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Você lê uma estória em segunda pessoa.

Geralmente, quando o céu fica escuro desse jeito, você sabe que a chuva a seguir vai ser muito forte
e pesada. E os ventos serão tão maldosos que talvez até possam arrancar uma árvore despreparada
do seu leito terrestre. Por sorte você trouxe um guarda-chuva, grande e resistente, e pegou uma capa
com um capuz para aguentar a tempestade fria, afinal está voltando para casa. Cuidado com a lama
em suas botas, ou a água que transborda dos bueiros por perto da calçada que você anda, sabe afinal
que com esse lixo dos moradores mal educados e em uma área quase silvestre – perto dos quintais
além do muro ao lado – todo esse contato não será tão misericordioso. É de quase certeza que você
sofrerá com, pelo menos, alguns espirros quando chegar em casa, debaixo desse temporal. Ao
menos chegando lá você enfim vai poder descansar.

A rua que seguiria para conduzi-lo à sua própria, no entanto, está tão encharcada que nem as
calçadas se salvaram. Uma vez adentrando, você toma cuidado para que toda aquela água barrenta
não esconda nenhum buraco que possa te desequilibrar ou esgoto aberto que possa te consumir, o
que seria bem desagradável só de imaginar. Sua sorte é de não passar nenhum carro no momento, e
evitando assim qualquer acidente, seja pelo som abafado da buzina pela chuva – que você não
poderia ouvir – e até mesmo um fino derrapar de pneus em sua direção. Porém nenhum coletivo
também é avistado durante todo o percurso, o que seria de bom grado nesse tal momento. Os únicos
que viu ficaram para trás por estarem muito longe, em outras avenidas e estradas, e que não
entrariam nessa que agora você prossegue.

Apesar de a chuva ficar mais concentrada, ainda não é o bastante para te impedir de olhar ao redor.
Você olha ao lado esquerdo, e além das bordas da lona do guarda-chuva, você nota um muro depois
de uma faixa de terra e grama molhada ao lado da calçada, que agora também submerge levemente.
O muro é alto, espesso, e esconde por trás de si bosques e soutos de árvores altas, as quais se
inclinam com diversos galhos para a rua e por cima de sua cabeça. Os galhos mais finos se movem
junto às folhas devido ao vendaval. Esses terrenos interligados por esse áspero muro são extensos, e
vão até onde a vista vai. E ao olhar para direita, depois de mais uma faixa de terra e grama ao lado
da outra calçada, há um cercado menor, revelando um campo esverdeado de uma casinha perto de
um distante arvoredo. Entretanto, até mesmo as mais vivas das cores naturais se tornavam
acinzentadas conforme a distância, por causa das incontáveis finas gotas de chuva entre sua visão e
o ponto observado, reservando, além do tom gris, uma espécie de névoa esbranquiçada comum.
Mas isso foi bom, pois fez você notar que a parte central dessa rua parece fazer uma espécie de
forma convexa, onde não fica tão alagado assim. Não se incomode em ir para lá para andar mais
despreocupado.

Direcionando-se para o centro, você olha para frente e vê alguém. Uma outra pessoa caminhando na
pista, utilizando um guarda-chuva que somente fazia revelar suas pernas se movendo pelo asfalto
encharcado. Esquisito, você pensa, por não lembrar de tê-la visto ali antes. Deve ter saído do
portãozinho dessa propriedade ao lado, aquele por qual você acabou de passar há alguns metros. E
aquilo pareceu lhe tirar a atenção por um segundo, por ter resultado em algo indesejado, que lhe
rendeu um baita susto! Um tropeço em meio ao trajeto te fez achar que quase estaria trombando
para se encontrar de cara com o chão e ralar os joelhos. Por sorte, somente foi um tropicão rápido,
em alguma falha do asfalto disfarçada com toda aquela água, e que não rendeu prejuízos. Você logo
se recuperou, e mesmo a única pessoa por perto estando de costas pra você a uma boa distância à
frente, ainda sentiu aquele pequeno vexame instantâneo de quando isso acontece. Aquele do tipo
que te faz ficar sem postura ou expressões, senão de vergonha. Por esse mesmo motivo você se
endireita, e para um pouco apenas para retomar toda sua moral. Vai que outra pessoa também estava
olhando. E para perpetuar isso, você olha para garantir que aquela ali não viu, no entanto… Aquela
pessoa também parou.
Do jeito que ele ou ela estavam, parecia até mesmo que havia paralisado, pois o corpo ficou duro e
não tinha absolutamente movimento algum. A silhueta de pernas com o resto do corpo de uma
pessoa escondido debaixo de um grande guarda-chuva, parada e sem qualquer tremor pelo frio que
estava fazendo, pouco antes da linha espectral neblinada que as gotas produzem no chão. O
máximo, ou melhor dizendo, o melhor que deveria ser feito seria simplesmente continuar, afinal se
parou ali não era de sua conta, assim como não era da conta de ninguém se você tropeçou ou não.
Mas durante seus primeiros passos em direção a ele, o mesmo retornou a andar novamente, como se
tivesse se destravado de um modo em transe. E até mesmerizado, você estranhou um pouco antes de
continuar andando com mais cautela, afinal, manter-se alerta nestas áreas nunca é demais.

Digamos que você não goste muito dessa parte, pois sempre tentou evitar andar por aqui,
principalmente sozinho e de noite. Outras vezes você veio, mas era com alguém ao seu lado, te
fazendo companhia, e agora você estava só. Mesmo que tentasse não pensar em nada, aquele
cenário já lhe era um pouco familiar. Você começou a reconhecer os mangueiros enormes que
surgiam depois do muro ao lado um pouco longe, e sabia que não demoraria tanto até sair em um
atalho na periferia e enfim poder seguir pra casa. O temporal engana, e mesmo sabendo que era de
tarde, a massa cinzenta e úmida acima, no céu, que tampava o sol e basicamente tudo mais, ainda
destilava água para baixo, e fazia a ilusão de ser uma ou duas horas mais tarde do que originalmente
deveria ser naquele dia. Era o momento de começar a apertar o passo, ainda mais agora que a
tempestade parecia ter engrossado. Aquela pessoa em frente continuou andando junto,
provavelmente indo para um destino parecido. Muitas pessoas vão desde aqueles recantos arbóreos
de campos verdes para a cidade ao lado da estrada, onde haveria centros públicos que geralmente
não haviam por aqui, como mercados e farmácias, algumas das quais seriam perto de sua casa. Mas
as coisas sorrateiramente começaram a parecer mais distintas mediante seu passo.

Depois desse trajeto até agora, começaste a andar mais rápido, com o objetivo de retornar ao lar
depressa. Você pensou por um momento em ultrapassar a pessoa à frente, já que até então ela
andava normalmente, porém notou que ela aumentou também a velocidade como andava. Terá
suspeitado de você desde quando primeiramente lhe viu quase tropeçando? E que agora notou que
você ia mais depressa e começou andar rápido também? Talvez até mesmo teria estranhado você, e
achou que poderia apresentar algum perigo, já que, encaremos, estas bandas não são as mais seguras
da cidade. Seria uma pena se essa fosse a reação de tal pessoa, pois você não faria nada tão
perverso; só queria voltar pra casa. Mas sendo assim, não havia muito o que poderia ser feito, e
como você não é ninguém de se entrometer, e nem deve nada, qualquer coisa por ali não lhe
interessava, e manteve o passo.

Era um tanto arriscado tentar olhar mais alto do que o guarda-chuva permitia, pois qualquer ângulo
poderia ser o bastante para pingos da chuva voarem em sua cara. A impressão era de que ia
continuar sendo assim durante todo o caminho, pois o céu estava simplesmente escuro. Por outro
lado; no entanto, você teve uma outra impressão estranha… Aquele portão do sítio ao lado… Você
já passou por ele, não passou? Foi há uns metros atrás, mas de canto de olho, você percebeu que
estava passando por ele de novo! Que coisa estranha, apesar de que poderia ser só uma ilusão.
Então, já que não custaria nada, resolveu olhar pro lado e checar se era isso mesmo. Diminuiu a
velocidade e olhou diagonalmente para o lado de trás, e sim, estranhamente era o mesmo portão que
você jurava que tinha passado há uns cinquenta ou sessenta metros. Mas não foi somente isso que
lhe chamou atenção. Uma outra pessoa estava na estrada, atrás de você, a uma considerável
distância. Você a fitou assim que percebeu seu vulto, e se deparou com uma figura que, com um
guarda-chuva para protegê-la dos respingos, estava andando lento e virada diagonalmente para trás,
observando algo na rua que se fora. Talvez ela também tivesse notado que passou por aquele portão
de novo.
Oras, você pensa. Você não tinha tempo pra isso, era melhor manter o foco e evitar ficar mais de
meia hora debaixo do clima frio e úmido como estava. Retornou para frente e, somente nos
primeiros passos, viu aquela pessoa em sua vista começar a caminhar novamente, como se tivesse
parado e agora continuou, como antes. Hm… O que será que estão fazendo? Será que ela está te
espiando cada vez que você para? Ou assim como a outra atrás de você, estão fazendo alguma
brincadeira? Ou pior, você pensa: poderiam estar te seguindo misteriosamente. Prefere nem pensar
assim, e caminha o mais depressa que pode, sem tentar levantar suspeita. Suas botas começam a
engelhar seus pés e calcanhar, por causa de sua meia já molhada. Sua respiração se torna mais forte,
e você tem que regular em como está desgastando sua estamina. O trajeto parecia
consideravelmente mais difícil agora que você pensou. Como já andou por aqui antes e, até mesmo
em baixo de chuva em outras ocasiões, notou que a caminhada estava mais desgastante no dia de
hoje. Na verdade, tinha a impressão de que a rua parecia até mesmo estar mais longa, e que você
não estava chegando mais rápido.

Você tosse. Uma pequena onda desconfortável de catarro em seu peito pesado por causa da
umidade, que tanto pegara até o momento, o fez tossir algumas vezes de forma dolorida. Respirou
fundo, e pode até mesmo ouvir o chiado do próprio peito, de tão ruim que estava. Chegando em
casa, o melhor a fazer seria tomar um remédio. E depois do chiado, veio outra tosse, mas desta vez,
não veio de você. Aquela pessoa em sua frente tossia também, e, bem, não devia estar tão pior
quanto você, pois a chuva castigava e o frio era trêmulo. Era o clima propício a se pegar um
resfriado ou gripe, e novamente outra tossida. Mas essa terceira tosse não era nem de você, e nem
dele, e sim da pessoa lá atrás.
Você não notou de primeira, mas estranhou que aquelas tosses estavam em um perfeito intervalo de
tempo. Quase como se estivessem programadas… Nesse instante… Ahg! Não entende. Não sabia
dizer o quê, afinal eram só tosses, mas em algum canto de seu pensamento, achou que havia alguma
coisa estranha, como se algo estivesse errado, ocorrendo naquele mesmo momento e na mesma rua.
O pensamento sobrevoou sua cabeça, e lhe deu revelações irreais de coisas que flutuaram na mente
e depois se desfizeram. Ah, você está com vontade de se arriscar e testar coisas? Olha, o mais
discreto possível é sempre bom viu? Ainda mais quando suas dúvidas são ideias lunáticas desse
jeito. Mas, assim como antes, não custava nada testar, não é? Você continuou caminhando na
mesma velocidade uniforme a qual ia para frente, porém viraria a cabeça e tórax diagonalmente
para trás de novo, para observar aquele ou aquela que o seguia. Se equilibrou, e em um virar olhou,
e lá ela estava, caminhando para frente, mas observando algo atrás, como você mesmo também
fazia.

“Não é possível!” Você provavelmente pensou. Parou propositalmente, e ela parou também. Mas
que? … Olhou para frente, e aquela outra figura, da mesma forma, estava imóvel. E aquelas ideias
imaculadas que você subjugou pareciam cutucar sua mente como pequenas agulhas finas e penosas.
E não havia som emitido por nenhum dos dois. Um absoluto silêncio tomou conta dali, pois não
havia vozes, passos, veículos que em algum momento passaram, e nem da natureza ao redor. Era
somente a chuva que caía, e que aos poucos parecia ter esgotado um tantinho nas nuvens pesarosas.
Teste! Você não vai saber se não testar. E é melhor que faça agora do que deixar passar e ficar em
dúvida.
Virou-se rapidamente, com um giro de 180 graus para trás, para olhar aquele que o seguia. E
quando seus pés pararam de deslizar em torno de si mesmos, e você estava completamente virado,
notou que, aquela pessoa da qual tanto estranhava, também estava de costas para você. Isso só pode
ser uma brincadeira programada ou uma pegadinha bem ensaiada, mas para o divertimento de
quem? Da mesma forma que, assim que você mesmo caminhou para ir investigar aquela estranheza
toda, ela também andou para frente. Seria isso uma espécie de piada envolvendo um paradoxo? Será
que aquele, que até então estava em sua frente e que você mesmo estava seguindo, seria o que
passaria a TE seguir? E assim ficaria nesse looping?
Não! Retorne em como você estava, virando-se lentamente para a direção certa de novo, não perca
mais tempo! Devagar, aos poucos, e permitindo que a visão além da chuva mostrasse há alguns
metros, também se virando igualmente a você e se endireitando no meio da estrada, estava o outro
misterioso que ia pelo mesmo caminho. Estranhamente, em nenhum momento você conseguiu ver o
rosto de ambos, e essa ideia lhe causava arrepios. Quer saber? Ignore-os! Continue caminhando,
afinal veja: longe de onde você está, já consegue ver o entroncamento que terá de entrar para ir pra
casa. Continue andando e se foque somente naquela paisagem, a rua em frente e o entroncamento, e
nada mais. Pois se for assim, é uma certeza de que todas essas ilusões e ideias surreais vão sumir de
sua mente. Sim, o caminho dessa rua parece estranhamente mais longo do que deveria ser, mas e
daí? O quanto menos pensava, mais rápido chegava.

Já sabe, que tal assobiar? Isso poderia gerar alguma reação. Vai que eles dois fariam algo
inesperado? A não ser, somente, se eles também começassem a assobiar junto a você, já que
estavam fazendo mímicas dos seus movimentos. Porém é algo inofensivo, e que qualquer um que
estivesse passando por qualquer rua, eventualmente, começaria a produzir tal som como forma de
recreamento durante a viagem. Não precisa pensar em nenhuma música específica, apenas solte
notas que vierem rápidas à sua mente e que você possa assobiar. Seus pulmões não gastariam tanto
ar, apesar de estarem pesados como agora por causa da coriza, e sua boca estava molhada por causa
de toda umidade local. Não há o que perder ao tentar isso, e aliás, é uma forma de distração. E
quando você formou um bico com seus lábios para começar a reproduzir o primeiro som, não
conseguiu assobiar nada. Aquele em sua frente assobiou primeiro que você, e você conseguiu notar
perfeitamente notas hesitantes, mas que eram fortes e um pouco graves para um assobio.

Você só pode inflexibilizar os lábios novamente. Seu olhar se tornou murcho e já não sabia mais o
que pensar. Somente sabia que tinha de continuar a andar, e que isso era, afrente de tudo, a coisa
mais sensata em se fazer. Por um momento imaginou algo e esperou que acontecesse: Quando o
curto assobio do outro cessou, pensou que no momento que passasse por onde ele começou a
assobiar, algo aconteceria. Você tinha a certeza que, se passasse por ali, o que estava em suas costas
assobiaria, ou começaria o ato no momento que ele passasse pelo mesmo ponto. Mas após andar
muito, percebeu que nenhum som foi omitido atrás. Deve ser só um conjunto de ideias sem
fundamento e que partem da estranheza e do desconforto. Não deixe que isso te inunde por dentro,
continue seguindo, porque…

Ah… Aquele filho da mãe. É quase inacreditável, mas ele parou ali quando você parou também, ao
notar que; aquele em sua frente estava entrando na mesma rua que você entraria. Aquele atrás de
você ainda estava lá, e isso te fez seriamente pensar em como ele o seguiria por ali também. Mas
calma, pense bem: Talvez ele realmente esteja indo para ali por um motivo normal que você não
tem conhecimento. Se bem que… Ele nem ao menos olha pra você, como será que ele sabe que
você parou de andar, já que ele parou instantaneamente também? E por que estavam fazendo isso?
De alguma forma, você sabe, ou apenas notou rápido, que a distância entre todos os três permanece
sempre igual, nunca altera. Permita que ele entre e, discretamente, o observe assim que você chegar
na esquina! Caminhe pela calçada, onde não há mais pistas de grama e terra, e se escore no muro
que ali jaz. Um muro de uma dessas casas em terrenos naturais que existem por aqui. E aos poucos,
comece a espiar pela quina para saber o que faria ele.

O muro que se encostou era frio e pintado de tinta branca descascada pela chuva, que no momento
estava gradativamente mais leve. Com o canto do olho você observa, na absoluta dobra da esquina,
buscando perscrutar o que aquele estranho estivera a fazer. Você o viu, mas não como queria, o que
o fez reforçar ainda mais suas ideias malucas. Ele estava assim como você, no fim da calçada,
inclinado e se escorando em um muro, onde observava para dentro de uma suposta rua
perpendicular ali em frente. O porte do corpo, as roupas que usava, era literalmente as mesmas que
você usava. Nesse momento de estranhamento você olhou para trás, para ver o que havia acontecido
com o anterior, e o que viu foi no mínimo perturbador. Lá estava ele, não em um muro, mas em um
poste, encostado na posição de quem observa, mas com a cabeça e rosto mirando para algo atrás de
si, como antes. E se você levantar uma perna? O mais definitivo que pensou no momento foi que
ambos estranhos também levantassem, por puro convencimento de mimetismo. Mas ao fazê-lo,
notou que tanto o da rua em frente, quanto aquele no distante poste já tinham feito isso primeiro…

Retome a posição e ande pela calçada. Sua mente já está embaralhada o bastante. Não interessa se a
rua parece maior do que normalmente era, sua casa não estava tão longe. Caminhe sem chamar
muita atenção. Qualquer transeunte poderia desconfiar, ainda mais de algo que nem mesmo você
estava entendendo, porém… Não há ninguém além de vocês três. É comum que em momentos de
tormenta celeste assim todos fiquem do lado de dentro, mas sempre sobra um ou outro andando por
aí, seja de carro ou em outro veículo, só que dessa vez não… Foi então que, retomando a
caminhada, aquele em sua frente voltou a andar, e depois de dezenas de metros adentro, aquele de
trás também seguiu. Aquela suposta rua onde você viu a figura em frente encostada era na verdade a
esquina de um beco de terra molhada, passagem para a frente de muitas casas brutas e
subdesenvolvidas. Poderia até imaginar que ele estaria olhando algo que jazia ali dentro daquela
viela, e que agora se escondeu. Mas você já estava convencido que era mimetismo.

E foi nesse momento que você lembrou alguma coisa que ouvira antes, sobre algo chamado
Doppelgänger. Uma espécie de clone que existe em algum lugar no mundo, uma cópia exata de
você. Ele imita sua aparência, seu jeito de ser, seu modo de se expressar, porém ele não é
completamente você. Todos, segundo o que se recorda ter ouvido, supostamente tem um desses, e
que eles nem ao menos tem conhecimento de seus supostos clones em algum canto longínquo por
aí. Dizem que o encontro de dois pode ser desastroso, ou até mesmo motivador de ficar louco, uma
vez que as lendas sempre sugerem que há morte envolvida, pois eles são seres maus. Antes fosse
um caso muito exclusivo de genética, ou reencarnação, para os menos céticos. E na verdade, seria
melhor ainda se isso não estivesse acontecendo com você agora.

Espere… Você viu, não viu? Aquela ruazinha de terra, que você passou agora pouco? Você passou
por ela de novo! Isso fica acontecendo por algum motivo… Então é por isso que parece que as ruas
estão mais longas? Com absoluta conjectura desajustada, você testa mudar de lado da rua, para ver
o que eles fariam. Direciona seus passos à direita, e atravessa sem problema algum, refletindo
naquele em sua visão, e no de trás também. Em pura harmonia com os seus passos, os dois se
moveram para mudar de lado. Aquilo no mínimo era fantástico, se não, sobrenatural. Era;
entretanto, com certo rancor que você não conseguiu avistar nenhum outro ser humano presente
para presenciar essa esquisitice toda. Você se questionou se alguém que visse ia ver três pessoas
comuns andando comunalmente separadas, ou se você estava esquizofrênico e ainda não tinha
percebido. Porém as ruas estavam quietas, nem ao menos haviam cães passeando. E na corrente de
pensamentos que decorreriam em sua mente, já um pouco mais anestesiada devido as teses que você
bolou para explicar esse fenômeno, achou que era a hora ideal de realizar uma deixa. Pois olhe! A
visão da rua de sua casa enfim estava à vista, e pela terceira vez lhe decorreu: Não custava nada
tentar.

Já sabia que a distância entre todos vocês seria sempre a mesma, e não alteraria em momento
algum. Tentou observar e, se realmente estivesse em um looping, este seria o começo dele? Pois
notou que não havia outros caminhando em linha reta na frente de onde aquele mais adiante andava,
e nem havia mais, atrás do que estava em suas costas. Jogar uma pedra? Nah… mesmo se acertasse,
tinha medo que o mesmo acontecesse consigo. Como você faria, aparte de todo o decorrimento até
agora, para comprovar que eles estavam interligados? Um mantinha-se sempre de costas pra você, e
o outro virava-se quando você tentava vê-lo. Pareciam repetir as mesmas ações que você, mas de
um jeito estranho, quase irreal, como se toda vez que você fizesse algo, eles replicariam como se
eles que na verdade tinham feito primeiro. Tentar fazer com que ficassem em diagonal, para que
pudesse os encurralar em alguma parede ou muro, com a finalidade de ver o que acontecia, também
não parecia ser possível após as tentativas. Achou que sim, pois em um momento isso ocorreu,
quando todos dobraram a rua. Já sabe! O reflexo! Deve haver um jeito de fazer com que dois, ou até
mesmo os três se reflitam em algum canto juntos, seja em um vidro de carro, ou em uma poça…
Mas como fazer?

Nesse momento, essas perguntas se varreram para o vácuo e você ficou desconcentrado… Aquele
cara da frente entrava na rua de sua casa. Olha, se é para acabar indo em direção a ele, que seja, pois
nada lhe impediria de chegar ao lar! Nem ao menos deu bola para o que vinha atrás, e aos poucos
chegava na esquina da rua de sua moradia. Virou e tentou colocá-lo em vista, mas aquela pessoa,
para seu espanto, estava na frente de sua casa. Estava mexendo no portão, como um invasor… E ele
conseguiu abrir e entrar, fechando com força. Você quis correr, e interceptar, mas algo dentro de si o
parou. Uma sensação oculta de um medo incomum. Você sentia que, por mais que estivesse
disposto, havia algo muito errado no que acabara de ver. E se ele agora estava dentro de sua casa,
tramaria fazer algo? Você poderia estar seguro se não avançasse, mas se não avançasse, isso nunca
terminaria. Vamos lá… Dando passos leves, lentos, mas definitivos. Andava pela calçada dessa rua
tão familiar, mas que no momento parecia guardar algum mistério obscuro. E aos poucos, teve que
conter o pavor e nervosismo inexplicáveis assim que chegava perto do portão. Hm… Diferente das
anteriores, essa rua parece de tamanho normal…

Calmamente você observou por dentro das grades de ferro o que haveria na parte da frente, que
estava vazia. Abriu o portão e entrou devagar, tentando marcar os passos do outro atrás de si, que
ainda o seguia. A porta estava entreaberta, então ele teria conseguido entrar por ali! Brandura como
essa que sentia o fez entrar de vez! Olhou em cada canto da sala, e não viu ninguém. Deve estar
escondido! Você vai para a cozinha, e examina até mesmo nos cantos onde ele poderia jazer
agachado. Foi ver o pátio do quintal, e nenhuma alma viva ali padeceu. Seu quarto! Chegou raivoso,
e procurou até mesmo debaixo da cama e no armário, mas nada além de poeira e roupas comuns
havia. Somente lhe restava olhar no banheiro, que estava limpo sem sombra de dúvida. O invasor de
sua casa parecia ter simplesmente desaparecido…

O portão! O barulho que ouviu vindo de lá! Teria ele esgueirado pelos seus arredores sem que o
notasse e saiu de fininho? Não… A porta! Ela também rangeu! Então significava que… Aquele que
vinha atrás de você havia entrado… Saia do banheiro e o impeça! Correu com um medo que lhe
subiu o corpo, e gelava sua espinha. Chegou na sala, mas ali estava como antes. Rapidamente, você
foi ao portão, esperando que algum dos dois ainda pudessem ser vistos na rua. Mas ao abrir e
observar o lado de fora, e olhar por todo redor, via agora poucas gotas de chuva, um céu dourado de
umas cinco da tarde, pessoas de bicicleta e a pé na distância. Carros começaram a passar, e o latido
de cães locais era ouvido novamente… Quer saber?… Tranque logo esse portão e se feche dentro de
casa, isso já estava virando loucura. Certifique-se de checar cada cômodo de novo, e mais uma vez,
e bis… A sensação esquisita ainda não lhe deixou, mesmo que tudo parecia ter acabado.

A noite chegava no horizonte, e junto com ela o silêncio calmo, mesmo assim, até então você estava
desconfortável. Seja por não saber explicar o que diabos tinha acontecido nessa tarde, ou se algum
deles ainda estava aqui, em algum lugar de sua casa. Era horrível pensar que em algum lugar
contorcido, eles estariam lhe vigiando. Parando pra pensar melhor nessas ideias, não havia motivos.
Eles se pareciam com você, agiam como você, e tinham o mesmo objetivo de chegar em casa, e cá
tu estavas. E pra cá eles haviam vindo também, mas então o que havia acontecido? Teriam eles
sumido no ar no momento que cruzaram a porta? Você tentou pesquisar esse fenômeno o mais
rápido que pode, mas no máximo conseguiu somente explicações de experiências extrassensoriais e
de viagens incorpóreas praticadas pelo espiritismo, coisa que você não se lembra de se aventurar
tanto assim para ver o que viu.
Seja como for, parecia que tudo havia se endireitado agora. O clima continuava frio, mas a chuva
cessou por completo, e talvez não voltaria a chover por uns dias. Um bom jantar após um banho
relaxante era o que precisava – como se já não tivesse tomado um banho de chuva repentina. Deixa
a água cair, e lavar de sua mente toda preocupação e medo que poderia ter agora, estava cansado
demais para isso. Tal experiência de hoje foi bizarra e irreal, e que com sorte, não teria que passar
por nada assim de novo. Será que eles eram, de fato, gêmeos seus? Como nas antigas lendas e
histórias urbanas desse tipo de aparição? Hm… Tanto faz, se isso não mudasse em nada, seria só um
relato interessante.

E que relato! Imagine só que coisa incrível teria para contar aos seus conhecidos, e até mesmo na
internet? Nah… Na internet não. Nunca acreditam em nada, ainda mais que você nem ao menos tem
como provar se o que aconteceu esta tarde foi real. Mais real do que as gotas caindo pela sua
cabeça, não tão frias como as da chuva vespertina. Ou você se salientando em escutar algo mais real
que seu nome, sendo chamado por uma voz estranha, que vinha de fora de sua casa, e gritava na
porta da frente… As gotas não mais caiam, e você olhou arregalado para a direção exata de onde
achou que ela emanava. Que voz mais grotesca! Anormal demais e quase alienígena! Ela chamava
cada sílaba de seu nome, e não podia ser nada de sua cabeça, e nem um grito dado na rua. Era em
frente a sua porta dianteira, algo tinha dado um jeito de entrar, e parecia furioso!… Embora sempre
que chamava, parecia falhar, ou apresentar um tom monótono constante… Mas que porr… O que
era isso?! Vá lá ver o que é! Só não tema, e nem faça… Droga! A única revelação maior do que
presenciar aquilo que viu esta tarde foi uma ideia simples, que você teve ao voltar, de fazer com que
algum daqueles outros seus – Aqueles clones, Doppelgängers, seja lá o que fossem! – conseguissem
ver o próprio reflexo juntamente ao seu, seja em uma poça d’água ou num espelho de um carro
parado. Mas no fim, isso se veio quando você andou pelo seu banheiro, lentamente atraído pela
bizarra voz, e acidentalmente fez algo que, até o momento, esquecera que não tinha feito o resto do
dia. Você viu seu reflexo e se olhou no espelho! E que Deus te ajude agora em conseguir encarar o
barulho vindo lá de fora, te chamando, ou até mesmo te fazer levantar do boxe do banheiro por onde
você se desequilibrou com horror, após pesarosamente ver aquilo que você viu…

Agora resta somente a dúvida em saber se não era você o Doppelgänger.

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