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G uará Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) ISSN 1413-571X

EDiTORA

Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 - R$ 12,00

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Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra)
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Journal of continuing education for small animal veterinarians


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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
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4 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Índice
Anestesiologia - 34

Simone Tostes de Oliveira


Anestesia de cães e gatos com distúrbios
neurológicos - artigo de revisão
Anesthesia of dogs and cats with neurological
disturbances - review article
Anestesia en perros y gatos con problemas neurológicos - revisión
Cardiologia - 48
Cardiomiopatia do boxer:
revisão de literatura
Boxer cardiomyopathy: a review
Cardiomiopatía del bóxer: revisión de la literatura
Cão boxer de dez anos de idade, ma-
Clínica médica - 60 cho, com histórico de tosse e apresen-
Hipersensibilidade alimentar tando caquexia e ascite
em cães e gatos
Food hypersensitivity in dogs and cats
Hipersensibilidad alimentaria en perros y gatos

Fábio Luiz da Cunha Brito


Oftalmologia - 68
João Pedro de Andrade-Neto

Manifestações oculares na leishmaniose


visceral canina - revisão
Ocular manifestations in the canine visceral leishmaniasis - review
Influenza en perros y gatos
Clínica médica - 76
Encefalite do cão pug: primeiro
diagnóstico no Brasil Fotografia de olho de cão naturalmen-
Pug dog encephalitis: first diagnosis in Brazil
Encefalitis necrotizante del perro Pug: primer diagnóstico en Brasil te infectado por Leishmania (chagasi)
chagasi
Área de necrose em cerebelo. (* área Clínica médica - 80
de vacuolização). HE, escala em Aspectos clínico-patológicos das efusões
barra: 250mm
corporais: revisão de literatura
Clinical-pathological aspects of body effusions: a review
Aspectos clínico-patológicos de las efusiones corporales:
Priscyla Taboada Dias da Silva

revisión de la literatura
Oncologia - 89
Osteossarcoma extra-esquelético no tecido
subcutâneo de um cão: relato de caso
Extraskeletal osteosarcoma in the subcutaneous
tissue in a dog: case report
Osteosarcoma extraesquelético en tejido
subcutáneo de un perro: relato de caso

Células mesenquimais neoplásicas


delineando trabéculas ósseas minera-
lizadas - osteossarcoma osteoblástico
produtivo (HE 400X)

Seções Livros - 92 Lançamentos - 100


Editorial - 6
Jaulas Vazias, de
Reportagem - 8 Tom Regan Negócios e
A medicina felina brasileira oportunidades - 103
hoje e há 10 anos Bem-estar animal - 96 Ofertas de produtos e equipamentos
WSPA lançou
Notícias - 10 Declaração
Universal de Serviços e
• Conferência Sul-Americana de Med. Vet. 12
• Animais silvestres 14
Bem-Estar especialidades - 104
Animal Prestadores de serviços para
• Pesquisa 16
• Pet food 18 clínicos veterinários
• Indústria farmacêutica 22
• Serviços 24 Agenda - 112
Calendário de eventos nacionais e
• Paz para todos os seres 26 Faça saber ao seu governo que os animais são internacionais
importantes para você - www.animalsmatter.org

Saúde pública - 28 Gestão, marketing e


Anclivepa-MG realizou detabe sobre a estratégia - 98
leishmaniose visceral canina 28 Ajustando a sua rotina

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 5


Editorial
C omerorar o dia 9 de setembro, para os que amam a profissão, sempre é um motivo de satisfação,
apesar das dificuldades que possam estar presentes no dia-a-dia. Porém, este ano, as conquistas da
classe estão muito mais em evidência do que as dificuldades. A eleição direta no Conselho Federal de
Medicina Veterinária, CFMV, é uma delas. Após anos do empenho de alguns colegas que pleiteavam o
direito do voto direto nas eleições do CFMV, isto está próximo de ocorrer, sendo essencial que todos os
colegas preparem-se para esse momento histórico. Os clínicos veterinários de pequenos animais também
tiveram uma conquista bastante significativa: o reconhecimento, pelo Ministério da Saúde, de que em
alguns casos, o tratamento de cães soropositivos para a leishmaniose visceral canina é justificável. O
Ministério da Saúde ainda não reconhece o tratamento de cães com leishmaniose visceral canina como
medida de controle da zoonose, mas somente o fato de estar perto de aceitá-lo, desde que feito sobre
condições estabelecidas, já é motivo de reconhecimento na evolução, não somente das novas condutas
que o Ministério da Saúde está propondo para a enfermidade, mas também no profissionalismo e na
capacitação dos clínicos veterinários de pequenos animais.
Falando em evolução não poderia ser deixado de citar alguns conceitos que ainda estão evoluindo
na medicina veterinária: a eutanásia humanitária e a posse responsável.
O significado da palavra eutanásia é morte sem sofrimento, sem dor. Eutanásia humanitária é uma
redundância e o surgimento do termo é devido ao fato de que em alguns locais onde se praticava o
sacrifício de animais, prática na qual observa-se o sofrimento e a dor, diziam ou pensavam estar fazendo
eutanásia, o que na realidade nunca foi feito. O termo eutanásia humanitária é desnecessário. O que
realmente precisa ser feito é não ser permitido o simples sacrifício e substituí-lo, quando não houver
outra opção, pela eutanásia verdadeira e ética, ou seja, sem sofrimento e dor.
A posse responsável é um conceito muito importante e que já foi muito
trabalhado. Porém, ele precisa ser revisto. Um ente querido não deve ser tratado
como objeto e é isto o que a palavra “posse” faz. Luciano Rocha Santana
(promotor de justiça do meio ambiente da Comarca de Salvador, BA e doutoran-
do em direitos humanos pela Universidade de Salamanca, Espanha) e Thiago
Pires Oliveira (acadêmico de direito da Universidade Federal da Bahia, UFBA,
pesquisador em direito ambiental da Cururupeba Organização Sócio-
Ambientalista e da Associação dos Moradores da Costa da Ilha dos Frades) abor-
dam esta questão no artigo Guarda responsável e dignidade dos animais, publi-
cado na edição n. 1, de jan/dez 2006, da Revista Brasileira de Direito Animal. No
artigo, o conceito científico de guarda responsável é bem claro: “É a condição na
qual o guardião de um animal de companhia aceita e se compromote a assumir
uma série de deveres centrados no atendimento das necessidades físicas, psi-
cológicas e ambientais de seu animal, assim como prevenir os riscos (potencial
Guarda responsável, um novo
de agressão, transmissão de doenças ou danos a terceiros) que seu animal possa conceito em prol da dignidade
causar à comunidade ou ao ambiente, como interpretado pela legislação vigente”. dos animais perante a justiça

Esses temas, que merecem reflexão, são tratados com mais detalhes em algumas matérias nesta
edição que abrange no seu período de circulação, além do dia do médico veterinário, o dia mundial de
proteção dos animais, dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

6 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Esse é nosso presente
aos Médicos Veterinários... *A Vetnil foi eleita entre as 100 melhores
Empresas para se trabalhar no Brasil.

“Sempre tive muito orgulho da Vetnil, pois é uma empresa "Tão importante quanto oferecer proteção à saúde dos
100% nacional, e que mais do que ajudar aos veterinários animais é ter segurança nos medicamentos utilizados.
com excelente produtos, nas várias áreas de atuação, mantém Receitar produtos seguros é ter confiança em quem os
parcerias com nossas entidades de classe, com muito peso, fabrica.
entre elas a Anclivepa-SP e SPMV. Nos últimos anos soube A VETNIL É SINÔNIMO DE PROBIDADE."
ainda que vêm conquistando mercados externos, exportando.
Isso ajuda ainda mais a levar o nome da medicina veterinária Zohair Saliem Sayegh
brasileira à alcançar o nível que todos desejamos.” Presidente da SPMV

M.V. Marco Antonio Gioso


Presidente da Anclivepa-SP e ABOV

“Vetnil é um empreendimento que deu certo e hoje é sucesso. “Antes de comprar um produto, eu sempre analiso três itens:
Isso se deve principalmente porque seus idealizadores qualidade, assistência e custo. E observando essa tríade, vejo
valorizam o médico veterinário. Quanto à seus produtos, que ela se encaixa perfeitamente na VETNIL. Essa é a
estes vieram aumentar as opções no exercício profissional e, empresa que mais valoriza o Médico Veterinário em todo o
espero que esta política se mantenha para que a cada ano Brasil, contratando e capacitando mais e mais colegas,
tenhamos novos fármacos e assim venha sempre facilitar cada realizando eventos técnicos em todo o território Nacional,
vez mais o nosso dia a dia na atenção aos nossos pacientes.” apoiando as entidades de classe (ANCLIVEPA) e seus
eventos.”
M.V. César Olímpio de Oliveira Neto
Presidente da Anclivepa - BA M.V. André Sandes Moura
Presidente da ANCLIVEPA-AL

“Quando o assunto é Vetnil, posso dizer que é um “A Vetnil inova não só em produtos de altíssima qualidade,
laboratório brasileiro com um controle de qualidade digno de mas também na forma com a qual se relaciona com sua
primeiro mundo. Fico feliz em saber que os cães e gatos estão equipe e com a classe de Médicos Veterinários. Em constante
sendo tratados por esta empresa, com um carinho pesquisa sobre as necessidades do mercado, de forma séria
diferenciado e a preocupação constante no que diz respeito a e responsável atende às mesmas com uma ousadia invejável.
qualidade de vida dos nossos amigos pets. Antes somente os Quisera termos em nosso Brasil muitas empresas com o
eqüinos e bovinos tinham esse privilégio, graças à sabedoria compromisso VETNIL de qualidade e relacionamento.”
da equipe Vetnil, temos hoje, um leque enorme de
M.V. Jorge Pereira
nutracêuticos e ergogênicos para acelerar a cura ou prevenir
Oftalmologista e Proprietário da
doenças infecciosas ou não.”
Clínica Veterinária Animal Teresópolis - RJ
M.V. Vilma F. de Lima - Médica Veterinária UFG

...ser uma empresa feita por eles e para eles!


09 de Setembro - Dia do Médico Veterinário
Parabéns à todos os Veterinários do Brasil!

*Eleito o melhor laboratório


Veterinário do Brasil.
Reportagem

A medicina felina brasileira hoje e há 10 anos


por Arthur Barretto

U
m hospital veterinário somente Outro passo importante, afirmou a muitas transfusões sanguíneas devido ao
para gatos! Talvez este seja um profa. Heloisa Justen, é a necessidade de grande número de gatos infectados pelo
dos grandes desejos de criadores se criar uma disciplina de felinos para os vírus do FeLv e FIV, doença renal, dentre
e proprietários de gatos! Por enquanto, o alunos de graduação. “Na minha aula na outras. Tenho 10 gatos, testados, nega-
que o consumidor pode encontrar são pós-graduação, a turma tem apenas 10 tivos, vacinados, bem alimentados e
algumas clínicas veterinárias com atendi- alunos, mas a sala fica repleta com os vivendo com conforto. Assim, eles não
mento exclusivo para gatos. Isso, graças alunos da graduação que buscam o co- ficam enfermos e já salvaram a vida de
ao trabalho de especialistas no assunto, nhecimento da espécie”, explica a profes- muitos outros com prontidão”, explica a
que há decadas empenham-se no ensino, sora. dra. Heloisa Justen.
no estudo e na dedicação exclusiva aos
felinos. Clínicas exclusivas para gatos
Foi em 1997 que a dra. Heloisa Justen,
Medicina felina juntamente com seu marido, inaugurou,
No Brasil, a profa. dra. Heloisa Justen no Rio de Janeiro, a primeira clínica ve-
Moreira de Souza é um dos grandes terinária exclusiva para gatos, a Gatos e
nomes da medicina de felinos. Durante Gatos Vet. Ltda. Ao contrário do que
muitos anos empenhou-se para poder muitos pensavam, a clínica estabeleu-se e
atuar com capacitação técnica adequada à continua prestando um serviço diferencia-
medicina e cirurgia felina. Além da sua do de alta qualidade.
atuação como profissional, destaca-se sua Outras clínicas que também oferecem Diversos produtos para
condição de educadora, na qual foi pio- esse serviço diferenciado e exclusivo para gatos e seus donos no
neira. Desde 1996 que coordena o atendi- gatos são: a clínica Veterinária Mania de cat shop da Sr. Gato
mento exclusivo de gatos na Universidade Gato, em Curitiba, PR; a Clínica do Gato
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Porto Alegre, RS; a clínica Vida de Quem procura por
instituição que, além do atendimento, Gato, em Blumenau, SC; a Gatomania, serviços especializa-
oferece, no curso de pós-graduação, a dis- em Vila Velha, ES, Clínica Sr. Gato em dos também gosta de
ciplina de clínica e cirurgia dos gatos São Paulo, SP. encontrar produtos di-
domésticos, elaborada pela própria profa. Um dos motivos do crescimento do ferenciados. Na clínica
Heloisa Justen. Atualmente, na UFRRJ, número de clínicas exclusivas para gatos é Sr. Gato, por exemplo,
há duas salas de atendimento para gatos, o fato de os próprios consumidores es- há um “cat shop”, que oferece uma linha
17 estagiários no setor e 5 teses defendi- tarem procurando por este tipo de serviço. de produtos exclusivos para gatos, entre
das sobre gatos. “O público que chega a nós está preocu- eles brinquedos, produtos de beleza e
Desde 2001, que a profa. Heloisa pado com um ambiente que proporcione higiene, rações, acessórios diferenciados,
Justen aceita estagiários vindos de todo tranquilidade para o seu gato, de forma a como coleiras especiais, bolsas para trans-
Brasil através de convênios com reno- evitar situações de estresse”, explica porte, arranhadores desenhados com
madas universidades, como: Botucatu, Luciana Deschamps, da clínica Sr. Gato. exclusividade, fontes utilizadas como
Jaboticabal, Santa Maria, Lages, UFMG, A Gatos e Gatos Vet. Ltda., em quase bebedouros, camas confortáveis com teci-
UNB, dentre outras, em função da carên- 10 anos de atividade nunca teve um gato do antialérgico, colchonetes - sempre com
cia de disciplina e atendimento de gatos e fugindo. A clínica motivos felinos. Além disso,
pelo aumento de estagiários solicitando é toda telada e os são oferecidos produtos
estágio supervisionado em felinos. gatos somente são temáticos para os proprie-
A publicação do livro Medicina e trocados de recin- tários, incluindo: brincos,
cirurgia felina, em 2003, de autoria da tos dentro de cai- anéis, relógios, pulseiras,
profa. Heloisa Justen foi providencial, face xas de transporte. chaveiros, quadros, uten-
à carência da Outra particulari- sílios em louça e cerâmica
literatura es- dade da clínica é a (cinzeiros, porta-vela, porta-
pecífica na presença de uma retratos, saboneteiras, porta-
língua portu- área de lazer para incenso e objetos decorativos
guesa. gatos residentes em geral). “Nosso cat shop
que são, durante atrai uma clientela fiel, co-
determinado pe- nhecedora da nossa preocu-
ríodo de sua vida, pação com o bem-estar e
doadores de san- conforto felino”, enfatiza
gue. “Numa clínica Área de lazer de gatos doadores na Luciana Deschamps, da Sr.
de gatos fazemos clínica Gatos e Gatos Vet. Gato.
Dra. Heloisa Justen
durante lançamento
do livro Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Atualização e especialização de ministrar palestra sobre comportamen- de 21 a 24 de outubro
em medicina felina to felino na Conferência Sul-Americana sua conferência de ou-
Estudantes de medicina veterinária e de Medicina Veterinária, reuniu-se com tono que tem como
médicos veterinários têm procurado apro- orientados da profa. dra. Norma V. tema a geriatria e o
fundar seus conhecimentos no assunto. Labarthe, da Universidade Federal Flumi- controle da dor.
Somente este ano, vários eventos nense (UFF), além de outros alunos da UFF Para os que estão
destacaram a grade de felinos em suas e da Faculdade de Veterinária da interessados em dedi-
programações. Em abril desse ano, o Universidade Castelo Branco, realizando car mais tempo ao
dr. Gary Norsworthy, autor do livro apresentação sobre suas pesquisas com aprendizado da medicina felina, a
“O paciente felino”, esteve em São Pau- comportamento de gatos. Depois da regional do Estado de São Paulo, da
lo, SP, ministrando palestras no Con- exposição teórica, todos foram visitar o Associação Nacional de Clínicos
gresso Internacional de Medicina Felina, abrigo para gatos da SOS Animal e pre- Veterinários de Pequenos Animais
que ocorreu paralelamente à Pet Fair. senciar momentos de intensa interação da (Anclivepa-SP - www.anclivepa-sp.
dra. Terry M. Curtis, com seus amigos org.br), iniciou este ano, a segunda
gatos. O abrigo da SOS Animal - Felinos turma do curso de especialização em
foi construído em área total de 15.000 m2 medicina felina. Com uma duração de
na Zona Oeste do Rio de Janeiro, sendo 500h, ele é análogo ao curso de pós-
8.000 m2 de área livre, totalmente adapta- graduação lato sensu. Como cada turma
da para garantir segurança e qualidade de suporta apenas 40 vagas, os interessa-
vida aos gatos. dos em participar devem ficar atentos à
Fernanda Amorim, Maria Cristina Nobre, Heloisa
Justen e Christine Martins, todas especialistas formação da próxima turma.
em felinos, marcando presença no Congresso Há tambem o curso Clínica Médica
Internacional de Medicina Felina dos Felinos Domésticos, com carga
Em agosto, durante a horária de 180h, promovido pelo
Conferência Sul-Ameri- Qualittas (www.qualittas.com.br), Ins-
cana de Medicina Vete- tituto de Pós-Graduação em Medicina
rinária, que ocorreu no Veterinária.
Rio de Janeiro, RJ, a medicina felina tam-
bém teve destaque com a realização do Especialistas
Fórum Internacional de Medicina Felina, Apesar de muitos estudantes e profis-
que além de ter contado com profissionais sionais estarem buscando formação em
Adoção de gatos. Participe:
brasileiros de renome, teve a participação www.sosanimal.org.br medicina felina, poucos tiveram coragem
dos seguintes palestrantes internacionais: de segmentar sua prestação de serviço
dra. Terry Marie Curtis, da Universidade Mais cursos sobre felinos estão pro- somente à esta espécie.
da Flórida, dr. Hermann Bourgeois (DVM gramados para ocorrer. Em outubro, em Na América do Norte, a American
- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Gramado, RS, Anclivepa-RS estará Association of Feline Practitioners,
da Royal Canin - França) e José Lalia realizando seu congresso regional, o através do seu site, facilita o encontro
(Universidade de Buenos Aires) qual os felinos tem lugar garantido na de profissionais especialistas na espécie
A dra. Terry Marie Curtis, programação. Para o ano que vem, em através de um sistema de busca on line.
que veio ao Brasil patrocinada janeiro de A especialização é um ótimo cami-
pela “The North American 2007, está nho para oferecer uma prestação de
Veterinary Conference”, além programado serviço diferenciada e de qualidade. Po-
curso de me- rém, no Brasil a medicina felina ainda
dicina felina
Participe do curso de felinos
a bordo do no navio Island Scape
navio Island
Scape, com o prof. Archivaldo Reche
Junior, especialista de renome e grande
difusor da medicina felina no Brasil.
Outro programado para
2007 sobre medicina felina
é o 1º Congresso Paulista
de Felinos, que ocorrerá em
abril, no Guarujá, SP.
Para quem tem oportunidade de viajar
para o exterior, a American Association No site da American Association of Feline
Terry M. Curtis, especialista em of Feline Practitioners (AAFP - Practitioners há sistema de busca de
comportamento de gatos www.aafponline.org) está promovendo, especialistas pelo nome e pela cidade

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 9


Reportagem

Associação Médico-Veterinária Brasi- Mendes-de-Almeida, que além ter tido


leira de Bem-Estar Animal. Com esse tema como objeto de sua tese, recen-
relação às pesquisas na área de compor- temente publicou artigo sobre o assunto
tamento, destaca-se Flavya Mendes-de- no v. 4, n. 2, 2006, do periódico eletrôni-
Almeida, que defendeu tese propondo o co The International Journal of Applied
controle populacional de colônias de Research in Veterinary Medicine
gatos através de técnicas cirúrgicas (www.jarvm.com).
associadas ao estudo do comportamento
dos animais. “A facilidade com que
gatos urbanos se organizam em colô-
Especialista em prática felina, uma das espe- nias propiciando o crescimento expo-
cialidades certificada pela American Board of nencial das populações desafia todos os
Veterinary Practitioners - www.abvp.com
métodos de controle populacionais con-
hecidos. O Jardim Zoológico da cidade
não é considerada uma especialidade do Rio de Janeiro (Fundação RIOZOO)
pelo Conselho Federal de Medicina convive há mais de uma década com
Veterinária (CFMV). Nos Estados uma colônia de gatos livres que resistiu
Unidos da América (EUA), por outro a várias tentativas de controle, todas
lado, isto não ocorre. A American Board mal sucedidas. Por isso mesmo, deci-
of Veterinary Practitioners, por exem- diu-se estudar a colônia urbana de
plo, certifica médicos veterinários como gatos domésticos (Felis catus Linnaeus, No periódico eletrônico The International
Journal of Applied Research in Veterinary
especialistas em medicina felina, entre 1758) livres, habitante da RIOZOO, Medicine os artigos estão disponíveis
outras especialidades. pesquisando sua estrutura e com- gratuitamente para consulta - www.jarvm.com
posição e acompanhando, durante 36
Comportamento meses, o impacto da histerectomia como Entender o comportamento dos ani-
No site do hospital veterinário de forma de controle populacional. Para a mais, que vivem ou não em grupos, é
pequenos animais da Universidade da estimativa do tamanho populacional muito importante tanto para qualquer
Flórida, vários serviços são oferecidos, total a cada ano, no período de 2001 a medida profilática ou terapêutica, quanto
inclusive, o atendimento em comporta- 2004, utilizou-se o método de captura, para a opção da seleção de um animal para
mento animal. Ao buscar mais infor- marcação e recaptura no qual se captu- convívio familiar. É indispensável que
mações na página que detalha o serviço, rava o maior número possível de indiví- qualquer pessoa, antes de optar pela com-
encontra-se texto da dra. Terry M. duos, independentemente de sexo ou panhia de um felino, que conheça as par-
Curtis, explicando como o serviço pode idade. Após os procedimentos de identi- ticularidades da espécie. O Clube Bahiano
ser útil, citando situações nas quais o ficação e anestesia, as fêmeas acima de de Criadores de Gato (CBCG), preocupa-
serviço especializado em comportamen- seis meses de idade foram submetidas à dos com isso, possuem em seu site a seção
to animal pode atuar beneficamente. histerectomia. No período do estudo “escolhendo o gato”, com artigo esclare-
capturou-se o total de 96 gatos, sendo cedor, que logo no início destaca a frase:
80 adultos e 16 filhotes. Em 2001, 25 "não há decisão mais importante que a
gatas foram submetidas à histerecto- decisão de adotar e assumir a responsa-
mia, em 2002, 12, em 2003 não se rea- bilidade por outra vida. Esta decisão traz
lizou histerectomia em nenhum animal e a obrigação de nutrir essa vida, de lhe dar
em 2004, sete gatas foram submetidas à amor e de cuidar dela (Roger Caras,
histerectomia. A estimativa popula- ASPCA)."
cional anual de gatos livres na RIO-
ZOO mostrou que a população daquele
local estabilizou-se entre os anos de
2001 e 2004, com forte tendência ao
decréscimo. A não remoção de indivíduos
somada à conservação das gônadas de
Página na internet sobre o serviço de compor-
tamento animal oferecido na Universidade da
todos os animais preservou o comporta-
Flórida, EUA - www.ufvmc.com mento sócio-natural dos gatos da colô-
nia. Portanto, após dois anos consecu-
No Brasil, a atividade de ensino mais tivos de intervenções com histerectomia
próxima a isso é o Simpósio de Com- de gatas adultas, intervenções progra-
portamento e Bem-Estar Animal da madas e realizadas a cada dois anos
UFRRJ, que este ano, além de estar em constituem medida adequada para con-
sua segunda edição, terá paralela- trole da população urbana de gatos Site do Clube Bahiano de Criadores de Gatos:
mente, o Iº Encontro da AMVEBBEA, livres da RIOZOO”, explica Flavya www.petsbahia.com/cbcg/index.htm

10 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


O Rio de Janeiro é bom de negócio por Arthur Barretto

Eduardo Batista
Borges, presi-
dente do CRMV- O livro “Vamos às compras”,
RJ, discursa recomendada tanto para quem
durante a cerimô- quer comprar, quanto para quem
nia de abetura da quer vender, foi sorteado na
VI Conferência palestra sobre comunicação rea-
Sul-Americana lizada por Gilberto Maia, da Merial,
de Medicina no Encontro Nacional de Varejo Pet
Veterinária

D e 3 a 6 de agosto, durante a VI
Conferência Sul-Americana de
Medicina Veterinária e a Rio Vet Trade
Show, os participantes puderam conhe-
cer diversos produtos e serviços ligados
à medicina veterinária e ao mercado pet,
enriquecidos de excelentes palestras dos
mais variados temas. Gilberto Maia, da Merial,
A Brasmed
Ao final da tarde do dia 3 realizou-se esteve pre- mostrou, com exemplos bási-
a cerimônia de abertura, a qual transcor- sente e levou cos e simples, que fazer
uma grande comunicação é fundamental
reu com discursos que, em sua grande para atrair o bom cliente, ou
novidade:
maioria, destacaram a importância e o uma linha seja, aquele que está interes-
apoio que deve ser dado ao evento. O ortopédica de sado em bons serviços e que
está disposto a pagar por isso
evento, ano após ano, tem contado com alta qualidade. Confira no
site www.brasmed.com.br
a participação de público fiel. Sabendo
disso, grandes empresas também não
tem deixado de prestigiá-lo. No final da
cerimônia realizou-se o sorteio de um
automóvel, o qual contemplou um
jovem de Porto Alegre, Rafael
Monteggia, proporcionando, como sem- Nicolau Serra Freire ao
pre, muita emoção, alegria e um ótimo lado de sua obra lançada
investimento para o congressista con- A Center Book, estava com grande pro- pela L.F. Livros: Entomolo-
Med Vet livros, presente no moção exclusiva no livro “5 minutos”. gia e Acarologia na medici-
templado. evento com boas ofertas Confira, ela ainda pode estar valendo.... na veterinária
O Simpósio de Varejo Pet foi um dos
eventos que cresceu nesses anos de rea-
lizações da Conferência Sul-Americana.
Nesta edição de 2006 o evento

Muita emoção
para o jovem
Rafael Monteggia.
Acabava de
ganhar um carro! Além de coordenar o Encontro
Nacional de Varejo Pet, Sergio
Fila para garantir bom lugar nas palestras do Encon- Lobato esteve autografando seu
tro Nacional de Varejo Pet. Poucos eventos conseguem livro sobre Responsabilidade
isso! Ano que vem tem mais.... Técnica, lançado pela L.F. Livros

Stand da
The North
American
Veterinary
Conference. Oferecer educação
continuada aos veterinários
Uma das novidades da Med-Sinal no brasileiros foi um dos objetivos
evento foi a esteira para cães da presença no evento

12 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


amadureceu e contou com o prestígio de
grande público. Proprietários de lojas e
uma parcela significativa de médicos ve-
terinários formaram a platéia que assis-
tiram diversas palestras relacionadas à
área de gestão, marketing e estratégia.
Na área da clínica de pequenos ani-
mais foram apresentados temas de extre-
ma utilidade, como por exemplo, “Co-
mo diagnosticar o prurido?”, apresentado
pelo prof. Ronaldo Lucas, dentre outros. Bastante atuante no Estado do Rio de Janeiro,
Atenta à grande procura pela medici- A equipe Vetnil divulgou, durante o evento, a sua a Schering-Plough foi uma empresa muito
na de felinos, a organização do evento recente fusão com o laboratório Vencofarma e procurada pelo visitantes da Rio Vet Trade
Show, que, durante os dias do evento, puderam
preparou o Fórum Internacional de Me- apresentou a sua futura linha de biológicos
manter contato próximo com a empresa
dicina de Felinos.
O comportamento animal foi te-
ma que seguiu presente na confe-
rência e contou com apresentações
de temas atuais e importantes.
Outro destaque foi o seminário
de células-tronco que contou com
a presença de importantes espe- Stand de
cilistas no setor. Pedigree e
Whiskas. Quase
Fort Rio, distribuidora no Estado do Rio de Ja- todos passaram
neiro da Fort Dodge, da Labyes, da Hill’s, da por lá....
König, da Bravet e da Fito Guard é uma empresa
que cresce a cada dia, ultrapassando as expecta-
tivas do mercado, graças à tecnologia e qualifica-
ção dos profissionais que atuam na empresa
Os melhores trabalhos
apresentados na VI Con-
ferência Sul-Americana de
Medicina Veterinária foram
publicados em CD-Rom, na
Revista Série Ciências da
Vida, v. 26, suplemento, 2006,
da UFRRJ.
Em pequenos animais, o melhor trabalho sele-
cionado pela comissão foi “Uso de esternotomo
Palestrantes do curso de animais selvagens.
de Tonassi para a realização de esternotomia
O programa contou com temas variados e
mediana em cães”, de SOUZA, D. B.; SAN-
com profissionais atuantes, que transmitiram
TOS, C. L.; MARIANO, C. M. A; OLIVEIRA, L.
importantes conheci-
L.; OLIVEIRA, A. L. A.; ABÍLIO, E. J.
mentos do setor, abor-
Na área de animais selvagens o melhor traba-
dando a clínica, o
lho foi “Caracterização imuno-histoquímica do
manejo, a conservação
colágeno tipo I no estômago de sagüis
e o desenvolvimento
José Lalia e Hermann (Callithrix sp, Callitrichidae - Primates), de
sustentável
Terry M. Curtis Bourgeois abordaram a diabetes felina. Acima, MELLO, M. F. V.; FONSECA, E. C.; PISSINATTI,
ambos estão acompanhados de Yves Miceli A.; FERREIRA, A. M. R.
(DMV -diretor técnico - Royal Canil do Brasil)
O Fórum internacional de Medicina de João Telha-
Felinos foi um dos eventos que atraiu do (UFRRJ)
grande parte dos congressistas. Em e Mariân-
sua programação, diversos temas fo- gela Souza
ram abordados, como genética, oftal- (RJ) foram
mologia, comportamento, nutrição, dermatolo- alguns dos palestrantes do curso de com-
gia, cirurgia e analgesia. portamento e bem-estar animal.
Heloisa Justen, Regina Ramadinha, Stéllio Telhado já tem um público garantido em
Pacca Luna, João Guilherme Padilha foram suas palestras em função da excelente
alguns dos palestrantes brasileiros. Os pales- didática e aplicações práticas dos con-
trantes estrangeiros foram Terry M. Curtis, da ceitos transmitidos. Souza, por sua vez,
Universidade da Flórida, trazida ao Brasil pela descreveu importante levantamento inter-
TheNorth American Veterinary Conference, nacional de abrigos de cães que está
Hermann Bourgeois (DMV - Centro de sendo feito, apresentando dados do Brasil. Eduardo Tudury (UFRPE), Stélio Pacca Luna
Pesquisa e Desenvolvimento da Royal Canin - Interessados nos temas comportamento (Unesp/Botucatu) e Antonio Paulino Wouk (PR)
França)e José Lalia, da Universidade de e bem-estar animal não devem per - foram alguns dos especialistas palestrantes no
Buenos Aires, ambos trazidos para o evento der, em novembro, no Rio de Janeiro, o evento. À direita, Luiz Augusto de Carvalho
pela Royal Canin II Simcobea (Perna), presidente da Anclivepa-RJ

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 13


Atendimento médico veterinário de animais silvestres
Na edição n. 59, de novembro/dezem- RESOLUÇÃO Nº 829 DE 25 DE ABRIL DE 2006
bro de 2005, da revista Clínica Veteri- •Disciplina atendimento médico veterinário a animais silvestres/selvagens e dá outras providências
nária foi publicada uma notícia sobre
.        O CONSELHO FEDERAL DE MEDI- mais silvestres/selvagens os médicos ve-
Atendimento de animais silvestres em CINA VETERINÁRIA – CFMV, no uso da terinários deverão:
clínicas veterinárias. Nessa matéria foi atribuição que lhe confere a alínea “f” do I – elaborar prontuário contendo infor-
abordado o receio dos médicos veteri- art. 16 da Lei nº 5.517/68, e mações indispensáveis à identificação do
nários em atender casos de animais sil- considerando a necessidade de dis- animal e de seu detentor;
vestres; o direito e o dever em prestar ciplinar, uniformizar e normatizar em todo II – informar ao detentor a necessidade de
atendimento médico veterinário aos ani- território nacional os procedimentos de aten- legalização dos animais e a proibição de
dimento clínico-cirúrgico por parte dos mé- manutenção em cativeiro dos animais
mais silvestres; e as condutas a serem dicos veterinários a animais silvestres/selva- constantes da lista Oficial Brasileira da
tomadas durante esse o atendimento, gens em estabelecimentos médicos vete- Fauna Silvestre Ameaçada de Extinção ou
tendo sido citada a Nota Técnica n. rinários, criadouros e mantenedouros da dos anexos I e II da Convenção sobre o
02/04 - CGFAU/LIC, de 7 de outubro de fauna silvestre; Comércio Internacional das Espécies da
2004, emitida pelo Ibama. O atendimen- considerando a garantia dos princí- Flora e Fauna Selvagens em Perigo de
to, de urgência ou emergência, por médi- pios do livre exercício da profissão; do sigi- Extinção, quando este, não possuir autori-
lo profissional; da necessária e obrigatória zação do órgão competente.
co veterinário, de animais silvestres assistência técnica e sanitária aos animais Art. 3º O médico veterinário deve
mantidos em criadouros – obtidos em silvestres/selvagens independentemente encaminhar comunicado a Superintendên-
discordância com a legislação vigente – da sua posse, origem e espécie; da segu- cia do Ministério da Agricultura Pecuária e
não se caracteriza como crime ambiental rança e privacidade no trabalho clínico- Abastecimento e ao órgão executor da
ou infração administrativa previstos na cirúrgico e dever funcional da defesa da Defesa Sanitária Animal no Estado, quan-
Lei n. 9.605/98 e Decreto n. 3.179/99. fauna, especialmente o controle da explo- do do atendimento de doenças de notifi-
ração das espécies animais silvestres/ cação obrigatória.
Sendo atribuição do Conselho Federal selvagens, bem como dos seus produtos,  Art. 4º O estabelecido nesta
de Medicina Veterinária, CFMV, deli- RESOLVE: Resolução não prejudica o disposto no
berar sobre as questões oriundas do Art. 1º Os animais silvestres/selvagens Código de Ética do Médico Veterinário.
exercício das atividades afins às de devem receber assistência médica veterinária Art. 5 º Esta Resolução entra em
médico veterinário, o documento foi independentemente de sua origem. vigor na data de sua publicação no DOU,
encaminhado ao órgão com algumas Art. 2º Quando do atendimento a ani- revogadas as disposições em contrário.
sugestões. Depois de pouco mais de um Fonte: CFMV - www.cfmv.org.br

ano houve o pronunciamento do CFMV:


publicou-se no Diário Oficial da União, lução n. 829, de 25 de abril de 2006, que rio a animais silvestres/selvagens e dá outras
n. 128, de 06-06-2006, Seção 1, a reso- disciplina o atendimento médico veteriná- providências.

X Congresso e XV Encontro da Associação Brasileira de


Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS
www.abravas.org.br
22 a 25 de novembro
Hotel Fazenda Fonte Colina Verde - São Pedro/SP
Mini-cursos: (FIOCRUZ); of New Orleans, Department of na Amazônia - M. V. Christina Moderador: profa. dra. Tânia
1. Reprodução de Animais 4. Medicina de Répteis - prof. Biological Science). Whiteman (UFRA) de Freitas Raso
Selvagens - prof. dr. Marcelo dr. Rogério Ribas Lange (UFPR); 3. Obtención de Semen de Debatedores: prof. dr. Ulisses
Alcindo de Barros Vaz Palestra Inaugural: Mamiferos Mediante
5. Manejo Comportamental en E. C. Confalonieri (FIOCRUZ),
Guimarães (FMVZ/USP); "Literatura Infantil e Condicionamiento - dr. Gerardo
Animales de Zoológico - M. V. dr. Adauto Luiz Veloso Nunes
2. Documentação Científica: Conservação da Martinez Del Castillo
Gerardo Martínez del Castillo (Zoológico de Sorocaba) e
Fotografia Analógica (filme) e Biodiversidade" - prof. dr. (Departamiento de Bienestar
(Departamiento de Bienestar dr. Fernando Gomes Buchala
Numérica (digital) - prof. dr. Ângelo Machado (UFMG). Animal de Africam Safári -
Animal de Africam Safári - (Ministério da Agricultura)
Idércio Luiz Sinhorini (curso México); México)
teórico-prático) (FMVZ/USP); Palestras: Atividades Sociais:
6. Papel do Médico Veterinário
3. Importância das Doenças na Conservação de Xenarthro 1. Formas, Cores e Sexualida- Mesa Redonda: 1) Dia 22/11:
Emergentes na Fauna Silvestre (Tamanduás, Tatus e preguiças) de Animal - prof. dr. Eduardo C. "Gripe aviária X Saúde Pública: Coquetel de abertura;
para a Saúde Pública - prof. dr. - dras. Flávia Miranda (FPZSP) Farias (USP); Riscos para a Conservação"? 2) Dia 24/11: Baile a Fantasia
Ulisses E. C. Confalonieri e Mariella Superina (University 2. Conservação de Carnívoros Participantes: Tema: "ABRAVAS na Selva"

14 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Nova tecnologia liga próteses a ossos por Arthur Barretto

N o dia 3 de julho de 2006 o site de pacientes que haviam per-

Divulgação
notícias BBC Brasil divulgou inte- dido dedos. Uma próxima
ressante notícia em sua seção “Ciência e etapa será conseguir o mes-
saúde”. Trata-se da divulgação de uma mo sucesso em pacientes
nova técnica desenvolvida por cientistas que tenham perdido mem-
da University College London, na Ingla- bros inteiros. A notícia in-
terra, que permite que membros artifi- forma ainda, que os pesqui-
ciais sejam ligados diretamente ao osso sadores envolvidos espe-
humano, passando pela pele, sem que ram que esses resultados
haja risco de infecção. Trata-se da próte- sejam apenas um primeiro
se de amputação transcutânea intra-óssea. passo para o desenvolvi-
Apesar de ser uma tecnologia muito mento de próteses biônicas
avançada para que já tenha aplicação na controladas pelo sistema
medicina veterinária, ela nasceu da Em 29 de agosto de 2005, a BBC Brasil divulgou a notícia de
nervoso central. uma elefanta tailandesa que havia perdido uma pata após pisar
observação dos animais. “A idéia de Na medicina veterinária em uma mina. Depois de 6 anos, ela recebeu uma prótese tem-
ligar tecido humano a metal veio dos temos muitos pacientes porária. Notícias como essas podem ser enviadas gratuita-
chifres de veados. Os cientistas estuda- com membros amputados. mente por e-mail, basta cadastrar-se no site da BBC Brasil -
www. bbcbrasil.com
ram como os chifres cresciam da cabeça Talvez, durante o desen-
dos cervos, atravessando a pele, sem volvimento dessa tecnologia, alguns há casos muito inusitados, como um que
causar infecção”, comenta a notícia. deles possam ser beneficiados. Na espé- a própria BBC Brasil divulgou ano pas-
Inicialmente, a implantação das pró- cie canina, a amputação de um membro sado: “Elefanta tailandesa recebe pata
teses foram realizadas com sucesso em muitas vezes é prescrita, mas também artificial”.

16 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


A necessidade de um programa nutricional específico para
cadelas em reprodução e seus filhotes e para cães de esporte
e trabalho foram abordados no I Meeting Reprosport
por Arthur Barretto

N os dias 19 e 20 de julho a Royal


Canin do Brasil rea lizou o I
Meeting Reprosport. O evento acon-
teceu em duas cidades. No dia 19, em
Campinas,
SP, foram pro-
O estresse dos cães de trabalho foi abordado
feridas pales- pelo prof. Dominique Grandjean (UMES - França).
tras por espe- Esses cães, devido à intensidade dos exercícios,
cialistas inter- podem produzir excesso de radicais livres, cau-
sando desequilíbrio metabólico denominado es- Pontos importantes do manejo nutricional de fi-
nacionais. Pa- tresse oxidativo. Por isso, nesses casos, o espe- lhotes foram destacados por Yves Miceli (DMV -
ra comple- cialista justificou a utilização de dieta específica, diretor técnico - Royal Canil do Brasil)
mentar os te- provida de antioxidantes
mas aborda- Bernard Pouloux, diretor
dos, no dia geral da Royal Canin do
Brasil, fez a abertura do I
20, a Royal Meeting Reprosport
Canin levou
os convidados à cidade de Descalva-
do, interior de São Paulo, para visita-
rem a fábrica e o Centro de Pesquisas
e Desenvolvimento. Os visitantes pu-
deram observar o processo produtivo, As particularidades da nutrição para sucesso no
A profa. Rosa María Páramo (UNAM - México)
manejo reprodutivo foram abordadas por Herman
desde a chegada da matéria-prima à Bourgeois (DMV - Centro de Pesquisa e prendeu a atenção de todo o público ao apre-
distribuição dos alimentos. No Centro Desenvolvimento da Royal Canin - França) sentar com extrema didática falhas corriqueiras
de Pesquisas e Desenvolvimento, os que ocorrem no manejo reprodutivo, apontando
as soluções para o sucesso
visitantes conheceram o canil e o ga-
til, onde os “degustadores”, cães e ga- mucosa e determinação da fase exata
tos, selecionam os melhores alimen- do ciclo estral da cadela, e a avaliação
tos para serem lançados no mercado. microscópica do sêmen dos padreadores
O público participante era formado são fundamentais para o sucesso de um
por criadores e médicos veterinários. manejo reprodutivo.
Uma mesa redonda com os palestrantes finali-
Porém, vale ressaltar que dentre os cria- zou os trabalhos do dia 19. Porém, após o
Durante o evento, a Royal Canin
dores de cães presentes, alguns também encerramento e no dia seguinte, durante a ida à apresentou dois novos programas nutri-
são médicos veterinários. Descalvado, os participantes continuaram tendo cionais: Reprodução, adaptado para fê-
A forma como foram abordadas as acesso aos especialistas meas no período de reprodução e seus
questões do manejo nutricional das fê- filhotes e Competition – Energy 4300,
meas em reprodução e seus filhotes, das contagem de dias após o início que dá energia re-
atividades exercidas pelos cães de espor- do estro. A realização de exa- forçada para cães de
te e trabalho e das questões relacionadas mes, como por exem plo, o esporte e trabalho al-
à infertilidade na espécie canina foram esfregaço va- cançarem seu verdadei-
bastante proveitosas para o desenvolvi- gi nal, para ro potencial, prevenin-
mento da cinofilia brasileira e da presta- iden tifi cação do a fadiga e o estresse.
ção de serviços médicos veterinários das células da
especializados.
A profa. Rosa María Páramo,
do departamento de reprodu-
ção da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Uni-
versidade do México, durante
sua apresentação mostrou, cla-
ramente, que o dia certo para
fecundação de uma cadela não Acima, canil e gatil do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento. Ao lado, participantes do I Meeting Reprosport
pode ser baseado em simples visitam a fábrica da Royal Canin do Brasil, em Descalvado, SP

18 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Purina Pro Plan e FMVZ/USP realizaram Malu Mader
evento para a comunidade continua campanha
Serviços para a qualidade de vida e o bem-estar do animal
foram oferecidos gratuitamente à população da capital paulista
da Linha Max

A valiação do nível de diabetes e do


colesterol em cães e informações
sobre câncer de mama, nutrição e in-
parasitas e massagem relaxante. Além
dos serviços, foram realizadas du-
rante o evento, palestras sobre cuida-
fertilidade em animais são alguns dos dos específicos em cães e gatos.
serviços que a Purina Pro Plan, divisão Os proprietários dos animais pude-
de negócios da Nestlé, e a Faculdade ram registrar seus cães junto à Prefei-
de Medicina Veterinária e Zootecnia tura de São Paulo, por meio do cadas-
da Universidade de São Paulo (FMVZ/ tramento no Registro Geral Animal
USP) ofereceram à comunidade du- (RGA), além de receber informações
rante o Purina Pet Wellnes. O evento e instruções de médicos veterinários
foi gratuito e aconteceu no dia 19 de da Purina Pro Plan e da FMVZ/ USP
agosto, no Hospital Veterinário da sobre comportamento animal, uso da
FMVZ, na cidade de São Paulo. Para focinheira em cães e gatos, dis plasia
participar do evento, foi necessário coxofemoral, nutrição, posse respon-
fazer a inscrição pessoalmente na bi- sável e infertilidade. Houve também
blioteca, secretaria ou recepção da uma área dedicada ao agility, onde os
Faculdade. visitantes assistiram apresentações de
“O objetivo foi oferecer aos visi- cães adestrados. Ainda no local, os
tantes orientações sobre saúde, bem- participantes puderam inscrever seus
estar animal, nutrição e cuidados animais para brincar no espaço.
com o cão”, salientou o médico vete- Para Vituzzo, o evento Purina Pet
rinário Roberto Vituzzo, gerente de Wellnes é um exemplo concreto da pre-
marketing da Purina Pro Plan. O es- ocupação da empresa com o bem-estar
paço contou com dez tendas, onde os animal, que sempre desenvolveu pro-
animais de estimação tiveram acesso
aos exames e avaliações médicas ve-
terinárias, banho e tosa, controle de
dutos e ações alinhadas com o conceito
de qualidade de vida dos cães e gatos.
“Todas as iniciativas da Purina Pro
A presentar ao público a tecnologia,
a pesquisa, a estrutura da fábrica e
da estação de pesquisa, os profissionais
Plan estão embasadas neste con- e, principalmente, o carinho aplicado
ceito e a valorização da qualidade na Linha Max, carro-chefe da linha
de vida do animal é uma tendência super premium da Total Alimentos, é o
mundial”, afirma. Ele ressalta ainda objetivo da segunda fase da campanha
que a relação afetiva en- publicitária, que teve inicio em julho e
tre os donos e suas se estenderá por vários meses, estrelada
mascotes tem pela atriz Malu Mader.
crescido cada Serão vários teasers de 15 segundos,
vez mais. nos quais Malu Mader convida os con-
“Em fun - sumidores a assistirem ao filme da
ção desta Max, que será exibido em diversos pro-
mudança gramas durante a semana. O filme-re-
comporta- velação de 60 segundos, que mostrará
mental, de- os benefícios e diferenciais da Total
tectamos que o Alimentos, será veiculado estrategica-
Purina Pet Wellnes mente no Fantástico e no Globo Repór-
é uma excelente oportu- ter, em algumas praças brasileiras.
nidade para mostrarmos que, além Além do comercial televisivo, a
de oferecer uma alimentação sau- campanha na mídia conta com outdoor,
dável e balanceada, estamos preocu- folhetos, anúncios em revistas e inter-
pados com a qualidade de vida dos net. Para os pets shops foram desen-
animais”, diz. volvidos displays de balcão, camisetas,
Fitness, massoterapia e análises laboratoriais:
algumas das atividades realizadas durante o O evento também contou com o banners, stopper, folders, bobinas e
Purina Pet Wellnes apoio das empresas Merial e Roche. bandeirolas.

20 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Ciclo de conferências com dr. Ettinger marca o
lançamento da vacina BronchiGuard
O dr. Stephen J. Ettinger, diretor do
Califórnia Animal Hospital e autor
do livro Tratado de Medicina Interna de
trante, do ciclo de conferências que a
Pfizer realizou nas cidades de São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
vacina injetável contra a tosse dos cães,
apresentando a palestra Protocolos de
vacinação, o que há de novo?
Cães e Gatos, esteve no Brasil, no final Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, Veja a seguir, entrevista com o dr.
de julho. Ele participou, como pales- durante o lançamento da BronchiGuard, Ettinger concedida à Clínica Veterinária.

Entrevista com dr. Stephen J. Ettinger


Clínica Veterinária (CV) - rando o fato de que o retorno do adenovirus tipo 2, a parvovirose e a
Quais os principais cri- cliente à clínica é uma vez ao ano para raiva. As vacinas não essenciais são as
térios que os médicos vete- os reforços vacinais após o primeiro recomendadas somente para animais
rinários devem levar em con- ano de vida, considero conveniente que que correm o risco de contágio por es-
sideração para adotar um programa de o veterinário faça a prevenção vacinal tarem em determinada região geográfi-
vacinação? Esse programa pode variar que considerar adequada nessa consulta. ca. Dentre elas podemos citar a
de animal para animal, em cães e gatos Parainfluenza, a Bordetella, a doença
de uma mesma região? CV - Na imunização de filhotes, le- de Lyme e a Leptospira. Por exemplo,
Dr. Stephen J. Ettinger (SJE) - Uma vando-se em consideração as diferen- no Brasil, as não essenciais como a L.
das mensagens mais importantes que tes quantidades de colostro ingeridas canicola, L. Ictero e Bordetella, podem
transmito aos médicos veterinários é e a imunização passiva transferida pe- ser consideradas como vacinas essenci-
que os protocolos vacinais devem la mãe, qual o protocolo que oferece ais, dada a sua prevalência e risco de
atender às necessidades regionais de mais segurança para a proteção dos contágio. Com relação à especificação
cada país. Existem vacinas globais mesmos? da leptospirose, a escolha dos sorotipos
que não se aplicam à realidade local SJE - Filhotes devem iniciar o rece- presentes na vacina deve ser muito cri-
e, por vezes, podem ter efeito contrá- bimento das vacinas com 6-8 sema- teriosa, pois podem ocorrer reações
rio, causando risco à saúde do ani- nas de vida, dentro dos conceitos das adversas pós-vacinais. E por fim, exis-
mal. Um exemplo é a vacina contra vacinas essenciais. Em sendo um fi- tem as vacinas não recomendadas,
leptospirose. Há no mercado vacinas lhote saudável ainda em fase de ama- como a contra sarampo, coronavirose,
com vários sorovares da leptospirose, mentação, não há necessidade de va- giárdia e picada de cascavel. Os médi-
mas no Brasil, os mais importantes cinar antes disso. À partir de então cos veterinários devem adotar o pro-
do ponto de vista epidemiológico são: deve ser dado seguimento aos proto- grama de vacinação coerente, sempre
o L. canicola, L. icterohaemorrhagiae colos de vacinas polivalentes a cada visando o bem-estar do animal.
e a L. Copenhagen. Dentre elas, 4 semanas até 16 semanas de vida.
somente são conhecidas a resposta A resposta imune secundária au- CV - Quais são as diferenças entre as
imunológica e duração da imunidade menta o nível de anticorpos circulan- vacinas intranasais e subcutâneas em
da L. canicola e L. ictero. É preciso tes e diminui o tempo entre a exposi- termos de eficácia? Em sua opinião,
evitar a vacinação desnecessária ou ção a um antígeno e a habilidade de qual é mais recomendada em termos de
a repetição de agentes em imuniza- produzir uma resposta máxima. Em eficácia e facilidade de manejo?
ções polivalentes e balancear o risco vacinas, o importante é o intervalo SJE - Está comprovado que, de forma
de reação (existente nesse tipo de correto, não a quantidade de aplica- geral, as vacinas aplicadas pela via
antígeno) com o risco de contágio ções. subcutânea conseguem imunização
pela doença em questão. mais rápida e melhor que as intrana-
CV - Na sua opinião, os médicos ve te- sais. Eu prefiro a via subcutânea, pois
CV - Dentre as enfermidades que ri nários devem oferecer aos seus ela é mais fácil de aplicar, melhor
podem ser prevenidas por meio da clientes todas as vacinas disponíveis, aceita pelo dono do cão e induz a uma
vacinação, há alguma na qual a aplica- ou selecionar um programa de vacina- melhor imunidade em animais que já
ção está relacionada com a época do ção para cada caso, levando em consi- receberam a primeira dose, ou que já
ano (inverno, verão, outono ou prima- deração o estilo de vida do animal co- tenham sido expostos ao agente in-
vera)? mo, por exemplo, se vai ou não às feccioso.
SJE - A incidência de algumas doen- ruas?
ças estão relacionadas com a estação SJE - Podemos considerar as vacinas Stephen J. Ettinger é médico veteri-
do ano, por exemplo, presença de lep- como essenciais e não essenciais. As nário, diretor do California Animal
tospirose nos meses chuvosos e cino- essencias são as necessárias e que de- Hospital e autor do livro Tratado de
mose no inverno. No entanto, conside- vem ser feitas, como a cinomose, a Medicina Interna de Cães e Gatos.

22 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Atender as necessidades do veterinário, Imago com novos
uma das razões do crescimento da Vetnil equipamentos
“Nos locais onde os médicos veteri- 2005, a aquisição da Univet. Pouco tem- O centro de diagnósticos Imago,
nários não eram visitados foi que a Vetnil po se passou e outro salto foi dado: a localizado em Piracicaba, interior de SP,
iniciou seu crescimento”, explica Ronald fusão com o a Vencofarma; tradicional pioneiro na região e mantendo seu com-
Glanzmann, vice-presidente da empresa. empresa de Londrina, PR, produtora de promisso de prestar serviços de alta qua-
Essa lembrança da Vetnil, dos médicos biológicos e líder brasileira no segmen- lidade, adquiriu novos
veterinários localizados fora do eixo to de soros antiofídico e antitetânico. equipamentos:
comercial SP-RJ-MG, foi bem recebida • ultra-som Aloka SSD
pelos colegas, que em alguns casos, 1700 dynaview II, apare-
nunca tinham recebido sido visitados. lho com doppler color;
Associado à esta atenção ao profissional
• aparelho de eletrocar-
vieram, ano a ano, diversos produtos far-
diograma computadoriza-
macêuticos que não haviam similar ve- Além de oferecer produtos, a empre-
do (Cardiovet), com mini-
terinário, apenas na linha humana. sa mantém seu foco em servir os pro-
holter, que envia traçados
fissionais. A conseqüência dessa filoso-
via internet.
O crescimento fia está aparecendo. No Anuário do Exame
Desde 1994 atuam no mercado, além 2006-2007 foi divulgada a lista das me-
de muitos produtos lançados, muitos lhores empresas do agronegócio. A que
médicos veterinários e médicas vete- se destacou com maior crescimento no
rinárias tornaram-se integrantes do qua- setor foi a Vetnil, que teve 37,4% de
dro da empresa, para que, dessa manei- aumento na sua receita de 2004 para
ra, fosse garantido, aos clínicos veteri- 2005. Outra classifação atual da empre- Traçados
nários, um bom atendimento. sa é estar entre as 100 melhores empre- registrados
Um salto dado pela empresa foi, em sas para se trabalhar no Brasil. no Cardiovet

Campanha em Curitiba já realizou 7440 escovações dentais


P ara alertar a população sobre a im-
portância da higiene bucal dos ani-
mais domésticos, o Centro de Odonto-
os negócios dos pet shops. “Aumenta-
mos o número de clientes e a venda de
kits de escovação”, fala Mércia Regina
teve os dentes escovados foi preenchida
uma ficha e colocada em uma urna. Os
cupons foram recolhidos a cada duas
logia Veterinária Odontocão coordenou Lunardon, do pet shop Dengo. Segundo semanas para sorteios de avaliações
por quatro meses uma campanha de ela, os resultados foram tão bons que odontológicas no Odontocão.
incentivo à escovação dental em 20 pet muitos compraram kits para fazer a O projeto teve o patrocínio da Total
shops de Curitiba. escovação em casa. Alimentos e Virbac, apoio da ABOV
O trabalho foi organizado pela médi- A mesma mudança foi sentida por (Associação Brasileira de Odontologia
ca veterinária Maria Izabel Ribas Elias Alves Bezerra, do pet shop Bichos Veterinária, CRMV - PR (Conselho
Valduga e resultou em 7.440 escovações e Caprichos. “A idéia da campanha foi Regional de medicina veterinária) e
dentais. esplêndida. Conscientizamos o cliente Granjinha.
As informações levantadas nestes da importância da higiene bucal dos
quatro meses formam um banco de animais. Além de garantir saúde para o
dados sobre a saúde bucal de cães e bichinho apresentamos um diferencial
gatos da cidade. Cerca de 80% dos ani- de atendimento para os clientes e isso
mais atendidos na campanha têm fez o meu movimento dobrar”.
doença periodontal em fase inicial e
grave, e 11,9% têm persistência de Campanha - Para participar da campa-
dente de leite. Lesão de reabsorção de nha, os locais seleciona-
dentes de gato, fratura dental e profila- dos pelo Odontocão
xia, representam cada uma 2,38% dos assinaram contratos de
animais atendidos. “É apenas uma adesão, receberam ban- “A higiene bucal é
amostragem da população de animais ners e kits com escovas e importante porque
melhora a vida destes
domésticos, mas já é possível ter um pastas de dentes. Para fa- bichinhos que estão
quadro de como está a saúde deles”, zer o levantamento da dentro de casa, em
esclarece. Maria Izabel. saúde bucal dos animais, contato direto com os
nossos filhos”, alerta
os pet shops ofereceram Maria Izabel, médica
Objetivos - A campanha melhorou não escovações gratuitas. A veterinária do
só a saúde dos animais. Alavancou também cada vez que o animal Odontocão

24 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Paz para todos os seres por Arthur Barretto

E ntre os dias 4 e 8 de agosto, ocorreu


importante evento que abordou te-
mas como o especismo, o bem-estar
que possamos ver onde nos levam. Isto
estimula o raciocínio, resultando em um
estudo que pode até salvar vidas.
animal, a boa nutrição e saúde, a ecolo- Também falou-se com freqüência em
gia, a preservação, a espiritualidade e até exploração animal, principalmente na-
mesmo o abolicionismo animal. O palco quela que não respeita a integridade dos
foi o Memorial da América Latina, em animais. É muito importante o conheci-
São Paulo, SP. Os atores foram todas as mento dos significados dessa palavra,
pessoas que se mobilizaram pela paz, pois podem ser bons ou ruins. Alguns
estando presentes, como palestrantes ou deles são pesquisar, estudar, sondar e
ouvintes no 1º Congresso Brasileiro e examinar. Por outro lado, quando explo-
Latino-Americano de Vegetarianismo. Fundadores do Instituto de Abolicionismo Animal. rar passa a ter o sentido de sugar, alguém
A cada dia do evento ocorreram diver- No centro, Heron José de Santana, um dos está sendo prejudicado, ficando a mercê
idealizadores do instituto
sas demonstrações culinárias, nas quais de seu explorador, enquanto não houver
se utilizaram muitos ingredientes orgâni- década de 70 pelo filósofo britânico alguém para salvá-lo.
cos e provenientes da agroecologia. Nu- Richard Ryder para fazer um paralelo Na área de bem-estar animal o termo
tricionistas e médicos marcaram presen- entre a conduta do homem em relação exploração é largamente utilizado, na
ça nas palestras falando sobre o quanto é aos animais, com práticas verificadas no grande maioria das vezes, com o signifi-
saudável uma dieta vegetariana. Também decorrer da história, o racismo (branco cado de sugar e, desta maneira, está rela-
houve espaço para denúncias de ambien- versus negro) e o sexismo (homem versus cionado à crueldade. Porém, principal-
talistas mostrando o quanto destrutivo mulher), tendo sido popularizado por mente em documentos que são elabora-
está sendo o modelo econômico implan- outro filósofo, Peter Singer. dos em prol da proteção animal, faz-se
tado na amazônia, o da devastação e O especismo sempre será encontrado necessário ser bem objetivo e claro. Ao
substituição da floresta pela monocultura quando determinarmos qual espécie ani- se dizer que determinado criador está ex-
da soja e criação de gado. Compondo a mal deve ser criada para companhia e plorando cães da raça labrador para ofe-
programação ocorreram reuniões de ati- qual será subjugada ao que for determi- recê-los a deficientes visuais, não signifi-
vistas, sendo algumas delas direcionadas nado, como o abate ou o uso em experi- ca que os cães estão sendo submetidos a
para a fundação do Instituto de Aboli- mentos, não respeitando a integridade fí- atividades que os estejam prejudicando.
cionismo Animal, tendo como marco sica e/ou moral do animal. Em documentos, leis, normas, entre ou-
inaugural o lançamento da edição n. 1 Como o respeito à todas as formas de tros, é fundamental que as palavras não
da Revista Brasileira de Direito Animal. vida é a principal forma de agir para não tenham duplo sentido, não dando margem,
Outra atividade presente foi a exibição cairmos no especismo, é importante que por exemplo, para que determinado juiz
de documentários, como por exemplo, A este termo seja conhecido. Ao utilizá-lo tenha mais de uma opção na interpreta-
carne é fraca, Vida de cavalo, Não em nossas condutas, automaticamente ção de uma lei.
matarás e Terráqueos. Além disso, a estaremos refletindo sobre cada ato. Esta O saldo do congresso foi positivo, com
degustação de saborosas receitas esteve reflexão e o nosso livre arbítrio é que fa- muitas pessoas felizes pelos conhecimen-
aberta ao público e, unindo toda a pro- rão a diferença na escolha de qual cami- tos adquiridos durante a semana. Muitas
gramação, houve saudáveis momentos nho seguir. Para que seja feita a escolha sementes foram lançadas e com certeza já
de fraternidade. do melhor caminho é fundamental uma estão germinando pois, como disse a pró-
Um dos conceitos que foi muito deba- boa exploração de nossos princípios para pria presidente da So ciedade Ve getariana
tido foi o especismo, termo concebido na Brasileira, Marly Winckler, "o solo é fér-
Revista Brasileira til!".
de Direito Animal

Laerte Levai, Sonia Felipe e Heron Santana


durante debate sobre o direito dos animais

O inglês Gabriel Buist


discorreu sobre diversas
evidências que levam a
crer que Jesus era vegetariano,
assim como alguns seguidores, como Roupas tão resistentes quanto
Deliciosas receitas Thiago. Buist é vegetariano há 77 o couro, sem ser de couro.
puderam ser anos. Ele nasceu vegetariano. Em A matéria prima vem da reci-
degustadas seu país, conhece famílias que são clagem da lona de caminhões
pelo público vegetarianas há 5 gerações!

26 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Saúde pública

Anclivepa-MG realizou detabe sobre a leishmaniose


por Arthur Barretto
são resistentes à adoção dos antimo-
niais na medicina veterinária.
Durante os debates, no simpósio,
foi colocado que toda a produção do
antimoniato de meglumine, Glucan-
time®, produzido para uso humano
pela Sanofi-Aventis é comprada pelo
Ministério da Saúde, que proíbe o seu
uso em outras espécies que não seja a
humana.
Um dos pontos positivos do III Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina E por que não se oferece no Brasil
foi a interação da platéia gerando um bom aproveitamento nos debates a versão veterinária do Glucantime®,

N os dias 14 e 15 de agosto, em
Belo Horizonte, MG, ocorreu o
III Simpósio Internacional de Leishma-
Outra diferença é o reconhecimen-
to do tratamento, dos cães aptos a re-
cebê-lo, como medida de controle da
produzido e distribuído na Europa
pela Merial? Talvez porque os consu-
midores, no caso a classe médica ve-
niose Visceral Canina. leishmaniose visceral canina. Na Es- terinária, ainda não se pronunciaram
A expectativa pelo evento era gran- panha, o medicamento de eleição para pe ran te a empresa utilizando, por
de e, conseqüentemente, o público que o tratamento é o antimoniato de N- exemplo, o serviço de atendimento ao
o prestigiou comportou-se de maneira metilglucamina, solução injetável consumidor, solicitando o produto.
bastante interessada e participativa. contra a leishmaniose visceral canina Até agora não existe pedido de regis-
Cuidadosamente elaborado pela (Glucantime ® Merial). “A dra. tro do medicamento no Ministério da
Anclivepa-MG, o simpósio promoveu Guadalupe Miró Corrales, em suas Agricultura.
o diálogo de especialistas, sanitaristas, pesquisas, obteve resultado negativo Outra necessidade urgente no
clínicos e consultores do Ministério da no xenodiagnóstico de 85% dos cães Brasil e bastante colocada no simpó-
Saúde. tratados com a associação de antimo- sio foi sobre a escassez de kits para o
As contribuições do médico veteri- niais e o alopurinol”, citou Aragón. diagnóstico produzidos pela Bio-
nário Javier Encinas Aragón, chefe Ele ressaltou, ainda, que não acredita Manguinhos. O problema ainda aguar-
do Departamento de Saúde Ambiental que o uso do medicamento veterinário da uma solução.
e Zoonoses, do Instituto de Saúde Pú- Glucantime®, da Merial, venha a pre- A publicação mais recente sobre o
bli ca de Madrid, Espanha, foram judicar o uso da versão humana do me- controle da leishmaniose visceral no
muito importantes, principalmente dicamento, pois a sua longa utilização Brasil, ressaltado pela médica veteri-
pelo respeito que é dado, naquele na Espanha não demonstrou isto. nária Waneska Alexandra Alves, con-
país, à vida dos cães. Estamos longe sultora da Secretaria da Vigilância em
de aplicar o modelo espanhol, mas Saúde, do Ministério da Saúde, é o
suas declarações foram muito impor- Manual de Vigilâcia e Controle da
tantes para que as condutas dos clíni- Leish ma niose Visceral, dis po nível
cos veterinários e do Ministério da para download no site do Ministério
Saúde sigam pelo mesmo caminho: o da Saúde. Nesse manual, o tratamen-
do controle da leishmaniose.
Uma grande diferença do universo
espanhol para o brasileiro é o fato dos Javier Encinas Aragón e João Carlos Toledo
Jr, presidente da Anclivepa-MG. Aragón
4 milhões de cães daquele país esta- ressaltou que: “na Europa, a condição do
rem microchipados. Conduta, que se- cão de animal de companhia e melhor amigo
gundo Aragón, quando não é reali za- do homem, faz com que sejam inviáveis e ine-
ficazes os programas de controle baseados
da em clínicas particulares, é feita na eliminação de cães infectados”
Divulgação

pelo governo em campanhas públicas


de vacinação Vitor Márcio Ribeiro, ao coordenar
anti-rábica. uma das mesas-redondas realizadas
no evento, chegou a colocar que, se for
necessário, será realizado um novo
Glucantime®, solu- Simpósio Internacional de Leishmanio-
ção injetável para se Visceral Canina, que contará com Manual de Vigilância e
Divulgação

o tratamento da a presença de diversos especialistas Controle da Leishmanio-


leishmaniose vis- se Visceral, disponível
ceral canina, dis- que poderão esclarecer as dúvidas que no endereço eletrônico:
ponível na Europa pairam sobre algumas correntes que www.saude.gov.br/svs/editora/livros

28 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Saúde pública

to dos cães con tinua sendo não lixo são grandes potenciais para desen- infectado de animal vacinado soropo-
recomendado. Porém, após a reunião volvimento dos flebotomíneos. Am- sitivo”. Menz frisou ainda que “o ani-
de especialistas promovida pela Orga- bientes como esse não são raros de mal ser soropositivo significa que tem
nização Pan-Americana de Saú de, em encontrar, o que torna difícil o con- anticorpos e não o agente infeccioso.
no vembro de 2005, em Brasília, DF, trole do vetor. Não basta a borrifação No caso de dúvidas, o PCR de aspira-
ficou claro que o tratamento existe, com piretróides. do de linfonodo é o que recomendamos
sendo inclusive, descrito na literatura Controlar o repasto sanguíneo feito para concluir o diagnóstico”.
internacional por Lappin, em 2005, pelos flebotomíneos nos cães é muito A Fort Dodge, fabricante da
no livro Veterinary Internal Medicine, mais simples do que combater o vetor no Leishmune, também foi pioneira
de Ettinger & Feldman. Após esta ambiente. Coleiras impregnadas com ao produzir a vacina intranasal
reunião o tratamento, baseado em deltametrina continuam sendo uma ex- contra a traqueobronquite in-
fecciosa canina (à esquerda)
di ver sos critérios propostos pela celente forma de prevenção, conforme e, em breve, pode estar ex-
An clivepa, passou a ser encarado de mostram os estudos apresentados por portando a Leishmune (abaixo)
outra forma, iniciando processo de Vera Lúcia Fonseca Camargo-Neves para países da Europa
reconhecimento do mesmo. (SVS/MS). Elas são recomendadas tan-
to para os animais sadios, quanto para
Flebotomíneos os animais que estão sob tratamento
Edelberto Santos Dias, do Labora- da leishmaniose visceral canina. Além
tório de Leishmanioses, do Centro de da coleira, também se pode fazer a
Pesquisas René Rachour - Fiocruz, foi associação controlada com piretróides.
bastante esclarecedor ao começar sua Tratamento
apresentação explicando basicamente Vacina Vitor Márcio Ribeiro, ao defender o
que os flebotomíneos não são mos- Diante de dificuldades para borri- tratamento da leishmaniose visceral ca-
quitos. A fase larval dos mosquitos fação continuada, demora entre coleta nina, frisou que a classe veterinária deve
ocorre na água. Nos flebotomíneos e resultado de sorologia, falta de kits participar com: a notificação dos casos e
isto não ocorre. A fase larval é desen- para diagnóstico e reposição de cães dos tratamentos; o melhor controle dos
volvida na matéria orgânica. Por isso, eliminados, a vacinação, feita sobre tratamentos por meio da sua padroniza-
locais onde se encontram criações de os critérios preconizados, é uma ção; o credenciamento dos médicos ve-
animais, muito opção que oferece segurança. Contu- terinários; e a emissão de relatórios dos
som breados e do, destacou Ingrid Menz em sua tratamentos, que, segundo o especialista,
com acúmulo de palestra, “é importante diferenciar animal deve ser feito seguindo-se protocolo da
CLÍNICA VETERINÁRIA Anclivepa-BR. E
Solicitação para tratamento de leishmaniose visceral canina complementou sa-
Declaração de responsabilidade
lientando que “ele
Proprietário:__________________________________________________________________________ somente deve ser ini-

O
Endereço: ___________________________________________________________________________
Identidade: __________________________________ CPF ___________________________________ ciado após: confir-
Telefone: _______________________________ mação do diagnós-

L
Nome do animal: _________________________Raça: _________________________________
Data de nascimento: ________________Pelagem: ____________________Sexo: _________ Idade: ___ tico; esclarecimento
Solicito a(o) dr.(a)___________________________________, da Clínica Veterinária __________________,
e adesão do pro-

E
a realizar no animal acima identificado, de minha propriedade, todos os procedimentos clínicos e terapêuti- prietário; ava lia-
Na página 7 do Boletim cos, com o bjetivo de tratar a leishmaniose visceral, declarando ser de minha inteira e livre vontade esta solic- ção laboratorial do
Epidemiológico Paulista itação.
(BEPA) Declaro, neste ato, estar ciente de que a leishmaniose visceral canina é uma zoonose e que seu tratamento paciente; avalia-

D
de dezembro de 2004, não oferece, em geral, a cura parasitológica. O animal em tratamento necessitará de acompanhamento por
toda a vida. Fui devidamente informado dos exames necessários, trimestralmente, para o controle da
ção da infecciosi-
ano 2, n. 12 foi publi-
cado o artigo
infecção e da infecciosidade do meu cão. dade; e mensura-
Avaliação da Efetividade da Utilização de Coleiras
Também me responsabilizo em adotar todas as medidas prescritas na seqüência do tratamento inicial, conforme
ção dos títulos to-

O
orientação médica veterinária, além de adotar as medidas profiláticas de controle do vetor centradas no meu
Impregnadas com Deltametrina a 4% para o animal e no ambiente em que ele vive, contribuindo para que desta forma ele não represente riscos para a tais de anticor-
Controle da Leishmaniose Visceral Americana no saúde pública.
Estado de São Paulo: Resultados Preliminares. Caso eu venha desistir da continuidade do tratamento, encaminharei meu cão para eutanásia com o médi- pos.”
Esta e outras edições do BEPA, publicação co veterinário responsável pelo seu acompanhamento.

M
Por ser verdade, firmo esse documento.
mensal da CCD – Coordenadoria de Controle de
Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de Local e data ______________________________
São Paulo, estão disponíveis para download no
endereço: www.cve.saude.sp.gov.br. Assinaturas:
O II Informe Técnico, Leishmaniose Visceral médico veterinário _______________________
proprietário _____________________________
Americana, de setembro de 2003, também está
disponível na internet. Ele foi elaborado pelo Centro
de Vigilância Epidemiológica “prof. Alexandre Vitor Márcio Ribeiro ressaltou a necessidade da formalização do compro- “Cão tratado e contro-
Vranjac”, da Secretaria de Estado da Saúde do misso assumido para a realização do tratamento da leishmaniose visceral lado é melhor do que
Estado de São Paulo. O endereço para obtê-lo é: canina por meio de documento assinado, o qual deve ser feito em pelo cão reposto ou cão
www.cve.saude.sp.gov.br/htm/leishvis.htm menos 2 vias: proprietário e médico veterinário. O mesmo documento não controlado!”, sa-
poderia ser aproveitado pelos CCZs como notificação de início do trata- lientou Vitor Márcio
mento canino. Nesse caso, 3 vias seria o mais indicado Ribeiro

30 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Anestesia de cães e gatos com Sérgio Ricardo A. de Melo Silva
MV, mestre, doutorando - PPGCV/DMV/UFRPE

distúrbios neurológicos -
silva_sergioricardo@yahoo.com.br

Pedro Isidro da Nóbrega Neto


artigo de revisão MV, dr, prof. adj. II.- UAMV/UFCG
pedroisidro@lif.com.br

Eduardo Alberto Tudury


Anesthesia of dogs and cats with neurological MV, dr, prof. adj. IV. - DMV/UFRPE
eat-dmv@ufrpe.pe

disturbances - review article Denise T. Fantoni


MV, dra. profa. ass. - DC/FMVZ/USP
dfantoni@usp.br

Anestesia en perros y gatos con problemas


neurológicos - revisión
Resumo: As desordens neurológicas que acometem cães e gatos podem repercutir sobre as funções respiratória,
cardiovascular, homeotérmica, além de provocar excitabilidade neuromuscular e alterações de consciência e comportamento,
dentre outras. Para minimizar os efeitos deletérios causados por essas alterações, o anestesiologista deve preservar as
funções orgânicas, evitando o desenvolvimento de hipóxia, hipercapnia, hipotermia e instabilidade cardiovascular, entre outras
intercorrências, baseado em conhecimentos de neuroanatomia, neurofisiologia e fisiopatologia dos distúrbios neurológicos.
A presente revisão objetiva compilar informações importantes para os profissionais da área que recebem pacientes com
distúrbios neurológicos, para que possam aumentar as possibilidades de sobrevivência destes e evitar as repercussões
indesejáveis dos anestésicos sobre o sistema nervoso, além de minimizar os transtornos já existentes.
Unitermos: Anestésicos, neurologia, terapia

Abstract: Neurological disorders of dogs and cats can affect the cardiovascular and respiratory function, body temperature,
neuromuscular excitability, consciousness and behavior, among other functions. To minimize the harmful effects caused by
these alterations, the anesthesiologist should preserve organic functions and avoid hypoxia, hypercapnia, hypothermia and
cardiovascular instability, based on principles of neuranatomy, neurophysiology and physiopathology of the neurological
disturbances. This review aims to compile important information on anesthetic procedures used by anesthesiologists dealing
with patients exhibiting neurological disturbances. This information can help increase survival rates and avoid the undesirable
effects of anesthesia on the nervous system, as well as minimize the pre-existing disturbances.
Keywords: Anesthetics, neurology, therapy

Resumen: Los problemas neurológicos que acometen perros y gatos pueden afectar la función cardiovascular y respiratoria,
la temperatura del cuerpo, la excitabilidad neuromuscular, la conciencia y la conducta, entre otras funciones. Para minimizar
los efectos dañosos causados por estas alteraciones, el anestesiólogo debe conservar las funciones orgánicas, evitando
hipoxia, hipercapnia, hipotermia e inestabilidad cardiovascular, basado en los principios de neuroanatomía, neurofisiología y
fisiopatología de las perturbaciones neurológicas. Esta revisión tiene por objeto juntar la información importante sobre los
procedimientos anestésicos con pacientes que exhiben perturbaciones neurológicas, buscando obtener proporción más alta
de supervivencia, evitar los efectos indeseables de la anestesia en el sistema nervioso, así como reducir los efectos colaterales
causados por el uso de anestésicos.
Palabras clave: anestésicos, neurología, terapia

Clínica Veterinária, n. 64, p. 34-46, 2006

INTRODUÇÃO e instabilidades respiratória e cardio- NEUROANATOMIA FUNCIONAL


As mais freqüentes emergências clí- vascular. Embora seja impossível apresentar
nicas que envolvem o sistema nervoso A presente revisão tem como princi- uma descrição completa da neuroanato-
central (SNC) são os traumas cranioen- pal objetivo apresentar as varias técni- mia no âmbito deste artigo, os tópicos
cefálicos ou medulares, decorrentes de cas e procedimentos anestesiológicos seguintes abordam as áreas do sistema
acidente automobilístico, maus tratos, que podem ser implementados em dife- nervoso que são mais acometidas por
queda e mordida, entre outros. Entre- rentes disfunções neurológicas, sem patologias de interesse para o anestesio-
tanto, doenças como a hidrocefalia, os agravar ou colocar em risco a vida do logista veterinário.
tumores intracranianos, a hérnia de paciente, uma vez que a maioria dos Quando o paciente apresenta algum
disco, as espondilopatias compressivas, agentes anestésicos altera – em maior distúrbio neurológico, a primeira ques-
as convulsões ou os distúrbios compor- ou menor grau – a irrigação, a dinâmi- tão a ser formulada é: “Qual a localiza-
tamentais e as intoxicações, que tam- ca do SNC e as funções neuromuscu- ção da lesão”? Para responder a essa in-
bém alteram a saúde neurológica do ani- lares. As possibilidades de sobrevivên- dagação, é essencial conhecer funda-
mal, podem requerer procedimentos cia do paciente são maiores quando se mentos de neuroanatomia clínica, que
diagnósticos e terapêuticos como a tran- conhecem a neuroanatomia e a fisiopa- provêem o profissional de informações
qüilização e a anestesia geral, preser- tologia do sistema nervoso, bem como sobre o funcionamento do SNC e, con-
vando o sistema nervoso e evitando fa- as repercussões farmacológicas dos seqüentemente, auxiliam-no a identifi-
tores lesivos como hipóxia, hipercapnia anestésicos sobre este. car as estruturas nervosas envolvidas no

34 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


processo. Tais informações permitem de apnéia, bradipnéia, taquipnéia e ou- de lesões do lobo frontal ou cápsula
que medidas diagnósticas e terapêuticas tros padrões respiratórios anormais. A interna – como a hidrocefalia –, e é ca-
sejam adotadas com maior margem de respiração de Cheyne-Stokes, por exe- racterizada por deterioração mental que
segurança. mplo, ocorre com maior freqüência em torna o paciente incapaz de desempe-
O sistema nervoso está dividido em lesões no diencéfalo ou doença cerebral nhar corretamente atividades psicomo-
sistema nervoso central (SNC) e sistema bilateral, e é caracterizada por respi- toras, além de causar movimentos de
nervoso periférico (SNP) 1. O SNC com- ração profunda seguida de movimentos pedalar dos membros. O paciente semi-
preende o encéfalo e a medula espinhal, respiratórios superficiais ou apnéia. A comatoso apresenta-se inconsciente,
que estão envolvidos no controle e coor- hiperventilação neurogênica central mas responde a estímulos dolorosos. O
denação motores, e em funções mais pode ser observada nas lesões mesence- animal em estado de coma ou com
elevadas, como a consciência e a me- fálicas com respiração apnêustica, ca- morte encefálica está inconsciente e não
mória. Já o SNP está principalmente racterizada por inspiração prolongada responde a qualquer estímulo doloroso.
voltado à transmissão de informações seguida de expiração curta. Ambos os No caso de morte encefálica, a função
sensoriais para o cérebro e à condução padrões podem ocorrer em pacientes respiratória só é mantida com o auxílio
de sinais para os órgãos efetores 2,3. com disfunção neurológica central, de aparelhos 4. Os pacientes cuja pontua-
di encefálica, mesencefálica ou lesão ção na escala do coma de Glasgow mo-
AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DOS caudal ao tronco encefálico, podendo dificada para pequenos animais atinge
DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS preceder parada respiratória 4,10. valor 3 (Quadro 1) ou no estado de mor-
Em uma primeira etapa, o paciente A monitoração da freqüência cardía- te encefálica, não há necessidade do uso
deve ser cuidadosamente avaliado me- ca e a manutenção da pressão arterial de anestésicos para intubação orotra-
diante a mensuração de suas funções vi- média sistêmica entre 50 a 150mmHg queal e/ou procedimentos cirúrgicos, de
tais, e os sinais e sintomas que possam são importantes medidas, pois os distúr- vez que não têm sensibilidade dolorosa
contribuir para o pronto diagnóstico e o bios do tronco encefálico podem levar a e estão inconscientes, e são mantidos
acompanhamento da evolução do qua- alterações cardiovasculares que se refle- vivos tão somente sob assistência
dro devem ser investigados 4,5. tem sobre o fluxo sangüíneo encefálico ventilatória e fluidoterapia transcirúr-
e requerem intervenção com fármacos gica 7,10.
ENCÉFALO inotrópicos e vasoativos 8,11,12.
O tratamento do paciente vitimado Desordens autonômicas podem estar Monitoração do diâmetro e
por lesão intracraniana deve ser precedi- relacionadas à injúria hipotalâmica, e da reatividade pupilar
do de uma série de avaliações que visam são caracterizadas por alterações na Como as áreas do tronco encefálico
restabelecer as funções vitais, evitando pressão arterial, na freqüência cardíaca que controlam a consciência são anato-
o aumento da pressão intracraniana e na regulação da temperatura corporal, micamente próximas àquelas que con-
(PIC), isquemia e possível hérnia de com hipotermia ou predisposição à hi- trolam a reatividade pupilar, as altera-
tecido encefálico 4,6. potermia anestésica, assim como modi- ções observadas na função pupilar são
ficações da glicemia 9,13. Freqüentemen- indícios de distúrbios do tronco encefá-
Função respiratória e cardiovascular te, tais pacientes sofrem de arritmia car- lico ou de hipertensão intracraniana.
A hipoventilação grave – que acome- díaca, razão pela qual devem ser moni- Portanto, a reatividade pupilar serve de
te alguns animais com trauma cranioen- torados e tratados prontamente, para parâmetro para a avaliação da evolução
cefálico – pode causar hipoxemia e hi- prevenir impactos sobre o débito cardía- do quadro do paciente. O restabeleci-
percapnia, promovendo vasodilatação, co e o fluxo sangüíneo encefálico 9. mento das pupilas ao diâmetro e à reati-
que implica o aumento do fluxo san- vidade normais é um sinal favorável,
güíneo encefálico com conseqüente Monitoração do estado de consciência mas a progressão de miose bilateral para
edema cerebral 4. Estudos revelam que Essa avaliação tem como objetivo es- pupilas fixas normais ou midriáticas in-
os distúrbios neurológicos que elevam a timar o grau de hipóxia e a extensão da dica agravamento do quadro neurológi-
PIC podem também causar edema pul- lesão encefálica. Para tanto, deve-se in- co 10,12. O anestesiologista deve ficar
monar intersticial neurogênico 4,7,8. Por- vestigar a diminuição do estado de atento a essas mudanças de diâmetro
tanto, a assistência respiratória deve ser consciência, que pode ser classificada pupilar, pois de forma similar isso tam-
implantada com urgência no paciente como: alerta, delírio, demência, semico- bém ocorre durante o estágio II da anes-
inconsciente por meio da intubação oro- ma ou estupor, coma e morte encefálica. tesia (estágio de excitação).
traqueal e, caso o animal esteja cons- No estado de alerta, o animal se relacio-
ciente, mediante traqueostomia sob na satisfatoriamente com o meio-am- MEDULA ESPINHAL
anestesia. A manutenção da hiperventi- biente, e apresenta comportamento nor- As lesões do segmento C1-T1 da me-
lação assistida do paciente reduz a pres- mal. O delírio é caracterizado por alte- dula espinhal podem causar tetrapare-
são parcial de dióxido de carbono, com ração da consciência seguida por deso- sia, com o desenvolvimento da síndro-
conseqüente vasoconstrição e diminui- rientação, medo e irritabilidade, não de- me de Horner – que se caracteriza por
ção do volume encefálico 9. vendo confundir-se com os uivos e as rea- miose, protrusão da terceira pálpebra e
Alterações no padrão respiratório ções que eventualmente ocorrem na re- endoftalmia decorrentes das lesão das
indicam grave disfunção do tronco en- cuperação anestésica. A demência é um vias simpáticas intermediolaterais 14.
cefálico, e manifestam-se sob a forma distúrbio comportamental proveniente Injúrias mais severas também podem

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 35


ocasionar um quadro de insuficiência Quadro 1 - Escala de coma de pequenos animais para avaliação de traumas cranioencefálicos 7,10
respiratória, ou mesmo a morte por le- Categoria/descrição pontuação
são dos tratos motores responsáveis Atividade motora:
pe la movimentação do tórax e do 1. Marcha normal, reflexos espinhais normais 6
diafragma 15,16. 2. Hemiparesia, tetraparesia ou sinais de descerebração 5
3. Decúbito, rigidez intermitente de extensores 4
NERVOS PERIFÉRICOS 4. Decúbito, rigidez constante de extensores 3
O plexo braquial é responsável pela 5. Decúbito, rigidez constante de extensores com opistótono 2
inervação sensitiva e motora dos mem- 6. Decúbito, hipotonia muscular, reflexos espinhais deprimidos ou ausentes 1
bros torácicos. As causas mais comuns Reflexos do tronco cerebral:
de lesões no plexo braquial são as con- 1. Respostas pupilares à luz e reflexos oculocefálicos normais 6
tusões ou avulsões, que se manifestam 2. Respostas pupilares à luz lentas; reflexos oculocefálicos de normais a fracos 5
através de déficit neurológico sensitivo 3. Miose bilateral não responsiva; reflexos oculocefálicos de normais a fracos 4
e motor 4, e geralmente tornam desne- 4. Pupilas puntiformes; reflexos oculocefálicos fracos ou ausentes 3
cessária a anestesia profunda para pro- 5. Midríase unilateral não responsiva; reflexos oculocefálicos fracos ou ausentes 2
cedimentos cirúrgicos no membro afeta- 6. Midríase bilateral não responsiva; reflexos oculocefálicos fracos ou ausentes 1
do 17. Nível de consciência:
Isso não se aplica aos membros pél- 1. Perdas ocasionais do estado de alerta e da resposta ao meio ambiente 6
vicos, pois lesões conjuntas dos nervos 2. Depressão ou delírio; capacidade de responder ao meio ambiente 5
ciático e femoral são muito raras. As le- 3. Semicoma; resposta a estímulos visuais 4
sões diretas sobre os nervos pélvicos es- 4. Semicoma; resposta a estímulos auditivos 3
tão mais relacionadas às fraturas ósseas 5. Semicoma; resposta a estímulos dolorosos 2
e à luxação sacroilíaca pela compressão 6. Coma; sem resposta a estímulos dolorosos repetidos 1
das raízes nervosas, causando disfun-
Pontuação total ----- Prognóstico provável
ções neurológicas que variam em fun- 3-8 Grave
ção do local ou do nervo envolvido 4,18. 9 - 14 Mau a reservado
15 - 18 Bom
TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO
As injúrias do crânio podem envolver cortical cerebral que, após ressuscitação, sistêmica, que são extremamente deleté-
danos em estruturas do encéfalo, como será explicitada clinicamente como ce- rias às células neuronais, tendo em vista
os nervos cranianos 19. gueira, surdez ou diminuição do intelecto, que a isquemia cerebral total por mais
A morte do paciente com trauma com mudança de comportamento 4. Con- de três minutos pode produzir lesão en-
cranioencefálico pode ocorrer em fun- seqüências danosas por ação dos anes- cefálica severa ou morte do animal 15,23.
ção dos efeitos primários, provenientes tésicos sobre as funções encefálicas
das forças biomecânicas aplicadas no ainda podem ser registradas sob a forma SUPORTE RESPIRATÓRIO
crânio pelo choque traumático, ou pelos de queda da pressão arterial, arritmias O tipo de suporte à respiração depen-
efeitos secundários, que podem ter ini- cardíacas e diminuição da freqüência res- derá do grau de comprometimento da
cio logo após o trauma primário ou até piratória, levando a desmaios isquêmi- função respiratória. A oxigenação deve
dias mais tarde. A injúria encefálica se- cos. Outros fatores que também podem ser incrementada através do forneci-
cundária desenvolve-se em função dos favorecer a lesão cerebral no cão e no mento de oxigênio por cateter nasal ou
eventos extracranianos e das alterações gato são a hipoglicemia provocada pelo tubo orotraqueal. A concentração de
intracranianas, podendo culminar na jejum exagerado (por exemplo, aquele oxigênio oferecida deve permanecer
formação de edema, hemorragia intra- aplicado a filhotes – 12 horas ao invés de acima de 95%, que permite reduzir ou
craniana e possível efeito direto sobre a seis horas), pela hipotermia com queda prevenir lesões secundárias 15. A monito-
área de controle cardiorrespiratória do da pressão arterial e pela freqüência res- ração através da análise da concentração
tronco encefálico, resultando em hipo- piratória, por depressão bulbar 4,23. de dióxido de carbono (PaCO2) dos ga-
ventilação, hipóxia e hipertensão intra- Os primeiros minutos posteriores ao ses sangüíneos do paciente (hemogaso-
craniana, o que compromete diretamen- trauma cranioencefálico merecem gran- metria), ou por meio de capnografia, de-
te o suprimento sangüíneo e a oxigena- de atenção e agilidade por parte do clí- ve ser realizada, para que se possa man-
ção localizada e global das estruturas nico, pois o paciente geralmente se en- ter a PaCO2 entre 28 e 32 mmHg, o que
encefálicas 12,19,20,21. Medidas emergen- contra em choque hipovolêmico. Nos pode ser alcançado com ventilação con-
ciais devem ser tomadas para estabilizar casos de parada cardiorrespiratória 15 a trolada, mantendo-se estável a relação
as funções vitais necessárias à manuten- circulação deve ser restabelecida o mais da fração inspirada de O2 (FiO2), a rela-
ção da vida, principalmente se há sus- rapidamente possível, seguida de supor- ção ventilação-perfusão e a freqüência
peita de pneumotórax, hemorragias ou te ventilatório, pois o aspecto mais im- respiratória entre 10 e 20 movimentos/
arritmias cardíacas traumáticas 17,19,22. portante da ressuscitação encefálica en- minuto 23. O paciente não deve ser subme-
Cães submetidos à sobredose de anes- volve o controle cardiorrespiratório pa- tido à hiperventilação como medida pro-
tésicos podem desenvolver parada car- ra a correção da hipoxemia, da hiper- filática, na ausência de hipertensão in-
diorrespiratória, capaz de gerar lesão capnia, da hipertermia e da hipotensão tracraniana adequadamente mensurada

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ou de sinais clínicos sugestivos de neurológico e cardiovascular do pa- como o manitol e a furosemida 7. O
hipertensão intracraniana 8. Vale ainda ciente, podendo aumentar a pressão tiopental sódico – na dose de 10 a
ressaltar que, no momento da manipula- intracraniana, agravar a isquemia cere- 12mg/kg, IV – é o mais utilizado na ro-
ção para intubação do animal, não se bral, prolongar o edema cerebral e pro- tina hospitalar. Como é considerado
deve pressionar a região cervical, ado- duzir herniação encefálica 17,26. agente indutor de ultracurta duração,
tando o devido cuidado para não obs- Pequenas doses de opióides – como o causando hipnose e proteção neurove-
truir as veias jugulares e deve-se manter butorfanol na dose de 0,05 a 0,2mg/kg, getativa, pode ser utilizado na indução
sempre o paciente com a cabeça elevada ou o fentanil na dose de 2 a 6µg/kg, pe- anestésica do paciente com trauma cra-
em um ângulo de 30° em relação ao pla- las vias intramuscular ou intravenosa – nioencefálico 8.
no horizontal 24. Essas medidas promo- podem ser importantes para diminuir os Entretanto, outros anestésicos gerais
vem a reabsorção liquórica, aumento do efeitos nocivos de substâncias vasoati- injetáveis não barbitúricos oferecem
retorno venoso, hipocapnia e vasocons- vas endógenas geradas pela dor, ameni- maior segurança na indução anestésica
tricção encefálica, reduzindo a pressão zando o estresse perioperatório do pa- do paciente com trauma cranioencefáli-
intracraniana em paciente com trauma ciente. Entretanto, a morfina é contra- co. O etomidato – na dose de 0,5 a
cranioencefálico ou submetido a anesté- indicada por estar associada à liberação 1,0mg/kg, IV –, ou o propofol – 2 a
sicos que deprimem a respiração 8. de histamina, o que pode promover va- 3mg/kg, IV –, associados aos benzodia-
sodilatação e hipotensão. Vale salientar zepínicos, além de reduzir o fluxo san-
FLUIDOTERAPIA EMERGENCIAL que os opióides, quando em doses ele- güíneo e o metabolismo encefálico, di-
Os colóides são os fluidos mais utili- vadas, podem induzir à hipoventilação minuindo a PIC, causam discreta hipo-
zados pelos neurocirurgiões, pois são e, caso sejam utilizados em pacientes tensão sem alterar os valores hemogaso-
excluídos pela barreira hematoencefáli- com trauma cranioencefálico, deve-se métricos ou hematológicos do paciente
ca, restaurando o volume intravascular empregar assistência ventilatória mecâ- em relação aos valores basais 31,32,33.
sem alterar o teor hídrico cerebral. Em nica 8,27. Os benzodiazepínicos, diazepam e
contrapartida, os defensores da utiliza- O uso de xilazina deve ser evitado em midazolam, reduzem o fluxo sangüíneo,
ção de cristalóides isotônicos argumen- pacientes com disfunção neurológica, a pressão intracraniana e a taxa metabó-
tam que o colóide pode atravessar a bar- por apresentar efeito hipotensor e indu- lica encefálica. Associações de fárma-
reira hematoencefálica lesionada e exa- zir arritmia cardíaca, podendo ainda pro- cos benzodiazepínicos com fentanil –
cerbar o edema pelo acúmulo de água duzir êmese, o que aumentaria a PIC 28,29 em doses 0,2 mg/kg e 5µg/kg, respecti-
na área afetada. A solução de Ringer e desencadearia convulsões 12. vamente – também são indicadas como
lactato na dose de 40 a 90mL/kg/h de- Os barbitúricos podem ser usados na indutoras para a anestesia 28,29.
monstrou ser imprópria para o uso em indução anestésica de pacientes hemodi- A cetamina é totalmente contra-indi-
pacientes com trauma craniano. Já a so- namicamente estáveis, pois diminuem cada em pacientes portadores de disfun-
lução salina hipertônica (7,5%), admi- significantemente o metabolismo e o flu- ções encefálicas, pois aumenta a taxa
nistrada pela via intravenosa, na dose de xo sangüíneo encefálico e, conseqüente- metabólica cerebral, a pressão intracra-
4 a 5mL/kg em cães e gatos hipotensos, mente, a pressão intracraniana 11. Por niana e o fluxo sangüíneo encefálico,
demonstrou aumentar a contratilidade outro lado, o uso profilático de barbitúri- além de reduzir a pressão de perfusão
miocárdica e o débito cardíaco – com cos em pacientes humanos com grave in- cerebral na presença de pressão sangüí-
maior benefício do que as soluções sali- júria encefálica não conteve a elevação nea sistêmica normal ou aumentada 34,35.
nas isotônicas –, para a redução do teor da PIC e, muitas vezes, acentuou o mau O halotano provoca vasodilatação
hídrico cerebral e a restauração da pres- estado clínico neurológico quando com- cerebral, diminui a resistência vascular
são arterial sistêmica 9,21,25. parado com outras terapias 12,30. A hipo- e aumenta o fluxo sangüíneo encefálico
tensão e a hipoventilação geradas pela em 11 a 12% do valor inicial em cães,
ANESTESIA ação dos barbitúricos podem agravar o conseqüentemente elevando a PIC. O
As alterações fisiopatológicas induzi- foco da lesão e os sintomas neurológicos enfluorano, da mesma forma, aumentou
das pelo trauma cranioencefálico po- em conseqüência da elevação dos níveis a PIC e o fluxo sangüíneo encefálico
dem ter impacto na escolha do protoco- da PaCO2 e da PIC, o que afeta negativa- em apenas 30 minutos. O sevofluorano
lo anestésico, principalmente se o pa- mente a pressão de perfusão cerebral e e o desfluorano, apesar de diminuírem
ciente desenvolve sintomas de hipoven- aumenta os riscos de injúria encefálica o metabolismo de O2 e de não possuí-
tilação, hipoxemia, hipotensão sistêmi- secundária 7,9. Seu uso em terapia intensi- rem potencial convulsivo, aumentaram
ca, taquicardia, arritmia cardíaca e hi- va tem sido adotado sob constante moni- o fluxo sangüíneo cerebral com poste-
pertensão intracraniana. Como já cita- toração do paciente, controlando a fun- rior aumento da PIC, em relação ao iso-
do, no coma e na morte encefálica o pa- ção mecânica ventilatória da respiração e fluorano 8,36. Os anestésicos inalatórios
ciente encontra-se inconsciente e é inca- a pressão arterial 11,30. halotano, enfluorano e metoxifluorano,
paz de perceber o estímulo nociceptivo, Em virtude dos efeitos depressores bem como o cloridrato de cetamina, au-
dispensando o uso de anestesia 9,10. no tronco encefálico sobre o centro re- mentam a pressão intracraniana e
Geralmente, os agentes anestésicos alte- gulador da respiração e da pressão arte- podem provocar hérnia cerebral ou
ram a fisiologia do SNC, e a escolha rial, os barbitúricos devem ser usados cerebelar se o paciente estiver com a
inadequada de tais fármacos pode com cautela, principalmente em associa- pressão intracraniana elevada 8. Além
agravar ainda mais o estado clínico ção com outros fármacos hipotensores, disso, o halotano deprime a contratilidade

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cardíaca em uma proporção 22% maior integridade das vias aéreas viabiliza a anestésicos, principalmente barbitúri-
que o isofluorano. Este último, apesar respiração e a dinâmica cardiovascular cos, pela depressão cardiorrespiratória
de elevar um pouco a freqüência e, conseqüentemente, evita parada car- dose-dependente que causam 46. Estudos
cardíaca, causa efeitos menos graves e diorrespiratória e falência vascular. No revelaram uma elevada incidência de
ainda mantém o débito cardíaco em caso de choque hipovolêmico, a reani- mortalidade provocada por colapso
valores aceitáveis na concentração de mação através da correção da volemia e cardiovascular e insuficiência respi-
até 2 CAM, sendo então considerado o da hipotensão deve ser iniciada por ratória durante o trans e pós-cirúrgico
anestésico de escolha para o paciente meio de fluidos hipertônicos, como de cães submetidos à descompressão da
com trauma cranioencefálico, por dimi- NaCl a 7,5%, 4mL/kg, IV, ou colóides e, medula cervical 47,48,49. Esses pacientes
nuir a taxa metabólica e causar míni- em seguida, por fármacos vasoativos – devem ser monitorados com equipa-
mos efeitos sobre o fluxo sangüíneo en- como dopamina ou dobutamina, na dose mentos como eletrocardiógrafo, moni-
cefálico, conferindo maior proteção de 5 a 10µg/kg/min, IV, ou efedrina a tores de pressão arterial e capnógrafo,
encefálica 37. 0,3mg/kg, IV, diluída em 20mL de solu- que possibilitem o diagnóstico precoce
Um importante aspecto no procedi- ção fisiológica e administrada lenta- dessas alterações 36.
mento anestesiológico do paciente com mente, de acordo com os parâmetros Nas cirurgias cervicais ventrais é im-
trauma cranioencefálico é a monitora- vitais (freqüência cardíaca, ritmo e pres- prescindível a intubação pela compres-
ção contínua das funções cardiovascu- são arterial) 40,41. são traqueal. O risco de o animal desen-
lar, respiratória e temperatura corpórea, No trauma agudo medular, o trata- volver arritmias cardíacas durante a la-
por meio de eletrocardiografia, monito- mento com succinato sódico de metil- minectomia da coluna cervical é duas
res de temperatura, pressão arterial, oxi- prednisolona deve ser iniciado até oito vezes e meia maior do que na descom-
metria e capnografia 8,21. Se possível, horas após a injúria ou cirurgia – a uma pressão da coluna torácica 8,33,49. Na ocor-
também é muito importante monitorar a dose de 30mg/kg, via intravenosa lenta, rência de bradicardia sinusal ou blo-
pressão intracraniana, evitando que esta podendo repetir-se a aplicação na dose queio atrioventricular, causados pela es-
ultrapasse o valor de 20mmHg 9,21. de 15mg/kg, IV 2 e 6 horas após a dose timulação transcirúrgica do nervo vago,
inicial, para prevenir as lesões secundá- devem ser administrados anticolinérgi-
TRAUMA E COMPRESSÃO rias 42,43. Outros corticosteróides, como a cos como a atropina, na dose de
MEDULAR dexametasona, não demonstraram efi- 0,04mg/kg, IM ou IV, para diminuir a
O trauma da medula espinhal é uma ciência na proteção da medula após ação parassimpática 50.
das causas mais comuns de disfunção trauma espinhal 40. Os opióides – como a morfina na dose
neurológica no cão, e tem como princi- de 0,5mg/kg, via SC ou IM, ou a mepe-
pais etiologias injúrias endógenas e exó- PROCEDIMENTO ANESTÉSICO ridina na dose de 3 a 5mg/kg, IM – são
genas 38. As doenças do disco interverte- O fluxo sangüíneo espinhal aparenta indicados na pré-medicação e no pós-
bral são consideradas endógenas, en- responder às variações da pressão arte- operatório de cirurgias espinhais 17,27;
quanto as fraturas e luxações vertebrais, rial, e à PaCO2 de forma similar à regu- também o fentanil (5µg/kg) pode ser uti-
provocadas por acidente automobilísti- lação do fluxo sangüíneo encefálico 44. lizado em pacientes com injúria medular
co, são as causas exógenas que mais Estudos anteriores a este trabalho com- para conter a dor e a ansiedade, evitando
acometem os animais 16. provaram que a perfusão da coluna me- assim a liberação de aminas vasoativas
As seqüelas fisiopatológicas resul- dular foi reduzida em 50% quando a que alteram a dinâmica circulatória sis-
tantes da injúria primária geralmente pressão arterial média diminuiu para têmica 19. Entretanto, deve-se ter cuidado
decorrem da secção de processos axo- 50mmHg, chegando a estagnar quando com a sedação profunda, especialmente
nais ou dos corpos celulares dos nervos esta caiu para 30mmHg. Assim, o proto- em animais com instabilidade vertebral
e estruturas de suporte, como estruturas colo anestésico desse paciente deve com injúria medular ou com luxação
vasculares e células gliais, resultando na otimizar ambas as funções – cardiovas- atlanto-axial, devido à perda da proteção
interrupção dos impulsos nervosos 38. cular e respiratória –, na tentativa de do tono muscular, o que desestabilizaria
Esta interrupção, quando completa (fra- coibir os efeitos da hipoperfusão e hipó- o local da lesão, agravando ainda mais a
tura ou luxação vertebral), promove a xia e, conseqüentemente, a isquemia afecção medular 40,42.
perda da sensibilidade dolorosa, o que medular 42,45,46. Para indução anestésica pode-se uti-
dispensa o uso de anestesia caso haja Lesões medulares, especialmente lizar com cautela o tiopental, dependen-
necessidade de procedimento cirúrgico aquelas craniais ou na própria junção do do estado clinico observado nos exa-
em região caudal, como a denervação cervicotorácica, podem interromper as mes físico e neurológico, considerando
da bexiga por celiotomia e a reparação conexões de tratos nervosos simpáticos os distúrbios cardiovascular e respirató-
de fratura tibial em cães e gatos com advindos do tronco encefálico, dimi- rio secundários. Os barbitúricos pro-
secção medular torácica 39. nuindo as funções motoras cardiovas- movem um efeito protetor no trauma e
culares, causando hipotensão e arritmia na isquemia medular, pois diminuem o
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO cardíaca; assim como conexões entre o consumo de O2 neuronal, redistribuem o
EMERGENCIAL centro respiratório e a origem medular fluxo sangüíneo nos tecidos normais,
O paciente com trauma agudo medu- dos nervos frênico e torácicos, levando reduzem a perda de potássio e dimi-
lar merece atenção, principalmente no à paresia ou paralisia respiratória, o que nuem o edema após a injúria isquêmica
que concerne às funções vitais. A exige cautela no uso de fármacos e a oxidação da membrana lipídica 51,52,53.

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A intubação do paciente deve ser rea- transitória. Isso pôde ser verificado em de cães submetidos à associação anesté-
lizada com cautela, com o auxílio de la- cães com compressão cervical provoca- sica de zolazepam-tiletamina ou levo-
ringoscópio, principalmente se há sus- da por lesão de estruturas que interligam mepromazina, xilazina ou diazepam
peita de fratura ou luxação vertebral os centros respiratórios pontobulbares com tiopental 34.
cervical. Nesse momento, a intubação aos nervos espinhais da parede torácica e Frente à possibilidade de ocorrerem
deve ser procedida com o auxílio de ao nervo frênico (que inerva o diafragma), convulsões após a mielografia, deve-se
mais uma pessoa, que manterá sempre a durante o posicionamento para o exame considerar que os fenotiazínicos, como a
cabeça e o pescoço do animal eretos e mielográfico 3,47. acepromazina e a levomepromazina,
rígidos, não causando flexão ou exten- Estudos realizados com macacos de- além da cetamina e dos opióides, são
são cervical. Episódios de arritmias car- monstram que não somente a compressão epileptogênicos em cães e no homem 68,69,
díacas, hipotensão, bradicardia e até pa- aguda sobre a coluna cervical, mas tam- enquanto o diazepam, além de promover
rada cardíaca, têm sido constatados em bém a compressão da coluna torácica poucas alterações no ritmo e na freqüên-
função da intubação endotraqueal, pela (T5 - T9) geraram graves episódios de cia cardíaca 28, é bastante eficiente na te-
estimulação vagal, em animais portado- arritmias, acompanhados de hipertensão rapia anticonvulsivante de animais 70.
res de transtornos cardiovasculares 54,55. aguda, constatando-se que as arritmias Dentre os anestésicos voláteis, o ha-
O halotano deprime a respiração por cardíacas podem surgir por envolvimento lotano não é recomendado para pacien-
atuar sobre a medula e os nervos perifé- do sistema nervoso autônomo 48,61. tes com disfunção neurológica, pois au-
ricos, além de causar relaxamento da Episódios de taquicardia 34 e bradicar- menta em 200% o fluxo sangüíneo cere-
musculatura bronquial pela inibição da dia 62 sem causa justificada também bral em cães com 1,1 CAM, podendo
mobilização de cálcio intracelular 56. O ocorrem em cães submetidos a mielo- causar herniação cerebral ou cerebelar
isofluorano é mais apropriado para o grafia por injeção de meio de contraste em pacientes com hipertensão intracra-
animal vítima de trauma ou injúria me- na cisterna cerebelomedular. Os estudos nial. Visando coibir os efeitos de hipo-
dular do que o halotano, pois seus efei- demonstram que a mielografia, além de perfusão e isquemia medular provoca-
tos cardiovasculares são mínimos, com causar arritmias cardíacas, pode provo- dos por fármacos hipotensores, há estu-
manutenção do débito cardíaco, não car hipotermia, particularmente em pa- dos que indicam o isofluorano e o sevo-
sensibilizando o miocárdio às catecola- cientes de pequeno porte ou se o perío- fluorano 71 como os mais adequados para
minas. No sistema nervoso central, do anestésico for prolongado 50. Por isso, a mielografia, pois têm efeitos anticon-
causa redução da taxa metabólica e a monitoração do paciente frente às vulsivos 56. Apesar de promoverem leve
menor resposta do fluxo sangüíneo à arritmias cardíacas e à hipotensão torna- diminuição da pressão arterial, mantêm
PaCO2, conferindo proteção às células se imprescindível, também para o su- a freqüência e o débito cardíaco mais
neuronais 54,56. cesso da mielografia. estáveis que o halotano 37.
Embora bastante utilizado para o Não há, na literatura consultada, um
ANESTESIA PARA MIELOGRAFIA exame mielográfico, o tiopental sódico protocolo anestésico ideal e único para a
A administração de meios de contras- – que tem propriedades sedativas e mielografia, embora haja registros da
te radiopaco no espaço subaracnóideo hipnóticas, pode elevar a freqüência car- obtenção de bons resultados com a com-
caracteriza a técnica neurorradiográfica díaca e causar taquiarritmias, pela ação binação de diazepam e tiopental sódico 72.
conhecida como mielografia. A mielo- simpaticomimética 30. A literatura revela Em investigação experimental na qual
grafia é utilizada na exploração clínica e poucos efeitos cardiovasculares do eto- esse protocolo anestésico foi utilizado
cirúrgica das enfermidades relacionadas midato em cães, quando comparado em 30 cães hígidos – com o emprego de
aos distúrbios neurológicos da coluna com o tiopental sódico e o propofol 63, o ioversol como contraste –, observou-se
vertebral de cães e gatos 57,58. Sua aplica- que o torna o fármaco de eleição para a reação neuromuscular, talvez pré-con-
ção na rotina hospitalar pode ser limita- indução anestésica em procedimentos vulsiva, em apenas dois animais 73.
da quando a saúde do paciente não ofe- neurocirúrgicos (diminui a taxa de me-
rece condições clínicas para o procedi- tabolismo cerebral de oxigênio e tem ESTADO CONVULSIVO
mento anestésico 59. propriedades anticonvulsivantes) 32,64. O estado convulsivo, definido como
A estimulação simpática e parassim- Pesquisas demonstram a influência uma atividade convulsiva contínua que
pática, secundariamente às injúrias da da anestesia sobre a freqüência de con- dura mais de 30 minutos, ou como a
coluna cervical ou mesmo por traumas vulsões após a mielografia cervical com ocorrência de duas ou mais convulsões
durante a punção da cisterna cerebelo- metrizamide, e certificam que o diaze- sem recuperação total da consciência, é
medular, pode culminar tanto em distúr- pam, administrado antes do exame, po- considerado uma emergência médica
bios do ritmo e da condução cardíaca de diminuir significativamente a fre- que requer rápido tratamento, tanto das
como da pressão arterial 48. Isto é expli- qüência de convulsões 65. Dentre os convulsões como das anormalidades
cado pela proximidade entre o local da meios de contraste mais empregados ao sistêmicas. As principais causas do esta-
punção e a região bulbar do tronco cere- longo dos anos na neurorradiologia, po- do convulsivo são: infecções, neopla-
bral caudal, na qual se localiza o centro dem ser citados, do mais ao menos epi- sias, intoxicações, hipoglicemia, distúr-
vasomotor, onde a estimulação paras- leptogênico, o metrizamide, o iopami- bios metabólicos renais e/ou hepáticos e
simpática poderia diminuir a pressão dol, o iohexol e, mais recentemente, o diabetes 74,75.
arterial e a freqüência cardíaca 60, bem ioversol 66,67. O ioversol apresentou baixa As convulsões podem ser acompa-
como promover parada respiratória incidência de convulsões na mielografia nhadas de descargas autonômicas, cujas

40 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


manifestações sistêmicas incluem taqui- e vesical com solução salina isotônica Alguns trabalhos citam que os agen-
cardia, hipertensão e hiperglicemia 75. A gelada, aplicação de gelo na superfície tes tóxicos, como os organofosforados
elevação da pressão arterial média pode corporal ou colchão hipotérmico, sem- usados para controle de parasitas exter-
aumentar o fluxo sangüíneo encefálico e pre mantendo a contínua monitoração nos, os carbamatos e a estricnina, tam-
elevar à demanda metabólica cerebral. da temperatura e das funções vitais 74. bém podem causar convulsões, que po-
A manutenção desses sintomas por mais dem ser controladas com o pentobarbi-
de 30 minutos pode promover deterio- TRATAMENTO FARMACOLÓGICO tal sódico 4,68.
ração fisiológica, cujas conseqüências Para o tratamento agudo dos estados O fenobarbital é considerado o fár-
podem resultar em falha da autorregu- convulsivos, os fármacos benzodiazepí- maco de primeira escolha no controle da
lação do fluxo sangüíneo encefálico e nicos (diazepam, midazolam, loraze- epilepsia e das convulsões prolongadas
danos cerebrais irreversíveis 32,76. Além pam e clonazepam) são aqueles que têm de cães e gatos, alcançando um percen-
disso, hipoglicemia, rabdomiólise e demonstrado melhores resultados, prin- tual de 60 a 80% de cura em cães epi-
mioglobinúria podem ser desenvolvidas cipalmente o diazepam. Entretanto, de- lépticos se a concentração sérica for
graças às intensas e contínuas contra- vido ao seu curto período de ação, não mantida dentro da faixa requerida 85. A
ções musculares esqueléticas, especial- devem ser instituídos como fármacos de dose do fenobarbital varia entre as espé-
mente nas convulsões tônico-clônicas, escolha para uma terapia definitiva. Em cies, sendo que no cão a dose inicial po-
acarretando ainda acidose láctica, hiper- cães e gatos, a dose recomendada é de de oscilar entre 1,5 a 5,0mg/kg via IV
calemia, hipóxia e hipercapnia 6,77. 0,5 a 1,0mg/kg pelas vias intravenosa 80 ou IM, a cada 12 horas. Deve-se enfati-
ou retal 79, podendo ser repetida uma ou zar a necessidade de monitorar o pa-
ESTABILIZAÇÃO SISTÊMICA DO duas vezes nas primeiras duas horas, até ciente, a fim de evitar a ocorrência de
PACIENTE um máximo de 20mg. Também em infu- depressão cardiorrespiratória, principal-
Oxigenação, vias aéreas e equilíbrio são intravenosa contínua, recomenda-se mente se este estiver sendo submetido à
ácido-básico a dose de 2 a 5mg/kg/h, adicionada em administração de outros fármacos, co-
A avaliação das vias aéreas e a moni- solução glicosada a 5%. Caso o diazepam mo a cimetidina, o cloranfenicol e o ce-
toração da respiração durante o estado não controle as convulsões, deve-se toconazol, que aumentam a concentra-
convulsivo são de difícil implementa- considerar a possibilidade de utilizar o ção sérica do fenobarbital, podendo
ção. Para melhorar o fornecimento de propofol, o tiopental sódico ou o feno- acarretar toxicidade 75,77.
oxigênio por meio de máscara ou sonda barbital 68,81. O propofol pode ser utilizado na re-
intranasal, pode ser necessário aneste- Em investigação realizada com cães, cuperação de pacientes em estados con-
siar o paciente com fármacos anti- foi possível controlar estados convulsi- vulsivos refratários 77. Esse fármaco
convulsivantes e monitorar a ocorrência vos usando a compressão ocular de um apresenta efeitos similares àqueles do
de edema pulmonar neurogênico 77,78. A ou ambos os olhos durante 10 a 60 se- fenobarbital e dos benzodiazepínicos,
acidose respiratória ou a hipóxia de- gundos, com intervalos de 5 minutos, suprimindo a atividade metabólica do
tectada na hemogasometria devem ser pela estimulação da função vagal 82. SNC. Sua dose varia de 2 a 8mg/kg, via
tratadas imediatamente com o resta- Os fármacos contra-indicados para intravenosa, em bolus e em infusão con-
belecimento respiratório, uma vez que a pacientes epilépticos ou em estado con- tínua de 0,1 a 0,6mg/kg/min 86.
acidose metabólica será resolvida me- vulsivo são principalmente os agentes Ainda não está bem comprovado o
diante o controle das convulsões 15,75. tranqüilizantes fenotiazínicos e butiro- efeito protetor do tiopental e do pento-
fenonas. Outros fármacos capazes de in- barbital sobre estruturas encefálicas
ACESSO INTRAVENOSO duzir convulsões são o sulfato de morfi- envolvidas em estados convulsivos re-
A venopunção com cateter pode ser na e compostos análogos, bem como os fratários. O certo é que ambos, em doses
dificultada pelas intensas contrações estimulantes do SNC, como as xantinas, adequadas, quase sempre são eficazes no
musculares convulsivas, mas é neces- a exemplo da aminofilina 68. Os agentes controle das manifestações físicas das
sária para a infusão de fluidos isotôni- dissociativos, como a cetamina e a tile- convulsões, ressalvando-se o efeito hi-
cos e a correção de distúrbios metabóli- tamina também devem ser evitados, potensor e depressor sobre o miocárdio.
cos, bem com para a administração de pois aumentam o fluxo sangüíneo ence- A dose dos barbitúricos oscila muito em
fármacos destinados à contenção do fálico e a PIC, além de poder causar tre- função da administração prévia de ou-
estado convulsivo 77. Caso não seja pos- mores e hipertonicidade muscular, au- tros fármacos pré-anestésicos durante o
sível realizar a venopunção, pode-se uti- mentando o risco de convulsões durante estado convulsivo refratário, principal-
lizar a via retal para a aplicação de fár- a recuperação anestésica 83. O anestesis- mente se o animal foi submetido aos
macos anticonvulsivantes 79. ta também deve estar atento às raças de benzodiazepínicos ou fenobarbital, va-
cães predispostas à epilepsia idiopática riando entre 3 a 15mg/kg, via intraveno-
REGULAÇÃO DA TEMPERATURA – que pode se apresentar em forma sa 77. A indução do “coma barbitúrico”
A hipertermia gerada durante o esta- subclínica –, como cocker spaniels, bea- faz-se necessária algumas vezes – em
do convulsivo deve ser tratada pronta- gles, collies, dachshunds, golden retrie- pacientes que sofrem de estados epi-
mente por meio de resfriamento passi- vers, poodles, huskies siberianos, dentre lépticos refratários –, para preservar as
vo. Caso a temperatura corporal exceda outras, principalmente quando da esco- funções neurovegetativas, requerendo
os 40°C, deve-se adotar o resfriamento lha de agentes farmacológicos poten- ventilação mecânica contínua, infusão
ativo, incluindo lavagem gástrica, retal cialmente epileptogênicos 76,84. de solução salina e até pequenas doses

42 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


de dopamina, que coíbem os efeitos se- função respiratória na falha dos nervos paraneurais e nos neuromas de caudecto-
cundários como depressão da pressão ar- torácicos e frênico. Isto gera a neces- mia (nervos caudais), os quais requerem o
terial e do metabolismo miocárdico, va- sidade de rígida monitoração e/ou ven- uso de analgesia sistêmica e/ou local,
sodilatação com diminuição do retorno tilação assistida ao tranqüilizar ou anes- junto à descompressão cirúrgica 18,27,89.
venoso e redução da perfusão cardíaca 74. tesiar pacientes com polineuropatias
Os agentes inalatórios são indicados motoras, como polirradiculoneurites, VESTIBULOPATIAS
como última opção para o tratamento de polineurites, polineuropatias tóxicas, bo- Cães e gatos que portem doenças que
estados convulsivos refratários. O iso- tulismo e miastenia, entre outras 5,54,87,88. afetam central ou perifericamente o sis-
fluorano é o agente anestésico geral ina- As dores radiculares e neurais prove- tema vestibular exibem, dentre outros,
latório de eleição para esses casos. Nem nientes de afecções compressivas espi- sinais como falta de equilíbrio, postura
todos os anestésicos voláteis apresen- nhais, como subluxações, luxações, fra- anormal da cabeça e do corpo, tontura,
tam ação anticonvulsivante; o enfluora- turas, estenose lombossacra, discoes- náuseas, vômitos, nistagmo e estrabis-
no, por exemplo, pode aumentar a ativi- pondilite avançada, neoplasias e extru- mo 4,90. Fármacos vestibulossedativos, co-
dade convulsiva 8,56,75. sões ou protrusões de disco podem ser mo a meclizina – na dose diária de 25mg
A presença de movimentos involun- severas. Pacientes portadores dessas de- para cães e de 12,5mg para gatos – e o
tários, como tetanias, tremores, mioclo- sordens devem ser tratados com diazepam, foram indicados para o alívio
nias e espasmos musculares, são sinto- opióides indicados para dores severas desses desconfortos em virtude de seus
mas de disfunção neuromuscular que (morfina, buprenorfina, fentanil trans- efeitos anticolinérgicos, anti-histamí-
podem mimetizar-se e confundir-se com dérmico, metadona) 17, antiinflamatórios nicos e depressores da excitabilidade dos
episódios convulsivos 4. O opistótono e não esteróides e cirurgia descompressi- neurônios dos núcleos vestibulares 90.
a hipertonia muscular extensora dos va das raízes e nervos atingidos 50.
membros são comuns em pacientes com As dores neurais intensas também CONSIDERAÇÕES FINAIS
tétano. Esses sintomas, além de poder ocorrem em afecções e compressões de O entendimento e a aplicabilidade das
desenvolver-se diante dos traumas cra- nervos periféricos, como a polirradiculo- técnicas anestésicas corretas, apresen-
nioencefálicos, são observados nas into- neurite, as fraturas ósseas de úmero (ner- tadas resumidamente no Quadro 2, são
xicações causadas por estricnina, metro- vo radial) e de pelve, pela ação da extre- ferramentas imprescindíveis no aten-
nidazol e outros produtos químicos 4,5. midade proximal do pino intramedular dimento clínico e cirúrgico de pacientes
Fármacos como os benzodiazepínicos e em fraturas femorais (nervo ciático), e com distúrbios neurológicos. Deve ser
o pentobarbital sódico foram indicados ainda nos schwanomas ou neoplasias objetivo do anestesista preservar a
para animais com tétano, objetivando o Quadro 2 - Resumo dos procedimentos anestesiológicos gerais
relaxamento muscular 87. de cães e gatos com distúrbios neurológicos 8,12,36,37,75
As tetanias e tremores musculares, 1. Determinar e restaurar o estado cardiovascular, respiratório e neurológico;
por exemplo, podem ser observados na 2. Corrigir desequilíbrios hídricos, eletrolíticos e ácido-básicos;
hipocalcemia ou nos casos de eclamp- 3. Selecionar protocolo anestésico:
sia, bem como nos processos tóxicos a. Agentes pré-anestésicos:
causados por organofosforados. Nestas Butorfanol (0,05 a 0,2 mg/kg, IV ou IM)
Fentanil (2 a 6 µg/kg, IM ou IV)
últimas duas afecções os benzodiazepí-
Diazepam (0,5 mg/kg, IM ou IV) ou midazolam (0,1 a 0,2 mg/kg, IM ou IV)
nicos são indicados para controlar as b. Indução anestésica:
contrações musculares 54. Propofol (5 mg/kg, IV)
As câimbras musculares são vistas Etomidato (0,5 a 1 mg/kg, IV)
com maior freqüência em cães, princi- Tiopental sódico (10 a 12 mg/kg, IV)
palmente naqueles das raças greyhound Benzodiazepínicos + opióides (midazolam 0,2 mg/kg + fentanil 5 µg/kg, IV)
e scottie terrier, e seu tratamento 4. Manutenção:
compreende o uso da levomepromazina Isofluorano
ou do diazepam 54,88. Sevofluorano
5. Anticonvulsivantes:
A ANESTESIA E O SISTEMA Diazepam (0,5 a 1,0 mg/kg, IV ou retal - convulsão aguda)
Propofol (5 mg/kg, IV)
NERVOSO PERIFÉRICO
Fenobarbital (1,5 a 5,0 mg/kg, IV, a cada 12 horas)
As manifestações clínicas das neuro- 6. Agentes vasoativos:
patias periféricas no cão são reveladas a Dopamina (5 a 10 µg/kg/min, IV - inotrópico positivo)
partir de alterações sensitivas e do grau 7. Iniciar ventilação mecânica ou assistida após a indução anestésica:
de disfunção motora. O grau de sensação Cão Gato
pode estar ausente (anestesia), diminuído Volume (mL/kg) 5 a 20 15 a 20
(hipoestesia) ou aumentado (hiperestesia Freqüência (mov./min.) 10 a 20 10 a 12
ou dor). Já as disfunções motoras podem Pressão respiratória máxima (cm H2O) 15 a 20 15 a 18
se manifestar através de distúrbios na 8. Monitoração da pressão arterial média: 80 a 100 mmHg
locomoção, como o arrastar do membro 9. Eletrocardiograma (arritmias cardíacas);
ou a fraqueza muscular, as paresias e 10. Freqüência cardíaca: superior a 70 batimentos/minuto (cães) e 80 bpm (gatos)
11. PaCO2: 28 a 32 mmHg
paralisias, e podem comprometer a

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 43


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46 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Cardiomiopatia do boxer: Vivian Cristina Schwantes
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária,

revisão de literatura
UFRGS
vivianschwantes@yahoo.com.br

Simone Tostes de Oliveira


MV, mestre profa. subs.
Boxer cardiomyopathy: a review Depto. Medicina Animal, FV/UFRGS
tostesimone@yahoo.com.br

Cardiomiopatía del bóxer:


revisión de la literatura
Resumo: A cardiomiopatia do boxer é uma doença familiar herdada que, em virtude de sua semelhança clínica e histopa-
tológica com a cardiomiopatia arritmogênica ventricular direita (CAVD) dos humanos, vem sendo denominada de CAVD do
boxer. A apresentação clínica de arritmia sem insuficiência cardíaca (IC) é uma particularidade na cardiomiopatia do boxer. Os
cães podem permanecer assintomáticos ou apresentar sinais como síncope ou morte súbita. Uma pequena parcela dos
animais afetados desenvolve IC esquerda e sinais de IC congestiva. O diagnóstico de CAVD baseia-se em uma combinação
de fatores, como histórico familiar, exame eletrocardiográfico com Holter de 24 horas e achados histológicos de infiltração
adiposa ou fibroadiposa no miocárdio. O tratamento geralmente é direcionado ao uso de antiarrítmicos, na tentativa de diminuir
as arritmias ventriculares e os episódios de síncope. A suplementação com L-carnitina promove melhora da função cardíaca
em alguns cães.
Unitermos: Cães, arritmia, complexo ventricular prematuro, síncope
cães assintomáticos, porém com arritmia
Abstract: Boxer cardiomyopathy is an inherited familial disease that has also been called boxer arrhythmogenic right cardíaca; cães que apresentaram episó-
ventricular cardiomyopathy (ARVC) due to its clinical and histopathological similarities to human ARVC. The clinical dios de fraqueza ou síncope; e cães com
presentation of arrhythmia without heart failure is fairly unique to this breed. The dogs can either remain asymptomatic or show
signals as syncope or even sudden death. A few boxers develop left heart failure and congestive heart failure. The diagnosis sinais de insuficiência cardíaca conges-
of ARVC is based on a combination of factors, including family history, 24-hour Holter monitoring and histological findings of tiva 3,4,5,9. Em felinos, a CAVD de ocor-
fatty or fibroadipous infiltration into the myocardium. Therapy generally relies on antiarrhythmic drugs in order to reduce
syncopal episodes and ventricular arrhythmias. Supplementation with carnitine can sometimes improve the cardiac function in rência natural também é reconhecida 10,11.
a small percentage of affected dogs.
Keywords: Dogs, arrhythmia, ventricular premature complex, syncope
ETIOPATOGENIA
Resumen: La cardiomiopatía del bóxer es una enfermedad familiar heredada, que debido a su semejanza clínica e A CAVD é uma doença familiar her-
histopatológica con la cardiomiopatía arritmogénica ventricular derecha (CAVD) de los humanos, está siendo llamada de CAVD dada como um traço autossômico domi-
del bóxer. La presentación clínica de la arritmia sin insuficiencia cardíaca (IC) es una particularidad en la cardiomiopatía del
bóxer. Los perros pueden seguir siendo asintomáticos o presentar signos como episodios de síncope o muerte súbita. Una nante com penetrância variável 1,3,4,6.
minoría de los animales afectados desarrolla la IC izquierda y signos de IC congestiva. El diagnóstico de CAVD se basa en Essa afirmação é reforçada por estudo
una combinación de factores como la historia familiar, electrocardiografía con Holter y hallazgo histológico de la infiltración de
grasa extensa en el miocardio. El tratamiento se dirige generalmente al uso de antiarrítmico, en el intento de disminuir las que avaliou 54 boxers com arritmia fa-
arritmias ventriculares y los episodios de síncope. La suplementación con L-carnitina promueve la mejoría de la función miliar, 19 dos quais puderam ser distri-
cardíaca en algunos perros.
Palabras clave: Perros, arritmia, complejo prematuro ventricular, síncope buídos em três famílias distintas para
avaliação do pedigree e, desses, 11 fo-
ram considerados portadores. Essa ava-
Clínica Veterinária, n. 64, p. 48-58, 2006
liação objetivou determinar um padrão
de herdabilidade. Herança ligada ao
INTRODUÇÃO interventricular e a parede livre do ven- cromossomo X e padrões autossômicos
Por um longo período, os cães da raça trículo esquerdo, resultando em dilatação recessivos puderam ser excluídos, uma
boxer que apresentavam síncope e arritmias deste e disfunção sistólica 2,4. vez que dois pais portadores produziram
receberam diagnóstico de cardiomiopatia A cardiomiopatia do boxer é um pro- uma descendente fêmea não afetada.
dilatada, porque alguns indivíduos even- cesso lento e progressivo de degenera- Além disso, não se observou predisposi-
tualmente desenvolviam dilatação ven- ção do miocárdio, e suas características ção por sexo e havia indivíduos acome-
tricular esquerda e insuficiência cardíaca clínicas e histopatológicas são exclusi- tidos em todas as gerações 6. Os estudos
congestiva (ICC). No entanto, a maio- vas para essa raça, quando comparadas voltados à identificação da base genéti-
ria desses cães sofre primariamente de a desordens miocárdicas primárias des- ca da CAVD no cão estão em rápido de-
arritmias ventriculares, como resultado de critas em outras raças grandes ou gigan- senvolvimento, visto que o genoma ca-
doença miocárdica do ventrículo direito. tes (à exceção de um grupo de doberman nino e as mutações genéticas responsá-
Essa condição assemelha-se a uma desor- pinscher com cardiomiopatia, nos quais veis pela CAVD em humanos já foram
dem arrítmica que, em humanos, é deno- foram relatados achados semelhantes) 5. elucidados 1.
minada cardiomiopatia arritmogênica É uma doença familiar em boxers 1,3,4,6: Estudos recentes em seres humanos
ventricular direita (CAVD); assim, o primariamente, ocorre uma disfunção demonstram a ocorrência de apoptose
termo CAVD (ou ARVC, do inglês na condução elétrica, que causa arritmias (morte programada da célula) no mio-
“arrhythmogenic right ventricular em determinados períodos 7, síncope ou cárdio do ventrículo direito de pacientes
cardiomyopathy”) é atualmente usado pa- morte súbita 3,4,5,8. Pode se observar uma com CAVD, contribuindo para a perda
ra indicar a cardiomiopatia arrítmica do grande variedade de sinais clínicos, progressiva de cardiomiócitos e con-
boxer 1,2,3. Em alguns casos, a doença porém a maioria dos cães com CAVD seqüente IC e morte súbita. O mecanis-
pode progredir e envolver o septo pode ser disposta em três categorias: mo pelo qual o processo apoptótico se

48 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


desenvolve não está bem esclarecido, nos casos de substituição do miocárdio biópsia endomiocárdica se faz necessá-
mas sugere-se que pode ser resultado de por tecido fibroadiposo 1. ria para o diagnóstico definitivo da defi-
taquiarritmias ventriculares repetitivas; Outro fator que pode estar envolvido ciência de carnitina 18.
entretanto, devido ao padrão de herança é a deficiência de carnitina, proposta
familiar autossômico dominante, há in- como o mecanismo biológico intracelu- HISTÓRICO E APRESENTAÇÃO
dicativos de que esse processo se deva a lar responsável por desencadear altera- CLÍNICA
fatores moleculares ou autossômicos e ções histológicas encontradas em bo- A idade dos cães no momento do
não simplesmente aos estímulos eletro- xers com a doença 5. Esse transtorno no diagnóstico pode variar de 1 a 15 anos,
mecânicos da taquicardia ventricular. metabolismo da carnitina ocorreria em com maior concentração (60% dos ca-
Em diversas amostras obtidas por biópsia alguns casos da forma menos comum da sos) na faixa etária compreendida entre
endomiocárdica em humanos, os car- cardiomiopatia do boxer: a cardiopatia 6 e 10 anos. Ao contrário do que se
diomiócitos apoptóticos foram freqüen- com insuficiência do ventrículo esquer- observa na cardiomiopatia dilatada em
temente encontrados em regiões do do e ICC 15. Como os ácidos graxos são outras raças, não ocorre predisposição
miocárdio não substituídas por fibroadi- o principal combustível metabólico do por sexo na CAVD 3,5.
pócitos, indicando que a apoptose ocor- coração, teoriza-se que quantidades ina- Os sinais clínicos são variáveis e os
re antes da infiltração fibroadiposa no dequadas de L-carnitina livre para trans- cães com CAVD podem ser divididos
miocárdio 12. Outros estudos demonstra- portar ácidos graxos causam disfunção em três categorias, conforme sua apre-
ram que a apoptose estava presente em miocárdica em conseqüência do meta- sentação 4,5,7.
35% dos pacientes humanos com bolismo energético alterado. Cães com 1-Assintomáticos (categoria 1): Nesses
CAVD, especialmente no início da fase baixas concentrações de L-carnitina casos, geralmente o cão é levado ao
sintomática da doença 13. Em boxers miocárdica geralmente apresentam con- médico veterinário devido a outro pro-
com CAVD, a verificação de apoptose centrações plasmáticas normais. Isso blema ou para a realização de check-up,
de cardiomiócitos associada à miocardi- sugere a possibilidade de defeito de e a presença de arritmias pode ser de-
te foi consistente com a hipótese de que transporte de membrana, e torna a ava- tectada. Pode ocorrer morte súbita sem
a perda de células miocárdicas do ven- liação das concentrações de carnitina evidência dos sinais clínicos.
trículo direito e a substituição por gor- plasmática um teste insensível para a 2-Cães com episódios de colapso (cate-
dura e fibrose seja resultado de lesão in- deficiência de carnitina miocárdica. goria 2): O cão pode ter apresentado um
duzida por miocardite e também media- Evidências demonstram que a deficiên- ou mais episódios de fraqueza ou sín-
da por células com morte programada. cia da L-carnitina não é a causa primária cope. A grande maioria desses episódios
Há ainda evidências de que a miocardite da maioria dos casos de cardiomiopatia ocorre durante exercício ou excitação 2,
tenha um papel importante na arritmo- dilatada em cães ou humanos, mas se- e o cão freqüentemente parece normal
gênese e morte súbita, por ser um acha- cundária a outra anormalidade genética entre os episódios de síncope 19. A quei-
do freqüente em boxers com CAVD que ou adquirida, como um defeito mitocon- xa mais freqüente é de episódios breves
morreram subitamente 1. Em um estudo drial, em cerca de 40% dos casos cani- (1 a 2 minutos) de colapso, com rápida
em gatos portadores de CAVD, a apopto- nos 16. No entanto, ainda se discute se a recuperação 2 (Figura 1).
se foi detectada em 75% dos animais 14, e cardiomiopatia dilatada é a causa ou o 3-Cães com insuficiência cardíaca con-
a miocardite foi um achado característico efeito da deficiência de carnitina 17. A gestiva (categoria 3): Nesses casos, o

Curso teórico de Curso teórico- Curso de dermatologia Curso de


emergências em prático de laborató- 12, 19 e 26 de novembro; felinos a
3 de dezembro - 8h às 12h bordo do
pequenos animais rio clínico Palestrante: profa. Cibele R. Mazzei
24 de setembro; 8, 5 e 22 de outubro; navio Island Escape
8, 15 e 22 de outubro - 8h às 12h 5, 12, 19 e 26 de Vocabulário dermatológico e recursos Roteiro do navio:
Palestrante: novembro - 8h às 17h diagnósticos; abordando o animal com - Saída do Porto de Santos: 25 de janeiro
Prof. dr. Newton Nunes Palestrante: prurido: diagnóstico e terapia; dermati-
- Parada Porto Belo: 26 de janeiro
- Parada em Florianópolis: 27 de janeiro
Prof. Milton Kolber tes hormonais: como diagnosticá-las?; tra- - Retorno (dia livre no navio): 28 de janeiro
• Abordagem do paciente crítico;
tamento das endocrinopatias com reflexos - Chegada ao Porto de Santos: 29 de janeiro
portador de trauma crânio-encefáli-
co; politraumatizado; intoxicado; • Hematologia clínica; cutâneos; diagnóstico diferencial da alo- Palestrante: Prof. Archivaldo Reche Junior
com trauma torácico e abdominal. • Urinálise; pecia simétrica felina; dermatites gra- Particularidades na biotransformação de
• Ventilação assistida e mecânica • Bioquímica sérica; nulomatosas estéreis em cães e gatos; fármacos na espécie felina; terapêutica nas
na prática clínica. • Enzimas hepáticas; diferenciando as dermatites vesico-bo- doenças gastrintestinais e urinárias; anal-
• Emergências durante anestesias. • Parasitologia veterinária lhosas; discussão de casos clínicos. gesia em gatos; demonstração prática da
colocação de tubos esofágico e gástrico;
Local: CCZ* Local: 2º BPE** Local: Instituto Biológico*** cuidados na terapia com antibióticos
Realização
Informações e inscrições: *CCZ *2º BPE (Batalhão da Polícia do Exército) ***Instituto Biológico
Rua Santa Eulália, 86 Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco Rua Cons. Rodrigues Alves, 1252
fone: (11) 6995-9155 • fax: (11) 6995-6860 Santana - São Paulo - SP Trav. da Av. Getúlio Vargas - Osasco/SP 3º andar - Vl. Mariana - São Paulo - SP
juna.eventos@uol.com.br - www.junaeventos.com (próximo a estação Ana Rosa do metrô)

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 49


Assim, o diagnóstico é baseado em uma
combinação de fatores, incluindo o his-
tórico familiar da doença, a presença de
arritmias ventriculares, o histórico de
síncope ou intolerância ao exercício, e
achados histológicos de infiltração fi-
broadiposa do miocárdio 4.
Outros exames para avaliação cardía-
ca, como a ecocardiografia e as radio-
grafias torácicas, juntamente com o exa-
A me físico, podem auxiliar na detecção
Figura 1 - Cão boxer macho de três anos de de disfunção sistólica e ICC.
idade, com histórico de vários episódios de sín-
cope após exercício. Foram realizados eletro- Eletrocardiografia
cardiogramas de rotina seriados e não foram
detectados CVPs, sendo indicado o Holter para Os cães com CAVD apresentam
avaliação mais detalhada. Na radiografia men- arritmias ventriculares que podem ser
surou-se escala cardíaca vertebral igual a 11,0 intermitentes 4,9, razão pela qual o eletro-
cardiograma normal não exclui o diagnós-
cão freqüentemente tem histórico de tico de CAVD. Os CVPs são comuns e
letargia progressiva, fraqueza, redução podem ocorrer de forma isolada, em du-
no apetite, tosse e aumento de volume pla, em bigeminismo ou como taquicar-
abdominal (ascite) por um período va- dia ventricular paroxística (intermiten-
riável de 3 a 7 dias (Figuras 2a, 2b, 3a, te) 3,5,7. Alguns boxers podem apresentar
3b). Episódios de colapso podem acom- CVPs por vários anos antes que ocorra
panhar esses sinais 5. Em uma pequena taquicardia ventricular 19. A maioria dos
porcentagem (<10%), pode ocorrer CVPs tem origem no ventrículo direito
dispnéia 3. B (o QRS é positivo nas derivações II, III
e aVF, com “morfologia de bloqueio de
ACHADOS DO EXAME FÍSICO ramo esquerdo”) 2,3,4,5,21 (Figura 2c).
Muitos animais com CAVD apresen- Algumas vezes os CVPs são multi-
tam completa normalidade ao exame formes 3 – ou seja, originados de vários
físico 2,4. Diversas arritmias podem ser C focos no miocárdio ventricular 7 – ou de
observadas em boxers com CAVD, sen- um mesmo foco porém com alteração
Figura 2 - Cão boxer de dez anos de idade,
do as arritmias ventriculares as mais co- macho, com histórico de tosse e apresentando na condução dos CVPs 8 (Figura 3d).
muns 5,7. Destas, os complexos ventricu- caquexia (a) e ascite (b). O traçado eletrocar- Também podem ser classificados como
lares prematuros (CVPs) são os mais diográfico revelou freqüência cardíaca de 140 regulares, quando ocorrem em interva-
batimentos por minuto e uma média de 20
freqüentes 7,9. Se as arritmias ocorrerem CVPs/minuto (setas) (c)
los regulares de tempo, ou irregulares,
com baixa freqüência ou isoladamente, se aparecem sem nenhum tipo de ordem
provavelmente o cão não terá sinais clí- CVP pode ser auscultado como um bati- aparente no eletrocardiograma 21.
nicos de doença cardíaca. Se ocorrerem mento extra sem pulso femoral corres- Como o eletrocardiograma de rotina
em seqüência, podem resultar em fra- pondente (déficit de pulso), o que torna dura apenas 2 a 3 minutos, esse teste não
queza, colapso ou morte súbita. A sín- importante que se sinta o pulso simul- exclui a doença, pois registra arritmias
cope resulta de uma redução abrupta na taneamente à auscultação 3,7. Pode ocor- apenas se elas forem freqüentes. Nesse
perfusão cerebral 20, e geralmente ocorre rer pulso jugular positivo 21. caso, um eletrocardiograma com du-
quando há uma seqüência de CVPs 7. Se Em estudo realizado com 112 bo- ração de 24 horas, denominado de
o coração não conseguir corrigir a arritmia xers, foi constatado sopro devido à insu- Holter, seria o melhor meio para avaliar
por si e os CVPs continuarem, ocorre ficiência de mitral em 41,1% dos cães um boxer em relação à CAVD, regis-
taquicardia ventricular, que por sua vez com CAVD, e um ritmo diastólico de trando a quantidade e a complexidade
poderá levar à fibrilação ventricular. A galope ou seja, presença da terceira das arritmias 2,3,4,7,9. A comparação esta-
fibrilação ventricular é a causa de morte bulha cardíaca, em 9,8% dos animais. tística entre o eletrocardiograma e o
súbita na maioria dos boxers com Dessas alterações, a presença de ritmo Holter torna evidente a superioridade do
CAVD. Essas arritmias podem ou não de galope teve grande correlação com Holter na detecção de arritmias esporá-
ser detectadas à auscultação cardíaca, e achados radiográficos de cardiomegalia dicas: um eletrocardiograma com dura-
a facilidade na sua detecção depende da e existência de ICC 5. ção de três minutos registra em média
freqüência em que o ritmo anormal 240 batimentos, enquanto o Holter re-
ocorre 7. Mesmo em cães assintomáticos DIAGNÓSTICO gistra de 90.000 a 110.000 batimentos.
poderão ser auscultadas arritmias, e nos O diagnóstico da CAVD ainda é um Esta é a razão pela qual tantos boxers
cães pertencentes às categorias 2 e 3 elas desafio, visto que não existe um teste com CAVD apresentam eletrocardiogra-
serão mais facilmente detectadas 5. O diagnóstico específico para a moléstia. mas de rotina normais 7. O número exato

50 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


A B A B

C
Figura 4 - Radiografia torácica de cadela boxer de oito anos de idade, que apre-
sentava cansaço e dispnéia causada por (a) efusão pleural. O líquido foi drenado
para alívio sintomático da paciente, e uma nova radiografia torácica permitiu a
visualização de (b) uma massa localizada em mediastino cranial (setas) compri-
mindo caudalmente o coração. Um eletrocardiograma (DII, 50mm/s, 1cm=1mv)
realizado na mesma ocasião demonstrou (c) presença de CVPs (seta) uniformes
(média de 1CVP/minuto). A análise citológica do líquido detectou a presença de
células carcinomatosas. Este caso exemplifica a importância da investigação de
outras possíveis causas de arritmias, ou de CAVD concomitante com outras
C doenças

não se de-monstrou que o silhueta cardíaca maior do que aquela


número de CVPs esteja observada em outras raças, o que pode
correlacionado à severi- ser confirmado pelo valor da sua escala
dade da doença 9, já que cardíaca vertebral normal (11,6 ± 0,8) 22,
cães afetados com o mes- maior do que aquela descrita para outras
mo grau de arritmias raças (8,7 a 10,7). Outro fator impor-
podem permanecer assin- tante a ser considerado é que muitos
tomáticos ou desenvolver cães com doença cardíaca clinicamente
sinais clínicos 4. significativa não apresentam cardiome-
As arritmias supraven- galia, e o tamanho do coração tende a
triculares são raras, estan- ser normal ou menor em pacientes
do geralmente associadas à assintomáticos 5, o que limita o valor
D forma menos comum da desse teste como triagem para doença
Figura 3 - Cão boxer de nove anos de idade, macho, com doença, a disfunção mio- cardíaca 22. Todavia, o exame radiográfi-
histórico de tosse e apresentando (a) caquexia, ascite e (b) cárdica sistólica. Podem co é importante para a diferenciação de
edema subcutâneo do membro pélvico esquerdo. A radiografia estar presentes na forma de outras enfermidades torácicas (Figuras
torácica revelou (c) cardiomegalia, com escala cardíaca verte-
bral igual a 13,1, e edema pulmonar. O eletrocardiograma (DII, batimentos supraventricu- 4a e 4b).
50mm/s, 1cm=1mv) registrou (d) CVPs multiformes (setas ver- lares prematuros, taquicar- Cardiomegalia generalizada com
melhas), períodos de trigeminismo ventricular (representado dia supraventricular, ou aumento leve a moderado do átrio es-
por seqüências de dois batimentos normais e um CVP – iden-
tificado com setas azuis) e duplas de CVPs (setas verdes). Os fibrilação atrial 3,5. No caso querdo, congestão venosa pulmonar e
CVPs ocorreram em uma média de 30 por minuto. Apesar da de ICC, cerca de 25% dos edema pulmonar são vistos na forma in-
gravidade do quadro, este cão não apresentava síncope boxers apresentam fibri- comum, com disfunção sistólica do ven-
lação atrial 8. trículo esquerdo (Figura 3c) 2,3, sendo
que alguns destes casos apresentam
de CVPs necessários para um cão ser Radiografia torácica também efusão pleural 2.
considerado afetado é desconhecido, As radiografias torácicas revelam
porém a observação de mais de 100 marcada variação nos achados, desde Ecocardiografia
CVPs em um período de 24 horas é alta- normais até graus severos de cardiome- Como a cardiomiopatia do boxer é
mente sugestiva da doença, particular- galia generalizada 5. Na maioria dos ca- uma doença caracterizada primariamen-
mente na presença de arritmias comple- sos, as radiografias não apresentam te por arritmias, a ecocardiografia não é
xas (em duplas, bigeminismo, taquicar- alterações 2,3,4. o método de escolha para o seu diagnós-
dia ventricular) 3,4. No entanto, ainda O boxer apresenta normalmente uma tico, pois é mais utilizada para detectar

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 51


aumento das câmaras cardíacas e dife- alto risco nem dificuldade de execução, - Doenças respiratórias: tosse (espe-
renciar dilatação de hipertrofia do mio- porém não está disponível na rotina 18. cialmente em raças braquicefálicas),
cárdio 7. A maioria dos boxers com más-formações ou doenças nas vias
CAVD apresenta ecocardiografia nor- Histopatologia aéreas superiores, doenças pulmonares;
mal 3,7. Esse exame é útil para detectar Os achados histopatológicos são seme- - Doenças neurológicas;
lesões cardíacas importantes, ou seja, lhantes àqueles observados em huma- - Desordens cardíacas: estenose aórtica,
para o diagnóstico morfológico; avaliar nos com CAVD 1. Ocorre um processo cardiomiopatia dilatada, miocardite 20.
se há dilatação ou hipertrofia de câma- degenerativo das células miocárdicas,
ras e, desta forma, estimar a carga he- sendo a atrofia de miócitos e a infiltra- 2-CVPs:
modinâmica; avaliar a função sistólica ção adiposa as primeiras alterações - Defeitos congênitos (especialmente
ventricular, estimar a função diastólica observadas 5,15. Também pode ocorrer estenose aórtica), neoplasias cardíacas,
ventricular e avaliar a função valvular 23. substituição de miócitos por tecido fi- valvulopatia crônica, miocardite, intoxi-
Uma pequena porcentagem dos ani- broso 1,2, forma denominada de fibroadi- cação com digitálicos, torção vólvulo-
mais acometidos (aproximadamente posa 1. A infiltração adiposa é caracteri- gástrica 26,27 (Figura 4c).
7%) apresenta evidência de dilatação do zada por distribuição difusa, com re-
ventrículo esquerdo e hipocinese (dis- giões multifocais de substituição por cé- 3-Morte súbita 26.
função sistólica) 3. A ecocardiografia so- lulas adiposas no ventrículo direito, es- - Intoxicações; choque; afecções cardía-
mente será útil se o paciente tiver a for- tendendo-se do epicárdio em direção ao cas como miocardite, cardiomiopatia di-
ma incomum da doença, com dilatação endocárdio, muitas vezes em associação latada, cardiomiopatia hipertrófica;
ventricular 7. com moderada fibrose intersticial. A traumatismos 28,29.
forma fibroadiposa consiste de regiões
ACHADOS PATOLÓGICOS focais ou difusas com substituição por TRATAMENTO
Achados macroscópicos adipócitos, associadas com áreas de Geralmente, o tratamento é direcio-
À necropsia é possível encontrar fibrose 1. nado ao uso de antiarrítmicos, visto que
dilatação do átrio e do ventrículo direi- Em outras áreas é possível observar a maioria dos cães com CAVD não
tos, com redução da espessura da pare- degeneração de células miocárdicas apresenta disfunção sistólica ou ICC.
de do ventrículo direito nas regiões api- como um processo ativo, com miocitó- Ao se prescreverem medicamentos anti-
cal, infundibular e abaixo da valva lise e necrose de miofibrilas, acompa- arrítmicos, deve-se considerar os seus
tricúspide, similares ao “triângulo da nhado de hemorragias e infiltração celu- benefícios, como a capacidade de dimi-
displasia”, observado em humanos com lar moderada. Essa resposta celular é nuir o número de CVPs, a gravidade da
CAVD 15. Em estudo no qual 23 cães mais comumente mononuclear (macró- arritmia e os episódios de síncope. É
boxers com CAVD foram submetidos à fagos e linfócitos) e, ocasionalmente, há importante a avaliação com Holter de
necropsia, foi possível constatar di- associação de células polimorfonuclea- 24 horas antes e após o início do trata-
latação moderada do ventrículo direito res 5. Em estudos recentes, a miocardite mento, para determinar se houve res-
em 35% dos animais e observados caracterizada por infiltrados linfocíticos posta positiva ou efeito pró-arrítmico
aneurismas infundibulares em um cão focais ou multifocais, associada à morte com exacerbação da arritmia, associado
com dilatação ventricular direita e em de miócitos, foi constatada em 61% dos ao uso de diversos antiarrítmicos 4. Uma
outros dois cães srd (sem raça definida) boxers com CAVD avaliados. Alguns resposta é considerada positiva se hou-
do grupo controle. Quanto ao peso do pesquisadores consideram a infiltração ver redução de no mínimo 80% no nú-
coração, à espessura da parede ventricu- adiposa e fibroadiposa como estágios mero de CVPs, bem como redução na
lar direita e à espessura do ventrículo consecutivos da doença, mediados por complexidade da arritmia. Um aumento
esquerdo, não houve diferenças signifi- miocardite: a forma adiposa seria um superior a 80% no número de CVPs ou
cativas em relação aos controles (sete estágio inicial, e a infiltração fibroadi- a exacerbação dos sinais clínicos após o
cães srd sem doença cardíaca) 1. posa resultaria de lesão induzida por início do tratamento sugere efeito pró-
A única maneira de se obter um miocardite 1. arrítmico. Recomenda-se considerar ta-
diagnóstico definitivo de cardiomiopa- A parede livre do ventrículo direito é xas superiores a 80% devido à variação
tia é a avaliação histológica de amostras a primeira e mais severamente afetada, diária no número de CVPs de até 83%
de músculo cardíaco 7, que pode ser mas outras porções dos átrios e dos ven- observada em boxers com CAVD e não
obtida através de biópsia endomiocárdi- trículos podem apresentar algum grau tratados 4,30.
ca ou à necropsia. A biópsia endomio- de envolvimento 5. Por fim, antes de se iniciar um trata-
cárdica é utilizada para o diagnóstico de mento antiarrítmico, devem ser discuti-
CAVD em humanos 12 e já foi utilizada DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL dos os riscos e benefícios do tratamento
em estudos em cães e gatos, com relato É importante que se diferencie a com o proprietário, além de considerar a
de poucas complicações relacionadas ao CAVD de outras moléstias que cursem praticidade de realizá-lo 12.
procedimento 24,25. A biópsia endomio- com sinais clínicos semelhantes, como:
cárdica transvenosa é realizada com o 1-Fraqueza episódica ou síncope 26: Arritmias
cão sedado, em decúbito lateral, sob - Doenças metabólicas e hematológicas: Em pacientes assintomáticos, ao se
controle fluoroscópico. Em mãos expe- anemia, hipoglicemia, hipo ou hipera- detectar arritmia em um exame de roti-
rientes, esse procedimento não apresenta drenocorticismo, insuficiência renal; na, preconiza-se a avaliação por Holter

52 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


de 24 horas, a fim de avaliar a freqüên- com o atenolol pode ter sua dose reduzi- Em animais com taquicardia supra-
cia e a complexidade da arritmia 2,4. É da, diminuindo tais efeitos. A combi- ventricular (sustentada ou paroxística),
geralmente aceito que o controle farma- nação mexiletina-atenolol apresentou é improvável que a digoxina como
cológico das arritmias ventriculares de- mínimos efeitos pró-arrítmicos, e 15% agente único controle as arritmias, sen-
va ser tentado se as extra-sístoles ocor- dos 13 cães avaliados apresentaram sín- do indicada a associação de quinidina,
rerem com uma freqüência maior que cope após o início do tratamento 30. A ou o uso de quinidina apenas, pois esta
20 por minuto em algum momento, se administração de mexiletina juntamente é mais efetiva no controle das arritmias
houver mais de 1000 CVPs em 24 ho- com o alimento também pode reduzir ventriculares, que freqüentemente estão
ras, bem como o fenômeno R sobre T e efeitos adversos 4. Os efeitos adversos da presentes 5.
também se houver arritmias ventricula- mexiletina incluem letargia, ansiedade O tratamento de cães da raça boxer
res com configurações multiformes, em ou depressão, e devem ser controlados que desenvolvem ICC assemelha-se ao
pares, ou taquicardia ventricular, ou se com a redução da dose. Em altas doses, tratamento de cães com cardiomiopatia
produzem sinais clínicos de redução do o atenolol apresenta como efeitos adver- dilatada de outras raças 4,5. De acordo
débito cardíaco 4,5,9,31. Em pacientes per- sos bradicardia ou bloqueio atrioven- com os sinais clínicos apresentados, de-
tencentes à categoria 2 da doença, de- tricular 33. vem ser incluídos fármacos vasodilata-
vem ser realizados exames laboratoriais A dose inicial recomendada do sota- dores, digitálicos, diuréticos e tratamen-
para investigar outras causas de fraque- lol é de 1,5 a 2,0mg/kg, via oral (VO), a to sintomático como drenagem da ascite
za ou síncope e, após a avaliação eletro- cada 12 horas 2,3,4,30, com o eletrocardio- nos casos de desconforto do animal. Em
cardiográfica, deve ser instituído o tra- grama ou Holter devendo ser reavaliado alguns casos raros de fibrilação atrial
tamento conforme a arritmia diagnosti- após 5 a 7 dias. Se a dose não for efe- associada a arritmias ventriculares, indi-
cada. Pacientes da categoria 3, além dos tiva, pode ser aumentada até 80mg/cão ca-se substituir a digoxina (que poderia
antiarrítmicos, devem receber também a cada 12 horas. Na combinação de me- piorar a arritmia ventricular) por agen-
terapia para o controle da ICC. 2,4,5 xiletina e atenolol, as doses VO são de 5 tes betabloqueadores ou bloqueadores
As opções terapêuticas para cães têm a 8mg/kg a cada 8 horas, e de 0,3 a de canais de cálcio para controlar a fre-
sido tradicionalmente o uso de procai- 0,6mg/kg (ou 12,5mg/cão) a cada 12 qüência ventricular 5.
namida, mexiletina, quinidina ou beta- horas, respectivamente 4.
bloqueadores, como atenolol. Embora O tratamento das arritmias ventricu- Aspectos nutricionais
sejam muito efetivos para controlar lares no cardiopata descompensado que A suplementação oral com L-carniti-
ectopias ventriculares na maioria dos apresente risco de vida, principalmente na (50mg/kg em intervalos de 8 horas)
cães, esses fármacos não são tão efi- naquele com taquicardia ventricular pode ser recomendada na cardiomiopa-
cazes no controle das arritmias do sustentada (contínua), deve ser realiza- tia dilatada, mas tal prática é onerosa e
boxer. Altas dosagens são geralmente do em âmbito hospitalar, e o fármaco de não deve ser considerada uma recomen-
necessárias, o que freqüentemente causa escolha é a lidocaína. Deve ser adminis- dação universal 4,10,16,35. A melhora da
efeitos colaterais indesejáveis 32. trada uma dose em bolus de 2 a 4mg/kg função cardíaca ocorre em uma pequena
O sotalol, antiarrítmico da classe III por via intravenosa (IV), continuando porcentagem dos casos de boxers que
com efeitos betabloqueadores e blo- com infusão contínua de 25 a 80µg/kg/ recebem L-carnitina 17. Apenas o isôme-
queador de canais de potássio, tem mos- min em glicose a 5% 21,31,34. Se a arritmia ro L-carnitina deve ser administrado, e é
trado bons resultados no tratamento de ventricular for refratária à lidocaína, o extremamente seguro, porém a D-car-
arritmias graves nessa raça 30. Estudos segundo fármaco de escolha é a procai- nitina e a mistura D-L-carnitina não de-
recentes, avaliando boxers com CAVD namida, que deve ser administrada por vem ser utilizadas, pois a D-carnitina
com ou sem episódios de síncope com infusão IV lenta (6 a 8mg/kg por 5 mi- não é convertida a L-carnitina em
mais de 500 CVPs em 24 horas e que nutos) 2,34, seguida por infusão contínua mamíferos 18,36.
foram submetidos a protocolos terapêu- (25 a 30µg/kg/min por 3 horas) 3, ou in- Nos casos de ICC que apresentam re-
ticos com atenolol, procainamida, sota- tramuscularmente, até que seja possível tenção de água e de sódio, a restrição
lol e mexiletina associada ao atenolol, a terapia de manutenção oral 34. deste último elemento é recomendada.
demonstraram que o sotalol e a associa- O objetivo da medicação não é abolir Para tal existem formulações caseiras ou
ção de mexiletina e atenolol foram o foco ectópico (já que isso geralmente dietas comerciais disponíveis no mer-
eficientes na redução da gravidade da requer doses tóxicas), mas controlar os cado 17. A seleção da dieta ideal para cada
arritmia. Como efeitos colaterais associa- efeitos deletérios da arritmia. Com a me- paciente depende do estágio da doença,
dos ao uso do sotalol têm-se a síncope lhora do desempenho cardíaco com a me- dos sinais clínicos, dos parâmetros labo-
ou o aumento dos episódios de síncope dicação e outras modalidades de trata- ratoriais e do apetite do paciente 35.
em 11,1% dos 18 cães avaliados, e mento associadas, segue-se um aumento Se ocorrer caquexia é necessário ins-
efeito pró-arrítmico em 5,6% dos cães 30. da oxigenação do miocárdio, e melhora tituir uma dieta que forneça suporte nu-
Os efeitos adversos associados ao espontânea da ectopia pode ocorrer. É tricional e module a produção de citoci-
sotalol em cães em geral incluem importante que cada paciente seja rea- nas. A caquexia é um processo multifa-
hipotensão, bradiarritmias, depressão, valiado regularmente 31. Apesar do trata- torial causado por anorexia, aumento de
náusea, vômito e diarréia 33. Embora a mento, arritmias ventriculares no boxer requerimentos energéticos e aumento na
mexiletina tenha alta incidência de efei- são difíceis de controlar, e muitos cães produção de citocinas (fator de necrose
tos adversos, quando em combinação permanecem refratários à medicação 31. tumoral – TNF –, interleucina-1) 37,38. Um

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dos métodos para reduzir a produção e casos é de 3 a 6 meses. A probabilidade reprodução por um ano, após o qual
os efeitos das citocinas é a suplemen- de desenvolvimento de arritmias não- procede-se à realização de novos testes.
tação com ácidos graxos poliinsaturados responsivas ou morte súbita é elevada Aqueles com 20 a 100 CVPs são inter-
ômega-3 (ácidos eicosapentaenóico – em boxers com CAVD 5,31. pretados como indeterminados, sugerin-
EPA – e docosahexaenóico – DHA) 37, do-se reavaliação depois de 6 a 12
que também diminuem a susceptibilida- RECOMENDAÇÕES PARA O meses, e cães com até 20 CVPs em 24
de à ocorrência de arritmias cardíacas 21,39. ACOM PANHAMENTO DE BOXERS horas são considerados normais 4.
A inclusão de óleo de peixe, rico em QUE PARTICIPAM DE PROGRA-
ômega-3, na dieta pode melhorar a con- MAS DE REPRODUÇÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS
dição corpórea em cães com ICC e, em Tendo em vista o desafio de realizar Embora o diagnóstico da CAVD con-
alguns cães com anorexia induzida pela um diagnóstico perfeito em cães assin- tinue sendo um desafio, diversos estu-
ICC, pode melhorar o apetite 37. A dose tomáticos, devem ser adotados critérios dos ao longo dos anos permitiram dife-
diária recomendada é de 30 a 40mg/kg cuidadosos para auxiliar a determinar se renciá-la de outras doenças cardíacas. O
para o EPA e de 20 a 25mg/kg para o um indivíduo assintomático é portador. conhecimento de que mesmo cães assin-
DHA. Uma alternativa ao óleo de peixe Como a CAVD é uma doença que se tomáticos podem apresentar arritmias
é a administração de EPA e DHA em manifesta em adultos e o grau de arritmia graves e risco de morte súbita permite
cápsulas 37,38. Também foi comprovado parece aumentar com a idade, aconse- ao clínico direcionar a rotina de avalia-
que a administração de vitaminas antio- lha-se uma monitoração anual com ção e os exames em boxers, bem como
xidantes como vitaminas C (ácido ascór- Holter. Também devem ser investigadas implementar o tratamento adequado,
bico) e E (alfa-tocoferol) previnem o outras doenças sistêmicas ou outras quando necessário. O Holter de 24
aparecimento de lesões oxidativas em doenças cardíacas que possam levar ao horas é fundamental para o diagnóstico
células miocárdicas 21, mas estudos adi- desenvolvimento de CVPs. Esse cuida- da CAVD, e é o exame mais eficiente
cionais são necessários para definir do se justifica pois, a remoção inadver- para determinar o número e a complexi-
quando usá-los e qual a dose adequada tida de um número significante de ani- dade das arritmias.
para cada caso 37. A dose recomendada de mais não portadores de programas de
vitamina E é de 200 a 500UI/cão/dia 39. reprodução, pode levar ao detrimento REFERÊNCIAS
Esses produtos podem ser obtidos em do “pool” genético da raça. Sugere-se 01-BASSO, C.; FOX, P. R.; MEURS, K. M.; TOW-
farmácias da linha humana, e no Brasil que sejam considerados com CAVD e BIN, J. A.; SPIER, A. W.; CALABRESE, F.;
MARON, B. J.; THIENE, G. Arrhythmogenic
estão disponíveis também nutracêuticos possivelmente retirados de programas right ventricular cardiomyopathy causing sudden
da linha veterinária. de reprodução aqueles cães que, após death in boxer dogs - a new animal model of
Holter de 24 horas, tenham de 100 a 300 human disease. Circulation, v. 109, n. 9,
p. 1180-1185, 2004.
PROGNÓSTICO CVPs com graus de complexidade (fre-
02-MEURS, K. M. Canine dilated cardiomyopathy -
Pacientes assintomáticos ou aqueles qüentemente duplos ou com períodos de recognition and clinical management.
com arritmia facilmente controlada taquicardia ventricular), e aqueles que Waltham/OSU Symposium: Small Animal
podem viver por vários anos 4. Entretan- apresentem mais de 300 CVPs isolados. Cardiology, 2002, disponível em
<http://www.vin.com/proceedings> Acesso em:
to, uma pequena porcentagem dos cães Pacientes com 100 a 300 CVPs isolados 10/10/2004.
poderá desenvolver dilatação ventricu- são considerados como suspeitos e 03-O'GRADY, M. R.; O'SULLIVAN, M. L. Clinical
lar e ICC, e a expectativa de vida nesses devem ser retirados dos programas de cardiology concepts for the dog and cat,

56 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


disponível em <http://www.vetgo.com> Acesso Arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy 27-TILLEY, L. P.; BURTNICK, N. L. ECG-
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Hipersensibilidade alimentar Patrícia da Silva Nascente
MV, MSc, doutoranda

em cães e gatos
PPGCV/FV/UFRGS
patsn@bol.com.br

Melissa O. Xavier
MV, mestranda
Food hypersensitivity in dogs and cats PPGV/FV/UFPel
melissaxavier@bol.com.br

Cristiano Silva da Rosa


Hipersensibilidad alimentaria en MV, mestrando
PPGV/FV/UFPel
perros y gatos csr@ufpel.tche.br

Lorena Leonardo Souza


Resumo: A alergia ou hipersensibilidade alimentar (HA) é um tipo de reação ao alimento com base imunológica, cuja patoge- MV, MSc., doutoranda
nia é pouco conhecida. Um pequeno número de cães e gatos desenvolve sinais clínicos devido a essa reação imunológica, Biotecnologia/UFPel
desencadeada pela ingestão de antígenos específicos da dieta, geralmente proteínas ou glicoproteínas. A HA está associada souzall@bol.com.br
a prurido de intensidade variável, generalizado ou similar àquele encontrado na atopia e na hipersensibilidade à picada de
pulga. Os sinais clínicos não são sazonais e apresentam pouca resposta à terapia com glicocorticóides. A idade dos cães que
apresentam a enfermidade varia de seis meses a 12 anos. Essa enfermidade, de importância na clínica de cães e gatos, é Mário Carlos Araújo Meireles
revisada no presente trabalho. MV, dr. Sc., prof. adj.
Unitermos: Pequenos animais, alergia Depto. Veterinária Preventiva/FV/UFPel
meireles@ufpel.tche.br

Abstract: Allergy or food hypersensitivity is an immunological reaction to food that presents a poorly understood pathogeny. A
small number of dogs and cats develop clinical signs due to the immune reaction triggered by the consumption of specific João Roberto de Braga Mello
antigens of the diet, usually proteins or glycoproteins. Food hypersensitivity is associated with a generalized itch of variable MV, MS, dr. prof. adj.
intensity, sometimes similar to that found in atopic dermatitis or flea bite hypersensitivity. Clinical signs are not seasonal and do Depto. Farmacologia/ICBS/UFRGS
not cease upon glucocorticoid therapy. Affected dogs are usually between six months and 12 years old. This important jmello@ufrgs.br
disease in dogs and cats is reviewed in this work.
Keywords: Small animals, allergy

Resumen: Alergia o hipersensibilidad alimentaria (HA) es una reacción al alimento, con base inmunológica, que posee
patogenia poco conocida. Un pequeño número de perros y de gatos desarrolla los síntomas clínicos debido a esa reacción
inmunológica accionada por el consumo del antígeno específico de la dieta, generalmente proteínas o glicoproteínas. La HA
se asocia al prurito con intensidad variable, generalizado o similar al encontrado en la atopia y en la hipersensibilidad a la in to lerantes à lactose podem consumir
mordedura de pulga. Los síntomas clínicos no son estacionales y presentan poca respuesta a la terapia con los determinados derivados do leite –
glucocorticoides. La edad de los perros que presentan la enfermedad varía de seis meses a 12 años de edad. Esa enfermedad,
de importancia en la clínica de perros y gatos, se revisa en este trabajo. como queijos secos ou iogurtes –, nos
Palabras clave: Pequeños animales, alergia quais grande parte da lactose já foi
eliminada 1,2,4,5.
A HA é uma das condições que mais
Clínica Veterinária, n. 64, p. 60-66, 2006
estressam animais, proprietários e
médicos veterinários. Estima-se que
INTRODUÇÃO As reações adversas a alimentos em 15% da população canina sofre de aler-
A alergia é uma resposta imunológica pequenos animais estão bem documen- gia, contexto no qual a HA ocupa o ter-
exagerada, que se desenvolve após a ex- tadas na literatura especializada. Os ceiro lugar de incidência, antecedida
posição a um determinado antígeno e termos “alergia alimentar” e “hipersen- pelas alergias inalatórias (atopia) e
que ocorre em indivíduos geneticamen- sibilidade alimentar” são amplamente pelas picadas de pulga (DAPP) 1.
te susceptíveis e previamente sensibili- utilizados, tanto na literatura médica Alguns estudiosos acreditam que a HA
zados. O termo hipersensibilidade ali- humana quanto na literatura médico- pode ser a causa de 1% de todas as der-
mentar (HA) também pode ser utilizado veterinária, para descrever os sintomas matoses observadas na clínica de
para esse tipo de reação adversa de na- induzidos pela ingestão de alimentos pequenos animais, enquanto outros
tureza imunológica. A HA que acomete com posterior reação imunológica. As investigadores postulam que essa enfer-
cães e gatos é uma desordem cutânea expressões “intolerância alimentar” – e midade representa entre 23 e 62% de
pruriginosa e não sazonal, associada ocasionalmente “sensibilidade alimen- todas as dermatoses alérgicas não
presumivelmente ao material antigênico tar” – são empregadas quando a etiolo- sazonais 6,7,8. Entretanto, não há dados
presente na dieta, e quase que exclusi- gia imunológica se torna improvável sobre a freqüência de dermatites alérgi-
vamente causada por proteínas (prima- ou não é estabelecida, ou seja, a intole- cas no Brasil.
riamente, glicoproteínas) e peptídios, rância alimentar é o quadro clínico
que escapam à digestão e são absorvi- ocasionado pela falta de uma ou mais ETIOLOGIA
dos intactos através da mucosa. A rea- enzimas ali mentares – como, por Todas as proteínas da dieta são poten-
ção imunológica presente na alergia ali- exemplo, a lactase (enzima do leite). cialmente alergênicas, pois são reconhe-
mentar é similar àquela promovida pela Essa enzima ajuda a digerir um dos cidas como estranhas pelo sistema imune
defesa do organismo contra agentes in- açúcares do leite, e a sua carência e, muitas vezes, são os únicos alérgenos
fecciosos ou outros que lhe possam cau- pode provocar, entre outros sintomas, alimentares encontrados. A habilidade de
sar danos 1,2,3,4. cólicas e/ou diarréias. Muitas pessoas uma proteína alergênica induzir um

60 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


anticorpo IgE parece ser dependente de Há sugestão de que o desmame pre- envolvimento de reações do tipo III e
seu tamanho e estrutura: aparentemente, coce de cães e gatos possa predispô-los IV 7,10. Assim, as reações alérgicas aos
aquelas com peso molecular entre 10.000 à alergia alimentar. Em animais hígidos, alimentos podem ser divididas basica-
e 70.000 daltons – especialmente aquelas o intestino delgado apresenta uma bar- mente naquelas de início rápido (tipo I)
cujo peso molecular varia entre 18.000 e reira protetora que limita a absorção de e de início lento (tipo IV). Os dois tipos
36.000 daltons – são capazes de estimu- macromoléculas, mas essa capacidade de reação podem ocorrer isolada ou
lar uma resposta imune 1. funcional não é completa em animais concomitantemente 11,12,13.
Os alérgenos dietéticos suspeitos ou jovens. Assim, algumas proteínas estra- As reações de hipersensibilidade do
confirmados são numerosos e incluem nhas que chegam ao intestino imaturo tipo I – conhecidas também como anafi-
carnes bovinas, suínas, eqüinas, além de podem atravessar essa barreira, penetrar láticas ou imediatas – são classicamente
frango, peixe, leite bovino, ovos, trigo, no tecido linfóide e desencadear a rea- descritas como produtoras de anticorpos
aveia e mesmo carne de baleia, além ção imunológica 1. Possivelmente, um (IgE) reagentes e degranulação de mas-
dos derivados de soja e dos fungos pre- trato intestinal lesado – por parasitas ou tócitos. Essas reações ocorrem em minu-
sentes na água de beber. Um estudo enterite viral – permite a passagem do tos, e desaparecem gradualmente dentro
prospectivo realizado com 20 cães alér- antígeno pelo mecanismo normal de de uma hora. Tais respostas anafiláticas
gicos a ração listou os principais ingre- defesa 3. podem ser reações sistêmicas, que pro-
dientes encontrados nesses produtos co- duzem choque, dificuldade respiratória –
merciais: os resultados indicaram que PATOGENIA e algumas vezes são fatais –, ou reações
70% desses animais desenvolveram Embora a HA, manifestada principal- localizadas que incluem condições alér-
sinais de hipersensibilidade à carne bo- mente pelas alterações cutâneas, tenha gicas comuns como asma e urticária em
vina. O grande número de ingredientes sido bem descrita na literatura médico- humanos. Outros exemplos desse tipo
alimentares utilizados nas rações co- veterinária, a prevalência e a patogenia de reação, além da hipersensibilidade
merciais de animais de estimação, bem desse distúrbio são controversas. Rea- alimentar em pequenos animais, são
como os métodos de processamento va- ções de hipersensibilidade tipo I são bem atopia, angioedema, DAPP e algumas
riáveis, são responsáveis pelo grande documentadas, pois são as mais comuns erupções por drogas. A anafilaxia
número de alérgenos descritos 8. em humanos, embora haja suspeitas do sistêmica está associada à sensibilidade
de antígenos injetados por via paren- desencadear o aparecimento de outras golden retriever e poodle, dentre outras 6.
teral, porém a anafilaxia localizada doenças secundárias na pele, tornando o Há autores que consideram que os cães
está associada a agentes ingeridos ou diagnóstico e o tratamento uma tarefa das raças pastor alemão e golden
inalados, e os sintomas dependentes da difícil e demorada 15. retriever e os gatos siameses são mais
via pela qual o antígeno entra no orga- Em geral, a queixa primária é o pruri- susceptíveis a alergias no universo das
nismo 4,13. do, que aparece principalmente nos pés, raças, embora não tenha sido demons-
Reações de hipersensibilidade tipo III, nas orelhas, na face e nas axilas, de trada influência de fatores genéticos 8.
ou mediadas por imunocomplexos, ca- modo semelhante ao que ocorre na ato- Entretanto, a maioria dos estudiosos
racterizam-se pela deposição de com- pia, tendo o aspecto não sazonal e baixa concorda que não há predisposição ra-
plexos circulantes de antígeno-anticorpo reatividade ao uso de glicocorticóides 3. cial evidente 16,17.
nas paredes dos vasos sangüíneos. Esses Porém, existe um estudo cujos resulta- Sintomas gastrintestinais, como diar-
imunocomplexos, geralmente contendo dos demonstram que 18 de 51 cães com réia, ocorrem em menos de 15% dos
IgG ou IgM, fixam complemento atrain- HA responderam completamente à tera- cães acometidos; já nos gatos, esses sin-
do neutrófilos que ao se infiltrarem libe- pia com glicocorticóides 10. tomas são mais comuns 8,18. Foi demons-
ram enzimas proteolíticas e hidrolíticas, Os sinais clínicos associados ou se- trado que 97% dos animais alérgicos
provocando lesão tecidual. Reações de cundários à HA resultam de autotrauma- mostram apenas sinais dermatológicos,
hipersensibilidade e liberação de hista- tismo e infecções bacterianas ou fúngi- enquanto que 10 a 15% desenvolvem a
mina podem ser importantes no início da cas secundárias. Com a evolução do enfermidade gastrintestinal, com ou
deposição de imunocomplexos. Também processo – e dependendo da gravidade sem manifestações cutâneas 19,20.
são exemplos do tipo III de hipersensibi- dos sintomas ou da ocorrência de outras Outros sinais clínicos associados a
lidade em cães e gatos o lúpus eritemato- doenças de pele –, esses animais passam essa alergia incluem além de otite exter-
so sistêmico, algumas erupções por dro- a apresentar prurido disseminado, que na crônica – que pode ser o único sinal
gas e a hipersensibilidade bacteriana 3,4. pode promover o aparecimento de le- clínico ou estar associado com prurido
Reações mediadas por células, tar- sões localizadas ou generalizadas. Essas generalizado –, pioderma recorrente por
dias ou tipo IV, não envolvem anticor- lesões quase sempre se contaminam estafilococos, dermatite recorrente por
pos e sim células, principalmente as cé- com as próprias bactérias presentes na Malassezia spp. e desqueratinização.
lulas T. Ao invés de ocorrerem dentro de microbiota cutânea do animal, fazendo Nos felinos esse prurido geralmente é
poucos minutos ou horas após o indiví- com que o processo se agrave. Não há mais restrito à face e ao pescoço, asso-
duo sensibilizado ser novamente expos- um sinal patognomônico para a HA no ciado a padrões de reação cutânea como
to a um antígeno, essas reações tardias cão ou no gato, mas diversas lesões pri- dermatite miliar, angioedema-urticário-
não são aparentes por um dia ou mais. márias ou secundárias são observadas pruriginoso, placa eosinofílica e úlcera
Um importante fator no atraso é o tem- nessa patologia, incluindo pápulas, pús- eosinofílica. Além disso, ainda pode
po requerido para as células T e macró- tulas, urticárias, eritema, escoriações, ocorrer a manifestação de colite linfocí-
fagos participantes migrarem e acumu- escamas, crostas, colarinhos epidérmi- tica-plasmocítica que, habitualmente, é
larem-se junto aos antígenos estranhos. cos, pododermatite, desqueratinização e pouco evidente nos cães. Ocasional-
As células já sensibilizadas, em contac- otite externa bilateral. O prurido esta- mente, descrevem-se sinais neurológi-
to com o antígeno, ativam células T, que cional pode ser associado à alergia ali- cos (convulsões epileptiformes) e an-
liberam citocinas, fator importante mentar, mas o prurido intenso não sazo- gústia respiratória 7,18.
nesse tipo de reação, contribuindo para nal é o sinal mais comum nos cães 3. O
a reação inflamatória e atraindo e ati- prurido ótico é uma característica signi- DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
vando macrófagos. Hipersensibilidade ficante em alguns cães 10. O diagnóstico de HA requer coopera-
de contacto, DAPP e algumas erupções Raramente são descritos animais sem ção e paciência do proprietário do ani-
a drogas são exemplos clássicos desse prurido e não se observa predisposição mal. Primariamente, deve-se descartar
tipo de reação 3,4. etária ou sexual em cães ou gatos com outras causas de dermatoses alérgicas, o
HA: essa disfunção pode ocorrer em que inclui atopia, DAPP e alergia medi-
SINTOMATOLOGIA cães jovens ou adultos, machos ou fê- camentosa, além de outras dermatites
Embora as causas da HA nos seres meas. A idade de aparecimento da en- não alérgicas 1. Sugere-se que a HA em
humanos e animais sejam muito seme- fermidade é variável e, na maioria dos felinos deve ser diferenciada de outras
lhantes, a manifestação dos sintomas é casos, decorre da alimentação com a lesões pruriginosas ulcerativas e crosto-
bastante diferente: em humanos, os sin- dieta ofensora por pelo menos dois sas, como a escabiose, o pênfigo foliá-
tomas mais comuns são respiratórios – anos. Os proprietários raramente rela- ceo, a queratose actínica e o carcinoma
bronquites e rinites acompanhadas ou cionam o início de sinais clínicos a espinocelular 17.
não de coriza –, ao passo que, nos ani- qualquer alteração recente na dieta 1,8. Os testes intradérmicos com antíge-
mais e principalmente nos cães, a prin- Em algumas raças, as alergias apare- nos de alimentos e testes sorológicos
cipal característica da alergia são mani- cem com mais freqüência, principal- para IgE, antígeno específico por RAST
festações relacionados com a pele. O mente devido a fatores de ordem genéti- (Radio allergosorbent test) e ELISA são
animal alérgico apresenta prurido intenso ca. Dentre as raças mais predispostas, raramente úteis, pois podem causar con-
e, na maioria dos casos, esse prurido incluem-se: cocker spaniel inglês, fusão na interpretação do resultado. Os
leva ao autotraumatismo, que pode rotweiller, akita, retriever do labrador, indivíduos alérgicos freqüentemente

62 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Quadro 1 - Rações comerciais para hipersensibilidade alimentar existentes no Brasil
Ração Fonte protéica Carboidrato Observações do Fabricante
Canine d/d rice & egg - Hill´s Ovo Arroz -
Canine z/d low allergen - Hill´s Fígado de frango hidrolizado Batata -
Pedigree Sensitive Carne de cordeiro Arroz -
Sensitivity Control S/O E - Royal Canin Frango Arroz Livre de glúten e de lactose
Hypoallergenic canine DR 21- Royal Canin Proteína de soja hidrolizada Arroz -
Hypoallergenic feline DR 25 - Royal Canin Proteína de soja hidrolizada Arroz -
Proplan skin/stomach formula - Purina Salmão Arroz -
Proplan Puppy Sensitive Skin formula - Purina Salmão Arroz Opção para filhotes
Eukanuba Response Fórmula Carne de peixe Batata e polpa Farinha de arenque
de beterraba
Equilíbrio Cães Adultos Sensíveis - Total Salmão Arroz -

têm concentração sérica mais alta de an- bebês com base em carne de ovelha para outras rações oferecem novas fontes de
ticorpos IgE que os não-alérgicos. No os gatos, considerando-se que tais ani- proteína, pois são fabricadas com ingre-
entanto, um indivíduo alérgico pode mais não tenham ingerido tal proteína dientes incomuns à dieta animal, mas
apresentar níveis muito mais altos de há algum tempo. A dieta deve ser indivi- estes produtos, não costumam ser hipo-
IgE contra um ou poucos alérgenos es- dualizada de acordo com o caso, e sem- alergênicos. A eficácia na redução dos
pecíficos, mesmo sem ter níveis de IgE pre baseada nos dados obtidos pela sintomas, neste caso, deve-se única e
totais elevados no seu sangue. Assim, o anamnese 9,10,17. exclusivamente ao aspecto novo da pro-
uso da concentração da IgE total como Não existe uma única dieta de elimi- teína. Nenhuma proteína, animal ou ve-
diagnóstico é limitado 10,13. nação para todos os cães suspeitos de getal, é conhecida por ser menos alergê-
O teste de ELISA, apesar de ter uma apresentarem HA e, para alguns, a única nica do que outra, dado que a predispo-
sensibilidade de 100%, possui uma es- dieta apropriada é aquela de preparação sição à hipersensibilidade alimentar pa-
pecificidade de 0%. O teste de RAST caseira. As diversas opções de ração co- rece ter um caráter genético, tanto que a
apresenta resultado negativo sempre mercialmente formuladas para uso estratégia da nova proteína poderá fa-
verdadeiro, porém o resultado positivo como dieta de eliminação oferecem co- lhar se o animal desenvolver hipersensi-
nem sempre o será. O teste intradérmico mo vantagem a fácil utilização pelos bilidade a ela 24.
é realizado com extratos alimentares, proprietários, além de serem nutricio- Cães com dermatite alérgica 24, ex-
mas geralmente sua realização não é nalmente completas e balanceadas. En- cluindo DAPP, foram estudados e
compensadora devido a alterações na tretanto, não devem conter corantes, observou-se melhora do quadro clínico
composição do alérgeno no momento da conservantes e aromatizantes, e os su- em 45,7% dos animais que utilizaram
digestão ou devido à diluição apropria- plementos vitamínicos e minerais de- uma dieta de eliminação comercial a,b.
da do antígeno teste 13,17. vem ser suspensos 23. Também há regis- Dietas comerciais (Quadro 1) são indi-
O único método eficiente e mais fre- tro de que alguns cães pruríticos não cadas na forma seca para serem utiliza-
qüentemente utilizado para o diagnósti- melhoraram com o uso de rações co- das como dieta de eliminação c. Outros
co de hipersensibilidade alimentar é a merciais, mas apresentaram melhora autores sugerem para cães uma ração co-
dieta de eliminação. A dieta de elimi- acentuada quando alimentados com mercial d que contenha os ácidos graxos
nação consiste em retirar, da alimenta- dietas caseiras. Isto explica por que essenciais ômega 3 e ômega 6, indicados
ção do animal – por determinado perío- alguns animais domésticos alérgicos to- para tratamento de cães pruríticos 13,15.
do (no mínimo 45 dias) –, todos os leram as dietas caseiras, embora desen- Duas outras rações 15 também foram
ingredientes que este já tenha ingerido volvam reação alérgica a dietas comer- avaliadas por estudiosos e o resultado
anteriormente, e reintroduzí-los aos ciais formuladas com os mesmos ingre- revelou que, dentre os cães hipersensí-
poucos. Ao retirá-los, implementa-se a dientes 21,22,23. veis a alimentos pesquisados e que rece-
substituição por alimento desconhecido O objetivo do uso de rações comer- beram tais dietas, 15 a 25% tornaram-se
ao animal; muitos pacientes necessitam ciais – conhecidas também como rações pruriginosos novamente 9,16. Em outra
de período maior do que este, até que os hipoalergênicas – é a obtenção de uma investigação de 30 cães com alergia ali-
sintomas dermatológicos se resolvam. proteína modificada, na qual há altera- mentar 21 a maioria demonstrou melhora
Esse tempo costuma ser de oito a dez ção das características físicas das molé- durante a segunda ou a terceira semana
semanas. Deve-se fornecer ao animal culas que a tornará incapaz de promover em que receberam dieta de eliminação,
uma dieta com número muito limitado uma resposta imune. Isto tem sido obti- embora tal melhora não fosse uma
de ingredientes alimentares, baseada em do através da proteólise enzimática,
uma fonte de proteína e em uma fonte processo que reduz o peso molecular da a) Pedigree® Selected Protein diet - Masterfoods. Guararema,
de carboidrato, como por exemplo, proteína para menos de 18.000 daltons, SP
b) Prescription diet® canine d/d - Hill´s. São Paulo, SP
arroz e carne de ovelha, em uma mistu- o que representa o limite inferior para c) Eukanuba veterinary diets Response FórmulaFPTM, Iams
Company. São Paulo, SP
ra 1:1 para cães ou uma comida para muitos antígenos alimentares. Muitas d) Canned d/d e dry d/d. Hill's Pet Products. São Paulo, SP

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 63


melhora máxima. Porém, a simples mudança para um A, cobre ou de intoxicação por selênio,
Ocasionalmente, pode-se apresentar novo alimento comercial raramente é além de carências de biotina, ácido
ao clínico um animal com prurido tão efetiva devido ao fato de que a maioria pantotênico e riboflavina. O antago-
severo que justifique a administração das rações contém ingredientes se- nismo entre minerais e mi nerais-
de corticosteróide oral enquanto a melhantes 1. vitaminas também deve ser levado em
dieta está em progresso. A predinisona Uma alternativa que vem sendo uti- consideração 24.
ou predinisolona na dose de 0,5 a lizada para controlar os sintomas são as Não há achados laboratoriais consis-
1mg/kg a cada 24hs por via oral, vacinas preparadas individualmente, de tentes da HÁ em pequenos animais. A
durante 10 dias, pode ser uma opção. acordo com os resultados dos testes para eosinofilia periférica pode ou não estar
No entanto, deve-se alertar o proprie- o diagnóstico da alergia. Esse método presente. A biópsia cutânea reflete a va-
tário de que seu efeito poderá não ser de tratamento é denominado hipossensi- riabilidade da morfologia macroscópica
satisfatório. No caso de sua utilização, bilização ou imunoterapia, e consiste na das lesões de pele. Os achados histopa-
a medicação deve ser interrompida no aplicação de extratos altamente purifi- tológicos não são diagnósticos, e geral-
mínimo duas semanas antes da inter- cados das substâncias às quais o animal mente se caracterizam por dermatite
rupção da dieta, para ava liar sua é sensível durante um tempo bastante perivascular, com predomínio de neu-
resposta. Os mesmos parâme tros prolongado, que pode variar de nove trófilos ou células mononucleares e al-
devem ser aplicados quando da admi- meses a três anos. O tratamento injetá- terações supurativas secundárias va-
nistração de antibióticos a animais vel é aplicado em concentrações pro- riáveis. A eosinofilia tecidual é inco-
com piodermite secundária 8. gressivas, aumentando o nível de tole- mum, mas já foi descrita por alguns
Logo após, pode-se desafiar o animal rância do animal às substâncias que cau- autores 7,25.
com sua dieta original e observar sam os processos alérgicos, diminuindo
recidiva entre 72 horas a dez dias, para os sintomas progressivamente e fazendo CONSIDERAÇÕES FINAIS
confirmar o diagnóstico. Esse teste com que o animal viva mais conforta- Não se sabe perfeitamente por que
muitas vezes é recusado pelo propri- velmente. A melhora do estado clínico é algumas substâncias são alergênicas e
etário do animal, devido ao receio de observada, na maioria dos casos, após outras não, nem por que nem todos os
retorno dos sintomas clínicos. Tal teste três a cinco meses do início do trata- indivíduos desenvolvem reação alérgi-
pode confirmar o diagnóstico de HA, mento e, nesta fase, as injeções são apli- ca após exposição aos alérgenos. É
porém não identifica claramente qual o cadas somente uma vez a cada 20 dias. possível que haja uma contribuição
alérgeno componente da dieta original Os efeitos colaterais são extremamente genética às doenças alérgicas, pois em
que provocou referida reação. As raros e, caso alguma reação venha a humanos há estudos que indicam que
opções do proprietário são: retornar à ocorrer, é uma manifestação temporária crianças cujos pais são alérgicos são
dieta de eliminação permanentemente, e não apresenta nenhum risco de vida ao mais propensas a serem também alérgi-
ou pesquisar exatamente qual o compo- animal 15. cas 15.
nente alérgeno. A identificação exata As doenças alérgicas podem ser A HA em cães e gatos sempre deverá
do(s) alérgeno(s) envolvido(s) é funda- confundidas com outras doenças, ser pesquisada quando um animal de-
mental, e isso pode ser feito por meio como a dermatite seborréica, as pio- senvolver dermatite pruriginosa não
de nova remissão dos sintomas, com o dermites e a sarna sarcóptica ou sazonal. A identificação de um ou mais
uso da dieta de eliminação seguida pela demodécica; muitas vezes, essas alérgenos dietéticos, responsáveis pela
reintrodução de componentes da dieta doenças podem aparecer associadas hipersensibilidade alimentar, poderá
original, um a um, semanalmente. Esse com a alergia propriamente dita. É consumir muito tempo e requerer
método é mais demorado, porém preciso, ainda, diferenciar a HA da muita confiança por parte do proprie-
fornece mais informações, permitindo carência ou intoxicação nutricional, tário, porém sua confirmação deverá
identificar cães com múltiplos alérge- pois, na totalidade de um ou outro garantir o sucesso terapêutico, com
nos, já que o reaparecimento dos sin- caso, a maioria dos sinais clínicos está remissão da sintomatologia clínica.
tomas indica que o animal é alérgico a presente, e muitos deles se asseme- Uma perfeita anamnese, contemplando
tal ingrediente. Há relato de retorno dos lham em vários pontos 24. tudo o que o animal ingere ou já
sinais clínicos 14 dias após o reinício As deficiências minerais em maior ingeriu, torna-se necessária até que se
da dieta anterior 8, e também registro de ou menor grau, causam inapetência e possam identificar todas as origens da
que três cães apresentaram retorno dos crescimento anormal, com diversos dieta do animal, em especial as protéi-
sinais clínicos sete a nove dias e um cão graus de intensidade. A alopecia, a cas 15,24.
14 dias depois da reintrodução da dieta dermatite e as lesões cutâneas de O prognóstico é bom, apesar de al-
anterior 10. paraqueratose ou hiperqueratose são guns animais tornarem-se alérgicos
O êxito no manejo de animais alérgi- características de deficiência de zinco novamente quando expostos a nova
cos também depende da identificação de em todas as espécies animais e, por- fonte protéica. O objetivo terapêutico
outros possíveis alérgenos que possam tanto, cons ti tuem-se em um forte consiste em controlar esse transtorno,
contribuir para o prurido. Muitos propri- indicativo para a suspeita de carência já que a hipersensibilidade alimentar
etários preferem simplesmente encontrar de zinco na ração. Porém, esse tipo de não pode ser curada, e ainda pode
a dieta tolerada sem tentar identificar lesão pode ocorrer como conseqüência propiciar outras enfermidades secun-
os ingredientes antígenos específicos. de uma grave deficiência de vitamina dárias 1.

64 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


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66 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Manifestações oculares na Fábio Luiz da Cunha Brito
MV, doutorando

leishmaniose visceral canina -


Depto. Clín. Cir. Vet. - FCAV/UNESP-Jaboticabal
prof. ass., UEM-Umuarama
fabiobrito@click21.com.br

revisão Leucio Câmara Alves


MV, prof. adj.
Depto. Medicina Veterinária - UFRPE

Ocular manifestations in canine visceral leucioalves@walla.com

leishmaniasis - review José Luiz Laus


MV, prof. tit.
Depto. Clín. Cir. Vet. - FCAV/UNESP-Jaboticabal
jllaus@fcav.unesp.br

Manifestaciones oculares en la leishmaniasis


visceral canina - revisión
Resumo: Uma das mais singulares manifestações clínicas decorrentes do calazar canino são as afecções oculares. Podem
ser observadas desde pequenas alterações nos anexos oftálmicos até a perda da visão. Ambos os segmentos oftálmicos
podem estar acometidos, porém o anterior é notadamente o mais afetado. A uveíte e a conjuntivite são as condições mais
comumente observadas em cães infectados. Na etiopatogenia das lesões, estão envolvidas a presença local do parasito e
mecanismos imunogênicos. Embora menos freqüentes que outros sinais clínicos - ou até mesmo ausentes em certos casos -,
as afecções oculares, quando presentes, devem ser incluídas no diagnóstico diferencial de outras oftalmopatias, principalmente
em animais procedentes de áreas endêmicas.
Unitermos: Cães, olho, Leishmania
do quadro dependerá da imunocompe-
tência do hospedeiro vertebrado 6,7.
Abstract: Ocular lesions are among the most peculiar clinical manifestations of the canine kalazar. They can vary from small Os sinais observados na leishmaniose
alterations in the ophthalmic enclosures until complete visual loss. Both ophthalmic segments can be involved, although the
anterior one is the most affected. Uveitis and conjunctivitis are the most usual conditions observed in infected dogs. The canina assemelham-se àqueles encon-
etiopathogeny is linked to the local presence of the parasite and immunogenic mechanisms. Even though ocular lesions are trados no homem 8, e podem manifestar-
less frequent than other clinical signs of leishmaniasis and may even be absent in some cases, they should be included in the
differential diagnosis for other ophthalmopathies in animals coming from endemic areas. se isoladamente ou em associação. Si-
Keywords: Dogs, eye, Leishmania nais inespecíficos, como febre intermi-
tente e duradoura, anemia, perda de
Resumen: Entre las manifestaciones clínicas secundarias a la leishmaniasis visceral canina, las afecciones oculares se peso progressiva e caquexia, freqüente-
caracterizan como las más singulares. Pueden ser observadas desde pequeñas alteraciones en los anexos oftálmicos hasta
la pérdida de la visión. Ambos segmentos oftálmicos pueden estar acometidos, sin embargo, el anterior es notadamente más mente estão presentes em cães com
afectado. Uveítis y conjuntivitis son las condiciones más comúnmente observadas en perros infectados. En la etiopatogenia de leishmaniose visceral 5,9,10,11.
las lesiones, está implicada la presencia en el local del parásito y mecanismos inmunogénicos. Mismo siendo menos
frecuentes comparativamente a los otros señales clínicos, o mismo estando ausentes en ciertos casos, las afecciones As alterações decorrentes da leishma-
oculares, cuando presentes, deben ser incluidas en el diagnóstico diferencial de otras oftalmopatías, principalmente en niose visceral são bastante comuns, e
animales que procedan de áreas endémicas.
Palabras clave: Perros, ojo, Leishmania incluem alopecia e ulcerações cutâneas,
principalmente nas bordas das pinas, no
Clínica Veterinária, n. 64, p. 68-74, 2006 focinho e nas margens palpebrais 8,9,12.
Em muitos dos animais acometidos, ve-
rificam-se ainda sinais de envolvimento
INTRODUÇÃO brasileira é a espécie Leishmania neurológico, articular, epistaxe, além de
Além das oftalmopatias primárias do (Leishmania) chagasi. A transmissão é doenças renal e hepática 7,9,11,13.
olho, as enfermidades sistêmicas imu- realizada pela picada de insetos infecta- Considerando que quadros de leishma-
nomediadas, metabólicas, infecciosas, dos, denominados flebotomíneos, parti- niose visceral canina podem suscitar
parasitárias e neoplásicas podem pro- cularmente aqueles da espécie afecções oculares – que variam de
mover alterações oftálmicas. A leishma- Lutzomyia longipalpis 1,2,3. lesões nos anexos oftálmicos à perda da
niose visceral canina (LVC), por exem- No Brasil, os cães têm uma participa- visão 14,15,16 –, o reconhecimento precoce
plo, vem despertando grande interesse, ção significativa na epidemiologia da das manifestações oculares reveste-se
seja pelos transtornos provocados aos enfermidade, uma vez que são conside- de grande importância para o clínico ve-
animais, seja pelos riscos que represen- rados os principais reservatórios urba- terinário que, se adequadamente infor-
ta à saúde pública, dada a forma clínica nos da doença; além disso, a contamina- mado, poderá obstar a evolução para
como se manifesta em seres humanos. ção dessa doença na espécie canina ge- lesões irreversíveis ou até mesmo a ce-
A leishmaniose visceral canina – ralmente precede o seu acometimento gueira. Além disso, há que ressaltar que
também conhecida como calazar canino em seres humanos 4,5. a capacidade de identificar as afecções
– é uma antropozoonose causada por Usualmente, a infecção por oftálmicas decorrentes da doença são
um protozoário intracelular de macrófa- Leishmania sp. resulta em doença sistê- fundamentais para o estabelecimento do
gos, e inclui-se no Complexo Donovani. mica de evolução crônica, que pode se diagnóstico diferencial de outras desor-
A principal responsável pela forma vis- manifestar em período de três meses a dens visuais, notadamente em animais
ceral da doença na população canina alguns anos após a infecção; a gravidade provenientes de áreas endêmicas.

68 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


ALTERAÇÕES OCULARES que o segmento anterior foi acometido Lesões de pele, usualmente, são rela-
NA LVC em 76% (19/25) de todos os animais es- tadas como conseqüência da ação direta
Das desordens suscitadas pela leishma- tudados, e 4% (1/25) dos animais apre- do parasito 12. Apesar de o parasito ter
niose visceral, aquelas de manifestação sentaram alterações nos dois segmentos papel importante nas lesões, acredita-se
ocular constituem-se em uma das mais oculares 14. que as dermatopatias associadas à
intrigantes e pouco conhecidas, tanto no leishmaniose são atribuídas a vasculite
âmbito da medicina humana quanto no BLEFARITE necrosante causada por depósitos de
âmbito da medicina veterinária. Os Três formas de blefarite já foram des- imunocomplexos 20.
primeiros relatos de envolvimento ocu- critas em cães com LVC 12, a saber: blefa- Lesões das pálpebras, em muitos dos
lar na leishmaniose datam do início do rite erosiva, blefarite nodular e blefarite casos, podem ser confundidas com alte-
século passado: em 1913, LAVERAN granulomatosa, as duas últimas notada- rações cutâneas decorrentes da presença
relatou dois casos de cães acometidos mente em cães da raça boxer. A associa- do Demodex canis ou outro agente para-
que desenvolveram ceratite. Desde ção de blefarite a dermatite facial repre- sitário que, quando associado(s) ou não
então, vários relatos de acometimento senta um dos achados mais comuns no à LVC pode(m) dificultar o diagnóstico,
ocular em animais da espécie canina calazar canino 8,18. Nas blefarites associa- assim como outras causas de dermato-
têm sido descritos na literatura mundial. das à LVC, nota-se o espessamento difu- patias, como o pênfigo e dermatites
Os achados oculares decorrentes da so das pálpebras, que se mostram com bacterianas e micóticas, que devem ser
LVC ocorrem em 24,4% a 80,49% dos aspecto fibroso e edematoso, associado à considerados no diagnóstico diferencial 17.
cães com a enfermidade. Os animais in- área de alopecia periocular adjacente às Deve-se ressaltar que, apesar da pre-
fectados apresentam alterações oculares margens palpebrais, freqüentemente sença do Demodex canis, ou mesmo de
isoladas ou associadas. As lesões podem acompanhadas por lesões seborréicas outro agente parasitário em cães com
ter caráter unilateral ou, mais comu- úmidas e descamação (Figura 1). Granu- lesões cutâneas perioculares, não se
mente, bilateral, sendo o segmento ante- lomas não são comuns 16,17,19. deve descartar a possibilidade de para-
rior do olho o mais acometido 14,15,16,17. sitismo associado, tendo em vista que a
Em estudo realizado no Estado de resposta imune do animal estará afetada
Fábio Luiz da Cunha Brito

Pernambuco em cães infectados natu- (sendo este um dos principais fatores


ralmente por Leishmania (Leishmania) para desencadear a demodicose).
chagasi, 76% (19/25) apresentaram le-
sões oculares ao exame oftálmico. Dos CONJUNTIVITE
19 cães com lesões oculares 73,69% A inflamação da conjuntiva tem sido
(14/19) possuíam apenas um tipo de al- apontada como uma condição ocular
teração, enquanto 26,31% (05/19) exi- bastante freqüente em cães na LVC 7,11,15.
biram mais de uma lesão no mesmo Em recente estudo, a conjuntiva mos-
olho. Dos animais acometidos por oftal- trou-se acometida em 40% dos casos 14,
mopatias, 10,53% (02/19) apresentaram Figura 1 - Fotografia de olho de cão natural- porém a condição pode estar presente
alterações unilaterais, enquanto 89,47% mente infectado por Leishmania (chagasi) cha- em até 75,62% dos cães infectados por
gasi. Notar edema, vascularização, pigmentação
(17/19) apresentaram alterações bilate- corneais, em associação à blefarite, secreção Leishmania chagasi 15. Mecanismos imu-
rais. Nesse mesmo estudo, descreveu-se seromucosa, edema e alopecia periocular nomediados, possivelmente, encontram-se

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 69


envolvidos na patogenia das alterações também presente em muitos dos cães pentavalente, inflamação bilateral da
conjuntivais na LVC, já que a conjunti- infectados por Leishmania sp. 11,14,23. A íris, epífora, episclerite, sinéquia ante-
va é o tecido ocular externo imunogeni- presença de CCS pode decorrer do rior, hipertensão ocular e opacidade
camente mais ativo. processo inflamatório que acomete as corneana podem ocorrer 24. Como conse-
Quando acometida, a conjuntiva glândulas lacrimais, ou por obstrução de qüência da uveíte, podem decorrer hife-
mostra-se hiperêmica, com quemose di- ductos secretores ensejada pela inflama- ma (Figura 4) e glaucoma 14,15,17.
fusa bilateral havendo exsudato mucoso ção conjuntival 22. É, portanto, oportuno Na LVC, a uveíte pode advir da in-
(Figura 2). Discretos nódulos brancos que se faça o diagnóstico diferencial com tensa participação de leucócitos e de
multifocais são, ocasionalmente, obser- outras enfermidades, como a cinomose, formas de Leishmania, como ocorre na
vados na conjuntiva, na margem da na qual se observa déficit lacrimal. pele, ou decorrer de resposta imunome-
membrana nictitante e, por vezes, no Outras condições corneanas – como diada (hipersensibilidade do tipo III) a
limbo 14,16,17. Nesses casos, o diagnóstico ceratite superficial e intersticial – po- antígenos de Leishmania e/ou por
diferencial para episclerite nodular, dem ser observadas em cães com cala- depósitos de imunoglobulinas específi-
usando citologia e visualização do para- zar. A ceratite superficial parece ser a cas e não específicas, como ocorre na
sito, pode ser considerado. mais freqüentemente identificada, sen- barreira de filtração glomerular 25,26.
do caracterizada por erosão epitelial, vas- A inflamação do trato uveal tem sido
cularização e, eventualmente, pigmen- um sinal freqüentemente observado em
tação 15,22. Ceratite ulcerativa com a pre- doenças sistêmicas com produção de
Fábio Luiz da Cunha Brito

sença de formas amastigotas de imunocomplexos. Assim sendo, a uveíte


Leishmania chagasi na área da lesão deve ser considerada no diagnóstico di-
também foi referida. O autor supõe que ferencial de alterações oculares decor-
a lesão pode ter sido causada pela ação rentes de outras enfermidades, como
direta do parasito, ou por resposta erhlichiose, por exemplo.
imune local 14. Ceratites profundas com
grandes vasos invadindo a córnea e alte- SEGMENTO POSTERIOR
rações endoteliais são secundárias à Apesar de pouco freqüentes, as lesões
uveíte anterior 17. no segmento posterior podem se de-
Figura 2 - Fotografia de olho de cão natural- senvolver. Dentre as condições envolven-
mente infectado por Leishmania (chagasi) cha-
gasi. Notar conjuntivite, secreção mucosa, com
UVEÍTES do o fundo do olho, a coriorretinite consti-
formação de crostas e alopecia periocular Em cães, a inflamação do trato uveal tui-se no achado mais freqüente; todavia,
tem sido descrita como a oftalmopatia outros eventos, como descolamento e
CÓRNEA mais freqüente na leishmaniose visce- atrofia da retina, têm sido habituais 16,17. A
Raramente o envolvimento da córnea ral, podendo apresentar-se em até 70% despeito da possível ocorrência de catara-
é um evento isolado. Com freqüência, dos animais acometidos que habitam ta em cães com leishmaniose visceral, sua
observa-se ceratite concomitante a con- áreas endêmicas 9,13,14,17. Inicialmente, relação direta com a infecção por
juntivite (ceratoconjuntivite), com envol- observa-se uveíte, geralmente bilateral, Leishmania sp. ainda é controversa 19,22.
vimento da úvea anterior 21,22. Na cera- associada ou não a edema corneano, Manifestações tais como ciclite, co-
toconjuntivite, observam-se edema cor- miose e depósitos de fibrina na câmara riorretinite, hemorragias retinianas e
neano focal ou difuso, vascularização e anterior. Há, ainda, a formação de nódu- descolamento de retina foram encon-
infiltrado celular intersticial, geralmente los discretos ou multifocais (Figura 3) tradas ocasionalmente na LVC 8,11,20,22,27.
próximo à junção corneoescleral 15. no estroma da íris e sinéquias 8,16. Outros sinais oculares, como distrofia
Ceratoconjuntivite seca (CCS) encontra-se Em cães tratados com antimoniato corneana, exoftalmo e estrabismo são
Fábio Luiz da Cunha Brito

Fábio Luiz da Cunha Brito

Figura 3 - Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por Figura 4 - Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por
Leishmania (chagasi) chagasi. Notar edema corneal moderado, uveíte Leishmania (chagasi) chagasi. Notar discreto edema de íris com pre-
anterior e edema multifocal da íris sença de hifema

70 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


incomuns, porém em áreas endêmicas ainda é objeto de controvérsia. plasmáticas no tecido conectivo, além de
devem ser considerados 17. formas amastigotas de Leishmania sp. no
Não raro, a perda da transparência de ALTERAÇÕES TECIDUAIS, À interior de macrófagos 15,24.
estruturas do segmento anterior dificul- HISTOPATOLOGIA EM OLHOS À microscopia, na esclera e no limbo
ta a visualização de regiões do segmen- NA LVC esclerocorneal evidenciam-se intensa
to posterior. Nesses casos, a ultra-sono- No que concerne aos achados histo- vasculite com dilatação dos vasos lin-
grafia e a eletrorretinografia podem ser patológicos, a primeira investigação a fáticos, fibras colágenas em desorgani-
utilizadas 17. estabelecer a LVC como possível causa zação, linfócitos, células plasmáticas e
de oftalmopatias em cães, como ante- infiltrado macrofágico – distribuído de
ALTERAÇÕES IMUNOGÊNICAS riormente mencionado, remonta a forma focal ou difusa – permeando o
DO OLHO NA LVC 1913. Os autores relataram ceratite tecido conectivo, além de trombose. Na
A exacerbada resposta imune media- intersticial e presença de parasitos esclera, e igualmente no limbo esclero-
da por anticorpos proporciona a forma- internamente a células mononucleares corneano, evidenciaram-se intensa vas-
ção de imunocomplexos, que não são entremeadas ao estroma corneano. culite com dilatação dos vasos linfáticos
totalmente degradados pelas células de Posteriormente, em 1932, foi assinala- e trombose. Edema intersticial, infiltra-
Kupffer no fígado e que, circulantes, da a ocorrência de um caso de cerato- do de células mononucleares em graus
tendem a se depositar em algumas re- conjuntivite 30. variados e formas amastigotas de
giões, como os olhos 28. A barreira san- De forma genérica, as lesões são si- Leishmania sp. no interior de macrófa-
gue-humor aquoso é especialmente, milares àquelas observadas em outros gos são igualmente relatados 28.
sensível 29 o que, sob o ponto de vista tecidos, nos quais se encontra infiltrado Na conjuntiva e na terceira pálpebra,
imunológico, reforça a teoria da partici- inflamatório linfoplasmocitário e de his- infiltrado inflamatório mononuclear
pação de respostas imune, sistêmica e tiócitos contendo, em algumas ocasiões, plasmocitário e hiperplasia das células
local no desenvolvimento de oftalmopa- formas amastigotas de Leishmania. caliciformes são evidentes (Figura 5).
tias em cães com leishmaniose visceral. Geralmente, a intensidade do para- Nessas estruturas observa-se grande
A presença de imunoglobulinas G (IgG) sitismo não é elevada e as amastigotas quantidade de formas amastigotas de
no humor aquoso – verificada por técni- podem ser visualizadas mesmo por meio Leishmania chagasi à imunohistoquí-
ca de imunoadsorção enzimática da histologia convencional 28. mica (Figura 6).
(ELISA) utilizando peptídio recombi- Infiltrados linfohistioplasmocitários O corpo ciliar e a íris mostram inten-
nante S7 14 – corrobora essa assertiva. têm sido reportados em diferentes seg- sos focos de infiltrados inflamatórios,
No que concerne aos valores de mentos do compartimento anterior do com abundância de células redondas e
imunoglobulina G, altos títulos têm sido bulbo do olho de cães com LVC; entre- linfócitos 28, além de infiltrado mononu-
obtidos no humor aquoso de cães com tanto a presença do parasito não tem clear plasmocitário associado a edema
leishmaniose visceral. A técnica de sido observada com freqüência à histo- do conjuntivo e dilatação das veias e
Imunoblot permite evidenciar diferentes patologia rotineira 15. dos vasos linfáticos 31 (Figura 7).
proteínas de Leishmania sp. separadas Externamente ao bulbo do olho, o pro- As alterações mais evidentes na co-
por eletroforese, revelando que as rea- cesso inflamatório localiza-se mais in- róide são congestão e dilatação dos
ções são similares no sangue e no hu- tensamente no aparato lacrimal, caracte- vasos. Infiltrado inflamatório linfoplas-
mor aquoso 29. Não obstante, a presença rizado por infiltração focal e difusa, ne- mocitário é mais presente no estroma e
de correlação quanto à concentração crose generalizada do epitélio, granulação ao redor dos vasos (perivasculite).
de IgG no soro e no humor aquoso com abundantes linfócitos e células Na retina, congestão dos vasos tem
Fábio Luiz da Cunha Brito
Fábio Luiz da Cunha Brito

Figura 5 - Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão naturalmente Figura 6 - Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão naturalmente infecta-
infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar hiperplasia das célu- do por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar intenso grau de amastigotas de
las caliciformes com metaplasia, e infiltrado mononuclear plasmocitário Leishmania sp. imunomarcadas entremeadas ao tecido conjuntivo (setas).
subepitelial (seta) na conjuntiva da terceira pálpebra. H&E. 400x Complexo Streptavidina-peroxidase. 40x

72 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


04-FERRER, L. Leishmaniasis. In: KIRK, R. W. leishmaniasis. Diagnosis and treatment. The
Fábio Luiz da Cunha Brito

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Figura 7 - Fotomicrografia da terceira pálpebra
de cães, com e sem sintomatologia neurológica, Canine Leishmaniasis associated with systemic
de cão naturalmente infectado por Leishmania
naturalmente acometidos por leishmaniose vis- vasculitis in two dogs. Journal of Comparative
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Veterinário de Pequenos Animais, 2., 2002, São
lares (seta). Também está presente congestão 21-NIETO, C. G.; GARCIA-ALONSO, M.;
Paulo, Anais..., p. 111, 2002.
dos vasos retinianos (estrelas) e células infla- REQUENA, J. M.; MIRON, C.; SOTO, M.;
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Células inflamatórias são notadamente 09-CIARAMELLA, P.; OLIVA, G.; LUNA, R. D.; leishmaniose canine. Recueil de Médicine
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10-IKEDA, F. A.; FEITOSA, M. M.; CIARLINI, P.
C.; FEITOSA, M. M.; GONÇALVES, M. E.; 24-GARCIA-ALONSO, M.; BLANCO, A.; REINA,
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Araçatuba - SP: um estudo retrospectivo de 191
sendo a uveíte e a conjuntivite as mais casos. Clínica Veterinária, Ano VIII, v. 47, 25-NIETO C. G.; NAVARRETE, I.; HABELA, M.
freqüentes. No que concerne à sua pato- p. 42-48, 2003. A.; SERRANO, F.; REDONDO, E. Pathological
genia, os mecanismos envolvidos ainda 11-KOUTINAS, A. F.; POLIZOPOULOU, Z. S.; changes in kidneys of dogs with natural
Leishmania infection. Veterinary Parasitology,
carecem de maior elucidação, pois há SARIDOMICHELAKIS, M. N.; ARGYRIADIS,
v. 45, n. 1-2, p. 33-47, 1992.
D.; FYTIANOU, A.; PLEVRAKI, K. G. Clinical
controvérsias. Entretanto, sabe-se que considerations on canine visceral leishmaniasis 26-SARTORI, A.; DE OLIVEIRA, A. V.; ROQUE-
eventos imunomediados estão pre- in Greece: A retrospective study of 158 cases BARREIRA, M. C.; ROSSI, M. E.; CAMPOS-
sentes. Os achados histopatológicos são (1989-1996). Journal of the Americam Animal NETO, A. Immune complexes in
Hospital Association, v. 35, n. 5, p. 376-383, 1999. glomerulonephritis experimental Kala-azar.
predominantemente de caráter infla- Parasite Immunology, Oxford, v. 9, p. 93-103,
12-FERRER, L.; RABANAL, R.; FONDEVILA,
matório, composto por células mononu- D.; RAMOS, J. A.; DOMINGO, M. Skin lesions 1987.
cleares. Afecções oculares devem ser in canine leishmaniasis. Journal Small Animal 27-MARTINS, C. L.; STILES, J. Manifestações
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M. C. R.; PERRI, S. H. V. Aspectos clínicos de Paulo: Manole, 2003, 594p.
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cães com leishmaniose visceral no município de 28-GARCIA-ALONSO, M.; MIRÓN, C.;
cussão oftálmica, notadamente em cães Araçatuba - São Paulo (Brasil). Clínica MOLANO, I.; NAVARRETE, I.; NIETO, C. G.
provenientes de áreas endêmicas. Veterinária, Ano V, v. 28, p. 36-42, 2000. Patología ocular asociada a leishmaniosis canina.
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01-BEVILACQUA, L.; MAIA, C. A. A.; ZANETTI, LINNAEUS, 1758) infectados naturalmente por 29-GARCIA-ALONSO, M.; NIETO, C. G.;
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74 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Encefalite do cão pug: Sylvia de Almeida Diniz
Mv, mestranda,

primeiro diagnóstico
Depto. Patologia/FMVZ/USP

João Pedro Andrade-Neto


no Brasil MV, prof.
Universidade Anhembi-Morumbi
joaopedrovet@hotmail.com

Fernando Yutaka Moniwa Hosomi


Pug dog encephalitis: first diagnosis in Brazil Granduando, iniciação científica
Depto. Patologia/FMVZ/USP
fernando_hosomi@yahoo.com.br

Kalan Bastos Violin


Encefalitis necrotizante del perro Pug: primer Granduando, iniciação científica
Depto. Patologia/FMVZ/USP
diagnóstico en Brasil kalanviolin@yahoo.com.br

Adriano Tony Ramos


MV, doutorando
Resumo: Um cão macho de sete meses da raça pug foi levado para avaliação clínica por apresentar quadro de disfagia, crises Depto. Patologia/FMVZ/USP
com tremores, micção involuntária, opistótono e andar em círculos. Provas sorológicas foram negativas para dirofilariose, adrianotony@hotmail.com
erlichiose e borreliose, e a reação em cadeia pela polimerase (PCR) para cinomose também foi negativa. Foi instaurada
corticoideterapia com melhora acentuada do quadro. Porém, ao longo de seis meses, o quadro evoluiu para tetraplegia e
amaurose, o que levou o proprietário a optar pela eutanásia. O exame necroscópico permitiu a observação de deformidades Gisele Fabrino Machado
e achatamento do córtex cerebral nas regiões parietal, temporal e occipital, com áreas de malácia e dilatação ventricular. Ao MV, profa. dra
exame histopatológico constatou-se meningoencefalite não-supurativa, com acentuada necrose de substância cinzenta Depto. Clín. Méd./UNESP-Araçatuba
cortical. Os achados clínicos e anatomopatológicos permitem concluir ser este o primeiro diagnóstico de encefalite necrotizante giselem@fmva.unesp.br
do cão pug no Brasil.
Unitermos: Doença do sistema nervoso, patologia, necrose
Paulo César Maiorka
MV, prof. dr.
Abstract: A seven-month-old male Pug dog was referred to the clinic with a history of dysphagia, tremor crisis, incontinence, Depto. Patologia/FMVZ/USP
opisthotonus and circling behaviour. Serologic tests were negative for dirofilariasis, ehrlichiosis and borreliosis, as well as PCR maiorka@usp.br
for canine distemper. Corticoid therapy was established, with great status improvement. However, clinical signs evolved in the
following six months to tetraplegia and amaurosis, which led the owner to choose to euthanize the animal. Necroscopic
examination revealed brain cortex deformities and flattening of parietal, temporal and occipital regions, with areas of malacia
and ventricular dilation. Histopathological evaluation showed non-suppurative meningoencephalitis with intense cortical gray
matter necrosis. Clinical and anatomopathological findings allow concluding that this is the first diagnosis of necrotizing
meningoencephalitis in Pug dogs in Brazil.
Keywords: Nervous system disease, pathology, necrosis

Resumen: Un perro macho de la raza Pug fue llevado para evaluación clínica por presentar cuadro de disfagia, crisis de
temblores, micción involuntaria, opistótono y caminar en círculos. Pruebas serológicas fueron negativas para dirofilariosis,
erlichiosis y borreliosis y PCR para distemper también fue negativa. Fue instituida terapia con corticoides y hubo mejora
quando são realizados exames como
acentuada del cuadro clínico. Pero, a lo largo de seis meses, el cuadro evolucionó para tetraplegia y amaurosis, lo que llevó tomografia computadorizada 10 e res-
el propietario a escoger la eutanasia. El examen necroscópico demostró deformidades y aplastamiento del cortex cerebral en
las regiones parietal, temporal y occipital, con áreas de malacia y dilatación ventricular. El examen histopatológico reveló una
sonância magnética 1,12. O exame histo-
meningoencefalitis no-supurativa con acentuada necrosis de la sustancia gris cortical. Los hallazgos clínicos y patológico revela áreas de necrose li-
anatomopatológicos permiten concluir ser este el primer diagnóstico de Encefalitis Necrotizante del Perro Pug en Brasil.
Palabras clave: Enfermedad del sistema nervioso, patología, necrosis
quefativa na substância cinzenta do cór-
tex, que correspondem às áreas de cavi-
tação e formação pseudocística encon-
Clínica Veterinária, n. 64, p. 76-78, 2006
tradas na macroscopia. Há presença de
infiltrado inflamatório composto de lin-
INTRODUÇÃO A MNC no cão pug caracteriza-se fócitos, plasmócitos, histiócitos e pou-
A encefalopatia do cão pug faz parte pelo surgimento de sinais clínicos rela- cos polimorfonucleares. São observados
do complexo meningoencefalite necro- cionados ao cérebro, como crises com neurônios picnóticos, vacuolização neu-
tizante canina (MNC), doença inflama- tremores, convulsões parciais ou gene- ronal, satelitose e neuronofagia. Nas
tória única que acomete cães de peque- ralizadas, perda de consciência, altera- áreas de malácia ocorrem proliferação
no porte. A doença já foi diagnosticada ção de comportamento, andar em círcu- da micróglia e infiltração macrofágica;
em cães das raças maltês 1,2, yorkshire lo e ataxia 6,11. Em alguns animais, obser- muitos desses macrófagos apresentam-
terrier 3, pequinês 4 e pappilon 5, mas in- vam-se alterações oftalmológicas 8,10, e, se repletos de conteúdo fagocitado no
dubitavelmente animais da raça pug são menos freqüentemente, sinais vestibula- seu citoplasma, formando acúmulos de
os mais freqüentemente acometidos 5. res centrais e alterações cerebelares 5,11,12. macrófagos espumosos (Gitter Cells).
A primeira descrição de MNC na Ao exame necroscópico constatam- Ao redor das áreas de malácia também
raça pug foi feita por Cordy e Holliday se dilatação dos ventrículos laterais, são observadas astrocitose e presença de
em 1989 6. Posteriormente a doença foi achatamento do córtex, áreas de malácia e gemistócitos. Além disso, constatam-se
descrita em cães pug no Japão 7, na cavitações que se assemelham à formação intensa neovascularização e ativação
Alemanha 8, na Suíça, na Itália 9 e, mais de pseudocistos no córtex cerebral. endotelial nas áreas preservadas ao
recentemente, na França 10. Essas alterações são facilmente detectáveis redor dos focos de necrose.

76 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/novembro, 2006


HISTÓRIA CLÍNICA vírus. O quadro neurológico progrediu

João Pedro de Andrade-Neto


Um cão macho não castrado da raça em novembro de 2004 para tetraplegia
pug, com 7 meses de idade e histórico com extensão de membros torácicos e
de vacinações completo, foi levado ao opistótono, com o nistagmo horizontal
médico veterinário em agosto de 2004 alternando em ventral quando do posi-
apresentando disfagia associada a crises cionamento da cabeça. Coletou-se uma
com tremores, micção involuntária, segunda amostra de líqüor, que mostrou
opistótono e andar em círculos para a pleocitose do tipo mononuclear marca-
direita. Realizou-se sorologia para diro- da por infiltrados linfocíticos, com
filariose, erlichiose e borreliose, cujos leucócitos pequenos e maduros em sua
resultados foram negativos. Imediata- grande maioria; além de pequena quan-
mente instituiu-se corticoideterapia com tidade de linfócitos jovens reativos.
Figura 1 - Aspecto macroscópico do córtex cerebral
prednisona em dosagem imunossupres- Foram observados raras células epen-
sora (1mg/kg/dia), associada a fenobar- dimárias, raras hemácias e raríssimos

João Pedro de Andrade-Neto


bital, o que promoveu melhora acentua- polimorfonucleares.
da do quadro. Em outubro de 2004, Não foram observados agentes in-
prescreveu-se concentração de predni- fecciosos ou células com características
sona a 0,5mg/kg/dia. Após a redução da neoplásicas. O quadro clínico manteve-
dose, o animal passou a apresentar in- se estacionário até fevereiro de 2005,
clinação da cabeça para o lado direito e evoluindo com sinais de paralisia e
nistagmo horizontal, com fase rápida amaurose. Uma vez que o paciente não
para a esquerda. O quadro clínico não mais reagia à terapia com corticóides,
apresentou melhora mesmo com admi- optou-se pela eutanásia em março de
nistração de 2mg/kg/dia de prednisona. 2005. Figura 2 - Fotomicrografia (detalhe da figura 1)
Assim, foram realizados exame de lí- mostrando áreas de necrose em córtex cerebral
(HE, escala em barra: 2mm)
qüor (Quadro 1) e pesquisa por PCR DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA
para o vírus da cinomose, que não Ao exame macroscópico foram

João Pedro de Andrade-Neto


demonstrou amplificação do genoma do observados deformidades e achatamen-
Quadro 1 - Características do líqüor, segunda to do córtex das regiões parietal, tempo-
coleta ral e occipital. Aos cortes transversais
Densidade 1,009 do encéfalo foram observadas áreas de
pH 8,6 malácia, predominantemente no centro
Proteína 96,41 semi-oval e corona radiata, correlatas às
Glicose 84,71 regiões corticais supracitadas, resultan-
Sangue oculto (++) do em dilatação ventricular ex vacum
Teste de Pandy Positivo (++) (Figuras 1 e 2). Áreas de malácia tam-
He 36.000 Figura 3 - Área de necrose em cerebelo.
bém foram observadas na substância (Asterisco: área de vacuolização. HE, escala
Leucócitos 109 branca do cerebelo (Figura 3). em barra: 250mm)

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/novembro, 2006 77


HISTOPATOLÓGICO 04-CANTILE, C.; CHIANINI, F.; ARISPICI, M.;

João Pedro de Andrade-Neto


FATZER, R. Necrotizing meningoencephalitis
No cérebro verificou-se espessamento associated with cortical hippocampal hamartia in
das leptomeninges e congestão de vasos, a Pekingese dog. Veterinary Pathology, v. 38,
acompanhados por infiltrado composto n. 1, p. 119-122, 2001.
de células mononucleares. O córtex das 05-SUZUKI, M.; UCHIDA, K.; MOROZUMI, M.;
áreas parietal, temporal e occipital apre- HASEGAWA, T.; YANAI, T.; NAKAYAMA, H.;
sentava áreas de vacuolização, mais evi- TATEYAMA, S.; A Comparative Pathological
Study on Canine Necrotizing Meningoencephalitis
dentes nas proximidades da substância and Granulomatous Meningoencephalomyelitis.
branca (Figura 4). Foram constatadas Journal of Veterinary Medical Science,
proliferação e congestão de capilares, e v. 65, n. 11, p. 1233-1239, 2003.
as células endoteliais encontravam-se hi- 06-KOBAYASHI, Y.; OCHIAI, K.; UMEMURA, T.;
pertrofiadas e com aspecto reativo. Figura 4 - Área de necrose em córtex cerebral GOTO, N.; ISHIDA, T.; ITAKURA, C.;
Observou-se intensa gliose difusa, além (HE, escala em barra: 250mm) Necrotizing meningoencephalitis in pug dogs in
Japan. Journal of Comparative Pathology,
de satelitose e neuronofagia nas áreas v. 110, n. 2, p. 129-136, 1994.
com perda neuronal e neurônios isquê-
João Pedro de Andrade-Neto

07-HINRICHS, U.; TOBIAS, R.; BAUMGARTNER,


micos (dark neurons). Nas áreas de tran- W.; A case of necrotizing meningoencephalitis in
sição para a substância branca, além da a pug dog (pug dog encephalitis--PDE).
exuberante proliferação vascular e da ra- Tierarztliche Praxis, v. 24, n. 5, p. 489-492, 1996.
refação/liquefação do tecido nervoso, 08-HOFF, E. J.; VANDEVELDE, M. : Necrotizing
observou-se infiltrado perivascular com- vasculitis in the central central nervous system of
posto por linfócitos e plasmócitos. Infil- two dogs. Veterinary Pathology, v. 18, p. 219-
223, 1981.
trando o parênquima também havia célu-
las mononucleares (Figura 5), com ele- 09-BELTRAN, W. A.; OLLIVET, F. F.;
Homonymous hemianopia in a pug with
vado número de macrófagos espumosos necrotising meningoencephalitis. Journal of
(Gitter Cells) (Figura 6). Além dos ma- Small Animal Practice, v. 41, n. 4, p. 161-164;
crófagos, observou-se presença de linfó- Figura 5 - Infiltrado inflamatório perivascular em 2000.
citos e plasmócitos e raros neutrófilos. córtex cerebral (HE, escala em barra: 100mm)
10-CORDY, D. R.; HOLLIDAY, T. A.; A
Lesão semelhante foi observada no cere- necrotizing meningoencephalitis of Pug dogs.
belo, particularmente na substância bran- Veterinary Pathology, v. 26, p. 191-194, 1989.
João Pedro de Andrade-Neto

ca e com menor comprometimento corti- 11-SUMMERS, B. A.; CUMMINGS, J. F. , DE


cal. No tronco encefálico, observaram-se LAHUNTA, A. : Principles of neuropathology.
In: Veterinary Neuropathology, p. 39-47,
neurônios com cromatólise central e va- Mosby-Year Book Inc. , St. Louis, MO 1995.
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12-KUWABARA, M.; TANAKA, S.; FUJIWARA, K.;
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cou-se infiltrado inflamatório misto, com encephalitis in a Pug. Journal of Veterinary
predomínio de neutrófilos. Medical Science, v. 60, n. 12, p. 1353-1355, 1998.
13-SCHATZBERG, S. J.; HALEY, N. J. , BARR S.
DISCUSSÃO C. , DE LAHUNTA, A. , SHARP N. J.
A etiologia do complexo MNC ainda Polymerase chain reaction screening for DNA
Figura 6 - Macrófagos espumosos (células de viruses in paraffin-embedded brains from dogs
é desconhecida, sendo possivelmente Gitter) (HE, escala em barra: 10mm) with necrotizing meningoencephalitis,
multifatorial e influenciada por fato- necrotizing leukoencephalitis, and granulomatous
res genéticos e ambientais 13. Agentes meningoencephalitis. Journal of Veterinary
infecciosos e causas imunomediadas já tradução do resumo em espanhol e Internal Medicine, v. 19, n. 4, p. 553-559, 2005.
foram sugeridas 2,6 e a presença de um revisão crítica do texto. 14-UCHIDA, K.; HASEGAWA, T.; IKEDA, M.;
autoanticorpo anti-astrócito já foi de- YAMAGUCHI, R.; TATEYAMA, S.; Detection
REFERÊNCIAS of an autoantibody from Pug dogs with
monstrada 15. necrotizing encephalitis (Pug dog encephalitis).
Até o presente momento, o tratamento 01-PANCIERA, D. L.; DUNCAN, I. D.;
Veterinary Pathology, v. 36, n. 4, p. 301-307,
MESSING, A.; RUSH, J. E.; TURSKI, P. A.;
dos pacientes tem sido paliativo, com Magnetic Resonance imaging in two dogs with 1999.
uso de corticóides em dosagens imunos- central nervous system disease. Journal of 15-MATSUKI, N.; FUJIWARA, K.; TAMAHARA,
supressoras e anticonvulsivantes, e apre- Small Animal Practice, v. 28, p. 587-596, S.; UCHIDA, K.; MATSUNAGA, S.;
1987. NAKAYAMA, H.; DOI, K.; ONO, K.;
senta resultados variados 2,3,10. O curso da Prevalence of autoantibody in cerebrospinal
doença é geralmente fatal, com período 02-STALIS, I. H.; CHADWICK, B.;
DAYRELL-HART, B.; SUMMERS, B. A.; VAN fluids from dogs with various CNS diseases.
de evolução variando de dois dias a mais WINKLE, T. J.; Necrotizing meningoencephalitis Journal of Veterinary Medical Science, v. 66,
de seis anos, sendo que a maioria dos of Maltese dogs. Veterinary Pathology, v. 32, n. 3, p. 295-297, 2004.
animais morre ou é eutanasiada em n. 3; p. 230-235; 1995. 16-SAWASHIMA, Y.; SAWASHIMA, K.; TAURA,
poucos meses 5. 03-TIPOLD, A.; FATZER, R.; JAGGY, A.; Y.; SHIMADA, A.; UEMEMURA, T. Clinical
ZURBRIGGEN, A.; VANDEVELDE, M.; and pathological findings of a Yorkshire terrier
Necrotizing encephalitis in Yorkshire Terriers. affected with necrotizing encephalitis. Journal
AGRADECIMENTOS Journal of Small Animal Practice, v. 34, of Veterinary Medical Science, v. 58, n. 7,
À dra. Fernanda Bernardi, pela p. 623-628, 1993. p. 659-61; 1996.

78 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/novembro, 2006


Aspectos clínico-patológicos Paula Nunes Rosato
MV, mestranda

das efusões corporais:


Depto. Clín. Cir. Vet./FCAV/UNESP-Jaboticabal
paula_rosato@yahoo.com.br

revisão de literatura Fernanda Gomes Velasque Gama


MV, doutoranda
Depto. Clín. Cir. Vet./FCAV/UNESP-Jaboticabal

Clinical-pathological aspects of body


fe_velasque@yahoo.com.br

Marcia Ferreira da Rosa Sobreira


effusions: a review MV, profa.
Depto. Ciências Agrárias/CUML-Ribeirão Preto

Aspectos clínico-patológicos de las efusiones


marsobr@netsite.com.br

Aureo Evangelista Santana


corporales: revisión de la literatura MV, prof. adj.
Depto. Clín. Cir. Vet./FCAV/UNESP-Jaboticabal
santana@fcav.unesp.br
Resumo: Normalmente, um pequeno volume de fluido encontra-se presente nas cavidades corporais; esse fluido atua como
lubrificante durante a movimentação dos órgãos. O volume de um fluido cavitário é determinado pelo equilíbrio existente entre
sua formação - que ocorre através da ultrafiltração do sangue – e sua absorção – realizada através dos vasos linfáticos e
capilares. A efusão é o acúmulo anormal de fluido em qualquer cavidade corporal revestida por células mesoteliais, como a
torácica, a pericárdica e a abdominal. Esse distúrbio não deve ser considerado uma enfermidade em si, mas sinal de um
processo patológico associado ao aumento da produção ou da diminuição na remoção do líquido intracavitário. Assim,
recomenda-se a avaliação desse fluido para que, em conjunto com os sinais clínicos apresentados pelo paciente, seja juntamente com a drenagem linfática,
possível firmar um possível diagnóstico e instituir a ação terapêutica adequada. são os fatores responsáveis pela filtra-
Unitermos: Efusão pleural, efusão peritoneal, efusão pericardica, fluidos cavitários
ção e a absorção de líquidos na micro-
Abstract: A small volume of fluid is normally present in body cavities. This fluid acts as a lubricant during the movement of the circulação, sem que haja acúmulo
organs. The volume of a cavitary fluid is determined by the balance between its formation, which occurs through ultrafiltration excessivo de líquido no interstício 5. Em
of the blood, and its absorption, accomplished by lymphatic vessels and capillaries. Effusion is the abnormal accumulation of
fluid in any body cavity covered by mesenthelial cells, such as the thoracic, pericardic and abdominal cavities. This disturbance organismos normais, a pressão hidrostá-
should not be regarded as a disease per se, but rather as a sign of a pathological process associated to either an increase in tica intracapilar é superior à pressão hi-
the production or a decrease in the removal of intracavitary fluid. It is thus recommended that the fluid and the clinical signs
presented by the patient be evaluated to establish a possible diagnosis and adequate therapy. drostática intersticial, embora seja anta-
Keywords: Pleural effusion, peritoneal effusion, pericardic effusion, cavitary fluids gonizada, em parte, pela pressão oncóti-
ca do plasma. Como resultado da intera-
Resumen: Normalmente, un pequeño volumen de fluido se encuentra presente en las cavidades corporales con el objetivo de
lubrificar los órganos durante el movimiento. El volumen de un fluido cavitario es determinado por el equilibrio existente entre
ção entre essas forças, ocorre a forma-
su formación, que ocurre a través de la ultrafiltración de la sangre, y la absorción, realizada a través de los vasos linfáticos y ção de pequeno volume de fluido libera-
los capilares. Se denomina efusión al acúmulo anormal de fluido en cualquier cavidad corporal revestida por células
mesoteliales, como la torácica, la pericárdica y la abdominal. Este disturbio no debe ser considerado una enfermedad y si la
do no espaço intersticial, que deve ser
señal de un proceso patológico asociado al aumento en la producción o disminución en la remoción del líquido intracavitario. reabsorvido pelos vasos linfáticos sem
De esta manera, se recomienda la evaluación de este fluido para que, en conjunto con los signos clínicos presentados por el
paciente, pueda ser confirmado un posible diagnóstico e instituida la acción terapéutica adecuada.
que haja ganho ou perda de líquido no
Palabras clave: Infusión pleural, infusión peritoneal, infusión pericárdica, fluidos cavitarios interstício e nas cavidades 6 (Figura 1).
O aumento da pressão hidrostática no
Clínica Veterinária, n. 64, p. 80-88, 2006 interior dos vasos sangüíneos, a queda da
pressão oncótica plasmática, as obstru-
INTRODUÇÃO apresenta uma revisão bibliográfica ções linfáticas e a alteração da permea-
Em condições normais, um pequeno atualizada sobre os mecanismos de for- bilidade vascular são os mecanismos
volume de fluido intracavitário é forma- mação, os métodos de colheita, a análise primários de formação das efusões 6,7.
do a partir da filtração do plasma pelo e a interpretação dos parâmetros físicos, Além desses mecanismos – e colaboran-
endotélio capilar, que ocorre pela inte- químicos e celulares das efusões, a fim do com eles –, devem ser consideradas
ração entre a pressão hidrostática destes de auxiliar os clínicos de pequenos ani- as enfermidades relacionadas à retenção
capilares, a pressão oncótica plasmáti- mais no diagnóstico das inúmeras des- de sódio, que facilitam a formação de
ca, a reabsorção linfática e a permeabili- ordens relacionadas com o acúmulo de edemas e efusões, visto que o sódio to-
dade capilar 1. O acúmulo de líquido no líquidos intracavitários. tal do organismo é o principal determi-
interior das cavidades peritoneal, pleu- nante do volume fluídico extracelular 6,8.
ral e pericárdica é denominado efusão, e MECANISMOS DE FORMAÇÃO
é indicativo de alteração na interação DAS EFUSÕES Elevação da pressão hidrostática
dessas forças 2. A formação de efusão Aproximadamente dois terços da intravascular
pode ser decorrente de várias moléstias água total do organismo encontram-se O aumento da pressão hidrostática no
e, nessa situação, a colheita e a avalia- no interior das células (LIC); o restante interior dos vasos sangüíneos eleva a
ção dos fluidos podem ter valor terapêu- compõe o fluido extracelular (LEC), pressão de filtração, o que promove o
tico, bem como importância diagnóstica distribuído entre o compartimento vas- aumento da saída de fluido intravascular
nas doenças inflamatórias, hemorrági- cular e o espaço intersticial 4. Em condi- para o interstício 9 (Figura 2). Esse even-
cas, neoplásicas, linfáticas ou biliosas 3. ções normais, os gradientes sangue-inters- to está relacionado a processos de hipe-
Desta forma, o presente trabalho tício de pressão hidrostática e oncótica, remia ativa ou passiva que ocorrem,

80 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Fernanda G. V. Gama

Fernanda G. V. Gama
Figura 1 - Representação esquemática dos constituintes intra e Figura 2 - Representação esquemática da ele vação da pressão
extravasculares responsáveis pela formação dos líquidos cavitários hidrostática vascular como mecanismo de formação de efusões.
Notar o extravasamento de células e de proteínas

principalmente, em casos de obstrução Alterações na drenagem linfática sobretudo histamina e cininas 5. Essa alte-
do fluxo sangüíneo portal em pacientes Na maioria dos edemas, o fluxo de ração tra duz-se morfologicamente pela
portadores de cirrose hepática e nos pro- linfa aumenta consideravelmente, o que ampliação dos espaços interendoteliais e
cessos congestivos associados à insufi- indica que o sistema linfático desempe- pelo adelgaçamento da parede vascular,
ciência cardíaca, sendo esta última a en- nha importante papel na drenagem do que permite o escape de um fluido rico
fermidade mais comumente relacionada excesso de líquido no espaço intersti- em proteínas e culmina na redução da
à formação de efusões decorrentes do cial. Em sistemas linfáticos que estejam pressão coloidosmótica intravascular e na
aumento da pressão hidrostática intra- em condições de normalidade, a maior elevação da pressão coloidosmótica in-
vascular 5,6,7. oferta de líquido ao espaço intersticial e tersti cial5,10(Figura 5). A alteração da per-
às cavidades, e a menor reabsorção de meabilidade vascular é um evento ca -
Diminuição da pressão coloidosmótica líquido pelos vasos sangüíneos são racterístico de processos inflamatórios, cu-
plasmática compensadas pelo aumento da drena- ja lesão tecidual no local da injúria propi-
A diferença de pressão existente gem linfática. Assim, a efusão só reper- cia a liberação de substâncias como pros-
entre os compartimentos intravascular e curtirá clínico-patologicamente quando taglandinas, histamina, heparina e seroto-
intersticial é determinada, em grande a capacidade de compensação do sistema nina, que promovem vasodilatação e au-
parte, pela concentração de proteínas linfático for ultrapassada 5 (Figura 4). Tal mento da permeabilidade endotelial 10,11.
plasmáticas, principalmente a albumina. ação mecânica e obstrutiva torna-se evi-
Assim sendo, a baixa pressão coloidos- dente em neoplasias compressivas e em Participação da retenção de sódio nas
mótica do plasma promove a predomi- processos infecciosos e inflamatórios efusões
nância da pressão hidrostática do nos linfonodos, os quais podem causar O edema generalizado e a ascite são
sangue e, conseqüentemente, a saída de obstruções nas vias linfáticas 7,8. indicativos de elevação no teor de sódio
fluido para o interstício 6,9(Figura 3). A do organismo, conseqüentes à retenção
redução da pressão oncótica do plasma Alteração da
pode resultar tanto de perdas excessivas permeabilidade

Fernanda G. V. Gama
quanto de síntese diminuída de albumi- vascular
na relacionadas, respectivamente, a sín- O aumento da
drome nefrótica e a enfermidades hepá- permeabilidade vas-
ticas 8. Entretanto, deve-se considerar cular ocorre em ca-
que dietas pobres em proteína e algumas pilares e vênulas e
infestações parasitárias intestinais tam- relaciona-se, com
bém são comumente descritas como grande freqüência,
causas da diminuição da pressão coloi- à ação de nume- Figura 4 - Representação esquemática da obstrução da drenagem
dosmótica plasmática 7. rosas subs tâncias, linfática como mecanismo de formação de efusões
Fernanda G. V. Gama

Fernanda G. V. Gama

Figura 3 - Representação esquemática da diminuição da pressão coloidos- Figura 5 - Representação esquemática da alteração da permeabilidade
mótica plasmática como mecanismo de formação de efusões. Notar a baixa vascular como mecanismo de formação de efusões. Notar a passagem ativa
concentração das proteínas plasmáticas de células e proteínas pelo endotélio vascular

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 81


ser analisado físico- eletrocardiografia, visto que a punção
Fernanda G. V. Gama

química e citologi- acidental do epicárdio pode resultar em


camente, em apoio arritmias ventriculares 17. Para a remoção
ao diagnóstico da do fluido do saco pericárdico, recomen-
enfermidade. A co- da-se sedar o paciente, posicioná-lo em
lheita de qualquer decúbito lateral ou esternal e proceder à
líquido cavitário de- anestesia local. Com o auxílio de um ca-
ve ser precedida de teter venoso, uma válvula de três vias e
procedimento anti- uma seringa, introduz-se o cateter cuida-
Figura 6 - Representação esquemática da elevação da retenção de séptico do local de dosamente no quarto EIC (preferencial-
sódio como mecanismo secundário de formação de efusões. Notar a acesso e conduzida mente pelo lado direito), na altura da
concentração elevada de sódio plasmático com o auxílio de junção costocondral, em direção ao co-
agulhas hipodérmi- ração, até que se perceba a resistência
de sódio pelos rins 6. A retenção de sódio cas, cateteres, válvulas de três vias e oferecida ao cateter pelo pericárdio, mo-
e de água é considerada um fator que seringas 2,12,13,14. mento no qual a punção é realizada 3.
contribui para a formação de efusão
visto que, em muitas situações, a reten- Toracocentese AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E
ção de sódio – e a conseqüente retenção A efusão pleural apresenta-se fre- CITOLÓGICA DAS EFUSÕES
de água – busca refazer o volume san- qüentemente de forma abundante e bila- A avaliação físico-química e citológica
güíneo circulante em virtude da perda teral, mas pode aparecer de forma mo- das efusões corporais apresenta normal-
de fluido vascular que ocorre em algu- derada, unilateral e/ou compartimentali- mente grande valor diagnóstico e pos-
mas enfermidades 8. Contudo, essa re- zada. Exames radiográficos e ultra-so- sibilita, inclusive, o estabelecimento do
tenção hidrossalina impede a queda da nográficos podem auxiliar a determinar diagnóstico etiológico ou, com maior fre-
pressão hidrostática e o aumento da a extensão e a localização da efusão, qüência, a identificação geral do distúrbio
pressão oncótica na microcirculação, além de guiar a toracocentese nos casos de base que levou à efusão cavitária 18. As
colaborando com a manutenção ou a in- de efusões compartimentalizadas. Se o efusões devem ser avaliadas segundo ca-
tensificação do quadro efusivo 5 (Figura 6). fluido não estiver compartimentalizado, racterísticas físico-químicas de cor, as-
A retenção de sódio e de água ocorre em a toracocentese deve ser realizada com pecto, concentração protéica, odor e den-
algumas enfermidades, como glome- o paciente em decúbito esternal, na por- sidade, características citológicas – por
rulonefrite, insuficiência cardíaca con- ção ventral do tórax, entre o sétimo e o meio da contagem global e diferencial das
gestiva e cirrose hepática 6,7,9. oitavo espaços intercostais (EIC) 15. De- células nucleadas – e avaliação morfoló-
ve-se acoplar à seringa uma válvula de gica dessas células e, quando necessário,
FORMAS DE APRESENTAÇÃO três vias e uma agulha hipodérmica ou do exame bacteriológico do fluido 19,20.
DAS EFUSÕES um cateter, e o líquido colhido deve ser
Uma coleção líquida pré-formada, acondicionado em tubo contendo anti- CARACTERÍSTICAS
localizada em cavidades corporais, pos- coagulante EDTA, para contagem glo- FÍSICO-QUÍMICAS
sui designação especial 11. As cavidades bal das células nucleadas, análise pro- Cor
do corpo nas quais há formação de téica e avaliação citoscópica do fluido 12. A coloração normal de um fluido cavi-
efusões são os espaços pleural, peri- tário varia entre incolor e amarelo palha,
toneal e pericárdico, e o acúmulo de Abdominocentese muito embora as efusões possam apre-
líquido nessas cavidades são denomina- A abdominocentese é usualmente rea- sentar várias colorações, dependendo dos
dos, de acordo com a natureza da lizada após os exames radiográficos e componentes presentes no fluido. Efu-
coleção, em: hidrotórax, piotórax, he- ultra-sonográficos, e tem como objetivo sões contendo bilirrubina têm, normal-
motórax, quilotórax, ascite ou hidrope- confirmar a suspeita de fluido peritoneal mente, coloração amarelo escuro; eritró-
ritôneo, hemoperitônio, hidropericárdio livre 16. A paracentese abdominal deve ser citos e/ou hemoglobina são componentes
e hemopericárdio . 6,9,11
realizada com o paciente em decúbito de fluidos vermelhos a acastanhados; a
lateral, que propicia a punção do líquido presença de bile, comumente, confere cor
COLHEITA DAS EFUSÕES pela linha média, um a dois centímetros marrom a líquidos intracavitários 19,20.
As técnicas de colheita de efusões caudalmente à cicatriz umbilical, com o
abdominais, torácicas e pericárdicas são auxílio de seringas, agulhas hipodérmi- Aspecto
similares, com pequenas adaptações 12. cas ou cateteres 3,12,16. O esvaziamento da O aspecto da efusão está relacionado
Antes da colheita do material, devem bexiga deve preceder a intervenção na ao número total e à natureza das células
ser utilizadas técnicas exploratórias cavidade abdominal, para evitar a ocor- presentes no fluido, podendo apresen-
como raios-x e ultra-som, a fim de se rência de cistocentese acidental 3,15. tar-se límpido ou turvo em efusões com
localizar o local ideal da punção, bem pouca ou elevada celularidade, respecti-
como estimar o volume da efusão lí- Pericardiocentese vamente 19,20.
quida 2. A drenagem de uma efusão pos- A pericardiocentese é um procedi-
sui valor terapêutico e, adicionalmente, mento relativamente seguro e necessário Odor
permite a colheita de material, que pode para a monitoração do paciente por De maneira geral, os líquidos cavitários

82 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


são inodoros, a menos que estejam asso- são mais adequadas 15. Vários tipos de é o tipo celular mais comumente encon-
ciados a processos putrefativos. Assim, células podem ser encontrados nas efu- trado nos fluidos cavitários normais ou
essa característica apresenta pouco signi- sões, e suas porcentagens podem variar não inflamatórios 3. Outras células
ficado diagnóstico 19. em função da causa do acúmulo de flui- encontradas nas efusões, embora menos
do (Figura 7). Nos líquidos cavitários freqüentes, são os eosinófilos, os mas-
Densidade normais, podem ser identificados pe- tócitos e as células neoplásicas 20. Os eo-
A densidade de um líquido cavitário quenas quantidades de células mesote- sinófilos são observados em efusões se-
normal é inferior a 1,017; contudo, va- liais, fagócitos mononucleares, linfóci- cundárias a mastocitomas e a reações
lores superiores podem ser encontrados tos e neutrófilos 3. Os neutrófilos estão alérgicas ou de hipersensibilidade. Já as
em efusões cuja concentração protéica presentes na maioria das efusões de ori- células mastocitárias podem estar asso-
esteja elevada 19. gem inflamatória; de outra parte, peque- ciadas a mastocitomas e a desordens in-
nos linfócitos encontram-se presentes flamatórias. As células neoplásicas são
Concentração protéica em número reduzido em muitas efusões, constatadas em efusões que têm como
A determinação da concentração de e podem se constituir no tipo de célula causas de fundo diferentes neoplasias:
proteínas de um líquido cavitário deve mais abundante em efusões quilosas, tais células esfoliam-se nas cavidades
ser realizada a partir do sobrenadante de oriundas de linfossarcomas 15. As células corporais (Figura 8). Os eritrócitos tam-
uma amostra centrifugada, visto que a mesoteliais compreendem o revesti- bém podem estar presentes nas efusões,
turvação interfere na avaliação do teor mento seroso das cavidades pericárdica, evidenciando um processo hemorrági-
protéico, tanto por refratometria quanto pleural e peritoneal, e estão presentes nos co, ou mesmo uma contaminação no
por espectrofotometria 3,21. A concentra- fluidos cavitários, sob formas isoladas momento da colheita 15.
ção protéica e a enumeração das células ou em grupos celulares, mas em núme-
nucleadas são utilizadas na classificação ro reduzido. Porém, quando há um pro- Avaliação morfológica das células
da efusão e na elaboração da lista de cau- cesso irritativo na cavidade, tais células nucleadas
sas prováveis à sua formação 3,15. A con- sofrem hiperplasia e esfoliam-se facil- Morfologicamente, os neutrófilos
centração de proteínas em um fluido ca- mente 18. O macrófago, provavelmente, podem ser classificados em normais e
vitário normal não ultrapassa 2,5g/dL 12. degenerados 15. Os neutrófilos estão pre-
sentes nas efusões quando há demanda
Aureo E. Santana

CARACTERÍSTICAS CITOLÓGICAS para uma ação microfagocitária-infla-


Contagem global das células nucleadas matória – especialmente na presença de
A contagem global das células nu- bactérias, como resultado da ação de to-
cleadas pode ser realizada pelos mes- xinas bacterianas –; nesses casos, os
mos métodos de contagem total de leu- neutrófilos entram em processo degene-
cócitos no sangue, sejam eles manuais rativo 15,20.
ou automáticos 20. Para prevenir a for- Os linfócitos isentos de alterações e en-
mação de coágulo no fluido – o que re- contrados nas efusões cavitárias caracte-
duziria a contagem celular –, a amostra rizam-se por apresentar citoplasma ri-
deve ser coletada em tubo contendo niforme, núcleo redondo – preenchendo
EDTA 12. Outro fator que pode influir na Figura 7 - Fotomicrografia de efusão abdomi- quase a totalidade da célula –, e croma-
nal. Observar a presença de células mesote-
enumeração das células nucleadas é a liais reativas, macrófago vacuolizado, mastóci-
tina condensada 3. Alterações morfoló-
fragmentação celular, achado freqüente to, neutrófilo segmentado e algumas hemácias. gicas de linfócitos são evidenciadas em
nas efusões. Em um líquido cavitário MMG. (Objetiva de 100X) efusões linfossarcomatosas, cujas células
sem alterações, espera-se uma conta- presentes podem ser linfócitos jovens,
Aureo E. Santana

gem de células nucleadas inferior a também denominados linfoblastos 15.


3000 células por microlitro (µL) 20,21. As células mesoteliais reacionais, ba-
sofílicas e acidófilas são células esfolia-
Contagem diferencial das células das a partir do mesotélio de revestimento
nucleadas visceral e parietal, que se alteram mor-
A contagem diferencial das células fologicamente em resposta a um pro-
nucleadas de uma efusão é realizada a cesso irritativo intracavitário 18. No caso
partir de um esfregaço confeccionado das células neoplásicas, independen-
diretamente, ou após centrifugação da temente do tipo celular envolvido, de-
amostra, dependendo da celularidade vem ser observadas alterações morfoló-
desta 12. Esfregaços de amostras homo- gicas que evidenciem processo de ma-
Figura 8 - Fotomicrografia de efusão peritoneal
geneizadas são adequados para fluidos de mesotelioma em cão. Observar tamanho exa-
lignidade 20. Contudo, a avaliação mor-
com contagens superiores a 5000 célu- gerado da célula vacuolizada, binucleada, com fológica das células mesoteliais, no que
las por microlitro; porém, em líquidos um dos núcleos em posição angular e outro cen- diz respeito a características malignas,
cavitários com contagens inferiores, a tral. O núcleo central revela a presença de qua- deve ser realizada com cautela pois, em
tro nucléolos bem distintos e de várias silhuetas
centrifugação e a preparação da exten- de nucléolos inconspícuos permeando cromati- casos de irritação da cavidade e prolife-
são a partir das células sedimentadas na descondensada. MMG (Objetiva de 100X) ração desse tipo celular, observa-se uma

84 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


variedade de alterações morfológicas, entre 2,5 e 5,0g/dL, e a contagem total Exsudatos não sépticos
geralmente displásicas, que podem ser de células nucleadas varia entre 1000 e Quando do exame de um exsudato
confundidas com características neo- 8000 células por microlitro (µL) 12. Os não séptico, verificam-se elevadas con-
plásicas 1. resultados da análise de uma efusão centrações de proteína, e a contagem ce-
cavitária podem justapor dados que lular é predominantemente representada
Exame bacteriológico classifiquem-na entre transudato puro e por neutrófilos íntegros, com uma pe-
O exame bacteriológico deve ser transudato modificado e, nessas cir- quena quantidade de neutrófilos hiper-
conduzido com o auxílio de esfregaço e cunstâncias, a concentração de proteí- segmentados e células picnóticas 2,12. Va-
cultivo, sendo recomendada a cultura nas do fluido tem papel decisivo na riadas condições clínicas – como perito-
para bactérias aeróbicas e anaeróbicas classificação do tipo de efusão 15. Ao nite infecciosa felina, corpo estranho es-
se a avaliação citológica sugerir um exame microscópico, a população celu- téril na cavidade corporal, pancreatite,
processo infeccioso 15,19. lar presente em um transudato modifica- esteatite, bile ou urina na cavidade, neo-
do encerra a presença de eritrócitos, plasias e torção ou inflamação de órgãos
CLASSIFICAÇÃO DAS EFUSÕES neutrófilos, linfócitos, macrófagos, cé- – podem resultar na formação desse tipo
A classificação das efusões auxilia a lulas mesoteliais e, em algumas situa- de exsudato 15,22,27.
determinação do mecanismo pelo qual ções, eosinófilos e mastócitos 23.
elas ocorreram. Os critérios utilizados Os mecanismos envolvidos na for- Exsudatos sépticos
na classificação das efusões incluem a mação do transudato modificado são o Os exsudatos sépticos apresentam ca-
contagem global de células nucleadas e aumento da pressão hidrostática ou a racterísticas semelhantes àquelas dos
a concentração protéica do fluido 15. As obstrução da drenagem linfática, haven- exsudatos não sépticos no que se refere
efusões podem ser classificadas em do o extravasamento de fluido com alta à concentração de proteína e à contagem
transudatos puros, transudatos modifi- concentração protéica 15. No âmbito clí- celular. Porém, citologicamente, esse ti-
cados, exsudatos sépticos e exsudatos nico, a insuficiência cardíaca congestiva po de efusão engloba, predominante-
assépticos 15,21,22,23. é a enfermidade mais comumente asso- mente, neutrófilos degenerados e ma-
ciada à formação de efusões transudati- crófagos, além da possível observação
Transudatos puros vas modificadas, muito embora as ate- da presença de bactérias no próprio es-
Os transudatos são efusões que apre- lectasias, as torções agudas de órgãos, a fregaço 15. Outros microrganismos –
sentam concentração protéica e celulari- obstrução das veias cava cranial, caudal como fungos e micoplasmas – também
dade reduzidas 12. Esses fluidos apresen- ou hepática por neoplasias ou trauma, a podem ser responsáveis pelo surgimen-
tam coloração clara – normalmente lím- pericardite constritiva, ou as enfermida- to de exsudatos sépticos e podem ser
pidos a ligeiramente turvos –, concentra- des que resultem em hipertensão portal observados no esfregaço 22.
ção de proteínas inferior a 2,5g/dL e também possam originar a formação A formação de exsudato séptico
menos de 1000 células nucleadas por mi- desse tipo de líquido cavitário 12. ocorre pela introdução de microrganis-
crolitro 2. Citoscopicamente, observa-se mos em uma cavidade corporal, seja por
uma população celular mista contendo Exsudatos contusões perfurantes, perfurações do
eritrócitos, neutrófilos, macrófagos, lin- O exsudato é caracterizado por con- trato intestinal, migração de corpo estra-
fócitos e células mesoteliais basofílicas 14. centração de proteínas superior a nho, ruptura pulmonar, abscessos hepá-
Efusões transudativas ocorrem em 3,0g/dL e contagem de células nuclea- ticos ou prostáticos, piometra, pneumo-
resposta à elevação da pressão hidrostá- das superior a 7000 células por microli- nia, pleurite, sepse bacteriana e, ainda,
tica vascular ou à queda da pressão co- tro, composta predominantemente por por infecções fúngicas, parasitárias e
loidosmótica vascular 3. As condições neutrófilos e menor número de macrófa- ricketsias 12,21.
clínicas que resultam na formação desse gos e linfócitos. Alguns fluidos podem
tipo de fluido incluem: queda na produ- apresentar características mistas de EFUSÕES DE DESORDENS
ção de albumina, observada em pacien- transudatos modificados e exsudatos e, ESPECÍFICAS
tes com insuficiência hepática crônica, nesses casos, a contagem total de célu- Uroperitônio
má-nutrição, má-digestão ou má-absor- las nucleadas deve ser adotada como o O uroperitônio é definido como o acú-
ção; aumento da perda de albumina, que parâmetro que diferenciará o tipo de mulo de urina na cavidade peritoneal por
pode ocorrer na glomerulonefrite, na efusão 15. Nos exsudatos, causas infla- extravasamento de urina a partir dos rins,
síndrome nefrótica e em enteropatias; matórias infecciosas e não-infecciosas do ureter, da bexiga ou da uretra. Em cães
ou ainda a hipertensão portal pré-hepáti- são, via de regra, distintas no exame mi- e gatos, esse tipo de efusão comumente
ca ou pós-hepática e a obstrução da dre- croscópico, o que implica a classifica- resulta de traumas abdominais ou pélvi-
nagem linfática 16,24,25,26. ção em exsudatos sépticos e não sépti- cos 28,29. Esse fluido, quando analisa do la-
cos, respectivamente 18. Os exsudatos re- boratorialmente, apresenta características
Transudatos modificados sultam do extravasamento de fluido de exsudato, em decorrência da irritação
Freqüentemente, os transudatos modi- através da parede vascular devido ao au- causada pela urina ao peritônio 23. A men-
ficados têm apresentação física semelhan- mento da permeabilidade endotelial, suração simultânea da concentração de
te àquela dos transudatos puros. Entretan- que decorre de um processo inflamató- uréia e/ou creatinina do fuido abdominal
to, a concentração de proteínas de um rio presente na cavidade corporal da e do soro do paciente auxilia no diagnós-
transudato modificado está compreendida efusão líquida 27. tico do uroperitônio pois, nesse tipo de

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 85


efusão, a concentração de tais substân- soro do paciente; nos casos de efusão valores superiores a 32% de gamaglo-
cias será superior à concentração sérica 15. biliosa, a concentração de bilirrubina bulinas têm mostrado grande correlação
O conteúdo protéico do fluido pode se será superior na efusão 15. com a doença 3,32. Citologicamente, os ti-
apresentar baixo devido à diluição causa- pos celulares predominantes são neutró-
da pela urina, mas a contagem celular e a Efusão hemorrágica filos íntegros e alguns macrófagos e lin-
população celular predominante geral- A efusão hemorrágica pode ser resul- fócitos 2.
mente indicam a presença de um exsuda- tante de traumas hepáticos ou esplêni-
to inflamatório 3. cos, torção esplênica, defeitos de coagu- CONSIDERAÇÕES FINAIS
lação, injúrias a um vaso sangüíneo e As efusões são formadas a partir de
Efusão quilosa neoplasias 14. Citologicamente, esse tipo processos patológicos capazes de alterar
O quilo é uma emulsão de quilomi- de efusão apresenta grande quantidade a interação das forças existentes nos es-
crons e linfa presente no ducto torácico 22. de eritrócitos e pequena quantidade de paços intra e extravasculares.
A formação da efusão quilosa ocorre em plaquetas: cerca de 10% a 25% da con- As características da efusão refletem
casos de ruptura ou obstrução do ducto centração de plaquetas do sangue peri- os mecanismos responsáveis por sua
torácico e, freqüentemente, apresenta-se férico do paciente 31. Em hemorragias formação. Por essa razão, deve-se reali-
de forma bilateral, embora a ascite qui- com duração superior a um dia, a ava- zar a colheita e a análise do fluido para
losa também possa ocorrer 12,30. Esse tipo liação microscópica do fluido eviden- que, de acordo com suas características
de fluido caracteriza-se pela coloração ciará a presença de eritrofagocitose, di- físico-químicas e citológicas – em con-
branca e opaca mesmo após a centrifu- ferenciando o processo de contamina- junto com o conhecimento dos mecanis-
gação e, citologicamente, os componen- ção sangüínea iatrogênica embora, em mos de formação das efusões – seja pos-
tes celulares predominantes são os pe- hemorragias superagudas, possa haver a sível identificar o distúrbio de base que
quenos linfócitos, embora em alguns ausência de eritrofagocitose 15. Muitas levou à efusão cavitária ou mesmo, em
casos observe-se a predominância de das efusões pericárdicas são classifica- algumas situações, alcançar um diagnós-
neutrófilos e macrófagos 15. A efusão das como efusões hemorrágicas, parti- tico etiológico.
quilosa é classificada como um transu- cularmente nos cães, e podem ser resul-
dato modificado, mas a concentração tado de neoplasias, hemorragias pericár- REFERÊNCIAS
protéica do quilo pode se constituir em dicas idiopáticas, traumas, coagulopa- 01-KJELDSBERG, C. R.; KNIGHT, J. A. Pleural
and pericardial fluids. In: KJELDSBERG, C. R.;
um parâmetro difícil de ser avaliado, tias e ruptura atrial, como seqüela de in- KNIGHT, J. A. Body fluids. 3. ed. Chicago,
visto que a alta turbidez desse fluido in- suficiência de válvula mitral 3. 1992, p. 159-222.
terfere na mensuração das proteínas. 02-MEYER, D. J.; FRANKS, P. T. Effusions:
Sendo assim, a confirmação da efusão Efusão neoplásica Classification and Cytologic Examination. In:
quilosa deve compreender a mensura- As efusões podem ocorrer secunda- MEYER, D. J.; FRANKS, P. T. Veterinary
Laboratory Medicine - In Pratice, The
ção da concentração de triglicérides, riamente a neoplasias e, em situações Compendium Collection. New Jersey, 1993,
que deve ser superior a 100mg/dL do em que a neoplasia esfolie suas células, p. 86-91.
fluido 15. O diagnóstico desse tipo de o diagnóstico pode ser feito citoscopica- 03-SHELLY, S. M. Fluidos de Cavidades Corporais.
efusão é relevante, pois pode influir no mente. Em neoplasias não esfoliativas, In: SHELLY, S. M. Atlas de Citologia de Cães
e Gatos. 1. ed. São Paulo: Roca, 2003, p. 157-
manejo e no prognóstico do paciente 2. o líquido formado classifica-se como 171.
um transudato modificado e, se houver 04-BRIGHT, J. M. Peripheral Edema. In:
Efusão biliosa inflamação, em exsudato 15. Destacam- ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Textbook
A efusão biliosa resulta da ruptura ou se como neoplasias comumente relacio- of Veterinary Internal Medicine. 4. ed.,
Philadelphia: Saunders, 1995, p. 100-103.
injúria ao ducto biliar, ou seja, a bile ex- nadas a efusões os carcinomas, os ade- 05-ROCHA, A.; SILA, A. M. Distúrbios da
travasada torna-se uma substância irri- nocarcinomas, os linfomas, os heman- Circulação. In: FILHO, G. B.; PITTELA, J. E.
tante à cavidade peritoneal, promoven- giossarcomas, os mesoteliomas e os H.; PEREIRA, F. E. L.; BAMBIRRA, A. J. A.
do um processo inflamatório não sépti- mastocitomas 12. Patologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
1994, p. 89-110.
co quando agudo mas que, em estágios 06-MEGNER, W. J.; TRUMP, B. F. Distúrbios
posteriores, pode se tornar séptico 12. Peritonite infecciosa felina Hemodinâmicos. In: RUBIN, E.; FABER, J. L.
Geralmente, essa efusão apresenta colo- A peritonite infecciosa felina, em sua Patologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
ração amarronzada a esverdeada, che- forma efusiva, pode promover o acúmu- 2002, p. 275-300.
gando a intensamente amarelada. Ao lo de fluido no abdômen e/ou tórax, e a 07-JONES, T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W.
Disturbances of Circulation. In: JONES, T. C.;
exame citológico, o pigmento biliar avaliação dessa efusão pode conduzir o HUNT, R. D.; KING, N. W.; Veterinary
pode ser encontrado no interior dos ma- clínico à obtenção de um diagnóstico Pathology. 6. ed. Pensilvania, 1996, p. 159-176.
crófagos. A população celular predomi- presuntivo da enfermidade 15. Essa efu- 08-COTRAN, R. S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S. L.
nante é constituída por neutrófilos dis- são é classificada como exsudato não Hemodinamic Disorders, Thombosis and Shock.
In: COTRAN, R. S.; KUMAR, V.; ROBBINS,
cretamente degenerados e, em menor séptico, cuja concentração protéica é su- S. L; Pathologic Basis of Disease. 5. ed.
quantidade, por outros tipos celulares 3. perior a 3,5g/dL, com contagem total de Philadelphia: Saunders, 1994, p. 93-135.
Quando a coloração do fluido sugere a células nucleadas compreendida entre 09-NETTO, M. B.; SANTOS, J. L.; MONTENEGRO,
presença de bile, a concentração total de 1000 e 30000 células por microlitro 12. A M. R. Pertubações Circulatórias. In: MONTE-
NEGRO, M. R.; FRANCO, M. Patologia:
bilirrubina deve ser mensurada simul- eletroforese desse fluido pode ser útil Processos Gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu,
taneamente no fluido abdominal e no no auxílio diagnóstico da enfermidade: 1999, p. 95-107.

86 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


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88 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Osteossarcoma Lucia Maria Guedes Silveira
MV, MsC, profª adj.

extra-esquelético no tecido
FMV/Universidade Paulista
lmgsilveira@hotmail.com

subcutâneo de um cão: Fernando Malagutti Cunha


MV, MsC, prof. adj.

relato de caso
FMV/Universidade Paulista
nandomalagutti@hotmail.com

Caio Biasi
MV, prof.
Extraskeletal osteosarcoma in the FMV/Universidade Paulista

subcutaneous tissue in a dog: case report Priscyla Taboada Dias da Silva


MV, MsC, patologista
Histopet® - Serv. de Anat. Patológica Veterinária

Osteosarcoma extraesquelético en tejido priscyla.taboada@bol.com.br

subcutáneo de un perro: relato de caso Milton Kolber


MV, MsC, DVM, prof. adj.
FMV/Universidade Paulista
mkolber@uol.com.br
Resumo: O osteossarcoma extra-esquelético é uma desordem neoplásica maligna rara no cão, cujo diagnóstico baseia-se na
histopatologia e no descarte da existência de sítio neoplásico ósseo primário por meio de exames apropriados. Um cão da raça
labrador retriever, fêmea, com oito anos de idade, foi atendido no serviço de cirurgia do Hospital Veterinário da Universidade Cássio Ricardo Auada Ferrigno
Paulista, apresentando formação de consistência firme no tecido subcutâneo da região torácica lateral esquerda. O diagnósti- MV, MsC, DVM, prof. dr.
co baseou-se na análise histológica e na exclusão de neoplasia esquelética primária por meio de exames radiográficos. O cão Depto. de Cirurgia/FMVZ/USP
foi submetido à quimioterapia com doxorrubicina e carboplatina, porém 50 dias após o diagnóstico, foi notificado o óbito do cassioaf@terra.com.br
paciente.
Unitermos: Oncologia, neoplasia, tecidos moles

Abstract: Extraskeletal osteosarcoma is a rare malignant neoplasm in dogs. The diagnosis is based on histopathology and on
the exclusion of primary osseous neoplastic foci through appropriate exams. An eight-year-old female Labrador Retriever was
presented to the surgical service of the Veterinary Hospital from Universidade Paulista with a hard subcutaneous mass on the
left lateral thoracic region. Diagnosis was reached through histological analysis and exclusion of primary skeletal neoplasia by dias, acompanhada por disorexia e apa-
radiographic exams. The dog was submitted to chemotherapy with doxorubicin and carboplatin. However, the patient came to
die 50 days after the diagnosis. tia. Ao exame físico, observou-se estado
Keywords: Oncology, neoplasia, soft tissues geral regular, parâmetros vitais inaltera-
Resumen: Osteosarcoma extraesquelético es una enfermedad neoplásica maligna rara en el perro, cuyo diagnóstico se basa dos, linfonodos periféricos sem altera-
en la histopatología y en el descarte de sitio neoplásico óseo primario a través de exámenes apropiados. Un perro Labrador ções e presença de formação de consis-
Retriever, hembra, con ocho años, fue atendido en el servicio de cirugía del Hospital Veterinario de la Universidad Paulista,
presentando formación de consistencia firme en tejido subcutáneo de la región torácica lateral izquierda. El diagnóstico fue tência firme com cerca de 15 centíme-
fundado por análisis histológico y exclusión de neoplasia esquelética primaria a través de exámenes radiográficos. El perro fue tros de diâmetro, indolor, em tecido
sometido a quimioterapia con doxorrubicina y carboplatino, pero 50 días después del diagnóstico fue notificada la muerte del
paciente. subcutâneo e aderida à camada muscu-
Palabras clave: Oncología, neoplasia, tejidos blandos lar, situada em região torácica lateral es-
querda próxima à axila (Figura 1).
Clínica Veterinária, n. 64, p. 89-90, 2006 Foi realizada biópsia incisional e o ma-
terial colhido foi encaminhado para aná-
INTRODUÇÃO presença de critérios histopatológicos lise histológica, que revelou proliferação
Os osteossarcomas extra-esqueléti- próprios, representados pela obser- tecidual mesenquimal em arranjo ran-
cos são neoplasias mesenquimais ma- vação de células neoplásicas produ- dômico, células neoplásicas poligonais e
lignas produtoras de matriz osteóide, toras de os teóide primitivo ou pobre- fusiformes apresentando citoplasmas
mas que não emergem do sistema ósteo- mente organizado 3,11-13. A terapia para
articular 1-5. Esses tumores podem aco- osteossarcomas extra-ósseos envolve
meter tecidos moles, vísceras e glându- excisão cirúrgica ampla e/ou quimiote-
las, e são considerados raros no cão 1,3-7. rapia 5,11,14. O prognóstico é considerado
Osteossarcomas extra-ósseos não têm desfavorável em virtude do curto perío-
Lucia Maria Guedes Silveira

causa definida, embora alguns registros do de sobrevida, resultante do compor-


sugiram a participação de células pluri- tamento biológico extremamente agres-
potenciais indiferenciadas na etiopato- sivo dessa neoplasia 1-3,5,7,10,12.
gênese dessa alteração 8,9. A enfermidade
acomete principalmente animais idosos, RELATO DE CASO
não havendo predileção racial ou sexual Um labrador retriever, fêmea, de oito
definida 1,10,11. anos de idade, foi apresentado ao servi-
O diagnóstico dos osteossarcomas ço de cirurgia do Hospital Veterinário
extra-esqueléticos baseia-se na ausência da Universidade Paulista, com queixa
Figura 1 - Osteossarcoma extra-esquelético.
de evidências físicas e/ou radiográficas principal de massa de rápido crescimen- Observar formação localizada em região de
de tumor esquelético primário e na to em parede torácica havia cerca de 20 parede torácica esquerda

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 89


amplos e basofílicos, núcleos REFERÊNCIAS

Priscyla Taboada Dias da Silva


grandes e pleomórficos e nu- 01-LANGENBACH, A.; ANDERSON,
M. A.; DAMBACH, D. M.;
cléolos múltiplos. Também SORENMO, K. U.; SHOFER, F. D.
foram observadas síntese de Extraskeletal osteosarcomas in dogs: a
matriz osteóide com diversas retrospective study of 169 cases (1986-
áreas de mineralização e tra- 1996). Journal of the American
Animal Hospital Association, v. 34, n. 2,
béculas ósseas, bem como fi- p. 113-120, 1998.
guras de mitose atípica em 02-PARDO, A. D.; ADAMS, W. H.;
elevada freqüência, o que levou McCRACKEN, M. D.; LEGENDRE, A.
ao estabelecimento do diagnós- M. Primary jejunal osteosarcoma asso-
ciated with a surgical sponge in a dog.
tico de osteossarcoma osteo- Journal of the American Veterinary
blástico produtivo (Figura 2). Medical Association, v. 196, n. 6,
O hemograma indicou anemia p. 935-938, 1990.
normocítica normocrômica 03-PATNAIK, A. K. Canine
moderada e o perfil bioquími- extraskeletal osteosarcoma and
chondrosarcoma: a clinicopathologic
co, valores situados dentro dos Figura 2 - Células mesenquimais neoplásicas delineando trabéculas study of 14 cases. Veterinary
padrões de referência habi- ósseas mineralizadas - osteossarcoma osteoblástico produtivo (HE 400X) Pathology, v. 27, n. 1, p. 46-55, 1990.
tualmente adotados. Realizou- 04-RINGENBERG, M. A.; NEITZEL,
se minucioso exame físico do esqueleto um labrador retriever, fêmea, de oito L. E.; ZACHARY, J. F. Meningeal osteosarcoma
(axial/apendicular) e avaliação radio- anos de idade. Osteossarcomas cutâ- in a dog. Veterinary Pathology, v. 37, n. 6,
neos e subcutâneos sem envolvimento p. 653-655, 2000.
gráfica integral e seriada de seus consti-
tuintes ósseos, descartando-se a existên- ósseo pri mário são considerados 5-SCHENA, C. J.; STICKLE, R. L.; DUNSTAN, R.
W.; TRAPP, A. L.; REIMANN, K. A.; WHITE, J.
cia de focos neoplásicos primários nessa raros, com menção a apenas cinco V.; KILLINGSWORTH, C. R.; HAUPTMAN, J.
estrutura. O estudo radiográfico toráci- casos em cães domésticos em toda a G. Extraskeletal osteosarcoma in two dogs.
co demonstrou presença de formação literatura compulsada 13. Não há Journal of the American Veterinary Medical
Association, v. 194, n. 10, p. 1452-1456, 1989.
com aproximadamente cinco centíme- predileção racial ou sexual claramente
tros de diâmetro em campo pulmonar definida 1,10,11
. 6-JERAJ, K.; YANO, B.; OSBORNE, C. A.;
WALLACE, L. J.; STEVENS, J. B. Primary
cranial esquerdo, sugerindo afecção A ausência de evidências físicas e/ou hepatic osteosarcoma in a dog. Journal of the
metastática. Não havia alterações vis- radiográficas de comprometimento es- American Veterinary Medical Association,
cerais abdominais dignas de nota à quelético e detecção de alterações histo- v. 179, n. 10, p. 1000-1003, 1981.
ultra-sonografia. Os dados compilados lógicas clássicas, destacando-se a pre- 07-KIPNIS, R. M.; CONROY, J. D. Canine
na anamnese e nos exames físico e por sença de tecido mesenquimal composto extraskeletal osteosarcoma. Canine Practice,
v. 17, n. 1, p. 34-37, 1992.
imagem, aliados às informações por células neoplásicas produtoras de
08-SEILER, R. J. Primary pulmonary osteosarcoma
fornecidas pela análise his topatológica matriz osteóide, contemplaram os prin- in a dog with associated hypertrophic osteopathy.
inicial, permitiram diagnosticar osteos- cipais critérios diagnósticos previamen- Veterinary Pathology, v. 16, n. 3, p. 369-371,
sarcoma extra-esquelético de tecido te propostos 3,11,12. 1979.
subcutâneo. Embora haja um tipo de neoplasia 09-THOMSEN, B. V.; MYERS, R. K. Extraskeletal
Dada a inviabilidade de excisão ci- cutânea benigna com diferenciação osteosarcoma of the mandibular salivary gland in
óssea (osteoma), e outras que sofram a dog. Veterinary Pathology, v. 36, n. 1, p. 71-
rúrgica, optou-se pela adoção de qui- 73, 1999.
mioterapia, utilizando-se um protocolo metaplasia óssea, como por exemplo o
10-BARDET, J. F.; WEISBRODE, S.; DeHOFF, W.
alternando doxorrubicina na dose de
a
pilomatricoma, a análise histopatológi- D. Extraskeletal osteosarcomas: literature review
30mg/m2 endovenosa e carboplatina b na ca realizada no caso estudado permitiu a and a case presentation. Journal of the
dose de 300mg/m2 pela mesma via, com diferenciação para com tais afecções, American Animal Hospital Association, v. 19,
assim como o estabelecimento do n. 5, p. 601-604, 1983.
intervalo de 21 dias entre a administra-
ção destes fármacos. Cinqüenta dias diagnóstico de osteossarcoma osteo- 11-KUNTZ, C. A.; DERNELL, W. S.; POWERS, B.
E.; WITHROW, S. Extraskeletal osteosarcomas
após o diagnóstico, foi informado o óbi- blástico produtivo localizado em tecido in dogs: 14 cases. Journal of the American
to do cão. subcutâneo 13. Animal Hospital Association, v. 34, n. 1, p. 26-30,
1998.
DISCUSSÃO CONCLUSÕES 12-FOX, L. E.; KING, R. R.; MAYS, M. C.;
O osteossarcoma extra-esquelético é Considerando as informações obtidas ACKERMAN, N.; COOLEY, A. J.; MEYER, D.;
BOLON, B. Primary pulmonary osteosarcoma in
uma neoplasia maligna de origem me- na literatura consultada, concluiu-se que a dog. Journal of Small Animal Practice, v. 35,
senquimal cuja ocorrência já fora docu- osteossarcoma extra-esquelético em te- n. 6, p. 329-332, 1994.
mentada em vísceras 1-3, sistema nervoso cido subcutâneo é uma enfermidade 13-GOLDSCHMIDT, M. H.; SHOFER, F. S. Skin
central 4, glândulas salivares 9 e mamas 11. neoplásica rara no cão. tumors of the dog & cat. Oxford: Pergamon
O presente trabalho relata um caso des- A associação entre os dados forneci- Press, 1992. p. 291-295: Uncommon skin
tumors.
sa enfermidade no tecido subcutâneo de dos pelos exames físico e radiológico
completo e os estudos histológicos da 14-RODASKI, S.; DE NARDI, A. B. Quimiotera-
pia antineoplásica em cães e gatos. Curitiba:
a) Adriblastina 50mg. Farmitália. Rui de Janeiro, RJ
formação subcutânea foi satisfatória Editora Maio, 2004. p. 161-224: Protocolos
b) Carboplatina 150mg. Günther. São Paulo, SP para estabelecer o diagnóstico. quimioterápicos antineoplásicos.

90 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


RESPONSABILIDADE TÉCNICA ENTOMOLOGIA E ACARALOGIA

O
livro Manual de Responsabi-
A obra Ento-
Divulgação

lidade Técnica para Clínicas mologia &

Divulgação
Veterinárias e Pet Shops é um dos Acarologia na
mais recentes lançamentos da L.F. Medicina Vete-
Livros. Sergio Lobato, autor da rinária, de Ni-
obra, é médico veterinário forma- colau M. Serra-
do pela Universidade Federal Freire e Rubens
Rural do Rio de Janeiro; pós-gra- Pinto de Mello,
duado em marketing pela Univer- foi recém lan-
sidade Estácio de Sá; freqüente- çada pela L.F.
mente convidado para palestras Livros, com
em vários eventos técnicos na- aproximada-
cionais e internacionais; consultor mente 200 pá-
de marketing aplicado à medicina ginas, diversas
veterinária e proprietário da Sergio figuras, ilustra-
Responsabilidade técnica, Lobato Soluções em Pet ções e esque-
assunto tratado a fundo por
Sergio Lobato Marketing. mas. Trata-se
Como as palestras e treinamen- de uma obra de
tos feitas por Sergio Lobato são bastante requisitadas, seu livro grande utilida-
Entomologia e Acaralogia na Medicina Vete-
deve seguir a mesma tendência. de para a identi- rinária, uma importante obra para consultas
O conteúdo do livro é composto pelos temas: conceito de res- ficação dos prin-
ponsabilidade técnica; responsabilidade técnica e formação pro- cipais ectoparasitas e no reconhecimento de alguns ver-
fissional; o responsável técnico e o mercado pet; sugestões de tebrados envolvidos na casuística clínica do homem e
roteiros de tarefas em responsabilidade técnica; aspectos gerais da dos animais domésticos, relacionados aos aspectos de
responsabilidade técnica. Além desses temas, o livro também vetoração de agentes patógenos ou então como causado-
aborda as leis, os decretos, as resoluções e as portarias rela- res de acidentes graves por substâncias tóxicas por eles
cionadas ao setor. produzidas.
L.F. Livros: (21) 2270-1979 L.F. Livros: (21) 2270-1979
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ABOLICIONISMO ANIMAL OBSTETRÍCIA VETERINÁRIA

J aulas vazias: encarando o de-


safio dos direitos animais é A Editora Roca
traz à classe

Divulgação
mais uma obra que tem como médica veterinária a
objetivo a nossa reflexão sobre obra Obstetrícia Ve-
os conceitos éticos envolvidos na terinária, de Peter
Divulgação

utilização do animais pelos hu- G G Jackson, da


manos. Após esta reflexão e che- Universidade de
gando-se a conclusão de que os Cambridge, do Rei-
animais têm tanto direito à vida, no Unido.
quanto qualquer humano, talvez As 328 páginas
não se possa falar de utilização da obra são bem
ética de animais, pois na grande ilustradas e abor-
maiorias dos casos, utilizar os dam, entre outras
animais já passaria a ser anti- informações, a dis-
ético. tocia e a cesariana
Seu autor, Tom Reagan, é pro- na cadela, na gata,
fessor emérito de filosofia na na vaca, na égua, na
“Em um mundo onde a exploração Universidade da Carolina do ovelha, na cabra e Lista de verificação do obstetra: novi-
de outras espécies tornou-se meca- dade incluída na 2ª edição da obra
nizada e institucionalizada, os ani- Norte, sendo reconhecido mun- na porca; problemas
mais necessitam um porta-voz. dialmente como um dos maiores pós-parto em grandes animais, na cadela e na gata; e
Essa voz pertence a Tom Regan.” nomes da bioética. também técnicas para a prevenção da distocia.
Jim Motavalli,
editor da Editora Lugano: (51) 3466-4721 Editora Roca: (11) 3331-4478
E: The Environmental Magazine www.luganoeditora.com.br www.editoraroca.com.br

92 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


PURINA PRO PLAN E MELHORAMENTOS TRAZEM AO
BRASIL GUIAS DE RAÇAS DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

A Purina Pro Plan e a Editora Melho- raças nacio-

Divulgação

Divulgação
ramentos firmam parceria e lançam nais: o fox pau-
a primeira edição das versões brasileiras listinha e o fi-
dos livros “Os Cães” e “Os Gatos”, do la brasileiro.
autor David Taylor. De origem inglesa, Para ganhar
os guias são práticos e trazem, consoli- um exemplar
dados em mais de 200 páginas, a origem de “Os Cães”,
e características de mais de 100 raças de basta o consu-
cães e 80 de gatos; orientações e cuidados midor adquirir
especiais; comportamento; importância um pacote de
da posse responsável; dicas para viagem e 15kg ou duas
treinamento; entre outras informações. embalagens de
Para tornar a leitura mais interessante, os 10,1kg de ra-
guias trazem fotos detalhadas dos ani- ção Purina Pro
mais. Plan para
O conteúdo foi revisado por veteriná- cães. Já para De forma didática e divertida, livros reúnem informações, fotos, curiosidades
rios e juízes de raças da Confederação quem prefere e características de 180 raças de cães e gatos
Brasileira de Cinofilia (CBKC), “Os Gatos” é
garantindo a qualidade das informa- só adquirir um pacote de 10,1kg ou três casas do ramo. Os livros podem ser en-
ções, inclusive em função das dife- embalagens de 3kg de ração para gatos contrados nas melhores livrarias do
renças climáticas entre os países. Além Purina Pro Plan. A ação é de abrangên- País, Os Cães (R$ 89,00) e Os Gatos
disso, o guia de cães acrescentou duas cia nacional e contempla pet shops e (R$ 69,00).
Bem-estar animal

WSPA lançou Declaração Universal de Bem-Estar Animal


Documento estabelece proteção animal como
importante meta para o desenvolvimento social das nações

C om a proximidade da Semana dos


Animais, junto ao dia 4 de outubro –
dia de São Francisco de Assis – a WSPA
maus-tratos bilhões de animais em todo o
mundo, criando normas e padrões a
serem seguidos por todos os países mem-
que o bem-estar inclui zelar pela saúde
dos animais e que os médicos veteriná-
rios possuem um papel essencial na ma-
(Sociedade Mundial de Proteção Ani- bro da ONU. nutenção da saúde e bem-estar desses
mal) se antecipou e realizou o lançamen- Durante o lançamento oficial do do- animais; que os humanos partilham o
to de campanha que promove a Declara- cumento – que ocorreu no simpósio de planeta com outras espécies e formas de
ção Universal de Bem-Estar dos Ani- afiliadas da WSPA, em Londres, Noah vida, co-existindo num ecossistema in-
mais. A exposição de fotos ‘Animais em Wekesa, ministro da Educação, Ciência e terdependente; e que é de extrema impor-
Foco’, realizada no hall de entrada do Tecnologia do Quênia disse que, apesar tância o trabalho contínuo da Organiza-
Senado Federal, em Brasília, teve início das diferenças sociais, econômicas, reli- ção Mundial para a Saúde Animal na
no dia 28 de agosto, indo até 14 de se- giosas e culturais é dever de cada socie- criação de normas globais que asse-
tembro e marcou o lançamento da cam- dade cuidar e tratar dos animais de forma gurem o bem-estar animal.
panha. humana e sustentável.
Essa exposição itinerante internacio- Nesse sentido, a de-
nal está sendo exibida em vários países claração estabelece o
do mundo. “Mais do que um alerta, direito à vida, destacan-
‘Animais em Foco’ é um chamado para do a presença humana
que o governo e a sociedade despertem como parte de um
para o entendimento de que os animais ecossistema que deve
são seres sencientes, providos de sensa- ser reconhecido e res-
ções e sentimentos”, destaca Antônio Au- peitado para que haja
gusto Silva, gerente de campanhas da harmonia e equilíbrio
WSPA Brasil. entre as sociedades.
A WSPA lançou, em junho deste ano, Algumas das emendas
um importante documento para estabele- propostas estabelecem
cer critérios uniformes para a proteção
dos animais em todo o mundo. Trata-se
da Declaração Universal de Bem-Estar
Animal. O documento integra a campa-
www.wspabrasil.org
nha da WSPA ‘Os animais são impor-
tantes para mim’ e estabelece diretrizes Assine a petição
A WSPA Brasil recolherá assinaturas durante a
básicas de bem-estar, reconhecendo os exposição de fotos 'Animais em Foco', que acontece
animais como seres senscientes e sua no hall de entrada do Senado Federal, em
proteção como importante meta para o Brasília, de 28 de agosto a 4 de setembro. Também é
pleno desenvolvimento social das nações possível assinar a petição via internet no endereço
eletrônico www.animalsmatter.org
de todo o mundo. Assiná-la pode ajudar na obtenção do reconhecimento
O objetivo é recolher 10 milhões de e da proteção dos animais de todo o mundo, unindo a
assinaturas e encaminhar o documento à sua voz à de 10 milhões para apoiar a campanha.
Os animais e o tratamento que lhes damos são importantes, incluindo o seu. Faça com que os
ONU. Com isso, a WSPA pretende ga- animais sejam importantes para o Governo. Faça saber ao seu governo que os animais são importantes
rantir métodos efetivos para livrar dos para você

96 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


Por Sergio Lobato

Ajustando sua rotina e


evitando problemas www.sergiolobato.com.br

T odos os dias recebo mensagens com


vários questionamentos sobre como o
marketing pode ajudar o médico veterinário
impressos que devemos aprender a escre-
ver são o receituário e a ficha de anamnese
e que seremos, assim, capazes de resolver
lençóis, quando os clientes que, antes tão
amigos, tão compreensivos, se posiciona-
rem muitas vezes de forma agressiva e, em
a aumentar seus lucros no dia-a-dia da clíni- nossos problemas e estabelecer nossa rela- casos extremos, acusatória. Aí escutamos
ca, se o marketing pode aumentar o número ção com os clientes de forma profissional. as frases clássicas: “Nossa, e eu fiz de tudo!
de clientes, se o marketing os ensinará a Ledo engano! Até atender na casa dele, sem cobrar, eu
vender mais, afinal “marketing é vendas, Não estamos acostumados a pensar que fui!”, “Eu sempre dei desconto para essa
não é mesmo Sergio?” o registro de nossas ações dentro da clíni- pessoa e agora ela me ataca” ou “Por que
Bem, vamos começar a pôr alguns pin- ca é muito importante, pois em tempos de ela que sempre vinha aqui à clínica me tro-
gos nos “is” e dizer que antes de campanhas Códigos de Defesa do Consumidor, é de cou por outro?”
promocionais dos sonhos, eventos e estraté- extrema necessidade a criação de um Lembre-se: por mais carinhosa, simpáti-
gias comerciais arrojadas, o clínico veteriná- “back up” de tudo o que se “fala”, “expli- ca e sorridente que ela possa parecer, ela é
rio deverá estar atento ao velho ditado “por ca”, “comenta” ou “orienta” aos clientes. sua cliente!!! Ela deve ser tratada de forma
fora bela viola, por dentro pão bolorento” e Pense na criação de um programa de docu- profissional!
voltar seus olhos para dentro dos seus negó- mentos importantes para sua segurança e
cios e literalmente arrumar a casa no que diz para o profissionalismo de seu negócio: Treinamento diário da
respeito à rotina auxiliar dos serviços veteri- - ficha de cadastro; equipe de trabalho
nários. - termos de autorização (cirurgia, interna- É fundamental que toda esta rotina faça
O termo auxiliar em um primeiro mo- ção, exames, transporte e serviços acessó- parte da política organizacional, da cultura
mento pode ser mal interpretado, como rios); do negócio e todos os que trabalham de-
algo que não tem uma devida importância - contratos de prestação de serviços (afinal vem entender a importância de todas estas
e que pode ser relegado a um segundo somos prestadores de serviços, não so- rotinas para a própria sobrevivência do es-
plano. mos?); tabelecimento onde trabalham.
Porém, são essas rotinas e ferramentas - protocolos de atendimento; Você, como gestor e líder, deve assumir
auxiliares, notadamente do universo adminis- - modelos de prontuário; a responsabilidade de explicar cada vez
trativo, que são extremamente importantes - cartas de autorização; com mais freqüência e com muito cuidado
para prevenir uma série de problemas que - receituários; a todos os seus funcionários como preen-
ocorrem em clínicas e consultórios de todo - cartas para especialistas; cher, organizar e guardar essas informa-
o Brasil, que se refletem fortemente no rela- - cartas para generalistas; ções tão valiosas.
cionamento com clientes. - solicitação de diagnóstico compartilhado;
Há um grande número de reclamações - atestados de sanidade; Comunicação clara e direta
feitas tanto pelos clínicos quanto por pro- - atestados de óbito; É indiscutível que a comunicação entre
prietários de animais de estimação que, - solicitações de exames auxiliares. as pessoas é algo muito difícil e que deve-
quando avaliadas e analisadas mais cuida- mos ser capazes de diminuir cada vez mais
dosamente, conclui-se que poderiam ter Definição clara do papel os ruídos que prejudicam esta comunica-
sido evitadas desde que houvesse o se- cliente e profissional ção.
guinte conjunto de ações de forma profis- Outro ponto crítico dentro do atendi- Seja assertivo, direto e claro. Deixe bem
sional: mento médico veterinário, que leva à uma claro como são os procedimentos do esta-
- criação de um protocolo definido de aten- situação que em um primeiro instante pode belecimentos, bem como valores e formas
dimento e administrativo; ser vista como uma vitória, é a intimidade de pagamento.
- definição clara do papel cliente e profis- conquistada com o cliente. Crie um mural de avisos que fique bem
sional; Mas até onde deve ir esta intimidade? visível e com todas as informações necessá-
- treinamento diário da equipe de trabalho; Como gerenciar essa tão delicada relação rias para a compreensão do cliente, que de-
- comunicação clara e direta. sem que haja interferência na performance verá ainda ser orientado corretamente sobre
profissional? todas as dúvidas que possam surgir.
Criação de um protocolo definido O maior erro feito pela classe é, de for- Não crie promoções sem que haja algum
de atendimento e administrativo ma simplória, proporcionar benefícios a to- documento escrito sobre isso, pois é neces-
É um dos mais claros pontos de falha na dos os clientes com o objetivo de conquis- sário que todo e qualquer valor agregado
postura do médico veterinário no que diz tá-los e manter sua freqüência de compras seja bem percebido pelo cliente, mas deve-
respeito à sua rotina como gestor de suas e de visitas à clínica. rá estar fundamentado.
ações no dia a dia dentro dos consultórios Peço, encarecidamente, que os colegas E lembre-se: proteja-se contra “clientes-
e clínicas. parem com esse tipo de postura pois, em problemas profissionais”!
Desde nossa formação universitária so- determinados momentos, essa permissivi- Use o marketing como uma ferramenta
mos “adestrados” a acreditar que os únicos dade com certeza os colocará em maus para evitar problemas!

98 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


12, 13 e 14 de outubro de 2006
Escola de Veterinária da UFMG - Belo Horizonte - MG

RELAÇÃO DE TEMAS E PALESTRANTES


!Dermatologia Ronaldo Lucas (Anhembi Morumbi - SP)
!Comportamento animal João Telhado - (UFRRJ - RJ)
!Anestesiologia e choque Denise Fantoni - (USP - SP)
!Nefrologia Juliana Oliveira - (UFMG)
!Neurologia clínica Eliane Gonçalves - (UFMG)
!Neurocirurgia Sandro Alex Stefanes - (UPIS - DF)
!Nutrição Flavia Borges - UFLA
!Diagnóstico por imagem Bruno Divino - (Unipac - MG)
!Fisioterapia Cristina Lamas Silva - (M.V. Autônoma - MG)
!Doenças infectocontagiosas Vitor M. Ribeiro - (PUC MG)
!Doenças infectocontagiosas Múcio Flávio Ribeiro - (UFMG)
!Oncologia Gleidice Lavalle - (UFMG)
!Marketing e administração Francis Flosi - (Quallitas)
!Cardiologia clínica Aparecido A. Camacho - (Unesp Jaboticabal)
!Cardiologia - Imagens Guilherme Albuquerque - (UFMG)
!Bem-estar animal Luís Lago - (UFMG)
!Oftalmologia José Luís Laus - (Unesp Jaboticabal)
!Gastroenterologia Paulo Renato - (UFV - MG)
!Cirurgia Marcelo Teixeira - (UFRPE)

Informações:
ANCLIVEPA MG - Fone: (31) 3297 2282
Av. Raja Gabaglia, 3.601 Sl. 106 - São Bento - Belo Horizonte - MG
Email: anclivepa@anclivepa-mg.com.br

Apoio
LANÇAMENTOS

FORTALECENDO O SISTEMA NATURAL DE


PROTEÇÃO EM CÃES E GATOS

O alimento Pro Plan Adult Sensitive


Skin, que já existia no mercado,
restritas e se-
lecionadas de

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agora também já tem sua versão para fi- proteínas do
lhotes: Pro Plan Puppy Sensitive Skin. salmão, mini-
O novo alimento, formulado com fontes miza o risco
de irritações de
pele asso cia-
SOLUÇÃO das às sen sibi-
CARRAPATICIDA E lidades ali-
SARNICIDA mentares. Con-
tém ainda ní- Novos alimentos da Purina Pro Plan: Pro Plan Puppy Sensitive Skin, Pro

O Laboratório Biovet lançou uma


solução carrapaticida e sarnicida
que visa garantir à saúde e bem-estar dos
vel otimizado Plan Sensitive Skin, Pro Plan Reduced Calorie e Pro Plan Urinary Care
de ácidos gra-
xos ômega 3 e 6, vitaminas, antioxidantes, nutrientes naturais, como a taurina, a me-
cães: o Amitraz 12,5% Biovet. cobre e zinco que proporcionam uma pele tionina e o ácido fosfórico, o alimento
A administração do produto é feita por suave e um pêlo brilhante. ajuda a manter uma leve acidez na urina
meio de pulverização e banho, sendo Outra novidade da marca é a reformu- do gato, reduzindo o risco de formação
encontrado em frascos de 20mL, acondi- lação da ração Pro Plan Reduced Calorie, de cálculos renais. A fórmula apresenta
cionado em cartucho indi- que teve aumento no teor de fibras e re- ainda uma taxa mais elevada de potássio
vidual. dução na taxa de gordura. Desta maneira, em função da redução do nível do mineral
o produto garante uma nutrição apropria- normalmente ocasionada por dietas aci-
da para o animal, reduzindo a gordura dificantes.
corporal e mantendo a massa muscular. Além disso, o Pro Plan Urinary Care
Já para os gatos adultos, a novidade apresenta níveis ideais de proteína de
é a Pro Plan Urinary Care, que auxilia frango, que facilitam a absorção e garan-
Amitraz na prevenção da doença do trato uriná- tem sabor bastante apreciado pelos
12,5% Biovet rio inferior dos felinos. Com base em gatos.

NOVIDADES DA TOTAL ALIMENTOS PARA A ESPÉCIE CANINA

A Total Alimentos, além de dois lança-


mentos inovadores na linha super
premium, a Supreme Yorkshire e a
nização e fortalecimento da marca, re-
conhecimento da linha pela cor azul,
maior presença visual de gôndola e a
combatem os radicais livres; hexameta-
fosfato de sódio, que previne a formação
do tártaro, mantendo a saúde bucal do
Equilíbrio Sensíveis Cães Adultos, feita modernização. cão e Yucca schidigera.
com carne de ovelha, está com novas
embalagens na linha Big Boss, destacan- Supreme Yorkshire é elaborado com Equilíbrio Cães Adultos Sensíveis -
do a real meat, uma partícula exclusiva ingredientes nobres, como carne de fran- Ovelha e Arroz, formulado com proteí-
formulada com carne fresca no processo go, milho, arroz, ovo, semente de linha- na nobre (carne de ovelha) é um alimen-
de co-extrusão, altamente nutritiva. ça, óleo de peixe, polpa de beterraba, to super premium, com combinação de
Alguns dos objetivos com a mudança das óleo de prímula, espinafre, raiz de MOS e FOS (fruto-oligossacarídeo),
embalagens da linha Big Boss, além da chicória, entre outros, enriquecida com inulinas que participam do controle do
valorização dos diferenciais, são padro- complexo de vitaminas, minerais e trânsito intestinal, reduzindo a proba-
ômega 3 e 6. Também contém combi- bilidade de
nação de FOS (fruto-oligossacarídeos) diarréia; com-
e MOS, que contribuem para uma plexo de vi-
ótima saúde taminas, mi-
Divulgação

intestinal do nerais quela-


animal; poli- tos e ômega 3
fenóis de uva e 6; e Yucca
Divulgação

e de chá verde, schidigera.


Divulgação

Novas antioxidantes .
embalagens
naturais que
Divulgação

da linha
Big Boss
Supreme Yorkshire, Equilíbrio Cães
novo alimento super Adultos Sensíveis
premium da Total Ovelha e Arroz

100 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


SUPLEMENTO NUTRICIONAL PARA CÃES túrbios cardiovasculares, entre outras.
Entre os nutrientes presentes no

A linha dottori da Amici foi ampliada


com o lançamento de Vitamici. O
produto, feito para melhorar a qualidade
Dentre os objetivos da utilização
do complexo vitamínico estão: au-
mentar a resposta imunológica do ani-
Vitamici estão: cálcio, fósforo,
potássio, iodo, quelato de co-
bre, quelato de manganês,
de vida dos cães, é um suplemento nutri- mal, melhorando a condição de pele e pe- quelato de zinco, vitaminas A,
cional rico em elementos minerais que- lagem; previnir e reduzir a formação de ra- E, D3, C, B1, B2, B6 e B12, biotina, niaci-
latados e vitaminas essenciais à saúde e dicais livres, diminuindo a incidência de en- na, ácido fólico, ácido pantotênico e
ao bom funcionamento do organismo. fermidades, como cataratas, artrites e dis- extrato de Yucca schidigera.
ROYAL CANIN COM NOVOS ALIMENTOS E PROGRAMAS NUTRICIONAIS
Programa Nutricional Reprodução e para os filhotes, do
O Programa Nutricional Reprodução foi desmame até o 5º mês
elaborado para atender as fêmeas em perío- de idade. Sua composi-
do reprodutivo, desde o primeiro dia do cio ção é rica em energia
até o final do desmame, melhorando a per- me tabolizável, em torno
formance da fêmea e dos seus filhotes. de 4.300kcal/kg; contém
Os alimentos que fazem parte desse ingredientes de alta di-
programa nutricional estão sendo forne- gestibilidade (acima de
cidos com exclusivadade apenas para 90%); vitaminas e mine-
criadores profissionais por meio do pro- rais adaptados à esta fase
grama Professional Breeders. Veja a e baixo teor de amido.

Divulgação
seguir os alimentos que o compõem. Starter é produzida
HT42 d por meio de um proces-
Este alimento é direcionado para so de extrusão diferen-
fêmeas de todas as raças desde o primeiro ciado, que produz cro-
dia do cio até o 42º dia de gestação. quetes bastante aerados,
HT 42d fornece à fêmea pré-gestante facilitando sua reidrata- Maxi babydog
Starter
os nutrientes necessários para manter ção e oferecimento para HT42 d

uma condição física ideal, graças a sua os filhotes que estão iniciando o desmame. ele deve receber essas calorias de ma-
composição rica em energia, proteínas de Maxi babydog neira concentrada.
alta digestibilidade e outros ingredientes Assim como o alimento Starter, Maxi Maxi Babydog satisfaz as necessida-
que atendem as necessidades da fêmea, babydog tem o objetivo de atender as des da primeira etapa de crescimento
assegurando o desenvolvimento embrio- necessidades especiais presentes a partir graças à concentração de energia (em
nário e do feto graças a ação do ácido do 43º dia de gestação até o final do des- torno de 4300kcal/kg), uma quantidade
fólico, dos antioxidantes, EPA e DHA. mame e para os filhotes, do desmame até de cálcio e fosforo adaptada, associada
Starter o 5º mês de idade. A diferença é que à condroitina e à glucosamina para a
As fêmeas durante a lactação e os fi- Maxi babydog tem sua composição ba- construção de uma ossatura harmoniosa
lhotes durante o desmame e o crescimen- lanceada para raças grandes e gigantes. e saudável.
to necessitam de reposição rápida de Nas raças grandes e gigantes, desde o Maxi babydog facilita a preensão do
energia devido ao grande esforço físico a desmame até os 5 meses o crescimento filhote graças aos croquetes de tamanho
que são submetidos. é intenso. Para assegurar o crescimento perfeitamente adaptado à sua mandíbu-
Starter é indicado para as fêmeas das de seu esqueleto, o filhote necessita o la, suficientemente suaves para permitir
raças pequenas e médias, a partir do 43º dobro de energia de um adulto. Como a mastigação sem dificuldade ou reidra-
dia de gestação até o final do desmame, seu sistema digestivo é ainda imaturo, trar até formar uma papinha.
Outras novidades da Royal Canin Labrador Retriever Junior 33
COMPETITION - ENERGY 4300 Competion - Energy 4300 é evitar essa O novo alimento atende melhor a
Para manter a tempera- condição por meio do fornecimento de todas as necessidades dos fi-
lhotes de labrador. O formato do
tura corporal constante, os antioxidantes, que estão presentes na sua croquete, desenvolvido espe-
cães de esporte e trabalho composição. Além disso, o alimento cialmente para a raça, não per-
queimam uma maior quan- mantém grande segurança digestiva gra- mite que o cão coma rápido,
tidade de energia. Devido ças às proteínas altamente digestíveis e favorecendo assim, a sensação
de saciedade.
à intensidade dos exercí- selecionadas para obter um nível de
Pastor Alemão Junior 30
cios, eles também estão assimilação superior a 90%. Essas proteí- Alimento rico em energia para
suscetíveis à maior libera- nas otimizam o tempo de duração no trato que o crescimento dos ossos seja
ção pelo organismo, de digestivo, reduzindo a indigestibilidade e saudável, já que, com 5 meses, o
radicais livres e, conseqüentemente, ao diminuindo, significativamente, o volu- animal atinge 50% de seu peso
adulto.
estresse oxidativo. Um dos objetivos da me de fezes.

Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 101


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A SOS Fauna, dando continuidade ao seu projeto, onde neste está incluso a implantação de dois Centros de
Recepção, Reabilitação e Reintrodução de Avifauna endêmica da Caatinga, necessitará, a partir de janeiro de
2007, de dois profissionais de medicina veterinária para coordenar em parceria com dois biólogos(as) estas duas
unidades (um(a) para cada unidade) acima citadas, trabalhando com aves silvestres apreendidas localmente
(passeriformes e alguns psitacídeos) e na recepção de aves da caatinga apreendidas em SP e anteriormente
reabilitadas em nosso Centro de Manejo sede, no Vale do Ribeira.
Salientamos que ainda precisamos de mais dois profissionais de medicina veterinária para trabalho em Juquitiba,
Vale do Ribeira, a partir de meados de 2007. No Centro de Manejo sede.
As unidades serão implantadas uma no estado da Bahia, próximo ao Raso da Catarina e outra na região da
Chapada do Araripe, em Pernambuco. O trabalho será sempre realizado em parceria com IBAMA, DPF
Departamento de Policia Federal e Ministérios Públicos.
Precisamos que estes profissionais - inicialmente - preencham as seguintes qualificações:
a. tenham residência fixa em São Paulo ou região metropolitana;
b. sejam recém formados ou com pouco tempo de formação;
c. tenham muita iniciativa para solução de problemas;
d. comuniquem-se bem em público;
e. se possível, que falem inglês;
f. que tenham CNH - Carteira Nacional de Habilitação;
g. e principalmente, que amem sua profissão e sobretudo o trabalho com aves silvestres.
Os interessados devem enviar o mais breve possível currículo e texto falando sobre si mesmos para mpr@sos-
fauna.org ou sosfauna@sosfauna.org

Para 2007 (a partir de abril/maio) ainda necessitaremos de mais dois profissionais de medicina veterinária para
trabalhar fixos nos mesmos locais e uma dupla (biólogo(a) e veterinário(a) para circular por todos os Estados da
Bahia, Pernambuco e Paraíba, também trabalhando com avifauna da caatinga.

www.sosfauna.org

Torne-se um associado SOS FAUNA e ajude a


combater o tráfico de animais silvestres
A programação detalhada e sites de eventos
podem ser encontrados em nosso site,
http://www.agendaveterinaria.com.br

NACIONAL

12 a 16 de setembro 18 de setembro 25 a 29 de setembro 5 a 8 de outubro 15 a 20 de outubro


Santos - SP São Paulo - SP Seropédica - RJ; UFRRJ São Paulo - SP Brasília - DF
• IX World Congress of Epilepsia de difícil controle SEMEV 2006 Semana Acadêmica de XVII Reunião Internacional
Veterinary Anaesthesiology ! (11) 3813-6568 ! www.ufrrj.br/eventos/ Veterinária da Universi- de Raiva nas Américas
• VII Congresso Brasileiro semev dade Anhembi-Morumbi ! www.rabies-in-the-
de Cirurgia e Anestesiolo- 19, 21, 26 e 27 de ! da_macruz@hotmail.com americas.org
gia Veterinária setembro
• Meeting of the International Santos - SP 28 a 30 de setembro 8, 15 e 22 de outubro; 5, 16 a 18 de outubro
Veterinary Academy of Odontologia veterinária São Paulo - SP 12, 19 e 26 de novembro Rio de Janeiro - RJ
Pain Management ! (11) 6995-9155 Curso Intensivo Prático de São Paulo - SP I Congresso
! www.cbcav.org.br Ortopedia - CIPO Curso teórico-prático de Internacional
20 a 22 de setembro ! (11) 2157-5838 laboratório clínico de Bem-Estar
São Paulo - SP ! (11) 6995-9155 Animal – Teo-
• 6º Congresso Pau- 2 a 6 de outubro ria, Docência,
lista de Clínicos Veteriná- Santos - SP 9 e 10 de outubro Aplicação
rios de Pequenos Animais 8ª Semana Acadêmica São Paulo - SP ! www.wspabrasil.org
• Pet South America Unimes de Medicina Ve- I Fórum sobre Controle
! www.anclivepa-sp.org.br terinária (VIII SAUMVET) de População de Cães e 16 a 20 de outubro
! www.petsa.com.br ! veterinaria.unimes@ Gatos do Estado de SP Jaboticabal - SP
13 de setembro yahoo.com.br ! ccd@saude.sp.gov.br III Curso Teórico-Prático
São Paulo - SP de Anestesia em
Noite do tegumento 2 a 7 de outubro 12 a 14 de outubro Pequenos Animais
! (11) 5051-0908 24 de setembro; 8, São Paulo - SP Belo Horizonte - MG ! (16) 3209-1300
15 e 22 de outubro VII JOVET - Jornada Aca- 3º Congresso Mineiro da
14 de setembro São Paulo - SP dêmica Veterinária da Anclivepa 16 a 20 de outubro
Porto Alegre - RS Curso de emergências em UniFMU) ! (31) 3297-2282 Valença - RJ
Pancreatite em cães e gatos pequenos animais ! andreamessa@hotmail. III SEMAVET
! (51) 3344-2785 ! (11) 6995-9155 com ! medevet@faa.edu.br

112 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006


A programação detalhada e sites de eventos
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NACIONAL
início - página 112 INTERNACIONAL
21 e 22 de outubro 27 e 28 de outubro 9 e 10 de novembro (11) 6995-9155 29 de setembro a
São Paulo - SP São Paulo - SP Santa Maria - RS 16 de novembro 2 de outubro
Curso teórico-prático de Curso prático: miscelâneas Simpósio Gaúcho São Paulo - SP Lima - Peru
oftalmologia cirúrgicas tóraco-abdomi- de Animais Selvagens Alopecias não inflamatórias The Latin American
! (11) 3082-3532 nais ! (55) 3220-8072 ! (11) 5051-0908 Veterinary Conference 2006
! (11) 2157-5838 ! www.tlavc-peru.org
21 e 22 de outubro 11 e 12 de novembro 22 a 25 de novem-
Londrina - PR 27 a 29 de outubro Curitiba - PR bro 5 a 7 de outubro
Geriatria em animais de Salvador - BA III Curso Teórico e Prático São Pedro - SP Washington - EUA
companhia II Simpósio Baiano sobre Ani- de Ultra-Sonografia X Congresso e XV Encontro 2006 ACVS (American
! (43) 3342-6757 mais Silvestres e Exóticos ! (41) 297-4479 da Abravas College of Veterinary
! gease_ufba@yahoo. ! www.abravas.org.br Surgions) Veterinary
21 e 22 de outubro com.br 11 a 14 de novembro Symposium
Curitiba - PR Brasília - DF 25 e 26 de novembro ! www.acvs.org/Symposium
III Curso Teórico e Prático 28 e 29 de outubro III CONCEVEPA São Paulo - SP
de Eletrocardiograma em Santa Cruz - ES ! (62) 3241- V Ciclo de emergências 6 a 8 de outubro
Pequenos Animais Plantas medicinais e fitote- 3939 ! (11) 3813-6568 Chicago, IL- EUA
! (41) 297-4479 rapia básica Backer's 40th Annual Pet
! www.ruschicolibri.com.br 12, 19 e 26 de novem- 25 a 28 de novembro Industry Trade Show and
23 a 27 de outubro bro; 3 de dezembro Rio de Janeiro - RJ Educational Conference
Campinas - SP novembro (data a confirmar) São Paulo - SP • II Simpósio de ! www.hhbacker.com
Semana Acadêmica Porto Alegre - RS Curso de dermatologia Comportamento e Bem-
Veterinária - UNIP II Ciclo regional de ! 11 a 14 de outubro
! (19) 3776-4080 atualização clínica Praga - República Tcheca
! (51) 3344-2785 31º Congresso
25 a 28 de outubro Mundial da WSAVA
Gramado - RS 2 a 5 de novembro ! www.wsava2006.cz
XVII Congresso Estadual Brasília - DF
de Medicina Veterinária; XXIV Encontro 13 a 17 de janeiro de 2007
II Congresso Estadual da Anual de Etologia Orlando - FL, EUA
Anclivepa-RS (clínica de ! (61) 3307-2294 The North American
felinos, comportamento de Veterinary Conference
cães e gatos, dermatologia 6 a 9 de novembro ! www.tnavc.org
e odontologia); - I Seminá- Ilhéus - BA
rio Nacional de Ética Pro- VI Encontro de 25 a 27 abril de 2007
fissional em Medicina Ve- Med. Vet. do Sul Brasil
terinária; V Encontro de Es- da Bahia & I Sem. 10th World
pecialista em Pequenos de Vigilância Sanitária e Veterinary
Ruminantes do Cone Sul Saúde Pública da UESC Dental Congress
! (51) 3228-1194 ! damvuesc@gmail.com ! www.anclivepa-sp.org.br

114 Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006

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