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1. Introdução
O presente artigo tem como objetivo demonstrar que a materialidade delimitada pelo
constituinte não permite que a contribuição previdenciária sobre folha de salários incida
sobre verbas que não remunerem trabalho realizado com habitualidade, como ocorre com
a remuneração paga no período de férias.
Ora, como se trata de grandezas não afeitas ao Direito Tributário, é necessário recorrer à
legislação trabalhista para melhor precisarmos o alcance da contribuição.
Com efeito, a partir da interpretação dos artigos 457 e 458 da CLT, salário pode ser
definido como o montante que engloba todos os valores recebidos pelos trabalhadores
como contraprestação a trabalho realizado com habitualidade, independentemente da
forma de pagamento.
Neste sentido, em seu voto no RE nº 166.772-9, o Ministro Celso de Mello esclareceu que
salário deve ser entendido como “expressão econômico-financeira da contraprestação do
serviço realizado sob o regime de execução subordinada”.
Neste contexto, a contribuição apenas pode incidir sobre rendimentos de trabalho, o que
implica dizer que estes valores devem necessariamente ser caracterizados como
contraprestação por trabalho desempenhado.
Diante desses dispositivos não restam dúvidas de que uma verba que não seja destinada
a remunerar trabalho ou que remunere trabalho prestado sem habitualidade não é salário
e, tampouco, rendimento do trabalho. Por isso, não pode integrar a base de cálculo da
contribuição previdenciária do empregador prevista no art. 195, I, a, da CR.
Delimitada a conotação dos valores que podem compor a base de cálculo da contribuição
previdenciária criada pelo art. 195, I, “a”, da CR, passemos, então, à análise da forma de
pagamento de férias aos trabalhadores a fim de averiguar seu possível enquadramento.
Ora, se as férias são remuneradas, não há dúvidas de que a remuneração devida pelo
empregador não é paga como contraprestação por trabalho realizado, justamente por ser
paga durante período em que o empregado não está exercendo nenhuma atividade
laboral.
Neste contexto, não há como admitir a incidência das contribuições previdenciárias sobre
essas parcelas, por não serem pagas como remuneração por trabalho realizado.
O Recurso Especial referido no tópico anterior tinha como objeto a discussão acerca da
incidência da contribuição previdenciária sobre os valores pagos aos empregados a título
de férias e também de salário-maternidade.
Por isso, como havia Recurso Especial submetido ao regime dos Recursos Repetitivos em
que se discutia a possibilidade de exclusão do salário-maternidade (REsp nº
1.230.957/RS), foram opostos embargos de declaração pela Fazenda Nacional que, ao
final, foram acolhidos para adequar, no que couber, o julgamento ao quanto decidido no
recurso representativo de controvérsia.
Ora, a partir da leitura da íntegra do acórdão, verifica-se que não foi objeto no Recurso a
discussão sobre a possibilidade de incidência da contribuição previdenciária sobre os
valores pagos em decorrência de férias, mas apenas sobre o terço constitucional de férias,
rubrica que apresenta disciplina própria.
Neste contexto, não há dúvidas de que estes julgados incorreram em flagrante equívoco,
pois o acórdão que julgou o Recurso Especial nº 1.322.945 não foi reformado no que
decidiu sobre a impossibilidade de incidência da contribuição previdenciária sobre os
valores pagos a título de férias.
Com efeito, este Recurso representa um precedente ainda em vigor que deve ser adotado
em futuros julgamentos, pois tem como fundamento a correta interpretação da
materialidade constitucionalmente delimitada para a contribuição previdenciária sobre
folha de salários.
5. Conclusão
Pensamos ter deixado claro, assim, que o REsp nº 1.322.945 positiva a correta
interpretação da materialidade da contribuição previdenciária prevista no art. 195, I, “a”
da CR, ao afastar sua incidência sobre os valores pagos aos trabalhadores que não
tenham como contraprestação a realização de trabalho.
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