AULA 14
O MERCANTILISMO
DEFINIÇÃO
Mercantilismo: política econômica das Monarquias
Absolutistas Européias na época do Capitalismo
Comercial (séculos XV-XVIII), que visava o
enriquecimento e o fortalecimento do Estado e da nação;
conjunto de práticas econômicas (não chegou a se
estruturar enquanto doutrina coerente) adotadas pelos
Estados europeus de acordo com suas características
com vistas à obtenção de recursos para a manutenção do
Estado absoluto; por não se constituir em teoria
econômica, o mercantilismo acabou sendo caracterizado
pelos seus críticos, no século XVIII: os fisiocratas e
liberais.
PRINCÍPIOS
 metalismo: idéia segundo a qual uma nação é tanto
mais rica quanto maior for a quantidade de metais
preciosos (ouro e prata) por ela acumulada;
 balança comercial favorável: para garantir o
acúmulo de metais, buscava-se manter a
favorabilidade da balança comercial, isto é, fazer
com que o valor das importações fosse menor que o
das exportações;
 protecionismo: adoção de medidas que impedissem
as importações de certos gêneros, através da
proibição pura e simples e, normalmente, pela
imposição de altas tarifas alfandegárias para
determinados artigos de importação; fomento da
produção interna, a fim de impedir as importações e
favorecer as exportações;
 colonialismo: devido à concorrência entre as
monarquias européias no período, as nações foram
obrigadas a recorrer à posse de colônias, locais onde
o mercantilismo seria aplicado; o comércio colonial,
regulado pelo exclusivo metropolitano (pacto
colonial), garantiu aos países europeus o
enriquecimentos desejado.
“O sistema colonial
A conquista e exploração de colônias é um ponto
essencial das idéias mercantilistas. A expressão clássica
desse fato em nível ideológico é a teoria do pacto
colonial, onde se trai a falsa suposição de que haveria de
fato um pacto ou acordo tácito entre metrópoles e
colônias. Na realidade, porém, a colônia existe em função
e para a metrópole, estando suas relações definidas
através do chamado ‘exclusivo colonial’. A produção das
colônias só é válida na medida em que possibilite lucros
elevados aos comerciantes metropolitanos, detentores do
monopólio sobre o comércio de importação e de
exportação das colônias. A atividade econômica das
colônias deve ser complementar e jamais concorrente em
relação à das respectivas metrópoles. Afinal, as colônias
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têm um papel único a desempenhar, no sentido de
garantir às suas metrópoles os meios de obterem uma
balança comercial favorável nas trocas com outros
países. Na prática, as colônias constituem uma espécie de
território privilegiado, reservado, já que o exclusivo
assegura ao comércio metropolitano a prática mercantil
mais cara à ótica mercantilista: comprar pelo preço mais
barato possível e vender pelo preço mais elevado que se
pudesse conseguir.
Compreende-se, dessa forma, que sempre tenha sido um
ponto de honra proibir o aparecimento de atividades
manufatureiras nas colônias, pois não só fariam
concorrência aos produtos vindos da metrópole, como
desviariam recursos minerais e humanos daquelas
atividades mais lucrativas do ponto de vista
metropolitano. O próprio fluxo de imigrantes ou colonos
para as colônias foi durante muito tempo limitado ou
mesmo proibido, a fim de evitar o despovoamento da
metrópole, entendido tal despovoamento como perda de
homens e acima de tudo de forças produtivas...”
(FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição.
9a.ed, São Paulo, Brasiliense, 1988; pp.79-81)
APLICAÇÕES
A aplicação dos princípios mercantilistas variou conforme o
Estado, sendo que as formas mais conhecidas foram:
 bulionismo: aplicação do mercantilismo pela
monarquia espanhola. Como esta nação descobriu
imensas jazidas de metais preciosos na América,
dedicou-se à exploração de ouro e prata buscando
acumular riqueza em seu tesouro;
 colbertismo: na França, o ministro das finanças de
Luís XIV, Colbert, defendia práticas mercantilistas
que visavam limitar as importações e, ao mesmo
tempo, aumentar o valor das exportações,
estimulando as manufaturas, sobretudo as voltadas
para a produção de artigos de luxo;
 mercantilismo industrial e comercial: a Inglaterra,
desprovida de ricas colônias que pudesse explorar, já
que os países ibéricos haviam dividido entre si as terras
coloniais, investiu no desenvolvimento da frota naval e
na marinha mercante, essenciais para o comércio
externo; além disso, a Coroa britânica, principalmente
no reinado de Elizabeth I, favoreceu abertamente a
pirataria e o contrabando.
O SISTEMA COLONIAL
O pleno funcionamento do mercantilismo dependia da
posse de colônias cujo comércio pudesse ser controlado. As
nações européias, sobretudo Portugal e Espanha,
conseguiram estabelecer sua hegemonia sobre os territórios
recém-descobertos na América, instituindo o pacto colonial
(exclusividade do comércio das colônias reservada para a
metrópole). Nas terras americanas, os ibéricos
desenvolveram a colonização, impondo, com violência, o
chamado sistema colonial.
A América pré-colombiana
O continente americano, antes da chegada dos
europeus apresentava as seguintes formas de
organização social:
 comunidades tribais: presentes em todo o continente
americano, desde a América do Norte até o sul do Chile
e Argentina, caracterizavam-se por possuir organização
igualitária e coletivista. Os meios de produção - terra e
alguns instrumentos de trabalho - eram propriedade
coletiva da comunidade que sobrevivia graças a
atividades como caça, pesca, coleta e cultivo de alguns
poucos produtos agrícolas. Não havia divisão de classes
sociais, daí o igualitarismo, e o chefe da comunidade
era, normalmente, um ancião, considerado mais sábio,
que orientava os guerreiros no momento dos combates
ou os membros da aldeia em caso de necessidade;
 altas civilizações (astecas, maias e incas): essas
sociedades desenvolveram-se, respectivamente, no
vale do México, na América Central continental e
nos Andes peruanos; contavam com estrutura social
rigidamente hierarquizada em grupos, praticando
uma agricultura de regadio altamente sofisticada e
chefiadas por um monarca de poderes absolutos, a
quem pertenciam os meios de produção e a quem se
deveria pagar os tributos.
A colonização da América
A colonização das terras americanas variou, não
conforme o grupo colonizador, mas segundo as
características naturais e sociais de cada região. Assim
contamos com os seguintes tipos de colonização:
 Colônias de povoamento: em regiões, onde a ex-
ploração mercantilista era dificultada pelas condições
naturais (clima, sobretudo), como ocorria no norte dos
atuais Estados Unidos, predominaram as colônias de
povoamento, áreas para onde afluiu uma população
interessada em fixar-se e reestruturar sua vida a partir
dos padrões culturais europeus. As principais
características dessas colônias era o predomínio de
pequenas propriedades agrícolas (minifúndios),
dedicadas ao cultivo de diversos gêneros alimentícios
(policultura) para o abastecimento do mercado
consumidor interno. O trabalho era livre e assalariado,
fazendo com que, nessas áreas, as diferenças sociais e
políticas não fossem tão acentuadas quanto aquelas
presentes nas regiões onde predominou a utilização do
trabalho negro escravo.
 Colônias de exploração: surgiram onde era possível
obter riqueza a partir da exploração da natureza e
população nativas, como no sul dos atuais Estados
Unidos (cultivo do tabaco e do algodão), no Brasil e
no Caribe (produção de açúcar, tabaco e cacau) e nas
regiões mineradoras do México e do Peru. Nestas
últimas, os espanhóis extraíam ouro e, principal-
mente, a prata utilizando o trabalho compulsório da
abundante população indígena, sujeita aos regimes
de encomienda e mita. A mita estabelecia que os
indígenas, em troca da doutrina católica oferecida
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pelos espanhóis, fossem retirados de suas
comunidades para trabalhar nas minas por um prazo
determinado e sob um pagamento irrisório.
Terminado o período de prestação de serviços
obrigatórios, normalmente bastante longo, o nativo
poderia voltar a sua comunidade de origem. Já a
encomienda, sistema mais utilizado pelos espanhóis,
sobretudo na região do México, consistia na
exploração dos nativos como servos nos campos e
nas minas. A Coroa concedia a um indivíduo
(encomiendero), mediante uma antecipação dos
lucros a ela devidos, o direito de utilizar o trabalho
de indígenas em suas terras ou minas, desde que ele
se comprometesse a “educar os gentios na fé cristã”.
Ambas representavam formas de escravidão
disfarçada, pois as leis espanholas proibiam a escra-
vização dos ameríndios.
No sul dos Estados Unidos, no Brasil e no Caribe a
exploração colonial organizou-se segundo o regime
de plantation: grande propriedade (latifúndio), dedi-
cada ao cultivo de um único gênero de grande valor
comercial (monocultura) para o mercado externo,
utilizando, para isso, a mão-de-obra escrava africana.
Resultados da colonização
 conquista da América, processo normalmente
violento que levou à morte milhões de nativos
(genocídio), além de ter contribuído para a
dizimação da rica cultura ameríndia;
 enriquecimento da Europa, graças à exploração das
riquezas da América;
 subdesenvolvimento para as atuais nações latino-
americana, principais vítimas da ganância e
exploração dos europeus.
“Com tiros de arcabuz, golpes de espada e sopros de
peste, avançavam os implacáveis e escassos
conquistadores da América. É o que contam as vozes
dos vencidos. Depois da matança de Cholula,
Montezuma envia novos emissários ao encontro de
Fernão Cortez, que avança rumo ao vale do México.
Os enviados presenteam os espanhóis com colares de
ouro e bandeiras de penas de quetzal. Os espanhóis,
‘deleitavam-se. Como se fossem macacos levantavam
o ouro, como que se encantassem, gestos de prazer.
Como que se lhes renovasse e iluminasse o coração.
Como que certo é que isso desejam com muita sede.
Se lhes incha o corpo por isto. Como uns porcos
famintos que anseiam pelo ouro’, diz o texto náhuatl,
preservado pelo Códice Florentino. Mais adiante,
quando Cortez chega a Tenochtitlán, a esplêndida
capital asteca de 300 mil habitantes, os espanhóis
entram na casa do tesouro, ‘e logo fizeram uma
grande bola de ouro, e puseram fogo, incendiaram,
atearam fogo a tudo que restava, por mais valioso que
fosse: com o que tudo ardeu. E em relação ao ouro, os
espanhóis o reduziram a barras...’
Houve guerra, e finalmente Cortez, que havia perdido
Tenochtitlán, a reconquistou em 1521. ‘E já não
tínhamos escudos, já não tínhamos bordunas, e nada
tínhamos de que comer, já nada comíamos.’ A cidade
devastada, incendiada e coberta de cadáveres, caiu.
‘Com os escudos foi seu resguardo, mas nem com
escudos pode ser sustentada sua solidão.’...”
(In GALEANO, Eduardo. As veias abertas da
América Latina. 22a.ed, Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1986, pp.30-31)

Autor: Jorge Miklos

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