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O aluno deverá realizar leitura prévia identificando no texto os conteúdos que são
rapidamente interpretados e o mesmo deve ser feito para os conteúdos que
apresentaram algum tipo de dúvida ou indagação.
10) Caso Gabriel e Aderaldo fossem convocados pelo Conselho para expor
suas ideias/estratégias, como deveriam conduzir as propostas?
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Banco Galtar: a crise cambial brasileira de 1999 – aspectos políticos e de mercado
Introdução: O Dilema
Aderaldo e sua equipe acreditavam que a ousadia poderia ser mal interpretada
pelas autoridades, às quais, depois de tudo, decidiriam a realização ou não dos
interesses e, conseqüentemente, o futuro do Galtar. Os executivos do banco, no entanto,
intuíam que uma extraordinária oportunidade se avizinhava e seria possível, diante de
circunstâncias mais gerais, aumentar os ganhos da empresa. Um patente dilema se
estabeleceu: arriscar objetivos estratégicos ou tirar proveito imediato do cenário político e
econômico do país? No decorrer dos dias e dos fatos que se seguiram, os Conselheiros
do Banco foram chamados a se posicionar a respeito.
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O Natal de 1998 - A reeleição de FHC e a tempestade cambial
Para Gabriel, eram nítidos os sinais de tempos difíceis: o risco Brasil medido pelo
EMBI+ apontava uma escalada crescente do spread pago por títulos brasileiros e o
principal título da dívida externa renegociada, o C Bond, era ofertado por um yield to
maturity equivalente a países em default. Os movimentos nos preços dos derivativos de
juros e câmbio negociados na BM&F, no entanto, não precificavam essa situação de
risco. Em parte isto ocorria pela estratégia adotada pelo Banco Central de usar o Banco
do Brasil como grande vendedor de dólares no mercado futuro da BM&F, mas as
pressões para que a estratégia “Chapa Branca” não fosse mais utilizada vinham
aumentando, o que poderia ser uma excelente oportunidade de ganhos com baixa
exposição à perda de capital. No ano anterior (1997), o Brasil fora obrigado a elevar a
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taxa de juros de curto prazo para estratosféricos 45% a.a., equivalendo a um cupom
cambial de 36% a.a.. Isto, evidentemente, pressionava a dívida pública, embora
permitisse repor parte dos 70 bilhões de dólares de reservas que o país perdera no
episódio da crise asiática.
Apostar na piora do quadro, essa era uma estratégia possível e foi apresentada
ao Conselho. O Galtar, desde sua fundação, se caracterizava por um detalhe que o
diferenciava da maioria dos bancos: nas questões pertinentes a gestão de ativos e
passivos (Asset Liablity Management), além de um comitê específico, todas as posições
deveriam ser avalizadas semanalmente pelo Conselho de Administração. Este detalhe
se explicava pelo fato de que Pedro Santos Velho, um empresário de sucesso na área
de varejo, não se sentia confortável em conferir poderes aos seus principais executivos,
principalmente, em operações de tesouraria. Isto não incomodava Gabriel, pois os
conselheiros do Galtar eram profissionais com profunda experiência em todas as
atividades relacionadas ao mercado financeiro, incluindo-se operações de tesouraria e
derivativos.
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O mais preocupante, na visão de Mello, era a possibilidade disto vir a forçar
alterações na política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, e
pelo presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Havia algum tempo, vários sinais
indicavam que FHC repensava a política cambial de seu governo; pesava prós e contras,
administrava pressões cada vez maiores e procurava, por fim, uma forma de se livrar de
uma situação onde o Real estava fortemente apreciado diante do dólar. Gustavo Franco
mostrava resistências em fazê-lo uma vez que teria dificuldades em promover quaisquer
alterações nesse sentido. Avaliava que, antes do câmbio, a questão fiscal precisaria ser
enfrentada.
Para FHC, promover essa alteração à revelia de Franco custaria um conflito com
seu principal colaborador e espécie de salvo-conduto de seu governo diante da
comunidade financeira internacional, o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Dado o
respeito que adquirira em anos de debates e bons serviços prestados à Nação, Malan
dava credibilidade ao governo e transmitia a investidores e organismos internacionais a
confiança que o Brasil necessitava e vinha adquirindo desde a implantação do Plano
Real.
A posição de Mello, afirmando que do ponto de vista político poderia ocorrer uma
ruptura, ou pelo menos um choque, na base de apoio do Presidente, reforçou a
perspectiva de mudanças na política cambial introduzida em março de 1995. Caso a
mudança cambial ocorresse no inicio do ano, os preços dos derivativos de câmbio e
juros mudariam rapidamente. O fator político, inegavelmente, comprometia o país, mas é
forçoso admitir que, por outro lado, a depender do seu desenlace, poderia vir a ser uma
oportunidade de ganhos financeiros para as empresas.
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presidência autorizou Gabriel a estruturar posições compradas em moeda estrangeira,
usando somente contratos derivativos de bolsa e com vencimento de no máximo 90 dias.
Esse limite não incluía as operações de hedge que o banco vinha realizando sobre o
total de passivos em moeda estrangeira, nem tampouco a parcela de cobertura cambial
do capital do banco.
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Quarta-feira, 06 de janeiro de 1999. A reunião de caixa do Galtar transcorrera
rapidamente. Gabriel orienta traders de derivativos a evitarem posições intraday, o banco
estava posicionado aguardando um aumento da volatilidade dos mercados e já fizera
sua aposta no mercado futuro de dólar, a aparente calmaria escondia uma tempestade a
caminho... O clima de tranqüilidade e expectativa foi quebrado por um telefonema de
Aderaldo Costa. Ele já estava em São Paulo e jantara com Henrique Carvalho Gomes,
na noite anterior. Mostrara-se incomodado com a estratégia sugerida por Gabriel e
aprovada pelo Conselho. Aderaldo tinha sua própria assessoria política e muitos amigos
no Governo. Argumentou que a posição especulativa na compra do dólar poderia ser mal
interpretada em Brasília e atrapalhar as intenções do Galtar de se tornar um banco
comercial de grande porte. Além disso, comentou que suas fontes no Congresso lhe
garantiram que o Presidente FHC teria todo o apoio necessário para as reformas e que
mudanças no regime cambial não faziam o menor sentido. Era uma opinião respeitada.
Por fim, Aderaldo ponderava que suas negociações para uma associação
internacional estavam adiantadas; a estratégia de crescimento após a entrada de um
sócio estrangeiro se daria por aquisições de pequenos e médios bancos comerciais.
Contava com incentivo do Banco Central, que eventualmente poderia liberar uma linha
de financiamento similar as do PROER. Alertou Gabriel, comunicando-o que o Conselho
se reuniria extraordinariamente na sexta-feira, 15 de Janeiro, com a participação do
Presidente do Banco, Pedro Santos Velho.
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Mello alertava Gabriel Rocha que aquele “coquetel” de disputas não costuma
fazer bem para os governos. Vitorioso, FHC nem tivera tempo para desfrutar o sucesso;
sabia que se reelegera tanto por seus méritos quanto pelo temor que o país ainda tinha
em relação a Lula. Sentia-se isolado e sem operadores eficientes e confiáveis --
desgraçadamente, em abril daquele ano, perdera seus dois mais importantes
articuladores políticos e apaziguadores de ânimos: Sérgio Motta e Luís Eduardo
Magalhães; Mário Covas, figura de imensa autoridade no partido, estava doente e fora
de combate. Era a solidão do poder de que tanto FHC ouvira falar; figura sempre cordial
e bem-humorada, vaidosa e sedutora, o presidente parecia tenso e apagado. Sabia que
as disputas em seu campo de apoio não seriam civilizadas e nem se prenderiam a
pudores.
Tudo isso, no entanto, parecia ser pouco para Aderaldo. Como das outras vezes,
nas inúmeras disputas no governo, o vice-presidente acreditava que o Banco Central
sairia incólume; que FHC dependia da imagem de Pedro Malan e que este era o fiador
do presidente do BC, o que, portanto, garantiria a política cambial. Apesar de todas as
evidências -- de que o círculo se fechava em torno de FHC; de que o próprio presidente
dava sinais de exaustão em relação à política cambial, de alguma forma, o feixe
simbólico de pressões e críticas --, Aderaldo acreditava que os custos de uma mudança
cambial seriam tão grandes para o governo que seria impensável fazê-lo. Seus
argumentos eram fortes e estavam respaldados por consultorias econômicas de enorme
prestígio.
Além disso, o custo de cartas de fiança emitidas por bancos para depósito de
margem na Bolsa de Mercadorias e Futuros já tinha dobrado. Os investidores e bancos
estrangeiros começavam a apostar na mudança cambial?
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A reunião do Conselho de Administração: aumentar a aposta na desvalorização do
Real. Como convencer os participantes?
Após a saída de Franco, o BC editara uma medida que ficou conhecida como
“banda diagonal exógena”, um complicado e confuso sistema de flutuação dentro de uma
banda de 1,22 R$/US$ e 1,32 RS/US$; entretanto, o que se via na prática era o BC
atuando como vendedor no mercado à vista de câmbio e os derivativos de moeda
estrangeira estavam com forte pressão compradora.
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A reunião de Conselho começou às 11h00, pontualmente. Francisco Mello foi o
primeiro a falar; reforçou sua análise de afastamento da base aliada no apoio às
reformas estruturais, que nesse momento de questionamento sobre o Brasil poderia
acalmar a turbulência sobre os mercados financeiros e as conseqüências sobre a
economia real. A atitude do governador Itamar atiçara os demais governadores da
oposição e abalara a confiança no Brasil. A evolução do noticiário a respeito de
escândalos vinculados às privatizações criava um clima de incerteza.
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Aderaldo ficou reticente, temia que o Banco Central julgasse de maneira negativa
posições do Galtar nos mercados de câmbio... Acreditava em Malan e FHC, mas não
tinha ilusões quanto às possibilidades de um perfil fiscal mais duro por parte daquele
governo. Conhecia a política do Brasil e duvidava que o governo fosse capaz de passar
a tesoura em despesas correntes, em emendas de parlamentares, nos objetivos políticos
de cada partido; sabia qual fora o custo da reeleição e supunha que agora seria o custo
da popularidade presidencial recentemente reafirmada nas urnas. Não acreditava que
FHC pudesse desdizer o que prometera durante a campanha eleitoral que mal terminara:
não mexer no câmbio.
Além disso, os consultores que assessoravam Aderaldo garantiam que nada seria
alterado; diziam conhecer como operavam “as cabeças” do governo. Essa certeza o fez
enfatizar ainda mais o risco: o banco poderia perder a condição de dealer e prejudicar
suas pretensões de adquirir um banco comercial de grande porte. Sabia que este era o
grande sonho de Pedro Santos Velho. Ademais, lembrou a todos que em um passado
não tão distante, o governo costumava reagir de um modo intempestivo, criando
impostos, compulsórios, mudando as regras do jogo, não raro, perseguindo desafetos...
Acreditava que isto poderia ocorrer novamente, com desdobramentos negativos para o
Galtar. Em resumo, pedia cautela!
Por fim, partiu para questões mais objetivas e apresentou ao Conselho a situação
de caixa do Galtar: em sua opinião, o posicionamento nos derivativos de câmbio
demonstrava um ganho suficiente, até o momento. Concluiu: “não há espaço para o
dólar superar a cotação de 1,32. Esse ajuste de quase 9 % promovido pelo BC é
suficiente para acalmar os mercados!”.
O tom solene dos Conselheiros parecia não aprovar aqueles termos de mercado
que Gabriel utilizava, mas era evidente que uma disputa estava em jogo. Que fazer?
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Antes de a votação se iniciar a tela de TV ligada em uma importante agência de
notícias trazia a informação que a agência Standard & Poor’s acabava de rebaixar o
rating do Brasil. Ainda que disfarçasse, Gabriel não pode evitar o semblante de
afirmação de sua tese. Aderaldo, ao contrário, mostrava-se tenso e desarticulado.
FIM.
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Anexos
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COMUNICADO 6.560
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sendo:
DT: aumento em Reais do limite superior
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sendo:
DP: aumento em Reais do limite inferior
T: limite superior em vigor no período corrente
P: limite inferior em vigor no período corrente
X: media aritmética das taxas PTAX de venda observadas nos três dias úteis
do período corrente
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COMUNICADO 6.565
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