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A Classe Acabou?

Reflexões sobre um Tema


Controverso*

HuwBeynon

os anos 80, uma cerimônia realizada na cidade de Durham, na


N Inglaterra, foi descrita da seguinte maneira por um repórter local:

"Duas das mais ricas farru1ias da Grã-Bretanha uniram-se ontem por matrimó-
nio na Catedral de Durham. Lady Isabella Lambton, 21 anos, caçula das cinco
filhas de Mr. e Mrs. Tony Lambton, de Lambton Park, Burnmoor, casou-se com
o banqueiro Philip Naylor-Leyland. O noivo, ex-oficial da Cavalaria Real, é o
herdeiro de f. 20 milhões do falecído Conde Fitzwilliam, padrasto de sua mãe. A
herança inclui 13 mil acres e duas imponentes mansões, uma delas com 365 apo-
sentos. Cerca de 300 convidados, dentre os quais os empregados das proprieda-
des dos Lambton em Northumberland e Durham, foram à recepção seguida de
jantar no Salão Principal do Castelo de Durham. Lady Isabella usava um vestido
de seda pura branca. O véu, também de seda, era arrematado por urha grinalda
de rosas amarelas e, nas mãos, ela segurava uma só rosa, em vez de um buquê.
As quatro damas de companhia usavam vestidos longos de seda cinza-pratea-
do, tinham na cabeça pequenos adornos brancos e seguravam buquês de rosi-
nhas amarelas. Todos os modelos, confeccionados pelo ateliê Belville Sassoon,
de Londres, foram inspirados nos quadros do pintor Thomas Lawrence, do
século XVIII. Os pajens vestiam roupas de época, em velúdo azul e vermelho,
com laços dos sapatos combinando" (The Sunderland Echo, 19/3/1980).

• [A tradução do original em inglês "The End of Class? Some Thoughts on a Contested


Concept" é de Vera Pereira.)

DADOS- Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 39,nn2, 1996, pp. 253 a 277.
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O pai da noiva era o ex-Conde de Durham, que renunciou ao título para fazer socialmente distintos de pessoas unificadas por traços espedficos (e] que
carreira na Câmara dos Comuns. Foi ele que, em 1973, pediu démissão do compartilham das mesmas intenções" (idem, p. 8).
governo Heath, após um episódio escandaloso com uma garota de programa,
e que, respondendo com segurança, deixou constrangido seu entrevistador CLASSES: DEFININOO FRONTEIIAS
Robin Day• durante uma entrevista em que anunciou sua exoneração. A
família recuperou-se do escândalo, manteve sua poderosa influência na Esse problema se desdobra em duas dimensões: uma dela~ envolve a questão
região e preservou seu lema "O Dia Há de Chegar". Os Lambton, que são da classificação (por meio de um conjunto "objetivo" de critérios) e a outra se
uma das mais poderosas famílias da Grã-Bretanha, acumularam riqueza com refere à interpretação das experiências subjetivas e das percepções das pes-
o comércio de carvão no século XIX; vários de seus membros exerceram soas. Uma terceira questão é a de tentar articular essas abordagens. Nesse
importantes papéis de destaque na política partidária do país, primeiro como sentidó, as dúvidas e indagações de Reddy são muito importantes; contudo,
liberais e, mais recentemente (o caso mais importante é o de Alex Douglas sua conclusão de que "a própria noção de classe, como principio de explica-
Hulme), no Partido Tory. A família tem sempre fornecido quadros para os ção na história, é[..!'] questionável" (idem, p. 9), me parece prematura.
altos círculos do Estado britânico (cf. Colville, 1988). Os Lambton, que são um
excelente exemplo da natureza resiliente da riqueza e do poder político na Para iniciar a análise desses temas é interessante colocá-los em perspectiva
Grã-Bretanha, exemplificam a importância de compreender esses fenômenos histórica. L. Kolakowski (1978) sustenta a opinião de que a maior parte dos
como parte de um amplo processo histórico e nos servem para introduzir o problemas relevàntes para a teoria marxista já foram integralmente discutidos
tema das classes sociais e da mudança histórica. no século XIX, e ~ssa interpretação me parece até certo ponto justificável.
Não há dúvida de que os textos de Marx revelam uma arguta percepção des-
O uso da classe social como base de um modelo conceituai para a análise da ses problemas. Autores recentes (Marshall et alii, 1988) afirmam que ele foi
sociedade e da mudança social tem sido objeto de muita controvérSia e exaus- "irrefutavelmente ambíguo" na maneira como os resolveu. Embora um tanto
tivos debates há mais de um século. As discussões vêm sendo travadas não só severo, esse julgamento ajuda a chamar a atenção para as diferentes maneiras
no dmbito da tradição marxista como também entre esta e outras linhas de como Marx tratou desses temas fundamentais.
pensamento. Muitas vezes os pontos de discordância são mais aparentes do
que reais e, de vez em quando, a situação se inverte.l Refletindo sobre esse Quanto à base social das classes e das relações de classe, por exemplo, os tex-
debate, é difícil não se render à idéia de que a noção de classe é, simultanea- tos de Marx são às vezes de extrema clareza. A classe na sociedade capitalista
mente, o mais útil e o mais problemático dos conceitos usados por historiado- é diretamente relacionada à propriedade (ou ausência de propriedade) e a um
res e cientistas sociais. Seu atrativo reside, inicialmente, em possibilitar a efeito da divisão do trabalho e do processo de trabalho que geram uma ten-
identificação de grupos coesos de pessoas por sua posição econômica na dência à polarização e ao conflito de classes. Em um trecho famoso, Marx iden-
sociedade. Considerando-se, ainda, que esses grupos estão em conflito ou em tifica as "três grandes classes da sociedade modema": "os que são proprietá-
competição, a posição de classe pode ser um elemento importantíssimo para a rios unicamente da força de trabalho, os proprietários do capital e os proprie-
investigação das motivações das pessoas e de seu comportamento político. tários de terras, cujas fontes de renda são respectivamente os salários, o lucro
Mas há vários problemas nessa análise e eles aparecem em diferentes dimen- e a renda da terra; em outras palavras, trabalhadores assalariados, capitalistas
sões. Para começar, não é óbvio de que maneira e em que bases os grupos e grandes proprietários rurais" (Marx, 1971, p. 885).
podem ser situados na estrutura econômica de uma sociedade. Seja qual for o
esquema escolhido, sempre haverá ambigüidades e situações marginais. Contudo, Marx observou que a diVisão técnica e social ,do trabalho no interior
Como disse W.M. Reddy (1987, p. 9), "quando se põe o microscópio em foco, dessas classes havia criado uma "ilimitada fragmentação do lucro e da hierar-
a nitidez das fronteiras de classe desaparece". Um outro aspecto, talvez mais quia" (idem, p. 886). Nesse ponto, como nos informam todos os especialistas
importante, é que sempre se pode alegar que as pessoas, independentemente em marxismo, "o manuscrito se interrompe", deixando-nos diante do conhe-
de sua localização, pensam e agem de modo não puramente determinado cido "problema da fronteira". Foi este o problema retomado por Weber em
pela posição econômica. Na opinião de Reddy, é diffcil"fal~r de conjuntos sua minuciosa descrição da diversidade dos processos econômicos que atuam
na formação de grupos em uma economia de mercado. Da abordagem webe-
riana resultou a possibilidade de que as "três grandes classes" de Marx fos-
• N.T.- Famoso entrevistador da televisão inglesa.
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sem ainda mais fragmentadas a partir não só da posição no processo de pro-
dução, como também da concorrência em torno de um grande número de mostra claramente que é muito difícil comprovar a existência de uma "classe
bens de mercado. operária" coesa na Inglaterra vitoriana, fato que, aliás, já foi reconhecido há
tempos no debate sobre a "aristocracia operária" e o "exército de reserva". O
Diante disso, a opinião de Reddy, de que "é difícil indicar com exatidão as artigo de Joyce leva-nos um passo adiante no caminho da desconstrução do
fronteiras de classe e a condição de membro de uma classe", parece-me incon- conceito e desvenda uma outra classe "difícil".
testável outros diriam que é um truísmo -, da mesma maneira como sua
observação de que "se partirmos de uma definição rígida e estreita de 'prole- A esse problema da variabilidade interna de uma classe (e o tema correlato da
tariado' e formos procurar pelo mundo afora, encontraremos uma impressio- identidade subjetiva de classe), pode-se acrescentar um outro conjunto de
nante diversidade de destinos resumidos nessa palavra" (Reddy, 1992). questões relativas às fronteiras de classe. Recorremos novamente à análise de
Bush, que é bastante sugestiva. Ele examina as experiências dos camponeses
Existe certamente uma grande variação em qualquer definição ampla de das- livres em confrm;to com as dos servos e escravos, e aponta situações em que
se tanto do ângulo dos interesses e recompensas· económicas, quanto do as condições destes últimos seriam preferíveis às dos primeiros, levantando a
das idéias e crenças. O estudo de Michael Bush (1992) sobre 0 campesinato possibilidade de um profundo contraste entre as categorias analíticas e as
e~rop~u, por exemplo, é especialmente útil por descrever, ao mesmo tempo, a experiências cotidianas de vida.
diversidade dos destinos associados às relações pré-capitalistas e a multiplici-
~ade ~e s~as ca~sas. Modelos de uso da terra e de propriedade da terra, polí- Idéias semelhantes têm caracterizado o debate sobre a escravidão nas Améri-
ticas fiscais, assim como relações de parentesco e padrões democráticos, tudo cas. A variabilidade nas formas institucionais da escravidão (na África, nos
isso ~ntribuiu para a sorte dos camponeses. Por essas e outras razões é que Estados Unidos e em outros países do continente americano) tem sido ressal-
Shanm (1973) se referiu ao campesinato como "a classe difícil" ["the awkward tada, assim como as semelhanças e diferenças entre a experiência dos escra-
class"]. Foram também os camponeses que causaram embaraços ao próprio vos e a dos homens livres na fase de industrialização americana (ver, p. ex.,
esquema conceituai de Marx, levando-o a definir uma classe social pela ótica Fogel e Engerman, 1974; Gutman, 1975). Os trabalhadores dos Estados Uni-
de suas relações. Falando a respeito da França, Marx referiu-se a "pequenos dos e da Europa sabiam bem das semelhanças entre suas vidas e a dos escra-
camponeses que formam uma grande massa, e cujos membros têm condições vos. A noção de Marx de um "escravo assalariado" derivou de uma concep-
de vida semelhantes, mas não estabelecem relações complexas entre si". Sua ção popular que foi, em parte, influenciada pelo fato de que uma importante
conclusão geral foi a de que: parcela dos trabalhadores estava presa a laços de obrigação com os patrões.
Dentre estes, os mineiros de carvão da Escócia e do norte da Inglaterra-
"[... ] na medida em que milhões de famílias sobrevivem em condições econó- empregados em regime de servidão até 1872 - foram os grupos mais signifi-
micas que distinguem seu modo de viver, seus interesses e sua cultura das cativos. Como declarou o primeiro secretário-geral da Associação dos Minei-
demais classes e que as colocam em oposição hostil diante das demais, elas for- ros de Durham, em 1871: "quando você se dava conta de todo o peso das
mam uma classe. Na medida em que existe apenas uma interligação local des- obrigações, você ficava sonhando com a liberdade; mas olhava ao redor e não
ses pequenos camponeses e a identidade de interesses não cria entre eles uma via meios de escapar; você estava atado ao LUGAR pela lei inglesa e, enquan-
comunidade, um vínculo nacional e uma organização política, eles não for; to lá estivesse, ficava submetido à lei do chicote dos patrões" (Beynon e Aus-
mam uma classe" (Marx, 1963, pp. 123-4). trin, 1994, p. 29). Assim, talvez se pudesse estender a:S conclusões de Snell
sobre o abrandamento das distinções entre os camponeses e os trabalhadores
O elemento de comunidade é considerado decisivo tanto pelos defensores agrícolas na zona rural da Inglaterra e do País de Gales a um grupo de operá-
quanto ~elos críticos da análise de classes, e foi discutido em profundidade rios cuja posição fundamental na classe operária se tornou quase lendária (cf.
por Patnck Joyce (1992). Sua análise dos trabalhadores industriais ingleses no Harrison, 1978).
século XIX revela até que ponto a classe operária era formada por grupos
fragmentados, freqüentemente isolados e separados no plano local mais do Nos séculos XVIII e XIX, os mineiros eram contratados pelos proprietários de
que unificados por sua posição econômica como trabalhadores assalariados. terras em condiçõ~ semelhantes às dos trabalhadores rurais. Assim como
Embora certos aspectos da exposição de Joyce possam ser discutidos, ela estes, e a despeito de uma interpretação por demais veemente da industriali-
zação como pm processo urbano, eles viviam em povoados muitas vezes dis-
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nl tantes das cidades. John Campbell, em sua biografia de Nye Bevan.., chama a Seus supostos teóricos eram os da eugenia com sua concepção de tipos "supe-
atenção para a relação entre a solidariedade e o "chauvinismo local" dos riores" e "inferiores". Conforme muitas vezes observado, a escala baseia-se
mineiros, e diz que para bem avaliar a figura de Bevan é importante com- em uma série de supostos intuitivos e apriorísticos- Nichols (1979), por
preender que: "ele era, na realidade, um rapaz do campo. As comunidades exemplo, fez ver que, por esse método, os capitalistas e os internos dos hospi-
mineiras não são realmente urbanas, mas estabelecidas em vales entremeados tais psiquiátricos estão na mesma classe. A luz desses fatos, sociólogos e his-
por colinas abertas [... ) a montanha- mais exatamente charnecas quase sem toriadores têm procurado construir sistemas classifical:órios mais refinados.
vegetação- descia quase até a soleira de sua casa" (Campbell, 1987, p. 7). Em sua resenha das pesquisas históricas sobre as classes médias, Seed ressalta
"a limitada utilidade de se usar a ocupação como indicador de posição social"
O problema de definir categorias precisas de classe baseadas em formas de (Seed, 1992, p. 119). Boa parte da pesquisa sociológica contemporânea concor-
uso da força de trabalho e de produção torna-se ainda mais complexo quando da com essa opinião; tentativas mais elaboradas e sofisticadas de criar escalas
pensamos na difícil questão da "classe média". O dilema histórico tem sido o vinculando ocup~ção e classe só demonstram que a tarefa é muito problemá-
de identificar uma classe cujo nome não indica um papel ou uma atividade, tica. Esses exercidos classificatórios também apontam para o papel decisivo
mas "um espaço, um entremeio[ ...) um grupo que não consegue ou que se dos julgamentos de valor dos próprios pesquisadores (ver, p. ex., Rose, 1988).
recusa a se enquadrar na divisão principal entre ricos e pobres" (Seed, 1992, Apesar disso, os sociólogos empíricos alegam que, embora as categorias de
p. 115). Esse problema se agravou com o surgimento das grandes organiza- classe (como todas as categorias) contenham variações internas, elas conti-
ções e o crescimento de uma massa assalariada não-capitalista, vindo a tor- nuam sendo um poderoso instrumento de explicação das atitudes das pes-
nar-se "uma das questões mais insondáveis da sociologia contemporânea" soas perante o trabalho, de suas preferências eleitorais, de seu desempenho
(Abercrombie e Urry, 1983). Trata-se, em parte, de uma questão de definição educacional e assim por diante. Ir além disso, diriam alguns, exigiria evidên-
(por que classe "média"?) e os sociólogos já sugeriram novos termos para dar cias mais detalhadas, de caráter etnográfico, e pesquisas qualitativas sobre a
conta das condições modernas - a "classe de serviço" é o mais usual (cf. maneira de viver das pessoas (cf. Marshall, 1983; Engels, 1892).
Wright, 1979; 1985; Goldthorpe, 1980; Marshall et alii, 1989). Um tema de
relevância ainda maior é o das fronteiras de classe e do processo de alocação AFENOMENOLOGIA DA CLASSE
pelo qual as pessoas são situadas nas categorias de classe.
É nesse nível mais amplo de subjetividade que a discussão se toma mais com-
plexa. Todo sistema classificatório é, em si mesmo, difícil de se estabelecer;
Não resta dúvida de que esse é um problema mais geral e não se reduz aos
historiadores e sociólogos admitem este fato como um mal necessário. Para
campos da Sociologia e da História. A preocupação de classificar e coletar
Reddy, o problema da classificação é apenas uma escusa para fugir à questão
dados sobre as populações tem sido uma das características dos Estados
maior, qual seja, a de que as próprias classes se tornam agentes da história e
modernos (cf. Giddens, 1974). Tírnberlake chamou a atenção para a complexi-
são levadas à frente do palco, ou retiradas de cena, pelos historiadores inte-
dade dos métodos elaborados pelo Estado czarista na tentativa de manter um
ressados em explicar (ou confundir) determinados fatos e seus desdobramen-
sistema tradicional de classificação ante uma divisão do trabalho dinâmica e
tos. Também nesse aspecto (como no da "ilimitada fragmentação de interes-
pertinaz <Timberlake, 1992; Nichols, 1979}. As atividades do Estado britânico
ses e hierarquias") o problema, o desafio e a crise não são novos. Sem dúvida,
tinham uma natureza diferente, mas não eram menos problemáticas - o
é possível discernir nas análises empíricas de Marx e Engels uma consciência
censo de 1851, por exemplo, classificou a família real na "classe profissional".
desses problemas. Já fizemos referência à observação de Marx sobre o campe-
Esse sistema classificatório foi aperfeiçoado durante o século XX para consti-
sinato, à qual podemos acrescentar a análise de Engels sobre as idéias religio-
tuir uma escala de General Register"'* muito utilizada. Embora mais completo,
sas das classes médias inglesas na década iniciada em 1850. Engels deixa
esse perfil de categorias não deixou de conter problemas e idiossincrasias.
claro que o interesse de classe desse grupo ficara efetivamente oculto sob a
máscara de crenças religiosas muito profundas e que, como tal, não podia ser
• N.T. -.Nye Bevan.foi um mineiro do sul do País de Gales que se tornou deputado usado para explicar seu comportamento. Daí sua conclusão de que "as idéias
pelo Pa.rtido Trabalhist:' na década de 1930 e chegou a ministro da Saúde no governo religiosas e seu desenvolvimento em sistemas de dogmas", em muitos casos,
trabalhista de 1945. Fot um dos fundadores do welfare state inglês, com a criação do predominam na determinação da "forma" e do "curso" das lutas históricas
Serviço Nacional de Saúde. Esteve sempre à esquerda do partido e, nos anos 50,
comandou a ala "bevanista" que fazia oposição à liderança de Gaítskill. (Engels, 1892). Abrams observou, com argúcia, que o problema (neste aspec-
•• N.T.- Registro Civil. to, como em outros) não é o de que a análise

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"[... ]explique todos os fatos e desdobramentos históricos pelas relações de pro- "A consciência de classe é a maneira como se lida com essas experiências por
dução, propriedade ~ classe, mas que se estabeleçam tantas condições de meio da cultura[ ... ]. Se a experiência parece ser determinada, a consciência de
medwção entre esses fatores e as influências políticas, culturais e ideológicas classe não o é. Pode-se perceber uma certa lógica[... ], mas não se pode predi-
que acaba sendo extremamente difícil determinar a conexão causal entre as zer nenhuma lei. A consciência de classe aparece da mesma maneira em épo-
relações econômicas e a mudança histórica" (Abrams, 1982, p. 49). cas e lugares diferentes, mas nunca exatamente da mesma maneira"
{Thompson, 1968, p. 10).
Tais análises nos colocam diante de um paradoxo. De um lado, as considera-
ções de Marx sobre o campesinato (e sua referência ao "saco de batatas") Por isso, o conceito de consciência de classe patrocinou a introdução da pes-
apontam para a marcante dicotomia por ele traçada entre "falsa consciência" e quisa sobre o mundo do trabalhador como um aspecto básico e essencial de
"éonsciência verdadeira", entre realidade e ilusão. É nessa situação que os "in- toda análise de classes. Essa concepção teve grande influência sobre os soció-
teresses" de classe podem permanecer ocultos durante décadas, até que, final- logos e os historiadores sociais e, inesperadamente - dada a antipatia de
mente, emergem, em momentos críticos, pela intervenção da ação de classe. Thompson por grande parte das pesquisas sociológicas -, se tornou um ins-
Era essa a visão do marxismo da Terceira Internacional, cujos pressupostos trumento útil para a formulação de abordagens e questões comuns às duas
foram compartilhados por pesquisadores de orientação mais liberal e empiris- disciplinas, apontando para a necessidade de examinar o vocabulário de clas-
ta, e essa foi também a razão do ceticismo inicial de Reddy quanto à análise de se da linguagem popular. Isso é muito importante e se fundamenta na obser-
classes. Contudo, essas mesmas considerações podem levar a uma visão teóri- vação de que, sejam quais forem os problemas implícitos na classificação, as
ca das classes sociais que entende as classes econômicas e políticas (e a arena pessoas usaram e continuam a usar uma linguagem que identifica outros gru-
da luta de classes) como categorias não-redutíveis, perspectiva compatível pos e classes na so~iedade. Muitas vezes a idéia de classe expressa imagens
com uma interpretação radical de Weber. Na década de 1%0, E. P. Thompson complexas e originais. Urna análise atenta e minuciosa desses esquemas de
entrou no debate sobre a teoria das classes sociais com a publicação de seu conceituação pode ser de grande proveito para a pesquisa. Snell, por exem-
importantíssimo estudo The Making of the English Working Class, seguido por plo, menciona a expressão "classe dos ladrões", comum no meio rural da
uma série de artigos posteriormente reunidos em The Poverty of Theory. Inglaterra ~ do País de Gales no século XIX, para definir os grupo~ que vi-
viam à custa do trabalho de outros (Snell, 1992). Na sociedade francesa con-
Os textos de Thompson são bastante conhecidos. Ele deixou clara sua aversão temporânea, os operários da indústria automobilística chamam os gerentes
pela definição de classe das escolas estruturalista e stalinista do marxismo, de grey suits (d. Linhart, 1978), enquanto os operários da indústria química
estendendo essa antipatia aos estilos de análise sociológica obcecados com 0 inglesa aludem aos chefes como the bíg books* (Nichols e Beynon, 1978). Na
problema da classificação e que, a seu ver, "tinham parado a máquina do usina siderúrgica de Volta Redonda, as diversas hierarquias de operários são
tempo". Sua intenção era "resgatar" as experiências da classe operária "do iíientificadas pela cor dos capacetes e dos uniformes. Nos altos-fornos de
., olhar de superior condescendência da posteridade" (Thompson, 1%8, p. 13), Bessemer, os engenheiros intervêm em momentos de pane e os operadores os
em uma referência ao problema básico de vincular a experiência cotidiana e vêem chegar de cima, de suas posições no alto dos fornos. Como os engenhei-
os universos de significação dos trabalhadores às análises das relações de ros usam capacetes amarelos e uniformes brancos são conhecidos por todos
classe. Nesse sentido, Thompson afirmou que: como os "margaridas".

"(... ] não se pode deduzir a classe de um "corte" estático (pois ela vai mudando
Exemplos semelhantes encontram-se no linguajar c<;>tidiano ,de outros grupos
com o passar do tempo), nem vê-la como resultado de um mod~ de produção,
mais poderosos da sociedade. Sé a linguagem dos operários da siderurgia
já que a formação de classe e a consciência de classe (na medida em que esta
tem um leve tom de deboche, as alusões feitas por seus superiores contêm um
sofre determinadas pressões) evoluem em um processo aberto e ilimitado de
viés mais agressivo. No Brasil, durante o período populista de Vargas, quan-
relações - de luta contra outras classes - ao longo do tempo" {Thompson,
do um novo líder de origem social pouco expressiva substituiu as poderosas
1978, p. 299).
fami1ias proprietárias de terras, as características sociais dos novos grupos
Para Thompson, classe era um "conceito de ligação", um meio de lidar com a *N.T.- No primeiro caso, evidentemente, o modo de vestir (os grey suits, temos cin-
interseção entre estrutura e aç~o. Séu caráter aberto e ilimitado excluía as zentos); no segundo, o material de trabalho (os bíg books, livros de escrituração). Ambos
interpretações de consciência "falsa" ou "verdadeira": são utilizados como sinais de classe.

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políticos eram identificadas pelo m9<fo de carregar o almoço para o trabalho Trilling faz uma descrição vfvida desses estudantes de Yale que imaginavam
(os "marmiteiros"). Essa tendência dos grupos mais poderosos para identifi- seu futuro como "uma escada para os céus", todos eles "subindo até as nu-
car os setores subordinados por seus estilos de vida, seus hábitos de vestir e vens em uma maravilhosa escada rolante". Esses jovens não eram apenas
de comer, prolongou-se até os dias de hoje. A palavra "farofeiros", por exem- socialmente privilegiados, eram "demograficamente abençoados": "nós éra-
plo, é geralmente usada para fazer referência às pessoas mais pobres. Termos mos homens brancos nascidos no baby boom da depressão, e tínhamos chega-
depreciativos foram utilizados durante as campanhas de Lula, líder do do à maioridade em uma época em que a posição privilegiada dos homens
Partido dos Trabalhadores, para desqualificá-lo, sugerindo características brancos estava tão completamente entranhada na estrutÚra da sociedade que
socialmente inaceitáveis do candidato presidencial nem nos apercebíamos disso" (idem, p. 44).

Na Grã-Bretanha, diários de líderes políticos como Alan Clark (1993) mos- Esse tipo de ênfase no que se poderia chamar de uma fenomenologia da clas-
tram claramente que as origens sociais e familiares condicionam as explica- se social encontra apoio nos estudos que procuram associar os universos
ções do comportamento político.2 Para Oark, o "sangue" é um fator crucial; interpretativos das- pessoas com uma análise das relações de classe. Em seu
ele e seus amigos mais próximos estão convencidos d~ que Mrs. Thatcher (o minucioso trabalho sobre a cidade de Limerick1 na Irlanda, McNabb, por
tempo todo tratada como "the /ady'') possui atributos que desmentem suas exemplo, deteve-se no modo como a estrutura de classes se revela através da
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origens modestas e que só podem ser explicados pelo fato de que, de algum vida cotidiana". Observou que a organização cooperativa Maintir na'Tire fazia
modo, ela tem sangue aristocrático nas veias ("there's blood there somewhere· reuniões durante as quais o palco e as primeiras fileiras da platéia eram ocu-
there's blood there'', dizia ele). • A idéia de que os ricos e privilegiados são u~ pados pelos fazendeiros. Enquanto isso, muitos empregados das fazendas se
grupo social distinto, quase uma espécie diferente, é muito comum. A opinião retiravam porque, no seu entender1 os fazendeiros "não deixavam ninguém
de Clark a esse respeito enfatiza um elemento de natureza física; é mais falar além deles1' . Os fazendeiros, por sua vez, retrucavam fazendo críticas
comum, todavia, realçar indicadores sociais tais como o modo de vestir e de aos empregados porque "eles não abrem a boca numa reunião, só falam do
agir. Tais indicadores podem ser igualmente eficientes na acentuação da con- lado de fora11 • McNabb mostra também "que a meta a ser atingida e a direção
dição de "outro" do grupo identificado. Por exemplo, um produtor de carne em torno da qual a sociedade se organiza (... ]é a conservação da proprieda-
de peru surpreendeu-se quando o colunista da seção de produtos alimentí- de" (McNabb, 1964, p. 242). Quanto a isso, o papel dos homens, como pais e
cios do jornal The Guardian perguntou-lhe se podia dar continuidade às suas maridos, era obviamente fundamental na estrutura social. Essa observação
pesquisas sobre o processo de produção entrevistando os operários, dando- aponta para alguns dos problemas envolvidos na construção de uma análise
lhe a seguinte resposta: "esse é o tipo de gente que come 'físh 'n chips' [peixe de classes, vários deles ligados à solw;iio de Thompson.
com batata frita]. Eles são completamente diferentes de você e de mim. Mui-
tas vezes sequer tomam banho de manhã" (Ronson, 1994). . . O FAZEK·SE DAS CLASSES: COMPOSIÇÃO DE CLASSES

Em seu estudo sobre a Universidade de Yale dos anos 50, Calvin Trilling As críticas levantadas contra Thompson são bastante conhecidas. Sua censura
conta que um dos adjetivos mais usados era "shoe" [sapato], derivado de aos· critérios de classificação colocou-o em uma posição vulnerável diante das
"white shoe'' [sapato branco]. "Shoe" eram os estudantes que vinham de "famí- acusações de que o material empírico utilizado em seu livro tinha uma base
lias aristocráticas ou de posses", e passou a indicar um estilo de vestir e tam- estreita demais para fazer jus ao título.3 Estruturalistas, como Richard
bém "um certo ar pouco amistoso e distante". Trilling observa que Johnson, criticaram a abordagem "culturalista" de Thompson por ser dema-
siado simplista e naturalista e por conter uma análise insuficiente da dinâmi-
''(...1alguns anos antes de chegarmos, era comum ouvir a expressão 'white shoe' ca da mudança social nos séculos XVIII e XIX.4
[...) além de 'brown shoe' e 'black shoe'. As pessoas white shoe sempre eram, evi·
dentemente, 'shoe'. Ao que parece, os brown shoe eram os brilhantes presidentes Na opinião de Johnson, o espaço concedido por Thompson "ao económico"
do diretório estudantil, que vinham das escolas secundárias da classe média limita-se à categoria da "experiência", ou seja, as relações econômicas só
bran~ (...]os blackshoe eram os 'pés-rapados"' (Trilling, 1993, pp. 31-2). assumem existência real nos sentimentos expressos pelos membros de uma
classe. As forças econômicas, como conjunto de relações objetivas, apenas se
• N.T.- "Tem sangue ali em algum lugar; tem sangue ali". fazem presentes de forma atenuada, por intermédio da cultura, do "movimen-

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mo e a interpretação de Joyce não lhe faz justiça. O relato de Wilson sobre sua
to interior da experiência". Desse modo, argumenta Johnson, a solução de vida e seu envolvimento com os mineiros de Durham e o Partido Liberal com-
Thompson torna "extremamente difícil empregar categorias econômicas de provam as imensas tensões que se erguem entre a transigência da Associação
um modo mais preciso", e, por isso, subtrai ao historiador "um poderoso ins- de Mineiros de Durham e outros modos de pensar vigentes entre os mineiros
trumento de análise". Johnson termina por restabelecer o velho problema: (Wilson, 1900; 1907). Essas divergências, freqüentemente, irrompiam nos
momentos de conflito industrial ou nas épocas de eleições; por exemplo, em
"(A ~~Use de Thompson} cria sérias dificuldades (... ) quando é necessário 1874, na reta final das eleições, os sentimentos se encontravam exacerbados
analisar ~junturas particulares da história das classes em que as fragmenta- entre os mineiros, por conta da atitude de Londonderry diante do Miners Act
ções'culturais e políticas têm realmente mais influência sobre o resultado das de 1872 e do movimento sindical de um modo geraL Wilson relata a maneira
ações coletivas do que qualquer tipo de sentimento de unidade de classe. Será como a polícia deu fim aos tumultos de rua, prendendo vários mineiros. De pé
então que as classes não existem? A pergunta teria cabimento na Inglaterra das em uma carroça, na tentativa de manter a ordem, ele foi aconselhado por dois
décadas iniciadas em 1850 e 1860 e para a condição atual do 'desaparecimento' jovens a não fazer muito caso do que se passava: "Apenas olhe e você vai ver
das classes(..•}nos anos 50" Oohnson, 1978, p. 97). coisas interessant~." Ao que parece, os jovens tinham razão:

Partindo de uma outra ótica, Perry Anderson examinou a fundo as diversas "[ ... ) os policiais voltavam da cadeia, onde tinham deixado os prisioneiros,
maneiras como·Thompson empregou as noções básicas de "intervenção" quando foram recebidos por uma saraivada de pedras. Muito duras e pontia-
(agency) e "experiência". Apontou, por exemplo, a seguinte passagem: gudas, as pedras eram projéteis perigosos {... ]. Os soldados estavam em des-
vantagem, porque o ataque fora bem planejado e as pedras eram arremessadas
"(... ] a experiência chega sem bater à porta, anunciando mortes, crises de com muita precisão. Os policiais foram obrigados a recuar e voltar para a
sobrevivência, guerras, desemprego, inflação, genocídio. As pessoas morrem cadeia" (Wilson, 1907, p. 30}.
de fome:. ós que sobrevivem se põem a pensar sobre novos mecanismos de
mércado. As pessoas vão para a cadeia: na prisão meditam sobre novas manei- Wilson conta que, naquela noite, a cadeia foi invadida, os prisioneiros liberta-
ras de aplicar as leis" (Thompson, 1978, p. 201). dos e "houve muitos estragos". Incidentes como este (cuja regularidade não
permitia torná-los como meros surtos de combatividade militante) podem ser
Anderson (1980, p. 28) comenta, então, que 'Thompson, evidentemente, supõe interpretados como conseqüência da tensão gerada por percepções diversas
que as lições aprendidàs serão sempre corretas", e conclui que isso enfraquece da política e da ação por parte de determinadas organizações, principalmente
a análise, pois o que nos garante que a experiência de uma grande dor, ou de o sindicato e o Estado. As baladas e canções de trabalho do "poeta dos minei-
um desastre, servirá de inspiração para uma conclusão (cognitiva ou moral- ros" de Durham, Tommy Arrnstrong, refletem um pouco dessas tensões. Lá
mente adequada)? Perguntas como estas têm provocado desilusões quanto à estão os temas populistas e nacionalistas a que Joyce se refere, assim como a
viabilidade de uma análise que tente se basear na posição económica de deter- solidez dos antagonismos de classe e o sentimento de ultraje moral que é
minados grupos (vistos como "tão ambíguos e fragmentados que a própria muito associado à mineração como atividade produtiva. Os empregados da
idéia de classe é colocada em questão"). Em vez disso, há quem sugira que os administração das minas (como "Maiden Law Joe") são violentos e têm um
partidos políticos e as formas organizadas de cultura popular "são mais comportamento muito reprovável ("gente sem sentimentos ou remorso"). Em
influentes do que a economia na criação de uma igualdade de sentimentos 1885, quando ocorreu a maior greve do condado, Arrnstrong escreveu CJalrqs
unindo os operários" (Joyce, 1992)..Sem dúvida, a êrdase de Joyce sobre os par- Strike. Esta obra, ao lado de South Medomsley Strike, contém uma crítica vio-
tiélos políticos e seu modo de organização, assim como sobre o imaginário, é lenta aos "patrões" e a seus braços direitos, os capatazes [ca~dymen ou bailiffr;].
muito importante embora também se possa dizer que ele exagerou a influência Nesse poema, Armstrong se coloca a seguinte pergunta: "O que é que eu faria
dos elementÇ'S não pertinentes à classe na cultura popular. Os mineiros, indu- se tivesse o poder?" Sua resposta é claríssima: "Mandava enforcar os vinte
bitavelmente, constituem um exemplo expressivo, e a permanência de sua ade- capatazes mais o Johney, que é o dono do sino!"5
são aos liberais tem um grande significado para a análise da classe operária na
Inglaterra vitoriana. Nesse sentido, John Wilson• é um escritor importantíssi- Esses relatos dão apoio à conclusão de que sociólogos e historiadores devem
procurar outras fontes de explicação além dos fatores econômicos e analisar
• Líder mineiro reformista do norte da Inglaterra.
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as influências da cultura e da política por si mesmas. Ao adotar essa perspec- mica e à dinâmica da divisão capitalista do trabalho e do processo de trabalho
tiva não-reducionista, porém, é preciso manter aberta a questão das relações - como introdução obrigatória a uma análise das mesmas. Não se trata de
entre os vários planos de análise classe, cultura e política. Sempre há o um simples processo de classificação (com os seus conhecidos problemas),
perigo de que, ao passar a análise a limpo, se jogue fora a criança junto com a mas algo que envolve um exame preliminar, empírico e teórico, sobre a natu-
água do banho. reza de uma sociedade e os setores econômicos que a integram. É preciso
acrescentar ainda os aspectos subjetivos, as percepções e o mundo do traba-
A importância dessa advertência é ainda maior agora que o debate sobre as lho. A arena da luta de classes dos grupos organizadós e motivados para a
classes sociais passa por um momento crítico. Isso transparece na maneira defesa de um objetivo comum implica uma pesquisa adicional. É claro que se
como Reddy formula suas objeções a Thompson, fazendo uso de uma "inter- pode identificar classes em cada um desses níveis; o que não é evidente é
pretação rígida" da idéia de que as classes devem ser compreendidas como quão estreitos são os mecanismos que os articulam entre si.
"relações sociais". Reddy põe em questão a frase de Thompson de que uma
classe: A abordagem de ~tznelson e Zolberg é, sem dúvida, valiosa. Há quem diga
que eles apenas lidaram com os mesmos velhos problemas e que a questão da
"[... )não é uma 'estrutura', nem mesmo uma 'categoria', mas[ ... ) algo que, a determinação não foi resolvida. Mais preocupante, porém, parece-me ser a
bem dizer, acontece [... ] nas relações humanas [... ) a classe social acarreta falta de uma discussão minuciosa da composição das classes e dos processos
necessariamente a noção de uma relação histórica [... ) que se furta à análise pelos quais vários grupos de pessoas (homens·e mulheres; gêneros e etnias
quando a congelamos em um determinado momento para dissecar sua estru- diferentes) são levados a uma situação de ter de trabalhar para o capital. Fora
tura" (Thompson, 1968, p. 8). isso, sua abordagem proporciona uma análise bastante complexa no plano da
estrutura econômica, mas é menos detalhada no nível subjetivo.
Evidentemente, esta é uma frase controvertida que foi dirigida contra aqueles
que se utilizam "das mais finas armadilhas sociológicas". O elemento polémi- PODER EDOMINAÇÃO
co dos textos de Thompson sempre deve ser levado em conta, e, nesse senti-
do, a rigidez da perspectiva de Reddy limita sua validade. Leva-o, por exem- Nesse sentido, são importantes os estudos cada vez mais numerosos sobre
plo, a dizer que, para Thompson, "não se deve ver uma classe social como um temas relacionados com a dominação e o poder e que desenvolvem modos de
grupo de indivíduos, mas como uma relação", e a conseqüência lógica desse penetrar a estrutura social e abranger as experiências pessoais e a vida coti-
modo de pensar é a destruição de toda análise relevante que identifica grupos diana das pessoas. Os trabalhos de alguns teóricos franceses, como Foucault e
estruturado s em uma sociedade. Contudo, em várias passagens de seus Bourdieu (ver, p. ex., Bourdieu, 1984; Foucault, 1979), são bem conhecidos
livros, Thompson claramente se refere às classes como grupos. Ele diz, por por esse enfoque. Igualmente importante é o estudo de Stephen Lukes sobre o
exemplo, que uma classe "é um conjunto pouco preciso de pessoas que com- poder, que trata das discussões travadas na ciência política americana. Lukes
pi!rtilham certos interesses, experiências sociais, tradições e sistemas de valo- menciona três planos do poder, identificando o processo pelo qual pessoas
res, e que têm uma propensão a se comportarem como classe" (Thompson, tomam decisões que afetam outras, os processos em que uma "mobilização
1965, p. 357). Esta frase se aproxima muito da definição clássica de Marx de bias" limita as. escolhas disponíveis aos tomadores de decisão e os proces-
extraída de sua análise do campesinato francês. Assim, parece-me mais ade- sos em que as carências e os desejos das pessoas são manipulado s (Lukes,
quado dizer que o problema de Thompson não é que ele veja as classes ape- 1974; 1986). Para sua análise, Lukes se vale dos escritos de Grarnsci e da argu-
nas como relações, mas que, ao desenvolver seu àrgumento, ele faça uma ta. sensibilidade deste autor para com "os gr~ndes contrastes em uma ~rdem
fusão entre elementos da análise que são logicamente separados. social histórica". Dessa perspectiva, Grarnsci tratou de uma situação em que

Esse é o aspecto central da crítica de Johnson e, mais recentemente, de Katz- "[... ) d grupo social em questão pode ter realmente uma concepção própria do
nelson e Zolberg (1986). Estes últi~, por exemplo, dizem que Thompson mundo, mesmo que apenas em estado.embrionário; uma concepção que se
"se desloca com excessiva rapidez" entre o que poderia ser chamado de manifesta na ação, mas apenas de vez em quando e de modo passageiro, quan-
"níveis de análise". Como Thompson, eles defendem a necessidade de identi- do o grupo age como uma totalidade orgânica. Mas es~ mesmo grupo apenas
ficar aspectos estruturais das classes - ligados à posição na estrutura econô- adotou, por submissão e subordinação intelectual, uma concepção que não é

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verdadeiramente sua e foi tomada por empréstimo de outro; o grupo afirma
verbalmente essa concepção, acredita que a está acompanhando, porque é a A referência aos estudos empíricos serve para lembrar que, embora alguns
concepção que ele segue em 'tempos normais' - isto é, quando seu comporta- problemas da análise de classe possam ser resolvidos por meio de uma dis-
mento não é independente e autónomo, mas submisso e subordinado" cussão lógica, a eficácia do conceito depende, basicamente, de sua capacidade
(Grarnsci, 1971, p. 24).
para tomar inteligível a experiência humana e produzir explicações convin-
centes da mudança histórica. Neste ponto, tocamos em uma questão que está
A idéia de um contraste entre tempos normais e não-normais pode ser de presente em grande parte do debate contemporâneo e para o qual o terna das
grande utilidade analítica. No entender de Lukes, "o supremo e insidioso hierarquias e das classes é fundamental. Trata-se da transformação das socie-
exercício do poder" está profundamente associado ao processo pelo qual as dades pelos processos de industrialização, modernização e desenvolvimento
pessoas "não podem ver ou imaginar" saída alguma para a ordem estabeleci- das formas capitalistas de produção e troca, preocupação básica da Sociologia
da, seja porque a consideram natural e imutável, seja porque a tomam como fundada nos estudos históricos de Durkheim, Marx e Weber. A transforma-
benéfica ou determinada por Deus (Lukes, 1974).
ção da sociedade está na origem das questões do Estado e das classes sociais.
A sutil observação ele Durkheim de que a sociedade pré-capitalista funciona-
Tal análise apresenta mais um esboço e uma sugestão do que uma conclusão, va no âmbito "de uma consciência coletiva [...] vigorosa e bem definida" teve
mas foi desenvolvida por John Gaventa e outros autores em direções que, de grande influência na fixação do preceito que associa o capitalismo ao apareci-
fato, representam um avanço significativo para nossa compreensão dos pro- mento do individualismo, à liberação das forças econômicas das restrições
cessos sociais e históricos. O estudo de Gaventa sobre os mineiros das monta- legais e de outras limitações de natureza política e à ascendência das classes
nhas Apalaches começa pela seguinte indagação:
(ou seja, de grupos economicamente fundados) sobre outros grupos baseados
no status, no prestígio e na proteção das leis.
"Por que razão em uma relação social em que uma elite domina uma não-elite,
não há contestação da dominação? O que se passa em determinadas circuns- Um exemplo claro desse processo nos é dado por Snell, ao descrever ''uma
tâncias de privação social que impede o surgimento dos problemas, a expres- sociedade rural que continha uma complexa hierarquia de estratificação [... ]
são de queixas ou a reorganização dos interesses? Por que razão, em uma fundada em uma generalizada e duradoura economia moral" e que se trans-
comunidade oprimida onde tudo levaria a esperar por uma rebelião, encontra- forma, no sul da Inglaterra, em uma sociedade mais polarizada, onde predo-
se, em vez disso, ou pelo menos parece encontrar-se, aquiescência? Em que minam "concepções mais simples de posição social e uma divisão de classes
condições, ou contra quais obstáculos, a revolta, de fato, se produz?" (Gaventa, nítida e hostil" (Snell, 1992, p. 159). Snell chama a atenção para os fatores
1980, p. 3).
específicos que influenciaram esse resultado, contrapondo-os a um padrão
diferente de mudança que caracterizaria as sociedades agrárias do Norte.
Gaventa defende a importância de se prestar atenção nos períodos em que 0 Dessa maneira, a idéia de variação é introduzida na discussão e vale a pena
estado natural das coisas é quebrado, ou nos quais se verifica um enfraqueci- examiná-la mais de perto. Não há dúvida de que, no Norte, a mineração de
mento da elite, porquanto "se a não-elite começa a expressar reivindicações carvão desenvolveu-se por intermédio de um bem organizado sistema de tra-
latentes, temos uma 'importante evidência contrária', levando a supor que a balho forçado, em que os mineiros recebiam dos patrões casa e carvão e um
situação de poder não se baseava no consenso, mas em outra coisa como 0 compromisso anual estipulava as obrigações mútuas. As iniqilidades do siste-
controle, por exemplo".
ma e sua influência sobre o desenvolvimento dos sindicatos são bem assinala-
das por Snell. Contudo, é preciso notar até que ponto essa aristocracia capita-
O que preocupa na análise de Lukes é que, por trás dos ta~ níveis, sempre se lista estava comprometida com noções paternalistas e com uma visão da
escondeu a idéia de interesses "reais" e a noção correlata de "falsa consciên- sociedade baseada no status e na obrigação. Essas idéias se tomaram eviden-
cia". Em seu meticuloso trabalho de pesquisa (baseado nos desejos e escolhas tes por ocasião dos conflitos entre Lord Londonderry e as recém-criadas
expressos pelos mineiros, em épocas de normalidade ou não), Gaventa conse- sociedades anônimas. Em 1844, por exemplo, após um terrível acidente na
guiu escapar dessa armadilha e fazer um relato muito convincente da manei- mina Haswell, a Haswell Coai Company lançou um pedido público de auxí-
ra como as pessoas se comportam e se percebem como classe em um dado lio para socorrer as famílias das vítimas. Na nota, Lord Londonderry dizia
momento, mas não em outro.6
que "lamentava profundamente ter de recorrer ao apoio do público [...]".
Declarava que os donos das minas estavam convencidos de suas responsabili-
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dades para com os trabalhadores e que era um "dever de consciência de gar ao Estado. Na Alemanha, por exemplo, Tenfelde escreveu sobre a cultura
todos os proprietários" socorrer seus trabalhadores em tais circunstâncias, festiva autônoma dos mineiros, conseqüência da "singularidade da minera-
pois ção como atividade ocupacional [e] da força unificadora de seu status legal
especial". Esses fatores associados ao padrão de assentamento das localidades
"[... ) assim como o operário despende sua energia e enfrenta os perigos das mineiras produziram uma cultura ocupacional distinta, celebrada nas festivi·
minas para proveito do patrão, este último está obrigado por laços de dever dades populares em que "sobressaíam práticas derivadas de festas religiosas,
recíproco, honradez e caridade a suprir as necessidades e a acudir aos que se comunais e palacianas" (d. Tenfelde, 1977; Beynon e Austrin, 1989).
vêem privados de seus protetores por qualquer tipo de fatalidade que possa
ocorrer". Padrão semelhante é encontrado na Grã-Bretanha. Lá, finalmente, os mineiros
conquistaram o direito de ter um checkweighman,• por lei promulgada pelo
E concluía dizendo que era um dever sagrado dos empregadores "socorrer Parlamento, antes mesmo do estabelecimento dos direitos sindicais (Beynon e
aos desamparados" (Beynon e Austrin, 1994). Austrin, 1994). Esses fatos trazem à lembrança os grupos de corporações
vigentes no antigo regime (Woolf, 1992; Beynon e Austrin, 1994) e sugerem a
.A interpretação de Snell é respaldada pela pesquisa de Timberlake (1992)
existência de um padrão complexo de mudança no processo de transição da
sobre a industrialização na Rússia czarista. Seu estudo trata de um sistema
antiga para a nova sociedade. Uma interpretação possível seria ver esse
altamente formalizado de estamentos que ia sendo distorcido e retificado, de
padrão como um amálgama de diversas formas de organização social em que
modo a adaptar-se a um processo de divisão do trabalho em expansão, à
os estamentos eram renegociados no contexto de uma sociedade de classes.
medida que industriais, banqueiros e outros grupos faziam pressão para ser
Corrigan (1976) menciona as diversas maneiras pelas quais certas "relíquias"
admitidos na hierarquia do sistema social czarista [soslovie system•]. Pode-se
da ordem feudal foram mantidas como "monumentos capitalistas". Desse
ver nesse fato o prenúncio do conflito entre uma sociedade de ordens ou esta-
ponto de vista, os grupos mais relevantes foram, sem dúvida, os que se basea-
mentos e uma sociedade de classes. EntretantÓ, a análise de Timberlake deixa
vam em sexo e gênero. A referência anteriormente feita aos direitos de pro-
claro que a nova classe de capitalistas (ao ser "impelida" para o interior da
priedade no oeste da Irlanda sugere que a posição dos homens na família era
velha sociedade) não se convertera automaticamente às idéias do liberalismo,
fundamental na reprodução da estrutura social. Pesquisas recentes têm segui-
individualismo e mercado livre. Para esses novos capitalistas, o sistema de
hierarquias era mais um epifenômeno acima do qual reinavam os interesses do essa linha de interpretação e as feministas vêm discutindo os processos pe-
de classe. Nesse período, alguns empresários eram ao mesmo tempo hostis e los quais o capitalismo e o patriarcalismo se reforçam mutuamente. É perfeita-
profundamente influenciados pelos supostos do antigo sistema de estamen- mente possível retomar essas discussões à luz dos estamentos e das classes.
tos. Foi preciso desencadear-se o movimento de 1905, com a violência que o
marcou, para se criar na comunidade dos negócios a percepção de que o soslo- Os exemplos até aqui mencionados colocam em questão todo tipo de análise
vie system não constituía a sociedade ordenada e bem integrada que se supu- simplista e linear do processo de industrialização e do surgimento das socie-
nha, e que esse sistema social não poderia proteger a Rússia contra a insatisfa· dades capitalistas. Indicam também diversas possibilidades de cooperação
ção generalizada que vinha acompanhando o desenvolvimento do capitalis- entre sociólogos e historiadores no estudo de um processo social muito mais
mo na Europa Setentrional. complexo do que o "desenvolvimento desigual e combinado" das forças pro-
dutivas. Sugerem vãrias maneiras pelas quais formas (e hierarquias sociais)
Se as concepções de um mundo dominado pelos estamentos prevaleciam no
meio patronal, há indícios suficientes de que processos semelhantes vigora- • N.T. - Checkweíghmen são os encarregados de conferir a pesagem do carvão na saída
vam nas crescentes fileiras do operariado industrial. Muito coisa já foi escrita da mina para evitar manobras no desconto de impurezas do minério em detrimento da
remuneração dos operários, calculada por quantidade de carvão extraído. A questão da
sobre a densidade da cultura ocupacional dos mineiros da Grã-Bretanha no pesagem do carvão esteve na raiz da maior parte dos conflitos industriais nas regiões
século XIX e sobre a maneira como esses operários faziam seus interesses che- mineiras durante o século XIX na Grã-Bretanha. Por essa razão, os mineiros enviaram
ao Parlamento uma petição para que lhes fosse concedido o direito de escolher seus
próprios clreckweighmen, que passaram a ser eleitos pelos operários. Foram esses traba·
• N.T.- Sistema hierárquico de estamentos vigente na Rússia czarista e eliminado pela lhadores que fundaram o movimento sindical na Grã-Bretanha durante a década inicia-
revolução bolchevista. da em 1860.

270 271
NOTAS:
pré-capitalistas são mantidas e reproduzidas durante o processo de acumula-
ção de capital. Mais que isso, esses exemplos põem em dúvida o uso que 1. Uma análise semelhante encontra-se em Skocpol (1979). Sobre opiniões diferentes,
Marx fez da Inglaterra como caso clássico de proletarização e aventam a pos- ver Wood (1986).
sibilidade de uma escolha inadequada do exemplo como modelo de explica- 2. Alan Oark foi ministro da Defesa no último governo Thatcher. Filho de Lord Oark,
ção para a Grã-Bretanha em geral e para o processo mundial. Argumento um professor senior que apresentou uma conceituada série da BBC·intitulada
análogo poderia ser proposto em relação à formação de capital e sua relação Civili:zation, Clark representa um tipo curioso de industria~ aristocrata tory. Tomou-
se conhecido pela sua linguagem livre e pelos seus inúmeros e escancarados
com o poder do Estado. "casós" amorosos.
3. Perry Anderson (1980, p. 33) formulou essa critica de modo contundente: "Acaba
Este artigo chama a atenção para a necessidade de entender a análise de clas-
sendo muito desagradável perceber, ao cabo de 900 páginas, que nada foi dito a res-
ses no contexto de um padrão variável e complexo de mudança histórica. Por peito de um fato tão elementar quanto o tamanho aproximado da classe operária
este ângulo, a questão de saber se todos os aspectos essenciais desse processo inglesa, ou sua prpporção no conjunto da população total, em qualquer data da his-
são determinados e compreensíveis pela ótica da formação das classes ainda tória de sua 'formação'[... ]".
não tem resposta. É fora de dúvida que as relações pré-capitalistas, como as 4. Johnson {1978), especialmente, contesta a afirmação de Thompson de que, em suas
que se fundamentam no gênero, permanecem em graus variáveis e dão um pesquisas, "o material se impôs", vendo aí "uma tendência a dar preferência à
"peso" especial às formas capitalistas que se estabelecem. É possível ~terpre­ "experiência" sobre a teoria".
tar da mesma maneira o processo de trabalho e os mercados de bens, como 5. I'd hang the twenty candymen and Johney that carries the beH" (cf. Beynon, 1985).
igualmente propiciadores de um contexto em que se estabelecem os campos 6. A respeito dessas críticas de Lukes, ver Benton (1981); Hindess (1982); Clegg (1989).
das relações de classe. A retomada do interesse nos estudos de Polanyi (ver
Polanyi, 1944; Dalton, 1971) (e seu modo de entender as relações económicas)
não só é valiosa como ilustrativa das maneiras como um amplo espectro de
idéias teóricas vêm convergindo para as permanentes questões da ordem e da
mudança social. Não surpreende, portanto, que, nesse cenário, haja um res-
surgimento do debate sobre as classes sociais. Isto porque, neste conceito tão
antigo estão condensadas inúmeras idéias e problemas pertinentes à com-
preensão das mudanças históricas e da sociedade contemporânea. A classe
social é, por sua própria natureza, um conceito controverso e contestável e
falar de sua morte é, no mínimo, um exagero.

(Recebido para publicação em abril de 1995)

273
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THOMPSON, E. P. (1965), "The Peculiarities of the English", ín R. Miliband e J. Saville
structuralist and culturalist approaches. Its conclusion suggests that there is consider-
(eds.), The Socialíst Regíster. Londres, Merlin Press.
able scope for sudl. a reformulated class analysís.
_ _. (1%8), The Making of the English Working Class. Londres, Penguin.
_ _. (1978), The Poverty of Theory and Other Essays. Londres, Merlin Press.
TIMBERLAKE, C. E. (1992), "The Middle Classes in Late Tsarist Russia", in M. L. Bush RÉSUMÉ
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TRILLING, C. (1993), Remembering Denny. Nova Iorque, Farrar Straus Gironx.
Autant dans la théorie que dans l'histoire sociale, on discute beaucoup de l'utilité de
WILSON,}. (1900),Memories ofa Labour Leader. Durham, Veitch and Sons. l'idée de "classes", et la réflexion à ce propos est l'objet de cet artide. On y examine
_ _. (1907), A History of the Durham Miners 1870-1904. Durham, Veitch and Sons. l'hístoire de ce concept et les moyens employés pour en analyser les différentes péri-
odes historiques. On suggere un affinement dans l'usage de ce concept et un change-
WOOD, E. M. (1986), The Retreat from Class: A New "True" Socíalism. Londres, Verso.
ment dans les distínctions trop grossieres qui ont été établies entre l'approche struc-
WOOLF, S. (1992), "Order, Class and the Urban Poor", in M. L. Bush (ed.), Social Orders turalíste et l'approche culturaliste. On conclut qu'il seraít três opportun de reforrnuler
and Social Classes in Europe since 1500. Londres, Longman. I'analyse du concept de classes sociales.
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