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RESUMO
Este artigo tem como principal objetivo discutir aspectos relevantes para a formação da
criança na Educação Infantil desenvolvidos nas aulas de práticas corporais por meio da
Educação Física. O trabalho encontra estruturado em três tópicos e o desenvolvimento se deu
através do processo de revisão literária. A partir dos objetivos apontados e das referências
consultadas, foi possível concluir ser fundamental que a escola busque construir sua prática a
partir de elementos que dialogue com o cotidiano da criança e que a mesma utilize a
brincadeira como recurso metodológico por ser esta uma forma privilegiada de manifestação
da relação da criança com o mundo. Além disso, na discussão realizada foi possível perceber
que o movimento humano é uma forma de se comunicar com o mundo e de produção de
cultura: a cultura corporal. Cabe ressaltar, no entanto, que algumas das dúvidas iniciais foram
sanadas, porém, surgiram novos questionamentos. Estes certamente servirão como
apontamentos para estudos futuros.
Palavras-chave: Corporeidade. Criança. Educação Física. Educação Infantil.
ABSTRACT
This article aims to discuss the work with the corporeity in the teaching and learning process
of a child, as a cultural and historical subject in early childhood education. This work is
structured in three topics and its development was performed by using literary review. From
the objectives showed and references consulted on, it was possible to conclude that is
essential that schools seek to build their practice from the elements on which dialogues with
the child’s everyday life and that may this child use the plays as a methodological source, for
this one to be a privileged form of manifestation of the child’s relationship with the world.
Furthermore, in the discussion held it was possible to understand that human movement is a
way to communicate with the world and it is a production of culture: the body culture. It’s
noteworthy that some of the primitive doubts were solved, thus new questions appeared.
These questions will serve as notes for future studies.
Keywords: Corporeity. Child. Early childhood education.
1
Licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Pedagogo na Escola Municipal
Alessandra Salum Cadar da Prefeitura de Belo Horizonte/MG.
2
Professor do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. E-mail:
marcos.pinheiro@izabelahendrix.edu.br.
Introdução
Neste sentido esta pesquisa se propôs discutir aspectos relevantes para a formação da
criança na Educação Infantil desenvolvidos nas aulas de práticas corporais por meio da
Educação Física. A partir deste escopo principal têm-se os seguintes objetivos específicos:
dialogar com a concepção de infância que considera a criança como um sujeito histórico e
cultural, discutir o processo de aprendizagem da criança dentro desta abordagem e analisar a
contribuição das práticas corporais na formação da mesma.
Para viabilizar este trabalho, foram tomados como referência, entre outros, Vygotsky
(1998) e Gonçalves (2007) para contextualizar a criança enquanto sujeito histórico-cultural,
Leontiev (2006) e Garanhani (2002) que discutem a brincadeira no universo infantil e sua
importância no processo de aprendizagem, Bracht (1996), Freitas (2008) e Freire (2010) que
vão dialogar sobre o que deve ser desenvolvido nas aulas de Educação Física. Portanto, o
3
Além das linguagens oral, gráfica (as letras e os números), midiática (TV, cinema), cibernética (computador),
pictória (desenho), musical (vocalização, oralidade).
método utilizado nesta pesquisa foi o de revisão literária com base em livros, capítulos de
livros e artigos na internet.
Para além dos objetivos acima relacionados, este inicio de reflexão sobre a temática
abordada, sinaliza como possibilidade para que profissionais que atuam em sala de aula se
sintam estimulados a fazerem seus exercícios de pesquisa. Esta prática ao constituir um
evento presente na vida do profissional do docente, certamente contribuirá para o
aprimoramento de sua formação acadêmica e consequentemente para a melhoria da qualidade
do ensino.
Ao nascer, a criança já está inserida dentro de uma sociedade que tem seus valores
predominantes, com os quais a mesma terá que, se não adaptar ao menos dialogar. Isto
implica em dizer que quando a criança chega à escola e mesmo após sua entrada neste mundo
institucional, traz consigo experiências que somadas às vividas no ambiente escolar servirão
como orientação no processo de construção de sua visão de mundo.
Ao nascer o ser humano já está inserido em uma determinada cultura e passa a viver
em um determinado tempo histórico. Ao longo de seu desenvolvimento, a criança
incorpora as coisas do mundo, aprende a simbolizar suas experiências e,
simultaneamente, a desenvolver sentimentos em relação às pessoas e coisas e a agir
em seu meio, também transformando-o por meio de sua ação. Na interação com o
mundo, o indivíduo vai construindo sua personalidade, formando sua identidade
pessoal.
Cada vez mais a criança aprende menos na escola e mais pelos meios de
comunicação que sem dúvida, exercem mais influência que o sistema de ensino. A
escola precisa perder a ilusão de que é ela a única que está ensinando o que é
necessário para viver em sociedade.
A escola, neste sentido, é apenas uma das instituições que tem a atribuição de cuidar
do processo de educação/formação das crianças cujas experiências de vida ainda que curta,
nesta discussão em especial, tratou de crianças da Educação Infantil, muito contribuem com o
processo de leitura de mundo realizada por este sujeito.
Em se tratando das práticas corporais, Freitas (2008, p. 19) diz que, a forma como o
ser humano lida com sua corporeidade “e com os determinados regulamentos de controle do
comportamento corporal não são universais e constantes, mas, sim, uma construção social e
histórica”. Para ela, no espaço da escola, interage um grupo de pessoas que tem uma
identidade pessoal, mas que também é coletiva. As manifestações são reflexos das
experiências pessoais diante de suas relações sociais. Neste sentido de acordo com a mesma
“Os corpos desses diferentes sujeitos apresentam marcas históricas, sociais e culturais que
influenciam suas ações no cotidiano escolar” (p. 19).
De acordo com a autora, estudos recentes4 têm apontado as crianças como sujeitos de
direitos, que ao mesmo tempo em que é produtora de cultura é produzida por ela. Nestes
estudos, a Educação Infantil é entendida como um tempo da criança ter acesso à cultura
produzida ao longo da história, mas ao mesmo tempo, participando como sujeito sócio-
histórico que também é produtor de cultura.
4
Sobre concepções de crianças e Educação Infantil ver tese de mestrado de Amanda Fonseca Soares intitulada
“Corpo, Movimento e linguagem: em busca de conhecimento na escola de educação infantil (2008).
Ainda segundo Freitas (2008, p. 19) ao valorizar a criança enquanto sujeito social a
escola deve valorizar as diferentes formas de manifestação da criança assim o “corpo da
criança é o corpo de um sujeito social e deve ser considerado em toda a sua totalidade e
multiplicidade expressiva”.
A partir do que é colocado pela autora é possível entender que a valorização das
diferentes formas de expressão da cultura infantil, ajudará o professor(a) a se inteirar do
conjunto de valores e saberes que compõem a realidade da criança. Além de conhecer a
realidade da criança de acordo com Porto (1995, p. 93):
Desta forma ao adotar uma prática que dialogue com a realidade da criança, o
professor(a) estruturará sua prática pedagógica rumo ao processo de formação de um sujeito
autônomo crítico e reflexivo e consequentemente dará a ele a estímulo para ser um sujeito
ativo dentro de seu contexto social. Vale lembrar esta é a função social da escola.
Com o auxílio da imitação da atividade coletiva guiada pelos adultos, a criança pode
fazer muito mais do que com sua capacidade de compreensão de modo
independente. A diferença entre o nível das tarefas realizáveis com o auxílio dos
adultos e o nível das tarefas que podem desenvolver-se com uma atividade
independente define a área de desenvolvimento potencial de uma criança.
É sobre esta área de desenvolvimento potencial que está a justificativa para a atuação
do professor(a). Através de um planejamento adequado ele potencializará a aprendizagem da
criança levando-a a superar os limites impostos pelo seu desenvolvimento, seu
amadurecimento biológico.
De acordo com a autora, através de suas ações motoras a criança se integra ao contexto
histórico-cultural. É através do movimento que a criança começa a organizar sua compreensão
sobre as coisas e sua organização no espaço, englobando inclusive as relações com pessoas
que estão neste espaço. Argumenta inclusive que para a criança construir uma imagem e
representá-la é preciso antes que estabeleça uma relação corporal com o elemento a ser
representado.
Numa situação de brincadeira existe sempre, para aquele que brinca, um certo
número de decisões a tomar, de escolhas a fazer, de papeis a assumir. Isto significa
que, de forma imaginária, a criança assume diferentes papeis, que atribui aos
mesmos diversos significados, experimenta situações novas ou mesmo do seu
cotidiano, testa valores com os quais se defronta na realidade.
Ainda de acordo com a autora a brincadeira traz para as crianças desafios a serem
pensados sobre seu comportamento diário, e levanta hipóteses sobre questões que envolvem
seu relacionamento com as demais pessoas no dia a dia. Assim, o brincar possibilita à
criança, a construção de sua autonomia e sua formação enquanto sujeito.
A brincadeira vale lembrar, faz parte da cultura e vem sendo criada e reinventada pelo
ser humano ao longo de sua existência. Participar de um jogo ou atividade corporal não deve
ser encarado apenas como forma de preparar a criança para ser um profissional de
determinada modalidade esportiva, profissional ou qualquer que seja o modelo de adulto
padrão. É importante pensar que ao possibilitara criança vivenciar na prática estes aspectos,
daremos a ela a oportunidade de conhecer elementos da cultura que vem sendo criados e
mantidos pelos ser humano ao longo de sua existência.
Sugerimos que é com base neste pressuposto que as atividades ligadas às habilidades
corporais deverão ser orientadas no espaço escolar. Neste trabalho, a brincadeira será
abordada na perspectiva da corporeidade. O enfoque é na corporeidade estimulada e
desenvolvida a partir das aulas de Educação Física, pois de acordo com Gonçalves (2007, p.
134) “A Educação Física como ato educativo relaciona-se diretamente à corporeidade e ao
movimento do ser humano”.
O objetivo não é defender que a corporeidade seja trabalhada apenas nas aulas de
Educação Física, porém o diálogo se dará a partir de estudos desenvolvidos por profissionais
desta área. Isto porque, partindo do que afirma Gonçalves (2007), ao longo da história da
instituição escola, quem tem se ocupado majoritariamente em discutir a corporeidade, são os
profissionais da Educação Física.
Numa perspectiva de Educação Infantil que considera a criança como sujeito social
que possui múltiplas dimensões e que estas, precisam ser evidenciadas nos espaços
educativos voltados para a infância, as atividades ou os objetivos de trabalho não
deveriam ser compartimentados em funções e/ou profissionais. A questão não está
no fato de vários profissionais atuarem no currículo da educação infantil. O
problema está nas concepções de trabalho pedagógico destes/as profissionais que,
geralmente, fragmentam as funções de uns e outros, isolando-se em seus próprios
campos.
todos os profissionais que atuam com as crianças no sentido de incorporarem em sua prática,
atividades que ampliem estes referenciais junto às mesmas.
Brincar com a linguagem corporal significa criar situações nas quais a criança entre
em contato com diferentes manifestações da cultura corporal (entendida como as
diferentes práticas corporais elaboradas pelos seres humanos ao longo da história,
cujos significados foram sendo tecidos nos diversos contextos socioculturais),
sobretudo aquelas relacionadas aos jogos e brincadeiras, as ginásticas, as danças e as
atividades circenses, sempre tendo em vista a dimensão lúdica como elemento
essencial para a ação educativa na infância.
É preciso pontuar, no entanto que nesta etapa da educação básica é recomendável que
o trabalho com as diversas linguagens ocorra dentro de uma perspectiva sistêmica, isso não
implica necessariamente que cada linguagem não tenha seu objetivo central definido. No
tocante a Educação Física, de acordo com Freitas (2008) pelo fato de esta constar na matriz
curricular da Educação Infantil pressupõe que ela tenha o que ensinar. Segundo a autora,
desde que esta disciplina começou a fazer parte da rotina das escolas, o que ela ensina e como
ensina vem sendo modificado. Estas mudanças ocorrem em função de diferentes interesses
culturais e sociais, ou mesmo dos diferentes projetos pedagógicos construídos em diferentes
épocas.
Nesta pesquisa, em especial será utilizado como ponto de reflexão o que é defendido
por Bracht (1996, p. 24) como sendo o papel da Educação Física junto às crianças no
ambiente escolar. Ele defende que o saber específico da Educação Física se pauta na cultura
corporal do movimento. Nesta concepção “o movimentar-se é entendido como uma forma de
comunicação com o mundo que é constituinte e construtora da cultura, mas também
possibilitada por ela”.
Para Bracht (1996, p. 27) uma educação crítica no âmbito da Educação Física:
Ainda referindo-se a atuação do professor(a), Freire (2010) pontua que há que se ter o
cuidado com o brincar. Na escola ele deve ser mediado pelos objetivos educacionais como as
atividades de qualquer outra disciplina. Neste sentido, o professor (a) ao administrar sua aula
deve orientar suas atividades sabendo onde quer chegar.
Em relação ao seu papel pedagógico, a Educação Física deve atuar como qualquer
outra disciplina da escola, e não desintegrada dela. As habilidades motoras precisam
ser desenvolvidas, sem dúvida, mas deve estar claro quais serão as consequências
disso do ponto de vista cognitivo, social e afetivo. Sem se tornar uma disciplina
auxiliar de outras, a atividade de Educação Física precisa garantir que, de fato, as
ações físicas e as noções lógico-matemáticas que a criança usará nas atividades
escolares e fora da escola possam se estruturar adequadamente.
Para Freire se o professor(a) lançasse mão das atividades que já fazem parte da cultura
infantil seria uma forma de facilitar seu trabalho, uma vez que pela sua natureza garantiria o
Considerações finais
A criança que frequenta a escola de Educação Infantil é um sujeito que está inserido
em um contexto histórico e cultural, portanto tem uma bagagem de conhecimento e,
sobretudo, de práticas corporais, que precisam ser valorizadas. Neste sentido, o diálogo entre
o que a escola tem como objetivo e a realidade da criança fará com que o processo de ensino
aprendizagem seja munido de significado. Mais ainda, é na relação entre o que a escola tem a
oferecer e a realidade da criança que será possível promover a formação do sujeito para que
ele possa saber ser e atuar meio social ao qual está inserido.
Ainda que haja defesa de uma não divisão curricular com, cada disciplina atuando de
acordo com objetivos específicos, não podemos deixar de pensar que tradicionalmente a
prática escolar tem se pautado neste modelo e que levará tempo para que tal estrutura seja
superada, isto dentro de uma visão bem positiva de avaliação sobre a situação. O fato é que
tradicionalmente a Educação Física tem se dedicado ao trabalho com o corpo, assumindo ao
longo da história diferentes formas de pensar este corpo. Atualmente uma das vertentes de
discussão está centrada na concepção da cultura corporal do movimento. Dentro desta linha
de pensamento o objetivo da escola é possibilitar à criança vivenciar experiências corporais,
tendo em vista possibilitar a ela estar e atuar no mundo lançando mão de sua corporeidade.
Após esta breve pesquisa foi possível levantar referenciais cujas leituras possibilitaram
dialogar com os objetivos inicialmente propostos. No entanto cabe ressaltar que outras
questões surgiram indicando novos caminhos para uma pesquisa posterior. Entre estes
questionamentos estão: o professor generalista que atua na Educação Infantil estaria apto a
perpassar por todas as linguagens sobre as quais está alicerçada esta etapa da educação básica
desenvolvendo um trabalho com a qualidade necessária? Caso a escola faça a opção por
trabalhar com quadros de especialistas nas disciplinas, estes teriam condições, baseado em sua
formação acadêmica, de dialogar com o professor generalista objetivando construir uma
prática que tenha como objetivo principal a formação ampliada do sujeito? Diante destas
questões, há muito que se pensar, não apenas no que diz respeito à atuação do professor(a) e
sua relação com as práticas corporais, mas também sobre a formação deste(a) professor(a).
Um dos caminhos possíveis na busca pela superação dos limites relativos à formação
de professores anteriormente levantados seria o estabelecimento de uma carga horária mínima
a ser cursada como disciplina eletiva. Esta forma de organização curricular possibilitaria aos
formandos participarem de discussões que envolvessem outros cursos que não o seu de
origem. Esta dinâmica, além de permitir intercambio de informações entre os cursos,
certamente melhoraria a possibilidade de diálogo entre os profissionais no futuro.
Referências
AYOUB, Eliana. Reflexões sobre educação física na educação infantil. Rev. Paul. Educ. Fis.
São Paulo, Supl. 4. p. 53-60, 2001. Disponível em:
<http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/v15%20supl4%20artigo6.pdf>. Acesso em:
10 set. 2011.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 5 ed.
São Paulo: Scipione, 2009.
SAYÃO, Débora Thomé. Infância, Educação Física e Educação Infantil. 2000. Disponível
em: <http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/dborahfln.rtf>. Acesso em: 02 dez. 2011.