Sunteți pe pagina 1din 4

A IMPRENSA EM ANGOLA NO SÉCULO XIX

Bruno Arzak
O livro História e Evolução da Imprensa Brasileira (Rio de Janeiro, 1940), de Licurgo Costa e Barros
Vidal, afirma na sua página 15 que no século XVIII existia um prelo mecânico em Luanda e outro em
S. Salvador do Congo (Mbanza Kongo). Vários estudiosos na matéria, entre eles Júlio de Castro
Lopo, apesar de terem investigado a veracidade desta informação, nunca conseguiram encontrar
provas documentais que a sustentassem.

Mais recentemente, em 1982, Laurence Hallewell publicou em Londres uma obra sobre a História da
Imprensa onde afirma que no final do século XVI, chegaram as primeiras máquinas impressoras a
África, pela mão dos missionários portugueses, que as instalaram nos seus colégios da Ordem dos
Jesuítas, em Luanda e S. Salvador do Congo (Mbanza Congo). Mas não se conhece nenhum
documento impresso desse tempo.

O que sabemos de fonte segura é que o primeiro órgão de Informação em Angola foi o Boletim do
Governo Geral da Província de Angola e que começou a circular no dia 13 de Setembro de 1845, era
governador Pedro Alexandrino da Cunha, um oficial da Marinha de Guerra, que deixou obra na então
colónia de Angola. A população de Luanda, agradecida, mandou erigir-lhe uma estátua em bronze, no
largo fronteiro ao Palácio dos Correios.

A imprensa oficial começou a ser montada em 1836, ano em que o ministro das Colónias decretou
que todas as “possessões ultramarinas” tivessem a sua folha oficial para publicação de despachos,
decretos e outros documentos da Administração Pública. O prelo foi despachado de Lisboa, ficou
guardado num qualquer armazém do almoxerifado durante mais de sete anos e só quando Pedro
Alexandrino da Cunha desembarcou em Luanda, o Boletim do Governo chegou ao público. Angola
foi a primeira colónia a ter uma folha oficial. O dia 13 de Setembro, um sábado cheio de luz e sol, a
Imprensa nasceu em Angola. Era ainda a chamada “Imprensa Oficial”. Poucos anos mais tarde, um
punhado de intelectuais, animados pela ideia libertária e socialista, criaram os alicerces da “Imprensa
Livre” em oposição à folha emanada do quartel-general do governador.

Pedro Alexandrino da Cunha tomou posse em 6 de Setembro de 1845 e no dia 13 do mesmo mês, era
publicado o primeiro exemplar de um jornal em Angola. É evidente que o novo governador, que
substituíra Lourenço Possolo, trazia ordens rigorosas para dar cumprimento ao despacho do ministro
das Colónias. Mas em Luanda existia um prelo muito mais moderno, com tipos de excelente
qualidade, servido por oficiais tipógrafos, com o armazém cheio de papel do melhor e tintas de fino
pigmento, tudo importado de Londres, na época o centro mundial da Imprensa, onde se destacava o
circunspecto Times. Essa tipografia particular estava nas mãos erradas de um libertário madeirense,
deportado para Luanda “por crime revolucionário”. Era ele Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo.

O deportado era um intelectual e homem de cultura. Assim que foi libertado das celas da fortaleza de
S. Miguel logo dinamizou um grupo de teatro amador onde era actor principal. Ele acrescentou ao seu
nome verdadeiro, Pompeu de Carpo, mais os nomes de Arsénio e Pompílio, nomes de personagens
que ele havia representado como actor amador. A comunidade europeia, na época, era muito pequena
e maioritariamente analfabeta. Até os oficiais das tropas de ocupação eram analfabetos, porque nas
leis de então, só o sargento-mor era obrigado a saber ler e escrever. Os oficiais, muitos deles oriundos
de famílias nobres, não precisavam de se submeter à aprendizagem da leitura e da escrita. Deportado
mas longe da cela do presídio, Pompeu do Carpo começou a trabalhar e em tempo de árvore das
patacas fez fortuna rapidamente. Dominava perfeitamente o inglês e essa particularidade permitiu-lhe
iniciar uma bem sucedida carreira de agente comercial, representando as melhores casas de Londres.
Foi esta relação que lhe permitiu adquirir um moderno prelo mecânico e excelentes tipos. De Portugal
importou os mestres tipógrafos.

O prelo da Imprensa Nacional era de má qualidade e os tipos ainda piores. O Boletim Oficial
ressentia-se dessa debilidade técnica. Pompeu do Carpo viu aí uma forma de adquirir a liberdade
plena. E ofereceu a Pedro Alexandrino da Cunha a sua oficina completa e trespassou para o Governo-
Geral os mestres e sabedores tipógrafos. Pedro Alexandrino da Cunha pagou-lhe levantando a pena de
degredo que impendia sobre o libertário madeirense. Para mostrar o seu patriotismo ao representante
do rei de Portugal na terra, Pompeu do Carpo fez-se coronel de segunda linha e chegou a comandar as
guarnições do Bailundo e do Bié. O Governo do Reino fez dele comendador. Mais livre para os
negócios, Pompeu do Carpo em breve era um dos homens mais ricos de Luanda. E enquanto a sua
maquinaria gráfica imprimia a folha oficial, ele já congeminava com outros libertários a importação
de mais prelos mecânicos.

Em 1845, o governador mandou prender Pompeu do Carpo e o revolucionário fez o percurso inverso,
seguiu a ferros para a Metrópole e chegado a Lisboa foi encarcerado no castelo de S. Jorge. O
libertário estava de novo a conspirar e desta vez criando na sombra uma indústria gráfica para
imprimir jornais que proclamavam a liberdade de Imprensa e a autonomia de Angola. Pompeu do
Carpo tinha muito dinheiro e em breve comprou a sua liberdade. Em 1848, já estava em Londres a
negociar com os seus parceiros ingleses a construção de uma linha-férrea entre Luanda e Kalumbo. O
comboio era na época um transporte moderno e revolucionário. No coração da sociedade industrial,
Pompeu do Carpo também comprou máquinas a vapor para uma serração de madeiras, a instalar nas
matas do rio Kwanza. E encomendou aos engenheiros ingleses um projecto arrojado para canalizar a
água do Kwanza até Luanda. Os seus sonhos foram atirados por terra pelo poder instituído, que lhe
moveu uma perseguição impiedosa até conseguir aniquilá-lo social e economicamente. Em 1854, a
Junta de Justiça de Luanda dava Pompeu do Carpo como indigente. Mas enquanto não sucumbiu, ele
escreveu e pôs a circular na cidade de Luanda panfletos ácidos, textos de fino recorte literário que
demoliam o poder, o governador e a sua corte corrupta e analfabeta. Pompeu do Carpo foi, nesta
época, o mais temido dos panfletários. Mas todos os intelectuais do seu tempo, europeus ou africanos,
eram terríveis polemistas e panfletários. Foi assim que nasceu a Imprensa Angolana. Num clima
panfletário e libertário.

O Boletim do Governo seguia os seus passos, distintamente impresso na tipografia oferecida por
Pompeu do Carpo. Em 1845, a folha oficial dava uma notícia social. A Assembleia de Luanda, onde
se juntava a alta burguesia europeia e africana, ia dar um baile em homenagem ao governador Pedro
Alexandrino da Cunha. Mais tarde, publicava um anúncio comercial. O comerciante Valentim José
Pereira dava nota pública de que era comprador de todas as folhas de tabaco que lhe aparecessem. Em
1846, o Boletim Oficial (em 13 de Setembro de 1845, mudou de nome) dava a sua primeira notícia
cultural. O Teatro Providência, ali na Rua dos Mercadores, levava à cena a peça “O Fugitivo da
Bastilha”. Desde então, o Boletim Oficial passou a ser um verdadeiro jornal mas controlado pelo
Governo-Geral. Por isso, os intelectuais da época, decidiram criar a Imprensa Livre, em oposição à
Imprensa Oficial. E não demorou muito tempo.

Os pioneiros da imprensa livre

Em 1852, surgiu em Luanda o anuário Almanak Statistico da Província d’Angola e suas


Dependências. Nunca mais saiu qualquer outro exemplar. Por esta publicação ficámos a saber que em
Luanda, nesse ano, existiam “74 negociantes e lojistas”. Nesta lista, sobressaía o nome de uma
senhora: Dona Ana Joaquina, de seu nome completo Ana Joaquina dos Santos e que mais tarde, pelo
casamento, ganhou o sobrenome de Silva. Em 1856, nasceu o “jornal literário e de entretenimento” A
Aurora mas teve uma vida efémera. No dia 6 de Dezembro de 1866 nasceu em Luanda o primeiro
jornal privado, com consistência e continuidade, que teve como fundadores os advogados António
Urbano Monteiro de Castro e Alfredo Júlio Cortês Mântua. O título era A Civilização da África
Portuguesa e o subtítulo Semanário dedicado a tratar dos interesses administrativos, económicos,
agrícolas e industriais de Angola e S. Tomé. Além dos dois advogados, o jornal teve ainda como
fundadores João Feliciano Pederneira, comerciante de Pungo Andongo, Feliciano da Silva Oliveira,
comerciante de Cambambe e Francisco António Pinheiro Bayão, funcionário público de Luanda.

O jornal entrou a matar e o governador-geral pediu autorização ao ministro das Colónias para
proceder ao seu encerramento. Urbano de Castro e Mântua defendiam e apoiavam abertamente a
guerra dos Dembos contra a coroa portuguesa. Os feitos de Kazuangongo eram glorificados. No
fundo, os dois polemistas eram porta-vozes dos comerciantes de Luanda, que exigiam do governo o
fim das guerras de kwata-kwata, porque estavam a causar sérios prejuízos ao comércio local e à
permuta dos pombeiros. A poderosa Associação Comercial de Luanda também pressionava o governo
no sentido de acabar com a guerra. Os comerciantes aceitavam de bom grado pagar portagem aos
Dembos na passagem para o reino do Congo. O que eles queriam era negócio e nos Dembos existiam
minas de ouro! Ou pelo menos era essa a crença dos comerciantes.

O governador-geral desesperava com a falta de resposta da Metrópole e Urbano de Castro destroçava


o governador e os seus mais próximos colaboradores. O governador mandou uma última carta para
Lisboa implorando ao ministro que o autorizasse a encerrar o jornal – “uma folha facciosa e
turbulenta”, segundo o governador - porque “publica artigos subversivos da ordem pública” e provoca
um “clima de anarquia total”. Um ano depois da sua fundação, finalmente chegou a ordem de
encerramento do jornal. A polícia irrompeu pela Redacção e prendeu Urbano de Castro e Alfredo
Mântua. O prelo foi apreendido.

Luanda era nesta época território de aventureiros de todas as origens, militares ociosos, chusmas de
brasileiros, visionários, clérigos venais, missionários sem missões e umas escassas dezenas de
comerciantes. A comunidade europeia nem sequer conseguia povoar o litoral. Para além de Luanda,
os outros centros importantes eram Benguela e Moçâmedes (Namibe), de resto os únicos centros
urbanos que tinham Poder Judicial instituído. Luanda e Benguela eram cidades com uma percentagem
muito elevada de mestiços. Entre eles despontavam alguns dos que viriam a ser os grandes jornalistas
do último quartel do século XIX.

Urbano de Castro e Mântua não se renderam ao poder instituído e com outros intelectuais da época
partiram para outros projectos da Imprensa Livre. Em 9 de Julho de 1870, nasceu O Mercantil, um
jornal com grande qualidade gráfica e com seis páginas! Na época, o usual eram jornais com a
primeira, a última e as páginas centrais. De vez em quando era encartada uma quinta folha. E só
excepcionalmente os jornais eram compostos de oito páginas. Este periódico possuía prelo próprio,
nas suas oficinas da Rua Direita do Bungo.

O Mercantil fez época em Luanda. Urbano de Castro esteve ligado a este jornal. O director e
proprietário era José Pinto da Silva Rocha, jornalista e publicista de grande mérito. O jornal já tinha
uma estrutura profissional, apesar do estilo panfletário e contestatário do poder instituído. Neste jornal
colaboraram figuras como Henrique de Carvalho (o general que deu o nome a Saurimo) ou Lopes de
Mendonça, um oficial da Marinha de Guerra que no advento da República em Portugal foi autor da
letra do hino nacional português. O jornal tinha correspondentes em Lisboa, Paris e na Baía, Brasil.

Silva Rocha fez, indubitavelmente, o melhor jornal da época da Imprensa Livre. Mas as suas posições
contestatárias despertaram a fúria do governador que mandou o comandante da polícia de Luanda
encerrar o jornal e apreender o prelo mecânico. Mas O Mercantil tinha o apoio da Associação
Comercial de Luanda e numa longa exposição ao ministro das Colónias, foi pedido o levantamento da
interdição do jornal. O ministro Andrade Corvo, em 12 de Abril de 1873, ordenou o levantamento da
interdição e O Mercantil voltou de novo ao convívio dos leitores. Mas durante o tempo de suspensão,
Silva Rocha usou de um expediente notável. Lançou o jornal Notícias de Loanda, com o subtítulo Á
Sahida do Bengo (sic) exactamente igual ao jornal O Mercantil. E quando a suspensão foi levantada, o
director do jornal editou uma revista “para compensar os assinantes”. A publicação tinha 60 páginas,
com uma paginação arrojada para a época, obra do próprio Silva Rocha.

O governador-geral perseguiu pessoalmente Silva Rocha e só largou a preza quando ele já estava
depauperado economicamente e crivado de dívidas. Para o escândalo não ser grande, o governo
ofereceu-lhe o cargo de administrador numa aldeia perto do Lobito, Jixitu, hoje conhecida como Egito
e lá morreu sozinho e amargurado.

S-ar putea să vă placă și