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paisinho
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RETOQUES DA HISTÓRIA

DE

CURRAIS NOVOS

AUTOR: CELESTINO ALVES

2ª edição
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CURRAIS NOVOS E SEU ENDEREÇO NO ESPAÇO

GALÁXIA VIA LÁCTEA

SISTEMA SOLAR

PLANETA TERRA

HEMISFÉRIO SUL

ENTRE AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS

6º15’55” DE LATITUDE W. Gr.

36º30’55” de LONGITUDE W. Gr.

COM DIREÇÃO SUDOESTE (69º14’S.O.)

REGIÃO DO SERIDÓ

RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

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P R E FÁ C I O

Celestino Alves, velho conhecido e amigo, meu

compadre, guiado por informações populares, remexendo
arquivos de igrejas e cartórios, andou pelo tempo afora
acompanhando apagados caminhos por onde passou muita
gente fazendo a história de Currais Novos.
Aqui e ali ele se deteve para recompor rastros e trilhas de
alguns fatos esquecidos. Andou a procura de “guardadores de
histórias” conseguindo juntar pedaços de informações, vindas de
longe, carregadas por memórias já muito estropiadas pelo tempo.
Foi assim que Celestino restaurou a verdade, tirando do
mistério as histórias tristes das “Cruzes da Serra”, da “Cruz do
Caboclo” e tantas outras.
Gostei muito de ler o seu livro. Gostei da simplicidade do
seu trabalho. Foi-me uma festa de reencontros. Figuras que a
memória guardava como nomes vagos, apenas vultos, ganharam
vida, traços fisionômicos, viraram pessoas de verdade.
Ali está, por exemplo, Cipriano Lopes Galvão, criador de
gado, homem rico, fazendo currais novos e amplos para segurar
a sua grande criação. Solteirão, cansado de viver só, larga-se até
Recife para casar com Adriana, moça rica e bem dotada.
Passada da doçura da lua de mel a dengosa “pracista” bate com
os pés e teima em acompanhar o seu homem na volta para o
sertão distante e triste. Era tarde... O amor já tinha feito o
caminho de volta... e Adriana manda pedir a Cipriano que vá lhe
buscar.
A viagem do Coronel com sua mulher arrependida virou
uma longa penitência pelos caminhos hostis e perigosos do
sertão. Uma judiação leve e irônica temperou a penitência
contrita de D. Adriana.
Celestino registra a separação inicial do casal com uma
propriedade interessante de palavras ao dizer: “O Coronel
Cipriano Lopes Galvão passou cinco anos apartado de D.
Adriana”. A Apartação terminou e levaram uma longa vida de
união solitária nas fazendas de gado dos currais novos...
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Como esta, muitas outras histórias foram contadas e cada

uma foi tecendo a história simples de uma fazenda de gado que
virou povoado, fez-se vila, tornou-se cidade e hoje projeta-se no
mundo e no espaço, ajudando a fazer foguetes, satélites e até
“guerra nas estrelas” com o tungstênio que sai de baixo dos
velhos currais que Cipriano Lopes Galvão levantou, nos idos de
1760, na bifurcação dos Rios São Bento e Totoró...

CORTEZ PEREIRA
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JUSTIFICATIVA

A 1ª edição foi publicada em 1985, pela Fundação José

Augusto com o apoio cultural da Prefeitura Municipal de Currais
Novos.
Por julgar essa obra relevante para a compreensão dos
primórdios de nossa cidade e fonte de consulta básica para
historiadores pósteros, optou-se por reeditá-la.
A ideia surgiu de familiares, na pessoa do filho José de
Azevedo Alves, a partir da constatação de que o livro continuava
a ser procurado, apesar de esgotado.
Assim, nesta 2ª edição procurou-se manter a fidelidade
da edição anterior, tanto na forma, quanto no conteúdo.
Entretanto, além da inserção do sumário e de uma nova correção
ortográfica, fizeram-se algumas alterações no que diz respeito à
adaptação do texto ao recente Acordo Ortográfico dos países de
Língua Portuguesa, que entrou em vigor no ano de 2009, salvo
as transcrições em grafias originais.
Este trabalho foi efetuado pela professora de Língua
Portuguesa, Especialista em Literatura Luso-brasileira, escritora e
poetisa, Eva Medeiros de Matos Salustiano, amiga e
conhecedora de outras obras do autor.
Dessa forma, acredita-se que, Retoques da História de
Currais Novos continua fundamental para o conhecimento e
compreensão mais apurada das origens da cidade.
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PREÂMBULO

Este livro é fruto de um trabalho de mais de 30 anos de

pesquisa, nos Cartórios e nas Igrejas, nos arquivos dos velhos
sacrários humanos, que guardam a história como verdadeira
relíquia, mesmo sem saber ler nem escrever, mas, que soube
contar aos filhos, os filhos aos netos, os netos aos bisnetos, os
bisnetos aos trinetos, os trinetos aos tetranetos, os tetranetos aos
pentanetos e assim fizeram chegar até nós, muitas vezes, com
muito mais beleza do que se fosse escrita.
Assim, sendo um trabalho puramente de pesquisas,
através dos anônimos guardadores de história, é uma
homenagem que presto à minha cidade e às famílias, que, com
tanto amor e carinho a construíram, legando-nos um passado
digno, cheio de brio e de honradez. Por isto a nos exigir um
presente à altura do seu passado e um futuro que não os
decepcione. Currais Novos, tua história é tão cheia de encanto e
de beleza, que mergulhar no teu passado, é como banhar-se nas
águas bentas de São João, que nossos ancestrais acreditavam
que se banhando na madrugada de São João, em qualquer rio ou
açude ficavam curados de qualquer doença, da pele ou da alma.
Que não sirva este livro para futuras polêmicas, desconcertantes
sobre a realidade histórica de Currais Novos, em face das minhas
limitações de escrevê-lo e ilustrá-lo como merece tua história e
teu povo.
Que as madrugadas indormidas neste trabalho sejam
compreendidas pelos leitores; que as falhas e os defeitos sejam
vistos com a óptica da compreensão e da bondade do que
sabendo mais, poderão levar um trabalho mais perfeito e mais
digno da nossa realidade histórica. Não quero com este trabalho
aparecer na história, mas fazer com que a história apareça.
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DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTO

Dedico como homenagem póstuma: a meu pai, Tomaz

Alves dos Santos que foi um desses sacrários humanos, uma
dessas enciclopédias vivas, que guardava a história em seus
mínimos detalhes e nos transmitia. A João Bezerra, que eu
considero o maior historiador de Currais Novos, sem, no entanto,
ter escrito nem uma palavra. A Tomaz Inocêncio de Araújo, que
com aquela simplicidade e educação rara, tanto me ajudou
especialmente mo que diz respeito às famílias e os fatos da
região do Tororó. A tantos outros velhos amigos, que me
ajudaram na elaboração desta modesta obra.
Quero também dedicar este trabalho a minha mãe,
Francisca Maria de Jesus, que com seus 88 anos, continua
abençoando os filhos, netos e bisnetos, bem como as pessoas
que carinhosamente a chamam de Vovó Chiquinha. A minha
mulher Rosilda de Azevedo Alves, que tão bem tem sabido
conservar uma lua de mel de mais de 34 anos. Aos meus 15
filhos e 18 netos, genros e nora, que graças a Deus formam a
família mais linda do mundo. Aos meus 26 irmãos, vivos e
mortos. Aos meus 700 sobrinhos, diretos e afins, filhos, netos,
bisnetos e trinetos dos meus irmãos.
Quero agradecer a todas as pessoas, que direta ou
indiretamente me ajudaram. A Gracinha Pinheiro, que com tão
boa vontade me ajudou a revisar. A Jairo Xavier, que com sua
criatividade artística me doou a capa. Ao Vice-Governador Radir
Pereira de Araújo, que muito se interessou junto à Fundação
José Augusto para a edição. Ao Dr. José Cortez Pereira, que
além de fazer o prefácio, apresentou: eu e o livro ao presidente
da Fundação José Augusto. Ao Dr. Valério Mesquita, presidente
da Fundação, que tanto tem zelado pela cultura e a história do
Rio Grande do Norte, bem como por aqueles, que sem a sua
ajuda continuariam no anonimato sem poderem publicar os seus
trabalhos. Ao professor Evilásio Leão, Diretor Executivo da
Fundação José Augusto, que numa deferência especial, deu
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prioridade ao meu trabalho para ser publicado em tempo recorde.

Ao prefeito José Dantas de Araújo, que deu todo o apoio
necessário para a publicação deste trabalho. Não é exagero
dizer, que em toda a história de Currais Novos, está sendo ele, o
prefeito mais esforçado pelo movimento cultural do Município,
quer no embelezamento das festas tradicionais, quer nos eventos
cívicos culturais. A Iaci Pereira de Araújo, primeira dama do
Município, que inclusive retirou fotografias do seu álbum de
família para ilustrar este trabalho, meus sinceros agradecimentos
e a minha admiração.
Que Deus abençoe a tos que contribuíram para estes
retoques da história de Currais Novos.
O reconhecimento e um abraço do Autor.

Currais Novos, 22 de setembro de 1985.

CELESTINO ALVES
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SUMÁRIO

CAPÍTULO I................................................................................17
Currais Novos: origem do nome.................................................17
Coronel Cipriano Lopes Galvão..................................................18
Personalidade do Cel. Cipriano Lopes Galvão...........................19
Como nasceu a cidade de Currais Novos...................................22
Do patrimônio de Santa Ana de Currais Novos..........................25
A imagem de Santa Ana.............................................................26
Provas irrefutáveis.......................................................................27
Capitão Mor Galvão e sua família...............................................31
Testamento do capitão Mor Lopes Galvão.................................33

CAPÍTULO II...............................................................................36
Currais Novos e a Religião Católica...........................................36
O vigário Manoel Joaquim da Silva Chacon...............................37
Padre José Antônio da Silva Pinto “Padre Pinto”.......................39
Padre Luis Borges de Sales e a visita Pastoral de Dom
Adalto................................................................................41
Roteiro da viagem de Dom Adalto..............................................42
Carta Pastoral de Dom Adalto Aurélio de Miranda.....................44
Administração de Pe. Francisco Coelho de Albuquerque..........45
Administração do padre Antônio Brilhante de Alencar...............47
Padre Ulisses Maranhão.............................................................51
Padre Benedito Basílio Alves......................................................54
Primeira ação beneficente de Mons. Paulo Herôncio em
Currais Novos..................................................................61
O Ginásio Jesus Menino.............................................................63
Mons. Paulo Herôncio, o Homem...............................................65
A Campanha da Estátua.............................................................67

CAPÍTULO III..............................................................................70
O Povo de Currais Novos............................................................70
O Padre Gil..................................................................................71
TÓPICOS DA ADMINISTRAÇÃO DE CURRAIS NOVOS..........75
2º INTENDENTE: O Alferes Cândido de Oliveira Mendes.........81
3º INTENDENTE: O Coronel José Bezerra de Araújo Galvão. . .81
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Decreto nº 5.................................................................................82
Decreto nº 6 - transferência da feira aos domingos....................85
4º INTENDENTE: 2º Período do Alferes Cândido de
Oliveira Mendes............................................86
3º Período do Alferes Cândido de Oliveira Mendes....................87
Balanço da Receita e Despesa da Intendência de Currais
Novos do Ano de 1897................................................. 90
5º INTENDENTE: João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão. 92
6º INTENDENTE: Moisés de Oliveira Galvão............................ 93
7º INTENDENTE: Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão....... 93
8º INTENDENTE: Benvenuto Pereira de Araújo........................ 93
9º INTENDENTE: Ladislau de Vasconcelos Galvão.................. 95
10º INTENDENTE: 2º Período do Coronel José Bezerra
de Araújo Galvão........................................ 99
“O PROGRESSO”, 26 de novembro de 1920.......................... 107
11º INTENDENTE: Vivaldo Pereira de Araújo......................... 108
A Construção o Mercado Público..............................................109
12º INTENDENTE: 2º Período de João Alfredo de
Albuquerque Pires Galvão........................ 111
13º INTENDENTE: Quintino Galvão........................................ 111
14º INTENDENTE: Antônio Rafael de Vasconcelos
Galvão (Coronel Rafael) .......................... 115
Doutor Mariano Coelho ............................................................116
Raul Macedo.............................................................................117
João Neto Guimarães ..............................................................117
Tristão de Barros ......................................................................117
Tomaz Silveira de Araújo......................................................... 118
Doutor José Bezerra de Araújo................................................ 119
Antônio de Vasconcelos Galvão (Toinho)................................ 122
Doutor Antônio Othon filho .......................................................122
Antônio Bezerra Linhares .........................................................129
Alcindo Gomes de Melo..............................................................12
Neófito Pinheiro Galvão............................................................130
Doutor Sílvio Bezerra de Melo..................................................130
Francisco Leônidas Gomes de Assis, “Seu Assis”...................133
Doutor Neófito Pinheiro Galvão................................................134
Mariano Guimarães.................................................................. 138
O Cemitério de Santana em Currais Novos............................. 139
Comarca de Currais Novos ......................................................141
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As Cruzes da Serra ..................................................................143

Os Milagres e a Capela ............................................................145
A Capela ...................................................................................146
Abolição dos Escravos .............................................................147
Aspecto Econômico ..................................................................148
Produção Agrícola e 1984.........................................................150
Produção Agropecuária.............................................................150
Aspectos Gerais do Município e da Cidade..............................152
Área e Aspecto Urbano da Cidade...........................................153
Calçamento E Urbanização .....................................................155
Estabelecimentos Bancários.....................................................155
Área da Saúde..........................................................................155
Área de Educação ....................................................................155
Área Sócio Recreativa:............................................................. 156
Área de Radiodifusão e Comunicação......................................156
Área Religiosa...........................................................................156
Visão Conjuntural......................................................................156
Civismo .....................................................................................157
Hino a Currais Novos ...............................................................159
Currais Novos, Setor Educacional ...........................................160
A História do Instituto Vivaldo Pereira ......................................162
Os Caminhos e Os Transportes ...............................................165
Os Caminhos.............................................................................166
Alto do Caboclo.........................................................................167

CAPÍTULO IV ...........................................................................171
Famílias de Currais Novos........................................................171
Família Lopes Galvão...............................................................171
Famílias de Currais Novos........................................................173
Família Cardoso........................................................................174
Família Bezerra.........................................................................175
Família Medeiros.......................................................................177
Família do Totoró .....................................................................178
Famílias do Totoró....................................................................179
Félix Gomes, O Primeiro ..........................................................181
Família Garcia ..........................................................................183
Família Gomes..........................................................................184
Família Pegado Dantas Cortez ................................................186
Família Dantas Severino e Xavier Dantas ...............................188
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Família Pereira .........................................................................189

Família Pereira de Malhada Limpa ..........................................192
Família Pereira de Boa Vista -..................................................192
Família Pacheco........................................................................193
Família Mendes.........................................................................194
Família Pinheiro........................................................................198
Família Pinheiro Galvão ...........................................................197
Família Dantas..........................................................................199
Família Dantas da Maniçoba ...................................................203
Família Lopes dos Namorados ................................................204
Família Cassimiro......................................................................204
Família Dias............................................................................. 205
Família Salustino.......................................................................205
Família Alves dos Namorados..................................................206
Família Alves do Quinquê.........................................................209
Família Alves da Cacimba da Pedra.........................................210
Família Alves de Currais Novos e Bom Sucesso.....................212
Família Bento............................................................................214
Família Bento de Souza............................................................214
Família Paulo da Marcação......................................................215
Família Marques........................................................................216
Família Sotero...........................................................................216
Família Luciano.........................................................................219
Família Batista...........................................................................220
Família Cosme Pereira..............................................................222
Família do Coronel José Bezerra............................................. 223

CAPÍTULO V ............................................................................225
Pessoas que fizeram a História de Currais Novos...................225
Seu Galvão................................................................................225
Antônio Quintino de Araújo Medeiros.......................................228
Manoel Francisco dos Anjos, O Pioneiro .................................231
Manoel Tomaz de Araújo, Um Pioneiro....................................232
O PROGRESSO ORGAM IMPARCIAL ...................................233
Professor Chico Rosa ..............................................................236
Roteiro de uma mesa que pertenceu ao casal Cipriano
Lopes Galvão e dona Adriana Lins de Holanda .........237
Lucas Pinheiro, ou Lucas de André..........................................239
Mas não foi só esta a boa de seu Lucas: têm muitas
 19

Outras .......................................................................................241
Seu Lucas no Banco Do Brasil ................................................242
Manoel Sotero ..........................................................................244
Joca Anário, Um Pioneiro ........................................................246
Gabriel Cego.............................................................................250
O Esporte em Currais Novos....................................................251
Currais Novos Esporte Clube....................................................256
Seridó Esporte Clube................................................................257
Uma dívida que foi paga setenta e cinco anos depois
de contraída......................................................................260
O Crime que não Saiu da História............................................262
Cena de Sangue  1974...........................................................264
Poema aos Mortos de 13 de Maio............................................266
Uma Festa Centenária..............................................................267
Capela de Boa Vista..................................................................268
A Capela de São José no Monte da Maniçoba ........................269
Lamentações de um Matuto......................................................270
Em Tudo tem Poesia ................................................................271
Radiodifusão em Currais Novos ..............................................273
Um Enredo ...............................................................................274
A Indústria em Currais Novos ..................................................276
O marco histórico do setor de indústria....................................278
Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão ........................................281
Ausônio Araújo .........................................................................282
Doutor José Cortêz Pereira.......................................................283
Dados Genealógicos e Biográficos do Autor............................287
Meus Troncos Genealógicos em Linha Direta......................... 287
Família Garcia.......................................................................... 287
Família Cardoso........................................................................288
Troncos genealógicos de Celestino Alves, lado paterno
em linha direta.............................................................288
Família Lopes Galvão...............................................................288
Família Filgueira ....................................................................289
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CAPÍTULO I

RETOQUES DA HISTÓRIA DE CURRAIS NOVOS

Currais Novos
Origem do Nome

O nome de Currais Novos teve sua origem, nuns currais

construídos pelo Coronel Cipriano Lopes Galvão, nos idos de
1760, nas imediações das bifurcações dos Rios São Bento e
Tororó.
Ele morava na Fazenda Tororó, mas não podemos precisar
a data de quando se instalou na referida fazenda. O certo é que
ele já criava muito gado. Como as margens do Rio São Bento
eram de muito boa pastagem, grande parte de seu gado se
deslocava para pastar nas várzeas deste rio, o que dificultava o
pastoreio a seus vaqueiros.
O Coronel resolveu, então, construir uma casa e currais
suficientes para cuidar do gado que pastava nas margens do Rio
São Bento. Na época chamava-se um logradouro, isto é, uma
segunda fazenda, onde o movimento era maior durante
determinada época do ano, normalmente no inverno. Os currais
serviam para trancar as vacas, onde eram
desleitadas, e fazia-se queijo, manteiga para vender,
guardar e comer durante o período da seca. Ali, amansavam os
bezerros e ferravam ou vacinavam como diziam na época.
Como a casa foi construída em cima do alto e ficou muito
bonita a visão, o Coronel Cipriano chamou-a Fazenda Bela Vista.
A casa foi construída onde ficam a bifurcação da Rua 23 de Julho
com a Rua Alberto Maranhão, mais ou menos onde é a casa de
Zé Dentista.
O primeiro morador foi um escravo livre chamado
Mulatinho, o mesmo que quebrou o pote de dona Adriana na
vinda de Recife, a mandado do Cel. Cipriano. Desse escravo é
que descende a família Mulatinho, que ainda hoje existe em
Currais Novos, e conservam o mesmo nome.
 22

Quando o coronel faleceu, em 1763, o Cap. Mor Galvão, –

que era o filho mais velho, ficou administrando os bens do casal
junto com dona Adriana. A Fazenda Bela Vista ficou bem mais
movimentada que a de Totoró, porque era o ponto de encontro
dos fazendeiros da região, daí a razão porque o Cap. Mor
renovou os currais. Então, era onde havia as apartações,
inclusive feira de gado. Marcava-se o encontro nos currais novos,
os tropeiros que tangiam burros também descansavam ou
dormiam nos currais novos, passando a chamarem a fazenda
dos currais novos, e não mais a fazenda Bela Vista.
Quando o Cap. Mor Galvão requereu a construção da
capela ao Bispo de Olinda, disse no requerimento que seria na
Fazenda dos currais novos, e foi despachado pelo mesmo a
Fazenda dos Currais Novos do Capitão Cipriano Lopes Galvão.
Assim surgiu a vila e depois a cidade de Currais Novos,
que hoje é a mais linda cidade do Rio Grande do Norte.

Coronel Cipriano Lopes Galvão

Esse nome merece um capítulo à parte na história de

Currais Novos. Filho do Coronel Cipriano Lopes Pimentel e de
dona Teresa da Silva Pimentel, ele nasceu no Sítio Catolé, no
município de Goianinha, no Rio Grande do Norte.
Dizem os antigos que foi o primeiro morador civilizado do
município de Currais Novos. Acredito que tenha sido, mas há
vestígios históricos, bem mais anteriores aos dele.
Temos como exemplo, a data do Tororó por ele requerida,
consta no livro nº 5 de Sesmaria do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte, com data de 1754. Enquanto
a de Juazeiro Grande, que pertenceu a Cristovam de Olanda
Cavalcante, consta no livro nº 3, com data de 1715, no mesmo
livro, mais um requerimento seu, da Sesmaria no lugar chamado
Cacimba da Pá, encostado a sua fazenda, Juazeiro Grande, que
foi despachado favoravelmente em 13 de abril de 1745.
Ele não morava aqui no município, apesar de ser grande
criador na região. Possuía três sesmarias: Juazeiro Grande,
 23

Cacimba da Pá e São Bento, que depois vendeu ao Cap. Mor

Galvão. Mas, ao que tudo indica, morava no Recife.
Quanto ao Coronel Cipriano Lopes Galvão, tudo indica que
morava no Tororó, antes de 1720, porque no inventário de seu
pai, em 1720, em Goianinha, ele não herdou terras, segundo as
especificações do inventário, mas, uma espada dos punhos de
prata e uma casaca de Baieta preta, por indumentárias do
coronel, seu pai, cujo título também lhe fora concedido.
A razão de ter requerido a Sesmaria em 1754, não quer
também dizer que tenha sido o ano da ocupação das terras. Eu
acredito que ele já vivia a muitos anos no Tororó. Foi apenas
para legalizar as terras onde já plantava e criava gado, porque
em 1753, quando ele foi para o Recife e casou-se com dona
Adriana, já era fazendeiro no Tororó. A razão de construir a casa
e os currais, também na beira do Rio São Bento, tudo indica que
foi para evitar que, Cristovam de Olanda Cavalcante, requeresse
terras à margem direita desse rio, porque à margem esquerda já
era toda ocupada pelo mesmo.

Personalidade do cel. Cipriano Lopes Galvão

Em 1753, foi para o Recife casar-se com Dona Adriana

Lins de Olanda, casamento entrosado através de Cristovam de
Olanda Cavalcante. Ele, solteirão, fazendeiro rico, bisneto de
Manoel Lopes Galvão, o mestre de Campo de Pernambuco,
escolhido que foi para casar-se com dona Adriana, que também
era de importante família portuguesa e sua parenta. Foi ao
Recife, acertou tudo e casou-se, mas, depois da lua de mel,
começou a se arrumar para a viagem de volta, e que dona
Adriana não aceitou dizendo que não vinha morar no sertão por
hipótese nenhuma.
O Coronel não fez questão, arrumou sua bagagem e veio
embora para sua fazenda Tororó, e, lá ficou cuidando dos seus
afazeres, não se incomodou com dona Adriana, ela ficou grávida,
nasceu o filho, ela batizou com o mesmo nome do pai, Cipriano
Lopes Galvão.
 24

Três anos depois, mandou chamar o coronel dizendo que

queria vir para o sertão. O Cel. foi ao Recife, lá chegando ela
disse que tinha resolvido acompanhá-lo para sua fazenda. Mas,
surgiu um empecilho: é que tinha que vir um escravo conduzindo
um pote com água, porque ela não bebia água de borracha 
uma vasilha feita de couro costurada numa das extremidades,
deixando a boca bem apertada, onde se botava uma tampa de
madeira, costurava-se uma alça do mesmo couro, e pendurava-
se ao cabeçote da cangalha com água para se beber durante a
viagem. A água da borracha, mesmo com a quentura do sol
conservava-se muito fria e muito saborosa.
Mas, Dona Adriana não queria beber da água, porque
achava que pegava o gosto do couro. Dizia que tinha muito nojo,
que a água era sebosa por causa do couro. O Coronel
concordou, chamou o escravo Mulatinho, em quem confiava
muito, ordenou-o que levasse o pote de água de dona Adriana,
mas, cochichou com o escravo ensinando-o como deveria fazer
para se livrar do pote. É que um dia e meio de viagem, depois de
saírem do Recife, sertão a dentro, não havia mais habitação ou
quase nenhuma e eles tinham água nas borrachas suficientes
para transpor as travessias desabitadas. Então, ensinou ao
escravo, que quando fossem chegando no lugar mais desabitado,
ele fingisse que caía e quebrasse o pote, porque ele, o coronel,
queria ensinar à Adriana beber água de borracha.
Assim foi feito: quando chegaram ao lugar indicado pelo
coronel, o escravo caiu e quebrou o pote de água. Ela ficou muito
brava, quis surrar o escravo, mas, o coronel não deixou, disse
que foi um acidente sem muita importância, pois logo compraria
outro e ficaria tudo resolvido. Dona Adriana até se conformou.
Acontece que não havia lugar onde comprar, dona Adriana foi se
aperreando, a sede aumentando e nada de chegar a um lugar
que tivesse pote para vender.
Disto o Coronel já sabia, não havia nem casa na estrada
naquele tempo, calcule se ia encontrar onde comprar pote.
Andaram o resto do dia e ela não bebeu água nem uma vez.
Arrancharam-se mesmo no mato para dormir, ela não bebeu
água, não jantou porque a comida era feita com água de
borracha.
 25

Amanheceu o dia, não banhou o rosto nem escovou os

dentes. O coronel continuava a viagem, tranquilo, comia, bebia
água, banhava o rosto e sempre dizia que a água era gostosa: 
“Na cidade ninguém tem uma água tão boa!” dona Adriana cada
vez mais criava raiva.
No outro dia, às onze horas, pararam para descansar e
cuidar do almoço. Quando a escrava que cuidava do almoço tirou
água da borracha para lavar a carne, passando por perto de dona
Adriana, ela não se aguentou mais, pois estava quase a morrer
de sede, disse a escrava: - “Dê-me um pouco desta água imunda
para eu, pelo menos, lavar a boca”.
A escrava imediatamente lhe deu um copo grande cheio de
água, dona Adriana foi lavar a boca, mas, não se controlou e
engoliu um pouco da água. Ela estava com tanta sede e a água
tão saborosa que ela nem lavou a boca, bebeu logo a água toda
e pediu mais a escrava, bebeu um segundo copo e disse: -“Não é
que o diabo da água é boa mesmo!”
Então, acabou-se a cisma que dona Adriana tinha, e dizem
os antigos que ela nunca mais bebeu outra água durante toda
sua vida. Mesmo, quando chegou à Fazenda Tororó, conservava
eternamente uma borracha cheia de água pendurada num pé de
árvore na frente da casa. Realmente a água de borracha é
mesmo saborosa. Eu mesmo quando trabalhava em caminhão,
conduzia sempre uma borracha com água pendurada na
carroceria para beber sempre que tinha sede.

Aí está comprovada a personalidade do Coronel Cipriano

Lopes Galvão.

Dona Adriana era também uma mulher de muita

personalidade. Viveu com o Coronel até quando ele morreu.
Tiveram no Tororó cinco filhos além do que nasceu em Recife.
Foram os seguintes os filhos do casal: Cipriano Lopes Galvão, o
Cap. Mor, que se casou com dona Vicência Lins de Vasconcelos,
filha do português, Francisco Cardoso dos Santos e Vicência Lins
de Vasconcelos, esta filha do Coronel Alexandre Rodrigues da
Cruz e dona Teresa de Vasconcelos; João Manoel, que morreu
solteiro; Manoel Lopes, que morreu solteiro; Teresa, que morreu
solteira; Francisca Xavier de Moura, que casou com José de
 26

Freitas Leitão; Ana Lins de Olanda, que casou com Miguel

Pinheiro Teixeira.
Ela casou-se em segundas núpcias, com Félix Gomes de
quem teve um filho chamado Feliz Gomes Pequeno. Casou-se
em terceiras núpcias com o Coronel Antonio da Silva e Souza, do
terceiro matrimônio não teve mais filhos.
Dona Adriana era uma mulher muito resolvida e muito viva.
Ela mesma era quem gerenciava seus negócios. Dizem que certa
vez, um fazendeiro dormiu na fazenda dela e conversando
durante a noite, disse-lhe que ia a Natal requerer uma data de
sesmaria nas terras que ficavam vizinhas as terras dela. Então,
ela não disse nada.
Sabendo onde era o local que o fazendeiro ia requerer,
resolveu fazer uma brincadeira com ele. Mandou soltar os
animais dele num lugar bem difícil dele encontrar; passou ordens
aos escravos para só entregarem os animais três dias depois de
ela ter viajado e não dessem a entender que ela havia mandado
esconder os animais nem dissessem para onde ela tinha ido.
Logo pela madrugada viajou para Natal e foi requerer a mesma
data de terras que o fazendeiro ia requerer.
Chegando a Natal, pensou como devia botar no
requerimento o nome da nova data de terras. Então resolveu
requerer com o nome de Macacos por entender que macaco é
um animal sabido. Requereu e recebeu os documentos. De volta,
encontrou o fazendeiro e também não lhe deu satisfação nem lhe
disse que havia requerido a data das terras.

Como nasceu a cidade de Currais Novos

Já sabemos dos currais que deram origem ao nome da

cidade. Sabemos também que o Coronel Cipriano Lopes Galvão
faleceu em 1763. Cipriano que era o filho mais velho, que
segundo os historiadores que escreveram sobre Currais Novos
são unânimes em dizerem que ele nasceu em Igarassu/PE,
talvez em 1754, o que eu tenho minhas dúvidas, primeiro, porque
ele passou cinco anos apartado de dona Adriana, morreu em
1763 e houve ainda cinco filhos do casal; segundo, porque em
 27

Igarassu não encontrei a certidão de batismo de Cipriano Lopes

Galvão, filho de Cipriano Lopes Galvão e de dona Adriana.
Tenho a impressão que ele nasceu em Olinda e em 1753, o
que também não posso provar ainda. O certo é que ele ficou com
dona Adriana na gerência dos negócios e das fazendas, segundo
informações de pessoas antigas, que guardam a história como se
fossem verdadeiras enciclopédias, como era o caso do meu pai,
Tomaz Alves dos Santos, João Bezerra, Tomás Inocêncio,
Francisco Bezerra e tantos outros.
O ano de 1777 foi um ano de seca. Cipriano Lopes Galvão,
o Capitão Mor, se viu muito apertado para escapar o gado porque
já não havia mais água. As cacimbas dos Rios Tororó e São
Bento já estavam muito fundas e o gado do pasto já não
encontrava mais água nos poços deixados nos rios pelas
enxurradas.
Então, ele fez uma promessa, que se Deus fosse servido
que desse uma chuva para fazer água que desse para escapar
pelo menos uma parte do seu gado, ele construiria uma capela
em homenagem a Santana na sua fazenda.
Dizem que já era no mês de julho, época que nem mais
chove naquela região, pois já havia passado o tempo de inverno.
Mas ele fez a promessa com tanta fé que logo à noite deu uma
chuva muito grande e o Rio São Bento deu uma grande cheia e
fez um poço muito grande nas imediações dos currais, onde o
gado bebeu o resto do ano.
O poço recebeu o nome de poço de Santana e a capela ele
construiu depois no local onde se encontrava quando fez a
promessa. O poço existiu no local até bem poucos anos. Quem
de Currais Novos não conheceu o célebre poço de Santana!
Todos os meninos do meu tempo tomavam banho e brincavam
lá. A capela, só trinta e um anos depois foi construída, em 1808.
Mas, segundo o que se lê no livro de tombo nº 1 da Matriz
de Currais Novos, foi construída por ele sem ajuda de ninguém.
Como dona Adriana casou-se com Félix Gomes e ficou
morando na Fazenda Tororó, ele construiu sua casa nas
imediações de onde iria construir a capela, o local segundo o que
eu pesquisei é onde hoje existe a casa de Dr. José Bezerra.
Outro dado importante, é que a Fazenda dos Currais Novos
não pertencia a sua mãe, dona Adriana, mas sim ao Capitão Mor
 28

Cipriano Lopes Galvão. Tanto é que, quando ele requereu a

construção da Capela ao Bispo de Olinda, pediu autorização para
construir uma capela, na sua fazenda dos Currais Novos. O
requerimento foi feito de próprio punho, a Dom Frei José Maria
de Araújo, Bispo de Olinda e foi despachado nos seguintes
termos:
“Carta de autorização para construção de uma capela por
invocação a Santana, na fazenda dos Currais Novos, do Capitão
Mor Cipriano Lopes Galvão e sua mulher”.

A íntegra da carta de autorização, como está registrada

no livro de tombo nº 1 da Igreja de Santana de Currais Novos:

“Dom Frei José Maria de Araújo, por merecer de Deus,

e, da Santa Sé Apostólica, Bispo de Pernambuco e do Conselho
de Sua Majestade Fidelíssima. Fazemos saber, que por petição
nos enviou a dizer o Capitão Mor Cipriano Lopes Galvão e sua
mulher, moradores na freguesia de Santana do Seridó, que eles
queriam erigir uma capela por invocação a Santa Ana, em lugar
decente, para o que já haviam constituído suficiente patrimônio,
pedindo-nos por fim sua súplica lhe concedêssemos licença para
se erigir a dita capela e benzer a primeira pedra, e a lançar no
lugar constituído.
E atendendo nós a sua justa súplica, visto ser obra tão Pia
de serviço de Deus, e bem das almas, por nós achamos
legitimamente impedidos para fazermos pessoalmente esta
função que só a nós pertence de direita cometemos nossas
vezes ao Reverendo Pároco da dita Freguesia, para que possa
benzer a primeira pedra, tendo afeiçoado por oficial de pedreiro,
com as cruzes necessárias e lançar-se no lugar que lhe compete,
segundo as disposições de ritual Romano, e depois de erecta, se
requererá a benção dela. Dado em Olinda sob nosso signal e
sele, aos 24 de fevereiro de 1808. Previsão para se erigir a
capela de Santa Ana, na Fazenda Currais Novos, do Cap.
Cipriano Lopes Galvão e sua mulher, na Freguesia de Santa Ana
do Seridó. Assegurado pelo Pe. Ingnácio Pinto de Almeida
Castro”.
 29

Esta carta foi copiada do Livro de Tombo nº 1 da Matriz de

Currais Novos.

Do Patrimônio de Santa Ana de Currais Novos

Um caso curioso: o Capitão Mor Galvão, construiu a capela

na Fazenda Currais Novos, mas doou o patrimônio na Serra de
Santana. A escritura de doação foi passada, em 5 de janeiro de
1808. O tabelião do primeiro cartório de Caicó veio a Currais
Novos fazer a escritura e fez na residência do Capitão Mor
Galvão, onde ele e sua mulher foram os declarantes doadores.
Por aí se vê que o Capitão Mor Galvão era muito unido com a
mulher e viviam muito felizes. A doação foi de meia légua de terra
em quadro na Serra de Santana, a escritura está lavrada no livro
nº 5, as folhas 69 e 70, do primeiro cartório de Caicó, assinada
pelo Capitão Mor Cipriano Lopes Galvão e dona Vicência Lins de
Vasconcelos Galvão, é também o único lugar em que ela
assinou: Vicência Lins de Vasconcelos Galvão.
Só que este patrimônio não existe apesar do local ter sido
denominado Serra do Patrimônio. Mesmo assim, existem outros
donos, que jamais compraram a ninguém, porque Santa Ana não
vendeu, os Bispos não venderam, eu já vasculhei todos os
arquivos: da Igreja e dos cartórios de Currais Novos, não
encontrei nada que dissesse respeito à venda ou arrendamento a
terceiros, das terras pertencentes ao patrimônio de Santa Ana na
Serra de Santana.
O certo é que se apossaram, indevidamente, das terras do
Patrimônio de Santa Ana doadas pelo Capitão Mor Galvão.
Talvez um dia apareça em Currais Novos um vigário tipo João
Bezerra, que vá a Caicó, requeira uma cópia da escritura e
promova uma ação judiciária para rever as terras do patrimônio
de Santa Ana, na serra do Patrimônio, só que já se vão 176 anos
da doação e talvez uns 150 anos de ocupação por terceiros.
Para Santa Ana de Currais Novos não morar em terras
alheias, o que não é permitido pela organização da Igreja, foi
preciso a generosidade do Capitão Mor Gonsalo Lopes Galvão,
filho do Capitão Mor Cipriano Lopes Galvão, herdeiro do título e
 30

de uma grande parte da Fazenda Currais Novos, fazer doação do

terreno onde estava construída a capela, que é hoje a belíssima
Igreja de Santa Ana de Currais Novos.
Outro fato importante, na hierarquia da família do capitão
Mor, Cipriano Lopes Galvão, é que, normalmente, naquela
época, os títulos ou patentes eram herdados ou dados o privilégio
de adquirir, aos filhos mais velhos e que tinham os nomes dos
pais, o que não aconteceu com a família do Capitão Mor Galvão.
Ele tinha um filho chamado Cipriano Lopes Galvão Júnior, mas
também não era o primeiro, era o oitavo. Gonsalo era o sétimo
filho e foi quem herdou a patente de Capitão Mor.
O patrimônio doado pelo Capitão Mor Gonsalo Lopes
Galvão começa nas imediações da rua hoje denominada Vivaldo
Pereira, indo até o final da rua hoje denominada Antonio Eduardo
Bezerra, subindo até as águas pendentes para o Rio Tororó. A
Prefeitura apossou-se de uma parte deixando as terras do
patrimônio no meio da Av. Laurentino Bezerra, indo até a metade
da Sete de Setembro. A outra parte do patrimônio de Santa Ana
foi doada pelo Alferes Francisco de Oliveira Galvão, Seu Galvão.

A Imagem de Santa Ana

Há tantas coisas belas guardadas nas tradições orais, nas

cabeças dos anônimos guardadores de história, que faz gosto a
gente ouvir e escrever, quem sabe, também seja gostoso alguém
ler no futuro!
João Bezerra, por exemplo, que de todos os guardadores
da história de Currais Novos, com os quais eu conversei, era ele
a enciclopédia viva. Não havia assunto sobre a história local que
ele não conhecesse e com pequenos detalhes que só ele sabia.
Há quem diga que João criava ou inventava. O que eu não acho
fácil, porque, história se aumenta, mas, não se inventa, segundo
ele.
O Capitão Mor Galvão era um autêntico devoto de Santa
Ana, tanto é que tinha uma casa em Caicó, aonde ia todos os
anos passar a festa de Santa Ana e foi um dos fundadores da
irmandade das almas do Seridó. Havia feito o voto de construir a
 31

capela de Santa Ana, na sua Fazenda Currais Novos. Antes de

conseguir a autorização para construir a capela, foi a Recife, em
1806, e trouxe a imagem. Não foi muito difícil para ele ir a Recife,
porque ele fazia feira em Goiana/PE, todos os anos.
Numa dessas viagens, encontrou no Recife uma imagem
de Santa Ana, do jeito que ele queria. Como andava com gente
suficiente, inclusive dois dos seus filhos, João e Sebastião,
compraram a Imagem, mandaram fazer um andor e trouxeram
como em procissão de Recife até Currais Novos e vinham com
um comboio de mantimentos. Então, quatro homens conduziam o
andor enquanto os outros tangiam os burros e iam revezando
sucessivamente até chegar à Fazenda Currais Novos. Mas, como
quando havia feito a promessa morava no Tororó, levou a
imagem para a Fazenda Tororó. De lá só trouxe novamente
quando construiu a capela e trouxe também em procissão.
Outro caso importante é que ele deu cartas de alforrias aos
quatros escravos que conduziam junto com ele e os filhos a
Imagem de Santa Ana, do Recife até o Tororó.
Se for verdadeiro este caso, o que eu acredito que seja, foi
a maior procissão de que se tem notícia em toda a história. A
esta época na Fazenda Tororó, morava sua filha Ana Lins de
Vasconcelos, casada com Félix Gomes Pequeno, seu irmão por
parte de mãe, filho do segundo casamento de dona Adriana com
Félix Gomes. Então, a imagem ficou no Tororó até quando foi
construída a capela e, de lá, veio em procissão no dia 26 de julho
de 1808, dia de domingo, daí a razão por que por muito tempo, a
festa de Santa Ana de Currais Novos encerrava-se no domingo,
até era chamada domingo de Santa Ana.

Provas Irrefutáveis

Há quem diga e até já tenha escrito, que, a primitiva capela

de Currais Novos foi inaugurada em 1813 e não em 1808. Eu
tenho provas incontestáveis, que foi em 1808 e não em 1813.

1º) – A carta de autorização para construir uma capela

sob a invocação de Santa Ana, na fazenda dos Currais Novos do
 32

Capitão Mor Cipriano Lopes Galvão, despachada por Sua Excia.

Reverendíssima Dom Frei José Maria de Araújo, Bispo de Olinda,
Pernambuco, datada de 24 de fevereiro de 1808.

2º) – A informação do Padre Inácio Pinto de Almeida

Castro, vigário geral da Diocese de Olinda, dando parecer
favorável ao requerimento do Capitão Mor Cipriano Lopes
Galvão, que pedia permissão para ser sepultado na capela de
Santa Ana de Currais Novos, por ele construída. O padre deu o
despacho em 2 de outubro de 1809, isto prova que a capela já
estava construída e em funcionamento em 1809.

3º) – O despacho do Padre Francisco de Brito Guerra,

vigário do Seridó, datado de 16 de janeiro de 1810. Diz o padre
Francisco de Brito Guerra, em seu despacho: “O suplicante foi
fundador da referida capela e por isto se faz digno do que
requer”.

Currais Novos, 16 de janeiro de 1810, assina Padre

Francisco de Brito Guerra, vigário do Seridó.

Outra coisa importante que a gente observa, é como o

nome dos Currais Novos vai sendo substituído por Currais
Novos. Depois da construção da capela, nota-se que as pessoas
já não escreviam mais, Fazenda dos Currais Novos, mas,
simplesmente, Currais Novos. É uma prova evidente que, ali
começava a nascer uma Cidade, logo com a construção da
capela.

4º) – Tenho cópia da ata do monumento centenário,

inaugurado em 1908. Portanto, não há nem uma dúvida em que a
capela foi inaugurada em 1808, como também não tenho nem
uma dúvida que a Imagem primitiva de Santa Ana, veio em
procissão do Tororó para Currais Novos em 26 de julho de 1808,
quem tiver dúvida que prove o contrário.
Todas estas provas estão escritas no Livro de Tombo nº 1,
da Matriz de Currais Novos, inclusive no requerimento do Capitão
Mor Galvão, para ser sepultado na capela por ele construída,
 33

sem auxílio de ninguém, segundo ele mesmo afirma no seu

requerimento, ele pede para sua mulher, seus filhos e suas
noras, não só no Cruzeiro, mas, no corpo da capela, foi dado o
consentimento e o vigário geral no seu despacho reforça,
dizendo: “sem que para isto, nem um vigário, no futuro, possa
interferir”.
Pe. Inácio Pinto de Almeida Castro, vigário geral da
Diocese de Olinda/PE.
Acontece que a razão desse requerimento, é que não havia
cemitério no povoado e as sepulturas eram feitas na capela.
 34

Cap. Mor Cipriano Lopes Galvão

 35

Capitão Mor Galvão e Sua Família

O Capitão Mor Galvão, como já sabemos, era filho do

Coronel Cipriano Lopes Galvão e dona Adriana Lins de Olanda,
casado com dona Vicência Lins de Vasconcelos, filha do
português Francisco Cardoso dos Santos e dona Teresa de
Vasconcelos.
Há quem diga que o primeiro morador na Fazenda dos
Currais Novos, foi Sebastião Lopes Galvão, filho do Capitão Mor
Galvão, o que não é verdade, pois a primeira casa foi construída
pelo Coronel Cipriano Lopes Galvão, quando o Capitão Mor era
ainda menino. Ele que era o pai de Sebastião Lopes Galvão.
O primeiro morador da Fazenda dos Currais Novos não
deve pairar dúvidas de que foi o escravo livre Mulatinho, o que
quebrou o pote de dona Adriana, na viagem de vinda do Recife.
A segunda casa construída, tudo indica que foi mesmo pelo
Capitão Mor Galvão para ele mesmo morar, pois sabemos que
dona Adriana casou-se em segundas núpcias com Félix Gomes e
ficou morando na Fazenda Tororó.
Encontramos vestígios de duas casas antigas no Tororó,
mas, sabemos que uma dona Adriana morou quando casada
com o Coronel Cipriano e com o segundo marido Félix Gomes, e
depois quem ficou morando foi Félix Gomes Pequeno, irmão e
genro do Capitão Mor Galvão. A outra foi de Miguel Pinheiro
Teixeira, genro de Cipriano Lopes Galvão e em seguida seus
ascendentes.
Então, não tenho dúvida de que a segunda casa construída
em Currais Novos foi pelo Capitão Mor Galvão e para ele mesmo
morar.
Sebastião Lopes Galvão, filho do Capitão Mor casou-se
com Maria, filha de José de Freitas Leitão e Francisca Xavier de
Moura, que era sua tia legítima, portanto casou-se com uma
prima legítima. Morou de fato na primeira casa construída, mas,
não foi o primeiro morador.
João Lopes Galvão, filho do Capitão Mor, também se casou
com uma filha de José de Freitas Leitão, Joana Francisca de
Jesus. Esse foi um dos que começaram a povoar o outro lado do
Rio São Bento.
 36

Manoel Lopes Galvão casou-se com dona Ana de Araújo

Pereira, ou Ana Laureana do Carmo, como encontramos nas
anotações do seu filho Coronel Cipriano Lopes Galvão. Esse
morou em Juazeiro do Cipó.
Francisco Lopes Galvão casou-se com dona Ana Joaquina
de Olanda, filha de Miguel Pinheiro Teixeira e Ana Lins de
Olanda, esse é de onde descendem os Lopes dos Namorados.
Joaquim de Morais Galvão, que se casou com dona Maria
Josefa da Conceição, esse morou em São Bento.
Antonio Pio Galvão, que casou com dona Adriana Lins de
Vasconcelos, esse morou no Tororó.
Gonsalo Lopes Galvão que casou com dona Ana Maria do
Rosário, esse foi quem herdou a patente de Capitão Mor, e foi
quem construiu a terceira casa em Currais Novos.
Cipriano Lopes Galvão, que casou com dona Teresa Maria
José, morou em São Bento. É ele o tronco da família Bezerra do
Seridó.
Vicência Januária de Vasconcelos, que casou com
Francisco Januário de Vasconcelos Galvão, era seu primo
legítimo, construiu a casa que é hoje de Sanfonias. Dizem que
era muito bravo, dava até tiro nas nuvens, quando não chovia.
Ana Lins de Vasconcelos, que casou com Félix Gomes
Pequeno, seu tio, esse ficou morando no Tororó, é o tronco da
família do Tororó.
Adriana, que casou com Alexandre Melo.
Maria Manoela de Vasconcelos, que casou com José de
Freitas Leitão, filho de José de Freitas Leitão.
José Lopes Galvão, que casou com Josefa Maria da
Conceição.
Teresa, que morreu solteira.
Esta foi a família do Capitão Mor, Cipriano Lopes Galvão,
que além de ter deixado uma família numerosa, deixou também
um exemplo de bom pai de família e de honestidade a toda
prova.
Vê-se pelo seu testamento, que será publicado na íntegra,
neste livro, que apesar da doença já muito avançada, ele não
esqueceu os mínimos detalhes. Até mesmo um escravo, que ele
tinha em seu poder empenhado por Miguel Filgueira, ficou
especificado no testamento, que o referido senhor, podia rever o
 37

escravo desde que pagasse a importância do empenho, que

eram oitenta e seis mil réis, apesar de já ter se vencido o tempo
do empenho.
O escravo Lázaro, que ele havia combinado dar sua carta
de liberdade por cento e cinquenta mil réis, dos quais ele já havia
pagado trinta e quatro mil réis, ele também não se esqueceu de
mencionar, deixando escrito para seus herdeiros que cumprissem
sua palavra, que o escravo só faltava pagar cento e dezesseis mil
réis.
Em tudo se vê o padrão de honestidade e de dignidade do
homem. Outra coisa importante era um homem manso, em todas
as pesquisas que fiz sobre o Capitão Mor Galvão, jamais
descobri um ato de barbarismo feito por ele, o que era muito
natural na época a um Capitão Mor ou a um Coronel.
Vê-se também, que ele escrevia português muito bem,
tanto pelos termos empregados no testamento quanto pela
pontuação. Por exemplo: Ele não diz que deixou na Serra do
Piauí, uma casa de farinha, como nós normalmente chamamos,
mas, que deixa uma casa com aviamentos de fazer farinha, na
Serra do Piauí, por sinal, a primeira construída na região.
Também, lá, construiu um pequeno barreiro para ter água na
época de fazer farinha. Esta fazenda da Serra do Piauí pertence
hoje a seu penta neto, Dr. Aroldo Bezerra.

TESTAMENTO DO CAPITÃO MOR CIPRIANO LOPES GALVÃO,

FEITO EM 6 DE DEZEMBRO DE 1813, POR CONSEGUINTE
SETE DIAS ANTES DE MORRER.

EM NOME DE DEUS AMÉM.

Saibam quantos este lerem que sendo no ano do

nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo aos 6 dias do mês de
dezembro de 1813. Nesta povoação de Currais Novos, da
Freguesia do Seridó, termo da Vila do Príncipe, Comarca da
Paraíba, estando eu, Cipriano Lopes Galvão, em meu perfeito
juízo, temendo, porém a morte, por me encontrar enfermo de um
antraz, e já sacramentado, faço o meu solene testamento, na
 38

forma seguinte: primeiramente encomendo a minha alma a

Santíssima Trindade, que criou e rogo ao Eterno Padre que a
queira receber pelos merecimentos da morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo a Virgem Maria Nossa Senhora e todos os santos da
corte do céu, especialmente meu nome e ao anjo da minha
guarda, por mim intercedem para que eu morra conforme desejo,
em minha Santa Fé Católica, peço a Meus filhos: João Lopes
Galvão, Francisco Lopes Galvão e ao meu irmão Félix Gomes
Pequeno, queiram por serviço de Deus e a mim serem meus
testamenteiros. Meu corpo será sepultado nesta capela da
gloriosa Senhora Santana dos Currais Novos. Na cova que já
tenho destinada e que me foi facultada, envolvido no hábito que
permitirem as circunstâncias e encomendado sem pompa e na
forma dos estatutos da minha freguesia, e se dirão por minha
alma, pelos reverendos sacerdotes da freguesia, cada um uma
oitava de missa, com a esmola de duzentos e vinte réis, e além
destas se dirão mais em louvor da gloriosa Santa Ana, uma
capela por minha alma, outra dita ao glorioso São José, outra
pelas almas dos meus falecidos pais, outra capela pelas almas
em geral, todas com a esmola de trezentos e vinte réis por cada
missa. Declaro que sou casado com dona Vicência Lins de
Vasconcelos, com a qual sempre fiz vida marital, da qual tive os
filhos seguintes: José Lopes, João, Sebastião, Francisco,
Manoel, Joaquim, Antonio, Gonsalo, Vicência, casada com
Francisco Januário; Ana, casada com Félix Gomes; Adriana,
casada com Alexandre de Melo; Maria, casada com Gonsalo de
Freitas; Cipriano que já faleceu, deixando filhos legítimos seus
representantes; Teresa que morreu solteira e não deixando
representantes. Declaro que os meus herdeiros do que montar a
minha fazenda depois de tirada a meiação da minha mulher, são
dos meus ditos filhos na forma do direito, salvo a minha terça na
qual tenho que fazer varias disposições. Declaro que há no
monte da minha fazenda os seguintes servos: um escravo de
nome José Crioulo, outro de nome Inácio Cabra, outro Manoel
Crioulo, Matias de Angola, Tomaz Mulato, João Crioulo, Prudente
Crioulo, Alexandre Crioulo, Lásaro Mulato, Miguel Mulato,
Caetano Mulatinho, Leandro, Francisco Cipriano, Bartalha
Mulata, Maria Josefa, filha desta, Maria filha da mesma, Joaquina
Mulata e Vicente, que de a meu filho, por valor de 223 mil réis,
 39

com a qual quantia deverá entrar na colação, tenho mais em meu

poder um crioulo de nome Henrique, empenhado por Miguel
Filgueira no valor de 86 mil réis, o que poderá ser remetido pelo o
mencionado senhor até o ponto de se dar conta deste
testamento. Não obstante, ter se vencido o tempo consignado do
papel de empenho. No qual, foi dado anteriormente o valor de
125 mil réis. Declaro que não possuo mais escravo, a exceção
dos mencionados, porque os mulatos Sebastião e Auriceta e a
preta velha Mariana já foram libertados por minha mulher. Advirto
que o mulato Lázaro atrás mencionado dando por si 116 mil réis,
meus testamenteiros lhe passarão sua carta de liberdade por
assim lhe haver prometido e havia recebido de sua mãe o valor
de 34 mil réis a conta de 150 mil réis por quanto lhe arbitrei o seu
valor. Declaro que possuo neste Sítio dos Currais Novos pelo rio
acima até chegar do Catunda, três léguas de terra, mais o Sítio
do Tororó légua e meia de terra, mais na data tirada ns mangas
do mesmo Sítio Tororó na qual tenho situada a Serra do Piauí
onde planto, com casa e aviamento de fazer farinha. Mais no
Sítio Quinquê, meia légua e longitude, com meia de latitude, mais
na serra denominada Dorna. 50 mil réis que foi do Coronel
Alexandre Rodrigues, mais uma data de sobra entre a serra de
Santana no limite da qual fiz o patrimônio desta capela, mais 50
mil réis que me tocou por herança de minha mana D. Teresa, a
qual porção de terra dei em data a minha filha Maria, casada com
Gonsalo de Freitas, no valor de 50 mil réis, com que deverá
entrar na colação mais no Juazeiro do Cipó, meia légua de
longitude e uma de latitude, pegando nas testadas dos Currais
Novos, seguindo em rumo direto para a parte do Sul, a qual dei
em data a minha filha Vicência, casada com Francisco Januário,
no mesmo valor, porque comprei duzentos e cinquenta mil réis,
com quanto deverá entrar na colação. Mas na herança que tive
de minha mãe, na Serra de Santana uma légua pouco mais ou
menos. Declaro que tenho situado na minha fazenda Tororó, todo
o meu gado vacinado debaixo de dois ferros, que dará ao todo
duzentos bezerros e também possuo pouco mais ou menos na
mesma fazenda, uma casa grande e maiores e menores.
Este testamento foi copiado de uma segunda via em poder
de Tomaz Bezerra de França, em 13 de outubro de 1971.
 40

Eu tenho a impressão que não está completo. Primeiro,

porque não tem o desfecho para assinatura; segundo, porque,
ele fala só de duzentos bezerros quando se refere ao seu gado,
dando a entender que duzentos bezerros teria sido a quantidade
que fora ferrada e assinada naquele ano, que ele diz: “vacinados
debaixo de dois ferros”, como também fala nas casas da
Fazenda Tororó, deixando de referir-se nas casas da Fazenda
dos Currais Novos, bem como uma casa que ele tinha em Caicó,
onde passava a Festa de Santa Ana.
 41

CAPÍTULO II

Currais Novos e a Religião Católica

A história da Religião Católica em Currais Novos começou

em 24 de fevereiro de 1808. O Bispo de Olinda, Dom Frei José
Maria de Araújo, deu autorização para construir uma capela por
invocação a Santa Ana, na Fazenda dos Currais Novos,
requerida pelo Capitão Mor Cipriano Lopes Galvão e sua mulher,
dona Vicência Lins de Vasconcelos.
O Padre Francisco de Brito Guerra, então vigário do Seridó,
benzeu a primeira pedra e celebrou a primeira missa, bem como
benzeu a imagem de Santa Ana na Fazenda Tororó, não tenho a
data precisa, mas, foi em março de 1808.
No dia 26 de julho, do mesmo ano, foi inaugurada a capela,
a imagem de Santa Ana veio em procissão da Fazenda Tororó
para a capela acompanhada por toda família do Capitão Mor,
filhos, noras e genros, bem como todos os escravos e moradores
da região. A capela estava pronta, com todas as alfaias
necessárias, inclusive a patena, os cálices que eram de ouro
maciço. Quem celebrou a missa foi o padre Francisco de Brito
Guerra e a capela ficou sob sua jurisdição canônica até 1835.
Criada a Freguesia de Acari, por força da lei provincial nº
15, de 13 de março de 1835, foi designado Cura da Nova
Freguesia, o jovem Padre Tomaz de Araújo Pereira, a quem ficou
subordinada a capela de Currais Novos até 1884, quando foi
criada a Nova Freguesia.
A Freguesia de Currais Novos foi criada por força da lei nº
893 de 20 de fevereiro de 1884, ainda sendo cura da Freguesia o
Padre Tomaz de Araújo Pereira, que acumulava com a de Acari.
Por portaria de 22 de julho de 1885, foi designado o padre Joel
Esdras Lins Filho para instalar a nova freguesia, o que foi feito
em 26 de julho do mesmo ano.
O primeiro batizado na nova freguesia foi feito nesta
mesma data. Quem o fez, segundo consta no Livro do Tombo, foi
o então seminarista Manoel Joaquim da Silva Chacom, tanto é
que quem assinou como celebrante foi padre Joel Esdras Lins
 42

Filho. Há quem diga e até já escreveram que o primeiro vigário

de Currais Novos foi o padre Manoel. Mas, não é certo, pois ele
ordenou-se em 21 de dezembro de 1884, enquanto que a
Freguesia foi criada em 20 de fevereiro de 1884.
O primeiro menino batizado na Freguesia foi João Justino,
filho de Manoel Justino e Justina Maria da Conceição; os
padrinhos foram: Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão e Dona
Francisca Maria de Medeiros Galvão, no dia 9 de janeiro de
1886. Reverendíssimo Dom José Pereira da Silva Ramos, Bispo
da Diocese de Olinda, baixou portaria designando o padre Joel
Esdras Lins Filho para exercer as funções de vigário de
Freguesia, acumulando com a de Picuí.
O termo de posse foi assinado em 21de fevereiro de 1886.
O vigário Manoel Joaquim da Silva Chacom continuou como
coadjutor, pois, ele sempre morou em Currais Novos.

O Vigário Manoel Joaquim da Silva Chacom

Por intermédio do padre Tomaz Pereira de Araújo, o vigário

Manoel Joaquim assumiu a Freguesia de Currais Novos em 15
de março de 1887, mas, a portaria episcopal designando-o como
vigário de Currais Novos, foi de 25 de janeiro de 1888; o termo de
posse foi feito e assinado por ele em 12 de fevereiro de 1888,
conforme o Livro de Tombo nº 2 da Matriz de Currais Novos.
A razão da demora do ser designado cura da Freguesia de
Currais Novos é muito simples de se entender. Acontece que ele
foi casado em Currais Novos, tinha família, filhos e filhas, depois
que enviuvou é que voltou a estudar no seminário, formou-se
sacerdote com 60 anos de idade. Então, era muito normal que a
igreja fizesse com ele uma experiência, para poder confiar-lhe a
cura de uma freguesia.
Ele foi muito esforçado e trabalhador, viveu somente 6
anos depois que ordenou-se mas, como vigário apenas três
anos: de 1887 a 1890, quando morreu. Nesse curto espaço de
tempo, quase que fez milagre, pois conseguiu construir esta
beleza de templo que temos aqui em Currais Novos: apenas em
dois anos construiu esta igreja: 1888 a 1889. Faleceu em 1890.
 43

Sua história é um pouco distorcida da realidade. Sabe-se

através da boca corrida da cidade, que ele viveu maritalmente
com dona Antônia Hubelina de Carvalho, já sendo padre e com
ela teve filhos, mas, segundo o que eu pesquisei ao longo dos
anos sobre sua vida, ele como padre jamais teve mulher, nem
filhos, o que aconteceu é que ele ordenou-se presbítero com 60
anos de idade, pois nasceu em 21 de agosto de 1824 e recebeu
as ordens de presbítero em 21 de dezembro de 1884, tendo
assim 60 anos e quatro meses de idade.
Quanto a sua família eu também pesquisei as datas de
nascimento. O mais moço dos seus filhos foi Abílio Chacom,
nasceu em 1877, então ele não era padre ainda, era sim, um
cidadão casado como outro qualquer. Quando enviuvou foi para
o Recife estudar, e formou-se. Acontece que ele quando
enviuvou já tinha estudado o que nós chamamos hoje de
segundo grau, então ele fez teologia no Seminário do Recife.
Só não posso exibir neste trabalho a certidão de óbito de
dona Hubelina de Carvalho, porque ela faleceu em 1888 e o livro
de registro de óbito do primeiro Cartório de Currais Novos
começou em 1889. Portanto, o vigário Manoel Joaquim tem sido
injustiçado através da história de Currais Novos, especialmente a
falada. Não sei por que, até hoje a própria família não se
interessou em descobrir a verdade dos fatos, pois nada impedia
que ele vivesse maritalmente ou casado com uma mulher,
quando não era celibatário. Que ele era casado eu não tenho
dúvidas, apesar de não ter encontrado sua certidão de
casamento nem em Currais Novos nem em Acari, mas não tenho
dúvidas porque ele era um homem muito católico e de boa
índole.
O certo é que as coisas boas são menos contadas,
enquanto que as más são mais divulgadas. Até mesmo na Igreja
de Currais Novos, tem uma prova irrefutável do que eu defendo
sobre esse vigário: junto a sua lousa fúnebre tem uma de suas
filhas que nasceu em 1851. Portanto, 33 anos antes dele ser
padre. Se a igreja não tivesse conhecimento da história certa do
vigário Manoel Joaquim, não iria permitir que se colocasse dentro
da igreja uma lousa fúnebre de um padre e uma filha.
Ele era filho de Manoel Fernandes da Silva Chacom e de
dona Inez Maria de Jesus. Nasceu em 21 de agosto de 1824, foi
 44

ordenado padre em 21 de dezembro de 1884, assumiu a

Freguesia de Currais Novos por intermédio do padre Tomaz de
Araújo Pereira em 15 de março de 1887 e foi nomeado vigário
por portaria Episcopal, em 25 de janeiro de 1888. Portanto, não
foi ele, como alguém diz, o primeiro vigário de Currais Novos.
Mas, o padre Joel Esdras Lins Fialho: de 22 de julho de 1885 até
15 de março de 1887. De 15 de março de 1887 até 1890, foi o
vigário Manoel Joaquim da Silva Chacom.

Padre José Antônio da Silva Pinto, “Padre Pinto”

Em março de 1890, assumiu a Freguesia de Currais Novos,

o padre José Antônio da Silva Pinto, “Padre Pinto”, como ficou
vulgarmente conhecido. Ele ficou em Currais Novos da primeira
vez que assumiu, até 1892. Nesta época, foi designado para
assumir a Freguesia de Acari, por causa da doença e da idade do
Padre Tomaz Pereira de Araújo. Neste período que o Padre Pinto
ficou em Acari, voltou a ser vigário de Currais Novos o padre Joel
Esdras Lins Fialho, como da outra vez, acumulando com a
Freguesia de Picuí, na Paraíba.
O padre Tomaz faleceu em 1893 e o padre José Pinto
voltou para a Freguesia de Currais Novos, onde ficou até 1899.
Ele parece que não era de escrever muito, não sei se por
dificuldade de auxiliar ou se por descuido dele próprio, consta
pouca coisa dele no Livro de Tombo, até mesmo em se tratando
de registros, tanto de casamento como de batizado. Foi ele quem
fez o casamento do meu pai, Tomaz Alves dos Santos com Maria
Leônidas da Conceição em 1898, e esta certidão não existe nos
arquivos da Igreja de Currais Novos. Não deve ter sido registrado
o casamento, bem como outros realizados na época, celebrados
por ele, até mesmo certidões de batismos deixaram de ser
registrados.
Em 1899, com a saída de Padre Pinto, assumiu a
Freguesia, o vigário Luiz Marinho de Freitas, que ficou curando
até 1901. Ele era muito evoluído, bom orador e muito dinâmico.
Fez uma das maiores festas religiosas e cívicas que a história de
Currais Novos até então teve conhecimento: a passagem do
 45

século. Meu pai contava que foi tão grande o movimento que ele
fez na época, que na zona rural do município não ficou ninguém.
Todo mundo foi para a vigília, todas as casas da zona rural
ficaram fechadas, trouxeram até as crianças de peito.
A missa à meia noite foi campal, todo mundo ansioso para
ver a entrada do século vinte, pois, o padre dizia que quem não
recebesse a benção na entrada do século não seria feliz.
Recomendava que trouxessem especialmente as crianças,
porque talvez uma delas pudesse assistir a outra passagem do
século o que seria muito raro. Então, a razão de todo mundo
trazer as crianças e como de fato hoje são poucas as pessoas
que assistiram e raríssimas são as que vão assistir a outra
passagem. O padre Luiz Marinho de Freitas deixou a Freguesia
de Currais Novos, em fevereiro de 1901.
Nessa data, assumiu o padre Marcelino Rogério dos
Santos, que passou somente cinco meses em Currais Novos, de
fevereiro a agosto de 1901, não houve nada de anormal em seu
tempo, os registros no Livro de Tombo são poucos, como não
podia deixar de ser, pois foi muito pequeno seu espaço de tempo
frente à freguesia.

Padre Luiz Borges de Sales e a Visita Pastoral de Dom Adalto

Em setembro de 1901, assumiu a Freguesia de Currais

Novos, o padre Luiz Borges de Sales, que ficou até 1904. Este
vigário foi bem mais dinâmico; foi no período de sua
administração na Freguesia que Currais Novos teve a sua
primeira visita pastoral.
Em 10 de agosto de 1903, Currais Novos recebeu com
grande festa, sua Excia. Revma. Dom Adalto Aurélio de Miranda
Henrique, Bispo da Paraíba. Ele chegou no dia 9. Mas, só foi
aberta visita no dia 10, porque Sua Excia. Revma. vinha muito
cansado, exausto da viagem, pois já completava quase duzentas
léguas a cavalo.
A visita pastoral foi uma festa muito grande e muito
movimentada. Foram quatro dias de festa, porque, no dia 9 foi a
chegada do Bispo. Formou-se um grande cortejo para esperá-lo
 46

na entrada da cidade, nos dias 10, 11 e 12 foi à festa

propriamente dita, com missas cantadas, sermões do Bispo, que
por sinal dizem que eram um grande tribuno, as noites a tríduo e
pregações. As ruas encheram-se de fiéis que vinham conhecer o
Bispo e beijar-lhe a mão, porque era ele primeiro Bispo que
desbravava o sertão do Seridó, especialmente Currais Novos.
A visita dele foi uma verdadeira peregrinação, e ele um
verdadeiro herói, pois saiu de João Pessoa a cavalo junto com o
padre José Tomaz Gomes da Silva, secretário do Bispado,
percorreram todo o sertão paraibano e do Rio Grande do Norte,
visitaram 29 Freguesias, andaram na própria expressão de Dom
Adalto, mais de duzentas léguas pelo sertão adentro, segundo
ele mesmo disse no seu discurso de despedida de Currais
Novos: “a viagem foi uma verdadeira epopéia, transpondo léguas
de travessias”. Por isso, acho que ele foi um verdadeiro herói.

Roteiro da viagem de Dom Adalto

Saiu de João Pessoa, foi a Guarabira, daí a Borborema,

Bananeiras e Arara. De Arara voltou a Brejo de Areia e Alagoa
Grande, foi até Campina Grande, Ingar do Bacamarte, foi a
Patos, Pombal, Souza, Cajazeiras, de Cajazeiras voltou
novamente por Souza para chegar a Catolé do Rocha, de Catolé
do Rocha veio para Caicó, passando por Jardim de Piranhas, de
Caicó passou em Jardim do Seridó, Acari para poder chegar a
Currais Novos. De Currais Novos ele saiu pela estrada da Serra
das Umburanas para Picuí e voltou para João Pessoa.
Dom Adalto passou 4 dias em Currais Novos, se refez um
pouco da viagem cansativa que já durava cerca de três meses,
andando a cavalo ainda tendo pela frente a volta, enfrentando o
rigor do flagelo das secas como ele mesmo diz em sua carta
pastoral, que está escrita no Livro de Tombo nº 2 da Matriz de
Currais Novos. Essa carta é uma belíssima peça histórica, eu
aqui peço permissão a Deus e a Igreja para transcrevê-la na
íntegra.
 47

“CARTA PASTORAL DE DOM ADALTO AURÉLIO DE MIRANDA

HENRIQUE”

AO NOSSO VENERÁVEL CLERO E A TODOS OS NOSSOS

CAROS DIOCESANOS: PAZ E BENÇÃO EM NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO, IRMÃOS E FILHOS CARÍSSIMOS

No meio de Santo contentamento por parte do clero, o povo

católico desta nossa cidade Episcopal, aqui chegamos há 4 dias,
que interrompidos dos nossos caros amigos e diocesanos, só
hoje vos dirigimos o seguinte:
Depois do um trabalho afanoso que nos observou as
minúcias particulares de três meses de visita pastoral nos sertões
dois Estados, na qual, não obstante o rigor do flagelo das secas
com suas penosas consequências tivemos a consolação de
anunciar a palavra de Deus e de anunciar para melhor vida a
mais de cem mil dos nossos diocesanos, reunidos em 29 portos
diferentes, ligados entre si pelo percurso de duzentas e muitas
léguas, a cavalo, depois de haver visto durante esse tempo, todo
prodígio da Graça Divina, tantas reconciliações com Deus e com
o próximo, tantas milhares de comunhões, tantas lágrimas de
reparações e de consolações espirituais, de saudades pelo
profundo sentimento de gratidão.
Tantas uniões e famílias legitimadas pelo sacramento do
matrimônio todos de boa vontade, de bom espírito de docilidade,
as inspirações da verdade e do bem, depois de haver constatado
os sentimentos religiosos e uma grande capacidade dos nossos
caros diocesanos para a cultura do seu aperfeiçoamento
intelectual e moral.
Se lhes faltando ainda os meios, depois de haver admirado
a sua energia de vontade na luta pela vida presente, sempre com
olhos no futuro que não teria fim, depois de haver sido
testemunha ocular, de quanto já tem operado em favor do
interesse do Sagrado Coração de Jesus, que são a glória de
Deus e a salvação dos homens.
 48

O zelo sacerdotal de tantos dos nossos caríssimos

cooperadores, depois de haver visto por todas as Freguesias as
mais cordiais manifestações embalsamadas no espírito da fé, as
mais sinceras homenagens de respeito, de veneração, de
obediência e de amor ao Divino Redentor na pessoa de seu
humilde enviado. Eis finalmente a nossa primeira visita pastoral
terminada em toda querida nossa diocese. Conheço as minhas
ovelhas e elas me conhecem. Sim já conhecemos as suas
necessidades e começaríamos agora mesmo por meio de uma
carta pastoral a vos falar sobre o que devemos ir fazendo, não
vos teremos dirigido a presente, motivado pelo grande
acontecimento do dia 20 de julho, que envolveu a igreja no luto
da viuvez, com a morte tão sentida do sábio e santo pontífice a
quem a tudo a Igreja paraluibense em sua criação e seus bens
espirituais. O imortal Vigário de Jesus Cristo, Leão XIII, quanta
força, quanta luz para o nosso episcopado.
Recebemos na particular audiência de setenta minutos,
que se dignou conceder-nos logo depois de nossa sagração
episcopal. Quanta confiança nas dificuldades... Quanta gratidão
para com ele.
Mas que pesar! Que dor sentimos quando bem longe de
nossa Sede Episcopal, no meio dos afanosos trabalhos de uma
visita pastoral, recebemos comunicação da morte de Leão XIII,
de cuja audiência particular e de todos os seus pormenores
jamais nós poderemos esquecer!...
Completa é a nossa satisfação e a nossa gratidão para
com todas as manifestações de luta e de pesar da parte das
autoridades e corporações civis, do clero e dos católicos da
nossa diocese, e, ainda mais pelos sufrágios oferecidos a Deus
por sua glória!...
Ante acontecimento de tristeza internacional, sucedeu na
manha do sai 4 de agosto como já sabem, o de igual alegria, mas
tão somente aqui chegando foi que lemos a seguinte
comunicação oficial da Nunciatura Apostólica nº 936, Circular
Petrópoles, 28 de julho de 1903.

EXMO. E REVMO. SR. E. MORIS DELVAL

 49

O Secretário de Estado de Sua Santidade, acaba de

confirmar por carta a notícia oficial da eleição do Exmo. Cardeal
José Sólon como sucessor de Leão XIII ao Pontificado Romano
que tomou o nome de Pio X, a qual realizou-se na manhã de 4 do
corrente, notícia que lhe assegura ter transmitido a esta
Nunciatura no mesmo dia da eleição por telegrama que
infelizmente extraviou-se, tendo o prazer de levar ao
conhecimento de V. E. R. esta fausta notícia e peço-lhe
desculpas a involuntária demora desta comunicação.

Queira V. Excia aceitar os protestos da mais subida

consideração com que eu confirmo”.

Assim o padre Luiz Borges de Sales coroou de êxito sua

passagem por Currais Novos, pois a visita pastoral foi muito
bonita e muito preparada. Para esperar o Sr. Bispo foi organizada
uma caravana de mais de duzentos cavaleiros, chefiada pelo
coronel José Bezerra para Acari, de Acari até Currais Novos foi
uma verdadeira procissão de homens a cavalo, só na região dos
Namorados, Macacos e Trangola foram juntos com meu pai,
Tomaz Alves dos Santos, mais de 50 cavaleiros. O Livro de
Tombo da Paróquia não conta este detalhe, mas meu pai nos
contava, como foi o roteiro da viagem de Acari para Currais
Novos. O cortejo saiu de Acari depois da missa e do café,
almoçaram na Aba da Serra, Fazenda do Coronel José Bezerra,
na parte da tarde vieram para Currais Novos: o pessoal a pé foi
esperar nas imediações do Riacho Fechado, daí foi uma
verdadeira procissão até chegar a Currais Novos mais ou menos
às 5 horas da tarde.
O padre Luiz Borges de Sales ficou em Currais Novos até
fevereiro de 1904. De março de 1904 a fevereiro de 1905, quem
curou a Freguesia de Currais Novos foi o padre Inácio
Cavalcante de Albuquerque, que foi substituído em 26 de
fevereiro de 1905 pelo padre Francisco Coelho de Albuquerque,
que ficou em Currais Novos até 1912.
 50

Administração do Padre Francisco Coelho de Albuquerque

O padre Francisco Coelho de Albuquerque foi bastante

dinâmico. No período de sua administração da Freguesia, foi
inaugurado o monumento Centenário, na Avenida Laurentino
Bezerra, hoje Coronel José Bezerra. Este foi inaugurado no dia
24 de dezembro de 1908, às nove horas da noite. Foi uma festa
de Natal muito movimentada. O monumento foi construído por
uma campanha, feita por Vivaldo Pereira e Ulisses Telêmaco,
através do jornal A VOZ POTIGUAR, com o apoio e a ajuda do
padre Francisco Coelho e do então Intendente Benvenuto Pereira
de Araújo. Foi organizada uma comissão para festa de
inauguração que constou dos seguintes nomes: Presidente,
padre Francisco Coelho de Albuquerque; Presidente Honorário,
Benvenuto Pereira de Araújo, que era o presidente da
Intendência na época, membros: Coronel José Bezerra de Araújo
Galvão, chefe político do município. Major Sérvulo Pires de
Albuquerque Galvão, deputado estadual pelo município, coronel
Antonio Rafael de Vasconcelos Galvão, Luiz Ulisses da
Circuncisão, Lula, Secretário Vivaldo Pereira de Araújo.
Deixo de transcrever a ata da sessão inaugural do
monumento Centenário por achar que está incompleta da
maneira como está escrita no Livro de Tombo da Matriz de
Santana de Currais Novos, mas não posso deixar de transcrever
pelo menos um trecho da expressão de Vivaldo Pereira que diz:
“Promoveu-se a inauguração solene do monumento
comemorativo do primeiro centenário da fundação de Currais
Novos, as expressões entusiásticas de uma aluvião
avultadíssima de expectadores, que via através desta festividade
cívica a solenização de seus sacros ideais.”
O primeiro orador foi o padre Francisco Coelho, que depois
do ato, com a eloquência de costume, concedeu a palavra ao
orador oficial Vivaldo Pereira de Araújo, que é pena não se ter
uma gravação, porque era um grande tribuno, especialmente em
se tratando de momento cívico e sacro.
Pela ordem dos inscritos, falaram na solenidade:
Esperidião Elói de Medeiros, Francisco Cícero da Costa,
Francisco Gonzaga Galvão, Ademar Romero de Medeiros,
 51

Salustiano Aureliano de Medeiros, José Francisco Bandeira de

Melo, Antônio Edmundo de Albuquerque, João Alfredo de
Albuquerque Galvão, Luiz de Medeiros Galvão Neto, Luiz
Bezerra de Araújo Galvão. As solenidades de inauguração
terminaram à meia noite com uma missa campal ao pé do
monumento.
O padre Francisco Coelho continuou trabalhando na
Freguesia, como em Mulungu começou a desenvolver um
povoado. Com a crescente produção e comercialização de
algodão, ele achou que se devia construir uma capela em honra
de São Sebastião. Então, pediu autorização a Dom Adalto.
Os senhores Manoel Gerônimo da Silva, José Amaro de
Oliveira e Joaquim de Maria Santana doaram o patrimônio. A
escritura foi assinada em 15 de janeiro de 1909, os mesmos
senhores se encarregaram da construção, ajudados por Vivaldo
Pereira, Lulu Brandão e outros.
A autorização da construção da capela foi despachada por
Dom Adalto em 19 de novembro de 1909, a inauguração foi noite
de Natal, quando deveria ter sido a 19 de janeiro de 1910, dia de
São Sebastião, mas o padre Francisco Coelho era mais
apressado, fez a inauguração noite de Natal, embora tenha ido
celebrar a festa de São Sebastião em 19 de janeiro de 1910.
O padre Francisco Coelho de Albuquerque ficou em Currais
Novos até 21 de julho de 1912, quando foi substituído pelo padre
Esmerino Gomes da Silva, que ficou pouco tempo em Currais
Novos, como vigário: de 22 de julho de 1912 até 15 de dezembro
do mesmo ano, quando foi substituído pelo padre Antônio
Brilhante de Alencar.

Administração do Padre Antônio Brilhante de Alencar

O padre Antônio Brilhante de Alencar, padre Brilhante,

como era normalmente conhecido e popularmente chamado em
Currais Novos, foi muito dinâmico, muito trabalhador, muito
enérgico e especialmente muito honesto.
Durante seu tempo na administração da Freguesia, fez
uma reforma geral na Igreja, construiu o coro, aumentou a terra,
 52

mudou o teto, fez o forro e colocou o relógio. Por sinal esse

relógio da torre da Igreja tem uma história muito bonita que vale a
pena ser contada. Nela se vê o padrão de honestidade do Padre.
O relógio da torre da Matriz de Currais Novos foi adquirido
na Firma Pedrosa Tinoco & Cia., de Natal, conforme fatura de 20
de outubro de 1917, mas a firma Pedrosa Tinoco foi
simplesmente intermediária do negócio, entre a Firma Labor Rio
e a Matriz de Currais Novos, tendo uma comissão de 3%, as
despesas correndo por conta da Matriz, ou seja, do doador, o Sr.
Alferes, Francisco de Oliveira Galvão.
As despesas foram assim distribuídas pelo padre Antônio
Brilhante de Alencar:
Compra do Relógio............................................2.400$000
Despesa do Rio a Natal..........................................40$000
Comissão de 3% sobre 200$000............................72$000
Despacho, frete, seguro, cabotagem e despesa
de Natal a Lages.................................................................
Despacho e cabotagem............................................2$780
Carreto para o armazém...........................................2$000
Despesa com embarque
Desembarque e Alvarenga.......................................5$000
Frete com a Estrada de Ferro Central......................2$300
Direito Estadual 2% ..................................................4$800
Taxa de 2% sobre o imposto....................................9$600
Selo de Guia.................................................................300
______
Total da Despesa.....................................................91.380

Despesas diversas:
Despesas bancárias..................................................6$350
Um telegrama a Tinoco doc. 1..................................1$600
Um tel. A Vivaldo Pereira doc. 3...............................2$600
Um tel. A Pe. Jósimo doc. 4.....................................1$800
Um tel a Manoel Machado doc. 5.............................1$200
Idem, doc. 6..............................................................1$200
Idem, doc. 7..............................................................1$200
Um telegrama em 25 de outubro doc. 8...................2$100
Frete de Lages com um carro.................................72$400
Frete a Irineu, uma viagem por da..........................10$000
 53

Despesa com descarga em C. Novos......................3$000

Quatro linhas, compras a João Pires......................42$000
Pago a Galdino Periquito em folhas.......................12$000
Uma fatura a Manoel Machado pago por Abílio
Chacom...........................................................................113$000
A Vivaldo Pereira doc. 10.....................................195$650
Gratificação a Francisco Baldomero Chacom........20$000
Fatura a Sebastião Ferreira....................................74$300
Despesa a José M. C. D. doc. 12.............................4$500
Bonificação ao Mestre Oliveira para instalação
do Relógio......................................................................210$000
Um cadeado a Manoel Aleixo...................................7$000
_________
Total Geral.........................................................3.472$180

Recebi do Alferes Francisco de Oliveira Galvão

p/Festa de Santa Ana................................................. 5.000$000
Cinco contos de réis para a compra do relógio
por intermédio do seu filho Moisés de Oliveira
Galvão..........................................................................3.472$180
(Três contos, quatrocentos e setenta e dois mil,
cento e oitenta réis)
Total...................................................................8.472$180
Total da Receita.................................................8:472$180
Total das despesas com compra, instalações
de peças, de frete, comissões, cabotagens, Alvarenga, etc. .
.....................................................................................8:472$180

Currais Novos, fevereiro de 1918

Padre Antônio Brilhante de Alencar, vigário.

Declaro que a percentagem a que tinha direito, renunciei,

primeiro, porque não preciso; segundo para não onerar a
generosa abnegação do Sr. Alferes Francisco de Oliveira Galvão.
Declaro mais que omiti por esquecimento a quantia de
21.300 réis, (vinte e um mil e trezentos réis) quando forneci ao
Sr. Galvão as notas das despesas, deixei de informar a conta não
só por ser diminuta em face de tanta generosidade, mesmo
porque as dúzias de tábuas compradas ao Sr. Machado
 54

sobraram algumas ao terminar o fechamento da caixa do relógio,

o que ainda não fizemos, estas se destinarão a Matriz, sendo ela
debitada pelo 21.300 réis (vinte e um mil e trezentos réis). Currais
Novos, 25 de fevereiro de 1918.

Padre Antônio Brilhante de Alencar, vigário.

Donativo do Alferes, Sr. Francisco de Oliveira Galvão, para

a festa de Santa Ana, em 1917, 5:000$000 (cinco contos de réis);
para a compra e instalação do relógio da torre da Matriz,
3:472$380 (três contos, quatrocentos e setenta e dois mil
trezentos e oitenta réis) total doado por seu Galvão para o relógio
e a festa de Santa Ana em 1917, oito contos, quatrocentos e
setenta e dois mil e trezentos réis.
“Para um sertanejo do nosso meio já é muito”, isto
expressão do padre Brilhante e está escrito no Livro de Tombo nº
2, da Matriz de Currais Novos e assina: Pe. Antônio Brilhante de
Alencar.
O nosso saudoso amigo, Francisco Baldômero Chacom foi
quem fez esta contabilidade e recebeu pelo trabalho, como
gratificação a importância de 20$000 (vinte mil réis).
Isto, para mim, é uma beleza, uma peça histórica
importantíssima. Acredito que alguém gostará de conhecê-la e
por isso transcrevi. Aí se vê o cunho de honestidade do padre
Antônio Brilhante de Alencar, pois ele na época, como vigário,
não tinha necessidade de fazer tão minuciosa prestação de
contas. Acredito que ele fez para a posteridade, porque para seu
Galvão o que interessava mesmo era ver o relógio da torre da
Igreja. O dinheiro que ele deu para a festa foi para ajudar na
reforma que o padre Brilhante fez na Igreja. Para ele não lhe
fazia diferença nem ele queria saber como tinha sido gasto.
Há quem diga, mas eu não posso provar que seu Galvão já
havia comprado outro relógio para a torre da Igreja, quando
esteve no Rio de Janeiro, em 1915; trouxe para Currais Novos,
mas quando chegou soube que o relógio não repetia as horas.
Então, doou para a Igreja de Acari. A informação tem fundo de
verdade, pois seu Galvão quando esteve no Rio de Janeiro em
1915, trouxe no navio até Natal. O sino que está na torre da
Igreja e um relógio, eu sei da história através de Eusébio dos
 55

Anjos, porque seu José Francisco dos Anjos, que era pai de
Eusébio foi quem transportou para Currais Novos, o sino e o
relógio em 1915, e o relógio não é o que está na torre da Igreja,
pois o que está na torre é este cuja história acabamos de ver.
Mas, não terminou ainda a história do relógio da torre da
Igreja Matriz de Santa Ana de Currais Novos. Por questão de
estética o Mestre Oliveira achou que para colocar o relógio, a
torre deveria ser aumentada quatro metros. Então, dona
Chiquinha Galvão, esposa do Major Ladislau Galvão,
responsabilizou-se pelas despesas e mandou fazer o aumento da
torre, porque os cinco contos de réis que seu Galvão havia doado
para a Igreja o padre já havia gasto nas obras de reformas.
A doação de seu Galvão foi tão grande na época, que foi
até censurado pela família de estar deserdando os filhos, mas ele
era um homem de grande decisão própria, então resolveu
também doar a Santa Ana a sua propriedade, que ia desde o
campo de futebol até as imediações do Hospital Padre João
Maria e fez a doação inalienável por cem anos para ninguém ter
o direito de vender.
As despesas dos serviços feitos por padre Brilhante, na
Matriz de Currais Novos, na época, foram contratados por
3:100$000 réis (três contos e cem mil réis) isto só a mão de obra,
todo o material por conta da Igreja. Este serviço foi realizado em
1918, justamente com a doação de seu Galvão e outras rendas
da festa de 1917. O padre Brilhante ficou em Currais Novos até
1924, quando foi substituído por padre Pedro Duarte Paulino, em
13 de março de 1924 e este ficou até 12 de fevereiro de 1928,
quando foi substituído pelo padre Ulisses Maranhão.

Padre Ulisses Maranhão

Padre Ulisses Maranhão era muito evoluído, muito culto e

muito prudente. Foi ele quem me batizou em 1929. Tive de vê-lo
depois numa festa em Currais Novos, já velhinho. Assistia uma
missa por ele celebrada, e como falava bem! Na sua
administração, fez uma coisa muito importante na Igreja de
Currais Novos: a Gruta de Lourdes. O desenho foi dele mesmo, o
 56

pedreiro foi Manoel Tomaz de Araújo, quem pintou foi a esposa

de Dr. José Neves. Na gruta tem um medalhão com pedras,
folhas e flores, trazidas por ele da gruta de Lourdes em Portugal.
Quando foi feita, tinha uma pequena torrente de água que
constantemente corria na gruta, o que já desapareceu com o
tempo.
O aumento da torre da Igreja não foi feito pelo padre
Brilhante, apesar de ter sido planejado pelo Mestre Oliveira, mas
o padre Brilhante achou muito perigoso e não fez. Quando
Manoel Tomaz fez a gruta, o padre Ulisses perguntou se ele tinha
coragem de fazer o aumento da torre. Ele disse que tinha. O
padre falou com dona Chiquinha Bezerra Galvão que havia
prometido pagar o serviço no tempo do padre Brilhante e ela
prontificou-se a pagar o que realmente fez e Manoel Tomaz fez o
trabalho, muito perigoso e arriscado, mas ficou muito bem feito e
muito bonito.
Foi ainda na administração de padre Ulisses que foi
melhorada a capela Mor, ou seja, o altar Mor da Igreja da Igreja.
Foi também adquirida a nova imagem de Santa Ana por doação
do Sr. Aproniano Pereira de Araújo, “Seu Proa”; foram adquiridos
os dois anjos que tem nas laterais da capela Mor, “do altar Mor”
estes por doação do Sr. Tomaz Pereira de Araújo. A bênção
solene da imagem e dos anjos foi na festa de Santa Ana de 1929;
a primitiva imagem de Santa Ana foi colocada em um nicho na
sacristia.
Em primeiro de janeiro de 1930, foi feita a transladação do
Cruzeiro que tinha em frente à Matriz desde 1900, marcando a
passagem do século e levado para a Pedra do navio onde está
até hoje. Foi a maior procissão da época. O padre Ulisses
calculou em três mil pessoas. Foi feita uma estrada de rodagem
até o sopé do rochedo, o padre pediu que fosse mudado o nome
de Pedra do Navio para Pedra do Cruzeiro, o que não aconteceu
até hoje. O rochedo é conhecido mesmo é por Pedra do Navio,
porque de fato parece mesmo um navio.
O orador oficial da solenidade foi o jovem acadêmico
Antônio Othon Filho. O padre Ulisses que também discursou,
disse que a razão da mudança do cruzeiro da frente da Matriz foi
porque lá ele estava sendo desvirtuado, pelos namorados que
não respeitavam o cruzeiro nos seus encontros amorosos,
 57

enquanto que lá na pedra estava guardado para a posteridade e

quem quisesse visitá-lo estaria fazendo uma penitência.
Mas o povo não perdoa as coisas mesmo. Acontece que
houve quatro anos seguidos de seca, de 1930 a 1933. O povo
dizia que foi castigo, porque o padre tirou o Cruzeiro da frente da
Igreja, mas ele saiu em 1931 e talvez nem tenha sabido disto.
Em 13 de agosto de 1931, foi designado por portaria
Episcopal para curar a Freguesia de Currais Novos, o padre
Manoel da Costa. Esse vigário não chegou a passar um mês na
cidade. Assumiu a paróquia em 16 de agosto e foi substituído em
6 de setembro pelo padre Omar Bezerra Cascudo.
Este padre foi muito dinâmico e muito exigente, teve muitos
aborrecimentos com pessoas importantes da nossa sociedade.
De início fez uma campanha para comprar um Sacrário metálico
no que foi muito bem sucedido, pois conseguiu o dinheiro e
comprou. Custou, na época, 1.790 réis (um conto e setecentos e
noventa mil e duzentos réis). No dia 16 de outubro de 1932 foi
feita a colocação do sacrário metálico na capela Mor da Igreja e
dado a bênção solene por ele.
Padre Omar não foi muito feliz em Currais Novos.
Administrou a paróquia durante dois anos, os piores de toda a
história da cidade, pois foi de seca e epidemia. O seu tempo era
quase todo tomado em confessar enfermos e fazer enterro. Foi o
tempo da construção do açude Totoró. Para se ter uma ideia de
que tamanho foi a epidemia, o engenheiro construtor do açude,
Dr. Gerson, designou uma turma de operários para se ocupar
unicamente em carregar as pessoas que morriam para o
cemitério e todos os dias era preciso substituir operários, porque
todos os dias adoecia ou morria operário da turma de
carregadores.
Ele ficou em Currais Novos até 1933, quando foi
substituído pelo padre Benedito Basílio Alves.
 58

Padre Benedito Basílio Alves

Por portaria Episcopal datada de 22 de julho de 1933, foi

designado para curar a Freguesia de Currais Novos, o padre
Benedito Basílio Alves, que tomou posse no dia 27 do mesmo
mês, mas foi muito bom vigário, muito amigo do povo e dizem
que também era muito interesseiro.
O meu dileto amigo Francisco Baldômero Chacom, de
saudosa memória, me contou certa vez uma piada de padre
Benedito: dizem que ele era muito amarrado, não comprava
queijo porque dizia que era doente e ofendia a ele. O padre era
muito amigo de papai e chamava compadre Tomaz. Certo dia,
papai mandou-lhe um queijo de presente. O velho Luiz do Padre
que morava com ele e por isso ganhou esse apelido, foi quem
atendeu ao menino, que devia ser um dos meus irmãos mais
velhos. O queijo era novinho, ainda devia vir quente, chega vinha
revendo a manteiga. O menino disse:  “Olhe aqui, seu Luiz, um
queijo que papai mandou para o padre”.
Seu Luiz que era acostumado ouvir o padre dizer que não
comprava queijo porque ofendia a ele, não tendo alternativa,
disse ao menino:  “Não, meu filho, pode levar o queijo de volta”.
O padre lá de dentro escutou a conversa, perguntou o que
era. Luiz disse:  “Um menino de seu Tomaz Targino que trouxe
um queijo para o senhor”. O padre vexou-se e disse:  “Quedê o
menino?” Luiz disse:  “Foi embora! O senhor não come queijo,
eu mandei ele levar para traz”. O padre vexou-se e disse: 
“Corra atrás do menino, Luiz, isto é falta de educação. Vá receber
o queijo, que o queijo de compadre Tomaz não me ofende
porque é muito bem feito. O queijo que me ofende são esses
queijos velhos que a gente compra na feira”.
Luiz foi encontrar o menino e recebeu o queijo. O pior, diz
ele, é que o padre foi quem comeu o queijo todo durante a
semana, não lhe deu um pedacinho. Daí por diante seu Luiz ficou
sabendo que o queijo não ofendia ao padre. O que ele não
gostava era de comprar. Essa deve ter sido a verdade, porque
Baldômero era homem muito sério e era muito ligado ao padre
 59

nesta época, mas existem outras que eu acredito que era só

malhação mesmo.
Dizem que ele gostava muito de comer uma panelada de
boi, aos domingos. O marchante que vendia para ele era Moisés
Inácio. Eu conheci muito Moisés, era gente muito boa. Dizem
que, certa vez, Luiz foi à casa de Moisés comprar a panelada. O
padre mandava sempre comprar uma e pagar a outra da semana
anterior, mas desta vez esqueceu-se de mandar o dinheiro para
Luiz pagar a que estava devendo.
Moisés devia estar num dia de lundum e não mandou a
panelada. Seu Luiz ficou meio encabulado e foi procurar o padre
para dizer-lhe o que tinha acontecido. Mas, quando chegou a
Igreja o padre já estava celebrando a missa. Ele ficou
aguardando uma oportunidade para lhe dizer o ocorrido. Chegou
a hora do sermão, o padre começou falando sobre Moisés, mas
Moisés bíblico. Quando se virou para o povo e disse:  “Meus
caros irmãos, o que disse Moisés?” Seu Luiz que estava
esperando para dar o recado aproveitou a deixa e disse:  “Ele
disse que não mandava a panelada porque o senhor não tinha
mandado pagar a outra”.
Padre Benedito Basílio Alves passou quatro anos em
Currais Novos: de julho de 1933 a 1937. Foi substituído pelo
Cônego Paulo Herôncio de Melo, de saudosa memória. Este
chegou a Currais Novos no dia 3 de julho de 1937, assumiu a
paróquia no dia seguinte.
60
 61

Monsenhor Paulo Herôncio

Quando Monsenhor Paulo chegou a Currais Novos era

Cônego, mas eu prefiro chamá-lo logo de Monsenhor, porque foi
assim que aprendi a chamá-lo desde menino. Ele também teve
outras promoções, mas para mim é sempre Monsenhor Paulo
Herôncio de Melo. Ele foi uma dádiva dos céus a Currais Novos.
Felizes aqueles que o conheceu, porque conheceu um dos
maiores homens que pisou o solo de Currais Novos em toda a
sua história.
A história de Currais Novos, no meu entender, deveria ser
dividida em duas partes: antes e depois de Monsenhor Paulo.
A primeira grande realização de Monsenhor Paulo, em
Currais Novos, foi o Congresso Eucarístico, realizado de 27 a 31
de outubro de 1937.
Ele chegou a Currais Novos no dia 4 de julho. No dia 6,
precisamente, dois dias depois de assumir a paróquia, começou
a construção do monumento a Cristo Rei e no dia 27 de outubro
do mesmo ano, já o inaugurava na festa do Congresso. Até
mesmo o nome da praça foi dado neste período. O então
prefeito, Dr. José Bezerra de Araújo, não mediu esforços para
ajudá-lo na construção do monumento, bem como colocou meio
fios em torno da praça.
O Coronel Manoel Salustino Gomes de Macedo, avô do
então prefeito, doou a estátua de Cristo Rei que no dia 25 de
outubro, quando já estava pronta no monumento para ser
inaugurado. A construção do monumento e da praça foi uma
operação de guerra: trabalharam de dia e de noite e o Monsenhor
Paulo não saía de perto até ficar pronta.
O Congresso Eucarístico de Currais Novos foi a mais bela
festa que já assisti em toda minha vida. Foi quando fiz a minha
primeira comunhão e me crismei, recebi a hóstia das mãos do
Monsenhor Paulo.
No dia da primeira comunhão dos meninos, a Praça Cristo
Rei ficou superlotada de meninos, todos em fila que iam de um
ao outro lado da praça e Monsenhor Paulo, organizando as filas
como quem dava uma ordem unida. As filas foram organizadas
transversalmente na praça, uma após outra, ficando entre uma
 62

passagem para o padre que distribuía a comunhão, o que foi

feito, mais ou menos às 10 horas do dia.
Nós estávamos em jejum natural, quando o padre passou
distribuindo a comunhão. Em seguida, vieram as moças, com
uma cestinha com merendas. As moças, eu me lembro muito
bem de umas: comadre Gisélia e dona Eunice. Mas, o que foi
engraçado e que eu não esqueci mais, foi quando começaram a
distribuir a merenda. Os meninos que estavam nas outras filas,
esperando a comunhão, começaram a passar para a fila da
frente para pegar a merenda sem ter comungado ainda, aí foi
muito difícil controlar, pois os meninos estavam mais
interessados na merenda do que mesmo na comunhão.
Monsenhor Paulo entrou no meio para controlar, ficou
vermelho, deu grito em meninos, mas o jeito foi mandar
suspender a merenda para poder organizar de novo. Eu como
era menino do sítio, medroso e bobo, fiquei quietinho, já tinha
comungado e merendado, por sinal os bolinhos muito gostosos,
fiquei sem sair do lugar só olhando o movimento. Quando
terminaram de arrumar as filas foi distribuída a comunhão aos
que faltavam e Mons. Paulo falou alto:  “Os que saírem das filas
não receberão merenda”. Aí ficou todo mundo nas filas, voltaram
as moças distribuindo merendas e eu fui servido novamente. Até
que eu ia dizer que já tinha merendado, mas Valdenor Bezerra
estava perto de mim, disse: -“Não, besta, a gente não diz que
recebeu que é pra receber de novo”. E assim foi feito.
O certo é que quando terminou a comunhão e a merenda
devia ser mais ou menos doze e meia do dia. A nossa casa era
bem pertinho da Igreja, na Rua Capitão José da Penha, eu tinha
à tarde outro compromisso, ia me crismar, foi outra luta muito
grande. A crisma estava marcada para três horas da tarde.
As duas e meia meu padrinho Vivaldo Pereira chegou lá
em casa para me levar à crisma. Era tanta gente na Igreja, que
nós levamos mais de meia hora para chegar ao patamar da Igreja
à capela Mor, não havia fila, as pessoas se aproximavam como
podiam até que conseguimos romper e chegar ao altar. Recebi o
crisma, chegamos em casa era mais ou menos cinco horas da
tarde.
63
 64

Primeira ação beneficente de Mons. Paulo em Currais Novos

Pouco tempo depois que Monsenhor Paulo chegou a

Currais Novos, houve um desastre muito grande. Um caminhão
de feirantes virou em Juazeiro do Cipó, morreram algumas
pessoas na hora. Ficaram 17 gravemente feridos e não tinha
hospital em Currais Novos. Como tratar deste povo a quem devia
encarregar-se disto. Até então ninguém tinha pensado nisto na
cidade. Cada um se arrumava como podia nos casos de doença.
Foi aí que apareceu junto à catástrofe, o recém chegado
vigário da Freguesia. Comovido com a cena exclamou:  “Vamos
levar esse povo para a cidade!” Mas levar para onde? Se não
havia hospital! Onde acomodar tanta gente? Como cuidar desses
feridos? Se a maioria estava com pernas e clavículas quebradas,
fraturas expostas em braços e até em cabeças!
Monsenhor Paulo reuniu-se com Dr. Mariano e Vivaldo
Pereira e imediatamente tomou uma decisão dizendo:  “Eu vou
conseguir casas particulares de pessoas generosas que aceitem
um doente em cada casa”. Vivaldo Pereira:  “Eu consigo as
camas”. Dr. Mariano:  “Eu trato dos doentes”.
Os três entraram em ação imediatamente, saíram
distribuindo os doentes, um em cada casa. Vivaldo Pereira
conseguiu as camas, inclusive até de suas filhas. Conseguiu
primeiro um armazém, aonde Dr. Mariano ia fazendo as
operações e curativos. Daí, ia sendo agasalhados nas casas de
famílias e Dr. Mariano junto com Monsenhor Paulo, todos os dias,
visitavam os doentes, levando os recursos: médicos, religiosos e
financeiros. Todos os dias os dois faziam aquela peregrinação,
visitando, tratando e consolando os doentes. Eram na verdadeira
expressão, um sacerdote médico e um médico sacerdote. O êxito
foi total. Todos os doentes se recuperaram e voltaram a seus
convívios em um breve espaço de tempo.
No domingo seguinte, no sermão da missa, Monsenhor
Paulo falou da necessidade que Currais Novos tinha de um
hospital. Fez um daqueles sermões maravilhosos e comoventes,
conscientizando o povo da necessidade de cuidar da saúde e
fazer alguma coisa em benefício da comunidade.
 65

Lembro-me perfeitamente, porque foi a primeira vez que

escutei esta palavra comunidade, até nem sabia o que era. Logo
começou a campanha para construir um hospital. Comprou duas
casinhas ali no local onde hoje é a Praça Monsenhor Paulo e a
rua também tem o seu nome. Desmanchou umas paredes e fez
outras, conseguiu umas camas e outros materiais de hospital,
denominou Casa de São Vicente de Paula. Organizou também a
Sociedade de São Vicente de Paula e a casa começou a
funcionar como hospital.
A pessoa mais importante para o hospital de Currais
Novos, já existia desde 1925, que era o médico Dr. Mariano
Coelho, que fez verdadeiros milagres, salvando vidas debaixo
daquelas quatro telhas da Casa de São Vicente de Paula.
Com a seca de 1942, Monsenhor Paulo sofreu muito com a
necessidade do povo. Então, fundou em Currais Novos a LBA –
Legião Brasileira de Assistência, da qual foi presidente. O povo
da zona rural e das periferias da cidade tinha nele um verdadeiro
pai, porque, além dos poucos recursos que recebia da LBA,
adquiria mais alguma coisa com o comércio e com os mais ricos
e distribuía com os mais necessitados, mas, não ficou aí o seu
trabalho de intermediário entre os poderes e os mais afortunados.
Em 28 de fevereiro de 1943, fundou a Escola de Nossa
Senhora com o fim exclusivo de educar as crianças pobres. Lá
eram servidas refeições, material, inclusive uniforme. Criou,
também, junto à Escola, um Centro de Escoteiros. Mas, o grande
trabalho de Monsenhor Paulo não foi construir e equipar a Escola
de Nossa Senhora. Foi conseguir arrancar os meninos pobres da
rua para estudar na Escola, porque Currais Novos até então só
tinha um estabelecimento de ensino. Era o Grupo Escolar
Capitão Mor Galvão, onde só existiam quatro salões de aula, só
tinham condições de estudar os filhos dos mais ricos. Os
meninos da rua, como normalmente eram chamados, não tinham
vez e como tal, também não ligavam para essa história de
Escola.
Aí começou o grande trabalho de Mons. Paulo. Primeiro
para conscientizar os pais dos meninos que deviam mandar seus
filhos à Escola. Quantas vezes não recebeu esta resposta: 
“Onde foi qui o sior já viu, fio de pobe istudá, seu pade?” E ele
com aquele jeito santo, respondia:  “Vou ver amanhã, é só você
 66

mandar os seus”. Na Igreja fazia sermões e mais sermões,

pedindo a colaboração dos pais para mandarem os filhos à
Escola, abordava os meninos na rua, incentivando-os que deviam
estudar.
Assim, no primeiro ano conseguiu matricular exatamente o
dobro dos alunos do Grupo Escolar Cap. Mor Galvão, o que
começou um segundo empecilho. Os meninos que estudavam no
Cap. Mor Galvão começaram a humilhar os da Escola de Nossa
Senhora. Chamavam os flagelados, diziam que comiam baião de
dois, que a farda era feia, enfim, uma série de problemas entre
um e outro estabelecimento de ensino, porque as brigas dos
meninos refletiam em casa com os pais.
Monsenhor Paulo, com a sua grandeza e eloquência fez
uns três sermões a respeito do assunto. Foi mesmo que botar
água na fervura. Acabaram-se as divergências e a Escola de
Nossa Senhora continuou aumentando a matrícula e prestando o
maior serviço em termos de educação de toda a história de
Currais Novos.

O Ginásio Jesus Menino

Logo em 1944, Monsenhor Paulo, pensando no futuro dos

alunos da Escola de Nossa Senhora, começou a construção do
Instituto Jesus Menino, ou seja, Ginásio Jesus Menino. Começou
a construção, no mesmo ano ficou pronto, ficando até 1946
dirigido por leigos.
Em 1947, fez a doação às irmãs do Amor Divino, mas no
contrato de doação, incluiu uma cláusula, que o Ginásio Jesus
Menino era obrigado a receber gratuitamente, todos os alunos
que terminassem o curso primário na Escola de Nossa Senhora,
não lhes sendo cobrado nada até terminarem o Curso Ginasial.
Mas não ficou aí a ação educativa e social de Monsenhor
Paulo Herôncio de Melo. Criou o Ginásio Rural Masculino, que é
hoje o Instituto Vivaldo Pereira, cuja história muito longa, depois
eu contarei na parte política e administrativa deste livro.
Construiu a Capela Escola Creche, de Santa Maria Gorete,
primeiro templo erigido em honra daquela Santa na América
 67

Latina, cuja canonização ele assistiu em Roma, no ano Santo de

1950.
A Capela foi inaugurada em 6 de julho de 1952, ano do
cinquentenário da morte de Santa Maria Gorete.
Construiu o santuário de Nossa Senhora de Fátima, no
Bairro Paizinho Maria para comemorar a passagem da Imagem
Peregrina por Currais Novos, em 23 de novembro de 1953, que
foi a maior festa popular que assisti em toda minha vida.

Hospital Padre João Maria e Maternidade Ananília Regina

A Casa de São Vicente de Paula, Monsenhor Paulo foi

aumentando, equipando e adaptando como hospital, que atendia
precariamente à população carente da cidade e da zona rural do
município, mas jamais lhe saiu da ideia de construir um hospital e
uma maternidade com melhores condições e equipamentos para
atender à população que se desenvolvia com a cidade. Foi
quando resolveu construir o Hospital Padre João Maria.
Eu lembro perfeitamente o dia da bênção da primeira pedra
da obra: ele celebrou a missa e benzeu a pedra. Foi a missa
celebrada por ele que vi menos gente. Foi pouca a assistência.
Eu voltei conversando com ele, fui até a casa paroquial e como
ele havia terminado uma série de construções, eu perguntei-lhe:
 Não acha o povo meio esgotado, sem condições de lhe ajudar
numa obra tão grande? Ele me respondeu à queima roupa: 
“Vamos fazer e vamos fazer já. Não se deve guardar serviço. Se
for esperar que se possa, não se faz nunca. Quer ver como é
fácil? Currais Novos tem trinta mil habitantes: se cada um levar
uma pedra são trinta mil pedras. Dá pra encher os alicerces. Se
cada um levar um tijolo, dá pra levantar as paredes. Se cada um
levar uma telha, dá para cobrir. Ta vendo como é fácil?”
Então começou a construção do hospital. Isso foi no início
de 1958, ano de seca e político, mas o hospital foi subindo. Ele
conseguiu uma verba através do então deputado Aluízio Alves a
quem nós apoiamos em Currais Novos na campanha de 1958.
Apesar da direção do partido não ter apoiado, Aluízio foi
muito bem votado em Currais Novos. Depois das eleições ele
 68

veio agradecer a votação que não esperava ser tão grande, nós
oferecemos-lhe um banquete na Escola de Nossa Senhora e
Monsenhor Paulo estava presente apesar de sua isenção político
partidária.
Depois do almoço fomos visitar as obras do hospital Padre
João Maria. A campanha política havia sido feita toda na base
dos escândalos do DNOCS em 1958, espinafrando com
Teodorico Bezerra, então chefe do PSD no Estado, cujos
escândalos refletiam sobre sua participação nas escolhas dos
chefes do DNOCS. Quando chegamos às obras do hospital,
Aluízio admirou-se pelo estado de adiantamento das obras com
tão pouco dinheiro e disse para o Monsenhor:  “O Senhor está
fazendo milagre! Como com tão pouco dinheiro constrói tanta
coisa em tão pouco tempo? Monsenhor respondeu à queima
roupa:  “Aluízio, aqui não é DNOCS não, o dinheiro que eu
recebo rende, porque é gasto no serviço”.

Monsenhor Paulo, o Homem

Monsenhor Paulo Herôncio de Melo nasceu aos três de

janeiro de 1901. Era filho de Hermógenes Herôncio de Melo e
Maria das Mercês Hemerisiano China Herôncio de Melo e ficou
órfão de pai aos 8 anos de idade. Estudou nos seminários de
Natal, João Pessoa e Fortaleza. Terminou os estudos antes
mesmo de ter idade para se ordenar. Ficou no colégio ensinando,
enquanto aguardava idade o que aconteceu em 9 de março de
1924.
Antes de se formar, esteve em Currais Novos, na festa de
Santa Ana de 1922, onde fez sua primeira pregação, na última
noite da novena. Recém formado, foi para Mossoró como
coadjutor da paróquia, que passou a vigário em 1925.
Em 1930 foi Reitor do Seminário de São Pedro em
substituição ao Monsenhor João da Mata, e vigário de Macau de
1930 a 1933, onde foi também prefeito do município.
Dizem que, quando Lampião veio a Mossoró mandou
avisar que ia também a Macau. E ficou todo mundo apavorado. O
 69

então vigário Paulo Herôncio convocou as autoridades, para

decidirem como fazer no caso de ele vir mesmo.
A maioria opinou para que mandasse dinheiro para
Lampião para assim evitar sua vinda a Macau. O vigário não
concordou, levantou-se e disse:  “Macau só tem uma entrada.
Se ninguém for para lá, eu vou e Lampião só entra se passar por
cima do meu cadáver”.
Mas aconteceu que Lampião foi destroçado em Mossoró e
não foi a Macau, isso lhe valeu a nomeação de Prefeito da cidade
na época.
Monsenhor era um homem muito decidido e muito
corajoso. Quando ele era vigário de Currais Novos, certa vez
vinha de Cerro Corá no carro de Joventino Pereira, em frente
onde é a capela de N. S. de Fátima. Joventino atropelou um
homem e bateu com o carro na barreira. Na pancada, Mons.
fraturou um braço, mas não disse nada a Joventino. Ajudou a
socorrer o homem e vieram para Currais Novos.
Chegando, pararam na casa do Dr. Mariano, ele ajudou a
cuidar do homem que estava passando muito mal. Terminada a
tentativa de salvar o homem, o que não foi possível, ele deu os
sacramentos e o homem morreu. Depois chamou o Dr. Mariano e
disse:  “Mariano, eu estou com um braço quebrado”. Dr.
Mariano e Joventino ficaram apavorados e disseram-lhe:  “Por
que o senhor não disse logo?” Ele bem calmo respondeu: 
“Porque se eu dissesse vocês deixariam o homem e iam cuidar
de mim e o caso dele era mais grave!” Então, Dr. Mariano
encanou-lhe o braço e ele foi para casa.
Monsenhor Paulo foi forte até para morrer. Já vivia, há
muito tempo, doente do coração, mas não se entregava.
Trabalhava mesmo sem poder, era uma espécie de santo em
vida. Jamais teve quem o visse desanimado.
A melhor coisa que se podia fazer era conversar com
monsenhor Paulo. A gente tendo certas dificuldades de vida,
expondo problemas e ele conversando meia hora, sentia-se
como tendo resolvido todos eles. Isto aconteceu comigo mais de
uma vez. Ele era um homem de tanta fé e tinha uma facilidade
tão grande de transmitir aquela fé às pessoas, que era
verdadeiramente impressionante. Eu aprendi muito com ele.
Talvez seja por isto que alguém diz que eu sou forte.
 70

Até que chegou o dia 1º de setembro de 1963. Ele estava

em casa, morreu em pé. Quando notaram que ele estava
passando mal, foram chamar o médico e o padre. Ele ficou em pé
rezando e assim morreu. O seu sepultamento foi como se fosse
uma procissão onde todo mundo queria conduzir o andor. Foi a
maior quantidade de gente junta que vi em Currais Novos até
então. Foi sepultado na capela Mor da Igreja. Eu sugeri ao então
prefeito Mariano Guimarães, que ele deveria ser sepultado em
pé, mas ninguém deu importância.

A Campanha da Estátua

Eu sempre pensei que se Monsenhor Paulo morresse

primeiro do que eu, eu faria uma campanha para lhe eternizar em
bronze, em uma das nossas praças públicas.
Depois da missa de trigésimo dia, levei a ideia aos meus
compadres: Joventino Pereira e Oto Soares. Ambos gostaram e
aplaudiram.
Procuramos saber onde tinha um escultor capaz de realizar
a obra e quanto custava. Descobrimos no Rio de Janeiro, o preço
era 380.000,00 (trezentos e oitenta mil cruzeiros). Compadre
Joventino achou muito caro e eu disse é muito barato: vamos
fazer.
Ficou combinado. Então, procuramos uma pessoa que
fosse para o Rio de Janeiro e se encarregasse de fazer a
encomenda.
O Dr. Cortez Pereira viajava para lá, na terça-feira às 4
horas da tarde. Às 9 horas do mesmo dia, eu falei com compadre
Joventino: Vamos mandar fazer a encomenda da estátua. Ele
concordou, mas era preciso entrar com 50% (cinquenta por
cento) da importância que seria, no caso, 190.000,00 (cento e
noventa mil cruzeiros).
Nós não tínhamos arrecadado nada ainda, nem começado
a campanha. Eu falei com compadre Joventino que Dr. Cortez
estava indo para o Rio de Janeiro naquele dia e que seria bom
nós mandarmos fazer a encomenda da estátua. Ele disse: 
“Como, compadre, se nós nem começamos a campanha ainda?”
 71

Eu disse: Você dá a metade do dinheiro e eu dou a outra metade.

Quando nós fizermos a campanha, tiramos o nosso e pagaremos
o restante. Ele não concordou, porque achou que era muito
dinheiro.
Isto era 9 horas e o Dr. Cortez viajava às 4 da tarde. Eu
disse: Então vamos fazer a campanha hoje e arrecadar este
dinheiro. Ele disse:  “Não compadre, a campanha não é assim
tão fácil, não. A gente conseguir cento e noventa contos de réis
daqui para a tarde? Eu acho muito difícil!“
Eu peguei uma folha de papel pautado, risquei o nome da
campanha e disse subscreva aqui o seu também. Ele achou
muito a importância, mas, também colocou. Ele na hora não pôde
sair comigo, porque era uma terça-feira e a loja estava muito
movimentada.
Saí no comércio e até 11 horas consegui andar no
comércio, nas repartições públicas, inclusive na Prefeitura. A
receptividade foi excepcional, ninguém se negava. Quando eu
desci da Prefeitura já vinha com o dinheiro suficiente para pagar
a entrada da estátua. Demorei um pouco na esquina do pecado,
fizeram uma roda de gente, todos querendo contribuir.
Compadre Joventino vinha da loja para o almoço e
compadre Oto vinha da Coletoria, também. Perguntaram: 
“Compadre, como vai a campanha?” Eu respondi: Muito bem!
Vamos conferir o dinheiro que eu acho que já dá para
mandarmos a entrada. Eles ficaram perplexos, disseram:  “Mas,
com duas horas de campanha, compadre?”
Fomos contar o dinheiro, já tinha 210.000,00 (duzentos e
dez mil cruzeiros). Em seguida fomos entregar o dinheiro da
encomenda a Dr. Cortez para podermos almoçar. Dr. Cortez
estava na casa de seu Elísio, entregamos os 190.000,00, sobrou
20.000,00 que foi logo aumentado para 40.000,00 porque seu
Elísio deu 10.000,00 e Dr. Cortez deu 10.000,00.
De volta, entrei em Manoel do Bar para tomar o cloque do
almoço ainda mais 10 (dez) pessoas contribuíram. Voltei para
casa e não precisei mais sair procurando, pois as pessoas me
procuravam para contribuir. Houve casos de pessoas irem lá em
casa, especialmente lavadeiras de roupa do bairro de Santa
Maria Gorete, pedirem que não encerrassem a campanha sem as
contribuições delas, porque não tinham no momento os dez tões
 72

ou dois mil réis que queriam dar, mas faziam questão que
contasse na lista os seus nomes como contribuintes e realmente
constaram.
Eu fiz um livro de ouro com todos os nomes das pessoas
que contribuíram, inclusive os que sabiam ler e escrever. Pedi a
cada um, uma frase sobre Monsenhor Paulo, foi apresentado um
projeto de lei à Câmara Municipal pelo então vereador Paulo
Furtado, criando a Praça Monsenhor Paulo Herôncio e
denominando uma rua. A praça fica em frente ao hospital por ele
construído e a rua é exatamente a que dá acesso para o hospital.
Quando a estátua chegou, nós pagamos o restante e o
frete, eu fiquei apertando o prefeito para terminar a praça para se
fazer a inauguração, o que foi feito também em tempo recorde.
Sobrou 70.000,00 (setenta mil cruzeiros) e nós depositamos na
Cooperativa Banco Rural de Currais Novos.
Depois da praça feita e muito arborizada com plantas e
flores, os animais começaram a estragar. Eu combinei com o
então Prefeito Mariano Guimarães e com a comissão da estátua,
gastamos o restante do dinheiro cercando a praça para evitar o
estrago dos animais. Depois, quando os animais deixaram de
circular no perímetro urbano da cidade, tiramos a cerca e lá está
a estátua e a Praça Monsenhor Paulo Herôncio de Melo.

O LIVRO DE OURO, eu combinei com a comissão,

assinamos e entregamos a dona Neném Herôncio, irmã de
Monsenhor Paulo.
 73

CAPÍTULO III

O Povoado de Currais Novos

Depois da morte do Capitão Mor Galvão, em 1813, o seu

substituto no povoado foi o seu filho, Capitão Mor Gonsalo Lopes
Galvão. Dos seus filhos, ficaram morando no povoado: Sebastião
Lopes Galvão e Gonsalo Lopes Galvão.
Sebastião ficou morando na primitiva casa de taipa e telha
no alto depois dos Currais e Gonsalo construiu sua casa nas
proximidades da capela.
Depois da morte do Capitão Mor Galvão, dona Vicência
ficou morando na casa, e depois, a casa ficou para João Lopes
Galvão.
Depois que Gonsalo doou o patrimônio da capela que ficou
se dividindo com as terras de Sebastião, nota-se perfeitamente
que o povoado foi crescendo dividido, uma parte nas terras de
Sebastião, que ficava no fim da Avenida Laurentino Bezerra, ao
lado do norte, outra parte nas terras da Santa que foram doadas
por Gonsalo que ficava no fim da Laurentino Bezerra, ao lado do
sul.
Ainda existe uma dessas casas primitivas, que foi
construída pelo padre Gil Braz, que viveu com dona Carlota, filha
de Sebastião Lopes Galvão. A casa é a única que escapou da
rua velha que tinha no meio da Laurentino Bezerra, porque ficava
de esquina e, pegou o novo alinhamento, por sinal ainda foi
demolida a metade. Foi construída pelo padre Gil Braz, foi
vendida para Manoel Pires por Gregório Nasioseno, depois por
Manoel Pires e Major Sérvulo e hoje pertence a dona Mariinha,
mãe de Radir.
O Capitão Mor Gonsalo Lopes Galvão tem sido muito
injustiçado pelos escritores que têm escrito a história de Currais
Novos, bem como por todos nós que direta ou indiretamente
estamos participando da administração de Currais Novos, pois
ele foi o substituto legal do seu pai, Cap. Mor Galvão.
Foi ele quem doou o patrimônio de Santa Ana no povoado
e o fundador propriamente dito do povoado de Currais Novos e
 74

não tem uma homenagem feita a ele, não tem uma praça ou uma
rua com seu nome, ninguém escreveu quase nada a seu
respeito. Foi ele o homem que ficou administrando o patrimônio
durante muitos anos. O povoado cresceu sob seu comando.
Acontece que ele ficou restrito à administração do povoado e não
cresceu economicamente. É este sempre o mal dos homens
bons.

O Padre Gil

O padre Gil Braz não foi vigário de Currais Novos. Mas, no

período que Currais Novos era da Freguesia do Acari, sendo
vigário o padre Tomaz de Araújo. Ele veio para aqui como
coadjutor do padre Tomaz de Araújo.
Aqui teve um romance com dona Carlota, filha de
Sebastião Lopes Galvão. Construiu a casa perto da casa dele,
exatamente nos limites das terras da Santa, porque o Capitão
Mor Gonsalo não gostou do romance dele com sua sobrinha e
não deixou que ele construísse a casa nas terras de Santa Ana
por ele administrada.
Depois, o padre Gil Braz construiu na beira do rio a casa
que depois foi a sede da Fazenda do Major Sérvulo Braz e hoje é
do Dr. Rodolfo Pereira.
O padre Gil viveu muitos anos com dona Carlota, de cuja
união nasceram 4 filhos: Benjamim, João da Cruz, Filadelfio “Filó”
e Maria que morreu solteira.
O padre Gil Braz comprou as terras que foram de
Sebastião Lopes Galvão, construiu a sede da Fazenda na Beira
do Rio. Gregório Nasioseno Cardoso dos Santos era seu
vaqueiro e ficou morando na casa velha.
A outra casa que tinha na vila vendeu a Manoel Pires.
Então, quando o padre foi embora para Santa Luzia do Sabugi,
levou dois filhos: Benjamim e Filó, deixando os outros dois com
dona Carlota, bem como a fazenda, o gado, o vaqueiro Gregório,
que se casou com ela e criou os dois meninos: João Maria e
Maria. João como foi criado por Gregório ficou conhecido por
João Gregório. Casou-se com Salvina Soares, filha de João
 75

Soares de Maria. Este casal são os pais de dona Nena e João

Gregório.
Gregório Nasioseno e dona Carlota venderam a
propriedade ao Major Sérvulo Pires, mas Gregório ficou com a
metade, inclusive com uma casa grande de alpendre que tinha na
beira da estrada, onde ficou morando. Dava arrancho a matutos e
tratava de animais em dias de feira. João Gregório era também
oleiro, fazia telhas e tijolos, vivia até muito bem.
Em 1900 resolveu mudar-se para Alagoa Grande, na
Paraíba. Lá, contratou os tijolos para a construção da estação
ferroviária daquela cidade. Lá, nasceram dois filhos: Carlota
“Dona Nena” e João Gregório. Na casa de João Gregório ficou
morando Chico Gregório, que também tratava de animais. Este
Chico Gregório também foi criado por Gregório Nasioseno. Era
filho de uma mulher solteira de Santana do Matos.
A propriedade de João Gregório, ele vendeu a Benvenuto
Pereira ficando apenas com uma pequena parte que depois
vendeu a Manoel Rodrigues da Cruz, que era irmão de Gregório
Nasioseno. Esta parte é hoje da família do Desembargador
Tomaz Salustino e de Paizinho Maria.

As famílias se fundem e se confundem

Gregório Nasioseno Cardoso dos Santos era neto do

português Francisco Cardoso dos Santos, que era pai de dona
Vicência, esposa do Cap. Mor Galvão. Então, dona Carlota era
sua prima segunda, com quem ele já pensava em se casar,
mesmo antes de ela se juntar com o padre Gil, o que não
conseguiu, porque ela apaixonou-se pelo padre. Era também
oleiro e pedreiro. Foi ele quem fez os tijolos, as telhas e construiu
as casas do padre Gil Braz.
Depois que o padre deixou dona Carlota, ele casou-se com
ela e ficou com tudo, inclusive a propriedade. Gregório Nasioseno
não deixou filhos, a não ser Chico Gregório que era filho de uma
mulher com quem teve romance, quando dona Carlota vivia com
o padre.
 76

Tópicos da História Administrativa de Currais Novos

O Capitão Mor Gonsalo Lopes Galvão dedicou toda a sua

vida na administração do povoado de Currais Novos,
determinando onde devia construir as casas, cuidando do
alinhamento das ruas, isto na base do olho.
Construiu a primeira casa paroquial, onde funcionou a
primeira escola do povoado. Foi assim uma espécie de chefe da
comunidade, que começava a nascer. Muito calmo, muito
pacífico, daí as raízes da união e da pacificação que sempre
reinou em Currais Novos.
A ele, nós agradecemos este exemplo magnífico de união e
fraternidade que nos legou que fez com que Currais Novos
crescesse tendo lema a união e a fraternidade.
Os crimes em Currais Novos sempre foram tão longe uns
dos outros que ainda hoje faz de Currais Novos uma das cidades
de menor índice de criminalidade do país.
O primeiro decreto que trouxe benefício público para
Currais Novos foi o de nº 26 de 14 de outubro de 1855, Lei
Provincial que criou a cadeia de instrução para o povoado de
Currais Novos. Este decreto só dava direito de estudar as
pessoas do sexo masculino, as mulheres não tinham direito de
frequentar as escolas.
Por intermédio do professor Sebastião Tomaz de Medeiros
foi criado uma cadeira para o sexo feminino por força da Lei nº
920, de 13 de março de 1884.
 77

Currais Novos Distrito

O Distrito de Currais Novos foi criado por força da Lei

Provincial nº 923 de 20 de fevereiro de 1884. A criação do
Município deve-se ao decreto nº 59, de 15 de outubro de 1890,
sendo Governador do Estado, Dr. Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão.
No dia 16 do mesmo mês e ano, por decreto do então
Governador, foi nomeado para presidente da Intendência do
Município recém criado, o Cap. Laurentino Bezerra de Medeiros
Galvão. Para membros do Conselho de Intendentes foram
nomeados no mesmo decreto os senhores: Sérvulo Pires de
Albuquerque Galvão Filho, Cap. Joventino da Silveira Borges,
Moisés de Oliveira Galvão e Francisco Bezerra de Medeiros.
A instalação do município foi feita, em Sessão Solene, no
dia 6 de fevereiro de 1891. Foi presidida pelo então presidente da
Intendência de Acari e demais membros do Conselho de
Intendente. O presidente do Conselho do Acari era na época o
Capitão Santa Rosa, Cipriano Bezerra Galvão Santa Rosa, que
era primo legítimo do Cap. Laurentino Bezerra, pois o Capitão
Santa Rosa era filho de Cipriano Lopes das Dores e o Cap.
Laurentino era filho de João Bezerra Galvão, ambos irmãos
nascidos em São Bento.
 78

Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão

1º INTENDENTE
 79

Administração de Laurentino Bezerra

O Capitão Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão já era

pessoa de destaque no Município, pois havia presidido a Junta
Abolicionista Libertadora, que, em 19 de março de 1889, libertara
os escravos da região.
É bom lembrar que o Capitão Laurentino Bezerra de
Medeiros Galvão foi sempre Republicano e Libertador, apesar do
seu pai, João Bezerra Galvão, ter sido morto por dois escravos.
Mesmo assim, ele jamais deixou de ser abolicionista. Assumiu a
direção do município em 6 de fevereiro de 1891; foi muito curto o
seu período administrativo, passou apenas 74 dias como
presidente da Intendência, que foi de 6 de fevereiro a 20 de abril
de 1891, porque fora escolhido Deputado Estadual da
Constituinte de 1891.
Neste curto período administrativo, o Cap. Laurentino
Bezerra de Medeiros Galvão foi muito dinâmico. De suas
realizações assinalamos as seguintes: aquisição do prédio para o
Paço Municipal; a organização do Município, inclusive as divisas
e limites, de acordo com a Lei nº 59, de 15 de outubro de 1890.
Os levantamentos topográficos foram feitos pelo Cap.
Joventino da Silveira Borges, que era topógrafo “agrimensor”;
escreveu o código de posturas municipais com 14 títulos e 53
artigos. Foi o seu Decreto nº 1, de 10 de março de 1891,
publicado pela Secretaria do Município no dia 15 do mesmo mês
e ano.
O Cap. Laurentino Bezerra nasceu em São Bento neste
município em 14 de novembro de 1833. Era filho do Cap. João
Bezerra Galvão e dona Ana Joaquina de Jesus. Casou-se em
primeiras núpcias com dona Teresa Ursulina, filha de dona
Aninha do Ingá, em segundas núpcias casou-se com dona
Francisca Maria de Jesus, conhecida por dona Chiquinha de São
Bento. Ele faleceu em 6 de agosto de 1898.
 80

O levantamento topográfico feito por Joventino da Silveira

Borges:

O território do município de Currais Novos foi

desmembrado do de Acari pelo Decreto nº 59, de 15 de outubro
de 1890.
Os limites com Santana do Matos, ao noroeste e norte,
começa da linha de limites da casa de farinha de Antônio
Ernesto, no Quéde, em direção ao nascente até encontrar a casa
de farinha dos Lázaros e desta para a de João Branco, em
Panelas, daí em linha reta até encontrar as águas do Potengi
com as do Bodó, e a encontrar o Município de Angicos. E
também o de Lages, seguindo neste rumo para o nascente pelo
divisor ou quebrada das águas do Potengi com o Rio Salgado, no
lugar Massapé de Santa Rosa, onde existe a divisa do Município
de Lages com o de Acari. De acordo com a Resolução Provincial
nº 9, de 18 de outubro de 1836. Daí para o nascente, confins com
o de Lages, em direção a Serra do Trapiá até a Fazenda Santa
Rosa.
De Santa Cruz, partindo da Fazenda Santa Rosa pela
estrada que vai para Santana no rumo da Serra de São João e
daí seguindo em linha reta para o lugar Apertar da hora e ao
Logradouro de Pedra D’água.
Com Picuí a Suleste, a linha entra no Sítio Pedra D’água
com direção ao Poço da Serra e daí em rumo certo a Fazenda da
Boa Vista. Com Acari ao Sul, os limites começam do ponto de
encontro de Currais Novos com Flores ao Norte da Lagoa Dorna
e na projeção da linha que corta a Lagoa, partindo das nascentes
do Riacho “Boca de Lages”, seguindo por essa mesma linha pelo
mencionado riacho até sua foz, no Rio Acauã ficando à margem
direita o mesmo riacho o da linha traçada pertencente ao Acari e
à esquerda a Currais Novos.
Da foz desse riacho, a linha divisória continua pelo leito do
Rio Acauã, até encontrar a serra do mesmo nome, contornando-o
pelo lado norte, até encontrar o divisor das águas, entre os
riachos do Urubu e da Quixaba e o contra forte da Serra da
Borborema, ao ponto do cabeço do Chapéu, ficando todas as
águas à esquerda pertencentes ao Riacho Urubu, para Currais
 81

Novos e todas as direitas pertencentes ao Riacho da Quixaba,

para Acari.
Com Flores, vai a linha da ponta de Serra da Dorna, em
direção a Serra do Piauí, seguindo por esta pelo divisor das
águas até encontrar a casa de farinha de Antônio Ernesto, no
Quéde. Lei nº 983, de 20 de fevereiro de 1884.
Este serviço de Joventino da Silveira Borges foi pelas Leis
nºs 170, de 10 de setembro de 1901, 464, de 1º de dezembro de
1919 e 698 de 29 de outubro de 1928, que criaram as divisas de
Santa Cruz, São Tomé e Flores.
Foi alterado novamente com as criações dos Municípios de
Cerro Corá, Campo Redondo e Lagoa Nova.
O Capitão Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão, casou-
se em primeiras núpcias com dona Teresa Ursulina de Jesus.
Deste casamento nasceram os seguintes filhos: Laurentino
Bezerra de Araújo Galvão, “Tino”; Antônio Florêncio Galvão,
“Capitão Florêncio”; Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão; as
mulheres: Maria, que se casou com Joaquim Pereira de Araújo,
“Cabrinha”; Elvira, que se casou com Antônio Bezerra Fernandes;
Ana, que se casou com Benvenuto Pereira de Araújo.
Do segundo casamento com dona Chiquinha de São Bento
não houve filhos.

2º INTENDENTE:
O Alferes Cândido de Oliveira Mendes

Em 20 de abril de 1891, assumiu interinamente a

presidência da Intendência de Currais Novos o Alferes Cândido
de Oliveira Mendes, substituindo o Cap. Laurentino Bezerra de
Medeiros Galvão, porque este se afastou da Intendência, para
fazer a sua campanha política para deputado estadual, escolhido
que fora pelo Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.
O Alferes Cândido de Oliveira administrou a Intendência
baseado no programa do Cap. Laurentino Bezerra. Neste seu
primeiro período não fez grandes alterações na Intendência, pois
ficou substituindo o Cap. Laurentino até 23 de janeiro de 1892,
data em que reassumiu a presidência da Intendência, já eleito
 82

Deputado Estadual, ficando na frente da administração municipal,

até 3 de abril de 1892, quando renunciou para assumir a cadeira
de deputado.
 83

Cel. José Bezerra de Araújo Galvão

3º INTENDENTE
 84

3º INTENDENTE:
O Coronel José Bezerra de Araújo Galvão

O Coronel José Bezerra de Araújo Galvão assumiu a

presidência da Intendência de Currais Novos em 4 de abril de
1892. Administrou com probidade e respeito, construiu um
pequeno quartel, isto é, um prédio para a cadeia pública.
Ele era um homem de muita ordem e de muito respeito.
Construiu o prédio para a cadeia, mas segundo dizem, que não
precisava de soldados para prender ninguém. Quando o
indivíduo se excedia em bebidas alcoólicas ou fazia qualquer
coisa que perturbasse a ordem pública, ele mesmo mandava o
indivíduo recolher-se na cadeia até a sua segunda ordem; lá na
cadeia só ficava o carcereiro para abrir e fechar a porta.
Papai contava que certa vez um brejeiro que vendia
rapadura na feira, trazendo do brejo em costas de burro, ficou
bravo lá na feira e deu uma facada num rapaz. Ficou com a faca
na mão, enfarruscado, dizendo que ninguém o prendia.
O Coronel já estava com o cavalo selado para ir à fazenda,
quando foram lhe avisar que tinha um homem na feira, muito
valente, já tinha dado uma facada num rapaz e estava lá com a
faca na mão, dizendo que não entregava a ninguém.
O Coronel montou-se no cavalo, veio imediatamente à feira
e realmente o homem estava lá muito brabo, armado, com a faca.
O Coronel conhecia todo mundo pelo nome. Quando parou o
cavalo bem perto donde estava o homem valente e disse em voz
alta:  “Que é isto, fulalo?” O cabra disse:  “Nada Coronel, estou
a sua disposição”. O Coronel disse-lhe:  “Dê-me esta faca”. O
homem não fez questão. Entregou imediatamente a faça ao
Coronel e este em seguida, disse-lhe:  “Segura aqui no rabo
deste cavalo”. O cabra segurou e ele saiu esquipando o cavalo
até a cadeia. Chegando lá, mandou o homem entrar, o que ele
não fez questão, o Coronel disse:  “Fique aí até minha segunda
ordem. Mandou fechar a porta e foi embora para a fazenda.
 85

Mais de um escritor já escreveu que Currais Novos, em

1937, era uma cidade de 7 ruas. Eu acho que eles não
pesquisaram a história da cidade, para escrever, tomando por
base o padrão de honestidade e de dignidade do Coronel José
Bezerra. Eu vou transcrever aqui o decreto nº 5, feito por ele, que
dá denominação às ruas de Currais Novos, existentes em 1892,
exatamente de 13 de julho de 1892.

DECRETO Nº 5

Que marca as denominações das ruas, praças, largos e

travessas desta vila de Currais Novos.

A Intendência Municipal desta Villa de Currais Novos,

reunida hoje em sessão ordinária, decreta:

Art. 1º – Ficam denominadas as ruas, praças, largos e

travessas desta Villa do seguinte modo:

§ 1º – A rua que começa da casa do cidadão Joaquim

Bezerra de Medeiros Galvão em direção ao Sul, denominar-se-á
“Cap. Mor Galvão”.

§ 2º – A rua que começa na casa do cidadão Moisés de

Oliveira Galvão em direção ao Sul denominar-se-á “13 de Maio”.

§ 3º – A rua da casa de propriedade do cidadão Francisco

Salles de Araújo denominar-se-á Rua Felipe Camarão.

§ 4º – A rua que começa na casa do cidadão Joaquim

Gomes de Araújo e termina no do Capitão Laurentino Bezerra
denominar-se a Rua do “Comércio”.

§ 5º – A rua que começa na casa do cidadão Manoel de

Medeiros Silva em direção ao Sul denominar-se-á Rua “André de
Albuquerque”.
 86

§ 6º – A que começa da casa do cidadão João Clementino

de Sousa denominar-se-á Rua do “Rosário”.

§ 7º – A rua da casa de propriedade do cidadão Benjamim

Manoel de Figueiredo Cavalcante denominar-se-á Rua “19 de
Março”.

§ 8º – A que começa da casa do cidadão Manoel Joaquim

da Silva em direção ao nascente denominar-se-á Rua “15 de
Novembro”.

§ 9º – A que começa da casa do cidadão Manoel Pires de

Albuquerque Galvão Filho em direção ao poente denominar-se-á
Rua “17 de Agosto”.

§ 10º – A rua da casa de propriedade do cidadão Galdino

José de Albuquerque Periquito denominar-se-á Rua da “Matriz”.

§ 11º – O largo entre as casas dos cidadãos Laurentino

Bezerra de Medeiros e Manoel de Medeiros Silva denominar-se-á
“Largo da União”.

§ 12º – A travessa da esquina da casa do cidadão Moisés

de Oliveira Galvão denominar-se-á “Travessa da Liberdade”

§ 13º – A travessa na esquina da casa do cidadão Joaquim

Gomes de Araújo denominar-se-á “Travessa da Matriz”.

§ 14º – A travessa entre a casa do cidadão Manoel

Joaquim da Silva e o muro da do Capitão Laurentino Bezerra de
Medeiros Galvão denominar-se-á “Travessa do Mercado”.

§ 15º – A travessa entre a casa do cidadão Manoel

Rodrigues da Cruz e o muro do Capitão Manoel de Medeiros
Galvão digo de Medeiros Silva denominar-se-á “Travessa
Francisco Ferreira”.
 87

§ 16º – A travessa na esquina da casa do cidadão João

Clementino de Sousa denominar-se-á “Travessa Frei
Miguelinho”.

Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.

Paço do Conselho de Intendência Municipal da Villa de
Currais Novos, 13 de julho de 1892.

O Secretário da Intendência o faça publicar.

Publicado nesta Secretaria aos 13 de julho de 1892.

Ainda do Coronel José Bezerra, eu vou transcrever o

decreto nº 6 que regula a transferência da feira aos domingos.
Pelo bojo deste decreto, nota-se a autoridade que tinha o
Coronel José Bezerra no que dizia respeito à manutenção da
ordem.
No decreto, ele mandava multar em dois mil réis por carga
de gêneros que fosse exposta à venda no local da feira, fora do
dia determinado e ainda dobrar a multa na reincidência.
Ora, uma carga de gênero alimentício, na época devia valer
em torno de dois ou três mil réis e ainda diz que poderia pagar
com prisão a multa, isto porque havia muitas mercadorias que
não valiam dois mil réis a carga.
O certo é que ele baixou o decreto e automaticamente a
feira foi mudada. Ainda se vê no decreto que se não houvesse
possibilidade de satisfazer, isto é, se a mercadoria não valesse a
multa, o indivíduo pagaria na cadeia na base de um mil réis por
dia.
Então vamos ver o decreto nº 6 de 14 de Julho de 1892.

DECRETO Nº 6

Que Regula a Transferência da Feira aos Domingos

 88

A Intendência Municipal da Vila de Currais Novos reunida

em sessão ordinária e tendo sido lhe apresentado um assignada
de todos os comerciantes desta Vila, há por bem decretar:
Art. 1º – Fica transferida a feira desta vila do dia de
domingo para o dia de sábado, devendo ter lugar a primeira feira
no dia 30 de julho corrente.

Parágrafo Único – Toda e qualquer pessoa que trouxer

gêneros para vender, não poderá expor à venda a não ser no dia
determinado para a feira sob pena de 2$000 (dois mil réis) de
multa por carga e sendo obrigatório a retirá-lo imediatamente.

Art. 2º – Toda pena pecuniária será comutada em pena de

prisão; havendo impossibilidade em satisfazê-la a razão de
1$000 (um mil réis) por dia.

Art. 3º – As multas serão pagas pelo duplo na reincidência.

Art. 4º – Revogam-se as disposições em contrário.

Paço do Conselho Municipal da Vila de Currais Novos, em
14 de julho de 1892.

O Secretário da Intendência Municipal o faça publicar e

correr.

Publicado nesta Secretaria aos 14 de julho de 1892.

José Bezerra de Araújo Galvão – Presidente

Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão Filho
Félix Pereira da Silva Segundo
Francisco Pereira de Medeiros

Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão – Secretário.

O Coronel José Bezerra de Araújo Galvão ficou apenas 6

meses na presidência da Intendência no seu primeiro período,
que foi de 4 de abril de 1892 a 3 de outubro do mesmo ano.
 89

4º INTENDENTE:
2º Período do Alferes Cândido de Oliveira Mendes

Por força da lei de organização Constitucional do Estado,

houve eleições em 11 de setembro de 1892, quando foi eleito o
primeiro Conselho de Intendentes para o triênio, 1892/1895,
composto dos senhores:

Cândido de Oliveira Mendes – Presidente

Antônio Xavier Dantas – Vice-Presidente
Membros:
Sebastião José de Medeiros
Francisco Bezerra de Medeiros
João Gomes de Melo
Pedro Cipriano Dantas.

O Alferes Cândido de Oliveira Mendes assumiu em 4 de

outubro do mesmo ano, porque o Coronel José Bezerra de
Araújo Galvão deixou a presidência no dia 3 de outubro de 1892.
O ele administrou até 31 de dezembro de 1895, quando foi
reeleito para o outro período, 1895/1898. Em primeiro de janeiro
de 1896, em sessão solene reuniu-se o Conselho de Intendentes
da vila de Currais Novos e elegeu os seguintes membros:

Pedro Cipriano Dantas

Cândido de Oliveira Mendes
Antônio Xavier Dantas
Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão
Inácio Libânio de Araújo.

Este Conselho reunido sobre a presidência do membro

mais velho, Sr. Pedro Cipriano Dantas, elegeu para presidente o
cidadão Cândido de Oliveira Mendes; para vice-presidente
Antônio Xavier Dantas. Cada um obteve três votos.
O Alferes Cândido de Oliveira Mendes administra o
Município com muita probidade e com muita humildade. Vamos
falar do seu terceiro período administrativo no próximo assunto.
 90

3º Período do Alferes Cândido de Oliveira Mendes

Em 31 de dezembro de 1895, terminou o segundo período

administrativo do Alferes Cândido de Oliveira Mendes na
Intendência de Currais Novos. Mas, quando foi reeleito em
primeiro de janeiro de 1896, começou ininterruptamente o seu
terceiro período administrativo. Foi neste período que ele
construiu o prédio da Intendência, em 1897.
Amurou também o restante do terreno pertencente ao Paço
Municipal, no mesmo local onde até hoje funciona a Prefeitura. O
prédio já sofreu várias reformas. Já foram construídas várias
dependências, mas o terreno continua o mesmo com os mesmo
limites. Foi também neste período que ele fez o Decreto nº 23, de
9 de julho de 1897, que tornou sem efeito o Decreto nº 5, de 13
de julho de 1892, do Coronel José Bezerra, que dava
denominação às ruas, largos e becos da Vila de Currais Novos.

Decreto nº 23 de 9 de julho de 1897.

A Intendência de Currais Novos considerando alguns

defeitos de que está revestido o decreto nº 5, de 13 de julho de
1892; considerando a grande necessidade de dar nomes às ruas,
largos e becos desta vila, decretou e eu sanciono a resolução
seguinte:

Art 1º – Fica revogado o decreto nº 5, de 13 de julho de

1892.

Art 2º – Ficam denominadas as ruas, praças, becos, largos

e travessas desta Vila do seguinte modo:

§ 1º – A que começa da casa de negócio do cidadão

Francisco de Oliveira Galvão e Ulisses Telêmaco de Araújo
Galvão em direção ao Norte denomina-se Rua Cap. Mor Galvão;
 91

§ 2º – A rua que começa da casa de negócio de Ulisses

Telêmaco de Araújo Galvão e Francisco de Oliveira Galvão em
direção a Matriz denominar-se-á Rua do Comércio;

§ 3º – A rua que começa da casa de propriedade de

Francisco de Sales e Cândido de Oliveira Mendes denominar-se-
á Rua 15 de Novembro;

§ 4º – A que começa da casa do cidadão Pedro Moreira

Dantas e de Inácio Matos denominar-se-á Rua da Matriz;

§ 5º – A rua que começa na casa de propriedade de

Cassimiro José Dantas e de André Pinheiro Teixeira em direção
ao nascente denominar-se-á Rua do Rosário;

§ 6º – O Largo que fica entre as casas de propriedade de

Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão e de José Bezerra de
Araújo Galvão denominar-se-á Largo 13 de Maio;

§ 7º – A travessa entre as casas de propriedade de

Francisco de Oliveira Galvão e Francisco de Sales de Araújo
denominar-se-á Travessa da Liberdade;

§ 8º – A travessa entre as casas de Francisco de Oliveira

Mendes e a casa comercial de Francisco de Oliveira Galvão
denominar-se-á Travessa 19 de Março.

§ 9º – O beco entre a casa comercial de Francisco de

Oliveira Galvão e a de dona Maria Libânia da Silveira denominar-
se-á André de Albuquerque;

§ 10º – A travessa entre a casa de André Pinheiro Teixeira

e o muro da casa de Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão,
denominar-se-á Travessa do mercado;

§ 11º – A travessa entre a casa de Joaquim Gomes de

Araújo e a Matriz, denominar-se-á Travessa da Matriz;
 92

§ 12º – O beco entre as casas de Manoel Alves de Lima e

Antônio Ignácio Viterbino de Medeiros Galvão, denominar-se-á
Beco Felipe Camarão;

§ 13º – O beco entre as casas de Cilmintino de Souza e

Cândido Pinheiro de Lima, denominar-se-á Beco Frei Miguelinho;

Art. 3º – Revogam-se as disposições em contrário.

Paço da Vila de Currais Novos, 9 de julho de 1897.
O Secretário da Intendência Municipal o faça publicar e
correr.

(a) Zefirino Gomes de Macedo – presidente; Egídio Ernesto

da Circuncisão – secretário. Publicado nesta Secretaria aos 9 de
julho de 1897.

Há uma coisa neste decreto que talvez paire dúvidas nas

pessoas que irão ler este livro: Zefirino Gomes de Macedo assina
como presidente, mas Zefirino nunca foi presidente da
Intendência de Currais Novos, mas sim da Secretaria da
Intendência.
O presidente da Intendência até 3 de abril de 1889 foi
Cândido de Oliveira Mendes. O balanço da Intendência referente
ao período de 1897, também está assinado por João Alfredo de
Albuquerque Pires Galvão com a data de 31 de dezembro de
1897. Quando João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão
assumiu a presidência da Intendência em 4 de abril de 1898,
havia sido eleito em 3 de abril de 1898.
Então não há nenhuma dúvida de que o presidente da
Intendência de Currais Novos desde 4 de outubro de 1892 até 3
de abril de 1898, foi o Alferes Cândido de Oliveira Mendes, tendo
antes substituído o Cap. Laurentino Bezerra, de 20 de abril de
1891 a 22 de janeiro de 1892.
Para se ter uma ideia de como eram a receita e despesa da
Intendência naquela época, eu vou transcrever aqui o orçamento
da receita e despesa da Intendência do ano de 1897.
 93

Balanço da receita e despesa da intendência de currais novos do

ano de 1897

Receita:

Licenças para negociar....................................150$000

Valor Locativo....................................................36$400
Bebidas espirituosas..........................................80$000
Botequins...........................................................12$000
Pólvora...............................................................40$000
Arrematações................................................1.692$000
Imposto sobre edificações...................................3$670
Percentagens pagas pelos empregadores..........4$300
Magenias por animais......................................150$800
Fogos artificiais..................................................20$000
Espetáculos........................................................20$000
Casas de fábricas fora.......................................50$000
_________
Total..............................................................2.258$440

Despesa:
Ordenados:
Ao Secretário...................................................446$000
Ao coveiro administrador.................................200$000
Ao fiscal da Vila................................................100$000
Ao porteiro..........................................................60$000
Ao fiscal de Carubas..........................................60$000
Porcentagens ao procurador...........................338$755
Expediente da Intendência.................................33$320
Eventuais.........................................................167$800
Iluminação..........................................................19$500
Assinatura da República......................................6$000
Expediente do Juiz...............................................9$420
Aluguel da casa do juiz....................................120$000
_________
Total das despesa.........................................1.562$565
Saldo que passa para a inscrição de 1898......695$874
_________
Total..............................................................2.258$440
 94

Assinaram este balanço:

Cândido de Oliveira Mendes – Presidente,
João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão,
Antônio Ilarino Dantas,
Manoel Aleixo de Maria
Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão Filho

Em 31 de dezembro de 1897

5º INTENDENTE:
João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão

João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão foi eleito em 3

de abril de 1898. Assumiu a presidência da Intendência no dia 4
do mesmo mês e ano. Foi um Intendente muito dinâmico, no seu
primeiro ano de administração.
Fez uma limpeza no quartel da polícia, limpou também o
cemitério, começou a construção do mercado público, tendo feito
no primeiro semestre o aterro que custou aos cofres públicos a
vultosa importância de 20$000 (vinte mil réis) e no segundo
semestres terminou a construção onde gastou 310$820.
Criou uma Escola Pública cujo professor foi contratado por
150$000 (cento e cinqüenta mil réis) por ano, passou os balanços
da Intendência a semestral, para haver melhores condições para
os funcionários que antes recebia anual, então passaram a
receber seus vencimentos semestralmente.
Na sua administração houve a festa da passagem do
século, ele fez a iluminação da praça com 6 lampiões que
custaram aos cofres públicos a importância de 19$000 (dezenove
mil réis).
Em 1898 foi um ano seco. Então ele comprou as sementes
por conta da Intendência para distribuir com os agricultores para
plantarem em 1899, no que gastou a importância de 300$000
(trezentos mil réis), terminou as divisas do Município onde gastou
300$000 (trezentos mil réis), com a festa da passagem de século
 95

gastou a vultosa soma de 241$000 (duzentos e quarenta e um

mil réis).
João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão, segundo o livro
de registros de Intendentes bem como o de registros de eleições,
administrou a Intendência até 30 de julho de 1904, enquanto que
os balanços de 1902 e 1903 foram assinados por Moisés de
oliveira Galvão. No livro de Atas, a posse de Moisés de Oliveira
Galvão foi em 1º de setembro de 1904, que administrou só até
dezembro do mesmo ano. Eu tenho dúvidas sobre estes dados.

6º INTENDENTE:
Moisés de Oliveira Galvão

Moisés de Oliveira Galvão assumiu a presidência da

Intendência de Currais Novos em primeiro de setembro de 1904.
Não houve fato de grande importância na sua administração que
por sinal foi muito curta, mas manteve o ritmo normal de
equilíbrio na Intendência, equilibrou as finanças, transferiu ao seu
sucessor com saldo positivo regular, administrou até 31 de
dezembro de 1904.

7º INTENDENTE:
Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão

O Coronel Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão assumiu

a presidência da Intendência de Currais Novos em 1º de janeiro
de 1905. Solteiro, muito equilibrado em finanças, muito calmo,
escutava mais do que conversava, homem de uma honestidade a
toda prova, muito entendido sobre a história de Currais Novos,
mas conversava pouco, a não ser que fosse perguntado. No seu
primeiro período de administração houve fato de grande
importância: melhorou um pouco o prédio da Intendência e
deixou as finanças muito equilibradas. Administrou só até
setembro de 1906.
 96

Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão

7º Intendente
 97

Benvenuto Pereira de Araújo

8º Intendente
 98

8º INTENDENTE
Benvenuto Pereira de Araújo

Em 1º de outubro de 1906, foi eleito e empossado

Benvenuto Pereira de Araújo. Cidadão pacato e muito modesto,
mas de espírito público muito forte, pois naquela época havia
uma questão muito grande na Serra de Santana. É que, sendo a
mesma considerada agrícola por lei municipal, onde os
agricultores pagavam dízimo de suas lavouras e que na época
era uma das maiores fontes de renda do município, mas os
agricultores eram constantemente prejudicados, porque o gado
dos fazendeiros do sertão estragava as lavouras da Serra de
Santana.
Os agricultores deste lugar eram gente muito humilde, em
sua maioria, pretos, a quem os fazendeiros do sertão não davam
muita importância. Eram sempre mais poderosos. Assim, tornou-
se uma luta desigual, onde houve brigas e até mortes.
Portanto, Benvenuto Pereira quando assumiu a Intendência
encontrou aquele clima desagradável. Levou o problema a sério,
foi a Serra de Santana, procurou conversar com os agricultores,
fez uma reunião em Panelas, disse aos menores que ia tomar
providências.
Este foi o diálogo entre ele e os pretos: Eles perguntaram:
– “Como? – “Cercando a Serra”. – “Mas, quando?” – “Vou
começar amanhã”. – “Com quem?” – “Com vocês mesmo”. –
“Vocês não precisam ganhar dinheiro?” – “Claro que
precisamos”.
Então seu Benvenuto perguntou: – “Quem de vocês sabe
fazer cerca?” Eles responderam: – “Todos nós sabemos”. Então
seu Benvenuto acertou logo com uma turma que começou no
outro dia a cortar madeiras e abrir picadas; acertou também que
no domingo ia fazer o pagamento e levar arames e assim foi
feito.
Os pretos que estavam bravos passaram a trabalhar na
cerca, ganhar dinheiro da Intendência e cercar seus próprios
roçados.
No mesmo ano ficou resolvida definitivamente a questão da
Serra de Santana. Seu Benvenuto entregou cercas prontas e
 99

pediu aos agricultores da Serra que ficassem conservando as

mesmas por suas contas, o que eles combinaram.
Portanto, para mim, seu Benvenuto Pereira, com sua
modesta foi na época um dos maiores administradores de Currais
Novos, porque resolveu a maior questão da época. Por isto, eu
sempre quis vê-lo imortalizado em uma de nossas praças
públicas e certa vez até apresentei um projeto de lei mudando o
nome da Praça Tomaz de Araújo para Praça Benvenuto Pereira,
não conseguindo aprovação.
Em sua gestão também foi feito o monumento Centenário,
que apesar de não ter sido pela Intendência, mas sim por uma
campanha feita através da Voz Potiguar sobre a direção de
Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão e Vivaldo Pereira de Araújo
não deixou de ter a colaboração e participação do então
Intendente Benvenuto Pereira de Araújo, que, com probidade e
dignidade administrou o Município até 31 de dezembro de 1910.

9º INTENDENTE
Ladislau de Vasconcelos Galvão

Em 1º de janeiro de 1911, assumiu a Intendência de

Currais Novos o Major Ladislau de Vasconcelos Galvão. Ele era
um grande comerciante e grande criador de gado na região.
Muito conhecido em todo o Estado, inclusive de influência política
junto ao então governador.
Foi através desta influência, que ele conseguiu a primeira
Escola pública estadual para Currais Novos, o Grupo Escolar
Capitão Mor Galvão, criado por força da Lei nº 256, de 25 de
novembro de 1911.
Ele reformou o prédio da Intendência e construiu um anexo
onde funcionou o Grupo Escolar Capitão Mor Galvão, logo a
partir de 1912.
O prédio foi construído por conta da Intendência e o Estado
pagava aos professores. Neste local o Grupo Escolar funcionou
até 1927.
 100

O Major Ladislau foi muito esforçado e trabalhador. Exigiu

de todos os moradores que limpassem pelo menos as frentes de
suas casas e os que não tiveram condições de fazer, ele mandou
limpar por conta da Intendência. Exigiu também que todas as
casas construíssem privadas e isto foi feito, tanto é que no
término de sua administração em 31 de dezembro de 1914,
Currais Novos foi considerada a Vila mais limpa do Estado.
 101

Ladislau de Vasconcelos Galvão

9º Intendente
 102

10º INTENDENTE:
2º Período do Coronel José Bezerra de Araújo Galvão

Em 1º de janeiro de 1915, assumiu a presidência da

Intendência de Currais Novos, o Coronel José Bezerra de Araújo
Galvão, sendo então o seu segundo mandato de Intendente.
Naquela época, não havia escolas municipais nas zonas
rurais do município. Os proprietários contratavam professores
para ensinar aos seus filhos. Então, os professores ensinavam os
meninos da circunvizinhança daquelas fazendas, cobrando por
cada menino 500 (quinhentos réis), mas havia uma grande parte
de meninos que não tinha acesso àquelas escolas porque
moravam distante daqueles proprietários que podiam contratar
um professor.
A Velha Dona, como era conhecida uma professora no
Totoró, carinhosamente chamada pelos alunos de, Minha Mestra,
porque também dificilmente tinha um aluno que soubesse o nome
dela, por ser meio complicado: Filaudelfia Filisberta de Carvalho
e para escrever mais ainda, porque, tudo era com PF
Philaudelphia Philisberta de Carvalho.
Ela tinha muita aproximação com o Coronel José Bezerra e
era uma verdadeira abnegada pelo ensino primário. Ensinava por
conta própria, cobrava os 500 réis, mas se não pudesse pagar,
também, não deixava de ir a Escola de Minha Mestra.
Então, ela falou com o Coronel José Bezerra para a
Intendência pagar por aqueles meninos, que os pais não podiam.
O Coronel disse: – “A Intendência não pode, mas eu posso”.
Disse Dona: – “Vamos fazer o seguinte: ao invés de pagar pelos
meninos, vou pagar logo a professora”. E ficou combinado que
ele pagaria o ordenado da velha Dona, para ela ensinar aos
meninos do Totoró.
Logo depois contratou também o professor Antônio Zuza,
Mestre Zuza, de São Bento, outro abnegado, professor Chico
Rosa em São Sebastião e outros. O pagamento era dez mil réis
por mês, pelo menos o da Velha Dona, porque isto ela me contou
em viva voz.
 103

Há quem diga que o Coronel José Bezerra era um homem

malvado e protetor de criminosos, o que eu discordo totalmente,
não por tê-lo conhecido pessoalmente, mas porque pesquisei
muito a seu respeito, ouvi dezenas de pessoas que o conheciam
e que viveram o seu tempo, não só aqueles que tiveram estreitos
laços de amizade e de negócios, como o meu pai, Tomaz Alves
dos Santos, (Tomaz Targino), Elias Fernandes, Raimundo
Pequeno, Vicente Bezerra, Tomaz Inocêncio, José Tomaz do
Totoró, José Bento e tantos outros. Ouvi também pessoas
comuns, que apenas viveram o seu tempo e o conheceram:
Absalão Serafim de Souza, o Velho Peba, o Velho Joaquim de
Freitas e tantos outros velhos nobres, mas homens de bem na
expressão da palavra.
Em todas estas pesquisas concluí do Coronel José Bezerra
o seguinte raciocínio: Foi um homem de bem, de muito caráter e
muito honesto, com um poder de liderança fora do comum em
sua época e por isto muito respeitado, muito positivo, não
escondia seu gesto de gratidão ou de repúdio quando se fazia
necessário. Era muito servidor e daí vem a razão por que todo
mundo lhe obedecia.
Para se ter uma ideia de quanto ele servia
desinteressadamente ao povo, naquela época, a maioria das
propriedades do município de Currais Novos, foram vendidas por
ele aos primitivos donos e normalmente fiado. Outros, ele
emprestava o dinheiro sem juros para o indivíduo comprar. As
questões de terra na região era ele quem resolvia.
Quando as partes não chegavam a um acordo ele
normalmente comprava a propriedade daquele que lhe parecia
mais sem razão, depois a vendia a outra pessoa que não fosse
causar problemas aos vizinhos. Ao conheço vários casos desses
no Município de Currais Novos.

Coronel José Bezerra, o homem positivo

Quando o Doutor Alberto Maranhão foi candidato a

Governador do Estado disse em Santa Cruz:  “Eu vou conseguir
o apoio do Cangaceiro da Aba da Serra”. Então, veio para o
 104

Acari, onde já contava com o apoio do Coronel Silvino Bezerra,

irmão do Cel. José Bezerra. Lá, houve um comício e uma grande
festa política. O Coronel José Bezerra foi convidado de honra
para a festa, como não podia deixar de ser: irmão do chefe
político local e chefe político de Currais Novos.
O Doutor Alberto Maranhão demonstrou interesse de fazer
um comício em Currais Novos, mas o Coronel José Bezerra já
havia sabido do que ele tinha dito em Santa Cruz. Então disse: 
“Doutor, não é preciso fazer comício em Currais Novos; lá tem
trezentos eleitores, todos vão votar no senhor, pode ficar
tranquilo”. O Doutor ainda insistiu em fazer o comício, mas ele
não aceitou por hipótese nenhuma.
Passou a época da campanha e houve a eleição. Votaram
em Currais Novos 319 eleitores. O Doutor Alberto teve 319 votos.
Quando ele veio ao Acari agradecer ao Cel. Silvino a votação de
lá, que também foi muito expressiva, o Cel. José Bezerra estava
também. Ele desmanchou-se em elogios dizendo que ele era o
maior chefe político do Estado, pois foi o único município que ele
obteve votação unânime e que iria a Currais Novos agradecer ao
autêntico comandante daquela região.
O Cel. José Bezerra, que há tempo vinha guardando
atravessado na garganta o que soubera que ele havia dito em
Santa Cruz, na casa do Major Ezequiel, respondeu-lhe de
imediato:  “Doutor, Currais Novos nem precisou do seu comício
nem precisa de festa de agradecimento. O Cangaceiro da Aba da
Serra, como o senhor me chamou lá na casa de Ezequiel, em
Santa Cruz, é o mesmo que lhe prometeu os trezentos votos
antes da eleição. Aqui em Acari é o mesmo cangaceiro da Aba
da Serra como o senhor chamou, só que é um cangaceiro que o
povo de Currais Novos vota no candidato que ele apoia, sem
precisar de festa nem de comício. Também não precisa ir lá
agradecer não senhor, já está agradecido”. Disse isso, despediu-
se e foi para sua fazenda na Aba da Serra.
O Governador ficou meio desconfiado, voltou para Natal,
passou em Currais Novos, nem parou na cidade. Foi para a casa
do Major Sérvulo Pires do outro lado do rio.
Em 1914, foi criada uma Companhia de Capital Misto para
construir a estrada Natal/Caicó. O Coronel José Bezerra
associou-se e entrou com a cota de capital que lhe foi estipulada.
 105

Foi marcada a data do início dos trabalhos da construção da

estrada.
Acontece que a companhia não deu início aos trabalhos na
data prevista. Como 1915 foi um ano de seca, o povo estava
desempregado e passando muita fome. E ele era o presidente da
Intendência de Currais Novos. Neste ano, escreveu ao
Governador pedindo de imediato o início da construção da
estrada, porque a companhia já havia quebrado o primeiro
compromisso.
O Governador marcou novamente a data de iniciar os
trabalhos, mas ficou como promessa de político mesmo. O
Coronel prometeu ao povo do Município que os trabalhos
começariam na data prevista. O povo acreditou piamente que o
Coronel José Bezerra havia prometido e começou a se juntar na
cidade esperando o serviço que mais uma vez não veio.
O Coronel ficou muito chateado, fez uma carta ao
Governador desvinculando-se da Sociedade, pedindo a
devolução do seu dinheiro dizendo que o Governador não era
homem de trato.

Coronel José Bezerra, o Homem Respeitado

Para se ter uma ideia como o Coronel José Bezerra era

respeitado e como o povo obedecia-lhe. Certa vez, um cidadão
matou outro na Serra de Santana. O Coronel estava nos
Macacos e foi a Serra ver o problema. Dizem que estava
chovendo quando ele subiu a Serra. Ele chegou à casa do
criminoso e ainda o encontrou em casa.
O Coronel disse-lhe:  “Você vai se recolher à cadeia”. Ele
concordou, mas disse que não sabia do caminho da cidade. Ele
falou:  “Você vai por cima do rastro do meu cavalo, porque está
dando esta chuvinha fininha, o resto está bem visível. Vá ligeiro,
não deixe que o rastro se apague que você vai até os Macacos
sem errar. Daí pra lá a estrada não tem errada, quando eu
chegar em Currais Novos já quero lhe encontrar lá na cadeia”. E
assim foi feito. Quando ele chegou o homem já estava preso.
 106

Outra vez um velho que morava lá na Serra do Cajueiro ia

casar uma filha e neste tempo, lá em Cinco Cantos, região da
mesma serra morava um cangaceiro, que eu deixo de citar o
nome para não melindrar seus descendentes.
O velho era um homem de bem, muito pacífico, muito
amigo de todos da região, tinha uma porção de filhos, era um
pequeno fazendeiro, mas um homem respeitado por todos de sua
circunvizinhança. Convidou os parentes e amigos para a festa do
casamento, mas não convidou o cangaceiro, porque o mesmo
quando bebia fazia bagunça, acabava a festa, matava gente e
ficava por isso mesmo.
Então, o velho que era um cidadão pacato, teve medo de
convidá-lo e haver um aborrecimento, mas foi pior. O valentão
sentiu-se humilhado porque não foi convidado, mandou dizer ao
velho que ia acabar com a festa. O velho ficou pensando como
evitar o problema: não convidou o homem com medo de
bagunça, agora o homem mandava dizer que vinha acabar com a
festa, porque não havia sido convidado.
O velho fez como sempre fazem os homens de bem. À
noite, no silêncio do seu quarto, conversando com sua mulher
descobriu como evitar o problema. Raciocinou e disse a mulher:
 “Descobri um meio de como evitar que fulano venha acabar a
minha festa”. A mulher perguntou-lhe o que ele tinha pensado e
ele disse:  “Vou convidar o Coroné José Bezerra, porque se ele
vier tá tudo resolvido. Fulano de tal não vai acabar uma festa
onde tá o Coroné. Então, nós casa nossa fia, faz a festa, fica todo
mundo satisfeito, porque o Coroné tando aqui num tem quem
bula com ninguém.” A mulher disse:  “Muito bem, você tá certo,
se o Coroné vier ta tudo resolvido”.
Então, ficou tudo combinado entre marido e mulher durante
a noite. De madrugada, o velho selou o cavalo e fez carreira pra
Aba da Serra. A distância é mais ou menos umas 6 ou 7 léguas,
uns 40 quilômetros aproximadamente.
Antes do meio dia, o velho chegou na Aba da Serra, o
Coronel o recebeu, mandou desmontar-se e perguntou a que
vinha. O velho bem moderado para não deixar transparecer
vexame disse: - “Coroné, é porque eu vou casar uma filha e vim
lhe convidar para o casamento”.
 107

O Coronel era muito inteligente, notou logo que havia

algum problema. Então indagou:  “Fulano, qual foi a razão de
você ter vindo tão vexado me convidar para eu ir ao casamento
de sua filha? Eu vou ao casamento, mas me conte a história
direito, não me esconda nada”. O velho disse:  “Coroné, é
porque fulano de tal é um sujeito valentão como o senhor sabe,
eu não o convidei com medo dele fazer confusão lá na minha
festa, então, ele mandou-me dizer que ia acabar minha festa e se
o senhor for eu tenho certeza que mesmo ele indo, não faz
nada”.
O coronel pensou um pouco e disse:  “Eu vou à festa. Só
que você não diz a ninguém. Pode casar a moça, fazer a festa
que eu chego lá às seis e meia da tarde, mais ou menos, se ele
chegar antes não diga nada”.
Assim foi feito, o velho casou a moça em Santana do
Matos, quando chegaram lá na Serra era mais ou menos 6 horas
da tarde. Foram arrumar janta e começaram o forró.
O velho não tirava o olho da estrada esperando o coronel.
O homem valente chegou e começou logo a beber e dançar e o
velho pedindo a Deus que o coronel chegasse, quando avistou
pela estrada um cavaleiro se aproximando. Quem é, quem não
é? Perguntavam alguns. O velho disse:  “È o Coronel José
Bezerra”. Todo mundo parou para recebê-lo. O Coronel
aproximou-se da latada onde estavam dançando e perguntou: -
“Fulano está aí? De imediato o fulano apareceu, disse: - “Pronto,
coronel, estou às suas ordens”. O coronel disse:  “Eu estou
mesmo precisando de você”.
Desmontou-se do cavalo, o fulano pegou no estribo do
outro lado, para melhor apoio e ficou à disposição do coronel. O
coronel puxou a ponta do cabresto do bolso de dentro da
coronha, entregou na mão do fulano e disse:  “Segure no
cabresto desse cavalo, não solte e nem entregue a ninguém,
porque é pouca gente em que eu confio segurar no cabresto
dele”. O fulano disse:  “Não, coroné, pode ficar tranquilo, entrar
e se diverti que eu não entrego a ninguém”.
O coronel entrou, apertou a mão de todos, como era seu
costume, o velho dono da festa abraçou o coronel, levou-o para
jantar, morrendo de satisfeito. O Coronel gostava muito de jogar,
 108

depois da janta inventaram um jogo, brincaram até o dia

amanhecer e o homem valente ficou lá no terreiro segurando no
cabresto do cavalo do coronel. Um frio danado e ele não tomou
mais nenhuma durante a noite.
Quando o dia amanhecia, o coronel saiu, aproximou-se do
cavalo e do homem e disse:  “Fulano, eu lhe dei uma maçada
muito grande, me esqueci que tinha deixado você segurando no
cabresto do cavalo”. Mas, o homem animado disse:  “Não,
Coroné, eu estou aqui às suas ordens, não tem problema”.
O coronel olhou para ele e disse:  “Olhe, fulano, eu fiz isso
de propósito, porque quando cheguei aqui soube que você tinha
dito que vinha acabar a festa deste meu amigo e eu não queria
isto aqui. Por isto lhe deixei segurando no cabresto do cavalo e
nunca mais quero ter notícia desta natureza. Olhe, vá embora e
não procure desentendimento com este velho nem com a família
dele, porque eles são muito meus amigos”.
O valentão foi embora e jamais acabou festa na região. O
coronel despediu-se do velho e dos filhos, tomou café e voltou
para a Aba da Serra.
Tudo que era questão ia para o coronel resolver e ele
resolvia, até mesmo as mais intricadas. Certa vez, um seu
compadre não andava muito bem com a mulher. Esta resolveu
falar com o coronel José Bezerra:  “Compadre, fulano não anda
muito certo, parece que está arranjando outras mulheres. Eu
queria que o senhor desse uns conselhos a ele”. O coronel disse:
 “E você está tratando bem ao compadre?” Ela disse:  “Tô,
Coroné”.
O homem tinha viajado, o coronel perguntou-lhe, quando é
que ele ia chegar. Ela disse tal dia. O coronel disse:  “Então,
você se ajeite, vista um vestido bonito, tome banho, bote
perfume, mate uma galinha, faça uma janta boa pra esperar por
ele que vai dar tudo certo”. A mulher tomou o conselho, ele
conversou com o compadre e deu certo. A vizinha que era
acostumada a escutar algumas brigas não viu mais nem um
barulho na casa.
Certo dia, perguntou a comadre o que tinha acontecido que
eles estavam vivendo tão bem. A mulher disse:  “Eu falei com
compadre José Bezerra. A vizinha disse:  “O meu marido
 109

também anda meio sem vergonha, eu vou falar com o coronel

também”. E no outro dia foi mesmo.
O coronel era um verdadeiro filósofo, de pouca cultura, mas
muito inteligente. Verificou que se fosse resolver questão de
mulher com marido, jamais teria tempo para outra coisa. A
mulher contou a história, ele escutou com muita calma, depois
perguntou:  “O que você quer que eu faça?” Ela disse:  “Eu
quero que o senhor dê um jeito nele”. O Coronel disse: - “Já sei o
que vou fazer!” Ela indagou:  “O que é que o senhor vai fazer,
coroné?” Ele disse: - “Vou capá-lo”. A mulher disse:  “Não,
coroné assim desta”. E saiu sem olhar para traz. Deve ter
contado a outras e o coronel jamais teve problema de mulher
com marido para resolver.
Uma coisa curiosa: os períodos administrativos dos
presidentes de Intendência daquela época. A lei da organização
municipal determinou que fosse de três anos, os mandatos dos
presidentes de Intendência, mas muitos deles não completavam
os seus mandatos e nem no livro de Atas encontra-se renúncias
dos mesmos, parece que simplesmente resolviam deixar a
Intendência, convocava o Conselho e elegia o outro presidente.
O coronel José Bezerra, por exemplo, o seu primeiro período foi
só de seis meses, este último de dois anos, bem como outros
que passaram um ano, dois anos e até 10 meses.
Outra coisa é bom lembrar: é que o cargo de Presidente da
Intendência bem como dos membros do Conselho, eram cargos
filantrópicos, não havia remuneração e nem representação nos
balanços da Intendência de Currais Novos, até 1930, incluindo-se
já 10 anos de Prefeitura Municipal não se encontra nem uma
despesa a título de ordenado ou gratificação do Prefeito ou
Intendente.
O Coronel José Bezerra foi, sem exagero nenhum, melhor
líder que passou por toda a história de Currais Novos. Não tinha
ambição por cargo público, tanto é que jamais quis ser deputado
e sempre elegia em Currais Novos um deputado estadual. Não
se encontra, vasculhando a história do seu tempo, discordância
política contrária a sua orientação a não ser uma vez que Dr.
Tomaz Salustino discordou do seu candidato a deputado e
conseguiu 16 votos para outro candidato.
 110

Vê-se também que as eleições e presidentes da

Intendência bem como dos membros do Conselho eram feitas
dentro da mais perfeita concórdia, ao que tudo indica não havia
privilégio de pessoas ou família. Todos tinham vez, dependendo
da personalidade.
Vemos, por exemplo, a zona rural do Município
participando do Conselho de Intendência com representantes dos
mais diferentes pontos. Outros eram convidados e não
aceitavam, porque não tinham tempo.
Currais Novos era uma comunidade unida, uma família. O
último período de Intendente do coronel José Bezerra foi de dois
anos, 1915 a 1916, terminou em 31 de dezembro de 1916.

“O PROGRESSO”, 26 DE NOVEMBRO DE 1920.

AO PÚBLICO E ESPECIALMENTE À DIRETORIA DA

SOCIEDADE ANÔNIMA ESTRADA DE AUTOMÓVEL DO
SERIDÓ.

Nós, associados da sociedade acima referida, declaramos

que tendo citado a Diretoria dessa empresa para uma
convocação, em julho, tal convocação não foi realizada de modo
que o superintendente está sujeito a multa de 5:000$000 (cinco
contos de réis) conforme dispõe o art. 200, nº 3 do decreto nº
436, de 6 de julho de 1891, que rege as sociedades anônimas
no Brasil. Por tudo isto e muitos outros abusos cometidos desde
já nos desligamos da mesma sociedade que, a bem da
moralidade administrativa do governo patriótico do Dr. Antônio de
Souza, deve ser dissolvida e liquidada por insolvabilidade.
Protestamos pela restituição do capital das nossas
entradas que, se não nos for restituído faremos valer o nosso
direito, uma vez que, além de afrontados, fomos iludidos. Currais
Novos, 26 de novembro de 1920.

Assinam:

José Bezerra de Araújo Galvão,

Francisco Braz de Albuquerque Galvão,
 111

Ladislau de Vasconcelos Galvão,

Antônio Bezerra de Araújo,
Antônio Gomes de Melo,
Luiz Ulisses da Circuncisão Lula,
Vivaldo Pereira de Araújo.
OBSERVAÇÃO:

Esta nota poderá ter algumas palavras truncadas ou

deturpadas, em virtude do jornal, do qual a copiei, está muito
estragado, pois se trata de um exemplar de “O Progresso”, de
1920.
Tive muito cuidado de examinar e reexaminar para não
desvirginar sua autenticidade; acredito que está ipisis literis do
original.
Esta é a famosa carta de rompimento do Coronel José
Bezerra com a sociedade anônima, Estrada de Automóvel do
Seridó.

11º INTENDENTE:
Vivaldo Pereira de Araújo

Em 1º de janeiro de 1917, foi eleito para triênio 1917/1919,

Vivaldo Pereira de Araújo, que empossou na mesma data.
Cidadão muito evoluído, de princípios morais e religiosos muito
elevados, abnegado, lutador pelas letras e a cultura do Município,
foi o pioneiro na criação de Escolas Municipais rurais. Instituiu na
sua administração uma modalidade para melhor ampliação do
ensino primário na zona rural, uma espécie de convênio onde o
proprietário dava o prédio para funcionar a escola e a
hospedagem da professora. A prefeitura pagava o ordenado da
professora. Assim foram criadas diversas escolas primárias na
Zona Rural do Município.
Para criar uma escola, o proprietário só precisava dispor do
prédio, fazer uma relação de quantos meninos tinha em idade
escolar na circunvizinhança, levar à prefeitura e era criada a
escola. Esta iniciativa de Vivaldo Pereira, na época, foi um
grande passo para alfabetização da Zona Rural do Município.
 112

Vivaldo Pereira de Araújo

11º Intendente
 113

A Construção do Mercado Público

Já havia em Currais Novos um pequeno mercado público,

construído por João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão, em
1900, mas já não suportava o movimento comercial de 1919.
Então, Vivaldo Pereira resolveu construir um novo mercado.
Aproveitou a parte construída por João Alfredo e aumentou na
frente e nos fundos, construiu mais quatro pontos comerciais na
frente e quatro nos fundos e fez a cobertura total onde funcionava
toda a feira. Foi na época considerado o maior mercado público
do Estado do Rio Grande do Norte. Era tão grande, que serviu a
Currais Novos meio século, exatamente 50 anos. Foi demolido
em 1979, para dar lugar à construção da praça cívica
Desembargador Tomaz Salustino.
Vivaldo Pereira foi um homem de visão larga que viveu no
seu tempo uma evolução pelo menos 50 anos do futuro. A sua
casa na Avenida Coronel José Bezerra era a mais linda de
Currais Novos. Deveria ter sido preservada para o Patrimônio
Histórico Nacional. Foi demolida para dar lugar à construção do
prédio do Banco do Brasil.
Foi ele também quem trouxe o primeiro arado para Currais
Novos. Aliás, desse arado eu tenho uma história que me parece
muito boa.
Foi em 1932, quando estava em pleno funcionamento a
construção do açude Totoró. Não havia neste tempo facilidade de
transportes automotores.
Então, em Currais Novos existia um homem que era um
verdadeiro automotor movido a feijão, chamado Acelera
Benedito. Ele não gostava do apelido, mas quando não
chamavam Acelera Benedito, o chamava, Benedito Acelera. Esse
homem era muito comedor, comia um carneiro de uma vez e
tinha muita força.
Certa vez, levou um bilhar com bola e tudo de Acari para
Parelhas para ganhar 10$000 (dez mil réis). Vivaldo Pereira
contratou-o para levar o arado para a Fazenda Pai André, de sua
propriedade, que hoje é conhecida por Trangola, mas o nome
certo é Pai André. Acelera Benedito não conhecia direito o
 114

caminho da Fazenda, deu uma entrada errada na Cacimba das

Ovelhas e foi sair na construção do açude Totoró, com aquele
munduru na cabeça, arado com grade de discos e tudo.
Na construção, tinha cerca de cinco mil cossacos, a pior
gente que se possa pensar para estas oportunidades. Acelera
perguntou o caminho para a Fazenda de seu Vivaldo, os
cossacos começaram a botá-lo a bestar. Uns diziam: “É para o
lado sul”. Ele ia para o lado sul; outros: “É para o lado norte”.
Benedito ia para o lado norte; Outros o interrompiam dizendo que
a direção era ao nascente. Lá, ia Benedito para o nascente;
outros diziam: “Não, Benedito, é para o poente”. E ainda tinha os
gaiatos que diziam: “Acelera Benedito”. Aí ele corria estonteado,
com aquele peso na cabeça pra cima e pra baixo.
Papai encontrou Benedito nesta agonia. O coitado já quase
doido pra cima e pra baixo. Papai disse:  “Benedito, não preste
atenção o que esse povo diz, pois eles só querem lhe atrapalhar”.
Chamou Benedito, levou-o para a nossa fazenda, lá foi
preciso 6 homens para tirar aquele munduru de peso de sua
cabeça. Depois que conseguiram descarregar Benedito, papai
mandou preparar o almoço para ele, me lembro como se fosse
agora: mamãe fez um alguidar de farofa de feijão macassar, um
pedaço de carne assada, duas rapaduras do banio. Benedito
comeu tudo, depois disse: - “Dona Chiquinha, num tem um
cardinho de feijão?” Mamãe despejou a panela de caldo e ele
bebeu tudo misturado com bastante farinha.
Depois do almoço papai juntou os homens, botaram o
munduru de ferro na cabeça dele e ele foi embora.
Essa história não é da administração de Vivaldo Pereira na
Prefeitura, mas, inclui neste capítulo apenas porque estava
escrevendo sobre Vivaldo Pereira e me veio à lembrança, pois
essa história aconteceu no fim de 1932 ou já no início de 1933.
Vivaldo Pereira terminou o seu período administrativo na
Intendência de Currais Novos em 31 de dezembro de 1919.
Vivaldo Pereira viveu toda sua vida em Currais Novos,
criou a Cooperativa Banco Rural de Currais Novos, foi seu
presidente durante muitos anos, participou ativamente da política
durante toda sua vida, foi Vice-Prefeito com Dr. Sílvio Bezerra de
Melo, presidiu o Legislativo muitas vezes, participou ativamente
de todos os movimentos literários, jornais e revistas, de todos os
 115

movimentos religiosos, foi católico exemplar, deixou uma família

numerosa, que consta no capítulo deste livro, famílias de Currais
Novos.
Nasceu em 1º de janeiro de 1886, faleceu em 8 de agosto
de 1955.

12º INTENDENTE:
2º Período de João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão

Em 1º de janeiro de 1920, assumiu a presidência da

Intendência de Currais Novos o Sr. João Alfredo de Albuquerque
Pires Galvão, já sendo o seu segundo período administrativo
frente à Intendência de Currais Novos.
Da primeira vez foi muito movimentado. Neste segundo
período não houve fato de grande importância que marcasse a
sua administração a não ser a elevação de Currais Novos a
cidade, que se deu em novembro de 1920, por força de lei
Estadual nº 486, de 29 de novembro de 1920. O Intendente fez
uma festa cívica para comemorar a data, com alvorada,
girândolas de foguetões, música, discursos, etc.
João Alfredo administrou até 31 de dezembro de 1921.
 116

Quintino Galvão
 117

13º Intendente

13º INTENDENTE:
Quintino Galvão

Eleito para o triênio 1922/1925, assumiu em primeiro de

janeiro de 1922, o Sr. Quintino Galvão, moço, evoluído e íntegro.
Major Quintino era o homem que tinha a vaidade de dizer que
quando conversava todos lhe escutavam. Era um homem de
bem.
Assumiu a chefia da Intendência, cuidou primeiro das
finanças do município, equilibrou o orçamento, construiu um
prédio para a cadeia pública, que na época foi considerado um
dos melhores do Estado: um prédio de primeiro andar, com uma
ampla sala de audiência, onde até mesmo o Fórum funcionou lá,
inclusive as audiências de júris. Hoje, funciona a Câmara
Municipal e o Departamento de Obras do Município.
Fez uma limpeza geral na cidade e arborizou com fícus
benjamim, deixou as finanças da Prefeitura muito equilibradas,
administrou até 31 de dezembro de 1925.

14º INTENDENTE:
Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão
(Coronel Rafael)

Em 1º de janeiro de 1926, assumiu a presidência da

Intendência de Currais Novos o coronel Antônio Rafael de
Vasconcelos Galvão, eleito que foi para o triênio 1926/1928. Era
o seu segundo período administrativo frente à Intendência de
Currais Novos.
Homem muito íntegro, muito equilibrado em finanças,
grande comerciante e grande fazendeiro no município, solteiro,
mas muito sério e muito respeitado, homem de bem na
expressão da palavra, construiu na sua administração em
convênio com o Estado o Grupo Escolar Capitão Mor Galvão, na
Av. Coronel José Bezerra; doou a casa que herdou de seu pai,
 118

Coronel Cipriano Lopes Galvão e fez em convênio com o Estado

todas as modificações necessárias para a instalação do grupo
escolar, sendo Governador do Estado Dr. José Augusto Bezerra
de Medeiros.
Em 1927 houve a reformulação da Constituição e em 1928
eleições por voto direto. Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão
foi o primeiro prefeito eleito por voto direto em Currais Novos.
Portanto, Antônio Rafael terminou um Sistema
Constitucional e começou outro. Foi o último Intendente e o
primeiro Prefeito Constitucional por voto direto. Ainda tem mais
uma curiosidade sobre o mandato de Antônio Rafael: é que ele
foi o único Prefeito eleito em Currais Novos na velha República,
porque terminou o seu mandato em 8 de outubro de 1930 e já foi
substituído por um prefeito nomeado através do sistema
revolucionário de 1930.
O coronel Rafael fez também uma doação ao Município de
uma faixa de terra, que vai do meio da Rua Lula Gomes até as
águas pendentes para o Rio Totoró e com uma largura que vai
até o meio da Praça Cívica Desembargador Tomaz Salustino,
anexando ao patrimônio de Santa Ana.
O Coronel Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão viveu 87
anos. Nasceu em 5 de fevereiro de 1873 e faleceu em 12 de
setembro de 1960.

Prefeitos nomeados pelo Sistema Revolucionário de 1930

15º Período Administrativo, Primeiro Prefeito Nomeado

Doutor Mariano Coelho

Doutor Mariano Coelho assumiu a administração da

Prefeitura Municipal de Currais Novos, em 9 de outubro de 1930,
nomeado que foi pelo então Presidente da República, Dr. Getúlio
Vargas, mas só passou 20 dias no cargo, renunciou em 29 de
outubro de 1930.
 119

Doutor Mariano nasceu em Açu, em 9 de maio de 1899,

filho de Manoel Coelho Ferreira e Maria Carolina Coelho Ferreira,
ambos baianos de Inhambupe. Teve como avós maternos: José
Varela de Souza Barros e Antônia Bezerra da Rocha Cavalcante
Varela. Fez o curso primário na sua cidade Natal, sendo
professora, sua genitora, e o curso ginasial em Mossoró, no
Colégio Santa Luzia. Daí, ele foi para Salvador onde fez o
científico e formou-se em Medicina.
Veio para Currais Novos ainda doutorando, em 11 de
fevereiro de 1924. Voltou à Bahia no fim do mesmo ano para
defender a tese de Doutor, o que fez em 19 de dezembro de
1924, tendo colado grau no dia 27 do mesmo mês e ano.
Casou-se em 1925 com dona Rosita de Sousa Coelho,
pertencente à tradicional família da Bahia, voltou para Currais
Novos, onde fixou residência e durante 36 anos fez da medicina
um verdadeiro sacerdócio, trabalhando de dia a noite, sem medir
esforço nem sacrifício, distância ou dificuldades, na sede de
salvar vidas, de amenizar dores.

16º Prefeito, 2º do Período Revolucionário de 1930.

Raul Macedo

Em 30 de outubro de 1930, assumiu a Prefeitura de Currais

Novos o Sr. Raul Macedo, por nomeação do Presidente da
República. Foi muito esforçado, construiu o prédio da Prefeitura
Municipal, uma verdadeira beleza de edifício, tanto é que foi
construído em 1933 e ainda hoje está servindo à administração
municipal, com ligeiras modificações.
O Prefeito Raul Macedo administrou o Município até 28 de
setembro de 1934.
 120

17º Prefeito, 3º da Revolução de 1930.

João Neto Guimarães

João Neto Guimarães ficou só até 30 e outubro de 1935,

não teve atos relevantes na sua administração, até porque a
Prefeitura, com a construção do prédio no tempo e Raul Macedo
em 1933, ficou um pouco sacrificado, mas na época foi até bom
ter sido ele o prefeito, porque era um sujeito amigo de todo
mundo, que apesar das perseguições de Mário Câmara, jamais
foi de fazer mal a ninguém; se não teve oportunidade de fazer
grandes realizações, mas pelo menos era um homem inofensivo.

18º Prefeito, 4º Nomeado

Tristão de Barros

Depois que Doutor Rafael Fernandes assumiu o Governo

do Estado, os prefeitos passaram a serem nomeados por
indicação dele. Então foi nomeado Tristão de Barros para
substituir João Neto Guimarães, que assumiu em 1º de novembro
de 1935 e não chegou a administrar 6 meses. Só ficou na
administração até 2 de abril de 1936.
Tristão de Barros nasceu na Fazenda Lajes Formosa, no
Município de Santana do Matos, filho do Cel. Luiz de Barros e
Dona Izabel Cabral de Macedo Barros. Nasceu em 21 de janeiro
de 1896, casou-se com Dona Severina, filha do Cap. Antônio
Florêncio. Foi nomeado Prefeito para substituir João Neto
Guimarães, assumiu em 1º de novembro de 1935, foi
assassinado em natal em 21 de abril de 1936.
 121

Administrou o município apenas 5 meses. Era um homem

moço, evoluído e trabalhador. A razão de sua morte foi rixas
criadas pelo movimento da Intentona Comunista.
 122

Tristão de Barros
18º Prefeito - 4º Nomeado

19º Prefeito, 5º Nomeado

Tomaz Silveira de Araújo

Seu Tomaz Silveira assumiu em 1º de julho de 1936,

apesar de a Prefeitura estar vaga desde 25 de abril de 1936. Seu
Tomaz Silveira era um homem muito sério, de pouca conversa,
gostava mais de ouvir do que conversar.
Administrou o Município um ano e 13 dias, implantou na
administração pública da prefeitura muita ordem e muita moral.
Era desses homens que sim é sim, não é não, não tinha muito
arrodeio em suas decisões, preparou muito bem a prefeitura para
o seu sucessor, Dr. José Bezerra de Araújo e administrou até 14
de julho de 1937.

20º Prefeito, 2º Eleito por Voto Direto

Doutor José Bezerra de Araújo

Voltando o sistema constitucional, foi eleito o Doutor José

Bezerra de Araújo, que assumiu em 15 de julho de 1937. Logo
em novembro do mesmo ano, houve o golpe de Estado, mas ele
foi conservado no cargo até 1943.
O Doutor José Bezerra governou com probidade. A sua
personalidade foi sempre acima dos partidos políticos e das
fofocas, tanto é que ficou administrando a prefeitura de 1939 a
1943, sem ser correligionário do então Presidente da República,
ou seja, do ditador Getúlio Vargas, também não foi ele destituído
do cargo.
Deixou por livre e espontânea vontade e também, não se
desgastou politicamente. Pelo contrário, liderou durante e depois
do seu mandato, por muito tempo, a política do município.
Controlou as finanças municipais, começou o serviço de
calçamento da cidade, tendo feito o calçamento da Praça Tomaz
de Araújo, das Ruas Marechal Deodoro, Marechal Floriano
 123

Peixoto, nas laterais do mercado velho, na Praça Cristo Rei e nas

Ruas Capitão Mor Galvão e Capitão José da Penha; manteve as
finanças do município equilibradíssimas; passou a prefeitura a
seu sucessor com bastante saldo de dinheiro em cofre.
 124

Dr. José Bezerra de Araújo

20º Prefeito - 2º Eleito por voto direto
21º Prefeito, 6º Nomeado
 125

Antônio de Vasconcelos Galvão (Toinho)

Em 2 de outubro de 1943, assumiu a Prefeitura de Currais

Novos, Antônio de Vasconcelos Galvão, Toinho, um rapaz muito
bom, muito atencioso, um verdadeiro diplomata.
Tratava as pessoas com muita delicadeza e muita atenção.
Certa vez, foi aos Namorados resolver uma questão de limites de
terra, de papai com Luiz Cândido que era seu tio.
Chegando no local pediu os documentos de papai. Leu no
local para o representante de Luiz Cândido, que era Cícero
Lopes, porque Luiz Cândido não apareceu no local.
Depois de ler a escritura, disse para Cícero Lopes:  “Diga
a tio Luiz Cândido, que esse documento de Seu Tomaz não deixa
pairar nenhuma dúvida do que ele está afirmando. Parece até
que quem fez esse documento esta aqui, olhando para estes
serrotes, pois só assim podia descrever com tanta minúcia”.
Resolveu de uma vez e Luiz Cândido ficou intrigado com
papai para o resto da vida. Eu vim saber muitos anos depois e
acho que papai morreu sem saber da intriga de Luiz Cândido
com ele. Toinho administrou o município até 27 de abril de 1945.

22º Prefeito, 7º Nomeado

Doutor Antônio Othon Filho

Em 28 de abril de 1945, foi nomeado e assumiu a

administração da Prefeitura, Dr. Antônio Othon Filho, Dr. Niton,
homem muito trabalhador e muito honesto.
O fiscal da cidade era Firmino Rodrigues, rapaz muito bom,
muito amigo e muito calmo. Dr. Niton chamou-o e disse: -
“Firmino, eu acho você um rapaz muito bom, mas acho-o meio
mole para trabalhar comigo. Eu vou ser meio forte: se você vê
que não dá conta do recado, peça logo demissão”. Firmino disse:
 “Não, Dr., eu topo tudo”. Dr. Niton disse:  “Então, está muito
bem, vou testar você”.
 126

Baixou logo um decreto retirando todos os tratos de

animais do perímetro urbano da cidade e mandou Firmino levar
uma cópia a cada tratador, dando só 8 dias de prazo para que
retirassem os seus tratos de animais para os subúrbios.
Firmino achou pouco o prazo, Dr Niton disse:  “Eu não
disse que você era fraco! Na próxima feira eu não quero ver mais
nem um curral desses dentro do perímetro urbano”.
Realmente, além de uma imoralidade era um absurdo os
famosos tratos de animais. Eram currais onde determinadas
pessoas se encarregavam de tratar dos animais dos feirantes e o
movimento de animais nos dias de feira era muito grande, tendo
em vista que na época quase toda mercadoria que se vendia na
feira era transportada em costas de burros.
Existiam, ainda, as famosas tropas de burros, que
transportavam mercadorias: do brejo da Paraíba, do agreste do
Rio Grande do Norte, da Serra do Coité, da Serra de Santa e das
zonas rurais do município.
Os burros eram também o transporte natural das pessoas
que vinham das zonas rurais para a feira. Além do animal de
montaria, normalmente o feirante trazia o burro de carga para
levar a feira.
Por aí se tem uma ideia de que tamanho era o movimento
de animais nos currais de tratos, que haviam sido construídos no
perímetro suburbano da cidade, mas com o crescimento natural
da cidade já estavam totalmente dentro do perímetro urbano a
exigir de fato uma providência.
A administração de Currais Novos, desde os primórdios
sempre cuidou da limpeza do perímetro urbano da cidade não
permitindo que se fizessem currais e trato de animais no pequeno
espaço urbano que existia.
O pioneiro de tratos de animais foi Gregório Nasioseno,
que queria fazer o curral na primitiva casa onde morava, mas foi
impedido pelo então administrador da Vila. Teve que desmanchar
a casa e construir do outro lado do rio, na beira da estrada, onde
fez o curral, tratava de animais e dava arrancho a matutos.
Com Manoel Pires, o segundo tratador de animais
aconteceu a mesma coisa: ele morava na casa que ainda hoje
existe na banda do final da Laurentino Bezerra com a Tomaz
Silveira e também não pode construir ali o curral para tratar de
 127

animais. Foi obrigado a vender a casa a Major Sérvulo e construir

a casa e os currais onde hoje é o final da Rua Dix-Sept Rosado.
Vamos voltar à luta de Dr. Niton para retirar os currais de
trato de animais, do perímetro urbano da cidade. De início ele
pensou não ser tão difícil, eram apenas quatro currais mais
importantes e mais centrais: o de Luiz Basílio, no começo da Rua
Laurentino Bezerra; o de Manoel Raimundo na Rua Velha onde
hoje é o meio da Rua Laurentino Bezerra; o de Santino que era
na Teotônio Freire e mudou para a Rua João Alfredo por traz da
Lula Gomes; o de Pereirinha que era em plena Alberto
Maranhão, hoje, Sílvio Bezerra, ficou encostado ao cemitério; o
de Dona Martinha era nos fundos da Teotônio Freire, mas era de
pequeno movimento, ele deixou ficar onde estava; o de Juvenal
que era nos fundos da Joventino da Silveira, ou seja, na Lula
Gomes por traz do cinema Desembargador Tomaz Salustino com
o curral já nos fundos da Lula Gomes, ele também deixou ficar.
A coisa não foi tão fácil como Dr. Niton pensou a princípio,
deu sérios aborrecimentos, pois não mexeu só com os donos dos
tratos, mas com toda comunidade rural, que tinham nos tratos
dos animais os seus pontos de apoio para o movimento da feira.
A casa de rancho propriamente dita, era onde juntavam as
compras da feira, para prepararem as cargas. Era o ponto de
encontro dos fazendeiros onde até mesmo decisões políticas
eram tomadas. Houve intervenção forte junto ao Dr. Niton para
retroagir, mas ele não cedeu uma linha, embora se
impopularizando, pelo contrário acrescentou mais a retirada do
beco da troca, que era na Travessa José Pinheiro.
O beco da troca era uma espécie de feira de animais, onde
os vendedores e trocadores de animais faziam as suas
transações comerciais nos fins de feira.
Junto ao beco da troca funcionava também a feira da lenha
e do carvão. Dr. Niton mudou tudo para a Rua Teotônio Freire,
começando da parede do cemitério e subindo até onde é o INPS.
Houve tratador de animais que não aceitou mudar-se e
deixou o ramo, como foi o caso de Luiz Basílio. Vivaldo Pereira
que gostava muito dele comprou a casa com curral e tudo só com
a intenção de ajudá-lo. Esse terreno foi doado por Dr. Cortez à
Associação Rural de Currais Novos quando foi fundada. Talvez
nem soubesse Dr. Cortez que estaria conservando uma tradição
 128

de um local onde mais de meio século funcionou um curral de

trato de animais.
A Associação Rural parece que morreu logo depois de
criada, nem ocupou o terreno. Passou muitos anos abandonado,
depois a Prefeitura construiu uns mictórios públicos e doou parte
a pessoas que construíssem casas.
Junto com a mudança do beco da troca, da feira da lenha e
do carvão, Dr. Niton também fez outra mudança: da famosa feira
de louça de barro dos negros do riacho, ficou bem encostado ao
cemitério. Os negros do riacho não fizeram muita questão. O
chefe era Damião Preto, gostava mesmo de ficar junto aos
trocadores de animais, porque eles pagavam cachaça para ele e
os outros só pra verem as confusões dos pretos quando se
embebedavam. Era a melhor coisa que se tinha em Currais
Novos nos fins de feiras
Doutor Niton foi um prefeito muito forte. Passado o
movimento da mudança dos currais de trato dos animais que foi a
sua primeira preocupação e com muita justiça, tanto é que
merece os nossos aplausos e o nosso registro para a
posteridade, se bem que na época eu também não tenha
gostado, porque eu era quem carregava os sacos da feira nas
costas para bem mais distante do lugar de costume, só que ele
estava vendo o que eu vejo hoje, trinta e tantos anos depois.
Outro decreto forte de Dr. Niton, foi determinando que as
pessoas que tivessem casas de aluguel ficavam obrigadas,
dentro de 30 dias, construírem privadas com fossas sob pena de
a Prefeitura mandar interditar a casa.
Mandou Firmino Rodrigues entregar cópias do decreto em
todas as casas que verificasse que não tinham privadas com
fossas. Começou o movimento e começaram a construir as
fossas, mas ele mandava Firmino Rodrigues fiscalizar e ele
mesmo fiscalizava Firmino.
Ele andava todos os dias em todas as ruas da cidade,
conversava com o povo, mostrava a necessidade de construir as
fossas, fez uma verdadeira campanha sanitária na cidade, mas
Dr. Nilton queria ver a eficiência de Firmino Rodrigues.
Dona Sinhá, a mãe de Dr. Niton, tinha uma porção de
casas de aluguel e tinha várias que não tinham fossas. Então Dr.
Niton foi andar na cidade com Firmino, queria pegá-lo num
 129

deslize; passando pelas casas de Dona Sinhá que não tinham

fossas, perguntou a Firmino: - “E estas casas, você já avisou aos
donos, entregou a cópia do decreto?” Firmino Rodrigues disse: -
“Doutor, estas casas são de Dona Sinhá!” Dr. Niton disse:  “E
Dona Sinhá também não está sujeita às penalidades do
decreto?” Firmino disse:  “Mas, ela é sua mãe, doutor!” Ele
disse: - “Ela é a mãe de Niton, mas do Prefeito de Currais Novos.
Ela tem a mesma obrigação que os outros, portanto, você devia
ter avisado a ela.” Mas, ele mesmo era quem ajeitava as coisas
de Dona Sinhá. Só queria ver a eficiência de Firmino Rodrigues.
Mandou fazer as fossas e ficou tudo resolvido.
Doutor Niton foi muito bem sucedido nos seus dois
primeiros decretos, total execução, total êxito, embora tenha
encontrado duras barreiras, muitas incompreensões a ponto de
transformá-lo num homem impopular, quando devia ser o
contrário.
Levou a ideia da fossas a zona rural. O açude Totoró havia
sido transferido para a administração municipal. Ele foi lá visitar o
açude, aproveitou a visita para falar com os moradores,
arrendatários ou proprietários, que morassem na periferia da
bacia hidrográfica do açude para construírem privadas com
fossas para que os detritos e dejetos não fossem levados pelas
enxurradas a poluir a água do açude. É bom que se explique: não
foi um decreto, mas um apelo pessoal, andando de casa em
casa, orientando as pessoas, pedindo que fosse tomada àquela
providência para que a água que se ia beber não fosse poluída
por detritos humanos.
Chegou na nossa fazenda, papai não estava em casa, eu
recebi-o. Vinham com ele, seu Auzônio e Firmino. Mandei-os
entrar e perguntei de que se tratava. Ele falou da ideia das fossas
e deu uma longa explicação a respeito do assunto.
Eu disse a ele que achava excelente a ideia, mas muito
difícil dele conseguir. Ele disse:  “Por quê? Eu sou o prefeito da
cidade!” Eu disse-lhe: - ”Perfeitamente, Doutor, eu sei disso!” Aí,
saí para o alpendre com ele e mostrei: - “Doutor, a bacia
hidrográfica do açude Totoró começa daquela cordilheira da
Serra de Santana.”  apontei com o dedo,  “Todas as águas
pendentes daquela cordilheira para cá vem para o açude Totoró.
Se o senhor conseguir que todo esse povo faça privadas com
 130

fossas, eu lhe garanto que aqui nós não lhe daremos trabalho
nenhum. Papai não está em casa, mas eu me comprometo,
faremos a privada com a fossa”.
Ele não gostou muito da resposta, mas despediu-se e disse
que na segunda-feira conversava com papai. Seu Auzônio virou-
se para ele rindo e disse:  ”Tá vendo, Niton, você já está
encontrando advogado forte do povo aqui, calcule quando você
conversar com seu Thomaz Tragino...”
Na segunda-feira Dr. Niton conversou com papai, disse que
tinha ido lá, mas ele não estava em casa, tinha conversado com
Celestino e que eu era um menino muito inteligente, devia ser
advogado, porque ele estava pensando numa ideia e eu tinha
feito com que ele desvanecesse e que eu era um menino muito
adulto e muito resolvido.  “Ora, avalie o senhor, ele saiu para o
alpendre, me mostrou com o dedo a bacia hidrográfica do açude
Totoró, como se eu não conhecesse, mas eu fui refletir e concluí
que ele estava certo, eu não iria conseguir mesmo obrigar aquele
povo todo fazer fossas. Então, desisti da ideia”.
Realmente, ele tinha razão, eu era mesmo um menino,
mas, um menino com 16 anos, já tinha bastante noção das
coisas.
Doutor Niton, não é exagero dizer que foi o prefeito mais
trabalhador de toda história de Currais Novos, porque enquanto
ele foi prefeito, dava todo o seu tempo a serviço da prefeitura,
quer interno, quer externo.
Ele andava todos os dias a cidade toda, fiscalizando,
orientando e exigindo, especialmente no que dizia respeito a
higiene e conservação da coisa pública. Ele mesmo fiscalizava a
feira, não deixava os atacadistas comprarem nada antes das
duas horas da tarde. Aquilo que competia à prefeitura tabelar, ele
tabelou. Pesos e medidas ele conferia constantemente.
Fez até uma bitola para ovos de galinha. Isso mesmo, para
medir ovos de galinha. Era uma tábua furada, aqueles ovos que
por serem menores passassem no buraco da tábua, seriam
vendidos a 200 réis; aqueles que por serem maiores não
passassem no buraco da tábua seriam vendidos a 300 réis. Isto
na feira servia até de galhofa, mas sem ele saber.
Zefinha de Chicó, que era muito viva, vendia galinha e ovos
na feira. Quando a fiscalização passava, ela misturava os ovos,
 131

grandes e pequenos pra vender do mesmo preço, o preço mais

caro, é claro.
A gente dizia:  “Zefinha, você misturou os ovos, pequenos
e grandes!” Ela dizia:  “Não... besteira, esses aí nenhum passou
no buraco do prefeito. Geralmente não tinham passado mesmo,
porque ela não tinha classificado.

Doutor Niton foi um homem muito inteligente, muito

preparado e muito honesto, mas muito incompreendido no seu
tempo. Acredito que tenha sido porque ele viveu muito adiantado
no tempo.
Ele via as pessoas de alto e baixo com a mesma óptica,
baseado nos princípios de doutrina e direito que estudou e viveu.
Não gostava de fazer arrodeios para chegar às definições que
lhes eram claras, mas, às vezes, aos outros eram conturbados.
Não tinha meio termo nas suas decisões. Sim era sim, não
era não... Criou uma família muito grande e viveu dificuldades,
mas ninguém sabia, porque jamais comprou fiado nem tomou
dinheiro emprestado a ninguém. Viveu uma vida decente e com
dignidade. Escreveu um livro, Meio século da roça à cidade, uma
beleza de livro, no meu entender, escreveu a história dos que
não tinham história, no que foi pouco compreendido, exatamente
por não gostar de arrodeios.
Certa vez, eu disse a ele que o maior defeito que encontrei
no seu livro, é que ele não escreveu as coisas más, com frases
agradáveis e ele aceitou a crítica e me agradeceu. Estava
escrevendo outro livro, que não chegou a publicar; esse seu
segundo livro devia ser sobre a história de Currais Novos.
Nós conversamos muito a respeito desse livro e eu lhe dei
alguns subsídios. Ele estava vivendo muito só nos seus últimos
dias, eu tive de ficar em sua residência algumas vezes até alta
madrugada, trocando ideias com ele e conversando a respeito da
história de Currais Novos.
Estávamos nos descobrindo e nos aproximando. Então, eu
costumo dizer que Dr. Niton morreu quando começava a viver.
Administrou o município de 28 de abril de 1945 até 22 de
fevereiro de 1946, portanto, não completou um ano de
administração. Mas, 10 meses e 24 dias que administrou, valeu a
pena para a história de Currais Novos.
 132

UMA OBSERVAÇÃO:
Doutor Niton administrou só até 16 de novembro de 1945

23º Prefeito

Antônio Bezerra Linhares

Antônio Bezerra de Linhares era funcionário do IBGE e

ficou apenas 3 meses na administração da prefeitura: de 20 de
novembro de 1945 a 20 de fevereiro de 1946. Cidadão muito
pacato, muito amigo de todo. Só aumentou cada vez mais seu
relacionamento amistoso em todas as camadas da sociedade
curraisnovense. Homem simples, sem vaidade, sempre bem
humorado, dessas criaturas que deixam saudades às pessoas
que os cercam.

24º Prefeito

Alcindo Gomes de Melo

Em 23 de fevereiro de 1946, assumiu a administração da

Prefeitura de Currais Novos, o cidadão Alcindo Gomes de Melo.
Seu Alcindo foi sempre um homem muito trabalhador em todas
as suas atividades. Grande comerciante de algodão e minério,
grande fazendeiro, pessoa de alta representação no Município,
foi muito curto o período administrativo: de 1946 a 23 de junho de
1947.
Neste curto período comprou um grupo gerador diesel e
equipou a usina elétrica, construiu um prédio para o matadouro
público, onde hoje funciona o Grupo Escolar Professor Salustiano
Medeiros; cercou uma parte do açude Totoró e criou algumas
Escolas Municipais Rurais.
Muito decidido e de ação pronta, não pensava duas vezes
para resolver problemas de comunidade.
 133

Deixou a Prefeitura, em junho de 1947, certo que seria

candidato às eleições democráticas se unirem em torno do nome
de Doutor Sílvio Bezerra de Melo.

25º Prefeito

Neófito Pinheiro Galvão

Em 24 de junho de 1947, assumiu a administração da

Prefeitura Municipal de Currais Novos, Doutor Neófito Pinheiro
Galvão, substituindo seu Alcindo até haver eleições.
Doutor Neófito, médico, moço, inteligente e muito
esforçado, as condições financeiras da prefeitura eram ótimas
neste tempo. Dr. Neófito terminou ficando na administração até
abril de 1948, porque Dr. Sílvio Bezerra de Melo, apesar de ter
sido eleito em 3 de outubro de 1947, só assumiu a Prefeitura em
25 de abril de 1948. Então Dr. Neófito fez na época uma grande
administração. Construiu a Praça Cristo Rei em tempo recorde,
popularizou-se bastante neste pequeno período administrativo, o
que o credenciou para um futuro político em Currais Novos.

26º Prefeito, 3º Eleito por Voto Direto

Doutor Sílvio Bezerra de Melo

Doutor Sílvio Bezerra de Melo foi eleito em 3 de outubro de

1947, mas só assumiu a prefeitura em 25 de abril de 1948. Foi
um dos prefeitos mais dinâmicos de toda história política e
administrativa de Currais Novos. Trouxe de Belo Horizonte uma
equipe de topógrafos e arquitetos para fazer a planta cadastral da
cidade, o que foi feito em tempo recorde.
Munido da planta cadastral, começou sua administração
propriamente dita. Demoliu um quarteirão de casas comerciais,
inclusive o vapor velho que existia entre a Praça Tomaz de
 134

Araújo, hoje, Desembargador Tomaz Salustino, e o Boi Choco,

hoje, Praça João Pessoa.
Demoliu a Rua Velha, que ficava no meio da Laurentino
Bezerra até a Tomaz Silveira; demoliu o prédio onde funcionava
a usina de óleo de Seu Miguel dos Santos, abrindo a Travessa
José Pinheiro, indenizando todos os seus proprietários.
Construiu e equipou a usina de força e luz do Município, fez
a instalação de iluminação pública na cidade com instalação nova
e toda postiação de ferro; equipou o Departamento de Obra do
Município, inclusive com uma máquina Caterpilar; fez bastante
calçamento na cidade, construiu estradas de rodagens para
quase todos os setores do município; construiu grupos escolares
rurais, tais como: em Maniçoba, Pé de Serra, Trangola, Cruz,
Lagoa Nova e Cerro Corá.
Construiu um mercado em Lagoa Nova e uma grande
cisterna, cercou o açude do Totoró, com cercas de madeira e
arame e uma grande parte com cerca de pedra. Começou o
Estádio Municipal Coronel José Bezerra: fez os alicerces.
Doutor Sílvio foi um prefeito que marcou sua presença em
todos os setores da vida municipal, trabalhador e decidido, não
deixava para depois o que podia resolver logo. Administrou o
município com muita probidade e muito respeito. Era meio
explosivo, mas de decisão rápida.
Certa vez eu cheguei em Currais Novos, vindo de uma
viagem, passando na frente da prefeitura, Dr. Sílvio me chamou: -
“Celestino, eu quero falar com você”. Eu me admirei, pois não
tinha negócio com ele, nem sabia do que se tratava. Convidou-
me a entrar na Prefeitura. Eu entrei. - “Pronto, doutor, às suas
ordens, de que se trata?” Ele disse: - “Eu recebi uma denúncia lá
no Totoró. Me disseram que os animais de Seu Tomaz Targino
estão estragando as vazantes dos moradores do açude”. Eu
disse: - “Doutor, eu não estou sabendo, estou chegando agora de
viagem, mas não acho muito difícil que esteja acontecendo isto,
pois o açude da Prefeitura não tem cercas e as possas que
cercam grande parte do açude não estão muito boas, então
poderá estar acontecendo coisa desta natureza. Eu vou para o
sítio e posso lhe informar segunda-feira”.
 135

Isto era sexta-feira, à tarde. Ele disse:  “Não, neste caso

nós vamos lá agora”. Eu disse: “Perfeitamente, Doutor, então,
vamos”.
Ele pegou o jipe que estava na frente da prefeitura e
saímos imediatamente. Logo que chegamos nos Namorados, ao
entrar na propriedade, fui lhe mostrando as divisas do açude e
realmente as cercas estavam em péssimo estado de
conservação. Ele não tendo alternativa, perguntou:  “Aqui tem
gente que saiba fazer cerca?” Eu respondi:  “Tem e muita!” Ele
disse:  “Então, junta logo um bocado aí e vamos empreitar esta
cerca para fazer”.
Chamei umas pessoas que sabiam trabalhar em cercas,
ele combinou logo o preço e disse podem começar agora a cavar
os buracos que amanhã chegam os arames e as estacas e assim
foi feito.
Foi até lá em casa, conversou muito com papai, papai falou
que ele devia fazer um pé de varas de cerca para evitar criações
pequenas, ele concordou plenamente, mas disse: - “Seu Tomaz,
e varas para este pé de cercas será que se arranja por aqui?”
Papai disse:  “Perfeitamente, Doutor, nós temos muita aqui na
propriedade”. Ele perguntou:  “E o senhor vende esta madeira?”
Papai disse:  “Não Doutor, eu nunca vendi madeira aqui. As
varas que o senhor precisar para a cerca pode mandar cortar,
não lhe custa nada”.
Ele ficou muito satisfeito e dentro em pouco tempo a cerca
estava pronta, sendo que uma grande parte ele mandou fazer de
pedra e nunca mais houve problemas com animais nas vazantes
do açude.
Isto aconteceu em 1948, primeiro ano de sua
administração, ele administrou o município até 31 de janeiro de
1953, não teve mais problema com o açude Totoró.
Dr. Sílvio foi sempre um homem de decisões rápidas e
energéticas, muito esforçado e muito trabalhador.
Completamente desvinculado de ambições políticas, em outras
oportunidades foi procurado para ser candidato a prefeito, mas
não aceitou.
 136

Dr. Silvio Bezerra construiu ainda o matadouro, onde hoje é

a Praça 19 de Março, dando lugar ao Grupo Escolar Professor
Salustiano Medeiros no local do antigo matadouro.

27º Prefeito 4º Eleito por Voto Direto

Francisco Leônidas Gomes de Assis, “Seu Assis”

Em 31 de janeiro de 1953, em sessão solene realizada na

Câmara Municipal de Currais Novos, Dr. Sílvio Bezerra de Melo,
transferiu o cargo de Prefeito Municipal ao seu tio, Francisco
Leônidas Gomes de Assis. Cidadão honesto, trabalhador e muito
esforçado pelo bem comum.
Em sua administração destacam-se como obras de maior
importância as seguintes: aquisição da propriedade do Sr.
Manoel Damasceno Filho, que foi doada ao Ministério da
Agricultura, para a construção do Ginásio Agrícola; criação da
Escola Técnica de Comércio de Currais Novos; construção do
açude Umburana. Conseguiu ainda com esforços redobrados na
sua administração: a construção do novo Grupo escolar Capitão
Mor Galvão com o Governo do Estado, Dinarte Mariz. Conseguiu
através do DNOCS: a construção do açude Currais Novos e os
novos estudos do açude Dourado.
Seu Assis, com sua simplicidade e modéstia, deixou
marcada sua passagem pela administração municipal,
especialmente no que diz respeito ao setor educacional.
Não era intransigente, era um homem simples e aceitava
diálogo, quando o Ministro da Agricultura, através do ensino
agrícola e veterinário, solicitou dele, uma propriedade que tivesse
condições para instalar a Escola de iniciação agrícola, hoje,
Ginásio Rural de Currais Novos.
Ele pensou na área do açude Totoró, queria desapropriar,
ou seja, retirar os moradores arrendatários da faixa seca do
açude, para doar ao Ministério da Agricultura, para a construção
da Escola e foi lá, ao Totoró, avisar aos moradores a sua
decisão.
 137

Eu ponderei a ele que não era possível tamanho absurdo,

desabrigar mais de 100 famílias que viviam em torno daquele
açude para construir uma escola. Ele a princípio foi meio
irredutível, mas logo se abriu ao diálogo e entendeu as razões
que eu lhe expus. Então, resolveu comprar a propriedade de
Manoel Damasceno Filho, onde foi construída a Escola de
Iniciação Agrícola, que hoje presta relevantes serviços no campo
educacional de Currais Novos.
Seu Assis, por motivo de saúde, teve de se afastar da
prefeitura em fins de maio de 1956. Assumiu o Vice-Prefeito
Bitamar Bezerra Barreto que também se afastou, dando lugar ao
então presidente da Câmara, Gilberto de Barros Lins, que
administrou de 4 de junho de 1956 até 1º de abril de 1957.
Gilberto foi muito dinâmico neste período, terminou o
calçamento da Rua Joventino da Silveira e construiu o Estádio de
Futebol Coronel José Bezerra. Seu Assis reassumiu em 4 de abril
de 1957 e administrou até 31 de janeiro de 1959, quando foi
substituído por Doutor Neófito Pinheiro Galvão.

28º Prefeito, 5º Eleito por Voto Direto

Doutor Neófito Pinheiro Galvão

Em 31 de janeiro de 1959, assumiu a administração da

Prefeitura Municipal de Currais Novos, Doutor Neófito Pinheiro
Galvão. Dr. Neófito quando prefeito nomeado, nos 10 meses de
mandato, entre junho de 1947 e abri de 1948, adquiriu um crédito
popular muito grande, foi um prefeito esforçadíssimo naqueles 10
meses, conseguiu vencer uma campanha eleitoral praticamente
impossível na época, chegou a prefeitura nos braços do povo, em
31 de janeiro de 1959.
Mas, ao invés de ter se entusiasmado com o calor do povo
e fazer uma grande administração como todos esperavam,
parece ter sofrido uma edema popular e parou no tempo e no
espaço, começou logo ser muito criticado pelos seus próprios
correligionários, especialmente o então Vereador Reginaldo
Bezerra de Andrade, que decepcionado por ele não estar
 138

correspondendo às suas perspectivas, fazia da tribuna da câmara

a sua trincheira de combate e desfechava, às vezes, críticas
muito pesadas.
Doutor Neófito, não sei por que razão, transformou-se, no
seu segundo mandato, do homem dinâmico na sua administração
de 10 meses, no homem acomodado.
No mandato de 5 anos, comprou um trator para o serviço
rodoviário, um caminhão para o serviço de limpeza pública, um
transporte para o gabinete do prefeito, manteve um ritmo normal
os serviços de conservação dos bens públicos, com exceção da
Usina de Força e Luz, que quebrava mais do que palavra de
mulher solteira.
Renunciou faltando 5 dias para terminar o seu mandato e
foi substituído por José Dantas de Araújo, então presidente da
Câmara Municipal.
José Dantas, nos 5 dias de mandato, foi o mais dinâmico
Prefeito que já vi. A Usina de Força e Luz tinha uma história de
quebrar a cabeça do motor, isto é, o cabeçote.
A cidade estava escura, precisava de luz, especialmente
porque teria que haver a festa de aposse do novo Prefeito,
Mariano Guimarães.
Zé Dantas movimentou-se, foi a Jardim do Seridó,
conseguiu um cabeçote do motor, mandou colocar e dentro de 24
horas restabeleceu a usina, até me lembro de uma piada muito
boa de Monsenhor Paulo a respeito disso.
Nós estávamos na porta da Prefeitura, que era um dos
pontos de bate papo, na época, quando Monsenhor Paulo vinha
passando e perguntou: - “Então, já tem luz?” Zé Dantas adiantou-
se e disse: - “Já, Monsenhor, eu consegui a cabeça do motor.
Monsenhor Paulo rindo respondeu: - “Conseguiu a cabeça ou
arranjou juízo para botar na cabeça que tinha aí?”
O certo é que, ou juízo ou cabeça, Zé Dantas conseguiu
botar a usina para funcionar e pintou a prefeitura nesse pequeno
espaço de tempo.
 139

José Dantas

É o atual prefeito de Currais Novos, que muito colaborou

para este trabalho. Nasceu em 13/09/1933, e casado com dona
Maria Iaci Pereira de Araújo, com quem teve as filhas: Maria
Claudia Pereira de Araújo e Maria valeria Pereira de Araújo.
 140

29º Prefeito, 6º Eleito por Voto Direto

Mariano Guimarães

Em 31 de janeiro de 1963, em sessão solene da Câmara

Municipal de Currais Novos, foi empossado o prefeito Mariano
Guimarães, que administrou até 31 de março de 1969.
Mariano foi sempre aquela pessoa inofensiva, muito
esforçado e trabalhador. Assumiu a administração do município
cheio de vontade. Para começar fez logo uma viagem de jipe a
Brasília, bateu as portas dos Ministérios, Câmara e Senado da
República, a fim de conseguir algo para o município.
Suas obras mais importantes foram: 3 chafarizes públicos
nos bairros mais pobres da cidade, a lavanderia pública, por trás
do açude Currais Novos; pavimentou com paralelepípedos várias
ruas da cidade, construiu o posto médico Mariano Coelho,
eletrificou a cidade com energia de Paulo Afonso, em convênio
com a COSERN; adquiriu e fez doação do terreno para as casas
do FUNDAP no bairro de Santa Maria Gorete; fez convênio com
o INPS; concluiu o cemitério novo no Bairro Paisinho Maria, que
havia sido iniciado por Dr. Neófito; criou e instalou a Biblioteca
Pública Municipal; adquiriu e instalou o prédio do Fórum
Municipal.
Foi ele o pioneiro em construção de Escolas Municipais
Rurais. Por sinal a construção destas escolas perdoe-me os
leitores a imodéstia, foi uma iniciativa minha.
Naquela época, a chamada cota federal, que o município
recebia, tinha por obrigação legal 50% para ser gasto em
benefício de ordem rural. Os prefeitos não obedeciam,
simplesmente depositavam os 50% na Cooperativa Banco Rural
de Currais Novos, mas, quando retiravam, gastavam em qualquer
serviço, mesmo urbano.
Eu apresentei um projeto de lei, destinando os 50% para a
construção de Escolas Municipais Rurais. Na época havia um
dispositivo constitucional que preteria ao vereador legislar sobre
receita e despesa. O projeto foi considerado inconstitucional e foi
retirado da pauta.
 141

Mariano gostou do projeto e fez um do executivo com a

mesma finalidade; mandou à Câmara e foi aprovado por
unanimidade. Logo no ano seguinte Mariano começou a construir
as escolas, os outros prefeitos continuaram e o município está
hoje cheio de escolas, funcionando em prédios próprios. Ele
construiu ainda, no final de sua administração, a Praça
Monsenhor Paulo, reformou a parte interna da prefeitura, fez uma
limpeza geral, foi um prefeito muito atencioso e muito aberto ao
diálogo.
Mariano Guimarães é natural do município de Santana do
Matos, filho de João Batista Guimarães e dona Luzia Guimarães.
Nasceu em 27 de novembro de 1926, casado com dona Maria da
França Assunção Guimarães. Tem deste casamento 8 filhos.
Exerceu as funções de tabelião público em Currais Novos, em
cujas funções aposentou-se.

O Cemitério de Santana em Currais Novos

Há muito tempo eu venho pesquisando para descobrir

quando e por quem foi construído o cemitério de Santana em
Currais Novos. Os guardadores de histórias mais antigos me
deram uma pista, que havia sido construído pelo padre Ibiapina,
mas não sabiam precisamente o ano.
Diziam que foi na mesma época que foi construída uma
casa de caridade no Acari, também por padre Ibiapina, mas não
encontrei nos arquivos da paróquia nem da prefeitura, nada que
me levasse a provar esta versão.
Através de pessoas amigas, vali-me dos arquivos da
paróquia e da prefeitura de Acari. No livro de Atas da Câmara
Municipal de Acari, no ano de 1841, as folhas 153, encontramos
anotações do seguinte teor: Ilmo. Sr. A Câmara Municipal acaba
de receber o ofício de V. Excia. com data de 27 de abril do ano
próximo findo, no qual lhe ordenou que promovam o quanto antes
uma subscrição pelos habitantes deste município para efeito de
concluir os cemitérios públicos, a fim de destinar nos templos a
Câmara Municipal vai responder sobre este tópico do ofício de V.
Excia., e sobre o mesmo que deseja V. Excia. informação. Três
 142

são os povoados deste município, isto é, a sede da Vila, a

Povoação da Conceição e a de Currais Novos, sendo que as
duas últimas distantes daquela cinco léguas cada uma, e
consequentemente indispensáveis tais cemitérios a saber: um
para cada povoação.
Releve agora observar a V. Excia.: o da Comarca desta
Vila está capaz de receber cadáveres; foi fixado de muralhas de
pedra e cal, para o quanto muito bem cooperado o concurso dos
particulares, portanto estes vão ser concluídos sem fazerem
cargas aos cofres provinciais, assim o de Currais Novos onde
não existe cemitério e sendo para este lugar chamo atenção de
V. Excia., nesta data se nomeie uma comissão composta de
cinco membros para angariar subscrição no sentido para V.
Excia. advertir cujo resultado brevemente participaremos. Em
sessão ordinária de 8 de janeiro de 1858 – ao Presidente
Joaquim José Dantas – Presidente; Antônio José Dantas Correia
e Antônio Manoel Dantas. Manoel Severiano da Silva, Joaquim
Januário Dantas e João Damasceno Pereira.
Extraído do livro de Ata da Câmara da Vila de Acari de
1841, as folhas 153. Pelo bojo da ata, nota-se que a Intendência
do Acari recebeu ordens do Presidente do Estado para construir
os cemitérios: de Conceição de Azevedo (hoje Jardim do Seridó)
e o de Currais Novos. Nota-se também como era difícil as
correspondências na época. O ofício do Presidente do Estado foi
de 27 de abril de 1857, a Câmara reuniu-se para responder em 8
de janeiro de 1858, está também muito claro na ata, que a
comissão nomeada foi para angariar subscrição, isto é, recursos
para concluir os cemitérios. Subentende-se que já estavam em
construção, o do Acari estava pronto para receber cadáveres,
dando a entender que havia sido construído há pouco tempo,
tanto é que estava sendo dado conhecimento ao presidente
naquela época, 8 de janeiro de 1858.
Daí, concluímos que os locais dos cemitérios de Jardim do
Seridó e Currais Novos já existiam. Ali, já eram sepultados os
cadáveres, o que faltava era a construção propriamente dita, que
foi feita a partir desta data, 1858; não sabemos quando foi
determinado.
 143

O cemitério foi aumentado em 1932, por Raul Macedo,

então prefeito de Currais Novos. Na época, a razão do aumento
foi a epidemia que houve durante a construção do açude Totoró.
Morreu muita gente, o cemitério velho não teve espaço
para tantas sepulturas. O prefeito fez o aumento tão às pressas
que nem deu tempo mudar a capela, que ficou mesmo no meio
do cemitério. Seu Tomaz Silveira quando assumiu a prefeitura foi
quem mudou para o local onde está até hoje.
O cemitério novo, no Bairro Paizinho Maria, foi começado
por Dr. Neófito Pinheiro Galvão e terminado por Mariano
Guimarães.

Comarca de Currais Novos

A Comarca de Currais Novos foi criada por força da Lei nº

453, de 27 de novembro de 1919.

Em 20 de dezembro de 1919, o desembargador Joaquim

Ferreira Chaves, então Governador do Estado do Rio Grande do
Norte, nomeou o bacharel Thomaz Salustino Gomes de Melo
para exercer o cargo de Juiz de Direito conjuntamente com a de
Flores, “Florânia”.
A Comarca foi instalada em 8 de janeiro de 1920, pelo
recém nomeado Juiz Doutor Thomaz Salustino Gomes de Melo,
com a presença do Promotor Doutor Abner de Brito, também
recém nomeado. Foram nomeados para Juízes Distritais os
senhores: Quintino Galvão, Joaquim de Medeiros Quinino e o
Cel. Manoel Aleixo de Maria. Foram oradores da sessão solene
de inauguração da Comarca os Srs.: Vivaldo Pereira de Araújo,
Cel. Manoel Aleixo de Maria, José Bandeira de Melo, Doutor
Abner de Brito, “o promotor” e o Doutor Thomaz Salustino, Doutor
Juiz recém empossado.
Participaram ainda da sessão solene e assinaram a ata: O
Cel. José Bezerra de Araújo Galvão, chefe político do Município;
João Alfredo Pires Galvão, Presidente da Intendência; Cel.
Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão e muitos outros
curraisnovenses de destaque na época.
 144

O Doutor Thomaz Salustino Gomes de Melo, jurisdicou a

comarca até 10 de janeiro de 1941. Foi durante este longo
período de magistrado um verdadeiro abnegado pela Justiça e o
Direito. Não foi um jurista intelectual, mas foi um intelectual
jurista. Em seu discurso de posse pedia a seus jurisdiciados: a
tolerância e a prudência, mas antes e acima de tudo o respeito, a
justiça e o direito. Foi prudente em suas decisões, mas seguro e
enérgico nos seus julgamentos. Em seu tempo, raramente havia
apelação da decisão do júri em Currais Novos.
Ela foi sempre um homem que se vestia bem. Durante seu
tempo de Juiz de Direito em Currais Novos, usava rigorosamente:
paletó, gravata e colete, chapéu de massa de primeira qualidade,
normalmente preto ou escuro, gostava muito de cumprimentar as
pessoas, apertando a mão ou com aquele bom dia amável,
aluindo o chapéu da cabeça com o dedo polegar.
Escolhido que foi para desembargador junto ao Tribunal de
Justiça do Estado, em fins de 1940, deixou de jurisdiciar a
Comarca de Currais Novos em 10 de janeiro de 1941.
Em 10 de janeiro de 1941, assumiu a Comarca de Currais
Novos, Doutor Rosemiro Robson da Silva, que ficou até 21 de
março de 1949.
Em 21 de março de 1949, assumiu a Comarca de Currais
Novos Doutor Inácio Soares Barbosa que ficou até 12 de junho
de 1957.
Em 12 de junho de 1957, assumiu o Doutor Rui Lucena,
que jurisdicou até 10 de dezembro de 1960.
Em 10 de dezembro de 1960, assumiu o Doutor João Meira
de Lima, que instalou o Fórum atual, na administração do prefeito
Mariano Guimarães.
Em 3 de maio de 1966, assumiu a comarca, Doutor Ivan
Meira Lima. A princípio muito autoritário, a primeira vez que entrei
no Cartório, quando de sua jurisdição, tive um problema. Quase
vou preso, isto porque fui procurar uma certidão, que havia
pedido a “Madeirinha”, Antônio Alexandre Guimarães, o Tabelião.
Acontece que eu andava de chapéu e, como vinha com as
mãos ocupadas, trazia uns embrulhos. Entrei no cartório sem tirar
o chapéu. Eu não o conhecia, ainda.
Madeirinha quando me viu com o chapéu na cabeça,
reclamou:  “Tire o chapéu, Celestino”... Eu, em tom de
 145

brincadeira, disse: “Não sabia que era proibido entrar armado de

chapéu no cartório”. Ele disse: - “É ordem do juiz!” E, num lance
de vistas, mostrou-me o Doutor Juiz de Direito, recém
empossado na Comarca.
O Juiz olhou para mim e disse: - “O senhor com esta idade
ainda não sabia que é proibido entrar no cartório de chapéu?”.
Respondi: “E ainda não sei, doutor, porque não conheço nem
uma lei que proíba. Se o senhor pode legislar, faça um decreto e
bote uma placa na entrada do prédio, dizendo: é proibido entrar
de chapéu, conforme decreto nº tal”. Aí, não entrarei mais,
porque sou um autêntico cumpridor das leis.
O Doutor me olhou com a cara meio enfarruscada e disse:
 “Mas eu posso lhe prender!”. Eu lhe respondi calmamente:
“Pode, doutor, só que é arbitrariedade e abuso de poder”. Eu
olhei de lado vi que Lira Soldado estava bem pertinho de mim
com os olhos aboticados, só aguardando a ordem para me levar
preso.
O Doutor olhou para mim e reconsiderou... Disse:  “É, eu
não vou lhe prender, mas não entre mais aqui com o chapéu na
cabeça”. Eu disse: “Muito obrigado, Doutor”. E saí meditando,
quase que eu era preso por causa de um chapéu! Vou deixar de
usá-lo. E deixei mesmo. Até hoje não usei mais.
O Doutor Ivan depois que ficou me conhecendo e eu a ele,
nos tornamos bons amigos. Ele como pessoa era um homem
boníssimo, e como Juiz, era um autêntico Magistrado, muito
moderado e muito capaz, culto e simples. Jurisdiciou a comarca
de Currais Novos, até 17 de outubro de 1970.
E nesta data, assumiu a comarca o doutor Aécio Sampaio
Marinho, que jurisdiciou até 10 de setembro de 1976, quando
assumiu o doutor Cristovam Praxedes, que jurisdiciou até 30 de
outubro de 1978, assumindo o Dr. Roldão Gurgel Diniz, que
jurisdiciou até 6 de maio de 1980. Em 6 de outubro de 1980
assumiu, novamente, o Doutor Cristovam Praxedes que
jurisdiciou até 7 de abril de 1981.
 146

As Cruzes da Serra

Existem na Serra do Piauí, duas cruzes, que há muitos

anos o povo faz promessas e romaria. Há sempre uma pergunta
no ar: “Quem morreu naquele local para dar origem àquelas
cruzes?”
Comecei a pesquisar com muito carinho, e, à proporção
que fui descobrindo, fui criando mais carinho pela descoberta.
Cheguei ao ponto que me pareceu certo, lógico e viável. Lá
existe uma capela, com as imagens de São José e São Joaquim.
Por que São José e São Joaquim?
Acontece que próximo àquele local existe uma tapera, onde
existiu uma casa, próximo a um pé de umbuzeiro que ainda hoje
existe.
Naquela casa, na época, morava Manoel Lopes da Paixão,
filho de Francisco Lopes da Paixão. Manoel Lopes era viúvo e
tinha dois filhos: José Lopes e Joaquim Lopes.
Manoel Lopes tangia burros, viajava para o brejo da
Paraíba, para onde havia se mudado em 1845, toda sua família,
isto é, seu pai e seus irmãos. Na Serra do Piauí existia a casa de
farinha velha, que havia sido construída pelo Capitão Mor
Galvão. Na época, era gerente o velho Joaquim Santana, que
viajou junto com Manoel Lopes para o brejo.
Os dois meninos ficaram em casa, já doentes, mas ele não
pensava que a doença fosse muito grave. Isto era no começo do
ano de 1877.
Como sabemos, 1877 foi um ano terrivelmente seco e
epidêmico. Dias depois encontraram os dois rapazes mortos à
beira da estrada. Contam que Manoel Lopes e Joaquim Santana
estavam dormindo, já nas imediações do Curimataú, quando um
dos rapazes apareceu a Joaquim Santana. Ele perguntou: - “Que
andas fazendo aqui, Quincas?” Ele respondeu: - “Quincas, não,
Joaquim. Eu morri”. Os velhos ficaram preocupados, mas
prosseguiram a viagem. Quando chegaram de volta, encontraram
as duas cruzes: eles haviam morrido. Devem ter sido acometidos
de surto de cólera que assolava a região em 1877.
Manoel Lopes da Paixão, quando chegou da viagem não
encontrou mais os filhos, somente as cruzes e a casa fechada.
 147

Ele que também já era viúvo, abandonou a casa e foi embora

para o brejo da Paraíba. Em 1880 voltou para a Várzea dos Bois
onde lecionava meninos até 1898, quando morreu.
Este Manoel era irmão da minha bisavó, Maria Lopes da
Paixão, que foi casada com Amaro Tavares de Assunção.

Os Milagres e a Capela

Na seca de 1930 ou 1932, Manoel Domingos dos Santos,

mais conhecidos por Pedra de Fogo, passando por perto das
cruzes avistou um cágado. Resolveu matar o bicho para tirar as
banhas e comer a carne.
Matou-o com diversas facadas, deixou no mesmo local
para que, quando voltasse, levar para casa. Quando voltou não
mais o encontrou. Como ia fazer farinha na casa velha de farinha
do Piauí, uma prensa de massa como se diz, porque era só uma
carga de mandioca, voltou para a casa de farinha, fez a farinha.
De volta procurou novamente o cágado, mas não encontrou, foi
embora para casa.
Chegando em casa, esqueceu a história do cágado. 15
dias depois estava em casa, quando apareceu o cágado, todo
furado de faca e com as feridas cheias de bicho de mosca,
“tapuru”. O cágado entrou na casa, todo mundo assombrou-se.
Ele pegou o bicho, como estavam queimando coivaras
perto da casa, jogou-o dentro de uma, mas assombrou-se,
porque o cágado virou-se numa cobra cascavel dentro do fogo.
Ele correu assombrado, não viu mais o destino que a cobra
tomou.
Logo em seguida, ele lembrou-se das cruzes, onde tinha
encontrado o cágado, mas foi acometido por dor de dente
insuportável. Lembrou-se novamente das cruzes e fez uma
promessa, que se passasse aquela dor de dente, ele voltaria lá
nas cruzes, levava um laço de fitas e limpava o local.
A dor de dente passou misteriosamente, ele voltou ao local
das cruzes, levou um laço de fitas, acendeu uma vela e limpou o
local em torno delas.
 148

Dias depois, o mesmo Manoel Domingos dos Santos,

“Pedra de Fogo”, indo para Florânia, torceu um pé na descida da
ladeira. Lembrou-se novamente das cruzes e fez outra promessa,
que se ficasse bom do pé, mandava fazer um pé de madeira e
levava para deixar lá nas cruzes.
Sentiu que foi milagrosamente curado, mandou fazer o pé
de madeira, voltou ao local das cruzes, lá deixou o pé. Desta vez
foi junto com sua mulher, Francisca Eduardo dos Santos, que o
ajudou a limpar um terreno maior em torno das cruzes e plantou
muitas flores, falou com os vizinhos e limparam a estrada nas
proximidades para que as mesmas ficassem bem vistas.
A segunda promessa que temos notícia: Luzia de Antônio
de Quengas veio para a festa de Santana em Currais Novos,
adoeceu de uma dor muito grande, lembrou-se das cruzes e fez
uma promessa que se ficasse boa daquela dor levaria dois laços
de fita para por nas cruzes e soltaria uma dúzia de foguetões.
Ficou boa e cumpriu a promessa. Daí começou a grande romaria
às cruzes da Serra da Piauí.

A Capela

Em 1936, Antônio Isidro da Silva, mais conhecido por

Antônio de Quengas, enlouqueceu, foi necessário levá-lo para
Natal. Naquele tempo, todos os loucos que iam para Natal
morriam. O velho hospital psiquiátrico de Natal era chamado
asilo. Quem ia para o asilo morria, não havia outra alternativa.
Quem era encarregado de carregar os doidos para o asilo
em Natal, era Manoel Otaviano de Lima, “Manoel do Ó”, mas
Antônio de Quengas foi levado para Natal pelo seu genro Aprígio
Ferreira. Não ficou completamente curado, mas voltou e ficou em
casa trabalhando.
Dona Libânia Maria da Conceição, mulher de Antônio de
Quengas, cumpriu a promessa e junto com Vicente Dionísio e
outros construíram a capela, que foi inaugurada em 1938.
Quem celebrou a missão inaugural foi o padre Agostinho,
um alemão, que veio ajudar ao Monsenhor Paulo quando estava
com a perna quebrada. Esta capela foi demolida por Lino Lopes,
 149

na década de 70, que junto com a vizinhança construiu a atual

capela maior e mais confortável.

Abolição dos Escravos

Sabemos que vários brasileiros lutaram pela abolição dos

escravos. Entre eles: José do Patrocínio, Joaquim Nabuco,
Quintino Bocaiúva, Antônio de Castro Alves e tantos outros, que
a história nos mostra como grandes abolicionistas.
Mas, será que não fazemos injustiça, quando falamos em
abolicionistas e deixamos de lado, no anonimato, o preto
cearense Francisco José do Nascimento? O preto Manoel
Napoleão que depois de libertar-se comprou com suas
economias a liberdade de sua mãe, e, junto com Francisco José
do Nascimento fizeram a primeira greve de que se tem
conhecimento na história do Brasil, parando o movimento do
porto do Ceará, para carregamento de escravos, em 1881.
Será que nós do Rio Grande do Norte não fazemos
injustiça, quando falamos em abolição e deixamos à margem
Romualdo Lopes Galvão e Joaquim Bezerra da Costa Mendes
que, em 6 de janeiro de 1883, fundaram “O Libertador
Mossoroense” e em 30 de setembro de 1883, libertaram os
escravos de Mossoró?
Será que nós de Currais Novos não fazemos injustiça,
quando falamos em abolicionistas e deixamos no anonimato
Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão, que apesar de seu pai
João Bezerra, ter sido assassinado por dois escravos, organizou
a presidiu a “Comissão Libertadora de Currais Novos” que, em 19
de março de 1888, libertou todos os escravos do Município de
Currais Novos?
Acho que a razão é muito simples: é que nós falamos muito
do que se escreve e escrevemos pouco para que se fale. Os
grandes abolicionistas do Brasil são pouco conhecidos, porque
viveram nos pequenos povoados, nos pequenos municípios. A
Campanha Abolicionista no Brasil, no meu entender, começou de
baixo para cima, como uma coivara, que se bota o pé em baixo
 150

para queimar quando o fogo atinge os galhos de cima, a coivara

já está terminando de queimar.

Aspecto Econômico

População de Currais Novos de acordo com o

recenseamento de 1980: 34.987 habitantes, sendo 25.663 na
cidade e 9.324 na Zona Rural. O município está dividido em 956
propriedades rurais, sendo assim distribuídas:

Menos de 10 hectares ......................................................250

De 10 a menos de 100 hectares........................................451
De 100 a menos de 1000 hectares....................................141
Mais 1000 hectares..............................................................14
______
Total de propriedades rurais..............................................956

Estes dados são simplesmente estarrecedores. Por eles,

vê-se como estão se esvaziando as zonas rurais e como está
crescendo a população da Cidade. Isto é dado estatístico de
1980.
Se fizermos hoje um levantamento criterioso teremos sem
sombra de dúvida mais de 40 mil habitantes na cidade e nas
zonas rurais talvez menos de nove mil habitantes. Isto basta se
tomar por base os últimos dados estatísticos.
É com muita tristeza que registramos essa distorção, pois o
êxodo rural significa diminuição de produção e aumento do custo
de vida. O município de Currais Novos, com 956 propriedades
rurais e 9.324 habitantes no meio rural que representa menos de
10 habitantes por propriedade rural, se tirarmos deste número os
meninos e os inativos verificamos que o meio rural está
completamente esvaziado de braços para o trabalho e o meio
urbano abarrotado de gente desocupada.
Mas, será que o homem do campo está correndo para a
cidade por querer sair do meio rural? Por que está cansado de
trabalhar? Ou por que não lhe é oferecido o mínimo de condições
 151

para permanecer no meio rural? Que tem feito os governos para

evitar o êxodo rural?
Por acaso já se fizeram infra-estrutura no meio rural? Já se
levou alguma coisa ao homem do campo?
Acredito que não. Pelo contrário, sempre se tirou tudo do
meio rural, sempre se exigiu tudo do homem do campo, isto em
todos os tempos e lugares.
Este ano duas coisas me chamaram a atenção: uma no
Planalto Central, bem pertinho do Governo Federal, outra aqui no
Seridó. No Planalto Central um saco de milho, quando na época
da colheita, o maior preço que o agricultor vendeu foi nove mil
cruzeiros, quando na época de plantar. Um saco de milho de
semente custou este ano cento e trinta mil cruzeiros. Então, o
agricultor precisava vender mais de 14 sacos de milho comum
para comprar um saco de milho de semente. Isto, porque o milho
de semente é produzido nos campos da EMATER, com toda
infra-estrutura feita pelo Governo, com o dinheiro do povo.
Aqui no Seridó um quilo de algodão foi vendido por mil
cruzeiros e um quilo de caroço de planta está custando um mil e
trezentos cruzeiros. O caroço de plantar, aqui também é vendido
nos postos do Governo. O milho que é vendido para plantar é
híbrido, isto é, não reproduz; o caroço de algodão eu nem sei que
nome dão a ele, porque este é diferente, produz e nem reproduz,
quando nossos pais plantavam o algodão seridó, nativo da
região, vivia 50 anos e produzia 1.200 quilos por hectare. Hoje,
com a semente selecionada, o algodão vivia em média 3 anos e
produz 250 quilos por hectare. Este foi o grande benefício que se
fez ao agricultor do Seridó.
Dizem que o milho híbrido é para dar mais lucro ao
agricultor. Eu que sou matuto penso diferente: acho que é para
diminuir o lucro do agricultor.
Antigamente se guardava a semente para plantar, se
plantava e se tinha boa colheita. Existe aqui no município de
Currais Novos, uma semente de milho com mais de 150 anos. É
conhecido por milho de quandu ou milho dos quanduzeiros. Seu
Lulu do Quandu viveu mais ou menos 90 anos e toda a vida
plantou esta semente de milho, que, segundo ele, seu pai,
Francisco Inácio Bezerra, já plantava. Chico Lulu, que também
viveu 90 anos, durante toda a sua vida plantou a mesma semente
 152

e seus filhos, que têm netos, ainda continuam plantando o

mesmo milho e jamais atrofiou nem deixou de dar duas espigas
num pé, cheinha até a ponta do sabugo. É mais ligeiro, mais
resistente ao clima e mais produtivo do que o híbrido. Então, eu
pergunto, será que hibridificação de semente é mesmo para
ajudar o agricultor produzir mais? Ou será que é para
monopolizar as vendas de sementes, para o agricultor comprar
mais cara?
Para se ter uma ideia como está vivendo o homem rural na
nossa época basta fazer um levantamento da produção agrícola
do município e compará-lo com a população rural.
Para isto, tomamos por base o ano de 1984, que foi o mais
abundante da década de 80. Por ele, vamos levantar a renda per
capitã da zona rural do Município de Currais Novos.
Os demais municípios não são diferentes, especialmente
na nossa região. O quadro demonstrativo que hora apresentamos
nos mostra a venda bruta dos produtos agrícolas, enquanto que,
o quadro demonstrativo da pecuária, nos mostra os valores dos
rebanhos pecuários vivos. Do total destes valores estimamos
uma venda de 10%, como produção anual, isto é, renda bruta,
mas para os cálculos usamos como se fosse renda líquida.
Vamos aos números:

PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE 1984

1º) Algodão Arbórico........1.107 ton., valor em Cr$ 1.107.000.000

2º) Feijão de corda...............429 ton., valor em Cr$ 150.000,000
3º) Batata doce.......................90 ton., valor em Cr$ 90.000.000
4º) Milho..............................288 ton., valor em Cr$ 60.000.000
5º) Coco da Bahia................315 (1000) frutos Cr$ 50.000.000
6º) Manga.............................480 (1000) frutos Cr$ 8.640.000
7º) Banana.............................25 (1000) cachos Cr$ 7.125.000
8º) Tomate............................70 toneladas Cr$ 7.350.000
9º) Melancia..........................12 (1000) frutas Cr$ 4.920.000
10º) Melão.................................6 (1000) frutos Cr$ 3.600.00
____________
Total........1.489.235.000
 153

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

1º) Bovino..........................6.155 cabeças Cr$ 13.892.900.000

2º) Suíno...............................720 cabeças Cr$ 57.000.000
3º) Outros animais.............3.780 cabeças Cr$ 1.871.100.000
4º) Avicultura....................30.520 cabeças Cr$ 732.480.000
5º) Produção de ovos.......140.000 dúzias Cr$ 210.000.000
6º) Produção de leite...........501.200 litros Cr$ 175.420.000
_____________
Total.......................................................................16.938.900.000

Os quadros demonstrativos nos mostram os seguintes

números:

Produção agrícola....................................................1.489.235.000
Valor dos rebanhos................................................16.938.900.000
Dez por cento do valor bruto dos rebanhos.............1.693.890.000
_____________
Total bruto da produção rural do município de
Currais Novos, em 1984..........................................3.183.125.000

Esta importância dividida por 9.324 habitantes da zona

rural daria para cada um a importância de 342.390 (trezentos e
quarenta e um mil, trezentos e noventa cruzeiros) isto por ano, se
dividirmos por mês, teremos 28.490 (vinte e oito mil quatrocentos
e noventa cruzeiros) mensais para cada habitante da zona rural
do município. Então, podemos dizer que a renda per capitã
mensal do homem rural do Município de Currais Novos, é de
28.490.
Esta é a razão do êxodo rural, no comércio, na indústria da
cidade, ou na indústria extrativista das minerações o operário
recebe normalmente mais de um salário mínimo, embora, que
seja relativamente pequena a quantidade de empregos, o homem
rural desprovido das mínimas condições de poder aquisitivo, se
desilude e vem para a cidade, à procura de qualquer outro meio
de sobrevivência. Assim as cidades vão crescendo e o meio rural
se despovoando, os problemas estruturais das cidades vão se
avolumando, exigindo maiores investimentos, normalmente a
fundos perdidos, por não haver possibilidade de retorno, os
 154

governos no meu entender de matuto, pensando na pior maneira

de resolvê-los. Só se fala em controle de natalidade, como se o
Brasil fosse um país super populoso, quando se devia falar em
controlar o êxodo rural porque o Brasil é um país essencialmente
agrícola.
Tudo que é verbas a fundo perdidas aplica-se nas cidades.
Por que não aplicá-las na agricultura? O BNH está
comprometendo todo seu capital, construindo casas nas cidades,
por que não constrói agro-vilas no meio rural? Os incentivos
fiscais são em grande parte destinada a indústria. Por que não
aplicá-los só na agricultura? A Caixa Econômica Federal financia
compras de casas nas cidades. Por que não financiar compra de
gado ao agricultor e pecuarista?
Na minha visão de matuto, eu vejo a agricultura como o
maior suporte econômico do mundo, mas vejo o agricultor como
o homem mais desprezado do mundo. O homem de quem se
exige tudo e a quem não se dá nada. O agricultor compra o
adubo com trezentos por cento de aumento, quando produz os
gêneros alimentícios, normalmente é obrigado a vender com até
quinhentos por cento de desvalorização. Como exemplo,
poderíamos citar: o feijão de corda aqui da nossa região, há dois
anos passados custou dois mil e quinhentos cruzeiros o quilo. O
adubo subiu quinhentos por cento, o inseticida subiu quinhentos
por cento, o custo de vida subiu mais de quatrocentos por cento,
o feijão está sendo vendido a quinhentos cruzeiros o quilo, dois
anos depois, verificando-se uma desvalorização de quinhentos
por cento.
Em consequência o meio rural despovoou-se em vinte por
cento, a plantação de feijão de corda, na região diminui cinquenta
por cento. É de perguntar-se: pode continuar assim? Deve
continuar assim?

ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO E DA CIDADE

A cidade de Currais Novos é uma das mais progressistas

do Rio Grande do Norte. O seu maior suporte econômico é a
 155

indústria extrativista de minérios. É o maior centro produtor do

mundo ocidental de minério de tungstênio.
Este minério é explorado em Currais Novos por três
grandes minerações: a Mineração Tomaz Salustino S. A., a
Mineração Sertaneja e a Tungstênio do Brasil S/A. Essas três
minerações dão mão de obra a cerca de 2 mil operários. Ainda
temos o serviço de garimpeiro que emprega cerca de 1.000
operários na extração de diversos tipos de minérios, como sejam:
ouro, colombita, tantalita, berilo, flourita e cassiterita.
O município tem uma área de 903 Km2, dividido em 956
propriedades rurais. O seu maior suporte econômico na
agricultura é o algodão seridó de fibra longa. O município se
limita com 8 municípios: 6 do Rio Grande do Norte e 2 do Estado
da Paraíba. São os seguintes os municípios limítrofes de Currais
Novos: ao norte, Lagoa Nova e Cerro Corá; ao leste, São Tomé e
Campo Redondo; ao sul, Picuí e Frei Martinho (Paraíba) e ao
oeste com São Vicente e Acari.

ÁREA E ASPECTO URBANO DA CIDADE

A área urbana da cidade de Currais Novos é de

31.063.500m2 e está dividida em 8 bairros, denominados por leis
específicas a saber: Paisinho Maria, Santa Maria Gorete, JK, Cel.
Salustiano, Antônio Rafael, Dr. Sílvio Bezerra, Professor Gilberto
Pinheiro e Manoel Tomaz de Araújo. 8 praças embelezam a
cidade, algumas com estátuas de seus patronos: Aproniano
Pereira no bairro Paisinho Maria, um busto sobre pedestal
cilíndrico; Monsenhor Paulo, em frente ao antigo hospital Padre
João Maria, um busto em bronze sobre um pedestal de
marmorite inaugurado em primeiro de setembro de 1968;
Desembargado Tomaz Salustino, estátua em bronze sobre um
pedestal de pedra, rocha regional, inaugurado em 6 de setembro
de 1971; Cristo Rei, na praça de igual nome, um Cristo Redentor,
fundido em concreto branco, de braços abertos no centro da
cidade a nos abençoar, doado pelo Cel. Salustino, inaugurado
em outubro de 1937, marcando a data do 2º Congresso
Eucarístico Paroquial realizado aqui em Currais Novos; O
 156

monumento Ulisses Telêmaco, também na praça Cristo Rei, local

onde foi casa comercial do homenageado; Cel. José Bezerra, um
busto em bronze na avenida que tem o seu nome, inaugurado em
1926, uma estátua em bronze, tamanho normal, sentado numa
cadeira, atualmente localizado à Rua Joventino da Silveira, já
esteve na Rua João Pessoa e no Estádio de Futebol, Cel Rafael;
Antônio Rafael, um busto em bronze, na praça do mesmo nome,
em frente ao Aero Clube, na avenida Cel. José Bezerra; Ainda na
avenida Cel. Bezerra, no cruzamento com a Lula Gomes, está
localizado o monumento Centenário.
Existiu também, na Cel José Bezerra, o coreto que foi
construído em 1924, numa campanha feita por dona Adélia
Salustino. A planta da construção foi do Mestre Hermínio, ficava
localizado no centro da avenida Cel. José Bezerra, distorcendo
mais ou menos com a esquina da casa do major Antônio Bezerra,
depois do major Quintino, onde hoje funciona o FÓRUM
municipal, distorcia também com o centro da Joventino da
Silveira.
Dona Adélia fez a campanha e começou a construção do
Coreto. A obra ficou mais cara do que sua previsão. O dinheiro
acabou, então, ela levou o problema ao Cel. José Bezerra, que
era seu padrinho, ele gostou muito da ideia e fez uma doação de
quatro contos de réis para terminar a construção.
Foi inaugurado no mesmo ano e era uma obra muito bonita,
num sistema oval, o teto piramidal, de concreto armado,
sustentado por colunas que nasciam do piso elevado ao teto. O
coreto servia para retretas da banda de música, bem como para
festas cívicas na época.
Este coreto foi demolido por Dr. Neófito, em 1947, quando
prefeito nomeado, sem atender aos apelos da população,
especialmente de dona Adélia, que lhe pediu para não derrubá-
lo. Ele acintosamente, talvez temendo reação da população
contra a demolição do coreto mandou amarrar um cabo de aço
numa das colunas e preso à carroceria de um caminhão derrubou
o velho coreto, de quem só nos resta à tristeza de tê-lo conhecido
e brincado algumas vezes em sua sobra. A praça prefeito Alcindo
Gomes, no bairro de Santa Maria Gorete.
Currais Novos tem 209 ruas com denominações específicas,
3 travessas e 9 avenidas, tem 6.892 prédios residenciais e
 157

comerciais, tem 6 conjuntos habitacionais, 1.349 lotes disponíveis

para construção em 5 loteamentos.

CALÇAMENTO E URBANIZAÇÃO

Currais Novos tem 136 ruas calçadas com paralelepípedos,

9 avenidas e 3 travessas, com um total de mais de 2 milhões de
metros quadrados de calçamento.

ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS

A cidade está assistida por 6 estabelecimentos bancários:

Banco do Brasil S.A.

Banco do Nordeste do Brasil S.A.
Banco do Estado do Rio Grande do Norte S.A.
Banco Nacional do Norte S.A.
Caixa Econômica Federal
Caderneta de Poupança APERN.

ÁREA DA SAÚDE

Hospital Padre João Maria e Maternidade Ananília Regina;

Fundação SESP;
Centro Médico Integrado. (Particular)
Agência INAMPS/INPS e IAPAS;
Médicos, Clínicos e Cirurgiões ............................................. 21
Odontólogos ......................................................................... 05
Bioquímicos .......................................................................... 05
Oftalmologistas ..................................................................... 02
Instituto de Radiologia ........................................................ 01
 158

ÁREA DE EDUCAÇÃO

Estabelecimentos de Ensino:

1º Grau .............................................................................. 64
2º Grau .............................................................................. 03
3º Grau .............................................................................. 01
(Cursos: Administração de Empresas; Letras, Pedagogia e
Estudos Sociais)

ÁREA SÓCIO RECREATIVA:

Aero Clube de Currais Novos;

Associação Atlética Banco do Brasil (AABB);
Clube de Caça e Pesca do Seridó;
Cinema Espacial;
Estádio de Futebol Cel. José Bezerra;
Ginásio de Esportes prof. Cortez Pereira;
Centro Social Urbano (CSU); e
Centro Integrado de Atenção ao Menor (CIAM).

ÁREA DE RADIODIFUSÃO E COMUNICAÇÃO

Rádio Currais Novos Ltda;

Rádio Ouro Branco Ltda;
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT);
Telecomunicações do Rio Grande do Norte (TELERN); e
EMBRATEL

ÁREA RELIGIOSA

Templos Católicos ............................................................. 05

Templos de outras religiões .............................................. 08
 159

VISÃO CONJUNTURAL

Funcionam na cidade várias empresas de economia mista

além dos bancos oficiais.

Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte

(COSERN);
Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte
(CAERN);
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
Cartórios – três;
Agência da Receita Federal;
Coletoria Estadual; e Sindicatos e outros órgãos.

CIVISMO

Currais Novos tem seu hino escrito pelo Prof. Antônio

Quintino Filho, com música do Maestro Caçote, oficializado pela
Lei Municipal nº 771 de 21 de dezembro de 1976. A Bandeira
Municipal, oficializada pelo decreto nº 383, de 1º de fevereiro de
1982. Cujas cópias serão transcritas na íntegra neste livro.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURRAIS NOVOS

DECRETO Nº 383, DE 1º DE FEVEREIRO DE 1982

Oficializa a Bandeira do Município

De Currais Novos e dá outras
providências.

O Prefeito Municipal de Currais Novos, Estado do Rio

Grande do Norte, no uso de suas atribuições legais.

D E C R E T A:
 160

Art. 1º – Fica oficializada a Bandeira do Município de

Currais Novos, idealizada presa à história e à economia
Municipal.
Art. 2º – A Bandeira Municipal de Currais Novos tem as
características:
– matéria: tecido resistente e considerado nobre pela
população;
– forma: retangular com 14 módulos na largura e 20 no
comprimento;
– cores o bicromio alvo-anil.
Azul para o retângulo, lembrando o tungstênio;
Branco para a legenda, em homenagem a fé dos nossos
antepassados;
– emblemas: figuras avulsas (chapéu de vaqueiro, minerais
e ramos de algodão) colocado entre o primeiro e segundo
quadrantes superiores do retângulo com proporções modulares
e matizado natural;
– legenda: o nome CURRAIS NOVOS em letras retilíneas
maiúsculas, alvas, situado na parte inferior (1/4) do retângulo;
– tralha em tecido branco, nas proporções da Bandeira.
Art. 3º – A Bandeira do Município de Currais Novos será
hasteada solenemente nos dias de festas e comemorações
cívicas e escolares.
§ Único – Sua guarda será em lugar condigno.
Art. 4º – Este decreto entrará em vigor na data de sua
publicação, revogando-se as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Currais Novos, 1º de fevereiro de
1982.

MARIANO GUIMARÃES – Prefeito em Exercício.

JOSÉ DANTAS DE ARAÚJO – Sec. M. Administração.

LEI nº 771/76 Em 21 de dezembro de 1976

Oficializa Letra e Música do

Hino a Currais Novos e dá outras
providências.
 161

O PREFEITO MUNICIPAL DE CURRAIS NOVOS (RN),

faço saber que a Câmara Municipal de Currais Novos (RN), em
sessão ordinária realizada em 15 de dezembro de 1976, aprovou
e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º – Fica oficializado a letra e música do Hino a Currais

Novos..
Art. 2º – A letra do Hino a Currais Novos, transcrito neste
artigo, é de autoria do Professor Antônio Quintino Filho e
ninguém poderá modificá-lo, nos termos da presente Lei.
§ Único – Fica transcrita neste parágrafo a letra oficial do
Hino a Currais Novos:

HINO A CURRAIS NOVOS

Letra do Professor Antônio Quintino Filho

Ó Currais Novos bonita,

Princesa do Seridó,
Ante a Serra de Santana
E o Pico do Totoró,
Ó cidade sedução
Por tanta gente querida
Eu sinto, com a tua vida,
Orgulho do meu sertão.

Estribilho:

Currais Novos sedução,

Minha cidade querida,
Com as flores do coração
As flores da nossa vida.

Teus hospitais, institutos,

A estudantada vibrante,
Minerações, novas ruas,
Parecem gritar: Avante!
E com o progresso se sente
Na integração redentora
 162

A frase confortadora:
– O meu Brasil “vai pra frente”.

Estribilho

Ó terra de tradição
De um povo pacato e forte,
Pedra rara no diadema
Do Rio Grande do Norte,
Minha querida Cidade
Aceita, com o nosso hino,
A glória do teu destino,
Em busca da imensidade.

Estribilho

Art. 3º – A música é de autoria do maestro Francisco

Bezerra das Chagas, cujas partituras estão anexas e a ninguém
caberá o direito de modificá-las, na forma da presente Lei.
Art. 4º – Esta Lei entra em vigor a partir do dia 31 de
janeiro de 1977, revogando-se as disposições em contrário.

Prefeitura Municipal de Currais Novos (RN), 21 de

dezembro de 1976.

Publique-se e cumpra-se.

BITAMAR BEZERRA BARRETO – Prefeito.

JOSÉ EUSTÁQUIO GOMES OTHON – Séc. Mun. Admin.

Currais Novos, Setor Educacional

Muito cedo começou o movimento pela educação em

Currais Novos. Pesquisando a história se vê que os nossos
ancestrais sempre lutaram por este ideal.
O primeiro passo foi dado em 1855, com a criação da
Cadeia de Instrução Primária, por efeito da Lei nº 26, de 14 de
 163

outubro de 1855, “Lei Provincial”. Esta Cadeia foi criada só para o

sexo masculino. Nesta época, havia uma discriminação de sexo
muito grande. As moças não podiam aprender a ler, para não
escreverem para os namorados, como também não podiam
frequentar as escolas junto com os rapazes. Havia um total
isolamento entre as moças e os rapazes.
Os nossos ancestrais protestaram junto ao Parlamento
Provincial e o Senado do Império e foi suprimida a Cadeia de
Ensino Primário da Vila de Currais Novos, que, com muita luta do
Professor Tomaz Sebastião de Medeiros conseguiu restaurar, em
1883, e conseguiu também a criação de uma cadeira para o sexo
feminino em 1884, por efeito da Lei nº 920, de 13 de março de
1884, “Lei Provincial”.
A primeira escola pública municipal criada em Currais
Novos foi em 1889, pelo então Intendente, João Alfredo Pires de
Albuquerque Galvão. Não existia uma lei específica criando a
escola, mas no balanço da Intendência de 1889, existe
especificamente: pagamento ao Professor, 150.000 (cento e
cinqüenta mil réis).
Em 1898, também já existiam várias escolas particulares,
das quais podemos registrar 3, com os respectivos professores:
São Sebastião, que tinha como professor Francisco Rosa dos
Santos; Totoró, que tinha como professora, Filaudelfia Filisberta
Carvalho, “Dona”; Várzea dos Bois, que tinha como professor
José Lopes da Paixão, sendo que a Escola de Várzea dos Bois
foi a mais antiga das três, pois existia, segundo o que
pesquisamos, desde 1855. Sabemos também que nesta época
existiam mais três escolas rurais nos sítios: São Bento, Jesus
Maria e Pé de Serra. Estas, não conseguimos pesquisar os
nomes dos professores.
O primeiro estabelecimento de ensino que funcionou em
prédio público em Currais Novos, foi o Grupo Escolar Capitão
Mor Galvão, criado por efeito da Lei nº 256, de 25 de novembro
de 1911. Inaugurado em 26 de janeiro de 1912, sendo presidente
da Intendência o Major Ladislau de Vasconcelos Galvão.
Funcionou no prédio da Intendência Municipal até 1927, quando
foi transferido para um prédio próprio na Av. Laurentino Bezerra,
hoje Cel. José Bezerra.
 164

O prédio era a casa que serviu de residência ao Cel.

Cipriano Lopes Galvão, que foi doada ao Estado pelo seu filho,
Cel. Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão, então Prefeito do
Município, sendo Governador do Estado, Dr. José Augusto
Bezerra de Medeiros. O Grupo Escolar Capitão Mor Galvão
funcionou no prédio da Av. Cel. José Bezerra, até 1959, quando
foi transferido para onde funciona atualmente, que foi construído
pelo então Governador Dinarte de Medeiros Mariz, sendo Prefeito
do Município Francisco Leônidas Gomes de Assis, “Seu Assis”.
Durante 31 anos, o Grupo Escolar foi o único
estabelecimento de ensino urbano de Currais Novos, de 26 de
janeiro de 1912 até 28 de fevereiro de 1943, quando foi
inaugurada a Escola de Nossa Senhora, por Monsenhor Paulo
Herôncio de Melo. Em seguida, veio o Ginásio Jesus Menino,
também, construído por Monsenhor Paulo Herôncio de Melo.
A Escola de Nossa Senhora foi o grande ponto de partida
para o desenvolvimento educacional de Currais Novos.
Monsenhor Paulo Herôncio criou o Ginásio Rural masculino, que
hoje é o Instituto Vivaldo Pereira, mas começou a funcionar a
título precário na Escola de Nossa Senhora. O Prefeito Assis
Gomes criou a Escola de Comércio de Currais Novos, que,
também funcionou, por vários anos, na Escola de Nossa
Senhora.
A Escola de Nossa Senhora foi, no meu entender, criada
por inspiração Divina de Monsenhor Paulo Herôncio e recebeu
bênçãos perenes de Nossa Senhora para fazer de Currais Novos
o que vemos hoje: uma das cidades de maior índice de
escolaridade do País.

A História do Instituto Vivaldo Pereira

Monsenhor Paulo criou o Ginásio Rural, conseguiu os

professores, começou o Curso, inclusive ele também era
professor, falou com o então Prefeito Dr. Sílvio Bezerra de Melo,
que se prontificou a dar seu integral apoio. O Deputado Aluízio
Alves, que era na época um dos parlamentares de mais
evidência no Estado e que havia sido eleito deputado federal com
 165

grande participação de Currais Novos, conseguiu uma dotação

federal para a construção do prédio.
Dr. Sílvio doou pela Prefeitura o terreno e começou a
construção do prédio.
Dr. Sílvio era homem de decisões rápidas e enérgicas:
mandou fazer as plantas, por sua conta própria e pagou do seu
bolso as despesas das plantas. Começou a construção por conta
da Prefeitura, recebeu a dotação federal, destinada no orçamento
da União por Aluízio Alves. Era uma espécie de subvenção, não
talvez para cobrir um terço das despesas já realizadas.
Para continuar a obra, se fazia necessário bem maior
investimento, mas para que fosse conseguido mais dinheiro
federal, precisava comprovações da verba aplicada, o que foi
feito pelo Dr. Sílvio Bezerra, e, mandado em mãos pelo Dr. José
Borges de Oliveira, que foi vítima do grande desastre de avião no
Rio do Sal, em Alagoas, junto com o Governador Dix-Sept
Rosado Maia e todo seu secretariado.
No desastre, também se foram as documentações das
prestações de conta da obra de construção do Instituto Vivaldo
Pereira, ou seja, do Ginásio Rural de Currais Novos. Parou a
obra. Dr. Sílvio terminou o seu mandato, ficou pronto só
embasamento do prédio e uma pergunta: Como terminará a
construção?
Em 1958, houve eleições para deputados federais e
estaduais. Aluízio Alves foi reeleito e Currais Novos teve grande
participação na sua eleição, pois, deu-lhe na época, uma votação
3 vezes maior do que o candidato oficial da UDN, Dr. Djalma
Aranha Marinho. Se não me engano, 999 votos. Aluízio ficou
eufórico com a votação e veio a Currais Novos agradecer.
Nós, os que o apoiavam, oferecemos-lhe um banquete com
trezentos talheres. Foi outra surpresa para o então deputado.
Terminando o almoço, fomos visitar as obras de construção do
Hospital Pe. João Maria. O deputado Aluízio Alves, Monsenhor
Paulo Herôncio de Melo, Luiz Bezerra de Araújo, “Cabo Bezerra”
e eu, Celestino Alves. Lá, chegando, Aluízio admirou-se como
estava desenvolvida a obra, como com tão pouco dinheiro
Monsenhor construía tanto!
Monsenhor respondeu até com uma brincadeira a Aluízio: 
“Aqui não é o DNOCS não... Aqui se faz muito com pouco
 166

dinheiro.” Aluízio riu. Eu aproveitei a oportunidade e perguntei: -

“O que devia se fazer para recomeçar a construção do Ginásio
Rural?” Aluízio explicou: - “Deve ser organizada uma sociedade,
de cunho educativo, cuja sociedade, uma vez registrados seus
Estatutos conseguirá com o Prefeito a doação do terreno com a
parte já feita da obra. Eu incluirei verbas no orçamento da União,
destinadas a esta sociedade, que por sua vez terminará a
construção do Ginásio. Isto terá que ser feito o mais breve
possível.”
Eu me encarreguei de conseguir os sócios para organizar a
Sociedade. Saindo de lá, fiz uma lista e consegui dentro de dois
dias 160. Dr. Niton organizou os estatutos e registrou com o
nome: Sociedade Ginásio Rural de Currais Novos. Conseguimos
a doação do Prefeito, foram registrados todos os documentos e
entregues em mãos de Aluízio. Quando ele reassumiu a câmara
já estava com a documentação em mãos e incluiu verba no
orçamento da União como havia prometido.
Logo depois saiu para a campanha de Governador do
Estado e foi eleito. Uma vez eleito, veio a Currais Novos e a
“Sociedade Ginásio Rural”, junto ao Prefeito do Município doaram
ao Estado, o terreno da construção existente.
Então, o Estado terminou o prédio e inaugurou o Instituto
Vivaldo Pereira, que foi o segundo Estabelecimento de Ensino do
Estado em Currais Novos. Podemos dizer que teve uma
participação efetiva e constante de Aluízio Alves: como Deputado
Federal e como Governador do Estado.
O Município de Currais Novos é hoje um município muito
bem servido no setor educacional, contando com 56
estabelecimentos de ensino, sendo 41 municipais, 9 estaduais e
6 particulares. Destes estabelecimentos, 40 são na zona rural do
município, e 16 na zona urbana.
Há 4 estabelecimentos de segundo grau e 4 Cursos
Universitários. A matrícula em 1984 atingiu um número de 11.599
alunos, sendo assim distribuídos:
1º Grau..........................................................................10.053
2º Grau............................................................................1.330
3º Grau...............................................................................216
TOTAL...........................................................................11.599
 167

Estes números nos mostram que os curraisnovenses estão

tendo oportunidade e condição de estudarem, o que nos faz
sentirmos satisfeitos com os esforços dos nossos
administradores, se calcularmos o índice per capita dado à
população do Município, veremos que é muito satisfatório.
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte criou em
Currais Novos o 8º Núcleo Regional de Educação, o Campus
Universitário, que tem prestado relevantes serviços à
coletividade.

Os Caminhos e os Transportes

O setor de transportes em Currais Novos, como em todas

as cidades do Brasil, na época, era feito em costas de burros,
pelos almocreves, isto é, matutos que em tropas de burro,
transportavam mercadorias de outras regiões que se faziam
necessárias ao consumo regional.
Levavam também da região, para as outras regiões, aquilo
que aqui se produzia e que havia excedentes. Do Brejo da
Paraíba traziam: rapadura, fumo, café, feijão de arranca e arroz.
De Macaíba traziam: açúcar, sabão, ferramentas, temperos e os
demais produtos industrializados. Daqui levavam: algodão, carne
seca e milho, os boiadeiros levavam seu gado e animais. A
princípio eram os escravos que juntos com filhos dos fazendeiros,
buscavam nas fontes produtoras os produtos que necessitavam
nas fazendas, bem como levavam para vender os produtos
regionais.
Logo cedo, começaram os matutos que, em costas de
burros faziam transações comerciais, comprando e vendendo as
mercadorias. Os primeiros que fizeram essa transação nesta
região foram: José Lopes Pequeno, o seu filho Clementino Lopes
Pequeno, José Lourenço Freire, Manoel Francisco dos Anjos,
Manoel Firmino Dantas, o velho José Diogo e outros que
carregavam fretes para aqueles que eram mais abastados.
Depois, vieram os mais moços, como o meu pai, Tomaz Alves
dos Santos (Tomaz Targino), Lucas Pinheiro, Manoel Pinheiro,
 168

do Mirador, Francisco Marques, Manoel Rosendo, seu José

Francisco e outros.

Os Caminhos

O primeiro caminho a penetrar na região do Seridó, e

consequentemente passando por Currais Novos, foi o de Natal,
que passava em Santa Cruz vindo por Jacaracica, passando nas
imediações de Campo Redondo, passando pela Serra de São
João, saindo na Malhada da Cruz, passando por Currais Novos e
indo para Caicó.
Parece que os primeiros exploradores da região vieram por
este caminho. Uma das testemunhas é a Cruz da Malhada da
Cruz, hoje povoado Cruz, porque pelas suas características. Não
é uma Cruz de pessoa que tenha morrido ali, mas sim um marco
português. Existem duas razões que nos fizeram chegar a este
raciocínio: a primeira é que ela não tem as medidas exigidas
numa Santa Cruz; a segunda é que todos os lugares que
surgiram tendo como ponto inicial uma cruz, símbolo de Cristo,
foi sempre chamado Santa Cruz e não simplesmente cruz,
porque antigamente ninguém chamava simplesmente cruz, mas
sim, Santa Cruz.
Eu tanto examinei as medidas da Cruz como pesquisei a
data de sua colocação naquele local. A minha avó nasceu
naquela região, meu bisavô, Manoel Garcia de Maria também
nasceu ali. Era filho de João Velho Barreto que foi talvez o
primeiro morador daquela região e segundo minha avó, eles
afirmavam que quando ali chegaram já existia aquela cruz. Então
eu não tenho nem uma dúvida de que se trata de um marco
português e talvez o mais antigo do Seridó ainda existente.
O outro caminho muito antigo que também dá acesso a
Currais Novos é o chamado caminho do Brejo, que sai de Currais
Novos, pela Rua do Brejo, passa por São Sebastião, passa pelas
Areias, sobe a Serra das Umburanas, sai no Sítio Pé de Serra e
entra na Paraíba. Para Santana do Matos tem diversos
caminhos, mas o mais antigo é o que sobe pela Serra do Piauí,
passando nas cruzes da Serra e saindo no Umarizeiro.
 169

Currais Novos viveu muitos anos as dificuldades de meio

de comunicação. Só em 1915 é que foi criada a agência dos
Correios e Telégrafos, que logo começou a desenvolver o seu
trabalho eficientíssimo em prol das comunicações da região.
A agência dos Correios e Telégrafos de Currais Novos
funcionaram muitos anos numa casa particular, à Rua Capitão
Mor Galvão, em frente à Matriz de Santa Ana. As condições eram
as mínimas, mas, seus funcionários davam o máximo de seus
esforços para servir à coletividade.
O primeiro caminhão que entrou na região do Seridó,
consequentemente passando em Currais Novos, foi Bed Ford,
que transportava material para a construção do açude
Gargalheiras, hoje, Marechal Dutra, isto em 1915. O primeiro
automóvel foi um Ford comprado pelo Major Ladislau, em 1917.
Era um Ford 17, desses que ainda tinham raios de madeira nas
rodas.
O primeiro caminhão que fez a linha de Natal a Caicó foi
também um caminhão Ford. O proprietário era seu Elias
Fernandes, que conseguiu com o Governador Juvenal Lamartine
a concessão da linha para conduzir as malas dos Correios e
Telégrafos, mas seu Elias demorou pouco com o negócio:
começou no fim de 1927 e em 1928 vendeu a Laurêncio.
Currais Novos hoje é uma cidade bem servida no setor de
transporte e comunicações. Temos o DCT, duas emissoras de
rádio: Brejuí e Ouro Branco. Podemos nos comunicar pelo DDI
com qualquer parte do país ou do mundo. Estamos ligados por
estradas asfaltadas com o país inteiro. Temos transportes
rodoviários para Natal e vice-versa toda hora, bem como para
outros pontos do Estado e interestadual.

Alto do Caboclo

Por que Alto do Caboclo? Esta interrogação eu sempre

escutei desde menino. Lá existe uma cruz também chamada
Cruz do Caboclo. Sabe-se pela tradição oral que ali morreu um
caboclo. Mas quem era esse caboclo? Quando morreu? Estas
interrogações sempre viveram no ar.
 170

O Alto do Caboclo é por demais conhecido no nosso

município: fica entre Tamanduá e Totoró de Baixo. Existe uma
cruz que deu origem ao nome do alto. Existem também várias
versões sobre esta cruz: uns dizem que foi um caboclo que
morreu de fome, em 1877; outros, que foi um caboclo que
mataram ali, uns dão até nome de pessoas que o teriam matado.
Eu sempre procurei pesquisar as coisas que dizem respeito
à história de Currais Novos e sempre tive curiosidade de procurar
saber que foi aquele caboclo que morreu ali, como me disseram
de primeira informação que havia um caboclo que teria morrido
ali em 1877. Eu fiquei certo que seria fácil descobrir. Bati na
primeira porta que me parecia certa: Dona Sebastiana, porque
1877 ela já devia morar ali. Perguntei-lhe:  “Dona Sebastiana,
quem foi o caboclo que morreu e deu origem àquela cruz?” Ela
no seu jeito simples e sua maneira mansa de falar, me
respondeu:  “Meu filho, minha mãe me dizia que quando chegou
aqui já existia aquela cruz e que ali morreu um caboclo, mas não
sabia de que e nem quando.”
Então, o negócio me despertou mais a curiosidade. Eu
disse comigo mesmo: agora eu descubro. Fui à Santa Cruz falar
com João Bezerra, porque sempre o considerei a enciclopédia da
história de Currais Novos. Encontrei-o logo cedo antes de
começar a feira. Chamei-o: Seu João, venha cá, eu quero
conversar com o Senhor. Ele já era acostumado comigo foi logo
dizendo:  “Já sei que você quer conversar em coisa velha de
Currais Novos.” Eu lhe disse: perfeitamente, quero saber quem
foi o caboclo que morreu naquele alto e de que. Ele me
respondeu:  “Celestino, meu pai dizia que o meu avô contava
que ali tinham encontrado um caboclo morto já em estado de
putrefação e por isso enterraram ali mesmo, mas não sabia
quando.” Eu tinha pista que havia sido João Tabaquinho que
havia matado um caboclo ali, por sinal um escravo, perguntei a
ele: Seu João, e a história de João Tabaquinho? Ele com aquela
maneira de responder as coisas com segurança, especialmente
quando se tratava de história, disse:  “Eu também já ouvi falar
nisso, mas é mentira. João Tabaquinho nunca matou nem um
bode. A história é mais ou menos essa que lhe contei, mas eu
 171

não sei quando nem de que o caboclo morreu.” Então eu fiquei

praticamente na estaca zero a respeito da morte do caboclo.
Certa vez, conversando com Godofredo a respeito do Alto
do Caboclo, lhe falei da pesquisa que estava fazendo bem como
das pistas que tinha. Ele me disse:  “Se você já tivesse falado
comigo não teria andado tanto, porque eu sei a história certa.”
Eu fiquei até duvidando, mas pedi que ele me contasse.
Então, ele me contou que sabia por tradição oral, que lhe havia
sido contada por seu sogro, seu Nezinho Lopes, que nos idos de
1840, mais ou menos, havia um cidadão que viajava do brejo
para o sertão, vendendo e comprando mercadorias da época,
que se chamava Caboclo, não é que fosse Caboclo propriamente
dito, mas sim, com este apelido, o que de fato é muito normal.
Ele trazia do Brejo mercadorias para vender: aguardente,
rapadura e outras bugigangas. Daqui levava queijo e manteiga.
Andava montado num cavalo em cangalha, no meio da carga de
uru ou surrão, quando se aproximou daquele local viu carcará
estragando um cordeiro.
Então, como conduzia um clavinote, resolveu atirar no
carcará, o cavalo espantou-se, a carga rolou e o clavinote
disparou atingindo-o mortalmente. Foram encontrados o cavalo, a
carga, o clavinote e o homem morto.
Isto pode ter acontecido mais ou menos em 1840, porque,
quem morava na casa nesta época, que depois pertenceu a
Nezinho Lopes era José Lopes Pequeno, filho de Félix Gomes
Pequeno, que também viajava para o Brejo, tangendo burros, foi
quem levou o cavalo, a carga e o clavinote, para a família do
caboclo que era seu conhecido.
Está versão me pareceu mais certa sobre a Cruz, que deu
origem ao Alto do Caboclo, só que a cruz não é aquela que foi
feita a capela, é uma que tem na subida do alto, na estrada
velha, que passava na frente da barragem do Dr. José Bezerra e
saía lá na casa do velho José Areia.
Tem muito sentido a história, porque a cruz fica à direita da
estrada para quem sobe o alto vindo do Tamanduá. A da capela
é outra história, mais recente, pelo que pesquisei, foi de uma
mulher que morreu de bexiga e de fome com uma filha criança.
Esta, versão é de 1877 e tem fundamento porque as cruzes
mais antigas eram duas: uma maior, outra menor, havia outras
 172

menores, mas estas eram de meninos que morriam pagãos e

eram sepultados onde houvesse uma cruz na beira da estrada.
CAPÍTULO IV

FAMÍLIAS DE CURRAIS NOVOS

Família Lopes Galvão

A família Lopes Galvão, em Currais Novos, teve como

tronco o Coronel Cipriano Lopes Galvão e Dona Adriana Lins de
Holanda. Ele, filho de D. Adriana de Holanda; ela filha de João da
Rocha Moreira e D. Mara Madalena de Vasconcelos. Nasceram
os seguintes filhos: 1º) Cipriano Lopes Galvão, que casou com
Dona Vicência Linde de Vasconcelos; 2º) Francisca Xavier de
Moura, que casou com José de Freitas Leitão; 3º) Ana Lins de
Holanda, que casou com Miguel Pinheiro Teixeira; os outros 3
filhos do casal morreram solteiros, então não deixaram família.
Os filhos do Capitão Mor Galvão foram 14. Casaram-se 13,
uma morreu solteira, quase todos assinavam com Lopes Galvão,
mas os seus ascendentes foram poucos que conservaram.
Normalmente quando tem Lopes não tem Galvão, quando tem
Galvão não tem Lopes.
Considerando-se cada um dos filhos do Capitão Mor
Galvão o tronco de uma árvore genealógica, se puxarmos os
ramos desta árvore teremos diversas famílias com diferentes
apelidos familiares. De todos os apelidos dos Lopes Galvão,
troncos, o que mais predomina na região é Bezerra. Para se ter
uma ideia, todos os Bezerras do Seridó, com raras exceções,
descende do casal Cipriano Lopes Galvão Júnior e Teresa Maria
José. Ele, filho do Capitão Mor Galvão; ela, filha de José Bezerra
de Menezes.
Se tomarmos por tronco uma árvore genealógica qualquer
um dos Bezerras, filho do casal Cipriano Lopes Galvão Júnior e
Teresa Maria José, teremos Bezerra predominando até os mais
recentes galhos da árvore. Vamos dar um exemplo com Cipriano
Bezerra Galvão, que foi o pai do Cel. José Bezerra de Araújo
Galvão, pai de Antônio Bezerra de Araújo Galvão, que foi o pai
 173

de Dr. José Bezerra de Araújo Galvão que é o pai do Dr. Haroldo

de Sá Bezerra que deve conservar ainda nos filhos, Bezerra
Galvão.
Outro exemplo com a família do Capitão Joaquim Bezerra
Galvão, filho também do casal Cipriano Lopes Galvão e Teresa
Maria José, que se casou com Ana Maria da Conceição, filha de
Félix Gomes Lisboa, que foram os pais de: Manoel Bezerra; José
Bezerra, que morreu solteiro; Joaquim Bezerra Galvão neto, que
se casou com uma filha de Cipriano Estanislau Bezerra (Lalau);
Francisca Bezerra, que se casou com Antônio Bezerra de
Medeiros Galvão, filho de Luiz de Medeiros Galvão, Lulu da
Areia, sendo o segundo casamento de Antônio Bezerra de
Medeiros Galvão. Deste casamento só nasceu uma filha, cuja
família só conservou Galvão, Josefa Plácida Galvão, Zalu, que se
casou com Quintino Gonsalo Lopes Galvão.
Antônio Bezerra de Medeiros Galvão era filho de Luiz de
Medeiros Galvão (Lulu da Areia). Casou-se em primeiras núpcias
com Teresa Humbelina Bezerra, filha de Francisco Inácio Galvão,
irmão de Luiz de França Bezerra (Seu Lulu do Quandu). Deste
casamento nasceram os seguintes filhos: 1º) Vicente Bezerra
Galvão, que se casou 3 vezes, as duas primeiras com duas
irmãs, ambas filhas de Cipriano Bezerra (Lalau) e terceira vez
com Maria José, filha de Manoel de Oliveira Mendes; 2º)
Francisco Lino de Oliveira Galvão, que se casou com Maria
Vicência de Vasconcelos. Este é o tronco da família Lino, um
novo tronco de família sem antecedentes. 3º) Manoel Bezerra,
Maneco, casado com Mariana, filha de Cipriano Bezerra, Lalau.
Este casal foi pai de Zé Maneco, que deu origem à família
Maneco, outro tronco familiar; 4º) José Bezerra, casado com
Adelina, filha de Cipriano Bezerra, Lalau; 5º) Antônio Bezerra
Galvão Filho, casado com Maria, filha de Pianinho; 6º) Luiz
Bezerra, casado com Ana, filha de Manoel Pinheiro Galvão; 7º)
Francisco Sales, casado com Ana, filha de Tomaz Inocêncio de
Araújo; 8º) Afonso, que foi embora solteiro para o Estado do
Pará; 9º) Enéias Bezerra, que se casou com uma moça de
Santana do Matos; 10º) João Bezerra, que se casou em primeiras
núpcias com Laura, filha de Luiz de Medeiros Galvão Júnior (Lula
Olhão) e em segundas núpcias, casou com uma moça de Santa
Cruz.
 174

Filhas: Maria Bezerra, que se casou com Vicentinho;

Laurinda, que se casou com Manoel Lucas; Tereza, que se casou
com Antônio Sales; Luisa, que morreu solteira; Guilhermina, que
se casou com Epaminondas Pires.
Eu fiz questão de focalizar a família do Capitão Joaquim
Bezerra Galvão, incluindo a família de Antônio Bezerra de
Medeiros Galvão por que é a família que criou mais árvores
novas, dentro da mesma família. Por exemplo: Lino, Sales,
Maneco, França e Inácia. São cinco ramos que deram origens a
cinco troncos de novas árvores genealógicas saídos da mesma
família.
Um caso a parte é o do Capitão Lulu da Areia, Luiz de
Medeiros Galvão. Foi criado na história de Currais Novos, sobre
o Capitão Lulu da Areia, um personagem à parte, sem se falar
quase de suas raízes, dá origens. Pouca gente sabe que o
Capitão Lulu da Areia era irmão do Coronel Cipriano Lopes
Galvão.
Certa vez, até um bisneto seu, neto de Cipriano Lopes, de
um, pelo lado materno, do outro, pelo lado paterno, discutiu
comigo que eles não eram irmãos.
Então, aí vai uma nova prova, que foi retirada do livro de
inscrição de eleitores da vila de Currais Novos. Cipriano Lopes de
Vasconcelos Galvão, filho de Manoel Lopes Galvão e de Ana de
Araújo Pereira, ou Ana Laureana do Carmo.
Luiz de Medeiros Galvão (Lulu da Areia), filho de Manoel
Lopes Galvão e de Ana de Araújo Pereira, ou Ana Laureana do
Carmo. Os dois eram filhos de Manoel Lopes Galvão, que era
filho do Capitão Mor Galvão e morava no Sítio Cipó, casado com
Ana de Araújo Pereira, ou Ana do Carmo, como deixou em notas
escritas o Coronel Cipriano Lopes. Ela era filha do Capitão Mor
Medeiros de Cruzeta, neta de Tomaz de Araújo Pereira, daí a
razão de Medeiros do Capitão Lulu da Areia. Os dois eram
casados com duas filhas do Capitão Manoel Bezerra de São
Bento, que era neto co Capitão Mor Galvão. Do primeiro
casamento do Coronel Cipriano Lopes de Vasconcelos Galvão e
Doma Laurinda, filha de Manoel Bezerra Galvão, nasceram os
seguintes filhos:
Manoel Lopes Galvão (Nesinho); Francisca, que casou o
Major Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão Filho. Ana, que
 175

casou com Antônio Pires de Albuquerque Galvão; Antônio Pedro

casou-se em segundas núpcias com Maria Celestina de
Vasconcelos.
Deste casamento nasceram os seguintes filhos: 1º) Maria
Celestina de Vasconcelos, que se casou com Joaquim Gomes de
Araújo; 2º) Antônio Rafael de Vasconcelos Galvão (Coronel
Rafael) que morreu solteiro. 3º) Ladislau de Vasconcelos Galvão
(Major Ladislau), que se casou com Dona Chiquinha, filha do
Coronel José Bezerra. Estes foram os pais de: Seu Quinho
Galvão, José Leônidas e Dona Auleta. 4º) João Alfredo de
Vasconcelos Galvão (Joca Lopes), que se casou com Dona
Maria da Paz de Vasconcelos Galvão, filha de Neco da Areia.

FAMÍLIAS DE CURRAIS NOVOS

Várias foram as famílias que começaram a família

curraisnovense. As mais importantes foram:
Lopes Galvão, Cardoso, Rodrigues, Bezerra, Medeiros e
Pereira.
Cipriano Lopes Galvão, o primeiro, casou-se com Dona
Adriana Lins de Olanda, mas logo cedo, extinguiu-se a família
Lins de Olanda, prevalecendo sobre ela, Lopes Galvão e
Vasconcelos. A família Teixeira e Freiras que começou também
muito cedo, pois uma das filhas do Cel. Cipriano Lopes Galvão
casou com José de Freitas Leitão. Leitão não sobreviveu nem a
segunda geração e Freitas afluiu mais em muito pequena
proporção; outra se casou com Miguel Pinheiro Teixeira. Pinheiro
desenvolveu-se até hoje.

Família Cardoso

A família Cardoso em Currais Novos teve como tronco o

português Francisco Cardoso dos Santos, casado com Teresa
Lins de Vasconcelos, filha do Cel. Alexandre Rodrigues da Cruz e
de Dona Vicência Lins de Vasconcelos.
 176

O Cel. Alexandre Rodrigues, morava na Serra da Dorna;

Francisco Cardoso dos Santos morava no Bico. A mulher do
Capitão Mor Galvão, Dona Vicência Lins de Vasconcelos, era
filha de Francisco Cardoso dos Santos.
Aqui, em Currais Novos, a família Cardoso teve dois
semitroncos: Matias Cardoso dos Santos e Francisco Cardoso
dos Santos, ambos os netos do português Francisco Cardoso
dos Santos. Matias casou-se com Elena Maria de Jesus. Desse
casal eu só tenho conhecimento de um casal de filhos: Manoel
Cardoso dos Santos que casou com Luisa Maria da Conceição,
filha de João Garcia. Manoel Cardoso dos Santos foi o pai do
meu avô, Julião Cardoso dos Santos. Ana Maria de Jesus foi a
mãe de minha avó, Joana Maria da Conceição.
Manoel Cardoso dos Santos foi proprietário da fazenda
onde hoje está construído o Ginásio Agrícola; vendeu em 1877,
quando se mudou para Guarabira na Paraíba com os filhos:
Julião Cardoso dos Santos, Rosendo Cardoso dos Santos e
Zefirino Cardoso dos Santos. Para aqui só voltou o meu avô,
Julião Cardoso dos Santos, que se casou em 1889, com Joana
Maria da Conceição, filha de Manoel Garcia de Maria e Ana
Maria de Jesus.
Francisco Cardoso dos Santos casou-se com Antônia
Maria de Jesus em primeiras núpcias. Deste casal nasceram os
seguintes filhos:
Antônio Cardoso de Maria, Manoel Rodrigues da Cruz,
José Cardoso de Maria, Gregório Cardoso de Maria e outros que
eu não tive condições de identificar.
Francisco Cardoso dos Santos casou-se em segundas
núpcias com Ana Maria da Conceição. Deste casamento eu só
consegui identificar dois filhos: Joaquim Cardoso de Maria, que
nasceu em 1841 e Antônio Cardoso de Maria que nasceu em
1836.
Antônio Cardoso de Maria, filho do primeiro casamento de
Francisco Cardoso dos Santos, nasceu em 1832, casou-se com
Claudina, irmã do padre Crispiniano. Deste casal nasceram os
seguintes filhos: 1º) Manoel Cardoso de Maria, casado com
Guilhermina Pinheiro, que foram os pais de: Antônio Cardoso,
Severina Cardoso, Maria Cardoso, que se casou com Moisés
Inácio, Masceno Cardoso e outros que eu não identifiquei; 2º)
 177

Francisco Cardoso, que se casou com uma viúva, chamada

Maria Viana. A viúva já trazia 3 filhos. Do casal só nasceu um
filho, chamado Bertoldo Viana. 3º) Joaquim Cardoso de Maria,
que casou-se com Veneranda Aota de Medeiros, filha de João
Florêncio de Lima. Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º)
Francisco José de Medeiros que se casou com Teresa Cardoso;
2º) José Evangelista de Santana, que se casou com Severina
Garcia; 3º) João Evangelista de Santana, que se casou com
Carmelita, filha de Vicente Pereira; 4º) José Cardoso de Maria,
casado com Francisca Cardoso, filha de Paulo Gomes de Melo.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) Antônio Cardoso
de Maria, casado com uma irmã de Bartolomeu, Berto; 2º) Ana
Cardoso, que se casou com Horácio Paulino; 3º) Teresa Cardoso
que se casou com Francisco José de Medeiros (Chico de
Joaquinzinho); 4º) Maria Cardoso, que se casou com Pedro
Santana (Pedro Mulatinho); 5º) Manoel Lázaro, que se casou
com Antônia Nazaré (Dona Nazaré); 6º) Abedia Cardoso de
Maria, que se casou com Adélia Santana; 7º) João Aponucena
Cardoso, que se casou com Ilda Adriano, filha de Luiz Adriano;
8º) Francisco Dionísio Cardoso, que se casou com Adelvita
Cardoso, filha de Joaquinzinho.

Família Bezerra

A família Bezerra em Currais Novos tem como tronco o

casal Cipriano Lopes Galvão Júnior e Teresa Maria José. Ele,
filho do casal Cipriano Lopes Galvão, Cap. Mor da Ribeira do
Seridó e Dona Vicência Lins de Vasconcelos, ela filha do casal:
José Bezerra de Menezes e Dona Maria Borges, ambos
cearenses, residentes na fazenda Jacaracica na região do Traíri.
O Cap. Mor e Dona Vicência residiam na fazenda dos
Currais Novos, o casamento foi realizado em 26 de fevereiro de
1794, na capela do Acari, sendo celebrante o padre Joaquim da
Costa Soares e os padrinhos foram: Felix Gomes Pequeno e
esposa, Vicente Ferreira de Melo e esposa. A razão do
casamento, segundo os contadores de história, foi porque
 178

Cipriano Lopes Galvão Júnior foi para Jacaracica em 1793, com

uma retirada e lá ficou até janeiro de 1794.
Lá, teve um namoro com Teresa, quando ele voltou para os
Currais Novos, Teresa queixou-se a Dona Maria, sua mãe, que
estava grávida de Cipriano. Dona Maria Borges falou com o
marido, José Bezerra de Menezes e ele não quis tomar partido
no caso, em virtude de já estar aí refugiado por questões que
tivera no Ceará.
Dona Maria Borges mandou selar dois cavalos: montou um
e a moça montou noutro, veio à fazenda dos Currais Novos
falarem com o Cap. Mor Galvão. Contaram a história, o Cap. Mor
chamou Cipriano e este confirmou.
O Cap Mor marcou logo o casamento, bem como acertou
com Dona Maria fazer toda a arrumação da moça, a qual ficou
logo na fazenda Totoró, onde morava Feliz Gomes Pequeno, seu
irmão e genro.
Dona Maria Borges voltou e foi ver o marido para assistir a
festa de casamento, que se realizou logo quinze dias depois. O
Cap. Mor havia comprado a fazenda São Bento a Cristóvam de
Olanda Cavalcante. Lá, já havia currais e gado, ele cedeu a
Cipriano e lhe deu mais dois escravos.
Cipriano Lopes Galvão Júnior morreu muito moço, só viveu
quinze anos depois de casado. Morreu no dia 19 de junho de
1809. Dona Teresa Maria José teve o último filho exatamente no
dia que o marido morreu. Já tinha um filho chamado Cipriano,
mas em virtude desse ter nascido no dia que o pai morreu, ela
batizou-o com o nome de Cipriano das Dores, que depois ele
substituiu por Bezerra. Assim, ficaram dois Ciprianos Bezerra
Galvão.
Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros, que é bisneto
do segundo Cipriano Bezerra Galvão, diz no seu livro Famílias do
Seridó, que Cipriano Lopes Galvão Júnior e Teresa Maria José
foram pais de 14 filhos, sendo nove varões e cinco mulheres.
Poderá ser certo, mas, no inventário de Teresa Maria José
processado no Acari em 1842, só aparecem nove herdeiros: seis
homens e três mulheres, que são os seguintes:
1º) Manoel Bezerra Galvão; 2º) Cipriano Bezerra Galvão;
3º) João Bezerra Galvão; 4º) Rita Bezerra Galvão, que casou
com Félix Gomes de Araújo; 5º) Maria do Ó, que casou com José
 179

Lopes Pequeno; 6º) Joaquim Bezerra Galvão; 7º) Ana Bezerra de

Menezes, que casou com Joaquim Lopes Galvão; 8º) Francisco
Inácio Galvão; 9º) Cipriano Bezerra Galvão (Cipriano das Dores).
O inventário montou em 5.664$392 réis, cada herdeiro
recebeu em bens a quantia de 629$377 réis, sendo que
Francisco Inácio Galvão recebeu a quantia de 628$154 réis.
Então se Bezerra Galvão Júnior e Teresa Maria José tiveram 14
filhos, 5 morreram antes do inventário e não deixaram família.
Todos os Bezerras do Seridó, com raras exceções, descendem
deste casal.

Família Medeiros

A família Medeiros, no Seridó, teve como tronco os irmãos

Medeiros: Rodrigo e Sebastião, que eram portugueses. Foram os
fundadores de Santa Luiza, na Paraíba. Casaram-se com duas
irmãs, filhas de Manoel Fernandes Freire.
Rodrigo casou-se com Apolônia Barbosa. Sebastião com
Antonia de Morais Valcácer. Cada um foi pai de 8 filhos, homens
e mulheres, isto no alvorecer da civilização do Seridó, ou seja, na
colonização do Seridó. Dos filhos de Sebastião, vários vieram
para o Seridó.
Antônio de Medeiros Rocha foi o Capitão Mor, fundador de
Cruzeta, proprietário da Fazenda Remédio. Uma filha dele, Ana,
casou-se com Manoel Lopes Galvão, filho do Capitão Mor
Galvão. Daí Medeiros e Galvão, em Currais Novos. Uma filha,
Teresa, casou-se com Tomaz de Araújo Pereira (o Segundo), por
ele entrou o ramo de Medeiros e Pereira no Acari. Maria, filha
também de Rodrigo, casou-se com João Damascena Pereira,
desta eu descendo em linha direta materna: foi a minha avó (6ª
avó).
Dos filhos de Sebastião e Antônia de Morais Valcácer,
também vários casaram com famílias seridoenses: João
Crisóstomo casou-se com uma filha de Caetano Dantas; Luzia
casou-se com um filho de Caetano Dantas, Caetano Dantas
Filho; Maria casou-se com Manoel Alves da Nóbrega; Sebastião
casou-se com uma filha de Antônio Paz de Bulhões, Maria
 180

Leocádia; Antônia casou-se com João Morais; Vicência casou-se

com Martiniano Garcia de Araújo.
Dos troncos Medeiros, em Currais Novos, podemos citar
dois patriarcas: Capitão Luiz Medeiros Galvão (Lulu da Areia);
Capitão Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão. Foram eles que
primeiro se registraram com Medeiros, portanto, são esses dois
troncos, que deram origem à família Medeiros em Currais Novos,
pelo menos foram os mais conhecidos.

Família do Totoró

Como nós sabemos, o Totoró foi o berço da civilização de

Currais Novos. Lá ficaram morando dois filhos do Capitão Mor
Galvão:
Antônio Pio Galvão, casado com Dona Adriana Lins de
Vasconcelos, filha de José de Freitas Leitão e Dona Francisca
Xavier de Moura; Félix Gomes Pequeno, casado com Ana Lins
de Vasconcelos, filha do Capitão Mor Galvão, portanto sua
sobrinha. Das filhas de Antônio Pio Galvão, uma que se chamava
Adriana Lins de Holanda, casou-se com Miguel Freire Revoredo,
que ficou morando no Bom Descanso.
De Félix Gomes Pequeno, nasceram: José Lopes Pequeno
e Félix Gomes Segundo. Os dois casaram-se com duas filhas de
Cipriano Lopes Galvão Júnior e Teresa Maria José, José
Pequeno veio morar nas imediações da Cacimba do Meio e Félix
Gomes Segundo ficou morando no Totoró.
De José Lopes Pequeno e Maria Bezerra Galvão nasceram
os seguintes filhos: Clementino Lopes Pequeno, que casou com
Ana, irmão do velho Anário; Salustino Lopes Pequeno, digo,
Bezerra, que casou com Antônia Evangelista da Silva; Teresa,
que casou com o velho Anário (Tetê de Anário); Ana Claudina
Bezerra, que se casou com Joaquim Lourenço Freire, filho de
Miguel Freire Revoredo; Maria, que se casou com Manoel
Honorato, filho de Manoel Bezerra Galvão.
De Félix Gomes Segundo nasceu Bartolomeu.
Logo, nas primeiras transformações familiares surgiram no
Totoró:
 181

Família Freire, tendo como tronco Miguel Freire Revoredo;

Família Anário, o velho Anário; Família Honorato, Manoel
Honorato; Família Clementino, Clementino; Família Evangelista,
Antônia Evangelista da Silva, que casou com Salustiano Lopes
Bezerra; Família Berto, que teve como tronco Bartolomeu;
Família Idelfonso, Delfonso por causa do filho de Francisco
Lourenço Freire que se chamava Delfonso. Ainda, as famílias
troncos, que eram: Lopes Galvão, Lopes Pequeno, Gomes Freire
e Bezerra.
De Tomaz Inocêncio surgiram duas famílias: família Tomaz
e família Inocêncio. José Tomaz, Antônio Tomaz, José Tomaz e
Tomaz Inocêncio.
De Bartolomeu: José Berto, Sérvulo Berto, Antônio Berto,
Josefa Berto. Estes filhos de Manoel Berto e assim por diante.

A família do Totoró que permaneceu por mais tempo sem

modificação foi a família Freire, pois do casal Miguel Freire de
Revoredo e Ana Lins de Holanda nasceram os seguintes filhos:
Francisco Lourenço Freire, que se casou com Alexandrina Lopes
Pequena.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: Miguel Lourenço
Freire, Manoel Teotônio Freire, Rita Teotônia Freire, que se
casou com Bartolomeu Lopes Pequeno; Joaquim Lourenço
Freire, que se casou com Ana Claudina; Manoel Teotônio Freire,
que se casou com Leônidas Fausta da Fonseca; Manoel
Teotônio Freire foi o pai de Teotônio Freire, que foi das letras de
Pernambuco, um dos troncos da família Freire em Pernambuco,
foi também o pai de Idelfonso.
Miguel Lourenço Freire foi o pai de: José Lourenço Freire,
Silvino Lourenço, que se casou com Constância; Maria Rosendo,
Dona Germana, que morreu solteira em Portugal e deixou uma
grande fortuna destinada à sua família, em Currais Novos, que
chegou às mãos dos seus parentes por intermédio do Doutor
José Bezerra Gomes, poeta, escritor e advogado.
Miguel Freire, dizem, que quando adoeceu para morrer,
chamou os filhos e fez o último pedido. Disse que queria quando
morresse ser enterrado na porta do cemitério para todo mundo
passar por cima dele depois de morto; os filhos resistiram, mas
insistiu no pedido, até que José Lourenço e Silvino se
 182

comprometeram e realmente foi feito. Foi sepultado na porta do

cemitério de Currais Novos. Enquanto isto, duas das ruas
principais que dão acesso ao cemitério, uma tem o nome de sua
filha, Dona Germana, outra tem o nome do seu sobrinho,
Teotônio Freire.
Eu gosto muito do Totoró, do jeito que ele sempre foi, da
miscelânea das famílias que foram criadas lá. Cada um dos
antigos criou sua família com seu próprio nome. A razão é muito
simples de explicar: aconteceu que o Totoró, por ter sido a
primeira região habitada no município, logo se tornou a mais
populosa, a mais subdividida.
Apesar de ter as terras melhores para agricultura, tornou-se
a mais pobre porque, logo cedo, tornou-se a mais populosa.
Enquanto que as outras regiões do município desenvolviam-se
mais com criação de gado, o Totoró vivia mais da agricultura.
Então, o Totoró empobreceu e como empobreceram, as
famílias foram se distanciando e se dividindo até no parentesco.
Enquanto os outros conservavam Bezerra e Galvão, os
Totoroseiros eram: os Clementinos, os Honoratos, os Tetés, os
Delfonsos, os Bertos, os Freires, os Tomaz Mesquinhos, houve
até caso de dois irmãos, duas famílias distintas: Manoel Tetê e
João Anário.
Então, surgiu a família Anário e a família Tetê. As famílias
do Totoró se distanciaram tanto de Bezerra e Galvão que quando
José Berto completou 80 anos, eu pesquisei a sua árvore
genealógica e lhe dei de presente, o que o deixou muito
empolgado e satisfeito e mandou ler na Rádio Brejuí. Eliel leu
muitas vezes, muita gente escutou.
Foi sem número as pessoas que me perguntavam: que tem
Zé Berto a ver com Dona Adriana, Capitão Mor Galvão, Coronel
Cipriano Lopes e esse povo que fundou Currais Novos? Ele não
é totoroseiro? Isto me foi perguntado até por escritor e
pesquisador da história de Currais Novos.
Foi preciso eu explicar ao escritor que os Totoroseiros
tinham mais afinidades com o Capitão Mor Galvão e Dona
Adriana do que os Bezerra e Galvão, porque surgiram de Félix
Gomes Pequeno, que era irmão e genro do Capitão Mor Galvão,
como também um filho do Capitão Mor Galvão, filho de José de
 183

Freitas Leitão, ainda uma filha do Coronel Cipriano Lopes,

casado com Miguel Pinheiro Teixeira.
Por isto, os Totoroseiros tinham mais afinidades com o
Coronel Cipriano Lopes e Dona Adriana.

Félix Gomes, o Primeiro

Diziam os contadores de histórias do Totoró, que Félix

Gomes foi um fazendeiro muito rico e por isso casou-se com
Dona Adriana. Quando se casou vendeu tudo o que tinha,
transformou tudo em dinheiro e veio morar no Totoró. Durante o
resto da vida, por sinal foi curta, só fez simplesmente profissão
de marido. Era o marido de Dona Adriana. Quem resolvia todos
os negócios das Fazendas era Dona Adriana.
Então, ele enterrou todo o seu dinheiro, morreu, não deixou
herança para ninguém. A história tem fundamento, porque apesar
de todo mundo dizer que ele foi um fazendeiro rico, eu nunca
ouvi falar numa propriedade que tenha sido sua. Não existe na
região nem uma sesmaria que tenha sido por ele requerida. Já
pesquisei nos cartórios da região e jamais encontrei uma
assinatura sua, transferindo qualquer imóvel, nem mesmo o
nome foi herdado pela família. Somente seu filho, Félix Gomes
Pequeno é que usou o seu nome, mas ainda com o diminutivo
Félix Gomes Pequeno, os seus descendentes utilizaram apenas
o Pequeno, perderam o Gomes logo na segunda geração. Há até
que pense que a família Gomes de Currais Novos descenda de
Félix Gomes, o que não é verdade. Depois nós veremos a origem
da família Góes; eu pendo bem diferente a respeito de Félix
Gomes.
Acho que ele foi um espertalhão, que se fez de rico para
casar com Dona Adriana, mas que na realidade na tinha era
nada. Dizem que certa vez Tomaz de Araújo foi lhe tomar um
dinheiro emprestado, Dona Adriana não estava em casa, e por
isto Tomaz de Araújo pediu a ele o dinheiro emprestado. Ele
emprestou, mas marcou todas as moedas. Então, Tomaz levou o
dinheiro, mas quando veio fazer o pagamento trouxe-lhe as
 184

mesmas moedas marcadas, dando-lhe a entender que não

precisou utilizar o dinheiro.
A estória da botija eu tenho a impressão que foi criada pelo
próprio Félix Gomes e virou lenda. Naquela região quase todo
mundo falava da botija de Félix Gomes. Uns contavam estória de
mal assombro, outros sonhavam com a botija de Félix Gomes.
Davam até características do local e do dinheiro. Mas, o certo é
que nunca ouvi falar que ninguém tivesse arrancado essa botija.
Os males assombro aos poucos foram acabando, as estórias a
respeito da botija foram diminuindo e hoje nem se fala mais.
João Bezerra contava uma estória muito boa a respeito do
Totoró: dizia que o Totoró empobreceu tanto, que no serrote do
Pico, alta hora da noite se escutava um cachorro que latia, e no
latido dizia, fome, fome, fome... e quando terminava um galo
cantava... toda a vida foi assim... No Totoró...
Nisto eu discordo de João Bezerra. Para mim o Totoró é a
região mais rica do Município: rica em terras férteis, rica em
cultura, rica em beleza natural, rica em gente boa, especialmente,
nas riquezas que não se adquire com dinheiro; rica em tradição,
em caráter e em dignidade humana.

Família Garcia

A família Garcia em Currais Novos teve como tronco João

Garcia de Araújo “João Velho Barreto”, que era filho de João
Garcia de Sá Barroso e Dona Maria do Bom Sucesso. João
Garcia de Araújo ou João Velho Barroso foi o pai de Manoel
Garcia de Maria, que se casou com Ana Maria de Jesus, digo,
Manoel Garcia de Maria e Ana Maria de Jesus, nasceram os
seguintes filhos:
1º) Pedro Garcia de Maria; 2º) Manoel Garcia de Maria
Filho; 3º) Francisco Garcia de Maria; 4º) João Garcia de Maria ou
João Garcia de Araújo, que se casou com Miquilina; 5º) Matias
Garcia de Maria; 6º) Ana Maria de Jesus “Naninha”; 7º) Josefa,
que se casou com Antônio Girão; 8º) Joana Maria da Conceição,
que se casou com Julião Cardoso dos Santos, em 7 de setembro
de 1889. Estes são meus avós paternos; 9º) Maria Garcia.
 185

Segundo filho de João Velho Barreto, “João Garcia de

Araújo”, Antônio Inácio Casado de Oliveira, que se casou com
Angélica Maria da Conceição, filha de Miguel Aciole. Deste casal
nasceram os seguintes filhos:
1º) João Antônio de Oliveira; 2º) José Antônio de Oliveira;
3º) Manoel Antônio Eli de Oliveira; 4º) Inácio Casado de Oliveira,
que se casou com Josefa Gomes de Oliveira; 5º) Salvador
Antônio de Oliveira, que se casou três vezes: a primeira com
Inácia, filha de Cosme Pereira, a segunda com Ana, filha de
Julião Cardoso dos Santos e a terceira com uma moça de
Angicos; 6º) Salvina Antônio de Oliveira, que se casou com duas
filhas de Cosme Pereira; 7º) Santana, que se casou com Manoel
Aciole; 8º) Guilhermina, que se casou com João Cosme; 9º)
Josefa, que se casou com Luiz Pereira; 10º) Francisca; 11º)
Antônia; 12º) Maria Inácia, que se casou com Manoel Evangelista
de Santana, filho de Cosme.
Esta família Garcia de Oliveira é muito numerosa na região
de Cruz e Mulungu. Como tem muita gente com o nome de Jesus
e de Maria, foi apelidada por a família de Jesus Maria. Até a
região pegou o nome de Jesus Maria.

Família Gomes

A família Gomes em Currais Novos tem suas raízes no

município de Caraúbas do Apodi, na Fazenda Pimenta, onde,
dois dos filhos de Manoel Fernandes Pimenta vieram para esta
região. Depois da seca de 1848 mais ou menos. Eram eles: José
Gomes de Melo e Francisco Gomes Pimenta.
Adquiriram por compra a data da Pitombeira, zona leste do
município, sendo que na época, ainda pertencia ao município de
Acari. Como a data de terra custava a vultosa importância de
1:800$000 (Um conto e oitocentos mil réis), o dinheiro dos dois
não dava para comprar, procuraram então um moço de Natal,
chamado Manoel Pegado Cortez, que também andava
procurando se localizar na região com fazenda da criação de
gado, combinaram os três, juntaram o dinheiro e compraram a
data de terra.
 186

Manoel Pegado Cortez entrou com......................800$000

José Gomes Pimenta com....................................600$000
Francisco Gomes Pimenta com............................400$000
Perfazendo assim o total de.................................800$000

Dividiram proporcionalmente: José Gomes e Francisco

ficaram com a Fazenda Groços e Manoel Pegado Cortez com a
Fazenda São Luiz.
José Gomes de Melo casou-se com Ursulina Ferreira de
Macedo, filha de Antônio Ferreira de Macedo, do Picuí. Francisco
Gomes Pimenta, em cujo casamento seu nome é: Francisco
Gomes de Melo casou-se com Francisca Ferreira de Macedo,
também filha de Antônio Ferreira de Macedo. Manoel Pegado
Cortez casou-se com Dona Maria Senhoria Dantas Cortez, que
era do Acari.
Depois de casados cada um organizou sua fazenda e
construiu sua casa. Francisco Gomes organizou a Fazenda
Condado e construiu a casa onde morou; José Gomes ficou
morando nos Groços.
Em 1866, a sua casa de São Miguel onde organizou a sua
fazenda. A esta época já havia mais um irmão Gomes, nesta
região. Era Manoel Gomes de Melo, casado com Didinha, que
ficou morando na Fazenda Groços. Manoel Pegado Cortez
construiu a casa de São Luiz, onde ficou morando e criou todos
os seus filhos. Agora vamos conhecer as famílias de cada um
desses três patriarcas.
Do casal José Gomes de Melo e Úrsula Ursulina Ferreira
de Macedo nasceram os seguintes filhos:
1º) Manoel Salustiano Gomes de Macedo, que se casou
com Dona Ananília Regina; 2º) Benedito Gomes de Melo, que se
casou com Dona Teodora Francisca; 3º) José Gomes de Melo
Júnior, “Zezinho” que se casou duas vezes: a primeira com Maria
Camila, filha de Manoel Pegado Cortez e a segunda com Ana
Pegado Cortez Gomes, filha de Manoel Pegado Cortez; 4º)
Joaquim Severiano Gomes de Melo, que se casou com Dona
Maria Lopes Galvão, filha do Cel. Cipriano Lopes Galvão, “Dona
Mariquinha”; 5º) Luiz Gomes de Melo Lula, que se casou duas
vezes: a primeira com uma filha de Francisco Gomes Pimenta e a
segunda com Dona Maria Idalina da Rocha, “Dona Santa”; 6º)
 187

Miguel Gomes de Melo, que se casou com Dona Nezinha; 7º)

Francisco Umbelino Gomes de Melo, que se casou com uma
moça de Santa Cruz e Maroquinha, que se casou com Chico
Umbelino; 8º) Maria Gomes de Melo, que se casou com
Laurentino Bezerra, “Tino”.
O Capitão José Gomes de Melo casou-se a segunda vez
com Dona Maria da Conceição Gomes, filha de Manoel Gomes
de Melo, sua sobrinha. Deste casamento nasceram os seguintes
filhos:
1º) Dona Úrsula Gomes Cortez, que se casou com Manoel
Pegado Dantas Cortez; 2º) Dona Guilhermina, que se casou com
Francisco Dias; 3º) Dona Josefa, que se casou com Manoel
Antônio de Oliveira; 4º) Dona Francisca, que se casou com
Antônio Xavier Dantas; 5º) André Avelino Gomes, que se casou
com Dona Rita Severiano, filha de Joaquim Severiano Dantas.
Do casal Francisco Gomes Pimenta e Dona Francisca
Ferreira de Macedo nasceram os seguintes filhos:
1º) Zeferino Gomes de Medeiros, que se casou com
Donana; 2º) João Damata de Araújo “Joça Porco”; 3º) Benedito
Gomes Pimenta, que se casou com Joaquina; 4º) Manoel
Maturino Gomes, que se casou com Maria Liberalina de Macedo;
5º) Seu Gomes, que se casou com uma moça de Santa Cruz, da
família Medeiros; 6º) Teresa Gomes Pimenta, que se casou com
Major Lula, no primeiro casamento; 7º) Maria Gomes, que se
casou com Antônio Xavier Dantas; 8º) Rita Gomes, que se casou
com Joaquim Severiano Dantas.

Do casal Manoel Gomes de Melo e Didinha, eu só localizei

um casal de filhos: Maria da Conceição Gomes, que se casou
com o Cap. José Gomes de Melo. Seu segundo casamento do
Cap. Manoel Gomes de Melo Júnior, Neco Gomes, que se casou
com Rita Gomes, filha do Cap. José Gomes de Melo. Do
segundo casamento, sendo, portanto, sua sobrinha legítima.
Estes são os pais de Antônio Gomes de Melo, Antônio Neco.
A família Gomes em Currais Novos é hoje ainda uma das
mais numerosas, não por ser das mais antigas, mas por ser das
mais conservadoras do sobrenome familiar.
 188

As famílias mais antigas do município são: Lopes Galvão,

Rodrigues, Cardoso, Pinheiro, Freire e Bezerra. A que mais devia
predominar sobre todas as outras era Lopes Galvão, por ser a
mais antiga, mas esse nome familiar dividiu-se com o passar do
tempo.
Hoje, quem é Lopes não é Galvão, quem é Galvão não é
Lopes. Vê-se, por exemplo, Bezerra Galvão, Medeiros Galvão,
Pinheiro Galvão, Mendes Galvão e tantas outras famílias com o
sobrenome Galvão o que menos se vê é Lopes Galvão, o que
não acontece com a família Gomes, o sobrenome Gomes sempre
predomina sobre todos os outros que entram na família, com
raras exceções.

Família Pegado Dantas Cortez

A família Pegado Dantas Cortez em Currais Novos teve

como tronco, Manoel Pegado Cortez, que nasceu em Natal ou
Goianinha. Como era filho bastardo, o pai lhe deu dinheiro e um
escravo para ele comprar fazenda de criação de gado no sertão,
consequentemente afastando-o da família, isto nos idos de 1845
ou 1850.
Aqui chegando comprou a data da Pitombeira, região de
São Luiz, pertencente ao município do Acari, hoje Currais Novos.
Uma vez localizado com fazenda de criação de gado, procurou
casar-se indo encontrar sua preferida no Acari: Dona Maria
Senhorinha Dantas, que depois do casamento, passou a chamar-
se Senhorinha Dantas Cortez. Do casal Manoel Pegado Cortez e
Dona Maria Senhorinha Dantas Cortez nasceram os seguintes
filhos:
1º) João Pegado Dantas Cortez, que se casou com Dona
Maria Alexandrina; 2º) Manoel Pegado Dantas Cortez, que se
casou Úrsula Gomes Cortez, filha do Cap. José Gomes de Melo;
3º) José Augusto Pegado Dantas Cortez, que se casou com
Dona Santinha, filha do Major Lula Gomes; 4º) Joaquim Pegado
Dantas Cortez, que se casou com Dona Guilhermina Dantas
Cortez, filha de Manoel Pegado Dantas Cortez, sua sobrinha; 5º)
Antonio Pegado Dantas Cortez, que foi para São Paulo solteiro,
 189

lá casou-se e construiu família; 6º) Alfredo Pegado Dantas

Cortez, que se casou com Dona Áurea Dantas Cortez, filha de
Joca Pegado, sua sobrinha; 7º) Euclides Pegado Dantas Cortez,
que se casou com Dona Osana Dantas Cortes, filha de Manoel
Pegado, também sua sobrinha; 8º) Samuel Dantas Cortez, que
morreu solteiro, mas deixou família.

As mulheres:

1º) Maria Camila, que se casou com José Gomes de Melo,

Zezinho; 2º) Ana Pegado Cortez Gomes, que também casou com
Zezinho Gomes; 3º) Olindina Pegado Cortez Pereira, que se
casou com Vivaldo Pereira de Araújo; 4º) Cândida Pegado
Dantas Cortez, que morreu solteira; 5º) Dona Guilhermina
Pegado Cortez, que se casou com Osório. Estes são os pais de
Oton Osório, Dona Judite Xavier e outros; 6º) Francisca Pegado
Dantas Cortez, que se casou com José Frutuoso, do Acari; 7º)
Luzia Pegado Dantas Cortez, que se casou com Teófilo, que era
seu tio, irmão de Dona Márcia Pegado. Estes são os pais de
Artur Cortez e outros. Artur é o pai do Padre José Dantas Cortez.
Esta família é hoje muito numerosa no Rio Grande do
Norte. Praticamente três famílias predominam o sobrenome
Cortez que são Dantas Cortez, Cortez Gomes e Cortez Pereira,
ainda reminiscência de Pegado Cortez.

Família Dantas Severino e Xavier Dantas

A família Severino Dantas teve como tronco neste

município, o casal Antonio Severino Dantas de Azevedo e Dona
Úrsula Dantas Azevedo. Deste casal nasceram os seguintes
filhos:
1º) Antonio Xavier Dantas, que se casou com Maria
Umbelina Gomes; 2º) Maria Ferreira Dantas, que se casou com
José Ferreira; 3º) José Severino de Azevedo; 4º) Porfírio José
Dantas; 5º) José Pedro Dantas; 6º) Joaquim Severiano Dantas,
que se casou com Rita Gomes, filha de Francisco Gomes
Pimenta; 7º) Manoel Félix Severino; 8º) Sebastião Severino
 190

Dantas; 9º) Lino Severino Dantas; 10º) Tomaz Severino Dantas,

que se casou com Ana Florentino Dantas, filho de Pedro Cipriano
Dantas; 11º) Francisco Severino Gomes, que se casou com uma
moça de Picuí.
Do segundo casamento de Antonio Severino de Azevedo
Dantas, nasceram os seguintes filhos:
1º) Tito Severino Dantas, que se casou com uma filha de
Porfírio Severino Dantas, sua sobrinha; 2º) Félix Severino
Dantas; 3º) Maria Severino Dantas, que morreu solteira; 4º) Ana
Severino Dantas, que também morreu solteira.
Antônio Severino de Azevedo casou-se ainda duas vezes,
mas não houve família do terceiro nem do quarto casamento.
Morreu com 93 anos, três meses e vinte e três dias ainda falando
em se casar, porque enviuvou a quarta vez. Do casal Antônio
Xavier Dantas e Dona Maria Umbelina Gomes nasceram os
seguintes filhos:
1º) Manoel Xavier Dantas, que se casou com Maria Gomes
“Lília”; 2º) Antonio Xavier Filho, que se casou com Sofia Gomes;
3º) Maria Xavier Dantas, que se casou com Joel Farias; 4º)
Francisca Xavier Gomes, que se casou com José Neco Gomes.
Antonio Xavier Dantas casou em segundas núpcias com
Francisca Xavier Gomes. Deste casamento nasceram os
seguintes filhos: 1º) José Xavier Gomes, que se casou com
Osana Xavier Gomes; 2º) Maria da Conceição Gomes, que se
casou com Justiniano Ferreira Dantas; 3º) Teresa Xavier Gomes,
que se casou duas vezes: a primeira com Antônio Artêmio de
Araújo e a segunda com Manoel de Souza; 4º) Severino Xavier
Gomes, “Chinda”, que se casou duas vezes: a primeira com
Olívia Gomes Xavier e a segunda com Milagre Othon Xavier; 5º)
Iria Xavier Gomes, que se casou com Elias Dantas Cortez; 6º)
Mariana Xavier Gomes, que se casou com Severino Gomes de
Melo; 7º) Mizael Xavier Gomes, que se casou com Alice Gomes
Cortez.
A família Severino e Xavier Dantas é muito numerosa na
zona leste do município, na região de São Luiz e Mulungu.

Família Pereira
 191

A família Pereira de Currais Novos teve como tronco

principal o casal Tomaz Pereira de Araújo e Dona Rita da
Câmara Ferreira. Ela filha de João Ferreira de Miranda Câmara.
Do casal Tomaz e Dona Rita nasceram os seguintes filhos:
1º) Vivaldo Pereira de Araújo, que se casou com Dona
Maria da Silveira Borges “Sinhá”; 2º) Bevenuto Pereira de Araújo,
que se casou com Dona Aninha, filha de Laurentino Bezerra de
Medeiros Galvão; 3º) Dona Aninília Regina, que se casou com
Manoel Salustino Gomes de Macedo; 4º) Dona Belmira, que se
casou com Antonio Assunção.
Tomaz Pereira de Araújo morou na volta da Serra. Era
também conhecido por Tomaz Bengala.
Eu tenho dúvida quanto à origem de Tomaz Pereira de
Araújo: se do Acari ou dos Pereira da Silva. Pereira de Macedo e
Pereira de Araújo, enquanto que, os Pereiras do Acari,
normalmente são: de Araújo Pereira, nos filhos de Tomaz de
Araújo Pereira não tinha Tomaz, a não ser o Padre, enquanto os
filhos do Coronel Antonio Pereira da Silva da Barra de Santa
Rosa tinha Pedro Pereira da Silva, que se casou com Mariana
Filgueira de Castro, filha de João Filgueira de Castro, de
Bananeira, na Paraíba. Este foi o meu bisavô.
Joaquim Pereira da Silva, que também morou na Serra de
Santana e morreu com toda a família de fome e sede nas
imediações da Serra das Umburanas em 1845, tendo escapado
somente uma filha.
Tinha, também, um filho chamado Tomaz, outro chamado
João. Este deve ser o tronco da família Pereira da Silva de
Parelhas. Tinha, também, Antonio e José, que ficaram na Barra
de Santa Rosa ou do Acari, pouco interessa, o importante é
provar que o maior tronco genealógico da família Pereira em
Currais Novos foi Tomaz Pereira de Araújo, da Volta da Serra.

Seus filhos e sua geração:

1º) Vivaldo Pereira de Araújo “viúvo” que se casou com

Dona Maria da Silveira Borges. Deste casal nasceram os
seguintes filhos: 1º) Dona Maria Salomé, que se casou com Luiz
Ulisses da Circuncisão, Lula; 2º) Vivaldo Pereira de Araújo, que
 192

se casou duas vezes: a primeira com Dona Olindina Dantas

Pegado Cortez ou Olindina Cortez Pereira de Araújo. Deste casal
nasceram os seguintes filhos: 1º) Milton, que morreu ainda
menino; 2º) Aluísio, que também morreu menino; 3º) Maria do
Céu, que se casou com Aristófanes Fernandes; 4º) Estela Pereira
de Araújo, que se casou com Antônio Assunção, Tota; 5º) Dona
Letice que se casou com o Sr. Elísio Galvão; 6º) Dona Gisélia
Pereira de Araújo, que é solteira; 7º) Dona Eunice, que também é
solteira; 8º) Maria Pio, que morreu menina; 9º) Maristela, que
morreu menina; 10º) Armando Pereira de Araújo, que morreu
com 16 anos, quando estudante; 11º) Dr. José Cortez Pereira,
que se casou com Dona Aída Ramalho Cortez Pereira.
Vivaldo Pereira casou-se em segundas núpcias com Dona
Ritinha, filha de Bevenuto Pereira de Araújo. Deste casamento
nasceram os seguintes filhos:
1º) Tarcísio, que morreu menino; 2º) Vivaldo Pereira de
Araújo Filho, Valdinho, que se casou com Neide, filha de José
Leônidas; 3º) Maria de Lourdes Pereira, que se casou com
Francisco Canindé; 4º) Fernando Pereira de Araújo, que se casou
com Diana Flor; 5º) Aluísio Pereira de Araújo, que se casou com
Valdeci Medeiros; 6º) Margarida Maria, que se casou com Renato
Sá; 7º) Paula Fracinete, que se casou com José Dore Filho; 8º)
Tarcísio Pereira de Araújo, que se casou com Maria do Rosário;
9º) Bevenuto Pereira de Araújo Neto, que se casou com Nair
Assunção; 10º) Marta Maria, que se casou com Alício Alexandre;
11º) Ana Maria Pereira de Araújo, que se casou com Fonseca;
3º) Elias Enoques, que se casou com Dona Mariinha, filha de
Manoel Jacinto.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) José Orestes
Pereira de Araújo, que se casou com dona Maria Assunção; 2º)
Vivaldo Pereira de Araújo Sobrinho, solteiro; 3º) Maria da Luz,
que morreu solteira; 4º) Astrogilda, que é solteira; 5º) Afra, que é
solteira; 6º) Manoel Santa Rosa, que se casou com Dona Nana,
também filha de Manoel Jacinto. Este casal não teve filhos; 7º)
Tomas Silveira de Araújo, que se casou duas vezes: a primeira
com Otília Guedes, de Goianinha.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) Ana Nanete,
que se casou com Pedro Guedes; 2º) Maria Edite, que se casou
com Alberto Xavier.
 193

Tomaz Silveira casou-se em segundas núpcias com Dona

Benedita, filha de José Gomes de Melo, “Zezinho”. Deste
casamento nasceram os seguintes filhos: 1º) Francisco Silveira
de Araújo, “Silveirinha”, que se casou com Wilma, filha de
Antonio Eduardo Bezerra; 2º) Maria das Dores, “Dorinha”, que se
casou com Celso Cruz; 3º) José Silveira de Araújo, “Dida”; 4º)
Bevenuto Pereira de Araújo, que se casou com Dona Ana Isabel
de Medeiros Galvão, “Aninha”, filha de Laurentino Bezerra de
Medeiros Galvão e Dona Teresa Ursulina de Jesus.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) Tomaz
Pereira de Araújo, que se casou duas vezes, com duas filhas do
Major Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão; 2º) Aproniano
Pereira, que se casou com Dona Mariinha, filha do Major Sérvulo;
3º) Artur Pereira de Araújo, que morreu solteiro; 4º) Pedro Pereira
de Araújo, que se casou com Dona Auta, filha do Major Ladislau
Galvão; 5º) Laurentino Pereira de Araújo, que se casou com
Dona Maria Pureza da Câmara; 6º) Abel Pereira de Araújo, que
se casou com Maria Medeiros; 7º) Juventino Pereira de Araújo,
que se casou com Dona Auleta Galvão; 8º) Bevenuto Pereira
Filho “Zuzu”, que se casou com Dona Auriceta Pereira Galvão;
9º) Antônio Pereira de Araújo, “Tonheca”, casado com Dona
Dulce Coelho; 10º) Rainel Pereira de Araújo, que se casou com
Dona Aurina Pereira Galvão, filha do Major Ladislau; 11º) Dona
Ritinha, que se casou com Vivaldo Pereira de Araújo. 3º) Dona
Ananília Regina, que se casou com o Cel. Salustiano Gomes de
Macedo, cujos filhos já estão relacionados na família Gomes.
Não teve ninguém que tivesse Pereira no nome, nem mesmo ela
assinava com Pereira, como também a afinidade com a família
Pereira do Acari nas famílias de Currais Novos não chegou a
formar troncos de família Pereira aqui em Currais Novos, porque
foram substituídos por Bezerra, Lopes Galvão Medeiros, Garcia e
Dantas, com exceção dos que descendem de Tomaz Pereira de
Araújo. Dos Pereiras de Malhada Limpa e dos de Boa Vista.
 194

Família Pereira de Malhada Limpa

A família Pereira de Malhada Limpa teve suas origens em

três irmãos que vieram do Picuí. Eram eles: Adelino Pereira de
Macedo, Joaquim Pereira de Macedo, “Quincó” e Antônio Pereira
de Macedo, que morreu no Sítio Craubeira, casado com Dona
Chiquinha Pereira. Ela prima legítima dele, filha de Ziza Pereira
do Picuí. Deste casal não houve filhos; criou Carmen Pereira,
filha de Adelino.
Antônio Pereira negociava com algodão e criava gado. Foi
o primeiro proprietário da região que possuiu carro, uma forreca
Ford mil novecentos e dezessete das rodas de pau. Foi quem
abriu a estrada pelos Namorados, isto em 1919.

Família Pereira de Boa Vista

A família Pereira de Boa Vista teve como tronco João

Pereira da Silva, casado com Alexandrina.
João Pereira da Silva comprou a Fazenda Boa Vista por
trezentos mil réis a Lucas Cândido para seus dois filhos: João
Pereira da Silva, casado com Bertulina Cidalina do Sacramento e
Camilo de Leles Pereira, casado com Sabina Pereira.
Do casal, José Pereira e Bertulina, nasceram os seguintes
filhos: 1º) João Pereira da Silva, que se casou com Antônia, filha
de Camilo de Leles Pereira; 2º) Pedro João Pereira da Silva, que
se casou com Petronila Bertulina da Silva; 3º) Severino João
Pereira da Silva, que se casou com Maria, filha de Antônio
Gonçalves; 4º) Antônia, que se casou com Antônio Martins de
Oliveira; 5°) Maria Cidalina, que se casou com Cassimiro
Janúncio.
Camilo casou-se três vezes: a primeira com Sabina
Pereira. Deste casamento nasceram os filhos: 1º) Manoel Pereira
do Nascimento, casado com Maria Florentino Pereira da Silva; 2º)
Joaquim Pereira da Silva, casado com Paulina Florentino; 3º)
Maria Petronila da Silva, casada com Manoel Albino de Oliveira;
 195

4º) Petronila Bertulina da Silva, casada com Pedro Pereira da

Silva; 5º) Antônia, casada com João Pereira da Silva.
O segundo casamento de Camilo foi com Ana Florentina.
Não houve família. Ele casou-se a terceira vez com Marcionila
Maria de Jesus. Deste casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) Margarida Maria Pereira, que se casou com Vicente
Severiano da Cunha; 2º) José Camilo Pereira, que se casou com
Elza, filha de José Severiano da Cunha.

Família Pacheco

A família Pacheco em Currais Novos teve como tronco

principal o casal Sebastião Pacheco e Dona Guilhermina. “O
Tenente Sebastião” casou-se em segundas núpcias com Dona
Sinhá, mas só houve família do primeiro casamento.
Do casal Sebastião Pacheco e Dona Guilhermina
nasceram os seguintes:
1º) Maria, que se casou com Tomaz Rodrigues e em
segundas núpcias com José Bimba; 2º) Benedito Pacheco, que
se casou com Dona Maria Augusta Pacheco, filha do Professor
Antônio Augusto; 3º) Pedro Pacheco, que se casou com Dona
Antônia; 4º) Antônio Pacheco, que se casou três vezes, sendo
duas com duas filhas de seu Galvão; 5º) Augusto Pacheco de
Araújo, que se casou com Dona Maria Augusta de Araújo; 6º)
Sebastião Pacheco Filho, que se casou com Dona Francisca
Batista, filha de Antônia Batista; 7º) Antônia, que se casou com
Bernardino do Cauaçu; 8º) Josefa, que se casou com Manoel
Lucas; 9º) Teresa, que se casou com Francisco Possidônio; 10º
João Pacheco.
Esta família Pacheco teve suas origens na Fazenda Inharé,
no município de Santa Cruz. Eram quatro irmãos: 1º) Sebastião
Pacheco, “O Tenente”; 2º) Antônio Pacheco; 3º) Lucas Saguim;
4º) José Gregório.
Esta família é muito numerosa, tanto no Município de
Currais Novos quanto no de Santa Cruz e Campo Redondo.
 196

Família Mendes

A família Oliveira Mendes em Currais Novos tem suas

raízes na Serra de São Bento, na Paraíba. De lá veio Manoel de
Oliveira Mendes, que se casou com Ana Bezerra Galvão, filha de
Manoel Bezerra Galvão e de Maria Alexandrina de Vasconcelos,
“Mariquinha do Cipó”. Do casal Manoel de Oliveira e Ana
Alexandrina nasceram os seguintes filhos: Manoel de Oliveira
Mendes; Cândido de Oliveira Mendes; Francisco Bezerra Galvão.
Manoel de Oliveira Mendes que se casou com Ana Lopes
Pequena, filha de Alexandre Lopes Pequeno. Deste casamento
só nasceu um filho que também se chamou Manoel de Oliveira
Mendes. Manoel de Oliveira Mendes casou-se em segundas
núpcias com Luísa Bezerra, que também só teve uma filha: Luiza
Bezerra Mendes “Lulu”, que se casou com Antônio Lucas.
Manoel de Oliveira Mendes, o segundo que morou no Totoró,
casou-se com Mariana Bezerra de Medeiros, filha de Lulu da
Areia, deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Maria José, que se casou com Vicente Bezerra; 2º)
Manoel Mendes de Oliveira, que se casou com Francisca Maria
da Conceição; 3º) Luiz Mendes, que se casou com Maria Berto;
4º) José Mendes de Oliveira, que se casou com Alexandrina
Bezerra Mendes.
Laurinda Mendes, que se casou com Manoel Egídio, no
segundo casamento de Manoel Egídio.
Manoel de Oliveira Mendes, casou-se em segundas
núpcias com Ana Clementino. Deste casamento nasceram os
seguintes filhos: Teresa Mendes, que se casou com José Miguel;
Maria Francisca, que se casou com Francisco Idelfonso; Belinha,
que também se casou com Francisco Idelfonso, em segundas
núpcias; Maria Mendes, que se casou com Antônio Tomaz,
“Antônio Inocêncio de Araújo”; Adélia Mendes de Oliveira, que se
casou com Vicente Lino; João Mendes, que se casou com
Branca, filha de Francisco Marques; Minel, que morreu solteiro;
Tino, que também morreu solteiro. Cândido de Oliveira Mendes,
casou-se com Dona Laurinda, filha do Cap. Lulu da Areia.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) Francisco
Cândido de Oliveira, que se casou com Dona Porfíria, filha de
 197

Lucas Olhão; 2º) Melanias Cândido de Oliveira, que se casou

com Dona Sinigrinha, filha de Neco da Areia; 3º) Dona Cecília,
que se casou com João Alfredo Galvão; 4º) Ana de Oliveira
Mendes, “Dona Nanoca”, que morreu solteira; Luiz Cândido, que
morreu solteiro. Cândido de Oliveira Mendes, casou-se a
segunda vez com Dona Ritinha, que também era viúva. Deste
casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) Dona Ninosa, que morreu solteira; 2º) Dona Cândida
Mendes de Oliveira, que se casou com Antônio Gomes de Melo,
“Antônio Neco”; 3º) Dona Francisca de Assis de Medeiros, que se
casou com Manoel Salustiano de Medeiros, “Manoel Macaco”, 4º)
Francisco de Oliveira Galvão, que se casou com Dona Francisca
Alexandrina de Oliveira. Deste casal nasceram os seguintes
filhos:
1º) Francisco de Oliveira Galvão, “Bila”, que foi embora
para o Pará; 2º) Aprígio, que também foi para o Pará, ambos
ainda solteiros; 3º) João de Oliveira Galvão, que seu Galvão
mandou para o Rio de Janeiro; 4º) Moisés de Oliveira Galvão,
que se casou com Dona Auta Bezerra Galvão, filha do Cel. José
Bezerra; 5º) Luiz de Oliveira Galvão, que se casou com Enedina,
de Doba Beta; 6º) Ananias de Oliveira Galvão, “que chamavam
Calango”; 7º) Silvério de Oliveira Galvão, que se casou com Dona
Saló. As mulheres:
1º) Antônia Galvão, Dona Branca, que se casou com
Elpídio Chacon, esta foi a mãe do meu saudoso amigo, Francisco
Baldômero Chacon; 2º) Dona Maria Galvão, que se casou com
Canuto; 3º) Dona Ana Galvão, que também se casou com
Antônio Pacheco, em primeiras núpcias. E Dona Gertrudes, que
também se casou com o mesmo.
Como vemos a família Oliveira Mendes em Currais Novos,
quase que só foi conservada por Manoel de Oliveira Mendes. De
Cândido de Oliveira e de seu Galvão, surgiu a família Oliveira
Galvão, que aos poucos foram substituindo por: Bezerra Galvão,
Pacheco Galvão, Chacon ou simplesmente Galvão, que, assim,
foi desaparecendo, Mendes de Oliveira.
 198

Família Pinheiro

A família Pinheiro em Currais Novos teve como tronco o

casal Miguel Pinheiro Teixeira e Ana Lins de Holanda. Ele, filho
de Duarte Pinheiro da Rocha, de Goianinha, ela filha do Cel.
Cipriano Lopes Galvão e Dona Adriana Lins de Holanda.
Dos filhos do casal só localizamos dois:
1º) Dona Ana Joaquina de Holanda, que se casou com
Francisco Lopes Galvão, filho do Cap. Mor Galvão; 2º) Dona Ana
Maria do Rosário, que se casou com Gonsalo Lopes Galvão.
Deste casal localizamos um filho, Manoel Rodrigues
Pinheiro, que foi o pai de Gonsalo Pinheiro Galvão, pai de
Manoel Egídio Pinheiro, que se casou com Rita Lins de
Vasconcelos, sendo pais de Quintino Lopes Galvão, “Quintino
Gonsalo” e outros. Manoel Egídio Pinheiro também era
conhecido por Manoel Gonsalo, porque era filho de Gonsalo
Pinheiro Galvão. Depois de Manoel Egídio acabou o nome
Pinheiro na família.
O casal Miguel Pinheiro Teixeira e Ana Lins de Holanda
foram os primeiros moradores do Sítio Riacho Fechado. Na
marcação, encontramos outros troncos da família Pinheiro. São
eles: João Pinheiro Teixeira, Joaquim Pinheiro Teixeira, Cândido
Pinheiro e André Pinheiro.
Estes deveriam ser os netos de Miguel Pinheiro Teixeira.
João Pinheiro casou-se com Filirmina Cardoso. Deste
casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) Manoel Pinheiro, que se casou com Maria da
Conceição; 2º) Laurentino Pinheiro, que se casou com Janoca,
filha de Manoel Alves; 3º) Germina, que se casou com Manoel
Cardoso; 4º) José Pinheiro, “Zeinho”; 5º) Maria Pinheiro, que se
casou com Manoel Duarte; 6º Idalina Pinheiro, que se casou com
José Inácio.
Joaquim Pinheiro Teixeira não se casou, teve um romance
com Tetê Dourada. Deste romance nasceram os seguintes filhos:
Joaquim Pinheiro, Ana Alves, que se casou com João
Alves; Manoel Pinheiro Galvão; Manoel Pinheiro do Trangola;
Cândido Pinheiro casou-se também na família Cardoso. Morou
em Currais Novos, na antiga Rua do Rosário, hoje Vivaldo
 199

Pereira. Só teve um casal de filhos, ambos morreram solteiros.

Um era Coco, que botava água na cidade. Viviam os dois na
mesma casa e morreram solteiros.
André Pinheiro casou-se com uma moça do Coité,
chamada Inaicinha. Este casal foram os pais de Lucas Pinheiro,
Luiz Pinheiro Galvão, que se casou com Antônia Dantas de
Araújo, filha de José Dantas de Araújo; Manoel Pinheiro, que se
casou com Eudócia Dantas, filha de Francisco Dantas de Araújo;
Francisco Pinheiro, que se casou com uma moça de Santa Cruz.
A família de Lucas Pinheiro, bem como a de Manoel
Pinheiro, todos assina: Pinheiro Dantas.
Os Dantas, como os Gomes são as duas famílias que mais
conservam o apelido familiar e por isto são as que mais crescem.
Não conheço ninguém com sangue de Dantas, que não conserve
Dantas no nome.

Família Pinheiro Galvão

A família Pinheiro Galvão que morreu no Totoró, com

Gonsalo Pinheiro Galvão, renasceu no Trangola com Manoel
Pinheiro Galvão, filho de Tetê Dourada e Joaquim Pinheiro
Teixeira.
Manoel Pinheiro Galvão casou-se em primeiras núpcias
com Maria Florêncio de Lima. Deste casal nasceram os seguintes
filhos:
1º) Manoel Pinheiro Galvão, que se casou com Maria
Pinheiro de Andrade; 2º) Miquelinha Pinheiro Lopes, que se
casou com Francisco Lopes de Macedo; 3º) Maria pinheiro
Lopes, que se casou com Antônio Lopes de Macedo, filho de
Francisco Lopes Macedo.
Do segundo casamento, com Mariana Lopes Pequena, filha
de Canuto Lopes Pequeno, nasceram os seguintes filhos:
1º) Luzia Pinheiro Galvão, que se casou com Manoel
Pinheiro Magro; 2º) José Pinheiro Galvão, que se casou quatro
vezes; 3) Antônio Pinheiro Galvão, que se casou com Bárbara,
filha de Tomaz Inocêncio; 4º) Manoel Louro Pinheiro, que se
casou com Teresa, filha de Tomaz Inocêncio; 5º) Ana Pinheiro
 200

Galvão, que se casou com Luiz Bezerra; 6º) Francisca Pinheiro

Galvão, que se casou com Manoel Mendes de oliveira.
Manoel Pinheiro Galvão casou-se em terceiras núpcias
com Rufina, filha de Canuto Lopes Pequeno. Deste casamento
nasceram duas filhas:
1º) Teresa Pinheiro Galvão, que se casou com João
machado; 2º) Francisca Pinheiro, que morreu solteira.
Uma ressalva: Ana Pinheiro Galvão, que se casou com
Luiz Bezerra e Francisca, com Manoel Mendes, são do segundo
casamento de Manoel Pinheiro Galvão e não do primeiro, como
consta na relação.
José Pinheiro Galvão se casou com Francisca Aureliano
Bezerra em primeiras núpcias. Deste casamento nasceram os
seguintes filhos:
1º) Francisca Pinheiro Galvão, que se casou com Severino
Pinheiro de Andrade; 2º) José, que era paralítico e morreu com
17 anos de idade; 3º) Manoel Ezequiel Galvão, “Manequinho”,
que se casou com Josefa Pinheiro de Oliveira; 4º) Ana Pinheiro
de Oliveira, que se casou com Severino Mendes de Oliveira, em
primeiras núpcias de Severino Mendes; 5º) Severino Pinheiro
Galvão, que se casou com Cleonice, filha de Chico Dondô, em
primeiras núpcias de Biliu; 6º) Benedito Possidônio Pinheiro, que
se casou com Francisca Avelino; 7º) Rita Pinheiro Galvão, que se
casou com Quintino Galvão, em primeiras núpcias deste; 8º) José
Lino Galvão, que se casou com Ana Diva Galvão, filha de seu
Elias Fernandes; 9º) Josefa Pinheiro Galvão, que se casou com
Moisés Salustino; 10º) Luiz Pinheiro Galvão, “Lulu”, que se casou
com Aurora Galvão.
José Pinheiro Galvão casou-se mais três vezes, mas em
nenhum dos outros casamentos houve famílias, todos os seus
filhos são do primeiro casamento.
A família Pinheiro Galvão é muito numerosa no município
de Currais Novos. Se quiséssemos ligar José Pinheiro Galvão a
Miguel Pinheiro Teixeira, troncos da família Pinheiros neste
município teriam a seguinte árvore genealógica:
José Pinheiro Galvão, filho de Manoel Pinheiro Galvão e
Mariana Lopes Pequena; este filho de Joaquim Pinheiro Teixeira
e Tetê Dourada; este filho de Francisco Lopes Galvão e Ana
Joaquina de Holanda, ela filha de Miguel Pinheiro Teixeira. Ele,
 201

filho do Cap. Mor Galvão. Ana Joaquina de Holanda, filha do

Coronel Cipriano Lopes Galvão, que também era pai do Cap. Mor
Galvão.

Família Dantas

A família Dantas no município de Currais Novos tem vários

troncos, todos com suas raízes em Carnaúba dos Dantas, na
zona oeste do Estado.
Situaram-se os Dantas de Araújo, descendentes do casal
Manoel Dantas de Araújo e Luzia Dantas de Azevedo, que
moravam no Curimataú, na Fazenda Lagoa da Jurema, no
município de Picuí. Deste casamento nasceram os seguintes
filhos:
1º) Firmino Dantas de Araújo, que se casou com
Constantina, filha de Manoel Martins do Curimataú. Veio morar
no sítio Mirador. Deste casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) João Firmino; 2º) Maria Firmino, “Cota”, que se casou com
Manoel Paulino Dantas, “Seu Branco”; 3º) Antônia Firmino
Dantas, que se casou com Manoel Rosendo. Morou em Malhada
Comprida neste município; 4º) Izabel Firmino, “Bela”, que se
casou com Francisco Cesário, foram morar em Santana do
Matos.
Firmino Dantas casou-se a segunda vez com Marcolina.
Deste casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) Francisco Firmino, que se casou com Severina, filha de
Paulo Dantas; 2º) Cícera, que morreu solteira; 3º) Maria, que se
casou com Paulo Alves; 4º) Josefa, que se casou com Antônio
Cassiano; 5º Manoel Firmino, que se casou com Porfíria, filha de
Cassimiro José Dantas.
Joaquim Dantas de Araújo, que se casou com Maria
Dantas, “Maricota”. Deste casamento nasceram os seguintes
filhos:
1º) Manoel Paulino Dantas, casado com Maria Firmino,
Cota e Branco; 2º) José Dantas de Araújo, que se casou com
Plácida, Zé Dantas do Cardão; 3º) Amaro Dantas, casado com
Maria, filha de José Garcia de Morais;cas 4º) Pedro Dantas de
 202

Araújo; 5º) Simão Dantas de Araújo, que se casou com Maria

Ferreira, filha de Manoel Ferreira; 6º) Maria, que se casou com
Manoel Clementino Dantas; 7º) Joana, que se casou com
Joaquim Rosa Dantas; 8º) Luzia, que se casou com José Félix,
filho de Félix Paulino; 9º) Izabel, que se casou com Henrique
Dantas; 10º) Teodora, que se casou com Joaquim Alves; 11º)
Francisca, que se casou com José Garcia de Morais; 12º) Rita,
que se casou com Manoel Dantas.
Manoel Dantas de Araújo, que se casou com Guilhermina
do Bernardino. Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º)
Manoel Dantas, que se casou com Rita, filha de Joaquim Dantas;
2º) Vicente Dantas, que se casou com Nasinha, filha de Manoel
Fidélis; 3º) Maria, que se casou com Francisco Dantas de Araújo,
tio legítimo dela; 4º) Francisca, que se casou com Tomaz Lopes
de Araújo, “Tomaz Macaúba”; 5º) Rita, que se casou com
Cesário; 6º) Luzia, que se casou com Manoel Fidélis; 7º)
Eudócia, que se casou com Manoel Pinheiro.
Manoel Dantas morava na fazenda Pau-Darco; vendeu em
1898 a Antônio Inácio Casado; comprou Malhada Comprida,
onde morou.
Francisco Dantas, que casou com Maria, filha de Manoel
Dantas, sua sobrinha. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Severino Dantas de Macedo, que se casou com
Francisca Alves dos Santos, filha de Tomaz Alves dos Santos; 2º)
Honório Dantas, que casou duas vezes com duas irmãs, morou
no agreste; 3º) Cícera Dantas, que casou duas vezes, uma com
José Santos e outra com Manoel Ferreira de Lima, não teve
filhos; 4º) Josefa, que também casou duas vezes e também não
teve filhos; 5º) Inácio, que morreu solteiro; 6º) Maria, “a muda que
morreu solteira”; 7º) Eudócia, que se casou com Manoel Pinheiro,
que por engano consta na relação dos filhos de Manoel Dantas.
Manoel Dantas de Araújo, que se casou com Maria Martins,
filha de Manoel Martins do Curimataú. Deste casal nasceram os
seguintes filhos:
1º)Miguel Dantas Filho, que se casou com Maria Cesário;
2º) Tertuliano Dantas de Araújo, que se casou com Rosalina, filha
de Marcos Pio Bittencourt, do Bom Descanso, seu Marcos; 3º)
Manoel Dantas, este foi embora para o Curimataú e lá casou-se;
 203

4º) Vicente Dantas, que morreu solteiro; 5º) Inez Dantas, que
casou com Paulo Alves.
Miguel Dantas ficou morando na fazenda Lagoa da Jurema,
no Curimataú.
José Dantas de Araújo, que casou com Teresa, filha de
José Pio de Medeiros e Ana Maria da Conceição, sendo que Pio
de Medeiros era de Carnaúba dos Dantas e Ana Maria da
Conceição era do Totoró, filha de José Lopes pequeno. Deste
casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Francisco Dantas de Araújo, que se casou com Josefa
Cesário, irmã de Francisco Cesário. Foram morar em Pau dos
Ferros; 2º) Cândido Dantas de Araújo, que se casou com Maria
Odília de Medeiros, filha de Manoel Lopes de Medeiros, “Manoel
Menino e Maria Humbelina”; 3º) Josefa que foi para Pau dos
Ferros com Francisco Dantas; 4º) Ana Dantas, que casou com
Manoel Onofre, filho de Onofre Soares de Vasconcelos ou Onofre
Freire de Macedo; 5º) Antonia, que casou com Lucas Pinheiro; 6º
Marcolina, que casou com Marcolino Onofre.
O velho José Dantas, foi proprietário nos Namorados,
vendeu a propriedade a seu genro, Lucas Pinheiro, quando foi
embora para Pau dos Ferros, junto com seu filho, Francisco
Dantas.
Paulino Dantas de Araújo, que casou com Manoela
Rosalina Dantas, filha de Felipe Soares de Vasconcelos. Deste
casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Manoel Paulino Dantas, “Manoel Paulo do Quinquê”,
que casou com Sebastiana Umbelina Dantas; 2º) José Paulo
Dantas, que casou com Ana Alves, filha de Francisco Alves; 3º)
Francisca, que casou com Francisco Alves Filho; 4º) Maria, que
casou com Antonio Alves; 5º) Cícera, que casou também com
Antonio Alves, em segundas núpcias do mesmo; 6º Severina, que
se casou com Francisco Firmino, moram em Santana do Matos.
Paulino Dantas era proprietário no Quinquê.
Sebastião Dantas, que morreu solteiro.
Maria, que se casou com Venâncio do Sacramento
Bananeira. Deste casamento não houve filhos. Eram proprietários
no Sítio Bom Descanso.
Raquel, que se casou com Marcos Pio de Bittencourt.
Deste casal nasceram os seguintes filhos:
 204

1º) Francisco Marcos, que casou com Maria, filha de

Francisco Vermelho; 2º) Antonio Marcos, que morreu solteiro; 3º)
Maria, que morreu solteira; 4º) Josefa, que se casou com Luiz
Salviano, filho de Manoel Salviano; 5º) Rosalina, que casou com
Terto Dantas, do Picuí; 6º) Florinda “Flor”; 7º) Ana, que se casou
com um rapaz do Brejo; 8º) Manuela, que se casou com Júlio
Bacalhau; 9º) Faustina, que se casou com Manoel de Lemos, foi
morar no Brejo da Paraíba.
Izabel “Biluca”, que se casou com Onofre Ferreira de
Macedo. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
Manoel Onofre de Macedo, que se casou com Ana Dantas
de Macedo; José Onofre de Macedo, que se casou com Maria
Alves, filha de Francisco Alves; Marcelino Onofre de Macedo, que
se casou com Marcolina Dantas; Pedro Onofre de Macedo, que
se casou com Mariana Fernandes, filha de Manoel Fernandes;
Umbelina, que se casou com Antonio Manoel Soares.
O velho Onofre era proprietário no Bom Descanso, deste
município.
Francisco Alves, que veio do Poço do Pau, do Brejo da
Paraíba, casou-se com Umbelina Dantas. Deste casal nasceram
os seguintes filhos:
1º) Antonio Alves, que casou com Cícera, filha de Paulino
Dantas; 2º) Joaquim Alves de Lima, “Matador de Onça”, que se
casou com Teodora, filha de Joaquim Dantas; 3º) Paulo Alves de
Lima, que se casou com Maria Dantas, filha de Firmino Dantas;
4º) Francisco Alves, que casou em primeiras núpcias com
Francisca Paulina e em segundas núpcias com Emídia, filha de
José Domingos, de São Vicente; 5º) José Alves de Lima, que
casou com Martiliana, filha de José Severiano; 6º) Maria Alves,
que casou com José Onofre de Macedo; 7º) Antônia, que casou
com Gil Antônio; 8º) Santina, que casou com Luiz Paulino, filho
de João Paulino do Totoró; 9º) Sebastiana, que se casou com
Manoel Dantas do Quinquê; 10º) Ana, que casou com José Paulo
Dantas.
Basília casou com Severino Paulo, de Pedra lavrada. Deste
casal nasceram vários filhos, mas só conseguimos localizar três:
Severino Paulo, que se casou com uma filha de José Amaro,
Salviano e Maria, porque ele foi morar em Pedra Lavrada, na
Paraíba.
 205

Família Dantas da Maniçoba

A família Dantas da Maniçoba teve como um dos seus

principais troncos, Pedro Cipriano Dantas e Bevenuta Maria de
Medeiros. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) José Martins Dantas de Maria, que se casou com
Aurora Miranda Dantas; 2º) Manoel Julião de Maria,
“Manoelzinho”, se casou com Úrsula Maria de Medeiros; 3º)
João, que morreu solteiro; 4º) Basílio Fernandes de Medeiros,
que se casou com Josefa Clementina Dantas; 5º) Pedro José
Dantas, que se casou com Josefa Guilhermina de Medeiros; 6º)
Antônio Izequiel Dantas de Maria, que se casou com Ana
Clementina do Amor Divino; 7º) Luiz Fernandes de Medeiros, que
se casou com Maria, “Lica”; 8º) Joel Augusto de Medeiros, que
morreu solteiro; 9º) Francisco Fernandes de Medeiros, que se
casou duas vezes, uma com Dona Mariinha, outra com Apolônia
Severina Dantas; 10º) Ana Florentina Dantas, que se casou com
Tomaz Severino Dantas; 11º) Joaquim Apolinário Dantas, que se
casou com Cândida Clementino do Amor Divino; 12º) Gertrudes,
que se casou com Tomaz Clementino Dantas; 13º) Rita Cipriano
Dantas, que se casou com Pedro Salustiano de Medeiros, foi o
primeiro casamento de Pedro. Não houve filhos; 14º) Maria
Cipriano Dantas, que se casou com José Major Dantas de
Medeiros.
Pedro Cipriano Dantas nasceu em Curral do Meio, no
Estado da Paraíba e também veio de lá, Úrsula Maria de
Medeiros, casada com João Freire Pimenta. Deste casal
nasceram os seguintes filhos: Pedro Pimenta e Galdino Pimenta.
O tronco desta família em Curral do Meio era Antonio Clemente
de Medeiros.
Pedro Cipriano Dantas foi sempre pessoa de destaque em
Currais Novos. Participou do primeiro Conselho de Intendentes
de Currais Novos e foi reeleito várias vezes. Era ligado ao Cap.
Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão.
 206

Família Lopes dos Namorados

A família Lopes dos Namorados teve como tronco Cipriano

Lopes de Macedo e Maria Ramalho da Conceição. Deste casal
nasceram os seguintes filhos:
João Correia de Maria; Joaquim Correia de Maria;
Francisco Lopes de Macedo e outros.
Deste casal surgiram três famílias:
De Joaquim Correia de Maria surgiu família Maria, que se
ramificou em São Vicente.
De João Correia de Maria, surgiu a família Correia, que se
ramificou na região do Quandu, Totoró e Santana do Matos.
De Francisco Lopes de Macedo, surgiu a família Lopes dos
Namorados. Francisco Lopes de Macedo casou-se três vezes e
foi pai de uma grande família, que se espalhou pelos Namorados,
Trangola, Serra de Santana, Serra do Coité e tantas outras
regiões, sempre conservando o nome Lopes de Macedo.

Família Cassimiro

A família Cassimiro em Currais Novos teve como tronco

Cassimiro José Dantas, filho de José Maria de Medeiros e Maria
José do Nascimento. Ele morou no Riacho Fechado e foi pai de
Francisco Cassimiro e outros.

Família Dias

A família Dias em Currais Novos teve como tronco José

Dias da Silva, casado com Dona Porfíria Maria do Bonfim, filha
de José Manoel de Lima e Teodora Maria da Conceição.
 207

Família Salustino

A família Salustino em Currais Novos teve como tronco

Manoel Salustino Gomes de Macedo, que se casou com Dona
Ananília Regina. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
Tomaz Salustino Gomes de Melo, que se casou com Dona
Teresa Bezerra Salustino; Aristides Gomes de Melo, que se
casou com Dona Celsa Gomes de Melo; José Salustino Gomes
de Melo, que se casou com Dona Antônia Bezerra Galvão, dona
Bitônia; Alcindo Gomes de Melo, que se casou duas vezes: a
primeira, com dona Poti Galvão e a segunda, com Dona Maria
das Dores; Francisco Leônidas Gomes de Assis, que se casou
com Dona Áurea Galvão; Lindolfo, que morreu solteiro; Manoel,
que morreu solteiro; dona Ritinha, que se casou com Antônio
Bezerra de Araújo Galvão, Major Antônio Bezerra; dona Maria
Regina de Araújo, dona Sinhá, que se casou com Antônio Othon
de Araújo; dona Adélia Gomes Salustino, que se casou com o Dr.
Félix Pereira, mas não fez vida conjugal.
Não há antecedente Salustino na família. Dos filhos do
Cap. José Gomes de Melo, somente ele registrou-se com
Salustino. Dos filhos dele somente dois conservaram o
sobrenome: Tomaz Salustino Gomes de Melo e José Salustino
Gomes de Melo. Deles surgiu a família Salustino que já é
numerosa na região, como também surgiu a família Othon, de
Antônio Othon de Araújo, sem outro antecedente. Essas duas
famílias, podemos dizer que são genuinamente curraisnovenses.

Família Alves

São várias as famílias Alves que têm ramificação em

Currais Novos. Uma delas tem como tronco Semião Alves do
Rego, que foi o pai de Ângelo Alves Rego.
Ângelo casou-se em primeiras núpcias com Maria Leônidas
de Vasconcelos. Deste casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) Camila, que se casou com Manoel dos Santos, foram
morar no Brejo da Paraíba; 2º) Santina, que se casou com
 208

Francisco Ferreira, foram morar na Serra do Doutor; 3º) Maria

Leônidas de Jesus, que se casou com Tomaz Alves dos Santos,
em primeiras núpcias dele, moraram no sítio Namorados. Foram
pais de uma grande família que irei me referir em outro capítulo.
Ângelo casou-se em segundas núpcias com Guilhermina
Demétrio de Assunção Machado, filha de Manoel Tomaz
Machado, este natural de Brejo da Areia, filho de Custódio José
de Machado Guimarães e Cândida da Cunha Lima Guimarães.
Custódio, português; Cândida, irmã do Coronel José da Cunha
Lima, de Brejo da Areia.
Do casal Ângelo e Guilhermina nasceram os seguintes
filhos: 1º) Joaquim Alves do rego, que se casou com Josefa
Cecília da Conceição; 2º) Elias Alves do Rego, que se casou em
Currais Novos, mas foi embora com a família para o Triângulo
Mineiro; 3º) José Alves dos Santos, que casou-se com Maria,
filha de Antônio Pangulino, irmão de Ângelo; 4º) Luiz Alves do
Rego, que morreu solteiro; 5º) Enoques Alves dos Santos, digo,
Luiz Enoques dos Santos.

Família Alves dos Namorados

A família Alves dos Namorados teve por tronco Tomaz

Alves dos Santos, (Tomaz Targino) que nasceu no Município de
Bananeiras, na Paraíba. Filho de Targino Lopes do Amaral e
Joana da Conceição. Veio para o município de Currais Novos em
1895, com 19 anos de idade, e ficou na casa de seu tio, Manoel
Lopes, que morava na Várzea dos Bois, onde era professor
primário.
Tomaz procurou o tio, porque queria aprender a ler e
escrever. O tio ficou muito satisfeito e ensinou-lhe com muito
prazer, porque Tomaz era muito trabalhador e o ajudava nas
lutas da lavoura. Tomaz aprendeu logo, tanto é que em 1896, já
ensinava um turno na escola de Manoel Lopes, na Várzea dos
Bois.
Quando Tomaz começou a estudar, Manoel Lopes foi
quem lhe deu o material didático: uma cartilha, “Meu Bom
Menino”, de Landelino Rocha e um caderno de papel pautado.
 209

Esta cartilha ele guardou enquanto viveu e ensinou a quase

todos os seus filhos, as primeiras lições nela. Eu mesmo fui um
dos que aprendi as primeiras lições na célebre cartilha, já quase
centenária e não tinha um sujo nem uma página rasgada.
Tomaz Alves dos Santos casou-se em primeiras núpcias
com Maria Leônidas de Jesus, filha de Ângelo Alves do Rego e
Maria Leônidas de Vasconcelos. Para casar teve que furtar a
moça e depositar na casa de seu Tomaz Pires, na Fazenda
Macacos, isto em 1897.
Em 1898, voltou para o brejo da Paraíba. Lá, comprou uma
propriedade chamada Boca da Mata, no município de Serraria,
mas a mulher não se deu com o clima do brejo, adoeceu, e,
então, ele voltou para o município de Currais Novos, comprou a
Fazenda Namorados ao Coronel José Bezerra, por um conto e
duzentos mil réis.
Deu de entrada seiscentos Mill réis e os outros seiscentos
pagou um ano depois. Aí nasceram quase todos os seus filhos,
com exceção de Severina que nasceu no brejo da Paraíba.
Do primeiro casamento de Tomaz Alves dos Santos com
Maria Leônidas de Jesus, nasceram os seguintes filhos:
1º) Severina Alves dos Santos, que se casou com Antonio
Brasiliano dos Santos, (Antonio Targino, irmão de Tomaz Alves
dos Santos, que se casou com Severina Dantas de Macedo); 4º)
Manoel Alves dos Santos, que foi embora para o Estado do Pará
e lá se casou, eu não sei com quem, nem quantos filhos teve; 5º)
Joana Alves dos Santos, que se casou com Manoel Felipe de
Lima; 6º) Antonia Alves dos Santos, que se casou com José
Rosendo Dantas, filho de Manoel Rosendo, em primeiras
núpcias e em segundas com Manoel Luiz, filho de Antonio Luiz,
um seu parente do brejo da Paraíba; 7º) Izabel Alves dos Santos,
que se casou com José Severiano; 8º) Ana Alves dos Santos,
que fugiu com o Negro Manoel Vitor de São Rafael. Casou e foi
envenenada pelo próprio marido junto com uma rapariga com
quem vivia amigado; 9º) Adelaido Alves dos Santos, que casou
com Maria Alves dos Santos, filha de Antonio Targino e Severino
seu irmão, casou-se com uma sobrinha; 10º) Maria Galiana
Alves, que se casou com Paulo Targino, filho de Francisco Pedro
e Alvelia, irmã de Tomaz Alves dos Santos; 11º) Maria Leônidas
Alves, que se casou com José Doutor. Esta, pela ordem de
 210

nascimento foi a 4ª, mas, eu coloquei em décimo primeiro lugar,

pela ordem de casamento; 12º) Raimunda Alves dos Santos, que
se casou com José Cardoso dos Santos, José Julião, irmão de
minha mãe, segunda esposa de Tomaz Alves dos Santos; 13º)
Olindina Alves dos Santos, que se casou com Manoel Alves de
Lima, filho de José Alves de Lima, “Seu Cazuza do Bom
Sucesso”; 14º) Josefa Alves dos Santos, que se casou com José
Cândido Alves, filho de Cândido Alves dos Santos e Maria
Francisca de Jesus. Ele irmão de Tomaz Alves dos Santos, ela
filha de Chiquinha de Melo, que era filha de Melo Choco; 15º)
Sebastião Alves dos Santos. Nasceram mais dois que morreram
crianças.
Tomaz Alves dos Santos casou-se em segundas núpcias
com Francisca Maria de Jesus, filha de Julião Cardoso dos
Santos e de Joana Maria da Conceição. Deste casal nasceram
os seguintes filhos:
1º) Maria de Lourdes Alves, que se casou em primeiras
núpcias com José Targino Alves, filho de Antonio Targino e
Severina, seu sobrinho, em segundas núpcias com José André.
Moram em Natal;
2º) Geraldo Alves, que se casou com Ana Veneranda da
Rocha, ficou morando nos Namorados; 3º) Julião, que morreu
ainda solteiro; 4º) Celestino Alves, que se casou com Rosilda de
Azevedo Alves, filha de João Venâncio de Azevedo e Josefa
Maria da Conceição; 5º) Ricarda Alves, que é solteira; 6º)
Sebastiana Alves, que se casou com Inácio Antonio de Oliveira,
filho de Salvador Antonio de Oliveira e Ana Cardoso dos Santos,
filha de Julião Cardoso dos Santos; 7º) Pedro Alves, que se
casou com Ilze de Lourdes Oliveira Alves; 8º) Josefa Nazaré
Alves, que se casou com Cícero Cândido Alves; 9º) Francisco
Alves, que se casou com Josefa Cândida Alves, em primeiras
núpcias e em segundas com Maria Cândida Alves, ambas filhas
de Manoel Cândido Alves; 10º) Judite Alves, que se casou com
José Batista dos Santos, moram em Uberlândia (MG), onde mora
também Sebastiana, casada com Inácio; 11º) Jonas Alves, que
se casou com Francisca das Chagas Alves, filha de Manoel
Chagas; 12º) Lourival Alves, que se casou com Lourdes Gadelha,
filha de José Gadelha.
 211

Lourival é filho de Raimunda e José Cardoso dos Santos,

mas como os dois morreram e ele ficou ainda criança, foi
registrado como filho de Tomaz dos Santos e Francisca Maria de
Jesus, por quem foi criado.
Cândido Alves dos Santos também é um dos troncos da
família Alves dos Namorados. Era irmão de Tomaz Alves dos
Santos, casou-se com Maria Francisca de Jesus, “Titia Preta”.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) Manoel Cândido
Alves, que se casou com Luzia, filha de Francisco Lopes
Macedo; 2º) Antônia Cândida Alves, que se casou em primeiras
núpcias com Luiz Alves de Melo e em segundas com João Anário
Filho, “Joca Anário”; 3º) Maria Cândida Alves, que se casou com
José Alves dos Santos; 4º) José Cândido Alves, que se casou
com Josefa Alves dos Santos.

Família Alves do Quinquê

A família Alves do Quinquê tem como tronco em Currais

Novos, Francisco Alves, filho de Francisco Alves do Poço do Pau,
na Paraíba. Francisco Alves casou-se com Umbelina, filha de
Manoel Dantas de Araújo. Do casal Francisco Alves e Umbelina
nasceram os seguintes filhos: Antônio Alves, Joaquim Alves,
Paulo Alves, Francisco Alves, José Alves e as filhas Maira,
Antônia, Ana, Sebastiana e Basília. Todos estão relacionados no
capítulo dos Dantas de Araújo.

Família Alves da Cacimba da Pedra

A família Alves da Cacimba da Pedra tem como tronco em

Currais Novos, José Alves de Lima que foi o pai de Manoel Alves
de Lima. Manoel Alves de Lima casou-se três vezes, duas com
duas filhas de Zeca Bezerra, Maria e Josefa e a terceira com
Ana, filha de Galdino Farias de Melo.
Manoel Alves de Lima, “Seu Né” foi o pai de Tomaz Alves
de Lima, “Tomaz Né”, José Alves de Lima, “José Né” e outros.
 212

Tomaz Alves dos Santos

Tronco da família Alves dos Namorados
 213

Família Alves de Currais Novos e Bom Sucesso

Tem outra família Alves de Lima em Currais Novos e Bom

Sucesso. Esta tem como tronco três irmãos: José Alves de Lima,
João Alves de Lima e Manoel Alves de Lima. Estes três rapazes
são naturais da Chã do Moreno, na Paraíba, hoje Solânea. Lá
ficou uma irmã, Rosalina, esta é a mãe de Leôncio Costa,
Belmiro e Olegário.
José Alves de Lima veio pata Currais Novos, solteiro,
casou-se com Rufina Maria da Conceição, filha de João Florêncio
de Lima, da Cacimba da Pedra. Deste casal nasceram os
seguintes filhos
1º) Manoel Alves de Lima; 2º) Horácio Alves de Lima, que
morreu solteiro; 3º) José Alves de Lima (Casusa do Bom
Sucesso), que se casou com Maria Joana de Araújo, filha de
Florêncio Bezerra de Medeiros. Deste casal nasceram os
seguintes filhos:
1º) Manoel Alves de Lima, que se casou com Olindina
Alves dos Santos, filha de Tomaz Alves dos Santos; 2º) José
Alves de Lima, que se casou com Ana, filha de José Piano; 3º)
Francisco Florêncio de Lima, que se casou com Estelita Lopes de
Medeiros Lima, filha de Manoel Lopes de Macedo; 4º) Alfredo,
que morreu solteiro; 5º) João Florêncio de Lima; 6º) Vicente
Florêncio de Lima, que foi embora para o Triângulo Mineiro e, lá,
casou-se; 7º) Antonio Alves de Lima, que foi para Minas Gerais e
lá casou-se.
Benigna, que se casou com Antônio Mozinho; Pedro Alves
de Lima, que se casou com Guilhermina, foram morar em
Jucurutu; Ernesto Alves de Lima, que foi sorteado para o Exército
e desertou, não se sabendo do seu paradeiro; Cícero Alves de
Lima, que se casou em primeiras núpcias com Amélia, filha de
Francisco Zisa, em segundas com Maria Umbelina de Jesus,
também filha de Francisco Zisa; João Alves de Lima, que se
casou com Salvina, filha de José Bento de Souza.
As filhas do casal José Alves de Lima e Rufina Maria da
Conceição: Miquelina, que casou com Martins; Martile, que casou
com Francisco Coco, foram morar em Afonso Bezerra; Maria, que
se casou com Félix Gambina, foi morar no Rio de Janeiro;
 214

Amélia, que morreu solteira; Joaquina, que se casou com

Possidônio, sendo o primeiro casamento de Possidônio. Não
houve filhos.
José Alves de Lima, quando veio do brejo, morou no Sítio
Riacho Fechado com Cassimiro José Dantas. Depois, em 1904,
voltou para o brejo da Paraíba. Quando voltou, morou no Sítio
Cacimba do Meio, com o Major Antônio Bezerra de Araújo até
1915, ano em que morreu.
João Alves de Lima, já veio do brejo casado com Ana
Nanã. Veio por causa de um problema que teve lá na Chã do
Moreno. Ele e seu filho, Manoel, foram atacados por três
indivíduos arruaceiros e na briga os três morreram. Ele veio com
Manoel para casa de Francisco Torres Brandão. De lá foi para a
casa de Tio Emídio de Santa Teresa. Depois foi para a casa de
Luiz Gonzaga, em Pendências, que também era seu parente
próximo; papai conseguiu com o Cel José Bezerra para ele ficar
morando no Totoró e depois trouxe sua família.
No Totoró, ficou vivendo sem problema. Muito direito e
muito trabalhador, quando morava no Totoró teve um problema
com Pedrinho Diogo. Pedrinho era muito valente. Ouvia-se dizer
que o velho João Alves também era valente e queria
experimentá-lo.
Mandou dizer ao velho que ia, no outro dia, em sua casa e
que ele o esperasse para brigar. O velho recebeu o recado, não
deu resposta nem o acomodou. Amanheceu o dia, o velho foi
trabalhar na Serra do Piauí, onde tinha roçado.
Pedrinho no outro dia chegou na casa de João Alves,
perguntou por ele, a mulher disse que ele tinha ido para o roçado,
na serra. Ele foi lá ao roçado, agrediu João Alves e brigaram
muito.
Dizem que amarraram as fraldas das camisas e se
esfaquearam até cair um para um canto, outro para o outro. Um
levou quinze facadas, o outro dezessete. Trouxeram os dois em
redes, mas nenhum morreu.
João Alves foi o pai de João Alves (o jogador), Manoel
Alves, que ficou morando em Pendências, Zuca, Ana e Bela.
Manoel Alves, irmão de João Alves, foi o pai de Juvino, pai
de Manoel de Juvino.
 215

Esses Alves descendem dos Alves Cavalcantes de

Bananeiras, na Paraíba, que são ligados a família Filgueira de
Castro. João Alves era primo de Emídio Alves Filgueira que foi o
pai de Francisco Emídio de Santa Teresa, em Santana do Matos
e de Luiz Gonzaga, um dos fundadores de Pendências. Era
também primo em segundo grau do meu pai Tomaz Alves dos
Santos.
Os troncos dessa família Alves são: Luiz Cavalcante Alves
e Ricardo Alves Cavalcante, ambos pernambucanos, que se
casou com duas filhas de João Filgueira de Castro e Mariana de
Araújo, em Bananeiras, na Paraíba, onde ficaram morando.

Família Bento

Em Currais Novos tem duas famílias Bento. Uma que

descende de Bento Avelino, que são os Bentos de Lima, outra
descende de Bento José de Souza, que são os Bentos de Souza.
A família Bento de Lima tem como tronco Bento Avelino de
Lima, que se casou com Maria, morou na Aba da Serra e foram
os pais de Manoel Bento, casado com Francisca Maria do
Nascimento. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Francisco Bento de Lima, casado com Edite, filha de
José Bento; 2º) Raimundo Bento de Lima, casado com Maria do
Carmo, filha de Francisco Cezário; 3º) Vicente Bento de Lima,
casado com Maria dos Milagres Lima; 4º) Bento Avelino de Lima;
5º) José Bento de Lima, casado com Maria Carmelita de Macedo;
6º) Antônio Bento de Lima, casado com Rita de Oliveira Lima; 7º)
Maria Bento de Lima, casada com José Reinaldo de Oliveira; 8º)
Artemisa Bento de Lima, solteira; 9º) Francisca, que morreu
solteira; 10º) Olindina Bento de Lima, casada com Antônio
Maneco.
 216

Família Bento de Souza

A família Bento de Souza em Currais Novos teve como

tronco Bento José de Souza, “Bento Celeiro”, casado com Dona
Antônia Faustino. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) José Bento de Souza, casado com Dona Carlota
Salvina de Souza, “Dona Nena”, que era filha de João da Cruz de
Maria. Deste casal nasceram os seguintes filhos: Manoel, que
faleceu ainda menino; Francisco, que também morreu menino;
Salvina, que se casou com João Alves; João Bento, que se casou
com Ana Filgueira da Silva;
2º) Luiz Bento de Souza, que se casou com Rita Humbelina
de Souza. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
Manoel Bento de Souza, que se casou com Dona Maria da
Luz; Luiz Bento, que morreu solteiro; Isabel Bento, que se casou
com João Benigno; Maria, que se casou com Francisco Zumba
Sobrinho; José Leôncio de Souza, que se casou com uma moça
de Florânia.
3º) Antonio Bento de Souza, que se casou com Elvira Maria
de Souza, filha de Florêncio Pereira. Deste casal nasceram os
seguintes filhos:
Luzia, que se casou com Leolino, filho de Joaquim Justino
Pereira; Floriano Bento de Souza, que se mudou para o Rio de
janeiro, ainda solteiro; Ana, que se casou com João Vicente;
Pedro Bento, que morreu solteiro; laurência, que se casou com
um rapaz de Natal.

Família Paulo da Marcação

A família Paulo em Currais Novos teve como tronco o casal

Pedro Paulo de Medeiros e Dona Maria Benta de Albuquerque.
Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Pedro Paulo, que se casou com uma moça de Araruna.
Dizem que era filha do padre Joel Esdras Lins Fialho; 2º) Antonio
Paulo, que também se casou com Júlia Fialho, irmã da mulher de
Pedro; 3º) Manoel Paulo, que se casou duas vezes: o primeiro
 217

com Dona Dilinha, “Titilha”, filha do Cap. Joca Jerônimo, o

segundo com Dona Teça; 4º) Francisco Paulo, que se casou com
Dona Sinhá; 5º) Irineu Leopoldo Dantas, que se casou duas
vezes, com duas filhas de Luiz de Medeiros Galvão, “Luca
Olhão”, a primeira com Dona Teresa e a segunda com Dona
Mariquinha; 6º) André Paulo, que se casou com Dona
Francisquinha; 7º) Ana Maria de Medeiros, que se casou com
Silvestre Garcia do Amaral, “Silvestre Macaco”; 8º) Dona
Anunciada Cândida de Medeiros, que se casou com Manoel
Garcia do Amaral, “Manoel Macaco”; 9º) Dona Dina, que se
casou com Luiz Galvão; 10º) Dona Mariquinha, que se casou
duas vezes: a primeira com Manoel Antônio. Deste casamento
nasceram quatro filhos: Pedro Antonino, João Leite, Maria Pires
Fernandes, que se casou com seu Elias Fernandes e Porfíria,
que se casou com Francisco Cassimiro.
Dona Mariquinha casou-se em segundas núpcias com
Manoel Petronilo Pereira, que foi o pai de Agenor Petronilo.
Esta família Paulo está praticamente desaparecendo em
Currais Novos, apesar de ser muito numerosa, mas não estão
conservando o sobrenome Paulo; está sendo substituído
gradativamente por outros sobrenomes de famílias.

Família Marques

A família Marques em Currais Novos teve como tronco

José Marques, casado com Maria Teresa da Conceição. Ele, filho
de José Justino da Silva e Antônia Maria de Jesus. Ela, filha de
Nicolau Ferreira de Araújo e Maria Eufrasina dos Santos.
José Marques da Silva e Maria Teresa da Conceição foram
os pais de Manoel Marques da Silva, que foi o pai de João
Marques da Silva, que se casou com Ana Teresa de Jesus.
Nasceram os seguintes filhos:
1º) José Marques, que se casou com Josefa Vicente; 2º)
Manoel Marques, que se casou com Luzia Carolina de Souza; 3º)
Pedro Marques, que se casou com Veneranda Carolina; 4º)
 218

Joaquim Marques, o “Quincas”, que se casou com Severina

Guedes; 5º Abedias Marques, que se casou com Estelita.
Ainda três filhas: Rita, Dina e Cabocla.

Família Sotero

A família Sotero em Currais Novos teve como tronco

Manoel Sotero e Teresa Sátira de Jesus, que moraram no Totoró
de Baixo, sítio que depois foi comprado por Lucas Pinheiro. Do
casal Manoel Sotero e Teresa Sátira, ou Sotero de Jesus,
nasceram os seguintes filhos:
1º) Antônio Sotero, que se mudou para o Curimataú, ainda
solteiro; 2º) Clementino Sotero; 3º) Manoel Sotero; 4º) Martinha
Sotero, que se casou com Lintro; 5º) Conceição Sotero, que se
casou com Olinto Costa; 6º) Severino Sotero; 7º) José Sotero; 8º)
Justina Sotero, que se casou com Manoel Costa Monteiro, “Seu
Manoel Costa, que vendia sal grosso na feira”; 9º) Maria Sotero,
que se casou com Chico Pequeno, “Francisco Alves Pequeno”;
10º) Júlia Sotero, que se casou com Joaquim Alves Pequeno;
11º) Joaquim Sotero, que se casou com Manoel de Rosalina; 12º)
Damiana Sotero, que se casou com Cícero Alves, filho de Neco
Alves; 13) Antonia Sotero, que se casou com Manoel Panema;
14º) Augusta Sotero, que foi embora para Pedra Lavrada ainda
solteira; 15º) Luzia Sotero; 16º) Pedro Sotero, “Pedrinho Cego”,
que morreu solteiro.
Esta família não teve tronco mais antigo em Currais Novos.
O casal, Pedro Sotero e Dona Teresa, veio de Itabaiana na
Paraíba, também quase não existe hoje este nome de família em
Currais Novos, porque a família do velho Manoel Sotero em sua
maioria eram mulheres e os netos não conservaram Sotero nos
nomes, tanto é que hoje é raro encontrar-se uma pessoa com o
nome Sotero.
O que não morreu foram as estórias de Pedrinho Cego e
de Manoel Sotero. Pedrinho era cego, mas vivia de trocar
animais no beco da troca; conhecia a cor e a idade dos animais,
não tinha quem lhe passasse um jumento cego.
 219

Certa vez, assisti a Sinhozinho Pinheiro querendo passar

um jumento cego em Pedrinho no beco da troca, ou talvez
tentando ver se de fato ele conhecia o animal cego. Pedrinho
chegou na feira, montado num burro e tangendo dois jumentos,
encangados um ao outro.
Sinhozinho que estava na feira da troca, chamou logo
Pedrinho dizendo: Pedrinho eu tenho um jumento famoso para
trocar com você. Realmente o jumento era famoso, graúdo,
gordo, até porque é muito normal o jumento cego ser bonito e
gordo, não trabalha! Pedrinho apeou-se, rodeou o jumento,
passou a unha nos dentes, passou a mão nas costas, apalpou as
orelhas e disse...  “É muito bonito e gordo”, mas saiu
balançando o dedo, dizendo que não... Sinhozinho perguntou: 
“Por que nós não trocamos, Pedrinho?”. Ele num jeito todo dele
disse:  “Que qui vai fazer dois cegos numa estrada?”.
Certa vez, Severino Dantas, que era meu cunhado,
apanhou um jumento de Pedrinho, no beco da troca. Pedrinho
também havia apanhado um, ali. No mesmo dia, Severino levou o
jumento para o trato de Santino, que era muito movimentado, e
soltou ele no meio dos outros.
Quando Severino terminou a feira foi pegar o jumento para
levar a feira para casa. Aconteceu que não conheceu mais o
jumento que havia apanhado de Pedrinho. O jumento era roxo e
havia muitos da mesma cor no quintal de Santino, Severino,
depois de procurar muito e reconhecer o jumento, notou que era
humanamente impossível, pois havia muitos jumentos parecidos
com o seu. Falou com Santino e explicou o problema. Santino
que era muito afobado, respondeu a Severino:  “Eu vou
conhecer seu jumento, se nem vi quando você botou aí no
curral? Vá procurar a pessoa de quem você apanhou para
reconhecer”.
Severino disse:  “Agora é que ficou difícil. Eu apanhei
esse jumento de Pedrinho Cego e ele também apanhou na feira.
Como é que ele vai reconhecer?” Santino no seu jeitão de
afobado disse:  “Vá lá, Pedrinho é cego, mas não é doido não”.
Severino meio desanimado foi lá falar com Pedrinho. Chegando
contou a história: não conhecia mesmo o jumento. Pedrinho
disse:  “Vamos lá, que eu conheço”. Severino ficou duvidando,
 220

mas foi assim mesmo. Pedrinho no curral, começou a apalpar os

jumentos, passando a mão no lombo de cada um. Quando
reconheceu o que fora dele, pegou no rabo, deu uma tapa no
lombo e disse:  “Pode levar este aqui, que é o que eu troquei
com você e ninguém lhe toma”. E realmente era.
O Major Antonio Bezerra gostava muito de brincar com
Pedrinho. Certa vez, ele vinha chegando da fazenda e Pedrinho
estava batendo papo, na bodega de Aprígio. O Major vinha num
cavalo castanho muito bonito, parou, brincou com Pedrinho,
pagou uma cachaça para Pedrinho, que se aproximou do cavalo,
passou a mão no pescoço e disse:  “Seu cavalo tá gordo Major”.
O Major saiu, chegando na frente da casa de Antônio Cardoso, o
mesmo estava com o cavalo selado ainda na porta. Só que o
cavalo dele era cardão, enquanto que o do Major era castanho. O
Major disse:  “Eu vou fazer uma brincadeira com Pedrinho, ver
se ele conhece mesmo cor de animais”.

Pediu o cavalo de Antônio, montou e deixou o dele lá e

voltou lá onde estava Pedrinho. Chegando, perguntou: 
“Pedrinho você não vai mais sair daqui não?”. Pedrinho disse: 
“Vou Major, mas é muito cedo ainda. O senhor ainda vai pagar
uma? O Major disse:  “Pois não, Pedrinho, pago até mais”.
Mandou botar outra cachaça para Pedrinho. Ele, antes de beber,
veio novamente passar a mão no cavalo do major. Aí, admirou-
se!  “Major, o senhor está danado para trocar, já trocou o cavalo
castanho?” O Major disse:  “Não Pedrinho, o cavalo é o
mesmo”. Pedrinho disse:  “Então, eu estou cego, porque seu
cavalo é castanho e este é cardão”. O Major saiu rindo e foi
pegar o cavalo lá em Antônio Cardoso, certo de que Pedrinho
conhecia mesmo as cores dos animais.
Assim existem inúmeras piadas de Pedrinho cego. Se a
gente quisesse escreveria um livro.
 221

Família Luciano

A família Luciano é uma família de pretos, mas

descendentes de escravos, que por suas qualidades foram livres
há cerca de 150 anos. Os Lucianos que existem aqui em Currais
Novos, todos descendem do casal: Luciano da Silva e Ana
Francisca. São os seguintes os filhos deste casal: João Luciano,
que se casou com Maria Macário; Pedro Luciano, que se casou
com Luísa da Conceição; Antônio Luciano, que se casou com
Josefa; Joaquina, que se casou com João Rodrigues, que
também descende de escravo.
O nome Rodrigues em João Rodrigues é porque foi criado
por Manoel Rodrigues, antigo proprietário da Fazenda Cacimba
do Meio; Sebastiana Luciano, que se casou com Manoel Garcia
dos Anjos, Manoel Garcia também não pertence à família Garcia
desta região. Era filho de Miguel Garcia e Isabel Garcia, que
vieram das Marrecas; Luzia Luciano, que se casou com Manoel
Paulino do Nascimento, filho de Rosalina Batista, da Serra de
Santana.
Dona Sebastiana era também a mãe de Manoel Rodrigues,
que morava no Alto do Caboclo. Manoel era o primeiro filho de
Dona Sebastiana. Quando ela se casou com Manoel Garcia já
tinha Manoel, Rodrigues. De Sebastiana e Manoel Garcia
nasceram os seguintes filhos:
1º) Pedro José Rodrigues, que se casou com Delfina Maria
da Conceição; 2º) Silvestre Garcia dos Anjos, que se casou com
Joaquina; 3º) Manoel Garcia dos Anjos, que se casou com Cícera
Paulina; 4º) Maria Sebastiana da Conceição, que morreu solteira;
5º) Ana Teresa de Jesus, que também morreu solteira.
Dona Sebastiana era uma preta velha, dessas que a gente
não esquece. Quando eu era menino vinha sempre com mamãe,
para fazer as primeiras sextas-feiras, vinha a pé, do Sítio
Namorados para a cidade.
Sempre que passávamos na cada dela, de ida ou volta,
entrávamos para descansar e beber água. A velha era uma
maravilha de pessoa, gostava muito de mamãe, me chamava
meu bichinho. Normalmente tinha qualquer coisa para me dar:
bananas, doces, bolo ou qualquer gulodice. Eu queria muito bem
 222

à velhinha. Ela já sabia que era certa nossa passagem na quinta-

feira de tarde e na sexta. Na parte da manhã, não havia perigo
dela não ter aquele agrado, um cafezinho para mamãe e uma
merenda para mim. Que Deus a tenha no céu, velhinha tão boa.

Família Batista

A família Batista em Currais Novos teve como tronco João

Batista da Silva e Dona Maria Batista. Ele, filho de Manoel Luiz
de Bulhões e Maria Zuza de Bulhões. A razão do sobrenome
Batista é porque ele nasceu dia de São João Batista. Todos os
outros irmãos conservaram o sobrenome de família: Luiz Zuza e
Bulhões. Do casal Manoel Luiz de Bulhões e Maria Zuza de
Bulhões, nasceram os seguintes filhos:
1º) João Batista da Silva, que se casou com Maria Batista,
filha de Laurindo. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
Francisco Batista, que se casou com Teresa Zuza; Manoel
Batista, que casou com Guilhermina; Maria Batista com Manoel
Tomaz de Araújo; Severina Batista com Francisco Zuza de
Bulhões; Luiz Batista com Severina Augusta; Isabel com Joaquim
Toscano, “Joaquim dos Paes”; Josefa, que foi casada com
Manoel Coro e depois viveu com Vicente Zuza; Ana Batista, que
se casou com Gabriel Barros; João Batista Filho, que se casou
com Suetônia Dalva de Castro Nunes; Francisca Batista, que se
casou com Messias Antônio; Vicente Batista que morreu solteiro;
Cecília Batista que se casou com Luiz Lucas.
2º) Aprígio, que se casou com Joana Maria da Conceição.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: José Aprígio; Manoel
Aprígio, que se casou com Maria Prachedes; Inácio Aprígio
casou com Isabel; Maria dos Anjos com Francisco Florêncio em
primeiras núpcias e em segundas com Manoel Avelino de Araújo;
Inácia Maria da Conceição, que se casou com Joel Pereira de
Araújo; Escolástica Maria da Silva, que se casou com José Luiz,
“Zé Caçador”.
3º) Luiz Zuza de Bulhões, que morreu solteiro; 4º Antônio
Luiz da Silva; 5º) José Luiz de Bulhões; 6º) Guilhermina Maria;
7º) Rita Maria da Conceição, que se casou com Antônio
 223

Laurentino dos Santos, “Antônio caçador”; 8º) Francisca Zuza de

Bulhões, que se casou com José Tibúrcio; 9º) Francisco Luiz da
Silva, que se casou com Maria Emília da Silva; 10º) Pedro Luiz
da Silva, que se casou duas vezes, o primeiro com Regina
Bezerra da Silva, e o segundo com Francisca Negreiros de
Bulhões.
Esta família Batista e Luiz é muito numerosa hoje em
Currais Novos, apesar de ser uma família praticamente nova,
muito conhecida por ser uma família de artistas. Papai dizia: 
“Onde tem um Batista tem um artista”.

Família Cosme Pereira

Tem no Município de Currais Novos, uma família Pereira na

região da Cruz e Mulungu. Esta família teve como tronco Cosme
Pereira de Santana e Dona Adriana Lins de Vasconcelos. Ele,
filho de Manoel Pereira Santana, de Jucurutu, ela do Totoró.
Deste casamento nasceram os seguintes filhos:
1º) Mamede Pereira de Santana, que se casou com
Antônia, filha de Antônio Inácio Casado e Angélica Maria da
Conceição; 2º) João Evangelista de Santana, casado com
Guilhermina, também filha de Antônio Inácio Casado; 3º) Egídio
Pereira de Santana, casado com Maricota, filha de José Paulino
e Delfina, irmã de Cosme Pereira; 4º) Manoel Osório de Santana,
casado com Maria Rosa, filha de Manoel Pegado Dantas Cortez;
5º) Eduardo Evangelista de Santana, casado com Inácia Maria da
Conceição, filha de João Garcia; 6º) Antonio Eduardo de
Santana, casado com Santina, filha de Manoel Egídio Pinheiro;
7º) Bartolomeu Aprígio de Santana, casado com Maria Lins de
Vasconcelos, filha de Manoel Egídio Pinheiro, “Seu Berto”; 8º)
Paulinho Avelino de Santana, casado com Maria, filha de Fausto
Florentino; 9º) Pedro Oscar de Santana, casado com Maria, filha
de Mamede Pereira, sua sobrinha. As filhas:
1º) Maria Lins de Vasconcelos, que morreu solteira; 2º)
Ângela Lins de Vasconcelos, que morreu solteira; 3º) Antônia
Lins de Vasconcelos, que se casou com José Maria, em
segundas núpcias dele; 4) Francisca Lins de Vasconcelos; 5º)
 224

Trinéia Lins de Vasconcelos, que se casou com Salvino Antônio

de Oliveira, em primeiras núpcias; 6º) Vicência Lins de
Vasconcelos, que também se casou com Salvino, em segundas
núpcias; 7º Sebastiana Lins de Vasconcelos, que se casou com
Sérvulo Garcia; 8º Inácia Lins de Vasconcelos, que se casou com
Salvador Antônio de Oliveira, em primeiras núpcias de Salvador.
A família Pereira de Cosme, Pereira, quase que
desapareceu. O apelido Pereira foi substituído por Santana,
Garcia e Oliveira.

Família do Coronel José Bezerra

O Coronel José Bezerra nasceu em 1843. Faleceu em

1926, foi o maior líder político de toda história de Currais Novos,
e que durou mais tempo na liderança. Casou-se com Dona
Antônia Bertina de Araújo e foi pai dos seguintes filhos:
1º) Antonio Bezerra de Araújo Galvão, “Major Antonio
Bezerra”, que se casou com Dona Rita Salustino Bezerra, Dota
Ritinha.
Desse casal nasceram os seguintes filhos: 1º) José
Bezerra de Araújo Galvão, “Dr. José Bezerra”, que se casou com
Dona Ivete de Sá Bezerra; 2º) Dona Amália Bezerra, que se
casou com o Dr. Ezequiel; 3º) Manoel Bezerra Galvão, “Janor”,
que se casou com Dona Francisca Gomes Bezerra. 2º) Napoleão
Bezerra Galvão, “Major Napoleão”, que se casou com Dona
Veneranda Gomes, “Dona Venera”, filha do Major Lula. Deste
casal nasceram três filhos: Dr José Bezerra Gomes, advogado,
poeta, e escritor, morreu solteiro, Poti Bezerra Gomes e
Bezerrinha. 3º) José Bezerra Galvão, que era paralítico e morreu
solteiro 4º) Geremias Bezerra Galvão, que se casou com Dona
Teresa Bezerra de Araújo.
Deste casal nasceram os seguintes filhos: 1º) Maria
Bezerra Galvão, “Maricota”, que se casou com Tomaz Galvão; 2º)
Antônia Anália Bezerra, que se casou com Félix Pereira; 3º) Nair
Bezerra Galvão, que se casou com Valdemar Araújo; 4º) Elza
Bezerra Galvão com José Galvão, “de Santa Cruz; 5º) Adália
Bezerra Galvão com Raimundo Dias de Sá, “Mundoca”; 6º)
 225

Crinaura Bezerra de Araújo com José Pires de Araújo, “Zé

Galvão da Estatística”; 7º) Alda Bezerra Galvão, que se casou
com Estácio Medeiros; 8º) Auta Bezerra Galvão, que se casou
com José de Medeiros Galvão, “Dedé de Quinino”.
Os homens foram: 1º) José Bezerra Galvão, que se casou
duas vezes, a primeira com Iracema campos de Pernambuco, e a
segunda com Efigênia Pereira; 2º) Lauro Bezerra Galvão; 3º)
Francisco das Chagas Bezerra, que se casou com Terezinha de
Tomaz Bezerra e foi embora para o Rio de Janeiro; 4º) Felix
Bezerra Galvão, que foi embora para o Rio de Janeiro, ainda
solteiro e casou-se por lá.

1º) Dona Isabel Bezerra Galvão, que se casou com

Francisco Braz de Albuquerque Galvão. Deste casal nasceram os
seguintes filhos: 1º) José Braz de Albuquerque Galvão, que se
casou com Dona Catídia, filha de João Alfredo Pires Galvão,
“Joca Pires”; 2º) Dona Josefa, que se casou com Manoel Lopes
Galvão; 3º) Dona Francisca, que também se casou com Manoel
Lopes, em segundas núpcias; 4º) D. Maria, que se casou com
Manoel Bezerra Fernandes; 5º) Sérvula Braz de Albuquerque
Galvão, que se casou com um filho de Manoel Jacinto; 6º) Dona
Auta Bezerra Galvão, que se casou com Moisés de Oliveira
Galvão. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) José Oliveira, que se casou com Dona Teresa Bezerra
Tino; 2º) Antônia Bezerra Galvão, “Bitônia”, que se casou com
José Salustino; 3º Dona Francisca Bezerra Galvão, que se casou
com Nelson Lima, em segundas núpcias; 4º) Dona Dina, que se
casou com Manoel Tenente; 5º) Dona Elvira Bezerra Galvão, que
se casou com Antônio Eduardo Bezerra “Tonheca Tenente”; 6º
Dona Maria Bezerra Chacon, que se casou com Francisco
Baldômero Chacon; 7º) Tomaz Galvão, que se casou com Dona
Maria Bezerra Galvão, “Dona Maricota”; 8º) Joel Galvão, que se
casou com Dona Francisca Diolinda Galvão; 9º Dona Francisca
Bezerra Galvão, que se casou com o Major Ladislau Galvão.
Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) José Leônidas, que se casou duas vezes: a primeira
com Libânia e a segunda com Dona Maria; 2º) Quintino Galvão,
que também casou-se duas vezes: a primeira com Dona Rita
 226

Pinheiro Galvão e a segunda com Valdenir Bezerra Galvão; 3º)

Dona Áurea Galvão, que se casou com Francisco Leônidas
Gomes de Assis, “Seu Assis”; 4º) Dona Aurina Galvão, que se
casou com Rainel Pereira; 5º Dona Auriceta Galvão, que se
casou com Benvenuto Pereira Filho, “Zuzu”; 6º) Dona Auleta
Galvão, que se casou com Joventino Pereira de Araújo; 7º) Dona
Auta Galvão, que se casou com Pedro Pereira; 8º) Dona Alda
Poti Galvão, que se casou com Alcindo Gomes de Melo, em
primeiras núpcias de Alcindo; 9º) Dona Teresa Bezerra Salustino,
que se casou com o Desembargador Tomaz Salustino Gomes de
Melo. Deste casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Dona Tonita Bezerra Salustino, que se casou com
Celso Barreto; 2º) Dr. Manoel Salustino neto, que se casou com
Dona Casmita; 3º) Dr. Sílvio Bezerra de Melo, que se casou com
Dona Débora Moreira Galvão; 4º) Edgar Bezerra Salustino, que
se casou com Dona Lenice; 5º) Dona Anália Bezerra Salustino,
que se casou com o Dr. Inácio Soares Barbosa; “Dona Niná”; 6º)
Dona Giseuda Bezerra Salustino, que se casou com o Dr. Mário
Moacir Porto; 7º) Dona Venceslina Bezerra Salustino, que se
casou com o Dr. João Dutra de Almeida; 8º) Dona Idália Bezerra
Salustino, que se casou com Arquimedes Aranha; 9º) Dona
Cleonice Bezerra Salustino, que se casou com o Dr. Pedro
Segundo; “digo”, com o Dr. Paulo Galvão; 10º) Dona Cordélia
Bezerra Salustino, que se casou com o Dr. Pedro Segundo.
 227

CAPÍTULO V

PESSOAS QUE FIZERAM A HISTÓRIA DE CURRAIS NOVOS

Seu Galvão

Francisco de Oliveira Galvão, seu Galvão, como era mais

conhecido em Currais Novos, foi um homem que marcou época
na nossa história, tanto pela maneira como atendia os fregueses,
no seu estabelecimento comercial, quanto pelo seu jeitão
simpático de tratar as pessoas.
O não é mais pra vender não, meu senhor, de seu Galvão,
tornou-se uma frase popularmente conhecida em Currais Novos.
Quase todos os dias se escutam nas calçadas e nos bate papos
de esquinas. Seu Galvão era um comerciante a moda antiga,
desses que só tinha um preço: para comprar ou para vender.
Comprava tudo que fosse lhe vender e vendia tudo que fosse lhe
comprar. Só não aceitava pechinchar.
Quando era para ele comprar, ele dizia por quanto pagava
a mercadoria; se o freguês dissesse não tem um preçinho melhor
não, seu Galvão, ele dizia:  “Não quero mais comprar não, meu
senhor”. A mesma coisa quando o freguês ia comprar, quando
pedia uma diferença de preço, ele dizia:  “Não é mais pra
vender não, meu senhor”.
Dizem que gostava de medir mal medido, costumava botar
o dedão da mão dentro da medida para desmanchar o coculo.
Quando o freguês reclamava, ele dizia:  “Não é mais pra vender
não, meu senhor”. Jogava lá e não vendia mais.
Certa vez, seu Adriano foi comprar duas cuias de farinha a
seu Galvão. Seu Adriano era um velho moreno claro, alto, forte,
dos olhos vermelhos como sabiá, brabo que só porco espinho.
Era o pai de Luiz Adriano e Benedito. Pernambucano, tinha vindo
para aqui, porque tinha alguns trabalhos lá em sua terra. Seu
Galvão mediu a primeira cuia de farinha, meteu o dedo
dentro da cuia, caiu o coculo. Seu Adriano não gostou, reclamou:
 “Meça direito, seu Galvão”. Seu Galvão, como de costume,
 228

jogou a medida dentro do caixão, puxou o saco da mão do velho

Adriano e disse:  “Não é pra vender não, meu senhor”. Seu
Adriano pulou para dentro do balcão, olhou bem nos olhos de seu
Galvão e disse:  “Meça direito, seu Galvão e bote a farinha
neste saco, porque eu estou precisando e só quem tem é o
senhor”. Seu Galvão olhou nos olhos de seu Adriano, que estava
vermelho como de sabiá, baixou a cabeça, mediu a farinha bem
medida, botou mais um pouco sem medir e ficou calado. Seu
Adriano pagou e foi embora.
Mais tarde, chegou na mercearia, Moisés, seu filho. Seu
Galvão chamou Moisés e disse:  “Moisés, pegue duzentos mil
réis, vá procurar seu Adriano e empreste este dinheiro a ele.
Diga-lhe que fui eu que mandei que é para ele carregar os burros
dele e diga que ele paga quando quiser e não paga juros”.
Moisés perguntou-lhe por que ia emprestar o dinheiro. Ele disse:
 “Porque quero, meu senhor. Ele é um homem bom e muito
valente. Esses homens assim a gente tem que ser amigo deles”.
Assim foi feito. Moisés levou o dinheiro, seu Adriano
aceitou, porque estava mesmo precisando. Ele negociava com
peixe da praia, carregava em burros para esta região. Seu
Galvão nunca mais quis receber o dinheiro de seu Adriano. Ficou
mesmo dado.
Seu Galvão não gostava que ninguém contrariasse sua
vontade, nem lhe desse palpites. Seu Elias Fernandes, quando
era solteiro morava mais Messias Lucas numa república. Os dois
eram jogadores. Seu Elias me contou muitas vezes, que quando
amanhecia liso, ia tomar dinheiro emprestado a seu Galvão para
jogar. Normalmente dez mil réis que era muito dinheiro naquele
tempo, mas para seu Galvão emprestar, era preciso Messias ir
atrás de seu Elias. Quando ele falava o dinheiro, Messias ficava
por trás, balançando com o dedo dizendo, que não emprestasse.
Ele quando levantava a vista, via o sinal de Messias, então ele
dizia:  “Empresto porque quero, meu senhor, o dinheiro é meu”.
Aí, pegava a nota de dez e emprestava a seu Elias.
Ele não aceitava sugestões, era sempre do contra. Em
1917, ele deu ao padre Antônio Brilhante, cinco contos de réis
para o serviço da Matriz, isto por ocasião da festa de Santa Ana.
O padre estava reformando a Matriz, alguém de sua família
 229

reclamou, porque era muito dinheiro naquele tempo. Ele então

deu mais cinco contos para a aquisição e instalação do relógio da
torre da Igreja. Quiseram impedir, porque ele estava deserdando
a família. Ele foi para o Cartório e passou a escritura da
propriedade também para a Santa e ainda inalienável por cem
anos. Dizem que também enterrou todo o dinheiro que tinha para
deixar a família de fato deserdada.
À proporção que o comércio de Currais Novos foi se
desenvolvendo, o negócio de seu Galvão foi diminuindo. Quando
ia alguém lhe comprar qualquer coisa, ele já sabia que no
comércio ninguém tinha aquele produto. Se custava dez tostões,
ele subia logo para mil e duzentos réis e assim sucessivamente.
Ninguém podia reclamar do preço porque vinha a célebre frase: 
“Não é mais pra vender não, meu senhor”.
Certa vez, João Gregório que tangia burro, ia fazer uma
viagem e precisou comprar milho. O preço do milho era dez
tostões a cuia. Ele procurou nas outras bodegas e não encontrou.
Só quem tinha era seu Galvão. Como ele precisava comprar
cinco cuias de milho, levou cinco mil réis. Chegando lá
perguntou:  “Quanto é a cuia de milho, seu Galvão?” Seu
Galvão respondeu:  “É mil e duzentos, meu senhor”. João que
precisava de cinco cuias, resolveu comprar quatro. Quando o
velho estava medindo o milho, João disse:  “Seu Galvão, se o
senhor fizer destoes eu compro cinco cuias”. Seu Galvão jogou a
medida dentro do caixão, despejou o milho que já tinha no saco e
disse:  “Não é mais pra vender não, meu senhor”. João Gregório
ainda insistiu, mas ele não vendeu mesmo.
João Gregório saiu meio desanimado. Encontrou Mamede,
que também tangia burros e eram muito amigos. Disse: 
“Compadre Mamede, você podia me fazer um favor, comprar a
seu Galvão quatro cuias de milho para mim? Contou a história a
Mamede. Então Mamede não fez questão e foi logo. Chegando lá
perguntou a seu Galvão se tinha milho. Seu Galvão respondeu
que tinha. Ele disse:  “Quero quatro cuias, seu Galvão”. Quando
começou a medir o milho, conheceu o saco e disse:  “Mamede,
você está comprando este milho para João Gregório e eu não lhe
vendo mais, já disse a ele que não vendia e não vendo mesmo”.
E João Gregório viajou sem o milho. Era desse jeito seu Galvão.
 230

Antônio Quintino de Araújo Medeiros

Antônio Quintino de Araújo Medeiros era filho do casal José

Fidélis de Araújo e Josefa Hermenegilda de Medeiros.
Nasceu no Sítio Barretas, no Município de Acari, em 31 de
outubro de 1883. Foi batizado no mesmo sítio, em 14 de
novembro do mesmo ano pelo padre Tomaz Pereira de Araújo,
então vigário do Acari, sendo seus padrinhos: Tomaz Pereira de
Medeiros e Theodora Maria de Jesus.
Seu Antônio Quintino, em sua mocidade, esteve em Currais
Novos por algum tempo, ensinando na Fazenda Fortaleza. Foi
um dos fundadores do Clube Literário Musical, inclusive foi quem
fez o discurso no dia da inauguração, em 25 de julho de 1905.
Casou-se em Acari, em julho de 1910, com sua prima
Edvirges Enedina de Araújo Medeiros. Voltou a Currais Novos
para fixar residência a 09 de dezembro de 1933, para exercer o
cargo de agente fiscal.
Participou ativamente de todos os movimentos culturais de
Currais Novos. Escreveu para todos os jornais que circularam na
cidade, desde “A Voz Potiguar” até a “Tribuna Estudantil”, que
circulou quando ele já tinha 80 anos de idade.
Foi agente fiscal e depois Escrivão da Coletoria Estadual
de Currais Novos durante 20 anos, além de mais 8 anos como
agente fiscal das cidades de São Vicente e São Tomé.
Homem de bem e moderado, desses que jamais fez mal a
ninguém, ou perseguiu, esposo modelar e pai exemplar, dessas
pessoas que, se não faz bem a todo mundo, também não faz mal
a ninguém.
Como eu me lembro de seu Antônio Quintino, já com as
pernas meio trôpegas, subindo para a Coletoria e lá dando
expediente normal. Só deixou de trabalhar quando foi
aposentado compulsoriamente, aos 70 anos de idade. Jamais
ouvi falar que reclamasse da vida ou dissesse que não estava
tudo muito bem.
Foi sócio fundador e secretário do Aero Clube de Currais
Novos. Foi quem construiu quase toda a Rua Major Sérvulo, pois
 231

construiu naquela artéria 13 casas, tendo sido o primeiro a

construir naquela rua. Antônio Quintino de Araújo Medeiros viveu
em Currais Novos mais de 34 anos, deixando os seguintes filhos:
Antônio Quintino Filho, que se casou com Francisca Pires
de Albuquerque. Enviuvando contraiu segundas núpcias com
Dorotéia Dantas Quintino. Maria Emília de Araújo; Isabel
Adeladina de Medeiros (Belinha); Eleonôra Medeiros de Araújo
(Léo), que se casou com Severino Sérgio de Araújo; José
Quintino de Medeiros, Edvirges Medeiros; Antonieta Medeiros;
Marta Medeiros Lopes, que se casou com José Pinheiro Lopes e
Rosália Medeiros.
Todos seguem seu exemplo de trabalho e dignidade.
 232

Antônio Quintino de Araújo Medeiros

Manoel Francisco dos Anjos, o Pioneiro

 233

Manoel Francisco dos Anjos era filho de Francisco

Rodrigues de Araújo. Nasceu em 1845, ano terrivelmente seco.
Seu pai era fazendeiro abastado na região, neto do Coronel
Alexandre Rodrigues, da Dorna. O seu nome por apelido de
família devia ser Manoel Rodrigues de Araújo, mas o nome do
pai era Francisco, ele ficou sendo mesmo Manoel Francisco dos
Anjos.
Nasceu na Várzea Grande, na Paraíba, mas, como seu pai
herdou terras aqui, tanto do Cel. Alexandre, como do Cap. Mor
Galvão de quem também descendia em linha materna, veio
Manoel Francisco ainda solteiro morar nesta região.
Foi talvez ele quem primeiro expôs mercadorias na feira de
Currais Novos, trazidas de outras regiões. Foi também dos
matutos, o que mais progrediu na época. Tinha várias tropas de
burros e ainda pagava frete aos outros matutos. Fazia comércio
desde o Ceará, o Brejo da Paraíba e Macaíba no Rio Grande do
Norte. Andava numa boa burra de sela, fazia compras e os
tropeiros transportavam para vender em Currais Novos.
Comprava algodão em caroço e transportava para Macaíba. Daí
porque resolveu comprar um motor de descaroçar algodão que
foi o primeiro vapor a caldeira do Município de Currais Novos.
Isto aconteceu em 1901.
O negócio foi feito por intermédio de Neco Freire, em
Macaíba, que mandou transportar até a Serra do Doutor num
carro de bois. Dali para o Totoró de Baixo foi transportado
também em carro de bois, por José Lourenço e Silvino Lourenço.
Foi instalado na Fazenda Totoró de Baixo por Manoel Tomaz de
Araújo, que também foi o primeiro maquinista. Este vapor coube
por herança a seu filho, José Francisco dos Anjos, que vendeu
ao Sr. Tomaz Galvão, em 1932, com a propriedade. O vapor
funcionou até 1947. Quando seu Tomaz Galvão vendeu a
propriedade ao Major Quintino e desmontou o vapor.
Manoel Francisco dos Anjos foi pioneiro também de outra
coisa que se tornou muito importante na nossa região. Foi ele
quem descobriu que adubando a areia do rio com estrume de
curral podia produzir batata doce e feijão de corda. Isto porque
em 1877, ele não podia viajar nos seus burros por falta de
 234

comida e água nas estradas. Então ele rebaixou a areia do rio

Currais Novos, nas imediações do Poço da Inácia. Plantou feijão
e batata doce e teve boa colheita. Daí por diante foi que se
aprendeu a fazer este tipo de plantação, que até hoje se usa com
bom resultado.
Manoel Francisco dos Anjos foi o pai de José Francisco
dos Anjos, Manoel Aleixo e Tutu.

Manoel Tomaz de Araújo, um Pioneiro

Manoel Tomaz de Araújo era filho de Manoel Tomaz de

Araújo e Maria Tomaz de Araújo. Nasceu em Jucurutu, em 12 de
janeiro de 1872. Casou em primeiras núpcias com Rita Avelina
de Góis, filha de João Lúcio de Góis e Ana Maria de Jesus,
naturais de Esperança, Estado da Paraíba. Deste casamento
nasceram os seguintes filhos:
1º) Maria Deocleciano de Araújo, que se casou com
Laurindo, filho de Laurindo Escrivão. Deste casamento não houve
filhos. Casou em segundas núpcias com Almínio Saldanha; 2º)
Leocádio Taumaturgo de Araújo, que se casou em primeiras
núpcias com Julieta Pires de Araújo; também não houve filhos no
primeiro casamento de Leocádio. Em segundas núpcias Leocádio
casou-se com Toinha. Deste casamento nasceram os seguintes
filhos: Lourdes, Rita, Ana e Tivinha. 3º) Olívia Deocleciana de
Araújo, que se casou com Manoel Francisco. Deste casal
nasceram os seguintes filhos: Ecília, que se casou com Valdemar
Pires de Souza; Edice, que se casou com um rapaz de Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo.
Do primeiro casamento de Manoel Tomaz de Araújo, só
nasceram esses filhos. Enviuvou em setembro de 1922. Em
outubro de 1923, casou em segundas núpcias com Maria Batista
de Araújo, filha de João Batista de Araújo (seu Batista). Deste
casal nasceram os seguintes filhos:
1º) Jonas Taumaturgo de Araújo, que se casou com
Laudécia, filha de Francisco Lucas; 2º) Judite Batista de Araújo;
3º) Ciro Batista de Araújo, que se casou com Judite Bento, filha
de João Bento do Picuí; 4º) Valdemira Batista de Araújo, que se
 235

casou com Geraldo Inácio Pinheiro; 6º) Izequias Batista de

Araújo, que morreu solteiro.
Manoel Tomaz de Araújo veio morar em Currais Novos em
1901. Quando foi convidado por Manoel Francisco dos Anjos
para montar um vapor de descaroçar algodão, no Sítio Totoró de
Baixo.
Foi o primeiro vapor a caldeira montado na região. Manoel
Tomaz montou o vapor e ficou trabalhando de maquinista.
Manoel foi muito útil. No seu tempo, no meio em que viveu, sabia
fazer de tudo: era topógrafo, tipógrafo, jornalista, mecânico,
pedreiro, carpinteiro e agricultor.
Como topógrafo fez o instrumento teodolito com que
trabalhava. Como tipógrafo, foi também quem montou em Currais
Novos a primeira tipografia em 1907. Como jornalista era ele
quem fazia o jornal O PROGRESSO. Era redator, proprietário e
gerente, também era jornaleiro, porque ele fazia o jornal e ele
mesmo vendia. Este jornal O PROGRESSO funcionou em
Currais Novos até 1913, quando ele mudou o nome para O
BATEL, que funcionou mais ou menos até 1918. Depois voltou
novamente O PROGRESSO, que ficou até 1918. Como pedreiro
ele fez uma das mais bonitas obras de arte de Currais Novos, a
gruta de Lourdes, na Matriz de Currais Novos. Em 1929, foi ele
também quem montou o relógio da torre da Igreja e fez o
aumento da torre de que já falamos noutro capítulo.
Não era católico, mas era imparcial no seu jornal como ele
mesmo dizia O PROGRESSO ORGAM IMPARCIAL. Eu vou
transcrever na íntegra um artigo de O PROGRESSO na visita
pastoral de 1920.

O PROGRESSO ORGAM IMPARCIAL

REDATOR: PROPRIETÁRIO E GERENTE MANOEL TOMAZ DE

ARAÚJO. ANO XIII – BRASIL – RIO GRANDE DO NORTE –
CURRAIS NOVOS, 26 DE NOVEMBRO DE 1920.

“VISITA PASTORAL”
 236

Avisada a vinda do Exmº. Senhor Bispo em visita Pastoral

à nossa Paróquia, grande era a ansiedade do povo, em ver pela
primeira vez e abraçar o nosso amado Diocesano. Em repetidos
anúncios lembrava o nosso zeloso vigário o interesse que todos
os católicos deviam tomar, ao sentido de fazer realçar a
imponência festival na recepção do príncipe católico da
Natalense. O Exmº. E Rvmº. Monsenhor D. Antônio dos Santos
Cabral. Aproximava-se o dia 24 de outubro e já se notava um
gáudio indesrréptivel, nas feições populares. Toda Vila delirava
em festa pelos arcos lindos de palmeiras armados nas avenidas
embandeiradas para a entrada do festejo.
Foi formada uma comissão de recepção pelo Rvmº.
Vigário. Partiram de automóvel, às nove da manhã de 24 de
outubro da povoação de São Vicente, o Exmº. Sr. Dr. Tomaz
Salustino, Juiz de Direito, o Cel. João Alfredo, Presidente da
Intendência, o Major Luiz Ulisses Lula, presidente vicentino, e
representante do comércio para receberem o ilustre Pastor e sua
comitiva, que chegaram aqui debaixo de efusivas manifestações
e calorosos aplausos, às 16 horas.
O povo em massa compacta, reunidas as diversas
corporações católicas, enchia as ruas da praça da entrada. S.
Excia. Revma., cuja chegada anunciou-a uma salva de 24 tiros.
Salva que levou ao espaço a grande nova feliz. Foi recebido ao
entrar na Vila pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, de
Cruz Içada; pelas Asas de Catecismo, Confraria de São Vicente
de Paula, Irmandade das Almas, Confraria Eucarística,
Apostolado da Oração do Sagrado Coração de Jesus com suas
insígnias e corpo de zeladores e zeladoras também com
insígnias de estandarte, todos formando bem organizado préstito,
em que notava muita ordem e muita harmonia.
A Filarmônica 31 de Maio executava magníficas peças de
seu repertório. Chegados à residência paroquial, S. Excia. Sr.
Bispo e sua comitiva seguiu-se a pastoral coletiva e pontificial
Romano. Ao apresentar-se o Exmº. Sr; Bispo Diocesano
paramentado e debaixo do Pálio para seguir a Matriz, foi saudado
pelo Major Vivaldo Pereira de Araújo, que sabiamente interpretou
os sentimentos do povo. Certo do que vinha fazer S. Excia.,
seguiram as irmandades, associações católicas, o clero palio,
 237

música, o préstito. Continuou-se a observar a pastoral e

pontificial Romano.
Ultimados as cerimônias do rito, falou S. Excia. Revma.,
agradecendo as manifestações que se acabavam de lhe ser
tributadas, dando instruções sobre a visita. Encerrados os atos
religiosos pela Benção do Santíssimo Sacramento, voltou S.
Excia. acompanhado pelos associações católicas, Clero e povo,
a presidência paroquial, onde hospeda-se. Depois de ligeiro
descanso, seguiu-se o jantar dos recepcionados, no qual
tomaram parte, a convite do Revmo. vigário, o Exmº. Dr. Tomaz
Salustino, Cel. João Alfredo e Majores: Luiz Ulisses e Vivaldo
Pereira de Araújo. S. Excia. Revma. e sua comitiva repousaram
durante o dia 25, iniciando os trabalhos na noite daquele dia. A
felicidade de hospedar os factores do bem, continuadores da
Missão Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo. A nossa antítese,
no pequeno tempo que permaneceu entre nós, nos proporcionou
inúmeros benefícios e ficou conhecendo de perto o povo, que
muito admira, na virtude de civismo e de fé de S. Excia. Revma.
Registramos aqui com prazer, os salutares frutos da visita
pastoral e tantas missões:
Crisma ............................................................... 1.513
Comunhão de homens....................................... 1.468
Comunhão de mulheres..................................... 3.522
Total......................................................... 4.990

Casamento de pessoas que viviam ilicitamente unidas, 2.

Casamentos de contrato, 1.

Fundou S. Excia. Revma., mais uma conferência Vicentina

com 40 sócios. Nomeou 19 zeladores e 47 zeladoras, nomeou o
conselho da fábrica, composto dos Srs. Luiz Ulisses da
Circuncisão Lula, Vivaldo Pereira de Araújo, Abílio Chacon, José
Domingues de Carvalho e Tomaz Silveira de Araújo. Nomeou a
diretoria da caixa escolar: O Revmo. Vigário padre Antônio
Brilhante de Alencar; Exmº. Dr. Tomaz Salustino, Luiz Ulisses
Lula, Abílio Chacon. Nomeou a comissão para as obras da
Catedral: O Revmo. Vigário padre Antônio Brilhante de Alencar, o
Cel. José Bezerra de Araújo Galvão, o Exmº. Dr. Tomaz
Salustino e os Majores, Luiz Ulisses e Vivaldo Pereira de Araújo,
 238

Francisco Cândido de Oliveira Mendes, Manoel Pinheiro Galvão,

Felizardo Cândido de Macedo, Sebastião José de Maria, Cel.
João Alfredo Pires Galvão, Manoel Salustino Gomes de Melo,
Manoel Pegado Dantas Cortes, Pedro Dantas e Luiz Gonzaga de
Medeiros, Izaias Xavier, João Plácido, Antônio Lopes de Macedo,
Manoel Joaquim de Maria Santana e Elias Fernandes.

Convocando S. Excia. Revma., o Conselho de Intendentes

conseguiu fazer a transferência da feira que era aos domingos
para as segundas feiras a começar do dia 15 de novembro,
quando realizou-se a primeira.
Observação: O jornalista ainda fala da comitiva de S. Excia.
Revma., citando inclusive os nomes, faz comentários elogiosos,
diz as pessoas que acompanharam de Currais Novos a comitiva,
mas eu não consegui ler, em virtude do jornal estar muito
estragado nesta parte, faltando nomes completos de pessoas.
Por aí se vê que Manoel Tomaz de Araújo foi um homem
realmente imparcial, como ele mesmo diz em seu jornal. Não era
católico como todos nós sabemos, mas neste artigo do seu jornal
não deixou transparecer um menor detalhe que se pudesse
entender, qual seria o seu credo religioso. Também se vê que
Manoel Tomaz era um homem caprichoso, tudo que fazia era
bem feito, fosse como pedreiro, carpinteiro, mecânico ou
jornalista, era um autodidata, mas realmente sabia ler e escrever.

Professor Chico Rosa

Francisco Rosa dos Santos nasceu no Acari, filho de Rosa

Felicidade Perpétua. Veio morar em Currais Novos em 1898, no
Sítio São Sebastião, propriedade de Cassimiro José Dantas, por
quem foi contratado para ensinar à sua família e demais meninos
da vizinhança. Já era casado com Catarina desde 1892. Catarina
era filha de Paula, que foi escrava de Antônio Pereira de Araújo,
pai de padre Tomaz Pereira de Araújo. Ela teve duas filhas, que
dizem ter sido do padre, pois foi quem criou as duas meninas e
casou Catarina com Francisco Rosa, em 1892.
 239

Francisco Rosa, aqui chegando, fundou a Escola de São

Sebastião em 1898. A Propriedade foi vendida a Ladislau Galvão,
mas, ele ficou morando e ensinando até 1926, quando a
propriedade já pertencendo ao Sr. José Leônidas.
Ele morou e ensinou em São Sebastião de 1898 até 1926,
vinte e oito anos consecutivos, o que foi suficiente para ensinar
os filhos dos seus primeiros alunos.
Em 1926, mudou-se para Caboré, hoje Frei Martinha, onde
também lecionou e foi delegado local.
Em 1928 mudou-se para a Fazenda Aba da Serra, já sendo
proprietário Doutor Tomaz Salustino Gomes de Melo, por quem
fora chamado para lecionar, onde ficou ensinando e trabalhando
na agricultura durante 13 anos, até 1941, quando se mudou para
o Sítio Riacho fechado, uma propriedade de Francisco Cassimiro,
onde também ensinou até 1944.
Neste mesmo ano, a convite do Sr. José Leônidas, foi
morar e ensinar na Mina Barra Verde.
Francisco Rosa deixou em Currais Novos uma família
numerosa com 14 filhos:
1º) Maria, que se casou com Francisco Procópio; 2º)
Francisca, que se casou com Sebastião José; 3º) Teresa, que se
casou com Severino Sabino; 4º) Ana, que se casou com Antônio
Né; 5º) Inácia, que se casou com Antônio Liberato; 6º) Edvirgem,
que se casou com Antônio Benedito; 7º) Adelaide, que se casou
com Severino Pereira; 8º) Adelina, que se casou com José
Marcial; 9º) Rosa, que se casou com Pedro Bôa; 10º) Rita, que
se casou com Antônio Liberato, em segundas núpcias; 11º)
Anunciada, casada com Arnaldo Garcia; 12º) José Rosa, que se
casou com Cícera Maria dos Santos; 13º) João, que morreu
solteiro; 14º) Manoel, que morreu solteiro.
Francisco Rosa enviuvou em 1935. Casou-se em segundas
núpcias com Maria Garcia, que era também viúva de Pedro
Garcia, na Mina Barra Verde. Ele também ensinava. Enviuvou a
segunda vez em 1948, mas ficou morando e ensinando na Mina
até quando morreu, em 1953.
Quando eu comecei a pesquisar a vida de Francisco Rosa,
era convicto pelas informações que tinha, de que ele era filho do
Padre Tomaz Pereira de Araújo, mas depois descobri que não
tinha fundamento a versão.
 240

O certo é que era genro do Padre Tomaz de Araújo,

Catarina, sua primeira mulher é que tudo indica que era filha do
Padre Tomaz.
Francisco Rosa, tudo indica que era filho de Antônio
Honorato com Rosa Felicidade Perpétua. Antônio Honorato era
fazendeiro em Acari e parente próximo do Padre Tomaz de
Araújo. Também não deve ter sido o Padre Tomaz de Araújo
quem fez o casamento de Francisco Rosa, porque o vigário do
Acari em 1892 era Padre Pinto, o Padre Tomaz de Araújo já
estava muito velho e doente.
Ele foi um homem por demais merecedor de um lugar de
destaque na nossa história, porque foi professor mais de 50
anos. Na Zona Rural, ensinou a muitos filhos desta terra que
cursaram faculdades e foram pessoas de destaques.
Além de professor, era músico e poeta. Na festa do
Congresso Eucarístico em 1937, ele trouxe a Escola da Aba da
Serra e nos desfiles das Escolas, cada escola cantava o Hino Rei
Eterno. Quando a Escola da Serra cantou o Hino, chamou a
atenção de todo mundo, ele de batuta na mão, maestrava o Hino,
e os meninos cantavam.
Francisco Rosa era tão grande que sofria de asma e
andava, normalmente assoviando para despistar a doença. Foi
também ferreiro e agricultor. Ele era um homem simples, mas,
culto, muito modesto, mas muito decente. Viveu toda a sua vida
educando e fazendo amigos.

Roteiro de uma mesa que pertenceu ao casal Cipriano Lopes

Galvão e dona Adriana Lins de Holanda

Dona Adriana enviuvou em 1763. Casou-se em segundas

núpcias com Félix Gomes e ficou morando na Fazenda Totoró,
onde nasceu o único filho do casal, Felix Gomes Pequeno.
Depois da morte de Félix, dona Adriana casou a terceira vez,
com o Cel. Antônio da Silva e Souza. Foi morar em Caicó,
deixando o filho com o Cap. Mor Galvão, na Fazenda Totoró.
Este terminou de criá-lo e casou-o com sua filha, Ana Lins de
Vasconcelos, cujo casal ficou morando na Fazenda Totoró.
 241

Os móveis que pertenceram ao casal Cipriano Lopes

Galvão e dona Adriana, com exceção da borracha de beber água
e um jogo de malas de pregaria, que ela levou para Caicó,
ficaram todos na casa grande da Fazenda Totoró.
No inventário de Félix Gomes Pequeno, a mesa coube por
herança a seu filho: José Lopes Pequeno, que era casado com
dona Rita Bezerra. Deste casal, além de outros filhos, tinha uma
chamada Ana Maria da Conceição, que se casou com José Pio
de Medeiros.
No inventário de José Lopes Pequeno, a mesa coube por
herança a Ana Maria da Conceição, que fez doação a sua filha
Teresa, quando se casou com José Dantas de Araújo e veio
morar na Fazenda Namorados.
Quando José Dantas vendeu esta fazenda a Lucas
Pinheiro, seu genro, porque resolveu mudar-se para Pau dos
Ferros, a convite de seu filho Francisco Dantas, era muito difícil
conduzir a mesa. Então, deixou-a com seu filho Cândido Dantas,
que também era fazendeiro nos Namorados.
Dona Teresa, “Tetê”, como era conhecida, quis dar a mesa
a meu pai, Tomaz Alves dos Santos, que eram vizinhos e muito
amigos, mas contou a história da mesa, que havia pertencido a
sua trisavó, dona Adriana. Então, papai aconselhou-a a deixar
com Cândido Dantas, seu filho, por se tratar de um objeto de
tradição de família e assim foi feito.

O passeio da mesa na Serra de Santana e Saco da Areia

Cândido Dantas comprava borracha na Serra de Santana,

então levou a mesa para servir de birô. Passada a época da
borracha, a mesa veio para o Saco da Areia para a casa de seu
Manoel Menino, sogro de Cândido Dantas. Daí veio para a casa
de Dona Mariinha, filha de Cândido Dantas, casada com Sérvulo
Berto.
 242

Lucas Pinheiro, ou Lucas de André

Lucas Pinheiro era casado com Dona Antônia Dantas de

Araújo, ou Antônia Dantas Pinheiro. Morou muitos anos no Sítio
Namorados, foi sempre um homem de bem e trabalhador. Tinha
uma família numerosa. Quando era mais moço, gostava de
comprar e vender animais, participava às vezes, do famoso beco
da troca e também costumava trocar animais com os próprios
filhos, especialmente com Zeca e Roldão.
Certa vez, Zeca apanhou na feira um jumento cego e ele
sabia. Normalmente o jumento é mais bonito de longe do que os
outros, porque não trabalha. Então, é sempre mais gordo.
Ele chegou em casa mais cedo nesse dia, botou o jumento
no curral, armou uma rede no alpendre e ficou se balançando.
Seu Lucas chegou um pouco mais tarde, mas ainda era dia 
mais ou menos cinco horas da tarde , viu o jumento no curral,
olhou meio de longe, achou muito. Perguntou a Zeca:  “De
quem é esse jumento? É seu Zeca?”  “É que eu dei uma
lascada num ‘cabra’ lá no beco apanhei em chá preto”. Seu
Lucas lá mesmo do alpendre, disse:  “Vamos trocar em
roxinho?” Zeca disse:  “Troco, a volta é que faz o anzol”. Seu
Lucas perguntou:  “Quanto você quer de volta?” Zeca disse: 
“O senhor volta cinquenta”. Seu Lucas disse:  “Volto vinte, quer?
Pegue”. Zeca levantou-se, olhou direto o jumento do velho e
disse:  “O senhor volta trinta”. O velho disse:  “Não, volto vinte
e mais nem um tostão”. Zeca disse:  “Tá trocado. Me dê esse
dinheiro”. Seu Lucas meteu a mão no bolso, passou-lhe a nota de
vinte mil réis. Nem foi lá mais olhar o jumento.
Levantou-se cedo e foi encangalhar o jumento para ir
buscar uma água de ração, na vazante. Foi quando notou que o
jumento era cego. Chamou Zeca, que ainda estava dormindo e
disse:  “Zeca, o jumento que você trocou comigo é cego. O
negócio está desfeito”. Zeca disse:  “Eu não destroco nem na
ponta da faca; troquei, tá trocado”. O velho ponderou...  “Mas
você tem coragem de passar um jumento cego no seu pai”. Zeca
disse:  “O senhor é trocador de beco, não olhou logo, porque
não quis. Eu já disse, não desmancho de jeito nenhum”.
 243

O velho esfregou os olhos e disse:  “Também o filho que

passa um jumento cego no pai, fica amaldiçoado de Deus, da
Virgem Maria, das Onze Mil Virgens, dos Doze Apóstolos, de pai,
de mãe, de padrinhos e dos frades companhia em roda”. Zeca
disse:  “Não me importo, posso ficar amaldiçoado até do diabo,
mas não destroco”. Seu Lucas ficou mesmo com o jumento cego
e foi passar em outro no beco.

Mas não foi só esta a boa de Seu Lucas: têm muitas outras

Quando Vivaldo Pereira criou a Cooperativa Banco Rural

de Currais Novos, Seu Lucas foi lá tomar quinhentos mil réis
emprestados. Chegou, disse:  “Compadre Vivaldo, eu vim aqui
tomar quinhentos mil réis emprestados no seu banco”. Vivaldo
Pereira com aquele jeitão de diplomata, que sempre lhe foi
peculiar, disse:  “Pois não compadre Lucas, estamos aqui à sua
inteira disposição”. Então foi fazer o cadastro de Seu Lucas para
associá-lo na Cooperativa. Começou as perguntas normais que
se faz para preenchimento do cadastro.
Perguntou quantas propriedades ele tinha, Seu Lucas
respondeu:  “Tenho três: Totoró de Cima, Totoró de Baixo e
Namorados”. Perguntou:  “Quantas casas na cidade?” e ele
respondeu... tantas, ele anotou. Perguntou quantas rezes?
Quantos animais de outras espécies? Seu Lucas já não gostou
muito e disse:  “Compadre Vivaldo, sabe de uma coisa, pegue
tudo quanto eu tenho e empenhe aí por quinhentos mil réis, que
quando for segunda-feira eu pago, que diabo de história
comprida, meu senhor. Eu venho lhe tomar quinhentos mil réis
emprestados e você vem querendo saber de tudo quanto eu
tenho?”
Vivaldo tentou explicar, seu Lucas não quis mais saber de
nada, disse:  “Se você não tiver me diga logo que eu vou tomar
a compadre Zé Bezerra, que não tem essas exigências”. Vivaldo
Pereira, com aquela calma, foi lá, trouxe os quinhentos mil réis e
a promissória pra seu Lucas assinar. Ele disse:  “E depois de
 244

tudo isso ainda precisa assinar papel? Seu negócio é mais

amarrado de que bomba de foguetão”.
Na outra semana, seu Lucas veio pagar os quinhentos mil
réis. Vivaldo Pereira disse:  “Não compadre, você só paga no
fim do ano, depois da colheita”. Seu Lucas disse:  “É, o seu
dinheiro é custoso, mas o prazo até que é bom”.

Seu Lucas no Banco do Brasil

Quando o Banco do Brasil abriu agência em Currais Novos,

Eustáquio dos Santos Lima era o fiscal, mais que um fiscal, era
uma espécie de relações públicas do Banco, pois tinha a função
de fazer as aproximações dos proprietários rurais com o banco, e
como era eficiente, era uma beleza de gente, aquela conversa
franca e convincente, trazia mesmo os proprietários para a
agência.
E, entre outros argumentos, dizia aos proprietários:  “O
Banco do Brasil é de vocês. Peguem os documentos de suas
propriedades, cheguem lá, empurre a porta da Gerência, deem
uma cusparada no chão, joguem os documentos na mesa do
gerente e digam:  “Vimos fazer os nossos empréstimos”.
Com isso, Eustáquio levantou a agência em Currais Novos,
familiarizou os proprietários com o Banco do Brasil.
Seu Lucas morava no Totoró de Baixo, bem na beira da
estrada. Acho que era o único fazendeiro que ele não havia ainda
conseguido levá-lo ao Banco do Brasil, isto já no terceiro ano de
funcionamento da agência.
Eustáquio sempre que passava na estrada, parava e
conversava com seu Lucas, tentando convencê-lo a fazer um
empréstimo. Mas, a conversa se Seu Lucas era sempre a
mesma:  “Eu não quero tomar dinheiro em banco, o que eu
tenho já dá pra comer até o fim da morte, eu, um magote de
homens preguiçosos, não querem trabalhar e eu não vou tomar
dinheiro em banco pra sacrificar o que tenho”.
 245

Mas Eustáquio tanto fez que convenceu seu Lucas a fazer

um empréstimo de investimento para comprar bois de cultivador,
fazer cercas, desmatamentos e etc., etc.
Seu Lucas foi ao banco, levou os documentos e fez o
empréstimo. Seu Laurentino Pereira foi quem o apresentou. Eram
compadres e amigos, foi tudo muito fácil. Seu Lucas disse:  “É,
eu vou fazer esse empréstimo só para satisfazer aquele moço,
que é gente muito boa”. Pegou o dinheiro, amarrou no cordão,
botou no fundo do baú.
Não comprou boi, não fez cercas nem desmatamento.
Passaram-se alguns meses, Eustáquio foi substituído por
Sombra na fiscalização. Quando Sombra foi fiscalizar a aplicação
do dinheiro de seu Lucas, ou seja, da execução do projeto, ele
não tinha feito nada.
Sombra fez um relatório para o banco, pedindo a devolução
do dinheiro. Como de praxe, dentro de 48 horas. Seu Laurentino
foi avisado e ficou surpreso, foi falar com Seu Lucas. O
empréstimo estava muito longe de vencer, o prazo havia sido de
dois ou três anos. Seu Lucas disse a Laurentino:  “Compadre,
eu não fui pagar ainda, porque tá muito longe de vencer o
prazo...”. Seu Laurentino perguntou se ele tinha o dinheiro para
devolver ao Banco. Ele disse:  “Eu não gastei nem um tostão. O
dinheiro dele tá aí. De tarde eu vou conversar com ele”. Seu
Laurentino explicou que ele tinha que devolver o dinheiro.
O Gerente do Banco era seu Luiz Benévolo, um moreno
muito educado, gente muito boa. Seu Lucas ficou chateado com
o Gerente, pegou o dinheiro, botou no bolso e foi lá, falar com
ele.
Chegando ao Banco, empurrou a porta da gerência e disse
a seu Luiz.  “O Senhor mandou me chamar para pagar o
empréstimo, o negócio que eu fiz com o senhor foi para pagar o
ano que entra, no fim do ano e você já mandou cobrar agora?
Que homem sem palavra é você? Eu só fiz esse negócio por
causa daquele moço que exigiu muito, mas eu não estava
precisando do seu dinheiro não. Mas vou logo lhe dizer, se fosse
com você eu não tinha feito, porque não gosto de negro e nem
homem que se quebra em negócio”. Pegou o pacote de dinheiro,
jogou em cima da mesa do gerente e disse:  “Taí seu dinheiro,
 246

pode socar no cu, eu não precisei de gastar nem um tostão”. O

gerente apesar de muito educado ficou surpreso, tentou explicar
que eram normas bancárias, mas seu Lucas não quis saber de
nada. O gerente ainda disse:  “O senhor vai pagar no caixa”! Ele
pensou que caixa era outra coisa, porque já havia sido sócio da
Cooperativa Caixa Econômica de Currais Novos, então disse: 
“Que caixa meu senhor? Eu não tenho negócio em caixa
nenhuma, não devo a ninguém”, e saiu apavorado. Seu
Laurentino, que estava presente, pediu desculpas ao gerente,
pegou o dinheiro e fez o pagamento.
Seu Lucas era assim. Gente muito boa, mas, às vezes, se
afobava e era muito positivo. Eu gostava muito dele. Quando ele
estava já muito doente, eu fui visitá-lo, ele conversando comigo,
disse:  “Celestino, eu acho que nós somos quase da mesma
idade”. Eu disse:  “Seu Lucas, eu sou mais moço do que o seu
caçula”. Ele disse:  “Ó, homem, eu me engano, eu queria falar
de compadre Tomaz”. Tomaz era meu pai e já havia morrido há
muito tempo. Foi a última visita que fiz a seu Lucas, dias depois
ele morreu.

Manoel Sotero

Manoel Sotero era irmão de Pedrinho, filho do velho Pedro

Sotero, o homem mais andador do mundo. Andava até 40 léguas
por dia, vivia de tanger e carregar correspondência. Quando
ainda não tinha correios e telégrafos em Currais Novos, ele era
quem carregava correspondências para Lages, onde tinha
agência dos correios. Ia de Currais Novos a Lages e voltava em
um dia, tangia gado do Major Lula Gomes de Currais Novos ao
Brejo da Paraíba. O Major tinha uma burra de sela muito boa.
Quando voltavam vinham juntos, ele a pé e o Major montado na
burra; dizem que de vez em quando ele dava uma tapa na
garupa da burra e dizia:  “Major, a burra parece que está
cansada”.
Certa vez, papai mandou, ele e José Tomaz, meu irmão,
deixarem uma boiada em Arara, na Paraíba. De Currais Novos
 247

até lá gastaram quatro dias. Chegaram no domingo à tarde,

entregaram a boiada, dormiram em Arara. Na segunda feira era
dia de feira em Arara. Amanheceu o dia, José foi fazer as
compras para comerem de volta. Na viagem, perguntou a Manoel
Sotero:  “Manoel, que devo comprar para a nossa despesa de
volta?” Manoel disse:  “Para mim basta uma rapadura e um
pouco de farinha para eu levar na mochila para beber água no
caminho, porque eu vou jantar em casa hoje”. José disse: 
“Você tá doido, Manoel. Nós gastamos quatro dias de lá para cá!”
Ele disse:  “É, mas foi tangendo gado, daqui pra lá é mais
perto!” E, insistiu que só queria mesmo uma rapadura e um
pouco de farinha.
José entregou a rapadura e a farinha, ele botou na mochila
e disse:  “Eu vou andando”. E despencou na estrada. José
demorou um pouco, comprou carne, queijo, rapadura e farinha,
encheu o alforje, arrevessou na garupa do burro e largou-se na
estrada.
O burro era muito acostumado a fazer essa viagem num
dia. José disse:  “Eu vou mesmo ver se Manoel anda mesmo
como o povo fala”. Soltou o burrão na estrada atrás dele. O burro
pendurou o pescoço no galope traçado e José disse:  “Eu deixo
já Manoel para trás”. Mas, foi engano.
Quando viajou 10 léguas, chegou na Barra de Santa Rosa
e nada de alcançar Manoel. A Barra era o lugar onde eles tinham
dormido quando iam com a boiada. Perguntou na casa do
rancho:  “Manoel Sotero passou por aqui?” O dono da casa
respondeu:  “Passou há pouco”. José soltou o burro na estrada
e engoliu mais de cinco léguas até chegar a Telha, outro lugar de
rancho. Já se iam quinze léguas, metade da viagem. José parou
na casa de rancho e perguntou:  “Manoel Sotero passou por
aqui?” O homem disse:  “Saiu nesse instante”. Aí era o ponto de
almoçar e descansar um pouco.
José mandou preparar um ligeiro almoço, deu água e uma
mochila de milho ao burro e largou-se na estrada novamente.
Quando passou em Picuí, parou numa bodega, perguntou por
Manoel e o dono disse:  “Tomou uma cachaça aqui e fez
carreira. Disse que vai cansar seu burro”.
 248

José soltou as rédeas do burro, passou Picuí, atravessou o

rio de Boa Vista, em seu Antônio Lucas, perguntou por ele e
disseram:  “Passou agora”.
José subiu a Serra das Umburanas, desceu para Currais
Novos, cruzou a cidade, quando na saída encontrou Sebastião
“Pé de Sapo”, que vinha do Totoró, perguntou por Manoel, ele
disse:  “Vai bem ali...” José avançou. Quando chegou na cruz de
Melania, avistou ele, esporou o burro, riscou perto dele e deu um
grito:  “Você vai com o diabo no couro pra correr, Manoel?” Ele
deu um pulo para a frente, balançou o couro da testa e disse: 
“Seu burro parece que vem cansado, José!” Era mais ou menos 6
horas da tarde, ambos haviam acabado de engolir 30 léguas de
viagem.
Em 1932, ano terrivelmente seco, Manoel Sotero foi
trabalhar na construção do açude Totoró. O engenheiro era Dr.
Gerson. Tomaz Lulu era encarregado, “feitor” e Manoel
trabalhava na turma dele.
Dr. Tomaz pediu a Tomaz um homem para ir à cidade levar
um recado urgente. Ele não teve outra alternativa e mandou
Manoel, que se apresentou a Dr. Gerson:  “Pronto, doutor,
Tomaz Lulu mandou que eu viesse para fazer uma viagem do
senhor à cidade”.
O Dr. Deu-lhe um bilhete para ele entregar no escritório da
cidade e levar a resposta. Ele veio muito ligeiro, a tal ponto que
quando chegou de volta, ficou na porta do escritório, esperando a
vez de esperar de falar com Dr. Gerson. O Dr. Levantou a vista e
pensou que ele ainda não tinha ido e falou meio grosseiro: 
“Que é que o senhor está fazendo aí? Não lhe mandei ir à
cidade?” Manoel disse:  “Não, doutor, eu já fui”! Entregou-lhe a
resposta do bilhete e só assim o doutor acreditou que ele já havia
chegado da viagem.
Desse dia por em diante, Manoel Sotero nunca mais
trabalhou. Ficou só a disposição do engenheiro para carregar
recado.

Joca Anário, Um Pioneiro

 249

João Anário Filho, Joca Anário, era filho de dona Emília e

João Anário. Nasceu nos Namorados, onde viveu toda a sua
vida. Jamais deu um dia de serviços a ninguém. Não era mesmo
de trabalhar alugado, não tinha recursos, quando solteiro matava
bode e vendia lenha na cidade. Matar bode na zona rural nem
sempre foi uma profissão muito rendosa e especialmente nessa
época,q que quase todo mundo tinha um bode para matar no fim
de semana para comer panelada, que por sinal é muito gostosa.
Mas, assim mesmo, Joca que não gostava de trabalhar
vivia desses dois negócios pouco rentáveis, certa vez ele saiu do
ramo de matar bodes e porcos. Era solteiro ainda, criava uma
porca, mas aconteceu que ela pariu e comeu os bacuris. Ele teve
raiva, a matou, mas não queria perder a carne. Então, saiu na
vizinhança vendendo a carne dizendo que era um porco macho.
Nesse tempo, o povo tinha escrúpulo de comer carne de
porco, mesmo estando sadia. Foi lá em papai, que comprou uma
banda da porca, enganado por Joca.
José Anário, irmão de Joca, era afilhado de papai. Quando
Joca chegou em casa e disse que tinha vendido uma banda a
papai, ele não se conteve, correu imediatamente para casa de
papai, chegou, tomou a bênção e perguntou:  “Meu padrinho, o
senhor comprou da porca de Joca?” E papai:  “E foi uma porca
que Joca matou?”  “Sim. Foi uma porca parida, que comeu os
bacuris. Ele matou e vendeu.”
A estas alturas, a porca já estava torrando no fogo. Papai
disse a Zé Anário:  “Não diga nada a Joca. Deixe ele vir de noite
pra cá.” Era no mês de maio e papai rezava o exercício Mariano.
Era uma festa, todo mundo se juntava na novena, inclusive Joca
que não perdia uma noite.
Papai mandou torrar a porca, disse a mamãe do que se
tratava, guardou-a e ficou calado. À noite, rezou-se a novena,
veio muita gente. Quando terminou o povo começou sair, Joca
também foi saindo quando papai disse:  “Joca, você não vai
agora não. Vai primeiro comer a porca que você me vendeu.”
Joca ficou meio desorientado e disse:  “Que porca, seu Tomaz?
Papai disse:  “Aquela que pariu, comeu os bacuris e você matou
e veio me vender”. Joca quis negar, mas Zé Anário estava
presente e testemunhou. Papai mandou preparar a panela com
 250

bastante farofa, botou na mesa a panela obrigando ele a comer,

mas não tinha jeito de comer toda. Era muita porca para ele
comer. Então Zé Anário intercedeu:  “Meu padrinho, Joca não
pode comer esta porca toda. Deixe ele levar a panela com o
resto”. Papai combinou, mas com uma condição: que Joca não
tinha o direito de jogar a panela dentro da propriedade de papai e
Zé Anário se responsabilizou de vigiar. Então, Joca, coitado, teve
que andar com a panela na cabeça mais ou menos uns dois
quilômetros.
Joca parou de matar bode e porco, porque ninguém lhe
comprava mais. Então, passou a viver de vender lenha na
Cidade. Tinha dois jumentos, cortava lenha na propriedade da
mãe dele, dona Emília, na nossa e na de Seu Lucas, que eram
em comum uma com as outras. As pessoas diziam a papai que
Joca estava cortando na propriedade dele, papai dizia:  “Deixa
Joca viver!” e deu inclusive ordens a ele para cortar. Joca não
ficou intrigado com papai e nem papai com ele.
Pelo contrário, papai gostava muito dele, mas foi passando
o tempo, Joca justou casamento com Antônia, sobrinha de papai,
que era viúva, e ele meio idoso. Namoraram, acertaram o
casamento, ele vendendo lenha e se arrumando para casar.
Compadre Manoel Cândido, irmão de Antônia, que era meio
afobado, certo dia encontrou Joca cortando lenha na propriedade
de papai no Saco do Imbu, soltou-lhe uma piada:  “Ei,
camarada, você roubando lenha não dá de comer a mulher não”!
Joca não respondeu nada, mas ficou muito afobado. Procurou
Antônia e acabou o casamento, disse que não casava mais de
jeito nenhum. Antônia ficou apavorada, a coisa já estava muito
certa e parecia ter havido alguma brincadeira das boas.
Antônia ficou quase louca e foi dar parte a papai, que o
negócio não estava certo, faltava apenas três dias para o
casamento, os banhos já tinham ocorrido... O casamento ia ser lá
mesmo na fazenda, porque iam casar-se duas filhas de papai:
Raimunda e Galiana e Antônia, além de sobrinha e afilhada de
papai, era mesmo que filha também. A festa era uma só e estava
tudo pronto. Ficou quase louca, quebrou a aliança nos dentes,
disse que se não cassasse matava Joca. Papai disse:  “Não
minha filha, deixe que eu resolvo o problema ”.
 251

Mandou chamar Joca lá em casa, ele veio logo que

recebeu o recado e papai perguntou-lhe porque não quer mais
casar com Antônia. Ele disse:  “Porque o irmão dela me chamou
de ladrão, eu tava cortando lenha lá, porque o senhor nunca me
empatou”. Papai disse:  “Mas você não vai casar com o irmão
dela, vai casar é com ela”. Ele respondeu que não casava de jeito
nenhum e papai bem moderado, disse:  “Joca, eu soube que
você já buliu com a moça”. Joca disse:  “Mais ela é viúva”! Papai
disse:  “Joca, ela é minha sobrinha e afilhada. Mesmo sendo
viúva, é mesmo que ser donzela”. Botou um canivete grande em
cima da mesa e disse:  “Você quer casar com Antônia ou com
esse canivete?” Falou sério, Joca baixou a cabeça e disse: 
“Sendo assim eu caso”. Papai perguntou-lhe se já estava
arrumado ou falta alguma coisa. Se faltasse, dissesse por que só
faltavam três dias para o casamento e a moça já estava pronta.
Ele disse:  “Eu acho que com vinte mil réis dá pra eu acabar de
me arrumar”. Papai disse:  “Então, eu vou lhe arrumar
cinqüenta. Eu quero você aqui bem arrumado no dia do
casamento”. E assim foi feito: Joca casou de gravata, paletó e
tudo.

Papai deu uma casa para eles morarem e um pedaço de

roçado e Joca continuou vendendo lenha, mas acontece que o
comércio de lenha foi se acabando, o povo foi comprando fogão
a carvão, depois o fogão a gás. Então Joca tinha que arrumar
outro negócio.
Em 1942, que foi um ano muito seco, ele tinha uma
vazante no açude do Totoró, começou a vender capim na cidade
aos tratadores de animais. Foi ele o pioneiro deste comércio.
Cortava o capim, botava para secar, enfardava e levava para
vender na Cidade. O negócio deu muito certo, bem melhor que a
emergência das secas. Passado a fase do capim, estava Joca,
de novo, sem negócio. Trocou os jumentos por uma besta, uma
égua e começou a vender verduras na Cidade, isto é, coentro,
plantava hortaliças, e Antônia ajudava. Ele botava num caixão e
amanhecia o dia nas portas.
Na Cidade foi também o pioneiro deste negócio, que hoje
muita gente vive dele, por isto, eu o coloco na lista dos pioneiros
 252

de Currais Novos. Joca viveu toda sua vida casado com Antônia
e tiveram três filhos: Maria, que se casou com José Anário, seu
tio; José que morreu ainda muito jovem, num acidente de uma
barreira e Joel que se casou com Paulina e vivem muito bem.
Joca era um homem inofensivo.

Gabriel Cego

Gabriel Cego é da família Dionísio, muito antiga aqui em

Currais Novos. Teve como tronco João Dionísio, que era de
Bananeiras/PB, o pai de João Dionísio, que se casou com
Romana Maria da Conceição; de Moisés Laurêncio, que se casou
com Francisca Caetano, de Luzia Laurêncio, que se casou com
José Caetano.
Esta família de pretos não descende de escravos, porque o
pai de Romana foi José Brandão, que foi secretário do Barão
Estevam, de Bananeiras.
Gabriel Preto, cego e cantador de viola. Começou cantar
em 1918, antes de vir para Currais Novos, em 1940, com Chico
Pequeno, na Paraíba. Cantou com Claudina Roseira, Romano
Elias, Antônio Limeira, Manoel Palmeira, Moisés Ferreira, Antônio
Tomé e tantos outros cantadores importantes de sua época.
Praticamente não pedia esmola, cantava nas feiras de São
Vicente e Currais Novos. Com isso arranjava sua subsistência.
Certa vez, em 1952, eu estava escutando Gabriel Cego
cantar na feira de Currais Novos, e a feira era na Rua Lula
Gomes. Ele estava na porta do bar de Zé Rodrigues, que ficava
na esquina da rua que hoje tem o nome de Vereador Tomaz
Pinheiro. Na cantoria, ele pediu uma esmola. Uma mulher que
estava perto disse: “Perdoe...”. Gabriel de queima roupa
respondeu cantando:

Dona, não me dê “perdoe”,

que eu não tenho em que levar,
a mochila do perdoe,
eu deixei de carregar,
já botei “perdoe no fogo”,
 253

mais não deu pra cozinhar.

A mulher, não sei se escutou o verso, acho que não, foi

embora. Bati no ombro de Gabriel, dei ‘destões’ e disse: 
“Gabriel, eu vou escrever este seu verso”. E aí está o verso, feito
de improviso.
Gabriel, Preto, muito moderado, trata muito bem as
pessoas, só pede esmolas nas segundas e nas sextas-feiras.
Morou muitos anos na Rua Cândido Mendes, numa casa que Dr.
Nilton lhe doou que depois o Prefeito Geraldo Gomes permutou
por uma casinha do PROMORAR.

O ESPORTE EM CURRAIS NOVOS

Muito cedo começaram os nossos desportistas a se

movimentarem em busca do esporte, especialmente do futebol. O
primeiro time de futebol, organizado em Currais Novos, que
podemos comprovar foi o do Tiro de Guerra, 217.
Em 1930, os participantes do Tiro de Guerra resolveram
organizar um Time de Futebol, os mais esforçados pela
organização foram: Olímpio Procópio e Pigmeu. Pigmeu era o
nome de guerra do genro de Manoel Damasceno, casado com
Dona Maria do Carmo.
O time era assim constituído:
Goleiro, Joel Galvão;
Beques: Salustiano e Procópio, “Olímpio Procópio”;
Pontas: Dr. José Bezerra e Casusa, José da Cunha
Cavalcante;
Linha de ataque: João Barros, “Joca”, Ribeiro e Manoel
Moura;
Linha de apoio: Tota Assunção e Pigmeu.

Jaime Carneiro era filho de Seu Carneiro, que foi

administrador do açude do Totoró. Eram pernambucanos de
Garanhuns.
 254

A primeira turma do Tiro de Guerra de 1930, o 217, de cuja

turma saiu o time, era composta pelos seguintes nomes:
José da Cunha Cavalcante, “Casusa”, Olímpio Procópio,
Fortuna, Tristão de Barros, que na fotografia aparece com
Genibaldo na perna, Severino Mendes, Seu Campos, João
Barros, “Joca”, Otoniel Vasconcelos, Jaime Carneiro, “O Pigmeu”,
Manoel Cardoso, Tota Assunção, Salustiano, que era filho de
criação do Cel. Salustiano.
O Instrutor foi o Primeiro Sargento, Nélson Varela, o
Comandante foi o então Tenente Jonas, ainda tinha
componentes da primeira turma, José Barbosa e outros.
O Juiz que apitava o jogo era um senhor da Paraíba, cujo
nome eu não consegui descobrir. Não havia treinador no Time.
Todos sabiam sua posição e defendiam com muita garra. O Time
jogava muito e foi chamado de seleção 217.
Na época dessa primeira seleção, as coisas eram bem
diferentes das de hoje. Havia uma moral muito elevada, os
calções dos jogadores tinham que serem bem compridos, mais
ou menos nos joelhos, houve, até um caso muito notável, é que a
seleção ia jogar com um time de fora, mas um dos jogadores ao
apresentar-se foi impugnado, porque o calção estava curto, como
não tinha reserva quase que não havia o jogo. Foi necessária
uma decisão judicial.
O time requereu ao Dr. Juiz de Direito da Comarca, Doutor
Tomaz Salustino Gomes de Melo, permissão para o jogador com
o calção curto jogar, o que foi despachado favoravelmente pelo
Juiz, sem direito à apelação. Eu deixo de citar o nome do
jogador, mas na foto, vê-se o jogador que está com o calção mais
curto.
255
256
 257

O UNIÃO ESPORTE CLUBE

Na época organizaram também o União Esporte Clube, que

jogava com a seleção 217. Este foi formado com os seguintes
jogadores:

Goleiro: Chico de Enedina.

Beques: Luiz do Monte e Zé Coelho.
Center Rolfe: Paulo de Zé Caboclo.
Pontas: Casusa de Manoel Joca e Saul.
Meio de Campo: Esmerino Rodrigues.
Linha: Zé Rodrigues, Ramiro, Teobaldo e Oscar Galdino.

Este foi o segundo time de futebol organizado em Currais

Novos, os calções eram pretos, as camisas eram listradas de
branco, verde e preto. O campo era ali, perto do Departamento,
na várzea do rio.

CURRAIS NOVOS ESPORTE CLUBE

O Currais Novos Esporte Clube foi o terceiro time de

Futebol organizado na cidade. Mais ou menos em 1934, Zuzu
Pereira foi quem organizou. Nesta época Currais Novos já tinha
jogadores que davam para formar uma seleção. O time foi
formado com os seguintes jogadores:

Goleiro: Zé de Bento, José Bento Sobrinho.

Beques: Antonino Mole e Luiz do Monte.
Center Rolfe: Luiz Gonzaga de Carvalho.
Pontas: Quincas e Abedias Marques.
Linha: José Pinheiro Machado, “Machado”, Olímpio,
Geraldo Procópio e João Bento.
Center For: Esmerino Rodrigues.
Este time foi quem começou a levantar o nome de Currais
Novos no Futebol. O juiz era Dr. José Bezerra. Não havia
 258

treinador nem técnico. Os jogadores sabiam suas posições e

defendiam com muita vontade e muita garra. Este time foi a base
do Seridó Esporte Clube.

SERIDÓ ESPORTE CLUBE

O Seridó Esporte Clube foi organizado por Cangaçu e

Oscar Flamengo, “Oscar de Lima Pinheiro”.
A fotografia acima mostra os jogadores que pertenceram
ao primeiro quadro do time, quando de sua formação, são os
seguintes:
Goleiro: Zuza de Vela Branca.
Defesa: Massaroca, Binoca e Elói.
Pontas: Piloto e Tico do Monte.
Linha: Zé Carvalho, Moisés, Toinho e Patrocínio.
Meio de Campo: Doca, ainda se vê na fotografia como
reserva: Severino Tomé, o Gordo e Solon.
Este foi a maior Seleção de Futebol que Currais Novos já
possuiu em toda sua história. Não perdia para ninguém, pois
venceu todos os times grandes do Estado. Teve mais de
cinquenta vitórias consecutivas. Não tinha técnico nem treinador.
Cada jogador era técnico na sua posição. Eles mesmos se auto-
disciplinavam, criavam jogadas incríveis. Era uma beleza a gente
assistir a um jogo de futebol em Currais Novos, quando havia
disputa com os times de fora. Os gols olímpicos de Tico do
Monte, as defesas de Luiz do Monte, cabeceando bolas quase
rasteiras, as jogadas incríveis de Piloto, o domínio de meio
campo de Doca, a ligeireza de Raimundo Cruz e Toinho, a
segurança de Binoca, a tranquilidade de Zuza no gol.
Tudo isso formava um colorido inexplicável numa partida
de futebol do time a completar-se com o moral do Juiz: Dr. José
Bezerra de Araújo Galvão.
Além dos jogadores que aparecem nesta fotografia, tinha
em Currais Novos, na época, um plantel imenso de jogadores
bons que jogavam unicamente por amor à camisa. Vou citar
alguns nomes e pedir desculpas aos outros que me fogem à
memória. Começaria por Luiz do Monte, João Senema, Zé
 259

Fantasma, Raimundo Cruz, Caroá, Augusto Paz, Bijoca, Chico

Ladislau, Boleiro e tantos outros.
Piloto era o grande ídolo da torcida, fazia o que queria com
a bola, criava jogadas incríveis, fazia gol com a maior facilidade e
com uma naturalidade inexplicável. Não treinava nem fazia física,
não ensaiava jogadas. Eram todas criadas no campo, na base do
improviso, da oportunidade. Jamais criou problema com juiz,
nunca foi expulso de campo, não cometia falta, tinha uma
facilidade incrível de desarmar os outros e de não ser
desarmado. Às vezes, tinha problema com a direção do time fora
do campo, porque bebia muita cachaça.
Certa vez, o Seridó ia jogar em Santa Cruz. Era uma
partida de muita responsabilidade. O Major Teodorico trouxe para
Santa Cruz o que havia de melhor dos jogadores de Natal, quase
que de Santa Cruz só tinha a bola e o campo. Flamengo e
Cangaçu já sabiam disso, prepararam a Seleção de Currais
Novos para enfrentar o mais forte adversário. Na época,
selecionaram os jogadores que deviam jogar em Santa Cruz,
inclusive Piloto.
Quando Flamengo reuniu os jogadores, Piloto demorou a
chegar e quando veio foi bêbado, Flamengo ficou revoltado.
Mesmo sendo a estrela do time, ele disse que não o levava, a
torcida insistiu, mesmo assim, Flamengo não o levou.
Raimundo Salustino ia num jipe e resolveu levar Piloto,
mesmo sem Flamengo querer. Chegamos em Santa Cruz,
Flamengo escala o time sem Piloto asssim:
Zuza, João Senema e Luiz do Monte, Boleiro, Zé Carvalho
e Doca. Patrocínio e Toinho, Chico Ladislau e Tico do Monte.
Começou o jogo. No primeiro tempo Santa Cruz venceu de
dois a zero. Santa Cruz explodiu. Foi tanto foguetão que abalou
toda a cidade. A cachaça já dava no meio da perna. Nós, de
Currais Novos, já nem podíamos entrar num bar, devido às vaias
e os foguetões.
Raimundo Salustino pastorando Piloto para não beber,
mesmo assim Piloto ainda tomou bem umas duas. Acontece que
o nego Nilson, cunhado e parente de Raimundo era meio quinta
coluna, dava cachaça escondido a Piloto para ele não jogar o
segundo tempo. Raimundo foi com Piloto no hotel de Zé do Bico,
deu um banho em Piloto e levou-o para o campo. No segundo
 260

tempo, convenceu logo Cangaçu, este convenceu Oscar, então

conseguimos botar Piloto para jogar no segundo tempo.
Piloto quando vestiu a camisa do Seridó transformou-se
completamente, deu uma volta em torno do campo, para
melhorar da cachaça, juntou-se com o Time e ficou aguardando a
saída da bola. Santa Cruz tirou o centro, desceu com a bola até a
pequena área. João Senema defendeu com um dos seus
costumeiros balões. O balão de Senema foi com o endereço
certo a Piloto, que amorteceu no peito, driblou todo mundo e fez
o gol. Aí a torcida de Currais Novos disparou. Santa Cruz tirou
novamente o centro, dominou bastante a bola, desceu para a
intermediária de Currais Novos e chutou forte. Não fez o terceiro
gol, graças a uma defesa quase impossível de Luiz do Monte,
que defendeu de cabeça uma bola quase rasteira. A defesa de
Luiz do Monte foi certinha nos pés de Zé Carvalho, que passou
para Doca, este dominou e passou para Toinho, que cruzou
ligeiro para Piloto. Piloto estava de costas para as traves, virou-
se tão rápido que nem deu tempo o goleiro preparar-se, chutou
bem no canto da trave, fez o segundo gol, empatando a partida.
A torcida de Currais Novos explodiu. Aí já éramos nós que
soltávamos foguetes. Santa Cruz começava a esmorecer. Piloto,
não sei de que jeito, conseguiu fazer o terceiro gol. Daí para
frente eu não vi mais nada, porque viemos numa turma para o
caminhão de Pedro Arranga Milho, que na buzina entoava o hino
do Seridó Esporte Clube e gritava três a dois. Já no final do jogo
Augusto Paz, que havia substituído Patrocínio completava a
vitória, fazendo o quarto gol. Uma piada de Piloto.
Mas, antes, quando Raimundo Salustino vinha trazendo
Piloto ainda molhado do banho que havia tomado em Zé do Bico,
um gaiato disse:  “Não adianta levar Piloto para jogar, ninguém
vai tomar esta de nós. Se Santa Cruz perder esta, nós vamos
fazer no campo um chiqueiro de criar porco”. Piloto ouviu calado,
não respondeu nada.
Quando vínhamos saindo do campo, depois da vitória,
trazendo Piloto para tomar umas no bar, ele avistou o cara da
piada. Depois que tomou uma, comemorando a vitória, disse ao
rapaz:  “Olha, quando tiver muito porco aí no chiqueiro, mande
um casalzinho de bacurins pra eu criar, lá em Currais Novos”.
 261

UMA DÍVIDA QUE FOI PAGA SETENTA E CINCO ANOS

DEPOIS DE CONTRAÍDA

Antônio Veríssimo da Costa nasceu no Açu. Era filho de

Lino Veríssimo da Costa, ou Lino Costa Wanderley. Este senhor
enviuvou no Açu e mudou-se para Currais Novos, em 1860,
trazendo cinco filhos do primeiro casamento.
Casou-se em Currais Novos com Dona Maria Rosa da
Conceição. Faleceu em 1913, deixando-a com 5 filhos e mais 5
enteados moravam na propriedade do Capitão Lulu da Areia,
onde Dona Maria ficou morando e trabalhando com seus filhos
enteados.
1876 foi um ano escasso, quase seco. Então ela resolveu
mudar-se para o Brejo da Paraíba, o que o Capitão Lulu, a
princípio, não concordou, aconselhando-a que protelasse a
viagem, porque o outro ano poderia ser bom de inverno, o que foi
exatamente o contrário. Veio 1877, ano terrivelmente seco. Ela
escapou com os filhos com muita dificuldade e com a ajuda do
Capitão Lulu, também não pôde se mudar, porque não havia nem
mesmo água na estrada para beber e dar aos animais. Só em
setembro de 1878 foi que teve condições de viajar, tudo
arrumado, mas o dinheiro não era suficiente para fazer a viagem.
Falou com o Capitão Lulu para lhe emprestar vinte mil réis,
dinheiro que era suficiente para complementar as despesas da
viagem. Combinou que deixaria um oratório com seis imagens
empenhadas para garantir os vinte mil réis, talvez nem tenha sido
uma exigência do Capitão, mas a dificuldade de locomover-se
com o oratório. Foi embora Dona Maria Rosa para o Brejo com a
família. Lá, morreu e não voltou mais para Currais Novos.
O Capitão Lulu, antes de morrer entregou o oratório à sua
filha, a mãe de Luiz Cândido, inclusive lhe transmitiu a história.
Ela, antes de morrer, também lhe transmitiu o oratório e a
história.
Em 1942, Luiz Cândido morava nos Namorados. Certo dia,
chegou em sua casa o velho Raimundo Pequeno. Este lhe disse
que era neto de Dona Maria Rosa e perguntou se ele sabia da
história do oratório. Luiz disse que sabia e que o oratório estava
 262

com ele, deixado por sua mãe com recomendações de entregar

quando aparecesse gente daquela mulher.
Seu Raimundo prontificou-se a pagar a conta e receber o
oratório e Luiz a entregar e receber a conta.
Luiz Cândido disse que havia mais uma despesa que ele
havia gasto com uma limpeza que mandara fazer nas imagens:
cinquenta mil réis.
Seu Raimundo prontificou-se a pagar, mas ele não quis
receber, dizendo que só recebia os vinte mil réis da penhora para
mandar celebrar uma missa pela alma do Capitão Lulu. As
imagens eram as seguintes: Um Crucifixo, uma imagem de
Nossa Senhora da Conceição, uma imagem de Santa Bárbara,
uma imagem de Santa Luzia, uma de São Francisco e uma de
Santo Antônio.
Na entrega das imagens faltou o Crucifixo, mas Luiz
Cândido fez questão de mandar vir de Canindé um Crucifixo igual
ao outro e entregou a Seu Raimundo.
A dívida foi contraída pelos avós e saldada pelos netos,
segundo informou seu Raimundo Pequeno. Luiz Cândido era que
mais se preocupava com a dívida. Primeiro, porque o oratório
valia mais do que o empréstimo, os vinte mil réis; segundo,
porque ele sentia-se com obrigação de entregar aquele oratório
alguém de Dona Maria Rosa, porque havia sido recomendado
por sua mãe e, terceiro, porque não tinha um filho a quem
transmitisse a responsabilidade. Este oratório com estas imagens
está na casa de Seu Raimundo Pequeno, no Sítio Buraco da
Lagoa, na Serra de Santana.
Eu também estou meio compromissado com estas
imagens. Na época que conversei com Seu Raimundo, eu e Dr.
Nithon tínhamos uma ideia de fazer um museu em Currais
Novos. Perguntei-lhe se doava esse oratório com estas imagens
para o museu, ele não só doou, como achou maravilhosa a ideia,
disse que achava importante, porque as imagens de sua avó
ficavam para sempre na história de Currais Novos.
A história do museu andou muito bem começada, inclusive
Dona Tetê nos havia prometido uma casa, mas tudo ficou na
vontade: Dona Tetê e Nithon morreram, eu me mudei de Currais
Novos, não fomos ver os Santos e o oratório de Seu Raimundo,
bem como outros objetos que estavam em nossa cogitação.
 263

O CRIME QUE NÃO SAIU DA HISTÓRIA

No dia 28 de julho de 1901, a Vila de Currais Novos

assistiu a uma cena de sangue, que jamais saiu do sentimento
dos curraisnovenses. Tanto é que ainda se comenta: nas rodas
de calçadas e nas esquinas de bate-papo.
Havia em Currais Novos um velho alfaiate, chamado Félix
Sabino Dantas, conhecido por Mestre Félix. Tinha entre outros
filhos, um, chamado José, conhecido por José de Mestre Félix.
José, moço, brincalhão, farrista, gostava muito de dançar e não
se tem notícia de que fosse bagunceiro ou brigalhão.
Havia um baile no Boi Choco, Bairro Central da Vila, na
casa de Silvestre, Seu Silvestre, como era conhecido. José de
Mestre Félix foi ao baile, pois gostava muito de dançar. Era um
dia de sábado, ultima noite da novena da festa da Padroeira
Santana. Seu Silvestre viu que José estava armado com uma
faca e pediu para guardar.
José não fez questão, entregou-lhe a faca. Quando José já
estava de saída, pediu a faca a Seu Silvestre, ele entregou-lhe,
fato presenciado por Antônio Choco. Antônio Choco era uma
espécie daquilo que nós chamamos hoje bate-pau da Polícia.
Na época chamavam cheleléu, ou seja, pessoas que
gostam de dedar os outros, especialmente às autoridades.
Antônio quis tomar a faca de José Félix, mas José não lhe
obedeceu. Antônio Choco ficou com muita raiva e foi chamar
Canuto, que já estava em casa deitado. Canuto Gomes de Melo
era suplente de delegado e estava em exercício da função, em
virtude do delegado, Manoel Lopes Galvão, “Manoel Lopes
Barbudo”, como era conhecido, está na fazenda.
Antônio o chamou dizendo que José Félix estava fazendo
absurdo armado de faca. Canuto, que era um rapaz disposto e
muito querido de todos da Cidade, saiu correndo em direção ao
local junto com Antônio. José Félix vinha descendo em direção a
sua casa quando avistou os dois, amparou-se em uma das portas
do vapor velho para evitar que eles o reconhecessem, eles
passaram e não o viram.
O Capitão Joca Jerônimo, “Joca Girorme”, como era
conhecido, por acaso vinha passando no local àquela hora,
 264

avistou José Félix encostado na porta e como era seu padrinho,

disse:  “Vai pra casa José, que andas fazendo aqui a esta
hora?”. José disse:  “Eu já vou, meu padrinho”.
Nisto foi reconhecido por Canuto e Antônio Choco, que lhe
disseram que iam tomar-lhe a faca e prendê-lo. José correu com
a faca na mão, Canuto correu seguindo-o junto com Antônio
Choco. José virou-se com a faca na mão e na passagem de um
riacho que havia ali nas imediações de onde hoje é a padaria
Primor, esperou Canuto que vinha correndo e mais com o
impulso que fez para pular o córrego, recebeu de encontro a faca
de José, que entrou toda em seu peito. Caindo com a faca e tudo
dentro do córrego, mas assim mesmo ainda conseguiu levantar-
se, sacar sua arma e atirar no rumo que José corria, ma sem
condições de atingi-lo.
José correu imediatamente para a Fazenda Areias, que era
do Sr. Manoel Lopes Galvão, então delegado, e foi entregar-se.
Ele mandou que ficasse na Várzea dos Coqueiros, até ele vir à
Cidade para saber como estava a coisa.
Chegando à Cidade encontrou tudo muito tumultuado.
Canuto tinha morrido e a revolta tomava conta da Cidade. Manoel
Lopes conversou com o Coronel José Bezerra, que também
estava muito revoltado, pois gostava muito de Canuto. Este disse
ao Coronel que José estava lá na sua fazenda, que ia buscá-lo,
mas que precisava garantir-lhe a vida. Muita gente queria ir com
Manoel Lopes para linchar José, mas ele não deixou, levou com
ele Manoel Duo e Mestre Félix, o pai de José e trouxeram o
rapaz amarrado.
O Coronel José Bezerra esperava com um rifle na mão,
alguém pensava que ele iria matar José. Quando Manoel Lopes
chegou com o rapaz, o Coronel José Bezerra disparou o rifle para
cima e disse a José:  “Você matou um filho meu”. Então mandou
recolher o rapaz à cadeia sem ninguém lhe melindrar.
Manoel Lopes combinou com ele e levaram José para a
cadeia do Acari, onde cumpriu sua pena. Quando houve o
movimento de Grossos, José foi indultado nas condições de ir
para a revolução de Grossos, em Mossoró. Ele foi e ficou, depois
do movimento, morando em Areia Branca, onde se casou e
construiu família.
 265

CENA DE SANGUE  1974

13 de Maio, data magna de Fátima, data em que três

pastorinhos vieram a Virgem Maria e ela lhes falou. 13 de Maio
de 1974, data que escreveu na história de Currais Novos, a
página mais rubra e mais triste de toda a sua vida.
Poderá ter sido também a data que o Céu se abriu para
receber mais curraisnovenses, pois aqueles que morreram
naquela procissão foram verdadeiros mártires da fé e da piedade
divina, que começaram uma procissão na terra para terminarem
no Céu.
Como disse Monsenhor Paulo no seu Livro, OS
HOLANDESES DO RIO GRANDE DO NORTE, referindo-se à
chacina Cunhaú. Lá foram setenta pessoas que morreram
mutilados pelos índios e os holandeses, chefiados por Jacob
Rabi, por ocasião da Santa Missa. Aqui foram 34 atropelados,
dos quais 24 morreram.
Um ônibus da Princesa do Seridó, dirigido por um motorista
irresponsável, que entrou no meio de uma procissão, indo parar
na barreira humana, depois de ter atropelado gravemente 34
pessoas sem contar as ligeiras escoriações. As vítimas fatais
foram:

Antonio Othon Filho, “Dr. Nithon”,

Adelvia Cardoso,
Aureliana Maria da Conceição,
Aristel de Araújo Dantas,
Brígita Luzia Dantas,
Elionide Pinheiro Galvão,
Francisca Dantas de Medeiros,
Francisco Isidro de Lima,
Francisco Damião,
João Batista de Araújo,
Leonísia Eulália de Macedo,
Luisa Pereira de Araújo,
Maria Augustinha dos Santos,
Maria Antônia da Silva,
 266

Maria Francisca de Jesus,

Maria Lenice da Silva,
Maria Luisa Garcia,
Maria Teresa da Conceição,
Rita Emília da Conceição,
Rosa Soares da Silva,
Severina Maria da Silva
Silvina Alves da Costa,
Teresa Medeiros, e,
Severino Vicente da Silva.

Esse 13 de Maio de 1974 marcou a história de Currais

Novos, o dia mais triste de toda sua vida. Eu estive presente a
este triste acontecimento. Vi com meus próprios olhos, ajudei
com minhas próprias mãos retirar os atropelados do local do
desastre para o hospital Padre João Maria.
Foi o dia mais deprimido de toda a minha vida, ajudei
apanhar os pedaços de Francisca Dantas de Medeiros, “Dona
Duca”, que foi dentre todos, a mais esfacelada. Quando terminei
de ajudar a colocar todos que haviam morrido no hospital, bem
como os que estavam mais doentes, ainda não havia encontrado
a minha filha Águeda que, como a minha primeira netinha,
também acompanhavam a procissão.
Eu já havia procurado em todos os lugares, olhando
reolhando todos os atropelados, mas não a encontrava. Quando
saia do hospital, já pela terceira vez, escutei uma pessoa dizer: 
“Seu Celestino está muito apavorado e talvez não saiba ainda
que sua filha morreu”.
Aquelas palavras entraram no meu coração como
punhaladas. Voltei novamente a entrar no hospital, sai apalpando
os mortos e examinando cuidadosamente. Entrei nas salas de
cirurgias, onde os médicos como verdadeiros abnegados,
trabalhavam, tentando salvar os que podiam, foi quando soube
que a menina que havia morrido não era filha de Celestino Alves,
mas de outro senhor, que também se chamava Celestino. Senti
um alívio, não porque se deixava de lamentar a morte da menina,
mas porque vi que não era a minha filha. Voltei para casa
apavorado. Quando vinha me aproximando, senti uma alegria
dentro da tristeza. A minha filha e minha neta estavam chegando
 267

numa caminhoneta de Agenor Maria. Ele vinha de Natal e

passando no local do desastre as apanhou e trouxe-as para
casa. Com isto diminuiu a preocupação que logo voltou a
aumentar: a minha cunhada Ilze chegou apavorada, quase louca,
dizendo que seus dois filhos haviam morrido junto com Ricarda,
minha irmã. Eu tentei confortá-la, dizendo que não, pois eu
estava vindo do hospital e tinha visto todos os mortos e todos os
doentes, ela não se conformou, eu saí junto com ela, mas logo na
entrada da Rua Laurentino Bezerra, encontramos Ricarda com os
dois meninos são e salvos. Ricarda sofreu ligeiras escoriações,
mas escapou praticamente ilesa e os meninos nada sofreram.
À noite passei toda acordada, visitei todas as casas de
todas as pessoas, que morreram no desastre. Em todas as casas
encontrei padre Cortez, que também parecia, não ter dormido
naquela noite.
O Governador Cortez Pereira estava em Brasília, avisado
que foi do desastre, mandou dar toda a assistência possível. De
Natal, deslocou-se uma equipe de médicos, trazendo tudo que
era necessário para prestar assistência aos que ficaram doentes.
Os caixões também foram todos doados pelo Estado. No outro
dia, 14, foi acompanhado como que numa procissão, 24 caixões
para o cemitério local.

Poema aos Mortos de 13 De Maio

Padre Ausônio ficou traumatizado,

A Cidade chorou os filhos seus,
O dobrar do sino, compassado,
Levava as preces, da terra para os céus.

Os mártires da fé, levados nos caixões,

A multidão contrita acompanhava,
As preces, os hinos, as orações,
Enchiam o cortejo, todo povo rezava.
 268

Ninguém reclamava a brutal tragédia,

Os hinos se misturavam com os prantos,
Como que se vivendo, uma divina comédia,
Onde os participantes, eram todos santos.

A terra emergiu os corpos seus,

A parte dela, ligeiro devorou,
As almas subiram para os céus.

Os anjos cantavam na glória,

O passado ficou para a história,
O futuro quem sabe? O Grande Deus.

Uma Festa Centenária

A festa de Nossa Senhora da Conceição, em Manoel

Domingos, já vai fazer este ano, 107 anos. Em 1878, Domingos
Silvestre chegava a este município e fixava residência na Várzea
dos Bois, vindo de Mamanguape, trazendo com ele a Imagem de
Nossa Senhora, que há muitos anos era festejada pelo seu pai,
em Mamanguape, com o qual Domingos Silvestre assumiu o
compromisso de devoção por toda a sua vida, fazendo todos os
anos a festa da Santa. O que era realizada numa casa velha de
tijolo em preto que existia no pé do serrote, na beira da estrada,
isto até 1920, quando Domingos Silvestre morreu. Antes de
morrer transferiu o compromisso herdado de seu pai, a seu único
filho, Manoel Domingos Silvestre. Em 1921, ele mudou-se para a
Serra de Santana, indo morar no lugar denominado Sítio de
Dentro, levou com ele a Imagem, e lá, ficou realizando a festa
todos os anos, em sua casa.
Em 1930, Manoel Domingos construiu uma pequena capela
e continuou fazendo a festa e também doou um terreno para o
patrimônio da capela: 30 braças de terra em quadro.
Em 1945, antes de morrer, transferiu o compromisso para
seu filho caçula, José Domingos, que continuou o trabalho. Em
1948 demoliu a capelinha e construiu a nova capela. O lugar hoje
 269

é denominado Povoado Manoel Domingos e a festa continua

sendo realizada todos os anos.
Manoel Domingos era casado com Maria Antônia da
Conceição. Deste casal nasceram os seguintes filhos:

1º) Manoel Domingos Filho, que se casou com Maria,

“Mãezinha”; 2º) Maria Domingos, que se casou com Luiz Quenga;
3º) Francisca Domingos, que se casou com Joaquim Gomes de
Oliveira; 4º) Luisa Domingos, que se casou com Francisco Cirino;
5º) Izabel Domingos; que se casou com Benedito Cirino; 6º João
Domingos, que se casou com Antônia Joaquina; 7º) Ana
Domingos, que se casou com Pedro Domingos de Oliveira; 8º)
Joana Domingos, que morreu solteira; 9º) Antônia Domingos, que
também morreu solteira; 10º) Matildes Domingos, que se casou
com Expedito Oliveira; 11) Felismina Domingos, que se casou
com Luiz Ferreira dos Santos; 12º) José Domingos da Silva, que
se casou com Maria Francisca da Silva.

A festa de Manoel Domingos é a mais antiga e tradicional

festa do município de Currais Novos, com exceção da festa da
Padroeira Santa Ana. Foi muito justo denominar-se o lugar:
Povoado Manoel Domingos.
A festa é de Nossa Senhora da Conceição, mas tornou-se
popularmente conhecido pela festa de Manoel Domingos e com o
nome do Povoado, continuará sendo festa de Manoel Domingos.

Capela de Boa Vista

Em 1938, logo no começo do ano, Monsenhor Paulo foi

chamado para confessar uma pessoa doente naquela região.
Chamava-se Antônia do Riacho. Não tendo transporte, ele foi a
cavalo. Depois de confessar a enferma, chegando em Camilo de
Leles Pereira, agradou-se daquele lugar para construir uma
capela, em honra de Nossa Senhora da Conceição. Falou com
Camilo, proprietário do local, que concordou plenamente, e
escolheram o local e foi logo acertada missa da benção da
primeira pedra que foi feita em agosto de 1938.
 270

Pedro Pereira, que era genro e sobrinho de Camilo, se

encarregou da construção. Convidou José Paizinho para
construir. Este, com o oficial de pedreiro chamado Dantas, que
morava em Currais Novos, se encarregou da parte da construção
propriamente dita, no que dizia respeito aos serviços de pedreiro.
José Pereira de Macedo e Lino Cordeiro fizeram o
madeiramento e a cobertura. Em 15 de outubro de 1939 foi
inaugurada. Houve missões de Frei Damião, missa celebrada por
Monsenhor Paulo, que inaugurou a capela, disse ter ficado
entusiasmado, porque não estava inaugurando simplesmente
uma Capela, mas uma Igreja com altar e tudo.
As despesas foram custeadas por Camilo de Leles Pereira,
Pedro Pereira, Major Felizardo, Manoel Marcolino e Antônio
Lucas, que, inclusive doou o sino, bem como a coleta feita com
os moradores da região.

A Capela de São José no Monte da Maniçoba

No dia 23 de novembro de 1975, foi inaugurada a Capela

de São José no Monte da Maniçoba. O vigário celebrante da
Missa Inaugural foi o Padre Ausônio Araújo coadjuvado pela irmã
Fabíola, onde houve um casamento e alguns batizados.
A razão da construção da Capela foi uma promessa, feita
por João Garcia, vulgo João Caboclo, em virtude da estiagem no
início deste ano, pois já chovia em diversos setores do Município
e em quase todo o Seridó, mas na Região de Maniçoba, Cruz e
Malhada Limpa continuava sem chover, apesar de já começar o
mês de março.
João Garcia, que sentia aproximar-se uma seca, o que já
tem acontecido naquela região, mesmo em ano de inverno, fez
um voto a São José, que se chovesse na região de Maniçoba,
dando para criar pelo menos pastagens para os animais, ele faria
uma campanha para construir uma Capela, naquele Monte, em
homenagem a São José.
Ele teve tanta fé no seu voto, que logo convidou padre
Ausônio para marcar o local da Capela e benzer a primeira
pedra, sentiu que havia sido atendido, ou seja, alcançado a
 271

graça, pela promessa feita. No mesmo dia em que o padre

celebrou a missa, começou a chover copiosamente na região. Ele
fez a campanha e construiu a Capela, que foi inaugurada em 23
de novembro de 1975.

Lamentações de um Matuto

Meu Deus, porque o mundo é tão violento?

Por que o homem não pensa só no bem?
Por que faltar tanto alimento?
Por que tanta criança em desalento,
sem saber o futuro que lhe vem.

Porque tanto material bélico acumulado?

Por que tanto preparo para a guerra?
Por que tanto dinheiro mal gastado?
Por que tanto menino mal-criado?
Por que tanta miséria sobre a terra?

Por que gastar tanto com a violência?

Por que tanto foguete carregado?
Por que se preocupa tanto a grande potência?
Que chega a envolver toda a ciência,
Com as coisas que são do seu agrado.

A despesa com as armas e munição,

neste mundo cruel e violento,
é maior que com a educação,
é a causa maior da inflação,
porque armas não geral alimento.

Tem foguetes apostados ao Ocidente,

tem foguetes apontados para o Norte,
tem foguetes apontados ao Oriente,
não sabemos qual deles, o mais potente,
a quem está vinculada a nossa sorte.
 272

A lua não é mais das serenatas,

deixou de ser inspiração para os poetas,
é a terra dos grandes astronautas,
será base de foguetes cosmonautas,
onde alguém já traçou as suas metas.

Por que o homem vê no outro um inimigo,

ao invés de olhá-lo como irmão?
Aceitar-lhe como verdadeiro amigo,
dividir com ele seu abrigo,
oferecer-lhe um pouco do seu pão.

Pense em paz e em deus Onipotente,

veja em teus próximos os teus irmãos,
meça o futuro, com medidas do presente,
toda massa do mundo inocente,
o futuro está em duas mãos,

Reagan e Chernenko a controlar,

o mundo inteiro num botão
quando um dia quiserem disparar,
todo mundo inocente vai pagar,
o planeta se funde, em combustão.

Em tudo tem Poesia

No Riso de uma criança,

no gesto do moribundo,
em todo lugar do mundo,
a poesia descansa,
na miséria ou na bonança,
na tristeza, na alegria,
na raiva, na euforia,
na palhoça ou no sobrado,
na baixa ou no serrado,
em tudo tem poesia.
 273

Na árvore que emudece,

na flor que seca e cai,
na piada que distrai,
na ira que embrutece,
no dia que amanhece,
na noite escura e fria,
no forró, na cantoria,
na história que se lê,
a gente sabendo ver,
em tudo tem poesia.

Tem poesia no sino,

que dobra para um finado,
num enterro acompanhado,
se reza e se canta hino,
cada um segue um destino,
dele ninguém se desvia,
na lousa da tumba fria,
se escreve verso, em memória,
no passado, na história,
em tudo tem poesia.

Tem poesia na feira,

no pregão do vendedor,
tem o cego cantador
dedilhando a regra inteira,
na banca da cafezeira
lavando louça sem pia,
naquela garrafa fria
com gelo dentro do tacho,
nas louceiras do Riacho,
em tudo tem poesia.
 274

Radiodifusão em Currais Novos

Currais Novos é a porta do Seridó, foi por esta porta que

entrou a Radiodifusão no Seridó, no dia 6 de janeiro de 1959, a
Rádio Brejuy de Currais Novos, levava ao Éter suas primeiras
mensagens isto oficialmente, porque em caráter experimental já
funcionava há alguns dias.
O Desembargador Tomaz Salustino foi o idealizador e
construtor do grande evento, junto ao seu filho e seu
administrador ímpar, Dr. Sílvio Bezerra de Melo, que marcou a
inauguração para o dia 6 de janeiro, dia dos Santos Reis, por ser
considerado por ele, o dia da grande mensagem, o que não era
fácil na época, como também não é hoje, escolher o dia para
inaugurar uma emissora de Rádio.
Lembro de que houve muitas controvérsias, mas o
Desembargador foi sempre o homem, que teve a virtude ou o
direito de querer e poder. Brigou, lutou e conseguiu inaugurar à
emissora, no dia por ele escolhido, bem como o nome foi
escolhido por ele, como sendo uma extensão da sua propriedade
Brejuy e da Mineração por ele também denominada Brejuy.
Acredito que o Desembargador Tomaz Salustino, se vivo
fosse, daria tudo do seu esforço para que este nome fosse
eternizado. Mas, por questão burocrática em 1980 a Emissora
estava irregular e por determinação do DENTEL seria obrigado a
fechar, não fosse a atuação do velho MENESTREL DO SERIDÓ,
junto ao Ministério das Comunicações. Não fechou, mas foi
obrigado a mudar o nome.
Assim, a Rádio Brejuy, a Pioneira do Seridó, passou a
denominar-se Rádio Currais Novos, isto a partir de 6 de setembro
de 1981. Desnecessário se faz falar da equipe que começou a
tocar a Rádio Brejuy, dos seus programas inesquecíveis, do
pioneirismo amadurecido dos seus artistas e locutores, apesar de
todos serem meus conhecidos e meus amigos.
Mas, José Airton de Lima, no seu livro, A História do Rádio
no Rio Grande do Norte, já falou tão bem e tão detalhadamente,
que imitá-lo não é possível e copiar não é meu feitio. Portanto,
aconselho a quem quiser saber mais detalhadamente, da história
 275

da Rádio Brejuy, bem como das outras emissoras de rádios do

Estado, leia o livro escrito por este abnegado repórter e radialista.
Em 8 de abril de 1984, inaugurava-se mais uma estação
de Rádio em Currais Novos. Desta vez, a Rádio Ouro Branco, a
levar ao Éter, mais notícias, mais música, mais comunicações,
mais Currais Novos, mais Seridó. Eliel Bezerra, de raízes
curraisnovenses, assumiu a direção da rádio. Para mim, foi a
maior aquisição que ela poderia ter feito, por se tratar de um
radialista nato, que exerce a profissão por amor.

Um Enredo

Certa vez, fui fazer uma pesquisa, a respeito de famílias,

coisa que sempre foi meu fraco. Andando na Região dos
Namorados e Totoró, com um papel na mão fazendo algumas
anotações, encontrei o Velho Manoel Limão, um preto velho que
morava no Quandu, muito conservador, meio inteligente, que
andava com bisaco de couro a tiracolo e tratava as pessoas
muito bem.
Eu comecei a conversar com Seu Chico Lulu e fui fazendo
anotações. Quando terminei, fui interpelado pelo preto:  “O
senhor vai fazer algum enredo, Seu Celestino?” Eu fiquei meio
chateado e respondi-lhe:  “Não, Seu Manoel, é só por
curiosidade que eu faço estas pesquisas”. Acontece é que até
aquela data eu pensava em enredo como uma coisa bem
diferente de como o preto havia se referido, por exemplo:
enredar, falar mal das pessoas a outras, mexericar. Voltei para
casa e chegando peguei um dicionário, Enciclopédia de Simões
da Fonseca e lá encontrei: enredo, história. Então, eu fiquei muito
feliz e verifiquei que o negro velho era inteligente.
Mas o que eu quero falar sobre Seu Manoel Limão é uma
história bem diferente, que aconteceu em 1932, durante a
construção do açude Totoró. Eu e compadre Geraldo, meu irmão,
nós éramos meninos e papai fornecia aos barracões o fumo,
trazido do Brejo da Paraíba em costas de burros. Nas terças
 276

feiras e, nos sábados, papai visitava os barracões para fazer

suas transações comerciais e sempre nos levava com ele. Nós
gostávamos, porque aproveitava aquele tempo brincando de
escorrego na rampa da parede. Adquiríamos sacos de cimento
vazio, forrávamos a bunda e descíamos escorregando na rampa.
Só que era proibido pela fiscalização do serviço, mas o fiscal da
rampa era Tomaz Lulu, muito afobado, mas gostava muito de
nós, até que não nos perseguia muito. Às vezes, fazia até que
não nos via, até porque era também escondido de papai que nós
fazíamos a brincadeira. Procurávamos também driblar Dr.
Gerson, que era o engenheiro e muito bravo, nós morríamos de
medo dele, a brincadeira ficava mais gostosa por isto mesmo: os
escorregos e depois as carreiras para nos escondermos.
Numa dessas terças feiras, papai saiu cedo e não nos
levou. Nós havíamos ido impor as vacas quando papai saiu. Nós
chegamos, pedimos a mamãe para deixar nós irmos para o
açude, ela a princípio não concordou porque nós éramos
pequenos e a distância era grande para irmos sozinhos. Mas,
mãe é sempre mãe, aquela criatura santa e boa, portanto, meio
fácil de ser enrolada com conversa de filho, nós descobrimos que
estava faltando alguma coisa em casa, que precisava lembrar a
papai para trazer do barracão.
A hora já estava meio avançada, quase 10:00 horas da
manhã, ela não notou que já era tão tarde porque estava
preocupada com umas costuras e daquelas costuras que ela não
gostava que a gente assistisse quando ela estava costurando,
“peças íntimas de mulheres”. Permitiu que nós fôssemos e nós
fizemos carreira no caminho. A distância era mais ou menos uns
dois quilômetros e meio. Corremos mais ou menos um quilômetro
até o final da nossa propriedade, onde tem um avarjado chamado
Bem Feito, na divisa com Lucas Pinheiro. Aqui tem um juazeiro
que é uma verdadeira maravilha. Chegamos na sombra do
juazeiro já bastante cansados, o sol já esquentando muito,
paramos um pouco para descansarmos. Geraldo quando queria
me adular chamava-me Tetino, parece ter chegado mais cansado
do que eu então disse:  “Tetino vamos ficar aqui nesta sombra
esperando papai passar, porque já é quase hora do almoço e
pode ser que nós desencontremos dele e também não dar mais
tempo brincar na parede”. Concordei plenamente.
 277

O juazeiro já era ponto de brinquedo nosso quando íamos

pastorear as vacas para não entrarem para o cercado de Lucas,
porque as cercas haviam sido destruídas pelos operários do
açude. Já tinha lá, currais de vacas de ossos, brinquedo com que
nós brincávamos. Começamos a brincar e logo adormecemos,
papai passou por outro caminho e não pôde nos ver, acordamos
mais ou menos uma hora da tarde.
Quando acordei e levantei a vista quem estava bem
próximo de nós, era Seu Manoel Limão, olhando-nos de perto,
como se estivesse nos pastoreando.
Eu tinha muito medo de ser capado e o preto trazia um
bisaco de couro a tiracolo. Eu perguntei-lhe atarantado:  “O
senhor capa menino?” O preto me olhou e disse:  “É meu
serviço. Já trago neste bisaco um buraco de arrumação de
meninos”.
Como sempre fui meio improvisador, bolei um plano:  “O
senhor não me capa que eu lhe dou uma marrã de ovelha”. O
velho disse:  “Está combinado. E o outro, vai me dar o que?”
Geraldo aumentou a proposta, dizendo:  “Eu lhe dou uma
ovelha parida”. O preto falou:  “Está combinado. Vá para casa
direitinho”. E nós fizemos carreira. Quando nos distanciamos
dele, Geraldo virou-se para trás e disse:  “Eu não lhe dou nada,
não negro velho, sem vergonha”. Eu reclamei – “Não diga isto:
este homem tem as pernas muito grandes, pode nos pegar e
capar”. Geraldo que já estava perto de casa disse:  “Eu tenho lá
medo daquele negro velho!”

A Indústria em Currais Novos

O pioneiro da indústria em Currais Novos, podemos dizer

que foi Seu Miguel dos Santos. Iniciou com uma fábrica de
sabão, mais ou menos em 1934. Fabricava o sabão a base de
sebo e soda caustica com um processo rudimentar, antigo, de
fabricar sabão. Depois Seu Miguel verificou que o caroço do
algodão era muito oleoso, e devia dar bom resultado extraindo o
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óleo para fabricar sabão. Inventou uma engenhoca, que moia o

caroço, prensava e extraía o óleo. Deu muito certo o seu invento,
o óleo era bom mesmo para fabricar sabão. Nascia assim a
primeira indústria de óleo de algodão, em Currais Novos, junto à
fábrica de sabão de Seu Miguel dos Santos.
Nesta época, havia um prediozinho estreito, entre a Rádio
Currais Novos e o Supermercado Pinheirão, ou seja, na época:
entre a bodega de seu Manoel Augusto e o armazém de José
Pinheiro, já existia aquele armazém, que funcionava como
depósito de madeira de Oliveira Salustiano, que era uma
dependência do vapor velho de Vivaldo Pereira. Seu Miguel dos
Santos conseguiu o armazém para funcionar a fábrica de óleo.
Estava assim a faca e o queijo na mão, como se diz na gíria
popular, porque o armazém já era depósito de caroço do algodão
desfibrado no vapor, não havia no caso nem uma despesa de
transporte. Logo surgiu um problema com Seu Miguel dos
Santos, não tinha como utilizar à torta depois de extraído o óleo e
não queria jogar fora. Até porque, dava despesa para retirar do
armazém.
Seu Miguel era um homem evoluído para seu tempo.
Gostava muito de ensinar as coisas e começou a ensinar as
pessoas que plantavam vazantes na areia do rio usando adubo
de curral, que deviam adubar com torta de algodão, que dava
melhor resultado do que o adubo de curral. Mas, na realidade, o
que ele queria mesmo era se ver livre da torta, porque não tinha
espaço para acumular no armazém nem queria gastar dinheiro
para jogar fora.
Dado a sua insistência, o povo começou a levar a torta
para utilizá-lo como adubo no plantio de batata doce e feijão de
corda, na areia do rio. O povo não acreditava, a saída era muito
pequena, não dava vazão a produção da fábrica. Zé Vadí
plantava uma vazante no Rio do Totoró, na propriedade de
Zulmira dos Anjos, tratava de algumas vacas de leite bem como
de algumas rezes para corte.
Por insistência de Seu Miguel, Zé Vadí levou uma carga de
torta para adubar a vazante e fez outra experiência: botou de
molho numa bacia, um pouco de torta, para tentar dar as vacas
de leite, no lugar do caroço de algodão. A experiência foi bem
sucedida, a vaca comeu toda a torta e ainda lambeu a bacia. Ele
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continuou dando torta as vacas, que começaram a aumentar o

leite e afinar o cabelo mais de que se fosse com o caroço de
algodão. Deu também ao gado de trato e logo acabou a carga de
torta. Veio buscar outra. Os vizinhos também começaram a
procurar a torta e aí a fábrica é que não dava mais vazão para a
procura.
Seu Miguel dos Santos procurou saber em que estava
sendo utilizada a torta, já que não era mais tempo de plantar
vazante. Quando descobriu que estavam dando ao gado, ficou
muito feliz, mas deixou de dar, passou a vender a tostão o quilo e
não teve mais torta que chegasse.
Ele também fabricava óleo de mamona para o fabrico do
sabão. Essa Fábrica de Sabão é a Fábrica de Sabão Seridó, que
foi vendida por ele a Amadeu Venâncio e Celso Cruz, em 1950,
já funcionando num prédio que foi demolido por ficar no meio da
Avenida Alberto Maranhão, hoje Sílvio Bezerra.
Hoje, a Fábrica de Sabão Seridó pertence a Amadeu
Venâncio e funciona na beira do Rio Totoró, num prédio novo.
Esta é a mais antiga indústria de Currais Novos, com exceção de
algumas fábricas de sapatos e fogos de artifícios, mas
consideradas indústrias domésticas.

O Marco Histórico do Setor de Indústria

O setor de indústria em Currais Novos surgiu no local onde

funcionou uma das primeiras indústrias, o Tear de Maria Moreira
Dantas, ficou até conhecido pela A Casa do Tear. A história é
mais ou menos a seguinte:
Em 1942 começou em Currais Novos, uma pequena
indústria de redes. Severino Moreira e Negrão vieram de São
Bento da Paraíba, trouxeram uns teares e instalaram-se na
cidade. Severino na Rua Dix-Sept Rosado e Negrão na Rua do
Brejo. Emídio Moreira, sobrinho de Negrão, filho de dona Maria
Moreira, veio com eles e tecia para Negrão. Dona Maria ficou em
São Bento. Quando eles se equilibraram, arranjaram dinheiro
para Emídio ir buscar Dona Maria, isto, em 1943. Então, ela se
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instalou na casa que já existia ali na beira da estrada que ficou

chamada a casa do tear. Dona Maria estava muito longe de
pensar que estava plantando ali o marco histórico do setor de
Indústria de Currais Novos.
Já que estamos falando de redes, vamos dar uma voltinha
ao passado e ver se conseguimos localizar quem primeiro
fabricou rede nesta região. Vamos chamar de tecedor ou
tecedeira de redes, ao invés de chamarmos tecelão ou tecelã,
porque estes adjetivos são europeus, enquanto que, tecedor ou
tecedeira, são adjetivos nossos, regionais e, eu sou muito mais o
que é nosso.
O primeiro tear que conseguimos localizar nesta região foi
no Sítio Jucurutu, na divisa do município de Acari com o de São
Vicente. A primeira tecedeira foi Adriana Lins de Vasconcelos,
casada com Cosme Pereira, em 1878.
A fabricação era totalmente artesanal. O algodão era fiado
na mão, num fuso de madeira e a tinta era feita de casca de
umburana, misturada com anil.
Essa indústria de redes cresceu muito até 1950, indo do
Sítio Jucurutu, Torrão, Echú até São Vicente, chegou a ter mais
de duzentos teares, com uma produção de mais de duas mil
redes semanais, isto na época da safra. Todo mundo da região
trabalhava e vivia bem. Hoje, está muito resumida a indústria de
redes naquela região, mas na mesma fazenda e na mesma casa
do Jucurutu, ainda tem um neto de Dona Adriana que continua
tecendo a indústria começada por ela. Já passou de filhos a
netos, hoje, 107 anos depois, está ainda viva, na família, aquilo
que ela gostou, fez e ensinou a família.
A Indústria de Currais Novos vem se desenvolvendo muito
lentamente. As que estão em atividade são: Fábrica de Sabão
Seridó; Torrefação Ouro Branco; Algodoeira Totoró, que é um
complexo industrial com a Usina de Beneficiamento de Algodão,
Fábrica de Óleo Vegetal, Cotonifício e Tecelagem, que pertence
ao Sr. Omar Dantas; Fábrica de Mosaico Seridó e Cerâmica
Totoró Indústria e Comércio LTDA, com uma produção bem
regular de: tijolos furados, telha colonial, lajes de pré-moldados,
elementos vazados (combogó), mosaicos e cerâmicas, fundada e
dirigida pelo Sr. Antônio de Deus Barbosa; A Nobrelar Indústria e
Comércio LTDA, fábrica de móveis colonial, fundada em 29 de
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setembro de 1980, pelo Sr. Deoclécio da Nóbrega, a produção

atual é de 100 unidades de dormitórios e 200 estantes isto por
mês, o quadro funcional é de 30 operários, é dirigida pelo
proprietário; Confecções Inharé, uma moderna fábrica de
confecções do grupo Inharé, dirigida por Sérgio Dantas, isto, no
Setor de Indústria. Na Cidade, tem outras pequenas indústrias,
como Fábrica de Carrocerias, Fábricas de Móveis, etc.
O comércio é bem movimentado por ser o centro
convergente de vários municípios do Seridó. A Indústria Extrativa
de Minério de Tungstênio é a grande fonte de renda do
Município. São três as grandes Minerações instaladas no
Município.
A Mineração Tomaz Salustino continua sendo a maior
produtora da região, tendo atingido a vultosa produção em 1984,
de 567 toneladas, seguida pela Mineração Sertaneja com 559
toneladas e a Tungstênio do Brasil com 502 toneladas. As três
Minerações produziram em 1984 1.628 toneladas com uma
receita de aproximadamente 22 bilhões de cruzeiros, dando mão
de obra a cerca de 1800 pessoas.
Junto a Mineração Tomaz Salustino a WOLFRAN
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE METAIS, que produz
Paratungstatos de Amônio, a produção em 1984 foi de 21
toneladas, no valor de 121.625,429, empregando apenas 8
operários.
Existe, ainda, em Currais Novos, outras pequenas
Minerações, que exploram: ouro, schelita, colombita, berilo e
flourita, que junto as garimpagens dão mão de obra a uma
grande quantidade de operários registrados e avulsos.
O prefeito atual, José Dantas de Araújo, está executando o
Projeto Minério, que consiste em dar assistência aos garimpeiros.
Através do projeto a prefeitura fornece aos garimpeiros:
compressor, martelo, britador, motor, bombas, material explosivo,
carro pipa e outros utensílios, que facilitam a exploração dos
minérios. Com isto, a prefeitura está indo ao encontro de um dos
sérios problemas regionais, que é a chamada cata manual de
minérios, especialmente da colombita e do berilo, onde os
garimpeiros não têm condições econômicas e materiais para
explorá-los, especialmente no que diz respeito ao material
explosivo que é controlado pelo Exército Nacional. Está de
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parabéns, portanto, a Prefeitura Municipal de Currais Novos e o

Sr. Prefeito pela grande iniciativa.

Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão

Ulisses Telêmaco nasceu em 3 de março de 1872, sendo

filho de Laurentino Bezerra de Medeiros Galvão e Dona Teresa
Ursulina Bezerra. Ulisses foi, em sua época, o mais destacado
homem de letras de Currais Novos. Como jornalista talentoso,
fundou jornais e revistas, junto com Vivaldo Pereira e Abílio
Chacon. Dizem que deixou manuscrito um dicionário charadisto
de sua autoria, que não chegou a ser publicado.
Foi o primeiro secretário de administração do Município, o
organizador da parte burocrática da Intendência, secretariou
vários Intendentes, desde seu pai, em 1891, até Antônio Rafael
de Vasconcelos Galvão, em 1905.
Casou-se com Dona Guilhermina Leonísia de Araújo,
“Dona Santa”. Desta união nasceram os seguintes filhos:
1º) Susel Eulália de Araújo, casada com Carneirinho; 2º)
Uriel Telêmaco de Araújo, que se casou com Francisca, irmã de
Timotinha de Chico Ovídio; 3º) Francisco Mentor de Araújo, que
se casou com Dona Besinha; 4º) Ausônio Araújo, que se casou
com Dona Maria Dalila de Araújo. Deste casal nasceram os
seguintes filhos: Padre Ausônio de Araújo Filho e Padre Tércio,
Ausônio Tércio de Araújo.
Ulisses Telêmaco faleceu muito moço, aos 35 anos de
idade, em 21 de dezembro de 1907, e foi comerciante em Currais
Novos. No local de sua casa comercial foi construído um
monumento em sua memória, inaugurado em 1928.
A razão disso é porque ele foi o idealizador do monumento
centenário, junto com Vivaldo Pereira e Abílio Chacon. Como
Ulisses faleceu antes da inauguração do monumento, uma vez
demolida sua casa comercial, bem como as outras que existiam
no local, onde hoje é a Praça Cristo Rei, os seus amigos e
parentes resolveram construir um monumento idêntico em sua
memória. Homenagem muito justa e merecida.
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Ausônio Araújo

Ausônio Araújo nasceu em 14 de novembro de 1902, filho

de Ulisses Telêmaco de Araújo Galvão e Dona Guilhermina
Leonísia de Araújo. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade,
criado e educado por sua mãe, Dona Santa, bem como os outros
irmãos. Casou-se com Dona Maria Dalila de Araújo. Deste
casamento nasceram os seguintes filhos: Ausônio de Araújo Filho
e Ausônio Tércio de Araújo.
Aconteceu com Ausônio Araújo, dois casos raros de se
encontrar em história e por isto digno de serem registrados: o
primeiro é que Ausônio gostava tanto do seu nome que repetiu
nos dois filhos; o segundo é que, os dois filhos são padres: Padre
Ausônio Araújo Filho e Padre Ausônio Tércio de Araújo. O
primeiro é padre de sua Paróquia, isto é, pároco em sua cidade
Natal, o segundo é Vigário geral da Diocese de Caicó, Região do
Seridó, sua Região.
Eu jamais li nem ouvi falar, que caso semelhante tenha
ocorrido em outra família nesta região, ou em outra qualquer.
Não é o caso de dois filhos padres, é o caso do total da família
ser padres. Ausônio não vai ter netos. Sua família encerrou-se
em seus dois filhos, mas deu ao Seridó um exemplo marcante de
pai católico. O casal, Ausônio Araújo e Dona Maria Dalila de
Araújo, fez de sua casa o maior palco de vocações sacerdotais,
de que se tem conhecimento na história do Seridó.
Dois padres, dois exemplos de sacerdotes cultos e
dedicados ao serviço de Deus e à obra das vocações
sacerdotais. Ausônio Araújo homem de bem e bom pai, honesto
e trabalhador, foi durante muitos anos funcionário da Prefeitura
Municipal, no tempo que a Prefeitura tinha poucos funcionários.
Ele sabia fazer de tudo e foi Secretário de Administração de
vários prefeitos.
O maior lazer era passear na cidade com seus dois filhos.
Como eu me lembro de Ausônio Araújo, passeando normalmente
às tardes e nos dias feriados, com seus dois filhos, um de cada
lado, com os braços estendidos um ao ombro de cada filho,
conversando cidade a fora, como que fazendo transbordar o
aconchego do lar e enchendo as ruas da cidade. Parece que só
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vivia para duas coisas: o trabalho e a família. Gostava muito de

ajudar a sepultar os mortos, parece que mesmo estando no
trabalho mais apressado, na prefeitura, quando o sino dobrava
para um enterro, ele parava, deixava tudo e ia acompanhar.
Morreu muito moço, aos 52 anos de idade, em 08 de dezembro
de 1954. O seu sepultamento foi no dia 09, um dos maiores
enterros a que já assisti em Currais Novos.
Houve um caso raro no enterro de Ausônio Araújo. Parece
que para completar sua última vontade, e que ele morreu,
também morreu uma velhinha, que morava na Rua José da
Penha, ao lado da Igreja, se não me engano, Dona Zefinha da
Maniçoba e os dois caixões foram juntos para o Cemitério. O que
se conclui que Ausônio Araújo, gostou tanto de ajudar a sepultar
os mortos, que mesmo depois de morto, ainda acompanhou um
sepultamento.

Doutor José Cortêz Pereira

Nasceu em 17 de outubro de 1924. Filho de Vivaldo Pereira

de Araújo e Dona Olindina Cortêz Pereira. Tendo ficado órfão de
mãe mais ou menos aos 40 dias de vida. Teve uma segunda mãe
na pessoa de Dona Ritinha Pereira de Araújo, com quem seu pai
casou, em segundas núpcias.
Fez o seu curso primário no Grupo Escolar Capitão Mor
Galvão, em Currais Novos. Depois estudou no Convento dos
Carmelitas, em Goiana/PE, onde cursou Filosofia e Teologia.
Deixando o seminário, estudou na Universidade Católica de
Pernambuco, onde se bacharelou em Filosofia, em 1949 e em
1952, em Direito, pela Universidade Federal de Pernambuco.
Quando estudante participou da campanha de
redemocratização do País, iniciando um célebre discurso no dia
do enterro do estudante Demócrito. Participou da campanha do
Brigadeiro Eduardo Gomes, onde se destacou como grande
tribuno político.
Como estudante de direito já advogava, revelou-se um
grande criminalista.
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Em 1952, foi eleito Deputado Estadual e reeleito em três

eleições consecutivas, onde liderou oposição e governo com a
mesma capacidade de desenvoltura e moderação.
Foi eleito suplente de Senador em 1962, junto ao Velho
Dinarte de Medeiros Mariz. Teve oportunidade de assumir o
cargo, onde se destacou como grande tribuno do Senado da
República.
Eleito para a Diretoria do Banco do Nordeste, logo depois
foi designado seu representante junto ao Conselho Deliberativo
da SUDENE.
Ocupou a Diretoria de Crédito Rural e Cooperativo e fez
uma administração movimentadíssima. Exerceu interinamente a
Presidência do BNB e, durante esse curto período determinou
que fosse feito curso para técnicos cristãos sobre a problemática
econômica do Nordeste. Realizou uma viagem de estudo sobre
desenvolvimento rural: Espanha, Itália, Suíça, França e Israel.
Ingressou na Universidade por concurso e ocupou a
cadeira de Introdução e Ciência do Direito, na Universidade
Federal do RN com a tese: “Do Espiritualismo Jurídico de São
Tomaz de Aquino ao Materialismo Jurídico de Karl Marx”. Na
faculdade de Direito é professor de Economia Política.
Foi casado com Dona Aída Ramalho Cortêz, com quem
teve três filhos: Cortêz Júnior, Aída Maria e Atila Maria.
Escolhido Governador do Estado do RN e eleito pela
Assembléia Legislativa, escolheu o seu secretariado entre os
técnicos mais capazes, com uma média de idade de 34 anos, a
mais nova equipe que já administrou o Estado em toda a história
do Rio Grande do Norte.
Preparou-se com curso de administração e
desenvolvimento, ministrado pelos professores da Escola de
Administração da Fundação Getúlio Vargas. Sua administração
foi baseada em projetos que, na época, eram chamados de
sonhos. No entanto, os que foram executados, aí estão,
provando que, em toda a história do Rio Grande do Norte, foi que
houve de mais real para o seu desenvolvimento.
Em Currais Novos, entre outras suas realizações, temos:
as arquibancadas do Estádio Cel. José Bezerra, o Palácio dos
Esportes, abastecimentos d’água, o Hospital e a Casa do
Agricultor.
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Celestino Alves
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DADOS GENEALÓGICOS E BIOGRÁFICOS DO AUTOR

Nasci na Fazenda Namorados, em 6 de abril de 1929, às 5

horas da tarde num dia de sábado. Sou filho de Tomaz Alves dos
Santos e Francisca Maria de Jesus. Com 20 anos de idade,
mudei para Açu, onde casei em 9 de janeiro de 1951, com
Rosilda de Azevêdo Alves.
Em março de 1952, voltei para Currais Novos onde morei
até março de 1976, quando fui para Brasília, onde fiquei até
janeiro de 1984, quando voltei para Currais Novos e pretendo
ficar o resto da vida.

MEUS TRONCOS GENEALÓGICOS EM LINHA DIRETA

Família Garcia

1- Antônio Garcia de Sá Barroso, casado com dona Ana

Lins de Vasconcelos, filha do Cel. Alexandre Rodrigues
da Cruz. Ele português, ela da Serra de Dorna, deste
município;
2- João Garcia de Sá Barroso, casado com dona Maria do
Bom Sucesso, filha de João Damasceno Pereira;
3- João Garcia de Araújo (João Velho Barreto). Este foi o
primeiro morador do Sítio Jesus Maria, do município de
Currais Novos;
4- Manoel Garcia de Maria, casado com Ana Maria de
Jesus. Ele, filho de João Velho Barreto. Ela, filha de
Matias Cardoso dos Santos;
5- Joana Maria da Conceição, casada com Julião Cardoso
dos Santos. Ele, filho de Manoel Cardoso dos Santos e
ela, filha de Manoel Garcia de Maria;
6- Francisca Maria de Jesus, casada com Tomaz Alves dos
Santos. Ele, filha de Julião Cardoso dos Santos e ele,
filho de Targino Lopes do Amaral;
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7- Celestino Alves, casado com Rosilda de Azevedo Alves,

filha de João Venâncio de Azevêdo.

Família Cardoso

1- Francisco Cardoso dos Santos, (Português), casado com

Dona Teresa Lins de Vasconcelos, filha de Cel. Alexandre
Rodrigues da Cruz;
2- Francisco Cardoso dos Santos, casado com Antônia
Maria de Jesus;
3- Matias Cardoso dos Santos, casado com Elena Maria de
Jesus;
4- Manoel Cardoso dos Santos, casado com Maria Luisa da
Conceição;
5- Julião Cardoso dos Santos, casado com Joana Maria da
Conceição;
6- Francisca Maria de Jesus, casada com Tomaz Alves dos
Santos.
7- Celestino Alves.

Estes são os meus troncos genealógicos em linha direta

pelo lado materno até onde pude pesquisar.

TRONCOS GENEALÓGICOS DE CELESTINO ALVES, LADO

PATERNO EM LINHA DIRETA

Família Lopes Galvão

1- Manoel Lopes Galvão, (Português) que foi Mestre de

Campo/PE;
2- Francisco Lopes Galvão, que foi proprietário do engenho
Caga Fogo, em Goiana/PE;
3- Manoel Lopes Galvão, que morou no mesmo engenho;
4- Francisco Lopes Galvão enviuvou em Goiana e a
conselho de parentes veio morar no Rio Grande do Norte
na Fazenda Macacos no Município de Currais Novos
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tendo se mudado para o Brejo da Paraíba em 1845,

morou no Sítio Covão, no Município de Bananeiras;
5- Maria Lopes da paixão, casada com Amaro Tavares de
Assunção;
6- Targino Lopes do Amaral, casado com Joana Maria da
Conceição;
7- Tomaz Alves dos Santos, casado com Francisca Maria de
Jesus;
8- Celestino Alves.

Família Filgueira

1- João Filgueira de Castro;

2- Mariana Filgueira de Castro, casada com Pedro Pereira
da Silva, ela filha de João Filgueira de Castro, ele filho do
Cel. Antônio Pereira da Silva, da Barra de Santa Rosa;
3- Joana Maria da Conceição, casada com Targino Lopes
do Amaral, ela filha de Mariana Filgueira de Castro, ele
filho de Maria Lopes da Paixão;
4- Tomaz Alves dos Santos, casado com Francisca Maria de
Jesus, ele filho de Targino Lopes do Amaral, ela filha de
Julião Cardoso dos Santos.
5- Celestino Alves.

Estes são os meus troncos genealógicos em linha direta

pelo lado paterno, até onde me foi possível pesquisar.
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