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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

EXAME DE DIREITO PROCESSUAL PENAL – 5º ANO/NOITE – 02 DE JUNHO DE 2009


(120 MINUTOS)

No dia 10 de Março de 2009, deflagrou uma bomba na loja de ANTÓNIO. Em


resultado deste facto, ANTÓNIO, que se encontrava no seu interior, veio a falecer
em consequência dos ferimentos sofridos e ficou completamente destruído o
automóvel de CARLOS, que se encontrava estacionado à porta da loja. O MP decide
constituir arguido, no processo entretanto instaurado, BENTO, que também é
comerciante e vizinho de ANTÓNIO, por suspeitar que terá sido ele quem praticou
os factos descritos, para diminuir a concorrência do seu negócio. BENTO é casado,
tem dois filhos, vive com a sua família e tem uma vida económica estável,
deslocando-se ao estrangeiro, por motivos profissionais, duas a três vezes por mês.
Durante o inquérito, o MP decide ordenar a gravação das conversações telefónicas
efectuadas a partir da casa de BENTO, o que é feito. Numa dessas conversações
BENTO confessa a um amigo a prática dos factos acima descritos. Tendo
conhecimento dessa situação, o MP requer ao Juiz de Instrução a aplicação da prisão
preventiva ao arguido, tendo em conta a gravidade dos factos, o dolo intenso e as
frequentes deslocações de BENTO ao estrangeiro, donde retira ser iminente o perigo
de fuga.

Nessa mesma data, DANIEL, conhecido treinador de um clube de futebol, é


confrontado, à saída do estádio e depois de um resultado menos positivo da sua
equipa, com uma multidão de adeptos em fúria. Um dos adeptos, EDUARDO,
dirige-lhe várias palavras ofensivas da sua honra. DANIEL responde na mesma
moeda. EDUARDO sente-se extremamente ofendido e decide apresentar queixa no
posto policial mais próximo, o que faz.

Responda às seguintes questões, tendo especialmente em conta o disposto nos arts.


132º, 181º, 186º/3 e 212º do Código Penal:

Q1. Suponha que é o Juiz de Instrução. Como decidiria o requerimento do MP? E se o Juiz
de Instrução aplicar ao arguido a prisão preventiva, situação em que o mesmo se encontra já
há sete meses, poderá BENTO pôr termo a esta situação? Com que fundamento e qual o meio
que deve utilizar? (4 valores)

Q2. CARLOS pretende intervir no processo, de preferência como assistente, para que
BENTO possa responder pela destruição do seu automóvel, meramente negligente, porque
não querida nem representada por BENTO. Pode fazê-lo? A que título? (4 valores)

Q3. Estando já a decorrer o julgamento de BENTO, o MP pretende que seja ouvida em


audiência a conversa telefónica em que BENTO assume a prática dos factos. O defensor do
arguido opõe-se, invocando que aquela escuta não foi legal. O MP responde que, mesmo que
assim se entenda, trata-se de uma nulidade dependente de arguição, que se encontra sanada,
por não ter sido arguida em prazo. Quem tem razão? (3,5 valores)

Q4. Terminado o inquérito, o MP, com a concordância do Juiz de Instrução, arquiva o


processo, ao abrigo do disposto no art. 280º do CPP. EDUARDO não se conforma com
aquela decisão. Poderá contrariá-la? Com que fundamento e por que meio? (3,5 valores)

Q5. (3 valores)
1
a) Suponha agora que EDUARDO não se opõe ao arquivamento. Porém, algumas
semanas mais tarde surgem várias testemunhas que afirmam que EDUARDO foi
insultado por DANIEL sem que lhe tenha sido dirigida qualquer palavra.
EDUARDO pretende a reabertura do inquérito, mas DANIEL opõe-se, invocando
o trânsito em julgado da decisão de arquivamento, nos termos do art. 449º/2 do
CPP. Quem tem razão? (Alternativa);2
b) Diga o que entende por “princípio do acusatório”
c) PONDERAÇÃO GLOBAL: 2 Valores.

2
GRELHA DE CORRECÇÃO

1. Explode uma bomba em estabelecimento comercial e em resultado


António, o seu proprietário, morre. Não se sabe ainda se é intencional o
comportamento ou conjunto de comportamentos praticados. Aliás, nada se sabe
acerca da origem do evento.
O MP decide instaurar processo, para o que tem competência própria: (cfr. artºs
262º, 263º). Fá-lo contra Bento
Compete apreciar a maneira como actua.
Decide constituir arguido Bento, por suspeitar de que Bento pretende evitar a
concorrência de António e o tenha evitado da forma mais drástica.
O texto da hipótese não apresenta qualquer outro fundamento para a
constituição de Bento como arguido que não esta: uma forte convicção sem
fundamentos materiais.
Ora não se verificando qualquer das modalidades de flagrante delito, teria de ser
António “suspeito”, de acordo com o art.º 257º.
Porém, a hipótese descreve Bento como uma pessoa com hábitos regulares e
normais. Uma ponderação aleatória de comportamento invejoso não colhe
densidade bastante para sustentar um indício.
Não havendo outra razão para tanto, a constituição de arguido por este facto não
deveria ter ocorrido com tal fundamento. Faltam, pois, indícios mínimos para a
imputação da qualidade de suspeito a Bento: cfr. art.º 127º (0,5).
[Na realidade, se dúvidas impendem sobre a responsabilidade de alguém, ou se
é pelo menos admissível que possa ter acesso a informação sobre o ocorrido,
deve por regra o MP proceder ao seu interrogatório, sim, mas como testemunha.
E só a circunstância de o resultado desse interrogatório indiciar motivo de
suspeita justificará então a sua constituição como arguido (cfr. artºs 56º e segs.)
(0,5).]
No caso em apreço, porém, é oportuno questionar a possibilidade de a
constituição de Bento como arguido ter outra justificação. Pois o que sucede é
que o Inquérito se move contra ele e essa situação suscita a ponderação da
própria obrigatoriedade do seu interrogatório como arguido.
Assim impõe a lei, “Correndo interrogatório contra pessoa determinada em
relação à qual haja suspeita fundada da prática de um crime é obrigatório
interrogá-la como arguido…” (1).
Mas será o caso?
Não se verificam, porém suspeitas fundadas nesta fase, como já se afirmou. Ora,
o fundamento legal para a aplicação do art.º 272º contém um duplo requisito,
que aqui, do exposto, poderá não ser unanimemente reconhecido.
Sucede que a doutrina não interpreta este requisito uniformemente. Um
entendimento possível será o de que se pretende, na nova redacção do art.º 272º
1., evitar o interrogatório nos casos de queixa infundada, ou ainda, evitar a
mesma situação nos casos de actuação errónea por parte do Ministério Público.
Entende-se que a interpretação correcta do preceito em apreço apenas admite
uma leitura ampla: toda a dúvida não fundamentada será excluída.
A constituição de arguido move-se entre propósitos de defesa da pessoa visada
(aqui, Bento) e de reconhecimento do direito à defesa em sentido próprio. E, se o
primeiro objectivo justifica a sua aplicação mais ampla, o segundo não.
A constituição de Bento como arguido, porém, verificou-se sem esta
fundamentação e procedimento legal. Não deveria ser validada pela autoridade
judiciária (cfr. o art.º 58º.3) (0,5)

3
O Ministério Público decide também proceder a escutas telefónicas e, nessa
altura, surpreende uma declaração de responsabilidade de Bento, o qual, em
conversa, assume perante um amigo ser o autor do ilícito criminal.

[a apreciação das escutas será feita infra, no contexto da questão que


explicitamente as refere]

Para que se verificasse a legalidade da prisão preventiva de Bento, requerida


pelo Ministério Público ao Juiz de Instrução, seria necessário que estivessem
presentes os pressupostos legalmente requeridos, o que não acontece.
Atento o art.º 202º, a prisão preventiva, a mais grave medida de coacção contida
no elenco típico do CPP, implica fortes indícios de crime de terrorismo, de crime
doloso punível com pena de prisão de máximo superior a cinco anos, e ainda
(além de outros pressupostos não relevantes neste caso), que seja o destinatário
pessoa cuja permanência irregular em território nacional indicie iminência de
fuga (1)
É verdade que Bento se desloca com frequência ao estrangeiro. Mas será
totalmente destituída de fundamento a inferência de que o faça indiciando com
isso suspeita de prática de crime ou desejo de fuga. Há uma tal regularidade
nesta forma de agir, é tão evidente a motivação profissional, que nada faz
conceber a suspeita de crime ou de fuga com base neste facto.
Para invocar a convicção da existência de indícios fortes de prática do crime por
Bento teriam de ser alegados meios de prova admissíveis na sentença, o que não
acontece, como se apurará infra. Assim, o Juiz de Instrução não deveria ter
ordenado a prisão preventiva de Bento com base nesta fundamentação.
Uma vez que lhe foi aplicada, ainda assim, a prisão preventiva, poderia Bento
interpor um pedido de Habeas Corpus, (cfr. artºs 219º, 220º, 221º). Poderia
igualmente recorrer para a Relação do despacho que lhe tivesse aplicado a
medida de coacção ou requerer ao Juiz a revogação da mesma medida de coacção
(0,5).

2. Carlos pretende intervir no processo como parte processual, a saber, como


assistente. Com efeito, invoca a aplicação do estatuto de assistente, sem prejuízo
de aceitar, nos termos da hipótese, uma outra espécie de intervenção.
A posição processual do assistente baseia-se no pressuposto da necessidade de
lhe conferir, no processo, voz autónoma e mesmo uma acção conformadora da
decisão final. A esta luz se deverá interpretar o art.º 68º e também o art.º 69º.
Sucede que não se verifica em relação a Carlos qualquer dos pressupostos
vertidos na lei. Não será, pois, concebível a assunção por Carlos da qualidade de
assistente (2).
Nesta circunstância poderá Carlos intervir como parte civil. (cfr. os artºs 71º a
74º) (2).

3. A audição da escuta telefónica que contém a declaração de responsabilidade de


Bento é requerida pelo advogado do arguido na audiência de julgamento.
Cumpre analisar o modo como esta escuta foi obtida.
A sua legalidade exigiria o cumprimento do art.º 187º CPP.
É, porém, ilegal, uma vez que não se verificam os pressupostos aí enunciados.
Desde logo, não há motivo para considerar tal diligência necessária para a
descoberta da verdade.
Não se verificou, também, despacho fundamentado do Juiz de Instrução nesse
sentido.

4
As provas obtidas através de meios proibidos são nulas, não podendo ser
utilizadas (1,75). No caso, atingindo o direito à integridade moral, e tendo havido
intromissão na vida privada, a nulidade é insanável (cfr. o art.º 32º CRP e art.º
126º 1, 2 e 3 CPP) (1,75).

4 O juiz procede ao arquivamento do processo com base no art.º 280º.


Deveria tê-lo feito?
A doutrina divide-se nesta matéria.
Segundo alguns autores, deverá negar-se a aplicação do art.º 280º a crimes
particulares, uma vez que tal regime não se compatibiliza com o regime próprio
destes crimes. (É sobretudo chamado a depor, a favor desta tese, o art.º 285º).
Por outro lado, o art.º 280º não estabelece entre os requisitos de arquivamento o
consentimento do assistente.
Segundo a opinião oposta, nada na lei se opõe de forma clara a tal aplicação.
E uma terceira via sustenta a aplicação analógica do art.º 281. 1 a) in fine às
situações contempladas no art.º 280.º1, exigindo, no caso dos crimes particulares,
a concordância do assistente, como pressuposto do arquivamento [admite-se a
defesa de qualquer das teses expostas] (1).
Este arquivamento baseia-se no eixo de concordâncias do MP, do arguido e do
juiz de instrução. A concordância deste último confere à parte processual não
conformada com a decisão o recurso da decisão jurisdicional (“recurso
jurisdicional”), com base no art.º 399º do CPP. [a jurisprudência do Tribunal
Constitucional] Para esse efeito é necessário que não estejam preenchidos os
requisitos do art.º 280.1, já que, nos termos do nº 3, a margem de oportunidade
desta decisão não é sindicável. (2,5).

5/a)Há doutrina que sustenta a aplicabilidade do art.º 279º a estes casos.


Nos termos do art.º 279º, o inquérito poderá ser reaberto se surgirem fundamentos
de prova que invalidem os fundamentos invocados pelo Ministério Público no
despacho de arquivamento (1,5)
Há doutrina que nega tal possibilidade, uma vez que o art.º 280º contempla
situações em que já se recolheram indícios suficientes da prática do crime e só por
razões de reinserção social do arguido e também de economia processual se
arquiva o processo, ao passo que nas situações contempladas no art.º 279º os
indícios surgem só após o arquivamento. Não é de excluir a aplicação analógica do
art.º 282.3 in fine (suspensão provisória do processo), por identidade de razão (0,5)

5. b/ Princípio do acusatório, também denominado “da Acusação”, tem sede


constitucional (art.º 32º.5) e na lei ordinária (artºs 40º e 311.2. a) e nº 3 do CPP).
Uma estrutura acusatória do processo penal implicará segundo a doutrina
tradicional, o secretismo da fase de investigação, bem como a inexistência de um
contraditório. Tal fase secreta é nesta modalidade do processo competência do
Ministério Público.
Mas não deverá hoje entender-se o secretismo absoluto da fase de Inquérito como
traço caracterizador do princípio em questão.
Ainda segundo o Inquisitório, a fase de julgamento, pública, possui sempre
contraditório e é da competência do juiz.
Com a aplicação deste princípio cria-se um sistema segundo o qual é garantida a
separação entre a titularidade para a definição do objecto do processo e a entidade
que procede ao julgamento.

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