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Arquivo pessoal
Tive a valiosa e rara oportunidade de entrevistar aquele que foi o maior cirurgião plástico de
todos os tempos, Dr. Ivo Pitanguy!
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Na sua clínica em Botafogo, no Rio de Janeiro, recebeu-me o Professor Ivo Pitanguy, para
uma entrevista que revelou um pouco da sua brilhante trajetória estudantil e profissional.
Ali, no silêncio do seu escritório, onde o gosto pela arte e pelos livros se faz perceber de
imediato, pude comprovar uma vez mais que o sucesso se constrói com muito esforço e
dedicação.
Ivo faz jus ao significado do seu nome, que quer dizer arqueiro, pois combate, com o arco da
medicina e as flechas da beleza, a imperfeição, o disforme e, mesmo, o tempo, de marcas
pretensamente indeléveis.
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Ivo Pitanguy – Acho que a escola é fundamental. Na época, em Belo Horizonte, não havia
escolas particulares, o ensino público era de excelente qualidade. Estudei em um grupo
escolar que tinha um ensino muito bom. Logo em seguida, entrei para o Colégio Arnaldo[1],
que era um colégio muito tradicional de Minas Gerais, e cursei alguns anos lá.
Depois, acompanhando um irmão meu, fui para um outro colégio, que não era tão bom
quanto o Colégio Arnaldo. Uma coisa na época, que acho que era interessantíssima, é que
havia um pré-médico, não havia o concurso. Era como o college, nos Estados Unidos. Eram
dois anos de curso, e depois se entrava automaticamente na escola. Ali, fui obrigado a
recordar muitas coisas do ginásio, que não tinha sido tão bom. Senti, então, no ginásio, a
importância de um bom primário.
Fiz um excelente curso básico. No quarto ano do curso médico, fiz o CPOR, e havia uma
obrigatoriedade de servir em Regimento de Cavalaria. Fui transferido para o Rio de Janeiro
porque em Belo Horizonte não havia esse regimento. Praticamente vim por acaso para o rio.
Aqui, entrei para a Escola Nacional de Medicina e pude sentir de novo a importância do
ensino básico, como o ensino básico na Faculdade em Belo Horizonte era excelente. Éramos
turmas menores, se setenta alunos; aqui, eram trezentos e tantos.
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Sou 4 da Escola1 Nacional
formado pelas duas escolas. Hoje sou do Conselho de Minerva 64 de
Medicina, e tenho também diploma de lá da faculdade de Belo Horizonte.
Falber – Os seus pais eram muito exigentes com relação à disciplina de estudos?
Ivo Pitanguy – Não eram não. Meus pais eram pessoas muito boas. Nunca os vi brigar. Tive
a sorte de ter uma infância muito feliz.
Eles se interessavam pelos meus estudos, mas não forçavam demais. Sempre fui um menino
relativamente fácil, um pouco precoce, estudava com facilidade talvez por isso.
Meus pais eram muito humanistas, interessavam-se sempre pela cultura, tanto é que desde
muito cedo me despertaram o interesse pela leitura, por me inteirar das coisas. É algo que
em mim foi permanente e que devo muito a eles.
Falber – Quais foram os livros mais importantes na sua formação antes de ingressar na
faculdade?
Ivo Pitanguy – Na minha formação... nunca me fiz essa pergunta, mas diria que em uma
parte da minha vida, na juventude, especificamente, não lia muito coisas brasileiras. Lia
muito Aldous Huxley, gostava bastante da literatura inglesa, e ao mesmo tempo estava
aprimorando o meu inglês também, gostava de Virginia Wolf, são autores que me marcaram
muito.
Na França, Romain Rolland[2], Roger Martin du Gard[3]. Sempre me interessei pelas coisas
do mundo. Do ponto de vista da profundidade, Thomas Mann que relatava a juventude entre
a primeira e a segunda guerra. Les Thibault[4], com histórias de famílias que viveram
naquele momento, que foi crucial na formação da humanidade.
Sempre tive uma mentalidade muito curiosa pelo mundo que não conhecia. Quando fui à
Florença pela primeira vez, conhecia toda a Piazza dela Signoria[5] descrita por Anatole
France[6], no Le Lys Rouge[7].
Eu tinha todos aqueles devaneios de menino da província que queria conhecer o mundo e
teve no livro o seu companheiro. O livro foi o meu companheiro eterno.
Todos esses autores me marcaram muito. Voltaire, fui muito volteriano. Há uma série de
outros, mas os que me vêm à mente agora são esses.
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No 4
início, o sentido cultural era mais universal, e muita literatura ligada 1
à França. 64
Neste
ano[viii], fui eleito homem do ano pela Câmara de Comércio França-Brasil – 2002, e me
lembrei um pouco daqueles momentos de infância, em que nós conhecíamos o mundo por
meio da cultura francesa, que era universal.
Falber – O que o senhor acha que faz o jovem ler tão pouco hoje em dia?
Ivo Pitanguy – Sinto que a facilidade da mídia, da comunicação, a versatilidade que se tem
na informação, e talvez o cansaço, o excesso que a vida nos impõe hoje, faz com que o livro,
que é o nosso eterno companheiro, seja substituído por outras coisas.
Continuo lendo, gosto muito de ler. À noite, depois de ver as notícias, tenho que ler antes de
dormir. Tenho esse hábito. Acho que a falta do hábito da leitura é uma pena, pois a leitura te
dá reflexão.
Vejo que há uma substituição muito grande, mas ao mesmo tempo o livro continua sendo o
que há de mais moderno: não precisa de tomada, não precisa de bateria, e pode ser levado
para qualquer lugar.
O livro não está tão desaparecido quanto se pode aparentar, mas existe uma dificuldade na
juventude, sobretudo com a facilidade do computador.
Falber – Qual o momento de maior crise que o senhor teve na sua história de
estudante?
Ivo Pitanguy – Foi quando terminei o ginásio, antes de entrar para o pré-médico. Gostava
muito de ideias, de literatura, e não sabia o que queria fazer.
Meu pai era médico, e acredito que o fato de apreciá-lo como cirurgião e como ser humano
me influenciou de uma maneira subliminar. Ele jamais quis me influenciar, deixava que eu
escolhesse meu caminho de forma natural, por isso é que gosto tanto, porque foi um
caminho escolhido.
Ivo Pitanguy – Ganhei num concurso uma bolsa para os Estados Unidos. O estudo de
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idiomas é muito importante. Eu sabia inglês bem, pois havia estudado por conta própria em
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Belo Horizonte. 4 1 64
Fiquei lá nos Estados Unidos dois anos, e depois voltei ao Brasil. Aqui, percebi que queria
aprender mais, e fui para a França com uma outra bolsa, onde fiquei dois anos. Em seguida,
fique mais dois anos na Inglaterra. A todo foram quase seis anos fora do Brasil,
aperfeiçoando-me.
Posse na Academia Nacional de Medicina, sendo cumprimentado por Dona Sara e pelo
Presidente Juscelino Kubitschek (1973). Arquivo pessoal
Quando voltei, senti que aquilo tudo que havia aprendido era importante, e não queria
guardar o conhecimento, mas sim distribuir com outros. Fiz concurso e ganhei a Cátedra de
Cirurgia Plástica, que começava na Pontifícia Universidade católica. Então, criei o primeiro
curso de pós-graduação em Cirurgia Plástica, que já tem mais de quarenta anos. Tendo
percebido a dificuldade do processo, entendi que ensinar seria, para mim, quase uma
obrigação, o que faço até hoje com muito entusiasmo.
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Ivo 4
Pitanguy – Ouvi pelo rádio a tragédia e, estando já com o primeiro grupo1 meu,64do
primeiro ano de formação em Cirurgia Plástica, senti que tinha comigo pessoas que podiam
ajudar.
Fomos para Niterói e vimos a desorganização. O hospital Antônio Pedro estava fechado por
uma greve de estudantes. Procuramos então reabri-lo e, com esse grupo nosso, mais alguns
de Niterói também, conseguimos criar um estado de espírito favorável a todo o corpo
médico. Niterói se voltou para ajudar.
Criamos um centro de urgência que pôde atender aquela população, que eram mais de
quinhentos queimados. Eram duas mil e quinhentas pessoas que estavam no circo, setenta
por cento crianças. Foi um atendimento que durou alguns meses, depois pude transferir para
a 38ª Enfermaria da Santa Casa aqueles pacientes que necessitavam de tratamento mais
longo.
O que a tragédia de Niterói me mostrou foi a enorme importância social da cirurgia plástica,
e, dentro de uma população, como ela poderia ajudar a recuperar todos aqueles pacientes.
Falber – Quais foram os casos que mais marcaram a sua vida profissional?
Ivo Pitanguy – Existem muitos casos que marcam uma vida profissional. Já que estamos
falando em queimadura, lembro-me de um caso que me marcou muito, há mais de quarenta
anos (não havia nem a clínica) de uma mocinha polonesa, de uns onze anos, que chegou
acompanhando os tios depois da guerra. Ela se queimou com cera em cem por cento do
corpo, caso em que é muito raro se salvar.
Conseguimos, durante muitos meses, retirando peles e fazendo outros procedimentos, salvá-
la. Anos mais tarde, emocionei-me muito quando ela veio dizendo que era médica, que se
formara. Esse caso me tocou muito.
Há vários outros casos que nos impressionam. Geralmente, são os de sequela traumática,
mas há outros de natureza estética, em que se faz uma operação e se muda todo o estado de
espírito de uma pessoa, no sentido construtivo, de se reencontrar com a vida e de se ter
alegria de viver.
Falber – Fale um pouco sobre as homenagens que o senhor recebeu, inclusive aquela de
Indianápolis, que, por ocasião da sua participação em conferência, proclamou o dia 5
de março como “Doctor Ivo Pitanguy Day”.
4 Siena, Berlim,
Pesquisartambém, a medalha da cidade de Paris, de Florença, Arezzo,
Recebi, 1 64Nice,
Marseille, Mirabeau, Herculano e tantas outras que nem me lembro mais. Todas elas
resultantes de serviços que prestei a alguém especialmente, ou há um grupo de pessoas
nessas cidades.
Brasil
Exterior
Falber – Qual a relação o que o senhor faz entre a sua dedicação aos estudos na
infância, na adolescência, e quando adulto, e o seu sucesso profissional?
Ivo Pitanguy – Acho que é fundamental. Na vida de um homem, de um ser humano, vamos
acumulando várias camadas do nosso crescer. Essas camadas são vivências que, somadas,
são positivas, transformando nossa vida em algo construtivo. Quando são apenas
dissipações, momentos em que passamos o nosso tempo sem dar importância ao segundo, ao
minuto, à hora, sem algo que seja de vivência construtiva, com o passar dos anos, não
acumulamos tais vivências. Mensagens
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Tudo 4 é uma1coisa64muito
que é construtivo, desde a cultura básica até a cultura específica,
importante na nossa formação.
Acho que uma das coisas que hoje em dia existem menos, na formação escolar e também na
própria família, é a formação humanística, o interesse amplo pelas coisas que o homem fez,
pela cultura do homem, de uma maneira mais abrangente. Com essa cultura, pode-se ver que
em qualquer campo de aplicação, por mais pragmático que seja, tem-se algo a lucrar,
vestindo a sua alma com roupas de gala para enfrentar a vida.
Falber – O senhor concorda com Vinicius de Moraes, que dizia que beleza é
fundamental?
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Ivo 4
Pitanguy – Concordo quando ele diz no sentido poético e metafórico, 1 acho
mas 64 que é
ainda mais profundo, porque a beleza é mais do que apenas uma pessoa, uma mulher. Ele se
referia a uma mulher. A beleza faz parte do nosso universo. Além do corpo, que seria apenas
a forma – no sentido platônico, o eidos – a beleza é muito mais estruturada em algo que
passa da forma, do arquétipo. Esse tipo de beleza é muito complexo para se definir, mas se
pode perceber, quando a encontramos.
Ivo Pitanguy – Acho que não só vale a pena como vale o entusiasmo pelo conhecimento,
pela vida. Talvez o mais desagradável de morrer, é que nós paramos de aprender.
Recebendo das mãos do Reitor da Universidade de Tel Aviv, Prof. Moshe Many, o título de
Doctor Philosophie Honoris Causa. Arquivo Pessoal
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Na Universidade de Sorbonne, ao
receber das mãos da Reitora Mme.
Artweiller o título de Chancellier
des Universités de Paris. Arquivo
Pessoal
4 sentido mais
Pesquisar muito com a parte física do corpo, com a beleza no seu
preocupa-se 1 simples,
64
deixando um pouco o sentido espiritual, aquele que vai mover toda a sua vida.
Veja também:
Referências Bibliográficas
CHAVES, Luciano Ornelas (Coord.). Memorial Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy:
1923-2016. São Paulo: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 2016.
PITANGUY, Ivo. Aprendendo com a vida. São Paulo: Best Seller, 1993.
______. Posse na Academia Brasileira de Letras: Cadeira nª 22. Rio de Janeiro: Pool
Editorial, 1991.
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[6] Jacques Anatole François Thibault, escritor francês vencedor do Prêmio Nobel de
Literatura em 1921. Usava o pseudônimo de Anatole France.
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Falber Reis Freitas 9 artigos Seguindo
Teletrabalho | Gestão de Pessoas | Ética
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O estudante e o profissional. O médico sem igual. Uma recordação e uma homenagem.
Uma leitura oportuna, prazerosa e esperançosa para o momento.
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agora
Marcus Brauer, Post Doc and PhD at FGV-EAESP • Você
Professor at UERJ/UNIRIO/UNESA
excelente entrevista!
ao doutorado: a incrível Implantação rápida do ¿Tiene futuro el Teletrabajo? Subsídios práticos para
Altair Assis Teletrabalho Falber Reis Freitas no LinkedIn implantação do teletrabalh
Freitas no LinkedIn Falber Reis Freitas no LinkedIn Falber Reis Freitas no Linked
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