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(...) por mais colegiada que seja a administração da unidade escolar, se ela não inclui a comuni-
dade, corre o risco de constituir apenas mais um arranjo entre os funcionários do Estado, para atender
a interesses que, por isso mesmo, dificilmente coincidirão com os da população usuária.
É preciso ressaltar também que a participação da comunidade na gestão da escola pública en-
contra um sem-número de obstáculos para concretizar-se, razão pela qual um dos requisitos básicos e
preliminares para aquele que se disponha a promovê-la é não desistir diante das primeiras dificulda-
des.
A escola estatal só se verá verdadeiramente pública no momento em que a população escolari-
zável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa educação escolar. E isso só se garante pelo controle
democrático da escola, já que, por todas as evidências, conclui-se que o Estado não se tem interessado
pela universalização de um ensino de boa qualidade. É preciso romper com o autoritarismo.
Há pessoas trabalhando na escola, especialmente em postos de direção, que se dizem democra-
tas apenas porque são “liberais” com alunos, professores, funcionários ou pais, porque lhes “dão aber-
tura” ou “permitem” que tomem parte desta ou daquela decisão. Mas o que esse discurso parece não
conseguir encobrir totalmente é que, se a participação depende de alguém que dá abertura ou que
permite sua manifestação, então a prática em que tem lugar essa participação não pode ser conside-
rada democrática, pois democracia não se concede, se realiza: não pode existir “ditador democrático”.
Com relação aos interesses dos grupos dentro da escola, constata-se a existência de conflitos.
Há pessoas que acusam os professores de “corporativistas”, na intenção de contrapô-los aos in-
teresses dos usuários da escola, quando se deveria considerar positivo que professores e educadores
em geral se mobilizem, defendendo seus direitos de trabalhadores (...).
Dos condicionantes do autoritarismo na escola, os de ordem institucional estão entre aqueles
que mais dificultam o estabelecimento de relações democráticas e, em conseqüência, a participação
da comunidade a gestão escolar.
(...) uma questão essencialmente política, que é a recusa do Estado em fornecer ensino de boa
qualidade e o afastamento da gestão escolar daqueles que poderiam pressioná-lo no sentido oposto,
ganha conotação eminentemente técnica, ao se exigir que o diretor tenha cursado Habilitação de Ad-
ministração Escolar, como se os belos “princípios e métodos de administração” aprendidos em tal cur-
so dessem ao futuro diretor alguma instrumentalização que o ajudasse a enfrentar os complexos pro-
blemas de uma escola real, que não se encontra em nenhum manual de administração (empresarial);
como se o diretor tivesse autonomia para administrar muito mais que os problemas de escassez de
recursos e excesso de exigências burocráticas absurdas em sua função na escola; como se, enfim, o
problema da escola pública que temos fosse técnico (administração de recursos) e não político (falta
de recursos por omissão do Estado).
Quando o cargo de maior autoridade na escola depende quase exclusivamente de um concurso,
cuja função principal é aferir a competência administrativa do candidato sem qualquer vinculação mais
direta com os interesses dos usuários da escola, essa hipertrofia do técnico acaba por escamotear a
natureza essencialmente política do problema do ensino público entre nós.
Quanto aos condicionantes ideológicos do autoritarismo na escola, estes dizem respeito a todas
as concepções e crenças, sedimentadas historicamente na personalidade de cada indivíduo, que mo-
vem práticas e comportamentos violadores da autonomia do outro. Essas concepções e crenças deri-
vam de determinantes econômicos, sociais, políticos e culturais mais amplos, sobre os quais é preciso
refletir para termos mais clareza das atitudes que tomamos cotidianamente.
É no processo pedagógico, em sala de aula, que se pode perceber com maior nitidez a manifes-
tação de concepções e crenças autoritárias. Por mais que os avanços da Pedagogia venham demons-
trando exaustivamente a vinculação entre a aprendizagem significativa e a adoção de relações que
afirmem o aluno como sujeito do ato de aprender, todos os demais condicionantes ideológicos pare-
cem ser mais fortes, concorrendo para que o educador escolar permaneça privilegiando práticas de
dominação, que em nada contribuem para o desenvolvimento da autonomia do educando.
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b) Os condicionantes institucionais
Hierarquia verticalizada.
Diretor concursado, com mandato vitalício. Não foi escolhido pela comunidade escolar.
Conselho de Escola e APM inertes em decorrência do excesso de formalismo e burocracia.
Enfim, ausência de uma gestão democrático-participativa.
Existência de conflitos internos, na escola (ex: os pais que participavam do Conselho de Es-
cola não apoiavam a greve dos professores; já os professores julgavam os pais or participa-
rem pouco da realidade escolar).
Paro ressalta que “na perspectiva de uma participação dos diversos grupos na gestão da escola,
parece que não se trata de ignorar ou minimizar a importância desses conflitos, mas de levar em conta
sua existência, bem como suas causas e suas implicações na busca da democratização da gestão esco-
lar, como condição necessária para a luta por objetivos coletivos de mais longo alcance como efetivo
oferecimento de ensino de boa qualidade para a população.
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Para os professores e funcionários, os pais e os responsáveis pelos alunos são pessoas ca-
rentes, com baixa escolaridade, que não se preocupam com o desempenho dos filhos na
escola.
Os alunos mais pobres são vistos pelos professores e funcionários como agressivos, desin-
teressados e “bagunceiros”.
Postura paternalista dos professores com os pais, nas relações dentro da escola, em que
aqueles se impõem sobre estes, não estabelecendo um diálogo mais participativo.
Diante disso, muitos usuários sentem-se diminuídos em seu autoconceito, o que os afasta
da escola.
Os pais acabam participando apenas de eventos que estão no cronograma da escola, mas
não das decisões dentro dela.
Os pais não participam da vida escolar especialmente pela falta de tempo e pelo cansaço
acumulado ao final do dia.
O trabalho também não permite ao indivíduo deixá-lo para participar das reuniões escola-
res.
Sugestão de Vitor Paro: que o Congresso crie uma Lei Complementar que permita aos pais
saírem do trabalho para participarem da escola, por meio de um sistema de isenção de ho-
ras de trabalho no emprego.
A realização dessa medida dependerá das pressões das classes trabalhadoras ao Estado.
No ambiente cultural em que se encontra a escola pública que atende as camadas populares,
parece estar disseminada a idéia de uma falta de interesse dos pais pela educação escolar de seus
filhos.
Com a falta de participação dos pais, o processo de avaliação institucional também se torna
ineficiente.
Atividades-meio
São viabilizadoras e dão precondições para a realização direta do processo pedagógico escolar,
que se dá predominantemente em sala de aula. Destacam-se as operações relativas à direção escolar,
aos serviços de secretaria e às atividades complementares e de assistência ao escolar.
Vitor Paro critica o desempenho da gestão nas escolas de São Paulo, as quais, na prática, possu-
em uma gestão centralizadora e autoritária. Na escola Celso Helvens, por exemplo, o conselho não
tem nenhuma atuação.
As atividades de direção estão concentradas no diretor e são atividades mais burocráticas, não
voltadas aos reais objetivos pedagógicos da escola.
Atividades-fim
Referem-se a tudo que diz respeito à apropriação d saber pelos educandos. Nelas inclui-se a ati-
vidade da sala de aula; mas não é impróprio incluírem-se também os serviços de coordenação pedagó-
gica e orientação educacional, na medida em que estes também lidam diretamente com questões
pedagógicas.
Com relação às tarefas de ensino-aprendizagem, desenvolvidas predominantemente na sala de
aula, o cotidiano observado na Celso Helvens confirma de forma dramática a flagrante ineficiência da
escola pública brasileira, retratada nos altos índices de reprovação e evasão, e examinada criticamente
por estudos sobre o cotidiano da escola.
A propósito, pode parecer impróprio tratar as práticas de ensino-aprendizagem como práticas
permeadas pela ação administrativa. Mas isso apenas se nos limitarmos à concepção do senso comum
que, expressão da ideologia dominante em nossa sociedade, identifica administração apenas como o
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controle e a supervisão do trabalho alheio. O conceito de administração que estou adotando pretende
dar conta do real de forma mais precisa, tomando a atividade administrativa em seu caráter mediador
na busca de fins estabelecidos pelo homem. Dessa forma, entre no rol das preocupações da adminis-
tração, na escola, tudo o que diz respeito ao processo pelo qual se busca alcançar os fins educacionais
estabelecidos.
Hoje a atividade escolar se configura como uma prática burocratizada em que os meios e os
processos perdem propósitos de mediação para a consecução de fins sociais, erigindo-se em fins em si
mesmos. Por isso, é muito difícil encontrarem-se, no cotidiano da escola pública, atividades permea-
das por princípios administrativos de racionalidade e eficiência.
Estando a prática política necessariamente ligada à disputa pelo poder na sociedade, sua pre-
sença no cotidiano da escola pública tem a ver, portanto, com os interesses antagônicos aí em jogo. Se
temos como fim da educação escolar a universalização do saber produzido historicamente, de modo
que ele seja apropriado pelas amplas camadas trabalhadoras, esta já é uma posição política, na medi-
da em que visa a dotar amplos grupos sociais de conteúdos culturais que potencializarão sua luta pelo
poder (...). (...) a educação escolar se realiza, na forma e no conteúdo, de acordo com seus interesses,
o que exige a participação dos próprios usuários da escola pública nas decisões que aí se tomam.
A educação constitui objeto da prática política na medida em que potencializa os grupos sociais
que a ela têm acesso para se colocarem em posição menos desvantajosa diante dos grupos que lhe são
antagônicos. Dessa forma, o estabelecimento de objetivos (políticos) antecede, e certamente condi-
cionará, o processo de atingi-los (atividade administrativa). Além disso, a prática administrativa só se
faz sobre um mínimo de condições, propiciadas pela disponibilidade dos recursos e que, na atual situa-
ção do ensino, são sistematicamente negadas pelo Estado brasileiro. Mais uma vez, então, a prática
política precisa anteceder a atividade administrativa, alimentando a luta pela conquista das condições
objetivas que possibilitarão a realização do processo administrativo.
O que se precisa, na verdade, quando se vida ao aparelhamento da escola pública pra a busca
efetiva de objetivos educativos comprometidos com os interesses das classes trabalhadoras, é buscar
a integração das práticas políticas com as atividades administrativas, procurando tirar proveito do ca-
ráter político e administrativo das práticas que se dão no cotidiano da escola.
A finalidade da educação não é apenas preparar para o trabalho ou afastar o indivíduo da delin-
quência. Sua razão primeira decorre do fato de que o acesso à cultura é direito universal do indivíduo
enquanto ser humano pertencente a determinada sociedade.
A incompetência da escola pública deve-se, em grande parte, ao fato de que, instado pelas pres-
sões da população a oferecer escola para todos, o Estado exime-se de se comprometer com qualquer
padrão mínimo de qualidade dos serviços oferecidos.
Da parte da população, permanece, além disso, a extrema escassez de padrões mínimos bem
delimitados que a orientariam em suas reivindicações diante da instituição escolar.
A educação é vista como mero produto pedagógico, uma “mercadoria” qualquer no mundo da
produção material do sistema capitalista, facilmente avaliável.
Porém, a realidade é outra. O processo pedagógico é complexo, sendo difícil aferir resultados ou
estabelecer padrões de qualidade compatíveis com os interesses dos usuários. Porém, isso não deve
justificar a omissão diante desse processo. A constatação dessas dificuldades deveria animar os estu-
diosos da educação a dedicar maiores esforços nessa tarefa para evitar que a população fosse perma-
nentemente enganada.
(...) há um enorme caminho a percorrer no sentido de refazer inteiramente os currículos e pro-
gramas, procurando selecionar, entre a imensa gama de conhecimentos acumulados historicamente,
aqueles que melhor sirvam ao propósito de fornecer aos usuários elementos culturais necessários
quer para melhor conduzir-se em sua vida pessoal, na produção de sua existência material e social,
que para captar mais criticamente o real, lutando para superar as injustiças de que são vítimas.
O corpo docente é o elemento mais importante que a escola pode oferecer na realização do
trabalho escolar. A deterioração da qualidade da força de trabalho docente na escola pública funda-
mental está ligada a determinantes históricos os mais diversos, mas todos eles remetendo de alguma
forma à despreocupação do Estado para com a qualidade do produto que essa escola possa oferecer.
Como vimos, a partir da saída da escola pública dos grupos sociais que tinham maior poder de
pressão, o Estado deixa de interessar-se pela qualidade do ensino básico.
Ao pagar continuamente baixos salários, o sistema escolar demonstra contentar-se com o tipo
de profissional de baixa qualificação com que tem contado, fazendo cair, em decorrência, também o
cuidado e o investimento que os cursos de formação desses profissionais, seja no ensino médio, seja
na universidade, dedicam a essa formação.
Uma pergunta de reflexão trazida por Paro é “Para que se preocuparem com uma preparação
profissional de alta qualidade se vão ganhar tão pouco?
Não é de um dia para o outro que o Estado conseguirá atrais professores mais qualificados. Po-
rém, as medidas de curto prazo também não devem ser desprezadas, como a implantação de progra-
mas de formação para os professores que já atuam na rede de escolas.
Ainda, é importante que o magistério público perceba que, historicamente, o montante de seus
salários está muito mais ligado à pressão que os grupos sociais usuários da escola pública fazem junto
ao Estado por melhor ensino do que à pressão que os próprios professores possam fazer por salários
mais elevados.
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COORDENADOR GERAL DE ESCOLA: a essa função estariam mais ligadas as questões relativas ao
desempenho do pessoal, às atividades-meio e à integração dos vários setores da escola.
COORDENADOR PEDAGÓGICO: caberia cuidar mais das atividades-sim, preocupado com a situa-
ção de ensino e tudo o que diz respeito diretamente a sua viabilização.
COORDENADOR COMUNITÁRIO: cuidaria mais de perto das medidas necessárias para promover
o envolvimento da comunidade, em especial os usuários, na vida da escola.
COORDENADOR FINANCEIRO: a este, estariam subordinadas as questões relativas à aplicação
dos recursos disponíveis, bem como a parte escritural da unidade escolar.
O Conselho Diretivo seria assessorado e fiscalizado pelo Conselho de Escola, o qual, por sua vez,
integraria às suas atribuições, aquelas pertencentes às APM, as quais seriam extintas.
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