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CIPAL DOS DESCOBRIMENOS

LAGOS
COLOMBO E A COMUNIDADE
DAS CIDADES ITALIANAS NA MADEIRA
ALBERTO VIEIRA
(Centro da Estudos de Histbria do Aiiâniico - Funchel)

Durante muito tempo duvidou-seda ligação de Cristdvão Colombo


A Madeira, para isso recriaram-se muitos argumentos abonatbrios
da teça. Isto só foi possivel porque os seus autores actuavam com
o total desconhecimento das fontes fundamentais que vinculam o
navegador ao arquipélago, mas também porque ignoraram a dimen-
são assumida pela comunidadede cidadãos das cidades italianas na ilha.
A Madeira foi, na segunda metade do século XV, um ponto de
referemia obrigatória na vida desta comunidade em Portugal, sendo o
c
açúcar o principal motivo desta vincula@o. dentro deste contexto que
deve ser entendida a presença do navegador na ilha. Ele integra-se na
ambihcia que serviu de fundo A f i q ã o dos seus compatricios: o
com8rcio do a ç h r e a conquista de uma posigo de relevo por meio do
casamento cotn uma donzela de boas famllias.
1. A presença de italianos na Madeira deriva, não s6,da sua
forte implanta@o na peninsula e manifesto empenho na revelação do
novo mundo, mas tambbm, da ilha se evidenciar como uma impor-
tante área de produção e com4rcio de agúcar. Em Portugal e Cas-
tela eles procuraram os portos ribeirinhos de maior animação comercial,
e a i se evidenciaram como mercadores, rnareantss e banqueiros. Aqui,
os oriundos de GBnova e Florença, cidades de grande animação comer-
cial e marftima, abriram, nos locais de fixação, novas vias para o com&-
cio com o mercado mediterranico. A partir de Lisboa ou CAdiz
eles interv&rn, primeiro, no com4rcio peninsular, e, depois, nas nave-
gag8es e actividades de troca no espqo atldntico. Esta Última situação
torna-se evidente com a intervenção de Antbnio de Noli e Alvise de
Cadamosto.
Os italianos, nomeadamentegenoveses, para além de divulgadores
de novas técnicas comerciais, foram, também, quem, depois dos Arabes,
esteve na origem da expansão de algumas culturas, como a cana de
açúcar. A posição charneira da península italicapropiciaraessa hegemonia
no mercado medíterrAnico, ai foram eles os principais interessados no
comércio de açúcar oriental. Por isso era inevitável a sua presença na
expansão para Ocidente da cuitura e comércio: primeiro em Chipre e
Sicllia e, depois, em Valença e no Algarve.
6 de salientar que, o maior ou menor impacto da sua presença,
depende da dimensão adquirida por esta cultura. Oeste modo no Mediter-
râneo AtlAntico é mais elevado na Madeira e nas Canárias, do que nos
Açores I . Note-se que em ambos os arquip4lagos eles adquiriram uma
posição proeminente na agricultura e comercio, sendo o açúcar o seu
principal ínteresse. De certo modo, poder-se-A considerar que os geno-
veses acompanharamo périplo dacana-de-açúcarpara Ocidentee depois
alem-AtUntico. Por outro lado este empenho genov&sno mercado atUn-
tico terá a ver com a perda de posição no mercado mediterrAnico, mercê
da rivalidade com Veneza e das ameaças resuliantes do avan$o turco.
A perda de influhcia no mercado açucareiro cipriota e compensada com
a intervenção privilegiada nas ilhas atlânticas 2. Esta situação é evidente
na Madeirae nascandrias, onde acomunidade italiana t! dominada, desde
o principio, pelos genoveses. A eles associavam-se, na primeira ilha, os
florentinos 3. OS venezianas continuarão at4 meados do s k u l o XVI
empenhados no mercado do Mediterrâneo Oriental, de que Chipre foi, a
partir de 1489, um dos principais pilares.
A rede de negócios estabelecida pelos italianos no Novo Mundo,

E ;
mantém as mesmas caracteristicas das que detinham na Europa do
Mrts s Mundo MediterrAnico A farnllia 6 a chave do sucesso, a ga-
rantia da sua execu~áoem plena segurança e a continuidade das
referidas operações 4. A partir daqui é possível estabelecer a estrutura
dos seus negócios, que tinha como ponto de divergência a cidade de
origem. No caso do espaço atlântico podia ser Cádiz ou Lisboa, ímpor-
tantes centros de conf lu8ncia e divergênciasdas rotas comerciais do Novo
Mundo.
Tendo em conta a importãncia que a Madeira e as CanArias
assumiram no comercio do açúcar nos séculos XV e XVI, parece-nos

l Albetto VIEIRA, O Comércjo Inier-Insular nos SBWlos XVe XVI, Funchal, 1987,79.
Contronte-se F. C.LANE, Vmse une républiquem'ürne,Paris, 397598.
Confronte-se-Alberto VIEI RA, ob. dt., quadros n.Q1 e 3.8-9-10.
F. C.M E , ob. cit,198; Manuei LOBO CARRERA. E/ Comercio Canario Ewopeo
840Fel@ 11, Funchal, 1W, 197.
'
inevitávela presença da comunidade italiana, nomeadaman#egenavw,
nos principaisportosde ambas as ilhas As reprewnteiqões em Li-
Cádiz de algumas casas ramificaram-se at8 aos portos do Fun-I, Las
e

Palmas e Santa Cruz de Tenenfe e, a partir dal, surgiu uma nova -da
c
negócios. de realçar a exist&nciaem a m k os arquip4lagos de agentw

"
ou familiares da mesma casa: os Adornos, Lomeliw, Justinianoq di
Negros, Salvam,Espindolas e Dorias Tcdavia não se dever8 q u e c e r
que não existe perfeita consonAncia entre a afirmaçAo da cuitura em
ambos os arquipélagos. As Canárias afirma-senum momento de crise do
mercado madeirense, podendo ser esta uma forma clara de acompa-
nharema evoluçãoda cultura e com8rcto. Acresce, ainda, que o oomdrcio
do açúcar madeirense esteve, quase sempre, sujeito a um apertado
sistema de controlo por parte da coroa, o que nao sucede nas CanBrias,
onde as operações estavam mais facilitadas 7. 'I
2. O rápido surto de desenvolvimento da Madeira na centúria
quatrocsntista, através da sua produção açucareira, gerou a cobiça dos
mercadores genoveses, que, por sentirem dificuldades nas tradicionais
rotas do Oriente, viam aqui um local ideal para continuar os seus negócios.
JA em meados da centona Cadamosto, um dos poucos venezianas que
aportou à Madeira, ao abordar a ilha ficara estupefacto com o grau de
progresso atingido, despertando-lhe interesse a prdspera produçáo
açucareira. Foi, na realidade, desde entao e, fundamentalmente, da
década de setenta que o açúcar ganhou uma posiflo dominante na
produçáoecom6rcioda ilha. É precisamenteapartirdalqueseidentifimn
os primeiros italianos na Madeira: Francisco Calvo, B. Lomelino e Antdnio
Splnola. São estes os primeiros que aparecem na ilha, atraidos pelo
combrcio do a~úcar.Depois seguiram-se, nas dBcadas seguintes da
centúrii, os Ddrii, Joáo Antdnio Cesare, João Rodrigues Castelhano e

sÇobre os italbnos em Cantias \reja-se I. M. Gomez GALTIER, HEIg d s Franelsco


cb Cerca, prestamistay comerciante de orchilla en Las Palmas de Gran Canaria en el d e m b
t51?-152B., ln Revista & Histbria, M X , La bguna, 1963-gq; L cle LA ROSA OLIVEIRA,
uFrandsw Riberoly lacoloniagenwesaen Cmtiasa, in Estudos HisBdrfcos8 0 h ias Canarlas
OrferiW, Ias Paimas, 1978,lS 2 8 9 ; M. LOBO CARRERA, d o s m&es ibümwiy ei
comercio azucarero m a r i o en Ia primem metad dei siglo XV*, in Aspecü &/hviu econwnica
1085,26&282: M. MARRERO RODRIQUES,~Qenwesesenhcolonirach
mectieiriil, Firer~e,
cie Tmerife 14S1509#,in de Hisldria, XVI, hLaguna, 1960,52455; H. SANCHO DE
SOPRANAS, u L o s Sopranis i n Canarlas 1-1 62ü., in Revia& de # i a m , La Laguna, 1951,
318-338.
Confronte-se Mbem VIEIRA, O ComércioI n W - l W ( ...I, quadros n.- 1 e 3;Manuel
LOüO CARRERA, H CwnercEo Cancuib Ewopeo BaJo Fel@ I/, pp. 1W-198.
'Confrontese AibertoVlEIRA. O Comercio Inter-Insular mxs sBwii#XVeXW, F u n M ,
1987, pp. 27-40,128137; Manuel LOBO CARRERA, H C - Canarío Ewopeo Bajo FeAipe
/I, Funchai, Ia, pp. 10&120.141-150.
ia o gtupo mais numeroso surgih no primeiro
seguinte, Bpoca Aurea do combrcio de açúcar.
os ganoveses foram, em simultaneo, -dos
utores de açkar. Dos últims relevam-seS i m M o l i
Amador (Funchal), Wnio Espinola (Funchal), Jorge
Santa Cruz), lucas çatvago (Ribeira Brava), António
JMo L i(Pontado Sol), que surgem com uma
relevo na estrutura produthramadeirense, afirmando-se como
s produtores de açúcar.
Entre todos merece a nossa atemo Jorge Lomelino, que se
q m n t a como propriet8rb de canaviaism, Funchat (1530) e Santa Cruz
(1530), sendo nesta ÚAirna Area um dos principais, a seguir a Jordão de
Freitas 8. A par d i i , Gaspar F r u t m O, em finais do skulo XVI,
esctara-nos sobre a import8nciaassumida por alguns destes na econo-
mia açucareira madeirense, referindo quatro como proprietiriosde enge-
nho: SimãoAciili (Funchal), Jorge Lomelino (SantaCruz), RafaelCatanho
(Santa Cniz) e Luis Wria (Faial). O mesmo realça, ainda, a hiciitiva de
alguns, referindo o esplrito empreendedor de Rafael Catanho, que em
Santa Cmz construiu uma Iemda para semiço do seu engenho em que
gastou mais de cem mil cruzados. Tal situação d foi posslvel, segundo
Fmtwm, pelo, *grande esplrito* destes italianos 1°.
Umdos +OS que maisfavoreceua penetração da comunidade
italiana na ilha, para alem do conhecimento dos *segredos#da produção
e comércio do açúcar, foi a fácil naturalização de direito. adquirida por
alvará régio, ou da facto, por meio do relacionamento matrimonialcom as
principaisfamlliasda ilha. A primeirasituaçãofoi o recurso necessáriopara
travar as manifestrapões de xenofobia, evidentes rios protestos lavrados
nascortes de 1459,1472-73 e 1481-82, que tamkm tiveram repercussão
rio Funchal,a partir do governo do senhorio do infante D.Fernando (1461-
70) Sãododomlniopúblicoa~uma8~de naturalimção,consggu'kias
por estes. sendo de referir, na caso da Madeira, a concedida em 1476 j2
pelainfantaD. Catarinaa BautistaLomelino. Estacartasurge, certamente,

Amerto WEIRA, MORegme de-p ne Madeira O aaa#i do q k w (1-

.A h m V d e 2 i d e hzambrods 1471 (A.N.T.T., Cbx&rb&D.

:wi Lomeilinirn. In E s W de vd. I, Lisboa, I-, 13-n; veja-ae ainda.


corno resuitado das manifestações contrárias doe
presença no Funchal, em face do conflito g e m b n
pelo contrato exclusivo paracomerciode açúcar. Note-se que
de judeus e genoveses não era bemvista pelosmadeiremes
poderá concluir da reclamação de 1461 ao I
A coroa e o senhorio nunca aceitaram a polffka xe- da
madeiremes. Para ambos a opção era chra: havia um compromisso
anterior que deveria ser cumprido e de dilcil revogação I*. Todavia atd
1498essa possibilidadede acesso 9 ilha não esteve facilitada, dependen
do das infiutlncias do senhorio e com e da conquista da simpatia das
gentes da ilha, uma vez que eles sempre se m t r a r a m contrArios a tal
intewenção dos estrangeiros. Em 1498 o rei revogou todas as determi-
nações em contrário, pemiiindo ou facilitando a presença e permanancia
de qualquer estrangeiro na ilha 15. Nesse mesmo ano o monarca inteivh
nocomérciidoaçúcar,regulamenta- por meioâoestabelecimentode
um contingente de exprtação. Assim ficou definido que a ilha exportaria
cento e vinte mil arrobas, sendo cinquenta mil da sua responsabilidadee
as restantes distribuldas, primeiro pelos mamadores naturais, e, depois,
pelos& reino, nosquaisomonarcaqueria quefossem ixicluldosBartolomeu
Florentim e Jerónimo Sergini 16.
A forma mais eficaz de naiuralizaç80 e de plena intervenção do
estrangeiro na vida do madairense foi o recurso ao casamento, que
funcionou para muitos italianos como a mais eficaz f o m de peneiração
na sociedade e conquista de uma posição de relevo ao nlvel fundirio e
institucionab Assim sucedeu com Simão Acciauolli, Benooo Amador,
Chirio Catlaneo, João Usodimare, Urbam, Lomelim, e João Salviati.
Simão Acciarrolli casou com Maria Pimenta Drumond filha de P h
Rodrigues, almoxarife dos quartos (quinto), que tinha promessa do oficio
para quem casassecom a sua filha. Desta forma o jovem italiano adquiriu
uma posição proeminente na ilha, como proprietárioe fruidor de cargos na
administraflo da fazenda.
BenoooAmadorrecorreua umaviúva,PetronilhaEoriçalm Ferreira,
mulherde Esteves Eanesde Quintal,o que lhe propicioua possee usufruto
de exíensas propriedades em Santo Ant6nio e na Ponta do Sol. O seu
pattinhii não mais parou de aumentar mercê da sua activa intervem0

IaA.R.M., C.M.F.,R. 204-211,3deAgosio, puM. in A.H.M., vol. I, n.Q4,pp. 1514.


t4 Virglnia RAU. ~PrMMgbse Legiskq&o Pwtuguesa m e n t e s a mercadr>res
~~~
,-
(shulos XV e W)w, in Esludos m h His-
L i s h 141-2Mi.
m i c a Social do Anw
16A.R.M., C.htE, t 1, fi.291v.292,22deMap,publ. in A.H.M.,XVII,n.P217,p.367.
'* Idem, Ibidem, t 1, R. 19 v.-75 v., 21 de Agosto; puM. in Ibidem, nna22, pp. 37&377.
em mi5ltiplas operatpes de comdrcio e de crddito, tornando-se num
importante propriatdrio e emprssáriio 17.
JoBo Salviati,que se casou com Isabel Aivares de a breu, tornou-se
num dos mais importantes proprietdrios em CBmara de Lobos e Aroo da
Calheta.
A capitania de Machico exerceu uma at-O especial por alguns
destes italiarios. Assim os irmãos Qulrio e Rafael Catanho, que se fixaram
na ilha a partir de principias do século XVI, preferiram o convlvio dos
capitães desta vila, tendo o primeiro casado com Maria Cabral, filha de
Tristão Teixeira, terceiro capitão. Mais tarde uma filha deste enlace,
Angela Catanha, veio a casar com Diogo Teixeira, quarto capitão da
capitania que, por ser inválido, teve c o m tutor o sogro IB.
Outro genovGs,
João Usdimare, que tambdm procurou o convlvio do capitão de Machico,
tendo desposado a primeira filha, Tristoa Teixeira lg.Entretanto Urbano
Lomelino fixara-se em Santa Cruz onde casou com Joanes Lopes, filha de
Isabel Correia de Santana.
Foi desta forma que os italianos -e Colombo nilo foge à regra-
conseguiram penetrar na sociedade e economia madeirense, adquirindo
al uma posição de relevo. A sua adaptação h nova swiedade foi rápida,
pelo que desde muito cedo surgemao lado dos madeirenses na defesa da
ilha contra as investidas dos corsários, como sucedeu em 1566, ou em
kiica, na defesa das praças marroquinas.
3. Mas aqui e agora importa questionar a dimensão assumida por
estes italianos no novo mundo insular ao nivel económico. Tal como já
referimos, a Madeira e as Canariias, pelo seu fornecimento de urzeia e
açiicar, cativaram a sua atenção. Nos séculos XV e XVI da relação dos
estrangeiros al residentes,contabilizamos50 (5,2) e noventa e dois (16,9)
mercadores italianos, respectivamentena Madeira e CanCirias, represen-
tando, num e noutro caso, a comunidade estrangeira mais importante.
A par disso, na Madeira para os séculos XV e XVI, acrescentam-se mais
outros 54 que de uma forma directa intanr4m na vida s6ciecon6mica
madeimnse.

lTJoaode SOUSA, wlrlotas para a Hist6ria da Madelra. Os Italianos na ilha Benoco


Ameaorn, In Cihde Campo, aupl. de M o de Notfdas, Funchal, 8 de Malo, lw,6.
Confronte-w Qaspar Frutuoso, ob. d., 152.
'O Gaspar FRUTUOSO lbfdem, 1W), refere que esw casamento da filha do c*
do donatãrlo de Machicrifoi com M i r João baptista, todavia esta opinih iem sido contestada
por indmeros e s i u d i w que apremtam a JoBo Uadmare m o parealmda filha do capltBo:
para tal argumenta-sa o facto Micer Jolbo no seu tesbmmto (~Misser JoBio Baptista (1512).
OVigário Rodrigo Afonso Usademar(l58l)n,inA.H.M.,voL lI,19=,23)nBoareferenciar, como
seria natural; ccmfrontese Peter CLODE. Registo Geneal&im de íamlRias que passaram h
kbadeha, Funehd, 1952,85,321.
Os italianos, em especial os fiorentim e os mmws,consagui-
ram Implantar-se na Madeira, desde meados do século XV, como UB
principaisagentes do oorndrcio do a ç h r , alargando depois a sua actua-
ção ao dominb fundiário, por meio da compta e laços matrimoniaii Na ".
ddcada de 70, mediante o contraio estabelecido com o senhorio da Ilha
para o comdrcio do açúcar, detinham uma psiç8o maioritáriatia mieda-
de criada para o efeito, sendo repmmtdos por Baptisia Lomellini,
Francisco C a h e Micer Leâo 21. No úitimo quartel do &ulo a estes vêm
juntar-se Cristdvao Cdombo, João António C-re, Bartolonwr Marchiii,
Jerónimo Semigi e Luls [Mria. E, finalmente, em princfpbsdo século XVI,
surgiu outro grupo mais numeroso, que alierçou a comunidade italiana
residente. Nestes Oltimos tivemos: Lourenço Cattaneo, João Radriguws
Castiglino,ChirioCattanwi, SebastiãoCenturione,LucaSaivago, Giovanni
e Lucano Splnola.
0s mercadores-banqueirosde Fbrenp surgem tamb6m na ilha e
evidenciaram-se nas transacções comerciais e financeiras em tomo do
a ç h r madeireme no mercado europeu. A partir de L i a , onde deti-
nham uma privilegiada poswo junto da coroa, mant&me orientam uma
extensa rede de negócios que abrange a Madeira e as principais praças
europeias. Primeiro conseguem da Fazenda Real o quase exclusivo
comercio do a ç b r resultante dos direitos reais por meio do contrato.
Depois apoderaram-se do açúcar em combrcio, tomando o exclusivo doa
contingentes estabelecidos pela coroa, em 1498 Assim tivemos, na
primeira metade do século XVI, Bartolomeu Marchiini, Lucas Giraldi e
Benedito Moreli com uma clara intervenção no trato do açíicar
A manutenção desta rede de neghioõ fazia-se por meio da intenrençãa
directa dos mercadores ou pw meio do recurso a procuradorese agentes
scibestabelecidos ".

Sobre a p r e s q a italiana na W i a wja-ie aiailes VERUNDEN. ob. M. do


h&io: Qmowws nrt H i s m de P&@, L-i 1977; Prúspero PERAGALLO, Cemsc h
Iwno aüa mbnh &&na h p- nei S W XIV, XV e XM, Gidnwa, 1882; D m h
GEOFR~,ubrelaziíraGmwaeMacbranel IdeceaioddseeokXVl~, InSBrã-
111,QBnova, 1952,435-483; CdosPASSOS, u ~ H l s t d r i e a s L ~ 8 d WkiAnel~& ~*,
A c a d e m A a ~ ~ d e H i ~ 2 . * S B VII. r i eUsboa.
, 1858,143-240; ~ltaiiiinaMadeira#,
m A H.M. V (1 # M i) ; , HEERS, Wes iu XVE s k b q Paris. 18T7.335; W n h
Jacquas
RAU, r U m a f a m í i i i d e r n m itafiãnosem Porhigalno 8édoX-V: os L o m e l i i i m , m Estudos
de M s m I, Liaboa, 1988.93-38.
W n i a RAü, O ~ n (...), 29. a ~
" hrnando Jasmins PEREIRA, O q M a d e k i m s e ck, 1504a 153i(...), 61-6-
"I-, 61- Idem, OSES&/?-M AQadoka, 8B,115-117ü 125-Ia.
@ Idem, Os esirsngwim na 19,27,60,105, Wrn.
A penetraçãodeste grupode mercadores na sociedademadeireme
foi muno acentuada O usufruto de privil8gios reais e o relacionamento
familiar conduziram A sua plena inserção na aristocracia terratenente e
administrativa. Eles, na sua maioria, apresentam-secomo proprietáriose
menAor8s de açúcar e instalam-se nas terras de melhor e maior
produ@o. Por compra ou bços matrimoniais, tornamse nos mais impor-
tantes propriet8rii de canaviais. Assim sucedeu com Rafael Cattaneo,
Luis üdria, Joãio Esmeraldo, João e Jorge Lomalino, João Rdrigues
Castelhano, Lucas Salvago, Giovanni Splnda, João Antão, João Flo-
rença, Simão Acciaolli e B e m Amatori. Eles também nao se coibem,
&pois de naturaliados, de intervir na vida local. A sua intervenção na
estrutura administrativa madeirense abrangia os domlnios mais elemen-
tares do governo, como a vereação e repartições & fazenda, que incidem
sobre a economia açucareira. Assim, surgem, como almoxarifes e prove-
dores da fazenda. A par disso têm uma forte intervenção na artmdação
dos direitos reais, surgindo ainda como rendeiros.
A presença da comunidade de cidadãos das cidades italianas na
ilha, não obstante as resistbncias iniciais, foi salutar, porque eles, para
al8m de propiciarem o maior desenvolvimento das relapões de troca em
torno do açúcar, foram portadores das novas técnicas e meios de
com6rcio. A eles se deve o incremento das companhias e sociedades
comerciais e o uso das letras de câmbio nas vultuosas operações
comerciais. Os florentinos experientes nas transaqties financeiras, sur-
gem al com grande destaque, sendo de realçar a acção de feducho
Larnorotoe de Francisco Lape A par disso a rede de negócios em tomo
do açúcar, foi recriada e incentivadapor estes mercador=, que através de
familiares e amigos lançaram uma forte rede de negócios. O seu dominio
atingiu, nao s6,as sociedades criadas tio exterior e com intervenção na
ilha, mas tambbm, o numeroso grupo de agentes ou feitores e procura&
res subestabelecidos no Funchal. Sao vArias as sociedades, em que
intervem os italianos, para o comércio do açúcar ou arrendamento dos
direitos reais. A i destacaram-se Bendito Morelli e Bartalomeu Marchioni,
sobrinho e tio, que viviam em Lisboa e actuavam em conjunto m> trato do
açúcar por meio de outros italianos, que foram na ilha seus agentes, como
Feducho Larnorota, Benoca Amador 27.
Quanto ao cornbrcio de a ç h r , desde a d8cada de setenta que
estes vinham actuando em sociedades para tal fim. Na primeira que
conhecemos participavam Batista Lomelino, Francisco Calvo e Micer

aAlberto VIEIRA, oB. c#..,59.


FemandoJasmins PEREIRA, 0- Madekenm(...I. 6a93.
Leiio,tendo como objectivo o combrciode todo o açkar produzidona M h
Apartir de 1498 com o estabelecimento das escápuias de mmhrcio surge,
em 1502, umasociedadeem que intewdmAnt6nio Salvago, João Francie
co Affaitati, Jerónimo Semigi, Francisco Cowinellie João Jaconde, todas
italiam. para a venda das trinta milarrobas das oscápulas para os portos
-
mediter&neos Aguas Mortas, Liorne, Roma e Vaneza. Note-se que o
primeirotinha na ilha uma importante rede de feitoresou procuradores,de
que se destacam GabrielAfíaitati, LucaAntdnio, Ciçt6vãoBocolb, Capelb
de Capeliani, João Dias, Matia Manardi a Rafael Rqela.
Tudo isto girava em torno do comdrcio do açúcar de que o mundo
mediterrânioo, dominado pelos italianos, deveria consumir 43% do valor
e x p h d o da ilha, conforme o estabelece a escápula de 1498. Aqui 30%
frcava em Mia,sendo 42% paraVeneza, 36%paraGénova e os restantes
22% para Porto Liorne e Roma =. Numaanálise comparada, entre o valor
das e&puias, o açúcar exportado e a intervenção dos mercados desta
origem, constata-se uma plena afirmação dos italianos no comércio do
produto. Notese que eles, de acordo m o valor estabelecido para as
escápulas, apenas tinham direito a 30% do açúcar exportado, mas na
realidade receberam no perlodo da 1490 a 1550, mais de metade do
açúcar que saiu da ilha. D&e 97%foi para al enviado na década de 1501
a 1510. Para o periodo em que vigoraram as escápuias (1498-1499)
apenas se conhecea saída de 2909 arrobas para tal destino, isto 6,8%do
total de arrobas para ai consignadas.
O comdrcio de açúcar madeirense para os portos italianos incidiu,
particularmente, no período de 1490 a 1510, momento em que aste
mercadoe mercadores daloriuncbsestavam em situação privilegiadanos
diversos contratos de compra de açúcar dos direitos ou das escápuhs.

COLOMBO E A ILHA

5. Foi a esta terra de agricultores e comerciantes de açúcar que


aportouem 1478 CristbvaoColombo. A ilha,assuasgentese produtosn W
lhe eram estranhos, pois em Génova ouvira já falar deb como a terra do
pastel e do açúcar. Por outro tado o mesmo M o se sentiria estrangeiro ao
pisarosolo madeirense,aguardava-o uma numerosacomunidadeitaliana,
domlnada pelos genoveses, que cá se f i r a , atralda pelo comdrcio do
açhr.

"Aborto VIEIRA, ob. &,quetdros n P 13 e 14, pp. 206205.


~Confrontoaeomsmesiu&sobre O C w n B i a i o ~ - ~ ~ ~ ~ A ç m ? u e
m) stWbs XV e XW, Fuidral, 1987, pp. 130132.
L. A Madeira, desde a década de setenta do século XV, cativara as
abn@ss dos latianos que se fizeram comerciantes e agricultores do
-r: primeiro Francisco Calvo, Baptista Lornelino e Ant6nio Splnola,
depois João Antónb Cesare, João Rodrigues Castelhano e Jerónirno
Sernigi. A presença de Colombo na Madeira, no perlodo de i478 a 1485,
não pode alhear-sedesta familiaridade da comunidade genovesa na ilha.
Aqui terA apodado o navegador no Verão de 1478, quando a safra
doaçQcarhaviaterminado, paraconduzir às mãosdeLudovicoCenturione
2400 arrobas de açúcar O pedido fora feito em Lisha por Paolo di
Negro, representante da firma em causa. Todavia o negbcio não foi bem
sucedido pelo que Colombo teve de testemunhar perante um notário
genovh das razões do seu incumprimento. E 4 a partir daique se sabe da
primeira passagem do navegador pela ilha, na condição de mercador de
açilcar. Note-se que o navegador no testamento feito em 1506 refere
algumas dividas aos descendentes de Baptista Lomelino, Paob Dinegro
e Luls Centurion, o que poder8 ser consequ8ncia deste contrato não
cumprido ou, então, de outros negócios em torno do açúcar de que náo
fm testemunho 31.
i
No regresso a Lisboa, em t 479, ColornboconheceuFilipa de Moniz.
O encontro deu-se no Mosteiro de Santos em Lisboa, onde ela estava
recolhida. O casamento ocorreu em data e local que desconh~emos.Os
seus biógrafos falam de Lisboa, rnas a tradição, ainda que r ~ e n t eteima
,
em reafirmar o Porto Santo ou Machico. O importante B que ele ocorreu,
tendo favorecido o seu psicionarnento na socieclade madeirense e
possibilitando-lhe o convlvio com os marinheiros solitários da gesia
descobridora do Novo Mundo Ocidental.
Como just ificar este enlace. O que atrásfoi dito paraos compatrlcios
seus tem agora a sua razão de ser. Todavia não podemos esquecer
algumas situagBesque corporizam uma resposta&I a esta dúvida. Em
primeiro lugar 8 necesdrio ter em conta que entre os Perestrellos e
Colombos haviaaf inidadesao navegador, se anotam nos seus anteceden-
tes uma origem remota em Piacenza, a terra de origem do pai do sogro.
A família Perestrelo era italiana, sendo Bartolomeu Perestrelo filho de
R i Pakstrellique em 1380trocou Piacenza por Lisboa. Assim estamos
perante mais um italiano a juntar-se h numerosa colónia existente em
Lia& e que privava com a Coma e prlncipes empenhados com o
processo político do reino e da expansão.

gD Conforme dowmenio notaria! de 25 de Agosio de 1479 feito no noEdrío Qerolmo


em Qénwa; veja-se CdomB4,GGBnova. 1932, p. 173.
~ n s u e b V A R E L ACfistdbalCoMn,
, relrertodounhombr#,Madrid, 1 9 9 2 , 1 3 3 o s ~ .
A remota origem italiana do povoador do Porto Santo, o seu
relacionamento com a principal nobreza do reino, &o sluagões que não
deverão ser alheias ao casamento da donzela, encerrada no convento de
São Domingos em Lisboa,com CristóvãoColombo. A ascendancia italiana
facultara-lhe o contacto, enquanto a posigo social demarcava a arnbiç8o
deste aventureiro em subir na eswb social, atitude em tudo igual A dos
demais compatrlcios.
O casamento ocorreu no final de 1479, ou talvez já em 1480. Mas
sobre isso pouco ou nada se s a b , pois não era ainda corrente lavrar o
registo da cerimónia. De acordo com Frei Bartolomede Las Casas, ap&
isso, dizem os seus cronistas, foram viver para a Madeira e Porto Santo,
onde nasceu D W , o iínico filho legítimo de Colombo.
Da permanbncia do navegador nas ilhas da Madeira e Porto
Santo pouco ou nada se sabe. Tão pouco B possivel estabelecer um
roteiro dos locais por onde passou, porque disso nada transpareceu
para a docurnentaçã;~ disponfvel no arquip6iago e o navegador guardou
na sua memóriia parte dessa aventura. Todavia estámos em condições
de o afirmar que a permanhncia do navegador no Porto Santo deverá
ter sido curta. A pequena ilha não oferecia grandes meios para a
plena mncretiração das ambições comerciais e marliirnas de Colombo.
Acrescente-se que era comum a confusão entre a ilha de Porto Santo e
& Madeira. TarnbBm não devera ser alheio a ideia de os birafcs
do navegador pretenderem valorizar o património da famíiia do dono,
fazendo-o, ~proprietAriowda ilha.

O APELO DO MAR E DO OCIDENTE


A Madeira foi no século XV uma peça primordial no processo de
expansão. A i1ha, considerada a primeira pedra da gesta descobridora dos
portugueses no AtlAntico, B o marco referencial mais importante desta
acção no século XV. Ela, de inicial A r a de ocupaç80, passou a um
entreposto imprescindlvelAs viagensao longo da costa africana e, depois,
foi modelo para todo o processo de ocupaçáo atHntica. Por tudo isto a
Madelra firmou o seu nome com letras douradas na Hist6ria da expansão
europeia no Atlantiw.
O Funchalfoi, por muito tempo, o principalancoradourodo AtlBntico
que abriu as portas do mar oceano e traçoucaminho para as terrasdo Sul.
Ai a abundancia do cereal e vinho propiciavam ao navegante o abasteci-
mento segura para a demorada viagem. Por isso o madeireme nãio foi
apenas o cabouqueiro que transformou o rochedo e fez dele uma magnl-
f i a horta,tambbm se afirmou como o marinheiro, desoobriior e comerci-
ante. Deste modoalgumasdas principaisfamfliasda Madeira,enriquecidas

39
9 b-7,;
,, 9
-
. .
r-
1-
a cultura do açkar, gastaram quase toda a sua fortuna na gesta
dbtmbridora,ao serviço do infante D. Henrique, ao longoda costa af ricana
wi, de iniciativa particular, na direcção do Ocidente, correspondendo ao
repto lançado pelos textos e lendas medievais.
A outro nivel a ilha estava em condiçóes de propiciar ao navegador
as informaçdes consideradas imprescindlveis para o descobrimento das
t m s ocidentais. Note-se que este apelo do Ocidente é uma conse-
quência Idgica do reconhecimento dos Açores, ocorrido a partir de 1427,
todavia as ilhas mais ocidentais (Flores e C o m ) só em 1452 foram
pisadas por marinheiros portugueses. A sua entrada no dominio lusíada
deu-se por mãos de Pedro Vasquez de ia Frontera e Diogo de Teive em
1452, no regresso de uma das viagens para o Ocidente à procura das
ilhas miticas.
As ilhas açorianas, por serem as mais ocidentais sob domlnio
europeu at8 A viagem de Colombo, eram o paradeiro ida1 para os
aventureiros interessados em ernbrenhar-se na gesta descobridora dos
mares ocidentais. Desde meados do século XV, madeirenses e açorianos
saem,com assfdua frequhncia, busca de novas terras assegurando,
antecipadamente, a posse do que descobrissem por carta r8gia ". de c
notar que este interesse dos insulares pela descoberta das terras ociden-
tais é muito anterior a Colombo e persistiu após 1492. A primeira carta
conhecida é de 19 de Fevereiro de 1462, sendo a posse das novas ilhas
Lovo e Caparicae outras que iria descobrir, dadas ao João Vogado. Ainda
antes de 1492 temos outras concessões a Rui Gonçalves da Camara
(21 de Junho de 1473), Fernao Teles (28 de Janeiro de 1474), Fernão
Dulrno e João Afonso do Estreito (24 de Julho de 1486). Ap5s a primaira
viagem de Colombo nãio esmoreceu o interesse âos insulares por tais
viagens. A atestá-lo está0 as cartas concedidas a Gaspar Corte Real
(12 de Maiode 15001, João Martins (27 de Janeiro de 1501)e MiguelCorte
Real (15 de Janeiro de 1502).
O Ocidente exerceu sobre os ilhdus, madeirenses e açorianos, um
fasclnio especial, acalentado, ademais, pelas lendas recuperadas da
tradição medieval. Por isso mesmo, desde meados do século XV, eles
entusiasmaram-se com a revelação das ilhas ocidentais - Antlli,
S. Brandão, Brasil. No extenso rol de aventureiros anónimos que deram a
vida por esta descoberta, permitam-nos que referencie cs madeirenses

Manuei Monblro Velho ARRUDA (Cdee* de documentos relsitivos ao des&

-*
mo& e pwammto dDs A çm Ponta Delgada, 1977) refere # cartas atribulda8 a JoBo
V
- (19de Fevereiro de 1462), Bonçalo Fernendes(29deOuiubrodel462),RuiQ o n w e s
da Câmara(21 de Janeiro de 1473), FemBo Teles (28de Junho de 1474 e 10 de Novembrode
7475 , FernBo Dulmo e J o b A h s o do EsWb (24 de Julho e 4 de Agosto de 1486).
Diogo de Teive, João Afonso do Estreito, Afansb &F:mã6 hmi@#& d~
A m . A. Ballesteros$P identifica este Úhimocomopi ârn
1484 v& a Lisboa pedir ao rei u m caravela para, W$unda &Wmb
Colomb, *ir a esta tierra que viam.
A estas iniciativas Isoladasacresce ta& uma t r a d i i üWWa e-
da&$ materiiis visiveis nas plagas insulares. A liieratura ma
cartografia mA i o aparecimentode &&rogos de madeirade drwmraa
costas das ilhas açorianas acalentavam a esperança da exist8mWde
terras a ocidente. Nas costas das ilhas açorianas do Fabi e GracWa
encalhavam alguns pinheiros, enquanto nas Flores davam h costa
cad8verescomfeiçbs dierentesdasâos cristãose dos negros. Tudo isto
levantavao fervor dos aventureiros que com assiduidadeviam-se perante
ilhasque nuncaexjstiram, A #décimailham,por exempb,nuncapassoude
uma miragem.
A cutta pertnanhncia de Colombo no Porto Santo e, depois, na
Madeira possibilitou-lhe um conhecimento das técnicas de n a w
usada pelos portugueses e abriu-lhe as portas aos segredos, guardados
na memória dos marinheiros, sobre a existência de terra a Ocidente.
Bartolome de Las Casas e Femando Colombo falam que o mesmo teria
r e c e b i das mãos da sogra =escritose cartas de marear* a.Ambos os
cronistas fazem do sogro um destacado navegador quatracentista. Tudo
isto não passa de criição para enfatizar a l i g a m de ambas a8 famllias.
Na verdade Bartolomeu Perestrelo,ao contrário de muitos genovwes ou
seus descendentes, não d referenciado nas crónicas portuguesas como
navegadors. Ele apenas B referemiadocomo capitãodo donatário da ilha
do Porto Santo, por carta de daação de Ide Novembro de 1448, e a
c o n d i de povoador da ilha acompanhou J o b Gor@ves Zarco e
T M o Vaz em 1419. Mesmo assim em sua casa podia ser posslvei a
presença de tais documentos. Mais importantes foram os elementos que
lhetem fornecido o seu cunhado PedmC d i , capitãoda ilha Graciosa
(Açores).Dai dedava conta de outras notlciaadasterras aporeanas,sem
esquecer os estranhos despojos que aportavam com assiduidade As
praias da ilha do Porto Santo.
Al, na Madeirae PortoSanto,ouviu Colo& hi6W e relatos doe
aventureiros do mar, teve acesso a provas evidentes da exktdncia de

0 8 ~ ~ y d ~ & A m Q r i e a , 2 v o l s . , 1945.
-mwdPLbts~vd.I,MQWI~ú, 1- WdaWAhimdoD#rClis~~
s e w l ã i p w ~ h @Moidoo,
, 1964.
* Esta s t
l
u w id já real- por H m y HARRISSE, m o dov#tt
m, PPPIJS,i a q ~ e n r yVIQNAUO, H I ~ & la dp m m
-2ds., Paris, 1911; G e e t a n o F E A R O , A # ~ s ~ a n o ~ o n o
krdloq Uuboa, pp. 101-183.
terras ocidentais legadas pelascorrentes marítimas nas praias. Umdestes
vestlgiosfoia castanha do mar, mais popularmente conhecida como *fava
de Coiombo=.Por tudo isto 6 legitimo de afirmar que o navegador saiu do
aquipdlago, em data que desconhecemos, com a firme certeza de que
alga de novo poderia encontrar a Ocidente, capaz de justificar o seu
empenho e da coroa.
A ilha ficou-lhe no coração e nunca mais a esqueceu no seu afã
descobridor. Bastaram alguns anos de convlvio com os marinheiros
madeirenses, esporAdicas viagens ao golfo da GuinB, para ganhar o
alento, a sabedoria e os meios tecnicos necessádos para definir o plano
de traçar o caminho de encontro As terras Indicaspelo Ocidente: Cipango
(=Japão) era o seu objectivo.
Durante os cerca de dez anos que permaneceu em Portugal
Crist6vão Colombo acompanhoude perto as expedições portuguesas ao
longo da costa africana. O fasclniodo navegador pelo mar, conquistado no
Mediterrâneo como mrsáno ou comerciante,despertou-lheo apetite para
as navegaçóes atlanticas portuguesas. No momento em que se fixou em
Lisboa toda a tençao e azáfama estava orientada para o desbravamento
da extensa costa africana além do Bojador, conhecida como costa da
Guine. Nesta Qpocaera já conhecida e navegáveltoda a área costeira at8
ao Cabo de Santa Catarina, alcançado em 1474, no período do contrato
de Fernão Gomes.
Não obstante este espaço ser vedado a navegaçao de embarca-
çdes que não fossem portuguesas, os estrangeiros poderiam faz&-lo a
bordo e ao ssrviça de embarcações nacionais. Assim havia sucedido na
decada de cinquenta com Cadamosto e Usodirnare. Tal como o fez o seu
patrício Usodimara, Colornbo embarcou em caravelas portuguesas que
demandavam as costas da GuinB. Facto normal para um experimentado
marinheiro genovh, que na praia do Porto Santo ou na Madeira, acornpa-
nhava o vai e vem das nossas caravelas.
E de salientar que por muito tempo a Madeira foi eçcala obrigatória
das embarcações portuguesasque se dirigiam à costa africana. Tal facto
derivou de o Funchal ser o iinico porto seguro, avançado no Atlântico,
dispondo de excedentes de cereais e vinho, necess$rios a dieta de bordo
dos marinheiros. A par disso os madeirenses acalentavam, desde a
década de quarenta, a aventura das navegações africanas, tendo-se
empenhado nisso as principais famílias da ilha.
Por tudo isto é inevitável assixiar a viagem de Colombo A sua curta
estadia nas ilhas da Madeira e Porto Santo, onde contactou com a
realidade atlantica,adquiriuas necessdflastécnicas para se embrenhar na
aventura de buscadas terras ocidentais. O retornodonavegadorA ilha, em
1498, no decurso da terceira viagem, pode e deve ser entendido como o
seu reconhecimentoaos madeirenses.Aqui teve oportunidadede relatar,
aos que com ele acalentaram a ideia da exist&nciade terras a Ociente,
o que encontrara de novo.
O convlvio com as gentes do Porto Santo havia sido prolongado e
cordial pois em Junho de 1498, aquando da terceira viagem, não resistiu
h tentação de escalar a vila. A sua aproximaç80 foi considerada mau
pre&gio pois os pottossantenses pensavam estar perante mais uma
armada de cors8rios. Desfeito o equlwxxi foi rexbido pebs naturais da
terra, seguindo depois para a Madeira.
A 10 de Junho de 1498 a chegada do navegador ao Funchal foi
saudada apoteotkamente, como nos refere frei BaiiolomBde LE18 Casas,
o que provoca mais uma vez, a familiaridade com esta gentes e a
esperança que elas depositavam em tal empresa. O cronista remata da
seguintefomoambientedefestaqueoenvolveu: alefu4 hecho muibuen
recibimientoy muchafiesta por seralli muyconocido,quefu4vecinodeella
en algQntiempom *.

OS POL~MICOSLOCAIS DE ESTÃNCIA 00 NAVEGADOR

Diz a tradi@o madeireme, baseada no irrefutável (?) testemunho


de Avaro de Azevedo que o mesmo, aquando da sua estância no
Funckl, teria repousado nos aposentos de João Esmeraido, no Fumhal.
Esta deduç8o. sem qualquer prova documental, parece-nosestranha pois
Cristbvão Cokmbo nunca trocaria o convlvio dos seus compatrlcios pelo
fausto dos aposentos do referido mercador flamengo. Note-seque num e
noutro momento havia j4 no Funchal uma importante comunidade de
italianos, onda predominavamos genovesee e que esta mesmo flamengo
4 referanciado por Gaspar Frutuoso como sendo genovês =. Em 1478,
quando Colombo se deslocou pela primeira vez ao Funchal, deveria ter
contactado com os seus compatricios FranciscoCalvo, Baptista Lomelino
e Antóniiú Spimila. Aquamlo da sua segunda Wncia, jB casado, podaria
associar-seao convlvio de outros patríciiswmo João Antbnio Cesare,08
ü ó r i i . E, finalmente, em 1498, naterceira viagem que fez&$(ndias,&sua
passagem pelo Funchal a comunidade italiana era muito importante,

nFreyüaModdoiAS CASAS, HkMadoikisIndlas,vd. I , W , lW8,497.


Conlromse Manuel C.do Almeida CAYOUA ZAQALLO, O M v A o Cdombd o a
#IR M&&h. A cesa de &b EsmmW, U8boa, lW,34-36;&p&bde O R N E U ,
~&am&mc&vdeOoloBbonah&ah&Wa, U s i m ~ lI982,&0.
,
' QwprFRUTüOSO, Uvropfhdm Seudedee & Tsrre. Pwita biw,f 979,
p. 124.
r
,,---

tdmbse juntado aos já existentes, os fbrentincs Bartolomeu Marchioni,


jerbnim e Dinis Sernigi *.
Em face da presença desta comunidade de Raliam, dominada
pelos germes#, na ilha da Madeiracom maior destaque para o Funchai,
parece-me estranho que este se tenha alojado na casa de um flamengo,
recbrri-chegado, a quem não o ligavam quaisquer laqos de convlvio ou
comércio. O navegador não podia ignorar os seus compatrlcbs, como
Baptista Lomelim, e Antdnio Splnola, que já se encontravam na ilha A
algum tempo, envolvidos no com8rcio de açúcar. AIBm disso, como mer-
cador que era deveria preferir o oonvlvio da Rua do mesmo nome e nunca
uma vivendadeJoão Esmerddo. Seráque estaat ribumose deve ao facto
de Gaspar Fnituoso considerar João Emeraldo como genovês 9
Em face do esplrito de solidadedade que dominava a comunidade
genovesa no estrangeiro, considerado um dos factores de sucesso das
suas operações comerciais, parece-nos diícil aceitar u m a atitude contrá-
riade Cristdvão Colombo, que nos iniciosda sua acção na penInsulahavia
servido algumas casas comerciais. Os documentos privados do mesmo
em lugar algum falam de flamengos, corno João Esmeraldo, mas sim de
genoveses,como PauioDinegm, Baptisb Esptnola, mim mfamiliares
na Madeira ". Todavia a t radio B maisforte que o juizo histórico.e a casa
de João Esmeraldo fiará, para gdudio de alguns, como o albergue que
acolheu o ilustre navegador nas suas passagenspela Madeira no perlodo
de 7 478 a 1498!

A EVOCAÇAO DE COLOMBO

A vinculação do navegador ao arquipélago fioou esquecida m


anais da História, sendo a reabiiiiação fruto da comemoração do quarto
centenário da primeira viagem de Colombo. Compulsadosos periódicose
a documentação oficial do ano de 1892 constata-seque o madeirense e
as suas autoridades ignoraram a comemoração, encarando o navegador
com algo estranho ao seu passado histdrii. Tudo se resumiu aos
tradicionais telegramas de feliciiações, aproveitando a borb que a Cable
concederau. Mas poucosforam aqueles que associaram a efemdriiecom
a presençadeColombonasilhasda Madeirae Porto Santo. Nosp e r i ó d i

Manuel C. de A i m M CAYOLiA ZBQAUO, ab. &, 94-36.


06.eit, p. 124 e 260.
"Crisbbbrd-. TmibsydocriRnandos~h,~ymiasnoEasdo~onauok
Vai&, Madrkl. 1984, pp. 310 8 383.
NnQ4707,12 de Ouiuino; NnP4708,13 de Ouiubro.
N.P 236, bxto Azevedo mmos.
locais apenas A Locta lhe atribui a primeira @gim no dia d
Outubro), com uma fugaz referdnciaA sua presença na Madeira.
de IVotíchs apenas tomou conta do acontecimento no dia I 3 com ã
transcrição dos telegramas de felicitações enviados ao presidente norte-
"
americano e sd no dia 16 dedicou a mancheteda sua primeira páginaao -
facto e ao seu protagonista,sem referira sua ligação h Madeira. O mesmo
"
se poderd dizer do Diário do Comdrcio que apenas no dia 13 refere o -
envio de telegramas e publica um grande anúncio de propagandaa uma
excursão para visitar a eqmsição de Chicago.
Na documentação oficial apenas encontramos lavrado m, acto da
vereação da Camara do Funchalde 13 de Outubro que se enviara no dia
anterior um telegrama de felicitações ao presidente dos EUA e nas
vereações do Porto Santo, estranhamente, não encontram nada a esse
propddo: estava assimjá perdida a msm6ria desse feito, relernbrado em
1848 nos anais desta Úiiima ilha.
Contrastando com este desprem madeirensedos feitos dos ante-
passados pela referida efemdtide e a vinculação do seu protagonista
manifesíado pelos organizadores da comemoração do evento, em La
RáW e Chicago em fazer figurar estas ilhas. Na exposição feita em La
Rábiia em 1892, cujo catAlogo foi publicado por W. E. Curtis 47, 1893 -
são apresentados treze aspectos reiacionadm com a sua MAncia na
Madeira e Porto Santo: al aparecem as casas da Madeira e Porto Santo,
apontadas pela tradição como de Colomb, sendo attibuldasà primeira a
data de 1457 e A segunda a de 1471. Todos estes elementos foram
fornecidos pelo Cônsul norte-americano no Funchal, John Healy com a
oolahração de JosB Leite Monteiro. A par disso a IIustracidn Espatíola y
Amemna, que já em 1878 publicara um artigo de Avaro Rodrigues de
Azevedo sobre a casa de Colombo ria Madeira, na sua edição comemo-
rativa da data apresenta uma gravura da referida casa.
Não foi por falia de informações que os madeirenses deixaram de
comemorar esta efemdtide, pois, desde meados do século, surgem
inúmerasreferhncíasem estudos publicadosB importânciada Madeiranos
planos de Colombo. Todavia em 5 de Fevereiro, ordenou-se a demolição
do prddio referenciado com a casa de Colombo e 86 um ano ap6s a voz
abalizada de Aivaro Rodrigues d'Azevedo saiu A praça a defender a
vinculaçáo do edificio demolidocom o navegador. Em 1892 o conselheiro

N.a4709,14 Ouhibro.
"NP471f. 16O~t~br0.
" N.P307.13 Outubro, & d o para vlsltar eitposw de C h b w .
Reücs ot Coiumbus,Washington, 1833.
41 .Colomim (Cristbvlbb, vd. I, pp. 2itm.
Agostinho de Ornelas retoma essa temática, apresentando dados exclu-
sivoseabonatbrkx dessavincula@omlombinadacasadeJoão Esmeraido.
Entretanto para o Porto Santo, o administrador do concelho do Porto
Santo, João de Santana e Vasconcelos, afirmava em 1848 nos anais do
concelho que Colombo casara e residira na mesma ilha.
Passado0 momentofebrildascomemoraçóesde 1892o madeirense
despertou para Cobmbo surgindo, jA na nossa centúria, inúmeros traba-
lhos de erudiios locais a fundamentar ou questionar a presença desse
ilustre marinheiro na fase anterior ao acontecimento de 1492. Primeiro a
pena de João Reis Gomes remnstituiua ambidncia do perMo de estadia
de Colombo na Madeira,atravds do romance hist6tico *A Filha do Tristãio
das Damas. (1909), depois passada parateatro sob o tltula de .Guiomar
Teixeira* (1914). TambBm o P.* FernandoAug usto da Silva se preocupou
com a questao, reunindo extenso materialque podeser consultado no seu
espólio guarda do Arquivo Regionalda Madeira, de que resultouapenas
o breve apontamento no .~ElucidárioMadeirense* ". Entretanto em 1945,
Cayolla Zagallo numa conferencia realizada no I b u do Funchal virii a
apresentar a mais interessante perspectka sobre a questão, o que veio a
reforçar o interesse pela terndtica colombina 'O. Mas de todos, o mais
pol4mico foi o P.' Eduardo Pereira que desde a década de cinquenta se
preocupoucom a questão: primeiro põe em causa a moradia de Colombo
no Porto Santo, para defender, depois, de forma original, a vinculação
colombina da casa de João Esrnsraldo no Funchat e as tábuas pintadas
que foram descobertas em 1868 na casa defronte da de Colombo 50.
nessa arnbigncia que surgem os defensores da necessárii
reconstrução da referida moradia de Colombo no Funchal, sendo o seu
primeiroarauto o Visconde de Meireles Nessadata representava-se no
Funchal a peça =GuiomarTeixeira. e foi talvez inflamadocom as alusões
a Colombo que o mesmo teve essa genial ideia. Mas, não dstante os
apoios colhidos dentro e fora & ilha, a questão foi esquecida e só
recentemente com o afã preparativo das comemorações de 1992 assa
mesma ideia voltou ao convivi0 do público, s e m despertar mais uma vez
grande interesse.
A tradição imortalizou a passagem do navegador pelo arquipélago
atribuindo-lhe alguns vest igios materiais do patrim6nioarquitectónim. Da
casa cio Funchal apenas sobreviveramalgumasfotografias e as cantarias

<iUmacasadeColornboemPortoSartto*, in & s A r t e s s & ~ h ~ r i a ' & ~ - v o l .


VI, n.Q35,1985, pp. 22-25; wCrlstóv8o Cdornbo no Porb Santo e na Madeirai>,in Das Artes e
da Histdria dB hdadeia,vol. IV, n.@22-23,1956, pp. m27,31-37. NoUWs achados h i s ~ o s
na Madeira, Funchal, 1974.
51 Hwaftbde M i r a , 27 de Marqo de 1813.
de uma das janelas, em boa hora adquitkfas pela famllia Hinton e
montadas na Quinta da Palmeira nosarredoresdo Funchal. No localonde
outrora se ergueu o palácio construiu-se uma praça em memória do
navegador. No Porto Santo a casa que, segundo a tradição pertenceu à
famllia da mulher do navegador e de moradia ao navegador, est8 hoje
servindo de Casa-Museu, evocativa do mesmo. No Funchal releva-se a
Boblioteca-Museu Mário Barbeito de Vasconcelos, que reúne um vasto
acervo bibliogrAficocolornbino, reunido por este bibliofilo.
Desde 1989 o Governo Regional da Madeira antecipou-se na
preparação das comemorações do quinto centendiio da primeira viagem
de Cristóvao Colornbo: a 20 de Novembro foi inaugurada a Casa Museu
Colornbo, no Porto Santo; no dia imediato, realizou-se no Funchal uma
primeira mesa-redonda sobre a vida e obra do navegador, com a partici-
pação dos Profs. llnri:~Caracci, Luis Aibuqueque, W. Randlese Demdtrio
Ramos. Passado urnano,a 12 de Setembro, no Porto Santo teve lugar um
segundo encontro com os mesmos participantes. E de 21 a 29 de
Setembrodecorreu no Porto Santo, Madeira, Gran Canaria, La Gomera o
III Coióquio Internacional de Hislbria da Madeira, com o intuito de evocar
a aportaçao madeirense ao feito de 1492.

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