeana Braga, Natanílson Campos,
Binho Dushinka, Couto Corrêa Filho, Dílson Jr., Marco Polo Haickel e outros,
serviu de fundamento para discussão de uma nova linguagem poética, as formas
e suportes do contemporâneo, os tons assumidos pela poesia atual, as leituras,
a necessidade da crítica e da autocrítica vigilante, de um corpo metafórico para
o nosso tempo, enfim, essas coisas de quem quer escrever com qualidade.
Um dos grandes méritos dessas discussões, principalmente sobre uma
poesia para o século XXI, é daquele cara que se tornou não só prefaciador, mas
também o crítico-leitor de toda uma geração: o Hagamenon de Jesus de The
Problem &/ou os poemas da transição (Edição do autor, 2002)
Claro, dito assim pode ser entediante, mas essas conversas se davam
nos finais de semana, no bar do Adalberto, ou onde fosse possível uma ceva ou
uma aroeirinha, e continuam, sempre que alguns sobreviventes nos
encontramos.
Coirmãos do Curare: Grupo Carranca (Mauro Ciro Falcão Gomes;
Samarone e Samuel Marinho; Elias Rocha Gomes) e Poiesis (alguns do Curare,
mais Geane Lima Fiddan, Paulo Melo Sousa, Natinho Costa Fênix, Danilo
Araújo).
Correção para os novos tempos: Curare não é um grupo, é um espírito
que baixa onde dois, quatro ou sete poetas reúnem-se em seu nome.
E se alguém agir em seu nome, abençoado está, porque aí tem curare.

***

Bioque Mesito: a anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2007).


Dyl Pires: o torcedor (2014) e anunciando leitura de éguas! (inédito),
em breve, no Chiquinho.
Rosemary Rêgo: o ergástulo gozo da palavra (2004) e pérolas ao
tempo (2010).

***

Uma novidade não deve passar despercebida para o nosso olhar. Até
pouco tempo, grande parte da nossa poesia saía como "edições do autor", ou
coisa parecida. Ou seja: sem um selo editorial representativo.
Neste sentido, devagar e sempre, a poesia do agora se expande, ganha
expressão nacional, mesmo se seu reconhecimento continua capenga.
Apontem-me quantos maranhenses (quer queiram ser ou não maranhenses),
fora, talvez, Salgado Maranhão está em alguma daquelas antologias ditas "da
poesia brasileira contemporânea"?
Mas o fato é que podemos contar já uma meia dúzia de poetas só na 7
Letras. Será que estamos nos tornando os queridinhos da 7 Letras?... Vamos
com calma.
Somente dessa famigerada editora, cito alguns de cabeça. Samarone
Marinho, poeta que não gosta de alarde, mas já está no terceiro título pela
editora, Incêndios (2013); Josoaldo Rêgo, também com três títulos: poeta que
tem feito outros trabalhos, principalmente em São Paulo, como intervenções,
ensaios poético-fotográficos, inclusive com Celso Borges. Último livro dele:
Carcaça (2015). Luís Inácio, poeta de produção poética contida, atravessando
"diferentes espaços, ritmos e tonalidades", com forasteiro rastro (2012).
Luciana Martins e Fernando Abreu, já comentados acima.
Da Penalux, editora que tem crescido no Brasil e tem investido em alguns
escritores do Nordeste (ou: na qual alguns escritores do Nordeste têm investido),
o poeta santarritense/ludovicense Neurivan Sousa, com pelo menos dois infantis
e dois títulos de poesia, Lume (2015) e Palavras sonâmbulas (2016). A poesia
de Neurivan, prefaciada por Paulo Betancur, é avaliada por Cláudio Portella
como "de pegada psicológica". E, de fato, seu mérito maior talvez seja unir essa
subjetividade psicológica à vida do homem comum, com seus confrontos
cotidianos, suas dúvidas, dores e resignação, sua religiosidade tensiva; com
suas panelas, seus gatos, seus amores, poesia que ensaia nos redimir lá no fim
do túnel, numa linguagem aberta, simples, compreensível.

***
Um caso à parte fica, a meu ver, com Carvalho Júnior, de Caxias, que já
publicou alguns títulos, um pela Editora Patuá, do Eduardo Lacerda, Dança
dos dísticos (2014). Por que "caso à parte"?
Primeiro: Tem movimentado o cenário poético do Meio-Norte do Brasil,
Maranhão, Piauí, Pará, e as redes virtuais com seus projetos culturais e poéticos,
com destaque para o Na Pele da Palavra, juntamente com o poeta Joaquim
Vilaneto e outros. Impulsionou o I Encontro da Poesia Contemporânea, onde
tivemos a oportunidade de encontrar com poetas e editores de várias regiões e
estados do país e fazer um balanço de nossa produção atual.
Segundo: Insatisfeito com a mesmice, autocrítico, vem dando saltos de
qualidade a cada obra que lança ou projeta. No forno, a sair pela editora Patuá
em 2017, um livro trabalhado, maduro, de poesia tocante e imagens
surpreendentes:
No alto da ladeira de pedra.

***

Este texto não se encerraria. O contemporâneo está em aberto, não tem


um ponto final. A poesia está aberto. Duas palavrinhas apenas caberiam para
fechar o "por enquanto".
A primeira é a velha "mea culpa", por necessária de assumir. O
Maranhão é grande demais para caber em duas páginas de jornal, e meu
conhecimento de toda a poesia plausível deste estado por demais exíguo.
Imperatriz, por exemplo, é um caldeirão de coisas boas em ebulição.
A segunda palavrinha é a da reivindicação. Quando as nossas
autoridades irão acordar para o investimento na cultura literária e poética do
maranhão como um dos seus bens imateriais, de ressonância e
potencialidades no turismo, na educação, na cultura do estado e do país? O
acontece neste estado que não se consegue cumprir nem o básico, tal como a
lei do Concurso Literário e Artístico de São Luís, lei municipal desde
03/07/1955, o qual serve não apenas como vitrine de produções, mas como
upgrade e estímulo ao surgimento de novos grandes poetas dos quais
poderemos nos orgulhar?

Antonio Aílton é poeta, autor de Cerzir


(Penalux, 2019); Martelo & flor:
horizontes da forma e da experiência na
poesia brasileira contemporânea
(EDUFMA, 2018), além de Os dias
perambulados e outros tOrtos
girassóis (Fundação Cultural do Recife,
2008) e Compulsão Agridoce (Paco
Editorial, 2015). Pesquisador da
literatura/poesia contemporânea e
membro da Academia Ludovicense de
Letras.
ailtonpoiesis@gmail.com

(Matéria saída no JP Turismo,


caderno do Jornal Pequeno, p. 4
e 5, no dia 30/12/2016)

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