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Tal oportunidade não lhe é dada pelo Estado, que através do Judiciário somente lhe permite
pedir uma chance para se recuperar, pedido este que deverá ser analisado pelos credores, que
analisarão se a via da recuperação lhes é mais vantajosa do que a via falencial.
Com isso, temos que a lei trouxe ao devedor uma faculdade de pedir recuperação, pedido este
que deve ser analisado e concedido, se for o caso, pela assembléia geral de credores.
Nas palavras de Waldo Fazzio Júnior, “o processo de recuperação, tanto judicial como
extrajudicial, é uma intervenção dos credores na empresa do devedor, a pedido deste”.1
RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
1
Waldo Fazzio Júnior, Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas, 2. ed., p. 99.
A Lei 11.101/05, no que dispõe sobre a recuperação extrajudicial de sociedades empresárias,
dá liberdade ao devedor, bem como aos credores, para entrarem em acordo sobre a
composição do plano de recuperação, que, se aceito por todos os credores, torna facultativa a
homologação judicial.
Por outro lado, caso uma parcela minoritária dos credores se manifeste contrariamente ao
plano de recuperação, não se deve frustrar a tentativa de recuperação, uma vez que esta
representa uma possibilidade para que todos os credores possam ter seus créditos adimplidos,
possibilidade esta aceita pela maioria dos credores. Para evitar que se comprometa a
possibilidade de recuperação e adimplemento das dívidas da sociedade em razão da recusa de
uma minoria, a lei prevê que o plano de recuperação extrajudicial, quando apoiado pela
maioria dos credores, pode ter seus efeitos estendidos aos demais credores, ainda que contra a
vontade destes. Neste caso, a homologação judicial se torna obrigatória.
Não se exige o cumprimento dos requisitos previstos na lei para a recuperação extrajudicial
quando, procurados pelo devedor, os credores entram em acordo com este com o intuito de
encontrar uma saída negociada para a crise. Tais requisitos somente são exigidos nos casos de
necessidade de homologação judicial.
Para Fábio Ulhoa Coelho “os requisitos legais para a homologação do plano de recuperação
extrajudicial são de duas ordens: subjetivos (dizem respeito à sociedade empresária
requerente) e objetivos (são pertinentes ao plano submetido à homologação)”.2
2
Fábio Ulhoa Coelho, Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa, vol. 3, 7. ed., p. 434.
há menos de 2 anos, recuperação judicial ou extrajudicial (art. 161, § 3º do supracitado
diploma legal).
Como requisitos objetivos, podemos encontrar cinco, os quais passamos a citar: não pode
nenhum credor ser favorecido com o pagamento antecipado de nenhuma dívida; todos os
credores devem receber tratamento uniforme, não podendo haver favorecimento à qualquer
deles, nem tampouco qualquer dos credores ser prejudicado em relação aos demais; o plano
de recuperação somente poderá abranger os créditos constituídos até o momento do pedido de
homologação judicial; no caso de alienação de bem gravado como garantia real, a supressão
da garantia ou sua substituição somente será possível com a expressa anuência do credor
titular da referida garantia; não poderá ser afastada, sem a expressa anuência do credor, a
variação cambial nos créditos em moeda estrangeira.
O plano de recuperação extrajudicial, ao qual aderiram todos os credores cujos créditos são
alcançados pelo mesmo, não necessita de homologação judicial para sua implementação. As
próprias assinaturas de todos os credores, constantes do plano de recuperação extrajudicial, já
os obrigam, não sendo necessário qualquer ato judicial para tanto.
Nesses casos, a homologação judicial pode ter duas finalidades, quais sejam: revestir o ato de
maior solenidade, chamando, assim, maior atenção das partes para sua importância; tornar
possível a alienação de filiais ou unidades produtivas isoladas através de hasta judicial.
Quando do requerimento da homologação judicial, o devedor deve instruir o pedido com sua
devida justificativa, bem como do instrumento de recuperação extrajudicial assinado por
todos os credores que o aderirem. O juiz receberá a petição devidamente instruída,
determinando a publicação de edital com o intuito de convocar os credores para, caso
necessário, apresentar impugnação no prazo de 30 dias. Neste mesmo prazo, o devedor deverá
provas que comunicou, por meio de carta, todos os credores sujeitos ao plano e que sejam
domiciliados ou sediados no Brasil, dando-lhes ciência da distribuição da petição inicial
requerendo a homologação, as condições do plano de recuperação e o prazo para impugnação.
Caso seja apresentada alguma impugnação, o requerente deverá ser intimado a se manifestar
no prazo de 5 dias. Após, serão os autos conclusos para que o juiz defira a inicial e
homologue o plano ou acolha a impugnação e indefira o pedido de homologação. Da sentença
que resolver sobre a homologação caberá, em qualquer caso, apelação sem efeito suspensivo.
No caso de indeferimento do pedido de homologação, superados os óbices ensejadores de tal
decisão, poderá o devedor oferecer novo pedido.
Existem categorias de credores que não podem ter seus créditos negociados na recuperação
extrajudicial, estando, desta forma, preservados em relação à recuperação em questão. A
natureza de seus créditos exige que estes sejam renegociados segundo regras próprias, ou, na
falta destas, pelas regras do direito das obrigações.
São quatro as categorias de credores cujos créditos não são passíveis de renegociação na
recuperação extrajudicial, ainda que homologada judicialmente. São elas: credores
trabalhistas; credor tributário; proprietário fiduciário, arrendador mercantil, vendedor ou
promitente vendedor de imóvel por contrato irrevogável e vendedor de reserva de domínio;
instituição financeira credora por aditamento ao exportador.
Por credor trabalhista entendemos como o titular tanto de crédito derivado da relação de
trabalho como de acidente de trabalho, não podendo estes créditos serem alterados na
recuperação extrajudicial.
No caso do credor tributário, por se tratar de uma relação de direito público, se torna
inadmissível que se negocie créditos dessa categoria, uma vez que somente mediante lei se
pode conceder remissão ou anistia, ou até mesmo prorrogar o prazo de vencimento da
obrigação do contribuinte.
Os demais credores estão submetidos ao plano de recuperação extrajudicial, uma vez que este
tenha a adesão de pelo menos 3/5 dos credores de casa espécie de crédito atingida e tenha sido
homologado judicialmente, caso em que seus efeitos incidirão inclusive sobre os credores que
não houverem aderido ao plano.
CONCLUSÃO
A recuperação extrajudicial é vista como uma saída viável e interessante quando constatado
pelos credores a competência e seriedade do devedor, bem como a possibilidade de sobrevida
da sociedade empresária. É importante que se tente recuperar as sociedades empresariais,
principalmente devido à sua enorme importância social, seja através da geração de empregos,
seja através da circulação de riquezas etc. É uma alternativa que deve ser utilizada sempre que
possível, tendo em vista ser uma oportunidade de tornar a empresa novamente lucrativa,
satisfazendo, desta forma, os seus credores, e beneficiando a economia e o proletariado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Cusro de Direito Comercial: Direito de Empresa, v. 3. 7. ed. São
Paulo: Saraiva, 2007.
FAZZIO Jr., Waldo. Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2005.
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
PABLO FERREIRA
RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE EMPRESAS
FACULDADES DOCTUM
MANHUAÇU
2009