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BRASPEN
JOURNAL
Volume 33 | Número 1 | Janeiro-Março/2018
BRASPEN JOURNAL
Publicação Oficial
Brazilian Society of Parenteral Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE)
and Enteral Nutrition Federación Latinoamericana de Nutrición Parenteral y Enteral (FELANPE)
Indexada na base de dados LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
Editorial/ Editorial
Diga Não à Desnutrição…........................................................................................................................................................................... 1
Say No to Malnutrition
Diogo Oliveira Toledo
Concentrações de vitamina D em crianças e adolescentes com encefalopatia crônica não evolutiva, relação com a
condição nutricional................................................................................................................................................................................... 3
Vitamin D concentrations in children and adolescents with chronic non-evolutionary encephalopathy, relationship with
nutritional status
Tiago Donizeti Bertolacini da Silva, Fabíola Isabel Suano de Souza, Roseli Oselka Saccardo Sarni
Associação entre o estado nutricional e a presença de toxicidade gastrointestinal em pacientes com câncer de mama................. 9
Association between nutritional status and the presence of gastrointestinal toxicity in patients with breast cancer
Ellen Maria Custodio dos Santos, Laura Mata Lima da Silva, Eduila Maria Couto Santos, Larissa dos Santos Souza
Análise do conhecimento e consumo de alimentos fontes de fósforo por pacientes portadores de insuficiência renal
crônica em tratamento dialítico.............................................................................................................................................................. 15
Analysis of knowledge and consumption of food sources of phosphorus by patients with chronic renal failure in dialysis treatment
Laura Cristina Monteiro Felix, Valeska Carla Morais de Medeiros, Viviane Bressane Claus Molina
Uso de indicadores antropométricos para avaliação da adiposidade corporal em idosos no sul do Brasil..................................... 39
Using of the anthropometrics indicators to evaluate of body adiposity in the elderly in Southern Brazi
Vanessa da Silva Sopeña, Bruna Celestino Schneider, Andreia Morales Cascaes, Alexandre Emidio Ribeiro Silva, Silvana Paiva Orlandi
Fatores associados à não utilização de suplemento antianêmico por gestantes de alto risco de Alagoas, Brasil........................... 43
Associated factors to non-use of antianemic supplementation by high risk pregnant women in Alagoas, Brazil
Raphaela Costa Ferreira, Luiz Gonzaga Ribeiro Silva Neto, Marilene Brandão Tenório, Alane Cabral Menezes de Oliveira
Interações fármaco-nutrição enteral em unidade de terapia intensiva: determinação de prevalência e significância clínica....... 49
Drug-enteral nutrition interactions in intensive care unit: determination of prevalence and clinical significance
Débora Lima Barbosa, Soraida Sozzi Miguel, Rita de Cássia Azevedo Couto Cornélio, Mariana Macedo Alvim,
Carolina Fraga Paiva, Ludmila de Souza Caputo
Rev Bras Nutr Clin 2014; 29 (2): XX-XX
3
Faintuch J & Ramos O
Terapia nutricional enteral em uma Unidade de Terapia Intensiva: prescrição versus infusão......................................................... 54
Enteral nutritional therapy on Intensive Therapy Unit: prescription versus infusion
Mayara Ribeiro de Mendonça, Gleyciane Guedes
Terapia nutricional enteral: relação entre percentual de dieta prescrito e administrado e intercorrências associadas em
58
hospital público de Salvador-BA.............................................................................................................................................................
Enteral nutritional therapy: relationship between the percentage of prescribed and administered diet and associated complications in a
public hospital of the city of Salvador-BA
Aline Luquini Santos, Thaisy Cristina Honorato Santos Alves
Alta frequência de síndrome metabólica e sua relação com o baixo consumo alimentar de proteínas em mulheres com
diagnóstico de diabetes gestacional prévio..........................................................................................................................................64
High frequency of metabolic syndrome and its relation to low dietary intake of protein in women with previous gestational diabetes
Mário de Almeida Pereira Coutinho, Rosália Gouveia Filizola, Expedicto Afonso de Macedo, Maria da Conceição Rodrigues
Gonçalves, Luiza Sonia Rios Asciutti, Azamor Cirne de Azevedo Filho, Maria José de Carvalho Costa, Christiane Carmem Costa do
Nascimento, Carla Patrícia Novaes dos Santos Fechine
Adesão ao tratamento dietético em portadores de diabetes mellitus assistidos pela estratégia saúde da família........................ 76
Adherence to dietary treatment in patients with diabetes mellitus assisted by family health strategy
Tallita Barbosa Monteiro dos Santos, Betânia de Jesus e Silva de Almendra Freitas
Campanha “Diga não à desnutrição”: 11 passos importantes para combater a desnutrição hospitalar........................................... 86
Campaign “Say no to malnutrition”: 11 important steps to fight hospital malnutrition
Diogo Oliveira Toledo, Silvia Maria Fraga Piovacari, Lilian Mika Horie, Liane Brescovici Nunes de Matos, Melina Gouveia Castro,
Guilherme Duprat Ceniccola, Fabiano Girade Corrêa, Ivens Willians Silva Giacomassi, Ana Paula Noronha Barrére, Leticia Fuganti
Campos, Cristiane Comeron Gimenez Verotti, Claudia Satiko Takemura Matsuba, Rodrigo Costa Gonçalves, Haroldo Falcão, Rogério
Dib, Thais Eliana Carvalho Lima, Ivens Augusto Oliveira de Souza, Maria Cristina Gonzalez, Maria Isabel Davidson Correia
Uso terapêutico adjuvante de probióticos no efeito tardio da radioterapia pélvica: a retocolite ulcerativa................................. 101
Therapeutic adjunctive use of probiotics in the late effect of pelvic radiotherapy: ulcerative colitis
Juliana Dalapicula do Amaral, Angela Regina Binda da Silva de Jesus
RESUMO
Tiago Donizeti Bertolacini da Silva¹
Fabíola Isabel Suano de Souza² Objetivo: Descrever as concentrações de vitamina D em crianças e adolescentes com encefalopatia
Roseli Oselka Saccardo Sarni3 crônica não evolutiva (ECNE). Relacionar, nesses pacientes, as concentrações de vitamina D com
as de paratormônio, cálcio, fósforo e fosfatase alcalina e com a condição nutricional. Método:
Foi realizado estudo transversal, com pacientes portadores de ECNE. Dados coletados: idade,
causa da ECNE, morbidades associadas, uso de medicamentos e suplementos, reabilitação e
exposição solar; peso, estatura e nível de comprometimento funcional. Coletaram-se 15 mL de
sangue para determinação das concentrações de 25-OH-D3, fósforo, cálcio, fosfatase alcalina
e paratormônio. Resultados: Entre os 20 pacientes, 13 (65%) eram do sexo masculino, 14
(70%) pré-púberes e a mediana de idade foi 6,4 anos. A principal causa da ECNE foi a anóxia
perinatal em 11 (55%) e a maioria dos pacientes tinha importante comprometimento funcional.
Baixa estatura e magreza foram as alterações mais comuns, atingindo 11 (55%) e 6 (30%) dos
pacientes, respectivamente. Valores de 25-OH-D3 < 20 ng/mL foram observados em 3 (15%)
pacientes. Crianças que utilizaram gastrostomia para terapia nutricional tinham concentrações
mais elevadas de 25-OH-D3 em comparação às que usavam exclusivamente a via oral para
oferta de dieta. As concentrações de 25-OH-D3 se associaram de forma inversa e estatisticamente
significante com o escore ZIMC. Conclusões: A deficiência de vitamina D foi observada em 15%
dos pacientes com ECNE avaliados e não se associou com outros marcadores do metabolismo
ósseo. As concentrações de 25-OH-D3 foram superiores nos pacientes com gastrostomia e se
correlacionaram de forma inversa com o escore ZIMC.
ABSTRACT
Objective: To describe the concentrations of vitamin D in children and adolescents with cerebral
palsy (CP). To relate, in these patients, vitamin D concentrations with those of parathyroid hormone,
Unitermos:
Vitamina D. Paralisia Cerebral. Estado Nutricional. calcium, phosphorus and alkaline phosphatase and with nutritional status. Methods: A cross-
sectional study was performed with patients with CP. Data collected: age, cause of CP, associated
Keywords: morbidities, use of medications and supplements, rehabilitation and sun exposure; weight, height
Vitamin D. Cerebral Palsy. Nutritional Status. and level of functional impairment. 15 mL of blood was collected for determination of 25-OH-D3,
phosphorus, calcium, alkaline phosphatase and parathyroid hormone concentrations. Results:
Endereço para correspondência: Among the 20 patients, 13 (65%) were male, 14 (70%) were prepubescent and the median age
Roseli Oselka Saccardo Sarni was 6.4 years. The main cause of CP was perinatal anoxia in 11 (55%) and most patients had
Rua Renê Zamlutti 94/52 – Vila Mariana – São Paulo, significant functional impairment. Low stature and thinness were the most common alterations,
SP, Brasil – CEP: 04116-260 reaching 11 (55%) and 6 (30%) of the patients, respectively. 25-OH-D3 values < 20 ng / mL
E-mail: rssarni@gmail.com
were observed in 3 (15%) patients. Children who used gastrostomy for nutritional therapy had
Submissão: higher concentrations of 25-OH-D3 compared to exclusively oral use for dietary supplementation.
10 de fevereiro de 2017 Concentrations of 25-OH-D3 were inversely and statistically significantly associated with BMIZ
score. Conclusions: Vitamin D deficiency was observed in 15% of patients with assessed CP and
Aceito para publicação: were not associated with other markers of bone metabolism. 25-OH-D3 concentrations were
4 de maio de 2017 higher in gastrostomy patients and correlated inversely with the BIMZ score.
1. Acadêmico do 5º ano do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP, Brasil.
2. Professora Auxiliar do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC. Professora Adjunto do Departamento de Pediatria da
Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil.
3. Professora Titular Livre Docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC. Médica Assistente do Departamento de
Pediatria da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil.
na forma de escore Z. Os pontos de corte utilizados para Uso de via alternativa de alimentação (gastrostomia) foi
o diagnóstico antropométrico foram os propostos pela constatada em 7 (35%) das crianças e adolescentes, sendo
Organização Mundial de Saúde7. que 5/7 (71,4%) e 2/7 (11,8%) usavam a gastrostomia
4) Classificação do nível de comprometimento funcional: (GTM) associada à via oral e de forma exclusiva para oferta
foi utilizada a Classificação da Função Motora Grossa da dieta, respectivamente. 17 em 20 (85%) dos pacientes
(Gross Motor Function Classification System - GMFCS) faziam reabilitação regularmente (fisioterapia – 75%, fonote-
para ECNE, baseando-se no movimento iniciado volunta- rapia – 65%, terapia ocupacional – 30%, equoterapia - 10%
riamente, enfatizando particularmente o sentar e o andar8. e hidroterapia – 10%).
5) Avaliação laboratorial: foram coletados 15 mL de sangue Quanto à condição nutricional, baixa estatura e magreza
periférico, no período da manhã, após jejum de 8 horas. foram as alterações mais comuns, atingindo 11 (55%) e 6
As amostras foram acondicionadas em tubos secos e foto- (30%) dos pacientes, respectivamente. Apenas 2 crianças
protegidos, refrigeradas e, imediatamente, transportadas tinham sobrepeso. Não houve diferença estatisticamente
para o Laboratório, onde foram centrifugadas (1500 significante em relação à condição nutricional (ZIMC e ZEI)
rpm por 10 minutos) e aliquotadas. Destas alíquotas foi e o uso ou não de gastrostomia.
realizada a dosagem plasmática de: Os anticonvulsivantes foram os medicamentos mais
a. Vitamina D: 25-OH - vitamina D25 (OH) D3 por utilizados nessa população - 15 (75%). Uso de suplemento
eletroquimioluminescência. Valores abaixo de 20 ng/ medicamentoso contendo vitamina D isolada ou associada
mL foram considerados como deficiência9. Marcadores a outras foi observado em 6 (30%) das crianças e adoles-
do metabolismo de vitamina D: paratormônio (PTH) por centes. A dose variou de 400 a 800 UI ao dia de vitamina
imunofluorimetria (referência: 11 a 67 pg/mL), cálcio D. Exposição solar regular foi referida em 13 (65%) dos
ionizado (colorimétrico, referência: 4,0 – 5,4 mg/dL), pacientes. Essa exposição acontecia pela manhã, em média
fósforo (colorimétrico, referência: 2,7 a 4,5 mg/dL) e quatro vezes por semana e por volta de 34,0±18,9 minutos.
fosfatase alcalina (colorimétrico, referência < 1100 U/L). Na Tabela 1, estão apresentadas as médias dos valores
b. Função renal: ureia (colorimétrico), creatinina (colori- de vitamina D, PTH, cálcio e fosfatase alcalina dos pacientes
com ECNE. Foram observados valores de 25-OH-D3 < 20
métrico) e ácido úrico (colorimétrico).
ng/mL em 3 (15%) pacientes. Em comum, essas crianças
c. Marcadores inflamatórios: proteína-C-reativa ultrassen-
foram classificadas pela GMFCS como nível V, recebiam
sível (PCR-us, imunoturbidimetria, referência: < 3 mg/dL). dieta exclusivamente por via oral, usavam pelo menos duas
A análise estatística foi feita com os dados digitados em classes de anticonvulsivantes e não tomavam nenhum tipo
tabela do Excel (Microsoft®) e foram analisados no Pacote de suplemento medicamentoso de vitamina D.
Estatístico SPSS 24.0 (IBM®). Utilizou-se o teste do Qui- Não foram observados valores elevados de PTH, fosfatase
quadrado ou Exato de Fisher para comparação das variáveis alcalina e nem baixos de fósforo na população estudada
qualitativas, e o teste de t-Student e correlação de Pearson (Tabela 1).
para as variáveis contínuas. O nível de significância adotado
Crianças que utilizaram gastrostomia para terapia nutri-
foi de 5%.
cional tinham concentrações mais elevadas de 25-OH-D3 em
comparação às que usavam exclusivamente a via oral para
RESULTADOS receber dieta (44,0±10,5 vs. 30,7±13,7 ng/mL; p=0,040)
Foram incluídas 20 crianças e adolescentes com ECNE. (Figura 1). Não houve diferença dos níveis de 25-OH-D3 em
Destes, 13 (65,0%) eram do sexo masculino, 14 (70%) pré- relação à exposição solar, uso de suplemento medicamentoso
púberes e a mediana de idade foi 6,4 anos (1,7;17,9 anos). de vitamina D e uso de medicamentos anticonvulsivantes.
A renda per capita das famílias foi de R$ 340,00±161,00 e
7 (35%) das mães tinham menos de 8 anos de escolaridade.
Tabela 1 – Descrição dos valores de vitamina D (25-OH-D3), paratormônio,
A principal causa da ECNE foi a hipóxia perinatal 11 fosfatase alcalina, cálcio e fósforo dos pacientes com ECNE.
(55%) e a maioria dos pacientes [16 (80%)] tinha impor- Média Desvio Mínimo-
tante comprometimento funcional (IV e V). Uma criança Padrão Máximo
era abrigada e os demais tinham a mãe como cuidadora 25-OH-D3 ng/mL 35,5 13,9 8,7 – 59,1
principal. As morbidades associadas à ECNE mais comu- Paratormônio pg/mL 32,1 15,0 4,9 – 66,2
mente observadas foram as deformidades ósseas (coluna e
Fosfatase alcalina U/L 348,9 107,1 150,2 – 571,2
articulações) 8 (40%); doença do refluxo gastroesofágico 6
Cálcio mg/dL 9,7 0,45 8,8 – 10,8
(30%); constipação intestinal 9 (45%); epilepsia 8 (40%); e
Fósforo mg/dL 5,0 0,82 3,7 – 6,9
disfagia 3 (15%).
BRASPEN J 2018; 33 (1): 3-8
5
Silva TDB et al.
Figura 1 - Comparação das concentrações de vitamina D (25-OH-D3) em crianças e adolescentes com ECNE que usavam ou não gastrostomia.
* Nível de significância do teste t-Student (p=0,040)
Figura 2 - Correlação entre as concentrações de vitamina D (25-OH-D3) e escore Z do índice de massa corporal nas crianças e adolescentes com ECNE.
Nível de significância da correlação de Pearson (r=-0,516; p=0,020).
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Local de realização do trabalho: Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP, Brasil.
Financiamento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) – CNPq. Processo: 158814/2015-0.
RESUMO
Ellen Maria Custodio dos Santos¹
Laura Mata Lima da Silva² Introdução: O câncer de mama é o tipo de câncer mais prevalente em mulheres no mundo e
Eduila Maria Couto Santos³ no Brasil. Mulheres com câncer de mama e excesso de peso podem ter a dose quimioterápica
Larissa dos Santos Souza¹ superestimada, causando um aumento do risco de toxicidade. Objetivo: Associar o estado
nutricional e a presença de toxicidade gastrointestinal em mulheres com câncer de mama de
um hospital de Recife/PE. Método: Estudo do tipo série de casos e abordagem quantitativa,
realizado com mulheres com câncer de mama em tratamento quimioterápico. A avaliação do
estado nutricional foi realizada por meio dos parâmetros antropométricos (peso, altura, Índice
de Massa Corporal - IMC, circunferência do braço – CB, e circunferência do pescoço - CPesc) e
da Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo Paciente (ASG-PPP). A toxicidade gastrointestinal
foi avaliada pela presença dos sintomas náusea, vômito, diarreia, constipação e mucosite. Para
análise estatística, foi utilizado o teste Qui-quadrado. Resultados: Foram avaliados 20 pacientes,
em sua maioria com idade maior que 60 anos (60%), procedentes da capital do estado (65%), de
etnia branca (45%), apresentando pelo menos uma comorbidade (65%). De acordo com o IMC,
60% (n=12) da amostra encontravam-se com excesso de peso, 90% (n=18) apresentavam risco
cardiovascular segundo a CPesc e apenas 10% apresentaram diagnóstico de desnutrição pela
avaliação da ASG-PPP. 60% das pacientes apresentavam sintomas gastrointestinais. Ao relacionar
o estado nutricional com a presença de sintomas gastrointestinais, observou-se que nenhuma das
variáveis apresentou associação significativa. Conclusões: O estado nutricional não se mostrou
como um determinante da presença de toxicidade gastrointestinal.
ABSTRACT
Introduction: Breast cancer is the most prevalent type of cancer in women worldwide and in Brazil.
Unitermos:
Women with breast cancer and being overweight may have an overestimated chemotherapy dose,
Quimioterapia. Sobrepeso. Efeito Colateral. Câncer.
causing an increased risk of toxicity. Objective: To associate the nutritional status and presence of
Keywords: gastrointestinal toxicity in women with breast cancer at a Recife / PE hospital. Methods: Case-type
Chemotherapy. Overweight.Drug-Related Side Effects study and quantitative approach, carried out with women with breast cancer undergoing chemo-
and Adverse Reactions. Cancer. therapy. The evaluation of nutritional status was performed using the anthropometric parameters
(weight, height, Body Mass Index - BMI, circumference of the arm– CA, and circumference of the
Endereço para correspondência: neck - CN) and the Patient-Produced Global Subjective Assessment (PPGSA). Gastrointestinal
Ellen Maria Custodio dos Santos toxicity was assessed by the presence of nausea, vomiting, diarrhea, constipation and mucositis.
Segunda Travessa Tancredo Neves, 99– Vitória de The chi-square test was used for statistical analysis. Results: Twenty patients (60%) from the
Santo Antão, PE, Brasil – CEP:55608-282 state capital (65%), white (45%), with at least one comorbidity (65%) were evaluated. According
E-mail:ellencustodio.s@hotmail.com
to the BMI, 60% (n=12) of the sample were overweight, 90% (n=18) presented cardiovascular
Submissão: risk according to CN and only 10% presented a diagnosis of malnutrition by the PPGSA evalua-
16 de maio de 2017 tion. 60% of the patients had gastrointestinal symptoms. When the nutritional status was related
to the presence of gastrointestinal symptoms, it was observed that none of the variables had a
Aceito para publicação: significant association. Conclusions: The nutritional status was not shown to be a determinant of
5 de agosto de 2017 the presence of gastrointestinal toxicity.
A presença de mucosite oral foi feita com base na escala Tabela 1 – Características demográficas e clínicas de mulheres com câncer
de Escala de Toxicidade Oral da Organização Mundial de mama em tratamento quimioterápico ambulatorial de um hospital de
de Saúde na qual é possível avaliar os sinais objetivos e Recife-PE, 2016.
subjetivos como a presença de vermelhidão ou eritema, N=20
Variáveis
desenvolvimento de úlceras, habilidade de deglutir e sensi- N (%)
bilidade da mucosa. Idade (anos)
A construção do banco de dados foi realizada no 20 – 59 8 (40)
programa Excel e as análises estatísticas no programa > 60 12 (60)
Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 13.0. Procedência
Os dados foram apresentados na forma de frequência. As Recife/RMR 13 (65)
comparações entre as proporções foram realizadas por meio Zona da Mata 1 (5)
do teste Qui-quadrado. Foram considerados significativa- Agreste 5 (25)
mente associados os fatores para os quais o valor de p for
Outros 1 (5)
inferior a 0,05.
Raça
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
Branca 9 (45)
do hospital Agamenon Magalhães – HAM, sob o número
Negra 6 (30)
62340416.1.0000.5197. Participaram da pesquisa os parti-
Parda 5 (25)
cipantes que concordaram em assinar o Termo de Consenti-
mento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com os critérios Comorbidades
da resolução 466∕12 do Conselho Nacional de Pesquisa. Presença 13 (65)
Ausência 7 (35)
Número de sessões
RESULTADOS
2–5 7 (35)
O estudo foi constituído por 20 pacientes do sexo femi-
6 – 10 8 (40)
nino em tratamento quimioterápico, com concentração
11 – 16 5 (25)
maior na faixa etária acima de 60 anos (60%). A maior parte
Realização de Cirurgia
das mulheres foi procedente da capital do estado e região
metropolitana (65%) e a etnia mais prevalente foi a branca Sim 9 (45)
(45%). Quanto às comorbidades, 65% (n=13) apresentavam Não 11 (55)
pelo menos uma comorbidade, sendo as mais prevalentes RMR=Região metropolitana de Recife
Figura 1 - Frequência de sintomas gastrointestinais relatados por mulheres com câncer de mama em tratamento quimioterápico ambulatorial de um hospital de Recife-
PE, 2016.
DISCUSSÃO
Tabela 3 – Associação do estado nutricional com a presença de toxicidade
gastrointestinais em mulheres com câncer de mama em tratamento quimio- Estudo realizado com mulheres com diagnóstico de
terápico ambulatorial de um hospital de Recife-PE, 2016.
câncer de mama atendidas ambulatorialmente em uma
Sintomas GI† Valor p*
Estado instituição pública destinada a servidores do estado de
nutricional Sim Não
Pernambuco, apresentando-se em sua maioria idosas, proce-
N (%) N (%)
IMC‡ dentes da capital e região metropolitana e com presença de
comorbidades.
Eutrofia 4 (33,3%) 3 (37,5%)
Desnutrição – 1 (12,5%) 0,418 A idade é apontada como um fator de risco para o
desenvolvimento do câncer de mama. Acredita-se que
Excesso de peso 8 (66,7%) 4 (50,0%)
mulheres com maior idade, principalmente acima dos 50
CB§
anos sejam mais predispostas. Georges et al.11 encontraram
Eutrofia 4 (33,3%) 4 (50,0%)
prevalência parecida - 76,7% da sua amostra tinham idade
Desnutrição 2 (16,7%) 1 (12,5%) 0,757 superior a 60 anos. Esse resultado também pode refletir o
Excesso de Peso 6 (50,0%) 3 (37,5%) perfil de pacientes atendidos no hospital, já que a maior
CPesc|| demanda é de idosos.
Sem risco CV¶, 1 (8,3%) 1 (12,5%) 0,653 Nesse estudo grande parte da amostra relatou presença
Com risco CV¶, 11 (91,7%) 7 (87,5%) de comorbidades, sendo as mais prevalentes hipertensão
ASG-PPP** e diabetes. Semelhante ao identificado por Facina12, que
Bem nutrido 11 (91,7%) 7 (87,5%) 0,653 também evidenciou como doenças crônicas mais frequentes
Risco de desnutrição 1 (8,3%) 1 (12,5%) hipertensão e diabetes. Ressaltando que a maior prevalência
da hipertensão e diabetes está associada a fatores de risco
Perda de peso 1 mês
como excesso de peso, baixo consumo de frutas e verduras,
Sim 7 (58,3%) 2 (25,0%) 0,157
sedentarismo, tabagismo e consumo abusivo de álcool.
Não 5 (41,7%) 6 (75,0%)
Quanto ao estado nutricional, verificou-se que a maioria
Perda de peso 6 meses
das mulheres apresentou excesso de peso, corroborando
Sim 9 (75,0%) 3 (42,9%) 0,182
com os achados de Ferreira et al.13, em estudo realizado no
Não 3 (25,0%) 4 (57,1%) Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia,
Ingestão alimentar no qual 70% da amostra apresentaram excesso de peso.
Sem mudanças 5 (41,7%) 6 (75,0%) Valores menores foram descritos por Chen et al.14, em seu
Mais que o normal 3 (25,0%) 2 (25,0%) 0,162 estudo, em que apenas 39,1% das mulheres tiveram diag-
Menos que o normal 4 (33,3%) – nóstico nutricional de sobrepeso ou obesidade.
† Teste Qui-quadrado. GI=Gastrointestinal; IMC=Índice de Massa Corporal; CB=Circunferência
do braço. CPesc=Circunferência do pescoço; CV=Cardiovascular; ASG-PPP=Avaliação Subje-
Embora o IMC não seja útil para distinguir massa magra e
tiva Global Produzida Pelo Paciente gorda, bem como definir a distribuição de gordura corporal,
BRASPEN J 2018; 33 (1): 9-14
12
Estado nutricional e toxicidade gastrointestinal em pacientes com câncer de mama
tem sido um instrumento utilizado para diagnosticar sobre- o cálculo da dose terapêutica em pacientes com excesso
peso e obesidade em mulheres com câncer de mama devido de peso pode culminar em aumento da toxicidade2. Vários
ao seu efeito sobre o prognóstico e desenvolvimento da profissionais reduzem a dose empiricamente com o objetivo
doença. Mulheres com IMC elevado têm um risco maior de de evitar superestimação. Mas, ainda existe muita incerteza
desenvolver câncer de mama, como também uma resposta quanto ao estabelecimento da dose em pacientes com
menor ao tratamento realizado14. excesso de peso.
Nessa pesquisa, quase toda amostra teve presença de No presente trabalho, o estado nutricional não demons-
risco cardiovascular por meio da avaliação da CPesc. Por trou associação com a presença de sintomas gastrointestinais.
se tratar de uma medida antropométrica pouco usada, não Facina12, em estudo com mulheres com cânceres de mama,
foram encontrados estudos que utilizassem a CPesc em ovário e útero, também não identificou essa associação, o
pacientes com câncer de mama. Vale ressaltar que recen- que pode ser explicado por alguns fatores. Pacientes com
temente a CPesc foi descrita como método eficaz para dife- excesso de peso podem ter alteração na distribuição e elimi-
renciar obesos e não obesos15. Estudo realizado na Turquia16 nação das drogas.
com adultos, de ambos sexos, verificou que 85,1% dos O fígado é considerado o principal órgão de liberação,
homens e 38,8% das mulheres tiveram CPesc elevada. Ainda sendo que o acúmulo de gordura no mesmo, que normal-
nesse estudo, a CPesc correlacionou-se positivamente com o mente está presente em pacientes com excesso de peso, pode
peso, IMC, circunferência da cintura e quadril, sugerindo-se interferir no fluxo sanguíneo e distribuição das drogas. Além
o uso dessa medida simples para identificação de indivíduos disso, destacam-se outras alterações fisiológicas do obeso,
com sobrepeso e obesidade. como aumento do volume sanguíneo, do débito cardíaco,
No presente estudo, de acordo com ASG-PPP, a maior do tamanho dos órgãos e do tecido adiposo, alteração da
parte da amostra foi classificada como bem nutrido, resul- filtração glomerular e mudanças das proteínas carreadoras
tado positivo, uma vez que a desnutrição pode influenciar de drogas, afetando assim a concentração da droga20.
diretamente no tratamento quimioterápico, levando a um
aumento do risco de infecções, maior incidência de efeitos
CONCLUSÃO
colaterais e diminuição da sobrevida do paciente17. Dados
diferentes foram encontrados por Khoshnevis et al.18. Em Em conclusão, observou-se maior prevalência de excesso
seu estudo 47% dos pacientes foram classificados como de peso em detrimento do diagnóstico de desnutrição.
bem nutridos, 29% com desnutrição moderada e 24% como Entretanto, o estado nutricional não se mostrou como um
gravemente desnutridos, mas esta amostra foi constituída determinante da presença de toxicidade gastrointestinal.
por pacientes com diferentes tipos de cânceres que estavam Estes resultados reforçam a importância da avaliação nutri-
realizando tratamentos distintos (quimioterapia, radioterapia cional e acompanhamento clínico destas mulheres, a fim
ou cirurgia). de evitar outras complicações, particularmente as doenças
A quimioterapia é um tratamento que pode levar ao cardiovasculares.
desenvolvimento de efeitos colaterais indesejados como a Nota-se a escassez de estudos na área, sugerindo-se a
presença de sintomas gastrointestinais. Garces et al.19, em continuidade do trabalho, permitindo avaliação de outros
estudo realizado com mulheres com câncer de útero em parâmetros antropométricos e clínicos.
tratamento quimioterápico sob uso das drogas carboplatina
e paclitaxel, identificaram como sintomas gastrointestinais REFERÊNCIAS
mais prevalentes náuseas e vômitos (83,2%), constipação
1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José de
e diarreia (38%) e mucosite (20,2%). Valores diferentes Alencar Gomes da Silva - INCA. Tipos de câncer mama.[acesso
foram identificados no presente estudo, cujos sintomas mais 2016 Abr 14]. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/
frequentes foram constipação e diarreia, corroborando com wcm/connect/tiposdecancer/site/home/mama
os resultados de Facina12, no qual 58,6% das mulheres que 2. Kirjner AE, Pinheiro RL. Interferência da obesidade no trata-
mento quimioterápico em mulheres com câncer de mama. Rev
estavam realizando o quinto ciclo de quimioterapia apresen- Bras Cancerol. 2007;53(3):345-54.
taram diarreia ou constipação. 3. Lee RD, Nieman DC. Nutritional assessment. 2ª ed. St Louis:
Mosby; 1995.
Para determinação da dose quimioterápica, existem 4. Chumlea WC, Guo SS, Steinbaugh ML. Prediction of stature
diversas equações disponíveis que utilizam o peso atual, from knee height for black and white adults and children with
ideal ou área de superfície corporal. Segundo a diretriz application to mobility-impaired or handicapped persons. J Am
da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), Diet Assoc. 1994;94(12):1385-8.
5. World Health Organization - WHO. Physical status: the use
deve-se utilizar o peso atual para o cálculo. Entretanto, and interpretation of anthropometry. Geneva: World Health
alguns estudos sugerem que a utilização do peso atual para Organization;2000.
6. Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Prim 14. Chen S, Chen CM, Zhou Y, Zhou RJ, Yu KD, Shao ZM. Obesity
Care. 1994;21(1):55-67. or overweight is associated with worse pathological response to
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2004;17(4):507-14. cancer. PLoS One. 2012;7(7):e41380.
8. Blackburn GL, Thornton PA. Nutritional assessment of the 15. Lucas RE, Fonseca ALF, Dantas RO. Neck circumference can
hospitalized patient. Med Clin North Am. 1979;63(5):11103-15. differentiate obese from nonobese individuals. Medical Express
9. Ben-Noun L, Sohar E, Laor A.Neck circumference as a simple (São Paulo, online). 2016;3(4):M160403.
screening measure for identifying overweight and obese patients. 16. Saka M, Türker P, Ercan A, Kiziltan G, Baş M. Is neck circumfe-
Obes Res.2001;9(8):470-7. rence measurement an indicator for abdominal obesity? A pilot
10. Gonzalez MC, Borges LR, Silveira DH, Assunção MCF, Orlandi study on Turkish adults.Afr Health Sci. 2014;14(3):570-5.
SP. Validação da versão em português da Avaliação Subje- 17. Colling C, Duval PA, Silveira DH. Pacientes submetidos à
tiva Global Produzida pelo Paciente. Rev Bras Nutr Clin. quimioterapia: avaliação nutricional prévia. Rev Bras Cancerol.
2010;25(2):102-8. 2012;58(4):611-7.
11. Georges SO, Braga CC, Martins KA. Variação ponderal e quimio- 18. Khoshnevis N, Ahmadizar F, Alizadeh M, Akbari ME. Nutritional
terapia em mulheres com câncer de mama atendidas em serviço assessment of cancer patients in Tehran, Iran. Asian Pac J Cancer
público. Mundo Saúde. 2014;38(3):260-8. Prev. 2012;13(4):1621-6.
12. Facina VB. Evolução do estado nutricional de mulheres com 19. Garces HAI, Ribeiro PAP, Alves FVG, Carmo CC, Grazzioti R,
cânceres de mama, ovário ou útero e associação com a ingestão Fernandes ACFM, et al. Carboplatina e paclitaxel em primeira
alimentar e Sintomas gastrintestinais [Dissertação]. Araraquara: linha paliativa no tratamento de câncer de colo uterino avan-
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências Farma- çado ou persistente/recorrente: análise de uma série de casos
cêuticas; 2010. do Instituto Nacional de Câncer do Brasil. Rev Bras Oncol
13. Ferreira IB, Marinho EC, Custódio IDD, Gontijo CA, Paiva Clín.2013;9(31):18-24.
CE, Crispim CA, et al. Consumo alimentar e estado nutri- 20. Lyman GH, Sparreboom A. Chemotherapy dosing in overweight
cional de mulheres em quimioterapia. Ciênc Saúde Coletiva. and obese patients with cancer. Nat Rev Clin Oncol.
2016;21(7):2209-18. 2013;10(8):451-9.
Local de realização do trabalho: Hospital dos Servidores do Estado-PE, Recife, PE, Brasil.
RESUMO
Laura Cristina Monteiro Felix1
Valeska Carla Morais de Medeiros1 Introdução: O controle inadequado no consumo de fósforo é correlacionado com o aumento do
Viviane Bressane Claus Molina2 risco da morbi e mortalidade em pacientes com doença renal crônica (DRC) dialítica. O bjetivo:
Avaliar o conhecimento e o consumo de alimentos fontes de fósforo por estes pacientes. Método: A
pesquisa foi desenvolvida entre julho e agosto de 2016, com 51 pacientes que faziam hemodiálise
em uma clínica situada no município de Campinas-SP, mediante a aplicação de um questionário
para obter dados de sexo, idade, escolaridade, tempo de diálise, tratamento medicamentoso e
presença de comorbidades, além da avaliação do consumo de fósforo por meio de um questio-
nário de frequência de alimentos. Resultados: Os resultados demonstraram o predomínio da
doença entre adultos e idosos do sexo masculino, sendo a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e
diabetes mellitus (DM) as principais comorbidades. O teste estatístico Qui-quadrado demonstrou
que a escolaridade não interferiu no conhecimento quanto aos alimentos fontes de fósforo e no
de consumo alimentar. Houve consumo deficiente de carnes, ovos e leguminosas e excessivo de
laticínios, refrescos em pó, molhos, bolos prontos, hambúrgueres e refrigerantes à base de cola.
Conclusão: Avaliar o conhecimento e os hábitos alimentares na fase dialítica direciona as ações
Unitermos:
Insuficiência Renal Crônica. Hemodiálise. Conheci- educativas do nutricionista, permitindo a adequação de suas condutas.
mento. Ingestão Alimentar. Fósforo.
ABSTRACT
Keywords: Introduction: The inadequate control in phosphorus intake is correlated with increased risk of
Renal Insufficiency, Chronic. Renal Dialysis. Knowled- morbidity and mortality in patients with chronic renal disease (CKD). Objective: To evaluate the
ge. Food Intake. Phosphorus. knowledge and consumption of food sources of phosphorus by these patients. Methods: The rese-
arch was developed between July and August of 2016, with 51 patients undergoing hemodialysis
Endereço para correspondência: in a clinic located in the city of Campinas-SP, through the application of a questionnaire to obtain
Laura Cristina Monteiro Felix data on sex, age, schooling, dialysis time, drug treatment and presence of comorbidities, as well
Rua Arnaldo Pivi, 94 – Vila Josefina – Jundiaí, SP, as the evaluation of phosphorus intake through a food frequency questionnaire. Results: The
Brasil – CEP: 13210-520 results showed the predominance of the disease among adults and elderly males, with systemic
E-mail:icmfelix@hotmail.com
arterial hypertension (SAH) and diabetes mellitus (DM) being the main comorbidities. The results of
Submissão: the Chi-Square statistical test showed that the schooling did not interfere in the knowledge about
5 de junho de 2017 food sources of phosphorus and food consumption. There was poor consumption of meat, eggs
and legumes and excessive dairy, soft drinks, sauces, ready-made cakes, burgers and cola-based
Aceito para publicação: soft drinks. Conclusion: To evaluate the knowledge and eating habits in the dialysis phase directs
28 de agosto de 2017 the educational actions of the nutritionist, allow the adequacy of their behaviors.
1. Nutricionista graduada pelo Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí, SP, Brasil.
2. Especialista em Nutrição Hospitalar em Cardiologia pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo e Professora do Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí, SP, Brasil.
Para participar da pesquisa, o paciente deveria ter ficou constituída por 51 pacientes com tempo médio de
idade superior a 18 anos, realizar sessões crônicas de tratamento na clínica de 29,1 (±25,6) meses, sendo 28
hemodiálise (três vezes por semana com duração média (54,9%) do sexo masculino e 23 (45,09%) do sexo femi-
de 4 horas cada) e assinar o Termo de Consentimento nino. A idade média dos pacientes foi de 56,3 (±14,95)
Livre e Esclarecido. anos, porém ressalta-se que 66% da amostra possuíam
A coleta de dados ocorreu entre os meses de julho e idade entre 50 e 79 anos.
agosto de 2016, utilizando um questionário com informações Quanto ao nível de escolaridade, verificou-se que
relativas a sexo, idade, escolaridade, tempo de diálise, trata- 24 (47,06%) dos pacientes haviam cursado até o ensino
mento medicamentoso e presença de comorbidades, sendo fundamental, 16 (31,37%), o ensino médio e 6 (11,76%),
o consumo de fósforo avaliado por meio de um questionário o ensino superior.
de frequência de alimentos. Em relação às afecções crônicas, verificou-se maior
O questionário de frequência alimentar continha incidência de hipertensão arterial (HAS) e diabetes mellitus
perguntas relativas ao consumo diário, semana, mensal, (DM), acometendo 82% e 25%, respectivamente. Outras
anual e nunca, de leite e derivados, carnes e ovos, além afecções como lúpus eritematoso sistêmico (LES), hipotireoi-
dos embutidos, leguminosas, oleaginosas e preparações dismo, dislipidemia, doenças cardiovasculares, doença renal
prontas, produtos estes escolhidos tendo como critério suas policística, doenças ósseas, trombofilia, hepatite C, litíase,
concentrações de fósforo. Os alimentos foram separados pancreatite, retinopatia diabética, colecistopatia, gota e reti-
por permitidos (produtos lácteos, o grupo das carnes e nopatia bilateral também foram citadas. Vale destacar que 2
ovos e leguminosas, com exceção da soja) e proibidos (os dos 3 pacientes com idade inferior a 30 anos tinham como
alimentos industrializados, oleaginosas e soja). Os alimentos afecção base, que desencadeou a DRC, o LES.
permitidos foram classificados em consumo insuficiente, Quanto aos medicamentos mais utilizados pelos
adequado e excessivo, em que insuficiente é o consumo de pacientes, foram citados os antianêmicos (76,47%), antiar-
1 vez, adequado 3 vezes e excessivo igual ou maior que 4 rítmico (64,70%) e os anti-inflamatórios não esteroides
vezes na semana. Já os alimentos proibidos foram conside- (29,41%) - ácido acetilsalicílico.
rados como adequado o consumo de 1 vez na semana e
Com relação ao conhecimento sobre os alimentos fontes
excessivo 2 ou mais.
de fósforo, 29 (56,9%) pacientes sabiam referir os sintomas
O conhecimento dos pacientes foi avaliado com da hiperfosfatemia, 29 (56,9%) citaram corretamente os
perguntas sobre alimentos ricos em fósforo e os sintomas alimentos fontes deste mineral, sendo que 10 (19,6%)
da hiperfosfatemia. confundiram com fontes de potássio. Além disto, observou-se
Os resultados foram registrados em porcentagens e que o conhecimento quanto aos alimentos fontes de fósforo
apresentados em gráficos. Para analisar se o conhecimento não interferiu na frequência de consumo de alimentos, não
de alimentos fontes de fósforo e a escolaridade estavam apresentando resultados significativos, conforme a análise
associados, usou-se o teste estatístico Qui-quadrado de estatística.
Pearson, e os dados quantitativos foram apresentados O teste estatístico Qui-quadrado mostrou que a escolari-
como média e desvio padrão, mediana e valores mínimo dade não interferiu significativamente no conhecimento dos
e máximo. pacientes sobre as fontes de fósforo e seus efeitos.
O projeto de pesquisa foi submetido à aprovação Quanto à frequência alimentar, verificou-se que, dos
do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário alimentos permitidos, os lácteos eram os mais consumidos
Padre Anchieta – UNIANCHIETA, sob o número CAAE
entre a população estudada, sendo inclusive encontrados
55238116.5.0000.5386.
alguns excessos no consumo de produtos, como leite, marga-
rina, creme de leite e iogurte.
RESULTADOS Em contrapartida, produtos cárneos e leguminosas foram
Foram compilados os dados de 100 pacientes frequen- consumidos em quantidade insuficiente pelos pacientes,
tadores da clínica, de ambos os sexos, sendo excluídos inclusive alguns alegaram desconhecer leguminosas, como
aqueles que não se enquadraram nos critérios pré- grão de bico, vagem e ervilha (fresca).
determinados, os que se recusaram a participar, os que Referente ao consumo dos alimentos proibidos, por conter
possuíam déficit cognitivo necessário para responder o uma alta concentração de fósforo e baixo valor nutricional,
questionário e aqueles que estavam em isolamento devido observou-se que alimentos como bolos prontos, molhos,
à bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). refrescos em pó, biscoitos recheados e refrigerantes foram
Considerando os critérios citados anteriormente, a amostra os mais consumidos excessivamente (Figura 1).
BRASPEN J 2018; 33 (1): 15-20
17
Felix LCM et al.
Figura 1 - Consumo de alimentos proibidos pelo paciente portadores de Insuficiência Renal Crônica dialítica. Campinas, SP, 2016.
O tratamento nutricional, visando à oferta de dieta refrescos em pó, molhos, bolos prontos, hambúrgueres e
adequada em energia, proteína e fósforo, associado refrigerantes à base de cola.
à diálise adequada e à terapêutica medicamentosa, é A escolaridade não interferiu no conhecimento sobre
fundamental para auxiliar no controle e na prevenção da fontes alimentares de fósforo e destaca-se a importância
hiperfosfatemia3. da assistência constante de uma equipe multiprofissional
No tratamento conservador, a recomendação dietética e programas eduAvaliar o conhecimento e os hábitos
inicial é baseada na restrição de proteínas, reduzindo-se alimentares na fase dialítica direciona as ações educa-
pela metade o consumo de laticínios e carnes, e com a tivas do nutricionista, permitindo a adequação de suas
piora da função renal a dieta se torna mais restritiva6. Em condutas.
troca da ingestão de proteínas de origem animal, o paciente
deve ingerir comprimidos de aminoácidos e cetoácidos para
REFERÊNCIAS
suprir as necessidades diárias de ingesta proteica, visando
1. Brasil. Ministério da Saúde. Doença renal crônica atinge 10%
retardar a progressão da doença renal e, consequentemente,
da população mundial. 2015 [Internet]. [citado 2016 Nov
a entrada em diálise6. 23]. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2015/03/
No presente estudo, o consumo de carnes, ovos e doenca-renal-cronica-atinge-10-da-populacao-mundial
2. Cuppari L. Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto. 3ª ed.
leguminosas foi insuficiente na maioria dos pacientes Barueri: Manole; 2014.
entrevistados, podendo ser justificado pelo tratamento 3. Pinto, DE, Ullmann LS, Burmeister MM, Antonello ICF, Pizzato
dietético que antecedeu a diálise, ou por medo, ou por falta A. Associations between energy, protein, and phosphorus intakes
in patients with chronic kidney disease on hemodialysis. J Bras
de conhecimento. Além disto, alguns lácteos e alimentos Nefrol. 2009;31(4):269-76.
considerados proibidos como, por exemplo, o refrigerante 4. Koehnlein EA, Yamadae NA, Giannasi ACB. Avaliação do estudo
a base de cola, foram consumidos excessivamente pelos nutricional de pacientes em hemodiálise. Acta Sci Health Sci.
entrevistados. 2008;30(1):65-71.
5. Cuppari L, Avesani CM, Kamimura MA. Nutrição na doença
Este comportamento condiz com o relatado na literatura, renal crônica. Barueri: Manole; 2013.
uma vez que a aceitação do tratamento está intimamente 6. Sociedade Brasileira de Nefrologia – SBN. Nutrição. [aces-
sado 2016 Out 16 [Internet]. Disponível em: http://sbn.org.br/
relacionada com a aceitação da própria doença e não tanto publico/nutricao/
com outros fatores. A aceitação da doença caracteriza-se 7. The Kidney Club Newsletter. Columbus: Abott Nutrition; 2012.
pela forma singular de cada indivíduo lidar com as situações 8. Uribarri J. Phosphorus additives in food and their effect in dialysis
patients. Clin J Am Soc Nephrol. 2009;4(8):1290-2.
críticas da vida e com o impacto que estas provocam no seu
9. Kalantar-Zadeh K, Gutekunst L, Mehrotra R, Kovesdy CP, Bross
cotidiano e nas suas relações21. R, Shinaberger CS, et al. Understanding sources of dietary phos-
O método empregado para análise da frequência phorus in the treatment of patients with chronic kidney disease.
Clin J Am Soc Nephrol. 2010;5(3):519-30.
alimentar que, apesar de ser considerado um bom instru- 10. Padovani RM, Amaya-Farfani J, Colugnati FAB, Domene SMA.
mento, baseia-se nas informações fornecidas pelos parti- Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos
cipantes, as quais dependem da memória do entrevistado nutricionais. Rev Nutr. 2006;19(6):741-60.
11. Mahan LK, Escott-Stup S, Raymond JL. Krause: Alimentos,
para identificação e quantificação das vezes que consome nutrição e dietoterapia. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.
diária, semanal, anualmente ou nunca, pode levar a viés 12. Carvalho AB, Cuppari L. Controle da hiperfosfatemia na DRC.
de memória22. In: Diretrizes Brasileira de prática clínica para distúrbios mineral
e ósseo na doença renal crônica. J Bras Nefrol. 2011;33(Supl
As concentrações séricas de fósforo, que não foram 1):S1-S6.
dosadas para este estudo, poderiam complementar a análise 13. Nadkarni GN, Uribarri J.Phosphorus and the kidney: what is
dos resultados. known and what is needed. Adv Nutr. 2014;5(1):98-103.
14. Lou-Arnal LM, Arnaudas-Casanova L, Caverni-Muñoz A,
Vercet-Tormo A, Caramelo-Gutiérrez R, Munguía-Navarro P,
et al.; Grupo de Investigación ERC Aragón. Hiddensources of
CONCLUSÃO
phosphorus: presence of phosphorus-containingadditives in
Foram avaliados homens e mulheres com doença renal processedfoods. Nefrologia. 2014;34(4):498-506.
15. Nisio JM, Bazanelli AP, Kamimura MA, Lopes MGG, Ribeiro
crônica, a maioria entre 50 e 79 anos, com tempo médio de FSM, Vasselai P, et al. Impacto de um programa de educação
tratamento de 2,5 anos. O DM e a HAS foram as comorbi- nutricional no controle da hiperfosfatemia de pacientes em
dades mais prevalentes. hemodiálise. J Bras Nefrol. 2007;29(3):152-7.
16. Sesso RC, Lopes AA, Thomé FS, Lugon JR, Martins CT.
Os indivíduos portadores de DRC hemodialéticos da Inquérito Brasileiro de Diálise Crônica 2014. J Bras Nefrol.
presente pesquisa apresentaram um consumo deficiente 2016;38(1):54-61.
de carnes, ovos e leguminosas, provavelmente devido ao 17. Klumb EM, Silva CAA, Lanna CCD, Sato EI, Borba EF, Brenol
JCT, et al. Consenso da Sociedade Brasileira de Reumatologia
tratamento dietético da fase conservadora, que antecede para o diagnóstico, manejo e tratamento da nefrite lúpica. Rev
a diálise. Observou-se o consumo excessivo de laticínios, Bras Reumatol. 2015;55(1):1-21.
1 8. Almeida MIC, Cardoso MS, Garcia CPC, Oliveira JRF, pacientes hiperfosfatêmicos em hemodiálise. J Bras Nefrol.
Gomes MLF. Perfil dos pacientes renais crônicos de um 2008;30(4):288-93.
hospital público da Bahia. Rev Enferm Contemp. 2013;2(1): 21. Maldaner CR, Beuter M, Brondani CM, Budó DML, Pauletto
157-68. MR. Fatores que influenciam a adesão ao tratamento na doença
19. Nerbass FB, Morais JG, Santos RG, Krüger TS, Koene TT, Luz crônica: o doente em terapia hemodialítica. Rev Gaúcha Enferm.
Filho HA. Adesão e conhecimento sobre o tratamento da hiper- 2008;29(4):649-53.
fosfatemia de pacientes hiperfosfatêmicos em hemodiálise. J 22. Favalessa E, Neitzke L, Barbosa GC, Molina MCB, Salaroli
Bras Nefrol. 2010;32(2):149-55. LB. Avaliação nutricional e consumo alimentar de pacientes
20. Nerbass FB, Cuppari L, Avesani CM, Luz Filho HA. Dimi- com insuficiência renal crônica. Rev Bras Pesq Saúde. 2009;
nuição de fósforo sérico após intervenção nutricional em 11(4):39-48.
RESUMO
Alana Maria Cidral1
Bruna Nayara Buzzi1 Introdução: As doenças inflamatórias intestinais (DII) são caracterizadas como afecções do
Bruno Lorenzo Scolaro2 intestino, clinicamente divididas em Retocolite Ulcerativa (RCUI) e Doença de Crohn (DC). A má
Clarice Maria Specht3 absorção da lactose é um fator que pode influenciar a intensidade e a presença dos sintomas
Cristina Henschel Matos4 gastrointestinais nas DII. A sensibilidade à lactose ocorre devido a uma deficiência da hidrólise
Everson Fernando Malluta5
Sueli Bobato6 de lactose pela borda em escova no intestino delgado. O presente estudo objetivou avaliar a
Claiza Barretta7 intolerância à lactose e sua relação com a atividade da DII. Método: Foram avaliados indivíduos
diagnosticados com esta afecção, assistidos pela Clínica de DII da Unidade de Saúde Familiar
e Comunitária (USFC) de Itajaí/SC, no período de novembro de 2015 a agosto de 2016. Para a
avaliação da atividade da doença, foram utilizados exames decalprotectina fecal, ferritina, PCR e
VHS. Além destes marcadores, índices clínicos de classificação da atividade também foram apli-
cados. A intolerância à lactose foi avaliada a partir de curva glicêmica de 30, 60 e 90 minutos.
A administração da lactose foi realizada via oral, na dose de 2 g/kg do paciente, sem exceder a
dose máxima de 50 g. Para avaliar a frequência do consumo de lácteos, foi aplicado um questio-
nário de frequência alimentar. Resultados: O presente estudo contou com uma amostra de 50
pacientes. Destes, 70% (n=35) eram do sexo feminino, a média de idade foi de 48 anos±12,56
e 64% (n=32) eram tolerantes à lactose. Quanto ao diagnóstico, 62% (n=31) tinham DC e 40%
(n=20), padrão de acometimento em íleo terminal. Verificou-se que 26% (n=13) dos intolerantes
à lactose estavam em remissão da doença. Conclusões: Não foram observadas diferenças esta-
tísticas entre os índices clínicos e bioquímicos de atividade da doença e a tolerância à lactose.
ABSTRACT
Unitermos: Introduction: Inflammatory bowel diseases (IBD) are characterized as bowel diseases, clinically
Doença de Crohn. Intolerância à Lactose. Colite divided into ulcerative colitis (ICU) and Crohn’s disease (CD). Lactose malabsorption is a factor
Ulcerativa. that can influence the intensity and presence of gastrointestinal symptoms in IBD. Lactose sensi-
tivity occurs due to a deficiency of lactose hydrolysis by the brush border in the small intestine.
Keywords: The present study aimed to evaluate lactose intolerance and its relationship with IBD activity.
Crohn Disease. Lactose Intolerance. Colitis, Ulcerative. Methods: Individuals diagnosed with this disease were evaluated, assisted by the USII Clinic of
the USFC of Itajaí / SC, from November 2015 to August 2016. For the diagnosis of the disease,
Endereço para correspondência:
fecal calprotectin, ferritin, PCR and VHS. In addition to these markers, clinical indexes of activity
Claiza Barretta
Rua Lauro Muller, 1034/402 – Fazenda – Itajaí, SC, classification were also applied. Lactose intolerance was evaluated from a 30, 60 and 90 minutes
Brasil – CEP: 88301-401 glycemic curve. Lactose administration was administered orally at the dose of 2 g / kg of the patient,
E-mail: claizabarretta@yahoo.com.br without exceeding the maximum dose of 50 g. To evaluate the frequency of dairy consumption,
a food frequency questionnaire was applied. Results: The present study had a sample of 50
Submissão: patients, of whom 70% (n=35) were female, mean age was 48 years±12.56 and 64% (n=32)
6 de junho de 2017 were tolerant to lactose. Regarding the diagnosis, 62% (n=31) had CD, and 40% (n=20) had a
pattern of involvement in the terminal ileum. It was found that 26% (n=13) of lactose intolerants
Aceito para publicação: were in remission of the disease. Conclusions: No statistical differences were observed between
14 de setembro de 2017 clinical and biochemical indexes of disease activity and lactose tolerance.
1. Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, Brasil.
2. Médico, Mestre em Saúde e Meio Ambiente. Professor do departamento de Clínica Cirúrgica da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC),
coordenador do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais, Itajaí, SC, Brasil.
3. Enfermeira, Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho, Professora do Curso de Medicina da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC), integrante
do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais, Itajaí, SC, Brasil.
4. Nutricionista, Mestre em Engenharia de Produção, Professora do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC), integrante
do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais, Itajaí, SC, Brasil.
5. Médico, Doutor em Ciências, área de concentração Gastroenterologia Clínica, Professor de Gastroenterologia da Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI/SC), integrante do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais, Itajaí, SC, Brasil.
6. Psicóloga, Mestre em Psicologia na área de concentração Processos Psicossociais, Saúde e Desenvolvimento Psicológico, Professora do Curso
de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC) e integrante do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais, Itajaí, SC, Brasil.
7. Nutricionista, Mestre em Ciências Farmacêuticas, Professora do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC), integrante
do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais, Itajaí, SC, Brasil.
A literatura refere que as DIIs não possuem discriminação A calprotectina fecal encontrava-se negativa em 20%
de sexo, entretanto, a tendência é as mulheres se preocu- (n=10) dos pacientes intolerantes à lactose. A calprotectina
parem mais com a saúde e buscarem mais assistência médica é uma proteína antimicrobiana liberada no intestino frente a
que os homens, o que pode justificar a maior prevalência de uma exposição da mucosa a uma inflamação, sendo assim,
mulheres nesse estudo13,14. um excelente marcador inflamatório intestinal que, quando
elevado, pode indicar que a DII está em atividade20.
Em relação ao diagnóstico de DII no presente estudo, a
maioria dos pacientes apresentou DC e 36% dos pacientes Pôde-se observar que 32% (n=16) dos intolerantes
eram intolerantes à lactose. Embora a DII seja relatada estavam com o marcador PCR, e VHS 22% (n=11) normais.
como uma afecção que confere danos no intestino e como Em contrapartida, Viesi et al.1, com o objetivo de estimar a
consequência pode acarretar deficiências das dissaca- prevalência de má absorção de lactose e de positividade
ridases, como, por exemplo, a lactase15, os achados do para marcadores inflamatórios em pacientes com DII, veri-
presente estudo não demonstraram prevalência de into- ficaram que 50% (n=18) dos participantes do estudo eram
lerância nos pacientes com DII. O reduzido tamanho da intolerantes à lactose e estavam com os marcadores VHS e
amostra e ausência de controle para outras variáveis pode PCR acima do normal.
ter influenciado o resultado.
Quanto ao local de acometimento, a maioria dos CONCLUSÃO
pacientes estudados possuía DII com padrão de acometi-
Identificou-se que a maioria dos pacientes era tolerantes
mento em íleo terminal e cólon, respectivamente, sendo que
à lactose apresentavam DC com padrão de acometimento
41% e 40% desses eram intolerantes à lactose. Nolan-Clark
em íleo terminal e encontravam-se em fase de remissão
et al.16, em estudo com 165 pacientes com DC, com a fina-
da doença, com base nos sinais e sintomas e nos exames
lidade de investigar se o consumo de produtos lácteos tinha
de calprotectina fecal, ferritina, PCR e VHS. Verificou-se,
relação com a atividade da doença e o local de acometi-
também, que os tolerantes à lactose consumiam com maior
mento, observaram que 50% dos indivíduos (n=82) estavam
frequência leite, queijo e preparações que continham leite.
em remissão, 33% e 30% tinham acometimento no íleo e
no cólon, respectivamente, dados que corroboram com o Diante do exposto, conclui-se que não houve associação
presente estudo. Ainda puderam perceber que 7% (n=11) estatisticamente significativa entre os índices clínicos e
dos indivíduos tinham intolerância à lactose e 25% (n=41) bioquímicos de atividade da doença e a tolerância à lactose
sentiam desconforto gastrointestinal quando consumiam nesse estudo.
algum tipo de produto lácteo. É importante ressaltar que o fato da maioria dos pacientes
O presente estudo verificou que 61% (n=11) dos intole- estar em fase de remissão da doença, além do tamanho da
rantes consumiam leite e 67% (n=12) consumiam prepara- amostra, podem ter sido fatores que contribuíram com os
ções que continham leite. resultados encontrados.
Lopes et al.17, em estudo com 65 indivíduos com DII, com
o objetivo de verificar o consumo de lácteos, observaram que REFERÊNCIAS
53% (n=34) dos pacientes restringiram o consumo de leite 1. Viesi JHZ,Narciso-Schiavon JL, Schiavon LL. Prevalência de
e derivados após o diagnóstico da DII, a fim de amenizar má absorção de lactose e de marcadores sorológicos de doença
os desconfortos gastrointestinais. Em estudo realizado celíaca em pacientes com doença inflamatória intestinal. Rev
Soc Bras Clin Med. 2013;11(3):232-7.
por Bueno-Hernández et al.18 com o objetivo de avaliar a 2. Santos GM, Silvia LR, Santana GO. Repercussões nutricionais
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em indivíduos com DII, verificou-se que 41% (n=95) dos intestinais. Rev Paul Pediatr. 2014;32(4):403-11.
pacientes consumiam leites e derivados e tinham presença 3. Eadala P, Matthews SB, Waud JP, Green JT, Campbell AK. Asso-
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Local de realização do trabalho: Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, Brasil.
RESUMO
Tamara Becker¹
Maria Cristina Zanchim²
Introdução: Na avaliação nutricional do paciente crítico devem-se utilizar instrumentos vali-
Adaize Mognon³ dados, considerar a gravidade da doença e a função gastrointestinal. Esses fatores devem ser
Larry Rodrigues de Campos Junior4 verificados, pois servem para identificar pacientes que podem se beneficiar de uma terapia
Taíne Paula Cibulski5 nutricional especializada. Por isso, a triagem nutricional é o primeiro passo para a estratificação
José Afonso Correa6 de pacientes com risco nutricional para a instituição precoce de uma terapia nutricional segura
Daiana Argenta Kümpel7 e planejada. Método: Estudo exploratório, prospectivo realizado com pacientes internados no
Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo-RS, no período
de agosto a setembro de 2016. Foram incluídos pacientes admitidos na CTI, nas primeiras 24
horas de internação. Os dados foram coletados utilizando a ferramenta de risco nutricional
denominada NUTRIC Score, bem como variáveis demográficas: sexo e idade, variáveis clínicas:
data de internação, data de admissão e alta da CTI e número de comorbidades. A heteroge-
neidade dos pacientes foi analisada, a fim de entender a influência dos dados demográficos
nos resultados, pelo teste t de Student, correlação linear simples e análise variância (ANOVA).
Resultados: Foram incluídos no estudo 28 pacientes críticos, prevalecendo o gênero feminino,
com média de idade de 55,75±15,47 anos. Os principais motivos de admissão na unidade
de terapia intensiva foram os traumas e politraumas (35,7%), sendo que 64,3% dos pacientes
apresentaram duas ou mais comorbidades associadas. Na pontuação final do NUTRIC Score,
prevaleceu a pontuação alta (67,9%), indicando risco nutricional. Dentre os pacientes avaliados,
73,7% (14) dos pacientes com pontuação alta no NUTRIC Score, classificados em risco nutricional,
foram a óbito (p=0,025).Conclusões: Observou-se elevada prevalência de risco nutricional entre
os pacientes críticos estudados, confirmando a importância do acompanhamento nutricional
adequado. O NUTRIC Score se mostrou uma ferramenta de fácil aplicação para triagem de
pacientes críticos em unidade de terapia intensiva.
ABSTRACT
Unitermos: Introduction: In the nutritional evaluation of a critical patient, one must use validated instru-
ments; consider the severity of the disease and the gastrointestinal function. These factors must
Unidade de Terapia Intensiva. Avaliação Nutricional. be checked because they serve to identify patients that can benefit from a specialized nutritional
Cuidados Críticos.Terapia Nutricional. Mortalidade. therapy. Hence, the nutritional triage is the first step to the stratification of patients with nutritional
risk for the early institution of safe and planned nutritional therapy. Methods: An exploratory,
Keywords: prospective study performed with hospitalized patients at the Intensive Care Unit (ICU) of the
Intensive Care Unit. Nutrition Assessment. Critical Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo-RS, in the period from August to September 2016.
Care.Nutrition Therapy. Mortality. Patients admitted to the ICU were included, using the nutritional risk tool named NUTRIC Score,
as well as demographic variables: sex and age; clinical variables: date of hospitalization, date
Endereço para correspondência: of admittance and discharge from the ICU, and the number of comorbidities. The heterogeneity
Tamara Becker of patients was analyzed, with the purpose of understanding the influence of demographic data
Rua Guaporé 363E – Centro – Chapecó, SC, Brasil in the results, by the t of Student test, simple linear correlation and variance analysis (ANOVA).
– CEP: 89802-300 Results: Were included in the study 28 critical patients, prevailing the female gender, with and
E-mail: nutricionistatamara@gmail.com age average of 55.75±15,47 years. The main admission reasons at the intensive care unit were
trauma and multiple trauma (35.7%), being that 64.3% of the patients presented two or more
associated comorbidities. At the final NUTRIC Score, prevailed the high punctuation (67.9%)
Submissão: indicating nutritional risk. Between the analyzed patients 73.7% (14) with high NUTRIC Score,
14 de junho de 2017 classified in nutritional risk, died (p=0.025). Conclusions: High prevalence of nutritional risk in
the studied critical patients was observed, confirming the importance of the adequate nutritional
Aceito para publicação: follow-up. The NUTRIC Score proved itself an easy to use triage application in critical patients in
6 de setembro de 2017 intensive care unit tool.
1. Nutricionista. Especialista em Saúde do Idoso pelo Programa de Residência Multiprofissional da Universidade de Passo Fundo, Chapecó, SC, Brasil.
2. Nutricionista. Mestre em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Nutricionista da Equipe Multiprofissional de Terapia
Nutricional do Hospital São Vicente de Paulo. Docente do curso de Nutrição da UPF, Passo Fundo, RS, Brasil.
3. Nutricionista. Residente em Saúde do Idoso pelo Programa de Residência Multiprofissional da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.
4. Acadêmico de Medicina da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECO), Chapecó, SC, Brasil.
5. Nutricionista. Especialista em Atenção ao Câncer pelo Programa de Residência Multiprofissional da Universidade de Passo Fundo. Nutricionista
do Instituto do Câncer Hospital São Vicente, Passo Fundo, RS, Brasil.
6. Farmacêutico. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade do Vale do Itajaí. Farmacêutico da farmácia ambulatorial do Hospital São
Vicente de Paulo. Docente do curso de Medicina da Universidade Federal Fronteira Sul, Passo Fundo, RS, Brasil.
7. Nutricionista. Mestre em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Tutora do Programa de Residência Multiprofissional
Integrada em Saúde do Idoso e Atenção ao Câncer da UPF. Nutricionista docente do curso de Nutrição da UPF, Passo Fundo, RS, Brasil.
pontuação alta foi associada a maior mortalidade de 28 são difíceis de se obter porque dependem do contato com os
dias. Diferentemente dos demais estudos, a validação do membros da família, podendo ser inconsistentes.
NUTRIC para a população brasileira realizada por Toledo et Além dos estudos, as principais recomendações que
al.15 revelou que o escore médio foi de 3,2 e a mortalidade emergem acerca da avaliação de risco são de que antes
foi de 32,4%, não se associando estatisticamente. do início da terapia nutricional, independentemente da via
Existem algumas divergências nos estudos em relação ao utilizada, uma determinação do risco nutricional deve ser
NUTRIC e sua associação com o óbito e sua capacidade de realizada utilizando não somente a antropometria tradicional,
identificação de risco nutricional. O “risco nutricional” é um mas também pontuações validadas em todos os pacientes
termo amplo que engloba a identificação de pacientes nos admitidos nas unidades hospitalares19,20. A adequada tera-
quais a desnutrição pode se desenvolver como resultado da pêutica no paciente criticamente enfermo pode resultar
doença crítica e os pacientes que já estão desnutridos no ainda numa melhor evolução, maior sobrevida e menor
momento da internação na UTI. Obviamente, essa diferen- custo hospitalar21.
ciação se dá também pela inclusão de populações altamente
heterogêneas16.
CONCLUSÃO
Um estudo recente comparou a Avaliação Subjetiva
Global (ASG), uma avaliação institucional e o NUTRIC Score, Diante dos resultados, pode-se assegurar que a maior
sendo observado que o NUTRIC tem uma capacidade redu- parte dos pacientes críticos apresenta risco nutricional,
zida de identificar pacientes em risco nutricional, porém ele confirmando, portanto, a importância do acompanhamento
foi superior na predição do desfecho clínico do paciente9. nutricional adequado em unidades de terapia intensiva.
Uma mudança de paradigmas importante pode ocorrer O NUTRIC Score mostrou-se uma ferramenta de fácil apli-
na forma de avaliar os parâmetros para a determinação de cação e triagem de pacientes críticos, desde que as demais
risco nutricional, desnutrição e incorporação adicional de variáveis – como o APACHE II e SOFA – estejam disponíveis
gravidade da doença. Os escores de risco nutricional mais quando admitidos em UTI. O escore também foi eficaz como
recentes podem alcançar esses paradigmas, pois abrangem preditor de mortalidade nos pacientes em risco nutricional.
estas propostas em relação às pontuações tradicionais, Considerando a importância do adequado estado nutri-
melhorando, portanto, a intervenção nutricional17. cional para a evolução clínica positiva do paciente crítico,
Cada ferramenta possui sua limitação na avaliação do a aplicação de ferramentas, dentre elas, o NUTRIC Score,
risco nutricional, porém independentemente da ferramenta torna-se de suma importância para o diagnóstico nutricional
utilizada, a otimização do suporte nutricional em pacientes da população, que pode se beneficiar de uma interferência
críticos com risco nutricional é importante para atenuar as nutricional apropriada.
complicações e os resultados adversos18.
Heyland et al.5 observaram que, enquanto a maioria dos REFERÊNCIAS
métodos de rastreio nutricional em pacientes hospitalizados
1. Moraes MF, Lima FCA, Luz AMA. Risco nutricional em pacientes
podem ser complicados e demorados e, portanto, não são graves. In: Toledo D, Castro M, eds. Terapia nutricional em UTI.
rotineiramente realizados, a pontuação NUTRIC é uma Rio de Janeiro: Rubio; 2015. p.9-17.
ferramenta prática, fácil de utilizar, com base em variáveis 2. Nunes ALB, Koterba E, Alves VGF, Abrahão V, Correia MITD;
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. Asso-
que são fáceis de se obter em unidades de terapia intensiva. ciação Brasileira de Nutrologia. Terapia Nutricional no Paciente
Em um estudo, o NUTRIC Score passou por uma análise Grave. In: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de
feita por profissionais de quatro unidades de terapia inten- Medicina. Projeto Diretrizes. São Paulo: Rubio; 2011.
3. Ceniccola GD, Abreu HB. Ferramentas tradicionais de
siva onde ele foi traduzido e adaptado para a linguagem avaliação nutricional adaptadas à unidade de terapia intensiva.
portuguesa. Uma dificuldade apontada foi a obtenção de In: Toledo D, Castro M, eds. Terapia nutricional em UTI. Rio
todos os dados necessários para o cálculo, porém, os autores de Janeiro: Rubio; 2015. p.19-24.
4. Rahman A, Hasan RM, Agarwala R, Martin C, Day AG, Heyland
apontaram o escore como uma ferramenta fácil e clara de
DK. Identifying critically-ill patients who will benefit most
entender, além de ser prático e rápido de aplicar13. from nutritional therapy: further validation of the "modi-
Uma das limitações deste estudo foi idêntica ao encontrado fied NUTRIC" nutritional risk assessment tool. Clin Nutr.
2016;35(1):158-62.
por Heyland et al.5, não sendo possível se obter os níveis de IL-6, 5. Heyland DK, Dhaliwal R, Jiang X, Day AG. Identifying critically
além da dificuldade na coleta dos índices APACHE II e SOFA ill patients who benefit the most from nutrition therapy: the
na rotina das unidades, limitando a utilidade do NUTRIC. Este development and initial validation of a novel risk assessment
estudo aponta, ainda, que a ferramenta não contém variáveis tool. Crit Care. 2011;15(6):R268.
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7. Mendes R, Policarpo S, Fortuna P, Alves M, Virella D, Heyland 14. Ceniccola GD, Cavalcanti SATQ, Lima FC, Lautero JR. Avaliação
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Local de realização do trabalho: Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.
RESUMO
Virginia A. Ribeiro1
Thaisy C. H. S. Alves2 Objetivo: Avaliar a evolução do estado nutricional de pacientes pediátricos durante a hospitali-
Lílian B. S. Fatal3 zação e fatores associados. Método: Coorte prospectivo de 72 pacientes com idade entre 0 e 9
anos. Dados antropométricos incluíram peso, estatura e circunferência do braço. O diagnóstico
nutricional foi determinado a partir do índice de peso/idade para todas as crianças, peso/estatura
para menores de 5 anos e índice de massa corporal/idade para maiores de 5 anos. Os resultados
foram apresentados como média, ± desvio-padrão ou mediana. Considerou-se diferença estatis-
ticamente significante quando p<0,05. Teste t de Student foi utilizado para amostras dependentes
pareadas, análise de variância ANOVA para medidas repetidas e correlação linear de Pearson
para análise de correlações. Resultados: Do total da amostra, 52% (n=37) apresentaram ganho
ponderal ao longo do internamento, sendo a média de 0,51 kg e mediana de 0,38 (DP±0,62),
enquanto 45% (n=32) apresentaram perda ponderal, com média de -0,75 kg e mediana de
-1,85 (DP±0,79), sendo a perda mais prevalente nos pacientes com idade superior a 60 meses
(41%). Houve correlação fracamente positiva (r=0,26) entre o tempo de internação e a perda
ponderal. Diagnóstico de doença aguda, idade superior a 60 meses e perda ponderal foram
fatores associados a maior tempo de internação; ganho ou manutenção de peso associados a
menor tempo. Conclusão: O acompanhamento da evolução do estado nutricional das crianças
durante a hospitalização é fundamental para o entendimento dos principais fatores associados,
Unitermos: possibilitando intervenções precisas e coerentes.
Estado Nutricional. Transição Nutricional. Desnutrição
Infantil. ABSTRACT
Objective: To evaluate the evolution of the pediatric patients nutritional status during the hospita-
Keywords:
lization and associated factors. Methods: Prospective cohort study of 72 patients aged between 0
Nutritional Status. Nutritional Transition. Child
Malnutrition. and 9 years. Anthropometric data included weight, height and arm circumference. The nutritional
diagnosis was determined from the weight / age index for all children, weight / height for children
Endereço para correspondência: under 5 years and body mass / age index for children older than 5 years. Results were presented
Thaisy Cristina Honorato Santos Alves as mean ± standard deviation or median. Statistically significant difference was considered when
Universidade do Estado da Bahia. Departamento p<0.05. Student’s t-test was used for paired dependent samples, ANOVA variance analysis for
Ciências da Vida. Colegiado de Nutrição. Rua Silveira repeated measures and Pearson’s linear correlation for correlation analysis. Results: Out of the
Martins, 2555 – Cabula – Salvador, BA, Brasil – CEP: total sample, 52% (n=37) presented a weight gain during hospitalization, with a mean of 0.51
41150-000. kg and a median of 0.38 (SD±0.62) and 45% (n=32) presented a weight loss, with a mean of
E-mail: tcalves@uneb.br; thaisyhonorato@yahoo. -0.75 kg and a median of -1.85 (SD±0.79), being the most prevalent loss in patients over 60
com.br
months (41%). There was a weakly positive correlation (r=0.26) between hospitalization time and
Submissão: weight loss. Diagnosis of acute illness, age greater than 60 months and weight loss were factors
8 de agosto de 2017 associated with longer hospitalization time; weight gain or maintenance were associated with less
time. Conclusion: Monitoring the evolution of children’s nutritional status during hospitalization
Aceito para publicação: is fundamental for the understanding of the main associated factors, allowing for precise and
30 de outubro de 2017 coherent interventions.
1. Nutricionista Residente em Nutrição Clínica pela Residência Multiprofissional em Saúde/ Universidade do Estado da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
2. Mestre em Alimentos, Nutrição e Saúde pela Escola de Nutrição-Universidade Federal da Bahia. Docente do curso de Nutrição da Universidade
do Estado da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
3. Mestre em Medicina e Saúde Humana pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Docente do curso de Nutrição da Universidade do
Estado da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
A CB foi realizada por meio de uma fita inelástica, com Os resultados foram apresentados como média, ± desvio-
precisão de 0,1 cm, no ponto médio entre o acrômio e o padrão ou mediana. As diferenças foram consideradas como
olecrano, no braço não dominante, estando o indivíduo na estatisticamente significantes quando a probabilidade de
posição ereta, com os braços relaxados ao longo do corpo7. falsa rejeição da hipótese nula era inferior a 5% (p<0,05).
A aferição das medidas antropométricas foi realizada em Para isso, utilizou-se o teste t de Student para amostras
duplicata; quando houve uma variação não aceitável, foi dependentes (pareadas), a análise de variância ANOVA para
realizada uma terceira medida. A medida final foi a média medidas repetidas e a correlação linear de Pearson para
das duas medidas mais próximas. análise de correlações.
O diagnóstico nutricional foi estabelecido por meio dos O estudo obteve aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa
indicadores antropométricos: peso/idade (P/I) para todas da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, sob registro n°
as crianças, peso/estatura (P/E) para menores de 5 anos e 1.339.860 e todos os pais e/ou responsáveis pelas crianças
índice de massa corporal/idade (IMC/I) para maiores de 5 assinaram o TCLE na admissão.
anos, expressos em unidades de desvio padrão (escore z)
relativos ao padrão estabelecido pela Organização Mundial RESULTADOS
de Saúde (OMS)8. Os indicadores antropométricos foram
Do total de 71 crianças acompanhadas, 56,3% (n=40)
avaliados no programa ANTHRO® para menores ou iguais a
eram do sexo masculino e 43,7% (n=31) do sexo feminino.
5 anos e ANTHO PLUS® para maiores de 5 anos de idade8.
Observou-se predominância da faixa etária inferior a 12 meses
Devido à grande variedade de classificações para o (39%), seguida pela faixa etária entre 12 e 60 meses (33,8%)
estado nutricional proposto pela OMS, adaptamos os e maiores que 60 meses (26,7%). A mediana do tempo de
diagnósticos nutricionais respeitando os seguintes critérios: internamento foi 9 dias (1-77 dias). O motivo da internação
para o indicador P/I, classificou-se: desnutrição energético por doença aguda foi mais prevalente (67,6%; n=48), sendo
proteica (DEP) grave: < escore z -3; DEP: ≥ escore z- 3 que os diagnósticos mais frequentes foram broncopneumonias,
e < escore z -2; Eutrofia: ≥ escore z-2 e ≤ escore z+2; pneumonia e outras afecções do trato respiratório (35,4%);
e excesso de peso: > escore z + 2. Para o indicador de seguidos por apendicites de fase IV/ apendicectomias (20,8%)
P/E, foram considerados os critérios a seguir: DEP grave: < e pós-operatório de hernioplastias ou herniorrafias (10%).
escore z -3; DEP: ≥ escore z- 3 e < escore z -2; Eutrofia: ≥
Das crianças internadas por doenças crônicas, as hidro-
escore z-2 e ≤ escore z+1; Risco de Sobrepeso: > Escore
cefalias com dreno e as neurotoxoplasmoses foram as mais
z + 1 e ≤ escore z + 2; Sobrepeso: > Escore z + 2 e
prevalentes (43,47%), seguidas das doenças hepáticas
≤ escore z + 3; e Obesidade: > Escore z + 3 e para o
(13%). Em relação à via de administração da dieta, a via
indicador IMC/I considerou-se: DEP grave: < escore z -3;
oral foi mais prevalente em todo o período, seguida pela
DEP: ≥ escore z- 3 e < escore z -2; Eutrofia: ≥ escore z-2
via enteral e ostomias. Quando analisada a adequação da
e ≤ escore z+1; Sobrepeso: > Escore z + 1 e ≤ escore NEE, verificou-se que ao longo do período houve oscilação
z + 2; Obesidade: > escore z + 2 e ≤ escore z + 3; e na prevalência em relação à adequação das necessidades
Obesidade grave: > Escore z + 3. nutricionais energéticas em um percentual importante de
Estratificou-se o tempo de internamento de acordo com crianças (Tabela 1).
os dias de hospitalização: 1 a 6 dias; 7 a 13 dias; 14 a 21 A classificação do estado nutricional na admissão hospi-
dias; 21 a 27 dias e acima de 28 dias. talar apontou prevalência de pacientes eutróficos (66,2%),
O cálculo das necessidades nutricionais energéticas foi seguidos pelo grupo de pacientes desnutridos (25,3%),
estabelecido utilizando o método da Food and Agriculture sendo que desses, 7% eram desnutridos graves; e daqueles
Organization (FAO)/OMS9 para todas as crianças, sendo com excesso de peso (8,5%). O diagnóstico nutricional foi
padronizado o nível moderado de atividade física para estabelecido levando-se em consideração o escore z peso
crianças acima de 12 meses. O cálculo da ingestão alimentar para idade (P/I) e, posteriormente, comparado com o escore
foi feito com base no recordatório alimentar de 24 horas e z P/E para menores de 5 anos e IMC/I para maiores de 5
reavaliado a cada 7 dias. anos de idade (Tabela 2).
Em relação à avaliação da composição corpórea total foi Em relação à evolução ponderal, considerou-se a dife-
utilizada a CB, cuja adequação foi estabelecida a partir da rença entre o peso da alta e o da admissão para determinar
tabela de percentis e circunferência média do braço (mm), ganho, perda ou manutenção de peso durante a hospita-
como proposto por Frisancho10. A interpretação dos percentis lização. Do total da amostra, 52% (n=37) demonstraram
foi realizada conforme recomendação da Sociedade Brasi- ganho ponderal ao longo do internamento, sendo a média de
leira de Pediatria (SBP)11, considerando-se como adequados 0,51 kg, a mediana de 0,38 (DP±0,62), enquanto 45,07%
valores de CB entre os percentis P5-P95. (n=32) apresentaram perda de peso no período, com média
BRASPEN J 2018; 33 (1): 32-8
34
Pacientes pediátricos: estado nutricional e fatores associados
Tabela 2 – Comparação entre os diagnósticos nutricionais quando considerados os índices de P/I, P/E e IMC/I na admissão hospitalar.
P/I P/E p P/I IMC/I p
Diagnóstico
(< 5 anos) (< 5 anos) (>5 anos) (> 5 anos)
n % n % n % n % n % n%
DEP grave 6 (11%) 2 (4%) 0,07 – – –
DEP 11 (21%) 4 (8%) 0,60 2 (11%) 1 (5%) 0,85
Eutrofia 30 (58%) 31 (59%) 0,07 16 (84%) 15 (80%) 0,40
Risco de Sobrepeso – 7 (13%) – –
Sobrepeso – 4 (8%) – 1 (5%)
Excesso de Peso 5 (10%) – 0,19 1 (5%) – 0,28
Obesidade – 4 (8%) – 1 (5%)
Obesidade grave – – – 1 (5%)
Total 52 (100%) 52(100%) 19 (100%) 19 (100%)
* Não se aplica/ -- nenhum paciente/ Teste: Análise de variância ANOVA para medidas repetidas.
n=número; P/I=peso para idade; P/E=peso para estatura; IMC/I=índice de massa corpórea para idade; p=nível de significância; DEP=desnutrição energético proteica
de -0,75 kg, a mediana de -1,85 (DP±0,79), os demais A análise do estado nutricional na admissão dos pacientes
pacientes apresentaram manutenção do peso. A prevalência que perderam peso durante a hospitalização mostrou que
de perda de peso foi maior nos pacientes com idade superior 56% estavam eutróficos, 25%, desnutridos, 16%, com excesso
a 60 meses (41%), seguidos por aqueles com idade inferior de peso e 3%, com desnutrição grave em relação ao índice
a 12 meses (34%) e, por último, 12-60 meses (25%). P/I. A perda ponderal média ao longo do internamento foi
BRASPEN J 2018; 33 (1): 32-8
35
Ribeiro VA et al.
maior naqueles que estiveram internados por mais de 28 dias valores baixos (abaixo do P5), em 17% (n=12); e elevados
e que haviam sido admitidos com diagnóstico de doenças (acima de P95), em 12% (n=8).
agudas e idade superior a 60 meses. Não houve relação A CB estava adequada em aproximadamente 63% (n=46)
entre déficits ponderais na admissão e maior tempo de inter- dos pacientes com diagnóstico de eutrofia para o índice
namento. Houve correlação fracamente positiva (r=0,26) P/I na admissão. Dos pacientes desnutridos, os valores da
entre o tempo de internação e a perda ponderal (Tabela 3). CB estavam adequados em 33% dos pacientes e baixos
Os pacientes admitidos com DEP grave não sofreram em 25% das crianças com o mesmo diagnóstico. Entre os
modificação em seu estado nutricional no decorrer do pacientes com DEP grave, os valores da CB estavam baixos
período de internação; entre os admitidos com DEP, 31% em 100% dos casos. Nos pacientes com excesso de peso, a
estavam com DEP grave na alta hospitalar, 50% perma- CB apareceu com valores elevados em 83% dos pacientes
neceram com DEP e 15% se tornaram eutróficos. Entre os estudados. Observou-se correlação fortemente positiva
eutróficos, 98% permaneceram eutróficos e 2% evoluíram (r=0,99) entre a adequação da CB e o índice P/I, dados
com DEP; dos pacientes com excesso de peso 83% perma- não apresentados em tabela.
neceram com esta condição, enquanto 17% se tornaram
eutróficos quando analisado o índice P/I.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A análise da evolução nutricional, de acordo com o diag-
nóstico antropométrico da admissão segundo o z escore peso Foram acompanhadas 71 crianças nesse estudo,
para idade (P/I), mostrou não haver diferença estatisticamente observou-se maior prevalência do sexo masculino e predo-
significante (p>0,05), conforme teste t Student (Tabela 4). minância da faixa etária inferior a 12 meses, resultados
A análise de variância de Kruskal-Wallis foi realizada com semelhantes aos encontrados em outros estudos5,12,13.
a finalidade de comparar os valores do ∆% calculado (∆%= Durante todo o período de hospitalização, observou-se
Z P/I depois – Z P/I antes / Z P/I antes x 100) dos grupos de predomínio da via oral para administração da dieta, seguido
desnutridos, de eutróficos e com excesso de peso. pela via enteral e ostomias. Ao longo do internamento,
Quando avaliada a CB de forma independente, observou- notou-se uma inadequação das NEE em um percentual
se adequação de seus valores em 48% (n=34) das crianças; importante de crianças. O desequilíbrio entre a necessidade
Tabela 4 – Análise da evolução nutricional dos grupos de desnutridos, de eutróficos e excesso de peso segundo o escore z P/I.
Estado Nutricional Inicial (a) Final (b) ∆ teste t
Student
n % n % ((b-a)/a)*100
DEP grave 5 7% 9 13% 4,35% 0,77
(z <= -3) (-4,82±1,27) (-5,03±0,89)
DEP 13 18% 8 11% 3,6% 0,62
(-1 <= z < 3.0) (-2,50±0,32) (-2,59±0,57)
Eutrofia 47 66% 49 69% 19,14% 0,67
(2 < z < -1) (-0,47±0,99) (-0,56±0,98)
Excesso de peso 6 8% 5 7% -7,30% 0,70
(z >= 2) (3,15±1,02) (2,92±1,06) 7%
Total Geral 71 100% 71 100% -
( )=escore z médio ± desvio-padrão do índice peso para idade/ =Análise de variância de Kruskal- Wallis; DEP=desnutrição energético proteica
e a ingestão de nutrientes essenciais relaciona-se com ou agudos dos pregressos ou crônicos. Identifica situações
desnutrição e excesso de peso1. em que a criança apresenta um peso corporal abaixo ou
Na admissão, foram observados diagnósticos nutri- acima dos valores de referências esperados para idade e
cionais extremos de DEP grave, DEP e excesso de peso, sexo. Por não considerar a medida da altura, não é capaz
resultado similar ao encontrado em outros estudos14-17. de identificar a causa da alteração do estado nutricional
O fenômeno descrito como transição nutricional mostra quando essa ocorre.
a possibilidade de uma mesma população apresentar A variação da faixa etária de 0 a 9 anos e 11 meses em
desnutrição e excesso de peso18. Estudos apontam que nossa casuística constituiu uma limitação do presente estudo,
crianças que são acometidas pela desnutrição crônica considerando que os parâmetros P/I, A/I, P/E e IMC/I utili-
podem potencialmente se tornar obesos na vida adulta18,19. zados na avaliação do estado nutricional são normalmente
Ambos, desnutrição e excesso de peso, podem comprometer divididos por faixa etária de 0 a 5 anos e acima de 5 anos
o crescimento e desenvolvimento cognitivo, aumentar o de idade. A casuística, resultado da admissão hospitalar no
risco de infecções, prolongar a cicatrização de feridas e o período proposto, de muitas crianças que não preencheram
tempo de internação hospitalar1. os critérios de inclusão no estudo, pode ter também consti-
O índice P/E possui caráter complementar e é capaz de tuído um fator de limitação.
detectar a desnutrição aguda, sendo altamente sensível para Porém, a relevância do estudo se mantém, por se mostrar
o sobrepeso20. Ao analisar o índice P/E em relação ao P/I um feito inédito em um hospital público de grande porte
para os pacientes com idade inferior a 5 anos na admissão, em uma a capital da região Nordeste do Brasil. Revela-se
constatou-se que aproximadamente um terço da população como um passo inicial a ser ampliado, por meio da reali-
desnutrida (35%, n=6) tem desnutrição aguda, enquanto zação de pesquisas adicionais com uma maior amostra de
que para 65% dos desnutridos segundo P/I, o índice P/E pacientes, a fim de obter resultados que complementem
apontou risco de sobrepeso e sobrepeso, subestimando a nossos achados iniciais.
prevalência de desnutrição. Deste modo, o acompanhamento da evolução do
O ganho ou manutenção do peso durante a hospitali- estado nutricional das crianças durante a hospitalização
zação foi fator associado ao menor tempo de internação. foi fundamental para o entendimento dos principais fatores
Os diagnósticos de doenças agudas, idade superior a 60 associados. Percentual importante de crianças apresentou
meses e a perda ponderal foram fatores associados ao maior perda ponderal durante a realização deste estudo. Os fatores
tempo de internação, mesmo que com correlação fracamente associados a uma evolução não desejada do estado nutri-
positiva, o que talvez possa ter associação com o tamanho da cional foram a idade superior a 60 meses, diagnóstico de
amostra do estudo. Estudo realizado em Alagoas encontrou doenças agudas e maior perda ponderal média.
associação positiva entre déficits ponderais na admissão e
maior tempo de internamento13; o mesmo não foi encontrado AGRADECIMENTOS
em nosso estudo.
À coordenação do Serviço de Nutrição do hospital onde
Percentual relevante de crianças admitidas com DEP o estudo foi realizado; aos nutricionais e residentes de
evoluíram com DEP grave ao longo do internamento, Nutrição da enfermaria pediátrica; à equipe de estagiários
mostrando piora no estado nutricional segundo índice P/I. que participaram da coleta de dados.
Estudo realizado em Fortaleza, que objetivou avaliar o
estado nutricional na admissão e na alta hospitalar, mostrou
resultado em parte divergente, com as crianças desnutridas REFERÊNCIAS
permaneceram com seu estado nutricional inalterado e, entre 1. Pileggi VN, Monteiro JP, Margutti AV, Camelo JS Jr. Prevalence
as eutróficas, cerca de 9% evoluíram para DEP3. of child malnutrition at a university hospital using the World
Health Organization criteria and bioelectrical impedance data.
A medida da CB é um marcador sensível para a avaliação Braz J Med Biol Res. 2016;49(3):e5012.
nutricional pois representa a reserva de tecido adiposo e 2. Sermet-Gaudelus I, Poisson-Salomon AS, Colomb V, Brusset
MC, Mosser F, Berrier F, et al. Simple pediatric nutritional risk
muscular. No presente estudo, observou-se forte relação score to identify children at risk of malnutrition. Am J Clin Nutr.
entre a CB e o diagnóstico nutricional segundo índice P/I, 2000;72(1):64-70.
indicando que, na impossibilidade de se usar as medidas 3. Rocha GA, Rocha EJ, Martins CV. The effects of hospitali-
zation on the nutritional status of children. J Pediatr (Rio J).
usuais como peso e estatura, esta pode ser utilizada como 2006;82(1):70-4.
marcador confiável para avaliação do estado nutricional. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
O índice de P/I foi adotado como indicador do estado Departamento de Atenção Básica. Manual Instrutivo para Imple-
mentação da Agenda para Intensificação da Atenção Nutricional
nutricional neste estudo. Esse índice reflete a situação global, à Desnutrição Infantil. Portaria Nº 2.387, de 18 de outubro de
não diferenciando os comprometimentos nutricionais atuais 2012. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.
5. Magalhães EA, Martins MALP, Rodrigues CC, Moreira ASB. 14. Oliveira AF, Oliveira FLC, Juliano J, Ancona-Lopez F. Evolução
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2002;78(6):491-6. 2010;44(2):257-65.
RESUMO
Vanessa da Silva Sopeña1
Bruna Celestino Schneider2 Introdução: A composição corporal e sua distribuição sofrem mudanças conforme a idade. Por
Andreia Morales Cascaes3 isso, avaliar o uso de indicadores antropométricos para avaliação da adiposidade corporal em
Alexandre Emidio Ribeiro Silva3
Silvana Paiva Orlandi2 idosos é de extrema importância. Método: Trata-se de um estudo transversal, realizado com 108
idosos cadastrados em 11 unidades básicas de saúde do município de Pelotas-RS integrantes da
Estratégia Saúde da Família. Para a avaliação nutricional, foram aferidos: altura, peso, circunfe-
rência da cintura e circunferência do quadril. O percentual de gordura corporal (%GC) foi veri-
Unitermos: ficado por bioimpedância (BIA) e pelo índice de Adiposidade Corporal (IAC) calculado conforme
Idosos. Antropometria. Tecido Adiposo. Impedância proposto por Bergman et al. Resultados: Os idosos apresentaram médias %GC, verificado pelos
Bioelétrica.
dois indicadores BIA e IAC, acima do recomendado (38,5 e 35,6, respectivamente). Conclusão:
Keywords: São necessárias mudanças no estilo de vida destes idosos, incentivando o consumo alimentar
Elderly. Anthropometry. Body Fat. Bioelectric Impedance. saudável e a pratica de atividade física.
1. Nutricionista. Graduada pela Faculdade de Nutrição, Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS, Brasil.
2. Graduação em Nutrição. Doutorado em Epidemiologia. Faculdade de Nutrição, Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas, RS, Brasil.
3. Graduação em Odontologia. Doutorado em Epidemiologia. Faculdade de Odontologia, Departamento de Odontologia Social e Preventiva,
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa A média da circunferência da cintura no sexo feminino foi
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas de 95,1±1,2 e, no sexo masculino, 98,6±2. Apresentam-se
(UFPel), protocolo: 38487014.3.0000.5317, e todos os acima da faixa considerada normal para ambos os sexos,
participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre maior do que 80 cm para mulheres e do que 94 cm para
e Esclarecido (TCLE). homens. Na BIA, a média do %GC obtida foi de 40,9±0,9
nas mulheres e de 31,9±1,8 nos homens; já pelo IAC, a
média encontrada foi de 37,6±0,7 nas mulheres e 29,8±0,7
RESULTADOS
nos homens, apresentando baixa correlação entre os métodos
Participaram deste estudo 108 idosos. A maioria era do (r=0,66).
sexo feminino (73,2%), branca (66%) e sem companheiro
(58,5%). Ao utilizar o IMC, observou-se que 38,9% dos idosos
DISCUSSÃO
apresentavam sobrepeso e 32,4% obesidade (Tabela 1).
Na Tabela 2, encontra-se a descrição das variáveis antro- Foram utilizados dois métodos para medir o %GC: BIA
pométricas e de gordura corporal de acordo com o sexo. e IAC, sendo este último um método relativamente novo,
Quanto às mulheres, a média do peso apresentado foi de desenvolvido em uma população mexicano-americana e
66,5 kg (DP 1,4), e quanto aos homens, foi de 73 kg (DP validado em uma população afro-americana. No presente
2,2). Referente à média do percentual de gordura corporal, estudo, os valores do %GC obtidos pelo IAC subestimaram
as mulheres apresentaram um valor superior ao dos homens os valores encontrados pela balança de BIA, não sendo
(40,9±0,9 e 31,9±1,8, respectivamente). evidenciada boa correlação entre os métodos.
Salienta-se como limitação deste estudo a impossibilidade
de utilização de um método de referência para composição
Tabela 1 – Descrição da amostra de acordo com variáveis sociodemográ- corporal, que possibilitaria a comparação dos métodos
ficas e nutricionais. Pelotas, 2015.
utilizados com um valor designado padrão ouro.
Variável N (%)
Com relação ao estado nutricional entre os idosos anali-
Sexo (n=108)
sados, 71,3% apresentaram excesso de peso. Quanto à
Feminino 79 (73,2) média da circunferência da cintura, foi encontrado um valor
Masculino 29 (26,8) acima do recomendado, o que caracteriza risco à saúde,
Estado Civil (n=106) já que a centralização da gordura corporal parece melhor
Sem companheiro 62 (56,4) predizer as complicações em idosos9. Resultados similares
Com companheiro 44 (43,6) foram encontrados em diferentes regiões do país3,4,10. Silva
Cor de Pele (n=103) et al.11 observaram 72,7% de idosos com excesso de peso
Branca 68 (66,0)
e a média circunferência da cintura de 92,6 cm, acima da
faixa recomendada.
Não Branca 35 (34,0)
Em relação ao %GC, Eickemberg et al.12 encontraram
IMC (kg/m²) (n=108)
nos idosos média de 37,2% no sexo feminino e de 27,5% no
Desnutrição 2 (1,9)
masculino. Silva et al.13 observaram média de 38,18% nas
Eutrofia 29 (26,8)
mulheres e de 27,98% nos homens. Valores semelhantes ao
Sobrepeso 42 (38,9) do presente estudo.
Obesidade 35 (32,4)
Goodman-Gruen & Barrett-Connor14 analisaram uma
IMC=índice de massa corporal
média inferior em relação ao %GC, 26,9% em mulheres
e 19,7% em homens, e de circunferência da cintura, 80,3
Tabela 2 – Descrição das variáveis antropométricas e de gordura corporal cm em mulheres e 95,0 cm em homens, encontrados neste
na amostra geral e de acordo com o sexo. (n=108) Pelotas. 2015. estudo. Essa diferença pode ser causada pela modificação
Variável (dp) Geral (dp) Feminino (dp) Masculino dos hábitos alimentares ao longo dos últimos anos, provo-
Peso (kg) 68,5 (13,1) 66,5 (1,4) 73,0 (2,2) cando alterações significativas do peso corporal e distribuição
Circunferência 96,7 (11,8) 95,1 (1,2) 98,6 (2,0) da gordura, aumentando, assim, a prevalência de sobrepeso
da Cintura (cm) e obesidade da população15.
Circunferência 103,6 (10,2) 104,2 (1,2) 101,3 (1,1)
do Quadril (cm)
CONCLUSÃO
BIA (%) 38,5 (9,5) 40,9 (0,9) 31,9 (1,8)
IAC (%) 35,6 (7,1) 37,6 (0,7) 29,8 (0,7) A composição e distribuição corporal sofrem mudanças
BIA=bioimpedância; IAC=índice de adiposidade corporal ao longo da vida. Geralmente, em pessoas com 60 anos
ou mais, há diminuição de massa muscular e aumento de 5. Rezende F, Rosado L, Franceschinni S, Rosado G, Ribeiro R,
massa gorda. Esse processo acontece com mais intensidade Marins JCB. Revisão crítica dos métodos disponíveis para
avaliar a composição corporal em grandes estudos populacionais
em mulheres do que em homens. Os idosos são mais susce- e clínicos. Arch Latinoam Nutr. 2007;57(4):327-34.
tíveis a complicações de saúde, portanto, necessitam de uma 6. Monteiro AB, Fernandes Filho J. Análise da composição corporal:
atenção intensificada. uma revisão de métodos. Rev Bras Cineantropom Desemp Hum.
2002;4(1):80-92.
Conforme analisado neste estudo, o %GC nos diferentes 7. Bergman RN, Stefanovski D, Buchanan TA, Sumner AE,
métodos ficou acima do recomendando em ambos os sexos, Reynolds JC, Sebring NG, et al. A better index of body adipo-
assim como o peso, visto que menos de um terço da amostra sity. Obesity (Silver Spring). 2011;19(5):1083-9.
8. World Health Organization - WHO. Physical status: the use and
apresentava IMC adequado. Houve maior deposição de interpretation of anthropometry. Geneva: World Health Organi-
gordura na região central do corpo, observada pela circunfe- zation; 1995.
rência da cintura, a qual pode desencadear diversas doenças 9. Visscher TL, Seidell JC, Molarius A, van der Kuip D, Hofman
por ser a mais nociva ao organismo. A, Witteman JC. A comparison of body mass index, waist-hip
ratio and waist circumference as predictors of all-cause mortality
O excesso de peso está cada vez mais frequente na among the elderly: the Rotterdam study. Int J Obes Relat Metab
população. Dado o exposto, são necessárias mudanças Disord. 2001;25(11):1730-5.
nos hábitos alimentares e de vida dos idosos, enfatizando 10. Leite-Cavalcanti C, Rodrigues-Gonçalves MC, Rios-Asciutti
LS, Leite-Cavalcanti A. Prevalência de doenças crônicas e
a importância de se atentar as escolhas dos alimentos, de estado nutricional em um grupo de idosos brasileiros. Rev Salud
manter um peso saudável e de aderir uma vida ativa, dentre Pública. 2009;11(6):865-77.
outras, por meio de campanhas, de ações em postos de 11. Silva EM, Gouveia VSR, Santos CKC, Oliveira FGP. Estado
nutricional e dados bioquímicos de idosos acompanhados por um
saúde e em grupos de convivência, para incentivar e escla-
núcleo de apoio à saúde da família no agreste de Pernambuco.
recer os benefícios desses cuidados na saúde. Rev Baiana Saúde Pública. 2015;39(2):295-308.
12. Eickemberg M, Oliveira CC, Roriz AKC, Fontes GAV, Mello AL,
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Resultados do Universo. Rio de Janeiro: IBGE; 2011. de Nutrição do Centro de Referência em Assistência à Saúde
2. Mendes MRSSB, Gusmão JL, Faro ACM, Leite RCBO. A situ- do Idoso da Universidade Federal Fluminense, no município de
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2005;3(2):163-8. 2007;88(4):452-7.
INTRODUÇÃO MÉTODO
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde Trata-se de um estudo transversal, realizado no hospital
(OMS), 1,6 bilhão de pessoas, aproximadamente 24,8% da universitário localizado na capital do estado de Alagoas. Para
população mundial, são acometidas pela anemia, com uma o cálculo amostral, considerou-se como variável desfecho a
prevalência de 22,7% em países desenvolvidos e 52% em prevalência de 78,8% de não utilização de suplemento ferroso
países subdesenvolvidos1,2. No Brasil, além dos dados sobre no estado de Alagoas, segundo Ferreira et al.14; um nível de
a prevalência nacional serem escassos, especialmente em confiança de 90% e um erro amostral de 5%, o que adicio-
gestantes, e centralizados em algumas regiões, existem dife- nado de 10% para compensar perdas, seriam necessárias
renças metodológicas para a classificação dos valores, difi- 200 gestantes para o estudo. O cálculo amostral foi realizado
cultando a estimativa precisa da prevalência desta carência com auxílio do programa STATCALC do EPI INFO versão 7.
nutricional. Contudo, foi desenvolvido um estudo de revisão Foram estudadas gestantes com diagnóstico de alto
acerca da prevalência de anemia em gestantes nos últimos risco, ou seja, aquelas com idade ≤ 19 anos ou ≥ 35 anos
40 anos no país, sendo observados números elevados de de idade, e/ou com diagnóstico de doenças crônicas e/ou
gestantes anêmicas, o que caracteriza essa situação como específicas da gestação e/ou ainda por intercorrências que
um problema de saúde pública3. elevam o risco na gravidez, e incluídas aquelas internadas no
Dada a importância do combate à anemia gestacional hospital, no período de setembro de 2012 a julho de 2013.
e, consequentemente, às complicações tanto para a mãe Foram excluídas aquelas gestantes com estado clínico grave
quanto para o feto e recém-nascido3-5, em meados da e aquelas internadas em trabalho de parto.
década de 1980 o Ministério da Saúde do Brasil implantou A seleção das gestantes participantes do estudo foi feita
a suplementação terapêutica e profilática de ferro a pela identificação no livro de registros no posto da enfer-
gestantes, como opção para controlar essa deficiência magem, localizado na maternidade do hospital. Foram estu-
nutricional. Em 1992, o País assumiu compromisso junto às dadas variáveis socioeconômicas, de estilo de vida, antropo-
Nações Unidas de reduzir, até o ano 2000, a prevalência métricas, e investigado o uso de suplementação antianêmica
de anemia ferropriva nesse grupo em 1/3 dos valores (variável dependente das análises), informação obtida no
encontrados em 19906,7. momento da entrevista, quando a gestante era questionada
No ano de 2013, foi lançada uma Diretriz sobre a se utilizou ou não suplemento ferroso na gravidez.
suplementação de ferro e ácido fólico para gestantes, Para avaliação antropométrica, foram realizadas medidas
reforçando a importância da suplementação oral diária e de peso e altura utilizando balança digital com estadiômetro.
contínua desse mineral como parte da assistência pré-natal8. Os dados foram utilizados para cálculo do Índice de Massa
Adicionalmente, desde 2004 existe no país o programa de Corporal (IMC), considerando pontos de corte estabelecidos
fortificação de farinhas de trigo e milho com ferro e ácido por Atalah et al.15 e preconizados pelo Ministério da Saúde
fólico9. De maneira complementar, em 2005 foi adotada do Brasil16. Foi investigado, também, ganho de peso durante
a suplementação profilática do mineral, conforme esta- a gravidez segundo a idade gestacional no momento da
belecido pelo Programa Nacional de Suplementação de entrevista, considerando as recomendações de meta ponderal
Ferro (PNSF)10. estabelecidas pelo Institute of Medicine (IOM)17.
Apesar dessas estratégias e da implementação de guias As variáveis independentes estudadas foram: faixa etária
e políticas para o combate à anemia carencial terem sido (≤ 19 anos/ 20-34 anos/ ≥ 35 anos); procedência (interior
adotadas há bastante tempo, a prevalência de anemia no do estado/ capital); renda familiar mensal R$ (< 1 salário
país vem se mantendo elevada. Uma das justificativas para mínimo/ ≥ 1 salário mínimo); beneficiária de programa
isso é a baixa utilização/adesão à suplementação com sais governamental (sim/não); número de membros no domicílio
de ferro, como discutido por diversos autores11-13. (<5/ ≥ 5); escolaridade em anos de estudo (<4 / ≥ 4); cor
Desta forma, estudos que visam avaliar o uso da suple- da pele referida (preta/branca ou parda); união estável (sim/
mentação de ferro, bem como os fatores associados à sua não); tratamento na água para beber (sim/não); hábito etilista
não utilização, são extremamente importantes para avaliar (ingestão regular de bebida alcoólica, independentemente do
os programas governamentais e nortear o país na imple- tipo ou quantidade) (sim/não); hábito tabagista (uso regular
mentação de estratégias no combate à anemia. Além disso, de um ou mais cigarros por dia) (sim/não); estado nutricional
pesquisas dessa natureza são escassas no estado de Alagoas classificado pelo IMC gestacional e ganho ponderal no
e na gestação de alto risco. Assim, o presente estudo teve período gestacional.
como objetivo avaliar a prevalência e os fatores associados No estudo foi utilizada a regressão logística múltipla de
à não utilização de suplemento antianêmico por gestantes Poisson com estimativa robusta da variância visando iden-
de alto risco de Alagoas. tificar preditores da não utilização de suplemento ferroso
BRASPEN J 2018; 33 (1): 43-8
44
Não utilização de suplemento antianêmico por gestantes de alto risco
(variável dependente). Foram testadas no modelo ajustado Tabela 1 – Caracterização da amostra estudada segundo variáveis de-
as variáveis que na análise bruta apresentaram significância mográficas, socioeconômicas, estilo de vida e antropométricas. Maceió,
menor que 20% (p<0,20). A magnitude das associações AL, 2013.
entre as variáveis independentes e a variável-desfecho Variáveis* n %
Idade (anos)
foi expressa em Razão de Prevalência (RP) e Intervalo de
Confiança (IC95%), considerando significativo p<0,05. Os ≤ 19 anos 70 33,3
dados foram processados utilizando-se o Stata versão 13.0. 20-34 anos 115 54,8
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em ≥35 anos 25 11,9
Pesquisa do Centro Universitário CESMAC (Centro de Estudos Procedência
Superiores de Maceió), processo nº 1396/2012. Todas as Capital 104 49,6
participantes do estudo, após terem sido informadas sobre Interior 106 50,4
a pesquisa, concordaram em participar e assinaram um Renda familiar mensal
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. No caso das < 1 salário mínimo 73 39,2
adolescentes, o consentimento foi dado pelo responsável ≥ 1 salário mínimo 113 60,8
legal da menor. Beneficiária de programa do governo
Sim 90 42,9
RESULTADOS Não 120 57,1
Tabela 2 – Caracterização da amostra estudada segundo variáveis demográficas, socioeconômicas, estilo de vida e antropométricas. Maceió, AL, 2013.
Variáveis* Não uso de suplemento RP bruta p*** RP ajustada p****
ferroso** (IC95%) (IC 95%)
n=79 (37,6%)
Idade (anos)
≤ 19 anos 30 (44,1) 1,29 (0,91; 1,83) 0,151 1,11 (0,78; 1,57) 0,551
20-34 anos 36 (52,9) 1,00 1,00
≥35 anos 2 (2,9) 0,38 (0,15; 0,95) 0,038 0,42 (0,17; 1,02) 0,058
Procedência
Capital 34 (46,3) 1,00 0,943
Interior 35 (50,7) 1,01 (0,71; 1,44)
Renda
< 1 salário mínimo 24 (40,7) 1,12 (0,73; 1,64) 0,549
≥ 1 salário mínimo 35 (59,3) 1,00
Beneficiária do governo
Sim 27 (39,1) 1,00 0,171 1,00 0,372
Não 42 (60,9) 1,29 (0,89; 1,87) 1,17 (0,82; 1,67)
Número de membros no domicílio
< 5 membros 15 (21,7) 1,00 0,320
≥ 5 membros 54 (78,3) 0,79 (0,49; 1,25)
Escolaridade (anos de estudo)
< 4 anos 30 (53,6) 1,08 (0,73; 1,61) 0,692
≥ 4 anos 26 (46,4) 1,00
Tratamento na água de beber
Sim 7 (10,4) 1,00 0,056 1,00 0,155
Não 60 (89,6) 1,87 (0,98; 3,56) 1,57 (0,84; 2,91)
União estável
Sim 41 (59,4) 1,00 0,624
Não 28 (40,6) 1,09 (0,77; 1,55)
Cor da pele referida
Não negra 67 (97,1) 1,00 0,305
Negra 2 (2,9) 0,59 (0,21; 1,62)
Hábito tabagista
Sim 1 (1,4) 0,19 (0,03; 1,29) 0,090 0,25 (0,37; 1,65) 0,150
Não 68 (98,6) 1,00 1,00
Hábito etilista
Sim 8 (11,6) 0,83 (0,46; 1,52) 0,554
Não 61 (88,4) 1,00
Estado nutricional atual segundo o IMC
Baixo peso 7 (8,9) 0,42 (0,21; 0,84) 0,015 0,47 (0,24; 0,93) 0,030
Eutrofia 27 (34,1) 1,00 1,00
Excesso de peso 45 (57,0) 1,25 (0,88; 1,78) 0,217
Ganho ponderal
Insuficiente 39 (57,3) 1,21 (0,83; 1,78) 0,304
Adequado 7 (11,1) 1,00
Excessivo 22 (31,6) 0,88 (0,58; 1,33) 0,547
* Para algumas das variáveis estudadas, os somatórios dos “n” de suas respectivas categorias não atinge o total de casos da amostra (n=210), já que: 24 gestantes não souberam/ não quiseram
informar a renda familiar; 14 gestantes não quiseram informar a escolaridade; 5 gestantes não informaram o tratamento de água para beber; 18 gestantes não souberam informar/ não lembravam
o seu peso pré-gestacional e 5 gestantes não puderam ser pesadas; **Percentual referente à coluna, e não à variável independente; ***Regressão de Poisson bruta; ****Regressão de Poisson
ajustada, p<0,05 como significativo. IMC=índice de massa corporal
Este fato é de relevância epidemiológica, visto que a (n=32/39) referiram fazer uso de suplementação. Estudos
suplementação de ferro é vista pela maioria dos autores como têm demonstrado a relação entre estado nutricional compro-
sendo uma medida tanto de prevenção quanto de tratamento metido na gestação e uma maior prevalência de anemia4.
para a anemia, uma vez que muitas das mulheres na idade Portanto, pode-se considerar, na presente pesquisa, que
reprodutiva já iniciam suas gestações com deficiências de aquelas gestantes com baixo peso usavam mais suplemen-
ferro, devido aos baixos estoques corporais deste mineral8. Os tação ferrosa quando comparadas àquelas eutróficas, por já
sais ferrosos ofertados oralmente são rapidamente absorvidos apresentarem quadro de anemia e estarem em tratamento
e bastante eficazes em corrigir baixo níveis de hemoglobina antianêmico (variável não estudada) e/ou pelo fato de terem
e normalizar os estoques de ferro corporal. a informação da importância do uso da suplementação
Entretanto, o ferro na sua forma ferrosa apresenta devido ao risco de anemia que apresentam. Apesar disso,
algumas desvantagens, como efeitos colaterais que acabam de forma contrária, há certo tempo vem sendo discutido o
limitando o seu uso e efetividade, comprometendo, assim, o grande paradoxo entre a anemia e a obesidade, como parte
sucesso terapêutico. Outra possível justificativa é o fato de que do processo de transição nutricional em todo mundo23.
muitas gestantes deixam de aderir ao uso de sulfato ferroso Vitolo et al.20, estudando gestantes na cidade de São
ou ácido fólico devido à ausência de sintomas decorrentes do Leopoldo, RS, encontraram a baixa escolaridade como fator
estado de anemia19. A utilização dos suplementos contendo associado à não utilização de suplemento profilático de ferro. Os
ferro também esbarra na oferta precária destes pelos serviços autores alegaram que a escolaridade exerce papel fundamental
públicos e na baixa escolaridade da gestante20. no contexto da adesão às atitudes vinculadas ao adequado
No estudo de Elert et al.21, realizado com parturientes estado de saúde e nutrição. Na presente pesquisa, variáveis rela-
de um hospital público do sul do Brasil, mais de 80% das cionadas a condições socioeconômicas desfavoráveis, incluindo
mulheres estudadas relataram fazer uso de suplemento a baixa escolaridade, não se associaram a não utilização de
ferroso em algum momento da gestação. Entretanto, o aban- suplementação profilática, o que pode ser decorrente de dois
dono da suplementação foi relatado por quase 40% delas, a fatores: o hospital ser público, e a população estudada pertencer
maioria por iniciativa própria, seguida pela melhora autor- a uma classe social menos favorecida, e assim boa parte delas
referida do quadro de anemia; pela presença de sintomas apresentar semelhanças quanto às características socioeconô-
como: desconforto gastrointestinal e constipação intestinal, micas avaliadas. César et al.24, estudando a prevalência e os
bem como por esquecimento e também por dificuldade fatores associados à suplementação com sulfato ferroso entre
financeira. Fatores que também podem ter contribuído para gestantes residentes no município de Rio Grande, RS, também
a não utilização da suplementação por parte de algumas não encontraram associação entre o uso da suplementação
gestantes dessa pesquisa. ferrosa com variáveis socioeconômicas, como a escolaridade
No estudo de Rocha et al.22, realizado com um grupo materna e a renda familiar.
de gestantes de Viçosa, MG, foi verificado que 35,7% das Como a gestação de alto risco compromete de forma
gestantes avaliadas referiram não utilizar suplemento de mais acentuada a saúde materna-fetal, provocando maiores
ferro, frequência essa semelhante ao encontrado neste estudo chances no aparecimento de comorbidades, como a própria
(37,6%). De forma contrária, Ferreira et al.14, estudando condição de anemia ferropriva, é imprescindível que a
gestantes da região semi-árida de Alagoas, observaram que assistência pré-natal dada a este grupo seja intensificada,
cerca de 78,8% das mulheres estudadas não faziam uso de podendo desta forma identificar este tipo de situação, de
suplementação antianêmica. maneira a impedir um resultado desfavorável.
Todavia, os autores afirmam que não têm como esclarecer A utilização da suplementação rotineira de ferro auxilia na
o motivo dessa constatação, pois fatores como indisponibi- redução da mortalidade materno-fetal e de doenças infec-
lidade do suplemento nos serviços, sua não distribuição por ciosas, assim como em casos de baixo peso e prematuridades
parte dos funcionários ou distribuição sem as devidas orien- dos recém-nascidos. No entanto, a falta de conhecimento
tações, o não comparecimento das gestantes às consultas dos benefícios do uso da suplementação, bem como falta de
ou sua não adesão à prescrição podem ser fatores relacio- esclarecimento de possíveis efeitos colaterais que a mesma
nados ao problema. As gestantes da presente pesquisa não possa acarretar, faz com que ocorra baixa frequência da
foram questionadas quanto à razão da não utilização da utilização do suplemento25.
suplementação, porém imagina-se que são semelhantes às Pode-se considerar como limitações da pesquisa: (1) o tipo
relatadas anteriormente. de estudo, transversal, logo a situação apresentada refere-se
No presente estudo, o baixo peso na gestação foi o fator ao período de coleta de dados; (2) o uso de suplementação
protetor para a utilização de suplemento profilático, sendo foi baseado exclusivamente no relato da gestante, portanto,
que a maioria das gestantes que apresentavam baixo peso podem existir vieses de informação e (3) deve-se considerar o
BRASPEN J 2018; 33 (1): 43-8
47
Ferreira RC et al.
fato da amostra estudada ser procedente de um único local, [acesso 2015 Fev 19]. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.
o que restringe a extrapolação dos resultados encontrados. br/documents/10181/2718376/RDC_344_2002_COMP.pdf/
b4d87885-dcb9-4fe3-870d-db57921cf73f
Estudos longitudinais e de base populacional são neces- 10. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Nº 730 de 13 de maio de
sários para melhor definição do problema, uma vez que a 2005. Institui o programa Nacional de Suplementação de Ferro,
destinado a prevenir a anemia ferropriva e dá outras providên-
identificação e o controle desses fatores de forma precoce cias. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.
reduzem o impacto de possíveis intercorrências gestacionais. 11. Souza AI, Batista Filho M, Bresani CC, Ferreira LO, Figueiroa
JN. Adherence and side effects of three ferrous sulfate treatment
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parte de gestantes de alto risco de Alagoas é um problema 13. Azeredo CM, Cotta RMM, Silva LS, Franceschini SCC,
Sant´Ana LFR, Lamounier JA. A problemática da adesão na
de magnitude elevada, tornando evidente a necessidade de
prevenção da anemia ferropriva e suplementação com sais de
aumentar a cobertura da suplementação antianêmica entre ferro no município de Viçosa (MG). Ciênc Saúde Coletiva.
elas. Contudo, ter baixo peso na gravidez apresentou-se como 2013;18(3):827-36.
fator de proteção para a utilização de suplemento ferroso. 14. Ferreira HS, Moura FA, Cabral Junior CR. Prevalência e fatores
associados à anemia em gestantes da região semi-árida do Estado
Mediante essa situação, observa-se que há extrema neces- de Alagoas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008;30(9):445-51.
sidade de conduzir uma ampliação nos esforços para reali- 15. Atalah SE, Castillo LC, Castro SR, Aldea PA. Propuesta de um
nuevo estándar de evaluación nutricional em embarazadas. Rev
zação contínua de uma assistência educativa, objetivando o Méd Chile. 1997;125(12):1429-36.
uso do suplemento durante toda a gestação, e promover o 16. Brasil. Ministério da Saúde. Orientações para coleta e análise de
conhecimento das mulheres sobre anemia, sendo estratégias dados antropométricos em serviços de saúde. Norma Técnica
essenciais para melhorar a utilização de suplemento de ferro. do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional-SISVAN.
Série G. Estatística e Informação em Saúde. Brasília: Minis-
tério da Saúde; 2011 [acesso 2018 Fev 19]. Disponível em:
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de trigo e das farinhas de milho com ferro e ácido fólico. Alto Risco: Manual Técnico. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.
Local de realização do trabalho: Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, Maceió, AL, Brasil.
RESUMO
Débora Lima Barbosa1
Soraida Sozzi Miguel2 Introdução: Determinar a prevalência de interações fármaco-nutrição enteral potenciais e
Rita de Cássia Azevedo Couto Cornélio3 analisar a significância clínica das mesmas em uma unidade de terapia intensiva de um hospital
Mariana Macedo Alvim4 de ensino. Método: Estudo transversal, que analisou prescrições eletrônicas de pacientes da
Carolina Fraga Paiva5
Ludmila de Souza Caputo5 unidade de terapia intensiva de um hospital de ensino, avaliando a prescrição de medicamentos
com foco nas potenciais interações fármaco-nutrição enteral, entre 2 de maio e 30 de junho de
2016. A classificação dos medicamentos foi determinada pela Anatomical Therapeutic Chemical
Classification. A busca e a classificação das interações foram realizadas com base no sistema
Micromedex®. Resultados: Foram analisadas prescrições diárias de 53 pacientes, totalizando
610 prescrições. A prevalência de potenciais interações fármaco-nutrição enteral foi de 8,1% do
total de medicamentos prescritos por sonda de nutrição enteral. Houve 98 ocorrências em 15%
dos pacientes avaliados. Os grupos de fármacos mais prescritos foram 53% grupo C e 18% grupo
N. O número de interação por paciente variou de 1 a 2. Ressalta-se que, das quatro interações
fármaco-nutrição potenciais, 100% foram classificadas como moderadas, com valor clínico 2,
consideradas altamente significativas. Conclusão: Os fármacos administrados pela sonda de
nutrição enteral são prescritos com frequência na unidade de terapia intensiva, apresentando
elevada quantidade de interações fármaco-nutrição potenciais, sendo que todas as interações
Unitermos: potenciais identificadas são altamente significativas.
Preparações Farmacêuticas. Nutrientes. Terapia
Nutricional. Cuidados Críticos. Unidades de Terapia ABSTRACT
Intensiva. Interações de Medicamentos.
Introduction: To determine the prevalence of potential enteral drug-nutrition interactions and
Keywords: to analyze their clinical significance in an intensive care unit of a teaching hospital. Methods:
Pharmaceutical Preparations. Nutrients. Nutrition This cross-sectional study analyzed the electronic prescriptions of patients in the intensive care
Therapy. Critical Care. Intensive Care Units. Drug unit of a teaching hospital, evaluating the prescription of drugs with a focus on the potential
Interactions. drug-enteral nutrition interactions between May 2 and June 30, 2016. The classification of the
drugs was determined by the Anatomical Therapeutic Chemical Classification. The search and
Endereço para correspondência: classification of the interactions were performed based on the Micromedex® system. Results:
Débora Lima Barbosa Daily prescriptions of 53 patients were analyzed, totaling 610 prescriptions. The prevalence of
Rua Dr. João Pinheiro 415/301 – Jardim Glória – Juiz potential drug-enteral nutrition interactions was 8.1% of the total drugs prescribed by enteral
de Fora, MG, Brasil – CEP: 36015 040 nutrition tube. There were 98 occurrences in 15% of the patients evaluated. The most prescribed
E-mail: deboralima03@hotmail.com
drug groups were 53% C group, and 18% N group. The number of interactions per patient ranged
Submissão: from 1 to 2. It was emphasized that of the four potential drug-nutrition interactions, 100% were
10 de outubro de 2017 classified as moderate, with clinical value 2, considered highly significant. Conclusion: Drugs
administered by the enteral nutrition probe are frequently prescribed in the intensive care unit,
Aceito para publicação: presenting a high amount of potential drug-nutrition interactions, and all potential interactions
18 de dezembro de 2017 identified are highly significant.
1. Especialização em Residência Multiprofissional em Intensivismo, Urgência e Emergência - Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz
de Fora; Serviço de Farmácia do Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, Juiz de Fora, MG, Brasil.
2. Mestrado em Agroquímica - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil; Coordenadora e Professora da Faculdade de Ciências Médicas
e da Saúde de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.
3. Mestrado em Saúde Brasileira - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.
4. Mestrado em Saúde Coletiva - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.
5. Especialização em Residência Multiprofissional em Intensivismo, Urgência e Emergência - Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz
de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.
encontrado um resultado diferente do estudo realizado por 50% para 45,7% quando a hidralazina foi administrada
Reis et al.14, em sete hospitais de ensino no Brasil, cujo grupo após uma refeição-padrão ou em bolus de um produto
encontrado com maior percentual foi o B - 32,3%, seguido nutricional entérico12.
pelos grupos N - 19,3%, A - 15,0% e C- 14,2%. Esta dife- Já com o fármaco varfarina o mecanismo provável de
rença pode ser devido à maior ocorrência de prescrição de interação é desconhecido. Estudos descreveram o desenvol-
varfarina em relação ao presente estudo, em que houve maior vimento de resistência da varfarina em pacientes que rece-
prescrição de hidralazina, e pode ser atribuída ao perfil de beram NE concomitantemente, mesmo quando se utilizam
pacientes internados na UTI. produtos contendo baixo teor de vitamina K. Nestes casos,
A prevalência de IFNP foi de 8,1% do total de medica- o tempo de protrombina aumentou para níveis terapêuticos
mentos prescritos por SNE, resultado semelhante ao encon- desejados após a interrupção da nutrição. Portanto, é reco-
trado por Reis et al.14, que identificaram prevalência de 6,6% mendado a pausa da nutrição e monitorização do tempo
nas prescrições de 24 horas e 7,6% nas prescrições de 120 de protrombina12,14.
horas. Porém, na literatura pesquisada, não foram localizados Em relação à levotiroxina, as formulações à
mais estudos de prevalência de IFNP em pacientes críticos, base de soja aumentam a sua excreção fecal. Uma
o que não permitiu mais comparações. medida preventiva para evitar essa ocorrência é evitar
Os pacientes com menor ocorrência de IFNP tiveram formulações à base de soja e monitorar a função
tempo de internação na UTI semelhante àqueles com maior tireoidiana, devido ao risco de hipotireoidismo 12,17 .
ocorrência de IFNP, porém este resultado pode requerer uma A respeito da pausa da dieta, em um estudo realizado em
coleta de dados por um maior período, e, assim, constatar uma UTI de um hospital particular de grande porte, no Rio de
se há alguma influência no tempo de internação destes Janeiro (RJ), observou-se 33,14% administradas sem pausa, o
pacientes. que significou administração concomitante do medicamento
Este resultado é semelhante ao encontrado por Alvim et com a NE. Esse fato demonstra que a recomendação de
al. , em um hospital de ensino em Juiz de Fora (MG), no qual
13 pausa da dieta ainda não está difundida de tal forma que
não houve diferença no tempo de internação em pacientes faça parte da rotina de cuidado ao paciente.
com interações medicamentosas fármaco-fármaco. Neste Para que o manejo da IFNP realmente seja efetivo, é de
estudo, os pacientes com menor ocorrência de interação suma importância o trabalho multidisciplinar. A atuação
medicamentosa (abaixo de 2,6) tiveram tempo de internação do farmacêutico clínico junto aos enfermeiros, médicos e
na UTI semelhante àqueles com maior ocorrência de inte- nutricionistas torna-se essencial para a definição de estra-
ração medicamento (9,04±7,2 dias e 15,08±13,75 dias). tégias que se adequem à rotina de prescrição e adminis-
Apesar de ser interações de diferentes tipos, foi o único tração de medicamentos em pacientes com SNE. Além da
estudo encontrado comparando interações medicamentosas incorporação da prática da pausa da NE, a equipe deve
e tempo de internação. estar atenta para a monitorização clínica e laboratorial
O medicamento fenitoína, encontrado como o mais do paciente, a fim de constatar o alcance terapêutico dos
prevalente durante o estudo, quando administrado concomi- medicamentos administrados via SNE, conforme descrito
tantemente à nutrição enteral reduz sua biodisponibilidade, em estudos.
causando dosagens subterapêuticas. Além disso, é um Para pacientes que estão recebendo nutrição enteral
fármaco de índice terapêutico estreito e um potente indutor contínua, de acordo com recomendações necessárias, pode
enzimático que acarreta em potenciais interações medi- ser requerida a interrupção antes e depois da administração
camentosas, sendo assim, recomenda-se a determinação de medicamentos. Assim, para que não aconteça nenhum
dos níveis plasmáticos para monitorar possíveis interações comprometimento nutricional do paciente, o tempo de pausa
e realizar o manejo de ajuste de dose quando necessário, da dieta deve ser reduzido15,18.
porém nem todos os hospitais realizam a dosagem do A ASPEN recomenda a interrupção da nutrição enteral
fármaco, sendo imprescindível a atenção da equipe nas 30 minutos antes e 30 minutos após a administração de
recomendações de pausa da dieta15,16. medicamentos que apresentam IFNP. Contudo, em muitos
A hidralazina tem sua redução da concentração estudos, é sugerida uma interrupção de 1-2 horas antes e
plasmática máxima, o que pode implicar na ausência da 1-2 horas após a administração do fármaco19.
resposta anti-hipertensiva. Desta forma, em pacientes em O estudo apresenta algumas limitações. Apesar de clas-
uso de hidralazina e NE é necessário um maior controle sificar as interações de acordo com a gravidade e o nível de
dos níveis pressóricos. De acordo com estudos realizados, evidência, a real ocorrência da interação não foi investigada
as concentrações séricas máximas caíram de 80% para na pesquisa. Por fim, trata-se de estudo em centro único, com
46,2% e a área sob a curva concentração-tempo caiu de a inclusão de pequeno número de pacientes.
BRASPEN J 2018; 33 (1): 49-53
52
Interações fármaco-nutrição enteral em UTI
A realização diária do gerenciamento da terapia medi- 6. Matysiak-Luśnia K, Lysenko Ł. Drug administration via enteral
camentosa pelo farmacêutico clínico é indispensável para feeding tubes in intensive therapy - terra incognita? Anaesthesiol
Intensive Ther. 2014;46(4):307-11.
viabilizar o monitoramento das prescrições e rotinas de 7. Hoefler R, Vidal J. Conselho Federal de Farmácia. Admi-
administração de medicamentos de acordo com a clínica do nistração de medicamentos por sonda. Farmacoterapêutica.
paciente, além de colaborar para a implantação de ações 2009;14(3-4):1-6.
8. Carvalho AMR, Oliveira DC, Neto JEH, Martins BCC, Vieira
em prol da segurança do paciente. VMSF, Silva LIMM, et al. Análise da prescrição de pacientes
Recomenda-se a interação do farmacêutico com a equipe utilizando sonda enteral em um hospital universitário do Ceará.
Rev Bras Farm Hosp Serv Saúde.2010;1(1):1-24.
multiprofissional na elaboração de protocolos e educação
9. Tucker A, Ybarra J, Bingham A, Blackmer A, Curtis C, Mattox
continuada aos profissionais que lidam com os pacientes T, et al.; Standards of Practice for Nutrition Support Pharma-
em uso de sonda de nutrição enteral. O atendimento da cists Task Force; American Society for Parenteral and Enteral
equipe ao paciente deve sempre atentar para os horários Nutrition. American Society for Parenteral and Enteral Nutrition
(ASPEN) standards of practice for nutrition support pharmacists.
dos medicamentos e das refeições ofertadas, a fim de que Nutr Clin Pract. 2015;30(1):139-46.
cada paciente tenha sua prescrição de acordo com sua 10. Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus [Internet]. Apresen-
necessidade, podendo beneficiá-los com melhor aprovei- tação [acesso 2016 Dez 13]. Disponível em: http://www.hmtj.
org.br/o-hospital/apresentacao/apresentacao.php
tamento da terapêutica, além da melhoria das condições
11. WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology
nutricionais, o que levará ao alcance do objetivo terapêutico [Internet]. Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) Classifi-
do medicamento. cation and Defined Daily Doses (DDD). [acesso 2017 Jan 2].
Disponível em: http://www.whocc.no/atc_ddd_inde
12. Micromedex® Diseasedex - General Medicine [Internet].
CONCLUSÃO Interações medicamentosas. [acesso 2017 Jan 2]. Dispo-
nível em: http://www.micromedexsolutions.com/micro-
Conclui-se que os fármacos administrados pela sonda de medex2/librarian/PFDefaultActionId/evidencexpert.
nutrição enteral são prescritos com frequência na unidade de ShowDrugInteractionsResults
13. Alvim MM, Silva LA, Leite IC, Silvério MS. Eventos adversos
terapia intensiva, apresentando grande número de interações por interações medicamentosas potenciais em unidade de terapia
fármaco-nutrição potenciais, sendo que todas as identificadas intensiva de um hospital de ensino. Rev Bras Ter Intensiva.
são altamente significativas. 2015;27(4):353-9.
14. Reis AMM, Carvalho EFL, Faria LMP, Oliveira RC, Zago KSA,
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Rev Bras Farm Hosp Serv Saúde. 2014;5(1):12-8. tions. Nutr Clin Pract. 2005;20(6):618-24.
Local de realização do trabalho: Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, Juiz de Fora, MG, Brasil.
RESUMO
Mayara Ribeiro de Mendonça1
Gleyciane Guedes2 Introdução: Atualmente, a literatura sugere que a introdução precoce adequada da Terapia
Nutricional Enteral (TNE) pode reduzir consideravelmente a incidência de infecções e o tempo
de permanência hospitalar. No entanto, os pacientes em terapia intensiva frequentemente apre-
sentam inadequações no suporte nutricional, tanto pela sub ou superestimação das necessidades
energéticas diárias quanto pela introdução tardia da TNE e interrupções para procedimentos.
Objetivos: Monitorar a adequação da TNE na unidade de terapia intensiva (UTI) visando à
melhoria da qualidade da assistência nutricional, analisar a prescrição e o administrado de calorias
e proteínas, verificar a adequação calórico-proteica entre o recomendado e o prescrito, identificar
quaisas consequências dessa administração para o paciente, e observar quais fatores interferem
para o adequado aporte na nutrição enteral. Método: Estudo documental, exploratório, em
caráter quantitativo e qualitativo desenvolvido em uma UTI adulto no ano de 2017. Participaram
da amostra pacientes acima de 18 anos com TNE exclusiva. Resultados: Foram analisados 22
pacientes internados na UTI de um hospital público do município de João Pessoa, PB, sendo 86%
do sexo masculino e 14% do sexo feminino. A idade dos pacientes variou de 18 anos a 87 anos,
com média de 51 anos. A quantidade média das proteínas recomendadas por pacientes no período
foi superior aos percentuais ideais, porém, na adequação proteica entre a quantidade infundida
e a prescrita, os valores ficaram aquém desses percentuais ideais. O percentual da média de
adequação energética entre a infundida versus a prescrita ficou acima da recomendação, porém
a maioria dos pacientes (86%) recebe uma quantidade aquém da recomendada. Sendo assim,
tanto na adequação energética quanto em relação aos valores do aporte proteico há uma enorme
disparidade entre a dieta infundida e a prescrita, sendo infundido ao paciente menos da metade
do recomendado. A adequação do volume infundido também demonstrou estar abaixo da metade
do recomendado. Conclusão: Os pacientes do hospital público de João Pessoa apresentaram
déficit de ingestão calórica e proteica no período analisado.
ABSTRACT
Introduction: Current literature data suggest that early introduction of Enteral Nutritional Therapy
(NER) can significantly reduce the incidence of infections and length of hospital stay. However,
intensive care patients often present inadequacies in nutritional support, either by sub- or overes-
timation of daily energy needs, by the late introduction of NER and discontinuation of procedures.
Unitermos: Objectives: To monitor the adequacy of the NIC in the intensive care unit (ICU) aiming at improving
Terapia Nutricional. Estado Nutricional. Necessidades the quality of nutritional assistance, analyzing the prescription and administration of calories and
Nutricionais. Unidade de Terapia Intensiva. proteins, checking protein caloric adequacy between recommended and prescribed, identifying
which consequences of this administration for the patient, to observe which factors interfere with
Keywords: the adequate intake in enteral nutrition. Methods: Quantitative and qualitative documentary
Nutrition Therapy. Nutritional Status. Nutritional exploratory study developed in an adult ICU in the year 2017. Patients above 18 years of age
Needs. Intensive Care Units. with exclusive enteral nutritional therapy participated in the study. Results: Twenty-two patients
admitted to the ICU of a public hospital in the city of João Pessoa, PB, 86% male and 14% female.
Endereço para correspondência: The patients’ ages ranged from 18 years to 87 years, with an average of 51 years. It was observed
Mayara Ribeiro de Mendonça that the mean number of proteins recommended by patients in the period was higher than the
Rua Bel. Irenaldo de A. Chaves, 201, Bl J, Apto 50 – ideal percentages, but in the protein adequacy between the infused quantity and the prescribed
João Pessoa, PB, Brasil – CEP: 58036-460 quantity the values are below these ideal percentages. The percentage of the average energy
E-mail: mayararmnutri@gmail.com adequacy between the infused versus the prescribed one was above the recommendation, but the
majority of the patients (86%) receive an amount less than recommended. Thus, both in energy
Submissão adequacy and in relation to the values of protein intake there is a huge disparity between the
4 de abril de 2017 infused and prescribed diet, and the patient is infused less than half of the recommended one.
The adequacy of infused volume was also found to be below the recommended half. Conclusion:
Aceito para publicação The patients of the public hospital of João Pessoa presented a deficit of caloric and protein intake
17 de julho de 2017 during the analyzed period.
1. Bacharel em Nutrição, Faculdade Internacional da Paraíba (FPB), João Pessoa, PB, Brasil.
2. Graduação em Nutrição pela Faculdade Internacional da Paraíba (FPB). Pós-graduada em Nutrição Clínica pela Faculdade Integrada de Patos
(FIP), Preceptora de estágio em Nutrição Clínica, pela FPB, João Pessoa, PB, Brasil.
oferta de calorias na fase aguda para pacientes graves seria paciente, o valor prescrito e o valor infundido, com resul-
de 20 a 25 kcal/kg/dia. Após 4 a 7 dias, deve-se atingir 25 tados significativos, como demonstra a Tabela 2. A mesma
a 30 kcal/kg/dia, na maioria dos casos. Já a oferta para demonstra que a quantidade que está sendo infundida e
o aporte proteico é de 1,2 a 1,5 g/kg/dia quando o cata- prescrita para os pacientes é aquém das suas necessidades
bolismo é moderado, e 1,5 a 2,0 g/kg/dia nos pacientes energéticas.
hipercatabólicos5. Deste modo, podemos observar, de acordo com análise
dos exames laboratoriais frequentes dos pacientes, que há
MÉTODO declínios no estado nutricional dos mesmos, demonstrando
que 93,75% apresentaram anemia, ocasionando uma defi-
Foi realizado um estudo documental, em caráter qualita- ciência de ferro; 81,25% apresentaram infecções causadas
tivo e quantitativo, por meio da coleta de dados a partir de por bactérias e 50% apresentaram-se com desnutrição,
fichas de anamneses e semiologia que foram utilizadas no podendo assim piorar o seu quadro clínico, propiciando
decorrer da pesquisa, onde esses dados foram transferidos outras doenças que estão associadas a pacientes em estado
para o programa Excel, submetido à avaliação do Comitê crítico. Pôde-se verificar, também, que todos os pacientes
de Ética em Pesquisa conforme a Resolução 466/12 do analisados deixaram de receber a dieta diária por pelo menos
Conselho Nacional de Saúde (CNS), prezando pelo sigilo duas horas sem a devida justificativa.
das informações e tornando-as públicas.
Foram identificadas 3 tipos de dietas prescritas, sendo a
Foi realizado em uma UTI de um hospital público do dieta com densidade calórica de 1.5 a mais utilizada dentre
município de João Pessoa, PB. Foram incluídos, na pesquisa elas, com 81,82% dos casos analisados, por ser uma dieta
22 pacientes adultos, com idade entre 18 e 87 anos, de do tipo polimérica, hipercalórica e hiperproteica mantendo o
ambos os sexos. trato gastrointestinal do paciente em funcionamento, seguida
por uma dieta com a densidade calórica de 1.2, uma dieta
RESULTADOS E DISCUSSÃO do tipo normocalórica, hiperproteica e rica em fibras, com
13,64% dos casos, e outra com a densidade 1.0, do tipo
O presente estudo analisou os pacientes com a média
oligomérica nutricionalmente completa, normocalórica,
de idade de 51 anos, sendo a maioria do sexo masculino, e
hiperproteica contendo baixo teor de lipídios, com 4,55%
demonstrou que, em um determinado período, a quantidade
(Tabela 3).
média das proteínas nos pacientes foi superior aos percen-
tuais ideais, que giram em torno de 95% a 105%, porém
na adequação proteica entre a quantidade infundida e a Tabela 1 – Médias de adequação energética e de aporte calórico.
prescrita, as estatísticas apontaram valores aquém desses Idades 51 anos
percentuais ideais.
Gênero M - 86% F - 14%
Baseando-se no conceito de Waitzberg6, a ingestão entre
Proteína 110,26 %
o prescrito e o recebido de calorias deverá ser maior ou igual
Adequação Proteica Infusão/Prescrição 48,9%
a 60%, no entanto, foi relatado no estudo que a média de
adequação energética demonstrou um percentual acima Adequação Energética kcal Infusão/Prescrição 76,58%
da recomendação, como demonstra a Tabela 1, porém as Adequação Volume 48,04%
estatísticas apontam que a maioria dos pacientes (cerca de M=masculino; F=feminino
REFERÊNCIAS
Foram analisados os motivos das internações e cons- 1. Cartolano FDC, Caruso L, Soriano FG. Terapia nutricional
tatou-se que o mais frequente foi o traumatismo cranio- enteral: aplicação de indicadores de qualidade. Rev Bras Ter
encefálico, com 40,91%, seguido do acidente vascular Intensiva. 2009;21(4):376-83.
2. Domingues LCC, Silva MJV, Silveira EA. Terapia nutri-
cerebral - 31,82%, trauma por motivos gerais - 13,64%, cional enteral em pacientes críticos: uma revisão de litera-
e tentativa de suicídio, convulsão e artrite, com 4,55% tura [Trabalho de Conclusão de Curso – Pós-Graduação].
cada (Tabela 4). Goiânia: curso de Pós-graduação em Nutrição Clínica e
Esportiva (CEEN), Pontifícia Universidade Católica de
Goiás; 2016. [acesso 2018 Mar 9]. Disponível em: http://
www.cpgls.pucgoias.edu.br
CONCLUSÃO
3. Fontoura CSM, Cruz DO, Londero LG, Vieira RM. Avaliação
De acordo com os dados analisados e apresentados nutricional de paciente critico. Rev Bras Ter Intensiva.
2006;18(3):298-306.
neste estudo, conclui-se que os pacientes do hospital público 4. Detregiachi CRP, Quesada KR, Marques, DE. Comparação
de João Pessoa apresentaram com um déficit de ingestão entre as necessidades energéticas prescritas e administradas a
calórica e proteica no período analisado, contribuindo pacientes em terapia nutricional enteral. Medicina (Ribeirão
Preto). 2011;44(2):177-84.
para a involução dos pacientes em estado crítico de UTI. 5. Franzosi OS, Abrahão CLO, Loss SH. Aporte nutricional e
Esta inadequação de ingestão proteica e calórica, se não desfechos em pacientes críticos no final da primeira semana
revertida, é prejudicial a estes pacientes,acarretando diversas na unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva.
2012;24(3):263-9.
complicações clínicas, afetando diretamente o estado de 6. Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática
saúde e, consequentemente, a alta do paciente. clínica. São Paulo: Atheneu; 2009.
Local de realização do trabalho: Faculdade Internacional da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
ABSTRACT
Introduction: The enteral nutrition therapy is generally implemented focusing at maintaining or
Unitermos: improving the nutritional state of a patient who has a functioning gastrointestinal tract but displays
Terapia Nutricional. Nutrição Enteral. Hospitalização.
problems or impossibility of oral feeding. Methods: Quantitative, observational and prospective
Keywords: longitudinal study carried out in the clinical wards of a public hospital in the city of Salvador,
Nutrition Therapy. Enteral Nutrition. Hospitalization. Bahia, between September 2013 and May 2014. It included adult and elderly patients in an
exclusive enteral nutritional therapy. The data related to the volume of infused enteral diet and
Endereço para correspondência: to the complications associated with insufficient infusion of the diet were collected. Data analysis
Thaisy Cristina Honorato Santos Alves was performed using the SPSS software for Windows. Results: Fifty-one patients were included:
Universidade do Estado da Bahia – Departamento 56.9% were male and 66.7% were elderly. The patients received a volume of enteral diet lower
Ciências da Vida – Colegiado de Nutrição. Rua Sil- than prescribed in more than 50% of the cases and a volume considered very low in 29.9%, when
veira Martins, 2555, Cabula – Salvador, BA, Brasil – the differences between prescribed and administered volume were evaluated. It was possible to
CEP: 41150-000 take account of as main complications for the insufficient administration of enteral diet: fasting as
E-mail: thaisyhonorato@yahoo.com.br
preparation for exams or procedures; problems related to the infusion pump; absence of available
Submissão: diet in the storage reservoir; however, surprisingly in most cases there was no apparent reason
18 de julho de 2017 for inadequate administration of the prescribed volume of enteral diet. Conclusions: Hospita-
lized patients often receive a lower enteral diet volume than prescribed by the nutritionist, which
Aceito para publicação: indicate the necessity to seek practical solutions in order to minimize complications that hinder
2 de outubro de 2017 the administration of the prescribed enteral diet.
1. Nutricionista. Especialista em Nutrição Clínica pela Universidade do Estado da Bahia. Pós-graduada em Fitoterapia, Salvador, BA, Brasil.
2. Nutricionista. Mestre em Alimentos, Nutrição e Saúde. Pós-graduada em Nutrição Clínica. Docente Auxiliar do Curso de Nutrição da Univer-
sidade do Estado da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
MÉTODO RESULTADOS
Estudo realizado entre setembro/2013 e maio/2014, Avaliou-se um total de 51 pacientes. As características
longitudinal, quantitativo, observacional e prospectivo, descritivas da amostra encontram-se listadas na Tabela 1.
incluindo pacientes adultos e idosos, de ambos os sexos, De acordo com o cálculo de adequação entre volume
internados nas enfermarias clínicas de um hospital público de dieta prescrita semanalmente para os pacientes e volume
da cidade de Salvador-BA. de fato administrado a eles, foi possível observar que, dos
Constitui subprojeto de um projeto maior submetido e 51 pacientes que permaneceram na primeira semana do
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado estudo, a maioria recebeu volume baixo ou muito baixo de
da Bahia com número de Parecer: 218.433. Foi conside- dieta enteral. O mesmo ocorreu nas semanas subsequentes.
rada essencial assinatura do Termo de Consentimento Livre Pode-se observar ainda que, em média, no decorrer do
e Esclarecido (TCLE) pelos pacientes ou responsáveis para estudo, 70,2% dos pacientes receberam volume inferior a
iniciar a coleta dos dados. O acompanhamento dos pacientes 80% do volume prescrito pelo nutricionista (Figura 1).
no estudo se iniciou no momento de introdução da terapia As principais intercorrências que contribuíram para baixa
nutricional enteral ou admissão na enfermaria, e o término administração de dieta enteral foram: 18,9% jejum para
no momento da suspensão da terapia nutricional enteral exames ou outros procedimentos; 11% problemas relacio-
exclusiva, alta da enfermaria ou óbito. O acompanhamento nados à bomba de infusão. Contudo, na maioria dos casos
dos pacientes nesse estudo totalizou, no máximo, de 4 (24,4%), surpreendentemente, não se encontrou um motivo
semanas para cada paciente, tempo suficiente para avaliar aparente para a administração de dieta enteral abaixo do
administração da terapia nutricional e fatores associados. volume prescrito (Figura 2).
BRASPEN J 2018; 33 (1): 58-63
59
Santos AL & Alves TCHS
Tabela 1 – Características dos pacientes internados em uso de TNE exclusiva nas enfermarias de clínica médica e cirúrgica de um hospital público. Sal-
vador/BA, 2014 (n=51).
Características N %
Sexo
Feminino 22 43,1
Masculino 29 56,9
Faixa Etária
Adulto 17 33,3
Idoso 34 66,7
Motivo da introdução da TNE
Dificuldade ou impossibilidade de alimentação via oral 42 82,4
Outras causas 09 17,6
Tempo de permanência no estudo
Até 1 semana 22 43,8
>1 a 2 semanas 11 21,6
>2 a 3 semanas 05 9,8
> 3 a 4 semanas 13 25,5
Enfermidade de base do internamento hospitalar
Doenças do trato gastrointestinal (TGI) 15 29,4
Doenças do TGI e cardiovasculares 03 5,9
Outras 33 64,7
Via de administração de dieta
Sonda nasogástrica ou nasoenteral 46 90,2
Gastrostomia 05 9,8
Tipo de dieta
Polimérica 48 94,1
Oligomérica 03 5,9
n=número de pacientes; %=frequência relativa dos pacientes.
Figura 1 - Percentual de dieta administrado de acordo com as semanas de permanência no estudo. Salvador/BA, 2014 (n=51).
Observa-se nos gráficos boxplot (Figura 3) que, em todas apresentaram volumes médios de ingestão entre 90 e 100%
as semanas de estudo, os pacientes que apresentaram maior do volume prescrito. Realizou-se a associação entre a quan-
quantidade de intercorrências invariavelmente receberam os tidade de intercorrências e o volume de dieta administrado
menores volumes de dieta em relação ao prescrito. Por sua com o teste Qui-quadrado. Entretanto, não foi possível
vez, os pacientes com menor quantidade de intercorrências observar relação estatisticamente significante (p<0,05).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 2 - Percentual de intercorrências associadas à administração inadequada da Terapia Nutricional Enteral. Salvador/BA, 2014 (n=51).
1=Jejum para exames ou outros procedimentos; 2= Problemas relacionados à bomba de infusão de dieta; 3=Ausência de dieta disponível no reservatório de dieta; 4=
Exteriorização acidental da sonda ou retirada da sonda pela equipe de enfermagem; 5=Obstrução da sonda; 6=Problemas do TG; 7=Recusa do paciente; 8=Estado
clínico grave do paciente; 9=outras causas; 10=Ausência de causa aparente.
Figura 3 - Boxplots da relação entre quantidade de intercorrências e percentual de dieta administrado em cada semana de permanência no estudo. Salvador/BA, 2014.
PercDietaSem= Percentual de dieta administrado na semana.
sugerem a necessidade de buscar soluções práticas preven- 7. Assis MCS, Silva SMR, Leães DM, Novello CL, Silveira CRM,
tivas e corretivas, a fim de minimizar inconsistências na Mello ED, et al. Nutrição enteral: diferenças entre volume,
calorias e proteínas prescritos e administrados em adultos. Rev
administração da dieta enteral e possibilitar aporte nutricional Bras Ter Intensiva. 2010;22(4):346-50.
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hospitalizado [Dissertação de mestrado]. São Paulo: Universi-
AGRADECIMENTOS dade de São Paulo, Faculdade de Medicina; 2012.
9. Ribeiro LMK, Oliveira Filho RS, Caruso L, Lima PA, Damas-
À equipe do hospital onde realizou-se a pesquisa, a todos ceno NRT, Soriano FG. Adequação dos balanços energético
os estudantes e profissionais da Universidade do Estado da e proteico na nutrição por via enteral em terapia intensiva:
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Local de realização do trabalho: Local de realização do estudo: Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) – Secretaria de Saúde do
Estado da Bahia (SESAB), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, BA, Brasil.
Financiamento: FAPESB – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia/ Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC) Bolsa: PIBIC/FAPESB - Pedido Nº 2270/2013
RESUMO
Mário de Almeida Pereira Coutinho1
Rosália Gouveia Filizola2 Introdução: Nesta pesquisa, examinou-se a ocorrência de síndrome metabólica, diabetes mellitus e
Expedicto Afonso de Macedo3 obesidade e as suas relações com o consumo habitual de macro e micronutrientes e grupos de alimentos,
Maria da Conceição Rodrigues Gonçalves4 em mulheres com antecedentes de diabetes mellitus gestacional (DMG). Método: O estudo envolveu
Luiza Sonia Rios Asciutti5 110 pacientes atendidas no ambulatório de diabetes gestacional de um hospital universitário localizado
Azamor Cirne de Azevedo Filho6 em uma cidade do Nordeste do Brasil, das quais 49 completaram todas as etapas da investigação.
Maria José de Carvalho Costa7 No período pós-parto entre 6 meses e 4 anos, as pacientes recrutadas para uma primeira consulta
Christiane Carmem Costa do Nascimento8 responderam questionários acerca dos seus antecedentes clínicos, hábitos alimentares e do nível de
Carla Patrícia Novaes dos Santos Fechine9 atividade física e submeteram-se à aferição do peso e altura, realização de exame de bioimpedância
e exames laboratoriais, a serem apresentados na segunda consulta. Resultados: A prevalência de
síndrome metabólica foi elevada, totalizando 49% das pacientes; a de diabetes mellitus foi de 16%; e de
disglicemias de 65%, porcentagens próximas àquelas encontradas em estudos realizados durante cinco
anos após a gestação ou por períodos mais longos. Do total das pacientes, 45% estavam com sobrepeso
Unitermos: e 28% obesas. Após análise estatística, observou-se relação entre a prevalência de síndrome metabólica
Síndrome X Metabólica. Obesidade. Diabetes Gesta- e menor ingestão de proteínas (p=0,05), quando os macro e micronutrientes foram ajustados pelo peso.
cional. Alimentação. Conclusão: Não houve relação entre o consumo alimentar habitual e a ocorrência de diabetes mellitus
e obesidade e a frequência de síndrome metabólica nas pacientes com diagnóstico prévio de DMG foi
Keywords: elevada, sendo sua ocorrência associada à menor ingestão de proteínas.
Metabolic Syndrome X. Obesity. Diabetes, Gestatio-
nal. Feeding. ABSTRACT
Introduction: In this research, we examined the occurrence of metabolic syndrome, diabetes mellitus
Endereço para correspondência: and obesity and its relations with the habitual consumption of macro and micronutrients and food groups
Carla Patrícia Novaes dos Santos Fechine in a group of women with a history of gestational diabetes mellitus (GDM). Methods: The study involved
110 patients attending the gestational diabetes outpatient in a university hospital located in a city in the
Av. Hilton Souto Maior, 6501, Condomínio Porta do
Northeast of Brazil, of which 49 completed all stages of the investigation. In the postpartum period between
Sol – Portal do Sol – João Pessoa, PB, Brasil – CEP: 6 months and 4 years, the patients recruited for an initial consultation, answered questionnaires about
58046-600 their medical history, eating habits and level of physical activity and underwent measurement of weight
E-mail: carlafechine@hotmail.com; carla.novaes@ and height, conducting examination bioimpedance and laboratory tests, to be presented in the second
unipe.br query. Results: The prevalence of metabolic syndrome was high, amounting to 49% of patients, diabetes
mellitus was 16% and 65% dysglycemias, similar percentages to those found in studies conducted for five
Submissão years after pregnancy or for longer periods. Of the total patients, 45% were overweight and 28% obese.
24 de agosto de 2017 After statistical analysis, a relationship was found between the prevalence of metabolic syndrome and
lower protein intake (p=0.05), when the macro and micronutrients were adjusted by weight. Conclu-
Aceito para publicação sion: The frequency of metabolic syndrome in patients with a previous diagnosis of GDM is high and its
11 de novembro de 2017 occurrence was associated with a lower intake of proteins.
1. Graduado em Medicina; Mestre em Ciências da Nutrição e médico da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil.
2. Graduada em Medicina e Pós-Doutora em Endocrinologia e Metabologia; Professora da UFPB; Programa de Pós-graduação em Ciências da
Nutrição, Departamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, NIESN – Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Saúde e Nutrição/Univer-
sidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
3. Médico do Hospital Santa Paula-SP, João Pessoa, PB, Brasil.
4. Graduada em Nutrição e Doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Programa de Pós-graduação em Ciências da Nutrição, Depar-
tamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, NIESN – Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Saúde e Nutrição/Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
5. Graduada em Nutrição e Pós-Doutora em Nutrição; Programa de Pós-graduação em Ciências da Nutrição, Departamento de Nutrição, Centro
de Ciências da Saúde, NIESN – Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Saúde e Nutrição/Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
6. Graduado em Engenharia de Minas e Engenharia Civil, Doutor em Engenharia Mecânica, Professor Adjunto do Departamento de Finanças e
Contabilidade do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal da Paraíba, Campus I, João Pessoa, PB, Brasil.
7. Graduada e Pós-Doutora em Nutrição, Professora associada da Universidade Federal da Paraíba. Departamento de Nutrição; Programa de
Pós-graduação em Ciências da Nutrição, Departamento de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, NIESN – Núcleo Interdisciplinar de Estudos
em Saúde e Nutrição/Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
8. Graduada em Nutrição e Mestre em Ciências da Nutrição; Professora da Faculdade Mauricio de Nassau, João Pessoa, PB, Brasil.
9. Graduada em Fisioterapia e Mestre em Ciências da Nutrição; Professora do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPE), João Pessoa, PB, Brasil.
sexo feminino. As pacientes sem SM tiveram um percen- Do total das pacientes, a maioria apresentou valores de
tual de gordura de 34,6% (±4,4%), enquanto as com SM CC acima do normal e de HDL elevado, e menos de 50%
tiveram um percentual de 40% (±5,7%). Quanto à ocor- apresentavam pressão, triglicerídeos e glicemia de jejum
rência de SM, a maior parte da amostra apresentava três elevado. Ao se compararem as médias do consumo de
ou mais fatores de risco associados à mesma (Figura 1). macro e micronutrientes entre os grupos das pacientes com
Tabela 1 – Características das pacientes com e sem síndrome metabólica: comparação entre as médias.
Variáveis Sem síndrome metabólica Com síndrome metabólica p-valor
média (± desvio padrão) média (± desvio padrão)
Idade (anos) 31±5,6 35±5,2 0,15
Pressão Arterial Sistólica (mmHg) 115±11 126±13 0,01
Pressão Arterial Diastólica (mmHg) 76,6±7,6 84,3±99 0,07
Peso (kg) 65±8,3 74±13 0,07
Altura (cm) 158±6,6 156±6,5 0,78
Índice de massa corporal (kg/m2) 25,9±3,0 30,3±4,6 0,23
Circunferência Abdominal (cm) 89,2±8,2 98,3±9,2 0,02
Colesterol Total (mg/dL) 188±32 188±42 0,91
Colesterol LDL (mg/dL) 118±33 111±34 0,23
Colesterol HDL (mg/dL) 50±13 39±7,4 0,03
Triglicerídeos (mg/dL) 102±46 198±157 0,003
Glicemia de Jejum (mg/dL) 91±13 126±58 0,009
Glicepia Pós-prandial (mg/dL) 83,6±15,6 129±71,3 0,006
Hemoglobina Glicosilada (%) 5,82±0,34 6,76±2,42 0,07
Teste Oral de Tolerância à Glicose (mg/dL) 131±28 134±29 0,28
Bioimpedância (% de gordura) 34,6±4,4 39,9±5,72 0,03
Teste de Mann-Whitney (significância p=0,05)
Figura 1 - Estratificação quanto à distribuição do número de fatores de risco para a síndrome metabólica, da ocorrência de pré-diabetes e diabetes da classificação do
índice de massa corporal (IMC).
João Pessoa - PB, Brasil, 2013
e sem SM, não foram encontradas diferenças significativas Quanto aos índices glicêmicos, a maioria das pacientes
entre os grupos, de modo que as composições das dietas apresentou alterações no perfil glicêmico, estando apro-
quanto a calorias totais, proteínas, gorduras totais, carboi- ximadamente metade das pacientes com pré-diabetes
dratos, cálcio, vitamina A, gordura saturada, colesterol, fibras (Figura 1). Não foram encontradas relações do consumo
alimentares, zinco e betacaroteno foram semelhantes. Foram de macro e micronutrientes e grupos alimentares com a
também semelhantes as porções consumidas dos grupos dos ocorrência de DM2 (Tabela 4).
vegetais, de frutas e sucos de frutas e de gorduras, óleos,
doces e salgadinhos (Tabela 2).
DISCUSSÃO
Quando comparado o consumo de nutrientes propor-
cionalmente ao peso, observou-se menor consumo de Do total de pacientes, 49% se enquadravam na defi-
proteínas no grupo que apresentou SM (p=0,05) (Tabela 3). nição de SM com 3 ou mais fatores de risco. Em outros
Tabela 2 – Comparação entre as médias do consumo de macro e micronutrientes e grupos de alimentos das pacientes com e sem síndrome metabólica.
João Pessoa-PB, Brasil, 2013
Grupo sem SM Grupo com SM p-valor
média (± desvio padrão) média (± desvio padrão)
Calorias Totais (kcal) 2266,50 (±691,25) 2259,86 (±813,86) 0,84
Proteínas (g) 92,48 (±37,50) 86,27 (±28,98) 0,67
Gorduras Totais (g) 94,86 (±34,26) 91,22 (±36,58) 0,72
Carboidratos (g) 266,97 (±85,14) 281,72 (±117,13) 0,84
Cálcio (mg) 816,27 (±348,24) 824,03 (±311,08) 0,87
Vitamina A (RE) 3308 (±1984) 3811 (±2763) 0,66
Gordura Saturada (g) 32,06 (±12,14) 31,02 (±12,07) 0,86
Colesterol (mg) 486,62 (±221,24) 472,02 (±267,44) 0,70
Fibras Alimentares (g) 16,18 (±6,75) 18,20 (±7,40) 0,2
Zinco (mg) 12,39 (±7,16) 11,32 (±4,39) 0,95
Betacaroteno (mcg) 12400 (±12927) 12935 (±7754) 0,18
Grupo dos Vegetais (porções) 3,21 (±2,54) 3,60 (±1,90) 0,32
Frutas e sucos de frutas (porções) 2,23 (±1,16) 3,12 (±2,67) 0,20
Gorduras, óleos, salgadinhos (porções) 3,65 (±1,59) 3,27 (±1,81) 0,24
Teste de Mann-Whitney (significância p=0,05)
Tabela 3 – Comparação entre as médias do consumo de macro e micronutrientes proporcionalmente ao peso das pacientes com e sem síndrome meta-
bólica. João Pessoa-PB, Brasil, 2013
Grupo sem SM média Grupo com SM média p-valor
Calorias Totais (kcal) 34,85 (±10,25) 30,22 (±9,26) 0,12
Proteínas (g) 1,41 (±0,52) 1,15 (±0,35) 0,05
Gorduras Totais (g) 1,46 (±0,52) 1,22 (±0,45) 0,07
Carboidratos (g) 4,11 (±1,29) 3,75 (±1,31) 0,17
Cálcio (mg) 12,42 (±4,88) 11,13 (±3,91) 0,38
Vitamina A (RE) 51,67 (±32,11) 11,13 (±3,91) 0,83
Gordura Saturada (g) 0,49 (±0,17) 0,41 (±0,16) 0,14
Colesterol (mg) 7,45 (±3,26) 6,29 (±3,31) 0,25
Fibras Alimentares (g) 0,25 (±0,11) 0,24 (±0,08) 0,78
Zinco (mg) 0,18 (±0,10) 0,15 (±0,04) 0,13
Betacaroteno (mcg) 195,21 (±2,08) 173,31 (±96,5) 0,53
Teste de Mann-Whitney (significância p=0,05)
Tabela 4 – Comparação entre as médias do consumo de macro e micronutrientes e grupos de alimentos das pacientes com e sem diabetes mellitus.
João Pessoa-PB, Brasil, 2013.
Grupo sem DM média Grupo com DM média p-valor
Calorias Totais (kcal) 2279 (±768) 2180 (±653) 0,957
Proteínas (g) 91,15 (±34,25) 80,67 (±28,96) 0,499
Gorduras Totais (g) 93,46 (±34,79) 91,13 (±39,01) 0,850
Carboidratos (g) 275 (±106) 265 (±69) 0,871
Cálcio (mg) 830 (±319) 764 (±331) 0,499
Vitamina A (RE) 3452 (±2013) 4083 (±3934) 0,808
Gordura Saturada (g) 31,43 (±11,4) 32,16 (±15,55) 0,903
Colesterol (mg) 489 (±243) 429 (±249) 0,589
Fibras Alimentares (g) 16,98 (±7,5) 18,15 (±4,53 ) 0,387
Zinco (mg) 12,34 (±6,23) 9,45 (±3,43) 0,199
Betacaroteno (mcg) 12653 (±11346) 12716 (±5945) 0,482
Grupo dos Vegetais (porções) 3,3 (±2,1) 3,7 (±2,6) 0,903
Frutas e sucos de frutas e sucos de frutas 2,6 (±2,1) 2,9 (±1,4) 0,213
Gorduras, óleos, doces e salgadinhos (porções) 3,5 (±1,6) 3,0 (±1,8) 0,365
Teste de Mann-Whitney (significância p=0,05)
estudos nos quais se investigou SM após DMG, a frequência insulina e história familiar de diabetes, bem como a níveis
foi de 7,9% nas mulheres chinesas13, 16% na Finlândia, de elevados de TG, hemoglobina glicada e consumo energético
acordo com os critérios do ATP III14. No presente estudo, a aumentado19. Dados semelhantes foram observados, como
prevalência foi elevada e se aproximou da Índia, de 60% nas o aumento do IMC pré-gestacional e o diagnóstico de DMG
pacientes com antecedentes de DMG prévio, nas mulheres foi o maior fator de risco para o desenvolvimento de SM no
sadias essa prevalência foi de 26%15, e foi semelhante aos período pós-parto20; especialmente nos casos de sobrepeso
resultados encontrados por Puhkala et al.16 em que após e obesidade associados com DMG precoce.
sete anos da gestação com ocorrência de DMG, 50% das No presente estudo, apenas 27% das pacientes estavam
mulheres monitoradas desenvolveram SM, corroborando com dentro da faixa normal do IMC, 45% estavam com sobrepeso
o relato de que obesidade e alterações metabólicas estão se e 28% na faixa de obesidade, contudo, não foram encon-
tornando doenças de países em desenvolvimento. tradas diferenças significativas quanto ao consumo total de
Quanto aos fatores de risco da SM, uma proporção elevada macro e micronutrientes entre os grupos das pacientes com
das pacientes apresentou alteração da PA (30,6%), da CC e sem SM. Mulheres com história de DMG relatam ingestões
(73,4%), HDL, triglicerídeos e GJ (65%, 28,5% e 42,8%, respec- dietéticas significativamente mais altas de calorias, proteína e
tivamente)17. Comparando-se esses resultados com um estudo gordura, com nenhum aumento correspondente no consumo
realizado na Finlândia, essas frequências foram semelhantes de fibra dietética ou minerais e vitaminas21.
para o aumento da CC (≥ 80 cm em 72% das pacientes), infe- Consequentemente, o aumento do consumo calórico e
rior para GJ elevada (≥ 5,6 mmol / L em 19%), e bem inferior alimentar de mulheres com DMG anterior está associado
para redução do colesterol HDL (≤ 1,3 mmol/L em 50%)16. com obesidade, resistência à insulina e pressões arteriais
A média da glicemia de jejum e da hemoglobina glicada mais elevadas, fatores relacionados a SM. Observou-se que
estava acima dos limites considerados normais5, e 65% o consumo de calorias totais, proteínas, gorduras totais,
das pacientes apresentavam alterações do perfil glicêmico, carboidratos, cálcio, vitamina A, gordura saturada, colesterol,
aproximadamente metade com pré-diabetes (49%) e 16% fibras alimentares, zinco e betacaroteno foram semelhantes.
com diabetes franco. Merabet & Reguig20 observaram que a estimativa da
Esses resultados corroboram com o estudo realizado no ingestão de alimentos apresentou um desequilíbrio qualita-
EUA, em que 5 a 10% das mulheres já apresentavam DM2 tivo, a ingestão proteica foi de 19,65% nas mulheres repre-
imediatamente após a gestação e 35 a 60% com chance sentadas principalmente por proteínas vegetais, a ingestão de
de apresentarem DM2 nos próximos 10 a 20 anos18. Em lipídios foi caracterizada por um menor consumo de ácidos
mulheres com antecedentes de DMG, a ocorrência de graxos monoinsaturados e poli-insaturados, aumento no
DM2 também parece estar relacionada ao IMC elevado, consumo de ácidos graxos saturados e menor concentração
a alterações na função das células beta e na dosagem de em cálcio, magnésio e em fibras.
BRASPEN J 2018; 33 (1): 64-9
68
Síndrome metabólica e diabetes gestacional
Na pesquisa de associação entre o consumo de nutrientes, 7. Lima FELL, Slater B, Latorre MRDO, Fisberg RM. Validade de
um questionário quantitativo de frequência alimentar desenvol-
quando ajustado ao peso das pacientes, observou-se maior vido para população feminina no nordeste do Brasil. Rev Bras
ingestão de proteínas nas mulheres sem SM. Caracterizando Epidemiol. 2007;10(4):483-90.
ação protetora da proteína e refletindo na menor ocorrência 8. Lima FELL, Latorres MRDO, Costa MJC, Fisberg RM. Diet and
cancer in Northeastern Brazil: evaluation of food and food group
dessa síndrome. Foi demonstrado que a ingestão de proteína consumption in relation to breast cancer. Cad Saúde Pública.
de origem vegetal foi inversamente associada à incidência 2008;24(4):820-8.
de SM e positivamente correlacionada com a ingestão de 9. Asciutti LSR, Rivera MAA, Costa MJC, Imperiano E, Arruda
MS, Bandeira MG, et al. Manual de porções média em tamanho
fibra, vitaminas E e C, o que pode explicar efeitos benéficos real: baseado no programa Dietsys. João Pessoa: UFPB; 2005.
na prevenção de doenças crônicas22. 10. Maltron. Operating Manual BF-907. Rayleigh: Maltron Interna-
tional; 1998.
No entanto, o consumo mais elevado de proteína animal 11. Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High
pode ser independentemente associado a um maior risco de Blood Cholesterol in Adults. Executive Summary of The Third
Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP)
incidência de SM. Não houve relação entre SM e a quan- Expert Panel on Detection, Evaluation, And Treatment of High
tidade de porções consumidas dos grupos dos vegetais, Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA.
das frutas e sucos de frutas e das gorduras, óleos, doces e 2001;285(19):2486-97.
12. Grundy SM, Cleeman JI, Daniels SR, Donato KA, Eckel RH,
salgadinhos. Faz-se pertinente mencionar que este estudo é Franklin BA, et al.; American Heart Association; National Heart,
inédito no Brasil no que se refere ao seu objetivo. Lung, and Blood Institute. Diagnosis and management of the
metabolic syndrome: an American Heart Association/National
Heart, Lung, and Blood Institute Scientific Statement. Circula-
tion. 2005;112(17):2735-52.
CONCLUSÃO 13. Tam WH, Yang XL, Chan JC, Ko GT, Tong PC, Ma RC, et al.
Progression to impaired glucose regulation, diabetes and meta-
Constatou-se frequência bastante elevada de SM em bolic syndrome in Chinese women with a past history of gesta-
mulheres com diagnóstico de DMG prévio e também tional diabetes. Diabetes Metab Res Rev. 2007;23(6):485-9.
de alterações no perfil glicêmico, obesidade e diabetes 14. Puhkala J, Kinnunen TI, Vasankari T, Kukkonen-Harjula K,
Raitanen J, Luoto R. Prevalence of metabolic syndrome one
mellitus, corroborando com a hipótese de que o número year after delivery in Finnish women at increased risk for
de casos de obesidade e de alterações metabólicas está gestational diabetes mellitus during pregnancy. J Pregnancy.
ultrapassando em muito a desnutrição nas populações 2013;2013:139049.
15. Krishnaveni GV, Hill JC, Veena SR, Geetha S, Jayakumar MN,
de países em desenvolvimento. Neste estudo observou- Karat CL, et al. Gestational diabetes and the incidence of diabetes
se associação inversa entre a ingestão de proteínas e a in the 5 years following the index pregnancy in South Indian
women. Diabetes Res Clin Pract. 2007;78(3):398-404.
ocorrência de SM quando se avaliou a ingestão de macro 16. Puhkala J, Raitanen J, Kolu P, Tuominen P, Husu P, Luoto R.
e micronutrientes ajustada ao peso, indicando efeito Metabolic syndrome in Finnish women 7 years after a gestational
protetor da proteína para essa síndrome. Mais estudos diabetes prevention trial. BMJ Open. 2017;7(3):e014565.
17. Rice MM, Landon MB, Varner MW, Casey BM, Reddy UM,
são necessários, com número maior de participantes, para Wapner RJ, et al.; Eunice Kennedy Shriver National Institute
confirmação deste resultado. of Child Health and Human Development (NICHD) Maternal-
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naire: diet history and other risk factors. Bethesda: National longitudinal study in healthy community-dwelling adults. Clin
Cancer Institute; 1988. Nutr. 2017;36(6):1540-8.
Local de realização do trabalho: Hospital Universitário Lauro Wanderley / Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil.
Conflito de interesse: Os autores declaram não haver.
RESUMO
Milena Silva Gentil1
Carolina Cunha de Oliveira2 Introdução: O excesso de peso é um problema de saúde crescente no púbico adolescente,
Heloisa Mendonça Bernini Soares da Silva3 principalmente na puberdade, sendo um importante fator de risco para o desenvolvimento de
doenças, assim como na idade adulta. Diante disso, a avaliação do estado nutricional, da compo-
sição corporal e da maturação sexual são indispensáveis na investigação do estado de saúde de
adolescentes. Objetivo: Analisar a associação entre estado nutricional, composição corporal e
maturação sexual em adolescentes. Método: Trata-se de um estudo transversal, conduzido com
185 adolescentes de 10 a 15 anos de idade, de uma escola pública de Lagarto-SE. Avaliaram-se
o peso corporal e a altura para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), as dobras cutâneas
tricipital e subescapular, visando estimar o percentual de gordura corporal (%GC), a circunferência
da cintura e o estágio de maturação sexual. Para análise dos dados, foram utilizados estatística
descritiva, teste Qui-quadrado e regressão linear múltipla. Resultados: A prevalência de excesso de
peso foi de 23,3%, sendo superior entre o sexo feminino (26,4%). Quanto à composição corporal,
66,5% dos adolescentes apresentaram elevado %GC, também superior entre meninas (82,1%;
p<0,001). Além disso, verificou-se associação entre excesso de peso com excesso de gordura
corporal e obesidade abdominal (p<0,001). Observou-se que o %GC sofreu maior influência
do IMC e idade entre os meninos e do IMC e estágio maturacional entre as meninas (p<0,001).
Ao relacionar o estado nutricional e a maturação sexual, 48,8% dos indivíduos com excesso de
peso estavam no pico de velocidade de crescimento. Conclusões: A puberdade exerce influência
significativa na composição corporal de adolescentes, sendo imprescindível sua avaliação durante
o atendimento nutricional, principalmente no sexo feminino, em virtude da notável associação
entre estágio final de maturação sexual e excesso de peso.
ABSTRACT
Introduction: The excess weight is a health problem growing among adolescent pubic, especially
Unitermos: at puberty, being an important risk factor for the development of diseases, as well as adulthood.
Adolescente. Composição Corporal. Puberdade. Therefore, the evaluation of nutritional status, body composition and sexual maturation are
Tecido Adiposo. Estado Nutricional. indispensable at the investigation of the health status of adolescents. Objective: Analyze the
association between nutritional status, body composition and sexual maturation in adolescents.
Keywords: Methods: This is a cross-sectional study, conducted with 185 adolescents aged 10 to 15 years,
Adolescent. Body Composition. Puberty. Adipose from a public school at Lagarto-SE. The anthropometric evaluation included weight and height
Tissue. Nutritional Status. for the calculation of the Body Mass Index (BMI); tricipital and subscapular skinfolds, aiming to
estimate the percentage of body fat (%BF); waist circumference; and stage of sexual maturation.
Endereço para correspondência:
Descriptive statistics, Chi-square test and multiple linear regression were used for data analysis.
Carolina Cunha de Oliveira
Av. Universitária Governador Marcelo Déda Chagas, Results: The prevalence of excess weight was 23.3%, being higher among girls (26.4%). Regarding
13 –São José, Lagarto, SE, Brasil–CEP: 49400-000 body composition, 66.5% of adolescents presented a high %BF, also higher among girls (82.1%,
E-mail: carol_cunh@yahoo.com.br p<0.001). Besides that, there were an association between excess weight with excess GC and
abdominal obesity (p<0.001). It was observed that the %BF had a greater influence of BMI and
Submissão: age among boys and BMI and maturational stage among girls (p<0.001). When relating nutri-
5 de setembro de 2017 tional status and sexual maturation, 48.8% of excess weight individuals were at peak of growth
velocity. Conclusions: The puberty exerts a significant influence on the body composition of the
Aceito para publicação: adolescents, and it is evaluation during nutritional care is essential, especially in females, due to
22 de novembro de 2017 the remarkable association between the final stage of sexual maturation and overweight.
1. Pós-graduanda em Nutrição Clínica pela Universidade Estácio de Sá. Nutricionista graduada pela Universidade Federal de Sergipe – Campus
Universitário Professor Antônio Garcia Filho, Lagarto, SE, Brasil.
2. Doutora em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia. Professora da Universidade Federal de Sergipe – Campus Universitário
Professor Antônio Garcia Filho – Departamento de Nutrição, Lagarto, SE, Brasil.
3. Mestranda em Ciências Aplicadas à Saúde pela Universidade Federal de Sergipe.Nutricionista graduada pela Universidade Federal de Sergipe
– Campus Universitário Professor Antônio Garcia Filho, Lagarto, SE, Brasil.
Tabela 1 – Estado nutricional, composição corporal e maturação sexual de adolescentes residentes em Lagarto, SE, 2017.
Variáveis Total Masculino Feminino p
(n=185) (n=79) (n=106)
n (%) n (%) n (%)
IMC/Idade
Magreza 6 (3,2) 1 (1,3) 5 (4,7)
Eutrofia 136 (73,5) 63 (79,7) 73 (68,9) 0,166
Sobrepeso 32 (17,3) 9 (11,4) 23 (21,7)
Obesidade 11 (6,0) 6 (7,6) 5 (4,7)
% GC
Baixo 8 (4,3) 8 (10,1) –
Ótimo 54 (29,2) 35 (44,3) 19 (17,9) <0,001
Elevado 123 (66,5) 36 (45,6) 87 (82,1)
CC
Adequada 157 (84,9) 70 (88,6) 87 (82,1) 0,220
Obesidade abdominal 28 (15,1) 9 (11,4) 19 (17,9)
Estágio maturacional
Pré-púbere 36 (19,5) 32 (40,5) 4 (3,8)
Púbere inicial 80 (43,2) 38 (48,1) 42 (39,6) <0,001
PVC 69 (37,3) 9 (11,4) 60 (56,6)
IMC=Índice de Massa Corporal; % GC=percentual de gordura corporal; CC=circunferência da cintura; PVC=pico de velocidade de crescimento.
Figura 1 - Dimorfismo sexual nos percentuais de excesso de peso, excesso de GC e obesidade abdominal de adolescentes residentes em Lagarto, SE, 2017.
GC=gordura corporal
Tabela 2 – Correlação entre estado nutricional e as variáveis %GC, CC e estágio maturacional de adolescentes residentes em Lagarto, SE, 2017.
Variáveis Sem excesso de peso Excesso de peso p
(n=142) (n=43)
n (%) n (%)
%GC
Sem excesso 61 (43) 1 (2,3) <0,001
Excesso 81 (57) 42 (97,7)
CC
Adequada 141 (99,3) 16 (37,2) <0,001
Obesidade abdominal 1 (0,7) 27 (62,8)
Estágio maturacional
Pré-púbere 29 (20,4) 7 (16,3)
Púbere inicial 65 (45,8) 15 (34,9) 0,202
PVC 48 (33,8) 21 (48,8)
Masculino
Pré-púbere 25 (39,1) 7 (46,7)
Púbere inicial 32 (50,0) 6 (40) 0,784
PVC 7 (10,9) 2 (13,3)
Feminino
Pré-púbere 4 (5,1) –
Púbere inicial 33 (42,3) 9 (32,1) 0,244
PVC 41 (52,6) 19 (67,9)
% GC=percentual de gordura corporal; CC=circunferência da cintura; PVC=pico de velocidade de cresci-mento
Tabela 3 – Contribuição das variáveis IMC, idade e estágio maturacional no %GC de adolescentes residentes em Lagarto, SE, 2017.
Modelo de ordem de entrada Gordura corporal
das variáveis β R R² p
Masculino
Modelo 1 0,772 59,7 <0,001
Constante -21,789
IMC 2,267
Modelo 2 0,840 70,6 <0,001
Constante 3,852
IMC 2,375
Idade -2,119
Feminino
Modelo 1 0,631 39,8 <0,001
Constante 5,650
IMC 1,134
Modelo 2 0,650 42,3 <0,001
Constante 3,060
IMC 1,023
Estágio maturacional 1,897
IMC=Índice de Massa Corporal; % GC=percentual de gordura corporal
Dados obtidos sobre o estágio maturacional revelam que puberdade ocorre um rápido aumento da GCT, entretanto,
48,1% dos meninos se consideravam no estágio maturacional o %GC aumenta mais lentamente no sexo masculino como
púbere inicial e 56,6% das meninas no estágio púbere no PVC resultado do aumento simultâneo na massa livre de gordura,
(Tabela 1). Dos indivíduos com excesso de peso, 48,8% foram influenciado principalmente pela testosterona, enquanto as
classificados como púberes no PVC. A maioria das meninas com meninas apresentam maior tendência em acumular GC.
excesso de peso considerou-se púbere no PVC (67,9%), enquanto Apesar disso, em ambos os sexos, é necessário que haja um
a maior parte dos meninos com excesso de peso referiram estágio determinado depósito de gordura para que ocorra o estirão
maturacional pré-púbere (46,7%) (Tabela 2). do crescimento16,17.
Conforme demonstrado na análise de regressão linear No Estudo Longitudinal Fels 17, foram retratadas as
múltipla, que visou determinar a capacidade das variáveis diferenças de composição corporal na puberdade: para o
em explicar o %GC dos adolescentes, constata-se que, para sexo feminino, os níveis de GCT aumentaram em uma taxa
o sexo masculino, o modelo 2 foi capaz de explicar em até relativamente constante com média de, aproximadamente,
70,6% a variabilidade do acúmulo de GC, indicando que 5,5 kg aos 8 anos de idade e 15 kg aos 16 anos, após o
ao elevar o IMC obtém-se acréscimo no %GC, ajustado pela qual a taxa de crescimento diminuiu consideravelmente;
idade (p<0,001). Para o sexo feminino, o modelo com IMC para o sexo masculino, houve aumento da GCT com média
e estágio maturacional obteve maior percentual de carac- de, aproximadamente, 5 kg aos 8 anos para 11 kg aos 14
terização da variabilidade da GC (42,3%), sugerindo que anos, decrescendo para 9 kg aos 16 anos e, posteriormente,
o aumento do IMC e do estágio de maturação sexual pode estabilizou-se.
exercer influência no acréscimo de GC (p<0,001) (Tabela 3). Nessa perspectiva, Cintra et al.1 verificaram que, entre os
indivíduos de 12 a 15 anos, o %GC foi significativamente
DISCUSSÃO maior nas meninas (p<0,001). Concordando com esse
resultado, Pelegrine et al.18 demonstraram que as meninas
Foram constatadas elevadas prevalências de excesso
apresentaram médias mais elevadas do somatório de duas
de peso e GC, especialmente no sexo feminino. O excesso
DC e %GC (p<0,05), assim como outros autores11,19,20. Em
de GC se relacionou de maneira diferente entre os sexos e
relação ao acúmulo de gordura abdominal, alguns estudos
estágio maturacional, com as meninas apresentando maior
também observaram percentual de obesidade abdominal
predominância durante o estágio púbere no PVC, e os
maior em meninas, o que os autores atribuíram ao consumo
meninos no período pré-púbere.
alimentar e ao estilo de vida11,21,22.
A prevalência de excesso de peso observada no presente
Considerando as informações apresentadas e que parte
estudo revelou-se semelhante às apresentadas na PeNSE4
dos eventos puberais não se relaciona à idade cronológica,
(23,7%) e na POF3 (20,5%) e nas investigações de Gordia et
considera-se fundamental a classificação do estágio matu-
al.11 (25%), em Lapa-PR, Toral et al.12 (21%), em Piracicaba-
SP, e Pinto et al.13 (20,4%), em Recife-PE. Além disso, maior racional, visando à interpretação e à correlação entre os
percentual de excesso de peso entre o sexo feminino também diversos fenômenos da puberdade, o estado nutricional e a
foi constatado por alguns autores3,13,14. Contrariando esses composição corporal de adolescentes.
resultados, a POF3 (21,5%), Ribeiro et al.15 (30,9%) e Gordia Além disso, constatamos que as meninas apresentaram
et al.11 (31,6%) revelaram que o excesso de peso esteve mais maior percentual de excesso de peso durante o PVC,
presente entre o sexo masculino, contudo, esse achado pode enquanto os meninos apresentaram no período pré-púbere.
não estar diretamente relacionado ao excesso de GC, mas ao Nos meninos, verificou-se que, quanto maior era o IMC,
excesso de massa magra, que também aumenta rapidamente maior era o %GC, corrigido pela idade; e nas meninas notou-
entre meninos na puberdade11. se que quanto maior eram o IMC e o estágio maturacional,
Nosso estudo observou associação entre excesso de peso maior era o %GC.
e excesso de GC (p<0,001). Tais resultados estão relacio- Frignani et al.23 verificaram que, entre os estágios de matu-
nados ao processo de maturação sexual, no qual ocorrem ração sexual, os meninos pré-púberes apresentaram %GC e
mudanças no padrão de secreção de alguns hormônios, índice de adiposidade corporal mais elevados, enquanto as
em virtude da ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário- meninas nos estágios mais avançados de maturação sexual
gonadal, que desencadeia a secreção de esteroides sexuais, apresentaram maiores médias de GC e índice de adiposidade.
principalmente a testosterona nos meninos e o estradiol nas Em estudo transversal, Minatto et al.19 observaram que o
meninas, provocando alterações na distribuição e no %GC %GC apresentou-se maior em meninos pré-púberes (25,1%),
e na concentração de massa magra16. enquanto as meninas aumentaram o %GC no decorrer do
Ademais, as meninas apresentaram maior %GC avanço dos estágios de maturação sexual; no entanto, não
(p<0,001) e obesidade abdominal. No decurso da houve diferença estatística entre os estágios no sexo feminino.
BRASPEN J 2018; 33 (1): 70-5
74
Gordura corporal e maturação sexual de adolescentes
Corroborando aos resultados, Cintra et al.1 observaram 5. Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric standardiza-
tion reference manual. Champaign: Human Kinetics books; 1998.
que meninos púberes e pós-púberes apresentaram menor 6. World Health Organization - WHO. Multicentre Growth Refe-
%GC do que as meninas nos mesmos estágios maturacionais rence Study Group. Length/height-for-age, weight-for-age,
(p<0,001). Os autores encontraram diferença significativa weight-for-length, weight-for-height and body mass index-for-
age. Geneva: World Health Organization; 2006.
no %GC relacionado à maturação sexual apenas entre as 7. Taylor RW, Jones IE, Williams SM, Goulding A. Evaluation of
meninas, que manifestaram aumento da GC com o avanço waist circumference, waist-to-hipratio, and the conicityindex
do desenvolvimento puberal. as screening tools for high trunk fat mass, as measured by dual
energyX-ray absorptiometry, in children aged 3-19y. Am J Clin
Na investigação de Ribeiro et al. 15, realizada com Nutr. 2000;72(2):490-5.
escolares de 10 a 15 anos, constatou-se que houve maior 8. Slaughter MH, Lohman TG, Boileau RA, Horswill CA, Stillman
RJ, Van Loan MD, et al. Skinfold equations for estimation of body
presença de sobrepeso nos meninos no estágio pré-púbere fatness in children and youth. Hum Biol. 1988;60(5):709-23.
(30,5%) e no início do processo de maturação. Pinto et al.13 9. Lohman TG. The use of skinfold to estimate body fatness on chil-
encontraram que o excesso de peso foi mais prevalente nos dren and youth. J Phys Educ Recreat Dance.1987;58(9):98-103.
10. Tanner J. Growth at adolescence. 2nd ed. Oxford: Blackwell
estágios finais de maturação sexual, especialmente entre as Scientific Publications; 1962.
meninas (p<0,05). 11. Gordia AP, Quadros TMB, Campos W. Avaliação do excesso de
gordura corporal em adolescentes: utilização de diferentes indi-
A impossibilidade de utilização das equações para cadores antropométricos. Acta Sci Health Sci. 2011;33(1):51-7.
predizer o %GC dos meninos de cor de pele não branca 12. Toral N, Slater B, Silva MV. Consumo alimentar e excesso
e de avaliar a presença de puberdade precoce, devido à de peso de adolescentes de Piracicaba, São Paulo. Rev Nutr.
2007;20(5):449-59.
ausência de informações sobre esses aspectos no banco de 13. Pinto ICS, Arruda IKG, Diniz AS, Cavalcanti AMTS. Prevalência
dados, foram algumas limitações desse estudo. de excesso de peso e obesidade abdominal, segundo parâmetros
antropométricos, e associação com maturação sexual em adoles-
centes escolares. Cad Saúde Pública. 2010;26(9):1727-37.
CONCLUSÕES 14. Oliveira JR, Frutuoso MFP, Gambardella AMD. Associação entre
maturação sexual, excesso de peso e adiposidade central em
Constatou-se elevada prevalência de excesso de peso, em crianças e adolescentes de duas escolas de São Paulo. J Hum
Growth Dev. 2014;24(2):201-7.
virtude do excesso de GC, com acúmulo de gordura abdominal, 15. Ribeiro J, Santos P, Duarte J, Mota J. Association between
principalmente entre as meninas. Evidencia-se que a puber- overweight and early sexual maturation in Portuguese boys and
dade exerce influência significativa na composição corporal girls. Ann Hum Biol. 2006;33(1):55-63.
16. Barbosa KBF, Franceschini SCC, Priore SE. Influência dos está-
de adolescentes, sendo imprescindível sua avaliação durante o gios de maturação sexual no estado nutricional, antropometria
atendimento nutricional, especialmente entre o sexo feminino, e composição corporal de adolescentes. Rev Bras Saúde Mater
Infant. 2006;6(4):375-82.
visto a notável associação entre estágio final de maturação 17. Siervogel RM, Demerath EW, Schubert C, Remsberg KE,
sexual e excesso de peso. Este estudo apresenta uma impor- Chumlea WC, Sun S, et al. Puberty and body composition. Horm
tante contribuição para a compreensão das características do Res. 2003;60(Suppl 1):36-45.
18. Pelegrine A, Silva DAS, Silva JMFL, Grigollo L, Petroski
excesso de peso em adolescentes, fornecendo subsídios para EL. Indicadores antropométricos de obesidade na predição de
a formulação de estratégias de prevenção da obesidade e de gordura corporal elevada em adolescentes. Rev Paul Pediatr.
complicações associadas, inclusive na fase adulta. 2015;33(1):56-62.
19. Minatto G, Petroski El, Silva DAS. Gordura corporal, aptidão
muscular e cardiorrespiratória segundo a maturação sexual em
adolescentes brasileiros de uma cidade de colonização germâ-
REFERÊNCIAS nica. Rev Paul Pediatr. 2013;31(2):189-97.
1. Cintra IP, Ferrari GL, Soares AC, Passos MA, Fisberg M, Vitalle 20. Oliveira PM, Silva FA, Oliveira RMS, Mendes LL, Pereira Netto
MS. Body fat percentiles of Brazilian adolescents according to M, Cândido APC. Associação entre índice de massa de gordura
age and sexual maturation: a cross-sectional study. BMC Pediatr. e índice de massa livre de gordura e risco cardiovascular em
2013;13:96. adolescentes. Rev Paul Pediatr. 2016;34(1):30-7.
2. Kriemler S, Puder J, Zahner L, Roth R, Meyer U, Bedogni 21. Castro JAC, Nunes HEG, Silva DAS. Prevalência de obesidade
G.Estimation of percentage-body fat in 6- to 13-year-old chil- abdominal em adolescentes: associação entre fatores sociodemo-
dren by skinfold thickness, body mass index and waist circumfe- gráficos e estilo de vida. Rev Paul Pediatr. 2016;34(3):343-51.
rence. Br J Nutr. 2010;104(10):1565-72. 22. Cavalcanti CBS, Barros MVG, Menêses AL, Santos CM, Azevedo
3. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. AMP, Guimarães FJSP. Obesidade abdominal em adolescentes:
Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2008-2009. Antro- prevalência e associação com atividade física e hábitos alimen-
pometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos tares.Arq Bras Cardiol. 2010;94(3):371-77.
no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. 23. Frignani RR, Passos MAZ, Ferrari GLM, Niskier SR, Fisberg M,
4. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Cintra IP. Curvas de referência do índice de adiposidade corporal
Nacional de Saúde do Escolar – PeNSE 2015. Coordenação de Popu- de adolescentes e sua relação com variáveis antropométricas. J
lação e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE; 2016. Pediatr. 2015;91(3):248-55.
Local de realização do trabalho: Universidade Federal de Sergipe – Campus Universitário Professor Antônio Garcia Filho, Aracaju, SE, Brasil.
RESUMO
Tallita Barbosa Monteiro dos Santos1
Betânia de Jesus e Silva de Almendra Freitas2 Objetivo: Avaliar a adesão ao tratamento dietético em portadores de diabetes mellitus assistidos
pela estratégia saúde da família, verificando a existência de associação entre o tipo de diabetes
mellitus e as práticas alimentares, condições socioeconômicas e aspectos clínicos relativos à doença.
Método: Estudo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa. A população compreendeu
os usuários portadores de diabetes mellitus atendidos pelo Programa Saúde da Família em um
posto de saúde do bairro Dirceu Arcoverde, na cidade de Teresina, PI, que aceitaram participar
da pesquisa. Resultados: Amostra constituída por 40 portadores de diabetes que contemplaram
os critérios de inclusão. Houve predominância do sexo feminino (n=40; 67,5%), a adoção de
dieta específica para diabético foi estatisticamente superior em ambos os tipos de portadores de
Unitermos: DM (p=0,022), assim como o uso de alimentos diet (p=0,028). Conclusão: Constatou-se melhor
Adesão ao Tratamento. Consumo Alimentar. Dia- adesão ao tratamento dietético nos portadores de Diabetes Mellitus tipo I. Concluiu-se, ainda,
betes Mellitus. Estado Nutricional. Estratégia Saúde que os portadores de diabetes mellitus recebiam orientação médica e nutricional relacionada à
da Família.
afecção, mas fatores socioeconômicos e culturais, aspectos pessoais e o acesso aos serviços de
Keywords: saúde poderiam exercer influência sobre o seguimento de autocuidado.
Medication Adherence. Food Consumption. Diabetes
Mellitus. Nutritional Status. Family Health Strategy. ABSTRACT
Objective: To evaluate the adherence to dietary treatment in patients with diabetes mellitus
Endereço para correspondência: assisted by the family health strategy, verifying the existence of an association between the type
Tallita Barbosa Monteiro dos Santos
of diabetes mellitus and dietary practices, socioeconomic conditions and clinical aspects related
Graduação em Nutrição pela Universidade Federal
do Piauí – UFPI to the disease. Methods: Cross-sectional study with quantitative and qualitative approach. The
Conjunto Morada Nova 1 – Quadra 8 – Bloco 3 – Apt population comprised the patients with diabetes mellitus treated by the Family Health Program
201 – Teresina, PI, Brasil –CEP: 64023-124 at a health clinic in the neighborhood of Dirceu Arcoverde in the city of Teresina, PI, who agreed
E-mail: tallita.monteiro@hotmail.com to participate in the Research. Results: The sample consisted of 40 patients with diabetes who
considered the inclusion criteria. There was a predominance of females (n=40, 67.5%), the adoption
Submissão:
of a specific diet for diabetics was statistically superior in both types of DM patients (p=0.022), as
5 de dezembro de 2017
well as the use of diet foods (p=0.028). Conclusion: It was concluded that patients with diabetes
Aceito para publicação: mellitus received medical and nutritional guidance related to the disease, but socioeconomic and
14 de fevereiro de 2018 cultural factors, personal aspects and access to health services influence on self-care.
1. Nutricionista graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Pós-graduanda em Nutrição em Pediatria: da Concepção à Adolescência
pelo Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde, Teresina, PI, Brasil.
2. Nutricionista. Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas; Mestrado em Ciências e Saúde pela Universidade
Federal do Piauí (UFPI); Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo - Campus Pompeia; Graduação em Nutrição
pela UFPI; Departamento de Nutrição UFPI, Teresina, PI, Brasil.
Também foi aplicado o Questionário de Frequência kg/m² excesso de peso, 25 a 29,9 kg/m² pré-obesidade,
Alimentar (QFA). O QFA constou de uma lista de 19 ≥ 30,0 kg/m² obesidade.
alimentos nas anamneses de linha de base. Este instrumento
é importante para o conhecimento dos hábitos alimentares da
Avaliação da Adesão ao Tratamento Dietético
população, sendo considerado um método de avaliação da
Adotou-se Questionário específico proposto por Barbosa
ingestão dietética prático, informativo e essencial em estudos
et al.10 para avaliar a adesão ao tratamento nutricional para
epidemiológicos que relacionam a dieta com a ocorrência de
o DM, o qual foi construído a partir de recomendações para
doenças crônicas.
o tratamento nutricional do diabetes propostas pela American
As quantidades de energia e macronutrientes foram calcu- Diabetes Association (ADA)11, pela Sociedade Brasileira de
ladas pelo programa “Nutwin”, versão 1.5 do Departamento Diabetes4, e complementadas pelo Guia Alimentar para a
de Informática em Saúde da Universidade Federal de São População Brasileira.
Paulo. As informações nutricionais dos alimentos não encon-
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) que estabelece
trados no programa foram inseridas a partir dos dados da
valores de 2132 kcal para energia, carboidratos correspon-
Tabela Brasileira de Composição de Alimentos e da Tabela de
dendo a 50-60% do VET, no mínimo 130 g/dia e máximo
Composição de Alimentos do Instituto Brasileiro de Geografia
de 266 g/dia. A indicação de ingestão diária de proteína é
e Estatística, de forma que todos os alimentos apresentassem
de 15% a 20% do valor calórico total ou 80 g/dia. Já para
informação nutricional. Para verificar a adequação da ingestão
lipídios de 25-30% ou 59,2 g/dia, para minimizar o risco de
alimentar dos macronutrientes, foi utilizada a faixa de distri-
complicações metabólicas4.
buição aceitável de macronutrientes e energia, contida nas
Dietary Reference Intakes (DRIs) Institute of Medicine of The O instrumento constava de questões acerca do consumo de
alimentos sem açúcar, fruta isolada, preparações com açúcar
National Academies, dos EUA.
habitualmente consumidas, alimentos fonte de carboidratos
complexos e sem açúcar (diet/zero), consumo per capita de sal,
Avaliação Nutricional açúcar e óleo; ingestão de água, de porções de frutas, verduras
Os sujeitos incorporados à pesquisa foram submetidos e legumes; consumo de gordura aparente das carnes e pele
à avaliação nutricional, utilizando-se os parâmetros: peso, de frango, bem como a frequência em que esses alimentos
altura, circunferência da cintura (CC). eram consumidos.
O peso corporal foi aferido em balança eletrônica digital Os questionários de avaliação dos hábitos alimentares
portátil marca Plena (Brasil), com capacidade de 150 kg e foram analisados separadamente, sendo a meta proposta
sensibilidade de 100g, instalada em local afastado da parede, de seguimento de > 50% das orientações recomendadas
com superfícies planas, firmes e lisas. A estatura foi medida para portadores de DM segundo o Guia Alimentar. Consi-
com um antropômetro marca Seca®, graduado em centíme- derou-se como boa adesão à orientação quando > 50%
tros e com barra de madeira vertical e fixa, para posiciona- dos hábitos alimentares recomendados eram seguidos. A
mento sobre a cabeça do indivíduo, estando os participantes adesão parcial foi definida quando havia a melhora dos
descalços, como os pés unidos, em posição ereta, olhando hábitos alimentares, mas não se atingia a meta proposta
para frente. O peso e a estatura foram medidos três vezes (> 50%). Quando < 50% das orientações eram seguidas,
para cada participante, sendo então obtida a média dessas classificou-se como baixa adesão e não se detectou melhora
medidas. O peso foi medido em quilogramas e a estatura nos hábitos alimentares.
em centímetros.
Para a medição da circunferência da cintura, o paciente foi Análise Estatística
posicionado em pé, mediante a utilização de uma fita métrica Os dados foram organizados em um banco de dados
(2 m) não extensível posicionada na linha natural da cintura, no programa Microsoft Office Excel 2011®, a aplicação do
que é a região mais estreita entre o tórax e o quadril, no ponto teste t de Student para a comparação de médias e teste qui
médio entre a costela e a crista ilíaca. A leitura foi realizada quadrado para comparação de variáveis categóricas, sendo
no momento da expiração. considerado significativo p valor<0,05. Os resultados foram
A OMS estabelece como ponto de corte para risco apresentados em tabelas com as respectivas médias e desvios
cardiovascular aumentado medida de circunferência padrão de cada variável estudada.
abdominal igual ou superior a 94 cm em homens e 80 cm
em mulheres. Foram adotados os padrões de referência
RESULTADOS
estabelecidos pela OMS em 2004 para o índice de massa
corporal (IMC) em que o ponto de corte refere < 18,5 kg/m² A pesquisa inclui 40 portadores de diabetes, cujo perfil
para baixo peso, 18,5 a 24,9 kg/m² para eutrofia, ≥ 25,0 socioeconômico está exposto na Tabela 1. Os resultados
BRASPEN J 2018; 33 (1): 76-85
78
Tratamento dietético em portadores de diabetes assistidos pela ESF
demonstraram que o sexo feminino (p=0,033) e renda de de IMC compatíveis com sobrepeso, sugerindo que o
2 a 4 salários mínimos (p=0,024) foram estatisticamente irregular acompanhamento nutricional em 60,9% deles,
superiores (p=0,033) entre os portadores de DM tipo 1 e poderia contribuir para erros alimentares que conduziriam
DM tipo 2 estudados. ao excesso de peso.
A classificação do estado nutricional (Tabela 2) demonstrou Os dados expostos na Tabela 3 demonstraram que
predominância de eutrofia entre os portadores de DM1 (70,6%). as variáveis peso, altura e IMC não deferiram entre os
Os mesmos podem ser explicados pelo frequente acompa- portadores de diabetes mellitus tipo 1 e 2. No entanto, o
nhamento nutricional em 58,8% destes portadores. Contudo, parâmetro circunferência da cintura mostrou-se superior
entre os portadores de DM2, 34,8% apresentaram valores estatisticamente em portadores de DM tipo 2 (p=0,049).
Tabela 1 – Perfil socioeconômico dos portadores de Diabetes Mellitus (DM), assistidos pelo Programa Saúde da Família, Teresina, PI, 2016.
Variáveis Características DM 1 DM2 Total p-valor
N % N % N %
Sexo Masculino 6 35,3 7 30,4 13 32,5
Feminino 11 64,7 16 69,6 27 67,5 0,033*
Faixa Etária (anos) De 18 a 29 anos 12 70,6 - - 12 30,0
De 30 a 39 anos 5 29,4 2 8,7 7 17,5
De 40 a 49 anos - - 9 39,1 9 22,5 0,605
De 50 a 60 anos - - 12 52,2 12 30,0
Estado Civil Solteiro (a) 12 70,6 8 34,8 20 50,0
União Estável 1 5,9 3 13,0 4 10,0
Casado (a) 4 23,5 8 34,8 12 30,0 0,425
Viúvo (a) - - 4 17,4 4 10,0
Reside com Irmãos 2 11,8 3 13,0 5 12,5
Família 14 82,4 19 82,6 33 82,5 0,07
Outros 1 5,8 1 4,4 2 5,0
Religião Católico 10 58,8 2 8,7 12 30,0
Evangélico 5 29,4 16 69,6 21 52,5
Testemunha de Jeová - - 5 21,7 5 12,5 0,311
Nenhuma 2 11,8 - - 2 5,0
Nível de Instrução Não sabe ler e escrever - - 1 4,4 1 2,5
Ensino Fundamental Incompleto 1 5,9 6 26,1 7 17,5
Ensino Fundamental Completo 1 5,9 10 43,4 11 27,5
Ensino Médio Incompleto - - - - - -
Ensino Médio Completo 4 23,5 5 21,7 9 22,5
Ensino Superior Incompleto 10 58,8 - - 10 25,0 1,004
Ensino Superior Completo 1 5,9 1 4,4 2 5,0
Ocupação Comércio 4 23,5 2 8,7 6 15,0
Indústria - - 02 8,7 2 5,0
Estudante 13 76,5 - - 13 32,5
Aposentado - - 15 65,2 15 37,5
Pensionista - - 2 8,7 2 5,0 1,302
Autônomo - - 2 8,7 2 5,0
Renda < 1 Salário Mínimo 2 11,8 06 26,1 8 20,0
2 a 4 Salários Mínimos 15 88,2 17 73,9 32 80,0 0,024*
> 4 Salários Mínimos - - - - -
p-valor = Test Qui-quadrado / *p≤0,05 diferença significativa
A Tabela 4 expõe que, entre os portadores de DM tipo 1 Ao analisar os hábitos alimentares (Tabela 7), verificou-
e 2, a adoção de dieta específica (p=0,022) e de alimentos se que a presença dos hábitos de “beliscar alimentos entre
diet (p=0,028) foram estatisticamente superiores. refeições” e “comer na frente da televisão” (p=0,032 e
Os resultados expostos na Tabela 5 demonstraram que p=0,044, respectivamente) foram superiores estatisticamente
o consumo de vegetais 2 vezes por semana (p=0,034) e de em portadores de DM tipo 2.
leite desnatado 3 vezes por semana (p=0,022) foram estatis- A Tabela 8 apresenta o consumo per capita de sal
ticamente superiores entre os portadores de DM tipos 1 e 2. (p=0,025) e óleo (p=0,023) estavam superiores estatisti-
As concentrações dietéticas médias de energia, macro- camente em portadores de DM tipo 2 e muito superiores
nutrientes e fibras expostas na Tabela 6 não apresen-taram às quantidades recomendadas pela Pirâmide Alimentar
diferença significativa entre os portadores de DM 1 e 2. Adaptada.
Tabela 2 – Perfil Nutricional, segundo IMC, dos Portadores de Diabetes Mellitus (DM), assistidos pela Estratégia Saúde da Família, Teresina, PI, 2016.
Variáveis Características DM 1 DM2 Total p-valor
N % N % N %
Estado Nutricional Desnutrição 2
Eutrofia 12 706 6 261 18 45,0
Sobrepeso 3 176 8 348 11 27,5 0,316
Obesidade Grau I - - 6 261 6 15,0
Obesidade Grau II - - 3 130 3 7,5
Obesidade Grau III - - - - - -
IMC=índice de massa corporal; p-valor = Test Qui-quadrado / I≥0,05 sem diferença significativa
Tabela 3 – Medidas antropométricos dos portadores de Diabetes Mellitus (DM) atendidos pela Estratégia Saúde da Família, Teresina, PI, 2016.
Variáveis DM1 DM2 p-valor*
Peso médio (kg±DP*) 53,5(±) 8,6 65,2 (±) 5,7 0,300
Altura média (m±DP*) 1,60(±) 0,1 1,58 (±) 1,25 0,220
IMC média (kg/m²±DP*) 23,5 (±) 3,9 28,2 (±) 2,6 0,370
Circunferência da Cintura (cm±DP*) 68,1 (±) 6,3 98,5 (±) 1,21 0,049*
IMC=índice de massa corporal; DP=desvio padrão; p-valor = Test t / *p≤0,05 diferença significativa
Tabela 4 – Orientações nutricionais adotadas por portadores de Diabetes Mellitus (DM), assistidos pela Estratégia Saúde da Família, Teresina, PI, 2016.
Variáveis Características DM 1 DM2 Total p-valor
N % N % N %
Adoção de dieta com Sim 14 82,4 17 73,9 31 77,5
orientação específica Não 3 17,6 6 26,1 9 22,5 0,022*
Uso de Alimentos Sim, Totalmente 11 64,7 10 43,5 21 52,5
Integrais Sim, Parcialmente 4 23,5 8 34,8 12 30,0 0,071
Não 2 11,8 5 21,7 7 17,5
Uso de adoçante Sim, Totalmente 14 82,4 15 65,2 29 72,5
Sim, Parcialmente 2 11,8 4 17,4 6 15,0 0,052
Não 1 5,8 4 17,4 5 12,5
Uso de Alimentos Diet Sim 15 88,2 13 56,5 28 70,0 0,028*
Não 2 11,8 10 43,5 12 30,0
p-valor = Test Qui-quadrado / *p≤0,05 diferença significativa
Tabela 5 – Frequência de consumo alimentar por portadores de Diabetes Mellitus (DM), assistidos pela Estratégia Saúde da Família. Teresina,
PI, 2016.
N % N % N %
Tabela 6 – Concentrações dietéticas médias de energia, macronutrientes, frações lipídicas e fibras, consumidos pelos portadores de diabetes mellitus (DM)
assistidos pela Estratégia Saúde da Família, Teresina – PI, 2016.
DM1 DM2
** p-valor = Test t / p≥0,05 sem diferença significativa. AGM = ácidos graxos monoinsaturados; AGP = ácidos graxos poli-insaturados; AGS =
ácidos graxos saturados.
Tabela 7 – Análise dos Hábitos Alimentares de portadores de Diabetes Mellitus (DM), assistidos pela Estratégia Saúde da Família. Teresina, PI, 2016.
Hábitos Alimentares Características DM 1 DM2 Total p-valor
N % N % N %
Número de refeições 3 - -29,4 7 30,4 7 17,5
diárias 5 5 70,6 3 13,1 8 20,0 0,067
6 12 13 56,5 25 62,5
Mastigar bem os ali- Sim 14 82,4 7 30,4 21 52,5
mentos Não 3 17,6 16 69,6 19 47,5 0,162
“Beliscar” alimentos Sim 2 11,8 14 60,9 16 40,0
entre refeições Não 15 88,2 9 39,1 24 60,0 0,032*
Comer na frente da Sim 1 5,9 13 56,5 14 35,0
televisão Não 16 94,1 10 43,5 26 65,0 0,044*
Consumo de alimentos Doce 1 5,9 5 21,7 6 15,0
açucarados Sorvete 3 17,6 2 8,7 5 12,5
Biscoito Recheado 1 5,9 3 13,1 4 10,0
Refrigerante 2 11,8 10 43,4 12 30,0 0,111
Não Consome 10 58,8 3 13,1 13 32,5
Pele do frango Sem a pele 15 88,2 10 43,5 25 62,5
Sempre retira 2 11,8 10 43,5 12 30,0
Nunca retira - - - - - - 0,058
Retira as vezes - - 3 13,0 3 7,5
Gordura aparente das Não come carne com 15 88,2 10 43,5 25 62,5
carnes gordura 11,8 3 13,0 5 12,5
Sempre retira 2 - - - - - 0,139
Nunca retira - - 10 43,5 10 25,0
Retira as vezes -
p-valor = Test Qui-quadrado / *p≤0,05 diferença significativa.
Tabela 8 – Consumo per capita diário da ingestão de alimentos dos portadores de Diabetes Mellitus (DM), assistidos pela Estratégia Saúde da Família.
Teresina, PI, 2016.
Consumo per capita diário Valor recomendado Média / Desvio Padrão p-valor*
DM 1 DM2 N
Sal (g) Até 6,0 5,3/8,8 10,7/5,9 0,025*
Açúcar (g) 27,5 a 55 13,98/6,6 37,9/8,9 0,078
Óleo (ml) 8,11 a 16,22 3,0/6,4 20,4/8,7 0,023*
p-valor = Test t / *p≤0,05 diferença significativa
adoção pode resultar em redução de 1 a 2% nos níveis de 3. Seley JJ, Weinger K. The state of the science on nursing-
hemoglobina glicada2. Além disto, o controle da quantidade best practices for diabetes self-management. Diabetes Educ.
2007;33(4):616-8.
e do tipo de carboidratos consumidos é relevante para o
4. Sociedade Brasileira de Diabetes. Algoritmo para o tratamento do
controle da glicemia pós-prandial e, consequentemente, diabetes tipo 2: atualização 2011(Posicionamento Oficial SBD
para evitar o desenvolvimento de complicações advindas n. 3). São Paulo: Sociedade Brasileira de Diabetes; 2011.
do DM11. 5. Costa JA, Balga RSM, Alfenas RCG, Cotta RMM. Promoção da
saúde e diabetes: discutindo a adesão e a motivação, e indivíduos
O grande desafio dos profissionais de saúde e dos
diabéticos participantes de programas de saúde. Ciênc Saúde
programas assistenciais existentes ainda é a adesão ao Coletiva. 2011;16(3):2001-9.
tratamento e a motivação de diabéticos, sendo de extrema 6. Gomes-Villas Boas LC, Foss MC, Foss-Freitas MC, Torres HC,
relevância a necessidade de buscar mecanismos possíveis de Monteiro LZ, Pace AE. Adesão à dieta e ao exercício físico
seguimento pelos usuários dos serviços e monitorização pela das pessoas com diabetes mellitus. Texto Contexto Enferm.
equipe de saúde, evitando assim o abandono ao tratamento 2011;20(2):272-9.
7. Pontieri FM, Bachion MM. Crenças de pacientes diabéticos
e o agravamento da enfermidade. Desta forma, estudos
acerca da terapia nutricional e sua influência na adesão ao trata-
mais aprofundados em relação à adesão ao tratamento mento. Ciênc Saúde Coletiva. 2010;15(1):151-60.
dietético devem ser realizados, pois é um componente 8. Araújo MFM, Gonçalves TC, Damasceno MMC, Caetano JA.
importante no cuidado à saúde, redução de complicações Aderência de diabéticos ao tratamento medicamentoso com
e melhora da qualidade de vida do portador de DM. hipoglicemiantes orais. Esc Anna Nery.2010;14(2):361-7.
9. Peyrot M, Barnett AH, Meneghini LF, Schumm-Draeger PM.
Insulin adherence behaviours and barriers in the multinational-
CONCLUSÃO Global Attitudes of Patients and Physicians in Insulin Therapy
study. Diabet Med. 2012;29(5):682-9.
Os portadores de DM Tipo I e II eram predominante- 10. Barbosa JHP, Oliveira SL, Seara LT. Produtos da glicação avan-
mente do sexo feminino, apresentavam renda 2 a 4 salários çada dietéticos e as complicações crônicas do diabetes. Rev Nutr.
mínimos e eram assíduos ao acompanhamento médico, 2009;22(1):113-24.
devido à necessidade da receita para aquisição da medi- 11. American Diabetes Association (ADA). Diagnosis and Clas-
sification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care. 2010;33(Suppl
cação gratuita, mas não assíduos ao acompanhamento
1):S62-69.
nutricional. 12. Assunção TS, Ursine PGS. Estudo de fatores associados
Predominou sobrepeso e alto risco de doenças metabó- à adesão ao tratamento não farmacológico em portadores
licas pelo indicador circunferência da cintura nos portadores de diabetes mellitus assistidos pelo Programa Saúde da
Família, Ventosa, Belo Horizonte. Ciênc Saúde Coletiva.
de DM tipo 2, sugerindo a necessidade de recomendações
2008;13(Suppl.2):2189-97.
nutricionais com vistas à perda ponderal. 13. Faria AS, Bellato R. A vida cotidiana de quem vivencia a condição
O consumo dietético de energia, macronutrientes, crônica do diabetes mellitus. Rev Esc Enferm. 2009;43(4):752-9.
frações lipídicas e fibras estava em conformidade aos 14. Medeiros CCM, Bessa GG, Coura AS, França ISX, Sousa FS.
padrões estabelecidos pela SBD e não diferiu entre os Prevalência dos fatores de risco para diabetes mellitus de servi-
dores públicos. Rev Eletr Enferm. 2012;14(3):559-69.
diabéticos Tipo I e II. Entretanto, alguns hábitos alimen- 15. Bosi PL, Carvalho AM, Contrera D, Casale G, Pereira MA,
tares inadequados foram encontrados entre os portadores Gronner MF, et al. Prevalência de diabetes mellitus e tole-
de DM tipo II, como: elevado consumo per capita de sal e rância à glicose diminuída na população urbana de 30 a 79
óleo, “beliscar” alimentos entre refeições, comer na frente anos da cidade de São Carlos, São Paulo. Arq Bras Endocrinol
da televisão. Constatou-se melhor adesão ao tratamento Metab.2009;53(6):726-32.
16. Fagundes CN. Perfil epidemiológico de portadores de hipertensão
dietético nos portadores de DM tipo I.
arterial sistêmica e de diabetes mellitus atendidos na atenção
Concluiu-se, ainda, que os sujeitos recebiam orientação básica em saúde do município de Florianópolis (SC) [Disser-
médica e nutricional relacionada à afecção, mas fatores tação de mestrado]. Florianópolis: Universidade Federal de
socioeconômicos e culturais, aspectos pessoais e o acesso Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde; 2013.
17. Faustino EB, Azevedo EB, Silva PMC, Sales SS, Barros WPS.
aos serviços de saúde exercem influência sobre o segui-
Diabetes mellitus: busca ativa em portadores de obesidade.
mento de autocuidado. Cogitare Enferm. 2011;16(1):110-5.
18. Overby NC, Margeirsdottir HD, Brunborg C, Andersen LF, Dahl-
Jørgensen K.The influence of dietary intake and meal pattern on
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Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção básica: de Diabetes” no município de Viçosa, MG. Arq Bras Endocrinol
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20. Pereira GAB, Archer RLB, Ruiz CAC. Avaliação do grau de 22. Cazarini RP, Zanetti ML, Ribeiro KP, Pace AE, Foss MC.
conhecimento que pacientes com diabetes mellitus demonstram Adesão a um grupo educativo de pessoas portadoras de diabetes
diante das alterações oculares decorrentes dessa doença. Arq mellitus: porcentagem e causas. Medicina (Ribeirão Preto).
Bras Oftalmol. 2009;72(4):481-5. 2002;35:142-50.
2 1. Santos MA, Silva AFS, Oliveira-Cardoso EA, Mastropietro 23. Cotta RMM, Batista KCS, Reis RS, Souza GA, Dias G, Castro
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stem cell transplantation on the quality of life of type 1 tensos e/ou diabéticos, usuários do Programa de Saúde da
diabetes mellitus patients. Psicol Reflex Crít. 2011;24(2): Família no município de Teixeiras, MG. Ciênc Saúde Coletiva.
264-71. 2009;14(4):1251-60.
Local de realização do trabalho: Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, PI, Brasil.
ABSTRACT
Malnutrition is often found in the hospital environment. Often overlooked, malnutrition has the
Unitermos: following major complications: poor immune response, delayed healing, high risk of surgical
Desnutrição. Fatores de Risco. Hospitalização. Brasil. and infectious complications, increased probability of development of pressure lesions, increased
length of hospital stay and mortality risk. Apart from this, it entails a considerable increase in
Keywords: hospital costs. The malnutrition rate varies between 20 and 50% in hospitalized adults and during
Malnutrition. Risk Factors. Hospitalization. Brazil. hospitalization this condition progressively worsens mainly in elderly and critically ill patients. In
1998, the Brazilian survey, known as IBRANUTRI, evaluated 4,000 patients hospitalized in the
Endereço para correspondência: public hospital network of several Brazilian states, confirming the prevalence of malnutrition in
48.1% of the patients. Twenty years ago, these data were published and the scenario remains
Diogo Oliveira Toledo
unchanged until the present day, because, in 2016, another study (with approximately 30,000
Av. Albert Einstein, 627 – São Paulo, SP, Brasil patients) corroborated the maintenance of the high prevalence of malnutrition in hospitalized
CEP: 05652-900 patients. Early identification of malnutrition, as well as management, through recommended tools,
E-mail: diogootoledo@gmail.com makes it possible to establish more appropriate nutritional management and improvement of the
outcome in these patients. The objective of this campaign is to reduce malnutrition rates through
Submissão: a series of actions including screening, diagnosis, management and treatment of malnutrition.
5 de fevereiro de 2018 To facilitate the way of disseminating this knowledge, a mnemonic method was developed with
the word “MALNUTRITION”, addressing each initial letter in a simple way, from concept to treat-
Aceito para publicação ment of malnutrition. In this way, the method guarantees an interdisciplinary integration, besides
2 de março de 2018 investigating the main aspects of the general care of the malnourished patient.
relevantes são a redução da ingestão alimentar recente, validadas. O nutricionista é, em geral, o responsável pela
a perda ponderal, o edema, a perda de massa magra e triagem nutricional na maioria dos hospitais. Quando o risco
de tecido adiposo e a redução da capacidade funcional. nutricional é identificado, preconiza-se realizar a avaliação
Observar precocemente esses fatores é essencial para nutricional.
reconhecer pacientes que se beneficiam de intervenção A triagem nutricional deve ser registrada nos prontuá-
nutricional guiada por metas12-14. rios dos pacientes em até 24h após a admissão hospitalar,
A Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e deve ser repetida semanalmente em pacientes sem risco
Enteral (ASPEN) define a triagem nutricional como “um e que permanecem hospitalizados. Sugestões de métodos
processo para identificar indivíduos desnutridos ou em de triagem nutricional incluem a NRS 2002 e a MST, para
risco de desnutrição para determinar se a avaliação pacientes de enfermarias, e também o NUTRIC, para
nutricional é indicada”11. Assim, a triagem nutricional pacientes críticos.
representa o gatilho inicial desse processo, uma vez A avaliação nutricional é, em geral, atividade do nutri-
que os fatores de risco incluídos nessas ferramentas são cionista. Devem ser submetidos à avaliação nutricional os
preditores da desnutrição13. Ceniccola et al.12 apontaram pacientes em risco nutricional e aqueles com longo período
que pacientes em risco nutricional, pela NRS 2002, na de permanência hospitalar. A avaliação nutricional é um
admissão da UTI, tinham 14 vezes mais probabilidade de processo amplo e pode envolver vários aspectos, como
serem classificados como desnutridos.
carências de micronutrientes e até a obesidade, mas quando
A seleção de uma ferramenta de triagem nutricional deve se tem a finalidade de avaliar a desnutrição, podem ser
considerar a população alvo, a objetividade e a rapidez utilizadas ferramentas mais tradicionais a exemplo da AGS
de aplicação do método, uma vez que todos pacientes e também novos métodos como o proposto pela AND
internados devem ser triados. Para essa tarefa, é necessário em conjunto com a American Society of Parenteral and
contar com equipes interprofissionais de terapia nutricional. Enteral Nutrition (ASPEN), denominado de método AND-
Como exemplos de aplicação da triagem nutricional, a NRS ASPEN. Recordando que há proposta de unificação para o
200215 e aMalnutritionscreening tool (MST)16são ampla- diagnóstico nutricional em consenso de várias sociedades,
mente empregadas em enfermariase, mesmo com certas representada pelo grupo GLIM20.
limitações, podem também serúteis para pacientes críticos.
Nesses últimos, se destaca oNutritionRisk in theCriticallyIll
(NUTRIC) Score17, um método validado especificamente em E- Estabeleça as necessidades calóricas e proteicas
pacientes críticos. Uma das limitações do NUTRIC é que ele Referencial teórico
é composto de variáveis não tradicionalmente associadas à Necessidade Energética
desnutrição, mas à gravidade da doença. Escolher qual ferramenta utilizar no cálculo da necessi-
dade energética dos pacientes ainda é um grande desafio.
Após a triagem nutricional, os pacientes em risco e
Apesar do padrão ser a calorimetria indireta (CI), o alto custo
aqueles com longa permanência hospitalar devem ser
do equipamento torna o uso distante da prática clínica da
submetidos à avaliação nutricional para o adequado diag-
grande maioria dos profissionais. Existem poucos estudos
nóstico do seu estado nutricional. É definida pela Academy
of Nutrition and Dietetics (AND) como “um processo para comparando a CI com as equações preditivas em relação a
obter, verificar e interpretar os dados necessários para desfecho. Análise da literatura indicou que os estudos apre-
identificar problemas relacionados a nutrição, suas causas sentam grande heterogeneidade de pacientes e a maioria
e consequências”. A Avaliação Global Subjetiva (AGS) destes não é randomizada21.
é um exemplo de ferramenta validada e amplamente Dentre as equações preditivas disponíveis, todas apre-
utilizada em hospitais, tendo sido desenvolvida em 1987 sentam limitação e baixa acurácia quando comparadas à
e, desde então, é empregada com sucesso em diversos CI, apresentando assim grande probabilidade de hipo ou
grupos de pacientes18. Outros métodos de diagnóstico hiperalimentação. Um estudo que avaliou a acurácia das
mais recentes foram propostos pela ESPEN19 e pela AND- equações preditivas observou que 38% subestimaram e 12%
ASPEN13. Esse último é consideravelmente similar à AGS, superestimaram as necessidades energéticas em mais de 10%
pois inclui elementos semelhantes. Um grupo de trabalho quando comparadas à CI. Foram encontrados, ainda, valores
internacional denominado Global Leadership Initiative on de até 43% abaixo e 66% acima da necessidade medida por
Malnutrition (GLIM)20 visa unificar essas propostas para CI para determinado paciente22.
desenvolver ferramenta de diagnóstico universal. Finalmente, ao se comparar equações complexas com
regra de bolso, baseada no peso do paciente, em amostra
Abordagem prática de mais de 8.000 doentes graves não foi observada dife-
A triagem nutricional deve ser feita à admissão hospitalar rença na mortalidade, mas houve menor permanência em
por profissional de saúde treinado e utilizando ferramentas pacientes que utilizaram a regra de bolso para cálculo da
BRASPEN J 2018; 33 (1): 86-100
88
Diga não à desnutrição
necessidade energética23. Portanto, parece razoável que, Quadro 2 – Sugestões de meta energética, baseadas na regra de bolso.
na ausência da CI, a regra de bolso seja utilizada, visto
Pacientes na Enfer- Fase inicial 25 a 30 kcal/kg
que, apresenta resultados razoáveis, é mais fácil e rápida
maria Fase de recuperação 30 a 40 kcal/kg
de ser realizada. Neste sentido, indica-se, em geral, entre
25 e 30 kcal/kg de peso atual (exceção para pacientes Pacientes na Fase Inicial 20 a 25 kcal/kg
UTI Fase de Recuperação 25 a 30 kcal/kg
obesos que devem ter o peso corrigido para o ideal).
Observação: Risco de Síndrome de Realimentação – iniciar com 15 kcal/kg
Necessidade Proteica
O músculo esquelético corresponde a 80% da massa Quadro 3 – Sugestões de meta proteica, baseadas na regra de bolso
celular corporal de um adulto jovem e saudável. A
lesão tecidual grave precipita tempestade de citocinas e Baixo catabolismo 1,0 a 1,2 g/kg
hormônios contrarregulatórios que aumentam drastica- Moderado catabolismo 1,2 a 1,5 g/kg
Pacientes na
mente o catabolismo muscular, liberando os aminoácidos Alto catabolismo 1,5 a 2,0 g/kg
Enfermaria
na corrente sanguínea que atuarão na regulação das Doença Renal Crônica sem 0,8 a 1,2 g/kg
respostas inflamatórias e imunológicas24. O catabolismo evento catabólico agudo
muscular, por sua vez, leva a rápida e grave atrofia da Sem Terapia Renal 1,2 a 2,0 g/kg
musculatura esquelética. Substitutiva Contínua
Em Terapia Renal 2,0 a 2,5 g/kg
Em pacientes graves, com alto catabolismo, a perda de Pacientes na UTI Substitutiva Contínua
massa muscular foi recentemente quantificada, por meio Obeso grau 1 e 2 2 g/kg peso ideal
da espessura do reto femoral por ultrassonografia, e varia
Obeso grau 3 2,5 g/kg peso ideal
de 15 a 25%, nos primeiros 10 dias de internação na UTI25.
Essas considerações corroboram as recomendações
atuais de necessidade de alta oferta proteica. Enquanto a S - Saiba a perda de peso e acompanhe o peso do
ingestão de proteínas recomendada para pessoas saudá- paciente pelo menos a cada 7 dias
veis gira em torno de 0,8 a 1,0 g/kg/dia, a recomendação Referencial teórico
proteica para o doente não obeso vai de 1,2 a 2,0g/kg/ A avaliação da porcentagem de perda de peso é
dia26. Dados clínicos preliminares apontam que ofertar importante preditor de risco nutricional. Além disso, o peso
até 2,5 g/kg/dia, principalmente em pacientes críticos, é corporal é considerado informação essencial na assistência
seguro27. Porém, são necessários estudos de alta qualidade direta ao paciente, porque reflete o somatório dos compo-
para avaliar qual seria realmente a oferta ideal. nentes corporais e, na maioria das vezes, é incorporado
Existem poucos estudos que comparam diferentes nas ferramentas de triagem nutricional e nos controles de
ofertas proteicas e o desfecho clínico. Um deles avaliou, cuidado interprofissional, seja na admissão hospitalar, em
prospectivamente, 113 pacientes internados em UTI e atendimentos ambulatoriais ou cuidados domiciliares30,31.
observou correlação entre a oferta proteica e a mortali- Por tratar-se de informação que pode influenciar na
dade, sendo que pacientes que receberam oferta proteica conduta terapêutica, este cuidado deve ser instituído como
de 1,5 g/kg/dia tiveram melhor sobrevida (p=0,011)28. rotina, no mínimo semanalmente, em pacientes hospitali-
Estudo multicêntrico observacional com pacientes críticos zados – além de indicativo do estado nutricional, o peso é
que permaneceram ≥4 dias (n=2828) ou ≥12 dias determinante para prescrição dietética e cálculos de estima-
(n=1584) destacou que o alcance de ≥ 80% da meta tiva de gasto energético, como as fórmulas de bolso, que
proteica foi associado com redução da mortalidade, tanto se baseiam em recomendações por quilo de peso. Avaliar o
em pacientes com tempo de internação mais ou menos peso, no mínimo, uma vez por semana é fundamental32-34.
prolongado29. Assim sendo, o esforço para atingir a meta Ainda, o peso é fundamental para o cálculo do IMC, que
proteica parece fazer diferença do desfecho final, espe- pode auxiliar na determinação do diagnóstico nutricional
cialmente do ponto de vista funcional dos pacientes em Vale ressaltar que o peso atual do paciente pode refletir
terapia nutricional (na verdade, isto representa quem está não somente o estado nutricional, mas também o estado de
a ser de fato tratado, contra os que não foram adequa- hidratação (presença de edema, ascite, entre outros – que
damente tratados). devem ser desconsiderados para definição do peso seco).
Em pacientes acamados, o método ideal para mensuração
Abordagem prática do peso é a maca balança, mas este equipamento é inexistente
Os quadros 2 e 3 sugerem regras de bolso para cálculo na imensa maioria dos hospitais brasileiros. Existem também
das necessidades energéticas e proteicas baseadas nas os métodos indiretos para estimar o peso, como as fórmulas
últimas diretrizes internacionais21,22,26,27. de estimativa, mas que apresentam limitações: poucas foram
BRASPEN J 2018; 33 (1): 86-100
89
Toledo DO et al.
desenvolvidas para população brasileira e para diferentes Para a adesão ao protocolo de verificação do peso
faixas etárias. Em casos de restrição total ao leito ou na corporal, é imprescindível a participação da equipe inter-
presença de edema, a aferição de pregas cutâneas e de circun- profissional procurando incentivar o paciente, familiar e ou
ferências musculares pode também ser de difícil mensuração cuidador no acompanhamento deste cuidado.
e validação32,35. Outro método indireto para cálculo de peso
Pesquisas recentes apontam para a necessidade de
ideal é contemplando o IMC médio, que para adultos pode
empoderar os pacientes para apoiar na gestão do seu
ser considerado 22 kg/m2 e para idosos, 24,5 kg/m2.
autocuidado37.
Abordagem prática
A verificação correta do peso corporal auxilia no alcance N- Não negligencie o jejum
das metas do cuidado e é imprescindível para31: Referencial Teórico
O tempo excessivo de jejum dos pacientes durante a
• Fornecer dados fidedignos na avaliação e monitoramento
internação hospitalar foi identificado como importante fator
do estado nutricional e de hidratação do paciente;
de risco para desnutrição hospitalar38. Durante períodos de
• Auxiliar no cálculo das necessidades nutricionais, auxi-
jejum, ocorre redução da secreção de insulina e aumento
liando no plano terapêutico interprofissional;
da secreção de glucagon e catecolaminas, levando à glico-
• Estabelecer e monitorar o balanço para cálculo de doses genólise e lipólise. Quando se acrescenta a resposta ao
seguras de medicamentos, como antibióticos, sedativos estresse, o catabolismo é acelerado, levando à perda de
e hidratação;
massa muscular.
• Selecionar dispositivos acessórios utilizados na mobili-
Os principais motivos que levam ao jejum excessivo
zação precoce.
incluem pausas para exames e procedimentos diagnósticos,
A fim de assegurar o cumprimento de rotinas e fornecer interrupções antes ou após procedimentos cirúrgicos ou como
dados precisos e informação segura, a adoção de um
parte do controle de sintomas gastrointestinais (náuseas,
checklist (Quadro 4) pode auxiliar na adesão desta rotina36.
vômitos e diarreia) e espera de avaliação funcional da
deglutição39.
Quadro 4 – Checklist para aferição do peso corporal.
Recomendação Fundamentação da prática Abordagem prática
Relacionados à balança Todos os pacientes em jejum por mais de 48h devem
( ) Balança calibrada Equipamentos calibrados e precisos ser acompanhados com mais cuidado e a possibilidade
podem fornecer dados fidedignos e expor de indicação de vias alternativas de alimentação deve ser
em menor risco de erros no diagnóstico ou considerada, respeitando as particularidades de cada caso.
tratamento
( ) Desinfecção da A desinfecção correta do equipamento de
balança aferição pode minimizar riscos potenciais Abreviação do jejum antes de exames e procedi-
de infecção mentos diagnósticos
Relacionados ao paciente Não há diretrizes claras sobre o tempo necessário de
( ) Esvaziamento prévio Este cuidado permite menor variação de jejum antes da realização de exames diagnósticos40. Portanto,
da bexiga e jejum peso e facilita a comparação diária das recomenda-se que cada instituição elabore protocolos entre
medidas os setores envolvidos (UTIs, unidades de internação, endos-
( ) Horário pré-definido A rotina definida de horário pode auxiliar no copia, radiologia, cardiologia) para definição do tempo de
para verificação preparo do paciente e otimizar as ações de
enfermagem
jejum adequado a ser cumprido antes da realização de cada
( ) Posicionamento O posicionamento correto fornece dados
exame. É fundamental a comunicação efetiva entre os setores
correto do paciente e da mais confiáveis do hospital para o cumprimento dos tempos acordados e
balança redução de atrasos na programação. A comunicação efetiva
Relacionados à equipe de enfermagem com pacientes/familiares sobre tempo de jejum e horário de
( ) Familiaridade no uso O conhecimento prévio do equipamento e liberação da dieta é fundamental para garantir o cumpri-
dos equipamentos da rotina de controle permite a verificação mento dos prazos.
correta do peso corporal
( ) Comparação com O parâmetro anterior permite comparações
medida anterior e condutas terapêuticas mais eficientes Abreviação do jejum pré-operatório
( ) Uso de balança ade- O uso correto das balanças fornece dados Várias diretrizes de sociedades de Anestesiologia e o
quada para cada tipo de fidedignos e precisos projeto ACERTO apoiam a abreviação do jejum pré-opera-
paciente tório e recomendam manter jejum para sólidos por seis horas
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90
Diga não à desnutrição
Traqueostomia 1
Realimentação precoce no pós-operatório: Cirurgia Torácica Broncoscopia 4
Vários estudos sugerem que a realimentação oral e
Drenagem pleural 1
enteral precoce no pós-operatório melhora os desfechos
clínicos44. Em operações com anastomoses gastrintestinal, Cardiologia Ecocardiograma transe- 6
enteroentérica, enterocólica ou colorretal, a dieta oral ou sofágico
enteral deve ser iniciada no mesmo dia ou no primeiro dia
pós-operatório43.
Abordagem Prática
• Avaliar o risco nutricional do paciente, por meio de
instrumentos de triagem conforme passo 1;
• O serviço de nutrição hospitalar deve desenvolver
e padronizar manual de dietas contendo as dietas
hospitalares de rotina e as especializadas. Esse
manual é ferramenta primordial no cuidado nutri-
cional ao paciente internado. Direciona e auxilia
a equipe médica e interprofissional a conhecer e
entender melhor a dieta prescrita, já que não há
consenso sobre a nomenclatura das dietas ofere-
cidas nos hospitais. Ademais, fornece subsídios para
avaliar e acompanhar o que está sendo ingerido pelo
paciente 51;
• Identificar os pacientes que necessitam de monitora-
mento pelo nutricionista ou outro profissional da equipe
interprofissional assistencial quando apresentam acei-
tação alimentar insatisfatória;
• Utilizar ferramentas de fácil aplicação à beira-leito;
• Garantir prescrição dietética adequada para cada
Figura 1 - Sugestão de impresso para avaliar o percentual do consumo alimentar em unidade
paciente e assegurar plano de cuidado nutricional
hospitalar51.
personalizado. Padronizar o que é servido para o Obs: essa ferramenta também pode ser utilizada para anotação pelo próprio paciente, familiar
ou cuidador envolvido, desde que bem orientados e treinados (processo de empoderamento
paciente; do paciente e familiares/acompanhantes).
• Treinar a equipe interprofissional para aplicar as ferra-
mentas e realizar registros adequados no prontuário 2. Acompanhar a aceitação alimentar dos pacientes por meio do
do paciente; registro da ingestão alimentar
• Utilizar indicadores de qualidade, como medidas obje- - Registrar, em impresso próprio, o consumo alimentar da dieta via
tivas para avaliar o volume infundido versus prescrito oral, que pode/deve ser feito pelo próprio paciente e/ou familiares.
da nutrição enteral e parenteral; - Anotar dados sobre os alimentos/preparações e quantidades consu-
midas em cada refeição (desjejum, lanche da manhã, almoço, lanche
• Calcular a adequação calórica ofertada versus ingerida da tarde, jantar e ceia) ao longo do dia.
(Quadro 8). - Preencher o formulário continuamente durante o período de hospita-
As anotações servirão tanto para o/a nutricionista lização, ou por pelo menos 3 dias consecutivos para maior assertivi-
como também para outros membros da equipe interpro- dade na conduta a ser tomada.
fissional, uma vez que a alimentação do paciente é parte - Após o preenchimento, cabe ao nutricionista avaliar a aceitação
alimentar e realizar o cálculo da ingestão alimentar realizada pelo
integrante do tratamento, acompanharem o quadro do
paciente.
enfermo (Quadro 9)
BRASPEN J 2018; 33 (1): 86-100
92
Diga não à desnutrição
A - Acolha e engaje o paciente e/ou familiares cuidadores e familiares, construindo um bom relaciona-
no tratamento mento durante o período de internação93,96. A habilidade
Referencial teórico de colocar-se no lugar do outro pode ser o grande dife-
A doença e a incapacidade são experiências comuns rencial para o atendimento de excelência, melhorando a
em ambiente hospitalar e frequentemente desencadeiam confiança acerca das informações transmitidas para maior
impactos negativos, como medo, ansiedade e depressão, engajamento e melhor desfecho clínico96,97.
que podem afetar diretamente a parte alimentar 90,91.
Compreender as alterações que ocorrem na vida do O - Oriente a alta hospitalar
paciente é primordial para o desenvolvimento de estraté- Referencial teórico
gias de acolhimento que favoreçam melhor comunicação A preparação para a alta só começa quando o paciente
e entendimento das oportunidades de intervenção91. já está clinicamente apto a deixar o hospital. Portanto,
O papel educacional da EMTN também deve ser tarefas que requerem tempo, como educar os pacientes
compreendido em sua complexidade, pois são as infor- com relação à nutrição, reconciliação medicamentosa,
mações transmitidas durante o período de internação que agendamento de acompanhamentos e organização do
garantem o engajamento do paciente na capacitação transporte, necessitam de planejamento98,99.A falta deste
para o autocuidado92,93. A triagem nutricional e anamnese planejamento de alta pode levar a readmissões e custos
adequadas, assim como o monitoramento e ajuste perió- mais elevados. Outro elemento importante do processo
dico dos nutrientes às diferentes situações clínicas, podem de alta é garantir que os pacientes e/ou familiares estejam
auxiliar na recuperação e diminuir potencialmente as rein- empoderados para gerenciar em casa e garantir a conti-
ternações. Abordagens que levam ao empoderamento dos nuidade do tratamento. Para ter desempenho eficaz no
pacientes e/ou responsáveis geram maior compreensão processo de alta hospitalar, o primeiro requisito é estabe-
da importância do tratamento nutricional92. lecer como meta a data de previsão da alta99,100.
A humanização no ambiente hospitalar evidencia que
a ciência e a tecnologia isoladamente não suprem a Abordagem prática
necessidade do paciente e de seus familiares, mas sim a Modelos estratégicos para este processo devem ser
totalidade da experiência deles durante e após o período estimulados e desenvolvidos conforme recursos próprios da
de internação94,95. instituição. Um exemplo é a de checklist simples para alta
hospitalar (Quadro 15).
Abordagem prática
• Acolher e engajar os pacientes e familiares no
autocuidado; Quadro 15 – Checklist para alta hospitalar.
• Reconhecer barreiras do aprendizado e comunicação: 10. Lew CCH, Yandell R, Fraser RJL, Chua AP, Chong MFF, Miller
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• Detectar se o objetivo foi atingido ou não por meio do 17. Heyland DK, Dhaliwal R, Jiang X, Day AG. Identifying critically
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Local de realização do trabalho: Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE), São Paulo, SP, Brasil.
Conflito de interesse: Os autores declaram não haver.
BRASPEN J 2018; 33 (1): 86-100
100
A Artigo de Revisão
Probióticos no efeito tardio da radioterapia pélvica: retocolite ulcerativa
RESUMO
Juliana Dalapicula do Amaral1
Angela Regina Binda da Silva de Jesus2 A radioterapia pélvica é uma das formas de tratamento para as mulheres acometidas de câncer do
colo uterino em todos os estágios. Suas radiações ionizantes agem diretamente no DNA celular,
tendo a possibilidade de cura, no caso do câncer cervico uterino. Devido aos efeitos colaterais
Unitermos: das radiações, acarreta danos às pacientes, que podem ser crônicos e um deles é a retocolite
Probióticos. Neoplasias do Colo do Útero. Retocolite ulcerativa, uma moléstia que acomete o intestino e o reto. Uma das formas de auxiliar a paciente
Ulcerativa. Radioterapia.
é o tratamento terapêutico adjuvante com probióticos, que restaura a microbiota intestinal e age
Keywords: como inibidor inflamatório. O objetivo da pesquisa é relatar a importância dos probióticos para
Probiotics. Uterine Cervical Neoplasms. Rectocolitis,
Ulcerative. Radiotherapy. que possam ser logo administrados às pacientes.
Submissão: which can be chronic and one of them is right ulcerative colitis, a disease that affects the intes-
24 de setembro de 2016 tines and rectum. One way to assist the patient’s nutritional adjunctive therapeutic treatment
with probiotics, which restores the gut and acts as an inflammatory inhibitor. The objective of the
Aceito para publicação:
12 de dezembro de 2016 research is to report its importance to be immediately to patients.
1. Acadêmica do curso de Nutrição do Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC), Colatina, ES, Brasil.
2. Doutora em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); professora do Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC), Colatina,
ES, Brasil.
No momento, é grande o grupo dos probióticos identi- risco cancerígenos. No Brasil e em outras partes do mundo,
ficados. Os mais utilizados são representados por estirpes o melhor método de combater as neoplasias tem por base o
dos generos Lactobacillus, Enterococcus e Bifidobacterium. uso da prevenção como arma indispensável. Vários estudos
A análise metagenomica de DNA probiótico revelou um epidemiológicos apontaram a prevenção primária e também
papel bastante uniforme da maioria dos membros deste a secundária como fatores na redução dos grandes índices
grupo, possuindo uma abundância de genes envolvidos de internação por neoplasias.
nos mecanismos das defensivas e hidratos de carbono, bem Para essas afecções de altas incidência e mortalidade, a
como quantidade quase nula de genes envolvidos na síntese prevenção na ação precoce é, sem dúvida, bem melhor que
de flagelos e quimiotaxia4. remediar, principalmente, quando se faz uso das terapias
Um estudo sobre os efeitos da ingestão de lactobacilos neoadjuvantes que poderiam ser dispensadas, em casos
acidófilos evidenciou um declive significativo na atividade selecionados, para não agregar incômodo emocional ao
das bactérias carcinógenas. Estas bactérias diminuem paciente por todos os impedimentos das iatrogenias inerentes
igualmente a contagem de outras espécies putrefativas, tais ao tratamento que objetiva a cura. Segundo Santos Junior13,
como coliformes, possivelmente envolvidas na produção é necessário encontrar os fatores preditivos que permitam
de promotores tumorais e pré-carcinogênicos; igualmente, escolher os pacientes com probabilidade de cura apenas com
a ingestão de Bifidobacterium longum e de Lactobacillus o tratamento cirúrgico. A radiação deveria ser aperfeiçoada e
casei10. aplicada em casos nos quais o tratamento cirúrgico exclusivo
A estimulação probiótica sobre os mecanismos epiteliais não seja suficiente.
do intestino resulta como fator protetor e restitui a barreira A radiação, uma forma terapêutica reconhecida em
epitelial do intestino danificada com estabilização das junções 1922 pelo Congresso Mundial de Oncologia2, danifica
celulares, a produção de substâncias bactericidas e proteínas o material genético da célula maligna. O tratamento é
protetoras e o bloqueio pela apoptose celular, feito pela composto de raio ou partículas ionizantes de alta energia,
citosina (inflamação intestinal)5. capazes de matar as células malignas nas regiões irra-
Ressaltam-se benefícios no trato da colite mucosa, colite diadas. Depois de finalizado o tratamento de radioterapia,
ulcerosa, diverticulite; colite antibiótica; aumento do valor são necessários controles clínicos periódicos, que têm por
nutritivo dos alimentos e melhor digestibilidade11. finalidade reavaliar condições clínicas do paciente, da
lesão tratada, e a detecção de eventuais efeitos colaterais
A Radioterapia no Tratamento do Carcinoma colo a médio e longo prazo14.
Uterino O câncer e suas sequelas impõem mudanças no cotidiano
Segundo Linard et al.12, o carcinoma do colo uterino é das mulheres. Essas mudanças foram ocasionadas por uma
a neoplasia mais frequente do sistema genital feminino no consciência dos limites impostos após o tratamento radio-
Brasil, sendo uma das doenças com maior mortalidade entre terápico, com incapacidade física para exercer atividades
as mulheres e considerado, nas últimas décadas, uma séria laborais rotineiras. Os limites impostos pela doença ou pelo
questão da saúde pública. tratamento traduzidos pelas alterações físicas acarretaram
Com base no documento World Cancer Report 2014 mudanças no cotidiano das mulheres12.
da International Agency for Research on Cancer (IARC), da Na radioterapia da pelve feminina, os locais críticos e
Organização Mundial da Saúde (OMS), é inquestionável de difícil proteção são as alças intestinais, a medula óssea
que o câncer é um problema de saúde pública, especial- hematopoiética pélvica, reto, bexiga e articulações coxofe-
mente entre os países em desenvolvimento, onde é espe- morais. Enquanto as doses recomendadas de tratamento dos
rado que, nas próximas décadas, o impacto do câncer na tumores são de 45 a 85 Gy (dose equivalente em frações
população corresponda a 80% dos mais de 20 milhões de de 1,8 Gy- EQD1,8), a dose tolerável pelas alças intestinais
casos novos estimados para 2025. No Brasil, os registros de não passa de 45 Gy, a dose tolerável pela medula óssea é
Câncer de Base Populacional (RCBP) fornecem informações de aproximadamente 20 a 35 Gy e as doses toleráveis por
sobre o impacto do câncer nas comunidades, configurando- reto e bexiga dependem dos volumes de cada órgão irra-
se uma condição necessária para o planejamento e a diado. O impacto da irradiação de alças intestinais acima
avaliação das ações de prevenção e controle de câncer1. destas doses pode levar a enterites graves, em algumas vezes
O carcinoma é decorrente de falhas no crescimento e letais. A toxicidade hematológica aguda pode levar a inter-
proliferação das células, responsáveis pelo funcionamento rupções do tratamento que prejudicam as chances de cura
do nosso organismo. É responsável por cerca de 13% no das pacientes. Retites e cistites graves podem comprometer
índice de óbitos no mundo, e esse índice vem crescendo a a qualidade de vida das pacientes e aumentar muito o custo
cada ano, devido à exposição dos indivíduos aos fatores de final do tratamento3.
BRASPEN J 2018; 33 (1): 101-6
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Amaral DP & Jesus ARBS
Realçam-se os órgãos mais comuns afetados e o reto, destes dados não terem significância estatística, este trabalho
a bexiga, o intestino e a medula óssea. Ocorrem diarreias abriu precedentes para a pesquisa dos efeitos benéficos dos
e cólicas abdominais e efeitos tardios incluem a retocolite probióticos, bem como dos seus produtos4.
ulcerativa3.
MÉTODO
Retocolite Ulcerativa e o Uso Terapêutico Adjuvan-
Trata-se de uma revisão bibliográfica, que buscou artigos
te com Probióticos
e publicações em sites com as palavras-chave retocolite
Santos Júnior15 define a retocolite ulcerativa como uma
ulcerativa, uso terapêutico probióticos, efeitos colaterais
afecção idiopática, que afeta o reto e as porções do colón,
da radioterapia pélvica, câncer colo de útero e benefícios
caracterizada por inflamações recorrentes que acomete a
probióticos. A busca foi feita no período de abril a maio
camada mucosa. As manifestações clínicas são sangramento
de 2016. Foram incluídos artigos que tratassem do tema
retal, muco e dor abdominal. É diagnosticada com história
envolvendo desde do tratamento de câncer colo uterino,
clínica e exame físico do paciente, incluindo o proctológico,
seus efeitos, e os estudos com probióticos, publicações em
radiológico, endoscópico, biópsia e colonoscopia. O trata-
língua portuguesa e inglesa.
mento para remissão deve ser feito com fármacos15.
Concentrou-se no efeito tardio da radioterapia, a retoco-
Já Guindi & Riddell16 descrevem a retocolite ulcerativa
lite ulcerativa. O objetivo da pesquisa é utilizar os probióticos
como uma afecção inflamatória atingindo o reto e o cólon.
como adjuvante na remissão da afecção.
A barreira de defesa culmina por toda a parede da mucosa
intestinal de forma contínua, destruindo a estrutura da
mesma, impedindo a absorção de nutrientes e formando RESULTADOS
abcessos. As lesões apresentam granulomas, úlceras e fístulas Conforme os estudos de Tursi et al.19, o uso de VSL#3, um
profundas. probiótico com 112.500 milhões de bactérias lácteas vivas,
Para Teixeira4, é uma doença limitada à camada mucosa associado à balsalazide, melhorava os sintomas, a aparência
do cólon. A localização mais frequente é o reto e pode-se endoscópica e a histológica, comparativamente ao uso de
estender proximamente de forma contínua. outros 5-ASA isoladamente, tendo sido demonstrado que
Polalowski17 enfatiza que é de extrema importância o bom a combinação dos 2 agentes era mais eficaz que qualquer
funcionamento intestinal e sua microbiota para a nutrição e um dos 5-ASA testados isoladamente, mesmo sendo, estes
defesa do organismo. últimos, usados em doses superiores.
Relata-se que os mecanismos de ação da intervenção Os autores admitiram que uma suplementação com
nutricional poderiam atuar na modulação dos mecanismos VSL#3 permite reduzir o escore em doentes com colite
de defesa imunológica e de citosinas da mucosa intestinal, ulcerosa que estão sob tratamento. Neste estudo, apesar
reduzir a estimulação antigênica, além de fornecer nutrientes de referir a existência a indução de remissão, o tratamento
para proporcionar reparação tecidual e manutenção do adjuvante com VSL#3 não mostrou uma melhora estatisti-
estado nutricional18. camente relevante.
Entre os cirurgiões, os probióticos mais prescritos são Diferenças nos resultados podem advir dos diferentes
iogurtes com probióticos, enquanto nos gastroenterologistas tratamentos utilizados ou diferentes estádios da doença na
o probiótico mais prescrito é o VSL#3. Esta alta percentagem amostra: enquanto no estudo de 2004 se incluíam apenas
de prescrições pode-se entender pela aparente segurança doentes que utilizavam 5-ASA (terapia de primeiro grau na
dos probióticos, pela fácil aceitação dos doentes em relação colite ulcerativa), em 2010 foram incluídos doentes em uso
a estes. Diferente me parece a atitude dos clínicos que de imunomoduladores (azatioprina e 6-mercapropurina). Isto
prescrevem probióticos, como VSL#3, que, para além de pode levantar a questão da eficácia do tratamento probiótico
terem um rigoroso controle de fabricação, tem já grau de estar ligada ao grau de gravidade da doença.
evidência terapêutica4. Bibiloni et al.20 demostraram resultado positivo da VSL#3
Há casos com pacientes tratados com fármacos junto com com a remissão de 53% dos doentes refratários à terapêu-
probióticos que proporcionaram uma melhora na remissão tica convencional para a colite ulcerosa.De acordo com
da colite ulcerativa. No ano de 2004, foi feito um estudo Sood et al.21, o VSL#3 levou a uma diminuição de 50% no
sobre bifidobactérias que concluiu que o índice de atividade UCDAI depois de 6 semanas de administração (32,5% com
do reto ou colite ulcerativa era mais baixo em doentes que VSL#3 versus 10% com o placebo) tendo levado à remissão
tomavam o leite fermentado do que no grupo controle. O clínica em quase metade dos pacientes dos estudos, após
primeiro grupo tinha ainda resultados mais baixos nos escores 12 semanas de administração (42,9% com VSL#3 versus
de índice de atividade endoscópica e histológica. Apesar 15,7% com placebo).
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Probióticos no efeito tardio da radioterapia pélvica: retocolite ulcerativa
Em um estudo, feito com crianças de 6, 12 meses, ou concentração mais elevada de bactérias benéficas vivas,
no momento de recaída, os escores histológicos e endos- encontrado nos Estados Unidos.
cópicos eram significativamente mais baixos na população Ressaltamos também os estudos de Matthes et al.23, sobre
que tomava VSL#3, relativamente ao grupo Probióticos na o menor tempo de remissão e melhoria, associando com
doença inflamatória intestinal. Este probiótico foi eficaz na os estudos de Ishikawa et al.24, que embora com bactérias
indução de remissão na colite ulcerativa em população probióticas diferentes tiveram bons resultados. Os probió-
pediátrica.Experiências com outros probióticos foram também ticos utilizados nestas pesquisas são encontrados no Brasil,
levadas a cabo para a remissão da Colite Ulcerativa branda em farmácia, desde que recomendado por nutricionista ou
e moderada22. médico, e em mercados também.
O uso de enemas de EcN foi testado em diferentes doses A cura da retocolite ulcerativa é um desafio aos cien-
para tentar uma remissão da colite ulcerosa. Este estudo tistas, bem como aos profissionais de saúde. Os estudos
mostrou que não houve diferença estatística na análise de
mostraram que o uso adjunto terapêutico dos probióticos
intenção de tratamento (ITT), no entanto, o tempo para a
com a associação dos fármacos reduz os escores do intestino,
remissão foi menor neste grupo. Estudos com Saccharomyces
recuperação da microbiota intestinal, melhora dos sintomas,
boulardii demonstram uma franca melhoria, confirmada
inibição das inflamações no intestino e faz a remissão da
endoscopicamente em doentes que tomam este probió-
retocolite ulcerativa na maioria dos pacientes.
tico associado à mesalazina. Apesar de todos fortemente
positivos, tratam-se apenas de open label studies com uma
amostra relativamente pequena23. CONCLUSÃO
A preparação probiótica com Propionibacterium freu- O consumo de probióticos é benéfico ao organismo
denreichii, isolado do queijo suíço, induziu um significante no reestabelecimento da microbiota intestinal. Os estudos
decréscimo da atividade clínica e endoscópica da colite ulce- científicos comprovam seu papel adjuvante nas escoriações,
rosa. Foram também medidas as concentrações em AGCC, inibição inflamatória e remissão da colite ulcerativa.
nomeadamente butirato, e foi detectado um aumento em
A importância nutricional dos probióticos, bem como seus
quase todos os pacientes, sugerindo que a melhora clínica
benefícios, prevenindo diversas afecções, desempenhando
e endoscópica, se deve à inibição de citocinas inflamatórias
de forma isolada funções específicas, além de defesas
pela ação do butirato na mucosa inflamada.
cancerígenas e ao decorrer de nossa vida, mostra que é
Segundo a Teixeira4, a grande maioria dos estudos reali- necessário consumi-los. Ressaltamos que o mais importante
zados para a manutenção da remissão da Colite Ulcerativa é a prevenção do câncer, com uma vida equilibrada com
usaram o probiótico E. coli de Nissle (EcN). Neles, este probi- hábitos nutricionais saudáveis livre de aditivos, formulações
ótico era comparado com a terapêutica com 5-ASA. Todos químicas e agrotóxicos; exercícios diários e exames feitos
os trabalhos foram unânimes em afirmar que EcN é, pelo periodicamente.
menos, tão eficaz como 5-ASA na manutenção da remissão
Os pacientes submetidos à radioterapia pélvica e acome-
da Colite Ulcerativa. Ishikawa et al.24 testaram a mistura
tidos por retocolite ulcerativa podem fazer uso da terapia
probiótica Yakult (bifidobacteria breve, Bifidobacteria bifidum
nutricional com probióticos, desde que prescritos e com
e Lactabacillus acidophilus) num pequeno estudo aberto,
comparando-a com terapia com mesalazina ou sulfalazina. acompanhamento médico e nutricional.
Este estudo mostrou a superioridade da mistura probiótica.
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Local de realização do trabalho: Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC), Colatina, ES, Brasil.
Os trabalhos podem ser submetidos pelo site do BRASPEN. especiais. Por favor, use espaçamento duplo em todo o texto e adicionar numeração de
O sistema de submissão utilizado pelo BRASPEN Journal é o OJS. O tutorial para linha em todas as páginas. Padrão Tipo 10 ou 12 pontos e espaçamento são preferidos ao
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artigos científicos“.
4. Manuscrito
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• Ter concebido e planejado as atividades que levaram ao estudo ou interpretados os É mandatória a inserção do item Conflito de Interesse imediatamente antes das Referências.
dados que ela apresenta, ou ambos; O número de referências não deve superior a 25 para Artigos Originais e 50 para Revisão
• Ter escrito o estudo ou revisado versões sucessivas e participou no processo de revisão; Sistemática.
• Ter aprovado a versão final. Agradecimentos sucintos são opcionais, entretanto, a indicação de financiamento da
As pessoas que não preencham os requisitos acima e que tiveram participação puramente pesquisa, o nome da agência financiadora e o número do processo são requeridos.
técnica ou de suporte geral devem ser mencionadas na seção de agradecimentos. Recomenda-se aos autores que, previamente à submissão de seu manuscrito, utilizem o
Na submissão, o tipo de contribuição de cada autor ao realizar o estudo e preparação check list correspondente à categoria de artigo:
do manuscrito nas seguintes áreas deve ser explicitado: • CONSORT (CONsolidated Standards of Reporting Trials) check list e fluxograma para
• Design de estudo ensaios controlados e randomizados, disponível em http://www.consort-statement.org/
• Coleta, análise e interpretação de dados • STARD (Standards for Reporting of Diagnostic Accuracy) check list e fluxograma para
• Elaboração e revisão final do manuscrito estudos de acurácia diagnóstica, disponível em: http://www.stard-statement.org/
• PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses)
Estrutura do Artigo check list e fluxograma para revisões sistemáticas, disponível em: http://www.prisma-
statement.org/
O BRASPEN JOURNAL adota os Requisitos de Vancouver - Uniform Requirements for • STROBE check list para estudos observacionais em epidemiologia, disponível em:
Manuscripts Submittedto Biomedical Journals, organizados pelo International Committee of http://www.strobe-statement.org/index.php?id=strobe-home
Medical Journal Editors - “Vancouver Group”, disponíveis em www.icmje.org. A obediência às
instruções é condição obrigatória para que o trabalho seja considerado para análise. 5. Referências
a) Página de Rosto As referências dos documentos impressos e eletrônicos devem ser normalizadas de
b) Resumoe Abstracte Palavras-chaves (unitermos, keywords) em Português e Inglês acordo com o estilo Vancouver, elaborado pelo International Committee of Medical Journal
c) Manuscrito Editors, disponível em: http://www.icmje.org
d) Referências Títulos de periódicos devem ser abreviados de acordo com o List of Journals Indexed for
e) Tabelas e Figuras MEDLINE (disponível em: http://www.nlm.gov/tsd/serials/lji.html).
f) Lista para conferência (Check-List) As referências serão limitadas a 25 (Artigos Originais) e 50 (Artigos de Revisão, Siste-
mática).Com esses números reduzidos,cabe restringir ao máximo introduções históricas,
1. Página de Rosto metodologias pormenorizadas, discussões com revisão da literatura e citações repetitivas.
Deve assinalar o título do artigo, que não deve ultrapassar 200 caracteres. Os autores devem se concentrar nos achados centrais do protocolo e na sua comparação
Devem ser informados nome completo dos autores com respectivas titulações, e-mail e com a literatura recente, preferencialmente dos últimos 3-5 anos.
serviço ao qual estão vinculados (até três níveis hierárquicos institucionais e apresentado em As citações bibliográficas, no texto, devem ser sobrescritas e numeradas na ordem em
ordem decrescente, por exemplo, universidade, faculdade e departamento), cidade, estado que são citadas.
e país em que está localizada. Quando um autor é afiliado a mais de uma instituição, cada Caso haja até 6 autores, devem todos ser listados, sendo que para maior número, os
afiliação deve ser identificada separadamente. Quando dois ou mais autores estão afiliados primeiros 6 seguidos de et al. devem ser utilizados. Salvo circunstâncias excepcionais, não
à mesma instituição, a identificação da instância é feita uma única vez. Informar o nome e será admitida citação de resumo, comunicação pessoal, literatura comercial ou outras fontes
endereço completo do autor correspondente (não esquecer telefone, celular e fax). que não revistas e livros científicos, bem como artigos e portais eletrônicos reconhecidos.
Deve ser informada a instituição em que o trabalho foi desenvolvido. As afiliações não Nas citações de pesquisadores ao longo do texto, deve-se citar o primeiro autor, seguido
devem vir acompanhadas das titulações ou minicurrículos dos autores. da expressão “et al.” ou o autor único se for o caso, sempre com a respectiva referência
Caso o trabalho tenha sido apresentado em eventos científicos, como congresso ou em sobrescrito.
simpósios, devem ser mencionados: nome do evento, local e data da apresentação. Reproduzimos abaixo alguns exemplos mais comuns de referências empregadas nos
Acrescentar contagem de palavras do Resumo, e do Manuscrito, bem como número de artigos. Outros modelos podem ser acessados no site: http://www.nlm.nih.gov/bsd/
Tabelas, Figuras e Anexos. uniform_requirements.html