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1 INTRODUÇÃO
Os ideais iluministas consagrados no século XVIII – o século das luzes - com forte
influência da Revolução Francesa, além de sobrepor a razão em detrimento da fé, sendo
verdadeiro avanço histórico, foi também palco de uma importante obra para o Direito: O
espírito das leis de Montesquieu.
Certo é que, com o decorrer dos anos, a doutrina foi aperfeiçoada e incorporada
aos Estados Democráticos, constituindo-se em verdadeiro princípio, o que não fugiu da
realidade brasileira. Atualmente, vem insculpido na Constituição Federal no artigo 2,
cuja previsão garante a independência e harmonia dos Poderes como verdadeiras
garantias ao pleno exercício.
3 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Mas, uma vez que há o ultrapasse dessa linha considerada rígida, ou seja, uma
vez que determinada legislação infraconstitucional dispõe de modo diverso da
Constituição, cuja base se preceitua em sua supremacia, nasce a necessidade do
Controle de Constitucionalidade.
Quanto ao vício da Ação Material, a lei ou o ato normativo viola um direito ou uma
prerrogativa de corpo constitucional. Esse vício não é considerado insanável, caso em
que cabe reparação, se possível.
Ainda, sobre as ações do controle, cumpre lembrar também que, não admitem
desistência, uma vez propostas, seguirão seu curso até o final, na forma da Lei 9.868/99.
Assim, não se mostra razoável que haja entre os Poderes algum tipo de soberania,
de modo que devem existir entre si de forma harmônica, o que presume respeito àquilo
que já fora pacificado em processo de discussão sobre determinado tema. Oportuno se
faz a menção ao voto do Min. Luiz Fux na Ação Direta de Inconstitucionalidade 5105
(BRASIL, 2015):
Neste diapasão, o STF não está obrigado a modificar seu posicionamento, bem
como é possível que o faça, mudando a interpretação. Todavia, as decisões em matéria
constitucional não se submetem a validação pelos órgãos políticos e mesmo assim, não
impõem óbice a mudança legislativa, pois a própria Constituição não estendeu os efeitos
vinculantes ao Poder Legislativo o que lhe confere uma maior abertura para dispor.
O que é importante dizer é que, não existe uma supremacia do STF mas sim, da
Constituição. Assim sendo, deve prevalecer o ato que mais se coadune ao Texto Maior,
tarefa esta que será analisada pela Suprema Corte.
Fato é que a Constituição não considerou essa supremacia, que embora não seja
legal, é corriqueira, uma vez que o socorro ao Judiciário chega tanto para as questões
menores do povo, quanto as questões constitucionais. Dessa forma, importante citar:
(BITTENCOURT apud BINENBOJM, 2014, p. 50)
Rosseau então, considerava que todas as leis eram legítimas eis que revestidas
do querer popular. Essa talvez, não seja realidade brasileira, uma vez que o Poder
Legislativo não representa ao fim e ao cabo o querer de seus representados, embora
por eles eleitos. Isso talvez se deva a nociva cultura de corrupção do país que desagua
nas urnas, ora pelos cidadãos que elegem candidatos por interesses diversos daqueles
que poderiam alavancar o sistema, outrora, a falta de compromisso dos legisladores em
atender à vontade maioria e esquecendo as promessas do período eleitoral, fazendo
sobrepor os seus próprios interesses e daqueles coligados, comprometendo todo o país
pela desordem causada pela omissão e corrupção.
Questões como essas não fugiram dos atuais palcos eleitorais, pois o Brasil
vivencia em 2018 o período de eleições para os cargos do Executivo e Legislativo. A
fala do candidato à Presidência da República Guilherme Boulos do PSOL traz à tona a
reflexão anterior, cuja transcrição importante se faz: “Democracia não pode ser apenas
apertar um botão a cada quatro anos na urna e ir embora para casa. Democracia tem
que se chamar o povo para a decisão e é isso que estamos dizendo aqui; com
plebiscitos, referendo...” (BOULOS, 2018)
Certo é que o Legislativo não se vinculando aos efeitos do controle, pode ainda,
editar nova lei e, mais uma lei, e mais uma lei... conforme assim pretender, todavia,
estará a sua atividade condicionada a presunção relativa de inconstitucionalidade, que
deverá ser combatida face as exposições de motivo que acompanharem a lei, momento
em que, permite ao STF mudar seu posicionamento, pois ali é dado a oportunidade e o
dever à Corte de se manifestar pelo sim ou pelo não face à reação legislativa que
pronuncia ato diferente daquele já consolidado, permitindo-se alteração da interpretação
porque a hermenêutica não é estática e deve ser sempre vista com olhos prontos a
adequá-la a realidade social.
O Legislativo deve ater-se na produção de seus atos, embora não vinculado, aos
entendimentos já consolidados pela Corte, pois a ela fora dado o dever de interpretar a
Constituição e também de afastar do ordenamento o que lhe contradiga, até mesmo na
reação que decorre após a declaração de inconstitucionalidade, porque haverá a
presunção de inconstitucionalidade. Porém, neste diapasão, cumpre ressaltar a
importância das reações, pois elas desencadeiam um processo de nova interpretação
da Constituição e fato é que nenhum poder é melhor para representar os interesses da
população que o Legislativo.
Assim, nota-se que o STF ao afastar a reação legislativa não age com completa
soberania impositiva, mas como fiscalizador dos atos infraconstitucionais que refletem
diretamente na Constituição e no meio social, que depende diretamente da justiça das
suas decisões, pois a detida análise feita pelo Judiciário - que recebe diariamente
petições de interesses objetivos e subjetivos dos mais diversos tipos - confere a
possibilidade de ser o órgão o filtro exato para tanto. Nesse contexto, vale frisar que o
Controle de Constitucionalidade não é um instrumento político, mas jurídico.
Cabe falar também que o Judiciário tem exercido importante papel social, na
medida em que há a chamada Judicialização das Políticas Públicas, que é a fiscalização
e a imposição/recomendação aos Poderes omissos que se valham das suas tarefas e
atentem-se a finalidade do interesse público e bem-estar social, pois a ausência do
exercício pelos Poderes acarreta em consequências sensivelmente sentidas pela
sociedade, sobretudo a mais pobre. Daí então, vê-se que o socorro ao judiciário, como
já dito, não se dá pelo fato de ser este poder soberano, mas sim, por poder trazer
sanções e impor o cumprimento de seus deveres, na tutela da minoria e, da maioria
também, pois do próprio cenário brasileiro é possível extrair o entendimento que os
Poderes não cumprem com efetividade suas atividades. O que se vê é que o Judiciário
tem conhecido muito mais o povo que o Poder Legislativo.
Embora, o Judiciário ao negar vigência a uma reação legislativa pareça agir com
usurpação de competência do Legislativo e até mesmo da vontade popular, é
justamente o contrário: a inconstitucionalidade verificada e declarada pelo STF traz para
toda a sociedade a segurança de fazer parte de um ordenamento que respeita a sua Lei
Maior e faz valer para todos os seus direitos e garantias fundamentais. Oportuno então,
a reflexão feita pelo Min. Luiz Fux na Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.430 “... Se
existe um papel que o Supremo Tribunal Federal tem que exercer, é o papel de tutela
das minorias”. (BRASIL, 2012)
7 CONCLUSÃO
O poder de um Estado soberano nunca deve ser uma afronta ou um medo à sua
sociedade, mas sim uma relação de cooperação, a sociedade enquanto voz legítima de
transformação e o Estado, como um administrador.
Verificado então, que uma reação legislativa viola a Constituição, sua existência
não mais se justifica. Em que pese a possibilidade da Suprema Corte reavaliar o método
de interpretação, ver um ponto até então não percebido, fato é que não há espaço para
a inconstitucionalidade no ordenamento brasileiro.
A reação legislativa garante que não haja um monopólio do poder judiciário frente
às questões constitucionais, todavia, até mesmo esse passo passará pelo crivo do
Judiciário, pois a este foi designada a tarefa constitucional da reserva da jurisdição.
Em que pese a representação do povo pelo Legislativo, inegável dizer que, nos
moldes atuais, muito tem sabido o Judiciário sobre os anseios populares devido a
colossal demanda que recebe diariamente.
Assim, inegável concluir que, o Poder Judiciário ao negar vigência a uma reação
legislativa que supera seu próprio entendimento, não age com usurpação de
competência, tampouco viola os preceitos da social democracia, mas sim, age como
garantidor do texto maior ao passo que, essa garantia se mostra hábil para que essa
análise seja sempre feita e que a voz da sociedade seja sempre ouvida.
REFERÊNCIAS
CHIMENTI, R., CAPEZ, F., ROSA, M., SANTOS, M. Curso de Direito Constitucional –
São Paulo: Saraiva, 2004.