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clássico da coarctação de
aorta?
1.4.1.1 Diagnóstico
1.4.2.1 Diagnóstico
1.4.2.2 Tratamento
1.4.3.1 Diagnóstico
Fonte: Conexão anômala parcial de veias pulmonares em átrio direito com ausência de
comunicação interatrial, 2007.
Nota: o arco médio retificado orienta para a presença de obstrução da via de saída do
ventrículo direito.
Fonte: Caso 1/2007 – Criança de três anos com Estenose Pulmonar Infundibular, 2007.
1.4.5.2 Tratamento
O objetivo do tratamento é a correção da estenose por meio de
valvoplastia com cateter e balão cirúrgico precoce seguido de
profilaxia para endocardite. Quando há estenose pulmonar com
cianose, o uso de prostaglandina E-1 pode proporcionar melhora do
quadro.
1.4.6 Estenose aórtica
Somente obstruções mais graves causam sintomas na infância. No
quadro clínico, o aumento da obstrução resulta em aumento da área
cardíaca, hipertrofia do ventrículo esquerdo, e diminuição do pulso.
1.4.6.1 Diagnóstico
1.4.6.2 Tratamento
1.4.7.2 Tratamento
No tratamento inicial do RN em estado grave, administra-se
prostaglandina até a avaliação do grau de comprometimento da
circulação e, se necessário, manutenção da medicação até correção
cirúrgica. Em alguns casos, pode-se fazer correção eletiva, desde que
o RN se encontre assintomático. Em casos de RN com sinais de
insuficiência cardíaca, esta deve ser primeiramente compensada
para, em seguida, ser realizado procedimento cirúrgico. Entretanto,
um ótimo momento para a correção cirúrgica está entre o segundo e
o quarto ano. As complicações aumentam com a idade, podendo
ocorrer, nos adultos não tratados, hipertensão arterial,
encefalopatia hipertensiva, coronariopatia, além de endarterite e
endocardite.
1.4.8 Defeito do septo atrioventricular
É uma anormalidade do desenvolvimento dos coxins endocárdicos
que resulta em uma CIA tipo ostium primum, uma CIV e uma única
valva atrioventricular.
Comporta-se mecanicamente como uma grande CIV. O shunt ocorre
da esquerda para a direita, e pode ocorrer aumento da resistência
pulmonar. É a anomalia cardíaca mais frequente nos pacientes com
síndrome de Down.
Clinicamente se manifesta por dispneia, baixo desenvolvimento
ponderoestatural e infecções respiratórias de repetição.
Ao exame, o sopro pode ser discreto pois as pressões nos átrios e
ventrículos é equilibrada. A segunda bulha é hiperfonética e pode ser
desdobrada.
Quando a hipertensão pulmonar se desenvolve com hiper-
resistência vascular pulmonar aparece a cianose generalizada, que é
mais precoce nos pacientes com síndrome de Down.
O exame padrão ouro para seu diagnóstico é o ecocardiograma com
Doppler.
O tratamento é sempre cirúrgico.
1.5 PROLAPSO MITRAL
Anormalidade valvar mais comum, ocorre geralmente por
degeneração mixomatosa na valva e nas cordoalhas. A valva fica
espessada e alargada, e quando o ventrículo esquerdo se contrai, os
folhetos da valva se projetam para dentro do ventrículo, permitindo
refluxo do sangue para dentro do átrio esquerdo. Quando o prolapso
é significativo pode levar à insuficiência cardíaca e arritmia.
A causa da degeneração mixomatosa é desconhecida, mas tem um
forte componente hereditário. É especialmente frequente na
síndrome de Marfan.
A maioria dos pacientes são assintomáticos, porém quando há
queixa o cansaço e a palpitação são as queixas mais frequentes.
Quando intenso, o prolapso se manifesta com sinais de insuficiência
cardíaca.
Ao exame físico ocorre estalido mitral característico seguido por um
ruído ou sopro.
O exame padrão-ouro é o ecocardiograma com Doppler.
O tratamento não é necessário na maioria dos pacientes. Pacientes
com regurgitação mitral ou evidência de degeneração mixomatosa
devem receber profilaxia com antibiótico antes de qualquer
procedimento que possa causar bacteriemia.
Qual é o sinal clínico
clássico da coarctação de
aorta?
O sinal clínico clássico da coarctação de aorta é a diferença
de pulso e pressão de membros superiores e inferiores. Por
meio da palpação simultânea de pulsos, será verificado o
atraso radial-femoral.
Quais alterações
caracterizam a tetralogia de
Fallot?
2.1 INTRODUÇÃO
As cardiopatias congênitas podem ser divididas de acordo com a
fisiopatologia, com fluxo pulmonar diminuído – por exemplo:
tetralogia de Fallot, anomalia de Ebstein e outras – ou aumentado –
transposição dos grandes vasos, truncus arteriosus e outros. A
radiografia de tórax é útil para a diferenciação inicial entre essas 2
categorias.
As lesões cianóticas com fluxo pulmonar diminuído incluem
obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar em associação a existência
de um caminho pelo qual o sangue venoso sistêmico possa ser
desviado da direita para a esquerda e entrar na circulação sistêmica.
O grau de cianose depende da gravidade da obstrução do fluxo
pulmonar. Caso a obstrução seja leve, o paciente pode ser acianótico
em repouso, além da hipótese de crises hipercianóticas em condições
de estresse. Nos casos de obstrução muito grave, o fluxo pulmonar
pode depender da patência do ducto arterial. Quando o ducto se fecha
nos primeiros dias de vida, o neonato passa por profunda hipoxemia
e choque.
As lesões cianóticas com fluxo pulmonar aumentado apresentam a
cianose causada por conexões ventriculoarteriais anormais –
transposição dos grandes vasos – ou por mistura total do sangue
venoso sistêmico e pulmonar no coração – truncus arteriosus.
2.2 TETRALOGIA DE FALLOT
Tal cardiopatia consiste em 4 alterações interligadas, que produzem
cianose exatamente devido à concomitância de algumas destas
(Figura 2.1).
A tetralogia de Fallot envolve comunicação
interventricular, estenose pulmonar,
dextroposição da aorta e hipertrofia do
ventrículo direto.
Figura 2.1 - Tetralogia de Fallot
Legenda: (A) Tetralogia de Fallot – a) estenose da válvula pulmonar; b) hipertrofia do
ventrículo direito; c) dextroposição da aorta; d) comunicação intraventricular; (B) radiografia
de tetralogia de Fallot “em tamanco holandês”.
2.2.2 Tratamento
O tratamento para as crises hipercianóticas de hipóxia é composto
por:
a) Oxigênio;
b) Morfina para suprimir o centro respiratório e abolir a taquipneia;
c) Posição genupeitoral para aumentar a resistência vascular
periférica;
d) Vasoconstritores para aumentar a resistência vascular sistêmica:
epinefrina 0,01 mg/kg;
e) Bicarbonato de sódio – 1 mEq/kg – intravenoso;
f) Betabloqueadores para relaxar a musculatura infundibular –
propranolol via IV;
g) Cetamina – 1 a 3 mg/kg – para sedar e aumentar a resistência
vascular periférica;
h) Tetralogia de Fallot – o tratamento para RNs com obstrução
importante compreende, inicialmente, a manutenção de prostaglandina
em infusão contínua até ser realizada a cirurgia paliativa – shunt
Blalock-Taussig –. Esta é indicada para crianças abaixo de 6 meses,
com más condições clínicas ou com anatomia desfavorável. Consiste
em um conduto que liga a artéria subclávia ao ramo homolateral da
artéria pulmonar. A cirurgia corretiva deve ser feita entre 3 meses e 1
ano, e consiste em alívio da obstrução do trato de saída de ventrículo
direito, removendo as faixas de músculo ali localizadas e promovendo
o fechamento da CIV com um patch. Por vezes pode ser necessária
uma valvotomia – valva pulmonar estenótica.
2.2.3 Complicações
a) Trombose cerebral – policitemia, desidratação – menor que 2 anos;
b) Abscesso cerebral – maior que 2 anos;
c) Endocardite.
2.3.2 Tratamento
O tratamento em neonatos com hipóxia grave deve ser feito com
prostaglandina. Algumas vezes é indicado shunt aortopulmonar –
procedimento de Starnes –, ao passo que o tratamento cirúrgico está
indicado para os pacientes com insuficiência cardíaca, cardiomegalia
progressiva, arritmia cardíaca e cianose.
2.4 TRANSPOSIÇÃO DE GRANDES
ARTÉRIAS
A Transposição de Grandes Artérias (TGA) é uma malformação
cardíaca congênita em que a relação atrioventricular está mantida,
de forma que parte ou todo o sangue que chega ao átrio direito passa
ao ventrículo direito. O sangue proveniente da circulação chega ao
átrio direito por meio das veias cavas. Do ventrículo direito emerge a
artéria aorta, devolvendo o sangue à circulação sistêmica (Figura
2.6).
O sangue proveniente dos pulmões chega ao átrio esquerdo, de onde
parte, ou todo o sangue chega ao ventrículo esquerdo. Deste emerge
ao tronco pulmonar, retornando aos pulmões. Como se pode notar,
caso não haja mistura desse sangue em algum ponto, têm-se 2
circulações “fechadas” não comunicantes e os tecidos jamais
receberiam sangue oxigenado.
Figura 2.6 - Fluxo invertido
Legenda: (A) coração normal – circulação normal; (B) coração com malformação –
circulação em coração com transposição dos grandes vasos.
2.4.2 Tratamento
As opções de tratamento são:
a) Prostaglandina E1;
b) Atriosseptostomia de Rashkind;
Em se tratando de cirurgia:
a) Troca arterial (cirurgia de Jatene), a qual deve ser feita nas
primeiras 2 semanas de vida, porque o ventrículo esquerdo pode
hipotrofiar e não aguentar a pressão;
b) TGA com CIV, a qual pode ser feita após 2 semanas de vida, uma
vez que a CIV equaliza as pressões entre os ventrículos.
2.6.1 Tratamento
A cirurgia de Norwood possui 3 estágios (respectivamente, Figuras
2.11, 2.12 e 2.13).
Figura 2.11 - Primeiro estágio
Legenda: (A) o tronco da artéria pulmonar é transectado, e é criada uma (B) “neoaorta”,
formada com a cirurgia de Norwood e o shunt de Blalock-Taussig modificado.
2.7.2 Tratamento
O tratamento é cirúrgico e compreende o fechamento da CIV, a
separação da artéria pulmonar do tronco arterial e o estabelecimento
de um circuito entre o ventrículo direito e a artéria pulmonar (reparo
de Rastelli).
Figura 2.16 - (A) Coração normal e (B) coração com truncus arteriosus
Fonte: ilustração Claudio Van Erven Ripinskas.
Quais alterações
caracterizam a tetralogia de
Fallot?
A tetralogia de Fallot é caracterizada pela presença de
comunicação interventricular, dextroposição da aorta,
estenose pulmonar e hipertrofia de ventrículo direito.
Como deve ser aferida a
pressão arterial nas
crianças e adolescentes e
como é definida e
classificada a hipertensão
arterial?
3.1 INTRODUÇÃO
A Hipertensão Arterial (HA) é conceituada pela 7ª Diretriz Brasileira
de Hipertensão Arterial, publicada em 2016, como uma condição
clínica multifatorial caracterizada pela elevação sustentada dos
níveis pressóricos.
A porcentagem de crianças e adolescentes com HA dobrou nas
últimas décadas, com prevalência estimada de 3,5%, e esse aumento
é atribuído ao aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade na
população pediátrica.
A etiologia da HA pediátrica depende muito da idade, sendo que nas
crianças menores é mais frequente a HA secundária a nefropatias e,
em adolescentes, a HA primária associada a causas genéricas e
obesidade.
A HA nas crianças costuma ser assintomática, porém 40% já podem
apresentar hipertrofia de ventrículo esquerdo, fator preditor
importante de arritmias e de insuficiência cardíaca na idade adulta,
além da lesão de outros órgãos-alvo como retina e carótidas. Além
disso, a Pressão Arterial (PA) elevada durante a infância se
correlaciona com aumento da PA na idade adulta e presença de HA. Já
a presença de valores normais de PA durante a infância se
correlaciona com a ausência de HA na idade adulta.
O diagnóstico precoce e tratamento da PA elevada na infância se
associa ao menor risco de comorbidades na vida adulta, como HA e
síndrome metabólica, e por isso se recomenda a aferição anual da PA
em consultas de rotina a partir dos 3 anos de idade para todas as
crianças. As crianças menores de 3 anos devem ter sua PA avaliada
em situações de risco específicas, como nefropatias, uso de drogas
que elevam a PA e cardiopatias congênitas.
A aferição da PA deve ser feita respeitando-se as padronizações de
medição, que serão abordadas no decorrer deste capítulo.
3.2 DEFINIÇÕES
Em 2004, com a publicação do National High Blood Pressure
Education Program (NHBPEP), foi unificada e normatizada a
classificação da PA na população pediátrica. Em Pediatria,
diferentemente da população adulta, os valores pressóricos normais
são definidos de acordo com dados obtidos a partir da aferição da PA
de crianças sadias e distribuídos em uma tabela normativa com base
na idade cronológica, sexo e percentil de estatura.
A publicação de 2004 foi atualizada em 2017 pela American Academy
of Pediatrics com os novos valores e classificação de PA que serão
abordados ao longo do capítulo. A grande mudança foi a retirada das
crianças com sobrepeso e obesidade das tabelas, o que causou uma
diminuição nos valores considerados normais de PA, e
consequentemente, um aumento no número de hipertensos.
A 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial
foi publicada em 2016 e, portanto, utiliza a
classificação adotada em 2004. A Sociedade
Brasileira de Pediatria já recomenda a adoção
dos novos valores e termos publicados pela
American Academy of Pediatrics em 2017.
3.3 ETIOLOGIA
A HA pode ser primária, sem causa identificável, ou secundária, com
causa identificável. A HA primária é a mais prevalente em
adolescentes, principalmente naqueles com sobrepeso e obesidade.
No entanto, é um diagnóstico de exclusão, e as causas secundárias
devem ser investigadas sempre que possível. A obesidade, sexo
masculino, etnias hispânica e africana, histórico familiar de HA,
ausência de aleitamento materno e agravos no período perinatal e
pós-natal são fatores de risco para a HA primária.
Considerar como mais frequente a hipertensão
secundária em crianças menores e hipertensão
primária em crianças maiores de 6 anos e
adolescentes.
Para aferir a PA, a criança deve estar calma por pelo menos 5
minutos, preferencialmente sentada, com os pés e as costas
apoiados. Alimentos ou bebidas estimulantes não devem ser
oferecidos antes da aferição. O braço escolhido deve ser o direito –
pacientes com coarctação de aorta têm uma PA falsamente baixa no
braço esquerdo – e ele deve estar apoiado no nível do coração. O
método preferencial é o auscultatório e, na sua ausência, indica-se o
método oscilométrico. Caso ocorra alteração no valor da PA pelo
método oscilométrico, esta deve ser confirmada com o método
auscultatório.
Deve-se sempre usar um manguito adequado para cada criança. A
escolha do manguito é feita através da medida da circunferência do
braço no ponto médio entre o acrômio e o olecrânio. O comprimento
da bolsa inflável deve ser de 80 a 100% da circunferência do braço, e
a largura deve equivaler a 40% da circunferência do braço.
O comprimento do manguito deve ser de 80 a
100% da circunferência do braço, e a largura
deve equivaler a 40% da circunferência do
braço. Os manguitos menores que os ideais
superestimam a PA, e os maiores mostram
valores mais baixos.
Figura 3.1 - Técnica de medida da pressão arterial
3.7 CONCLUSÃO
A HA na infância está associada a eventos desfavoráveis e
comorbidades no futuro. Sua incidência vem aumentando
progressivamente, principalmente associada a obesidade. O
diagnóstico precoce e o tratamento da HA na infância associam-se a
menor risco de HA e de aumento da ateromatose carotídea na vida
adulta.
Como deve ser aferida a
pressão arterial nas
crianças e adolescentes e
como é definida e
classificada a hipertensão
arterial?
A medida da PA é feita preferencialmente com a criança
calma, em ambiente agradável, em repouso de pelo menos
5 minutos, sentada, com o braço direito estendido na altura
do coração. O manguito deve possuir uma câmara interna
com largura correspondente a 40% da circunferência do
braço (medida no ponto médio entre o olécrano e o
acrômio) e o comprimento equivalente a 80 a 100% da
mesma, sem superposição.
Ela é classificada em primária e secundária, e em relação
aos percentis tem a seguinte classificação:
1. PA normal: PAS e PAD < p90;
2. PA elevada (antigo pré-hipertensão): PAS e/ou PAD ≥ p
90 e < p 95 ou entre 120x80 mmHg e < p95;
3. Hipertensão estágio 1: PAS e/ou PAD ≥ p95 e < 12 mmHg
acima do p95 ou entre 130x80 mmHg a 139x89 mmHg;
4. Hipertensão estágio 2: PAS e/ou PAD ≥ 12 mmHg acima
do p95 ou ≥ 140x90 mmHg.
Como abordar inicialmente
uma criança em parada
cardiorrespiratória?
4.1 INTRODUÇÃO
A parada cardíaca, ou parada cardiorrespiratória (PCR) – cessação da
atividade mecânica do coração –, cursa com inconsciência, apneia e
ausência de pulso central palpável. Entre lactentes e crianças, em
geral, não acontece por causas cardíacas primárias, mas por falência
respiratória progressiva ou choque. Em geral, situações de hipóxia,
hipercapnia e acidose prolongadas progridem para bradicardia e
hipotensão e podem culminar em uma PCR.
Dentre as causas cardíacas que levam a essa condição, a fibrilação
ventricular e a taquicardia ventricular sem pulso são os ritmos
cardíacos iniciais em apenas 5 a 15% das crianças que evoluem para
PCR, e a incidência de ambas aumenta com a idade. Entre as crianças
com doenças cardíacas de base – cardiopatias congênitas,
miocardiopatias –, a PCR causada por arritmias deve ser
considerada, assim como os casos de intoxicação por drogas –
digitálicos.
No ambiente pré-hospitalar, os eventos mais associados à parada
cardíaca são trauma, Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL),
afogamento por submersão, envenenamento, engasgo, asma grave e
pneumonia. A SMSL, por sua vez, acomete crianças menores de 1 ano
e constitui um quadro multifatorial em que a asfixia por reinalação e
diminuição dos despertares leva ao entorpecimento – hipóxia,
hipercapnia. Em resumo, é o óbito no lactente de até 1 ano sem causa
aparente e definida, e é mais comum quanto mais jovem a criança.
Estudos recentes têm revelado que tanto a SMSL quanto a morte
súbita em crianças maiores e em adultos jovens podem estar
relacionadas a mutações genéticas que causariam alterações nos
canais iônicos cardíacos, o desbalanço eletrolítico dentro e fora de
células cardíacas poderia predispor a arritmia.
Os fatores de risco e protetores para a síndrome de morte súbita do
lactente são recorrentemente abordados nas provas; fatores de risco
são dormir na região prona (“de barriga para baixo”), pais e/ou
cuidadores tabagistas, uso de protetores de berço e cobertas e
hipotermia ou hipertermia no recém-nascido. O principal fator
protetor é dormir na posição supina (“de barriga para cima”), e a
vacinação. O aleitamento materno ainda não teve seu efeito protetor
comprovado em relação à prevenção para a síndrome da morte
súbita.
A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é um conjunto de medidas
que tem como objetivo a manutenção dos sinais vitais por meio da
ventilação, da circulação e do estabelecimento de via aérea pérvia.
Diversas ações, como as compressões torácicas, a desfibrilação e o
uso de drogas fazem parte de sequências padronizadas pela
American Heart Association (AHA) e divididas em suporte básico e
avançado de vida em pediatria. As diretrizes da AHA nada mais são
do que formas de sistematizar o atendimento, a fim de avaliar,
identificar e intervir sobre o agravo, de forma protocolar, com o
objetivo de fornecer um atendimento mais rápido, preciso e com
melhores resultados a condições de alta mortalidade.
A sobrevida durante a RCP é de 7 a 11%, porém, quando a parada é
apenas respiratória, sem assistolia, é de 75 a 90%, números que
justificam a importância da prevenção da PCR, por meio do
reconhecimento precoce dos sinais de insuficiência respiratória e
circulatória, que podem culminar com a ocorrência. Em se tratando
de sobrevida e prevenção, vale lembrar que os traumas são a
principal causa de morte na faixa etária de 1 ano até a adolescência.
Figura 4.1 - Cadeias de sobrevivência para o atendimento do Suporte Avançado de Vida
em Pediatria (PALS), pela American Heart Association
#IMPORTANTE
Na etapa de ventilação do suporte básico de
vida, o reconhecimento da existência de algum
corpo estranho nas vias aéreas é importante, já
que há elevada taxa de mortalidade por
aspiração de corpo estranho na faixa etária
pediátrica.
4.2.3.3 Engasgo
As obstruções leves e moderadas são resolvidas solicitando-se à
criança que continue a tossir, e as severas – a criança não consegue
tossir ou emitir sons – requerem intervenção imediata. Lactentes até
1 ano de idade devem ser posicionados com a cabeça em um nível
inferior ao do tórax e receber 5 golpes na região interescapular. Caso
não ocorra a desobstrução, o socorrista deve realizar 5 compressões
torácicas e repetir o ciclo até eliminar o objeto. Nunca deve ser
realizada manobra de varredura às cegas na boca do lactente, mas
caso seja visto o objeto causador da obstrução este deve ser retirado,
com movimento em forma de pinça. Crianças maiores, acima de 1
ano de idade, e conscientes devem ser submetidas à manobra de
Heimlich: 5 compressões abdominais subdiafragmáticas até a
desobstrução ou a perda da consciência; quanto às inconscientes e
em apneia, o socorrista deve iniciar as compressões torácicas, 30
vezes, e se ao abrir as vias aéreas for possível a visualização do
objeto, deve tentar retirá-lo. Caso não seja possível a retirada, o
socorrista deve fazer 2 ventilações, manter a RCP – 30
compressões:2 ventilações ou 15:2, a depender se 1 ou 2 socorristas –
e ativar o serviço de emergência.
Vale lembrar que a manobra de Heimlich não deve ser realizada nos
menores de 1 ano pelo risco de lesão hepática, pelo grande tamanho
relativo do fígado nos lactentes, quando comparado aos pacientes
maiores, além de dificuldade técnica pelo tamanho e tônus da vítima.
Figura 4.5 - Desobstrução em lactentes
Fonte: ilustração Claudio Van Erven Ripinskas.
5.1 INTRODUÇÃO
O suporte avançado de vida é composto basicamente pelo
reconhecimento das condições clínicas potencialmente fatais e o
tratamento da parada cardiorrespiratória em ambiente hospitalar.
As condições potencialmente fatais são a insuficiência respiratória e
o choque.
O socorrista deve avaliar, identificar e tratar precocemente a
condição do paciente, sempre se antecipando em relação às
complicações e condições seguintes.
Quando houver parada cardiorrespiratória é necessário reconhecer o
ritmo de parada, e identificar se é chocável – fibrilação ventricular e
taquicardia ventricular sem pulso – ou não chocável – assistolia ou
Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP) – para alocá-lo no algoritmo de
tratamento correspondente.
5.2 RESSUSCITAÇÃO
CARDIOPULMONAR
As ações simultâneas realizadas pela equipe de socorristas tanto no
ambiente pré-hospitalar como na sala de emergência são
importantes para o sucesso das manobras de reanimação.
Segundo as últimas diretrizes publicadas em 2015 pela American
Heart Association, deve ser obedecida a sequência C-A-B
(Compressões – Abertura de vias aéreas – Ventilação). As
compressões torácicas devem ser iniciadas sem delongas pelo
primeiro socorrista, enquanto outro realiza ventilações com o
auxílio da bolsa-máscara. Se por algum motivo houver apenas 1
socorrista, a primeira ação é de chamar por ajuda, antes de iniciar
qualquer manobra.
Após avaliação da responsividade da vítima e checagem de pulso e
movimentos respiratórios por até 10 segundos deve ser iniciada a
ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Vale lembrar que em lactentes
menores de 1 ano deve-se checar pulsos braquial ou femoral, e nos
maiores de 1 ano pulso carotídeo ou femoral.
A RCP bem executada deve ter frequência de compressões torácicas
de 100 a 120 vezes por minuto, e profundidade de 1 terço do diâmetro
anteroposterior do tórax, cerca de 4 cm nos lactentes, 5 cm em
crianças maiores e até 6 cm em adolescentes) e ser realizada, -
preferencialmente, sobre uma superfície firme. Se o atendimento é
realizado por 2 socorristas deve ser feitas 15 compressões por 2
ventilações. Em apenas 1 socorrista, 30 compressões por 1 ventilação.
O objetivo é reduzir ao máximo as interrupções das compressões,
para garantir melhor fluxo sanguíneo possível ao tecido cerebral,
coração, rins e demais órgãos.
Um terceiro socorrista deve providenciar a monitorização,
estabelecer um acesso vascular, intravenoso (IV) ou intraósseo (IO),
além de preparar as medicações que poderão ser utilizadas. O acesso
venoso central não é uma opção na emergência pediátrica.
Assim que houver um desfibrilador automático (DEA) ou um
desfibrilador manual, este deve ser posicionado imediatamente, e
analisado o ritmo cardíaco, já que nos ritmos chocáveis – com
fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso – a
principal conduta é a desfibrilação. As pás devem ser colocadas na
pele seca, e caso não seja possível posicionar ambas no tórax, por se
tocarem, deve-se colocar uma anterior e outra no dorso do paciente.
1. Atenção: o uso dos desfibriladores, tanto manual quanto automático,
está indicado a partir de 1 ano de idade. No desfibrilador manual a
carga é definida manualmente, e as pás pediátricas devem ser
utilizadas até 1 ano ou 10 kg. No DEA a carga é pré-estabelecida, e as
pás pediátricas devem ser utilizadas até 8 anos ou 25 kg. No caso de
indisponibilidade das pás pediátricas, deve-se prosseguir o
procedimento com pás de adultos.
5.8.2 Epinefrina
A catecolamina, cujo efeito alfa-adrenérgico leva a vasoconstrição,
aumenta a pressão diastólica na aorta, melhorando a perfusão
coronariana. A ação beta-adrenérgica diminui a resistência vascular
sistêmica, com doses menores do que as utilizadas na RCP.
1. Dose: 0,01 mg/kg (0,1 mL/kg 1:10.000) IV ou IO e 0,1 mg/kg (0,1
mL/kg 1:1.000) ET. Máximo de 1 mg IV/IO e 2,5 mg ET. Pode ser
repetida a cada 3 a 5 minutos;
2. Atenção: não administrar com soluções alcalinas, bicarbonato, pois
inativam as catecolaminas.
5.8.3 Lidocaína
Droga antiarrítmica que bloqueia canais de sódio. Indicada na
taquicardia ventricular sem pulso (TV) e fibrilação ventricular (FV)
refratária ao choque, não é tão eficaz quanto a amiodarona.
1. Dose: 1 mg/kg IV ou IO – pela via endotraqueal, deve ser feita de 2
a 3 vezes;
2. Atenção: toxicidade miocárdica.
5.8.4 Amiodarona
Droga antiarrítmica que diminui a velocidade de condução
atrioventricular, prolonga o intervalo QT e diminui a condução
ventricular, aumentando o QRS.
1. Dose: 5 mg/kg IV ou IO, podendo ser repetida até o total de 15
mg/kg/d. Máximo de 300 mg;
2. Atenção: pode causar hipotensão pelo efeito vasodilatador,
bradicardia e torsades de pointes. É importante monitorizar
eletrocardiograma e pressão arterial.
5.8.5 Bicarbonato de sódio
O uso rotineiro não é recomendado na RCP, apenas nos casos
refratários e em pacientes com a ventilação já estabelecida. São
indicações hipercalemia sintomática, acidose metabólica grave,
hipermagnesemia, intoxicação por antidepressivos tricíclicos ou
bloqueadores dos canais de cálcio.
1. Dose: 1 mEq/kg IV ou IO;
2. Atenção: o excesso de bicarbonato pode impedir a oxigenação
tecidual e causar hipocalemia, hipocalcemia, hipernatremia e
hiperosmolaridade.
5.8.6 Glicose
Checar glicemia na RCP e tratar hipoglicemia imediatamente.
1. Dose: 0,5 a 1g /kg IV/IO, glicose a 25%.
5.8.7 Magnésio
Indicado para hipomagnesemia documentada e torsades de pointes.
1. Atenção: para a hipotensão quando administrado rapidamente;
2. Dose: 25 a 50 mg/kg IV/IO; sulfato de magnésio, máximo de 2 g.
5.8.8 Cálcio
Seu uso está indicado nas hipocalcemias documentadas, mas na
administração rotineira na parada cardiorrespiratória não é
recomendado.
1. Dose: 20 mg/kg; cloreto de cálcio a 10% (0,2 mL/kg), máximo de 2
g.
Como são classificados os
choques na Pediatria?
Os choques são divididos em hipovolêmico, cardiogênico e
distributivo, que por sua vez se subdivide em séptico e
anafilático.
Como reconhecer e tratar a
taquicardia
supraventricular na
infância?
6.1 INTRODUÇÃO
Os distúrbios de ritmo em Pediatria são resultados de outras
enfermidades em curso no paciente, como insuficiência respiratória,
trauma ou diarreia, levando ao choque.
A maioria das crianças em parada cardiorrespiratória (PCR)
apresenta assistolia ou Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP),
entretanto, entre crianças que apresentam perda de consciência
súbita e testemunhada, há grande chance de a arritmia ser de causa
primária. Outras enfermidades também se associam a arritmias
cardíacas, como miocardite, cardiopatias congênitas, síndrome de
QT prolongado, anormalidades eletrolíticas graves e intoxicações.
Logo após o nascimento, as arritmias mais comuns estão
relacionadas ao nó sinusal, arritmia sinusal fásica, pausas sinusais
seguidas de escapes juncionais. Crianças com menos de 1 ano
costumam ter elevada resposta ventricular às arritmias atriais, pelo
desenvolvimento incompleto do nó atrioventricular.
Por isso, em se tratando de arritmias, principalmente quando há
suspeita de que o ritmo de parada é assistolia ou AESP, é preciso
identificar e tratar as causas reversíveis, hipóxia, hipovolemia –
hipotermia, hipocalemia e/ou hipercalemia, acidose, hipoglicemia,
tamponamento cardíaco, tromboembolismo pulmonar, trombose
coronariana, pneumotórax e intoxicações.
Este capítulo destina-se a descrever as categorias de arritmias
potencialmente fatais e como tratá-las na emergência, relatando as
ações de suporte avançado em Pediatria.
6.2 ELETROCARDIOGRAMA
Cada ciclo cardíaco normal deve constar de:
1. Onda P: despolarização atrial (duração 0,08 a 0,1 s);
2. Complexo QRS: despolarização ventricular (duração 0,06 a 0,1 s);
3. Onda T: repolarização ventricular;
4. Intervalo PR: início da despolarização atrial ao início da
despolarização ventricular (duração 0,12 a 0,2 s).
O eletrocardiograma de 12 derivações é a
representação gráfica da despolarização e
repolarização miocárdicas (Figura 6.1).
Figura 6.1 - Despolarização e repolarização miocárdicas
Fonte: adaptado de Home ECG System: Signal Processing and Remote Transmission,
2015.
6.2.1.4 Tratamento
O ECG não mostra onda P, mas ela pode estar presente e com
morfologia anormal, assim, nem sempre é possível determinar o
intervalo PR. O intervalo RR é constante e o QRS estreito. A
frequência cardíaca é superior a 220 bpm em lactentes e a 180 bpm
em crianças maiores.
Figura 6.10 - Taquicardia supraventricular
6.2.2.3 Flutter atrial
6.2.2.5 Tratamento
O tratamento da taquicardia sinusal é o tratamento da causa de base.
Em geral a taquicardia sinusal cursa sem repercussão.
A taquicardia supraventricular dividiremos em estável ou instável. A
instável é definida pela presença de sinais e má perfusão, como
extremidades frias, tempo de enchimento capilar prolongado,
hipotensão, alteração do nível de consciência, como sonolência ou
irritabilidade, e redução da diurese.
No quadro da taquicardia supraventricular estável, pode-se fazer
manobra vagal até que os passos seguintes do tratamento estejam
prontos, desde que a manobra não atrase o restante da conduta. A
manobra vagal é realizada por meio de gelo na face e, nos pacientes
maiores e colaborativos, manobra de Valsalva. A droga de escolha é a
adenosina, a adenosina tem meia vida curta, então deve ser
administrada em flush, com soro fisiológico imediatamente após.
Podem ser realizadas até 2 doses da medicação. Vale lembrar que há
sensação ruim, de morte iminente, durante a administração, e o
paciente e pais devem ser avisados. Além disso é fundamental que o
carrinho de PCR esteja perto do atendimento, pelo risco de evolução
para PCR em fibrilação ventricular ou assistolia.
Caso não haja reversão e o paciente continue estável pode ser
realizada a cardioversão elétrica sincronizada, ou outros
antiarrítmicos, como amiodarona e lidocaína, sob a orientação de
um cardiologista pediátrico. A cardioversão deve ser realizada sob
sedação.
O paciente com taquicardia supraventricular instável deve ser
submetido diretamente à cardioversão elétrica sincronizada ou à
cardioversão química com adenosina, o que for mais rápido na
situação. A manobra vagal não faz parte do protocolo, e a sedação
para cardioversão reservada aos pacientes com estabilidade
suficiente para isso.
Em relação às taquiarritmias mais raras, vale salientar apenas o
tratamento de torsades de pointes, que envolve a reposição de
magnésio.
6.3 SÍNCOPE NA INFÂNCIA
A síncope na infância e adolescência é uma queixa muito comum no
pronto-socorro pediátrico. As causas de síncope nessa faixa etária
podem ser divididas em cardíacas, neurocardiogênicas e outras. As
causas cardíacas são as que impõe risco de morte aos pacientes com
síncope, seriam os distúrbios elétricos primários, taquicardia
supraventricular, síndrome de QT longo ou curto, as doenças
cardíacas estruturais, correção cirúrgica de comunicação interatrial
e interventricular, manipulação do nó AV, cardiomiopatias ou
tamponamento cardíaco, e outras, como anomalias de coronárias,
cardiomiopatia dilatada e displasia arritmogênica familiar. As causas
neurocardiogênicas seriam síndrome vasovagal, crise de perda de
fôlego e hipotensão postural, que são quadros de evolução benigna, e
outras possível causas de síncope são neuropsiquiátricas,
metabólicas e intoxicação.
6.3.1 Avaliação
O paciente que dá entrada no pronto-socorro com história de perda
de consciência deve ter uma anamnese ampla e completa, exame
físico minucioso e obrigatoriamente realizada eletrocardiograma. O
ecocardiograma é reservado para os pacientes com alta suspeita de
doença cardíaca, e o eletroencefalograma para os pacientes com
perda de consciência prolongada, atividade convulsiva e período
pós-ictal prolongado. Ecocardiograma e eletroencefalograma não
devem ser realizados rotineiramente.
Exames laboratoriais podem ser realizados em casos selecionados,
de acordo com a avaliação médica: glicemia, hemograma, teste de
gravidez, screening toxicológico e perfil eletrolítico. Outros exames
disponíveis, para casos selecionados, são o tilt test, na suspeita de
hipotensão postural ou reflexo vasovagal, holter para os pacientes
com palpitação ou síncopes de repetição, teste de esforço naqueles
com episódios de desmaios durante esforço físico e neuroimagem de
alterações neurológicas associadas.
6.3.2 Tratamento
Na maioria das vezes o paciente apresenta quadro benigno, que não
requer tratamento, apenas orientações e seguimento. Quando é
definida etiologia a mesma deve ser tratada ou acompanhada de
forma específica, pelo especialista.
Como reconhecer e tratar a
taquicardia
supraventricular na
infância?
A taquicardia supraventricular é definida como frequência
cardíaca maior do que 220 bpm no lactente e maior do que
180 bpm nas crianças maiores, com complexo QRS estreito
e ausência de onda P.
No quadro estável (sem sinais de má perfusão), pode-se
fazer manobra vagal até que os passos seguintes do
tratamento estejam prontos, desde que a manobra não
atrase o restante da conduta. A cardioversão química é feita
com adenosina 0,1 mg/kg (máximo 6 mg), e pode ser
repetida com dose dobrada. Caso não haja reversão e o
paciente continue estável pode ser realizada a cardioversão
elétrica sincronizada, ou outros antiarrítmicos, como
amiodarona e lidocaína, sob a orientação de um
cardiologista pediátrico. A cardioversão deve ser realizada
sob sedação.
O paciente com taquicardia supraventricular instável deve
ser submetido diretamente à cardioversão elétrica
sincronizada ou à cardioversão química com adenosina, o
que for mais rápido na situação. A manobra vagal não faz
parte do protocolo, e a sedação para cardioversão é
reservada aos pacientes com estabilidade suficiente para
isso.
Como abordar a golden
hour do choque séptico?
7.1. CHOQUE
Choque é um estado de falência de energia em que não há produção
de adenosina trifosfato (ATP). Trata-se de uma condição crítica,
resultante de má distribuição de oxigênio e nutrientes aos tecidos.
Diversos fatores influenciam essa distribuição, como a concentração
de hemoglobina no sangue, pois determina a saturação de oxigênio
sanguíneo, e o fluxo sanguíneo adequado. Este, por sua vez, é
determinado pelo Débito Cardíaco (DC) – volume de sangue que flui
para os tecidos em 1 minuto, cuja fórmula é: DC = volume sistólico
vezes frequência cardíaca.
O volume sistólico é o volume de sangue ejetado após cada contração
cardíaca. Depende de 3 fatores:
a) Pré-carga – volume de sangue presente no ventrículo antes da
contração;
b) Contratilidade – força com que o coração se contrai;
c) Pós-carga – resistência contra a qual o ventrículo está se
contraindo.
7.1.2 Tratamento
O principal fator de sucesso no tratamento é a identificação precoce
do paciente em risco para desenvolver o choque e seu
encaminhamento para um serviço especializado.
A abordagem global do paciente em choque inclui suporte geral –
respiratório, conforto térmico, monitorização, nutrição, correção de
distúrbios metabólicos – controle da causa-base que levou ao
choque, suporte cardiovascular, correção da pré-carga, da função
cardíaca e da pós-carga, uso de drogas e tratamento das
complicações.
O fundamental no tratamento é a rapidez com que as intervenções
são feitas. Reconhecer o choque precocemente e tratar de forma
adequada podem melhorar o prognóstico do paciente em choque.
O alvo do tratamento é restabelecer a perfusão e oxigenação
teciduais adequadamente. Os sinais de restabelecimento da perfusão
e oxigenação tecidual são:
a) Tempo de enchimento capilar ≤ 2 segundos;
b) Pulsos normais;
c) Extremidades aquecidas;
d) Diurese > 1 mL/kg/h;
e) Nível de consciência sem alterações;
f) Pressão arterial adequada para a idade;
g) Saturação venosa central de oxigênio ≥ 70%.
8.1 INTRODUÇÃO
A Infecção do Trato Urinário (ITU), doença importante e bastante
comum na infância, caracteriza-se pela multiplicação bacteriana em
qualquer segmento do aparelho urinário, incluindo próstata e
epidídimo, que resulte em sintomas. A ITU alta, pielonefrite, pode
levar a cicatrizes renais, hipertensão e doença renal crônica. Embora
crianças com pielonefrite geralmente se apresentem com febre, é
sempre difícil distinguir clinicamente entre cistite e pielonefrite,
particularmente nas crianças com menos de 2 anos.
Com exceção daquela que ocorre no período neonatal, a maioria das
ITUs são infecções ascendentes, em que as bactérias penetram pela
uretra, chegam à bexiga e, eventualmente, ascendem pelo ureter,
atingindo os rins.
8.2 EPIDEMIOLOGIA
A prevalência geral em crianças menores de 2 anos e febris é de
aproximadamente 7%, mas pode variar de acordo com a idade, a
raça, o sexo e a presença ou não de circuncisão nos meninos.
Lactentes do sexo feminino têm 2 a 4 vezes mais ITUs do que
meninos circuncidados. De maneira geral, predominam no sexo
feminino (exceto nos primeiros 6 meses de vida, quando ocorre mais
no sexo masculino), à proporção de 4:1 a partir do sexto mês de vida.
Seu pico de incidência acontece ao redor de 3 a 4 anos.
No primeiro ano de vida, a infecção de urina febril pode
corresponder a pielonefrite aguda na maioria dos casos (90%).
Os recém-nascidos de mães que apresentaram, na gestação, ITU de
repetição têm risco maior, até 4 vezes, de ter ITU no período
neonatal.
8.3 ETIOLOGIA
8.7.1 Antibioticoterapia
O tratamento com antibióticos deve ser instituído imediatamente
quando há suspeita de ITU em crianças sintomáticas (febre ou
sintomas locais), mesmo antes do resultado da urocultura e do
antibiograma. A instituição da terapêutica imediata visa evitar o
aumento da gravidade da infecção e a possibilidade de lesão renal.
8.7.1.1 Crianças com mais de 2 meses
Quadro 8.2 - Medicamentos para tratamento da infecção do trato urinário por via oral
8.7.2 Conduta cirúrgica
Crianças com abscesso renal ou perirrenal e aquelas com ITU
obstruído devem ser submetidas a procedimento cirúrgico para a
drenagem do abscesso e medidas que visem à liberação do fluxo
urinário, além da introdução de antibióticos.
8.8 REFLUXO VESICOURETERAL
O refluxo vesicoureteral é classificado segundo a aparência do trato
urinário na UCM.
Classificação:
1. Grau I: refluxo para 1 ureter não dilatado;
2. Grau II: sistema coletor superior sem dilatação;
3. Grau III: ureter dilatado e, ou presença de apagamento dos fórnices
cabeceais;
4. Grau IV: ureter dilatado grosseiramente;
5. Grau V: refluxo maciço, com dilatação ureteral significativa com
tortuosidade e perda da impressão papilar.
9.1 INTRODUÇÃO
Uma variabilidade de agentes pode infectar a mãe durante a
gestação, o trabalho de parto e o parto, podendo causar infecção do
feto ou do neonato e levando de disfunções orgânicas a óbito fetal ou
aborto.
Essas infecções congênitas contam com diversas etiologias com
manifestações clínicas semelhantes, representadas principalmente
pelos clássicos agentes que compõem o acrônimo TORCH
(toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes-simples e sífilis).
9.2 TOXOPLASMOSE CONGÊNITA
(AGENTE TOXOPLASMA GONDII)
A toxoplasmose congênita é uma doença infecciosa que resulta da
transferência transplacentária do Toxoplasma gondii, parasita
intracelular para o concepto, decorrente de infecção primária da mãe
durante a gestação ou por reagudização de infecção prévia em mães
imunodeprimidas. A severidade da doença fetal depende da idade do
feto no momento da transmissão, sendo mais grave a apresentação
durante os primeiros 2 trimestres da gestação. A gravidade da
doença no neonato é inversamente proporcional à idade gestacional;
no primeiro trimestre da gestação, a taxa de transmissão é de 17%
com repercussões graves, como óbito fetal ou neonatal; no segundo
trimestre, o risco sobe para 25%, e o Recém-Nascido (RN) pode
apresentar manifestações subclínicas. No terceiro trimestre, o risco
chega a 65%, com manifestações subclínicas – repercussões leves –
e, mais raramente, um quadro de parasitemia.
9.2.1 Quadro clínico
Na grande maioria das vezes, a doença é subclínica, dificultando o
diagnóstico. A maioria das crianças acometidas são assintomáticas
ao nascimento. Os sintomas, quando presentes, são inespecíficos,
podendo simular qualquer outra infecção, tornando fundamental o
diagnóstico sorológico.
A tríade clássica de sinais é composta por coriorretinite, hidrocefalia
e calcificações cerebrais.
Outros quadros clínicos são:
a) Natimortalidade e morte neonatal, 5% dos casos;
b) Formas subclínicas, 70%;
c) Formas leves, 20% – o paciente é aparentemente normal, com
algum sintoma semanas ou meses;
d) Algumas vezes aparecem calcificações cerebrais e coriorretinite,
sem comprometimento do Sistema Nervoso Central (SNC).
9.2.2 Diagnóstico
A suspeita clínica deve ser feita com base nos antecedentes
epidemiológicos e obstétricos, bem como na presença de sinais e
sintomas sugestivos de infecção congênita, como anemia, icterícia,
hepatomegalia, baixo peso de nascimento etc.
O diagnóstico pode ser feito por meio de métodos sorológicos,
dentre eles o Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA), com
captura de IgA para o diagnóstico de infecções recentes, pois seus
anticorpos desaparecem de circulação mais rapidamente do que os
da classe IgM, e reação em cadeia da polimerase no líquido
amniótico. Outras avaliações devem ser realizadas, como a
oftalmológica, a neurológica e a auditiva, e outros exames, como
ultrassonografia (USG) transfontanela, hemograma completo e
análise do LCE para avaliar o comprometimento do paciente.
Durante a gravidez, com a presença de anticorpos IgG na gestante,
pode ser feito o teste de avidez para avaliar se a infecção é recente ou
antiga. O teste de avidez de IgG ≤ 30% indica infecção nos últimos 60
dias; ≥ 60%, infecção há mais de 60 dias; entre 31 e 59%, não se
permite determinar o tempo de infecção e o teste deve ser repetido.
O diagnóstico de toxoplasmose fetal pode ser sugerido por alterações
na USG fetal como hidrocefalia, calcificações cerebrais e hepáticas
ascite, cardiomegalia e alterações placentárias. Pode-se investigar a
presença do Toxoplasma por meio da amplificação do seu DNA por
meio da proteína C reativa (PCR) específica no líquido amniótico
obtido por amniocentese.
9.2.3 Tratamento
O tratamento materno deve ser iniciado logo que há comprovação
laboratorial da infecção por toxoplasmose na gestação. O tratamento
pós-natal de neonatos infectados melhora o prognóstico em longo
prazo. Todos devem ser tratados.
Aos sintomáticos, sulfadiazina, 100 mg/kg/d VO, a cada 12 horas nos
6 primeiros meses e, após esse período, 1 vez ao dia; pirimetamina, 2
mg/kg/d VO, a cada 12 horas, por 2 dias e, posteriormente, 1
mg/kg/d, por 6 meses; após esse período, 3 vezes sem – às
segundas, quartas e sextas-feiras. Quanto ao ácido folínico, para
combater a ação antifólica da pirimetamina, com supressão
medular, preconizam-se 5 a 10 mg, 3x/sem, mantendo-se por 1
semana após a retirada da pirimetamina. Indica-se prednisona
quando a proteína no LCE é igual ou superior a 1 g/dL e na
coriorretinite em atividade. A dose preconizada é de 0,5 mg/kg VO, a
cada 12 horas, por 4 semanas— segundo a Sociedade Brasileira de
Pediatria – ou até a melhora dos níveis de proteína (< 1 g/dL) ou da
coriorretinite.
9.2.4 Prevenção
Sua prevenção durante a gestação consiste em evitar o contato com
animais infectados, principalmente gatos, não consumir carnes
cruas ou malcozidas, lavar bem as mãos antes das refeições, lavar
bem as frutas e as verduras, evitar jardinagem e repetir a sorologia a
cada trimestre.
9.3 RUBÉOLA CONGÊNITA
A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) decorre da infecção fetal por
via transplacentária durante a viremia materna, diminuindo a sua
taxa de transmissão quanto mais avançada a gestação. As infecções
placentária e fetal podem ocasionar abortos, óbito fetal, anomalias
congênitas, doença multissistêmica e restrição do crescimento
intrauterino.
9.3.1 Quadro clínico
As manifestações clínicas são várias e consequentes à infecção do
feto pelo vírus da rubéola. Cerca de 70% têm manifestação ao nascer.
Os RNs podem apresentar desde um quadro assintomático até SRC:
catarata, cegueira, surdez neurossensorial, microcefalia, retardo
mental e malformações cardíacas, persistência do canal arterial,
estenose da artéria pulmonar e defeitos de septos atrial e ventricular.
A principal característica da rubéola congênita é a sua cronicidade, e
as manifestações existentes podem progredir ou novas alterações
aparecer ao longo da vida. O paciente com rubéola congênita pode
apresentar como manifestações tardias: dificuldade de
aprendizagem, distúrbios de comportamento e autismo.
9.3.2 Diagnóstico
É obtido por testes sorológicos maternos ou fetais com aumento da
titulação ou soroconversão, além de isolamento viral no sangue,
urina ou LCE e reação em cadeia da polimerase no sangue ou nas
secreções da orofaringe. A suspeita clínica deve ser feita em todo RN
cuja mãe teve rubéola na gestação, suspeita ou confirmada, e para
aqueles com restrição de crescimento intrauterino associada a
qualquer estigma da rubéola congênita.
9.3.3 Tratamento
Compreende suporte clínico. Não há tratamento específico, e o
acompanhamento por uma equipe multiprofissional deve ser
prolongado, sobretudo no primeiro ano de vida, para a detecção de
sintomas de início tardio e oferecimento de maior suporte às
possíveis sequelas.
9.3.4 Profilaxia
Compreende vacinação para rubéola em mulheres em período fértil;
não pode ser aplicada a mulheres grávidas.
Após a vacinação o ideal é que se espere 1 mês antes de tentar
engravidar.
A criança com rubéola congênita deve ficar
isolada durante a fase aguda, e os familiares
devem ser esclarecidos sobre a possibilidade de
eliminação do vírus até 1 ano depois do
nascimento. Ressaltando que essa medida não
é necessária caso as culturas de nasofaringe e
urina sejam repetidamente negativas – pelo
menos 2 resultados, com intervalo de 1 mês –
após 3 meses de vida.
9.4.4 Diagnóstico
O diagnóstico é feito pela pesquisa de vírus em secreções urina,
salina, secreção respiratória, sangue, e fragmentos de órgãos com
isolamento nas primeiras 2 a 3 semanas indicam infecção congênita.
Em caso de positivação da pesquisa, anteriormente negativa, ocorrer
após 2 semanas de vida, a infecção terá sido perinatal. O IgM positivo
após 3 a 4 semanas de nascimento sugere infecção pós-natal.
9.4.5 Tratamento
Atualmente, nenhum tratamento materno é recomendável. Para o
tratamento sistêmico da infecção pelo CMV, temos drogas
licenciadas: ganciclovir, valganciclovir, cidofovir e foscarnete.
Destas, apenas 2 são utilizadas no período neonatal, o ganciclovir e o
valganciclovir. Em geral, a infecção congênita sintomática tem sido
tratada com ganciclovir, 6 a 12 mg/kg IV, a cada 12 horas, por 6
semanas, com diminuição da excreção viral e de deficiência auditiva.
9.5 INFECÇÃO CONGÊNITA POR
HERPES-SIMPLES – TIPOS 1 (FACE E
TRONCO) E 2 (GENITÁLIA)
Ocorre, geralmente, por infecção genital materna, e é mais comum
sua transmissão durante o trabalho de parto ou pós-natal, chega a
50% no parto vaginal. As mulheres com primo-infecção geralmente
são assintomáticas, enquanto aquelas com infecção recidivante têm
a transmissão intraparto diminuída para uma taxa de 3 a 5% pela
presença de anticorpos preexistentes.
O Herpes-Vírus Simples-1 (HSV-1) infecta a pele e a mucosa acima
da cintura, e o Herpes-Vírus Simples-2 (HSV-2) infecta a genitália
materna e o neonato – transmissão perinatal.
9.5.1 Quadro clínico
O período de incubação da infecção varia entre 2 e 20 dias, com
média de 16 dias, portanto os RNs que apresentam lesões ao
nascimento provavelmente foram infectados antes do nascimento.
As manifestações clínicas se apresentam em 3 categorias: infecção
de pele, olho e boca, de 5 a 6 dias após o parto; infecção do SNC (de 8
a 12 dias após o parto); infecção disseminada (de 5 a 6 dias após o
parto.
Apresenta-se com lesões cerebrais que incluem microcefalia,
hidrocefalia e meningoencefalite; na região ocular, conjuntivite,
ceratite, coriorretinite e cegueira. Outras sequelas incluem
anencefalia, microcefalia, pneumonite, hepatomegalia, anemia
hemolítica, espasticidade e retardo mental. Na pele, as lesões podem
se apresentar na forma de vesículas agrupadas.
A meningoencefalite herpética ocorre geralmente entre a segunda e
a terceira semana de vida e é caracterizada por instabilidade térmica,
letargia, má aceitação alimentar, irritabilidade, tremores,
convulsões e fontanela anterior ampla. Pode ou não ser
acompanhada das lesões vesiculares nos olhos, pele e boca.
Figura 9.4 - Herpes-simples
Fonte: Red Book, American Academy of Pediatrics, 2015.
9.5.2 Diagnóstico
É realizado por meio de cultura e exame citológico das lesões e
liquor. Para sorologia, realiza-se o teste de imunofluorescência para
anticorpos IgG e IgM, além do ELISA. Em caso de meningoencefalite
herpética, o diagnóstico é feito por reação em cadeira da polimerase
e análise do liquor (hemácias, pleocitose, aumento de proteínas, sem
alteração da glicose), além de eletroencefalograma e ressonância
nuclear magnética com lesões destrutivas no lobo temporal
(anormalidade clássica), edema e hemorragia parenquimatosa.
9.5.3 Tratamento
Deve ser realizado com aciclovir, medicamento inibidor seletivo da
replicação viral na dose de 60 mg/kg/d IV, a cada 8 horas, por 14
dias, prolongando-se para 21 dias quando há o envolvimento do SNC.
Em gestantes com HSV genital, lesões primárias ou recorrentes,
deve-se optar por parto cesárea.
9.6 SÍFILIS CONGÊNITA
3. Acompanhamento laboratorial:
a) É obrigatório, com seguimento sorológico dos casos. Deve-se
realizar VDRL com 1, 3, 6, 12, 18 e 24 meses, interrompendo quando
há negativação. Diante de elevações de títulos sorológicos ou não
negativação desses até os 18 meses, recomenda-se reinvestigação.
9.9 HIV
A transmissão vertical é a forma predominante de na aquisição de
HIV por essa população. A taxa de transmissão gira ao redor de 15% a
40%, sendo mais alta nos países em desenvolvimento e na ausência
de medidas profiláticas. A transmissão pode ocorrer durante todo o
pré-natal, parto ou pela amamentação. O maior risco ocorre no
momento do parto, pela exposição da pele e mucosa do concepto ao
sangue e secreções maternas, além da transfusão materno fetal.
9.9.1 Diagnóstico
Como a transmissão costuma ser periparto, as crianças são
assintomáticas ao nascimento. Deve ser realizada intervenção
profilática de acordo com a sorologia e carga viral materna, e
seguimento sorológico do lactente.
9.9.2 Tratamento
O tratamento é, na verdade, a profilaxia da infecção pelo vírus. Com
relação à via de parto, se a mãe tem carga viral maior do que mil
cópias ou essa avaliação foi realizada antes das 34 semanas de
gestação, está indicada a via cirúrgica (cesariana). Caso contrário,
especialmente se a carga viral for indetectável, a via de parto é por
indicação obstétrica, podendo ser vaginal. Entretanto deve-se evitar
o uso de fórcipe, evitar a episiotomia sempre que possível e outros
procedimentos que traumatizem mucosa. Se houver possibilidade de
o bebê nascer empelicado, sem rotura da membrana amniótica, é
ainda melhor, para evitar a infecção. A ligadura do cordão deve ser
imediata. Além disso, está indicada a administração de AZT IV para
todas as parturientes, pelo menos 4 horas antes do parto, sempre
que possível, independentemente da carga viral e de resistência
prévia a essa medicação.
Imediatamente após o nascimento a criança deve ser higienizada
com compressas macias e lavada com água e sabão. Aspirar vias
aéreas apenas se for necessário, e de forma delicada, a fim de evitar
traumatismos na mucosa.
O RN deve começar a receber AZT nas primeiras 8 horas de vida, e
deve-se mantê-lo durante as primeiras 6 semanas de vida. A
profilaxia para Pneumocystis jiroveci, com sulfametoxazol-
trimetoprima iniciado entre 4 e 6 semanas de vida.
O aleitamento materno é contraindicado; na alta da maternidade o
paciente deve ser encaminhado para serviço de referência, para
seguimento.
9.10 HEPATITE B
Em geral a transmissão desse vírus ocorre no momento do parto, e
as crianças costumam apresentar sintomas entre 1 e 3 meses de
idade – uma vez que o período de incubação do vírus é de 45 a 180
dias. São fatores de risco para transmissão vertical infecção materna
no terceiro trimestre da gestação, títulos de AgHBs maternos,
positividade do HbE materno e AgHBs positivo no sangue do cordão
umbilical. Não há contraindicação para parto vaginal nem para o
aleitamento materno, mas essas crianças devem receber
imunoprofilaxia adequada. O risco de cronicidade é de 90 a 95% nos
casos de transmissão vertical da hepatite B.
9.10.1 Diagnóstico
A maioria das crianças são assintomáticas no período perinatal, e
pode haver discreta ascensão de transaminases. O diagnóstico
costuma ser feito pela sorologia materna, e posterior manutenção
desta no lactente.
9.10.2 Tratamento
O tratamento na realidade visa em evitar o contágio do RN; deve-se
fazer a triagem universal de todas as gestantes com sorologia para
hepatite B, vacinação universal de todos os RNs logo após o
nascimento (profilaxia pré-exposição); RNs filhos de mãos AgHBs+
devem receber imunoglobulina humana nas primeiras 12 horas de
vida, (profilaxia pós-exposição), além da vacina. Deve ser realizado
seguimento de sorologia do RN. Por hora não há tratamento para a
forma crônica de hepatite B.
9.11 VARICELA
A transmissão em geral ocorre no período pós-natal, com riso de
varicela disseminada. Portanto, é mais grave se ocorre ao final da
gestação.
9.11.1 Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, pelo quadro materno de doença aguda.
9.11.2 Tratamento
Os RNs de mães que desenvolveram o quadro de varicela entre 5 dias
antes e o 2 dias após o parto devem receber imunoglobulina
específica para varicela-zóster; o aleitamento não é contraindicado,
mas a mãe deve utilizar máscara cirúrgica como isolamento do RN,
bem como não deve haver o contato do bebê com lesões maternas. O
RN deve ser mantido em isolamento por 28 dias, por ser um
potencial transmissor da doença.
Quais recém-nascidos
devem ser investigados
para sífilis congênita e
como devem ser tratados?
1. RN de mãe não tratada ou com tratamento incompleto:
a) É considerada mãe com tratamento incompleto nas
seguintes situações:
▪ Uso de tratamento não penicilínico ou por tempo
inadequado;
▪ Tratamento iniciado há menos de 30 dias do nascimento
(é considerado tratamento incompleto para sífilis todo
tratamento não finalizado até 30 dias antes do parto);
▪ Parceiro não tratado durante a gestação;
10.3 ETIOLOGIA
A bronquiolite, como já abordado, é uma doença viral das vias aéreas
de pequeno calibre. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o principal
agente etiológico, seguido por rinovírus, adenovírus,
metapneumovírus, parainfluenza, influenza, coronavírus e outros.
Agentes etiológicos:
a) VSR (50% a 80%);
b) Rinovírus (20%);
c) Influenza (10% a 20%);
d) Parainfluenza (10% a 30%);
e) Adenovírus (5% a 10%);
f) Metapneumovírus (10%).
10.5 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da bronquiolite é clínico:
1. Anamnese: paciente menor de 2 anos de idade, com histórico de
infecção de vias aéreas superiores, e após terceiro ao quarto dia de
histórico de evolução com sinais de desconforto respiratório –
taquipneia, tiragens – hipoxemia, má aceitação alimentar e/ou
dificuldade na amamentação;
2. Exame físico: sibilos e estertores, taquipneia, tiragens, hipoxemia.
10.7 PREVENÇÃO
A principal forma de prevenção é evitar o contato com os vírus
causadores da bronquiolite. Isso é feito evitando o contato da criança
com outras pessoas doentes, não frequentando locais fechados e
aglomerados e creche nos primeiros meses de vida, e mantendo
adequada higiene ambiental e das mãos. Além disso, evitar o
tabagismo passivo também reduz o riso e a gravidade dos episódios
de bronquiolite. O aleitamento materno é um importante fator
protetor, pela passagem de anticorpos para o lactente.
Além disso, um grupo restrito de lactentes têm a indicação do uso de
palivizumabe, um anticorpo monoclonal, recombinante, contra a
glicoproteína de superfície do VSR. É uma forma de imunização
passiva contra o vírus. Ele é administrado via intramuscular, mensal,
por até 5 meses, durante o período de sazonalidade, que varia de
acordo com a região, mas no Brasil é entre fevereiro e junho ou
março e julho. O palivizumabe é fornecido gratuitamente pelo
governo para os grupos de risco, a saber:
a) Lactentes nascidos com 28 semanas de idade gestacional ou
menos, até 28 semanas e 6 dias, durante a primeira sazonalidade do
VSR, quando esta ocorre durante os primeiros 12 meses de vida;
b) Lactentes menores de 2 anos, até 1 ano, 11 meses e 29 dias, com
doença pulmonar crônica da prematuridade – displasia
broncopulmonar – ou doença cardíaca congênita com repercussão
hemodinâmica;
c) Lactentes no primeiro ano de vida portadores de anormalidades
pulmonares ou neuromusculares que alterem a capacidade de
clareamento das secreções das vias aéreas superiores.
d) Menores de 24 meses que estão ou estarão com imunossupressão
e/ou imunodeficiência profunda durante a sazonalidade do VSR.
11.1 DEFINIÇÃO
A asma é definida como uma doença inflamatória crônica,
caracterizada por hiper-responsividade das vias aéreas inferiores e
limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou
com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios
recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse,
particularmente à noite e pela manhã, ao despertar.
Costuma-se definir o quadro asmático a partir dos 2 anos de idade.
Isso porque é difícil diferenciar, até essa idade, um quadro de
bronquiolite de um quadro asmático. Porém é sabido que filhos de
pais asmáticos ou atópicos, sibilância recorrente, início dos quadros
ainda muito jovem e presença de chiado/sibilância na ausência de
quadro viral, nos primeiros 2 anos de vida, aumentam o risco de que
o paciente venha a ser asmático. Além disso, muitos pacientes
asmáticos têm resolução dos quadros após 5 anos de idade.
11.2 EPIDEMIOLOGIA
Na faixa etária pediátrica, o estudo International Study of Asthma
and Allergies in Childhood, realizado em algumas cidades
brasileiras, revela a prevalência da asma entre 4,7 e 20,7% nas
idades entre 6 e 7 anos e 4,8 e 21,9% entre 13 e 14 anos, ou seja, os
índices permanecem ao redor de 20% para ambas as faixas etárias.
Segundo dados obtidos no DATASUS, ocorrem, em média, 350 mil
internações anuais por asma, constituindo-se a quarta causa de
hospitalização no Sistema Único de Saúde e a terceira causa entre
crianças e adolescentes; representa aproximadamente 7% das
internações em UTI. É a doença crônica mais frequente na infância
em todo o mundo.
11.3 FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia é bastante complexa, mas a asma resulta da
interação de fatores genéticos e ambientais que contribuem para o
desenvolvimento de hiper-responsividade brônquica e edema das
vias aéreas.
As alterações genéticas, ainda não totalmente esclarecidas,
contribuem para o desequilíbrio do sistema imunológico e
predomínio de resposta direcionada a linfócitos T do tipo Th2, que
sintetizam e liberam citocinas como IL-4, IL-5 e IL-13, cujas ações
estão relacionadas ao aumento da síntese de imunoglobulina E
sérica, à proliferação e à maturação de eosinófilos. Deste modo, a
pesquisa do lavado broncoalveolar de pacientes com asma pode
revelar infiltrado celular com elevado conteúdo eosinofílico e
linfocitário. Há evidências de alterações genéticas que levam ao
comprometimento da musculatura brônquica e da organização
histológica dos brônquios, especialmente as fibras elásticas.
Existem, ainda, outros componentes envolvidos que fazem que as
alterações fisiopatológicas desencadeadas por fatores genéticos
sejam complexas e variadas na asma. Atualmente, assume-se que a
asma compreenda um conjunto de diferentes doenças com fenótipos
diferentes.
Somados à genética, e não menos importantes, são os fatores
ambientais, que podem facilitar o desencadeamento de uma crise e
agravar o quadro. Dentre esses fatores, destacam-se os relatados de
fatores ambientais:
1. Alérgenos, em especial os aeroalérgenos: com ênfase nos ácaros
da poeira domiciliar, Dermatophagoides pteronyssinus e Blomia
tropicalis, nos epitélios de animeis e gato e nos insetos como a barata;
2. Agentes infecciosos: principalmente os vírus, importantes
desencadeadores de crises nos primeiros anos de vida, com destaque
para opara o vírus sincicial respiratório e o rinovírus, além do vírus
influenza, adenovírus e parainfluenza;
3. Irritantes: especialmente os poluentes externos, resultantes da
queima de combustíveis em automóveis e indústrias;
4. Fumo: um dos agentes mais deletérios ao pulmão, cujas inúmeras
substâncias tóxicas contribuem para lesão pulmonar direta, piora de
hiper-responsividade brônquica e aumento de secreção.
5. Exercício físico/estresse;
6. Doença do refluxo gastroesofágico;
7. Baixa aderência ao tratamento.
Quadro 11.3 - Equivalência dos principais corticoides inalatórios utilizados no Brasil – para
crianças de 6 a 11 anos
Fonte: adaptado de Global Initiative for Asthma (GINA), 2019.
a) Monitorização, oxigenoterapia,
b) Administração de corticosteroide – 2 mg/kg de metilprednisolona
(máximo de 125 mg) ou hidrocortisona 4 mg/kg intravenosa em dose
de ataque;
c) Hidratação intravenosa (fase rápida);
d) Inalação com beta-2-agonista + brometo de ipratrópio a cada 20
minutos durante 1 hora;
e) Encaminhamento para a Urgência;
f) Se persistência do quadro grave, está indicado sulfato de magnésio
e/ou terbutalina IV (broncodilatador venoso).
12.1.3 Fisiopatologia
Trata-se de uma doença crônica nasal, caracterizada por processo
inflamatório com mastócitos, eosinófilos e linfócitos que liberam
citocinas e mediadores inflamatórios que levarão a vasodilatação,
estímulo de nervos sensoriais e edema local. Os alérgenos
apresentam papel importante no desencadeamento dos sintomas,
pois indivíduos sensibilizados produzem imunoglobulinas E séricas
específicas a cada uma das proteínas alergênicas. Os ácaros da poeira
domiciliar (Dermatophagoides pteronyssinus e Blomia tropicalis),
epitélios de cães e gatos, baratas e fungos são os principais
aeroalérgenos relacionados à etiopatogenia da RA, destacando-se
que alérgenos alimentares raramente estão envolvidos nesses
quadros.
12.1.4 Manifestações clínicas
A RA é caracterizada por espirros em salva, prurido, coriza hialina,
congestão nasal e, algumas vezes, gotejamento pós-natal. Outros
sintomas menos evidentes podem estar relacionados, como
epistaxes recorrentes e hiposmia. Tais sintomas contribuem para um
processo respiratório inadequado.
Aspectos fundamentais são o comprometimento da qualidade de
vida e a facilitação de comorbidades, com destaque para as sinusites
recorrentes, os distúrbios do sono, as conjuntivites alérgicas, as
otites serosas e, especialmente, a asma. A correlação direta com esta,
relacionada a fatores anatômicos e fisiopatológicos, permite que
intervenções terapêuticas na mucosa nasal causem impacto positivo
na melhora dessa doença.
A respiração bucal pode estar presente no paciente com RA e
determinar, em longo prazo, alterações diversas, como perda de
volume e elasticidade das narinas pelo desuso, mucosa nasal pálida,
proliferação de adenoides por falta de ventilação, falta de filtração e
aquecimento do ar à respiração. Pode causar, ainda, alterações no
maxilar e na mandíbula (hipodesenvolvimento e menor espaço para
erupção dentária adequada), alterações do metabolismo basal,
obstrução da tuba auditiva (secreção e falta de aeração das vias
respiratórias), sorriso gengival e aerofagia. As alterações posturais
(maior extensão da cabeça em relação à coluna cervical), sono
agitado e irregular, alteração ocasional no traçado encefalográfico e
síndrome da apneia obstrutiva do sono também podem ser
consequentes à respiração bucal.
Exame físico:
a) “Saudação alérgica”, quando a criança empurra a ponta do nariz
para cima com a mão, formando uma prega nasal horizontal;
b) Palidez facial associada a olheiras;
c) Dupla linha de Dennie-Morgan – dupla linha que aparece sob os
olhos;
d) Achatamento dos malares e palato arqueado;
e) Epistaxe;
f) Prurido e lacrimejamento ocular;
g) Prurido do conduto auditivo externo, no palato e na faringe;
h) Congestão nasal;
i) Cefaleia ou otalgia;
j) Diminuição da acuidade auditiva, sensação de ouvido tampado ou de
estalidos durante a deglutição;
k) Congestão nasal crônica – respiração oral, roncos voz nasalada a
alterações no olfato;
l) Irritação e secura na garganta – respiração oral;
m) Má oclusão dentária;
n) Tosse possivelmente presente.
12.1.5 Classificação
Com relação ao tempo de duração, a RA pode ser classificada em:
a) Persistente – quando os sintomas ocorrem por mais de 4 dias por
semana e por mais de 4 semanas consecutivas;
b) Intermitente – quando os sintomas ocorrem por menos de 4 dias por
semana ou menos de 4 semanas.
b) Corticoterapia
12.2.3 Fisiopatologia
À semelhança de outras doenças alérgicas, a DA resulta da interação
entre fatores genéticos e ambientais que culminam em intenso
processo inflamatório cutâneo e comprometimento da barreira
epidérmica. Dentre os fatores ambientais, podemos citar irritantes
que causam prurido, mudanças climáticas, estresse materno durante
a gravidez, tabagismo passivo e alguns alimentos. Ao perder sua
integridade, a epiderme apresenta aumento da perda de água e
desestruturação de suas camadas lamelares, resultando em pele
xerótica com maior facilidade de descamação.
Entre as alterações genéticas que levam ao comprometimento da
barreira cutânea, incluem-se alterações qualitativas e quantitativas
na síntese de ceramidas, defeitos na produção de ácidos graxos e
comprometimento dos queratinócitos. Dentre as alterações
imunológicas, destacam-se aumento da síntese de imunoglobulina E
(IgE), maior produção de citocinas – interleucina 4 (IL-4),
interleucina 13 (IL-13), interleucina (IL-22) e interleucina (IL-31) –
diminuição da resposta imunológica celular e diminuição da
imunidade inata. Os fatores ambientais que podem contribuir para a
piora do quadro de DA são agentes infecciosos (principalmente
Staphylococcus aureus), aeroalérgenos (como o ácaro da poeira
domiciliar), alérgenos alimentares (os mais implicados são clara de
ovo, leite de vaca e trigo) e fatores irritativos e emocionais.
A infecção por S. aureus é a principal complicação da doença. A
bactéria coloniza cerca de 10% da pele da população normal. Já nos
pacientes com DA, a incidência aumenta para mais de 90%. Os
fungos também são fatores desencadeantes de DA, principalmente
os do gênero Malassezia. São encontrados principalmente nas lesões
do pescoço e da face e nos adolescentes.
12.2.4 Quadro clínico
As manifestações clínicas iniciam-se, em 90% dos casos, antes dos 5
anos e antes dos 12 meses de vida em 60% dos casos.
As características clínicas comuns a todos os atópicos são prurido
intenso e xerose cutânea.
O eczema é definido como uma lesão inflamatória não contagiosa da
derme e da epiderme. Em lactentes jovens, os sintomas podem ser
inquietação, irritabilidade e dificuldade de dormir. Além das lesões
clássicas, existem outros sinais importantes e frequentes na DA:
prega infraorbital de Dennie-Morgan, sinal de Hertog (diminuição
dos cílios superiores na porção lateral), xerose, pitiríase alba,
hiperlinearidade palmoplantar, ceratose pilar, dermografismo
branco, descamação das pontas dos dedos, eczema palpebral, entre
outros.
Entretanto, o espectro clínico é bastante variado, muitas vezes
dificultando o diagnóstico da enfermidade. Hanifin e Rajka, em 1980,
estabeleceram critérios para o diagnóstico da doença, dividindo-os
em 2 categorias: maiores e menores; de acordo com tal classificação,
para diagnóstico, são necessários 3 ou mais critérios maiores e, ao
menos, 3 critérios menores.
São critérios para diagnóstico:
1. Critérios clínicos maiores ou absolutos (3 ou mais):
a) Prurido;
b) Morfologia e distribuição típica das lesões – envolvimento
extensor e facial em crianças e liquenificação e linearidade
flexural em adultos;
c) Dermatite crônica recidivante;
d) História pessoal ou familiar atopia.
2. Critérios clínicos menores ou relativos (3 ou mais):
a) Exame dermatológico:
Asteatose;
Hiperlinearidade palmar;
Queratose pilar;
Ictiose vulgar;
Prega infraorbitária de Dennie-Morgan;
Pitiríase alba;
Dermografismo branco;
Palidez ou eritema facial;
Queilite;
Eczema de mamilo;
Pregas anteriores no pescoço;
Acentuação perifolicular;
Escurecimento periorbital;
Alopecia areata;
Sinal de Hertog – rarefação nas sobrancelhas.
b) História clínica:
Início precoce de doença;
Tendência a infecções cutâneas;
Conjuntivites recorrentes;
Tendência a dermatites inespecíficas de mãos e pés;
Curso influenciado por fatores ambientais;
Curso formado por fatores emocionais;
Hipersensibilidade alimentar;
Prurido com sudorese;
Urticária colinérgica;
Enxaqueca;
Hipersensibilidade ao níquel;
Elevação da lgE sérica;
Hipersensibilidade cutânea do tipo 1;
Catarata;
Ceratocone.
Figura 12.6 - Criança com placas em base eritematosa e crostas na região da panturrilha
direita
Figura 12.7 - Lesões de dermatite atópica: (A) face poplítea e (B) fossa cubital
12.2.5 Diagnóstico
O diagnóstico da é clínico. Exames laboratoriais podem ser úteis para
a determinação dos fatores desencadeadores.
A presença de eosinofilia no sangue periférico e de níveis elevados de
IgE sérica comumente é vista em pacientes com DA. Entretanto,
cerca de 20% não apresentam alterações nos níveis de IgE.
Os testes do tipo radioallergosorbent (RAST) são métodos in vitro
para a detecção de IgEs séricas específicas. São indicados a pacientes
com DA cuja área de pele envolvida seja extensa e grave, embora
apresentem, em geral, menor valor preditivo para a maioria dos
alérgenos do que os testes epicutâneos.
Testes epicutâneos (prick tests) e para determinação de IgEs
específicas no soro podem ser úteis para apontar possíveis fatores
desencadeadores da DA, sendo muitas vezes necessários outros
testes para confirmação diagnóstica.
O teste de contato para atopia – Atopy Patch Test (APT) é um exame
novo para a identificação de alérgenos provocadores de eczema nos
pacientes com DA. A resposta positiva ao APT representa a reação
imunológica mediada por linfócitos T ou uma reação de fase tardia
mediada por IgE. Trata-se de um recurso usado no diagnóstico de
alergia alimentar associada a DA.
Se refratária a tratamento, a cultura da pele afetada pode fornecer
informações a respeito de superinfecção por bactérias e fungo.
12.2.5.1 Diagnóstico diferencial
1. Outras dermatites:
a) Dermatite seborreica;
b) Dermatite de contato;
c) Eczema numular;
d) Dermatite de fraldas.
2. Doenças infecciosas:
a) Foliculites por Staphylococcus;
b) Herpes-simples;
c) Escabiose.
3. Imunodeficiências:
a) Síndrome de Wiskott-Aldrich;
b) Síndrome de hiper-IgE;
c) Síndrome de DiGeorge;
d) Síndrome de Sézary;
e) Imunodeficiência combinada grave.
4. Doenças neoplásicas:
a) Linfoma cutâneo de células T;
b) Histiocitose de células de Langerhans.
5. Doenças metabólicas:
a) Fenilcetonúria;
b) Tirosinemia;
c) Deficiência de ácidos graxos essenciais;
d) Acrodermatite enteropática;
e) Psoríase;
f) Ictioses.
6. Dermatite de fralda: dentre os diagnósticos diferenciais, a dermatite
de fraldas se destaca pela frequência com que ocorre. A apresentação
clínica é lesão eritematosa, brilhante, com variação na intensidade
conforme a evolução. Acomete primordialmente as regiões onde há
maior contato com a fralda: superfícies convexas das nádegas, coxas,
parte inferior do abdome, pube, grandes lábios e escroto. É comum a
infecção concomitante por Candida. A dermatite de fraldas também é
conhecida como dermatite “em W”, como ilustra a Figura 12.8.
12.2.6 Tratamento
O tratamento da DA envolve abordagem ampla que visa à diminuição
dos sintomas e à restauração da barreira cutânea.
Após orientação aos pais e pacientes, o tratamento deve ser
planejado com perspectivas em longo prazo, por se tratar de uma
doença crônica. Deve ser preconizado:
1. Afastar fatores irritantes:
a) Vestuário inapropriado;
b) Sabonetes agressivos;
c) Banhos quentes e demorados;
d) Unhas grandes.
.
2. Afastar alérgenos: se houver alergia alimentar, realizar dieta de
exclusão; na maioria das crianças, os alérgenos alimentares
envolvidos são ovo, leite e trigo.
13.1.3 Patogenia
O desenvolvimento de AA é resultado da interação de alguns fatores,
como a suscetibilidade do paciente, determinada por fatores
genéticos, as características do alimento, que o tornem alergênico,
fatores locais, que levam ao comprometimento da barreira do trato
gastrintestinal, a microbiota intestinal e a maturidade do sistema
imunológico do trato gastrintestinal.
A modulação da microbiota intestinal, importante fator de regulação
da barreira gastrintestinal, também pode sofrer influência da
herança genética e de fatores que ainda necessitam ser mais bem
determinados, como o tipo de parto, o uso de antiácidos e
antibióticos ou o contato precoce com o tabaco. As características
dos alimentos para que se tornem alergênicos incluem sua
capacidade de manutenção da atividade alergênica após cozimento e
todo o processo digestivo.
A fisiopatologia das alterações relacionadas à AA é complexa.
Inúmeros mecanismos imunológicos podem estar envolvidos. Vale
ressaltar que as reações adversas a alimentos se subdividem, por
critérios fisiopatológicos, em:
1. Intolerância alimentar: hipersensibilidade não alérgica a alimentos –
que compreende as reações não imunológicas, agentes tóxicos,
farmacológicos, deficiências enzimáticas, idiossincrasias ou reações
psicogênicas;
2. AA: envolve reações imunológicas.
13.1.4 Diagnóstico
A anamnese é o principal elemento no diagnóstico. A descrição dos
sintomas é fundamental para avaliar a real possibilidade de AA, pois,
ocasionalmente, o paciente ou os familiares podem atribuir à
ingestão do alimento sintomas não relacionados ao quadro. Os
episódios mais recentes devem ser descritos de maneira detalhada,
pois são os que reproduzem de forma mais fidedigna a sequência de
eventos após o contato com o alimento suspeito. Por meio de
adequada história clínica, é possível determinar o alimento suspeito,
avaliando a idade de sua introdução e a época de aparecimento dos
sintomas, sendo importante pesquisar se houve mais de 1 exposição
ao alimento e se o sintoma se repetiu em todas as ocasiões.
A quantidade ingerida pode auxiliar no diagnóstico do mecanismo
envolvido, pois manifestações mediadas por IgE podem ocorrer com
quantidades mínimas do alérgeno. Como exemplo: respirar em um
ambiente em que houve manipulação recente do alimento pode ser
suficiente para deflagrar o sintoma clínico. O conhecimento dos
hábitos familiares e a confecção de um recordatório alimentar
podem ser úteis para resgatar preparações que contenham o
alérgeno oculto, como nos derivados ou nos alimentos
industrializados.
Agravos relacionados ao trato gastrintestinal devem ser
pesquisados, pois processos inflamatórios intestinais podem
facilitar a sensibilização a alimentos. No caso de alergia à proteína
do leite de vaca, é importante questionar se houve, já no berçário,
administração de leite por mamadeira. Outros dados, como tempo de
aleitamento materno, presença de outras alergias e atividade física
após refeição são informações úteis ao diagnóstico.
#IMPORTANTE
Após anamnese cuidadosa, é possível
determinar, na maior parte das vezes, o
mecanismo fisiopatológico envolvido na AA, se
IgE mediado ou não, e os alimentos suspeitos.
13.2.3 Diagnóstico
13.2.5 Tratamento
O tratamento tem 2 grandes objetivos: controle da crise e prevenção
de novos eventos. Durante a crise, a rapidez na elucidação do
diagnóstico e na instalação de medidas terapêuticas será
fundamental para o êxito do tratamento. São importantes as
medidas de suporte básico e avançado de vida.
Três aspectos são fundamentais no manejo da anafilaxia:
administração rápida de adrenalina, decúbito dorsal com membros
inferiores elevados e manutenção adequada da volemia.
A adrenalina é a droga-chave na anafilaxia, e a sua rápida
administração garante diminuição da mortalidade. Deve ser sempre
administrada por via intramuscular, na região do vasto lateral da
coxa, na dose de 0,2 a 0,5 mL – 0,01mg/kg em crianças, máximo de
0,3 mg – e pode ser repetida a cada 5 ou 15 minutos, dependendo da
evolução do quadro.
A adrenalina é a droga-chave na anafilaxia e sua
via de administração é intramuscular (vasto
lateral da coxa).
Na sequência, outros fármacos são administrados, incluindo-se
beta-2-agonistas para reversão de broncoespasmo (salbutamol por
aerossol dosimetrado na dose de 1 jato/2kg, no máximo 10 jatos),
anti-histamínicos (difenidramina por via intravenosa, na dose de
1mg/kg, dose máxima de 50mg) e corticosteroides, os últimos
atuantes somente na fase tardia do processo.
A fluidoterapia com solução fisiológica ou Ringer lactato é
fundamental nos casos com hipotensão, e drogas como glucagon (5 a
15 µg/min) podem ser indicadas a pacientes que utilizam
betabloqueadores normalmente, impedindo o adequado efeito
farmacológico da adrenalina. Também são necessárias doses mais
elevadas de adrenalina nesses casos. Pacientes com asma mal
controlada têm maior risco de complicações e reações fatais.
Os pacientes devem ficar em observação por, no mínimo, 6 a 8 horas
nos casos leves e 24 a 48 horas nos casos graves. Na alta, devemos
orientar sobre a possibilidade de recorrência dos sintomas em 12
horas após o episódio. Para evitar a recorrência, prescreve-se
corticoide oral (1 a 2 mg/kg/d em dose única) por 5 a 7 dias. Além
disso, anti-histamínicos (anti-H1) de segunda geração, como
desloratadina ou fexofenadina, devem ser usados por 7 dias.
A estratégia de prevenção é tão importante quanto o tratamento da
crise. O paciente deve ser encaminhado ao especialista para ser
detectado o agente desencadeador e receber orientações sobre como
evitá-lo. Deve ser delineado um plano de ação para o paciente, que
utilizará um dispositivo de identificação e, de preferência, portará
um dispositivo de adrenalina auto injetável com dose fixa (0,3 ou
0,15 mg para crianças), o que torna seu uso limitado a crianças com
menos de 15 kg.
Como diagnosticar alergia à
proteína do leite de vaca no
lactente?
Deve-se suspeitar de Alergia a Proteína do Leite de Vaca
(APLV) no paciente com baixo ganho ponderal,
irritabilidade, cólica/refluxo de difícil controle, diarreia,
vômito, sangramento nas fezes, e ainda em quadros de
sibilância recorrente sem outra causa aparente e dermatite
de difícil controle.
Quando suspeitado, deve-se excluir da proteína do leite de
vaca da dieta do paciente (e, em caso de aleitamento
materno, exclusão da proteína do leite de vaca da dieta
materna), e reexposição em 14 dias. Se há melhora com a
retirada e exacerbação com a exposição, o diagnóstico de
APLV está firmado.
Quando suspeitar de
complicação bacteriana
sobreposta a um quadro
respiratório viral na criança
e adolescente?
14.1 INTRODUÇÃO
A incidência das doenças respiratórias na criança vem aumentando
nas últimas décadas por inúmeros fatores, dentre os quais podemos
citar as alterações do meio ambiente, em decorrência da progressiva
urbanização da população infantil, com piora da qualidade do ar
inalado intra e extradomiciliar, associada a tabagismo e mudança do
estilo de vida familiar.
A inclusão da mão de obra feminina no mercado de trabalho
determinou a inserção cada vez mais cedo da criança em creches e
escolinhas, fato que também propiciou o desmame precoce, com
consequente introdução do leite de vaca e de alimentos
industrializados, possibilitando a ocorrência de infecções virais mais
precoces principalmente das vias aéreas superiores e do trato
gastrintestinal e o aparecimento de alergia alimentar.
As Infecções Respiratórias Agudas (IRAs) incluem um extenso grupo
de doenças respiratórias, de grande importância na faixa pediátrica,
uma vez que correspondem ao principal motivo de atendimento nos
serviços de Unidade Básica de Saúde e nos serviços de urgência e
emergência em Pediatria. As IRAs subdividem-se, do ponto de vista
anatomoclínico, em doenças das vias aéreas superiores e doenças
das vias aéreas inferiores. O ponto anatômico de divisão entre as vias
superiores e as vias inferiores encontra-se na carina, no limite de
bifurcação da traqueia. Os agentes etiológicos mais frequentes são os
virais, seguidos pelos bacterianos.
Na faixa pediátrica, vários fatores de risco concorrem para predispor
a criança a desenvolver IRAs, com elevação da gravidade e da
mortalidade.
Fatores de gravidade e mortalidade:
a) Prematuridade;
b) Baixo peso ao nascer;
c) Baixo nível socioeconômico;
d) Desmame precoce;
e) Desnutrição energético-proteica;
f) Baixa cobertura vacinal;
g) Aglomerações de pessoas – creches, escolas;
h) Tabagismo familiar e/ou domiciliar;
i) Número elevado de crianças menores de 5 anos;
j) Dificuldade de acesso aos serviços de saúde.
14.2.11 Complicações
A complicação mais comum é a Otite Média Aguda (OMA), em razão
da disfunção tubária concomitante. A OMA após rinofaringite aguda
ocorre em até 30% dos casos. Outras complicações possíveis são as
rinossinusites, bronquites, laringotraqueítes e pneumonias. As
viroses respiratórias são também apontadas como desencadeantes
de sibilância, especialmente em lactentes.
14.2.12 Prevenção
As principais medidas preventivas para o resfriado comum se
referem aos cuidados na transmissão viral, como a lavagem das
mãos, o uso de lenços e máscaras descartáveis. Outras medidas
também podem ser muito úteis e são recomendadas:
a) Evitar contato com pessoas infectadas, principalmente lactentes até
3 meses e imunodeprimidos;
b) Em épocas de surtos de infecções virais, evitar aglomerações;
c) Ventilação – manter arejados os ambientes em que a criança
permanece (domiciliar, escola e creche).
Em caso de crianças frequentadoras de creche com infecções virais
recorrentes, avaliar os benefícios da permanência na creche.
Crianças resfriadas que necessitem de cirurgia com anestesia geral
devem ter esse procedimento adiado por 6 semanas.
14.3 INFLUENZA – SÍNDROME GRIPAL
14.3.1 Definição
A gripe é uma síndrome clínica – doença infecciosa epidêmica aguda
– causada pelo vírus influenza tipos A e B, que se diferencia do
resfriado comum (nasofaringites virais) pela sua maior repercussão
sistêmica – febre, mialgia, cefaleia, mal-estar e prostração – e pelo
acometimento mais extenso da árvore respiratória (trato
respiratório superior – faringe e laringe – e inferior – bronquíolos
ou parênquima pulmonar), não se limitando à mucosa da
nasofaringe.
14.3.2 Etiologia
É causada apenas pelo vírus influenza, um vírus RNA grande, da
família ortomixovírus e do gênero influenza. Diferentemente dos
demais, o influenza tem uma característica própria: incrível
capacidade mutagênica. Suas inúmeras mutações sucessivas ao
longo do tempo e do espaço produziram diversos subtipos e uma
infinidade de variantes ou cepas. Existem 3 grandes tipos
sorológicos: os vírus influenza A, B e C; essa subdivisão baseia-se
nas diferenças antigênicas da nucleoproteína e da proteína de
matriz.
Nos tipos A e B, os principais determinantes antigênicos são as
glicoproteínas de superfície, hemaglutininas e neuraminidase. O tipo
C não tem grande importância para o ser humano.
1. Vírus influenza A: parece ser o sorotipo mais importante para o ser
humano, por ser o mais mutagênico e mais virulento. Os vírus
influenza A são divididos em subtipos de acordo com as 2
glicoproteínas do envelope viral: hemaglutinina e neuraminidase.
Atualmente, são reconhecidos 16 tipos da primeira (H1 a H16) e 9 da
segunda (N1 a N9), entre seres humanos e várias espécies animais.
Os vírus influenza adaptados ao homem circularam nos últimos 100
anos. Até 1999, somente 3 diferentes hemaglutininas (H1, H2 e H3) e
2 neuraminidases (N1 e N2) estavam presentes nos vírus humanos;
2. Vírus influenza B: é menos mutagênico e virulento. Apresenta
menos sorotipos e menor variedade de reservatórios animais.
14.3.3 Epidemias
As epidemias sistemáticas de gripe a cada 1 a 3 anos são decorrentes
das chamadas mutações menores (drifts) na estrutura glicoproteica
do vírus, criando novas cepas, enquanto as famosas pandemias –
gripe espanhola de 1918, gripe asiática de 1957 – dependem de
mutações maiores (shifts), modificando o subtipo, e têm ocorrido,
em média, a cada 30 anos.
Em 1947, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a
desenvolver uma estratégia de controle da gripe no mundo,
habilitando diversos “laboratórios de influenza” em vários países.
Atualmente, dispõe-se de 100 laboratórios, distribuídos por 80
países. O objetivo é monitorizar os subtipos e as cepas de influenzas
A e B que estão circulando no planeta. No Brasil, existem 3
laboratórios especializados – em São Paulo, no Rio de Janeiro e em
Belém. Desde 1995, com a criação do Grupo Regional de Observação
da Gripe, reforçado em 2000 com o projeto VigiGripe, as equipes
brasileiras monitorizam os nossos vírus influenza e as nossas
epidemias. A grande importância da monitorização, pela OMS, de
seus sorotipos, subtipos e cepas no mundo é que o conhecimento das
cepas mais prevalentes influi diretamente sobre a composição da
vacina anti-influenza, revista todo ano. Se não for feito esse
exaustivo trabalho, a vacina perderá o seu efeito protetor.
14.3.4 Epidemiologia
A gripe, ou influenza, é uma das infecções das vias aéreas mais
frequentes, e os dados de incidência são impressionantes. Segundo o
Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em 1 ano regular
nos Estados Unidos, cerca de 60 milhões de pessoas são infectadas e
mais de 25 milhões procuram serviços médicos, acarretando, em
média, 226 mil internações e 34 mil mortes, estas últimas
principalmente entre adultos com mais de 65 anos. Em crianças, o
vírus influenza acomete principalmente pré-escolares e escolares,
mas lactentes também apresentam infecção pelo vírus,
especialmente influenza A, sendo maiores as taxas de hospitalização
e mortalidade nesse grupo de pacientes. Embora existam grupos de
maior risco para complicações por influenza, as crianças saudáveis
compõem a maior parte dos quadros de internação.
As crianças também representam papel relevante na propagação do
vírus, uma vez que podem transmiti-lo por período mais longo que
os adultos, sendo uma importante fonte de contaminação para toda
a população, inclusive em creches, nas quais a taxa de infecção pode
exceder 50%.
A infecção pelo vírus influenza tem distribuição global e
transmissibilidade elevada. É único na habilidade de causar
epidemias anuais recorrentes e, menos frequentemente, pandemias,
atingindo quase todas as faixas etárias em curto espaço de tempo. Os
tipos A e B causam epidemias graves a cada 10 a 15 anos e a cada 4 a 7
anos, respectivamente, resultando de desvios antigênicos
profundos.
Na epidemiologia das doenças, podemos considerar a influenza um
problema permanente; a pandemia, um problema iminente e
incerto.
Não há restrições geográficas. Em áreas de clima temperado, a
incidência da doença apresenta padrão sazonal, com picos bem
demarcados durante o inverno. No Brasil, sua epidemiologia é bem
conhecida nas regiões Sul e Sudeste, onde a sazonalidade está bem
caracterizada, ocorrendo nos meses de outono e inverno.
A mortalidade varia de 1% a 8% e está associada a idade,
comorbidades e estado vacinal da população.
14.3.5 Transmissão
Além de ser altamente mutagênico, o vírus influenza possui poder de
transmissão interpessoal muito grande, e, pelo curto período de
incubação – 1 a 3 dias –, os surtos e as epidemias se alastram
rapidamente por comunidades imunologicamente suscetíveis.
O vírus é altamente contagioso, transmitido de pessoa a pessoa por
meio de gotículas ou contato direto com objetos contaminados
recentemente por secreções nasofaríngeas. O paciente é mais
infectante durante as 24 horas anteriores ao início dos sintomas e o
período mais sintomático.
A doença dissemina-se pelas pessoas, atingindo o seu pico em 2 a 3
semanas e dissipando-se em 1 a 2 meses. Uma pessoa pode ter
inúmeras gripes durante a vida, pois cada epidemia é causada por
nova cepa viral, não reconhecida pela sua memória imunológica. O
mecanismo de transmissão principal acontece por via inalatória: o
vírus infecta as células epiteliais ciliadas da árvore respiratória,
sendo eliminado em grande quantidade na fala, na tosse e no espirro.
O vírus influenza destrói o epitélio escamoso e leva a perda da função
ciliar, facilitando a superinfecção bacteriana.
14.3.6 Fatores de risco
Geralmente, é uma doença benigna, autolimitada e de bom
prognóstico, mas pode produzir marcada morbidade na presença dos
fatores de risco listados:
a) Doenças pulmonares:
Broncodisplasia da prematuridade;
Asma;
Fibrose cística.
b) Doenças neurológicas;
c) Doenças cardíacas;
d) Imunodeficiências;
e) Nefropatias;
f) Doenças metabólicas;
g) Doenças que requerem o uso crônico de ácido acetilsalicílico, como
doença de Kawasaki.
14.3.12 Complicações
As complicações secundárias à influenza são responsáveis pelo
aumento da morbidade do quadro, sendo as mais frequentes a OMA,
a pneumonia bacteriana, a miosite e as síndromes neurológicas.
A miosite e a rabdomiólise são causadas principalmente pelo vírus
influenza B. É possível que possa acometer todos os músculos.
Manifesta-se, em geral, com dor e fraqueza nas pernas e
panturrilhas. Os exames laboratoriais ajudam a esclarecer o
diagnóstico. Níveis séricos de creatinoquinase e mioglobina na urina
estão elevados. A duração média é de 5 a 7 dias, com resolução
habitualmente espontânea.
Dentre as síndromes neurológicas que podem se manifestar pós-
gripe, podemos citar doença de Guillain-Barré, meningite asséptica,
mielite transversa e encefalite pós-infecciosa.
14.3.13 Prevenção – vacina anti-influenza
A imunização anual contra influenza tem sido a principal medida
para a profilaxia da doença e a redução da morbimortalidade. As
vacinas são alteradas anualmente, com base nas recomendações da
OMS, de acordo com a mudança dos principais subtipos circulantes.
No Brasil, está disponível a vacina trivalente inativada no serviço
público, que contém 2 subtipos do vírus da influenza A (H1N1 e
H3N2) e 1 subtipo do vírus da influenza B, representando os mais
prováveis no Hemisfério Sul durante o inverno subsequente. Nos
serviços particulares pode ser encontrada a vacina quadrivalente.
Pelo fato de ser inativada não há risco de que a vacina provoque a
doença, mesmo em imunodeprimidos.
Deve ser aplicada anualmente, sempre nos meses de outono, antes
do período epidêmico do vírus. A vacina pode ser aplicada a partir
dos 6 meses de vida, e sua eficácia está diretamente relacionada à
taxa de circulação das cepas vacinais. No primeiro ano devem ser
administradas 2 doses, com intervalo de 1 mês entre elas, e depois
passa a ser anual.
Os estudos demonstraram eficácia de 90% de proteção antigripal e
importante redução da morbimortalidade em idosos e pacientes
debilitados, com comorbidades.
Na rede pública, a vacina está disponível nos Centros de Referência
de Imunobiológicos. Segundo o Ministério da Saúde, as principais
indicações da imunização anual pela vacina anti-influenza estão.
Principais indicações de vacina anti-influenza:
a) Idosos maiores de 60 anos;
b) Crianças de 6 meses a 5 anos;
c) Portadores de HIV e/ou AIDS, incluindo filhos de mães portadoras
de HIV;
d) Transplantados de órgãos sólidos e medula óssea;
e) Doadores de órgãos sólidos e medula óssea devidamente
cadastrados nos programas de doação;
f) Imunodeficiências congênitas;
g) Imunodepressão por câncer ou imunossupressão terapêutica;
h) Comunicantes domiciliares de imunodeprimidos;
i) Profissionais de saúde;
j) Cardiopatias crônicas;
k) Asplenia anatômica ou funcional e doenças relacionadas;
l) Diabetes mellitus;
m) Portadores de doenças pulmonares crônicas, inclusive asma
moderada à grave e fibrose cística;
n) Trissomias, como a síndrome de Down;
o) Implantes de cóclea;
p) Doenças neurológicas crônicas incapacitantes;
q) Doenças de depósito;
r) Usuários crônicos de ácido acetilsalicílico;
s) Portadores de nefropatia crônica, submetidos a hemodiálise e
síndrome nefrótica;
t) Asma;
u) Hepatopatias crônicas.
Fonte: kris4to.
14.6.2 Epidemiologia
A OMA tem probabilidade razoável de recidiva, especialmente na
faixa etária entre 6 meses e 2 anos e que frequenta creche. Quanto
antes ocorre o primeiro episódio, maior é o risco de recorrência ou
doença crônica.
14.6.3 Diagnóstico
Deve-se fazer um estudo imunológico inicial dessas crianças, para a
procura de deficiência de anticorpos da classe imunoglobulina G ou
A, bem como avaliação da presença de fatores de risco, como
exposição à fumaça de cigarro em ambiente doméstico, frequentar
creche, presença de doença do refluxo gastroesofágico e uso de
mamadeira em posição horizontal ou, ainda, de chupeta.
14.6.4 Prevenção
As principais medidas recomendadas para prevenção das otites são:
a) Estimular o aleitamento materno, retardar o ingresso em creches,
evitar fumaça de cigarro, evitar o uso de chupeta e realizar imunização;
b) Vacina anti-influenza – indicada anualmente a partir dos 6 meses,
durante epidemia de influenza;
c) Vacina heptavalente antipneumococos: deve ser considerada em
crianças menores de 2 anos.
14.6.6.4 Mastoidite
14.7.5 Patogênese
A partir da rinossinusite viral, iniciam-se edema e inflamação local,
causando o bloqueio da drenagem dos seios da face, acumulando
líquidos e secreções, favorecendo a proliferação de bactérias,
levando a sinusite bacteriana.
14.7.6 Fatores de risco e prevenção
Vários fatores sistêmicos e locais referentes à criança devem ser
considerados na patogênese da sinusite, como os listados a seguir:
a) IVASs de repetição por permanência em creches;
b) Obstrução anatômica – hipertrofia de adenoides, defeitos do septo
nasal;
c) Rinite alérgica não tratada;
d) Deficiências de anticorpos;
e) Diabetes;
f) Exposição a agentes irritantes – tabaco, poluição, ar seco, água
clorada;
g) Discinesia ciliar primária.
14.7.9 Complicações
As complicações secundárias à sinusite, como celulite periorbital,
abscessos, trombose de seio cavernoso, meningite e osteomielite,
são sempre graves. Dessa forma, o exame físico de casos suspeitos de
sinusite sempre deve buscar sinais de tais complicações.
Figura 14.19 - Celulite periorbitária
Quando suspeitar de
complicação bacteriana
sobreposta a um quadro
respiratório viral na criança
e adolescente?
Complicação bacteriana deve ser suspeitada com paciente
que, durante o curso viral, apresenta febre alta, piora do
estado geral, aumento da quantidade da secreção, presença
de secreção mais esverdeada e espessa. Além disso, sinais
de otite média aguda e abcesso amigdaliano ou
retrofaríngeo também são sinais de complicação
bacteriana.
Quando suspeitar de
laringite e como tratar?
15.1 INTRODUÇÃO
A laringite, a laringotraqueobronquite e a epiglotite formam o grupo
das obstruções agudas inflamatórias das vias aéreas superiores, e
apresentam como sinal clínico comum o estridor. Essas doenças se
manifestam clinicamente por graus variados de obstrução e
inflamação das vias aéreas superiores. Também em conjunto
correspondem à síndrome clínica conhecida como “crupe”, cujos
sintomas em comum são tosse metálica, rouquidão, estridor e
variáveis graus de desconforto respiratório. Quando a etiologia dessa
síndrome é viral, denomina-se crupe viral. Outras etiologias para
síndrome do crupe incluem traqueíte bacteriana e difteria.
A epiglotite é uma patologia supraglótica, enquanto a laringite, a
laringotraqueíte e a laringotraqueobronquite são infraglóticas. O
grupo de doenças virais infraglóticas é denominado crupe viral.
15.2 EPIDEMIOLOGIA
A laringite e a laringotraqueobronquite são mais frequentes nos 2
primeiros anos de vida, sendo também bastante incidentes na faixa
etária que se estende dos 6 meses aos 6 anos. Isso ocorre porque, até
o 2 anos de idade, o calibre das vias aéreas é menor, e qualquer
inflamação ou secreção diminui de forma significativa a luz da via
aérea, com repercussão clínica exuberante.
É um pouco mais comum em meninos, e costuma ocorrer associado
a quadros gripais ou em períodos de mudança abrupta de
temperatura.
A epiglotite é uma doença bacteriana, de curso mais grave e
fulminante, mais comum em criança de 2 a 5 anos de idade.
15.3 FISIOPATOLOGIA
A inflamação aguda das vias aéreas, decorrente de infecção viral ou
bacteriana, no caso da epiglotite, acarreta edema e espasmos
laríngeos, com redução do calibre das vias aéreas.
15.4 ETIOLOGIA
O crupe geralmente é causado por vírus, embora possa ocorrer
infecção bacteriana secundária. Os vírus parainfluenza tipos 1 e 3 são
os mais associados ao crupe em todas as idades, em cerca de 75% dos
casos. Outros vírus envolvidos na etiologia são o sincicial
respiratório, o influenza, o adenovírus e o vírus do sarampo.
A laringotraqueíte bacteriana é uma complicação da laringite viral, e
os principais agentes são S. aureus, M. catarrhalis e H. influenza não
tipável. O Mycoplasma pneumoniae é um agente menos comum
nesses casos, e pode causar casos mais leves.
Já a epiglotite é sempre bacteriana. No período pré-vacinal seu
principal agente etiológico era o H. influenza tipo B. Entretanto, com
a disseminação dessa vacina, houve uma redução significativa no
número de casos e a mudança no perfil de patógenos. Atualmente os
agentes responsáveis por essa condição são o S. pyogenes, S. aureus
e S. pneumoniae.
15.5 QUADRO CLÍNICO
As afecções subglóticas (crupe) iniciam-se com rinorreia clara,
faringite, tosse leve e pode haver febre baixa. Após 12 a 48 horas,
iniciam-se os sintomas de obstrução das vias aéreas superiores,
característicos da síndrome do crupe.
Os achados clínicos caracterizam-se por rouquidão, estridor
inspiratório, tosse ladrante e sinais de desconforto respiratório,
taquipneia e tiragens, que tendem a ser piores à noite. A gravidade
dos sintomas está relacionada ao grau de estreitamento da laringe
ou da traqueia, resultante do processo inflamatório e do edema de
mucosa. Casos mais graves apresentam-se com estridor, mesmo ao
repouso, e estão associados ao desconforto respiratório evidenciado
por batimento de asas de nariz e retrações intercostais. Os sintomas
geralmente se resolvem em 3 a 7 dias, podendo durar até 24 dias nos
casos mais graves.
A epiglotite é um quadro mais grave e agudo, com evolução precoce
para insuficiência respiratória. O paciente apresenta febre alta,
prostração, dor de garganta, rouquidão ou afonia, sialorreia, estridor
inspiratório e dispneia rapidamente progressiva. A criança em geral
se coloca na posição de tripé: sentada para frente, com pescoço
estendido, apoiando-se sobre os braços, com o objetivo de manter
pérvia a coluna aérea. Na laringoscopia é visualizada a epiglote
grande, edematosa, vermelho cereja. Evitar o uso de abaixadores de
língua na suspeita de epiglotite: seu uso pode ocasionar
laringoespasmo, com piora do quadro. A avaliação da epiglote é
realizada no momento da laringoscopia.
15.6 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico das patologias obstrutivas inflamatórias das vias
aéreas superiores é clínico, pela história e exame físico.
Exames de imagem não são necessários, mas caso seja realizado
radiografia de pescoço em perfil é evidenciado o sinal “da torre” ou
sinal “do campanário”: área de dilatação a montante da traqueia,
estreitamento subglótico, distensão da hipofaringe e irregularidade
das pregas vocais. Na epiglotite a radiografia de pescoço apresenta o
sinal “do polegar”: edema da epiglote.
Exames laboratoriais não estão indicados nos quadros virais, e se
colhidos hemograma e exame de PCR não apresentam alterações
significativas. Já na epiglotite há leucocitose com neutrofilia e desvio
à esquerda, e aumento de PCR.
Figura 15.1 - Sinal “do campanário”
Quadro 15.1 - Características das infecções respiratórias agudas das vias aéreas médias
15.6.1 Diagnósticos diferenciais
O crupe diftérico é um importante diagnóstico diferencial das
patologias apresentadas, em que há corrimento nasal seroso ou
serossanguinolento, presença de membrana branco acinzentada
sobre as amígdalas, disfagia importante e ausência de febre. Se há
tentativa de remoção da membrana que recobre a amígdala, com o
abaixador de língua, por exemplo, há sangramento local. A
prevalência do crupe diftérico hoje é baixa, devido à ampla
distribuição da vacina pelo serviço público de saúde.
Outro diferencial é a aspiração de corpo estranho, mas nestes casos o
quadro é súbito, sem antecedente de infecção de vias aéreas
superiores ou resfriado comum.
15.7 TRATAMENTO
O crupe viral é autolimitado, com duração de 3 a 7 dias. O tratamento
é direcionado primariamente ao alívio do desconforto respiratório. O
principal objetivo do tratamento é a manutenção das vias aéreas
patentes.
Nos casos leves – taquipneia e desconforto respiratório ausentes ou
leves, sem hipoxemia e sem piora do estado geral – o tratamento é
feito em ambiente domiciliar, com inalação com soro fisiológico e
sintomáticos.
Nos casos em que há taquipneia ou desconforto respiratório
importante, hipoxemia (SatO2 < 92%) ou acometimento do estado
geral, o tratamento é realizado com corticoide sistêmico e inalação
com adrenalina pura. Hoje já é reconhecida também a ação de
corticoide inalatório no tratamento das laringites (budesonida). A
inalação com adrenalina pode ser realizada apenas em ambiente
hospitalar, e após sua realização é necessário período mínimo de
observação por 6 horas, pelo risco de efeito rebote. A criança deve ser
mantida na forma mais tranquila e confortável possível, muitas
vezes no colo dos pais, para evitar a piora do desconforto
respiratório.
Os pacientes que mantém sinais de gravidade após tratamento
inicial com corticoide e inalação com adrenalina, pacientes que não
tem condições sociais para receber o tratamento domiciliar ou que
não têm condições de retorno breve ao serviço médico devem ser
internados para tratamento hospitalar.
Os pacientes que apresentam desconforto respiratório ou hipoxemia
devem receber suporte ventilatório de acordo com sua necessidade.
Critérios de internação no crupe:
a) Suspeita de epiglotite;
b) Estridor progressivo;
c) Estridor intenso em repouso;
d) Dificuldade respiratória;
e) Hipóxia;
f) Inquietude;
g) Cianose e/ou palidez;
h) Alteração do nível de consciência;
i) Febre alta e sinais de toxemia;
16.1 INTRODUÇÃO
A coqueluche é uma infecção bacteriana do epitélio ciliar do trato
respiratório causada pela Bordetella pertussis, cocobacilo aeróbio
encapsulado isolado somente em humanos. É uma doença altamente
contagiosa, que se transmite durante os acessos de tosse e
eliminação de gotículas. Cursa com tosse prolongada,
tradicionalmente acompanhada por um “guincho” inspiratório e
diferentes graus de desconforto respiratório. Pode ser muito grave
entre as crianças menores de 1 ano, sendo uma das 10 causas mais
comuns de óbito nessa faixa etária. A maioria dos casos acontece em
menores de 12 meses de vida.
16.2 EPIDEMIOLOGIA
Apesar da ampla imunização contra pertussis, a incidência de
coqueluche vem aumentando desde a década de 1990,
principalmente, entre os adultos e adolescentes, mas o predomínio
das notificações permanece entre menores de 1 ano. Dados do
Ministério da Saúde mostram que, no período de 2007 a 2012, de
todos os casos notificados em menores de 6 meses, 51% não haviam
recebido a vacina, 37% haviam recebido 1 dose e 12% haviam
recebido 2 ou mais doses. A principal fonte de contaminação nos
surtos intradomiciliares são os adultos e adolescentes.
A coqueluche é uma doença de notificação compulsória.
16.3 TRANSMISSÃO
A transmissão é feita por eliminação de gotículas durante a tosse. O
período de transmissão se inicia 5 dias após o contato e dura até 3
semanas após o início da tosse paroxística, pode chegar em até 6
semanas nos pacientes com menos de 6 meses. O período de
incubação é de 7 a 21 dias.
16.4 PATOGENIA
A B. pertussis, ao entrar em contato com a mucosa respiratória do
hospedeiro, adere ao epitélio ciliado. A seguir, a bactéria elimina
toxinas e enzimas que irão deflagrar a resposta imunológica do
hospedeiro e provocar os sintomas. Essas enzimas paralisam os
cílios do epitélio respiratório, causando diminuição na eliminação
das secreções. Ocorre lesão do epitélio respiratório com destruição
celular, hemorragias focais, edema e infiltrado peribrônquico.
16.5 QUADRO CLÍNICO
Os sintomas podem variar com a idade do indivíduo, imunidade, o
uso de antibióticos e comorbidades. A doença é classicamente
dividida em 3 fases:
1. Fase catarral: com o período de incubação, inicia-se um quadro de
resfriado comum, com coriza e secreção nasal, tosse, mal-estar e
febre baixa a moderada. A duração vai de 1 a 2 semanas;
2. Fase paroxística: depois de 7 a 10 dias do quadro catarral, inicia-se
o quadro clássico com tosse paroxística característica da coqueluche.
Ocorrem acessos súbitos de tosses curtas, rápidas, sem intervalo para
inspiração entre elas, seguidos por uma inspiração profunda com o
“guincho” característico. Pode ser acompanhada, também, de vômito
após o acesso de tosse. Nas crianças menores de 1 ano e
principalmente nas menores de 6 meses, durante os episódios de
tosse é possível observar pletora facial, cianose, apneia, petéquias na
face e no pescoço pelo esforço e convulsão. A fase de tosse
paroxística pode durar várias semanas;
3. Fase de convalescença: as crises de tosse, o guincho, os vômitos e
os engasgos diminuem progressivamente. A tosse é a última a
desaparecer por completo, e pode levar alguns meses para isso.
Nessa fase, pode ocorrer exacerbação do quadro com novos
paroxismos caso o paciente adquira alguma infecção respiratória
concomitante. A fase dura de 1 a 3 semanas. Crianças vacinadas e
adultos, em geral, apresentam quadro menos exuberante, e o
diagnóstico fica pouco lembrado. Nesse grupo etário, a presença de B.
pertussis pode ser identificada em 5 a 25% dos pacientes com tosse
há mais de 14 dias sem outra causa aparente.
16.6 DIAGNÓSTICO
O Ministério da Saúde lançou recentemente um guia de
recomendações para o diagnóstico e o combate à coqueluche. Nele,
para facilitar o diagnóstico correto, foram definidos critérios para
casos suspeitos e casos confirmados. Existem critérios clínicos,
clínico-epidemiológicos e laboratoriais para confirmar o
diagnóstico.
16.6.1 Casos suspeitos
1. Menores que 6 meses: independentemente do estado vacinal,
qualquer criança que apresente tosse há mais de 10 dias associada a
pelo menos 1 dos demais: tosse paroxística – de 5 a 10 tosses curtas
numa mesma expiração –, “guincho” inspiratório, engasgos, cianose,
apneia e vômitos pós-tosse;
2. Maior que ou com 6 meses: independentemente do estado vacinal,
qualquer indivíduo com tosse de qualquer tipo há mais de 14 dias
associada a pelo menos 1 dos demais: tosse paroxística – de 5 a 10
tosses curtas numa mesma expiração –, “guincho” inspiratório e
vômitos pós-tosse;
3. Todo indivíduo: que apresente tosse por qualquer período com
história de contato face a face com um caso confirmado pelo critério
laboratorial.
17.1 INTRODUÇÃO
A pneumonia aguda constitui uma das principais causas de
morbimortalidade, principalmente em crianças com menos de 5
anos, nos países em desenvolvimento. Estimativa da Organização
Mundial da Saúde prevê 4 milhões de mortes por infecções
respiratórias agudas, 2 terços em crianças menores de 1 ano. No
Brasil, os fatores de risco associados à mortalidade em menores de 1
ano estão fortemente ligados a idade do desmame, peso ao nascer,
número de moradores da casa, aplicação da vacina BCG e condições
sociais da família, em particular da mãe.
17.2 EPIDEMIOLOGIA
As pneumonias são doenças frequentes, com incidência de 3% a 4%
ao ano, em crianças abaixo de 4 anos, e de 1% a 2%, em pré-
escolares e escolares. A maioria dos casos é leve e pode ser tratada
ambulatorialmente. Entretanto, os casos graves não são raros, e a
pneumonia bacteriana é causa de 10% a 25% de morte em crianças
nos países subdesenvolvidos e de 1 a 3% nos desenvolvidos. Essa
diferença ocorre porque a desnutrição aumenta a incidência, a
gravidade e a mortalidade pela doença. A qualidade da assistência
médica é essencial na redução da mortalidade. Faz parte do
calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) a vacina
contra pneumococo 10-valente, administrada aos 2, 4 e 6 meses,
com reforço aos 15 meses.
Fatores de risco para pneumonias:
1. Maternos: grau de instrução, desmame precoce, efetividade do pré-
natal;
2. Sistema de saúde: diagnóstico precoce, tratamento adequado;
3. Ambientais: poluição, tabagismo, sazonalidade, contato com
paciente com infecção das vias aéreas superiores;
4. Paciente: prematuridade, baixo peso ao nascer, calendário vacinal
incompleto, doenças prévias –cardiopatias, anemia falciforme,
imunodeficiências primárias, corticoterapia e outras doenças que
levam ao comprometimento imunológico, doenças pulmonares que
induzem a pneumonias de repetição, como fibrose cística.
17.3 DEFINIÇÃO
O termo “pneumonia” descreve uma inflamação dos alvéolos e
espaços aéreos terminais, bronquíolos e espaço intersticial, em
resposta à invasão por agente infeccioso introduzido no pulmão,
principalmente em decorrência da aspiração de material de
secreções infectadas das vias aéreas superiores ou disseminação
hematogênica. A maioria dos casos é de natureza infecciosa, porém,
há pneumonias de natureza não infecciosa, secundárias à aspiração
de corpos estranhos, substâncias irritantes e pneumonite induzida
por droga ou radiação. Vários estudos apontam que a principal
etiologia de pneumonias em crianças menores de 5 anos é viral.
17.4 CLASSIFICAÇÃO
Pode ser classificada por critérios anatômicos, ou seja, a área
pulmonar afetada, podendo ser lobar, envolvendo 1 lobo ou
segmento, lobular, alveolar ou intersticial. A classificação pelo
agente etiológico nem sempre é possível e, quando determinada pela
cultura, direciona melhor o tratamento.
17.5 ETIOLOGIA
Do ponto de vista etiológico, as pneumonias são classificadas em:
1. Bacterianas: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenza tipo
B, Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes;
2. Virais: especialmente vírus sincicial respiratório, influenza,
parainfluenza, adenovírus e rinovírus;
3. Atípicas: Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae.
Recomendações dietético-nutricionais:
a) Fracionar em pequenas quantidades;
b) Oferecer na posição semissentada, risco de aspiração;
c) Preferir alimentos pastosos ou líquidos;
d) Oferecer alimentos costumeiros para a criança;
e) Fornecer quantidades generosas de líquidos, prevenção de
desidratação;
f) Fluidificar secreções, água é melhor do que xarope.
Figura 17.7 - Algoritmo para abordagem de criança maior de 2 meses com pneumonia
17.9 COMPLICAÇÕES
As principais complicações são:
a) Abscesso;
b) Atelectasia;
c) Pneumatocele;
d) Pneumonia necrosante;
e) Derrame pleural;
f) Pneumotórax;
g) Fístula broncopleural;
h) Hemoptise;
i) Septicemia;
j) Bronquiectasia;
k) Infecções associadas – otite, sinusite, conjuntivite, meningite,
osteomielite.
17.9.2 Atelectasia
É considerada quando não há expansão pulmonar perfeita, ou seja,
parte do pulmão não está aerada, mas o parênquima está normal.
Geralmente desaparece em até 8 semanas. Após esse período, se não
há resolução da atelectasia, é indicada a broncoscopia. A
complicação evolutiva das atelectasias crônicas é a fibrose pulmonar
com colapso não funcional do segmento do lobo pulmonar
comprometido.
Figura 17.9 - Atelectasia do lobo médio do pulmão direito
Fonte: Evaluación De La Radiología Torácica, 2016.
17.9.3 Pneumatocele
Trata-se de uma lesão cística de paredes finas, que decorre
especialmente de pneumonias bacterianas, mas, também, possível
pós-traumas ou aspiração. A maioria se resolve espontaneamente.
Pneumatocele simples é aquela que ocupa menos de 50% de um
hemitórax e não causa sintomas clínicos de desconforto respiratório.
Já a pneumatocele complicada é aquela com tamanho superior a 50%
de 1 hemitórax, persistência de atelectasias, abscessos recidivantes,
fístula broncopleural. A esses casos de pneumatocele complicada é
indicada a drenagem.
Figura 17.10 - Pneumatocel
18.1 INTRODUÇÃO
A tuberculose (TB) é um grave problema de saúde pública no Brasil e
no mundo, e cerca de 10% dos pacientes infectados são crianças ou
adolescentes. Esse grupo apresenta algumas peculiaridades,
principalmente em relação ao seu diagnóstico, para um paciente ser
considerado doente e receber adequado tratamento. Muitas vezes, as
crianças com doenças pulmonares crônicas são tratadas
desnecessariamente para TB, ou então o diagnóstico é tão tardio que
esses pacientes morrem ou permanecem com sérios danos
pulmonares.
No adulto e no adolescente, o encontro do agente etiológico
Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK) na baciloscopia
do escarro encerra, em si, o diagnóstico. Na infância, porém, nem
sempre isso ocorre. A TB, na maioria das crianças menores de 12
anos, geralmente não é contagiosa, pois se eliminam poucos bacilos
pela tosse e as lesões pulmonares geralmente são pequenas. As
crianças são consideradas paucibacilíferas, o que dificulta o
diagnóstico bacteriológico de certeza, levando o médico a lançar
mão de outras ferramentas para o diagnóstico.
Dentre os parâmetros, destacam-se os clínicos e/ou radiológicos,
epidemiológicos (contato com adultos com TB), teste tuberculínico e
a prova terapêutica. Ressaltam-se os casos de pneumonias de
evolução arrastada que não respondem bem à terapêutica habitual
para os patógenos mais comuns, sem evidência de melhora clínica-
radiológica após 2 semanas. A anamnese é fundamental, pois pode
fornecer elementos da história natural da doença e do diagnóstico
epidemiológico.
Denomina-se “caso de tuberculose” todo indivíduo com diagnóstico
confirmado por baciloscopia ou cultura e aquele em que o médico,
com base nos dados clínico-epidemiológicos e no resultado de
exames complementares, firma o diagnóstico de TB. “Caso novo” é o
indivíduo com TB que nunca usou ou usou por menos de 1 mês as
drogas antituberculosas.
A TB é agravo de notificação compulsória.
18.2 EPIDEMIOLOGIA
No Brasil, em 2013, ocorreram aproximadamente 92 mil casos novos
da doença, com uma letalidade de 3,1%, o que mantém o país em
décimo sexto lugar em incidência entre os 22 países priorizados pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), por apresentarem 80% da
carga mundial da TB.
A OMS estima que, a cada ano, ocorram mais de 8 milhões de novos
casos de TB com, aproximadamente, 2 milhões de mortes pela
doença. Atualmente, existem em torno de 2 bilhões de indivíduos
infectados de forma latente, a maioria em países subdesenvolvidos
ou em desenvolvimento.
Esses dados não traduzem nossa realidade devido a subnotificação,
dificuldade diagnóstica e exclusão social, dentre outros fatores. A
maioria das crianças infectadas encontra-se assintomática quando
há a positividade da reação tuberculínica – Purified Protein
Derivative (PPD). O complexo primário da TB pode não aparecer à
radiografia de tórax, e, na maioria das crianças imunologicamente
sãs com TB primária, a infecção não progride imediatamente até a
enfermidade.
As primeiras manifestações clínicas se apresentam de 1 a 6 meses
após a infecção inicial e incluem linfadenopatias de gânglios hilares,
mediastínicos, cervicais ou de outros gânglios, comprometimento de
1 segmento ou lobo pulmonar, com consolidação, atelectasias,
derrame pleural, TB miliar e meningite tuberculosa. Outras
apresentações clínicas que podem aparecer tardiamente à infecção
primária incluem TB da orelha média e mastoidite, TB óssea,
articular e da pele. A doença extrapulmonar – miliar, meníngea,
renal, óssea ou articular – se apresenta em 25% das crianças
menores de 15 anos com TB. A TB renal e a TB por reativação ou
pulmonar tipo adulto são raras em crianças pequenas, mas podem se
apresentar em adolescentes.
18.3 PATOGÊNESE
19.1 INTRODUÇÃO
Desde que Edward Jenner, em 1796, fez a primeira tentativa de
imunização sistemática contra a varíola, a imunização tem feito
notáveis progressos. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações
(PNI) completou 40 anos em 2013 com grande sucesso, pois
conseguiu diminuir as desigualdades nacionais das doenças
imunopreveníveis.
A imunização pode ser dividida em ativa (vacinação) e passiva
(anticorpos prontos). É um dos meios pelos quais um organismo
pode se tornar imune a determinada doença infecciosa, patógeno ou
toxina produzida por ele. Os mecanismos de imunidade ativa
adquirida após a vacinação são análogos aos que o organismo utiliza
contra as infecções virais ou microbianas.
A imunização ativa é a administração de qualquer vacina ou toxoide
(toxina inativada) para a prevenção de doenças. Na prática, deve
contemplar a situação epidemiológica, os recursos de cada região do
país, bem como a disponibilidade de vacinas, assim o calendário
vacinal não deve ser utilizado de forma rígida. Na imunização
passiva, a proteção é temporária e acontece por meio da
administração de anticorpos pré-formados, conferindo proteção
imediata, porém transitória, da qual a administração de
imunoglobulinas (Igs) é um exemplo, assim como a que ocorre da
mãe para o feto na vida intraútero ou para o Recém-Nascido (RN)
pela amamentação.
O feto é incapaz de sintetizar por si os anticorpos, imunoglobulina A
(IgA), imunoglobulina D (IgD) e imunoglobulina E (IgE), mas na
gestação, a partir da décima semana, aparecem seletivamente as Igs
da classe imunoglobulina G( IgG) que o feto recebe passivamente por
meio da placenta – a única que realiza transmissão transplacentária
– , as quais a atravessam ativamente de forma modesta no primeiro
trimestre da gravidez e muito acentuada posteriormente, como pode
ser visto na Figura 19.1. A síntese de Igs no feto inicia-se,
precocemente, com certas classes de anticorpos, podendo-se
verificar vestígios de imunoglobulina M (IgM) – primeira Ig a ser
produzida pelo feto – desde a décima semana de vida fetal e de IgG a
partir da décima segunda semana.
Figura 19.1 - Transmissão transplacentária das imunoglobulinas da classe IgG e IgM
As imunoglobulinas presentes na circulação ao
nascimento são, essencialmente, de origem
materna, e em geral suas concentrações se
mantêm maiores no recém-nascido do que na
mãe. As funções protetoras antibacterianas e
antivirais das Igs são vistas principalmente no
primeiro trimestre de vida, pois, após esse
período, há declínio dos anticorpos.
BCG.
19.4.2.2 Mortas
19.5 CONTRAINDICAÇÕES À
VACINAÇÃO
As vacinas aplicadas no Brasil podem apresentar contraindicações.
No entanto, existem tanto as falsas como as verdadeiras
contraindicações, motivo pelo qual serão especificadas cada uma das
situações, para evitar dúvidas e erros na hora de responder a
perguntas das mães ansiosas e às questões da prova.
19.5.1 Falsas
a) Doenças leves com febre baixa do trato respiratório ou digestivo;
b) Prematuridade e baixo peso ao nascer – as vacinas devem ser
administradas na idade cronológica da criança, exceto para os
prematuros com peso menor que 2 kg, para a vacinação de BCG;
c) Antecedente pessoal de reação local à vacina ou história familiar de
evento adverso à vacinação;
d) Uso de antimicrobiano profilático ou terapêutico – não interfere na
resposta imune às vacinas;
e) Desnutrição – a resposta às vacinas é adequada, sem aumento dos
eventos adversos;
f) Convalescença de doenças agudas – especialmente para as
doenças do trato respiratório superior, quando ainda há tosse e/ou
coriza;
g) Diagnóstico clínico prévio da doença –não há qualquer impedimento
de realizar a vacina, especialmente quando o diagnóstico não foi
confirmado. Não há aumento das reações adversas;
h) História de alergia inespecífica, pessoal ou familiar – exceto se há
história de alergia grave a algum componente da vacina (antecedente
de alergia a penicilina não procede, pois, nenhuma vacina a contém);
i) Doença neurológica estável;
j) História familiar de convulsão;
k) História familiar de morte súbita;
l) Tratamento com corticosteroides em doses não imunodepressoras –
geralmente quando o tempo de tratamento é inferior a 2 semanas ou
tratamento em dose baixa;
m) Uso de corticosteroide por via inalatória ou tópica em tendões ou
intra-articular;
n) Vacinação contra a raiva: não há interferência de outras vacinas;
o) Contato domiciliar com gestantes – os vacinados não transmitem os
vírus vacinais de sarampo, caxumba ou rubéola;
p) Internação hospitalar – é uma excelente oportunidade para
vacinação, desde que não haja outras contraindicações. O único
cuidado especial é com a vacina oral para a pólio em caso de
comunicantes imunodeprimidos;
q) Aleitamento – as vacinas utilizadas atualmente não são
contraindicadas para as mulheres que estão amamentando.
19.5.2 Verdadeiras
19.5.2.1 Reação de hipersensibilidade imediata
19.6.1.2 Aplicação
19.6.1.4 Contraindicações
A vacina Salk foi desenvolvida por Jonas Salk em 1954 e desde 2000 é
a única contra poliomielite utilizada nos Estados Unidos. É composta
por vírus inativados e aplicada em doses de 0,5mL por via
intramuscular ou subcutânea – na forma isolada) – Está disponível
nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) e,
desde 2012, na rede básica, na apresentação isolada para situações
especiais e apresentações combinadas nas clínicas privadas.
Algumas particularidades são:
a) Ser iniciada aos 2 meses;
b) Conferir níveis de anticorpos protetores com apenas 2 doses;
c) A imunidade desenvolvida ser essencialmente do tipo humoral,
diferentemente da pólio oral (Sabin), em que há desenvolvimento da
imunidade tanto local, em nível de mucosa, quanto humoral;
d) A vacina não competir com o vírus selvagem da pólio em nível
intestinal, diferentemente do que ocorre com a Sabin;
e) Haver produção discreta de IgA secretora na nasofaringe.
19.6.8.1 Indicações
Eritema, dor local, cefaleia intensa, mialgia e febre alta podem ser
observados nas primeiras 24 horas após a administração da vacina.
Doença viscerotrópica aguda e doença neurológica aguda associadas
à vacina de febre amarela são considerados eventos adversos graves.
19.6.8.5 Contraindicações
a) Rubéola
Embora seja uma doença exantemática considerada benigna, a
vacinação visa prevenir a Síndrome de Rubéola Congênita (SRC), e,
caso ocorra infecção materna assintomática no primeiro trimestre
da gravidez, há alto risco de aborto, malformações congênitas e
natimortos. Em função do componente contra a rubéola,
recomenda-se evitar gravidez nos 30 dias seguintes à administração
da vacina tríplice viral, muito embora, entre as mulheres que
engravidaram inadvertidamente após vacinação, nunca tenha sido
confirmado caso de SRC ou demonstrado que tal vacina seja
teratogênica.
Deve-se lembrar que essa síndrome geralmente é grave e pode
acometer de 40% a 60% dos RNs cujas mães foram infectadas
durante os 2 primeiros meses de gestação, de 30% a 35% dos RNs
com mães infectadas no terceiro mês de gestação e 10% dos RNs
quando a infecção ocorre durante o quarto mês da gestação, sendo
mais raro o acometimento após a vigésima semana. Os principais
sinais e sintomas da infecção intrauterina são aborto espontâneo e
malformação congênita de grandes órgãos e sistemas: oculares
(microftalmia, retinopatia, glaucoma e catarata), cardíaca
(persistência de ducto arterial, defeitos dos septos interatrial e
interventricular, estenose da artéria pulmonar), deficiência auditiva,
alterações neurológicas (meningoencefalite, retardo mental),
púrpura, esplenomegalia, osteopatia radiolúcida. É possível a
ocorrência de formas leves, com surdez parcial ou pequenas
deficiências cardíacas, só diagnosticadas muitos anos após o
nascimento. A infecção é tanto mais grave quanto mais precoce é a
contaminação do feto, pois o vírus tem tropismo por tecidos jovens,
sendo importante causa de restrição de crescimento intrauterino.
Para ser possível controlar ou erradicar a rubéola, é necessário
manter elevadas taxas de cobertura vacinal para evitar deslocamento
da curva de suscetíveis. Como exemplo, cita-se a campanha de
vacinação contra a rubéola em 1998, que não foi suficiente para
prevenir um surto entre adultos jovens em 2.000, com uma alta
incidência de SRC em 2001. Entre 2002 e 2005, as incidências de
rubéola e de SRC diminuíram, entretanto, a alta cobertura da vacina
e a vigilância de alta qualidade são importantes para atingir a
erradicação da síndrome.
b) Caxumba
Contraindicações à vacina:
a) Imunodeficiência congênita ou adquirida;
b) Neoplasia maligna – pacientes com leucemia linfoide aguda, quando
a remissão ocorreu há mais de 1 ano, com linfócitos > 70/mm3 e
contagem de plaquetas > 100.000/mm3, poderão ser vacinados;
c) Corticoterapia atual em altas doses: equivalente a prednisona em
dose ≥ 2mg/kg/d, para crianças, ou de 20mg/d ou mais, para adultos,
por mais de 2 semanas, ou submetidos a terapêuticas
imunossupressoras; doses de prednisona < 2mg/kg/d ou equivalente,
provavelmente, não acarretam maiores problemas para a criança,
porém sua resposta à vacina pode ser diminuída; dessa forma, mesmo
nesses casos, o corticoide deve ser suspenso (quando possível) por 1
ou 2 semanas antes e de 2 a 3 semanas após a vacinação;
d) Grávidas – pelo risco de varicela congênita. Os efeitos da vacina em
grávidas e no feto ainda não foram claramente estudados. Assim, não
devem ser vacinadas, e aquelas em idade fértil devem evitar a
gravidez por, pelo menos, 1 mês após a vacinação;
e) Ocorrência de reação anafilática em dose anterior: a segunda dose
está contraindicada;
f) Crianças menores de 1 ano: ainda não há dados publicados na
literatura sobre segurança e eficácia nessa faixa etária.
19.6.10.7 Precauções
19.6.11 Hepatite A
Tal vacina está inclusa no calendário básico de vacinação utilizado no Brasil
desde 2015, quando foi introduzida uma dose da vacina aos 12 meses. Em
2016, houve mudança para 1 dose aos 15 meses e, em 2017, a idade-limite
para vacinar as crianças passou de 2 anos para 4 anos, 11 meses e 29
dias.
1. 23-valente:
a) Locais – eritema, enduração e dor;
b) Sistêmicos – podem ocorrer febre baixa, astenia, cefaleia e
mialgia, mais intensos e mais comuns na revacinação;
c) Alérgicos – é rara a anafilaxia.
2. Pnc10:
a) Locais – rubor no local da injeção;
b) Sistêmicas – irritabilidade, sonolência, perda de apetite e febre.
19.6.14 Antirrábica
A raiva é uma encefalite grave causada por um vírus do gênero
Lyssavirus, caracterizada por sintomatologia nervosa que acomete
animais e seres humanos. É transmitida por mamíferos – os únicos
animais suscetíveis ao vírus e capazes de transmiti-lo, como cão,
gato, rato e outros, por meio da mordedura ou lambedura de animais
raivosos sobre mucosa ou pele lesionada.
Os animais silvestres são reservatórios primários para a raiva na
maior parte do mundo, mas os domésticos de estimação são as
principais fontes de transmissão para os seres humanos. O homem
recebe o vírus da raiva, ao ser mordido, pelo contato com a saliva do
animal enfermo, bastando que o líquido encontre uma porta de
entrada (corte, ferida ou arranhão). Após penetrar, o vírus dirige-se
sempre ao sistema nervoso central, produzindo as principais
alterações inicialmente vistas no infectado, como diversas formas de
encefalite (espasticidade, demência ou paralisia), que quase sempre
levam à morte.
Raramente o enfermo sobrevive à doença, e a única conduta eficaz é
a profilaxia, a ser iniciada o mais rapidamente possível, ao menor
risco de contaminação.
O tratamento da raiva deve ser adaptado à natureza da exposição e ao
estado do animal. Na dependência dos fatores, estão o uso de soro
antirrábico e a aplicação de quatro doses da vacina. Esse esquema foi
modificado em 2017, a partir de quando foram indicadas 4 doses da
vacina, e não mais cinco como era feito antigamente.
19.6.14.1 Composição
19.6.14.4 Profilaxia
19.6.14.6 Reexposição
19.6.15 HPV
Duas vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) foram
recentemente aprovadas no mundo para a prevenção do câncer de
colo uterino: a bivalente Cervarix®, que cobre os sorotipos virais 16
e 18, e a quadrivalente Gardasil®, que cobre os tipos 6, 11, 16 e 18.
Ambas contêm a proteína L1 do capsídeo viral, produzida por
tecnologia recombinante para a obtenção de partículas análogas às
virais dos tipos oncogênicos mais comuns de HPV. As 2 vacinas
contêm um sistema adjuvante específico dos seus fabricantes para
aumentar a resposta imunológica: a Cervarix® contém sal de
alumínio e agonista do receptor; a Gardasil® contém só o sal de
alumínio. É por isso que a primeira ocasiona resposta inicial de
anticorpos significativamente maior que a obtida pela última,
resposta que dura por pelo menos 4 anos. Os HPVs tipos 6 e 11 são
responsáveis por 90% das verrugas genitais, enquanto os tipos 16 e
18 são responsáveis por 70% dos casos de câncer cervical.
19.6.15.1 Esquema vacinal e indicações (PNI)
19.7.5 Gestantes
Não tem sido demonstrado que as vacinas utilizadas atualmente,
inclusive as de vírus vivo, possam acarretar problemas ao feto,
muito embora não haja recomendação por parte dos fabricantes
devido ao risco teórico. As vacinas contra tétano e difteria são
administradas de rotina, devendo ser administradas precocemente
e, no máximo, 20 dias antes da data provável do parto. As gestantes
suscetíveis expostas à varicela ou com contato físico com herpes-
zóster devem receber Ig antivaricela-zóster a qualquer momento da
gravidez. Já as gestantes suscetíveis expostas à hepatite B devem ser
tratadas com os esquemas habituais de exposição à hepatite,
incluindo vacina e Ig, se necessário. Atualmente, o Ministério da
Saúde recomenda uma dose de dTpa a todas as gestantes a partir da
vigésima semana de gestação, mesmo quando o esquema vacinal
está completo. Essa vacina visa reduzir os quadros de coqueluche
nessa população e nos lactentes.
Mães que amamentam exclusivamente ao seio não devem receber a
vacina contra febre amarela até que seu filho complete 6 meses. Caso
a mãe resida em área de surto da doença, poderá ser vacinada, porém
deverá suspender o aleitamento materno por 10 dias após a vacina.
Se o filho tiver mais que 6 meses, a mãe pode ser vacinada sem
interrupção das mamadas.
Como orientar a vacinação
do calendário básico para a
mãe de um paciente em
atendimento?
1. BCG: contra a tuberculose;
2. Poliomielite: contra a poliomielite 1, 2 e 3 – VOP
(atenuada e sem o tipo 2) e VIP (inativada);
3. Hepatite B: contra a hepatite B (recombinante);
4. Hepatite A: contra a hepatite A (inativa);
5. DTP-Hib: adsorvida contra difteria, tétano, pertussis e
Hib (conjugada);
6. Pentavalente (DPT + Hib + hepatite B): adsorvida contra
difteria, tétano, pertussis, Hib (conjugada) e hepatite
recombinante;
7. RV: contra RV humano G1P1[8] (atenuada);
8. Pneumocócica 10-valente: pneumocócica 10-valente
(conjugada);
9. Meningocócica C: meningocócica C (conjugada);
10. Febre amarela: contra a febre amarela (atenuada);
11. Sarampo, caxumba e rubéola: contra sarampo,
caxumba e rubéola;
12. Sarampo, caxumba, rubéola e varicela (TETRA viral):
contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela;
13. DTP: adsorvida contra difteria, tétano e pertussis;
14. dT: adsorvida contra difteria e tétano tipo adulto;
15. HPV: contra HPV sorotipos 6, 11, 16 e 18
(recombinante).
#FALA AÍ
Por que algumas vacinas não devem ser administradas junto com
outras especificamente?
De uma forma geral, as vacinas que estão programadas no
calendário de vacinação podem ser administradas simultaneamente
sem maiores problemas, pois além de não prejudicar o efeito,
também poupa o trabalho de ir mais de uma vez ao posto de saúde.
Ainda existem vacinas que podem ser preparadas juntas, como a
vacina tríplice bacteriana e a vacina contra a poliomielite.
Já quando duas preparações diferentes são aplicadas juntas, é
recomendado apenas manter uma distância de 2,5 centímetros entre
as aplicações. Porém, vacinas como a da febre amarela e a tríplice
viral devem ser administradas com 30 dias de intervalo, pois estudos
mostram que, se aplicadas juntas, perdem até 20% de sua eficácia.
As vacinas de doses múltiplas contra a mesma doença também
devem ser aplicadas com intervalo de 30 dias para que possam
desencadear uma resposta significativa. Se o período mínimo não for
respeitado não se deve considerar a primeira dose, pois o corpo
humano não consegue responder em um período mais curto que
esse.
#FALA AÍ
Caso uma criança chegue ao posto de saúde com idade menor que 1
anos sem ter recebido vacina alguma. Como proceder?
Deve-se vacinar com todas as vacinas em atraso, e as próprias para a
idade. Rotavírus não deverá ser feita, e deve-se respeitar os
intervalos das aplicações normalmente.
Quais são os critérios
obrigatórios para definição
de convulsão febril, e como
abordá-la?
20.2.3 Evolução
A CF tem caráter benigno. De modo geral, 70% das crianças
apresentam apenas 1 episódio durante a vida; 30% terão 2 CFs;
apenas 10% terão chance de várias CFs. A chance de evolução para
epilepsia é pequena.
Fatores de risco para recorrência:
a) Idade precoce da primeira crise (< 12 meses);
b) Sexo masculino;
c) Antecedente familiar de CF ou epilepsia;
d) Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor;
e) Menor grau e duração de febre no evento;
f) Crises focais;
g) Duração de crise prévia prolongada.
20.2.4 Tratamento
Quando uma criança em crise convulsiva dá entrada em um serviço
de emergência, devem ser tomadas as seguintes providências:
a) Acalmar os pais;
b) Avaliação e estabilização de vias aéreas, oxigenação, acesso
venoso, avaliação e estabilização da função cardiovascular;
c) Investigação de distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos;
d) Tratar a causa da febre;
e) Antitérmicos – não reduzem o risco de nova crise;
f) Benzodiazepínicos – drogas de primeira escolha nas crises, sendo o
diazepam o mais utilizado por ter início rápido (de 1 a 3 minutos), mas
curta duração (5 a 15 minutos). Portanto, é útil apenas para a
suspensão da crise. Pode ser repetido a cada 10 a 15 minutos por 3
vezes; 0,3 mg/kg IV, máximo de 10 mg. Na ausência de acesso
venoso, 0,5 mg/kg por via retal, ou midazolam 0,2 a 0,7 mg/kg SL, IM
ou IN, na dose máxima de 5 mg.
21.1 MENINGITE
21.1.1 Definição
A meningite pode ser definida como um processo inflamatório das
leptomeninges, que pode se estender para estruturas adjacentes. Na
maioria das vezes é de natureza infecciosa, embora, também possa
ser causada por agentes irritantes introduzidos no espaço
subaracnóideo, o que se denomina meningite química. A
meningoencefalite é a inflamação que se estende além das
meninges, acometendo também o encéfalo. A suspeita de meningite
bacteriana é uma urgência médica. Os procedimentos para
estabelecer um diagnóstico rápido da causa específica devem ser
estabelecidos prontamente, para que o tratamento seja iniciado de
maneira precoce. A mortalidade da meningite bacteriana não tratada
é próxima de 100% e mesmo nos casos tratados há alta
morbimortalidade, com sequelas neurológicas aos sobreviventes.
21.1.2 Etiologia
Associação de Gram com a etiologia:
1. Diplococos Gram positivos: Streptococcus pneumoniae;
2. Diplococos Gram negativos: Neisseria meningitidis;
3. Cocobacilos pleomórficos Gram negativos: Haemophilus
influenzae;
4. Cocos ou cocobacilos Gram positivos: Streptococcus do grupo B;
5. Cocobacilos e bastões Gram positivos: Listeria monocytogenes.
#IMPORTANTE
A meningite deve ser incluída em todo
diagnóstico diferencial de qualquer alteração
de estado de consciência, como letargia ou
irritabilidade, principalmente, quando há
história de febre sem outras patologias que
justifiquem o quadro clínico.
Esta é uma meningite bastante temida, tanto pelos danos que pode
produzir quanto pela dificuldade de suspeita baseada em sinais
clínicos. Por isso, o LCE deve ser sempre colhido em casos de sepse,
febre, e de risco infeccioso.
O tratamento da meningite neonatal baseia-se no uso de
antibióticos que apresentam boa penetração no SNC. Uma boa
escolha é a ampicilina e a cefotaxima por tempo prolongado, ou seja,
de 14 a 21 dias.
É necessária uma nova coleta de LCE nas primeiras 48 a 72 horas da
instituição da antibioticoterapia.
O objetivo da segunda punção é verificar a eficácia do tratamento e a
eventual necessidade de modificação. No período neonatal, os
parâmetros clínicos são insuficientes para avaliar a evolução do
tratamento. A ceftriaxona também é opção, mas deve ser evitada no
período neonatal, pois, aumenta o risco de hiperbilirrubinemia.
Deve-se também manter atenção especial quanto à presença de
complicações como edema cerebral, hipertensão intracraniana,
convulsões, ventriculite, abscessos cerebrais e empiema subdural.
Por esse motivo, realiza-se ultrassonografia de crânio no início do
quadro e semanalmente até a conclusão do tratamento. A tomografia
computadorizada de crânio deve ser feita em casos de suspeita de
complicações ou naqueles em que a evolução se mostra desfavorável.
Quando há crises convulsivas, implementam-se ao tratamento
fenobarbital, primeira escolha, dose de ataque e manutenção. Já em
quadros convulsivos não controlados, usa-se a difenil-hidantoína
ou o midazolam. Em algumas situações, há a necessidade de análise
eletroencefalográfica para controle mais adequado.
Quadro 21.4 - Antibióticos de escolha no tratamento das meningites bacterianas
22.1 INTRODUÇÃO
É conhecido que todos os lactentes apresentam alguma imaturidade
do esfíncter esofágico inferior, o que favorece a ocorrência de refluxo
do conteúdo gástrico para o esôfago, de forma passiva, não raro
chegando à boca na forma de regurgitação ou golfo.
22.2 REFLUXO FISIOLÓGICO
O refluxo gastroesofágico (RGE) fisiológico caracteriza-se pelo
retorno de conteúdo gástrico em direção ao esôfago. Não traz
repercussões clínicas ao lactente e é breve, limitado ao terço distal
do esôfago. Manifesta-se clinicamente por meio de regurgitações
pós-prandiais e, menos comumente, vômitos. Pode ocorrer em
indivíduos sadios de qualquer idade, mas, em crianças, apresenta
início antes dos 2 meses de vida, com pico de ocorrência aos 4 meses,
e se resolve espontaneamente entre 12 e 24 meses de vida, sem
qualquer prejuízo sistêmico.
22.3 DOENÇA DO REFLUXO
GASTROESOFÁGICO
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) nos lactentes é definida
quando esses episódios de regurgitação se tornam frequentes e
intensos, com vômitos intensos, dificuldade para mamar,
irritabilidade, choro, alteração na posição cervical, sintomas
respiratórios: pneumonia, estridor laríngeo, esofágicos – esofagite
– ou déficit ponderal.
Em crianças maiores e adolescentes, as manifestações principais da
DRGE são epigastralgia, dor retroesternal e azia.
Figura 22.1 - Anatomia esofágica normal e com refluxo gastroesofágico
22.4 FISIOPATOLOGIA
A patogênese da DRGE é multifatorial e complexa, envolvendo
frequência aumentada dos relaxamentos transitórios do esfíncter
esofágico inferior, esvaziamento gástrico retardado, clearance
esofágico deficiente, alterações na barreira antirrefluxo, diminuição
do tônus do esfíncter esofágico inferior, hipersensibilidade visceral e
hiper-reatividade brônquica. Além disso, a exposição ao pH ácido
lesa o esfíncter esofágico inferior, diminuindo ainda mais seu tônus,
gerando um círculo vicioso. Podem estar associados fatores
ambientais, como obesidade, alergia alimentar e respiratória, hérnia
de hiato, drogas e exposição ao cigarro. O óxido nítrico e a
prostaglandina também podem produzir efeito nocivo sobre o
esôfago.
22.5 QUADRO CLÍNICO
22.5.1 Lactentes
a) Regurgitações e vômitos constantes, pós-prandiais;
b) Choro, recusa alimentar, engasgos frequentes e retenção baixa de
caloria que levam à deficiência do crescimento, com perda de peso;
c) Síndrome de Sandifer, caracterizada pela associação de esofagite,
anemia e posturas anômalas da cabeça, com hiperextensão em
resposta ao refluxo e torção do pescoço;
d) Irritabilidade, sono agitado e fome constantes, que podem indicar
esofagite;
e) Baixo ganho ponderoestatural – failure do thrive;
f) Sibilância recorrente.
22.6 DIAGNÓSTICO
Nos casos em que não há sinais agravantes, o diagnóstico é
essencialmente clínico e nenhum exame deve ser solicitado. No
entanto, em lactentes e crianças a investigação com exames se faz
necessária quando apresentam sinais de complicação. A anamnese
detalhada com exame físico completo é essencial para avaliar o
diagnóstico de RGE. Os exames podem detectar e quantificar o RGE
em lactentes e crianças. Habitualmente o exame físico é normal.
Quando alterado, pode haver emagrecimento, raramente, ou
hiperemia posterior em orofaringe, associado ou não a lesões
aftoides. Nas crianças maiores e adolescentes pode haver sinais de
erosão dentária.
22.6.1 Exames de imagem
22.6.1.1 Radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno
22.6.1.2 Cintilografia
A cintilografia utiliza um marcador radioativo (tecnécio-99)
administrado juntamente com o alimento da criança. O exame é
indicado para avaliar tempo de esvaziamento gástrico e útil para
avaliar aspiração pulmonar em pacientes com sintomas
respiratórios crônicos e refratários. Tem baixa sensibilidade e
especificidade e não é recomendado como método de rotina para
diagnóstico e seguimento de lactentes com DRGE.
Figura 22.3 - Estudo cintilográfico com tecnécio
22.7 TRATAMENTO
O tratamento de DRGE visa ao alívio dos sintomas, ao ganho
ponderoestatural adequado, à cura da esofagite e à prevenção de
complicações respiratórias ou outras complicações que possam estar
associadas ao quadro.
22.7.1 Refluxo fisiológico do lactente
O primeiro passo é conscientizar a família de que esse quadro é
benigno e, apesar de ter pico de piora por volta dos 4 meses de vida,
tende a diminuir em frequência e intensidade aos 6 meses, até se
resolver por volta de 1 ano de vida. Deve-se enfatizar que o uso de
medicamentos é desnecessário.
Com relação a orientações posturais, após as mamadas o lactente
deve ser mantido por cerca de 30 minutos em posição vertical para
facilitar o esvaziamento gástrico e permitir a eructação. Durante o
sono, o lactente deve ficar em decúbito dorsal com a cabeceira
elevada de 30 a 40 graus. Lembrar que a posição prona ou decúbito
lateral esquerdo não são recomendadas por maior risco de morte
súbita.
Recomenda-se corrigir as técnicas de mamada para os lactentes em
aleitamento materno exclusivo, mantendo a livre demanda, porém
reduzindo o tempo de sucção não nutritiva.
Para os lactentes que recebem fórmula infantil, a melhor medida é o
espessamento das fórmulas e fracionamento da dieta. O uso de
fórmulas antirregurgitação reduz o número de episódios e o volume
dos refluxos, no entanto, não tem efeito na DRGE.
22.7.2 Doença do refluxo gastroesofágico nos
lactentes
Quando há uma forte suspeita clínica de DRGE, após realizar todas as
orientações já citadas no refluxo fisiológico, a medida terapêutica
preconizada é a exclusão da proteína do leite de vaca da dieta por 2 a
4 semanas, preferencialmente, por exclusão da proteína do leite da
dieta materna, ou introdução de fórmula extensamente hidrolisada
ou de aminoácidos livres. Essa conduta se justifica, pois os sintomas
de alergia se sobrepõem aos de DRGE em lactentes jovens. Em geral,
com a exclusão da proteína do leite de vaca, há melhora dos
sintomas em 24 horas; deve-se manter a dieta por 14 dias, e realizar
a reexposição, para confirmação diagnóstica. Se novamente houver
piora, o diagnóstico é confirmado, e a criança deve permanecer sem
exposição à proteína do leite de vaca até pelo menos 1 ano de idade,
média etária de quando os pacientes desenvolvem boa tolerância a
ela.
A tentativa de uso de dieta hipoalergênica serve, por um curto
período, para excluir ou confirmar o diagnóstico de alergia à
proteína do leite de vaca, antes de passarmos à farmacoterapia.
A combinação de volume de dieta modificado, fórmula extensamente
hidrolisadas para lactentes, medidas posturais e não exposição ao
fumo pode melhorar os sintomas em cerca de 24% a 59% dos
lactentes com a doença.
O tratamento medicamentoso é reservado para os casos em que não
há resposta às medidas posturais e dietéticas, e naqueles em que os
sintomas são mais graves, com dificuldade alimentar, desaceleração
do ganho ponderal e, ou comprovação de esofagite no exame
endoscópico com biópsia. A esofagite erosiva em lactentes nos
primeiros meses de vida é mais rara, exceto nos casos
acompanhados de comorbidades, tais como atrésia de esôfago,
doenças neuromusculares, fibrose cística ou doença respiratória
crônica. Os medicamentos usados são:
1. Inibidores da bomba de prótons: atuam na esofagite, mas não no
refluxo propriamente dito. Incluem omeprazol, esomeprazol,
lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol e dexlansoprazol. Omeprazol e
esomeprazol são aprovados pela Food and Drug Administration para
uso a partir de 1 mês de vida. Estão indicados nos pacientes com
esofagite erosiva, estenose péptica ou esôfago de Barrett. São a
medicação de escolha para realizar bloqueio ácido. A melhor
apresentação para a Pediatria são os comprimidos dispersíveis
(MUPS);
2. Antagonistas do receptor H2 de histaminas: incluem cimetidina,
ranitidina e famotidina. A dose inicial preconizada é de 5 mg/kg/dose a
cada 12 horas, com bom efeito nas primeiras semanas de tratamento,
porém, com perda da ação ao longo do tempo (taquifilaxia), e são
menos eficazes do que os bloqueadores de bomba de prótons. Não
tem boas taxas de cicatrização quando usados em monoterapia nas
esofagites erosivas. Indicados nas DRGEs leves que não se
resolveram com o tratamento conservador ou em lactentes com
esofagite leve;
3. Antiácidos algínicos: promovem proteção momentânea, com alívio
dos sintomas por curto tempo. Não tratam esofagite e podem causar
intoxicação por alumínio, constipação e distúrbios hidroeletrolíticos;
devem ser usados por até 3 dias, no quadro agudo;
4. Procinéticos: aumentam o tônus do esfíncter esofágico inferior,
aceleram o esvaziamento gástrico e melhoram o clearance esofágico.
Alguns pacientes apresentam melhora nos episódios de vômitos e
regurgitação, porém sem redução do número e da duração dos
refluxos ácidos confirmados em pHmetria. A metoclopramida já teve
seu uso suspenso pelo grande número de efeitos colaterais. A
bromoprida, substância muito similar à metoclopramida, possui a
mesma toxicidade e efeitos colaterais, e deve ter seu uso muito
limitado e supervisionado. A domperidona, droga com efeito
procinético moderado, deve ser reservada para pacientes com
gastroparesia por intervalo curto e supervisionado. Seus efeitos
colaterais incluem irritabilidade excessiva, cólica e aumento do
intervalo QT. Não há estudos suficientes na faixa etária pediátrica que
comprovem seu benefício e corroborem o uso.
23.1 INTRODUÇÃO
As doenças exantemáticas constituem um desafio para o médico,
pois, apesar de haver bastante similaridade entre elas, um erro, ou
mesmo um atraso no diagnóstico, pode trazer sérias consequências
tanto para o paciente, por exemplo, meningococcemia ou gestante
exposta à rubéola, quanto para a comunidade, creches e escolas
infantis. O que se observa de semelhante nessas doenças são os
exantemas ou rashes. As erupções muitas vezes são clinicamente
indistinguíveis, e a identificação do agente etiológico só pode ser
determinado por métodos laboratoriais.
23.2 CONCEITO
Exantema é uma erupção cutânea generalizada aguda, de curta
duração, associada a infecção sistêmica primária. Varia na sua
distribuição, na sua progressão e em algumas características
morfológicas.
23.3 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO
23.3.1 Tipos de exantemas
Podem ser classificados em 2 tipos principais:
1. Rubeoliforme: quando há áreas de eritema entremeadas com
áreas de pele sã. São pequenas maculopápulas eritematosas – 3 a 10
mm;
2. Escarlatiniforme: eritema difuso, puntiforme, uniforme, sem áreas
de pele sã – pele áspera ou também denominada pele anserina.
Normalmente, os exantemas desaparecem à vitropressão.
23.4.5 Diagnóstico
Para o sarampo clássico, o diagnóstico inicial é essencialmente
clínico, do qual se deve suspeitar em todo paciente que apresenta
febre e exantema maculopapular, acompanhado dos seguintes sinais
e sintomas: tosse e, ou coriza, conjuntivite com ou sem fotofobia,
independentemente da idade e da situação vacinal.
A simples suspeita clínica de sarampo é importante para notificação
obrigatória imediata, dentro das primeiras 24 horas, início das
medidas de proteção e bloqueio de surto, definido como 2 ou mais
casos da doença, e isolamento do caso índice
Figura 23.5 - Evolução dos sintomas do sarampo
23.4.5.1 Exames laboratoriais
23.4.7 Prevenção
23.4.7.1 Imunização
23.7.3 Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e pode ser confirmado por exame sorológico,
reservado para grupos de risco ou pacientes com quadro clínico fora
do habitual.
Para o diagnóstico de eritema infeccioso, utilizam-se os seguintes
exames sorológicos: dosagem de IgM anti-B19, melhor marcador de
infecção aguda ou recente. Outras formas de diagnóstico laboratorial
são PCR e hibridização do ácido nucleico. A cultura não é indicada
para detecção viral.
Alterações no hemograma podem ser vistas, como diminuição da
contagem de hemoglobinas e leucócitos e, principalmente, de
reticulócitos (reticulopenia), que podem chegar a níveis não
detectáveis.
Elementos para o diagnóstico:
1. Faixa etária: qualquer idade, com predomínio dos 5 aos 12 anos;
2. Período de incubação: 4 a 14 dias;
3. Pródromos: geralmente ausentes;
4. Manifestações clínicas – ausentes ou inespecíficas: febre,
cefaleia, náuseas e dores articulares;
5. Exantema maculopapular: recorrente, podendo envolver mãos e
pés;
6. Sinal característico: face “esbofeteada” ou fácies “de palhaço”.
23.8.2 Patogenia
O primeiro contato com esse vírus normalmente ocorre durante a
primeira infância e muitas vezes a infecção primária é
assintomática, subclínica, ou indistinguível de outras infecções
infantis que cursam com febre. Um terço dos casos ocorre entre
adolescentes ou adultos jovens. Neles, mais de 50% se caracterizam
pela tríade de Hoagland.
#IMPORTANTE
A tríade de Hoagland é composta por faringite
exsudativa, linfadenopatia e esplenomegalia,
que é típica, mas não patognomônica de
mononucleose infecciosa.
23.8.4 Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, podendo ser complementado com
hemograma e sorologia para mononucleose (EBV).
23.8.4.1 Testes laboratoriais inespecíficos
23.8.5 Tratamento
A mononucleose infecciosa é uma doença autolimitada, e o
tratamento, como em outras doenças exantemáticas, baseia-se no
uso de sintomáticos. Aos casos de febre, desconforto e dor de
garganta, recomenda-se o uso de paracetamol ou dipirona. Deve-se
hidratar e nutrir bem o paciente.
Deve-se evitar a administração de antibióticos, pois, além de mão
contribuírem para a melhora da doença, penicilina – amoxicilina –
em contato com o vírus EBV dá origem a um exantema
maculopapular eritematoso e disseminado.
23.8.5.1 Sintomas de gravidade
Notas: o exantema geralmente surge 24 horas após o início da febre e da dor de garganta.
23.11.5 Tratamento
Baseia-se na administração de antibiótico e antitérmico.
23.11.5.1 Antibioticoterapia
Febre maior que 38,9 °C, por 5 dias ou mais, critério essencial, e, dos
critérios a seguir, a presença de pelo menos 4 dos 5 em associação à
febre confirma o diagnóstico:
1. Conjuntivite bilateral: com injeção bulbar, sem exsudato ou
secreção purulenta;
2. Alterações na mucosa da orofaringe: incluindo hiperemia da
faringe, lábios congestos e, ou secos e fissurados, língua “em
framboesa”;
3. Alterações: nas partes periféricas dos membros, extremidades:
a) Precoce, 7 a 10 dias de doença, como edema e, ou eritema
das mãos ou dos pés na fase aguda;
b) Tardia, 7 a 10 dias, após início da febre, descamação
periungueal na fase subaguda ou extremidades.
4. Exantema: principalmente no tronco, polimorfo, mas não vesiculoso;
5. Adenopatia cervical ≥ 1,5 cm: em geral, linfadenopatia unilateral,
sem supuração.
23.12.3.2 Exames laboratoriais
23.12.6 Complicações
As principais complicações possíveis referem-se às alterações
cardíacas, como coronariopatia: 50% dos aneurismas das artérias
coronárias regridem espontaneamente em 1 a 2 anos após a doença,
mas podem permanecer alterações funcionais desses vasos.
Aneurismas também foram descritos em outros vasos, e outras
complicações, como alterações oftalmológicas e gastrintestinais,
também podem ocorrer.
Quando suspeitar de
paciente com sarampo e
como conduzir o caso?
O quadro típico de sarampo é caracterizado por febre,
sintomas gripais, exantema maculopapular morbiliforme,
conjuntivite e fotofobia. A maioria dos pacientes não
requer tratamento específico, apenas sintomáticos.
Aqueles com comorbidades ou sinais de gravidade devem
receber vitamina A em altas doses. Deve ser realizada
notificação compulsória frente à suspeita de sarampo, em
até 24 horas, e a vacinação de bloqueio dos contactantes
(ou administração de gamaglobulina para aqueles que não
podem ser vacinados, como menores de 6 anos, gestantes
ou imunocomprometidos). Os que tem cartão vacinal
completo não necessitam de nenhuma medida de bloqueio.
Como classificar a
gravidade da dengue, e
como tratar cada um dos
grupos?
24.1 DENGUE
Dengue é uma doença sistêmica e dinâmica, que tem um amplo
espectro de gravidade, desde quadros oligossintomáticos até
potencialmente fatais. É uma infecção viral, e o vírus é transmitido a
partir da picada do mosquito Aedes aegypti contaminado. O Aedes se
prolifera em água limpa e parada, e por isso a importância de
campanhas de conscientização para higiene ambiental contra o
vírus.
É uma doença exantemática e hemorrágica febril. A gravidade dos
casos se deve principalmente ao extravasamento do líquido para o
meio extravascular e sangramento e, por esse motivo é fundamental
que os casos potencialmente graves sejam reconhecidos de forma
imediata e tratados de forma antecipada e correta.
24.1.1 Quadro clínico
A doença pode ser assintomática, e nesses casos muitas vezes passa
despercebida. Quando sintomática, pode apresentar 3 fases clínicas:
febril, crítica e de recuperação.
A fase febril tem como manifestação febre alta, com duração de 2 a 7
dias, de início abrupto, associado a adinamia, cefaleia, mialgia,
artralgia e dor retro-orbitária. Há exantema em 50% dos casos,
maculopapular, disseminado, que não poupa palpas e plantas. Pode
ou não ser pruriginoso. Pode haver anorexia, náuseas e vômitos
associado.
A fase crítica se inicia com a defervescência da febre, em geral do
terceiro ao sétimo dia da doença, e é neste momento que há
definição se o paciente vai evoluir ou não para a forma grave. Devem
ser pesquisados ativamente os sinais de alarme, que se devem ao
extravasamento plasmático. Os sinais de alarme são:
a) Dor abdominal intensa e contínua;
b) Vômitos persistentes;
c) Acúmulo de líquidos – ascite, derrame pleural ou pericárdico,
edema;
d) Hipotensão postural ou lipotimia;
e) Hepatomegalia – maior que 2 cm do rebordo costal;
f) Sangramento de mucosa;
g) Letargia ou irritabilidade;
h) Aumento progressivo do hematócrito – hemoconcentração – e
plaquetopenia.
24.1.3 Tratamento
24.1.3.1 Grupo A
25.1 INTRODUÇÃO
Nas últimas 4 décadas, foram realizados avanços significativos no
tratamento do câncer na infância e na adolescência. Com o
diagnóstico precoce e o tratamento adequado, cerca de 70% dos
acometidos podem ser curados, e a maioria pode alcançar boa
qualidade de vida após o tratamento.
Os cânceres pediátricos diferem dos adultos em relação à célula
progenitora envolvida e os mecanismos de transformação maligna.
Geralmente são as células do sistema sanguíneo e os tecidos de
sustentação que são afetados. Costumam ter crescimento muito
rápido, são mais invasivos, com menor período de latência e melhor
resposta a quimioterapia que os cânceres em adultos. Os tumores
mais frequentes em pediatria são as leucemias, os tumores de
sistema nervoso central e os linfomas.
O câncer corresponde à segunda causa de morte por doença em
crianças e adolescentes de 1 a 19 anos em todas as regiões do Brasil,
perdendo apenas para as causas externas e traumas. As faixas etárias
mais acometidas são as crianças até 5 anos de idade e os
adolescentes, com predomínio no sexo masculino.
Diante da importância do diagnóstico precoce e da morbidade e
mortalidade relacionadas à doença, é fundamental o conhecimento
do assunto.
25.2 LEUCEMIAS
As leucemias são o tipo de câncer mais frequente na infância,
definidas como o grupo de doenças malignas em que anormalidades
genéticas na célula hematopoética originam uma proliferação clonal
desregulada. Com essa proliferação anormal, a medula óssea deixa
de funcionar adequadamente, levando a insuficiência medular –
hemácias, leucócitos e plaquetas. As leucemias linfoides agudas são
as mais comuns na faixa etária pediátrica (75 a 80%), seguidas pelas
leucemias mieloides agudas (15 a 20%). As leucemias mieloides
crônicas são incomuns (2 a 5%).
25.2.1 Leucemia linfoide aguda
25.2.1.1 Manifestações clínicas
25.2.1.3 Diagnóstico
25.3.3 Tratamento
O tratamento, geralmente, inclui cirurgia com ressecção completa
do tumor, quando possível. Associam-se ao tratamento cirúrgico a
quimioterapia e a radioterapia, de acordo com a idade do paciente, o
tipo do tumor e outros fatores.
25.4 LINFOMAS
Os linfomas são o terceiro tipo de câncer mais comum em menores
de 14 anos. Os linfomas de Hodgkin e não Hodgkin apresentam
quadro clínico e tratamento diferentes.
25.4.1 Doença de Hodgkin
A doença de Hodgkin apresenta 2 picos de incidência: o primeiro ao
redor dos 20 anos, e o segundo, após os 50 anos. Raramente é
observada antes dos 5 anos de idade. Além disso, pode ser
influenciada por agentes infecciosos:
a) Herpes-vírus humano tipo 6;
b) Citomegalovírus;
c) Vírus Epstein-Barr.
Legenda: (A) antes do tratamento e (B) após 2 meses de quimioterapia, em que se nota o
desaparecimento da massa.
Fonte:: Nelson Textbook of Pediatrics, 2019.
25.4.2.2 Diagnóstico
26.1 INTRODUÇÃO
A violência constitui atualmente um dos mais graves problemas de
saúde pública. As diversas formas de causas externas são as
principais responsáveis pelas mortes de crianças a partir de 5 anos,
estendendo à adolescência. As mortes violentas estão entre as de
maior peso social, principalmente porque poderiam ser evitadas.
O perfil de mortalidade por violência no Brasil segue a tendência
mundial, em termos de maior concentração nas regiões
metropolitanas e de maior incidência sobre o sexo masculino e no
grupo de adolescentes e jovens. Levando em conta a distribuição das
causas externas segundo o sexo, observou-se que a
sobremortalidade masculina já é evidente na faixa etária de 10 a 14
anos: morreram 2,2 adolescentes do sexo masculino para 1
adolescente do sexo feminino em 2.000. Para a faixa etária de 15 a 19
anos, essa sobremortalidade é bem maior: morrem 6,4 rapazes para
cada moça da mesma idade.
Existe outra importante forma de vitimização, a violência doméstica
ou intrafamiliar que, por ser na maioria das vezes oculta, torna-se
institucionalizada. O médico deve estar atento, pois, muitas vezes,
os maus-tratos vêm acobertados como “medidas educativo-
disciplinares”. A violência doméstica é definida como qualquer tipo
de abuso físico, sexual ou emocional perpetrado por um parceiro
contra o outro em um relacionamento íntimo, passado ou atual, sem
consentimento da vítima. Em um sentido mais amplo, a violência
doméstica refere-se, também, ao abuso de crianças e de idosos no
ambiente doméstico.
Nos Estados Unidos, a televisão tem sido vista como fonte universal
de violência, e esta tem importante impacto sobre a saúde, no
desenvolvimento das crianças e nos aspectos psicológicos, na
medida em que influencia sua visão do mundo e seu lugar nele.
Entretanto, muitas crianças que passaram por maus-tratos
conseguem adaptações diante das dificuldades, possibilitando,
assim, a construção de novos caminhos de vida.
O enfrentamento de situações estressantes e/ou traumáticas de
adaptação afetiva, interpessoal e sexual, por meio do
desenvolvimento de comportamentos adaptativos e adequados,
chama-se resiliência. Podemos resumir esse conceito como a
“capacidade do indivíduo de emergir intacto de experiências
negativas durante a vida” e tem trazido contribuição importante
para a violência contra crianças e adolescentes, particularmente no
que se refere ao abuso sexual.
No Brasil, os maus-tratos recebem atenção pela problemática ao
envolver a criança, a família e a sociedade, causando enormes
transtornos para o país. Um grande passo na garantia de proteção à
infância e à adolescência foi dado em 1988, no texto da atual
Constituição Brasileira que reconheceu, em seu artigo 227, esse
grupo societário como sujeito de direitos, modificando toda a
legislação anterior, que considerava meninos e meninas
propriedades dos pais. Em 1990, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) regulamentou a Constituição e passou a ter força
de lei, criando as pré-condições para que meninos e meninas fossem
criados de forma mais saudável e respeitosa.
O setor de saúde recebeu um mandato social especial, que consta do
ECA, para atuar nos diagnósticos de maus-tratos: cabe a ele a
obrigação legal de notificação. Os casos de suspeita ou de
confirmação de maus-tratos devem ser obrigatoriamente
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sendo
considerada infração administrativa, sujeita a multa de 3 a 20
salários de referência, a não comunicação a autoridade competente,
pelo médico ou responsável pelo estabelecimento de atenção à
saúde, dos casos de que tenha conhecimento.
A obrigatoriedade da notificação está assegurada, também, pelo
Conselho Federal de Medicina e por alguns conselhos regionais, a
despeito do receio de muitos médicos que se omitem, alegando
segredo profissional. Não é obrigatória a certeza do diagnóstico de
abuso para a notificação. Deve-se sempre notificar a simples
suspeita.
26.2 MAUS-TRATOS COMO PARTE DA
VIOLÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA
O termo “maus-tratos” é usado como sinônimo da violência social
contra meninos e meninas no interior das famílias ou fora delas. É
definido pela ação ou omissão praticadas pelo indivíduo responsável
pela criança, adulto ou adolescente mais velho que esteja em posição
superior, com o objetivo de causar dor, física ou emocional. As
violências e os acidentes, juntos, constituem a segunda causa de
óbitos no quadro da mortalidade geral brasileira. Inclusive, na idade
de 1 a 9 anos, 25% das mortes são devidas a essas causas. Na faixa
etária de 5 a 19 anos é a primeira causa entre todas as mortes
ocorridas. Ou seja, a gravidade desse problema atinge toda a infância
e a adolescência.
Além disso, as lesões e os traumas físicos, sexuais e emocionais,
embora nem sempre sejam fatais, deixam sequelas em corpos e
mentes por toda a vida. Apesar da enorme complexidade de fatores,
alguns aspectos devem ser lembrados nas causas dos maus-tratos.
Os maus-tratos, quando ocasionam morte, entram na categoria de
morte violenta. Mas na maioria dos casos, apesar de não
ocasionarem óbitos, geram inúmeras sequelas biopsicossociais para
o paciente.
Nem sempre os agressores têm o perfil de doentes mentais. O
estigma de famílias desajustadas e desestruturadas, aplicado àquelas
não organizadas de forma nuclear, com alternância dos parceiros da
mãe, também não é suficiente para justificar todos os casos. O uso de
substâncias psicoativas – pelo perpetrador, pela vítima ou por
ambos – está envolvido em até 92% dos episódios notificados de
violência doméstica. O álcool frequentemente atua como
desinibidor, facilitando a violência – envolvidos em 50% dos casos
de violência sexual –, pelo aumento da agressividade de quem
pratica atos violentos, principalmente, quando está associado a
fatores psicológicos.
A violência doméstica é a forma mais comum de maus-tratos contra
a criança ou adolescente. Geralmente é aplicada dentro do próprio
lar ou no meio do convívio familiar e, por ser infligida por membros
da família, costuma ser acobertada – adultos são cúmplices e não
denunciam – ou silenciada – a vítima não denuncia por medo –, e
dessa forma a violência pode se prolongar por muito tempo.
São fatores de risco para a ocorrência de violência doméstica:
dependência química, antecedente de abuso por parte do agressor,
transtornos psiquiátricos, criança não desejada, desigualdade social,
marginalização, analfabetismo, pais jovens e aceitação da violência
dentro do conceito social.
26.2.1 Diagnóstico
Alguns sinais no exame físico e na anamnese das crianças ou dos
adolescentes abusados podem nos mostrar indícios de violência. São
eles:
a) Lesões que não condizem com o mecanismo de trauma relatado
pelos acompanhantes ou incompatíveis de terem sido acidentais de
acordo com a idade e o desenvolvimento neuropsicomotor da criança,
por exemplo, queda em crianças menores de 1 ano ou queimaduras no
dorso;
b) Atraso entre o momento do “trauma” e a procura por serviço médico;
c) Marcas de lesões em estágios diferentes de cicatrização, que
correspondem a lesões repetidas em tempos diferentes;
d) Lesões em áreas incomuns e em partes do corpo geralmente
cobertas, como genitália, mamas, dorso e pescoço;
e) Mordeduras, queimaduras, lesões bilaterais ou em várias partes do
corpo;
f) Higiene precária e vestuário inapropriado;
g) Hemorragia retiniana, que sugere trauma craniano;
h) Áreas de alopecia do couro cabeludo – podem sugerir puxões de
cabelo, estando os fios adjacentes em vários comprimentos. Ressaltar
lesões de alopecia em occipício, que podem ser causadas por
negligência materna em deixar a criança deitada por muitas horas;
i) Impetigo como lesão única – com menos de 1 cm, pode ser
queimadura de ponta de cigarro;
j) Queimadura nas mãos e nos pés com distinção do nível da lesão por
submersão em água quente – lesão “em bota e luva”;
k) Rodízio de serviços médicos na busca de tratamento após a lesão
corpórea, na tentativa de evitar a suspeição de maus-tratos por um
mesmo serviço médico;
l) Comportamento sexual precoce mostrado em brincadeiras ou
conversas;
m) Infecções sexualmente transmissíveis, como gonorreia, sífilis,
condiloma e AIDS.
26.2.2 Tipos
26.2.2.1 Negligência e abandono
1 A eficácia é sempre maior quanto mais próximos à relação for utilizada a anticoncepção
de emergência.
Fonte:: Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pós-exposição (PEP) de
risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais, 2017.