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Prepared for delivery at the 2019 Congress of the Latin American Studies

Association, Boston, USA, May 24 - May 27, 2019

DIFERENÇAS E DESIGUALDADES EM CIDADES MÉDIAS NO BRASIL:


DA SEGREGAÇÃO À FRAGMENTAÇÃO SOCIOESPACIAL1

M. Encarnação Beltrão Sposito


Pesquisador CNPq 1A
São Paulo State University – Unesp
Brasil

INTRODUÇÃO
As intrínsecas relações entre desigualdades e diferenças socioespaciais
requerem do pesquisador olhar atento para apreender as distinções entre esses
dois planos. Pesquisa realizada em cidades médias do Brasil revelam que a
acentuação das desigualdades socioespaciais vem sendo expressa por duas
dinâmicas: - afastamento socioespacial dos mais pobres, em direção a setores
da cidade menos dotados de meios de consumo coletivo: b) intensificação da
concentração espacial dos mais ricos em áreas mais distantes do centro, mas
fortemente servidas por bens e serviços públicos e privados.
Em função dessas duas dinâmicas, as desigualdades socioespacias revelam-se
como novas formas de diferenciação socioespacial, cujo conteúdo deixa de ser
positivo, ou seja, associado à ideia de respeito à diferença, para ser negativo,
visto que a condição espacial dos citadinos passa a ser base de suas
impossibilidades ou possibilidades limitadas de viver e se apropriar da cidade,
uma vez que condiciona suas práticas socioespaciais.
Para desenvolver essas ideias, o texto está organizado em três seções: Na
primeira, faço uma reflexão sobre as relações e distinções entre desigualdades
e diferenças, trazendo o debate sobre elas para o plano socioespacial; na
segunda parte, destaco um conjunto de elementos que auxiliam o
reconhecimento das particularidades das cidades médias, uma vez que os
processos gerais, ao se consubstanciarem em espaços urbanos de diferentes
estratos da rede urbana, revelam especificidades; por fim, busco mostrar com os
processos de segregação, autossegregação e fragmentação socioespaciais
desenvolvem-se nessas cidades .
Face ao caráter que escolhi atribuir ao texto – essencialmente discussão de
ideias – não trago elementos empíricos para demonstrá-las, mas elas emergem

1 Texto apoiado na pesquisa FRAGMENTAÇÃO SOCIOESPACIAL E URBANIZAÇÃO BRASILEIRA:ESCALAS,


VETORES, RITMOS, FORMAS E CONTEÚDOS (FRAGURB), em desenvolvimento como projeto temático,
financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) – processo
2018/07701-8.
de pesquisas que vêm sendo realizadas nos últimos dez anos, tanto no âmbito
do Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais
(GAsPERR) como por meio da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias
(ReCiMe)2

DIFERENÇAS E DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS


Compreender como ocorrem múltiplas formas de separação, apartação,
segmentação socioespaciais requer trabalharmos um pouco no sentido que cada
palavra tem, no plano de seu uso corriqueiro (pleno de sentidos e de forças
políticas), como no da reflexão científica, correlato ao primeiro, mas não
coincidente a ele porque articulado a teorias, ao método e a metodologias.
Começar pelas palavras não é, então, ocasional, porque elas
“...produzem sentido, criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes
mecanismos de subjetivação. [...] As palavras determinam nosso pensamento
porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras...” (BONDIA, 2002,
p. 21).

Desse ponto de vista, ao mesmo tempo que podemos definir o conteúdo das
palavras ou os seus conteúdos, devemos prestar atenção para a relação entre
objetividade e subjetividade que contêm. Nem sempre os pesquisadores estão
atentos a essa relação entre uso rotineiro e uso científico das palavras,
preferindo ater-se ao segundo plano, o que é importante, mas insuficiente, porqu
é na relação entre ambos que se desvela o uso político das palavras e o modo
como objetiva e subjetivamente a sociedade as incorpora, vive e constrói suas
concepções de mundo, o que inclui sua visão sobre os outros e sobre o espaço,
especialmente importantes nesse texto. Sigo, então, o lembrete de Souza (2011,
p. 147), para quem:

“Com efeito, muitos pesquisadores convictamente anticonservadores e


antipositivistas costumam gastar pouquíssimo tempo refletindo sobre algo tão
corriqueiro como... palavras (“meras palavras”, como amiúde se ouve – e como
se as palavras fossem inocentes ou inofensivas).

Em busca dos significados de DIFERENÇA e DESIGUALDADE, em diversos


dicionários, encontramos sinônimos comuns às duas palavras, como “distinto”,
“dessemelhança”, além de desigualdade aparecer como sinônimo de diferença
e vice e versa. Assim, é compreensível que, com muita regularidade, utilizemos
essas duas palavras sem prestar atenção nas sutis, mas importantes distinções
que há entre elas.
Como significado de DIFERENÇA, há “qualidade ou estado de diferente” ou
“característica pela qual pessoas ou coisas diferem uma das outras”, além de

2 Agradeço a oportunidade de trabalhar nesses dois coletivos de pesquisa que vêm me


propiciando ampliar minha leitura da urbanização brasileira e, em parte, da latino-americana,
muito além da capacidade que teria se estivesse trabalhando sozinha em pesquisa.
“modificação”, “alteração”, “transformação”, “divergência”, “desconformidade”
etc. Ao observamos o significado de DESIGUALDADE, além de “atributo de pessoas
ou coisas distintas”, selecionamos “falta de equilíbrio”, “disparidade”, “distância”
e “desnivelamento”.
Podemos, então, afirmar que a distinção entre elas reside em grande parte no
fato de que a palavra DIFERENÇA tem maior relação com a qualidade de algo, com
sua substância ou essência, enquanto a DESIGUALDADE com a natureza ou
mensuração daquilo que não é igual, tanto em termos absolutos como relativos.
Em grande medida, a dificuldade de encontramos a distinção está no fato de que
um dos principais antônimos listados para as duas palavras – DESIGUALDADE e
DIFERENÇA – é igualdade. Se não somos desiguais, somos iguais, tanto quanto,
se não há diferenças, o que se tem é igualdade. Por essa razão – o antônimo
das duas palavras ser o mesmo e as articular pela sua negação – vou adiante
usar a igualdade como elementos para mostrar tais relações.
Partindo do plano do senso comum – aquele que no decorrer do tempo dá e
altera o sentido das palavras – para trazermos essas duas ao plano do
pensamento científico, com o objetivo de adotá-las como ferramentas
conceituais, ressalto que a ‘DIFERENÇA’ vem do latim differerentia e se refere à
relação de alteridade existente entre duas coisas que possuem elementos
idênticos, mas que, ao alcançar a diferença máxima (nenhum traço em comum)
é sua contradição (Japiassu e Marcondes, 1996, p. 72). Aqui já emerge a reflexão no
plano do método, visto que a dialética emerge por meio da contradição.
No que se refere à DESIGUALDADE, sabe-se que ela deriva da articulação entre o
prefixo des, que significa oposição, e as palavras igualdade que vêm do latim
aequalitas (aquilo que é igual), aequalis (idêntico e uniforme) e aequus (parelho
e justo). Portanto, ao mesmo tempo que a desigualdade é tomada como
mensuração não apenas quantitativa (o que é igual), mas também qualitativa (o
que é uniforme), aparece a reflexão sobre a justiça, ou seja, sobre a distribuição
parelha das coisas. Para Japiassu e Marcondes (1996, p. 137) contém a ideia de
não equivalência entre duas grandezas, própria do campo da Matemática, mas
também a de não igualdade entre os homens em múltiplas acepções (civil,
jurídica, política e material).
Buscando o significado maior das duas palavras pela que lhe é antônima –
igualdade – podemos também aprofundar nossa reflexão. Para Bobbio et al
(2004, p. 597), a igualdade pode ser compreendida como: - decorrência de
características que, em substância, são semelhantes; - tratamento dado de
forma igual a duas ou mais pessoas; - propriedade das regras de distribuição.
Com base no primeiro sentido atribuído por Bobbio et al (2004) podemos
reconhecer a DIFERENÇA, como antônimo de igualdade, enquanto nos dois
outros, o antônimo mais adequado seria a DESIGUALDADE.
As DESIGUALDADES e as DIFERENÇAS podem ser observadas a partir de diversas
perspectivas – política, cultural, social, econômica –; segundo vários critérios –
de gênero, etário, racial –; conforme os contextos e condições estruturais e
conjunturais etc. Neste texto, as duas palavras são adotadas como ferramentas
para a análise urbana, objetivo central do texto e, em razão disso, vêm
acompanhadas de adjetivos que auxiliam seu uso adequado ou suas
substantivações para designar processos.
Podemos iniciar pela diferenciação espacial, compreendida com processo de
produção dos lugares e das descontinuidades, como fundamento do espaço
geográfico e da própria Geografia. As formas como ocorrem a apropriação do
espaço geram uma infinidade de espaços (parcelas múltiplas que alcançam a
escala dos Estados) e, como os fenômenos variam continuamente, engendram
diferenças, muitas vezes “brutais” (LÉVY; LUSSAULT, 2003, p. 259).
Como processo, a diferenciação espacial revela e gera diferenças, as quais, em
princípio, como destacado na introdução, podem ser vistas positivamente, como
diversidade do mundo, como multiplicidade de fatos espaciais, como pluralidade
de situações espaciais, consideradas umas em relação às outras. A qualificação
do espaço revela-se, então, como essência da diferenciação espacial. Ao se
produzir espaço, produz-se diferença e, por meio dela, qualifica-se o próprio
espaço.
Smith (1988) terá dado a maior contribuição ao debate sobre a compreensão da
diferença a partir do espaço, ao tratar da dialética da diferenciação e da
equalização geográficas. Seu objetivo – o de contribuir para a leitura do
desenvolvimento desigual – esteve articulado ao esclarecimento de como a
diferenciação é produzida, no plano espacial, historicamente. Partiu da ideia de
base natural da diferenciação, para chegar à diferenciação articulada à divisão
do trabalho. Em primeiro lugar para as finalidades deste texto, parece importante
que o autor, para tratar de desenvolvimento DESIGUAL, precisou reconhecer a
DIFERENCIAÇÃO do espaço geográfico, indicando que, embora seja importante
distinguir DESIGUALDADE de DIFERENÇA, estes dois planos são indissociáveis. Se
na DESIGUALDADE reside, como frisado, a natureza ou dimensão daquilo que não
é igual, na DIFERENÇA está a substância ou qualidade do que é distinto.
No âmbito da sociedade, para Smith (1988, p. 159), a diferenciação do espaço
geográfico é relativa à divisão territorial do trabalho, esta derivada da divisão
social do trabalho. Trata-se, então, simplificando muito, de repartição das coisas
e dos homens sobre o espaço, mas vai além disso, porque para compreendê-la
é necessário partir das relações sociais. Desse ponto de vista a diferenciação do
espaço geográfico (ou a diferenciação espacial) não pode ser compreendida
senão como diferenciação socioespacial, o processo, e diferenças
socioespaciais, a espacialização como resultado e condição da vida em todas
as suas dimensões (política, econômica, cultural etc.).
Lefebvre em conferências proferidas em Nanterre e Oxford e depois divulgadas
como texto (2008), ao discutir o espaço, apresenta 13 pontos principais e entre
eles quatro hipóteses, das quais destacamos a terceira:
O espaço não seria nem um ponto de partida (ao mesmo tempo mental e social,
como na hipótese filosófica), nem um ponto de chegada (um produto social ou o
lugar dos produtos), mas um intermediário em todos os sentidos desse termo,
ou seja, um modo e um instrumento, um meio e uma mediação. Nessa hipótese,
o espaço é um instrumento político intencionalmente manipulado, mesmo se a
intenção se dissimula sob as aparências coerentes da figura espacial (p. 44).

Tomando-se como referência essa hipótese-tese, podemos compreender as


diferenças espaciais não apenas no plano espacial, mas substantiva no
socioespacial, âmbito no qual a política se revela, pois que é necessário passar
do espaço para as relações entre espaço e sociedade. Carlos (2007, p. 45)
destacou que a
...”diferenciação socioespacial” introduz uma “qualidade” ao tema da
diferenciação, provocando um deslocamento da análise, configurando uma
essência e uma orientação para a compreensão do processo espacial: o social.
Permite-nos pensar a articulação entre o plano da construção de um pensamento
teórico produzido pela Geografia sobre a diferenciação espacial, e aquela de sua
realização, qual seja, a dimensão real da produção espacial como prática social.

É essencial esse deslocamento da análise, ou ampliação dela, visto que se


articula, ao adjetivo espacial, o social, se queremos compreender o espaço como
uma dimensão que é parte do movimento da sociedade. Para vê-lo como tal é
preciso superar a acepção de espaço como natural ou dado ou, ainda, absoluto
e avançar para uma compreensão mais crítica de espaço, como a Geografia vem
procurando fazer há algumas décadas, uma vez que:
Por suas ações, a sociedade não mais aceita o espaço como receptáculo, mas
sim o produz; nós não vivemos, atuamos ou trabalhamos “no” espaço, mas sim
produzimos o espaço, vivendo, atuando e trabalhando. (Smith, 1988, p. 132)

Em grade medida, somos levados a relativa dificuldade de elaborar o espaço, no


plano abstrato, ou seja, ir além do aparente, de sua materialidade, para alcançar
as relações que o condicionam, que ele condiciona e contém, o que é
fundamental se queremos superar abandonar definitivamente a acepção do
espaço como receptáculo, porque:
Diferente do tempo, parece, pode-se ver o espaço o espaço estender-se ao
nosso redor. Tempo é ou passado ou por vir, ou o tão minimamente agora, que
é impossível apreender. O espaço, por outro lado, está aí.
Um efeito imediato e evidente disso é que o espaço parece ser muito mais
material do que o tempo. A temporalidade parece fácil de imaginar de forma
abstrata, como uma dimensão, como a dimensão da mudança. O espaço em
contraste, tem sido comparado com ‘extensão’ e, através disso, com o material
(MASSEY, 2008, p. 174)

Como, então, compreender o processo de diferenciação socioespacial nas


cidades, como razão e expressão de profundas desigualdades no âmbito das
formações socioespaciais latino-americanas?
Primeiramente, parece que é mister reconhecer que as desigualdades são parte
da história deste subcontinente. Como tal, em cada uma das formações
socioespaciais que lhes são constitutivas, as desigualdades foram a base social
da apropriação do território pelo colonizador e a essência das sociedades que
se instituíram nesse processo.
Para Souza (2017, p. 9), a “... luta de classes por privilégios e distinções, logrou
construir alianças e preconceitos que esclarecem, melhor que qualquer outra
coisa, o padrão histórico das lutas políticas no Brasil moderno”. Se este processo
é longevo, ele se acentuou muito nos últimos 50 anos, no Brasil, ou mais
precisamente desde o golpe militar de 1964, que na prática, para Souza (2017),
significou um “acordo antipopular da elite e da classe média” gerando um efetivo
“apartheid de classes”:
Passa a existir um mercado de produtos restritos para as classes do privilégio e
outro mercado pior e mais precário para as classes populares. Além disso,
também todos os serviços, inclusive os do Estado, passam a institucionalizar e
separar a escola da classe média da escola dos pobres, hospital de classe média
e hospital para pobres, bairros de classe média e bairros para pobres, e assim
por diante.” (p. 143)

Em segundo lugar, como o excerto já sugere, as desigualdades não se


restringem aos múltiplos mecanismos políticos e econômicos que restringiram o
acesso à terra e, portanto, o direito ao território, mas também são a base e a
condição da vida urbana, sob a forma de histórico processo de aprofundamento
das desigualdades socioespaciais. Em outras palavras, não apenas a
desigualdade é social, como também é espacial, mais que isso há profunda
articulação e codeterminação entre estes dois planos no processo de produção
do espaço.
Souza (2007), em seu texto sobre a necessidade de a Geografia superar sua
tendência histórica de análises de “sobrevoo”, ofereceu elementos importantes
para se passar da ideia de diferenciação espacial para a de diferenciação
socioespacial. O reconhecimento de que há intensa relação entre processos
sociais e processos espaciais gerou debate importante no âmbito do Grupo de
Estudos Urbanos (GEU)3 e a análise das cidades brasileiras relevam a
pertinência dessa perspectiva.
Maricato (2003, p. 151) frisou que o processo de urbanização brasileiro, ainda
que predominantemente desenvolvido a partir do século XX, “... não superou
algumas características dos períodos colonial e imperial, marcados pela
concentração de terra, renda e poder, pelo exercício do coronelismo ou política
do favor e pela aplicação arbitrária da lei”. Para esta autora, é clara a relação
entre o social e o espacial, na medida em que destaca:
À dificuldade de acesso aos serviços e infra-estrutura urbanos (transporte
precário, saneamento deficiente, drenagem inexistente, dificuldade de
abastecimento, difícil acesso aos serviços de saúde, educação e creches, maior
exposição à ocorrência de enchentes e desmoronamentos etc.) somam-se
menos oportunidades de emprego (particularmente do emprego formal), menos
oportunidades de profissionalização, maior exposição à violência (marginal ou
policial), discriminação racial, discriminação contra mulheres e crianças, difícil
acesso à justiça oficial, difícil acesso ao lazer.(p. 152)

3 Direta ou indiretamente decorrente deste debate uma série de textos foram publicados no
volume 4. Número 6 da revista científica Cidades, bem como no livro intitulado “A produção do
espaço urbano” (CARLOS, SOUZA e SPOSITO, 2011). Para aprofundar essa discussão e refletir
sobre as diferenças semânticas e conceituais da adoção do adjetivo socioespacial ou sócio-
espacial, ver Souza (2008) e Catalão (2011). Neste debate, alinho-me à posição de Catalão e
opto pelo socioespacial, compreendido por ele, como relação entre o espaço social e as relações
sociais, divergindo neste ponto de Souza e do que se registrou na apresentação do livro de
Carlos, Souza e Sposito (2011), do qual, como se vê facilmente, também sou organizadora,
mostrando o quanto é pleno de divergências e até de contradições este debate que, a meu ver,
ainda está em curso.
Neste sentido, o processo de diferenciação socioespacial desenvolve-se por
meio da reprodução de desigualdades socioespaciais, expressas a fundadas em
vários planos e diversas carências. Com razão, Carlos
Desse modo a prática socioespacial fundada na desigualdade concreta e real
propõe a realização da diferença num outro plano, contestando, de um lado, a
redução do humano e da vida na cidade ao mundo da mercadoria, que produz a
“cidade como negócio” (o crescimento como estratégia da reprodução espacial)
e de outro, mas a ela associado, o planejamento do espaço sob a lógica do
econômico posto que a condição do lugar na sua inserção à lógica global,
produtora (também ela) de iferenciações, aprofunda a contradição entre espaços
integrados/desintegrados à globalização, também traduzida pela contradição
centro-periferia, como apontada por Soja (1993). Portanto a diferenciação se
estabelece e se realiza, a partir do lugar, entre escalas e em cada uma delas.

Não podemos, portanto, ao tratar da cidade brasileira (e se pode mesmo


generalizar cidade latino-americana) abordar as diferenças que marcam suas
estruturas espaciais decorrentes da divisão territorial do trabalho como divisão
econômica do espaço (espaços comerciais, industriais ou residenciais) ou
decorrentes da história de cada cidade, que também se reflete em modos de
diferenciação, tanto entre elas, como internos a cada uma delas, uma vez que a
repartição dos objetos geográficos e das pessoas no espaço não é apenas
economia, mas também sociedade e cultura, compreendidas como história que
se especializa. Tratando das metrópoles latino-americanas, o que considero que
pode ser estendido para os demais estratos da rede urbana, Duhai e Giglia (2013,
p. 15) referem-se à convergência de uma “modernização inconclusa” (marcada
por relativa integração das massas urbanas pelo processo de industrialização
por substituições, integração essa limitada no que concerne à cidadania política
e social) com as repercussões da globalização, que parecem potencializar as
contradições em termos de práticas e processos urbanos.
Para ler estas cidades é necessário combinar as múltiplas formas de
diferenciação sociespacial aos mecanismos que levam ao aprofundamento das
desigualdades sociespaciais, compreendidas estas como afronta ao direito de
“igualdade de tratamento”, como ausência de “critérios de igualitarismo”, como
caminho para propiciar “partes iguais aos iguais”, para se alcançar a “igualdade
proporcional”, vista como benefícios maiores aos mais necessitados”, nos
termos descritos por Bobbio et al (2004, p. 589 e 599).
Pode-se mesmo afirmar que a história da nossa urbanização é justamente é a
da iniquidade, ou seja, da oferta maior de meios de consumo coletivo
(infraestruturas, equipamentos e serviços urbanos) a quem, proporcionalmente,
precisa menos deles. Desse ponto de vista, a diferença que é sempre continente
de múltiplas possibilidades e nesse sentido, tem conteúdo positivo, revela-se
para Carlos como negatividade, pois
... a prática socioespacial fundada na desigualdade concreta e real propõe a
realização da diferença num outro plano, contestando, de um lado, a redução do
humano e da vida na cidade ao mundo da mercadoria, que produz a “cidade
como negócio” (o crescimento como estratégia da reprodução espacial) e de
outro, mas a ela associado, o planejamento do espaço sob a lógica do
econômico posto que a condição do lugar na sua inserção à lógica global,
produtora (também ela) de diferenciações, aprofunda a contradição entre
espaços integrados/desintegrados à globalização, também traduzida pela
contradição centro-periferia, como apontada por Soja (1993). Portanto a
diferenciação se estabelece e se realiza, a partir do lugar, entre escalas e em
cada uma delas. (CARLOS, 2007, p. 49)

Assim, não se trata simplesmente de distribuição desigual dos meios de


consumo coletivo na cidade, ainda que esse fator seja relevante e tenha peso na
substância da vida urbana que cada fração de classe social experimenta.
Estamos diante do fato de que, tornada negócio, a cidade é ela mesma
indissociabilidade entre desigualdades de condições sociespaciais e produção
da diferenciação, tanto como diapasão de preços imobiliários como de múltiplas
formas de separação socioespacial, da segregação à fragmentação
socioespacial, como enfocarei na terceira seção deste texto, depois de, na
próxima, destacar as particularidades das cidades médias.

AS PARTICULARIDADES DAS CIDADES MÉDIAS, DIFERENÇAS E


DESIGUALDADES4
O debate sobre o que são cidades médias vem crescendo no Brasil e isso ocorre
acompanhado de reflexão sobre as possibilidades de garantir bases conceituais
ou de superar essa noção na direção de outro(s) conceito(s) portador de base
teórica mais sólida, mas também em meio a críticas sobre a fragilidade que a
expressão contém pelo fato de cidades virem adjetivas por médias, o que
designaria apenas seus tamanhos. Assim, por enquanto, trata-se de uma
expressão polissêmica, porque é usada tanto para tratar da intermediação no
âmbito das redes urbanas como para se referir ao tamanho demográfico), como
adotada no senso comum, como comunicação no âmbito jornalístico, para a
atuação na área de planejamento e gestão, bem como no ambiente científico.
Adoto essa expressão para tratar dos papéis de cidades que desempenham na
rede urbana intermediação entre as maiores e as menores, mas que, no período
atual, articulam-se em múltiplas escalas e, por isso, ultrapassam os limites dos
sistemas urbanos aos quais pertencem, num período de mundialização da
economia e de globalização dos valores e práticas.
Por ter essas cidades como objeto de minhas pesquisas, sinto necessidade de
delinear melhor o próprio objeto, as variáveis que são pertinentes à sua
compreensão e, sobretudo, os fundamentos de método que nos podem ser úteis
ao pensamento.
Sobre estes, os fundamentos de método, já tive oportunidade de escrever
alguma coisa em outros dois textos (SPOSITO, 2010 e 2016) e, embora tenham
sido selecionados por mim, pela força que me parecem ter para o estudo das
cidades que não são as mais importantes nas redes urbanas às quais
pertencem, tais fundamentos não são úteis apenas à compreensão delas. Friso
este ponto pois, como fundamentos de método que são, podem e são adotados
em muitos campos científicos, dado o plano filosófico em que se encontram e

4 As ideias contidas nessa seção do texto foram expostas oralmente no XIV Workshop da Rede
de Pesquisadores sobre Cidades Médias, ocorrido em 2017, em Chapecó, Brasil. Como não
foram publicadas são agora incluídas neste texto para um debate mais amplo.
são, também, adequados para o estudo de cidades de diferentes tamanhos,
graus de complexidade de papeis e posição na divisão interurbana do trabalho.
Refiro-me aos pares (1) quantidade – qualidade, (2) forma – processo, (3)
espaço – tempo; à tríade (4) geral, particular e singular5 e, por fim, (4) articulação
entre escalas geográficas6. Cito-os, pois, para tratar de variáveis importantes à
leitura da intermediação urbana, apoio-me neles, daqui para frente, ainda que
não vá, propriamente, ater-me a eles.
Um primeiro desafio que me parece relevante para apreender, antes mesmo de
compreender, cidades médias é o de fazer a delimitação da área que se toma
como referência para compreendê-la. No passado, não tão distante, o conceito
de região, fosse a natural, a polarizada, a homogênea ou..., era suficiente para
estabelecer tal delimitação. A cidade média (e não apenas a cidade de tamanho
médio) tinha seus papéis definidos pelo seu alcance regional (o domínio e a
oferta de bens e serviços às pequenas de um dado território) e pelos modos
como drenava riqueza para as metrópoles, delas recebia comando e com elas
estabelecia articulações. Poderia se afirmar que a delimitação da área com
significância para compreendê-la podia se apoiar na configuração da região que
ela comandava e articulava.
Sabemos, entretanto, que a internacionalização crescente da economia e a
globalização da produção e do consumo e, por decorrência dos valores e
práticas espaciais, promovem continuamente novas configurações espaciais.
Elas sobrepõem-se às anteriores, conformando novos contornos, mas,
sobretudo, este é o ponto que quero frisar, deixando, cada vez mais claro, que a
continuidade espacial tem que se combinar à descontinuidade espacial e há
diferenças entre elas e as continuidades e descontinuidades territoriais (Sposito,
2005). Esta ideia não é nova, muito ao contrário, uma vez que, abordando os
problemas e a evolução da Geografia Regional, Pierre George (1972) já afirmava
que:
Se substituirmos a ideia de pesquisa de um espaço finito pela ideia de
determinação de um complexo de forças de ação, a região deixará de exprimir-
se em termos de superfície delimitada e passará a fazê-lo em termos de fluxos
e tensões (p. 107).
É o mesmo autor quem adverte, entretanto, que “...não existe nada mais
impreciso do que os limites da zona de influência de uma cidade” (p. 108),
chamando atenção para fato de que a região, como “...processo em constante
mutação não precisa ser encerrada, nem teórica, nem concretamente, num
espaço finito...” (p. 109) o que, para ele, serviria apenas como uma projeção das
responsabilidades de gestão.
A ideia de região como espaço homogêneo e, em certa medida, como campo de
polarização, pôde ser superada, no plano teórico, pelas evidências da crescente

5 Esta tríade poderia enunciada como universal, particular e singular, mas tenho escolhido ‘geral’
no lugar de ‘universal’, uma vez que pode haver confusão entre universal e a ideia geográfica de
Mundo ou de Universo, que tem relação com a tríade, mas não é a mesma coisa que sua
categoria mais abrangente.
6 Estes fundamentos de método alicerçam a pesquisa enunciada na nota de rodapé 1.
tendência de se ampliarem as escalas geográficas segundo as quais territórios
e cidades se articulam no espaço e no tempo.
Estas considerações poderiam levar ao que considero como uma falsa
conclusão: não é mais importante delimitar territórios e, tampouco, apreender o
que se poderia chamar de alcance espacial de uma cidade média, ao efetuar a
intermediação urbana. Penso que, ao contrário, a delimitação territorial, mesmo
que provisória e continuamente mutante, como é próprio de todos os processos
deve, ainda, constituir-se como uma variável importante para o estudo das
cidades médias, desde que ela esteja sempre associada ao objeto da pesquisa.
Com esta afirmação, mais uma vez, faço questão de frisar (talvez respondendo
às críticas que os estudos sobre cidades médias recebem) que a força analítica
não está na ideia de ter a cidade média como o objeto em si, mas de tomá-la
como referência para o estudo de processos e dinâmicas que são significativas
para compreender o período atual. Deste ponto de vista, elas não são o fim da
pesquisa, mas um meio ou um plano, a partir do qual se compreende dado
processo, dinâmica ou fenômeno.
Invertendo o ponto de vista, ou seja, colocando a cidade média no movimento
de elaboração do pensamento, não como ponto de chegada, mas como dado de
realidade, capaz de oferecer elementos particulares ao entendimento do mundo
urbano e rural, a delimitação (portadora da ideia de continuidade-
descontinuidade territorial e espacial) deve sempre estar afeita ao objeto da
análise. Pensando assim, o objeto, ainda que construído a partir de dada
realidade, tem que ser elaborado abstratamente.
Assim pensando, não há delimitação, mas delimitações, não há região, mas
regiões, não há continuidades apenas, mas também descontinuidades.
O mesmo pode se aplicar à escala de cada cidade média, se queremos
apreender como DIFERENÇAS e DESIGUALDADES socioespaciais se estabelecem e
se conformam. Em grande medida, os pesquisadores têm enfrentado as
dificuldades de obtenção de dados a partir de diferentes delimitações atinentes
ao espaço urbano (setores censitários, áreas ou zonas de planejamento, setores
de definição do pagamento de tributos fundiários e imobiliários etc.). Tais
delimitações, por serem continentes dos dados, influem no tratamento da
informação e, sobretudo, na mensuração das DESIGUALDADES socioespaiciais,
gerando, por exemplo, estudos como os relativos aos mapas de inclusão e
exclusão sociais, espaciais ou socioespaciais.
De outro lado, os que têm como objeto de pesquisa algum problema na escala
da cidade, não sem frequência, enfrentam a dificuldade da delimitação para a
abordagem das DIFERENÇAS socioespaciais, que não podem ser compreendidas
segundo áreas, zonas ou setores desenhados para a produção de dados e
informações, visto que as DIFERENÇAS têm base nas relações sociais, no modo
como, no espaço, situamo-nos e nos relacionamos com os outros. São essas as
bases com as quais construímos nossa visão sobre os outros, a partir do espaço
que ocupam e, sobre a cidade, segundo esse mosaico de valores que se
estabelecem, mesmo quando eles não são mensuráveis (como podem ser no
caso das DESIGUALDADES), mas geram hierarquias que conformam nossa própria
representação social do espaço urbano.
A variável delimitação torna-se, assim, não apenas o desenho da área que se
toma como referência para compreender uma ou várias cidades médias, mas a
configuração que se institui como processo, como dinâmica ou fenômeno, estes
sim construídos como o objeto do pesquisador.
Se o leitor estiver de acordo com este primeiro ponto de chegada, posso passar
à segunda variável, que considero especialmente relevante ao estudo das
cidades médias, que é a extensão.
Igualmente, neste caso, como não poderia deixar de ser, esta variável não é
específica ao estudo das cidades médias, uma vez que estamos falando de um
modo de olhar o espaço, um recorte analítico, a partir do qual podem se
evidenciar os objetos geográficos. Trato, apenas, de chamar atenção para as
particularidades desta variável no estudo das cidades médias.
Enfoco-a, primeiramente, na escala geográfica das redes urbanas ou dos
sistemas urbanos, se queremos ultrapassar limites e fronteiras regionais e
nacionais. Fiquei sensível à consideração desta variável desde 2016, quando de
minha participação em dois eventos científicos7. No primeiro, onde havia
pesquisadores de vários países do mundo, e tendo que fazer uma síntese das
pesquisas brasileiras, tive dificuldades de levar os investigadores de países
menores ou de países densamente urbanizados a compreender, por que o
estudo das cidades médias era importante, a meu ver, para compreender a
urbanização brasileira. Em outros países seja pelo tamanho de seus territórios,
seja pelo contingente populacional que têm ou pela rede urbana que constituíram
historicamente, gerando maior ou menor densidade de ocupação, o estudo
desse estrato da rede urbana não é importante ou não foi reconhecido como tal.
No segundo, quando tive a chance de conhecer a cartografia de grande
qualidade feita pelo IBGE e pelo IPEA, que expuseram neste seminário suas
pesquisas, a questão das DESIGUALDADES regionais no Brasil, apareceu com
maior força que nunca, tornando mais visível o papel da extensão, no
enfrentamento das disparidades observadas no território nacional, na direção de
superá-las sem buscar homogeneidade ou o fim das DIFERENÇAS.
Devemos tratar essa variável também na escala da cidade e, nesse caso, há
especificidades das cidades médias a serem destacadas. Com frequência, a
extensão de seus tecidos urbanos, mesmo considerando as descontinuidades
territoriais não é grande, sobretudo comparada à das áreas metropolitanas,
classificadas como de porte regional o ou nacional. De qualquer dos pontos mais
periféricos dos tecidos urbanos de cidades médias (e, nesse caso, aplica-se
também para as que são apenas de tamanho demográfico médio, embora não
exerçam papéis importantes de intermediação na rede urbana) ao centro, temos
distâncias que são de, em média de no máximo 10 km, o que significa, mesmo
de transporte coletivo tempos de deslocamento que variam entre 20 e 30 minutos
do centro principal. Isso significa que é possível aos consumidores ter, em tese,
condições de se deslocar a qualquer ponto da cidade. Por outro lado, essa
mesma extensão, marcada por descontinuidades, face ao tamanho demográfico
7 IV World Planning Schools Congress, 2016, realizado no Rio de Janeiro, onde coorganizei a
sessão “Small and medium-sized towns: role and policy challenges in a globalized world”.
Workshop "Novas centralidades urbanas em apoio à Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano”, 2016, realizado em Brasília, por iniciativa do Ministério da
Integração, onde estive como debatedora.
dessas cidades possibilita a existência de um estoque de terras
proporcionalmente mais importante do que o que é possível nas grandes cidades
e nos espaços metropolitanos, gerando condições aos incorporadores
imobiliários de reservarem extensas faixas de terra para a implantação de novos
loteamentos abertos ou fechados e controlados por sistemas de segurança e
vigilância para determinados estratos sociais de maior poder aquisitivo. Voltarei
a este ponto na próxima seção do texto.
A variável extensão contém a ideia de distância, ou seja, a extensão de uma
dada área pressupõe as distâncias entre os pontos que a constituem (como
contiguidade), mas também entre eles e tantos outros dispostos em outras áreas
(como continuidades espaciais ou como descontinuidades espaciais, nos termos
explicitados em Sposito, 2005). Quanto maior a extensão da área delimitada para
a compreensão de um dado processo, dinâmica ou fenômeno, maiores as
distâncias e, portanto, os papéis das cidades médias, a partir das quais se
analisa tal área, podem ser diversos, segundo a distância.
Entretanto, não podemos nos ater apenas à métrica, segundo a qual a extensão
e, correlatamente, as distâncias, podem ser apreendidas, uma vez que a “...
distância, que configura espacialmente os componentes do real, torna-se
inseparável de sua substância”8 (LÉVY e LUSSAULT, 2003, p. 268). Nestes
termos, para estes autores, não estamos falando apenas da distância euclidiana,
mas sim que a medida da distância deve ser pensada segundo cada realidade
social e, no plano teórico, podemos considerar que:
Para as sociedades, o problema do espaço pode ser visto como a gestão das
contradições engendradas pela distância, que impede a interação: entre os
limites do isolamento (distância infinita) e a ubiquidade (distância vencida), as
situações intermediárias podem ser tratadas segundo três modalidades: a co-
presença (distância anulada pela co-localização), a mobilidade (deslocamento
material para estabelecer a ligação entre duas realidades distantes), a
telecomunicação (transferência imaterial). (LÉVY e LUSSAULT, 2003, p. 269,
itálicos dos autores).9

Este conjunto de possibilidades que envolvem a distância como um elemento da


extensão varia segundo condições sociais e econômicas de diferentes indivíduos
(sempre socialmente definidos, sejam eles mais ou menos sujeitos políticos de
suas próprias construções) e organizações públicas e privadas (empresas
grandes ou pequenas, sindicatos de trabalhadores ou patronais, entidades
profissionais, organizações governamentais e não governamentais etc). Eles são
os agentes que, por meio de suas decisões e ações, inserem mais ou menos as
cidades médias nas quais atuam ou com as quais se relacionam, na divisão
interurbana do trabalho.
Se a co-presença de indivíduos ou organizações é fator que, quase, anula as
distâncias nas metrópoles, a situação espacial das cidades médias, pode tanto
favorecer seus papéis regionais, em territórios distantes das grandes

8 Tradução nossa de “La distance, qui configure spatialment les composants du réel, devient
inséparable de leur substance”.
9 Tradução nossa de “Pour les sociétés, le problème de la distance, que empêche l’interaction:

entre les bornes d’enclavement (distance infinie) et la ubiquité (distance vaincue), les situations
intermédiares peuvent être traitées selon trois modalités: la coprésence (distance annulée par la
co-localisation), la mobilité (déplacement matériel pour établir un lien entre deux réalités
distantes), la télé-communication (transfer immatériel)”.
metrópoles, como possibilitar a articulação delas em escalas mais abrangentes
geograficamente, se suas situações espaciais e as lógicas e estratégias de seus
agentes, definirem-se nesta direção. Deste ponto de vista, se a mobilidade tinha,
antes, relação inversa à distância – quanto maior a distância mais presentes os
obstáculos à mobilidade – temos, hoje, com as telecomunicações, uma
pluralidade maior de situações, ainda que, de fato, o espaço não esteja anulado
pelo tempo.
A variável extensão deve, assim, ser vista como distância, tanto no plano
material como imaterial, nos âmbitos econômico, social e político. A distância
nestes termos não é geométrica, mas é resultado da combinação entre distância,
tempo e meios disponíveis e acessíveis para cada agente (indivíduos ou
instituições). Assim, penso que a extensão não pode ser vista como distância e
meios para vencê-la, mas, sobretudo, como espaço, no sentido de continente
tanto de objetos como de ações, para tomar o par consagrado por Santos (1996).
Deste segundo plano de aproximação deriva a terceira variável que gostaria de
abordar – a densidade.
A posição de uma cidade média em sua rede urbana e sua situação geográfica
vis-à-vis outras cidades desta rede e de outras redes urbanas tem vínculo direto
com as relações que potencialmente pode estabelecer e, mais ainda, com as
que consegue estabelecer. Deste ponto de vista, tanto a posição na rede (em
termos do estrato a que pertence hierarquicamente falando e de suas
articulações do tipo heterárquico10) como a situação geográfica (que a situa no
espaço, em suas articulações com outros objetos geográficos) exigem sempre
uma perspectiva relacional para que sejam compreendidas.
Em grande medida, o enfoque relacional já é familiar aos estudos sobre elas, na
medida em que as cidades médias sempre são vistas em relação aos outros
espaços urbanos, talvez com intensidade muito maior que as cidades pequenas
e as metrópoles (para tomar as duas pontas da hierarquia urbana). A
intermediação, função central das cidades médias na rede urbana exige, via de
regra, que a divisão interurbana do trabalho seja vista não apenas como posição
na hierarquia, mas também como conjunto de funções e papéis que elas
exercem. Este olhar possibilitaria, a meu ver, atentar para as diferenças entre
uma e outra e, sobretudo, para os graus maiores ou menores de especializações
que marcam o perfil de cada uma delas.
Os estudos da ReCiMe já demostraram que algumas têm visto seus papéis
econômicos se ampliarem, outras mantêm com maior destaque suas funções
sociais de oferecimento de serviços importantes aos habitantes do território que
conseguem drenar ou polarizar. Algumas recebem os vetores de agentes que
saltam escalas, como propugnou Neil Smith, outras seguem atinentes ao escopo
de interações espaciais mais estreitos, contidos em espaços de menor
abrangência.
Trazendo a discussão para a escala de cada cidade, com vistas à discussão
sobre DESIGUALDADES e DIFERENÇAS socioespaciais, sabemos que a distribuição
da densidade no espaço não é homogênea e nem estou defendendo que o fosse,
no entanto é mister verificar não apenas a relação entre os objetos geográficos

10 Nos termos propostos por Catelan (2013).


no espaço (hospitais, escolas, áreas de lazer, equipamentos comerciais etc.),
mas a qualidade deles, para se averiguar a densidade. É preciso avaliar em que
medida esses objetos estão dispostos na cidade em relação proporcional à
densidade habitacional e, sobretudo, na medida necessária para o atendimento
das necessidades segundo estratos de renda familiar, tamanho médio dos
imóveis residenciais, faixas etárias dos habitantes de cada bairro etc. Aqui a ideia
de justiça contida como “distribuição parelha das coisas” atinente ao plano das
DESIGUALDADES socioespaciais aparece com evidência. Em outras palavras, a
avaliação de tais DESIGUALDADES não é possível sem se medir a densidade,
combinando-a com a verificação da qualidade no sentido da justa distribuição
das condições de vida urbana
Assim, considero que a preocupação com a abordagem relacional ganha sentido
maior se pudermos observá-la a partir da variável densidade. Parece-me que
esta variável, se considerada com maior ênfase e de modo mais substantivo,
poderia ser uma boa chave metodológica para se distinguir as cidades que
exercem intermediação das outras, bem como de diferenciá-las entre si,
inclusive ao tomar as singularidades de cada uma delas na escala de seus
espaços urbanos. Para tal, a densidade não seria apenas o resultado da relação
entre dado objeto geográfico (as cidades de uma rede ou sistema urbano ou
entre os bairros e o centro etc.) e o espaço, possibilitando que se chegue a uma
expressão numérica que seria expressa pela constatação de que há áreas mais
densamente urbanizadas e outras menos densamente urbanizadas (o que já
uma diferença importante). Refiro-me à necessidade de apreender a densidade
segundo a distribuição de objetos geográficos diferentes no espaço (cidades, é
claro, mas observando as maiores e menores, as mais e menos importantes,
bem como rodovias, indústrias, portos, áreas de cultivo, universidades,
entidades econômicas e sociais etc., bem como na escala da cidade, a
distribuição das áreas residenciais e as de consumo de bens e serviços públicos
e privados). Segundo este recorte, a densidade não é apenas uma relação
numérica, mas pode ser compreendida nas duas qualidades – não apenas como
ocorre a distribuição no espaço, mas o que se distribui no espaço e com que
intensidade.
A variável densidade, vista nestes termos, poderia contribuir à
compreensão dos processos de concentração e centralização tão importantes à
“imaginação geográfica” e, efetivamente, tão essenciais ao estudo das cidades
médias. Ela poderia contribuir à qualificação da distribuição dos objetos
geográficos no espaço, chave para a apreensão de uma divisão do trabalho e do
espaço, tanto econômica como social, que se estrutura de modo
progressivamente mais complexo.
Essas três ideias, para mim, têm força no estudo das cidades médias,
desde que a tomemos a partir da relação entre elas. A delimitação, a extensão
e a densidade não apenas se articulam como se complementam, em dois planos
diferentes. O primeiro é que, efetivamente, são sequenciais – delimitamos,
reconhecemos a extensão e podemos avaliar a densidade. O segundo é que o
sentido de cada uma só perde o caráter quantitativo que é inerente a elas, para
ganhar qualidade e substância quando à delimitação, leva ao reconhecimento
de uma extensão e de uma densidade que são explicativas do que é peculiar a
um dado tempo e a um dado espaço; pensando assim, estou defendendo que a
relação entre as três variáveis deveria ser útil à apreensão da realidade, nos
termos enunciados por Santos, qual seja não como “... um estado, mas como
uma totalização em marcha” (1978, p. 176-177).
Desse ponto de vista, quando aplicadas à escala de cada cidade média, poderão
contribuir para apreender como DIFERENÇAS e DESIGUALDADES socioespaciais se
estabelecem e se conformam.

SEGREGAÇÃO, AUTOSSEGREGAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO


SOCIOESPACIAIS
Na introdução desse texto, fiz referência a duas dinâmicas que são importantes
para compreender a cidade contemporânea e, no caso das pesquisas que realizo
em grupo, as cidades médias brasileiras em particular.
A primeira é a tendência ao afastamento socioespacial dos mais pobres em
direção a espaços cada vez mais distantes e menos dotados de meios de
consumo coletivo, reforçando uma lógica centro periférica que marcou o
processo de estruturação das cidades latino-americanas durante o século XX e,
especialmente, na segunda metade dele.
Desse ponto de vista, as lógicas que orientam a expansão dessas cidades são
gerais para o conjunto de cidades, mas ocorreram primeiro e com maior
intensidade nas metrópoles. Caldeira (2000, p. 211 e seguintes) aponta três
períodos de “expressão no espaço urbano”, do que denomina de “segregação
social”11. Para essa autora, o segundo período, dos anos 40 aos anos 80 do
século XX, corresponde àquele em que a lógica centro-periferia predominou,
gerando um padrão marcado por quatro características: 1) ser disperso em vez
de concentrado (característica principal do primeiro período); as classes sociais
viverem longe umas das outras no espaço da cidade; 3) a aquisição da casa
própria como “regra” para os ricos e pobres; 4) o sistema de transporte baseado
“..no ônibus para as classes trabalhadoras e automóveis para as classes média
e alta” (p. 218).
Duhai e Giglia (2016) tomando como referência principalmente a cidade do
México, mas frequentemente tratando de frisar que o processo que analisam
corresponde à urbanização latinoamericana12 reconhecem a existência de
“ordem” semelhante, que também perdurou até os anos de 1980,
correspondente à “metrópole fordista”, mas frisam, com maior ênfase que
Caldeira, que as mudanças que, desde essa década, começaram a se
evidenciar, sobrepõem-se à ordem anterior e conformam contextos e habitats

11 Como já esclarecido na seção primeira desse texto, adoto o adjetivo socioespacial, no lugar
de somente social ou somente espacial ou urbana etc. Além disso, como já expus em Sposito
(2013), não considero todas as formas de diferenciação socioespacial como formas de
segregação, razão pela qual nessa passagem do texto, apenas, adoto a terminologia da autora.
12
Em várias passagens do livro, os autores se referem a Buenos Aires e São Paulo, mas também
a Paris, Chicago, Grenoble e muitas outras cidades, pois o raciocínio que desenvolvem avança
por meio do reconhecimento das diferenças e semelhanças, mostrando o que é particular ao
subcontinente latino-americano e o que é geral, em termos de processo de urbanização.
urbanos que resultam, tanto quanto resultava a cidade fordista, predecessora da
atual, da associação entre:
1) las diferentes modalidades de producción y organización del espacio
urbanizado; 2) los diversos usos del espacio público y privado, 3) el tipo
específico de relaciones que éstos guardan entre si y 4) los conflitos dominantes
por el espacio (Duhai e Giglia, 2016, p. 30).

Para esses autores, a “ordem urbano-metropolitana” é resultante da coexistência


e da articulação de distintas ordens associadas a variados tipos de contextos
urbanos, que eles denominam de cidades, mesmo considerando que alguns
autores tenham, com a superação do fordismo, feito referência ao fim da cidade.
Para reconhecer o período atual, Duhai e Giglia (2016, p. 31) fazem referência à
importância de três “questões”:
 novas formas de divisão social do espaço13, com destaque para o que
consideram como excessiva ênfase nos espaços residenciais fechados e
outras variantes de habitat periférico voltado às classes abastadas,
tonando mais complexa a articulação entre as formas preexistentes e as
emergentes;
 não conveniência de analisar os distintos componentes do mosaico
urbano-metropolitano de forma isolada, não apenas porque não existem
em si, mas “...porque cada uno adquiere identidad própria en contrapunto
con todos los demás, lo que tiene produndas implicaciones en términos
tanto de las práticas urbanas como de la gestión urbana” (p. 31);
 necessidade de desenvolver uma proposta teórico-metodológica
consistente para abordar as duas questões anteriores no marco de
distintas formas de produção do espaço urbano.
Os elementos trazidos pelos autores propiciam reforçar a segunda dinâmica
aludida na introdução do texto – intensificação da concentração espacial dos
mais ricos em áreas mais distantes do centro, mas fortemente servidas por bens
e serviços públicos e privados – a qual coloca em xeque a própria perspectiva
centro-periférica que marcou a urbanização latino-americana durante muitas e
muitas décadas e vem tornando mais complexa a estrutura espacial das cidades
atuais.
Não se trata, portanto, de pensar numa cidade menos desigual no passado do
que a atual, embora isso possa ser verdadeiro, mas sobretudo de reconhecer
qual a substância da cidade atual, em termos de DESIGUALDADES e DIFERENÇAS.
Em outras palavras, é necessário desvendar qual é o mote da nova divisão social
do espaço, quais as formas de repartição socioespacial e quais os mecanismos
que lhe produzem e reproduzem, tanto no plano objetivo como no subjetivo.
Retomo meu interesse de, por meio das palavras, seus usos e conteúdos,
encontrar pistas para a análise. Em Topalov et al (2010), publicação voltada à
compilação das palavras que se referem à cidade, os autores organizam-nas, no
index des thèmes, por assuntos. Buscando a compilação delas pela categoria
13No capítulo 5 do livro de Sposito e Góes (2013) fazemos uma análise dessa nova divisão social
do espaço.
division encontrei, em língua portuguesa, 79 unitermos. A maior parte deles
pouco diz sobre a essência das formas de repartição do espaço na direção de
se reconhecer a nova divisão social do espaço urbano, como, por exemplo
‘núcleo central’, ‘loteamento’ ou ‘quarteirão’, que remanescem de divisões
sociais do espaço anteriores e têm caráter mais técnico que político, embora
essas duas ordens sejam indissociáveis.
Procurei fazer uma seleção que refletisse, por meio das palavras, o que
distinguiria a nova ordem urbana das anteriores e encontrei duas: ‘condomínio
fechado’, ‘condomínio horizontal’, visto que todas as demais são expressões há
muito tempo presentes no jargão dos planejadores e dos pesquisadores, como
‘centro comercial’, ‘periferia’, ‘paróquia’, ‘jardim’, ‘mocambo’, ‘favela’, ‘arredores’
ou ‘vila operária’, para citar alguns exemplos das que se originaram nos séculos
XIX e XX.
Em termos de produção do espaço urbano, os espaços residenciais fechados e
controlados por sistemas de segurança e vigilância, como preferimos nomeá-los
(Sposito e Góes, 2013) são, talvez, a síntese mais acabada da substância urbana
que buscamos reconhecer na cidade latino-americana atual, embora eles devam
ser sempre pensados na sua articulação com outros elementos das estruturas
espaciais e das práticas espaciais contemporâneas. Esses espaços residenciais
ajudam a entender como se conciliam as duas tendências que indiquei –
continuidade da propensão ao afastamento espacial dos mais pobres em direção
à periferia e intensificação recente da concentração dos mais ricos em áreas
distantes do centro principal. Se as classes média e alta não estão mais
separadas dos mais pobres pela distância que há entre o centro e os setores
pericentrais, onde anteriormente habitavam, e aqueles que são periféricos (onde
estavam quase exclusivamente os pobres) há necessidade de novos
mecanismos de separação que alcançam o grau da apartação, com muros,
controles e vigilância.
Não casualmente, no livro organizado por Capron (2006, p. 19), Quand la ville se
ferme14, ao se recuperar como se deu o interesse pelo estudo dos enclaves
urbaines, afirma-se que que eles emergem, sobretudo nos países da América
Latina. É frisado, no primeiro capítulo, o amálgama de conceitos, como
insegurança, violência urbana, percepção ou sentimento de insegurança,
destacando o papel amplificador da mídia no processo de “intensificação do
medo nas percepções ou sentimentos subjetivos dos indivíduos”, aspectos que
também abordamos em nosso livro (Sposito e Góes, 2013, capítulo 8), baseado em
pesquisa que nos levou a optar pela adoção da expressão insegurança urbana,
partindo da distinção entre representação da violência e violência da
representação15.

14Quando a cidade se fecha (tradução minha).


15 Uma síntese dos estudos sobre esses espaços residenciais fechados, tomando como
referência os modos como se concretizam em diferentes partes do mundo, é encontrada em
Janoschka e Glasze (2003), Billard et al (2005), Capron (2006), entre outros.
Refere-se também o autor à tendência de o discurso científico não ser mais
esclarecedor que o da mídia, visto que, por meio dele, realiza-se a descrição do
fenômeno, pelos fatos mais visíveis que o caracterizam (muros, grades, formas
de controle e discriminação na entrada), além do se abusar das metáforas para
descrevê-lo: balkanisation, fortaleza, citadela, medievalização ou feudalização
da cidade, gated communities, enclaves fortificados etc. (Capron, 2006, p. 21). O
autor afirma que o mais grave é o fato de que as metáforas utilizadas pelos
autores, adequadamente contextualizadas, depois passam a ser adotadas por
outros, sem esses devidos cuidados, gerando “difusão sem precaução dos
termos”, razão pela qual destaca:
La littérature latino-américaine sur les ensembles résidetiels sécurisés ne fait em
effet pas l’économie de ces métaphores, ces termes servant le plus souvent à
illustrer des thèses sur la fragmentation sociale et spatiale ou sur la fracture
urbaine. La ville compacte et dense, dotée d’une forte cohésion sociale et d’une
richesse de relations, aurait cédé la place à une metrópole ‘éclatée’, étale,
discontinue...16 (Capron, 2006, p. 22).

Na direção de contribuir para a leitura do fenômeno, no plano conceitual,


adotamos (SPOSITO, 2013 e SPOSITO E GÓES, 2013), com base em Corrêa (1989) e
retomado por Souza (1996, 2000 e 2003), o conceito de autossegregação. Parti da
seguinte posição sobre os novos habitats urbanos compostos por espaços
residenciais fechados:
O que interessa [...] é enfocar como esses ambientes residenciais geraram novas
formas de segregação socioespacial, que tornam mais complexos, ainda, os
processos de estruturação do espaço urbano. Refiro-me ao fato de que eles
representam forma peculiar de segregação, segundo a qual os que têm maior
poder (geralmente, mas não exclusivamente, econômico) decidem se separar
dos outros. Trata-se, numa primeira aproximação, da inversão da tendência que
vigorou durante grande parte do século XX, desde a proposição do conceito de
segregação.
[...]
A complexidade das dinâmicas que compõem a segregação socioespacial é
tamanha, que além dessa multiplicação de possibilidades de afastamento,
segmentação, separação, muitas vezes quase isolamento socioespacial, que
marca a trajetória da vida urbana dos mais pobres nas cidades brasileiras, temos
o seu reverso – a opção dos ‘de cima’ pelos espaços residenciais fechados –,
movimento esse que reforça o primeiro e a ele se articula. (SPOSITO, 2013, p.
68 e 69).

Dois pontos merecem ser acrescentados, após essa transcrição:


 o fato de que há uma mudança na natureza da distância socioespacial
entre diferentes classes sociais nas cidades brasileiras e, em grande
medida, latino-americanas, que deixa de ser mensurada metricamente,

16 Tradução nossa: A literatura latino-americana sobre conjuntos residenciais seguros não faz a
economia dessas metáforas, esses termos são mais frequentemente usados para ilustrar teses
sobre fragmentação social e espacial ou fratura urbana. A cidade compacta e densa, dotada de
uma forte coesão social e uma riqueza de relações, teria dado lugar a uma metrópole "explodida",
frouxa, descontínua... (Capron, 2006, p. 22).
apenas, para ser também resultado de novas formas de separação 17,
tanto objetivas e físicas (como os muros) quanto subjetivas (sistemas de
controle e vigilância que geram intimidação e hierarquização social);
 não há como tratar a segregação ou a autossegregação18 em si, porque
fazem parte do mesmo processo, o de promover distância socioespacial
entre diferentes classes sociais, razão pela qual têm que ser vistas como
um par dialético, uma vez que “O par segregação - autossegregação
implica pelo menos dois pontos de vista possíveis: os que segregam e os
que são segregados, os que estão nas áreas segregadas e aqueles fora
dela.” (SPOSITO, 2013 e SPOSITO e GÓES, 2013).
Segundo essa perspectiva, o par segregação-autossegregação é um elemento
essencial para compreender como, no plano do uso do solo residencial,
combinam-se DESIGUALDADES e DIFERENÇAS socioespaciais. Não há dúvida que,
em função da elevação potencial do preço da terra e dos imóveis nesses
espaços residenciais fechados, ampliando o gradiente entre o maior e o menor
preço da terra e dos imóveis urbanos, como indicamos em Sposito e Góes (2013)
e como frisa Rodrigues (2013), há ampliação das DESIGUALDADES socioespaciais.
Cada vez mais distantes das áreas da cidade melhor equipadas de meios de
consumo coletivo públicos e privados, os mais pobres não têm visto diminuição
do custo de moradia, seja por aquisição19, seja por locação, mas na direção
oposta, os estratos médios e altos têm se disposto a pagar progressivamente
mais20 para se afastar e/ou separar dos que ganham menos. Nas cidades
médias, pelo custo menor dos imóveis nesses novos habitats urbanos, quando
fazemos comparação com os mesmos tipos de áreas residenciais nas grandes
metrópoles, é maior a participação relativa dos estratos médios na aquisição de
imóveis nesses ambientes urbanos.
A produção de espaços residenciais fechados, além de ampliar as
DESIGUALDADES socioespaciais, tanto pela expansão do tecido urbano, quanto

17
Seabra (2004, p. 194) considera que “A autossegregação nada mais do que um recurso
estratégico que visa administrar a separação consumada nos territórios do urbano”.
18 Outros autores, entre eles Rodrigues (2013), não estabelecem essa distinção, mas

desenvolvem sua análise na mesma direção que vimos defendendo, ao considerar que esse é
um elemento novo na cidade, ao afirmar: “Os muros configuram, assim, as novas formas de
segregação socioespacial” (p. 157). Nesse capítulo de livro, os leitores encontram uma análise
importante sobre o processo de produção desses espaços residenciais destacando a
potencialização da “...realização da propriedade e a apropriação privada dos espaços públicos e
coletivos” (p. 164).
19 Podemos, no caso brasileiro, fazer exceção aos imóveis que foram adquiridos pelo Programa

Minha Casa Minha Vida, faixa 1, face ao subsídio oferecido pelo Governo Federal, fato positivo,
mas que não veio acompanhado de boa situação espacial dos conjuntos habitacionais para os
estratos sociais mais pobres, porque se reproduziu nesse, a tendência histórica dos demais
programas de habitação social no Brasil, desde a instituição do Sistema Financeiro Habitacional,
em 1968, de localizar os conjuntos em porções periféricas das cidades, via de regra mal servidas
de condições adequadas para a vida urbana (infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos).
20 Ainda é necessária uma pesquisa sistemática e ampla sobre esse ponto, mas há indicadores

confiáveis de que imóveis de nível semelhante (área do terreno, área construída, padrão de
construção, idade do imóvel etc.) custam, em média, 30% mais, em cidades médias que vimos
estudando, quanto estão dentro dos muros, do que aqueles que estão na “cidade aberta”.
pelo aumento do gradiente de preços dos imóveis, são responsáveis pela
produção de novas formas de DIFERENCIAÇÃO socioespacial.
Aqui a relação entre quantidade (mais expressa pelo gradiente das
DESIGUALDADES) transforma-se em qualidade (mais revelada pelas DIFERENÇAS).
Na pesquisa que originou o livro de Sposito e Góes (2013), inúmeros
entrevistados, em Marília, Presidente Prudente e São Carlos, três cidades
médias paulistas, no Brasil, em suas respostas utilizaram o par “aqui” (dentro
dos espaços residenciais fechados) e “lá” (fora dos muros) diferenciando a
cidade, segundo duas partes que se distinguem claramente. Alguns também
fizeram referência ao fato de que, embora muita gente pobre seja honesta, é
fundamental reforçar os sistemas de controle e vigilância sobre os que trabalham
nesses espaços residenciais fechados (empregadas domésticas, jardineiros,
pedreiros etc.) mostrando que a distinção de classe social é base ainda de
diferentes formas de discriminação, estigmatização e, nesse caso, segregação
socioespacial e, portanto, de diferenciação socioespacial, porque se estabelece
por esses mecanismos de controle e vigilância quem têm direito de acesso a
esses habitats e quem deve passar por revistas mais sistemáticas, em
decorrência de sua posição social21. Com práticas dessa natureza, não apenas
as distâncias objetivas e subjetivas se estabelecem, como a sociedade se
diferencia, por meio de mecanismos que reforçam a ideia de prestígio social.
Nessa direção, entrevistados também fizeram referência, ao justificar a opção
por residir nesses espaços, ao fato de que queriam oferecer aos filhos um
ambiente mais seleto, onde eles pudessem brincar e conviver com crianças
“iguais a eles”.
Entretanto, como já destaquei nesse texto, a existência desses novos habitats
não representa o único elemento novo que contribui para o avanço do plano das
formas urbanas para o dos processos, alcançado a substância da cidade
contemporânea, pois há que se considerar, também, que as formas de
separação ultrapassam os espaços residenciais e alcançam as outras
dimensões da vida urbana.
Se na cidade fordista, em grande medida, o consumo era feito em
estabelecimentos diferentes, voltados a estratos de poder aquisitivo,
cuidadosamente selecionados, ou por tipos de lojas e marcas, ou pelos andares
a partir dos quais se estratificava o consumo nos magazines, grandes espaços
de consumo originados no século XIX e de grande prestígio, sobretudo na
primeira metade do século XX; na cidade atual, a produção de espaços de
consumo e serviços, como resultado mais de interesses fundiários e imobiliários,
como são os shopping centers, gerou três novos fenômenos na cidade
contemporânea, o que vem ocorrendo, no início paulatinamente (em São Paulo
a dinâmica teve início no final dos anos de 1960 e passou a se disseminar em
cidades médias no final dos anos de 1980), mas agora de modo marcante:

21Sobre esse tema, ver em Sposito e Góes (2013), a seção intitulada “Os Outros”, que se inicia
na p. 253.
a) multiplicação da centralidade gerando progressiva separação social entre os
lugares de consumo, uma vez que os centros principais das cidades deixaram
de ser um espaço em que a separação social se dava por lojas e trechos de ruas,
para ser, cada vez mais, espaços dos que ganham menos na América Latina, já
que os que ganham mais optam pelos shopping centers mais próximas das áreas
residenciais mais caras e de mais prestígio social;
b) a tendência ao consumo22 ganhar centralidade no período contemporâneo,
tanto em face do processo de constituição de uma sociedade de indivíduos 23,
nos termos propostos por Bourdin (2005, p. 34 e 35, e 2009), ao analisar as
metrópoles sobretudo, como em decorrência da importância crescente que os
artefatos e espaços de consumo têm ganhado numa sociedade tardocapitalista
que se autodefine por meio do consumo, como destacam Duhai e Giglia (2016,
p. 16).
c) a transformação do sentido e do conteúdo de vários espaços públicos,
gerando, além do par espaço público – espaço privado, outras possíveis
categorizações: - “espaço públicos de uso coletivo privado”, como os espaços
compartilhados pelos moradores de espaços residenciais fechados que não são
proprietários das terras de uso comum, mas vetam o direito de apropriação e uso
delas pelos que moram fora dos muros, e - “espaços privados de uso coletivo”,
como os de shopping centers onde a esfera pública não se realiza de modo
completo, face ao direito de controle privado e a orientação sobre formas de
comportamento e ação24.
Essas constatações mostram que as formas contemporâneas de separação
socioespacial não se restringem aos espaços residenciais, alertando para o fato
de que o par segregação – autossegregação é uma ferramenta conceitual que
importante, mas, quando se trata de compreender a cidade (e não apenas os
ambientes residenciais) é necessário lançar mão de um conceito mais
abrangente, como o de fragmentação socioespacial, que não se refere
exclusivamente à disposição dos usos sobre o espaço, nem apenas às relações
sociais que o engendram, mas também às ações e às práticas que se
concretizam e dão novos sentidos aos múltiplos fragmentos que compõem a
cidade atual.
Inúmeros autores, especialmente interessados em analisar os processos
contemporâneos de estruturação espacial nas cidades latino-americanas, têm
contribuído para a construção do conceito de fragmentação socioespacial 25,
tomamos para essa análise espacialmente os textos de Prévôt-Schapira (2001)

22 Sobre esse tema, tomando como referência as cidades médias, ver a recente análise de Góes
et al (2019).
23
Duhai e Giglia (2016, p. 19) estabelecem relação entre fragmentação e individualização do
consumo.
24 Essas ideias estão desenvolvidas em Sposito e Góes (2013).
25 Destaco alguns: Poche (1998), Gervais-Lambony (2001), Salgueiro (2001) Prévôt-Schapira

(2001), Navez-Bouchanine (2002), Paquot (2002), Rémy (2002), Rhéin (2204), Prévôt-Schapira
e Pineda (2008), Séguin (2011), Gusmán e Hernándes (2013), Sposito (2013), Sposito e Góes
(2013), Catalão e Magrini (2016).
e Prévôt-Schapira e Pineda (2008), que apontam a polissemia do termo
fragmentação, o que já havia sido frisado por Lefebvre (1988), bem como ajudam
a revelar seu caráter multidimensional como indicou Navez-Bouchanine (2002).
Schapira e Pineda (2008) caracterizaram a fragmentação socioespacial, ao se referir à
América Latina, procurando nível de particularização do processo que é geral e
mostrando relativa polissemia do conceito, ao distinguir sua adoção em três planos
diferentes:
1) pelo papel das políticas públicas e “dos novos modos de governança das
metrópoles continentais”;
2) pelas “transformações associadas à globalização e às novas estratégias do
management empresarial”;
3) pela “relação, muitas vezes contraditória, entre mudança social e evoluções
da estrutura urbana” (PRÉVÔT-SCHAPIRA e PINEDA, 2008, p. 75).
Nesse texto, estamos trabalhando com esse conceito, conforme o terceiro plano,
embora os dois primeiros sejam dele indissociáveis.Tomando como referência a
realidade latino-americana, considero que a matriz socioeconômica tem forte
implicação na fragmentação sociespacial, o que não significa que dimensões
políticas e culturais não sejam relevantes para essa análise. Para Navez-
Bouchanine (2002, p. 65) a fragmentação, baseada nas diferenças
socioeconômicas, significa uma ‘reimbricação forte do econômico e do social’,
atuando sobre diversas formas de proximidade e de co-presença no espaço”
(NAVEZ-BOUCHANINE, 2002, p. 65).
Para Edward Soja, inspirado em Henri Lefebvre, as práticas modelam nossos
espaços de ação. Se elas estão restringidas pelo nosso afastamento
socioespacial, por um lado, ou pela nossa opção de morar em áreas fechadas e
controladas por sistemas de segurança, de outro, tais práticas são cada vez mais
segmentadas no plano social e político, revelando e reforçando uma sociedade
fraturada e uma cidade estruturada pelo processo de fragmentação
socioespacial.
A separação socioespacial não é, como busquei destacar, apenas aumento das
distâncias, mas mudança nas formas de viver a cidade, a partir de múltiplos
modos de constituição de DESIGUALDADES e DIFERENÇAS socioespaciais. Nestes
termos, a relativização do direito à mobilidade e à acessibilidade urbanas,
definidas segundo a condição socioespacial de cada citadino, orientam
processos de separação que ultrapassam a segregação e a autossegregação
para alcançar a fragmentação socioespacial.

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